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Documento: 2167423 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/05/2022 Página 3 de 5
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.916.031 - MG (2021/0009736-8)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : S F DA S
ADVOGADOS : NILTON DE OLIVEIRA SOUSA - MG073723
CLEUBER DE OLIVEIRA SOUSA - MG117601
RECORRIDO : L A DE S
RECORRIDO : RSG
ADVOGADO : MARCELO GOMES CAETANO - MG060382B
RELATÓRIO
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Embargos de declaração: opostos pela recorrente, foram rejeitados,
por unanimidade, nos termos do acórdão de fls. 551/557 (e-STJ).
Recurso especial: alega-se, em síntese, violação: (i) aos arts. 1.022,
I, II e III, do CPC/15, ao fundamento de que o acórdão recorrido considerou
existente fato inexistente e de que teria se omitido sobre as provas da boa-fé da
recorrente; (ii) ao art. 1723 do CC/2002, ao fundamento de que faria jus ao
reconhecimento da união estável paralela ao casamento mantido entre os
recorridos, sendo a partilha realizada no formato de triação (fls. 693/702, e-STJ).
Parecer do MPF: opinou pelo não conhecimento do recurso especial
(fls. 754/756, e-STJ).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.916.031 - MG (2021/0009736-8)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : S F DA S
ADVOGADOS : NILTON DE OLIVEIRA SOUSA - MG073723
CLEUBER DE OLIVEIRA SOUSA - MG117601
RECORRIDO : L A DE S
RECORRIDO : RSG
ADVOGADO : MARCELO GOMES CAETANO - MG060382B
EMENTA
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erro de fato, ainda que reconhecido como existente, não é decisivo para o
resultado do julgamento, uma vez que o acórdão recorrido está assentado
também em outros fatos e provas e o fato erroneamente considerado não
foi determinante para a conclusão obtida. Precedentes.
4- É inadmissível o reconhecimento de união estável concomitante ao
casamento, na medida em que àquela pressupõe a ausência de
impedimentos para o casamento ou, ao menos, a existência de separação
de fato, de modo que à simultaneidade de relações, nessa hipótese, dá-se o
nome de concubinato. Precedentes.
5- Na hipótese em exame, há a particularidade de que a relação que se
pretende seja reconhecida como união estável teve início anteriormente ao
casamento do pretenso convivente com terceira pessoa e prosseguiu por 25
anos, já na constância desse matrimônio.
6- No período compreendido entre o início da relação e a celebração do
matrimônio entre o convivente e terceira pessoa, não há óbice para que
seja reconhecida a existência da união estável, cuja partilha, por se tratar
de união iniciada e dissolvida antes da Lei nº 9.278/96, deverá observar a
existência de prova do esforço direto e indireto na aquisição do patrimônio
amealhado, nos termos da Súmula 380/STF e de precedente desta Corte.
7- No que se refere ao período posterior à celebração do matrimônio,
aquela união estável se transmudou juridicamente em um concubinato
impuro, mantido entre as partes por 25 anos, na constância da qual adveio
prole e que era de ciência inequívoca de todos os envolvidos, de modo que
há a equiparação à sociedade de fato e a repercussão patrimonial dessa
sociedade deve ser solvida pelo direito obrigacional, de modo que também
nesse período haverá a possibilidade de partilha desde que haja a prova do
esforço comum na construção patrimonial, nos termos da Súmula 380/STF.
8- Ausente menção, pelas instâncias ordinárias, acerca da existência de
provas da participação direta ou indireta da recorrente na construção do
patrimônio, sobre quais bens existiriam provas da participação e sobre
quais bens comporão a meação da recorrida, impõe-se a remessa das
partes à fase de liquidação, ocasião em que essas questões de fato poderão
ser adequadamente apuradas.
