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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I

O Direito Processual Civil é o ramo do Direito Público, funcionalmente destinado a integrar o Direito Civil e
o Direito Comercial, ou seja, este ramo do Direito destina-se a regular a forma através do qual os
particulares podem exercer os direitos substantivos que o Direito Civil e o Direito Comercial lhes conferem.

O Processo Civil constitui um instrumento para se alcançar a solução concreta do caso ou para se dar
realização efetiva ao direito violado regulando os meios através dos quais os particulares podem fazer
valer os seus direitos substantivos, quando violados.

Hierarquia dos Tribunais

STJ

Tribunal da Relação

Tribunal de 1º Instância

Tribunal de 1º Instância: todas as ações que vamos tratar, independentemente do seu valor entram todas
em baixo, nos tribunais de comarca, que também são designados de tribunais de 1º instância.

Nestes tribunais, está o juiz. Quem profere a decisão nos tribunais cíveis e nestes, é um juiz, o juiz de
direito, o que ele profere chama-se sentença. Contudo, se uma das partes não concordar que foi proferida,
verificados determinados requisitos (art.º 629º, nº1), pode pretender interpor recurso para o tribunal
hierarquicamente superior, que são os tribunais da relação (Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Guimarães).

Tribunal da Relação: nestes tribunais o poder jurisdicional, reside num órgão colegial. Temos os juízes
desembargadores, são eles que estão nestes tribunais e este juiz está incumbido de redigir a decisão,
chama-se relator (art.º 627º e seguintes). A decisão que é proferida no tribunal da relação ou no STJ,
chama-se acórdão.

No acórdão são 3 juízes a proferir. O relator redige o acórdão. A decisão do acórdão, é decidida por
maioria. Pode um dos juízes não concordar com os outros dois. Proferido o acórdão, pode uma das partes
continuar a sentir-se penalizada, portanto pode o recorrente ir do tribunal da relação ao topo, Supremo
Tribunal de Justiça (só há 1).

Supremo Tribunal de Justiça: neste tribunal estão os juízes conselheiros, que são 3. O acórdão tem de ser
proferido por unanimidade, ou seja, todos têm de estar de acordo. Existe um que não está de acordo,
então faz-se juntar mais dois juízes e, nesse caso, o acórdão já pode ser proferido por maioria.

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Tudo o que acontece no julgamento é gravado, portanto há só um juiz. Sendo que nos tribunais superiores,
que são tribunais de recurso, não fazem um novo julgamento.

Fazem é a reapreciação da decisão à luz dos mesmos factos em que se encontrava o tribunal recorrido. É o
que acontece quando há recursos. As ações intentam-se ou propõem-se, não se interpõem ações nem
procedimentos cautelares. Apenas se interpõem recursos.

Os elementos essenciais da causa (processo, ação)


 Sujeitos (autor; réu)
 Pedido (é a pretensão do autor)
 Causa de pedir (é o facto jurídico que serve de fundamento ao pedido)

Princípios fundamentais do processo civil

Princípio do dispositivo
Encontra-se consagrado desde logo no art.º 5º CPC, significando que incumbe às partes iniciar o processo,
dar-lhe o conteúdo que entendam ao formular o seu pedido, suspendê-lo ou pôr-lhe termo por confissão,
desistência ou transação, ficando o juiz, por regra, vinculado ao quadro processual desenhado pelas partes,
só podendo levar em conta na sentença os factos alegados e provados por estas.

De qualquer forma, denota-se claramente na atual lei um reforço dos poderes do juiz, o qual tem a
faculdade de investigar por sua iniciativa:
 Os factos meramente instrumentais (são os factos que interessam indiretamente à solução do
litígio, por servirem para demonstrar a verdade dos factos essenciais) que resultem da instrução da
causa, não obstante não terem sido alegados pelas partes e de os utilizar para fundamentar a sua
sentença;
 Os factos que sendo complemento ou concretização dos que as partes tenham alegado e resultem
da causa, se sobre eles tiverem tido a probabilidade de se pronunciar;
 Os factos notórios (são os factos de conhecimento geral) e aqueles que o tribunal tem
conhecimento por virtude do exercício das suas funções.

Princípio da gestão processual, do inquisitório e da adequação formal (art.º 6º, 7º, 411º, 412º, 413º e
415º CPC)
Os princípios acima enumerados fazem parte de uma mesma realidade a qual se prende com os efetivos
poderes do juiz.

A adoção do novo princípio da gestão processual reúne num único princípio da direção do processo e o
princípio da adequação formal, implicando para o juiz a obrigação de fazer uma aplicação das regras
processuais de acordo com determinados critérios, tendo em conta o fim do processo, a decisão de mérito
célere e justa, assegurando-se sempre a igualdade das partes e o contraditório.

Daqui resulta que o juiz passa a ter o dever de direção, de impulso, de simplificação e agilização processual,
bem como o dever de sancionar os atos meramente dilatórios e a falta de pressupostos processuais,
devendo determinar a realização de atos necessários a regularizar a instância. Contudo, sendo o processo
civil inquestionavelmente um processo de partes, a sua existência depende sempre da iniciativa das partes.

Princípio da igualdade das partes (art.º 4º CPC)


Este princípio consiste em as partes serem colocadas no processo, em perfeita paridade de condições,
desfrutando, de idênticas oportunidades de obter justiça. Para o processo, as partes têm a mesma

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importância, tendo iguais oportunidades de expor as suas razões procurando convencer o tribunal a
compor o litígio a seu favor.
Princípio do contraditório
Atualmente entende-se o princípio do contraditório como garantia de participação efetiva das partes no
desenvolvimento de todo o litígio, mediante a possibilidade de, em plena igualdade, influírem em todos os
elementos (factos, provas, questões de direito) que se encontrem em ligação com o objeto da causa e que
em qualquer fase do processo apareçam como potencialmente relevantes para a decisão.

Do que ficou dito resulta o seguinte:


 À parte contra quem é formulado um pedido deve ser sempre dada a oportunidade de se
pronunciar sobre o mesmo, tendo assim a possibilidade de se defender – art.º 3º, nº4, art.º 584º e
585º do CPC;
 A cada uma das partes no processo é facultada a possibilitada de intervir nos atos de produção de
prova da outra parte, bem como a de se pronunciar sobre aquilo que a parte contrária requerer no
processo – art.º 423º, nº1 e 424º;
 Nas questões de direito, o princípio exige que, antes da prolação da sentença, seja facultada às
partes a discussão efetiva de todos os fundamentos de direito em que a decisão se baseie – art.º
3º, nº3.

Em conclusão, o princípio em análise visa garantir que cada uma das partes tenha a faculdade de contestar
e controlar a atividade processual da outra parte, de modo que, o tribunal só possa proferir uma decisão,
depois de ambas as partes se terem pronunciado sobre as questões de facto e de direito a decidir – art.º
3º, nº2.

Este princípio encontra-se intimamente ligado ao princípio da igualdade das partes e está previsto na lei,
ao longo de todas as fases processuais que a ação comporta.

Princípio da preclusão e da autorresponsabilidade das partes


A responsabilidade em processo civil deve ser entendida como a responsabilidade das partes para consigo
mesmas no que respeita à sua atuação processual. Assim, citado o réu para contestar este tem um prazo
para se defender – art.º 573º do CPC. Ora, a inobservância de reação por parte deste acarreta
consequências, como seja, a preclusão de o poder fazer mais tarde como ainda, sofrer na sua esfera
jurídica efeitos desfavoráveis os quais se pode mesmo cifrar na perda de direitos.

Portanto, a autorresponsabilidade da parte exprime-se na consequência negativa (desvantagem ou perda


da vantagem) decorrente da omissão do ato ficando, por regra, precludida a possibilidade de reagir mais
tarde.

Princípio da celeridade processual e da ponderação


Este princípio está consagrado no art.º 2º, nº1 do CPC, onde se estabelece que a justiça deve ser
administrada em prazo razoável uma vez que uma decisão judicial tardia pode equivaler à denegação de
justiça e acarretar graves prejuízos para as partes.

Naturalmente, o tempo de uma ação judicial terá de ser ponderado casuisticamente pois dependerá de
muitos fatores, designadamente a complexidade da causa, a dificuldade da prática de atos que não
dependem do tribunal nem das partes.

