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Noção de Processo Civil

 O Direito Processual Civil constitui a aplicação prática do Direito Civil no quotidiano


forense.

 Mostra-se necessário fornecer aos cidadãos os meios adequados ao exercício dos seus
direitos se, para tal, necessitar de recorrer aos tribunais.

 O Direito Processual Civil é, assim, o conjunto de regras e de comandos normativos que


acompanham a vida de uma ação em tribunal, desde que ela é instaurada até ser
proferida a decisão que lhe ponha termo.

Artigo 1.º do Código de Processo Civil (CPC):

- A ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito
(…).

O Estado detém o monopólio do exercício da função jurisdicional:

➢Art. 202.º, n.º 1, da CRP: exercício da função jurisdicional através dos tribunais;

➢A função jurisdicional consiste na função de resolver determinativo conflito e de


conceder uma providência adequada à reintegração do direito violado.

- O tribunal exerce a função jurisdicional a requerimento do titular do direito, e não


oficiosamente. O titular do direito goza do chamado direito de ação.

Direito de ação : Direito de reclamar em tribunal uma providência judiciária reparadora do


seu direito subjetivo violado.

• Art. 2.º, n.º 2, do CPC

• Art. 3.º, n.º 1, do CPC

Aquele que instaura a ação é designado por autor, este propõe a ação através da
apresentação da petição inicial. Designa-se réu aquele contra quem a ação é intentada
este pode defender-se através da apresentação da contestação.

A propositura de uma ação em tribunal (ação judicial) implica que sejam cumpridas
determinadas regras, requisitos e pressupostos técnicos (que estudaremos nesta unidade
curricular).

Caraterísticas do Processo Civil

➢Direito Público

O Direito Processual Civil é um ramo de Direito Público.


• Regula uma função pública – função jurisdicional – na qual o Estado aparece investido de
soberania.

• Impõe uma subordinação às partes e daí se extrai o carácter vinculativo das decisões
judiciais.

➢ Instrumental

• O Direito Processual Civil é instrumental: está ao serviço do Direito Civil, e funciona como
um instrumento de aplicação concreta deste à realidade.

• O Direito Civil é um direito substantivo ou material, e designa, de forma abstrata e


genérica, o conjunto dos direitos e dos deveres reguladores das relações entre os
indivíduos.

• Por exemplo, no direito das obrigações, existe o dever de indemnizar pelos danos
causados a quem, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem (artigo
483.ºdo CC).

• O Direito Processual Civil vai determinar a atuação do lesado quando ele recorre à via
judicial para ser ressarcido. Os direitos e os deveres estão genericamente desenhados no
Código Civil.

•Mas se os deveres forem efetivamente violados, e houver necessidade de recorrer aos


tribunais para fazer valer os respetivos direitos, é o Direito Processual Civil que vai fornecer
ao titular dos direitos o método e a técnica de os executar judicialmente.

• Existem inclusivamente situações em que a decisão é favorável a uma das partes não
propriamente por lhe assistir razão em face do direito material (Direito Civil), mas sim
porque a parte contrária cometeu este ou aquele erro processual (Direito Processual Civil).

➢Direito subsidiário

O Direito Processual Civil aplica-se, subsidiariamente, a todos os outros ramos de Direito


Processual, designadamente:

✓Direito Processual Penal (art. 4.º do CPP);

✓Direito Processual Laboral (art. 1.º, n.º 2, al. a), do CPT);

✓Direito Processual Administrativo (art. 1.º, in fine, do CPTA);

✓Direito Processual Tributário (art. 2.º, al. e), do CPPT).

❖ Estes “Direitos Processuais” estão ao serviço de pretensões fundadas noutros ramos de


direito material, que não o direito civil propriamente dito.
Fontes de Direito Processual Civil

1. Constituição da República Portuguesa (CRP)

❖ Arts. 20.º e 202.º e ss., da CRP - Direito de acesso aos tribunais e direito à jurisdição

Salvaguarda dos interesses dos cidadãos, com garantia do direito de ação, direito de
defesa, e direito a lançar mão de um processo.

Através do órgão jurisdicional (tribunal), as partes têm direito a um processo


equitativo, em prazo razoável, público e com decisão devidamente fundamentada, em
respeito pela lei.

Acesso ao Direito e à Justiça

• A todo o cidadão deve ser garantido o acesso à justiça e ao direito (art. 20.º da CRP).

• A Lei n.º 34/2004,de 29 de julho, também designada Lei de Acesso ao Direito e aos
Tribunais, visa “assegurar que a ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua
condição social ou cultural, ou por insuficiência de meios económicos, o conhecimento,
o exercício ou a defesa dos seus direitos”(art. 1.º, n.º 1).

❖Neste sentido também dispõe o art. 10.º da Declaração Universal dos Direitos do
Homem e o art. 47.º da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais.

