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Diretoria Jurídica do Tribunal de Contas do Estado de Goiás – juridico@tce.go.gov.br
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O Presidente do TJGO, Des. Carlos Alberto França, deferiu a liminar
pleiteada, nos autos do “Pedido de Suspensão de Liminar”, para determinar a suspensão
dos efeitos da decisão proferida nos autos do mandado de segurança de protocolo n.
5603235-09.2023.8.09.0000, até o julgamento de mérito do mandamus, suspendendo os
efeitos da decisão cautelar proferida pelo Conselheiro Edson José Ferrari, deste Tribunal
de Contas, tendo liberado o normal prosseguimento do procedimento do referido
Chamamento Público nº 01/2023-SES/GO.
O Conselheiro Edson José Ferrari, após ter sido intimado para manifestar-
se em 72 horas, apresentou sua Manifestação no Evento 16 dos autos do Pedido de
Suspensão de Liminar (5606588-57.2023.8.09.0000).
[...] Decido.
Em linha:
[...]
Assim, preenchendo o pedido de reconsideração de movimentação n.º 20 todos
os requisitos intrínsecos e extrínsecos inerentes ao recurso de agravo interno,
em homenagem aos princípios da instrumentalidade das formas, economia
processual e primazia do julgamento do mérito, conheço-o como se este fosse.
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dependendo das alegações que a parte porventura traga a análise, tendo em
vista a possibilidade de não ter o julgador se atentado para questão importante
para o deslinde da causa.
Pois bem.
Como cediço, o artigo 7º, inciso III, da Lei Federal nº 12.016/2009, dispõe que,
ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se suspenda o ato que deu motivo
ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder
resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado
exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar
o ressarcimento à pessoa jurídica.
No caso em tela, numa cognição sumária dos documentos acostados aos autos,
verifico a presença dos requisitos ensejadores da medida requestada.
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§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo
de ação cautelar inominada, no processo de ação popular e na ação civil
pública, enquanto não transitada em julgado.
§ 2o O Presidente do Tribunal poderá ouvir o autor e o Ministério
Público, em setenta e duas horas.
§ 3o Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá
agravo, no prazo de cinco dias, que será levado a julgamento na
sessão seguinte a sua interposição.
§ 4o Se do julgamento do agravo de que trata o § 3o resultar a
manutenção ou o restabelecimento da decisão que se pretende
suspender, caberá novo pedido de suspensão ao Presidente do Tribunal
competente para conhecer de eventual recurso especial ou
extraordinário.
[...]
§ 7o O Presidente do Tribunal poderá conferir ao pedido efeito
suspensivo liminar, se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade
do direito invocado e a urgência na concessão da medida.
[...] (grifo nosso).
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras
do regimento interno do tribunal. (...)
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para
manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual,
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não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado,
com inclusão em pauta.
Mister destacar que a lei deve ser utilizada conforme as finalidades para a
qual se destina. Se a intenção do legislador não almeja aquela finalidade, não pode o
destinatário da norma transverter o seu objetivo, sob pena de torná-la muito aberta e até
mesmo de aplicá-la de forma ilegal.
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liminar para suspender a decisão do Conselheiro do TCE/GO, o estrago certamente seria
maior, pois daria margem à celebração de contratos de forma ilegal).
Dessa forma, haja vista que o remédio utilizado pelo Estado de Goiás para
se insurgir contra a decisão que INDEFERIU a liminar pleiteada em ação mandamental,
não é o adequado (caberia o agravo endereçado ao órgão competente), deve ser
indeferido. Até mesmo porque não cabe a aplicação, no caso, do princípio da
fungibilidade recursal, considerando que se trata, propriamente, de erro grosseiro, já que
não há dúvida sobre qual recurso seria o correto a ser utilizado.
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ERRO GROSSEIRO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE.
