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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.23.233840-0/001 Númeração 5001496-


Relator: Des.(a) Jaqueline Calábria Albuquerque
Relator do Acordão: Des.(a) Jaqueline Calábria Albuquerque
Data do Julgamento: 14/11/2023
Data da Publicação: 20/11/2023

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO -


EFEITO SUSPENSIVO - INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA - EMBARGANTE
E EMBARGADO VÍTIMAS DE ESTELIONATÁRIO - GOLPE DA OLX -
FALSO PAGAMENTO - VENDA A NON DOMINO - OCORRÊNCIA -
HIPÓTESE QUE SE AMOLDA À EXCEÇÃO DO ART. 1.268 -
CIRCUNSTÂNCIAS TAIS QUE, A QUALQUER PESSOA, SERIA
RAZOÁVEL CRER QUE O FALSÁRIO ERA LEGÍTIMO PROPRIETÁRIO DO
VEÍCULO - EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO - AUSÊNCIA DE DEVER
DE CUIDADO DO VENDEDOR - VERIFICAÇÃO - CONDUTA QUE
CONTRIBUIU CULPOSA E DETERMINANTEMENTE PARA O DESFECHO
E PARA OS PREJUÍZOS EXPERIMENTADOS - DEVOLUÇÃO DO BEM -
IMPOSSIBILIDADE - SENTENÇA MANTIDA. O pedido de atribuição de
efeito suspensivo ao recurso de apelação deve ser formulado em petição
incidental em apartado, e não, no bojo da própria peça recursal, sob pena de
não conhecimento por inadequação da via eleita (CPC, art. 1.012, §3º).
Conforme a dicção do art. 1.268 do Código Civil, "feita por quem não seja
proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida
ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em
circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o
alienante se afigurar dono". Nesses casos, desde que preenchidos os
requisitos a que alude a segunda parte do referido dispositivo legal, optou o
legislador por tutelar a boa-fé e o princípio da confiança, aplicando a teoria
da aparência, a fim de proteger o terceiro que incorre em erro escusável ao
adquirir bem móvel de quem não era o legítimo proprietário. Por outro lado,
incumbe às partes o dever de zelo e de diligência na consecução dos
negócios jurídicos. Assim, uma vez que o alienante deixou de cumprir os
devidos cuidados e a diligência mínima na transação realizada, visto que não
conferiu a efetiva disponibilidade do crédito em sua

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conta bancária, tem-se que sua conduta, ainda que parcialmente, concorreu
à consecução do estelionato. Por essa razão, não pode ser imposto ao
terceiro de boa-fé, que foi suficientemente cauteloso no ato da celebração do
negócio, o sacrifício de arcar com a perda do bem, devendo ser consolidada
a posse e propriedade do veículo em seu favor.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.23.233840-0/001 - COMARCA DE VAZANTE -


APELANTE(S): VALDINEI DOS SANTOS - APELADO(A)(S): JOHN DA
SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 10ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DE OFÍCIO, NÃO CONHECER DO PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE
EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO E, NO MÉRITO, NEGAR-LHE
PROVIMENTO.

DESA. JAQUELINE CALÁBRIA ALBUQUERQUE

RELATORA

DESA. JAQUELINE CALÁBRIA ALBUQUERQUE (RELATORA)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto por VALDINEI DOS SANTOS


contra a sentença (doc. de ordem n° 134) proferida nos autos de "embargos
de terceiro com pedido de tutela de urgência em caráter liminar" que lhe
move JOHN DA SILVA, por meio da qual a MM. Juíza

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da Vara Única da Comarca de Vazante julgou procedentes os pedidos


iniciais, nos seguintes termos:

Assim, JULGO PROCEDENTE pedido inicial, para DETERMINAR a


desconstituição do ato de depósito da Toyota Hilux, CD4x4, diesel, ano 2009,
cor branca, placa HLB-1382, Chassi 8AJFR22GO94536232, bem como a
retirada da restrição de circulação, via RENAJUD, e, consequentemente,
DECLARAR a posse e a propriedade do veículo em favor do embargante
JOHN DA SILVA.

Por conseguinte, extingo o feito, com resolução de mérito, na forma do art.


487, inciso I, do CPC/15.

Condeno o embargado ao pagamento das custas e despesas processuais,


além dos honorários de sucumbência, os quais arbitro em 10% do valor
atualizado da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC/15, suspensa a
exigibilidade em razão da gratuidade de justiça que ora lhe defiro.

Oficie-se o DETRAN-GO para proceder com a transferência do veículo objeto


dos autos para a titularidade do embargante JOHN DA SILVA.

