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*Mediante ausência do respetivo diploma na menção de artigos, entenda-se que estes pertencem ao CPC,
ou, no caso do capítulo da Competência Internacional, aos respetivos regulamentos.
1. Introdução
O Direito Processual Civil é o conjunto de princípios e regras jurídicas que regulam o
processo civil. O processo, num sentido mais lato, é uma sequência de atos que se dirige a um
certo resultado, no entanto, no sentido jurídico, o processo será a sequência de atos destinados à
apreciação de uma pretensão formulada por uma parte contra a outra mediante a intervenção de
um tribunal. O processo civil é o ramo processual que corresponde ao direito civil e comercial,
compartilhando ainda com o processo penal o direito do trabalho.
O Direito Processual Civil é uma área do Direito Público, partindo este fator da sua
estreita ligação com a função jurisdicional, ou seja, o poder de administração da justiça. O
Tribunal encontra-se numa posição de supra-ordenação, órgão perante o qual as partes pretendem
obter tutela jurisdicional. É um direito instrumental, na medida em que estabelece os meios
adequadas à tutela jurídica dos direitos subjetivos, interesses legalmente protegidos e interesses
difusos, e é procedimental, na medida em que regula a sequência de atos processuais que são
realizados pelo tribunal e pelas partes.
O Processo Civil resulta de vicissitudes que resultam das situações jurídicas atribuídas
pela ordem jurídica: a dúvida sobre a titularidade e a violação por titulares passivos ou não
titulares. Esta dúvida e violação constituem as principais justificações do processo civil,
correspondendo à dualidade básica dos tipos básicos de processo civil, o declarativo (artigo 10.º/1
a 3), em que se esclarecem dúvidas sobre direitos ou interesses, e o executivo (artigo 10.º/1 e 4),
em que se reparam estas violações de direitos e interesses. Compreendem-se ainda os
procedimentos cautelares, destinados a acautelar o efeito útil da decisão que venha a ser decidida
na ação principal.
A. Tribunal
do prudente árbitro do tribunal, sendo por vezes fixados critérios para tal, não deixando de ser
discricionário por isso.
Finalmente, quanto à sentença, esta pode acolher o pedido do autor, sendo o seu conteúdo
neste caso a condenação do réu, e caso o recuso, terá por conteúdo a absolvição do réu do pedido.
O tribunal poderá ainda emitir decisões de forma, onde não se pronuncia sobre o mérito, sendo
proferidas ao longo do processo, no entanto, podem também ser finais, como aquelas em que se
absolve o réu da instancia por não estar preenchido um pressuposto processual.
B. Partes
As partes são as entidades que pedem ou contra as quais é pedida em juízo a tutela de
uma situação jurídica, podendo assumir-se como autor e réu no processo declarativo, por
exequente e executado no processo executivo e por requerente e requerido nos procedimentos
cautelares e nos incidentes de instância.
As responsabilidades de uma parte perante a contraparte poderá ser delitual, caso decorra
da inobservância pela parte de um dever que devia cumprir ou observar (decorrendo normalmente
da litigância de má-fé), ou objetiva, sendo a parte que ficou vencida responsável pelas custas da
parte que compreendem o que a parte vencedora haja despendido.
O artigo 296º/1 estabelece que toda a causa deverá ter um valor certo, quer seja
naturalmente, quando os interesses em causa sejam avaliáveis (artigos 297º a 310º), ou
artificialmente, quando se trate de interesses não patrimoniais e não avaliáveis em dinheiro (303º).
Os critérios mais importantes para aferir o valor da causa são:
a. Se a ação tiver por objeto uma quantia certa em dinheiro, será esse montante o
correspondente ao valor da causa (297º/1/1ª parte);
b. Se a ação tiver por fim fazer valer o direito de propriedade sobre uma coisa, o valor desta
determina o valor da causa (302º/1);
c. Se a ação versar sobre o estado das pessoas ou sobre interesses imateriais, corresponderá
o valor da causa ao equivalente à alçada da Relação e mais 0,01€ (303º/1):
d. Se a ação tiver por objeto a apreciação da existência, validade, cumprimento, modificação
ou resolução de um ato jurídico, o valor da causa é aferido pelo valor do ato determinado
pelo preço ou estipulado pelas partes (301º/1);
e. Nas ações de despejo, o valor da causa é o da renda de dois anos e meio acrescido das
rendas em dívidas e da indemnização requerida (298º/1).
No caso de ser pedida uma sanção pecuniária compulsória em conjunto com um pedido
de condenação na prestação de fato infungível, então este pedido será irrelevante para a fixação
do valor da causa (artigo 829º-A/1).
Quanto à sequência de atos a que se refere o processo civil, esta sequência poderá ser
determinada por lei, sendo neste caso rígido, ou ser deixada ao prudente critério do juiz, sendo
neste caso maleável enquanto corolário do dever de gestão processual que permite ao juiz adequar
a tramitação quando a mesma não se adapta à complexidade da causa (547º). Esta sequência de
atos está submetida ao Princípio da Preclusão, tendo cada ato o seu próprio momento para ser
praticado, não podendo vir a ser praticado posteriormente caso não tenha sido praticado, tendo as
partes a faculdade de realizar o ato. Podemos falar em diversas modalidades de atos, sendo estes,
quanto à origem:
• Atos do tribunal – realizados pelo tribunal, podendo ser a secretaria (artigos 157º a 162º)
ou o próprio juiz (artigos 150º a 156º). Incluem-se aqui:
o Atos rogatórios, os atos pelos quais um tribunal solicita a prática de atos
processuais a outros tribunais ou autoridades, sendo estes a carta precatória,
utilizada quando a realização do ato seja solicitada a um tribunal ou a um cônsul
• Atos das partes – podemos distinguir dois tipos de atos das partes quanto à origem dos
efeitos realizados em processo:
o Atos stricto sensu, produzem os seus efeitos processuais da lei, dado que as
partes não podem escolher ou determinar os seus efeitos (apresentação de um
articulado por exemplo);
o Negócios processuais, produzem os seus efeitos atendendo à vontade das partes
e podem ser:
• Unilaterais – quando praticados por uma das partes (por exemplo
a desistência e a confissão do pedido – 283º/1);
• Ou bilaterais – realizados por ambas as partes (por exemplo o
pacto de competência ou jurisdição – 95º e 94º - de uma
convenção de arbitragem (1º/1 da LAV) ou de uma transação
(283º/2 e 1248º do CC);
• Constitutivos – aqueles que produzem diretamente efeitos num
processo pendente, sem imporem a nenhuma das partes a
obrigação de praticar ou omitir algum ato (celebração de
compromisso arbitral durante a pendência do processo no
tribunal estadual extinguindo a instância – 280º/1 e 2);
• Ou vinculativos – aqueles que impõe o dever de praticar ou de
omitir um ato do processo (como uma promessa de desistência
do pedido ou do recurso – 283º/1 e 633º/5 – ou um contrato sobre
os meios da prova que impõe o dever de não apresentar meios
não admitidos – 345º/2 do CC).
• Atos conjuntos – resultado de um ato unilateral de cada uma das partes que, uma vez
comunicado ao tribunal por cada uma delas, produz um efeito equivalente ao de um
negócio jurídico (as partes acordarem a alteração da causa de pedir ou do pedido – 264º);
Quanto aos efeitos característicos que produzem em processo, os atos das partes podem ser:
Alguns atos impõem forma oral, como é o caso das audiências. Também outros atos
podem ser realizados de forma oral, como seja a citação do réu (225º/2/c)), por exemplo. Já outros
atos exigem forma escrita, como é o caso dos articulados (147º/1), sendo que se não o forem, o
ato considera-se não realizado. Os negócios processuais, geralmente, têm uma forma fixada por
lei, como é o caso da convenção de arbitragem (2º/1 e 2 da LAV) ou dos pactos de jurisdição e
de competência (94º/3/e)). É permitido ratificar-se erros de cálculo ou escrita na peça processual
(146º/1), assim como atos processuais, exceto quando a falta se deva a dolo ou culpa grave da
parte e o suprimento não implique prejuízo relevante para o regular andamento da causa (146º/2).
A prática de atos processuais está também, normalmente, sujeita a prazos, podendo ser
prazo dilatórios ou perentórios (139º/1). O prazo dilatório difere para certo momento a
possibilidade de realizar o ato ou o início da contagem de um certo prazo (139º/2), enquanto o
prazo perentório, quando decorrido, extingue o direito de praticar o ato (139º/3). Quando não se
fixam prazos especiais, os prazos são de 10 dias para as partes (149º/1), para o juiz, para despachos
que não sejam de mero expediente (156º/1) e são proferidos no máximo de dois dias (156º/3), e
para o MP (156º/2), enquanto para a secretaria são de 5 dias (162º/1). Este prazo é continuo
(138º/1/1ª parte), suspendendo-se apenas durante as férias judiciais (28º LOSJ) salvo se a duração
dele for igual ou superior a seis meses ou se tratar de atos que dam ser praticados em processos
que a lei considere urgentes (138º/1/2.ª parte). Isto acontece também com prazos de caducidade
relativos à propositura das ações previstos na legislação processual civil (138º/4), caso dos artigos
317º/1, 373º/1/a), 395º e 697º/2 a 4
A não prática de um ato dentro do prazo perentório implica a preclusão da sua realização,
no entanto, a realização destes atos pode verificar-se fora do prazo dentro dos três dias úteis
subsequentes ao termo do prazo, embora a validade fique sujeita ao pagamento imediato de uma
multa (139º/5). O juiz pode determinar a redução ou dispensa da multa nos casos de manifesta
carência económica ou quando o montante seja desproporcional (139º/8). Estes prazos podem
também ser prorrogados quer por disposição legal (141º/1) quer por acordo das partes (141º/2).
Apesar do prazo perentório já ter decorrido, é possível praticar o ato quando exista um
justo impedimento (139º/4), evento não imputável à parte nem aos representantes ou mandatários
que obste à prática do ato (140º/1), e, portanto, não culposo, regime aplicável a prazos em decurso
numa ação e não prazos respeitantes à propositura das ações. A diligência exigível deve ser aferida
de forma menos exigente para a parte do que para os mandatários, sob pena de violar o direito de
acesso aos tribunais (20º/1 da CRP). O justo impedimento deve ser invocado durante o prazo
perentório ou no período de três dias úteis estabelecidos no artigo 139º/5. A parte que alegar o
justo impedimento deverá oferecer prova (140º/2/1ª parte), a não ser que constitua fato notório
(140º/3), e após ouvir a parte contrária o juiz admite que o requerente pratique o ato fora do prazo
se julgar verificado o impedimento e reconhecer que a parte se apresentou requerer logo que o
mesmo cessou (140º/2).
uma vez que os efeitos não podem permanecer incertos e inseguros, não podendo nem o tribunal
ou as partes sujeitar os seus atos a condições. No entanto, existem algumas exceções:
Um ato inválido de uma parte pode ser convalado com um ato válido se estiverem
preenchidos os pressupostos deste último e se não se opuserem nenhuns interesses merecedores
de proteção da outra parte.
Os atos do tribunal são, à partida, irrevogáveis, uma vez que depois da sentença ou
despacho, fica o tribunal esgotado do seu poder jurisdicional quanto à matéria decidida (613º/1 e
3). Já quanto aos atos das partes, os atos constitutivos são irrevogáveis logo que tenham
constituído uma posição favorável para a contraparte, enquanto os atos postulativos são
livremente revogáveis enquanto não houver uma decisão do tribunal, só podendo, depois disso,
ser revogados nos casos expressamente previstos na lei (27º/2).
Também nos atos processuais existe uma relevância para possíveis divergências entre as
vontades e a declaração, assim como de vícios da vontade, no entanto, as disposições da lei civil
não são aplicáveis direta ou analogicamente aos atos processuais.
Nos atos das partes, estes relevam nos negócios processuais, portanto, se alguma delas
confessou o pedido (283º/1), desistiu da instância (285º/2) ou do pedido (283º/1 e 285º/1) ou
transigiu sobre o objeto da ação (283º/2 e 1248º/1 do CC) todos estes atos poderão ser declarados
nulos ou anulados nos termos aplicáveis a quaisquer atos jurídicos (291º/1). A falta de vontade é
também relevante no caso da simulação processual, que fundamenta o recurso de revisão pelo
terceiro prejudicado (696º/g)), e permite ao tribunal, visando obstar os fins prosseguidos pelas
partes, por termo ao processo (612º).
Já nos atos do tribunal, o lapso manifesto pode ser corrigido por despacho a requerimento
de uma das partes ou por iniciativa do juiz (614º/1). Justifica também o requerimento de reforma
da sentença, se esta não admitir recurso ordinário (616º/2).
Também as nulidades de atos processuais podem ser nominadas (186º a 194º) ou inominadas
(195º).
Nulidades inominadas são a omissão de uma formalidade que a lei impõe constituindo
causa de nulidade do ato processuais (195º/1).
sequência processual ou dos atos processuais que não afetam o exame de decisão são meras
irregularidades. As consequências poderão ser: as que a lei impuser (normalmente, a nulidade –
195º/1 – mas também a inexistência); ou, se a lei nada disser e se o vicio influenciar o exame ou
decisão da causa, este releva como causa de invalidade (195º/1), e se assim não for, trata-se de
uma mera irregularidade.
A nulidade nunca poderá ser sanda depois de já se encontrar esgotado o prazo para a
prática do ato. A renovação do ato é sempre possível, caso aproveite a quem não tenha
responsabilidade na invalidade processual (202º/2ª parte).
• Positivos – aqueles que têm de estar preenchidos para que a decisão do mérito ou medidas
executivas sejam admissíveis;
• Negativos – aqueles que não podem estar preenchidos para que a decisão do mérito ou
medidas executivas sejam admissíveis, como as exceções de litispendência e de caso
julgado (577º/i)), 580º e 581º) e da exceção de imunidade de jurisdição.
Exceções dilatórias:
instrumental para atingir o referido fim. O processo civil não visa obter qualquer tutela dos
direitos subjetivos ou dos interesses legalmente protegidos, tendo essa tutela de corresponder à
justa composição do litigo, tendo de ser adquirida no âmbito de um processo equitativo.
O nº1 do artigo 10 diferencia as ações declarativas das executivas e o nº2 determina que
as ações declarativas podem ser de simples apreciação, condenatórias ou constitutivas. É possível
cumular num único processo vários pedidos (555º), até de natureza diferente. Exemplo: cumular
um pedido de simples apreciação positiva (declaração de propriedade) com um de condenação
(indemnização de perdas e danos).
São definidas pelo artigo 10º/3 a), como aquelas que têm por fim obter unicamente a
declaração da existência ou inexistência de um direito ou de um fato. Há que distinguir então as
modalidades das ações de simples apreciação: positivas ou negativas. Este tipo de ação pode ter
por objeto meros fatos (10º/3 a)), mas só são suscetíveis de declaração em juízo fatos com
relevância jurídica, ou seja, dos quais possa resultar um efeito jurídico.
A ação é negativa quando tiver por fim obter a declaração da inexistência de um direito
ou de um fato; é o caso da ação destinada a obter a declaração de que o autor não é devedor do
réu. Este tipo de ação levanta algumas dificuldades; na doutrina pode ser vista:
• Como uma ação normal, com um pedido determinado e uma causa de pedir, igualmente
determinada, do fato ou direito negado pelo autor (186º/2 a) e 581º/4) que o autor deve
alegar e provar;
• Como uma ação peculiar, em que o autor se pode limitar a negar certa relação, não
invocando nenhum fundamento, antes empurrando para o réu o ónus de precisar e de
provar o que impugna nessa negação o respetivo fundamento.
Pode julgar-se ver uma confirmação desta última posição no artigo 343º/1 CC (letra do
artigo). Esta solução seria própria da construção da ação de simples apreciação negativa. Por
exemplo, se certa pessoa anda a afirmar “A é meu devedor”, a lei dá ao autor a possibilidade de
propor uma ação em que constrange essa pessoa a definir in audicio a sua posição: “eu afirmo
genericamente que nada devo; venha o réu concretizar por que se julga credor, e prová-lo”. É uma
ação de um tipo, de origem germânica — ação de provocação — que coloca outra pessoa em
situação semelhante à do autor, com o ónus e o risco de fundamentar e de provar o seu direito.
As ações de condenação são as que têm por fim exigir a prestação de uma coisa ou de um
fato, pressupondo ou prevendo a violação de um direito (10º/3 b)). São aquelas em que o autor
faz valer uma pretensão material, isto é, um direito a uma prestação (ação ou omissão) e
correspondem ao que o CC chama ações de cumprimento (817º e ss). Nestas ações pede-se a
declaração do direito a uma prestação, mas pede-se mais do que isso: pede-se ainda que, em
consonância com a exigência do cumprimento da obrigação, o tribunal faça seguir dessa
declaração, uma ordem para que o réu cumpra — a condenação. Não significa isto que sejam
cumuladas duas ações ou formulados dois pedidos: o pedido unitário de condenação analisa-se
em ambos os elementos.
3.2.1 Modalidades
Uma modalidade especifica das ações condenatórias é constituída pelas ações inibitórias,
que são aquelas através das quais se exige a alguém a omissão da violação de um direito. É o caso
da ação destinada a evitar a ofensa de direitos de personalidade (70º/2 CC); ou da ação destinada
a proibir a emissão de fumo e a produção de ruídos (1346º CC) — estas ações devem ser admitidas
sempre que exista o fundado receio da violação de um direito.
b) A configuração da ação inibitória (de base não contratual) é bastante controversa, mas
tende a prevalecer a orientação de que essa ação está subjacente a uma pretensão à
omissão. A verdade é que há pretensões que são instrumentos de defesa de direitos – é o
caso da pretensão da omissão, dado que é o seu caráter instrumental que explica, que essa
pretensão não seja suscetível de ser cedida ou de se extinguir por prescrição.
O artigo 10º/3 c) define as ações constitutivas como as que têm por fim autorizar uma
mudança na ordem jurídica existente. A relação material nestas ações é por noema uma relação
potestativa: o autor exerce esse direito, estando os efeitos de tal exercício sujeitos a uma sentença
favorável que reconheça e declare o direito e que, implicitamente, autorize ou desencadeie aqueles
efeitos. São exemplos de ações constitutivas aquelas que se referem à impugnação ou revogação
de atos jurídicos; impugnação ou dissolução de estados pessoais; dissolução/denúncia/resolução
de negócios jurídicos; exercício de direitos de preferência ou a à destituição de cargos sociais.
Por vezes, o direito potestativo só pode ser exercido em processo (divórcio sem o
consentimento de um dos cônjuges; 1773º CC). Pode então falar-se de um direito de ação
constitutivo que o titular invoca contra a parte demandada (2º/2).
Embora não se fundem num direito potestativo, também são ações constitutivas as que
visam modificar ou impedir a produção de certos efeitos jurídicos. Exemplos: ação de anulação
da sentença arbitral (46º LAV); e a ação que visa modificar a prestação de alimentos (619º2).
Para se determinar se se deve usar o processo especial, há que ver no CPC, dos artigos
878º a 1081º e em leis avulsas, se alguns dos tipos de processos especiais aí contemplados abrange
o seu âmbito de aplicação. Nos termos do artigo 542º/1, os processos declarativos especiais
regulam-se antes do mais, pelas disposições que lhe são próprias e pelas disposições gerais e
comuns, em tudo quanto não estiver regulado naquelas disposições.
Apesar de todo o processo declarativo comum seguir uma única forma, há algumas
especialidades no respetivo procedimento em função do valor da causa. Assim:
→ Nas ações de valor não superior a metade da alçada da Relação a tramitação posterior à
fase dos articulados é distinta da tramitação das ações cujo valor exceda esse quantitativo
(597º) (alçada da relação: EUR 30.000);
→ Nas ações de valor não superior a metade da alçada da Relação, a perícia é realizada por
um único perito (468º/5);
→ Nas ações de valor não superior à alçada do tribunal de 1ª instância, o limite do número
de testemunhas é reduzido para metade do que é admissível nas causas de valor superior
a essa alçada (511º/1 2ª parte) (alçada da 1ª instância: EUR 5.000);
→ Nas ações de valor não superior à alçada do tribunal de 1ª instância, o tempo previsto
para as alegações orais dos advogados e respetivas réplicas é reduzido para metade
daquele que vale para as demais ações (604º/5 2ª parte).
Em regra, todas as leis são de aplicação imediata (12º/1 1ª parte do CC), pois que as leis
entram em vigor para se aplicarem de imediato às situações que as abrangem. Não obstante,
devem ser aplicadas com respeito do domínio regido pela lei antiga, ou seja, não devem aplicar-
se de forma retroativa (2ª parte).
Quanto aos efeitos dos atos, há que aplicar igualmente as regras de direito transitório
formal (12º CC). Admita-se que a lei nova aumenta as condições em que se mantêm os efeitos
civis derivados da causa em que se verificou a absolvição da instância (279º/2); a lei nova só é
aplicável às absolvições da instância proferidas após a sua entrada em vigor.
No que toca à validade dos negócios processuais aplica-se o disposto do artigo 12º/2 1ª
parte CC: a validade substancial/formal desses negócios é regulada, em regra, pelo regime vigente
no momento da sua celebração.
tribunal durante a pendência da causa. O artigo 44º/3 LOSJ estabelece que a admissibilidade dos
recursos por efeito das alçadas é regulada pela lei em vigor ao tempo em eu foi instaurada a ação
(629º/1).
Porém, o modo de produzir em juízo a prova só pode ser regulado pela lei processual do
tribunal onde a prova se produz. Ainda que no país onde foi celebrado o contrato de mutuo por
juramento seja admissível, não o é perante o direito português (não é um meio admissível de
produção de prova); trata-se de direito processual, logo, impreterível por lei estrangeira.
A territorialidade das leis de processo não obsta a que os tribunais dos vários Estados
cooperem no plano processual. A lei processual civil remete, em certas matérias, para o direito
internacional através de clausulas gerais de receção, nomeadamente de origem convencional ou
europeia (8º/2 e 4 CRP): é o que faz designadamente nos artigos 59º/1, 181º/1, 239º/1, 580º/3 e
978º/1 A lei portuguesa remete para o direito internacional ou europeu, pelo que não há quebra
do principio da territorialidade da lei processual.
