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FACULDADE PARAÍSO DO CEARÁ- FAP/CE

BACHARELADO EM DIREITO
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Beatriz Araújo Gonçalves


Davi Alencar Cabral Ribeiro
Erivan Dantas
José Armando Ferreira Oliveira
Marcos Víctor Novais da Silva de França
Vitória Antônia do Nascimento Franca

UMA ANÁLISE DA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA E


PLATAFORMA CONTINENTAL E SEUS FATORES JURÍDICOS
FRENTE AO DIREITO DAS GENTES

Juazeiro do Norte-CE
2019
Beatriz Araújo Gonçalves
Davi Alencar Cabral Ribeiro
Erivan Dantas
José Armando Ferreira Oliveira
Marcos Víctor Novais da Silva de França
Vitória Antônia do Nascimento Franca

UMA ANÁLISE DA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA E


PLATAFORMA CONTINENTAL E SEUS FATORES JURÍDICOS
FRENTE AO DIREITO DAS GENTES

Trabalho apresentado à disciplina de Direito


Internacional Público do terceiro semestre do curso
de Direito da Faculdade Paraíso do Ceará como pré-
requisito para obtenção da nota parcial avaliativa da
segunda unidade.

Juazeiro do Norte- CE
2019
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho, trata-se, de modo sucinto, de um estudo acerca da Zona


Econômica Exclusiva e da Plataforma continental, englobando seus aspectos
jurídicos em âmbito Internacional sobre os conceitos supracitados, conceitos esses
que por sua vez foram positivados do direito consuetudinário de assuntos marítimos
pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), assinada pelo
Brasil em 10 de dezembro de 1982, e ratificada em 22 de dezembro de 1988, desse
modo, consolidou-se termos distintos e cabíveis a espaços oceânicos estabeleceu-
se um regime jurídico a ser seguido pelos signatários, visando a paz, a segurança e
a promoção econômica e social de todas as gentes. Ademais, em 1993, mediante a
Lei 8.617, o governo brasileiro reconheceu os limites marítimos nacionais coerentes
com os estabelecidos pelo tratado, aumentando a responsabilidade do Estado com a
gerência e proteção das suas águas jurisdicionais.

1 A ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA

Adentrando em uma breve contextualização histórica, segundo CASSELA


(2009), a figura da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) teve origem em tentativas
unilaterais de projeção de direitos soberanos do estado sobre faixas mais extensas
do mar. Havia preocupações referentes à navegação e segurança, bem como com a
exploração de todos os setores marítimos, desse modo, levou-se à instituição do
pensamento na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do mar (CNUDM).
Frente às diversas inovações conceituais adentradas pela citada Convenção
de 1982, o conceito de Zona Econômica Exclusiva (ZEE) é um dos mais complexos
e multifacetados pilares de todo o tratado. Nesse sentido, define-se Zona Econômica
Exclusiva, conforme a CNUDM como:

A zona econômica exclusiva é uma zona situada além do mar territorial e a


este adjacente, sujeita ao regime jurídico específico estabelecido na
presente Parte, segundo o qual os direitos e a jurisdição do Estado costeiro
e os direitos e liberdades dos demais Estados são regidos pelas
disposições pertinentes da presente Convenção. (CNUDM, art. 55)

Não obstante, o artigo 57 acrescenta que essa zona tem largura de 200
milhas marítimas (equivalentes a 370 km), medidas da linha de base, ou seja, da
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costa, de onde se mede a largura do mar territorial, isto é, compreende a faixa do


mar territorial (que equivale a 12 milhas marítimas a partir do litoral do Estado) e a
faixa da zona contígua, estendendo-se depois do fim do mar territorial, por uma faixa
de mar de 188 milhas marítimas (descontando-se assim as 12 milhas do mar
territorial).
Outrossim, sabe-se que mesmo já consagrada na Convenção de Montego
Bay, ainda muito se discute a respeito da natureza jurídica da ZEE no Direito
Internacional, entretanto, é perceptível que nela os estados têm “Direitos de
soberania”, onde há “apenas ali alguns direitos especificados, e não uma soberania
completa” (MELLO, 2004 P. 1203). Todavia, o próprio acordo de 1982 demonstra
que o a ZEE passou a ter caráter jurídico sui generis, possuindo características
próprias que não se emaranham com as do mar territorial e do alto mar (MAZZUOLI,
2010 P. 720).
Consonante a isto, o artigo 7° da Lei 8.617/93 complementa o artigo 56,1,
alínea a, da CNUDM (1982), ratificando os direitos de soberania do Brasil para fins
de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos
ou não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu
subsolo, e no que se refere a outras atividades com vista à exploração e
aproveitamento da zona para fins econômicos, como a produção de energia a partir
da água, das correntes e dos ventos, e ainda da jurisdição mediante a colocação e
utilização de ilhas artificiais, instalações e estruturas, investigação científica marinha
e proteção e preservação do meio marinho. É válido ressaltar que esses direitos são
taxativos e se restringem a somente esses casos próprios.
Por fim, destacam-se os fatos de que o Estado costeiro, ao explorar a ZEE
deve obrigatoriamente fixar uma quantidade exploratória de pesca, e caso não ter a
capacidade de fazê-lo em toda sua extensão, poderá dar acesso do excedente a
outros mediante tratados (CNUDM, art. 62), esta é uma das medidas da convenção
para promover o “máximo rendimento constante” (CNUDM, art. 61,3) e, também “o
objetivo da utilização ótima de tais espécies” (CNUDM, art.64). Além disso, para
MARTINS (2008), nesta zona o Estado costeiro goza de exclusividade de
construção, operação e utilização de instalações e estruturas para fins econômicos
ou que possam interferir com o próprio Estado ribeirinho.

