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Informativo Temático 2023

Compilação dos Informativos STF 1080 a 1114

O Informativo Temático apresenta resumos organizados por assuntos e ramos do Direito.


Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo, desde
que citada a fonte.

Últimas atualizações:

 Informativo 1114

o ADI 7.440 MC-Ref/PA


o RE 860.631/SP (Tema 982 RG)
o ADI 4.450/MS

 Informativo 1113

o RE 922.144/MG (Tema 865 RG)


o RE 1.279.765/BA (Tema 1.132 RG)
o ADI 6.609/MG
o RE 614.873/AM
o ADI 1.183 ED/DF
o ADPF 1.013/DF
o PSV 139/DF
o HC 215.102/PR

 Informativo 1112

o ADI 2.037/RS

1
o ADPF 1.063/SP
o ADI 5.635/DF

 Informativo 1111

o ADPF 347/DF
o RE 842.844/SC (Tema 542 RG)
o ADPF 819/MT
o ADI 7.404/RJ
o RE 1.282.553/RR (Tema 1.190 RG)
o RE 590.186/RS (Tema 104 RG)

 Informativo 1110

o RE 1.372.723/RS (Tema 1.224 RG)


o ADI 4.031/PA
o ADI 7.375/TO
o RE 1.017.365/SC (Tema 1.031 RG)
o ADI 5.679/DF
o ADI 7.447 MC-Ref/PA
o ADI 5.764/DF

 Informativo 1109

o ADI 3.056/RN
o RE 659.172/SP (Tema 519 RG)
o RE 840.435/RS (Tema 598 RG)
o ADI 3.899/DF
o RE 1.452.421/PE (Tema 1.279 RG)
o ADI 2.521/PE
o ADI 5.944/CE
o RE 1.319.935 AgR-ED/SP
o ARE 1.369.282 AgR/SE

 Informativo 1108

o ADI 7.271/AP
o ADI 5.154/PA

2
o ADI 2.879/SC
o ADPF 1.031/DF
o AP 1.060/DF
o RE 1.420.691/SP (Tema 1.262 RG)

 Informativo 1107

o ADI 4.645/DF e ADI 4.655/DF


o ADI 5.783/BA
o ADI 3.486/DF e ADI 3.493/DF
o ADI 7.233/DF
o ADI 2.776/ES
o ADI 5.363/MG
o ADI 7.374/SE
o ADI 4.784/DF

 Informativo 1106

o RE 1.427.694/SC (Tema 1.268 RG)


o ADI 3.865/DF
o ADC 14/DF
o ADI 856/RS
o ADI 4.216/TO
o ADI 6.780/RN
o ADI 4.427/AM
o ADI 6.561/TO
o ADI 6.412/PE
o ADO 38/DF
o RE 1.162.672/SP (Tema 1.019 RG)
o ADI 5.315/DF
o ADI 6.298/DF, ADI 6.299/DF, 6.300/DF e ADI 6.305/DF

 Informativo 1105

o ADI 4.295/DF
o ADI 3.526/DF
o ADI 3.238/PE

3
o ADI 6.313/DF
o ADI 6.259/DF
o ADPF 976 MC-Ref/DF
o ADI 3.093/RJ
o ADI 4.092/RJ
o ADI 3.081/RJ
o ADPF 995/DF
o ADPF 779/DF

 Informativo 1104

o ADI 7.048/SP
o ADI 6.180/SE
o ADI 7.092/DF
o ADPF 524/DF
o ADO 59/DF
o ADI 7.380/AM
o ADI 3.663/MA
o ADI 6.324/DF
o ADI 6.188/DF
o ADPF 969/AL
o ADI 7.267/DF
o ADI 5.953/DF

 Informativo 1103

o ADI 5.689/RJ
o ADI 6.892/RJ
o ADPF 872/DF
o ADI 7.099/MG
o ADI 4.273/DF

 Informativo 1102

o ADI 6.218/RS
o ADI 7.013/DF
o ADPF 991 MC-Ref/DF

4
o ADI 6.119/DF, ADI 6.139/DF, ADI 6.466/DF, ADI 6.134 MC/DF, ADI 6.675
MC/DF, ADI 6.676 MC/DF, ADI 6.677 MC/DF, ADI 6.680 MC/DF, ADI 6.695
MC/DF, ADPF 581 MC/DF e ADPF 586 MC/DF
o ADI 5.407/MG
o ADI 5.994/DF
o ADI 5.322/DF
o RE 1.288.440/SP (Tema 1.143 RG)

 Informativo 1101

o RE 684.612/RJ (Tema 698 RG)


o ADI 3.565/MT
o ARE 1.175.650/PR (Tema 1.043 RG)
o ADI 2.402/ES
o RE 910.522/MG (Tema 1.001 RG)
o ADI 5.780/DF
o ADI 7.356/PE
o ADO 27/DF
o ADPF 486/RS
o ADI 7.222 MC-Ref-segundo/DF
o ADC 69/DF
o RE 635.347/DF (Tema 416 RG)
o ADI 6.930/DF
o ARE 848.107/DF (Tema 788 RG)
o ADI 7.051/DF

 Informativo 1100

o RE 1.140.005/RJ (Tema 1.002 RG)


o ARE 1.320.744/DF (Tema 1.200 RG)
o ADI 999/AL
o ADI 5.354/SC
o ADI 6.050/DF, ADI 6.069/DF e ADI 6.082/DF
o RE 597.092/RJ
o ARE 1.287.076 AgR/SP
o HC 214.070 AgR/MG

5
 Informativo 1099

o ADI 3.748/PR
o ADI 7.028/AP
o ADI 6.989/PI
o ADI 5.069/DF
o ADC 39/DF
o RE 1.428.399/PE (Tema 1.256 RG)

 Informativo 1098

o ADI 4.652/DF
o ADI 6.090/RR
o RE 1.426.306/TO (Tema 1.254 RG)
o ADPF 605 MC-Ref/DF
o RE 609.096/RS (Tema 372), RE 1.250.200/SP e RE 880.143/MG
o ARE 1.245.097/PR (Tema 1.084 RG)
o QO no INQ 3.515/DF

 Informativo 1097

o ADI 2.820/ES
o ADI 5.510/PR
o ADI 7.321/AL
o ADPF 984/DF e ADI 7.191 2º JULG/DF
o ADI 5.835/DF, ADI 5.862/DF e ADPF499/DF

 Informativo 1096

o ADI 7.264/TO
o ADPF 971/SP, ADPF 987/SP e ADPF 992/SP
o ADI 6.137/CE
o ADPF 623/DF
o ADI 5.530/MS
o ADI 6.091/RR
o QO na AP 1.025/DF

 Informativo 1095

6
o ADI 5.430/DF
o ADI 2.231/DF
o ADPF 1.008/DF
o ADI 7.327/DF
o ADI 7.008/SP
o ADI 7.253/AC
o ADPF 512/DF

 Informativo 1094

o ADI 3.308/DF, ADI 3.363/DF, ADI 3.998/DF, ADI 4.802/DF e ADI 4.803/DF
o ADI 3.466/DF
o ADPF 282/RO
o ADPF 964/DF, ADPF 965/DF, ADPF 966/DF e ADPF 967/DF

 Informativo 1093

o ADI 5.554/DF
o ADI 7.319/MT
o RE 1.210.727/SP (Tema 1.056 RG)
o ADC 84 MC-Ref/DF
 Informativo 1092

o ADI 3.236/DF
o ADI 7.317/RS
o ADI 7.283/MG
o ADI 6.591/DF
o ADI 5.492/DF e ADI 5.737/DF
o ADI 7.273 MC-Ref/DF e ADI 7.345 MC-Ref/DF
o ADI 6.753/GO e ADI 7.151/RJ
o ADI 7.252/TO
o ADPF 209/SP

 Informativo 1091

o ADI 6.186/DF
o ADI 6.126/DF
o ADI 7.242/GO

7
o ADO 44/DF
o RE 1.182.189/BA (Tema 1.054 RG)
o ADI 7.002/PR
o ADI 7.004/AL
o ADI 6.597/RJ
o ADI 7.148/RO

 Informativo 1090

o RE 1.232.885/AP (Tema 1.128 RG)


o ADPF 734/PE
o ADI 5.545/RJ
o ADPF 475/DF
o ADI 6.545/DF
o ADI 2.838/MT e ADI 4.624/TO
o ADI 4.513/DF, ADI 4.542/DF e ADPF 223/DF
o RE 1.390.517/PE (Tema 1.247 RG)

 Informativo 1089

o ADI 5.549/DF e ADI 6.270/DF


o ADI 6.433/PR
o ADI 2.154/DF e ADI 2.258/DF
o ADI 6.662/DF
o ADI 2.952/RJ
o ADI 6.338/DF
o AR 2.921/DF
o ADPF 334/DF
o MS 36.990 AgR/DF
o ARE 1.382.159 AgR/RJ

 Informativo 1088

o RE 1.177.699/SC (Tema 1.032 RG)


o ADI 7.208/MT
o ADI 6.578/DF
o ADI 5.598 MC/DF
o ARE 1.418.846/RS (Tema 1.246 RG)

8
o ADI 5.278/DF
o RE 781.926/GO (Tema 694 RG)

 Informativo 1087

o ADI 7.227/DF
o ADI 2.926/PR
o ADI 6.317/SP
o ADI 7.340 MC-Ref/CE
o RE 700.922/RS (Tema 651 RG)
o ADI 4.905/DF
o RE 796.939/RS (Tema 736 RG)

 Informativo 1086

o ADC 85 MC-Ref/DF
o ADI 4.346/MG
o ADI 570/PE
o RE 887.671/CE (Tema 874 RG)
o ADI 6.500/RN
o ADI 5.076/RO
o ADI 4.824/PI
o ADI 4.859/PI

 Informativo 1085

o ADI 5.906/DF
o ADI 4.197/SE
o ADI 5.404/DF
o ADI 6.782/RN
o ADPF 783/ES
o ADI 6.033/DF
o ADI 3.703/RJ
o ADI 1.049/DF
o ADI 7.195 MC-Ref/DF

 Informativo 1084

o ADI 3.428/DF

9
o ADI 4.727/DF
o ADI 7.337 MC-Ref/MG
o ADI 7.203/RO
o ADC 51/DF
o RE 1.116.485/RS (Tema 477 RG)
o ADI 7.036/DF

 Informativo 1083

o ADI 5.519/DF
o ADI 4.872/PR
o ADI 6.657/DF
o ADI 7.168/DF
o ADI 6.245/DF e ADI 6.264/DF
o RE 636.562/SC (Tema 390 RG)
o ADI 5.869/DF
o RE 1.367.071 AgR-EDv/PR

 Informativo 1082

o RE 955.227/BA (Tema 885 RG) e RE 949.297/CE (Tema 881 RG)


o ADI 7.019/RO
o ADI 7.232 TPI-Ref/DF
o ADI 5.941/DF
o ARE 1.339.496 AgR/RJ (Tema 1.119 RG)

 Informativo 1081

o ADI 7.024/PR
o ADI 5.824/RJ e ADI 5.825/MT
o ADI 5.421/DF
o ADI 5.126/SP
o ADI 5.378/DF
o ADPF 860/SP e ADPF 879/SP
o ADI 7.178/DF e ADI 7.182/DF
o ADI 7.020/DF
o ADI 7.158/DF

10
 Informativo 1080:

o RE 658.999/SC (Tema 627 RG)


o RE 1.400.775/MG (Tema 1.239 RG)
o RE 1.237.867/SP (Tema 1.097 RG)
o RE 1.400.787/CE (Tema 1.241 RG)
o ADPF 968 MC/DF
o ADPF 850/DF, ADPF 851/DF, ADPF 854/DF e ADPF 1.014/DF
o ADI 7.027/PB
o RE 1.394.401/SP (Tema 1.240 RG)
o RE 1.288.634/GO (Tema 1.172 RG)
o RE 918.315/DF (Tema 1.096 RG)
o RE 611.601/RS (Tema 281 RG)
o RE 816.830/SC (Tema 801 RG)

SUMÁRIO

1. DIREITO ADMINISTRATIVO...........................................................................................28

1.1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA.......................................................................................28

Imprescritibilidade de pretensão de ressarcimento ao erário decorrente de exploração


irregular do patrimônio mineral da União - RE 1.427.694/SC (Tema 1.268 RG)28

1.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.............................................................................28

Norma estadual que restringe a participação de auditor substituto no Órgão Pleno do


Tribunal de Contas Estadual - ADI 5.689/RJ......................................................28

1.3 AGÊNCIAS REGULADORAS..............................................................................29

Competência normativa da ANTT - ADI 5.906/DF.............................................29

1.4 ATOS ADMINISTRATIVOS................................................................................29

Instalação de lacres eletrônicos em tanques de postos de combustíveis - ADI 3.236/DF


................................................................................................................................29

Tomada de Contas Especial: prazo prescricional para instauração pelo TCU - MS 36.990
AgR/DF..................................................................................................................30

1.5 CARREIRA POLICIAL.........................................................................................31

11
Policiais civis e restrições à promoção ou à participação em manifestações - ADPF 734/PE
................................................................................................................................31

1.6 CONCURSO PÚBLICO.........................................................................................32

Agentes de combate às endemias: norma que define o regime jurídico da categoria - ADI
5.554/DF................................................................................................................32

Direito à nomeação de estrangeiro aprovado em concurso público - RE


1.177.699/SC (Tema 1.032 RG).............................................................................33

Reestruturação da carreira estadual e impossibilidade de provimento derivado de cargo


público - ADI 5.510/PR.........................................................................................34

Serventias extrajudiciais: regras e critérios atinentes ao concurso de remoção - ADI


3.748/PR.................................................................................................................34

Transposição de emprego público para o quadro estatutário sem prévia aprovação em


concurso público - RE 1.232.885/AP (Tema 1.128 RG)......................................36

1.7 CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL........................................36

Iniciativa de lei para a criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de


educação física - ADI 3.428/DF............................................................................36

1.8 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS...................................................................37

Prorrogação antecipada de contrato de concessão de serviço de transporte coletivo


estadual - ADI 7.048/SP........................................................................................37

1.9 CONTROLE EXTERNO........................................................................................38

Poder normativo e instituição do Sistema Integrado de Transferência pelo Tribunal de


Contas do Estado do Paraná - ADI 4.872/PR......................................................38

1.10 CRIAÇÃO, EXTINÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DE ÓRGÃOS OU CARGOS PÚBLICOS


38

Decreto presidencial: extinção de cargos em comissão e funções de confiança e limitação


da ocupação, concessão ou utilização de gratificações pertencentes aos quadros de
universidades públicas e de institutos federais de ensino - ADI 6.186/DF.........38

Novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração dos servidores públicos do quadro de


pessoal do ITERAIMA: lei que cria ou aumenta despesas e necessidade de estimativa de
impacto financeiro-orçamentário - ADI 6.090/RR..............................................39

Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa alçada ao nível constitucional, definição de


critérios de nomeação do Procurador-Geral do estado e concessão de foro privilegiado aos
procuradores estaduais - ADI 2.820/ES...............................................................40

Transformação de cargos em comissão e de funções de confiança mediante ato normativo


infralegal - ADI 6.180/SE.....................................................................................41

1.11 ESTATUTO DA ADVOCACIA............................................................................42

Exercício da advocacia em causa própria por policiais e militares - ADI 7.227/DF


................................................................................................................................42

1.12 ESTATUTO DOS MILITARES.............................................................................43

12
Estatuto dos Militares e alterações promovidas pela Lei 13.954/2019: reforma de militar
temporário por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas - ADI
7.092/DF................................................................................................................43

1.13 FUNDAÇÕES PÚBLICAS....................................................................................44

Constituição de fundações públicas de direito privado para a prestação de serviço público


de saúde - ADI 4.197/SE.......................................................................................44

1.14 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.................................................................44

Colaboração premiada: possibilidade de utilização no âmbito de ação civil pública por ato
de improbidade administrativa - ARE 1.175.650/PR (Tema 1.043 RG)..............44

Lei de Improbidade Administrativa: constitucionalidade das exigências e penalidades de


agentes públicos - ADI 4.295/DF..........................................................................45

1.15 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE.........................................46

Desapropriação para reforma agrária: propriedade produtiva e atendimento de sua função


social - ADI 3.865/DF...........................................................................................46

1.16 LICITAÇÃO E CONTRATOS...............................................................................47

Instituição do Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) - ADI 4.645/DF e


ADI 4.655/DF........................................................................................................47

Prorrogação e (re)licitação de contratos de parceria entre município e a iniciativa privada


- ADPF 971/SP, ADPF 987/SP e ADPF 992/SP..................................................48

1.17 POLÍTICA FUNDIÁRIA.......................................................................................49

Comunidades tradicionais de fundos e fechos de pasto: fixação de prazo limite para


requerer a regularização fundiária - ADI 5.783/BA............................................49

1.18 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO......................................................49

Responsabilidade civil do Estado e morte de cidadão em ação policial armada - ARE


1.382.159 AgR/RJ..................................................................................................49

1.19 SERVIÇO NOTORIAL E DE REGISTRO............................................................50

Concurso de remoção no serviço notarial e de registro - ADC 14/DF................50

1.20 SERVIÇOS PÚBLICOS.........................................................................................51

Dispensa de licitação para a outorga de serviços de transporte coletivo de passageiros


desvinculados da exploração de infraestrutura - ADI 5.549/DF e ADI 6.270/DF51

Metrô-DF: satisfação de débitos mediante o regime de precatórios - ADPF 524/DF


................................................................................................................................52

1.21 SERVIDOR PÚBLICO..........................................................................................52

Advogados públicos federais e retribuição por substituição de integrantes que não exercem
funções previstas em lei - ADI 5.519/DF..............................................................52

Aposentadoria especial em razão do exercício da função de magistério em âmbito estadual


- ADI 856/RS..........................................................................................................53

13
Direito do servidor estável à licença sem remuneração para desempenho de mandato
classista - ADI 7.242/GO.......................................................................................54

EC 20/1998 e acumulação de pensões civil e militar - RE 658.999/SC (Tema 627 RG)


................................................................................................................................54

Estatuto da Polícia Civil do Estado do Paraná: alterações substanciais e procedimentos em


sede de sindicância policial - ADI 2.926/PR........................................................55

Impedimento da aposentadoria voluntária e da exoneração a pedido de servidor estadual


que responde a processo administrativo disciplinar - ADI 6.591/DF..................56

Incorporação de gratificação por exercício da Presidência do TCDF - ADI 6.126/DF


................................................................................................................................56

Procuradoria estadual: pagamento de “auxílio-aperfeiçoamento profissional” e regime


remuneratório de subsídio - ADI 7.271/AP..........................................................57

Nulidade do vínculo de servidor estadual com a Administração Pública mineira e


pagamento de férias-prêmio - RE 1.400.775/MG (Tema 1.239 RG)...................58

Reajuste de proventos e pensões de servidores públicos federais e seus dependentes pelo


mesmo índice do RGPS - RE 1.372.723/RS (Tema 1.224 RG)............................58

Regime de subsídios da carreira de policial rodoviário federal - ADI 5.404/DF59

Servidores públicos estaduais e municipais: filho com deficiência e jornada reduzida - RE


1.237.867/SP (Tema 1.097 RG).............................................................................60

Terço constitucional de férias: incidência sobre a remuneração relativa à totalidade do


período de duração do descanso previsto em lei - RE 1.400.787/CE (Tema 1.241 RG)
................................................................................................................................60

1.22 PODER REGULAMENTAR.................................................................................61

Estatuto do Desarmamento e sua regulamentação mediante decreto presidencial - ADC 85


MC-Ref/DF............................................................................................................61

1.23 PORTE DE ARMA DE FOGO; CONDIÇÕES E REQUISITOS..........................62

Porte de armas para policiais civis aposentados e previsão de condições específicas em


decreto estadual - ADI 7.024/PR...........................................................................62

2. DIREITO AGRÁRIO............................................................................................................62

2.1 POLÍTICA AGRÍCOLA; AGRICULTURA FAMILIAR; PROGRAMAS ASSISTENCIAIS;


FOMENTO EMERGENCIAL.........................................................................................................62

Covid-19: socorro financeiro a agricultores familiares em virtude dos impactos


socioeconômicos decorrentes da pandemia - ADPF 968 MC/DF.......................62

3. DIREITO AMBIENTAL.......................................................................................................63

3.1 ATIVIDADE MINERÁRIA...................................................................................63

Cobrança de indenização monetária pelos danos causados ao meio ambiente para a


exploração mineral no âmbito estadual - ADI 4.031/PA.....................................63

14
3.2 FAUNA E FLORA.................................................................................................64

Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável da Pesca em âmbito estadual e


proibição da pesca de arrasto motorizado no mar territorial costeiro - ADI 6.218/RS
................................................................................................................................64

3.3 FUNDO AMAZÔNIA............................................................................................65

Omissão estatal na proteção da Amazônia Legal - ADO 59/DF.........................65

3.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL.......................................................................66

Imposição de obrigatoriedade para as concessionárias de serviços de telecomunicações em


âmbito estadual - ADI 7.321/AL...........................................................................66

3.5 ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS.......................................67

Lei da Biossegurança: normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades


relacionadas a organismos geneticamente modificados e seus derivados - ADI 3.526/DF
................................................................................................................................67

3.6 ÓRGÃOS AMBIENTAIS......................................................................................67

Conama: regras sobre composição, funcionamento e processo decisório - ADPF 623/DF


................................................................................................................................67

4. DIREITO CIVIL....................................................................................................................68

4.1 FAMÍLIA................................................................................................................68

Coleta e arquivamento de material genético de nascituros e parturientes sem prévio


consentimento - ADI 5.545/RJ..............................................................................68

5. DIREITO CONSTITUCIONAL..........................................................................................70

5.1 ADVOCACIA PÚBLICA......................................................................................70

Criação de cargo de advogado em entidade pública fora da estrutura da Procuradoria do


Estado - ADI 7.380/AM.........................................................................................70

Poderes Judiciário e Legislativo estaduais: representação judicial extraordinária e


atribuições do Procurador-Geral da Assembleia Legislativa e dos consultores jurídicos do
Poder Judiciário - ADI 6.433/PR..........................................................................70

Procuradoria-Geral do estado: possibilidade de apenas os membros da carreira assumirem


o cargo de Procurador-Geral - ADI 3.056/RN.....................................................71

Vinculação da Assessoria Jurídica estadual à respectiva Procuradoria-Geral - ADI


6.500/RN................................................................................................................72

5.2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE.....................................................73

Coisa julgada em matéria tributária: limites de sua eficácia temporal quando derivada de
relação jurídica de trato continuado - RE 955.227/BA (Tema 885 RG) e RE 949.297/CE
(Tema 881 RG).......................................................................................................73

Constitucionalidade de dispositivos da Lei da ADPF - ADI 2.231/DF...............74

15
(In)constitucionalidade de dispositivos do Código de Processo Civil de 2015 - ADI
5.492/DF e ADI 5.737/DF.....................................................................................74

Lei 9.868/1999 e o rito de processamento das ADI e ADC: princípios do contraditório e da


ampla defesa e modulação de efeitos nas ações de controle concentrado de
constitucionalidade - ADI 2.154/DF e ADI 2.258/DF.........................................76

5.3 DEFENSORIA PÚBLICA......................................................................................77

Defensoria Pública: autonomia administrativa e determinação judicial para o


preenchimento de cargo de defensor em localidades desamparadas - RE 887.671/CE
(Tema 847 RG).......................................................................................................77

Defensoria Pública: lei estadual que fixa critérios de desempate para a promoção e a
remoção com base na antiguidade - ADI 7.317/RS.............................................77

Defensoria Pública: pagamento de honorários sucumbenciais em litígio com ente público


ao qual vinculada - RE 1.140.005/RJ (Tema 1.002 RG)......................................78

Requisição de instauração de inquérito policial pela Defensoria Pública - ADI 4.346/MG


................................................................................................................................79

5.4 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS..................................................80

Direito da gestante contratada por prazo determinado ou ocupante de cargo em comissão à


licença-maternidade e à estabilidade provisória - RE 842.844/SC (Tema 542 RG)80

EC 45/2004: incidente de deslocamento de competência nas hipóteses de grave violação de


direitos humanos - ADI 3.486/DF e ADI 3.493/DF.............................................81

Implementação de políticas públicas pelo Poder Judiciário para garantir o direito à saúde
- RE 684.612/RJ (Tema 698 RG)..........................................................................81

Liberdade de expressão e proibição de manifestação pública de militar contra atos de


superiores ou resoluções do Governo - ADPF 475/DF........................................82

População em situação de rua no Brasil e estado de coisas inconstitucional - ADPF 976


MC-Ref/DF............................................................................................................83

Proibição da divulgação de assuntos funcionais por advogados públicos federais - ADI


4.652/DF................................................................................................................85

Proteção do meio ambiente: atividade garimpeira e presunções de legalidade da origem do


ouro comercializado e da boa-fé da instituição adquirente - ADI 7.273 MC-Ref/DF e ADI
7.345 MC-Ref/DF..................................................................................................86

Segurado de plano de saúde e valores recebidos para custear direitos fundamentais de


natureza essencial - RE 1.319.935 AgR-ED/SP...................................................86

Sistema prisional brasileiro: estado de coisas inconstitucional decorrente da violação


grave e massiva de direitos fundamentais - ADPF 347/DF.................................87

Supressão de indicadores de feminicídios e letalidade policial do Plano Nacional de


Segurança Pública e Defesa Social - ADI 7.013/DF...........................................88

5.5 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL.............................................................89

Covid-19: prorrogação do prazo de vigência de medidas do Programa Emergencial de


Manutenção do Emprego e da Renda - ADI 6.662/DF........................................89

16
5.6 MAGISTRATURA.................................................................................................89

Aposentadoria compulsória de magistrados - ADI 5.430/DF..............................89

Escalonamento dos valores dos subsídios de magistrados estaduais - ADI 4.216/TO


................................................................................................................................90

Submissão dos magistrados ao Regime de Previdência Social comum aos servidores


públicos - ADI 3.308/DF, ADI 3.363/DF, ADI 3.998/DF, ADI 4.802/DF e ADI 4.803/DF
................................................................................................................................90

Vinculação de remunerações aos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal -


ADI 7.264/TO.........................................................................................................91

5.7 MEDIDA PROVISÓRIA........................................................................................92

ICMS: vigência e eficácia da majoração de alíquotas e observância do princípio


constitucional tributário da anterioridade anual - ADI 7.375/TO.......................92

5.8 MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS


93

Aproveitamento de policiais militares da reserva para a realização de tarefas específicas


por prazo certo - ADI 3.663/MA...........................................................................93

Justiça Militar: competência para decretar a perda de posto, patente ou graduação de


militar estadual em decorrência de sentença condenatória - ARE 1.320.744/DF (Tema
1.200 RG)...............................................................................................................94

Servidores públicos militares em âmbito estadual: regime previdenciário e exigência de lei


específica - ADI 5.154/PA.....................................................................................94

5.9 MINISTÉRIO PÚBLICO.......................................................................................95

Ministério Público: lei estadual que fixa critérios de desempate para a promoção e a
remoção com base na antiguidade - ADI 7.283/MG............................................95

Participação do Ministério Público em operações policiais de cumprimento de medidas


possessórias de caráter coletivo - ADI 3.238/PE..................................................96

Remoção por permuta nacional com membros vitalícios do MP de outras unidades da


Federação - ADI 6.780/RN...................................................................................97

5.10 MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS......................97

Regulamentação da escolha do Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal


de Contas estadual - ADI 4.427/AM.....................................................................97

5.11 PACTO FEDERATIVO.........................................................................................98

Placas de Identificação de Veículos do Brasil: credenciamento para a contratação dos


serviços de fabricação e de estampagem - ADI 6.313/DF....................................98

Regime de Recuperação Fiscal dos estados e do Distrito Federal – ADI 6.892/RJ98

5.12 PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO.........................................................99

Proteção integral dos territórios com presença de Povos Indígenas Isolados e de Recente
Contato (PIIRC) - ADPF 991 MC-Ref/DF..........................................................99

17
5.13 PODER EXECUTIVO..........................................................................................101

Decreto Presidencial e regulamentação do Estatuto do Desarmamento - ADI 6.119/DF,


ADI 6.139/DF, ADI 6.466/DF, ADI 6.134 MC/DF, ADI 6.675 MC/DF, ADI 6.676 MC/DF,
ADI 6.677 MC/DF, ADI 6.680 MC/DF, ADI 6.695 MC/DF, ADPF 581 MC/DF e ADPF
586 MC/DF..........................................................................................................101

5.14 PODER JUDICIÁRIO..........................................................................................103

Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania: facultatividade de representação


por advogado ou defensor público - ADI 6.324/DF...........................................103

Cláusula de reserva de plenário e aplicabilidade do art. 15 do Código Florestal - ARE


1.287.076 AgR/SP................................................................................................103

Pagamento de auxílio a membros do Poder Judiciário estadual - ADI 5.407/MG104

Sistema Eletrônico de Execução Unificado: tramitação eletrônica de execução penal


instituída pelo Conselho Nacional de Justiça - ADI 6.259/DF.........................104

5.15 PODER LEGISLATIVO......................................................................................105

Extensão das imunidades dos parlamentares federais aos estaduais - ADI 5.824/RJ e ADI
5.825/MT..............................................................................................................105

Ordem dos Advogados do Brasil e dever de prestar contas ao Tribunal de Contas da União
- RE 1.182.189/BA (Tema 1.054 RG).................................................................106

5.16 PRECATÓRIOS; REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR................................107

RPV e autonomia dos estados e municípios - ADI 5.421/DF............................107

Sequestro de verbas públicas para pagamento de crédito a portador de moléstia grave sem
a observância da regra dos precatórios - RE 840.435/RS (Tema 598 RG).......108

Sequestro de verbas públicas para pagamento de precatórios anteriores à EC 62/2009 - RE


659.172/SP (Tema 519 RG).................................................................................108

Utilização de depósitos judiciais para pagamentos de precatórios em atraso - ADI


5.679/DF..............................................................................................................109

5.17 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS....................................................................110

Agências reguladoras: vedação do exercício de outras atividades profissionais por seus


servidores efetivos - ADI 6.033/DF.....................................................................110

Fiscalização de recursos do Fundo Penitenciário por tribunal de contas estadual - ADI


7.002/PR...............................................................................................................110

Pensão especial a dependentes de prefeitos e vice-prefeitos falecidos no exercício do


mandato - ADPF 783/ES.....................................................................................111

5.18 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.............................................112

Acesso restrito aos processos do Sistema Eletrônico de Informações da Polícia Federal -


ADPF 872/DF......................................................................................................112

5.19 PROCESSO LEGISLATIVO...............................................................................112

18
Emenda parlamentar em projeto de iniciativa do chefe do Poder Executivo estadual: Plano
de Cargos, Carreira e Remunerações dos servidores da educação básica roraimense - ADI
6.091/RR...............................................................................................................112

Municípios: criação, incorporação, fusão ou desmembramento - ADPF 819/MT113

Proposta de lei orçamentária estadual: deliberação popular mediante consulta direta - ADI
2.037/RS...............................................................................................................114

5.20 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO.......................................................................114

Critérios de rateio dos recursos do Fundo de Participação dos Estados e do DF - ADI


5.069/DF..............................................................................................................114

Orçamento secreto: uso de emendas do relator para inclusão de novas despesas no projeto
de lei orçamentária anual da União - ADPF 850/DF, ADPF 851/DF, ADPF 854/DF e
ADPF 1.014/DF...................................................................................................115

5.21 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA..........................................................116

Prestação de serviços de arrecadação e movimentação de recursos financeiros por


instituições financeiras privadas constituídas no País sob controle estrangeiro - ADI
3.565/MT..............................................................................................................116

5.22 ORDEM SOCIAL.................................................................................................117

Beneficiários de programas de transferência de renda: autorização para contratação e


ampliação da margem de crédito - ADI 7.223/DF.............................................117

Demarcação de terras tradicionalmente indígenas: desnecessidade de um marco temporal


como parâmetro à declaração do direito originário territorial - RE 1.017.365/SC (Tema
1.031 RG).............................................................................................................118

Validade do programa Bolsa Aluguel no Estado do Amapá - ADI 4.727/DF. .119

5.23 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO..........................................................................121

Titularidade da União sobre bens localizados em zonas sob a influência das marés - ADPF
1.008/DF..............................................................................................................121

5.24 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES.....................................................................121

Assembleia Legislativa: eleição para o cargo isolado de vice-governador em caso de


vacância - ADI 999/AL........................................................................................121

Instituição do abono de permanência em atividade para magistrados do estado - ADI


2.952/RJ...............................................................................................................122

Remoção entre juízes vinculados a tribunais de justiça distintos - ADI 6.782/RN122

Vinculação da remuneração dos deputados estaduais aos valores pagos aos deputados
federais - ADI 6.545/DF......................................................................................123

5.25 REPARTIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES ADMINISTRATIVAS..............................124

Oferta de cursos técnicos por instituições privadas de ensino superior - ADI 7.327/DF
..............................................................................................................................124

5.26 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS...............................................................124

19
Agentes penitenciários: concessão de porte de arma de fogo por norma estadual - ADI
5.076/RO..............................................................................................................124

Atendimento ao consumidor em âmbito estadual: fixação de tempo limite de espera - ADI


2.879/SC...............................................................................................................125

Bombeiros militares voluntários: competência para realizar vistorias e fiscalizações quanto


ao cumprimento de normas de segurança nos municípios - ADI 5.354/SC......126

Cadastro estadual de usuários e dependentes de drogas - ADI 6.561/TO.........127

Cobradores de transporte coletivo e garantia de trabalho em face da automação - ADI


3.899/DF..............................................................................................................127

Competência da União para legislar sobre contrato de aprendizagem - ADI 3.093/RJ


..............................................................................................................................128

Cômputo de gastos previdenciários como despesas com manutenção e desenvolvimento do


ensino - ADI 6.412/PE.........................................................................................128

Concessão de áreas estaduais para exploração de atividades de ecoturismo e extração


comercial de madeira e subprodutos florestais - ADI 7.008/SP........................129

Constitucionalidade do Estatuto Geral das Guardas Municipais - ADI 5.780/DF130

Contratos de operação de crédito: exigência da assinatura física de idosos e proteção ao


consumidor - ADI 7.027/PB................................................................................131

Corpo de Bombeiros Militar: realização de perícia de incêndios e explosões - ADI


2.776/ES...............................................................................................................132

Criação de Grupos de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaecos) por leis
estaduais - ADI 2.838/MT e ADI 4.624/TO........................................................132

Criação de parcerias público-privadas para a execução de obras públicas em âmbito


municipal - ADPF 282/RO..................................................................................133

Criação de salas de descompressão para profissionais de enfermagem em hospitais - ADI


6.317/SP...............................................................................................................133

Empresas industriais do setor têxtil: obrigação de colocar etiquetas em braile nas peças de
vestuário em âmbito estadual - ADI 6.989/PI....................................................134

Energia elétrica: obrigatoriedade das concessionárias estaduais de expedirem notificação


pessoal para a realização de vistoria - ADI 3.703/RJ........................................135

Implantação e compartilhamento de infraestrutura de telecomunicações em âmbito


municipal - ADPF 1.031/DF...............................................................................135

Instalação e o funcionamento de equipamentos de telefonia: criação de taxa de


fiscalização em âmbito municipal - ADPF 1.063/SP.........................................136

Instituição, mediante lei estadual, do feriado comemorativo do “Dia de São Jorge” - ADI
4.092/RJ...............................................................................................................136

Isenção de tarifa de energia elétrica em âmbito estadual aos consumidores atingidos por
enchentes - ADI 7.337 MC-Ref/MG...................................................................137

20
Lei estadual e proibição da instalação de usinas hidrelétricas sobre o Rio Cuiabá - ADI
7.319/MT..............................................................................................................137

Lei estadual e regras sobre edificação e ampliação de presídios locais - ADI 2.402/ES
..............................................................................................................................138

Lei estadual que proíbe a fabricação, venda e comercialização de armas de fogo de


brinquedo - ADI 5.126/SP...................................................................................138

Leis estaduais sobre associações de socorro mútuo e associações e cooperativas de


autogestão de planos de proteção contra riscos patrimoniais – ADI 6.753/GO e ADI
7.151/RJ...............................................................................................................139

Lei municipal: proibição de nepotismo e celebração de contratos com agentes públicos


municipais - RE 910.552/MG (Tema 1.001 RG)................................................140

Normas de proteção a consumidores filiados a associações de socorro mútuo em âmbito


estadual - ADI 7.099/MG....................................................................................140

Obrigações contratuais de operadoras de plano de saúde em relação a pessoas com


deficiência em âmbito estadual - ADI 7.208/MT................................................141

Órgãos de segurança pública estadual e possibilidade de alienação de armas de fogo a


seus integrantes mediante venda direta - ADI 7.004/AL...................................142

Previsão de parcelamento de multas de trânsito e pagamento de débitos com cartões de


crédito em âmbito distrital - ADI 6.578/DF........................................................143

Proibição de destruição e inutilização de bens apreendidos em operações de fiscalização


ambiental - ADI 7.203/RO...................................................................................143

Proibição de pulverização aérea de agrotóxicos no âmbito estadual - ADI 6.137/CE


..............................................................................................................................144

Proibição de soltura de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos que produzem estampido


em âmbito municipal - RE 1.210.727/SP (Tema 1.056 RG)..............................145

Proibição do uso de “linguagem neutra” nas escolas e em editais de concursos públicos -


ADI 7.019/RO......................................................................................................146

Regras relativas ao processo e julgamento de impeachment do governador - ADI 3.466/DF


..............................................................................................................................146

Regulamentação das condições e percentuais mínimos de servidores de carreira para


cargos comissionados - ADO 44/DF...................................................................147

Repartição de competências atinente ao serviço postal em caixas comunitárias - ADI


3.081/RJ...............................................................................................................148

Segurança veicular e atribuições de fiscalização do DETRAN - ADI 6.597/RJ149

Serventias extrajudiciais: regras atinentes ao concurso para ingresso na carreira notarial


por lei estadual - ADPF 209/SP..........................................................................149

Serviço de telefonia: garantia de sinal de celular em passagem subterrânea de trânsito no


âmbito estadual - ADI 7.404/RJ..........................................................................150

Vagas para alunos com deficiência em escola pública mais próxima de sua residência -
ADI 7.028/AP.......................................................................................................151

21
Vigilantes de empresas de segurança privada: concessão de porte de arma de fogo por lei
estadual - ADI 7.252/TO.....................................................................................152

5.27 SEGURANÇA PÚBLICA....................................................................................152

Reconhecimento das guardas municipais como órgão de segurança pública - ADPF


995/DF.................................................................................................................152

5.28 SERVIDORES PÚBLICOS..................................................................................153

Aposentadoria compulsória: fixação de idade e eficácia temporal - ADI 5.378/DF


..............................................................................................................................153

Plantão laborado por policiais civis: programa de jornada extra de segurança com
contraprestação pecuniária por valor previamente estipulado - ADI 7.356/PE154

Salário-esposa concedido a servidores casados por meio de leis municipal e estadual -


ADPF 860/SP e ADPF 879/SP...........................................................................154

5.29 SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS......................................................155

Condenação criminal transitada em julgado: possibilidade de nomeação e posse de


aprovados em concurso público - RE 1.282.553/RR (Tema 1.190 RG)............155

5.30 TRIBUNAL DE CONTAS...................................................................................156

Exercício da função de judicatura de contas por Tribunal de Contas estadual: observância


da estrutura sistêmica constitucional da atividade de controle - ADI 5.530/MS156

5.31 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO.......................................................................157

Socorro financeiro destinado ao setor cultural e de eventos: inércia do Poder Executivo e


necessidade de prorrogação da execução orçamentária - ADI 7.232 TPI-Ref/DF157

5.32 VINCULAÇÃO REMUNERATÓRIA................................................................158

Vinculação da remuneração do Ministério Público com a da Magistratura - ADI 570/PE


..............................................................................................................................158

6. DIREITO DO CONSUMIDOR..........................................................................................158

6.1 CONTRATOS DE CONSUMO...........................................................................158

Contrato de transporte aéreo internacional: má prestação do serviço, danos


extrapatrimoniais e legislação aplicável - RE 1.394.401/SP (Tema 1.240 RG) 158

7. DIREITO DO TRABALHO...............................................................................................159

7.1 EXECUÇÕES TRABALHISTAS........................................................................159

Criação, mediante lei, do Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas (Funget) - ADO
27/DF...................................................................................................................159

7.2 FORMAÇÃO TÉCNICA E PROFISSIONAL; PROGRAMA JOVEM APRENDIZ


159

Programa Jovem Aprendiz: contratação de profissionais por empresas participantes no


âmbito estadual - ADI 7.148/RO.........................................................................159

22
7.3 NORMAS DE PROTEÇÃO AO TRABAHADOR.............................................160

Lei dos Caminhoneiros e condições de trabalho do motorista profissional rodoviário - ADI


5.322/DF..............................................................................................................160

7.4 REFORMA TRABALHISTA..............................................................................161

Reforma Trabalhista: possibilidade de acordo individual para adoção da jornada 12 por 36


horas - ADI 5.994/DF..........................................................................................161

Reforma trabalhista: regras para uniformização da jurisprudência na Justiça do


Trabalho - ADI 6.188/DF...................................................................................161

Reforma Trabalhista: tabelamento e limitação dos valores de indenização por danos


extrapatrimoniais oriundos da relação de trabalho - ADI 6.050/DF, ADI 6.069/DF e ADI
6.082/DF..............................................................................................................162

7.5 RESCISÃO TRABALHISTA..............................................................................163

Extinção de entidades da Administração Pública estadual e condicionamento, por decisão


judicial, à prévia conclusão de negociação coletiva - ADPF 486/RS................163

7.6 VERBAS REMUNERATÓRIAS, INDENIZATÓRIAS E BENEFÍCIOS..........164

Piso salarial nacional de enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem e parteira - ADI


7.222 MC-Ref-segundo/DF.................................................................................164

8. DIREITO ELEITORAL.....................................................................................................166

8.1 ELEIÇÕES INDIRETAS......................................................................................166

Dupla vacância na chefia do Poder Executivo: eleições indiretas e autonomia estadual


para estabelecer a respectiva solução normativa - ADPF 969/AL....................166

8.2 MANDATO..........................................................................................................167

Licença de deputado estadual para tratar de interesse particular e convocação de suplente


- ADI 7.253/AC....................................................................................................167

8.3 PROCESSO ELEITORAL...................................................................................168

Candidaturas femininas nas eleições proporcionais: punição no caso de fraudes e


limitação de seu alcance - ADI 6.338/DF...........................................................168

Candidaturas “sub judice” no sistema eleitoral proporcional e aproveitamento dos votos


pelos partidos políticos - ADI 4.513/DF, ADI 4.542/DF e ADPF 223/DF........169

Cláusula de desempenho individual e escolha de suplentes - ADI 6.657/DF...170

Gastos com publicidade institucional no primeiro semestre do ano eleitoral: alteração dos
critérios do cálculo da média e princípio da anterioridade eleitoral - ADI 7.178/DF e ADI
7.182/DF..............................................................................................................170

8.4 SISTEMA ELEITORAL PROPORCIONAL.......................................................171

Revisão periódica da proporcionalidade na relação deputado/população: omissão


legislativa do Congresso Nacional e sentença construtiva - ADO 38/DF.........171

23
9. DIREITO FINANCEIRO...................................................................................................172

9.1 CONTRATOS.......................................................................................................172

Plano de Auxílio aos estados e ao Distrito Federal: desistência e não ajuizamento de ações
judiciais como condição para a concessão e manutenção dos benefícios - ADI 7.168/DF
..............................................................................................................................172

9.2 FEDERALISMO FISCAL....................................................................................172

ICMS: efeitos da concessão de benefícios fiscais sobre o cálculo da parcela devida aos
municípios na repartição de receitas tributárias - RE 1.288.634/GO (Tema 1.172 RG)
..............................................................................................................................172

9.3 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS.......................................................173

LDO distrital: cálculo do limite da despesa total com pessoal para o exercício financeiro e
exclusão dos valores relativos aos contratos de terceirização de mão-de-obra - ADI 5.598
MC/DF.................................................................................................................173

Lei de Diretrizes Orçamentárias estadual: limitação das despesas previstas em folha


complementar pertencentes ao Poder Judiciário e ao Ministério Público e exigência de
participação conjunta - ADI 7.340 MC-Ref/CE.................................................174

9.4 REPASSE DE VERBAS PÚBLICAS..................................................................175

Complementação ao Fundef: pagamento de débito originado de erro no cálculo das verbas


a serem repassadas pela União e regime de precatórios - RE 635.347/DF (Tema 416 RG)
..............................................................................................................................175

9.5 RESPONSABILIDADE FISCAL........................................................................176

Adesão ao Regime de Recuperação Fiscal: regras de ajuste financeiro e restrições


temporárias aos entes aderentes - ADI 6.930/DF..............................................176

Criação de fundos destinados ao equilíbrio fiscal em âmbito estadual - ADI 5.635/DF


..............................................................................................................................177

Lei de Responsabilidade Fiscal e o limite de gastos com pessoal - ADC 69/DF178

10. DIREITO INTERNACIONAL...........................................................................................179

10.1 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL..................................................................179

Possibilidade da requisição direta de dados feita por autoridades nacionais a provedores


no exterior - ADC 51/DF.....................................................................................179

10.2 TRATADOS INTERNACIONAIS......................................................................180

Denúncia de tratados internacionais: necessidade da manifestação da vontade do


Congresso Nacional - ADC 39/DF....................................................................180

11. DIREITO PENAL................................................................................................................180

11.1 CRIMES CONTRA AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS...........................180

Atos criminosos de 8 de janeiro de 2023: competência jurisdicional do STF, crimes


multitudinários e concurso material de crimes contra as instituições democráticas - AP

24
1.060/DF..............................................................................................................180

11.2 DOSIMETRIA DA PENA....................................................................................182

Condenação do réu por maioria: participação dos ministros que votaram pela absolvição
na fase da dosimetria da pena - QO na AP 1.025/DF........................................182

11.3 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE......................................................................182

Causas de extinção e suspensão da punibilidade: abrandamento da responsabilização


penal decorrente da prática de crimes contra a ordem tributária – ADI 4.273/DF182

Decreto presidencial que concede graça: requisitos para sua validade e consonância com
os ditames constitucionais - ADPF 964/DF, ADPF 965/DF, ADPF 966/DF e ADPF
967/DF.................................................................................................................183

Termo inicial da prescrição executória estatal: a partir do trânsito em julgado para a


acusação ou para todas as partes - ARE 848.107/DF (Tema 788 RG).............184

11.4 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.................185

Crimes praticados contra mulher no âmbito doméstico e familiar: dano moral e fixação do
valor mínimo na sentença - ARE 1.369.282 AgR/SE.........................................185

Inconstitucionalidade da tese da “legítima defesa da honra” - ADPF 779/DF185

Lei Maria da Penha: obrigatoriedade de designação da audiência de retratação e do


comparecimento da vítima - ADI 7.267/DF.......................................................186

11.5 NORMA PENAL EM BRANCO.........................................................................187

Complementação de norma penal em branco por ato normativo estadual ou municipal -


ARE 1.418.846/RS (Tema 1.246 RG)..................................................................187