Exceções convencionais→ este principio não apresenta exceções legais, mas comporta
uma exceção convencional. Em regra, as partes podem confiar o seu pleito a um tribunal arbitral
(voluntário), podendo, na convenção de arbitragem acordar sobre as regras do processo. Ora, nada
obsta a remissão para uma lei processual estrangeira, que se tornará aplicável em Portugal, a
menos que que repugne os princípios fundamentais do direito processual civil português.
Por exemplo: (i) o artigo 2008°/1 do CC estatui que o direito a alimentos não pode ser
renunciado, tratando-se, portanto, de uma relação jurídica indisponível, nomeadamente por
renúncia do credor; ora, se uma pessoa propusesse uma ação de alimentos contra outra e,
seguidamente, desistisse do pedido, obtinha, com esta atuação, em face do disposto no artigo
285º/1, o mesmo resultado que obteria com uma renúncia ao seu direito; o princípio da
instrumentalidade impõe que, nesta hipótese, a desistência do pedido seja nula (289°/1); (ii)
proposta uma ação de investigação da paternidade, poderia o réu confessar, não o pedido em si,
mas os fatos em que tal pedido se funda; se tal confissão, como é normal, fizesse prova de tais
fatos (358°/1 do CC), dar-se-ia, embora indiretamente, o estabelecimento voluntário da
paternidade; daí que, em obediência ao princípio da instrumentalidade, a lei recuse a esta
confissão o valor probatório pleno (354º/b) do CC); por essa mesma razão, naquela ação a falta
de contestação do réu não implica a confissão dos fatos articulados pelo autor (567°/1 e 568°/c))
e a não impugnação destes fatos também não determina a sua admissão por acordo (574º/2).
Quando um efeito jurídico é indisponível, a lei chega mesmo a restringir as ações de que
esse efeito jurídico seja mera consequência eventual, por exemplo o limite substantivo constante
do artigo 1682°-Aº/1/a), CC: fora do caso de casamento em regime de separação de bens, nenhum
cônjuge pode alienar imóveis, mesmo próprios, sem o consentimento do outro; por força do
princípio da instrumentalidade, o artigo 34°/1, impõe que, mesmo só para pôr em risco um imóvel
através de uma ação (reivindicado um imóvel, se o autor perder, fica assente que o imóvel não é
dele), é necessário que ambos os cônjuges estejam em juízo ou que um deles dê o seu
consentimento ao cônjuge autor (786º/1/a)).
O dispositivo respeita também da autonomia das partes no âmbito do direito privado (405º
do CC), em especial, da liberdade de disposição e de exercício dos direitos pelos respetivos
limites. Isto traduz-se numa fixação do pedido pelas partes, que o fixam livremente, não podendo
a sentença, por exemplo, condenar o réu numa quantidade superior ou objeto diverso do que foi
pedido (609º/1), sob pena de nulidade da decisão (615º/1/e), 666º/1 e 685º). A vinculação do
tribunal ao pedido não impede, contudo, que atribua menos do que a parte pediu, podendo também
assar por uma atribuição de um minus qualitativo, admissível quando o autor tenha formulado um
pedido de condenação (10º/3/b)), e o tribunal, embora não possa condenar o réu na realização da
prestação, possa reconhecer o direito que o autor alegou (10º/3/a)).
O tribunal deve conhecer de todos os fatos alegados pelas partes no momento processual
adequado, sejam fatos principais, aqueles que constituem causa de pedir ou fatos que
fundamentam a exceção, ou fatos complementares, aqueles que complementam ou concretizam
os principais, quer sejam favoráveis ou desfavoráveis à parte que os alegou em juízo. Isto de modo
a que o juiz resolva todas as questões que as partes submetam à sua apreciação. Assim, recai sobre
as partes um ónus na conformação do objeto do processo, podendo ser:
• Ónus de alegação subjetivo – compete ao autor invocar os fatos que integram a causa de
pedir (5º/1 e 552º/1/d)) e cabe ao réu alegar os fatos em que se baseiam as exceções,
dilatórias ou perentórias (5º/1 e 571º/1 e 2). O ónus de alegação objetivo faz recair sobre
a parte quem não alegou os fatos que lhe são favoráveis os riscos inerentes a esta omissão;
• Ónus de impugnação subjetivo – cabe ao réu impugnar os fatos articulados pelo autor na
petição inicial (571º/1 e 2). O ónus de impugnação objetivo implica que se consideram
admitidos por acordo os fatos que forem alegados por uma das partes e não forem
impugnadas pela contraparte (574º/2).
O tribunal deve convidar qualquer das partes qualquer das partes a suprir insuficiências
ou imprecisões na exposição ou concretização de matéria de fato (590º/2/b) e 4).
• Um de carácter negativo: o tribunal não pode ser vinculado pelas partes (nem mesmo por
um acordo destas) quanto ao direito aplicável na decisão da causa; daí que o tribunal
possa corrigir uma deficiente qualificação jurídica fornecida pelas partes;
• Um outro igualmente de carácter negativo: as partes não podem afastar a aplicação pelo
tribunal das regras de carácter imperativo, apesar de, naturalmente, poderem dispor das
regras de natureza supletiva através de estipulações que as substituam; assim, por
exemplo, as partes não podem pretender que o tribunal aprecie apenas a justificação para
o incumprimento de um contrato se o mesmo for considerado inválido por violação da
forma legal;
• Finalmente, um outro de carácter positivo: o tribunal deve analisar os fatos alegados pelas
partes segundo todas as possíveis qualificações legais; este dever de esgotamento das
qualificações jurídicas é, em regra, irrelevante quando a ação proceder, porque para o
autor é, em princípio, indiferente o fundamento dessa procedência, mas é sempre
relevante quando a ação houver de ser julgada improcedente, porque, neste caso, há que
esgotar todas as possibilidades de procedência da ação.
• Fatos acessórios - os fatos que individualizam a situação subjetiva alegada pelo autor -
isto é, os fatos que constituem a causa de pedir - e os fatos que fundamentam a exceção
invocada pelo réu estão submetidos ao princípio da disponibilidade (5°/1): aqueles fatos
só podem ser considerados pelo tribunal se forem alegados pelas partes. Diferente é o
regime relativo aos fatos complementares: estes fatos podem ser considerados se forem
alegados pelas partes ou se, tendo surgido na instrução da causa, as partes tiverem tido a
possibilidade de se pronunciarem sobre eles (artigo 5º/2/b)).Também é diferente o regime
definido para os fatos instrumentais (ou probatórios), isto é, para os fatos que indiciam,
através de presunções legais ou judiciais (349° a 351° do CC), os fatos principais ou
complementares. Por exemplo: a infiltração de águas da chuva prova que, na construção
do imóvel, não foram observadas as regras da boa construção de edifícios.
Independentemente de qualquer alegação das partes, estes fatos instrumentais podem
resultar da instrução da causa, hipótese em que podem ser considerados oficiosamente
pelo tribunal da causa (5°/2/a));
• Fatos normativos - os fatos que as partes têm o ónus de alegar são os fatos que são
subsumíveis à previsão de uma regra jurídica, isto é, que são necessários para a aplicação
de uma regra jurídica. Mas nem todos os fatos que são relevantes para a apreciação de
uma causa têm de ser alegados pelas partes. Entre eles há que destacar os fatos
normativos, isto é, os fatos que, sendo referidos a um saber ou conhecimento pré-jurídico,
são indispensáveis para a aplicação de uma regra jurídica, como, por exemplo, os usos do
comércio (internacional), o grau de compreensão de um destinatário médio de cláusulas
contratuais gerais ou os riscos de diferentes métodos de tratamento na avaliação da falta
de cuidado do médico.
Como exceção à definição do pedido pela parte (609°/1) e à regra da nulidade da decisão
que conhece de pedido não formulado pela parte (615º/1/e), 666°/1, e 685º), o artigo 2007°/1 do
CC permite que o tribunal conceda oficiosamente alimentos provisórios a um alimentando menor.
Algo de semelhante se encontra previsto no artigo 931°/7, quanto aos alimentos devidos a um dos
cônjuges. O tribunal pode retirar da decisão proferida as respetivas consequências legais. Assim,
o STJ definiu que, quando o tribunal conhecer oficiosamente da nulidade de um negócio jurídico
invocado no pressuposto da sua validade e quando na ação tiverem sido fixados os necessários
fatos materiais, a parte deve ser condenada, ex oficio, na restituição do recebido em cumprimento
desse negócio, com fundamento no disposto no artigo 289.°/1 do CC
Quanto à matéria de fato, fala-se de conhecimento oficioso para referir que o tribunal
pode tomar conhecimento dela e utilizá-la como fundamento da sua decisão, mesmo que as partes
o não solicitem. Portanto, enquanto a inquisitoriedade significa que o tribunal pode investigar,
por sua iniciativa, matéria de fato relevante, a oficiosidade implica que o tribunal pode conhecer,
independentemente de qualquer solicitação da parte, da matéria de fato que seja trazida ao
processo, mesmo que não seja por iniciativa das partes (por exemplo, o artigo 5°/2).
Este dever acaba também por se traduzir num poder que o juiz tem de simplificar e agilizar
o processo, modificando a tramitação processual ou atos processuais, adequando o processo à
Os poderes que servem de instrumento para o exercício deste poder por parte do tribunal
não podem ser poderes discricionários, não necessariamente poderes funcionais ou poderes-
deveres, mesmo que essas poderes constem de regras com operador permissivo, o tribunal não
tem nenhuma margem de discricionariedade no exercício desses poderes. A omissão destes
deveres traduz-se numa nulidade processual (195º/1), tornando-se patente quando o tribunal
profere uma decisão. Assim, ataca-se a decisão, e não o que deixou de ser realizado, sendo que o
vicio não é da decisão como tramite processual, mas sim da decisão como ato processual por ter
um conteúdo inadmissível, sendo uma decisão nula por excesso de pronúncia dado que conhece
de matéria de que, nas condições em que o faz, não podia conhecer (615º/1/d), 666º/1 e 685º).
Neste contexto surge o princípio do contraditório, que implica que sendo formulado um
pedido ou oposto um argumento contra uma parte, deve ser-lhe dada a oportunidade de se
pronunciar sobre o pedido ou argumento, decorrendo um direito de resposta de uma parte perante
a outra, dado que qualquer das partes tem o direito a pronunciar-se sobre as alegações da parte
contrária (3º/1), quer um direito a audiência prévia da parte perante o tribunal, dado que, antes de
decidir, o tribunal deve de ouvir ambas as partes. Os corolários do direito à audição prévia são:
• Em regra, levantada por uma parte uma questão, o juiz deve de ouvir a parte contrária
antes de decidir (3º/3/1ª parte), exigindo-se o dever do tribunal informar a parte e que esta
tenha tempo suficiente para responder;
• Quando o tribunal considere relevante matéria de fato ou de direito que as partes tenham
considerado irrelevante ou que lhes tenha passado despercebida; a necessidade da
consulta decorre da circunstância de as partes não se terem apercebido de um regime
supletivo ou imperativo aplicável ao caso;
• Quando o tribunal qualifique determinada matéria de fato de maneira diferente da das
partes ou entenda que a questão determina a aplicação de direito estrangeiro;
• Quando o tribunal conheça oficiosamente de matéria de fato não alegada pelas partes;
esta matéria de fato é aquela em relação à qual o tribunal tenha poderes inquisitórios
(986°/2), mas não inclui os fatos instrumentais e os fatos complementares que são
adquiridos durante a instrução da causa, dado que estes fatos estão sujeitos à
contraditoriedade própria da produção da prova (415°/1);
• Quando o tribunal tenha dado a entender às partes que uma determinada questão de fato
ou de direito era irrelevante e, entretanto, tenha mudado de opinião;
• Quando o tribunal forneça a um meio de prova um valor distinto daquele que ambas as
partes lhe atribuem.
O dever de consulta das partes não é dispensado quando o tribunal entenda que as partes
deviam ter considerado a matéria de fato ou de direito, deviam saber qual o direito aplicável ou
não deviam ignorar o valor do meio de prova. Dito de outro modo, o dever de consulta não
depende de nenhuma avaliação da diligência das partes. A não audição prévia das partes implica
a nulidade da decisão por excesso de pronúncia (porque o tribunal conhece nela de uma questão
de que não podia conhecer (615°/1/d)). Noutros termos: a violação da proibição das decisões-
surpresa implica a nulidade da própria decisão-surpresa.
domínio das partes e proibindo a litigância de má-fé. Podemos ter três hipóteses de recortes da
litigância de má-fé:
• O autor demanda sem razão, mas de boa fé e sem culpa; essa parte vai decair na ação e,
normalmente, pagar as custas (527°/1 e 2); não há, porém, lugar a indemnização, pois o
autor não agiu ilicitamente;
• O autor demanda sem razão, de boa fé, mas com culpa (ação leviana), pois não investigou
suficientemente a situação jurídica; essa parte vai perder a ação e, normalmente, pagar as
custas (527°/1 e 2); em regra, essa parte não deve nenhuma indemnização, pois a lei só
sanciona a atuação com dolo ou a negligência grave (542°/2); esta regra comporta a
exceção regulada no artigo 374°/1, relativa à responsabilidade do requerente dos
procedimentos cautelares (621° do CC) e nos artigos 858° e 866.°, relativos à
responsabilidade do exequente;
• O autor demanda sem razão e de má fé, ou seja, com dolo ou negligência grave (ação
temerária); essa parte vai decair na ação e, normalmente, pagar as custas (527°/1 e 2) e
está sujeita a multa e indemnização como litigante de má fé (542°/1).
Atua com má fé a parte que, com dolo ou negligência grave, deduz pretensão ou oposição
cuja falta de fundamento não deve ignorar (542º/2/a)). É o que sucede, por exemplo, quando é
deduzido um pedido infundado de declaração de insolvência (22° do CIRE) ou quando o
requerido no procedimento de injunção deduz oposição cuja falta de fundamentação não podia
ignorar (13º/1/e) e 12º-A/4 do RPOP). Assumem ainda comportamento contraditório as situações
de venire contra factum proprium ou de supressio.
Atua com má fé a parte que pratica omissão grave do dever de cooperação com o tribunal
e a contraparte (542°/2/c); 7°). O mesmo vale para a parte que, com dolo ou negligência grave,
abusa de faculdades processuais, fazendo do processo ou dos meios processuais um uso
manifestamente reprovável com o fim de conseguir um objetivo ilegal, impedir a descoberta da
verdade, entorpecer a ação da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado de
uma decisão (542°/2/d)), por exemplo quando a parte apresenta um requerimento ou suscita um
incidente com o único objetivo de obstar ao cumprimento do julgado ou ao trânsito da decisão
(618° e 670.°).
A parte que litiga de má-fé é sancionada com a condenação em multa (entre 2 UC e 100
UC - 27º/3 do RCP) e numa indemnização à parte contrária (artigo 542º/1). Esta indemnização é
quantificada nos termos do artigo 543º/1 e 2, e não concorre com aquela que resulta do disposto
no artigo 483º do CC, pelo que não é possível procurar a responsabilização da parte que atua com
mera negligência. Para além da multa e da indemnização, o regime da litigância de má fé implica
que o ato praticado pela parte contra os ditames da boa fé não pode produzir nenhuns efeitos em
juízo. O ato é ilícito e, por isso mesmo, ineficaz, não podendo a multa e a indemnização ser
entendidas como significando que, paga a multa e realizado o respetivo ressarcimento à parte
contrária, o ato pode produzir todos os seus efeitos em juízo. Por exemplo: no caso da tentativa
ilícita de desaforamento, o tribunal deve declarar-se incompetente (107º). Assim, o ato praticado
pelo litigante de má fé não pode produzir nenhuns efeitos em processo (a não ser aqueles que o
sancionam). Existem também casos em que a litigância de má-fé conduz apenas à multa e
ressarcimento da parte contrária, por exemplo, quando a litigância de má fé decorre da violação
do dever de cooperação da parte (8º e 542°/1/c)).
Os regimes especiais previstos nos artigos 374º/1, 727°/4, 858° e 866º operam com a mera
negligência, o que aumenta as hipóteses de responsabilização da parte. Como é evidente, estes
regimes especiais continuam aplicáveis quando a parte atua com negligência grave ou mesmo
com dolo e não obstam à aplicação do regime geral em hipóteses por eles não abrangidas. A parte
deve ser condenada a pagar uma taxa sancionatória excecional se atuar com falta de diligência ou
prudência ao propor ação, deduzir oposição. formular requerimento, interpor recurso, apresentar
reclamação ou levantar incidente manifestamente improcedente (531º).
• Abuso do direito à ação – ocorre quando ocorre um uso reprovável do processo ou dos
atos processuais, por exemplo: o autor que, em vez de exigir a totalidade da dívida numa
única ação, reparte aquela dívida por várias ações; não só abusa do seu direito a exigir o
cumprimento da dívida, como abusa dos meios processuais. Isto implica a qualificação
da parte como litigante de má-fé (542º/2/d)), não havendo este abuso quando não coincida
com a litigância de má-fé pelo uso reprovável dos meios processuais;
• Abuso do direito de ação – a ação pode também improceder por o tribunal considerar
que o aquilo que o autor pede é abusivo, devendo ser sancionado nos termos do 334º do
CC. Não se deverá confundir o abuso de faculdades processuais com o exercício abusivo
de um direito substantivo. Por exemplo: as partes celebraram um contrato de mútuo que
é nulo por falta de forma; no entanto, o devedor pagou, durante vários anos, os juros do
empréstimo; é abusivo o pedido feito por este devedor de devolução da quantia paga em
Num plano individual, este princípio proíbe a prática de atos inúteis ou supérfluos, sendo
estes objetivamente supérfluos quando não respeitem à matéria discutida no processo e
subjetivamente supérfluos quando nada acrescentam ao que já está adquirido no processo. Esta
inutilidade subjetiva é facilmente demonstrável, mas tem por base um pressuposto
indemonstrável: o ato é inútil na pressuposição de que nada vai acrescentar, no entanto, nunca se
pode concluir com certeza que o ato, se tivesse sido realizado, seria útil. Fundamenta-se assim,
pela economia processual, a irrelevância de um ato que é considerado supérfluo porque o juiz já
chegou a essa conclusão.
Âmbito da competência:
O poder jurisdicional reparte-se entre os tribunais de todos os países. Os tribunais
portugueses encarregam-se apenas de uma certa extensão desse poder jurisdicional, a que se
chama competência internacional (59º CPC; 37º/2 LOSJ). A distribuição harmonizada da C.I. só
é possível através de uma autoridade supra-estadual que a reparta pelas várias ordens jurídicas,
como sucede com os regulamentos europeus; ou por convenção internacional, quando todos os
Estados assim concordarem. Quando o legislador nacional o faz unilateralmente pode dar azo a
competências concorrentes (para a mesma ação, possuírem competência internacional tribunais
de ordens jurídicas diferentes).
A medida de cada Tribunal Português é a sua competência interna, que pode ser delimitada em
função de um ou mais dos seguintes fatores (60º/2 CPC; 37º/1, 40º, 41º, 42º e 43º da LOSJ):
• Matéria do litígio;
• Valor da causa;
• Hierarquia judiciária;
• Território sobre o qual o tribunal exerce o seu poder jurisdicional;
• Artigo 117º/1 a) LOSJ: em algumas circunstâncias a forma do processo também é um
fator de aferição da competência.
Incompetência Funcional
• Se o ato implicar o exercício do poder jurisdicional, verifica-se uma falta absoluta dessa
competência, o que determina a inexistência do ato. Exemplo: secretaria elabora um
despacho de citação em substituição do juiz;
• Se o ato não implicar o exercício do poder jurisdicional, ocorre uma falta relativa dessa
competência, o que constitui uma nulidade processual (195º/1). Exemplo: secretaria
procede à citação num caso em que este ato depende de prévio despacho judicial.
Competência decisória: nem todos têm competência decisória, ou seja, nem todos têm
competência para se pronunciarem sobre as mesmas matérias relevantes para a decisão da causa.
Exemplo: nos recursos que o STJ aprecia, só tem competência para se pronunciar sobre matéria
de direito, não sobre a de fato (46º LOSJ; 682º/1 e 2 CPC); trata-se de uma restrição na
competência decisória desse tribunal.
Violação: nulidade por excesso de pronúncia (615º/1 d), 613º/3, 666º/1 e 685º). O
Tribunal conhece questões de que não devia apreciar por não ter competência para se pronunciar
sobre elas.
• STJ: órgão superior da hierarquia dos tribunais judiciais (210º/1 CRP; 29º/1 a) e 31º/1
LOSJ) e está instalado em Lisboa (45º LOSJ). Pode funcionar em plenário, em pleno das
secções especializadas ou por secções (48º/1 LOSJ; 211º/4 CRP). Compreende secções
em matéria cível, matéria penal e em matéria social (4º/1 LOSJ), havendo ainda uma
secção com competência para o julgamento dos recursos das deliberações do CSM (47º/2
LOSJ);
• Relações: são em regra os tribunais de 2ª instância (210º/4 CRP; 29º/2 e 67º/1 LOSJ).
Funcionam em plenário e por secções (67º/2 LOSJ e 211º/4 CRP). Compreendem secções
em matéria cível, matéria penal, matéria social, matéria de família e menores, matéria de
comércio, de propriedade intelectual e de concorrência, regulação e supervisão (67º/3
LOSJ). O funcionamento das secções social, de família e menores, de comércio, de
propriedade intelectual e de concorrência, regulação e supervisão depende do volume ou
da complexidade do serviço (nº4 do 67º);
Comarca: artigo 29º/3 e 79º LOSJ. Os tribunais de comarca desdobram-se em juízos, que podem
ser de competência especializada, de competência genérica e ainda de proximidade (81º/1 LOSJ).
Entre outros, podem ser criados como juízos de competência especializada, o juízo central cível
(81º/3 a) LOSJ); o juízo local cível (81º/3 b) LOSJ); o juízo de família e menores (81º/3 g) LOSJ);
o juízo de comércio (81º/3 i)) e o juízo de execução (81º/3 j) LOSJ).
* O STA no âmbito dos tribunais administrativos e fiscais tem duas secções: contencioso
administrativo e contencioso tributário (12º/2 ETAF). Círculo > Central > STA
Cabe relevar o artigo 280º/1 CRP, no qual dispõe que cabe recurso para o TC quer das decisões
dos tribunais que recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua
inconstitucionalidade, quer das decisões que apliquem uma norma cuja inconstitucionalidade haja
sido suscitada durante o processo (70º/1 a) e b) LTC).
