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Apontamentos de teoria Geral do Direito Civil I

Noção de Direito

O Direito é uma realidade constituída por um sistema normativo, e contem um


sistema de normas de conduta social que necessita de coercibilidade.

Conceito de Direito Civil

O Direito é conjunto de normas portadoras de um sentido de justiça, que ordenam


coercivamente a base da convivência social.

Quanto à arrumaçã o do có digo civil, coloca – se a questã o se o livro I será


necessá rio, o Professor Capelo de Sousa defende que a parte geral é indispensá vel
criar um corpo sistematizado.

A distinção entre Direito público e Direito privado

Critérios de distinçã o

A) Critério do interesse – é protegido por cada uma das normas jurídicas. A


norma de Direito Pú blico visa quando a tutela de um interesse pú blico. A
norma do Direito Privado integra quando prossegue um mero interesse
particular, ou seja, dos indivíduos considerados singulares. Este princípio
foi criado por Fluviano.

A intervençã o do estado moderno na vida econó mica e ao primado da pessoa


humana regulada na disposiçã o legal do artigo 1º e 2º da CRP, há uma necessidade
constante de coordenar os interesses particulares com o interesse geral e de este
salvaguardar os interesses das minorias carecidas.

As normas que regulam a organizaçã o, a competência, as finalidades e as politicas,


o funcionamento e a actualizaçã o do Estado, artigos 108º e seguintes, 93º e
seguintes e 58º nº2 da CRP, embora tutelando interesses gerais da comunidade de
pessoas situado em territó rio português, visam em ú ltima instâ ncia o bem dos
homens concretos dessa comunidade e predicam ou incorporam diversos direitos
subjectivos pú blicos e interesses legalmente protegidos dos particulares e dos
funcioná rios e interesses legalmente protegidos dos particulares e dos
funcioná rios ou titulares dos ó rgã os pú blicos, denominadamente, os direitos de
acesso em condiçõ es de paridade à funçã o pú blica, artigo 47º CRP e aos cargos
pú blicos artigo 50º CRP, o direito de participaçã o política 109º CRP e o princípio
da representatividade emergente da soberania popular, artigo 2º e 108º CRP.

A prossecuçã o do interesse pú blico tem de realizar-se conformemente aos direitos


subjectivos privados dos particulares artigo 266º nº1 CRP e à efectivaçã o de
direitos subjectivos pú blicos ou privados, dos particulares (38º nº4; 58ª nº2; 64º
nº3, 65º nº2 e 67º nº2 da CRP). Os artigos 131º e seguintes do Có digo Penal que

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cominam determinadas penas pela prá tica de crimes, apesar de tutelarem
interesses pú blicos como a paz social e a segurança da colectividade, defendem os
interesses físicos, morais ou patrimoniais dos lesados individualmente.

O sistema fiscal visa a satisfaçã o das necessidades financeiras do estado e outras


entidades pú blicas e também uma repartiçã o justa dos rendimentos e da riqueza,
artigo 103º nº1.

As normas reguladoras das relaçõ es personalísticas, obrigacionais, reais, familiares


e sucessó rias, previstas no Có digo Civil, nã o tutelam apenas os interesses
particulares dos sujeitos, normalmente indivíduos humanos, mas também os
interesses gerais de segurança.

Exemplo: justiça, e paz social, artigo 1316º CC ao estabelecer um direito de


propriedade interessa desde logo, aos particulares que queiram adquirir ou
transmitir validamente o direito de propriedade sobre uma coisa ou aos vizinhos
em contacto com essa coisa, mas importa também para a paz social e tranquilidade
pú blica que sejam inquestioná veis e taxativos os modos de aquisiçã o da
propriedade e que as coisas possam pertencer seguramente a determinadas
pessoas.

Há um interesse pú blicos em que o sistema jurídico, na sua globalidade e unidade,


inclusive as normas de direito privado, seja respeitado e cumprido, os artigos 798º
e seguintes do CC que sancionam reprimindo civilmente, a falta de cumprimento
da obrigaçã o e a mora imputá vel a determinado devedor, irradiam também uma
prevençã o geral para todos cumpram os deveres a que estã o adstritos, sendo a
ordem jurídica posta em causa, se o devedor nã o cumprir o seu débito.

Este critério é muito criticado, no qual é difícil de identificar qual é o interesse


predominante, por exemplo nas normas de concurso pú blico que constam nas
normas da CRP

B)Carácter predominante dos interesses – de uns interesses face a outros,


assim uma norma de direito pú blico quando o interesse por ela tutelado fosse
predominante de natureza pú blica e uma norma de direito privado quando visasse
fundamentalmente a protecçã o de um interesse particular.

Este critério implica o uso de complexas, relativas e arriscadas valoraçõ es sobre os


interesses tutelados e conduz muitas vezes a incertezas classificativas.

Pela dificuldade de na prá tica determinar com segurança qual é o interesse


predominante tutelado em diversas normas jurídicas, as normas do Có digo do
Registo Predial podem ser de Direito Privado ou de Direito pú blico, é difícil nestas
normas jurídicas predominar o interesse pú blico ou interesse particular e aferir se
pertencem ao direito pú blico ou privado, artigo 1º, 2º, 3º, 4º nº2, 5º nº1 e 9º do
Có digo de Registos Predial, o mesmo ocorre com as normas relativas aos chamados

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crimes particulares, que exclusivamente para sua puniçã o exigem uma denú ncia ou
acusaçã o particular, artigo 113º e seguintes do Có digo Penal e 241º e seguintes do
Có digo Processual Penal.

Por outro lado, há normas qualificadas pacificamente como o direito privado


integrando nomeadamente o có digo civil, mas que visam predominantemente
interesses gerais da colectividade, assim o artigo 188º nº1 e 190º nº1 b) do CC
impõ em que as fundaçõ es para poderem ser constituídas ou mantidas como
pessoas colectivas visam um interesse social, que nã o sã o interesses egoístas e
também as normas juscivilisticas imperativas, que nã o admitem clausulas das
partes em contrá rio e que implicam a nulidade dos actos praticados contra essas
normas, sã o preceitos de direito privado, mas nos quais há uma acentuaçã o do
interesse pú blico, para a segurança do trafico jurídico geral e para a paz social, a
ponto de as pró prias partes nos negó cios jurídicos nã o poderem afastar, é o caso
do artigo 1671º que fixa o princípio da igualdade de direitos e deveres dos
cô njuges, constituindo matéria de direito privado mas que, por estruturar
basicamente a nossa sociedade, artigo 36º nº1, 2ª parte da CRP nã o pode ser
alterado por comum acordo dos cô njuges, também o artigo 875º do CC é uma
norma imperativa ao determinar que o contrato de compra e venda de bens
imó veis só é vá lido se for celebrado por escritura pú blica.

Este critério é defendido por Marcelo Caetano e Freitas do Amaral, diz que nã o é
tã o agressivo que as normas de direito privado também visam direito pú blico,
como por exemplo: os livros de registo sã o de consulta pú blica.

C) Posição relativa dos sujeitos da relação jurídica - O direito pú blico regularia


relaçõ es entre sujeitos colocados uns numa posiçã o de supra ordenaçã o e
outros de posiçã o infra - ordenaçã o ou subordinaçã o.

O direito privado disciplina relaçõ es entre sujeitos ligados por posiçõ es relativas
de igualdade ou de coordenaçã o.

No direito pú blico pode surgir posiçõ es de igualdade ou de coordenaçã o entre os


sujeitos das respectivas relaçõ es.

No direito privado encontramos algumas relaçõ es jurídicas hierarquizadas, na


relaçã o que se estabelece no poder paternal entre o pai e filho, 1878º nº2 CC ou se
verifica no contrato de trabalho entre a entidade patronal e o trabalhador do
1152º.

D) Critério da teoria dos sujeitos – O critério da teoria dos sujeitos é o critério


distintivo da identidade dos sujeitos da relaçã o jurídica, seriam normas de
direito pú blico, aquelas em que interviesse como sujeito activo ou passivo da

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relaçã o com o Estado ou qualquer ente pú blico. Ao invés, do Direito Privado
que as normas que regulam relaçõ es em que intervêm apenas particulares.

Este critério nã o serve, porque os entes pú blicos podem intervir como


particulares em muitos negó cios jurídicos, por exemplo: se o Estado compra a
um particular uma determinada casa para instalar um seu serviço, está a agir
como uma particular e tem que cumprir as mesmas regras que um particular
para adquirir o prédio, estamos perante uma relaçã o em que intervém um ente
pú blico mas que nã o perde o cará cter de Direito Privado.

Os particulares podem relacionar-se entre si no â mbito do Direito Pú blico, ou


seja, de uma relaçã o jurídica pú blica com o estado ou outro ente pú blico,
nomeadamente no caso de um concurso para acesso à funçã o pú blica, artigo
47º nº2 CRP, neste caso trata-se de normas de direito pú blico mas que
interessam também à s relaçõ es dos particulares entre si.

E) Critério da qualidade dos sujeitos da relação jurídica (predominante) –


Este critério é defendido pela maioria da Doutrina Portuguesa e merece um
acolhimento por parte do legislador. Neste critério é aceite na versã o moderna
da teoria dos sujeitos, importa destacar a relaçã o jurídica de um dos sujeitos,
pelo menos, de um poder de autoridade pú blica, de soberania, ou seja, ius
imperii.

Nas normas de Direito Privado que regulam relaçõ es jurídica estabelecidas


entre particulares (66º CC e seguintes e 157º e seguintes) ou entre particulares
e o estado ou outras pessoas colectivas pú blicas, ou entre as pró prias pessoas
colectivas pú blicas com veste de particular, ou seja, despidas de poder de
autoridade pú blica ou fora do exercício de funçõ es soberanas, como por
exemplo: o Estado é chamado à sucessã o de heranças de pessoas singulares nos
termos do 2133º nº1 e) e 2153º com os mesmos direitos e obrigaçõ es de
qualquer outro herdeiro, nomeadamente na questã o da aquisiçã o da herança
do 2154º CC e da responsabilidade pelos encargos da herança 2068º e
seguintes e 2097º e seguintes do CC, pelo que sã o normas de direito privado as
que regulam tal chamamento do estado.

Nas normas de direito público, sã o as que disciplinam as relaçõ es jurídicas


do estado e dos demais entes pú blicos entre si ou com particulares, quando
aqueles intervêm com um poder soberano, sujeito ao princípio da legalidade e a
fins de utilidade pú blica, que legitimam, por exemplo: a expropriaçã o do
terreno de um particular em melhores condiçõ es para a construçã o de um
hospital, as normas que regulam tais situaçõ es sã o de direito pú blico, embora
haja que atender a interesses do particular expropriado quanto à justa
indemnizaçã o.

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Mas também este critério nã o é isento de reparos, em primeiro lugar, porque
nã o oferece uma indiscutível base de sustentaçã o para a integraçã o no direito
pú blico das normas que regulam a organizaçã o e o funcionamento das pessoas
colectivas pú blicas e por outro lado, deixa em aberto o que deve entender por
poder de autoridade pú blica, de soberania.

Segundo o Professor Manuel de Andrade, o poder define-se como a


possibilidade de, por via normativa ou através de determinaçõ es concretas,
emitir comandos vinculativos executá veis, pela força dos destinatá rios.

O Professor Freitas do Amaral salienta, que nem todas as normas de direito


pú blico conferem poderes de autoridade havendo as que impõ em deveres,
sujeiçõ es e restriçõ es especiais à s entidades pú blicas, bem como as que
conferem direitos subjectivos ou reconhecem interesses legítimos aos
particulares.

No ordenamento jurídico português actual nã o estabelece um critério geral para


determinaçã o de quais sã o as normas de direito pú blico e as de direito privado, o
que nã o admira face à relutâ ncia em fixar definiçõ es jurídicas, deixando esse
trabalho para a doutrina e a jurisprudência a partir das correspondentes soluçõ es
legais.

No artigo 3º do Có digo Civil de 1867, obtínhamos uma versã o mais pró xima da
teoria dos sujeitos, se proclamava que se os direitos e obrigaçõ es se limitam à s
relaçõ es dos cidadã os entre si, como meros particulares ou entre cidadã os e o
Estado, em questõ es de propriedade ou de direitos puramente individuais, esses
direitos e obrigaçõ es sã o regidos pelo direito privado.

O critério da distinçã o entre o Direito Pú blico e Direito Privado constitui um


precipitado histó rico a base jurídica, com efeito, o ordenamento jurídico ao longo
dos tempos foi fixando regimes para determinadas instituiçõ es ou relaçõ es
jurídicas, que ele pró prio integrou num ou noutro desses ramos de direito e
nalguns casos optou por integraçõ es mistas de direito pú blico e de direito privado,
em matéria de estatuto ou regime jurídico, de certos institutos jurídicos.

A ciência jurídica foi autonomizando diversos ramos de direito com normas


associadas de direito privado e pú blico.

Certas normas jurídicas actuais permitem avançar na definiçã o do critério


distintivo em causa.

O artigo 501º do CC submete o estado e as demais pessoas colectivas pú blicas, em


matéria de responsabilidade civil extracontratual decorrente do exercício de
actividades de gestã o privada ao regime de direito privado.

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Os exercícios de actividades de gestã o pú blica ou de gestã o privada
fundamentalmente caracterizados pelo uso ou nã o de autoridade pú blica, que o
ordenamento adoptou o critério da qualidade dos sujeitos da relaçã o jurídica.

O artigo 2513º do CC ao definir o estatuto do estado como herdeiro legítimo,


declara que tem relativamente à herança os mesmos direitos e obrigaçõ es de
qualquer outro herdeiro, ou seja, aplica-se o regime privado juscivilistico
caracterizado por uma igualdade de posiçõ es nas relaçõ es sucessó rias.

O artigo 1304º do CC sujeita o domínio das coisas pertencentes ao Estado ou a


quaisquer outras pessoas colectivas pú blicas, em princípio à s regras do có digo
civil, só pertencem ao domínio pú blico do estado e de outras pessoas colectivas
pú blicas os bens definidos e regidos por lei excepcional artigo 84º da CRP, os quais
nã o sã o susceptíveis de prescriçã o extintiva 298º nº1 do CC e nem de prescriçã o
aquisitiva 1287º do CC, que pressupõ e poder de soberania.

No artigo 1304º do CC admite por outro lado, a possibilidade de o domínio


particular das coisas pertencentes à s pessoas colectivas pú blicas estar sujeito a
normas especiais, como é o caso da admissibilidade da aquisiçã o por usucapiã o de
bens do domínio privado do estado, desde que, para além dos prazos normais,
decorra mais metade dos mesmos.

No domínio contratual, os entes pú blicos intervêm por vezes com estatutos


jurídicos diversos, assim, podem vincular-se à s regras paritá rias juscivilísticas
constantes do contrato geral de empreitada, 1207º e seguintes, mas a lei outorga
ao estado e a outras pessoas colectivas pú blicas.

A lei distingue direito pú blico do direito privado com base na qualidade dos
sujeitos da relaçã o jurídica, embora a complexidade da vida real leve algumas
vezes à instauraçã o de regimes mistos com normas pú blicas e privadas associadas.

Alcance prático da distinção entre Direito Público e Direito Privado

Na distinçã o entre direito pú blico e direito privado nã o sendo elaborada


meramente para melhor conhecer a natureza das respectivas normas jurídicas ou
por necessidades de cará cter sistemá tico do Direito, mas porque existem
interesses prá ticos em concretizar, porque as zonas normativas de direito pú blico
sã o acompanhadas de regimes ou efeitos legais pró prios, distintos do direito
privado.

Assume um especial relevo a determinaçã o das vias ou processos judiciais


competentes para o dirimir dos diferentes conflitos. Nos casos de conflito de
direito privado sã o competentes os tribunais judiciais e os tribunais comuns em
matéria cível, salvo quando houver matéria cível especializada e jurisdicionada,
como acontece com os tribunais de trabalho, de família e os marítimos.

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Quanto à s acçõ es e recursos contenciosos que tenham por objecto dirimir os
litígios emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais, que constituem
o direito pú blico sã o competentes os tribunais administrativos e fiscais do 212º
nº3 da CRP.

A resoluçã o de um conflito de direito privado pode envolver a aplicaçã o de


diversas normas do direito privado e por vezes, também de algumas normas de
direito pú blico, mas em alguns casos a apreciaçã o de normas de direito pú blico
pode constituir questã o prévia ou prejudicial face à acçã o cível, podendo esta ser
temporariamente suspensa, segundo o 279º e 284º nº1 do CPC.

A nível da 1ª instâ ncia, os tribunais judiciais têm normalmente competência


genérica, abrangendo matéria cível e criminal, por exemplo, das comarcas de
Lisboa e Porto encontram-se especializados em juízos cíveis e juízos criminais, do
artigo 211º da CRP e 93º e seguintes da LOFTJ.

Características do direito privado e do direito público

Direito Privado

 Princípio da liberdade, ou seja, é lícito tudo quanto nã o é excepcionalmente


proibido pela lei;

 Predominâ ncias de normas supletivas, isto é, sã o regras que podem ser


afastadas pela vontade das partes em sentido contrá rio;

 Na sequência da pessoa humana, da propriedade da sociedade civil face ao


Estado e de uma certa ideia de contrato social entre os membros da
comunidade de pessoas livres e iguais em direitos e obrigaçõ es, o Direito
Privado é um direito geral face ao Direito Pú blico porque regula a
generalidade das relaçõ es jurídicas;

 À s relaçõ es jurídicas entre o Estado e os particulares é em princípio


aplicá vel o Direito Privado;

 O Direito Privado é um direito integrador do direito pú blico oferecendo


normas aplicá veis a casos aná logos ou princípios fundamentais para a
regulaçã o de situaçõ es nã o previstas neste ramo do direito, e até mesmo
direito comum de aplicaçã o subsidiá ria ao direito pú blico;

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Direito Pú blico

 Vigora o princípio da competência ou da legalidade, pelo qual só é licito o


que for permitido pela lei;

 O direito pú blico é revestido por um cará cter imperativo, ou seja, nã o


podendo ser postergadas pela vontade dos sujeitos nas respectivas relaçõ es
jurídicas;

 No direito pú blico disciplina um sector mais determinado e circunscrito de


relaçõ es jurídicas, ou seja, as relaçõ es jurídicas pú blicas necessariamente
previstas na lei na sequência do princípio da competência ou da legalidade e
que se especializam do tronco comum do direito, que permanece fundido
com o direito privado;

Direito civil como Direito Privado Geral

No direito romano a partir do século V a.C., o direito civil ou ius civile era o sistema
jurídico que regulava apenas as relaçõ es jurídicas entre os cidadã os. Mas ainda
antes das colectâ neas legislativas do imperador Justiniano século VI d.C., o direito
das gentes em que o ius gentium previa as relaçõ es jurídicas entre os cidadã os
romanos e os estrangeiros submetidos a Roma e o direito honorá rio introduzido
pelo pretor urbano para interpretar, suprir ou até corrigir o ius civile, o direito das
gentes e honorá rio fundiram-se com o ius civile.

O direito civil surge nos aquando das recepçõ es de direito romano na Europa a
partir do século XII, a ponto de as principais compilaçõ es de justiniano virem a ser
aglutinadas sob a designaçã o de corpus iuris civilis em contraposiçã o à de corpus
iuris canonici.

Face à autonomizaçã o de certos ramos do direito dentro do direito privado, o


direito civil restringe-se embora permaneça como base do direito privado
regulando o essencial do quotidiano das pessoas e prevendo uma parte geral as
leis, a sua interpretaçã o e aplicaçã o bem como sobre os elementos da relaçã o
jurídica.

A constante especializaçã o e adaptaçã o no trabalho, a multiplicaçã o e


complexidade das relaçõ es de troca e de redistribuiçã o, as alteraçõ es nos regimes e
nas estruturas dominiais, a internacionalizaçã o das economias, as lutas e mutaçõ es
sociais e as mudanças tecnoló gicas fazem com que a sociedade evolua.

O direito acompanha essas modificaçõ es sociais nomeadamente no direito


comercial e no direito do trabalho, considerados como ramos especiais do direito
privado, é direito especial um sub conjunto unitá rio e sistematizado de normas
jurídicas, aplicado a determinados e delimitados sectores da actividade humana,
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prevendo um regime em parte diverso do regime regra, mas tendo como direito
subsidiá rio, ou seja, aplicá vel na ausência de regras pró prias do regime especial, o
direito geral ou comum que precisamente estabelece o regime regra.

Os Ramos especiais do Direito Privado

Os sub conjuntos de normas de direito privado que se autonomizaram do direito


civil, mas em que este permanece como direito subsidiá rio daqueles.

 Direito comercial

O direito relativo ao comércio é de origem medieval e resultou de usos e costumes,


muitos deles transportados para os forais que lentamente se foram associando em
algumas leis gerais, em particular sobre a protecçã o das transacçõ es em feiras e
mercados e sobre comércio marítimo.

Os costumes e leis, que mais tarde foram compilados o livro IV das ordenaçõ es
afonsinas, dentro do Direito Privado, desde cedo, surgiram tribunais comerciais
para os mercadores cuja jurisprudência muito contribuiu para a autonomizaçã o do
direito comercial.

Na lei da Boa Razã o de 1769 e nos estatutos da universidade de Coimbra de 1772,


já se distinguia o Direito comercial do direito civil.

Mas as dificuldades de identificaçã o das leis comerciais portuguesas face ao Direito


Civil e a incerteza jurídica resultante do recurso a diferentes leis comerciais
estrangeiras impuseram a publicaçã o em 1833 do primeiro có digo comercial, com
projecto do Ferreira Borges.

Este có digo foi muito consolidado nas leis antigas, apesar das diversas influências
de có digos comerciais estrangeiros, tem um declive subjectivista, isto é, regulava
um direito dos comerciantes, como decorre, desde logo, da carta de apresentaçã o
do projecto e do livro I, que abrange apenas os comerciantes e os empregados
comerciantes, com um cará cter mais doutrinal do que legislativo.

O có digo comercial de 1888, do projecto de Veiga Beirã o, que localiza-se na


corrente objectivista definindo a lei comercial como reger os actos de comércio
sejam ou nã o comerciantes artigo 1º. O que conduz à existência de actos de
comércio objectivos, isto é, aqueles que sã o especialmente regulados no Có digo
comercial, como os contratos de conta corrente do 334º do CCom e de compra para
revenda comercial do 463º do CCom.

Mas o có digo comercial admite também actos de comércio subjectivo, isto é, actos
praticados apenas por comerciantes conexionados com o seu comércio mesmo que
nã o sejam tipologicamente previstos na lei comercial.

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O artigo 3º do có digo comercial vigente nã o deixa dú vidas sobre o cará cter
subsidiá rio, geral ou comum, do direito civil face ao direito comercial.

A autonomia do direito comercial justifica-se pelas necessidades pró prias do


comércio moderno que originam um particular espírito normativo, o qual se
espraia numa disciplina coesa, unitá ria e global.

A necessidade de facilidade, simplicidade e rapidez na conclusã o das transacçõ es


comerciais, o que torna o direito comercial menos exigente em termos de forma
negocial, assim o mú tuo civil exige escritura pú blica a partir de vinte mil euros e
documento particular a partir de dois mil euros, 1143º do CC, enquanto o
empréstimo mercantil admite todo o género de prova do 396º do CCom
nomeadamente na prova documental.

Para o estabelecimento ser seguro e para dar incremento, o comerciante precisa


também do reforço das suas garantias como credor, expressa-se sobretudo na
regra da solidariedade dos co – obrigados comerciais do artigo 100º do CCom
enquanto a responsabilidade dos co – obrigados civis é, em princípio meramente
conjunta, do 513º do CC.

No caso do aval comercial que responsabiliza a pessoa que dá o mesmo nível da


pessoa que contraiu a dívida podendo o credor desde logo executar tanto o
patrimó nio do avalista como o devedor inicial, diferentemente do que acontece
com a fiança civil, na qual o fiador goza de um beneficiá rio de excussã o prévia,
devendo o credor executar, primeiro o patrimó nio do devedor principal e só , se
este nã o tiver bens suficientes, poderá agir contra o patrimó nio do fiador, artigo
638º do CC, deste modo gera, maior confiança entre as pessoas que praticam actos
comerciais e impedem a falência em cascata.

Os actos jurídicos comerciais, por se enquadrar numa actividade de fins lucrativos


sã o, de natureza onerosa, isto é, realizados com contrapartida econó mica.

No direito comercial também encontramos a necessidade de uma maior


regulamentaçã o unitá ria de cará cter internacional, porque cada vez mais a
economia que planetariza e os capitais, os serviços, os bens e as pessoas circulam
com maior liberdade, por exemplo, as leis uniformes relativas à s letras e livranças
e aos cheques.

 Direito do Trabalho

No có digo civil liberal de 1867 encontramos as modalidades entao mais frequentes


do contrato de trabalho, ou seja, os contratos de serviços domésticos, 1370º e
seguintes, de serviço salariado, 1391º e seguintes, reguladas nos termos gerais dos
contratos civis, particularmente com respeito pleno do princípio da liberdade
contratual, com as inerentes liberdades de trabalho e de livre escolha da profissã o,
nã o deixou de constituir um avanço civilizacional do liberalismo econó mico.

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Apó s o ultimato inglês de 1890º e depois com a 1ª Repú blica, passa a dar-se o justo
relevo nas relaçõ es jurídicas laborais à s ideias de deveres e responsabilidades
sociais, assim, o decreto de 14 de Abril de 1891 protege o trabalho de mulheres e
de menores, o decreto de 6 de Dezembro de 1910 reconhece o direito à greve. Com
o regime corporativo proíbe-se a greve mas aprova-se de um modo sistematizado e
unitá rio e pela primeira vez, o regime do contrato individual de trabalho.

O có digo civil actual, apó s definir no artigo 1152º o contrato de trabalho com um
cará cter subordinado.

O direito do trabalho ganhou esporas de autonomia dentro do direito privado ao


ser inspirado por um espírito legal pró prio, resultante de necessidades específicas,
ao vir a ser compendiado em diplomas legais sistematizados e coesos e ao ser
autonomamente construído dogmaticamente, inclusive com o seu ensino
particularizado. O direito civil aplica-se aos casos nã o previstos especialmente na
lei laboral.

O direito do trabalho entre os seus princípios específicos, norteia-se


presentemente, desde logo, por certas necessidades de tutela do trabalhador como
parte econó mica mais débil, daí o artigo 13º nº1 do regime aprovado pelo decreto
de lei 49/ 408, segundo o qual as fontes de direito laborais superiores prevalecem
sempre as fontes laborais inferiores.

Outro princípio conformador do direito do trabalho actual é o da grande amplitude


da intervençã o do estado na relaçã o laboral, particularmente, no processo
formativo das relaçõ es colectivas de trabalho, através de um papel de conciliaçã o e
de intervençã o nos conflitos colectivos de trabalho entre os representantes das
entidades patronais e dos trabalhadores.

Por outro lado, o estado intervém ainda, por exemplo, ao nível da previdência
social, da higiene e da segurança no trabalho e de uma certa concertaçã o social
ligada à política de preços e de salá rios.

O direito do trabalho abarca normas de direito pú blico, por exemplo, da denegaçã o


de prestaçõ es da segurança social cabe recurso para os tribunais administrativos,
mas há que ter em conta que, com a extinçã o do regime corporativo, sã o de direito
privado inclusivamente a generalidade das normas relativas ao regime jurídico das
relaçõ es colectivas de trabalho.

O direito do trabalho apresenta ainda especialidades de jurisdiçã o, nos principais


centros urbanos, os conflitos emergentes de relaçõ es laborais privadas sã o
resolvidos através de tribunais do trabalho e de processo do trabalho.

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 Direito internacional Privado

O direito internacional privado nã o regula directamente as questõ es, factuais ou


jurídicas, que dividem as partes, assenta no pressuposto de os diversos elementos
de uma determinada relaçã o jurídica concreta estarem simultaneamente em
contacto com diversas ordens jurídicas estaduais e indica – nos qual a legislaçã o
estadual aplicá vel para regular o caso concreto ou quais as legislaçõ es estaduais
aplicá veis para prever as diversas questõ es em que se decompõ e tal cã s, em funçã o
de uma determinada e reputada mais importante conexã o dos elementos da
relaçã o jurídica com certa ordem jurídica. O regime de DIP português consta nos
artigos 14º a 65º do CC.

O DIP é um direito instrumental, composto por normas sobre normas, de normas


sobre a criaçã o e a aplicaçã o de outras normas e respectiva interpretaçã o. A sua
particular unidade e autonomia face ao direito civil, se bem que este funcione como
seu direito subsidiá rio.

O DIP nã o é verdadeiramente um direito internacional, supra - estadual, mas um


direito de natureza interna e fonte provavelmente nacional, que o estado
português aplica quando os tribunais ou outros serviços pú blicos portugueses, por
exemplo: notariado, sã o chamados a decidir ou a documentar casos com conexõ es
internacionais, cada estado tem o seu pró prio DIP.

O DPI é direito privado, face ao â mbito de aplicabilidade das suas normas e à


natureza dos interesses particulares tutelados.

Outros ramos especiais de direito privado

Nos direitos privados especiais constituem também os direitos de autor e direitos


conexos bem como o direito da propriedade industrial do 1303º nº1 do CC sendo
patente o cará cter subsidiá rio do direito civil face a esses ramos de direito 1303º
nº2 do CC.

No que diz respeito ao direito agrá rio é controverso, é o conjunto de normas


relativas à estrutura e actividade da agricultura. Há um conjunto de regras de
direito privado, como as relativas ao domínio privado sobre a propriedade rú stica,
ao arrendamento rural, à s servidõ es legais de á gua, ao emparcelamento.

Mas há também regras de direito pú blico, como a estruturaçã o fundiá ria, a reforma
agrá ria, o crédito agrícola e a política agrá ria portuguesa articulada com a política
agrá ria da Uniã o Europeia, estas normas tendem para a autonomizaçã o, mas nã o
há , um corpo legislativo unitá rio dotado de espírito específicos, estas normas estã o
directamente integradas no direito civil, no direito comercial ou em ramos de

12
direito pú blico. O que nã o impede que tais normas, possam ser objecto de um
tratamento didá ctico, doutrinal, numa cadeira universitá ria (Direito Agrá rio).

Fontes do direito civil

Fontes de direito - sã o os modos de formaçã o e relevaçã o do direito.

 Formas de formar Direito:


1. Lei;
2. Costume (nã o é fonte de direito);

 Formas de revelar o Direito:


1. Doutrina;
2. Jurisprudência;

Os modos constitutivos do direito civil sã o regulados nos artigos 1º a 4º e 10º nº3


do CC e sã o as leis e as normas corporativas, quanto as fontes imediatas, isto é, que
operam sem intermediá rios artigo 1º nº1 do CC.

As fontes mediatas sã o os usos, a equidade e os princípios fundamentais cuja


legitimidade depende de outras fontes de direito.

As leis (fonte imediata)

No artigo 1º nº2, 1ªparte do CC, as leis nomeadamente civis, isto é, donde


decorrem normas jurídicas privadas civis sã o tomadas numa acepçã o lata como
todas as disposiçõ es genéricas provindas dos ó rgã os estaduais competentes, estã o
devidamente hierarquizadas e abrangem leis constitucionais, leis ordiná rias da
Assembleia da Repú blica, decretos – leis do Governo, decretos legislativos e
decretos regulamentares regionais dos Açores e da Madeira bem como
regulamentos do Governo, dos Governadores civis e das autarquias locais.

A lei constitucional pode ser fonte de direito civil. A constituiçã o constitui o quadro
bá sico das relaçõ es jurídicas da sociedade, o contrato social, em que encontramos
diversas normas constitucionais que têm aplicaçã o no â mbito também do direito
civil, nomeadamente das normas dos artigos 24º a 47º da CRP que tem aplicaçã o
imediata e incorporam maioritariamente direitos fundamentais civis.

Estas normas têm relevo nas relaçõ es jurídicas civis, porque o artigo 18º nº2 da
CRP estabelece que os preceitos constitucionais relativos aos direitos, liberdades e
garantias sã o directamente aplicá veis e vinculam as entidades pú blicas e privadas.

No caso de violaçã o destas normas, sã o aplicá veis para além de uma tutela
constitucional, diversas sançõ es civis, como a legítima defesa do artigo 337º do CC,
a responsabilidade civil do 483º do CC e as providências tutelares restitutivas e
preventivas do artigo 70º nº2 do CC.

13
Por outro lado, existem outras normas na constituiçã o de cará cter programá tico,
que precisam de desenvolvimento legislativo, como por exemplo, o direito à
habitaçã o do artigo 65º do CRP.

Uma norma deste tipo nã o confere um direito subjectivo à habitaçã o exigível face
aos particulares ou ao estado e demais entes pú blicos, mas outorga aos seus
destinatá rios um poder de exigir do estado uma política de habitaçã o que lhes
atribuía, de acordo com os recursos do país e em condiçõ es de igualdade, as
prestaçõ es estaduais de habitaçã o implementadas.

O Estado tem a obrigaçã o constitucional de desenvolver políticas e se nã o


acontecer tem como consequência a inconstitucionalidade por omissã o segundo o
artigo 283º da CRP.

O estado deve realizar prestaçõ es sociais de habitaçã o com base em critérios


ilegítimos, com prejuízo de determinadas pessoas, estas podem exigir a
reconstituiçã o natural de acordo com os critérios legítimos ou a responsabilidade
civil do estado, fazendo aplicaçã o mediata da constituiçã o em matéria civil.

Por outro lado, pode também produzir efeitos civis as leis ordiná rias, ou seja, as
leis da Assembleia da Repú blica que decorrem dos seus poderes legislativos
normais e correntes, por força dos artigos 164º d) e 168º nº3 da CRP, a Assembleia
da Repú blica pode fazer leis sobre todas as matérias e inclusivamente é matéria da
sua reserva relativa a regulaçã o, artigo 18º nº 2 e 3 do CRP dos direitos, liberdades
e garantias.

A pró pria Constituiçã o prevê a possibilidade de haver direitos constitucionais de


natureza aná loga do artigo 17º da CRP que pela sua importâ ncia adquire um valor
constitucional, como o direito geral de personalidade resultante do artigo 70º do
CC.

Os decretos-lei do Governo têm o mesmo valor das leis ordiná rias segundo o artigo
112º nº2 e 198º nº1 a) da CRP no que toca na matéria dos direitos, liberdades e
garantias.

Numa lei ordiná ria civil nã o fundamental pode ser alterada por um decreto-lei e
vice-versa, mas o mesmo acontece com os direitos fundamentais civis podem ser
regulados por decreto – lei do Governo, no uso da autorizaçã o legislativa da
Assembleia da Repú blica do artigo 165º nº1 b) e 198º nº1) da CRP.

Aos decretos legislativos regionais têm dignidade legislativa conforme a


disposiçã o legal do 112º nº1 e 232º nº1 da CRP que nã o meramente regulamentar,
mas podem versar sobre matérias de interesse específico para as regiõ es e que nã o
estejam reservadas à competência pró pria dos ó rgã os de soberania (Assembleia da
Repú blica e do Governo) bem como estã o subordinados à s leis gerais (Leis
constitucionais e ordiná rias e decretos – lei).

14
No direito civil deve – se também sublinhar as zonas periféricas de cará cter
regulamentar, como por exemplo, as portarias determinativas dos coeficientes de
actualizaçã o dos arrendamentos urbanos para habitaçã o regulado no artigo 31º e
32º da RAU, trata-se de matérias cujas circunstâ ncias estã o sujeitas a constante
evoluçã o e que por isso, devem ser mais facilmente alterá veis.

Os assentos têm uma força idêntica a lei.

Assento – Existindo soluçõ es opostas da mesma questã o fundamental do direito


tomadas, no domínio da mesma legislaçã o, em dois acó rdã os do STJ, a parte
vencida pelo acó rdã o mais recente, ou o Ministério Pú blico, podia recorrer daquele
e requerer uma decisã o definitiva, por meio de um assento. (artigo 2 º do CC)

Antes da reforma de 1995, os Assentos eram fonte de direito civil

Haviam críticas aos assentos, primeiro de cará cter teó rico, que diziam que os
assentos violam o princípio da separaçã o dos poderes.

Segundo Montesquieu, devia haver três poderes diferentes entre si:

 O poder judicial
 O poder legislativo
 O poder executivo

O professor Castanheira Neves vem dizer que começa a haver uma intromissã o
do direito judicial.

Os assentos interpretativos eram o que faziam os STJ.

Cada juiz passa também a julgar segundo a sua pró pria consciência, nã o
descurando da lei.

Normas corporativas (artigo 1º nº2)

Sã o as regras ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias


morais, culturais, econó micas ou profissionais, no domínio das suas atribuiçõ es,
bem como, os respectivos estatutos e regulamentos internos. As normas
corporativas nã o podem contrariar as disposiçõ es legais de cará cter imperativo.

Com à aboliçã o do regime corporativo pela revoluçã o de 25 de Abril de 1974, as


normas corporativas deixaram de ser fonte de direito e que o facto de elas terem
permanecido no artigo 1º do CC, apesar da reforma de 1978 deveu-se ao facto de
esta ter tido um cará cter pontual e nã o ter feito uma revisã o geral do CC.

A representatividade profissional mantém-se em bases novas, donde


inclusivamente sobressai o princípio da liberdade de associaçã o e é geradora de
fontes de direito.

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Usos (fonte mediata)

Os usos sã o simples prá ticas sociais ou usos de facto que quando nã o forem
contrá rias aos princípios da boa fé e nã o estejam em oposiçã o com as normas
corporativas, artigo 3º do CC.

Os usos sã o fontes mediatas do direito, pois, para que se apliquem juridicamente,


exigem a remissã o específica de uma determinada norma jurídica constante de lei.

Costume (não é fonte de direito) - é uma prá tica reiterada de determinada


conduta, socialmente aceite com a convicçã o de que ela é juridicamente
obrigató ria. Actualmente nã o é fonte de direito civil.

O costume, como foi fonte de direito imediata, teve um importante destaque nos
ordenamentos primitivos, na Antiguidade Clá ssica e mesmo na Idade Média, mas
foi decrescendo de valor, por causa das incertezas que lhe sã o inerentes e pela
complexidade, amplitude e rapidez das mutaçõ es sociais da época moderna, que
exige adaptaçã o, segurança e justiça do direito face a conflitos novos e a situaçõ es.

Equidade (fonte medita)

É a justiça do caso concreto, é um princípio individualizador, casuístico e


adequado, nalguns casos especiais, a corrigir o cará cter geral e pré – determinado
da lei, virada para os casos mais frequentes e tipologicamente uniformes.

É uma fonte mediata segundo o artigo 4º do CC e também contem uma á rea


circunscrita de relevâ ncia e que só tem lugar em três hipó teses:

 Por força da autonomia da vontade privada das partes, artigo 405º do CC;

 Quando haja acordo das partes e a relaçã o jurídica nã o seja indisponível; 1


 Quando as partes tenham previamente convencionado o recurso à
equidade, nos termos aplicá veis à clá usula compromissó ria. Aqui os
conflitos sã o decididos pelos tribunais arbitrais voluntá rios.

O artigo 732º A do Có digo processual civil, referente aos recursos, a jurisprudência


têm como objectivo aconselhar.
1
Os conflitos aqui falados, são decididos nos tribunais comuns e o acordo quanto à decisão por
equidade pode consistir numa troca de declarações extra – judiciais anteriores ao processo judicial ou
na sua pendência ou configurar dois actos processuais sucessivos convergentes.

16
Fontes internacionais

O artigo 8º nº1 da CRP em que as normas e princípios de direito internacional


geral ou comum fazem parte integrante do direito português, nomeadamente os
princípios fundamentais geralmente reconhecidos nos direitos internos dos
estados, por exemplo, os princípios da responsabilidade baseada na culpa, a
proibiçã o do abuso de direito, da legitima defesa.

O artigo 8º nº2 da CRP, as normas das convençõ es internacionais vigoram na


ordem interna portuguesa, desde que regularmente ratificadas ou aprovadas, apó s
a publicaçã o oficial e enquanto vinculam internacionalmente o estado português,
por exemplo, direitos de personalidade, direito das obrigaçõ es, direito do trabalho,
direito da propriedade e direito da família, vigoram entre nó s o pacto internacional
dos direitos civis e políticos e o pacto internacional de direitos econó micos, sociais
e culturais.

Por fim, o artigo 8º nº3 da CRP que declara que as normas emanadas dos ó rgã os
competentes das organizaçõ es internacionais de que Portugal seja parte vigoram
directamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos
tratados constitutivos. Os regulamentos dos ó rgã os da Uniã o Europeia estabelecem
o cará cter geral, obrigató rio em todos os elementos e directamente aplicá veis em
todos os Estados – membros.

Os regulamentos podem incidir sobre as seguintes matérias dos artigos do Tratado


da Uniã o Europeia, direito de cidadania da Uniã o (artigo 8º), direito de circulaçã o e
de permanência (8ºA), direito de defesa do consumidor artigo 129º A.

Doutrina – é o conjunto dos escritos publicados acerca de problemas jurídicos,


nomeadamente comentá rios ou anotaçõ es a leis, liçõ es universitá rias, monografias,
tratados, artigos de revista, pareceres e outros à excepçã o das decisõ es dos
tribunais.

Quando é colocado o problema de saber se a doutrina é uma fonte de direito na


actualidade só pode estar em causa saber se ela é uma fonte mediata e, mesmo
quanto a esta questã o, para já referir o cará cter controverso das chamadas fontes
mediatas, a resposta pode nã o ser liminarmente positiva, por certos autores em
relaçã o a dadas matérias venham a inspirar as soluçõ es legais. O acolhimento pelos
tribunais das interpretaçõ es e posiçõ es sustentadas por jurisconsultos em textos
publicados.

Jurisprudência (fonte mediata) – é o termo utilizado para designar o conjunto de


decisõ es judiciais proferidas num mesmo sentido sobre uma dada questã o jurídica
e provinda de tribunais da mesma instâ ncia ou do STJ.

17
Jurisprudência e o Direito Civil

No ordenamento jurídico português, a jurisprudência nã o é considerada uma fonte


de direito, é o conjunto de decisõ es em que se exprime a orientaçã o seguida pelos
tribunais na decisã o de casos concretos sobretudo no ratio decidendi, que contém
o critério normativo adoptado, tal orientaçã o nã o fica vinculada aos mesmos ou
outros tribunais nos julgamentos de casos futuros do mesmo tipo de crime.

A jurisprudência decorre do princípio da independência dos magistrados judiciais


que julgam apenas segundo a constituiçã o e a lei e nã o estã o sujeitos a ordens, o
que significa que um juiz de 1ª instâ ncia tem uma interpretaçã o objectiva da
norma jurídica com base no artigo 9º do CC. O Supremo tem o dever de acatamento
pelos tribunais inferiores das decisõ es proferidas em recurso e pelos tribunais
superiores.

Na excepçã o do artigo 2º do CC pela qual certas decisõ es ou assentos do Supremo


de Justiça eram fonte de direito foi revogada com efeitos imediatos pelos artigos 4º
e 17º do Decreto – lei nº 329/95º de 12 de Dezembro, baseou-se a revogaçã o no
princípio da separaçã o de poderes, pró prio do Estado de Direito, segundo o qual, a
funçã o legislativa é atribuída à Assembleia da Repú blica e ao Governo, 161º, 164º,
165º e 198º da CRP e a funçã o jurisdicional incumbe aos tribunais do 202º da CRP,
pelo que estes nã o poderiam criar norma jurídica com força obrigató ria geral,
mesmo que com cará cter interpretativo das disposiçõ es gerais e abstractas do
poder legislativo.

