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Introdução

A definição exacta do casamento vária historicamente e entre as culturas, mas, na


maioria dos países, é uma união voluntária entre um homem e uma mulher com ou sem
filhos mediante comunhão de vida e de bens. Na antiguidade o casamento era visto
como um acordo comercial entre duas famílias sem que os noivos tivessem muita
liberdade de escolher com quem casar.

Mas com a sucessão e fenómenos socioculturais e jurídicos, surge vários modelos de


casamento incluindo não só o casamento em registo civil mas também tradicional e
religioso, dai que em conformidade com o previsto no artigo 18 da lei da família
Moçambicana, o casamento religioso e o tradicional produz efeitos previstos na presente
Lei ou em legislação especial, desde que esteja devidamente transcrito pelos serviços do
registo civil nos termos da lei, e o casamento religioso e o tradicional regem-se, quanto
aos efeitos civis. Neste cunho científico abordar-se-á, a união de facto, sendo este um
conceito jurídico que se refere a uma relação afectiva entre duas pessoas que vivem
juntas como se fossem um casal, mas sem estarem casadas oficialmente. Essa relação
pode ser entre pessoas do mesmo sexo no caso de países que aprovaram a
homossexualismo ou de sexos diferentes como caso de Moçambique.

Na presente pesquisa Objectivou-se:

 Analisar os corolários da união de facto na esfera jurídica Moçambicana.

E para consolidar essa análise elencou-se como objectivo objectivos específicos:

 Compreender Efeitos da união de facto e o Reconhecimento da União de


Facto;
 Descrever as formas de reconhecimento de união de facto;
 Identificar os sujeitos com Legitimidade para intentar a acção de
reconhecimento da existência e Vícios da união de facto.

De acordo com Gil (2002), por pesquisa bibliográfica entende-se a leitura, a análise e
interpretação de material impresso. Entre eles podemos citar livros, documentos
mimeografados ou fotocopiados, periódicos, imagens, manuscritos, mapas, entre outros.
Portanto, para efectivação do presente trabalho recorre-se para pesquisa bibliográfica.
Conceito de casamento

A definição exacta do casamento vária historicamente e entre as culturas, mas, na


maioria dos países, é uma união voluntária entre um homem e uma mulher com ou sem
filhos mediante comunhão de vida e de bens. Na antiguidade o casamento era visto
como um acordo comercial entre duas famílias sem que os noivos tivessem muita
liberdade de escolher com quem casar.

Gomes (1992), “considera que o casamento é um vínculo jurídico entre um homem e


uma mulher com a finalidade de constituir família legítima mediante comunhão plena
de vida”. Ele constitui uma das instituições mais importantes e fundamentais do Direito
Privado, em virtude dos fins que se propõe e, sobretudo, pelos efeitos de natureza social,
pessoal e patrimonial que dele irradiam1.

De acordo com Michel Foucault, citado por Mesquita Silva (2013), o casamento “é
uma instituição que faz parte do sistema de controlo social, Foucault sugere que o
casamento é uma forma de regular, a sexualidade e a reprodução humana”, impondo
normas e padrões sociais sobre o comportamento sexual. Na mesma linha de ideias o
sociólogo Émile Durkheim (2009), conceitua casamento como uma “instituição social
que envolve a união de duas pessoas em uma relação moral e legalmente reconhecida,”
Durkheim acredita que o casamento é uma forma de regular e controlar a sexualidade
humana, estabelecendo limites e regras para comportamento sexual.

Nos termos do artigo 8 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro 2, que prevê o regime
jurídico da família, casamento, estatui que o casamento é a união voluntária e singular
entre um homem e uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante
comunhão plena de vida.

1
LORENA, Mesquita Silva. “Casar pra quê?”. En: Contribuciones a las Ciências Sociales.
Julio, 2013
2
Art.8 da Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro Lei da Família Moçambicana
Modalidades de casamento

Em Moçambique, por força do estipulado no artigo 17 da Lei n.º 22/2019 de 11 de


Dezembro, o casamento pode ser: a) civil; b) Religioso; c) tradicional3, sendo que ao
casamento religioso e tradicional são reconhecidos valor e eficácia igual à do casamento
civil, isto quando tenham sido observados os requisitos que a lei estabelece para o
casamento civil (Art. 16, n. 1 e 2 da Lei n. 10/2004 de 25 de agosto, lei de família).

