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Direito Processual Civil I | Mafalda Maló

Direito Processual Civil


I
Esquemas sobre: (1) Princípios do Direito Processual Civil; (2) Competência Internacional e Interna
dos Tribunais Portugueses; (3) Pressupostos Processuais

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Princípios de Direito Processual Civil


• Encontra-se previsto no art. 2º/2 e dispõe que, a todo o direito corresponde uma ação adequada para o fazer reconhecer
Princípios Garantia de
em juízo.
Estruturantes Acesso aos
• Função: garantir o acesso aos tribunais, mas também eliminar obstáculos ao referido acesso, que impendam sobre os mais
Tribunais
São aqueles que são carenciados, em virtude das custas da ação ou dos honorários dos advogados.
conaturais ao processo • Relevante: regime de acesso ao direito e aos tribunais – Lei 34/2004.
civil, pelo que lhe são
Princípio da • Também designado de princípio da tutela provisória da aparência (Castro Mendes)
indispensáveis.
Autossuficiência • Em matéria processual, a aparência vale como realidade para o efeito de se determinar se essa aparência corresponde ou
Só admitem uma não à realidade.
consagração absoluta, • Deste decorre o princípio da kompetenz-kompetenz: determina que seja o próprio tribunal a apreciar a sua própria
pelo que, qualquer competência;
desvio, é apenas • Deste decorre, ainda, a regra constante do art. 30º/3: a legitimidade depende dos factos descritos na petição inicial.
excecional (logo,
insuscetível de aplicação Princípio da • Postula a igualdade das partes entre si e perante o tribunal: em paridade perante o tribunal, dispondo dos mesmos direitos
analógica – art. 11º). Igualdade das e oneradas com os mesmos deveres.
Partes • Decorre do princípio da igualdade (art. 13º CRP) e ainda do princípio do Estado de Direito Democrático (art. 1º CRP).
• Encontra-se previsto no art. 4º do CPC.
• Exceção: quando uma das partes é o Ministério Público (art. 632º/4 do CPC).

Princípio do • Postula que não pode ser tomada nenhuma decisão sem que as artes se tenham pronunciado sobre a questão – significa que
Contraditório não pode, o tribunal, tomar uma decisão sem que a outra parte seja devidamente chamada para deduzir oposição (art. 3º/1
do CPC).
• Duas vertentes: direito de audiência prévia e direito de resposta.
• Objetivo: incidir positivamente no desenvolvimento e no êxito do processo.
• Exceções: possibilidade de dispensa da audiência prévia.
• Inobservância:

Princípio da
• Postula que o julgamento do tribunal se fundamenta exclusivamente nos critérios legais - podem ser normativos, quando
Legalidade da
são extraídos das regras jurídicas, ou não normativos, quando se reconduzem à equidade (art. 4º do CC) ou a poderes
Decisão discricionários.
• Deste decorre o princípio da fundamentação: presente no art. 205º da CRP; assegura aos destinatários da decisão o
conhecimento das razões de facto e de direito que levaram o juiz a proferi-las; deve ser cumprido, quer no momento da
emissão da sentença, quer durante todo o processo. Inobservância: caso de nulidade, eventual (art. 615º/1/b) do CPC).
Manifestações: artigos 154º CPC e 607º.

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Princípios Princípio da
• Previsão: artigo 7º do CPC, sendo aplicável nas relações entre as partes e nas relações das partes para com o tribunal e do
Instrumentais Cooperação tribunal para com as partes;
São aqueles que • Exceções: art. 7º/ 3 e art. 417º/3 do CPC.
procuram a otimização • Concretização para as partes: princípio da boa fé processual, ou da litigância de boa fé, nos termos do art. 8º do CPC; a
dos resultados do violação implica a litigância de má fé;
processo, pois que • Concretizações para o tribunal: dever de esclarecimento (tribunal se esclarecer junto das partes quanto às dúvidas que
aceitam várias tenha sobre as alegações, pedidos ou posições em juízo) e o dever de prevenção (prevenir as partes sobre as eventuais
graduações consoante deficiências ou insuficiências das suas alegações ou pedidos – art. 6º);
as circunstâncias e
admitem uma
ponderação pelo Princípio • Postula que o processo se encontra na disponibilidade das partes e fundamenta-se na circunstância de os interesses
legislador das suas Dispositivo presentes no processo civil serem predominantemente interesses privados (art.3º/1/1ª parte);
vantagens e dos seus • Concretizações: princípio do impulso processual (incumbe às partes praticarem os atos que determinam a pendência da
inconvenientes. causa o andamento do processo, pelo que o tribunal não decide enquanto não houver uma causa pendente e não supre as
omissões das partes numa causa instaurada); princípio da disponibilidade privada (incumbe às partes a definição do objeto
e da causa de pedir;)
• Previsões normativas: 609º/1; 342º; 574º/2 do CPC;

