Você está na página 1de 15

AgInt nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1827570 - MT (2019/0208503-3)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


AGRAVANTE : F B C DA C
ADVOGADO : DENISE COSTA SANTOS BORRALHO - MT003607O
AGRAVADO : W J DE S S
ADVOGADO : ALEXANDRE RICARDO DA SILVA CAMPOS - MT007438

EMENTA

CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO
NCPC. FAMÍLIA. CASAMENTO REALIZADO SOB O REGIME DE
COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. EXTINÇÃO DA SOCIEDADE
CONJUGAL. VERBAS DE NATUREZA TRABALHISTA, CUJO
DIREITO FOI ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DO CASAMENTO.
COMUNICABILIDADE. ACÓRDÃO EM CONSONÂNCIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 568
DESTA CORTE. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO NÃO
PROVIDO.
1. Aplica-se o NCPC a este recurso ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC.
2. A orientação firmada nesta Corte é no sentido de que, nos regimes
de comunhão parcial ou universal de bens, comunicam-se as verbas
trabalhistas correspondentes a direitos adquiridos na constância do
casamento, devendo ser partilhadas quando da separação do casal.
Precedentes.
3. O Tribunal estadual reconheceu que os valores recebidos por meio
de precatório, após o fim da relação conjugal, tiveram origem na
constância do matrimônio, de sorte que estavam sujeitos a partilha.
4. Estando o acórdão recorrido em conformidade com a jurisprudência
desta Corte, aplica-se, no ponto, a Súmula nº 568 do STJ, segundo a
qual, o relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça,
poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver
entendimento dominante acerca do tema.
5. Não sendo a linha argumentativa apresentada capaz de evidenciar
a inadequação dos fundamentos invocados pela decisão agravada, o
presente agravo não se revela apto a alterar o conteúdo do julgado
impugnado, devendo ele ser integralmente mantido em seus próprios
termos.
6. Agravo interno não provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo
Villas Bôas Cueva e Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Moura Ribeiro.

Brasília, 24 de agosto de 2020.

Moura Ribeiro
Relator
AgInt nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1827570 - MT (2019/0208503-3)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


AGRAVANTE : F B C DA C
ADVOGADO : DENISE COSTA SANTOS BORRALHO - MT003607O
AGRAVADO : W J DE S S
ADVOGADO : ALEXANDRE RICARDO DA SILVA CAMPOS - MT007438

EMENTA

CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO
NCPC. FAMÍLIA. CASAMENTO REALIZADO SOB O REGIME DE
COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. EXTINÇÃO DA SOCIEDADE
CONJUGAL. VERBAS DE NATUREZA TRABALHISTA, CUJO
DIREITO FOI ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DO CASAMENTO.
COMUNICABILIDADE. ACÓRDÃO EM CONSONÂNCIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 568
DESTA CORTE. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO NÃO
PROVIDO.
1. Aplica-se o NCPC a este recurso ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016)
serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC.
2. A orientação firmada nesta Corte é no sentido de que, nos regimes
de comunhão parcial ou universal de bens, comunicam-se as verbas
trabalhistas correspondentes a direitos adquiridos na constância do
casamento, devendo ser partilhadas quando da separação do casal.
Precedentes.
3. O Tribunal estadual reconheceu que os valores recebidos por meio
de precatório, após o fim da relação conjugal, tiveram origem na
constância do matrimônio, de sorte que estavam sujeitos a partilha.
4. Estando o acórdão recorrido em conformidade com a jurisprudência
desta Corte, aplica-se, no ponto, a Súmula nº 568 do STJ, segundo a
qual, o relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça,
poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver
entendimento dominante acerca do tema.
5. Não sendo a linha argumentativa apresentada capaz de evidenciar
a inadequação dos fundamentos invocados pela decisão agravada, o
presente agravo não se revela apto a alterar o conteúdo do julgado
impugnado, devendo ele ser integralmente mantido em seus próprios
termos.
6. Agravo interno não provido.
RELATÓRIO

Da leitura da minuta do agravo de instrumento que deu origem ao presente


recurso, constata-se que W. J. DE S. S. (W.) ajuizou ação de divórcio litigioso contra F.
B. C. DA C. (F.).