Há ainda um terceiro caso de recurso para o TC em que este é obrigatório para o MP: é o recurso
que se encontra previsto no nº5 e que cabe das decisões dos tribunais que apliquem norma
anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo próprio TC (72º/3 LTC).
O TJUE inclui o TJ, o TGeral e tribunais especializados (19º/1 1ªparte TUE) e é qualificado como
o garante do respeito do direito na interpretação e aplicação dos Tratados (2ª parte). Os tribunais
especializados podem ser criados pelo Parlamento e pelo Conselho da UE (257º TFUE).
Valor da decisão: a decisão proferida pelo TEDH pode servir de fundamento à revisão
da sentença nacional incompatível (696º f) CPC)
→ Ações que se destinem a efetivar o cumprimento de obrigações, com exceção das que
tenham por objetivo o cumprimento de obrigação pecuniária e digam respeito a um
contrato de adesão (9º/1 a) LJP);
→ Ações que respeitem à responsabilidade civil contratual e extracontratual (9º/1 h) LJP);
→ Ações que respeitem a incumprimento contratual, exceto de contrato de trabalho e de
arredamento rural (9º/1 i) LJP);
→ Ações que respeitem à garantia geral das obrigações (9º/1 j) LJP);
Segundo o artigo 151º/1 da LOSJ, a competência material dos julgados de paz para
apreciar e decidir as ações previstas no artigo 9º/1 LJP é alternativa relativamente à competência
dos tribunais judiciais. Isto é, mesmo que exista, na respetiva circunscrição territorial, um julgado
de paz materialmente competente, o autor pode propor a ação no competente tribunal judicial.
Estrutura: podem dispor, caso se justifique, de uma ou mais secções dirigidas, cada uma
delas, por um juiz de paz (15º LJP). Cada julgado de paz tem um serviço de atendimento e um
serviço de apoio administrativo (17º/1 LJP) e em cada um existe ainda um serviço de mediação
como forma de resolução alternativa de litígios (16º/1 LJP). Este serviço é competente para
mediar quaisquer litígios que possam ser objeto de mediação, ainda que excluídos da competência
do julgado de paz (16º/1 LJP).
1.2.4. TConf
Segundo o disposto do artigo 209º/3 CRP, incumbe à lei determinar os casos e as formas em
que os tribunais das diversas ordens se podem constituir. O TConf encontra-se previsto,
nomeadamente no artigo 110º/3 e no artigo 62º/3 LOSJ.
O tribunal da causa limita-se a apreciar se é competente para a julgar, pelo que a aceitação
da competência por esse tribunal nunca significa a exclusão de outros tribunais competentes e a
rejeição da sua competência não é, em regra, acompanhada da determinação do tribunal
competente. O que pode incorrer em situações de conflito de competência — conflito negativo
ou conflito positivo. Na primeira situação, todos os tribunais competentes se consideram
incompetentes para dirimir o litígio; na segunda, mais do que um tribunal aceita a competência.
Assim, são dirimidos pelo presidente da Relação os conflitos entre tribunais de comarca
da área de competência daquela Relação ou entre algum deles e um tribunal de competência
territorial alargada sediado nessa área (76º/2 LTConf); em contrapartida são resolvidos pelo
presidente do STJ os conflitos entre os plenos das seções do STJ, entre as secções do STJ, entre
os tribunais da Relação, entre os tribunais da Relação e os tribunais de comarca ou os tribunais
territoriais de competência alargada e, por fim, entre os tribunais de comarca ou tribunal de
comarca e tribunal territorial de competência alargada sediados na área de diferentes tribunais da
Relação (artigo 62º LOSJ). Há que analisar as seguintes regras, no âmbito da resolução de
conflitos:
Espécies de Tribunais
Os tribunais judiciais são tribunais
comuns em matéria cível e criminal
Tribunais comuns Tribunais Judiciais
e exercem jurisdição em todas as
(211º/1 CRP; 40º/1 LOSJ) (209º/1 a) e 210º/1 CRP; 29º/1 a)
áreas não atribuídas a outros
LOSJ)
tribunais; (211º/1 CRP e 64º CPC)
Tribunais Administrativos Tribunais Fiscais
Tribunais especiais
(209º/1 b) e 212º/1 CRP; 29º/1 b) (209º/1 b) e 212º/1 CRP; 29º/1 b)
(competência delimitada por lei)
LOSJ) LOSJ)
Âmbito da Competência
Tribunais Comuns de
Competência Genérica
--- ---
(211º/1 CRP; 40º/1 LOSJ) – ---
Possuem competência-regra
2.1. Juiz
O juiz é o elemento do tribunal a que cabe a função de julgar. Nas ações declarativas, a
decisão/sentença representa a parte fundamental do exercício da função jurisdicional; nas ações
executivas, as medidas executivas (como a penhora, a venda ou o pagamento) são realizadas de
fato por órgãos auxiliares, mas controladas pelo juiz (719º/1 e 2 e 723/1 c) e d) CPC).
2.1.1. Estatuto
Artigo 215º/1 CRP: os juízes dos tribunais judiciais formam um corpo único e regem-se
por um só estatuto (1º/1 EMJ; 7º/1 LOSJ) — 215 a 218º CRP. O artigo 40º EMJ concretiza o
artigo 215º/2 CRP e define os requisitos para exercer as funções de juiz de direito (cfr. o artigo).
O provimento de vagas de juiz da Relação faz-se por promoção, mediante o concurso curricular
entre os juízes de 1ª instância. O acesso ao STJ faz-se por concurso curricular aberto a juízes
desembargadores, a procuradores-gerais adjuntos e a outros juristas de mérito.
2.1.3. Independência
soberania pode ordenar ao juiz que resolva uma causa de certo modo — exclusão da chamada
Kabinetsjustiz.
2.1.4. Imparcialidade
2.1.5. Irresponsabilidade
2.2. MP
2.2. Organização
2.2.1. Competência
Estatuto: O MP goza de estatuto próprio e de autonomia (219º/2 CRP e 3º LOSJ e EMP) e este
decorre fundamentalmente do disposto nos artigos 219º e 220º da CRP.
2.2.2. Autonomia
Goza de autonomia em relação aos demais órgãos do poder central, regional e local. Esta
autonomia caracteriza-se na vinculação do MP a critérios de legalidade e objetividade e na
exclusiva sujeição dos magistrados do MP às diretivas, ordens e instruções legalmente previstas
2.2.3. Responsabilidade
Estabilidade: não podem ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos senão nos casos
previstos na lei, ou seja, na sequência da aplicação de uma pena disciplinar (219º/4 CRP; 99º E
227º EMP; 11º/1 LOSJ).
Nas SJ trabalham os funcionários de justiça e estes distribuem-se por vários grupos, entre
os quais o dos oficiais de justiça. Este grupo compreende as categorias de secretário de tribunal
superior e de secretário de justiça; e as carreiras judicial e dos serviços do MP. Na carreira judicial
integram-se as categorias de escrivão de direito, escrivão adjunto e escrivão auxiliar.
O COJ é o órgão com competência para apreciar o mérito profissional e exercer o poder
disciplinar sobre os oficiais de justiça. É composto pelo diretor-geral da Administração d justiça,
por vários membros designados por oficiais de justiça eleitos pelos seus pares, nos termos do EFJ.
Os oficiais de justiça são disciplinarmente responsáveis, embora com algumas especialidades;
podem ser causa: atos/omissões da sua vida pública, ou que nela se repercutem, incompatíveis
com a dignidade indispensável ao exercício das suas funções e violação de deveres profissionais.
Os tribunais carecem de certos colaboradores e deve salientar-se que existe para todas as
entidades (publicas e privadas) um dever geral de colaboração com a justiça (202º/3 CRP; 23º/1
LOSJ; 519º/1 CPC). Não obstante, existem entidades com deveres e funções específicas:
→ Auxiliares de estudo: são auxiliares de justiça para o efeito geral de estudo dos problemas
suscitados pelos diversos processos (assessores, gabinetes de apoio, técnico)
→ Auxiliares de processamento: são basicamente os agentes de execução.
• Casos sic-non – casos em que os fatos alegados pelo autor só permitem uma qualificação
jurídica e em que o tribunal só é competente para se pronunciar sobre o mérito se essa
qualificação couber no âmbito da sua competência material;
• Casos aut-aut (alternatividade de qualificações mutuamente excludentes) – o autor alega
fatos de diversas qualificações jurídicas (tendo neste caso o tribunal de apreciar o mérito
segundo a qualificação para a qual seja competente);
• Casos et-et (cumulação de qualificações compatíveis) – o autor alega fatos que permitem
simultaneamente diversas qualificações jurídicas.
competência sobre todo o território (43º/1 da LOSJ). Os Julgados da Paz podem ter como área de
competência um certo concelho ou agrupamento de concelhos (4º/1 da LJP).
I. Tribunal de comarca
Os juízos centrais cíveis são eles próprios juízos de competência especializada, tendo uma
competência residual em relação ao juízo local cível determinada, determinada em função do
valor e da forma do processo (117º/1 e 130.º/1 da LOSJ). Assim, compete a estes juízos:
De notar que o juízo central poderá tornar-se competente sempre que haja uma alteração
no valor da causa, assim como, nas comarcas em que não exista juízo de comércio, a competência
deste juízo pertence ao juízo central cível quando verificados os requisitos quanto ao valor da
causa e à forma do processo comum (117º/2 da LOSJ).
Compete ao juízo local cível, além de preparar e julgar os processos relativos a causas
não atribuídas a outros juízos ou a tribunal de competência territorial alargada (130º/1 da LOSJ),
conhecendo apenas de processos especiais, tendo em conta que os juízos centrais cíveis só
conhecem de processos comuns. Possuem também competências para exercer, no âmbito do
processo de execução, as competências previstas no CPC, onde não houver juízo de execução ou
outro juízo ou tribunal de competência especializada competente (130º/2 da LOSJ).
Os juízos locais cíveis possuem, nas matérias da competência do juízo central cível, uma
competência residual em função do valor e forma de processo (130º/1 e 2/c) da LOSJ.
Sabendo que o país se divide em comarcas, e os processos se dividem por estes tribunais,
há que recorrer a certos critérios baseados no território para apurar a competência que se
encontram nos artigos 70º a 84º para o processo comum e na página 85º a 90º para o processo
executivo. É importante referir que, apesar da circunscrição base ser a comarca, o município
poderá ser relevante nos casos em que: o tribunal de comarca se desdobre em dois ou mais juízos
centrais cíveis, sendo necessário atender à área de competência de cada um dos vários juízos;
quando a área de competência de um juízo de competência especializada não coincida com toda
a área da comarca, cabendo a competência para apreciar uma causa da competência de um desses
juízos fora da área da sua competência territorial ao juízo local cível (130º/1 da LOSJ).
A regra geral do artigo 80º/1 determina que, para a ação declarativa, quanto a pessoas
singulares, é competente o tribunal do domicilio do réu: a regra ator sequitur forum rei. Se o réu
não tiver residência habitual (82º/2 do CC), as regras do processo afastam-se da norma civil,
dizendo que o réu é demandado no domicilio do autor (80º/2/1ª parte). Quanto a pessoas coletivas,
o artigo 81º/2/1ª parte prescreve que será demandada no tribunal da sede da administração
principal ou no da sede da sucursal, agencia, filial, delegação ou representação. A ação contra
pessoas coletivas ou sociedades estrangeiras que tenham estas entidades em Portugal, poderá ser
proposta no tribunal da sede destas ainda que a ação seja proposta contra a sociedade-mãe
(81º/2/2.ª parte). Se o réu for o Estado, este será demandado, em regra, no tribunal do domicilio
do autor (81º/1). Havendo mais que um réu, devem ser todos demandados no domicilio do maior
número de réus (82º/1/1ª parte), e, sendo igual o número de domicílios dos réus, o autor poderá
escolher qualquer um deles (82º/1/2.ª parte). Existe, contudo, exceções definidas para a
cumulação de pedidos:
• Direitos reais sobre imóveis, ações de divisão de coisa comum, de despejo, de preferência,
de execução específica, redução ou expurgação da hipoteca, devem ser propostas no
tribunal de situação dos bens (70º/1);
• Ações obrigacionais e por responsabilidade obrigacional, cumprimento defeituoso ou
resolução por falta de cumprimento, devem ser propostas no tribunal de domicilio do réu
(71º/1/1ª parte), podendo o credor optar pelo tribunal do lugar em que a obrigação deveria
ser cumprida quando o réu seja um pessoa coletiva, ou quando tenham ambos domicilio
na área metropolitana de Lisboa ou do Porto (71º/1/2.ª parte);
• Ações por responsabilidade extracontratual devem ser propostas no tribunal do lugar
onde o fato ocorreu (71º/2), e, não se verificando em lugar específico, o autor poderá
escolher o tribunal de qualquer lugar onde o fato ilícito tenha sido cometido;
• Ações de divórcio e separação de pessoas e bens devem ser propostas no lugar do
domicilio ou residência do autor (72º);
• Na hipótese de impedimento do juiz, não havendo circunscrição em que a ação deva ser
proposta nenhum outro juiz, torna-se competente para a ação o tribunal da circunscrição
judicial cuja sede esteja a menor distancia (84º/1);
• Em matéria sucessória, as ações devem ser propostas no lugar da abertura da sucessão
(72º-A/1). No entanto, o Regulamento 650/2021 estabelece que o tribunal competente
será o da residência habitual do falecido ao momento do óbito. A título residual, a
competência é determinada pelo seguinte critério:
o Se no momento da sua morte, o autor da sucessão não tiver residência habitual
em território português, é competente o tribunal em cuja circunscrição esse autor
tiver a sua ultima residência habitual em território português (72.º-A/2);
o Se o tribunal competente não puder ser determinado por nenhum outro critério,
mas o autor da sucessão tiver nacionalidade portuguesa ou houver bens situados
em Portugal, o tribunal competente, se houver imóveis, é o tribunal da situação
dos bens, em caso de vários imóveis, o de maior número (nº 3/a)), e se não houver
imóveis, o Tribunal de Lisboa (nº 3/b)).
o Se o tribunal competente não puder ser determinado por nenhum outro critério,
mas o autor da sucessão tiver nacionalidade portuguesa ou houver bens situados
em Portugal, o tribunal competente, se houver imóveis, é o tribunal da situação
dos bens, em caso de vários imóveis, o de maior número (nº 3/a)), e se não houver
imóveis, o Tribunal de Lisboa (nº 3/b)).
o Quando o falecido tinha residência habitual num EM no momento do óbito, são
competentes os tribunais desse EM (artigo 4º);
o Quando o falecido tinha a sua residência habitual num EM, são competentes, em
certas condições, os tribunais do EM em que se encontram bens da herança
(artigo 10º);
o Quando a lei escolhida pelo falecido para regular a sucessão seja a lei de um EM,
as partes podem acordar que um ou os tribunais de um EM cuja lei for escolhida
têm competência exclusiva para decidir toda e qualquer questão sucessória
(artigo 5º/1);
o Se nenhum órgão jurisdicional for competente por força do regulamento, os
órgãos jurisdicionais de um EM podem, excecionalmente, decidir da sucessão se
É ainda importante referir o pacto de competência interna, regulado pelo artigo 95º, pacto
válido na medida em que derrogue regras de competência em razão do território, salvo nos casos
em que esta deva ser conhecida oficiosamente (95º/1 e 104º), sendo nulo o pacto que derrogue
regras de competência em razão do valor, da hierarquia ou da matéria (294º do CC – norma
imperativa). O pacto deverá satisfazer os requisitos de forma do contrato de que emerge o litígio,
contanto que tal seja a forma escrita (95º/2/1ª parte). O pacto deve ainda designar as questões a
que se refere (95º/4) e o critério de determinação do tribunal que se torna competente (95º/2/2.ª
parte). Cumpridos os requisitos, a competência fundada na vontade das partes é tão obrigatória
quanto aquela que deriva de lei (95º/3), conduzindo à incompetência do tribunal no qual venha a
ser indevidamente proposta a ação (102º). São relativamente proibidas as cláusulas contratuais
gerais que estabeleçam o for competente que envolva graves inconvenientes para uma das partes,
sem que os interesses da outra o justifiquem (19º/g) da LCCG).
As Relações em regra não têm competência para decidir questões em 1ª instância, não
tendo competência para executar as suas próprias decisões (86º e 88º) ou sentenças estrangeiras
por elas reconhecidas (90º).
O STJ tem a sua sede em Lisboa (45.º da LOSJ) e possui jurisdição sobre todo o território
(43º/1 da LOSJ), compreendendo secções especializadas em matéria cível, em matéria penal e em
matéria social (47º/1 da LOSJ), acrescendo uma secção para o julgamento de recursos de
deliberações do CSM (47º/2 da LOSJ). O STJ pode funcionar em plenário, em plenário das
secções especializadas e por secções (48º/1 da LOSJ). Compete ao STJ julgar as causas que não
sejam atribuídas às demais secções (54º/1 da LOSJ), tendo competência material residual.
A competência em razão do valor é limitada pela alçada da Relação, não sendo possível
recorrer ao STJ para decisões em causas cujo valor caiba na alçada da Relação (44º/1 da LOSJ).
Em razão da hierarquia, o STJ:
À semelhança das Relações, o STJ não tem competência executiva (86º e 88º), não tendo
qualquer limite de competência em razão do território, tendo competência em todo o território
nacional (43º/1 da LOSJ).
• A supressão do órgão judiciário a que a causa estava afeta, tendo o juiz, neste caso, de
ordenar oficiosamente a remessa dos processos para o tribunal que seja competente (64º);
• A atribuição de competência ao órgão ao qual a causa estava indevidamente afeta,
passando o tribunal a ser competente.
O artigo 92.º/1 dispõe que se o conhecimento do objeto de uma ação depender de uma
decisão de um tribunal administrativo ou criminal, o juiz poderá sobrestar a decisão até que o
tribunal competente se pronuncie, não podendo pronunciar-se sobre nenhuma das questões
prejudiciais que não sejam da sua competência. O artigo 92º/2 dispõe que a suspensão fica sem
efeito se a ação não for exercida no espaço de um mês ou se o processo estiver parado por
negligência das partes.
Existe também uma extensão da competência quanto à competência territorial sempre que
se proponha uma ação contra vários réus, e exista um número maior de réus domiciliados num
certo local, estendendo-se a competência quanto aos outros réus (82º/1). O mesmo acontece em
caso de cumulação simples de pedidos (555º/1).
A) Incompetência absoluta
A incompetência absoluta vem regulada nos artigos 96º a 101º, e estabelece-se no artigo
96º que estamos perante uma incompetência absoluta quando exista infração de: regras de
competência em razão da matéria e hierarquia, de competência internacional, legal ou
convencional, e a preterição do tribunal arbitral, voluntário ou necessário. A incompetência
relativa é uma exceção dilatória nominada (577º/a)). Isto acontece uma vez que os tribunais são
absolutamente competentes quando o são em razão da matéria e da hierarquia, assim como da
competência internacional.
O artigo 97º/1 determina que a incompetência pode ser arguida pelas partes e pelo tribunal
oficiosamente, exceto se decorrer da violação de um pacto privativo de jurisdição ou da preterição
do tribunal arbitral voluntário (578º), tendo o tribunal de se certificar, quando ainda não o fez, no
despacho saneador, da sua competência absoluta.
Quanto à arguição da incompetência absoluta, o artigo 97º permite que a questão seja
levantada e decidida em qualquer estado do processo, enquanto não houver sentença com transito
em julgado proferida sobre o fundo da causa (97º/1) – ter em atenção que isto não implica possa
ser suscitada de novo no processo depois de já ter sido decidida pelo tribunal, que pode ser
impedida pelo esgotamento do poder jurisdicional (613º/1) e também pelo caso julgado formal
(620º/1) –, apesar de o momento indicado ser o do despacho saneador (595º/1/a)). Constitui
também causa para indeferimento liminar (590º/1), quando seja manifestada em despacho liminar
(226º/4). O artigo 98º dispõe duas soluções: (i) se a incompetência for arguida antes de ser
proferido o despacho saneador, pode conhecer-se da mesma imediatamente ou reservar-se a sua
apreciação para aquele despacho; (ii) se a incompetência for arguida posteriormente ao despacho
saneador, deve conhecer-se logo da arguição. Quanto à primeira solução, há que ter cuidado com
o conhecimento imediato, uma vez que terá de se esperar pelo funcionamento do contraditório.
O artigo 97º/2 é a exceção deste regime, dizendo que a violação das regras de competência
em razão da matéria que apenas respeitem tribunais judiciais só pode ser arguida ou oficiosamente
conhecida até ser proferido o despacho saneador ou, se a tramitação da causa não o comportar,
até ao início da audiência final. Temos como exemplo desta situação a ação ser da competência
do tribunal de família e ter sido proposta perante o tribunal de trabalho, uma vez que ambos
pertencem aos tribunais judiciais. Já se se tratar de uma ação de anulação de ato administrativos
e for instaurada no tribunal judicial, aplica-se a regra do artigo 97º/1, sendo o regime mais brando
para a competência em razão da matéria quando se verifique no âmbito dos tribunais judiciais.
• Indeferimento liminar antes do réu ser citado (99º/1 e 590º/1) quando seja manifestada e
se reconhecer logo face à petição inicial do autor;
• Absolvição da instância, se só for decidida depois do despacho liminar (99º/1, 278º/a),
576º/2 e 577º/a)).
Se a incompetência for decretada depois da fase dos articulados, o autor poderá requerer
a remessa para o tribunal em que a ação deveria decorrer, o que só não é deferido caso o réu
ofereça oposição justificada (99º/2), exceto em caso de violação de pacto privativo e de preterição
do tribunal arbitral (99º/3). A decisão sobre a incompetência só tem valor no próprio processo em
que for decretada (100º), não vinculando outro tribunal a considerar-se competente. Da mesma
forma, a incompetência por preterição de tribunal arbitral voluntário não implica o
reconhecimento da validade da convenção arbitral e da competência dos tribunais arbitrais.
B) Incompetência relativa
Ao aferir a competência do juízo central cível, há que considerar não só o valor, mas
também a forma do processo, dado que este juízo só tem competência para apreciar processos
comuns (117º/1 a) da LOSJ), levantando o problema de o tribunal ser competente em função do
valor, mas não quanto à forma do processo. Nesta situação aplica-se por analogia o regime da
incompetência relativa, dado que a remessa do processo para o juízo local cível é a solução mais
adequada para esta situação de incompetência (104º/2 – quanto ao conhecimento oficioso –105º/3
e 130º/1 e 2/c) da LOSJ).
