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Princípios básicos da Teoria Geral dos Contratos

• Princípio da liberdade contratual ou autonomia privada:

Tem origem no princípio da dignidade da pessoa humana (dimensão social e jurídica),


garantindo o direito de se viver plenamente sem intervenções ilegítimas do Estado ou do
particular.

Autodeterminação do indivíduo:

Com quem contratar? Onde contratar? Como contratar? Qual conteúdo?

Atenção para o DIRIGISMO CONTRATUAL!

Limitador da autonomia privada pelo Estado, com vistas à supremacia da ordem pública,
geralmente externado através das leis. Ex.: Leis trabalhistas; contratos de consumo; revisão
judicial. A liberdade de contratar também resta limitada pelo Estado, em relação à contratação
de serviços públicos essenciais tais como energia elétrica e água/esgoto.

• Princípio da força obrigatória dos contratos <Pacta sunt servanda=

O contrato faz lei entre as partes. Conforme já visto, o contrato é considerado uma fonte
das obrigações justamente pela força obrigatória que lhe é atribuída, criando direitos e deveres
entre as partes, que poderão ser exigidos. Cria-se um microssistema de normas afetas somente
aos pactuantes. Porém, como exceção, pode haver previsão em favor de terceiro, por exemplo,
o seguro com cobertura de danos a terceiros.

Embora a força obrigatória seja a regra, poderá ser flexibilizada em situações específicas,
como ocorre com a revisão contratual: (rebus sic stantibus)

CC- Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre
o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido
da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

• Princípio da função social do contrato

O contrato tem a finalidade de regulamentar atividades, fomentar e dar segurança às


relações contratuais, perfectibilizando-se por meio da manifestação da vontade das partes
contratantes. Porém, faz-se necessário observar se o mesmo não está em colisão com o
interesse social/da coletividade.

CC - Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.

Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da


intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.

• Princípio da boa-fé objetiva

O princípio da boa-fé irradia-se por todo o ordenamento jurídico, guarda relação íntima
com o que é lícito, com o agir pautado pela ética. A boa fé como princípio contratual é objetiva,
por ser alusiva a um padrão comportamental a ser seguido baseado na lealdade, impedindo o
exercício abusivo de direito por parte dos contratantes no cumprimento da obrigação principal
e dos deveres anexos, tais como de informar, de colaborar e de atuação diligente.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração. (...)

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

• Princípio do Consensualismo

Tem como objetivo esclarecer a exigência do acordo mútuo para a perfeita formação do
contrato, isto é, o contrato exige o consenso das partes, ou ainda, o contrato sustenta-se no
acordo de vontade das partes. E deve observar esse consenso mútuo para que seja válido.

Para o doutrinador Orlando Gomes:<no Direito hodierno vigora o princípio do


consentimento, pelo qual o acordo de vontades é suficiente à perfeição do contrato. Em
princípio, não se exige forma especial=. (GOMES, Orlando. Contratos, 26º Ed, Rio de Janeiro:
Editora Forense. 2007, p. 37).

Fases contratuais
1) FASE PRÉ-CONTRATUAL

Segundo Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, <o nascimento de um contrato segue
um verdadeiro iter ou processo de formação=.

É a fase das tratativas iniciais, em que os negociantes estabelecem expectativas para a formação
de um eventual contrato.

Apesar de não ter sido disciplinada expressamente no CC, esta fase é tutelada pelo Direito, pois
as expectativas são protegidas juridicamente, em razão do princípio da boa-fé, que produz
efeitos mesmo antes da formação dos contratos.

A proposta também compõe esta fase, cabendo referir que ela tem força vinculante (força
obrigatória), obrigando o proponente a cumpri-la, caso se recuse, podendo ser compelido pela
via judicial.

A aceitação, encerrará a fase pré-contratual. Assim, o aceitante adere ao conteúdo da proposta


formulada.

2) FASE CONTRATUAL

Com o ato de aceitação é que se inicia o contrato (fase contratual propriamente dita).

3) FASE PÓS-CONTRATUAL

Com a extinção do contrato, inicia-se a fase pós contratual.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

Quanto à natureza da obrigação:


•UNILATERAIS – apenas uma das partes tem obrigação, não havendo contraprestação. Por
exemplo: comodato, doação pura.
•BILATERAIS – são contratos sinalagmáticos, a distribuição das obrigações se dá de forma mais
eqüitativa a ambos os contratantes atribuindo-se deveres. Há prestação e contraprestação. Por
exemplo: compra e venda.

•PLURILATERAIS - muitas partes assumem direitos e obrigações recíprocos a exemplo do


contrato de sociedade, em que há obrigações assumidas entre sócios; dos sócios para com a
sociedade; da sociedade para com os sócios e para com terceiros.

• GRATUITOS - oneram apenas uma das partes.

•ONEROSOS - geram vantagens para ambos os contratantes. •COMUTATIVOS - as prestações


possuem equivalência subjetiva e as partes sabem exatamente quais são as contraprestações.

•ALEATÓRIOS - prestações dependem de fato ou risco futuro e incerto.

•PARITÁRIOS - as partes estão em condições de igualdade e efetuam transigências recíprocas.

•POR ADESÃO - contratantes aderem às cláusulas previamente estabelecidas, excluindo a


possibilidade de transigência mútua ou de igualdade.

Quanto à forma:
• SOLENES - quando a lei prescreve forma especial para sua celebração. Exemplo: compra e
venda imobiliária necessita de escritura pública e assento no registro de imóveis.

