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Direito Internacional Público

Direito (Universidade de Lisboa)

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Baixado por Eunice Gonçalves (eunice.goncalves90@gmail.com)
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Direito Internacional Público: Apontamentos (Turma B)


Aulas Teóricas/ Manuais De Direitos Internacional Público:
Professor Correia Baptista, Maria Luísa Duarte e Jorge Miranda

1 - Noção: Direito Internacional Publico é o conjunto de normas e princípios gerais


definidos no quadro da ordem jurídica global que visam regular a existência e
funcionamento da comunidade internacional.

1.1 - Comunidade e não sociedade. É aceite porém em linguagem corrente que os dois
conceitos sejam sinónimos. Mas perante uma abordagem jurídica e rigorosa, ambos
conceitos possuem diferenças. As duas formas de agregados humanos são
caracterizadas da seguinte maneira:

- Para as relações de tipo societário é "cada um por sim e quando necessário juntam-
se" (Marcello Caetano). No modelo de sociedade os membros possuem autonomia e
cooperam entre si para evitar o caos, existem assim relações de interdependência e
cooperação na esfera de decisão. Os Estados permanecem separados apesar de tudo
aquilo que os une. Quanto à institucionalização de tipo societário funciona com base
em critérios de mera coordenação e autoridade (Estados de coordenação de
soberanias). As normas internacionais deste tipo de relações traduzem apenas a
vontade dos Estados.

- Para as relações de tipo comunitário os Estados "permanecem unidos apesar de tudo


aquilo que os separa" (Marcello Caetano). Os membros sacrificam a autonomia e criam
estruturas de decisão que imponham a mesma. Existe uma ideia de limitação da
autonomia. Nas relações de tipo comunitário prevalece o interesse comum e como
consequência os Estados estão mais unidos, mais uma vez, apesar de tudo aquilo que
os separa. O modelo comunitário de regulação da vida internacional baseia-se num
princípio activo de confiança entre os Estados, substituindo assim o modelo clássico de
coordenação societária. Assim a soberania é limitada em pequenas parcelas pois o
exercício passa a ser assumido por órgãos de decisão comum ou partilhada (Maria
Luísa Duarte).

1.2 - Define-se como estatuto jurídico da comunidade internacional e tem como


critérios distintivos da norma internacional : a origem, os destinatários e a sua função.

A) Origem das normas – criadas pelos processos próprios de produção jurídica da


comunidade internacional, procedimentos de manifestação de vontade jurídica por
parte da agremiação internacional (costumes, princípios gerais de Direito).

B) Sujeitos – As normas jurídico-internacionais têm destinatários e é a função destes


que traçam a sua identidade reguladora. Direito Internacional Público, no seu

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elemento subjectivo já não está limitado a um direito dos Estados e para Estados.
Engloba então as relações da comunidade internacional, comunidade formada por
várias entidades (Estados, organizações internacionais, outras realidades colectivas e
indivíduos).

C) Função - Função social da norma internacional visa enquadrar e disciplinar as


matérias relacionadas com a existência jurídica da comunidade internacional e o seu
funcionamento.

1.3 Características do Direito Internacional Público:


- Institucionalizado e multilateral de tipo comunitário, pois resulta da criação de um
numero cada vez maior de organizações internacionais com papel decisivo no
respeitante ao processo de elaboração de normas internacionais e a sua aplicação.
Também porque envolve da parte dos Estados o exercício em comum de poderes de
soberania

- Estados assumem obrigação de prestar contas pelo exercício das suas competências
perante órgão de controlo político, judicial ou administrativo.

- Democrático, pois é a expressão de um direito de base multilateral e inclusivo.

- Expansivo, com regulamentação internacional a estender-se às mais variadas áreas


de relevância jurídica transnacional (exemplo: Direito do Mar).

- Internormativo e prevalecente, em relação às ordens jurídicas nacionais e regionais, o


Direito Internacional é parte integrante destas , que por critérios de subsidiariedade,
asseguram a aplicação da regra internacional e garantem a sua primazia.

- Humanista e Social, devido à centralidade reconhecida ao princípio da dignidade da


pessoa humana pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, reconhecimento do
indivíduo como titular de direitos e deveres de fonte internacional.

- Global, como resposta às necessidades de uma comunidade de Estados em processo


acelerado de partilha de interesses, problemas e riscos.

- Universal, é o ordenamento jurídico que tem por base o conjunto dos Estados,
evolução de Direito Internacional quanto à sua configuração normativa de uma
supralegalidade (sob forma de direito cogente ou Ius Cogens e obrigações gerais erga
omnes) impondo a todos os Estados deveres em relação á comunidade internacional
no seu conjunto. Valores Comuns e universais (Paz e Dignidade da Pessoa Humana).

- Assimétrico, palavra que resume a fragilidade do ordenamento jurídico internacional


em função de factores basicamente extra jurídicos, dependendo das matérias ou das

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regiões (exemplo: o nível de garantia dos direitos das mulheres na Europa com o que
se passa em África, Ásia ou, em particular, no Mundo Árabe).

2 - Caracterização: Depende da análise e metodologia levada a cabo.


A) Análise técnico-jurídica – objecto de analise são as regras jurídicas, normas
codificadas ou princípios gerais, vinculativas pelo seu enunciado e integradas no corpo
jurídico complexo do ordenamento internacional.

B) Análise axiológica – objecto de analise é o leque de valores que enquadram a vida


social internacional (valores como a paz e a dignidade da pessoa humana), esta
representação de valores orienta a análise jurídico-formal. Exemplos: Jus cogens e o
art. 1º da Carta das Nações Unidas.

C) Análise histórico-sociológica – Faz a ponte entre a norma e a realidade, norma e os


factos que condicionam a sua aplicação efectiva. Ocupa-se das diferentes fases de
evolução das relações internacionais dos Estados no plano histórico.

A reter que as três perspectivas são complementares. DIP não pode ser recortado a
uma análise pura de recorte jurídico. Neste caso a história não pode ser afastada, pois
é da história que se retira o progresso humano, num contexto mais seguro e justo.
Existe uma relação ambivalente entre norma e facto, entre norma e valores.

3 - Terminologia: Em Portugal a disciplina é designada Direito Internacional


Público, por melhor exprimir a natureza e âmbito da mesma disciplina, permitindo
uma melhor distinção entre esta e Direito Internacional Privado.

No estrangeiro, por influência anglófona, designa-se Internacional Law (escolhida para


o art. 8º da C.R.P).

4 - Direito Difícil de Conhecer: Isto por ser problemático, esquivo e esfíngico.


Devido:

A) À pluralidade de fontes e incerteza na relação entre elas. Perante um litígio


concreto diplomático e jurídico do Chefe de Estado, quais as normas a aplicar? Qual o
quadro normativo aplicável? Quais os princípios a ter em conta? E se estes últimos não
estiverem de acordo com as normas?

B) À dispersão das normas e ausência de decisor normativo de âmbito universal. A


Comunidade internacional não possuí um estatuto único ou codificado.

C) À fragmentação do Direito internacional Público, seguindo diferentes regimes


jurídicos específicos. Esta questão envolve-se com a forma de multiplicação de ordens
jurídicas regionais que funcionam com uma dinâmica de autonomia em relação à

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autoridade universal da Organização das Nações Unidas. Apresentando-se assim "não


apenas fragmentário, mas fragmentado".

D) À abordagem metodológica, onde é necessário combinar o raciocínio técnico-


jurídico com a ponderação de valores no contexto de uma avaliação realista dos factos
e dos seus condicionantes. Jorge Miranda: "Direito Internacional Público coloca o
jurista em contacto muito estreito com os problemas mais radicais do ser, do valor e
da efectividade da norma".

5 - Formação e Evolução Histórica


1º Momento - Civilizações muito antigas, passagem do milénio IV para o milénio III,
3010 a.C, data do primeiro tratado internacional (acordo de paz entre duas cidades
rivais). Tratados invocam divindades supremas das partes, cuja cólera deveria castigar
o infractor.

2º Momento - Aponta para a Grécia Antiga, por razões militares, existia a


necessidade de realizar a paz por mensageiros, os chamados diplomatas. Momento
caracterizado por diplomacia e tratados, alianças e federações, "técnica dos tratados e
arte da diplomacia". Criação de Ligas de Estados (Liga de Delos), alianças para o
combate. Estabelecimento de direitos e princípios dos estrangeiros através de
contracto de hospitalidade pública entre cidades gregas. Platão defendeu um
programa de humanização da guerra travada entre cidades gregas.

3º Momento - Roma Imperial, aponta-se para o Direito Romano. Institutos que


regularam a situação jurídica dos estrangeiros, através do Ius Fetiale e Ius Gentium
(Direito das Gentes, depois designado Direito Internacional). Dá-se a percepção de
Direito inerente à pessoa (independente à condição de ser romano ou não). Existe uma
identificação do Direito das Gentes com o Direito Natural, "natural" é o facto de
derivar da natureza humana, aquele que as "gentes", no sentido de nações humanas,
"praticam" (Ulpiano). O Direito Natural traduz racionalidade própria á natureza
humana que impõe certos comportamentos ligados à representação de valores
comuns.

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4º Momento - Queda do Império Romano (ano 476), Europa mergulha no caos


provocado pelas invasões dos povos ditos bárbaros. Relações internacionais tornaram-
se possíveis apenas no séc. XI, com a estabilização dos reinos cristãos, a Idade Média é
marcada pela disputa do Papa e o Santo Império pelo poder supremo. Com a
supremacia da Igreja Católica e do Papa, entre o séc. XII e séc. XIV, afirmou-se o Direito
Canónico, direito comum de fundamento religioso, partilhado pelas nações cristãs.
Período marcado pela dimensão do Ius Commune, com a aplicação destes dois
regimes: Lei de mercadoria (reguladora de trocas comerciais) e lei marítima de fonte
consuetudinária.

5º Momento - Por volta do séc. XV, marcado pelo progressivo declínio do Papado e
do Império, coincidiu com a afirmação dos Estados no sentido moderno, Estado
soberano. Movimento da Reforma Protestante, marcado pela Guerra dos Trinta Anos
em 1648, com a chamada Paz de Vestefália. Mencionando o extraordinário
desenvolvimento dos estudos jurídicos que estão na génese do Direito Internacional
Público, distinta do direito interno. Isto devido a:
A) Movimento dos Descobrimentos e a querela em torno do mare clausum versus
mare liberum (Grócio). Fenómeno de Globalização como fonte de novas situações
jurídicas de âmbito internacional que necessitavam de ser resolvidas.

B) Fundamento e limites da guerra, distinção de guerra justa e injusta. Quando é


justificável? Grotius aponta para limites na guerra, como a proporcionalidade e uma
pequena ideia de dignidade da pessoa humana.

C) Fundamento do poder dos reis e príncipes fora da alçada tutelar do Papado e do


Império.

Para Francisco Vitória, a comunidade internacional tinha por base, como a comunidade
política interna, o Direito Natural. Comunidade Internacional designada por orbis,
formada pelo conjunto de povos, nações e Estados (respublica). A comunidade
Internacional possuía um carácter próprio à qual se aplicava o Direito Natural de
sociedade e de comunicação que regulava as relações (Direito entre as gentes).

A reter ainda, a distinção entre Direito Natural (direito necessário e imutável) e Direito
das Gentes (direito positivo, evolutivo e contingente, pois resulta do juízo dos povos
sobre o que deve ser conteúdo de direito aplicável). Francisco Suarez afirma que o
Direito das Gentes não deve contrariar o Direito Natural, postulando assim a
subordinação dos Estados ao Direito Natural. Esta visão de Suarez é, mais tarde,
aprofundada por Grócio, na medida em que o Direito Natural está ligado ao Direito
Voluntário (resultante da vontade de nações sobre a forma de acordos), ligadas pela
obrigatoriedade da palavra dada (pacta sunt servanda).

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Jean Bodin afirma que um Estado (respublica) deve deter e exercer força soberana,
caracterizada como poder supremo na ordem jurídica interna e independente, igual na
ordem jurídica internacional. Bodin traça o conceito de soberania do Estado, tanto nas
relações internas (com os poderes intraestaduais, sendo una, indivisível, perpétua e
suprema) como nas relações com outros Estados, em relações externas (soberania
pressupõe um estatuto de independência, nos dias de hoje definida como "igualdade
soberana" na Carta das Nações Unidas). A soberania é defendida como atributo
absoluto de poder, mas o Estado está obrigado a respeitar o Direito Natural e o Direito
das Gentes.

