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EMENTA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual
de 12/03/2024 a 18/03/2024, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram com
o Sr. Ministro Relator.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Afrânio Vilela.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Francisco Falcão.
EMENTA
RELATÓRIO
indenização.
interposto contra decisão que conheceu parcialmente do recurso especial e, nesta parte,
negou-lhe provimento.
fundamento no art. 255, §4º, I e II, do RISTJ, conheço parcialmente do recurso especial e,
argumentos:
Deve-se infirmar, por ser inaplicável ao caso dos autos, o fundamento da decisão
agravada segundo o qual seria o caso de incidência da Súmula 7 do STJ. As balizas fáticas
foram delineadas pelo voto-condutor do acórdão local.
A propósito, como se pode inferir, a análise da pretensão recursal demandará apenas a
revaloração do contexto fático-probatório incontroverso já delineado pelo Tribunal local na
fundamentação do julgado, notadamente em relação à seguinte circunstância, qual seja:
obras de ampliação/implantação da Rodovia SC-480.
Efetivamente, a controvérsia reside na conclusão jurídica extraída pelo Tribunal local
a partir dessas circunstâncias, notadamente no que se refere à indenização.
Não há a necessidade de que, para o reconhecimento da procedência da pretensão
recursal veiculada, ocorra reexame de fatos ou de provas, o que é vedado na via especial.
Em verdade, o que se pede é que, respeitados os contornos fáticos já delineados na decisão
proferida pela Corte de origem, esse Superior Tribunal de Justiça atribua nova qualificação
jurídica a eles, aplicando, de forma adequada, o direito à hipótese.
Deve ser afastado, particularmente, o óbice da Súmula 7 do STJ, porquanto
inadequado ao caso dos autos, uma vez que a análise dos fundamentos recursais é restrita a
aplicação de dispositivo infraconstitucional. Vale dizer, não se mostra necessário adentrar
no reexame de provas, mas, ao contrário, tão-somente verificar a subsunção da lei federal ao
caso, situação essa contrariada pelo r. acórdão recorrido.
[...]
Ocorre que, como foi demonstrado, as questões levantadas pelo recorrente não foram
apreciadas, de modo que não se tem resposta para a pergunta: a área que embora esteja
prevista no Decreto Expropriatório para faixa de domínio, mas que não foi efetivamente
ocupada deve ser indenizada? Isso não foi respondido pelo julgador!
Os acórdãos, contudo, deixaram de apreciar questão imprescindível trazida pelo
Estado, em evidente afronta ao art. 1.022 do CPC.
Requer-se, por isso, o provimento do recurso especial, a fim de que, uma vez
reconhecida a violação ao art. 1.022, I e II do CPC, seja determinado o retorno dos autos ao
Tribunal local, para que sejam supridas as omissões/contradições reconhecidas.
[...]
Por conseguinte, apenas a área efetivamente ocupada pelo Poder Público no caso
concreto, pela Rodovia SC-480 é que deve ser indenizada, pois essa é a extensão do dano
sofrido pelo particular.
Em relação ao restante da área prevista no decreto expropriatório, ou seja, no tocante
à faixa de domínio projetada como passível de desapropriação, mas que não foi fisicamente
ocupada, não há dano. Quando muito, há mera limitação administrativa, mas não há esbulho
e, consequentemente, não há dever de indenizar.
Contudo, o órgão julgador entendeu de modo diverso. De acordo com o julgado,
considerando que o decreto expropriatório declarou de utilidade pública uma faixa de
domínio de até 40 (quarenta) metros de largura para a instituição do sistema viário, haveria
esbulho em relação a toda a essa área, que deve ser integralmente indenizada, ainda que não
tenha havido apossamento físico.
Nada obstante, não se pode concordar com essa conclusão, pois ela viola frontalmente
os artigos 186, 927 e 944 do Código Civil!
Com efeito, a exegese dos artigos 186 e 927 do Código Civil sinaliza que só há dano
ao particular em relação à área sobre a qual recaiu apossamento físico.
A mera previsão, no decreto expropriatório, de que poderá ser instituída faixa de
domínio de até 30 metros (faixa de domínio projetada), quando muito, configura limitação
administrativa, mas não esbulho.
E, considerando que só há dano em relação à área fisicamente ocupada pelo Poder
Público, é apenas essa área que deve ser contemplada na indenização, conforme artigo 944
do Código Civil.
[...]
Como exposto, o apossamento administrativo ocorreu em 1967, seguido do Decreto
Expropriatório n.° 366 de 1975, e a parte autora, quando adquiriu o imóvel (em 25 de maio
de 1993), já tinha plena ciência das limitações administrativas que incidiam sobre o imóvel.
Na hipótese não houve lesão ao patrimônio do adquirente. Ao adquirir um imóvel que
tem uma limitação administrativa em sua área, a potencial desvalorização certamente
foi considerada na fixação do preço.