Quanto à arguição, o artigo 103º/1 mostra que a incompetência tem de ser arguida dentro
de um certo prazo (sob pena de sanação), sendo esse prazo fixado para a contestação, oposição
ou resposta ou para outro meio de defesa que o réu tenha a faculdade de deduzir. Se a
incompetência for arguida na contestação, o autor pode responder no articulado subsequente da
ação (no processo comum, a réplica), e, não havendo, em articulado próprio (103º/2), devendo as
partes indicar as provas com o articulado da arguição da incompetência (103º/3). Depois de
produzida a prova, o juiz decide a questão da competência relativa (105º/1), podendo fazê-lo em
despacho próprio ou no despacho saneador (595.º/1/a)). Depois de transitada em julgado, esta
decisão resolve a questão da competência (105º/2), sendo que o tribunal considerado competente
é aquele para onde se remete o processo (105º/3), e está vinculado a aceitar essa competência
(exceção da regra Kompetenz-Kompetenz). Se a incompetência se verificar num tribunal de
recurso, o prazo para a arguição é de 10 dias a contar da primeira notificação que for feita ao
recorrido ou da primeira intervenção que tiver no processo (108º/1), sendo aplicáveis as regras
aplicáveis à primeira instância com as necessárias adaptações (108º/2).
5. Fontes Internas
Na falta de aplicação de uma fonte europeia ou internacional – qualquer delas com
prevalência sobre o direito interno –, a competência internacional dos tribunais portugueses é
regulada pelo disposto nos artigos 59º, 62º, 63º e 64º.
de um certo Estado para a apreciação de uma ação ou privam estes tribunais de competência para
apreciar uma determinada ação. Na ordem jurídica portuguesa designam-se de pactos de
jurisdição (94º). Estes pactos são então atributivos ou privativos (sendo que os primeiros são
bastante mais comuns).
Regulamento 1215/2012
I. Generalidades
O Reg. 1215/2012 visa facilitar a livre circulação das decisões em matéria civil e
comercial através da unificação das regras relativas à competência judiciária, bem como ao
reconhecimento e à execução das decisões. Este regulamento contém regras relativas à
competência internacional e regras respeitantes ao reconhecimento e à execução das decisões. É
vinculativo para todos os EMs da UE, exceto Dinamarca, contudo este Estado decidiu aplica-lo.
As disposições do Reg. 1215/2012 podem ser interpretadas pelo TJ nos termos do artigo
267º/1 b) TFUE. Foi alterado pelo Reg. 542/2014, que teve como objetivo adaptar as regras sobre
a determinação de competência judiciária. O Reg. 1215/2012 revogou o Reg. 44/2001 (80º 1ª
parte). As referencias feitas a este devem entender-se como feitas para Reg. 1215/2012 (80º 2ª
parte.)
O Reg. 1215/2012 não é aplicável à arbitragem (1º/2 d)), assim não é aplicável nem às
ações ou processos conexos relativos (criação de um tribunal arbitral p.e.), nem a ações ou
decisões em matéria de anulação, revisão, recurso, reconhecimento ou execução de sentenças
arbitrais. Não obstante, os tribunas de um EM podem remeter as partes para a arbitragem,
suspender ou extinguir o processo ou examinar se a convenção de arbitragem é nula, ineficaz ou
insuscetível de aplicação. Assim, o tribunal que é competente segundo o Reg. 1215/2012 tem
também competência para apreciar a convenção e para confirmar ou negar a sua competência.
Nas situações de concurso de pretensões, pode suceder que apenas uma delas caia no
âmbito de aplicação do regulamento, no entanto, este não deixa de ser aplicável à pretensão
abrangida pelo seu âmbito, mas cabe ao direito do Estado do foro verificar se o tribunal também
é competente para as demais pretensões concorrentes. O mesmo vale para os pedidos alternativos
se só um deles for abrangido pelo Reg. 1215/2012.
2. Âmbito espacial
2.1. Competência internacional
• O juiz da causa aplica a sua lei interna para determinar se uma parte tem domicilio no seu
próprio Estado (62º/1) e aplica a lei interna de um outro Estado para determinar se a parte
tem domicílio nesse (62º/2);
• As sociedades e pessoas coletivas têm domicilio no lugar em que tiverem a sua sede
social, a sua administração central ou o seu estabelecimento principal (63º/1). Pelo artigo
54º/1 TFUE estas entidades são equiparadas, quanto ao direito de estabelecimento às
pessoas singulares
.
A circunstância de o réu ter o seu domicilio num Estado terceiro nem sempre constitui
impedimento à aplicação do Reg. 1215/2012. Mas há situações em que o domicilio num EM é
necessário/indispensável: nos casos referidos no artigo 7º e, em geral, no artigo 8º.
3. Âmbito temporal
3.1. Competência internacional e territorial
Regime especial→ o Reg. 1215/2012 não prejudica as convenções em que os EMs são
partes e que, em matérias especiais, regulem a competência judiciária, o reconhecimento ou a
execução das decisões. Todavia, o TJ definiu que as regras constantes de convenções
internacionais só são aplicáveis desde que ofereçam um elevado nível de certeza jurídica,
facilitem a boa administração da justiça e em condições tão ou mais favoráveis como as previstas
nos regulamentos, neste caso em matéria civil e comercial.
Resumindo:
• Temporal: (encontra-se preenchido, porque a ação foi instaurada em 2023, ou seja, depois
de 10.012015 - artigo 81º, parágrafo 2 e artigo 66º/1º Reg.1215/2012);
• Material: (trata-se de matéria civil – artigo 1º/1 do Reg.1215/2012 -, que não está excluída
pelo artigo 1º/2 do mesmo Reg.);
• Subjetivo: O réu tem sede social em Espanha, sendo este um Estado Membro da UE,
aplica-se o Reg. 1215/2012 (artigo 4º/1 e 6.º/1 Reg.1215/2012; 63º, nº1, al a)). Este
âmbito é adjunto do âmbito seguinte (espacial);
• Espacial: importa ainda averiguar se estaríamos perante alguma das situações previstas
nos artigos 18º/1, 21º/2, 24º e 25º do Reg. 1215/2012, caso em que ainda se aplicaria o
Reg. 1215/2012 – não há competência exclusiva. + 63 CPC.
Segundo estes regulamentos têm competência internacional para conhecer esta ação os
tribunais espanhóis, pois a sede social do réu é em Espanha (segundo a alínea a) do 63º do
regulamento), devendo o réu ser demandado nos tribunais do EM onde é o seu domicílio (4º nº1).
Forum non conveniens→ o Reg. não consagra este principio. Principio esse que admite que um
tribunal se possa considerar incompetente por entender que um outro tribunal se encontra mais
bem colocado para resolver o litigio. Um tribunal competente nos termos do artigo 4º/1 não pode
declinar essa competência. A única aproximação que o Reg. consagra é: no caso de se encontrar
proposta uma outra ação num país terceiro, o tribunal do EM pode suspender a instância se
considerar que tal é necessário para a boa administração da justiça (33º/1 a) e b), 34º/1 c)).
2. Domicílio extraeuropeu
Na situação em que o demandado não tem domicilio num EM observam-se as seguintes regras:
• A competência é regulada, em principio, pela lei interna do Estado do foro, sem
prejuízo das situações em que não seja exigido que o requerido tenha domicílio no EM
(6º/1); isto é, sem prejuízo da aplicação das regras relativas à competência convencional
(25º), à competência exclusiva (24º), (mais os casos atendentes aos artigos 18º/1, 21º/2,
entre outros).
• Contra um demandado com domicílio num Estado terceiro podem ser invocadas
quaisquer regras de competência vigentes na ordem interna do Estado do foro,
mesmo que elas sejam consideradas exorbitantes e não possam ser invocadas contra
demandados com domicilio num dos EMs (6º/2).
proferimento de medidas provisórias e cautelares (35º); (iii) normas que visam proteger a parte
mais fraca por meio de regras de competência mais favoráveis aos seus interesses do que a regra
geral (10º-16º; 17º-19º; 20º-23º).
1. Matéria Contratual
Em matéria contratual é competente o tribunal do lugar onde a obrigação foi ou devia ser
cumprida (7º/1 a)) e apenas a obrigações assumidas de forma voluntária (não cabe a
responsabilidade por culpa in contrahendo). É aplicável às ações relativas ao cumprimento do
contrato, à validade a à eficácia do contrato e à modificação e ao termo do mesmo. A matéria
contratual abrange igualmente a rutura abrupta de relações comerciais e, através de uma
interpretação extensiva, os negócios unilaterais. (cfr. exemplos da página 187 do manual).
A regra material do artigo 7º não é aplicável quer quando não se trate de uma compra e
venda ou de uma prestação de serviços, quer quando, apesar de o ser, o lugar de cumprimento se
situar num Estado terceiro. No caso de o lugar de cumprimento da obrigação que serve de
fundamento à ação judicial não puder ser determinado, a competência só pode ser determinada
por aplicação do critério geral previsto no artigo 4º/1
2. Matéria extracontratual
Nas ações relativas a matéria extracontratual, o réu pode ser demandado no tribunal do
lugar onde ocorreu ou poderá ocorrer o fato danoso (7º/2). O regime é aplicável à ação de
declaração negativa na qual se requer que seja declarada a inexistência de responsabilidade
extracontratual, mesmo que essa possa ser qualificada como uma “ação torpedo”, o que é
indispensável é a existência de um elemento de conexão particularmente estreito entre o litigio e
o tribunal do lugar onde ocorreu o fato danoso. A matéria extracontratual deve ser interpretada
autonomamente, sabendo que aqui cabe tudo o que não couber no 7º/1 – aplicação do nº2.
Como lugar do dano só é relevante aquele em que o demandado, e não um terceiro, tenha
alegadamente praticado o fato que lhe é imputado. Se o lugar do fato danoso não coincidir com o
lugar onde se produziu ou poderá produzir o dano, a ação também pode ser instaurada no tribunal
deste último. Situações deste caráter serão: violação de direitos de personalidade através da
Note-se que um tribunal que é competente para apreciar matéria extracontratual, nos
termos do artigo 7º/2, pode não ser competente para conhecer matéria de responsabilidade
contratual – concurso de responsabilidades. No artigo 7º/2 é possível identificar duas linhas
jurisprudenciais do TJUE que são enunciadas em razão de evitar conflito negativo de competência
como o conflito positivo. TJUE: o lugar onde ocorreu o fato danoso, deve ser interpretado não
de uma forma extensiva, mas sim onde o dano foi materializado efetivamente na esfera jurídica
do lesado. Já na Jurisprudência portuguesa, um Ac. do STJ vai mais longe, dizendo que o lugar
onde ocorreu o fato danoso para efeitos do 7º/2 é o fato-dano inicial, os danos acessórios,
subsequentes são irrelevantes para a aferição da competência jurisdicional. Ao processo importa
a verdade, e onde a verdade está mais próxima e possível de aferir. Noção de conflito negativo:
caso do grupo VAG*
3. Exploração de sucursal
Nas ações relativas à exploração de uma sucursal, de uma agência ou de qualquer outro
estabelecimento, o tribunal da sua situação tem competência para conhecer de uma ação proposta
contra a casa-mãe com sede num outro EM (7º/5). A teleologia do regime legal é a proteção
daquele que celebrou negócios com a sucursal, a agência ou o estabelecimento de uma sociedade
estrangeira no próprio Estado dessa sucursal/agência/estabelecimento, pelo que este artigo só é
aplicável quando a ação seja proposta contra a sociedade estrangeira (nunca quando esta pretenda
propor a ação).
O artigo 7º/5 estabelece um critério especial de competência que concorre com o critério
geral do 4º/1 Desta verificação decorre que o 7º/5 só pode ser utilizado se a casa-mãe tiver a sua
sede num outro EM (6º/1) e que, em alternativa ao disposto do 7º/5, o autor pode sempre demandar
a casa-mãe nos tribunais do EM da sua sede.
Noção de sucursal→ centro operativo que se manifesta, de forma duradoura, nas relações
com o exterior como uma extensão da casa-mãe, provido de concluir negócios com terceiros, de
modo que estes, ainda que sabendo que estão a constituir uma relação jurídica com a casa-mãe
situada no estrangeiro, estão dispensados de se dirigirem diretamente a esta.
Se a ação for proposta contra vários réus (todos domiciliados em EMs), todos podem ser
demandados no tribunal do domicilio de um deles (4º/1), desde que os pedidos estejam ligados
entre si por um nexo tão estreito que haja interesse em que sejam julgados simultaneamente
(evitando assim múltiplas soluções inconciliáveis: artigos 8º/1 e 30º/3). O artigo 8º/1 é aplicável
independentemente da improcedência da ação contra o demandado com domicilio na
circunscrição do tribunal e da desistência do demandante relativamente ao único dos co-
demandados que está domiciliado no EM onde sita o órgão jurisdicional competente.
Qualquer garante ou outro terceiro pode ser chamado a intervir numa ação pendente, salvo
se a escolha do tribunal onde a ação foi proposta tiver tido o intuito de subtrair o terceiro à
jurisdição do tribunal que seria competente (8º/2). Este preceito pressupõe que a competência do
tribunal da ação é determinada pelos critérios do Reg. 1215/2012, mas não obriga o juiz nacional
a admitir o chamamento de um garante à ação, pelo que o juiz pode aplicar o seu direito nacional
para avaliar a admissibilidade de tal chamamento (sobre o direito português: 321º/1 CPC).
5. Medidas cautelares
medidas cuja natureza não seja cautelar, como as que ordenam a audição de testemunhas. O
regime do 25º aplica-se apenas nas seguintes condições:
→ As medidas devem caber no âmbito de aplicação material determinado pelo artigo 1º/1 e
2, sendo que o que releva é a matéria a que elas próprias respeitem e não a matéria a que
se refere o respetivo processo principal;
→ O requerido deve ter domicilio num EM, exceto se se estiver perante um caso em que o
Reg. 1215/2012 é aplicável independentemente do domicilio do demandado (6º/1).
O requerente pode requerer a providência cautelar no tribunal competente segundo os
critérios definidos pelo Reg. 1215/2012 ou no tribunal do EM que, apesar de não ser competente
segundo o Reg. 1215/2012, seja internacionalmente competente segundo o seu direito interno.
Apesar de o requerente poder escolher entre o tribunal do Estado cuja lei prevê a medida
provisória ou cautelar e o Estado que é competente para conhecer do mérito (35º), o disposto nos
artigos 2º a), 2º 1ª parte, e 42º/2 b) i), mostra que apenas as medidas que sejam decretadas pelos
tribunais competentes (Reg. 1215/2012 assim o afere) podem ser executadas noutros EMs.
V. Critérios específicos
Do artigo 10º ao 23º são estabelecidas regras específicas respeitantes à proteção dos
segurados, dos consumidores e dos trabalhadores. É estabelecida uma competência assimétrica:
os segurados, os consumidores e os trabalhadores só podem ser demandados no seu domicilio
(14º/1, 18º/2 e 22º/1), podem, no entanto, demandar os seguradores, as contrapartes no contrato
de consumo e as entidades patronais quer nos tribunais do seu domicilio, quer noutros tribunais
(11º a 13, 18º/1 e 21º). Os consumidores e os trabalhadores podem mesmo demandar entidades
com domicilio num Estado terceiro (18º/1 e 21º/2). A proteção desta categoria de partes também
é patente nas restrições impostas à validade dos pactos de jurisdição (15º, 19º e 23º): a proteção
deve valer independentemente do tribunal escolhido e os regimes legais devem valer mesmo
quando as partes escolham como competentes os tribunais de um Estado terceiro.
Como consta dos artigos 10º, 17º/1 e 20º/1 – ressalva ao 6º – o regime relativo a esta
categoria de partes, em regra, só é aplicável se o demandado tiver domicilio num EM. No entanto,
tal como decorre dos artigos 11º/2, 17º/2 e 20º/2, o regime é igualmente aplicável se o demandado
tiver uma sucursal num EM.
1. Matéria de seguros
As disposições relativas à competência em matéria de seguros possuem a seguinte aplicação:
• Âmbito material→ aquelas disposições são aplicáveis às ações cujo fundamento seja
uma relação de seguro cujo objeto respeite o domínio material definido no artigo 1º/1 e
2, incluindo sempre que tal seja admitido pela lei do Estado do foro a ação direta
instaurada pelo lesado contra o segurador (13º/2);
• Âmbito espacial→ em princípio, as disposições relativas à competência em matéria de
seguros são aplicáveis apenas quando o demandado tenha domicilio num EM (10º e 4º/1);
porém basta a existência de sucursal/agência/outro estabelecimento do segurador num
EM, para valer como domicilio do demandado (11º/2)
• O segurador domiciliado num EM pode ser demandado nos tribunais do Estado do seu
domicilio (11º/1 a)) ou do Estado no qual se considere domiciliado (11º/2), no tribunal
do lugar em que o segurado tiver o seu domicilio (11º/1 b)) ou ainda, tratando-se de um
co-segurador, no tribunal onde tiver sido instaurada a ação principal (11º/1 c));
• Se o segurador possuir sucursal/agência/outro tipo de estabelecimento num EM diferente
do Estado do seu domicilio, ele pode ser demandado no primeiro se o litigio respeitar à
sua exploração (10º e 7º/5);
• O segurador pode ser demandado no tribunal do lugar onde ocorreu o fato danoso –
seguro de responsabilidade civil; seguro que tem por objeto bens imóveis; seguro que
incida sobre bens imóveis e móveis cobertos simultaneamente – 12º.
Em matéria de seguros, um pacto de jurisdição só é válido se se verificar uma das seguintes opções
2. Matéria de consumo
Âmbito material→ abrange as ações relativas a contratos de consumo (17º/1), isto é, a
contratos celebrados por uma pessoa singular, para uma finalidade que possa considerar-se
estranha à sua atividade comercial ou profissional (o consumidor) com outra pessoa que aja no
quadro das suas atividades comerciais ou profissionais (o profissional). Logo, o regime não se
aplica quando ambas as partes forem consumidores ou quando se depreende a relação de pelo
menos uma delas à sua atividade profissional, atual ou futura. O regime especial não se aplica
sempre, há que atender à abrangência do artigo 7º/2 – página 204 do manual.
Estado terceiro; perante isto, nos termos do 6º/1 o Reg. não é aplicável, mas antes as regras de
competência do Estado do foro (6º/2).
Aferência da competência:
• O consumidor pode instaurar a ação contra a outra parte no contrato, quer perante os
tribunais do EM do domicilio desta parte, quer perante o tribunal do lugar do seu próprio
domicilio, mesmo que a parte demandada site em Estado terceiro (18º/1);
• Se a outra parte tiver sucursal/agência/filial num EM que não seja o do seu domicilio, o
consumidor pode demanda-la no tribunal da situação desse estabelecimento se o litigio
respeitar à sua exploração (17º/1 + 7º/5).
• A outra parte no contrato só pode propor uma ação contra o consumidor perante os
tribunais do EM do domicilio desse demandado (18º/2); isto não impede a extensão da
competência do tribunal da ação para o pedido reconvencional deduzido por aquela
contraparte (18º/3 + 8º/3).
3. Matéria laboral: 207-210 pg. do manual (nenhum destes regimes especiais está no
programa)
O artigo 24º enumera os casos de competência exclusiva dos tribunais dos EMs. Esta
competência, por ser exclusiva, prevalece sobre a competência determinada por quaisquer outros
critérios, gerais ou especiais (4º e 7º-23º) e impede a celebração de um pacto de jurisdição (25º/4).
A sua violação é sempre de conhecimento oficioso (27º) e constitui impedimento ao
reconhecimento de uma decisão proveniente de um outro EM (45º/1 e) ii)). A competência
exclusiva é independente do lugar do domicilio do demandado (24º), pelo que se mantém mesmo
que o réu não seja domiciliado num. A razão de ser das regras de competência exclusiva é um
nexo de ligação particularmente estreito entre o litígio e um EM, independente do domicilio do
demandante e do demandado. Assim, essas regras têm um âmbito de aplicação universal, pois que
valem mesmo em relação a interessados domiciliados em Estados terceiros.
O disposto do artigo 24º não é bilateralizável, ou seja, não é aplicável quando o elemento
de conexão se verifique em relação a um Estado terceiro. Assim, mesmo que, por exemplo, o
imóvel sobre cuja propriedade litigam as partes domiciliadas na UE se situe num Estado terceiro,
nada impede a aplicação do critério geral do domicilio do demandado (4º/1).
2. Ações reais
• Ambas as partes são domiciliadas num EM: se o pacto atribuir competência aos tribunais
de outro EM, ele inclui-se no âmbito de aplicação do 25º; se, através do pacto, for
convencionada a competência dos tribunais do próprio Estado do domicilio das partes, a
convenção só pode incluir-se no âmbito de aplicação do 25º se derrogar a competência
de tribunais de outros EM.
• É concedida competência aos tribunais de um Estado terceiro: a convenção não cabe no
âmbito de aplicação do artigo 25º.
2. Validade
Os pactos de jurisdição previstos no artigo 25º são válidos nas seguintes condições:
• Os pactos não podem derrogar nenhuma das competências previstas no artigo 24º (25º/4);
• Os pactos não podem contrariar os requisitos mais exigentes que valem para os pactos de
jurisdição em matéria de seguros (15º), de contratos de consumo (19º) e de contrato
individual de trabalho (23º) (25º/4).
Os pactos atributivos de jurisdição que façam parte de um contrato são independentes dos
outros termos do contrato (25º/5), isto é, são autónomos em relação ao contrato em que se inserem.
Logo, a validade do pacto não pode ser fundada na invalidade do contrato (25º/5), dado que a
nulidade do contrato não impede o funcionamento da clausula atributiva de competência, se esta
for válida. Enquanto a validade do pacto é analisada em função da lei do Estado do foro, a
validade das restantes cláusulas do contrato é apreciada, em principio, em função do disposto do
Reg. 593º/2008
O regime permite que o tribunal perante o qual o pacto é invocado possa analisar a
validade do pacto e reconhecer, de acordo com o regime Kompetenz-Kompetenz, a sua própria
competência, bem como que esse tribunal, se considerar que o pacto é válido, tenha competência
para declarar a invalidade do contrato em que se insere esse pacto. É no tribunal designado na
convenção que deve ser apreciada a invalidade daquele contrato; a clausula de atribuição de
jurisdição inserida num contrato de agência mantém-se em vigor para todas as questões de
natureza cível, mesmo que relativas ao respetivo regime de cessação.
