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Tribunal da Relação de Lisboa

Processo nº 13739/21.8T8SNT.L1-4

Relator: MARIA JOSÉ COSTA PINTO


Sessão: 27 Setembro 2023
Número: RL
Votação: UNANIMIDADE
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: CONFIRMADA A SENTENÇA

CONTRATO DE SEGURO APÓLICE MEDIADOR DE SEGUROS

Sumário

I- A apólice emitida pelo segurador, enquanto documento que formaliza o


contrato, integra o conteúdo do acordado pelas partes e, em princípio,
prevalece sobre quaisquer documentos contratuais uma vez decorridos 30
dias da data da entrega da apólice, período findo o qual terá que ser invocável
a desconformidade relativamente a documento escrito ou outro suporte
duradouro.

II- Um dos elementos que deve constar necessariamente da apólice é o âmbito


“temporal” do contrato e o “início de vigência do contrato, com indicação de
dia e hora, e a sua duração”.

III- O simples facto de a seguradora ter assumido e custeado os tratamentos e


despesas do sinistrado durante cerca de dois meses, desacompanhado de
quaisquer outros factos, não é suficiente para se considerar que contribuiu
para que se criasse no sinistrado e na empregadora uma convicção de
representação aparente por parte do mediador de seguros.

(Elaborado pela Relatora)

Texto Parcial

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de Lisboa

1. Relatório

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1.1. AAA, patrocinado pela Digna Magistrada do Ministério Público, intentou a
presente acção emergente de acidente de trabalho, sob a forma do processo
especial, contra Tolerante Factor, Construção e Obras Públicas, Lda. e
Generali, Seguros, S.A., peticionando que as Rés sejam condenadas a pagar-
lhe, de acordo com a responsabilidade que for apurada:
a) a pensão anual e vitalícia no montante 188,52€ com início no dia seguinte
ao da alta definitiva, pensão essa obrigatoriamente remível (capital de remição
de 2400,24€, acrescido de juros, à taxa legal, desde o dia seguinte ao da alta);
b) o montante de IT que for apurado de 19.8.2021 a 19.9.2021 (32 dias) e
2100,41€ de ITA de 19.6.2021 a 18.8.2021 (61 dias), a título de indemnização
devida pelos períodos de incapacidade temporária sofridos e já reconhecidos;
c) as despesas que constam de fls. 100 a 116, ou seja: i) diversas deslocações
e respetivo estacionamento à CUF Mem-Martins, no valor de 34,16€; ii)
medicamentos no valor de 22,97€; iii) consultas e RX no valor de 147,00€.
d) despesas de deslocação a este Tribunal por virtude dos autos – 30,00€, até
à data da tentativa de conciliação;
e) outras despesas de deslocação que por esta mesma razão venha a ter no
decurso dos autos;
f) os juros de mora vencidos e vincendos, sobre todas as antecedentes
prestações, à taxa anual legal, desde a data dos respetivos vencimentos até
integral pagamento.

Em fundamento da sua pretensão alegou, em síntese, que no dia 18 de Junho


de 2021, sofreu um acidente de trabalho quando trabalhava sob as ordens,
direcção e fiscalização da 1.ª R., para quem exercia as funções de coordenador
de obra, tendo sofrido lesões que lhe determinaram incapacidade, e que a
responsabilidade civil emergente de acidente de trabalho estava transferida
pela R. empregadora para a R. seguradora, mediante contrato de seguro.
Requer a realização de junta médica por não concordar com a incapacidade
atribuída pelo perito médico no exame singular, pois nunca antes do dia 19 de
Setembro de 2021 poderia ter sido considerado como apto para o trabalho,
por se encontrar ainda a usar canadianas. Defende a final a procedência da
ação, em conformidade com a responsabilidade da seguradora e/ou da
empregadora que se vier a apurar.

A R seguradora contestou, defendendo a sua absolvição do pedido e alegando,


em suma: que à data do sinistro não existia qualquer contrato de seguro do
ramo Acidentes de Trabalho subscrito entre si e a R. empregadora que
abrangesse o Autor; que só em 21 de Junho de 2021 o Autor foi incluído na

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apólice de seguro que então vigorava, motivo por que não pode assumir
qualquer responsabilidade pelas consequências do alegado sinistro; que, sem
conceder quanto à questão da inexistência de seguro, desconhece a
ocorrência do evento descrito nos autos, as suas concretas circunstâncias e se
o mesmo determinou danos ou consequências para o A.; que pelo seu
mediador lhe foi solicitada a alteração do contrato de seguro a partir de 21 de
Junho de 2021, passando nessa data a abranger o sinistrado e que foi por
lapso administrativo que pagou ao A. valores a título de incapacidade
temporárias.

Também a R. empregadora deduziu contestação alegando, em síntese: que não


aceita o nexo causal entre o alegado acidente, as lesões e os períodos de
incapacidade; que transferiu para a Seguradora a sua responsabilidade
decorrente de acidentes ocorridos com o Autor; que esta só declinou a
responsabilidade quase dois meses depois da comunicação do sinistro; que a
admissão do A. foi comunicada ao mediador no dia 11 de Maio de 2021 e que
em Agosto enviou carta à seguradora respondendo que o A. foi admitido no dia
11 de Maio de 2021. Impugna ainda os factos alegados, entre os quais as
incapacidades, quer temporária (pois o desempenho das funções do A. era
compatível com a sua situação clínica), quer permanente (por não haver prova
do nexo de causalidade entre o sinistro e as lesões).

Proferido despacho saneador, foram seleccionados os factos assentes e fixado


o objecto do litígio, bem como enunciados os temas da prova. Foi determinada
ainda a organização de apenso para realização de junta médica (despacho de
2022.10.11).

Procedeu-se ao julgamento, e, após o seu termo, a Mma. Juiz a quo proferiu


sentença que terminou com o seguinte dispositivo:
«Pelo exposto, julgo a presente ação totalmente procedente, por provada e,
em consequência:
4.1. Condeno a Ré TOLERANTE FACTOR, CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS
LDA, a pagar ao Autor AAA
- a quantia de € 3.202,27 (três mil duzentos e dois euros e vinte e sete
cêntimos), correspondente ao período de incapacidade temporária absoluta
(ITA) entre 19.06.2021 e 19.09.2021 (93 dias);
- a quantia de € 199,71 (cento e noventa e nove euros e setenta e um
cêntimos), correspondente ao período de incapacidade temporária parcial
(ITP) de 10% entre 20.09.2021 e 17.11.2021 (58 dias);
- o capital de remição de uma pensão anual e vitalícia de € 188,52 (cento e