Em conformidade com o previsto no artigo 18 do mesmo dispositivo legal, o


casamento religioso e o tradicional produz efeitos previstos na presente Lei ou em
legislação especial, desde que esteja devidamente transcrito pelos serviços do registo
civil nos termos da lei, e o casamento religioso e o tradicional regem-se, quanto aos
efeitos civis, pelas normas comuns da presente Lei, salvo disposição em contrário.

Segundo Gomes (1992)4, a celebração do casamento religioso deve ser efetuada em


rito que não seja contrário à ordem pública ou a bons hábitos e costumes da convivência
social, considerando-se legalmente idóneas as confissões religiosas que permitam o
controle da autoridade civil sobre o concurso das condições de validade e de
regularidade do matrimónio. Deixa de se admitir, aos casamentos celebrados por
qualquer religião, que se afaste dos princípios estruturantes e de boa convivência da
sociedade, por exemplo, uma religião que admite a poligamia e celebra múltiplos
casamentos de uma mesma pessoa5. Quanto ao casamento civil, esse é realizado perante
o cartório do Registro civil, na presença dos contraentes, ou de um deles e o procurador
do outro; de, no mínimo, duas testemunhas6.

3
O casamento religioso e tradicional só podem ser celebrados por quem tiver a capacidade
matrimonial exigida por lei. Neste tipo de casamentos a capacidade matrimonial dos nubentes é
comprovada por meio de processo preliminar de publicações, organizado nas repartições do
registo civil a requerimento dos nubentes ou do dignitário religioso, nos termos da lei de registo.
Verificada no despacho final do processo preliminar de publicações a inexistência de
impedimentos à realização do casamento, o funcionário do registo civil extrai o certificado
matrimonial, que é remetido ao dignitário religioso e sem o qual o casamento não pode ser
celebrado
4
GOMES, Orlando. Direito de Família. 7. ed. 4ª triagem. Rio de Janeiro: Forense, 1992.
5
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
6
21 Art. 47 da Lei n.º 10/2004 de 25 de agosto, de família moçambicana, Revogada pela Lei n.º
22/2019 de 11 de Dezembro.
Contexto histórico de união de facto

Do ponto de vista histórico a união de facto tem sua origens na idade media, quando a
igreja católica passou a regular o casamento como um sacramento religioso, tornando
obrigatória a celebração do matrimónio pera um sacerdote. Com isso casais que
seguiam as normas da igreja passaram a conviver em situação irregular, sem a
formalização do casamento. No século XIX, com a ascensão da burguesia e o
surgimento da família nuclear, o casamento passou a ser visto para a organização da
sociedade e para a transmissão do património de geração para geração. No entanto,
mesmo coma a valorização do casamento, as uniões informais continuaram a existir
espontaneamente entre as classes mais pobre.

Ao longo do século XX, as transformações sociais e culturais como o aumento de


urbanização e a luta pelos direitos civis, contribuíram para a ampliação de
reconhecimento de união de facto como uma forma legítima de convivência. O conceito
de família deixou de estar associado exclusivamente ao casamento e passou a abranger
diversas formas de organização afectiva, como as uniões consensuais. Na modernidade
a união de facto é vista como uma alternativa ao casamento, especialmente para casais
que desejam conviver sem formalizar a sua união perante o estado.

União de facto

A união de facto é um conceito jurídico que se refere a uma relação afectiva entre
duas pessoas que vivem juntas como se fossem um casal, mas sem estarem casadas
oficialmente. Essa relação ode ser entre pessoas do mesmo sexo no caso de países que
aprovaram a homossexualismo ou de sexos diferentes como caso de Moçambique.

Para Sílvio rodrigues (2006), a união de facto é uma convivência entre duas pessoas
de forma duradoura, continua e pública, com objectivo de constituir família, sem a
necessidade de formalização perante o estado. Na mesma Cristiano chaves (1997) a
união de facto é uma relação de facto que se caracteriza pela convivência pública
continua e duradoura entre duas pessoas como objectivo de constituir família. A sua
existência pode ser comprovada por diversos meios, como declarações de testemunhas,
documentos, fotos e outros elementos de prova.
Do ponto de vista legal nos termos do artigo 207 da Lei n.º 22/2019 de 11 de
Dezembro, A união de facto é a ligação singular existente entre um homem e uma
mulher, com carácter estável e duradouro, que sendo legalmente aptos para contrair
casamento não o tenham celebrado. 2. A união de facto pressupõe a comunhão plena de
vida pelo período de tempo superior a três anos sem interrupção.