O artigo 8º nº3 do CC, a favor da uniformizaçã o na aplicaçã o do direito, criou-se ao


acó rdã o em julgamento ampliado de recurso de revista previsto no artigo 732º A e
732 º B do CPC, tem lugar com intervençã o do plená rio das secçõ es cíveis quando
se revele necessá rio ou conveniente para assegurar a uniformidade da
jurisprudência e o acó rdã o, para permitir um melhor conhecimento, é publicado no
Diá rio da Repú blica.

Nã o tem força obrigató ria geral nem mesmo face aos tribunais da relaçã o e de 1ª
instâ ncia, é preciso que haja razoes profundas para que estes tribunais contrariem
o acó rdã o, de outro modo, se a acçã o tiver valor para subir até ao supremo será
natural que este acó rdã o seja reafirmado.

Quanto aos assentos, eles deixaram de ter retroactivamente força obrigató ria geral
e têm o valor dos acó rdã os proferidos nos termos dos artigos 732º A e 732º B do
CPC, sã o jurisprudência uniformizada com valor indicativo.

Na aplicaçã o das leis no tempo, o artigo 17º nº3 do Decreto – lei nº 329 – A / 95
estabelece que quanto ao recurso para tribunal pleno intentado até 13 de

18
Dezembro de 1995 o seu objecto vale para a resoluçã o em concreto do conflito e
em termos gerais como mera jurisprudência uniformizada, com valor indicativo.

O professor Menezes Cordeiro, defende a inconstitucionalidade do artigo 17º nº2


do Decreto – lei nº 329 – A/ 95 por o Governo ter revogado normas jurídicas de
direito material que sã o objecto de assentos anteriores e desse modo ter revogado
direitos essenciais sem ter a necessá ria autorizaçã o da Assembleia da Repú blica
previsto no artigo 168º nº1 alíneas a), b) e h) da CRP, nã o valendo como
autorizaçã o para que a alínea e) do artigo 7º da Lei nº 33/ 95 de 18 de Agosto que
autorizou o governo a rever o CPC.

O professor Teixeira de Sousa, entende que o Governo pode legislar sobre os


assentos, enquanto institutos, havendo apenas que clarificar qual o â mbito de
eficá cia da alteraçã o, particularmente em termos retroactivos. Quanto a estes, o
artigo 17º nº2 gozaria apenas de retroactividade ordiná ria, isto é, respeitaria todos
os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular, artigo 12º nº1
do CC. Por outro lado, a interpretaçã o mais razoá vel da alínea e) do artigo 7º da Lei
33/ 95 seria de abranger todos os assentos vigentes, tanto os de futuro como os de
pretérito, pelo que nã o haveria sequer qualquer inconstitucionalidade orgâ nica.

Se o artigo 17º nº2 do Decreto – lei nº 329 – A / 95 fosse inconstitucional e dado


Decreto nº 743/ 96 de 28 de Abril declarou inconstitucionalidade com força do
artigo 2º do CC, por violaçã o do 115º nº5 da CRP, esta violaçã o acarretaria que esta
declaraçã o de inconstitucionalidade se aplicaria a todos os assentos porque o
momento decisivo seria quando o assento devia ser aplicado pelo tribunal, trata-se
de uma inconstitucionalidade superveniente, os assentos de pretérito seriam
inconstitucionais. (posição mais coerente)

A autorizaçã o expressa para revogar o artigo 2º do CC envolve a atribuiçã o de


poderes em matéria de aplicaçã o das leis no tempo, a este respeito, pelo que nã o há
qualquer inconstitucionalidade orgâ nica, por outro lado, a retroactividade deste
artigo, é compreensível dado o seu cará cter interpretativo dos assentos e a
protecçã o nã o apenas dos casos julgados como também dos efeitos já produzidos
pelos factos regulados pelos assentos vigentes, segundo o professor Batista
Machado, acresce que as razoes materiais que justificam a inconstitucionalidade
dos assentos sã o vá lidas, tal inconstitucionalidade nã o deve valer apenas a partir
da introduçã o do artigo 115º nº5 da CRP e isto sem prejuízo da legitimidade da
abrangência da retroactividade a todos os assentos, por se tratar de uma fonte de
direito obsoleta e contrá ria aos princípios do estado de direito moderno.

A retroactividade face aos assentos vigentes de pretérito pressupõ e que as normas


jurídicas interpretadas se mantêm em vigor e que a interpretaçã o constante do
assento apenas passou a ter força de jurisdiçã o uniformizada, pelo que os relativos
a eventuais direitos, liberdades e garantias fundamentais.

19
Quanto à aplicação das leis no tempo, o artigo 17º nº3 do Decreto – lei nº 329 – A
/95 estabelece que quanto ao recurso para o tribunal pleno intentado, o seu
objecto vale para a resoluçã o em concreto do conflito e em termos gerais como
mera jurisprudência uniformizada.

No artigo 8º nº3 do CC nã o sã o apenas objecto de ponderaçã o do julgador os


acó rdã os do Supremo tribunal de Justiça em julgamento ampliado de recurso,
embora estes, pela sua natureza e emissor, sejam mais impressivos, mas também
outros acó rdã os do Supremo, da relaçã o e até sentenças da 1ª instâ ncia desde que
versem sobre o mesmo fluxo o normativo e pressupostos de facto, tais decisõ es
podem ser acarretadas para o processo pelas partes mas sã o do conhecimento
oficioso do juiz, daquela normas também resulta que a uniformizaçã o do direito
nã o deve fazer – se apenas no fim, mas desde quando seja possível, de modo a
formar correntes jurisprudenciais de base.

O Direito pressupõ e com reflexos na interpretaçã o das leis em geral, cada vez
menos uma jurisprudência de conceitos positivista, dedutiva e exegética e face à
vida moderna, procura a mediaçã o de uma jurisprudência atenta aos interesses
das partes e capaz de valoraçõ es jurídicas, daí a flexibilizaçã o de muitos comandos
legais e a necessidade de ponderaçã o do juiz na sua aplicaçã o concreta de clá usulas
gerais (direitos de personalidade), de conceitos indeterminados (487º CC).

No domínio do preenchimento das lacunas da lei ou da aplicaçã o do direito, o juiz,


quer no recurso à analogia, previsto no artigo 10º nº1 e 2 do CC quer sobretudo na
elaboraçã o de uma norma ad hoc, dentro do espírito do sistema.

Na fase do desenvolvimento normativo do direito pelo juiz enquanto


reconhecimento de que no sistema do direito positivo vigente, isto é, no direito que
a prá tica comunitá rio – jurídica assimila e cumpre, participa numa medida
importante a normatividade jurídica que a funçã o judicial, na sua actividade
jurisdicional, autonomamente constitui, segundo a opiniã o do professor
Castanheira Neves.

Para o Professor Oliveira Ascensão, sustenta que os acórdãos, com força obrigatória
geral do Tribunal constitucional, previsto nos artigos 281º nº1 e 3 e 119º nº1 g) da CRP
são fontes de direito. O tribunal constitucional não cria qualquer norma jurídica, limita-
se a formular um juízo de valor, a declarar a inconstitucionalidade ou não, total ou
parcial, de uma concreta norma jurídica que lhe é submetida a fiscalização. O TC
verifica a existência de inconstitucionalidade por omissão, apenas dará conhecimento
ao órgão legislativo competente segundo o artigo 283º nº2 da CRP não podendo
elaborar qualquer norma jurídica de conduta.

O facto de aqueles acó rdã os serem publicados no Diá rio da Repú blica, I Série A e
terem força obrigató ria geral, pois tal publicaçã o também tem lugar no caso dos

20
acó rdã os do STJ uniformizados e a nomeaçã o de um Ministro no Diá rio da
Repú blica tem igualmente força obrigató ria geral.

Princípios Gerais do Direito Civil

Sã o princípios de ordenaçã o material ou substancial das normas jurídicas civis,


que estruturam e dã o coerência, harmonia e unidade ao conjunto do direito civil.

Podem ter cará cter fundamental ou constitucional se resultam de normas ou de


princípios da constituiçã o em sentido formal ou material, e sã o interpretados e
integrados de harmonia com a Declaraçã o Universal dos Direitos do Homem
quando relativos aos direitos fundamentais previstos no artigo 16º nº2 da CRP,
determinando a sua violaçã o, a inconstitucionalidade das normas civis.

Os princípios gerais emergentes da lei ordiná ria civil, seja através de enunciado
geral, de reconduçã o de uma pluralidade de normas ou de induçã o de afloramento
normativo singular. Os princípios sã o desenvolvidos, de modo conciliado, pelas
normas civis regulativas, impregnando a ratio legis, tanto no sentido como sua
funçã o, artigo 9º nº1 do CC ou alimentam o espírito do sub sistema juscivilístico a
eles se recorrendo na correlativa integraçã o de lacunas, artigo 10º nº3 do CC.

Os princípios fundamentais ou ordinários gerais, são:

1) Princípio da dignidade da pessoa humana

O artigo 1º da CRP, baseia a Repú blica Portuguesa na dignidade da pessoa humana.


De natureza racional do homem resultam as capacidades de ele configurar livre e
responsavelmente a sua existência e a sua inserçã o social, de autopropor
objectivos e impor a si mesmo limites na sua actuaçã o, ou seja, pela sua natureza e
destino, o homem é fim em si mesmo algo que nã o é permitido empregar
simplesmente como meio.

Cada homem é uma pessoa em sentido ético, tem um incondicional valor em si


mesmo, a sua dignidade, todo e qualquer homem nã o pode, assim, ser utilizado
como simples meio para os fins dos outros.

Para Larenz, todo o ser humano tem, face a qualquer outro, um direito a ser
respeitado por este como pessoa e a nã o ser lesado no seu existir (vida, corpo e
saú de) e na sua esfera pró pria, bem como é obrigado a respeitar a outro de modo
aná logo.

Este princípio do respeito mú tuo é um princípio fundamental, e nas outras ordens


jurídicas evoluídas, a relaçã o de respeito recíproco constitui a relaçã o jurídica
fundamental, a base de toda a convivência numa comunidade jurídica e de toda a
relaçã o jurídica em particular e esta em origem do pró prio direito geral de
personalidade, artigo 70º do CC.

21
A dignidade da pessoa humana implica o princípio da proibiçã o dos negó cios
usurá rios (282º nº1 do CC), a vigência de certos institutos de favorecimento da
parte contratante mais fraca e a nulidade de clá usulas condicionais testamentá rias
e donatá rias de tal dignidade do 2232º, 2233 nº1 e 953º do CC.

O direito é concebido tendo como destinatá rios os seres humanos em comunidade,


ou seja, há uma comunidade de pessoas humanas livres e iguais que exprimem a
vontade popular, a outra base da repú blica portuguesa, artigo 1º da CRP.

2) Princípio do reconhecimento da personalidade jurídica humana

Da dignidade da pessoa humana decorre nos termos dos artigos 66º do CC, 16º
nº2 da CRP e 6º DUDH que todo e qualquer ser humano tem personalidade
jurídica.

Personalidade jurídica – é a aptidã o para ser centro autó nomo das relaçõ es
jurídicas, isto é, sã o os direitos e deveres que cada um esta sujeito.

A personalidade jurídica adquire-se com o nascimento completo e com vida


segundo o artigo 66º.

O Professor Oliveira Ascensão, opô s-se ao legislador e reconhece a


personalidade como um legado pré – legal.

Nã o se trata de uma atribuiçã o da ordem jurídica mas sim de um mero


reconhecimento.

3) Princípio da plenitude da capacidade jurídica humana

À personalidade jurídica é inerente a capacidade jurídica consagrada no artigo 67º


do CC.

A dignidade da pessoa humana postula uma plenitude da capacidade jurídica de


qualquer homem.

A personalidade jurídica refere-se a qualidade ou condiçã o jurídica do ente em


causa, ente que pode ter ou nã o personalidade.

A capacidade jurídica abrange duas variantes:

 Capacidade de gozo – todas as pessoas tem capacidade de gozo, tem


aptidã o maior ou menor para ser titulares de deveres.

 Capacidade de exercício – é aptidã o de maior ou menor direitos e deveres


que um individuo pode exercer pessoal e livremente ou através de um
procurador.

22
Esfera jurídica – é o conjunto de direitos e deveres que cada ser humano é titular
a cada momento da sua vida.

Todos os homens têm capacidade jurídica, à excepçã o dos incapazes.

4) Princípio da igualdade

O princípio da igualdade constitui o critério e o sentido das normas civis, como


Direito privado comum, face ao direito pú blico, assim as pessoas singulares ou as
pessoas colectivas, agindo em veste privada, como o estado e as demais pessoas
colectivas, estã o, em situaçã o de igualdade nas relaçõ es jurídicas civis.

Em termos do artigo 13º nº1 da CRP começa por declarar que todos os cidadã os
têm a mesma dignidade, que se traduz, para além das capacidades, das virtudes e
dos talentos de cada um que originam a sua individualidade, existe no cerne da
natureza humana uma base comum igual a todos os homens, isto é, uma qualidade
da pró pria essência, nã o pode deixar de pertencer a cada homem em concreto,
quaisquer que sejam as circunstâ ncias sociais. Essa qualidade é um elemento
fundamental, estrutural, da personalidade físico – moral referida no 70º do CC.

O princípio da igualdade no artigo 13º da CRP, implica que se trate igualmente de


situaçõ es de interesses iguais e que se trate de situaçõ es de diferentes interesses,
com a sua particularidade.

Para o Professor Castanheira Neves, sabermos se estamos perante uma situaçã o


de igualdade ou de desigualdade, adoptamos o critério que decorre da intençã o
material específica do direito, havendo que saber nã o só se a teleologia da norma,
acto ou decisã o em causa oferecem fundamentos materiais suficientes ou assentam
em consideraçõ es razoá veis mas também se o conteú do concreto da norma ou
decisã o jurídica nos surge referindo a fundamentos, normas que a ele pró prio e à
teleologia autonomamente os justifica.

O artigo 1911º nº2 do CC, relativo ao exercício do poder paternal no caso da


filiaçã o estabelecida quanto a ambos os progenitores nã o unidos pelo matrimó nio,
atribui em princípio à mã e a guardar do filho, nã o viola o princípio da igualdade do
homem e da mulher nem dos filhos nascidos dentro e fora do casamento, previstos
nos artigos 13º n2 e 36º nº4 da CRP, aí nã o se descrimina o filho nascido fora do
casamento, mas sim, estabelece uma diferença de regime que visa favorece-lo,
partindo da sua maior ligaçã o à mã e e à família desta do que ao pai e à família
deste, segundo o Professor Pereira Coelho. Mas já constituía uma violaçã o do
princípio da igualdade dos filhos nascidos dentro e fora do casamento, previsto nos
artigos 36º nº4 da CRP e 2133º nº1 a) do CC permite que numa herança aberta
apó s a entrada em vigor da Constituiçã o aqueles que recebessem uma quota
hereditá ria legal maior do que os outros.

23
O princípio da igualdade implica que sejam ilícitas quaisquer discriminaçõ es ou
favorecimentos arbitrá rios ou sem fundamento material bastante, praticados por
entes pú blicos ou privados, como por exemplo: em razã o de ascendência, sexo,
raça, língua, territó rio de origem, religiã o, convicçõ es políticas, instruçã o, situaçã o
econó mica.

A proibiçã o de discriminaçõ es nas relaçõ es interprivadas funciona como limite


externo da liberdade negocial ou da actividade extracontratual, determinado a
invalidade dos actos ou negó cios jurídicos que infrinjam tal proibiçã o, a reparaçã o
dos danos ocasionados, artigo 70º nº2 do CC.

A igualdade da dignidade da pessoa humana exige uma igualdade material, ou seja,


uma igualdade perante a lei que deve ser acompanhada por uma igualdade na
pró pria lei, isto é, é exigida ao pró prio legislador relativamente ao conteú do da lei.
Esta igualdade material que há – de ser cumprida pelo pró prio conteú do da lei, nã o
se esgota as suas exigências nesse nível, pois o que em geral ou em abstracto pode
oferecer em termos de igualdade fundada pode revelar-se em concreto também
injustificado, daí que o momento constitutivo concreto da decisã o normativa,
resultante da referência da teleologia normativa material à s concretas
circunstâ ncias do caso e impõ e obrigaçõ es legais de diferenciaçã o para compensar
a desigualdade factual de oportunidades.

O Professor Castanheira Neves, chama a atençã o para que a igualdade perante a


lei deve ser acompanhada por uma igualdade na pró pria lei, isto é, é exigida ao
pró prio legislador relativamente ao conteú do da lei, reivindicando nã o só leis
aplicadas igualmente a todos, mas também leis iguais para todos.

Esta igualdade material que há -de ser cumprida pelo pró prio conteú do da lei, nã o
esgota a esse nível as suas exigências, pois o que em geral ou em abstracto pode
oferecer-se em termos de igualdade normativamente fundada pode revelar em
concreto também injustificado, daí o momento constitutivo concreto da decisã o
normativa, resultante da referência da teleologia normativa material à s concretas
circunstâ ncias do caso pode traduzir – se numa diferenciaçã o onde havia formal
igualaçã o e uma igualaçã o onde havia formal diferenciaçã o, nesta linha o princípio
da igualdade ao dar conteú do e sentido à pró pria lei funciona como limite interno
da actuaçã o de poderes pú blicos e como proibiçã o do livre arbítrio destes, tudo o
que também outros particulares nã o podem perturbar.

5) Princípio da tutela geral da personalidade humana

O artigo 70º nº1 do CC consagra o verdadeiro direito da personalidade declara que


a lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita à sua personalidade física
ou moral, nã o estando perante um conceito de personalidade jurídica, mas sim, de
um conceito de personalidade humana juscivilisticamente tutelada na medida em
que todo e qualquer ser humano tem o direito sobre si pró prio sobre a unidade e

24
globalidade da sua pró pria personalidade humana, nos seus elementos corpó reos,
espirituais e ambientais.

Aquela clá usula geral tutela da personalidade protege, desde logo, os bens da
personalidade ligados à relaçã o do homem consigo mesmo, como exemplo: a vida,
o corpo

O Professor Manuel de Andrade, entende que a lei protege os indivíduos contra


qualquer ofensa à sua personalidade que abrange a sua personalidade física e
moral do homem e tutela quer o homem considerando – o como sujeito à s suas
determinaçõ es físicas, quer o homem representado como uma personalidade
independente dessas determinantes porque é dotado de liberdade.

O professor Capelo de Sousa, consagra o artigo 70º como um direito geral de


personalidade.

A clá usula geral de tutela da personalidade protege, desde logo, os bens da


personalidade ligados à relaçã o do homem consigo mesmo, exemplo, a vida, o
corpo e os elementos bá sicos: somá tico, a psique e a saú de e os seus sistemas
fundamentais: os sentimentos, a inteligência e a vontade.

Por outro lado, o homem é um ser eminentemente social, nã o é um ser isolado, ele
por si só nã o poderia subsistir, daí a existência de outros bens da personalidade,
igualmente integrantes daquela clá usula geral, decorrentes da relaçã o do homem
com o seu pró prio ambiente físico e social, como a identidade, a liberdade, a
igualdade, a existência, a honra, a reserva e o desenvolvimento da personalidade.

Junto desta estrutura normativa geral vêm coexistindo vá rios direitos especiais de
personalidade, como os referidos nos artigos 72º a 80º do CC, tuteladores de
aspectos particulares da personalidade com regimes jurídicos especiais é aplicado
o regime do direito geral de personalidade.

Estes direitos têm uma enorme importâ ncia face ao facto de a violaçã o dos mesmos
poder implicar nã o só responsabilidade civil mas também judiciais adequadas à s
circunstâ ncias do caso, com o fim de evitar a consumaçã o da ameaça ou atenuar
efeitos da ofensa já cometida, nos termos do 70º nº2 do CC e 1414º e seguintes do
CPC.

O artigo 70º é uma fó rmula de recurso a todas as manifestaçõ es de direitos de


personalidade é uma clá usula geral que nã o está prevista em qualquer direito de
especialidade.

Uma forma de projectar a nossa personalidade, é através das nossas escolhas.

O artigo 70ºnº2 tem a ver com a indemnizaçã o ou outros efeitos em tribunal, que
permite que sejam tomadas só quando exista uma mera perigosidade ou uma mera
ameaça - Providências não especificadas.

25
Há autores que discordam da opiniã o do Professor Capelo de Sousa:

Oliveira Ascensão – consagra apenas manifestaçõ es de personalidade

6) Princípio da personificação jurídica e da capacidade jurídica funcional


das pessoas colectivas privadas

Pessoas colectivas - sã o organizaçõ es constituídas por uma colectividade de


pessoas ou por uma massa de bens, dirigidos à realizaçã o de interesses comuns ou
colectivos, à s quais a ordem jurídica atribui a personalidade jurídica.

As pessoas colectivas privadas estã o consagradas no artigo 157º do CC, que sã o:

 Associaçõ es;
 Fundaçõ es;
 Sociedades;

Associações - sã o compostas por uma colectividade de pessoas que nã o têm por


fim o lucro econó mico dos seus associados, mas outros fins comuns ou colectivos,
como os de natureza recreativa, cultural e econó mica nã o lucrativa.

Fundações – emergem de uma massa de bens afectada pelo seu instituidor a


finalidades de interesse social e os seus ó rgã os devem processar a sua actividade
de acordo com a vontade declarada do fundador.

Sociedades – sã o organizaçõ es de duas ou mais pessoas, que se obrigam a


contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade
econó mica, a fim de repartir os lucros resultantes dessa actividade.

À s associaçõ es, fundaçõ es e à s sociedades quando a analogia das situaçõ es o


justifique o ordenamento jurídico atribui mediante de certos pressupostos do
artigo 158º da CC personalidade jurídica, ou seja, a qualidade de sujeitos de direito,
de centros autó nomos de relaçõ es jurídicas.

A personalidade jurídica atribuída à s pessoas colectivas é uma criaçã o do Direito


mas nã o uma ficçã o legal, porque tem a natureza e fundamento na necessidade de
estruturaçã o e encabeçamento de interesses humanos de cará cter social, comum
ou colectivo, complexo, recíproco e duradouro.

A capacidade jurídica das pessoas colectivas privadas nã o tem cará cter geral, mas
sim de natureza funcional porque qualquer pessoa colectiva tem que anunciar qual
o fim da sociedade, em prol da protecçã o jurídica.

O princípio da especialidade proclamado no 160º nº1 do CC que as pessoas


colectivas abrange todos os direitos e obrigaçõ es necessá rios ou convenientes à

26
prossecuçã o dos seus fins, excepciona a capacidade das pessoas colectivas no nº2,
quer os direitos e obrigaçõ es que sejam insepará veis da personalidade singular, ou
seja, a capacidade jurídica das pessoas colectivas é menor e inferior à das pessoas
singulares resultante dos artigos 67º e 160º do CC.

7) Princípio da Autonomia Privada

Este princípio resulta do cruzamento de dois vectores, por um lado, o nascer com o
poder de autodeterminaçã o de cada homem, e por outro lado, cresce limitado
pelos quadros normativos da ordem jurídica assentes na vontade popular,
regulado no artigo 1º, 27º nº1 e 61º da CRP e 70º nº1 do CC.

O professor Mota Pinto, entende que autonomia privada consiste no poder


reconhecido aos particulares de auto-regulamentaçã o dos seus interesses, de auto
– governo da sua esfera jurídica, isto é, que os particulares podem no domínio da
sua convivência com os outros sujeitos, estabelecer a ordenaçã o das respectivas
relaçõ es jurídicas. Esta ordenaçã o das suas relaçõ es jurídicas, este autogoverno da
sua esfera jurídica manifesta-se na realizaçã o de negó cios jurídicos, de actos pelos
quais os particulares ditam a regulamentaçã o das suas relaçõ es.

A autonomia privada também se manifesta no poder de livre exercício dos seus


direitos ou de livre gozo dos seus bens pelos particulares, isto é, que se manifesta
no império da vontade que caracteriza o direito subjectivo.

O princípio da autonomia privada nã o se confunde com o livre arbítrio, em que


este, se refere que cada um faz tudo aquilo que quiser. Por esta razã o vivemos em
sociedade e as relaçõ es jurídicas civis têm em vista, em maior ou menor medida,
nã o apenas o bem individual de cada dos sujeitos, mas também o bem comum da
generalidade dos membros da sociedade.

O Direito civil protege o poder de autodeterminação do Homem em duas vertentes:

 Liberdade negativa – proíbe que qualquer um possa ser constrangido por


outrem a praticar ou a deixar de praticar qualquer facto, mesmo que seja
para satisfaçã o de um direito alheio.

 Liberdade positiva – permite a cada um praticar ou deixar de praticar


qualquer facto que nã o seja proibido ou prejudicado, por superiores
direitos ou interesses jurídicos de outrem, pela boa fé, pelos bons costumes,
pelos princípios da ordem pú blica e pelo pró prio fim social ou econó mico
da liberdade.

27
Para o Professor Orlando de Carvalho, a escassez dos bens acarreta conflitos de
interesses, susceptíveis de resoluçã o ou por via autoritá ria ou heteró noma ou por
outra via paritá ria ou autó noma, no direito civil predomina a via paritá ria ou
autó noma com composiçã o espontâ nea de interesses e inerente com o poder de
autodeterminaçã o, enquanto o poder de auto gestã o de cada indivíduo da sua
esfera de interesses, sob a sançã o do ordenamento jurídico em vigor.

O princípio da autonomia privada traduz-se no estabelecimento, conformaçã o e


extinçã o, autó nomos, das relaçõ es jurídicas privadas por parte dos homens
segundo a vontade individual, dentro dos limites estabelecidos pela ordem
jurídica, nomeadamente, os homens podem decidir, sob a chancela e os limites da
lei quando querem estabelecer direitos e obrigaçõ es que regulem as suas
obrigaçõ es mú tuas, estas relaçõ es jurídicas civis sã o susceptíveis de ser ou nã o
exercidos pelo titular os poderes e as faculdades dos direitos subjectivos e
interesses protegidos.

 Direitos de personalidade

Para além de se tratar de iura in se ipsum com os inerentes poderes, de uso e


fruiçã o, de acçã o ou omissã o, de exigência de respeito e de exigência de
participaçã o, encontramos uma certa margem de disposiçã o por parte do titular
artigo 81º do CC.

Os direitos de personalidade, sã o considerados direitos sobre si pró prio, e é


considerado um direito subjectivo.

Direito subjectivo – é o poder de livremente exigir ou pretender de outrem um


determinado comportamento activo ou passivo.

Direito objectivo – é o conjunto de preceitos que regulam, em determinado


momento e determinado lugar, as relaçõ es da vida social carecidas de tutela.

Os direitos de personalidade sã o inaliená veis e sã o direitos absolutos.

Direitos absolutos – sã o oponíveis contra qualquer que seja a pessoa.

Direitos relativos - só podem exercer relativamente a uma pessoa concreta.

 Direitos Reais (livro III)

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Nos direitos reais vigoram expressõ es da autonomia privada, o maxime o princípio
da livre aquisiçã o e transmissã o, entre vivos e por morte, das coisas dominais
privadas artigo 62º nº1 e 80º b) e c) da CRP, abrangem a generalidade das coisas
corpó reas, mó veis e imó veis (1302º e 202º nº2 do CC), mas também as coisas
incorpó reas sã o objecto de aquisiçã o privada e de transmissã o inter vivos e mortis
causa.

O princípio da plenitude e da exclusividade do proprietá rio relativamente aos


direitos de uso, fruiçã o e disposiçã o das coisas que lhe pertencem (1305º CC), a
propriedade já nã o é um direito ilimitado, é garantido nos termos da CRP artigo
62º nº1 e o conteú do do direito de propriedade circunscreve-se dentro dos limites
da lei com observâ ncia das restriçõ es por ela imposta que implica a sua
coadunaçã o com uma funçã o social, mas há limitaçõ es, no direito pú blico por
exemplo, a expropriaçã o por utilidade pú blica do 1308º do CC e 62º da CRP, no
direito privado também existem limitaçõ es como por exemplo o abuso de direito
regulado no 334º do CC, mas de todo o modo, o direito de propriedade é um direito
pleno e exclusivo segundo artigo 1305º do CC com poderes indeterminados
inclusive de destruiçã o de coisa.

O princípio da livre realizaçã o de actos reais, ou seja, de simples actos jurídicos que
se traduzem em um certo resultado material ou factual, a que a lei liga certos
efeitos jurídicos como a criaçã o de obras literá rias, artísticas ou cientificas.

Todavia, esta é uma á rea com grande incidência de normas imperativas, como por
exemplo o artigo 1306º nº1 do C, em que traduz na regra do numerus clausus ou
da tipicidade das figuras reais e dos seus elementos característico pelo artigo
1316º do CC estã o taxativamente fixados os modos de aquisiçã o do direito de
propriedade, de modo a evitar incertezas quanto à sua titularidade.

Direito da família (livro IV)

No direito da família vigoram as liberdades de celebraçã o do casamento, artigo 36º


nº1 da CRP, de constituiçã o da família do artigo 36º nº1, de requerer divó rcio e
separaçã o de pessoas e bens por mú tuo consentimento independentemente da
forma de celebraçã o de casamento artigo 36º nº2 da CRP e 1775º e seguintes do
CC.

Mas também rege o princípio da tipicidade dos institutos familiares e dos seus
pressupostos e efeitos característicos do artigo 1576º e seguintes.

E vigoram diversos regimes imperativos como em matéria de registo civil do


1651º e seguintes do CC, dos bens pró prios e do casal do 1682º e seguintes do CC e
dividas dos cô njuges do 1690º e seguintes do CC.

Para Pereira Coelho, interpreta o artigo 36º nº1, 1ª parte da CRP abrangendo à
família natural, resultante do facto bioló gico da geraçã o e à pró pria família

29
adoptiva, assim nomeadamente, um progenitor nã o casado a viver exclusivamente
com o filho bem como um adoptante solteiro a viver só com o adoptado constituem
uma família.

Antunes Varela, entende que o artigo 36º nº1 da CRP nã o abrange a uniã o de
facto, dado o projectado cará cter transitó rio desta, a sua falta de estabilidade e a
possibilidade da ruptura unilateral a todo o momento, sem quaisquer
formalidades, tudo o que nã o constitui o melhor ambiente para a criaçã o de filho
ou para entre ajuda mú tua tendencialmente perpétua entre os unidos de facto.

Direito das Sucessões (livro V)

No direito das sucessõ es encontramos sobretudo, as liberdades de transmissã o


sucessó ria, artigo 62º nº1 da CRP e 2024º e 2025º do CC, de celebraçã o do
testamento, de fixaçã o do seu conteú do e da sua revogaçã o irrenunciá vel do 2179º,
2311º e 2030º do CC, de dispensa da colaçã o de doaçõ es feitas pelo autor da
herança, artigo 2113º e 2104º do CC, de partilha em vida, 2029º do CC, de
aceitaçã o ou repú dio da herança ou do legado por parte do sucessível, 2050º e
seguintes e 2249º e seguintes do CC.

O direito das sucessõ es, ao poder repudiar a herança, sã o manifestaçõ es de


Autonomia privada.

No fim da sucessã o, retirada uma parcela da cota disponível, nã o pode:

 Um nã o pode ficar com mais dinheiro que o outro herdeiro;

 Nã o pode expor da cota como quiser;

Direito das Obrigações

É no domínio do direito das obrigaçõ es que mais se afirma o princípio da


autonomia privada.

Negócios jurídicos - sã o actos jurídicos constituídos por uma ou mais declaraçõ es


de vontade, dirigidas à realizaçã o de certos efeitos prá ticos, com intençã o de os
alcançar sob tutela do direito, determinado o ordenamento jurídico a produçã o dos
efeitos jurídicos conformes à intençã o manifestada pelo declarante ou declarantes.

Dentro dos negó cios jurídicos podemos distinguir em:

 Negócio jurídico unilateral – há uma só declaraçã o de vontade ou vá rias


declaraçõ es paralelas, havendo só um lado uma parte, nã o carecem de
aceitaçã o para existir negó cio jurídico.

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 Negócio jurídico bilateral - há duas ou mais declaraçõ es de vontade, de
conteú do oposto, mas convergente, ajustando na comum pretensã o de
produzir resultado jurídico unitá rio, embora com um para cada parte, há
proposta e aceitaçã o que se conciliam num consenso.

Nos negó cios jurídicos unilaterais, a autonomia da vontade nã o está excluída,


mas sofre restriçõ es muito acentuadas, o negó cio unilateral (testamento)
dirigido à disposiçã o dos bens para depois da morte, onde o grau de autonomia
da vontade do testador é bastante amplo, embora nã o ilimitado (2156º, 2186º,
2192º e 2198º).

Nos negó cios unilaterais dirigidos à produçã o de efeitos em vida da parte, a


autonomia privada está sujeita a muitas restriçõ es do que nos contratos:

Enquanto as partes podem celebrar contratos diferentes dos previstos no


có digo civil ou incluir neles as clá usulas que lhes aprouver, nos negó cios
unilaterais constitutivos de obrigaçõ es sã o apenas os que tiverem previstos na
lei. Nesses casos, porém, em que a lei atribui eficá cia vinculativa a um negó cio
unilateral (exemplo a promessa de cumprimento ou o reconhecimento de
dívida, 458º), a parte tem o poder de fixar o conteú do da promessa, e nessa
medida, reaparece a autonomia da vontade.

Quanto aos negó cios unilaterais modificativos ou extintivos de relaçõ es


jurídicas vigora também o princípio da tipicidade. Toda a relaçã o jurídica,
ligando dois ou mais sujeitos, nã o pode ser extinta ou modificada, por actuaçã o
unilateral de um deles, a nã o ser que a lei, fundada em valoraçõ es de justiça e
conveniência, tenha consagrado essa possibilidade e nos termos em que a
consagrou. O negó cio unilateral produz sempre efeitos na esfera de terceiros,
devendo assumir, as modalidades que a lei julgou oportuno admitir, de outro
modo, estaria o direito objectivo a abdicar da sua funçã o fundamental de tutela
da convivência social pacífica, pois o acto unilateral resolve-se num
instrumento de arbitrá ria intromissã o na esfera de terceiros, que valia o
reconhecimento da liberdade do sujeito de criar novos esquemas de actos
unilaterais ou de modificar os disciplinados pela lei, independentemente da
vontade dos atingidos.

Quanto à impossibilidade de modificar ou extinguir unilateralmente as relaçõ es


emergentes de um contrato. O contrato é vinculativo para as partes, o
significado de cada uma das declaraçõ es contratuais, livremente emitidas,
como uma vinculaçã o e a confiança por elas despertada no outro contratante
impõ em, como regra fundamental de justiça e de oportunidade, o princípio
segundo o qual os contratos devem ser cumpridos ponto por ponto, daí que só
por mú tuo consentimento dos contratantes e nã o por acto unilateral de uma
das partes se possa modificar ou extinguir as relaçõ es contratuais, salvos os

31
casos em que a lei, dados certos pressupostos acha correcto afastar esse
princípio artigo 406º.

Por outro lado, a forma os pressupostos e os efeitos característicos dos negó cios
estã o imperativamente fixados na lei, quanto ao acto de instituiçã o de fundaçõ es
do 158º nº2 e 185º e seguintes do CC, à representaçã o sem poderes do 268º do CC,
à confirmaçã o dos negó cios jurídicos do 288º do CC.

Liberdade contratual

No princípio da liberdade contratual regulado no artigo 405º do CC espraia – se


por diversas manifestaçõ es, que nã o estã o porém isentas de algumas limitaçõ es do
nº1 do 405º do CC.

A liberdade de celebraçã o dos contratos consiste na faculdade, de livremente


realizar contratos ou recusar a sua celebraçã o, segundo tal princípio, a ninguém
podem ser impostos contratos contra a sua vontade ou podem ser aplicadas
sançõ es por força de uma recusa de contratar nem a ninguém pode ser imposta a
abstençã o de contratar.

Primeiro emerge a liberdade de celebraçã o ou nã o de contratos implícita no artigo


405º do CC, mas igualmente resultante da liberdade geral de acçã o e da liberdade
negocial incluídas no direito geral de personalidade do artigo 70º do CC e no
direito à liberdade do artigo 27º nº1 da CRP, que se subdivide em dois predicados:
por um lado, ninguém pode ser obrigado a contratar contra a sua vontade ou a
ninguém podem ser aplicadas sançõ es por recusa de contratar e por outro, a
ninguém pode ser imposta a abstençã o de contratar.

Em segundo, os contraentes têm a faculdade de modelaçã o ou do contrato do 405º


nº1 e 2 do CC, escolhendo o tipo de efeitos ou os efeitos em concreto que querem
produzir, podem fixar livremente o conteú do do contrato, do 405º nº1, 1ª parte e
398º do CC conformando o acervo de direitos e obrigaçõ es em que se traduzem as
prestaçõ es contratuais, realizando integralmente ou por partes as prestaçõ es do
763º do CC, definindo concretamente o objecto da prestaçã o, estipulando a
realizaçã o pelo devedor ou por terceiro da prestaçã o do 767º do CC, estabelecendo
como lugar da prestaçã o o domicílio do devedor, do credor ou de terceiro ou o
local onde se encontra a coisa objecto de prestaçã o aquando da celebraçã o do
negó cio do 772º do CC determinando o prazo da prestaçã o a todo o tempo, dentro
de certo prazo, quando o devedor possa ou queira ou quando o credor o exija do
777º do CC.

A modelaçã o do contrato implica, a possibilidade de as partes realizarem os


contratos previstos no Có digo civil (874º a 1250º e 2029º) e em outras leis (a
locaçã o financeira).

32
O ordenamento jurídico estabelece algumas restriçõ es à liberdade de celebraçã o
de contratos:

1. Na consagraçã o de um dever jurídico de contratar, pelo que a recusa de


contratar de uma das partes nã o impede a formaçã o do contrato ou sujeita
o obrigado a sançõ es diversas, como a celebraçã o obrigató ria do contrato de
seguro de responsabilidade civil artigo 1º e 11º do decreto-lei 522/85 de 31
de Dezembro;

2. Proibiçã o de celebrar contratos com determinadas pessoas, artigo 877º e


953º;

3. Sujeiçã o do contrato a autorizaçã o de outrem ( 1682º nº1 e 3, 1682º A e


1682º B), eventualmente de uma autoridade pú blica;

A liberdade de modelaçã o do conteú do contratual consiste na faculdade conferida


aos contraentes de fixarem livremente o conteú do dos contratos, celebrando
contratos do tipo previsto no có digo civil, com ou sem aditamentos, ou estipulando
contratos de conteú do diverso dos que a lei disciplina, artigo 405º.

Podem, as partes serem:

Contratos típicos nominados – as partes podem aceitar todo o conteú do previsto


nas normas imperativas e supletivas de cada contrato e indicar apenas os
pressupostos factuais para a produçã o do contrato, mas também podem incluir
neles as clá usulas que lhes aprouver em substituiçã o das normas supletivas ou no
desenvolvimento das normas imperativas e supletivas.

Contratos atípicos inominados – estã o sujeitos ao respeito das normas


imperativas legais, sem nomen iuris.

As principais expressõ es do princípio da liberdade contratual e algumas das suas


limitaçõ es legais, simplesmente há restriçõ es fá cticas sobretudo nos contratos de
adesã o.

A liberdade de fixaçã o ou modelaçã o do conteú do dos contratos conhece também


algumas restriçõ es, aludidas no artigo 405º, estas restriçõ es eram menores num
sistema jurídico – privado assente nas bases doutriná rias do liberalismo
econó mico. No ponto de apoio doutriná rio e constitucional do liberalismo, procura
o direito civil, assegurar, pelo menos contra as suas negaçõ es extremas, uma
justiça efectiva e substancial nas relaçõ es entre as partes, bem como os valores ou
interesses da colectividade bem como, bons costumes, a ordem jurídica, a

33
celeridade, para realizar estes objectivos sã o consagradas limitaçõ es à liberdade de
fixaçã o do conteú do contratual.

Num ordenamento que admita, sem limitaçõ es, a liberdade contratual, nã o há


justiça ou rectidã o contratual, imanente assente em critérios objectivos, importa
sim criar e garantir os pressupostos da formaçã o dos contratos, num quadro de
real e efectiva auto determinaçã o recíproca, impõ e corrigir os desenvolvimentos
ilimitados da liberdade contratual, assegurando uma situaçã o de real liberdade e
igualdade dos contraentes:

Algumas restrições:

1. Submete-se o objecto do contrato aos requisitos do artigo 280º;

2. Sã o anulá veis em geral os negó cios usuá rios, artigo 282º;

3. A conduta das partes contratuais deve pautar-se pelo princípio da boa fé,
artigo 762º nº2;

4. A lei reconhece e admite certos contratos tipo, que celebrados a nível de


categorias econó micas, contêm normas a que os contratos individuais,
celebrados entre pessoas pertencentes à s categorias, têm de obedecer no
caso dos contratos normativos, 531º do Có digo do trabalho;

5. Alguns contratos em especial estã o sujeitos a determinadas normas


imperativas, 1146º e 1025º do CC;

Uma importante limitação à liberdade de modelação contratual, é:

Contrato de adesão – trata – se de contratos entre produtores ou distribuidores


de bens ou serviços, produzidos ou distribuídos em larga escala, e com mú ltiplos
destinatá rios e indeterminados, propondo aqueles todo o clausulado do contrato
em bloco e limitando - se estes a aderir ou nã o, é um contrato modelo, sã o forçados
a aceitar nã o só o contrato mas também todo o seu clausulados, isto é, restriçã o de
liberdade de estipulaçã o.

Segundo o professor Mota Pinto

Sã o hipó teses em que uma das partes, normalmente uma empresa de apreciá vel
dimensã o, fó rmula prévia e unilateralmente as clá usulas negociais e a outra parte
aceita essas condiçõ es, mediante a adesã o ao modelo que lhe é apresentado, nã o
sendo possível modificar o ordenamento negocial apresentado, sã o celebrados
através da aceitaçã o de clá usulas prévia e unilateralmente redigidas para todos os

34
contratos que a empresa venha a celebrar no futuro, falando-se a esse propó sito e
num momento anterior ao da celebraçã o do contrato, de clá usulas contratuais
gerais ou de condiçõ es negociais gerais, no caso dos contratos de seguro, de
transporte marítimo, aéreo ou terrestre, na mediaçã o de vendas de propriedades,
na venda de certos aparelhos como os electrodomésticos.

As causas e a finalidade da disseminação na vida moderna dos contratos de adesão,


são:

1. A vantagem para as empresas e para a vida econó mica na organizaçã o,


racionalizaçã o e normalizaçã o da actividade contratual dirigida a um
nú mero elevado e indeterminado de clientes;

2. Intençã o do emitente do impresso de contrato de, melhorando a sua


posiçã o, transferir certos riscos para a outra parte;

3. Insuficiência dos tipos contratuais legalmente previstos para cobrir


satisfatoriamente formas negociais recentemente surgidas na vida
econó mica;

O consumidor do bem, se nã o está de acordo com as condiçõ es constantes do


modelo elaborado pelo fornecedor, é livre de rejeitar o contrato, esta liberdade
seria a liberdade de nã o satisfazer uma necessidade importante, pois os contratos
de adesã o surgem normalmente em zona do comércio onde o fornecedor está em
situaçã o de monopó lio ou quase monopó lio. Rejeitar as condiçõ es apresentadas, e
que o apresentante nã o aceitar discutir, significa a impossibilidade de satisfazer
com outro parceiro contratual a necessidade, daí que o particular, impelido pela
necessidade, aceite as condiçõ es elaboradas pela outra parte, daí a restriçã o factual
à liberdade de contratar.

A legislaçã o actual veio introduzir fortes limitaçõ es no ponto de vista legal, à


liberdade de modelaçã o do conteú do contratual, a fim de proteger o aderente.