Princípio do • Postula que cumpre ao juiz providenciar pelo andamento regular e célere do processo, promovendo oficiosamente as
Inquisitório diligências necessárias ao normal prosseguimento da ação e recusando o que for impertinente; deve, ainda, suprir a falta de
pressupostos processuais cuja sanação seja possível, determinar a prática de atos necessários à regularização da instância
e convidar à sua prática (art. 6º/1 e 2);
• Decorrência: princípio da gestão processual (arts. 6º, 547º e 541º) – o juiz deve dirigir ativamente o processo e
providenciar pelo andamento célere, promovendo oficiosamente o que for impertinente e, ouvidas as partes, adotando os
mecanismos de simplificação e agilização processual que garantam a justa composição do litigio em prazo razoável (arts.
193º e 146º).
• Manifestações: arts. 547º, 590º/4, 436º/1, 452º, 487, 494º e 536º/1 do CPC.

Princípio da • Postula que o processo segue a tramitação legalmente estabelecida, que se impõe às partes e ao tribunal.
Legalidade do • As formas de processo são: comum ou especial; sendo as formas especiais são “excecionais” e só se aplica às situações assim
Processo previstas (no CPC); a forma comum aplica-se supletivamente e segue a forma única.

Princípio da
Economia • Máximo resultado com o mínimo esforço – art. 130º, que proíbe a prática de atos inúteis; art. 131º que determina a
simplicidade da forma)
Processual

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Princípio da • Previsto no art. 260º;


Estabilidade da • Exceções: intervenção de terceiros (311º e ss.); incidente de habilitação - é um incidente nominado (351º e ss.); verifica-
Instância se em duas situações – na hipótese de morte ou extinção de alguma das partes, em que o processo para continuar exige que
alguém substitua a pessoa coletiva ou a pessoa em causa (se não houver – inutilidade superveniente da lide).

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Competência Internacional dos Tribunais Portugueses


Regulamentos Europeus – Em caso de Conflito Plurilocalizado (art. 59º do CPC e art. 8º da CRP)

Regulamentos
Matéria Disposições Relevantes
Europeus

• Artigo 1º/1: âmbito de aplicação material, com as exceções constante do nº2;


• Artigo 66º/1: âmbito de aplicação temporal, com a exceção constante do nº2;
• Artigo 4º/1: regra geral – domicilio do réu (se domiciliado num EM, deve ser demandado nesse EM
– independentemente da sua nacionalidade, em virtude do nº2);
• Artigo 5º/1: exceções ao domicílio do réu, nos termos das seções 2 a 7 (arts. 7º a 26º);
• Artigo 6º/1: se o réu não tem domicílio num EM a competência dos tribunais é regida pela lei
Competência Judiciária e Reconhecimento
Regulamento nacional, sem prejuízo dos arts. 18º/1, 21º/2, 24º e 25 do Regulamento;
e execução de decisões em matéria civil e
1215/2012 • Artigo 7º: hipótese de dupla funcionalidade, em virtude da expressão tribunal do lugar, no momento
comercial
da análise da competência interna em função do território;
• Artigo 25º: verificar se existe pacto de jurisdição; verificar se o pacto de jurisdição não derroga regras
imperativas, sob pena de nulidade (art. 25º/1 e 25º/4); atentar aos pactos de jurisdição inseridos em
contratos (art. 25º/5);
• Artigo 26º: pacto atributivo de competência tácito – atentar às exceções (art. 26º/1);
• Artigo 27º: em caso de incompetência dos tribunais portugueses;

• Artigo 1º: âmbito de aplicação material;