• Este princípio constitucional é sustentado pelo art. 2.º do CPC, que determina a
garantia de acesso aos tribunais:

• A proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em prazo


razoável, uma decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, a pretensão
regularmente deduzida em juízo, bem como a possibilidade de a fazer executar.

• A proteção jurídica envolve, não só, a possibilidade de o cidadão poder intentar a


ação adequada a reconhecer o seu direito, como, depois de o ver reconhecido, engloba
os meios adequados à satisfação efetiva dos direitos, onde se enquadra a ação
executiva.

2. Convenções Internacionais

Da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado – organização


intergovernamental que tem por finalidade trabalhar para a unificação progressiva das
regras de Direito Internacional Privado – resultaram várias convenções internacionais:

• Convenção Relativa ao Processo Civil – Convenção Geral sobre o Processo Civil –


aprovada pelo DL n.º 47097, de 14/07/1966;
• Convenção Relativa à Citação e à Notificação no Estrangeiro de Atos Judiciais e
Extrajudiciais em Matéria Civil e Comercial, aprovada pelo DL n.º 210/71, de 18/05,
que visou facilitar a transmissão e a execução das cartas rogatória se promover a
harmonização dos diversos métodos por eles utilizados para tais fins;

• Convenção sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil e Comercial,


integrada na ordem jurídica interna pelo DL n.º 764/74, de 30/12;

• Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Estrangeiras em


Matéria Civil e Comercial e respetivo Protocolo Adicional, assimiladas por Decreto do
Governo n.º 13/83, de 24/02.

• Convenção sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil e Comercial,


integrada na ordem interna pelo Decreto n.º 764/74, de 30/12.

• Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Estrangeiras em


Matéria Civil e Comercial e respetivo Protocolo Adicional e assimiladas por Decreto do
Governo n.º 13/83, de 24/02.

• Convenção Relativa ao Reconhecimento e Execução de Decisões em Matéria de


Prestação de Alimentos a Menores, aprovada pela ratificação pelo DL n.º 246/71, de 3
de junho.

• Convenção relativa à Competência, à Lei aplicável, ao Reconhecimento, à Execução e


à Cooperação em matéria de Responsabilidade parental e de medidas de Proteção das
Crianças, aprovada pelo DL n.º 52/2008, de 13/11.

• Convenção sobre a Cobrança Internacional de Alimentos em benefício dos filhos e de


outros Membros da Família, via aprovação da União Europeia a 9-IV-2014.

• Convenção de Lugano relativa à Competência Judiciária, ao Reconhecimento e à


Execução de Decisões em Matéria Civil e Comercial, de 30/10/2007.

3. Direito Comunitário

• Dada a realidade da União Europeia e do ideal de uniformização legislativa no espaço


europeu, existe uma estreita colaboração entre os Estados Membros de modo a que
sejam ultrapassados os obstáculos criados pelos diferentes sistemas judiciários. ~

• Foram já criados os seguintes regulamentos:

➢ Regulamento (CE) n.º 1393/2007, do Parlamento Europeu e do Conselho, de


13/11/2007, relativo à citação e à notificação dos atos judiciais e extrajudiciais em
matérias civil e comercial nos Estados-Membros;

• Regulamento (CE) n.º 1346/2000, do Conselho, de 29/05/2000, relativo aos


processos de insolvência;
• Regulamento (CE) n.º 44/2001, do Conselho, de 22/12/2000, relativo à competência
judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial;

• Regulamento (CE) n.º 1206/2001, do Conselho, de 28/05/2001, relativo à cooperação


entre os tribunais dos Estados-Membros no domínio da obtenção de provas em
matéria civil ou comercial;

• Regulamento (CE) n.º 2201/2003, do Conselho, de 27/11/2003, relativo à


competência, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria matrimonial e
em matéria de responsabilidade parental;

• Regulamento (CE) n.º 805/2004, do Parlamento e do Conselho, de 21/04/2004: cria o


título executivo europeu para créditos não contestados;

• Regulamento (CE) n.º 1896/2006, do Parlamento Europeu e do Conselho,


12/12/2006, cria um procedimento europeu de injunção de pagamento;

• Regulamento (CE) n.º 861/2007, do Parlamento Europeu e do Conselho, de


11/07/2007, que estabelece um processo europeu para ações de pequeno montante;

• Regulamento (CE) n.º 4/2009, do Conselho, de 18/12/2008, relativo à competência, à


lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das decisões e à cooperação em matéria
de obrigações alimentares;

• Regulamento (UE) n.º 650/2012, do Parlamento Europeu e do Conselho, de


04/07/2012, relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e execução das
decisões, e à aceitação e execução dos atos autênticos em matéria de sucessões e à
criação de um Certificado Sucessório Europeu.

4. Lei

❖ CPC de 1876 – primeiro Código português a reunir e sistematizar o direito adjetivo: •


Processo rígido e formal

• Uma única forma de processo, independentemente do valor

• Exagero de formalidades e solenidade dos atos

• Prova reduzida a escrito

• Supremacia da forma sobre o conteúdo

• Processo lento e complexo

• Papel passivo do Juiz, que se limita a decidir (Juiz de Pedra)


• Monopólio das partes durante todo o processo

❖ CPC de 1939 – projeto de responsabilidade de Alberto dos Reis. Destacou o


abandono da ideia da primazia da forma sobre o fundo, em busca da verdade material.