Sã o evidentes os perigos de abuso desta figura dos contratos de adesã o, restriçã o


da liberdade factual de contratar do consumidor individual, alteraçã o das soluçõ es
equilibradas consagradas na lei, com favorecimento unilateral do emitente do
formulá rio contratual, possível cartelizaçã o integral de sectores econó micos,
através de impressos idênticos em todas as empresas, de tal modo que quem os
recusar excluiu-se do trá fico jurídico, criaçã o por entidades privadas de regras que
de facto, se assemelham ao direito imperativo estadual.

As características pró prias dos contratos de adesã o têm determinado a publicaçã o


de legislaçã o pró pria – Decreto – lei 446/ 85 de 25 de Outubro.

35
Os contratos obrigacionais – Domínio principal de aplicaçã o da liberdade
contratual;

Os contratos obrigacionais - sã o naqueles contratos cuja eficá cia constitutiva,


modificativa ou extintiva se situa no domínio das obrigaçõ es em sentido técnico;

Os contratos têm lugar a liberdade de conclusã o ou celebraçã o dos contratos e sã o


reduzidas as limitaçõ es à liberdade de modelaçã o do conteú do, salvo essas
limitaçõ es, as partes podem produzir os efeitos obrigacionais que lhes aprouver.

Contratos com eficácia real - constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos


reais, há liberdade de celebraçã o, mas a liberdade de fixaçã o do conteú do sofre
uma restriçã o. Os contraentes podendo embora celebrar contratos inominados,
nã o podem constituir direitos reais que se nã o integrem nos tipos previstos na lei
(1306º).

Contratos familiares – com eficá cia no domínio das relaçõ es de família, há liberdade
de concluir ou nã o o contrato, é o pensamento da autonomia que subjaz e enforma
o direito civil.

Contratos sucessórios – sã o dirigidos a reger a sucessã o por morte de uma pessoa,


importa, desde já , que a lei só os admite em medida limitada e com cará cter
excepcional, proibiçã o dos pactos sucessó rios (1700º).

8) Princípio da não violação da esfera jurídica alheia

Cada pessoa tem uma esfera jurídica pró pria, composta pela totalidade das
relaçõ es e situaçõ es jurídicas de que é sujeito ou pelo conjunto dos direitos,
interesses juridicamente protegidos e deveres.

A esfera jurídica traduz-se numa oposiçã o entre pessoa e patrimó nio, podemos
considerar dois hemisférios:

 Pessoal – caracterizado pela sua nã o avaliabilidade em dinheiro e onde se


insere os direitos nã o patrimoniais;

 Patrimonial – existência de direitos patrimoniais, há avaliabilidade em


dinheiro.

A liberdade do homem como ser racional vai a par da sua responsabilidade jurídica
pelos seus actos e omissõ es que violam deveres de abstençã o e de acçã o, vigoram
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como componentes da interpretaçã o e integraçã o jurídicas. Nos direitos de
personalidade e nos direitos reais predominam os direitos absolutos contrapostos
aos deveres gerais de abstençã o.

Daí que quando uma pessoa singular ou colectiva viola a esfera jurídica alheia,
constitui-se em princípio, na obrigaçã o de reparar ou compensar os danos que
causou ou de sofrer outro tipo de sançõ es.

A principal consequência da violaçã o da esfera jurídica alheia, ou seja, na


responsabilidade civil, a tal violaçã o de compensar os danos causados.

Sançã o da violaçã o da esfera jurídica alheia

É a Responsabilidade civil – consiste na necessidade imposta pela lei a quem


causa prejuízos a outrem de colocar o ofendido na situaçã o em que estaria sem a
lesã o (483º e 562º), esta reconstituiçã o da situaçã o em que o lesado estaria sem a
infracçã o deve em princípio ter lugar mediante uma reconstituiçã o natural, artigo
566º nº1 do CC.

Tipos de sançõ es jurídicas:

 Sançõ es Materiais;
 Sançõ es de ineficá cia;

Sançõ es de ineficá cia (do mais grave para o menos grave):

 Inexistência jurídica;
 Nulidade;
 Anulabilidade;
 Ineficá cia em sentido restrito;

Os vários tipos de responsabilidade civil

1) Responsabilidade negocial - 798º do CC

2) Responsabilidade extra negocial – 483º e seguintes

Tem variantes:

 Responsabilidade civil por actos ilícitos e subjectiva – 483º e


seguintes;
 Responsabilidade civil pelo risco – 499º e seguintes;
 Responsabilidade civil por actos lícitos – 339º nº1, 82º nº2 e 1367º;

A responsabilidade civil negocial ou contratual resulta da violaçã o de um


direito de crédito em sentido técnico, emergente de um negó cio jurídico unilateral,
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exemplo promessa pú blica do artigo 459º do CC e de um contrato, exemplo da
compra e venda do artigo 879º do CC ou directamente da lei, exemplo gestã o de
negó cios do artigo 466º e 470º do CC.

Embora a culpa negocial seja apreciada nos termos aplicá veis à responsabilidade
civil extra – contratual (487º e 799º nº2 do CC), há na responsabilidade civil
contratual uma presunçã o de culpa, todavia, assiste-se a uma incidência da
responsabilidade pelo risco, isto é, objectiva ou sem culpa, em alguns casos de
responsabilidade negocial pelos actos praticados pelos representantes legais ou
pelos auxiliares que utiliza no cumprimento da obrigaçã o nos termos do artigo
800º nº1 do CC.

Por outro lado, pode haver exclusã o da responsabilidade do devedor no nã o


cumprimento pela verificaçã o de causas legitimas de nã o cumprimento como
exemplo, a excepçã o de nã o cumprimento do contrato bilateral pela outra parte
artigo 428º nº1 do CC e pela ocorrência de causas de inadimplemento nã o
imputá veis ao devedor regulado nos termos dos artigos 790º a 797º do CC.

Vem regulada em termos gerais nos artigos 798º e seguintes do CC que implica na
falta culposa do devedor ao cumprimento da obrigaçã o que o torna responsá vel
pelo prejuízo causado ao credor e desdobra-se em três modalidades:

 Impossibilidade de cumprimento do 801ºe 802º - o incumprimento decorre


por causa imputá vel ao devedor, a prestaçã o obrigacional definitivamente
já nã o ser possível de se efectuar, no todo em parte do artigo 801º e 802º.
Há impossibilidade de cumprimento total se A vender B e posteriormente
vender a C, este encontra – se por culpa impossibilitado de cumprir em
absoluto.
Só há impossibilidade de cumprimento parcial se a venda inicial tem por
objecto a totalidade e ulteriormente a venda de um terço desses bens,
mantendo o direito à indemnizaçã o artigo 802º nº1 do CC.

 Cumprimento defeituoso do 913º e 914º - ocorre quando por causa


imputá vel do devedor, este realiza a prestaçã o mas com vícios, que
ocasionam prejuízos específicos ao credor.

 Mora de cumprimento do 804º e seguintes – o devedor porque lhe seja


imputá vel, nã o efectua a prestaçã o obrigacional no tempo devido, sendo a
prestaçã o ainda possível.

Noção de Mora – só tem lugar quanto à s obrigaçõ es de conteú do positivo o


pagamento de quantia, a entrega de coisa ou a prestaçã o de facto positivo, que

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implicam uma acçã o, já nã o quanto à s obrigaçõ es de conteú do negativo com a
prestaçã o de um facto negativo, que origina uma omissã o, uma vez que neste caso
a violaçã o das obrigaçõ es provoca a impossibilidade total ou parcial da prestaçã o.

Na responsabilidade civil extra contratual emerge da violaçã o de uma


obrigaçã o passiva ou activa universal, isto é, do nã o acatamento de um dever geral
de abstençã o ou de uma acçã o correspondente a um interesse legítimo absoluto,
isto é, com eficá cia erga omnes, como os direitos e interesses legítimos reais e de
personalidade.

Os direitos reais e de personalidade decorrem de uma norma jurídica que proteja


directa e primacialmente interesses particulares, conferindo aos titulares de gozo e
o exercício, com uma plena disponibilidade, de accionar o conjunto de mecanismos
coercitivos dessa tutela, mas ao contrá rio, os interesses legítimos reais e de
personalidade pressupõ em uma norma jurídica protectora, primacialmente ou em
primeira linha, de interesses colectivos mas que inclui, entre vá rios fins, a
satisfaçã o de interesses particulares, agregados, nã o atribuindo ao titular desses
interesses o exercício, e muito menos qualquer disponibilidade, de accionar os
seus principais mecanismos coercitivos, mas embora admita a ocorrência de
responsabilidade civil extra contratual.

Os direitos subjectivos podem ser:

 Direitos subjectivos relativos - só sã o oponíveis a uma pessoa em concreto.

 Direitos subjectivos absolutos – sã o direitos oponíveis a qualquer pessoa


possa invocar a qualquer pessoa.

As obrigaçõ es universais sã o passivas uma vez que os direitos reais e os direitos


personalidade se bastam normalmente com a abstençã o ou nã o ingerência dos nã o
titulares, em concreto, mas há também algumas obrigaçõ es universais activas,
como é o caso do dever de solidariedade social decorre do artigo 200º do CP, cuja
violaçã o pode implicar, para além da sançã o penal, responsabilidade civil por
omissã o, artigo 488º do CC, tal dever impende sobre quem, sem grave risco para a
sua vida ou integridade física ou sem outro motivo relevante que torne inexigível o
auxilio, em caso de grave necessidade de outrem, nomeadamente provocada por
desastre, acidente, que ponha em causa a sua vida, saú de, integridade física ou
liberdade, possa prestar – lhe o auxilio que se revele necessá rio ao afastamento do
perigo.

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Responsabilidade por actos ilícitos culposos (483º nº1 do CC)

Pressupõe:

 Existência de uma acçã o ou omissã o voluntá ria (o facto ilícito é o facto


lesante que há – de revestir um cará cter de contrariedade com os comandos
que lhe sã o impostos pela ordem jurídica, ou seja, de infracçã o de deveres
jurídicos quer de abstençã o quer de acçã o), e ilícito, que viole um direito
subjectivo absoluto ou qualquer disposiçã o legal destinada a proteger
interesses alheios (as acçõ es violadoras de deveres jurídicos podem ser
redimidas por alguma das causas justificativas do facto, que afastam a
ilicitude do mesmo, ou seja, quando o facto lesante é praticado no exercício
regular de um direito, no cumprimento de um dever, 271º nº2 da CRP, em
acçã o directa, artigo 336º do CC, em legítima defesa do 337º do CC em
estado necessidade, do 339º do CC).

 O nexo de imputaçã o de tal facto ao agente, o que envolve uma censura a


este e se desdobra em dois elementos:

1. Imputabilidade: nos termos do 488º do CC, é necessá rio que o


facto lesivo proceda de uma pessoa imputá vel, isto é, com
capacidade para entender e querer, sem prejuízo da
responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilâ ncia de
inimputá veis, 491º do CC e em certos casos, da
responsabilidade dos pró prios inimputá veis, por motivo de
equidade, 489º do CC.
O artigo 488º nº2 prevê presunçõ es ilidíveis por prova em
contrá rio do 350º nº2 do CC, de falta de imputabilidade nos
menores de sete anos e interditos por anomalia psíquica artigo
138º nº1 e 139º do CC.

2. Culpa:

a. Dolo: haverá dolo quer nos casos em que o agente quis


directa e especificamente realizar o facto ilícito do
direito ou do interesse legítimo de outrem, quer
quando o agente realizou tal facto ilícito prevendo
como uma consequência reflexa mas necessá ria da sua
conduta – dolo necessá rio; O agente que praticou o

40
facto ilícito prevendo como um efeito apenas possível
ou eventual mas teria persistido na sua conduta se
previsse o facto ilícito como efeito necessá rio na sua
conduta – dolo eventual; O lesante que conheça as
circunstâ ncias de facto que integram a violaçã o do
direito ou da norma tuteladora de interesses alheios e
tenha consciência da ilicitude do facto – dolo
intelectual.

b. Negligência (ou mera culpa) – É quando o autor


proceder sem aqueles elementos volitivos e intelectuais
do dolo, mas com omissã o de deveres de cuidado,
previdência, perícia, diligência exigíveis para evitar a
violaçã o do direito ou interesse legítimo alheios, tanto
quando o agente previu como possível o resultado
ilícito mas por leviandade, precipitaçã o, desleixa –
culpa consciente; Quando o agente por imprevidência,
descuido, distracçã o, nã o teve consciência de que do
acto poderia decorrer o resultado ilícito, embora
objectivamente este fosse prová vel e previsível – culpa
inconsciente.

A culpa em sentido amplo (abrangendo o dolo e a negligencia) tanto na


responsabilidade extranegocial (487º nº2) como na responsabilidade negocial do
(799º nº1), o legislador ao toma como base a pessoal real do lesante, pró pria da
culpa em concreto, entende que o comércio jurídico nã o pode ficar adstrito à
capacidade pessoal de prestaçã o do devedor.

A distinçã o entre dolo e negligência releva para determinados efeitos,


particularmente quando no caso de mera culpa se admite a possibilidade de
diminuiçã o equitativa da indemnizaçã o, do 494º do CC, ao passo que na
indemnizaçã o em caso de dolo o juiz tem sempre de a fazer corresponder aos
valores dos danos.

 A existência de danos patrimoniais directos ou indirectos e de danos nã o


patrimoniais;

Danos patrimoniais cobrem 564º:

A) Dano emergente;

B) Dano cessante (desvantagens econó micas);

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 A verificaçã o de um nexo de causalidade adequada entre os danos
produzidos e o acto em causa, ou seja, trata-se de uma responsabilidade
culposa ou subjectiva nos termos do artigo 483º nº1 do CC só sã o
indemnizá veis os danos resultantes da violaçã o, isto é, nã o sã o
indemnizá veis todos os danos sobrevindos ao facto teria sofrido se nã o
fosse a lesã o, esta disposiçã o, está consagrada no pensamento fundamental
da doutrina da causalidade adequada, é necessá rio que o facto violador
tenha actuado como condiçã o concreta do dano e que em abstracto tal facto
seja uma causa adequada do dano.

Responsabilidade extra contratual por risco

Pressupõ e também um facto violador de um direito absoluto ou de um interesse


legítimo absoluto de outrem, um nexo de imputaçã o subjectiva entre esse facto e o
responsá vel pelo risco, no disposto do 499º do CC sã o aplicá veis, na falta de
preceitos pró prios da responsabilidade por risco, 504º nº1 e 508º do CC, as
disposiçõ es relativas aos danos indemnizá veis tanto os danos patrimoniais como
os danos nã o patrimoniais, desde que estes, pela sua gravidade, mereçam a tutela
do direito, do artigo 496º nº1 do CC, a existência de prejuízos, segundo o artigo
499º sã o aqui aplicá veis na falta de preceitos pró prios da responsabilidade pelo
risco, artigo 504º nº1 e 508º do CC, as disposiçõ es relativas aos danos
indemnizá veis tanto os danos patrimoniais como os nã o patrimoniais, pela
gravidade, mereçam a tutela do direito 456º º1 e por fim um nexo de causalidade
adequada entre o facto e o dano segundo o artigo 563º ao considerar só
indemnizá veis os danos que o lesado provavelmente nã o teria sofrido se nã o fosse
a lesã o, tem um cará cter geral, consagra a teoria da causalidade adequada.

Estamos perante factos nã o culposos regulados no 483º nº2, apenas


materialmente imputá veis a uma pessoa com base em esta ter posto em acçã o,
para seu benefício, forças que sã o fontes de riscos e de potenciais danos para a
personalidade e as coisas de outrem.

Necessidades sociais de segurança e de justiça distributiva que impõ em que quem


cria uma fonte de riscos em proveito pró prio, mediante a utilizaçã o de coisas ou
actividades perigosas ou a actuaçã o de outras pessoas que estã o sob a sua
direcçã o, suporte os efeitos prejudiciais do seu emprego.

Só que a responsabilidade objectiva por risco é taxativa, pois ainda nos termos do
483º nº2 apenas pode existir obrigaçã o de indemnizar independentemente da
culpa nos termos do 500º a 510º do CC.

Na responsabilidade por risco, além de prescindir da culpa, nã o pressupõ e


normalmente um facto ou conduta ilícita do responsá vel por risco, pode dimanar

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em primeira linha de um facto ou acontecimento natural, de um acto de terceiro ou
até em certos casos de um acto do pró prio lesado.

Responsabilidade extra contratual por acto lícito

Emerge de factos que constituem intervençõ es lícitas na esfera jurídica de outra


pessoa com sacrifício de um direito ou interesse legítimo, factos esses imputá veis
ao lesante que deles tira proveito, responsabilidade essa decorrente ainda da
existência de dano e de nexo de causalidade adequada entre o facto e o dano, em
termos muito semelhantes da responsabilidade pelo risco.

Sã o meramente pontuais e mais circunscritas as hipó teses em que a lei


especificada (483º nº2) admite este tipo de intervençõ es acompanhadas das
correspondentes indemnizaçõ es e nã o existe uma unificaçã o legal que preveja um
regime jurídico semelhante ao artigo 499º do CC, por exemplo o artigo 1367º do
CC.

Quando a violaçã o dos direitos e interesses legítimos constituir para além de ilícito
civil, ilícito criminal (homicídio), o pedido de indemnizaçã o pecuniá ria pelos
danos, por força do 71º do CPC, deve ser formulado na acçã o penal, nã o só na
hipó tese de a violaçã o do direito materializar um crime pú blico, mas também a
violaçã o configurar apenas um crime particular.

9) Princípio da boa fé (243º nº1 e 2 do CC)

A boa fé é um princípio fundamental da ordem jurídica, particularmente nas


relaçõ es civis e, mesmo, de todo o direito civil, exprime a preocupaçã o da ordem
jurídica pelos valores jurídicos da comunidade, pelas particularidades da situaçã o
concreta a regular e por uma juridicidade social e materialmente fundada. A
consagraçã o da boa fé corresponde a superaçã o de uma perspectiva positivista do
direito, pela abertura a princípios e valores extra legais e pela dimensã o concreto
social e material do jurídico que perfilha.

A convivência jurídica na tomada de decisõ es responsá veis e na conformaçã o de


relaçõ es jurídicas responsá veis, tem de alicerçar na confiança recíproca, no
comportamento e na intençã o de uns relativamente aos outros.

A relaçã o fundamental de respeito e o princípio da responsabilidade conduz à


tutela da confiança e ao princípio de nã o defraudar a confiança dispensada e
exigida.

Temos duas versões de Boa fé:

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 Subjectiva – consiste na actuaçã o com ignorâ ncia nã o culposa de vícios ou
irregularidades dos actos, que leva a lei a dispensar um tratamento de favor
a quem actua de proceder sem prejudicar direitos de terceiros.

(exemplos: 243º nº2, 291º e 1648º)

 Objectiva - nas relaçõ es jurídicas civis deve agir de acordo com os


pressupostos da boa fé: honestidade, respeito cumprir com os seus
cumprimentos. (exemplos: 762º nº2,334º e 227º). É um princípio
normativo transpositivo e extra legal para que o julgador é remetido a
partir de clá usulas gerais, nã o contém, ele pró prio, a soluçã o, antes
consagra o critério da soluçã o, carecendo para o efeito da mediaçã o
concretizadora do aplicador, maxime do juiz. Acompanha a relaçã o
contratual desde o início, permanece durante toda a sua vida e subsiste
mesmo apó s se ter extinguido.

Rui de Alarcão, a boa fé nã o é um princípio geral de direito, mais nã o representa


que um elemento constitutivo da previsã o de uma norma funcionado, como um
pressuposto de facto da sua aplicaçã o.

A boa fé em certa medida conforma a relaçã o contratual, é ela um dos critérios a


que se recorre para determinar o â mbito da vinculaçã o negocial, ou seja, que do
contrato fazem parte nã o só as obrigaçõ es que decorrem do acordo das partes, mas
também, todos os deveres que se fundam no princípio da boa fé.

A boa fé tem um papel decisivo no enriquecimento do conteú do do contrato,


mormente por constituir a matriz dos denominados deveres laterais, como os
deveres de cuidado para com a pessoa e o patrimó nio da contraparte, os deveres
de informaçã o.

10) Princípio do equilíbrio das prestações (428º nº1 do CC)

No relacionamento jurídico vigoram regras de respeito e de igualdade, que


determinam um certo equilíbrio das prestaçõ es permutadas. Aplica – se no
domínio dos contratos oneroso.

Contratos onerosos – caracterizam-se atribuiçõ es patrimoniais por ambas as


partes, segundo o nexo de correspectividade, sã o negó cios altruístas.

No ordenamento jurídico para a validade do contrato é suficiente que cada parte,


na sua pró pria avaliaçã o, considere ambas as prestaçõ es equilibradas, tendo assim
o princípio da equivalência subjectiva.

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O princípio das prestaçõ es importa ainda uma distribuiçã o justa dos encargos e
dos riscos do contrato, do 796º nº1, 797º e 807º nº1 do CC.

Vigora a regra da proporcionalidade de direitos e encargos dos comproprietá rios


em funçã o das suas quotas dos artigos 1403º nº2, 1405º nº1 e 1406º nº1 do CC,
bem como dos condomínios em razã o das fracçõ es e dos artigos 1420º e 1424º do
CC.

Outras realidades jurídicas no equilíbrio das prestações:

Contra propriedade: a propriedade que varias pessoas tem em comum, duas ou mais
pessoas serem proprietárias da mesma coisa. Há um perfeito equilíbrio entre aquilo
que tem de prestar.

Exemplo: Cônjuge existe uma perfeita prolificidade, há uma igualdade entre as partes.
Esta situação e uma manifestação do equilíbrio das prestações

11) Princípio de proibição de autodefesa dos direitos próprios

O professor Capelo de Sousa Alerta para o facto de nos vivermos num estado de
direito.

No Estado de Direito devemos recorrer a chamada hetero tutela dos nossos direitos,
devido que as pessoas quando se sentem injustiçadas devem recorrer a meios
coercivos normais, como tal o tribunal.

Existem figuras em que o legislador autoriza que nos fazemos justiça por nossa conta e
risco, exemplo do 336º ao 339º. São de legítima defesa, práticas limite.

A hetero tutela é considerada uma regra enquanto auto tutela é uma excepção.

Meios de tutela:

 Legítima defesa;
 Estado de necessidade;
 Legitima directa;

Manifestações de justiça privada: (excepções)

Direito legal de resolução por cumprimento artigo do 801º nº2 (A lei permite que uma
das partes uni literalmente termine com o contracto jurídico, tem a liberdade desta
iniciativa).

Artigo 21º da CRP direito de resistência (legitima defesa).

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Artigo 754º Direito de retenção (exemplo do vestido a arranjar e quando vão pagar a
factura diz que é uma exorbitância e não quer pagar a costureira pode ficar com o
vestido, é uma forma de compelir).

12) Princípio da liberdade declarativa do (219º do CC)

Esta plasmada no artigo 219º liberdade de forma (o legislador diz que nós em Portugal
não temos em princípio de o fazer de forma especial é um estimulo ás praticas
negociais).

No artigo 295º os negócios e actos jurídicos podem, em princípio, realizar-se de modo


consensual, por palavras ou gestos, sem sujeição a forma escrita, visa facilitar a
conclusão válida dos negócios jurídicos, impedir a invalidade, por falta de forma legal
devida a ignorância, dificuldades económicas, de negócios jurídicos queridos pelas
partes onde não exista interesse público da existência de forma, a tutelar a confiança
existente entre as partes.

As excepções quando a lei expressamente o diz como e o caso do artigo 885º


celebração de compra e venda de coisas imóveis; Artigo 1143º contracto de
empréstimos.

13) Princípio da nulidade dos actos e negócios jurídicos violadores de regras


imperativas

O legislador estabelece uma determinada sanção de invalidade, para a falta de certos


requisitos substanciais de um acto ou negócio jurídico.

Dentro das sanções jurídicas: (Toda a regra jurídica ou outra pode ser assistida por
uma sanção, que reforça a sua imperatividade, a sanção é uma consequência
desfavorável que atinge aquele que violou uma regra):

 Sanções materiais (conduzem a privatização de bens):

a) Reconstitutivas: a forma normal de reacção da ordem jurídica à inobservância


da norma é a imposição da reconstituição da espécie da situação a que teria
chegado com a observância. (exemplo: invadir um prédio de alguém e fica lá)

b) Compensatórias: não se procura chegar a uma identidade final com a que se


verificava se tivesse havido observância da regra, visa constituir uma situação,

46
embora diferente equivalente a primeira. Opera através de uma indemnização
de danos sofridos.

c) Punitivas: são sanções castigadoras, o legislador não quer recompor situações,


não quer compensar danos o objectivo destas sanções é punir, castigar o
comportamento de uma pessoa que infringiu o direito.

d) Compulsórias: destinam a actuar sobre o infractor da regra para o levar a


adoptar, uma conduta devida, não deixando de ter havido uma infracção.

e) Preventivas: são medidas que o direito adopta sob infracções. Aplicam se


temporariamente para evitar que o autor da Acção venha comentar novas
infracções.

 Sanções de ineficácia (ordenada do mais grave para o menos grave):

a) Inexistência jurídica (corresponde àqueles casos mais graves em que


verdadeiramente se pode dizer que o direito não há, nem sequer tem uma
base que permita afirmar que existiu um acto) não produz efeitos e é
inválido.

b) Nulidade (acto nulo que existe para o direito mas esta afectado na sua
eficácia desde o momento da sua publicação, é mais grave que a
anulabilidade, sanciona actos que interessa a protecção dos bens públicos,
e é um acto nulo e insanável).

Pressupostos da nulidade:
- Invocável a todo o tempo;
- Invocável por qualquer pessoa interessada do 286º;
- Invocável oficiosamente pela simples iniciativa do tribunal;

C) Anulabilidade do 287º (é um acto anulável que salvaguarda interesses privados,


da pessoa envolvida iniciada naquela situação oficiosa, a que a lei estabeleça; vai
produzir os seus efeitos típicos, como não houve qualquer vicio; tem um prazo de 1
ano da cessação do vício que serve de fundamento da anulabilidade, e se o prazo
de 1 ano passar o vício cessa e o acto produz os seus efeitos normais é sanável, o
prazo ao fim de 1 ano por confirmação tacticamente ou expressamente).

47
A anulabilidade é sanável pelo decurso do prazo e é sanável por confirmação, o artigo
288º alerta para a forma de sanação.

Utilizar o artigo 287º nº2 para casos práticos da anulabilidade quando estamos perante
um negócio jurídico anulável ainda não concluído. Exemplo: de compra e venda a
prestações, são contractos de execução continuada no tempo.

Artigo 287º (Via de excepção quando já esta a decorrer um negocio judicial em


tribunal, há uma defesa por via de excepção).

Artigo 289º eficácia retroactiva.

Exemplo: de nulidades artigo 240 nº2 e anulabilidades artigo 247º, 252º…

D)Ineficácia em sentido restrito

A lei não considera inválido o acto que não observou os requisitos legais, mas impede
que ele produza todas ou parte das consequências que se destinava a produzir, entao
existe uma mera ineficácia total ou parcial. Artigo 268º representação sem poderes.

Existe Insolvência de pessoas individuais e pessoas colectivas.

O artigo 291º contém vários pressupostos da inoponibilidade da nulidade e da


anulação que pressupõe a protecção para todos os terceiros adquirentes do mesmo
bem que não é do verdadeiro bem, que são os seguintes pressupostos:

 Boa fé subjectiva nº1 e 3;

 Declaração de nulidade do negócio jurídico de bens imóveis;

 Adquirir de forma onerosa;

 Terceiro que adquiriu o bem, tenha registado logo a aquisição desse bem;

 O bem com os três anos;

Suscita dúvidas em relação à contagem do início dos 3 anos

A doutrina maioritária – conta a partir do negócio quando está viciado, a professora


concorda com determinada posição, pois ao relacionar o nº2 com nº1 temos que ter
em conta a parte sistemática da racio deste preceito foi pensado para a protecção dos
adquirentes de boa fé que relaciona-se com o menos gravoso.

O professor Oliveira Ascensão discorda, dizendo que conta a partir do negócio com
terceiro.

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As normas imperativas são aquelas que impõem um certo comportamento ou proíbem
uma determinada conduta e cuja violação, face aos interesses públicos subjacentes
implicam a nulidade dos actos e negócios colidentes.

A codificação das normas de Direito Civil

O costume e as leis foram surgindo ao longo da história para regular certas relações sociais de
um modo coercivo, vão multiplicando, dispersando, revogando e alterando na tarefa de
adaptação Paulatina à vida social.

Por outro lado, os equilíbrios sociais fundamentais rompem-se com as classes sociais
digladiam-se até novos consensos ou ocorrendo mesmo revoluções, que dão outros rumos ao
direito, um primeiro tipo de codificação residiu em compilações, de certas fontes jurídicas de
diferentes datas e abarcando diversas matérias, relativas ao apurar vigência e sugeria unidade,
ordem, certeza, clareza, estabilidade e maior conhecimento.

Na lei das XII tábuas regulou grande parte do direito civil dos patrícios e plebeus romanos,
pondo fim a um longo e aceso conflito, isto é, não continha a organização política,
administrativa ou judiciária da comunidade, mas tão só normas referentes à esfera jurídica
individual do homem nas matérias de direito processual civil, direito da família e de sucessões,
de negócios jurídicos mais importantes e de direito penal.

Mas houve também compilações de carácter não oficial e que depois vieram a fazer parte do
sistema jurídico, é o caso, das institutiones de Gaio, que funcionaram como o manual por
excelência dos estudiosos e aplicadores do direito e que mais tarde vieram a integrar o Digesto
e as Institutiones do Corpus Juris Civilis (530 a 534 d.c) de Justiniano.

As ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas eram meras compilações de leis vigentes a


partir de diferentes datas e abarcavam matérias muito diversas, como o regimento dos cargos
públicos, bens e privilégios da Igreja, direitos do rei, prerrogativas da nobreza, o processo civil,
direito civil e o direito e processo penal.

Os códigos modernos

A codificação num sentido moderno é um fenómeno que se desenvolveu a partir de finais do


século XVIII e um fruto de diversas influências, como o iluminismo, o jusnaturalismo
racionalista, o liberalismo, a revolução francesa e a revolução industrial. Os códigos modernos
são diplomas legislativos elaborados segundo critérios científicos e que respeitam a todo um
importante sector ou ramo do direito e se destinam a regular duradouramente a partir de
certo momento.

No direito civil assume especial significado o código civil francês de 1804, que assinala sob
defesa de Napoleão Bonaparte o triunfo do individualismo e do liberalismo despido dos
exageros revolucionários e com diversas alterações.

49
O plano geral é manifestamente similar ao das Institutiones de Gaio e de justiniano, embora o
conteúdo das normas seja muito diferente, as recepções do direito romano não foram meras
transposições de normas e os institutos romanos eram continuadamente adaptados às novas
realidades para além do predomínio do direito nacional sobre o direito romano, que
funcionava a título subsidiário.

Nos sistemas romanistas uma outra classificação de normas civis disputa a primazia, a
chamada classificação germânica que culminaria no código civil alemão de 1876, em vigor
desde 1900, a generalidade dos tratados alemães de pandectas do século XIX seguindo a
orientação de Hugo, Heise e Savigny, iniciava o direito civil com uma parte geral, seguindo o
direito das coisas, direito das obrigações, direito da família e das sucessões.

A existência de uma parte geral no BGB foi um problema algo discutido especialmente após a
sua entrada em vigor. O principal argumento invocado contra a parte geral é a de que ela não
passaria de um mero exercício teorético tornado lei, quando a elaboração de uma verdadeira
parte geral seria uma tarefa da ciência do direito.

A parte geral tem autonomia própria, não é um mero corolário de soluções jurídicas
anteriores, a pandectística tinha diversas soluções para os mesmos problemas da parte geral,
que foram constitutivamente resolvidas, para além das soluções novas na parte geral do BGB.

É manifesto que os artigos da Parte Geral podem e devem ser alterados, introduzidos e
removidos, pelas mutações e que conjuntamente com os artigos das Partes especiais não
formam qualquer plenitude lógica do ordenamento jurídico, há lugar neste sistema a lacunas
jurídicas, na medida em que o âmbito de aplicação das normas da Parte Geral não vale para
todos os casos que não estejam contemplados nas partes especiais, mas apenas para uma
generalidade de casos que caibam na letra e no espírito daquelas disposições da Parte Geral.

A vários níveis do código civil é preciso conjugar partes, secções e normas gerais com partes e
normas especiais e ainda normas excepcionais, tudo isto é fruto da actual modernidade do
direito não apresentando especial complexidade, permite ordenar um melhor e maior
enquadramento jurídico das situações da vida real, possibilita formular o que há de comum, de
especial e de excepcional no conjunto das relações jurídicas civis, de modo a melhor conhecer
as diversas camadas e sectores da realidade social.

No código civil português de 1867

Triunfantes, o racionalismo e o iluminismo no plano das ideias e da prática política, também


as suas expressões jurídicas.

Na lei pombalina de 1769 conhecida pela lei da boa razão, onde na falta de ordenações, leis
pátrias, assentos da casa da suplicação, quando confirmados por aquela, ou usos do reino, se
erige como primeiro critério de integração das lacunas de direito nacional a boa razão em si
mesma, a recta ratio da escola do direito natural.

Nos novos estatutos da universidade de Coimbra de 1772 onde se estabelecem os


pressupostos teóricos de aplicação do direito romano a título subsidiário, nomeadamente nos
dictames da boa razão, e acrescenta como critério de ordem prática a indagação do uso

50
moderno das mesmas leis romanas entre as sobreditas Nações que habitam a Europa,
determinavam ainda os mesmos estatutos que para se instruírem no dito uso moderno se
aproveitarão do útil, e apreciável trabalho que para o mesmo fim se acha já feito por grande
número de jurisconsultos.

Afastado o Marques de Pombal em 1777, D. Maria I nomeou no ano seguinte uma comissão
para averiguação das leis em vigor, sua reforma e posterior elaboração dum código novo
abarcando direito público e privado.

Apesar da falência do projecto do código são as institutiones júris civilis de Mello Freire
adoptadas como compilação de lições de direito pátrio, por aviso régio sendo regente o
príncipe D. João, quando se o Antigo Regime esboroava, mas que até meados do século XIX
passam a ser modelo e o mote da ciência jurídica portuguesa.

No primeiro quartel do século XIX e afirmando então as ideias do liberalismo e do


individualismo crítico, que iriam expressar na Constituição de 1822 e na carta Constitucional de
1826.

Na elaboração do código civil de 1867, no segundo governo de Costa Cabral foi, por decreto de
D. Maria II de 1850 encarregado de redigir o projecto de código civil português o entao juiz da
Relação do Porto António Luiz de Seabra e nomeada uma comissão revisora do mesmo.

Em 1857 é apresentado à Câmara dos Deputados o projecto de código civil português.

A principal polémica que ocorreu durante a elaboração do código foi o da existência ou não do
casamento civil obrigatório, a par do até então exclusivo casamento católico, tendo o
legislador liberal decidido pelo casamento civil facultativo, na modalidade em que o
casamento católico tem autonomia de efeitos jurídicos face ao casamento civil.

Na esteira do liberalismo da declaração dos direitos do homem e do cidadão, do Código


Napoleónico, bem como dos princípios jusnaturalistas do código civil austríaco de 1811, o
código civil português de 1867 enquadrado na carta constitucional de 1826, adopta uma
estrutura original, antropocêntrica, que se deve ao Visconde de Seabra, mas ainda assim é
tributária do plano romano francês.

A vigência do código civil de Seabra levantou dúvidas de interpretação e diversas


intervenções, mas falhou a tal respeito o projecto de reforma do código de 1903.

Na legislação Republicana, a questão social não se pôs no nosso país com a agudeza verificada
naqueles países europeus onde se registam verdadeiras revoluções industriais e a constituição
de enorme proletariado.

No século XIX foi muito moderado o desenvolvimento industrial, prevalecendo as políticas e o


predomínio da concorrência estrangeira, tendência que se modifica de algum modo a partir de
1892, através da protecção industrial relativamente à agrícola.

No século XX as classes dominantes na sociedade portuguesa eram a alta burguesia ligada à


banca, ao grande comércio e a algumas grandes empresas industriais monopolistas bem como
nobreza detentora da grande propriedade fundiária.

51
A carta mantivera os seus privilégios que se contrapunham nos seus interesses aos das classes
médias urbanas, estas classes serviam de base ao partido republicano e iriam sair vencedoras
na revolução de 1910, mas aqueles privilégios também colidiam com os interesses de núcleos
de operários. Esta legislação republicana, que revogou tacitamente o código de Seabra não foi
felizmente mandada logo inserir neste código o que se torna redutor.

Na reforma de 1930, na segunda década do século XX acentuam-se na Europa fortes críticas ao


sistema democrático e parlamentar que, interligando – se às dificuldades financeiras,
económicas e do funcionamento do parlamentarismo português.

O Código Civil de 1966

Neste código não se encontrava o direito ao nome e à imagem, as fundações, as associações


não personalizadas, a representação, o abuso de direito, os negócios jurídicos unilaterais, os
negócios abstractos, direito de superfície, a propriedade horizontal, para além de em muitos
institutos de se ter verificado manifesta quebra de unidade entre a regulamentação do código
e as leis posteriores que os fizeram evoluir em direcções opostas.

Mas a tudo isto acrescia a contradição fundamental entre uma constituição de 1933, férrea e
autoritária e um código liberal e antropocêntrico, mesmo os direitos e garantias consagrados
constitucionalmente iam sendo congelados à medida que todos os partidos políticos eram
banidos.

Na elaboração deste código, o ministro Adriano Vaz Serra foi autorizado a promover os
trabalhos de elaboração de um projecto de revisão geral do código civil, e viria a presidir à
comissão do código, sendo ministros da justiça cavaleiro de ferreira, pires de lima e Antunes
Varela.

Dado que o projecto do código devia ser apresentado pela comissão promoveu a sua
nomeação, composta por Vaz Serra, que presidia e integrada por Manuel de Andrade, Pires de
Lima e Paulo Cunha, com poderes de agregação de outros colaboradores.

Serra Vaz publicava e ia elaborando importantes estudos sobre o direito das obrigações, a
saída de Pires de Lima e Paulo Cunha para funções ministeriais fez desactivar a comissão, o
que só foi contrabalançado com as iniciativas de Antunes Varela, enquanto Ministro da Justiça.

Antunes Varela fez um primeiro e global ajustamento e elaborou e reviu conjuntamente o


primeiro anteprojecto, denominado por 1ª revisão ministerial.

A 1ª revisão ministerial foi submetida à apreciação pública e a 2ª revisão ministerial iniciou-se


rapidamente com a elaboração permanente de Pires de Lima, quanto à substância dos textos,
as diversas sugestões e críticas.

A estrutura do código civil de 1966, com Coelho da Rocha fez a primeira contestação à
estrutura e ao método exegético, emergentes do código civil napoleónico.

O derrube do sistema ditatorial anterior a 1974, a entrada em vigor da Constituição de 1976 e


a consolidação do sistema democrático tornaram imperativa a revisão do código civil de 1966,
deve dizer-se que as áreas mais atingidas por esta reforma foram os livros do direito da família

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e do direito das sucessões, o que não admira, face à especial sensibilidade destes conjuntos
normativos perante as mutações, com efeito, a família é a célula básica da sociedade civil e as
alterações na sua estrutura e dinâmica tendem a repercutir-se profundamente em função da
sociedade civil projectada.

A maioridade desceu dos vinte e um para os dezoito anos, face a precursora e igual mudança
constitucional na capacidade eleitoral activa e passiva, depois consagrou-se a liberalização na
aquisição da personalidade jurídica das associações de direito privado.

Para dar satisfação ao novo princípio constitucional da plena igualdade de direitos e deveres
dos cônjuges, entre as muitas alterações do código civil, destacamos, a idade núbil tanto para
o homem como para a mulher foi fixada nos dezasseis anos.

Embora um código civil pressuponha e vise a estabilização das suas normas, ele não é de
nenhum modo imutável e as transformações sócio económicas e políticas, as descobertas e
implementações científicas e tecnológicas vão – lhe alterando, por vezes profundamente, as
diversas áreas, a primeira alteração substancial do código de 1966, fora do arrendamento,
ocorreu com a dissolubilidade por divórcio dos casamentos católicos.

Formulação Normativa: estilo, sistematização e a classificação das normas de direito


civil

O comando jurídico normativo para ser reconhecível e respeitado tem que haver harmonia
entre a linguagem do legislador e o entendimento objectivo dela pelos emissários, que implica
o respeito pela morfologia e a sintaxe da língua portuguesa e fornece o primeiro elemento da
interpretação das normas jurídicas.

A linguagem tem diversos níveis de concretização, o pensamento legislativo, ao longo das


épocas e em função do carácter e cultura de cada comunidade jurídica, foi também evoluindo
no seu discurso, servindo-se de variados modos de expressão linguística.

Karl Larenz, distinguiu quanto aos critérios organizatórios da normatividade civil, em três
estilos:

Estilo legal casuístico – parte das ideias da possibilidade de plenitude do ordenamento


jurídico, isto é, de que é possível prever e regular todos os casos da vida real, presente e
futura, e necessidade de afastamento ao máximo do arbítrio do julgador. Este estilo tem a
vantagem de contrariar em larga medida ao arbítrio do julgador e de usar uma linguagem
quotidiana acessível, mas tem desvantagens da impossibilidade de regular todos ou mesmo a
maioria dos casos relevantes da vida real e da rápida desactualização das leis.

Estilo abstracto – generalizador (mais usado) – os comandos jurídicos dirigem – se a uma


generalidade mais ou menos ampla de destinatários, não tomados por circunstâncias
individualizadoras, e disciplinam um número indeterminado de situações, formam – se
conceitos de género que resultam da separação e generalização, na hipótese da norma, de
determinados elementos de factos – tipo que se pretende regular, estes conceitos têm de ser
bem definidos e circunscritos de modo a conduzirem a critérios de decisão fixos e

53
determinados, segundo as regras da lógica, pelo julgador subsume as situações da vida real a
decidir.

Os elementos do caso concreto integram os pressupostos de factos tipológicos da norma


aplica-se a estatuição normativa também esta delimitada. Este estilo tem como vantagens a
clareza, a segurança jurídica, a previsibilidade das decisões judiciais e ausência de contradição
lógica de todas as consequências dele, derivadas, os principais defeitos a falta de
maleabilidade face a uma irredutível multiplicidade e complexidade da vida real e a
substituição permanente da valoração e da ponderação.

Estilo legal das directivas – o legislador limita-se a estabelecer módulos de apreciação,


paradigmáticos, que não estão definidos por caracteres distintivos precisamente delimitados e
que deixam ao juiz, na aplicação da lei ao caso particular, um considerável margem de
ponderação, de valoração, embora sujeita a linhas de orientação.

Começou por ocorrer ainda no BGB com as cláusulas gerais legais, enquanto pautas de
valoração carecidas de preenchimento ou de concretização valorativa ou imagens directoras e
representações de valor ou tão só pontos de apoio para o desenvolvimento judicial da norma,
como as cláusulas de boa fé e dos bens costumes. Os conceitos consideravelmente imprecisos
de forma a melhor se moldar à realidade do caso concreto, caracterizados por transições
difusas e interpretados ou integrados, a partir da aplicação da lei a casos concretos anteriores.

A vantagem de maleabilidade que este estilo oferece confronta a desvantagem da aplicação


pouco previsível, este estilo não pode funcionar na prática sem normas generalizadoras,
predicando o método subsuntivo, há varias situações da vida real em que a conformação legal
justifica um tipo legal aberto, a maioria dos litígios encontra-se resolução favorável em
hipóteses fechadas.