12. DIREITO PREVIDENCIÁRIO.........................................................................................188

12.1 APOSENTADORIA ESPECIAL.........................................................................188

Atividades de risco e aposentadoria especial com proventos calculados com base na


integralidade e paridade: direito de servidor público independentemente das regras das EC
41/2003 e 47/2005 - RE 1.162.672/SP (Tema 1.019 RG)...................................188

12.2 APOSENTADORIA POR INVALIDEZ..............................................................189

Aposentadoria por invalidez de pessoa com deficiência mental: análise da capacidade para
a prática de atos da vida civil e pagamento do benefício ao curador - RE 918.315/DF
(Tema 1.096 RG)..................................................................................................189

12.3 APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO................................189

Regime previdenciário de servidores estáveis nos termos do art. 19 do ADCT - RE


1.426.306/TO (Tema 1.254 RG)..........................................................................189

12.4 13º SALÁRIO.......................................................................................................190

13º salário e sua integração na base de cálculo de contribuições previdenciárias -


ADI 1.049/DF......................................................................................................190

12.5 REFORMA PREVIDENCIÁRIA.........................................................................191

25
Reforma previdenciária: critérios de cálculo para a pensão por morte - ADI 7.051/DF
..............................................................................................................................191

12.6 REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL............................................192

Sistema previdenciário estadual e participação do Ministério Público - ADI 4.824/PI


..............................................................................................................................192

Sistema previdenciário estadual e participação do Poder Judiciário - ADI 4.859/PI


..............................................................................................................................192

13. DIREITO PROCESSUAL CIVIL......................................................................................193

13.1 AÇÃO RESCISÓRIA...........................................................................................193

Cabimento de ação rescisória e efeitos do empate em julgamento de processo de extradição


- AR 2.921/DF......................................................................................................193

13.2 ASSOCIAÇÕES...................................................................................................194

Associações genéricas e inaplicabilidade do Tema 1.119 RG - ARE 1.339.496 AgR/RJ


..............................................................................................................................194

13.3 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.....................................................................195

Regime especial de pagamento de precatórios: sequestro de recursos financeiros estaduais


em razão de seu descumprimento - RE 597.092/RJ (Tema 231 RG)................195

13.4 EFETIVAÇÃO DOS JULGADOS.......................................................................196

Constitucionalidade da previsão de medidas atípicas para assegurar o cumprimento de


ordens judiciais - ADI 5.941/DF.........................................................................196

13.5 IMPEDIMENTOS................................................................................................197

Código de Processo Civil: regra sobre impedimentos de juízes - ADI 5.953/DF197

13.6 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA......................................................................197

Competência para julgar ação em que servidor celetista pleiteia parcela de natureza
administrativa - RE 1.288.440/SP (Tema 1.143 RG).........................................197

13.7 PARTES E PROCURADORES...........................................................................198

Honorários advocatícios contratuais: pagamento com verbas do FUNDEF/FUNDEB e


natureza jurídica autônoma dos juros moratórios - RE 1.428.399/PE (Tema 1.256 RG)
..............................................................................................................................198

14. DIREITO PROCESSUAL PENAL....................................................................................199

14.1 EXECUÇÃO PENAL...........................................................................................199

Art. 127 da LEP: perda de dias remidos por falta grave e revisão ou cancelamento do
enunciado da súmula vinculante 9 - RE 1.116.485/RS (Tema 477 RG)...........199

14.2 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL............................................................................200

26
Resolução do CNMP: utilização das interceptações telefônicas no âmbito do Ministério
Público - ADI 5.315/DF......................................................................................200

14.3 JUIZ DAS GARANTIAS.....................................................................................200

Lei Anticrime e alterações no CPP: juiz das garantias, procedimento de arquivamento do


inquérito policial, acordo de não persecução penal, obrigatoriedade de realização da
audiência de custódia no prazo de 24 horas e revogação automática de prisão - ADI
6.298/DF, ADI 6.299/DF, ADI 6.300/DF e ADI 6.305/DF...............................200

14.4 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA......................................................................204

Competência do TJDFT para julgar “habeas corpus” contra ato de autoridades locais -
ADI 5.278/DF......................................................................................................204

Investigação de agentes com foro privilegiado perante o respectivo Tribunal de Justiça:


necessidade de prévia autorização judicial para a instauração - ADI 7.447 MC-Ref/PA
..............................................................................................................................204

14.5 PRISÃO ESPECIAL.............................................................................................205

Prisão especial aos portadores de diploma de curso superior - ADPF 334/DF205

14.6 PRISÃO PREVENTIVA......................................................................................206

Prisão preventiva: incompatibilidade de sua manutenção com a fixação de regime distinto


do fechado em sentença condenatória - HC 214.070 AgR/MG.........................206

14.7 PROVAS...............................................................................................................206

Operação Spoofing: destruição de material probatório apreendido a partir de invasões de


dispositivos eletrônicos de autoridades públicas, na posse de “hackers” presos na Polícia
Federal - ADPF 605 MC-Ref/DF.......................................................................206

14.8 QUESTÃO DE ORDEM......................................................................................207

Fatos supervenientes e possibilidade da apresentação do voto do ministro sucessor - QO no


INQ 3.515/DF......................................................................................................207

14.9 TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO)............................207

Polícia Rodoviária Federal e a possibilidade de lavrar termo circunstanciado em casos de


crime federal de menor potencial ofensivo - ADI 6.245/DF e ADI 6.264/DF. .207

15. DIREITO TRIBUTÁRIO...................................................................................................208

15.1 CONSELHOS DE CLASSE.................................................................................208

Interdição profissional e exercício da capacidade eleitoral em face da inadimplência de


anuidades - ADI 7.020/DF..................................................................................208

15.2 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS..............................................................................209

Art. 25 da Lei 8.870/1994 e contribuição à seguridade social devida pelo produtor rural
pessoa jurídica - RE 700.922/RS (Tema 651 RG)..............................................209

Exigibilidade do PIS e da COFINS sobre as receitas financeiras das instituições


financeiras - RE 609.096/RS (Tema 372 RG), RE 1.250.200/SP e RE 880.143/MG
..............................................................................................................................210

27
Incidência da contribuição destinada ao SENAR sobre a receita bruta da comercialização
da produção rural - RE 816.830/SC (Tema 801 RG).........................................211

PIS e COFINS: alcance da decisão que entendeu pela inconstitucionalidade da inclusão


do ICMS em suas bases de cálculo - RE 1.452.421/PE (Tema 1.279 RG)........212

PIS/PASEP e COFINS incidentes sobre receitas financeiras: restabelecimento de


alíquotas mediante decreto presidencial e princípio da anterioridade nonagesimal - ADC
84 MC-Ref/DF.....................................................................................................212

PIS/PASEP e COFINS: majoração indireta da carga tributária e imposição de


observância da regra da anterioridade nonagesimal - RE 1.390.517/PE (Tema 1.247 RG)
..............................................................................................................................213

15.3 CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS..........................................................214

Contribuição previdenciária sobre a receita bruta do comércio da produção agroindustrial


- RE 611.601/RS (Tema 281 RG)........................................................................214

Majoração de alíquota de contribuição previdenciária de servidores públicos estaduais -


ADI 2.521/PE.......................................................................................................215

Majoração escalonada de alíquota de contribuição previdenciária de servidores públicos


ativos, inativos e pensionistas, e de militares no âmbito estadual - ADI 5.944/CE215

15.4 CRÉDITO TRIBUTÁRIO....................................................................................216

Prescrição intercorrente tributária e prazo de um ano de suspensão da execução fiscal -


RE 636.562/SC (Tema 390 RG)..........................................................................216

Restituição administrativa de indébito reconhecido na via judicial: necessidade de


observância do regime constitucional de precatórios - RE 1.420.691/SP (Tema 1.262 RG)
..............................................................................................................................217

15.5 IMPOSTOS...........................................................................................................217

Cobrança de ICMS para operações internas em âmbito estadual: concessão de benefício


fiscal em função da origem da mercadoria - ADI 5.363/MG............................217

Diferencial de alíquotas de ICMS e critérios para a definição do localda operação ou da


prestação e do estabelecimento responsável pelo recolhimento - ADI 7.158/DF218

Direito a crédito de ICMS requerido por distribuidora de combustíveis nas operações com
diferimento do pagamento do tributo - RE 781.926/GO (Tema 694 RG)..........218

Incidência de ISS sobre cessão de direito de uso de espaços em cemitérios


para sepultamento - ADI 5.869/DF.....................................................................219

IOF: incidência em contratos de mútuo sem participação de instituições financeiras - RE


590.186/RS (Tema 104 RG).................................................................................220

ISS: incidência sobre atividades de franquia postal - ADI 4.784/DF...............220

ISS: incidência sobre atividades relativas à hospedagem - ADI 5.764/DF.......221

ISS: modificação do local de incidência tributária para serviços de planos de saúde e


financeiros - ADI 5.835/DF, ADI 5.862/DF e ADPF 499/DF...........................221

28
Lei municipal e cobrança do IPTU: delegação à esfera administrativa da avaliação
individualizada de imóvel novo não previsto na Planta Genérica de Valores à época do
lançamento do imposto - ARE 1.245.097/PR (Tema 1.084 RG)........................222

Leis Complementares 192/2022 e 194/2022: STF e autocomposição federativa referente à


fixação de alíquotas do ICMS incidentes sobre combustíveis - ADPF 984/DF e ADI 7.191
2º JULG/DF.........................................................................................................223

Operações com energia elétrica: inclusão da TUSD e TUST na base de cálculo do ICMS e
competência legislativa - ADI 7.195 MC-Ref/DF..............................................223

Redução da alíquota do ICMS nas operações com cerveja acrescida de suco de


laranja - ADI 7.374/SE........................................................................................224

Taxa municipal de fiscalização do funcionamento de postes de transmissão de energia -


ADPF 512/DF......................................................................................................225

Zona Franca de Manaus e determinação do encerramento do diferimento ou da suspensão


do ICMS devido na compra de combustíveis por meio de Convênio do Confaz - ADI
7.036/DF..............................................................................................................225

15.6 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA..............................................................................226

“Trading companies”: venda do serviço de frete e imunidade tributária - RE 1.367.071


AgR-EDv/PR........................................................................................................226

15.7 SANÇÕES TRIBUTÁRIAS.................................................................................227

Débito tributário: multa isolada pela não homologação de declaração de compensação -


ADI 4.905/DF......................................................................................................227

Multa automática pela simples negativa do pedido de compensação tributária - RE


796.939/RS (Tema 736 RG).................................................................................227

29
1. DIREITO ADMINISTRATIVO

1.1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Imprescritibilidade de pretensão de ressarcimento ao erário decorrente de exploração irregular do


patrimônio mineral da União - RE 1.427.694/SC (Tema 1.268 RG)

ODS: 12, 15 e 16

Tese fixada:
“É imprescritível a pretensão de ressarcimento ao erário decorrente da exploração irregular do
patrimônio mineral da União, porquanto indissociável do dano ambiental causado.”

Resumo:
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário, decorrentes de lavra mineral efetuada em
desacordo com a licença concedida, tendo em conta a degradação ambiental e a especial proteção
constitucional atribuída ao meio ambiente e aos recursos minerais.
Os danos ambientais não correspondem a mero ilícito civil, de modo que merecem destacada atenção em
benefício de toda a coletividade. Assim, prevalecem os princípios constitucionais de proteção, preservação e
reparação do meio ambiente.
Ademais, os interesses coletivos envolvidos ultrapassam gerações e fronteiras, de forma que não devem
sofrer limites temporais à sua proteção.
Nesse contexto, o entendimento desta Corte é que, existindo ilícito indissociável da reparação por dano
ambiental, não se aplica a tese firmada ao julgamento do RE 669.069/MG (Tema 666 RG), mas a fixada no exame
do RE 654.833/AC (Tema 999 RG).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.268 da repercussão geral) e reafirmou a jurisprudência dominante sobre
a matéria 1para dar provimento ao recurso extraordinário e, por conseguinte, afastar a prescrição e determinar a
devolução dos autos ao Juízo de origem para que prossiga no exame da causa.

RE 1.427.694/SC, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 1º.9.2023 (sexta-feira)

1.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Norma estadual que restringe a participação de auditor substituto no Órgão Pleno do Tribunal de
Contas Estadual - ADI 5.689/RJ

Resumo:
É inconstitucional — por violar os arts. 73, § 4º e 75, “caput”, da CF/1988 2 — norma estadual que
veda a participação concomitante de mais de um auditor substituto no Órgão Pleno do Tribunal de Contas do
Estado do Rio de Janeiro.
A norma impugnada cria situação jurídica material na qual se cerceia o direito constitucional dos auditores
substitutos de atuarem como Conselheiros do Tribunal de Contas, a partir de uma imposição que sequer o próprio
Constituinte originário chegou a disciplinar no texto constitucional. Nesse contexto, a regular atuação do órgão
fiscalizador é obstaculizada3.

1
Precedentes citados: RE 1.287.474 AgR; RE 1.325.101 AgR; ARE 1.333.352 AgR; RE 1.352.874 AgR e RE 1.408.464 AgR.
2
CF/1988: “Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio
de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96. (...) § 4º O
auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das
demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional Federal. (...) Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção
aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.”
3
Precedente citado: ADI 4.416.

30
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação direta para declarar a
inconstitucionalidade do parágrafo 3º do art. 76-A da Lei Complementar 63/1990 do Estado do Rio de Janeiro 4.

ADI 5.698/RJ, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 14.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

1.3 AGÊNCIAS REGULADORAS

Competência normativa da ANTT - ADI 5.906/DF

Resumo:
O exercício da atividade regulatória da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) —
especialmente as disposições normativas que lhe conferem competência para definir infrações e impor
sanções e medidas administrativas aplicáveis aos serviços de transportes — deve respeitar os limites para a
sua atuação definidos no ato legislativo delegatório emanado pelo Congresso Nacional.
Exige-se que o ato regulatório apresente uma correspondência direta com diretrizes e propósitos firmados
em lei ou na própria Constituição Federal 5. Assim, as agências reguladoras não podem, no exercício de seu poder
normativo, inovar primariamente a ordem jurídica sem expressa delegação, regulamentar matéria para a qual
inexista um prévio conceito genérico em sua lei instituidora, assim como criar ou aplicar sanções não previstas em
lei.
Contudo, isso não impede que os regulamentos emanados das agências reguladoras inovem, acrescentando
e complementando, desde que seu conteúdo normativo não traduza desbordamento dos limites que lhe foram
delegados.
Nesse contexto, os parâmetros fixados na Lei 10.233/2001 são capazes de dar sustentação jurídica à
Resolução 233/2003 da Diretoria-Geral da ANTT, pois as disposições desse ato normativo infralegal obedecem às
diretrizes legais, na medida em que protegem os interesses dos usuários, relativamente ao zelo pela qualidade e pela
oferta de serviços de transportes que atendam a padrões de eficiência, segurança, conforto, regularidade,
pontualidade e modicidade das tarifas.
Ademais, a cominação das penas (todas de multa) não ultrapassa os parâmetros estabelecidos na lei, razão
pela qual inexiste, na espécie, afronta aos princípios da separação dos Poderes, da legalidade e dos demais fixados
para a Administração Pública.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação direta para declarar a
constitucionalidade do art. 24, XVIII, e do art. 78-A, ambos da Lei 10.233/2001 6.

ADI 5.906/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgamento
virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

4
Lei Complementar 63/1990 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 76-A. Os Conselheiros, em suas ausências e impedimentos por
motivo de licença, férias ou outro afastamento legal, serão substituídos, mediante convocação do Presidente do Tribunal, pelos
auditores, observada a ordem de antiguidade no cargo, ou a maior idade, no caso de idêntica antiguidade. § 1º Os auditores serão
também convocados para substituir Conselheiros, para efeito de quórum, sempre que os titulares comunicarem ao Presidente do
Tribunal ou da Câmara respectiva, a impossibilidade de comparecimento à sessão. § 2º Em caso de vacância de cargo de
Conselheiro, o Presidente do Tribunal convocará auditor para exercer as funções inerentes ao cargo vago, até novo provimento,
observado o critério estabelecido no caput deste artigo. § 3º No órgão pleno do Tribunal, não poderá participar
concomitantemente mais de um auditor substituto, exceto no caso do auditor substituto compor definitivamente o corpo
deliberativo.”
5
Precedentes citados: ADI 4.093; ADI 4.954; RMS 28.487 e ADI 4.874
6
Lei 10.233/2001: “Art. 24. Cabe à ANTT, em sua esfera de atuação, como atribuições gerais: (...) XVIII – dispor sobre as
infrações, sanções e medidas administrativas aplicáveis aos serviços de transportes. (Incluído pela Lei nº 12.996, de 2014) (...)
Art. 78-A. A infração a esta Lei e o descumprimento dos deveres estabelecidos no contrato de concessão, no termo de permissão
e na autorização sujeitará o responsável às seguintes sanções, aplicáveis pela ANTT e pela ANTAQ, sem prejuízo das de
natureza civil e penal: I - advertência; II - multa; III – suspensão IV – cassação V - declaração de inidoneidade. VI - perdimento
do veículo. § 1º Na aplicação das sanções referidas no caput, a Antaq observará o disposto na Lei na qual foi convertida a Medida
Provisória nº 595, de 6 de dezembro de 2012. § 2º A aplicação da sanção prevista no inciso IV do caput, quando se tratar de
concessão de porto organizado ou arrendamento e autorização de instalação portuária, caberá ao poder concedente, mediante
proposta da Antaq. § 3º Caberá exclusivamente à ANTT a aplicação da sanção referida no inciso VI do caput.”

31
1.4 AGENTE PÚBLICOS

Pagamento de “indenização de representação” ao servidor público que exerce cargo em comissão no


âmbito do Poder Executivo estadual - ADI 7.440 MC-Ref/PA

ODS: 16

Resumo:
Encontram-se presentes os requisitos para a concessão de medida cautelar, pois (i) há plausibilidade
jurídica no direito alegado pelo requerente, visto que a lei estadual impugnada dispõe contrariamente à
jurisprudência desta Corte sobre o tema; e (ii) há perigo da demora na prestação jurisdicional, dada a
evidência de dano econômico de incerta ou de difícil reparação a ser suportado pelo estado mediante
pagamento de verbas de caráter alimentar.
Os valores recebidos a título de retribuição pelo desempenho de cargo comissionado no âmbito do Poder
Executivo ostentam natureza eminentemente remuneratória e, portanto, são computados para efeito dos limites do
teto remuneratório constitucional dos agentes públicos (CF/1988, art. 37, XI).
Conforme jurisprudência deste Tribunal7, para que um pagamento assuma natureza indenizatória, não basta
que a lei assim o defina, formalmente, sendo também necessário que a forma guarde mínima relação de
correspondência com o conteúdo.
Ademais, é inaplicável o Tema 377 da repercussão geral 8, pois a gratificação prevista na norma estadual
impugnada configura retribuição por uma função de maior relevância, ou mais específica, mas que não configura
propriamente uma acumulação de cargos ou funções.
Na espécie, não há evidência que permita conferir caráter indenizatório à chamada “ indenização de
representação”.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a liminar concedida para suspender
a eficácia da expressão “indenização de”, contida no art. 2º da Lei 9.853/2023 do Estado do Pará 9, bem como da
interpretação das expressões normativas remanescentes do mencionado artigo segundo a qual os valores pagos em
decorrência dele não se submetem ao teto remuneratório previsto no art. 37, XI, da CF/198810. A Corte ainda
atribuiu efeito ex nunc à decisão de modo a alcançar quaisquer pagamentos realizados a partir de sua publicação.

ADI 7.440 MC-Ref/PA, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 27.10.2023 (sexta-feira),
às 23:59

7
Precedentes citados: ADI 7.402 MC-Ref; RE 650.898 (Tema 484 RG) e MS 32.492 AgR.
8
Precedente citado: RE 612.975 (Tema 377 RG).
9
Lei 9.853/2023 do Estado do Pará: “Art. 2º O servidor público estatutário que mantém vínculo permanente com o Estado do
Pará, quando no exercício de cargo comissionado no âmbito do Poder Executivo Estadual, faz jus à indenização de representação
correspondente a 80% (oitenta por cento) da retribuição do cargo comissionado, observado o disposto no § 3º do art. 94 da Lei
Complementar Estadual 039, de 9 de janeiro de 2002. § 1º O sistema de remuneração previsto no caput deste artigo poderá ser
aplicado ao servidor público civil ou empregado público da Administração Pública Direta ou Indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, de quaisquer Poderes ou órgãos autônomos, cedido para o Estado do Pará, salvo quando o
cedente previr expressamente sobre a matéria. § 2º O disposto neste artigo aplica-se ao exercício dos cargos de agente político e
de dirigente de Autarquia e Fundação Pública. § 3º Sobre a vantagem prevista neste artigo, não haverá incidência de contribuição
previdenciária.”
10
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão
exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o
subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos
Procuradores e aos Defensores Públicos;”

32
1.5 ATOS ADMINISTRATIVOS

Instalação de lacres eletrônicos em tanques de postos de combustíveis - ADI 3.236/DF

ODS: 12

Resumo:
É inconstitucional — por violar os princípios da proporcionalidade, da igualdade e da razoabilidade
— lei distrital que obriga as distribuidoras de combustíveis a instalar, às suas expensas, lacres eletrônicos nos
tanques de armazenamento dos postos revendedores que exibem a sua marca, e dispensa dessa exigência os
postos de “bandeira branca” (não vinculados e sem compromisso firmado com determinada distribuidora).
A utilização da existência ou não da marca do distribuidor no posto de combustíveis como critério para
incidir ou não a mencionada obrigatoriedade configura ausência de adequação dos fins pretendidos pela norma
distrital impugnada e os meios apontados para atingi-los, revelando tratamento indevidamente desproporcional.
Impor a instalação de equipamento oneroso com aplicação de multa aos que descumprirem a norma e
liberar concorrentes que competem no mesmo ramo de atividade e se sujeitam ao mesmo órgão regulador —
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) — representa desequilíbrio na relação de
concorrência e evidente desigualdade de tratamento.
Por outro lado, inexiste a alegada inconstitucionalidade formal por suposta invasão de competência
privativa da União, pois a norma impugnada, ao dispor sobre obrigações na distribuição de combustíveis como
medida de proteção consumerista, trata de tema afeto à produção, consumo e responsabilidade por dano ao
consumidor 11, cuja competência é concorrente entre a União, estados e o Distrito Federal (CF/1988, art. 24, V e
VIII).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou inconstitucional a Lei distrital
3.228/200312. Registrou-se, ainda, que as normas dos arts. 1º e 2º do referido diploma legal determinam, por
arrastamento, a declaração de inconstitucionalidade das demais, por se tornarem ineficazes quando não inexequíveis
sem aqueles dispositivos.

11
Precedentes citados: ADI 1.980 e ADI 2.334.
12
Lei distrital 3.228/2003: “Art. 1º. Ficam as distribuidoras de combustíveis, no Distrito Federal, que possuam registro de
distribuidor e autorização para o exercício da atividade de distribuição de combustíveis, obrigadas a fornecer e instalar, às suas
expensas, nos tanques de armazenamento dos postos revendedores de combustíveis, lacres eletrônicos que controlem a abertura e
o fechamento dos tanques nos postos de combustíveis onde fazem a distribuição. § 1º. O disposto no caput aplica-se às
distribuidoras de combustíveis líquidos derivados de petróleo, álcool combustível e outros combustíveis automotivos. § 2º. O
disposto no caput somente se aplica aos postos de combustíveis que atendam ao público consumidor e que exibam a marca da
distribuidora. § 3º. Somente as distribuidoras de combustíveis poderão ter acesso à abertura e ao fechamento dos tanques de
armazenamento dos postos revendedores. § 4º. O lacre eletrônico conterá, no mínimo, um sistema de trava, que deverá ser
instalado no acesso dos tubos de carga dos tanques de armazenamento de combustível e que possa disponibilizar informações
sobre o acesso, observada a regulamentação pertinente. § 5º. O sistema de lacre eletrônico a ser instalado deverá possuir
certificado de conformidade, emitido por organismo credenciado pelo INMETRO. 2 § 6º. Deverá ser afixada, de forma clara e
ostensiva, para conhecimento dos consumidores, nos postos de abastecimento, placa informativa da exigência de lacre eletrônico
de segurança nos tanques de armazenamento do estabelecimento. Art. 2º. As distribuidoras assegurarão à administração dos
postos revendedores, a qualquer momento, o livre acesso à abertura e ao fechamento dos tanques, bastando que pessoa
credenciada previamente pelos postos solicite a providência, mediante justificação. § 1º. Para os efeitos do disposto no caput, as
distribuidoras manterão plantonistas, em número suficiente para o pronto atendimento da solicitação. § 2º. No caso de sinistro de
qualquer natureza pelo atraso injustificado no atendimento à solicitação, a distribuidora arcará com o ônus indenizatório pelos
danos provados. § 3º. As distribuidoras ficam obrigadas a dar imediato atendimento à solicitação de retirada do lacre eletrônico,
no caso de substituição por nova distribuidora contratada pelo posto revendedor, nos termos das disposições dos contratos de
distribuição e da legislação aplicável. Art. 3º. Ficarão a cargo das distribuidoras as providências necessárias à instalação dos
lacres eletrônicos e a responsabilidade pela fiscalização e controle de sua adequada utilização. § 1º. Fica assegurado às
distribuidoras acesso não permanente aos postos revendedores para revisão, fiscalização e manutenção periódica dos lacres
instalados. § 2º. No caso de violação, assim como no de recusa à instalação do lacre por parte do posto revendedor que exiba a
marca da distribuidora, a multa de que trata o art. 4º será aplicada ao posto de combustível. Art. 4º. O não-cumprimento desta Lei
sujeitará aos infratores à multa de R$ 10.640,00 (dez mil, seiscentos e quarenta reais) para cada auto-de-infração, aplicando-se o
dobro do valor em caso de reincidência. Art. 5º. As distribuidoras terão o prazo de 45 (quarenta e cinco dias) para instalar os
lacres eletrônicos em toda a rede de postos revendedores a que estejam vinculadas, a contar da publicação desta Lei. 3 Art. 6º. O
Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de trinta dias a contar de sua publicação. Art. 7º. Esta Lei entra em vigor na
data de sua publicação.”

33
ADI 3.236/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira), às
23:59

Tomada de Contas Especial: prazo prescricional para instauração pelo TCU - MS 36.990 AgR/DF

Resumo:
Com exceção do ressarcimento de valores pleiteados pela via judicial decorrentes da ilegalidade de
despesa ou da irregularidade de contas, as sanções administrativas aplicadas pelo Tribunal de Contas da
União (TCU) são prescritíveis, aplicando-se os prazos da Lei 9.873/1999.
Em regra, as ações de ressarcimento ao erário submetem-se à prescrição, salvo aquelas fundadas na prática
de ato doloso tipificado na Lei 8.429/1992 (vide Tema 897 RG). Isso inclui todas as demandas que envolvam a
pretensão estatal de ser ressarcido pela prática de qualquer ato ilícito, seja de natureza civil, administrativa ou penal,
ressalvadas as exceções constitucionais (CF/1988, art. 5º, XLII e XLIV) e, como dito, a prática de ato doloso de
improbidade administrativa (excluindo-se os atos ímprobos culposos, que se submetem à regra prescricional).
Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte repele a imprescritibilidade de pretensões punitivas do TCU 13,
de modo que a aplicabilidade de suas sanções administrativas sofre os efeitos fulminantes da passagem de tempo, de
acordo com os prazos previstos em lei. No caso, é regulada integralmente pela Lei 9.873/1999 14, que estabelece o
prazo de cinco anos da ação punitiva da Administração Pública federal, direta e indireta, no exercício do poder de
polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado 15.
Na espécie, a prescrição restou configurada, pois o impetrante teria praticado atos comissivos em
novembro de 2009. Em outubro de 2015, o TCU instaurou o processo de Tomada de Contas e a citação foi
devidamente cumprida em setembro de 2017, isto é, cerca de oito anos após a prática dos atos.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, negou provimento ao agravo regimental para
manter a decisão monocrática que declarou a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva do TCU em relação às
infrações imputadas ao impetrante nos autos da TC 030.229/2015-4, bem como ressaltou a possibilidade de a União
perseguir, se assim entender, os valores referentes ao ressarcimento dos danos na esfera judicial.

MS 36.990 AgR/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento em 28.3.2023

1.6 CARREIRA POLICIAL

Policiais civis e restrições à promoção ou à participação em manifestações - ADPF 734/PE

ODS: 16

Resumo:
É compatível com o sistema normativo-constitucional vigente, norma estadual que veda a promoção
ou a participação de policiais em manifestações de apreço ou desapreço a quaisquer autoridades ou contra
atos da Administração Pública em geral.

13
Precedentes citados: MS 37.772 MC-AgR; MS 37.586 AgR e MS 35.940.
14
Precedente citado: MS 32.201.
15
Lei 9.873/1999: “Art. 1º Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta, no
exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de
infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado. § 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo
paralisado por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante
requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o
caso. § 2º Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo
previsto na lei penal. Art. 1º-A. Constituído definitivamente o crédito não tributário, após o término regular do processo
administrativo, prescreve em 5 (cinco) anos a ação de execução da administração pública federal relativa a crédito decorrente da
aplicação de multa por infração à legislação em vigor. Art. 2º Interrompe-se a prescrição da ação punitiva: I – pela notificação ou
citação do indiciado ou acusado, inclusive por meio de edital; II - por qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato; III -
pela decisão condenatória recorrível. IV – por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação expressa de tentativa de
solução conciliatória no âmbito interno da administração pública federal.”

34
Apesar da imprescindibilidade da liberdade de expressão, enquanto direito fundamental que visa evitar a
prática de censura pelo Estado, é possível restringi-lo como qualquer outro, ante a inexistência de direitos
intocáveis16.
As carreiras da área de segurança pública devem obediência aos princípios da hierarquia e da disciplina,
que regem a corporação, incumbindo-lhes a manutenção da segurança interna, da ordem pública e da paz social.
Nesse contexto, as restrições da lei estadual impugnada são adequadas, necessárias e proporcionais. Isso
porque os policiais civis são agentes públicos armados cujas manifestações de apreço ou desapreço relativamente a
atos da Administração em geral e/ou a autoridades públicas em particular podem implicar ofensa ao art. 5º, XVI, da
CF/1988, segundo o qual se reconhece a todos o direito de reunir-se pacificamente e “sem armas” 17.
Assim, cumpre conciliar esses valores constitucionais: de um lado, a liberdade de expressão dos policiais
civis e, de outro, a segurança e a ordem públicas, bem como a hierarquia e a disciplina que regem as organizações
policiais.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, considerou recepcionados pela Constituição
Federal de 1988 os incisos IV e V do art. 31 da Lei 6.425/1972 do Estado de Pernambuco18 (3) e, por conseguinte,
julgou improcedente a ação.

ADPF 734/PE, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às 23:59

1.7 CONCURSO PÚBLICO

Agentes de combate às endemias: norma que define o regime jurídico da categoria - ADI 5.554/DF

Tese fixada:

“A EC nº 51/2006, ao prever a admissão de agentes de combate às endemias por processo seletivo


público, estabeleceu exceção constitucional à regra do concurso público, cabendo ao legislador ordinário
definir o regime jurídico aplicável aos profissionais.”

Resumo:
É constitucional a Lei 13.026/2014, na parte em que cria o Quadro em Extinção de Combate às
Endemias e autoriza a transformação dos empregos públicos criados pelo art. 15 da Lei 11.350/2006 no cargo
de Agente de Combate às Endemias, a ser regido pela Lei 8.112/1990 (regime estatutário).

16
Precedentes citados: ADI 5.852; ADI 1.969; ADPF 353; ARE 654.432 e HC 141.949.
17
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente
de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio
aviso à autoridade competente;”

18
Lei 6.425/1972 do Estado de Pernambuco: “Art. 31. São transgressões disciplinares: (...) IV - Promover ou participar de
manifestações de apreço ou desapreço a quaisquer autoridades; V - Manifestar-se ou participar de manifestações contra atos da
Administração Pública em geral.”

35
A EC 51/200619 previu exceção à regra da obrigatória aprovação prévia em concurso público,
possibilitando a admissão de agentes comunitários de saúde e de combate às endemias mediante “processo seletivo
público” (CF/1988, art. 198, § 4º). O objetivo foi fixar procedimento simplificado de contratação para viabilizar a
escolha de pessoas legitimadas e reconhecidas pela comunidade destinatária das ações de saúde. Nesse contexto,
inexiste provimento derivado de cargo público ou inconstitucionalidade decorrente da transformação de emprego em
cargo público.
Ademais, a EC 51/2006 não vedou ou determinou a adoção de um regime jurídico específico (celetista ou
estatutário), mas deixou essa escolha a cargo do legislador. Como a regra do concurso público é aplicável a emprego
ou a cargo público, a incidência da exceção constitucional é indiferente ao regime jurídico do agente. Nesse sentido,
a mencionada EC atribuiu à lei federal, de forma expressa, a disciplina sobre o regime jurídico aplicável à referida
categoria de profissionais, além da regulamentação do piso salarial nacional, as diretrizes para os planos de carreira
e as atividades a serem exercidas.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade dos arts. 3º, §§ 1º, 2º, 3º e 5º; 4º, parágrafo único; 5º, caput e parágrafo único; e 6º, todos da Lei
13.026/2014 20.

ADI 5.554/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira), às
23:59

Direito à nomeação de estrangeiro aprovado em concurso público - RE 1.177.699/SC (Tema 1.032 RG)

ODS: 4, 10 e 16
19
EC 51/2006: “Art. 1º O art. 198 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 4º, 5º e 6º: (...) ‘Art.
198. ............................... § 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e
agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas
atribuições e requisitos específicos para sua atuação. § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico e a regulamentação das
atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias. § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41
e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de
agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei,
para o seu exercício.’ (NR) Art. 2º Após a promulgação da presente Emenda Constitucional, os agentes comunitários de saúde e
os agentes de combate às endemias somente poderão ser contratados diretamente pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos
Municípios na forma do § 4º do art. 198 da Constituição Federal, observado o limite de gasto estabelecido na Lei Complementar
de que trata o art. 169 da Constituição Federal. Parágrafo único. Os profissionais que, na data de promulgação desta Emenda e a
qualquer título, desempenharem as atividades de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias, na forma da
lei, ficam dispensados de se submeter ao processo seletivo público a que se refere o § 4º do art. 198 da Constituição Federal,
desde que tenham sido contratados a partir de anterior processo de Seleção Pública efetuado por órgãos ou entes da administração
direta ou indireta de Estado, Distrito Federal ou Município ou por outras instituições com a efetiva supervisão e autorização da
administração direta dos entes da federação. Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data da sua publicação.”
20
Lei 13.026/2014: “Art. 3º. Fica criado o Quadro em Extinção de Combate às Endemias e autorizada a transformação dos
empregos ativos criados pelo art. 15 da lei n° 11.350, de 5 de outubro de 2006, no cargo de Agente de combate às Endemias, a
ser regido pela lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990. § 1° O Quadro em Extinção de Combate às Endemias será composto
exclusivamente pelo cargo de Agente de Combate às Endemias, de nível auxiliar, sendo vinculado ao Quadro de Pessoal do
Ministério da Saúde. § 2° A transformação dos empregos em cargos públicos de que trata o caput deste artigo, com o
consequente ingresso no Quadro em Extinção de Combate às Endemias, dar-se-á automaticamente, salvo por opção irretratável, a
ser formalizada no prazo de 90 (noventa) dias a contar da data de entrada em vigor desta Lei, na forma do Termo de Opção
constante do Anexo I. § 3° Os empregados que formalizarem a opção referida no § 2° deste artigo permanecerão no Quadro
Suplementar de Combate às endemias, de que trata o art. 11 da lei 13.350, de 5 de outubro de 2006, vinculados à Fundação
Nacional de Saúde – FUNASA e regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de
maio de 1943. § 4° A estrutura remuneratória do cargo público de Agente de Combate às Endemias passa a ser constante dos
anexos II e III, observada a correlação estabelecida na forma do anexo IV. § 5° A transformação de que trata o caput não ensejará
a alteração de nível de escolaridade do cargo, independentemente do grau de escolaridade apresentado no momento da
transformação. Art. 4° (...) Parágrafo único. Na hipótese de redução decorrente da aplicação desta Lei, a diferença será paga a
título de Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada – VPNI, a ser absorvida por ocasião do desenvolvimento no cargo, da
reestruturação de tabela remuneratória, concessão de reajustes, adicionais, gratificações ou vantagem de qualquer natureza,
conforme o caso. Art. 5° O ingresso no cargo de Agente de Combate às Endemias ocorrerá no primeiro dia subsequente ao
término do prazo de opção de que trata o § 2° do art. 3° desta Lei. Parágrafo único. O enquadramento inicial no cargo observará a
tabela de correlação prevista no anexo IV. Art. 6° O enquadramento no Quadro em Extinção de Combate às Endemias não se
configura como demissão, nos termos da legislação trabalhista, não ensejando o pagamento de multa rescisória ou verbas
indenizatórias referentes ao contrato de trabalho, ressalvadas as férias, vencidas e proporcionais, e a gratificação natalina.”

36
Tese fixada:
“O candidato estrangeiro tem direito líquido e certo à nomeação em concurso público para
provimento de cargos de professor, técnico e cientista em universidades e instituições de pesquisa científica e
tecnológica federais, nos termos do art. 207, § 1º, da Constituição Federal, salvo se a restrição da
nacionalidade estiver expressa no edital do certame com o exclusivo objetivo de preservar o interesse público
e desde que, sem prejuízo de controle judicial, devidamente justificada.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar o princípio da isonomia (CF/1988, art. 5º, “caput”) e a norma que
estabelece às universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica a possibilidade de prover seus
cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros (CF/1988, art. 207, § 1º) — a negativa de nomeação
de aprovado em concurso público para cargo de professor em instituto federal, fundada apenas em motivo de
nacionalidade.
Aos estrangeiros residentes no País é assegurada a inviolabilidade do direito à igualdade. No que se refere a
concurso público, a interpretação desse preceito constitucional, em conjunto com os demais que norteiam a tutela
dos direitos essenciais da pessoa, garante ao cidadão estrangeiro aprovado o direito de ser nomeado na respectiva
função pública, em igualdade de condições com os brasileiros 21. Assim, qualquer restrição relacionada à
nacionalidade deverá ser expressamente prevista em edital e devidamente fundamentada em aspecto de interesse
público, passível de controle judicial.
Na espécie, o concurso público para o qual o autor foi aprovado no cargo de professor de informática do
Instituto Federal Catarinense (IFC), refere-se ao Edital 049/DDPP/2009, publicado na vigência da Lei 9.515/1997.
Esta, por sua vez, foi editada com o objetivo de regulamentar o § 1º do art. 207 da CF/1988, incluído pela EC
11/1996.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.032 da repercussão geral, deu
provimento ao recurso extraordinário para julgar procedentes os pedidos formulados na inicial, relativos à nomeação
do autor e ao direito à indenização por danos morais e materiais, estes últimos, equivalentes ao período em que
deveria ter sido empossado.

RE 1.177.699/SC, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Reestruturação da carreira estadual e impossibilidade de provimento derivado de cargo público - ADI


5.510/PR

Tese fixada:
“A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui forma de provimento
derivado vedada pelo art. 37, II, da CF/88.”

Resumo:
É inconstitucional — por força da regra do concurso público (CF/1988, art. 37, II) — lei estadual
que, ao reestruturar determinada carreira, permite a transposição de servidores para cargos com atribuições
e requisitos de ingresso distintos daqueles exigidos na ocasião do provimento originário.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da necessidade de observância da prévia aprovação em
certame, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista na lei, ressalvadas
apenas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração 22 23.
Na espécie, as leis estaduais impugnadas reuniram as carreiras de Agentes Fiscais 1, 2 e 3 da Coordenação
da Receita Federal do Estado do Paraná, que possuíam funções e atribuições distintas, em uma carreira única,
denominada Auditores Fiscais. Ocorre que os ocupantes do antigo cargo de Agente Fiscal 3 (AF-3), para o qual era
exigido nível médio de escolaridade, passaram a integrar a nova carreira, cujo ingresso pressupõe escolaridade de
nível superior. Assim, foram incluídos, na mesma carreira, cargos com exigências para ingresso distintos.

21
Precedentes citados: ADI 1.350; RE 826.221 AgR e ARE 1.054.768 AgR.
22
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998).”
23
Precedentes citados: Súmula Vinculante 43; ADI 1.350 e ADI 3.190.

37
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para dar
interpretação conforme ao art. 156, I, II e III, da Lei Complementar 92/2002 24, e ao art. 150, I, II e III, da Lei
Complementar 131/201025, ambas do Estado do Paraná, de modo a afastar qualquer aplicação que possibilite a
investidura de outrora ocupantes do cargo de Agente Fiscal 3 (AF-3) em cargo de Auditor Fiscal. Por unanimidade,
modulou os efeitos temporais 26 para (i) que a decisão produza efeitos a partir de 2 (dois) anos contados da
publicação da ata deste julgamento; (ii) preservar os atos praticados pelos servidores investidos irregularmente no
cargo de Auditor Fiscal, inclusive nesse período de 2 (dois) anos; (iii) congelar, na data da publicação da ata deste
julgamento, o valor nominal das remunerações dos servidores afetados pela decisão, até que a diferença recebida
com base na lei ora declarada inconstitucional seja absorvida por aumentos futuros; e (iv) preservar as situações até
aqui consolidadas exclusivamente para fins de aposentadoria, ou seja, os aposentados e os indivíduos que
implementaram os requisitos para a aposentadoria até a data da publicação da ata deste julgamento. Na sequência, o
Tribunal, por maioria, também modulou os efeitos da decisão para preservar as promoções concedidas na vigência
das Leis Complementares paranaenses 92/2002 e 131/2010, como também para preservar o quadro funcional dos
Agentes Fiscais 3 que tiveram seus cargos transformados em Auditores Fiscais e os atos por eles executados.

ADI 5.510/PR, relator Ministro Roberto Barroso, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento virtual
finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Serventias extrajudiciais: regras e critérios atinentes ao concurso de remoção - ADI 3.748/PR

ODS: 10 e 16

Resumo:
Em atenção aos arts. 236, § 3º, e 37, II, da CF/1988, apenas os delegatários do serviço notarial e de
registro — ainda que investidos em serventia denominada como mista — podem ser elegíveis à remoção em
serventias extrajudiciais.
Sob o aspecto formal, embora esteja na seara da competência privativa da União para legislar sobre
registros públicos (CF/1988, art. 22, XXV), o art. 18 da Lei 8.935/1994 (Lei dos Cartórios) autoriza o legislador
estadual a dispor sobre as normas e os critérios para o concurso de remoção.
Sob a perspectiva material, a concretização da remoção necessariamente depende da observância das
condições de ingresso originário na atividade notarial e de registro, ou seja, pressupõe prévia delegação precedida da
aprovação em concurso de provas e títulos específico, pelo que a possibilidade de participação de pessoa alheia à
aludida carreira no concurso de remoção importaria em descumprimento dos requisitos de investidura na atividade
delegada27.
Na espécie, ainda que o titular do Ofício do Distribuidor possa ter atribuições de distribuição de processos
entre agentes do foro judicial e extrajudicial, o Código de Organização e Divisão Judiciárias estadual afasta a
atividade do âmbito do serviço notarial e de registro.
Por se tratar de concurso de remoção, a avaliação de títulos que leva em consideração o desempenho
laboral do candidato, bem como aquela que valora positivamente a experiência, a idade e o tempo de
carreira, inclusive para fins de desempate, configuram critérios razoáveis para avaliar candidatos que
desempenham funções semelhantes.
Uma vez realizada a distinção entre os concursos de ingresso e de remoção 28, verifica-se que a legislação
estadual impugnada, por tratar de um concurso de remoção, não configura quebra de isonomia entre os candidatos e
eventual burla à ordem de classificação seria de fácil verificação.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, nessa
extensão, por maioria, a julgou parcialmente procedente para: (i) conferir interpretação conforme a Constituição ao
parágrafo único do art. 6º da Lei 14.594/2004 do Estado do Paraná no sentido de que o concurso de remoção

24
Lei Complementar 92/2002 do Estado do Paraná: “Art. 156. A transposição das séries de classes vigentes até então para as
classes de que trata o art. 7º; desta lei, dar-se-á da seguinte forma: I – os Agentes Fiscais 3-A serão enquadrados na classe de
Auditor Fiscal ‘C’ – AF-C; II – os Agentes Fiscais 3-B serão enquadrados na classe de Auditor Fiscal ‘D’ – AF-D; III – os
Agentes Fiscais 3-C serão enquadrados na classe de Auditor Fiscal ‘E’ –AF-E; (...).”
25
Lei Complementar 131/2010 do Estado do Paraná: “Art. 150. Observado o disposto no art. 7º, os cargos de Agentes Fiscais
passam a ser denominados Auditores Fiscais, de acordo com a seguinte correlação: I – Agente Fiscal 3-A-I, A-II, A-III, e A-IV
para Auditor Fiscal ‘A’– AF-A; II – Agente Fiscal 3-B-I, B-II, B-III e B-IV para Auditor Fiscal ‘B’ – AF-B; e III – Agente Fiscal
3-C-I, C-II, C-III e C; (...).”
26
Precedentes citados: ADI 3.199 ED; ADI 3.415 ED-segundos e ADI 6.355.
27
Precedentes citados: ADI 3.978; ADI 1.047 MC e ADI 552.
28
Precedente citado: ADI 4.178 MC-Ref.

38
previsto seja exclusivamente destinado aos delegatários do serviço notarial e de registro, ainda que investidos em
serventia mista, em atenção ao disposto no art. 236, § 3º, e no art. 37, II, da CF/1988 29; e (ii) declarar a
constitucionalidade do art. 9º, I a IV, e do art. 11, II e III, da referida norma estadual 30.

ADI 3.748/PR, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual
finalizado em 16.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Transposição de emprego público para o quadro estatutário sem prévia aprovação em concurso
público - RE 1.232.885/AP (Tema 1.128 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que permite transposição, absorção ou
aproveitamento de empregado público no quadro estatutário da Administração Pública estadual sem prévia
aprovação em concurso público, nos termos do art. 37, II, da Constituição Federal.”

Resumo:
São vedadas pela ordem constitucional vigente — por força do princípio do concurso público
(CF/1988, art. 37, II) — a transposição, a absorção ou o aproveitamento de servidor em outros órgãos ou
entidades da Administração Pública direta, autárquica e fundacional do mesmo estado sem a prévia
aprovação em concurso público.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da necessidade de observância da prévia aprovação em
certame, seja no provimento originário, seja no derivado31.
Nesse contexto, a exigência de concurso público encontra fundamento no postulado da isonomia de acesso
a cargos públicos e na concretização dos princípios da moralidade administrativa e da impessoalidade 32.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.128 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso extraordinário para declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidade do art. 65-A
da Constituição do Estado do Amapá 33 e, por arrastamento, a Lei 2.281/2017 e o Decreto 286/2018, ambos da

29
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (...) Art. 236. Os serviços
notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. (...) § 3º O ingresso na atividade notarial
e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura
de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.”
30
Lei 14.594/2004 do Estado do Paraná: “Art. 6º É assegurado ao notário e ao registrador concorrer à remoção, mesmo que
afastado de sua delegação: (...) Parágrafo único. Assegura-se o mesmo direito ao provido em serventia mista (judicial ou
extrajudicial). (...) Art. 9º A prova de título será apurada mediante a atribuição de nota até 100 (cem) pontos, observados os
seguintes critérios: I – diploma de bacharel em direito: de 10 (dez) a 20 (vinte) pontos, observados a antiguidade de graduação. II
– cada período de 2 (dois) anos ou fração superior a 12 (doze) meses de exercício de titularidade ou designação para serviço
notarial ou registral, 10 (dez) pontos; III – cada período de 5 (cinco) anos ou fração superior a 30 (trinta) meses de exercício,
prestado como juramento em serventia notarial ou de registro, 10 (dez) pontos; IV – cada período 4 (quatro) anos ou fração
superior a (trinta) meses de exercício prestado em função pública que exija amplos conhecimentos jurídicos: 20 (vinte) pontos; V
– aprovação em concurso de ingresso ou remoção em serviços notarial e de registro, homologado pelo Conselho da Magistratura:
5 (cinco) pontos, até o limite de 10 (dez) pontos; (...) Art. 11 Havendo empate entre os candidatos, a precedência na classificação
será decidida de acordo com os seguintes critérios, sucessivamente: (...) II – aquele que contar com maior tempo de serviço
público; III – o mais idoso;”

31
Precedentes citados: ADI 1.350 MC e Súmula Vinculante 43
32
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998).”

