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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.989.949 - SP (2022/0069432-8)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


R.P/ACÓRDÃ : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ
O
AGRAVANTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES
- DF067583
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI.
CONTRADIÇÃO NA RESPOSTA DOS QUESITOS. ART. 490
DO CPP. NULIDADE ABSOLUTA. ALEGAÇÃO EM
APELAÇÃO. AUSÊNCIA DE PRECLUSÃO. ATENUANTE DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA. AUSÊNCIA DE ALEGAÇÃO EM
PLENÁRIO. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. HABEAS CORPUS
CONCEDIDO DE OFÍCIO.
1. O art. 490 do CPP preconiza que, se identificada contradição nas
respostas dos jurados aos quesitos, o Juiz Presidente do Tribunal do
Júri explicará ao Conselho de Sentença em que ela consiste e
submeterá os quesitos novamente à votação.
2. Uma vez constatada contradição entre duas ou mais respostas, se
o Juiz Presidente do Tribunal do Júri não sanar o vício, estará
configurada nulidade absoluta, não sujeita à preclusão. Precedentes.
3. O art. 484 do CPP, por sua vez, trata da má formulação dos
quesitos, com expressa previsão de preclusão caso a redação dos
quesitos não seja imediatamente impugnada pelas partes, com
consignação em ata.
4. No caso em exame, a parte não impugnou a contradição entre as
respostas dos quesitos na sessão de julgamento, mas tão somente na
apelação, o que autoriza a análise do tema. Todavia, a alegada
inobservância do art. 490 do CPP não pode ser examinada
diretamente por esta Corte Superior. Embora a defesa haja suscitado,
perante o Tribunal estadual, a violação do referido dispositivo legal –
Documento: 166655544 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado - DJe: 07/10/2022 Página 1 de 2
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com a tese de que as respostas aos quesitos n. 1 (materialidade) e n.
5 (qualificadora do meio cruel) seriam contraditórias entre si –, a
matéria não foi objeto de análise sob o viés pretendido. O Juízo a
quo limitou-se a apreciar a tese de contradição na formulação dos
quesitos, nos termos do art. 484 do CPP. Assim, diante da possível
existência de nulidade absoluta, deve ser concedido habeas corpus de
ofício, a fim de determinar que a Corte estadual analise eventual
contradição nas respostas dos quesitos n. 1 e n. 5.
5. Na hipótese do Tribunal do Júri, para que seja reconhecida a
atenuante do art. 65, III, "d", do CP, é necessária a exteriorização da
confissão em plenário, com consignação em ata de julgamento. Na
espécie, não consta na ata da sessão plenária que a defesa suscitou a
confissão do réu em plenário, circunstância que obsta o seu
reconhecimento.
6. Agravo regimental não provido. Concedido habeas corpus de
ofício, para determinar que o Tribunal de origem analise eventual
contradição nas respostas dos quesitos.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma, por maioria, negar provimento ao
agravo regimental e conceder habeas corpus de ofício, nos termos do voto do
Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz, que lavrará o acórdão. Votaram com o Sr.
Ministro Rogerio Schietti Cruz os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro,
Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) e Laurita
Vaz. Vencido o Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior.

Brasília, 27 de setembro de 2022

Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ

Documento: 166655544 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado - DJe: 07/10/2022 Página 2 de 2


AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1989949 - SP (2022/0069432-8)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR


AGRAVANTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES - DF067583
DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 490, 564, IV E PARÁGRAFO
ÚNICO, AMBOS DO CPP. SUPOSTO VÍCIO NA QUESITAÇÃO
SUBMETIDA AO CONSELHO DE SENTENÇA. QUESTÃO NÃO
SUSCITADA NA ATA DA SESSÃO DE JULGAMENTO. PRECLUSÃO.
PRECEDENTES DO STJ E DO STF. VIOLAÇÃO DO ART. 65, III, D, DO
CP. PLEITO DE RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO.
IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO NÃO SUSCITADA EM PLENÁRIO.
PRECEDENTES DESTA CORTE.
Agravo regimental improvido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto por Alexandre Tittoto contra a


decisão monocrática, de minha lavra, assim ementada (fl. 3.233):

RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. VIOLAÇÃO DOS ARTS.


490, 564, IV E PARÁGRAFO ÚNICO, AMBOS DO CPP. SUPOSTO VÍCIO NA
QUESITAÇÃO SUBMETIDA AO CONSELHO DE SENTENÇA. QUESTÃO NÃO
SUSCITADA NA ATA DA SESSÃO DE JULGAMENTO. PRECLUSÃO.
PRECEDENTES DO STJ E DO STF. VIOLAÇÃO DO ART. 65, III, D, DO CP.
PLEITO DE RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO.
IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO NÃO SUSCITADA EM PLENÁRIO.
PRECEDENTES DESTA CORTE.
Recurso especial improvido.

Nas razões, reiterou a procedência da tese de nulidade do julgamento


perante o Tribunal do Júri, ante a contradição verificada entre os quesitos 1 e 5 e
considerando a ausência de formulação de quesito específico acerca da tese de
legítima defesa, aduzindo, ainda, que a questão, por consubstanciar nulidade de
natureza absoluta, não poderia ser atingida pela preclusão.

No tocante ao pleito de incidência da atenuante da confissão, aduziu que


tanto a sentença condenatória quanto o acórdão confirmatório revelam que a confissão
foi efetivamente externada, consubstanciando um fato incontroverso, passível de
reconhecimento (fl. 3.249).

Pugnou, assim, pela reforma da decisão agravada e, subsidiariamente, pela


concessão de habeas corpus de ofício.

É o relatório.

VOTO

A insurgência não merece acolhida.

Nas razões do recurso especial, o agravante aduziu que a Corte de origem


violou e conferiu interpretação divergente ao disposto nos arts. 490, 564, IV e parágrafo
único, ambos do Código de Processo Penal; e art. 65, III, d, do Código Penal (fls.
2.903/2.940).

No que se refere à suposta violação dos arts. 490 e 564, IV e parágrafo


único, do Código de Processo Penal, a insurgência é admissível, mas, no mérito, não
merece acolhida.

Compulsando os autos, especificamente a ata da sessão de julgamento (fls.