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oitenta e oito euros e cinquenta e dois cêntimos), a partir de 18.11.2021;
- a quantia de € 34,16 (trinta e quatro euros e dezasseis cêntimos), a título de
diversas deslocações e respetivo estacionamento à CUF Mem-Martins;
- a quantia de € 22,97 (vinte e dois euros e noventa e sete cêntimos), a título
de despesas com medicamentos;
- a quantia de € 147,00 (cento e quarenta e sete euros), a título de despesas
com consultas médicas e tratamentos (RX);
- a quantia de € 40,00 (quarenta euros), a título de despesas com deslocações
ao Tribunal;
4.2. Condeno ainda a Ré TOLERANTE FACTOR, CONSTRUÇÃO E OBRAS
PÚBLICAS LDA no pagamento dos juros de mora, vencidos e vincendos,
calculados sobre as acima descritas quantias, à taxa legal aplicável, até efetivo
e integral pagamento;
4.3. Absolvo de todos os pedidos a Ré GENERALI SEGUROS, S.A.
Fixo à ação o valor de € 6.090,08 (€188.52 x taxa 12,964 + €3.202,27 + €
199,71 + € 34,16 + € 22,97 + € 147,00 + €40,00).
Custas pela 1ª Ré.
[…].»
1.2. A R. Tolerante Factor, Construção e Obras Públicas, Lda., inconformada,
interpôs recurso desta decisão, tendo formulado, a terminar as respectivas
alegações, as seguintes conclusões:
(...)
1.3. A R. seguradora respondeu à alegação da recorrente empregadora,
defendendo a improcedência do recurso e manutenção da sentença recorrida.
Concluiu do seguinte modo:
(...)
1.4. Também o sinistrado patrocinado pelo Ministério Público, contra-alegou,
rematando a sua peça processual com o seguinte núcleo conclusivo:
(...)
1.5. Mostra-se lavrado despacho de admissão do recurso.
1.6. Recebidos os autos nesta Relação, não houve lugar a Parecer do Exmo.
Procurador-Geral Adjunto uma vez que o A. se mostra patrocinado pelo
Ministério Público – cfr- o artigo 87.º do Código de Processo do Trabalho.
*
Colhidos os vistos e realizada a Conferência, cumpre decidir.

*
2. Objecto do recurso
*
O âmbito do recurso é delimitado pelas conclusões das alegações da

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recorrente – artigo 635.º, n.º 4 e 639.º, n.ºs 1 e 2 do Código de Processo Civil,
aplicável “ex vi” do art. 87.º, n.º 1, do Código de Processo do Trabalho –,
ressalvadas as questões do conhecimento oficioso que ainda não tenham sido
conhecidas com trânsito em julgado.
Ao tribunal de recurso cabe ainda apreciar as questões que se suscitem nas
contra-alegações (artigo 81.º, n.º 3 do Código de Processo do Trabalho).
Assim, as questões que se colocam à apreciação deste tribunal são, por ordem
lógica da sua apreciação, as seguintes:
1.ª– da nulidade da sentença nos termos do artigo 615.º, n.º 1, alínea d) do
CPC;
2.ª– da impugnação da decisão de facto, o que pressupõe a análise da questão
do cumprimento, por parte da apelante, dos ónus legais prescritos para tal
impugnação;
3.ª– saber se o A. sofreu um acidente de trabalho, do qual resultaram lesões e
sequelas;
4ª– em caso afirmativo, saber se a R. seguradora é responsável, e em que
medida, pelo pagamento das prestações que lhe são devidas para reparação
do acidente.
*
3. Da nulidade da sentença
*
A recorrente alegou que não foi referido e não consta em Sentença que o A.
poderia ter continuado a laborar, pois as suas funções não eram apenas estar
presente em obra, grande parte passava por trabalho de escritório, o que, na
sua perspectiva, tem efeitos na nulidade da Sentença nos termos da alínea d),
n.º 1 do art. 615.º do CPC, nomeadamente sobre a possibilidade do A. se poder
dirigir ao escritório e efetivamente laborar, matéria que foi mencionada em
sede de audiência e que cabia ao Mmo. Juiz decidir.

A Digna Magistrada do Ministério Público, no exercício do patrocínio do A.,


invocou ser extemporânea esta arguição de nulidade por não ter sido deduzida
expressa e separadamente no requerimento de interposição de recurso como
prescreve o artigo 77.º, n.º 1, do CPT. Segundo alega, sendo o requerimento
omisso quanto a essa arguição, a sua exclusiva inclusão nas alegações não é
atendível.

Deve começar por se dizer que não se verifica o escolho apontado pela Digna
Magistrada do Ministério Público, ao conhecimento da presente nulidade, na
medida em que a acção teve o seu início já em 27 de Setembro de 2021, após
a entrada em vigor, no dia 9 de Outubro de 2019, da Lei n.º 107/2019 de 9 de

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Setembro, que alterou o Código de Processo do Trabalho, adequando-o ao
Código de Processo Civil e alterou a disposição processual do indicado artigo
77.º, segundo o qual a arguição de nulidade da sentença tinha que ser
efectuada no requerimento de interposição de recurso, “expressa e
separadamente”. Passou a dispor o artigo 77.º que [à] arguição de nulidades
da sentença é aplicável o regime previsto nos artigos 615.º e 617.º do Código
de Processo Civil”, o qual prescinde do formalismo especial antes exigido, pelo
que nada pode apontar-se à recorrente a este propósito, havendo que
conhecer da arguida nulidade.
Nos termos do disposto no art. 615º, nº1 do Código de Processo Civil, é nula a
sentença quando:
“(…)
d) O juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou
conheça de questões de que não podia tomar conhecimento.
(…).”

A previsão desta nulidade relaciona-se com o disposto no artigo 608.º, n.º 2,


do CPC, nos termos do qual “[o] juiz deve resolver todas as questões que as
partes tenham submetido à sua apreciação excetuadas aquelas cuja decisão
esteja prejudicada pela solução dada a outras” e “[n]ão pode ocupar-se senão
das questões suscitadas pelas partes, salvo se a lei permitir ou impuser o
conhecimento oficioso de outras”.

Sobre o que se deve entender por questões, para efeitos do disposto no art.º
608.º, n.º 2, do Código de Processo Civil, tem-se entendido que, “questões”,
para aquele efeito, são aquelas que se reportam aos pontos fáctico-jurídicos
estruturantes das posições assumidas pelas partes, ou seja, as que se prendem
com a causa de pedir, com o pedido e com as excepções por elas assumidas[1].
Ou, numa outra formulação com o mesmo significado essencial, as “questões”
que o juiz deve resolver na sentença, a que alude aquele normativo legal,
relacionam-se com a definição do âmbito do caso julgado, não abrangendo os
meros raciocínios, argumentos, razões, considerações ou fundamentos
(mormente alegações de factos e meios de prova) produzidos pelas partes em
defesa das suas pretensões[2].

Como observa o Prof. Alberto dos Reis, não enferma de nulidade por omissão
de pronúncia a sentença “que não se ocupou de todas as considerações feitas
pelas partes, por o tribunal as reputar desnecessárias para a decisão do pleito.
(…) São, na verdade, coisas diferentes: deixar de conhecer de questão de que
devia conhecer-se, e deixar de apreciar qualquer consideração, argumento ou

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razão produzida pela parte. Quando as partes põem ao tribunal determinada
questão, socorrem-se, a cada passo, de várias razões ou fundamentos para
valer o seu ponto de vista; o que importa é que o tribunal decida a questão
posta; não lhe incumbe apreciar todos os fundamentos ou razões em que elas
se apoiam para sustentar a sua pretensão”[3].