39
mesma unidade federada. Por conseguinte, o Tribunal reformou o acórdão recorrido para denegar a ordem
mandamental.

RE 1.232.885/AP, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às
23:59

1.8 CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL

Iniciativa de lei para a criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de educação física -
ADI 3.428/DF

ODS: 16

Resumo:
É formalmente inconstitucional — por vício resultante da usurpação do poder de iniciativa (CF/1988,
art. 61, § 1º, II, “a”) — lei federal de origem parlamentar que cria conselhos de fiscalização profissional e
dispõe sobre a eleição dos respectivos membros efetivos e suplentes.
De acordo com a jurisprudência desta Corte, os conselhos de fiscalização profissional, diante do caráter
público da atividade que desenvolvem, possuem natureza jurídica de autarquia e personalidade jurídica de direito
público, com autonomia administrativa e financeira 34.
Nesse contexto, as autarquias que integram a Administração Pública federal, entre as quais se incluem os
conselhos de fiscalização profissional, só podem ser criadas por leis de iniciativa do Presidente da República 35 36.
Essa regra constitucional encontra fundamento direto na separação de Poderes, que, de um lado, garante ao
Executivo a prerrogativa de controlar a forma e o modo do funcionamento básico da Administração e, de outro, o
juízo de conveniência e oportunidade que informam os custos dessa organização.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade dos arts. 4º e 5º da Lei 9.696/199837 , com eficácia ex nunc, tendo em vista que a matéria já foi
supervenientemente regulamentada pela Lei 14.386/2022, cuja aprovação derivou de projeto de lei de iniciativa do
Poder Executivo federal.

ADI 3.428/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

1.9 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Prorrogação antecipada de contrato de concessão de serviço de transporte coletivo estadual - ADI


7.048/SP
33
Constituição do Estado do Amapá: “Art. 65-A. No caso de extinção, fusão, incorporação ou transferência de propriedade para
iniciativa privada ou para a União Federal, de empresa pública ou sociedade de economia mista, que tenha sido constituída à
época do extinto Território Federal do Amapá e que tenha passado a integrar o patrimônio do Estado do Amapá, por força do
artigo 14, § 2º do ADCT da Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988 e do disposto no artigo 16, da Lei Complementar 41
de 22 de dezembro 1981, o empregado que tenha ingressado mediante prévio concurso público no quadro de pessoal de qualquer
das pessoas jurídicas elencadas, poderá, mediante opção ser aproveitado no quadro de pessoal da administração pública estadual ,
nos termos da Lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 55, de 03.05.2017).”
34
Precedente citado: MS 22.643.
35
CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º
São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II – disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou
empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;”
36
Precedentes citados: ADI 2.249; ADI 3.061 e ADI 2.892.
37
Lei 9.696/1998: “Art. 4º São criados o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Educação Física. Art. 5º Os primeiros
membros efetivos e suplentes do Conselho Federal de Educação Física serão eleitos para um mandato tampão de dois anos, em
reunião das associações representativas de Profissionais de Educação Física, criadas nos termos da Constituição Federal, com
personalidade jurídica própria, e das instituições superiores de ensino de Educação Física, oficialmente autorizadas ou
reconhecidas, que serão convocadas pela Federação Brasileira das Associações dos Profissionais de Educação Física - FBAPEF,
no prazo de até noventa dias após a promulgação desta Lei.”

40
ODS: 16

Resumo:
É constitucional — pois ocorrida dentro dos limites explicitados pelo STF no julgamento da ADI
5.991/DF — a prorrogação antecipada do contrato de concessão do serviço de transporte coletivo do corredor
metropolitano São Mateus/Jabaquara promovida pelos Decretos 65.574/2021 e 65.757/2021, ambos do Estado
de São Paulo.
Os decretos impugnados são compatíveis com os princípios constitucionais da Administração Pública que
regem a prorrogação das concessões sob as seguintes balizas: (i) exigência de licitação prévia e da vinculação ao
instrumento convocatório; (ii) prorrogação por prazo não superior ao originalmente admitido; (iii) discricionariedade
da prorrogação; e (iv) vantajosidade da prorrogação antecipada para a Administração, devidamente apontada por
estudos técnicos 38.
Além disso, na espécie, a assunção de novas obrigações de fazer para investimento em malhas do interesse
da Administração Pública não desfigura o objeto do contrato de concessão original. Como o contrato de concessão é
um acordo bilateral que opera no interesse da Administração, nada impede que, de forma acessória à obrigação
principal de prestação adequada do serviço dentro da malha licitada, também sejam pactuadas novas obrigações.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ADI como ADPF e, no mérito,
por maioria, a julgou improcedente para assentar a constitucionalidade dos Decretos 65.574/2021 e 65.575/2021,
ambos do Estado de São Paulo.

ADI 7.048/SP, relatora Ministra Cármen Lúcia, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

1.10 CONTROLE EXTERNO

Poder normativo e instituição do Sistema Integrado de Transferência pelo Tribunal de Contas do


Estado do Paraná - ADI 4.872/PR

ODS: 10, 16 e 17

Resumo:
É legítima — desde que observados os respectivos limites de controle externo, a precedência das
disposições legais (princípio da legalidade) e as prerrogativas próprias conferidas aos órgãos do Poder
Executivo — a edição de atos normativos por tribunais de contas estaduais com o objetivo de regulamentar
procedimentalmente o exercício de suas competências constitucionais.
A inexistência de um poder normativo expressamente previsto na Constituição Federal serve como guia
para a compreensão do papel que essa atribuição infraconstitucional dos tribunais de contas deve desempenhar,
assim como o estabelecimento de seus limites.
Na espécie, verificou-se que o Tribunal de Contas do Estado do Paraná não extrapolou os limites de seu
controle externo. As normas impugnadas — que, essencialmente, visam regulamentar as práticas de fiscalização e a
prestação de contas de recursos públicos repassados a entidades privadas sem fins lucrativos, por meio do Sistema
Integrado de Transferências (SIT) — não inovaram no ordenamento jurídico. O conteúdo delas é meramente
expletivo ou declaratório e, muitas das vezes, representa simples desenvolvimentos de dispositivos constantes em
atos normativos primários. Além disso, elas foram editadas em decorrência de exigências derivadas do próprio texto
constitucional (CF/1988, art. 71, parágrafo único), cuja observância é obrigatória por parte dos estados-membros
(CF/1988, art. 75).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, na parte conhecida, a
julgou improcedente.

ADI 4.872/PR, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado
em 15.2.2023

38
Precedente citado: ADI 5.991.

41
1.11 CRIAÇÃO, EXTINÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DE ÓRGÃOS OU CARGOS PÚBLICOS

Decreto presidencial: extinção de cargos em comissão e funções de confiança e limitação da ocupação,


concessão ou utilização de gratificações pertencentes aos quadros de universidades públicas e de
institutos federais de ensino - ADI 6.186/DF

Resumo:
É inconstitucional — por manifesta violação ao art. 84, VI, “b”, da Constituição Federal — a
extinção de cargos e funções que estejam ocupados na data da edição do decreto do presidente da República.
O decreto de competência privativa do chefe do Poder Executivo federal, previsto no art. 84, VI, da
CF/198839, se limita às hipóteses de “organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos” (alínea a), e de “extinção de funções ou cargos
públicos, quando vagos” (alínea b).
Em ambas as situações, a atuação do presidente da República não tem força criadora autônoma, nem é
dotada de condições para inovar decisivamente na ordem jurídica.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para: (i) dar
interpretação conforme a Constituição ao Decreto 9.725/2019 do presidente da República 40, a fim de que somente se
aplique aos cargos vagos na data de sua edição; e (ii) declarar a inconstitucionalidade de seu art. 3º.

ADI 6.186/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 17.4.2023 (segunda-feira), às
23:59

39
CF/1988: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) VI - dispor, mediante decreto, sobre: (...) b)
extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;”
40
Decreto 9.725/2019 do presidente da República: “Art. 1º Ficam extintos os seguintes cargos em comissão e funções de
confiança no âmbito do Poder Executivo federal: I – na entrada em vigor deste Decreto, na forma do Anexo I: a) quatrocentas e
noventa e oito Funções Comissionadas Técnicas – FCT, de que trata o art. 58 da Medida Provisória 2.229-43, de 6 de setembro
de 2001; b) mil, cento e cinquenta e três Funções Gratificadas, de que trata o art. 26 da Lei 8.216, de 13 de agosto de 1991; c)
novecentas e sessenta Funções Gratificadas, de que trata o art. 26 da Lei 8.216, de 1991, criadas pelo art. 3º da Lei 13.027, de 24
de setembro de 2014; d) cento e dezenove Cargos de Direção – CD, de que trata o art. 1º da Lei 8.168, de 16 de janeiro de 1991,
criados pelos incisos V, VI e VII do caput do art. 1º da Lei 12.677, de 25 de junho de 2012; e) quatrocentas e sessenta Funções
Gratificadas, de que trata o art. 1º da Lei 8.168, de 1991, criadas pelos: 1. incisos VIII e IX do caput do art. 1º da Lei 12.677, de
2012; 2. incisos IV, V e VI do caput do art. 10 da Lei 13.634, de 20 de março de 2018; 3. incisos IV, V e VI do caput do art. 10
da Lei 13.635, de 20 de março de 2018; 4. incisos IV, V e VI do caput do art. 10 da Lei 13.637, de 20 de março de 2018; 5.
incisos IV, V e VI do caput do art. 10 da Lei 13.651, de 11 de abril de 2018; e 6. incisos IV, V, VI e VII do caput do art. 21 da
Lei 13.651, de 2018; f) mil, oitocentas e setenta Funções Comissionadas de Coordenação de Curso – FCC, de que trata o art. 7º
da Lei 12.677, de 2012, criadas pelo art. 8º da Lei 12.677, de 2012; e g) quarenta Funções Comissionadas do Poder Executivo –
FCPE, de que tratam os art. 2º e art. 4º da Lei 13.346, de 10 de outubro de 2016, e o inciso IV do caput do art. 1º da Lei 13.207,
de 2014; e II – em 31 de julho de 2019, na forma do Anexo II: a) mil, cento e quarenta e sete Funções Gratificadas, de que trata o
art. 26 da Lei 8.216, de 1991; e b) onze mil, duzentas e sessenta e uma Funções Gratificadas de que trata o art. 1º da Lei 8.168, de
1991, nos níveis 9 a 4. Art. 2º Fica vedada a ocupação, a concessão ou a utilização, na forma do Anexo III, dos quantitativos das
seguintes gratificações: I – a partir da data de entrada em vigor deste Decreto: a) quatorze Gratificações de Representação de
Função de Gabinete Militar, de que trata a Lei 8.460, de 17 de setembro de 1992; b) mil, duzentas e cinquenta e duas
Gratificações Temporárias das Unidades dos Sistemas Estruturadores da Administração Pública Federal - GSISTE, de que trata o
art. 15 da Lei 11.356, de 19 de outubro de 2006; c) sessenta e quatro Gratificações de Representação de Gabinete dos Órgãos
Integrantes da Presidência da República, no Ministério da Defesa; e d) cento e cinquenta e sete Gratificações de Representação da
Presidência da República, na Presidência da República e na Vice-Presidência da República; II – a partir de 30 de abril de 2019: a)
duzentas e cinquenta e três GSISTE de nível auxiliar, de que trata o art. 15 da Lei 11.356, de 2006; b) mil, setecentas e dezesseis
Gratificações de Representação de Gabinete; c) cinco Gratificações Temporárias de Atividade em Escola de Governo – GAEG de
nível auxiliar, de que trata o art. 292 da Lei 11.907, de 2 de fevereiro de 2009; e d) vinte e sete GAEG de nível intermediário, de
que trata o art. 292 da Lei 11.907, de 2009; e III – a partir de 31 de julho de 2019: quatro Gratificações de Representação de
Gabinete dos Órgãos Integrantes da Presidência da República, no Ministério da Defesa. Art. 3º Os eventuais ocupantes dos
cargos em comissão e das funções de confiança que deixam de existir por força deste Decreto ou das gratificações cujas
ocupações são por ele limitadas ficam automaticamente exonerados ou dispensados, nas respectivas datas de extinção ou de
início da limitação à ocupação dos quantitativos correspondentes.”

42
Novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração dos servidores públicos do quadro de pessoal do
ITERAIMA: lei que cria ou aumenta despesas e necessidade de estimativa de impacto financeiro-
orçamentário - ADI 6.090/RR

Resumo:
É inconstitucional — por violar o art. 113 do ADCT — lei estadual que concede vantagens e aumento
de vencimentos a seus servidores públicos sem prévia estimativa de impacto orçamentário e financeiro.
Com o advento da EC 95/2016, que incluiu o art. 113 ao ADCT 41 , tornou-se necessária a qualquer
proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita a respectiva estimativa de
impacto financeiro e orçamentário. Embora direcionado à União, esse regime abarca todos os entes federativos 42.
Na espécie, os dispositivos da lei estadual impugnada versam sobre adicionais de qualificação, de
penosidade, de insalubridade e de atividade em comissão, além de fixar o vencimento básico dos cargos efetivos que
integram o quadro de pessoal do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (ITEIRAMA).
Ademais, a jurisprudência deste Tribunal é firme no sentido de que a legislação, inclusive a estadual, para
ser válida, deve se conformar ao equilíbrio financeiro e econômico estadual, aferível ainda no processo legislativo
que proporcione o levantamento do impacto do orçamento necessário para abranger as despesas por ela criadas 43.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade formal dos artigos 26, 27, 28, 29, 30, 31 e 33,
todos da Lei 1.257/2018 do Estado de Roraima 44, com efeitos ex nunc a contar da data da publicação da ata do
julgamento.

ADI 6.090/RR, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 12.6.2023 (segunda-feira), às 23:59

41
ADCT: “Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro.”
42
Precedente citado: ADI 5.816.
43
Precedentes citados: ADI 6.102, ADI 6.118, ADI 6.080 e ADI 6.074.
44
Lei 1.257/2018 do Estado de Roraima: “Art. 26. Fica instituído o Adicional de Qualificação - AQ destinado aos servidores
estáveis desta Lei, em razão dos conhecimentos adicionais adquiridos comprovados por meio de títulos, diplomas ou certificados
de cursos de graduação ou pós-graduação, em sentido amplo ou estrito, reconhecidos pelo Ministério da Educação. Art. 27. O
Adicional de Qualificação - AQ incidirá sobre vencimento efetivo do servidor, como retribuição pela participação com
aproveitamento em curso de graduação e pós-graduação, em sentido amplo ou estrito, observados os seguintes percentuais e
limites: I - 5% (cinco por cento) ao servidor que concluir ou tiver concluído o curso de graduação, na modalidade tecnólogo
superior, comprovado por meio de diploma devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação; II - 10% (dez por cento) ao
servidor que concluir ou tiver concluído o curso de graduação, na modalidade bacharelado ou licenciatura plena, comprovado por
meio de diploma devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação; III - 15% (quinze por cento) ao servidor que concluir ou
tiver concluído, com aproveitamento, curso de pós-graduação em sentido amplo, comprovado por meio de certificado,
devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação e com carga horária mínima de 360 (trezentas e sessenta) horas aulas; IV -
20% (vinte por cento) ao servidor que concluir ou tiver concluído, com aproveitamento, pós-graduação em nível de mestrado,
comprovado por meio de título ou certificado, devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação; V - 25% (vinte e cinco por
cento) ao servidor que concluir ou tiver concluído, com aproveitamento, pós-graduação em nível de doutorado, comprovado por
meio de título ou certificado devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação. § 1º Em nenhuma hipótese o servidor
perceberá, cumulativamente, mais de um dentre os adicionais previstos neste artigo. § 2º Só será contado como título, para efeito
do Adicional de Qualificação - AQ a que se refere este artigo, o diploma ou certificado de conclusão de curso de graduação, pós-
graduação, mestrado ou doutorado emitido por instituição credenciada e reconhecida pelo Ministério da Educação. § 3º O
Adicional de Qualificação - AQ será requerido pelo servidor no setor de Recursos Humanos do órgão no qual esteja lotado, com
apresentação de diploma, certificado ou título reconhecido pelo Ministério da Educação e devidamente autenticado em cartório. §
4º A documentação apresentada pelo servidor no setor de Recursos Humanos será encaminhada para o setor de Recursos
Humanos do ITERAIMA, o qual terá o prazo de 90 (noventa) dias para análise do processo e publicação da portaria. § 5º Para
fins de efeitos pecuniários, o direito ao adicional será contado do próximo vencimento, após a publicação da homologação do
pedido no Diário Oficial do Estado de Roraima. Art. 28. Fica assegurado o Adicional de Penosidade nos cargos dos servidores
que exercerem atividades penosas, conforme previsto no Artigo 68 da Lei Complementar nº 53, de 31 de dezembro de 2001.
Parágrafo único. A alíquota será definida de acordo com avaliação realizada por comissão competente. Art. 29. Fica assegurada a
incidência da alíquota de 5% (cinco por cento), 10% (dez por cento) e 20% (vinte por cento) do Adicional de Insalubridade nos
cargos dos servidores que exercem atividades insalubres, conforme previsto nos Artigos 64 e 65 da Lei Complementar nº 53, de
31 de dezembro de 2001. Art. 30. Fica assegurada a incidência da alíquota de 40% (quarenta por cento) aos servidores efetivos,
grau de escolaridade: Ensino Superior - Área Administrativa, para todos os servidores que exercem função específica de área fim
e área meio. Art. 31. Fica assegurada a incidência da alíquota 10% (dez por cento), aos servidores públicos, ativos, efetivos, em
caso de nomeação em comissão interna ou externa, a título de gratificação por desempenho de atividade em comissão - GDAC.
(...) Art. 33. O vencimento básico dos cargos efetivos que integram o Quadro de Pessoal do ITERAIMA são expressos em
classes, padrão e referências iniciais.”

43
Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa alçada ao nível constitucional, definição de critérios de
nomeação do Procurador-Geral do estado e concessão de foro privilegiado aos procuradores estaduais
- ADI 2.820/ES

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violar os princípios da simetria e da independência e harmonia entre os
Poderes (CF/1988, art. 2º) — norma estadual que cria uma Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa e
equipara a remuneração dos seus membros à dos da Procuradoria-Geral do estado.
A criação do referido órgão jurídico vinculado ao Poder Legislativo representa opção política de auto-
organização, contudo, a sua inconstitucionalidade decorre do status institucional, das prerrogativas e das atribuições
a ele reservadas, inclusive porque prevê equiparação remuneratória com a Procuradoria-Geral do estado, à qual
compete exclusivamente a representação judicial e extrajudicial dos interesses do ente federado.
Nesse contexto, a representação judicial e extrajudicial da Assembleia Legislativa, a cargo de sua
Procuradoria-Geral, limita-se aos feitos nos quais o Poder Legislativo local, em nome próprio, atua na defesa de sua
autonomia e independência frente aos demais Poderes. Nesses casos, é possível que a defesa se faça por meio de um
setor pertencente à sua estrutura administrativa, também responsável pela consultoria e assessoramento jurídico de
seus demais órgãos45.
Ademais, os reajustes remuneratórios de servidores públicos devem ocorrer a partir de leis específicas, cuja
iniciativa é privativa do Presidente da República, no âmbito federal, e do governador, no estadual (CF/1988, art. 61,
§ 1º, II, a).
É constitucional a inserção, por emenda constitucional estadual, de norma que determine a
nomeação do Procurador-Geral do estado dentre os integrantes ativos de sua carreira.
Norma com esse teor não diz respeito a matérias cuja iniciativa de lei é reservada ao chefe do Poder
Executivo (CF/1988, art. 61, § 1º, II), na medida em que dispõe sobre a definição de critérios de nomeação do
Procurador-Geral do estado e não trata do provimento de servidores públicos 46.
É inconstitucional — por violar o princípio da simetria — norma estadual ou distrital que cria foro
por prerrogativa de função aos integrantes das carreiras de procurador da unidade federativa.
Os estados e o Distrito Federal, dada a compreensão restritiva do foro por prerrogativa de função, somente
podem conferi-lo a autoridades cujos similares na esfera federal também o detenham 47.
Assim, como a Constituição Federal de 1988 não vislumbrou na advocacia pública, a cargo da Advocacia-
Geral da União, atribuições que justifiquem essa prerrogativa, não devem os estados-membros identificar na
advocacia pública, a cargo das respectivas Procuradorias-Gerais, atribuições a ampará-la.
Com base nesses entendimentos, o Plenário julgou parcialmente procedente a ação 48 para: (i) por
unanimidade, declarar a inconstitucionalidade dos §§ 4º e 7º do art. 122 da Constituição do Estado do Espírito
Santo, acrescidos pela EC estadual 35/2001, na redação dada pela EC estadual 108/2017; (ii) por maioria,
reconhecer a constitucionalidade do § 6º do art. 122 da Constituição do Espírito Santo, alterada pela EC estadual
108/2017; (iii) por unanimidade, declarar a constitucionalidade do § 5º do art. 122 da Constituição do Estado do
Espírito Santo, introduzido pela EC estadual 35/2001, conferindo-lhe interpretação conforme a Constituição Federal
de 1988 de maneira a assentar que a representação judicial e extrajudicial da Assembleia Legislativa, a cargo de sua

45
Precedente citado: ADI 1.557.
46
Precedentes citados: ADI 2.581; ADI 2.682 e ADI 4.898.
47
Precedentes citados: ADI 6.515 e ADI 6.512.
48
Constituição do Estado do Espírito Santo: “Art. 122. A Procuradoria-Geral é o órgão que representa o Estado, judicial e
extrajudicialmente, cabendo-lhe, ainda, nos termos da lei complementar, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico
do Poder Executivo Estadual. § 1º A Procuradoria-Geral tem por chefe o Procurador-Geral do Estado, de livre nomeação pelo
Governador dentre advogados maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada. § 2º O ingresso nas
classes iniciais da carreira de Procurador far-se-á mediante concurso público de provas e títulos. § 3º Lei complementar disporá
sobre a organização e o funcionamento da Procuradoria-Geral. § 4º Os integrantes da Procuradoria-Geral do Estado e da
Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa são remunerados por iguais subsídios. § 5º Compete à Procuradoria-Geral da
Assembleia Legislativa a representação judicial e extrajudicial do Poder Legislativo nos atos praticados pelos seus representantes
ou por sua administração interna. § 6º A Procuradoria-Geral do Estado tem por chefe o Procurador-Geral, nomeado dentre os
integrantes de sua carreira. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 108, de 22 de maio de 2017) § 7º Os membros
integrantes da Procuradoria-Geral do Estado e da Procuradoria-Geral da Assembleia Legislativa serão julgados e processados
perante o Tribunal de Justiça.”

44
Procuradoria-Geral, encontra limite naqueles feitos em que o Legislativo, em nome próprio, esgrima na defesa de
sua autonomia e independência frente aos demais Poderes; e (iv) por unanimidade, modular os efeitos da decisão a
fim de: (a) assentar que a remuneração dos procuradores estaduais e dos procuradores legislativos é aquela fixada
em lei no mesmo patamar; ou, se a lei fixar a remuneração para apenas uma das carreiras, que a remuneração da
outra é igual até lei posterior regular o quadro de modo diverso, vedado qualquer tipo de reajuste automático da
remuneração de uma delas quando for modificada a da outra; e (b) conferir eficácia ex nunc à declaração de
inconstitucionalidade do § 7º do art. 122 da Constituição do Estado do Espírito Santo, de modo a preservar a
validade de processos judiciais, bem como das decisões neles lançadas, que tenham tramitado à luz do foro
privilegiado previsto no § 7º do art. 122, ora declarado inconstitucional.

ADI 2.820/ES, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Transformação de cargos em comissão e de funções de confiança mediante ato normativo infralegal -


ADI 6.180/SE

Resumo:
É inconstitucional — por ultrapassar a prerrogativa pautada na mera reorganização administrativa
(CF/1988, art. 84, VI, “a” e “b”) e ofender o princípio da reserva legal (CF/1988, art. 48, X, c/c o art. 61, § 1º,
II, “a”) — norma estadual que autoriza a transformação, mediante decreto ou outro ato normativo infralegal,
de funções de confiança em cargos em comissão ou vice-versa.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que o modelo federal, cuja observância é obrigatória no
âmbito dos estados-membros, não abarca a possibilidade de o chefe do Poder Executivo, no campo de simples
reorganização interna da Administração Pública, criar cargos e reestruturar órgãos por meio de decreto ou outro ato
infralegal 49.
As funções de confiança e os cargos em comissão, por expressa disposição constitucional, possuem
naturezas e formas de provimento distintas (CF/1988, art. 37, V), o que inviabiliza a transformação de uma em outra
sem a devida edição de lei formal e específica.
Ademais, no contexto das medidas normativas para sua organização e funcionamento interno, os Tribunais
de Contas, embora detenham autonomia funcional, administrativa e financeira, devem guardar observância aos
mesmos limites impostos a esse respeito para o chefe do Poder Executivo (CF/1988, art. 84, VI, a e b), a saber: não
geração de aumento de despesa e possibilidade de extinguir funções ou cargos públicos somente nos casos de
vacância50.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para: (i) declarar
inconstitucional o art. 43, I e II, da Lei 8.496/2018 do Estado de Sergipe 51; (ii) tendo em conta o efeito
repristinatório da declaração de inconstitucionalidade da referida norma, declarar inconstitucionais o art. 50, I e II,
da Lei 3.591/1995; o art. 62, I e II, da Lei 4.749/2003; o art. 65, I e II da Lei 6.130/2007; o art. 73, I e II, da Lei
7.116/2011; e o art. 49, I e II, da Lei 7.950/2014, todas do Estado de Sergipe; e (iii) conferir interpretação conforme
ao art. 6º da Lei sergipana 2.963/1991 52, a fim de esclarecer que a extinção de cargos ou funções públicas, mediante
ato normativo infralegal, somente pode recair sobre os postos vagos.

ADI 6.180/SE, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 14.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

1.12 ESTATUTO DA ADVOCACIA

Exercício da advocacia em causa própria por policiais e militares - ADI 7.227/DF

49
Precedentes citados: RE 577.025 (Tema 48 RG); ADI 1.521 e ADI 4.125.
50
Precedentes citados: ADI 4.418 e ADI 1.994.
51
Lei 8.496/2018 do Estado de Sergipe: “Art. 43. Para execução desta Lei, pode o Poder Executivo: I – transformar cargos em
comissão em funções de confiança ou em outros cargos de igual natureza, respeitada a classificação dos mesmos e desde que não
resulte em aumento de despesas; II – transformar funções de confiança em cargos em comissão ou em outras funções de igual
natureza, observadas as condições do inciso I deste artigo;”
52
Lei 2.963/1991 do Estado de Sergipe: “Art. 6º – Fica autorizado o Tribunal de Contas, em relação aos Cargos em Comissão e
Funções de Confiança, a transformá-los, modificá-los, extingui-los e estabelecer novos escalonamentos em consonância com os
parâmetros previstos na Lei de Diretrizes orçamentárias e desde quando não haja aumento de despesa.”

45
ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por ofensa aos princípios da isonomia, da moralidade e da eficiência
administrativa — norma que permite o exercício da advocacia em causa própria, mediante inscrição especial
na OAB, aos policiais e militares da ativa, ainda que estritamente para fins de defesa e tutela de direitos
pessoais.
Esta Corte já concluiu que as restrições ao exercício da advocacia imposta aos policiais e militares não
ofendem a Constituição53. Isso porque as incompatibilidades têm a função de resguardar a liberdade e a
independência da atuação do advogado, afastando-se a subordinação hierárquica ou o exercício de atividades de
Estado que exijam a imparcialidade em favor do interesse público na aplicação da lei 54.
O advogado é indispensável à administração da Justiça (CF/1988, art. 133), de modo que o seu desempenho
não pode ocorrer com sujeição a poderes hierárquicos próprios a atividades e regulamentos militares, ou ainda a
poderes hierárquicos decorrentes da atividade policial civil.
Nesse contexto, os regimes jurídicos a que os policiais e os militares são submetidos não se compatibilizam
com o exercício simultâneo da advocacia, mesmo que em causa própria, pois inexiste a possibilidade de conciliarem
as atividades sem que ocorram conflitos de interesses.
As funções estatais relacionadas à preservação da segurança pública e da paz social por eles exercidas
propiciam uma influência indevida e privilégios de acesso a autos de inquéritos e processos, entre outras vantagens
que desequilibram a relação processual. Assim, a incompatibilidade constitui medida legal que objetiva impedir
abusos, tráfico de influência ou práticas que coloquem em risco a independência e a liberdade da advocacia.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação da medida cautelar
em julgamento de mérito e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 3º e 4º do art. 28
da Lei 8.906/1994, incluídos pela Lei 14.365/202255.

ADI 7.272/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

1.13 ESTATUTO DOS MILITARES

Estatuto dos Militares e alterações promovidas pela Lei 13.954/2019: reforma de militar temporário
por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas - ADI 7.092/DF

ODS: 8 e 16

Resumo:
É formalmente constitucional — por não desrespeitar a exigência de lei complementar prevista no
art. 142, § 1º, da CF/1988 — a Lei 13.954/2019, que alterou a Lei 6.880/1980 (Estatuto dos Militares).
A melhor leitura do art. 142, § 1º, da CF/1988 56 é no sentido de que a exigência de lei complementar está
diretamente relacionada ao órgão “Forças Armadas” e não a seus membros. Portanto, a norma que dispõe sobre a
reforma de militares temporários não está sujeita à reserva de lei complementar.

53
Precedentes citados: ADI 3.541 e RE 550.005 AgR.
54
Precedentes citados: ADI 5.235 e RE 199.088.
55
Lei 8.906/1994: “Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes atividades: (…) V -
ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a atividade policial de qualquer natureza; VI - militares de
qualquer natureza, na ativa; (…) § 3º As causas de incompatibilidade previstas nas hipóteses dos incisos V e VI do caput deste
artigo não se aplicam ao exercício da advocacia em causa própria, estritamente para fins de defesa e tutela de direitos pessoais,
desde que mediante inscrição especial na OAB, vedada a participação em sociedade de advogados. (Incluído pela Lei nº 14.365,
de 2022) § 4º A inscrição especial a que se refere o § 3º deste artigo deverá constar do documento profissional de registro na
OAB e não isenta o profissional do pagamento da contribuição anual, de multas e de preços de serviços devidos à OAB, na forma
por ela estabelecida, vedada cobrança em valor superior ao exigido para os demais membros inscritos. (Incluído pela Lei nº
14.365, de 2022)”
56
CF/1988: “Art. 142. (...) § 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e
no emprego das Forças Armadas.”

46
A alínea “b” do inciso II-A do art. 106 e os §§ 1º, 2º e 3º do art. 109 do Estatuto dos Militares (ambos
na redação dada pela Lei 13.954/2019) — que modificaram as regras atinentes ao direito de reforma de
militares temporários por incapacidade definitiva para o serviço ativo das Forças Armadas — são
materialmente constitucionais e não afrontam o direito à igualdade, a responsabilidade objetiva do Estado ou
o princípio da proibição do retrocesso.
O tratamento diferenciado entre os militares efetivos e os temporários, previsto na lei impugnada, não é
discriminatório, visto que o trabalho realizado pelas duas categorias e o respectivo acesso às carreiras são distintos.
Assim, a extensão dos direitos assegurados aos militares efetivos aos temporários não é autorizado, descabendo ao
Poder Judiciário aumentar vantagens ou equiparar regimes sob o fundamento de isonomia 57.
A responsabilidade objetiva do Estado decorrente de acidentes de trabalho não é diminuída pela exclusão
do direito à reforma. O temporário que não for capaz de desempenhar as funções militares, mas somente as civis,
não poderá ser indenizado por prazo superior ao da duração legal do contrato temporário, inexistindo qualquer
infringência ao art. 37, § 6º, da CF/1988.
A jurisprudência desta Corte reconhece que as disposições relativas à seguridade social dos servidores
públicos integram seu regime jurídico. Todavia, o princípio da proibição do retrocesso não abrange direito adquirido
a regime jurídico58.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade formal da Lei 13.954/2019 e material da alínea b do inciso II-A do art. 106 e §§ 1º, 2º e 3º do
art. 109 da Lei 6.880/1980, na redação dada pelo art. 2º da Lei 13.954/201959.

ADI 7.092/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

1.14 DESAPROPRIAÇÃO POR NECESSIDADE OU UTILIDADE PÚBLICA

Desapropriação para atender a interesse público: forma de pagamento da complementação da prévia


indenização - RE 922.144/MG (Tema 865 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“No caso de necessidade de complementação da indenização, ao final do processo expropriatório,
deverá o pagamento ser feito mediante depósito judicial direto se o Poder Público não estiver em dia com os
precatórios.”

57
Precedentes citados: ADI 5.617 e Súmula Vinculante 37
58
Precedentes citados: ADI 4.529; ADI 6.196 e ADI 3.128.
59
Lei 6.880/1980: “Art. 106. A reforma será aplicada ao militar que: (...) II-A. se temporário: (...) b) for julgado incapaz,
definitivamente, para o serviço ativo das Forças Armadas, quando enquadrado no disposto nos incisos I e II do caput do art. 108
desta Lei; (...) Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em consequência de: I – ferimento recebido em campanha ou na
manutenção da ordem pública; II – enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou enfermidade
cuja causa eficiente decorra de uma dessas situações; III – acidente em serviço; IV – doença, moléstia ou enfermidade adquirida
em tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço; V – tuberculose ativa, alienação mental,
esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson,
pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina
especializada; e VI – acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço. § 1º Os casos de
que tratam os itens I, II, III e IV serão provados por atestado de origem, inquérito sanitário de origem ou ficha de evacuação,
sendo os termos do acidente, baixa ao hospital, papeleta de tratamento nas enfermarias e hospitais, e os registros de baixa
utilizados como meios subsidiários para esclarecer a situação. § 2º Os militares julgados incapazes por um dos motivos
constantes do item V deste artigo somente poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de Saúde, da inspeção
de saúde que concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida à regulamentação específica de cada Força Singular. Art. 109. O
militar de carreira julgado incapaz definitivamente para a atividade militar por uma das hipóteses previstas nos incisos I, II, III,
IV e V do caput do art. 108 desta Lei será reformado com qualquer tempo de serviço. § 1º O disposto neste artigo aplica-se ao
militar temporário enquadrado em uma das hipóteses previstas nos incisos I e II do caput do art. 108 desta Lei. § 2º O disposto
neste artigo aplica-se ao militar temporário enquadrado em uma das hipóteses previstas nos incisos III, IV e V do caput do art.
108 desta Lei se, concomitantemente, for considerado inválido por estar impossibilitado total e permanentemente para qualquer
atividade laboral, pública ou privada. § 3º O militar temporário que estiver enquadrado em uma das hipóteses previstas nos
incisos III, IV e V do caput do art. 108 desta Lei, mas não for considerado inválido por não estar impossibilitado total e
permanentemente para qualquer atividade laboral, pública ou privada, será licenciado ou desincorporado na forma prevista na
legislação do serviço militar.”

47
Resumo:
Na hipótese em que o ente federativo expropriante estiver em mora com a quitação de seus
precatórios (CF/1988, art. 100), o pagamento da diferença entre o valor das avaliações final e inicial do imóvel
desapropriado pelo Poder Público deve ser feito por meio de depósito judicial direto ao então proprietário,
em respeito à natureza prévia da indenização (CF/1988, art. 5º, XXIV).
A submissão da desapropriação ao regime de precatórios não viola o comando constitucional de
indenização prévia e justa, pois se revela medida razoável para organizar as finanças públicas do ente público 60.
Contudo, a realidade da maioria dos entes expropriantes é caracterizada pelo constante atraso no pagamento
das referidas dívidas, circunstância que deslegitima o Poder Público, desnatura a natureza prévia da indenização e
esvazia o conteúdo do direito de propriedade.
Nesse contexto, a medida excepcional, na qual a complementação é paga mediante depósito judicial,
objetiva não prejudicar injustamente o antigo proprietário do imóvel pela demora exagerada no recebimento do
montante que lhe é devido, em especial porque, além da longa tramitação usual das ações de desapropriação, ele
perdeu a posse do bem ainda no início do processo, mediante depósito dissociado do correto valor de mercado.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 865 da repercussão geral, deu
provimento ao recurso extraordinário e limitou a eficácia temporal da decisão para que as teses ora fixadas sejam
aplicadas somente às desapropriações propostas a partir da publicação da ata deste julgamento, ressalvadas as ações
judiciais em curso em que se discuta expressamente a constitucionalidade do pagamento da complementação da
indenização por meio de precatório judicial.

RE 922.144/MG, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 19.10.2023

1.15 FUNDAÇÕES PÚBLICAS

Constituição de fundações públicas de direito privado para a prestação de serviço público de saúde -
ADI 4.197/SE

ODS: 3

Tese fixada:
“É constitucional a constituição de fundação pública de direito privado para a prestação de serviço
público de saúde.”

Resumo:
Lei estadual pode autorizar a criação de fundação pública de direito privado para atuar na prestação
de serviço público de saúde.
O art. 5º, IV, do Decreto-Lei 200/1967 (incluído pela Lei 7.596/1987) 61 (1) foi recepcionado com eficácia
de lei complementar pela Constituição Federal 62. O serviço público de saúde não incide no óbice do desempenho,
pelas fundações públicas, de atividades que exigem a atuação exclusiva do Estado — os denominados serviços
públicos inerentes — já que, “a assistência à saúde é livre à iniciativa privada” (CF/1988, art. 199).
Ademais, inexiste modelo pré-definido pela Constituição Federal para a prestação de tais serviços pelo
poder público, razão pela qual deve prevalecer a autonomia de cada ente federativo para definir a forma mais
eficiente de realizar as atividades correlatas (CF/1988, art. 18).

60
Precedente citado: RE 176.108.

61
DL 200/1967: “Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se: (...) IV - Fundação Pública – a entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades
que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido
pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.”
62
CF/1988: “Art. 37. (...) XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa
pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua
atuação (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”

48
Com relação ao regime de pessoal, a jurisprudência desta Corte entende que a relação jurídica mantida
entre as fundações de direito privado instituídas pelo poder público e seus prestadores de serviço é regida pela CLT
63
, e que a exigência de instituição de regime jurídico único não se estende às fundações de direito privado 64 .
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação
e, nessa extensão, a julgou improcedente para assentar a constitucionalidade das Leis 6.346/2008, 6.347/2008 e
6.348/2008, todas do Estado de Sergipe.

ADI 4.197/SE, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

1.16 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Colaboração premiada: possibilidade de utilização no âmbito de ação civil pública por ato de
improbidade administrativa - ARE 1.175.650/PR (Tema 1.043 RG)

ODS: 10 e 16

Tese fixada:

“É constitucional a utilização da colaboração premiada, nos termos da Lei 12.850/2013, no âmbito


civil, em ação civil pública por ato de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público,
observando-se as seguintes diretrizes: (1) Realizado o acordo de colaboração premiada, serão remetidos ao
juiz, para análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e cópia da investigação, devendo o juiz
ouvir sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará os seguintes
aspectos na homologação: regularidade, legalidade e voluntariedade da manifestação de vontade,
especialmente nos casos em que o colaborador está ou esteve sob efeito de medidas cautelares, nos termos dos
§§ 6º e 7º do artigo 4º da referida Lei 12.850/2013; (2) As declarações do agente colaborador,
desacompanhadas de outros elementos de prova, são insuficientes para o início da ação civil por ato de
improbidade; (3) A obrigação de ressarcimento do dano causado ao erário pelo agente colaborador deve ser
integral, não podendo ser objeto de transação ou acordo, sendo válida a negociação em torno do modo e das
condições para a indenização; (4) O acordo de colaboração deve ser celebrado pelo Ministério Público, com a
interveniência da pessoa jurídica interessada e devidamente homologado pela autoridade judicial; (5) Os
acordos já firmados somente pelo Ministério Público ficam preservados até a data deste julgamento, desde
que haja previsão de total ressarcimento do dano, tenham sido devidamente homologados em Juízo e
regularmente cumpridos pelo beneficiado.”

Resumo:

É constitucional o uso do instituto da colaboração premiada em ação civil pública por ato de
improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público se a pessoa jurídica interessada participar como
interveniente e se forem observadas as diretrizes ora fixadas pelo Supremo Tribunal Federal, cuja finalidade
é favorecer a efetiva tutela do patrimônio público, da legalidade e da moralidade administrativas, e evitar a
impunidade de maneira eficiente, com a priorização do combate à corrupção.
O art. 6º da Lei 13.964/2019 65, ao dar nova redação ao § 1º do art. 17 da Lei 8.429/1992 (Lei de
Improbidade Administrativa - LIA), introduziu uma nova espécie de justiça consensual/negocial, permitindo, de
modo expresso, a celebração de acordo — de não persecução cível — no âmbito da ação civil pública por ato de
improbidade administrativa. Contudo, antes mesmo da derrogação da proibição dos referidos modelos de justiça, já
se verificava a possibilidade de utilização da colaboração premiada com base no restante da legislação vigente.
Nesse contexto, atendidos os parâmetros legais, o acordo de colaboração poderá ser homologado pelo juiz,
desde que não isente o colaborador de ressarcir integralmente os danos causados, ainda que a forma de como se dará
a indenização possa ser objeto de negociação66.
63
Precedente citado: ADI 4.247.
64
Precedente citado: RE 716.378 (Tema 545 RG).
65
Lei 13.964/2019: “Art. 6º A Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, passa a vigorar com as seguintes alterações: ‘Art.
17..................................................................... § 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo de não
persecução cível, nos termos desta Lei.”
66
Precedente citado: RE 852.475 (Tema 987 RG).

49
Ademais, como a LIA prevê a legitimidade ativa concorrente entre o órgão ministerial e a pessoa jurídica
de direito público lesada para o ajuizamento da ação, deve ser permitida a sua participação, como interveniente, na
celebração do acordo de não persecução cível. O posicionamento do interveniente não impedirá a celebração da
colaboração premiada pelo Ministério Público, porém deverá ser observado e analisado pelo magistrado no
momento de sua homologação.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.043 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário e fixou a tese jurídica supracitada.

ARE 1.175.650/PR, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira),
às 23:59

Lei de Improbidade Administrativa: constitucionalidade das exigências e penalidades de agentes


públicos - ADI 4.295/DF

ODS: 16

Resumo:
São constitucionais os dispositivos da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992 - LIA) que
ampliam o conceito de agente público, impõem obrigações no tocante às informações patrimoniais para posse
e exercício do cargo, bem como preveem sanções — independentemente das esferas penais, civis e
administrativas — e o acompanhamento dos respectivos procedimentos administrativos pelo Ministério
Público e pelo Tribunal de Contas.
Conforme jurisprudência desta Corte, é possível o duplo regime sancionatório de agentes políticos, à
exceção do Presidente da República67.
A proibição do responsável pelo ato de improbidade de contratar com o Poder Público, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica (LIA, art. 12, I, II e III), não viola o princípio da incomunicabilidade das punições
(CF/1988, art. 5º, XLV), pois, ao atuar ostensivamente no controle e direcionamento da atividade empresarial, evita
fraude à sanção imposta.
A obrigatoriedade de todo agente público apresentar sua declaração de imposto de renda e proventos de
qualquer natureza (LIA, art. 13) visa assegurar mecanismos de fiscalização do patrimônio de agentes públicos, com
o objetivo de resguardar a moralidade e o erário68.
A intimação do Ministério Público e do Tribunal de Contas (LIA, art.15) não fere o princípio da separação
de Poderes. Em verdade, concretiza o princípio da eficiência (CF/1988, art. 37, caput), notadamente porque cabe ao
Parquet — como instituição essencial à função jurisdicional do Estado — promover as medidas necessárias à
garantia de sua missão constitucional e de suas respectivas funções institucionais (CF/1988, arts. 127 e 129).
Por fim, a defesa da probidade administrativa não se restringe à proteção do erário, sob o prisma
patrimonial. Portanto, dada a desnecessidade de comprovação do dano ao patrimônio público para a configuração de
determinados atos de improbidade, inexiste a alegada violação ao devido processo legal.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nessa
extensão, a julgou improcedente, para declarar a constitucionalidade dos arts. 2º, 12 e seus incisos, 13, 15 e 21, I,
todos da Lei 8.429/1992.

ADI 4.295/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

1.17 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

Desapropriação para reforma agrária: propriedade produtiva e atendimento de sua função social -
ADI 3.865/DF

67
Precedentes citados: Pet 3.240 AgR e RE 976.566 (Tema 576 RG).
68
Precedente citado: ADI 4.203.

50
ODS: 11, 12 e 15

Resumo:
São constitucionais os artigos 6º e 9º da Lei 8.629/1993, que exigem a presença simultânea do caráter
produtivo da propriedade e da função social como requisitos para que determinada propriedade seja
insuscetível de desapropriação para fins de reforma agrária.
O próprio texto constitucional exige, de forma inequívoca, o cumprimento da função social da propriedade
produtiva como requisito simultâneo para a sua inexpropriabilidade 69.
Ademais, ao definir que a lei fixará normas para o cumprimento da função social (CF/1988, art. 185,
parágrafo único), a Constituição define o alcance da garantia prevista para a propriedade produtiva e alberga
cláusula semanticamente plural. Assim, entre as possibilidades abertas, a opção do legislador por uma interpretação
que congregue as garantias constitucionais da propriedade produtiva com a funcionalização social exigida de todas
as propriedades é plenamente válida, dada a plurissignificação do texto constitucional.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação, para assentar a
constitucionalidade das expressões “explorada econômica e racionalmente”, “simultaneamente” e “utilização da
terra e”, constantes do art. 6º; e da expressão “e de eficiência na exploração”, contida no § 1º do art. 9º, ambos da
Lei 8.629/1993 70.

ADI 3.865/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

69
CF/1988: “Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não
esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação
do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em
lei. (...) Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim
definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá
tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Art.
186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV -
exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.”