O prazo excessivo que ainda se verifica existir em muitos processos judiciais, constitui o Estado na
obrigação de indemnizar o lesado pelos prejuízos causados.

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Assim, a justiça deve ser célere no sentido de evitar graves prejuízos às partes e evitar que o cidadão
recorra ao sistema de justiça privada para fazer valer os seus direitos, situação que colocaria em perigo a
paz social e potenciava o aumento de conflitos na sociedade civil. Sem prejuízo do que ficou e atento o
princípio da ponderação, a celeridade processual não pode ser alcançada quando conduza a uma decisão
precipitada da questão em causa e como tal injusta.
Princípio da cooperação, da boa-fé e da recíproca correção
Os sujeitos processuais estão no processo obrigadas ao cumprimento de deveres processuais – art.º 8º CPC
– o da cooperação – art.º 7º e 417º, e o de recíproca correção – art.º 9º CPC.

De acordo com o princípio da boa-fé, a parte que deduza um pedido manifestamente infundado, ou
conteste também infundadamente, ou altere a verdade dos factos, deve ser condenado pelo tribunal em
litigante de má-fé sendo condenado em multa e indemnização

Nos termos do disposto no art.º 9º, os intervenientes no processo devem agir em conformidade com um
dever de recíproca correção, pautando-se as relações entre advogados e magistrados por um especial
dever de urbanidade, abstendo-se de nos seus escritos ou alegações orais utilizar expressões
desnecessárias ou ofensivas da honra ou do bom nome da outra, ou do respeito devido às instituições.

Princípio da economia processual e utilidade dos atos processuais


Segundo este princípio, na tramitação dos processos, devem ser evitados a prática de atos desnecessários,
meramente dilatórios e que em nada contribuem para alcançar uma sã e rápida justiça – art.º 130º e 131º
CPC. Pretende-se, por conseguinte, alcançar o máximo de resultado processual com o mínimo de atividade
e de custo.

Tipo de ação e formas de processo

Processo comum e especial


Atendendo à forma, encontramos a primeira grande classificação que distingue o processo comum dos
processos especiais – art.º 546º, nº1 e 2 do CPC.

O processo especial aplica-se aos casos expressamente previstos na lei, sendo que a prática dos atos
processuais a praticar no âmbito destes processos, deve seguir um esquema processual consignado na lei
para o tipo de ação em causa. Os processos especiais encontram-se previstos a partir dos art.º 878º e
seguintes do CPC e no DL 269/98 de 1 de setembro.

O processo comum é a forma processual que se aplica a todas as ações para as quais a lei não preveja uma
tramitação processual especial, sendo, portanto, a regra.

Classificação do Processo comum quanto ao fim


O art.º 10º do CPC distingue quanto ao fim prosseguido pelo autor, duas grandes categorias de ações: as
ações declarativas e as ações executivas.

As ações declarativas destinam-se a obter uma declaração do direito por parte do tribunal, do órgão
judiciário, pretendendo o autor obter uma sentença na qual certifique e declare a existência do direito que
está a ser violado.

Exemplo: Artur considera-se proprietário de um jaguar em virtude de o seu dono lhe ter dito que o
deixaria em testamento. Bruno também se considera dono do jaguar por ser herdeiro legítimo do antigo
dono. Resolvendo Artur recorrer a juízo, fundamentalmente o que pretende, é que o tribunal declare que é
ele o proprietário da coisa em disputa.

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As ações executivas são aquelas em que o exequente (credor) requer as providências adequadas à
reparação efetiva do direito violado – art.º 4º CPC e 817º CC.

A ação executiva propriamente dita traduz-se exclusivamente na prática de determinadas operações ou


atos tendentes a realizar efetiva, integral e coercivamente o direito violado. Trata-se da reparação efetiva
do direito violado e não de declarar o direito, de apreciar se ele existe ou não na esfera jurídica do seu
titular.

Classificação das ações declarativas

Ações de Condenação

Ações Declarativas Ações constitutivas

Ações de simples
apreciação

Ações declarativas de condenação


Neste tipo de ações, o autor arroga-se da titularidade de um direito que afirma estar a ser violado pelo réu
e pretende que se declare a existência e a violação do seu direito e se determine ao réu a realização da
prestação, destinada a reintegrar o direito violado ou a reparar de outro modo a falta cometida.

Exemplo: o dono de uma coisa, abusivamente ocupada por terceiro, requer ao tribunal, além do
reconhecimento do seu direito, a condenação do réu na entrega da coisa e ainda a indemnização pelo
dano causado com a privação da mesma.

Ações declarativas constitutivas


Neste caso o autor pretende com a coadjuvação da autoridade judicial, um efeito jurídico novo, que irá
alterar a esfera jurídica do demandado, independentemente da sua vontade.

Designa-se ação constitutiva, para significar que o efeito jurídico pretendido pelo autor, embora dependa a
maior parte das vezes na sua vontade, constitui-se diretamente de uma decisão judicial. Estas subdividem-
se em:
 Ação constitutiva propriamente dita ou de criação: é a destinada à constituição de uma servidão
de passagem. Assim, quando o dono do prédio estiver a necessitar de comunicação com a via
pública e não consiga ou não queira tentar obter acordo com o dono do prédio vizinho, para a
realização do direito potestativo que a lei lhe confere.
 Ação constitutiva modificativa: é o caso da separação judicial de pessoas e bens em que o autor
pretende a modificação da relação patrimonial (alteração anormal da situação que faz com que
uma das partes não consiga cumprir a sua parte).
 Ação constitutiva extintiva: é o caso da ação de divórcio ou de anulação de um contrato, em que o
autor pretende a extinção da relação matrimonial ou da relação contratual, no exercício do direito
protestativo que a lei lhe confere e de que é titular.

Ações declarativas de simples apreciação

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Neste tipo de ações, o autor reage contra uma situação de incerteza e pretende apenas obter uma simples
declaração da existência ou inexistência de um direito ou facto jurídico. A declaração proferida pelo
tribunal tem a força vinculativa própria das decisões judiciais.

As formas de processo comum de declaração atendendo ao valor da causa


Determina o art.º 296º, nº1 do CPC o seguinte: a toda a causa deve ser atribuído um valor certo, expresso
em moeda legal, o qual representa a utilidade económica imediata do pedido.

E o nº2 e 3 do mesmo preceito estabelece que a este valor se atenderá para:


 Determinar a competência do tribunal;
 A forma do processo aplicável;
 A relação da causa com a alçada do tribunal (a alçada do tribunal é o valor limite até ao qual o
tribunal julga sem a possibilidade de as partes, interporem recurso ordinário das suas decisões);
 E para efeitos de custas judiciais.

De acordo com o art.º 44º da Lei de Organização do Sistema Judiciário (LOSJ) e no que respeita a matéria
cível a alçada dos tribunais da Relação é de 30 000€ e a dos tribunais de primeira instância é de 5000€.

Pressupostos processuais
Designam-se por pressupostos processuais as condições mínimas consideradas indispensáveis para, à
partida, garantir uma decisão útil da causa. Não se verificando algum dos pressupostos processuais o juiz
terá de se abster de apreciar o mérito da causa (o objeto do processo, isto é, a relação material
controvertida ou relação jurídica substantiva que é discutida no processo), ou seja, a questão de fundo que
lhe é colocada, por falta de algum requisito essencial para o efeito.

São pressupostos processuais os seguintes:


 Personalidade Judiciária
 Capacidade Judiciária
 Legitimidade das partes e interesse processual
 Patrocínio Judiciário
 Competência do tribunal

Por regra, a consequência da verificação da falta de um pressuposto processual será a absolvição do réu da
instância. O réu é absolvido da instância quando o juiz não chega a apreciar o pedido formulado pelo
autor, porque verifica a existência de qualquer irregularidade processual, como a falta de um pressuposto
processual – art.º 278º do CPC.

Ora, uma vez que o juiz não chega a apreciar a questão de fundo que lhe foi submetida, a absolvição do
réu da instância não obsta a que o autor proponha outra ação com os mesmos sujeitos, pedido e causa de
pedir – art.º 279º CPC.