Nicolau Maquiavel, defende que se deve exercer e manter poder político em situações
de conflito entre lei e a moral. Com o objectivo maior de preservar o Estado contra
alianças e ataques de inimigos externos, justifica-se o recurso a meios mas eficazes,
mesmo contrários à lei ou juízos morais - "Razão de Estado".

6º Momento (ainda integrando a Paz de Vestefália) - Período Clássico (1648 - 1815).


Era clara a marca de instabilidade e o enfraquecimento do sistema internacional com o
poder dual do Papa e do Imperador. A instabilidade era marcada por sucessivas
guerras entre os reinos cristãos (de um lado França e a Casa de Áustria, e de outro
entre a Inglaterra e a Espanha, agravada pelas lutas religiosas entre católicos e
protestantes). Caía na Europa uma visão de "guerra perpétua". A Guerra dos 30 Anos,
guerra religiosa e política, foi devastadora, envolvendo imensas nações da Europa. A
guerra termina em 1648, com dois tratados que formam a chamada Paz de Vestefália,
que simbolizou o fim da ordem representada como Respublica Christiana, colocando
uma nova ordem europeia inter gentes baseada na existência de Estados Soberanos,
reconhecimento de centralidade do Direito nas relações internacionais.

Paz de Vestefália constitui a afirmação dos seguintes princípios:


- Respeito pelas fronteiras dos Estados

- Autoridade legislativa, administrativa e judicial dos Estados, baseada no critério da


jurisdição territorial e não jurisdição pessoal.

- Igualdade soberana dos Estados.

- Não intervenção nos assuntos internos dou outros Estados.

- Tolerância religiosa e igualdade confessional entre catolicismo, luteranismo e


calvinismo.

Paz de Vestefália contribuiu para o futuro também com:


- Princípio de que os tratados são para ser cumpridos pelos Estados celebrantes ( pacta
sunt servanda)

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- Conflitos que ameaçem a paz devem ser ultrapassados, através da negociação


político-diplomática.

- Uso da força sobre um Estado infractor que inicie uma guerra sem justa causa, ou que
contrarie o Direito.

Este momento ficou marcado pelo desenvolvimento da doutrina jusinternacionalista,


dotar o Direito Internacional Público de um fundamento próprio, independente de
factores religiosos ou morais e pelo conceito de "paz perpétua", mobilizando no
sentido de, por vontade própria, eliminar a guerra entre Nações Europeias.

De salientar a importância de no final do Séc. XVIII, verificarmos acontecimentos que


mudaram o plano de Direito Internacional Público, como 1) a criação dos E.U.A (1776),
o reconhecimento à auto-determinação dos povos e do princípio das nacionalidades,
movimentos nacionalistas no Séc. XIX na Europa e América do Sul, e depois já na
segunda metade do Séc. XX com o processo de descolonização e criação de novos
Estados, em África e na Ásia. 2) Revolução Francesa (1789) e a proclamação dos
direitos do homem sob perspectiva universalista, dentro dos valores fundamentais da
liberdade e igualdade.

7º Momento - Período Moderno (1815 - 1945). Após as invasões francesas e derrota


de Napoleão Bonaparte, é importante mencionar o Congresso de Viena.
Diferentemente da Paz de Vestefália, este tratado funciona como instrumento
privilegiado nas relações internacionais, adequa-se melhor à regulação das questões
de cooperação internacional no contexto de uma comunidade internacional.
Albergando um maior numero de Estados. Aqui trata-se de decidir em comum, uma
exigência básica da institucionalização das relações internacionais.

Este período foi marcado pelo desenvolvimento da linguagem normativa das relações
internacionais:

- A política de alianças como mecanismo de prevenção de conflitos na Europa.

- Reforço da negociação pela via diplomática alargada e a celebração de tratados


multilaterais.

- Abolição da escravatura e protecção dos feridos em tempo de guerra.

- Desenvolvimento de Direito Internacional de fontes convencionais, codificação das


normas consuetudinárias.

- Alargamento do numero de membros (Estados Soberanos) na comunidade


internacional - Tratado "Direito das Gentes: exposição sistemática" a propor a
distinção de Estados civilizados (Europeus ou de matriz europeia) e Estados

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semicivilizados (exemplos de China e Pérsia pois estavam ligados a Estados civilizados


por tratados) e Estados não civilizados (pequenos Estados árabes e países africanos da
Libéria e da Abissínia que não integravam a comunidade internacional).

Acontecimentos históricos que marcaram este período:


- Primeira Grande Guerra e a queda dos Grandes Impérios Centrais, Alemão, Austro-
húngaro, o Otomano e o Império Russo na sequência da Revolução de Outubro de
1917.

- Derrota no campo de batalha, impondo à Alemanha um caderno de encargos, pesado


e humilhante, como a perda de território e o pagamento de indemnizações de guerra
aos países vencedores, por estes serem vítimas de agressão por parte da Alemanha e
dos seus aliados - Tratado de Versalhes (1919), aprovado o Pacto das Sociedades das
Nações (1920). O Tratado de Versalhes objectiva a transição de um Direito
Internacional de recorte interestadual, que regula relações entre Estados e interesses
dos Estados, para um Direito Internacional que alarga a sua esfera de protecção à
pessoa humana, na dimensão individual e colectiva ou social (Direito Internacional do
Trabalho e Direito Internacional dos Direitos Humanos).

- Criação do Tribunal Permanente de Justiça Internacional em 1921, com a sua sede em


Haia - Actual Tribunal Internacional de Justiça. Sendo hoje a base da doutrina
jurisprudencial do Direito Internacional contemporâneo.

A reter que a Sociedade das Nações, embora tenha sido um "falhanço", teve uma
função de prevenção de alguns conflitos sobre o estatuto de minorias nacionais.

8º Momento (último) - Período Contemporâneo. Apontado desde 1945 até aos


nossos dias. A entrada em vigor da Carta das Nações Unidades (1945) representa um
virar da página em relação ás condições e causas subjacentes que estiveram na origem
da Segunda Grande Guerra Mundial. Uma expressão de um sistema de segurança
colectiva que investe o Conselho de Segurança (orgão de composição restrita e
poderes inigualitários entre os seus membros: E.U.A, Rússia, China, França e Reino
Unido, com um estatuto permanente de veto) de verdadeiros poderes de autoridade
supraestadual em caso de violação da paz e segurança internacionais.

Período marcado pelo "respeito dos direitos do homem e das liberdades fundamentais
para todos" (art. 1º nº3, Carta das Nações Unidas), traduzindo o "reconhecimento da
dignidade humana a todos os membros da familia humana". Direito Internacional é,
não só, direito dos Estados e entre Estados, mas também o direito que define e
protege os direitos das pessoas, baseados em princípios gerais que testemunham a sua
partilha pela comunidade internacional ou que decorrem de convénios internacionais
livremente aceites pelos Estados.

Baixado por Eunice Gonçalves (eunice.goncalves90@gmail.com)


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Acontecimentos históricos marcantes:

- Guerra Fria, como crise de natureza político-ideiológica no seio da comunidade


internacional - Guerra da Coreia (1950-1953) e a Guerra do Vietname (1955-1975).

- Crise dos mísseis de Cuba (1962).

- Movimento dos Não-Alinhados (1961).

- Muro de Berlim (e a sua queda em 1989), que separava duas partes da cidade e da
Alemanha (do Leste e Ocidental), simbolicamente simbolizava a divisão do mundo na
Era da Guerra Fria. A queda do mundo simbolizou a queda da lógica bipolar de
afiliação de Estados.

- Colapso da União Soviética e desagregação da Jugoslávia, colocando a questão


clássica das nacionalidades assim como o princípio da auto-determinação dos povos.

- Surgimento dos E.U.A como hiperpotência, prejudicando o multilateralismo nas


relações internacionais, enfraquecendo o papel das Nações Unidas na resolução de
conflitos internacionais.

- Criação da Organização Mundial do Comércio em 1995. Definindo o quadro jurídico


fundamental da globalização em escala universal.

Características: (repete-se aqui a ideia do ponto 1.3 dos resumos para fazer
ponte entre a matéria e com a intenção de um melhor entendimento).

- Institucionalizado e multilateral de tipo comunitário, pois resulta da criação de um


numero cada vez maior de organizações internacionais com papel decisivo no
respeitante ao processo de elaboração de normas internacionais e a sua aplicação.
Também porque envolve da parte dos Estados o exercício em comum de poderes de
soberania

- Estados assumem obrigação de prestar contas pelo exercício das suas competências
perante orgão de controlo político, judicial ou administrativo.

- Democrático, pois é a expressão de um direito de base multilateral e inclusivo.

- Expansivo, com regulamentação internacional a estender-se às mais variadas áreas


de relevância jurídica transnacional (exemplo: Direito do Mar).

- Internormativo e prevalecente, em relação às ordens jurídicas nacionais e regionais, o


Direito Internacional é parte integrante destas , que por critérios de subsidiariedade,
asseguram a aplicação da regra internacional e garantem a sua primazia.

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- Humanista e Social, devido à centralidade reconhecida ao princípio da dignidade da


pessoa humana pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, reconhecimento do
indivíduo como titular de direitos e deveres de fonte internacional.

- Global, como resposta às necessidades de uma comunidade de Estados em processo


acelerado de partilha de interesses, problemas e riscos.

- Universal, é o ordenamento jurídico que tem por base o conjunto dos Estados,
evolução de Direito Internacional quanto à sua configuração normativa de uma
supralegalidade (sob forma de direito cogente ou Ius Cogens e obrigações gerais erga
omnes) impondo a todos os Estados deveres em relação á comunidade internacional
no seu conjunto. Valores Comuns e universais (Paz e Dignidade da Pessoa Humana).

- Assimétrico, palavra que resume a fragilidade do ordenamento jurídico internacional


em função de factores basicamente extrajurídicos, dependendo das matérias ou das
regiões (exemplo: o nível de garantia dos direitos das mulheres na Europa com o que
se passa em África, Ásia ou, em particular, no Mundo Árabe).

6 – Fontes
Importa compreender três sentidos:
A - Fonte em sentido Formal: enquanto modo de formação de normas jurídicas (em
sentido técnico-jurídico)
B - Fonte em sentido Instrumental: fonte como instrumento jurídico em que estão
contidas normas jurídicas (preceitos que por intermédio da interpretação jurídica se
converterão em normas).

C - Fonte em sentido Material: os autores de uma norma, quem de facto a elaborou e


lhe confere natureza jurídica (obrigatoriedade). É neste sentido que se sustenta a
Doutrina e a Jurisprudência como Fontes de Direito. Formalmente não criam normas
jurídicas, mas na realidade são os seus principais autores.

Hierarquia de Fontes (teses):


1ª Tese - Não existe hierarquia de Fontes em DIP. Costume e Tratado revogam-se
mutuamente por estes se encontrarem no mesmo plano hierárquico, conclui-se que
existem portanto antes uma simples hierarquia de normas, invocando o Ius Cogens. -
Tese rejeitada por Correia Baptista. Esta tese é rejeitada por não ser possível, desta
paridade, encontrar num ou no outro (Costume ou Tratado) fundamento de validade;
do mesmo modo não sendo possível encontrar uma Fonte superior e uma inferior por
estarem em igual plano, tendo em conta que normas provindas de Fontes inferiores
não podem revogar normas provenientes de Fontes superiores. Deste modo, esta tese
aponta antes para uma hierarquia de normas.

Baixado por Eunice Gonçalves (eunice.goncalves90@gmail.com)


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Importa distinguir revogação de derrogação. Revogar significa eliminar do


Ordenamento um acto por meio de um outro acto de hierarquia idêntica ou superior.
Derrogar significa afastar (não elimina do Ordenamento) por um acto a aplicação de
uma norma, que pode ser hierarquia superior no que diz respeito a certa categoria de
situação ou pessoas (mas continua a aplicar-se às restantes pessoas ou situações).