No caso vertente, a nulidade que é assacada à sentença consiste em não se ter


ela pronunciado sobre determinados factos a que a recorrente alude na alínea
b) das conclusões.
Ora, tal não se traduz em omissão de pronúncia, para efeitos do disposto no
art.º 615.º, do CPC, uma vez que os factos em causa não configuram, no
contexto da acção, uma “questão” a decidir tal como resulta do que foi dito
quanto ao modo como as questões são perspectivadas no artigo 608.º do
Código de Processo Civil.
Como pacificamente se tem considerado na jurisprudência[4], a decisão
proferida sobre a matéria de facto não é susceptível de enfermar das
nulidades da sentença previstas no artigo 615.º do Código de Processo Civil.
E quando a decisão da matéria de facto seja deficiente, obscura ou
contraditória, quando se mostre indispensável a sua ampliação quanto a
determinados factos, ou quando tal decisão não esteja devidamente
fundamentada sobre factos essenciais para o julgamento da causa, não é caso
para arguição da nulidade da sentença, antes para a impugnação da decisão
da matéria de facto e sua eventual modificação ou anulação, sendo as
inerentes patologias de conhecimento oficioso (cfr. o artigo 662.º do Código de
Processo Civil).
Pelo exposto, é de concluir não enfermar a sentença do vício que a este
propósito lhe apontou a recorrente.
*
4. Fundamentação de facto
*
4.1. A recorrente dedica grande parte da apelação à impugnação da decisão
de facto fixada na 1.ª instância.
A recorrida seguradora invoca, como questão prévia, a completa omissão, nas
alegações e nas conclusões da recorrente, do ónus legal que sobre a mesma
recaía relativamente à impugnação da(s) decisão(ões) sobre a matéria de facto
que sustenta a absolvição da recorrida, a conduzir à rejeição imediata do
recurso na parte afectada, ou seja, no recurso do segmento decisório que
absolve a seguradora,
Coloca-se assim como questão a analisar, de natureza prévia, a de saber se a
recorrente observou as formalidades indispensáveis à reapreciação por este

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Tribunal da Relação da decisão de facto emitida pela Mma. Juiz a quo, tarefa
que se empreenderá tendo em consideração toda a impugnação deduzida e
não apenas a respeitante ao segmento decisório que absolve a R. seguradora,
na medida em que se trata de questão de conhecimento oficioso.
A propósito dos requisitos para a impugnação da decisão de facto, estabelece
o artigo 640.º do Código de Processo Civil, o seguinte:
«Artigo 640.º
Ónus a cargo do recorrente que impugne a decisão relativa à matéria de facto

1— Quando seja impugnada a decisão sobre a matéria de facto, deve o


recorrente obrigatoriamente especificar, sob pena de rejeição:
a) Os concretos pontos de facto que considera incorretamente julgados;
b) Os concretos meios probatórios, constantes do processo ou de registo ou
gravação nele realizada, que impunham decisão sobre os pontos da matéria de
facto impugnados diversa da recorrida;
c) A decisão que, no seu entender, deve ser proferida sobre as questões de
facto impugnadas.
2— No caso previsto na alínea b) do número anterior, observa-se o seguinte:
a) Quando os meios probatórios invocados como fundamento do erro na
apreciação das provas tenham sido gravados, incumbe ao recorrente, sob pena
de imediata rejeição do recurso na respetiva parte, indicar com exatidão as
passagens da gravação em que se funda o seu recurso, sem prejuízo de poder
proceder à transcrição dos excertos que considere relevantes;
b) Independentemente dos poderes de investigação oficiosa do tribunal,
incumbe ao recorrido designar os meios de prova que infirmem as conclusões
do recorrente e, se os depoimentos tiverem sido gravados, indicar com
exatidão as passagens da gravação em que se funda e proceder, querendo, à
transcrição dos excertos que considere importantes.
3— O disposto nos n.ºs 1 e 2 é aplicável ao caso de o recorrido pretender
alargar o âmbito do recurso, nos termos do n.º 2 do artigo 636.º.»

Relativamente às conclusões, o artigo 639.°, n.º 1 do Código de Processo Civil


dispõe que "[o] recorrente deve apresentar a sua alegação, na qual conclui, de
forma sintética, pela indicação dos fundamentos por que pede a alteração ou
anulação da decisão".

O critério subjacente à definição da conformidade das conclusões com o


comando dos artigos 639.º e 640.º do CPC está necessariamente relacionado
com a respectiva aptidão para exercerem a sua função delimitadora e
sinalizadora do campo de acção interventiva do tribunal de recurso. Como

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temos repetidamente afirmado, é esta função das conclusões que legitima a
existência de normas processuais que as exijam.

Não obstante alguma divergência jurisprudencial que inicialmente existiu


quanto a saber se os requisitos dos ónus impugnatórios previstos no artigo
640.º, n.º 1, devem figurar apenas no corpo das alegações ou se também
devem ser levados às conclusões sob pena da rejeição do recurso, cremos
haver actualmente consenso na jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça
no sentido de que, uma vez que as conclusões delimitam o objecto do recurso
– artigos 635º, nº 4, e 639º, nº 1, do Código de Processo Civil –, é necessária a
indicação, nas conclusões, pelo menos, dos concretos pontos de facto de cuja
decisão o recorrente discorda[5].

Quanto à indicação dos meios de prova em que o recorrente sustenta a sua


discordância, admite-se que a mesma possa ter lugar nas alegações, pois que
consubstancia matéria relativa à correspondente fundamentação.

Mas a indicação, nas conclusões, dos pontos de facto que se pretendem ver
julgados de modo diferente é imprescindível para que estas cumpram a sua
função de sinalizar e delimitar o objecto do recurso e, consequentemente, o
âmbito de intervenção do tribunal ad quem no que diz respeito à decisão de
facto. Segundo é dito no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 31 de
Maio de 2016, do artigo 640º nº 1, al. b) não resulta que a descriminação dos
concretos meios probatórios, constantes do processo ou da gravação realizada
tenha que ser feita exclusiva e unicamente nas conclusões, bastando que o
seja nas alegações, mas nas conclusões devem ser indicados os pontos
concretos que o recorrente considera como incorrectamente julgados, face aos
meios probatórios que indica nas alegações.[6]

Segundo Lopes do Rego, “[a] expressão ‘ponto da matéria de facto’ procura


acentuar o carácter atomístico, sectorial e delimitado que o recurso ou
impugnação da decisão proferida sobre a matéria de facto em regra deve
revestir, estando em harmonia com a terminologia usada pela alínea a) do nº 1
do art. 640º: na verdade, o alegado ‘erro de julgamento’ normalmente não
inquinará toda a decisão proferida sobre a existência, inexistência ou
configuração essencial de certo ‘facto’, mas apenas sobre determinado e
específico aspecto ou circunstância do mesmo, que cumpre à parte concretizar
e delimitar claramente”.[7]

Como se particulariza no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 08 de

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Julho de 2020[8], o artigo 640.º, n.º1, al. a), do Código de Processo Civil, ao
exigir a especificação dos concretos pontos de facto que o recorrente
considera incorrectamente julgados, “pressupõe que seja feita a referência, no
que se refere aos factos alegados, aos respectivos articulados, e, quanto aos
factos não articulados, que o tribunal venha a considerar relevantes para a
boa decisão da causa, que seja feita referência ao despacho proferido nos
termos do art.º 72.º, n.º 1 do CPT".