4. Efeitos
A) Efeitos processuais: o pacto de jurisdição produz um efeito atributivo e um efeito
derrogatório. O pacto atribui, em principio uma competência exclusiva ao tribunal
designado; como resulta deste preceito, é possível atribuir uma competência alternativa
(25º/1 2ª parte), tendo qualquer das partes a possibilidade de escolha entre o tribunal
designado no pacto e o tribunal competente segundo o Reg. 1215/2012 ou mesmo entre
dois ou mais tribunais designados no pacto. *É possível estabelecer que apenas uma das
partes goza da possibilidade de escolha. Como consequência da competência exclusiva
do tribunal escolhido, nenhum outro tribunal permanece competente para a apreciação da
ação; o tribunal no qual a causa foi proposta em violação d pacto deve declarar-se
oficiosamente incompetente quando o demandado for domiciliado no território de um
EM e não comparecer em juízo (28º/1). Nota: a competência atribuída ao tribunal abrange
a competência para apreciar qualquer reconvenção que seja deduzida pelo demandado.
B) Efeitos substantivos: o pacto é vinculativo para ambas as partes. em certos casos, essa
convenção pode ser vinculativa para alguns terceiros – exemplos constantes na pg. 220.
5. Pacto tácito
O artigo 26º/1 é aplicável nos casos em que a ação foi intentada em violação das
disposições do Reg. 1215/2012 e implica que a comparência do demandado no processo possa
ser considerada uma aceitação tácita da competência do tribunal onde foi intentada a ação –
extensão da sua competência. O regime vale igualmente quando a incompetência do tribunal da
causa resultar de um pacto de jurisdição, ou seja, também é aplicável quando as partes tenham
retirado convencionalmente competência ao tribunal no qual é proposta a ação. Por paralelismo
com o 25º/1 1ª parte, não há que exigir que alguma das partes tenha domicilio num EM. Para que
o 26º/1 seja aplicável não é necessário que nem o demandante nem o demando tenham domicílio
num EM.
Em todo o caso, o tribunal deve assegurar que o demandado seja informado do seu direito
de contestar a competência do tribunal e das consequências de não comparecer em juízo (26º/2).
Se este dever de prevenção não for cumprido, há que atender que a falta de contestação da
competência é ineficaz e qua não se verifica a celebração tácita de um pacto de jurisdição.
O artigo 26º visa garantir duas coisas: dividir a competência dos Estados e evitar os
conflitos positivos e negativos de competência. Forum shopping: conflitos positivos.
Nota: Quem atua pelas partes, não são as próprias, mas sim os seus advogados e estes nem sempre
têm poderes para manifestar a vontade das partes de determinado modo: a procuração forense tem
de o ter consagrado expressamente. Quando a procuração apenas confere poderes gerais,
manifestar a vontade de concludência da competência do tribunal, seria ir além da vontade das
partes – Paula Costa Silva.
• A competência territorial também é regulada pelo Reg. (7º/5 por exemplo); nesta
hipótese, o pacto tácito também atribui competência territorial ao tribunal da causa;
• A competência territorial não é regulada pelo Reg., mas pelo direito interno do EM; nesta
hipótese, importa aferir é a validade de um pacto tácito de competência, o que tem de ser
feito de acordo com o direito Estado do foro (quanto a Portugal, cf. 95º/1 e 104º/1 CPC).
O artigo 26º atribui competência internacional, desde que o único intuito seja alegar a
incompetência: interpretação formal do artigo. No entanto, se a exceção dilatória de
incompetência internacional for declarada procedente e o réu apenas contestasse a incompetência,
e não a matéria de fundo, este ficaria desprotegido e sujeito à revelia. A solução passa então pela
contestação subsidiária, ao passo que o artigo 26º não é violado. Até porque o 26º existe
essencialmente por questões de economia processual. Assim, alega-se a incompetência
internacional e não se fica desprotegido e à mercê de a exceção ser ou não procedente – TJUE 14
de julho de 1983: foi reconhecida a noção de contestação subsidiária.
O artigo 27º e 28º regulam os casos em que, segundo o Reg, 1215/2012, o tribunal da
causa deve controlar oficiosamente a sua competência. Esta circunstancia não exclui que o direito
interno dos EMs possa impor o conhecimento oficioso da competência decorrente do Reg. noutras
situações.
identidade de ações, não houver motivos para se aplicar o primeiro. O regime da litispendência e
da conexão de ações caracteriza-se pelas seguintes regras comuns:
Para averiguar o momento em que se considera iniciada a pendência de uma ação (num
EM ou num país terceiro), são fornecidas as seguintes regras autónomas de determinação:
− Nos EMs3, em que a entrada do pedido no tribunal se verifica antes do demandado ser
citado (259º/1 CPC), o processo considera-se pendente na data de entrada do processo
em tribunal, desde que o demandante faça todas as diligências necessárias (32º/1);
− Nos EMs em que a citação precede a entrada do processo no tribunal, o processo
considera-se pendente na data em que o processo é entregue à autoridade competente para
proceder à citação.
Visando o reforço da eficácia dos pactos de jurisdição (25º/1 1ª parte), o artigo 22º
estabelece que os tribunais dos demais EMs onde foram propostas ações devem suspender a
instância até o tribunal invocado no pacto se pronuncie pela sua competência, evitando assim
situações de litigância de má fé que adiariam a resolução do litígio. O tribunal designado não tem
que esperar pela suspensão da instância pelo primeiro tribunal, para apreciar a sua competência;
cfr. artigo 31º/3
A ressalva do artigo 26º que é realizada no artigo 31º/2 estabelece que se o réu tiver
aceitado, ainda que apenas tacitamente, a competência do tribunal não designado no qual a ação
se encontra pendente, o regime da litispendência não se aplica. O regime não se aplica às situações
em que as partes tenham celebrado vários acordos exclusivos de eleição de foro que sejam
1
Mesmo que o tribunal tenha aferido a sua competência pelo direito interno.
2
Considera-se estabelecida a competência do primeiro tribunal quando este não tenha declarado
oficiosamente a sua incompetência. Esta regra favorece, no entanto, as ações torpedo, isto é, as ações que
são propostas com o objetivo, assumido, ou pelo menos, admitido, de impedir a propositura de outras ações
noutros EMs.
3
Como Portugal…
incompatíveis e aos casos em que a ação tenha sido primeiramente proposta no tribunal designado
no acordo; nestas hipóteses deve aplicar-se a regra geral de litispendência constante do artigo 29º.
Nos termos do artigo 33º/1, o tribunal do EM pode avaliar todas as circunstancias do caso
concreto, que podem incluir as relações dos fatos do processo e das partes com o Estado terceiro,
a fase em que se encontra o processo no momento em que é intentada a ação no tribunal do EM e
ainda se é possível que o tribunal do país terceiro profira a sua decisão em prazo razoável. Há que
atender à regra do 24º relativamente à competência exclusiva, que pode resultar numa
bilateralização deste preceito.
Nos casos de litispendência entre vários EMs e Estados terceiros, há que começar por
resolver a questão atendendo ao artigo 29º/1 e 3 e posteriormente nos termos do 33º/1 Ou seja,
começar por resolver a litispendência entre os EMs e só depois, deve o tribunal da 1ª ação
suspender a instância
2. Ações conexas
As ações consideram-se conexas quando entre elas exista um nexo tão estreito que haja
interesse em que sejam instruídas e julgadas simultaneamente, assim se evitando soluções
inconciliáveis, se julgadas em separado (30º/3). Ao contrário da litispendência (29º/1), a conexão
não exige nem identidade de objetos nem de partes. A conexão entre as ações justifica as seguintes
soluções:
− O tribunal da 2ª ação pode suspender a instância (30º/1), isto é, pode aguardar a decisão
proferida na 1ª ação; trata-se de uma decisão discricionária do tribunal da 2ª ação;
− Se a ação mais antiga estiver pendente em 1ª instância, o tribunal da segunda causa pode
declarar-se incompetente, a pedido de qualquer das partes, se o tribunal da 1ª ação for
competente para a sua apreciação e a sua lei permitir a apensação das ações (30º/2 + 267º
CPC). A regra só vale se a ação mais antiga estiver pendente na 1ª instância, dado que
importa evitar que as partes da outra causa percam o benefício da 2ª instância (o que
sucederia pela 2ª vez, se a segunda ação também já se encontrasse na 2ª instância).
conjunto – cfr. alíneas do nº2 do artigo 34º. O tribunal do EM pode suspender, continuar ou
extinguir a instância a pedido de qualquer das partes, mesmo, caso a lei nacional o permita,
oficiosamente (34º/4).
6.3. Regulamento 2201/2003
O Regulamento 2201/2003 vem revogar o Regulamento 1347/2000 e completar o regime
instituído no Regulamento 44/2001, procurando contribuir para a livre circulação de pessoas na
UE, regulando:
Este regulamento é vinculativo para todos os EM, exceto a Dinamarca, pelo que a
competência dos tribunais dinamarqueses para as matérias reguladas neste documento não se
aferem através do regulamento.
O Reg. 2201/2003 aplica-se a matérias civis, não sendo relevante a natureza da jurisdição,
pelo que abrange todas autoridades com competência na matéria a que se aplica. São estas as
matérias civis relativas ao divórcio, separação de pessoas e bens e à anulação do casamento
(1º/1/a)). Fala-se de uma noção de casamento autónoma, podendo incluir casamentos
homossexuais nos EM que os reconhecem, dado que compete à lei do foro determinar a existência,
validade e reconhecimento do casamento. Excluem-se as parcerias registadas como o PCAS
francês, que não podem ser equiparadas ao casamento.
I. Aferição da competência
A aferição da competência em matéria tribunal faz-se através de uma aplicação dos vários
critérios, previstos no artigo 3º/1, sendo eles:
O artigo 6.º determina o caráter exclusivo da competência dos tribunais dos EM definida
nos artigo 3º/5, quando se verifique uma das seguintes condições:
O artigo 2º/11 define a deslocação e a retenção ilícita de menores, que implicam uma
violação do direito de guarda, onde se inclui o direito de decidir sobre o lugar da residência da
criança (2º/9), que depende exclusivamente da existência de um direito de guarda atribuído pelo
direito nacional aplicável. O artigo 10º e 11º definem regras para o rapto internacional de crianças,
caso em que os Tribunais do EM de origem da criança continuam a ser competentes até a criança
passar a ter a sua residência habitual num outro EM e se verifique o consentimento à deslocação
ou retenção da criança, ou, alternativamente, a residência da criança noutro EM durante mais de
um ano a contar do momento em que o titular do direito de guarda conheceu ou devia ter
conhecido o paradeiro da criança e a integração da criança no seu novo ambiente. A resolução da
situação de rapto internacional, rege-se pelo artigo 11º, aplicável quando a deslocação da criança
tenha ocorrido em conformidade com uma decisão judicial provisoriamente executória que foi,
em seguida, revogada por uma decisão judicial que fixou a residência da criança no domicilio do
progenitor que permanece no EM de origem. O artigo 11º estabelece ainda regras aplicáveis ao
tribunal quanto á criança e relativamente a aspetos procedimentais.
• Esteja pendente uma ação matrimonial (12º/1) – o tribunal competente para ações
matrimoniais será igualmente competente para decidir qualquer questão relativa a
responsabilidade parental relacionada com essa ação, tendo de decorrer do artigo 3º e pelo
menos um dos cônjuges deve exercer a responsabilidade parental em relação à criança
(12º/1/a)) e a extensão da competência de ser aceite, expressa ou tacitamente, pelos
cônjuges ou pelos titulares de responsabilidade parental (12º/1/b)). Esta extensão de
competência cessa com o transito em julgado da decisão proferida na ação matrimonial
ou na ação relativa à responsabilidade parental, ou com o fim da ação matrimonial ou da
ação de responsabilidade parental (12º/2).
• Quando exista particular ligação da criança com esse lugar (12º/3 e 4) – o tribunal tem
competência para apreciar uma ação não matrimonial em matéria de responsabilidade
parental quando a criança tenha uma relação especial com esse tribunal e quando a sua
competência tenha sido aceite por todas as partes e seja exercida no superior interesse na
criança (12º/3). Se a criança tiver a sua residência habitual no território de um Estado
terceiro que não seja parte contratante da Convenção de Proteção das Crianças, presume-
se que a extensão da competência é do interesse da criança (12º/4).
Caso não seja possível determinar a residência habitual da criança, são competentes para
a ação os tribunais do EM no qual se encontre a criança (13º/1) e o mesmo vale para crianças
refugiadas ou internacionalmente deslocadas (13º/2).
O artigo 15.º consagra um regime excecional, baseado no príncipio forum non conveniens,
isto é, no reconhecimento, pelo tribunal onde foi instaurada a ação respeitante à responsabilidade
parental, de que existe um tribunal de um outro EM em condições de apreciar a ação. Assim,
poderá o tribunal, se tal servir o superior interesse da criança, suspender a instância em relação à
totalidade ou a parte do processo e convidar as partes a apresentarem um pedido nesse outro EM
(15º/1 a)) ou a pedir ao tribunal de outro EM que se declare competente (15º/1 b)), podendo
também ser feito a pedido de uma das partes ou do tribunal com o qual a criança tenha especial
ligação e se considere forum conveniens (15º/1 c)), desde que:
• O tribunal seja competente para conhecer do mérito da ação (15º/1), podendo basear-se
nas regras do artigo 8º ao artigo 13º, assim como na regra da competência residual do
artigo 14º;
• Que o tribunal da ação que se considere forum non conveniens seja reputado forum
conveniens seja um tribunal de um outro EM e que a criança tenha particular ligação com
este estado, estabelecida por fatores como a residência do menor ou de um dos titulares
de responsabilidade parental, a circunstancia do menor ser nacional desse Estado e a
localização dos bens da criança nesse Estado;
• Para que o tribunal da ação se considere forum non conviens, é necessário que se
verifiquem claras vantagens da apreciação da causa por parte de outro tribunal e que estas
ultrapassem as desvantagens inerentes à transferência da ação.
Porogatio fori
Caso nenhum EM seja competente para ação relativa à responsabilidade parental pelo
disposto nos artigos 8º a 13º, a competência será aferida, em cada um dos seus EM, pelo seu
direito interno (14º).
Em caso de urgência, os tribunais de um EM, que seja competentes pela sua lei interna,
podem decretar as medidas provisórias ou cautelares relativas a pessoas ou bens presentes no seu
território que estejam previstas no seu direito interno, mesmo que o tribunal de um outro EM seja
competente para apreciar a ação principal (20º/1), pelo que se restringem os efeitos desta medida
a esse território, não podendo ser reconhecida noutro EM. Estas medidas deixam de produzir
efeitos quando o tribunal do EM competente quanto ao mérito, de acordo com as regras do
regulamento, tiver tomado as medidas que considere adequadas (20º/2).
V. Atividade do tribunal
Quando o réu tenha a sua residência habitual num EM diferente daquele em que foi
proposta a ação e não comparecer em juízo, deve o tribunal suspender a instância até se provar
que lhe foi dada a oportunidade de receber a petição inicial a tempo de poder exercer contraditório
ou que foram efetuadas todas as diligências nesse sentido (18º/1). O tribunal de um EM em que
seja proposta uma ação para o qual seria competente outro tribunal de um EM, e que seja
incompetente à luz deste regulamento, deve reconhecer oficiosamente a sua incompetência (17º).
O artigo prescreve que é inadmissível, nas condições por ele enunciadas, um pacto de jurisdição
celebrado entre as partes, sendo irrelevante a posição da parte demandada, não sendo assim
válidos pactos tácitos de jurisdição.
Regulamento 4/2009
O Reg. 4/2009 visa criar algumas medidas que permitam assegurar a cobrança efetiva das
prestações de alimentos em situações transfronteiriças e possibilitar que um credor de alimentos
possa obter facilmente, num dos EM, uma decisão com força executória noutro EM. Isto traduz-
se na incompetência dos tribunais de outro EM para apreciar a ação de alteração da obrigação de
alimentos enquanto o credor continuar a ter residência habitual no EM onde foi proferida a decisão
(8º/1), na possibilidade do tribunal do EM de origem da decisão a declarar executória
O Reg. 4/2009 aplica-se mesmo que o requerido tenha a sua residência habitual num
Estado terceiro, e aplica-se independentemente da natureza do tribunal, a matérias de obrigações
de alimentos, sempre que um dos elementos de conexão referidos nos artigos 3º a 7º atribua
competência aos tribunais de um EM. Inclui-se na noção de tribunal autoridades administrativas
competentes nesta matéria, desde que ofereçam garantias de imparcialidade e ao direito das partes
serem ouvidas, e que possam ser objeto de recurso para uma autoridade judiciária ou de controlo
pelas mesmas (2.º/2). Apesar do artigo 3º possibilitar a aplicação do Regulamento a casos
puramente internos, entende-se que só será aplicável a casos transfronteiriços, aplicando-se ao
reconhecimento, à força executória e à execução de decisões proferidas nos EM. É importante
referir que a regra do artigo 3º determina não só a competência internacional, mas também a
competência territorial, e, sendo dotado de dupla funcionalidade, não há que recorrer às regras
internas para determinar o tribunal territorialmente competente.
O Reg. 4/2009 vem substituir o Reg. 805/2004, exceto no que se refere a títulos
executivos europeus relativos a obrigações alimentares emitidos num EM em que não esteja
vinculado ao Protocolo sobre a lei aplicável às Obrigações Alimentares, prevalecendo também
sobre convenções e acordos que incidam sobre as matérias por ele regidas (69º/2).
I. Aferição da competência
O critério geral diz-nos que será competente para apreciar a ação, o tribunal do local em
que o requerido tem a sua residência habitual (3º/a)), ou no tribunal do local em que o credo tem
a sua residência habitual (3º/b), utilizando-se como elemento de conexão a residência habitual e
não o domicilio.
• Os tribunais competentes, de acordo com a lei do foro, para apreciar uma ação relativa ao
estado das pessoas, quando o pedido relativo à obrigação alimentar for acessório dessa
ação, salvo se esta competência se basear unicamente na nacionalidade de uma das partes
(3º/c));
• Os tribunais, de acordo com a lei do foro, competentes para apreciar ações relativas à
responsabilidade parental, quando o pedido relativo a uma obrigação alimentar for
acessório desta ação, salvo se a competência se basear unicamente na nacionalidade de
uma das partes (3º/d)).
Porogatio fori
As partes podem atribuir competência aos tribunais dos EM para decidir quaisquer litígios
que tenham surgido ou que possam surgir entre elas em matéria de obrigações alimentares (4º/1),
podendo atribuir competência aos seguintes tribunais:
• Ao tribunal ou aos tribunais de um EM no qual uma das partes tenha a sua residência
habitual (4º/1/§1/a));
• Ao tribunal ou aos tribunais de um EM de que uma das partes tenha nacionalidade
(4º/1/§1/b));
• Quanto a cônjuges e ex-cônjuges, ao tribunal competente para deliberar sobre os litígios
em matéria matrimonial ou ao tribunal ou tribunais dos EM em que estava situada a sua
ultima residência habitual comum durante um período de pelo menos um ano (4º/1/§1/c)).
O regulamento é aplicável qualquer que seja o lugar da residência aplicável das partes,
decorrendo daqui que, no que respeita a pactos de jurisdição, o regime do artigo 4º é aplicável
quando tenha sido derrogada a competência dos tribunais de um Estado terceiro e seja atribuída
competência aos tribunais de um EM, e quando tenha sido derrogada a competência dos tribunais
de um EM e seja atribuída competência aos tribunais de um outro EM. É também de referir o
pacto tácito, isto é, o tribunal de um EM perante o qual compareça o requerido, sem arguir a sua
incompetência, torna-se competente (26.º/1 do Reg. 1215/2012).
Ações de alteração
Quando a decisão tenha sido proferida num EM ou num Estado que seja parte da
CCobrAL onde o credor tenha a sua residência habitual, o devedor não pode propor uma ação
para alterar ou obter nova decisão em qualquer outro EM enquanto o credor continuar a ter a sua
residência habitual no Estado onde foi proferida a decisão (8º/1), só podendo propor uma ação de
modificação nesse mesmo Estado. O artigo 8º/2 enuncia a exceções a esta regra, sendo elas:
• As partes terem celebrado um pacto de jurisdição que atribui competência aos tribunais
de outros EM;
• O credor, através de pacto tácito, ter aceite a competência de outros tribunais;
• A autoridade competente do Estado de origem não possa ou se recuse a exercer a
competência para alterar a decisão ou proferir uma nova decisão;
• A decisão proferida no Estado de origem que seja parte da CCobrAL não possa ser
reconhecida ou declarada executória no EM em que se pretende intentar a ação para obter
uma nova decisão ou alteração da decisão.
Este regime será também aplicável a casos em que a obrigação de alimentos tenha sido
definida através de uma transação ou de um ato autêntico, na medida do necessário, como
estabelece o artigo 48º/2.
Competência subsidiária
Forum necessitatis
Medidas provisórias
Casos omissos
O Reg. 4/2009 não tem nenhuma questão quanto à pluralidade de requeridos ou quanto
ao forum reconventionis, no entanto, há que considerar essa hipótese. Quanto à pluralidade de
requeridos, não é particularmente gravosa para o requerente se este for o credor da prestação de
alimentos, uma vez que este credor pode intentar a ação contra vários devedores no tribunal da
sua própria residência habitual (3º/b)), cabendo ao direito interno determinar se é admissível
demandar ambos os devedores no mesmo processo, acontecendo o mesmo quando existam dois
credores. Não se pode também admitir que a formulação de pedido reconvencional esteja
excluída, uma vez que seria contrário à igualdade entre partes, pelo que, cabendo no âmbito de
aplicação do Reg. 1215/2012 há que entender que o requerido pode beneficiar do regime constante
do artigo 8º/3 deste.