No curso do feito, W. realizou vários pedidos, dentre eles, um de tutela


provisória, a fim de garantir a meação de um crédito de R$ 916.222,17 (novecentos e
dezesseis mil, duzentos e vinte e dois reais e dezessete centavos), referentes ao
Precatório Requisitório nº 32318/2016, com o consequente bloqueio do valor via
BACENJUD.

O d. Juízo de primeira instância indeferido o pedido cautelar de W.

Contra essa decisão, W. manejou agravo de instrumento sustentando que


(1) na vigência do casamento, todos os valores recebidos por quaisquer dos cônjuges,
até mesmo os proventos de verba trabalhista, se comunicam e, portanto, devem ser
objeto de partilha; e (2) faz jus ao bloqueio de 50% do valor relativo ao aludido
precatório.

O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso deu provimento ao agravo


de instrumento, nos termos do acórdão a seguir ementado:

RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE DIVÓRCIO


– PARTILHA – PROVENTO DECORRENTE DE TRABALHO
PESSOAL - CRÉDITO ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DO
CASAMENTO - REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL –
COMUNICABILIDADE - DECISÃO REFORMADA – RECURSO
PROVIDO.
I - Em um casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial de
bens, como é o caso dos autos, os bens adquiridos na constância do
matrimônio, assim como as dívidas contraídas na vigência da união,
desde que cabalmente comprovadas, devem ser partilhadas de forma
igualitária, nos temos dos artigos 1658 a 1666 do Código Civil.
II – A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no
sentido de que os proventos de natureza trabalhista adquiridos na
constância do casamento comunicam-se entre os cônjuges (e-STJ, fls.
252/253).

Os embargos de declaração opostos por F. foram rejeitados (e-STJ, fls.


277/289).

Irresignada, F. interpôs recurso especial, com fundamento no art. 105, III, a,


da CF, alegando a violação dos arts. 489, III, V, e 535, I, do CPC/73 (art. 1022 do
NCPC), e 1659, VI, do Código Civil, ao sustentar (1) a existência de omissão e falta de
fundamentação no acórdão, notadamente quanto ao fato de que o pedido do bloqueio
dos valores decorrentes de verbas relativas ao seu trabalho exclusivo se deu no
segundo semestre de 2018, após a decretação do divórcio do casal; (2) que, no regime
de comunhão parcial de bens, adotado por livre escolha por ocasião do matrimônio,
estão excluídos da universalidade de bens comuns os proventos do trabalho pessoal
de cada cônjuge, consoante o disposto no art. 1.659, VI, do Código Civil; e (3) a
patente incomunicabilidade dos bens civis do trabalho da recorrente.

Após apresentadas as contrarrazões, o recurso foi admitido na origem (e-


STJ, fls. 309/319).

Instado, o Ministério Publico Federal, restituiu os autos sem apreciação do


mérito, por não possuir interesse no feito (e-STJ, fls. 325/328).

O apelo nobre não foi provido diante da inexistência da alegada omissão e


falta de fundamentação no acórdão, bem como pela incidência da Súmula nº 568 desta
Corte, quanto ao mérito, em decisão monocrática de minha relatoria, ementada nos
seguintes termos:
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE
FAMÍLIA. AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO. ARTS. 489 E 1022 DO
NCPC. OMISSÃO E FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. INEXISTÊNCIA.
ACÓRDÃO CLARA E SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO.
PRETENSÃO DE EFEITO INFRINGENTE. IMPOSSIBILIDADE. ART.
1659, VI, DO CC/02. VERBA TRABALHISTA. COMUNICABILIDADE.
INCLUSÃO NA PARTILHA. ACÓRDÃO EM CONSONÂNCIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº
568 DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO (e-STJ, fl. 335).

Os embargos de declaração opostos por F. foram rejeitados, nos termos da


decisão monocrática de minha relatoria, assim ementada:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO ESPECIAL. IRRESIGNAÇÃO SUJEITA AO NCPC.
CASAMENTO SOB REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.
EXTINÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL. VERBAS DE NATUREZA
TRABALHISTA, CUJO DIREITO FOI ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA
DO CASAMENTO. COMUNICABILIDADE. ACÓRDÃO EM
CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. APLICAÇÃO
DA SÚMULA Nº 568 DESTA CORTE. ART. 1022 DO NCPC.
OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. PRETENSÃO DE
REJULGAMENTO DA CAUSA. EFEITO INFRINGENTE.
IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS (e-STJ, fls. 381/386).