2.551/2.555), verifica-se que a defesa do recorrente não manifestou nenhum
inconformismo com a quesitação submetida ao Conselho de Sentença, razão pela qual
a matéria suscitada foi fulminada pelo fenômeno da preclusão, circunstância que obsta
o exame da nulidade aventada.

Sobre o tema, confiram-se:

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


HOMICÍDIO QUALIFICADO E OCULTAÇÃO DE CADÁVER. NULIDADES.
OFENSA AO ART. 478, II, DO CPP. NÃO OCORRÊNCIA. SILÊNCIO DO
ACUSADO. MERA REFERÊNCIA. QUESITAÇÃO NO JÚRI. IRREGULARIDADES.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO IMEDIATA. PRECLUSÃO. EXISTÊNCIA DE
FUNDAMENTOS SUFICIENTES PARA A MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO. NÃO
ABRANGÊNCIA DE TODOS PELO RECURSO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.
283/STF. AGRAVO DESPROVIDO.
1. "A menção ao silêncio do acusado, em seu prejuízo, no Plenário do
Tribunal do Júri, é procedimento vedado pelo art. 478, II, do Código de Processo
Penal. No entanto, a mera referência ao silêncio do acusado, sem a exploração do
tema, não enseja a nulidade. Na hipótese, não é possível extrair dos elementos
constantes dos autos se houve ou não a exploração, pela acusação em plenário,
do silêncio do réu em seu desfavor (HC n. 355.000/SP, Ministro Rogerio Schietti
Cruz, Sexta Turma, DJe 27/8/2019) (AgRg no AREsp n. 1.558.779/MT, Rel.
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, DJe 19/12/2019) (AgRg no
AREsp n. 1.665.572/MG, Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe
27/11/2020)" (AgRg no REsp n. 1.894.634/SP, relator Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 24/8/2021, DJe 31/8/2021).
2. Diversamente do que alega a defesa, eventuais irregularidades atinentes à
quesitação ofertada aos jurados caracterizam nulidade relativa, ensejando a sua
imediata contestação e a prova do prejuízo para a parte a quem aproveita.
3. Segundo a dicção do art. 484 do Código de Processo Penal, após formular
os quesitos o juiz-presidente os lerá, indagando às partes se têm qualquer objeção
a fazer, o que deverá constar obrigatoriamente em ata. E, nos termos do art. 571,
VIII, do diploma alhures mencionado, as nulidades deverão ser arguidas, no caso
de julgamento em plenário, tão logo ocorram.
4. Dessume-se do aresto vergastado que os fundamentos suficientes à
manutenção do acórdão recorrido não foram impugnados, de forma específica, nas
razões recursais, o que atrai, por analogia, a incidência do verbete n. 283 da
Súmula do STF, quando o acórdão recorrido assenta em mais de um fundamento
suficiente e o recurso não abrange todos eles.
5. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp n. 1.326.504/SP, Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta
Turma, DJe 6/5/2022 - grifo nosso)

[...]
1. Uma vez que a suscitada inépcia da inicial acusatória não foi arguída até
as alegações finais e a apontada nulidade por violação do princípio da correlação -
advinda da quesitação acerca do dolo eventual do corréu - não foi consignada em
ata de julgamento, ambas as teses foram alcançadas pela preclusão e, portanto,
não merecem conhecimento.
[...]
(AgRg no AREsp n. 933.257/RO, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, DJe 10/6/2020)

[...]
2. Nos termos do artigo 571, inciso VIII, do Código de Processo Penal, as
nulidades do julgamento em plenário devem ser arguidas logo após a sua
ocorrência, sob pena de preclusão. Precedentes do STJ e do STF.
3. Na espécie, da leitura da ata da sessão de julgamento verifica-se que em
momento algum a defesa impugnou a redação dos quesitos, o que revela a
preclusão da questão.
[...]
(AgRg no HC n. 440.055/RJ, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe
18/5/2020)

[...]
1. No Tribunal do Júri, a alegação de nulidade por vício na quesitação deverá
ocorrer no momento oportuno, isto é, após a leitura dos quesitos e explicação dos
critérios pelo Juiz presidente (art. 571 do CPP).
2. A defesa técnica não registrou oportunamente, em ata de julgamento, seu
inconformismo em relação a quaisquer intercorrências na sessão do Tribunal do
Júri, a provocar a preclusão da matéria (art. 571, VIII, do CPP).
[...]
(AgRg no REsp n. 1.516.358/RS, de minha relatoria, Sexta Turma, DJe
5/11/2015)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRIPLO HOMICÍDIO


QUALIFICADO. NULIDADE NA FORMAÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA E
NA ELABORAÇÃO DOS QUESITOS. MATÉRIAS NÃO ARGUIDAS EM
PLENÁRIO. PRECLUSÃO.
1. Nos termos do artigo 571, inciso VIII, do Código de Processo Penal, as
nulidades do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal,
devem ser arguidas logo após a sua ocorrência, sob pena de preclusão.
2. No caso dos autos, da leitura da ata da sessão de julgamento não se
constata qualquer insurgência da defesa quanto à formação formação do Conselho
de Sentença, tampouco no que se refere à redação dos quesitos, o que revela a
preclusão do exame dos temas. [...]
(RHC n. 62.047/GO, Ministro Leopoldo de Arruda Raposo, Desembargador
convocado do TJ/PE, Quinta Turma, DJe 8/10/2015)

[...]
3. Eventuais irregularidades na quesitação devem ser suscitadas no
momento oportuno e registradas na ata da sessão de julgamento do Tribunal do
Júri, sob pena de preclusão.
[...]
(HC n. 276.714 RS, Ministro Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 3/3/2015)

Não é outra a orientação do Supremo Tribunal Federal:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI.