Na absolvição do réu do pedido, o juiz na sentença pronunciou-se sobre o mérito da causa, rejeitando o
pedido formulado pelo autor e absolve o réu desse mesmo pedido. Esta é uma forma de composição do
litígio em que fica assente definitivamente que o autor não tem razão e de que o seu interesse não é
tutelado juridicamente de modo como pretende.

Neste caso, há uma decisão sobre relação jurídica substantiva, não sendo possível ao autor intentar a
mesma ação com os mesmos sujeitos, pedido e causa de pedir. Atualmente confere-se ao juiz um poder
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autónomo de gestão ativa e efetiva do processo, impondo ao juiz um novo poder-dever. Este passa a ter o
dever de direção, de impulso, de simplificação e agilização processual, bem como o dever de sanação de
atos meramente dilatórios e da falta de pressupostos processuais, devendo determinar a realização de
todos os atos necessários a regularizar a instância.

Personalidade judiciária
A personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte (art.º 11º CPC) – de ser titular de direitos
e de estar adstrito a vinculações (art.º 66º CC).

As partes assumem designações diferentes consoante a natureza e a fase do processo:


 Autor e réu na ação declarativa;
 Exequente e executado na ação executiva;
 Requerente e requerido nos procedimentos cautelares;
 Recorrente e recorrido na fase de recurso.

O critério geral fixado na lei para sabermos quem tem personalidade judiciária é o da correspondência
entre a personalidade jurídica (ou seja, a capacidade de gozo de direitos) e a personalidade judiciária.

Todos os indivíduos, quer sejam maiores, menores, interditos ou inabilitados gozam de personalidade
judiciária e podem, portanto, ser partes em juízo, uma vez que todos eles podem ser sujeitos de qualquer
relação jurídica.

A falta de personalidade jurídica seja do autor seja do réu, determina, como é próprio da falta de qualquer
pressuposto processual, que o juiz se abstenha de conhecer do pedido e absolva o réu da instância – art.º
278º al. a) do CPC.

A falta deste pressuposto processual é, em princípio, insanável, com exceção do que se verifica a propósito
da falta de personalidade judiciária das sucursais, agências, filiais, delegações ou representações. Nestes
casos a falta deste pressuposto pode ser sanada mediante a intervenção da administração principal e a
ratificação ou repetição do processado – art.º 14º CPC.

Capacidade judiciária
A capacidade judiciária consiste na possibilidade de estar, por si, em juízo como autor (capacidade
judiciária ativa), ou como réu (capacidade judiciária passiva), decidindo sobre a orientação dos seus
interesses em juízo – art.º 15º CPC. E, nos termos do nº 2 do mesmo artigo a capacidade judiciária tem por
base e por medida a capacidade de exercício de direitos.

Legitimidade das partes


A parte terá legitimidade como autor de uma ação judicial, se for ela quem juridicamente pode fazer valer
a sua pretensão em juízo, em face do demandado, do réu. A parte terá legitimidade como réu se for ela a
pessoa que juridicamente pode opor-se à providência requerida, por ser ela cuja esfera jurídica é
diretamente atingida pela mesma – art.º 30º CPC.

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Litisconsórcio
Pluralidade de
partes
Legitimidade
Coligação
das partes
Singular

Em muitas das ações que se intentam, são duas as partes que se defrontam como é o caso do credor
requerer em juízo a condenação do devedor no pagamento de certa quantia que lhe emprestou e que este
não lhe devolveu. Neste caso a legitimidade dos sujeitos designa-se singular.

No litisconsórcio existe uma pluralidade de partes e uma unicidade da relação material controvertida, ou
seja, uma única relação jurídica substantiva que constitui o objeto da ação judicial, sendo que neste caso
há apenas um único pedido.

Designa-se litisconsórcio voluntário a situação em que, por a relação material que se discute na ação
respeitar a várias pessoas, a ação pode ser proposta por todos ou contra todos os interessados, embora o
possa ser por um só contra um só deles. Assim, os sujeitos da relação plural não têm de intervir em
conjunto na ação, embora possam fazê-lo, se quiserem. No entanto, se intervirem isoladamente, o juiz
apenas pode e deve conhecer da quota-parte que o sujeito tenha no direito ou no dever litigado.

Havendo litisconsórcio voluntário, há uma cumulação das ações, mantendo cada litigante uma posição de
independência em relação aos seus compadres – art.º 35º CPC.

Designa-se litisconsórcio necessário a situação em que, por força da lei do negócio jurídico, se exige a
intervenção dos vários interessados na relação material controvertida, sob pena de se verificar uma
situação de ilegitimidade. Assim, nestes casos a ação tem de ser proposta por todos ou contra todos, sob
pena de se verificar uma situação de ilegitimidade – art.º 33º CPC.

Nestes casos exige-se a intervenção de todos os interessados para que a decisão judicial produza o seu
efeito útil normal, isto é, para que possa ficar definitivamente regulada a situação das partes em relação ao
pedido.

Na coligação existe uma pluralidade de partes, mas a essa pluralidade de relações materiais
controvertidas, ou seja, existe uma pluralidade de pedidos. Assim, quando há coligação de autores, existirá
sempre cumulação de pedidos – art.º 555º, nº1 CPC.

Interesse processual
O interesse processual consiste na necessidade que o autor tem de instaurar a ação judicial para fazer valer
o seu direito. O autor tem interesse processual quando a situação de carência em que se encontra exige a
intervenção dos tribunais. Assim, o interesse processual, relativamente ao autor, exige uma necessidade
justificada, razoável e fundada de lançar mão do processo. Pretende-se evitar que as pessoas recorram a
juízo para a defesa dos seus interesses, numa altura em que a situação da parte contrária o não justifica.

Não havendo interesse processual, o réu deve ser absolvido da instância devido à verificação de uma
exceção dilatória e inominada uma vez que não se encontra expressamente regulada na lei – art.º 278º, nº
1 al. e) e 577º do CPC.

Patrocínio judiciário
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O patrocínio judiciário consiste na assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro
(advogados, advogados estagiários e solicitadores) na condução do processo. O patrocínio judiciário
efetua-se através do mandato judicial, conferido pelas partes aos seus patronos. Assim, constituir
advogado ou solicitador significa mandatá-los para representar a parte em tribunal, em todos os atos de
determinado processo.

Existem, no entanto, ações, relativamente às quais a lei não exige a intervenção de advogado, podendo
elas ser conduzidas por advogados estagiários ou solicitadores, bem como pelas próprias partes - art.º 40º
do CPC. Outras há, em que a lei exige a intervenção obrigatória de advogado. Nestes casos, se a parte não
constitui advogado, verifica-se falta de um pressuposto processual.

É obrigatória a constituição de advogado, nas causas de competência de Tribunais com alçada, em que seja
admissível recurso ordinário – art.º 40º, al. a) do CPC.

Também é obrigatória a constituição de advogado nas causas em que seja sempre admissível recurso,
independentemente do valor – art.º 629º, nº3 do CPC.

Dispõe o art.º 40º, nº2 que, ainda que seja obrigatória a intervenção de advogado, os advogados
estagiários, os solicitadores e as próprias partes podem fazer requerimento em que não se levantem
questões de direito.

Diremos, no entanto, que estamos na presença de uma questão de direito sempre que esta se reporta a
um juízo de valor legal. Dito por outras palavras, as questões de direito são aquelas que se resolvem pela
aplicação de uma norma jurídica ou exige uma qualificação que se realiza com recurso a um conceito
jurídico.

Estamos perante uma questão de facto se isso implicar um juízo de facto, ou seja, é uma questão de facto
tudo o que se reporta ao apuramento de ocorrências da vida real.

Competência dos tribunais


A competência dos tribunais é um pressuposto processual através do qual identificamos o tribunal com
competência para apreciar determinado litígio, ou seja, qual o tribunal onde determinada ação deve ser
proposta.

A repartição do poder de julgar entre os vários tribunais faz-se segundo diferentes critérios. Distingue-se
assim entre:
 Competência internacional (art.º 59º e seguintes do CPC);
 Competência interna
 Em razão da matéria – art.º 64º e 65º;
 Em razão do valor – art.º 66º
 Em razão da hierarquia – art.º 67º a 69º;
 Em razão do território – art.º 70º a 84º;

Competência internacional
As regras de competência internacional definem o poder jurisdicional atribuído aos tribunais portugueses
no seu conjunto, em face dos tribunais estrangeiros, para julgar as ações que tenham algum elemento de
conexão com ordens jurídicas estrangeiras – art.º 62º CPC.

