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Alguns atos podem ser praticados pelas partes fora do processo, sem que possamos considerá-los atos
processuais, como uma reunião realizada entre os advogados das partes, no escritório de um deles, com o
intuito de discutirem a possibilidade de a ação ser encerrada através de acordo.
Encontramo-nos diante de um ato, mas não de um ato processual. No momento em que as partes
comparecem em juízo e apresentam petição que detalha as condições do acordo decorrente do êxito da
reunião, solicitando a prolação de sentença homologatória, estaremos diante de um ato processual, da
manifestação de vontade das partes migrada para a realidade dos autos.
Não queremos afirmar que os atos processuais só podem ser praticados no interior do processo, na
presença do magistrado. Conforme anotações expostas em linhas seguintes, alguns atos processuais podem
ser praticados fora da sede do juízo, como a inspeção judicial (ver capítulo Das provas), que pode ser
realizada pelo magistrado fora do seu rotineiro ambiente de trabalho.
Alguns acontecimentos têm repercussão na dinâmica do processo, sem que possam ser considerados
atos processuais. Estamos diante de um fato jurídico relevante, mas não de um ato processual. Como
exemplos: a morte de uma das partes, a paralisação dos serviços forenses em decorrência da greve dos
servidores da Justiça, a inundação de vias públicas que impede a abertura do foro etc.
O processo se constitui no instrumento utilizado pelo Estado para resolver os conflitos de interesses,
sendo formado após o exercício do direito de ação. O processo se parece com a vida de um ser humano,
apresentando início (nascimento), meio (crescimento) e fim (falecimento).
Para que esse caminho seja percorrido, é necessário que atos processuais sejam praticados numa
relação lógica, algumas vezes (e principalmente) pelas partes, em respeito ao princípio dispositivo, outras
pelo magistrado e algumas pelos servidores da justiça e por outras pessoas não vinculadas a ela, que são
convocadas para colaborar com o Estado na prestação da função jurisdicional.
Os atos processuais não são praticados de forma isolada, sem um sentido lógico. Muito pelo
contrário. Um ato processual é praticado para que outro o seja, de modo que o reconhecimento da nulidade
daquele pode ensejar o reconhecimento da nulidade de todos os atos subsequentes, bastando citar o exemplo
de uma decisão interlocutória proferida na audiência de instrução e julgamento, em que o magistrado
indefere a ouvida de testemunha arrolada pela parte.
O ato processual praticado pelo juiz (indeferimento da ouvida da testemunha) permite que a parte
suscite a questão como preliminar da apelação (§1º do art.1.009 do CPC), denunciando a nulidade do
processo a partir da audiência de instrução e julgamento, em decorrência do cerceamento do direito de
defesa.
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Se o tribunal reconhecer a nulidade da decisão interlocutória, declara nulos todos os atos processuais
subsequentes, inclusive a sentença proferida no término da relação processual. A invalidação de um ato
processual pode repercutir em relação a todos os atos subsequentes, que daquele dependam, reforçando a
ideia de que os atos são praticados numa ordem lógica, interligando-se numa intensidade maior ou menor.
Na fase em que nos encontramos, prevalece o princípio da instrumentalidade das formas , ligado à
ideia de que o processo deve ser visto como meio para a solução do conflito de interesses, não como fim, a
ponto de se estabelecer um rigorismo formal extremo, que ocultaria o próprio
direito material. O art. 188 estabelece:
“Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei
expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a
finalidade essencial.”
Assim é que, mesmo tendo sido imposto à parte o ônus de praticar um ato sob forma preestabelecida, é
possível o seu aproveitamento se, praticado de outra forma, a finalidade foi alcançada. Não obstante a
flexibilidade garantida pela lei processual, o legislador estabeleceu mecanismos de frenagem, para que a
liberalidade não prejudique o processo como um todo, ferindo regras e princípios processuais e
constitucionais.
Podemos afirmar que a lei incentiva a prática do ato sob determinada forma, validando-o quando
praticado de outro modo, desde que:
a) a finalidade seja alcançada;
b) a inobservância da forma prevista em lei não tenha infringido os princípios do contraditório e da ampla
defesa e da isonomia processual, não tendo a parte contrária sofrido prejuízos.
Importada da doutrina francesa, aplicando-se tanto ao processo penal (art. 563 do CPP) como ao
processo civil, o legislador faz uso da máxima pas de nullité sans grief, estimulando o aproveitamento dos
atos de acordo com a ideia exposta em linhas anteriores.
A forma do ato processual representa a sua aparência externa, prevendo a lei as formas de cada um
deles, respeitando a sua prática e eficácia mesmo quando a forma preestabelecida não tenha sido observada,
em respeito ao princípio da instrumentalidade, desde que nenhum prejuízo tenha sido sofrido pela parte
contrária, ou por ambas as partes, quando praticado pelo magistrado ou por um auxiliar da justiça.
O dispositivo em exame pretende estender para a Justiça Comum a prática consolidada em alguns
setores da Justiça Federal, sobretudo nos Juizados Especiais Federais, permitindo a prática de atos à
distância, por meio eletrônico, sobressaindo o protocolo de petições através da Internet, reduzindo o fluxo
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de pessoas em todos os fóruns do país, além de racionalizar o serviço forense, através da criação do
intitulado processo eletrônico.
Para que o dispositivo saia do papel, os tribunais do devem adaptar e aperfeiçoar os seus sistemas,
realizando investimentos, o que não pode ser visto como obstáculo para a implantação e/ou para o
aperfeiçoamento da técnica, em respeito ao princípio da razoável duração do processo, elevado ao plano
constitucional (inciso LXXVIII do art. 5 o da CF), igualmente abrigado pela lei processual (art. 4º).
A prática dos atos à distância permite o protocolo de petições até as 24 (vinte e quatro) horas do último
dia do prazo (art. 213, caput), com a ressalva de que o horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser
praticado será considerado para fins de atendimento do prazo (parágrafo único do art.213
do CPC).
Cada um desses pronunciamentos tem objetivo próprio. Entendemos que a classificação decorre do
conteúdo do ato e, sobretudo, da consequência processual advinda da sua prática.
Não entendemos que a sentença encerre o processo, em decorrência da possibilidade de ser atacada
por recurso, prolongando a relação processual até que o tribunal a confirme, a reforme ou a modifique, nos
dois últimos casos, mediante o provimento do recurso interposto pelo(s) vencido(s).
No que se refere à decisão interlocutória, que se destaca por resolver questão pendente sem encerrar o
processo, temos as tutelas provisórias de urgência e da evidência como exemplos principais.
Examinando essas decisões, percebemos que podem até versar sobre o mérito, o que é próprio das
tutelas provisórias de urgência antecipadas e das tutelas da evidência.
Não obstante o fato, que revela a possibilidade de a decisão interlocutória ser traumática em relação
a uma das partes, não encerra o processo, possibilitando a prática de vários outros atos depois de ser
proferida, inclusive pelo próprio magistrado, que ainda não se desincumbiu da função jurisdicional, estágio
apenas alcançado com a prolação da sentença.
Por último, temos os despachos, como, por exemplo, o pronunciamento que determina a remessa dos
autos ao contador; concede vista dos autos a uma das partes; determina a designação da audiência preliminar
etc.
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Em todos os exemplos, o pronunciamento nem põe termo ao processo, nem acarreta qualquer
prejuízo a uma das partes, apenas garantindo a marcha processual sem qualquer apreciação – parcial ou total
– do mérito.
