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17VARCVBSB
17ª Vara Cível de Brasília
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
2. A adquirente foi intimada, por meio da publicação da decisão de Id 124055447, conforme determina o
Art. 792, §4º do CPC.
3. Por sua vez, o executado e a adquirente, sua patrona, manifestaram-se ao Id 127391198 arguindo a
regularidade do negócio jurídico, sob a alegação de que, em síntese, esta execução estava garantida por
valor superior ao devido quando da realização do negócio.
É o relatório.
Decido.
7. Os documentos de Ids 133132207 p.50 a 52 comprovam que, à época da realização do negócio jurídico,
ou seja, em 30.07.2020, já havia sido instaurada a presente execução, estando o executado e a
adquirente/patrona cientes dela e, sobretudo, da existência da dívida ainda perseguida pela credora.
8. Não merece prosperar o argumento do executado de que, à época da realização do negócio, a dívida
estava assegurada por valor superior ao devido. Isto porque, àquela altura processual, permanecia o débito
entre as partes e a existência de outra penhora não lhe servia, na prática, de autorização para transferir o
seu patrimônio sem arcar com os débitos já existentes e com as dívidas já reconhecidas judicialmente.
9. Ao contrário do alegado pelo devedor ao Id 127391198, este Juízo não indeferiu a penhora do veículo
em ocasião anterior em razão de garantia da dívida, apenas postergou a avaliação do pedido de
suplementação da penhora à apresentação de planilha de débito por parte do exequente (item 3 da decisão
de Id 89787299). Em verdade, o credor, posteriormente, desistiu da suplementação da penhora, o que foi
homologado por este Juízo (item 1 do despacho de Id 90265738).
10. Quanto à adquirente, cumpre salientar que esta figurava, à época, como patrona do executado nesta
mesma ação. Esta, certamente, ao exercer o mandato que lhe foi outorgado, tinha plena ciência não só da
existência do débito, do interesse da credora em satisfazer a sua legítima pretensão e, sobretudo, do fato
do devedor responder com todos os seus bens para o cumprimento de suas obrigações, nos termos do Art.
789 do CPC.
11. Ademais, conforme predispõe a Súmula nº 375 do Superior Tribunal de Justiça, "o reconhecimento da
fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro
adquirente"
12. Isto posto, tenho que a anuência da patrona/adquirente em receber o veículo do executado tendo plena
consciência da existência da execução, de sua elevada litigiosidade e dos esforços da credora em
satisfazer o seu crédito configura a má fé mencionada como requisito da Súmula 375 do STJ.
13. À patrona, enquanto representante judicial do requerido incumbia o dever de orientá-lo a agir com a
boa fé processual que lhe é imposto por lei e, sobretudo, contribuir para que o processo judicial atinja o
fim a que se destina.
15. Isto posto, reputo presentes os elementos caracterizados da fraude à execução, motivo pelo qual
reconheço a ocorrência do fenômeno quando da dação em pagamento, por parte do executado, do
veículo Marca/Modelo Porsche Cayene, Ano: 2011, Placa EQE 2828, a sua patrona Delize Sousa
Martins Andrade em 30.07.2020. De consequência, torno sem efeito o negócio jurídico em relação
ao credor destes autos, o que faço com fulcro no §1º do art. 792 do CPC.
17. Em consulta ao sítio deste e.TJDFT, verifico que resta pendente a citação do executado no PJE
0726619-82.2022.8.07.0001 em trâmite na 12ª Vara Cível desta circunscrição judiciária. Nesta ação,
houve, inclusive, concessão de tutela de urgência para sustação dos efeitos da procuração pública de
transferência de direitos incidentes sobre o veículo outorgada pela Sra. QUEZIA DE OLIVEIRA SOUZA
DIAS em favor do executado destes autos.
18. Desta feita, há de se reconhecer que a aquisição de direitos do executado sobre o veículo objeto da
penhora requerida é litigiosa, de modo que a regularidade da procuração pende de decisão final daquele
Juízo. Por esta razão, tenho que a penhora e a expropriação do bem, a esta altura processual, não restará
eficaz à credora destes autos, haja vista a questão prejudicial sobre a titularidade do veículo.
19. Isto posto, primando pela eficácia processual e com vistas a não realizar atos processuais inócuos,
tumultuando o andamento do feito e em prejuízo à razoável duração do processo, indefiro, por ora, o
pedido de penhora do veículo. Sem prejuízo, porém, de nova análise do pleito após a decisão final
daquele Juízo acerca da regularidade da procuração que outorgou direitos ao executado sobre o bem.
20. Passo à análise do pedido de penhora da remuneração recebida pelo executado (Id 134934253).
Não obstante o artigo 833, inciso IV, do Código de Processo Civil, estabeleça a impenhorabilidade dos
vencimentos, subsídios, soldos, salários, dentre outras verbas destinadas ao sustento do devedor e de sua
família, tal vedação não é absoluta, sendo possível, excepcionalmente, consoante o entendimento firmado
pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, a flexibilização da citada regra, quando a hipótese concreta
dos autos revelar que o bloqueio de parte da remuneração não prejudica a subsistência digna dos
devedores e de suas famílias, além de auxiliar na satisfação do crédito perseguido pela exequente.
23. Deste modo, a regra geral da impenhorabilidade de salários, vencimentos, proventos etc. (art. 833, IV,
do CPC), pode ser excepcionada quando for preservado percentual de tais verbas capaz de dar guarida à
dignidade do devedor e de sua família.
24. Na presente execução, já foram despendidos vários esforços a fim de localizar bens do executado
passíveis de penhora através dos sistemas Sisbajud e Renajud, não sendo os resultados das pesquisas
suficientes para satisfazer a integralidade do débito perseguido nestes autos.
25. O documento de Id 134934257 faz prova de que o requerido recebe o salário bruto, em média, de R$
33.763,00 (trinta e três mil, setecentos e sessenta e três reais), de forma que a penhora de 10% (dez por
cento) do salário líquido do executado mostra-se razoável e, a princípio, não inviabiliza o seu sustento e
não prejudica a manutenção de sua dignidade e de seus dependentes.
26. Por este motivo, defiro em parte o pedido de Id 134934253 e determino a penhora de 10% (dez por
cento) do montante concernente ao salário líquido percebido pelo executado.
27. Contudo, ante a extensão da medida constritiva, postergo o envio de ofício à entidade pagadora à
preclusão da presente decisão.
28. Preclusa a presente decisão, oficie-se à Câmara dos Deputados determinando a retenção de 10%
(dez por cento) do valor líquido da remuneração mensal a ser recebida pelo executado LUIS CLÁUDIO
FERNANDES MIRANDA, CPF 902.186.471-15.
29. Faça-se constar na comunicação que o valor retiro deverá ser transferido, mês a mês, a uma conta
judicial vinculada a este feito até alcançar o montante do valor atualizado da dívida, a ser informado pela
credora no prazo de 05 (cinco) dias, abatido o montante proveniente da arrematação do imóvel.
30. Indefiro, por ora, a expedição de ofício para transferência da comissão de leiloeiro, haja vista a prévia
determinação de que se aguarde a preclusão da decisão de Id 112629230 e a pendência de julgamento
final do Agravo de Instrumento nº 0707745-52.2022.8.07.0000.
31. Desde já, intimo a credora a carrear aos autos a certidão de matrícula atualizada do imóvel arrematado
a fim de analisar a eventual existência de débitos preferenciais ao perseguido nesta ação, bem como os
reflexos das penhoras no rosto dos autos aqui averbadas em desfavor da credora na distribuição do crédito
materializado pela arrematação do imóvel.