• Artigo 64º/1 e 72º: âmbito de aplicação temporal;
Competência, ao reconhecimento e
• Artigo 3º: tribunais competentes para decidir as questões de divórcio, separação ou anulação do
Regulamento execução de decisões em matéria
casamento;
2201/2003 matrimonial e em matéria de
responsabilidade parental • Artigo 6º: casos em que o réu pode ser demandado nos tribunais de outro Estado-Membro;
• Artigo 8º: tribunal competente para decidir questões de responsabilidade parental; nos termos dos
artigos 9º e 12º, esta competência é extensível;

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• Artigo 1º/1: âmbito de aplicação material;


Reconhecimento e execução das • Artigo 1º/2: âmbito de aplicação espacial;
Regulamento
decisões e cooperação em matéria de • Artigo 3º: tribunais competentes;
4/2009
obrigações alimentares • Artigo 4º/1: pacto atributivo de competência (nos casos das alíneas); exceções do nº3;
• Artigo 5º: pacto tácito atributivo de competência;

• Art. 62º: competência internacional dos tribunais portugueses;


o Alínea a): critério da coincidência – quando, pelas regras de distribuição da competência
Direito Interno –
territorial (arts. 70º e ss. do CPC) dos tribunais portugueses, a ação deva ser proposta em
Competência Aplicação dos arts. 62º e 63º do Código de
Portugal;
Internacional Processo Civil
o Alínea b): princípio da causalidade;
Portuguesa
o Alínea c): princípio da necessidade – por ser o único modo de efetivar o direito do autor;
• Art. 63º: competência exclusiva dos tribunais portugueses;

• Permite-se que as partes convencionem qual a jurisdição competente para dirimir determinados
litígios;
• O pacto pode ser atributivo ou privativo;
• O pacto pode consubstanciar a atribuição de uma competência exclusiva ou de competência
Pactos de Jurisdição Art. 94º do Código do Processo Civil alternativa com a dos tribunais portugueses;
• Podem celebrar também pactos de competência: sempre que determinem, em concreto, o tribunal
português competente (p.e.: tribunal de Lisboa) – nestes casos, está em causa um pacto atributivo
de competência e de jurisdição;
• Validade: depende da verificação cumulativa do disposto no art. 94º/1 e 3;

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Regras de Distribuição da Competência Interna dos Tribunais Portugueses


Regras de Competência Interna – Código do Processo Civil e Lei da Organização do Sistema Judiciário

• Várias ordens de tribunais: as duas principais são a ordem dos tribunais judiciais e a ordem dos tribunais
Determinar a ordem administrativos e fiscais (art. 209º CRP; art. 29º/1 LOSJ);
Competência em Razão
judicial competente, dentro • Competência dos tribunais judiciais: art. 211º/1 CRP; art. 40º/1 da LOSJ; art. 64º do CPC → a competência é
da Matéria I
da organização judiciária organizada em função da hierarquia, valor, matéria e território (art. 60º do CPC);
• Competência dos tribunais administrativos e fiscais: art. 212º/3 CRP;

• Categorias de tribunais: pertencentes à ordem dos tribunais judiciais (STJ, tribunais de 2ª instância/relação,
Determinar o tribunal tribunais de 1ª instância/comarca (geralmente)) – ( → a competência encontra-se distribuída nos termos dos artigos
Competência em Razão hierarquicamente, dentro 67º a 69º do CPC; arts. 42º, 79º e ss. da LOSJ;
da Hierarquia da ordem judiciária em • Regra geral (art. 80º/1 da LOSJ): as ações são propostas nos tribunais de 1ª instância;
causa • Exceções à regra geral: arts. 68º/1 e 69º/1 do CPC; arts. 53º/a) (ação interposta diretamente no STJ) e 73º/b) a d)
(ação interposta diretamente na Relação) da LOSJ;

• A competência em razão do território, regime pelo art. 43º, depende do tribunal hierarquicamente competente;
Determinar o tribunal que, • Tribunais de 1ª instância: regra geral; a competência em razão do território encontra-se delimitada no art. 43º/3 e
Competência em Razão
territorialmente, é 4, conforme se trate de tribunal de competência alargada ou tribunal da comarca → artigos 70 e ss. do CPC;
do Território
competente • Relevante: convocar a possível dupla funcionalidade do art. 7º do Regulamento 1215/2012 (argumento literal –
tribunal do lugar);

