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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS


GABINETE DO DESEMBARGADOR FLÁVIO HUMBERTO PASCARELLI LOPES

Terceira Câmara Cível

Apelação Cível - MANAUS/AM


PROCESSO N.º 0605843-42.2019.8.04.0001
APELANTE: Banco Daycoval S/A
APELADA: Opx Operadora Portuaria e Logistica Ltda

EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL.


CONTRATOS BANCÁRIOS. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. AUSÊNCIA
DE PREVISÃO ESPECÍFICA. IMPOSSIBILIDADE. CÁLCULO PELA
TAXA MÉDIA DE MERCADO. PRECEDENTE STJ. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

- Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros


efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada
do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo
Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada
for mais vantajosa para o devedor;

-Apelação cível conhecida e desprovida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos,


acordam os senhores desembargadores, por unanimidade, em conhecer
da apelação cível para negar-lhe provimento, nos termos do voto do
relator, que passa a integrar o julgado.

Des._________________________
Presidente

Desembargador Flávio Humberto Pascarelli Lopes


Relator

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H.g/FHPL Av. André Araújo, s/n.º - Aleixo CEP 69060-000 Manaus/AM
Fone: (92) 2129-6692
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RELATÓRIO

Cuida-se de apelação cível interposta por Banco


Daycoval S/A em face de sentença proferida pelo Juízo de Direito da
12ª Vara da Cível da Capital, que julgou procedentes as pretensões
iniciais da apelada no sentido de estabelecer o juros com base na taxa
média de mercado, sem capitalização, para todos os contratos lançados
às fls. 216/219, salvo se o percentual contratador for mais favorável.
Além disso, declarou inexigíveis os lançamentos das tarifas sem
comprovação identificadas sob a siglas LIQ DE TÍTULOS, TAR.
DOC/TED, JUROS CARTO, JR SALDO DEVEDOR, IOF SALDO
DEVEDOR, IOF ADICIONAL, TAR ADTO DEP, TARIFA DE INSTRUÇÃO
TD, TAR ALT CADASTRO, IOF PRORROGA TD, TARIFA SERV
MOVTOS ON-LINE, TARIFA TED, TAR.ENT.MEIO MAG, ABATIMENTO
TI, PGTO. TITULO, JUROS PRORROG, TARIFA REEMISSÃO BOLETO,
TAR. ENTR. TIT CARTÓRIO, TRANSF CONF AUT, TARIFA DE
MANUTENÇÃO DE C/C. Por fim, condenou o recorrente a restituir as
movimentações realizadas indevidamente na conta corrente da apelada
de forma simples, atualizado monetariamente pelo INPC e juros de mora
pela SELIC, a partir dos desembolsos, a serem apurados em liquidação
posterior e por simples cálculos aritméticos, na forma do art. 509 do
CPC, condenando ainda em custas e honorários advocatícios, estes em
20% sobre o valor da condenação, consoante art. 85, §2º do CPC.

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Sustenta o apelante que: (a) a inicial seria inepta, pois os


pedidos foram indeterminados, bem como não houve especificação dos
contratos que se pretendia revisar, em violação ao art. 330, I, §1º, II e §2º do
CPC; (b) seria vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade de
cláusulas em contratos bancários, consoante enunciado de súmula n. 381/STJ;
(c) inexistiria relação de consumo entre as partes a justificar a aplicação do
Código de Defesa do Consumidor; (d) não poderia ter ocorrido a inversão do
ônus da prova, sendo irrazoável a procedência da demanda com base na falta
de juntada dos contratos; (e) a apelada se utilizou de 157 contratos sem que
jamais tivesse se insurgido, pelo que significaria a ratificação das obrigações
pactuadas; (f) as cláusulas contratuais em discussão estariam em plena
regularidade, sendo válidas e eficazes, notadamente quanto às taxas de juros;
(g) a média dos juros pelo BACEN seria de 2,9300% a.m ao passo em que a
média das taxas contratuais estava em 1,9758% a.m; (h) o STJ possui
entendimento no sentido de que não se aplica a limitação da taxa de juros
remuneratórios em 12% ao ano aos contratos bancários; (i) seria legal a
capitalização de juros, estando expressamente previsto em contrato; (j) as
tarifas e encargos cobrados estariam dentro da legalidade, não sendo possível
a repetição do indébito.

O apelado contraminutou o recurso, argumentando pela


manutenção da sentença.

Sem participação do Ministério Público Estadual.

Dou por relatado o presente feito.

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VOTO

De pronto, saliento que todos os requisitos de


admissibilidade recursal foram atendidos. Passo, então, à análise da
questão de fundo do presente recurso.

Com relação à preliminar de inépcia da inicial, rejeito tendo


em vista que a inicial formulou pretensões objetiva e atinentes às abusividades de
cláusulas contratuais.

Já quanto ao mérito, versa sobre a taxa de juros incidente


sobre os contratos firmados entre as partes, que, do cotejo às fls. 216/219,
depreende-se não ter havido a devida contratação do percentual de juros e do
índice de capitalização, motivo que leva à aplicação da taxa média divulgada pelo
Banco Central do Brasil para a mesma operação de crédito e vigente à época da
contratação:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
INDEFERIMENTO. CONTRATOS BANCÁRIOS. PRESCRIÇÃO.
REPETIÇÃO DE PAGAMENTO INDEVIDO. PRAZO DECENAL.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. TAXA DE JUROS. AUSÊNCIA DE
PACTUAÇÃO EXPRESSA. APLICAÇÃO DA TAXA MÉDIA
DIVULGADA PELO BACEN. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência do STJ, "a pretensão de repetição de
valores pagos indevidamente em função de contrato bancário está
sujeita ao prazo prescricional vintenário na vigência do CC/1916 e ao
decenal na vigência do CC/2002, contado da efetiva lesão, ou seja, do
pagamento" (AgInt no AREsp 1.234.635/SP, Rel. Ministro ANTONIO
CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 1º/03/2021, DJe
de 03/03/2021).
2. Estando a decisão de acordo com a jurisprudência desta Corte, o
recurso especial encontra óbice na Súmula 83/STJ.
3. Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa
de juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela
falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de
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mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma


espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.
(Súmula 530/STJ).
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1884493/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 11/10/2021, DJe 17/11/2021)

Além disso, a parte recorrente não justificou em momento


oportuno de sua defesa as cobranças pelas siglas já indicadas no relatório, razão
pela qual a ausência de prova de pactuação dos encargos lhes tornam
inexigíveis.

Ante o exposto, voto no sentido de conhecer da presente


apelação cível para, no mérito, negar-lhe provimento.

Manaus, 4 de abril de 2022.

Desembargador Flávio Humberto Pascarelli Lopes


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