Se o requerido tiver a sua residência habitual num Estado diferente daquele em que foi
instaurada ação e não comparecer em juízo, o tribunal da ação suspende a instancia enquanto não
se estabelecer que o requerido foi devidamente notificado do ato introdutório da instância ou ato
equivalente, a tempo para poder deduzir a sua defesa ou que foram efetuadas todas as diligencias
nesse sentido (11º/1; e 28º/2 do Reg.1215/2012). Se o ato introdutório da instância tiver sido
transmitido por um EM a outro através da aplicação do Reg. 1393/2007, aplicar-se-á o disposto
no artigo 19º do Reg. 1393/2007, pelo que, tendo a citação sido realizada num EM diverso daquele
no qual a ação foi proposta e não tendo o demandado comparecido em juízo, o tribunal da ação
deve suspender a instância até se verificar que a citação foi regular e realizada em tempo útil
(19.º/1 do Reg. 1393/2007).
O tribunal de um EM onde tenha sido intentada a ação para a qual não tenha competência
por força do Reg. 4/2009 deve declarar oficiosamente a sua incompetência (10º; e 28º/1 do Reg.
1215/2012), tanto quanto à incompetência internacional como quanto à incompetência territorial,
sendo que as consequências se determinam segundo o direito interno dos EM.
Quando ações com o mesmo pedido e a mesma caus de pedir e entre as mesmas partes
forem submetidas à apreciação de tribunais de diferentes EM, o tribunal a que a ação foi
submetida em segundo lugar deve suspender oficiosamente a instância até que se estabeleça a
competência do tribunal a que a ação foi submetida em primeiro lugar (12º/1; 29º/1 do Reg.
1215/2012). A identidade de ações ocorre não só nas situações em que a mesma parte repete a
ação, mas também naquelas em que uma das partes pede a redução do montante da prestação de
alimentos e a outra pede aumento. Assim que esteja estabelecida a competência do primeiro
tribunal, o segundo deverá declarar-se incompetente (12º/2; e 29º/3 do Reg. 1215/2012). Para que
não se suscitem duvidas sobre o momento da propositura da ação, esta considera-se instaurada na
data em que é apresentado ao tribunal o documento que dá início à instância ou um documento
equivalente, desde que o requerente não tenha posteriormente deixado de tomar medidas que lhe
incumbem para que seja feita a notificação ou citação ao requerido (9º/a); e 32º/1/a) do Reg.
1215/2012), ou se o documento tiver de ser notificado ou citado antes de ser apresentado ao
tribunal, nada data em que é recebido pela autoridade responsável pela notificação ou citação,
desde que o requerente não tenha posteriormente deixado de tomar as medidas que lhe incumbem
para que o ato seja apresentado ao tribunal (9º/b); e 32º/1/b) do Reg. 1215/2012).
As partes envolvidas num litigio abrangido pelo Reg. 4/2009 têm acesso efetivo à justiça
noutro EM, nomeadamente no âmbito de procedimento de execução e recursos (44º/1) O regime
de apoio judiciário é diferente para os casos em que o interessado solicita a assistência a uma
autoridade central, e nas hipóteses em que tal não sucede (44º/3). E caso tenha solicitado, há ainda
duas hipóteses:
A autoridade competente do EM requerido pode cobrar as custas à parte vencida que foi
beneficiária de apoio judiciário gratuito ao abrigo do disposto no artigo 46.º, a título excecional e
se a situação financeira deste o permitir.
1. Direito Interno
O artigo 37º/2 da LOSJ determina que a lei do processo determinará os elementos de
conexão de que depende a competência internacional dos tribunais, estabelecendo o artigo 59º
que os tribunais portugueses são competentes quando se verifique alguma das circunstâncias dos
artigos 62º e 63º (competência legal) ou do artigo 94º (competência convencional). A competência
internacional é aferida independentemente da lei aplicável. Dispõe ainda o artigo 59º que, quando
a causa caiba dentro do âmbito dos regulamentos, será sempre aferida a competência à luz destes,
pelo que, qualquer divergência entre estes regulamentos e o direito interno português deverá ser
resolvida através destes atos europeus, e, se dos regulamentos não resultar a competência
internacional, não será possível aferir a competência internacional através do direito interno.
Os tribunais portugueses não pode julgar toda e qualquer causa, pelo que, é necessário
que entre o litigio e a ordem jurídica portuguesa se estabeleçam os chamados elementos de
conexão, suficientemente relevantes para justificar o julgamento desse litigio. Atendendo aos
elementos da causa e às conexões com certa ordem jurídica, caberá averiguar quais são os
tribunais que a devem apreciar. Se a causa apresentar conexão com uma só ordem jurídica,
deverão ser os tribunais dessa mesma ordem jurídica competentes para apreciar a causa, enquanto
se apresentar uma conexão com várias ordens jurídicas, a solução tratar-se sempre de escolher os
tribunais de certa ordem jurídica competentes para apreciar a ação. As regras sobre a competência
internacional podem justificar-se para, em situações jurídicas plurilocalizadas, alargar essa
competência a casos não abrangidos pelas regras de competência interna ou para excluir essa
competência em relação a hipóteses que, apesar de se encontrarem compreendidas nas regras de
competência interna, apresentam conexão relevante com outras ordens jurídicas. Assim, os
elementos de conexão são alternativos entre si, bastando a verificação de um deles, e são eles:
A) Critério da coincidência
O artigo 62º a) estabelece que os tribunais portugueses são competentes quando a ação
deva ser proposta em Portugal pelas regras da competência territorial (70º a 84º), e, sendo o local
que se chega através da competência territorial competente, os tribunais portugueses são
competentes. Este é o princípio da coincidência entre competência internacional e competência
territorial, não se alargando nem restringindo a competência interna a casos que apresentem
elementos de estraneidade, pelo que o sentido útil deste princípio se encontra no reenvio intra-
sistemático para o artigo 63º. Em algumas situações em que os tribunais portugueses são
competentes por este critério, essa competência é exclusiva, sendo elas:
B) Critério da causalidade
C) Critério da necessidade
• A tribunais de Estados que não sejam EM da EU, nem Estados contratantes da CLug II
ou da CEIForo;
• No caso em que nenhuma das partes domiciliadas num Estado contratante da CLug II, a
tribunais de um Estado contratante da CLug II (o artigo 23º só é aplicável se alguma das
partes tiver domicilio num Estado contratante).
Se a relação controvertida tiver conexão com várias ordens jurídicas, as partes poderão
convencionar qual é a jurisdição competente para apreciar um litígio determinado ou os litígios
eventualmente decorrentes dessa relação (94º/1). Os pactos podem envolver a atribuição de
competência exclusiva ou alternativa (presumindo-se em caso de dúvida exclusiva) a tribunais
portugueses ou estrangeiros (94º/2). Este artigo refere-se à alternatividade de competência legal
dos tribunais portugueses, mas temos de considerar também a situação de se verificar entre
competência legal e competência convencional que pertence a outros tribunais. Neste caso, se as
partes nada disserem, a competência atribuída presume-se exclusiva, pelo que, na ordem jurídica
portuguesa, a celebração de pacto de jurisdição obsta à instauração da ação, respetivamente, num
tribunal português ou estrangeiro. O pacto de jurisdição se se verificassem as seguintes condições:
O pacto de jurisdição é um negócio jurídico, pelo que se lhe aplica o regime destes quanto
à validade substantiva.
Alguns dos critérios referidos acabam por aferir também a competência territorial,
como é o caso do critério da coincidência (62º/a)), dado que o mesmo assenta numa coincidência
entre a competência territorial e internacional. Também poderá ocorrer que não se possa aferir
simultaneamente a competência territorial e internacional, o que se verifica quando os tribunais
portugueses são internacionalmente competentes por força do critério da causalidade (62º/b)), da
necessidade (62º/c)), ou da vontade das partes (94º). Para verificar qual o tribunal territorialmente
competente, a solução será aplicar o disposto no artigo 80º/1 e 2, ou 81º, e, em última análise, o
estabelecido no artigo 80º/3
2. As Partes do Processo
Na análise das partes cabe-nos fazer uma análise daquilo que é a noção de parte, a
qualidade de parte (saber quem é a parte) e a suscetibilidade de ser parte (saber quem pode ser
parte – 11º a 13º).
Parte é aquele que pede em juízo uma determinada forma de tutela jurídica e aquele contra
o qual essa forma de tutela é pedida, sendo as partes ativas o autor (processo declarativo) e o
exequente (processo executivo), e as partes passivas o réu (processo declarativo) e executado
(processo executivo). A noção de parte tem relevância para determinar o âmbito subjetivo das
exceções de litispendência (580º/1 e 581º/2), o tribunal territorialmente competente (71º/1, 72º,
80º a 82.º), o impedimento do juiz (115º/1/a) e b)), e ainda a admissibilidade do depoimento como
testemunha (496º), recaindo ainda sobre elas um dever de cooperação e proibição de litigância de
má-fé.
Já a qualidade de parte pertence ao autor e ao réu, e quem não é autor ou réu é terceiro
perante o processo, existindo três grupos de terceiros:
• Partes em sentido material – terceiros que têm a mesma qualidade jurídica de qualquer
das partes, sendo o terceiro um terceiro perante o processo, mas não o ser perante algumas
das suas partes. A identidade das partes é aferida pela qualidade jurídica dos sujeitos
(581º/2);
• Terceiros legitimados – terceiros que apesar de serem terceiros perante o processo ou
qualquer uma das partes, mas não o ser perante o objeto do processo, sendo legitimados
por terem legitimidade para ser parte na causa (podendo intervir como partes principais
ou acessórias);
• Terceiros não legitimados – quando os terceiros são terceiros perante o processo,
perante qualquer das partes ainda perante o objeto do processo.
Numa fase inicial a identificação das partes está na disponibilidade do autor ou autores,
ele ou eles formulam os pedidos e indicam contra quem os quer formular, pelo que a parte é quem
o é e não quem o devia ser, pelo menos enquanto não for demandado, e sendo parte o representado
e não o representante. Pode acontecer que a ação seja proposta contra uma entidade inexistente
ou contra uma pessoa inexistente, devendo, neste caso, ser a inexistência do autor tratada como
uma insusceptibilidade de ser parte e com falta de personalidade judiciária (11º/1), enquanto que
a inexistência do réu implica também a falta de personalidade judiciária e falta de citação da parte
(188º/1/d)), uma nulidade de conhecimento oficioso (196º). Falta a ambas as partes a
suscetibilidade de ser réu ou autor, pelo que, caso a instancia não seja suspensa após o autor ou o
réu falecerem ou serem extintos, estamos perante uma nulidade processual (195º/1) devendo ser
anulados os atos subsequentes ao falecimento ou extinção (195º/2). O processo segue um
princípio de dualidade das partes, exigindo-se uma ou mais partes ativas e uma ou mais partes
passivas, proibindo-se, por exemplo, processos consigo mesmo (não se excluindo a hipótese de
ações entre órgãos da mesma pessoa coletiva). A inobservância deste princípio implica a
impossibilidade jurídica do processo, podendo ser originário ou superveniente, constituindo
fundamento para a extinção da instância (277º/e)).
O artigo 552º/1/a) manda que as partes devem ser identificadas pelo autor através da
indicação dos seus nomes, domicílios ou sedes, e sempre que possível, número de identificação
civil e de identificação fiscal, profissões e locais de trabalho. Pode dar-se o caso de o réu ser
corretamente identificado, mas demandar-se a pessoa errada (por exemplo através do domicilio),
devendo haver desistência do pedido (283º/1), ou o caso do réu ser incorretamente identificado
pelo autor, mas não haver qualquer dúvida quanto à sua identidade (caso em que não há vicio, e
o erro pode ser corrigido a requerimento do autor pelo 614º/1), ou ainda o réu ser corretamente
identificado pelo autor, mas é citada uma pessoa diferente da indicada (hipótese em que a situação
é inexistente pelo 188º/1/b)). As partes da ação são pessoas ou entidades determinadas, no entanto,
em certos casos, a lei permite que a ação possa ser proposta ou continue contra incertos, como é
o caso do processo de justificação judicial, aplicável à retificação do registo e a certos óbitos, em
que são citados os interessados incertos (235º/1/b) do CRC), e falecendo uma das partes, são
citados os sucessores incertos para efeito de habilitação (351º/1 e 355º/1). Caso ninguém apareça
para assumir a posição da parte, continuando contra os incertos e cabendo ao MP a sua
representação (22º/1).
Ao lado das partes principais, existem partes acessórias, que são os titulares de interesses
conexos com os interesses em causa e que, por isso, podem auxiliar uma das partes principais,
defendendo no processo um interesse próprio, conexo com o de uma das partes principais,
auxiliando a parte principal. Caso típico de parte acessória, é a do assistente (326º e 332º), que
começa por ser um terceiro interessado que passa a ser parte em virtude de um incidente de
intervenção de terceiros, chamado intervenção acessória. O MP pode intervir como parte
principal, quando represente o Estado, regiões autónomas, autarquias locais e incapazes, incertos
e ausentes em parte incerta (4º/1/b) e 9º/1/a) a c) do EMP), assim como quando assume a defesa
e a promoção de direitos e interesses das crianças, jovens idosos, adultos com capacidade
diminuída, bem como outras pessoas especialmente vulneráveis, e intervém, como parte
acessória, quando seja interessados na causa as regiões autónomas, autarquias locais, outras
pessoas coletivas de utilidade pública, incapazes e ausentes ou quando vise a realização de
interesse coletivos ou difusos (10º/1/a) do EMP).
Para que seja apreciado o mérito da causa, a lei exige que as partes apresentem um certo
número de características que funcionam como pressupostos processuais. A relação processual é
considerada, em regra, na sua forma mais simples, sendo formada por duas partes que se mantêm
no decorrer de todo o processo, podendo haver, quanto às partes especialidade de dois tipos:
especialidade de caráter estático, constituída pela pluralidade das partes, cumulação subjetiva ou
litisconsórcio latu sensu; ou especialidade de caráter dinâmico, constituídas pelas modificações
subjetivas da instância, fundamentalmente a sucessão e a intervenção de terceiros. São assim as
características que funcionam enquanto pressupostos processuais:
1. Personalidade judiciária
O artigo 11º/1 determina que a personalidade jurídica é a suscetibilidade de se ser parte.
A personalidade judiciária é limitada pela sua eficácia ou relevância: só produz efeitos dentro do
processo. Isto justifica a existência de entidades dotadas de personalidade judiciária mas não de
personalidade jurídica (12º e 13º). A personalidade judiciária acaba por ser restrita ao campo do
processo civil, aliás, ao campo de certo processo civil, não podendo, por exemplo, A pedir a
condenação de certa agencia da sociedade B e vir mais tarde demandar noutro processo a própria
sociedade, não produzindo efeitos fora deste processo. A personalidade judiciária acaba por ser o
pressuposto dos pressupostos processuais subjetivos relativos às partes, uma vez que os
pressupostos como a capacidade e legitimidade pressupõe uma parte.
O artigo 11º/2 estabelece que quem tenha personalidade jurídica tem personalidade
judiciária, seja pessoa singular ou coletiva. Estabelece-se uma outra regra, que só aquele que tem
personalidade jurídica, tem personalidade judiciária, havendo exceções a esta regra como as dos
artigos 12º e 13º, decorrendo a atribuição de personalidade judiciária a entidades sem
personalidade jurídica dos critérios da diferenciação patrimonial e da afetação do ato:
renunciáveis, matéria regulada no artigo 31º/1 e 3 do CRelDipl, que atribui imunidade civil, penal
e administrativa no Estado acreditador, salvo se se tratar de uma ação real sobre imóvel privado
situado em território do Estado acreditador. Quanto a empregados e funcionários consulares, o
artigo 43º da CRelCons estabelece o âmbito desta imunidade, não estando sujeito a entidades
judiciárias e administrativas do Estado recetor pelos atos realizados no exercício das suas funções
consulares, exceto se resultar de contrato feito por funcionário consular ou empregador consular
que não o tenha cumprido expressa ou implicitamente como mandatário do Estado que envia ou
que seja intentada por terceiro como consequência de danos causados por acidentes de veículos,
navio ou aeronave ocorrido no Estado recetor. O agente diplomático e o funcionário consular
podem renunciar à sua imunidade, mas não precisam desta renúncia para intentar uma ação no
Estado recetor, e não pode alegar a sua imunidade contra qualquer pedido de reconvenção
diretamente ligado à demanda principal, não implicando também a renúncia à imunidade quanto
a ações de execução.
Têm ainda imunidade os representantes dos membros das Nações Unidas e funcionários
necessárias ao exercício independente das suas funções (105º/2 da CtONU), e há que considerar
os protocolos relativos aos órgãos da UE anexos ao TFUE.
2. Capacidade judiciária
O artigo 15º/1 define a capacidade judiciária como a suscetibilidade de estar, por si, em
juízo, tratando-se de uma capacidade de exercício de direitos e deveres processuais. De forma
mais concretizada, a capacidade judiciária pode ser definida como a suscetibilidade de a pessoa,
por si, pessoal e livremente, decidir sobre a orientação da defesa dos seus interesses em juízo, em
aspetos que não são da mera técnica jurídica. No caso de patrocínio judiciário obrigatório, em
última análise, verifica-se também uma incapacidade, uma vez que a parte não pode estar por si
em juízo, limitando-se esta incapacidade apenas quanto à técnica do processo. A capacidade pode
ser jurídica ou naturalmente organizada, sendo a das pessoas coletivas organizadas, resultando da
existência de órgãos através dos quais elas estão por si em juízo (representação orgânica), e as
pessoas singulares natural, tendo capacidade judiciária quando possam estar por si em juízo
(representação legal). A representação é relevante para impor a suspensão da instancia (269º/1/b)
e 276º/1/b)), aferir o impedimento do juiz (115º/1/a) e b)), o justo impedimento (140º/1), a
regularidade da citação dos incapazes, incertos e pessoas coletivas (223º/1), a validade da
desistência, confissão ou transação (287º) e da confissão de fatos (453º/2), a litigância de má-fé
(544º) e a simulação processual (631º/3).
• Regra da representação – quem não pode celebrar negócios jurídicos se não por
intermédio de representante legal, também não pode propor ações senão através de
representante legal (16º/1);
• Regra da autorização – se certa pessoa pode praticar certos atos pessoais, mas não
livremente, carecendo de autorização para a prática, então para propor qualquer processo
que possa ter efeito semelhante ao do ato, carece também de autorização (145º/2/d) do
CC; 283º e 290º/3).
Quanto à capacidade de ser parte passiva, o regime é diferente, não pudendo sujeitar-se o
réu à dependência de uma autorização, apesar de se impor a mesma regra de representação (16º/1).
Movida uma ação contra maior acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização, deve este estar
por si e livremente como réu na ação (19º/1). Já contra um menor ou maior acompanhado sujeito
a representação, ele deve em regra ser representado nessa ação pelo representante legal (16º/1).
• Quanto aos menores – é menor quem ainda não tenha completado os 18 anos de idade
(122.º do CC), carecendo de capacidade de exercício (123º do CC), pelo que carecem de
personalidade judiciária. Esta incapacidade é suprida pelo exercício de responsabilidades
parentais, subsidiariamente pela tutela (124º do CC), e há ainda que considerar outras
formas de administração de bens (1922.º, 1967º e 1972.º do CC). O suprimento da
incapacidade dos menores faz-se por representação (1878º/1, 1881º, 1888º e 1900.º do
CC), pelo que o menor não pode estar em juízo, mas sim por intermédio dos progenitores,
do tutor (1921º/1 do CC), ou, em certas circunstâncias, do administrador de bens (1922.º
do CC). Caso ambos os progenitores se encontrem na titularidade do poder parental, a
representação compete a ambos (16.º/2 e 3), caso assim não seja e estiverem em
desacordo sobre a conveniência de intentar a ação, devem recorrer ao tribunal competente
para resolver o diferendo (18º/1), ou, caso esteja pendente uma ação e se verifique o
desacordo dos progenitores quanto à orientação, qualquer um deles pode requerer que o
juiz providencie sobre a forma de o menor ser representado (18º/2). Os representantes
legais, em regra, não têm liberdade para intentar ações, necessitando o tutor de
autorização (1938º/1/e)) que compete ao MP (2º/1/b) do DL 272/2001), assim como
acompanhante de maiores (1971º/1 do CC) e o administrador de bens do menor (1971º/1
do CC). Isto aplica-se também à celebração de convenção arbitral relativamente a atos
para os quais necessitem de autorização. Já os progenitores apenas precisam de
autorização nos casos do artigo 1889º/1/n), que cabe também ao MP. Este regime não se
aplica quanto aos atos do menor aos quais a lei atribui capacidade de exercício de direitos
e deveres;
• Quanto aos maiores acompanhados – vêm previstos os casos que podem ser suscetíveis
de acompanhamento no artigo 138º do CC, pelo que a medida de acompanhamento é
decretada judicialmente (139º/1 do CC), podendo atribuir-se ao acompanhante funções
de representação, geral ou especial, administração total ou parcial, ou de autorização
prévia para a prática de determinados atos (145º do CC). Assim, se:
o Se for proposta uma ação por maior acompanhado sujeita a representação ou
administração de bens, deve ser representado pelo acompanhante (16º/1);
o Se for instaurada ação por maior acompanhado quanto a atos sujeitos a
autorização, esse maior acompanhado pode estar por si pessoal e livremente em
juízo, embora necessite de autorização do acompanhante (19º/1);
o Se for proposta ação contra maior acompanhado sujeito a representação ou
administração de bens, ele deve ser representado pelo acompanhante (16º/1);
o Se for proposta ação contra um maior acompanhado quanto a atos sujeitos a
autorização do acompanhante, este pode estar por si pessoal e livremente em
juízo e deve ser citado para a ação (19º/1), embora necessite de autorização para
praticar atos em juízo.
Alguns preceitos falam de uma representação eventual do incapaz por curador provisório
(17º/1 e 2 e 243º/3) ou especial (17º/3 e 18º/3), também na ausência se recorre a curador especial
(89.º/3 e 92.º/2 do CC). Podemos ter curador provisório, quando o incapaz não tenha representante
geral e a ação seja urgente (17º/1), curador especial, quando estejam em conflito os interesses do
incapaz com os do representante geral (17º/3), e quando estejam em conflito os interesses de
vários incapazes representados pelo mesmo representante geral (17º/3).´
O artigo 21º/1 determina um subsuprimento da incapacidade pelo MP quando o incapaz
ou os seus representantes não deduziram oposição, sendo necessário além de não contestar, que
não constitua mandatário judicial e que o representante legal não se oponha, com a concordância
do juiz a essa intervenção. Este regime aplica-se também aos ausentes.