Assim, os despachos são atos do juiz sem potencial ofensivo; as decisões interlocutórias
apresentam potencial ofensivo médio (pelo fato de a decisão não ser definitiva, podendo ser modificada
pelo próprio magistrado); as sentenças têm potencial ofensivo máximo, por atribuírem o direito material a
uma das partes.
O CPC prevê vários outros atos processuais que podem ser praticados pelo magistrado, como a
presidência dos trabalhos em audiência, atos que são entendidos como materiais , diferenciando-se dos
pronunciamentos (arts.139 a 143 – dentre outros).
O art. 371 concede ao magistrado a prerrogativa de apreciar livremente a prova, desde que
fundamente o pronunciamento que aproveita uma prova ao invés de outra.
Olhando para o art.139, percebemos que o primeiro poder inserido na norma é o de determinar todas as
medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento
de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária (inciso IV), o que nos
remete diretamente para o §1º do art.536, textual em estabelecer que o magistrado pode determinar, dentre
outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento
de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força
policial.
Seguindo a ordem estabelecida pela norma, destacamos como segundo poder o de dilatar os prazos
processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-se às necessidades do conflito
de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito, poder que não é ilimitado, devendo ser exercido em
consonância com o princípio da fundamentação ou da motivação.
Atentos ao inciso VII do art.139 do CPC, percebemos que a lei processual atribui, ainda, poder de
polícia ao magistrado, conferindo-lhe parcela do poder de império, sendo os seus pronunciamentos
coercitivos, obrigando os seus destinatários a observar e a cumprir a decisão, podendo requisitar, quando
necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e dos tribunais.
Na nossa concepção, o Estado (através do juiz) deve participar ativamente do processo, não se
posicionando como se fosse mero espectador.
Como penúltimo poder (dos inseridos no art.139), a lei prevê que o magistrado pode determinar, a
qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, quando não
incidirá a pena de confesso.
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Deveres do magistrado
No campo dos deveres, o magistrado não pode proferir decisão contra uma das partes sem que ela
seja previamente ouvida, regra que não se aplica às tutelas provisórias de urgência e às tutelas da evidência,
que podem ser concedidas independentemente da ouvida da parte contrária (incisos I e II do
parágrafo único do art. 9º do CPC).
Na mesma linha de raciocínio, o magistrado tem o dever de não decidir, em grau algum de jurisdição,
com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda
que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Embora possa parecer um poder, a lei processual prevê que o magistrado deve promover, a qualquer
tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e de mediadores judiciais.
Entendemos que não estamos diante de um poder, mas de um dever, atrelado às normas fundamentais do
processo civil, com destaque para a previsão de que as partes têm o direito de obter em prazo razoável a
solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa , o que inclui a técnica da autocomposição.
Ainda como dever, o Código estabelece a obrigação de o magistrado prevenir ou reprimir atos
contrários à dignidade da justiça. A obrigação decorre da posição ocupada pelo magistrado no processo, e
por estar representando o Poder Judiciário. Em decorrência desse dever, o magistrado
pode:
a) determinar que sejam riscadas cotas marginais ou interlineares inseridas pelas partes no processo (art.
202);
b) fixar multa por litigância de má-fé, assunto estudado no decorrer deste capítulo;
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Finalmente, o inciso X do art.139 estabelece que incumbe ao magistrado, quando se deparar com
diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida
do possível, outros legitimados a que se referem o art.5º da Lei n.7.347, de 24 de julho de 1985, e o art.82
da Lei n o 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva
respectiva .
Responsabilidades do magistrado
No campo da responsabilidade, a lei prevê a possibilidade de ajuizamento da ação de indenização por
perdas e danos contra o magistrado, quando prejudicar a uma das partes do processo em decorrência de atos
ou de omissões, quando a ação era esperada. Sobre o tema, o art.143 dispõe:
“Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando: I – no exercício de
suas funções, proceder com dolo ou fraude; II – recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo,
providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte. Parágrafo único. As hipóteses
previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a
providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias.”
Algumas legislações pelo mundo preveem a possibilidade de ajuizamento da ação de indenização por
perdas e danos apenas contra o Estado, outras contra este e o magistrado. A doutrina italiana, inspirada no
art.28 da sua Constituição, prevê a responsabilidade substitutiva do Estado concorrentemente com a pessoal
do magistrado.
Os países adeptos do common law, como os Estados Unidos, são orientados pelo princípio da inmunity
from civil liability (imunidade de responsabilidade civil), negando a possibilidade de o magistrado ser
responsabilizado por ato praticado no processo.
Entendemos que a ação de indenização por perdas e danos pode ser proposta contra o magistrado, e
tão somente contra este; contra o Estado, e tão somente contra este; ou contra o Estado e o juiz. Na nossa
concepção, o fundamento da ação é o error in procedendo e/ou o error in judicando.
Além disso, não obstante o acúmulo dos serviços forenses, o que, em princípio, impede o magistrado
de prestar a jurisdição nos prazos fixados na lei processual, a demora também pode acarretar o dever de
indenizar, no mínimo em face do Estado. RUI BARBOSA já advertia:
“[...] justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Porque a dilação ilegal nas mãos
do julgador contraria o direito escrito das partes, e, assim, as lesa no patrimônio, honra e liberdade. Os juízes
tardinheiros são culpados, que a lassidão comum vai tolerando. Mas sua culpa tresdobra com a terrível
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agravante de que o lesado não tem meio de reagir contra o delinquente poderoso, em cujas mãos jaz a sorte
do litígio pendente. Não sejam, pois, desses magistrados, nas mãos de que os autos penam como almas no
purgatório, ou arrastam sonos esquecidos como as preguiças do mato”.
Não estamos com isso afirmando que o magistrado sempre deve ser responsabilizado por atos ou
omissões, mas que pode ser responsabilizado quando a demora na prestação jurisdicional não se justificar
diante das características do processo, especificamente quando o retardo da entrega da prestação
jurisdicional causa o perecimento (total ou parcial) do direito material.
O ato processual mais importante do autor é a petição inicial, que define os elementos objetivos e
subjetivos do processo, informando o que se quer (objeto), a razão da pretensão (causa de pedir), quem pede
(autor) e contra quem o pedido é formulado (réu).
Do lado do réu, a contestação é o ato processual mais importante, já que ataca os argumentos
expostos pelo autor na petição inicial, evitando a caracterização da revelia total ou parcial, que pode produzir
efeitos indesejados (ver seção Revelia e seus efeitos, neste capítulo), com destaque para a presunção
(relativa) de veracidade dos fatos afirmados pelo autor.
Contudo, esses não são os únicos atos praticados pelas partes, que ainda podem, ilustrativamente:
interpor recursos; atuar em audiências; formular requerimentos; manifestar-se sobre laudos periciais. Os atos
das partes podem ser unilaterais, como todos os que foram até aqui examinados; e bilaterais, como a
apresentação de petição assinada pelos advogados das partes, solicitando o adiamento de audiência, por
estarem avaliando a possibilidade de transigir.
Ainda falando dos bilaterais, destacamos como o mais importante o ato pelo qual as partes registram
as condições do acordo e solicitam que o magistrado o homologue por sentença, exigindo a lei que os
advogados que subscrevem a petição estejam investidos de poderes especiais (art.105, caput ).