Relação jurídica
A relação jurídica como objecto da norma jurídica civil

Da sociabilidade do direito decorre que a norma jurídica, particularmente a norma de


direito civil, tem como objecto a vida em relação, a conduta do homem em relação
com os outros homens As relações sociais entre as pessoas que reguladas pelo direito,
se tornam relações jurídicas. Este conceito tem sido alvo de críticas sobretudo dos
opositores da parte geral do código civil:

Orlando de Carvalho – apesar de reconhecer que o conceito de relação jurídica


constitui um progresso considerado um instrumento da desumanização efectuada pelo
sistema das pandectas sobretudo porque o homem ser um elemento ao lado de outros
elementos, do objecto, do facto jurídico, da garantia, nem sequer possuindo, na
qualidade de sujeito, qualquer especifica posição de privilégio. Não abandona o
conceito de relação jurídica e defende mesmo uma sua teoria geral desde que se
reproduz o direito civil, colocando no topo da regulamentação, não o homem
abstracto do liberalismo económico, mas o homem concreto da sociedade

54
contemporânea, na busca do humanismo comprometido e desde que o direito seja
constantemente aos interesses, com um serviço de uma vida inserida numa dinâmica
histórica que aponta para emancipação pessoal.

Para Manuel de Andrade, trata-se de meras técnicas legais, apenas sendo susceptível
de tal valoração o conteúdo substancial de cada relação jurídica normativa, acresce
que o homem e sujeito de direito, são conceitos diferentes, tendo o homem, mesmo
no código civil actual, exemplo 66º e 158º. O facto de todas as relações jurídicas deve
ser sujeitos de direito não prejudica a existência de relações jurídicas inacessíveis a
outras pessoas não singulares. A existência do artigo 70º de um direito geral de
personalidade humana, é o reconhecimento da defesa da integridade individual e do
desenvolvimento humano.

Para Menezes Cordeiro, substitui o conceito de relação jurídica pelo de situação


jurídica, fundamento que o direito existe apenas nas decisões concretas dos problemas
que resolva, pelo que a situação jurídica é apreciada como o produto de uma decisão
jurídica, ou seja, o acto e o efeito de realizar o direito, solucionando um caso concreto,
surge assim como o culminar de todo o processo de realização do direito, integrando a
localização das fontes, a interpretação e a aplicação, com que o conceito de relação
jurídica não esgota todas as situações jurídicas possíveis, com que tal técnica prejudica
uma distribuição dinâmica da matéria e dificulta uma reanimação geral do programa, e
com que este operador prejudica a posição da pessoa e da actividade como cerne
imprescindível do direito civil.

Para Castro Mendes, diria que este conceito apresenta – se como um conceito jurídico
fundamental e basilar da dogmática jurídica, face à alteridade do direito, face ao
código civil actual na base da sistematização da sua parte geral no esquema da relação
jurídica.

O conceito de relação jurídica civil

Sentido mais restrito – seria a relação da vida social disciplinada pelo direito, mediante
a atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e a correspondente imposição a
outra pessoa de um dever ou de uma sujeição, parece que a relação jurídica não é a
relação social nem mesmo a relação de vida, mas a regulação dessas relações ou das
previsões de tais relações, constituindo por isso um vínculo normativo.

A relação jurídica civil é o vínculo normativo, garantido coercivamente, que une entre
si sujeitos de direito, mediante a atribuição a um deles de um direito subjectivo, de um
direito potestativo ou de um poder-dever jurídico e a imposição ao outro ou aos
outros desses sujeitos de um dever jurídico ou de uma sujeição correspondentes,
tendo por objecto, as condutas comuns sujeitos, quando despidos de poderes de
autoridade pública.

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Sentido mais amplo – A relação jurídica é toda a situação ou relação da vida real
juridicamente relevante produtiva de consequências, disciplinada pelo Direito.

Conteúdo e os elementos da relação jurídica civil

Temos que saber como se estruturam os poderes jurídicos do sujeito activo e os


deveres jurídicos dos sujeitos passivos, o teor da vinculação jurídica que enlaça os
sujeitos que constitui o centro da relação jurídica civil, e por contraste com os
elementos exteriores da mesma designada por vínculo, conteúdo ou estrutura interna
da relação jurídica.

Quanto à estrutura externa da relação jurídica ou aos seus elementos, temos que
considerar os sujeitos, o objecto, o facto jurídico e a garantia, ou seja, não existe
relação jurídica sem que haja sujeitos jurídicos vinculados, um incidente, um facto
jurídico que não vida real a origine e a modele e uma garantia de que essa relação é
dotada de coerção jurídica.

O objecto segundo Mota Pinto é o quid que incide sobre os poderes do sujeito activo
da relação jurídica.

Classificações das relações jurídicas civis

O conteúdo da relação jurídica, é principal factor diferenciador das classificações.

Relações jurídicas Patrimoniais – critério da susceptibilidade de avaliação pecuniária


(obrigacionais, reais, familiares patrimoniais e sucessórias);

Relações jurídicas não patrimoniais - critério da susceptibilidade de não avaliação


pecuniária (personalidade e familiares pessoais);

Relações jurídicas absolutas – o titular activo da relação tem poderes directos e


mediatos sobre o bem objecto da relação e com plena disponibilidade do bem.

Relações jurídicas relativas – o titular activo da relação não tem poderes directos e
imediatos sobre o bem objecto da relação e não tem plena disponibilidade desse bem.

Relações jurídicas perfeitas - têm garantia plena.

Relações jurídicas imperfeitas – têm apenas com um embrião de garantia.

Relações jurídicas principais – têm autonomia, podendo existir independentemente de


outras relações jurídicas.

Relações jurídicas acessórias – são dependentes às principais.

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Relações jurídicas abstractas – são as figuradas, ideias, arquétipos das que a realidade
da vida jurídica que oferece, isto é, as que decorrem das normas legais aglutinadas em
função de uma previsível da relação social.

Relações jurídicas concretas – as relações jurídicas realmente existentes e


individualizadas, entre pessoas determinadas, procedentes de um certo facto,
verificado e não apenas possível.

Relações jurídicas simples – estabelece-se entre dois ou mais sujeitos, mediante a


atribuição aos sujeitos activos de um determinado poder jurídico e a vinculação dos
sujeitos passivos do correspondente dever ou sujeição jurídica.

Relações jurídicas complexas – é o conjunto de direitos subjectivos e de deveres


jurídicos estabelecidos alternadamente entre os mesmos sujeitos unificados por um
factor específico, sobretudo se derivarem de um facto jurídico e de um escopo jurídico.

Nas relações jurídicas simples, e nas complexas encontra-se direitos e deveres


principais, direitos e deveres acessórios, direitos e deveres laterais, para além de
outras figuras jurídicas (interesses juridicamente protegidos, ónus jurídicos, os poderes
e as faculdades, as qualidades e as excepções).

Os direitos e os deveres principais são aqueles que caracterizam e identificam uma


determinada relação jurídica.

Os direitos e os deveres acessórios têm carácter instrumental, subordinam-se à


necessidade de tornar possível ou dar bom cumprimento aos direitos e deveres
principais. Na relação jurídica complexa há um sistema unitário de diversos vínculos
vocacionados para o fim do contrato, que decorre de contratos obrigacionais que
origina a relação obrigacional em sentido amplo.

Os vínculos jurídicos
O vínculo jurídico engloba apenas poderes, deveres, encargos e outros mecanismos
que medeiam entre os sujeitos activo e passivo de cada relação jurídica abstracta ou
concreta, constituindo o conteúdo da relação.

Os tipos de vínculos jurídicos:

 Direitos subjectivos propriamente ditos;


 Direitos potestativos;
 Direitos funcionais;
 Expectativas jurídicas;
 Interesses juridicamente protegidos;

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Nos vínculos jurídicos há outras figuras jurídicas bipolares como:

 Ónus jurídico;
 Faculdades;
 Qualidades;
 Competências;
 Excepções;

Direitos subjectivamente em sentido amplo (direito subjectivo é uma manifestação


de autonomia privada)

O código civil de Seabra baseado na filosofia de Kant e de Hegel e na teoria de Savigny,


a determinação do conceito de direito subjectivo tem vindo a ser realizada pela
doutrina.

A Teoria da vontade para a qual o direito subjectivo seria um poder da vontade do


sujeito de agir dentro dos limites fixados pelo direito objectivo, isto é, um poder ou
faculdade do indivíduo de querer em harmonia com a lei.

O caso da teoria do interesse segundo a qual o direito subjectivo consistiria antes no


interesse juridicamente protegido, pelas concepções mistas pelas mistas o direito
subjectivo não seria só vontade nem apenas interesse, mas, um interesse protegido
mediante uma vontade que o representa ou um poder da vontade reconhecido
juridicamente, para a realização de um interesse pessoal.

Actualmente o direito subjectivo tende a ser definido como poder atribuído pela
ordem jurídica, embora com especificações diversas, a esta concepção contrapõe-se a
uma visão nominalista do direito, enquanto afectação jurídica de um bem à realização
dum fim de pessoas individualmente consideradas ou permissão normativa específica
de aproveitamento de um bem.

A concepção diferenciada que vê no direito subjectivo é uma posição concreta de


vantagens de pessoas individualmente consideradas resultante da afectação de meios
jurídicos para permitir a realização de fins que a ordem jurídica aceita como dignos de
protecção.

A noção de direito subjectivo em sentido amplo é um poder atribuído ou reconhecido


pela ordem jurídica de exigir ou pretender de outrem a um dado comportamento
positivo ou negativo ou de impor unilateralmente determinados efeitos na esfera
jurídica alheia é mais estruturante do que os vagos conceitos de afectação jurídica de
um bem ou de permissão normativa específica de aproveitamento de um bem.

Às modalidades do direito subjectivo é contraditoriamente aquele mecanismo de


poder que reporta.

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O conceito de direito subjectivo em sentido amplo subdivide-se:

 Direito subjectivo propriamente dito;


 Direito potestativo;
 Direito funcional;

Esta subdivisão resulta de à concepção predominante de direito subjectivo em sentido


amplo de se agregar a uma componente significativa, para a caracterização e
circunscrição do direito subjectivo propriamente dito e do direito potestativo, ao
contrário do que sucede com o direito funcional, isto é, aqueles encerram um poder
jurídico, exigir e pretender condutas ou impor efeitos.

A parte da ideia de poder tem o valor acrescido de reconhecer no direito subjectivo


propriamente dito e no direito potestativo acrescida importância dos seus espaços de
liberdade e de autonomia privada, salientando neles a existência como de um
território.

O direito subjectivo propriamente dito:

É o poder atribuído ou reconhecido pela ordem jurídica de um princípio livremente,


exigir ou pretender um comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão).

Corresponde a um dever jurídico de observar o comportamento positivo ou negativo.

Nesta noção temos duas variantes:

 Poder de exigir;
 Poder de pretender;

Quando há um poder de exigir estamos perante direitos subjectivos propriamente


ditos, plenos, isto é, com possibilidade de recurso a tribunal em caso de não
cumprimento do dever jurídico, assim o direito de crédito consiste no poder jurídico
do credor de exigir do devedor um determinado comportamento positivo ou negativo.

Nos direitos de personalidade e nos direitos reais há um poder jurídico do titular da


própria personalidade ou de uma coisa de exigir que todos os demais se abstenham de
desrespeitar tal poder, artigo 70º nº1 e 1305º.

Quando há um poder de pretender podemos, é menos pleno, ou seja, o titular deste


direito não pode reagir judicialmente contra o sujeito passivo se este não observar o
comportamento prescrito, mas se cumprir voluntariamente, a lei reconhece como
justo tal facto e não admite que o sujeito passivo possa ulteriormente requerer a
devolução da prestação, uma vez que havia deveres morais ou sociais de cumprimento
e este correspondia a um dever de justiça, embora não judicialmente exigível, daí que
o titular possa pretender o cumprimento mas não exigir, é o caso das obrigações
naturais (402º a 404º). Daí que não haja lugar aqui ao reembolso do que foi prestado

59
para cumprir uma obrigação que não era devida gozando da retenção a título de
cumprimento.

No lado passivo da relação jurídica temos os deveres jurídicos:

 Acção;
 Omissão;

O dever jurídico de acção consiste na obrigação do sujeito passivo da relação jurídica


de observar um certo comportamento positivo um facere, tal dever corresponde ao
direito subjectivo do sujeito activo de exigir ou pretender esse comportamento.

Este dever é típico das relações creditórias, por exemplo, vendedor de uma jóia tem a
obrigação de entregá - la ao comprador pagador (874º e 879º).

Nas relações jurídicas absolutas pode haver lugar a deveres jurídicos de acção, assim
quem não lança a um náufrago em perigo de vida uma bóia, ao alcance daquele e de
que ele não necessita para sua salvação, comete um crime e viola o direito de
personalidade à vida do naufrago.

O dever jurídico de omissão consiste na obrigação do sujeito jurídico passivo da


relação de observar um certo comportamento negativo, uma determinada abstenção
um non facere.

Este dever é característico das relações jurídicas reais e de personalidade, cujos


direitos subjectivos geram obrigações passivas universais. Pode haver lugar a deveres
jurídicos de omissão mesmo nas relações creditórias, cuja prestação pode ter
conteúdo negativo, 398º nº1.

Casos os sujeitos passivos não cumprissem, ou não cumpram, os seus deveres jurídicos
de acção ou de omissão, os titulares dos correspectivos direitos subjectivos poderiam
ou podem obter sanções jurídicas contra aqueles.

Nos deveres jurídicos ao invés, das sujeições, o obrigado não está sujeito de um modo
inelutável à realização do direito do sujeito activo, exige-se a contribuição voluntária
do sujeito passivo para tal realização que ele pode negar, embora ilicitamente,
violando o direito subjectivo alheio. O sujeito do dever jurídico tem a possibilidade de
não cumprir, mas há sanções jurídicas.

Direito potestativo

É o poder atribuído ou reconhecido pela ordem jurídica de, em princípio livremente,


por um acto voluntario, só de per si ou integrado por uma decisão judicial, produzir

60
efeitos jurídicos imediatos inelutáveis na esfera jurídica do sujeito passivo, e não exige
comportamentos positivos e negativos do sujeito.

Contrapõe – se:

Sujeição – a situação de necessidade do sujeito passivo de ter de suportar o exercício


de tal direito e as consequências jurídicas, uma vez que esse direito na sua execução
não está dependente de uma conduta do sujeito passivo, que este poderia não
cumprir.

As violações do sujeito passivo só podem ter lugar ao nível do obstáculo da execução


do direito potestativo ou da infracção dos efeitos produzidos por este.

Os direitos potestativos podem ter uma eficácia:

 Constitutiva – é susceptível de produzir uma relação jurídica nova; (servidões


de passagem);

 Modificativa – alteração de uma relação jurídica já existente (direito á


separação litigiosa de pessoas e bens (1794º e 1795º A);

 Extintiva – é susceptível de fazer cessar quando exercidos uma relação jurídica


existente (direito de revogação do mandato por qualquer contratante 1170º
nº1);

O direito potestativo numa situação de sujeição, assiste ao efeito jurídico na sua esfera
jurídica.

Direito funcional (não é um puro direito subjectivo)

É um poder-dever é o poder atribuído pela ordem jurídica, pelo modo reclamado pela
sua função, exigir um comportamento positivo ou negativo de outrem e que visa
sobretudo o interesse deste.

O enquadramento do direito funcional no direito subjectivo em sentido amplo,


justifica-se quer por caber na estrutura deste, quer por lhe serem aplicáveis diversos
institutos jurídicos próprios do direito subjectivo em sentido amplo, como a
responsabilidade civil extra contratual, outros tipos de sanções legais que evidenciam
o poder de exigir, o abuso do direito (334º), a colisão de direitos 335º, a acção directa
336º, a legitima defesa, 337º e o estado de necessidade 339º.

61
Aos direitos funcionais contrapõem – se principalmente deveres jurídicos e os variados
casos de sujeições. Os direitos funcionais implicam normalmente deveres jurídicos
relativos, mas quando incorporam direitos de personalidade entrelaçam também
obrigações passivas universais.

Classificações dos direitos subjectivos em sentido amplo

Os direitos subjectivos de personalidade, obrigacionais, reais e intelectuais, familiares


e sucessórios correspondendo a cada uma destas categorias de direitos a certas áreas
bem delimitadas no código civil e com regime particular.

A distinção entre direitos subjectivos patrimoniais e não patrimoniais é transversal,


repercutindo em cada das categorias anteriores.

O critério predominante da distinção é a pecuniaridade e configura os direitos


patrimoniais como os avaliáveis em dinheiro seja qual for o valor em troca, seja pelo
seu valor de uso.

Os direitos não patrimoniais e os direitos familiares são havidos como os não avaliáveis
em dinheiro, prendem na esfera jurídica global do sujeito, ao hemisfério pessoal,
dizendo directamente respeito à categoria do ser e não do ter da pessoa, muito
embora influam nesta.

Distinção de direitos subjectivos relativos e absolutos:

Direitos subjectivos absolutos – são aqueles em que o seu titular activo tem poderes
políticos directos e imediatos sobre determinado bem, que lhe é afectado de modo
exclusivo ao seu uso, fruição, reivindicação e autodeterminação, devendo todos os
demais sujeitos jurídicos abster-se de qualquer comportamento lesivo (direitos de
personalidade, direitos reais e os direitos intelectuais).

Direitos subjectivos relativos – são aqueles em que o seu titular activo tem poderes
jurídicos dirigidos a uma pessoa ou a pessoas determinadas, que lhes impõem a um
dever ou sujeição específica (direitos de crédito, direitos familiares patrimoniais e os
direitos sucessórios).

Distinção de direitos subjectivos de domínio ou de soberania dos não dominiais:

Direitos subjectivos de domínio – o titular activo para além do poder político imediato
e exclusivo sobre o bem, tem uma plena disponibilidade sobre tal bem, assim acontece
com os direitos reais e os direitos intelectuais.

Direitos subjectivos de não dominais – embora possam ser direitos absolutos, não tem
a plena disponibilidade sobre o bem que é objecto dos seus poderes jurídicos, como
exemplo: direitos de personalidade.

62
Distinção dos direitos subjectivos privados:

Direitos subjectivos públicos – quando emergem de uma norma de Direito Público.

Direitos subjectivos privados – quando decorrentes de uma norma de direito privado


utilizando o mesmo critério da qualidade dos sujeitos intervenientes na relação
jurídica.

Direitos subjectivos fundamentais – são oponíveis a todos os entes públicos mesmo


quando revestidos de soberania, como o direito à vida, são direitos subjectivos
públicos os direitos, liberdades e garantias de participação política 48º a 52º CRP, e por
fim certos direitos sociais, económicos e culturais constitucionais como exemplo, o
direito à segurança artigo 63º da CRP, direito à saúde 64º da CRP, embora não sejam
direitos subjectivos privados, mas também têm uma dimensão subjectiva e podem
conformar-se juridicamente como direitos subjectivos públicos, envolvendo o direito a
prestações públicas e proibindo o estado e terceiros a agredir posições jurídicas no
âmbito de protecção destes direitos

A administração pública, no exercício do ius imperii, está obrigada a respeitar nos


termos do 266º nº1 os direitos e interesses legalmente protegidos pelos cidadãos quer
emergentes de normas de direito privado quer de direito público.

Aos próprios tribunais, no exercício do seu poder jurisdicional de órgãos de soberania


do estado, face a normas de direito público, não só respeitar mas também assegurar a
defesa de muitos e diversos direitos subjectivos públicos dos particulares.

Colisão de direitos

A colisão de direitos pode ter em lugar em duas hipóteses:

 Quando os direitos subjectivos pertencentes a diversos titulares incidem sobre


o mesmo objecto jurídico (caso da compropriedade 1403º);

 Quando os direitos subjectivos pertencentes a diferentes titulares recaem


sobre objectos jurídicos diversos (direito geral de personalidade);

Em ambas as hipóteses é necessário que os exercícios ou as tutelas de tais direitos se


mostrem concretamente colidentes entre si.

À multiplicidade e complexidade das situações da vida real, pode subsistir uma


materialidade em que as modalidades possíveis de actividade material através das
quais se realiza o exercício de um direito subjectivo de uma certa pessoa sejam
inconciliáveis com as modalidades igualmente possíveis da actividade material

63
correspondente ao exercício do mesmo ou de outro direito subjectivo por parte de
outra pessoa.

A colisão real de direitos impõe – se que a própria ordem jurídica, para a unidade e
coerência do seu sistema, resolva tão perturbadora contradição interna, em termos
gerais, se efectua através do artigo 335º.

A colisão de direitos iguais da colisão de direitos desiguais, distinção esta que constitui
uma afloração do princípio da igualdade, 13º da CRP e que leva a tratar igualmente
situações de interesses iguais e a tratar diferentemente, em correspondência com a
particularidade, situações de interesses desiguais.

Os direitos colidentes têm uma estrutura formal e um fundamento normativo assentes


quer em interesses juridicamente tutelados de qualidade e grau idênticos quer em
interesses juridicamente tutelados de peso equilibrado, se na colisão de direitos há
predominância de interesses tutelados de uma das partes.

Procede a uma identificação e ponderação quer dos bens jurídicos tutelados pelas
normas jurídicas estruturantes dos direitos colidentes, quer dos conteúdos dos
poderes jurídicos resultantes destes direitos, quer ainda dos factos reais constitutivos
de cada um dos direitos subjectivados em colisão das modalidades de actividade
material concretamente exercitadas pelas partes e dos interesses efectivamente
prosseguidos pelas partes.

Identificar os factos reais relativos à constituição e eventual modificação desse direito


subjectivado na particular situação conflituar de forma a determinarmos a natureza, o
âmbito e a intensidade dos bens que sejam juscivilisticamente tutelados.

Ao respeitante ao exercício de um direito subjectivo, conjugadas com os


correspondentes valores e desvalores, podem aumentar ou diminuir o peso jurídico
desse direito subjectivos em caso de conflito, entre os factores aumentativos como a
natureza do elemento concreto do bem objecto de tutela do direito subjectivo, a
acumulação de bens tutelados no mesmo pólo de uma certa relação conflitual, a
ampla extensão ou a elevada intensidade do bem tutelado, a prossecução mediante
exercício do direito subjectivo, de relevantes finalidades subjectivas e sociais tuteladas,
a particular adequação, justeza, proporcionalidade dos meios empregues pelo titular
do direito subjectivo no exercício do direito.

Nos factores diminutivos do peso jurídico de um direito subjectivo conflituante


destaca-se a miudeza do bem tutelado, a prossecução mediante o concreto exercício
do direito subjectivo, de discutíveis finalidades particulares sem benefícios sociais, o
carácter perturbante dos meios dispostos pelo titular do direito subjectivo para o
exercício do direito, a ocorrência de comportamentos censuráveis do titular face ao

64
titular do outro direito conflitual, quando os comportamentos condicionam o conflito
de direitos, e a colocação em risco pelo titular dos bens tutelados.

De outro modo, temos todos os factos reais relevantes e todos os valores jurídicos
respeitantes, estes e aqueles, ao outro direito conflituante, indagando do peso
específico através de metodologia idêntica, nomeadamente com a prévia concreção e
interpretação das previsões normativas relativas a tal direito e a identificação e
hierarquização dos valores ínsitos nessas proposições.

Para efeito do artigo 335º do CC, numa determinada situação concreta conflitual,
estamos perante direitos iguais, implica quer a indagação e a aferição dos diversos
elementos de cada um dos conjuntos dos factos reais relativos à génese e ao exercício
dos direitos em conflito, e nas suas concretas circunstâncias tanto aumentativas como
diminutivas do peso jurídico, com vista à avaliação da sua igualdade mediante a
aplicação de critérios normativos de preferência, identificadores dos interesses e
valores jurídicos resultantes do sistema jurídico na sua globalidade e unidade ao caso.

Há que avaliar se os direitos colidentes têm uma estrutura formal e um fundamento


assente quer em interesses concretos tutelado de qualidade e grau idênticos quer em
interesses concretos tutelados de qualidade e grau diversos mas de peso equilibrado,
ou, se na colisão de direitos há predominância de interesses tutelados de uma das
partes.

Para que se verifique a identidade de qualidade e grau de interesses concretos


protegidos importa quem estejamos perante um conflito de direitos subjectivos entre
duas ou mais pessoas cujo objecto recai sobre a mesma espécie de bens de cada uma
das pessoas, que sejam os mesmos graus, áreas dos bens protegidos e que os demais
elementos relativos à génese e ao exercício se processem nas mesmas circunstâncias
factuais relevantes, quer aumentativas quer diminutivas do peso jurídico de tais
direitos.

Nos casos de conflito de um direito subjectivo com outro direito que tenha como
objecto uma diferente espécie de bem, apesar da óbvia diversidade dos contrapostos
interesses concretos protegidos, podem na multiplicidade da vida real, igual os pesos
jurídicos totais das ponderações e valorações jurídicas respeitantes a cada um dos
diferentes conjuntos de todas as circunstâncias factuais relativas à génese e ao
exercício de cada conflito, assim o peso jurídico total das ponderações e valorações
jurídicas respeitantes às concretas circunstâncias factuais de constituição e exercício
de um direito.

No caso de conflito entre dois direitos subjectivados incidindo sobre a mesma espécie
de bem com diferentes graus, áreas, de tutela desse objecto jurídico ou outras
circunstâncias, de constituição ou exercício de cada um desses direitos, que face às

65
ponderações e avaliações jurídicas conduzem a um peso jurídico total desequilibrado
de tais direitos entre si.

No caso de colisão de dois direitos subjectivados tendo por objecto diferentes espécies
de bens, a diversidade, desde logo, dos bens jurídicos tutelados, os particulares graus
desses bens em cada um dos direitos conflituantes e as demais circunstâncias
referentes à génese e ao exercício de cada um desses direitos, em cada um dos
conjuntos, face aos valores com eles ligados, imprimindo um diferente peso jurídico,
que esta prevalência não é definível em função apenas de uma hierarquização jurídica
das axiologias dos bens em conflito, envolvendo sempre a ponderação e a avaliação de
todo o factual relevante em que se processou a subjectivação dos direitos em conflito
bem como de todas as valorações estruturantes desses direitos, tanto no interior de
cada um desses direitos como nas relações desses direitos entre si ou com o conjunto
do ordenamento jurídico.

Entre os factores normativos preferenciais destaque-se a acumulação de interesses,


assim um direito do inquilino subjectivado adquire maior peso jurídico se reunir tipos
de interesses privados com interesses públicos.

Este factor precisa de ser contemplado com o da averiguação da intensidade de cada


um desses interesses de modo a obter a justa expressão da valia intrínseca de cada
interesse e da soma final das valias de cada pólo de interesses, pois diversos interesses
privados pouco valiosos podem ser sobrepujados por um interesse privado muito
intenso pode ser superado por um ou vários interesses privados muito fortes.

Um outro factor normativo preferencial é o da radicação dos interesses, com base no


qual, quem procura interesses, lucros futuros deve, ceder a quem pretende evitar
prejuízos, mais genericamente, não se pode buscar o desenvolvimento da própria
personalidade com manifesto de bens de personalidade já existentes em outrem.

Apurados quer os casos de colisão em que se verifica uma igualdade do peso jurídico
dos direitos subjectivos conflituais, face à identidade ou ao equilíbrio dos contrapostos
conjuntos de interesses concretos juridicamente tutelados, quer os casos em que se
reconhece uma desigualdade do peso jurídico de tais direitos, face à predominância de
um dos conjuntos de interesses concretos tutelados, importa saber quais as soluções
dessas colisões.

Para a hipótese de colisão de direitos iguais ou da mesma espécie, estipula do artigo


335º nº1 do CC numa assinalável tradição legislativa, a solução do conflito passa pelo
sacrifício no mínimo necessário de qualquer dos direitos conflituantes e pelo não
privilegiar qualquer um desses direitos, suportando cada um dos titulares dos direitos,
em igual medida, os custos de resolução da colisão de modo a que os direitos
conflituantes, nos seus concretos modos de exercício, possam coexistir um ao lado do
outro e produzam os seus efeitos próprios em condições de igualdade.

66
A saída para o conflito de direitos iguais nas relações jurídicas civis pode resultar da
aplicação de um princípio de alternativa ou de desvio, consistindo na adopção pelos
titulares dos direitos, colidentes face ao concreto modo de exercício escolhido, de
outros modos de exercício de direitos que se mostrem não colidentes e igualitários,
por falta de alternativa, os modos de exercício escolhidos têm de ser limitados
segundo um princípio de equiparação para que os direitos possam concordar na
prática.

Em conflitos atinentes a iguais liberdades de movimentos e de ocupação de espaços de


utilização pública poderão impor consoante, os casos, um exercício alternando com
tempo igual mas rateado ou um exercício simultâneo mas com restrições de certos
movimentos de todos.

Para a hipótese de colisão de direitos desiguais ou de espécie diferente determina o


artigo 335º nº2, as partes não estão agora em posições conflituais idênticas, pois a
maior carga axiológica do direito superior postula uma correspondente e adequada
eficácia jurídica, mais ampla ou mais intensa do que a do direito inferior, com
detrimento desta.

Causas justificativas da ilicitude e da culpa em certas ofensas aos direitos subjectivos

O cumprimento de um dever, o exercício regular de um direito, a acção directa, a


legitima defesa, o estado de necessidade e o consentimento tolerante podem,
sistematicamente a propósito da garantia de relação jurídica, exclui a ilicitude de
certos actos lesivos dos direitos subjectivos e funciona como limites ao exercício de
tais direitos.

Estamos perante situações conflituais de interesses, em que, num mero plano de


apreciação objectiva das condutas humanas face às valorações legais, a ilicitude da
efectiva lesão de certos bens tutelados aparece justificada ou excluída pela
necessidade de afastar um perigo de lesão ou de maior lesão de outros bens jurídicos.
Não se trata de definir e de regular a prevalência do maior de dois bens entre si
incompatíveis como no caso da colisão de direitos desiguais, mas de identificar e
legitimar o menor de lesões intermutáveis.

As causas justificativas da ilicitude sempre encerram, elas estão sujeitas a um apertado


condicionalismo para a sua relevância e têm um carácter excepcional, nomeadamente
tornando necessário realizar também aqui uma ponderação de interesses concretos
juridicamente protegidos, que contribuirá para o apuramento de quais das menor
ilicitudes conflituais e que imporá não só a ponderação dos bens abstractos ínsitos nas
proposições normativas referentes a cada pólo conflitual hierarquizados, com vista a
67
uma ulterior graduação da gravidade das violações objectivas, mas também a
consideração de todas as circunstâncias factuais, objectivas e subjectivas juridicamente
relevantes.

As relativas à espécie, extensão, intensidade, frequência e importância dos prejuízos


em concretos bens, causados pelo acto justificado e dos prejuízos em outros concretos
bens jurídicos, que resultariam da situação que se pretende evitar e da não admissão
de tal facto.

Na falta de imputabilidade, o medo essencial e invencível, o erro de facto essencial e


desculpável e a não exigibilidade do comportamento devido, constituindo causas de
exclusão da culpa, impõe indirectamente limites ao exercício dos direitos subjectivos
ao determinarem a não indemnização de ofensas aos bens praticadas em
determinadas circunstâncias subjectivas, tais causas excluem o dever de indemnizar
mas não o de prestar.

Em matérias de direitos de personalidade, serem requeridas as providencias


adequadas às circunstâncias do caso, do artigo 70º nº2 do CC, com o fim de evitar a
consumação de ameaças ou atenuar os efeitos de ofensas já cometidas, as
providencias pressupõem a ilicitude da ofensa, mas não é necessária a culpa do
ofensor, essas causas de exclusão da culpa, por nada tirarem à ilicitude do acto, não
prejudicam o recurso à legitima defesa do titular do direito subjectivo ofendido.

As causas de justificação, ao invés do que sucede na colisão de direitos e nas causas


justificativas da ilicitude, não exigem uma ponderação de interesses conflituais tendo
como objecto as posições relativas de contrapostas partes na mesma relação jurídica,
na órbita do devedor ou do agente lesante, adentro da noção de culpa como
pressuposto da responsabilidade civil, embora com necessidade de recurso a outros
tipos de ponderações jurídicas, se o lesante actuou em termos da sua conduta, se bem
que ilícita, merece ou não a reprovação, subjacente à culpa devido a incapacidade
própria do lesante, porque em face das circunstâncias concretas da situação se deva
concluir que ele não podia ter agido de outro modo.

Interesses juridicamente protegidos

Os interesses legítimos pressupõem uma norma jurídica na primeira linha, de


interesses colectivos mas que inclui, entre os seus vários fins, a satisfação de interesses
particulares agregados ou subjacentes, não atribuindo ao titular destes interesses o
exercício, e muito menos qualquer disponibilidade, de accionar os seus principais
mecanismos coercivos, porque mais ligados à satisfação dos interesses colectivos que a
lei protege sem conferir aos titulares dos interesses particulares subjacentes o poder
de disposição das principais medidas adoptáveis.

68
Os direitos subjectivos decorrem de uma norma jurídica que protege directa e
primacialmente interesses particulares, conferindo aos titulares o gozo e o exercício,
com disponibilidade, de accionar o conjunto dos mecanismos coercitivos dessa tutela
contra todas as ofensas ilícitas aos correspondentes bens.

As figuras podem gerar responsabilidade civil (483º nº1), é que os interesses


juridicamente protegidos são acompanhados por um dever de cumprimento da norma
jurídica donde aqueles emergem.

A distinção tem muito alcance prático porque só os direitos subjectivos e só eles


poderão permitir a execução específica instituída nos artigos 827º e seguintes do CC, a
própria irretroactividade das leis restritivas, tutelada no artigo 18º nº3 da CRP, vale
face aos direitos subjectivos, pelos menos para aqueles que devam ser considerados
fundamentais ou análogos, mas não perante os interesses legítimos.

As expectativas jurídicas (são protegidas por lei mas não são considerados direitos)

Ao lado da mera expectativa de facto que se traduz apenas em uma mera esperança
psicológica, de vir a beneficiar no futuro de um direito ou outra vantagem jurídica, sem
qualquer relevância jurídica, há a expectativa jurídica.

Este instituto é definido como uma protecção legal durante toda a pendência da
constituição de um direito de formação sucessiva gradual, que implica a conjunção de
dois ou mais factos jurídicos separados no tempo, essa protecção se manifesta em
providências instrumentais destinadas a defender, em termos legalmente razoáveis, o
interesse do expectante à consumação de tal constituição, são os casos dos negócios
jurídicos.

A frustração das expectativas jurídicas impedindo a constituição do direito ou da


situação jurídica esperados.

O termo expectativa com um valor jurídico mas fora do sentido habitual e próprio,
artigo 78º a expectativa corresponde à vontade presumível e às restrições expressas
do autor de carta missiva não confidencial e com os artigos 118º nº2 e 245º nº1 em
que as expectativas são fundadas esperanças de verificação de um evento natural mas
relevantes para o preenchimento da hipótese jurídica.

A definição da natureza das legítimas expectativas segundo Castro Mendes considera


que tais legitimas expectativas é da posição jurídica do potencial futuro adquirente de
um direito subjectivo, que beneficia da circunstância de se ter verificado alguns
elementos do facto complexo de que depende essa aquisição e de isso por lei lhe
conferir já uma certa medida de protecção pelo qual é integrável a situação do que
espera lucros de um convénio lícito que afecte direitos de personalidade.

69
No artigo 82º nº1 ao declarar que a limitação voluntária quando legal, é sempre
revogável, ainda que com obrigação de indemnizar os prejuízos causados às legítimas
expectativas da outra parte, tem de ser interpretado cuidadosamente.

O regime de revogabilidade do 81º nº2 é preciso, estamos perante uma autêntica


limitação ao exercício dos direitos de personalidade nos termos nº1 do mesmo artigo,
face a autênticas e excepcionais restrições por força da vontade do seu titular, ao
normal fluxo de tais direitos, já não será o caso quando a convenção não se traduz na
limitação do exercício de direitos.

Um acto ou negócio jurídico constituído, válido, de limitação do exercício de direitos


de personalidade, que outorgará normalmente direitos subjectivos às partes,
simplesmente o legislador estipula, ainda para a defesa dos direitos de personalidade,
tão intimamente ligados à dignidade e à autonomia humana, no caso de limitação do
exercício de tais direitos, há sempre a possibilidade de revogar ainda que com
obrigação de indemnizar mas até essa possibilidade não atinge todos os prejuízos
causados, mas só da outra parte.

O professor Castro Mendes considera o artigo 81º nº2 tais expectativas como um
exemplo de expectativa jurídica, ou seja, da posição jurídica do potencial futuro
adquirente de um direito subjectivo, que beneficia da circunstância de se haverem
verificado já alguns elementos do facto complexo de que depende essa aquisição.

Ónus Jurídicos

São encargos de observar um determinado comportamento se o onerado pretende


obter ou manter uma vantagem, exemplos temos o ónus do registo predial é um
acréscimo de segurança, para que a compra de um imóvel produza efeitos face a
terceiros do 1º alínea a) e 5º nº1 da Código de registo predial e temos o ónus de prova
799º de quem alega um facto impeditivo de direito invocado por outrem, do artigo
342º nº2, o qual implica que, sendo produzida prova suficiente deste facto, o direito
em causa se tenha como não constituído, não há aqui deveres jurídicos, uma vez que
não há sanção para a não observância do comportamento proposto legalmente e a
vantagem é do interesse do próprio onerado que não de um titular de um inexistente
direito contraposto.

Qualidades jurídicas (diferente de direitos subjectivos)

Trata-se de atributos, aptidões, estados ou condições dos sujeitos jurídicos, distintos


dos direitos subjectivos e de outras figuras afins, resultantes da natureza (sexo, idade,
estado civil e a demência) ou do ordenamento jurídico (personalidade jurídica,
capacidade jurídica, nacionalidade e o domicilio) e condicionadas da existência de
direitos e deveres ou da sua medida.
70
Estas qualidades possam ser independentes de uma relação jurídica concreta, o certo é
que esta pressupõe muitas delas, e as qualidades jurídicas influem, directa e
indirectamente essa relação.

Poderes e as faculdades jurídicas

Os direitos subjectivos em sentido amplo, enquanto poderes atribuídos pela ordem


jurídica, de exigir ou pretender um determinado comportamento de outrem ou de
intervir inelutavelmente na esfera jurídica alheia pressupõem uma determinada
relação jurídica, em que tais poderes jurídicos funcionam de um modo principal e
autónomo.

Segundo Oliveira Ascensão, a referência legislativa aos grandes tipos de direitos


subjectivos é acompanhada de um elemento aglutinador, sintético (1439º e 1446º).

Mas há outras acepções de poderes jurídicos:

 Poderes de produzir efeitos jurídicos enquanto simples manifestações da


capacidade jurídica (testar, casar, contratar);

 Poderes principais da relação jurídica são acompanhados por poderes ou


faculdades de natureza secundária instrumental ou superveniente (poderes de
inquilino);

Os Sujeitos de Direito
Noção de Sujeito de Direito

É o ente portador de personalidade jurídica, susceptível de ser titular autónomo de


direitos e obrigações, mesmo que não seja titular de qualquer direito ou obrigação em
concreto.

Os sujeitos de direito é aquele que tendo personalidade jurídica é titular autónomo de


direitos e obrigações.

Personalidade jurídica - é a qualidade determinante do ser do sujeito de direito, ou


seja, a aptidão para ser titular autónomo de direitos e obrigações, para ser um centro
independente de imputação e de irradiação de efeitos jurídicos materiais e
processuais.

Tem maior importância no comércio jurídico, porque apenas os entes dotados de


personalidade jurídica, podem ser sujeitos plenos de direitos e obrigações.

Por outro lado, a personalidade jurídica distingue-se da personalidade judiciária que é


susceptível de fazer parte em juízo, embora quem tiver aquela desfruta desta, ordem

71
prática, têm personalidade judiciária do 5º a 7ºdo CPC (sociedades civis, associações
comercias e as comissões especiais).

Capacidade jurídica – trata-se da qualidade ou aptidão para se ser titular de um círculo


maior ou menor, de direitos e obrigações de relações jurídicas.

Não se compreenderia que um sujeito tivesse personalidade jurídica e não fosse


susceptível de ser titular de um qualquer conjunto de direitos e obrigações, por
mínimo que consistisse.

O ordenamento jurídico proíbe a renúncia à capacidade jurídica (69º), esta disposição


vale apenas directamente para as pessoas singulares, entendemos que é aplicável às
pessoas colectivas, por força do 160º nº1 do CC e 12º nº1 da CRP, na verdade, deve ser
irrenunciável, no total ou na parte, a virtualidade da pessoa colectiva de ser titular do
conjunto de direitos e obrigações necessários à prossecução dos seus fins, sob pena de
se condenar a mesma, a não poder realizar os seus objectivos, com prejuízo da
confiança que nela depôs qualquer um dos seus membros ou o seu fundador e com
preterição dos objectivos sociais e até mesmo públicos que justificam a constituição
das pessoas colectivas, obviamente sem prejuízo da possibilidade de renúncia a certos
e determinados direitos não indisponíveis.

Na distinção entre personalidade jurídica e capacidade jurídica reside em que a


personalidade jurídica de uma qualquer pessoa jurídica, uma vez iniciada, mantém-se
inalterável ao longo do tempo até ao seu termo, enquanto a capacidade jurídica de
determinada pessoa pode sofrer alterações durante a sua existência.

A capacidade jurídica de gozo e a capacidade jurídica de exercício de


direitos e obrigações. As incapacidades jurídicas.
Num sentido restrito a capacidade jurídica é apenas a capacidade de gozo de direitos e
obrigações, aptidão para se ser titular de um círculo, mais ou menos amplo, de
relações jurídicas.

A capacidade jurídica de exercício de direitos e obrigações é a aptidão de um sujeito


jurídico para produzir efeitos de direito por mera actuação pessoal através de um
representante voluntario ou procurador, escolhido pelo próprio representado.

A capacidade jurídica de exercício não é apenas a idoneidade para exercitar direitos ou


cumprir obrigações, que o titular adquiriu que venha a adquirir ou a contraiu ou que
pudesse adquirir ou contrair através da sua capacidade de gozo.

A idoneidade é também pessoal ou por representante voluntário, adquiriu direitos ou


assumiu obrigações que se enquadrem no âmbito da sua capacidade de gozo.

72
A capacidade de exercício de direitos não se reduz aos poderes de um maior, não
juridicamente inibido, para administrar, ele mesmo, uma determinada propriedade
que comprou, engloba também os poderes para comprar essa mesma propriedade
através da sua acção voluntária, porque a ordem jurídica lhe reconhece tal
possibilidade de exercício artigo 130º bem como a capacidade de gozo do 67º.

O que separa a capacidade de gozo de direitos e obrigações da capacidade do seu


exercício é um dos pressupostos desta, por outro lado, pode haver capacidade de gozo
de uma certa pessoa sem capacidade de exercício da mesma.

É genérica, a capacidade jurídica de gozo das pessoas singulares, devendo as limitações


ser excepcionais e especificadas na lei (67º CC e 12º nº1 da CRP).

É específica a capacidade jurídica de gozo das pessoas colectivas, devendo porém estar
também delimitada na lei a fronteira face às incapacidades de gozo (160ºCC e 12º nº2
da CRP), estas pessoas são um prolongamento das pessoas humanas.

As incapacidades de gozo de direitos e obrigações são limitações especificadas às


capacidades de gozo de direitos e obrigações das pessoas jurídicas, isto é, são
inaptidões para se ser titular de determinados direitos ou obrigações (no caso das
pessoas singulares) ou de determinados círculos, mais ou menos amplos, de direitos e
obrigações bem como de determinados direitos e obrigações no caso das pessoas
colectivas.