Competência interna
a) Competência em razão da matéria – art.º 64º e 65º do CPC
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De acordo com a natureza das matérias em causa na ação judicial, a competência é repartida por
diferentes tribunais. Por isso, na base da competência em razão da matéria está o princípio da
especialização, ou seja, existem tribunais especialmente dotados de competência para resolver
determinadas matérias de direito.

Note-se que a competência em razão da matéria distribui-se por diferentes espécies de tribunais, mas
todos eles se situam no mesmo plano horizontal, sem nenhuma relação de hierarquia ou dependência
entre eles.

b) Competência em razão do valor – art.º 66º


Lei nº 62/2013, de 26 de agosto, determina quais as ações que, pelo seu valor, se inserem na competência
da instância central (superior a 5000€) e da instância local (inferior a 5000€).

c) Competência em razão da hierarquia – art.º 67º a 69º


Em regra, todas as ações, qualquer que seja o seu valor, são julgadas pelos tribunais de 1º instância.
Porém, se o valor da causa exceder a alçada da 1º instância (5000€) em princípio, será possível a
reapreciação da decisão através de recurso ordinário, pelo tribunal da Relação, que é um tribunal
hierarquicamente superior àquele que a proferiu. Mas, se o valor da causa for superior à alçada do tribunal
da Relação (30 000€), diremos que, em princípio, será possível à parte cuja decisão lhe foi desfavorável,
interpor recurso não só para a Relação, mas também para o Supremo Tribunal de Justiça.

d) Competência em razão do território


As regras sobre a competência territorial, no que respeita às ações declarativas, vêm previstas no art.º 70º
a 84º do CPC. Das várias disposições legais sobre esta matéria, salientam-se as seguintes:
 Foro real ou da situação dos bens – art.º 70º CPC
 Foro obrigacional – art.º 71º CPC
 Foro do autor – art.º 72º CPC
 Foro territorial conexional – art.º 73º e 78º CPC
 Foro das notificações avulsas – art.º 79º CPC
 Foro do réu/regra geral – art.º 80º CPC.

Tramitação da ação declarativa

1º fase: articulados
Esta é a fase introdutória, na qual as partes definem os termos da ação, expõem as suas razões, tanto de
facto como de direito que servem de fundamento à pretensão de cada uma delas – art.º 147º

2º fase: saneamento e condensação do processo (gestão inicial do processo e da audiência prévia)


De acordo com os art.º 590º e 594º do CPC esta fase destina-se:
 A permitir o julgamento imediato da ação, se já houver elementos suficientes para decidir com
segurança, seja quanto aos pressupostos processuais, seja quanto ao mérito da causa;
 A corrigir todas as irregularidades formais sanáveis, como seja a falta de qualquer pressuposto
processual ou qualquer nulidade;
 A expurgar do processo todas as questões inúteis, que não têm interesse para a descoberta da
verdade, no caso da ação dever prosseguir;
 A fixar definitivamente as questões de facto que são essenciais à decisão da causa; E quanto a este
aspeto, há a referir que o juiz vai separar, por um lado, os factos que nesta altura processual já
considera provados, (por prova documental ou confissão do réu). Por outro lado, vai separar os
factos importantes para a descoberta da verdade que ainda careçam de prova, enunciando os
temas da prova – art.º 596º, nº1 do CPC.
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3º fase do processo: instrução do processo
A instrução tem por fim a produção ou recolha dos elementos de prova sobre os fatos que, interessando à
decisão da causa, não tenham sido devidamente esclarecidas na fase anterior. Esta fase encontra-se
prevista no art.º 410º e seguintes do CPC.

4º fase: discussão
Este período, destina-se aos debates entre os patronos das partes, onde estes proferem as suas alegações,
indicando aquilo que na sua perspetiva pode ser a decisão do tribunal.

5º fase: julgamento
Esta fase é destinada à decisão da causa.

Os articulados são as peças escritas pelas quais as partes iniciam o processo, expondo os fundamentos de
facto e de direito que servem de base à ação e à defesa, formulando os pedidos correspondentes – art.º
147º, nº1 do CPC.
A fase dos articulados é aquela em que as partes apresentam o objeto do processo, sobre o qual o tribunal
vai ser chamado a decidir e esta apresentação consubstancia-se num ciclo de afirmação das partes quanto
às razões de facto e de direito que o autor e o réu invocam.

A tramitação do processo pode comportar os seguintes articulados: a petição inicial, a contestação (dentro
da contestação, o réu poderá formular o pedido reconvencional) e a réplica.

Petição inicial
A petição inicial é o articulado em que o autor propõe a ação, deduzindo a sua pretensão, ou seja, o pedido
e expondo os respetivos fundamentos. Esta é a sua função específica. É, pois, ao titular do direito violado
que incumbe requerer do tribunal o meio de tutela jurisdicional adequado à reparação do seu direito,
prevalecendo o princípio do dispositivo que domina todo o direito processual.

Este articulado é naturalmente a base fundamental do processo, sendo a partir da sua apresentação em
tribunal que se fixa a data em que a ação foi proposta e se inicia a instância – art.º 259º, nº1 do CPC.

O autor pode na petição inicial formular pedidos alternativos, subsidiários, cumulativos e genéricos – art.º
553º a 556º do CPC.

O pedido alternativo: A pede a condenação do R a pagar-lhe certa quantia ou, em alternativa, à escolha do
R a entregar-lhe um objeto em ouro de igual valor – art.º 553º.

O pedido subsidiário: é o formulado apenas para a hipótese de o tribunal não acolher o pedido principal –
art.º 554º do CPC.

O pedido cumulativo: verifica-se quando o autor pretende simultaneamente mais do que uma prestação –
art.º 555º CPC.

O pedido genérico: a lei faculta que seja formulado sempre que o conteúdo da relação jurídica não é ainda
suscetível de determinação quando a ação é proposta, sem indeterminado o seu quantitativo – art.º 556º.

A conclusão da petição inicial não carece de ser formulada de forma articulada.

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Resulta do art.º 558º do CPC que incumbe à secretaria recusar o recebimento da petição inicial por
diversas razões, todas elas taxativamente estabelecidas nesta disposição legal e cujos fundamentos se
prendem com questões de ordem formal e exteriores à petição inicial. Assim, não pode a secretaria
recusar receber a petição com fundamento em questões que digam respeito ao seu conteúdo.

Se a secretaria recusar o recebimento da petição inicial, o autor pode reagir, reclamando para o juiz que
preside a distribuição. Caso o juiz julgue precedente esta reclamação, considera-se a ação proposta na data
em que a primeira petição inicial foi apresentada em juízo (num prazo de 10 dias).

A distribuição é o ato pelo qual as diversas petições são repartidas com igualdade entre os diversos juízes
que servem no tribunal – art.º 203º CPC.

A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra ele determinada ação e
se chama ao processo para se defender em obediência ao princípio do contraditório.

A citação não pode é ser feita ao autor, nem pode efetuar-se duas citações na mesma pessoa, durante o
mesmo processo. Após a citação, utiliza-se a notificação dirigida ao réu com vista a dar conhecimento de
um facto – art.º 219º e 247º CPC.

A citação é um dos atos senão o mais importante na “vida” de uma ação judicial uma vez que, a omissão de
alguma das formalidades legais essenciais, implica a sua anulação, repetição de todo o processado e,
nalguns casos, responsabilidade civil de quem pratica o ato – art.º 187º a 191º do CPC.

Prazos de dilação – art.º 245º CPC

5 dias
 Quando a citação seja efetuada em pessoa diversa do réu.
 O réu seja citado fora da área da comarca sede do tribunal onde corre a ação.

15 dias
 Quando o réu seja citado no território das regiões autónomas, ocorrendo a execução no continente
ou em outra ilha, ou vice-versa.

30 dias
 Citação do réu no estrangeiro.
 Citação edital do réu.
 Citação por carta em depósito, quando o réu seja pessoa coletiva.

