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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70083341446 (Nº CNJ: 0306053-50.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. Valor cobrado que era efetivamente
devido pela parte autora. Ausência de prova a amparar a
versão da parte autora. Danos morais inocorrentes. A
inversão do ônus da prova, operada em razão da relação
de consumo existente entre os litigantes, não desincumbe
a demandante de comprovar, ainda que minimamente, os
fatos constitutivos do direito alegado, como determina o
art. 373, I, do CPC. Sentença de improcedência
confirmada.

Apelação desprovida.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70083341446 (Nº CNJ: 0306053- COMARCA DE CANGUÇU


50.2019.8.21.7000)

RODRIGO MULLER DA FONSECA APELANTE

BOSCH - ROBERT BOSCH LIMITADA APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO E DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA.
Porto Alegre, 16 de dezembro de 2020.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.
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RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Cuida-se de recurso de apelação cível interposto por RODRIGO MULLER


DA FONSECA contra sentença de fls. 109/111 dos autos, que julgou improcedente o pedido
deduzido na inicial da ação indenizatória ajuizada em face de BOSCH – ROBERT BOSCH
LIMITADA, condenando a parte autora no pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios devidos ao patrono da parte adversa, estes arbitrados em R$
1.000,00, devidamente atualizados pelo IGP-M. Restou suspensa a exigibilidade dos ônus de
sucumbência, eis que a parte autora litiga sob o pálio da AJG.

Em suas razões de recurso (fls. 114/117), o autor sustenta, em síntese, que


fez aquisição de um equipamento Scanner KTS200, em 2011. Porém, no que se refere a
utilização do software de fl. 69, tratar-se-ia de um pedido de fornecimento do ESI{tronic}
Startcenter KT S200, correspondente a 48 meses de assinatura do módulo SD (leves e
pesados) e não a contratação de software, como reconheceu a sentença. Disse que a apelada
não comprovou o fornecimento ou disponibilização do software. Aduz que a NF de fl. 24, de
remessa cortesia, foi emitida em 05/08/14, ao passo que a de fl. 22, em 26/09/14, sendo que
ambas se referem ao KTS 200. Afirma que a inscrição de seu nome é indevida, pois a nota
de fls. 22 e 70, que supostamente deu causa à inclusão, nela consta como paga, em
06/10/2014, através da guia n. 888961. Assevera que, pelos e-mails trocados, a inclusão foi
retirada quase dois anos após a emissão da nota, a demonstrar o erro cometido pela recorrida.
Defende a ocorrência do dano moral indenizável. Pede o provimento do apelo, com a
reforma da sentença vergastada, julgando-se inteiramente procedente o pedido deduzido na
inicial.

Contrarrazões às fls. 120/124, pugnando, a apelada, pelo desprovimento do


recurso.

Os autos foram remetidos para esta e. Corte de Justiça e, após, distribuídos


(fl. 125).

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Determinei o envio do feito para o Centro Judiciário de Solução de Conflitos


e Cidadania – CEJUSC, diante da possibilidade de conciliação/mediação para solucionar a
lide (fl. 126).

Infrutífera a tentativa, vieram-me os autos conclusos para julgamento (fl.


136).

Registro, por fim, que foi observado o previsto nos artigos 931 e 934 do
Novo Código de Processo Civil, tendo em vista a adoção do sistema informatizado.

É o relatório.

VOTOS

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Eminentes Colegas.
Recebo o recurso em seu duplo efeito, uma vez que preenchidos os
requisitos de admissibilidade, a teor do disposto no artigo 1.011, caput, inc. II, do NCPC.

Eis a sentença atacada:

“Vistos.

RODRIGO MULLER DA FONSECA, qualificado na inicial, apresentou “ação


indenizatória” em face de BOSCH ROBERT BOSCH LIMITADA, igualmente qualificado,
relatando que no mês de novembro de 2016 foi impedido de efetuar a compra de
produtos e peças em decorrência da inclusã o de seu nome em cadastro de
inadimplentes por restriçã o imposta a requerimento da parte demandada. Disse que
nã o foi comunicado sobre a inclusã o da restriçã o. Afirmou que o débito era proveniente
de uma atualizaçã o do programa de um aparelho que foi adquirido, o qual foi realizado
somente uma vez a título de cortesia. Pugnou, por fim, pela condenaçã o do autor ao

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pagamento de indenizaçã o pelos danos morais suportados. Juntou documentos (fls. 11-
24).