A importância desse ato decorre do fato de que a sua homologação acarreta a resolução do mérito
(alínea b do inciso III do art. 487), substituindo a sentença traumática , de exclusiva criação do magistrado.
Os atos das partes podem ser excepcionalmente praticados por elas próprias, ou por seus advogados,
que as representam em juízo. No primeiro caso, sobressai o depoimento pessoal da parte em audiência; no
segundo, todas as petições apresentadas durante o processo (petição inicial,
contestação, recursos etc.).
Embora o CPC fixe prazos para que os atos sejam praticados pelo escrivão ou chefe de secretaria, a
sua inobservância não acarreta qualquer penalidade processual em relação ao auxiliar, mas tão somente
punição administrativa e/ou o ajuizamento de ação de indenização por perdas e danos pela parte que se sente
prejudicada pela omissão do auxiliar, bem assim pela prática de ato doloso ou culposo, nos termos do
art.155.
Perito
O perito auxilia o magistrado na produção da prova pericial, por ser dotado de conhecimentos
técnicos, apresentando laudo, com as conclusões do exame, da vistoria ou da inspeção que realizou. É
auxiliar de relevante apoio do magistrado, podendo decidir o resultado da ação, em decorrência do domínio
da matéria discutida nos autos, como as questões ligadas a erros médicos, a defeitos de construção etc.
Já verificamos que, não obstante a importância do laudo pericial, as suas conclusões não vinculam
necessariamente o magistrado, que pode não utilizar a prova técnica na formação do seu convencimento, em
respeito ao sistema do livre convencimento racional ou motivado, que orienta a atuação do magistrado diante
da prova constante dos autos (ver considerações expostas na seção Sistema de avaliação da prova , no
Capítulo Das provas).
O perito deve apresentar o laudo pericial no prazo fixado pelo magistrado, sob pena de substituição
do auxiliar (inciso II do art. 468), além da aplicação de multa e da expedição de ofício ao seu órgão de
classe, para apuração do seu comportamento e eventual instauração do procedimento disciplinar.
Além disso, quando por dolo ou culpa prestar informações inverídicas, o perito responderá pelos
prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias pelo prazo de dois a cinco anos
(art.158 do CPC).
Avaliador
O avaliador atua em causas específicas, com destaque para o processo de inventário e para as ações
de execução, estimando o valor de bens sujeitos à partilha, à adjudicação ou à arrematação judicial,
resultando na elaboração de laudo, que é apresentado ao juiz, para manifestação pelas partes.
Oficial de justiça
O oficial de justiça auxilia o magistrado principalmente no cumprimento de mandados, incluindo os
de citação, de intimação, de prisão, de arresto, de sequestro, de busca e apreensão, de penhora etc.
A diligência atribuída ao oficial de justiça deve ser cumprida fora da sede do juízo, geralmente no
domicílio das partes, nada impedindo que se estenda para alcançar o domicílio de terceiros, como ocorre
quando a parte, ciente da concessão de uma tutela provisória de urgência, oculta determinado bem na
residência de um amigo ou familiar.
O resultado da diligência realizada pelo oficial de justiça é registrado numa certidão, na qual relata
todas as circunstâncias, inclusive a eventual recusa da parte em opor o ciente no mandado, sendo dotada de
fé pública – independentemente de estar ou não assinada por testemunhas –, o que não é absoluto, podendo
ser desconstituída por meio da arguição da falsidade documental ou em procedimento administrativo.
Além do cumprimento de mandados, o oficial de justiça realiza avaliações (inciso V do art. 154),
sobretudo na fase inicial das execuções fundadas em título judicial e em título extrajudicial, com o propósito
de garantir a concentração de atos processuais, permitindo que a citação do executado (na execução fundada
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O oficial de justiça também pode responder por perdas e danos por atos que praticar no exercício da
profissão, desde que a parte que se sinta lesada comprove o ato do agente, o dano e o nexo de causalidade,
estabelecendo relação de causa e efeito entre o ato ou a omissão e o prejuízo.
A responsabilidade civil do auxiliar do juízo tem fundamento na teoria subjetiva, e por isso o autor da
ação deve provar a culpa do agente, em sentido amplo, abrangendo o dolo e a culpa em sentido estrito, nas
suas variantes da negligência, da imprudência e da imperícia.
Depositário e administrador
Quanto ao depositário e ao administrador, a lei processual lhes atribui o encargo de guardar e de
conservar os bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados, mediante remuneração, fixada
pelo magistrado, levando em conta a característica dos bens, o tempo de duração
do serviço e as suas dificuldades.
Intérprete e tradutor
O intérprete e o tradutor atuam quando o magistrado constatar a necessidade de traduzir documento
redigido em língua estrangeira ou de verter para o português as declarações das partes e das testemunhas
com deficiência auditiva que se comuniquem pela Língua Brasileira de Sinais, ou equivalente, quando assim
for solicitado, ou que não conhecerem o idioma nacional (inciso II do art.162).
O CPC/2015 aposta na conciliação e na mediação como técnicas que podem contribuir para a solução
dos conflitos de interesses em espaço de tempo menor, sobretudo no início do processo (como ocorre com
frequência nos Juizados Especiais Cíveis), após o recebimento da petição inicial, se não for o caso da
determinação da sua emenda ou da improcedência liminar do pedido.
Podem atuar como conciliadores e como mediadores não apenas os bacharéis em Direito, com
formação jurídica, como também profissionais de outras áreas, como médicos, engenheiros, arquitetos,
administradores etc., desde que capacitados, nos termos da Resolução n. 125/2010 do CNJ, que dispõe sobre
a Política Judiciária Nacional de tratamento adequando dos conflitos de interesses no âmbito do Poder
Judiciário.
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Ao dispor que o conciliador atuará, preferencialmente, nos casos em que não houver vínculo
anterior entre as partes (§2º do art.165), a lei processual confia a esse auxiliar do juízo a grande parcela de
ações que tramitam na justiça nacional, marcadas exatamente por essa circunstância, como as ações que
versam sobre relação de consumo e acidentes de veículos, apenas para exemplificar.
Prevendo que o mediador atuará, preferencialmente, nos casos em que houver vínculo anterior
entre as partes (§3º do art.165), a lei processual atribui a esse auxiliar do juízo a responsabilidade de tentar
restabelecer o vínculo entre locador e locatário, nas ações inquilinárias; entre os sócios, nas ações de
dissolução de sociedade; entre os cônjuges, nas ações de separação e de divórcio; entre os companheiros, nas
ações que versem sobre a união estável, apenas para exemplificar.
Orientando a atuação dos dois auxiliares da justiça, o art.166, caput, da lei processual estabelece que
a conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da
autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada .
Embora o §4º do art.166 preveja que a mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre
autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais ,
entendemos que o magistrado deve controlar a validade das convenções, recusando-lhes aplicação somente
nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre
em manifesta situação de vulnerabilidade (parágrafo único do art.190).
Partidor
O partidor, atua, sobretudo, na fase de partilha, após a conclusão do processo de inventário,
organizando o esboço de partilha de acordo com a decisão judicial que deliberar sobre essa questão,
observando no pagamento a ordem estabelecida no art. 651 da lei processual.