70
Lei 8.629/1993: “Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge,
simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal
competente. § 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por
cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel. § 2º O grau de
eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e será obtido de acordo com a seguinte
sistemática: I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de rendimento
estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; II - para a exploração pecuária,
divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do
Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea; III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo,
dividida pela área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração. § 3º
Considera-se efetivamente utilizadas: I - as áreas plantadas com produtos vegetais; II - as áreas de pastagens nativas e plantadas,
observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado pelo Poder Executivo; III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou
florestal, observados os índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião
Homogênea, e a legislação ambiental; IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas
condições estabelecidas pelo órgão federal competente; V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de
pastagens ou de culturas permanentes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediante documentação e
Anotação de Responsabilidade Técnica. § 4º No caso de consórcio ou intercalação de culturas, considera-se efetivamente
utilizada a área total do consórcio ou intercalação. § 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com um ou mais produtos, no
mesmo espaço, considera-se efetivamente utilizada a maior área usada no ano considerado. § 6º Para os produtos que não tenham
índices de rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso I do
§ 2º deste artigo. § 7º Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso fortuito
ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão competente, deixar de apresentar,
no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração, exigidos para a espécie. § 8º São garantidos os incentivos fiscais
referentes ao Imposto Territorial Rural relacionados com os graus de utilização e de eficiência na exploração, conforme o
disposto no art. 49 da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. (...) Art. 9º A função social é cumprida quando a propriedade
rural atende, simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos: I - aproveitamento
racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância
das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores. § 1º Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e de eficiência na
exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta lei. (...)”

51
1.18 LICITAÇÃO E CONTRATOS

Instituição do Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) - ADI 4.645/DF e ADI 4.655/DF
ODS: 16

Resumo:
É constitucional a Lei 12.462/2011, que instituiu o Regime Diferenciado de Contratações Públicas
(RDC), aplicável, exclusivamente, às licitações e contratos necessários à realização, entre outros, dos Jogos
Olímpicos e Paralímpicos de 2016, bem como da Copa das Confederações FIFA de 2013 e da Copa do Mundo
FIFA de 2014.
O princípio constitucional da segurança jurídica faz prevalecer a higidez da norma impugnada e afasta a
suposta inconstitucionalidade formal decorrente da conversão de medida provisória (MP) que originalmente não
dispunha sobre licitações e contratos públicos, mas sobre temas afetos à organização da Presidência da República e
dos Ministérios, e sobre a aviação civil. Verificada a pertinência temática das emendas parlamentares ao texto da
MP, eventual “contrabando legislativo” realizado pelo Congresso Nacional, naquela ocasião, não pode, por si só,
invalidar a norma, visto que essa medida impactaria, inadvertidamente, inúmeras relações jurídicas 71.
O regime implementado pelo RDC apresenta mecanismos de ganhos de eficiência e de racionalidade
econômica por meio do aumento da celeridade e da desburocratização do processo licitatório, bem como da criação
de incentivos para o cumprimento mais racional do contrato administrativo.
Nesse contexto, os dispositivos impugnados da lei que instituiu RDC são compatíveis com os princípios da
legalidade, da eficiência, da moralidade, da isonomia, da publicidade e da competitividade da licitação (CF/1988,
art. 37, XXI).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta,
conheceu parcialmente das ações e, nessas extensões, as julgou improcedentes, para assentar a constitucionalidade
formal da Lei 12.462/2011, bem como a constitucionalidade material dos diversos dispositivos impugnados.

ADI 4.645/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às 23:59
ADI 4.655/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às 23:59

Prorrogação e (re)licitação de contratos de parceria entre município e a iniciativa privada - ADPF


971/SP, ADPF 987/SP e ADPF 992/SP

ODS: 11 e 16

Resumo:
A adoção do rito de urgência em proposições legislativas é prerrogativa regimental atribuída à
respectiva Casa Legislativa e consiste em matéria “interna corporis”, de modo que não cabe ao Poder
Judiciário qualquer interferência, sob pena de violação ao princípio de separação dos Poderes (CF/1988, art.
2º).
A jurisprudência desta Corte é consolidada no sentido de que o Poder Judiciário não pode apreciar o mérito
da opção do Poder Legislativo pela tramitação abreviada de projeto de lei ou de outras proposições de sua
competência72.
É constitucional lei municipal que, ao regulamentar apenas o seu interesse local, sem criar novas
figuras ou institutos de licitação ou contratação, estabelece diretrizes gerais para a prorrogação e relicitação
dos contratos de parceria entre o município e a iniciativa privada.
Na espécie, a lei municipal impugnada regulou os serviços públicos de sua própria competência, definindo
os institutos da prorrogação contratual, da prorrogação antecipada, e da relicitação, além das condições e formas
para a prorrogação dos contratos de parceria, a definição dos conceitos e requisitos para a relicitação, e do objeto
nos contratos de parceria.

71
Precedentes citados: ADI 5.127; ADI 5.135: ADI 5.012 e ADI 4.697.
72
Precedentes citados: ADI 6.968 e MS 38.199 MC.

52
Dessa forma, a norma atuou dentro da discricionariedade que lhe é conferida (CF/1988, art. 30, I e II), sem
avançar em temas de caráter geral relacionados à licitação e à contratação 73. Nesse contexto, disciplinou somente
aspectos da gestão administrativa dos contratos de parceria, permitindo ao administrador, com base nas normas
gerais federais relacionadas ao tema, decidir do melhor modo para atender ao interesse público.
Ademais, houve plena observância aos requisitos necessários ao reconhecimento da higidez da prorrogação
antecipada, a saber: (i) que o contrato vigente de concessão ou permissão que será prorrogado tenha sido
previamente licitado; (ii) que o edital de licitação e o contrato original autorizem a prorrogação; (iii) que seja
viabilizada à Administração Pública, na figura do Poder concedente, uma decisão discricionária e motivada; e (iv)
que essa decisão seja sempre lastreada no critério da vantajosidade 74.
Com base nesse entendimento, o Plenário, em apreciação conjunta, por unanimidade, julgou improcedentes
as ações para assentar a constitucionalidade da Lei 17.731/2022 do Município de São Paulo/SP.

ADPF 971/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 26.5.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADPF 987/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 26.5.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADPF 992/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 26.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

1.19 POLÍTICA FUNDIÁRIA

Comunidades tradicionais de fundos e fechos de pasto: fixação de prazo limite para requerer a
regularização fundiária - ADI 5.783/BA

ODS: 10 e 15

Resumo:
É inconstitucional — por ser incompatível com a proteção territorial devida às comunidades
tradicionais — norma de lei estadual que fixa prazo final para que fundos e fechos de pasto (grupos
tradicionais que vivem de pastoreio comunal em áreas rurais) protocolem requerimentos de certificação de
reconhecimento e de regularização fundiária de seus territórios.
Conforme jurisprudência desta Corte 75, é reconhecida a central importância da tutela dos direitos
territoriais dos povos e comunidades territoriais, assentada no elo entre a existência comunitária de sua cultura e das
terras que ocupam. Desse modo, deve-se garantir a proteção à propriedade coletiva, com a preservação cultural das
comunidades tradicionais, sob pena de condená-las ao desaparecimento e de impor-lhes a assimilação a modo de
vida predominante diverso.
Os compromissos firmados pelo Brasil, como signatário da Convenção 169 da OIT (arts. 13 e 14) e do
Pacto de São José da Costa Rica (art. 21), impõem a preservação da cultura hegemônica do uso comunitário da terra
e das tradições e práticas sociais de importância histórica das referidas comunidades. Nesse contexto, negar a
garantia às terras tradicionalmente ocupadas configura negativa à própria identidade desses grupos do sertão baiano.
Ademais, a medida prevista na lei estadual impugnada revela-se inadequada, desnecessária e
desproporcional, pois, além de não contribuir para a cessação dos conflitos fundiários e para a pacificação das
relações sociais, implica na ameaça de extinção do pluralismo e da diversidade cultural, em inobservância a diversos
preceitos da Constituição Federal de 198876.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação, para
declarar a inconstitucionalidade do § 2º do art. 3º da Lei 12.910/2013 do Estado da Bahia 77.

73
Precedente citado: RE 1.159.577 AgR.
74
Precedente citado: ADI 5.991.
75
Precedentes citados: Pet 3.388; MS 34.250 AgR; ADI 3.239; ADI 4.269 e ADI 7.008.
76
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XXII - é garantido o direito de propriedade; (...) Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais. § 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
participantes do processo civilizatório nacional. (...) Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar,
fazer e viver; (...) § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural
brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação."

53
ADI 5.783/BA, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 6.9.2023

1.20 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Responsabilidade civil do Estado e morte de cidadão em ação policial armada - ARE 1.382.159 AgR/RJ

Resumo:
No caso de vítima atingida por projétil de arma de fogo durante uma operação policial, é dever do
Estado, em decorrência de sua responsabilidade civil objetiva, provar a exclusão do nexo causal entre o ato e
o dano, pois ele é presumido.
No contexto de incursões policiais, comprovado o confronto armado entre agentes estatais e criminosos
(ação), e a lesão ou morte de cidadão (dano) por disparo de arma de fogo (nexo), o Estado deve comprovar a
ocorrência de hipóteses interruptivas da relação de causalidade.
A ação de agentes estatais — munidos de armamento letal, em área urbana densamente povoada,
deflagrando ou reagindo a confronto com criminosos — impõe ao ente estatal a demonstração da conformidade da
intervenção das forças de segurança pública, visto que possui condições de elucidar as causas e circunstâncias do
evento danoso.
A atribuição desse ônus probatório é decorrência lógica do monopólio estatal do uso da força e dos meios
de investigação. O Estado possui os meios para tanto — como câmeras corporais e peritos oficiais —, cabendo-lhe
averiguar as externalidades negativas de sua ação armada, coligindo evidências e elaborando os laudos que
permitam a identificação das reais circunstâncias da morte de civis desarmados dentro de sua própria residência.
Na espécie, a perícia foi inconclusiva sobre a origem do disparo. A vítima foi alvejada por projétil de arma
de fogo dentro de sua própria casa, enquanto deitado na cama com sua mãe, quando ocorria incursão de agentes
estatais armados, com disparos de armas de fogo. Assim, ausente a comprovação pelo Estado de caso fortuito, força
maior, culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro ou outra circunstância interruptiva do nexo causal, mostra-se
inafastável o dever de indenizar 78.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento ao agravo interno e ao
recurso extraordinário com agravo para julgar procedentes, em parte, os pedidos e condenar o Estado do Rio de
Janeiro ao pagamento de compensação por danos morais a parentes da vítima.

ARE 1.382.159 AgR/RJ, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento
em 28.3.2023

1.21 SERVIÇO NOTORIAL E DE REGISTRO

Concurso de remoção no serviço notarial e de registro - ADC 14/DF

ODS: 16

Resumo:
77
Lei 12.910/2013 do Estado da Bahia: “Art. 3º - O contrato de concessão de direito real de uso da área será celebrado por
instrumento público com associação comunitária, integrada por todos os seus reais ocupantes, e gravado com cláusula de
inalienabilidade, impenhorabilidade e imprescritibilidade. (...) § 2º - Os contratos de concessão de direito real de uso de que trata
esta Lei serão celebrados com as associações que protocolizem os pedidos de certificação de reconhecimento e de regularização
fundiária, nos órgãos competentes, até 31 de dezembro de 2018.”

78
CPC/2015: “Art. 373. O ônus da prova incumbe: (...) II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.”

54
É inconstitucional — por violar regra expressa no art. 236, § 3º, da CF/1988 — norma que estabelece
a modalidade de concurso de remoção na titularidade dos serviços notariais e de registro apenas por
avaliação de títulos.
Em homenagem aos princípios da igualdade, da impessoalidade, da moralidade e da eficiência (CF/1988,
art. 37, caput e II) e, dado o caráter essencial e o nível de complexidade dos serviços, a Constituição expressamente
consignou que o ingresso na atividade notarial e registral, por meio de provimento inicial ou remoção, exige a prévia
habilitação em concurso de provas e títulos 79 80 81.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade do art. 16 da Lei 8.935/1994 (Lei dos Cartórios), na redação dada pela Lei 10.506/2002 82. O
Tribunal também modulou os efeitos da decisão para estabelecer “a validade das remoções realizadas com base na
norma declarada inconstitucional, quando precedidas de concursos públicos exclusivamente de títulos iniciados e
concluídos, com a publicação da relação dos aprovados, no período compreendido entre a entrada em vigor da Lei
10.506/2002 (9.7.2002) e a edição da Resolução CNJ 81/2009 (9.6.2009)”.

ADC 14/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

1.22 SERVIÇOS PÚBLICOS

Dispensa de licitação para a outorga de serviços de transporte coletivo de passageiros desvinculados da


exploração de infraestrutura - ADI 5.549/DF e ADI 6.270/DF

ODS: 8, 9, 11 e 17

Resumo:
É constitucional dispositivo de lei federal 83 que altera o regime de outorga da prestação regular de
serviços de transporte terrestre coletivo de passageiros desvinculados da exploração de obras de
infraestrutura, permitindo sua realização mediante mera autorização estatal, sem a necessidade de licitação
prévia, desde que cumpridos requisitos específicos.
A assimetria regulatória estabelece a possibilidade de outorga da titularidade do serviço público estatal de
transporte mediante autorização, sem a necessidade de licitação, se atendidos requisitos objetivos estabelecidos pela
respectiva agência reguladora, no caso, a Agência Nacional de Transporte Terrestres - ANTT (CF/1988, arts. 21,
XII, e; e 174, caput) 84.
A Constituição Federal elegeu setores que, em razão da sua dinâmica de funcionamento, abrigam atividades
cuja oferta pode ser compartilhada entre vários agentes, sem prejuízo dos atributos de continuidade, atualidade e

79
Precedentes citados: MS 28.279; AR 2.727 AgR; AR 2.736 AgR; MS 31.833 AgR; MS 31.128 AgR; MS 28.839; e MS 32.518
AgR.
80
CF/1988: “Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. (...)
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que
qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.”
81
Resolução 81 do CNJ: “Art. 1º O ingresso, por provimento ou remoção, na titularidade dos serviços notariais e de registros
declarados vagos, se dará por meio de concurso de provas e títulos realizado pelo Poder Judiciário, nos termos do § 3º do artigo
236 da Constituição Federal.”
82
Lei 8.935/1994: “Art. 16. As vagas serão preenchidas alternadamente, duas terças partes por concurso público de provas e
títulos e uma terça parte por meio de remoção, mediante concurso de títulos, não se permitindo que qualquer serventia notarial ou
de registro fique vaga, sem abertura de concurso de provimento inicial ou de remoção, por mais de seis meses. (Redação dada
pela Lei nº 10.506, de 9.7.2002).”

83
Lei 12.996/2014: “Art. 3º A Lei n º 10.233, de 5 de junho de 2001, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 13 (...) IV
- permissão, quando se tratar de: a) prestação regular de serviços de transporte terrestre coletivo interestadual semiurbano de
passageiros desvinculados da exploração da infraestrutura; b) prestação regular de serviços de transporte ferroviário de
passageiros desvinculados da exploração de infraestrutura; V - autorização, quando se tratar de: (...) e) prestação regular de
serviços de transporte terrestre coletivo interestadual e internacional de passageiros desvinculados da exploração da
infraestrutura.”
84
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...) e)
os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; (...) Art. 174. Como agente normativo e
regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo
este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. (...)”

55
adequação do serviço público. Assim, a dispensa de licitação não significa que faltará rigidez na seleção das
transportadoras.
Nesse contexto, a escolha política de permitir a descentralização operacional possibilita a ampliação da
competitividade em benefício do consumidor e gera uma alocação mais eficiente de recursos, aumentando o bem-
estar da sociedade. Isso porque a maior oferta de prestadores contribui para a universalização dos serviços, atingindo
uma maior capilaridade no atendimento de destinos e rotas, de forma a garantir o direito de locomoção, a redução de
desigualdades regionais, o desenvolvimento nacional, bem como a integração política e cultural dos povos da
América Latina (CF/1988, art. 4º, parágrafo único).
Com base nesse entendimento, o Plenário, em apreciação conjunta, por maioria, conheceu parcialmente da
ADI 6.270/DF e integralmente da ADI 5.549/DF; e, quanto ao mérito, por maioria, as julgou improcedentes. Em
obiter dictum, o Tribunal entendeu que o Poder Executivo e a ANTT devem providenciar as formalidades
complementares introjetadas no acórdão do Tribunal de Contas da União e na Lei 14.298/2022.

ADI 5.549/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 29.3.2023


ADI 6.270/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 29.3.2023

Metrô-DF: satisfação de débitos mediante o regime de precatórios - ADPF 524/DF

ODS: 11 e 16

Resumo:
Sociedades de economia mista, como o Metrô-DF, desde que prestem serviço público essencial em
regime de exclusividade (monopólio natural) e sem intuito lucrativo, submetem-se ao regime constitucional de
precatórios para o adimplemento de seus débitos 85.
O transporte público coletivo de passageiros sobre trilhos configura serviço público essencial que não
concorre com as demais espécies de transporte coletivo. A sua atuação, dentro do contexto da política pública de
mobilidade urbana, é complementar.
A constituição de uma sociedade de economia mista para gerenciar a prestação do serviço dos metrôs deve-
se, em essência, à maior agilidade e operabilidade administrativa, mas a viabilidade econômica, normalmente,
depende do investimento do Poder Público, desde as desapropriações até os bilionários subsídios.
Nesse contexto, a transferência de recursos deve estar condicionada à observância dos princípios
constitucionais de gestão fiscal e orçamentária do erário, no que se inclui o regime de pagamentos por precatórios.
Entendimento diverso pode, entre outros aspectos, subverter a programação orçamentária do ente público, em
prejuízo de despesas com manutenção, investimento em novos equipamentos, recrutamento e qualificação
profissional.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a arguição, com efeitos erga
omnes e vinculantes, para que, confirmando a medida cautelar oportunamente deferida, a execução de decisões
judiciais proferidas contra o Metrô-DF ocorra exclusivamente sob o regime de precatórios previsto no art. 100 da
CF/1988.

ADPF 524/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

1.23 SERVIDOR PÚBLICO

Advogados públicos federais e retribuição por substituição de integrantes que não exercem funções
previstas em lei - ADI 5.519/DF
85
Precedente citado: ADPF 890.

56
Tese fixada:
“Não cabe ao Poder Judiciário, sob o fundamento de isonomia, conceder retribuição por substituição
a advogados públicos federais em hipóteses não previstas em lei.”

Resumo:
Por inexistir norma constitucional que imponha o deferimento de retribuição financeira por
substituição a advogados públicos federais que não exercem funções expressamente especificadas em lei 86, a
concessão, ou não, de benefício dessa natureza configura juízo de discricionariedade do legislador ordinário,
o que impede o Poder Judiciário de fazê-lo.
A Lei 11.358/2006, ao fixar a remuneração devida aos advogados públicos federais, estabeleceu parâmetros
suficientes para remunerar esse grupo profissional pelo exercício das atividades inerentes ao cargo efetivo que
ocupam, e excluiu o adicional pela prestação de serviço extraordinário 87.
Nesse contexto, o deferimento da retribuição questionada configuraria verdadeiro aumento de vencimentos
por parte do Poder Judiciário, em evidente afronta à Constituição Federal e à pacífica jurisprudência desta Corte no
sentido de vedar o aumento de vencimentos pelo Poder Judiciário com base no princípio da isonomia, na
equiparação salarial e na extensão do alcance de vantagens pecuniárias previstas em norma infraconstitucional 88.
Esse posicionamento, inclusive, foi consolidado com a edição do enunciado da Súmula Vinculante 37.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADI 5.519/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

Agentes comunitários de saúde e de combate às endemias: aplicação do piso salarial nacional aos
servidores estatutários dos entes subnacionais - RE 1.279.765/BA (Tema 1.132 RG)

ODS: 3 e 8

Tese fixada:
“I - É constitucional a aplicação do piso salarial nacional dos Agentes Comunitários de Saúde e
Agentes de Combate às Endemias, instituído pela Lei 12.994/2014, aos servidores estatutários dos entes
subnacionais, em consonância com o art. 198, § 5º, da Constituição Federal, com a redação dada pelas
Emendas Constitucionais 63/2010 e 120/2022, cabendo à União arcar com os ônus da diferença entre o piso
nacional e a legislação do ente municipal; II - Até o advento da Lei 9.646/2022, a expressão ‘piso salarial’ para
os Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias corresponde à remuneração mínima,
considerada, nos termos do art. 3º, inciso XIX, da Lei 8.629/2014, somente a soma do vencimento do cargo e
da gratificação por avanço de competências.”

Resumo:
Os agentes comunitários de saúde e os de combate às endemias dos municípios, estados e do Distrito
Federal fazem jus ao piso salarial fixado em lei federal, devendo a União arcar com os ônus da diferença entre
o piso nacional e o previsto pela legislação dos entes subnacionais.

86
Lei 8.112/1990: “Art. 38. Os servidores investidos em cargo ou função de direção ou chefia e os ocupantes de cargo de
Natureza Especial terão substitutos indicados no regimento interno ou, no caso de omissão, previamente designados pelo
dirigente máximo do órgão ou entidade. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) § 1º O substituto assumirá automática e
cumulativamente, sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício do cargo ou função de direção ou chefia e os de Natureza
Especial, nos afastamentos, impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância do cargo, hipóteses em que deverá
optar pela remuneração de um deles durante o respectivo período. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) § 2º O
substituto fará jus à retribuição pelo exercício do cargo ou função de direção ou chefia ou de cargo de Natureza Especial, nos
casos dos afastamentos ou impedimentos legais do titular, superiores a trinta dias consecutivos, paga na proporção dos dias de
efetiva substituição, que excederem o referido período. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)”
87
Lei 11.358/2006: “Art. 5º Além das parcelas de que tratam os arts. 2º, 3º e 4º desta Lei, não são devidas aos integrantes das
Carreiras a que se refere o art. 1º desta Lei as seguintes espécies remuneratórias: (...) XI - adicional pela prestação de serviço
extraordinário;”
88
Precedentes citados: RE 635.051 (monocrática); RE 592.317; ADI 1.822; RE 711.344 AgR e RE 223.452 AgR.

57
O texto constitucional estabelece expressamente que o piso salarial desses servidores será disposto em lei
federal, e que a União, nos termos da lei, deverá prestar assistência financeira complementar aos demais entes
federativos89.
Nesse contexto, não há invasão da competência dos entes menores para definir o regime dos seus
servidores, porque se trata apenas do estabelecimento de uma contraprestação mínima, o que não impede que os
entes federativos prevejam outras parcelas para compor a remuneração final.
De todo modo, a expressão “piso salarial” há de ser interpretada como a contraprestação pecuniária
mínima paga ao profissional da categoria, acrescida tão somente das verbas fixas, genéricas e permanentes,
conferidas indistintamente a toda a categoria e desvinculadas de condições de trabalho específicas de cada servidor
ou critérios meritórios individuais.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.132 da repercussão geral,
deu parcial provimento ao recurso extraordinário para reformar em parte o acórdão recorrido e, por conseguinte,
determinar que, na implementação do pagamento do piso nacional da categoria aos servidores estatutários
municipais, previsto na Lei 12.994/2014, seja considerada a interpretação ora conferida à expressão “piso salarial”.

RE 1.279.765/BA, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 19.10.2023

Aposentadoria especial em razão do exercício da função de magistério em âmbito estadual - ADI


856/RS

ODS: 8, 10 e 16

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (CF/1988, art. 61,
II, “c” e “e”) e a competência privativa da União legislar sobre seguridade social e sobre diretrizes e bases da
educação nacional (CF/1988, art. 22, XXIII e XXIV), bem como por violar o núcleo da norma que restringe a
aposentadoria especial a funções de magistério (CF/1988, art. 40, § 5º) — lei estadual, de iniciativa
parlamentar, que estende essa modalidade de aposentadoria para atividades administrativas, técnico-
pedagógicas e outras que não propriamente a de professor, inclusive a de representação associativa ou
sindical.

89
CF/1988: “Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: (...) § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso
salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de
saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial. (Redação dada pela Emenda
Constitucional 63/2010) § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o
servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder
o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 51, de 2006) § 7º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias fica
sob responsabilidade da União, e cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer, além de outros consectários
e vantagens, incentivos, auxílios, gratificações e indenizações, a fim de valorizar o trabalho desses profissionais. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 120, de 2022) § 8º Os recursos destinados ao pagamento do vencimento dos agentes comunitários de
saúde e dos agentes de combate às endemias serão consignados no orçamento geral da União com dotação própria e
exclusiva. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) § 9º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos
agentes de combate às endemias não será inferior a 2 (dois) salários mínimos, repassados pela União aos Municípios, aos Estados
e ao Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) § 10. Os agentes comunitários de saúde e os agentes
de combate às endemias terão também, em razão dos riscos inerentes às funções desempenhadas, aposentadoria especial e,
somado aos seus vencimentos, adicional de insalubridade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) § 11. Os
recursos financeiros repassados pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para pagamento do vencimento ou
de qualquer outra vantagem dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias não serão objeto de
inclusão no cálculo para fins do limite de despesa com pessoal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022)”

58
A jurisprudência desta Corte reconhece a competência privativa do chefe do Poder Executivo para iniciar
projetos de lei que envolvam alterações no sistema estadual de ensino, definição das funções de magistério e
disposições sobre a aposentadoria de servidores90.
Ademais, compete à União editar as normas gerais sobre previdência social (CF/1988, art. 24, XII e § 1º),
motivo pelo qual não se admite que cada estado fixe requisitos diferenciados para a concessão de aposentadoria
especial. A Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) regulamentou a aposentadoria especial
do professor e definiu quais funções se enquadram como de magistério 91 92.
Nesse contexto, as atividades meramente administrativas não podem ser consideradas como magistério, sob
pena de ofensa à autoridade da decisão proferida na ADI 3.772/DF93.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para, confirmando a
medida cautelar anteriormente deferida, declarar a inconstitucionalidade da Lei 9.841/1993 do Estado do Rio
Grande do Sul 94.

ADI 856/RS, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Direito do servidor estável à licença sem remuneração para desempenho de mandato classista - ADI
7.242/GO

ODS: 16

Resumo:
É constitucional norma estadual que, ao regulamentar o afastamento de servidor público estável para
o exercício de mandato sindical, assegura-lhe o direito de licença sem remuneração.
Na espécie, o dispositivo legal impugnado 95 foi editado conforme os princípios constitucionais e com a
adequação do regime jurídico estadual às normas previstas no regime jurídico dos servidores públicos federais 96, de
modo que não representa inovação no ordenamento jurídico, tampouco viola o princípio de vedação ao retrocesso
social.
Ademais, a simples regulamentação do afastamento ou concessão de licença a servidor para o exercício de
mandato classista não tem aptidão para interferir na organização sindical ou associativa, não ensejando ofensa aos
direitos da livre associação e à autonomia sindical 97 98.
90
Precedentes citados: ADI 1.895; ADI 582; ADI 575 e ADI 1.487 MC.
91
Lei 9.394/1996: “Art. 67 (...) § 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art. 201 da Constituição Federal,
são consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de atividades
educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do
exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico. (Incluído pela Lei nº
11.301, de 2006)”.
92
Precedentes citados: ADI 3.772 e RE 1.039.644 RG (Tema 965 RG).
93
Precedente citado: Rcl 17.426 AgR.
94
Lei 9.841/1993 do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 1º - Considerar-se-ão como de efetivo exercício nas funções de
magistério, para os efeitos de que trata o art. 38, III, ‘b’, da Constituição do Estado, as atividades docentes, a qualquer título, as
administrativas, as técnico-pedagógicas e outras específicas dos demais especialistas em educação exercidas em estabelecimentos
de 1º e 2º graus em nível de Sistema Estadual de Ensino. Parágrafo único. Considerar-se-á, também, como de efetivo exercício
nas funções de magistério, o período em que o servidor ocupar o cargo de representação associativa ou sindical do Quadro do
Magistério Público Estadual. Art. 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º - Revogam-se as disposições em
contrário.”
95
Lei 20.943/2020 do Estado de Goiás: “Art. 1º A Lei nº 20.756, de 28 de janeiro de 2020, passa a vigorar com as seguintes
alterações: (...) Art. 164. É assegurado ao servidor estável o direito à licença sem remuneração para desempenho de mandato em
central sindical, confederação, federação, associação de classe de âmbito estadual, sindicato representativo da categoria de
servidores públicos estaduais ou entidade fiscalizadora da profissão, regularmente registrados no órgão competente.”
96
Lei 8.112/1990: “Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem remuneração para o desempenho de mandato em
confederação, federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato representativo da categoria ou entidade fiscalizadora
da profissão ou, ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída por servidores públicos
para prestar serviços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto
em regulamento e observados os seguintes limites: (...) (Redação dada pela Lei nº 11.094, de 2005)”
97
Precedentes citados: ARE 1.391.596 AgR; ADI 6.051 e ADI 990.
98
CF/1988: “Art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do
Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a

59
Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADI 7.242/GO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 17.4.2023 (segunda-feira), às
23:59

EC 20/1998 e acumulação de pensões civil e militar - RE 658.999/SC (Tema 627 RG)

Tese fixada:
“Em se tratando de cargos constitucionalmente acumuláveis, descabe aplicar a vedação de
acumulação de aposentadorias e pensões contida na parte final do art. 11 da Emenda Constitucional 20/1998,
porquanto destinada apenas aos casos de que trata, ou seja, aos reingressos no serviço público por meio de
concurso público antes da publicação da referida emenda e que envolvam cargos inacumuláveis."

Resumo:
Não há qualquer obstáculo ao recebimento acumulado de dois benefícios de pensão por morte se eles
decorrerem de cargos acumuláveis, expressamente previstos no art. 37, XVI, da Constituição Federal.
A vedação de acumulação de aposentadorias e pensões contida na parte final do art. 11 da EC 20/1998 não
incide na hipótese de cargos constitucionalmente acumuláveis, pois se destina unicamente à hipótese excepcional de
reingressos no serviço público por meio de concurso público antes de sua publicação e que envolvam cargos não
acumuláveis 99.
A legitimidade da percepção simultânea de remunerações e/ou proventos envolve o exame da possibilidade
de serem ou não acumuláveis os cargos de que decorrem, de acordo com a legislação de regência. Essa lógica
também se aplica, em princípio, ao pagamento simultâneo de pensões por morte de um mesmo instituidor, sendo
permitida no âmbito do mesmo regime de previdência social se decorrentes do exercício de cargos
constitucionalmente acumuláveis 100 .
Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte é firme quanto a possibilidade do recebimento de duas
aposentadorias decorrentes de cargos acumuláveis com pensão militar por morte 101.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 627 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 658.999/SC, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

Estatuto da Polícia Civil do Estado do Paraná: alterações substanciais e procedimentos em sede de


sindicância policial - ADI 2.926/PR

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por ofender o princípio da simetria — norma de Constituição estadual que
prevê a edição de lei complementar para disciplinar as atribuições e o estatuto das carreiras exclusivas de

intervenção na organização sindical; (...) Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte: (...) VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical;”
99
EC 20/1998: “Art. 11 – A vedação prevista no art. 37, § 10, da Constituição Federal, não se aplica aos membros de poder e aos
inativos, servidores e militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público por
concurso público de provas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na Constituição Federal, sendo-lhes proibida a
percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência a que se refere o art. 40 da Constituição Federal, aplicando-
se-lhes, em qualquer hipótese, o limite de que trata o § 11 deste mesmo artigo.”
100
CF/1988: “Art. 37. (...) XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade
de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor
com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; (...) § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42
e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição,
os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração.”
101
Precedentes citados: ARE 848.993 RG (Tema 921 RG); RE 1.264.122 AgR; ARE 1.194.860 AgR-segundo e ARE 1.117.555
AgR.

60
Estado, visto que essa exigência não encontra paralelo na Constituição Federal 102, sobretudo em relação à
carreira policial (CF/1988, art. 144, § 7º).
Por outro lado, a votação e a aprovação de lei complementar em contexto no qual se exigiria lei ordinária é
apenas redundante, sem implicar vício formal. Assim, se editada lei complementar para dispor sobre a organização e
o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, a norma deverá ser tratada como lei ordinária, e
não anulada por suposta inobservância do processo legislativo.
É inconstitucional — por violar o devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV) e o princípio da não
culpabilidade (CF/1988, art. 5º, LVII) — norma estadual que prevê a supressão remuneratória de policial
investigado em sede de sindicância. Não obstante, o afastamento do acusado deve ser analisado à luz do caso
concreto, com observância às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CF/1988, art. 5º,
LV).
Esta Corte já decidiu que a presunção de inocência se estende até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Desse modo, é evidente que a tramitação do processo criminal, em si, não autoriza a supressão do
pagamento do servidor público acusado de crime103.
Já a possibilidade do afastamento preventivo do policial em sede de sindicância (LC paranaense 14/1982,
art. 240, §§ 5º e 6º) dependerá das circunstâncias do caso concreto, diante da inviabilidade de determinação de um
rol exaustivo dos elementos fáticos que podem surgir na apuração administrativa da falta funcional.
No que se refere à necessidade de um representante da Procuradoria-Geral do Estado no Conselho da
Polícia Civil (LC paranaense 14/1982, art. 6º, VII), não há previsão constitucional no sentido de vedar o exercício
aos advogados públicos, ainda que em disponibilidade, de qualquer outra função pública 104.
No mais, é meramente expletiva a determinação de aplicação subsidiária de normas análogas (na espécie,
do Código de Processo Penal) a situações de aparente anomia (LC paranaense 14/1982, na redação dada pela LC
paranaense 98/2003, art. 243, § 1º). Esse método decorre do DL 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro - LINDB)105.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, por maioria, a julgou parcialmente procedente para: (i) declarar a inconstitucionalidade do termo
“complementar”, constante do § 9º do art. 33 da Constituição do Estado do Paraná; (ii) declarar a
inconstitucionalidade da expressão “com supressão das vantagens previstas nesta lei”, contida no art. 216, § 1º, da
LC 14/1982, na redação dada pela LC 98/2003, ambas do Estado do Paraná; (iii) declarar a constitucionalidade
formal das LC 89/2001 e 98/2003, ambas do Estado do Paraná; e (iv) declarar a constitucionalidade dos arts. 6º,
VIII; 240, §§ 5º e 6º; e 243, § 1º, todos da LC 14/1982, na redação dada pela LC 98/2003, ambas do Estado do
Paraná.

ADI 2.926/PR, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Impedimento da aposentadoria voluntária e da exoneração a pedido de servidor estadual que responde


a processo administrativo disciplinar - ADI 6.591/DF

ODS: 16

Resumo:
É constitucional norma estadual que impede a exoneração a pedido e a aposentadoria voluntária de
servidor que responde a processo administrativo disciplinar (PAD). Contudo, é possível conceder a
aposentadoria ao investigado quando a conclusão do PAD não observar prazo razoável.
A Administração Pública não possui discricionariedade para deixar de aplicar penalidades disciplinares
quando os fatos se amoldarem ao tipo legal, assim como para estender, de modo desproporcional, o prazo para a

102
Precedente citado: ADI 5.003.
103
Precedente citado: HC 151.430 AgR-segundo.
104
CF/1988: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso
dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases,
exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. Parágrafo único. Aos procuradores
referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os
órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.”
105
LINDB: “Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito.”

61
conclusão do respectivo processo administrativo. Assim, é possível a cumulação de sanções — pois se revela como
medida razoável e proporcional — necessárias para a observância do princípio democrático 106.
Nesse contexto, a indisponibilidade dos bens para o ressarcimento do dano ou a configuração de eventual
inelegibilidade — penalidades aplicáveis quando o servidor é demitido — justificam a previsão do art. 172 da Lei
8.112/1990 107 — que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais —, e cuja redação foi replicada pela lei estadual impugnada.
Por outro lado, o tempo de espera para a conclusão do PAD pode ser demasiado e acabar atingindo, de
forma reflexa, o direito à aposentadoria. Se isso ocorrer, é necessário verificar, à luz do caso concreto, o real motivo
da demora: se a desídia, entre outras possibilidades, decorre do abuso do direito de defesa, pela complexidade do
caso, ou pela necessidade de produção de provas.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para conferir
interpretação conforme a Constituição ao art. 240 da Lei 6.677/1994 do Estado da Bahia 108, a fim de assentar que,
em caso de inobservância de prazo razoável para a conclusão de processo administrativo disciplinar, seja possível a
concessão de aposentadoria a servidor investigado.

ADI 6.591/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às 23:59

Incorporação de gratificação por exercício da Presidência do TCDF - ADI 6.126/DF

Resumo:

É inconstitucional — por contrariedade ao regime remuneratório paritário (CF/1988, art. 73, § 3º c/c
o art. 75) — norma distrital que determina a incorporação de gratificação pelo exercício da Presidência do
Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) aos vencimentos ou proventos do respectivo membro.
Em virtude do referido regime remuneratório 109 são devidos, aos conselheiros do TCDF, os mesmos
subsídios e vantagens auferidos pelos desembargadores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
(TJDFT).
Assim, o caráter eventual e temporário da parcela, a cláusula de equiparação constitucionalmente prevista e
o princípio da simetria impõem que a gratificação de conselheiros pelo exercício da presidência do TCDF apenas
seria legítima se houvesse uma gratificação equivalente em lei para os desembargadores do TJDFT, e desde que
limitada ao período de exercício dessa função, sendo vedada a sua incorporação aos vencimentos, de acordo com a
política remuneratória definida na LC 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) 110 e na Resolução 13/2016
do CNJ111.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 1º da Lei Distrital 7.093/2022 112. Além disso, modulou os efeitos da decisão para dar-
106
Precedente citado: ADC 30.
107
Lei 8.112/1990: “Art. 172. O servidor que responder a processo disciplinar só poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado
voluntariamente, após a conclusão do processo e o cumprimento da penalidade, acaso aplicada. Parágrafo único. Ocorrida a
exoneração de que trata o parágrafo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em demissão, se for o caso.”
108
Lei 6.677/1994 do Estado da Bahia: “Art. 240 - O servidor que responde a processo disciplinar só poderá ser exonerado a
pedido, ou aposentado voluntariamente, após a sua conclusão e o cumprimento da penalidade, acaso aplicada. Parágrafo único -
Ocorrida a exoneração de que trata o artigo 46, o ato será convertido em demissão, se for ocaso.”
109
CF/1988: “Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio
de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96. (...) § 3° Os
Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos
Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40.
(...) Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.”
110
LC 35/1979: “Art. 65 - Além dos vencimentos, poderão ser outorgadas aos magistrados, nos termos da lei, as seguintes
vantagens: (...) V - representação; (...) § 1º - A verba de representação, salvo quando concedida em razão do exercício de cargo
em função temporária, integra os vencimentos para todos os efeitos legais.”
111
Resolução 13/2006 do CNJ: “Art. 5º As seguintes verbas não estão abrangidas pelo subsídio e não são por ele extintas: (...) II -
de caráter eventual ou temporário: a) exercício da Presidência de Tribunal e de Conselho de Magistratura, da Vice-Presidência e
do encargo de Corregedor;”
112
Lei Distrital 7.093/2022: “Art. 1º Ficam instituídas as seguintes gratificações em razão do exercício de mandato e do acúmulo
de funções administrativas, de fiscalização ou de controle externo, calculadas sobre o subsídio mensal do cargo de Conselheiro: I
- 20%, pelo exercício de mandato de Presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal; II - 12,5%, pelo exercício da função
de Vice-Presidente do Tribunal, Conselheiro-Corregedor, Conselheiro-Ouvidor e Conselheiro-Regente da Escola de Contas
Públicas. Parágrafo único. As gratificações de que trata este artigo têm caráter temporário e não se incorporam ao subsídio do
cargo nem aos proventos de aposentadoria para nenhum efeito legal.”

62
lhe efeito ex nunc e assentar a irretroatividade do entendimento em relação a valores já auferidos e aposentadorias já
concedidas, inclusive as pensões destas geradas.

ADI 6.126/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 17.4.2023 (segunda-feira), às 23:59

Procuradoria estadual: pagamento de “auxílio-aperfeiçoamento profissional” e regime remuneratório


de subsídio - ADI 7.271/AP

ODS: 16

Tese fixada:
"O auxílio-aperfeiçoamento previsto na Lei Complementar nº 89/2015, do Estado do Amapá, tem
caráter excepcional e não viola a regra remuneratória do subsídio em parcela única".

Resumo:
É constitucional — quando caracterizada a natureza indenizatória da verba — a concessão de auxílio
destinado ao aperfeiçoamento profissional de membros de procuradoria estadual, remunerados sob a forma
de subsídio.
O ressarcimento do agente público mediante a concessão de verba indenizatória, cuja natureza pressupõe
caráter excepcional, transitoriedade e vinculação à finalidade específica (CF/1988, art. 37, XI, § 11), é compatível
com o modelo constitucional de subsídios (CF/1988, art. 39, § 4º) e com os princípios republicanos e da moralidade.
Na espécie, o “auxílio-aperfeiçoamento profissional” instituído pela legislação estadual impugnada possui
natureza indenizatória, cuja excepcionalidade é justificável apenas durante o prazo em que subsistirem as condições
que deram causa à sua instituição, além de ser pago durante período determinado e estar vinculado estritamente à
participação do procurador em cursos que guardem nexo causal com as suas atividades institucionais.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação, para assentar a
constitucionalidade dos arts. 93, VII, e 102, I a IV, e §§ 1º, 2º e 3º, ambos da Lei Complementar 89/2015 do Estado
do Amapá 113.

ADI 7.271/AP, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Nulidade do vínculo de servidor estadual com a Administração Pública mineira e pagamento de férias-
prêmio - RE 1.400.775/MG (Tema 1.239 RG)

ODS: 8 e 16

Tese fixada:
“Não tem direito à indenização de férias-prêmio o servidor estadual cujo vínculo com a
Administração Pública, decorrente da Lei Complementar mineira 100/2007, foi declarado nulo, por
inobservância dos princípios constitucionais que regem o ingresso no serviço público.”

Resumo:
113
Lei Complementar 89/2015 do Estado do Amapá: “Art. 93. A percepção do subsídio não exclui o pagamento e a percepção
das seguintes verbas ou vantagens: (...) VII - auxílio aperfeiçoamento profissional; (...) Art. 102. É devido auxílio-
aperfeiçoamento profissional ao Procurador do Estado relativo aos seguintes cursos: I - Pós-graduação, no importe de 10% sobre
o valor do subsídio do Procurador do Estado da classe especial, pelo prazo máximo de 2 (dois) anos; II - mestrado, no importe de
15% sobre o valor do subsídio do Procurador do Estado da classe especial, pelo prazo máximo de 2 (dois) anos; III - doutorado,
no importe de 20% sobre o valor do subsídio do Procurador do Estado da classe especial, pelo prazo máximo de 4 (quatro) anos;
(redação dada pela Lei Complementar 136, de 02.04.2022) IV - cursos relacionados à atividade institucional da Procuradoria-
Geral do Estado, no importe de 5% sobre o valor do subsídio do Procurador do Estado da classe especial, pelo prazo máximo de
2 (dois) meses. § 1º Os cursos terão que possuir relação com a atividade desenvolvida pela Procuradoria-Geral do Estado.
(redação dada pela Lei Complementar 126, de 30.09.2020) § 2º O Procurador do Estado deve comprovar sua matrícula no
referido curso para percepção do auxílio aperfeiçoamento profissional, o qual somente será devido durante o curso. § 3º Para os
efeitos desta lei será considerado apenas um curso por período, vedada a indenização por curso concomitante.”

63
A indenização a título de férias-prêmio não é devida aos servidores estaduais que tiveram seu vínculo
com a Administração Pública — firmado com fundamento na Lei Complementar 100/2007 do Estado de
Minas Gerais — anulado em virtude do julgamento da ADI 4.976/MG pelo Plenário do STF.
O direito ao pagamento de férias-prêmio indenizadas não pode ser reconhecido aos servidores que se
tornaram titulares de cargos efetivos sem a prévia aprovação em concurso público 114.
Entendimento diverso contraria a consolidada jurisprudência desta Corte, segundo a qual os únicos efeitos
aplicáveis aos contratos eivados de nulidade, com burla ao concurso público, consistem no recebimento, pelos
agentes públicos assim contratados, do salário pelos dias trabalhados e na possibilidade de levantamento dos
depósitos efetuados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.239 RG) e, no mérito, também por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria 115 para dar provimento ao recurso extraordinário e julgar improcedentes
os pedidos formulados na inicial.

RE 1.400.775/MG, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 15.12.2022

Reajuste de proventos e pensões de servidores públicos federais e seus dependentes pelo mesmo índice
do RGPS - RE 1.372.723/RS (Tema 1.224 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“É constitucional o reajuste de proventos e pensões concedidos a servidores públicos federais e seus
dependentes não beneficiados pela garantia de paridade de revisão, pelo mesmo índice de reajuste do regime
geral de previdência social (RGPS), previsto em normativo do Ministério da Previdência Social, no período
anterior à Lei 11.784/2008”

Resumo:
Como medida de efetivar o princípio da irredutibilidade dos benefícios no período que precedeu a
regulamentação conferida pela Lei 11.784/2008, é aplicável aos servidores públicos federais inativos e seus
pensionistas não beneficiados pela garantia de paridade de revisão o mesmo índice do RGPS, nos termos
previstos na Orientação Normativa 3/2004 do Ministério da Previdência Social (MPS), cuja edição decorreu
de autorização expressa da Lei 9.717/1998 (art. 9º, I).
Conforme entendimento firmado por esta Corte 116, os servidores públicos federais inativos, no período em
questionamento, fazem jus ao reajuste anual de seus proventos segundo o índice do RGPS, nos termos do art. 40, §
8º, da Constituição Federal de 1988 117, do art. 15 da Lei 10.887/2004 118 e do art. 65 da Orientação Normativa
3/2004 do MPS119.
Na espécie, durante o intervalo compreendido entre o fim do instituto da paridade (EC 41/2003) e a
publicação da Lei 11.784/2008, o MPS editou a Orientação Normativa 3/2004 justamente com a finalidade de
preencher a lacuna normativa sobre o índice aplicável aos reajustes dos benefícios de aposentadoria e pensões do
serviço público federal 120. Referido ato normativo decorreu de delegação expressamente autorizada pela Lei
9.717/1998 e sem qualquer contradição com a Lei 10.887/2004.

114
Precedente citado: ADI 4.876.
115
Precedentes citados: RE 705.140 (Tema 308 RG); RE 765.320 RG (Tema 916 RG); RE 1.358.592 AgR e RE 1.386.136 ED.
116
Precedente citado: MS 25.871.
117
CF/1988: “Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo
e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (...) § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei.”
118
Lei 10.887/2004: “Art. 15. Os proventos de aposentadoria e as pensões de que tratam os arts. 1º e 2º desta Lei serão
reajustados, a partir de janeiro de 2008, na mesma data e índice em que se der o reajuste dos benefícios do regime geral de
previdência social, ressalvados os beneficiados pela garantia de paridade de revisão de proventos de aposentadoria e pensões de
acordo com a legislação vigente. (Redação dada pela Lei 11.784/2008) (Vide ADI 4.582)”
119
Orientação Normativa 3/2004 do Ministério da Previdência Social: “Art. 65. Os benefícios de aposentadoria e pensão, de que
tratam os art. 47,48, 49, 50, 51, 54 e 55 serão reajustados para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, na mesma data
em que se der o reajuste dos benefícios do RGPS, de acordo com a variação do índice definido em lei pelo ente federativo.
Parágrafo único. Na ausência de definição do índice de reajustamento pelo ente, os benefícios serão corrigidos pelos mesmos
índices aplicados aos benefícios do RGPS.”
120
Precedentes citados: ARE 716.269 AgR; RE 1.130.297 AgR e RE 630.469 AgR.