Quando falte a especificação, nas conclusões, dos concretos pontos de facto


que recorrente considera incorrectamente julgados, deve ser rejeitado o
recurso respeitante à impugnação da decisão da matéria de facto.[9]

No caso em análise, a R. recorrente indica, no início do corpo das alegações,


que o presente recurso tem por objecto “toda a matéria de facto e de direito”
da sentença, fórmula genérica que, atenta a sua vaguidade e não se
descortinando a concretização ulterior de todos e cada um dos factos
submetidos a instrução e sobre os quais o tribunal a quo emitiu decisão (com
argumentação dirigida à alteração de cada um deles), não passa disso mesmo,
uma alusão genérica insusceptível de balizar a actividade cognitiva deste
tribunal.

Por seu turno, nas conclusões apresentadas, emite várias considerações a


propósito da matéria de facto, inferindo-se que discorda de alguns dos
segmentos que foram objecto da sentença, e invoca por vezes depoimentos
testemunhais e outros meios de prova, sem uma delimitação precisa entre a
matéria factual e jurídica,.

Os únicos factos que particulariza, e relativamente aos quais defende que deve
ser modificada a matéria de facto, dando-se como não provada (sentido
decisório por que propugna), são os que se mostram descritos nos pontos 6.,
9. e 14. da sentença – conclusões c) e n).

Quanto às demais considerações esparsas sobre a decisão de facto que fez


incluir na sua alegação, não faz a recorrente qualquer referência nas
conclusões a outros concretos pontos de facto elencados na sentença que
eventualmente considere incorrectamente julgados, ao invés do que se lhe
impunha. Limita-se a considerações genéricas, como ocorre com a afirmação
de que a sentença “vem dar como provada a existência de um acidente de
trabalho, condenando aqui a Ré / Recorrente ao pagamento de todos os danos
elencados, advenientes de um “suposto” acidente de trabalho – O que se

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encontra em contradição com os testemunhos prestados” –[conclusão a)] –, ou
com a afirmação de que, no que “concerne à absolvição da Ré Companhia de
Seguros, também aqui a livre apreciação da prova foi extrapolada, dado que
não teve em consideração os documentos juntos, nomeadamente a troca de
emails entre a Entidade Empregadora e a Seguradora, como também não teve
em consideração o facto de a Seguradora ter num primeiro momento custeado
todas as despesas relativas ao alegado acidente de trabalho” [conclusão q)].

O que, a nosso ver, não é suficiente para que se considere que as conclusões
cumprem a sua missão de delimitar o âmbito fáctico do recurso, por indicação
dos concretos pontos de facto incorrectamente julgados [arts. 639°, n.º1 e
640°, n.º 1, alínea a) do Código de Processo Civil][10].

Para além dos factos 6., 9. e 14., devidamente individualizados, quais os


concretos pontos da decisão que a recorrente reputa mal julgados por
referência ao elenco de factos provados e não provados constante da
sentença, ou por referência aos factos articulados, ou, não sendo articulados,
por referência a uma eventual decisão proferida nos termos do preceituado no
artigo 72.º do CPT?

As conclusões não nos esclarecem.

Debruçando-nos especificamente sobre a alegação atinente à seguradora, é de


notar que foi considerado concretamente não provado, no segundo item dos
factos elencados pela sentença como não provados, “que a Empregadora
tenha solicitado a inclusão do Autor na apólice de seguro no dia 11 de maio de
2021”, tal como alegado no artigo 15º da contestação da R. empregadora, e
que a recorrente não impugnou especificamente este ponto da sentença, nem
aduziu qualquer argumentação no sentido de ser alterada, e em que termos, a
decisão fáctica que do mesmo ficou a constar.

De todo o modo, ainda que pudesse defender-se que se descortina ser


impugnada a decisão da Mma. Juiz a quo na parte em que a mesma não verteu
na sentença a “troca de emails entre a Entidade Empregadora e a
Seguradora”, de forma alguma pode considerar-se que a recorrente cumpriu
quanto a este aspecto da sua impugnação o ónus de indicar os concretos
meios probatórios, constantes do processo ou de registo ou gravação nele
realizada, que impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto
impugnados – que, já vimos, também não identifica – diversa da recorrida,
mesmo considerando ser em geral suficiente o cumprimento no corpo das

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alegações de tal ónus de indicação dos meios de prova prescrito no artigo
640.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Civil.

Na verdade, nem nas conclusões da apelação, nem nas alegações que as


precedem, a recorrente localiza nos autos, ou sequer identifica, por qualquer
outro modo, os documentos juntos a que se reporta, designadamente correio
electrónico trocado entre as RR, que de algum modo possam revelar-se
relevantes para a decisão do litígio. Analisando especificamente o corpo das
alegações da apelação, verifica-se que o recorrente nele não diz mais do que
fez constar das conclusões a este propósito, não precisando, minimamente,
quais os documentos que entende pertinentes e adequados a uma alteração da
decisão de facto, limitando-se à referência que se transcreveu (“troca de
emails entre a Entidade Empregadora e a Seguradora”), referência que repete
nas conclusões e que é manifestamente insuficiente, tendo em consideração,
designadamente, que a recorrente omite qualquer exercício de análise de
documentos que entenda pertinentes com referência à sua idoneidade para
servirem de prova de factos concretos, limitando-se a exprimir, sem suporte
argumentativo, um juízo conclusivo quanto ao desacerto da absolvição da R.
seguradora. Pelo que fica inviabilizado o uso do poder do tribunal de, com
base na prova documental, alterar a decisão de facto[11].
Assim, deve rejeitar-se a impugnação deduzida quanto à decisão de facto, com
excepção da que se reporta aos factos 6., 9. e 14. dos factos provados.
Vejamos pois.
*
4.2. (…)
Não procede, também neste aspecto, a impugnação deduzida.
*
4.4. São os seguintes os factos a atender para a decisão jurídica do pleito:
*
1)À data de 18 de junho de 2021 existia entre a 1.ª e a 2.º Ré um contrato de
seguro de acidentes de trabalho, titulado pela apólice n.º 0006068582, na
modalidade de prémio fixo, nos termos do qual foi transferida para a
seguradora a responsabilidade emergente de acidentes de trabalho sofridos
pelos trabalhadores da 1ª Ré incluídos na apólice – cfr. alínea A) dos Factos
Assentes.
2)À data de 18.06.2021, na referida apólice de seguro estavam incluídos 8
trabalhadores da Ré Empregadora, a saber: (…), (…)(…)(…)(…)(…)(…)(…)(…) –
cfr. resposta dada ao artigo 9º da contestação da Seguradora.
3)À Ré Seguradora foi participado um acidente de trabalho ocorrido com o
Autor no dia 18 de junho de 2021 – cfr. alínea B) dos Factos Assentes.