Foi deferido o benefício da assistência judiciá ria gratuita, bem como invertido o
ô nus probató rio (fl. 43).

Citada, a parte demandada apresentou contestaçã o à s fls. 50-63 arguindo,


preliminarmente, a ilegitimidade ativa da parte autora, bem como discorreu sobre a
inaplicabilidade do Có digo de Defesa do Consumidor na presente relaçã o processual.
No mérito, afirmou que o débito que impulsionou a inclusã o do nome do autor nos
ó rgã os de proteçã o ao crédito é legítimo, razã o pela qual inexiste direito na pretensã o
indenizató ria postulada pelo autor. Disse que os argumentos lançados na peça
preambular sã o genéricos, o que nã o induz a prolaçã o de sentença acolhendo o pedido
condenató rio, pois os danos morais devem ser comprovados. Juntou documentos (fls.
64-91).

Sobreveio réplica (fls. 92-94).

Intimadas sobre a necessidade em dilaçã o probató ria (fl. 95), as partes


manifestaram desinteresse (fls. 101-202 e 104-106).

Vieram os autos conclusos para sentença.

É o necessário relatório.

Passo a fundamentar e decidir.

Inicialmente, registro que a pessoa física Rodrigo Muller da Fonseca é parte


ativa legítima para propor a presente demanda. O fato de a negociaçã o relatada na peça
inaugural ter sido entabulada com a pessoa jurídica Rodrigo Winkel Muller – MEI nã o
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retira do microempresá rio a legitimidade para postular o que entende devido, pois a
personalidade da pessoa física e da pessoa jurídica se confunde.

Esse entendimento encontra-se sedimentado no Egrégio Tribunal de Justiça do


Estado do Rio Grande do Sul, vejamos:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA. RECURSO ADSTRITO À


ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE ATIVA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ALARME.
EMPRESA INDIVIDUAL. PERSONALIDADE DA PESSOA FÍSICA E DA JURÍDICA QUE
SE CONFUNDEM. POSSÍVEL A COBRANÇA PELO EMPRESÁRIO EM NOME
PRÓPRIO. PRECEDENTES. AUSENTE FUNDAMENTAÇÃO DE MÉRITO, O QUE
TORNA INVIÁVEL AFASTAMENTO DE PARTES DA CONDENAÇÃO. RECURSO
DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71008151961, Quarta Turma Recursal Cível,
Turmas Recursais, Relator: Luis Antonio Behrensdorf Gomes da Silva, Julgado em:
29-03-2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL


CONTRA EMPRESA. BLOQUEIO ONLINE DOS VALORES LOCALIZADOS EM NOME
DA PESSOA FÍSICA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. Segundo entendimento
jurisprudencial do STJ e desta Corte de Justiça, em se tratando de empresa
individual, os patrimônios do sócio e da pessoa física se confundem, o que
autoriza a tentativa de bloqueio online nas contas do empresário individual, uma
vez que frustrada a tentativa de bloqueio nas contas da microempresa. AGRAVO
DE INSTRUMENTO PROVIDO. UNÂNIME.(Agravo de Instrumento, Nº
70079812574, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: João
Barcelos de Souza Junior, Julgado em: 27-02-2019)

Além disso, nã o merece acolhimento a tese da parte demandada sobre o


afastamento, no caso concreto, das normas estabelecidas pelo Có digo de Defesa do
Consumidor. Nesse ponto, em que pese os Tribunais afirmem que, em regra, somente o
destinatá rio final do produto seja merecedor da proteçã o conferida pelas normas
protetivas, o entendimento contemporâ neo vem admitindo uma aplicaçã o mais flexível
dessa definiçã o de destinatá rio final em determinadas hipó teses, por apresentarem
alguma vulnerabilidade em relaçã o ao fornecedor.

