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Mostra-se necessário fornecer aos cidadãos os meios adequados ao exercício dos seus
direitos se, para tal, necessitar de recorrer aos tribunais.
- A ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito
(…).
➢Art. 202.º, n.º 1, da CRP: exercício da função jurisdicional através dos tribunais;
Aquele que instaura a ação é designado por autor, este propõe a ação através da
apresentação da petição inicial. Designa-se réu aquele contra quem a ação é intentada
este pode defender-se através da apresentação da contestação.
A propositura de uma ação em tribunal (ação judicial) implica que sejam cumpridas
determinadas regras, requisitos e pressupostos técnicos (que estudaremos nesta unidade
curricular).
➢Direito Público
• Impõe uma subordinação às partes e daí se extrai o carácter vinculativo das decisões
judiciais.
➢ Instrumental
• O Direito Processual Civil é instrumental: está ao serviço do Direito Civil, e funciona como
um instrumento de aplicação concreta deste à realidade.
• Por exemplo, no direito das obrigações, existe o dever de indemnizar pelos danos
causados a quem, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem (artigo
483.ºdo CC).
• O Direito Processual Civil vai determinar a atuação do lesado quando ele recorre à via
judicial para ser ressarcido. Os direitos e os deveres estão genericamente desenhados no
Código Civil.
• Existem inclusivamente situações em que a decisão é favorável a uma das partes não
propriamente por lhe assistir razão em face do direito material (Direito Civil), mas sim
porque a parte contrária cometeu este ou aquele erro processual (Direito Processual Civil).
➢Direito subsidiário
❖ Arts. 20.º e 202.º e ss., da CRP - Direito de acesso aos tribunais e direito à jurisdição
Salvaguarda dos interesses dos cidadãos, com garantia do direito de ação, direito de
defesa, e direito a lançar mão de um processo.
• A todo o cidadão deve ser garantido o acesso à justiça e ao direito (art. 20.º da CRP).
• A Lei n.º 34/2004,de 29 de julho, também designada Lei de Acesso ao Direito e aos
Tribunais, visa “assegurar que a ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua
condição social ou cultural, ou por insuficiência de meios económicos, o conhecimento,
o exercício ou a defesa dos seus direitos”(art. 1.º, n.º 1).
❖Neste sentido também dispõe o art. 10.º da Declaração Universal dos Direitos do
Homem e o art. 47.º da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais.
• Este princípio constitucional é sustentado pelo art. 2.º do CPC, que determina a
garantia de acesso aos tribunais:
2. Convenções Internacionais
3. Direito Comunitário
4. Lei
• Simplificação do processo
• Reforma que gerou controvérsia pois dada a sua profundidade ficou-se sem saber se
tinha nascido um novo CPC.
1. Princípio do dispositivo
2. Princípio do inquisitório
4. Princípio da cooperação
5. Princípio do contraditório
1. PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO
• O processo civil tem na sua base um conflito de interesses privados, regulados por
normas de direito privado e, por isso, estamos no âmbito de direitos disponíveis das
partes, logo o princípio do dispositivo é um dos princípios basilares.
• Manifesta-se, designadamente:
• Somente através do impulso das partes existe a ação, pois esta não é
desencadeada oficiosamente pelo tribunal.
• No respetivo articulado, petição inicial, no caso do autor, e contestação, no caso do réu, cabe
às partes alegar os principais factos da causa.
• Art. 5.º, n.º 1: Às partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir
(autor) e aqueles em que se baseiam as exceções invocadas (réu).
• Porém, o Juiz pode fundar a decisão em factos que não os alegados pelas partes.
• Além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados (art. 5.º n.º 2):
b) Os factos que sejam complemento ou concretização dos que as partes hajam alegado e
resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se
pronunciar;
c) Os factos notórios e aqueles que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das
suas funções.
• As partes têm, ainda, disponibilidade sobre a instância, já que são quem lhe dá início; podem
suspendê-la ou até pôr-lhe termo.
Suspensão da instância
• As partes podem acordar na suspensão da instância por períodos que, na sua totalidade, não
excedam três meses, desde que dela não resulte o adiamento da audiência final (art. 272.º, n.º
4).
Desistência da instância
• O processo instaurado cessa, sem que, no entanto, se extinga o direito do desistente (art.