• Existem tribunais de competência alargada (compreendem a área correspondente a várias comarcas): previstos nos
Determinar se a arts. 83º e, em especial, 111º a 116º LOSJ → analisar se a matéria em causa é coberta por estes.
Competência em Razão competência pertence aos • Não o sendo, cabe ao tribunal da comarca: art. 65º do CPC que remete para os arts 40º e 81º da LOSJ – competência
da Matéria II tribunais de competência genérica, competência especializada e de proximidade → a competência caberá em principio aos juízos locais cíveis,
alargada aos juízos locais criminais ou aos juízos de competência genérica (art. 130º/1), quando esteja fora do âmbito dos
tribunais de competência alargada;

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• Em função do valor: art. 66º do CPC, que remete para o art. 41º da LOSJ - entre os juízos centrais cíveis e os juízos
locais cíveis, nas ações declarativas cíveis de processo comum.
• Determinação do valor da causa: nos termos dos arts. 296º e ss. do CPC.
Competência em Razão Determinar a secção
• Se o valor da causa for superior a 50000€: juízos centrais cíveis - competência quando o valor da causa seja
do Valor competente
superior a 50000€ (art. 117º/1/a);
• A competência caberá em principio aos juízos locais cíveis, aos juízos locais criminais ou aos juízos de competência
genérica (art. 130º/1), quando esteja fora do âmbito dos tribunais de competência alargada;

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Pressupostos Processuais

Pressupostos Processuais Vício e Sanação

• Definição formal de partes: não se trata de atribuir a qualidade de parte quem for titular da situação subjetiva; trata-se de adquirir a qualidade de parte a
quem se apresenta como autor e quem este apresenta como réu;
• Quem é terceiro? Quem não está em juízo. Reflexão sobre esta questão: artigo 581o/2 - a identidade das partes depende da qualidade jurídica. Exemplo:
Partes A e B; Terceiros C (devedor solidário) e D (sucessor de B). Neste caso, C e B têm a mesma qualidade jurídica.
As Partes no
• Distinção fundamental: terceiro perante o processo (C) e terceiros perante a parte (D). Nem todos aqueles que estão fora do processo, ficam de fora dos
Processo
efeitos produzidos pelo processo (efeitos de produção de litispendência e de caso julgado).
o Exemplo: ação proposta por A contra B. No entanto, estando em causa uma divida solidária, o outro devedor solidário é C. Se este C for marido ou
mulher do réu, tem de contribuir para a aferição da competência do juiz, art. 115º (o que releva, como terceiro, é a modalidade de terceiros perante
a parte e não a modalidade de terceiro perante o processo - este deve ser tido para aferição da competência).

• Art. 11º/1: a personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte • Em princípio, não é sanável.
(autor/requerente/demandante e réu/requerido/demandado); • Se a citação do réu depender de prévio despacho
• Critério da coincidência – geral: quem tem personalidade jurídica, tem personalidade judicial: art. 226º, o juiz pode, em vez de ordenar a
judiciária (art. 11º/2); citação, indeferir liminarmente a petição inicial,
• Extensão a entes sem personalidade jurídica: art. 12º (c/ base nos critérios da • Se for reconhecida no despacho saneador: falta de
diferenciação patrimonial e da proteção de terceiros); art. 13º (sucursais, c/ base no critério personalidade judiciária → exceção dilatória (arts.
da afetação do ato); 576º e 577º/c), de conhecimento oficioso pelos
o Fundo de investimento imobiliário: património autónomo, como a herança jacente, tribunais (art. 578º));
Personalidade
já que os seus titulares não podem ser determinados de forma específica (STJ); • Consequências: absolvição réu da instância (art.
Judiciária
o Nota: de acordo com MTS, o art. 13º/2 tem de ser interpretado restritivamente, nas 278º/1/c); obsta ao conhecimento do mérito da causa
situações em que coincida com a aplicação do R. 1215/2015, art. 7º/5 (prevê que a (fora os casos do art. 278º); caso julgado formal (art.
empresa-mãe/sede só pode ser demandada nos tribunais de outro Estado-Membro 279º e 671º), podendo haver lugar a recurso.
nos casos especificados); deve limitar-se a interpretação a fazer do artigo 13º/2 às • Exceções: art. 14º e 6º/2 (prevê a possibilidade de
situações em que a sede não esteja num Estado-Membro da União; sanação, intervindo a administração principal, através
• Identificação das partes na petição inicial: art. 552º/1/a); da ratificação); art. 351º (habilitação de sucessores,
• Substituição: art. 263º (transmissão por ato entre vivos) e art. 351º (substituição de pessoa quando a ação tenha sido proposta pelo representante
falecida); de pessoa falecida);