9- Recurso especial conhecido e parcialmente provido, a fim de julgar
parcialmente procedente o pedido para: (i) reconhecer a existência de união
estável entre 1986 e 26/05/1989; (ii) reconhecer a existência de relação
concubinária impura e sociedade de fato entre 26/05/1989 e 2014, devendo a
partilha, em ambos os períodos e a ser realizada em liquidação de sentença,
observar a necessidade de prova do esforço comum para a aquisição do
patrimônio e respeitar a meação da recorrida, invertendo-se a sucumbência.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.916.031 - MG (2021/0009736-8)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : S F DA S
ADVOGADOS : NILTON DE OLIVEIRA SOUSA - MG073723
CLEUBER DE OLIVEIRA SOUSA - MG117601
RECORRIDO : L A DE S
RECORRIDO : RSG
ADVOGADO : MARCELO GOMES CAETANO - MG060382B
VOTO
CONTEXTUALIZAÇÃO DA CONTROVÉRSIA.
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saber, entre ela, o recorrido L A DE S e a recorrida R S G S), dos bens
amealhados durante o referido período.
04) A sentença de fls. 326/330 (e-STJ) julgou procedente os pedidos,
ao fundamento de que estava perfeitamente configurada a união estável mantida
entre S F DA S e L A DE S na constância do casamento desse com R S G S,
sendo admissível a partilha como proposta (em triação).
05) O acórdão recorrido (fls. 488/505, e-STJ), por sua vez, por
maioria de votos, deu provimento à apelação de L A DE S e de R S G S, para
julgar improcedentes os pedidos formulados pela recorrente, ao fundamento de
que: (i) não se está, na hipótese, diante de situação de concubinato de boa-fé, em
que a recorrente não tinha ciência do casamento mantido entre os recorridos,
mas, sim, de concubinato impuro; (ii) que os sistemas constitucional e civil
atualmente vigentes privilegiam a exclusividade e a monogamia como
pressupostos indispensáveis para a configuração da união estável, de modo que,
entre as relações paralelamente mantidas entre a recorrente e o recorrido
(concubinato) e entre os recorridos (casamento), a essa última deve ser conferida
prevalência.
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não foi enfrentada pelo acórdão integrativo de fls. 552/557 (e-STJ), de modo que,
em princípio, estaria configurada a omissão do órgão julgador a quo.
08) Contudo, o reconhecimento acerca da existência de erro de fato,
situação não expressamente tipificada pelo legislador nas hipóteses de cabimento
dos embargos de declaração, pressupõe que seja ele decisivo para o resultado
do julgamento.
09) Nesse sentido, já se decidiu nesta Corte: “É permitido ao
julgador, em caráter excepcional, atribuir efeitos infringentes aos embargos de
declaração, para correção de premissa equivocada, com base em erro de fato,
sobre a qual tenha se fundado o julgado embargado, quando tal for decisivo
para o resultado do julgamento”. (REsp 883.119/RN, 3ª Turma, DJe
16/09/2008). Ainda nessa linha de raciocínio: REsp 1.000.106/MG, 1ª Turma,
DJe 11/11/2009, EDcl no AgRg no REsp 940.320/SP, 5ª Turma, DJe 01/12/2008
e EDcl no REsp 727.838/RN, 2ª Turma, DJ 25/08/2006.
10) Na hipótese, percebe-se que o alegado erro de fato não foi o
único elemento utilizado pelo acórdão recorrido, tampouco foi determinante
para o alcance da conclusão de que a recorrente tinha ciência do matrimônio
contraído pelos recorridos. Embora mediante fundamentação sucinta, afirmaram
os acórdãos da apelação e dos embargos de declaração:
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recorrente e o recorrido.
18) Trata-se de um cenário bastante singular porque, examinando-se
os precedentes desta Corte sobre a matéria, percebe-se que todos eles foram
firmados a partir da premissa de que o casamento era pré-existente ao outro
relacionamento.
19) Diante do panorama fático-jurídico existente na hipótese em
exame, é importante diferenciar os períodos compreendidos entre 1986 e
26/05/1989 (em que não havia impedimento à configuração da união estável entre
a recorrente e o recorrido) e entre 26/05/1989 e 2014 (em que havia impedimento
em virtude do casamento celebrado entre recorrido e recorrida).