QUESITAÇÃO. VÍCIO. ATA DE JULGAMENTO. NÃO CONSIGNAÇÃO.
PRECLUSÃO. APELAÇÃO. RECURSO DE FUNDAMENTAÇÃO VINCULADA.
ORDEM DENEGADA.
I - O recurso de apelação previsto nas alíneas do art. 593, III, do Código de
Processo Penal tem fundamentação vinculada.
II - Não consignada a irresignação na ata de julgamento da Sessão Plenária
do Júri, não há falar em vício formal, em face da preclusão.
III - Ordem denegada.
(HC n. 93.406/SP, Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe
1º/8/2008)

HABEAS CORPUS. INSATISFAÇÃO QUANTO À QUESITO SUBMETIDO


AO CONSELHO DE SENTENÇA. INCONFORMISMO NÃO REGISTRADO EM
ATA. PRECLUSÃO. ORDEM DENEGADA.
A insatisfação quanto à redação de quesito submetido aos jurados deve ser
expressada logo após a sua leitura e explicação em plenário, bem como ser
registrada na ata de julgamento, nos termos do disposto no art. 479 do Código de
Processo Penal, sob pena de preclusão. Precedentes: HC 93.406, rel. min. Ricardo
Lewandowski, DJe-142 de 1º.08.2008; e HC 87.358, rel. min. Marco Aurélio, DJ de
25.08.2006, p. 53. Como tal, no caso, não foi observado, impõe-se a denegação da
ordem.
(HC n. 95.103/RJ, Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJe 6/2/2009)

De outra parte, com relação à suposta violação do art. 65, III, d, do Código
Penal, a insurgência, embora admissível, também não merece acolhida.

Para o reconhecimento da atenuante da confissão, em sede de Júri, é


necessária sua alegação em plenário.

É que as decisões proferidas pelo Conselho de Sentença prescindem de


motivação, por estarem balizadas por mandamento constitucional do art. 5º, XXXVIII,
da CF/88; no sistema da íntima convicção dos jurados, não há como a Corte local
precisar se a confissão foi ou não determinante para a formação do convencimento dos
Jurados. Desse modo, a incidência da referida atenuante fica condicionada à sua
exteriorização em plenário.

Nesse sentido, destaco os seguintes precedentes:

HABEAS CORPUS. PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO EM CONCURSO


MATERIAL COM TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. ABSOLVIÇÃO OU
DESCLASSIFICAÇÃO. REEXAME FÁTICO. READEQUAÇÃO DA PENA.
INCIDÊNCIA DA CONFISSÃO QUALIFICADA. ORDEM PARCIALMENTE
CONHECIDA E, NESSA EXTENSÃO, CONCEDIDA.
1. Para inverter a conclusão do julgado, no qual está consignada a existência
de vertente probatória escolhida pelos Jurados, seria inevitável nova incursão no
arcabouço probatório, providência indevida no espectro de cognição do habeas
corpus.
2. Constatada, pela mera leitura do decisum, a existência de duas versões,
não há que se falar em decisão manifestamente contrária à prova dos autos.
Precedentes do STJ.
3. A despeito de as instâncias ordinárias indicarem a alegação de legítima
defesa pelo Paciente, deixou-se de sopesar a confissão na segunda fase da
dosimetria.
4. A atenuante da confissão espontânea deve ser reconhecida, ainda que
tenha sido parcial ou qualificada, seja ela judicial ou extrajudicial, e mesmo que o
réu venha dela se retratar.
5. No rito do Júri, em que as decisões do Conselho de Sentença não são
motivadas, por serem baseadas em íntima convicção, não há como a Corte local
precisar se a confissão foi ou não determinante para a formação do convencimento
do Jurados. Desse modo, a incidência da atenuante fica condicionada à sua
alegação durante os debates em plenário. Precedentes do STJ.
6. Ordem de habeas corpus parcialmente conhecida e, nessa extensão,
concedida para reconhecer a existência da atenuante da confissão qualificada e
readequar a pena ao patamar de 18 (dezoito) anos de reclusão, mantido o regime
inicial fechado.
(HC n. 478.741/SP, Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe 20/2/2019 – grifo
nosso)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


FUNDAMENTOS DO VOTO REVISOR INTEGRAM O DECISUM. HOMICÍDIO.
TRIBUNAL DO JÚRI. DOSIMETRIA DA PENA. APLICAÇÃO DA ATENUANTE DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE A TESE
TER SIDO DEBATIDA EM PLENÁRIO.
1. A alegação de que a transcrição realizada na decisão agravada é do voto
revisor, não sendo o entendimento prevalecente na segunda instância, não merece
prosperar, uma vez que o voto revisor integra o decisum.
2. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é no sentido de que a
confissão do acusado, quando utilizada para a formação do convencimento do
julgador, deve ser reconhecida na dosagem da pena como circunstância
atenuante, nos termos do art. 65, III, "d", do CP, mesmo quando eivada de teses
defensivas, descriminantes ou exculpantes. Inteligência da Súmula n. 545/STJ.
Contudo, as circunstâncias agravantes ou atenuantes, entre elas a confissão,
somente poderão ser consideradas no Tribunal do Júri pelo Juiz presidente, na
formulação da dosimetria penal, quando debatidas em plenário.
3. No presente caso, não tendo sido discutida a questão referente à
atenuante da confissão durante os debates em plenário do Tribunal do Júri, essa
não pode ser aplicada.
4. Concluir que a questão referente à atenuante da confissão foi tratada
durante os debates do Tribunal do Júri, como requer a parte agravante,
demandaria o revolvimento do conteúdo fático-probatório da demanda, providência
vedada em recurso especial, em razão da Súmula 7/STJ.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp n. 1.742.952/MG, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca
Quinta Turma, DJe 11/10/2018 – grifo nosso)

No caso, a questão não foi suscitada nos debates em plenário, pois não
consta da ata de julgamento (fls. 2.551/.2555), circunstância que obsta o
reconhecimento da atenuante em referência.

No mesmo sentido, confira-se:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


HOMICÍDIO SIMPLES. TRIBUNAL DO JÚRI. RECONHECIMENTO. ATENUANTE
GENÉRICA. SÚMULA N. 7 DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Se as instâncias ordinárias entenderam não estarem demonstradas as
circunstâncias fáticas para a aplicação das atenuantes genéricas, é incabível a
esta Corte Superior entender de modo diverso, por demandar reexame do conjunto
probatório. Precedentes.
2. No procedimento do Tribunal do Júri, para o reconhecimento da confissão
espontânea, é necessária a consignação da tese arguida na ata de julgamento.
Precedentes.
3. Na hipótese, os Juízos de primeira e segunda instância entenderam não
estarem caracterizadas as atenuantes constantes do art. 65, III, "b", "c" e "d", do
Código Penal. Rever tal entendimento é inviabilizado pela Súmula n. 7 do STJ.
4. Agravo não provido.
(AgRg no AREsp n. 840.995/PR, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta
Turma, DJe 12/9/2019 – grifo nosso)

Acrescento, ainda, tendo em vista os debates ocorridos por ocasião do


julgamento do presente feito, que a contradição nas respostas decorreu da própria
formulação equivocada da quesitação (no primeiro quesito, o juízo perguntou se os
golpes mataram a vítima e no quinto ele indaga se foi usado meio cruel sendo a vítima
enterrada viva), ou seja, a contradição que deu causa a nulidade aqui suscitada é
decorrência lógica da formulação equivocada dos quesitos, questão essa que
parte não se insurgiu na ata. Tal circunstância, digo mais, está presente na própria
petição de recurso especial onde o Agravante sustenta expressamente, a presença de
contradição entre os quesitos (um e cinco) e suas respostas - fls. 2919.

