PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO AMAZONAS

Gabinete do Desembargador JOÃO DE JESUS ABDALA SIMÕES
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TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 4003654-07.2021.8.04.0000

Agravante: Brendo Almeida Pereira

Advogado: Dr. Glenda Lopes Pereira
Agravado: 99 Tecnologia Ltda
Advogado: Dr. Fabio Rivelli

Juíza Prolatora da Decisão: Dr.ª Kathleen dos Santos Gomes

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EMENTA: PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. APLICATIVO 99. PLATAFORMA DE
SERVIÇO DE TRANSPORTE PRIVADO DE
PASSAGEIROS. EXCLUSÃO DE MOTORISTA.
MEDIDA DE CUNHO EXCEPCIONAL. NECESSIDADE
DE CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. RECURSO
PROVIDO
I – É imperioso que a rescisão contratual deve ocorrer
após possibilitar o exercício do contraditório e da ampla
defesa pelo outro contratante, o que não aconteceu in
casu, pois sequer informou-se a conduta contrária aos
“Termos de Uso da 99”.
II - Dessa forma, o desligamento, da forma como
ocorreu, fere os princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa, os quais devem ser
observados também e sem exceção nas relações
privadas (eficácia horizontal dos direitos fundamentais
– Precedente do STF).

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Fone: (92) 2129-6725

Agravo de Instrumento n.º 4003654-07.2021.8.04.0000 (II)

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III – Agravo de Instrumento conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos do processo em

epígrafe, acordam os Desembargadores integrantes da Terceira Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, por unanimidade de
votos, conhecer e dar provimento ao recurso, nos termos do voto do
Relator.

Manaus/AM, 24 de janeiro de 2022.

Desembargador Airton Luís Corrêa Gentil

Presidente

Desembargador João de Jesus Abdala Simões

Relator

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Agravo de Instrumento n.º 4003654-07.2021.8.04.0000 (II)

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01. RELATÓRIO

01.01. Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por

Brendo Almeida Pereira contra decisão proferida pelo Juízo da 18ª Vara
Cível e de Acidentes de Trabalho (fls. 46/47 dos autos originários), nos
autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Danos Morais e Materiais
(processo n.° 0659860-57.2021.8.04.0001) ajuizada em desfavor de 99
Tecnologia Ltda.

01.02. Na decisão agravada, o magistrado de origem indeferiu

a tutela de urgência pleiteada, nos seguintes termos:

Após detida análise do presente caderno digital

processual, vislumbro não estarem presentes os
requisitos para a concessão dos efeitos da tutela
requerida, já que não se inferem dos fatos narrados e
documentos constantes nos autos elementos suficientes
que denotem a probabilidade do Direito, uma vez que
desconhecidas as razões da ré para ter suspendido o
cadastro do autor como motorista de aplicativo.

01.03. Nas razões do recurso às fls. 1/7, a parte agravante

defende que trabalhou como motorista da empresa 99 Tecnologia LTDA por
cerca de dois anos ininterruptamente, que teria transportado mais de
10.000 (dez mil) passageiros com segurança e jamais sofreu nenhum tipo
de advertência.

01.04. Em que pese isto, no dia 29/04/2021, foi surpreendido

com o bloqueio de sua conta em caráter definitivo, por suposta violação dos
termos do aplicativo (inclui print do aplicativo).

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01.05. Afirma que a exclusão do aplicativo foi feita de maneira
arbitrária, sem garantir o seu contraditório e a ampla defesa.

01.06. Outrossim, aponta que não possui outra fonte de renda,

sendo, assim, inegável o perigo da demora na concessão da liminar.

01.07. Ante o exposto, requer o conhecimento e

provimento do Agravo de Instrumento, conforme as razões acima
mencionadas.

01.08. Em que pese devidamente intimada a parte agravada

deixou transcorrer in albis o prazo para apresentar contrarrazões (certidão
de fl. 61).

01.09. É o relato no essencial.

02. VOTO

02.01. Conforme demonstrado às fls. 56/57, encontram-se

presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade,
razão pela qual o recurso deve ser conhecido.

02.02. Feitas tais considerações, constata-se que os

argumentos expendidos pelo Agravante não merecem prosperar.

02.03. De pronto, não resta dúvida sobre a natureza privada

da relação contratual entre as partes e nem sobre a possibilidade da

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rescisão da avença em decorrência do descumprimento das cláusulas
contratuais.

02.04. Todavia, é imperioso que a rescisão contratual deve

ocorrer após possibilitar o exercício do contraditório e da ampla defesa pelo
outro contratante, o que não aconteceu in casu, pois sequer informou-se a
conduta contrária aos “Termos de Uso da 99”.

02.05. Dessa forma, o desligamento, da forma como ocorreu,

fere os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, os
quais devem ser observados também e sem exceção nas relações privadas.

02.06. É a chamada eficácia horizontal dos direitos

fundamentais já consagradas pelo STF nos seguintes termos:

“tem-se que as normas definidoras de direitos e

garantias fundamentais têm campo de incidência em
qualquer relação jurídica, seja ela pública, mista ou
privada, donde os direitos fundamentais assegurados
pela Carta Política vinculam não apenas os poderes
públicos,alcançando também as relações privadas.”
(STF, AgReg no RE com Ag. nº 1.008.625/SP, Rel. Min.
Luiz Fux, Primeira Turma, j. 17.03.2017, DJe
19.04.2017).

02.07. Nota-se, portanto, que a decisão interlocutória atacada

bem como a maneira como se deu o desligamento do Agravante não estão
em consonância com os fundamentos estabelecidos na Constituição Federal,
razão pela qual deve ser dado provimento ao presente recurso.

02.08. Ademais, importante destacar o risco de grave dano ao

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qual o Agravante está sujeito, ficando impossibilitado de trabalhar e de
assegurar o sustento próprio, o que também corrobora a necessidade de se
aguardar a decisão final do processo principal para só então se verificar pela
real necessidade de exclusão do Agravante da plataforma 99.

02.09. Forte nessas razões, é impositivo conhecer e dar

provimento ao presente Agravo de Instrumento, para, reformando a
decisão impugnada, conceder tutela de urgência para reintegrar o
Agravante à Plataforma Agravada, no prazo de 48 horas, sob pena
de multa diária de R$1.000,00 (mil reais) até o limite de 30 (trinta)
dias.

02.10. É como voto.

02.11. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Transitado

em julgado, retornem os autos à Vara de origem.

Manaus/AM, 24 de janeiro de 2022.

Desembargador JOÃO DE JESUS ABDALA SIMÕES

Relator

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