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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
Gab Des Mery Bucker Caminha
Av. Presidente Antonio Carlos,251 7o andar - Gab. 29
Castelo RIO DE JANEIRO 20020-010 RJ
PROCESSO: 0000861-13.2013.5.01.0281 – RO

Acórdão
1ª Turma
DANO MORAL. LISTA DISCRIMINATÓRIA.
NOME NEGATIVADO NO SISPAT DA
PETROBRÁS. Viola direito da personalidade do
empregado, a restrição a acesso às plataformas
marítimas da Petrobrás sem a utilização de
critérios objetivos que permitam ao trabalhador
rever a decisão adotada.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso


Ordinário, em que figura como recorrentes, I) COSME MAGNO BERNARDO, II)
PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRÁS, e como recorridos, os mesmos.

Inconformados com a r. decisão proferida pela MM. 1ª Vara do


Trabalho de Campos dos Goytacazes, da lavra da ilustre Juíza FERNANDA STIPP
às fls. 184/188, complementada às fls. 201/202, que julgou procedente o pedido,
interpõem as partes recurso ordinário . O reclamante às fls. 206/210 e a reclamada
às fls. 220/233.
O reclamante sustenta, em síntese, que o valor da indenização é
ínfimo, desproporcional ao grave dano que lhe foi causado pela ré.
Requer a condenação da ré no pagamento de honorários
advocatícios.
A reclamada argui, preliminarmente, a nulidade da decisão por
negativa da prestação jurisdicional por entender que a omissão referente à
ausência do interesse de agir, de inépcia, de ausência de responsabilidade e de
inexistência de dano persistirem mesmo após a oposição de embargos de
declaração.
Aduz, ainda, que a decisão é obscura no tocante à manutenção da

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pena pelo descumprimento de obrigação de fazer após a mesma ter sido adimplida.
Aponta contradição no tocante à aplicação da multa prevista no
artigo 475-J do CPC.
No mérito, sustenta, em síntese, que tem o direito de controlar o
acesso às suas instalações. Aduz, ainda, que a inserção do nome do autor no
banco de dados da empresa somente é possível quando existir contrato entre a
empregadora do reclamante e a Petrobrás, hipótese não vislumbrada no caso em
exame.
Renova a preliminar de inépcia da inicial, pois o autor não indica a
base jurídica de seu pedido.
Alega que o autor, por estar assistido por advogado particular, não
preenche os requisitos para a obtenção do gratuidade.
Argumenta que o empregador do autor detem o poder potestativo
de resilir o contrato de trabalho.
Aduz, ainda, que o autor está empregado, não havendo interesse
de agir.
Assevera que não se encontram presentes o fumus boni juris, o
periculum in mora e a verossimilhança a autorizar a antecipação dos efeitos da
tutela.
Por derradeiro, entende indevida a condenação ao pagamento de
indenização por dano moral, uma vez que não foi praticado ato ilícito.
Depósito recursal e custas recolhidos e comprovados às fls.
234/236.
Contrarrazões da reclamada às fls. 241/252, sem preliminares e,
no mérito, protestando pela manutenção da sentença na parte que lhe foi favorável
e aplicação da pena por litigância de má fé.
Contrarrazões do reclamante às fls. 254/2656, sem preliminares e,
no mérito, protestando pela manutenção da sentença na parte que lhe foi favorável
e aplicação da pena por litigância de má fé.
É o relatório.

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VOTO
DO CONHECIMENTO
Conheço dos recursos interpostos pelas partes, eis que preenchidos
os requisitos objetivos de admissibilidade - sucumbência, adequação, regularidade,
tempestividade e preparo.

DA PRELIMINAR DE CARÊNCIA DE AÇÃO - FALTA DE


INTERESSE DE AGIR

A reclamada argui a preliminar de carência de ação, asseverando que


não há utilidade para a demanda pois o autor encontra-se empregado.

Sem razão a reclamada.

Caracteriza-se a falta de interesse processual quando há a


possibilidade do autor obter o bem jurídico tutelado, por outra via que não a judicial.

