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DIREITO CIVIL

AULA 01
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BIBLIOGRAFIA: FLAVIO TARTUCE (LIVRO III- TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E


CONTRATOS EM ESPÉCIE)

CONTRATOS
Contrato é um negócio jurídico bilateral por meio do qual as partes convergem as
suas vontades para atingir determinadas finalidades.
Nasce da manifestação de vontade de ambas as partes.
Todo contrato passa por um consenso, mas alguns contratos exigem mais do que
um contrato para se formalizar. Alguns contratos só estarão formados com a
transferência do bem.
Exemplo de negócio unilateral: testamento – o herdeiro aceita ou renuncia a
herança.

PRINCIPOLOGIA CONTRATUAL
Princípio da autonomia da vontade privada
- Gera a liberdade contratual.
- Pode contratar o que quiser, quando quiser, onde quiser.
- Permite a contratação livre entre as partes.

Art. 1647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges


pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns,
ou dos que possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos
quando casarem ou estabelecerem economia separada.
Princípio da força obrigatória dos contratos
- Por esse princípio o contrato é lei entre as partes, ou seja, gera obrigações
que devem ser cumpridas, sob pena de responder pelo inadimplemento.

Princípio da relatividade dos contratos


- Um contrato só pode surtir efeito perante as partes contratantes.

EX: Joao celebra contrato por escrito de locação com Maria, com prazo determinado
de 30 meses.
Passou um mês dessa locação, aparece o Bruno que oferece um milhão pelo
apartamento alugado. Nesse caso, João pode vender o apartamento para Bruno?
Sim. Porém primeiro deverá perguntar para Maria, pois ela tem direito de
preferência, conforme art. 27 da Lei 8.245/91.
Se Maria nao quiser, ele pode vender. Deve pedir p maria desocupar o imóvel em
até 90 dias. Após pedir, maria deve sair em 90 dias.
Como Bruno nao foi parte no contrato de locação, pois ele não é parte.
Maria pode se precaver desde que exista cláusula de vigência no contrato
(fazendo respeitar o prazo da locação), ganhando uma eficácia erga omnes,
excepcionando o princípio da relatividade.

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA


Boa-fé objetiva é o padrão de comportamento ético esperado de todos em
sociedade.
Eticidade- a ética hoje é um valor jurídico, apto a criar deveres que não estão
escritos na lei nem nos contratos, mas que todos devem cumprir.
Boa-fé objetiva não tem nada a ver com má-fé. Não se confunde com boa-fé
subjetiva.
Má-fé é a intenção de causar um prejuízo a alguém ou de obter uma vantagem
indevida.
Então, pode estar de boa (subjetiva) ou má-fé.
A boa-fé objetiva é uma análise que não precisa ingressar para saber se a pessoa
tinha ou não a intenção.
Analisar se o comportamento é ético ou antiético.
A boa-fé objetiva impõe o dever de informação, de informar o seu parceiro
contratual de que existe uma coisa chata ali.
Ser ético é fazer o certo ainda que isso te prejudique.
A violação positiva do contrato é uma terceira forma de inadimplemento.
Ex: apesar de morar num condomínio, avisar que ali dentro tem assalto.

QUAIS SÃO AS FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA?


3 funções básicas:
Função interpretativa, que está no art. 113 do CC.
- Os negócios jurídicos devem ser interpretados de acordo com os usos e
costumes e a boa-fé objetiva.
- A boa-fé é usada pelo juiz para interpretar um negócio jurídico, de maneira a
atender os comportamentos éticos.
Ex: quando tiver cláusulas contraditórias, omissões.

Função criadora de deveres anexos ou função integrativa, art. 422 CC.


- A ética impõe deveres que não estão descritos no contrato, são chamados de
deveres anexos da boa-fé objetiva: lealdade entre as partes, informação,
proteção, confiança, cooperação, entre outros.
- Gera estes deveres anexos da boa fé- objetiva.