285.º, n.º 2)
• A lei permite ainda que as partes possam dispor das situações jurídicas objeto do processo,
unilateralmente – confissão ou desistência do pedido– ou bilateralmente – transação.
• O réu pode, em qualquer altura, desistir de todo o pedido ou parte dele, ou confessar o
pedido, todo ou em parte (art. 285.º, n.º 1, 286.º, n.º 2, 283.º, n.º 1 e 284.º).
Transação
2. PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO
• A prova dos factos não está exclusivamente reservada às partes, pois o juiz tem o poder de
realizar ou ordenar as diligências de prova que entenda necessárias para a descoberta da
verdade.
✓Arts. 467.º, n.º 1, 468.º, n.º 1, al. a), e 487.º, n.º 2 - o tribunal pode ordenar a realização de
perícia, a realização de perícia colegial e a realização de segunda perícia;
✓Art. 490.º, n.º 1 - o tribunal pode inspecionar coisas ou pessoas, no intuito de esclarecer
factos de interesse para a decisão da causa;
✓Art. 607.º,n.º 1, 2.ª parte - o juiz pode ouvir as pessoas que entender, mesmo após o
encerramento da audiência final;
✓Art. 526.º: - o juiz pode ordenar o depoimento de pessoas não indicadas pelas testemunhas
quando hajam razões para crer que têm conhecimento de factos importantes para a boa
decisão da causa;
✓ Art. 498.º, n.º 1: - o juiz pode inquirir oficiosamente testemunha de que a parte tenha
desistido
• Art. 193.º – quando a forma do processo não esteja correta, o juiz manda-o seguir a forma
devida;
• Arts. 6.º e 547.º – quando a forma legal não se adeque às especificidades do caso concreto,
deve o Juiz adaptar a tramitação legal, determinando a prática dos atos que tenha por
convenientes;
• Art. 6.º, n.º 2 – havendo pressupostos processuais em falta, mas suscetíveis de sanação, deve
o Juiz providenciar pelo seu suprimento.
• Quanto ao normal andamento, o juiz deve providenciar pela regularidade da ação e pela
respetiva celeridade, promovendo os atos que entenda necessários, e indeferindo tudo o que
se mostre meramente dilatório (art. 6.º, n.º 1)
5. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO
• dever de boa-fé processual (art. 8.º), dever de cooperação para a descoberta da verdade
(arts. 7.º e 417.º), dever de recíproca correção (art. 9.º), dever de apresentação de
documentos (arts. 429.º), sob pena de haver lugar à obrigação de indemnizar e ao pagamento
de multa (arts. 542.º, n.º 2, al. c), 417.º, n.º 2 e 430.º).
• Comparecer, sempre que convocadas (art. 7.º, n.º 3); • Facultar tudo o que lhes for
requisitado (art. 417.º, n.º 1);
• Participar na audiência prévia convocada nos termos e para os efeitos do art. 591.º, n.º 1.
• Este dever de cooperação estende-se aos demais intervenientes, como sejam os magistrados
e o mandatários. No caso concreto dos solicitadores, decorre também do art. 124.º, n.º 1 e n.º
2, als. a) e l) do Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução (EOSAE).
O princípio da cooperação também se revela numa vertente formal:
• Art. 7.º, n.º 4: Dever de providenciar pelo suprimento de obstáculos das partes na obtenção
de informação ou documento ou no cumprimento de um dever processual;
6. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
Art. 3.º
• Princípio que está ligado à ideia de participação; ao réu deve ser dada a possibilidade de
se defender.
• Formulado o pedido ou tomada uma posição por uma parte, deve ser dada oportunidade
à outra parte para se pronunciar antes de qualquer decisão (art. 3.º, n.º 3);
• Não podem ser tomadas providências contra determinada pessoa sem que esta seja
previamente ouvida (art. 3.º, n.º 2).
• Se forem introduzidos factos complementares pelo Juiz no processo, as partes devem ter
oportunidade para se pronunciar (art. 5.º, n.º 2, al. b));
• Os documentos devem ser juntos com os articulados, mas se o forem nos termos do n.º 2
do art. 423.º, deve ser dada oportunidade à parte contrária para analisar e se pronunciar;
• Quanto à prova, esta não deve ser produzida nem admitida sem audiência contraditória
(art. 415.º);
• Decorre do art. 13.º da CRP e impõe que, no trajeto processual, seja assegurada a
igualdade das partes.