Efeitos da união de facto e o Reconhecimento da União de Facto

Em conformidade com o previsto no artigo 208 da LF, A união de facto releva para
efeitos de presunção de maternidade e paternidade, nos termos do disposto na alínea c)
do número 2 do artigo 234 e na alínea c) do número 2 do artigo 286 da presente Lei. 2.
O regime de bens aplicável a união de facto é o de comunhão de adquiridos. A união de
facto releva também para efeitos sucessórios e outros previstos em demais legislação.

Reconhecimento Administrativo

Segundo Gomes o reconhecimento administrativo da união de facto, varia de acordo


com a legislação de cada país, em geral o reconhecimento pode ser feito por meio do
Registro em cartório ou por meio de declaração formal perante as autoridades
competentes.

Em sentido tecno-jurídico ao abrigo do artigo 209 da Lei n.º 22/2019 de 11 de


Dezembro A existência da união de facto pode ser atestada por certificado passado pela
autoridade administrativa da área de residência dos companheiros, mediante declaração
destes, feita conjuntamente, desde que estejam reunidos os pressupostos previstos no
artigo 207 da presente Lei. 2. O certificado a que se refere o número 1 do presente
artigo, deve ser acompanhado dos seguintes documentos: a) documento de identificação
de cada um dos companheiros da união de facto; b) certidão de nascimento de cada um
dos companheiros da união de facto; c) atestado de residência dos companheiros da
união de facto, com menção do período de tempo de convivência na situação de união.

3. A união de facto não carece de outros elementos de prova para além da declaração a
que se refere o número 1 do presente artigo, salvo se fundadas dúvidas existirem sobre a
verdade do conteúdo desta. 4. A certificação da existência da união de facto deve ser
feita em livro próprio, existente nas autoridades administrativas.
5. A autoridade administrativa, após verificar que se mostram preenchidos os
pressupostos legais da união de facto, deve remeter o certificado aos serviços de registo
civil da área de residência dos companheiros, para efeitos de emissão do atestado da
união de facto. 6. Cabe aos serviços de registo civil da área de residência dos
companheiros da união de facto transcrever o certificado emitido pela autoridade
administrativa, nos termos do presente artigo, e emitir o atestado da união de facto. 7. O
atestado da união de facto, passado nos termos do presente artigo, faz prova plena em
juízo e fora dele.

Cessação da união de facto

Em conformidade com o previsto no artigo 210 da LF, a cessação da união de facto


pode ser atestada pela autoridade administrativa da área onde os companheiros residiam
à data da separação, mediante declaração de um deles e indicação do momento em que
ocorreu 2. Recebido o certificado de cessação da união de facto, a mesma conservatória
referida no número 6, do artigo 209 da presente lei, emite atestado de cessação da união.
3. A autoridade administrativa, verificando a cessação da união de facto mediante
separação ou morte de um dos companheiros, emite o certificado da sua cessação e
remete ao serviço de registo civil referido no número 5 do artigo 209 da presente Lei. 4.
A cessação da união de facto é aplicável no disposto no número 7 do artigo 209 com as
necessárias adaptações.

Reconhecimento judicial

A existência e cessação da união de facto pode ser nos ternos do artigo 211 n o1.
declarada por via judicial. A acção visando a declaração da existência ou cessação da
união de facto segue a forma expedita de processo de jurisdição voluntária, aplicando-se
as regras estabelecidas nos artigos 1409º, 1410º, 1411º e número 2 do artigo 1414º, do
Código do Processo Civil. O pedido de reconhecimento da existência ou cessação da
união de facto pode ser cumulado com os pedidos relativos à efectivação dos efeitos da
união de facto, com as necessárias adaptações.
Legitimidade para intentar a acção de reconhecimento da existência e Vícios da
união de facto