64
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.224 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.372.723/RS, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Regime de subsídios da carreira de policial rodoviário federal - ADI 5.404/DF

Tese fixada:
“O regime de subsídio não é compatível com a percepção de outras parcelas inerentes ao exercício do
cargo, mas não afasta o direito à retribuição pelas horas extras realizadas que ultrapassem a quantidade
remunerada pela parcela única.”

Resumo:
É constitucional o regime de subsídios da carreira de policial rodoviário federal (Lei 11.358/2006) na
parte em que veda o pagamento de adicional noturno e quaisquer outras gratificações ou adicionais, mas
garante o direito à gratificação natalina, ao adicional de férias e ao abono de permanência. Contudo, deve ser
afastada interpretação que impeça a remuneração desses policiais pelo desempenho de serviço extraordinário
(horas extras) que não esteja compreendida no subsídio.
O regime constitucional de remuneração por subsídio teve o objetivo de racionalizar a forma de
remuneração de algumas carreiras públicas. A instituição do regime de parcela única não impede o pagamento dos
direitos trabalhistas aplicáveis aos servidores públicos (CF/1988, art. 39, § 3º), como os valores adicionais que
retribuam o exercício de atividades excepcionais e eventuais. Essa forma de pagamento só veda os adicionais que
remunerem atividades inerentes ao cargo, isto é, relativas ao trabalho mensal ordinário 121.
Na espécie, a concessão de adicional noturno aos policiais rodoviários federais para o exercício de funções
inerentes ao cargo representaria elevação de vencimentos pelo Poder Judiciário, o que afronta a Constituição e a
jurisprudência desta Corte no sentido de não competir àquele poder, por não possuir função legislativa, a
prerrogativa de aumentar o vencimento de servidores públicos sob o fundamento de isonomia 122.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para
dar interpretação conforme à Constituição ao caput do art. 1º e ao inciso XI do art. 5º da Lei 11.358/2006 123, de
modo a afastar qualquer aplicação que impeça a remuneração dos policiais rodoviários federais pelo serviço
extraordinário desempenhado que exceda a jornada de trabalho prevista em lei.

ADI 5.404/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Servidores públicos estaduais e municipais: filho com deficiência e jornada reduzida - RE


1.237.867/SP (Tema 1.097 RG)

ODS: 3, 8, 10 e 16

Tese fixada:
“Aos servidores públicos estaduais e municipais é aplicado, para todos os efeitos, o art. 98, § 2° e § 3°,
da Lei 8.112/1990.”

Resumo:
Por analogia, aplica-se aos servidores públicos estaduais e municipais que são pais ou cuidadores
legais de pessoas com deficiência o direito à jornada de trabalho reduzida, sem necessidade de compensação

121
Precedentes citados: ADI 4.079; ADI 4.941 e RE 650.898 (Tema 484 RG).
122
Precedentes citados: RE 592.317 (Tema 315 RG); ADI 1.822; RE 711.344 AgR; RE 223.452 AgR e Súmula Vinculante 37.
123
Lei 11.358/2006: “Art. 1º A partir de 1º de julho de 2006 e 1º de agosto de 2006, conforme especificado nos Anexos I, II, III e
VI desta Lei, respectivamente, passam a ser remunerados exclusivamente por subsídio, fixado em parcela única, vedado o
acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, os titulares
dos cargos das seguintes Carreiras: (...) VII – Carreira de Policial Rodoviário Federal. (...) Art. 5º Além das parcelas de que
tratam os arts. 2º, 3º e 4º desta Lei, não são devidas aos integrantes das Carreiras a que se refere o art. 1º desta Lei as seguintes
espécies remuneratórias: (...) XI – adicional pela prestação de serviço extraordinário; e”

65
de horário ou redução de vencimentos, nos moldes previstos para os servidores públicos federais na Lei
8.112/1990 124.
A convivência e o acompanhamento familiar para o desenvolvimento e a inclusão das pessoas com
deficiência são garantidos por normas constitucionais, internacionais e infraconstitucionais. Cabe, no caso concreto,
aplicar o melhor direito em favor da pessoa com deficiência e de seus cuidadores, assim como a imperiosa
necessidade de adaptar a realidade dessas famílias com o valor fundamental do trabalho.
Nesse contexto, é razoável a adaptação no sentido da redução da jornada de trabalho dos servidores
públicos sem decréscimo de vencimentos. Tal medida não acarretará ônus desproporcional ou indevido à
Administração Pública e, concomitantemente, assegurará às pessoas com deficiência os direitos e garantias que lhes
são prometidos.
Ademais, a inexistência de legislação infraconstitucional, que configura omissão do Poder Público, não
pode servir de justificativa para o não cumprimento de garantias previstas constitucionalmente, sobretudo quando
envolvem o princípio da dignidade humana, o direito à saúde, o melhor interesse das crianças e as regras e diretrizes
contidas na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD).
Assim, por se referir à determinação autoaplicável sem aumento de custos ao erário, é plenamente legítima
a aplicação da lei federal a servidores estaduais ou municipais.
Com base nesse e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.097 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.237.867/SP, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira),
às 23:59

Terço constitucional de férias: incidência sobre a remuneração relativa à totalidade do período de


duração do descanso previsto em lei - RE 1.400.787/CE (Tema 1.241 RG)

ODS: 8

Tese fixada:
“O adicional de 1/3 (um terço) previsto no art. 7º, XVII, da Constituição Federal incide sobre a
remuneração relativa a todo período de férias.”

Resumo:
O art. 7º, XVII, da CF/1988 assegura ao trabalhador o gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
menos, um terço a mais do que o salário normal, sem limitar o tempo da sua duração, razão pela qual esse
adicional deve incidir sobre todo o tempo de descanso previsto em lei.
Esse direito também se estende ao servidor público por força do art. 39, § 3º, da CF/1988. Nesse contexto,
como a legislação do Município de Boa Viagem/CE garante 45 (quarenta e cinco) dias de férias anuais para os
respectivos professores, o acréscimo de 1/3 há de incidir sobre o valor pecuniário a ele correspondente, sendo
incabível sua restrição ao período de apenas 30 (trinta) dias, em respeito ao princípio da legalidade (CF/1988, art.
37, caput).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.241 RG) e, no mérito, também por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria 125 para negar provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.400.787/CE, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 15.12.2022.

124
Lei 8.112/1990: “Art. 98 – Será concedido o horário especial ao servidor estudante, quando comprovada a incompatibilidade
entre o horário escolar e o da repartição, sem prejuízo do exercício do cargo: (...) §2° Também será concedido horário especial ao
servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessidade por junta médica oficial, independentemente de compensação
de horário. § 3° As disposições constantes do § 2° são extensivas ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com
deficiência.”

125
Precedentes citados: AO 623; AO 609; AO 522; AO 516; ADI 2.964 e RE 761.325 AgR.

66
1.24 PODER REGULAMENTAR

Estatuto do Desarmamento e sua regulamentação mediante decreto presidencial - ADC 85 MC-Ref/DF

ODS: 16

Resumo:
Encontram-se presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar, pois (i) há plausibilidade
jurídica quanto à alegação de constitucionalidade e legalidade do Decreto 11.366/2023; e (ii) há perigo da
demora na prestação jurisdicional decorrente da constatação de controvérsia constitucional relevante e da
existência de decisões judiciais conflitantes acerca do tema.
Em análise superficial da questão sob exame, vê-se que o Presidente da República, ao editar o referido
decreto, agiu com base na competência prevista no art. 84, caput, IV, da CF/1988, sem tê-la exorbitado 126, sendo
que as matérias nele tratadas se inserem na esfera de regulamenação da Lei 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). Outros temas abordados pelo decreto, ainda que não haja previsão expressa no texto da
mencionada lei no sentido de que devam constar em seu regulamento, configuram normas de procedimento que se
incluem no poder regulamentar privativo do Presidente da República.
É atribuição do Poder Executivo, nos termos do estatuto, instituir e manter os cadastros e registros de
armas, clubes e escolas de tiro e dos próprios indivíduos pela lei qualificados como colecionadores, atiradores e
caçadores (CACs). Assim, no âmbito de sua competência regulamentar, por extensão, advém a prerrogativa de
suspender a inscrição de novos assentos nos respectivos cadastros e registros, desde que diante de razões fático-
jurídicas relevantes.
Nesse contexto, o Decreto 11.366/2023 visa frear a tendência de exagerada flexibilização das normas de
acesso a armas de fogo e munições no Brasil enquanto se discute uma nova regulamentação da matéria 127. Verifica-
se uma inequívoca proporcionalidade entre as medidas regulamentares nele fixadas e o propósito pretendido, uma
vez que elas se mostram plenamente idôneas e apropriadas, em especial diante da carência de uma política
satisfatória de controle da circulação de armas de fogo no País.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, referendou a medida cautelar concedida para
determinar: (i) a suspensão do julgamento de todos os processos em curso cujo objeto ou a causa de pedir digam
com a constitucionalidade, legalidade ou eficácia do Decreto 11.366/2023 do Presidente da República; e (ii) a
suspensão da eficácia de quaisquer decisões judiciais que eventualmente tenham, de forma expressa ou tácita,
afastado a aplicação do aludido ato normativo.

ADC 85 MC-Ref/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às
23:59

1.25 PORTE DE ARMA DE FOGO; CONDIÇÕES E REQUISITOS

Porte de armas para policiais civis aposentados e previsão de condições específicas em decreto
estadual - ADI 7.024/PR

ODS: 8

Tese fixada:
“É constitucional ato normativo estadual que, respeitando as condições mínimas definidas em
diploma federal de normas gerais, estabelece exigência adicional para a manutenção do porte de arma de
fogo por servidores estaduais aposentados das forças de segurança pública.”

Resumo:

126
CF/1988: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as
leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;”
127
Precedentes citados: ADI 6.119 MC-Ref; ADI 6.139 MC-Ref; ADI 6.466 MC-Ref e julgamento conjunto da ADI 6.134 MC,
da ADPF 581 MC e da ADPF 586 MC (voto proferido pela relatora em sessão virtual que foi suspensa após pedido de vista).

67
No exercício de sua competência constitucional para suplementar as normas gerais fixadas pela
União sobre matéria atinente à segurança pública (CF/1988, art. 24, § 2º), os estados podem editar normas
específicas quanto ao porte de arma de fogo, desde que mais restritivas.
Uma vez respeitados os limites impostos pela Constituição Federal e pela Lei 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento), editada no exercício da competência federal para dispor sobre normas gerais (CF/1988, art. 24, §
1º), os estados possuem autonomia para legislar sobre porte de arma de fogo128.
O Decreto 9.847/2019, que regulamenta o Estatuto do Desarmamento, prevê, em seu art. 30, caput, que os
servidores aposentados das forças de segurança, para conservarem a autorização de porte de arma de fogo de sua
propriedade, deverão se submeter, a cada dez anos, aos testes de avaliação psicológica definidos em lei 129.
Esse prazo deve ser lido como um patamar mínimo de segurança e, por essa razão, quando observadas as
condições protetivas estabelecidas em normas gerais, é legítima a redução do período por norma estadual, já que
mais restritiva.
No caso, o decreto paranaense impugnado diminuiu o prazo de renovação dos testes psicológicos
necessários à manutenção do porte de arma por policiais civis aposentados para cinco anos 130. Desse modo,
estabeleceu previsão específica para servidores estaduais e cujo conteúdo é mais protetivo do que o previsto no
diploma de normas gerais.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da medida cautelar em
deliberação de mérito e julgou improcedente a ação.

ADI 7.024/PR, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às
23:59

2. DIREITO AGRÁRIO

2.1 POLÍTICA AGRÍCOLA; AGRICULTURA FAMILIAR; PROGRAMAS ASSISTENCIAIS; FOMENTO


EMERGENCIAL

Covid-19: socorro financeiro a agricultores familiares em virtude dos impactos socioeconômicos


decorrentes da pandemia - ADPF 968 MC/DF

ODS: 2

Resumo:
A ausência de apresentação da estimativa do respectivo impacto orçamentário, assim como a
existência de ações já implementadas pelo Poder Executivo — como a instituição do Programa Auxílio
Inclusão Produtiva (Lei 14.284/2021), que criou o Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimentar Brasil —
enfraquecem a necessidade da aplicação de medidas estratégicas estabelecidas pela Lei 14.275/2021, voltadas
a amparar os agricultores familiares do Brasil pelos problemas socioeconômicos decorrentes da pandemia da
Covid-19.
A inexistência da análise de impacto orçamentário infirma o requisito da fumaça do bom direito com
relação à instituição de linhas de crédito e aos valores direcionados ao Programa de Atendimento Emergencial à
Agricultura Familiar - PAE-AF (Lei 14.275/2021, art. 7º). Afinal, a observância do art. 113 do ADCT é norma que
vincula a atividade do Poder Legislativo, conforme entendimento desta Corte 131.
128
Precedente citado: ADI 5.359.
129
Decreto 9.847/2019 “Art. 30. Os integrantes das Forças Armadas e os servidores dos órgãos, instituições e corporações
mencionados nos incisos II, V, VI e VII do caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003 , transferidos para a reserva remunerada ou
aposentados, para conservarem a autorização de porte de arma de fogo de sua propriedade deverão submeter-se, a cada dez anos,
aos testes de avaliação psicológica a que faz menção o inciso III do caput do art. 4º da Lei nº 10.826, de 2003.”
130
Decreto 8.135/2017 do Estado do Paraná: “Art. 14. A carteira modelo ‘A' destina-se ao servidor policial civil ativo e os
modelos ‘B’ e ‘C’, ao inativo. § 1º Ao policial aposentado é facultado o porte de arma, sendo necessário que o mesmo opte no
momento da requisição do documento, ao Conselho da Polícia Civil: I - Se o aposentado optar por permanecer com o porte de
arma, o mesmo deverá se submeter aos testes psicológicos agendados pela Delegacia de Explosivos, Armas e Munições - DEAM,
e executados por profissional credenciado pela Polícia Federal, bem como, renová-los a cada 5 (cinco) anos conforme estabelece
a legislação, e a carteira de identidade funcional conterá o texto do modelo ‘B’, consubstanciado no art. 8º, § 3º, inciso III, alínea
b, e § 5º, inciso II, deste Decreto;”
131
Precedente citado: ADI 6.303.

68
Ademais, a legislação impugnada, ao permitir a sobreposição de ações de órgãos públicos relativas a
programas assistenciais, não inova o ordenamento jurídico, representando falha de juridicidade da proposta
legislativa, o que também desautoriza a concessão da medida cautelar requerida, cuja finalidade é obrigar o Poder
Executivo a aplicar recursos públicos.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, indeferiu a medida cautelar pleiteada na
ADPF.

ADPF 968 MC/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às
23:59

3. DIREITO AMBIENTAL

3.1 ATIVIDADE MINERÁRIA

Cobrança de indenização monetária pelos danos causados ao meio ambiente para a exploração
mineral no âmbito estadual - ADI 4.031/PA

ODS: 15

Resumo:
É constitucional norma estadual que, independentemente da obrigação de reparar o dano, condicione
a exploração de recursos minerais ao pagamento de indenização monetária pelos danos causados ao meio
ambiente. Contudo, viola o texto constitucional o estabelecimento de fato gerador dessa indenização que se
confunda com o da compensação financeira (CF/1988, art. 20, § 1º), o de taxas relativas ao poder de polícia 132
ou com o de qualquer outra espécie tributária.
As diferentes formas de tutela para alcançar a proteção e a reparação integrais do meio ambiente podem ser
cumuladas, de modo que o explorador de recursos minerais não se sujeita exclusivamente à recuperação in natura
da degradação ambiental, mas também à indenização monetária.
Os princípios da prevenção, da precaução e do poluidor-pagador impõem que os recursos direcionados à
reparação do dano (CF/1988, art. 225, §§ 2º e 3º) sejam verificados em cada caso e estipulados de maneira
proporcional aos impactos ambientais causados pelo empreendimento, em regular processo administrativo e com
direito ao contraditório e à ampla defesa 133 134.
Nesse contexto, diante da necessidade de uma correlação entre as atividades profiláticas adotadas pelo
estado e a cobrança instituída, deve ser afastada, como propõe a norma estadual impugnada, a possibilidade de
instituir fato gerador ou percentual pré-estabelecidos e universais.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e,
nessa extensão, a julgou parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 1º, 2º, 3º e 4º do art.
38 da Lei 5.887/1995, acrescidos pelo art. 2º da Lei 6.986/2007, ambas do Estado do Pará 135.
132
Precedentes citados: ADI 4.785; ADI 4.786 e ADI 4.787.

133
CF/1988: “Art. 20. São bens da União: (...) § 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de
energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 102, de
2019) (Produção de efeito) (...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo
para as presentes e futuras gerações. (...) § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”
134
Precedente citado: ADI 3.378.
135
Lei 5.887/1995 do Estado do Pará (na redação dada pela Lei paraense 6.986/2007): “Art. 38. A lavra de recursos minerais,
sob qualquer regime de exploração e aproveitamento, sempre respeitada a legislação federal pertinente e os demais atos e normas
específicos de atribuição da União, dependerá de: I - prévio licenciamento do órgão ambiental competente; II - indenização
monetária pelos danos causados ao meio ambiente, independentemente da obrigação de reparo do dano. § 1º Constitui fato
gerador da indenização monetária pelos danos causados ao meio ambiente, a saída de produto mineral das áreas da jazida, mina,

69
ADI 4.031/PA, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

3.2 FAUNA E FLORA

Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável da Pesca em âmbito estadual e proibição da pesca


de arrasto motorizado no mar territorial costeiro - ADI 6.218/RS

ODS: 14

Resumo:
É constitucional — uma vez observadas as regras do sistema de repartição competências e a
importância do princípio do desenvolvimento sustentável como justo equilíbrio entre a atividade econômica e
a proteção do meio ambiente — norma estadual que proíbe a atividade de pesca exercida mediante toda e
qualquer rede de arrasto tracionada por embarcações motorizadas na faixa marítima da zona costeira de seu
território.
Ao vedar tal atividade, o estado-membro atua no âmbito de sua competência concorrente suplementar em
matéria de pesca e de proteção do meio ambiente (CF/1988, art. 24, VI), a qual é reforçada pela imposição de defesa
e preservação conferida ao Poder Público (CF/1988, art. 225, § 1º, V e VII) 136. Nesse contexto, o mar territorial
brasileiro, apesar de integrar o domínio da União (CF/1988, art. 20, VI), situa-se, simultaneamente, em seu próprio
espaço territorial e no dos estados costeiros e municípios confrontantes, razão pela qual se sujeita, ao mesmo tempo,
a três ordens jurídicas sobrepostas: a legislação federal (ou nacional), a estadual e a municipal 137.
A lei estadual objeto de apreciação (Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável da Pesca
riograndense) está em consonância com as diretrizes e normas gerais da Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável da Aquicultura e da Pesca (Lei 11.959/2009), na qual vedada expressamente a prática de toda e qualquer
modalidade de pesca predatória no território marítimo brasileiro (art. 6º). Na espécie, os dispositivos impugnados se
legitimam, também, em razão do conteúdo da Lei Complementar 140/2011.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para
assentar a constitucionalidade do art. 1º, parágrafo único, e do art. 30, VI, e, ambos da Lei 15.223/2018 do Estado do
Rio Grande do Sul138.

ADI 6.218/RS, relator Ministro Nunes Marques, redatora do acórdão Ministra Rosa Weber, julgamento virtual
finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

salina ou de outros depósitos minerais de onde provém e se equipara à saída, o consumo ou a utilização da substância mineral, em
processo de industrialização realizado dentro das áreas da jazida, mina, salina ou de outros depósitos minerais, suas áreas
limítrofes ou ainda em qualquer estabelecimento. § 2º A indenização monetária pelos danos causados ao meio ambiente prevista
no inciso II deste artigo, será calculada sobre o total das receitas resultantes da venda do produto mineral, obtido após a última
etapa do processo de beneficiamento adotado e antes de sua transformação industrial, excluídos os tributos incidentes. § 3º O
percentual da indenização prevista no inciso II deste artigo, de acordo com as classes de substâncias minerais será de: I - bauxita,
manganês, ouro e ferro: 3% (três por cento); II - pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonatos e metais nobres: 0,2%
(dois décimos por cento); III - areia, pedra, barro, seixo e demais materiais básicos de construção civil, incluindo aterros: 0,5
(cinco décimos por cento); IV - demais substâncias minerais: 2% (dois por cento). § 4º A indenização monetária pelos danos
causados ao meio ambiente prevista no inciso II deste artigo, será lançada mensalmente pelo devedor em documento próprio, que
conterá a descrição da operação que lhe deu origem, o produto a que se referir o respectivo cálculo, em parcelas destacadas, e
discriminação dos tributos incidentes, se houver, de forma a tornar possível sua correta identificação. (...)”
136
Precedente citado: ADI 861.
137
Precedente citado: ADI 2.080
138
Lei 15.223/2018 do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 1º Fica instituída a Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável
da Pesca no Estado do Rio Grande do Sul, objetivando promover o desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira como
forma de promoção de programas de inclusão social, de qualidade de vida das comunidades pesqueiras, de geração de trabalho e
renda e de conservação da biodiversidade aquática para o usufruto desta e das gerações futuras. Parágrafo único. Esta Lei é
aplicável a toda atividade de pesca exercida no Estado do Rio Grande do Sul, incluindo a faixa marítima da zona costeira, em
conformidade com o disposto no art. 3º, inciso I, do Decreto Federal 5.300, de 7 de dezembro de 2004, e no art. 1º da Lei Federal
8.617, de 4 de janeiro de 1993. (...) Art. 30. É proibida a pesca: (...) VI – mediante a utilização de: (...) e) toda e qualquer rede de
arrasto tracionada por embarcações motorizadas, em todo território do Estado do Rio Grande do Sul, incluindo as 12 milhas
náuticas da faixa marítima da zona costeira do Estado.”

70
3.3 FUNDO AMAZÔNIA

Omissão estatal na proteção da Amazônia Legal - ADO 59/DF

ODS: 15, 16 e 17

Audiência pública: 1ª parte 2ª parte 3ª parte 4ª parte

Resumo:
Configura omissão normativa quanto às obrigações referentes à ativação do Fundo Amazônia, em
patente inobservância ao art. 225, § 4º, da Constituição Federal de 1988, o inadimplemento dos deveres
constitucionais de tutela do meio ambiente pela União, materializado na ausência de políticas públicas
adequadas para a proteção da Amazônia Legal e na desestruturação institucional daquelas formuladas em
períodos antecedentes.
Na espécie, nos exercícios de 2019 e 2020, em decorrência da paralisação do funcionamento do referido
Fundo — promovida pela edição unilateral dos Decretos 9.759/2019, 10.144/2019 e 10.223/2020, que revogaram
dispositivos do Decreto 6.527/2008 e, dentre outras medidas, extinguiram os seus comitês (Comitê Orientador -
COFA e Comitê Técnico-científico - CTFA) —, o recebimento de doações foi interrompido. Essa medida, por sua
vez, culminou em retração no adimplemento dos compromissos internacionais de caráter supralegal assumidos pelo
Brasil, além de impactar diretamente a realidade fática da Amazônia Legal, conforme exaustivamente demonstrado
nos índices crescentes de desmatamento.
Nesse contexto, a alteração do modelo de governança do Fundo Amazônia, com a extinção dos mecanismos
normativos essenciais para a sua gestão, configura retrocesso na tutela ambiental. Consequentemente, o cenário
atual da Amazônia Legal não responde aos deveres assumidos internamente pelo País — conforme prescreve a Lei
12.187/2009, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) — nem à proteção contra o
desmatamento e as mudanças climáticas determinada em âmbito internacional pela Convenção-Quadro sobre
Mudanças Climáticas de 1992 (Decreto 2.652/1998), pelo Protocolo de Kyoto, de 2005 (Decreto 5.445/2015), e pelo
Acordo de Paris, em vigor desde 2016 (Decreto 9.073/2017).
A degradação ambiental na Amazônia Legal tem causado danos contínuos à saúde, à vida e à dignidade das
pessoas, mantendo o Brasil distante de alcançar os objetivos fundamentais da República (CF/1988, art. 3º, I, II e IV),
bem como de responder responsavelmente aos compromissos assumidos no marco da Política Nacional sobre
Mudança do Clima.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a
ação, a fim de declarar a inconstitucionalidade do art. 12, II, do Decreto 10.144/2019 139 e do art. 1º do Decreto
9.759/2019 140, no que se referem aos colegiados instituídos pelo Decreto 6.527/2008, bem como determinar à União
a adoção, no prazo de sessenta dias, das providências administrativas necessárias para a reativação do Fundo
Amazônia, nos limites de suas competências, com o formato de governança estabelecido no Decreto 6.527/2008.

ADO 59/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 3.11.2022

139
Decreto 10.144/2019: “Art. 12. Ficam revogados: (...) II - os art. 2º e art. 3º do Decreto nº 6.527, de 1º de agosto de 2008.”
140
Decreto 9.759/2019: “Art. 1º Este Decreto extingue e estabelece diretrizes, regras e limitações para colegiados da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Parágrafo único. A aplicação deste Decreto abrange os colegiados
instituídos por: (Revogado pelo Decreto nº 9.812, de 2019) I - decreto, incluídos aqueles mencionados em leis nas quais não
conste a indicação de suas competências ou dos membros que o compõem; (Revogado pelo Decreto nº 9.812, de 2019) II - ato
normativo inferior a decreto; e (Revogado pelo Decreto nº 9.812, de 2019) III - ato de outro colegiado. (Revogado pelo Decreto
nº 9.812, de 2019) § 1º A aplicação deste Decreto abrange os colegiados instituídos por: (Incluído pelo Decreto nº 9.812, de
2019) I - decreto; (Incluído pelo Decreto nº 9.812, de 2019) II - ato normativo inferior a decreto; e (Incluído pelo Decreto nº
9.812, de 2019) III - ato de outro colegiado. (Incluído pelo Decreto nº 9.812, de 2019) § 2º Aplica-se o disposto no § 1º aos
colegiados instituídos por ato infralegal, cuja lei em que são mencionados nada conste sobre a competência ou a composição.
(Incluído pelo Decreto nº 9.812, de 2019) (Vide ADIN 6121)”

71
3.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Imposição de obrigatoriedade para as concessionárias de serviços de telecomunicações em âmbito


estadual - ADI 7.321/AL

ODS: 11

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência da União privativa para legislar sobre
telecomunicações (CF/1988, art. 22, IV) e exclusiva para explorar esses serviços (CF/1988, art. 21, XI) —
norma estadual que institui a obrigatoriedade de licenciamento ambiental para a instalação de Rede de
Transmissão de Sistemas de Telefonia e de Estações Rádio Base (ERBs) e Equipamentos de Telefonia sem Fio
em seu território local.
Ainda que sob a justificativa de proteger, defender e conservar o meio ambiente local e seus recursos
naturais, a lei estadual impugnada, ao criar uma obrigação às empresas prestadoras de serviços de telecomunicações
e estipular critérios para a instalação de infraestruturas a ele relacionadas, invadiu a competência da União para
dispor sobre a matéria e interferiu diretamente na relação contratual formalizada entre o Poder concedente e as
concessionárias 141 142.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade dos itens 10.5 e 10.6 do Anexo I, objeto do art. 4º, § 1º, da Lei 6.787/2006 do Estado de
Alagoas143, e, por arrastamento, dos itens 10.5 e 10.6 do Anexo VI do mesmo diploma legal.

ADI 7.321/AL, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

3.5 ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

Lei da Biossegurança: normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades relacionadas


a organismos geneticamente modificados e seus derivados - ADI 3.526/DF

ODS: 15 e 16

Resumo:
É formalmente constitucional — por não violar o sistema de repartição de competências — lei
editada pela União para regulamentar dispositivos da Constituição que dispõem sobre o meio ambiente
(CF/1988, art. 225, § 1º, II, IV e V) e estabelecer normas de segurança e mecanismos de fiscalização de
atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados no Brasil.
No âmbito da competência legislativa concorrente, incumbe à União editar normas gerais sobre proteção do
meio ambiente, produção, consumo e saúde pública (CF/1988, art. 24, V, VI e XII), ao passo que os estados
elaboram apenas normas complementares com o objetivo de atender suas peculiaridades locais.
Na espécie, as normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades relativas a OGM impõem
tratamento uniforme no território nacional, com evidente preponderância do interesse da União, de modo que

141
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e
outros aspectos institucionais. (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão.”
142
Precedentes citados: ADPF 732; ADI 5.575; ADI 5.569 e ADI 3.110.
143
Lei 6.787/2006 do Estado de Alagoas: “Art. 4º A localização, construção, instalação, ampliação, modificação, reforma,
recuperação, operação de estabelecimentos, obras e atividades utilizadoras de recursos ambientais, ou consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos e pesquisas científicas capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do IMA/AL, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis. §
1º Estão sujeitos ao procedimento de licenciamento ambiental, seja para a concessão da licença ou da autorização, os
empreendimentos e as atividades relacionados no Anexo I e II integrantes desta Lei. (Redação dada pela Lei n° 7.625, de
22.05.2014). (...) ANEXO I EMPREENDIMENTOS SUJEITOS A LICENCIAMENTO AMBIENTAL (...) Obras Diversas 10.5 -
Rede de Transmissão de Sistemas de Telefonia 10.6 - Estações Rádio Base (ERB's) e Equipamentos de Telefonia sem Fio.”

72
inexiste qualquer ingerência no espaço reservado aos estados, em especial porque não há como segmentar o
tratamento do tema a partir de divisas geográficas144 .
A vinculação do procedimento de licenciamento ambiental de OGM ao crivo técnico da Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBIo) não desrespeita o sistema de proteção ambiental (CF/1988, art.
225) nem implica redução do grau de tutela do meio ambiente.
A lei federal impugnada atribui à CTNBIo — órgão técnico adequadamente estruturado e qualificado — a
tarefa de analisar a necessidade de submissão de OGM a procedimento de licenciamento ambiental, circunstância
que concretiza o princípio da precaução.
Ademais, não há ofensa ao princípio democrático, eis que há previsão de realização de audiência pública,
com garantia de participação da sociedade civil, assim como estabelece, de modo similar, a própria normatização do
licenciamento ambiental.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nessa
extensão, a julgou improcedente, para declarar a constitucionalidade da Lei 11.105/2005.

ADI 3.526/DF, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

3.6 ÓRGÃOS AMBIENTAIS

Conama: regras sobre composição, funcionamento e processo decisório - ADPF 623/DF

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por configurar retrocesso institucional e socioambiental, dada sua
incompatibilidade com o modelo da democracia constitucional e violação a preceitos fundamentais — o
Decreto 9.806/2019 que, sob a justificativa da liberdade de conformação decisória administrativa, foi editado
para dispor sobre regras de composição e funcionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),
e promoveu alterações quanto à representação de seus membros e ao seu processo decisório.
A norma impugnada é procedimentalmente assimétrica no que diz respeito à alocação do poder de voto no
processo decisório do Conama. Ela representa obstáculo para as reais oportunidades de participação social na arena
decisória ambiental, na medida em que potencializa o poder em um setor em desfavor da fragmentação política do
setor da sociedade civil e dos entes federados, de modo a impossibilitar qualquer resistência e absorção dos
interesses dessas pluralidades.
Ademais, a fixação do sorteio, fundado na aleatoriedade, como método de designação dos representantes
das sociedades civis, dos entes subnacionais e das entidades empresariais na composição do Conama — em
substituição ao fundado na liberdade de escolha, mediante eleição e baseado na liberdade de autodeterminação dos
interessados — enseja desobediência aos direitos fundamentais de participação e ao projeto constitucional de uma
democracia direta.
Nesse contexto, o espaço decisório do Poder Executivo não permite intervenção ou regulação
desproporcional. Assim, a supressão de marcos regulatórios democráticos e procedimentais mínimos — que não se
confunde com a sua reformulação — configura quadro normativo de aparente retrocesso institucional no campo da
proteção e defesa dos direitos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (CF/1988, art. 225, caput) e da
participação democrática (CF/1988, arts. 1º, caput e I; e 14)145.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação da
medida cautelar em análise do mérito e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade do Decreto
9.806/2019146.
144
Precedentes citados: ADI 5.675; ADI 5.996; ADI 3.035; ADI 3.645 e ADI 4.529.

145
Precedentes citados: ADPF 747 MC-Ref; ADPF 748 MC-Ref e ADPF 749 MC-Ref.
146
Decreto 9.806/2019 do Presidente da República: “Art. 1º O Decreto 99.274, de 6 de junho de 1990, passa a vigorar com as
seguintes alterações: ‘Art. 5º ............... III – o Presidente do Ibama; IV – um representante dos seguintes Ministérios, indicados
pelos titulares das respectivas Pastas: a) Casa Civil da Presidência da República; b) Ministério da Economia; c) Ministério da
Infraestrutura; d) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e) Ministério de Minas e Energia; f) Ministério do
Desenvolvimento Regional; e g) Secretaria de Governo da Presidência da República; V – um representante de cada região
geográfica do País indicado pelo governo estadual; VI – dois representantes de Governos municipais, dentre as capitais dos

73
ADPF 623/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

4. DIREITO CIVIL

4.1 FAMÍLIA

Coleta e arquivamento de material genético de nascituros e parturientes sem prévio consentimento -


ADI 5.545/RJ

ODS: 3 e 16

Tese fixada:
“É inconstitucional a lei estadual que preveja o arquivamento de materiais genéticos de nascituros e
parturientes, em unidades de saúde, com o fim de realizar exames de DNA comparativo em caso de dúvida.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar os direitos à intimidade e à privacidade (CF/1988, art. 5º, X), bem
como os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, na dimensão da proibição do excesso — norma
estadual que determina a hospitais, casas de saúde e maternidades a coleta compulsória de material genético
de mães e bebês na sala de parto e o subsequente armazenamento à disposição da Justiça para o fim de evitar
a troca de recém-nascidos nas unidades de saúde.
A lei estadual impugnada, a pretexto de proteger o direito à filiação biológica, viola o direito à privacidade
de pessoas em estado de extrema vulnerabilidade, uma vez que há coleta e armazenamento de material genético sem
prévio consentimento. Nesse contexto, infringe a autonomia da vontade da parturiente ao se valer de instrumento
coercitivo desproporcional para a tutela de interesse eminentemente privado do destinatário da norma, além de
comprometer a autodeterminação informativa dos titulares desses dados, pois os impede de decidir sobre sua
divulgação e utilização.
Os dados genéticos são classificados como sensíveis, de modo que, mesmo que houvesse consentimento da
parturiente, o direito à privacidade ainda estaria violado, visto que o texto da lei impugnada é vago em relação ao
tratamento dos dados genéticos armazenados, o que constitui severo risco à integridade digital dos indivíduos.
A ausência de previsão quanto à destinação dos dados, bem como aos mecanismos para sistematizar a
coleta, a guarda eficaz e a sua posterior exclusão, permite a utilização do material coletado para quaisquer interesses,

Estados; VII – quatro representantes de entidades ambientalistas de âmbito nacional inscritas, há, no mínimo, um ano, no
Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas – Cnea, mediante carta registrada ou protocolizada junto ao Conama; e VIII –
dois representantes indicados pelas seguintes entidades empresariais: a) Confederação Nacional da Indústria; b) Confederação
Nacional do Comércio; c) Confederação Nacional de Serviços; d) Confederação Nacional da Agricultura; e e) Confederação
Nacional do Transporte. § 2º Os representantes a que se referem os incisos IV a VIII do caput e os seus respectivos suplentes,
assim como o suplente do Presidente do Ibama serão designados em ato do Ministro de Estado do Meio Ambiente. § 8º Os
representantes a que se referem os incisos V, VI e VIII do caput terão mandato de um ano e serão escolhidos de forma sequencial
conforme lista estabelecida por sorteio. § 9º Cada entidade ou órgão integrante do Plenário do Conama deverá indicar, além do
membro titular, um membro suplente para representá-lo em suas ausências e seus impedimentos. § 10. Os representantes a que se
refere o inciso VII do caput terão mandato de um ano e serão escolhidos por sorteio anual, vedada a participação das entidades
ambientalistas detentoras de mandato. § 11. O Distrito Federal será incluído no sorteio do representante dos Governos estaduais
da região Centro-Oeste.’ ‘Art. 6º ............... § 3º O Presidente do Conama será substituído, em suas ausências e seus
impedimentos, pelo Secretário-Executivo do Conama. ............... § 5º Os representantes de que trata o inciso VII do caput do art.
5º poderão ter as despesas de deslocamento e estada pagas à conta de recursos orçamentários do Ministério do Meio Ambiente.’
‘Art. 6º-C O Conama poderá realizar reuniões regionais, de caráter não deliberativo, com a participação de representantes dos
Estados, do Distrito Federal e das capitais dos Estados das respectivas regiões.’ Art. 2º No prazo de trinta dias, contado da data de
entrada em vigor deste Decreto, edital do Ministério do Meio Ambiente convocará representantes dos Estados, do Distrito
Federal, das capitais dos Estados e das entidades ambientalistas e empresariais a que se referem os incisos VII e VIII do caput do
art. 5º para comparecer à reunião extraordinária, na qual serão realizados os sorteios de que tratam os § 8º e § 10 do art. 5º.
Parágrafo único. O edital a que se refere o caput detalhará as regras de realização dos sorteios. Art. 3º Ficam revogados os
seguintes dispositivos do Decreto 99.274, de 1990: I – o inciso II do art. 4º; II – os incisos IX e X do caput e os § 1º e § 3º a § 7º
do art. 5º; III – o § 1º do art. 6º; IV – o art. 6º-A; V – o art. 6º-B; VI – o inciso III do caput do art. 7º; VII – o § 2º do art. 8º; e
VIII – o art. 43. Art. 4º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.”

74
como a mercantilização e o perfilamento dos dados, o que pode ocasionar uma série de violações a direitos
fundamentais, como, por exemplo, a discriminação genética de pessoas com doenças congênitas.
Além disso, há medidas mais efetivas e menos custosas e interventivas na esfera privada dos indivíduos
para se evitar a troca de bebês nas unidades de saúde. Exemplos disso são o uso de pulseiras numeradas na mãe e no
filho, o uso de grampo umbilical, a identificação da gestante no momento da admissão, em conjunto com a posterior
identificação do recém-nascido no momento do nascimento, e a possibilidade da permanência do pai no momento
do nascimento do filho. De qualquer forma, o mais adequado é que o material genético seja coletado a partir do
instante em que ocorrer a dúvida sobre possível troca.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade dos arts. 1º, parte final, e 2º, III, ambos da Lei 3.990/2002 do Estado do Rio de Janeiro 147.

ADI 5.545/RJ, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 13.4.2023

5. DIREITO CONSTITUCIONAL

5.1 ADVOCACIA PÚBLICA

Criação de cargo de advogado em entidade pública fora da estrutura da Procuradoria do Estado - ADI
7.380/AM

ODS: 16

Tese fixada:
“É inconstitucional, por violação do art. 132 da CF, a criação de órgão ou de cargos jurídicos fora da
estrutura da Procuradoria do Estado, com funções de representação judicial, consultoria ou assessoramento
jurídico de autarquias e fundações públicas estaduais.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar a unicidade orgânica da advocacia pública estadual — a criação, por
lei estadual, de órgão jurídico paralelo à Procuradoria-Geral do Estado, com funções de representação
judicial, consultoria e assessoramento jurídico de fundação pública estadual.
Os procuradores dos estados e do Distrito Federal, organizados em carreira única, detém atribuição
exclusiva das funções de representação judicial, consultoria e assessoramento jurídico das unidades federativas 148.
Esse modelo constitucional exige a unicidade orgânica da advocacia pública estadual, que é incompatível com a
criação de órgãos jurídicos paralelos para o desempenho das mesmas atribuições no âmbito da Administração
Pública direta ou indireta149.

147
Lei 3.990/2002 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º Ficam os hospitais, casas de saúde e maternidades, públicos ou privados,
no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, obrigados a adotarem medidas de segurança que evitem, impeçam ou dificultem a troca
de recém-nascidos em suas dependências, bem como permitam a identificação posterior, através de exame de DNA comparativo
em casos de dúvida. Art. 2º Para consecução dos objetivos do artigo anterior definem-se como medidas de segurança: I -
Utilização de pulseiras de identificação numeradas para mãe e filho na sala de parto; II - Utilização de grampo umbilical
enumerado com o número correspondente ao da pulseira; III - Utilização de kit de coleta de material genético de todas as mães e
filhos ali internados, coletados na sala de parto para arquivamento na unidade de saúde a disposição da Justiça. Art. 3º O
descumprimento do disposto na presente Lei implicará nas seguintes sanções, independentes das medidas judiciais cíveis e
criminais cabíveis: I - multa de 5.000 UFIR`s pela não adoção das medidas em primeira autuação; II - multa de 10.000 UFIR`s
pela não adoção das medidas em segunda autuação; III - interdição da maternidade. Art. 4º As instituições referidas no artigo 1º
desta Lei terão o prazo de 90 (noventa) dias para o cumprimento ao disposto na presente Lei. Art. 5º Esta Lei entrará em vigor na
data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”
148
CF/1988: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá
de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão
a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.”
149
Precedentes citados: ADI 4.843 MC-ED-Ref; ADI 5.215 e ADI 6.397.

75
Nesse contexto, o art. 69 do ADCT 150 deve ser interpretado restritivamente, sendo que o caso analisado não
se enquadra em nenhuma das específicas hipóteses em que essa Corte já reconheceu exceções à referida
unicidade151.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, a fim de declarar a
inconstitucionalidade do art. 29 e Anexos I, III e IV da Lei 4.794/2019 do Estado do Amazonas, bem assim, por
arrastamento, do Anexo III da Lei Complementar amazonense 30/2001.

ADI 7.380/AM, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às
23:59

Poderes Judiciário e Legislativo estaduais: representação judicial extraordinária e atribuições do


Procurador-Geral da Assembleia Legislativa e dos consultores jurídicos do Poder Judiciário - ADI
6.433/PR

ODS: 16

Tese fixada:
“É constitucional a instituição de órgãos, funções ou carreiras especiais voltadas à consultoria e
assessoramento jurídicos dos Poderes Judiciário e Legislativo estaduais, admitindo-se a representação
judicial extraordinária exclusivamente nos casos em que os referidos entes despersonalizados necessitem
praticar em juízo, em nome próprio, atos processuais na defesa de sua autonomia, prerrogativas e
independência face aos demais Poderes, desde que a atividade desempenhada pelos referidos órgãos, funções
e carreiras especiais remanesça devidamente apartada da atividade-fim do Poder estadual a que se
encontram vinculados.”

Resumo:
É constitucional a instituição de órgãos, funções ou carreiras especiais para consultoria e
assessoramento jurídicos do Poder Legislativo ou do Poder Judiciário estaduais, admitindo-se a
representação judicial extraordinária apenas nos casos em que o Poder estadual correspondente precise
defender em juízo, em nome próprio, sua autonomia, prerrogativas e independência em face dos demais
Poderes.
O STF reconhece a validade da estruturação de órgãos e carreiras especiais voltados à consultoria e ao
assessoramento jurídicos de assembleias legislativas e tribunais de justiça estaduais, bem assim a possibilidade de
instituição de carreiras especiais para a representação judicial dos aludidos entes despersonalizados nas situações em
que precisem praticar em juízo, em nome próprio, atos processuais na defesa de sua autonomia, prerrogativas e
independência em face dos demais Poderes 152.
Nas hipóteses em que admitida, a atividade de representação judicial extraordinária a ser
desempenhada pelos órgãos, funções ou carreiras especiais deve permanecer devidamente apartada da
atividade-fim do Poder estadual ao qual vinculados.
A constitucionalidade da prática pressupõe o atendimento de normas de procedimento destinadas a garantir
a efetiva observância do regramento constitucional da advocacia pública, sobretudo o princípio da moralidade
administrativa (CF/1988, art. 37) e as normas que regem o exercício da advocacia de Estado (CF/1988, arts. 131 a
133).
Nesse sentido, para evitar potenciais conflitos de interesse incompatíveis com a administração da Justiça, os
estados devem observar a diretriz do art. 28, IV, da Lei 8.906/1994 (Estatuto da OAB), segundo a qual a advocacia é
incompatível com as atividades desenvolvidas pelos ocupantes de cargos ou funções vinculadas à atividade
jurisdicional do Poder Judiciário.
Não ofende o princípio do concurso público a mudança da denominação do cargo público efetivo de
assessor jurídico para a de consultor jurídico, quando ausente efetiva transformação ou transposição de um
cargo no outro.
É constitucional a mera alteração de nomenclatura de cargo público. Para que a reestruturação de cargos
seja considerada adequada diante do princípio do concurso público (CF/1988, art. 37, II), é necessária a presença

150
ADCT: “Art. 69. Será permitido aos Estados manter consultorias jurídicas separadas de suas Procuradorias-Gerais ou
Advocacias-Gerais, desde que, na data da promulgação da Constituição, tenham órgãos distintos para as respectivas funções.”
151
Precedentes citados: ADI 94; Pet 409 AgR e ADI 5.393.
152
Precedentes citados: ADI 175; ADI 94 e ADI 5.024.

76
simultânea de três requisitos fundamentais: (i) a similitude entre as atribuições dos cargos envolvidos; (ii) a
identidade dos requisitos de escolaridade entre os cargos e; (iii) a equivalência salarial entre eles 153.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para:
(i) declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do art. 124-A da Constituição do Estado do
Paraná154 , apenas para conferir-lhe interpretação conforme a Constituição Federal, a fim de limitar a atuação dos
procuradores da Assembleia Legislativa aos casos em que atuem em nome do Poder Legislativo para a defesa de sua
autonomia, de suas prerrogativas e de sua independência frente aos demais Poderes e; (ii) declarar a
inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do art. 243-B da Constituição do Estado do Paraná 155, para
conferir-lhe interpretação conforme a Constituição Federal, a fim de estabelecer que: (i) apenas os Consultores
Jurídicos do Poder Judiciário do Paraná encarregados das funções de defesa institucional devem desempenhar a
representação extraordinária prevista pelo constituinte estadual, atividade a ser desempenhada mediante a
manutenção de inscrição profissional junto ao Conselho Seccional da OAB/PR e em regime de dedicação exclusiva
e integral, vedado o exercício de outra atividade que tenha relação, direta ou indireta, com o assessoramento da
atividade jurisdicional do Poder Judiciário; e (ii) os demais Consultores Jurídicos do Poder Judiciário do Paraná que
exerçam outras funções, em especial funções relacionadas ao assessoramento da atividade jurisdicional daquela
Corte, devem permanecer apartados das atividades de representação judicial extraordinária do Poder Judiciário
estadual, com inscrição profissional junto ao Conselho Seccional da OAB/PR inativa, sendo-lhes vedado o exercício
da referida atividade.

ADI 6.433/PR, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 31.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Procuradoria-Geral do estado: possibilidade de apenas os membros da carreira assumirem o cargo de


Procurador-Geral - ADI 3.056/RN

Tese fixada:
“Não ofende a Constituição Federal a previsão, em ato normativo estadual, de obrigatoriedade de
escolha do Procurador-Geral do Estado entre os integrantes da respectiva carreira.”