Oficie-se à Corregedoria-Geral de Justiça de Goiás para tomar ciência e


medidas cabíveis a respeito do reconhecimento de

autenticidade na assinatura do vendedor no ATPV anexo em ID 1120114967,


pelo Tabelionato de Notas e Protesto da Comarca de Corumbá - GO, haja
vista a falsidade foi constatada na perícia realizada nestes autos.

Havendo recurso voluntário, intime-se a parte recorrida para, no prazo de 15


(quinze) dias, apresentar contrarrazões. Decorrido o aludido prazo, com ou
sem contrarrazões, remetam-se os autos ao e. Tribunal de Justiça de Minas
Gerais.

Com o trânsito em julgado, proceda-se à juntada da presente sentença aos


autos de busca e apreensão 5001069-

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48.2020.8.13.0710, e se nada requerido, proceda-se à baixa.

Consubstanciado o seu inconformismo nas razões recursais reproduzidas


no evento nº de ordem 141, pretende o réu, ora apelante, a reforma do r.
decisum, sustentando, em síntese, que ao negociar seu veículo em site de
vendas iniciou as tratativas com pessoa interessada no bem, terceiro que
não integra a lide, o qual lhe apresentou comprovante de depósito bancário
no valor acordado, imitindo-se na posse do veículo, a fim de verificar suas
funcionalidades.

Defende que tomou as devidas precauções, uma vez que não transferiu o
veículo ao interessado e manteve o recibo sem assinatura, até que, ao
perceber que havia sido vítima de golpe, registrou a ocorrência e recorreu ao
Poder Judiciário para solucionar o imbróglio, ajuizando ação de busca de
apreensão. No decorrer do referido processo, o apelado, por sua vez,
apresentou-se, afirmando ter adquirido o bem, oportunidade em que juntou
comprovante de transferência com a assinatura do apelante, cuja
autenticidade havia sido reconhecida em Cartório localizado no Município de
Senador Canedo (GO).

Afirma, contudo, que jamais assinou qualquer recibo de transferência,


tampouco visitou a referida cidade, razão pela qual requereu a produção de
prova pericial grafotécnica, através da qual restou constatada a falsidade da
assinatura. Alega, além disso, que o apelado não logrou êxito em demonstrar
a legitimidade da aquisição do veículo, tampouco que realizou o negócio
jurídico de boa-fé, uma vez que existia impedimento recaindo sobre o bem no
Detran, além de assinatura falsa e bloqueio do veículo.

Sustenta ser nulo o negócio jurídico realizado mediante fraude na


assinatura, de modo que a compra e venda do veículo realizada pelo apelado
não poderá surtir efeitos.

Nesse sentido, requer o provimento do recurso, nos exatos termos acima


delineados, a fim de reformar a r. sentença objurgada, de modo

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a declarar a nulidade do negócio que resultou na venda do veículo ao


apelado e a consequente retomada da posse e propriedade sobre o bem,
invertendo-se os ônus sucumbenciais.

Requer, ainda, a concessão de efeito suspensivo ao recurso, para que


seja mantida a restrição no veículo, impedindo que seja objeto de qualquer
negócio até a conclusão da presente demanda.

Ausente o preparo, por se encontrar o apelante sob os auspícios da


gratuidade da justiça (doc. de ordem n° 134).

Contrarrazões à ordem n° 143, em esperada e evidente infirmação,


pugnando pelo desprovimento do recurso.

É o relato do necessário.

Tenho preliminar, de ofício, que submeto à apreciação dos meus ilustres


pares.

PRELIMINAR

Pedido de atribuição de efeito suspensivo - não conhecimento -


inadequação da via eleita

Cumpre, inicialmente, examinar o pedido de atribuição de efeito


suspensivo ao apelo da parte recorrente, visando sobrestar os efeitos da
sentença.

O §3º do art. 1.012, do novel diploma instrumenta civil, disciplina o modo


pelo qual se pode pleitear a atribuição de efeito suspensivo à apelação:

"Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.

(...)

§ 3° O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do §

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1° poderá ser formulado por requerimento dirigido ao:

I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua


distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-
la;

II - relator, se já distribuída à apelação."

