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A boa-fé objetiva concretiza-se em cinco institutos, todos de filiação germânica (nenhum deles
deriva da boa-fé, em termos conceptuais):
São eles o abuso de direito (334º); integração de negócios (239º); modificação dos contratos
por alteração das circunstâncias (437º, nº1); complexidade das obrigações (762º, nº2), e por
fim evidentemente a culpa in contrahendo tutelada pelo artigo 227º, nº1. A BFO remete para
princípios, regras, ditames ou limites por ela comunicados ou, simplesmente, para um modo
de atuação dito “de boa-fé”; atua como uma regra imposta do exterior e que as pessoas
podem observar;
A boa-fé pode ser chamada para enquadrar questões novas, que podem ser: a questão das
clausulas gerais, a defesa do consumidor, o levantamento da personalidade coletiva, ou a
procuração aparente.
Culpa in Contrahendo
Regras pré contratuais:
1. Contratual na medida em que as partes hajam decidido concluir pactos
preparatórios perante os quais as partes ficam vinculadas;
2. Legais especificas é o caso da lei sobre as CCG e da lei da defesa do consumidor;
3. Legais genéricas devem seguir as regras da boa fé, estando inseridas no 227º.
Jhering: demonstra que, na presença de contratos nulos por anomalias verificadas na sua
formação, podem ocorrer danos cujo não-ressarcimento seja injusto; perante tal situação, o
responsável, por via das regras gerais sobre danos e culpa, deveria indemnizar pelo interesse
contratual negativo, colocando o prejudicado na situação em que ele se encontraria se nunca
tivesse havido negociações e contrato nulo. Esta descoberta permite exemplificar o modo de
funcionamento da terceira sistemática, quando confrontada com novas necessidades para as
quais, num momento inicial, não haja, ainda, resposta.
3. Segurança e Proteção sob a alça de MC: condições reunidas para se fazer o negócio.
Dever de ressarcir danos a pessoas e bens. Quando se está num ambiente contratual,
a parte deve proteger a outra para que se realize a posterior contratação.
Obrigação de contrata situação jurídica pela qual um sujeito fica adstrito à celebração de um
contrato, isto é, à emissão da declaração de vontade que, em conjunto com a da outra parte,
dá azo a um NJ bilateral. Exige uma forte situação de confiança, imputável à contraparte, de
que o contrato em jogo iria ser celebrado e isso ao ponto de o interessado ter realizado um
considerável investimento de confiança. Nessa eventualidade, o dever de contratar impõe-se,
tendo como contraface a ilicitude da interrupção injustificada das negociações, sendo que a
indemnização que daí decorra será calculada de acordo com o interesse positivo.
No que toca à construção deste instituto, podemos separar dois cernes nucleares de teorias:
as contratuais e as legais.
Teorias contratuais
Soluções negociais– procuram reconduzir a cic e os deveres que, com ela, se
conexionem, a NJ;
Franz Leonhard: a cic reconduz-se ao contrato posteriormente celebrado. O efetivo
cumprimento de um contrato exige o acatamento de deveres que se desenham já
antes da sua celebração (a parte que venda um objeto, previamente à venda, deve
providenciar para que ele esteja em bom estado); há, por isso, uma pré-eficácia –
celebrado um negocio, certos deveres retroatuariam até ao inicio das negociações.
Criticas: ilogismo (assenta na ideia de pré-eficácia, contraditória em si mesma; antes
de um contrato não se podem retirar deveres a observar, e depois deve estar
celebrado, não se está numa fase pré-negocial que habilite ao acatamento de deveres
pré-contratuais); excessiva restrição (só contempla a hipótese de haver um contrato
valido que, não obstante, tivesse provocado danos na sua celebração, excluindo as
negociações prévias, injustificadamente, sem que se tenha chegado à formação de
qualquer contrato, e as negociações inválidas)
Heinrich Siber: os deveres pré-contratuais na celebração de um contrato preparatório,
aquando do inicio das negociações, estão filiados. Ao aceitar negociar a eventual
procura de um consenso negocial, as partes estariam, desde logo, a aceitar, pelo
menos, algumas regras de jogo.
Critica: ficciosa (nas negociações comuns, não se descobrem quaisquer declarações
destinadas a originar um consenso contratual, que permita retirar deveres de
comportamento minimamente consistentes).
Teorias legais
Soluções legais– remetem a base da figura da cic para a lei.
Teoria da relação de facto: as partes conseguem, no trafego social, através de puras
condutas materiais, originar situações semelhantes a contratos, mas sem qualquer
declaração a tanto destinada, estando entre estas situações, as negociações
preliminares; daí adviria uma relação contratual de facto à qual, por analogia, se
aplicaria o regime dos contratos
Teoria dos deveres extralegais: em situações de acrescida proximidade, surgiria uma
especial confiança, entre as partes, que não poderia ser desemparada. No silencio da
lei, haveria que construir um principio de onde resultaria uma proteção extralegal,
impondo-se também deveres e informação e de comunicação, que poderiam ser
apoiados na BF ou numa interpretação alargada da vontade das partes.