Distribuidor
Esse auxiliar é o que primeiro atua no processo, recebendo a petição inicial apresentada pelo autor,
distribuindo-a para uma das varas previstas na lei ordinária ou na lei estadual de organização judiciária,
alternada e aleatoriamente, obedecendo rigorosa igualdade, o que em grande parte dos casos independe do
trabalho do distribuidor, já que a distribuição é quase sempre eletrônica, sendo exceção a distribuição
manual.
Embora isso não seja frequente na dinâmica forense, o art.289 da lei processual ressalva que a
distribuição pode ser fiscalizada pela parte, pelo seu procurador, pelo Ministério Público e pela Defensoria
Pública.
Regulador de avarias
O regulador de avaria grossa é o auxiliar do juízo que atua especificamente no procedimento especial
denominado regulação de avaria grossa, inicialmente praticando o ato previsto no art. 708, que tem a
seguinte redação:
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Misael Montenegro – procedimento Comum
“Art. 708. O regulador declarará justificadamente se os danos são passíveis de rateio na forma de
avaria grossa e exigirá das partes envolvidas a apresentação de garantias idôneas para que possam ser
liberadas as cargas aos consignatários. Omissis.”
O regulador de avarias é auxiliar do juízo, praticando atividade técnica, semelhante às praticadas pelos
peritos de modo geral, sendo equiparado a estes, do ponto de vista processual.
Iniciando pelo lugar, vários atos podem ser praticados fora da sede do juízo, como a inspeção
judicial; a ouvida de testemunha em sua residência ou no local em que exerce as suas funções, em
decorrência da sua qualificação funcional; a ouvida das testemunhas que não possam comparecer à sede do
juízo, por estarem doentes ou por outro motivo relevante, como a idade avançada etc.
No que se refere ao tempo, o CPC estabelece que o ato processual deve ser praticado em dias úteis,
das 6:00 às 20:00 horas (art.212,caput), com a ressalva de que os atos iniciados antes do horário-limite de
funcionamento da justiça podem ser praticados após este, quando o adiamento prejudicar a diligência ou
causar grave dano (art.212, §1º).
Além disso, independentemente de autorização judicial, as citações, intimações e penhoras podem ser
aperfeiçoadas fora dos horários anteriormente referidos, observado o disposto no inciso XI do art.5º da CF,
que garante a inviolabilidade da residência e do domicílio da pessoa natural e jurídica.
Os dias úteis compreendem os dias da semana, com exceção do sábado, do domingo e dos feriados.
No gênero feriados, temos os nacionais (1º de janeiro,1º de maio,7 de setembro,12 de outubro, 15 de
novembro e 25 de dezembro, e os dias em que forem realizadas as eleições, como tais, o primeiro e o último
domingos de outubro) e os jurídicos (8 de dezembro, terça-feira de carnaval e sexta-feira da semana santa).
Além deles, temos outros feriados de âmbito estadual e municipal, como feriado em comemoração ao dia da
padroeira da cidade.
Embora a lei preveja que o ato processual deve ser praticado entre as seis horas da manhã e as oito
horas da noite, o §3ºdo art.212 estabelece que, quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em
autos não eletrônicos, deverá ser protocolada no horário de funcionamento do fórum ou do tribunal,
conforme dispuser a lei de organização judiciária local.
Assim, não obstante o CPC preveja que os atos processuais podem ser praticados até as 20:00 horas,
em quase todos os Estados da federação o expediente forense é encerrado às 18:00 horas, a partir desse
momento não se admitindo a prática de qualquer ato, exceto os que foram identificados anteriormente.
Comparando os horários previstos no Código com os estabelecidos por cada unidade da federação,
temos de investigar se a parte pode praticar o ato que lhe incumbia no dia seguinte ao do término do prazo,
alegando que o encerramento das atividades antes das 20:00 horas (horário fixado pelo CPC) se constituiria
em obstáculo processual.
Não entendemos dessa forma, considerando que o CPC deu liberdade à legislação local para
estabelecer o horário do expediente forense. Pensar em contrário seria o mesmo que desconsiderar a
interpretação histórica e gramatical do dispositivo processual examinado.
No que toca ao processo que tramita em autos eletrônicos, o protocolo das petições pode ocorrer até
as 24 horas do último dia do prazo, prevendo o parágrafo único do art. 213 que o horário vigente no juízo
perante o qual o qual o ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento do prazo.
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Misael Montenegro – procedimento Comum
O CPC ressalva que se processam durante as férias forenses e não se suspendem pela superveniência
delas os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando puderem
ser prejudicados pelo adiamento, a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e
curador, bem como os processos que a lei determinar (art.215).
O art.220 estabelece a regra de que se suspende o curso do prazo processual nos dias compreendidos
entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive. Essa norma incorporou ao CPC a prática que já vinha sendo
adotada por alguns tribunais, de suspender os prazos processuais entre os dias 20 de dezembro e 20 de
janeiro, o que vinha sendo feito por meio de portarias, de resoluções e de outros instrumentos semelhantes.
A regra não infringe o inciso XII do art.93 da CF, prevendo que a atividade jurisdicional será
ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em
que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente, pois o que a norma processual
garante é a suspensão dos prazos, não as férias coletivas, o que significa dizer que o Poder Judiciário não
pode cerrar as portas no período anteriormente citado, funcionando regularmente, embora os prazos estejam
suspensos.
Convém lembrar que, pela regra de suspensão, no momento em que for afastado o obstáculo que se
põe entre o início e o término do prazo, contamos apenas os dias que remanescem para a prática do ato, sem
desconsiderar os já fluídos antes da suspensão.
Assim, se a parte foi intimada de uma sentença dois dias antes do recesso forense, após o recesso,
disporá do prazo de 15 dias menos aqueles já decorridos antes do fechamento do foro.
Se a regra fosse de interrupção, restabelecidos os serviços forenses, a parte disporia do prazo integral, sem
abater os dias decorridos entre a publicação da decisão e a paralisação da atividade forense.
A fixação de prazos para a prática de atos é de suma importância para garantir que o processo não se
eternize em decorrência da ausência de previsão legal acerca do momento final em que as manifestações
devem ser externadas pelas partes e pelos demais protagonistas ou coadjuvantes do processo.
Considerando que o ato está interligado ao que o antecedeu, o prazo fixado para a prática do ato
funda-se na premissa de que outro foi praticado anteriormente. O CPC disciplina os prazos levando em
consideração a pessoa que deve praticar o ato.
Na contagem dos prazos processuais, excluímos o dia de início e incluímos o dia do término, como
dispõe o art.224, admitindo-se que norma especial disponha em contrário, para garantir a celeridade na
tramitação de determinadas ações judiciais.
De modo inovador, o §4º do art.218 do CPC estabelece a regra de que será considerado tempestivo o
ato praticado antes do termo inicial do prazo.
A norma premiou a insistência da doutrina e da jurisprudência, que defendiam a injustiça de
reconhecer como intempestivo o recurso interposto antes da publicação da decisão por ele atacada.
Assim, ciente da decisão, a parte já pode interpor o recurso, independentemente da publicação do
pronunciamento.
13
Misael Montenegro – procedimento Comum
Além disso, após a publicação, a parte não está obrigada a reiterar as razões do recurso anteriormente
interposto, restando superada a Súmula 418 do STJ, conforme enunciado n. 23 do III FPPC-Rio, que tem a
seguinte redação:
“Fica superado o enunciado 418 da súmula do STJ após a entrada em vigor do CPC (‘É inadmissível o
recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior
ratificação’).”