No caso em exame, o autor pretende a liberação de seu nome no


cadastro 9SISPAT) que permite o ingresso dos trabalhadores às plataformas de
petróleo da Petrobrás, condição indispensável para o exercício de sua. Negada a
pretensão pelo empregador, é latente o seu interesse processual, pois somente
com mandamento judicial poderá ver satisfeita a sua pretensão.

Rejeito a preliminar.

DA PRELIMINAR DE INÉPCIA

A reclamada argui a inépcia da inicial por entender inexistir dano


aparente face à alegação de risco de perder o emprego.

Sem razão a reclamada.

Inepto é o pedido que não observa os requisitos previstos no artigo


840 da Consolidação das Leis do Trabalho, e que torna impossível a defesa ou a
prestação da providência jurisdicional pretendida, o que não ocorreu na hipótese
dos autos, pois a defesa pode ser regularmente exercida pela ré, que adotou
expressamente a tese de ausência de ilicitude para proibir o ingresso do autor em

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suas plataformas marítimas.

Ademais, o pedido é certo, retirada do seu nome do cadastro restritivo


da ré para acesso às plataformas de petróleo.

Ora, a inexistência de cadastro e a ausência de restrição ao autor são


matérias pertinentes ao mérito e, por estão razão, não obstam o prosseguimento da
ação.

Preliminar rejeitada.

DA PRELIMINAR DE NULIDADE DA DECISÃO POR NEGATIVA DA


PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

A reclamada argui a nulidade da decisão recorrida por negativa da


prestação jurisdicional.

Sustenta que a sentença é omissa no tocante falta de interesse de


agir, inépcia, ausência de contrato entre a empregadora do reclamante e a
Petrobrás, inexistência de dano e manutenção da multa diária após o cumprimento
da obrigação de fazer. Aduz, ainda, que a sentença é contraditória no tocante à
multa do artigo 475-J do CPC.

Sem razão a reclamada.

A ré, repete os mesmos argumentos expostos nos embargos de


declaração de fls. 190/200, em que pese a decisão de fls. 201/202.

Com efeito, os fundamentos para a rejeição das preliminares de falta


de interesse agir e inépcia estão explicitados na decisão supramencionada. Nesta
ação, o autor busca a liberação de seu ingresso nas plataformas da ré, requisito
indispensável para o exercício de sua profissão, não havendo dúvidas acerca do
interesse de agir do reclamante. Tampouco há falar em inépcia, pois o pedido é
certo e determinado (liberação de seu ingresso às plataformas de petróleo da ré e
indenização pelos danos morais daí advindos).

Em relação à ausência de contrato entre a empregadora do


reclamante e a Petrobrás, a decisão é clara, (vide fls. 186), quando afirma que a

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Petrobrás como tomadora final dos serviços prestados pelo reclamante e


responsável por impedir o acesso deste às suas plataformas deve ser condenada a
ressarcir os prejuízos sofridos pelo reclamante

A multa pelo descumprimento de obrigação de fazer foi cominada na


sentença e eventual adimplemento posterior não tem o condão de expurgar tal
parte do decisum. Na liquidação do julgado será apurado se houve ou não o
cumprimento da sentença.

Por derradeiro, decisão contrária ao entendimento do Colendo TST


não implica em contradição do julgado.

Logo, não se vislumbrou a existência de vícios na decisão recorrida a


caracterizar a negativa da prestação jurisdicional.

Rejeito.

DA QUESTÃO PROCESSUAL - GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A reclamada investe contra o deferimento da gratuidade de Justiça ao


autor

Alega que o autor não preenche os requisitos para a obtenção da


gratuidade de Justiça, pois está assistido por advogado particular.

Sem razão a reclamada.

Considerando-se o princípio constitucional que garante o acesso ao


Judiciário e, ainda, o princípio da gratuidade da justiça que informa o Direito do
Trabalho, assim como levando-se em conta a declaração de hipossuficiência (fls.
19), que permite concluir pela ausência de condições econômicas da reclamante
para arcar com as despesas processuais, sem prejuízo de seu sustento e o de sua
família, restam atendidos os requisitos do artigo 789, parágrafo 9º, da CLT
(conforme interpretação sistemática com a Lei 7.115/83), o que autoriza o
deferimento do benefício da gratuidade de justiça.