Tais incapacidade, por serem de gozo, a insusceptibilidade da titularidade de certos


direitos e obrigações, compreende-se que as mesmas não possam ser exercidas pelo
incapaz e por maioria de razão, objecto de suprimento pelo exercício de outrem, por
exemplo, um menor de dezasseis anos não pode casar (1601º a)).

Esta denegação e insupribilidade radica através das incapacidades de gozo, se


procurar proteger outros interesses de carácter social para além do normal interesse
do incapaz do gozo.

As diferentes coisas nas incapacidades de exercício de direitos e de obrigações, trata-


se de inaptidões para pessoalmente ou por representante voluntário adquirir e
exercitar direitos ou assumir e cumprir obrigações, que são objecto da capacidade de
gozo de determinada pessoa jurídica, isto é, há aqui uma fractura entre a capacidade
de gozo e a capacidade de exercício da mesma pessoa determinada
fundamentalmente por interesses do próprio incapaz de exercício dadas as suas
particulares deficiências.

As pessoas privadas da capacidade de exercício de exercício de direitos e obrigações


têm capacidade de gozo desses mesmos direitos e obrigações, é necessário para sua
própria continuidade substancial e desenvolvimento que esta capacidade seja
accionada por outrem.
73
O suprimento da incapacidade de exercício de direitos e obrigações através de dois
institutos jurídicos:

 A representação legal
 Assistência

Na representação legal o representante, 124º e 139, designado directamente pela lei


ou pelo tribunal de acordo com os critérios desta, substitui na generalidade dos actos
jurídicos o incapaz de exercício, actuando em nome e em vez dele (escolhido pelo
tribunal).

Na assistência o incapaz de exercício pode praticar ele mesmo actos jurídicos mas a
validade e eficácia destes actos estão dependentes de autorização ou consentimento
de outra pessoa (escolhido pela pessoa que irá representar).

O representante legal actua em vez do representado nos actos jurídicos.

A assistência é uma forma de suprir a inabilitação (menos grave), o assistente ou


curador, actua ao lado de um inabilitado, porque sendo menos grave vai precisar da
autorização do curador.

A capacidade negocial e a capacidade delitual e respectivas


incapacidades
A capacidade negocial de gozo ou simplesmente capacidade negocial é a idoneidade
de um sujeito jurídico para ser titular de um círculo, maior ou menor, de direitos e
obrigações resultantes de negócios jurídicos.

A capacidade negocial de exercício é a aptidão para, pessoalmente ou através de


representante voluntário, adquirir e exercitar direitos ou assumir e cumprir
obrigações, resultantes de negócios jurídicos e que se enquadrem no âmbito da
capacidade negocial de gozo.

No sistema jurídico as capacidades negociais são as subespécies mais importantes das


capacidades jurídicas de gozo e de exercício, aplicam – se nos 67º e 160º sem prejuízos
de requisitos especiais para certos negócios jurídicos, para as incapacidades negociais
de gozo e de exercício.

A capacidade jurídica em geral entende-se também a factos ilícitos culposos e à


responsabilidade civil extra negocial que lhes é inerente (483º nº1), isto é, abrange
também a capacidade delitual, que consiste na idoneidade de um sujeito jurídico para
responder civilmente por factos ilícitos, praticados com dolo ou com mera culpa,
verifica – se uma situação de incapacidade delitual do 488º, por ser impossível a essas
pessoas agir com culpa, se bem que elas possam responder em certos termos, e por
motivo de equidade do 489º.

74
A legitimidade e a disponibilidade jurídicas
No domínio da capacidade e da incapacidade jurídicas através de outros conceitos,
como os da legitimidade e da disponibilidade.

A capacidade e incapacidade são modos de ser ou qualidades do sujeito jurídico em si


mesmo, normalmente as incapacidades de gozo implicam nulidade e as incapacidades
de exercício simples anulabilidade.

A legitimidade jurídica - é uma oportunidade de ligação de uma pessoa com uma


situação jurídica.

Na ligação entre o sujeito e o conteúdo de determinado acto jurídico substantivo, dos


artigos 657º, 715º, 667º e 302º nº3, aqui as aflorações do princípio fundamental da
legitimidade, o de que os sujeitos do negócio jurídico devem ser os sujeitos da relação
que com ele se pretende constituir modificar ou extinguir pelo que carecem de
legitimidade, por via de regra, os contratantes que intentem fazer derivar do contrato
quaisquer efeitos jurídicos para outras pessoas, que não eles próprios, assim haverá
ilegitimidades nos negócios de bens ou direitos alheios, nos negócios de aquisição de
bens ou direitos para outrem e nos negócios de assunção de obrigações para outrem.

A legitimidade é apresentada, directamente como uma relação da pessoa de que se


trata com outras, é o caso dos impedimentos dirimentes relativos ao 1602º que
proíbem o casamento entre certas pessoas mas não de cada uma delas com outras.

Comporta também ilegitimidades a prática pelos sujeitos jurídicos de actos que


excedem a sua representatividade legal do 1889º, 1882º e 1893º.

A disponibilidade ou faculdade de disposição é um dos caracteres dos poderes


jurídicos inerentes ao direito subjectivo em sentido amplo, consistindo na faculdade de
determinar o destino deste direito, isto é, de actuar sobre ele segundo a própria
vontade.

O conceito inverso é a indisponibilidade – pode ser absoluta quando contraposta a


todos os demais sujeitos jurídicos e relativa quando oponível apenas em relação a
determinadas pessoas.

Nos casos de indisponibilidade relativa são as proibições de dispor testamentalmente


a favor de determinadas pessoas em certas circunstâncias do 2192º a 2198 aplicáveis
às doações do 953º, mas também a certas proibições de cessão de direitos litigiosos do
579º, 876º.

As indisponibilidades relativas não resultam de falta de qualidades intrínsecas do


disponente, mas sobretudo de inconvenientes de certos possíveis destinatários, pela
especial ligação ao disponente, os actos praticados com violação de tais

75
indisponibilidades são nulos e não podem ser realizados por interposta pessoa do 579º
e 294º.

O problema da existência de direitos ou obrigações sem sujeito


Há situações jurídicas, em que falta um dos sujeitos jurídicos, sobretudo activo mas
também passivo. Não existirá ou ainda não existirá titular do direito no caso da
herança jacente, isto é, da herança aberta pela morte de uma pessoa singular mas
ainda não aceite pelos seus herdeiros familiares nem declarada vaga para o estado do
2046º, até tal aceitação 2050º e 2155º de doação ou sucessão a favor de um nascituro
não concebido ou concepturo do 952º e 2033º nº2 a) enquanto este não nascer ou
não houver impossibilidade de nascer bem como no caso do abandono de um título ao
portador.

Por outro lado, faltará ainda o sujeito passivo de uma obrigação contraída por uma
pessoa entretanto falecida e cuja herança se encontra jacente, sendo certo que os seus
sucessíveis aceitantes, enquanto titulares da herança, virão a responder por tal
obrigação do 2068º e 2071º.

A Doutrina divide-se quanto à existência ou não de direitos sem sujeitos:

Manuel de Andrade e Mota Pinto (professora Nídia) – entendem que estamos


perante meros estados de vinculação de bens, em vista da possível superveniência de
um titular para eles, uma vez que o direito subjectivo pressuporia sempre a ligação do
direito a uma determinada pessoa.

Oliveira Ascensão, Orlando de carvalho e Castro Mendes - consideram que o direito


ou relação jurídica anteriores se mantêm no período de pendência, não havendo lugar
à cessação do direito anterior e à constituição de um direito novo com aquisição
originária.

A concepção que perfilhámos de direito subjectivo consubstancia – se em um poder


jurídico distinto do poder material efectivo pelo que não nos parece inseparável da
titularidade sempre actual de uma determinada pessoa, quando a ordem jurídica face
a especiais interesses em jogo, permite manter ou organizar antecipadamente a
estrutura do poder jurídico na configuração, ficar predisposto a ser adquirido por um
ser dotado de personalidade jurídica.

O legislador para casos justificados por razoes muito especiais pode excepcionalmente
admitir mecanismos jurídicos de melhor construção doutrinária seja de direitos
subjectivos sem sujeito.

Orlando de Carvalho, Castro Mendes e Capelo de Sousa – dizem que o núcleo de


poderes sobre os bens se encontra definido, em que se encontra já estruturados o

76
conteúdo e o objecto de determinados poderes jurídicos de exigir o comportamento
de outra pessoa, bem como os correlativos deveres jurídicos.

Modalidades de sujeitos de direito. As pessoas colectivas e pessoas


singulares
Os sujeitos de direito são caracterizados por terem personalidade jurídica, e
capacidade jurídica.

A ordem jurídica positiva é quem reconhece ou atribui essa personalidade jurídica,


esta apenas cabe às pessoas singulares do 66º e as pessoas colectivas do 158º,
havendo entidades sem personalidade jurídica que são objecto de regulação jurídica,
como as associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais do 195º a
201º.

A pessoa singular perante a cultura, a sua dignidade impõe que a ordem jurídica se
limite a reconhecer pelo mero facto da existência de qualquer homem e sem
condicionalismos, a sua personalidade jurídica.

O direito e as próprias pessoas colectivas devem servir o conjunto e cada um de todos


os homens em concreto, daí posteriormente a inadmissibilidade da escravatura e de
morte civil que produziram a inexistência da personalidade jurídica.

Por outro lado, a fundamental liberdade de associação do 46º nº1 da CRP legitima que
os homens se agrupem entre alguns deles formando entidades distintas de cada um
dos agrupados em vista da prossecução de certas finalidades que lhes são comuns,
também o direito geral da liberdade, 27º nº1 da CRP e 70º do CC que permite os vários
homens instituir organizações distintas deles próprios e que visam a realização de
interesses sociais, face a terceiros beneficiários. A dignidade é importante na ordem
jurídica que atribui as entidades que em certos requisitos, a personalidade jurídica, das
pessoas colectivas.

As pessoas singulares
Início da personalidade jurídica das pessoas singulares
A aptidão para se ser titular autónomo de direitos e obrigações, ou de relações e
outras situações jurídicas, é reconhecida às pessoas singulares no artigo 66º nº1 do CC.

Há nascimento completo no momento da separação plena ou total do filho


relativamente ao corpo materno, normalmente com o corte umbilical, mas pode este
corte ter lugar em casos complicados de parto, antes da separação total do corpo
materno, existe uma separação material.

77
Por outro lado, haverá nascimento com vida quando, após aquela separação, com o
nascido a respirar ou manifestar quaisquer outros sinais de presença de energia vital,
como pulsações do coração, havendo processos médicos aptos para determinar se o
recém-nascido respirou ou não após parto. Para os opositores modernos não faz
sentido adquirir personalidade jurídica antes de o nascimento completo e com vida.

O nascituro não obtém personalidade jurídica.

Em segundo lugar, não se exige o nascimento com figura humana ao invés dos artigos
110º e 1176º do código civil de Seabra e actualmente do artigo 30º do código civil
espanhol. Considerando-se que em 1966 destituídas de fundamento quer a velha
crença romana de que a mulher podia dar à luz monstros, quer a justificabilidade do
requisito da figura humana no caso de nascimento tão prematuro, que o feto não
tivesse configuração humana se viesse vivo, neste argumento o processo normal de
gestação humana e o problema que aí se coloca é outro, o da viabilidade do feto
prematuro nascido vivo, cuja viabilidade a nossa lei não exige.

Assim, o feto nascido prematuro, desde que vivo, tem personalidade jurídica, mesmo
que seja um dos sêxtuplos muito prematuros, resultante de uma fertilização in vitro.

Em terceiro lugar, não se exige prazo de garantia da viabilidade de sobrevivência pós


parto, ao contrário do artigo 30º do CC espanhol que impõe a vivencia do feto, 24 h
inteiramente desprendido do ventre materno, ou seja, entre nós e no comum das
legislações (alemã, francesa e italiana) basta que o nascido se tenha desprendido
completamente do corpo da mãe e após isso tenha respirado uma vez, para ter
personalidade jurídica.

Face à enorme importância do nascimento completo e com vida implicar uma nova
personalidade plena, um novo centro autónomo de direitos e obrigações no universo
jurídico, não admira que a lei imponha em tal caso o registo civil obrigatório do
nascimento, artigo 1º a) do CRCom, no prazo de 20 dias, artigo 96º do CRCom e sob
sanção contra ordenacional 98º nº5 e 295º do CRCom.

Temos outras teses:

Tese Natalistica – defendida pelo Prof. Pires de lima, Antunes Varela e Castro Mendes,
em que no artigo 66º já existe personalidade jurídica, que contra os crimes contra a
vida uterina e protege a vida em desenvolvimento.

Tese da retroacção - Prof. Dias Marques, os nascituros não tem personalidade jurídica,
tem que nascer completo e com vida, posto isto retroage ao momento da concepção.

Tese da expectativa - Karl Larenz, não há necessidade jurídica qual o sentido de


personalidade jurídica, para marcar a nossa individualidade, quando entrar na relação
jurídica, até lá tem uma protecção da expectativa jurídica.

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Tese da utilidade - Egelhart, é útil para a sociedade, atingir a maioridade de forma
livre, assim a pessoa é inteira.

A condição jurídica dos concebidos


Nascituros - são seres humanos ou projectos de concepção de seres humanos, cujo
nascimento futuro se antevê como provável, podendo ser já concebidos ou
concepturos.

Nascituros concebidos – são os seres humanos já concebidos mas ainda não nascidos,
sendo o nascimento provável.

A tutela jurídica dos concebidos

O concebido é, ele mesmo na sua personalidade física e moral e no seu futuro


património, o objecto de tutela jurídica, o artigo 24º da CRP preceitua entre os direitos
fundamentais, que a vida humana é inviolável, sendo a vida humana um processo
moldado numa natureza, que importa ter presente que na caracterização da natureza
humana, em sim mesma, não será decisivo o grau da sua evolução mas a sua estrutura
e dinâmica, parece inegável a existência de vida humana no nascituro concebido, uma
vez que ele, desde a concepção, emerge como um ser dotado de uma estrutura e de
uma dinâmica humana autónoma embora funcionalmente dependente da mãe. A
dignidade humana e o direito à integridade física impõem a defesa do concebido,
inclusive aquando da concepção por inseminação artificial ou por in vitro.

Pelo que, não só a nível de garantias constitucionais mas também no âmbito das
relações entre os particulares, por força da eficácia civil daquela norma artigo 18º nº1
da CRP, deve considerar o ser do concebido como um bem protegido, tanto mais que o
legislador constitucional não distinguiu no artigo 24º a vida humana extra – uterina da
uterina, aquela desta e a razão de ser da lei a ambas abrange no respeito das
correlativas especificidades.

Que o concebido é no direito português um ser tutelado, decorre ainda das sanções
previstas nos artigos 139º e seguintes do CP relativos aos crimes contra a vida intra –
uterina e da taxatividade da restritividade das indicações interruptivas da gravidez
excluidoras da ilicitude do aborto apesar das molduras penais serem menos pesadas.

O código civil foi mais detalhado na defesa dos interesses patrimoniais do nascituro
concebido, assim o artigo 952º permite a doação a concebidos, uma vez que a doação
é um contrato, 940º nº1, tem de ser parte o concebido donatário, cujos
representantes legais são em regra os pais (1878º nº2) e que declaram aceitar a
doação.

79
O artigo 2033º nº1 equipara sem prejuízo do 66º nº2 o concebido ao nascido na
sucessão em geral, isto é, na sucessão legitimária, legítima, testamentária e na
sucessão contratual, o que arrasta diversas consequências jurídicas, há três hipóteses
excepcionais de sucessão contratual previstas no 1700º nº1.

O artigo 2240º nº2 atribui a administração da herança destinada ao concebido em


regra pelos pais, nesta matéria é importante a regra do artigo 66º nº2 de que os
direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento, 66º nº1
completo e com vida, particularmente no caso de sobrevivência muito curta do
nascido e de morte da mãe durante o parto, o filho e o pai, casado com a mãe, herdam
da mãe 2133º nº1 a) e depois o pai sucede ao filho 2133º nº1 b).

Mas ainda resultam do código civil efeitos pessoais para o concebido, desde logo, a
possibilidade de perfilhação deste artigo 1854º e 1855º, a existência de um poder
paternal, com poderes de representação em relação ao nascituro 1878º nº2 e a
presunção de paternidade também relativamente aos filhos concebidos na constância
do matrimónio 1826º nº1.

O artigo 70º do CC acolhe uma protecção geral da personalidade física e moral dos
nascituros concebidos, com efeito, a lei protege os indivíduos contra violações da sua
personalidade, utilizando uma nomenclatura diferente da utilizada na personalidade
jurídica e na capacidade jurídica, as quais, ao menos de um modo pleno, apenas são
atribuídas aos seres humanos nascidos completamente e com vida, 66º nº1, isto é, se
o legislador civil quisesse circunscrever a tutela da personalidade às pessoas jurídicas
singulares nascidas e com vida mais razoavelmente utilizaria no artigo 70º.

Por outro lado, os concebidos são seres vivos humanos intra – uterinos dotados de
uma estrutura e dinâmica própria e como tais, são indivíduos dotados de uma
naturalística personalidade, aliás, a ratio legis do artigo 70º vale também para os
concebidos, porque carentes de uma protecção geral contra ofensas à sua
personalidade, não só para nascerem com vida e ilesos, mas também para que a
própria gestação se processe no modo próprio.

A esta tutela geral da personalidade do nascituro estão dependentes do seu


nascimento e que tais direitos estarão sujeitos a um numerus clausus, com efeito, se é
a própria lei que aí admite reconhecer direitos, embora sujeitos a condição legal, aos
próprios nascituros, isso até justifica a concepção de uma qualquer parcial
personificação jurídica dos nascituros concebidos.

O legislador teve em vista no artigo 66º, que foi regular o começo da personalidade
jurídica plena, nessa disposição projectando ainda os direitos que reconheceu aos
nascituros, o problema que nos prende não é directamente o da titularidade subjectiva

80
dos direitos ou faculdades respeitantes à tutela dos interesses dos nascituros, mas de
saber se a lei previu a tutela, como bem jurídico, da personalidade física e moral do
nascituro, caso dos artigos 24º nº1 da CRP, 139º e seguintes do CP, e 70º, 1878º nº1,
1826º nº1 e 1855º do CC na unidade do sistema jurídico, que esta tutela contém
diversos modos de representação da titularidade dos poderes e faculdades jurídicas.

A legitimidade da ideia de um numerus clausus de direitos reconhecidos aos


nascituros, isso não impede a validade e a eficácia da tutela prevista na lei do bem da
personalidade física e moral dos nascituros concebidos, para além, que um dos direitos
legalmente reconhecidos ao nascituro concebido é justamente, nos termos daquelas
disposições legais, o direito ao respeito e ao desenvolvimento geral da sua
personalidade física e moral, nomeadamente, o direito à omissão contra ofensas à vida
e saúde.

No conteúdo do bem juridicamente tutelado da personalidade do nascituro, estamos


perante, um ser de natureza humana, dotado de unidade na complexidade da sua
estrutura, em profunda transformação, a caminho de uma humanização plena, de já
detêm os elementos potenciais, que uma protecção jurídica eficaz e completa só é
possível através de uma tutela geral da personalidade física e moral do nascituro
concebido tomando na vida conta a especificidade da sua gestação.

Com efeito, de acordo com o artigo 70º CC nº2 e os artigos 1474º e seguintes do CPC,
as ofensas ou as simples ameaças de ofensa, desde que ilícitas, à personalidade física
ou moral do concebido são susceptíveis de ser legalmente combatidas através do
requerimento de providências cíveis adequadas às circunstâncias do caso com o fim de
atenuar os efeitos da ofensa cometida da ameaça.

É tutelavel a vida do nascituro concebido sendo ilícito e indemnizável o aniquilamento


da sua vida fora dos casos admitidos taxativamente de interrupção de gravidez
afundada em justa e tempestiva indicação legal. No acórdão do STJ de 25/5/85 não é
reconhecido um direito de indemnização aos pais segundo o artigo 496º nº1, na perda
de um filho, com cerca de 9 meses de gestação e que aguardavam, lhes causou, mas já
não um direito a indemnização pela supressão da vida do feto à luz dos preceitos do
496º nº2 e 3. Não concordamos com a decisão, porque não está directamente em
causa a questão da titularidade subjectiva dos direitos respeitantes da vida intra –
uterina, distinto dos bens jurídicos da afectividade e da espiritualidade dos pais para
com os filhos concebidos e do inerente sofrimento pela lesão destes bens. A vida intra
– uterina é em si mesma, um bem jurídico, 24º nº1 da CRP, 140º e seguintes do CP e
70º nº1 do CC e o concebido sofre biológica e ontologicamente com as lesões à vida e
integridade física.

81
Do princípio de que a personalidade jurídica do individuo humano nascido e com vida
cessa com a morte (68º nº1) não pode concluir – se que a morte pressupõe sempre um
ser humano nascido com vida.

Se o legislador tivesse previsto com as expressões do 496º nº2 e 3 apenas a hipótese


de morte do ser humano nascido e com vida, haveria entao um caso omisso e por
integração aplicava-se o artigo 496º nº2 e 3 por no caso omisso procederem as razoes
justificativas da regulamentação do caso previsto na lei, com efeito, não pode ter como
irrelevante, em termos de responsabilidade civil, uma ofensa, ilícita e culposa, do bem
jurídico da vida intra – uterina, o direito à indemnização deverá caber às pessoas do nº
2 do 496º, também elas numa proximidade afectiva maior com o concebido, o
montante da indemnização deverá ser fixado equitativamente e devem ser
compensados não só a supressão da vida intra – uterina sofrida pelo concebida pelo
concebido mas também pelos danos não patrimoniais sofridos pelos familiares.

O concebido tem uma personalidade jurídica parcial, onde se inclui a titularidade do


direito à sua vida e ao desenvolvimento desta com vista ao nascimento completo e
com vida extra – uterina.

A tutela da personalidade do concebido abrange inclusivamente a sua personalidade


moral, a tutela implica ainda uma protecção do espaço e das fontes vitais do nascituro,
pelo que as agressões, os maus tratos aos pais de que lhe resultem danos, deverão ser
objecto de medidas cíveis eliminatórias e de responsabilidade civil, segundo o artigo
70º nº2. Neste caso, os nascituros não têm direito a indemnização por danos morais
próprios, argumentando que a indemnização é atribuída por direito próprio a
determinados familiares e que o facto gerador do direito próprio é a morte da vitima
de acidente, e nesse momento, o nascituro, porque ainda não nascido, não está em
condições de adquirir esse direito, já não possui personalidade jurídica, não
concordamos com a decisão, porque foi violado o direito ao desenvolvimento da
personalidade do concebido, enquanto manifestação do direito geral de personalidade
do concebido, decorrente do 70º porque, o concebido tem uma personalidade jurídica
parcial que envolve esse direito e o direito à indemnização por supressão da vida do
progenitor, artigo 496º nº2 e 2033º nº1.

A tutela em causa não só abrange a defesa do concebido contra acções violadoras da


sua personalidade, mas também a defesa contra omissões ilícitas, 486º.

A obrigação de indemnizar, caso se verifiquem os demais requisitos legais, se houver


omissão de actos devidos por parte dos pais cuja ocorrência obstaria, a danos na
personalidade do concebido. São ilícitas e susceptíveis de reparação as omissões que
lesem a personalidade do concebido, nos casos em que haja um dever de terceiros,
por força da lei, de prestar assistência ao concebido ou a sua mãe.

82
A natureza jurídica do concebido

A tutela jurídica relativa ao concebido desde que consideraram que estamos perante
direitos sem sujeitos, e as entendem que há aí só meros estados de vinculação, não
atribuindo, qualquer tipo de personalidade jurídica ao concebido, passando pelas que
admitem uma retroacção da personalidade jurídica desde o nascimento ao momento
da constituição do direito, e pelas que sustentam haver lugar entre a concepção e o
nascimento a uma personalidade jurídica parcial.

Trata-se de um problema de mera construção doutrinal e que vem sendo


predominantemente resolvido entre nós a partir de dados referentes a direitos
patrimoniais do nascituro.

Dos direitos de personalidade do concebido vem colocar novas, como saber se antes
do nascimento deste existem ou não direitos de exigir a abstenção, dai decorre que é
necessário reconhecer no concebido uma entidade parcialmente dotada de força
jurisgénica, pois podem existir lesões e ilícitos tutelados nos casos em que o concebido
morra antes do nascimento e para o esclarecimento de efeitos jurídicos mostra-se
ainda mais adequada a construção do concebido como uma personalidade jurídica
parcial, ele agirá através dos seus representantes legais, mas a atribuição ao concebido
da titularidade dos poderes jurídicos sobre o bem geral da sua própria personalidade
física e moral poderá ter interesse mesmo face aos seus próprios representantes
legais.

A tutela jurídica dos concepturos


Os concepturos são uma mera construção legal, uma simples hipótese de ser.

Daí que os direitos ou as formas de tutela jurídica de interesses ligados à figura do


concepturo sejam muito pontuais e restrinjam ao campo patrimonial.

O artigo 952º possibilita as doações a concepturos. O artigo 2033º nº2 a) admite a


sucessão testamentária e contratual. Os artigos 2240º nº1 e 2237º a 2239º prevêem
um complexo sistema de administração da herança ou legado a favor do concepturo,
foi – lhes recusada uma tutela mais ampla como a dos nascituros concebidos, 1878º
nº1, 1855º e 1828º nº1.

O concepturo não é objecto da tutela do 70º do CC porque não possui qualquer forma
da vida humana, não é uma personalidade humana.

Também não se prevê quanto ao concepturo uma norma que, à semelhança do 71º do
CC tutelasse uma personalidade humana a conceber, porque não há analogia de
situações: a existência de direitos de personalidade face a pessoas falecidas decorre do
real da vida anterior dessas pessoas e personalidade humana.

83
Natureza jurídica do concepturo

Os concepturos não concebidos não possuem uma qualquer personalidade ou


realidade material, biológica, em que possa assentar sequer uma personalidade
jurídica parcial. São meras construções legais aptas a servir interesses excepcionais e
pontuais.

Termo da personalidade jurídica


 A morte física

A morte nos termos do artigo 68º nº1 faz com que cesse a personalidade jurídica das
pessoas singulares é a apenas a morte natural ou física.

Morte física – é um facto jurídico, no sentido de que é um facto de vida real


juridicamente relevante, ele é também um facto constitutivo de novas relações
jurídicas, modificativo das relações do falecido e da sua própria personalidade jurídica,
artigo 68º nº1.

Morte – é um processo, mais ou menos rápido, a morte dos diferentes órgãos e


tecidos humanos não é simultânea os sinais de ausência de vida e de presença de
morte não são inquestionáveis e têm surgido processos de reanimação.

As importantes consequências jurídicas do facto da morte no quotidiano das pessoas e


na textura social, o direito interessa-se pelo facto em si mesmo da morte,
determinando o seu registo obrigatório, nos termos do artigo 1º alínea j), 2º e 192º e
seguintes do código registo civil.

De acordo com os artigos 3º e 4º do mesmo código, a morte não pode ser invocada
pelos herdeiros do de cujos ou por terceiros enquanto não for lavrado o registo, mas
uma vez registada, a prova da morte resultante do registo civil não pode ser ilidida por
qualquer outra, a não ser nas acções de estado e nas acções de registo e o facto da
morte não pode ser impugnado em juízo sem que seja pedido o cancelamento ou
rectificação dos assentos e averbamentos.

O assento do óbito é feito com base em declaração das pessoas que têm o ónus
jurídico de o declarar, 193º e 203º do CRcivil, declaração acompanhada da
apresentação do certificado médico do 194º, ou nos casos de impossibilidade absoluta
de comparência médica para verificação do óbito, de um auto lavrado pela
competente autoridade administrativa com a intervenção de duas testemunhas e no
194º do CRcivil.

Do assento deverão constar, o artigo 201º do CRcivil, para além dos elementos de
identificação pessoal do finado, a hora, a data e o lugar do falecimento ou do
aparecimento do cadáver e a causa da morte.

84
É necessária a justificação judicial do óbito, cujo processo vem regulado nos termos do
233º e seguintes do CRcivil, quando o óbito tenha ocorrido há mais de um ano e
entretanto não tenha sido declarado 199º, ou quando os cadáveres não forem
encontrados ou tiverem sido destruídos em consequência do acidente ou só
aparecerem despojos insusceptíveis de ser individualizados ou for impossível chegar ao
local onde os corpos se encontram, 207º do CRcivil, nomeadamente em caso de
naufrágio do 208º do CRcivil e 68º nº3 do CRcivil.

Pelo artigo 211º, a prova da morte é normalmente feita através de certidões passadas
nos termos do 212º e seguintes, mas também o pode ser mediante boletins do registo
de óbito que os funcionários do registo deverão passar em seguida à realização dos
assentos do 218º.

 A comoriência

Pode acontecer que uma pessoa singular morra juntamente com outras, nos casos em
que os falecimentos de tais pessoas tiveram lugar simultaneamente ou em momentos
tão próximos que não seja possível determinar a sua ordem cronológica, por outro
lado, em que para a produção de certos efeitos jurídicos se exija a sobrevivência de
uma das pessoas a outra, estamos colocados perante o problema jurídico da
comoriência.

No sistema português vigora um sistema de presunções legais, com força probatória


imediata e plena, tendo por base a idade, o sexo, o estado de saúde, para determinar
precedência de morte, o que não impede a aplicação eventual de presunções judiciais
referidas no 349º e 351º nos casos e termos que estão admitidas (392º, 393º e 396º),
trata-se de meras presunções de facto, ilações que o julgador tira um facto conhecido
por firmar um facto desconhecido, sendo o valor probatório apreciado livremente pelo
tribunal.

A invocação de tais presunções factuais insere-se no âmbito do princípio de que a


prova do momento da morte se pode fazer por todos os meios possíveis, sem prejuízo
das regras do registo, assim é admissível prova documental, pericial, testemunhal, por
inspecção e por presunções, quer nos mecanismos processuais que vão servir de base
ao registo, quer após o registo, nas acções de estado e de registo.

Caso não seja produzida prova sobre os momentos de cada morte, haja contradição
probatória, seja insuficiente, as presunções factuais não convençam o julgador,
presume - se nos termos do 68º nº2 que essas pessoas faleceram ao mesmo tempo.

Falecendo as pessoas ao mesmo tempo, não se verifica entre elas, um dos requisitos
da capacidade sucessória, decorrente do 2032º nº1 e 2033º pelo qual o sucessível
deverá sobreviver ao de cujus.

 A morte presumida
85
O Código prevê ainda dois casos de presunção legal de morte, admitindo sempre prova
em contrário 350º nº2, que pode consistir no simples reaparecimento da pessoa.

A morte presumida é regulada nos artigos 114º e seguintes, ela tem lugar quando
determinadas pessoas estão ausentes sem notícias durante um certo lapso de tempo
(5 a 10 anos) porém, esta hipótese está integrada no instituto da ausência das pessoas
singulares.

Segundo o artigo 68º nº3, trata-se de uma presunção de morte, a duração do


desaparecimento da pessoa, apenas sendo relevante o tempo necessário para o
apuramento das circunstâncias que não permitam duvidar da morte.

A capacidade jurídica das pessoas singulares


A capacidade jurídica de gozo

A capacidade jurídica de gozo das pessoas singulares é genérica, por contraposição à


capacidade jurídica de gozo específica das pessoas colectivas, tal resulta do artigo 67º
segundo o qual as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo
disposição legal em contrário, ou seja, a capacidade jurídica de gozo das pessoas
singulares é a regra geral e as incapacidades de gozo são excepções, apenas se exige
que as pessoas singulares tenham personalidade jurídica, artigo 66º, não apenas os
maiores, na plenitude da capacidade jurídica, mas também os menores, os interditos e
os inabilitados têm genérica capacidade jurídica de gozo, para serem titulares de
relações jurídicas, direitos ou obrigações de personalidade, de crédito, reais, familiares
e sucessórias.

Por outro lado, as incapacidades jurídicas de gozo das pessoas singulares têm carácter
taxativo e há-de constar de disposição legal, acresce também por força do princípio da
dignidade da pessoa humana, artigo 1º, tais incapacidades só podem incidir sobre
determinadas relações jurídicas previstas nessas leis excepcionais, isto é, sobre
determinados direitos e obrigações, que não sobre círculos, mais ou menos amplos, de
relações jurídicas, direitos ou obrigações, como acontece com a incapacidade de gozo
das pessoas colectivas.

Entre as incapacidades jurídicas de gozo salienta-se as incapacidades nupciais do


1601º, para testar 2189º e para perfilhar 1850º nº1, tais incapacidades, quando
violadas dão origem a anulabilidades especiais do 1631º a), 1639º e 1861º ou
nulidades do 2190º e 294º, são insupríveis, mesmo através de representante legal,
embora, no caso da anulabilidade, possam ser confirmados ou sanados os actos
inválidos, após o afastamento das causas da anulabilidade (1633º e 288º).

A capacidade jurídica de gozo não é susceptível de renúncia no todo ou em parte pelo


seu titular, artigo 69º, isto prende-se com a dignidade e a igualdade da pessoa

86
humana, particularmente, com a inegociabilidade dessa dignidade e com a
necessidade de manutenção sempre em aberto da pluralidade de vias de
desenvolvimento da sua personalidade, desenvolvimento este só realizável através da
plenitude da capacidade do homem, esta abstracta capacidade jurídica é susceptível
de gradações diversas e não prejudica a possibilidade de renúncia, prévia, à aquisição
de certos e determinados direitos não indisponíveis.

A capacidade jurídica de exercício

A capacidade jurídica de exercício de direitos e obrigações das pessoas singulares


pressupõe, para além da existência da capacidade jurídica de gozo dos direitos e
obrigações, a aptidão de cada pessoa singular para reger adequadamente a sua pessoa
e bens, consequentemente, agir, por si mesma ou através de representante voluntário,
os correlativos direitos e obrigações pessoais e patrimoniais.

Na capacidade jurídica de gozo, a regra geral é a capacidade de exercício, esta


capacidade está limitada por incapacidades de exercício que têm em vista a protecção
dos interesses próprios de tais incapazes e que são supríveis pela representação legal e
pela assistência, pois os incapazes de exercício são por regra, capazes de gozo de
direitos e obrigações em geral, cabendo o seu exercício aos representantes e
assistente.

Quando haja incapacidade de gozo, ilegitimidade jurídica relativamente a certos


direitos e obrigações há também a correlativa incapacidade de exercício, mas sem
possibilidade de suprimento.

Os maiores, são aqueles que perfizerem 18 anos. O momento exacto em que termina a
menoridade e se atinge a maioridade resulta do 296º e 279º c), ou seja, é às 24h do dia
que corresponda ao do nascimento, dentro do último dos 18 anos após este evento.

Os emancipados, são os menores com 16 anos perfeitos e que tiverem contraído


casamento, têm plena capacidade de exercício de direitos, estando habilitados a reger
a sua pessoa e a dispor livremente dos seus bens (130º e 133º), o mesmo em relação
aos menores, interditos e inabilitados têm de ser estabelecidas por lei as suas
incapacidades de exercício e há zonas de capacidade de exercício bem amplas
sobretudo em relação aos inabilitados.

O artigo 133º apenas abre uma excepção, ou seja, quando o menor, com mais de 16
ano, tiver casado sem ter obtido a autorização dos pais ou do tutor para casar nem o
suprimento pelo conservador do registo civil, continua a ser considerado menor, e os
bens são administrados pelos pais, tutor ou representante legal.

Incapacidades jurídicas de exercício

87
 A menoridade
Embora os menores tenham capacidade de gozo da generalidade de direitos e
obrigações (na venda, compra, na troca), eles carecem de capacidade para exercício de
direitos, assim não podem, por si próprios ou por seus representantes voluntários,
adquirir e exercitar tais direitos, assumir e cumprir essas obrigações, agir nos actos e
negócios jurídicos.

De acordo com o artigo 127º determina que as hipóteses do nº1 não comportam
aplicação analógica, em matéria de integração legal, artigo 11º, além de outros
previstos na lei, são excepcionalmente válidos três tipos de actos e negócios jurídicos,
de grande amplitude:

1) Os actos de administração ou disposição de bens que o maior de 16 anos


(1888º nº1 d), 1889º nº1 alínea a) e m), 1937º a), 1938º nº1 a), 1938º nº1 a) e
b) e 1971º nº 1 e 2) haja adquirido por seu trabalho, quer se trate de trabalho
por conta de outrem, quer por conta própria, que mesmo por qualquer esforço
do menor intelectual ou físico de que resulte a aquisição do bem, mas já o
preceito legal não se aplica se a aquisição do bem pelo menor não implicou por
parte deste um esforço casual.

Negócios de mera administração e negócios de disposição

Restrição por força da lei ou de sentença, dos poderes de gestão patrimonial dos
administradores de bens alheios, ou de bens próprios e alheios, de bens próprios.

A lei qualifica, ela própria, certos negócios jurídicos como actos de administração
ordinária ou de disposição.

O código civil não se limita sempre a restringir os poderes dos administradores de bens
alheios aos actos de administração e a impedi-los de praticar actos de disposição, sem
qualquer concretização; antes, seguiu muitas vezes o sistema de fazer uma
enumeração de certos actos que são permitidos ou vedados ao referido administrado.

Quando a lei restringe os poderes de certas pessoas aos actos de ordinária


administração, sem mais especificações, necessário se torna conhecer o respectivo
conceito. Na natureza jurídica dos actos, mas nos riscos ou na importância patrimonial
dos mesmos.

O sentido e a extensão do conceito de actos de mera administração importa ter


presente a razão de ser dos preceitos legais que, em várias sedes, limitam os poderes
de actuação jurídica de certas pessoas à mera administração.

Na hipótese é a de limitar poderes de administradores de bens alheios, a lei atendeu a


uma realidade que a experiência ensina: a falta de interesse pessoal do administrador

88
pode induzir ou não a correr, na administração dos bens alheios, riscos que não
correria se os bens fossem próprios, o administrador de bens de outrem estará mais
facilmente propenso a sujeitar o património administrado a aventuras arriscadas, se a
lei lhe permitir.

Os actos de mera administração ou ordinária administração serem os correspondentes


a uma gestão comedida e limitada, donde estão afastados os actos arriscados,
susceptíveis de proporcionar grandes lucros, mas também de causar prejuízos. São os
actos correspondentes a uma actuação prudente, dirigida a manter o património e a
aproveitar as suas virtualidades normais de desenvolvimento.

Actos de disposição são os que, dizendo respeito à gestão do património administrado,


afectam a sua substância, alteram a forma ou a composição do capital administrado,
atingem o fundo, a raiz, o casco dos bens.

Entra na mera administração tudo quanto diga respeito:

A) A prover à conservação dos bens administrados;


B) A promover a sua frutificação normal;

Os negócios que alteram a própria substância do património administrado, que


importam a substituição de uns bens por outros, que afectem o capital administrado,
pondo – o em risco, por importarem um novo e diverso capital.

As dúvidas e divergências quando se trate de promover uma frutificação anormal ou o


melhoramento do património administrado, ainda mesmo à custa dos rendimentos
obtidos.

Categorias:

a) Actos de conservação dos bens administrados;


b) Actos tendentes a prover à frutificação normal;
c) Negócios tendentes a prover à frutificação anormal;
d) Actos tendentes a prover ao melhoramento do património administrado;

A doutrina de Coimbra tende para a solução afirmativa, parece que esta orientação só
poderá aceitar-se quando as despesas com os apontados negócios sejam feitas à custa
dos rendimentos e é geralmente se entende e quando os melhoramentos não
consistem em novas aquisições de bens mas em quaisquer obras nos bens
administrados.

89
A razão do exposto está na ideia geral já falada, o mero administrador, por falta de
interesse pessoal ou das aptidões normais, tem de confinar-se nos limites de uma
gestão muito comedida e prudente.

2) São também válidos os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor,


que são aqueles que a generalidade dos menores em idênticas circunstâncias
habitualmente pratica, como um contrato de transporte citadino, que estando
ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem despesas, ou disposições
de bens, de pequena importância (127º nº1 b)).
Assim, a doação pelo menor de um livro de estudo novo será válida ou não
consoante o valor do livro, as posses do menor e dos pais, a idade do menor, os
laços afectivos entre o menor e o colega e a ocasião de doação. Para Antunes
Varela, a determinação da pequena ou grande importância das despesas
contraídas pelo menor ou dos actos de disposição por ele realizados fica
entregue ao prudente critério do julgador, que há-de atender às circunstâncias
de cada caso, principalmente à situação económica do menor e dos seus pais,
sem esquecer, que é o menor e não os pais, quem está em causa.

3) Há capacidade de gozo e de exercício quanto aos negócios jurídicos relativos à


profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido obrigado a exercer ou os
praticados no exercício dessa profissão, artigo 127º nº1 c). No caso de trabalho
por conta de outrem, os nº 1 e 2 do artigo 55º do CT, exige, a idade mínima de
amissão 16 anos, a conclusão da escolaridade obrigatória (9º ano) e a
capacidade física e psíquicas adequadas ao posto de trabalho. O legislador
admite a prestação de trabalhos leves por menores com idade inferior a 16
anos desde tenham concluído a escolaridade obrigatória.
Em matéria de exercício autorizado de profissão por conta própria, com
cumprimento dos requisitos e das qualificações legais exigidas, os negócios
jurídicos são válidos, mesmo face a menores de 16 anos, desde que não
prejudiquem a educação do 1878º e 1885º e a personalidade do menor. A
autonomia do menor referida na 2ª parte do nº2 do artigo 1878º é uma
excepção à regra geral do dever de obediência previsto na 1º parte deste
número e não deve, obviamente, abranger os mais importantes e decisivos
actos do menor, sob pena de se esvaziar o conteúdo do poder paternal. A
autonomia aqui referida tem sobretudo em vista a vida pessoal do menor,
particularmente os seus direitos de personalidade. Na alínea c) do nº1 do artigo
127º não está circunstancialmente dependente da maturidade do menor, em
nada contraria o actual regime do poder paternal e é de exigir a autorização.

90
Na primeira parte da alínea c) do nº1 do 127º visam-se os actos próprios integradores
da actividade laboriosa do menor. Na segunda parte abrangem-se os negócios jurídicos
que, embora não necessariamente integradores ou característicos dessa actividade,
são pressupostos ou consequências adequadas desta (exemplo comprar tintas por um
menor autorizado a pintar quadros para vender).

Mas não só face aos negócios jurídicos de ambas as hipóteses da alínea c) nº1 do 127º,
mas também aos actos jurídicos relativos às mesmas actividades dessa norma, o nº 2
do artigo 127º estatui que só respondem os bens de que o menor tenha livre
disposição, tal constitui um travão a que terceiros se aproveitem da inexperiência ou
imaturidade do menor, desde que os actos jurídicos em sentido amplo 127º nº1 a) e 2
se desdobram em negócios jurídicos e simples actos jurídicos.

Negócios jurídicos – são os actos jurídicos compostos por um ou por duas ou mais
declarações de vontade dirigidas a produzir efeitos sociais a que a ordem jurídica
reconhece efeitos jurídicos em geral concordantes com o conteúdo de tais
declarações.

Simples actos jurídicos – são acções humanas produtoras de efeitos jurídicos,


determinados exclusivamente por força da lei, independente da sua concordância ou
não com o conteúdo da vontade declarada.