2ª Tese - Superioridade hierárquica do Costume. O Costume surge no topo da pirâmide


hierárquica, seguindo-se os tratados, pois o princípio de que os tratados são para ser
cumpridos (Pacta Sunt Servanda) tem ele base costumeira. Logo, os tratados
dependem de Direito Costumeiro, é em normas deste que os tratados encontram
fundamento. O Costume é fundamento de validade e regula o modo de formação dos
Tratados. - Tese sustentada por Correia Baptista. Deste modo, verificasse uma
incapacidade de os tratados revogarem uma norma costumeira e uma iderrogabilidade
de normas costumeiras em relação às normas convencionais.

Soft Law - figura constituída por actos de obrigatoriedade reduzida. Ideia de "Direito
suave". A sua violação não implicaria responsabilidade Internacional, apenas se fosse
gravosa e sistemática.

Costume - Prática geral reiterada com convicção de


vinculatividade/obrigatoriedade. É a principal Fonte (Fonte espontânea em sentido
formal) de DIP, considerado o único meio de universalizar o DIP, isto é, o seu papel
principal deve-se não à criação de normas, mas à sua universalização.
O Costume é composto por dois elementos, em primeiro lugar, a prática ou prática
continuada, "prática quase universal, constante e geralmente seguida" (elemento
material) e, em segundo lugar, a convicção de obrigatoriedade (opinio iuris, ou
elemento psicológico ou subjectivo do Costume) - Sede jurídica de suporte: art. 38 nº1
(b) ETIJ. De notar que Costume e norma costumeira não se confundem. o Costume é
logicamente anterior, pois as normas (costumeiras) "nascem" da Fonte, o Costume.

Natureza e fundamento do Costume: 1) Correia Baptista - questão controversa devido


à sua incerteza, devido à dificuldade em identificar as suas normas, a existência de
diferentes práticas e a falta de consenso quanto aos critérios a aplicar. DIP não fornece
resposta, esta questão não é juridicamente regulada ( é extra-jurídica). Sempre existiu
e provavelmente continuará a existir Costume, existe tanto nas comunidades humanas
como nas não humanas. A natureza e cultura das comunidades é que terão sempre um
peso sobre o modo como este é entendido e opera. 2) Maria Luísa Duarte explica a
doutrina dividida em duas correntes:
A - Escola Voluntarista - a norma só pode existir como manifestação da vontade dos
Estados, expressa se for um tratado e tácita se for um costume (fundamento do
acordo tácito), a aceitação seria afastada no caso de existir uma oposição expressa e
reiterada (teoria do objector consistente).

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B - Escola Objectivista - costume como necessidade social do tipo de relações


existentes entre os membros da comunidade internacional que os leva a actuar entre
si sob o império de certas regras jurídicas. Uma resposta cultural construída justificada
por um leque de valores e princípios de estruturação societária, absorvida pelo tecido
social.

O Costume é referido no artigo 38º ETIJ como um conjunto de normas costumeiras


que formam o Direito Internacional Geral, uma base de fundo onde decorrem relações
internacionais, permitindo a formação de um regime jurídico geral e uniforme. Desta
forma exprime o consenso historicamente assumido pela comunidade internacional.
Sendo geral, possuí eficácia erga omnes.

A reter que os Estados mais importantes no contexto internacional são decisivos na


formação do costume e na sua garantia.

Rejeição do Costume: Atendemos à teoria do objector persistente ou "contestação


permanente", onde a objecção reiterada por parte de um Estado pode não impedir a
formação do Costume, mas garante a sua não vinculação (apenas se for anterior à
formação da norma costumeira). Se a rejeição reiterada for praticada por um numero
considerável de Estados, aí sim, estamos perante um entrave à formação da norma
costumeira.

Relação entre Costume e Convenção: Maria Luísa Duarte (apontando à primeira tese
referida anteriormente relativo à hierarquia) - A ter em conta o princípio da
equivalência paritária. A norma costumeira não é inderrogável caso esta possua
carácter dispositivo, pode ser substituída ou deixar de vigorar por efeito do desuso.
Mas caso seja uma norma imperativa (Ius cogentis) os Estados estão impedidos de
aplicar normas convencionais contrárias, feridas de nulidade (art. 53 CVDT-I). O seu
eventual afastamento teria de resultar de um processo consuetudinário equivalente de
renovação de ius cogens. Sendo uma norma de carácter dispositivo e podendo ser
substituída, temos de atender a critérios gerais de sucessão de normas: Norma
posterior revoga norma anterior e norma especial revoga norma geral. Sendo assim, a
um costume, pode surgir um regime jurídico imposto por uma convenção
internacional posterior.

Crise do Costume (Correia Baptista e Maria Luísa Duarte): Aqui notamos o


favorecimento, a partir do séc. XX pela opção do tratado. Os Estados preferem a
negociação multilateral como espaço de privilégio e de recomposição de interesses
divergentes que opõem Estados (desenvolvidos e em desenvolvimento). Importante é
referir, também que esta crise acentua-se com a tendência de regionalização do
Direito Internacional. A ter em conta a abordagem positivista crescente que surge com
expressão na doutrina jusinternacionalista no sentido de demonstrar por razões de

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certeza jurídica e até de efectividade a superioridade funcional da norma convencional


sobre a norma costumeira.

Princípios Gerais de Direito - Trata-se de uma Fonte espontânea, material e


mediata de Direito Internacional Público. Com a sua sede também no art. 38º ETIJ. Em
primeiro plano, é necessária uma interpretação actualista ao abordar o conceito de "
nações civilizadas" por ser arcaico na sua referência, substituindo por "nações amantes
da paz" ou Estados democráticos ou liberais com respeito pela segurança colectiva,
incluindo o art. 4 da Carta das Nações Unidas. A esta Fonte cabe uma função
interpretativa e de integração de lacunas inesgotável. Importante mencionar que os
princípios surgem tanto do Costume (pacta sunt servanda) como da Carta das Nações
Unidas em conjunto com o costume (proibição do uso da força). Os princípios são
considerados: aplicáveis pois a generalidade pressupõe que eles sejam comuns aos
Estados sem exigir universalidade; e transponíveis pois são susceptíveis de
transposição ou internalização, as ordens internas recebem da internacional, por
analogia ou conexão.

Jurisprudência e Doutrina - Ambas (aparentam ser) Fontes materiais e


mediatas de Direito Internacional Público. Com sede no art. 38 ETIJ nº1 (d), são um
meio auxiliar de determinação de regras de Direito. Não são verdadeiras Fontes de
Direito Internacional pois não criam ou recriam normas internacionais. A
jurisprudência é, à leitura do artigo, um precedente atípico, não obriga o juíz, não cria
obrigações para os Estados ou outros sujeitos, é um instrumento de raciocínio e
determinação da norma aplicável.

Actos Unilaterais (Fonte não tipificada) - A maioria da doutrina qualifica


a categoria dos actos unilaterais como Fonte de Direito Internacional e assim integram
esta matéria nos estudos no modo de formação de DIP, da maneira que outros insiram
na matéria relativa à aplicação do DIP e não na formação. Aqui em primeira nota,
reparamos na dúvida de enquadramento sistemático de matérias.
Estes actos actuam de forma indirecta na formação de normas internacionais. Os actos
unilaterais (acto adoptado por um sujeito só e a este deve ser imputado) são
declarações de vontade do sujeito jurídico (entidades dotadas de personalidade
jurídica internacional, Estados e Organizações Internacionais) do qual emanam que,
por referência a princípios e regras do DIP, produzem efeitos jurídicos (vinculativos
para os autores e eventualmente terceiros) de modo autónomo.
Trata-se de criar obrigações jurídicas para esse Estado, de forma oral ou escrita, os
seus destinatários pode ser a comunidade de Estados ou vários Estados. Para vincular
o seu autor, o Estado, deve ser emanada pela autoridade interna competente (Chefe
de Estado, Primeiro-ministro, representantes autorizados).

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Exemplos de actos de Organizações Internacionais: Recomendação (conteúdo


indicativo), resolução (sem natureza vinculativa), decisão (como acto obrigatório).

Exemplos de actos unilaterais do Estado: Reconhecimento (Estado avalia a existência


de factos); protesto (Estado explicita a sua oposição à legitimidade ou licitude a
determinada situação ou pretensão invocada por terceiros); notificação (Estado
comunica a outro sujeito de DIP, de modo oficial, a existência de certos documentos,
actos ou situações de modo a que o outro não possa alegar que desconhecia);
renúncia (Estado assume uma vontade de não exercer um direito, abandonar a sua
titularidade ou de a transmitir a outro sujeito); promessa (Estado comprometesse para
o futuro a actuar em determinado sentido, não fica dependente de aceitação).

Possuem limites: não pode ser contrário ao Ius Cogens(norma imperativa), não pode à
partida gerar obrigações para outros Estados e a declaração não pode ser livremente
revogada pela Estado declarante (por razões de boa fé, o princípio de Estoppel que
implica coerência, consistência e continuidade de modo a não frustrar a confiança ou
expectativa dos outros Estados, isto é, não ser contraditório).

O Princípio de Estoppel trata a matéria de boa fé objectiva dos Estados. Uma limitação
decorrente de uma conduta anterior unilateral e imputável ao Estado. Conhecida esta
figura, assemelha-se à figura do Venire Contra Factum Proprium, por motivos de
protecção e de não frustração da confiança, o Estado não deve ser contraditório, não
deve frustrar a expectativa que gerou na comunidade, nos outros Estados. Postula-se a
boa fé geral. O Princípio de Estoppel destaca-se em duas modalidades:

A) By representation - comportamento por acção - O Estado gera uma expectativa


noutro(s) Estado(s) e depois age de maneira diferente à esperada, isto é comporta-se
de maneira contraditória, violando expectativas legítimas que foram confiadas.

B) By Aquiescence - comportamento por omissão - Quando um Estado toma


conhecimento de uma situação e não reage (inacção ou silêncio) durante um período
razoável de tempo, poderão ser interpretados como aceitação. "Quem cala, consente",
o silêncio não tem efeito automático de aceitação.

Tratados - Trata-se de uma fonte formal, convencional ou pactícia. A convenção


internacional é o instrumento típico de Direito Internacional (na prática possui um
imenso elenco de outras expressões como: acordo, tratado, convénio, pacto, estatuto,
protocolo, acta final, entre outros (...).

Conceito: A doutrina define tratado como "o acordo concluído entre dois ou mais
sujeitos de direito internacional, destinado a produzir efeitos jurídicos e regido pelo
direito internacional". A CVDT-I codifica a seguinte definição " designa um acordo
internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo direito internacional,

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quer esteja consignado num instrumento único, quer em dois ou mais instrumentos
conexos, e qualquer que seja a sua denominação particular".

A ter em conta:

Acordo - Pressupõe uma manifestação de vontades convergentes e coincidires por


parte dos sujeitos de direito.
Acordo Internacional - É regulado pelo Direito Internacional, este determina o regime
aplicável, o procedimento de celebração e as modalidades de vigência e eficácia.

Concluído por escrito - Mas não proíbe a possibilidade de acordos verbais (art.3 a).
Entre Estados - Com a CVDT-II (1986) foram incluídas as organizações internacionais.

Número de instrumentos - O corpo do tratado pode ser constituído por um ou vários


acordos conexos e pode designar o conteúdo do acordo entre as partes e o
instrumento que formalizou e aprovou o acordo.

Da noção de convenção ou tratado, faz parte integrante a ideia fundamental de um


acordo vinculativo para as partes se submeterem. O Império do Pacta Sunt Servanda,
com sede no art. 26 CVDT-I.

Classificações:

A) Material - incide sobre o conteudo e função jurídica da convenção, desdobra-se em


3 casos: Tratados-lei e tratados-quadro; tratados gerais e especiais (art.38 nº1 a) ETIJ);
tratados-lei e tratados e tratados contrato.

B) Formal - trabalha aspectos externos e formais da convenção internacional. Por sua


vez desdobra-se em 3 tipos: Celebrados entre Estados; celebrados entre Estados e
organizações internacionais; e celebrados entre organizações internacionais.

Tratados Bilaterais - Tratados celebrados por dois sujeitos internacionais. Impõe


obrigações bilaterais, existe uma relação de reciprocidade entre partes.

Tratados Multilaterais - Tratados que vinculam mais do que dois sujeitos


internacionais. Plurilateral ou universal (tendencialmente universais). Obrigações erga
omnes, isto é, para todos, pois envolve interesse público internacional e comum a
todas as partes do convénio.

Regime: Direito dos Tratados - Convenção de Viena sobre o Direito dos


Tratados 1969 (I) e 1986 (II).