Com efeito, a gratuidade da prestação jurisdicional se justifica nas


hipóteses em que demonstrada a condição de miserabilidade jurídica da

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postulante, que lhe impede, sobretudo, de arcar com as despesas processuais.

Por outro lado, o fato de não ser assistido pelo sindicato de sua
categoria profissional, não é óbice para a concessão da gratuidade de justiça, que
se estende até o final do processo.

Nego provimento.

DO MÉRITO

Inverte-se a ordem de apreciação dos recursos, porquanto eventual


provimento do apelo da ré tornará prejudicado o exame das razões do autor.

I - DO RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA

DA LISTA DISCRIMINATÓRIA

A reclamada pretende a reforma da decisão de origem que julgou


procedente o pedido de inserção do nome do autor no SISPAT - cadastro que
permite o acesso às suas plataformas marítimas.

Alega que tem o direito e a obrigação de controlar o acesso às suas


instalações e que, por outro lado, as empresas, inclusive aquelas que foram
empregadoras do autor, tem o direito potestativo de resilir o contrato de trabalho.

Aduz, ainda, que sequer foi tomadora dos serviços do reclamante.

Sem razão a reclamada.

Aqui, discute-se a licitude de a tomadora de serviços (Petrobrás)


restringir o ingresso de determinados empregados em suas dependências ,
inclusive as plataformas marítimas.

Ora, compete ao empregador manter um ambiente de trabalho


saudável e isto inclui, evidentemente, restringir o acesso a pessoas com
comportamento inadequado, máxime quando o trabalho é realizado em
plataformas marítimas, cujo embarque/desembarque somente ocorre a cada 14 ou
28 dias.

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Logo, a princípio não haveria ilegalidade na prática confirmada pela


testemunha Gerusa da Costa Tavares (fls. 151).

Entrementes, a restrição de acesso às plataformas marítimas que, na


prática implica na impossibilidade do exercício da profissão no ramo “off shore”
deve pautar-se por critérios objetivos.

No caso do autor, sequer foi mencionado o motivo da restrição ao


acesso às plataformas de petróleo.

No depoimento de fls. 164 , verso, o preposto confirmou a existência


do SISPAT, contudo não soube informar se existia uma análise para que o
trabalhador pudesse ser cadastrado no sistema ou se a ré exigia documentos dos
mesmos.

O desconhecimento do preposto sobre os fatos controvertidos


equivale à recusa em depor e implica na presunção de veracidade das alegações
da inicial.

Logo, restou provada a restrição injustificada de acesso do autor às


plataformas de petróleo da reclamante, impedindo-o de trabalhar como profissional
de “off shore”.

Neste diapasão, pouco importa se a reclamada detem a maioria das


plataformas de petróleo (como ocorre de fato) ou se tem participação minoritária no
ramo petrolífera. O simples fato de proibir o exercício da profissão, sem qualquer
justificativa objetiva, já caracteriza abuso de direito a ensejar a reparação
pecuniária.

Da mesma forma, não se mostra relevante o fato de a empregadora


do reclamante não ter celebrado contrato de prestação de serviços com a
Petrobrás.

Conforme bem asseverado na decisão recorrida, a precarização do


emprego é a tônica no ramo de exploração marítima de petróleo, no qual a
Petrobrás transfere para outras empresas a execução de serviços inseridos em sua
atividade fim. Estas empresas, por sua vez, repassam os serviços para terceiros.

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Nesta cadeia, não é raro que os trabalhadores lotados nas


plataformas não sejam empregados da Petrobrás e das empresas contratadas.
Entrementes, tal fato não impede o acesso destes ao local de serviço.

Logo, mostra-se impertinente a defesa do direito potestativo de o


empregador resilir o contrato de trabalho, pois esta matéria não foi posta em
discussão.

Nego provimento.

DO DANO MORAL

Ante à identidade da matéria, os recursos serão apreciados


simultaneamente.

As partes investem contra a decisão recorrida no tocante à


indenização por dano moral.

