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Direito Processual Civil II 2022/2023

Direito Processual Civil II – Aulas Práticas

Aula dia 09/03/2023

PASSOS PARA RESOLVER UM CASO PRÁTICO:


1. Ver qual é o tema do caso prático – se é um problema de petição inicial, da
contestação, da legitimidade, de extinção da instância.

2. Depois, temos que ir buscar a lei, a doutrina e a jurisprudência

3. Apresentar uma solução.

CASO PRÁTICO 1
A intentou contra B uma ação de reivindicação (arts.1311º e ss. CC). Na petição
inicial que apresentou:
a) A não identificou o tribunal onde a ação foi proposta, não identificou as
partes e nem a forma de processo;
b) Nada pede (não formula um pedido);
c) Apenas alega que adquiriu o bem imóvel em questão em setembro de 2015 e
que, em janeiro de 2016 celebrou com B, um contrato de comodato
(arts.1129º e ss.), pelo prazo de dois anos. Alegou ainda que B não entregou o
bem imóvel.
d) O autor alega que adquiriu o bem imóvel a C através de um contrato de
compra e venda, válido e eficaz, em março de 2012 e que, em abril do mesmo
ano, celebrou um contrato de arrendamento com B, que nunca pagou a renda
correspondente, e vem pedir que o prédio seja entregue e que o réu seja
obrigado a pagar as rendas desde o início do contrato.

Esta ação, nestes vários casos, poderia prosseguir?


Estamos perante uma ação declarativa na sua forma comum, na fase dos articulados.
Normalmente, nos articulados temos a petição inicial, a contestação e a réplica.
A fase seguinte aos articulados é a fase intermédia. Esta fase dos articulados é aquela
em que intervêm, sobretudo, as partes.
Neste caso prático estamos perante um articulado específico, sendo esta, a petição
inicial, que vem regulada no art.552ºCPC.
A petição inicial é o primeiro articulado, da fase dos articulados. É o articulado utilizado
pelo autor para formular a sua pretensão de tutela jurisdicional. É como que a base de
todo o processo. É tão importante que a sua entrada em juízo, determina o momento
do início do processo, da instância – art.259ºCPC. O facto de se apresentar

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determinada petição inicial, vai fazer com que não venha a caducar o direito –
art.331º/1CPC.
O ato da petição só produz efeitos em relação ao réu a partir do momento da citação.
Quanto ao conteúdo, deve constar o endereço (dizer qual o tribunal), o cabeçalho, a
identificação das partes e a narração (o autor vai contra a história, chamando a
atenção para os factos que lhe interessam para pedir uma coisa e lhe ser dada razão),
a conclusão (o pedido).

a) Nesta situação, temos que ter em conta os requisitos da petição inicial –


art.552ºCPC. Aqui, o autor apresentou uma petição sem endereço, sendo que a
consequência será a recusa da Secretaria do seguimento da petição inicial (esta
faz um mero controlo formal e externo da petição inicial), defendo
fundamentar a sua decisão por escrito – art.558º/a) CPC.
O autor também não identificou as partes – art.558º/ b) CPC e art.552º/a) - o
que vai levar a uma recusa pela Secretaria.
Não indicou, ainda, a forma de processo- arts.558º/d) e 552º/c) CPC – o que
leva origem à recusa do prosseguimento da petição inicial pela Secretaria.

b) O autor apresentou a petição inicial sem formular qualquer pedido. Há violação


do disposto no art.552º/e) CPC (remissão para o art.186ºCPC), que leva à
ineptidão da petição inicial, gerando-se, assim, um vício insanável- a nulidade
de todo o processo (arts.196º, 198º/1 e 200/2ºCPC) - pelo que a ação termina.
Remissão do art.552º/e) para os arts.609º/1 e 615º/1/c) CPC – princípio do
pedido. E para o art.186º/2/a) e deste para os art.196º, 198º/1 e 200º/2.
O réu pode arguir esta nulidade até à contestação.
Remeter ainda do art.552º para o art.557º E remeter do art.186º/1 para o
art.577º/b).

c) O que se passa aqui é que ao autor, mencionar a forma pela qual adquiriu o
bem. ele teria que provar que era proprietário do bem.
Temos aqui um problema de falta da causa de pedir, uma vez que não temos os
factos que nos ajudam a definir a relação material controvertida.
A falta da causa de pedir gera a ineptidão da petição inicial – art.186º/a) CPC,
remetendo para o art.552º/d) CPC.
Faltar a causa de pedir é uma nulidade insanável, pelo que é nulo todo o
processo. Temos uma exceção dilatória, dado que não é conhecido o mérito da
causa e a ação extingue-se.