Por fim. no que se refere ao pedido de concessão de habeas corpus de


ofício, não há dúvida de que o pleito é manifestamente descabido, pois tal medida é de
iniciativa privativa do órgão julgador, dependendo, ainda, da existência de ilegalidade
flagrante, o que não verificada nos autos à luz da fundamentação exarada.

Nesse sentido, confira-se:

[...]
3. É munus da defesa técnica zelar para que o recurso especial atenda aos
pressupostos constitucionais e legais, inclusive suscitando as matérias no tempo
oportuno. É descabido postular a concessão de habeas corpus de ofício como
escape para suprir as deficiências processuais por ela mesma causadas, uma vez
que tal medida é concedida por iniciativa do próprio órgão julgador e tão somente
quando constatada a presença de ilegalidade flagrante (AgRg no REsp n.
1.373.420/SP, Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 8/3/2016,
DJe 22/3/2016).
[...]
(AgRg no REsp n. 1.708.725/TO, Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe
21/5/2018 - grifo nosso)

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.


Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2022/0069432-8 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.989.949 / SP
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00135621420038260506 135621420038260506

PAUTA: 14/06/2022 JULGADO: 28/06/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ ELAERES MARQUES TEIXEIRA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES - DF067583
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CORRÉU : ADELIR DA SILVA MOTA
CORRÉU : DIRCE DOS REIS ARAUJO
CORRÉU : JOAO DE SOUZA ARAÚJO JUNIOR

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES - DF067583
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

SUSTENTAÇÃO ORAL
DRA. FLÁVIA CARDOSO CAMPOS GUTH, PELA PARTE AGRAVANTE ALEXANDRE
TITTOTO
DR. CELSO VILARDI, PELO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO.

CERTIDÃO
Documento: 157804454 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 1 de 2
Superior Tribunal de Justiça

Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão


realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator negando provimento ao agravo regimental, pediu
vista o Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz. Aguardam Olindo Menezes (Desembargador convocado
do TRF - 1ª Região e Laurita Vaz. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antonio Saldanha
Palheiro.

Documento: 157804454 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 2 de 2


Superior Tribunal de Justiça
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.989.949 - SP (2022/0069432-8)

VOTO-VISTA

O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ:


ALEXANDRE TITOTO interpõe agravo regimental contra a
decisão de fls. 3.233-3.238, em que o Ministro Sebastião Reis Júnior negou
provimento ao recurso especial interposto.

O ora agravante foi condenado pelo crime tipificado no art. 121,


§ 2º, I, III e IV, do Código Penal. O Tribunal estadual manteve a condenação
do réu e deu parcial provimento à apelação defensiva, apenas para
redimensionar a pena para 18 anos e 8 meses de reclusão.

Nas razões do especial, o recorrente apontou a violação dos


arts. 490, 564, IV, e parágrafo único, ambos do CPP, e 65, III, "d", do CP,
pelos seguintes argumentos: a) não foi quesitada a tese de legítima defesa; b)
houve contradição nas respostas dos quesitos 1 e 5, a ensejar a realização
de novo julgamento, e c) o réu faria jus à atenuante da confissão espontânea.

Na decisão monocrática, o Ministro relator não acolheu as teses


recursais, porquanto a defesa não haveria suscitado, em plenário, as referidas
nulidades, tampouco foi consignada, na ata de julgamento, a confissão do réu.

A parte interpôs agravo regimental e o Ministro Sebastião Reis


Júnior, relator do caso, votou pelo seu não provimento.

Pedi vista para melhor exame da questão, uma vez que a


advogada do agravante, em sua sustentação oral, mencionou que a nulidade
referente à contradição das respostas pelos jurados não estaria sujeita à
preclusão.

Em memoriais distribuídos ao gabinete, a parte assinalou: "A


tese arguida desde a Apelação, il. Ministro Rogerio Schietti, é singela: em
havendo contradição nas respostas dos jurados, o comando do artigo 490 do
CPP é dirigido diretamente ao magistrado presidente do júri". Nessa
oportunidade, a defesa enfatizou, acertadamente, a distinção entre os
procedimentos previstos nos arts. 484 e 490 do CPP.

O primeiro dispositivo se refere a alguma falha na redação dos


quesitos e eventual impugnação das partes deve ser feita imediatamente, com
Documento: 163878113 - VOTO VISTA - Site certificado Página 1 de 6
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consignação em ata, sob pena de preclusão. Confira-se (destaquei):
Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das
partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo
qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.
Em relação ao segundo dispositivo, trata-se de contradição nas
respostas dos jurados aos quesitos. Uma vez identificada, o Juiz Presidente do
Tribunal do Júri explicará ao Conselho de Sentença em que consiste a
contradição e submeterá os quesitos novamente à votação. In verbis (grifei):
Art. 490. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em
contradição com outra ou outras já dadas, o presidente, explicando
aos jurados em que consiste a contradição, submeterá
novamente à votação os quesitos a que se referirem tais respostas.

A par dessas premissas, respeitosamente, divirjo do voto do


Ministro relator.

O decisum analisa a insurgência quanto à redação dos quesitos,


e não quanto às respostas obtidas ("a defesa do recorrente não manifestou
nenhum inconformismo com a quesitação submetida ao Conselho de
Sentença, razão pela qual a matéria suscitada foi fulminada pelo fenômeno da
preclusão" – fl. 2 do voto, grifei). Inclusive, o eminente Ministro relator
colaciona precedentes a respeito do art. 484 do CPP, notadamente acerca da
preclusão caso a discordância da formulação dos quesitos não seja alegada em
plenário.