2 A PLATAFORMA CONTINENTAL
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A noção geográfica de plataforma continental (PC) já era encontrada no


século XVIII (MELLO, 2004 P. 1219), porém ela foi atentada recentemente pelo
Direito internacional, por motivos inteiramente econômicos. Na convenção sobre
plataforma continental de 1958, definiu-se amplamente o termo considerando os
conhecimentos e avanços tecnológicos da época e esclareceu-se os direitos
soberanos dos Estados, no entanto, acontecimentos posteriores demonstraram que
havia a necessidade de rever alguns de seus dispositivos, sobretudo no tangente
aos limites interpostos. (CASSELA, 2010 p.426)
Mediante os novos avanços de exploração do mar e os anseios econômicos
internacionais, a matéria foi tratada na Convenção de 1982, explicitando, agora com
um enfoque mais jurídico, que a Plataforma continental compreende o leito e o
subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, de todo
o seu território terrestre até o bordo da margem continental ou até 200 milhas
náuticas. Este é um espaço que tem extrema importância econômica, visto que
apresenta abundantes riquezas naturais, como petróleo, carvão níquel, gases, etc.
Nesse contexto, o regime jurídico da PC permaneceu estável até o desenvolvimento
de todo um corpus jurisprudencial sobre a sua delimitação (PANGRACIO, 1997
P.151), assim se tornou necessário a ratificação no campo jurídico do Direito
Internacional para regular tal área que cresce na medida que o desenvolvimento
tecnológico se desenvolve e torna viável a exploração de grandes profundidades.
Por mais, como enfatiza C. De VISSCHER (1953):

Como para qualquer dos espaços marítimos, um dos


problemas mais delicados, que suscita a apropriação do
subsolo marinho é o de sua delimitação. (VISSCHER, 1953)

No entanto, deve-se atentar ao fato de que a noção jurídica de “plataforma”


não corresponde ao sentido geográfico. Na verdade, o termo “plataforma
continental” não tem denominação exata, até mesmo a própria doutrina jurídica não
consegue dar um conceito aceito por todos, mas a expressão depois de consagrada
pelo pacto de 1982, tomou sentido próprio no Direito Internacional que não
correspondeu ao seu sentido literal. (MELLO, 2004, p.1224). No tocante à soberania,
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o Estado costeiro tem direitos soberanos sobre a plataforma para exploração e


aproveitamento de seus recursos naturais (CNUDM, art.77). Tais direitos são
exclusivos do Estado, só sendo admitida a exploração por terceiros com o
consentimento do Estado costeiro. Outro fato interessante é que os direitos
mencionados não alteram “a condição jurídica das águas sobrejacentes nem a do
espaço aéreo situado sobre tais águas”. Por fim, os artigos seguintes ao 77 da
CNUDM sintetizam um rol de direitos que o Estado costeiro possui, tudo dentro do
limite da regulamentação da plataforma continental, desse modo, também é
demonstrado a responsabilidade dos Estados de preservar e vigiar os recursos da
plataforma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 é bastante


abrangente, regulando os dois conceitos tratados neste trabalho: Zona Econômica
Exclusiva e Plataforma Continental, criou regras internacionais de exploração
econômica e medidas de preservação do meio ambiente marinho para um tema até
então costumeiro. Com o advento, se trouxe também a problemática jurídica dos
termos mencionados, quanto a ambos, trava-se, hodiernamente muitos entraves a
respeito dos limites interpostos, sobretudo da Zona Econômica Exclusiva na qual
constantemente tem-se notícias de que as faixas além das zonas são ricas em
recursos e os países logo se interessam, todavia, suscita-se também a questão da
preservação dos recursos naturais que necessitam de urgente atenção tanto no
limite estabelecido.
Outra questão contextualizada nos dois conceitos é o fator soberania, no
direito do mar essa é um forte problemática muito comentada por diversos autores.
Tendo em mente que a soberania é precisa para legitimar o espaço que não era
regulado formalmente, levanta-se, por lógica, a ideia de que nenhum outro país pode
adentrar as áreas, nem realizar nada da mesma espécie, por outro lado, nota-se o
princípio do patrimônio comum da humanidade que não permite excessos unilaterais
de soberania em uma área que é considerada patrimônio universal, e vincula
imperativamente os Estados a respeitarem as convenções jurídicas a respeito do
mar. Além disso, a Constituição da República, traz no seu artigo 20, dentre os bens
da União, o seu inciso V que inclui “os recursos naturais da plataforma continental e
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zona econômica exclusiva”, cabe, dessa forma, a já mencionada necessidade de


preservação, vigilância e cuidado com tais bens.

REFERÊNCIAS

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p. 421-435.

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