O juiz pode ter acesso ao processo antes e não só após a fase dos articulados.
Quando ele o faz, por determinadas razoes, ele vai, depois da petição inicial ser
constituída, apreciar este vício e proferir um despacho liminar.

d) Aqui já não temos uma questão de falta de causa de pedir.


Nesta situação, estão em causa as modalidades do pedido – arts.554º e ss.
Na situação em questão, temos dois pedidos, ou seja, temos um caso de cumulação de
pedidos – art.555ºCPC.

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Tendo em conta a informação concedida, entendemos estar perante dois pedidos


compatíveis substancialmente, o que faz com que possa haver uma cumulação
destes pedidos – art.186º/2/c) CPC – que só é possível caso haja uma
compatibilidade substancial entre os pedidos e desde que não existam obstáculos
processuais, sob pena da petição ser nula.
Ora, à partida, o vício da incompatibilidade substancial, seria um vício, de tal
maneira grave, que seria insanável, determinando, assim, o fim da causa, pela sua
nulidade. No entanto, o nosso juiz é um juiz gestor e, por força do dever de gestão,
consagrado no art.6ºCPC, o que tem acontecido é que este convida o autor a optar
por um pedido, dado que estes não são compatíveis ou então, a desistir da causa.
Assim o é, por questões de economia processual.

Aula dia 16/03/2023

Art.37º/2: neste estão os obstáculos à coligação, sendo estes:


- tramitação manifestamente incompatível;
- falta de competência absoluta (art.37º/1/2).

O art.555º/2 é uma norma excecional, que aceita o pedido de divorcio sem o


consentimento dos cônjuges com o pedido de alimentos.

No caso da alínea d), nada nos é dito acerca da competência, pelo que presumíamos
que este não existisse. Além disso, os pedidos são substancialmente compatíveis, pelo
que não haveria problema quanto ao facto de o autor fazer dois pedidos.

CASO PRÁTICO 2
A, senhorio, intentou contra B, arrendatário, uma ação de resolução do contrato de
arrendamento (art.1083º). Na petição inicial que apresentou, o autor:
a) Não formula um pedido;
b) Apenas alega que B não cumpriu os seus deveres de arrendatário, não
concretizando o incumprimento de B;
c) Alega que B não era de trato afável, não se apresentava limpo, aquando do
pagamento da renda e desencadeava vários desacatos na vizinhança;
d) Alega que celebrou o contrato com base em erro, o que determina a sua
invalidade e vem pedir as rendas não pagas.
No caso, estamos perante uma ação de processo comum, na fase dos articulados,
sendo este, concretamente, a petição inicial.
Há uma forma prevista na lei, da qual o juiz se pode desviar face às especificidades da
causa.
Todas as ações declarativas estão sujeitas às mesmas especificidades, existe uma
forma única de processo. No entanto, a estrutura é flexível, por força do dever de
adequação formal do juiz – art.547ºCC, de maneira a atingir o fim pretendido,
assegurando um processo equitativo. Isto dá uma grande margem de liberdade ao juiz
para ajeitar a forma de processo aos objetivos em causa.
Desta forma, os processos especiais têm vindo a diminuir cada vez menos, porque não
se justificam.

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Esta forma da ação declarativa comum tem uma imagem do juiz como ativo e
emprenhado em que o processo civil siga os seus fins, tendo em conta a especialidade
da causa, em si. Por isso, há quem fale da queda do princípio da legalidade das formas
de processo. Mas o que acontece é que o juiz adapta o processo àquela causa
concreta, por razões de eficácia, utilidade e articulação.
Se o juiz decidir seguir uma forma de processo diferente da invocada pelo autor na
petição inicial, ele deve ouvir, previamente as partes – art.3º/3CPC (princípio do
contraditório) e art.591º/1/e).

