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DÍVIDAS DOS CÔNJUGES

As dívidas dos cônjuges, é um dos temas mais importantes dentro do capítulo das relações
patrimoniais ligadas ao casamento, ambos os cônjuges têm legitimidade para contrair dívidas
sem o consentimento um do outro.

Este tema, não sofreu alteração em relação ao homem, pois desde sempre que o homem tem
legitimidade para fazer o que quiser. O que não se aplica à mulher até há pouco tempo, pois
era vista como propriedade do homem, sem poder fazer o que quisesse sem a autorização do
pai, do marido, do irmão, do homem que seria chefe de família.

Como a sociedade está em constante mutação, houve a necessidade de fazer alterações na lei,
e com a reforma de 1977, a mulher obteve o mesmo direito que o homem, legitimidade para
contrair dívidas e assim estar abrangida por um regime que protege cada um dos cônjuges
consoante a sua responsabilidade e os factos que lhes deu origem.

Dentro deste capítulo, podemos distinguir as dívidas que responsabilizam ambos os cônjuges
e as dívidas que apenas responsabilizam apenas um dos cônjuges; também podemos distinguir
os bens pelos quais respondem pelas dívidas dos cônjuges, dependendo do regime que
escolheram.

Com este trabalho, pretendemos, fazer uma analise ao direito substantivo, do regime especial
das dívidas dos cônjuges.

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1. Dívidas dos Cônjuges
1.1. Legitimidade para contrair Dívidas

Existiu a necessidade de se consagrar um regime especial sobre a responsabilidade por dívida


dos cônjuges, que vai para além do direito to das obrigações e dos direitos reais.

Qualquer um dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento um do
outro, como podemos observar no artigo 1690.º do CC. Aqui, não importa o regime de bens,
mas o conjunto de bens que respondem pelas dívidas, varia consoante o regime escolhido
pelos cônjuges.

No entanto, tem de se ter em consideração a data do facto que deu origem a essas dívidas,
para que se possa determinar a responsabilidade de um dos cônjuges ou de ambos. Sendo
assim, necessário situar em que momento a dívida foi contraída, em data anterior ou posterior
à celebração do casamento.

Em relação à matéria das dívidas dos cônjuges, podemos distingui-las entre, as dívidas que
responsabilizam ambos os cônjuges e as dívidas que responsabilizam apenas
um dos cônjuges.

2. Responsabilidade pelas Dívidas


2.1. Dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges

O legislador, evitou a designação de dívidas comunicáveis por duas razões; por um lado,
porque estas dívidas podem ter sido constituídas não só no regime de comunhão de bens, mas
também no regime de separação. Por outro lado, no regime de separação, essas dívidas não
podem incidir sobre os bens comuns, porque estes não existem, e também não oneram
solidariamente os bens de ambos os cônjuges.

As dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges, encontra-se reguladas no artigo 1691.º


do CC. O n.º1 do referido artigo, elenca as dívidas que são da responsabilidade de ambos os
cônjuges.

Na alínea a), refere que, as dívidas podem ser contraídas por ambos os cônjuges ou apenas por
um deles, com o consentimento um do outro, antes ou depois do da celebração do casamento.
Aqui, estão inseridas as dívidas que foram contraídas antes ou depois o matrimónio. Esta
primeira alínea, aplica-se a qualquer regime de bens, incluindo o regime de separação.

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Já a alínea b), faz referência às dívidas contraídas por qualquer um dos cônjuges, no que toca
aos encargos da vida familiar, tratando-se de dívidas que têm a ver com a vida do casal.

Aqui, a responsabilidade das dívidas recai sobre ambos os cônjuges, mesmo que tenham sido
contraídas apenas por um. Não importando se foram contraídas antes ou depois da celebração
do casamento. Assim sendo, aplica-se a qualquer regime de bens, incluindo o regime de
separação.

Por sua vez, a alínea c), faz referência, às dívidas contraídas durante o matrimónio pelo
cônjuge administrador, em proveito comum do casal e nos limites dos seus poderes de
administração.