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No caso, em se tratando a parte contratante de microempresá rio, presume-se


sua vulnerabilidade em relaçã o ao fornecedor do crédito, sendo, portanto, equiparada a
consumidor e merecedora da proteçã o da legislaçã o em epígrafe.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO


REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – CAPITAL DE GIRO. -
APLICABILIDADE DO CDC. PESSOA JURÍDICA – MICROEMPRESA. Conforme
jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça é merecedor da
proteção do CDC, em regra, somente o destinatário final do produto, assim
entendido o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, que for retirado de
forma definitiva do mercado de consumo, seja ele pessoa física ou jurídica,
excluindo-se, assim, o consumo intermediário, ou seja, aquele cujo produto
retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (preço
final) de um novo bem ou serviço. Todavia, a Corte Especial, tomando por base o
conceito de consumidor equiparado (art. 29 do CDC), vem admitindo uma
aplicação mais flexível dessa definição de destinatário final, em determinadas
hipóteses, frente às pessoas jurídicas adquirentes de um produto ou serviço,
equiparando-as à condição de consumidoras, por apresentarem alguma
vulnerabilidade em relação ao fornecedor (REsp nº 1.195.642-RJ). Na hipótese,
considerando a vulnerabilidade presumida da microempresa frente ao fornecedor
do crédito, equipara-se ela a consumidor, fazendo jus à proteção do CDC, para fins
de revisão dos juros remuneratórios pactuados. - JUROS REMUNERATÓRIOS. A
aplicação em taxa substancialmente superior à média de mercado divulgada pelo
BACEN (30% acima, conforme entendimento desta Câmara) é abusiva, sendo
passível de limitação à referida taxa média. Na hipótese, há abusividade dos juros
pactuados no contrato. Provido no ponto. - REPETIÇÃO DE
INDÉBITO/COMPENSAÇÃO DE VALORES. Cabimento da repetição do indébito, na
forma simples, e compensação de valores diante das modificações impostas na
revisão do contrato. Provido no particular. APELAÇÃO PROVIDA.(Apelação Cível,
Nº 70079901153, Vigésima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Cairo Roberto Rodrigues Madruga, Julgado em: 27-02-2019)

Pois bem.

Em relaçã o ao mérito, entendo que a pretensã o da parte autora nã o merece


procedência.

Explico.
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De início, destaco que a alegaçã o da parte autora sobre a ausência da sua


notificaçã o antes da sua inclusã o nos ó rgã os de proteçã o ao crédito nã o induz
responsabilidade em face da parte demandada. Nesse ponto, a jurisprudência é pacifica
que esse dever recai sobre o ó rgã o mantenedor, inclusive esse entendimento encontra-
se sumulado no verbete 359 do STJ, vejamos: “cabe ao órgão mantenedor do cadastro de
proteção ao crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição”.

De igual modo, entendo que a dívida que impulsionou a inscriçã o do nome da


parte autora nos ó rgã os de proteçã o ao crédito é regular. Nesse contexto, além da
aquisiçã o do equipamento descrito na fl. 70, houve a efetiva contrataçã o para utilizaçã o
de um software, nos termos da fl. 69. Esses negó cios, inclusive, restam incontroversos
nos autos.

Deste modo, considerando que a parte demandada nã o é responsá vel pela


alegada ausência de notificaçã o pelo ó rgã o mantenedor dos cadastros de proteçã o ao
crédito, bem como que o débito que originou a restriçã o é regular, nã o há que se falar
em açã o ou omissã o ilícita que enseje o acolhimento do pedido de indenizaçã o pelos
citados danos morais.”

A sentença deve ser mantida por seus jurídicos e legais fundamentos.


Com efeito, o magistrado a quo bem analisou a prova dos autos e aplicou,
com correção, o direito à espécie.
As alegações recursais não têm o condão de afastar as conclusões da
sentença, pelo que adoto os fundamentos desta, como minhas próprias razões de decidir,
evitando a mera tautologia.

Cumpre frisar, que a parte quer fazer confusão entre fornecimento de


software e licença para sua utilização.

Como se vê, o equipamento adquirido pelo autor, em 2011, depende de


atualização de software, fato incontroverso nos autos.

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A versão que sustenta é a de que apenas fez o pedido de fl. 23, sendo nunca
teve o serviço prestado e que tampouco recebeu qualquer cobrança referente a tal solicitação
(inicial – fl. 03 – 5º parágrafo).