Todavia, como consignado, a defesa se insurge contra a


inobservância do art. 490 do CPP, o qual trata das respostas dos quesitos.
Não há previsão legal da medida que deve ser adotada pelas partes caso o juiz
não pronuncie a contradição. Não há, tampouco, exigência de que a parte
consigne em ata eventual insurgência sobre essa matéria – diferentemente do
art. 484 do CPP, que trata da má formulação dos quesitos, em que há expressa
previsão de preclusão.

Consoante o entendimento desta Corte Superior, uma vez


constatada contradição entre duas ou mais respostas, se o Juiz Presidente
do Tribunal do Júri não sanar o vício, estará configurada nulidade
absoluta, não sujeita à preclusão – foi dado, portanto, tratamento
diferenciado a essa nulidade em relação às demais ocorridas em plenário. A
esse teor, confiram-se:

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[...]
A contradição entre as respostas aos quesitos formulados aos
jurados, quando não sanada pela repetição da votação dos quesitos
em contradição na própria sessão de julgamento (art. 490 do Código
de Processo Penal), acarreta a sua nulidade.
[...]
(AgRg no AREsp n. 1.929.954/SC, Rel. Ministra Laurita Vaz, 6ª
T., DJe 3/3/2022, grifei)

[...]
A contradição entre as respostas aos quesitos apresentados ao
Conselho de Sentença, quando não sanada por ocasião da
votação realizada, diante do que se depreende do art. 490 do
Código de Processo Penal, justifica a anulação do julgamento,
dada a nulidade absoluta acarretada. Precedentes.
[...]
(REsp n. 846.999/DF, Rel. Ministro Antonio Saldanha Palheiro, 6ª
T., DJe 19/12/2019, destaquei)

Quanto a esse último julgado (REsp n. 846.999/DF), esclareço,


por oportuno, que se trata de caso em que o Tribunal de origem reconheceu,
de ofício, a contradição na resposta dos quesitos – decisão que foi confirmada
pelo STJ. Embora não haja sido consignado na ementa, o inteiro teor do voto
condutor do acórdão assinala: "A contradição entre as respostas dadas aos
quesitos formulados ostenta, segundo pacífico entendimento deste Tribunal
Superior, nulidade de natureza absoluta, pelo que não há que se falar em
preclusão" (grifei).

Esse entendimento é corroborado, ainda, pelos seguintes


julgados:

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI. CONTRADIÇÃO
ENTRE AS RESPOSTAS DADAS PELOS JURADOS AOS
QUESITOS FORMULADOS. NULIDADE ABSOLUTA.
PRECLUSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. SÚMULA 83/STJ.
AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça consolidou-se
no sentido de que a ocorrência de nulidade absoluta, por ocasião
do julgamento pelo Tribunal do Júri, não se sujeita ao instituto
da preclusão – como decidido pelas instâncias ordinárias –, o que
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atrai no presente caso o óbice da Súmula 83/STJ: "Não se conhece do
recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida".
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp n. 525.677/PR, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, 5ª
T., DJe 1º/8/2017, destaquei)

[...]
Conquanto a defesa não tenha impugnado a votação dos quesitos na
sessão de julgamento, eventual contradição entre as respostas
fornecidas pelos jurados caracteriza nulidade absoluta, motivo
pelo qual não há que se falar em preclusão, devendo o tema ser
apreciado por esta Corte Superior de Justiça, notadamente por ter
sido arguido em sede de apelação, e examinado pelo Tribunal de
origem. Precedente do Supremo Tribunal Federal.
[...]
(HC n. 119.132/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª T., DJe
6/9/2012, grifei)

Menciono, por fim, precedente que, tal como no processo ora


em exame, a parte não impugnou a contradição entre as respostas dos quesitos
na sessão de julgamento, mas tão somente na apelação. Na ocasião, este
Tribunal Superior entendeu se tratar de nulidade absoluta, não sujeita a
preclusão. Veja-se:
[...]
Conquanto a defesa não tenha impugnado a votação dos
quesitos na sessão de julgamento, eventual contradição entre as
respostas fornecidas pelos jurados caracteriza nulidade
absoluta, motivo pelo qual não há que se falar em preclusão,
devendo o tema ser apreciado por esta Corte Superior de Justiça,
notadamente por ter sido arguido em sede de apelação, e
devidamente examinado pelo Tribunal de origem. Precedente do
Supremo Tribunal Federal.
[...]
(HC n. 131.565/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª T., DJe
30/6/2011, grifei)

Desse modo, não há como se concluir pela preclusão da


matéria, porque, se constatada eventual contradição nas respostas dadas pelos
jurados aos quesitos, será imperiosa a declaração de nulidade do julgamento.

A aduzida inobservância do art. 490 do CPP, contudo, não


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pode ser examinada por esta Corte Superior. Embora a defesa haja suscitado a
violação do referido dispositivo legal – com a tese de que as respostas aos
quesitos n. 1 (materialidade) e n. 5 (qualificadora do meio cruel) seriam
contraditórias entre si –, verifico que a matéria não foi objeto de análise
pelo Tribunal estadual sob o viés pretendido.

Com efeito, a Corte de origem limitou-se a apreciar a tese de


contradição na formulação dos quesitos, nos termos do art. 484 do CPP (fls.
2.826-2.828, destaquei):

