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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085215135 (Nº CNJ: 0035066-02.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL.

JUROS REMUNERATÓRIOS. Na espécie, consideradas


as taxas pactuadas, configuram-se as mesmas em cobrança
adequada, consoante à taxa média de mercado aferida pelo
BACEN à época da contratação, não havendo falar em elisão
da mora.

APELO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70085215135 (Nº CNJ: 0035066- COMARCA DE PORTO ALEGRE


02.2021.8.21.7000)

SILVIA DA SILVA GUIMARAES APELANTE

BANCO ITAUCARD S.A. APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes


Senhores DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO E DES. DILSO DOMINGOS
PEREIRA.
Porto Alegre, 25 de agosto de 2021.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Presidente e Relator.

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2021/CÍVEL

RELATÓRIO

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (PRESIDENTE E RELATOR)


Trata-se de apelação cível interposta por SILVIA DA SILVA GUIMARAES
contra a sentença que julgou improcedente a ação revisional ajuizada em face de BANCO
ITAUCARD S.A.

Em suas razões recursais, a parte apelante postula, em síntese, a limitação


dos juros remuneratórios, a descaracterização da mora e a vedação de que a parte apelada
proceda na inclusão de seu nome em cadastros de inadimplentes. Requer o provimento do
apelo.

Subiram os autos, com contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.


Registro, por fim, que, tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os
procedimentos para observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados
na sua integralidade.

É o relatório.

VOTOS

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (PRESIDENTE E RELATOR)


Eminentes Colegas.

Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.


Tocante à aplicação do Código de Defesa do Consumidor às relações
jurídicas que envolvem operações bancárias, a jurisprudência desta Corte e do STJ é pacífica
sobre a existência de relação de consumo entre o cliente e a instituição financeira, consoante
cristalizado no verbete sumular nº 297 do STJ, in verbis: O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

Destarte, considerando-se o disposto nos art. 6º, V e art. 51, VI, ambos do
CDC, mostra-se viável a revisão judicial das cláusulas contratuais. Disso decorre igualmente
a possibilidade de inversão do ônus probatório.

As partes firmaram contrato nos seguintes termos:

Contrato Data da Contratação Juros Pactuados Taxa média do mercado


00800049783 11/11/2011 5,90% a.m. 4,84% a.m.
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Quanto aos juros remuneratórios, a jurisprudência é pacífica no sentido de


que, caso comprovada significativa discrepância com os percentuais praticados, devem estes
ser limitados à taxa média de mercado para a modalidade. Essa média é disponibilizada
mensalmente pelo BACEN, sendo parâmetro adequado à análise contratual.

Nesse sentido, julgados desta Câmara:


APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS
BANCÁRIOS. REVISÃO DE CONTRATO DE MÚTUO. Não
merece ser conhecido o recurso no que tange à
capitalização dos juros, comissão de permanência e demais
encargos moratórios, pois tal matéria sequer foi objeto da
petição inicial e de análise na sentença. Consoante
entendimento preconizado no Superior Tribunal de Justiça e
que vem sendo adotado por esta Câmara, mostra-se possível
a limitação dos juros remuneratórios à taxa média de
mercado definida pelo BACEN, à época do contrato, quando
constatada abusividade, nos termos do Código de Defesa do
Consumidor. No caso em exame, a taxa de juros cobrada no
contrato objeto de revisão é significativamente superior à
taxa média do BACEN, razão pela qual cabível a limitação.
Precedentes desta Corte. Existindo pagamento a maior, a
jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de admitir a
repetição, na forma simples, independentemente da prova de
erro. Constatada a abusividade de encargo cobrado no
curso da normalidade contratual, possível a
descaracterização da mora, consoante entendimento do STJ.
CONHECERAM, EM PARTE, DA APELAÇÃO,
NEGANDO-LHE PROVIMENTO NA PARTE EM QUE
CONHECIDA. UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº
70080999782, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Walda Maria Melo Pierro, Julgado em: 29-
05-2019)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. JUROS
REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE
MERCADO. ABUSIVIDADE CONSTATADA.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA HOSTILIZADA. I. A taxa
de juros remuneratórios superior a 12% ao ano não denota,
por si só, ilegalidade. REsp nº 1061530/RS, processado e
julgado na forma do art. 543-C do CPC. Outrossim,
consoante entendimento consolidado por esta Câmara, para
a limitação da taxa de juros remuneratórios à taxa média de
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mercado é imprescindível a demonstração da abusividade e


o cotejo entre os percentuais contratados e aqueles
disponibilizados mensalmente pelo BACEN. II. Hipótese em
que a taxa de juros pactuada no contrato objeto da
pretensão autoral (987,22% ao ano) é aviltante, superando
expressivamente a respectiva média de mercado vigente à
época da contratação (46,20% ao ano), o que impõe sua
limitação. III. Possível eventual compensação e/ou repetição
de valores pagos a maior, na forma simples, como vedação
do enriquecimento ilícito do credor e consequência inerente
à revisão contratual. Negaram provimento ao apelo.
Unânime.(Apelação Cível, Nº 70081492423, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dilso
Domingos Pereira, Julgado em: 29-05-2019)

Na espécie, consideradas as taxas pactuadas, configuram-se as mesmas em


cobrança adequada, consoante à taxa média de mercado prevista pelo Banco Central do
Brasil para o respectivo período do contrato (25464 - Taxa média mensal de juros das
operações de crédito com recursos livres - Pessoas físicas - Crédito pessoal não consignado).

Assim, considerando-se não ter sido comprovada a abusividade da taxa de


juros contratada entre os litigantes, inaplicável a sua revisão.

Na mesma senda, não há falar em descaracterização da mora, tendo em vista


que não se operou a revisão judicial das cláusulas contratuais.

Por fim, em atendimento ao disposto no art. 85, §11, do CPC, majoro os


honorários sucumbenciais devidos ao patrono da parte apelada para R$1.400,00. Suspensa a
exigibilidade por litigar a parte apelante sob o pálio da assistência judiciária gratuita.

Pelo exposto, voto por negar provimento ao apelo.

DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

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DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN - Presidente - Apelação Cível nº


70085215135, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO.
UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: FERNANDO GUSTAVO MEIRELES BAIMA

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