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A CVDT-I foi interpretada pela doutrina como um instrumento de codificação, ela


reside na definição das condições de validade dos tratados.

Nascimento dos Tratados:


Primeiro : Questão da capacidade, todo e qualquer Estado soberano tem capacidade
para celebrar tratados (art.6 CVDT-I). Todo e qualquer Estado soberano pode negociar
e concluir acordos internacionais.

Segundo : Questão da representação. No processo de celebração do tratado, a


representação é assegurada pelo plenipotenciário. Este necessita de plenos poderes
(art. 7 nº1 a) e b) CVDT-I) ou cujo estatuto de representante se presume em virtude
das funções que exerce: Chefe de Estado, chefes de Governo, ministro dos negócios
estrangeiros - estes para a prática de todos os actos relativos à conclusão de um
tratado; Chefes de missão diplomática (embaixada) - para a adopção do texto de um
tratado; Representantes acreditados dos Estados numa conferência diplomática ou
junto de uma organização internacional - para a adopção do texto de um tratado nessa
conferência (art. 7 nº2).

Terceiro : Questão da confirmação dos poderes (art. 8). É necessário uma


interpretação restritiva a esse artigo por motivos de segurança jurídica face ao art.7 nº
1 b) na questão de presunção de poderes (pois é necessária a confirmação do Estado).
Existem duas possibilidades, o Estado opta por confirmar ou não confirmar. Se não
confirmar, a consequência é a ineficácia.

O procedimento padrão desdobra-se nas seguintes fases:

1 - negociações, adopção e autenticação do texto ( art. 9 e 10 CVDT-I). Decorre da


prática diplomática e não da convenção. Em tratados bilaterais é realizada entre
missão diplomática e os órgãos do Estado Acreditador (art.3 alínea c) No caso de ser
multilateral, são convocadas expressamente conferências. a adopção do texto
significa a sua afixação. Neste ponto verificam-se as propostas e contra propostas. A
regra é o acordo entre todos os estados que participam na elaboração do texto (art. 9
n1). Em conferência é necessário a verificação de maioria de dois terços dos Estados
presentes e votantes. Ou em especial, maioria simples (art 9 n2). Sobre a autenticação,
trata-se da autenticação do texto reconhecido como verdadeiro e definitivo. (art.10
alínea a CVDT-I).

2 - manifestação do consentimento ( art. 11 a art 17 CVDT-I). Momento que antecede


o nascimento do tratado. Impõe-se a evidência lapaliciana, isto é, acordo de vontades
manifestado de forma adequada. A CVDT-I segue a regra de livre escolha de forma de
manifestações de consentimento (art11 - assinatura, troca de instrumentos
construtivos de tratado, ratificação, aceitação, aprovação, adesão). A escolha das
modalidades depende do conteúdo das cláusulas constitucionais. A assinatura vincula

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o Estado nos procedimentos simplificados. A troca de instrumentos é usada em


acordos bilaterais (art.13 CVDT-I). A ratificação é um acto de autoridade do Estado,
este titular da competência para a conclusão de tratados, manifesta que o Estado se
encontra vinculado. .

Papel das Reservas - A reserva é uma declaração unilateral feita no momento da


vinculação pela qual o Estado manifesta a vontade de excluir ou modificar o efeito
jurídico de certas disposições do tratado na sua aplicação a esse Estado ( art. 2 n1
alínea d CVDT-I). Apenas se adequa a tratados multilaterais, sendo bilateral trata-se de
uma contra-proposta. A admissibilidade da reserva pode ser expressa ou implícita ( art.
19 CVDT-I ). A admissibilidade esta sujeita a vários limites: materiais, art.19 alíneas a e
b CVDT-I, quando a reserva seja incompatível com o objecto e o fim do tratado (art. 19
alínea c), consequência desta violação é a ineficácia ou nulidade de reserva, falando-se
também no art. 53 para os casos de ius cogens, normas imperativas, cabe também
menção para as regras costumeiras e para matérias de direitos humanos; temporais, a
reserva deve ser comunicada durante o processo de conclusão do tratado;
procedimentais, a reserva exige a forma escrita e deve ser comunicada por escrito
( art.23 CVDT-I). Quanto ao seu efeito, os efeitos dependem da reacção dos outros
Estados no próprio tratado. Através de uma autorização expressa ou em reacção à
notificação específica sobre a reserva (art.20 n4 alínea c CVDT-I ). As reservas apenas
se projectam para os Estados autores e os que aceitam ou rejeitam (art.21 n2 CVDT-
I ). Quanto aos que aceitam i (art.21 n1 CVDT-I ). No caso de objecção, cabe distinguir:
a objecção através de uma manifestação inequívoca de vontade contrária à entrada
em vigor do tratado (art.20 n4 alinea b CVDT-I ); objecção não interpretada no sentido
de oposição à vigência do tratado (art.21 n 3 CVDT-I ). Quanto à sua entrada em vigor,
é em principio definido no próprio tratado (art. 24 n1 CVDT-I ). Na falta de
determinação específica o tratado entra em vigor depois da ratificação de todos os
Estados na negociação (art.24 n2 CVDT-I ).

Das reservas, distinguem-se outras figuras afins. Cláusulas opt-out que meramente
têm afinidades substâncias com as reservas. A declaração interpretativa, sendo
próxima da reserva, esta figura visa precisar ou clarificar o sentido ou alcance que o
Estado declarante atribuiu ao tratao ou a algumas das suas disposições. Outra figura, é
a da declaração interpretativa condicional, uma declaração que faz depender o seu
consentimento da aceitação de uma interpretação específica sobre o tratado ou
algumas das suas disposições, esta figura é uma reserva disfarçada ou imperfeita.

3 - deposito, registo e publicação (art. 76 a art.80). Formalidades diferentes mas


unidas pelo propósito de assegurar ao tratado a devida publicidade e resguardo
seguro. Em tratados multilaterais, é designado um depositário (art.76 n1 CVDT-I ). Este
exerce um encargo de carácter internacional imparcial (art.76 n2), quanto às suas
funções e estatuto, estão consagradas no art. 77 CVDT-I, onde se sobressai a

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obrigação de este custodiar o texto original do tratado, fazer as devidas comunicações


às partes no tratado.

Vida dos Tratados


Partindo do princípio Pacta Sunt Servanda (art.26 CVDT-I) como critério fundamental
para a tarefa de interpretação.

Impondo uma celebração de acordo com os ditames da boa fé como vontade genuína
de cumprir as obrigações inerentes ao compromisso pactício [mesmo antes de entrada
em vigor - art. 18 a) CVDT-I]. Trata-se por isso sempre de um acto livre com alguns
casos onde é exigido um dever de ratificação (ex: CRP imposto pelo resultado de
referendo favorável e vinculativo em relação à ratificação de um tratado, não é
abrangido pelo pacta sunt servanda, mas antes por uma fonte constitucional).

A par do pacta sunt servanda, vive um outro princípio de ininvocabilidade do direito


interno como fundamento para descartar as obrigações de fonte convencional (art.27
CVDT -I).
Parece aqui que nasce um conflito com o art. 46 da mesma convenção. Daqui nasce a
primeira questão a abordar. A das ratificações imperfeitas.

1 - Ratificações imperfeitas, primeiramente, verifica-mos os requisitos (competência,


importância fundamental e manifesta, resultante do art. 46). Surge como uma solução
intermédia face à tese constitucionalista (que postula a nulidade do tratado com base
em preceitos constitucionais) e a tese internacional (que afirma a sua validade). Se
estiverem preenchidas as duas condições do art.46 (violação manifesta, norma interna
de importância fundamental relativa á competência para concluir tratados violada) a
consequência seria a nulidade. MAS não tem de ser necessariamente a nulidade,
podendo-se invocar a mera ineficácia ou inaplicabilidade, dependedo do regime
previsto na constituição do Estado contraente (podendo até o vício ser sanável).

2 - A segunda questão prende-se com os efeitos e o âmbito de aplicação de eficácia


dos tratados. Ora vejamos os seguintes critérios: Temporal, a regra é a da não
retroactividade do acordo salvo seja essa a vontade das partes (art.28 CVDT-I);
Espacial, "totalidade do território de cada uma das partes" salvo se resultar do próprio
tratado (art.29 CVDT-I); Material, em princípio, trata-se de um act jurídico autónomo
(o tratado) e auto-suficiente, isso não prejudica o facto de outros tratados versarem
sobre a mesma matéria - aqui debatemos a questão dos chamados tratados
sucessivos. Atendendo ao art. 103 da CNU, verificamos o critério de prevalência das
obrigações assumidas em virtude da Carta sobre quaisquer outras obrigações
resultantes de tratado sucessivo. Porém verifica-mos regras subsidiárias da CVDT-I
(art.30 quando estes tratados são incompatíveis):
1 -Se se verificar a identidade das partes: lex posterior derrogat priori, prevalecem as

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obrigações definidas pelo tratado posterior.


2 - Se não se verificar a identidade das partes, o regime entre partes comuns no
tratado interior e posterior é referido na primeira situação [art.30 nº4 a)]

3 - Terceira questão, a interpretação ou determinação do sentido da norma


convencional. O interprete necessita de ter uma perspectiva subjectivista, uma outra
objectivista e até teleológica. Trata-se de uma função interpretativa no geral (não
alargando muito nesta matéria, até porque as frequências estão à porta e quero ajudar
os meus colegas e amigos). É necessário ter em conta o argumento literal, histórico,
sistemático e teleológico (art.31), deve reflectir um significado com base objectivista
(para o seu resultado) (art.31 nº1 e nº2). Dando sempre prioridade ao elemento
teleológico (fim e objecto).

4 - A quarta questão por sua vez, diz respeito a terceiros Estados (regra geral
consagrada no art.34 CVDT-I). Trata-se do princípio do efeito relativo dos tratados
equivalente ao do direito civil. É uma exigência da autonomia da vontade. Para Estado
terceiro verificar os efeitos do tratado, é necessário o seu consentimento expresso e
por escrito no caso de obrigações (art.35 CVDT-I) e no caso de direitos, presume-se
aceitação até que este, em algum caso, demonstre que não aceita (logo é possível uma
aceitação tácita relativa a direitos). Falamos aqui num acordo colateral entre as partes
principais e terceiros, numa espécie de relação triangular.

Morte dos tratados


É tratada aqui nesta matéria as causas de invalidade de um tratado ( de art.47 a 52
CVDT-I). Tendo em conta que o desvalor da nulidade pode resultar de questões
internas (art.46) ou de Direito Internacional Geral (art.53). A ter em conta:

1 - Tipicidade das causas de invalidade: as causas são de enunciação taxativa, apenas


previstas na Convenção de Viena.

2 - Princípio da Irrelevância das violações ao direito interno aplicável, salvo na violação


grave e manifesta na acepção ao art. 46.

3 - A invalidade assim como outras vicissitudes de aplicação não relacionadas com a


questão de validade, não afectam o dever geral de um Estado respeitar as obrigações
decorrentes do Direito Internacional e ás quais está vinculado por via do costume
(art.43).

4 - A invalidade assim como outras vicissitudes de aplicação do tratado afectam o


tratado na integra (art.44 nº1) - admitindo algumas excepções (art. 44 nº 2,3,4,5).

5 - Estado não pode invocar nulidades ou causas de cessação de vigência após ter
tomado conhecimento de : a) aceitou expressamente a validade e vigência dos
tratados (evitando o princípio de estoppel); ou 2) deva, em razão a sua conduta,

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concluir que aceitou a validade do tratado ou a sua permanência em vigor ou em


aplicação (art.45), evitando também a contradição.

Sobre a nulidade. A noção desta significa que o acto jurídico nulo não produz efeitos
jurídicos desde a sua vigência, os tratados nulos carecem portanto de força jurídica
(art.69 nº1). Nenhum Estado pode invocar em seu favor um tratado nulo e tão pouco
pode opor a outros Estados. Importa notar que alguns dos efeitos podem ser mantidos
(art.69 e 71). A nulidade fundamenta o direito de solicitar o restabelecimento da
situação que existiria caso não tivessem sido verificados os actos praticados, estando
esta projecção retroactiva limitada por uma cláusula possível (isto é, tanto quanto
possível) como refere o nº2 c) do artigo 69. As causas de invalidade estão tipificadas na
Convenção de Viena, objectivadas como comportamentos ilícitos contrários aos
princípios e regras de Direito Internacional.