Em nota ao dispositivo legal em evidência, Fredie Didier Jr. e Leonardo


Carneiro da Cunha ensinam que o pedido de concessão de efeito suspensivo
- tenha sido, ou não, distribuída a apelação - deve ser feito em petição
autônoma, confira-se:

"(...) caso a apelação ainda não tenha chegado ao tribunal, o requerimento


de atribuição de efeito suspensivo deve ser formulado em petição autônoma,
que será livremente distribuída entre os órgãos do tribunal competentes para
o julgamento da apelação; se já houve algum relator prevento - porque cuida
ou cuidou de um agravo de instrumento proveniente desse mesmo processo,
por exemplo (art. 930, par. ún., CPC) -, o requerimento será dirigido a ele; de
todo modo, o relator a quem coube o exame desse requerimento autônomo
de concessão de efeito suspensivo fica prevento para a apelação (art. 1.012,
§3º, I CPC). Trata-se de um requerimento avulso de tutela provisória, que
poderá ser concedida sem a ouvida da parte adversária; no entanto, o
recorrido deverá ser ouvido, para manifestar-se sobre esse requerimento;
como não há prazo previsto, aplica-se o prazo supletivo de cinco dias (art.
218, §3º do CPC).

Caso a apelação já tenha sido distribuída, o requerimento de concessão de


efeito suspensivo será formulado em petição simples, incidental aos autos da
apelação, dirigida ao relator (art. 1.012, §3º, II, CPC). (Curso de direito
processual civil, vol. III, Salvador: JusPodivm, 13ª, 2016, p. 188-189).

No mesmo norte, a jurisprudência deste egrégio Tribunal de Justiça:

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"APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - PEDIDO DE


ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO À APELAÇÃO - INADEQUAÇÃO
DA VIA ELEITA - INTELIGÊNCIA DO ART. 1.012, §3º, II, CPC/2015 - IPVA -
ILEGITIMIDADE PASSIVA DO CREDOR FIDUCIÁRIO - MATÉRIA
SUSCITADA EM ANTERIOR EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE -
REDISCUSSÃO - INADMISSIBILIDADE - PRECLUSÃO CONSUMATIVA -
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Na dicção do art. 1.012, §3º, II, CPC/2015, o
pedido de concessão de efeito suspensivo à apelação poderá ser formulado
por petição autônoma, dirigida ao Tribunal, no período compreendido entre a
interposição da apelação e sua distribuição. Tendo em vista que o pedido foi
formulado nas razões de apelação, configurada a inadequação da via eleita.
2. Em sede de embargos à execução, é defeso rediscutir matéria já decidida
em anterior exceção de pré-executividade manejada pela própria
embargante, haja vista o fenômeno da preclusão consumativa(arts. 505 e
507 do CPC). Precedentes. 4. Recurso não provido." (TJMG - Apelação Cível
1.0000.20.044273-9/001, Relator(a): Des.(a) Raimundo Messias Júnior, 2ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/07/2020, publicação da súmula em
08/07/2020, g.n.).

Do que não destoa o entendimento desta d. 10ª Câmara Cível:

"APELAÇÃO CÍVEL - PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO


AO RECURSO - INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA - PETIÇÃO INCIDENTAL -
ART. 1.012, §3º, CPC - EMBARGOS À EXECUÇÃO - ALEGAÇÃO DE
REESCALONAMENTO DA DÍVIDA - AUSÊNCIA DE PROVA - TÍTULOS
DIVERSOS.

- O pedido de atribuição de efeito suspensivo ao recurso de apelação deve


ser formulado em petição incidental em apartado e não no bojo da própria
peça recursal, consoante disposto no Código de Processo Civil.

- Descabido o acolhimento dos embargos à execução quando não


comprovada a quitação da dívida cobrada, ônus do embargante." (TJMG -
Apelação Cível 1.0105.16.044140-5/001, Relator(a): Des.(a) Roberto
Apolinário de Castro (JD Convocado) , 10ª CÂMARA CÍVEL,

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julgamento em 17/03/2020, publicação da súmula em 19/06/2020). (g.n).

In casu, malgrado a literalidade do texto normativo, a exigir que o


requerimento de concessão de efeito suspensivo se dê por meio de petição
autônoma, observa-se que a apelante ignorou tal exigência, ao deduzir o
pedido nos meandros das razões de apelação.

Destarte, diante da inadequação da via eleita, DE OFÍCIO, NÃO


CONHEÇO DO PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO
APELO.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Satisfeitos os demais pressupostos que regem a sua admissibilidade,


conheço do recurso.

MÉRITO

Cinge-se a controvérsia recursal em atestar o acerto, ou não, da


sentença objurgada por meio da qual a magistrada singular julgou
procedentes os embargos de terceiro, ao fundamento de que verificou "a boa
-fé por parte do comprador/embargante JOHN, que, inclusive, adotou
cautelas importantes antes de concretizar o negócio", afirmando, por outro
lado, que "o vendedor/embargado incorreu em descuido não completamente
escusável para pessoas com o padrão médio de razoabilidade", razão pela
qual determinou "a desconstituição do ato de depósito da Toyota Hilux,
CD4x4, diesel, ano 2009, cor branca, placa HLB-1382, Chassi
8AJFR22GO94536232, bem como a retirada da restrição de circulação, via
RENAJUD, e, consequentemente", além de declarar "a posse e a
propriedade do veículo em favor do embargante JOHN DA SILVA.