• Enquanto pressuposto dos atos – acontece quanto a incapacidade atinja não a parte,
mas uma extensão maior ou menor da sua atuação, sendo neste caso vício de um certo
ato processual e não de uma das partes, sendo o ato inválido ou inadmissível. Também a
falta de autorização ou deliberação, verificando-se na parte passiva, dá origem a este
vício.
Quanto ao ónus da prova, há que distinguir se a incapacidade assenta num fato duplo, isto
é, se é assente numa incapacidade de exercício que seja relevante para apreciação dessa
incapacidade e do mérito da causa. Se a incapacidade se basear num fato duplo, a distribuição do
ónus da prova é realizada nos termos gerais do artigo 342º/1 e 2 do CC, implicando que a
incapacidade de exercício seja fato constitutivo (341º/1 – autor) ou impeditivo (341º/2 – réu). Se
não constituir um fato duplo, o ónus da prova cabe ao autor.
Há que distinguir também a sanação da incapacidade, quando a incapacidade viciou o
processo mas a lei faculta um meio para a fazer cessar retroativamente os efeitos do vício, e a
cessação, quando por exemplo o menor atinge a maioridade no decorrer do processo.
Podemos designar três tipos de vício que a lei distingue:
▪ Ratifica pura e simplesmente tudo o que foi feito e, neste caso, o processo
segue como se o vício não tivesse existido;
▪ Pratica de novo os atos que foram irregularmente praticados ou parte
deles;
▪ Nega pura e simplesmente a ratificação do ato praticado, nesta hipótese,
o processo segue à revelia, ficando sem efeito a contestação inadmissível
(e os atos, praticados pelo incapaz ou pelo irregular representante, que se
lhe seguiram).
→ Incapacidade da representação – quando está em juízo um incapaz ou pessoa coletiva
representada por pessoa diferente daquela a quem compete a representação. A
irregularidade de representação, no lado ativo, sendo manifesta em face da petição inicial
e havendo despacho liminar (226.º/4) dá origem a um despacho inicial de citação do
verdadeiro representante legal do autor (27º/1 e 28º/2). Por sua vez, no lado passivo,
manifestando-se face à petição inicial, corrige-se pura e simplesmente ordenando o juiz
a citação do verdadeiro representante legal. Se passar o momento do despacho liminar, o
juiz manda proceder à citação do representante legal, passando-se tudo da mesma forma
que na incapacidade judiciária em sentido estrito;
• Causas de competência de tribunais com alçada em que seja admissível recurso ordinário
(40º/1/a)) – valor superior a 5 mil euros (44º/1 da LOSJ);
• Nas causas em que seja sempre admissível recurso ordinário independentemente do valor
da causa (40º/1/b)), sendo sempre admissível nas situações previstas no artigo 623º/3/a));
• Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores (40º/1/c)).
4. Legitimidade singular
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Tal como o Professor Lebre de Freitas…
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O objeto do processo é integrado pelos fatos essenciais e instrumentais | artigo 5º CPC | os fatos essenciais
são aqueles que integram a causa de pedir ou fundamento da exceção e cuja falta determina a inviabilidade
da ação ou da exceção e os fatos instrumentais são, probatórios e acessórios são aqueles que indiciam os
fatos essenciais e que podem ser utilizados para aprova indiciária destes últimos. Os fatos essenciais
processo, fundamentando o princípio do contraditório – tem de ser a pessoa cuja esfera jurídica é
afetada. A legitimidade vai ainda estabelecer a racionalidade a própria decisão.
E, portanto, tem legitimidade a parte da relação material controvertida: mas o problema?
Este conceito de parte não se interliga com o objeto da ação. Também a legitimidade é um
pressuposto formal, quer dizer que o autor ter tido estabelecido um determinado contrato com o
réu, e este afirma que não, significa que há que verificar que houve uma relação controvertida. A
ação serve para saber se existem situações jurídicas ou não, e se a ação é procedente ou não.
Se chegarmos ao artigo 577º e) CPC significa que percorri tudo para chegar a um juízo
de inadmissibilidade (exceção dilatória) – o modo como o autor configurou a relação material
controvertida, significa que deslocamos esta questão formal para uma questão substantiva -
legitimidade substantiva. Ou seja, se houver um contrato em que o credor intenta uma ação
contra terceiro (que não devedor), não há absolvição da instância. A ação é antes considerada
improcedente – há caso julgado material (efeito material, não se dá a legitimidade
processual/formal).
À legitimidade que resulta da titularidade de uma relação processual controvertida - e
qualificada por legitimidade direta, tratar-se-á de legitimidade regular. A falta de legitimidade
singular constitui uma exceção dilatória (577º e)) que conduz à absolvição do réu da instância
(576º/2 e 278º/1 d)). A lei não prevê nenhum mecanismo de sanação de ilegitimidade singular.
Análise do artigo 30º/3 CPC – “são considerados titulares do interesse relevante para o
efeito da legitimidade”– partindo deste artigo podemos ver que há regras especiais que vão
prevalecer no interesse processual.
A legitimidade é o tal pressuposto que pressupõe a titularidade do interesse processual. O
legislador escolheu o critério do título que coincide com os sujeitos da relação controvertida,
sendo o critério configurado pelo autor. A titularidade do interesse pressupõe uma titularidade de
uma situação controvertida. A zona problemática: cruzamento da legitimidade com as partes. O
titular do interesse coincide com a parte? A lei parece admitir que sim.
O nexo pressupõe uma leitura prima facie, de acordo com a narrativa de que o autor é que
é titular do interesse relevante previsto no artigo 30º/3 CPC – esta é a legitimidade direta – onde
prevalece a titularidade do interesse. O que implica que há de haver casos em que a legitimidade
é atribuída a quem não tem interesse. Aparentemente todos os legitimados têm um interesse,
porque a lei não o dispensa – mas para a lei, são titulares de um interesse relevante as partes da
relação controvertida e de acordo com a construção da regra.
O artigo 30º/1 e 2 CPC – o nº1, 2 e 3 estabelecem uma espécie de uma pirâmide que se
vai densificando – diz nos que o autor é parte legitima quando tem interesse direto em demandar
– é o concretizado pelo nº2 e no fundo a parte tem interesse em demandar para tirar proveito da
procedência da ação, ao contrário do réu, que tem interesse na improcedência da ação. Nem
sempre é fácil sabermos quando o autor tira proveito da ação – o legislador dá-nos um atalho no
nº3 – vem dizer que tem de ser um interesse relevante e é este interesse que dá racionalidade ao
processo. Como é evidente a decisão refere-se a uma situação jurídica – e a quem é reconhecido
o direito.
Por exemplo no caso de haver um processo em que está em causa uma ação de
reivindicação, o proprietário tem de fazer prova do titulo, o pai do réu ou do autor não têm
realizam uma função constitutiva do direito invocado pelo autor ou uma exceção deduzida pelo réu, pelo
que a falta da sua alegação pelo autor determina a ineptidão da petição inicial por inexistência de causa de
pedir, os fatos instrumentais destinam-se em conjugação com os fatos essenciais a dar a procedência da
ação ou da exceção.
legitimidade, não são proprietários- a decisão de mérito para ser racional tem de envolver as
pessoas cujas esferas jurídicas se concretizem através do interesse processual, através do interesse
relevante das partes.
É este pressuposto que enredo uma boa decisão e que resulta de um processo equitativo
– as partes terem a possibilidade de contraditório – só as partes têm capacidade de influenciar o
decisor, tudo isto está interligado. Só tem sentido o caso julgado quando a parte for parte legitima,
foi esta parte que pôde influenciar o decisor para chegar a uma decisão de mérito.
Há casos em que o sujeito não tem interesse juridicamente relevante, mas a lei em alguns
casos atribui legitimidade a estes sujeitos sem interesse. Como nem sempre a parte legitima tem
interesse. Existem outros valores em apresso para que a parte esteja no processo.
A legitimidade fixa-se no momento da propositura da ação pelo que não se poderão
aceitar manipulações da legitimidade. A lei obriga a parte a ficar como parte legítima, artigo 30º/3
CPC – mesmo não tendo interesse, há uma parte que pode proteger o réu ou o autor de uma
manipulação da legitimidade. A parte que não tem interesse pode habilitar-se a trocar de posição
com o réu ou autor por exemplo numa ação de reivindicação – no caso de haver discussão do
título da propriedade. A partir do momento em que o proprietário se habilita na ação (não estando
no início) tem legitimidade direta.
O problema é que a parte inicial (o autor por exemplo) fica com legitimidade indireta –
isto põe em causa a lógica do artigo 30º - em homenagem da tutela da contraparte. Este caso é um
daqueles que quando se discutia a fronteira entre parte em sentido formal e material – porque a
partir do momento em que o proprietário vende a coisa, já não poderá ser parte. A parte principal
é importante para atribuir faculdades, direitos e vinculações no processo. A legitimidade indireta
– “falta de indiciação da lei em contrário” – artigo 30/3º CPC - paralelo com o contrato a favor
de terceiro | artigo 444º/2 CC – o terceiro tem legitimidade direta , está aqui a explicação da
necessidade da formalização do conceito de parte – o sujeito do contraditório, mas por situação
jurídica alheia. Neste caso o promissório tem legitimidade indireta.
interesse direto em contradizer. Este interesse pessoal tem de ser obrigatoriamente um interesse
direto, ou seja, tanto o interesse de demandar como o interesse de contradizer, pois as vantagens
ou utilidades ou, por outro lado, as desvantagens ou perdas repercutem-se diretamente na esfera
jurídico-patrimonial de quem está a litigar, do autor e do réu.
Há portanto uma necessidade de a ação correr somente entre as pessoas que não são
estranhas á situação jurídica controvertida. Só é parte legitima quem revela o interesse a uma
tutela jurisdicional favorável, seja quanto à procedência ou improcedência da pretensão
concretamente formulada. É parte legítima quem puder retirar alguma vantagem com a decisão.
As partes materiais, as que são titulares do direito controvertido, que tenham poderes de
disposição sobre bem ou objeto do litígio, desfrutam naturalmente de legitimidade processual. Há
exceções, pode acontecer que se seja parte material, mas que não se tenha o poder de disposição
da coisa, como no caso do comproprietário e co-herdeiro, mas mesmo assim a lei confere
legitimidade processual essa parte.
As partes formais, ou seja, que não são titulares do direito controvertido, também podem
desfrutar de legitimidade processual, como no caso das agências, sucursais ou delegações que
podem ser demandadas ou demandar, ainda que o fato de onde resulte a pretensão tenha sido
praticado pela pessoa coletiva com sede no estrangeiro.
Exemplos: (PCS)
Um condómino não tem legitimidade processual para cobrar judicialmente os créditos do
condomínio sobre outro condómino, já que não é portador do interesse tutelado pelo direito
invocado, mas pelo contrário o portador desse interesse é o administrador do condomínio em
representação deste.
Os pais não gozam de legitimidade processual para reivindicar a terceiro os bens de filho
maior, pois não são titulares do interesse tutelado pelo direito invocado.
A legitimidade processual distingue-se da legitimidade substantiva, esta traduz-se no
poder de disposição atribuído pelo direito substantivo ao autor do ato jurídico. Por exemplo, cada
um dos cônjuges não tem poderes bastantes para alienar um imóvel próprio ou comum sem o
consentimento do outro cônjuge, mesmo que sobre o imóvel exerça poderes de administração
exclusivos, artigo 1682º - A / 1 CC. O mandatário por exemplo, exerce poderes representativos,
tem legitimidade substantiva para alienar um imóvel, em nome, por conta e no interesse do
mandante, sendo este negócio oponível ao mandante.
A legitimidade processual é um pressuposto de cuja verificação depende do
conhecimento do mérito da causa (artigo 278º CPC). A legitimidade substantiva é um requisito
de procedência do pedido.
b) Na tese defendida por Alberto dos Reis o réu era parte ilegítima, por não ser o sujeito da
relação material controvertida litigada, visto não ser ele o vendedor. Sendo assim, o juiz
não podia conhecer do mérito da causa, por falta de um pressuposto processual. Devia,
pois, absolver o réu da instância.
O legislador veio a optar pela expressão “tal como é configurada pelo autor”, aderindo à
posição de Barbosa de Magalhães, o que faz corresponder a legitimidade das partes à titularidade
da relação controvertida descrita pelo autor na PI.
Todavia, há imensos casos em que, a mais da situação de interesses difusos, em que a lei
confere legitimidade processual a pessoas que não são titulares ou não os únicos titulares da
situação material controvertida.
Exemplos: Companhia de seguros, cabeça de casal ou com o testamenteiro numa herança
indivisa, administrador de um condomínio, comproprietário, co-herdeiro. Nestes últimos casos a
lei atribui legitimidade processual a quem não goza de poderes de disposição sobre a coisa ou o
direito em litígio, ou sobre toda a coisa ou sobre a totalidade do direito. Sendo assim, é justo que
a sentença desfavorável ao autor não vincule ou não seja oponível aos restantes co-titulares do
direito, salvo quando a lei expressamente o indicar.
O apuramento da legitimidade faz-se independentemente de prova dos fatos que integram
a causa de pedir. De modo que a parte desfruta de legitimidade processual quando, admitindo-se,
ab intio, na configuração dada pelo autor da petição, que existe a relação material controvertida,
a parte for efetivamente o seu titular.
2.1. Tipologia
2.1.1. Representativa vs. Não representativa
A substituição representativa é aquela em que o substituto processual defende,
primordialmente, interesses alheios, como o caso do administrador da insolvência (85º/3 CIRE)
ou os casos do 71º/2 e 3 e 73º do CC. São ainda exemplos de uma substituição representativa
(todos constantes no CC):
− A legitimidade dos herdeiros do doador para ação de revogação, por ingratidão (976º/3);
− Dos parentes e herdeiros dos cônjuges para ação de anulação do casamento (1639º/1);
− De quem tenha interesse moral ou patrimonial na procedência da ação de impugnação da
maternidade (1807º); ou da perfilhação (1859º/2);
− Do cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e dos descendentes do filho
para instaurar ou prosseguir a ação de reconhecimento da maternidade (1818º);
− Do cônjuge do presumido pai, dos descendentes e ascendentes da mão, do cônjuge do
filho e dos seus descendentes para a ação de impugnação de paternidade (1844º/1);
− Dos descendentes e ascendentes do perfilhante e de todos os que mostrem ter sido
prejudicados nos seus direitos sucessórios por efeito da perfilhação (1862º).
Efeitos→ extensão à parte substituída o caso julgado formado na ação em que intervém
o substituto processual. No caso da morte do substituto, deverá aplicar-se analogicamente os
artigos 351º a 354º, fazendo substituí-lo pelo até agora “substituído”.
Elemento material
O interesse em demandar e em contradizer não é suficiente para atribuir legitimidade a
uma parte processual. Para além disso, é ainda indispensável que esta passe possa produzir todos
os efeitos materiais que podem resultar da decisão da procedência ou improcedência da ação –
legitimidade material.
A. Legitimidade ativa
A procedência da ação produz para o autor um efeito semelhante à aquisição do direito
litigioso, assim como a sua improcedência realiza para essa parte um efeito equivalente à
disposição desse direito.
Em regra, o titular pode dispor do seu direito, mas, em certos casos, a titularidade do
direito não é acompanhada de um correspondente poder de disposição. Assim, não basta o
interesse de demandar e de contradizer, mas sim que a ação incida sobre um direito que está na
disponibilidade do seu titular, pelo poder de disposição da parte sobre o direito litigioso. Deste
modo, pode suceder que o titular do direito não possa ser reconhecido como parte legitima por
lhe faltar o correspondente poder de disposição.
B. Legitimidade passiva
Para o réu, a improcedência da ação importa um efeito liberatório, porque não é atingido
na sua situação jurídica por qualquer obrigação ou oneração; todavia, a procedência da ação
produz, para o réu, um efeito dispositivo, quando o bem é reconhecido como pertencente à esfera
do autor, ou um efeito vinculativo, quando o réu fica vinculado a uma obrigação ou sujeito a uma
mudança na sua situação jurídica. Quando o réu litiga com base num direito/interesse próprio,
não se coloca problema algum quanto à determinação do sujeito que beneficia do efeito
liberatório; mas coloca-se sempre o problema de saber se o réu pode produzir os mencionados
efeitos dispositivo e vinculativo.
Modalidades de Litisconsórcio
1. Litisconsórcio e coligação
À pluralidade de partes principais dá-se o nome de litisconsórcio; pluralidade essa que
pode (mas não tem de) coexistir com uma pluralidade de pedidos. Ou seja, pelos ou contra os
vários litisconsortes pode ser formulado um único pedido (p.e.: dois cônjuges podem reivindicar
de um terceiro um imóvel que consideram seu). O problema da distinção entre o litisconsórcio e
a coligação só se coloca quando pelos ou contra os vários litisconsortes (em sentido amplo) são
formulados vários pedidos.
1.1. Distinção
O que os distingue é quem formula ou contra quem são formulados os pedidos. Assim:
− No litisconsórcio (32º a 35º e 39º) pode haver ou não uma pluralidade de pedidos, mas,
quando se verifique esta pluralidade, todos os litisconsortes formulam os mesmos pedidos
ou os mesmos pedidos são formulados contra todos os litisconsortes. Ex.: A e B formulam
contra C os pedidos de entrega de um automóvel e de indemnização por responsabilidade
contratual.
− Na coligação (36º a 39º) há sempre uma pluralidade de pedidos e cada um deles é
formulado por ou contra partes distintas; Ex.: D formula contra o demandado E o pedido
de anulação de um negócio e contra o demandado F o pedido de indemnização pelos
danos resultantes dessa anulação, por ter sido ele a dar causa à invalidade do negócio.
Há litisconsórcio inicial quando o litisconsórcio se verifica logo desde o início do
processo; há litisconsórcio sucessivo ou subsequente quando o litisconsórcio se verifica só a
partir de um momento posterior da marcha do processo. O sucessivo resulta de uma intervenção
de terceiros numa ação pendente (311º, 316º e 333º/1).
2. Litisconsórcio simples e recíproco
a) O litisconsórcio é simples quando, aumentando o número de partes, não aumenta o
número de oposições, mantendo-se o processo como bipolar (um ou mais demandantes,
de um lado, opõe-se a um ou mais demandados, do outro). Pode ser ativo (mais do que
um demandante); passivo (mais do que um demandado); ou misto (mais do que um
demandante contra mais do que um demandado).
b) O litisconsórcio é recíproco quando existe mais do que uma oposição entre as partes e,
por isso, o processo é multipolar. Imaginando que A demanda B pedindo a declaração de
propriedade de x; mas C considera-se ele o proprietário. Nos termos do 333º e ss. a lei
permite-lhe que deduza uma intervenção de terceiros (oposição voluntária), sendo C
(terceiro oponente) opositor quer de A, quer de B. Assim há 3 partes em oposição todas
entre si. Neste caso o litisconsórcio recíproco é sucessivo, mas pode também ser inicial.
• Litisconsórcio recíproco material: quando continua a haver, na estrutura do
processo, autor ou autores e réu ou réus. Aqui, os interesses destes tanto se opõem
entre si, tanto como os de cada um (relação autor-réu).
• Litisconsórcio recíproco formal: quando o litisconsorte excede o quadro autor-
réu; é o caso do oponente no incidente de oposição (333º/1 e 338º).
No litisconsórcio simples, os litisconsortes podem ser todos representados pelo mesmo
representante legal e mandatário judicial; no recíproco, ainda que material, isso não é possível
(99º/3 EOA), pois que as partes em litisconsórcio recíproco são todas partes contrárias entre si.
− 288º/1 admite que cada um dos litisconsortes voluntários pode confessar, desistir ou
transigir, mas apenas dentro dos limites do interesse de cada um; portanto qualquer um
destes atos não será admissível mediante um interesse indivisível comum a todos os
litisconsortes – litisconsórcio unitário. Exemplos: devedores solidários (32º/2; 517º/1
CC); ação de declaração de nulidade/de anulação de uma deliberação social por parte dos
sócios (57º/2 e 59º/1 CSC + 353º/2 CC);
− 634º/1 dispõe que o recurso de uma das partes vencidas aproveita aos seus compartes no
caso de o litisconsórcio ser necessário; contudo, mesmo que o litisconsórcio seja
necessário, essa extensão dos efeitos do recurso não se verifica se não houver um interesse
comum a todos os litisconsortes, ou seja, se o litisconsórcio apesar de ser necessário, não
for unitário; p.e.: o litisconsórcio entre dois devedores pode ser necessário,
nomeadamente por imposição do negócio celebrado entre as partes (33º/1); mas se ambos
os devedores forem condenados e só um deles recorrer, a extensão dos efeitos do recurso
só se verifica se a decisão incidir sobre um interesse comum e indivisível entre eles. Por
isso o que releva para que se verifique o aproveitamento do recurso, não é se o
litisconsórcio é necessário, mas sim se é unitário.
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Palma Carlos que definia o litisconsórcio necessário em função entre outros elementos, da necessidade
de uma decisão uniforme para todos os interessados, estabelecendo algumas relações entre o
litisconsórcio necessário e a uniforme da decisão.
Litisconsórcio voluntário
A regra é, havendo uma pluralidade de interessados, a da liberdade do autor na escolha
das partes da causa: este pode, em regra, intentar a ação contra todos os interessados ou contra
alguns deles ou mesmo um só, e pode fazê-lo sozinho ou acompanhado por todos os interessados
ou parte deles. Assim, se um credor na mesma relação tiver três devedores, pode, em regra, propor
a ação contra um só, dois ou todos eles; mutatis mutandis no caso de múltiplos credores.
Não se pode ficar com a ideia de que o litisconsórcio voluntário passivo é o que é
permitido aos réus; quanto ao litisconsórcio inicial, o ativo é permitido aos autores e o passivo é
também permitido ao autor, embora quanto aos réus.
O litisconsórcio voluntário é aquele que se verifica quando o que podia ser repartido por
várias ações é obtido numa única ação. Este litisconsórcio pode ter por base 3 situações:
A) Legitimidade concorrente:
É aquela que é atribuída a cada um dos titulares do direito ou interesse me substituição
de todos os demais titulares desse direito ou interesse. Esta verifica-se nas situações de
substituição processual em que, havendo uma pluralidade de titulares, a parte substituta é um
desses titulares e substitui todos os demais titulares do direito ou interesse.