Consequência da violação dos deveres anexos:


- Gera uma forma de inadimplemento, pode gerar a resolução contratual.
- Responsabilidade civil pré e pós contratual: pode levar à reparação civil.
- Enunciados 24 E 25 CJF

Princípio da explicabilidade
No âmbito do direito digital está sendo levantado esse princípio.
A boa-fé é um limite ao exercício do direito.

Princípio da função social dos contratos – art. 421 CC


Decorre do art. 3° inciso I da CF.
É um dos objetivos da CF a constituição de uma sociedade justa e solidária.
Ser solidário é se preocupar com o próximo.
Desse valor nasce o princípio da socialidade.
Socialidade traz a ideia de que todo direito, todo o interesse é funcionalizado. Ou
seja, numa sociedade solidária por esse princípio, o direito é de seus titulares, mas
não devem ser exercidos de maneira egoística.
Aquele contrato não pode trazer danos a sociedade.
Eficácia interna: se um contrato descumpre a constituição ele pode contaminar a
sociedade e se reproduzir, viola a função social na sua eficácia interna.
SUM 302 STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no
tempo a internação hospitalar do segurado.
Eficácia externa: atinge terceiros indeterminados (metaindividuais) ou determinados.
Ex: tenho imóvel num condomínio residencial, posso alugar meu apartamento.
Pode alugar para booking? Somente se tiver previsão no contrato.
Pois gera um fluxo de pessoas que pode vulnerar a segurança de um condomínio
que tem finalidade residencial.
Deve-se fazer uma alteração na convenção de condomínio ou uma assembleia de
condomínio permitindo esse tipo de expediente pelo voto de 2/3 dos condôminos.
3° ofensor: aquele que vai interferir de maneira indevida numa relação contratual já
existente e de seu conhecimento, de maneira a aliciar uma das partes à romper o
vínculo contratual existente.
Embora o contrato nasça para surtir efeito entre os contratantes, o contrato é visto
como uma situação jurídica merecedora de tutela erga omnes.
O aliciamento indevido vai ocorrer quando existe uma situação contratual que é de
conhecimento de terceiro e o terceiro estimula uma das partes a romper o vínculo.
Esse que aliciou pode responder por perdas e danos por abuso do direito – art. 387
cc.
EX: record quer contratar ator que está participando de novela na globo – record
alicia o contrato e poderá responder.
OBS: no contrato futebolístico isso ja é previsto. As multas resolutórias são
altíssimas, justamente porque querem ganhar em cima do aliciamento.
Nesse caso o aliciamento é pelos costumes.
Não é aliciamento indevido quando nao estimula o rompimento do contrato.
Ex: quando a pessoa termina o contrato e depois vai para uma oferta de trabalho
melhor.
Função limitadora de direitos ou função de controle, art. 187 CC.
CASO CONCRETO
1) Ensaboado, talentoso jogador de futebol, propõe demanda indenizatória por
danos morais em face de José Corneteiro. Aduz, em síntese, que o demandado
enviou correspondência à sua patrocinadora cujo conteúdo fazia menção a uma
denúncia criminal oferecida perante a Justiça da Inglaterra. Todavia o conteúdo não
se limitou à mera reprodução dos fatos narrados na acusação criminal, tendo o
demandado emitido juízo de valor sobre as circunstâncias e adjetivado a conduta do
atleta como "mentirosa", "fraudulenta" e "desonesta". Diante da aludida
correspondência, sua patrocinadora o notificou, requerendo explicações sobre o
ocorrido e, após algumas reuniões, o autor conseguiu contornar a situação e manter
os contratos em vigor. Assim sendo, por interferir, perturbar e desestabilizar a
relação jurídica das partes, deve responder pelos danos morais vivenciados pelo
autor. Em defesa, o demandado sustenta que agiu nos limites do exercício da sua
liberdade e que não configura ato ilícito a notícia de fatos verossímeis mediante
opiniões irônicas, sobretudo quando se tratar de figuras públicas. Afirma ainda que
as instabilidades contratuais devem ser resolvidas entre as partes contratantes,
tendo em vista o princípio da relatividade dos contratos que, como se sabe, não
produz efeitos erga omnes. Por fim, aduz que o contrato entre o atleta e a
patrocinadora não se rompeu após a emissão da carta, o que, por si só, afasta
qualquer pleito indenizatório requerido pelo autor. Restou provado o juízo de valor
no conteúdo da carta enviada. Decida fundamentadamente a questão.