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4)Em 18 de junho 2021, o Autor exercia funções correspondentes a
Coordenador de obra, por conta, ordem e fiscalização da 1ª Ré – cfr. resposta
dada ao artigo 1º da p.i..
5)O Autor auferia a retribuição salarial mensal de 1.200,00€ x 14 meses, no
total de 16.800,00€, acrescido de subsídio de alimentação de 4,77€ x 22 dias
11 meses, no total de 1.154,34€, na totalidade anual de € 17.954,34€ – cfr.
resposta dada ao artigo 2º da p.i..
6)No dia 18 de junho de 2021, nas instalações da empregadora, quando se
encontrava na cave do edifício, o Autor escorregou numas escadas e caiu – cfr.
resposta dada ao artigo 3º da p.i..
7)A Seguradora liquidou ao Autor a quantia de € 1.308,44 (mil trezentos e oito
euros e quarenta e quatro cêntimos), a título de indemnização devida pelos
períodos de incapacidade sofridos – cfr. alínea C) dos Factos Assentes.
8)Em 21.06.2021 foi solicitada a alteração da apólice, para inclusão de dois
novos trabalhadores ao quadro seguro anterior: o aqui Autor AAA ambos
técnicos de construção e obras públicas, com retribuição e € 1.200,00 x 14
(salário base) e € 104,94 x 11 (subsidio de alimentação) e € 900,00 x 14
(salário base) e € 104,94 x 11 (subsidio de alimentação), respetivamente – cfr.
resposta dada ao artigo 12º da contestação da Seguradora.
9)Submetido a exame médico singular neste Tribunal, no dia 02.11.2021, o
senhor perito médico fixou os seguintes períodos de incapacidade:- ITA de
19.06.2021 a 18.08.2021;- ITP de 20%, de 19.08.2021 a 19.09.2021 (data da
consolidação médico-legal das lesões) – cfr. Auto de Exame Médico junto a fls.
52-54 – cfr. alínea D) dos Factos Assentes.
10) O senhor perito médico atribuiu ao Autor uma IPP de 1,5%, a partir de
20.09.2021 – cfr. alínea E) dos Factos Assentes.
11) Na Tentativa de Conciliação realizada nos autos o Autor não concordou
com a incapacidade fixada pelo senhor perito médico para o período de
19.08.2021 a 19.09.2021 – cfr. alínea F) dos Factos Assentes.
12) A Ré Seguradora não aceitou a existência e caracterização do acidente
como de trabalho; não aceitou o nexo de causalidade entre o alegado acidente
e as lesões sofridas pelo Autor; e não aceitou a transferência de
responsabilidade – cfr. alínea G) dos Factos Assentes.
13) A Ré Empregadora não aceitou a existência e caracterização do acidente
como de trabalho; não aceitou o nexo de causalidade entre o alegado acidente
e as lesões sofridas pelo Autor; e disse ter transferido para a Ré Seguradora a
sua responsabilidade, pelo salário anual do trabalhador de € 1.200,00 x 14
meses – cfr. alínea H) dos Factos Assentes.
14) Em consequência do acidente sofrido o Autor sofreu fratura do 5º
metatarso do pé direito – cfr. resposta ao artigo 4º da p.i., por referência à

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resposta da junta médica ao quesito 1º de fls. 150 (quesitos do Autor).
15) Atualmente o Autor apresenta como sequelas do acidente: dor no 5º
metatarso do pé direito, pós fratura – cfr. resposta ao artigo 5º da p.i., por
referência à resposta da junta médica ao quesito 1º de fls. 150 (quesitos do
Autor).
16) Submetido a exame por junta médica neste Tribunal em 16.12.2022, as
senhoras peritas médicas em representação do Tribunal e do sinistrado
fixaram os seguintes períodos de incapacidade:- ITA de 19.06.2021 a
19.09.2021;- ITP de 10%, de 20.09.2021 a 17.11.2021 (data da consolidação
médico-legal das lesões) – cfr. Auto de junta médica no Apenso.
17) Em consequência do acidente o Autor suportou as seguintes despesas: i)
Diversas deslocações e respetivo estacionamento à CUF Mem-Martins, no
valor de 34,16€; ii) Medicamentos, no valor de 22,97€; iii) Consultas e RX, no
valor de 147,00€. d) Despesas de deslocação a este Tribunal por virtude dos
autos – 40,00€ (incluindo a deslocação para exame por junta médica).

5. Fundamentação de direito
*
5.1. Da caracterização do acidente
O acidente sub judiceocorreu em 18 de Junho de 2021, na vigência da Lei dos
Acidentes do Trabalho (LAT) actualmente em vigor, aprovada pela Lei n.º
98/2009 de 4 de Setembro, que regulamenta o regime de reparação de
acidentes de trabalho e de doenças profissionais, incluindo a reabilitação e
reintegração profissionais, nos termos do artigo 284.º do Código do Trabalho,
aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro.
O nº 1 do art. 8º da Lei n.º 98/2009 estatui que “[é] acidente de trabalho
aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza directa ou
indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que
resulte redução da capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte”.
Resulta deste preceito (que reproduz textualmente o artigo 6.º, n.º 1 da Lei n.º
100/97 de 13 de Setembro e o artigo 6.º, n.º 1 do DL n.º 143/99 de 30.4) que o
conceito de acidente de trabalho é caracterizado por três elementos
delimitadores, de verificação cumulativa, além da existência de um contrato
de trabalho. São eles: o elemento espacial (local de trabalho); o elemento
temporal (tempo de trabalho); e o elemento causal (nexo de causa e efeito
entre o acidente e a lesão, perturbação ou doença e entre esta e a morte ou a
redução da capacidade de ganho).
Não tendo a R. empregadora logrado vencimento na impugnação de facto que

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deduziu, cremos ser pacífica a qualificação do evento como acidente de
trabalho, à luz dos factos 4. a 6. e 14. a 16. que se consideraram provados.
Com efeito, decorre destes factos que a queda ocorreu no local e no tempo de
trabalho, tendo produzido directamente lesões corporais de que resultou
redução na capacidade de trabalho, nos termos do artigo 8º, nº 1, da Lei nº
98/2009, de 4 de Setembro.
Impõe-se pois reconhecer ao A. ora recorrido o direito a ver reparado,
segundo a LAT, o acidente de trabalho que sofreu ao serviço da recorrente,
então sua empregadora, sendo de responder afirmativamente à 3.ª questão
acima enunciada.
*
5.2. Da responsabilidade da seguradora
Cabe a este passo aferir se a R. seguradora é responsável, e em que medida,
pelo pagamento das prestações devidas ao sinistrado para reparação do
acidente, o que implica se afira se, em 18 de Junho de 2021, quando o A.
sofreu o acidente de trabalho descrito na sentença, se encontrava transferida
para a recorrida seguradora a responsabilidade civil emergente de acidente de
trabalho por ele sofrido nessa data ao serviço da recorrente, sua
empregadora.

Vejamos.

Estabelece o artigo 79.º, n.º 1, da Lei 78/2009, de 04.09, que regulamenta o


regime de reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais,
incluindo a reabilitação e reintegração profissionais, que o empregador é
obrigado a transferir a responsabilidade pela reparação prevista naquela lei
para entidades legalmente autorizadas a realizar este seguro.

Através do contrato de seguro celebrado em obediência ao disposto neste


preceito, a seguradora assume o risco de suportar o prejuízo patrimonial que o
tomador do seguro suportaria em caso de acidente de trabalho sofrido por
trabalhador ao seu serviço, mediante o pagamento de uma contraprestação
(prémio).