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• Art. 15º: MTS entende que consiste na suscetibilidade de a parte estar pessoal e livremente em juízo ou • Incapacidade judiciária → exceção dilatória (arts. 576º e
de se fazer representar por representante voluntário; 577º/c), de conhecimento oficioso pelos tribunais (art.
• Falta de capacidade: menores, interditos (não podem intervir pessoal ou livremente) e inabilitados 578º));
(podem intervir pessoal, mas não livremente); • Consequências: absolvição réu da instância (art. 278º/1/c);
o Exceções quanto à incapacidade dos menores: art. 127º, tendo o menor tem plena obsta ao conhecimento do mérito da causa (fora os casos do
capacidade de litigar nos casos aí previstos; art. 278º); caso julgado formal (art. 279º e 671º), podendo
o Exceções quanto à incapacidade dos inabilitados: esta está limitada aos atos especificados haver lugar a recurso.
na sentença que decretou a inabilitação (art. 901º/2); • Sanação: intervenção ou citação do representante legítimo
• Art. 15º/2: a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício de direitos; ou do curador do incapaz;
o Pais do Amaral: estabelece-se a correspondência entre a capacidade judiciária e a capacidade o Em caso de ratificação: o processo segue como se
de exercício de direitos, significando que possuem plena capacidade judiciária aqueles que o vício não existisse (art. 27º/2); pode ser feita por
possuem igualmente total capacidade de exercício de direitos; simples requerimento;
o MTS: a capacidade judiciária é aferida pela capacidade de exercício para a produção dos efeitos o Em caso de não ratificação: o processado fica sem
possíveis decorrentes da ação pendente, assim, o que releva para o reconhecimento da efeito a partir do momento em que a falta se
capacidade é a capacidade em relação a esses efeitos e não quanto à pratica do ato que verificou, renovando-se os prazos para a prática dos
constitui o objeto do processo1; atos atingidos;
Capacidade
Judiciária
• Incapacidade dos menores: suprida pelo poder paternal e, subsidiariamente, pela tutela (arts. 124º e 1921º e ss. do CC);
o Ação proposta pelo menor: na constância do matrimónio, o exercício das responsabilidades pelos progenitores é feito em comum (art. 1901º/1 e 2 CC – sendo
necessário acordo para a propositura de ações, 16º/2 CPC); em caso de falta de acordo inicial, podem requerer ao tribunal competente a resolução do conflito
(art. 18º/1); em caso de falta de acordo superveniente, resolução e suspensão (18º/2);
o Ação proposta contra menor: os progenitores devem ser citados (16º/3 CPC);
• Incapacidade do interdito: interditos (138º CC); é equiparado ao menor, sendo-lhe aplicáveis as disposições e os meios de suprimento do poder paternal (art. 139º CC); a
incapacidade é suprida pela tutela (891º a 905º - podendo ser nomeado, desde logo, o tutor, 901º).
• Incapacidade dos inabilitados: inabilitação (art. 152º CC); é decretada em ação especial (arts. 891º a 905º - designando-se um curador, arts. 901º/1 e 2); o
suprimento/representação cabe ao curador (arts. 153º/1 e 154º/1);
o Particularidade (suprimento por assistência): os inabilitados podem intervir em todas as ações, ficando, no entanto, a intervenção subordinada à intervenção
do curador, que prevalece em caso de divergência (art- 19º/1 e 2);
• Possibilidade – curador ad litem: necessário quando o incapaz não tenha representante legal na altura em que se pretende propor a ação em seu nome ou quando a ação
foi proposta contra ele – nomeação de
o Curador provisório: art. 17º - cessa funções logo que seja nomeado representante legal; nomeado, também, quando o representante legal está impossibilitado de
exercer a representação (17º/4); ainda nos casos de oposição do incapaz e do representante (exemplos: inventário; impugnação da paternidade – 1846º/3; conflitos
de interesses – 1881º/2 e 1956º/c) CC).
o Curador especial: art. 20º.