Teoria da confiança: na presença de negociações, assistir-se-ia à criação de uma
situação de confiança e ao aproveitamento da situação criada. Daí adviria uma
particular forma de negocio jurídico
Teoria da autovinculaçao sem contrato: os agentes, através de condutas
comunicativas, criaram, um nos outros, expetativas de conduta futuras, que iria ser
conduzido à ideia de autovinculaçao, perfeitamente conhecida através da
vinculatividade da promessa
Teoria dos deveres unitários: ao analisar as diversas situações nas quais, por exigência
ético-jurídica, se procede à tutela da confiança e preconizar a existência de um dever
unitário de proteção, de base legal, e que, surgindo in contrahendo, se mantêm na
vigência do negocio e da sua própria nulidade.
A cic também pode ser tomada como uma fonte de responsabilidade. Essa responsabilidade
pode ser contratual ou obrigacional (caso exista, entre as partes, uma obrigação especifica), ou
também pode ser aquiliana (quando se opta por um dever de ordem geral, eventualmente
concretizado em deveres de tráfego). Baseando-me na jurisprudência alemã, podemos
considerar que da cic pode se reconduzir ao instituto da responsabilidade contratual ou
obrigacional. O prejuízo da parte lesada pode contudo, ser estimado de duas formas:
No âmbito das CCG: - Dever de informação, artigo 6.º: O dever de informação é o dever de
esclarecimento sobre um conteúdo, diferente do dever de comunicação cujo objetivo é levar
ao conhecimento da outra parte. As cláusulas que respeitem estes dois deveres consideram-se
excluídas do contrato. artigo 8.º. Esta exclusão, não obsta de indemnizar relativamente aos
deveres causadas e neste sentido, aplicamos aqui o artigo 227.º.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/
a8b5ad9c2d585f6a802584ab006050d4?OpenDocument
Jhering
MC (1)
A descoberta de Jhering não foi no seu todo pioneira, contudo, foi com a sua investigação e
recurso ao instituto da cic, que se pôde falar numa inovação no campo da ciência do direito.
Constata que contratos dados como nulos por anomalias na sua formação, devem contudo
resultar no ressarcimento de danos, que antes não acontecia. Propõe que o responsável pelos
danos deveria indemnizar pelo interesse contratual negativo, colocando assim o lesado na
situação em que se encontraria se o contrato nunca tivesse dado lugar.
Apoiou-se fortemente em diversos textos romanos, o que foi fortemente questionado pela
doutrina mais especializada do sec. XIX. Tenta então exemplificar de modo prático a terceira
sistemática, que necessitava de inúmeras respostas. A verdade é que a fase pré contratual do
contrato, a que antecede a sua perfeita celebração, não tem normas que vinculem as partes, já
que a única coisa que realmente se priorizava era a autonomia privada e a liberdade negocial,
seno esta um dos maiores, senão o maior pilar do direito civil.
Era então fulcral a existência de um novo instituto que viesse balançar a disparidade entre
liberdade e limitação. Instituto esse que passa a assumir um papel central nos negócios
jurídicos dali em diante, baseado na culpa e/ou na responsabilidade. Não foi acolhida de
imediato pela tutela do BGB, contudo a jurisprudência alemã atendeu à possibilidade de
regressar com maior relevância.
PDF SP (2)
Baseando-se nas fontes romanas para fundamento no que toca a uma ação que ressarcisse,
Jhering constrói a cic, que estaria na inobservância de uma diligentia in contrahendo no
momento anterior à conclusão do contrato, pois aquele que vende, tem o dever de conhecer o
objeto vendido de modo a evitar a nulidade do negócio.
Afirma ainda, que a tutela da parte prejudicada se daria por uma ação de natureza contratual
pela qual poderia obter indemnização pelo interesse negativo, segundo a conhecida bipartição
entre interesse positivo e negativo. Toda a sua teoria no que toca a este instituto deve-se a
fontes romanas. Contudo deve-se ao seu insucesso imediato na época, essencialmente pela
falta de referencias à fase das negociações preliminares do negocio.
A verdade é que há apontar a realidade histórica em que Jhering estava inserido, onde a teoria
subordinava os conceitos pragmáticos da realidade de uma sociedade, que na verdade
necessitava de respostas e de soluções jurídicas. Tudo o que fugia do cerne do que pensava
que era Direito, como conceitos inovadores, tomavam-se por abstratos e complexos. As figuras
que realmente tinham reconhecimento no seculo XIX eram a propriedade, o dolo, o contrato, a
posse e poucos mais…
Jhering através da interpretação das fontes romanas e da sua reconhecida dialética, começa
por trilhar o seu caminho. Contudo, apercebeu-se que de vagos conceitos, estava o Direito
cheio, optando por tomar outro caminho. Inicia uma vivida critica ao que chamava a
jurisprudência dos conceitos, e ao fazê-lo criticava-se a si próprio, tendo consciência de que foi
o que fez toda a sua vida, no seio da escola histórica e panteística. Sofre então uma enorme
rutura: de uma visão conceitualista artificial para o verdadeiro caracter instrumental do
direito. Da combinação de elementos de forma lógica para chegar a conceitos, chega à
conclusão de que a vida não é o conceito, mas antes se deve à sua existência por causa da
vida. 1861 marca não só a escrita deste artigo, como a transição de método do autor.