Extrai-se dos autos que o embargante, ora apelado (John da Silva)


ajuizou a presente ação de embargos de terceiro, sustentando, em síntese,
que, em 24.07.2020, encontrou no sítio eletrônico OLX anúncio de veículo da
marca Toyota modelo Hilux CD4x4, diesel, ano

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2009, branca, placa HLB-1382, Chassi nº 8AJFR22GO94536232 pelo valor


de R$ 55.000,00 (cinquenta e cinco mil reais).

Na oportunidade, afirmou ter entrado em contato com o anunciante,


identificado como "Carlos Augusto Caixeta", com quem negociou a compra
do bem, a ser pago parte através de depósito bancário e o restante por meio
de dinheiro em espécie.

Realizado o pagamento e recebido o veículo, relatou ter tentado proceder


à transferência da propriedade, ocasião em que foi surpreendido com a
ocorrência de estelionato registrada neste Estado por Valdinei dos Santos,
ora apelante, o qual havia ajuizado ação de busca e apreensão (processo n°
5001069-51.2020.8.13.0710), cujo objeto era justamente o veículo que
acabara de adquirir.

Diante de tais fatos, defendeu que o pleito autoral da ação de busca e


apreensão não merece prosperar, uma vez que é adquirente de boa-fé,
tendo, além disso, adotado todas as precauções cabíveis à verificação da
higidez do negócio. Nesse passo, afirma que averiguou todos os documentos
relativos ao veículo, deslocando-se ao cartório de sua cidade, além de
realizar vistoria com empresa especializada no ramo e reconhecida pelo
Detran-GO, apontando, ainda, a existência de Autorização para
Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV), assinado pelo próprio
embargado, ora apelante, com firma reconhecida em Cartório localizado no
Estado de Goiás.

Por tais motivos, requereu a manutenção da posse do veículo em seu


favor, além da retirada da anotação de impedimento de circulação.

Por sua vez, na ação de busca e apreensão que tramita em apenso


(processo n° 5001069-51.2020.8.13.0710), relatou o autor, ora apelante, em
sua petição inicial, que, após o anúncio de seu veículo (Toyota Hilux, ano
2009, placa HLB-1382, cor branca, CHASSI 8AJFR22G094536232) no sítio
eletrônico da OLX, foi abordado por terceiro identificado como "Matheus",
interessado na compra do bem pelo valor anunciado (R$ 65.000,00 -
sessenta e cinco mil reais). Após as tratativas, no dia 15.07.2020, Valdinei e
Matheus acordaram a

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venda do veículo, tendo o pretenso comprador apresentado ao proprietário,


ora apelante, suposta comprovação de depósito em conta bancária de sua
titularidade no valor acima mencionado, razão pela qual o bem foi entregue a
este.

Contudo, em seguida, narrou o apelante que se deu conta de tratar-se de


fraude, uma vez que os valores supostamente depositados pelo falsário
jamais chegaram a ser creditados em sua conta.

Por esse motivo, ajuizou a ação de busca e apreensão conexa,


originalmente em face de "Terceiros Possuidores", requerendo, em sede de
tutela de urgência, a determinação de restrição de circulação sobre o veículo
objeto da lide e, ao final, que o bem retorne à sua propriedade, bem como a
condenação da parte ré ao pagamento de indenização por danos materiais e
morais.

Durante o curso processual, diante da propositura da presente ação de


embargos de terceiro, distribuída por dependência, o apelado, ora
embargante, fora incluído no polo passivo dos autos da busca e apreensão.

Diante do resultado do julgamento, insurge-se o embargado, ora


apelante, Valdinei dos Santos, contra a r. sentença em que a ilustre juíza da
causa julgou procedentes os embargos de terceiros opostos pelo comprador
John da Silva.

Registre-se que, conexa ao presente apelo, tramita a apelação tombada


sob o n° 1.0000.23.236428-1/001, também processada sob minha relatoria,
por meio da qual o ora apelante igualmente pretende a reforma da r.
sentença, proferida nos autos do processo n° 5001069-51.2020.8.13.0710,
que julgou improcedente a ação de busca e apreensão por ele ajuizada.

Como é sabido, os embargos de terceiro constituem ação de


procedimento especial de jurisdição contenciosa, que tem por fim livrar de
ordem judicial injusta bens que foram ou estão ameaçados de

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constrição em um processo no qual o seu proprietário ou possuidor não é


parte.