No artigo 127º nº1 há outras excepções à incapacidade de exercício dos menores


resultantes da lei, desde logo, do artigo 70º nº1 e seguintes, os menores gozam de um
direito geral de personalidade e de direitos especiais de personalidade, que eles
mesmos exercem, sobretudo através de actos jurídicos extranegociais afirmativos da
sua personalidade humana (não só através da prática de actos voluntários lícitos
extranegociais relevantes, como o exercício do seu poder de auto determinação e
autonomia (1878º nº2) e das duas decisões comportamentais mas também através de
meras operações jurídicas, como as suas criações artísticas, literárias e cientificas, por
outro lado, os menores podem exclusivamente celebrar negócios jurídicos relativos à
administração de certos bens da sua personalidade humana que não contrariem os
princípios da ordem pública em matéria da liberdade pessoal), dada a imediata ligação
dos bens de personalidade à pessoas do seu titular (não obsta o 123º, pois este refere
em primeira linha, à capacidade negocial de exercício de direitos, o exercício dos
direitos de personalidade, dada a sua absolutez e eficácia erga omnes processa-se
através de actos materiais ou actos jurídicos sem carácter negocial, o exercicio normal
directo e imediato da generalidade dos direitos de personalidade reveste carácter
pessoal cabendo por isso aos menores e não podendo tais direitos ser directamente
exercidos pelo representante legal) como exemplo: direito à vida, direito à integridade
física, no direito à liberdade, ao nome, à intimidade de vida privada, todavia estes
direitos de personalidade estão sujeitos a certas limitações, ao dever de obediência
dos filhos face aos pais 1878º nº2 e por outro lado, a disposição negocial pelos filhos

91
dos bens integrantes da sua personalidade nos termos do 81º está sujeita aos regimes
de incapacidades de exercício dos menores e do seu suprimento pelos pais ou tutor,
123º e 124º, e por fim a defesa dos direitos de personalidade dos menores, isto é, para
a validade de múltiplos actos relativos aos exercício de diversos direitos de
personalidade do menor basta apenas a mera capacidade natural de entender e
querer, deste, uma função de cada um dos actos ou exigida pela natureza de cada
negócio jurídico, o mesmo quando o menor age como procurador do 263º.

A imputabilidade do menor para efeitos de responsabilidade civil depende da sua


capacidade de entender ou querer o acto ilícito 488º nº1, igualmente um progenitor
menor não emancipado pode validamente exercer os actos relativos ao poder
paternal, desde que tenha a capacidade natural e não se trate de actos de
representação do filho e de administração dos bens deste – 1878º nº1, 1910º, 1911º e
1913º nº2.

Por outro lado, a lei vai atribuindo por via de excepção, uma gradual capacidade de
exercício do menor em função da sua mera idade:

 7 Anos – deixa de presumir-se a falta de imputabilidade em matéria de


responsabilidade civil do 488º nº2 do CC;

 12 Anos – é necessário o consentimento do menor para a sua adopção plena


ou restrita do 1981º nº1 a) e 1993º nº1 e a audição dos filhos do adoptante
para os mesmos institutos do 1984º a) e 1993 º nº1 do CC

 16 Anos - o menor pode casar 1600º e 1601º a), perfilhar 1850º nº1, testar
2188º e 2189º a) do CC

Sendo a capacidade de exercicio para a celebração de contrato de trabalho por conta


de outrem.

Efeitos dos actos praticados por menores incapazes de exercício

92
O menor nos casos que procede sem dolo, com o sentido que se refere a mera culpa,
imprevidência ou negligência, bem como sem culpa, determina o corpo do 125º nº1,
ou seja, para a tutela do próprio menor e por desconfiança nas pessoas que com ele
negociaram, os negócios jurídicos ou os actos jurídicos do artigo 295º, praticados pelo
menor sem para tal ter capacidade de exercício, estão feridos de anulabilidade do
287º, que é a uma sanção menos grave do que a nulidade do 286º e a inexistência
jurídica do 246º e 1628º.

Os modos de arguição da anulabilidade implicam um acto de vontade do menor dos


representantes legais ou herdeiros e são dois: por via de acção e através de excepção,
pois ela não pode ser declarada oficiosamente pelo juiz.

No primeiro caso opera-se através de uma acção com processo comum de declaração
(4º, 460º e 467º do CPC), principiada por uma petição inicial daqueles ao juiz, onde se
identificam as partes substantivas e processuais, e expõem os fundamentos de facto e
de direito e se conclui por um pedido de declaração judicial da invalidade por
anulabilidade do negócio ou acto jurídico.

Na arguição por excepção do 493º nº2 do CPC, o menor, seus representantes legais ou
herdeiros, em acção intentada por outrem, alegam em defesa a anulabilidade de
qualquer negócio que face ao menor tenha sido invocado.

Mas há que conjugar estes modos de arguição com dois tipos de factos:

1) Estar cumprido o acto ou negócio pretensamente anulável, como por exemplo,


o menor declara vender uma bicicleta, sem capacidade de exercício para o
efeito, recebe o preço e entrega a bicicleta;

2) Ou não estar cumprido tal acto ou negócio;

Se o acto ou negócio jurídico estiver cumprido a arguição da anulabilidade por acção


pode ter lugar, de acordo com artigo 125º nº1, nos seguintes termos:

a) A requerimento, conforme os casos, do progenitor que exerça o poder


paternal, do tutor ou do administrador de bens, desde que a acção seja
proposta no prazo de um ano a contar do conhecimento, que o representante
haja tido do negócio impugnado do 287º nº2, que o requerente haja tido do
negócio impugnado do 287º nº1 e 125º a) a anulabilidade tem por fundamento
a falta de capacidade de exercício em função da idade do menor e mesmo as
excepções do 127º são cognoscíveis pelo directo e imediato conhecimento do
negócio do menor. O representante legal nunca pode accionar depois de o
menor atingir a maioridade ou emancipado do 125º nº1 a) reforça o 131º.
Cessa a representação legal e o ex – menor passa a ter plena capacidade de

93
exercício, quer para iniciar uma acção declarativa de anulabilidade quer para
continuar, uma vez que estão em causa os seus direitos e interesses e é
suposto ter o entendimento e a vontade para defender – os.

Esta legitimidade processual de arguição da anulação está dependente de saber


qual deles cabe, a representação legal relativamente aos bens do menor sobre os
quais incidiu o acto questionável. Para além daqueles normais representantes
legais do menor, há representantes legais especiais, para os quais valem os
pressupostos do 127º nº1 a). Assim o MPº é em geral, representante judicial dos
menores, se estes ou seus representantes legais não deduzirem oposição numa
acção proposta por outrem do 15º CPC ou não intentarem acções que se mostrem
necessárias à tutela dos direitos e interesses dos menores do 17º nº1 do CPC.

Por outro lado, há representantes legais casuísticos do menor para determinados fins,
actos ou intervenções substanciais, nomeadamente o curador especial em caso dos
progenitores do menor na representação judicial deste num determinado processo,
12º nº3 do CPC, o representante especial para, em nome do menor, celebrar negócios
jurídicos que sejam urgentes ou de que resulte manifesto para proveito deste do
1921º nº2.

Representante provisório – para ter a guarda do menor, quando houver perigo para a
segurança, saúde, formação moral e educação deste, não seja caso de inibição do
exercício do poder paternal e falecimento do progenitor a quem o menor tenha sido
entregue do 1908º e 1918º.

Curador especial – em caso de conflitos de interesses, cuja resolução dependa de


autoridade pública do 1881º nº2, 1956º alínea c).

Produtor – em caso de conflito entre os interesses do menor e os do tutor do 1956º c)


1ª parte.

b) A anulabilidade do acto jurídico do menor carecido de capacidade de exercício


para o mesmo só pode ser arguida, com o requerimento do próprio menor, no
prazo de um ano a contar da sua maioridade ou emancipação do 125º nº1 b),
quando o menor atinge a maioridade ou se emancipa e o representante legal já
teve conhecimento do negócio anulável, levanta-se um problema da
interpretação legal da contagem do prazo de anulabilidade, a solução neste
caso, é de por força da alínea b) do nº1 do 127º, começar a contar o ex novo o
prazo a partir do 1º dia da maioridade ou da emancipação. Se tal contagem tem
lugar quando o representante legal não teve antes conhecimento desse acto, e
por, incúria ou qualquer outra causa, não accionou, que tal anulabilidade está
estabelecida na lei apenas a favor do menor do 287º nº1 1ª parte e só esse

94
favorecimento implica o alargamento da arguição a favor do representante
legal.

Esta segunda via de arguição da anulabilidade, pois se destina a proteger o menor da


incúria, desatenção, doença ou outra causa de inacção do seu representante. Por
outro lado, não é razoável face à contraparte ou a terceiros, pois o interesse público
reclama a protecção dos menores e aqueles não devem aproveitar-se da imaturidade
destes, não criar expectativas perante actos jurídicos dos menores feridos de
incapacidade de exercício.

A s ou inexistência jurídica são arguíveis sem dependência de prazo, isto é, a todo o


tempo do 286º.

c) Mas a anulabilidade que não tenha sido arguida pelo representante legal do ex
– menor nem por este devido ao falecimento pode sê - lo a requerimento de
qualquer herdeiro do menor, no prazo de um ano a contar da morte deste,
desde que esta morte tenha ocorrido antes de expirar o prazo de um ano a
contar da maioridade ou emancipação do ex – menor do 127º nº1 do c).

Os pressupostos factuais de legitimidade activa dos herdeiros aqui decisivos são a


morte do menor ou ex – menor (requisito positivo) e que tal morte não tenha ocorrido
há mais de um ano após a maioridade ou emancipação deste (requisito negativo),
pode a morte do menor ocorrer antes de este atingir a maioridade ou de se emancipar
pelo casamento, neste caso, cessa o poder paternal, a tutela ou administração de bens
do 68º nº1 e abre – se a sucessão do 2024º e 71º nº1 e 2. Cessando a representação
legal é inoperável do 125º nº1 a) e a legitimidade para arguir a anulabilidade em causa
da c).

Apenas os herdeiros (legitimários, contratuais, testamentários e legítimos) e não os


legatários (o legado incida sobre o bem objecto do acto ou negócio jurídico anulável)
pois o decisivo aqui é a situação de sucessor pessoal e universal do menor do 2030º
nº2. A legitimidade de qualquer herdeiro chamado à herança do menor do 2032º e
aceitante, o que assenta na ideia de melhor garantir a possibilidade de arguição da
anulabilidade, dada a censura moral de um acto jurídico, envolvendo um menor,
anulável.

O legislador que tenha concedido um prazo de um ano completo aos herdeiros para tal
arguição, pois eles precisam de se inteirar do condicionalismo do acto jurídico
praticado pelo menor, reunir provas, conseguir, mandatário forense.

Diferentemente, se o acto ou negócio jurídico não estiver cumprido, a arguição da


anulabilidade, tanto por via de acção como por via de excepção, pode ter lugar sem
dependência de prazo, a todo o tempo do 287º nº2.

95
Se o acto jurídico não foi cumprido e é anulável não há interesses jurídicos substanciais
da contraparte ou de terceiros que imponham o cumprimento daqueles actos jurídicos
apenas por terem passado os prazos gerais de arguibilidade do 125º nº1.

O não cumprimento desses actos torna-se mais atacáveis, dado estarem em jogo
interesses de menores do 287º nº2 e a censura moral.

A declaração judicial de anulação tem efeito retroactivo devendo ser restituído tudo o
que tiver sido prestado, 289º nº1.

A anulabilidade é sanável mediante confirmação do menor depois de atingir a


maioridade ou ser emancipado do 125º nº1 b), ou por confirmação do progenitor que
exerça o poder paternal, tutor ou administrador de bens, tratando-se de acto que
algum deles pudesse celebrar como representante do menor sem recurso ao tribunal e
que são mais amplos no poder paternal do que na tutela ou administração de bens. O
artigo 125º nº2 2ª parte, os actos que os representantes legais apenas podem praticar
mediante autorização do tribunal, 1889º, 1938º e 1971º nº2, só que entao eles
também carecem da autorização do tribunal para a confirmação.

Sendo a confirmação um acto jurídico, com uma declaração de vontade própria, ela
pressupõe para a sua própria validade uma intenção de confirmar ou de validar o acto
ou negócio jurídico do menor anulável, o que implica, para além da existência de
objecto possível e de capacidade e legitimidade dos sujeitos confirmantes, o
conhecimento do vício e do direito à anulação.

Tal sanação do acto ou negócio jurídico pode ser benéfica para o menor ou ex –
menor, tudo dependendo da ponderação das vantagens pessoais e patrimoniais delas
resultantes para o menor e das contrapartidas. Se o menor ou o seu representante
legal têm o direito de anulação devem ter também o direito de sanação por
confirmação do acto jurídico em causa, uma vez que não subjazem aqui os interesses
públicos que dão lugar à nulidade e à insanabilidade.

O acto jurídico de confirmação pode ter lugar por declaração expressa ou tácita do
288º nº3 e 217º e tem eficácia retroactiva, mesmo em relação a terceiro do 288º nº4
para que o acto jurídico celebrado pelo menor sem capacidade de exercício possa ter
total eficácia após a confirmação.

Regime com dolo do menor

Trata-se de dolo nos negócios jurídicos e actos jurídicos previstos no 253º, ou seja,
qualquer sugestão ou artifício que o menor empregue com a intenção ou consciência
de induzir ou manter em erro o autor da declaração, bem como da dissimulação pelo
menor do erro do declarante. A estes requisitos gerais do dolo negocial, há que
acrescentar os referidos no 126º que são: o uso de meios artificiosos pelo menor deve

96
servir directamente para praticar o acto ou negócio jurídico do 253º e o menor há – de
usar o dolo com o fim de se fazer passar por maior ou emancipado.

A doutrina levanta dúvidas sobre as questões de saber quem afecta a proibição do 16º
e quais os efeitos jurídicos desta.

Há quem entenda que o artigo 126º permite a arguibilidade da anulabilidade dos actos
negócios jurídicos do menor incapaz de exercício praticados com dolo pelos seus
representantes legais nos termos do 125º a) até à maioridade ou emancipação do
menor.

Os outros autores não admitem tal arguibilidade, todos estão de acordo com a
proibição da arguição pelos herdeiros do menor, nos termos do 127º nº1 alínea c),
uma vez que estes são meros continuadores do menor, sucedendo apenas em objectos
sucessórios da esfera jurídica deste do 2024º e 2032º nº1 e não havendo nesse caso
um direito de anulabilidade por parte do menor também não o terão os herdeiros.

A ininvocabilidade da anulabilidade pelos representantes legais do menor deceptor é a


posição mais de acordo com a letra e o espírito da lei, aqui merece mais tutela e
crédito a confiança da contraparte, nomeadamente da pessoa que contrata com o
menor, que é enganada sem culpa.

A posição do menor que forjou o artifício não merece qualquer tutela, inexistindo o
dever de diligência da contraparte, enganada, face à idade do menor, o professor
Mota Pinto, defende que a ratio do artigo 126º é a de sancionar o menor que a lei
apenas pretende excluir a actuação pessoal do menor, mas não a dos seus
representantes e que a impugnabilidade do acto cessaria assim que cessasse a
representação.

Permite neste caso aos representantes legais virem invocar a anulabilidade só se


compreenderia se estes agissem em seu próprio nome, no seu próprio interesse,
relativamente à sua própria pessoa ou património, mas não é disso que se trata, os
representantes legais intervêm nestas hipóteses exclusivamente em nome e nos
interesses do menor.

O argumento histórico joga iniludivelmente a favor da ininvocabilidade dos


representantes legais, assim o artigo 299º nº2 do código de Seabra, com redacção
idêntica ao artigo 126º prévia no corpo do artigo a sanção mais grave de nulidade e
apesar disso, a doutrina entendia que aos actos do menor com dolo eram válidos os
negócios que o menor tenha concluído usando de dolo para fazer passar por maior.

Segundo o artigo 9º do anteprojecto de Gomes da Silva, não pode exercer a acção


prevista do nº2 do artigo antecedente que veio dar lugar ao artigo 125º nº1 b), nem
defender-se com a sua incapacidade por via de excepção, o menor que, para praticar

97
actos indevidos, tenha usado o dolo com o fim de se fazer passar por maior tenha sido
eliminada a referência sublinhada.

O termo menor do 126º tanto se reporta substancialmente ao próprio ex - menor com


capacidade de exercício a partir da maioridade ou emancipação, como ao seu
representante legal.

Nos casos de dolo do menor sobre a sua própria idade ou emancipação, extingue-se ou
preclude o direito à anulabilidade prevista no artigo 125º e são válidos os actos, uma
vez que também não é lícito ao enganado arguir uma anulabilidade nos termos do
253º dado que se trata do dolo impróprio. O que não impedirá que, se o menor ou seu
representante e a contraparte enganada nisso acordarem ou o enganado renunciar ao
seu direito à validade do acto, tais actos possam vir a ser ineficazes.

O suprimento da incapacidade de exercício do menor

A incapacidade de exercício dos menores é suprida pelo poder paternal, pela tutela do
124º e pela administração de bens do 1922º e 1967º.

Em casos especiais e para determinados actos do menor, tal suprimento pode ainda
ter lugar através do MPº e certos curadores.

Poder paternal - é o modo natura e imediato de tal suprimento e é exercido em


termos de plena igualdade entre pai e mãe desde a vigência do 36º nº3 e 13º da CRP.

Assim qualquer um dos progenitores casados tem um poder geral de representação


legal 1878º nº1 e 1881º nº1 que compreende o exercício de todos os direitos e o
cumprimento de todas as obrigações do filho menor do 1889º, exceptuando os actos
puramente pessoais (direitos de personalidade), aqueles que o menor tem o direito de
praticar pessoal e livremente e os actos respeitantes a bens cuja administração não
pertença aos pais.

Há que ter ainda em conta a existência de actos dos pais cuja validade depende de
autorização do tribunal do 1889º, 1890º e 1892º.

O exercício do poder paternal pode apenas competir a um dos cônjuges, como é o caso
de impedimento do 1903º e de inibição do outro dos termos do 1913º, ou a um só ou
a ambos os progenitores no caso de estes não estarem plenamente casados entre si,
de acordo com diversas regras do direito de filiação do 1904º a 1912º

Aos actos praticados pelos pais em contravenção dos artigos 1889º e 1892º que
impõem a autorização do tribunal para a validade de diversos actos dos pais em
representação do filho menor sujeito ao seu poder paternal, aplica-se a sanção de
anulabilidade do 1893º.

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Só excepcionalmente o poder paternal não se exerce através da representação legal
mas sim mediante a assistência, ou seja, com uma autorização dos pais para o menor
praticar o acto. É o caso da autorização dos pais para o menor, entre os 16 e os 18
anos, casar do 1604º a).

O poder paternal pode não ser sequer constituído por pais serem incógnitos, pode não
estar em condições de ser exercido ou pode extinguir-se, nestes casos tem lugar a
tutela do 1921º nº1 e 124º.

Tutela

Tem de ser instituída ou confirmada judicialmente podendo inclusivamente ser


decretada oficiosamente pelo tribunal sem necessidade de ser requerida pelos
familiares do menor do 1923º.

Os órgãos da tutela, nos termos dos artigos 1924º, 1955º, 1956º e 1925º, são :

 O conselho de família (órgão consultivo e fiscalizador, em particular da acção


do tutor do 1954º);
 O produtor (vogal do conselho de família que, fiscaliza com carácter
permanente a acção do tutor mas que pode cooperar com este e até substitui –
lo em caso de impedimento do 1955º e 1956º);

 Tribunal (órgão fiscalizador de todos os órgãos da tutela do 1925º nº1);

O tutor é designado ou confirmado pelo tribunal de entre as pessoas dos artigos 1928º
a 1934º, mas é obvio que não o liga ao menor os laços de proximidade sanguínea,
afectiva e teológica que normalmente existem entre os pais e filhos menores. Daí que
o legislador seja mais parcimonioso na outorga de poderes jurídicos ao tutor e mais
severo na condução e na fiscalização da sua actividade.

O artigo 1953º nº1 estabelece que o tutor tem os mesmos direitos e obrigações dos
pais do 1881º nº1 logo acrescenta com as modificações e restrições constantes dos
artigos, por isso, o artigo 1937º proíbe ao tutor a prática de certos actos como os actos
gratuitos e o artigo 1938º impõe ao tutor o recurso a autorização do tribunal para a
prática de um maior número de actos do que acontece com os pais, artigo 1889º.

São mais severas as sanções impostas ao tutor. Por contravenção do disposto no artigo
1937º vigora a nulidade do 1939º e na violação do preceituado no 1938º aplica-se uma
anulabilidade que, para além de ser arguível por um maior número de pessoas, pode
ser decretada pelo tribunal do 1940º.

O tutor pode ser removido, verificando-se as causas previstas no 1948º e ter-se que
designar ou confirmar outro tutor, mas a tutela pode ser reversível e dar novamente
lugar ao poder paternal pelo termo da inibição do poder paternal, pela cessação do

99
impedimento de facto dos pais e pelo estabelecimento da maternidade e da
paternidade do 1961º d), e) e f).

Administração de bens

Tem duas hipóteses como forma de suprimento:

 Quando os pais tenham sido apenas excluídos, inibidos ou suspensos da


administração de todos os bens do incapaz ou de alguns deles, se por outro
título se não encontrar designado o administrador;

 Quando a entidade competente para designar o tutor confie a outrem, no todo


ou em parte, a administração dos bens do menor;

A administração de bens possa funcionar em conjunto com o poder paternal ou com a


tutela do 1971º nº4 e 1924º nº2.

O regime da administração de bens tem de ser instituído ou confirmado pelo tribunal,


podendo também ser promovido e decretado do 1922º e 1923º.

Nos termos do nº1 1971º maxime, os artigos 1935º, 1937º e 1938º sobre os actos
praticados pelo administrador de bens e os artigos 1939º e 1940º quando às sanções
de nulidade e anulabilidade por contravenções do administrador.

O artigo 1971º nº2 quis deixar bem claro que o administrador não é um assistente ou
curador, mas o representante legal do menor nos actos relativos aos bens cuja
administração lhe pertença.

Dado o termo da administração de bens segundo o artigo 1972º e 1961º d), e) e f)


pode renovar-se o poder paternal.

Só existe conselho de família na administração de bens, quando esta funciona


conjuntamente com a tutela, posto isto, atento o disposto nos artigos 1967º e 1971º
papel principal do administrador dos bens em termos deliberativos e executivos e o
paralelismo com o artigo 1924º nº1, o conselho de família tem o mesmo papel na
administração dos bens que tem na tutela em relação ao tutor e ao património do
menor do 1951º.

Para além de um papel consultivo e fiscalizador do administrador de bens pelo


conselho de família, pode qualquer do seus membros requerer a anulação de actos
praticados pelo administrador de bens, do 1940º nº1 e 1967º e com acordo deste, o
conselho pode estabelecer condições para administração de certos bens do menor
pelo produtor do 1956 a) e 1967º.

100
 A interdição
Noção

Definição - A interdição é uma incapacidade de exercicio de direitos e obrigações, que


tem de ser decretada judicialmente, que afecta as pessoas singulares com maioridade,
em virtude de determinadas anomalias, impedindo – as de praticar a generalidade dos
actos jurídicos relacionados com a sua pessoa e o seu património, e que é suprida pela
representação legal.

Excepcionalmente, certos tipos de interdição implicam mesmo incapacidades de gozo


de direitos. Assim acontece com a interdição por anomalia psíquica para casar, 1601º
b), para perfilhar 1850º nº1 e para testar do 2189º b). Nestas hipóteses há também
incapacidades de exercício mas sem possibilidade de suprimento.

O nº2 do artigo 138º permite que as interdições possam ser requeridas e decretadas
dentro do ano anterior à maioridade, para produzirem os seus efeitos a partir do dia
em que o menor se tornou maior.

Dadas as demoras do processualismo judicial ou a data derradeira da propositura da


acção de interdição, há que acrescentar o 131º pelo qual estando pendente contra o
menor, ao atingir a maioridade, acção de interdição manter-se – à o poder paternal ou
a tutela até ao trânsito em julgado da sentença, tais normas justificam-se pela
precocidade dos sinais da anomalia conducente à interdição e destinam-se a evitar
hiatos na protecção do incapaz através da interdição.

Nestes casos continuam as decisões transitadas de decremento da interdição, aplica-se


apenas a maiores, só que no caso do artigo 131º há um prolongamento do regime
jurídico da menoridade após a maioridade ou emancipação, nomeadamente em
matéria de possibilidade de arguição pelos representantes legais, após a maioridade
ou emancipação dos menores e até à sentença definitiva da acção de interdição da
anulabilidade dos actos praticados por estes, antes ou depois dos 18 anos ou do
casamento quanto incapazes de exercício para os mesmos actos, nos termos da parte
final do 125º nº1 a).

Se a interdição não vier a ser decretada, com trânsito em julgado, o interditando


adquire plena capacidade de exercício a partir da data de tal trânsito.

101
Requisitos substanciais

Os requisitos substanciais da interdição são dois:

1) Que se verifica uma das três causas taxativas (anomalia psíquica, surdez –
mudez ou cegueira) conducente a essa incapacidade;

2) Pela sua elevada gravidade, determine que o afectado por ela não possa
governar tanto a sua pessoa como os seus bens 138ºnº1.

Anomalia psíquica, abrange não só as deficiências de intelecto, de entendimento com


as deficiências da vontade e da própria afectividade, como por exemplo, esquizofrenia.

A surdez – mudez e a cegueira, podem ser congénitas ou de primeira infância bem


como posteriores, mas para darem lugar a qualquer incapacidade estão dependentes
da educação recebido, ou não, e do auto desenvolvimento adaptativo, ou não, à vida
social pelo deficiente.

Só estes tipos de deficiências humanas são relevantes para a interdição, mas para que
esta seja decretada judicialmente é preciso que estejamos perante deficientes
profundos, que tais deficiências humanas sejam tão graves que os impeçam de
governar não só os seus bens, mas sua própria pessoa.

Com efeito as anomalias psíquicas, a surdez – mudez e a cegueira, podem ter uma
gravidade muito variável, em função de cada tipo e grau de deficiência, de serem
congénitas, de primeira infância ou posteriores, da evolução das ciências médicas e
farmacêuticas e do acesso aos cuidados médicos e o do seu nível, do tipo de educação
recebido, da inserção social, das potencialidades psíquicas.

Os certos tipos de anomalias psíquicas face ao real de cada ser humana, são na maior
parte das vezes as causas da interdição, também a surdez – mudez ou cegueira,
sobretudo quando congénita, desacompanhadas de educação correctora, com má
inserção social poderão levar à interdição.

Daqui decorre que a deficiência há-de traduzir – se num estado habitual, duradouro,
não acidental ou transitório, isto é, não são suficientes as perturbações passageiras,
embora graves, se bem que não se exija um estado definitivo incurável e que não
sejam relevantes na anomalia – psíquica para efeitos de interdição os intervalos
lúcidos, por não se exigir uma continuidade absoluta da deficiência, assim o estado
altamente deficiente há – de ser actual, isto é, tem de verificar-se com carácter
duradouro no momento da propositura da acção de interdição, não se pode reportar
apenas a situações passadas ou previsíveis no futuro.

102
Requisitos formais. O processo e a sentença judiciais

Não basta para a interdição a existência factual dos requisitos substanciais, atentos os
amplos efeitos desta incapacidade, os artigos 140º e 147º exigem que haja um
processo judicial e uma sentença definitiva de interdição.

A competência para decretar a interdição bem como para suprir, tal incapacidade
pertence aos tribunais comuns de competência genérica, com efeito trata-se de definir
o estatuto jurídico individual e pessoal de um maior, não estão, em causa
directamente questões de família nem delinquência de menores.

O processo reveste um carácter especial do 944º do CPC, sendo – lhe como tal
aplicáveis normas particulares, pontificando diversas regras para se averiguar da
profundidade da deficiência do requerido.

Para melhorar a tutela do deficiente, o juiz por sentença pode decretar definitiva ou
provisoriamente, a interdição ou inabilitação consoante o grau de incapacidade do
arguido e independentemente de se ter pedido uma ou outra, isto é, embora o
requerente na petição inicial deva pedir ou a interdição ou a inabilitação, o juiz na
sentença pode decretar a incapacidade que se mostra mais adequada ao deficiente.

Há que salientar, que a necessidade de publicidade da acção, através da afixação de


editais e de publicação de anuncio num dos jornais mais lidos da área, com o nome do
incapacitando, e o objecto da acção do 945º do CPC, o que visa a protecção não
apenas do deficiente mas também de terceiros que com ele actuassem juridicamente
e que determina o regime jurídico dos actos praticados por aquele num certo período,
149º nº1.

A acção ao invés do que acontece com a instauração ou confirmação judicial da tutela


de menores, do 1921º nº1 não é obrigatória, embora o MPº possa instaurá – la se o
entender necessário face à factualidade do caso e os familiares mais próximos o não
fizerem do 141º, há uma certa margem de discricionariedade relativamente às pessoas
com legitimidade para requererem a interdição, face a uma certa fluidez na detecção
da profundidade das deficiências, às possibilidades de cura e ao facto de estarmos
perante um maior, que não prejudicam os deveres de recurso à interdição, para
protecção deste da patente gravidade da deficiência.

Na sentença que decretar a interdição deve designar o tutor e o produtor, ouvido o


conselho de família quando se verifique a situação do 143º nº2 do CC e 954º nº1 e 3
do CPC.

A sentença de interdição definitiva, isto é, com trânsito em julgado do 677º do CPC,


está sujeita a registo civil obrigatório 147º e 1920º B do CC e 1º h) do Cregciv.
Enquanto não se mostra efectuado este registo a sentença de interdição não pode ser
invocada contra terceiro de boa fé do 147º e 1920º C do CC, valendo aqui a regra geral
103
da invocabilidade erga omnes dos factos sujeitos a registo civil obrigatório apenas
depois de registados do artigo 2º do registo civil.

Amplitude da incapacidade jurídica de exercício na interdição

Ao contrário da incapacidade jurídica de gozo de direitos e de obrigações na


interdição, os interditos com anomalia psíquica não tem capacidade de gozo para
casar, perfilhar e testar, que não afecta os interditos por surdez - mudez e cegueira.

Nenhum interdito pode ser testamenteiro, 2321º nº1, cabeça de casal 2082º nº1,
tutor, 1933º nº1 a), administrador de bens, 1953º nº1, vogal de conselho de família do
1970º, mandante do 1174º a) e adoptante pleno ou restrito, por inibição de pleno
direito do exercício do poder paternal (anomalia psíquica do 1913º nº1 b)) ou por falta
de poderes de representação 1913º nº2, requisitos exigidos quer para a adopção plena
do 1986º nº1 e quer para a restritiva do 1997º.

Uma Situação particular é a da celebração de convenções antenupciais, onde há


incapacidade de gozo dos interditos por anomalia psíquica do 1708º nº1 e 1601º b) e
apenas incapacidade de exercício quanto aos outros interditos, mas suprida por mera
assistência dos representantes legais do 1708º nº2.

A incapacidade jurídica de exercício, distingue – se três períodos:

1) Incapacidade após o registo da sentença definitiva de interdição até ao registo


do levantamento desta ou até à morte do interdito.

Neste período, o interdito sofre de uma incapacidade jurídica de exercício geral de


direitos e obrigações, salvo disposição legal em contrário, tal como um menor do 148º,
139º e 123º. Há uma presunção não iludível por prova em contrário de que o interdito
na ocasião do acto estava incapacitado, não havendo qualquer relevância de eventuais
intervalos lúcidos ou da ignorância da interdição pela contraparte, nem sendo
necessário que o acto cause prejuízo ao interdito.

Quanto aos menores com as devidas adaptações, o artigo 127º remete por força do
139º, assim entre outros actos jurídicos previstos na lei, todos os interditos têm, desde
logo, capacidade jurídica de exercício para praticar validamente os actos de
administração ou disposição de bens que hajam adquirido pelo seu trabalho, que
exigem a autonomia e a dignidade da pessoa humana do interdito.

Em segundo lugar, o interdito tem excepcionalmente capacidade de exercício para os


negócios jurídicos próprios da sua vida corrente, que estando ao alcance da sua
capacidade natural, só impliquem despesas ou disposições de bens, de pequena
importância do 139º e 127º b), aplicam-se os critérios jurídicos supra a propósito da
menoridade, simplesmente, há que ter em conta o facto de o interdito ser maior e

104
também a qualidade e o grau de capacidade de entendimento e de vontade de cada
interdito.

Em terceiro lugar, são ainda excepcionalmente válidos os negócios jurídicos do


interdito à profissão, arte ou oficio que ele tinha sido autorizado a exercer, ou os
praticados no exercício dessa profissão, 139º e 127º c), igualmente com a limitação em
matéria de responsabilidade civil do interdito do 127º nº2.

2) Incapacidades de exercício do interditando após a publicidade da acção de


interdição e o registo da sentença de interdição

Esta incapacidade de exercício se inicia depois de um aviso à navegação, traduzido na


publicidade da acção de interdição, para prevenir terceiros que negociem com o
interditando. Esta incapacidade é geral e comporta os mesmos tipos de excepções do
149º, 139º, 123º, 127º. E por fim, estamos perante uma incapacidade natural ou de
facto, maxime de entender e de querer, e duas condições necessárias, uma jurídica (a
de a interdição vir a ser definitivamente decretada) e a outra factual (a prova de que o
negócio jurídico a anular causou prejuízo ao interdito). A apreciação deste prejuízo
afere-se ao momento da realização do acto jurídico e não a eventos posteriores,
nomeadamente, os existentes na data da propositura da acção de anulação.

Para Pires de lima e Antunes Varela, que o legislador seguiu um critério fechado,
objectivo da existência ou não de prejuízo, para o interdito.

3) Actos do incapaz anterior à publicidade da acção de interdição

Também não se exige que os actos jurídicos neste período causem prejuízo ao
deficiente, embora seja a estatuição do 257º que se pressuponha, requisitos mais
apertados do que os do 148º e 149º.

Efeitos dos actos praticados por interditos incapazes de exercício

Nos casos em que o interdito procede do 148º ou procedeu do 149º sem dolo, os
actos jurídicos por eles praticados sem capacidade de exercício, são anuláveis segundo
o artigo 148º e 149º.

No regime da anulabilidade, são necessárias adaptações, a do artigo 125º, por força do


139º, assim o representante legal do interdito deve propor a acção de anulação no
prazo de 1 ano a contar do conhecimento que ele haja tido do negócio impugnado,
mas nunca depois de ter sido levantada a interdição do 139º e 125º a).

No Caso de o representante legal não tenha actuado, também o interdito pode


requerer a anulação, no prazo de 1 ano a contar do levantamento da sua interdição do
139º e 125º b), pode ainda dar-se o caso de levantamento da interdição e de o ex –
interdito falecer sem ter proposto a acção de anulação mas ainda não se ter esgotado

105
o prazo de um ano para o propor, caso em que os seus herdeiros poderão propor tal
acção no prazo de um ano a contar da morte do ex – interdito do 139º e 125º c).

Há problemas com autonomia, quando os portadores de anomalia psíquica, surdez –


mudez e cegueira praticam actos jurídicos susceptíveis de ser anuláveis e só mais tarde
vem a ser interditos.

Quanto a actos praticados no decurso da acção de interdição, e em princípio quer haja


ou não tutor provisório do 142º nº1 do CC e 953º do CPC, e mesmo interdição
provisória do 142º nº2 do CC e 953º do CPC, que são procedimentos provisórios
anteriores à data da verificação da condição jurídica de a interdição vir a ser declarada
por sentença definitiva e é esta a data relevante para o inicio da contagem do 956º nº2
do CPC, o tutor provisório só terá legitimidade para a acção de anulabilidade se o acto
jurídico praticado pelo deficiente susceptível de ser anulável tiver sido a causa de
decretação daquelas providencias provisórias. Mas para tanto pode ser necessário o
cumprimento de outros requisitos para a propositura da acção de anulabilidade do
142º nº1.

Quando o futuro tutor definitivo haja tido conhecimento do acto anulável antes da
sentença definitiva de interdição, o prazo de anulabilidade de um ano deve contar-se a
partir da data de trânsito em julgado desta do 956º nº2 do CPC.

Quanto aos actos jurídicos praticados por estes tipos de interditos antes da
publicidade da acção de interdição, quando esta vier a ser decretada por sentença
definitiva aplica – se o 945º como indubitavelmente acontecerá se a interdição não for
decretada, o prazo geral de um ano a contar da data em que o deficiente com a
incapacidade acidental, vir cessada esta incapacidade, teremos que distinguir, se a
publicidade da acção de interdição tiver lugar depois ou antes do fim daquele prazo
geral de um ano.

No primeiro caso, prevalecerão razoes de segurança e de confiança no tráfico jurídico


e da contraparte, pelo que, esgotando-se o prazo geral, não se compreenderiam hiatos
nem a ocorrência de um novo prazo de caducidade, que protelariam irrazoavelmente a
definitividade do acto.

Se a publicidade da acção de interdição tiver lugar antes do fim do prazo geral de um


ano, perfilhamos uma outra solução, o artigo 150º está enquadrado na subsecção das
interdições, o que haverá de ter o seu significado próprio, e os incapazes acidentais
aqui estão portadores de uma deficiência que se vem a revelar de uma profunda
gravidade que leva a uma rápida propositura da acção de interdição e a um definitivo
decretamento desta, a ponto de os próprios deficientes poderem não estar em
condições de agir em juízo.

106
Por outro lado, face aos próprios requisitos do 257º, particularmente a gravidade da
incapacidade do deficiente e a notoriedade desta, se bem que numa expressão
acidental, será justo para o deficiente e não será desmedido para a contraparte aplica
– se as regras especiais do 125º nº1, como não houve publicidade da acção de
interdição antes dos negócios jurídicos anuláveis, deverão valer para terceiros de boa
fé as regras de contagem do início do novo do 331º nº1 prazo de arguição da
anulabilidade a partir do registo da sentença definitiva anulável praticado nas
condições do 150º ou a partir da data de conhecimento posterior ao registo da
sentença de interdição. Face a terceiros de má fé a anulabilidade pode ser arguida logo
após o trânsito da sentença definitiva de interdição do 1920º C.

Regime com dolo do interdito

Aplica-se igualmente o artigo 126º por força do 139º. Nos casos de interdição
registada, estaremos perante hipóteses mais raras do que na menoridade, mas não é
de todo impossível que o interdito use sugestões no sentido de se fazer passar por
pessoa plenamente capaz de exercício e consiga convencer a contraparte.

Nos casos de pendência da acção de interdição é mais acessível o dolo, a contraparte


pode desconhecer a existência da acção apesar de anunciada, e as sugestões ou
artifícios, que continuarão a ser necessárias para o dolo, são mais fáceis e credíveis.

O suprimento da incapacidade de exercício do interdito

O artigo 139º manda aplicar à interdição as disposições que fixam os meios de suprir o
poder paternal, o que nos remete para os artigos 1921º e seguintes, isto é, há lugar à
tutela relativamente à pessoa e os bens do interdito, verificando – se os pressupostos
do 1922º, quanto à pessoa do interdito a administração de bens do 1967º e seguintes.

Os actos jurídicos, para os quais o interdito tem capacidade de gozo mas não de
exercício, podem ser praticados, em sua substituição, pelo seu tutor ou administrador
de bens, como seus representantes legais, como ou sem autorização do tribunal. Por
força da parte inicial do 139º do disposto nos artigos 140º a 146º.

As pessoas com legitimidade para requerer a interdição e a nomeação dos órgãos da


tutela são qualquer uma das indicadas no artigo 141º nº1, que tem lugar na hipótese
do 138º nº2 2ª parte, ou seja, o cônjuge, tutor ou curador deste, qualquer parente
sucessível ou MPº.

Visando a interdição a própria tutela jurídica do deficiente, é compreensível este leque


amplo de possíveis e autónomos requerentes.

107
A prioridade dos designados pelos progenitores relativamente a estes explica – se não
só porque a designação dos primeiros emerge sempre na vontade dos pais ou
progenitor que exerça o poder paternal, mas também porque vale a mortis causa, após
a morte de ambos os pais que exerciam o poder paternal.

Quando a tutela for deferida do 143º nº1 c), o progenitor designado tutor exerce
segundo 1878º e seguintes como o interdito fosse menor, neste caso o tutor
progenitor tem poderes mais amplos do que os outros tutores de interditos e do que
os tutores de menores.

Embora os pais e tutores devam velar pela saúde dos menores do 1878º e 1935º nº1, a
importância do 145º está em considerar como dever especial e prioritário do tutor o
de cuidar da saúde do interdito, podendo para esse efeito alienar os bens, obtida a
necessária autorização judicial, decorre o objectivo da tutela de assegurar a regência
da pessoa e bens e de procurar ultrapassar a deficiência de modo que o interdito
venha a reger a sua pessoa e bens, e evitar o agravamento da deficiência.

A tutela dos interditos comporta um produtor e um conselho de família no artigo


1952º.

Levantamento da interdição

A interdição não é um estado definitivo, pode ser levantada, artigo 151º. Tal implica
que a anomalia psíquica, a surdez – mudez ou a cegueira tenham de tal modo deixado
de ser incapacitantes que o interdito possa reger a sua pessoa e bens, possa reger a
sua pessoa.

Tal cessação ou diminuição da incapacidade natural precisa de ser judicialmente


verificada e declarada pelo artigo 958º nº1 e 2 do CPC, adquirindo o ex – interdito a
plenitude da capacidade de gozo e de exercício, no caso de ser julgado definitivamente
que pode reger a sua pessoa e bens ou substituindo – se a interdição por inabilitação,
se em sentença definitiva se apurar que ele apenas pode reger a sua pessoa, mas não
o seu património do 958º nº3 do CPC.

O levantamento da interdição está sujeito a registo civil obrigatório do 1º nº1 l) do


registo civil.

 A Inabilitação
Noção

A inabilitação é uma capacidade de exercício de direitos e obrigações que tem de ser


decretada judicialmente, e afecta as pessoas singulares maiores, sem autorização de
um curador e um conjunto de actos jurídicos relacionados com o seu património e que
é suprida pela assistência legal.

108
Certos tipos de inabilitação implicam mesmo incapacidades de gozo de direitos e
obrigações, assim, sucede com a inabilitação por anomalia psíquica para casar do
1601º b).

Mas a amplitude destas incapacidades de gozo é menor do que no caso de interdição,


pois na inabilitação a qualidade e o grau da incapacidade natural são inferiores e não é
afectada a regência da pessoa do inabilitado. Este pode, e mesmo sem autorização do
curador por actos pessoais, perfilhar do 1850º nº2 e testar do 2189º b).

Por força da remissão do artigo 155º é também possível o requerimento da


inabilitação dentro do ano anterior à maioridade, nos termos referidos para a
interdição do 138º nº2, 2ª parte, 141º e 131º.

O regime jurídico da inabilitação é preciso partir do 156º que salvaguardando as


disposições dos artigos 152º a 155º, opera uma dupla remissão normativa, a primeira
para as normas de interdição do 138º nº2, 139º a 151º e a segunda para as normas da
incapacidade por menoridade do 123º a 127º, esta última por força da combinação do
156º com o artigo 139º. Remissões estas, que devem ser feitas com as necessárias
adaptações, à estrutura e ao espírito da inabilitação.

Requisitos substanciais

São dois os requisitos substanciais da inabilitação:

1) Que se verifique uma das seis causas taxativas (anomalia psíquica, surdez –
mudez, cegueira, habitual prodigalidade e abuso de bebidas alcoólicas ou de
estupefacientes);

2) Que tal causa, pela sua gravidade impeça o afectado de reger


convenientemente o seu património do 152º;

A anomalia psíquica, a surdez – mudez, e a cegueira são causas comuns à interdição e


à inabilitação, mas na inabilitação não são tão elevadamente graves, embora devam
ser suficientemente graves para incapacitar o deficiente de reger adequadamente os
seus bens, e que pode haver psicóticos, depressivos, com tratamento ambulatório
adequado.