A citação obedece a requisitos rigorosos, cuja observância é, em certos casos, controlada pelo tribunal. É o
que se verifica nos casos de revelia absoluta do réu em que o tribunal irá verificar se a citação foi feita com
as formalidades legais e mandá-la-á a repetir quando se verifiquem irregularidades – art.º 556º CPC.

Efeitos da citação
A informação ao réu que contra ele foi proposta determinada ação judicial gera uma série de efeitos. E
quanto a estes efeitos a lei distingue entre efeitos materiais e processuais. Ora, os efeitos materiais, são
efeitos que a citação origina a nível de direito substantivo que está em discussão na ação judicial e são eles
os seguintes:

 A cessação da boa-fé do possuidor – art.º 564º, al. a) do CPC

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Estabelece o art.º 1260º, nº1 do CC, que a posse diz-se de boa-fé, quando o possuidor ignorava ao adquiri-
la, que lesava o direito de outrem. Com efeito, a partir da citação o possuidor fica a saber que está a lesar o
direito de outrem.

 Interrupção da prescrição – art.º 323º CC


A citação interrompe a prescrição. A caducidade interrompe-se pela propositura da ação.

 Constituição do devedor em mora – art.º 805º do CC


A citação do réu constitui-o em mora nas obrigações não dependentes de prazo certo, ou seja, no caso das
obrigações puras.

Os efeitos processuais, são os efeitos que a citação produz a nível de tramitação processual da ação
judicial e são os seguintes:

 Estabilização dos elementos essenciais de causa – art.º 564º, al. b) do CPC


São elementos essenciais da causa: os sujeitos, o pedido e a causa de pedir.

 Inibição de o réu propor contra o autor outra ação destinada à apreciação da mesma questão
jurídica – art.º 581º do CPC.
Caso tal situação ocorra verificar-se-á uma situação de litispendência.
Litispendência: é a situação que se verifica quando, no mesmo tribunal ou em tribunais diferentes, se
encontram duas causas entre as mesmas partes e a respeito de um mesmo conflito de interesses – art.º
581º do CPC.

Revelia absoluta e relativa


A revelia absoluta verifica-se quando o réu não dá qualquer sinal de ter sido citado e por isso não
comparece em juízo, isto é, não constitui mandatário nem intervém de qualquer forma no processo – art.º
566º do CPC.

A revelia relativa verifica-se no caso de o réu ter sido citado regularmente para a ação e não contestar a
mesma dentro do prazo que dispõe para o efeito, embora tenha intervindo de qualquer forma no
processo, ou porque assinou a certidão de citação ou porque juntou procuração a mandatário – art.º 567º,
nº1 do CPC.

Tanto a revelia absoluta como a relativa podem ser operante e inoperante. A grande distinção reside no
facto de a revelia produzir, ou não, alterações profundas na marcha subsequente do processo, em
consequência de ser aplicada ou não, a cominação estabelecida no art.º 567º, nº 1, 2º parte do CPC.

A revelia é operante quando produz efeitos quanto à composição da ação. É inoperante quando esses
efeitos não se verificam, ou seja, quando a falta de contestação nenhuma consequência opera quanto à
decisão da causa.

A revelia operante implica uma importante consequência quanto à decisão da causa, isto é, implica a
confissão dos factos articulados pelo autor e produz significativas alterações na marcha do processo, uma
vez que, não há lugar à audiência prévia – art.º 592º, nº1, al. a) do CPC, entrando-se diretamente na fase
da discussão, sendo o processo facultado para exame pelo prazo de 10 dias aos mandatários para
alegarem por escrito, passando-se em seguida à fase do julgamento. A fase do julgamento será apenas
quanto à matéria de direito dado a matéria de facto estar definitivamente assente – art.º 567º, nº 2 e 3 do
CPC.

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Na revelia inoperante não se aplica a cominação prevista no art.º 567º, nº1 do CPC, não influindo na
marcha do processo, seguindo este a sua tramitação normal, com diferença de que a fase dos articulados é
constituída apenas pela petição do autor. A revelia é inoperante nas situações previstas no art.º 568º do
CPC.

Contestação
A contestação é a resposta do réu à petição inicial do autor, ou seja, é a posição assumida pelo réu perante
aquele articulado do autor. Estruturalmente, a contestação é um articulado semelhante à da petição
inicial.

São 30 dias o prazo que o réu dispõe para apresentar a sua contestação, prazo este que se conta a partir da
citação – art.º 569º, nº1 do CPC. Porém, de acordo com o nº2 do mesmo artigo, existindo vários réus, o
prazo para a defesa de todos, ou de cada um deles, pode ser oferecida até ao termo do prazo que
começou a correr em último lugar. Esta solução justifica-se pela necessidade de facultar aos vários réus a
possibilidade de concertarão das suas defesas.

Modalidades de contestação
A defesa pode ser feita por impugnação e por exceção. Pode ainda o réu na contestação formular um
pedido reconvencional.

Defesa por impugnação direta: verifica-se quando o réu contradiz a versão apresentada pelo autor,
negando os factos alegados na petição inicial, ou seja, o réu afirma que os factos alegados pelo autor são
falsos.
 Se o réu afirma que o contrato não foi celebrado ou não o foi nos termos alegados pelo autor ou, se
afirma que a colisão entre o seu veículo e o do autor não se verificou da forma como este o
descreve ou, se o réu afirma que nada comprou ao autor e consequentemente que nada lhe deve.

Defesa por impugnação indireta: verifica-se quando o réu embora admitindo a realidade dos factos
alegados pelo autor, afirma que os mesmos não podem produzir o feito jurídico pretendido por ele.
 Se o réu reconhece que celebrou um contrato com o autor, mas que o mesmo não tem a
qualificação jurídica de compra e venda, mas sim de empreitada ou, se o réu na sua contestação
alega que, da descrição do acidente de viação feita pelo autor resulta que este é que teve a culpa
da ocorrência.

Defesa por exceção: a defesa por exceção consiste numa defesa indireta, isto é, na invocação de factos
novos que obstam à apreciação do mérito da ação ou que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou
extintiva do direito invocado pelo autor, importam improcedência total ou parcial do pedido – art.º 571º,
nº2, 2º parte do CPC.

No primeiro caso, o réu alega a falta de um pressuposto processual e invoca uma exceção dilatória, no
segundo caso o réu opõe uma exceção perentória – art.º 576º, nº 2 e 3 do CPC. A procedência da defesa
por exceção pode conduzir à absolvição do réu da instância, à remessa do processo para outro tribunal ou
à absolvição total ou parcial do pedido.

A exceção dilatória é aquela em que assenta em vícios de caráter processual e, caso não seja sanada,
impedem que o tribunal possa apreciar o mérito da causa e por isso dão lugar à absolvição da instância, ou
à remessa do processo para outro tribunal – art.º 576º, nº 2 do CPC.

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As exceções perentórias traduzem-se na invocação de factos novos que impedem, modificam ou
extinguem o efeito jurídico dos factos articulados pelo autor na petição inicial e implicam, quando julgadas
procedentes, que o réu seja absolvido do pedido total ou parcialmente.

Em princípio, as exceções perentórias não são do conhecimento oficioso, porque consistem na invocação
de factos e, como resulta do art.º 5º do CPC, por regra, o tribunal só pode servir-se dos factos articulados
pelas partes ao abrigo do princípio do dispositivo. Porém, as exceções perentórias serão do conhecimento
oficioso quando tal resulte da lei – art.º 579º do CPC.

Reconvenção (art.º 266º, nº2 do CPC)


A reconvenção consiste na possibilidade que o réu tem de deduzir um pedido autónomo contra o autor em
determinadas circunstâncias, de tal forma que o pedido reconvencional formulado poderia ter todo lugar
num processo autónomo. A reconvenção funciona como um contra-ataque cruzado com o pedido do autor
na mesma instância.

De acordo com o art.º 266º, nº3 não é admissível a reconvenção, quando ao pedido do réu corresponda
uma forma processual diferente da que corresponde ao pedido do autor, salvo se o juiz a autorizar, nos
termos do art.º 37º, nº2 e 3 do CPC com as necessárias adaptações.