Resumo:
É constitucional — eis que inserida na margem de conformação atribuída ao constituinte estadual no
exercício de sua auto-organização — norma de Constituição estadual que restringe a escolha de seu
procurador-geral aos integrantes da carreira da advocacia pública local.
A regra de escolha do Advogado-Geral da União não é aplicável aos estados-membros por simetria 156, de
modo que os demais entes públicos podem editar normas com requisitos diferentes para a escolha de seus
procuradores-gerais157.
Ademais, embora a Procuradoria-Geral do estado seja vinculada ao chefe do Poder Executivo, trata-se de
verdadeira instituição de Estado, com função essencial à Justiça e relacionada ao controle de juridicidade dos atos
administrativos que extrapolam a mera aderência à vontade de governos transitórios
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação, para assentar a
constitucionalidade do art. 87 da Constituição do Estado do Rio Grande do Norte 158.

153
Precedentes citados: ADI 2.335 e ADI 5.406.
154
Constituição do Estado do Paraná: “Art. 124-A. No processo judicial que versar sobre ato praticado pelo Poder Legislativo
ou por sua administração, a representação do Estado incumbe ao Procurador-Geral da Assembleia Legislativa, na forma do art.
243 desta Constituição.”
155
Constituição do Estado do Paraná: “Art. 243-B. A consultoria jurídica, o assessoramento jurídico e a representação judicial, no
que couber, do Poder Judiciário, bem como a supervisão dos seus órgãos de consultoria e de assessoramento jurídicos, serão
exercidas, privativamente, pelos Assessores Jurídicos do Tribunal de Justiça, que passam a ser denominados Consultores
Jurídicos do Poder Judiciário, integrantes da Carreira Especial. § 1º Os Consultores Jurídicos do Poder Judiciário poderão
exercer, em caráter extraordinário, por determinação do Presidente do Tribunal de Justiça, a representação judicial e a defesa do
Poder Judiciário estadual nas causas envolvendo os interesses institucionais e a sua autonomia. § 2º Consultores Jurídicos do
Poder Judiciário, aplica-se, no que couber, o disposto nos §§ 2º e 3º do art. 125 desta Constituição.”
156
CF/1988: “Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a
União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e
funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. § 1º – A Advocacia-Geral da União
tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e
cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.”
157
Precedente citado: ADI 2.820.
158
Constituição do Estado do Rio Grande do Norte: “Art. 87. A Procuradoria-Geral do Estado tem por chefe o Procurador-Geral
do Estado, nomeado pelo Governador, dentre integrantes da carreira.”

77
ADI 3.056/RN, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 22.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Vinculação da Assessoria Jurídica estadual à respectiva Procuradoria-Geral - ADI 6.500/RN

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional norma de Constituição estadual que, após o advento da Constituição Federal de
1988, cria órgão de assessoramento jurídico auxiliar (“Assessoria Jurídica estadual”) em caráter permanente
e vinculado expressamente à Procuradoria-Geral do estado, às quais compete o exercício de atividades de
representação judicial, consultoria e assessoramento jurídico.
O princípio da unicidade da representação judicial e da consultoria jurídica dos estados e do Distrito
Federal159 veda a criação de órgão de assessoria jurídica na Administração direta e indireta diverso da Procuradoria
do estado para exercer parte das atividades que são privativas dos procuradores, ainda que haja previsão de
vinculação à Procuradoria-Geral do estado.
Ademais, a exceção prevista no ADCT 160 deixa evidente que, depois da promulgação da Constituição
Federal de 1988, não seria mais possível a criação de órgãos jurídicos distintos da Procuradoria-Geral do estado,
admitindo-se apenas a manutenção das consultorias jurídicas já existentes quando do advento da nova ordem
constitucional161.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 88, caput, da Constituição do Estado do
Rio Grande do Norte162, da íntegra da Lei Complementar 518/2014 e do art. 8º da Lei Complementar 424/2010,
ambas do Estado do Rio Grande do Norte. Ademais, com o fim de evitar o efeito repristinatório indesejado, declarou
a não recepção da Lei estadual 5.542/1986, a inconstitucionalidade da Lei estadual 6.623/1994 e da Lei
Complementar estadual 229/2002, e a recepção da Lei estadual 5.542/1986, nos estritos e temporários termos do art.
69 do ADCT. Por fim, o Tribunal modulou os efeitos da declaração de inconstitucionalidade para (i) tornar o órgão
de assessoria jurídica e os cargos de assessores jurídicos uma carreira em extinção; e (ii) impedir que seus atuais
ocupantes exerçam funções privativas relativas à assessoria jurídica, senão sob a supervisão direta de procuradores e
procuradoras do estado.

ADI 6.500/RN, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Coisa julgada em matéria tributária: limites de sua eficácia temporal quando derivada de relação
jurídica de trato continuado - RE 955.227/BA (Tema 885 RG) e RE 949.297/CE (Tema 881 RG)

ODS: 8, 10, 16 e 17

Tese fixada:
“1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à instituição do
regime de repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo
159
CF/1988: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá
de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão
a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.”
160
ADCT: “Art. 69. Será permitido aos Estados manter consultorias jurídicas separadas de suas Procuradorias-Gerais ou
Advocacias-Gerais, desde que, na data da promulgação da Constituição, tenham órgãos distintos para as respectivas funções.”
161
Precedentes citados: ADI 145; ADI 484; ADI 5.215; ADI 449; ADI 5.262 e ADI 5.541.
162
Constituição do Estado do Rio Grande do Norte: “Art. 88. Para assessoramento jurídico auxiliar aos órgãos da administração
direta, indireta, fundacional e autárquica, o Estado organiza nos termos da lei, em cargos de carreira, providos, na classe inicial
mediante concurso público de provas e títulos, observado o disposto nos arts. 26, § 6º, e 110, a Assessoria Jurídica Estadual,
vinculada diretamente à Procuradoria Geral do Estado.”

78
nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de
repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões transitadas em julgado
nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade
nonagesimal, conforme a natureza do tributo.”

Resumo:
Os efeitos temporais da coisa julgada nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo são
imediatamente cessados quando o STF se manifestar em sentido oposto em julgamento de controle
concentrado de constitucionalidade ou de recurso extraordinário com repercussão geral.
A coisa julgada não pode servir como salvo conduto imutável a fim de ser oponível eternamente pelo
jurisdicionado somente porque lhe é benéfica, de modo que, uma vez modificado o contexto fático e jurídico — com
o pronunciamento desta Corte em repercussão geral ou em controle concentrado — os efeitos das decisões
transitadas em julgado em relações de trato continuado devem se adaptar, aplicando-se a lógica da cláusula rebus sic
stantibus.
Na espécie, os contribuintes possuíam o direito de não recolher a Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL) com fundamento em decisões transitadas em julgado que consideraram a inconstitucionalidade
incidental da Lei 7.689/1998 (que institui a referida contribuição). Em 2007, sobreveio o julgamento da ADI 15, na
qual esta Corte declarou a constitucionalidade da norma, retomando-se a cobrança da contribuição 163. Assim, desde
o julgamento de 2007, já estava clara a posição do STF em relação à validade da Lei 7.689/1988, interrompendo
automaticamente (independentemente de ação rescisória) os efeitos temporais das decisões transitadas em julgado
que declararam a inconstitucionalidade da incidência da CSLL (em relação a fatos geradores posteriores a esse ano).
Caso mantidas essas decisões, haveria notável discrepância passível de ofender a igualdade tributária e a
livre concorrência, pois, em se tratando de relação jurídica de trato continuado, o contribuinte dispensado do
pagamento da CSLL ostentaria vantagem competitiva em relação aos demais, já que não destinaria parcela dos seus
recursos a essa finalidade.
Ademais, uma decisão da Corte, em controle concentrado ou em repercussão geral, que seja contrária à
coisa julgada favorável ao contribuinte em relações jurídicas tributárias de trato continuado produz para ele uma
norma jurídica nova (situação semelhante à criação de um novo tributo), motivo pelo qual, a depender da espécie do
tributo, deve-se observar a irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena (no caso das contribuições para
seguridade social, a anterioridade nonagesimal).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, (i) ao apreciar o Tema 885 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário da União; (ii) ao apreciar o Tema 881 da repercussão geral, deu
provimento ao recurso extraordinário da União; e (iii) fixou, para ambos os casos, a tese acima registrada. Por
maioria, não modulou os efeitos da decisão e entendeu aplicáveis as limitações constitucionais temporais ao poder
de tributar.

RE 955.227/BA, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento finalizado em 8.2.2023


RE 949.297/CE, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento finalizado
em 8.2.2023

Constitucionalidade de dispositivos da Lei da ADPF - ADI 2.231/DF

ODS: 16

Tese fixada:
“É constitucional a Lei nº 9.882/1999, que dispõe sobre o processo e julgamento da arguição de
descumprimento de preceito fundamental”.

Resumo:
A Lei 9.882/1999 foi editada com estrita observância à ordem constitucional e representa verdadeiro
marco na mudança do tipo de fiscalização realizada pelo Supremo Tribunal Federal, com ênfase na tutela dos
preceitos fundamentais não amparados pelos outros meios de controle concentrado de constitucionalidade.

163
Precedente citado: ADI 15

79
No que se refere à ADPF incidental ou paralela (Lei 9.882/1999, art. 1º, parágrafo único, I), a previsão não
representa ampliação das competências do STF (CF/1988, art. 102, § 1º), pois objetivou permitir a provocação da
Corte para apreciar relevantes controvérsias constitucionais concretamente debatidas em qualquer juízo ou tribunal,
quando inexistente outra forma idônea de tutelar preceitos fundamentais. Ela se revela como mecanismo que
contribui para uma maior segurança jurídica, eis que propicia, de modo eficaz, que uma decisão sobre a mesma
questão de direito ocorra de forma isonômica e uniforme.
Por sua vez, a possibilidade de suspensão de processos ou dos efeitos de decisões judiciais (Lei 9.882/1999,
art. 5º, § 3º) representa importante instrumento de economia processual e de uniformização da orientação
jurisprudencial 164. Essas medidas visam evitar que a tutela de preceitos fundamentais se torne ineficaz ou que sejam
proferidas decisões contraditórias sobre a mesma questão, o que comprometeria a segurança jurídica e a efetividade
da prestação jurisdicional.
Ademais, a possibilidade de atribuição de efeitos vinculantes e eficácia erga omnes às decisões proferidas
em sede de ADPF (Lei 9.882/1999, art.10, caput e § 3º) estão intrinsecamente relacionados à própria natureza e às
finalidades do controle objetivo e concentrado de constitucionalidade.
Já a modulação de efeitos (Lei 9.882/1999, art. 11) implica uma ponderação entre a norma violada e as
normas constitucionais que protegem os efeitos produzidos pela lei declarada inconstitucional 165.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou improcedente para declarar a constitucionalidade da Lei 9.882/1999.

ADI 2.231/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

(In)constitucionalidade de dispositivos do Código de Processo Civil de 2015 - ADI 5.492/DF e ADI


5.737/DF

ODS: 10, 16 e 17

Resumo:
A edição da Lei 13.105/2015, conhecida como Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015),
consagrou o entendimento de que o processo não deve ser um fim em si mesmo, devendo-se buscar uma
adequada mediação entre o direito nele previsto e a sua realização prática, a fim de torná-lo efetivo, exigindo-
se postura interpretativa orientada a reafirmar e reforçar esse objetivo.
Nesse contexto, o caráter nacional e cogente do CPC/2015 impõe conferir tratamento uniforme a todos os
jurisdicionados submetidos a processo no território brasileiro, não se permitindo que ele seja diverso em matéria
processual conforme a unidade federada na qual ocorre o litígio.
É inconstitucional a regra de competência que autoriza que entes subnacionais sejam demandados
em qualquer comarca do País, pois a fixação do foro deve se restringir aos seus respectivos limites
territoriais.
Deve ser conferida interpretação conforme a Constituição aos artigos 46, § 5º, e 52, parágrafo único, ambos
do CPC/2015 166, no sentido de que a competência seja definida nos limites territoriais do respectivo estado ou do
Distrito Federal, nos casos de promoção de execução fiscal e de ajuizamento de ação em que qualquer deles seja
demandado.
A possibilidade de litigar em face da União em qualquer parte do País (CF/1988, art. 109, §§ 1º e 2º) é
compatível com a estruturação nacional da Advocacia Pública federal. Contudo, estender essa previsão aos entes
subnacionais resulta na desconsideração de sua prerrogativa constitucional de auto-organização (CF/1988, arts. 18,
25 e 125) e da circunstância de que sua atuação se desenvolve dentro dos seus limites territoriais.
É inconstitucional a obrigatoriedade de os depósitos judiciais e de valores de RPVs serem realizados
somente em bancos oficiais (CPC/2015, arts. 535, § 3º, II; e 840, I).

164
Precedente citado: ADPF 33 MC
165
Precedente citado: ADI 2.154 (julgamento virtual finalizado em 31.3.2023, cujo acórdão está pendente de publicação).
166
CPC/2015: “Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro
de domicílio do réu. (...) § 5º A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar
onde for encontrado. (...) Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito
Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do
autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.”

80
Essa determinação viola os princípios da eficiência administrativa, da livre concorrência e da livre
iniciativa, assim como cerceia os entes federados, notadamente as justiças estaduais, quanto ao exercício de suas
autonomias.
São constitucionais os dispositivos legais (CPC/2015, arts. 9º, parágrafo único, III; e 311, parágrafo
único) que, sem prévia citação do réu, admitem a concessão de tutela de evidência quando os fatos alegados
possam ser demonstrados documentalmente e a tese jurídica estiver consolidada em julgamento de casos
repetitivos ou em súmula vinculante.
Assim, inexiste qualquer ofensa ao princípio do contraditório caso haja justificativa razoável e proporcional
para a postergação do contraditório e desde que se abra a possibilidade de a parte se manifestar posteriormente
acerca da decisão que a afetou, ou sobre o ato do qual não participou.
É constitucional presunção de repercussão geral de recurso extraordinário que impugna acórdão que
tenha declarado inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (CPC/2015, art. 1.035, § 3º, III).
Essa previsão se fundamenta, em especial, na necessidade de uniformizar a aplicação de lei federal em todo
o território nacional.
É constitucional a determinação de vincular a Administração Pública à efetiva aplicação de tese
firmada no julgamento de casos repetitivos relacionados à prestação de serviço delegado (CPC/2015, arts.
985, § 2º; e 1.040, IV).
Ao ampliar os diálogos institucionais entre as entidades públicas, essa medida assegura maior efetividade
no cumprimento de decisão judicial ao mesmo tempo em que densifica direitos garantidos constitucionalmente.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, em apreciação conjunta, por maioria, julgou
parcialmente procedentes as ações para: (i) declarar constitucionais a expressão “administrativos” do art. 15; a
expressão “dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” do art. 242, § 3º; a referência ao inciso II do art. 311
constante do art. 9º, parágrafo único, II, e do art. 311, parágrafo único; o art. 985, § 2º; e o art. 1.040, IV, todos do
CPC/2015; (ii) atribuir interpretação conforme a Constituição ao art. 46, § 5º, do CPC/2015, para restringir sua
aplicação aos limites do território de cada ente subnacional ou ao local de ocorrência do fato gerador; (iii) atribuir
interpretação conforme a Constituição ao art. 52, parágrafo único, do CPC/2015, para restringir a competência do
foro de domicílio do autor às comarcas inseridas nos limites territoriais do estado-membro ou do Distrito Federal
que figure como réu; (iv) declarar a inconstitucionalidade da expressão “de banco oficial”, constante do art. 535, §
3º, II, do CPC/2015, e conferir interpretação conforme ao dispositivo para que se entenda que a “agência” nele
referida pode ser de instituição financeira pública ou privada. Para dar cumprimento ao disposto na norma, poderá a
administração do tribunal contratar banco oficial ou, caso assim opte, banco privado, hipótese em que serão
observadas a realidade do caso concreto, os regramentos legais e princípios constitucionais aplicáveis e as normas
do procedimento licitatório, visando à escolha da proposta mais adequada para a administração de tais recursos; e
(v) declarar a inconstitucionalidade da expressão “na falta desses estabelecimentos” do art. 840, I, do CPC/2015, e
conferir interpretação conforme ao preceito para que se entenda que poderá a administração do tribunal efetuar os
depósitos judiciais (a) no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o estado ou o Distrito
Federal possua mais da metade do capital social integralizado, ou, (b) não aceitando o critério preferencial proposto
pelo legislador e observada a realidade do caso concreto, os regramentos legais e os princípios constitucionais
aplicáveis, realizar procedimento licitatório visando à escolha da proposta mais adequada para a administração dos
recursos dos particulares.

ADI 5.492/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira), às 23:59
ADI 5.737/DF, relator Ministro Dias Toffoli, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira), às 23:59

Lei 9.868/1999 e o rito de processamento das ADI e ADC: princípios do contraditório e da ampla
defesa e modulação de efeitos nas ações de controle concentrado de constitucionalidade - ADI
2.154/DF e ADI 2.258/DF

ODS: 16

Resumo:
Não configura inconstitucionalidade por omissão — por alegada ofensa aos princípios do
contraditório e da ampla defesa quanto à participação da sociedade civil no processamento das ações
declaratórias de constitucionalidade — o veto presidencial aos textos constantes do art. 17 e dos §§ 1º e 2º do
art. 18 do projeto de lei convertido na Lei 9.868/1999 167.
167
Lei 9.868/1999: “Art. 17. O relator determinará a publicação de edital no Diário da Justiça e no Diário Oficial contendo
informações sobre a propositura da ação declaratória de constitucionalidade, o seu autor e o dispositivo da lei ou do ato

81
A omissão a ser questionada em ADI deve decorrer da inércia estatal em estabelecer medidas necessárias à
realização concreta dos preceitos constitucionais 168. Da leitura dos princípios do contraditório e da ampla defesa não
se extrai qualquer exigência de produção normativa ou suposição de déficit estrutural de suas implementações legais
capaz de autorizar o ajuizamento da presente ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
Ademais, a pretensão de que o Tribunal reconheça a legitimidade constitucional de normas vetadas pelo
presidente da República, no exercício de seu legítimo juízo de conveniência, resulta na assunção de uma condição
de legislador positivo, em afronta à reiterada jurisprudência desta Corte e ao princípio da separação dos Poderes 169.
Ainda que potencializado o interesse genérico de defesa da Constituição como fundamento de participação
da sociedade no processo decisório da ADC, a intervenção ora pleiteada estaria atendida pela possibilidade de os
legitimados proporem ADI quanto ao mesmo dispositivo, com a reunião dos processos para julgamento conjunto 170.
Nesse contexto, o veto ao § 2º do art. 18 da Lei 9.868/1999 não prejudica a participação social na jurisdição
prestada em ADC, pois o relator pode requisitar informações, consultar peritos ou designar audiência pública para
ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria submetida à discussão (Lei 9.868/1999, art.
20, § 1º).
É constitucional a norma contida no art. 27 da Lei 9.868/1999 171, que permite a modulação de efeitos,
pelo Supremo Tribunal Federal, da decisão que declara a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo.
Antes do advento da referida lei, esta Corte, em casos pontais, já vinha mitigando a aplicação da teoria da
nulidade das leis declaradas inconstitucionais 172, de modo que a técnica da modulação dos efeitos foi realizada com
a finalidade de conservar a própria unidade da Constituição, sendo desnecessária a sua autorização expressa no texto
constitucional.
Ao modular os efeitos, o STF aplica diretamente a Constituição no sentido de limitar a eficácia temporal da
declaração de inconstitucionalidade de determinada norma. Ponderam-se os possíveis prejuízos da lacuna normativa
resultante dessa declaração para proteger a segurança jurídica, direitos fundamentais ou outros valores
constitucionais que devam ser preservados.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, em conclusão da apreciação conjunta (vide Informativo 456),
(i) por unanimidade, julgou improcedentes as ações para afastar a suposta inconstitucionalidade por omissão dos
arts. 17 e 18, §§ 1º e 2º, ambos da Lei 9.868/1999; e (ii) por maioria, julgou improcedentes as ações para assentar a
constitucionalidade do art. 27 da Lei 9.868/1999.

ADI 2.154/DF, relator Ministro Dias Toffoli, redatora do acórdão Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual
finalizado em 31.3.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 2.258/DF, relator Ministro Dias Toffoli, redatora do acórdão Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual
finalizado em 31.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.3 DEFENSORIA PÚBLICA

Defensoria Pública: autonomia administrativa e determinação judicial para o preenchimento de cargo


de defensor em localidades desamparadas - RE 887.671/CE (Tema 847 RG)

normativo. (VETADO) Art. 18. Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação declaratória de constitucionalidade.
§ 1º Os demais titulares referidos no art. 103 da Constituição Federal poderão manifestar-se, por escrito, sobre o objeto da ação
declaratória de constitucionalidade no prazo de trinta dias a contar da publicação do edital a que se refere o artigo anterior,
podendo apresentar memoriais ou pedir a juntada de documentos reputados úteis para o exame da matéria. (VETADO) § 2º O
relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir,
observado o prazo estabelecido no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades. (VETADO)”
168
Precedentes citados: ADI 19 e ADI 1.439 MC
169
Precedentes citados: ADI 267 MC; ADI 1.063 MC; Rcl 14.075 AgR; RE 614.407 AgR-segundo; AI 831.965 AgR; RE
599.850 AgR; RE 595.921 AgR; RE 742.352 AgR; ARE 810.559 ED; ARE 787.994 AgR; ARE 638.634 AgR; ARE 750.532
AgR; ARE 750.531 ED; AI 494.225 AgR-segundo; RE 602.890 AgR; ARE 723.248 AgR; ARE 691.852 AgR; AI 702.590 AgR;
RE 586.997 AgR; RE 606.179 AgR; RE 208.684 EDv-AgR-segundo; RE 473.216 AgR; RE 631.641 AgR; RE 709.315 AgR; AI
764.201 AgR; AI 744.887 AgR e RE 432.460 ED-AgR-ED.
170
Precedente citado: ADC 1 QO.
171
Lei 9.868/1999: “Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro
momento que venha a ser fixado.”
172
Precedentes citados: RE 79.343; RE 78.533; Rp 882; RE 105.789; Rp 861; RE 122.202; Rp 1.379 e ADI 1.102.

82
ODS: 1, 3, 4, 10 e 16

Tese fixada:
“Ofende a autonomia administrativa das Defensorias Públicas decisão judicial que determine a
lotação de defensor público em localidade desamparada, em desacordo com os critérios previamente
definidos pela própria instituição, desde que observados os critérios do art. 98, caput e § 2º, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar a autonomia administrativa da Defensoria Pública — a imposição,
por via judicial, de lotação de defensor público em divergência com os critérios prefixados pela própria
instituição, quando estes já considerem a proporcionalidade da efetiva demanda de seus serviços e a
respectiva população na unidade jurisdicional, com prioridade de atendimento às regiões com maiores índices
de exclusão social e adensamento populacional.
A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado Democrático de Direito
(CF/1988, art. 134), uma vez que promove a efetivação dos direitos fundamentais, notadamente para a igualdade e a
dignidade de pessoas hipossuficientes, assim como o acesso à Justiça173.
A partir da EC 80/2014, foi assegurado à Defensoria Pública o poder de autogoverno na tomada de
decisões, razão pela qual lhe cabe, por meio de seus órgãos de direção, decidir onde deve lotar os seus membros,
com a devida observância aos critérios por ela mesma preestabelecidos, em atenção especial à efetiva demanda, à
cobertura populacional e à hipossuficiência de seus assistidos.
Na espécie, o Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública com fins de obrigar o Estado do Ceará
a preencher cargo de defensor público na comarca de Jati/CE. Apesar de julgada procedente pelo juízo de primeiro
grau, o tribunal de justiça local reformou a sentença.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 847 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso extraordinário, mantendo o acórdão recorrido. Por unanimidade, o Tribunal fixou a tese
supracitada.

RE 887.671/CE, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento
finalizado em 8.3.2023

Defensoria Pública: lei estadual que fixa critérios de desempate para a promoção e a remoção com
base na antiguidade - ADI 7.317/RS

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência do legislador complementar nacional (CF/1988, arts.
61, § 1º, II, “d”; 93; e 134, §§ 1º e 4º) e o princípio da isonomia (CF/1988, arts. 5º, “caput”; e 19, III) — norma
estadual que fixa o tempo de serviço público no ente federado ou o tempo de serviço público em geral como
critério de desempate na aferição da antiguidade para a promoção e a remoção dos defensores públicos
locais.
O mesmo raciocínio aplicado quanto à carreira da magistratura 174 deve ser adotado em relação à de
defensor público, sendo vedado à lei estadual disciplinar matéria própria da Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei
Complementar 80/1994) ou dispor de forma contrária a ela175.
173
Precedentes citados: ADI 2.903; ADI 3.569; ADI 5.296; ADI 4.056; STA 800 Extn-AgR e SL 866 AgR.
174
Precedentes citados: MS 28.494; ADI 4.042 MC; ADI 4.042; ADI 4.462 MC; ADI 4.462; ADI 6.766 e ADI 6.781.
175
CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º
São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II – disponham sobre: (...) d) organização do Ministério
Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria
Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (...) Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal
Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) II - promoção de entrância para
entrância, alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: (...) Art. 134. A Defensoria Pública é
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime

83
Na espécie, do cotejo das normas da LC 80/1994 com os dispositivos impugnados, verifica-se inexistir
norma nacional a reconhecer o tempo de exercício de serviço público como critério válido para o desempate na
antiguidade para fins de promoção na carreira de Defensor Público.
Ademais, ao fixar o tempo de serviço público como critério de desempate para promoção e remoção por
antiguidade, o legislador estadual estabeleceu inconstitucional distinção entre membros da mesma carreira, em
desrespeito ao princípio da isonomia176.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade das expressões “contar com maior tempo de serviço público no Estado, maior tempo de
serviço público em geral”, “no serviço público estadual e no serviço público em geral” e “no serviço público do
Estado, no serviço público em geral”, constantes nos §§ 1º e 2º do art. 20 e no § 4º do art. 29 da Lei Complementar
11.795/2002 do Estado do Rio Grande do Sul (Estatuto da Defensoria Pública gaúcha) 177, atribuindo eficácia ex
nunc à declaração de inconstitucionalidade a contar da publicação da ata de julgamento.

ADI 7.317/RS, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às 23:59

Defensoria Pública: pagamento de honorários sucumbenciais em litígio com ente público ao qual
vinculada - RE 1.140.005/RJ (Tema 1.002 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“1. É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à Defensoria Pública, quando representa
parte vencedora em demanda ajuizada contra qualquer ente público, inclusive aquele que integra; 2. O valor
recebido a título de honorários sucumbenciais deve ser destinado, exclusivamente, ao aparelhamento das
Defensorias Públicas, vedado o seu rateio entre os membros da instituição.”

Resumo:
Em razão da autonomia e da relevância institucional das Defensorias Públicas, é constitucional o
recebimento de honorários sucumbenciais quando estas representarem o litigante vencedor em demanda
ajuizada contra qualquer ente público, ainda que o litígio se dê contra o ente federativo que integram.

democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art.
5º desta Constituição Federal. § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos
Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial,
mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício
da advocacia fora das atribuições institucionais. (...) § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96
desta Constituição Federal.”
176
Precedentes citados: ADI 6.779 e ADI 6.769.
177
LC 11.795/2002 do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 20 – A antiguidade será apurada na classe e determinada pelo tempo
de efetivo exercício na mesma. § 1º – Em caso de empate na classificação por antiguidade dentro da mesma classe, será
considerado mais antigo o Defensor Público que contar com maior tempo de serviço na carreira de Defensor Público e, se
necessário, sucessivamente, contar com maior tempo de serviço público no Estado, maior tempo de serviço público em geral,
maior idade e melhor classificação no concurso para ingresso na Defensoria Pública do Estado. § 2º – Em janeiro de cada ano, o
Defensor Público-Geral do Estado mandará publicar, no órgão oficial, a lista de antiguidade dos membros da Defensoria Pública
do Estado em cada classe, a qual conterá, em anos, meses e dias, o tempo de serviço na classe, na carreira, no serviço público
estadual e no serviço público em geral, bem como aquele computado para efeito de aposentadoria e disponibilidade. (...) Art. 29 –
A remoção é voluntária ou compulsória. (...) § 4° – Findo o prazo fixado no parágrafo anterior e, havendo mais de um candidato
à remoção, será removido o mais antigo na classe e, ocorrendo empate, sucessivamente, o mais antigo na carreira, no serviço
público do Estado, no serviço público em geral, o mais idoso e o melhor classificado no concurso para ingresso na Defensoria
Pública do Estado.”

84
As reformas trazidas pelas EC 45/2004, 74/2013 e 80/2014 178 atribuíram autonomia funcional,
administrativa e financeira às Defensorias dos estados e da União. Portanto, no contexto atual, as Defensorias
Públicas são consideradas órgãos constitucionais independentes, sem subordinação ao Poder Executivo. Como
deixaram de ser vistas como órgãos auxiliares do governo, que integram e vinculam-se à estrutura administrativa do
estado-membro, encontra-se superado o argumento de violação do instituto da confusão (Código Civil/2002, art.
381).
É vedado o rateio, entre os membros da Defensoria Pública, do valor recebido a título de verbas
sucumbenciais decorrentes de sua atuação judicial. Essa quantia deve ser destinada, exclusivamente, para a
estruturação das unidades dessa instituição, com vistas ao incremento da qualidade do atendimento à
população carente e à garantia da efetividade do acesso à Justiça.
A devida alocação desses recursos financeiros para o aparelhamento da respectiva Defensoria Pública 179
viabiliza o exercício da missão constitucional a ela conferido, que é garantir o acesso à Justiça dos grupos mais
vulneráveis da população (CF/1988, art. 134, caput). Ademais, os honorários hão de servir como desestímulo à
oposição de resistência injustificada, revelada por meio da interposição de recursos inviáveis e protelatórios por
parte do ente público sucumbente.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, apreciando o Tema 1.002 da repercussão geral,
deu provimento ao recurso extraordinário para condenar a União ao pagamento de honorários em favor da
Defensoria Pública da União no valor de 10% sobre o valor da causa.

RE 1.140.005/RJ, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

Requisição de instauração de inquérito policial pela Defensoria Pública - ADI 4.346/MG

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional norma estadual que confere à Defensoria Pública o poder de requisição para
instaurar inquérito policial.
Não pode ser estendido à requisição de instauração de inquérito policial o raciocínio inerente ao
reconhecimento da constitucionalidade do poder concedido à Defensoria Pública de requisitar, de qualquer
autoridade e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações,
esclarecimentos e demais providências necessárias ao exercício de suas atribuições 180.
O poder de requisitar a instauração de inquérito policial está intrinsecamente ligado à persecução penal no
País, o que exige uma disciplina uniforme em todo o território nacional. Nesse contexto, o Código de Processo Penal
— norma editada no exercício da competência privativa da União para legislar sobre direito processual (CF/1988,
art. 22, I) — já delimitou essa atribuição, conferindo-a somente à autoridade judiciária ou ao Ministério Público 181.

178
CF/1988: “Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos
humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita,
aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
80, de 2014) § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e
prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante
concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da
advocacia fora das atribuições institucionais. (Renumerado do parágrafo único pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 2º
Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do
Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 74, de 2013) § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II
do art. 96 desta Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)”
179
LC 80/1994: “Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: (...) XI – executar e receber as verbas
sucumbenciais decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas por quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos geridos
pela Defensoria Pública e destinados, exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de
seus membros e servidores; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).”
180
Precedentes citados: ADI 6.852 e ADI 6.875.
181
CPP/1941: “Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.”

85
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, nessa extensão,
por maioria, a julgou parcialmente procedente apenas para declarar a inconstitucionalidade da expressão “ a
instauração de inquérito policial”, constante do art. 45, XXI, da Lei Complementar 65/2003 do Estado de Minas
Gerais182.

ADI 4.346/MG, relator Ministro Roberto Barroso, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgamento
virtual finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.4 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Contratos de mútuo com alienação fiduciária de imóvel: possibilidade de execução extrajudicial em


caso de não pagamento da parcela - RE 860.631/SP (Tema 982 RG)

ODS: 6, 8, 10 e 16

Tese fixada:
“É constitucional o procedimento da Lei nº 9.514/1997 para a execução extrajudicial da cláusula de
alienação fiduciária em garantia, haja vista sua compatibilidade com as garantias processuais previstas na
Constituição Federal.”

Resumo:
O procedimento que possibilita a execução extrajudicial da cláusula de alienação fiduciária em
garantia constante nos contratos de mútuo de imóvel realizados pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI)
não viola os princípios da inafastabilidade da jurisdição e do acesso à justiça (CF/1988, art. 5º, XXXV), da
garantia do juiz natural (CF/1988, art. 5º, LIII), e do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório (CF/1988, art. 5º, LIV e LV). Ele também não infringe o direito à propriedade (CF/1988, art. 5º,
XII), visto que a sua concretização, quanto ao bem financiado pelo devedor fiduciante, ocorre somente com o
total adimplemento da dívida, existindo, até o cumprimento dessa condição, mera expectativa.
A qualidade da garantia fornecida pelo tomador de crédito contribuiu para o crescimento do setor
imobiliário e para a redução de riscos e custos associados à atividade creditícia, potencializando a disponibilização
de taxas de juros mais atrativas e, consequentemente, ampliando o acesso da população à moradia.
Nesse contexto, exigir a judicialização da execução do procedimento de retomada do imóvel cujo devedor
deixa de pagar o financiamento representaria um retrocesso legal no mercado de crédito imobiliário, na medida em
que, além de gerar graves consequências sistêmicas na dinâmica dos financiamentos, poderia penalizar as partes
contratantes que, mesmo com demandas legítimas, teriam que enfrentar tribunais excessivamente congestionados.
Ademais, a lei federal impugnada dispõe de medidas indutivas ao cumprimento das obrigações contratuais,
sob a orientação de redução da complexidade procedimental, cuja aplicação pressupõe o consentimento válido
expresso das partes contratantes e a possibilidade de acesso ao Poder Judiciário para dirimir controvérsias ou
reprimir eventuais ilegalidades183.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 982 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso extraordinário para manter o acórdão recorrido e, por conseguinte, reafirmar a
constitucionalidade do procedimento da Lei 9.514/1997 que diz respeito à execução extrajudicial da cláusula de
alienação fiduciária em contratos de mútuo.

RE 860.631/SP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 26.10.2023

182
Lei Complementar 65/2003 do Estado de Minas Gerais: “Art. 45 – Aos Defensores Públicos do Estado incumbe o
desempenho das funções de orientação, postulação e defesa dos direitos e interesses dos necessitados, cabendo-lhes
especialmente: (...) XXI – requisitar a instauração de inquérito policial e diligências necessárias à apuração de crime de ação
penal pública;”
183
Precedentes citados: RE 627.106 (Tema 249 RG) e RE 223.075.

86
Direito da gestante contratada por prazo determinado ou ocupante de cargo em comissão à licença-
maternidade e à estabilidade provisória - RE 842.844/SC (Tema 542 RG)

ODS: 5, 8, 10 e 16

Tese fixada:
“A trabalhadora gestante tem direito ao gozo de licença-maternidade e à estabilidade provisória,
independentemente do regime jurídico aplicável, se contratual ou administrativo, ainda que ocupe cargo em
comissão ou seja contratada por tempo determinado.”

Resumo:
Dada a prevalência da proteção constitucional à maternidade e à infância, a gestante contratada pela
Administração Pública por prazo determinado ou ocupante de cargo em comissão também possui direito à
licença-maternidade de 120 dias e à estabilidade provisória, desde a confirmação da gravidez até 5 meses
após o parto.
A proteção ao trabalho da mulher gestante é medida justa e necessária que independe da natureza do
vínculo empregatício (celetista, temporário ou estatutário), da modalidade do prazo do contrato ou da forma de
provimento (em caráter efetivo ou em comissão).
A garantia constitucional é genérica e incondicional, circunstância que atende ao princípio da máxima
efetividade dos direitos fundamentais e assegura à trabalhadora gestante não apenas o emprego, mas uma gravidez
protegida e digna ao nascituro, inclusive no que diz respeito às necessidades do período pós-parto, em especial a
amamentação.
Ademais, como medida de fortalecimento da igualdade material, o referido direito deve ser estendido à
universalidade das servidoras, pouco importando a modalidade do trabalho, notadamente porque o texto
constitucional não excluiu as trabalhadoras com vínculo não efetivo184.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 542 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 842.844/SC, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 5.10.2023

EC 45/2004: incidente de deslocamento de competência nas hipóteses de grave violação de direitos


humanos - ADI 3.486/DF e ADI 3.493/DF

ODS: 10 e 16

Resumo:
É constitucional — por não afrontar a forma federativa de Estado e os direitos e as garantias
individuais — o art. 1º da EC 45/2004, no que se refere à criação do incidente de deslocamento de
competência (IDC) para a Justiça Federal, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos (inclusão do
inciso V-A e do § 5º ao art. 109 da CF/1988).
A criação do IDC representa a adoção de mecanismo de equacionamento jurídico da problemática da
ineficiência do aparato estatal de repressão às graves violações dos direitos humanos. Considerou-se, em especial, o
papel da União como garante, em nível interno e externo, dos compromissos internacionais firmados pelo Brasil
com relação ao tema185, de modo que a federalização dessas específicas causas é medida excepcional e subsidiária.
184
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...) XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; (...) Art. 39. (...) § 3º
Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII,
XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.”

185
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: I – manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
(...) Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; (...) Art. 84. Compete privativamente

87
Nesse contexto, a retirada de parcela da competência jurisdicional da magistratura estadual não enseja
quebra de cláusula pétrea (CF/1988, art. 60, § 4º, I e IV), nem ofensa ao pacto federativo ou a qualquer cláusula de
autonomia dos órgãos judiciários locais, em razão do caráter único e nacional do Poder Judiciário.
Também não há qualquer ofensa à legalidade, à segurança jurídica, ao devido processo legal, ao
contraditório e à ampla defesa, ao princípio do juiz natural, bem como à garantia constitucional do Tribunal do Júri.
A aplicabilidade do IDC é imediata, atribuindo-se ao Procurador-Geral da República (PGR) a
responsabilidade de verificar a ocorrência de grave violação dos direitos humanos, previstos em instrumentos
normativos internacionais, sem o intermédio de uma legislação de regência.
Não é necessária norma legal regulamentadora, pois o preceito constitucional já possui todos os elementos
qualificadores necessários à sua incidência (CF/1988, art. 5º, § 1º).
Assim, o papel atribuído ao PGR configura mecanismo de equilíbrio e ponderação: ele tem o dever-poder
de suscitar o deslocamento quando observar a presença dos requisitos. Não há se falar em arbitrariedade na
formulação desse ato, que, em última análise, se submeterá ao crivo do STJ, cuja apreciação é pautada por critérios
jurídicos e não políticos.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, julgou
improcedentes as ações, para assentar a constitucionalidade do art. 1º da EC 45/2004, relativamente à inclusão do
inciso V-A e do § 5º ao art. 109 da CF/1988186.
ADI 3.486/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às 23:59
ADI 3.493/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às 23:59

Implementação de políticas públicas pelo Poder Judiciário para garantir o direito à saúde - RE
684.612/RJ (Tema 698 RG)

ODS: 3 e 16

Tese fixada:
“1. A intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas voltadas à realização de direitos
fundamentais, em caso de ausência ou deficiência grave do serviço, não viola o princípio da separação dos
Poderes. 2. A decisão judicial, como regra, em lugar de determinar medidas pontuais, deve apontar as
finalidades a serem alcançadas e determinar à Administração Pública que apresente um plano e/ou os meios
adequados para alcançar o resultado; 3. No caso de serviços de saúde, o déficit de profissionais pode ser
suprido por concurso público ou, por exemplo, pelo remanejamento de recursos humanos e pela contratação
de organizações sociais (OS) e organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP).”

Resumo:
Na hipótese de ausência ou deficiência grave do serviço, a intervenção do Poder Judiciário em
políticas públicas voltadas à realização de direitos fundamentais não viola o princípio da separação dos
Poderes (CF/1988, art. 2º), devendo a atuação judicial, via de regra, indicar as finalidades pretendidas e
impor à Administração Pública a apresentação dos meios adequados para alcançá-las.
A intervenção casuística do Poder Judiciário, definindo a forma de contratação de pessoal e da gestão dos
serviços de saúde, coloca em risco a própria continuidade das políticas públicas, já que desorganiza a atividade
administrativa e compromete a alocação racional dos escassos recursos públicos. Assim, a participação judicial deve
ocorrer em situações excepcionais e ser pautada por critérios de razoabilidade e eficiência, respeitada a
discricionariedade do administrador em definir e implementar políticas públicas 187.
Nesse contexto, para viabilizar uma atuação judicial efetiva e organizada com vistas à concretização de
direitos fundamentais, esta Corte fixou os seguintes parâmetros a serem observados: (i) a ausência ou a grave
deficiência do serviço público, decorrente da inércia ou excessiva morosidade do Poder Público, devem estar
devidamente comprovadas nos autos 188; (ii) deve-se questionar se é razoável e faticamente viável que a obrigação

ao Presidente da República: (...) VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso
Nacional;”
186
CF/1988: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V – A as causas relativas a direitos humanos a que se
refere o § 5º deste artigo; (...) § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal.”
187
Precedentes citados: RE 592.581 (Tema 220 RG); RE 1.008.166 (Tema 548 RG); ARE 1.230.668 AgR-EDv-AgR; ARE
1.408.531 AgR; ARE 1.289.323 AgR e ACO 3.473 MC-Ref.
188
Precedente citado: ADPF 347 MC.

88
pleiteada seja universalizada pelo ente público devedor, considerados os recursos efetivamente existentes; (iii)
determina-se a finalidade a ser atingida e não o modo como ela deverá ser alcançada pelo administrador,
prestigiando-se a resolução consensual da demanda e o diálogo institucional com as autoridades públicas
responsáveis; (iv) na implementação de políticas públicas, a decisão judicial deve apoiar-se em documentos ou
manifestações de órgãos técnicos, os quais poderão acompanhar a petição inicial ou compor a instrução processual;
e (v) sempre que possível, deve-se permitir a participação de terceiros no processo, com a admissão de amici curiae
e a designação de audiências públicas.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 698 da repercussão geral, deu
parcial provimento ao recurso extraordinário para anular o acórdão recorrido e determinar o retorno dos autos à
origem para novo exame da matéria, de acordo com as circunstâncias fáticas atuais do Hospital Municipal Salgado
Filho (Rio de Janeiro/RJ) e com os parâmetros ora fixados.

RE 684.612/RJ, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento
virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Liberdade de expressão e proibição de manifestação pública de militar contra atos de superiores ou


resoluções do Governo - ADPF 475/DF

ODS: 16

Resumo:
O art. 166 do Código Penal Militar (CPM) é compatível com o sistema normativo-constitucional
vigente, pois as restrições por ele impostas são adequadas e proporcionais quando consideradas as
peculiaridades das atribuições militares e a singularidade de suas carreiras, que possibilita aos seus
integrantes a submissão a regime disciplinar distinto do aplicado aos servidores públicos civis em geral.
O artigo impugnado, ao reprimir a crítica dos militares “a ato de seu superior ou assunto atinente à
disciplina militar, ou a qualquer resolução do Governo”, pretende evitar excessos no exercício à liberdade de
expressão que comprometam a hierarquia e a disciplina internas, postulados indispensáveis às instituições militares
189
, e, desse modo, impedir que se coloquem em risco a segurança nacional e a ordem pública, bens jurídicos vitais
para a vida em sociedade 190.
Contudo, a norma não limita o exercício da liberdade de expressão dos militares para toda e qualquer
situação. Podem existir casos em que o seu alcance não abrangerá a crítica ou a manifestação realizada pelo militar.
Nesse contexto, devem ser analisadas e sopesadas as circunstâncias de cada caso concreto, a fim de aferir a presença
de todas as elementares do tipo penal.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, considerou o art. 166 do CPM 191 recepcionado
pela Constituição Federal de 1988 e, por conseguinte, julgou improcedente a ação.

ADPF 475/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às 23:59

População em situação de rua no Brasil e estado de coisas inconstitucional - ADPF 976 MC-Ref/DF

ODS: 1, 3, 8, 10, 11 e 16

Audiência Pública: 1ª Parte 2ª Parte 3ª Parte 4ª Parte 5ª Parte

Resumo:

189
CF/1988: “Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (...) Art. 142 As Forças Armadas,
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
190
Precedente citado: ADPF 353
191
CPM/1969: “Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato ou documento oficial, ou criticar publicamente ato
de seu superior ou assunto atinente à disciplina militar, ou a qualquer resolução do Governo: Pena - detenção, de dois meses a um
ano, se o fato não constitui crime mais grave.”