Assim, é legítima a oposição de embargos de terceiros por aquele que,


não sendo parte no processo, sofre turbação ou esbulho na posse de seus
bens por ato de judicial, de acordo com o previsto no art. 1.046 do CPC/73 -
atual art. 674, do Código de Processo Civil/2015, hipótese que efetivamente
se amolda ao caso dos autos.

Como se percebe da narrativa apresentada por ambas as partes, o


apelante foi vítima de fraude perpetrada por falsário, comumente conhecido
como "golpe do falso pagamento". A fim de elucidar de forma concisa o
modus operandi do golpe, veja-se a explicação retirada da própria central de
segurança do sítio eletrônico da OLX, plataforma na qual a fraude foi
consumada:

"Golpe do falso pagamento: o que fazer e o que é?

Fique atento às transações virtuais e descubra como saber se é golpe.

Existem duas formas de aplicar essa 'armadilha virtual' que são mais
comuns. Uma das fraudes mais comuns atualmente é o golpe do falso
pagamento. Em resumo, o comprador é, na verdade, um fraudador que finge
ter realizado o pagamento e retira o produto sem realmente ter pago por ele.
Para evitar esse tipo de dor de cabeça, explicamos melhor como ocorre a
aplicação do golpe na OLX e separamos algumas dicas de como identificar e
evitar ser enganado durante o fechamento de um negócio.

(...)

2. Golpe do falso pagamento no próprio site

Essa fraude também pode acontecer quando uma pessoa, que se passa por
compradora, demonstra interesse no anúncio e decide fechar negócio na
plataforma que está sendo utilizada mesmo e, assim como no caso anterior,
o fraudador utiliza comprovantes de

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pagamentos adulterados ou falsos para concluir a compra. Por isso, na OLX,


por exemplo, vale priorizar fazer seu pagamento online utilizando o serviço
da garantida da OLX, assim é possível conferir a transferência nos detalhes
de venda ou no saldo da carteira OLX Pay".

E o caso dos autos se enquadra na situação narrada. O apelante e até


então proprietário do veículo Toyota Hilux colocou seu bem à venda na
plataforma online da OLX, ocasião em que pessoa de nome Matheus lhe
contatou para negociar a compra do automóvel. Ao encontrarem-se
presencialmente, o estelionatário utilizou-se de comprovante de pagamento
falso, simulando um depósito bancário, razão pela qual o apelante, de forma
prematura, confiando na veracidade do documento apresentado, lhe
entregou o bem sem exigir-lhe, em contrapartida, prova mais robusta acerca
da higidez da suposta transação.

Somente depois de transcorrido determinado lapso temporal é que


percebeu que o valor não havia sido depositado em sua conta, sendo certo
que Matheus não mais respondeu aos contatos por ele realizados.

Em seguida, o falsário procedeu à nova oferta do veículo através da


mesma plataforma, ocasião em que John da Silva, ora apelado, manifestou
seu interesse em adquiri-lo, encontrando-se com o suposto vendedor e, após
certificar-se da, ao menos aparente, regular situação do bem, celebrou o
negócio pelo valor de R$ 55.000,00 (cinquenta e cinco mil reais).

Da breve narrativa dos fatos, bem como das elucidações retiradas do


próprio site em que todo o golpe se realizou, há indícios de que ambas as
partes foram vítimas de terceiro estelionatário. O apelante, ao entregar bem
que lhe pertencia sem a respectiva contraprestação e o apelado, ao adquirir
veículo de quem não era dono e fruto de crime de estelionato, causando-lhe
sérios riscos de ser vítima de evicção.

Contudo, se é verdade que ambas as partes foram ludibriadas, por outro


lado, verifica-se que, para além, é claro, da prática de crime de

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estelionato por terceiro, a conduta determinante que contribuiu para a


consecução do golpe derivou da negligência do apelante, o qual descuidou
das cautelas ordinariamente compreendidas no ato de celebração de negócio
de compra e venda, mormente com pessoa desconhecida. Ao que parece - e
o que demanda maior dilação probatória, a ser averiguada pelas vias
judiciais próprias, em ação com objeto e tutela específicas -, a inércia do
então proprietário na adoção de providências mínimas, necessárias à
segurança e à higidez da transação tem o condão de qualificar, ao menos em
tese, sua omissão.

Lado outro, sob a perspectiva do comprador, autor da presente ação de


embargos de terceiro, nota-se que, de fato, a realidade fática que lhe foi
apresentada conferia aparência de legitimidade ao negócio, em relação à
qual não seria razoável exigir-lhe, tampouco de qualquer outra pessoa, que
questionasse a verdadeira origem do veículo ou que desconfiasse de
eventual prática de estelionato.