3. Não merece prosperar, outrossim, a preliminar que objetiva a


anulação do julgamento em decorrência da formulação de quesitos
deficientes e contraditórios. Aqui, a Defesa retoma a alegação, já
superada, de que as máculas apontadas na denúncia quanto à
inumação de Carlos (se vivo ou morto quando enterrado) ensejaram
sentença de pronúncia anômala que, por sua vez, culminou com a
formulação de quesitos deficientes.
Tratando-se de julgamento pelo Tribunal do Júri, em atenção ao
disposto no art 571, inc. VIII, do Código de Processo Penal,
sedimentou-se a jurisprudência no sentido de que a parte deve
requerer no momento oportuno o registro em Ata de qualquer evento
que considere redutor de garantias, sob pena de preclusão.
In casu, não consta da ata de julgamento de fls. 3383/3387 qualquer
insurgência da Defesa quanto à redação dos quesitos submetidos
aos jurados, de forma que a questão precluiu. Neste sentido já
decidiu o Supremo Tribunal Federal:
[...]
Embora reconhecida aqui a preclusão da matéria, consigno que não há
contradição entre os quesitos 1 e 5, cuja redação pode ser vista a fl.
3373 dos autos. No ponto, apega-se a combativa Defesa à questão da
causa mortis.
Contudo, não se pode olvidar que, na sistemática atual, os quesitos
são formulados segundo a ordem estabelecida no artigo 483, do
Código de Processo Penal, do qual se extrai que o primeiro quesito
indaga aos jurados acerca da materialidade do fato e, o segundo,
acerca da autoria ou participação, sendo que, em caso de respostas
afirmativas a ambos, segue a formulação do terceiro quesito,
obrigatório, indagando se o acusado deve ser absolvido. Na hipótese
de resposta negativa ao quesito obrigatório, o julgamento prossegue,
devendo ser formulados quesitos sobre causa de diminuição ou de
aumento de pena, bem como sobre qualificadoras, tudo a depender do
caso concreto.
Não se vê a alegada contradição porque, diante dos termos
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inequívocos da norma processual de regência, infere- se que, no caso
dos autos, os jurados, ao responderem afirmativamente ao 1° quesito,
reconheceram a materialidade delitiva e, ao responderem
afirmativamente ao 5° quesito, reconheceram a qualificadora do meio
cruel.
As duas proposições, a toda evidência, não se excluem e,
considerando que a Defesa não se insurgiu contra qualquer
aspecto da redação de ambas - o que, reafirme-se, atraiu o
instituto da preclusão -, só se pode concluir que nenhum prejuizo
houve, quer à compreensão dos jurados, quer ao réu, quer ao
julgamento como um todo.

Assim, a meu ver, o recurso especial nem sequer


comportaria conhecimento no tocante à aduzida infringência do art. 490
do CPP, por ausência de prequestionamento, a atrair a incidência das
Súmulas n. 282 e 356 do STF, aplicadas analogicamente a esta Corte Superior.
Respectivamente, in verbis: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando
não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada" e "O ponto
omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios,
não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento".

É inviável, portanto, que o STJ examine eventual contradição


entre as respostas dos quesitos n. 1 e n. 5, por não haver prévio
pronunciamento do Tribunal a quo a respeito da matéria. Todavia, diante da
possível existência de nulidade absoluta, deve ser concedido habeas
corpus de ofício, a fim de determinar que a Corte estadual analise eventual
contradição nas respostas dos quesitos n. 1 e n. 5.

Quanto à ausência de quesito específico acerca da legítima


defesa e à não aplicação da atenuante da confissão espontânea, adiro ao voto
do Ministro relator.

À vista do exposto, divirjo parcialmente do relator para


negar provimento ao agravo regimental por fundamentos diversos.
Todavia, concedo habeas corpus ex officio, a fim de determinar que o
Tribunal estadual examine eventual contradição nas respostas dos quesitos n. 1
e n. 5.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2022/0069432-8 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.989.949 / SP
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00135621420038260506 135621420038260506

PAUTA: 14/06/2022 JULGADO: 20/09/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES - DF067583
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CORRÉU : ADELIR DA SILVA MOTA
CORRÉU : DIRCE DOS REIS ARAUJO
CORRÉU : JOAO DE SOUZA ARAÚJO JUNIOR

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES - DF067583
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento após o voto-vista do Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz
negando provimento ao agravo regimental e concedendo habeas corpus, de ofício, pediu vista
Documento: 165380525 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 1 de 2
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antecipada a Sra. Ministra Laurita Vaz. Aguarda o Sr. Ministro Olindo Menezes (Desembargador
convocado do TRF -1ª Região). Não participou do julgamento o Sr. Ministro Antonio Saldanha
Palheiro.

Documento: 165380525 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 2 de 2


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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.989.949 - SP (2022/0069432-8)

VOTO-VISTA

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Na sessão de julgamento, realizada em 28/06/2022, o Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, relator do presente feito, votou pelo não provimento do agravo regimental
interposto às fls. 3241-3254. Na oportunidade, o Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ pediu
vista dos autos.
Na sessão do dia 20/09/2022, o Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ
apresentou voto-vista, divergindo parcialmente do Relator para negar provimento ao agravo
regimental por fundamentos diversos. No entanto, concedeu habeas corpus de ofício, para
determinar que o Tribunal estadual examine eventual contradição nas respostas dos quesitos n. 1
e n. 5.
Pedi vista para melhor exame.
Consta dos autos que o Agravante foi condenado à pena de 25 (vinte e cinco)
anos de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do crime previsto no art. 121, § 2.º,
incisos I, III e IV, do Código Penal.
Contra a sentença a Defesa interpôs apelação, que foi parcialmente provida para
reduzir a pena do Recorrente para 18 (dezoito) anos e 8 (oito) meses de reclusão (fls.
2804-2844).
Em seguida, foram opostos dois embargos de declaração, que foram rejeitados
(fls. 2861-2867 e 2878-2883).
Nas razões do recurso especial, a Defesa alega, além de divergência
jurisprudencial, ofensa aos arts. 490 e 564, inciso IV e parágrafo único, ambos do Código de
Processo Penal e art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal.
Requer (fl. 2939; sem grifos no original):
"[...]
seja ANULADO o processo a partir do julgamento perante o
Conselho de Sentença, se determinando a renovação da sessão do Tribunal
do Júri, desta vez com a necessária observância da exigência de quesito
específico sobre a tese da legítima defesa;
[...] verificada a partir dos pronunciamentos das instâncias
ordinárias a contradição entre as respostas dadas pelos jurados (aos
quesitos de n° 1 e 5, ante o reconhecimento de duas causas distintas e
conflitantes entre si como eficientes para o resultado morte), reconhecer-se a
Documento: 165653917 - VOTO VISTA - Site certificado Página 1 de 6
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inobservância dos artigos 490 e 564, parágrafo único, ambos do Código de
Processo Penal, bem como o dissenso jurisprudencial instalado (em razão do
pacífico entendimento desse E. STJ de que a mácula em questão não se
convalida, bem cotejada no paradigma selecionado — v. Doc. 02), seja
ANULADO o processo a partir do julgamento perante o Conselho de
Sentença, se determinando a renovação da sessão do Tribunal do Júri, se
evitando as contradições mencionadas;
[...]
recomendando-se a fixação, nesse momento, da atenuante da
confissão, com a respectiva redução na 2ª etapa da dosimetria da pena."

O recurso especial foi admitido (fl. 3096).