Aqui estão apenas abrangidas as dívidas contraídas na constância do matrimónio, sendo que
as dívidas são da responsabilidade de ambos os cônjuges desde que se verifiquem mesmo que
tenham sido feitas por apenas um deles. Para isso se verificar, são necessários dois requisitos,
que a dívida tenha sido contraída em proveito comum do casal e que a dívida se contenha
dentro dos limites próprios da administração.

A alínea d), refere as dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges, no exercício do comércio,
salvo se se provar que não foram contraídas em proveito comum do casal, ou se vigorar entre
eles o regime de separação de bens.

O artigo 15.º do C. Com, refere que, as dívidas comerciais do cônjuge comerciante,


presumem-se contraídas no exercício do seu comércio.

Estás dívidas também se presumem contraídas em proveito comum do casal, sendo que, é
admitida a alegação e a prova de exercício comércio, fazendo prova que essa dívida não foi
em proveito comum do casal, mas sim apenas para o exercício do comercio do cônjuge
comerciante. Assim sendo, permite-se que o cônjuge não comerciante afaste a sua
responsabilidade por uma dívida que não trouxe proveito comum do casal. No entanto, essa
possibilidade traz uma maior insegurança para os credores.

No entanto, se entre os cônjuges vigorar o regime de separação de bens, a atividade comercial


exercida por um deles não aproveita outro nem legalmente responsabiliza os seus bens.

Por fim, a alínea e), refere que, é da responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas
consideradas comunicáveis nos termos do n.º2 do artigo 1693.º Esta remissão, diz respeito à

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responsabilidade pelas dívidas que oneram os bens doados, herdados ou legados que, por
força do regime de bens adotado, ingressam no património comum.

No regime de comunhão geral de bens, são ainda comunicáveis as dívidas que foram
contraídas antes do casamento por qualquer um dos cônjuges, em proveito comum do casal,
conforme o n.º2 do artigo 1691. Do CC.

Neste regime, são considerados bens comuns, os bens que cada um leva para o casamento.
Sendo que, as dívidas contraídas por qualquer um dos membros do casal, em proveito
comum, mesmo que tenham sido contraídas antes do casamento, a responsabilidade sobre elas
será de ambos, ou seja, se os bens que cada um leva para o casamento se comunicam, também
as dívidas devem comunicar-se de igual forma, no caso de serem contraídas em proveito
comum.

O que já não acontece no regime de comunhão de adquiridos e no regime de separação, que


os bens que cada um dos membros do casal leva para o casamento continuam a pertencer-lhe
exclusivamente. Sendo que, se antes do casamento, algum deles contrair dívidas, ainda que
tenha sido em proveito comum do casal, estas são da responsabilidade do cônjuge que as
contraiu.

2.2. Dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges

As dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges, são constituídas apenas por um dos


cônjuges sem o consentimento do outro, não podem ter sido contraídas para os encargos da
vida familiar, encontram-se reguladas n artigo 1692.º do CC. As alíneas o referido artigo,
elencam as dívidas a que dizem respeito apenas um dos cônjuges.

A alínea a), faz referência, às dívidas contraídas antes ou depois da celebração do casamento,
por cada um dos cônjuges sem o consentimento um do outro, tirando os casos a que se
referem as alíneas b) e c) do artigo 1691.º do CC.

Aqui, as dívidas contraídas por um dos cônjuges, sem o consentimento do outro, antes ou
depois da constância do casamento, às quais não respondem os encargos da vida familiar e
também não foram contraídas pelo cônjuge administrador dentro dos limites dos seus poderes,
em proveito comum do casal.

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Já a alínea b), refere que, as dívidas provenientes de crimes indemnizações, restituições,
custas judiciais ou multas devidas por factos imputáveis a cada um dos cônjuges, salvo se
estes factos implicando responsabilidade meramente civil, estiverem abrangidos pelo
dispostos dos n.sº1 e 2 do artigo 1691.º.

Sendo que nesta alínea trata de dívidas que provenham da prática de factos ilícitos ou de
factos danosos, por estas dívidas apenas responderá o cônjuge cuja tenha a autoria desses
factos. No entanto, se os factos forem da responsabilidade de ambos os cônjuges, cada um
responde a carácter pessoal, aqui a responsabilidade não se comunica.