Dentro da trajetória processual a reconvenção vem regulada no art.º 583º do CPC, onde no seu nº 1 se
estabelece que a reconvenção deve ser expressamente identificada e deduzida separadamente na
contestação, como se de uma petição se tratasse, pois consiste num pedido autónomo.

Réplica
De acordo com o disposto no art.º 584º do CPC, a réplica só é admitida para defesa do autor perante a
reconvenção deduzida pelo réu e, nas ações de simples apreciação negativa, para impugnação dos factos
constitutivos alegados pelo réu e alegação dos factos impeditivos ou extintos do direito por ele invocado. O
prazo para apresentação da réplica é de 30 dias – art.º 585º do CPC.

A falta de apresentação da réplica ou falta de impugnação dos novos factos alegados pelo réu tem como
efeito serem os mesmos admitidos por acordo – art.º 587º do CPC.

Articulados supervenientes
Os articulados supervenientes são assim denominados porque surgem fora da fase dos articulados, isto é,
são supervenientes a esta. Estes só podem ser admitidos se se tratarem de factos principais: constitutivos,
modificativos ou extintivos do direito e até ao encerramento da discussão – art.º 588º, nº1 do CPC. Existem
duas características de superveniência:
 Superveniência objetiva: os factos são supervenientes quando aconteçam depois dos prazos da
contestação e réplica. Se forem factos modificativos, extintivos ou modificativos, o réu pode alegar
novas exceções perentórias em articulado superveniente se os factos em que se baseiam essas
exceções ocorreram depois do prazo da contestação. O mesmo se aplica ao autor.
 Superveniência subjetiva: os factos são supervenientes quando aconteceram antes dos prazos,
mas a parte só tenha tido conhecimento depois de findarem os prazos. Estamos a falar de factos
cujo conhecimento é que é superveniente. Neste caso, o que é necessário fazer é produzir prova de
superveniência, isto é, provar que só agora houve conhecimento dos factos, caso contrário, violar-
se-ia o princípio da concentração de defesa.

Apresentado o último articulado do processo ou terminado o prazo para apresentar, a secretaria faz
concluso o processo a despacho do juiz que, sendo caso disso, profere um despacho destinado a

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providenciar pela sanação da falta de pressupostos e/ou a convidar as partes ao aperfeiçoamento dos
articulados – art.º 590º, nº2 do CPC. A este despacho dá-se o nome de despacho pré-saneador.

Após o despacho pré-saneador ou, não tendo este tido lugar, logo que tenha terminado a fase dos
articulados, o juiz designa dia para a audiência prévia. Esta audiência decorre oralmente e em que estão
presentes o juiz e as partes. A realização da audiência prévia constitui a regra e deve ser marcada por
despacho, no qual se deve indicar o objeto e a sua finalidade – art.º 591º, nº2 do CPC.

A audiência prévia tem algum ou alguns dos seguintes fins:


 Tentativa de conciliação das partes. Chegando as partes a acordo e homologado o mesmo pelo juiz,
o processo termina.
 Facultar às partes a discussão de facto e de direito, nos casos em que ao juiz cumpra apreciar
exceções dilatórias ou quando tencione conhecer imediatamente, no todo ou em parte, do mérito
da causa.
 Proferir despacho saneador. Havendo audiência prévia, o despacho saneador é logo ditado pela
ata, a não ser que, pela complexidade das questões a resolver, o juiz decida proferi-lo por escrito,
suspendendo-se da audiência e fixando-se data para a sua continuação – art.º 595º, nº2 do CPC.
Quando a audiência prévia apenas se destine a este fim, é permitido ao juiz dispensar a sua
realização – art.º 593º, nº1 do CPC.
 Proferir, após debate, o despacho previsto no art.º 596º, nº1 e decidir as reclamações deduzidas
pelas partes. Os temas de prova são antes de mais matérias que o tribunal quer ver esclarecidas
(provadas) em audiência final uma vez que são importantes para a decisão do mérito da causa.

Os factos essenciais que não estão provados têm de estar nos temas da prova. É importante que os temas
de prova sejam fixados em audiência prévia para permitir a preparação dos advogados para o julgamento.
Não há uma regra legal que determine como se elabora os temas de prova, ficando ao critério e estilo do
juiz, onde se incluam os factos principais que carecem ainda se ser provados.

Os art.º 592º e 593º do CPC, referem as situações em que não se realiza audiência prévia. Esta não deve
ser realizada quando:
 Ocorra revelia inoperante do réu, ou de todos os réus, ou seja, não havendo contestação, o autor
tem na mesma de produzir prova em virtude de os factos alegados não estarem ainda provados.
 O processo deva findar no despacho saneador pela procedência de exceção dilatória já debatida
nos articulados.

Quanto ao despacho saneador (art.º 595º), este pode ser ditado para ata na audiência prévia ou, proferido
por escrito, quando não haja lugar a esta audiência ou, quando a complexidade da causa assim o exija. O
despacho saneador tem como função, desde logo, conhecer as exceções dilatórias e nulidades processuais
que hajam sido suscitadas pelas partes, ou que, face aos elementos dos autos, devam ser apreciadas
oficiosamente. Pode ainda ter como função conhecer imediatamente o mérito da causa, sempre que o
estado do processo o permita.

Art.º 377º CC, 341º e seguintes

Audiência final – Julgamento


O julgamento realiza-se perante juiz singular (porque o julgamento é gravado) – art.º 599º CPC. E, não
havendo razões para adiamento, o juiz procura conciliar as partes. Não havendo acordo, o julgamento
inicia-se com a produção de prova – art.º 604º do CPC.

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Segue-se a fase de instrução, ou seja, a produção ou recolha dos elementos de prova sobre os factos que,
interessando à decisão da causa, não tenham sido devidamente esclarecidas na fase anterior (art.º 410º e
seguintes do CPC).

Não carecem de ser alegados nem provados – art.º 5º, nº2 do CPC e art.º 412º:
 os factos notórios, ou seja, os factos que são do conhecimento geral;
 os factos que o tribunal conhece por virtude do exercício das suas funções.

Art.º 600º
O autor tem de provar que os danos que ele sofreu foram culpa do réu. Pode não saber-se imediatamente
enquanto o réu vai ser condenado, pois o autor pode ainda não saber quais os danos totais. Se o autor não
recuperar após 3 meses, o tribunal vai proferir uma sentença de condenação genérica – art.º 609º.
Encerrada a audiência final, o processo é concluso ao juiz para ser proferida a sentença e uma vez que tal
ocorra, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria de facto – art.º 613º do
CPC.

Incidente da liquidação: a instância extinta renova-se para correr agora por apenso (quando depois de ter
sido condenado o réu, existirem mais danos para o autor, existe um incidente da liquidação) – art.º 358º,
nº2.

Meios de prova:
 Prova documental – art.º 423º e seguintes do CPC;
 Prova por confissão e por declaração das partes – art.º 452º e seguintes do CPC;
 Prova pericial – art.º 467º e seguintes do CPC;
 Prova por inspeção judicial – art.º 490º e seguintes do CPC;
 Prova testemunhal – art.º 495º e seguintes do CPC.

Valor probatório das provas


 Prova pleníssima: se se verificarem os factos base, a ocorrência dos factos presumidos não pode
ser contrariada; é sinónima de presunção inilidível e admissão. Neste caso, portanto, a parte não
pode fazer prova em contrário. Por exemplo, uma prova de ADN.
 Prova plena: a lei define quais os factos cuja ocorrência implica a verificação dos factos presumidos,
mas a ocorrência destes pode ser atacada por vezes, verificados determinados requisitos (art.º
347º); é sinónimo de presunções ilidíveis. Abrange certos casos de prova por documentos e de
prova decorrente de confissão. Nestes casos, a única forma de abalar este tipo de prova é através
da arguição da falsidade.
 Livre apreciação de prova (prova bastante): a avaliação de quais os factos base que implicam a
verificação dos factos presumidos é feita pelo julgador, segundo o modelo de persuasão racional.
Por exemplo, a prova testemunhal cede mediante contraprova.

Recursos
O meio normal de impugnar uma sentença com a qual a parte não concorda por entender que a mesma é
injusta ou errada, é através do recurso ordinário. Só se pode reclamar quando a lei o diz. O recurso
ordinário tem um efeito que lhe é inerente, o efeito devolutivo, querendo isto significar que, o recurso é
interposto para um tribunal diferente e hierarquicamente superior àquele que proferiu a sentença.