1Exemplo: um inabilitado pode aceitar uma doação sem encargos (art. 951º/1 CC); no entanto, como não tem capacidade para dispor do bem doado (art. 153º/1 CC), não tem capacidade judiciária
para uma ação de reivindicação desse mesmo bem, porque um dos efeitos possíveis dessa ação é o reconhecimento de que a propriedade do bem não pertence a esse inabilitado;
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• Artigos 20 e ss.
• Representação: representação de entendes que estão submetidos a um representação
• Irregularidade da representação: embora esteja
orgânica ou que, não sendo incapazes, necessitam de representação em juízo;
representado, não o está pelo devido representante
• Estado: é representado pelo Ministério Público; (por aquele a quem a lei atribui poder de
• Pessoas coletivas e sociedades: representação);
o Ações com terceiros: as pessoas coletivas e as sociedades são representadas por • Irregularidade → exceção dilatória (arts. 576º e
quem a lei designar; as pessoas coletivas são representadas por quem os estatutos 577º/c), de conhecimento oficioso pelos tribunais (art.
determinam ou, na falta de disposição estatutária, pela administração ou por quem
578º));
por ela for designado (art. 163º/1 CC);
Representação • Consequências: absolvição réu da instância (art.
o Ações entre a pessoa coletiva e o representante: representação pelo substituto do
Judiciária 278º/1/c); obsta ao conhecimento do mérito da causa
representante ou, senão houver, por um curador ad litem;
(fora os casos do art. 278º); caso julgado formal (art.
• Pessoas judiciárias: entidades que só possuem personalidade judiciária são representadas
279º e 671º), podendo haver lugar a recurso.
de formas diferentes;
• Sanação: intervenção ou citação do representante
o Herança jacente: por curador (art. 2048º CC);
legítimo ou do curador do incapaz;
o Comissões especiais, sucursais, sociedades sem personalidade, pessoas coletivas e
o Em caso de ratificação: o processo segue
sociedade irregulares: diretores, gerentes ou administradores (195º/1 e 996º/1 CC);
como se o vício não existisse (art. 27º/2);
o Associações sem personalidade jurídica: diretores, gerentes ou administradores,
pode ser feita por simples requerimento;
quando sejam parte ativa; aqueles que tiverem assumido a obrigação, em caso de
serem parte passiva (art. 198º/3 CC).

• Patrocínio judiciário: representação da parte por um profissional do foro (advogado, • Quando falta e é facultativo: não há consequências
advogado estagiário ou solicitados; justifica-se pela necessidade de atribuir a condução do processuais; possibilidade de outra representação (art.
processo a profissionais com a devida habilitação; 42º);
o Distingue-se da assistência técnica: prevista no art. 50º; é prestada diretamente ao • Quando falta e é obrigatório:
advogado (e só indiretamente à parte, na medida em que o advogado a representa), o Réu – art. 41º e 40º/3: falta um pressuposto
• Regulado nos arts. 40º e ss: pode ser facultativo ou obrigatório. de um ato processual (não se trata de falta de
Patrocínio o Art. 40º/1/a): quando a causa seja de valor superior a 5000€ (art. 44º/1 da LOSJ e pressuposto processual) – ficar sem efeito a
Judiciário 629º/1 do CPC); defesa ou não ter seguimento o recurso.
o Art. 40º/1/b): nos casos do art. 629º/2 ou 3; Consequências: possibilidade de revelia do
o Art. 40º/1/c): recursos; causas em que a ação não é proposta na 1ª instância, mas réu, se nada fizer (art. 566º e 567º), que tem
nos tribunais superior (ver supra: exceções à competência dos tribunais de 1ª como consequência a confissão.
instância – competência em razão da hierarquia – arts. 967º e ss. e 978º e ss. CPC) o Autor - art. 41ºº: falta um pressuposto
• Exceções: art. 40º/2 – podem as próprias partes, por si sós, fazer requerimentos que não processual, passível de sanação (notificação
envolvam questões de direito; para ser constituído o patrocínio);
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• Falta de sanação pelo autor → exceção dilatória


(arts. 576º e 577º/h), de conhecimento oficioso pelos
tribunais (art. 578º));
• Consequências: absolvição réu da instância (art.
278º/1/c); obsta ao conhecimento do mérito da causa
(fora os casos do art. 278º); caso julgado formal (art.
279º e 671º), podendo haver lugar a recurso.