Isso porque, conforme doc. de ordem n° 09, verifica-se que ao


embargante, ora apelado, lhe foi apresentado o Certificado de Registro de
Veículo (CRV) em nome de Valdinei dos Santos, ora apelante, juntamente
com Autorização para Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV)
devidamente assinada e com firma reconhecida pelo Tabelionato de Notas e
de Protesto de Títulos da Comarca de Corumbá de Goiás. Além disso, o
comprador juntou cópias do documento de identidade do suposto vendedor,
Carlos Augusto Caixeta, conforme doc. de ordem n° 13, e levou o veículo
objeto da transação para ser vistoriado por empresa especializada no ramo,
a qual lhe devolveu laudo eletrônico atestando o status "aprovado" do
referido bem (doc. de ordem n° 17).

Nessa hipótese, portanto, malgrado tenha ocorrido a chamada venda a


non domino, há de ser reconhecida sua eficácia, sobretudo em virtude da
boa-fé do adquirente e sua impossibilidade, bem como de qualquer outra
pessoa diante das mesmas circunstâncias, de conhecer o vício. É o que se
extrai da literalidade do art. 1268 do Código Civil, litteris:

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Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a
propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou
estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao
adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono.

Em casos como o dos autos, optou o legislador por tutelar a boa-fé e o


princípio da confiança, aplicando a teoria da aparência, a fim de proteger o
terceiro que incorre em erro escusável ao adquirir bem móvel de quem não
era o legítimo proprietário.

Sobre esse instituto, ressalta-se a lição de Francisco Eduardo Loureiro:

"A grande novidade do art. 1.268 está em sua segunda parte, que traça
exceção à regra geral. Diz o preceito que a aquisição a non domino transfere
a propriedade em casos excepcionais, quando a coisa é oferecida ao público
em leilão ou estabelecimento comercial, em circunstâncias tais que, ao
adquirente de boa-fé como a qualquer pessoa o alienante se afigurar dono, A
regra, inteiramente afinada com o direito contemporâneo, tutela a teoria da
aparência e a segurança das relações negociais. Prestigia a confiança que
de terminadas condutas despertam no público em geral e, por consequência,
desloca o risco da perda da coisa, que era do adquirente, para o proprietário,
que não mais terá direito à reivindicação, mas apenas a reaver o equivalente
em dinheiro mais perdas e danos do alienante". (In: PELUSO, Cezar
(Coord.). Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 13ª ed. Barueri:
Manole, 2019, p. 1.232).

Ainda, de acordo com o mesmo autor, a excepcional eficácia da


aquisição a non domino demanda o cumprimento de determinados requisitos:

"Cercou o legislador a excepcional eficácia da aquisição a non domino de


múltiplos requisitos, tanto objetivos quanto subjetivos. Assim, a alienação
deve ser cercada de circunstâncias especialíssimas e

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cumulativas. A coisa deve ser oferecida ao público em geral, ou ao menos a


determinado segmento de interessados. Não se aplica a exceção, portanto, a
alienações feitas entre particulares, sem possibilidade de aquisição por
terceiros. A oferta deve ser feita em leilão - não necessariamente judicial - ou
estabelecimento comercial. O termo estabelecimento comercial tem sentido
amplo, abrangendo também ofertas encaminhadas por vias postal e
eletrônica, ou por qualquer outro meio de comunicação, desde que abertas
ao público. O adquirente deve estar de boa-fé, não conhecendo e não
podendo conhecer o vício de origem. O legislador explicitou que a boa-fé
subjetiva do adquirente segue a corrente ética, exige-se não só a ignorância
do vício, como também a impossibilidade de conhecê-lo, comparando sua
conduta com a de "qualquer pessoa" na mesma situação. A culpa do
adquirente, portanto, impede a eficácia da aquisição. Por último. o alienante
deve ter a aparência de dono da coisa, levando em conta as circunstâncias
do caso concreto.

A exigência de múltiplos requisitos cumulativos tem o propósito de evitar o


sacrifício do proprietário da coisa em prol do adquirente desidioso. Não basta
o desconhecimento do vício e a aquisição em estabelecimento comercial, por
parte do adquirente. As circunstâncias do caso concreto, a natureza da coisa
alienada, se nova ou usada, o preço pago, o local onde se concluiu o
negócio, tudo deverá ser levado em conta para aferir o comportamento
cuidadoso do adquirente comparando-o com o proceder de outras pessoas,
diante do mesmo quadro". (In: PELUSO, Cezar (Coord.). Código Civil
Comentado: doutrina e jurisprudência. 13ª ed. Barueri: Manole, 2019, p.
1.232/1.233).