O recurso interposto da sentença proferida pelo Tribunal de 1º instância para o Tribunal da Relação,
designa-se apelação. O recurso interposto do Acórdão da Relação para o STJ, designa-se recurso de
revista. Os Tribunais superiores são os Tribunais que irão reapreciar a sentença proferida à luz dos
elementos com que o tribunal de categoria inferior foi confrontado.
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O recurso ordinário pode ter um, de dois efeitos:
 Meramente devolutivo: quando o recurso interposto não suspende os efeitos da decisão recorrida,
podendo a mesma ser executada desde logo – constitui a regra. Assim, as sentenças que forem
objeto de recurso com efeito meramente devolutivo podem ser executadas na pendência daquele –
art.º 704º, nº1 do CPC. E se assim for, essa execução, que é por natureza provisória, sofrerá as
consequências que a decisão da causa venha a ter nos tribunais superiores. Se a decisão do tribunal
superior revogar a decisão proferida em primeira instância, extingue-se a execução. Se esta decisão
mantiver a decisão anterior, a execução prossegue.
 Suspensivo: quando o recurso interposto suspende os efeitos da decisão recorrida, nomeadamente
quanto à sua exequibilidade. A sentença objeto do recurso não pode ser executada nestas
circunstâncias.

Por regra, para que se possa impugnar a sentença através de recurso ordinário, têm de estar preenchidos
dois requisitos cumulativos – art.º 629º, nº1, 1º parte do CPC:
1. O valor da ação tem de ser superior à alçada do Tribunal de que se recorre e,
2. A sucumbência da parte vencida, tem de ser superior a metade da alçada desse Tribunal.

Para saber quando uma sentença pode ser impugnada via recurso ordinário convém:
 Na PI, o autor vai indicar o valor da ação. Se o valor da ação for 16 000€, à partida tanto o autor
como réu, podem interpor um recurso ordinário, porque este valor é superior ao valor da alçada do
tribunal que se recorre.
 No art.º 629º estão expressas as exceções, ou seja, nas situações em que se pode interpor o
recurso independentemente do valor da ação.

Sucumbência: aquilo que se perdeu ou não se ganhou.


 Sucumbência do tribunal de 1º Instância – 2500€

Reclamação
É feita no prazo de 10 dias, é um meio especial de impugnar uma decisão ou sentença judicial. A
reclamação é efetuada para o próprio juiz que proferiu essa mesma decisão. Independentemente de o
solicitador não ter competência em matéria recursal, o mesmo pode fazer consultadoria jurídica e pode
enviar os seus clientes para um advogado, podendo entregar o processo ou ficar no processo em conjunto
com o advogado.

Ver a matéria que está a ser tratada no CPC, o juiz vai proferir um despacho, se nessa parte disser que as
partes podem reclamar. Se a reclamação for indeferida, a parte pode intentar recurso ordinário. Se a parte
não reclamar, em princípio fica precludida de interpor recurso ordinário.

Incompetência absoluta
A incompetência absoluta resulta da infração das regras de competência em razão da matéria, da
hierarquia e das regras de competência internacional – art.º 96º do CPC.

Dada à sua gravidade, a incompetência absoluta pode ser invocada por qualquer das partes no processo,
inclusive pelo próprio autor que lhe deu causa, e deve ser suscitada oficiosamente pelo tribunal, em
qualquer estado do processo, enquanto não houver sentença com trânsito em julgado sobre o mérito da
causa – art.º 97º do CPC.

A incompetência absoluta, determina em regra, a inutilidade de todos os atos praticados no juízo


incompetente. A regra é a de que os articulados já apresentados são inaproveitáveis, uma vez que, de
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acordo com o nº1 do art.º 99º do CPC, a verificação desta incompetência implica a absolvição do réu da
instância ou o indeferimento liminar quando o processo o comportar.

Porém, o nº2 prevê uma regra excecional, nos termos da qual os articulados podem ser aproveitados,
desde que se verifiquem os seguintes requisitos:
 Haja acordo das partes sobre o aproveitamento;
 E o autor requeira a remessa do processo para o tribunal em que a ação devia ter sido proposta.

Incompetência relativa
A incompetência relativa verifica-se quando o autor intenta a ação judicial num tribunal, infringindo as
normas relativas à competência em razão do valor da causa, da forma de processo aplicável, das regras de
competência territorial e quando houver preterição das convenções previstas – art.º 102º CPC.

Em regra, a incompetência relativa não é do conhecimento oficioso, e só pode ser arguida pelo réu. Não
pode, portanto, ser arguida por quem lhe deu causa. No entanto, caso o réu pretenda invocar esta falta,
terá de o fazer dentro do prazo para contestar (30 dias). Caso não o faça até este momento, já não o
poderá fazer mais tarde considerando-se o vício sanado – art.º 103º do CPC. Quando a incompetência
relativa seja arguida pelo réu, a lei permite ao autor, ao abrigo do princípio do contraditório, responder-lhe
– art.º 103, nº3.

Existem, contudo, casos excecionais em que a incompetência relativa pode e deve ser conhecida
oficiosamente pelo tribunal. São os casos inumerados pelo art.º 104º do CPC.

O julgamento da incompetência relativa apenas interessa à fixação do tribunal competente para a


preparação e julgamento da causa e não tem influência alguma na validade dos atos processuais já
praticados. Depois de produzidas e apreciadas as provas apresentadas pelo réu para comprovar a
incompetência relativa, o juiz decide qual o tribunal competente para a ação – art.º 105º do CPC.

Após a decisão do juiz transitar em julgado, considera-se definitivamente resolvida a questão da


competência, o que significa que esta decisão faz caso julgado material – nº2 do art.º 105º CPC. Se o juiz
considerar o tribunal onde a ação foi proposta incompetente, o processo deverá ser remetido para o
tribunal competente – nº3 do art.º 105º do CPC. Este é, pois, o efeito da incompetência relativa.

Processos de jurisdição voluntária e contenciosa


Entre os processos especiais previstos na lei, contam-se os processos de jurisdição voluntária – art.º 986º e
seguintes do CPC. Portanto, os processos de jurisdição voluntária são uma categoria de processos
especiais.

Nestes processos, há um interesse fundamental tutelado pelo direito que ao juiz apenas cumpre regular
nos termos mais adequados, sendo que a sua função, não é tanto o de intérprete e aplicante da lei, mas
antes a de um verdadeiro gestor de negócios que a lei coloca sob a fiscalização do Estado, através do poder
judicial.

Nos processos de jurisdição contenciosa (constituem a regra), há um verdadeiro conflito de interesses


entre as partes, que ao tribunal incumbe dirimir de acordo com os critérios estabelecidos no direito
substantivo, ou seja, nestes casos o tribunal é chamado a exercer a sua função jurisdicional, própria dos
órgãos judiciários, elaborando e formulando a solução concreta que decorre do direito substantivo
jurisdicional.

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A jurisdição voluntária implica o exercício de uma atividade essencialmente administrativa enquanto
jurisdição contenciosa implica o exercício de uma atividade jurisdicional.

No processo de jurisdição voluntária o juiz pode investigar livremente os factos (princípio da gestão
processual e do inquisitório) de acordo com a diretriz traçada no art.º 986º, nº2, não estando o juiz
subordinado a critérios de legalidade, devendo procurar antes, pela via do bom senso, a solução mais
adequada a cada caso. Verifica-se assim, a prevalência da equidade sobre a legalidade estrita – art.º 987º
do CPC. Há ainda a referir, que não é admissível recurso para o STJ, quando a decisão do juiz se funde em
critérios de conveniência e oportunidade conforma vem disposto no art.º 988º, nº2 do CPC.

Nos processos de jurisdição contenciosa o Tribunal tem de cingir-se, em regra aos factos alegados pelas
partes (princípio do dispositivo) – art.º 5º do CPC. De acordo com o disposto no art.º 613º, nº1 do CPC, o
poder de julgar esgota-se, em princípio, com a prolação da sentença, uma vez que o juiz exerce nestes
processos a sua verdadeira função jurisdicional. Depois de proferir a sentença o juiz não pode alterá-la, a
não ser nos casos expressamente previstos na lei. Também não se pode alterar depois da decisão transitar
em julgado, isto é, logo que não seja suscetível de recurso ordinário, ou de reclamação nos termos do art.º
628º do CPC.

