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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000474114

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1006549-58.2022.8.26.0189 e código 208518BA.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1006549-58.2022.8.26.0189, da Comarca de Fernandópolis, em que é apelante
JOÃO PAULO PEREIRA DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado BANCO
PAN S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 16ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
Conheceram em parte do recurso e, na parte conhecida, deram-lhe parcial
provimento. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MAURO CONTI MACHADO, liberado nos autos em 12/06/2023 às 14:20 .
O julgamento teve a participação dos Desembargadores JOVINO DE
SYLOS (Presidente) E COUTINHO DE ARRUDA.

São Paulo, 12 de junho de 2023.

MAURO CONTI MACHADO


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 52.773


APEL.Nº: 1006549-58.2022.8.26.0189

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1006549-58.2022.8.26.0189 e código 208518BA.
COMARCA: Fernandópolis
JUIZ 1ª INSTÂNCIA: Marcelo Bonavolonta
Apte : João Paulo Pereira da Silva
Apdo: Banco Pan S/A

Apelação. Contrato bancário. Revisional de contrato de


financiamento de veículo. Juros remuneratórios.
Abusividade invocada pela incidência de percentual
superior à taxa média de mercado. Inocorrência. Taxa média
que é parâmetro de mercado e serve apenas como
referencial para apuração de abusos. Tarifa de cadastro.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MAURO CONTI MACHADO, liberado nos autos em 12/06/2023 às 14:20 .
Exigência lícita. Questão pacificada pela Súmula nº 566 do
C. Superior Tribunal de Justiça. Tarifa de registro de
contrato e tarifa de avaliação. Incidência da tese firmada no
julgamento do REsp 1.578.553/SP (Temas 958). Ausência
de comprovação da efetiva prestação do serviço de registro
de contrato. Descabimento de sua exigência. Avaliação não
demonstrada, insuficiente a esse desiderato o termo
realizado de forma superficial pelo próprio réu. Abusividade
ratificada. Devolução determinada, de forma simples.
Pedido de restituição do valor do seguro prestamista por
ilegalidade da cobrança. Ausência de interesse recursal, pela
inexistência de sucumbência, tendo em vista que o pedido já
foi deferido na r. sentença. Sucumbência recíproca.
Recurso conhecido em parte e, na parte conhecida, dá-se
parcial provimento.

Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r.


sentença proferida às fls. 107/112, que julgou parcialmente procedente o pedido
inicial da ação proposta, para declarar a nulidade da cobrança do seguro
prestamista e condenar a ré a restituir ao autor, de forma simples, o valor de R$
1.200,00, devidamente corrigido desde o desembolso, pelos índices fixados
pela Tabela Prática do TJSP e com juros legais, a partir da citação. Em razão
da sucumbência em maior parte, o autor foi condenado ao pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados, por
equidade, em R$ 800,00, nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC, observada a
justiça gratuita concedida.

Recorre o autor, pretendendo a limitação dos juros


remuneratórios à média de mercado, porquanto abusivos aqueles avençados.
Apelação Cível nº 1006549-58.2022.8.26.0189 -Voto nº 52773 - CSA 2
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Sustenta, ainda, a irregularidade da cobrança das tarifas de cadastro, de


registro de contrato e avaliação de bem, assim como do seguro prestamista,

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requerendo a restituição em dobro dos respectivos valores cobrados
indevidamente ou, subsidiariamente, de forma simples.

Recurso tempestivo, dispensado de preparo e


respondido.

É a suma do necessário.

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Reunidos os pressupostos objetivos e subjetivos de
recorribilidade, conheço do presente recurso e o recebo em seus regulares
efeitos. Passo ao exame do mérito recursal.

Impõe-se dizer que as relações entre Banco e cliente são


de consumo; o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 3º, §2º, inclui
expressamente, malgrado resistências, as atividades bancárias, financeiras, de
crédito e securitárias no conceito de prestadoras de serviço.

Assim, possível a revisão do contrato quando importar


onerosidade excessiva ao consumidor ou contiver cláusulas que permitam a
fixação unilateral de encargos (artigo 51 e 54, §4º).

Em relação a taxa média tal qual sugere a


nomenclatura , é um parâmetro de mercado e serve apenas como referencial
para apuração de abusos.

O E. STJ já assentou o entendimento de que “o pacto


referente à taxa de juros só pode ser alterado se reconhecida sua abusividade
em cada hipótese, desinfluente para tal fim a estabilidade inflacionária no
período, e imprestável o patamar de 12% ao ano, já que sequer a taxa média de
mercado, que não é potestativa, se considera excessiva, para efeitos de
validade da avença” (STJ, Quarta Turma, REsp. 604518, Rel. Ministro Aldir
Passarinho Junior).
Apelação Cível nº 1006549-58.2022.8.26.0189 -Voto nº 52773 - CSA 3
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Nesse contexto, não se vislumbra abusividade na taxa

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contratada correspondente a 2,14 ao mês e 29% ao ano, enquanto a média
apurada para o período foi de1,02% ao mês e 20,10% ao ano.

A questão relativa à tarifa de cadastro em contratos


bancários também foi consolidada, com repercussão geral, no julgamento dos
recursos especiais 1251331/RS e 1255573/RS, da relatoria da ministra Maria
Isabel Gallotti, por acórdãos transitados em julgado em 10/02/2014 e
29/11/2013, no sentido de que permanece válida a Tarifa de Cadastro

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expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade
monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre
o consumidor e a instituição financeira.

Observe-se, ainda, a propósito, o verbete da Súmula nº


566 do C. Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes termos: “Nos contratos
bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007,
em 30/4/2008, pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do
relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira”.