• Mandato: meio pelo qual os poderes de representação, em juízo, são conferidos ao advogado
(mandatário) pela parte (mandante ou constituinte);
• Pode ser conferido nos termos enunciados no art. 43º. • O vício corresponde à falta de procuração: art. 48º/1 –
• Abrangência do mandato: art. 44º/1 – representar a parte em todos os atos e termos do ocorre quando o ato processual é praticado por
processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante tribunais superiores (sendo estes advogado, mas este não juntou, aos autos, a respetiva
os poderes supletivos – 45º); presume-se, nestes poderes, a possibilidade de procuração.
Mandato Judicial substabelecimento (art. 44º/2), podendo ser com ou sem reserva; • Fixação de prazo para a sanação: art. 48º/2/1ª parte.
o Poderes específicos: art. 45º/2 – apenas quando expressamente autorizados. • Se o vício não for sanado: consequências são as que
o Pode desistir livremente do recurso, sem necessidade de procuração especial: estão no art. 48º/2/2ª parte.
retira-se semelhante conclusão do art. 632º/5. • Excesso de mandato: participação da questão à
• Pode ser revogado ou renunciado: art. 47º; com as particulares na circunstancia de ser Ordem dos Advogados (art. 48º/3).
obrigatório (art. 47º/3);
• O patrocínio pode também ser atribuído a título de gestão de negócios: art. 49º.

• Legitimidade: corresponde à posição das partes numa determinada ação, ou seja, que o autor é titular • O vício corresponde à ilegitimidade processual: falta
do direito (for quem pode fazer a pretensão) e que o réu é sujeito da obrigação (for quem pode, de legitimidade, por não ser sujeito da relação jurídica
juridicamente, opor-se à pretensão do autor) – art. 30º/1; os titulares da relação jurídica controvertida, controvertida (art. 30º); preterição de litisconsórcio
conforme estabelecida na petição inicial (art. 30º/3); necessário (art. 33º e 34º).
Legitimidade • Pluralidade de partes: quando há vários autores (pluralidade ativa) ou vários réus (pluralidade • Cônjuges: em caso de falta de consentimento, a falta
Processual passiva) – ou pluralidade mista, quando são ambos; pode ser inicial (no momento em que é proposta a pode ser judicialmente requerida (art. 6º/2 + 34º/2 e
ação) ou sucessivo (mediante intervenção espontânea – 311º e ss. - ou provocada – 316º e ss.); 29º);
o Litisconsórcio (art. 35º/1ª parte): pluralidade de partes, mas unidade quanto à relação
material controvertida;
• Falta de sanação pelo autor → exceção dilatória
o Coligação (art. 35º/2ª parte): pluralidade de partes e diversidade de relações materiais (arts. 576º e 577º/e), de conhecimento oficioso pelos
controvertidas; tribunais (art. 578º));

