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Divórcio litigioso

O no. 1 dor art. 200 da Lei da Familia estabelece duas modalidades de divorcio, o divorcio não litigioso e
o litigioso. Nesta parte do presente trabalho tratar-se-à do divórcio litigioso, que é também chamado de
divorcio judicial, pois ocorre dentro dos tribunais judiciais.

Causas

São hoje admitidas três espécies no divórcio litigioso: o divórcio sanção, o divórcio remédio e o divórcio
confirmação ou divórcio constatação da ruptura do casamento. Como se verá adiante o nosso sistema
de causas que fundamentam o pedido de divórcio litigioso é misto, onde encontramos o modelo de
divórcio-sanção, divórcio-constatação, e de divórcio-remédio.

Por força da remissão do art. 206 para o art. 187 e este para o art. 186, todos da lei da familia, para se
requerer o divórcio sem o consentimento de um dos cônjuges deve-se ver preenchidos os certos
requisitos. O nº 1 deste artigo refere-se aos casos do divórcio sem culpa de nenhum dos cônjuges e,
podem fundamentar o pedido os factos seguintes:

Causas apresentadas na lei e seu modelo de divórcio


Divórcio-sanção

Aqui divórcio pressupõe um acto ilícito e culposo do outro cônjuge, e pretende ser uma sanção para
esse acto, enquadra-se nesse modelo:

- o pedido do divórcio fundamentado na violência doméstica;

A violência doméstica aqui referida não se resume simplesmente à violência física, relevam também, a
violência psicológica, verbal, a violência econômica, entre outros casos susceptíveis de enquadrar.

Divórcio-remédio

Aqui a concessão do divórcio pressupõe um estado de vida conjugal intolerável, mas essa situação é
causada com ou sem culpa, por um dos cônjuges, e o divórcio visa permitir a outro cônjuge se libertar
do casamento. Enquadram-se situações de pedido de divórcio fundamentado em:

- adultério do outro cônjuge;

O adultério consiste na violação do dever de fidelidade, ao manter relações sexuais consentidas com
outra pessoa que não o seu cônjuge.

- vida e costumes desonrosos do outro cônjuge;

- condenação definitiva por crime doloso que ofenda seriamente a manutenção do vínculo conjugal;

Não basta que tenha havido crime doloso por parte de um dos cônjuges, aqui há que se provar que está
comprometido o vínculo conjugal.
Divórcio-constatação da ruptura do casamento
Nesta causa de divórcio, a concessão do divórcio também exige um estado de vida conjugal intolerável,
e pretende pôr fim a essa situação. A doutrina considera que qualquer um dos cônjuges pode requerer o
divórcio, independentemente de sua maior ou menor culpa nas causas que contribuam para o estado de
crise matrimonial, apesar de acharmos que há alguns casos previstos na lei dessa espécie de divórcio,
fazendo a adaptação com o ordenamento jurídico moçambicano e tendo em conta as regras lá
legitimidade, de que adiante trataremos, para intentar a acção, concluímos por não aceitar que de possa
intentar a acção por qualquer um dos cônjuges. Ao nosso ver, enquadram-se nesta espécie as seguintes
situações:

- abandono completo do lar conjugal por parte do outro cônjuge, por tempo superior a um ano;

- qualquer outro facto que constitua violação grave dos deveres conjugais.

Este último requisito é residual, pode fundamentar a violação de qualquer dever conjugal.

O nº. 2 refere-se aos casos de divórcio sem culpa de nenhum dos cônjuges e constituem fundamento de
separação do divórcio, independentemente da culpa dos cônjuges:
a) a separação de facto por mais de três anos; e
b) a demência notória superveniente e incurável, mesmo com intervalos de lucidez.

Esses factos arrolados no nº. 2 enquadram-se no Divórcio constatação da ruptura do casamento, que
conduz à concepção do divórcio unilateral e potestativo, em que qualquer um dos cônjuges pode por
termo ao casamento, com fundamento mínimo na existência de factos que, independentemente da
culpa dos cônjuges, mostrem a ruptura definitiva do matrimónio, por simples declaração singular, ainda
que a responsabilidade pela falência do casamento lhe possa ser imputada, em exclusivo.

Segundo o nº 1 do art. 191, nesses casos, "na sentença que decretar a separação, o tribunal deve
declarar se ambos os cônjuges são culpados ou apenas um deles, havendo culpa de ambos, mas sendo a
de um deles consideravelmente superior à do outro, deve ainda declarar qual deles é o principal
culpado" Visto que se trata de casos em que é manifesta a culpa de um dos cônjuges no divórcio

Já nesses casos, em que não se verifica culpa de nenhum dos cônjuges, o mº 2 do art. 191 estabelece a
não necessidade de declarar o culpado, o que se justifica pelas circunstâncias em que ocorre o divórcio.

Deve também, o tribunal, na apreciação da relevância dos factos invocados, ter em conta a condição
social dos cônjuges, o seu grau de educação e sensibilidade moral e quais quer outras circunstâncias
atendíveis, o que sinifica que o juiz nao deverá se cingir estritamente a lei.

Processo do divórcio litigioso

A legitimidade na acção do divórcio é disciplinada pelo art. 189 que nos termos do no. 1 estabelece que
só é legítima a acção de divórcio que é intentada pelo cônjuge ofendido e, estando este interdito, a
acção pode ser interposta pelo representante legal desde que haja autorização do conselho de família.

Todavia, mesmo o cônjuge ofendido pode se ver impossibilitado de intentar a acção, quando
ocorram certas circunstâncias que o legislador considerou como sendo excludentes do direito de
intentar a acção do divórcio litigioso, tal ocorre se o cônjuge que se apresenta como ofendido tiver
instigado o outro a praticar o facto que vem a invocar como fundamento do pedido ou tiver
intencionalmente criado condições propícias à sua verificação; ou se se houver revelado, pelo seu
comportamento posterior, designadamente por perdão expresso ou de suas atitudes poder se presumir
o perdão e que não considerara o acto praticado como impeditivo da vida em comum.

Se um dos cônjuges (ou ambos) falecer na pendência do processo de divórcio, a acção não pode ser
continuada por seus herdeiros e nem prosseguir contra eles.

O art. 190 dispõe acerca da caducidade da acção do divórcio. O seu nº. 1 estabelece que o direito e a
consequente legitimidade para intentar a acção caduca no prazo de três anos, depois da data em que o
cônjuge ofendido tomou conhecimento do facto que é susceptível de fundamentar o pedido.

Quanto a forma do processo, o divórcio litigioso segue a forma comum ordinária, como pode-se
depreender do art. 462 nº 2 do código de processo Civil "Às acções sobre estado de pessoas ou
interesses imateriais, quando não sigam processo especial, aplica-se processo ordinário".

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