Se a parte não praticar o ato no prazo legal, sofrerá consequências materiais e/ou processuais, a
depender do ato que não foi praticado no tempo ou no modo adequado. Se não contestar a ação, o
magistrado decretará a sua revelia; se não interpuser o recurso de apelação, a sentença transita em julgado; se
não apresentar o rol de testemunhas, perde o direito de produzir a prova testemunhal etc.
No caso do magistrado, do Ministério Público (quando atua como fiscal da ordem jurídica) e dos
auxiliares da justiça, embora a lei fixe prazos para a prática dos atos, estes podem ser praticados mesmo após
o decurso do prazo, sem qualquer consequência processual.
Apenas para exemplificar, o inciso III do art.226 estabelece que a sentença deve ser proferida pelo
magistrado no prazo de 30 dias. Contudo, mesmo que não seja proferida nesse prazo, não é invalidada ou
considerada nula, produzindo todos os seus efeitos no processo em que é prolatada.
Por isso que a doutrina adverte que o prazo conferido à parte é próprio, enquanto o fixado em relação
ao magistrado e aos auxiliares da justiça é impróprio.
Embora a lei não preveja penalidade processual aos que integram o Poder Judiciário, verificamos em linhas
anteriores que o retardo na prática do ato pode ensejar a aplicação de sanções disciplinares e/ou o
ajuizamento da ação de indenização por perdas e danos, desde que preenchidos os
requisitos legais.
Em decorrência das considerações expostas, podemos afirmar que, em princípio, apenas a parte é
punida pelo decurso do prazo sem que o ato tenha sido praticado (art. 223); 10 regra que não é extensiva aos
atos que devem ser praticados pelo magistrado, pelo representante do Ministério Público (quando atua como
fiscal da ordem jurídica) e pelos auxiliares da justiça.
sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo
único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo,
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão
ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.”
“Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos
processuais, quando for o caso. § 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos
somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados. §2º Dispensa-se a
intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem
sido designadas no calendário.”
O ajuste a que a primeira norma se refere pode ser prévio ou incidental, abrangendo alguns ou todos os
atos do processo. Embora a norma seja digna de aplausos, por democratizar o processo, temos dúvidas sobre
a sua aplicação prática, por questões meramente culturais.
Pensamos que não alcançamos o estágio de cordialidade extraprocessual necessário para que a norma
saia do papel, sendo ainda importante frisar que a modificação do procedimento pelas partes se fundamenta
na premissa de que são iguais do ponto de vista financeiro e técnico, evitando que uma se
sobreponha à outra, inserindo cláusulas em contratos de adesão, antipatizadas pelo Poder Judiciário.
Nesses casos (leia-se: de inclusão de normas extremamente desfavoráveis a uma das partes), o juiz
deve intervir, não adotando o procedimento “definido” pelas partes, seguindo o procedimento tradicional,
mediante o reconhecimento da nulidade da(s) convenção(ões) particular(es), por ser(em) contrária(s) à lei e
aos princípios constitucionais aplicáveis ao processo civil, ferindo a boa-fé, que deve nortear a prática dos
atos processuais.
O denominado calendário processual, estipulado pelas partes e pelo juiz, democratiza o processo,
permitindo que seja adaptado de acordo com as suas características, como a maior ou a menor complexidade
da matéria.
A norma é digna de aplausos. Os prazos fixados pelo CPC (a grande maioria em 15 dias) podem ser
reduzidos, quando a causa não for complexa, quando tramitar em comarca de pouco movimento forense,
apenas para exemplificar.
Entendemos que o calendário processual não pode infringir a regra disposta no art.12, caput, que
estabelece ordem cronológica preferencial de julgamento dos processos, já que a última regra está inserida
no capítulo que abriga as normas fundamentais do processo civil.
Desse modo, e para evitar a infração à norma que consideramos maior, torcemos para que a
jurisprudência e a doutrina moldem o dispositivo em comentário, para concluir pela exclusão do calendário
processual do prazo para a prolação da sentença, mantidos os demais, que forem convencionados pelas
partes, com a participação do juiz.
Quanto ao juiz, o §1º do art.222 da lei processual estabelece a regra de que ele não pode reduzir
prazos peremptórios sem anuência das partes.
Por peremptórios, entendam-se os prazos para a apresentação da contestação, para a interposição de
recursos, dizendo respeito à estrutura central do processo.
Numa situação ilustrativa, considerando que o prazo para a apresentação da contestação só começa a
fluir a partir do momento em que o mandado de citação é juntado aos autos, cabe-nos examinar se a parte
pode ser prejudicada pelo fato de o site do tribunal informar que o mandado teria sido juntado em dia que
não corresponde ao da juntada efetiva, sendo a informação divergente da realidade dos autos.
O CPC/2015 evoluiu. De fato, a informação acerca de atos deve ser verídica e confiável. Por isso, se a
informação não corresponder à realidade, a parte pode se valer da norma em exame para solicitar o
aproveitamento do ato praticado no prazo legal, se considerada a sua contagem a partir da divulgação da
informação errônea, na qual a parte confiou.
No capítulo Jurisdição e competência, anotamos que todo o magistrado está investido da função
jurisdicional, e que essa função é fracionada, atribuindo-se parcelas dela aos juízes que integram o Poder
Judiciário. A cada um é atribuída competência para processar e julgar ações que tramitam nos
limites territoriais da sua jurisdição.
Das cartas
As cartas processuais apresentam três espécies, quais sejam: rogatória; de ordem e precatória. A
primeira é expedida para autoridade estrangeira, atuante em outro país, respeitando as Convenções
Internacionais, contendo a solicitação para a prática de qualquer ato processual.
Além dos requisitos formais próprios de toda e qualquer carta, o documento judicial deve ser
traduzido para a língua do país de destino, por profissional juramentado.
A impugnação pode versar sobre a autenticidade da carta ou a alegação de que afronta a soberania
nacional ou a ordem pública. Não sofrendo a arguição, ou sendo esta rejeitada, o presidente do STJ
determina o seu encaminhamento ao juízo no qual deva ser cumprida, sendo devolvida ao STJ para remessa
à autoridade estrangeira, por via diplomática, após o seu cumprimento.
Os tribunais processam e julgam determinadas ações de forma originária, como a ação rescisória e o
mandado de segurança.
Na primeira, é comum que o tribunal determine ao juízo que prolatou a sentença rescindenda que
proceda à ouvida de testemunhas ou que produza outra modalidade de prova, necessária ao julgamento da
ação.
Porém, a carta de ordem não é expedida apenas na ação rescisória, podendo sê-lo de qualquer outro processo
que se encontre sob a apreciação do tribunal, em feitos da sua competência originária ou recursal.
O juízo que determina a expedição da carta é denominado deprecante; aquele ao qual se destina é o
deprecado.
Num exemplo ilustrativo, pensemos na expedição de carta precatória pelo juízo de determinada vara
cível da comarca do Rio de Janeiro, solicitando ao juiz de Campos que proceda à citação de réu ali
domiciliado. O primeiro é o deprecante; o segundo, o deprecado.
De um modo geral, as cartas devem preencher requisitos, que viabilizem a prática do ato. Esses
requisitos estão relacionados no art.260, incluindo a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do
ato; o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao advogado; a
menção do ato processual que lhe constitui o objeto, com a necessária assinatura do magistrado.