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▪ Admissibilidade de coligação: art. 36º - o autor pode demandar vários réus por • Consequências: absolvição réu da instância (art.
pedidos diferentes, quando i) a causa de pedir seja a mesma e única, quando ii) os 278º/1/d); obsta ao conhecimento do mérito da causa
pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade/dependência ou quando (fora os casos do art. 278º); caso julgado formal (art.
iii) a procedência dos pedidos principais dependa da apreciação dos mesmos factos,
279º e 671º), podendo haver lugar a recurso.
da interpretação/aplicação das mesmas regras ou da interpretação/aplicação de
clausulas de contratos perfeitamente análogos; • Sanação (art. 6º/2 CPC): através de intervenção
• Litisconsórcio: pressupõe uma pluralidade de partes principais, ficando excluída a parte acessória como provocada (art. 316º e ss.) ou de intervenção
constituindo o litisconsórcio (art. 326º - assistência); espontânea (art. 311º e ss.);
o Litisconsórcio voluntário (art. 32º): situações em que a pluralidade das partes, na ação, não
é obrigatória; exemplo: obrigações solidárias (517º/1);
o Litisconsórcio necessário (art. 33º e 34º): situações em que é necessária a intervenção de
todos os interessados no processo;
▪ Pode ser legal: o litisconsórcio é imposto por lei (direito substantivo + art. 34º) –
exemplos: art. 535º; art. 419º/1; art. 2091º/1 CC;
▪ Pode ser convencional: o litisconsórcio é imposto pelo próprio contrato.
▪ Pode ser natural (art. 33º/2): é imposto pela natureza da relação jurídica; é
necessária a intervenção de todos os interessados para que a decisão produza o seu
efeito útil normal – sempre que possa regular definitivamente a situação concreta as
partes relativamente ao pedido formulado (exemplo: ação de divisão de coisa
comum);
o Litisconsórcio subsidiário ou eventual: art. 39º; possibilidade de ser formulado um pedido
principal contra aquele que se considera ser o provável devedor e também um pedido
subsidiário contra outro suposto devedor;
o Litisconsórcio recíproco: a oposição destina-se a permitir a participação de um terceiro que
é titular de uma situação subjetiva incompatível com aquela que é alegada pelo autor;
• Em especial – litisconsórcio necessário legal (cônjuges): a lei substantiva determina quais os bens e
direitos que só podem ser alienados ou exercidos por ambos os cônjuges (art. 1717º e ss.); quanto à casa
de morada de família (arts. 1682º-B e 1793º do CC);
o A ação pode ser instaurada por um dos cônjuges com o consentimento do autor;
o Ações propostas por ambos os cônjuges (litisconsórcio necessário ativo – podendo ser legal ou
convencional): art. 34º/1; regime das dividas (art. 1691º e 1695º CC);
o Ações propostas contra ambos os cônjuges (litisconsórcio necessário passivo – podendo ser
legal ou convencional): art. 34º/3; regime das dividas (art. 1691º e 1695º CC);

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• Problema: saber se a propositura da ação é inútil, ou seja, situações em que, p.e., o autor já
tem um titulo executivo e vai propor uma ação de simples apreciação.
• Autonomização como interesse processual: nesse sentido, MTS e Pais do Amaral;
o Orientações negativistas (Castro Mendes): sustentam que a falta deste
pressuposto apenas implica a responsabilidade do autor pelas custas da ação, ainda
que esta seja procedente (art. 535º); está em causa, a tutela da autonomia privada.
o Pais do Amaral:
▪ Ações de simples apreciação (art. 10º): verdadeiro problema; entende-se
que deve verificar-se uma situação de incerteza objetivamente grave, de
modo a justificar a intervenção do tribunal (porque o autor, quando propõe • Se aquela ação for inútil para a tutela, falta o
estas ações, pretende pôr termo a uma situação de incerteza ou de dúvida interesse processual.
acerca da existência ou inexistência de um direito ou de um facto); • Falta de sanação pelo autor → exceção dilatória
▪ Ações constitutivas (art. 10º): existe interesse processual quando o direito (arts. 576º), de conhecimento oficioso pelos tribunais
Interesse
potestativo corresponde não é daqueles que possa ser exercido por simples (art. 578º));
Processual
declaração de vontade do respetivo titular (p.e.: divórcio); • Consequências: absolvição do réu da instância (art.
▪ Ações de condenação e de execução (art. 10º): a violação do direito do 278º/1/e); obsta ao conhecimento do mérito da causa
autor, que está na sua origem, evidencia a necessidade de pedir a (fora os casos do art. 278º); caso julgado formal (art.
reintegração do direito violado; 279º e 671º), podendo haver lugar a recurso.
o MTS: define como o interesse da parte ativa em obter a tutela judicial de uma situação
subjetiva através de um determinado meio processual e o correspondente interesse
da parte passiva em impedir a concessão daquela tutela (art. 30º/2). Apela-se, aqui, à
correlatividade das vantagens: a vantagem do autor tem, como correlação, a
desvantagem do réu.
▪ Argumentos: numa interpretação do art. 535º, entende que do preceito se
deduz que a responsabilidade pelas custas depende de o reu não ter
contestado, o que permite concluir que o réu pode contestar a falta de
interesse; a ratio do preceito é proteger o réu;

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