Você está na página 1de 7

DIREITO PROCESSO CIVIL

1ª aula – 14/02/2021

Conteúdos programáticos:
1. Fases do processo comum
§1. Rito processual da forma única de processo comum
§2. As especificidades das ações de pequeno montante
§3. A adequação formal e a tramitação do processo
2. Articulados
§1. Generalidades
§2. Petição inicial
§3. Contestação
§4. Réplica
§5. Articulados supervenientes
3. Gestão processual prévia ao julgamento
§1. Pré-saneamento
§2. Audiência prévia
§3. Despacho saneador
§4. Condensação do objeto do litígio e dos temas de prova
4. Instrução
§1. A prova e a sua produção
§2. Prova documental
§3. Prova testemunhal
§4. Prova por confissão e por declaração das partes
§5. Prova pericial
§6. Inspeção judicial e verificações não judiciais
5. Discussão e julgamento
§1. Audiência final
§2. Sentença e sua força jurídica
§3. Vícios da sentença
6. Impugnação das decisões judiciais
§1. Retificação, esclarecimento e reforma
§2. Recursos jurisdicionais – considerações gerais
§3. Recurso de apelação.
§4. Recurso de revista.
§5. Recursos extraordinários

 Apresentação
 Programa
 Metodologia de Avaliação
 Bibliografia

CONCEITOS E NOÇÕES GERAIS


Direito – sistema de normas de conduta
Direito processual – conjunto de normas reguladoras do processo civil
Processo – sequência de atos jurídicos
Elementos fundamentais do processo civil:
I. Estrutura
II. Função
III. Objeto
IV. Sujeitos

I – ESTRUTURA – Fases do Processo Comum


Articulados (as partes alegam a matéria de facto e de direito relevante para a decisão)
Condensação (verificar a garantia da regularidade do processo; identificar o objeto do
litígio)
Instrução (prova dos factos alegados pelas partes)
Discussão (partes exprimem os seus pontos de vista)
Julgamento (prolação da sentença; reclamações)

II – FUNÇÃO – Declarativa e Executiva


Declarativa: ou alguém pede ao tribunal que “declare” a existência ou inexistência de
um direito ou de um facto, que “declare” que uma determinada pessoa violou um
determinado direito e a condene a repará-lo ou que “autorize” uma mudança na ordem
jurídica (art. 10.º/1a3)

Espécies de ações declarativas consoante o seu fim (art. 10.º CPC)


 Simples apreciação – tribunal declare a existência ou não de um direito
 Condenação – tribunal condene o réu na prestação de coisa ou de facto
 Constitutiva – pedido de alteração da situação jurídica (ex: divórcio)

Executiva: – realização coativa de uma prestação devida (ex: obrigação incumprida;


violação de um dever genérico de conduta)
Se alguém já possui um título reconhecido por lei que lhe dá o direito de exigir de
determinada pessoa o pagamento de uma certa quantia, a prestação de um certo facto ou
a entrega de uma certa coisa, mas não consegue obter o cumprimento desse título por
meios voluntários, vem pedir ao tribunal que “execute” o devedor, obrigando-o a
cumprir (art. 10.º/1 e 4 a 6 CPC).
Espécies de ações executivas:
 Pagamento de quantia certa
 Entrega de coisa certa
 Prestação de facto
Procedimentos cautelares

III – OBJETO – causa de pedir e pedido


O processo inicia-se com a apresentação da Petição Inicial (PI), através da qual o autor
solicita ao Tribunal uma providência da tutela do seu direito ou interesse legalmente
protegido, dirigido contra o réu, titular de um interesse em conflito com o seu.

Requisitos da PI: (art. 144.º CPC)

O autor pretende obter um determinado efeito jurídico contra o réu.

A resposta do tribunal é, na ação declarativa, precedida de discussão entre as partes, as


quais têm a faculdade de se pronunciar sobre todas as questões de mérito ou
processuais, com relevo para a decisão a proferir.

Pedido – determina o conteúdo da decisão.


Causa de pedir – factos que servem de fundamento à ação.

IV – SUJEITOS
Os atos do processo são praticados pelas partes e pelo tribunal, através do respetivo
titular
- Tribunal (juiz); Autor; réu
- Intervenientes acidentais: testemunhas e peritos
(têm o dever de cooperar para a descoberta da verdade).

Artigo 6.º (art.º 266.º CPC 1961)


Dever de gestão processual
1 - Cumpre ao juiz, sem prejuízo do ónus de impulso especialmente imposto pela lei às partes, dirigir ativamente o
processo e providenciar pelo seu andamento célere, promovendo oficiosamente as diligências necessárias ao normal
prosseguimento da ação, recusando o que for impertinente ou meramente dilatório e, ouvidas as partes, adotando
mecanismos de simplificação e agilização processual que garantam a justa composição do litígio em prazo razoável.
2 - O juiz providencia oficiosamente pelo suprimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis de sanação,
determinando a realização dos atos necessários à regularização da instância ou, quando a sanação dependa de ato
que deva ser praticado pelas partes, convidando estas a praticá-lo.