• CONSENSUAIS - aperfeiçoam-se pela simples vontade das partes.

• REAIS - somente se aperfeiçoam com a entrega da coisa. Exemplo: mútuo, penhor, comodato.

• Quanto à designação:

• INOMINADOS: afastam-se dos modelos legais por serem atípicos e não disciplinados ou
regulamentados, mas cuja possibilidade de criação está prevista no art. 425 do CC:

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste
Código.

• NOMINADOS: são contratos típicos; são aqueles que possuem denominação legal , obedecem
a um padrão definido e regulado em lei.

• Quanto ao momento da execução:

•INSTANT NEO: leva-se em conta o momento de celebração e cumprimento do contrato, por


ocorrer em um único ato.

•DIFERIDO: trata-se de hipótese em que o cumprimento do contrato se dá em momento


posterior a sua celebração.

•DE TRATO SUCESSIVO OU EM PRESTAÇÃO: aqui, o cumprimento do contrato se dá no decorrer


do tempo, podendo, inclusive, ser modificado o acordado em razão da teoria da imprevisão.

• Quanto ao agente:

• PERSONALÍSSIMO: trata-se do contrato em que apenas uma determinada pessoa poderá


cumprir o acordado, uma vez que foi celebrado em razão de suas características pessoais. Ex.:
contratação de determinado cantor para um show.
• IMPESSOAL INDIVIDUAL: consiste na hipótese em que qualquer pessoa pode cumprir o
contrato.

• IMPESSOAL COLETIVO: são contratos que envolvem várias pessoas, como as convenções
coletivas de trabalho.

Quanto à autonomia:
•CONTRATO PRINCIPAL: aquele que pode existir independentemente de qualquer outro. Ex.:
empréstimo.

•CONTRATO ACESSÓRIO: aquele que tem por finalidade assegurar o cumprimento de outro
contrato, denominado principal, sendo garantia ou complementação deste. Ex.: fiança.

CC Art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação
assumida pelo devedor, caso este não a cumpra.

VÍCIOS REDIBITÓRIOS (Arts. 441 à 446, CC.)

CC - Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios
ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.

Pelo Código Civil são garantidas duas opções ao comprador: ele pode não aceitar a coisa,
recobrando o valor ou pleitear o valor da diminuição da coisa adquirida. Pode haver perdas e
danos se houver má-fé do alienante (art. 443).

O Prazo para reclamar dos vícios redibitórios é de 30 dias bens móveis ou 1 ano para bens
imóveis da entrega efetiva. A exceção ocorre quando o comprador só puder conhecer do vício
mais tarde, quando o prazo passa para 180 dias para bens móveis e 1 ano para imóveis contados
da ciência do vício.

VÍCIOS REDIBITÓRIOS NO CDC:

O vício redibitório pode ser oculto ou aparente;

O CDC estabeleceu o prazo de 30 dias para que o consumidor reclame contra vícios aparentes
ou de fácil constatação, quando se tratar de fornecimento de serviço ou produto não durável, e
o prazo de 90 dias se o serviço se relacionar com o produto durável conforme art. 26.

Pelo art. 18, caso não seja possível o conserto do bem defeituoso no prazo de 30 dias, o
consumidor poderá escolher três caminhos: (a) trocar a coisa por outra da mesma espécie e em
perfeitas condições de uso; (b) a restituição imediata do valor que pagou, corrigido
monetariamente, sem prejuízo de eventuais perdas e danos que o consumidor venha a sofrer;
(c) o abatimento proporcional no preço.
ERRO ESSENCIAL X VÍCIO REDIBITÓRIO.

O erro se encontra no plano da validade do contrato, sendo um vício de consentimento e


gerando a sua anulabilidade. (NATUREZA SUBJETIVA, atinge a psique do agente)

CC -Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem
de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio.

CC -Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das


qualidades a ele essenciais; (...)

Já o vício redibitório encontra-se no plano da eficácia, podendo gerar a resolução do contrato


ou abatimento no preço. (NATUREZA OBJETIVA, atinge a própria coisa)

EVICÇÃO:

É a perda da coisa (posse ou propriedade) para seu legítimo dono, fundada em motivo jurídico
anterior, que a confere a outrem, seu verdadeiro dono, e o reconhecimento em juízo da
existência de ônus sobre a mesma coisa, não denunciado oportunamente no contrato.

A evicção poderá ser TOTAL ou PARCIAL: a evicção parcial pode referir-se à parte de um todo,
por exemplo, o adquirente de um imóvel rural perde para o terceiro parte dele.

Os personagens da evicção são: o alienante, que transfere o domínio do bem por meio oneroso;
o evicto, que perde o bem e que tem o direito de pleitear reparação do alienante, e o evictor, o
verdadeiro dono do bem que recupera sua coisa.

Diferentemente do vício redibitório, na evicção o defeito não está na coisa, e sim na titularidade
dela.

Requer a evicção: um contrato oneroso, bilateral e comutativo; a perda total ou parcial de um


bem por sentença judicial em ação movida por terceiro titular do bem; e a ignorância do
adquirente sobre a litigiosidade da coisa.

Vale dizer, no mais, que a evicção subsiste mesmo que a aquisição tenha ocorrido em hasta
pública.

Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do
preço ou das quantias que pagou:

I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;

II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da
evicção; III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.

Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em
que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.

Indispensável a leitura atenta dos artigos 421 à 461 do Código Civil!

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