• Simplificação do processo

• Prevalência da verdade material sobre a verdade formal

• Princípio do Juiz forte, ativo e informado

• Princípio da oralidade e da concentração

• Criação de uma fase processual condensadora do processo, onde se faz o


saneamento, ou seja, onde se reduz o processo ao que realmente importa e se afasta o
que não releva para a causa

✓Seguiram-se as reformas de 1967 e de 1985 – sendo esta a primeira reforma do


processo civil no pós-25 de Abril.

❖ CPC resultante da reforma de 1995/1996

• Reforma que gerou controvérsia pois dada a sua profundidade ficou-se sem saber se
tinha nascido um novo CPC.

• Trouxe várias alterações, das quais se destacam:

• Reforço da dimensão do contraditório

• Reforço dos poderes do juiz ou do inquisitório

• Para compensar o inquisitório, o legislador optou pelo chamado paradigma de


comunidade processual, isto é, um processo que assenta na lógica da informação e da
cooperação.

• Reforma da Ação Executiva, aprovada pelo DL n.º 38/2003, de 8/3 (posteriormente


alterado pelo DL n.º 199/2003, de 10/9 e, ainda, pelo DL n.º 324/2003 de 27/12), além
de diversas e posteriores alterações legislativas.

❖ Novo – Atual – Código de Processo Civil

➢Aprovado pela Lei n.º 41/2013, de 26 de junho

➢Revogou o DL n.º 44.129, de 28/12/1961 (CPC de 1961)

➢Entrou em vigor no dia 1/9/2013 22 21/09/2023


Princípios Gerais do Direito Processual Civil

• Apesar de estarem na sua maioria consignados na parte inicial do Código de Processo


Civil, os princípios fundamentais vigentes no Processo Civil vão-se manifestando e
concretizando nas várias fases do processo.

1. Princípio do dispositivo

2. Princípio do inquisitório

3. Princípio da gestão processual

4. Princípio da cooperação

5. Princípio do contraditório

6. Princípio da igualdade das partes

7. Princípio da aquisição processual

8. Princípios da imediação, oralidade e concentração e da livre apreciação da prova 9.


Princípio da economia processual

1. PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO

• O processo civil tem na sua base um conflito de interesses privados, regulados por
normas de direito privado e, por isso, estamos no âmbito de direitos disponíveis das
partes, logo o princípio do dispositivo é um dos princípios basilares.

• Manifesta-se, designadamente:

a)No impulso processual

• Somente através do impulso das partes existe a ação, pois esta não é
desencadeada oficiosamente pelo tribunal.

• A instância inicia-se pela proposição da ação e esta considera-se proposta,


intentada ou pendente logo que seja recebida na secretaria a respetiva petição
inicial (art. 259.º, n.º 1).

b) Na delimitação do objeto do litígio

• São as partes quem define o objeto da ação.

• No respetivo articulado, petição inicial, no caso do autor, e contestação, no caso do réu, cabe
às partes alegar os principais factos da causa.

• Art. 5.º, n.º 1: Às partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir
(autor) e aqueles em que se baseiam as exceções invocadas (réu).
• Porém, o Juiz pode fundar a decisão em factos que não os alegados pelas partes.

• Além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados (art. 5.º n.º 2):

a) Os factos instrumentais que resultem da instrução da causa;

b) Os factos que sejam complemento ou concretização dos que as partes hajam alegado e
resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se
pronunciar;

c) Os factos notórios e aqueles que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das
suas funções.

c) Nos limites da sentença

• O Tribunal não pode condenar em objeto diferente ou em quantia superior à peticionada


pelo autor, sob pena de nulidade da sentença (art. 615.º, n.º 1, al. e)).

• As partes têm, ainda, disponibilidade sobre a instância, já que são quem lhe dá início; podem
suspendê-la ou até pôr-lhe termo.

Suspensão da instância

• A instância suspende-se nos casos seguintes: Quando o tribunal ordenar a suspensão ou


houver acordo das partes (art. 269.º, n.º 1, al. c)).

• As partes podem acordar na suspensão da instância por períodos que, na sua totalidade, não
excedam três meses, desde que dela não resulte o adiamento da audiência final (art. 272.º, n.º
4).

Desistência da instância

• O processo instaurado cessa, sem que, no entanto, se extinga o direito do desistente (art.
285.º, n.º 2)

• Como tal, os seus efeitos dependem, depois do oferecimento da contestação, da aceitação


do réu (art. 286.º, n.º 1).

• A lei permite ainda que as partes possam dispor das situações jurídicas objeto do processo,
unilateralmente – confissão ou desistência do pedido– ou bilateralmente – transação.