PARTES: Principais e Acessórias

TUTELA JUDICIÁRIA e AUTOTUTELA

Tribunais Judiciais – são órgãos de soberania investidos na função jurisdicional (art.


203.º; 110.º e 202. Todos da CRP) _ Lei da Organização do Sistema Judicial Lei n.º
62/2013, de 2018.

Tribunais Arbitrais – Lei da Arbitragem Voluntária Lei n.º 63/2011, de 14 de dezembro.


Na arbitragem voluntária, as partes, através de um acordo de vontades que se
denomina convenção de arbitragem, submetem a decisão do litígio que as opõe a
árbitros que, embora sendo pessoas independentes, imparciais e especialmente
qualificadas, não são magistrados.
A convenção de arbitragem pode ser de dois tipos:
 Denomina-se compromisso arbitral quando a convenção de arbitragem tem por
objeto um litígio atual, ainda que se encontre afeto a tribunal judicial;
 Denomina-se cláusula compromissória sempre que abarque os litígios
eventuais (futuros) emergentes de uma determinada relação jurídica contratual
ou extracontratual.
Apenas podem ser submetidos a arbitragem voluntária os litígios que não estejam
exclusivamente atribuídos a tribunal judicial ou a arbitragem necessária e sejam
sobre um direito de natureza patrimonial.

BIBLIOGRAFIA
LEBRE DE FREITAS, José. Introdução ao Processo Civil, conceito e princípios gerais
à luz do novo código de 2013, 4ª edição, 2017.
Lei n.º 41/2013, de 26 de junho, CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL na versão atualizada
pela Lei n.º 55/2021, de 13 de agosto.

2ª aula 15.02.2022

PRINCÍPIOS GERAIS

Entre os princípios gerais de processo civil há uns que têm dignidade constitucional – o
direito de acesso aos tribunais (art. 20.º/1; 208.º/1 CRP); Declaração Universal dos
Direitos Humanos e Convenção Europeia dos Direitos do Homem (art. 6.º/1),
O Direito de acesso engloba:
a) Direito de ação e o direito de defesa, a exercer perante tribunais independentes e
imparciais.
b) O princípio da equidade
c) Outros princípios que constituem garantias constitucionais ao Direito à
Jurisdição, a saber:
a. Princípio do contraditório e da igualdade de armas
b. Princípio do prazo razoável e da tutela jurisdicional efetiva (art. 20.º
CRP)
c. Princípio da publicidade (art. 206.º CRP)
d. Princípio da legalidade (art. 203.º CRP)
e. Princípio da fundamentação de forma (art. 205.º/1 CRP).

PRINCÍPIOS CPC

Princípios relacionados com a Promoção Processual:


1. Direito de Acesso à Justiça (arts. 20.º/1; 208.º/1 CRP); DUDH; CEDH art 6.º/1; art
4.º/2 CPC)
2. Princípio do dispositivo

O Direito de Acesso/Direito de Ação


Em sentido restrito, pode afirmar-se que o direito de ação (direito de acesso), é a faculdade
conferida por lei a toda a pessoa de poder obter em juízo o reconhecimento de um direito que
lhe assista ou a prevenir ou reparar a violação de um direito e a realizá-lo coercivamente.
Em sentido amplo, o direito de acesso vertido no artigo 20.º/1 CRP, garante que a todos é
assegurado o direito a que a sua causa seja submetida a juízo, para a declaração e o
exercício de direitos, através dos meios processuais adequados, que podem limitar-se a um
único grau de jurisdição.
Na verdade, o direito de ação (direito de acesso) no caso de insuficiência económica envolve
também o direito do apoio judiciário e à consulta jurídica, de que pode beneficiar tanto o autor
como o réu.
O direito de ação, inclui no seu âmbito normativo, o direito subjetivo de levar determinada
pretensão ao conhecimento de um órgão jurisdicional, solicitando a abertura de um processo,
com o consequente dever (direito ao processo) do mesmo órgão, de sobre ele se pronunciar
mediante decisão fundamentada (art. 208.º/1 CRP).
O direito de acesso aos tribunais compreende desde logo um direito a prazos razoáveis de
ação ou de recurso, proibindo prazos de caducidade exíguos do direito de ação ou de recursos
(AC Tribunal Constitucional n.º 148/87).
Cabe também no âmbito normativo do direito a uma tutela judicial efetiva o direito a um
processo justo baseado nos princípios da prioridade. O acesso aos tribunais abrange ainda o
direito a um processo de execução, ou seja, o direito a que, através do órgão jurisdicional se
desenvolva toda a atividade dirigida à execução da sentença proferida pelo tribunal (art.
208.º/3).