Assim sendo, estamos na fase dos articulados – arts.552º e 587ºCPC. Para além dos
articulados, existem articulados supervenientes, onde as partes alegam factos que não
sabiam na petição inicial.

Quais são os problemas que este caso levanta? Não há formulação de pedido e nem
concretização dos factos – art.552º/1/a) CPC.
Além disso, o autor alega que celebrou o contrato com base em erro e pede o
pagamento das rendas não pagas. Isto significa que o autor formula dois pedidos
substancialmente incompatíveis – arts.555º e 186º/1/c) CPC.

A petição inicial é o articulado que o autor utiliza para pedir a tutela do seu direito.
Não pede só a tutela jurisdicional, mas expõe, também, os fundamentos de facto e de
direito, em que a sua petição assenta. A petição é o primeiro articulado e a base de
todo o processo, porque ela o condiciona.

Art.259º/1 – início da instância. A instância inicia-se pela proposição da ação, que é a


entrada da petição inicial em juízo. Aqui começa a decorrer o prazo de caducidade.
Os tribunais conhecem oficiosamente da caducidade – art.333º/1CC. Eles têm
obrigação de conhecer por eles próprios, não precisam de ser obrigados.

Art.(?) - prescrição da caducidade – estão sujeitos a prescrição pelo seu não exercício,
os direitos que não sejam indisponíveis.

Quanto ao caso em análise, o autor, na petição inicial que apresenta, alega que B não
cumpriu os deveres de arrendatário, mas não concretiza o incumprimento e não
formula um pedido. Então, existe falta de pedido e falta da causa de pedir.
No que toca à falta da causa de pedir, temos que remeter para o art.609ºCPC e para o
art.615º/1/e).
Aqui, em concreto, falta o pedido, pelo qual recorrermos ao art.186º/2/a), que nos diz
que a petição é inepta, quando falte o pedido. Esta, gera a nulidade de todo o negócio.
Este vício é insanável e, por isso, todo o processo é nulo. Sendo o processo nulo, existe
uma exceção dilatória – art.577º/b) – isto levará à absolvição da instância.

Já quanto à causa de pedir, o autor diz que B não era limpo, nem afável e que
desencadeava vários desacatos na vizinhança. Aqui, temos a causa de pedir, o que
significa que ela não está, totalmente, ausente. Ou seja, o que existe é uma
ininteligibilidade – isto é, a causa de pedir não é percetível.

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Em vez de haver uma falta de causa de pedir, o que existe é uma inintegibilidade, uma
insuficiência nos factos que fundamentam o pedido.
Art.552º - temos um caso de ineptidão da petição inicial – nº1/d). Logo, de acordo com
o art.186º/2/a), existe uma nulidade. Mas, a insuficiente de causa de pedir é sanável,
sendo que o juiz profere um despacho de saneamento, convidando o autor a tornar
compreensíveis os factos da causa de pedir.
O outro problema prende-se com a alínea c), uma vez que o autor diz que celebrou o
contrato com base em erro, dizendo que este é inválido. Neste caso, existe uma
contradição entre o pedido e a causa de pedir.

Aula dia 13/04/2023


Vícios da Citação:
- falta de citação;
- nulidade da citação.

Temos que saber qual é o vício em causa e qual o regime aplicável. Temos ainda que
saber se é ou não de conhecimento oficioso.
Arts.187º - quando haja falta de citação, há nulidade. Mas, em rigor, não é a nulidade
de tudo, tudo.
O art.188º dá-nos os casos de falta de citação.

A citação edital aplica-se quando a pessoa esteja em parte incerta.

Quanto temos uma falta de citação, mas o réu ainda intervém no processo, então, esta
nulidade que a falta de citação acarreta, é sanada – art.227º.
O ato de citação tem como função levar ao conhecimento do réu que foi intentada
uma ação contra si.