Além disso, a carta deve prever o prazo fixado para o seu cumprimento, que pode ser modificado
pelo juízo de destino, mediante a comprovação da impossibilidade de cumprimento no prazo anteriormente
fixado.
17
Misael Montenegro – procedimento Comum
O juízo de destino não pode se recusar a cumprir a carta precatória ou a carta arbitral, exceto nas
situações previstas no art.267, ou seja, quando tiver dúvidas da sua autenticidade, quando não esteja
investido de competência em razão da matéria ou da hierarquia (com a ressalva de que, nesse caso, o juízo
deprecado, conforme o ato a ser praticado, poderá remeter a carta ao juiz ou tribunal competente) ou quando
a carta não estiver revestida dos requisitos legais.
A devolução da carta deve ser acompanhada de decisão fundamentada, contendo as razões do seu não
cumprimento.
O juízo deprecado não adentra no mérito das razões que motivaram o juízo deprecante a determinar a prática
do ato identificado na carta, limitando-se a cumprir a determinação ou a solicitação que lhe foi encaminhada.
Por idêntico fundamento, o juízo deprecado não pode julgar e/ou acolher defesas substanciais, como
embargos à execução opostos contra penhora aperfeiçoada em cumprimento à carta precatória, sendo esta
competência do juiz da causa.
A carta tem caráter itinerante, como prevê o art.262, caput, de modo que, se foi inicialmente
encaminhada a um juízo, pode sê-la a outro, quando for constatado que o primeiro endereçamento foi
equivocado, sem que a carta tenha de ser devolvida ao deprecante, para redirecionamento ao outro juízo.
Assim, o próprio juízo deprecado a encaminha a um terceiro juízo, que seja competente para cumpri-
la.
O art.263 estabelece que as cartas devem ser preferencialmente expedidas por meio eletrônico, com a
intenção de valorizar o princípio da razoável duração do processo, sobretudo em pleno século XXI,
conhecido como o século da informática .
Da citação
A citação é um dos atos mais importantes do processo, já que completa a relação inicialmente
estabelecida entre o autor e o magistrado. O propósito de um processo judicial é o de permitir que o autor
formule pedido contra um réu, que deve ser conhecido por este, para que possa apresentar a sua defesa e
solicitar o julgamento da ação pela improcedência dos pedidos formulados na petição inicial.
Sem a citação, teríamos apenas uma relação bilateral entre o autor e o juiz, sem que a sentença de
mérito pudesse ser proferida, pois esta também deve se dirigir ao réu, para acolher ou rejeitar as pretensões
do autor.
A citação angulariza a relação, aperfeiçoando o processo, considerando que, embora a ação seja
considerada proposta quando a petição inicial é protocolada, essa situação permanece em estado de
hesitação até que o réu seja convocado a apresentar a sua defesa.
-Teoria da aparência
A citação se constitui em ato pessoal, considerando a importância da relação jurídica, exigindo a
certeza de que o réu – e o próprio réu – tenha sido efetivamente convocado para apresentar a sua defesa. A
regra, contudo, não é absoluta, principalmente em decorrência da aplicação da teoria da aparência.
Essa teoria considera a citação válida mesmo quando aperfeiçoada através de outra pessoa, escolhida
pelo réu – explícita ou implicitamente – para receber correspondências, como é frequente em quase todas as
empresas comerciais.
18
Misael Montenegro – procedimento Comum
Na dinâmica forense, quando a citação é aperfeiçoada pela via postal (inciso I do art. 246), a
correspondência judicial (acompanhada da petição inicial) nem sempre é recepcionada pelo seu destinatário,
mas por funcionário que trabalha na portaria da empresa, sendo a ré pessoa jurídica, ou por porteiro, sendo o
réu pessoa natural.
A citação vem sendo considerada válida pela jurisprudência, embora não tenha sido aperfeiçoada na
pessoa de quem os estatutos da pessoa jurídica designaram, ou, não os designando, nos seus diretores.
Do mesmo modo, a citação tem sido considerada válida quando efetivada na pessoa que se apresentou como
representante da pessoa jurídica demandada.
Modalidades de citação
O art.247 da lei processual estabelece a regra de que a citação será feita pelo correio para qualquer
comarca do país, exceto:
a) nas ações de estado, no gênero, incluindo as ações de famílias e as que versam sobre o estado da
pessoa. Nesses casos, o §3º do art.695 ressalva que a citação deve ser pessoal;
b) quando o citando for incapaz, por não deter capacidade processual, razão pela qual a citação deve
ser aperfeiçoada através dos seus genitores (quando for menor) ou do seu tutor ou curador;
c) quando o citando for pessoa jurídica de direito público, considerando o interesse revelado no
processo, impondo-se o estabelecimento da regra por questões de segurança jurídica;
d) quando o citando residir em local não atendido pela entrega postal, exigindo-se o aperfeiçoamento
da citação através do oficial de justiça;
e) quando o autor, justificadamente, a requerer de outra forma.
A citação deve ser efetivada em qualquer lugar em que se encontre o réu, conferindo a lei ao militar
em serviço ativo a prerrogativa de ser citado na unidade em que estiver servindo, se não for conhecida a sua
residência ou nela não for encontrado.
Nas situações indicadas em linhas anteriores, a citação é aperfeiçoada através do oficial de justiça,
quando o réu residir na mesma comarca que seja sede do juízo, ou em comarca contígua. Cumprindo o
mandado, o oficial de justiça elabora certidão relatando toda a diligência, informando o seu comparecimento
ao endereço do destinatário, os horários das diligências, o recebimento ou não da comunicação processual e
a eventual recusa do réu em assinar o documento judicial.
Se o oficial de justiça entender que o réu está se ocultando para não ser citado, o que só pode ser
manifestado após dois comparecimentos à sua residência ou domicílio, a lei permite o aperfeiçoamento da
denominada citação com hora certa, realizada através de terceiro.
Não é suficiente que o oficial de justiça por duas vezes compareça à residência do réu sem o
encontrar.
A lei exige a suspeita de ocultação, consistindo na intenção do réu de se ocultar, para se esquivar do
recebimento da correspondência judicial.
19
Misael Montenegro – procedimento Comum
Nesse caso, o oficial intima pessoa da família ou um vizinho, advertindo-o de que, no dia e hora
designados, retornará à residência ou ao domicílio do réu, para aperfeiçoar a citação, deixando o terceiro
incumbido de comunicar esse propósito ao réu (art. 252, caput).
No horário designado, o oficial retorna ao local e realiza a citação direta do réu (citação real ),
quando presente, ou a citação com hora certa, modalidade de citação ficta , na pessoa do terceiro, o que
reclama a nomeação de um curador especial em favor do réu, nos termos do inciso II do art.72.
Em qualquer dos casos, o prazo para a apresentação da contestação começa a fluir a partir da juntada
do mandado aos autos (excluído o dia de início), que deve relatar todas as circunstâncias da diligência, desde
o momento em que o oficial de justiça pela primeira vez procurou pelo réu.
Após o aperfeiçoamento da citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará carta,
telegrama ou correspondência eletrônica ao réu, executado ou interessado, no prazo de 10 dias, contado da
data da juntada do mandado aos autos, dando-lhe de tudo ciência (art. 254).
Não obstante a adoção dessa providência, o prazo para a apresentação da defesa começa a fluir da
data da juntada do mandado aos autos, servindo a correspondência apenas para reafirmar a validade da
citação, com vistas a aperfeiçoá-la.