Conclui-se que um tratado internacional contrário ao Direito Internacional não deve


produzir efeitos jurídicos.

São oito as causas. sete delas relativas ao consentimento( de art.46 a 52) e uma para a
violação de norma substantiva e imperativa de direito internacional geral (ius cogens -
art. 53).

Cabe diferenciar a nulidade:

1 - Relativa - A causa de invalidade só pode ser invocada pela parte cujo


consentimento foi manifestado ou obtido de modo contrário ao Direito - o vício é
sanável (art.45). Este tipo de invalidade não afecta a vigência do tratado, salvo se for
bilateral e não prejudica a sua aplicação nas relações entre as outras partes no caso de
ser multilateral. Vejamos os seguintes casos: a) violação de direitos relativos à
competência para concluir tratados (art.46); b) restrição específica dos poderes de
manifestação do consentimento de um Estado (art.47); c) erro relativo ao conteúdo do
acordo (art.79); d) dolo quando um Estado é levado a concluir um tratado em virtude
da conduta fraudulenta de outro Estado que participou na negociação (art.49);
corrupção do representante do Estado, quando o consentimento foi obtido através de
aliciamento por outro Estado que participou na negociação "directa ou
indirectamente" (art.50).

2 - Absoluta - Desde já, o vício não é sanável (art.45 nº1, 51, 52 e 53). Podendo ser
invocado a qualquer altura por qualquer Parte no tratado e inclusive por outros
Estados ou entidades fora do tratado e que não estão vinculados a este. Tratam-se de
violações mais graves. Cabendo também a um tribunal internacional e à sua ex officio.
Tratam-se de casos de divisibilidade do tratado (art.44 nº5) , coação (art. 51 e 52) e
violação de norma de ius cogens (art.53)

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Coação sobre o representantes (art. 51) - quando a manifestação do consentimento foi


alcançada por coação exercida sobre o seu representante através de actos ou ameaças
dirigidas contra ele = "é desprovida de qualquer efeito jurídico".

Coação sobre um Estado pela ameaça ou emprego da força, sendo nulo o tratado cuja
conclusão foi forçada pela "ameaça ou emprego da força em violação dos princípios de
direito internacional consignados na CNU" (art.52).

Violação de norma imperativa de Direito Internacional Geral (art. 53) culmina com o
valor máximo de nulidade - nulidade originária.

Cabe também mencionar a cessação da vigência e suspensão da aplicação. Tendo em


conta que um tratado não é eterno e depende sempre da vontade dos criadores. A
vontade sempre sujeita ao pacta sunt servanda e por isso, a cessação de vigência ou a
suspensão dos efeitos do tratado devem respeitar os procedimentos sedimentados
pelo Direito dos Tratados e pela codificação de Convenção de Viena. Tomando em
conta o seguinte:

1 – Causas internas – previsão no próprio tratado ao abrigo do art. 54 a) de situações


típicas como a caducidade que põem fim à vigência do tratado em virtude do decurso
do tempo – esgotamento do prazo. Ou por vontade comum das partes, de efeito ab-
rogante como refere o art. 54 b) ou substitutivo no art. 59. Também por vontade
unilateral de uma parte sob forma de denúncia (para caso bilateral ou retirada (caso
multilateral) com base no art.56. E claro por violação do tratado, art. 60.

2 – Causas externas – exemplo da impossibilidade superveniente de execução, art. 61.


Ou alteração fundamental das circunstâncias, art.62. Verificando que a alteração das
circunstâncias constituí uma clausula costumeira rebus sic standibus, condicionada a
cinco requisitos:

• Circunstancias em causa foram base essencial do acordo das Partes.

• A alteração não fora prevista pelas Partes.

• A alteração é fundamental, tendo por efeito a modificação radical da natureza


das obrigações assumidas no tratado.

• A alteração fundamental não resulta de uma violação, pela Parte que a invoca,
de obrigação decorrente do tratado ou de qualquer outra obrigação
internacional relativa a outra Parte no tratado.

• Não se refere a um tratado sobre fronteiras.

Procedimento: O Caso Português

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Em específico, olhando a Constituição de 1976 e as suas regras aplicáveis à conclusão


de tratados, formando um bloco normativo denominado de "Direito Constitucional dos
Tratados. Falamos aqui de uma relação entre CRP e DIP.

Querela de debate : Governo pode aprovar tratados?

Cabe aqui a distinção material de tratado (tratado em forma solene) e acordo (acordo
em forma simplificada). É uma questão terminológica, a CRP utiliza a expressão
convenção internacional para qualquer convénio internacional. O critério operativo da
distinção entre tratado e acordo depende do procedimento. A aprovação de tratados
só pode ser feita pela A.R. da mesma maneira que pode aprovar acordos [também
pode o Governo aprovar acordos, consoante a matéria regulada, art. 161 i) e 197 nº1].
A ratificação é exigida para os tratados como acto de vinculação, art.135 b) CRP, já nos
acordos, é apenas necessária a aprovação certificada pela assinatura do P.R e aposta
nas resoluções da A.R ou nos decretos do Governo, art.134 b) CRP. Em matéria de
fiscalização preventiva da constitucionalidade, nos tratados está previsto de modo
expresso que após pronuncia da constitucionalidade, a A.R. possa confirmar por
maioria qualificada, art. 279 nº4 CRP; em relação aos acordos internacionais aprovados
pelo Governo não existe possibilidade de confirmação (estão "condenados" pelo veto
político do P.R.).

Existirá mesmo na CRP um critério material de distinção entre tratado e acordo? Qual
a margem que o Governo possuí? Qual a relação existente entre Governo e
Parlamento?

Atendendo a esta questão, uma doutrina minoritária, nomeadamente o professor


Jorge Miranda, aponta para uma reserva material de reserva de tratado por parte da
A.R). São usados argumentos com base no elemento literal, recortando a palavra
"designadamente" do art. 161 i) que impõe a forma de tratado. O "designadamente" é
meramente exemplificativo do tipo de matérias, quer isto dizer que existe mais
matéria. A esta doutrina acrescenta-se um receio de o Governo esvaziar o âmbito da
A.R. (argumento de roubo de poderes) e que o primeiro não pode agir nesse âmbito,
atendendo à reserva material, pois o facto de o Governo poder aprovar tanto acordos
como tratados poderia levar a um caos e estaria a aprovar constantemente tratados.
Todavia, é sempre garantida a intervenção do parlamento na fase de aprovação, sendo
sob forma de tratado ou acordo. Garantida está também a a participação do P.R. e a
sua prerrogativa de impedir a convenção, através de ratificação ou recusa de
assinatura ( sem ratificação não existe vinculação pelo tratado e sem assinatura, o acto
é inexistente, art. 137 CRP).

Uma outra doutrina, na linha de pensamento de Carlos Blanco Morais, José Melo
Alexandrino e Maria Luísa Duarte, aponta para o inverso. Que não existe conflito entre
A.R e Governo, nem tão pouco roubo de poderes, ou receio pelo mesmo. Pois o P.R.

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mantém sempre o poder de veto. A notar também, através de um argumento


histórico. Nunca se verificou na história portuguesa tal caso de o Governo "roubar"
esses poderes ou estar a aprovar activamente ou constantemente, ou até agir em
abuso. Esta é a doutrina maioritária de linha de pensamento mais recente. Maria Luísa
Duarte aponta ainda para o facto de a CRP prever, ainda em último caso o princípio da
separação e interdependência de poderes, art.111 nº1 CRP. De referir que o
verdadeiro inimigo da A.R. e que está em constante conflito, não é o Governo mas
antes os tratados institutivos da União Europeia, art. 7 nº6 CRP e o princípio da
subsidiariedade que esvaziam o âmbito da A.R.

Fases (4):

1 - Negociação. Partimos do art.197 nº1 b) e c) assim como o art. 166 nº5. O Governo
tem competência para negociar e aprovar tratados. Porém são necessários alguns
requisitos como: Informar o P.R. de tudo art. 201 c) consagrando o princípio da
cooperação de orgãos institucionais; terá de comunicar também a A.R e os grupos
parlamentares, art. 180 j); potencialmente, terá de informar as regiões autónomas,
caso seja de especial aplicação nelas ou que envolva os seus interesses e a sua
manifestação de autonomia, art. 227 t). Caso não sejam verificados estes requisitos, o
acto é ferido do inconstitucionalidade formal, mas não se aplica o art. 46. CVDT-I. Logo
não se desvincula o Estado pois não tem relevo internacional, apenas relevo interno.

2 - Aprovação. Verifica-se aqui se a matéria é de reserva de tratado e é debatida


questão já aqui desenvolvida nos resumos acerca da distinção de tratado e acordo.
Qual a competência do Governo e da A.R. Esta etapa é fundamental. É exigida a forma
de resolução para a A.R e decreto para o Governo. É exigida a aprovação nos termos
do art. 8 nº 2 CRP, seja pela forma de tratado ou acordo. Importa referir que a nossa
CRP não contempla os acordos em forma ultra simplificada (vinculativo após assinatura
do representante do Estado) nem o chamado acordo por troca de notas. Não pode
nunca ser ignorado o papel da A.R e P.R. São também proibidas as ratificações
implícitas ou negativas. A omissão de aprovação ou a verificação de falhas graves no
procedimento dá azo a inconstitucionalidade formal e/ou orgânica, com efeito de
vedar a aplicação da convenção internacional - em sede de fiscalização sucessiva, art.
277 nº2 e em sede de fiscalização preventiva, art. 279 nº1 e 4 CRP.
Apesar do primado do órgão parlamenta, a A.R e o Governo partilham a competência
de aprovação de convenções internacionais de harmonia e com critérios de
repartição.

Competência legislativa e política da A.R: art. 161 i), através de resolução , 166nº 5, é
exigida a maioria relativa, 116 nº3 CRP.
Competência política do Governo: 197 nº1 c), sob forma de decreto, art.197 nº2,
apreciado e votado em Conselho de Ministros, art. 200 nº1 d) CRP.

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Caso haja dissolução da A.R = suspensão e actuação limitada da comissão permanente,


art. 172 e art.179 nº1 e 3 CRP.
Caso haja a demissão do Governo = efeitos da caducidade, art.167 nº6 CRP.

3 - Ratificação e Assinatura. Cabe ao P.R a ratificação dos tratados solenes, art. 135 b)
CRP e a assinatura das resoluções da A.R e dos decretos do Governo, art. 134 b)CRP. O
P.R pode agora no exercício de uma competência não vinculada, requerer ao T.C a
apreciação preventiva da constitucionalidade, art. 278 nº1 CRP. A fiscalização incide
sobre as normas e não sobre a convenção em si, na totalidade. Agora:

a) Se não for identificada constitucionalidade, o P.R pode LIVREMENTE decidir se


ratifica/assina a convenção internacional.

b) Se for inconstitucional a norma de convenção internacional o P.R: deve vetar =


recusa da assinatura no caso de acordo internacional, art. 279nº1 CRP; ou pode
ratificar o tratado se este for, na sequência do T.C, confirmado pela A.R por maioria de
dois terços dos deputados presentes desde que superior á maioria absoluta dos
deputados em efectividade de funções, art. 279 nº 4 CRP.

4 - Publicação. Última fase do procedimento interno de celebração da convenção


internacional, nos termos do art. 8 nº2 CRP, após publicação, as convenções
internacionais vigoram na ordem interna se vincularem o Estado Português. Esta é
necessária para garantir a eficácia jurídica, art. 119 nº2 CRP.

Relações entre Direito Interno e Direito Internacional:


Construções clássicas.
Dualismo - Trata os dois direitos de forma separada, "costas voltadas", dois
ordenamentos jurídicos diferentes. A norma jurídica de um só é reconhecido no outro
através de uma mecanismo próprio de reconhecimento (por um acto interno). Devido
ao facto de a norma não ser homo suficiente, necessita de reconhecimento da ordem
interna. Uma das consequências do dualismo é o mecanismo de transformação e
recepção, demonstra a prevalência da vontade soberana do Estado. A Itália é
formalmente dualista, pois as suas normas internacionais têm de ser aprovadas por lei.
Mas a constituição italiana mostra uma realidade diferente, assim ninguém, no plano
internacional é verdadeiramente dualista. Sendo esta construção abandonada, pois
põe em causa o próprio DIP.