RESPOSTA: Não se enquadra no conceito tradicional de aliciamento envolvido o


terceiro ofensor pois não houve rompimento do contrato.
Porém, a carta por si só já é ofensiva, assim, gera dano moral. Não houve
rompimento contratual, não houve prejuízo material, o jogador não foi prejudicado
em termos contratuais, mas foi prejudicado pelas ofensas diante da injúria.
Portanto, o jogador faz jus a danos morais por lesão à honra subjetiva e à imagem
do atleta que está sendo abalada. Art. 187 cc. Abuso do direito à liberdade de
expressão, tendo em vista que a pessoa está se expressando de maneira ofensiva.
Dano moral decorrente de uma questão contratual.

2) Examine as seguintes cláusulas contratuais firmadas entre empresas paritárias


que prestam serviços médicos a órgãos públicos municipais e, em seguida, responda
fundamentadamente aos questionamentos formulados:
"01. DO CONTRATO DE GESTÃO FIRMADO COM A PREFEITURA DE BOM PARAÍSO
01.1 A CONTRATADA tem pleno conhecimento de que foi contratada para prestar
serviços à CONTRATANTE, relacionados ao Contrato de Gestão do HOSPITAL
MUNICIPAL DE BOM PARAÍSO , no âmbito do Município de BOM PARAÍSO, e
concorda desde já que, caso haja atraso de qualquer pagamento à CONTRATANTE
ou intervenha, rescinda ou encerre, por qualquer modo, qualquer que seja a razão,
o referido contrato de gestão, a CONTRATADA não fará jus a qualquer remuneração,
ainda que por serviços prestados, nem a qualquer tipo de indenização, qualquer que
seja sua natureza. 01.2. Na hipótese do atraso aludido na cláusula 01.1 retro,
cumprirá à CONTRATANTE promover o pagamento dos serviços prestados pela
CONTRATADA, desde que os pagamentos efetuados pela Prefeitura de Bom Paraíso
se refiram aos meses de prestação de tais serviços, sem o acréscimo de quaisquer
juros, multa ou correção monetária. O pagamento referido nesta cláusula deverá ser
disponibilizado à CONTRATADA em até 10 (dez) dias úteis da regularização das
pendências da Prefeitura de Bom Paraíso junto à CONTRATANTE. 10.3. Não se
aplica o disposto na cláusula 01.2 acima na hipótese de intervenção, rescisão ou
qualquer outro tipo de extinção do contrato de gestão, respeitando-se, nesses casos,
a regra da cláusula 01.1, ainda que para serviços prestados. 10.4 Caso se verifique o
advento de qualquer das hipóteses indicadas na cláusula 10..3 retro, fica desde já
estabelecido que a CONTRATADA renuncia expressamente ao direito de pleitear
quaisquer valores a que entender fazer jus, seja por serviços prestados, seja com
relação a qualquer tipo de indenização, tanto da CONTRATANTE quanto da própria
Prefeitura."
a) Há cláusulas abusivas no contrato em questão?
b) Supondo que a contratada tenha prestado serviços ao hospital e não tenha
recebido por eles, poderia ela cobrar tais valores da contratante, que, ao mesmo
tempo, também não recebeu o montante acordado do hospital municipal?

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS


CONTRATO PARITÁRIO: as partes estão numa relação de igualdade, não há
desequilíbrio fático.

CONTRATO DE ADESÃO: contrato em que uma das partes não podem discutir as
cláusulas contratuais, ou adere ou não adere ou contrato.
Toda vez que tiver uma dúvida ou contradição, se da a interpretação mais favorável
ao aderente, aquele que nao pode discutir as cláusulas contratuais.
Considera-se cláusula abusiva aquela que impliquem em renúncia antecipada a um
direito que é inerente à natureza da obrigação.
Art. 423. Regra de interpretação.
É válida a cláusula de renúncia de pagamentos de benfeitorias em contrato de
locação. Se o contrato fosse feito em modalidade de adesão, aplicas-se o art 424
do cc.