No caso sub judice, emerge indene de dúvidas que os aludidos requisitos


restaram satisfeitos. Em primeiro lugar, verifica-se que a coisa foi oferecida
em público, uma vez que o anúncio que culminou na aquisição do veículo
pelo apelado deu-se em sítio eletrônico de acesso irrestrito por qualquer
pessoa ou, ao menos, a todos que navegam nesse tipo de plataforma. O
preço pago (R$ 55.000,00 - cinquenta e cinco mil reais), ademais, não foi vil,
estando em consonância com os valores praticados pelo mercado à época,
com o

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

que corrobora o fato de que se aproxima do valor da oferta feita inicialmente


pelo apelante (R$ 65.000,00 - sessenta e cinco mil reais), a afastar eventual
desconfiança do adquirente quanto à origem do automóvel.

Acrescenta-se, ainda, que o falsário passou-se por dono do bem em


circunstâncias tais que, a qualquer indivíduo, seria razoável crer em sua
narrativa, visto que acompanhada de documentos que lastreavam suas
afirmações, sendo que, um deles, inclusive, estava chancelado por tabelião
de notas, a atribuir-lhe forte presunção de autenticidade. Nesse tópico,
malgrado posteriormente tenha sido atestada a falsidade da assinatura por
perícia grafotécnica produzida nos autos (doc. de ordem n° 122), ao
embargante, nas condições em que se encontrava e diante da confirmação
de autenticidade em cartório, não lhe poderia ser atribuível o ônus de
questionar a validade da firma aposta no documento.

Por fim, atesta-se a boa-fé do adquirente e a impossibilidade de conhecer


a fraude que envolvia o veículo objeto da negociação, a atrair, portanto, a
incidência da exceção prevista pela segunda parte do art. 1.268 do Código
Civil, de modo a tornar válida e eficaz a aquisição a non domino.

Nesse sentido, uma vez preenchidos tais pressupostos, tem-se que a


dicção do artigo supramencionado "deslocou o sacrifício da perda da coisa,
que no sistema do velho CC era do adquirente, para o verdadeiro proprietário
da coisa alienada, que deverá buscar do falso alienante indenização
equivalente ao preço da coisa, acrescido de perdas e danos". (In: PELUSO,
Cezar (Coord.). Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 13ª ed.
Barueri: Manole, 2019, p. 1.233).

No mesmo norte, mutatis mutandis, corroboram as jurisprudências deste


E. Tribunal de Justiça:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR EM


CARÁTER ANTECEDENTE - PRETENSÃO DE SUBSTITUIÇÃO, NO
PRONTUÁRIO DE AUTOMÓVEL, DE ANOTAÇÃO DE "VEÍCULO

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

FURTADO/ROUBADO" POR ANOTAÇÃO DE IMPEDIMENTO À


TRANSFERÂNCIA - VEÍCULO FURTADO DE LOCADORA DE VEÍCULOS -
VENDAS SUCESSIVAS - PROVÁVEL BOA-FÉ DO AUTOR COMPRADOR -
VENDA ENTRE PARTICULARES, SEM OFERECIMENTO AO PÚBLICO -
INEFICÁCIA DA TRADIÇÃO - DIREITO DE SEQUELA DO REAL
PROPRIETÁRIO - IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR

- O direito à cautela, que não se confunde com o direito que se quer


acautelar, depende do preenchimento de dois requisitos: probabilidade do
direito acautelado e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

- Na hipótese em que locatário de veículo o furta e o vende a terceiro, tem-se


venda a non domino nula, por ilicitude do objeto.

- Se o autor do furto vende a coisa furtada para uma pessoa de boa-fé e esta
o revende para terceiro, também de boa-fé, não é desarrazoado entender
que a segunda venda, não obstante a non domino, é ou ao menos pode ser
válida - o que não quer dizer que seja eficaz -, à luz do disposto no artigo
1.268 do Código Civil.

- Ainda que se repute válida a venda a non domino, a tradição efetuada com
base nela não produz o efeito de transferir a propriedade para o comprador,
salvo quando satisfeitas cumulativamente as seguintes condições, listadas
na parte final do artigo 1.268 do Código Civil: a) oferecimento da coisa ao
público em geral ou pelo menos a determinado segmento de interessados,
em leilão ou estabelecimento comercial; b) boa-fé do adquirente qualificada
não apenas pelo desconhecimento do vício (ilegitimidade do proprietário
aparente para vender a coisa), mas pela impossibilidade de conhecê-lo
mediante as cautelas que são razoáveis tomar para certificar-se da
inexistência do vício.