A obrigação de seguro estabelecida na Lei nº 78/2009 (LAT) resulta antes de


mais de preocupações do legislador determinadas pela protecção do
sinistrado, pela necessidade de garantir a este a efectividade da reparação em
caso de acidente de trabalho. Não obstante, apesar da obrigatoriedade do
seguro, a lei faz recair em primeira linha sobre o empregador a
responsabilidade objectiva pela reparação dos prejuízos emergentes de tais

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acidentes, sendo certo que, se aquele violar a obrigação de celebrar o contrato
de seguro, ou se declarou para efeitos de prémio de seguro um salário inferior
ao real, recai sobre si a responsabilidade, total ou parcial, pela reparação dos
danos sofridos pelo trabalhador (cfr. os n.ºs 4 e 5 do referido artigo 79.º e o
artigo 7.º da LAT). Ou seja, se viola a obrigação de segurar, o empregador
mantém-se adstrito à obrigação de reparar pelo que, quando celebra o
contrato, o empregador tutela em primeira linha o seu próprio interesse (o de
que não venha a recair sobre o seu património a obrigação de reparação) e
não o de quem vier a ser vítima de um acidente de trabalho, embora seja óbvio
que a celebração daquele contrato, com a transferência da inerente
responsabilidade objectiva para uma entidade com reconhecida solvabilidade,
confere aos trabalhadores uma garantia acrescida de satisfação dos seus
direitos em caso de verificação de um acidente de trabalho.

Assim, o contrato de seguro de acidentes de trabalho mantém-se nos termos


da responsabilidade civil, ainda que com especificidades próprias decorrentes
vg da sua sujeição a uma apólice uniforme nos termos do artigo 81.º da LAT,
segundo o qual “a apólice uniforme do seguro de acidentes de trabalho
adequada às diferentes profissões e actividades, de harmonia com os
princípios estabelecidos na presente lei e respectiva legislação regulamentar,
é aprovada por portaria conjunta dos ministros responsáveis pelas áreas das
finanças e laboral, sob proposta do Instituto de Seguros de Portugal, ouvidas
as associações representativas das empresas de seguros e mediante parecer
prévio do Conselho Económico e Social”.

À data do acidente – e actualmente – estava em vigor a Apólice Uniforme do


Contrato de Seguro de Acidentes de Trabalho, aprovada pela Portaria
256/2011, de 05.07 (AU), cuja cláusula 1.ª, alínea a) define que se entende-se
por “Apólice” o “conjunto de condições identificadas na cláusula anterior e na
qual é formalizado o contrato de seguro celebrado”.

Especificamente quanto às modalidades da cobertura, a cláusula 5ª da AU


dispõe que “[o] seguro pode ser celebrado nas seguintes modalidades: a)
Seguro a prémio fixo, quando o contrato cobre um número previamente
determinado de pessoas seguras, com um montante de retribuições
antecipadamente conhecido; b) Seguro a prémio variável, quando a apólice
cobre um número variável de pessoas seguras, com retribuições seguras
também variáveis, sendo consideradas pelo segurador pelo segurador as
pessoas e as retribuições identificadas nas folhas de vencimento que lhe são
enviadas periodicamente pelo tomador do seguro.”

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Quanto ao Regime Jurídico do Contrato de Seguro aprovado pelo Decreto-Lei
nº 72/2008, de 16 de Abril (LCS), é importante atentar em que deixou de
exigir a adopção de forma escrita para a celebração – e, portanto, para a
validade – do contrato de seguro[12], mas continuou a exigir a redução a
escrito da apólice para efeitos de prova do contrato, como resulta dos nºs 1 e
2 do seu artigo 32º, conjugado com os artigos subsequentes.

Como ficou a constar do Preâmbulo do Regime Jurídico do Contrato de


Seguro: “Quanto à forma, e superando as dificuldades decorrentes do artigo
426º do Código Comercial, sem descurar a necessidade de o contrato de
seguro ser reduzido a escrito na apólice, admite-se a sua validade sem
observância de forma especial. Apesar de não ser exigida forma especial para
a celebração do contrato, bastando o mero consenso, mantém-se a
obrigatoriedade de redução a escrito da apólice.”

Nos termos do preceituado no artigo 35.º do mesmo Decreto-Lei n.° 72/2008,


“[d]ecorridos 30 dias sobre a data da entrega da apólice sem que o tomador
do seguro haja invocado qualquer desconformidade entre o acordado e o
conteúdo da apólice, só são invocáveis divergências que resultem de
documento escrito ou de outro suporte duradouro”. Deste preceito decorre
que a apólice emitida pelo segurador, enquanto documento que formaliza o
contrato, integra o conteúdo do acordado pelas partes (artigo 37.º, n.º 1) e em
princípio prevalece sobre quaisquer documentos contratuais uma vez
decorridos 30 dias da data da entrega da apólice, período findo o qual terá que
ser invocável a desconformidade relativamente a documento escrito ou outro
suporte duradouro.

Um dos elementos que deve constar necessariamente da apólice é o âmbito “


temporal” do contrato e o “início de vigência do contrato, com indicação de
dia e hora, e a sua duração” [alíneas e) e i) do artigo 37.º, n.º 2 da LCS)].

A sentença sob recurso considerou que no caso dos autos não ficou
demonstrado que na data em que o acidente se deu, 18 de Junho de 2021, a R.
empregadora tivesse transferido para a R. Seguradora a sua responsabilidade
emergente de acidentes de trabalho ocorridos com o A..

E daqui concluiu que tal basta para responsabilizar a R. empregadora e


desresponsabilizar a R. seguradora pela reparação dos danos, devendo esta
ser absolvida dos pedidos.

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Divergindo do veredicto da sentença, a recorrente começa por alegar que, “
como foi amplamente provado”, existia uma “representação aparente”, que
vincula a Companhia de Seguros, face ao disposto no DL 144/2006 de 31 de
julho e art. 23º, nº 1, do DL 178/86 e art. 30º, nº 3 do DL 72/2008, que a
Companhia de Seguros demandada deu à mediadora poderes de cobrança e
criou a aparência de representação, pelo que a empregadora acreditou que a
mediadora tinha poderes de representação, nomeadamente no que concerne à
comunicação da simples admissão de trabalhadores, e que a seguradora
assumiu e custeou todos os tratamentos e despesas do trabalhador até Agosto
de 2021, o que contribuiu para que se criasse neste e na empregadora uma
convicção de representação por parte da mediadora.

Ou seja, a recorrente não questiona que em termos formais o contrato de


seguro celebrado, na modalidade de prémio fixo, não abarca o acidente de
trabalho sofrido pelo A. em 18 de Junho de 2021.

Face à clareza dos factos provados a propósito – vide os factos 1., 2., 6. e 8. e
ao regime jurídico aplicável que acima se traçou, não vemos também como o
podia fazer.

Com efeito, ficou provado, com relevância para a decisão desta questão que:
“1) À data de 18 de junho de 2021 existia entre a 1.ª e a 2.º Ré um contrato de
seguro de acidentes de trabalho, titulado pela apólice n.º …., na modalidade
de prémio fixo, nos termos do qual foi transferida para a seguradora a
responsabilidade emergente de acidentes de trabalho sofridos pelos
trabalhadores da 1ª Ré incluídos na apólice – cfr. alínea A) dos Factos
Assentes.
2) À data de 18.06.2021, na referida apólice de seguro estavam incluídos 8
trabalhadores da Ré Empregadora, a saber: (…) (…)(…)(…)(…)(…)(…)(…) – cfr.
resposta dada ao artigo 9º da contestação da Seguradora.
(…)
6) No dia 18 de junho de 2021, nas instalações da empregadora, quando se
encontrava na cave do edifício, o Autor escorregou numas escadas e caiu – cfr.
resposta dada ao artigo 3º da p.i..
(…)
8) Em 21.06.2021 foi solicitada a alteração da apólice, para inclusão de dois
novos trabalhadores ao quadro seguro anterior: o aqui Autor AAA e (…),
ambos técnicos de construção e obras públicas, com retribuição e € 1.200,00 x
14 (salário base) e € 104,94 x 11 (subsidio de alimentação) e € 900,00 x 14

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(salário base) e € 104,94 x 11 (subsidio de alimentação), respetivamente – cfr.
resposta dada ao artigo 12º da contestação da Seguradora.”