Assim sendo, tratando-se de ação cuja causa de pedir é a violação à propriedade ou à
posse, na qual o cidadão turbado ou esbulhado não pode vindicar a coisa após
sua incorporação à esfera pública, em razão da supremacia do interesse público, resta ao
lesado a alternativa apenas de exigir a indenização pelo dano sofrido.
Para que o atual proprietário do bem tivesse direito ao valor da indenização,
pela desapropriação indireta, seria necessário que demonstrasse nos autos que adquiriu o
imóvel pelo seu preço antes da desvalorização advinda do apossamento administrativo.
Assim sendo, independentemente da natureza jurídica da ação, a
pretensão indenizatória encontra óbice no princípio jurídico segundo o qual é vedado o
enriquecimento ilícito, a teor do art. 884 do Código Civil, visto que somente quem sofreu o
dano tem o direito de ser reparado.
Esta, de igual modo, a intelecção do art. 27 do Decreto-Lei 3.365/1941, ao estabelecer
que para a fixação do preço da indenização deve-se levar em consideração a depreciação do
bem "pertencente ao réu". Ora, se não havia propriedade dos recorridos quando da restrição
administrativa, inexistiu depreciação sobre a esfera jurídica patrimonial de quem adquire o
bem.
Inexiste, conclusivamente, comunicação entre a conduta estatal e o dano alegado. O
dano, se existente, ocorreu sobre a patrimonialidade do antigo proprietário, não
do adquirente. Assim, deve ser negado o pleito indenizatório por limitação administrativa,
quando estas são anteriores à aquisição do imóvel, buscando os autores ressarcimento de
prejuízo que a parte evidentemente não sofreu, o que afronta a boa-fé das relações jurídicas
e a regra inserida no artigo 844 do Código Civil.
É o relatório.
VOTO
recorrida.
convencimento, ainda que de forma contrária aos interesses da parte, como verificado na
hipótese. Também em recurso especial, não cabe ao STJ examinar alegação de suposta
STF: AgInt nos EAREsp 731.395/SP, relator Ministro Francisco Falcão, Corte Especial,
DJe 9/10/2018; AgInt no REsp 1.679.519/SE, relator Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, DJe 26/4/2018; REsp 1.527.216/SP, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda
responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo
suficiente para proferir a decisão”. A prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/2015
15/6/2016.]
Com relação à alegada violação dos arts. 186, 927 e 944 do Código Civil, a
(fls. 570-571):
[...].
O ente público lançou mão de tese para restringir a área indenizável. Em linhas gerais,
defendeu que a faixa de domínio possui cunho de limitação administrativa e não impõe a
perda da propriedade.
Contudo, razão não lhe assiste.
Como é cediço, a faixa de domínio corresponde à base física sobre a qual assenta uma
rodovia - não só as pistas de rolamento, mas também canteiros, acostamentos, sinalização e
faixa lateral de segurança. A seu turno, a área não edificável compreende o hiato de 15
metros, contados a partir da linha que demarca a faixa de domínio (TJSC, Apelação Cível n.
0003002-78.2013.8.24.0001, de Abelardo Luz, rel. Desembargador Pedro Manoel Abreu,
Primeira Câmara de Direito Público, julgado em 7-5-2019).
[...].
De fato, sobre as porções de terra non aedificandi, incidem restrições à plena
utilização do proprietário, não gerando a ele, em contrapartida, direito ao percebimento de
qualquer compensação.
In casu, o laudo pericial bem observou a faixa de domínio, fazendo constar apenas
sua metragem para fins do cômputo indenizatório (Evento 51, Processo Judicial 2, p. 188-
200). Não foi outro o critério balizado pelo juízo a quo, o que resultou em condenação justa,
no importe de R$ 83.386,80.
[...].
pública, sendo que, uma vez instalada em propriedade privada, retira do proprietário do
imóvel total disponibilidade sobre esse espaço, ou seja, impossibilita que ele faça uso e
gozo dessa porção de terra, não podendo construir, obstar o acesso, exigir pagamento
(pedágio) para sua utilização, etc. Nesse caso, em tese, por óbvio, implica em
devida a indenização.
No caso dos autos, em que pese o ente estadual recorrente alegar que o decreto
expropriatório estabelece área maior que a efetivamente apossada, é certo que os
exclusivamente do ente público expropriante, ainda que não promova a ocupação por
este STJ, no julgamento do citado tema, apreciado sob o rito dos recursos repetitivos,
indireta quando o imóvel, que teve parte de porção de terra expropriada/apossada pelo
que a aquisição do imóvel se deu em período posterior ao esbulho do imóvel, ou, ainda,
Ante o exposto, não havendo razões para modificar a decisão recorrida, nego
provimento ao agravo interno.
É o voto.
TERMO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
AgInt no REsp 2.121.159 / SC
Número Registro: 2024/0028356-3 PROCESSO ELETRÔNICO
Número de Origem:
00079828520118240018
Relator do AgInt
Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO FALCÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO FALCÃO
Secretário
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
AGRAVO INTERNO
TERMO