Monismo: Trata de forma unitária os dois ordenamentos, uma unidade fundamental


entre ordenamentos. Admite-se a diferença mas não estão separados.
Compreendendo as seguintes modalidades:

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a) Primado do Direito Interno. Aqui fomenta-se a falta de autonomia do ordenamento


internacional. Tanto normas internacionais e normas internas coexistem, mas em
situação de conflito, a lei interna prevalece sobre a internacional - o que nos reconduz
ao dualismo numa lógica formal. A vontade soberana do Estado prevalece, o que
mostra o carácter voluntarista radical e estadista.

b) Primado do Direito Internacional. Em sentido inverso, aqui o Direito Internacional


prevalece sobre o interno (quando se tratam de normas costumeiras ou princípios
gerais de Direito). Na visão de Hans Kelsen, fundamenta que as regras internas
derivam das regras internacionais que determinam as competências do Estado e que
este não as pode contrariar (Consuetudo est Servanda como critério hierárquico).

No dualismo verificamos uma técnica de transformação ou transposição, a norma


internacional é sujeita a um processo interno, de acordo com o estabelecido na
Constituição, nacionaliza o seu conteúdo e transforma a norma internacional em
norma interna.

No monismo, é comum uma técnica de cláusula de recepção automática e plena (ou


semiplena embora em circunstâncias diferentes) que permite a vigência interna da
regra internacional por via de tratado ou costume. Dispensa actos de transformação e
incorporação da norma. A cláusula é geral de recepção automática, será plena quando
detiver alcance geral/global aplicável ao conjunto das normas internacionais. Exemplo
é o art. 8 nº1 CRP. Não significa por isto que tem aplicabilidade directa, significa isto
que ainda é necessário em muitos casos, de normas internar de execução, gerais ou
específicas, vigentes ou a adoptar. Duvidas colocam-se neste ponto ao carácter
automático ou condicionado, Gomes Canotilho fala de uma recepção automática
condicionada. Isto devido à exigência de publicação, reprocidade ou a vinculação
internacional. MAS, importa distinguir, como refere Maria Luísa Duarte, as exigências
de conversão ou transformação e meras condições de eficácia (Gomes Canotilho vai
logo abaixo), pois é este o enquadramento do art. 8 nº2.

A recepção automática semi-plena é um caso excepcional, com campo de aplicação


limitado a um sector material definido da normatividade internacional (apenas
permite a vigência de norma interna quando esta se trata de direitos humanos ou
comércio internacional).

Concluímos que na maioria dos casos, as normas internacionais de fonte


CONVENCIONAL têm valor supralegal, mas não pode contrariar dispostos da
Constituição, notando que a norma convencional derroga a norma infraconstitucional.
O que acontece no caso português. Quando referido a COSTUME e princípios (juntos
com actos unilaterais do Estado), no art. 8 CRP, importa distinguir Costume com e sem
cariz de Ius Cogens. Aqui para a questão de hierarquia, Costume com cariz de Ius
Cogens tem valor supraconstitucional (derroga norma constitucional) e, Costume sem

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cariz de Ius Cogens (Costum normal) não é supraconstitucinal, Costume normal é


então infraconstitucional, podendo assumir uma forma supralegal ou infralegal,
dependendo da matéria tratada.

Existem no entanto casos em que a norma de direito internacional de fonte


convencional tem o mesmo valor que a lei, verifica-se uma posição de paridade
(exemplo do modelo britânico, alemão, italiano e de certo modo o norte-americano).

Constituição portuguesa e abertura ao Direito Internacional


Primeiro, notamos que não nasceu no CRP de 1976 mas antes na de 1933 que impôs a
posição favorável à recepção automática e plena do Direito Internacional.
Todavia, a CRP de 1976 um exemplo de abertura ao ordenamento jurídico
internacional aos respectivos valores fundamentais.

No nosso caso, português, a clausula é cosmopolita pelo reconhecimento dos


princípios e finalidades que regem as relações internacionais, devido à composição do
art. 7 e art. 1 da CRP. É também procedimental e diferenciadora, pela forma como
especifica as regras de incorporação e de eficácia das fontes de Direito Internacional,
art. 8. Em vez de uma clausula geral, a CRP encarrega-se de clausulas específicas.
Apontamos ainda para uma característica que está ligada à expressão positivista e
exaustiva do enquadramento constitucional.

A ter em conta que a remissão para os princípios gerais e objectivos fundamentais que
devem orientar Portugal nas relações externas que correspondem aos fins do art. 7 nº
1,2 e 3, deve ser objecto de uma interpretação actualista, de modo a que o interprete
não fique refém da leitura do texto. O art. 16 em especial para o nº 2, para preceitos
relativos a direitos fundamentais.

Incorporação e Eficácia do Direito Internacional na Ordem


Jurídica Portuguesa

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O art. 8 nº 2 determina que " as normas e os princípios e Direito Internacional Geral ou


Comum fazem parte integrante do direito português". Determina-se aqui a natureza
originária e própria do normativo internacional, que não se perde ao ser incorporado.
É adoptado pela ordem jurídica que passa a integrar (teoria da adopção). Por direito
internacional geral ou comum deve-se entender os princípios e normas (costumeiras)
de alcance geral partilhados pela comunidade internacional que resultam do art. 38
nº1 c) ETIJ.

O art. 8 º2 define as condições de vigência interna e de eficácia das normas de fonte


convencional em termos diferentes do nº 1, não deixam de constituir o suporte de
uma opção constitucional por uma cláusula de recepção automática e plena. As
exigências de ratificação e aprovação; publicação no Diário da República; vinculação
internacional do Estado Português. A recepção é automática no sentido em que a
norma convencional, observados os pressupostos da sua vigência na ordem jurídica
internacional e da sua eficácia na ordem interna, vigora de modo automático
dispensando actos internos de conversão. Trata-se também de uma recepção plena já
que o art. 8 º2 refere-se a todas as convenções internacionais (acordos e tratados).

Já o nº3 refere-se a convenções internacionais celebradas por organizações de que


Portugal seja parte. Portugal está obrigado a aplicar as convenções internacionais
celebradas pela organização internacional. Esta vinculatividade e deveres resultam do
tratado institutivo, celebrado nos termos do art. 8 nº2, mas não dependem do
cumprimento das exigências específicas aplicáveis aos actos de fonte convencional. O
nº3 determina a vigência automática e directa dos actos adoptados por organizações
internacionais , incluindo a aprovação de convenções internacionais.

Importa ainda esclarecer a parte final do nº2 do art. 8 "enquanto vincularem


internacionalmente o Estado Português". A vigência interna depende da vigência
internacional em condições tais que vinculem o Estado Português. O tratado ou acordo
apenas produz efeitos na ordem jurídica se, nos termos definidos pela própria
convenção ou no quadro supletivo que resulta da CVDT, já tiver entrado em vigor na
ordem internacional. Portugal deixa de estar vinculado a um tratado ou acordo que
tenha caducado ou que deixou de cumprir um qualquer critério de vigência.

Já foi aqui mencionado, mas recapitula-mos: uma norma internacional não tem
estatuto supra constitucional. Os tratados ocupam um estatudo infraconstitucional, o
Estado Português não deve negociar, aprovar, ratificar convenções internacionais
contrárias à constituição. MAS se tal se verificar, o art. 204 exclui a aplicação das
normas que infrinjam o disposto no texto constitucional. A fiscalização pode operar
antes ou depois da entrada em vigor da convenção internacional, podendo operar a
fiscalização preventiva e a fiscalização sucessiva, consagrando a prevalência
hierárquica da Constituição.

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Concluímos então que a maioria da doutrina portuguesa aceita uma tese intermédia.
Em que a norma convencional está um degrau abaixo da Constituição mas um degrau
acima do direito ordinário. Apontamos argumentos como:

1 - o princípio geral de boa fé e a sua concretização como princípio basilar do Direito


dos Tratados que faz parte integrante do direito português, através do art. 8 nº1 CRP
que impede Portugal de, por acto unilateral, violar ou limitar os compromissos
assumidos.

2 - critério de ordem sistemática, em articulação com o art. 8 nº2, é mencionado o 7º


que opõe uma solução de eventual prevalência da norma interna.

3 - elemento literal do final do art. 8 nº2 "enquanto vincularem internacionalmente o


Estado Português. Pois toma como pressuposto que a vinculação existe e permanece
enquanto tal se verificar no plano internacional.

4 - outro elemento literal, na leitura do art. 119 CRP, que elenca as convenções
internacionais a seguir às leis constitucionais e antes dos actos legislativos, tal como o
art. 280 nº3.

5 - Seguindo a Lei do Tribunal Constitucional, art. 70 nº1 i) admite recurso para TC "que
recusem a aplicação de norma constante de acto legislativo, com fundamento na sua
contrariedade com uma convenção internacional"

Direito da União Europeia


Diz respeito ao art. 8 nº4, tornando a CRP numa "obra em construção" por imposição
europeia. É amplo, generoso e suficiente o grau de abertura consentido pelo texto
constitucional. De acordo com este preceito, as disposições dos tratados que regem a
União Europeia e as normas emanadas das suas instituições, no exercício das
respectivas competências, são aplicáveis na ordem interna nos termos definidos pelo
direito da União. O art. 8 nº 4 fundamenta eficácia directa das normas e actos jurídicos
da união: norma euro comunitária prevalece sobre norma interna; norma euro
comunitária é directamente aplicável e passa a vigorar na ordem interna portuguesa; a
norma euro comunitária é fonte de direitos e deveres para os particulares que a
podem invocar nos tribunais nacionais, isto quando são verificados os pressupostos de
natureza clara, precisa e incondicional. Trata-se de uma cláusula europeia.

Sujeitos de Direito Internacional

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Para um melhor entendimento desta matéria é feita menção para a seguinte


comparação e boa analogia. Enquanto que no ordenamento interno, o sujeito é o
individuo e algumas pessoas colectivas, no plano internacional, o sujeito é o Estado
(soberano ou com soberania reduzida) ou organizações internacionais. No
ordenamento interno são milhões os sujeitos (todas as pessoas) e no plano
internacional, o numero de sujeitos é relativamente pequeno.

Porém a questão da personalidade internacional é controversa. O indivíduo e algumas


pessoas colectiva podem elas também ser sujeitos de Direito Internacional. As
posições variam desde o entendimento que sujeito é apenas o detentor de soberania
ao extremo oposto de que o verdadeiro sujeito é o indivíduo.

Sujeito de Direito: É sujeito de Direito quem é susceptível de direitos e deveres, quem


pode entrar em relações jurídicas e que pode ser destinatário directo de normas
jurídicas – Acrescentamos aqui, como explica Jorge Miranda, para ser categorizado
como um sujeito de Direito Internacional dois elementos adicionais: 1) possibilidade de
actividades jurídico-internacionalmente relevantes e 2) virtualidade de uma relação
directa e imediata com outros sujeitos internacionais.

A protecção internacional dos direitos do homem não tornam este num sujeito de
Direito Internacional. É necessário que estes possam agir na vida jurídica internacional.
Não basta a atribuição de direitos para que haja personalidade internacional do
indivíduo, tem ainda de ocorrer a possibilidade de acesso a instâncias internacionais
para realização ou garantia desses direitos.

Exemplo é o da responsabilidade criminal internacional, só quando uma pessoa


responde penalmente por comportamento cominado como ilícito por uma norma
internacional e perante um órgão institucional é que ela aparecerá como sujeito de
Direito Internacional.

A personalidade determina que x ente pode ser alvo de direitos e deveres, enquanto
que a capacidade diz respeito à medida de direitos que este pode ter (quando de gozo)
ou que pode exercer directa e livremente (quando de exercício). A reter que pode ser
atribuída personalidade e não uma correlativa capacidade. Assim como acontece em
matéria de Direito interno.

Na ordem interna, os indivíduos possuem capacidade genérica e as pessoas colectivas


estão ligadas a uma regra especial. Já na ordem internacional, o Estado possui
capacidade genérica, podendo ser titular de todo o tipo de direitos, enquanto que
todos os outros sujeitos não são Estados estão submetidos a uma regra de
especialidade ou limitação. Aqui mais uma vez serve a analogia referida
anteriormente.

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Notemos os seguinte quadro de sujeitos, apenas importante para um enquadramento


teórico:

1 – Sujeitos estatais vs Sujeitos não estatais.