Decorre destes factos, sem qualquer dúvida, que apenas a partir de 21 de


Junho de 2021 a seguradora assumiu a responsabilidade pela reparação de
acidentes de trabalho eventualmente sofridos pelo aqui A. ao serviço da
recorrente.

A recorrente ancora a sua tese no sentido de que deve ser absolvida, isso sim,
na existência de poderes de representação do mediador com quem contactou:
a alegada “representação aparente” – ainda que não explicite quais os actos
praticados pelo mediador que teriam vinculado a seguradora, de molde a
implicar a responsabilização desta pela reparação do sinistro.

Caberia pois aferir, em face da factualidade provada, se é possível afirmar que


o mediador de seguros com quem a recorrente contactava, praticou actos,
antes de 18 de Junho de 2021, no sentido de alargar o objecto do contrato de
seguro de acidentes de trabalho em vigor entre as RR. de modo a que neste se
encontrasse abrangido o acidente de trabalho sofrido pelo aqui A. e se esses
actos eram susceptíveis de vincular a seguradora.
A recorrente parte desta perspectiva ao afirmar que existia antes uma “
representação aparente” que “vincula a Companhia de Seguros”.

Ora, esta questão consubstancia uma questão nova, que não foi invocada na
contestação apresentada como fundamento da defesa nela deduzida pela ora
recorrente, peça processual esta em que a recorrente se limitou que alegar
que “[a] informação de admissão do trabalhador sinistrado e de outro à
Seguradora foi feita, como sempre, através de comunicação por correio
electrónico à Giant (mediador de seguros) no dia 11 de Maio de 2021, assim
como foi feita a comunicação à Segurança Social” (artigo 15.º da contestação),
sem que tenha invocado expressamente a questão da agora alegada “
representação aparente”.

Por isto mesmo, a referida questão não foi tratada na sentença recorrida, que
sobre ela não se pronunciou.

Ora, como decorre do disposto no artigo 627.º do Código de Processo Civil, e


constituem jurisprudência e doutrina uniformes, os recursos, como remédios
jurídicos que são, não se destinam a conhecer questões novas não apreciadas
pelo tribunal recorrido, mas, sim, a apurar da adequação e legalidade das

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decisões sob recurso, ressalvadas as questões de conhecimento oficioso[13].

A questão da eventual “representação aparente” da seguradora pelo mediador


traduz-se, pois, numa questão nova, que não é de conhecimento oficioso.

Seja como for, e partindo da hipótese de se poder considerar que a alegação


do artigo 15.º da contestação poderá consubstanciar o afloramento desta
questão, deve dizer-se que a correspondente matéria foi submetida a
instrução, considerando-se “não provado” no segundo item dos factos “não
provados” na sentença, “que a Empregadora tenha solicitado a inclusão do
Autor na apólice de seguro no dia 11 de maio de 2021 – artigo 15º da
contestação da Ré Empregadora”, sem que a recorrente tenha impugnado este
segmento da decisão de facto.

Ou seja, e em suma, mesmo que se considerasse não haver propriamente


novidade da questão, certo é que a ora recorrente não alegou na contestação,
e consequentemento não provou, quaisquer factos susceptíveis de levar a
concluir que o mediador com quem alegadamente contactou estivesse munido
de poderes de representação da seguradora e, sequer, qual a modalidade de
mediação de seguros desenvolvida pelo indicado mediador (cfr. a Lei n.º
7/2019, de 16 de Janeiro, que aprovou o regime jurídico da distribuição de
seguros e de resseguros, transpondo a Directiva (UE) 2016/97, e revogou o
Decreto-Lei n.° 144/2006, de 31 de Julho invocado pela recorrente).

Nem alegou, tão pouco, que o mediador actuava em nome da seguradora sem
os necessários poderes, mas se verificavam factos suceptíveis de levar a
concluir que o segurador contribuiu para fundar a confiança do tomador do
seguro na legitimidade do mediador para actuar em seu nome – vide o artigo
30.º, do Decreto-Lei n.º 72/08, de 16.04 (Regime Jurídico do Contrato de
Seguro), vg. o seu n.º 3, em regime consonante com a Cláusula 32ª, da
Portaria n.º 256/2011, de 5 de Julho, que aprovou a parte uniforme das
condições gerais da apólice de seguro obrigatório de acidentes de trabalho
para trabalhadores por conta de outrem, bem como as respectivas condições
especiais uniformes, aplicável ao caso sub judice. Efectivamente, no caso
vertente nada foi alegado pela ora recorrente, nem, consequentemente se
mostra provado, quanto a um qualquer acto da recorrida seguradora
susceptível de fazer criar no tomador a confiança na eventual legitimidade do
mediador para actuar em seu nome, admitindo que o mediador praticasse
actos como seu representante e criando, desse modo, no tomador do seguro,
confiança nessa representação (por exemplo aceitando a responsabilidade em

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apólices assinadas pelo mediador, ou cobrando prémios negociados com o
mesmo, ou procedendo a estornos na sequência de reclamações apresentadas
pelo tomador ao mediador[14]).

Pelo que de forma alguma se mostra “amplamente provado” – como diz a


recorrente – que existia uma “representação aparente” do mediador, que os
actos deste vinculassem a R. seguradora, que esta tenha dado ao mediador
poderes de cobrança, que de algum modo tenha criado a aparência de
representação ou, sequer, que a empregadora tenha acreditado que o
mediador tivesse poderes de representação no que concerne à comunicação
da admissão de novos trabalhadores.

O simples facto de a seguradora ter assumido e custeado os tratamentos e


despesas do sinistrado até Agosto de 2021, desacompanhado de quaisquer
outros factos – que a sentença não revela –, não é suficiente para se
considerar que contribuiu para que se criasse neste e na empregadora uma
convicção de representação por parte do mediador de seguros. Pode ter criado
a convicção de que assumia a responsabilidade pela reparação do sinistro,
mas nenhum facto, dos provados, nos fornece qualquer indício de que assim
aconteceu quanto a uma intervenção do mediador neste processo[15].

Nunca poderia, pois, concluir-se nestes autos que a R. empregadora procedeu


à comunicação à R. seguradora, através do mediador em “representação
aparente”, da admissão do sinistrado ao seu serviço antes da data em que se
verificou o acidente.
É totalmente improcedente a apelação, devendo manter-se o veredicto
constante da sentença da 1.ª instância.
*
Porque ficou vencida no recurso que interpôs, incumbe à recorrente o
pagamento das custas respectivas (artigo 527.º, n.ºs 1 e 2, do Código de
Processo Civil). Mostrando-se paga a taxa de justiça e não havendo encargos a
contar neste recurso que, para efeitos de custas processuais, configura um
processo autónomo (artigo 1.º, n.º 2 do Regulamento das Custas Processuais),
a condenação é restrita às custas de parte que haja.
*
6. Decisão
Em face do exposto, decide-se:
6.1. julgar improcedente a arguida nulidade da sentença;
6.2. julgar improcedente a impugnação da decisão de facto relativamente aos
pontos 6., 9. e 14. dos factos provados e rejeitar a impugnação deduzida

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quanto ao mais;
6.3. negar provimento ao recurso e confirmar a decisão constante da sentença
da 1.ª instância.
*
Condena-se a recorrente nas custas de parte que haja a contar.