Assim que, não explica a nota fiscal de fl. 24, apenas salientando que, se
recebeu algo, isso foi por cortesia da demandada, pois a referida nota tem, no campo da
natureza da operação, a inscrição “remessa cortesia”.
Porém, basta ver na descrição do produto da NF de fl. 24, emitida em
05/08/2014, que se trata de um DVD (KTS DVD 2014/2 PC ESI{tronic} 2014/2), cujo valor
seria de R$ 7,34 e código do produto 1987.P10.366-000 (ou 999).

Ora, certamente que a demandada não estaria a cobrar o DVD, mas sim a
contratação de atualização de software (OTP – Compra única do Módulo SD (somente
leves), referida no “pedido de Fornecimento” de fl. 23, no valor de R$ 1.500,00,
reconhecidamente feito pelo autor.

Tal produto tem número de tipo ou código (1987P12204999) diverso do da


nota fiscal de fl. 24.

Pois bem, o ônus da prova do pagamento é do autor, pois há presunção da


prestação do serviço, pelo recebimento do produto correspondente a nota fiscal de fl. 24.

E, nesse passo, o autor peca, pois refere que a prova do pagamento da


prestação estaria estampada na NF de fl. 22 (Nota Fiscal Paga em 06/10/2014 com a guia
888961).
Ora, porque pagaria a nota sem receber a prestação devida? Porque não
juntou qualquer prova do pagamento (recibo)? Se fez o pagamento, porque nunca reclamou
de atualização de software até o ingresso da ação?

Logo, a versão da ré é que tem sentido, ou seja, o pagamento que refere a NF


de fl. 22 é relativo aos tributos recolhidos por ela própria, e não pelos serviços prestados ao
autor.
A inversão do ônus da prova, em relação de consumo, de uma forma geral,
não exime o consumidor do ônus de comprovar o fato constitutivo do direito alegado.
Não fazendo a devida prova do pagamento (art. 373, I, do CPC), o autor não
se desincumbiu de seu ônus probatório o qual, na espécie, não se inverte.

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Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO DECLARATÓRIA. SERVIÇOS DE
TELEFONIA NÃO CONTRATADOS. INTERESSE DE AGIR
CONFIGURADO. PROVA MÍNIMA. REPETIÇÃO EM
DOBRO, DO INDÉBITO. DANO EXTRAPATRIMONIAL.
INOCORRÊNCIA. ÔNUS SUCUMBENCIAIS
REDIMENSIONADOS. I. O interesse de agir é regido pelo
binômio necessidade-adequação. No caso, sustentado a
parte autora a alteração unilateral de seu plano de
telefonia, mostra-se adequado o pedido de declaração de
inexigibilidade dos serviços não contratados, bem como de
condenação da requerida à devolução, em dobro, das
quantias pagas a título daqueles. II. Em que pese a
possibilidade de inversão do ônus da prova em demandas
que versem sobre relação de consumo, nos termos do art.
6º, VIII, do CDC, compete à parte autora realizar, ao
menos minimamente, prova do fato constitutivo de seu
direito. Hipótese em que o demandante, em atendimento à
norma contida no art. 373, I, do CPC, se desincumbiu de
demonstrar a cobrança dos serviços impugnados na
exordial. III. Embora sustente a regularidade das
cobranças, deixou a requerida, em desatendimento ao
preconizado pelo art. 373, II, do CPC, de comprovar a
prestação adequada dos serviços em discussão, sendo
devida a repetição do indébito, em dobro. IV. Os incômodos
decorrentes de cobranças por serviços não contratados
pelas companhias telefônicas, por si só, não caracterizam
dano moral. V. Com a reforma da decisão, faz-se necessário
o redimensionamento dos ônus sucumbenciais, os quais
serão distribuídos proporcionalmente entre as partes, na
forma do art. 86 do CPC. Apelação cível parcialmente
provida. Unânime.(Apelação Cível, Nº 70069823730,
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Dilso Domingos Pereira, Julgado em: 25-11-2020)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS.
REJEITADAS AS PRELIMINARES CONTRARRECURSAIS
DEINÉPCIA DA INICIAL E ILEGITIMIDADE ATIVA DE
PARTE. AFASTADA A PREFACIAL RECURSAL DE
NULIDADE DA SENTENÇA POR CERCEAMENTO DE
DEFESA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE
FORNECIMENTO DE ENERGIA. INCIDÊNCIA DO