Nestes casos tais deficientes não podem ser interdito nem inabilitados e têm plenas
capacidades jurídicas de gozo e de exercício de direitos e obrigações, isto é, é
necessário atender à qualidade e ao grau que cada deficiência e às suas consequências
concretas em cada individuo.

109
Pródigo – é aquele que, por defeito de vontade ou de carácter, dá ou gasta ou
propende a dar ou a gastar exageradamente em relação às suas posses, de um modo
injustificado e socialmente reprovável, implicando a efectiva, provável ou possível
delapidação do seu património, actual ou futuro, independentemente de ser casado
ou ter herdeiros legitimários.

O abuso de bebidas alcoólicas ou estupefacientes devem provocar dependência e,


deste modo, defeito da inteligência, da vontade ou da efectividade.

Todas as causas de inabilitação para além da gravidade, devem ser habituais e actuais.

Todas as causas de inabilitação devem implicar que os afectados por elas, são
incapazes de reger o seu património, mas são capazes de reger a sua pessoa do 138º
nº1, mas tem capacidade reduzida, pois as suas deficiências os tornam incapazes de
reger os seus bens.

Requisitos formais: O processo e a sentença judiciais

Por força do 156º aplicam-se os artigos 140º a 143º e 147, o processo especial de
interdição e inabilitação do 944º a 958º do CPC, acha – se fundido e a generalidade das
suas disposições aplica-se quer à interdição quer à inabilitação, para ser decretada a
inabilitação torna-se necessária uma sentença definitiva do 954º do CPC, a qual
culmina um processo cujos principais actos e objectivos do 944º a 953º do CPC, sendo
necessário a publicidade do 945º do CPC, para tutela do inabilitando e de terceiros.

Apesar de ter sido pedida a interdição o juiz poderá decretar a inabilitação, se a achar
mais adequada para o grau de incapacidade natural judicialmente apurado do 954º
nº1 do CPC. A sentença da inabilitação está sujeita a registo civil obrigatório do 156º e
147º do CC.

Amplitude da incapacidade jurídica de exercicio na inabilitação

Dentro dos actos jurídicos patrimoniais, a incapacidade de exercício na inabilitação


tem um carácter circunscrito, o inabilitado está incapacitado de exercício para os actos
de disposição de bens entre vivos do 153º nº1, como por exemplo, actos de alienação,
de oneração que produzam os seus efeito próprios logo após a perfeição da declaração
negocial, nomeadamente, após o mútuo consenso.

Mas o inabilitado já tem capacidade de exercício para praticar actos de mera


administração, que não transferem nem alteram o capital dos bens e mesmo para
praticar actos de disposição por morte, através de disposições testamentárias e, no
caso em que elas são excepcionalmente admitidas, de doações por morte.

110
O inabilitado pode ainda não ter capacidade de exercício para todos os outros actos
que, em atenção às circunstâncias de cada caso, forem especificados na sentença, que
decretou a inabilitação do 153º nº1 in fine do CC e 954º nº2 do CPC, trata-se de actos
em que os inabilitados são assistidos por curador, neste caso, o juiz decreta que todos
ou alguns dos actos de administração de bens pelo inabilitado fiquem sujeitos a
autorização do curador.

Situação diferente, é quanto aos negócios mortis causa, a lei estabelece regimes
imperativos, daí que as incapacidades pontuais decretadas pelo juiz, caso a caso, não
possam estender-se à disposição de bens mortis causa.

Uma situação diferente, mas excepcional é a do tribunal pode entregar a própria


administração do património do inabilitado no todo ou em parte ao curador do 154º
nº1. Aqui funciona o instituto da representação legal, o curador substitui-se ao
inabilitado que não age. Tal pode justificar-se na administração complexa e
especializada de certos bens e face aos conhecimentos e demais características do
inabilitado.

O inabilitado deve ter a administração sem necessidade de autorização do curador.

O inabilitado tem plena capacidade de exercício para os actos de disposição que o


interdito e o menor também detêm do 156º, 139º e 127º. Face à natureza da
inabilitação e aos seus tipos de incapacidades de exercício do 153º e 154º, não nos
parece necessária a autorização do curador para que o inabilitado exerça qualquer
profissão.

Nesta incapacidade de exercício, por força da remissão do 156º para o 148º, 149º e
150º, há que distinguir também três períodos:

1) Incapacidades após o registo da sentença definitiva da inabilitação até ao


registo do levantamento desta ou até à morte do inabilitado

Vale o regime descrito, sem necessidade de prova de qualquer prejuízo para o


inabilitado e independente do conhecimento ou não do estado jurídico deste pela
contraparte do 148º e do 156º.

2) Incapacidades de exercício do inabilitado após a publicidade da acção de


inabilitação e o registo da sentença definitiva de inabilitação

Por força do artigo 156º e 149º, aplicam-se aqui regras idênticas para a interdição, isto
é, para além de inserção no âmbito das incapacidades de exercício próprias da
inabilitação, é necessário, que a inabilitação venha a ser definitivamente decretada, e
se mostre que o negócio, carece de autorização, casou prejuízo ao inabilitado.

111
3) Actos do incapaz anterior à publicidade da acção de inabilitação

A estes actos, quando praticados por deficientes e dependentes do 152º é aplicável o


disposto acerca da incapacidade acidental do 156º e 150º, regulada no 257º. Ao invés,
do que defendemos na interdição, não é aplicável o artigo 125º nº1 a), nos casos em
que a inabilitação venha a ser decretada e a publicidade da acção tenha lugar antes de
se esgotar o prazo de arguição da anulabilidade por incapacidade acidental, aqui a
necessidade de tutela do inabilitado é menor e são maiores as necessidades de tutela
da contraparte e do tráfico em gera dada a menor previsibilidade de decretação
judicial dessa incapacidade de exercício no momento da conclusão do acto jurídico
impugnável.

Efeitos dos actos praticados por inabilitados incapazes de exercício

Nos casos em que o inabilitado procede do 156º e 158º ou procedeu do 156º e 149º
sem dolo, os actos jurídicos por ele praticados carecidos de autorização do seu
curador, ou que excepcionalmente devessem ser praticados por este são anuláveis do
156º, 148º e 149º.

O regime de anulabilidade é com as necessárias adaptações do artigo 125º por força


do 156º e 139º, bem como o do artigo 956º nº1 do CPC, quanto aos actos dos
inabilitados posteriores ao registo da sentença definitiva da inabilitação e para os actos
dos mesmos praticados no decurso da acção de inabilitação.

Quanto ao regime de anulabilidade dos actos dos inabilitados anteriores à publicidade


de acção, que preencham os pressupostos do 257º, aplicam – se as regras do 287º.

Regime com dolo do inabilitado

Por força dos artigos 156º e 139º aplica-se na inabilitação também os dispostos no
artigo 126º,que o inabilitado atenta a menor gravidade da sua deficiência ou
dependência, está em melhores condições mentais do que o interdito para usar de
sugestões enganadores da contraparte.

Suprimento da incapacidade de exercício do inabilitado

A incapacidade de exercício do inabilitado é suprida pelo instituto da assistência, isto


é, por um curador, a quem cabe autorizar (a autorização do curador deve ser
simultânea ou anterior ao acto do inabilitado, caso contrário há anulabilidade e a única
solução é a sanação pela confirmação), o inabilitado a praticar os actos de disposição
entre vivos e todos os outros actos do 153º nº1. O curador não substitui, aqui o
inabilitado.

Excepcionalmente, nos termos do 154 º nº1 pode a incapacidade de exercício ser


suprida, pelo instituto da representação legal, para além do curador, já há lugar à

112
constituição do conselho de família e designação vogal como subcurador, exerça
funções que na tutela cabem ao protutor do 154º nº2.

A designação do curador, quer funcione o regime de assistência ou de


representação legal, e dos vogais do conselho de família são aplicáveis as regras do
143º e supletivamente do 1952º, do modo idêntico ao da interdição por força do 156º.

A inabilitação é convertida em interdição, por agravamento das condições físico –


mentais do inabilitado do 858º nº3 do CPC, o curador do inabilitado pode também
requerer tal interdição do 141º nº1.

Levantamento da inabilitação

Nos caos de deficientes por anomalia psíquica, surdez – mudez e cegueira aplica-se o
151º por força do 156º, isto é, cessando ou reduzindo-se aquelas causas de modo a
que o inabilitado possa reger o seu património, deverá ser requerida e levantada, após
a instrução, de imediato a inabilitação do 958º nº1 e 2 do CPC.

Tratando-se de dependência por prodigalidade ou por abuso de bebidas alcoólicas, o


artigo 155º estabelece ainda que o seu levantamento não será deferido antes que
decorram 5 anos sobre o trânsito em julgado da sentença que a decretou ou da
decisão que haja desatendido um pedido anterior.

São necessários dois requisitos:

a) Que se verifique a cessação da dependência na data do requerimento do


levantamento;
b) Que haja decorrido uma espécie de quarentena de 5 anos, a contar da última
decisão judicial instituidora da inabilitação.

Estes tipos de dependência são normalmente prolongados, com reincidências, e a


ordem jurídica quer uma demonstração significativa e duradoura da cessação.

Incapacidades de facto - são incapacidades que não operam imediata e


automaticamente por força da lei, como a menoridade, e que não são judicialmente
declaradas, como a interdição ou a inabilitação.

Quanto aos pressupostos e efeitos:

 Carecem de uma intervenção mediadora do direito de modo a avaliar se


verificam os pressupostos legais, definidos.

113
As incapacidades de facto de gozo, que originam incapacidade de facto de exercício o
artigo 1933º.

As meras incapacidades factuais de exercício, que pressupõem a manutenção da


capacidade jurídica de gozo estão a incapacidade acidental, que pela sua grande
importância e os impedimentos factuais artigo 173º.

A incapacidade acidental vem regulada no artigo 257º, esta tanto para situações
ocasionais como para estados habituais a interdição ou a inabilitação não foi proposta.
Há requisitos cumulativos nos artigos 257º e 295º deve ser natural, factual e traduzida
em, no momento do acto jurídico, segundo querer ou de agir e simultaneamente de
entender e de querer e exige – se que seja segundo o artigo 257º.

Os efeitos da incapacidade acidental são previstos no artigo 287º e aplicam – se


regimes especiais de incapacidade acidental segundo os artigos 1631º,1632º, 1635º e
no caso de testar ( 2199º, 2308º nº2, 2309º).

Domicílio
Noção (em sentido jurídico) - é a sede jurídica de uma pessoa singular para a
generalidade ou para uma parte dos efeitos jurídicos ligados à fixação espacial da
pessoa. Trata-se de uma ligação jurídica a vários títulos de uma pessoa singular com
determinado lugar.

O domicílio jurídico pode ser voluntário, se resulta do exercício da vontade do


domiciliado, ou legal se decorre da lei, independentemente da vontade do
domiciliado.

A importância do domicílio jurídico resulta, desde logo, de ser um dos elementos de


individualização das pessoas singulares particularmente em caso do 121º a). Por outro
lado, a de a sua determinação em concreto estar associada à qualidade de centro da
vida de cada pessoa singular ou ser condição para o exercício de certos direitos e para
o cumprimento de determinadas obrigações. O domicílio revela como ponto legal de
contacto não pessoal, o que implica o ónus para o domiciliado de manter ligação com
o seu domicílio ou de comunicar a alteração do mesmo, face à liberdade de
movimentos, e o direito para as outras pessoas de poderem contar com essa ligação,
se tiverem um interesse juridicamente protegido em contactar com o domiciliado.

Domicílios voluntários
Domicilio voluntário geral

Que vale para a generalidade dos efeitos jurídicos ligados à fixação espacial de cada
pessoa singular. Este domicílio é o mais relevante, nomeadamente, é tal domicílio do
réu que determina o tribunal competente para a generalidade das acções do 85º nº1

114
do CPC, a abertura da sucessão por morte tem lugar no último domicílio do seu autor,
artigo 2031º, o credor deve supletivamente receber em regra a prestação debitória no
lugar do domicílio do devedor do 772º nº1.

O domicílio geral abrange quatro tipos distintos:

1) É a situação normal e comum, tal domicílio é o lugar da residência habitual, ou


seja, a casa onde estavelmente mora, onde tem instalado e organizado o
centro da vida pessoal e domestica.

2) Pode acontecer que uma pessoa singular habitualmente resida alternadamente


em diversos locais (ex: mãe que vive semestralmente em casa de cada filho);

3) Na falta de residência habitual mas quando a pessoa vive com alguma


permanência, embora temporária ou acidentalmente, num certo local é tida
como domiciliada, para efeitos jurídicos gerais, no lugar da sua residência
ocasional do 82º nº2, 1ª parte;

4) Se uma pessoa singular não tiver residência habitual nem ocasional com
alguma permanência ou não pode ser determinada a sua residência ocasional ,
o seu domicílio voluntário é o lugar onde se encontra do 82º nº2, 2ª parte;

Domicílio especial profissional

Trata-se de um domicílio voluntario especial quando a pessoa exerce uma profissão


tem, quanto às relações que a esta se referem domicilio no lugar exerce a sua
profissão, abrange as profissões empresariais, liberais, artesanais, por conta de outrem
do 83º nº1.

Este domicílio é voluntário sendo a sua fixação um quase negócio jurídico nas
profissões por conta própria e um efeito supletivo do contrato de trabalho por conta
de outrem, onde se pode estipular quanto no domicílio.

Quando a pessoa singular exerce a profissão em lugares diversos, cada um deles


constitui domicílio para as relações que lhes correspondem, este vale quando seja
plurilocalizada a mesma ou diferente profissão.

Domicílio electivo

É o domicílio particular ou especial estipulado para determinados negócios, contanto


que a estipulação seja reduzida a escrito segundo o 84º.

A estipulação vale para os efeitos substanciais do negócio que pressuponham um


domicílio, como, os lugares da prestação da coisa, de pagamento do preço e de

115
comunicações entre as partes, e pode abranger a totalidade ou parte destes efeitos,
exemplo: uma obra.

O domicílio electivo pode determinar o tribunal territorial competente para dirimir os


litígios emergentes de um determinado negócio do 74º nº1 do CPC, desde que não
contrarie normas imperativas em que não se permita o desaforamento.

O domicílio electivo pode determinar onde deve ter lugar a citação dos contraentes
em caso de litígio num determinado negócio do 237º A do CPC.

Com os negócios jurídicos podem ser unilaterais ou bilaterais, estipulação do domicilio


pode ser, feita pelo único declarante do 459º a 462º ou por declarações de ambos ou
todos os contraentes. Estas estipulações podem ser anteriores visando um futuro mas
determinado negócio, simultâneas ou posteriores ao negócio concreto visado.

Domicílios legais
Domicílio legal dos menores e interditos

O Código não prevê domicílios legais para os inabilitados daí, os seus domicílios são
fixados por eles próprios, de acordo com o 82º a 84º.

Os menores e os interditos face às suas incapacidades naturais e jurídicas não estão


em condições de adoptar domicílios voluntários.

Domicilio legal geral

Os menores não sujeitos a tutela têm o seu domicílio e normal convivência com o pai,
na falta desta residência o domicílio do menor não sujeito a tutela é o domicílio
voluntário geral (85º, 1904º a 1911º). Se o mesmo menor for confiado a terceira
pessoa ou estabelecimento de educação ou assistência do 1905º nº2, 1907º e 1908º, o
seu domicílio legal geral é o domicílio voluntario geral do progenitor que exerce o
poder paternal do 85º nº2 e 1907º nº2.

O domicílio legal geral dos menores sujeitos a tutela e dos interditos é o domicílio
voluntario geral do representante legal.

Domicílio legal especial (85º nº4)

Pode ser estabelecido no regime de administração legal de bens (1922º, 139º). A


restrição aplica-se no artigo 85º nº5 CC.

Domicílio legal dos empregados públicos (87º) (actos jurídicos relacionados com o
exercicio de empregos públicos 87º nº1 e 82º)

116
Domicílio legal dos agentes diplomáticos português (88º)

Ausência
Noção de ausência
É juridicamente empregue quer no sentido de simples não presença de alguém em
certo lugar do 240º e 244º do CPC, quer como desaparecimento continuado
acompanhado de falta de notícias ou ausência qualificada do 89º nº1.

Fases da ausência
A lei distingue três fases:

 Curadoria provisória;
 Curadoria definitiva;
 Morte presumida;

Estas fases não têm necessariamente de ter uma sequência, a curadoria definitiva
pode ter lugar sem antes de se decretar a curadoria provisória do 99º, e a morte
presumida sem antes haver curadoria provisória ou definitiva do 114º nº1.

 Curadoria provisória

Há um desaparecimento sem notícias mas a lei presume o regresso do ausente, o meio


legal de suprimento é a curadoria provisória, sem prejuízo da capacidade jurídica do
cônjuge do ausente, nos termos do 1678º nº2 f) e 1679º para os actos de
administração.

Pressupostos da curadoria provisória ou da nomeação de um curador provisório do 89º


nº 1 e 2:

1) Desaparecimento de alguém sem notícias do seu domicílio ou lugar onde se


encontrava ao tempo das últimas notícias;

2) Haver necessidade de prover acerca da administração dos seus bens;

3) Falta, recusa ou impedimento da prática dos actos por eventual representante


legal ou procurador do ausente;

117
Têm legitimidade para poder requerer a curadoria provisória, de acordo com o artigo
91º, o MPº ou qualquer interessado, abrange para além das pessoas referidas no 100º,
qualquer outra pessoa que tenha um interesse jurídico sobre o património do ausente.

O processo especial de jurisdição voluntária para a declaração da curadoria provisória


vem regulado nos artigos 1415º e seguintes, 1409º e seguintes, 460º e 463º do CPC e é
obrigatório o registo civil para publicidade e efeitos face a terceiros, da sentença
declarativa da curadoria provisória do 1º nº1 i) e 2º a 4º do CRC, que vale também
para a curadoria definitiva e a morte presumida.

Se o ausente não tiver bens em Portugal ou os tiver mas eles não carecem de
administração não deve decretar-se a curadoria provisória, o fundamento das
curadorias provisórias e definitiva é diferente do da morte presumida.

O requerimento da curadoria provisória é facultativo, os interessados na conservação


dos bens do ausente e o MPº consoante as circunstâncias de cada caso, podem ainda
não proceder judicialmente, requerer o arrolamento dos bens do ausente, promover a
nomeação de um curador especial para certos negócios jurídicos do 89º nº3, requerer
directamente a curadoria definitiva ou morte presumida.

Da situação de curadoria provisória não decorrem quaisquer efeitos pessoais,


familiares, sucessórios ou patrimoniais, constituindo ela um mecanismo de
administração de bens e funcionando em benefício do ausente e com o objectivo de
proporcionar que os seus bens frutifiquem e não se deteriorem nem sejam dissipados
daí a obrigatoriedade de nomeação de curador especial para certos negócios em caso
de conflitos de interesse entre o ausente e o curador provisório ou seus familiares do
92º nº2, de relacionação dos bens do ausente antes de serem entregues ao curador
provisório e de prestação de caução do 93º, bem como de contas do 95º, e 98º a), b) e
c).

Protegem-se os interesses particulares de outros interessados (sucessores, credores


91º, 97º e 92º nº1) e o interesse do estado de acordo com 91º e 97º na conservação e
frutificação normal dos bens.

Nos termos do 94º nº1, o curador provisório fica, sujeito ao regime do mandato geral,
de acordo com 1159º nº1, só compreende os actos de administração ordinária, a lei
atribui – lhe alguns poderes especiais nos nº 2 e 3 do 94º por vezes dependentes de
autorização judicial e sempre funcionalizados em vista da melhor administração dos
bens do ausente.

O artigo 96º o curador provisório é remunerado, pelo que em primeira linha nos
parecem aplicáveis as regras do mandato oneroso.

Na cessação da curadoria provisória está patente a presunção do regresso do ausente


das a), b) e c) do 98º.
118
Mas o aprofundamento da ausência pode gerar o termo da curadoria provisória e a
instituição de mecanismos mais radicais como a curadoria definitiva do 98º d) ou a
morte presumida do 98º e).

 A curadoria definitiva

É uma ausência mais prolongada com forte probabilidade do ausente não regressar, a
medida de suprimento é a curadoria definitiva.

Pressupostos:

1) Desaparecimento sem notícias do ausente;

2) Decurso de 2 anos sem saber do ausente, se este não tiver deixado


representante legal nem procurador;

3) 5 Ano se ele tiver deixado representante legal ou procurador mas continue sem
dar noticias artigo 99º;

Nessas hipóteses, o MPº, o cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens, os


herdeiros do ausente e todos os que tiveram sobre os bens do ausente direito
dependente da condição da sua morte podem requerer a justificação da ausência do
99º parte final e 100º, corre em seguida o processo especial de justificação de
ausência, regulado no 1103º e seguintes, 460º e 463º do CPC, onde estabelece a
curadoria definitiva.

Desta declaração, para além dos reflexos em matéria de administração de bens, 100º
com 94º, já decorrem certos efeitos que podemos considerar de para sucessórios,
assim transitada em julgado a sentença que tenha considerado justificada a ausência ,
e de acordo com o artigo 101º, procede-se judicialmente à requisição de certidões dos
testamentos públicos e à abertura dos testamentos cerrados que o ausente tenha
feito.

Com tal trânsito tem lugar a aceitação e o repúdio da sucessão do justificado ausente,
em caso de aceitação, admite-se a disposição de direitos sucessórios, do 109º e
permite nos termos do 102ºque se entreguem desde logo, os bens do ausente aos
legatários e a todos aqueles que por morte do ausente teriam direito a bens
determinados e que requeiram tal entrega, diferentemente do que se passa com os
herdeiros, cuja entrega só tem lugar após partilha, conforme o 103 do CC e 1108º do
CPC, são havidos como curadores definitivos os herdeiros, legatários, e demais
interessados a quem tenham sido entregues os bens do ausente do 104º.

119
Por força do 110º e 94º, os curadores definitivos, à semelhança do curador provisório
mas apenas relativamente aos bens que efectivamente lhes forem entregues, são
considerados em princípio como mandatários gerais do ausente não podendo eles
alienar nem onerar os bens entregues que sejam imóveis, objectos preciosos, títulos
de crédito, estabelecimentos comerciais bem como quaisquer outros bens entregues
cuja alienação ou oneração não constitua acto de administração, a não ser com
autorização judicial, que só será concedida se com isso se beneficiar o património do
ausente.

Os curadores definitivos, embora usufruam dos frutos dos bens entregues (artigo 11º)
não podem em princípio dispor de tais bens, e muito menos em benefício próprio,
terminando a curadoria definitiva se o ausente regressa ou sendo nos termos do 113º,
os bens restituídos ao ausente logo que ele o requeira, são devolvidos os próprios
bens, em espécie, que o ausente tinha ou os sub rogados no lugar daqueles que
tiverem sido alienados ou onerados para benefício do património do ausente.

Cessação

Processa-se nos termos do 112º ou pela extinção pura e simples com o regresso do
ausente ou pela notícia da sua existência e do lugar onde reside, ou por aplicação de
medidas mais radicais como a morte presumida.

 A morte presumida

Há aqui uma presunção de morte, obviamente ilidivel por prova em contrário, e a


possibilidade de determinadas pessoas requererem a declaração judicial de morte
presumida por ausência.

Pressupostos:

1) Para além da manutenção do desaparecimento sem notícias do ausente no


decurso de 10 anos, sobre a data das últimas noticias;

2) A passagem do prazo de 5 anos, se entretanto o ausente tiver completado 80


anos; ( O prazo de 5 anos de ausência e as condições de 80 anos de idade são
cumulativas, embora possam verificar-se contemporaneamente ou uma
proceder a outra)

3) Em casos de pouca idade do ausente, pelo decurso do prazo de 5 anos sobre a


data em que o ausente se fosse vivo, atingiria a maioridade;

120
O processo civil especial para declaração da morte presumida vem previsto no 1110º,
1114º, 460º e 463º do CPC. A sentença transitada em julgado tem de ser registada nos
assentos de nascimento, do 69º nº1 m) do CRC e de casamento do 70º nº1 c) do CRC.

Têm legitimidade, nos termos do 114º nº1 combinado com o 100º para requerer a
declaração judicial de morte presumida, o cônjuge sobrevivo, os herdeiros do ausente
e todos os que tiveram sobre os bens do ausente direito dependente da sua morte,
nem mesmo o MPº tem legitimidade para requerer tal declaração, uma vez que nesta
situação se ultrapassa o objectivo central das curadorias, que é o da administração dos
bens do ausente, para incursão nos domínios da transmissão dos bens e em efeitos
pessoais.

Nas consequências da morte presumida do 115º, cessam todas as relações activas e


passivas de que era titular o ausente, nomeadamente extingue-se o seu poder
paternal, a tutela e a curadoria e pode vir a ser nomeado um tutor ao filho menor se o
outro progenitor não poder exercer o poder do 1921º nº1, sendo nomeado outro tutor
do interdito, 139º, 144º e 124º.

Extinguem-se também as relações previstas no 2025º, consideram-se verificadas as


condições suspensivas ou resolutivas da morte do ausente do 270º, 275º e 278º que
faziam depender o direito dos interessados do 114º nº1 e 100º.

Abre-se sucessão e ocorre a vocação sucessória para aceitação ou repúdio. Os bens do


ausente são entregues aos seus sucessores, sem necessidade de prestação de caução
nos termos do 117º, quer os herdeiros quer os legatários.

Dado que a declaração de morte presumida produz os mesmos efeitos que a morte e
se opera a devolução sucessória, os herdeiros e legatários do ausente recebem as
quotas hereditárias e os legados em propriedade e podem partilhar, alienar ou onerar
livremente essas quotas ou bens.

Se o ausente regressar, segundo o artigo 119º nº1 apenas será devolvido o património
no estado em que se encontrar, com o preço dos bens alienados ou com os bens
directamente sub rogados, e bem assim os bens adquiridos mediante o preço dos
alienados, quando no título de aquisição se declare a proveniência do dinheiro, nos
termos do nº 2 e 3 do 119º do direito a indemnização do prejuízo sofrido, no caso de
má – fé dos sucessores, a qual só pode consistir no conhecimento por parte destes de
que o ausente sobreviveu à data da morte presumida.

A esta equiparação, o 115º, 2ª parte, e 116º abrem contudo uma excepção em matéria
de casamento, com a morte presumida o casamento não é dissolvido, 115º, 2ª parte,
mas torna-se dissolúvel porque o cônjuge do ausente casado, pode contrair outro
casamento, e não há impedimento matrimonial por bigamia do 1601º c), considera-se
o primeiro matrimónio dissolvido por divórcio, à data da declaração da morte do 116º.

121
Há uma perfeita coerência entre este artigo e o anterior, é que o cônjuge do ausente
pode não ter requerido e não estar interessada na declaração de morte presumida e
pode o cônjuge do ausente ter requerido tal declaração para efeitos matrimoniais, mas
não pessoais.

É direito do cônjuge não ausente manter a esperança no regresso do ausente, ou


mesmo que isto não venha a acontecer, permanece casado até à sua morte natural,
mas o direito é normatividade das pessoas comuns, deve ser, justo e seguro, pelo que
permite nos termos do 116º, a possibilidade de o cônjuge casar a segunda vez e de ser
este o casamento predominante.

Cessação

Tem lugar através da certeza da morte física, ou mediante o regresso do ausente ou a


prova de que ele está vivo através de notícias , nestes casos há lugar a alteração
obrigatória no registo civil do 2º, 1 º nº1 i) , 3º e 4º do CRC.

Pessoas Colectivas

Pessoas colectivas – são organizações sociais portadoras de interesses e objectos


humanos a quem o direito atribui personalidade jurídica, ou constituídos por uma
pluralidade organizada de pessoas individualizada ou por uma autónoma massa de
bens que visam a prossecução de interesses ou finalidades comuns ou sociais e a quem
a ordem jurídica atribui personalidade jurídica, diferente da dos seus membros ou do
seu fundador.

Elementos constitutivos das pessoas colectivas:

 Substrato (conjunto de elementos factuais, sociais ou naturais, extra – jurídicos,


que compõem a onticidade de tais pessoas e lhes servem de suporte).

 Reconhecimento (o elemento jurídico, baseado nesse substrato, que confere


personalidade jurídica a estas pessoas).

O substrato (elementos)

a) Elemento pessoal ou patrimonial

O elemento pessoal é formado pelo conjunto ou colectividade de associados ou


sócios agrupados colaborantemente, através de actividades pessoais, e mas
sempre secundariamente, bens ou meios materiais, para a realização de
122
finalidades sociais ou comuns. Ocorre na generalidade das associações e das
sociedades tal conjugação de actividades pessoais primárias e de meios materiais.

O elemento patrimonial consiste na massa de bens ou dotação que, nas fundações,


o instituidor afectou à realização de certas finalidades, determinadas pela sua
vontade objectiva nos estatutos.

As actividades pessoais constitutivas ou essenciais, mesmo do próprio fundador,


terminam com a nova personalidade jurídica da fundação.

Nas pessoas singulares integradas no elemento organizatório da fundação só


poderão ser investidas e desempenhar as suas funções próprias após o
reconhecimento jurídico da fundação e tais funções estão subordinadas aos
estatutos da fundação, pelo que não têm autonomia constitutiva ou essencial
própria e são funções ou actividades secundárias.

b) Elemento teológico

Consiste no conjunto de objectivos ou finalidades humanas, comuns ou colectivas,


lícitas, possíveis e determinadas, em virtude das quais se formou o grupo
associativo ou a dotação fundacional, exemplo o direito existe para o homem.

São muitas as finalidades humanas que não são atingíveis através da actividade de
uma só pessoa, pela envergadura e complexidade das prestações pessoais e meios
materiais a reunir e a empregar, pela longa duração do empreendimento, pelo
largo espectro de pessoas a atingir e inclusivamente pelas multiformes finalidades
a realizar.

O elemento teleológico deve ser comum ou social, de acordo com a própria razão
de ser da pessoa colectiva, que posterga o fim meramente individual.

A pessoa colectiva há – de reportar-se a interesses de comum quando as


finalidades interessam a todos os associados ou sócios e foi por elas e só por elas
que estes decidiram reunir-se.

No art. 158ºA e 280º CC, o objecto do acto constitutivo das pessoas colectivas bem
como o objecto do acto constitutivo das pessoas colectivas bem como o objecto
das actividades destas que constituam actos jurídicos, o que naturalmente se
estende às próprias finalidades dessas pessoas. Os negócios jurídicos são nulos
quando celebrados pelas pessoas colectivas com terceiros em que apenas o fim de
tais negócios seja contrário à lei ou à ordem pública ou ofensivo dos bons
costumes, quando esse fim for comum a ambas as partes do negócio (art.281 CC).

123
As finalidades das pessoas colectivas devem ser determináveis com o que se proíbe
a sua indeterminabilidade, tais finalidades devem ser determinadas no acto
constitutivo da pessoa colectiva ou serem susceptíveis de determinação no futuro.

As finalidades das pessoas colectivas são em princípio duradouras ou permanentes


com a matriz da sua natureza, que elas tenham de ser perpétuas ou inaprazáveis.

C) Elemento intencional

Reside na vontade dos associados ou do fundador de no acto constitutivo das


associações, fundações e sociedades, constituir novo ente com personalidade
jurídica própria, diferente da deles e, no futuro, da personalidade jurídica dos
beneficiários das fundações e das associações altruísticas, isto é, a intenção de
constituir um novo centro autónomo de relações jurídicas, com um novo sujeito de
direito.

Por falta de tal intenção jurídica exprimir, desde logo, nos meros contratos de
sociedade como nas associações de facto com ausência e nas comissões especiais
previstas nos art. 199º e seguintes, também não constituem pessoas colectivas por
falta do elemento intencional os patrimónios de oblação, as fundações de facto e
as fundações fiduciárias.

Patrimónios de oblação – são fundos obtidos por determinadas pessoas, através de


colecta ou subscrição para fins de beneficência.

Fundações de facto – são massas patrimoniais afectadas pelo titular a certos fins
altruísticos mas não destacadas juridicamente do seu património e que assim, a
qualquer momento podem ser desafectadas por ele a regressar plenamente a tal
património.

Fundações fiduciárias – são liberalidades a favor de uma pessoa colectiva já


existente para esta, no âmbito das suas finalidades, prosseguir um certo objectivo
de interesse social sem se criar uma pessoa colectiva nova

d) Elemento organizatório

É o conjunto interligado de normas e dos meios humanos e materiais que


integram e abstractamente unificam tal pessoa.

No remate deste elemento, disciplinador da actividade dos meios humanos e do


emprego dos meios materiais, estão o pacto social nas associações e sociedades e
os estatutos nas fundações.

124
Os órgãos da pessoa colectiva ou seja no ser humano ou indivíduos
institucionalizados de acordo com os estatutos e, supletiva ou imperativamente
conforme os casos com a lei a quem dentro de tais parâmetros normativos cabe
deliberar e dar execução à vontade da pessoa colectiva.

Órgãos deliberativos – formam internamente a vontade desta pessoa, não


tratando directamente com terceiros. (ex: a assembleia geral de associados).

Órgãos executivos – assumem externamente a vontade da pessoa colectiva


representando – a nas suas relações com terceiros (EX: gerente).

Na pessoa colectiva por mera deliberação dos órgãos sociais, estão os agentes ou
auxiliares, que desempenham por incumbência daqueles ou sob a sua direcção,
determinadas operações materiais, no regime de contrato de trabalho de contrato
de prestação de serviço ou de outra conexão comissária.

As pessoas colectivas podem constituir mandatários (art.165º) através de contrato


pelo qual uma outra pessoa, singular ou colectiva por conta delas (art. 1157ª).

Os mandatários agem normalmente em nome da pessoa colectiva nos termos dos


artigos. 1180º a 1184º podem fazê – lo em nome próprio. Os mandatários
procedem sem subordinação à pessoa colectiva mandante e são partes autónomas
no contrato de mandato para diversos efeitos.

O reconhecimento. As suas modalidades

É o elemento de direito e consiste na atribuição da personalidade jurídica por parte


da ordem jurídica, ou seja, o reconhecimento confere a estas entidades a
qualidade de sujeitos de direito, a aptidão para serem centros autónomos de
imputação e de irradiação de efeitos jurídicos substantivos e processuais e a
susceptibilidade de serem titulares em nome próprio de direitos e obrigações.

O reconhecimento polariza e unifica interesses e objectivos colectivos ou sociais


bem como meios humanos e materiais em um ser jurídico independente, a pessoa
colectiva, distinta da pessoa singular, e assegurar – lhe continuidade temporal.

As modalidades do reconhecimento são duas:

 Normativa;

 Individual ou por concessão:

125
- Vinculada

- Discricionária (Para fundações) – em que se tem de verificar o fim social


e o elemento patrimonial cumulativamente.

Reconhecimento normativo – é aquele em que a atribuição da personalidade jurídica


decorre directamente e automaticamente da lei, sem necessidade de qualquer
apreciação discricionária de mérito, oportunidade ou conveniência por parte de
alguma autoridade estadual.

O reconhecimento normativo subdivide – se em:

 Incondicionado;

 Condicionado (Associações e sociedades);

No reconhecimento normativo incondicionado é levado ao extremo do princípio do


livre constituição das pessoas colectivas, a ordem jurídica atribuiria personalidade
jurídica à verificação ex lege do simples substrato factual completo sem quaisquer
outras exigências.

No reconhecimento normativo condicionado à verificação dos elementos do


substrato da lei acrescentaria certas condições ou requisitos como pressupostos da
atribuição automática de personalidade jurídica.

A relevância da qualidade de sujeito de direito da pessoa colectiva, à sua consagração


taxativa na lei e às necessidades de segurança e de transparência jurídicas tornam-se
necessários a sua identificação, caracterização e cabal conhecimento no tráfico jurídico
por parte de todos os interessados. O reconhecimento normativo incondicionado não
possa existir, em toda a sua pureza.

O reconhecimento individual ou por concessão já não resulta automaticamente da lei,


com mais ou menos formalidades, mas de acto individual de uma autoridade pública
que, perante cada projecto de pessoa colectiva, os seus meios, fins e autonomia,
concede ou não a personalidade jurídica sendo alvo de um juízo de valor ou de mérito.

A autoridade pública também está subordinada a critérios normativos, há um espaço


jurídico dentro do qual a administração estabelece mediante juízos de valor ou de
mérito a qualificação de certas pessoas colectivas como de carácter social ou como
detentoras de meios suficientes para a realização de determinados fins, tendo assim a
possibilidade de negar personalidade jurídica a uma pessoa colectiva reconhecer.

126
Classificação das pessoas colectivas

 Classificação legal das pessoas colectivas

1) Associações – são as pessoas colectivas em cujo substrato predomina o


elemento pessoal ou seja um agrupamento ou uma colectividade de pessoas.
As associações são formadas por um conjunto de pessoas que decidem
livremente agrupa-se em vista de um objectivo comum a todas elas e que para
tanto elaboram e assinam o respectivo acto de constituição e os estatutos.

2) As fundações são pessoas colectivas em cujo substrato predomina o elemento


patrimonial, isto é, a massa de bens ou a dotação normalmente própria de só
um fundador mas algumas vezes proveniente de uma pluralidade de
fundadores ou resultante de uma afectação de fundos obtidos por subscrição
pública feita por uma comissão promotora desta, que actuará como órgão da
colectividade dos subscritores e que outorgará o acto de instituição e os
estatutos da fundação.

3) Sociedades - aquelas que tenham por objecto a prática de actos de comércio e


adoptam o tipo de sociedade em nome colectivo, têm um carácter taxativo.

A identificação e o argumento das diferentes modalidades das pessoas colectivas dá-


nos o painel destes permitidos sujeitos de direito e parte substancial do seu regime
jurídico.

Dentro da multiplicidade das classificações das pessoas colectivas existentes só


trataremos de dois:

 Associações;

 Fundações;

A nível do direito privado vem definida no art. 157º ao distinguir as associações que
não tenham por fim o lucro económico dos associados, as fundações de interesse
social e as sociedades ou associações com fins lucrativos .

O art.157º manda aplicar directamente àquelas associações e fundações. Às


associações não lucrativas são aplicáveis as disposições gerais dos arts. 157º a 166º e
127
as disposições especiais das associações desse tipo constantes dos arts 167º a 184º
enquanto aquelas fundações se regem pelas disposições gerais dos arts 157º a 166º e
pelas disposições especiais das fundações previstas nos arts. 185º a 194º.

As sociedades ou associações lucrativas, devem valer as regras gerais e especiais das


associações não lucrativas, porque nos seus casos regulamentação dos casos previstos
para estas associações. Há um nexo de proximidade jurídica entre as associações que
não têm por fim o lucro económico dos seus associados e as sociedades, que leva a
enquadra – las no âmbito mais geral.

O critério desta classificação está na estrutura dos respectivos substratos e no modo


de reconhecimento, comungando as associações não lucrativas e as sociedades
caracteres essenciais em oposição aos das fundações.

Associações – são as pessoas colectivas em cujo substrato predomina o elemento


pessoal ou seja um agrupamento ou uma colectividade de pessoas. As associações são
formadas por um conjunto de pessoas que decidem livremente agrupa-se em vista de
um objectivo comum a todas elas e que para tanto elaboram e assinam o respectivo
acto de constituição e os estatutos.

A saída dos associados existentes é livre sem prejuízo do dever de cumprirem


obrigatoriamente os seus deveres para com a associação nos termos do art. 181º. A
adesão de associados está dependente de ela ser permitida nos estatutos, não
bastando que estes sejam omissivos a esse respeito, tal colectividade mantêm o poder
de alteração do pacto social, pela unanimidade ou maioria consagrada nos estatutos
ou na lei.

Esse agrupamento de pessoas visa um fim comum a todos os associados que


exclusivamente em função dele acordaram em associar-se.

Os associados quem, em vista do fim comum, dirigem, eles mesmos ou por órgãos
representativos previstos nos estatutos, a própria associação, ou seja, os associados
reunidos em assembleia-geral, são a fonte do poder associativo. Podem deliberar
sobre todos os assuntos que digam respeito à associação, instituir os órgãos previstos
nos estatutos, eleger, designar, suspender e destituir os respectivos membros,
executar organicamente as suas deliberações, contratar agentes ou representantes,
modificando os fins da associação e dissolver a associação nos termos estatutários e
legais. O art.46º nº2 CRP como direito fundamental que as associações prosseguem
livremente os seus fins sem interferência das autoridades públicas.

Nos associados o poder associativo, quanto à constituição e governo da associação, tal


pressupõe que esta é animada internamente por uma vontade própria, imanente
geral, resultante das vontades individuais de cada um dos associados que se
agruparam no exercício do seu direito fundamental de liberdade de associação.

128
Em sistema democrático, as associações se baseiam no direito fundamental de
liberdade de associação e sobre os associados impedem os resultados e os riscos das
respectivas actividades é lógico que o reconhecimento da sua personalidade jurídica
seja normativo.

As fundações são pessoas colectivas em cujo substrato predomina o elemento


patrimonial, isto é, a massa de bens ou a dotação normalmente própria de só um
fundador mas algumas vezes proveniente de uma pluralidade de fundadores ou
resultante de uma afectação de fundos obtidos por subscrição pública feita por uma
comissão promotora desta, que actuará como órgão da colectividade dos subscritores
e que outorgará o acto de instituição e os estatutos da fundação.

A fundação tem origem em um acto unilateral emergente de uma declaração de


vontade do fundador ou de várias declarações de vontades paralelas dos fundadores,
que afecta uma certa massa de bens a uma determinada finalidade de interesse social.

É essencial no acto de instituição da fundação que o instituidor indique o fim da


fundação e especifique os bens que lhe são destinados, estabelecidos pelo fundador
ou por certas outras pessoas no respeito, sempre fundador preordena a finalidade, a
orgânica, o funcionamento, a transformação e a extinção da fundação de um modo
que, a partir de certo momento, é irrevogável, mesmo perante ele próprio. A referida
afectação patrimonial, uma vez obtido o reconhecimento, vai dar origem a uma pessoa
colectiva nova com personalidade jurídica diferente da do próprio fundador.

A fundação vista do fim que embora definido pelo instituidor, tem de ser social (arts.
157º e 188º nº1) ou seja um fim não egoístico do fundador, estranho à vontade dos
órgãos da fundação e dirigido a um círculo maior ou menor de beneficiários exteriores
à fundação.

Os órgãos da fundação têm um carácter meramente serviente do papel renovador ou


dominante que ocupam nas associações.

Na fundação constituída rege a vontade última, inalterável e transcendente do


instituidor, corporizada objectivamente no acto de instituição e nos estatutos, que se
impõem aos administradores e ao próprio fundador, quer este faça ou não parte da
administração.

A fundação de um acto unilateral produtor de efeitos em relação a terceiros e face à


norma prudência da ordem jurídica em admitir novos sujeitos jurídicos, o que se

129
justifica aqui apenas pelo seu carácter social é normal que o seu reconhecimento,
atributivo de personalidade jurídica tem um carácter individual ou por concessão.
(arts. 457º e 295º).

As associações são auto organizações para um interesse próprio enquanto as


fundações funcionam como hetero organizações para um interesse alheio.

 Classificação doutrinal das pessoas colectivas

1) Pessoas colectivas e de Direito Privado e de Direito Público

Critério e interesse da distinção

Os tipos de classificações são compatíveis entre si, porque empregues pelo nosso
legislador com objectivos diversos.

As pessoas colectivas públicas e privadas de utilização mais moderna e frequente, mais


abrangentes, traduzem uma simbiose de elementos competentes.

Pessoas colectivas de direito público e pessoas colectivas de direito privado, a nossa lei
avisa, regular a capacidade jurídica em geral ou dessas pessoas; ou seja, determinar
quais as relações jurídicas em que tais pessoas podem intervir, às pessoas colectivas
privadas são aplicáveis normas de direito público contidas em leis administrativas.

