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RELATÓRIO
“Alcinei Ramos Pinto ajuizou Ação pelo Procedimento Ordinário de Obrigação de Fazer
com Danos Morais em face de Construtora Tenda S/A e Condomínio Residencíal
Arsenal Life tendo em vista que no dia 10 de janeiro de 2012 firmou contrato de
compromisso de venda e compra de bem no empreendimento Arsenal Life IV, com sala,
2 quartos, com vaga de garagem.
Assevera que de acordo com o contrato a unidade em questão teria vaga única e
exclusiva da unidade em escritura, vale dizer, não se tratava de vaga rotativa.
Aduz que a ré agiu de má-fé ao ofertar maior número de unidades com vaga.
Ressalta haver se dirigido ao cartório do 3º ofício e solicitaram certidão de inteiro teor
referente ao imóvel e constataram que não havia a menção "vaga", o que havia sido
contratualmente firmada no compromisso de compra e venda.
Afirma haver notificado ao réu para retificação, não tendo sido atendido.
Assim requer a tutela de urgência a fim de se determinar a averbação no RGI do
acréscimo à descrição do imóvel dele passando constar o direito de uso sobre 1 vaga de
garagem, que seja providenciada a vaga de garagem na área comum do condomínio.
Ao final requer danos morais.
Com a petição inicial vieram os documentos de fis. 16159.
As fis. 61 consta decisão de indeferimento da tutela de urgência.
As fis. 66/70 há contestação do segundo réu, que alega, em síntese, preliminar de
ilegitimidade passiva tendo em vista que a pretensão do autor se dá em função da
concretização de um contrato de compra e venda celebrado entre este e o primeiro réu,
a construtora Tenda.
No mérito aduz a ausência de responsabilidade do réu quanto aos danos sofridos pelo
autor, eis que inexistiu conduta praticada por ele, pois o negócio jurídico causador do
dano foi um pacto de compra e venda da qual o contestante não foi parte.
Ademais ressalta que conforme memorial descritivo e minuta de convenção as vagas de
garagem referem-se a estacionamento, de modo que os condôminos possuem o direito
de uso, não sua propriedade.
Ressalta que as vagas somente são numeradas para efeito de controle e que a
ocupação se dá por ordem de chegada.
Por isso requer o acolhimento da preliminar ou a improcedência dos pedidos do autor.
Às fis. 115/138 consta contestação do primeiro réu que alega preliminar de ilegitimidade
passiva diante do fato de que os fatos dizem respeito a questões operacionais de
administração do condomínio. Ademais, não tem legitimidade para responder ação
judicial que discute a retificação de um contrato de financiamento que não negociou.
Alega, ainda, em preliminar a carência da ação diante da impossibilidade jurídica do
pedido de retificação do registro, tendo em vista que a obra já foi concluída e o
condomínio devidamente instituído, ao passo que a incorporadora cumpriu com todas as
exigências contratadas, não sendo permitido alterar quaisquer disposições.
Afirma, também, a preliminar de ausência de interesse de agir, pois, conforme termo de
recebimento de imóvel, assinado em 25/06/2012, o autor deu total quitação no momento
do recebimento da unidade imobiliária, vez que não realizou qualquer ressalva da
suposta ausência de vaga de garagem.
Há, também, alegação de prejudicial de mérito de decadência.
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No mérito assevera ter restado pactuado desde o início das tratativas que caberia ao
condomínio, após a conclusão da edificação, a administração e uso das vagas de
garagem.
Destaca que de acordo com o "termo de recebimento de unidade” o autor declarou e
anuiu com as condições da unidade autónoma não havendo qualquer ressalva que
sinalizasse a insatisfação do cliente na respectiva ocasião.
Além disso salienta que não há de se falar que o imóvel teria sido entregue com vícios,
na medida em que a municipalidade, após exaustiva e extensa vistoria, já havia
concedido o habite-se antes da entrega das chaves.
Por fim, argumenta acerca da culpa exclusiva de terceiro e inexistência de danos morais,
pelo que requer o acolhimento das preliminares suscitadas ou a improcedência dos
pedidos do autor.
Às fis. 272/292 consta réplica.
Às fls. fls. 300/301 proferiu-se decisão saneadora.
Às fis. 303/309 juntou-se agravo retido.
Às fls. 322/324 há petição do segundo réu informando a utilização de vaga pelo autor.
Às fls. 360/366 consta petição do autor reconhecendo a perda do objeto do requerimento
de delimitação de vaga.
É o Relatório. Passo à Fundamentação.” (literalmente às fls. 376/377, indexador nº 414)
“(...) Por todos esses motivos é que JULGO EXTINTO O FEITO, na forma do artigo 485,
VI quanto ao pedido de delimitação de vaga e PROCEDENTE EM PARTE os demais
pedidos para:
1. Determinar a remessa de ofício à serventia extrajudicial da matrícula do imóvel para
que averbe à margem do registro do negócio de compra e venda a existência de vaga na
garagem com área equivalente a 1/60 daquela área comum, cumprindo a TENDA arcar
com os emolumentos necessários, sob pena de execução especifica.
2. Diante da sucumbência recíproca. As despesas processuais deverão ser rateadas
entre a autora e a construtora. Condeno o autor no pagamento dos honorários de
sucumbência em favor dos patronos dos réus em valor equivalente a R$ 800,00
(oitocentos reais), por apreciação equitativa, observada a suspensão da execução em
razão da gratuidade de justiça.
Condeno também o primeiro réu no pagamento dos honorários de sucumbência em favor
do patrono da autora, que fixo em R$ 800,00 (oitocentos reais), por apreciação
equitativa.
Transitada em julgado, recolhidas as custas e cumprida a presente, dá-se baixa e
arquivem-se.
P.I.”
“a vaga de garagem pode ser enquadrada como: (i) unidade autônoma (art. 1.331, § 1º,
do CC), desde que lhe caiba matrícula independente no registro de imóveis sendo,
então, de uso exclusivo do titular; (ii) direito acessório, quando vinculado a um
apartamento, sem a correspondente fração ideal do terreno, sendo de uso particular; ou
(iii) área comum, quando sua fruição couber a todos os condôminos indistintamente, sem
nenhuma delimitação.
“O art. 1.331, § 1º, do Código Civil se limita a mencionar os abrigos para veículos como
unidade autônoma - como se fosse um apartamento ou sala -, e propriedade exclusiva,
quando a eles corresponder fração ideal no solo e coisas comuns. Porém, apesar do
silêncio legislativo, a vaga de garagem só será propriedade exclusiva quando lhe for
atribuída específica fração ideal e individualizada em relação às demais vagas - o que
sempre ocorre em edifícios garagem -, caso contrário será vinculada à unidade
autônoma, como acessória, afetada a um condômino e sem fração ideal de terreno,
porém demarcada para fruição particular. Finalmente, como terceira possibilidade, a
vaga também será coisa comum, incorporada à fração ideal de terreno da unidade
autônoma sobre as áreas comuns, quando a sua utilização for facultada a todos os
condôminos no espaço coletivo, assim como as demais partes e coisas comuns,
podendo ser alugadas para fazer frente a despesas de custeio do condomínio. Portanto,
a natureza jurídica da vaga deverá ser definida no instrumento de instituição do
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condomínio, evitando-se conflitos futuros.” (Curso de direito civil: direitos reais. Salvador:
Ed. Jus Podivm, 2013, v. 5, p. 711)