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CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ÔNUS DA


PROVA QUE NÃO EXIME O CONSUMIDOR DE FAZER
PROVA MÍNIMA DO SEU DIREITO. INDENIZAÇÃO
INDEVIDA. 1. É de ser afastada a preliminar
contrarrecursal de inépcia da inicial, uma vez que a
exordial veio acompanhada dos documentos imprescindíveis
à propositura da demanda. Eventual insuficiência de
documentos para comprovar as alegações diz respeito à fase
probatória e ao próprio julgamento do mérito. 2. Prefacial
contrarrecursal de ilegitimidade ativa de parte que também
não comporta acolhimento. De acordo com o que estabelece
o art. 17 da norma consumerista, todas as vítimas pela falha
na prestação de serviço equiparam-se aos consumidores,
sendo, portanto, legítimas para buscarem eventual
indenização. Assim, a autora, embora não titular da unidade
consumidora em questão, possui legitimidade para buscar
eventual reparação indenizatória, eis que esposa do titular
da unidade de consumo, restando afastada a alegação da
concessionária apelada de que inexistia vínculo com a
recorrente. 3. Igualmente não merece prosperar a
preliminar recursal de nulidade da sentença por
cerceamento de defesa, uma vez que o juiz é o destinatário
da prova e a ele incumbe decidir sobre a necessidade ou não
de sua produção. Assim sendo, pode o julgador determinar
ou indeferir as diligências probatórias requeridas pelas
partes, especialmente se entender prescindível para o seu
convencimento, como a prova oral no caso em liça.
Ademais, efetivamente era prescindível a prova oral
requerida. 4. No mérito, tem-se que se trata de demanda em
que postulada indenização por dano material em razão de
alegada má prestação de serviço de fornecimento de
energia. 5. A despeito do reconhecimento da aplicabilidade
do Código de Defesa do Consumidor ao caso concreto,
considerada a natureza consumerista da relação travada,
isso não desonera o consumidor de realizar prova mínima
do fato constitutivo do seu direito, consoante a regra do
art. 373, inc. I, do CPC. 6. À luz dessas considerações, em
especial ao fato de que a parte autora, além de não indicar
sequer a data do ocorrido para que a concessionária
pudesse acostar provas acerca da rede de energia, não
logrou comprovar a existência de nexo de causalidade entre
o dano em seu equipamento e o serviço prestado pela
concessionária ré, não se vislumbra que a parte demandante
tenha, de forma satisfatória, se desincumbido do ônus de
comprovar os fatos constitutivos de seu direito. 7. Portanto,
à luz do conjunto processual, em não tendo a parte
demandante se desvencilhado do seu ônus probatório
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mínimo, consoante preceitua o art. 373, I, do CPC, deve ser


mantida a improcedência dos seus pedidos. APELAÇÃO
DESPROVIDA.(Apelação Cível, Nº 70083986497, Quinta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lusmary
Fatima Turelly da Silva, Julgado em: 25-11-2020)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. CONSUMIDOR. TELEFONIA. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. A aplicação do
Código de Defesa do Consumidor, com a conseqüente
possibilidade de inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII),
não exime a parte demandante de constituir prova mínima
da verossimilhança das suas alegações, em atenção ao
disposto no art. 333, I, do Código de Processo Civil.
Hipótese em que a demandante não se desincumbiu do
ônus que, por expressa disposição legal, lhe incumbia,
tendo-se limitado a formular alegações genéricas e
abstratas quanto à ilicitude das cobranças. Apelo
desprovido. (Apelação Cível Nº 70049565534, Décima
Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 09/05/2013)

Portanto, legítima a inscrição negativa e ausente o direito do autor em ser


indenizado.

Ante o exposto, a manutenção da sentença é dever que se impõe, pelo que


nego provimento ao apelo.
Majoro a honorária de sucumbência para R$ 1.500,00, forte no art. 85, § 11,
do CPC.
A observar que a parte recorrente litiga sob o pálio da AJG, concedido às fls.
43/43v.

DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).


DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

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DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70083341446,


Comarca de Canguçu: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: CHRISTIAN KARAM DA CONCEICAO

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