INVIABILIDADE. 1. O Tribunal de origem decidiu em dissonância
com a jurisprudência desta Corte Superior, que entende que "a decisão
que resolve Impugnação ao Cumprimento de Sentença e extingue a
execução deve ser combatida por meio de Apelação, enquanto aquela
que julga o mesmo incidente, mas sem extinguir a fase executiva, por
meio de Agravo de Instrumento" ( REsp 1.803.176/SP, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, DJe 21/05/2019)" 2.
Hipótese em que o recurso cabível seria o agravo de instrumento,
de modo que a interposição de apelação contra decisão que não
extingue a execução configura erro grosseiro e inviabiliza a
aplicação do princípio da fungibilidade. 3. Agravo interno
desprovido.
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IV.2. DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS QUE AUTORIZAM A CONCESSÃO
DE LIMINAR. DO PERICULUM IN MORA REVERSO.
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Trata-se do periculum in mora inverso, sobre o qual GALENO
LACERDA 1, ao tratar do poder cautelar geral e afirmando a prudência com que deverá
agir o juiz, assim se manifesta:
A doutrina 2 também ensina que "há certas liminares que trazem resultados
piores que aqueles que visavam evitar".
1
LACERDA, Galeno. Comentários ao Código de Processo Civil, Rio de Janeiro, Forense, 1998.
2
ARAGÃO, Egas Moniz de. Revista de Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.
42, 1990.
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Portanto, o argumento da grave lesão à ordem e à saúde públicas não se
sustenta, na medida em que a própria legislação, ao prever situações excepcionais que
podem impactar na execução dos contratos entabulados pela Administração Pública,
prevê a possibilidade de prorrogá-los até o advento do prazo máximo ou, até mesmo,
diante de uma excepcionalidade, elastecê-los por mais 12 (meses) tempo este suficiente
para a instauração e contratação de uma nova entidade gestora de hospitais públicos, na
forma do contrato de gestão, conforme determina a lei.
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O Tribunal de Contas do Estado de Goiás, órgão de extração
constitucional, tem suas competências definidas no art. 71, da Magna Carta de 1988, que,
em suma, envolvem o controle externo da gestão administrativa e dos gastos públicos.
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Contas não tem a intenção de substituir o gestor, mas de orientá-lo a executar suas ações
conforme determina a legislação. Ora, se a irregularidade é latente, deve o Tribunal de
Contas atuar para afastá-la, evitando prejuízo para o erário público.
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Para Maria Sylvia Zanella di Pietro 3:
[...]
Por tal razão, é forçoso concluir pela impossibilidade de o Poder
Judiciário rever o mérito da decisão do Tribunal de Contas da
União proferida no exercício da competência prevista no art. 71,
inciso II, da Constituição Federal, sob pena de se esvaziá-la,
frustrando o comando contido no dispositivo constitucional
citado.
3PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Coisa julgada – aplicabilidade a decisões do Tribunal de Contas da União. Revista
do TCU, nº 70, 1996.
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Como bem ressaltou o Des. Relator, na supracitada decisão, apenas em
caso de vícios de natureza formal ou manifesta ilegalidade, pode haver o controle judicial
das decisões dos Tribunais de Contas.
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Mostra-se importante tecer algumas considerações sobre a questão travada
no âmbito do Tribunal de Contas, objeto da ação mandamental e do pedido de suspensão
de liminar.
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competente manteve seu posicionamento, para expedir a cautelar necessária para
suspender os Chamamentos Públicos realizados com base na Lei n.º 13.019/2014.
[...]
Conclui-se, portanto, dentro do SUS, ainda que o conjunto de ações e
serviços de saúde seja prestado por órgãos e instituições públicas, toda
a atuação da iniciativa privada em atividade assistencial, qual seja,
a promoção, proteção e recuperação da saúde, é complementar.
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aplica, uma vez que é dessa atividade que se trata o art. 199, § 1º da
Constituição Federal e, pela norma, afastada em seu art. 3º, inciso IV.
Se a atividade é preventiva ela poderá ser objeto de termos de
colaboração, termo de fomento e acordos de cooperação, na forma da
Lei nº 13.019/2014.