20) Em relação ao primeiro período, pois, deve ser reconhecida a
existência de união estável, ao passo que, no que tange ao segundo período,
somente se pode conceber que aquela união estável se transmudou juridicamente
em um concubinato impuro, especialmente porque, de acordo o delineamento
fático do acórdão local, a recorrente tinha ciência do matrimônio posteriormente
contraído entre os recorridos.
21) No que se refere à partilha de bens, é importante destacar que a
sentença, ao julgar procedente o pedido da recorrente, determinou a partilha em
formato de triação apenas ao fundamento de ser presumível a contribuição da
recorrente para a formação do patrimônio comum, sem investigar, pois, a efetiva
contribuição da recorrente.
22) O acórdão recorrido, por sua vez, afastou a partilha ao
fundamento exclusivo de que não haveria união estável em razão da virtude da
ausência de boa-fé da recorrente, sem decotar o período em que não havia
nenhum impedimento à configuração (entre 1986 e 26/05/1989) e sem
requalificar a relação concubinária impura, cuja existência não se discute, em
uma sociedade de fato.
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23) Em relação ao aspecto patrimonial relativo ao primeiro
período, iniciada e dissolvida a união estável em momento pretérito à Lei nº
9.278/96, será cabível a partilha, desde que haja prova do esforço direto e
indireto na aquisição do patrimônio amealhado, nos termos da Súmula 380/STF e
de precedente desta Corte (REsp 1.124.859/MG, 2ª Seção, DJe 27/02/2015).
24) No que toca ao aspecto patrimonial relativo ao segundo
período, tem-se que a relação concubinária impura mantida entre a recorrente e o
recorrido por 25 anos, na constância da qual adveio prole e que era de ciência
inequívoca de todos os envolvidos, pode ser equiparada à uma sociedade de
fato, de modo que a eventual repercussão patrimonial dessa sociedade deve ser
solvida pelo direito obrigacional, de modo que, como em relação ao primeiro
período, haverá a possibilidade de partilha desde que haja a prova do
esforço comum na construção patrimonial, também nos termos da Súmula
380/STF e de precedente desta Corte (REsp 1.628.701/BA, 3ª Turma, DJe
17/11/2017).
25) Dado que não houve menção, pelas instâncias ordinárias, acerca
da existência, ou não, de provas da participação direta ou indireta da recorrente
na construção do patrimônio, sobre quais bens existiriam provas da participação e
sobre quais bens comporão a meação da recorrida, impõe-se a remessa das partes
à fase de liquidação, ocasião em que essas questões de fato poderão ser
adequadamente apuradas.
CONCLUSÃO.
Documento: 2167423 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/05/2022 Página 14 de 5
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estável entre a recorrente e o recorrido no período compreendido entre 1986 e
26/05/1989; (ii) reconhecer a existência de relação concubinária impura e
sociedade de fato entre a recorrente e o recorrido entre 26/05/1989 e 2014,
devendo a partilha, em ambos os períodos e a ser realizada em liquidação de
sentença, observar a necessidade de prova do esforço comum para a aquisição do
patrimônio e respeitar a meação da recorrida.
27) Por compreender que a recorrente decaiu de parte mínima do
pedido, impõe-se a inversão da sucumbência, carreando-a exclusivamente aos
recorridos (art. 86, parágrafo único, CPC) e restabelecendo a sentença quanto ao
ponto em que os condenou ao pagamento de 10% do valor do patrimônio
partilhado.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : S F DA S
ADVOGADOS : NILTON DE OLIVEIRA SOUSA - MG073723
CLEUBER DE OLIVEIRA SOUSA - MG117601
RECORRIDO : L A DE S
RECORRIDO : RSG
ADVOGADO : MARCELO GOMES CAETANO - MG060382B
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr. MARCELO GOMES CAETANO, pela parte RECORRIDA: L A DE S e R S G
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu e deu parcial provimento ao recurso
especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente),
Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
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