Lisboa, 27 de Setembro de 2023

(Maria José Costa Pinto)


(Leopoldo Soares)
(Manuela Bento Fialho)

[1]Vide o Ac. do Supremo Tribunal de Justiça de 2009.07.01, proferido no


processo n.º 3445/08, da 4.ª Secção, sumariado in www.stj.pt.
[2]Vide o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 2012.01.10, no proc. n.º
515/07.0TBAGD.C1.S1, in www.dgsi.pt.
[3] In Código de Processo Civil Anotado, Vol. V, p. 143.
[4]Vide os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 2007.06.06, proferido
no processo n.º 07S670, e de 2023.03.29, proferido no processo n.º
4207/19.9T8PRT.P1.S1, in www.dgsi.pt e, entre outros, o Acórdão da Relação
de Coimbra de 2015.01.21, proferido no processo n.º 2996/12.0TBFIG.C1 e
com anotação favorável de Miguel Teixeira de Sousa in https://
blogippc.blogspot.pt, entrada de 28 de Janeiro de 2015.
[5]Vide, entre outros, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 19 de
Fevereiro de 2015, Processo n.º 299/05.6TBMGD.P2.S1, de 04 de Março de
2015, Processo n.º 2180/09.0TTLSB.L1.S2, de 03 de Dezembro de 2015,
Processo n.º 3217/12.1TTLSB.L1.S1 e de 14 de Janeiro de 2015, Processo n.º
326/14.6TTCBR.C1.S1 inwww.dgsi.pt.
[6]Processo n.º 1572/12.2TBABT.E1.S1, no mesmo sítio.
[7]Carlos Lopes do Rego, in Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I,
Coimbra, 2004, p. 608.
[8]Processo n.º 283/08.8TTBGC-B.G1.S1, sumariado in www.stj.pt. Também no
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 14 de Outubro de 2020, Processo
n.º 283/08.8TTBGC-B.G1.S1, que apreciou a conformidade constitucional
deste preceito, se afirmou que, pretendendo o recorrente impugnar a decisão
do tribunal de 1ª instância proferida sobre a matéria de facto perante um
tribunal de 2.ª instância, que não intermediou a produção da prova, “é

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razoável que se exija ao recorrente que identifique os pontos de facto que
impugna por referência aos articulados, aos temas da prova ou aos factos
julgados não provados na sentença, sob pena de não se conhecer do recurso
nessa parte”. Acrescenta o aresto que esta exigência “funda-se nos princípios
do dispositivo e da cooperação, tendo por objetivo a justa composição do
litígio, não se vislumbrando que a mesma seja excessiva e viole o princípio da
proporcionalidade, razão pela qual o art.º 640.º, n.º 1, do C.P.C. não é
inconstitucional por violação da garantia constitucional do acesso à justiça,
consagrada no art.º 20.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa, e do
dever de administração da justiça imposto aos Tribunais no art.º 202.º, n.º 1,
do mesmo diploma”.
[9]Vide Abrantes Geraldes, in Recursos no Novo Código de Processo Civil, 3.ª
edição, Coimbra, 2016, p. 142.
[10]Vide o Acórdão da Relação de Coimbra de 2016.10.25, proferido no
processo n.º 12/14.7TBLRA.C1. Vide ainda o Acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça de 08 de Julho de 2020, Proc. n.º 283/08.8TTBGC-B.G1.S1, nos termos
do qual, o art.º 640.º, n.º1, al. a) do Código de Processo Civil, ao exigir a
especificação dos concretos pontos de facto que o recorrente considera
incorrectamente julgados, pressupõe que seja feita a referência: no que se
refere aos factos alegados, aos respectivos articulados, e quanto aos factos
não articulados, que o tribunal venha a considerar relevantes para a boa
decisão da causa, que seja feita referência ao despacho proferido nos termos
do art.º 72.º, n.º 1 do CPT.
[11]Vide assim decidindo o Vide o Ac. do Supremo Tribunal de Justiça de 02 de
Julho de 2008, Recurso n.º 4752/07 - 4.ª Secção, sumariado www.stj.pt.
[12]Segundo a lei anterior, o contrato de seguro tinha natureza formal. O
artigo 426º do Código Comercial exigia a redução a escrito do contrato de
seguro num instrumento, a apólice, e enunciava os pontos que dela tinham de
constar. Entre esses elementos figuravam os pontos essenciais à função e
individualização do contrato de seguro (§ único do artigo 426º e respectivos
nºs), vg. a definição do “objecto do seguro e a sua natureza e valor”, dos
“riscos contra os quais se faz o seguro”, da “quantia segurada” e do “tempo
em que começam e acabam os riscos”.
[13]Vide, entre muitos outros, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de
10 de Outubro de 2007, Processo n.º 3634/07-3.ª Secção, de 4 de Dezembro
de 2008, Processo n.º 2507/08-3.ª Secção, de 23 de Setembro de 2009,
Processo n.º 5953/03.4TDLSB.S1-3.ª Secção, de 9 de Julho de 2014, Processo
n.º 2127/07.9TTLSB.L1.S1, de 12 de Setembro de 2013, Processo n.º
381/12.3TTLSB.L1.S1, de 18 de Janeiro de 2012, Processo n.º
543/06.2TTGRD.L1.S1 e de Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 12 de

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Outubro de 2015, Processo n.º 677/12.4TTALM.L1.S1, todos sumariados em
www.stj.pt e, na doutrina, o Prof. José Alberto dos Reis, Código de Processo
Civil Anotado, vol. V, p. 141 e António Abrantes Geraldes, Recursos em
Processo Civil, Novo Regime, 2ª edição revista e actualizada, Coimbra, 2008,
pp. 25-26.
[14]Vide o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 2020.11.24, Processo
13495/16.1YIPRT.G3.S1, e o Acórdão da Relação do Porto de 10 de Fevereiro
de 2016, Processo n.º 3245/13.0TBPRD.P1, ambos in www.dgsi.pt..
[15]De notar que não releva, por si só, o documento constante de fls. 89 dos
autos, que se traduz na cópia de um e-mail datado de 11 de Maio de 2021,
enviado a um Sr. …, talvez mediador de seguros, por Joana Castro Nunes,
comunicando a admissão do A. e de outro trabalhador na Tolerantefator. Não
só a decisão de facto não esclarece quem são os intervenientes na missiva,
como a matéria do segundo ponto dos factos “não provados” não foi
impugnada com o necessário cumprimento dos ónus legais. Acresce que o
documento em causa não se reveste de força probatória plena, única hipótese
em que o mesmo poderia ser atendido oficiosamente por este Tribunal da
Relação (cfr. os artigos 607.º, n.º 4, segunda parte e 663.º, n.º 2, do Código de
Processo Civil), sendo ainda de notar que o facto que o mesmo será
susceptível de revelar não seria, por si só, de molde a alterar o sentido da
decisão do recurso (por não haver outros factos provados reveladores de que a
recorrida seguradora adoptou uma conduta susceptível de fazer criar no
tomador a confiança na eventual legitimidade do
mediador para actuar em seu nome).

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