Confissão ou desistência do pedido

• O réu pode, em qualquer altura, desistir de todo o pedido ou parte dele, ou confessar o
pedido, todo ou em parte (art. 285.º, n.º 1, 286.º, n.º 2, 283.º, n.º 1 e 284.º).

Transação

• As partes podem, em qualquer estado do processo, transigir (acordar) sobre o objeto da


causa (arts. 283.º, n.º 2 e 284.º CPC, e 1248.º a 1250.º do CC).
• A transação pode ocorrer no processo (art. 290.º, n.ºs 2 e 4), ou por documento autêntico ou
particular junto pelas partes ao processo (art. 290.º, n.º 1).

• Segue-se uma sentença do juiz, de homologação, que se limita a verificar a capacidade e


legitimidade das partes para tratar do objeto do negócio e se este era disponível.

❖ A confissão e a transação modificam o pedido ou fazem cessar a causa.

❖ A desistência do pedido determina a extinção do direito que se pretendia fazer valer.

2. PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO

• Previsto no art. 411.º – título referente à instrução (prova dos factos):

• Incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo oficiosamente, todas as diligências necessárias


ao apuramento da verdade e à justa composição do litígio, quanto aos factos de que lhe é lícito
conhecer.

• A prova dos factos não está exclusivamente reservada às partes, pois o juiz tem o poder de
realizar ou ordenar as diligências de prova que entenda necessárias para a descoberta da
verdade.

• Manifestações deste princípio:

✓Art. 436.º CPC - requisição de documentos;

✓Arts. 467.º, n.º 1, 468.º, n.º 1, al. a), e 487.º, n.º 2 - o tribunal pode ordenar a realização de
perícia, a realização de perícia colegial e a realização de segunda perícia;

✓Art. 490.º, n.º 1 - o tribunal pode inspecionar coisas ou pessoas, no intuito de esclarecer
factos de interesse para a decisão da causa;

✓Art. 607.º,n.º 1, 2.ª parte - o juiz pode ouvir as pessoas que entender, mesmo após o
encerramento da audiência final;

✓Art. 452.º, n.º 1: - o juiz pode determinar o depoimento de parte;

✓Art. 526.º: - o juiz pode ordenar o depoimento de pessoas não indicadas pelas testemunhas
quando hajam razões para crer que têm conhecimento de factos importantes para a boa
decisão da causa;

✓ Art. 498.º, n.º 1: - o juiz pode inquirir oficiosamente testemunha de que a parte tenha
desistido

3. PRINCÍPIO DA GESTÃO PROCESSUAL Art. 6.º

• Compete ao Juiz dirigir o processo da forma mais adequada às especificidades do mesmo,


quer na fase inicial do processo, quer ao longo do seu curso.
• Pode haver despacho liminar (art. 590.º, n.º 1).

• Constitui, ainda, poder-dever do juiz, convidar as partes a aperfeiçoar os articulados, no caso


de estes apresentarem insuficiências ou imprecisões (art. 590.º, n.º 2, al. b), e n.ºs 3 e 4).

• Compete, ainda, ao juiz, assegurar a regularidade da instância e assegurar o normal


andamento do processo.

• Quanto à regularidade, destaca-se:

• Art. 193.º – quando a forma do processo não esteja correta, o juiz manda-o seguir a forma
devida;

• Arts. 6.º e 547.º – quando a forma legal não se adeque às especificidades do caso concreto,
deve o Juiz adaptar a tramitação legal, determinando a prática dos atos que tenha por
convenientes;

• Art. 6.º, n.º 2 – havendo pressupostos processuais em falta, mas suscetíveis de sanação, deve
o Juiz providenciar pelo seu suprimento.

• Quanto ao normal andamento, o juiz deve providenciar pela regularidade da ação e pela
respetiva celeridade, promovendo os atos que entenda necessários, e indeferindo tudo o que
se mostre meramente dilatório (art. 6.º, n.º 1)

5. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO

• Na condução do processo, devem os magistrados, os mandatários judiciais e as próprias


partes cooperar entre si, concorrendo para se obter, com brevidade e eficácia, a justa
composição do litígio (art. 7.º, n.º 1).

• As partes devem cumprir os vários deveres a que estão adstritas:

• dever de boa-fé processual (art. 8.º), dever de cooperação para a descoberta da verdade
(arts. 7.º e 417.º), dever de recíproca correção (art. 9.º), dever de apresentação de
documentos (arts. 429.º), sob pena de haver lugar à obrigação de indemnizar e ao pagamento
de multa (arts. 542.º, n.º 2, al. c), 417.º, n.º 2 e 430.º).

• Concretização do dever de cooperação pelas partes:

• Fornecer ao tribunal a informação e os esclarecimentos solicitados (art. 7.º, n.º 2);

• Comparecer, sempre que convocadas (art. 7.º, n.º 3); • Facultar tudo o que lhes for
requisitado (art. 417.º, n.º 1);

• Participar na audiência prévia convocada nos termos e para os efeitos do art. 591.º, n.º 1.