Nesses termos, é válida a cobrança da tarifa de cadastro,


cobrada no início da relação contratual.

No que tange às tarifas decorrentes de serviços


prestados por terceiros, impende destacar o recente julgamento proferido pelo
C. Superior Tribunal de Justiça, em sede de Recurso Repetitivo (REsp nº
1578553/SP), por meio dos qual foram fixadas as seguintes teses:

“RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. TEMA 958/STJ.


DIREITO BANCÁRIO. COBRANÇA POR SERVIÇOS DE
TERCEIROS, REGISTRO DO CONTRATO E
AVALIAÇÃO DO BEM. PREVALÊNCIA DAS NORMAS
DO DIREITO DO CONSUMIDOR SOBRE A
REGULAÇÃO BANCÁRIA. EXISTÊNCIA DE NORMA
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REGULAMENTAR VEDANDO A COBRANÇA A TÍTULO


DE COMISSÃO DO CORRESPONDENTE BANCÁRIO.

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DISTINÇÃO ENTRE O CORRESPONDENTE E O
TERCEIRO. DESCABIMENTO DA COBRANÇA POR
SERVIÇOS NÃO EFETIVAMENTE PRESTADOS.
POSSIBILIDADE DE CONTROLE DA ABUSIVIDADE DE
TARIFAS E DESPESAS EM CADA CASO CONCRETO.
1. DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA: Contratos
bancários celebrados a partir de 30/04/2008, com
instituições financeiras ou equiparadas, seja diretamente,

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seja por intermédio de correspondente bancário, no
âmbito das relações de consumo.
2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO
CPC/2015: 2.1. Abusividade da cláusula que prevê a
cobrança de ressarcimento de serviços prestados por
terceiros, sem a especificação do serviço a ser
efetivamente prestado; 2.2. Abusividade da cláusula que
prevê o ressarcimento pelo consumidor da comissão do
correspondente bancário, em contratos celebrados a
partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-
CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula no período
anterior a essa resolução, ressalvado o controle da
onerosidade excessiva; 2.3. Validade da tarifa de
avaliação do bem dado em garantia, bem como da
cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o
registro do contrato, ressalvadas a: 2.3.1. abusividade da
cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a
2.3.2. possibilidade de controle da onerosidade excessiva,
em cada caso concreto.
3. CASO CONCRETO. 3.1. Aplicação da tese 2.2,
declarando se abusiva, por onerosidade excessiva, a
cláusula relativa aos serviços de terceiros ("serviços
prestados pela revenda"). 3.2. Aplicação da tese 2.3,
mantendo se hígidas a despesa de registro do contrato e
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a tarifa de avaliação do bem dado em garantia.


4. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO”.

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(STJ REsp 1578553/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, 2.ª seção, j. em
28/11/18, DJe 06/12/18).

Aplicando-se as teses acima exaradas, embora não se


possa considerar onerosa a tarifa de registro de contrato, pois, além de o valor
cobrado (R$ 154,13) ser ínfimo em relação ao valor total do crédito concedido,
não se justifica sua exigência, haja vista que não logrou a instituição financeira,

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conforme lhe incumbia (artigo 373, inciso II, da lei de ritos), comprovar que o
financiamento foi devidamente registrado no órgão competente.

Da mesma forma, conclui-se que a Tarifa de Avaliação do


Bem, no valor de R$ 408,00 é abusiva, pois não demonstrada a efetiva
prestação de serviço de avaliação.

Nem se queira aventar que o “Termo de Avaliação”


acostado às fls. 88/89, se preste a tal desiderato, especialmente se considerado
que se limitou a indicar que a lataria, a tapeçaria, a pintura e os pneus estavam
conservados e em bom estado, contendo fotos do veículo, sem qualquer outra
minúcia, como por exemplo, decalque do chassi, ressaltando, inclusive, que foi
realizado pelo próprio banco e não por terceiro.

À toda evidência, não se trata de uma efetiva avaliação


do bem, que é mais minuciosa, quanto mais, quando se observa que a vistoria
foi realizada pelo próprio Banco Pan e não por terceiro.

Quanto ao pedido do autor de restituição do valor do


seguro prestamista por ilegalidade da cobrança, o recurso não pode ser
conhecido.

Isso porque não há interesse recursal diante do


acolhimento dessa pretensão na r. sentença recorrida.
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O interesse recursal materializa-se na conjugação do

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binômio utilidade-necessidade. Não havendo qualquer utilidade na interposição
do recurso, como no caso examinado, configura-se a ausência de interesse em
recorrer.

Ademais, conforme anotado por Theotonio Negrão, in


“Código de Processo Civil”, 40ª Edição, Saraiva, p. 653, “a parte que não
sucumbiu não pode recorrer” (parece do Min. Orozimbo Nonato RF 244/51).

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Desse modo, não se conhece de parte do apelo, e na
parte conhecida, dá-se parcial provimento.

Destarte, em atenção ao disposto pelo artigo 884, “caput”,


do Código Civil, se afigura, de rigor, a condenação da instituição financeira à
repetição dos valores pagos indevidamente (R$ 154,13 e R$ 408,00 tarifa de
registro do contrato e tarifa de avaliação do bem, respectivamente), que
deverão ser atualizados pelos índices da Tabela Prática desta E. Corte Paulista,
desde cada desembolso, e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a contar
da citação.

Diante do decaimento recíproco, cada parte responderá


por metade das custas e despesas processuais e pagará honorários
advocatícios ao patrono da parte adversa no valor de R$ 1.000,00, ressalvada a
gratuidade concedida à parte autora.

Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao recurso, na


parte conhecida.

MAURO CONTI MACHADO


RELATOR
Assinatura Eletrônica

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