89
Estão presentes os pressupostos necessários para a concessão da medida cautelar (fumaça do bom
direito e perigo da demora na efetivação de uma decisão judicial), eis que: (i) a discussão acerca das condições
precárias de vida da população em situação de rua no Brasil demanda uma reestruturação institucional que
decorre de um quadro grave e urgente de desrespeito a direitos humanos fundamentais; e (ii) a violação
maciça de direitos humanos — a indicar um potencial estado de coisas inconstitucional — impele o Poder
Judiciário a intervir, mediar e promover esforços para estabelecer uma estrutura adequada de
enfrentamento.
A atenção à população em situação de rua deve ser realizada com o intuito de: (i) evitar a entrada nas ruas;
(ii) garantir direitos enquanto o indivíduo está em situação de rua; e (iii) promover condições para a saída das ruas.
No âmbito da medida cautelar em análise, também se consideraram, entre outros fatores: (i) os desafios do
retorno da população em situação de rua à educação escolar, que vão além da falta de acesso a programas; (ii) os
obstáculos relacionados à reinserção no mercado de trabalho; (iii) a “aporofobia”, entendida como violadora dos
objetivos fundamentais, em especial o relacionado ao combate a todas as formas de discriminação (CF/1988, art. 3º,
IV); (iv) o direito à identidade além do mero registro; (v) o acolhimento institucional e o direito fundamental à
moradia; (vi) a presença de atos comissivos e omissivos, imputados a agentes públicos e pessoas privadas, que
atentam flagrantemente contra a dignidade dessa população; (vii) a necessidade de medidas paliativas que
impulsionem a construção de respostas estatais duradouras; e (viii) a necessidade de elaboração de um estudo capaz
de delinear todas as nuances que permeiam o problema crônico social em debate, para evitar políticas desassociadas
do espaço e do tempo de aplicação.
Nesse contexto, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem, de modo imediato, observar,
obrigatoriamente e independentemente de adesão formal, as diretrizes contidas no Decreto federal
7.053/2009, que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua, em conjunto e nos moldes
das determinações estabelecidas na parte dispositiva da decisão desta Corte.
O mencionado decreto deve ser interpretado como pormenorização efetiva de comandos constitucionais, a
ser aplicado de forma a atingir todos os entes subnacionais. Essa aplicação nacional também promove preceitos
constitucionais conformadores da assistência social que asseguram ao ente federal as competências de coordenar
ações governamentais e estabelecer normas gerais, atribuições reproduzidas na Lei 8.742/1993.
Além disso, visando à construção de uma solução robusta e duradoura, é necessário mobilizar os demais
Poderes, mais afeitos às especificidades das políticas públicas.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, referendou a cautelar
anteriormente concedida para o fim de tornar obrigatória a observância, pelos estados, Distrito Federal e municípios,
imediata e independentemente de adesão formal, das diretrizes contidas no Decreto federal 7.053/2009, que institui a
Política Nacional para a População em Situação de Rua, bem como determinar:
(I) A formulação pelo Poder Executivo federal, no prazo de 120 dias, do Plano de Ação e
Monitoramento para a Efetiva Implementação da Política Nacional para a População em Situação de Rua,
com a participação, dentre outros órgãos, do Comitê intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da
Política Nacional para População em Situação de Rua (CIAMP-Rua), do Conselho Nacional de Direitos
Humanos (CNDH), da Defensoria Pública da União (DPU) e do Movimento Nacional da População em
Situação de Rua. O plano deverá, no mínimo, conter os seguintes tópicos:
(a) Elaboração de um diagnóstico atual da população em situação de rua, com
identificação do perfil, da procedência e de suas principais necessidades, entre outros elementos a
amparar a construção de políticas públicas voltadas ao segmento;
(b) Criação de instrumentos de diagnóstico permanente da população em situação de rua;
(c) Desenvolvimento de mecanismos para mapear a população em situação de rua no
censo realizado pelo IBGE;
(d) Estabelecimento de meios de fiscalização de processos de despejo e de reintegração
de posse no País, e seu impacto no tamanho da população em situação de rua;
(e) Elaboração de diretrizes para a intervenção do Poder Público, pautadas no tratamento
humanizado e não violento da população em situação de rua, englobando, entre outros, a formação
e o treinamento de agentes públicos, bem como as formas de abordagens específicas aos
“hiperhipossuficientes”;
(f) Elaboração de programas de capacitação e de sensibilização de agentes públicos das
áreas da saúde, assistência social, educação, segurança pública, justiça, entre outras, para atuarem
junto à população em situação de rua;
(g) Incorporação, na Política Nacional de Habitação, das demandas da população em
situação de rua;
(h) Análise de programas de transferência de renda e sua capilaridade em relação à
população em situação de rua;
(i) Previsão de um canal direto de denúncias contra violência;

90
(j) Elaboração de medidas para garantir padrões mínimos de qualidade nos centros de
acolhimento, resguardando a higiene e a segurança dos locais;
(l) Desenvolvimento de programas de prevenção de suicídio junto à população em
situação de rua;
(m) Elaboração de programas educacionais e de conscientização pública sobre a
aporofobia e sobre a população em situação de rua;
(n) Formulação de políticas para fomentar a saída da rua através de programas de
emprego e de formação para o mercado de trabalho;
(o) Elaboração de medidas para o fortalecimento de políticas públicas voltadas a moradia,
trabalho, renda, educação e cultura de pessoas em situação de rua;
(p) Indicação de possíveis incentivos fiscais para a contratação de trabalhadores em
situação de rua.
(II) Aos Poderes Executivos municipais e distrital, bem como onde houver atuação, aos Poderes
Executivos federal e estaduais que, no âmbito de suas zeladorias urbanas e nos abrigos de suas respectivas
responsabilidades:
(a) Efetivem medidas que garantam a segurança pessoal e dos bens das pessoas em
situação de rua dentro dos abrigos institucionais existentes;
(b) Disponibilizem o apoio das vigilâncias sanitárias para garantir abrigo aos animais de
pessoas em situação de rua;
(c) Proíbam o recolhimento forçado de bens e pertences, assim como a remoção e o
transporte compulsório de pessoas em situação de rua;
(d) Vedem o emprego de técnicas de arquitetura hostil contra as populações em situação
de rua, bem como efetivem o levantamento das barreiras e equipamentos que dificultam o acesso a
políticas e serviços públicos, assim como mecanismos para superá-las;
(e) No âmbito das zeladorias urbanas:
(e1) Divulguem previamente o dia, o horário e o local das ações de zeladoria
urbana nos seus respectivos sites, nos abrigos, e outros meios em atendimento ao
princípio da transparência dos atos da Administração Pública, permitindo assim que a
pessoa em situação de rua recolha seus pertences e que haja a limpeza do espaço sem
conflitos;
(e2) Prestem informações claras sobre a destinação de bens porventura
apreendidos, o local de armazenamento dos itens e o procedimento de recuperação do
bem;
(e3) Promovam a capacitação dos agentes com vistas ao tratamento digno da
população em situação de rua, informando-os sobre as instâncias de responsabilização
penal e administrativa;
(e4) Garantam a existência de bagageiros para as pessoas em situação de rua
guardarem seus pertences;
(e5) Determinem a participação de agentes de serviço social e saúde em ações de
grande porte;
(e6) Disponibilizem bebedouros, banheiros públicos e lavanderias sociais de fácil
acesso para população em situação de rua;
(e7) Realizem inspeção periódica dos centros de acolhimento para garantir, entre
outros, sua salubridade e sua segurança;
(f) Realização periódica de mutirões da cidadania para a regularização de documentação,
inscrição em cadastros governamentais e inclusão em políticas públicas existentes;
(g) Criação de um programa de enfrentamento e prevenção à violência que atinge a população
em situação de rua;
(h) Formulação de um protocolo intersetorial de atendimento na rede pública de saúde para a
população em situação de rua;
(i) Ampla disponibilização e divulgação de alertas meteorológicos, por parte das Defesas Civis
de todos os entes federativos, para que se possam prever as ondas de frio com a máxima antecedência
e prevenir os seus impactos na população em situação de rua;
(j) Disponibilização imediata:
(j1) Pela defesa civil, de barracas para pessoas em situação de rua com estrutura mínima
compatível com a dignidade da pessoa humana, nos locais nos quais não há número de vagas em
número compatível com a necessidade;
(j2) A disponibilização de itens de higiene básica à população em situação de rua.
(III) Aos Poderes Executivos municipais e distrital, no prazo de 120 dias, a realização de diagnóstico
pormenorizado da situação nos respectivos territórios, com a indicação do quantitativo de pessoas em

91
situação de rua por área geográfica, quantidade e local das vagas de abrigo e de capacidade de fornecimento
de alimentação.

ADPF 976 MC-Ref/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 21.8.2023
(segunda-feira), às 23:59

Proibição da divulgação de assuntos funcionais por advogados públicos federais - ADI 4.652/DF

ODS: 16

Tese fixada:
“Considerando-se a natureza do cargo, é constitucional a necessidade de ordem ou autorização
expressa do Advogado-Geral da União para manifestação do advogado público sobre assunto pertinente às
suas funções, ressalvadas a liberdade de cátedra e a comunicação às autoridades competentes acerca de
ilegalidades constatadas.”

Resumo:
É constitucional a vinculação da manifestação funcional de advogado público federal à ordem do
Advogado-Geral da União ou à sua prévia autorização expressa. Contudo, como essa limitação não pode ser
prevista de maneira ampla e irrestrita, a fim de evitar arbitrariedades, ficam dela excepcionados a liberdade
acadêmica e o dever funcional de representar sobre eventuais ilegalidades verificadas no exercício do cargo.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da possibilidade excepcional de restrição da liberdade de
expressão (CF/1988, art. 5º, IV) — pressuposto indispensável ao funcionamento da democracia e que se legitima
como expressão da dignidade da humana — em favor de direitos igualmente relevantes, desde que ela seja razoável
e proporcional192.
Na espécie, as normas impugnadas têm como destinatários os agentes públicos, de modo que não cria
qualquer espécie de censura direcionada à imprensa, inexistindo violação à liberdade dos meios de comunicação ou
à atividade jornalística.
Ademais, elas possuem como objetivos primordiais o resguardo do sigilo necessário ao desempenho da
advocacia e, consequentemente, a salvaguarda dos interesses públicos envolvidos na atuação da Advocacia-Geral da
União, tais como informações que possam impactar de forma negativa o seu funcionamento 193.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação apenas para
conferir interpretação conforme a Constituição aos arts. 28, III, da Lei Complementar 73/1993 194 e 38, § 1º, III, da
Medida Provisória 2.229-43/2001195, de modo a afastar do seu âmbito de incidência a possibilidade de manifestação
pelo advogado público na seara acadêmica (liberdade de cátedra) ou para representar sobre ilegalidades de que tenha
conhecimento (dever funcional do servidor).

ADI 4.652/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 12.6.2023 (segunda-feira), às
23:59

Proteção do meio ambiente: atividade garimpeira e presunções de legalidade da origem do ouro


comercializado e da boa-fé da instituição adquirente - ADI 7.273 MC-Ref/DF e ADI 7.345 MC-Ref/DF

ODS: 13

Resumo:

192
Precedente citado: ADPF 496.
193
Precedente citado: ARE 652.777 RG (Tema 483 RG).
194
Lei Complementar 73/1993: “Art. 28. Além das proibições decorrentes do exercício de cargo público, aos membros efetivos
da Advocacia-Geral da União é vedado: (...) III - manifestar-se, por qualquer meio de divulgação, sobre assunto pertinente às
suas funções, salvo ordem, ou autorização expressa do Advogado-Geral da União.”
195
Medida Provisória 2.229-43/01: “Art. 38. Os integrantes da Carreira de Procurador Federal têm os direitos e deveres que lhes
prevê a Lei no 8.112, de 1990, e sujeitam-se às proibições e aos impedimentos estabelecidos nesta Medida Provisória. § 1º Ao
Procurador Federal é proibido: (...) III - manifestar-se, por qualquer meio de divulgação, sobre assunto conexo às suas
atribuições, salvo ordem, ou autorização expressa, do Advogado-Geral da União.”

92
Encontram-se presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar, pois (i) há plausibilidade
jurídica quanto à alegação de que o dispositivo impugnado — ao modificar o processo de compra de ouro e
passar a presumir a legalidade de sua aquisição e a boa-fé do adquirente — viola o dever de proteção do meio
ambiente (CF/1988, art. 225), por fragilizar a efetividade do controle do garimpo; e (ii) há perigo da demora
na prestação jurisdicional, eis que evidenciados danos ambientais — com repercussão na saúde da população,
em especial dos povos indígenas — e aumento da violência nas regiões garimpeiras.
O princípio da proporcionalidade funciona como filtro de constitucionalidade, não só no que diz respeito às
proibições de intervenções nos direitos fundamentais, como também nas situações em que eles não permitem uma
proteção insuficiente 196, a sugerir a diminuição da margem de discricionariedade dos poderes públicos, os quais
passam a estar obrigados a agir.
Nesse contexto, esta Corte já declarou a inconstitucionalidade de normas que dispensam a exigência de
prévio licenciamento ambiental para atividades potencialmente poluidoras 197.
Na espécie, simplificar o processo de compra de ouro permitiu a expansão do comércio ilegal e fortaleceu
as atividades de garimpo ilegal, o desmatamento, a contaminação de rios e a violência nas regiões de garimpo,
atingindo, inclusive, os povos indígenas das áreas afetadas.
Com base nesse entendimento, o Plenário, em apreciação conjunta, por unanimidade, referendou a decisão
que deferiu o pedido liminar formulado nas duas ações para determinar: (i) a suspensão da eficácia do art. 39, § 4º,
da Lei federal 12.844/2013 198; e (ii) que o Poder Executivo da União (inclusive as autarquias de natureza especial
que falaram nos autos) adote, no prazo de 90 dias: (a) um novo marco normativo para a fiscalização do comércio do
ouro, especialmente quanto à verificação da origem legal daquele adquirido por Distribuidoras de Títulos e Valores
Mobiliários (DTVMs); e (b) medidas (legislativas, regulatórias e/ou administrativas) que inviabilizem a aquisição de
ouro extraído de áreas de proteção ambiental e de terras indígenas.

ADI 7.273 MC-Ref/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às
23:59.
ADI 7.345 MC-Ref/DF, relator Ministro Gilmar Mendes. julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às
23:59

Segurado de plano de saúde e valores recebidos para custear direitos fundamentais de natureza
essencial - RE 1.319.935 AgR-ED/SP

ODS: 3

Resumo:
Dada a proteção constitucional conferida ao direito à vida, à saúde e à boa-fé, o segurado de plano de
saúde está isento de devolver produtos e serviços prestados em virtude de provimento jurisdicional para
custear direitos fundamentais de natureza essencial, ainda que, à época do provimento, o medicamento ou
serviço não possuíssem o respectivo registro nos órgãos competentes.
Conforme jurisprudência desta Corte, não configura dever legal a reposição de verbas recebidas de boa-fé
para custear direitos fundamentais de natureza essencial 199.
Na espécie, a natureza essencial imprescindível dos medicamentos e tratamentos dispensados, nos termos
do laudo médico pericial, para assegurar o direito à vida e à saúde da segurada, bem como o recebimento de boa-fé
dos produtos e serviços de saúde, afastam a obrigação de restituir os valores.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por unanimidade, acolheu os embargos de declaração,
com efeitos infringentes, para dar provimento ao agravo regimental para dar provimento ao recurso extraordinário e
restabelecer a sentença que reconheceu o direito da segurada de receber e ter custeado o medicamento e tratamento
indicados pelo relatório médico, e, por conseguinte, reformar o acórdão recorrido que entendia cabível a devolução
dos valores referentes ao período em que não havia registro nos órgãos competentes.

RE 1.319.935 AgR ED/SP, relator Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 19.9.2023

196
Precedentes citados: ADI 3.112 e ADI 4.901.
197
Precedente citado: ADI 5.312.
198
Lei federal 12.844/2013: “Art. 39. A prova da regularidade da primeira aquisição de ouro produzido sob qualquer regime de
aproveitamento será feita com base em: (...) § 4º Presumem-se a legalidade do ouro adquirido e a boa-fé da pessoa jurídica
adquirente quando as informações mencionadas neste artigo, prestadas pelo vendedor, estiverem devidamente arquivadas na
instituição legalmente autorizada a realizar a compra de ouro.”
199
Precedentes citados: MS 26.974 (monocrática) e MS 25.921 AgR.

93
Sistema prisional brasileiro: estado de coisas inconstitucional decorrente da violação grave e massiva
de direitos fundamentais - ADPF 347/DF

ODS: 3 e 16

Tese fixada:
“1. Há um estado de coisas inconstitucional no sistema carcerário brasileiro, responsável pela
violação massiva de direitos fundamentais dos presos. Tal estado de coisas demanda a atuação cooperativa
das diversas autoridades, instituições e comunidade para a construção de uma solução satisfatória. 2. Diante
disso, União, Estados e Distrito Federal, em conjunto com o Departamento de Monitoramento e Fiscalização
do Conselho Nacional de Justiça (DMF/CNJ), deverão elaborar planos a serem submetidos à homologação do
Supremo Tribunal Federal, nos prazos e observadas as diretrizes e finalidades expostas no presente voto,
especialmente voltados para o controle da superlotação carcerária, da má qualidade das vagas existentes e da
entrada e saída dos presos. 3. O CNJ realizará estudo e regulará a criação de número de varas de execução
penal proporcional ao número de varas criminais e ao quantitativo de presos.”

Resumo:
A situação de grave violação em massa de direitos fundamentais dos presos enseja o reconhecimento
de um estado de coisas inconstitucional do sistema prisional brasileiro. A superação desse problema de
natureza estrutural exige do Poder Público a elaboração de um plano nacional e de planos locais que
prevejam um conjunto de medidas e a participação de diversas autoridades e entidades da sociedade.
A proteção dos direitos fundamentais é inerente à condição humana. Nesse contexto, as normas
constitucionais e os tratados internacionais de direitos humanos de que o Brasil é parte proíbem a existência de
penas cruéis, garantem ao preso o respeito à sua integridade física e moral, bem como preveem que a pena será
cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.
No âmbito infraconstitucional, a Lei de Execução Penal assegura a assistência material, jurídica,
educacional, social, religiosa, além do acesso à saúde, aos alojamentos com ocupação e dimensões adequadas, ao
trabalho e ao estudo (Lei 7.210/1984, arts. 40, 41 e 126).
Esse cenário normativo, em conjunto com as sistemáticas violações desses direitos, afasta eventuais
contornos políticos ou de discricionariedade administrativa, tornando o problema do sistema carcerário brasileiro
essencialmente jurídico, motivo pelo qual o estrito cumprimento das normas acima citadas deve ser assegurado por
esta Corte.
A superlotação dos presídios, o descontrole na entrada e as condições da saída do sistema prisional, e a má
qualidade das vagas disponibilizadas impedem a prestação de serviços e bens essenciais que integram o mínimo
existencial. Essas circunstâncias comprometem a capacidade do sistema em cumprir seus fins de ressocialização e
de funcionar a favor da segurança pública.
Com base nesses e outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ADPF
para:
(a) reconhecer o estado de coisas inconstitucional do sistema carcerário brasileiro;
(b) determinar que juízes e tribunais:
(b.1) realizem audiências de custódia, preferencialmente de forma presencial, de modo a viabilizar
o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até 24 horas contadas do momento da
prisão;
(b.2) fundamentem a não aplicação de medidas cautelares e penas alternativas à prisão, sempre
que possíveis, tendo em conta o quadro dramático do sistema carcerário;
(c) ordenar a liberação e o não contingenciamento dos recursos do FUNPEN;
(d) determinar a elaboração de plano nacional e de planos estaduais e distrital para a superação do estado
de coisas inconstitucional, com indicadores que permitam acompanhar sua implementação;
(e) estabelecer que o prazo para apresentação do plano nacional será de até 6 (seis) meses, a contar da
publicação desta decisão, e de até 3 anos, contados da homologação, para a sua implementação,
conforme cronograma de execução a ser indicado no próprio plano;
(f) estabelecer que o prazo para apresentação dos planos estaduais e distrital será de 6 meses, a contar da
publicação da decisão de homologação do plano nacional pelo STF, e implementado em até 3 anos,
conforme cronograma de execução a ser indicado no próprio plano local;

94
(g) prever que a elaboração do plano nacional deverá ser efetuada, conjuntamente, pelo DMF/CNJ e pela
União, em diálogo com instituições e órgãos competentes e entidades da sociedade civil, nos termos
explicitados acima e observada a importância de não alongar excessivamente o feito;
(h) explicitar que a elaboração dos planos estaduais e distrital se dará pelas respectivas unidades da
federação, em respeito à sua autonomia, observado, todavia, o diálogo com o DMF, a União,
instituições e órgãos competentes e entidades da sociedade civil, nos moldes e em simetria ao diálogo
estabelecido no plano nacional;
(i) prever que, em caso de impasse ou divergência na elaboração dos planos, a matéria será submetida ao
STF para decisão complementar;
(j) estabelecer que todos os planos deverão ser levados à homologação do Supremo Tribunal Federal, de
forma a que se possa assegurar o respeito à sua decisão de mérito;
(l) determinar que o monitoramento da execução dos planos seja efetuado pelo DMF/CNJ, com a
supervisão necessária do STF, cabendo ao órgão provocar o tribunal, em caso de descumprimento ou
de obstáculos institucionais insuperáveis que demandem decisões específicas de sua parte; e
(m) estipular que os planos devem prever, entre outras, as medidas examinadas neste voto, observadas as
diretrizes gerais dele constantes, sendo exequíveis aquelas que vierem a ser objeto de homologação
final pelo STF em segunda etapa.

ADPF 347/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento
finalizado em 4.10.2023

Supressão de indicadores de feminicídios e letalidade policial do Plano


Nacional de Segurança Pública e Defesa Social - ADI 7.013/DF

ODS: 10 e 16

Resumo:
A ausência de disciplina objetiva e expressa dos objetivos, metas, programas e indicadores para
acompanhamento de feminicídios e mortes decorrentes da intervenção de agentes de segurança pública no
Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social II (PNSP II - Decreto 10.822/2021) configura retrocesso
social em matéria de direitos fundamentais e proteção deficiente dos direitos à vida e à segurança pública
(CF/1988, arts. 5º, “caput”; e 144).
O PNSP II (2021-2030) retrocede em relação ao PNSP I (2018-2028), instituído pelo Decreto 9.630/2018,
no sentido da necessária e especial atenção aos temas relativos à violência de gênero e
desproporcionalidade/ilicitude frequente na atuação de agentes de segurança pública.
Na espécie, os feminicídios passaram a ser incluídos no grupo “mortes violentas”, inviabilizando-se a
classificação específica dos casos para atendimento eficiente da atuação estatal. Ademais, não há meta ou objetivo
estabelecido para redução de mortes por intervenção de agentes de segurança pública no primeiro ciclo do PNSP II.
O retrocesso social decorrente da substituição do PNSP de 2018 pelo de 2021 e a proteção insuficiente em
face da omissão do Poder Executivo na inclusão de indicadores exatos de feminicídios e letalidade policial impõem
a necessidade de restabelecimento do modelo anterior de definição das ações estratégicas relacionadas ao tema, a
fim de dar cumprimento aos objetivos fundamentais da República (CF/1988, art. 3º, I, III e IV).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, recebeu a ADI como ADO, (i) converteu o exame
da medida cautelar em julgamento de mérito; e (ii) julgou procedente a ação para que seja suprida a omissão
reconhecida, determinando-se o restabelecimento do cuidado antes adotado e ao qual se retrocedeu, com a inclusão,
no Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, de disciplina objetiva e expressa dos objetivos, metas,
programas e indicadores para acompanhamento de feminicídios e mortes decorrentes da intervenção de agentes de
segurança pública, prevista no Decreto presidencial 9.630/2018, a ser cumprido no prazo máximo de 120 dias.

ADI 7.013/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

95
5.5 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL

Covid-19: prorrogação do prazo de vigência de medidas do Programa Emergencial de Manutenção do


Emprego e da Renda - ADI 6.662/DF

Resumo:
O prazo de vigência das medidas que integram o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego
e da Renda (PEMER) — política pública de enfrentamento à pandemia da Covid-19, instituída pela Lei
14.020/2020 — possui sentido inequívoco, de modo que não é possível interpretação diversa de sua
literalidade (31 de dezembro de 2020).
A fixação de interpretação conforme, pleiteada pelo partido requerente, não pode ser aplicável ao caso. Isso
porque a utilização dessa técnica tem como finalidade preservar a constitucionalidade da norma questionada em
respeito ao princípio democrático.
Nesse contexto, caso o sentido mais evidente já seja compatível com a ordem constitucional vigente ou a
norma não comporte mais de uma possibilidade interpretativa, não se deve aplicar a referida técnica.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para rejeitar o
pedido de interpretação conforme a Constituição que objetivava ampliar o prazo de vigência do art. 8º da Lei
13.979/2020 e dos arts. 1º, 2º, 7º, 8º, § 6º, 16, parágrafo único, 18, § 4º, e 25, § 1º, todos da Lei 14.020/2020.

ADI 6.662/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 31.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.6 MAGISTRATURA

Aposentadoria compulsória de magistrados - ADI 5.430/DF

ODS: 16

Tese fixada:
“Não se submete a reserva de iniciativa a lei complementar nacional que, regulamentando a EC nº
88/2015, fixa em 75 (setenta e cinco) anos a idade de aposentadoria compulsória para todos os agentes
públicos titulares de cargos efetivos ou vitalícios”.

Resumo:
É constitucional — por tratar de matéria que não se submete à reserva de iniciativa do Supremo
Tribunal Federal — a Lei Complementar 152/2015, de autoria parlamentar, que, ao elevar a idade da
aposentadoria compulsória no serviço público para 75 anos de idade, inclui os magistrados.
Em que pese esta Corte já ter decidido, em sede cautelar, pela necessidade da edição de lei complementar
nacional, de iniciativa do STF, para regulamentar a aposentadoria compulsória dos magistrados 200, posteriormente,
em sessão administrativa, entendeu inexistir vício formal de iniciativa no projeto que originou a Lei Complementar
152/2015. Isso porque a aposentadoria dos membros do Poder Judiciário, aos 75 anos de idade, decorreria do
próprio sistema normativo constitucional, e a lei a ser editada com o propósito de regulamentar o tema consistiria
em regra de aplicação geral, dispensando-se a observância estrita de iniciativa legislativa.
Essa compreensão foi consolidada pelo Tribunal no julgamento da ADI 5.940/DF 201 e deve prevalecer
pelas seguintes razões: (i) a iniciativa privativa é excepcional, sendo a regra geral a possibilidade de propositura de
projeto de lei por qualquer membro do Congresso Nacional (CF/1988, art. 61, caput); (ii) a juridicidade do modelo
previdenciário da magistratura e seu tratamento uniforme com os demais agentes públicos (CF/1988, art. 40 c/c o
art. 93, VI), em especial para permitir a previsibilidade e o equilíbrio das contas públicas; e (iii) a observância ao
princípio da isonomia, dada a ausência de qualquer elemento singular que legitime tratamento previdenciário
distinto aos membros do Poder Judiciário frente aos demais servidores titulares de cargos efetivos ou vitalícios.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade do art. 2º, II, da Lei complementar 152/2015 202.
200
Precedente citado: ADI 5.316 MC.
201
Precedente citado: ADI 5.490.
202
Lei complementar 152/2015: “Art. 2º Serão aposentados compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade: (...) II - os membros do Poder Judiciário;”

96
ADI 5.430/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

Escalonamento dos valores dos subsídios de magistrados estaduais - ADI 4.216/TO

Tese fixada:
“Em respeito à autonomia federativa, não viola o art. 37, V, da Constituição a lei estadual que
considera as promoções entre entrâncias para o escalonamento dos subsídios da carreira da magistratura.”

Resumo:
É constitucional lei estadual que considera as promoções entre entrâncias para o escalonamento dos
subsídios da carreira da magistratura.
O texto constitucional veda apenas a fixação de tetos remuneratórios distintos em relação a magistrados
federais e estaduais, sem impedir a diferenciação dos valores dos subsídios203 204.
A expressão “conforme as categorias da estrutura judiciária nacional” (CF/1988, art. 93, V) deve ser
interpretada de modo a prestigiar decisões políticas regionais que considerem as peculiaridades dos estados-
membros, pois compete a eles, mediante leis de iniciativa dos respectivos tribunais de justiça, organizar o Poder
Judiciário local, definir o número de entrâncias e fixar os subsídios de seus magistrados (CF/1988, art. 125, § 1º).
Ademais, a promoção de magistrados de “entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e
merecimento” (CF/1988, art. 93, II) está em consonância com o princípio da eficiência (CF/1988, art. 37, caput), na
medida em que permite que o sistema remuneratório sirva de estímulo aos que desejam ser promovidos por
merecimento.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação, para declarar a
constitucionalidade do art. 1º, parágrafo único, da Lei 1.631/2005 do Estado do Tocantins 205.

ADI 4.216/TO, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Submissão dos magistrados ao Regime de Previdência Social comum aos servidores públicos - ADI
3.308/DF, ADI 3.363/DF, ADI 3.998/DF, ADI 4.802/DF e ADI 4.803/DF

ODS: 8 e 16

Resumo:
São constitucionais — formal e materialmente — os dispositivos incluídos pela EC 20/1998 e pela EC
41/2003, que instituíram uma ampla reformulação do regime previdenciário no setor público, na parte em
que submetem os magistrados ao Regime de Previdência Social comum aos servidores públicos.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de não haver necessidade de retorno da proposição à Casa
de origem para nova votação quanto à parte modificada se a alteração da Casa revisora não altera substancialmente o
sentido do texto aprovado na Casa iniciadora 206.
Na espécie, a retirada da expressão “no que couber”, mediante destaque aprovado pelo Plenário do Senado
Federal, não resultou em modificação substancial suficiente a ensejar o alegado vício formal, por suposta violação
ao art. 60, § 2º, da CF/1988. Isso porque, em segundo turno no Senado, após suprimida a referida expressão, a
redação original do texto proveniente da Câmara dos Deputados foi votada e aprovada com plena observância do
203
CF/1988: “Art. 93 Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios: (...) V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco
por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão
fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não
podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco
por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e
39, § 4º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”
204
Precedentes citados: ADI 4.183 e ADI 4.237.

205
Lei 1.631/2005 do Estado de Tocantins “Art. 1º. O subsídio percebido pelos Desembargadores do Tribunal de Justiça do
Estado do Tocantins, a partir de 1° de janeiro de 2005, corresponde a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. O valor do subsídio dos membros que
compõem as demais categorias da magistratura estadual será escalonado com diferença de cinco por cento entre uma e outra.”
206
Precedentes citados: ADI 2.666; ADI 2.238 MC e ADI 3.367.

97
quórum de três quintos, como prevista no atual texto constitucional (CF/1988, art. 93, VI). O rito constitucional trata
de proposta de emenda à Constituição e não de eventual destaque proposto por parlamentar, o qual é disciplinado no
Regimento Interno das Casas Legislativas e, como tal, configura matéria interna corporis, não sujeita ao controle
judicial 207.
Também inexiste desrespeito ao princípio da separação de Poderes 208, pois a norma da EC 20/1998 alterou
o regime de aposentadoria dos magistrados sem interferir no exercício da jurisdição ou na organização da
magistratura, de modo que não invadiu matéria de iniciativa privativa do Supremo Tribunal Federal para dispor
sobre o Estatuto da Magistratura (CF/1988, art. 93, caput).
Ademais, a vitaliciedade dos magistrados (CF/1988, art. 95, I) restringe-se à taxatividade das hipóteses de
aposentadoria compulsória 209, motivo pelo qual as normas impugnadas não representam qualquer óbice à
efetividade dessa garantia constitucional.
Por fim, o Plenário desta Corte já assentou, oportunamente, a constitucionalidade da EC 20/1998 210.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, em apreciação conjunta, por unanimidade, julgou
improcedentes as ações para declarar a constitucionalidade do art. 1º da EC 20/1998, na parte em que conferiu nova
redação ao art. 93, VI, da CF/1988 211, e do art. 2º, §§ 2º e 3º da EC 41/2003212.
ADI 3.308/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 12.5.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 3.363/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 12.5.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 3.998/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 12.5.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 4.802/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 12.5.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 4.803/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 12.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

Vinculação de remunerações aos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal - ADI
7.264/TO

ODS: 8 e 16

Teses fixadas:
“É inconstitucional, por violação ao art. 37, X e XIII, e ao art. 39, § 1º, da CF, a vinculação de
remunerações de carreiras pertencentes a entes federativos distintos ao subsídio de Ministros do Supremo
Tribunal Federal.”
“A previsão legal que fixe subsídio em percentual determinado de um cargo paradigma deve ser
interpretada conforme à Constituição, considerando-se como base o valor vigente no momento de publicação
da lei impugnada, vedados reajustes automáticos posteriores.”
“Não ofende a Constituição o escalonamento de vencimentos entre cargos estruturados na mesma
carreira pública ou entre conselheiros e auditores de Contas.”

Resumo:
É inconstitucional — tendo em vista a vedação expressa do art. 37, XIII, da CF/1988, a autonomia
federativa (CF/1988, art. 39, § 1º) e a exigência de lei específica para reajustes — a vinculação ou equiparação
entre agentes públicos de entes federativos distintos para obtenção de efeitos remuneratórios.

207
Precedentes citados: MS 35.581 AgR e MS 34.578 AgR
208
Precedente citado: ADI 2.654.
209
Precedentes citados: ADI 98 e ADI 183.
210
Precedente citado: AO 2.330 AgR.
211
EC 20/1998: “Art. 1º - A Constituição Federal passa a vigorar com as seguintes alterações: (...) Art. 93
- .................................... VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão o disposto no art. 40;”
212
EC 41/2003: “Art. 2º Observado o disposto no art. 4º da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, é
assegurado o direito de opção pela aposentadoria voluntária com proventos calculados de acordo com o art. 40, §§ 3º e 17, da
Constituição Federal, àquele que tenha ingressado regularmente em cargo efetivo na Administração Pública direta, autárquica e
fundacional, até a data de publicação daquela Emenda, quando o servidor, cumulativamente: I - tiver cinqüenta e três anos de
idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; II - tiver cinco anos de efetivo exercício no cargo em que se der a
aposentadoria; III - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se
mulher; e b) um período adicional de contribuição equivalente a vinte por cento do tempo que, na data de publicação daquela
Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea a deste inciso. § 2º Aplica-se ao magistrado e ao membro do
Ministério Público e de Tribunal de Contas o disposto neste artigo. § 3º Na aplicação do disposto no § 2º deste artigo, o
magistrado ou o membro do Ministério Público ou de Tribunal de Contas, se homem, terá o tempo de serviço exercido até a data
de publicação da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, contado com acréscimo de dezessete por cento,
observado o disposto no § 1º deste artigo.”

98
Na espécie, as normas estaduais impugnadas fixaram vinculação dos subsídios de seus magistrados,
membros do Ministério Público e do Tribunal de Contas àqueles pagos aos ministros do STF, em desacordo com a
jurisprudência desta Corte213.
Nesse contexto, não há justificativa para o ente regional delegar à lei federal, que estabelece a remuneração
dos ministros do STF, a função de, por via oblíqua, determinar o valor dos subsídios dos desembargadores ou juízes
de Direito 214. A fixação do valor dos subsídios deve ser feita por lei estadual, à luz da realidade local, observados os
parâmetros constitucionais (CF/1988, art. 93, V).
Entretanto, é possível interpretar as normas impugnadas no sentido de que a referência a 90,25%, para fins
de cálculo do subsídio, corresponde a um valor fixo resultante da incidência desse percentual sobre o valor do
subsídio mensal dos ministros do STF vigente à época da publicação da lei (no caso, conforme estabelecido pela Lei
federal 11.143/2005), vedando-se a extensão automática de reajustes posteriores concedidos no âmbito da União.
Por outro lado, a mera sistematização da hierarquia salarial entre classes de uma mesma carreira, através do
escalonamento vertical de seus subsídios, não configura vinculação ou equiparação 215.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido, para
atribuir interpretação conforme a Constituição ao art. 1º, caput, da Lei 1.631/2005, ao art. 1º, caput, da Lei
1.632/2005, e ao art. 1º, caput, da Lei 1.634/2005, todas do Estado de Tocantins, para afastar qualquer interpretação
que assegure aos agentes públicos contemplados reajuste automático sempre que aumentado o valor do subsídio do
ministro do Supremo Tribunal Federal, valendo dizer que a menção a 90,25% deve ser tomada quanto ao valor
vigente à data da edição da lei (R$ 21.500,00, conforme Lei federal 11.143/2005), de modo que reajustes posteriores
demandarão lei específica, na forma do art. 37, X, da CF/1988.

ADI 7.264/TO, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.7 MEDIDA PROVISÓRIA

ICMS: vigência e eficácia da majoração de alíquotas e observância do princípio constitucional


tributário da anterioridade anual - ADI 7.375/TO

ODS: 16

Resumo:
Em decorrência do princípio constitucional tributário da anterioridade anual (CF/1988, art. 62, § 2º
c/c o art. 150, III, “b”), a cobrança de aumento da alíquota geral de ICMS de operações internas estadual,
quando decorrer da edição de uma medida provisória, somente produzirá efeitos no exercício financeiro
seguinte ao que ocorrer a conversão em lei.
Os estados-membros podem editar medidas provisórias desde que essa espécie legislativa esteja prevista na
Constituição estadual e seja observado o conjunto básico das regras do processo legislativo da Constituição Federal
de 1988 216.
Conforme jurisprudência desta Corte, a estabilização do ato normativo somente ocorre com a conversão da
medida provisória em lei, de modo que cumulativas as garantias da anterioridade de exercício e nonagesimal 217.
Nesse contexto, no caso de um tributo sujeito duplamente à noventena e à anterioridade de exercício, a lei
que institui ou majora a imposição somente será eficaz após decorridos noventa dias da data de sua divulgação em
meio oficial e no exercício financeiro seguinte à sua publicação.
Na espécie, a lei de conversão da medida provisória foi promulgada apenas em 2023, de modo que a
majoração da alíquota de ICMS só poderia produzir efeitos a partir do exercício financeiro seguinte 218.

213
Precedente citado: ADI 6.437 MC.
214
Precedentes citados: ADI 6.610; ADI 1.756 e ADI 3.697.
215
Precedente citado: ADI 4.898.
216
Precedente citado: ADI 425.

217
Precedente citado: ADI 5.282.
218
CF/1988: “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força
de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...)
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154,
II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi
editada. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

99
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação cautelar em julgamento
definitivo de mérito e julgou procedente a ação para conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 2º da Lei
4.141/2023 do Estado do Tocantins 219 e impedir a incidência da alíquota geral do ICMS sobre operações internas no
patamar majorado de 20% antes de 1º/1/2024.

ADI 7.375/TO, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.8 MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Aproveitamento de policiais militares da reserva para a realização de tarefas específicas por prazo
certo - ADI 3.663/MA

ODS: 8 e 10

Resumo:
É constitucional — por não caracterizar investidura em cargo público nem formação de novo vínculo
jurídico concomitante com a inatividade (CF/1988, arts. 37, II, XVI e § 10; e 42, § 3º) — norma estadual que
permite o aproveitamento transitório e por prazo certo de policiais militares da reserva remunerada em
tarefas relacionadas ao planejamento e assessoramento no âmbito da Polícia Militar ou para integrarem a
segurança patrimonial em órgão da Administração Pública.
Os militares dos estados e os servidores públicos civis, atualmente, estão subordinados à mesma regra geral
de vedação à cumulação de cargos públicos (CF/1988, art. 42, § 3º, c/c o art. 37, XVI) e de vedação à percepção
simultânea de proventos da aposentadoria (ou da reserva/reforma, no caso de militares) com a remuneração pelo
exercício de cargos públicos, ressalvadas as hipóteses de cargos acumuláveis na forma da Constituição, os cargos
eletivos e os cargos em comissão (CF/1988, art. 37, § 10).
Nesse contexto, e consideradas as particularidades do regime jurídico diferenciado dos militares, a norma
impugnada, ao permitir o aproveitamento dos militares em inatividade mediante o pagamento de acréscimo
remuneratório, viabiliza mero exercício atípico, voluntário e transitório de uma função anômala por quem já possui
vínculo jurídico com a Administração. O objetivo principal desse instrumento de gestão de pessoal é o
aproveitamento das habilidades e expertises dos designados ou, circunstancialmente, medida para suprir a carência
de efetivo na organização militar.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade da Lei 6.839/1996 do Estado do Maranhão.

ADI 3.663/MA, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

Justiça Militar: competência para decretar a perda de posto, patente ou graduação de militar estadual
em decorrência de sentença condenatória - ARE 1.320.744/DF (Tema 1.200 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“1) A perda da graduação da praça pode ser declarada como efeito secundário da sentença
condenatória pela prática de crime militar ou comum, nos termos do art. 102 do Código Penal Militar e do
art. 92, I, ‘b’, do Código Penal, respectivamente. 2) Nos termos do artigo 125, § 4º, da Constituição Federal, o
Tribunal de Justiça Militar, onde houver, ou o Tribunal de Justiça são competentes para decidir, em processo
autônomo decorrente de representação do Ministério Público, sobre a perda do posto e da patente dos oficiais
e da graduação das praças que teve contra si uma sentença condenatória, independentemente da natureza do
crime por ele cometido.”
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) b) no mesmo
exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto
na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)”
219
Lei 4.141/2003 do Estado do Tocantins: “Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir
de 1º de abril de 2023”.

100
Resumo:
À luz do art. 125, § 4º, da CF/1988, na redação dada pela EC 45/2004 220, o Tribunal de Justiça
Militar estadual ou o Tribunal de Justiça local, onde aquele não existir, possuem competência para decidir —
em processo autônomo decorrente de representação ministerial — sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação de praças da polícia militar estadual que tiveram contra si sentenças condenatórias,
independentemente do quantum da pena imposta ou da natureza do crime cometido (militar ou comum).
A Justiça comum, por sua vez, pode decretar a perda do cargo do policial militar (praça ou oficial) com
base no art. 92, I, b, do Código Penal 221, nos próprios autos em que houver sua condenação por crime comum, sem
que essa providência configure violação à competência da Justiça Militar 222.
Ademais, a perda da graduação de praças também pode ser decretada por força: (i) de condenação criminal
pela prática de crime de natureza militar, inclusive sem a instauração de procedimento jurisdicional específico
perante o Tribunal competente na hipótese de pena superior a dois anos, a teor do art. 102 do Código Penal Militar
223 224
; e (ii) de sanção disciplinar administrativa apurada em âmbito administrativo, mesmo que ainda esteja em
curso ação penal envolvendo o mesmo fato 225.
Nesse contexto, a ausência de declaração das mencionadas perdas como efeito secundário da condenação
pela prática de crime militar ou comum não impede que o Tribunal de Justiça Militar estadual, onde houver, ou o
Tribunal de Justiça regional — após o trânsito em julgado da condenação e mediante processo autônomo iniciado
por representação do Ministério Público — analise os fatos e delibere sobre essa questão à luz dos valores e do
pundonor militares226.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.200 da repercussão
geral, conheceu do agravo e negou provimento ao recurso extraordinário.
ARE 1.320.744/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira),
às 23:59

Servidores públicos militares em âmbito estadual: regime previdenciário e exigência de lei específica -
ADI 5.154/PA

ODS: 16

Resumo:
É constitucional — por não ferir a exigência de lei específica quanto ao regime de previdência do
servidor militar (CF/1988, art. 42, § 1º c/c o art. 142, § 3º, X) — norma estadual que institui, por meio de
diploma único, regras jurídico-previdenciárias direcionadas tanto aos seus servidores públicos civis como aos
militares.

220
CF/1988: “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...) § 4º
Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)”
221
CP/1940: “Art. 92 - São também efeitos da condenação: I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (...) b)
quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.”
222
Precedentes citados: ARE 1.273.894 AgR-ED-EDv-AgR; ARE 1.020.602 AgR; ARE 1.122.625 AgR; ARE 935.286 ED;
ARE 819.673 AgR e ARE 799.102 AgR-segundo.
223
CPM/1969: “Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, importa sua
exclusão das forças armadas.
224
Precedentes citados: RE 447.859; ARE 1.329.738 AgR e ARE 1.317.262 AgR.
225
Precedentes citados: ARE 691.306 RG (Tema 565 RG); RE 601.146 (Tema 358 RG); AR 1.791; ARE 1.109.615 AgR e ARE
767.929 AgR.
226
Precedente citado: ARE 691.306 RG (Tema 565 RG).

101
O texto constitucional, ao requerer lei estadual específica para dispor sobre as condições de transferência do
militar para a inatividade 227, não proibiu que uma única lei pudesse tratar dessa e de outras matérias de forma
separada e autônoma, como ocorreu na lei complementar estadual impugnada.
Lei específica é diferente de lei de conteúdo exclusivo, motivo pelo qual a Constituição, ao exigir a
regulação exclusiva de determinada matéria mediante lei, o faz de modo expresso, assim como se observa na
redação do art. 150, § 6º228.
Nesse contexto, a exigência constitucional é de que lei estadual confira tratamento normativo específico aos
militares, isto é, trate de forma individualizada o regime jurídico próprio dos militares, ainda que também trate de
outro regime.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação, para declarar a
constitucionalidade da Lei Complementar 39/2002 do Estado do Pará, na parte impugnada.

ADI 5.154//PA, relator Ministro Luiz Fux, redator para o acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às 23:59

5.9 MINISTÉRIO PÚBLICO

Ministério Público: lei estadual que fixa critérios de desempate para a promoção e a remoção com
base na antiguidade - ADI 7.283/MG

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência do legislador complementar nacional (CF/1988, arts.
61, § 1º, II, “d”; 93; e 129, § 4º) e o princípio da isonomia (CF/1988, arts. 5º, “caput”; e 19, III) — norma
estadual que fixa o tempo de serviço público no ente federado ou o maior número de filhos como critério de
desempate na aferição da antiguidade para a promoção e a remoção de membros do Ministério Público local.
O mesmo raciocínio aplicado quanto à carreira da magistratura 229 deve ser adotado em relação à do
Ministério Público, sendo vedado à lei estadual disciplinar matéria própria da Lei Orgânica do Ministério Público
(LONMP, Lei 8.625/1993) ou dispor de forma contrária a ela 230.
227
CF/1988: “Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998) § 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a
ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor
sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) (...) Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército
e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. (...) § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-
se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
(...) X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência
do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares,
consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de
guerra. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)”
228
CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido,
anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal,
estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição,
sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2º, XII, g.”

229
Precedentes citados: ADI 5.402; MS 28.494; ADI 4.042 MC; ADI 4.042; ADI 4.462 MC; ADI 4.462; ADI 6.766 e ADI 6.781.
230
CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º
São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II – disponham sobre: (...) d) organização do Ministério
Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria
Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (...) Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal
Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) II - promoção de entrância para

102
Na espécie, do cotejo das normas da LONMP com os dispositivos impugnados, verifica-se inexistir norma
nacional a reconhecer o número de filhos e o tempo de exercício de serviço público no estado federado como
critérios válidos para o desempate na antiguidade de membros do Ministério Público.
Ademais, ao fixar o número de filhos e o tempo de serviço público na unidade federativa como critérios de
desempate para promoção e remoção por antiguidade, o legislador estadual estabeleceu inconstitucional distinção
entre membros da mesma carreira, em desrespeito ao princípio da isonomia 231.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 185, parágrafo único, V e VI, da Lei Complementar 34/1994 do Estado de Minas
Gerais (Lei Orgânica do Ministério Público mineiro) 232, atribuindo eficácia ex nunc à declaração de
inconstitucionalidade a contar da publicação da ata de julgamento.

ADI 7.283/MG, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às 23:59

Participação do Ministério Público em operações policiais de cumprimento de medidas possessórias de


caráter coletivo - ADI 3.238/PE

Resumo:
É inconstitucional — por usurpar a prerrogativa legislativa conferida ao Procurador-Geral de
Justiça e ofender a autonomia e a independência do Ministério Público (CF/1988, arts. 127, § 2º; e 128, § 5º)
— norma estadual, de iniciativa parlamentar, que dispõe sobre a atuação do Ministério Público nas
operações policiais de cumprimento de medidas possessórias de caráter coletivo.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da coexistência de leis gerais e específicas na esfera
estadual233 .A Lei Orgânica Nacional (Lei 8.625/1993) estabelece normas gerais e garante a uniformidade entre os
Ministérios Públicos das unidades federadas (CF/1988, art. 61, § 1º, II, d). A Lei Orgânica do estado, por sua vez,
delimita, em lei complementar de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça, a organização, as atribuições e o
estatuto de cada Ministério Público (CF/1988, arts. 127, § 2º; e 128, § 5º).
Na esfera federal, o constituinte atribuiu ao Presidente da República e ao Procurador-Geral da República
iniciativa concorrente para editar lei complementar dispondo sobre a organização, as atribuições e o estatuto do
Ministério Público da União, atual LC 75/1993234.
Desse modo, no tocante às referidas matérias, inexiste a possibilidade de proposição legislativa de origem
parlamentar 235, como ocorreu na espécie.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 11.365/1996 do Estado de Pernambuco.

ADI 3.238/PE, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 25.8.2023 (sexta-feira), às 23:59

Remoção por permuta nacional com membros vitalícios do MP de outras unidades da Federação - ADI
6.780/RN

Resumo:
É inconstitucional — por ferir o princípio federativo e a autonomia dos estados (CF/1988, arts. 1º; 25
e 60, § 4º, I), bem como por ofender a autonomia e a independência do Ministério Público (CF/1988, arts. 128,
§ 5º e 129, § 4º) — norma estadual que autoriza a remoção por permuta, em âmbito nacional, entre membros
dos Ministérios Públicos dos estados e do Distrito Federal e Territórios.
A investidura no cargo de membro do Parquet exige prévia aprovação em certame de provas e títulos
(CF/1988, art. 129, § 3º). Assim, a migração entre quadros, mediante permuta, constitui forma de ingresso em cargo

entrância, alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: (...) Art. 129. São funções
institucionais do Ministério Público (...) § 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93.”
231
Precedentes citados: ADI 6.779 e ADI 6.769.
232
LC 34/1994 do Estado de Minas Gerais: “Art. 185 – A antiguidade será determinada pelo efetivo exercício, observado o
disposto nos arts. 121, V, e 142, § 5º. Parágrafo único – Em caso de empate na antiguidade, terá preferência, sucessivamente: (...)
V – o que tiver maior número de filhos; VI – o mais antigo no serviço público estadual.”
233
Precedentes citados: ADI 852; ADI 4.142; ADI 5.281; e ADI 400.
234
Precedentes citados: ADI 5.700 e ADI 3.802.
235
Precedente citado: ADI 5.184.