• Este dever de cooperação estende-se aos demais intervenientes, como sejam os magistrados
e o mandatários. No caso concreto dos solicitadores, decorre também do art. 124.º, n.º 1 e n.º
2, als. a) e l) do Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução (EOSAE).
O princípio da cooperação também se revela numa vertente formal:

• Art. 7.º, n.º 4: Dever de providenciar pelo suprimento de obstáculos das partes na obtenção
de informação ou documento ou no cumprimento de um dever processual;

• Art. 151.º, n.º 1: marcação de diligências por acordo;

• Art. 151.º, n.ºs 2, 4 e 5: comunicação imediata de impedimento de mandatário ou Juiz para a


diligência;

• Art. 151.º,n.º 6: comunicação de atraso na diligência

6. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

Art. 3.º

• Princípio que está ligado à ideia de participação; ao réu deve ser dada a possibilidade de
se defender.

• De igual forma, é concedida ao réu o direito de influenciar a decisão.

Manifesta-se nas seguintes garantias:

• Formulado o pedido ou tomada uma posição por uma parte, deve ser dada oportunidade
à outra parte para se pronunciar antes de qualquer decisão (art. 3.º, n.º 3);

• Não podem ser tomadas providências contra determinada pessoa sem que esta seja
previamente ouvida (art. 3.º, n.º 2).

• Deve haver um articulado para as partes se defenderem; após o último articulado,


podem fazê-lo em sede de audiência prévia (art. 591.º) ou, não havendo lugar a ela, no
início da audiência final (art. 3.º, n.º 4);

• Se forem introduzidos factos complementares pelo Juiz no processo, as partes devem ter
oportunidade para se pronunciar (art. 5.º, n.º 2, al. b));

• Os documentos devem ser juntos com os articulados, mas se o forem nos termos do n.º 2
do art. 423.º, deve ser dada oportunidade à parte contrária para analisar e se pronunciar;

• Quanto à prova, esta não deve ser produzida nem admitida sem audiência contraditória
(art. 415.º);

• Durante a produção de prova, a parte contrária pode intervir: • na audição do depoente


(art. 461.º, n.º 1), no depoimento das testemunhas (art. 516.º, n.º 2), na contradita (art.
521.º), na acareação (art. 523.º), na perícia (art. 475.º, n.º 2 e 476.º).

• As partes pronunciam-se sobre a prova, na audiência final, em sede de alegações de


facto, antes da apreciação final e da decisão sobre a matéria de facto pelo Juiz (arts. 3.º, n.º
3, e 604.º, n.º 3, al. e) e n.º 6);
• Também quanto às questões de direito, o Juiz não deve decidi-las sem que as partes
tenham tido a possibilidade de se pronunciar (art. 3.º, n.º 3).

6. PRINCÍPIO DA IGUALDADE Art. 4.º

• Decorre do art. 13.º da CRP e impõe que, no trajeto processual, seja assegurada a
igualdade das partes.

• O tribunal deve ser equidistante de ambas as partes, sendo-lhes concedidas as mesmas


faculdades, os mesmos meios de defesa e as mesmas cominações.

• Há igualdade das partes não só entre autores e réus, mas também entre co-autores e co-
réus, no caso de pluralidade de autores ou réus (litisconsórcio ou coligação).

7. PRINCÍPIO DA AQUISIÇÃO PROCESSUAL Art. 413.º

• Todas as provas produzidas no processo devem ser tomadas em conta pelo tribunal,
independentemente da parte que devia produzi-las (segundo as regras sobre o ónus da
prova previstas nos arts. 341.º e ss. do CC:

• Regras gerais – art. 342.º do CC:

• Àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito
alegado;

• A prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado compete


àquele contra quem a invocação é feita.

• Estas regras gerais comportam exceções: arts. 343.º e 344.º do CC.

8. PRINCÍPIOS DA IMEDIAÇÃO, ORALIDADE E CONCENTRAÇÃO E DA LIVRE APRECIAÇÃO


DA PROVA

• Imediação

- O Juiz deve ter o máximo de contacto direto com as pessoas e coisas fontes de prova,
que, por sua vez, devem estar o mais diretamente relacionado possível com os factos
objeto de prova.

- Art. 500.º: os atos de produção de prova devem ter lugar perante o tribunal.

• Oralidade

- A produção dos meios de prova tem lugar perante o Juiz, oralmente, e sujeita a gravação
(art. 155.º).

• Concentração

-Os atos de prova, discussão e julgamento da matéria de facto devem ter lugar na mesma
audiência e esta deve ser contínua (art. 606.º, n.ºs 2 e 3).
-A vertente da concentração também está protegida pelo princípio da plenitude de
assistência do Juiz (art. 605.º).

• Livre apreciação da prova

-A decisão sobre a matéria de facto fica sujeita à convicção do Juiz quanto à prova
produzida nos autos.