Nas razões do presente agravo interno, F. sustentou que (1) o acórdão


proferido pelo TJMT não está em conformidade com a jurisprudência desta Corte,
tendo em vista que as indenizações de verbas trabalhistas pleiteadas, quando já
ocorrida a separação de fato, não se comunicam entre os cônjuges, nem integram a
partilha de bens na ação de divórcio; (2) os bens adquiridos durante a separação de
fato, por não decorrerem do esforço comum, uma vez cessado o dever de contribuição,
devem ser resguardados em sua integralidade a que os adquiriu; (3) a comunicação de
bens e dívidas devem cessar com a ruptura da vida comum, que, no caso, ocorreu em
janeiro de 2012; (4) o STJ já entendeu pela incomunicabilidade de bens herdados por
um dos cônjuges durante a separação de fato (REsp 555.771/SP, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, j. 5/5/2009); e (5) ao se permitir a comunicabilidade das verbas
obtidas pela ex-esposa, do seu esforço exclusivo do trabalho, mesmo após cessada a
relação conjugal pelo divórcio, estará ensejando o enriquecimento ilícito do ex-marido,
em afronta ao disposto no art. 884 do CC/02.
Foi apresentada impugnação (e-Stj, fls. 407/426).
É o relatório.
VOTO

O recurso não merece provimento.

De plano, vale pontuar que as disposições do NCPC, no que se refere aos


requisitos de admissibilidade dos recursos, são aplicáveis ao caso concreto ante os
termos do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016:
Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a
decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos
os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC.

O inconformismo agora manejado não merece provimento por não ter trazido
nenhum elemento apto a infirmar as conclusões adotadas pela decisão recorrida.

Da comunicabilidade dos bens (art 1.569, VI, do CC/02).

O Código Civil Brasileiro regulou, em seu art. 1.571, as formas pelas quais
se dá a dissolução da sociedade e do vínculo conjugal.

Veja-se a redação do referido dispositivo:


Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:
I - pela morte de um dos cônjuges;
II - pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial;
IV - pelo divórcio.

Consta dos autos que F. e W. contraíram matrimônio no ano de 1998, sob o


regimento de comunhão parcial de bens, e tiveram seu divórcio decretado aos
29/4/2014.

Cinge-se a controvérsia à possibilidade de partilha de verbas de natureza


trabalhista, adquiridas exclusivamente pelo esforço do trabalho de F., e sobre as quais
W. pretende o bloqueio, via BACENJUD, de 50% do valor depositado em favor de F.,
proveniente do Precatório nº 32318/2016.

F. se insurgiu contra o acórdão proferido pelo Tribunal mato-grossense, que,


ao dirimir a controvérsia instalada em agravo de instrumento, consignou que os créditos
trabalhistas adquiridos na constância do casamento, ainda que decorrente de trabalho
pessoal do cônjuge, são partilháveis com a decretação do divórcio.

É o que se extrai do seguinte trecho:


Versa o presente recurso acerca do acerto ou não da decisão que
indeferiu o pedido de bloqueio, via BACENJUD, da quantia de R$
916.222,17 (novecentos e dezesseis mil duzentos e vinte e dois reais e
dezessete centavos) recebidos pela agravada, proveniente do
precatório de nº 32318/2016.
A rigor do artigo 300 do Código de Processo Civil, a obtenção da tutela
de urgência, antecipada ou não, depende do grau de probabilidade do
direito invocado e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo.
A propósito:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.
Acerca dos requisitos autorizadores da tutela de urgência antecipada,
orienta a jurisprudência pátria:
“AÇÃO ACIDENTÁRIA. RESTABELECIMENTO DE AUXÍLIO-
DOENÇA. TUTELA DE URGÊNCIA DE NATUREZA ANTECIPADA.
PRESSUPOSTOS. EXISTÊNCIA.
1. Para concessão da tutela de urgência de natureza antecipada,
obrigatório apresente o postulante (i) a probabilidade do direito e (ii) o
perigo de dano ou o .
2. Na presença dos requisitos risco ao resultado útil do processo - art.
300 CPC legais que lhe autoriza, a medida judicial antecipatória é de
ser deferida, mesmo frente à Fazenda Pública. Excepcionalidade
estabelecida pelo caráter alimentar do benefício previdenciário e a
preponderância do bem jurídico tutelado pelo provimento antecipatório.
Caso em que evidenciada a incapacidade laboral, bem como o nexo
causal acidentário. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.
(Agravo de Instrumento Nº 70071545396, Décima DECISÃO
MONOCRÁTICA Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 20/10/2016) (g.n.)
Além disso, a pretensão cautelar não será concedida caso constatado
o risco de irreversibilidade da decisão, consoante determina o § 3º do
artigo 300 do Código de Processo Civil.
Na espécie, da análise percuciente dos documentos acostados aos
autos, constata-se que milita em favor do agravante a aparência do
direito invocado, bem como a urgência alegada no que diz respeito à
pretensão de obter parte dos valores recebidos pela agravada, de
créditos que foram obtidos durante a constância do enlace conjugal
entre as partes.
Com efeito, decorre dos autos que as partes se casaram no ano de
1998, sob o regime de comunhão parcial de bens (certidão de
casamento de id. 5704295), e que o divórcio foi decretado em
29.4.2014, consoante termo de audiência de conciliação acostado à
id. 5704296.
De outra feita, o crédito trabalhista perseguido pelo agravante,
estampado no precatório nº 32318/2016, corresponde ao período
de trabalho da agravada entre 1º.02.2002 a 1º.11.2008, conforme
comprovam os documentos constantes à id. 5704297, sendo,
portanto, as verbas pleiteadas consentâneas ao período da
constância do casamento.
É cediço que em um casamento celebrado sob o regime da
comunhão parcial de bens, como é o caso dos autos, os bens
adquiridos na constância do matrimônio, assim como as dívidas
contraídas na vigência da união, desde que cabalmente
comprovadas, devem ser partilhadas de forma igualitária, nos
temos dos artigos 1658 a 1666 do Código Civil.
Ademais, segundo o entendimento firmado no âmbito da
jurisprudência, mesmo os proventos de natureza trabalhista
adquiridos na constância do casamento comunicam-se entre os
cônjuges.
[...].
Assim, como forma de evitar prejuízo irreversível, deve ser
resguardado ao recorrente, a quantia que possivelmente lhe pertence
na partilha, no caso, 50% (cinquenta por cento) dos valores recebidos
pela agravada concernentes ao precatório de nº 32318/2016 (e-STJ,
fls. 256/258, sem destaque no original).

À vista dos fundamentos acima encartados, observo que o entendimento


proferido pelo TJMT está em plena consonância com a jurisprudência desta Corte
Superior, no sentido de que as indenizações referentes a verbas trabalhistas
nascidas e pleiteadas na constância do casamento comunicam-se entre os
cônjuges e integram a partilha:

Nesse sentido, os seguintes precedentes:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DE DIVÓRCIO. CASAMENTO SOB REGIME DE COMUNHÃO
PARCIAL DE BENS. PARTILHA. COMUNICABILIDADE DE VERBAS
TRABALHISTAS. AGRAVO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou o
entendimento de que, nos regimes de comunhão parcial ou
universal de bens, comunicam-se as verbas trabalhistas
correspondentes a direitos adquiridos na constância do
casamento, devendo ser partilhadas quando da separação do
casal. Precedentes.
2. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1.;320.330/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, 7/2/2019, DJe 19/2/2019)

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. REGIME DE


BENS DO CASAMENTO. COMUNHÃO PARCIAL. BENS
ADQUIRIDOS COM VALORES ORIUNDOS DO FGTS.
COMUNICABILIDADE. ART. 271 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA DOS ARTS. 269, IV, E 263, XIII, DO
CC DE 1916. INCOMUNICABILIDADE APENAS DO DIREITO E NÃO
DOS PROVENTOS. POSSIBILIDADE DE PARTILHA.
1. Os valores oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
configuram frutos civis do trabalho, integrando, nos casamentos
realizados sob o regime da comunhão parcial sob a égide do Código
Civil de 1916, patrimônio comum e, consequentemente, devendo
serem considerados na partilha quando do divórcio. Inteligência do art.
271 do CC/16.
2. Interpretação restritiva dos enunciados dos arts. 269, IV, e 263, XIII,
do Código Civil de 1916, entendendo-se que a incomunicabilidade
abrange apenas o direito aos frutos civis do trabalho, não se
estendendo aos valores recebidos por um dos cônjuges, sob pena de
se malferir a própria natureza do regime da comunhão parcial.
3. Precedentes específicos desta Corte.
4. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
(REsp 848.660/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
Terceira Turma, j. 3/5/2011, DJe 13/5/2011).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO


DE FAMÍLIA. REGIME DE BENS DO CASAMENTO. COMUNHÃO
PARCIAL DE BENS. CRÉDITOS TRABALHISTAS ORIGINADOS NA
CONSTÂNCIA DO CASAMENTO. COMUNICABILIDADE.
1. A jurisprudência da Terceira Turma é firme no sentido de que
integra a comunhão a indenização trabalhista correspondente a
direitos adquiridos na constância do casamento.
2. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
(AgRg no REsp 1.250.046/SP, Relator o Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, Terceira Turma, j. 6/11/2012, DJe
13/11/2012)

DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. RECURSO ESPECIAL. DIVÓRCIO


DIRETO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. MULTA PREVISTA NO
ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC, AFASTADA. PARTILHA
DE BENS. CRÉDITO RESULTANTE DE EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL. EVENTUAIS CRÉDITOS DECORRENTES
DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS PROPOSTA
POR UM DOS CÔNJUGES EM FACE DE TERCEIRO.
INCOMUNICABILIDADE. CRÉDITOS TRABALHISTAS.
COMUNICABILIDADE. FIXAÇÃO DOS ALIMENTOS.
RAZOABILIDADE NA FIXAÇÃO. COMPROVAÇÃO DA
NECESSIDADE DE QUEM OS PLEITEIA E DA POSSIBILIDADE DE
QUEM OS PRESTA.
(...)
- O ser humano vive da retribuição pecuniária que aufere com o seu
trabalho. Não é diferente quando ele contrai matrimônio, hipótese em
que marido e mulher retiram de seus proventos o necessário para seu
sustento, contribuindo, proporcionalmente, para a manutenção da
entidade familiar.
- Se é do labor de cada cônjuge, casado sob o regime da
comunhão parcial de bens, que invariavelmente advêm os
recursos necessários à aquisição e conservação do patrimônio
comum, ainda que em determinados momentos, na constância do
casamento, apenas um dos consortes desenvolva atividade
remunerada, a colaboração e o esforço comum são presumidos,
servindo, o regime matrimonial de bens, de lastro para a
manutenção da família.
- Em consideração à disparidade de proventos entre marido e mulher,
comum a muitas famílias, ou, ainda, frente à opção do casal no sentido
de que um deles permaneça em casa cuidando dos filhos, muito
embora seja facultado a cada cônjuge guardar, como particulares, os
proventos do seu trabalho pessoal, na forma do art. 1.659, inc. VI, do
CC/02, deve-se entender que, uma vez recebida a contraprestação
do labor de cada um, ela se comunica.
- Amplia-se, dessa forma, o conceito de participação na economia
familiar, para que não sejam cometidas distorções que favoreçam, em
frontal desproporção, aquele cônjuge que mantém em aplicação
financeira sua remuneração, em detrimento daquele que se vê
obrigado a satisfazer as necessidades inerentes ao casamento, tais
como aquelas decorrentes da manutenção da habitação comum, da
educação dos filhos ou da conservação dos bens.
- Desse modo, se um dos consortes suporta carga maior de contas,
enquanto o outro apenas trata de acumular suas reservas pessoais,
advindas da remuneração a que faz jus pelo seu trabalho, deve haver
um equilíbrio para que, no momento da dissolução da sociedade
conjugal, não sejam consagradas e referendadas pelo Poder Judiciário
as distorções surgidas e perpetradas ao longo da união conjugal.
- A tônica sob a qual se erige o regime matrimonial da comunhão
parcial de bens, de que entram no patrimônio do casal os
acréscimos advindos da vida em comum, por constituírem frutos
da estreita colaboração que se estabelece entre marido e mulher,
encontra sua essência definida no art. 1.660, incs. IV e V, do
CC/02.
- A interpretação harmônica dos arts. 1.659, inc. VI, e 1.660, inc. V,
do CC/02, permite concluir que, os valores obtidos por qualquer
um dos cônjuges, a título de retribuição pelo trabalho que
desenvolvem, integram o patrimônio do casal tão logo
percebidos. Isto é, tratando-se de percepção de salário, este
ingressa mensalmente no patrimônio comum, prestigiando-se,
dessa forma, o esforço comum.
- "É difícil precisar o momento exato em que os valores deixam de ser
proventos do trabalho e passam a ser bens comuns, volatizados para
atender às necessidades do lar conjugal."
- Por tudo isso, o entendimento que melhor se coaduna com a
essência do regime da comunhão parcial de bens, no que se
refere aos direitos trabalhistas perseguidos por um dos cônjuges
em ação judicial, é aquele que estabelece sua comunicabilidade,
desde o momento em que pleiteados. Assim o é porque o "fato
gerador" de tais créditos ocorre no momento em que se dá o
desrespeito, pelo empregador, aos direitos do empregado,
fazendo surgir uma pretensão resistida.
- Sob esse contexto, se os acréscimos laborais tivessem sido pagos à
época em que nascidos os respectivos direitos, não haveria dúvida
acerca da sua comunicação entre os cônjuges, não se justificando
tratamento desigual apenas por uma questão temporal imposta pelos
trâmites legais a que está sujeito um processo perante o Poder
Judiciário.
- Para que o ganho salarial insira-se no monte-partível é necessário,
portanto, que o cônjuge tenha exercido determinada atividade
laborativa e adquirido direito de retribuição pelo trabalho desenvolvido,
na constância do casamento. Se um dos cônjuges efetivamente a
exerceu e, pleiteando os direitos dela decorrentes, não lhe foram
reconhecidas as vantagens daí advindas, tendo que buscar a via
judicial, a sentença que as reconhece é declaratória, fazendo retroagir,
seus efeitos, à época em que proposta a ação. O direito, por
conseguinte, já lhe pertencia, ou seja, já havia ingressado na esfera de
seu patrimônio, e, portanto, integrado os bens comuns do casal.
- Consequentemente, ao cônjuge que durante a constância do
casamento arcou com o ônus da defasagem salarial de seu
consorte, o que presumivelmente demandou-lhe maior
colaboração no sustento da família, não se pode negar o direito à
partilha das verbas trabalhistas nascidas e pleiteadas na
constância do casamento, ainda que percebidas após a ruptura
da vida conjugal.
[...].
Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1.024.169/RS. Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI,
Terceira Turma, j. 13/4/2010, DJe 28/4/2010)