Por sua vez, a alínea c), refere as dívidas cuja incomunicabilidade resulta do artigo 1694.º. Ou
sejam, as dívidas que onerem bens próprios são da exclusiva responsabilidade do cônjuge que
as contraiu. Sendo que, no caso em que dívidas que tenham como causa a perceção dos
rendimentos dos bens próprios, quando estes rendimentos são comuns.

Contudo, se a dívida disser respeito a bens que foram doados ou deixados a um dos cônjuges,
a responsabilidade dessa dívida é apenas da responsabilidade do cônjuge que aceitou esses
bens, mesmos nos casos em que a aceitação tenha sido efetuada com o consentimento do
outro membro do casal, a dívida é apenas da responsabilidade do cônjuge que aceitou os bens,
como podemos observar no n.º1 do artigo 1693.º do CC.

2.3. Dívidas que oneram bens certos e determinados

Como podemos ver, o artigo 1694.º do CC, fala das dívidas que oneram bens certos e
determinados. No seu n.º1, faz alusão às dívidas que eram bens comuns. Estes bens, são
sempre da responsabilidade de ambos dos cônjuges, quer se tenham vencido antes ou depois
da comunicação dos bens.

Aqui, mantém-se o regime, não só no caso de as dívidas serem após a celebração do


casamento, mas também no caso de as dívidas se ter vencido anteriormente.

O n.º2, refere que, as dívidas que onerem bens próprios de cada um dos cônjuges, são da
exclusiva responsabilidade do mesmo, a não ser que, tiverem como causa da perceção dos
rendimentos deste.

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No segundo caso, assim que se apura a responsabilidade de cada um dos cônjuges pelas
dívidas que oneram os seus bens próprios, no regime de comunhão nada impede que, apesar
de os bens serem próprios, sejam comuns os respetivos rendimentos. Assim sendo, as dívidas
que onerem os bens próprios, mas tenho como causa os rendimentos comuns, em virtude do
regime vigente e da responsabilidade de ambos os cônjuges.

3. Bens respondem pelas dívidas dos cônjuges


3.1. Pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges

Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges, respondem os bens comuns
do casal e na falta ou na insuficiência destes, solidariamente, os bens próprios de qualquer um
dos cônjuges.

Sendo que se o regime escolhido foi o de separação, a responsabilidade dos cônjuges não é
solidária, como podemos verificar no artigo 1695.º do CC.

Respondem em primeiro lugar os bens comuns do casal, visto que, as dívidas são da
responsabilidade de ambos. Os bens comuns, nos regimes de comunhão, constituem
património coletivo, o que já não se observa no regime de separação, são apenas objeto de
uma relação de compropriedade. Na falta suficiência de bens comuns, respondem
subsidiariamente por essas dívidas os bens próprios de qualquer um dos membros do casal, e
podem respondem, pela totalidade em falta.

Com isto, os credores podem ir aos bens de qualquer um dos cônjuges. Sendo que, no
domínio das relações internas, será estabelecida a compensação entre os cônjuges e os seus
sucessores.

No entanto, se entre os cônjuges o regime que vigorar entre eles for o regime de separação de
bens, a responsabilidade de cada cônjuge não é solidária, os bens próprios de cada um não
respondem solidariamente pela dívida a não ser que se tenham comprometido como
devedores solidários perante o credor. Sendo que, a cada um dos cônjuges, apenas
corresponde a parte da dívida ou a parte do remanescente que lhe couber, depois de esgotados
os bens de ambos são contitulares.

3.2 Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges

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Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de cada um dos cônjuges, respondem os bens
próprios do cônjuge devedor e subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns, como
podemos verificar no n.º1 do artigo 1696.ºdo CC.

O n.º2 do referido artigo, refere que, respondem ao mesmo tempo que os bens próprios do
cônjuge devedor, os bens por ele levados para o casal ou posteriormente adquiridos a título
gratuito, bens como os respetivos rendimentos; o produto do trabalho e os direitos de autor do
construtor; bem como os bens sub-rogados no referidos na alínea a).

Na falta ou insuficiência de bens próprios do cônjuge devedor, podem ser penhorados os bens
comuns do casal, tendo o credor que pedir que o cônjuge do cônjuge devedor seja citado, para
que possa pedir a separação de bens. Se este não o fizer, a penhora prosseguirá sobre esses
bens.

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