• Estão sujeitas à livre apreciação da prova:

-a prova testemunhal (art. 396.º do CC);

-a prova por inspeção (art. 391.º do CC);

-a prova pericial (art. 389.º do CC).

• Excecionam-se os documentos escritos (autênticos ou particulares), a confissão escrita e


as presunções legais.

9. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

• O resultado do processo deve ser atingido com a maior economia de meios, isto é,
economia de processos e economia de atos e formalidades.

• A economia de processos liga-se com a potencialidade de cada processo resolver o maior


número de litígios possíveis:

- Litisconsórcio e coligação (arts. 32.ºe ss. e 36.º e ss.);

- Cumulação de pedidos (art. 555.º);

- Subsidiariedade de pedidos(art. 554.º);

- Ampliação do pedido e da causa de pedir (arts. 264.º e 265.º);

- Reconvenção (arts. 266.º e 583.º); - Incidentes da instância (arts. 311.º e ss.);

- Apensação de ações (art. 267.º).

• A economia de atos e formalidades implica a adequação da tramitação processual às


especificidades da causa.

- A adequação da tramitação propriamente dita é um poder que assiste ao Juiz (arts. 6.º,
37.º, n.ºs 2 e 3, 547.º, 590.º);

- Proibição da prática de atos inúteis, sob pena de responsabilidade por litigância de má-fé
(arts. 130.º e 542.º, n.º 2, al. d));

-Simplificação das formalidades (art. 131.º).

Classificação das ações quanto ao objeto


• O sistema jurisdicional tem a função de declarar direitos e providenciar pela sua
satisfação efetiva.

• As ações judiciais classificam-se consoante o modo como concretizam a função


jurisdicional.

• Atendendo ao seu fim, as ações classificam-se como (art. 10.º, n.º 1):

• Declarativas, ou

• Executivas

AÇÃO DECLARATIVA E AÇÃO EXECUTIVA

• Na ação declarativa, o que o autor pretende é que o tribunal profira uma declaração final
de direito, ou seja, que ponha termo ao conflito que o separa do réu, compondo
definitivamente o litígio.

• O autor tem de invocar e tentar provar os fundamentos da ação, ou seja, os factos


constitutivos do direito que alega (direito de crédito), e o réu terá oportunidade para
apresentar a sua defesa.

• O conflito existente pelas partes é transferido para o tribunal sob a forma de um litígio
judicial, esperando as partes uma declaração definitiva do juiz – sentença – que lhe ponha
termo.

• A sentença esgota a ação declarativa, mas isso não implica que o réu, se condenado,
cumpra.

• No caso de o réu não cumprir, apesar de condenado, não faria sentido o autor intentar
nova ação declarativa a pedir a condenação do devedor.

• O credor vai solicitar que sejam tomadas providências adequadas à reparação do seu
direito de crédito, sob a forma de uma ação executiva.

• Ao instaurar uma ação executiva, o credor vai executar a sentença condenatória,


requerendo que sejam tomadas providências adequadas à realização coativa da obrigação
(art. 10.º, n.º 4).

• Na ação declarativa, o conflito foi solucionado através da sentença.

• Na ação executiva, que se segue à declarativa, serão desencadeados outros mecanismos


processuais que, por via coerciva, se destinam a assegurar que o autor recebe
efetivamente aquilo em que o réu foi condenado.

• E fá-lo penhorando – apreendendo materialmente – bens do património do réu,


colocando-os à venda e, como produto dessa venda, pagando efetivamente ao autor (art.
817.º, CC).
• Normalmente o processo civil abrange duas fases:

➢Fase declarativa (ou declaratória): visa obter uma sentença;

➢Fase executiva (ou executória): visa dar concretização efetiva a essa sentença.

• Porém, nem sempre à ação declarativa se segue a executiva, bem como a ação executiva
pode ser instaurada sem precedência da declarativa:

• Existem ações declarativas que, em função da sua natureza e objetivos, não geram
sentenças condenatórias, não lhe seguindo ações executivas;

• Se depois de uma ação de condenação o réu, depois de condenado, cumprir


espontaneamente a obrigação;

• A lei reconhece a determinados documentos (diferentes de sentenças) força bastante


para, só por si, desencadearem a ação executiva.

• TIPOS DE AÇÃO DECLARATIVA Art. 10.º, n.º2

• As ações declarativas podem ser de simples apreciação, de condenação ou constitutivas.

• A divisão das ações declarativas em três espécies não implica que estas devam ser
estudadas como “compartimentos estanques”.

• Na mesma ação podem ser cumuladas diversas pretensões de natureza diferente, desde
que observados certos requisitos (arts. 555.º e 37.º).

1.Ação declarativa de simples apreciação

• As ações declarativas de simples apreciação são aquelas que visam obter unicamente uma
declaração de existência ou inexistência de um facto (al. a) do n.º 3 do art. 10.º).

• As primeiras são de simples apreciação positiva e as segundas de simples apreciação


negativa.