A citação também pode ser realizada por edital (citação ficta ou indireta), que tem a intenção de dar
publicidade do processo a um grande número de pessoas, para que, com a adoção da técnica, o réu, o
executado ou o interessado tome conhecimento da existência da ação.
Não simpatizamos com essa modalidade de citação, por percebermos que em alguns casos é
requerida com o propósito de impedir ou dificultar a apresentação de defesa pelo réu, pelo executado ou pelo
interessado, considerando que, como modalidade de citação ficta e não direta, não garante que o réu tome
conhecimento da existência do processo.
Nas situações relacionadas nos incisos I e II do art.256, o magistrado confia na afirmação do autor,
de modo que, se posteriormente constatar que era inverídica, deve aplicar multa de até cinco vezes o valor do
salário mínimo, a ser paga pela parte que dolosamente alegou a ocorrência da circunstância que autorizou o
aperfeiçoamento da citação por edital, que reverte em benefício do citando.
O edital de citação deve ser publicado na rede mundial de computadores, no sítio do respectivo
tribunal e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, podendo o juiz determinar que a
publicação seja feita em jornal local de ampla circulação ou por outros meios, considerando as
peculiaridades da comarca, da seção ou da subseção judiciárias.
Efeitos da citação
A citação produz importantes efeitos processuais, previstos no art.240 do CPC. Para tanto, a lei exige
que a citação seja válida, o que parte da premissa de ter sido efetivada na pessoa do réu, do executado ou do
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Misael Montenegro – procedimento Comum
interessado, com a observância das formalidades legais e a advertência de que a não apresentação da
contestação acarretará a decretação da sua revelia.
O primeiro efeito é o de induzir a litispendência, obstaculizando a propositura de outra ação fundada nos
mesmos elementos (partes, causa de pedir e pedido). Se isso ocorrer, a segunda ação deve ser extinta sem a
resolução do mérito, prestigiando o processo no qual a citação válida foi primeiramente efetivada.
O segundo efeito é o de tornar litigiosa a coisa, o que significa dizer que esta (um automóvel, por
exemplo) não se torna inalienável a partir da citação, mas que, se for transferida para terceiro, o juiz pode
reconhecer a fraude, tornando ineficaz a transferência em relação ao credor.
O terceiro efeito é o de constituir em mora o devedor, de modo que sobre o valor da dívida começam a
incidir juros e correção monetária, o que não se constitui em regra absoluta, já que em alguns casos os juros
incidem somente após a prolação da sentença ou mesmo do seu trânsito em julgado, como na ação de
repetição do indébito.
O último efeito é o de interromper a prescrição. Nesse particular, é necessário destacar que o despacho
que ordena a citação interrompe a prescrição, que retroage à data de propositura da ação, prevendo a lei que
o autor deve promover a citação do réu nos 10 dias seguintes. Se a citação não for aperfeiçoada nesse prazo,
a prescrição ter-se-á por não interrompida, embora o direito de ação tenha sido exercitado dentro do prazo
prescricional.
Pensemos em ação de indenização por perdas e danos, que deve ser proposta no prazo de três anos
(inciso V do §3º do art.206 do CC), contado da violação do direito (art. 189 do CC), ajuizada no último dia
desse prazo.
Após a propositura da ação, o autor deve obter o despacho que ordena a citação do réu, a partir daí
fluindo o prazo de dez dias para que a citação seja aperfeiçoada.
Se isso ocorrer, a lei prevê que a prescrição retroage à data da propositura da ação. Contudo, se a
regra não for observada, efetivando-se a citação além do prazo máximo, a prescrição ter-se-á por não
interrompida, podendo ser arguida pelo réu, acarretando a extinção do processo com a resolução do mérito,
por sentença, que produz coisa julgada material, impedindo o ajuizamento de nova ação fundada nos
mesmos elementos (partes, causa de pedir e pedido).
Não obstante a aparente rigidez da norma processual, a Súmula 106 do STJ textualiza:
“Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivo inerente ao
mecanismo da justiça não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.”
O CPC/2015 incorporou a orientação da súmula ao seu texto, prevendo o §3º do seu art.240 que a
parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário.
No nosso entendimento, devemos caracterizar a revelia pelo seu aspecto objetivo, não avaliando a
vontade do réu de apresentar ou não a defesa. Por isso, entendemos que a teoria que melhor retrata o
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Misael Montenegro – procedimento Comum
significado da revelia é a da inatividade, de modo que a ausência de resposta deve ser tão somente assim
interpretada, ou seja, como ausência de manifestação por parte do réu, do executado ou do interessado.
Vários outros atos praticados pelo réu podem igualmente caracterizar a revelia, como a apresentação
da contestação fora do prazo; a apresentação da mesma defesa com negação geral, desrespeitando o
princípio da impugnação especificada; a apresentação da defesa pela própria parte, sem estar representada
por advogado etc.
Na nossa concepção, todos esses atos retratam a revelia, numa intensidade maior ou menor. Quando
o réu contesta, mas não observa o princípio da defesa especificada, há revelia parcial; quando contesta fora
do prazo, há revelia total.
Para que se caracterize a revelia, é necessário que a citação do réu tenha sido aperfeiçoada,
considerando que esse ato se constitui em pressuposto de constituição do processo, segundo entendemos, ou
pelo menos pressuposto de validade do processo, como estabelece o art. 239 da lei processual.
A não apresentação da contestação pode produzir efeitos em relação ao réu, podendo definir a sorte
do processo.
O primeiro deles é a presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo autor (art. 344), que é
meramente relativa ( juris tantum ), 18 podendo ser desconstituída se as alegações de fato formuladas pelo
autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos (inciso IV do art. 345
da lei processual).
Em várias passagens desta obra, defendemos a ideia de que o magistrado, para que bem se
desincumba da função jurisdicional, deve investigar os fatos e as provas produzidas pelas partes, não
julgando o processo pela procedência dos pedidos somente (e tão somente) porque o réu não contestou
a ação.
Embora o processo civil se contente com a chamada verdade formal, em detrimento da verdade real,
é evidente que cumprir a função jurisdicional não é proferir sentença de qualquer modo, mas sentença justa,
que elimine o conflito de interesses que motivou o exercício do direito de ação, exigindo-se do magistrado
que analise os fatos e as provas, para se convencer de que a ação deve ser julgada em favor do autor ou do
réu.
O desprezo do principal efeito da revelia – o que acarreta a improcedência da ação – deve ser
fundamentado, exigência comum a todos os pronunciamentos judiciais (inciso IX do art. 93 da CF e art. 11
do CPC).
A presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo autor é efeito de natureza material. A ausência
de contestação, contudo, pode acarretar outras consequências, desta vez de natureza processual, como tais:
fluência de prazos independentemente de intimações cartorárias e autorização para o julgamento antecipado
do pedido.
O comparecimento do réu nos autos afasta o efeito processual daí por diante, não interferindo nos atos
já praticados, o que significa dizer que recebe o processo no estado em que se encontra. Nesse sentido,
reproduzimos o art. 346 do CPC:
“Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do
ato decisório no órgão oficial. Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase,
recebendo-o no estado em que se encontrar.”