Em conformidade com o previsto no artigo 212, tem legitimidade para intentar a acção
de reconhecimento da existência ou cessação da união de facto ou prosseguir nela: a) o
companheiro da união de facto, ou o seu representante legal, em caso de incapacidade,
nos termos da lei; b) os sucessíveis do companheiro da união de facto em caso de morte
deste; c) os que provem ter interesse directo no reconhecimento da existência ou
cessação da união de facto. Grosso modo eu o artigo 2013 da LF, prevê que é aplicável
à união de facto o regime jurídico da invalidade do casamento com as necessárias
adaptações.
Conclusão

Chegado a este ponto é possível observar-se que a união de facto é uma convivência
entre duas pessoas de forma duradoura, continua e pública, com objectivo de constituir
família, sem a necessidade de formalização perante o estado. Ou seja, a união de facto é
uma relação de facto que se caracteriza pela convivência pública continua e duradoura
entre duas pessoas como objectivo de constituir família. A sua existência pode ser
comprovada por diversos meios, como declarações de testemunhas, documentos, fotos e
outros elementos de prova.

Do ponto de vista legal nos termos do artigo 207 da Lei n.º 22/2019 de 11 de
Dezembro, A união de facto é a ligação singular existente entre um homem e uma
mulher, com carácter estável e duradouro, que sendo legalmente aptos para contrair
casamento não o tenham celebrado. 2. A união de facto pressupõe a comunhão plena de
vida pelo período de tempo superior a três anos sem interrupção. Em conformidade com
o previsto no artigo 208 da LF, A união de facto releva para efeitos de presunção de
maternidade e paternidade, nos termos do disposto na alínea c) do número 2 do artigo
234 e na alínea c) do número 2 do artigo 286 da presente Lei. 2. O regime de bens
aplicável a união de facto é o de comunhão de adquiridos. A união de facto releva
também para efeitos sucessórios e outros previstos em demais legislação.

E a lei da família estabelece mecanismos de reconhecimento de união de facto que


pode ser por uma autoridade administrativa da área de residência dos companheiros,
mediante declaração destes, feita conjuntamente, desde que estejam reunidos os
pressupostos previstos no artigo 207 da presente Lei. 2. O certificado a que se refere o
número 1 do presente artigo, deve ser acompanhado dos seguintes documentos: a)
documento de identificação de cada um dos companheiros da união de facto; b) certidão
de nascimento de cada um dos companheiros da união de facto; c) atestado de
residência dos companheiros da união de facto, com menção do período de tempo de
convivência na situação de união.
Ou por uma autoridade judicial, isto é A existência e cessação da união de facto pode
ser nos ternos do artigo 211 no1. Declarada por via judicial. A acção visando a
declaração da existência ou cessação da união de facto segue a forma expedita de
processo de jurisdição voluntária, aplicando-se as regras estabelecidas nos artigos
1409º, 1410º, 1411º e número 2 do artigo 1414º, do Código do Processo Civil. O pedido
de reconhecimento da existência ou cessação da união de facto pode ser cumulado com
os pedidos relativos à efectivação dos efeitos da união de facto, com as necessárias
adaptações.
Referências Bibliográficas

Amaral, F. (2008), Direito civil: introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar;

Ávila, H. (2016).Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios


jurídicos. 17. ed. São Paulo: Atlas;

Azevedo, A. J. (2002). Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4. ed. São


Paulo: Saraiva,

Dias, M. B. (2015). Direito das famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais;

Engisch, K. (2014). Introdução ao pensamento jurídico. 11. ed. Tradução: João Baptista
Machado. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian;

Gomes, O. (1992). Direito de Família. 7. ed. 4ª triagem. Rio de Janeiro: Forense.

Lisboa, R. S. (1981).Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3. ed.


São Paulo: RT;

LÔBO, P. (2015), Direito civil: família. 6. ed. São Paulo,

Mello, M. B. (2019). Teoria do fato jurídico: plano da existência. 22. ed. São Paulo:
Saraiva;

Pereira, L. R. (1918). Direito de família: anotações e adaptações ao Código Civil por


José Bonifácio de Andrada e Silva. Rio de Janeiro: Virgílio Maia & Comp.

 Legislação

MOCAMBIQUE, Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro - Aprovada pela Assembleia da


República, aos 24 de Julho de 2019, pela Presidente da Assembleia da República,
Verónica Nataniel Macamo Dlhovo.

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