• Estas ações justificam-se com a necessidade de se resolver situação de incerteza acerca da


existência ou inexistência de um direito ou de um facto.

• O autor apenas solicita ao tribunal que aprecie essa situação de incerteza jurídica e ponha
termo a tal insegurança, declarando se o direito ou facto existe ou não.

• O que justifica as ações de simples apreciação negativa é a arrogância extrajudicial do réu, na


medida em que se arroga titular de um direito que prejudica o autor.

• Esta arrogância extrajudicial do réu confere às ações de simples apreciação negativa uma
particularidade: inversão do ónus da prova (arts. 342.º, n.º 1 e 343.º, n.º 1, do CC).
• Normalmente, a alegação e prova dos factos constitutivos do direito que se pretende fazer
valer em juízo competem àquele que o invoca, ou seja, em regra, ao autor.

• No entanto, nas ações de simples apreciação negativa, seria demasiado oneroso exigir que o
autor alegasse e provasse – pela negativa – que o direito (ou o facto) não existe.

• Assim, compete ao réu – àquela parte que se arroga extrajudicialmente da titularidade do


direito – a alegação e prova da existência de tal direito.

2. Ação declarativa de condenação

• As ações declarativas de condenação têm por fim exigir a prestação de uma coisa ou de um
facto, pressupondo ou prevendo a violação de um direito (al.b) do n.º 3 do art. 10.º).

• Visam, portanto, obter a condenação do réu no cumprimento de uma obrigação.

• Têm, como pressuposto, a violação de um direito, uma vez que, quando o autor intenta a
ação, o réu já se encontra em incumprimento.

• O autor, ao propor a ação, alega a titularidade de determinado direito, invoca a sua violação
pelo réu e pede ao tribunal que confirme por sentença tal titularidade e violação, mas também
condene o réu a realizar a prestação reintegradora desse direito.

• Estas ações distinguem-se das ações declarativas de simples apreciação na medida em que o
autor apesar de também solicitar que o tribunal aprecie da titularidade do direito e respetiva
violação, vai-se mais além.

• Ou seja, o juízo apreciativo é apenas um meio para se chegar a um fim – a possível


condenação do réu.

• A al. b) do n.º 3 do art. 10.º admite, ainda, a possibilidade de a ação ser proposta com base
na previsão da violação do direito.

• Nesse caso, estamos perante um pedido de condenação in futurum, ou seja, quando a ação é
intentada ainda não ocorreu a violação do direito, mas o pedido é formulado na previsão de
que tal irá acontecer.

• Refira-se que a formulação deste tipo de pedido – pedido de prestações vincendas – só pode
ter lugar nos termos previstos na lei (art. 557.º).

3. Ação declarativa constitutiva

• São constitutivas, as ações declarativas através das quais se exercem os direitos potestativos
pela via judicial.

• As sentenças proferidas nestas ações fazem produzir as correspondentes alterações na


ordem jurídica: a constituição, a modificação ou a extinção de relações ou situações jurídicas
(por correspondência aos direitos potestativos propriamente ditos, modificativos ou
extintivos).
• Um traço que distingue as ações declarativas constitutivas das ações de simples apreciação e
de condenação é o facto de estas apreciarem situações pré-existentes, ao passo que as ações
constitutivas têm por base a apreciação de uma situação anterior cuja mudança autorizam (art.
10.º, n.º 3, al. c)).

• Aqui, o autor não peticiona a condenação do réu no cumprimento de uma obrigação nem
reage contra uma situação de incerteza jurídica.

• O autor pretende obter um novo efeito jurídico material, a declarar na respetiva sentença.

• Existem as espécies de ações declarativas constitutivas:

➢constitutivas propriamente ditas,

➢Constitutivas modificativas ou

➢Constitutivas extintivas.

• Como classificar, quanto ao objeto, uma ação em que se peça a declaração de nulidade de
um negócio jurídico e, por outro lado, uma ação em que se peticione a anulação do mesmo?

1) A primeira é uma ação de simples apreciação positiva: como o negócio nulo não produz
quaisquer efeitos, a sentença limita-se a declarar a nulidade.

2) A segunda é uma ação constitutiva extintiva: embora o negócio seja inválido, foi produzindo
efeitos, os quais perduram até serem ser proferida sentença de anulação, sendo certo que tais
efeitos até se podem consolidar por via da confirmação (art. 288.º do CC), ou devido à
respetiva ação de anulação não ser instaurada em devido tempo (art. 287.º do CC).

• TIPOS DE AÇÃO EXECUTIVA

• As ações executivas são aquelas em que o credor requer as providências adequadas à


realização coativa de uma obrigação que lhe é devida (art. 10.º, n.º 4).

• Acontece que, toda a execução tem por base um título –designado por título executivo –,
sendo esse título que determina o fim e os limites da ação executiva (art. 10.º, n.º 5).

• Os títulos executivos estão enunciados no art. 703.º, n.º 1.