B) Legitimidade conveniente
Trata-se da modalidade de litisconsórcio voluntário que a lei impõe, não como
pressuposto processual e para evitar a absolvição da instância (então seria necessário), mas para
conseguir outra vantagem e sob pena de a parte perder essa vantagem. Assim, a ação de
investigação da maternidade e de paternidade deve ser proposta contra os herdeiros e legatários
cujos direitos sejam atingidos pela procedência da ação, porque, se tal não suceder, os efeitos da
procedência não lhes serão oponíveis (1819º/2 e 1873º CC).
Litisconsórcio necessário
Quando a intervenção de todos os interessados for imposta e o incumprimento do ónus
de todos demandarem ou serem demandados implicar a ilegitimidade da parte demandante ou
demandada, o litisconsórcio é necessário. A intervenção pode ser imposta:
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Tem-se igualmente entendido que a ação de preferência tem de ser proposta pelo referente contra o
alienante e o adquirente – Antunes Varela e Pinto Ferreira
legitimidade para propor sozinho as ações respeitantes a esses bens e contra ele podem ser
propostas as ações com o mesmo objeto. Esta regra comporta, todavia, algumas exceções:
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Note-se que esta ressalva só tem valor no regime de comunhão geral de bens: nos outros regimes estes
bens são próprios e caem no 1678º/1 CC;
em causa a titularidade dos bens, mas apenas a sua utilização jurídica: é o caso da ação em que se
pede a condenação a restituir uma coisa comodatada; as segundas põem em jogo ou risco essa
titularidade: é o caso da reivindicação.
1. Interesse processual
O interesse processual (ou interesse em agir) pode ser definido como o interesse da parte
ativa em obter tutela jurisdicional e o correspondente interesse da parte passiva em impedir a
fundamenta o interesse em contradizer do réu. O que uma parte ganha na ação é exatamente o
mesmo que a outra perde com essa procedência, e vice-versa.
Apenas quando o autor tenha interesse em demandar, o réu tem interesse em contradizer.
Se o autor não tiver interesse em demandar, porque da tutela jurisdicional requerida não lhe pode
advir nenhum benefício, então o réu também não tem interesse em contradizer, dado que a sua
situação não e afetada pela concessão ao autor da tutela solicitada.
O interesse processual é um pressuposto que, apesar de ser aferido relativamente a ambas
as partes, apresenta a particularidade de ser preenchido simultaneamente para ambas as partes: ou
ambas têm interesse processual ou e nenhuma delas o tem. Se o autor nada ganha com a
condenação do réu, então esta parte também nada pode perder; se o autor ganha algo com a
condenação do réu, então esta parte também perde algo.
B. Aspeto negativo → a utilidade da tutela judicial garante o interesse processual, pelo que
a ausência daquela utilidade implica a falta deste interesse. Falta o interesse processual,
porque falta qualquer interesse em exercer o direito de ação. P.e.: o requerente da revisão
de uma sentença estrangeira não tem interesse processual quando, por força de um
regulamento europeu, essa sentença já se encontra reconhecida em Portugal: a tutela
pretendida – o reconhecimento da sentença – é, mesmo em abstrato, inútil.
B. Orientações negativistas
O artigo 535º/1 estabelece que, quando o réu não tenha dado causa à ação e não a conteste,
as custas são pagas pelo autor. Perante o disposto neste artigo, alguma doutrina nega a
qualificação do interesse processual como um pressuposto processual, porque a falta daquele
interesse implica, não a inadmissibilidade de conhecer do mérito da causa, mas a responsabilidade
do autor pelas custas da ação, ainda que esta seja considerada procedente. Importa avaliar esta
orientação:
i) As eventualidades nas quais o autor, apesar da procedência da ação, é responsável pelas
custas encontram-se referidas no 535º/2, segundo o qual o pagamento das custas incumbe
a essa parte nas seguintes situações:
− O autor exerce um direito potestativo que não tem origem em nenhum fato ilícito
praticado pelo réu (535º/2 a)); p.e.: 1550º CC;
− A obrigação do réu só se vence com a sua citação ou depois da propositura da
ação (535º/2 b)); p.e.: 805º/1 CC;
− O autor, munido de um título executivo, intenta uma ação condenatória (532º/2
c)); p.e.: 703º/1 c) CC;
− O autor, podendo interpor recurso de revisão, usa sem necessidade do processo
de declaração (532º/2 d), cf. 696º); p.e.: 696º d) em vez do 291º/1
C. Valoração
Do disposto do artigo 535º/2, pode retirar-se uma conclusão negativa e uma positiva:
− Negativa: o interesse processual não pode ter como referência a necessidade de tutela
jurisdicional; o disposto das alíneas c) e d) do preceito mostra que a desnecessidade do
emprego do meio processual não obsta à admissibilidade da ação; esta conclusão impede
que o interesse processual tenha como referência a necessidade do meio processual;
− Positiva: a utilidade da tutela jurisdicional assegura o interesse processual; o estabelecido
nas alíneas a) e b) do preceito demonstra que basta que o requerente tenha interesse na
tutela requerida para que a ação seja admissível; esta conclusão mostra que o interesse
processual e a responsabilidade pelas custas se movem em planos distintos.
Regime jurídico-positivo
O interesse processual visa definir as condições nas quais a mera alegação de uma
situação subjetiva não mostra a utilidade da tutela requerida pelo seu titular. Um proprietário,
apenas pelo fato de alegar sê-lo, não pode intentar uma ação de simples apreciação contra
qualquer sujeito, pois que não é evidente que utilidade é que esse proprietário pode retirar da
declaração do seu direito contra todo e qualquer sujeito; contudo, se houver ameaça grave à
violação desse seu direito, então o proprietário pode propor uma ação para reconhecimento do
seu direito contra o autor da ameaça.
O interesse processual visa assegurar a utilidade da ação nas hipóteses nas quais a mera
alegação da situação subjetiva pelo demandante não é suficiente para mostrar a sua utilidade. A
exigência do interesse processual consta do 30º/2 no qual se define o interesse e demandar e em
contradizer. O preceito enquadra o interesse processual no âmbito da legitimidade processual.
Contudo, o interesse deve ser distinguido da legitimidade processual: enquanto pelo interesse se
determinam as condições em que a parte pode recorrer aos tribunais, pela legitimidade define-se
qual o sujeito que pode discutir em juízo um certo objeto processual.
Um interesse que é aferido pela vantagem proveniente da procedência da ação é
necessariamente correlativo do interesse que é determinado em função do prejuízo decorrente
dessa procedência para a contraparte. Neste caso, o interesse é o mesmo, embora perspetivado
pela diferente posição de cada uma das partes – interesse definido no 30º/2. Pelo contrário, um
interesse que é apreciado pela utilidade resultante da tutela favorável ao autor é o oposto do
interesse que é aferido pela utilidade derivada de uma tutela favorável ao réu – só um destes
interesses pode ser satisfeito pela decisão final. Nesta hipótese, há que considerar dois interesses
antagónicos (os do 30º/1).
Assim, o artigo 30º/2, refere-se ao interesse processual (o interesse de uma das partes
implica o interesse da outra); o 30º/1, respeita à legitimidade das partes (a legitimidade de uma
das partes não implica a legitimidade da outra).
A demonstração de que os interesses em demandar e em contradizer referidos no 30º/1,
nada têm em comum com os homónimos interesses definidos no nº2. Exemplo: o titular de um
direito de propriedade; este sujeito possui um interesse em demandar e, por isso, é parte legítima,
porque é titular do objeto do processo; no entanto, não lhe pode ser reconhecido o interesse em
demandar, traduzido na utilidade decorrente da procedência de uma ação de simples apreciação,
se não tiver sido criada uma situação de incerteza objetiva sobre o seu direito e se essa ação não
se destinar a dissipar as dúvidas sobre a titularidade do direito de propriedade. É parte legítima
segundo o 30º/1, mas falta-lhe segundo o 30º/2, o necessário interesse processual.
A distinção entre o interesse em demandar e em contradizer referidos no 30º/1, e os
homónimos interesses definidos no 30º/2, reflete a diferença entre a legitimidade e o interesse
processual e a prioridade daquela legitimidade perante este interesse:
− A legitimidade processual (30º/1) afere se estão em juízo as partes que têm interesse em
obter a tutela jurisdicional; a legitimidade processual visa evitar que estejam em juízo
terceiros estranhos ao objeto da ação;
− O interesse processual (30º/2) avalia a utilidade da tutela jurisdicional, isto é, averigua
se, pressupondo que ambas as partes são legítimas, aquela tutela implica alguma
vantagem para o autor e alguma correlativa desvantagem para o réu; o interesse
processual destina-se a evitar que, entre partes legítimas, existam ações inúteis.
Além do disposto no 30º/2 o interesse processual encontra uma concretização na extinção
da instância por inutilidade superveniente da lide (277º e)). O interesse tem de existir durante toda
a pendência da causa, ocorrendo extinção da mesma quando o autor perde o interesse (849º/1 c)).
Apreciação e conhecimento
Casuísmo
1. Ações condenatórias
As ações condenatórias in futurum são aquelas em que o autor, prevendo a violação do
dever de cumprimento, pede – a título preventivo, pode dizer-se – a condenação do réu no
cumprimento de uma prestação ainda não vencida e, portanto, não exigível (10º/3 b)). É
reconhecido interesse processual para instaurar estas ações nas situações previstas no artigo 557º.
As ações inibitórias são aquelas em que o autor requer a condenação do réu na omissão
ou abstenção da prática de um ato lesivo de um direito de que é titular aquela parte ativa. Estas
ações visam impor a omissão de qualquer conduta futura do réu que represente uma violação de
um direito do autor, que pode ter origem legal ou contratual. São por isso, distintas das ações
condenatórias cujo objeto é uma prestação de non facere, porque nestas últimas o autor requer o
cumprimento imediato da conduta omissiva. Aqui , a ameaça da violação faz surgir uma pretensão
à omissão contra o autor da ameaça.
2. Ações constitutivas
As ações constitutivas são aquelas em que o autor pretende obter uma mudança na ordem
jurídica existente (10º/3 c)), nomeadamente com fundamento num direito potestativo. O interesse
processual está assegurado nestas ações se esse direito não puder ser exercido fora do processo.
Exemplos: declaração de insolvência; divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges;
anulação do casamento.
Nas demais situações, o autor tem, em princípio, interesse processual, porque a ação
constitutiva lhe garante a utilidade decorrente da mudança na ordem jurídica. Note-se, no entanto,
que o autor pode ficar responsável pelas custas quer se o réu não tiver dado causa à ação e a não
contestar (53º/1)
3. Ações de simples apreciação
Nas ações de simples apreciação – que são aquelas em que o autor pede a declaração da
existência ou da inexistência de um direito ou de um fato (10º/3 a)) – não se faz valer um direito
subjetivo (porque não há um direito à declaração), pelo que a utilidade da tutela que afere o
interesse processual só pode tomar como referência a própria declaração da existência ou
inexistência do direito ou do fato. Não há, quanto a este aspeto, nenhuma especialidade das ações
de simples apreciação dado que também nas ações condenatórias e nas ações constitutivas o
interesse processual é aferido em função da utilidade da tutela requerida pelo autor. Nestas ações
o interesse processual encontra-se preenchido quando o autor tem um interesse atendível na
declaração da existência ou não existência do direito ou do fato.
3. Apreciação positiva
Nas ações de simples apreciação positiva, o interesse processual exige que o direito se
encontre numa situação de incerteza objetiva, resultante normalmente da sua negação pelo réu. O
interesse processual exige que o direito exista e seja controvertido no momento da propositura da
ação, ou seja, não pode ser um eventual direito futuro ou um direito eventualmente controvertido
no futuro (neste ultimo caso→ 557º/2).
Uma ação de apreciação positiva sobre uma questão prejudicial sem qualquer autonomia
perante o respetivo efeito jurídico não é admissível, dado que a mera apreciação daquela questão
não se reveste de nenhuma utilidade jurídica.
4. Apreciação negativa
Nas ações de simples apreciação negativa, o interesse processual resulta de o réu imputar,
de forma expressa, tácita, ou implícita, um dever ao autor que é negado por esta parte. Quanto a
estas ações, o interesse processual só é preenchido se o réu afirmar ser titular de um direito contra
o autor; neste caso, é reconhecido ao autor interesse processual para propor uma ação na qual é
pedida a declaração da inexistência do direito invocado pelo réu.
Cumulação objetiva
1. Cumulação simples
A cumulação de pedidos não deve ser confundida com o concurso de regras de pretensão:
naquela cumulação, há vários pedidos e várias causas de pedir; neste concurso, há um único
pedido e várias causas de pedir. Para efeitos de fixação do valor da causa: 296º. A cumulação é,
em regra, facultativa: o autor, se quiser, pode deduzir os pedidos em ações diferentes. Deve ainda
entender-se que, por aplicação analógica do disposto no 267º/1, também é permitida a apensação
de ações respeitantes a vários pedidos que podiam ser cumulados numa única ação. A cumulação
simples encontra-se regulada no artigo 555º e para ser admissível, exige-se:
Por força da remissão para o 37º/1 a 3, a cumulação não é admissível quando puder
ofender regras de competência absoluta ou aos pedidos corresponderem formas de processo
incompatíveis. Assim, os elementos ou condições de compatibilidade processual são os seguintes:
2. Cumulação alternativa
Os pedidos alternativos são admissíveis com relação a direitos que por sua natureza ou
origem sejam alternativos ou que possam resolver-se em alternativa (553º/1). O primeiro
pressuposto da cumulação alternativa é a alternatividade substantiva entre os pedidos, como
sucede nas obrigações alternativas (543º e 549º CC) e nas obrigações com faculdade alternativa.
Dito de outro modo: a cumulação alternativa é admissível quando houver entre os pedidos uma
conexão de alternatividade.
dar a escolha ao tribunal, nem isso é admissível ao autor da ação; tal como não é admissível
invocar vários contratos e pedir ao tribunal que aprecie de qual deles resulta a prestação a que o
autor julga ter direito.
Não faz sentido que o autor possa formular em alternativa dois pedidos substancialmente
incompatíveis, p.e.: em caso de contrato sinalagmático, não será possível o autor pedir a resolução
do contrato (acompanhada de uma indemnização do interesse contratual negativo) ou a
indemnização por incumprimento definitivo (interesse contratual positivo).
Embora a lei não o diga, a cumulação alternativa também exige, por aplicação analógica
do disposto no 555º/1, compatibilidade processual quanto à competência absoluta do tribunal e à
adequação da forma do processo para todos os pedidos alternativos. A regra é, no entanto, a de
que, se os pedidos forem realmente alternativos sob o ponto de vista substantivo, estes requisitos
estando verificados quanto a um dos pedidos, estão igualmente verificados quanto a todos os
pedidos alternativos, dado que as regras processuais não podem desfazer uma alternatividade
substantiva. Se necessário, há que aceitar uma competência absoluta por conexão ou que constituir
uma tramitação adequada a todos os pedidos alternativos, através dos poderes de gestão
processual (6º/1) e de adequação formal (547º)-
3. Cumulação subsidiária
Antes do processo, o autor deve investigar quanto puder até estar apto a afirmar um
direito. Mas essa parte pode prever a eventualidade de o direito afirmado não ser reconhecido, e
pode formular para essa eventualidade, um pedido subsidiário (554º/1). Na cumulação
subsidiária, o valor da causa é sempre e só o do pedido principal (27º/3). O autor pode formular
pedidos subsidiários de pedidos subsidiários (em grau teoricamente infinito).
A oposição entre os pedidos não impede a cumulação subsidiária, mas obstam a esta
cumulação as circunstancias que impedem a coligação de autores e réus (554º/2). É possível
formular pedidos substancialmente incompatíveis; o autor pretende obter um de dois efeitos que
são materialmente incompatíveis – a cumulação subsidiária evita que ele tenha de escolher antes
da propositura da ação, antes tendo apenas de os hierarquizar (principal vs. subsidiário). No
entanto, é concebível que, com base num argumento a simile, o disposto no 37º/4 possa ser
aplicado à cumulação subsidiária.
Coligação de partes
A cumulação objetiva (simples, alternativa ou subsidiária) pode conjugar-se a cumulação
subjetiva (ou cumulação de partes). Desta conjugação pode resultar uma coligação ou um
litisconsórcio: há coligação quando forem formulados discriminadamente por ou contra várias
partes pedidos diferentes (36º/1); por exemplo: A pede w a B e x a C; D pede y a E e a F e z ao
mesmo E.
1. Delimitação do litisconsórcio
Há litisconsórcio em sentido estrito nos restantes casos, ou seja: quando mais que uma
parte ou contra mais que uma parte seja formulado um só pedido ou um pedido que a lei torna
como único; quando por mais que uma parte ou contra mais que uma parte sejam formulados
vários pedidos, mas não discriminadamente (G pede w e x contra H e I; J e K pedem y e z contra
L); finalmente, quando por mais que uma parte ou contra mais que uma parte sejam formulados,
discriminadamente, pedidos não diferentes, mas essencialmente idênticos no seu conteúdo e
fundamentos. Importa analisar, com mais pormenor estes 3 casos. Assim:
− Existe litisconsórcio quando se unem no mesmo processo, nos termos do 553º a 555º,
dois pedidos formulados indiscriminadamente por ou contra duas partes; supondo que D
tem a haver de E e F, em virtude de dois contratos de comodato que celebrou com ambos,
um automóvel e uma mobília, pode pedir a condenação na entrega de uma e outra coisa,
nos termos do 555º/1; a situação é de litisconsórcio e cumulação simples de pedidos;
2. Admissibilidade
Quanto ao litisconsórcio, não se levantam duvidas quanto à conexão e à compatibilidade
dos pedidos: ou se trata de um só pedido ou a tomar-se como tal, ou a compatibilidade deve ser
assegurada nos termos do 555º, ou os pedidos são essencialmente idênticos quanto ao conteúdo e
ao fundamento e, portanto, necessariamente conexos e compatíveis.
A diferença da coligação está justamente nisso: como os pedidos são diferentes e
discriminados por partes diversas, a lei tem de zelar pela sua compatibilidade e conexão, a fim de
evitar que, num mesmo processo, se entrecruzem pedidos incompatíveis – o mesmo seria absurdo
–, ou totalmente estranhos entre si (A pede o divórcio de B e, no mesmo processo, C pede a
condenação de D a pagar-lhe uma dívida) – o que tornaria a administração da justiça desordenada
e caótica. É por isso que, quanto à coligação, a lei procura assegurar-se de que os pedidos sejam
compatíveis (37º) e conexos (36º).
A coligação exige a competência absoluta do tribunal (37º/1) e a adequação da forma do
processo para todos os pedidos formulados (37º/2 e 3). É o regime que já foi assinalado a propósito
da cumulação simples regulada no 555º (que remete para o 37º/1 a 3). A conexão objetiva resulta
de se verificar em relação aos pedidos uma das seguintes circunstâncias:
− Terem os pedidos a mesma e única causa de pedir (36º/1); p.e.: A pede contra B a
anulação de certo contrato com ele celebrado, com fundamento em coação de C, e pede
contra C uma indemnização pela mesma coação;
homogeneidade legal; p.e.: tendo saído uma lei que proíbe o fabrico e venda de certos
produtos, M propõe contra N e O, ações de declaração de nulidade de contrato de
fornecimento de produtos que reputa incluídos nessa proibição legal;
Poderes do juiz
Os fatores de conexão enumerados no 36º são difíceis de determinar porque pode suceder
que só depois da contestação se possa saber, p.e., se a procedência do pedido deriva
essencialmente da apreciação dos mesmos fatos. Por esta razão, a lei concede alguns poderes
específicos ao juiz. Em concreto:
• O tribunal pode ordenar a separação de causas; se o tribunal, oficiosamente ou a
requerimento de alguns dos réus, entender que, não obstante a verificação dos requisitos
da coligação, é preferível que as causas sejam instruídas, discutidas e julgadas em
processos separados, notifica o autor para indicar qual o pedido ou pedidos que
continuarão a ser apreciados no processo (37º/4);
• O tribunal pode ordenar a apensão de processos cujas as partes se poderiam coligar;
se forem propostas separadamente ações que, por se verificarem os requisitos da
coligação, poderiam ser reunidas num único processo, pode ser ordenada a sua junção, a
requerimento de qualquer das partes com interesse atendível na junção, a não ser que o
estado do processo, ou outra razão especial, torne inconveniente a apensão (267º/1).
Requisitos comuns
A coligação contém uma cumulação objetiva que pode ser simples, alternativa ou
subsidiária; há por isso uma coligação simples, alternativa ou subsidiária;
− A coligação é simples quando os autores pretendam obter a satisfação de todos os
pedidos que cada um deles formula contra o réu ou quando o autor pretende obter a
satisfação de todos os pedidos que são formulados contra cada um dos réus;
− A coligação é alternativa quando o réu só tem de satisfazer um pedido formulado por
um dos autores ou quando o autor pretende obter apenas a satisfação de um dos pedidos
que formula contra cada um dos réus;
− A coligação é subsidiária quando um dos autores formula um pedido principal e um
outro autor deduz um pedido subsidiário contra o mesmo réu ou quando o autor formula
contra um dos réus um pedido principal e contra um outro réu um pedido subsidiário (39º)
Os requisitos das várias cumulações objetivas são também requisitos da coligação. Por
isso, a compatibilidade e a alternatividade substantiva são igualmente requisitos da coligação
simples e da coligação alternativa. Assim, A, tendo celebrado com B e C um contrato de transação
pelo qual ficou reconhecido como proprietário de um prédio, contra a entrega de x a B e de y a C,
não pode pedir cumulativamente contra B a declaração da nulidade absoluta do contrato, e
3. Inadmissibilidade
A coligação pode ser inadmissível por incompatibilidade processual, por falta de conexão
ou, se contiver uma cumulação simples, por incompatibilidade substantiva. As consequências
destes vícios são as seguintes:
− A falta de conexão objetiva constitui uma exceção dilatória nominada (577º f)) que é
sanável nos termos do 38º/1: o juiz deve notificar o autor para indicar qual o pedido que
pretende ver apreciado no processo; se o vício não for sanado, o réu é absolvido da
instância quanto a todos os pedidos (38º/1 + 278º/1 e))