• Há igualdade das partes não só entre autores e réus, mas também entre co-autores e co-
réus, no caso de pluralidade de autores ou réus (litisconsórcio ou coligação).
• Todas as provas produzidas no processo devem ser tomadas em conta pelo tribunal,
independentemente da parte que devia produzi-las (segundo as regras sobre o ónus da
prova previstas nos arts. 341.º e ss. do CC:
• Àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito
alegado;
• Imediação
- O Juiz deve ter o máximo de contacto direto com as pessoas e coisas fontes de prova,
que, por sua vez, devem estar o mais diretamente relacionado possível com os factos
objeto de prova.
- Art. 500.º: os atos de produção de prova devem ter lugar perante o tribunal.
• Oralidade
- A produção dos meios de prova tem lugar perante o Juiz, oralmente, e sujeita a gravação
(art. 155.º).
• Concentração
-Os atos de prova, discussão e julgamento da matéria de facto devem ter lugar na mesma
audiência e esta deve ser contínua (art. 606.º, n.ºs 2 e 3).
-A vertente da concentração também está protegida pelo princípio da plenitude de
assistência do Juiz (art. 605.º).
-A decisão sobre a matéria de facto fica sujeita à convicção do Juiz quanto à prova
produzida nos autos.
• O resultado do processo deve ser atingido com a maior economia de meios, isto é,
economia de processos e economia de atos e formalidades.
- A adequação da tramitação propriamente dita é um poder que assiste ao Juiz (arts. 6.º,
37.º, n.ºs 2 e 3, 547.º, 590.º);
- Proibição da prática de atos inúteis, sob pena de responsabilidade por litigância de má-fé
(arts. 130.º e 542.º, n.º 2, al. d));
• Atendendo ao seu fim, as ações classificam-se como (art. 10.º, n.º 1):
• Declarativas, ou
• Executivas
• Na ação declarativa, o que o autor pretende é que o tribunal profira uma declaração final
de direito, ou seja, que ponha termo ao conflito que o separa do réu, compondo
definitivamente o litígio.
• O conflito existente pelas partes é transferido para o tribunal sob a forma de um litígio
judicial, esperando as partes uma declaração definitiva do juiz – sentença – que lhe ponha
termo.
• A sentença esgota a ação declarativa, mas isso não implica que o réu, se condenado,
cumpra.
• No caso de o réu não cumprir, apesar de condenado, não faria sentido o autor intentar
nova ação declarativa a pedir a condenação do devedor.
• O credor vai solicitar que sejam tomadas providências adequadas à reparação do seu
direito de crédito, sob a forma de uma ação executiva.
➢Fase executiva (ou executória): visa dar concretização efetiva a essa sentença.
• Porém, nem sempre à ação declarativa se segue a executiva, bem como a ação executiva
pode ser instaurada sem precedência da declarativa:
• Existem ações declarativas que, em função da sua natureza e objetivos, não geram
sentenças condenatórias, não lhe seguindo ações executivas;
• A divisão das ações declarativas em três espécies não implica que estas devam ser
estudadas como “compartimentos estanques”.
• Na mesma ação podem ser cumuladas diversas pretensões de natureza diferente, desde
que observados certos requisitos (arts. 555.º e 37.º).
• As ações declarativas de simples apreciação são aquelas que visam obter unicamente uma
declaração de existência ou inexistência de um facto (al. a) do n.º 3 do art. 10.º).
• O autor apenas solicita ao tribunal que aprecie essa situação de incerteza jurídica e ponha
termo a tal insegurança, declarando se o direito ou facto existe ou não.
• Esta arrogância extrajudicial do réu confere às ações de simples apreciação negativa uma
particularidade: inversão do ónus da prova (arts. 342.º, n.º 1 e 343.º, n.º 1, do CC).
• Normalmente, a alegação e prova dos factos constitutivos do direito que se pretende fazer
valer em juízo competem àquele que o invoca, ou seja, em regra, ao autor.
• No entanto, nas ações de simples apreciação negativa, seria demasiado oneroso exigir que o
autor alegasse e provasse – pela negativa – que o direito (ou o facto) não existe.