Às pessoas colectivas públicas são aplicáveis normas de direito privado quando


intervêm nas relações jurídicas despidos dos seus poderes de autoridade pública.

Critérios distintivos

Os entes públicos menores mas também criam outras entidades coadjutoras da


realização de certos fins públicos, sem consentimento de poderes de autoridade
pública, com regimes jurídicos, em determinados aspectos.

O Estado de um critério substancial e por objectivos especiais, caracteriza como


públicas certas pessoas colectivas por ele criadas, a reprivatização das empresas
públicas nacionalizadas, transformadas, em sociedades anónimas de capitais públicos,
introduziu novas dificuldades na distinção.

Neste contexto, salientam – se os seguintes critérios distintivos:

Critérios do fim – são as pessoas colectivas públicas as que prossigam, exclusiva ou um


interesse público ou comunitário, privadas as que prossigam, nos mesmos modos, um
interesse particular.

130
Este critério não serve porque imporia a qualificação de pessoas colectivas às
associações de fins não lucrativos e altruísticos e às fundações de fim social abrangidas
pelo art. 157º CC.

Critério da criação – são pessoas colectivas públicas as constituídas pelo Estado ou


demais entes públicos dotados de poderes de autoridade pública ou por sua iniciativa
mediante uma decisão pública e privadas as criadas pelos outros sujeitos de direito.

Há pessoas colectivas privadas que o Estado converteu em publicas, há pessoas


colectivas privadas a quem o Estado outorga certos poderes públicos. O Estado e os
entes públicos menores podem constituir pessoas colectivas privadas. Há pessoas
colectivas criadas pelos particulares a quem o Estado atribui determinados poderes
públicos, que podem ser qualificadas como pessoas colectivas públicas.

Critério da integração – as pessoas colectivas públicas são as que se integram na


organização política estadual, as demais são privadas.

É apenas directa ou também indirecta, se implica apenas uma tutela formal da


legalidade dos actos da pessoa colectiva ou se exige uma tutela de mérito controlado
tais actos de conveniência ou adequação.

Critério da titularidade de poderes de autoridade pública – são pessoas colectivas


públicas as que desfrutam em maior ou menor extensão, o chamado ius imperii
correspondendo lhe quaisquer direitos de poder público, quaisquer funções próprias
de autoridade estadual, às quais couber segundo o ordenamento jurídico e em maior
ou menor grau uma posição de supremacia, isto é, uma vontade imperante sendo
certo que o imperium se traduzia na possibilidade de por via normativa ou através de
determinações concretas, emitir comandos vinculativos, executáveis pela força, sendo
caso disso contra aqueles a que são dirigidos.

O Estado pode criar e atribuir personalidade jurídica a estruturas visando serviços


públicos em tudo iguais aos serviços não autónomos do Estado, a quem o Estado
confere um determinado regime jurídico, de matriz pública, que na maioria dos casos,
qualifica como pessoas colectivas públicas, mas que não detenham poderes de
autoridade pública.

Critério da prossecução necessária do fim – as pessoas colectivas públicas têm a


obrigação, em face da comunidade representada pelo Estado, de prosseguir o seu fim
ou seus fins, enquanto as pessoas colectivas privadas são aquelas cujos fins não são de
prossecução obrigatória, aquelas cujos fins são, em relação ao Estado, meramente
lícitos.

Certas pessoas colectivas públicas podem ser criadas com duração limitada ou
transitória e pelos seus estatutos, podem auto dissolver – se, por outro lado, a garantia
da confiança dos seus associados ou da vontade do seu instituidor, as pessoas
131
colectivas privadas também estão adstritas ao cumprimento obrigatório dos seus fins
estatutários sob pena de hetero extinção (arts. 182º nº2 al. b); 183º nº2; 192º nº 2 al.
b) CC).

Critérios eclécticos – segundo vários autores

- MARCELLO CAETANO – são pessoas colectivas de direito público, além do Estado


aquelas que sendo criadas por acto do poder público, existem para a prossecução
necessária de interesses públicos e exercem em nome próprio poderes de autoridade.

- FREITAS DO AMARAL – pessoas colectivas públicas são criadas por iniciativa pública,
para assegurar a prossecução necessária de interesses públicos e por isso dotadas em
nome próprio de poderes e deveres públicos.

- CASTRO MENDES – pessoa colectiva de direito público a que prossegue


primariamente fins de interesse público, reflectindo-se esta finalidade relevantemente
na sua constituição ou no seu regime.

Posição Adoptada

O nosso legislador atribui tal estatuto a uma panóplia de pessoas colectivas com
regimes jurídicos muito diversos. O actual código civil clarificou quais as pessoas
colectivas sujeitas ao disposto nos arts. 157º a 194º.

O art.157º não nos fornece um critério de distinção entre as pessoas colectivas


privadas e as pessoas colectivas públicas na sua globalidade e há leis avulsas.

A lei estabelece frequentemente regimes jurídicos diversos para denominadas pessoas


colectivas privadas e pessoas colectivas públicas.

As regras gerais de interpretação e de integração das leis dos arts 9º, 10 º e 11º CC, a
que tipo ou subtipo de pessoas colectivas cada norma diferenciadora se reporta bem
como analisar a estrutura e as finalidades de cada pessoa colectiva em concreto para
determinar se a ela são aplicáveis.

Diferenças fundamentais entre os regimes jurídicos das pessoas colectivas públicas e


privadas

1º - As pessoas colectivas privadas nunca detêm, em nome próprio poderes de


soberania ou de autoridade pública, por via normativa ou através de determinações

132
concretas emitir comandos vinculativos executáveis pela força se necessário contra
terceiros.

Entes públicos menores – o Estado como pessoa colectiva pública legiferante, judicial
e imperante por emanação da soberania residente no povo e actuante no quadro
públicos menores (arts 225º e 235º)

2º - O regime jurídico geral das pessoas colectivas públicas é em regra de direito


público.

3º - As pessoas colectivas públicas são titulares em nome próprio de direitos e deveres


e poderes radicados em atribuições jurídicas de prossecução do interesse público ou
colectivo.

Os poderes são considerados como tarefas, funções ou prestações sociais do Estado


moderno e demais pessoas colectivas públicas nas áreas de apoio ao trabalho, à saúde,
à habitação etc.

Os direitos, deveres e poderes que são apenas todos os necessários à prossecução do


objecto das pessoas colectivas públicas e que estas estão adstritas a exercer com
observância o princípio da legalidade no domínio da gestão pública vedado exercer
actividades ou usar os seus poderes fora das suas atribuições nem dedicar os seus
recursos a finalidades diversas das que lhe tenham sido cometidas, isto é, as pessoas
colectivas públicas são uma modalidade mais severa e estrita do princípio da
especialidade do fim do objecto.

4º- As pessoas colectivas embora tenham autonomia financeira e contabilidade


própria estão sujeitas a apertado controlo estadual executivo, particularmente a
superintendência e a tutela administrativa e a controlo jurídico das suas contas.

5º - Os actos diferendos das pessoas colectivas públicas estão em regra, sujeitos à


competência da jurisdição administrativa, em princípio, com os actos e diferendos das
pessoas colectivas privadas cuja apreciação compete aos tribunais jurídicos comuns.

6º- As pessoas colectivas públicas têm um regime fiscal privilegiado fruto da sua
prossecução de fins colectivos e das suas ligações aos fins do Estado que se traduz em
regra na isenção de contribuições e impostos.

7º - As pessoas colectivas públicas sujeitam em princípio os seus agentes a um estatuto


funcional próprio, adaptado às necessidades de prestação de serviços de interesse
colectivo, em matéria de relações laborais e de responsabilidade civil de funcionalismo
público que reveste a natureza do direito administrativo, daí os conflitos sejam
dissolvidos pelos tribunais administrativos.

133
Âmbito de aplicação de cada norma diferenciadora

Algumas normas com regimes jurídicos diversos para denominadas pessoas colectivas
privadas e pessoas colectivas públicas. No art. 501º a responsabilidade civil
extracontratual, por risco, no exercício de actividades de gestão privada, do estado e
demais pessoas colectivas públicas.

As pessoas colectivas públicas incluindo os institutos públicos e as empresas públicas


ou tão só as pessoas colectivas dotadas de poderes de soberania ou autoridade
pública.

Pelo estado ou por pessoas colectivas públicas do art. 1527º CC, da constituição do
direito de superfície por estes no seu domínio privado, pela história e espírito da
norma, só deve abranger o estado as autarquias locais e as pessoas colectivas de
utilidade públicas administrativas.

Regimes jurídicos do tipo, do subtipo ou da concreta pessoa colectiva

Na fixação da natureza jurídica, pública ou privada das pessoas colectivas é preciso


atender ainda aos regimes jurídicos gerais e sectoriais estabelecidos para cada tipo ou
subtipo de pessoa colectiva e por vezes aos estatutos da concreta pessoa colectiva a
qualificar.

As empresas públicas “stricto sensu” são sociedades constituídas nos termos da lei
comercial, nas quais o Estado ou outras entidades públicas estaduais possam exercer,
isolada ou conjuntamente de forma directa ou indirecta uma influência dominante em
virtude de alguma das seguintes circunstâncias:

a) Detenção de maioria do capital ou dos direitos de voto;

b) Direito de designar ou de destituir a maioria dos membros dos órgãos de


administração ou de fiscalização.
As empresas públicas em geral têm uma matriz pública menos acentuada que o
Estado, as autarquias regionais e locais e os institutos públicos.

Uma determinada pode revestir, por força da lei geral ou até dos seus estatutos, a
natureza jurídica privada ou pública para a generalidade ou para uma parte dos efeitos
jurídicos.

As pessoas colectivas públicas, face a um conjunto básico de efeitos jurídicos desse


tipo, as entidades públicas empresariais instituídas e dada a sua criação estadual por
decreto lei e a respectiva aprovação dos estatutos, a propriedade do seu capital por
parte do estado ou de outras entidades públicas, a sua dependência do Estado quanto
ao modo de designação dos membros dos seus órgãos a sua subordinação a

134
orientações estratégicas estaduais relativas ao exercício da função accionista, a larga
extensão da tutela do estado, a sua prestação de contas públicas.

No sentido de contribuir para o equilíbrio económico e financeiro do conjunto do


sector público e para obtenção de níveis adequados de satisfação das necessidades da
colectividade.

As pessoas colectivas de direito público é um indicador de uma aplicação prioritária e


básica de normas de direito público, maxime administrativo, tais entidades são
reguladas prima facie pelas normas especiais públicas dos arts. 23º a 34º e só
disposições gerais públicas do sector empresarial do estado e das empresas públicas.

As regras de direito privadas aplicáveis às empresas públicas em geral só valem para as


entidades públicas empresariais quando não contrariem aquele fundo básico de
normas de direito público e os fins destas entidades.

As empresas públicas em sentido estrito são, face a estes dados legais pessoas
colectivas privadas. Os seus traços jurídicos fundamentais correspondem a este tipo de
pessoas, a sua criação ou constituição embora contém a iniciativa do estado ou outras
entidades públicas estaduais faz – se nos termos da lei comercial.

O seu regime jurídico geral é o direito privado, estão sujeitas a tributação directa ou
indirecta nos termos gerais da concorrência, nacionais ou internacionais.

A competência judicial para a decisão da generalidade dos litígios em que intervenham


tais empresas é a mesma da que vale para os particulares.

Esta diferenciação de regimes e de qualificações legais, nas entidades públicas


empresariais e nas empresas públicas em sentido restrito, reside nos elementos
intencionais e teleológicos na formação dos substratos das respectivas pessoas
colectivas.

O estado quer instituir capacidade jurídica e regime jurídico de direito público para
prestação de serviços públicos especializados. O estado exclusivo quer constituir na
constituição de uma pessoa colectiva com personalidade jurídica autónoma e com
capacidade jurídica e regime jurídico basicamente de direito privado para a produção
de bens ou para prestação de serviços privados.

O nosso critério distintivo das pessoas colectivas privadas face às pessoas colectivas
públicas decorre de diferenciações básicas de regimes jurídicos, onde avulta que as
primeiras, em nome próprio, não detêm poderes de autoridade pública nem prestam
serviços públicos, em maior ou menor grau, nome próprio, detêm tais poderes ou
prestam serviços públicos.

135
As pessoas colectivas públicas

São pessoas colectivas dotadas de personalidade jurídica, criadas por iniciativa ou


ratificação pública, regidas basicamente por normas de direito público, para prosseguir
os interesses públicos e que por isso, em nome próprio, desfrutam, em maior ou
menor extensão.

As pessoas colectivas públicas de população e território são entidades representativas


de certas comunidades humanas ligadas a determinados territórios, dotadas de
personalidade jurídica e organizadas com base na constituição em vista da
prossecução necessária dos interesses colectivos, temos o estado unitário português
com órgãos centrais, cujas atribuições estaduais são realizadas por serviços integrados
na sua pessoa jurídica e que representa a generalidade dos interesses do povo
juridicamente ligado a todo o território português, na ordem jurídica interna quer na
internacional.

Os entes públicos menores, autarquias territoriais representativos de certos interesses


de comunidades regionais ou locais, ou seja, as regiões autónomas dos açores e da
madeira e as autarquias locais.

Os institutos públicos – são os serviços e fundos do Estado e das regiões autónomas,


quando dotados de personalidade jurídica dado prosseguirem atribuições ou fins
especiais, embora ligados às tarefas do Estado e das regiões autónomas, a ordem
jurídica atribui-lhes personalidade jurídica diferente das destes entes públicos.

Os institutos públicos podem estar sujeitos ao regime comum e ter regime especial,
possuir organização simplificada e ter gestão participada de terceiros.

As entidades públicas empresariais – são as pessoas colectivas com regime básico de


direito público, com natureza empresarial criadas pelo Estado e estreita ligação com as
atribuições deste com a matéria de obtenção de níveis adequados de satisfação das
necessidades da colectividade.

As associações públicas – são as pessoas colectivas de tipo associativo não lucrativo


com personalidade jurídica, que visam a prossecução necessária de interesses públicos
e para as que o estado operou a devolução de necessidades especificas –
administração autónoma do estado, os institutos públicos são objecto de tutela e de
superintendência.

O seu regime jurídico vem definido na CRP e salvaguarda as especificidades de cada


associação pública.

136
As associações públicas distinguem – se em três sub – categorias, que são:

 Associações de entidades públicas (federações de municípios);

 Associações de entidades privadas (ordem dos advogados);

 Associações de carácter misto;

As pessoas colectivas privadas

Definição – são as pessoas colectivas, dotadas de personalidade jurídica e regidas


fundamentalmente por normas de direito privadas, maxime não detêm, em nome
próprio, poderes de autoridade pública, nem prestam serviços públicos.

Para MANUEL DE ANDRADE as respectivas finalidades estatutárias derivam específicos


sub regimes jurídicos, as pessoas colectivas privadas de utilidade pública e as pessoas
colectivas privadas de utilidade privada.

Às pessoas colectivas privadas de utilidade pública aplicam-se directamente os arts.


158º a 166º e os arts. 167º a 184º.

Ás pessoas colectivas privadas de utilidade particular são aplicáveis, como infra, as


disposições específicas de cada um dos subtipos de tais pessoas e só é admissível o
recurso aos arts. 158º a 184º.

As pessoas colectivas privadas de utilidade pública podem ver o seu estatuto social
beneficiado mediante declaração governamental de utilidade pública, pressupõe a
cooperação da respectiva pessoa com a administração central ou local e envolve a
atribuição de determinados benefícios, a isenção ou redução do preço de certos
serviços estaduais ou colectivos, as pessoas colectivas privadas de utilidade pública são
susceptíveis de declaração governamental de utilidade pública as pessoas colectivas de
utilidade pública administrativa.

As principais modalidades de pessoas colectivas privadas, em função dos seus fins


estatutários, são:

 As pessoas colectivas privadas de utilidade pública;

- As associações não lucrativas;

137
- As fundações de interesse social;

 Entre as associações que não tenham por fim o lucro económico dos seus
associados;

- Fim altruístico; (desinteressado)

- Fim egoístico; (interessado)

As associações privadas de utilidade pública e fim egoístico visam uma grande


multiplicidade de finalidades, muitas vezes interligadas.

Em associações de fins não económicos ou ideais como os de carácter político, cultural,


recreativo, desportivo e educacional.

Em associações de fins económicos não lucrativos que prosseguem fins tendentes a


obter certas vantagens susceptíveis de avaliação pecuniária para a globalidade dos
seus associados, mas não fins estruturados e orientados para a obtenção de lucros
destinados a ser repartidos pelos associados.

Constituem pessoas colectivas privadas de utilidade pública todos as fundações


privadas, arts. 157º e 188º nº1, estas fundações só podem ser reconhecidas quando o
fim for considerado de interesse social pela entidade competente, assim não obtêm
personalidade jurídica, ou seja, as fundações hão – de ter fins altruísticos, ideais ou
económicos não lucrativos de pessoas indeterminadas ou só determináveis à medida
em que se vai realizado o fim.

As fundações privadas podem ser criadas por particulares pelo estado ou por outras
pessoas colectivas públicas e conjuntamente por particulares e pelo estado.

As fundações privadas visam uma multiplicidade de fins sociais, muitas vezes


interligados (fundações de solidariedade social).

Nas pessoas colectivas privadas de utilidade particular o fim estatutário é o de


obtenção de lucros para distribuir pelos sócios e desdobram-se em cinco categorias:

138
 Sociedades comerciais;

 Sociedades civis sob forma comercial;

 Sociedades civis simples;

 Sociedades civis sob forma civil;

 Sociedades de direito especial;

As sociedades comerciais – são aquelas que tenham por objecto a prática de actos de
comércio e adoptam o tipo de sociedade em nome colectivo de sociedade por quotas,
anónima, comandita simples ou por acções.

As sociedades comerciais têm carácter taxativo e o critério distintivo entre elas reside
na responsabilidade civil de cada sócio perante a sociedade e os credores sociais.

As sociedades em nome colectivos – o sócio além de responder individualmente pela


sua entrada, respondem pelas obrigações sociais subsidiariamente em relação à
sociedade solidariamente com os outros sócios.

Nas sociedades por quotas – os sócios são solidariamente responsáveis por todas as
entradas convencionadas no contrato social, isto é, cada sócio é responsável pela
realização da sua quota e solidariamente com os demais sócios pela realização de
quaisquer outras quotas em falta.

Sociedades anónimas – o seu capital está dividido por acções de igual valor mas em
número muito elevado, cada sócio responde apenas para com a sociedade pelo valor
das acções que subscreveu que não pelas acções dos outros sócios.

Sociedades em comandita – cada um dos sócios comanditários responde apenas pela


sua entrada, os sócios comanditários respondem pelas dívidas da sociedade em nome
da sociedade em colectivo.

Sociedades em comandita simples – não há representação do capital por acções e daí


que se apliquem a estas sociedades, as regras das sociedades em nome colectivo. Os
sócios comanditados absorvem e são a estrutura deste tipo de sociedades, os sócios
comanditários pagam as suas entradas mas não detêm os direitos e as obrigações
próprios do regime de acções e daí que a sua intervenção na sociedade tenha pouco
peso.

139
Sociedades em comandita – são por acções as participações dos sócios comanditários
são representadas por acções, a lei estabelece um mínimo de 5 sócios comanditários, o
papel destes sócios é já na gestão e orientação da sociedade e daí que as normas que
regulam as sociedades anónimas as que se aplicam a estas sociedades.

As sociedades civis sob forma comercial

São as que têm exclusivamente por objecto a prática de actos não comerciais mas que
adoptam um dos tipos atrás referidos de sociedade comercial e nesse caso aplicar o
código das sociedades comerciais.

As vantagens da adopção da forma comercial pelas sociedades civis, que são:

 Aquisição inequívoca de personalidade jurídica;

 A confiança gerada entre os sócios face a terceiros;

 Maiores garantias de solvabilidade;

 Atracção de investimentos provenientes de pequenas poupanças;

Os agrupamentos complementares de empresas

São associações de fim económico, com personalidade jurídica própria, resultantes da


agregação de pessoas singulares colectivas e das sociedades, sem prejuízo da
personalidade jurídica, a fim de melhorar as condições de exercício ou de resultado
das actividades económicas.

As associações de fim económico não lucrativo, que não sociedades, uma vez que não
podem ter por fim principal a realização e partilha de lucros. Nos casos omissos destes
diplomas são aplicáveis aos agrupamentos complementares de empresas as
disposições que regem as sociedades comerciais em nome colectivo e agrupamentos
podem ter podem ter por fim acessório a realização e partilha de lucros quando
autorizado expressamente pelo contrato constitutivo.

As meras sociedades civis e as sociedades civis sob forma civil

O contrato de sociedade civil, de acordo com o art.980ºCC implica a verificação de


quatro requisitos:

 A intenção de se associar;

140
 A contribuição com bens ou serviços dos sócios;

 O exercício em comum de certa actividade económica;

 A repartição dos lucros resultantes dessa actividade;

A sociedade com bens imóveis, caso em que é exigida escritura pública (art. 981º nº1
CC).

Quando o contrato de sociedade for meramente verbal ou for realizado por escritura
mas os sócios não pretendam fundar uma organização autónoma de pessoas e bens
em que seja a prosseguir os fins lucrativos da sociedade, então estaremos perante
meras sociedades civis, sem personalidade jurídica.

Os sócios de uma sociedade civil fundam uma organização autónoma, com


individualidade jurídica diferente das deles, com todos aqueles elementos do seu
substrato, em escritura pública conforme o art. 167º nº1 CC, isto é, constituir uma
sociedade civil sob a forma civil prevista no art. 157º CC.

As diversas disposições legais contraditoriamente invocadas pelas duas teses em


conflito inculcam mais, embora não decisivamente a ideia da falta de personalidade
jurídica das sociedades civis sob a forma civil mesmo no sentido estrito.

Entre pessoas colectivas e sociedades parece resultar da necessidade de clarificação de


que as sociedades civis sob forma não comercial, pessoas colectivas sem personalidade
jurídica, têm capacidade sucessória passiva na sucessão voluntária.

As sociedades civis sob forma civil têm apenas personalidade judiciária, que não
personalidade jurídica.

Os arts. 980º a 1021º CC não são conclusivos a favor da tese afirmativa ou da tese
negativa da personalidade jurídica da sociedade civil sob a forma civil. A mera
sociedade civil constitui uma universalidade jurídica de bens, ou mesmo um
património autónomo, cuja titularidade pertence a todos os sócios, únicos nesse caso
a terem personalidade jurídica.

A alegada atribuição de certos direitos e obrigações às sociedades civis sob a forma


civil não implica a pressuposição de uma personalidade jurídica plena, tal atribuição é
compatível com uma sua natureza de universalidade jurídica de bens ou de património
autónomo.

A alegada atribuição de direitos e obrigações às sociedades civis sob forma civil não
implica a pressuposição de uma personalidade jurídica plena. Tal atribuição é

141
compatível com uma sua natureza de universalidade jurídica de bens ou de património
autónomo, pertencente ao conjunto dos sócios, únicos titulares de personalidade
jurídica.

Não há normas expressas nem tácitas donde se deduza a personalidade jurídica das
sociedades civis sob a forma civil.

Os elementos pessoais, patrimonial, teológico, intencional e organizatório idênticos


aos do substrato das associações não lucrativas, poderão obter o reconhecimento
jurídico de personalidade jurídica, por analogia dos arts. 158º nº1 e 157ºCC.

À razão de ser do carácter taxativo das sociedades comerciais e das sociedades civis
sob forma comercial e respectiva personalidade jurídica, face as idênticas finalidades
lucrativas das sociedades civis sob forma civil e necessidade de garantia do interesse
colectivo, dos interesses do tráfico em geral, dos credores sociais e particulares e dos
próprios sócios na confiança conhecível, porque pré – determinado, quadro regulativo
social básico uniforme, prevalente sobre mutáveis estatutos sociais convencionais.

O quadro regulativo resultante dos arts.158º a 184º situa-se, em larga medida, no


domínio da autonomia da vontade privada das partes, não é, suficientemente
minucioso, uniforme e imperativo para gerar aquela pluralidade de confianças. As
normas dos arts.158º a 184º valem para associações não lucrativas.

As sociedades civis sob forma civil, dadas as suas finalidades lucrativas, as teias de
interesses que movimentam e a ausência de um pré – determinado quadro regulativa
base uniforme adequado (art.158º, nº1 CC).

As sociedades de direito especial

Pela particularidade dos seus condicionalismos e objectivos, a nossa lei sujeita a um


regime especial, diferente mas não contraditório, no seu conjunto, dos regimes gerais.

Sociedades de direito especial de tipo comercial são por exemplo as sociedades de


locação financeira.

As sociedades de direito especial de tipo civil, são as sociedades de advogados, isto é,


aquelas que os advogados podem constituir em sociedades civis de advogados, cujo
objectivo exclusivo é o exercício em comum dessa profissão.

As pessoas colectivas internas e as pessoas colectivas internacionais

Nos arts. 33º e 34º CC, as pessoas colectivas podem ter o seu regime jurídico básico,
maxime o seu reconhecimento jurídico, definido em função da ordem jurídica interna

142
de um determinado estado, com base no art. 8º CRP, no direito comum, convenção ou
tratado internacional.

As pessoas colectivas internas portuguesas de acordo com o art. 33º nº1 CC, são
aquelas que têm a sede principal e efectiva da sua administração um território
português. As pessoas colectivas internas estrangeiras de acordo com o direito
português, por força daquelas mesmas disposições legais.

As associações sem personalidade jurídica

As agregações de pessoas singulares e/ ou colectivas que não têm por fim o lucro
económico dos associados, mas quaisquer outros fins lícitos de natureza algo
permanente a prosseguir mediante tarefas não necessariamente determinadas, de tais
pessoas não há a intenção de constituição de um ente dotado de personalidade
jurídica ou cujo substrato não preenche os requisitos jurídicos próprios para ser
normativamente reconhecida como pessoa colectiva.

As associações sem personalidade jurídica como na prática e filiam-se directamente


também no direito de liberdade de associações do art.46ºCRP.

Em matéria de constituição, organização interna e administração de tais associações


regem, em 1º lugar estatutos, quer verbalmente quer como em documento escrito
particular ou mesmo em escritura pública.

Na falta de regras são aplicáveis os arts. 157º a 194º exceptuadas as que pressupõem a
personalidade jurídica, arts. 192º, nº2 e 3 e 196º a 198º que são normas especiais e
imperativas para os respectivos associados.

As associações sem personalidade jurídica têm, em regra um fundo comum,


constituído pelas contribuições dos associados e bens como elas adquiridos, afecto à
prossecução dos fins da associação.

Este fundo tem independência patrimonial face aos patrimónios dos associados.

Enquanto a associação subsistir, nenhum associado pode exigir a divisão do fundo


comum, o que leva a não se aplicarem aqui em principio as regras da compropriedade
(art. 1412º e seguintes).

O fundo responde pelas obrigações validamente assumidas em nome da associação.


Só na falta ou insuficiência de tal fundo, responderá o património dos associados
directamente responsáveis, responderão os patrimónios dos outros associados,
proporcionalmente às entradas destes para o fundo comum (art. 198º nº2).

As associações sem personalidade jurídica têm personalidade judiciária e em principio


são representadas nos tribunais.

143
O fundo comum das associações sem personalidade jurídica constitui basicamente um
património colectivo autónomo: responde apenas por dívidas associativas, por elas
responde prioritariamente, pertence solidariamente na sua globalidade a uma
pluralidade de titulares.

Há quem defenda uma personalidade colectiva atenuada, limitada ou parcial das


associações sem personalidade jurídica.

Mas, para além do que joga ainda contra tal construção o regime de liberalidades em
favor das associações previsto no art.197º.

Com efeito, uma das duas: ou regra geral, o doador ou o testador deixa a liberdade
tout court a uma dessas associações ou a liberdade é feita sob condição de tal
associação adquirir personalidade jurídica.

Mas na 1ª hipótese com a consequente impossibilidade de os associados exigirem a


divisão do fundo, ou seja, o legislador vincou aqui a falta de personalidade jurídica
destas associações.

Nas associações sem personalidade jurídica, em matéria da natureza jurídica, os únicos


sujeitos de direito são os associados nessa qualidade intermediados pelo fundo
comum dessas associações, não havendo lugar, nem necessidade ou possibilidade de
uma personalidade jurídica parcial.

A extinção das associações sem personalidade jurídica tem lugar nos casos e termos
previstos pelos associados no respectivo acto de constituição ou nos estatutos (art. 46º
nº1 e 2 CRP e 195º nº1 CC).

Na falta de associados aplica-se o art.182º nº1 e 2 com as necessárias adaptações, por


remissão do art.195º nº 1 e 2º Parte CC.

Quanto ao destino dos bens art. 46º nº 1 CRP (no caso esteja pago) ou art. 166º por
remissão do art. 195º, nº1, 2ª parte CC.

As comissões especiais

Comissões especiais – é o conjunto de pessoas que se agregam para desenvolver em


comum, mediante fundos patrimoniais, uma determinada ou especial tarefa como
realizar qualquer plano de socorro ou beneficência ou promover a execução de obras
públicas (art.199º), sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos para distribuir pelos
comissionados de carácter transitório e também com recurso a subscritores exteriores
à comissão.

As comissões são associações sem personalidade jurídica, a que estão adstritos fundos
patrimoniais recolhidos por subscrição pública em vista de um fim social anunciado.
Têm, por isso um regime especial.

144
A constituição, a organização interna e o funcionamento de tais comissões são os
convencionados pelos membros da comissão ou comissionados.

Estas comissões não têm na sua regulação ordinária uma norma remissiva como o art.
195º não lhe é subsidiariamente aplicáveis as normas dos arts. 157º a 184º sempre
que houver um caso omissivo que necessite de ser regulado, serão aplicáveis as regras
do art. 10º, integração das declarações negociais dos simples actos consoante o
decisor entender que a resolução do caso omissivo se insere, pela sua particular
importância, no quadro legal de tais comissões ou se circunscrever ao âmbito da
autonomia da vontade privada.

O maxime o carácter transitório da comissão e a especificação da tarefa, a estrutura da


comissão deverá ser reduzida, havendo o colégio dos comissionados com poderes
deliberativos e administrativos e um órgão administrativo subordinado ou não ao
colégio ou componente deste, conforme o acto constitutivo ou os estatutos
adequados à importância dos fundos da comissão e à realização de fim (art. 200º, nº1).

As comissões especiais podem ter um presidente.

Um fundo comum como nas associações sem personalidade jurídica mas fundos
patrimoniais dos comissionados e/ou dos subscritores sujeitos a regimes especiais.

A responsabilidade civil negocial dos organizadores e administradores das comissões


especiais, face aos subscritores e aos credores da comissão, é bem diversa da dos
associados em geral.

Aqueles organizadores e administradores são pessoal e responsáveis pela conservação


dos fundos recolhidos e pela sua afectação ao fim anunciado e pelas obrigações
contraídas em nome dela (art.200º nº1 e 2).

Os fundos angariados também são responsáveis pelas dívidas contraídas em nome da


comissão.

São consideradas um património autónomo uma vez que têm uma maior
independência face aos patrimónios individuais dos comissionarios do que o fundo
comum nas associações sem personalidade jurídica (art. 200º nº2 e art. 198º nº 1 e2),
estão afectados exclusivamente à realização o fim enunciado para a subscrição (art.
200º nº1 e 2ª parte) e respondem apenas pelas dívidas adequadas ao fim anunciado e
os credores particulares dos considerados não os podem executar.

Os fundos subscritos pertencem aos comissionarios nessa qualidade. As contínuas


referências ao fim enunciado, a ratio legis das comissões especiais e a transparência
legal e patrimonial destas conduzem-nos à exigência de uma subscrição pública para o
angariamento e recolha de fundos.

145
As comissões especiais, embora não tendo personalidade jurídica possuem
personalidade judiciária e são representadas em juízo pelas pessoas que hajam como
directores, gerentes ou administradores.

A extinção das comissões especiais tem lugar quando se realizam os planos, obras ou
eventos previstos no art. 199º com a correspondente liquidação de débitos e aplicação
de eventual saldo, quando os fundos angariados forem insuficientes para o fim
enunciado, com idêntica liquidação e aplicação, quando o fim anunciado se mostra
impossível, com semelhante liquidação e aplicação ou quando por aplicação analógica,
mediante decisão judicial, a comissão especial seja declarada insolente (art. 182º e
192º CC), que o seu fim seja sistematicamente prosseguido por meios ilícitos ou morais
ou que a sua existência se tornou contrária à ordem pública.

Se houver insuficiência de fundos para o fim anunciado, se este mostrar impossível ou


se houver extinção judicial da comissão, os subscritores podem exigir os valores que
tiverem subscrito (art. 200º, nº3) sem prejuízo dos direitos dos credores, maxime em
caso de insolvência.

O problema complexo é o da natureza jurídica das comissões especiais.

Temos quatro teorias, que são:

1. A que lhes conferem a estrutura de associação;

2. A que as aproximam das fundações;

3. A que numa 1ª fase lhes atribuem o carácter de associação e que numa 2ª fase
a caracterizam como fundação;

4. A que lhes configuram autonomia face às associações e fundações;

Dos arts. 199º a 201º retira-se que as comissões especiais têm uma natureza jurídica
própria.

As comissões especiais se aproximam das fundações sociais com personalidade


jurídica. Não apenas por não terem esta personalidade mas também porque
predomina naquelas entidades o elemento pessoal sobre o elemento patrimonial,
dado que a iniciativa, a promoção e a consecução da comissão e das suas tarefas
cabem directamente aos comissionarios, estes tem responsabilidade imediata e
permanente quer na sua afectação e uma responsabilidade pessoal e solidária pelas
obrigações contraídas em nome da comissão (art. 200º nº 1 CC).

146
Responsabilidade das pessoas colectivas

Na responsabilidade contratual das pessoas colectivas não pode oferecer dúvidas.


Seria uma situação de favor, injustificável, a exclusão dessa forma de responsabilidade,
com o reverso desfavorável para a própria pessoa colectiva de, encontrar quem com
ela transaccionasse a crédito.

Devem responder pelos factos dos seus órgãos, agentes ou mandatários que
produzam o inadimplemento de uma obrigação em sentido técnico.

Esta expressão abrange, quer a responsabilidade contratual, aplicável às associações,


às fundações e também as sociedades.

O princípio geral do nosso código, em matéria da responsabilidade contratual, está no


art. 798ºCC, o surgimento da obrigação de indemnizar que tenha havido culpa do
devedor no não cumprimento, estabelecido no art.799º CC, uma presunção refutável
de culpa no caso de não cumprimento defeituoso.

Para existir responsabilidade contratual das pessoas colectivas é necessário que o


contrato, donde emerge a obrigação infringida, tenha sido celebrado por quem tinha
poderes para vincular a pessoa colectiva em causa.

O art.165º estatui que as pessoas colectivas respondem nos mesmos termos em que
os comitentes respondem pelos actos ou omissões dos seus comissários.

O inadimplemento tenha sido culposo e dele resultam danos, o ente colectivo


responde para com o credor, não se tornando necessário mais nenhum requisito.

Do art. 800ºCC para o qual se deve considerar como feita a remissão do art.165º na
hipótese de responsabilidade contratual.

Na responsabilidade extracontratual das pessoas colectivas é a melhor solução de


jure condendo por força do princípio de justiça segundo o qual quem emprega
determinadas pessoas para vantagem própria deve suportar os riscos da sua
actividade. Ao alargamento das potencialidades do sujeito na satisfação dos seus
interesses próprios deve corresponder a responsabilidade pelos danos causados por
esse alargamento.

O art.165º remete para a responsabilidade dos comitentes por actos dos seus
cometidos. Na hipótese da responsabilidade aquilina consta do art. 500º, integrado
nas disposições relativas à responsabilidade de risco.

Temos os seguintes pressupostos:

147
 Que sobre o órgão recai igualmente a obrigação de indemnizar (art.500º nº1)
que tenha havido culpa da pessoa simples que praticou o acto ilícito causador
do dano (483º) salvo se tratar de matérias onde se responder sem culpa ou do
caso ainda excepcional de responsabilidade por intervenções ilícitas;

 Que o acto danoso haja sido praticado pelo órgão, no exercício da função que
lhe foi confiada;

O órgão ou agente deve ter procedido em tal veste ou qualidade ou ter actuado por
causa das suas funções e não apenas por ocasião delas e precisa-se que basta que o
acto se integre no quadro geral da respectiva competência.

Se um órgão de uma pessoa colectiva pratica um acto ilícito na conclusão de um


negócio para o ente colectivo, são os casos de responsabilidade pré contratual.

O art. 500º nº 2 CC, estatui que a responsabilidade se mantém, ainda que o acto seja
praticado intencionalmente.

A pessoa colectiva que tiver satisfeito a indemnização ao lesado tem direito de


regresso contra o órgão podendo exigir-lhe o reembolso de tudo quando haja pago,
desde que tenha havido culpa deste no plano das relações internas.

O órgão, agente ou mandatário, desde que tenha satisfeito a indemnização à vítima,


pode exercer a acção de regresso ou recusar contra na pessoa colectiva, se não houver
da sua parte culpa que o responsabilize no plano das relações internas.

Classificação das pessoas colectivas públicas

Podem-se distinguir três categorias:

Pessoas Colectivas de População e Território;

Pessoas Colectivas de Tipo Institucional ou de Tipo Associativo;

Pessoas Colectivas de Utilidade Pública, são as que propõem um escopo de interesse


público, ainda que, concretamente, se dirijam à satisfação dum interesse dos próprios
associados ou do próprio fundador. Existem várias subcategorias:

1. Pessoas Colectivas de utilidade pública administrativa : são as Pessoas


Colectivas criadas por particulares. Não são administradas pelo Estado ou por
corpos administrativos, no entanto prosseguem fins com relevância especial
para os habitantes de determinada circunscrição.

2. Pessoas Colectivas de mera utilização pública: são as Associações ou Fundações


que prossigam fins de interesse geral quer a nível nacional ou regional.

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Associações ou Fundações essas, que colaboram com a Administração central ou
local, para prosseguirem fins próprios nacionais ou locais.

3. Pessoas Colectivas de Direito Privado e utilidade pública: são aquelas que


propõem um escopo de interesse público, ainda que concorrentemente acabem
por satisfazer os interesses dos seus próprios associados.

Extinção das pessoas colectivas

A cessação da personalidade da Pessoa Colectiva, resulta da sua extinção. Esta


tem três momentos:

Dissolução: opera pela verificação de um facto, que é capaz de determinar a extinção


da Pessoa Colectiva. É um facto dissoluto, ocorrido este, inicia-se o processo de
extinção. Continua a ter Personalidade Jurídica, porque enquanto não for extinta não
está impossibilitada de retomar a sua actividade normal (art. 1019º CC). Não é um
fenómeno irreversível.

Liquidação: consiste na ultimação dos assuntos em que a Pessoa Colectiva estava


envolvida, e no apuramento total dos bens desta. Para isso é necessário realizar o
activo patrimonial (liquidez) e pagar o passivo da sociedade. Feito isso, apuramos o
acervo.

Sucessão: o destino a dar ao património da Pessoa Colectiva, mediante a atribuição a


outras pessoas, seja colectivas ou privadas (art. 166º CC).

Âmbito da capacidade de gozo das pessoas colectivas

O art. 160º CC, delimita o âmbito das Pessoas Colectivas a partir de um elemento
positivo e de dois negativos:

Elemento positivo (art. 160º/1 CC): a Capacidade de Gozo da Pessoa Colectiva


compreende todos os direitos e obrigações necessários, e convenientes à prossecução
dos seus fins.

Elementos negativos (art. 160º/2 CC): exclui dessa Capacidade de Gozo os direitos e
vinculações que são vedados por lei à personalidade colectiva, visto serem
inseparáveis da personalidade de singular. A capacidade das Pessoas Colectivas admite
a possibilidade da Pessoa Colectiva ser titular de direitos adequados à realização dos
seus fins.

Não obstante a especialização consagrado neste artigo (160º) quanto à Capacidade de


Gozo de direitos, admite-se que a Pessoa Colectiva pratique actos convenientes à

149
prossecução dos seus fins, consagra-se, por conseguinte, o princípio da especialidade
do fim, mas com uma larga atenuação do seu rigor.

Receber liberdades por acto entre vivos ou “mortis causa” – a solução negatória da
capacidade não pode substituir à face do Código Civil, o art. 1033º/2-b, atribuí às
sociedades capacidade testamentária passiva e, quanto a doações a sua aceitação
não é mais destoante do fim especulativo da sociedade do que se deve atribuir-lhe
igualmente capacidade para as receber, todavia por força do art. 160º/1 CC,
subsiste a incapacidade de as sociedades fazerem doações.

Capacidade para o exercício de direitos das pessoas colectivas

As pessoas colectivas não têm capacidade para o exercício de direitos, nem a poderiam
nunca ter. A capacidade para os exercícios de direitos ou capacidade de agir consiste
não aptidão para pôr em movimento a capacidade jurídica por actividade própria, sem
necessidade de ser representado ou assistido ninguém. As pessoas colectivas carecem
de um organismo físico – psíquico, só podendo agir por intermédio de certas pessoas
físicas, cujos actos projectarão a sua eficácia na esfera jurídica do ente colectivo. As
pessoas colectivas, não podendo agir elas mesmas mas apenas através de
determinadas pessoas singulares, estariam necessariamente privadas daquela
capacidade.

Esta proposição negativa da capacidade de agir das pessoas colectivas não está, isenta
de contestação possível, bem podendo vir a chegar-se à conclusão oposta. Tudo
depende da natureza do vínculo entre a pessoa colectiva e aquelas pessoas físicas que
procedem em seu nome e no seu interesse.

A qualificação como órgãos não é uma conclusão imagética, mais ou menos arbitrária,
denunciando um qualquer exagero no plano jurídico. A lei fala – nos em órgãos e em
representantes não tomando estes termos, infere-se da solução dada pela a lei a um
concreto problema de regulamentação: o problema da responsabilidade
extracontratual das pessoas colectivas.

Resulta da lei não haver responsabilidade civil extracontratual dos representados pelos
actos dos seus representantes.

À representação legal preceito especial impõe aos incapazes essa obrigação artigo
483º nº2.

À representação voluntaria não há responsabilidade do representado pelos actos


ilícitos extracontratuais do seu procurador. Só num caso bem delimitado a lei impõe
essa responsabilidade no âmbito da representação voluntaria: é a hipótese do artigo
500º.

150
O comitente responde mesmo sem culpa com fundamento no risco: se beneficiar
duma actividade alheia a do comissário, deve suportar os riscos respectivos.

No artigo 500º abrange apenas um sector caracterizado da representação voluntaria:


os casos em que o procurador pode ser considerado um comissário nos termos e para
os efeitos do mesmo artigo.

Capacidade jurídica ( gozo de direito) das pessoas colectivas

A capacidade jurídica das pessoas colectivas é um status, inerente à sua existência


como pessoas jurídicas (76º). É uma capacidade jurídica específica. As limitações
previstas no artigo 160º e seguintes.

A personalidade jurídica é um mecanismo aparelhado pela ordem jurídica para mais


fácil e eficaz realização de certos interesses.

O artigo 2033º nº2 b) atribui às sociedades capacidade testamentária passiva e quanto


a doações a sua aceitação não é destoante do fim especulativo da sociedade do que a
qualidade de herdeiro ou legatário pelo que se deve atribuir capacidade de receber.

O artigo 160º nº1, a incapacidade das sociedades para fazer doações. Invalidade dos
negócios viciados reveste em princípio a forma de nulidade e não de anulabilidade
(294º).

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