- Tratando-se de venda a non domino de automóvel entre particulares, sem


oferecimento da coisa ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, o
comprador não adquire a propriedade da coisa vendida, dispondo o real
proprietário do direito de sequela, a

17
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

cuja satisfação serve a anotação de "veículo roubado/furtado" no cadastro do


veículo no Detran. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.19.165791-5/003,
Relator(a): Des.(a) Fernando Lins , 20ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
28/09/2022, publicação da súmula em 29/09/2022) (g.n.)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM


CARÁTER ANTECEDENTE - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA -
COMPRA E VENDA DE VEÍCULO ENTRE PARTICULARES - INDÍCIO DE
ATUAÇÃO DE ESTELIONATÁRIO -TERCEIRO ADQUIRENTE DE BOA-FÉ -
DIREITOS ASSEGURADOS - RESTITUIÇÃO DO BEM AO PRIMITIVO
ALIENTANTE - IMPOSSIBILIDADE - PEDIDO DE TUTELA FINAL -
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - REVOGAÇÃO DA TUTELA
ANTECIPADA - PREJUÍZOS À PARTE CONTRÁRIA - INDENIZAÇÃO -
CABIMENTO.

1. Não há que se cogitar de ilegitimidade passiva se verificada a hipotética


titularidade do réu quanto às obrigações em disputa no plano do direito
material, podendo suportar os efeitos de eventual sentença de procedência
do pedido.

2. Evidenciando-se das provas dos autos que o autor sofreu golpe ao vender
veículo a estelionatário, realizando a regular transferência do bem, o
inadimplemento do negócio jurídico não é oponível ao réu, terceiro
adquirente de boa-fé na compra e venda posterior, que deve ter seus direitos
assegurados.

3. Nos termos do art. 302, CPC, o beneficiário da concessão e efetivação da


tutela de urgência responde pelos danos suportados pela parte adversa,
caso se verifique a subsunção do caso concreto às hipóteses previstas no
dispositivo legal.

4. Apelação desprovida. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.21.039604-0/001,


Relator(a): Des.(a) Fausto Bawden de Castro Silva (JD Convocado) , 9ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 13/07/2021, publicação da súmula em
19/07/2021) (g.n.)

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Portanto, não há como divergir das conclusões lançadas pelo magistrado


singular, o qual julgou procedentes os embargos de terceiro opostos pelo ora
apelante, ressalvando, contudo, que "não há óbice para que o autor
VALDINEI acione o Tabelionato de Notas e Protesto da Comarca de
Corumbá - GO, em vias adequadas, referente à eventual responsabilidade
deste cartório em ter conferido autenticidade à sua assinatura no documento
de transferência do veículo objeto da lide, a qual teve a falsidade
reconhecida na perícia grafotécnica realizada nos mencionados embargos.
Ademais, caso queira, ainda, poderá tomar as medidas judicias pertinentes
contra a pessoa que alienou o automóvel objeto da lide ao embargante".

E como se viu, havendo indícios nos autos de que o alienante, ora


embargado, deixou de cumprir os devidos cuidados e a diligência mínima na
transação realizada, visto que não conferiu a efetiva disponibilidade do
crédito em sua conta bancária, tenho que sua conduta, ainda que
parcialmente, concorreu à consecução do estelionato. Por tal razão, entendo
que não pode ser imposto ao embargante/apelado, terceiro de boa-fé que foi
suficientemente cauteloso no ato da celebração do negócio, o sacrifício de
arcar com a perda do bem, devendo ser consolidada a posse e propriedade
do veículo em seu favor.

Assim, à míngua de fundamentos aptos a derruírem as razões esposadas


pela magistrada singular em sua sentença, mostra-se imperiosa a sua
manutenção, não havendo que se falar em devolução do veículo ao
embargado, a quem, por óbvio, fica ressalvada a possibilidade de pleitear
perdas e danos em face da tabeliã que atestou a autenticidade de sua
assinatura no doc. de ordem n° 09, bem como do estelionatário.

DISPOSITIVO

Com tais considerações, DE OFÍCIO, NÃO CONHEÇO DO PEDIDO DE


ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO E, NO MÉRITO,
NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo na íntegra a sentença objurgada.

19
Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Custas recursais, pelo apelante. Majoro em 1% (um por cento) os


honorários advocatícios fixados pela magistrada singular em favor dos
patronos da parte apelada (art. 85, § 11° do CPC).

Suspensa, contudo, a exigibilidade de tais verbas em razão dos


benefícios da justiça gratuita que lhe foram deferidos.

DES. CAVALCANTE MOTTA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CLARET DE MORAES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DE OFÍCIO, NÃO CONHECERAM DO PEDIDO DE


ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO E, NO MÉRITO,
NEGARAM-LHE PROVIMENTO."

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