• As ações declarativas de condenação têm por fim exigir a prestação de uma coisa ou de um
facto, pressupondo ou prevendo a violação de um direito (al.b) do n.º 3 do art. 10.º).
• Têm, como pressuposto, a violação de um direito, uma vez que, quando o autor intenta a
ação, o réu já se encontra em incumprimento.
• O autor, ao propor a ação, alega a titularidade de determinado direito, invoca a sua violação
pelo réu e pede ao tribunal que confirme por sentença tal titularidade e violação, mas também
condene o réu a realizar a prestação reintegradora desse direito.
• Estas ações distinguem-se das ações declarativas de simples apreciação na medida em que o
autor apesar de também solicitar que o tribunal aprecie da titularidade do direito e respetiva
violação, vai-se mais além.
• A al. b) do n.º 3 do art. 10.º admite, ainda, a possibilidade de a ação ser proposta com base
na previsão da violação do direito.
• Nesse caso, estamos perante um pedido de condenação in futurum, ou seja, quando a ação é
intentada ainda não ocorreu a violação do direito, mas o pedido é formulado na previsão de
que tal irá acontecer.
• Refira-se que a formulação deste tipo de pedido – pedido de prestações vincendas – só pode
ter lugar nos termos previstos na lei (art. 557.º).
• São constitutivas, as ações declarativas através das quais se exercem os direitos potestativos
pela via judicial.
• Aqui, o autor não peticiona a condenação do réu no cumprimento de uma obrigação nem
reage contra uma situação de incerteza jurídica.
• O autor pretende obter um novo efeito jurídico material, a declarar na respetiva sentença.
➢Constitutivas modificativas ou
➢Constitutivas extintivas.
• Como classificar, quanto ao objeto, uma ação em que se peça a declaração de nulidade de
um negócio jurídico e, por outro lado, uma ação em que se peticione a anulação do mesmo?
1) A primeira é uma ação de simples apreciação positiva: como o negócio nulo não produz
quaisquer efeitos, a sentença limita-se a declarar a nulidade.
2) A segunda é uma ação constitutiva extintiva: embora o negócio seja inválido, foi produzindo
efeitos, os quais perduram até serem ser proferida sentença de anulação, sendo certo que tais
efeitos até se podem consolidar por via da confirmação (art. 288.º do CC), ou devido à
respetiva ação de anulação não ser instaurada em devido tempo (art. 287.º do CC).
• Acontece que, toda a execução tem por base um título –designado por título executivo –,
sendo esse título que determina o fim e os limites da ação executiva (art. 10.º, n.º 5).
• Quanto ao seu fim, a execução pode consistir no pagamento de quantia certa, na entrega de
coisa certa ou na prestação de facto, consoante a obrigação constante do seu título (art. 10.º,
n.º 6).
• Neste caso, o credor pretende a entrega de certo bem, de certa coisa, pelo que a
respetiva satisfação implica a apreensão da coisa e a sua entrega ao exequente.
❖Valor das alçadas dos tribunais – art. 44.º/1, da LOSJ (Lei n.º 62/2013, de 26/08).
• Este conflito que as partes “trouxeram” a juízo será solucionado pela sentença.
• Assim sucede, por exemplo, com as ações de dívida, de reivindicação da propriedade
e de despejo: são os chamados processos de jurisdição litigiosa ou contenciosa.
• Estas ações existem pela circunstância de esse interesse, embora comum, ser
perspetivado de modo diverso pelas partes.
• Para além de conhecer dos factos alegados pelas partes e dos que resultem da
instrução, o tribunal pode investigar outros factos que sejam relevantes para a
resolução da questão, podendo, para tal, ordenar inquéritos e recolher as informações
que julgue convenientes (n.º 2 do art. 986.º).
• Vigora o princípio da equidade, podendo o juiz decidir como lhe parecer mais
adequado e oportuno (art. 987.º).
• Assim, as decisões que ponham termo aos processos de jurisdição voluntária não são
soluções jurídica e futuramente indiscutíveis.
• Quanto à possibilidade de recurso, o art. 988.º, n.º 2 veda o recurso para o Supremo
Tribunal de Justiça quanto a decisões proferidas segundo critérios de conveniência ou
oportunidade.
• Não é obrigatória a constituição de advogado, salvo na fase de recurso (art. 986.º, n.º
4).