Pode o réu não chegar ao processo, porque não teve, efetivamente, conhecimento
dele. Houve uma citação que se fez, mas é tida como falta de citação, porque não
chegou ao réu.
A falta de citação gera a nulidade – arts.187º/a) CPC. O art.196º e art.200º.

Há falta de citação. Esta é um vício da citação e, como tal, vai simular tudo o que se fez
após a petição inicial. Tudo o que acontece antes da citação salva-se.
Esta nulidade é de conhecimento oficioso – o juiz pode e deve conhecer desta falta de
citação. Além disso, o réu pode arguir a falta de citação em qualquer fase do processo.
Só não o poderá fazer se esta estiver sanada nos termos do art.199º.

Só temos conhecimento oficioso da nulidade da citação, se houver citação edital, ou


quando o vício tenha a ver com o prazo para contestar.

Quando à alínea c) do caso prático (que não tenho porque faltei à aula). Se temos uma
pessoa citada que é diferente do réu. Temos uma falta de citação, nos termos do
art.188º/1/b) CPC.

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Direito Processual Civil II 2022/2023

Havendo esta falta de citação que é um vício da citação, o que vai acontecer é que é
nulo tudo o que se processe depois da petição inicial – art.187º.
Todos os atos anteriores à citação, estes, não são abrangidos pela nulidade da citação.
O tribunal deve conhecer oficiosamente esta nulidade, nos termos do art.196º. Não
oderia haver sanação, quando o réu interviesse, sem arguir, de imediato esta sanação.
Se esta falta de citação não for sanada, o juiz pode conhecer dela, oficiosamente.

Exemplos de vícios de falta de citação:


Ex: o réu não foi citado porque a Secretaria não promover a citação – art.188º/1/a)
CPC.

Ex: réu foi citado, mas não lhe foi comunicado o prazo para contestar. Ora, este prazo
é essencial, é uma formalidade essencial.
No ato de citação deve ser emitida ao réu uma cópia da petição inicial, na qual indique
que é parte do processo, qual o tribunal, etc... – art.227º/1 CPC.
Não lhe sendo comunicado o prazo para contestar, a citação é nula. Temos que saber
qual o prazo para arguir a nulidade – é aquele, normalmente, que tiver sido indicado
para contestar. Na falta deste prazo, a nulidade, pode ser arguida desde o primeiro
momento da intervenção do réu no processo.
Esta nulidade não é, em regra, de conhecimento oficioso.
Há casos, porém, no art.196º/2, em que a nulidade pode ser de conhecimento
oficioso.

Alínea a) – o réu foi citado, mas foi comunicado um prazo superior ao prazo legal para
apresentar contestação. Qual é, afinal, o prazo legal para contestar? 30 dias.
Não temos uma nulidade, mas uma mera irregularidade. Assim sendo, a lei prevê-a no
art.191º.
O réu foi citado e foram cumpridos todos os elementos, apenas foi dado um prazo
superior. Mas, como isso não prejudica o réu, existe apenas uma mera irregularidade.
Então, não vale a pena existirem consequências.

Ex: A citação foi promovida pela secretaria, o autor deu conta desse erro, mas fez citar
novamente o réu em termos regulares. O autor pode, efetivamente, pedir que haja
uma nova citação.
Faz-se uma citação pessoal.

Alínea f) – o mandatário judicial propôs ao autor ser ele próprio a fazer a citação. É
possível? Ora, esta é uma forma de citação pessoal, pelo que se entende como
possível. Para que o processo não fique pendente, pode o mandatário judicial pedir
que o autor faça a citação.
Devem, também, ser comunicados todos os elementos do art.227º. isto tem que ser,
efetivamente, pedido na petição inicial e, no caso de a citação de frustrar de alguma
forma, ele pode pedir novamente uma citação. Isto deve ser referido na petição inicial
(o facto de ter sido o autor a fazer a citação).
Se não constar da petição inicial, não pode fazer este anúncio, a não ser que, em
momento posterior, havendo citação pela secretaria, o mandatário disser.

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