DIFERENÇA ENTRE CONTRATOS TÍPICOS E ATÍPICOS


TÍPICOS: espécie contratual prevista na lei.
ATÍPICOS: que decorrem da criatividade das partes, que não está previsto na lei.

OBS: NÃO CONFUNDIR CONTRATO MISTO COM CONTRATO COLIGADO.


CONTRATO COLIGADO: é a reunião de mais de um tipo contratual no mesmo
negócio, no mesmo empreendimento.
São aqueles que a operação econômica que se quer realizar aponta para
determinado objetivo, e para alcançar esses objetivos aponta para dois ou mais
contratos.
Eles não perdem a sua estrutura, só estão reunidos para a mesma finalidade
econômica, no mesmo negócio.

CASO CONCRETO
TEMA 02
Ipatinga Produtos de Petróleo S.A. propõe demanda de despejo por falta de
pagamento em face de Posto Veloz. A demandante aduz, em síntese, que firmou
com a ré um contrato de sublocação de posto de serviço, por meio do qual locou
imóvel com equipamentos nele instalados para a operação de posto de gasolina.
Todavia, informa a autora que a sublocatária deixou de arcar com o pagamento de
aluguéis e acessórios contratuais nos últimos 12 meses do contrato. Logo, não resta
à autora outra conduta senão pedir a extinção do contrato e o despejo do
demandado do imóvel para que possa dar continuidade às suas atividades ofertando
negócios perante terceiros interessados. O magistrado, ao receber o pedido, de
ofício, extingue o processo sem resolução do mérito por entender que a autora é
carecedora de demanda. O Magistrado sustenta que é inadequada a ação de
despejo para rescindir o contrato de sublocação firmado entre as partes, pois a Lei
nº 8245/91 só teria aplicabilidade ao caso se o preço pago decorresse unicamente
do uso e gozo da coisa, todavia o que se observa da narrativa inicial é que existe
uma gama de deveres impostos a ambas as partes, em que a locação é indissociável
da compra e venda de produtos da demandante em razão da cláusula de
exclusividade, tornando inviável a extinção do pacto através de mera denúncia vazia.
Diante do exposto, agiu corretamente o magistrado? Decida fundamentadamente a
questão abordando a classificação do contrato firmado entre as partes.
RESPOSTA: Não, o magistrado não agiu corretamente. Se é um contrato coligado e
não foi pago os aluguéis, pode pedir o despejo.
Nesse caso, é reconhecido o interesse de agir para o despejo.
RESP. 1475477 MG
Não poderia se fosse um contrato misto, pois não é um aluguel. Mas nesse caso é
um aluguel com outros contratos coligados. Então nesse caso trabalha-se cada
contrato em sua essência.

CONTRATOS BILATERAIS E UNILATERAIS


BILATERAL: aquele que tem prestações a serem praticadas por ambas as partes.
Alguns institutos só serão aplicados aos bilaterais. EX: exceção do contrato não
cumprido (476), vícios redibitórios (441), teoria da imprevisão.
UNILATERAL: aquele que tem prestações a serem praticadas por uma das partes.

EM QUE CONSISTE O CONTRATO BILATERAL IMPERFEITO:


Ele nasce unilateral, tendo prestações a serem cumpridas por apenas uma das
partes e no decorrer da sua execução surgem prestações a serem cumpridas pela
outra parte.

CONTRATOS CONSENSUAIS
É a regra. Que os contratos se aperfeiçoam, estão formados tão somente pela
convergência de vontade das partes, basta as partes convergirem sua vontade.

CONTRATO REAL
É aquele que é necessário a entrega da coisa para que eles se aperfeiçoem.
Ex: contrato de comodato.

CONTRATO COMUTATIVO

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