No que diz respeito à impugnação das decisões judiciais nos processos de jurisdição contenciosa, a regra é
a da admissibilidade sistemática de recurso até ao STJ.

Caso julgado formal: aquele que tem força obrigatória dentro do processo, obstando a que o juiz, na
mesma ação, altere a decisão proferida, mas não impedindo que, noutra ação, a mesma questão concreta
seja decidida em termos diferentes pelo mesmo tribunal, ou por outro chamado a apreciar a causa.

Caso julgado material ou substancial: é o que tem força obrigatória dentro do processo e fora dele,
impedindo que o mesmo, ou outro tribunal, ou qualquer outra autoridade, possa definir em termos
diferentes o direito concreto aplicável à relação material litigada. Nestes casos, o juiz conheceu o mérito da
causa, isto é, conheceu do objeto do processo, da questão de fundo, resolvendo-a.

Procedimentos cautelares
Os procedimentos cautelares são os meios que o titular do direito pode lançar mão, nos termos do art.º 2º,
nº2, 2º parte do CPC com o fim de acautelar o efeito útil da causa.

Os procedimentos cautelares visam precisamente impedir que durante a pendência da ação declarativa ou
executiva a situação de facto se altere, de tal modo que a sentença nela proferida, embora favorável, perca
a sua eficácia. Assim, pretende-se evitar o chamado “periculum in mora”, isto é o prejuízo da demora
inevitável do processo.

O procedimento cautelar é um processo judicial instaurado como preliminar a uma ação ou na pendência
desta, destinada a prevenir ou afastar o perigo resultante da demora a que está sujeito o processo
principal. Deste modo, através de uma indagação rápida e sumária o juiz assegura-se da existência
provável do direito do requerente e emite uma decisão de caráter provisório, que destina-se a produzir
efeitos até ao momento em que se forme a decisão definitiva. Assim, cabe ao juiz verificar o seguinte:
 Se é provável que o direito do autor exista, não se exigindo a prova concreta da existência do
direito, basta que haja uma probabilidade séria desse direito existir;
 Se o direito do autor corre o risco de, com a demora da ação propriamente dita, perder o seu efeito
útil.

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Em suma, os procedimentos cautelares são processos de natureza preventiva, de caráter urgente e, por
regra, não têm autonomia, ficando dependentes de uma ação.

Inversão do contencioso (art.º 369º do CPC): este mecanismo permite que o juiz tenha a possibilidade de,
a pedido do requerente da providência cautelar, decidir sobre a existência do direito acautelado, o que
dispensa o requerente de intentar uma ação principal declarativa, para o reconhecimento do mesmo,
como acontece com a restituição da posse, suspensão das deliberações sociais, alimentos provisórios e
embargo de obra nova.

Serão, pois de excluir a possibilidade de inversão do contencioso, nas providências cautelares de natureza
conservatória, como é o caso do arresto, arrolamento e arbitramento de reparação provisória.

A inversão do contencioso poderá ser requerida até ao encerramento da audiência final e deverá ser
ordenada apenas quando:
 Os factos auferidos durante o procedimento permitem ao juiz formar a convicção segura acerca da
existência do direito em questão;
 A natureza da providência é adequada à realização da composição definitiva do litígio.

O procedimento cautelar pode ser comum (ou não especificado) e especificado (ou nominado). O
procedimento cautelar está previsto nos art.º 362º a 376º do CPC, e aplica-se a todos os casos em que não
se aplique um procedimento especificado, ou sejam quando ao caso concreto não se aplique nenhum dos
procedimentos cautelares especificados na lei.

Como este procedimento não é especificado o requerente da providência cautelar poderá requerer que se
ordene qualquer providência que se mostre adequada ao caso concreto, a fim de evitar a lesão do direito e
desde que o risco de lesão não esteja prevenido por algum dos procedimentos especificados – art.º 362º,
nº3 do CPC.

Espécies de procedimentos cautelares especificados


 Restituição provisória da posse – art.º 377º a 379º do CPC
Tem lugar quando alguém tenha sido esbulhado violentamente da sua posse e requer no tribunal a
restituição provisória da posse. Este procedimento cautelar é muito peculiar porque aqui não se exige
como pressuposto o perigo da demora. É, contudo, exigido a violência do esbulho da posse.

O esbulho é uma noção dada a propósito dos direitos reais e consiste na privação total ou parcial, contra a
vontade do possuidor, da retenção ou fruição do objeto possuído. Caso o esbulho não tenha sido praticado
com o uso de violência, o possuidor esbulhado pode requerer um procedimento cautelar comum, exigindo
a medida que se mostrar adequada ao caso concreto – art.º 379º do CPC.

 Suspensão de deliberações sociais – art.º 380º a 383º do CPC


Tem lugar quando uma deliberação social é tomada pela maioria dos sócios, deliberação esta violadora do
pacto social, da lei ou ofensiva dos direitos dos sócios. Neste, caso o sócio que se sente lesado pode
requerer, no prazo de dez dias, que seja suspensa a execução daquela medida, quando essa execução lhe
cause dano – art.º 380º, nº1.

 Alimentos provisórios – art.º 384º a 387º do CPC


Neste caso, requer-se ao tribunal, que fixe provisoriamente os alimentos que forem estritamente
necessários ao requerente.

 Arbitramento da reparação provisória – art.º 388º a 390º do CPC


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Os lesados em consequência da morte de outrem ou de lesão corporal, podem requerer que lhes seja
arbitrada uma quantia certa, sob forma de renda mensal, a título de reparação provisória do dano por elas
sofrido. O requerente deste procedimento, deverá alegar e provar que se encontra numa situação de
necessidade ou carência, em consequência dos danos sofridos, e que se acha iniciada a existência de uma
obrigação de indemnizar a cargo do requerido.

 Arresto – art.º 391º a 396º do CPC


O arresto consiste na apreensão judicial dos bens do devedor num momento em que a obrigação ainda
não foi incumprida, mas em que há um justo receio de que isso venha a acontecer. Tem assim lugar
quando o credor tenha fundado receio de perder a garantia patrimonial do devedor.

Este procedimento cautelar fica dependente de uma ação declarativa de condenação, à qual se seguirá
uma ação executiva para pagamento da quantia certa em que o réu foi condenado se este após a prolação
da sentença, não tiver acatado a decisão proferida.

Por outro lado, o arresto constitui uma antecipação da penhora, isto é, arrestado o bem no processo
declarativo, ele mantém-se até que o devedor se decida a pagar, depois de condenado naquele processo.
Se o devedor não pagar, o arresto subsiste até ao processo executivo, altura em que esses bens arrestados
serão penhorados. No entanto, de acordo com o disposto no art.º 395º do CPC, o procedimento cautelar
caduca nas situações previstas no art.º 373º e quando, após a sentença condenatória no processo
declarativo, o requerente não promova a ação executiva dentro dos dois meses seguintes ao seu trânsito
em julgado ou se, promovida a execução, o processo ficar sem andamento durante mais de 30 dias, por
neglicência do exequente.

 Embargo de obra nova – art.º 397º a 402º do CPC


Lança-se mão deste procedimento cautelar quando se pretende que o tribunal decrete a suspensão da
execução de uma obra, trabalho ou serviço novo, que seja ofensivo de um direito e que tenha causado ou
ameaçado causar prejuízo ao titular de direito.

 Arrolamento – art.º 403º a 409º do CPC


O arrolamento de bens traduz-se numa apreensão de certos bens que são entregues a um depositário que
responde pela sua conservação, devendo esses bens ser previamente identificados e avaliados. Pode ser
requerida por qualquer pessoa que tenha interesse na conservação de bens ou documentos, quando haja
justificado receio do seu extravio ou dissipação.

O art.º 409º, nº3 do CPC, dispensa a alegação e prova do receio de extravio, no arrolamento de bens como
preliminar ou incidente da ação de separação de pessoas e bens, divórcio e de declaração de nulidade do
casamento.

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