O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento ou pelo
desprovimento do recurso especial (fls. 3214-3227).
Na decisão de fls. 3233-3238, o Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR negou
provimento ao recurso especial. Confira-se a ementa do referido decisum (fl. 3233):

"RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. VIOLAÇÃO


DOS ARTS. 490, 564, IV E PARÁGRAFO ÚNICO, AMBOS DO CPP.
SUPOSTO VÍCIO NA QUESITAÇÃO SUBMETIDA AO CONSELHO DE
SENTENÇA. QUESTÃO NÃO SUSCITADA NA ATA DA SESSÃO DE
JULGAMENTO. PRECLUSÃO. PRECEDENTES DO STJ E DO STF.
VIOLAÇÃO DO ART. 65, III, D, DO CP. PLEITO DE RECONHECIMENTO
DA ATENUANTE DA CONFISSÃO. IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO NÃO
SUSCITADA EM PLENÁRIO. PRECEDENTES DESTA CORTE.
Recurso especial improvido."

Daí a interposição do agravo regimental de fls. 3241-3254.


Pois bem, em relação ao quesito específico acerca da legítima defesa e quanto à
não aplicação da atenuante da confissão espontânea, acompanho o Ministro Relator para, nesses
pontos, negar provimento ao agravo regimental, pois a orientação exposta pela Corte de origem
não diverge do entendimento desta Corte Superior, consoante precedentes a seguir transcritos:
"[...]
2. Na espécie, de acordo com a ata da sessão de julgamento, a
defesa não se insurgiu contra a ausência de formulação de quesito referente
à legítima defesa supostamente sustentada pelo réu em seu interrogatório, o
que revela a preclusão do exame do tema.
[...]
2. Habeas corpus não conhecido." (HC n. 336.230/GO, relator Ministro
Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 08/08/2017, DJe 17/08/2017; sem grifos
no original.)

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


Documento: 165653917 - VOTO VISTA - Site certificado Página 2 de 6
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OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. INEXISTÊNCIA.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA
NÃO DEBATIDA EM PLENÁRIO DO JÚRI. IMPOSSIBILIDADE DE
CONSIDERAÇÃO NA DOSIMETRIA DA PENA. PRECEDENTES. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO.
[...]
2. Nos julgamentos realizados perante o Tribunal do júri, as
circunstâncias agravantes ou atenuantes somente poderão ser consideradas
na formulação da dosimetria da pena quando debatidas em plenário.
Precedentes.
3. Agravo regimental improvido." (AgRg no AREsp n. 1.648.032/MS,
relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 23/06/2020, DJe
29/06/2020; sem grifos no original.)

Remanesce, no entanto, a discussão acerca da suposta ofensa aos arts. 490 e


564, parágrafo único, ambos do Código de Processo Penal.
O art. 490 do CPP, cujo destinatário é o Juiz Presidente do Tribunal do Júri,
dispõe que, "[s]e a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra ou
outras já dadas, o presidente, explicando aos jurados em que consiste a contradição,
submeterá novamente à votação os quesitos a que se referirem tais respostas."
Como se vê, ao reconhecer a existência de contradição entre as respostas aos
quesitos formulados, cabe ao Juiz Presidente explicar aos jurados em que consiste a contradição,
submetendo novamente à votação todos os quesitos que se mostrem antagônicos.
Ao alegar a suposta ofensa ao referido dispositivo infraconstitucional, a Defesa,
nas razões do apelo nobre, ressaltou o seguinte (fls. 2920-2921; grifos no original):

"Retomando, coloque-se que os jurados responderam positivamente


ao quesito n° 1 e, portanto, afirmaram que a causa eficiente da morte da
vítima foram os golpes desferidos com instrumentos contundentes.
Confira-se (fls. 3373/3374):
1. Aos 23 de fevereiro de 2003, por volta das 17:30 horas,
na Rua Chile, 1711, 4° andar, sala 404, no 'Edifício Milleniun
Tower', nesta cidade e Comarca, Carlos Alberto de Souza Araújo
foi vítima de golpes desferidos com instrumentos contundentes,
inclusive cesto de lixo, provocando-lhe as lesões descritas no laudo
de exame necroscópico de fls. 98/110 que foram a causa eficiente
da sua morte?
(...)
01 - SIM POR MAIS DE TRÊS (03) VOTOS
[...]
Igual e contraditoriamente, os jurados responderam positivamente
ao quesito de n° 5, isto é, concluíram que a vítima foi enterrada viva, senão
vejamos (fls. 3373/3374):
Documento: 165653917 - VOTO VISTA - Site certificado Página 3 de 6
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5. O acusado Alexandre Titoto usou de meio cruel, submetendo
a vítima a intenso e desnecessário sofrimento físico, sendo enterrada
viva?
05º - SIM POR MAIS DE TRÊS (03) VOTOS
[...]
Excelência: se os golpes com instrumentos contundentes foram a
causa eficiente da morte da vítima, esta não poderia ter sido enterrada com
vida, sob pena do soterramento ser a causa eficiente do evento morte (e não
os golpes anteriores). Exsurge, pois, clara a contradição entre as respostas
dadas aos quesitos formulados;
[...]."

Consoante orientação desta Corte Superior, a contradição entre as respostas aos


quesitos formulados, quando não sanada pelo Juízo Presidente, caracteriza nulidade absoluta, não
sujeita à preclusão.
Essa foi a conclusão adotada pela Quinta Turma desta Corte Superior, em julgado
realizado em 2011, assim ementado:
"HABEAS CORPUS. TRIPLO HOMICÍDIO QUALIFICADO.
APONTADA CONTRADIÇÃO ENTRE AS RESPOSTAS DADAS PELOS
JURADOS AOS QUESITOS FORMULADOS. RECONHECIMENTO DE
QUALIFICADORAS E DE CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE GENÉRICA COM
RELAÇÃO A APENAS ALGUMAS DAS VÍTIMAS. ABSOLVIÇÃO DO
PACIENTE QUANTO A UM DOS DELITOS SUPOSTAMENTE
PRATICADOS. INCOERÊNCIA NÃO EVIDENCIADA. DENEGAÇÃO DA
ORDEM.
1. Conquanto a defesa não tenha impugnado a votação dos quesitos
na sessão de julgamento, eventual contradição entre as respostas fornecidas
pelos jurados caracteriza nulidade absoluta, motivo pelo qual não há que se
falar em preclusão, devendo o tema ser apreciado por esta Corte Superior
de Justiça, notadamente por ter sido arguido em sede de apelação, e
devidamente examinado pelo Tribunal de origem. Precedente do Supremo
Tribunal Federal.
[...]
8. Ordem denegada." (HC n. 131.565/RJ, relator Ministro Jorge Mussi,
Quinta Turma, julgado em 14/06/2011, DJe 30/06/2011; sem grifos no original.)