• Quanto ao seu fim, a execução pode consistir no pagamento de quantia certa, na entrega de
coisa certa ou na prestação de facto, consoante a obrigação constante do seu título (art. 10.º,
n.º 6).

• Espécies de ação executiva

A) Ação executiva para pagamento de quantia certa

• O credor exequente tem o direito a exigir do devedor executado determinada


quantia em dinheiro. A natureza coativa da execução implica que sejam
desencadeados atos tendentes a obter, à custado património do devedor, a quantia em
dinheiro necessária à satisfação do exequente.

• A regulamentação da ação executiva para pagamento de quantia certa encontra-se a


partir do art. 724.º, aí iniciando-se as diligências destinadas à penhora de bens do
executado e as diligências destinadas à venda dos bens penhorados, como forma de
realização da quantia necessária ao pagamento ao exequente.

B) Ação executiva para entrega de coisa certa

• Ação utilizada quando a obrigação constante do título executivo respeitar à prestação


de uma coisa.

• Neste caso, o credor pretende a entrega de certo bem, de certa coisa, pelo que a
respetiva satisfação implica a apreensão da coisa e a sua entrega ao exequente.

• Esta apreensão, se não realizada voluntariamente pelo executado, implicará que, de


forma coerciva, sejam tomadas as diligências necessárias à localização, apreensão e
entrega da coisa ao exequente. A regulamentação da execução para entrega de coisa
certa encontra-se a partir do art. 859.º.

C) Ação executiva para prestação de facto

• Recorre-se a esta ação quando do título executivo conste a obrigação de alguém


prestar um facto, quer seja um facto positivo, quer seja um facto negativo, com prazo
certo ou sem prazo fixado, e quer seja um facto fungível ou infungível.

• Esta modalidade de execução está regulada a partir do art. 868.º.

• A dedução de oposição e a frustração da notificação no procedimento de injunção


determinam a remessa dos autos para o tribunal competente:

• Aplica-se a forma de processo comum se o valor do pedido excede metade da alçada


da Relação (art. 10.º, n.º 2, do DL n.º 62/2013, de 10/05);

• Aplica-se a forma de processo especial – AECOPEC – quando o valor do pedido não


exceda metade da alçada da Relação (art. 10.º, n.º 4, do DL n.º 62/2013, de 10/05).

❖Valor das alçadas dos tribunais – art. 44.º/1, da LOSJ (Lei n.º 62/2013, de 26/08).

Classificação das ações quanto aos interesses em discussão

• PROCESSOS DE JURISDIÇÃO LITIGIOSA

• A ação judicial pressupõe, regra geral, a existência de um conflito de interesses, um


litígio entre as partes.

• É a necessidade de resolver esse litígio que justifica o recurso à via judicial.

• Este conflito que as partes “trouxeram” a juízo será solucionado pela sentença.
• Assim sucede, por exemplo, com as ações de dívida, de reivindicação da propriedade
e de despejo: são os chamados processos de jurisdição litigiosa ou contenciosa.

• PROCESSOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

• Existem, porém, determinadas ações que não visam resolver um conflito de


interesses, antes regular judicialmente um interesse comum a ambas as partes.

• Estas ações existem pela circunstância de esse interesse, embora comum, ser
perspetivado de modo diverso pelas partes.

• É o caso, por exemplo, da ação de regulação das responsabilidades parentais e da


fixação judicial de prazo: são processos de jurisdição voluntária ou graciosa.

• Ao contrário dos de jurisdição contenciosa, os processos de jurisdição voluntária


caracterizam-se pela ausência do litígio e do conflito.

• Os processos de jurisdição voluntária implicam sempre uma tramitação especial:


quanto à forma são classificados como processos especiais.

• Os processos de jurisdição voluntária previsto no Código, estão reunidos no Título XV


do Livro V, estando regulados nos arts. 986.º a 1081.º.

• Regras do processo: são aplicáveis as disposições dos arts. 292.º a 295.º.

• Vigora o princípio da livre atividade investigatória do tribunal:

• Para além de conhecer dos factos alegados pelas partes e dos que resultem da
instrução, o tribunal pode investigar outros factos que sejam relevantes para a
resolução da questão, podendo, para tal, ordenar inquéritos e recolher as informações
que julgue convenientes (n.º 2 do art. 986.º).

• Vigora o princípio da equidade, podendo o juiz decidir como lhe parecer mais
adequado e oportuno (art. 987.º).

• Acresce que as resoluções podem ser alteradas com fundamento em circunstâncias


supervenientes, nos termos previstos no art. 988.º, n.º 1.

• Assim, as decisões que ponham termo aos processos de jurisdição voluntária não são
soluções jurídica e futuramente indiscutíveis.

• Quanto à possibilidade de recurso, o art. 988.º, n.º 2 veda o recurso para o Supremo
Tribunal de Justiça quanto a decisões proferidas segundo critérios de conveniência ou
oportunidade.

• Não é obrigatória a constituição de advogado, salvo na fase de recurso (art. 986.º, n.º
4).

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