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Juízo: Vara Adjunta do JEC de Santa Vitória do Palmar

Processo: 9000179-86.2021.8.21.0063
Tipo de Ação: Responsabilidade do Fornecedor :: Indenização por Dano
Material
Autor: Franciellen Duarte Tavares
Réu: Fabricio de Farias Rodrigues
Local e Data: Santa Vitória do Palmar, 22 de julho de 2023.

PROPOSTA DE SENTENÇA

Vistos.

Embora seja dispensado o relatório, consoante dispõe o artigo 38 da Lei


9.099/95, passo a tecer breve resumo dos fatos para melhor elucidação do
caso.

Compulsando os autos, foi possível analisar que com a presente demanda a


autora postula que o réu efetue a transferência junto ao DETRAN de veículo
automotor em seu nome: PLACA MDE3F40, RENAVAM 710488491,
FORD/FIESTA 1998/1999 CHASSI 9BFZZZFHAWB261643, requerendo
indenização pelos danos causados, bem como o pagamento de multas e
quaisquer valores cobrados pelo veículo após a tradição e que assuma
qualquer pontuação por eventuais multas geradas.

Apresentou registro de ocorrência policial, certidão de registro de veículo


automotor com anotação de restrição por transferência, com a data da venda:
26/10/2020, e, ainda boleto e notificação de autuação por multa gerada, com
assinatura do réu, no formulário de identificação do condutor infrator.

O réu, embora notificado em audiência de conciliação, não compareceu à


audiência de instrução, tampouco apresentou contestação, sendo decretada a
sua revelia (EVENTO 2, DESP 14, PÁGINA 1).

Vieram os autos para parecer.

Análise do mérito da presente proposta de sentença:

Conforme art. 20 da Lei 9.099/95, não comparecendo o demandado à sessão


de conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão
verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da
convicção do Juiz.

Neste caso, entendo que pelos documentos juntados, com inclusive assinatura
do réu no documento de apresentação de condutor, se desincumbiu a autora
de seu ônus probatório mínimo.

A compra e venda de bens móveis perfectibiliza-se com a tradição. Embora,


penda a regularização administrativa perante o Departamento de Trânsito,
restou comprovado que o veículo foi vendido ao requerido que, portador de
procuração, não procedeu à comunicação de venda do veículo a terceiro.

No entanto, importante esclarecer quanto aos pedidos realizados pela autora:

No que se refere à obrigação de efetuar a transferência do veículo para o nome


do réu, entendo que tal pedido se mostra impossível. Conforme a própria
versão narrada pela autora, o réu desconhece o atual paradeiro do bem e lhe
comunicou que “perdeu” os documentos de transferência, para fins de proceder
à comunicação de venda.

Sabe-se que para efetuar a transferência, o Departamento de Trânsito -


DETRAN necessita vistoriar o veículo. Ademais, para proceder à comunicação
de venda, também é imprescindível a apresentação do documento único de
transferência (DUT) assinado pelo vendedor ou por seu procurador, o que, a
princípio, tampouco existe.

Ademais, o DETRAN não integra a lide.

Por fim, oportuno mencionar que conforme certidão de registro veicular, foi
possível observar que o DETRAN procedeu à anotação de restrição de
transferência, inserindo data da venda do veículo.

Neste sentido, vejamos jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO ORDINÁRIA MOVIDA CONTRA
COMPRADOR DO VEÍCULO. NULIDADE DA CITAÇÃO
POR EDITAL. AFASTAMENTO. PEDIDO PARA
DETERMINAR QUE O DETRAN EFETUE A
TRANFERÊNCIA DO REGISTRO DO VEÍCULO PARA O
NOME DO ADQUIRENTE. IMPOSSIBILIDADE.
ANOTAÇÃO DE COMPRA E VENDA NA CERTIDÃO DE
REGISTRO DO VEÍCULO JUNTO AO DETRAN.
CABIMENTO. HONORÁRIOS PELA ATUAÇÃO COMO
CURADOR ESPECIAL. AFASTAMENTO. SENTENÇA DE
EXTINÇÃO REFORMADA. I. Pedido de nulidade da citação
por edital. Não pode o autor alegar nulidade da citação por
edital após ter requerido sua efetivação ao argumento de
que foram esgotadas todas tentativas de localização do
demandado. II. Mérito. Improcede a demanda proposta
de forma exclusiva contra atual proprietário do bem,
havendo pedido único direcionando ao DETRAN, que
sequer é parte na demanda, para que procedesse na
transferência do registro do veículo para o nome do réu
comprador. Entretanto, cabível a anotação da compra e
venda na Certidão de Registro do Veículo a fim de
evitar a responsabilização do vendedor pelas infrações
de trânsito praticadas em momento posterior à tradição
do bem, ainda que não tenha havido comunicação de
venda. Mitigação do artigo 134 do Código de Trânsito
Brasileiro. Precedente do Superior Tribunal de Justiça.... III.
Incumbe à Defensoria Pública atuar como curadora
especial nos casos em que o réu é citado por edital.
Hipótese na qual descabe a fixação de honorários
advocatícios em prol do FADEP. Inteligência da Lei
Estadual n. 10.298/94. Apelo provido no ponto. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. ( Apelação Cível
Nº 70080615743, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em
23/05/2019). (TJ-RS - AC: 70080615743 RS, Relator: Liege
Puricelli Pires, Data de Julgamento: 23/05/2019, Décima
Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 10/06/2019)

No que se refere ao pedido de indenização pelos danos causados, não logrou


êxito a autora em comprovar prejuízo, isto porque embora tenha juntado aos
autos boleto referente a multa de trânsito, não se tem comprovação de que
houve o pagamento da multa pela autora.

Quanto à pontuação em sua CNH, tampouco restou comprovado, através da


documentação juntada, a inserção efetiva da pontuação, uma vez que a
notificação de autuação, com prazo para apresentação de recurso e de
condutor, bem como a simples geração de boleto, não resulta na certeza de
que foi pontuada a sua carteira de habilitação, ainda mais considerando que a
autora procedeu à anotação junto ao DETRAN da data de venda.

Ante o exposto, opino pela PROCEDÊNCIA PARCIAL DOS PEDIDOS, com


resolução de mérito, a fim de reconhecer o negócio realizado entre as partes
de compra e venda do veículo PLACA MDE3F40, RENAVAM 710488491,
FORD/FIESTA 1998/1999 CHASSI 9BFZZZFHAWB261643 entre Franciellen
Duarte Tavares (vendedora) a Fabricio de Farias Rodrigues (comprador) em
26/10/2020, podendo a autora acionar o comprador se necessitar se ver
ressarcida de eventual valor ou transferir qualquer responsabilidade cível ou
criminal, em razão da propriedade do veículo automotor. No que se refere à
obrigação de fazer a transferência, opino pela IMPROCEDÊNCIA deste pedido
em razão da impossibilidade. No tocante ao pedido de indenização, opina pela
IMPROCEDÊNCIA deste pedido, pela ausência de provas.

Sem custas e honorários advocatícios, de acordo com o artigo 55 da Lei nº.


9.099/95.

É o parecer.

Submete-se a presente proposta de sentença à consideração do Exmo. Sr. Dr.


Juiz de Direito Presidente deste Juizado Especial Cível.

Santa Vitória do Palmar, 22 de julho de 2023.

Bruna Pagel Hinz – Juíza Leiga

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