22
Misael Montenegro – procedimento Comum
O último efeito produzido pela revelia não está inserido no capítulo que versa sobre a matéria
(Capítulo VIII – Da revelia), mas no inciso II do art.355. Independentemente da sua posição na lei
processual, é consequência decorrente da revelia, dizendo respeito à possibilidade de o magistrado julgar
antecipadamente o mérito, eliminando os percalços da fase de instrução probatória.
Na situação que envolve a revelia, considerando que o magistrado está autorizado pela lei a presumir
verdadeiros os fatos afirmados pelo autor, a produção de provas em princípio é desnecessária, já que essa
produção tem a finalidade de comprovar a veracidade do fato constitutivo do direito do autor, estágio já
alcançado pelo fato de o réu não ter apresentado a sua contestação.
Esse efeito processual decorre do efeito material advindo da não apresentação da contestação, ou
seja: o julgamento antecipado do mérito é consequência da presunção de veracidade dos fatos afirmados
pelo autor.
O entendimento da afirmação é importante para que se compreenda que a técnica do julgamento antecipado
do mérito não pode ser adotada quando as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou
quando estiverem em contradição com prova constante dos autos, devendo o magistrado, nesse caso,
encaminhar o processo à fase de instrução probatória.
Também é importante destacar que a revelia não produz o seu efeito principal (presunção de
veracidade dos fatos afirmados pelo autor) se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação, o
litígio versar sobre direitos indisponíveis, a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considere indispensável à prova do fato ou se as alegações de fato formuladas pelo autor forem
inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos.
Intimações
A intimação é a modalidade de comunicação processual mais frequentemente utilizada no processo,
tendo por objetivo dar às partes, a terceiros e aos auxiliares do juízo conhecimento de pronunciamentos e de
outros atos e termos processuais, sobretudo dos praticados pelo juiz.
Com a intimação, a parte é convocada para fazer ou deixar de fazer alguma coisa nos autos. Pela
regra do CPC, aperfeiçoa-se preferencialmente por meio eletrônico; pela publicação dos atos no órgão
oficial, pessoalmente ou por carta registrada, com aviso de recebimento, nos últimos dois casos, se inviável
por meio eletrônico e não houver na localidade publicação em órgão oficial, devendo conter os nomes das
partes, sem abreviaturas, os nomes dos advogados, igual ao contido na procuração ou o que estiver
registrado na OAB, o número de inscrição do profissional no mesmo órgão de classe, com a ressalva de que
os advogados podem requerer que, na intimação a eles dirigida, figure apenas o nome da sociedade a que
pertençam, desde que devidamente registrada na OAB.
23
Misael Montenegro – procedimento Comum
O aperfeiçoamento da intimação por meio eletrônico ou pela publicação do ato no órgão oficial
objetiva dinamizar o processo, evitando a proliferação de intimações pessoais através do oficial de justiça, o
que muito retarda a entrega da prestação jurisdicional. Entretanto, em algumas situações, a lei
exige a intimação pessoal das partes, sob pena de nulidade.
O primeiro exemplo diz respeito às intimações dirigidas ao Ministério Público, que devem ser
efetivadas pessoalmente, a teor do art.180, caput, com a ressalva de que essa instituição é obrigada a manter
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de intimações (como
também de citações), que serão preferencialmente efetuadas por esse meio.
O segundo diz respeito à necessidade de a parte ser pessoalmente intimada – não sendo suficiente a
intimação do seu advogado – para promover o andamento do processo, quando o magistrado constatar que
ficou parado durante mais de um ano ou que, por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o
autor abandonou a causa por mais de 30 dias, dessa intimação fluindo o prazo de cinco dias para que supra a
falta, sob pena de extinção (§1º do art. 485 do CPC).
O último dos exemplos retrata a necessidade de a parte ser pessoalmente intimada para que
compareça à audiência de instrução e julgamento, onde prestará depoimento pessoal, pois a pena de
confissão (presunção de veracidade dos fatos afirmados pela outra parte) só pode ser aplicada se a intimação
da parte foi pessoal, assunto estudado no capítulo Das provas .
Voltando ao tema principal, observamos que a grande maioria dos advogados utiliza serviços
específicos de acompanhamento das publicações pela imprensa oficial, evitando a leitura diária desses
periódicos.
A leitura é feita através de interposta pessoa, que recebe remuneração para prestar esse serviço,
comprometendo-se a remeter ao advogado as publicações que contenham o seu nome.
Diante da falha do serviço, que deixa de remeter ao advogado o recorte da publicação de determinado
processo, reputa-se válida a intimação, sem que a parte possa solicitar a devolução do prazo em decorrência
da falha do serviço, embora possa propor ação de indenização por perdas e danos contra a empresa
responsável pela prestação do serviço defeituoso, desde que demonstre a ocorrência de prejuízo.
Sem desprezar outras modalidades de intimação, como a aperfeiçoada em decorrência do
comparecimento espontâneo da parte ou do seu advogado em cartório, sendo intimada através do escrivão ou
chefe de secretaria, na contagem dos prazos, a lei estabelece a exclusão do dia do começo e a inclusão do dia
do vencimento (art.224, caput ).
Finalmente, nesta seção, reproduzimos o §º1º do art. 269 da lei processual, que representa importante
novidade:
“Art. 269. Omissis . § 1o É facultado aos advogados promover a intimação do advogado da outra parte
por meio do correio, juntando aos autos, a seguir, cópia do ofício de intimação e do aviso de
recebimento. Omissis. ”
RESUMO
24
Misael Montenegro – procedimento Comum
O ato processual consiste na manifestação das partes, do magistrado e de todos os auxiliares da justiça no
sentido de criar, de modificar ou de extinguir um direito dentro do processo, classificando-se segundo o seu
sujeito.
No que se refere à forma, o CPC é orientado pelo princípio da instrumentalidade, validando o ato mesmo
quando tenha sido praticado sob forma diversa, desde que a sua finalidade tenha sido alcançada, e que a
parte não tenha sofrido prejuízo.
Os atos do juiz consistem em sentenças, decisões interlocutórias, despachos e atos materiais, que não são
pronunciamentos em seu sentido estrito.
O principal ato do autor é a petição inicial, enquanto a contestação é o principal ato do réu.
Como regra, o ato processual deve ser praticado na sede do juízo.
O ato deve ser praticado em dias úteis, das 6:00 às 20:00 horas, admitindo-se a prática de determinados atos
fora desses horários.
O prazo processual define até quando o ato deve ser praticado, sendo próprio para as partes e para o
Ministério Público (quando atua como parte) e impróprio para o magistrado, o Ministério Público (quando
atua como fiscal da ordem jurídica) e os auxiliares da justiça.
A comunicação dos atos processuais refere-se à sua publicidade, podendo ocorrer através da expedição de
carta rogatória (para juiz que atue em outro país), de ordem (de Tribunal para juiz que se encontre a ele
subordinado) ou precatória.
A citação é a modalidade de comunicação pela qual o réu é informado da existência do processo, sendo
convocado para integrar a relação processual.
O não atendimento à citação pode produzir efeitos decorrentes da revelia, consistindo na presunção de
veracidade dos fatos afirmados pelo autor, na fluência de prazos independentemente de intimações
cartorárias e na autorização para o julgamento antecipado do mérito.
A intimação é a comunicação processual que tem por objetivo dar as partes, a terceiros e aos auxiliares do
juízo conhecimento de pronunciamentos e de outros atos praticados pelo juiz durante o processo.