2 – De base territorial vs sem base territorial.

3 – Originais vs não originais (reconhecidos ou criados por já existentes).

4 – Fins gerais (pluralidade não determinada de fins) vs fins não gerais.

5 - Permanentes (sujeitos com vocação de estabilidade, duração sem limites) vs não


permanentes (sujeitos reconhecidos apenas devido a certas circunstâncias mais ou
menos transitórias, como acontece com os rebeldes beligerantes, que são no futuro
substituídos por outros sujeitos).

6 – De reconhecimento geral (reconhecido em geral pelos outros sujeitos) vs


reconhecimento restrito (apenas reconhecidos por um numero pequeno de outros
sujeitos).

7 – Activos (que são atribuídos direitos e situações activas) vs passivos (sujeitos apenas
adstritos a deveres).

Categorias de Sujeitos
De maior importância, são as categorias de sujeitos. As categorias de sujeitos
apresentam-se da seguinte maneira:

1 – Estados. Esta categoria divide-se em duas: Estados soberanos e Estados com


soberania limitada, onde se inserem os Estados protegidos, vassalos, exíguos,
confederados, ocupados e divididos.

2 – Entidades Pró-Estatais. Esta categoria é a mais próxima da de Estado, não sendo


este último. Aqui inserem-se os rebeldes beligerantes (rebeldes de mera guerrilha) e
os movimentos nacionais ou de libertação nacional (diferentes dos rebeldes
beligerantes, estes lutam por uma nação e pela afirmação dessa mesma).

3 – De seguida, compreende-se a categoria de Entidades Infra-Estatais, fazem parte as


colónias autónomas e territórios análogos, mandatos, fideicomissos (territórios sob
tutela) e territórios sob regime especial.

4 – Entidades Supra-Estatais, onde se encontram as confederações de Estados.

5 – A partir deste número, a capacidade destes sujeitos é especial, reduzida ou


limitada. Aqui inserem-se as organizações internacionais ( por exemplo a ONU).

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6 – Instituições não estatais, como a Santa Sé (representação do Papa), a Ordem de


Malta (apenas reconhecida por um reduzido numero de membros), o Comité
internacional da Cruz Vermelha ou Crescente Vermelho (dependendo da religião oficial
de cada Estado, a denominação varia), esta última é dotada de tamanha importância
devido à prossecução de fins humanitários.

7 – Finalmente, o indivíduo, o sujeito particular e pessoas colectivas privadas.

Estados
Devido à importância do primeiro ponto, os Estados, dedicamos uma especial atenção.
O Estado é uma pessoa colectiva, apresenta-se como uma comunidade política
organizada que exerce determinada autoridade sobre um território, é um conjunto de
órgãos que prosseguem diversas actividades. Como formula Marcelo Rebelo de Sousa,
“um povo fixado num determinado território, que institui por vontade própria, dentro
desse território, um poder político relativamente autónomo”.

Um Estado compreende três elementos, povo, território e poder político. A


demonstração de soberania de um Estado revela três direitos:

1 – Direito de celebrar tratados – Ius Tractuum.

2 – Direito de receber e enviar representantes diplomáticos – Ius Legationis.

3 – Direito de “fazer a guerra” – Ius Belli, conceito este que foi revolucionado, tendo
agora o interprete que realizar uma interpretação actualista de acordo com o artigo 2º
nº4 da CNU, sendo então considerado este direito como legítima defesa individual ou
colectiva e só assim é permitido o uso da força. Remetendo para o artigo 51º da
mesma carta.

4 – Direito de reclamação, colocado fora dos três clássicos devido ao facto de ser
recente. Este direito confere um ideia de defesa do interesse dos Estados, podendo
estes impugnar internacionalmente perante órgãos políticos e jurisdicionais
internacionais.

Direitos políticos dos Estados: art. 2º nº1 CNU consagra o princípio da igualdade
jurídica, o nº4 o direito à independência política e integridade territorial. O direitos de
reconhecimento de outros sujeitos internacionais, o direito constituir e participar em
organizações internacionais.

Deveres políticos dos Estados (art 2º CNU): Dever de boa fé (nº2), solução pacífica dos
conflitos (nº3), abstenção do uso da força (nº4), dever de respeitar a independência e
integridade territorial dos outros Estados (nº4). Proibição do Estoppel (art. 103 CNU).

Reconhecimento de Estado: reconhecimento é o acto jurídico internacional pelo qual


um sujeito afirma que determinada situação é conforme com o Direito ou pelo qual

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afirma qu se verificam os pressupostos exigidos por uma norma internacional para a


produção de certos efeitos. O problema reside na afirmação de Kelsen, que dá conta
de que a ideia de reconhecimento pode revestir forma declarativa ou constitutiva. O
reconhecimento concede a validade ou qualidade de sujeito internacional.

Para quem defende a natureza declarativa: Estado existe desde que reúna as
condições de existência, referidas já aqui anteriormente.

Para a tese da natureza constitutiva: Não basta reunir as condições de existência como
também os outros Estados teriam de o afirmar e tratar como Estado, caso contrário,
toda a consideração do suposto Estado, antes de esse ser reconhecido seria
irrelevante.

Prevalece a tese da natureza declarativa, por traduzir uma melhor realidade


internacional mais desenvolvida e apertada, mais institucionalizada em que avultam as
relações multilaterais.

Entidades Pró Estatais


Remetendo agora para o segundo ponto do quadro anterior, importa reter o seguinte
em relação às entidades pró estatais. São entidades transitórias pois visam mudar o
paradigma vigente e substituí-lo. São “quase Estados”, referimos aqui os episódios do
conhecido e autoproclamado Estado Islâmico ou ISIS.

Quanto aos rebeldes beligerantes, trata-se de situações emergentes em Estados, onde


se verificam guerras civis ou guerras assimiladas. Os rebeldes ocupam parte do
território e lá exercem uma autoridade identificável com o poder estatal e conseguem
manter essa autoridade durante um tempo mais ou menos prolongado.

O Estado Islâmico em minha opinião situa-se nesta categoria e não na de movimento


nacional. Não pode ser considerado Estado em primeiro plano, pois é duvidoso que
reúna os três elementos do Estado na integra, não revela soberania ao não
compreender direitos de celebrar tratados e de receber e enviar representantes
diplomáticos e, por fim, não tem qualquer relacionamento público com outros
Estados. Nota importante, não são consideradas públicas as relações que são mantidas
“na sombra” ou secretas com outros sujeitos, não é relevante para a classificação. Não
se trata de um movimento nacional pois considero forçada a ideia de que o ISIS
pretende construir uma nação ou recuperar o denominado “califado”. Porém não
restam dúvidas de que se trata de uma entidade pró estatal e não de um verdadeiro
Estado.

Quanto aos movimentos nacionais, a acção é feita em nome de uma nação ou de um


povo que pretende erigir um Estado. Estes suportam-se no princípio da

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autodeterminação dos povos consagrado na CNU, artigo 1º, 73º e 76º. Caso de Angola
para com Portugal, Argélia para com a França (…).

Organizações Internacionais
Elemento material: agrupamento de Estados e de outros sujeitos.

Elemento formal: personalidade jurídica internacional, conferida de forma expressa ou


implícita pelo tratado constitutivo.

As organizações internacionais são agrupamentos de sujeitos de Direito internacional,


criadas por tratado para prossecução de determinados fins internacionalmente
relevantes com duração mais ou menos longa. Possuem órgãos próprios e distintos
dos órgãos do Estado. Dotadas de personalidade internacional especial, reduzida ou
limitada, capacidade correspondente aos seus fins.

O tratado institutívo de qualquer organização internacional estabelece os seus fins e os


meios adequados á prossecução, as relações com os membros e com outros sujeitos
de Direito internacional, o seu âmbito geográfico e o seu carácter aberto ou fechado.
Determina também o sistema de órgãos, as competências e formas de agir.

Quanto à sua composição e estatuto dos membros, as organizações internacionais


englobam Estados ou outros sujeitos de Direito internacional. Sendo as organizações
abertas ou relativamente abertas, há sempre membros originários (que criaram) e
membros admitidos.

A admissão depende sempre de requisitos processuais (maioria qualificada favorável


no órgão competente ) e por vezes de requisitos de fundo de natureza geográfica,
política, económica, etc, consoante os casos.

O princípio fundamental é o da igualdade entre os membros, cada membro tem


direitos e deveres, como o direito da participação da vontade da organização e o dever
de acatamento das decisões da organização, de não praticar actos contrários a actos
dela.

A personalidade determina a capacidade jurídica das organizações e esta é limitada em


razão dos fins de cada organização, de harmonia com o princípio de especialidade
semelhante ao que rege as pessoas colectivas no direito interno. Fala-se num
conteúdo mínimo de direitos.

Para lá dos direitos ou poderes, cabe menção aqui a tese da professora Maria Luísa
Duarte, sobre os poderes implícitos das organizações internacionais. Poderes que as
organizações invocam para a prossecução dos seus objectivos. Pois à partida é
impossível prever e regular toda a matéria num tratado, existirão também factos que
são impossíveis de prever e situações novas que emergem e dificultam o âmbito de

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prossecução dos fins das organizações, por isso concede-se poderes implícitos a estas.
Poderes que estão ligados aos que estão previstos e que visam atingir determinado
objectivo e fim da organização. Tem-se por exemplo as chamadas “Peace Keeping
Operations” dos conhecidos “capacetes azuis”. Trata-se de proteger toda a vida
humana que está assombrada pelos efeitos nefastos da guerra. Ora se existe o direito
de “fazer a guerra”, o chamado Ius Belli, então por via da regra de quem permite o
mais permite o menos, é permitido também fazer meras campanhas de segurança por
parte de forças militares, não podendo estas provocar a guerra, apenas manter a
segurança das populações que estão assombras e cuja dignidade humana se encontra
ofendida.

Resumidamente, se é permitido “fazer-se guerra”, é logicamente permitido fazer


menos que a guerra, nomeadamente operações de manutenção da paz. E tudo isto
não se encontra regulado. Daí ser um tema bastante controverso apesar de ser
maioritariamente aceite pela doutrina nacional e internacional. O problema deste tese
encontra-se quando esta se depara com uma situação de classificação, de descobrir o
que realmente pode ser alvo de ser um atributo implícito. O professor Jorge Miranda
exige um equilíbrio, isto é, o âmbito das organizações não deve ser vazio quanto a
atributos implícitos mas, da mesmo forma, não pode exceder os fins e objectivos da
organização.

Quanto aos órgãos das organizações internacionais, são estes que permitem a
organização agir e formar a sua vontade. Os órgãos formam a vontade colectiva. Cabe
aqui menção para a autonomia das organizações internacionais frente a todos os
Estados, seja no plano de decisões políticas ou num plano de estrutura administrativa.
Correlativa à autonomia, é a independência dos órgãos jurisdicionais, com titulares
individuais e a dependência exclusiva dos agentes dos órgãos competentes da
organização. A autonomia é elevada também a base financeira, devendo esta ser
satisfatória e apenas conseguida com contribuições dos Estados-membros.

As organizações gozam de privilégios e imunidade nos Estados em que levam a cabo as


suas actividades, entre as quais imunidades diplomáticas dos funcionários e agentes,
imunidades das sedes, isenções tributarias e liberdade de comunicação.

Organização das Nações Unidas


A ONU nasceu assim como a Sociedade das Nações em circunstancias de guerra. Com
o objectivo de pôr fim da segunda grande guerra e com o objectivo de não voltar a
cometer as mesmas atrocidades e graves violações aos princípios de Direito
Internacional Público como a Paz, a Segurança e a Dignidade da Pessoa Humana, nasce
esta organização internacional. Nasce ainda antes de a guerra ter acabado, tendo sido
aprovada a 26 de Junho de 1945. Apenas entrou em vigor a 25 de Outubro de 1945.

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A ONU foi investida de poderes jurídicos que permitem atingir todos os problemas
mundiais. Deste modo, a CNU é concebida como o repositório dos grandes princípios
das relações entre todos os Estados e tendo primazia sobre quaisquer outras
obrigações.

Só os Estados podem ser membros das NU, sendo estes categorizados como Estados
“pacíficos” que aceitem as obrigações da Carta e que são capazes de as cumprir e
dispostos a cumpri-las.