A reclamada sustenta que não praticou qualquer ato ilícito a justificar


a condenação ao pagamento de indenização por dano moral.

Aduz, ainda, que o autor não provou ter sofrido qualquer prejuízo,
pois encontra-se empregado.

O reclamante pretende a majoração da indenização, alegando que o


valor ínfimo se for considerada a lesão e a capacidade econômica do ofensor.

Merece ser mantida a decisão recorrida, no particular.

A Constituição Federal de 1988 consagrou definitivamente no artigo


5º, inciso X, o dano moral, assegurando sua reparação mediante indenização (já
anteriormente autorizada pelos artigos 159 e 1518 do antigo CCB).

A competência da Justiça do Trabalho quanto às ações que visem


reparação de dano moral provocado pelos sujeitos da relação de emprego, parece-
nos inafastável.

O ilustre jurista João de Lima Teixeira Filho (in, Instituições) quanto à


classificação dos danos menciona a lição de Miguel Reale pertinente ao dano

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moral:

“... Miguel Reale opta por distinguir o dano moral objetivo do dano
moral subjetivo. O primeiro “atinge a dimensão moral da pessoa no meio social em
que vive, envolvendo o (dano) de sua imagem”. “O dano moral subjetivo que se
correlaciona com o mal sofrido pela pessoa em sua subjetividade, em sua
intimidade psíquica, sujeita a dor ou sofrimento intransferíveis porque ligados a
valores de seu ser subjetivo, que o ilícito veio penosamente subverter, exigindo
inequívoca reparação”.

Conforme se depreende da lição supra, a existência do dano, seja


patrimonial, seja moral, de que decorra indenização deve ter origem em ato ilícito
ou em abuso de direito, ilustração relevante porquanto em inúmeras ações
ajuizadas perante esta Justiça Especializada vê-se o pleito de indenização por
dano moral em face da dispensa de empregado, sendo certo que trata-se de direito
potestativo do empregador, sem que se rejeite que tal fato enseja um profundo
sentimento de dor imaterial do demitido, porém não ensejando reparação por dano
moral.

No caso em exame, a restrição ao embarque do reclamante nas


plataformas de petróleo impede o exercício da profissão para a qual se qualificou.

A restrição ao trabalho viola os direitos da personalidade,


conferindo à vítima sensação de impotência e incerteza quanto à manutenção do
emprego, o que enseja a reparação por dano moral.

No que concerne ao quantum a ser fixado, deve ser observado que


este se constitui em tarefa delicada, visto que, ao mesmo tempo em que visa
reparar um dano de índole moral, de cunho subjetivo e muitas vezes de difícil
mensuração, até mesmo por envolver bens maiores, como a honra e a dignidade da
pessoa humana, não pode fugir à noção do razoável e à capacidade econômica do
ofensor, capaz de resultar em sua insolvência.

Deve-se buscar a reparação do dano com suporte e amparo na


consciência do justo e da equidade, evitando-se deixar impune o ato lesivo, porém,
sem incorrer no equívoco de transformar a indenização pecuniária em apreço, em

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fonte de enriquecimento ilícito para quaisquer das partes envolvidas e tampouco em


fonte de cobiça para pretensões ilegítimas.

A ausência de fórmulas ou critérios objetivos capazes de indicar


um quantum indenizatório condizente com a razoabilidade e com as especificidades
de cada caso concreto torna a presente uma decisão difícil, mas da qual não pode o
Julgador se esquivar.

Na falta de regulamentação e de elementos objetivos, mostra-se


válida a adoção de parâmetros norteadores, como, por exemplo, condição
financeira do ofendido versus condição financeira do ofensor, pacificação do
sentimento do lesado versus caráter punitivo do ofensor e distribuição da Justiça ao
ofendido versus caráter pedagógico da medida ao ofensor.

Considerando os parâmetros acima, entendo que a indenização


fixada na decisão recorrida - R$ 20.000,00 (vinte mil reais), mostra-se razoável,
atendendo à dupla finalidade da sanção - reparatória x inibitória, sendo capaz de
reparar o dano causado ao reclamante, mostrando à ré o erro no seu procedimento
em relação aos seus empregados e não caracterizando enriquecimento sem causa.