Esse entendimento foi reafirmado em julgamento realizado em 2017:


"PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
TRIBUNAL DO JÚRI. CONTRADIÇÃO ENTRE AS RESPOSTAS DADAS
PELOS JURADOS AOS QUESITOS FORMULADOS. NULIDADE
ABSOLUTA. PRECLUSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. SÚMULA 83/STJ.
AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça
consolidou-se no sentido de que a ocorrência de nulidade absoluta, por
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ocasião do julgamento pelo Tribunal do Júri, não se sujeita ao instituto da
preclusão como decidido pelas instâncias ordinárias , o que atrai no
presente caso o óbice da Súmula 83/STJ: 'Não se conhece do recurso especial
pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da
decisão recorrida'.
2. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no AREsp
n. 525.677/PR, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em
27/06/2017, DJe 1º/08/2017; sem grifos no original.)

Com igual conclusão, confira-se precedente mais recente, da Sexta Turma do


Superior Tribunal de Justiça:
"RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. NULIDADE.
PLENÁRIO DO JÚRI. PROMOTOR DE JUSTIÇA QUE EM SUSTENTAÇÃO
ORAL AFIRMA HAVER SIDO PROCURADO POR TESTEMUNHA EM SEU
GABINETE COM A INFORMAÇÃO DE QUE ESTAVA SENDO AMEAÇADA.
PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E COMUNHÃO DAS
PROVAS. CONTRADIÇÃO ENTRE RESPOSTAS DADAS A QUESITOS.
NULIDADE ABSOLUTA. ANULAÇÃO DO JULGAMENTO. RECURSO
ESPECIAL A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO.
[...]
3. A contradição entre as respostas aos quesitos apresentados ao
Conselho de Sentença, quando não sanada por ocasião da votação
realizada, diante do que se depreende do art. 490 do Código de Processo
Penal, justifica a anulação do julgamento, dada a nulidade absoluta
acarretada. Precedentes.
[...]
5. Recurso especial parcialmente provido." (REsp n. 846.999/DF,
relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, julgado em 10/12/2019,
DJe de 19/12/2019; sem grifos no original.)

No último julgado citado, o Ministro Relator, ANTONIO SALDANHA


PALHEIRO, ressaltou que a "contradição entre as respostas dadas aos quesitos formulados
ostenta, segundo pacífico entendimento deste Tribunal Superior, nulidade de natureza
absoluta, pelo que não há que se falar em preclusão."
Assim, não prospera o fundamento de que a referida nulidade está sujeita à
preclusão.
Contudo, como bem salientado pelo Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ em
seu voto-vista, essa questão (contradição entre as respostas dadas aos quesitos - suposta ofensa
ao artigo 490 do CPP) não foi apreciada pelo Tribunal local, que se limitou a examinar a suposta
"contradição entre os quesitos 1 e 5" (fl. 2827).
Logo, carece o tema do indispensável prequestionamento viabilizador do recurso

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especial, razão pela qual deixo de apreciá-lo, a teor dos Enunciados n. 282 e 356 do Supremo
Tribunal Federal, respectivamente transcritos, in verbis:
"É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na
decisão recorrida, a questão federal suscitada."

"O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos


embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por
faltar o requisito do prequestionamento."

Vale dizer, para caracterização do prequestionamento, era imprescindível que os


argumentos deduzidos no recurso especial fossem debatidos pelo Tribunal a quo à luz da
legislação federal indicada, o que não ocorreu na espécie.
De todo modo, diante da argumentação exposta nas razões do recurso especial e
da orientação pacífica desta Corte Superior de que a contradição entre as respostas aos quesitos
formulados caracteriza nulidade absoluta, não sujeita à preclusão, constato a existência de
ilegalidade flagrante, a ser reparada de ofício por esta Corte Superior, por força do art. 654, § 2.º,
do Código de Processo Penal.
Ante o exposto, acompanho a divergência inaugurada pelo Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ para: a) negar provimento ao agravo regimental por fundamentos diversos; b)
conceder habeas corpus de ofício, a fim de determinar que o Tribunal de origem aprecie
eventual contradição nas respostas dos quesitos n. 1 e n. 5 (suposta ofensa ao artigo 490 do
CPP).
É o voto.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2022/0069432-8 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.989.949 / SP
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00135621420038260506 135621420038260506

PAUTA: 14/06/2022 JULGADO: 27/09/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR

Relator para Acórdão


Exmo. Sr. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ

Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LUIZA CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN
Secretária
Bela. GISLAYNE LUSTOSA RODRIGUES

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES - DF067583
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CORRÉU : ADELIR DA SILVA MOTA
CORRÉU : DIRCE DOS REIS ARAUJO
CORRÉU : JOAO DE SOUZA ARAÚJO JUNIOR

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : ALEXANDRE TITTOTO
ADVOGADOS : DANIEL LEON BIALSKI - SP125000
FLAVIA CARDOSO CAMPOS GUTH - DF020487
BRUNO GARCIA BORRAGINE - SP298533
BRUNA LUPPI LEITE MORAES - SP358676
PEDRO HENRIQUE DO NASCIMENTO FERNANDES - DF067583
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Documento: 166136506 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 1 de 2
Superior Tribunal de Justiça

Prosseguindo no julgamento após o voto-vista da Sra. Ministra Laurita Vaz negando


provimento ao agravo regimental e concedendo habeas corpus, de ofício, sendo acompanhada
pelo Sr. Ministro Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF - 1ª Região), a Sexta
Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental e, por maioria, concedeu
habeas corpus, de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz, que lavrará o
acórdão.
Votaram com o Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz os Srs. Ministros Olindo Menezes
(Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) e Laurita Vaz. Vencido, em parte, o Sr. Ministro
Sebastião Reis Júnior. Não participou do julgamento o Sr. Ministro Antonio Saldanha Palheiro.

Documento: 166136506 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 2 de 2

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