Na sua conceção, a cic estaria na ignorância de um facto relacionado ao objeto da venda que a
torna nula e decorreria da inobservância de uma diligentia in contrahendo, a ser observado
antes mesmo da conclusão do contrato, pois aquele que vende tinha o dever de conhecer o
objeto vendido. A culpa foi o elemento unificador necessário à construção de um principio
geral de ressarcimento da parte prejudicada nos contratos nulos (até então inexistente), a
partir de uma generalização dessas hipóteses específicas das fontes romanas. Mais de um
século e meio depois, o texto é um verdadeiro clássico e segundo o Prof. Mota Pinto,
representa a origem da figura da cic, a qual, porem ainda receberia diversas reformulações e
vicissitudes. No seu tempo, por uns ignorada, por outros desvalorizada, o seu artigo não teve
grandes repercussões. Inclusive, Jhering veio a aperceber-se que o seu próprio alicerce da
teoria (a culpa), vinha posteriormente a ser reconhecido como insuficiente.
Começa por enunciar, através das fontes, casos de compra e venda de coisas sagradas,
religiosas ou publicas, presentes no digesto; passando pela venda de uma herança inexistente.
Onde todas demonstraram a possibilidade da conceção de uma ação contratual para a tutela
da parte prejudicada em contratos nulos para obtenção de ressarcimento pelo interesse
negativo.
Conclusão da tese:
Embora não se tratasse de um tema tão novo assim, coube realmente a Jhering o mérito de
sistematizar o estudo da questão e chamar a atenção a relevância do problema, até então
pouco discutido. Não obstante os contributos de Donellus e Richelmann. Coloca-se então a
questão do fundamento da teoria da culpa in contrahendo no direito romano, seria uma
invenção ou uma descoberta de Jhering, sobretudo pela fragilidade do elemento culposos na
construção da mesma insuficiência que o próprio acabara por reconhecer.
Mesmo que seja notável que o que moveu o autor foi o senso de justiça, ainda não tinha
conseguido desapegar-se da logica panteística, o que pôde ser vislumbrado quando:
Afirma que estava a empreender a construção de um fundamento teórico para a cic;
Anuncia como seu fim basilar encontrar nas fontes romanas fundamento para a sua
argumentação;
Na própria estruturação da tese, ao partir de um problema, procura os conceitos e
fundamentos nas fontes e deduz uma lógica e um principio a partir deles, criando
assim um novo conceito.
Como conceito que não tolerou contacto com a realidade, formado e reproduzido a partir de
um processo lógico, também podemos ponderar que a cic de Jhering pode não ter alcançado a
sua finalidade ultima, que era exatamente uma solução eficaz para a prática. Podendo assim
analisar a descontinuidade da doutrina imediatamente posterior a Jhering que procurava
outros fundamentos e outros contornos para o problema, o insucesso da teoria pratica dos
tribunais, alem do processo de alargamento pelo qual passaria a cic em diversos
ordenamentos europeus, desprendendo-se do âmbito restrito dos contratos nulos, tal qual
idealizada por jhering, para abranger a responsabilidade na fase pré-contratual até se tornar a
responsabilidade pré-contratual como atualmente concebida.
O uso da denominação “culpa in contrahendo” permanece como tradição, não obstante que a
responsabilidade pré-contratual de hoje já não corresponde à figura criada por Jhering, por
abranger a rutura das negociações e ter fundamento na boa-fé objetiva. É de frisar que os
tribunais pátrios ainda utilizam a diferenciação entre interesse positivo e negativo, afirmando
que a indemnização em sede de responsabilidade pré-contratual se dá pelo interesse negativo,
como foi enunciado por Jhering.
O Prof. Mota Pinto afirma qua ainda que não tenha sido uma verdadeira descoberta jurídica, o
artigo é inequivocamente um dos escritos de doutrina jurídica mais celebres, fazendo de algo
que fosse inteiramente desconhecido, pelo menos um marco notável. Prof. Menezes Cordeiro
destaca que Jhering procurava justamente chamar à atenção da ciência do direito para a
“necessidade de complementação juspoitiva”, quanto à formação dos contratos e, assim,
lançou um pré entendimento de fenómeno que ainda se mantem. A sua intuição, como
destaca a prof. Eva Moreira da silva, estava correta: as partes devem adotar um
comportamento leal e honesto no período que antecede a conclusão do contrato.
http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/19890408.html
https://jurisprudencia.pt/acordao/199589/