Diante deste arcabouço legislativo, reafirma-se mais uma vez, que a Lei
nº 13.019/2014 não se aplica aos ajustes firmados com OSC que
prestam serviços de internações e ambulatoriais, em
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complementaridade ao SUS. Veja-se que a aplicabilidade do citado
diploma legal depende essencialmente da natureza e do objeto do
ajuste, além do tipo de atuação que a OSC desempenhará na
parceria.
Por outro lado, nas hipóteses em que a OSC não se configure como
prestadora de serviço, atuando em ações classificadas como promoção
à saúde, aquelas voltadas para redução de risco à saúde, tais como:
prevenção ao câncer, ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), às
hepatites virais, à tuberculose, à hanseníase, à malária e à dengue;
redução da morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool
e outras drogas; e, prevenção da violência, a parceria firmada com o
poder Público será regida pelas normas delineadas na Lei n°
13.019/2014 (sem grifos no original).
38. [...] cumpre observar que a contratação de entidade civil sem fins
lucrativos para gestão compartilhada de saúde não pode ocorrer
por celebração de termo de colaboração, como traz o Termo de
Referência. [...].
A Lei 13.019/2014 não pode ser aplicada aos ajustes cujo objeto
envolva parceria e fomento à atuação do setor privado sem fins
lucrativos para a prestação de serviços de caráter complementar no
SUS, cuja norma de regência é a Lei 9.637/1998, sendo o contrato de
gestão a única forma de se firmar a parceria entre organizações
sociais e o setor público. (grifo nosso).
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Na ocasião, foi adotada medida cautelar pela Corte, para suspender a
execução do chamamento, que não teve continuidade após a concessão da medida.
Instada, a Unidade de Auditoria Especializada em Saúde (AudSaúde),
daquela Corte de Contas Federal, concluiu pela procedência da representação, no mérito,
quanto a irregularidade apontada no Chamamento Público 003/2019, visto que a
delegação proposta nos termos do referido certame não teria amparo no ordenamento
jurídico pátrio (artigo 3º, inciso IV, da Lei 13.019/2014, artigo 199, § 1º, da CF/88 e
artigos 24 e 25 da Lei 8.080/1990). Segue excerto do Acórdão n.º 1005/2023 – TCU, que
julgou procedente a representação:
[...]
1.1. Órgão/Entidade: Prefeitura Municipal de Cabedelo - PB.
1.2. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.4. Unidade Técnica: Unidade de Auditoria Especializada em Saúde
(AudSaúde).
1.5. Representação legal: Andre Martins Pereira Neto (16180/OAB-
PB), Mayara Araujo dos Santos (16377/OAB-PB) e outros,
representando Prefeitura Municipal de Cabedelo - PB.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações:
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Deve ser frisado, portanto, que diferente do entendimento do Douto
Relator, os ajustes firmados com a iniciativa privada para a gestão, operacionalização e
execução dos serviços de assistência à saúde em unidades públicas configuram, sim,
a participação complementar (e não preventiva) no Sistema Único de Saúde, o que
afasta a aplicabilidade da Lei 13.019/2014, nos termos do seu art. 3, inciso IV.
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Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências.
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irregularidades (preocupantes) na implementação da Lei n.º 13.019/2014, para a gestão
da saúde pública do Estado de Goiás, arroladas na referida resolução, tais quais os
problemas identificados pela Unidade Técnica desta Corte, que motivaram a decisão
monocrática cautelar, para suspender os editais de chamamentos públicos. Inclusive, uma
das preocupações apontadas pelo órgão, é no sentido de que o novo modelo de gestão por
“OS” impede a fiscalização pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás dos repasses
financeiros à “OSC” em razão de Termo de Colaboração.
Dessa forma, com a devida vênia, a decisão concessiva de liminar deve ser
suspensa, para o fim de ser restabelecida a cautelar deferida pelo Conselheiro Edson
Ferrari, por tratar-se de medida mais prudente e acauteladora, ante os vícios e ilegalidades
detectados nos Chamamentos Públicos em questão.
V. DOS PEDIDOS.
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ANEXOS:
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