Conselho de Segurança
Trata-se de um órgão da ONU, cabe-lhe a responsabilidade principal na manutenção
da paz e da segurança jurídica internacional (art. 24º CNU) e os membros ficam
adstritos à decisão do conselho (art. 25º CNU). São quinze os membros, apenas cinco
são permanentes, a China, EUA, França, Grã-Bretanha e Rússia. Em torno deste tema é
colocada a questão do duplo veto, pois cabe aos membros permanente deste conselho
a decisão do que são matérias processuais e não processuais, as processuais cabem
aos membros do colectivo, as não processuais aos membros permanentes. Desde já
verificamos aqui um potencial erro ou uma questão controversa. Pois deste modo, o
conselho de segurança pode decidir o que é e o que não é processual, podendo decidir
sobre as matérias que entender. Assim, conseguem modelar as decisões, pois “quem
tem força, decide”. Á letra do art. 25 da CNU, no numero 3, “quaisquer outros
assuntos”. De notar que é concedido um voto a cada membro e um só voto. Notando
que as decisões do conselho devem ser unânimes. Pois basta um veto dos membros
permanentes e não está estabelecido acordo.

Responsabilidade
Em termos abstractos, sempre que um sujeito de Direito viola uma norma ou um dever
a que está adstrito em relação a outro ou outros sujeitos, deve este ficar com um
dever específico para com o lesado. Sempre que um sujeito causa prejuízo a outro e
beneficia com isso, incorre em responsabilidade.

A responsabilidade em plano internacional foi reconhecida por Grócio e desenvolvida


através do Costume (normas costumeiras). Chegando aos dias de hoje, na opinião de
Jorge Miranda, a ser elevado a um princípio de Ius Cogens.

Ficam as seguintes ideias:

1 – Trata-se de um princípio comum a todos os ordenamentos, mas sofre em cada um


deles refracções ou adaptações decorrentes da sua estrutura e do seu estádio de
evolução.

2 – Os Danos variam entre danos físicos e morais, mostrando assim a relevância dos
interesses políticos conexos com a soberania dos Estados.

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3 – A ideia de responder por acções ou omissões, quer dos órgãos, quer dos agentes,
de entidades públicas ou meros particulares dentro do seu território.

4 – Complexidade da forma de ressarcir os danos, pode ser feito por vias como a
reparação dos danos, medidas inibitórias e medidas sancionatórias.

5 - A ideia proveniente do Direito Civil de ressarcimento e um correlativa satisfação ao


Estado lesado, designadamente através do reconhecimentos de um direito, de um
“pedido de desculpas”, da demissão do titular do órgão ou da aplicação de sanções aos
funcionários e agentes.

6 – Prevalência de mecanismos diplomáticos sobre os mecanismos jurisdicionais de


efectivação. Ponde em primeiro plano uma fase de negociação ao invés de recorrer
aos meios jurisdicionais.

7 – Uma ideia de autotutela dos Estados, fez nascer figuras como a da retorsão. A
retorsão é a resposta à violação de interesses do Estado por meio de actos lícitos, uma
ruptura de relações diplomáticas ou de negociações com vista a tratado por exemplo.
Com esta ideia de autotutela surge também a figura de represália, à semelhança da
retorsão, esta é uma reacção através de actos ilícitos (pacíficos ou não pacíficos), varia
desde o confisco de bens, expulsão de pessoas, bombardeamento de alvos militares ou
civis. Uma outra figura é a da contra medida, um acto também ilícito de obrigações
internacionais, exemplos disso são as suspensões, as denuncias ou o simples não
cumprimento temporário de um tratado.

Elementos da Responsabilidade dos Estados

1 – Comportamento (acção ou omissão).

2 – A sua imputação ou imputabilidade (tem de ser atribuída a certo sujeito).

3 – Dano (patrimonial ou moral).

4 – Nexo de causalidade (os danos devem resultar desse comportamento).

A responsabilidade é directa quando resulta de acção ou omissão dos próprios órgãos


ou agentes do Estado (exemplo Assembleia da Republica, Governo, Presidente da
Republica…). Ela é indirecta quando decorre de acção ou omissão de órgãos de
OUTRAS entidades públicas (exemplo das regiões autónomas e autarquias locais).

A responsabilidade pode resultar de fontes como actos unilaterais, tratados ou ainda


outros actos (como actos de guerra). Pode resultar de actos de Direito interno (função
legislativa quando esta vai contra o tratado, ou função administrativa com maus tratos
policiais, ou ainda a função jurisdicional quando esta profere uma decisão ilegal).

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Os simples particulares podem também eles desencadear responsabilidade de um


Estado. Isto quando pertencem a outro Estado estrangeiro e causem motins ou
qualquer outra perturbação pública que afecte a representação ou cidadãos
estrangeiros.

Causas de exclusão da responsabilidade:

- Legitima defesa.

- Estado de necessidade.

- Consentimento da vítima.

- Força maior

Porém, apenas a legitima defesa exclui o dever de indemnizar. A indemnização


acompanha todas as outras causas de responsabilidade. Pois a base deste princípio é
sempre ressarcir os danos, com fundamento em razões de justiça, de igualdade e de
segurança internacional.

Responsabilidade Internacional Penal do Individuo


Esta ideia é relativamente recente no Direito Internacional Penal, é problemática
sobretudo para defesa dos direitos do Homem.

Em primeiro plano destacamos que é necessário que o caso e a concretização desta


responsabilidade seja efectuada em tribunais adequados. Cabe menção aqui para a
data de 1998, com a aprovação em Roma do estatuto de um Tribunal Penal
Internacional de carácter permanente, cuja entrada em vigor se verificará no disposto
do art. 125º do ERTPI.

Para um estudo mais aprofundado desta matéria, recomendo uma leitura breve do
estatuto. Com mais atenção ao preambulo e ao vasto elenco do capítulo II. No
entanto, sobressaem-se os crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes
de guerra e o crime de agressão (notando que o crime de agressão deve ser
acompanhado da Resolução 14/74 de 29 de Novembro, para um melhor entendimento
do conceito de agressão ).

Um ideia fundamental nesta matéria é a de que o Tribunal Penal Internacional é


complementar face aos meios de jurisdição nacionais. Isto é, torna-se impossível
conduzir todos os crimes relatados no vasto do capítulo II do referido estatuto. De
acrescentar que os Estados soberanos aplicam o seu direito aos acontecimentos
ocorrem no seu espaço territorial. Em tese do professor Carlos Blanco Morais, em
primeiro passo, os julgamentos ocorrem nos tribunais nacionais

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Smart Sanctions
Trata-se de uma matéria recente no Direito Internacional Público. Surge fruto do uso
de novas tecnologias, tanto por parte de quem comete o ilícito como de quem o
pretende combater. Todavia como o nome indica, em português, sanções inteligentes,
ou seja, sanções alternativas. As ditas smart sanctions são alternativas ao uso da força
e uma “fuga” à utilização de meios de guerra. Evitando dessa maneira qualquer
atentado à paz. Evitando atrocidades e fortes violações aos princípios da dignidade da
pessoa humana e de segurança jurídica internacional.

Um caso que pode ser facilmente apontado é o congelamento de contas bancárias na


Suíça, isto por se verificar uma elevada densidade de contas bancárias pertencentes a
organizações terroristas na Suíça.

Desta forma, é cortada a fonte de rendimentos da organização imobilizando e


reduzindo o seu plano de actuação, podendo eventualmente levar ao
enfraquecimento da organização e até ao seu desaparecimento. Isto sem o uso da
força, sem práticas de guerra. Daí a denominação de smart sanctions.

Certos autores apontam para o artigo 41 da CNU. Constatando que estas se inserem
entre as sanções económicas e sanções não militares.

Uso da Força: A Legítima Defesa


Já aqui foi referido o mecanismo de autotutela dos Estados. Porém dedicamos aqui
uma maior afloração da ideia de uso da força e de legítima defesa.

Com base na CNU, o objectivo fundamental desta é de elevar o princípio da dignidade


da pessoa humana, evitar a guerra, manter a paz e a segurança internacional, afastar
as ameaças à paz e reprimir os actos de agressão. Como refere o art. 1 nº1.

Alargando esta ideia, o art. 2 nº3 em articulação com o art. 33 impõe a resolução e
conflitos por meios pacíficos, de modo a conservar a ideia de paz, de justiça e de
segurança.

Já o art. 2 nº 4 Refere ainda mais um limite ao uso da força, a chamada “proibição do


uso da força”. Mas em abstracto, pois existe excepções, como veremos no capítulo
VII , nomeadamente com a legítima defesa.

Sistematicamente antes do Capítulo VII, encontra-se o elenco do Capítulo VI. Este no


art. 33 prevê que as partes devem procurar uma solução pacífica, através de:

- Negociação.

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- Inquérito.

- Mediação.

- Conciliação.

- Arbitragem.

- Via judicial.

- Recurso a organizações ou acordos regionais.

- Qualquer outro meio pacífico à sua escolha.

De relatar o importante papel do Conselho de Segurança, como agente intermédio


entre as partes em conflito. Podendo este investigar sobre qualquer controvérsia ou
situação susceptível de provocar atritos, art. 34º. Podendo também ser chamado à
atenção por qualquer membro das Nações Unidas, art. 35º. O Conselho de Segurança
pode também recomendar os procedimentos ou métodos para uma solução
apropriada, art. 36º.

O Capítulo VII é residual, significa portanto que esta apenas se aplica quando o elenco
do Capítulo VI não resulta, não consegui produzir os efeitos que pretendia e ocorre um
caso de ameaça de paz, ruptura da mesma ou um acto de agressão. Apenas em caso
de existir um ataque.

Prosseguindo-se primeiro aos artigos 40º e 41º. As chamadas medidas provisórias


(devido a dúvidas) ou providências cautelares e sanções económicas, smart sanctions e
sanções não militares (discute-se o bloqueio continental). Quando artigo 41º não
apresenta resultados, parte-se para o 42º, impondo proporcionalidade, destaca uma
intervenção armada do conselho de segurança.

O art. 51 relata um direito natural dos Estados, isto é, inerente de legítima defesa
individual ou colectiva, no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das
nações Unidas. A problemática da legítima defesa depara-se com o facto de se tratar
de um conceito multidimensional ou por ter diversos primas.

A legitima defesa pode manifestar-se de três maneiras:

- Legítima defesa preventiva – É vulnerável e pode resultar em erros de pressupostos,


daí não ser, na maioria dos casos, admitida. A legítima defesa preventiva, ocorre
quando um Estado se manifesta, através de uma agressão a outro quando entende
que decorriam motivos suspeitos de que o outro o viria a atacar ou a agredir de igual
modo. Verificamos o seguinte exemplo: A França bombardeia Espanha por esta estar a
realizar treinos militares relativamente perto da sua fronteira. Este exemplo é

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descabido, e mostra o quão desproporcional poderá ser em casos de erros de


pressupostos.

- Legitima defesa preemptiva – Este conceito de legítima defesa assemelha-se ao


anterior, porém apenas é admitido quando o Estado está em ameaça eminente. Temos
em conta este exemplo: os Estados Unidos têm estado em conflito com a Coreia do
Norte, embora ainda não tenha havido nenhuma agressão. A Coreia do Norte inicia um
programa de “testes” da chamada “Bomba H”, e os Estados Unidos têm conhecimento
que estes o têm investigado há um numero considerável de anos e que existe a
ameaça de que irá ser lançada a bomba por parte da Coreia. Podendo afectar outros
Estados, resultando em destruição, mutações genéticas gravosas das futuras gerações,
provocando caos, etc. Então os Estados Unidos decidem efectuar uma intervenção,
para evitar tais actos. Aqui este conceito é mais aceite pela doutrina.

- Legítima defesa em sentido estrito – Este é conhecido dos meios de autotutela de


Direito interno, tomamos portanto a ideia no plano internacional. Um Estado reage,
sendo-lhe imposto um critério de proporcionalidade (não pode ser excessivo),
temporal (pois não pode ser mera vingança por um acto já cometido há 20 anos).
Tomamos em exemplo o caso de o Estado Islâmico bombardear Portugal, ou entrar
pelo território português, espalhando o caos e pânico no povo português, sendo por
isso, Portugal reage e ataca em legítima defesa, para protecção dos seus cidadãos e
afastar a ameaça à paz e segurança.

Baixado por Eunice Gonçalves (eunice.goncalves90@gmail.com)

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