A DHDH Artigo 10 «Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública
audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres
ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. A CEDH (art 6.º/1) defende
igualmente que «Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinada, equitativa e
publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente e imparcial.
No mesmo sentido, dispõe o artigo 14.º/1 Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos
(PIDCP). «Todas as pessoas são iguais perante os tribunais. Toda a pessoa terá direito a
ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente,
segundo a lei, independente e imparcial, na determinação dos fundamentos de qualquer
acusação de carácter penal contra ela formulada ou para a determinação dos seus
direitos ou obrigações de carácter civil. (…)»

Princípios relacionados com a Prossecução Processual:

Princípio do dispositivo, traduz o impulso das partes para a promoção processual (art.
3.º /1 «1 - O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada para
deduzir oposição.»

A lei oferece a cada parte a possibilidade de contestar (princípio do contraditório) e controlar


a atividade de outra ao longo de todo o processo. O desrespeito do princípio do
contraditório, quando ele deva ser observado, designadamente através da convocação de
audiência prévia, constitui uma nulidade processual prevista no artigo 195.º do CPC,
pois trata-se de omissão de uma formalidade que a lei prescreve destinada a evitar
decisões-surpresa.
O princípio do inquisitório projeta-se essencialmente na fase de instrução da causa, incluindo
os atos (instrutórios) que têm lugar na audiência final de discussão e julgamento.

O princípio da igualdade de armas decorre naturalmente da ideia de contraditório e exprime a


noção de que ao longo de todo o processo, as partes devem ser tratadas, à luz de um estatuto de
igualdade substancial.

Por sua vez, o processo civil enquanto sequência de atos encadeados num certo procedimento
impõe, que, as fases, os ciclos processuais e os prazos para a prática de atos processuais estejam
previamente previstas na lei, o que significa que uma vez ultrapassada uma determinada fase ou
ciclo processual se extingue o direito de praticar esse ato – o princípio de preclusão.

O princípio da colaboração e os deveres da boa-fé, é um princípio basilar para o processo na


medida em que determina que todos os intervenientes no processo devem agir em conformidade
com um dever de recíproca correção.

“O princípio da colaboração deve ser conjugado com o princípio da auto-responsabilidade


das partes, que não comporta o suprimento, por iniciativa do juiz, da omissão de factos
estruturantes da causa” AC STJ 21.09.2006, Proc: 2722/06.

O princípio legalidade das formas processuais, os atos processuais revestem a «forma que.
nos termos mais simples, melhor correspondam ao fim que visam atingir» (art. 131.º CPC).

1. Dispositivo
2. Contraditório
3. Inquisitório
4. Igualdade de armas (partes)
5. Preclusão
6. Cooperação
7. Legalidade das formas processuais

Princípios relacionados com a Produção de Prova:

O princípio da Livre apreciação da prova, o juiz encontra-se vinculado a regras legais


que estabelecem de modo estrito o valor probatório de cada um dos meios de prova; no
sistema de prova livre, o tribunal goza de inteira liberdade na apreciação das provas.

O princípio da aquisição processual, por força deste princípio, o tribunal deve atender,
na sua ponderação, a todos os factos relevantes, bem como a todo o material probatório
(isto é. Todas as provas), tenham ou não resultado da iniciativa ou atividade da parte
que deveria produzi-las em obediência às regras de distribuição do ónus da prova.

I - O princípio da imediação traduz-se no contacto pessoal entre o juiz e as diversas


fontes de prova, isto é, o princípio da imediação diz-nos que deve existir uma relação de
contacto directo, pessoal, entre o julgador e as pessoas cujas declarações irá valorar,
com as coisas e documentos que servirão para fundamentar a decisão da matéria de
facto, permitindo-lhe que se aperceba de todos os factos pertinentes para a resolução do
litígio e uma valoração da prova expurgada, pelo menos tendencialmente, dos factores
de falseamento e erro que as transmissões de conhecimento podem envolver. (ac. TCAS,
14-02-2019)
II - O princípio da oralidade, que constitui matriz do nosso regime processual civil,
reporta-se ao modo de produção da prova e significa que a prova produzida sob a égide
deste princípio é a realizada oralmente. (ac. TCAS, 14-02-2019)

1. Da livre apreciação das provas (princípio da liberdade de julgamento)


2. Aquisição processual
3. Imediação
4. Concentração, da oralidade, da identidade do juiz, e da continuidade e da publicidade da
audiência e do processo

ACT Supremo Tribunal de Justiça - Processo: 845/13.1TBABF.E1.S1


Relator: MARIA DOS PRAZERES PIZARRO BELEZA
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
Data do Acórdão: 17/12/2015
Decisão: NEGADA A REVISTA

SUMÁRIO
7. A omissão de informação viola ostensivamente o princípio da cooperação com o
tribunal, que vem a julgar a causa, apesar de o réu ter sido citado e de ter conhecimento
oportuno da acção.
https://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:STJ:2015:845.13.1TBABF.E1.S1.58

BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Francisco de, Direito Processual Civil. Vol I, Almedina, 3ª Edição -
Reimpressão 2021
LEBRE DE FREITAS, José. Introdução ao Processo Civil, conceito e princípios gerais
à luz do novo código de 2013, 4ª edição, 2017.
Lei n.º 41/2013, de 26 de junho, CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL na versão atualizada
pela Lei n.º 55/2021, de 13 de agosto.

Você também pode gostar