No caso vertente, a Corte estadual reconheceu que os valores recebidos por


meio de precatório, após o fim da relação conjugal, tiveram origem na constância do
matrimônio, de sorte que estavam sujeitos a partilha.

Nesse contexto, impõe-se concluir que o acórdão recorrido encontra-se em


plena conformidade com a jurisprudência desta Corte, aplicando-se, no ponto, a
Súmula nº 568 do STJ, segundo a qual, o relator, monocraticamente e no Superior
Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver
entendimento dominante acerca do tema.
Por fim, cumpre observar que o entendimento firmado no bojo do REsp
555.771/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. 5/5/2009 - citado pela agravante
como caso análogo ao discutido no presente recurso - não se amolda ao caso
concreto, tendo em vista que se refere a incomunicabilidade de bens herdados por um
dos cônjuges durante a separação de fato e, por essa razão, deve ser analisado sob o
crivo do direito sucessório (Livro V, do Direito das Sucessões), o que não é o caso dos
autos.

Desse modo, não sendo a linha argumentativa apresentada por TENDA e


outra capaz de afastar as conclusões adotadas na decisão agravada, deve ela ser
mantida por seus próprios fundamentos.
Nessas condições, pelo meu voto, NEGO PROVIMENTO ao agravo interno.
TERMO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AgInt nos EDcl no REsp 1.827.570 / MT
Número Registro: 2019/0208503-3 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
10005893120198110000 69806620148110041 866768

Sessão Virtual de 18/08/2020 a 24/08/2020


SEGREDO DE JUSTIÇA

Relator do AgInt nos EDcl


Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : F B C DA C
ADVOGADO : DENISE COSTA SANTOS BORRALHO - MT003607O
RECORRIDO : W J DE S S
ADVOGADO : ALEXANDRE RICARDO DA SILVA CAMPOS - MT007438

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - FAMÍLIA - CASAMENTO - DISSOLUÇÃO

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : F B C DA C
ADVOGADO : DENISE COSTA SANTOS BORRALHO - MT003607O
AGRAVADO : W J DE S S
ADVOGADO : ALEXANDRE RICARDO DA SILVA CAMPOS - MT007438

TERMO

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, decidiu negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva e
Marco Aurélio Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Moura Ribeiro.

Brasília, 24 de agosto de 2020

Você também pode gostar