Nego provimento a ambos os recursos.

DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

A reclamada investe contra a decisão recorrida à antecipação dos


efeitos da tutela .

Sustenta que não se encontram presentes o fumus boni iuris, o


periculum in mora e a verossimilhança, requisitos que entende indispensáveis para
a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional.

Sem razão a reclamada.

Inicialmente não se pode deixar de censurar as expressões


deselegantes utilizadas pelo subscritor do recurso da reclamada.

No que se refere à antecipação dos efeitos da tutela, equivoca-se a


ré ao exigir a presença do fumus boni iuris, o periculum in mora para a sua

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concessão.

Com efeito, para a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional é


necessário mais que “a fumaça do direito”, devendo estar presentes a prova
inequívoca do direito e verossimilhança nas alegações do autor, além do receio de
dano irreparável ou de difícil reparação.

No caso em exame, a antecipação dos efeitos da tutela


jurisdicional deferida na cognição sumária foi mantida na decisão após exaurida a
instrução processual, com a confissão da ré acerca das alegações do autor na
inicial.

Considerando que a manutenção da restrição de acesso do autor


às plataformas marítimas da ré até o trânsito em julgado implica em condenar o
autor ao desemprego, pois não é razoável exigir-se de seu empregador a
continuidade da relação de emprego, pois o autor foi contratado para trabalhar
embarcado.

E, também, o efeito meramente devolutivo dos recursos no


processo do trabalho, agiu bem a ilustre prolatora da decisão recorrida , ao convolar
em definitiva a tutela antecipada.

Nego provimento.

DA MULTA PELO DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE


FAZER

A reclamada investe contra a decisão recorrida no tocante à multa


pelo descumprimento da obrigação de fazer.

Sustenta que a obrigação foi adimplida, não sendo razoável a sua


manutenção em sede de embargos de declaração.

Aduz, ainda, que o valor da multa é excessivo se for considerado o


salário recebido pelo reclamante.

Sem razão a reclamada.

A cominação de multa diária pelos descumprimento da obrigação

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de fazer - inserção do autor no cadastro SISPAT- permitindo o seu acesso às


plataformas marítimas de petróleo da Petrobrás foi determinada na sentença,
quando não havia a comprovação do cumprimento da obrigação, não podendo ser
reformulada por meio de embargos de declaração.

Quanto ao valor da multa, melhor sorte não cabe à reclamada.

É que a multa pelo descumprimento de obrigação de fazer é


aplicada para compelir o devedor à satisfação do crédito e deve ser de tal monta a
estimulá-lo a cumprir a sentença. Desta forma, o valor do salário do credor nem
sempre é o parâmetro a ser utilizado para o cálculo da multa.

Por outro lado, se a ré afirma que a obrigação já foi cumprida, não


se mostra relevante o valor da multa.

Nego provimento.

II - DO RECURSO DO RECLAMANTE

DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

O reclamante pretende a condenação da reclamada ao pagamento


de honorários advocatícios.

Sustenta que a presença do advogado é indispensável nos


dissídios trabalhistas, conforme expresso na nova Constituição.

Sem razão o reclamante.

Indefere-se o pedido, uma vez que ausentes os requisitos de


admissibilidade previstos na Lei nº 5.584/70. Inteligência do disposto nas Súmulas
nº 219 e 319 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho.

Ademais, o artigo 133 da Carta Constitucional de 1988 é norma


meramente programática e, por isso mesmo, não derrogou o ius postulandi das
partes.

Nego provimento.

A C O R D A M os Desembargadores da Primeira Turma do

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Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região , por unanimidade, conhecer dos


recursos, rejeitar as preliminar de nulidade por negativa da prestação jurisdicional,
falta de interesse de agir e de inépcia e, no mérito, na forma da fundamentação,
negar-lhes provimento. Ressalvado o entendimento do desembargador Mário
Sérgio Medeiros Pinheiro no tocante aos honorários advocatícios.

Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2014.

Desembargadora Federal do Trabalho Mery Bucker Caminha


Relatora

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