103
diverso daquele para o qual o servidor foi aprovado, em inobservância ao princípio do concurso público (CF/1988,
art. 37, II) 236.
Nesse contexto, esta Corte já entendeu pela inexistência de uma carreira única, que seja comum a todos os
Ministérios Públicos estaduais e ao Ministério Público da União 237.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei Complementar 653/2019 do Estado do Rio Grande do Norte.

ADI 6.780/RN, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.10 MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS

Regulamentação da escolha do Procurador-Geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


estadual - ADI 4.427/AM

ODS: 16

Resumo:
É constitucional — pois revela opção política do legislador, adotada em conformidade com a margem
de discricionariedade atribuída pela própria Constituição Federal de 1988 — dispositivo de lei orgânica
estadual que dispensa a formação de lista tríplice para nomeação do Procurador-Geral do Ministério Público
junto ao Tribunal de Contas estadual.
Na linha da jurisprudência desta Corte 238, o artigo 130 da Constituição — com o intuito de proteger os
membros do Ministério Público especial no desempenho de suas atribuições — veicula norma de extensão
obrigatória tão somente com relação às cláusulas de garantias subjetivas (vitaliciedade, inamovibilidade,
irredutibilidade, independência funcional, forma de ingresso na carreira). Todas as demais prerrogativas
institucionais dispensadas ao Ministério Público comum, como a autonomia administrativa, financeira e
orçamentária, são inaplicáveis ao Parquet que atua junto ao Tribunal de Contas 239.
Assim, as cláusulas constitucionais que disciplinam o processo de escolha, nomeação e destituição do
Procurador-Geral do Ministério Público comum — por não configurarem prerrogativa subjetiva de seus membros —
não são extensíveis ao Ministério Público especial 240. Desse modo, compete aos estados-membros, no desempenho
de sua autonomia político-administrativa, disciplinar a questão 241, eis que inaplicáveis, na hipótese, o princípio da
simetria, a Lei 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e a Lei Complementar 75/1993 (Estatuto
do Ministério Público da União).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação,
para declarar a constitucionalidade do artigo 112 da Lei 2.423/1996 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado
do Amazonas) 242.

ADI 4.427/AM, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.11 PACTO FEDERATIVO

Placas de Identificação de Veículos do Brasil: credenciamento para a contratação dos serviços de


fabricação e de estampagem - ADI 6.313/DF
236
Precedentes citados: Súmula Vinculante 43; ADI 1.757; ADI 2.364; ADI 1.476; ADI 5.163; e ADI 1.269.
237
Precedente citado: ADPF 482.

238
Precedentes citados: ADI 5.117; ADI 789; ADI 3.160; ADI 160; ADI 328 e ADI 5.483.
239
CF/1988: “Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta seção
pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura.”
240
Precedente citado: ADI 1.858 MC.
241
Precedente citado: ADI 5.692.
242
Lei 2.423/1996: “Art. 112 – O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas será dirigido por um Procurador-Geral,
nomeado pelo Governador do Estado dentre os membros da carreira, permitida uma recondução, tendo tratamento protocolar
igual ao de Conselheiro.”

104
ODS: 16

Resumo:
É constitucional — pois não viola a segurança viária (CF/1988, art. 144, § 10, I e II), a exigência de
licitação para a prestação indireta de serviços públicos (CF/1988, art. 175), ou pacto federativo e a autonomia
dos estados-membros (CF/1988, arts. 18 e 25, “caput” e § 1º) — a prestação de serviços de fabricação e de
estampagem de Placas de Identificação de Veículos do Brasil (PIV) por empresas habilitadas mediante
credenciamento.
A execução dos referidos serviços constitui ato preparatório à prática de atos típicos da Administração
Pública (emplacamento mediante sistema informatizado e sua fiscalização), caracterizando-se como atividade
econômica em sentido estrito (CF/1988, art. 170). Por isso, pode ser validamente confiada a qualquer particular
previamente credenciado pelos órgãos executivos de trânsito dos entes federativos.
O credenciamento é modalidade adotada quando a Administração objetiva dispuser da maior rede possível
de prestadores de serviços. Assim, a inviabilidade de competição — que enseja a consequente inexigibilidade de
licitação — não decorre da sua impossibilidade, mas da ausência de interesse estatal em restringir o número de
contratados, de modo que qualquer um que preencha os requisitos estará apto a realizar o serviço ou fornecer o
produto243.
Ademais, nos moldes do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/1997), cabe ao ente federal legislar sobre
a fabricação de placas (art. 115). Essa competência é exercida pelo Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) —
órgão máximo normativo e consultivo do Sistema Nacional de Trânsito (art. 7º, I) —, o qual estabelece o
credenciamento como modalidade adequada.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação,
para assentar a constitucionalidade do art. 10 da Resolução CONTRAN 780/2019, norma posteriormente substituída
pela Resolução CONTRAN 969/2022.

ADI 6.313/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 25.8.2023 (sexta-feira), às
23:59

Regime de Recuperação Fiscal dos estados e do Distrito Federal – ADI 6.892/RJ

ODS: 16

Resumo:
São constitucionais — à luz do pacto federativo e da autonomia financeira, legislativa e político-
administrativa dos entes federados — dispositivos da Lei Complementar (LC) 159/2017 e do Decreto
10.681/2021244 245, que estabelecem e regulamentam o Regime de Recuperação Fiscal dos estados e do Distrito
243
Precedentes citados: ADI 1.923; ADI 5.332 e ADI 5.774.
244
Lei Complementar 159/2017: “Art. 2º O Plano de Recuperação Fiscal será formado por leis ou atos normativos do Estado que
desejar aderir ao Regime de Recuperação Fiscal, por diagnóstico em que se reconhece a situação de desequilíbrio financeiro, por
metas e compromissos e pelo detalhamento das medidas de ajuste, com os impactos esperados e os prazos para a sua adoção. Art.
3º (...) § 4º O Estado que aderir ao Regime de Recuperação Fiscal deverá observar as normas de contabilidade editadas pelo
órgão central de contabilidade da União. Art. 4º-A. Deferido o pedido de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal: I - o Estado,
conforme regulamento do Poder Executivo Federal: (...) b) apresentará as proposições encaminhadas à Assembleia Legislativa e
os atos normativos para atendimento do disposto no art. 2º desta Lei Complementar; e (...) Art. 7º-B. Configura inadimplência
com as obrigações do Plano: (...) IV - a não observância do art. 8º, inclusive a aprovação de leis locais em desacordo com o
referido artigo. (Incluído pela Lei Complementar nº 178, de 2021)”
245
Decreto 10.681/2021: “Art. 5º O Plano de Recuperação Fiscal será composto das seguintes seções: (...) VI - leis ou atos
normativos dos quais decorram, nos termos do disposto neste Decreto, a implementação das medidas previstas no § 1º do art. 2º
da Lei Complementar nº 159, de 2017, ou demonstração da desnecessidade de edição de legislação adicional, conforme o
disposto no § 8º do referido artigo. (...) Art. 7º Durante o período de elaboração do Plano de Recuperação Fiscal, o Estado deverá:
(...) III - adotar as providências necessárias para a adoção imediata das normas contábeis aplicáveis à Federação editadas pelo
órgão central de contabilidade da União, observadas as regras de transição existentes, se houver; IV - apresentar as proposições
encaminhadas à Assembleia Legislativa e os atos normativos para atendimento do disposto no art. 2º da Lei Complementar nº
159, de 2017; (...) Art. 10. (...) § 2º A implementação das medidas que decorram das leis ou dos atos normativos de que tratam o
§ 1º do art. 2º da Lei Complementar nº 159, de 2017, e este Decreto observará o disposto neste Decreto e no Plano de
Recuperação Fiscal. (...) Art. 15. (...) § 2º Consideram-se como despesas primárias, para fins de definição da base de cálculo e de
avaliação quanto ao cumprimento da medida de limitação de despesas previstas no inciso V do § 1º do art. 2º da Lei
Complementar nº 159, de 2017, os gastos necessários para prestação dos serviços públicos à sociedade, desconsiderados o

105
Federal; bem como norma inscrita na LC 101/2000, que traz previsão de que as despesas com inativos e
pensionistas integram o cômputo da despesa total com pessoal dos respectivos Poderes e órgãos.
Na espécie, a expressão “atos normativos”, contida em dispositivos da LC 159/2017 e do Decreto
10.681/2021, refere-se ao gênero, do qual a lei em sentido estrito é espécie. Assim, significa a possibilidade de que a
normatização se dê por meio de edição de atos normativos ou de leis em sentido estrito, a depender da respectiva
medida e da avaliação dos estados.
Por sua vez, o art. 20, § 7º, da LC 101/2000 246 apenas consagrou entendimento já defendido pela Secretaria
do Tesouro Nacional há tempos, no sentido de que o ônus contábil deve recair sobre o órgão que foi beneficiado
pelos serviços prestados, enquanto o servidor estava em exercício.
Direciona-se, portanto, ao controle e equilíbrio das contas públicas, com vistas ao incremento da
responsabilidade na gestão fiscal, razão pela qual não ofende a independência entre os Poderes 247.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes os pedidos formulados.

ADI 6.892/RJ, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 14.8.2023 (segunda-feira), às
23:59

5.12 PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO

Proteção integral dos territórios com presença de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato
(PIIRC) - ADPF 991 MC-Ref/DF

ODS: 3, 10, 15 e 16

Resumo:
Encontram-se presentes os requisitos para a concessão de medida cautelar, pois (i) há plausibilidade
jurídica na demonstração perfunctória da ineficiência da atuação estatal na proteção dos territórios ocupados
pelos povos indígenas isolados ainda não demarcados (CF/1988, arts. 215, 216 e 231); (ii) há perigo da demora
na prestação jurisdicional, eis que evidenciados risco de genocídio, insegurança alimentar e aculturação.
Conforme jurisprudência desta Corte, a FUNAI e demais agentes públicos devem atuar sob a direção dos
princípios da precaução e da prevenção, de modo a exercer a sua função constitucional e legal na proteção e
assistência aos indígenas isolados e de recente contato brasileiros 248, em observância às disposições da Declaração
Americana dos Direitos dos Povos Indígenas.
Se, por um lado, apresentam as autoridades números e ações para tentar justificar a inexistência de
descumprimento dos deveres constitucionais; por outro, esta Corte já asseverou, quando do julgamento da ADPF
708 (paralisação do Fundo Clima) e da ADO 59 (paralisação do Fundo Amazônia) 249, que a atuação da
Administração Pública tem sido insuficiente e ineficaz em relação ao aumento do desmatamento e da destruição da
Amazônia Legal, lar de quase todos os povos indígenas isolados e de recente contato brasileiros.
Na espécie, o pedido de um Plano de Ação para atuar na efetiva e urgente proteção dos povos indígenas
isolados e de recente contato encontra previsão no artigo 231 da Carta da República 250.
pagamento dos passivos definidos em ato da Secretaria do Tesouro Nacional da Secretaria Especial de Fazenda do Ministério da
Economia.”
246
Lei Complementar 101/2000: “Art. 20. A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os seguintes
percentuais: (...) § 7º Os Poderes e órgãos referidos neste artigo deverão apurar, de forma segregada para aplicação dos limites de
que trata este artigo, a integralidade das despesas com pessoal dos respectivos servidores inativos e pensionistas, mesmo que o
custeio dessas despesas esteja a cargo de outro Poder ou órgão.”
247
Precedente citado: ADI 6.930.
248
Precedentes citados: ADPF 709 MC-Ref e ADI 6.622 MC.
249
Precedentes citados: ADPF 708 e ADO 59.
250
CF/1988: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens. § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para
suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes. § 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas
minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas,
ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. § 4º As terras de que trata este artigo são
inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. § 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas

106
Com base nesse entendimento, o Plenário, em apreciação conjunta, por maioria, referendou a decisão que
deferiu o pedido liminar nas medidas cautelares pleiteadas, para: “1. Determinar à União Federal que adote todas as
medidas necessárias para garantir a proteção integral dos territórios com presença de povos indígenas isolados e de
recente contato, garantindo-se que as portarias de restrição de uso sejam sempre renovadas antes do término de sua
vigência, até a conclusão definitiva do processo demarcatório ou até a publicação de estudo fundamentado que
descarte a existência de indígenas isolados em determinada área, com fundamento no princípio da precaução e
prevenção. 2. Determinar à União Federal que apresente, no prazo de 60 dias (sessenta), contados inclusive durante
o recesso forense, nos termos do artigo 214, II, do CPC, um Plano de Ação para regularização e proteção das terras
indígenas com presença de povos indígenas isolados e de recente contato, contendo as seguintes informações: a)
Cronograma de ação para a realização de expedições voltadas a iniciar ou dar continuidade aos estudos dos
Registros de Referência em Estudo e um cronograma de ação para qualificar os Registros de Informações; b) Dados
que, em tese, deveriam ser públicos: i) o quantitativo de servidores lotados em cada FPE e em cada uma das BAPE,
ii) o patrimônio de cada FPE e de cada BAPE (com respectivo registro no SPU), iii) as condições destes bens (se em
condições de uso ou imprestáveis) e iv) os contratos atualmente vigentes nestas unidades (contratos de pessoal,
serviços e aquisição de bens e insumos); c) Quais BAPEs estão em funcionamento efetivo e o orçamento dedicado a
cada uma delas, bem como quais encontram-se desativadas e por quais razões; d) Cronograma de elaboração e
publicação dos Relatórios Circunstanciados de Identificação e Delimitação das terras indígenas onde incidem
Restrições de Uso com Referência Confirmada de Povo Indígena Isolado, a saber: Pirititi, Piripkura e Tanaru; e)
Cronograma para conclusão da demarcação da terra indígena Kawahiva do Rio Pardo, localizado no estado do Mato
Grosso, que tem presença de povo indígena isolado; f) Cronograma de ação para realização de atividades de
vigilância, fiscalização e proteção, visando garantir a integridade das terras indígenas e conter as invasões. 3.
Determinar à União Federal que demonstre junto à apresentação do Plano, a existência dos recursos necessários à
execução das tarefas, primordialmente daquelas consideradas prioritárias e mais urgentes, nos termos do cronograma
a ser exibido a este Juízo para homologação, promovendo aporte financeiro de novos recursos à Funai, se
necessário, de forma que ela possa executar o Plano de Ação para regularização e proteção das terras indígenas com
presença de povos indígenas isolados e de recente contato, incluindo rubricas específicas para a reestruturação
física, abertura de novas unidades de proteção e contratação de pessoal para atuar nas Frentes de Proteção
Etnoambientais (FPEs) e Bases de Proteção Etnoambientais (BAPEs), para fiel cumprimento da previsão normativa
da Portaria Funai n. 666/17, que institui o Regimento Interno da Funai; 4. Determinar ao CNJ, no âmbito do
Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade e Grande Impacto e
Repercussão, a instalação de um Grupo de Trabalho com prazo indeterminado, para acompanhamento contínuo de
ações judiciais relacionadas à efetivação dos direitos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (PIIRC), a
fim de que haja cumprimento do direito fundamental à razoável duração do processo, nos termos do art. 5º, inciso
LXXVIII da Constituição Federal de 1988. 5. Que seja reconhecida pelas autoridades a forma isolada de viver como
declaração da livre autodeterminação dos povos indígenas isolados, sendo o ato do isolamento considerado
suficiente para fins de consulta, nos termos da Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e da Declaração Americana sobre os
Direitos dos Povos Indígenas, normas internacionais de direitos humanos, internalizadas no ordenamento jurídico
brasileiro. 6. Determinar à União Federal, no prazo de até 60 dias, a emissão de Portarias de Restrição de Uso para
as referências de povos indígenas isolados que se encontram fora ou parcialmente fora de terras indígenas, bem
como planos de proteção das referidas áreas, sob pena de, em não se cumprindo o prazo, que o STF determine a
Restrição de Uso por decisão judicial dessas áreas. 7. Determinar à União e à FUNAI a manutenção da Portaria de
Restrição de Uso nº 1.040, de 16 de outubro de 2015, do Grupo Indígena Tanaru, até o final julgamento de mérito da
presente arguição. Ainda, determino que a União forneça, no prazo de dez dias, as seguintes informações: (i)
detalhamento da situação do indígena da etnia Tanaru conhecido como Índio do Buraco, recentemente falecido em
seu território; (ii) disponibilize documentos comprobatórios da perícia a fim de comprovar os procedimentos
utilizados e do resultado da autópsia realizada no cadáver de nosso parente; (iii) qual destinação pretende-se seja
dada à Terra Indígena Tanaru”.

ADPF 991 MC-Ref/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 7.8.2023 (segunda-feira),
às 23:59

terras, salvo, ‘ad referendum’ do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou
no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato
logo que cesse o risco. § 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o
domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a
extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de
boa fé. § 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.”

107
5.13 PODER EXECUTIVO

Decreto Presidencial e regulamentação do Estatuto do Desarmamento - ADI 6.119/DF, ADI 6.139/DF,


ADI 6.466/DF, ADI 6.134 MC/DF, ADI 6.675 MC/DF, ADI 6.676 MC/DF, ADI 6.677 MC/DF, ADI
6.680 MC/DF, ADI 6.695 MC/DF, ADPF 581 MC/DF e ADPF 586 MC/DF

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por exorbitar os limites outorgados ao Presidente da República (CF/1988, art.
84, IV) e vulnerar políticas públicas de proteção a direitos fundamentais — norma de decreto presidencial,
editado com base no poder regulamentar, que inova na ordem jurídica e fragiliza o programa normativo
estabelecido pela Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento).
Na espécie, os diversos atos normativos editados pelo Presidente da República com a finalidade de
promover a chamada “flexibilização das armas” no País extrapolaram o conteúdo do referido Estatuto — que
inaugurou uma política de controle responsável de armas de fogo e munições no território nacional — e substituíram
os parâmetros legais por outras diretrizes estabelecidas unilateralmente.
As medidas decorrentes das inovações normativas caracterizam manifesto retrocesso na construção de
políticas voltadas à segurança pública e ao controle de armas no Brasil, vulnerando as diretrizes nucleares do
Estatuto.
Ademais, a livre circulação de cidadãos armados, carregando consigo múltiplas armas de fogo, atenta
contra os valores da segurança pública e da defesa da paz, criando risco social incompatível com ideais
constitucionalmente consagrados.
A aquisição de armas de fogo deve se pautar pelo caráter excepcional, razão pela qual se exige a
demonstração concreta da efetiva necessidade, por motivos tanto profissionais quanto pessoais.
As espécies de necessidade ficta ou presumida, nas quais o índice de realidade torna-se secundário, não
realizam o dever de diligência do Estado, e são, por conseguinte, contrárias à ordem constitucional.
Nesse contexto, a única interpretação do art. 4º, caput, do Estatuto do Desarmamento compatível com a
Constituição é aquela que vê na declaração de efetiva necessidade a conjugação de dois fatores: (a) a imperatividade
da demonstração de que, no caso concreto, realmente exista a necessidade de adquirir uma arma de fogo, segundo os
critérios legais; e (b) a obrigação do Poder Executivo de estabelecer procedimentos fiscalizatórios sólidos que
permitam auferir a realidade da necessidade.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário julgou diversas ações que tratam do tema e,
conforme as respectivas atas de julgamento:
(i) conferiu interpretação conforme a Constituição:
a. ao art. 4º do Estatuto do Desarmamento, fixando a orientação hermenêutica de que a
posse de armas de fogo só pode ser autorizada às pessoas que demonstrem
concretamente, por razões profissionais ou pessoais, possuírem efetiva necessidade;
b. ao art. 4º, § 2º, do Estatuto do Desarmamento, e ao art. 2º, § 3º, do Decreto 9.847/2019,
para fixar a tese de que a limitação dos quantitativos de munições adquiríveis se vincula
àquilo que, de forma diligente e proporcional, garanta apenas o necessário à segurança
dos cidadãos;
c. ao art. 10, § 1º, inciso I, do Estatuto do Desarmamento, para fixar a tese hermenêutica de
que a atividade regulamentar do Poder Executivo não pode criar presunções de efetiva
necessidade outras além daquelas já disciplinadas em lei; e
d. ao art. 27 do Estatuto do Desarmamento, a fim de fixar a tese hermenêutica de que
aquisição de armas de fogo de uso restrito só pode ser autorizada no interesse da própria
segurança pública ou da defesa nacional, não em razão do interesse pessoal do
requerente; bem como
(ii) declarou a inconstitucionalidade:
a. da Portaria Interministerial 1.634/GM-MD, de 22 de abril de 2020;
b. do art. 3º, § 1º, do Decreto 9.845/2019;
c. do art. 3º, incisos I e II, e § 1º, do Decreto 9.846/2019;
d. do art. 2º, incisos I e II, e § 1º, dos Decretos 9.845/2019, 9.846/2019, 9.847/2019;
e. do § 11 do art. 12 do Decreto 9.847/2019 e do § 3º do art. 3º do Decreto 9.846/2019;
f. dos incisos I e II do § 2º do art. 34 do Decreto 9.847/2019;

108
g. dos incisos I, II, VI e VII do § 3º do art. 2º do Regulamento de Produtos Controlados
(Decreto 10.030/2019), incluídos pelo Decreto 10.627/2021;
h. do § 1º do art. 7º do Decreto 10.030/2019 (incluído pelo Decreto 10.627/2021);
i. dos §§ 8º e 8º-A do art. 3º Decreto 9.845/2019, incluído pelo Decreto 10.628/2021;
j. da expressão normativa “quando as quantidades excederem os limites estabelecidos nos
incisos I e II do caput”, inscrita no inciso II do § 5º do art. 3º do Decreto 9.846/2021, na
redação dada pelo Decreto 10.629/2021;
l. dos incisos I e II do § 1º e do § 4º, caput e incisos I e II, todos do art. 4º do Decreto
9.846/2021, na redação dada pelo Decreto 10.629/2019;
m. da expressão “por instrutor de tiro desportivo”, inscrita no inciso V do § 2º do art. 3º do
Decreto 9.846/2019 (na redação dada pelo Decreto 10.629/2021) e “fornecido por
psicólogo com registro profissional ativo em Conselho Regional de Psicologia” do inciso
VI do § 2º do art. 3º do Decreto 9.846/2019 (na redação dada pelo Decreto 10.629/2021);
n. do art. 7º do Decreto 9.846/2019 (na redação dada pelo Decreto 10.629/2021),
restabelecendo-se, em consequência, a vigência do § 2º do art. 30 do Decreto 5.123/2004;
o. do § 2º do art. 4º e do § 3º do art. 5º do Decreto 9.846/2019 (na redação dada pelo
Decreto 10.629/2021); e
p. do § 1º do art. 17 e da expressão normativa “em todo o território nacional”, prevista no
caput do art. 17 do Decreto 9.847/2019 (na redação dada pelo Decreto 10.630/2021),
fixando a exegese no sentido de que o âmbito espacial de validade do porte de arma de
uso permitido concedido pela Polícia Federal deverá corresponder à amplitude do
território (municipal, estadual ou nacional) onde se mostre presente a efetiva necessidade
exigida pelo Estatuto, devendo o órgão competente fazer constar essa indicação no
respectivo documento.

ADI 6.119/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 6.139/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 6.466/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 6.134 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADI 6.675 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADI 6.676 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADI 6.677 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADI 6.680 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADI 6.695 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADPF 581 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADPF 586 MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

5.14 PODER JUDICIÁRIO

Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania: facultatividade de representação por


advogado ou defensor público - ADI 6.324/DF

Tese fixada:
“É constitucional a disposição do Conselho Nacional de Justiça que prevê a facultatividade de
representação por advogado ou defensor público nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania
(CEJUSCs).”

Resumo:

109
É constitucional o art. 11 da Resolução 125/2010 do CNJ, que permite a atuação de membros do
Ministério Público, defensores públicos, procuradores e advogados nos Centros Judiciários de Solução de
Conflito e Cidadania. Assim, fica facultada a representação por advogado ou defensor público, medida que se
revela incentivadora para uma atuação mais eficiente e menos burocratizada do Poder Judiciário para
assegurar direitos.
A matéria tratada se insere na competência do CNJ relativa ao controle da atuação administrativa dos
tribunais (CF/1988, art. 103-B, § 4º, I) 251, a qual é interpretada de forma ampliativa por esta Corte, de modo a
fortalecer a atuação do Conselho na gestão eficiente dos órgãos do Poder Judiciário 252.
Na espécie, a facultatividade da atuação do advogado ou do defensor público, na fase pré-processual ou em
procedimentos jurisdicionais específicos e simplificados, não viola o contraditório, a ampla defesa (CF/1988, art. 5º,
LV), o acesso à justiça (CF/1988, art. 5º, XXXV) ou a garantia da defesa técnica (CF/1988, arts. 133 e 134). Isso
porque a mencionada Resolução não afasta a necessidade da presença de advogados nos casos em que a lei
processual a impõe. Essa opção ocorre somente em procedimentos judiciais em que, por força de lei, é desnecessária
a atuação do procurador (Lei 13.140/2015, art. 26), como nos juizados e nos atos de resolução consensual em
momento pré-processual ou de mera informação sobre direitos.
A previsão constitucional de indispensabilidade do advogado à administração da Justiça (CF/1988, art. 133)
não implica a assistência ou representação por um profissional da área jurídica para todo ato de negociação ou de
disposição de direitos de uma pessoa maior e capaz253.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação, a fim de assentar
a constitucionalidade do art. 11 da Resolução 125/2010 do CNJ 254.

ADI 6.324/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às
23:59

Cláusula de reserva de plenário e aplicabilidade do art. 15 do Código Florestal - ARE 1.287.076


AgR/SP

Resumo:
Não viola a cláusula de reserva de plenário (CF/1988, art. 97) acórdão que — baseado nas
peculiaridades do caso concreto — afasta a aplicabilidade retroativa do art. 15 do Código Florestal (Lei
12.651/2012).
Na espécie, verifica-se que o título judicial objeto da controvérsia deriva de transação penal formalizada e
homologada no Juizado Especial Criminal. Essa circunstância revela-se distinta e afasta o alegado esvaziamento do

251
CF/1988: “Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos,
admitida 1 (uma) recondução, sendo: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009) (...) § 4º Compete ao Conselho
o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes,
cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: ( Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura,
podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)”
252
Precedente citado: ADI 4.938.
253
Precedentes citados: ADI 3.168 e ADI 1.539.
254
Resolução 125/2010 do CNJ: “Art. 11. Nos Centros poderão atuar membros do Ministério Público, defensores públicos,
procuradores e/ou advogados.”

110
conteúdo normativo do art. 15 do Código Florestal 255, em especial, por não se encontrar abarcada pelos precedentes
desta Corte que autorizam a aplicação imediata do novo Código Florestal256.
Nesse contexto, a homologação da transação penal configura uma cobertura do pronunciamento judicial
sobre a matéria, apta a impedir a compreensão da retroatividade do dispositivo legal, com apoio no princípio
tempus regit actum,
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, negou provimento ao agravo regimental.

ARE 1.287.076 AgR/SP, relator Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 20.6.2023

Pagamento de auxílio a membros do Poder Judiciário estadual - ADI 5.407/MG

Resumo:
É inconstitucional — por violar o art. 39, § 4º, da CF/1988, haja vista o caráter de indevido acréscimo
remuneratório — norma estadual que prevê adicional de “auxílio-aperfeiçoamento profissional” aos seus
magistrados.
Essa vantagem remuneratória vai além do subsídio estipulado para os magistrados do estado, configurando
adicional calculado sobre o valor do subsídio, em descompasso com a sistemática remuneratória disciplinada pela
EC 19/1998 257.
Ademais, a verba não possui caráter indenizatório, pois não se destina a compensar o beneficiário de
dispêndios suportados em decorrência do exercício do cargo.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade do inciso IX do art. 114 da Lei Complementar
59/2001, com a redação dada pelo art. 46 da Lei Complementar 135/2014, ambas do Estado de Minas Gerais 258.

ADI 5.407/MG, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Sistema Eletrônico de Execução Unificado: tramitação eletrônica de execução penal instituída pelo
Conselho Nacional de Justiça - ADI 6.259/DF

ODS: 16

255
Lei 12.651/2012: “Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da
Reserva Legal do imóvel, desde que: I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso
alternativo do solo; II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do
proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no
Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei. § 1º O regime de proteção da Área de Preservação Permanente não se
altera na hipótese prevista neste artigo. § 2º O proprietário ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e inscrita no
Cadastro Ambiental Rural - CAR de que trata o art. 29, cuja área ultrapasse o mínimo exigido por esta Lei, poderá utilizar a área
excedente para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental e outros instrumentos congêneres
previstos nesta Lei. § 3º O cômputo de que trata o caput aplica-se a todas as modalidades de cumprimento da Reserva Legal,
abrangendo a regeneração, a recomposição e a compensação. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012). § 4º É dispensada a
aplicação do inciso I do caput deste artigo, quando as Áreas de Preservação Permanente conservadas ou em processo de
recuperação, somadas às demais florestas e outras formas de vegetação nativa existentes em imóvel, ultrapassarem: (Incluído pela
Lei nº 12.727, de 2012). I - 80% (oitenta por cento) do imóvel rural localizado em áreas de floresta na Amazônia Legal;
e (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012). II - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).”
256
Precedentes citados: ADC 42; ADI 4.901; ADI 4.902; ADI 4.903; ADI 4.937; Rcl 51.725 AgR e ARE 1.372.451 (decisão
monocrática).
257
CF/1988: “Art. 39. (...) § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o
disposto no art. 37, X e XI.”
258
Lei Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais: “Art. 114. O magistrado terá direito a: (...) IX - auxílio-
aperfeiçoamento profissional, mediante reembolso, para aquisição de livros jurídicos, digitais e material de informática, no valor
anual de até metade do subsídio mensal, na forma de resolução do órgão competente do Tribunal de Justiça;” (Redação dada pela
Lei Complementar 135/2015 do Estado de Minas Gerais)

111
Resumo:
É constitucional a Resolução CNJ 280/2019 (com a redação dada pela Resolução CNJ 304/2019), que
estabelece diretrizes e parâmetros para o processamento da execução penal nos tribunais brasileiros e
determina, entre outras providências, que todos os processos nessa fase processual tramitem pelo Sistema
Eletrônico de Execução Unificado (SEEU).
O SEEU, enquanto sistema unificado de tramitação eletrônica dos processos de execução penal, é um
importante incremento na eficiência da atividade jurisdicional. Por isso, ele deve ser estimulado e promovido pelo
CNJ em sua missão de efetuar o controle administrativo do Poder Judiciário 259(1), à luz dos princípios estabelecidos
no art. 37 da CF/1988 260(2).
Em função de sua própria natureza, o SEEU não interfere nos poderes administrativos do estado-membro
relativos ao sistema penitenciário de sua responsabilidade. Ao contrário, representa a busca por uma política pública
efetiva, que qualifica o sistema de justiça no enfrentamento do grave estado de coisas inconstitucional do sistema
penitenciário brasileiro 261(3).
A efetiva implantação de um sistema único nacional informatizado permite ao Judiciário a integração com
outras instituições e contribui para a efetivação dos atos normativos do CNJ, para a aplicação igualitária da
legislação penal e do exercício de direitos fundamentais das pessoas em cumprimento de pena, bem como para o
cumprimento de decisões dos tribunais superiores.
Nesse contexto, inexiste violação ao princípio federativo (CF/1988, art. 1º c/c os arts. 18, caput, e 25,
caput), à separação de Poderes (CF/1988, art. 2º), à competência legislativa estadual (CF/1988, art. 24, I e XI), à
autonomia conferida aos tribunais (CF/1988, arts. 96, I, b; 99, caput; e 125, § 1º), tampouco aos limites do poder
normativo do CNJ (CF/1988, art. 103-B, § 4º, I).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação, a fim de assentar a
constitucionalidade da Resolução 280/2019, com a redação dada pela Resolução 304/2019, ambas do CNJ.

ADI 6.259/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual
finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

5.15 PODER LEGISLATIVO

Extensão das imunidades dos parlamentares federais aos estaduais - ADI 5.824/RJ e ADI 5.825/MT

ODS: 16

Resumo:
Por força do § 1º do art. 27 da Constituição Federal de 1988, as imunidades materiais e formais
conferidas aos membros do Congresso Nacional (deputados federais e senadores) estendem-se aos deputados
estaduais.
Em relação aos membros do Poder Legislativo, o legislador constituinte originário fez essa extensão de
forma expressa262. Para tanto, referiu-se, em primeiro lugar, às inviolabilidades, que equivalem à imunidade
material, e, em seguida, às demais imunidades, que equivalem às imunidades formais.
Isso ficou claro durante os debates constituintes, nos quais, a fim de afastar qualquer dúvida quanto à
extensão de ambas as imunidades aos parlamentares estaduais, optou-se pelo uso de duas palavras distintas:

259
CF/1988: “Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos,
admitida 1 (uma) recondução, sendo: (...) § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
pelo Estatuto da Magistratura: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário
e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou
recomendar providências; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”
260
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”
261
Precedente citado: ADPF 347 MC.
262
CF/1988: “Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na
Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima
de doze. § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre
sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças
Armadas.”

112
inviolabilidade e imunidades. Essa metodologia é no sentido de que, para cada palavra do referido § 1º do art. 27, há
um parágrafo correspondente do art. 53 da Constituição Federal 263.
Nesse contexto, por observância ao princípio republicano, é constitucional norma do constituinte derivado
que mantém a exata e rigorosa disciplina das regras de repetição obrigatória referentes às imunidades parlamentares.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta, julgou improcedentes as
ações para declarar a constitucionalidade dos §§ 2º ao 5º do art. 102 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro 264,
e os §§ 2º ao 5º do art. 29 da Constituição do Estado do Mato Grosso, na redação dada pela Emenda Constitucional
42/2006 265, assim como das Resoluções aprovadas pelas respectivas Assembleias Legislativas.

ADI 5.824/RJ, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59
ADI 5.825/MT, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

Ordem dos Advogados do Brasil e dever de prestar contas ao Tribunal de Contas da União - RE
1.182.189/BA (Tema 1.054 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“O Conselho Federal e os Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil não estão
obrigados a prestar contas ao Tribunal de Contas da União nem a qualquer outra entidade externa.”

Resumo:
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não se sujeita à prestação de contas perante o Tribunal de
Contas da União (TCU) e a ausência dessa obrigatoriedade não representa ofensa ao art. 70, parágrafo único,
da Constituição Federal de 1988 266, já que inexiste previsão expressa em sentido diverso.
263
CF/1988: “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos. § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que,
pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. § 4º O pedido
de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa
Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. § 6º Os Deputados e Senadores não
serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as
pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores,
embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva. § 8º As imunidades de
Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos
membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a
execução da medida.”
264
Constituição do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 102 Os Deputados são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos. (NR) (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros da Assembleia Legislativa não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à
Assembleia Legislativa, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º Recebida a denúncia contra
o Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Tribunal de Justiça dará ciência à Assembleia Legislativa, que, por
iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação. § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Assembleia Legislativa no prazo improrrogável de quarenta e
cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o
mandato.”
265
Constituição do Estado do Mato Grosso: “Art. 29 Os Deputados Estaduais são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer
de suas opiniões, palavras e votos. (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os Deputados Estaduais não poderão ser presos, salvo
em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Assembleia Legislativa,
para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º Recebida a denúncia contra o Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Tribunal de Justiça dará ciência à Assembleia Legislativa, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. § 4º O pedido
de sustação será apreciado pela Assembleia Legislativa no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela
Mesa Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.”
266
CF/1988: “Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da
administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de
receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou

113
Esta Corte já afastou a sujeição da OAB aos ditames impostos à Administração Pública direta e indireta,
dada a sua categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas 267, na medida em que é uma instituição com
natureza jurídica própria e dotada de autonomia e independência.
Nesse contexto, considerada a sua função institucional, a OAB exerce serviço público independente 268, que
não se confunde com serviço estatal, e cujo controle pode ser realizado por vias diversas da do TCU. Assim, é
necessário conferir o mais alto grau de liberdade para que a OAB tenha condições de cumprir suas funções
constitucionalmente privilegiadas, tendo em vista que os advogados são indispensáveis à administração da Justiça
(CF/1988, art. 133).
Ademais, a Ordem gere recursos privados arrecadados de seus associados, distinguindo-se dos demais
conselhos de fiscalização profissional, os quais recolhem contribuição de natureza tributária, que advém da
movimentação financeira do Estado. Por essa razão, suas finanças não se submetem ao controle estatal, tampouco se
enquadram no conceito jurídico de Fazenda Pública, cujo controle se sujeita às regras da Lei 4.320/1964.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.054 da
repercussão geral, desproveu o recurso extraordinário, de modo a manter o acórdão recorrido, proferido pelo
Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

RE 1.182.189/BA, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento virtual
finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira), às 23:59

5.16 PRECATÓRIOS; REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR

RPV e autonomia dos estados e municípios - ADI 5.421/DF

Resumo:
Os estados e municípios podem redefinir o valor limite da Requisição de Pequeno Valor (RPV)
visando à adequação de suas respectivas capacidades financeiras e especificidades orçamentárias.
Os entes federados, desde que respeitado o princípio da proporcionalidade, gozam de autonomia para
estabelecer o montante correspondente às obrigações de pequeno valor e, dessa forma, afastar a aplicação do sistema
de precatórios. Eles só não podem estabelecer valor demasiado além ou aquém do razoável, tendo como parâmetro
as suas disponibilidades financeiras 269.
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito
processual (CF/1988, art. 21, I), uma vez que as normas que dispõem sobre RPV têm caráter eminentemente
processual 270 — legislação estadual que transfere ao credor a responsabilidade pelo encaminhamento da
documentação necessária para solicitação do pagamento do RPV diretamente ao órgão público devedor, bem
como determina a suspensão do prazo para pagamento.
Ademais, a lei estadual impugnada não se aplica aos processos judiciais de competência da justiça federal,
ainda que no exercício da competência federal delegada, já que para eles prevalece o conteúdo de norma editada
pelo Conselho da Justiça Federal (CJF), atualmente a Resolução 458/2017.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para
(i) declarar a inconstitucionalidade do caput e do parágrafo único do art. 6º da Lei 14.757/2015 do Estado do Rio
Grande do Sul; e (ii) dar interpretação conforme a Constituição aos incisos do mesmo art. 6º, para limitar sua
aplicação aos processos judiciais de competência da justiça estadual, de modo que eles não deverão ser aplicados
aos processos julgados no exercício da competência federal delegada, os quais devem ser regidos pela Resolução do
CJF 271.

administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de
natureza pecuniária.”
267
Precedente citado: ADI 3.026.
268
Lei 8.906/1994: “Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade jurídica e
forma federativa, tem por finalidade: I - defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos
humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da
cultura e das instituições jurídicas; II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos
advogados em toda a República Federativa do Brasil. § 1º A OAB não mantém com órgãos da Administração Pública qualquer
vínculo funcional ou hierárquico.”
269
Precedentes citados: ADI 2.868 e ADI 4.332.
270
Precedentes citados: RE 632.550 AgR; RE 293.231 e ADI 5.534.
271
Lei 14.757/2015 do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 1º Serão consideradas de pequeno valor, para os fins do disposto no §
3.º do art. 100 da Constituição Federal, as obrigações que o Estado do Rio Grande do Sul, suas Autarquias e Fundações devam

114
ADI 5.421/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

Sequestro de verbas públicas para pagamento de crédito a portador de moléstia grave sem a
observância da regra dos precatórios - RE 840.435/RS (Tema 598 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“O deferimento de sequestro de rendas públicas para pagamento de precatório deve se restringir às
hipóteses enumeradas taxativamente na Constituição Federal de 1988.”

Resumo:
É inconstitucional o sequestro de verbas públicas para pagamento de crédito a portador de moléstia
grave sem a observância das regras dos precatórios.
A interpretação das normas que definem regime excepcional do sequestro de recursos financeiros
necessários à satisfação de precatório não pode ser ampliativa, sob pena de alcançar situações não previstas de modo
expresso no texto constitucional.
Nesse contexto, a medida deve ser deferida apenas quando não verificada a alocação orçamentária do valor
necessário à satisfação do seu débito ou demonstrada a quebra da ordem de preferência de pagamento (CF/1988, art.
100, § 6º), examinada a partir de balizas observadas no próprio texto constitucional (CF/1988, art. 100, caput e §§
1º e 2º).
Na espécie, a natureza administrativa da decisão proferida no processamento do precatório inviabiliza o
conhecimento do recurso extraordinário272.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 598 da repercussão
geral, negou seguimento ao recurso extraordinário e fixou a tese acima registrada.

RE 840.435/RS, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 22.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Sequestro de verbas públicas para pagamento de precatórios anteriores à EC 62/2009 - RE 659.172/SP


(Tema 519 RG)

Tese fixada:

quitar em decorrência de decisão judicial transitada em julgado cujo valor, devidamente atualizado, não exceda a 10 (dez)
salários mínimos. Art. 2º O crédito de pequeno valor não estará sujeito ao regime de precatórios e deverá ser pago, mediante
depósito judicial, no prazo de até 60 (sessenta) dias, contados da data em que for protocolada, perante o órgão competente, a
requisição expedida pelo juízo da execução. Parágrafo único. Nas requisições de pequeno valor expedidas por meio eletrônico, o
prazo será contado da data de expedição. Art. 3º São vedados o fracionamento, a repartição ou a quebra do valor da execução
para que o pagamento se faça, em parte, na forma estabelecida no ‘caput’ do art. 2º desta Lei e, em parte, com a expedição de
precatório. Art. 4º Se o valor da execução ultrapassar o montante estabelecido no art. 1º desta Lei, o pagamento far-se-á por meio
de precatório, sendo facultada à parte exequente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento
do saldo sem o precatório, na forma prevista no art. 2º desta Lei. Parágrafo único. A opção pelo recebimento do crédito na forma
prevista nesta Lei implica a renúncia ao restante dos créditos porventura existentes oriundos do mesmo processo judicial. Art. 5º
As requisições de pequeno valor cujo trânsito em julgado da decisão tenha ocorrido antes da entrada em vigor desta Lei
observarão o limite de 40 (quarenta) salários mínimos. Art. 6º A requisição de pequeno valor expedida em meio físico será
encaminhada diretamente pelo credor, ou seu representante, ao ente devedor responsável pelo pagamento da obrigação, e deverá
ser instruída com os seguintes documentos e informações: I - indicação do número do processo judicial em que foi expedida a
requisição; II - indicação da natureza da obrigação a que se refere o pagamento; III - comprovante de situação cadastral das partes
e dos advogados no Cadastro de Pessoa Física − CPF − ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica − CNPJ − do Ministério da
Fazenda; IV - cópia da memória completa do cálculo definitivo, ainda que objeto de renúncia ao valor estabelecido nesta Lei; V -
indicação do período compreendido para efeito de cálculo do imposto de renda e das contribuições aos sistemas de previdência e
saúde; e VI - cópia da manifestação da Procuradoria-Geral do Estado de concordância com o valor do débito. Parágrafo único. A
requisição de pequeno valor que não preencher os requisitos do ‘caput’ deste artigo não será recebida pela autoridade
competente, ficando suspenso o prazo do seu pagamento até a apresentação pelo credor dos documentos ou informações
faltantes. Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8º Revoga-se a Lei nº 13.756, de 15 de julho de 2011.”
272
Precedentes citados: Súmula 733/STF; SS 5.520 AgR; RE 233.743; RE 387.870 AgR; RE 454.421 AgR e AI 825.164 ED.

115
“O regime especial de precatórios trazido pela Emenda Constitucional nº 62/2009 aplica-se aos
precatórios expedidos anteriormente a sua promulgação, observados a declaração de inconstitucionalidade
parcial quando do julgamento da ADI nº 4.425 e os efeitos prospectivos do julgado”.

Resumo:
As regras estipuladas na EC 62/2009, quanto ao regime especial de precatórios, são aplicáveis aos já
expedidos antes de sua promulgação.
A referida emenda constitucional instituiu regime diferenciado de pagamento de precatórios para estados,
Distrito Federal e municípios, ao veicular nova moratória na quitação dos débitos judiciais da Fazenda Pública e
impor o contingenciamento de recursos para esse fim.
Muito embora esse regime tenha sido declarado inconstitucional 273, esta Corte resolveu questão de ordem
no sentido de modular os efeitos da decisão e, assim, conferi-lo uma “sobrevida” de cinco exercícios financeiros, a
contar de 1º/1/2016, mantendo válidos os precatórios já expedidos ou pagos 274, de modo que produziu efeitos
jurídicos convalidados nesse período.
Nesse contexto, entre a data da promulgação da EC 62/2009 até o fim do referido período, o sequestro de
verbas públicas para pagamento de precatórios anteriores à emenda estava autorizado, desde que se enquadrassem
nas hipóteses constitucionalmente especificadas.
Ademais, a cada novo regime especial de pagamento de débitos da Fazenda Pública decorrentes de
condenações judiciais, a exemplo da EC 94/2016 e da EC 113/2021, novas regras atinentes ao sequestro de verbas
públicas são inseridas. Elas devem ser analisadas no contexto do novo regime proposto e não podem ser
interpretadas ampliativamente, para não alcançar situações não previstas de modo expresso no texto constitucional.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 519 da repercussão geral,
julgou prejudicado o recurso extraordinário em virtude da perda superveniente do objeto e, por maioria, fixou a tese
acima registrada.

RE 659.172/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 22.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Utilização de depósitos judiciais para pagamentos de precatórios em atraso - ADI 5.679/DF

ODS: 16

Tese fixada:
“Observadas rigorosamente as exigências normativas, não ofende a Constituição a possibilidade de
uso de depósitos judiciais para o pagamento de precatórios em atraso, tal como previsto pela EC nº 94/2016.”

Resumo:
É constitucional — pois inexistente violação ao princípio da separação dos Poderes (CF/1988, art. 2º)
e aos direitos de propriedade (CF/1988, arts. 5º, “caput”, e 170, II), de acesso à justiça (CF/1988, art. 5º,
XXXV), do devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV) e da duração razoável do processo (CF/1988, art. 5º,
LXXVII) — dispositivo de emenda constitucional que possibilita o uso eventual de depósitos judiciais com o
fim específico de quitar precatórios atrasados.
A presunção de constitucionalidade, no caso das emendas constitucionais, é qualificada em virtude do
quórum exigido para a sua aprovação, circunstância que reforça a sua legitimidade democrática.
Nesse contexto, não há comprovação de eventual vulneração de direitos e garantias fundamentais, bem
como inexiste demonstração da insolvabilidade do sistema quanto a um possível risco de que os particulares — nos
moldes em que idealizado o fundo garantidor — não levantem os seus depósitos no momento oportuno.
Ademais, a gestão das contas vinculadas ao pagamento de precatórios é uma atividade administrativa de
competência exclusiva dos respectivos Tribunais, de modo que ao Poder Judiciário cabe a palavra final sobre a
titularidade definitiva dos valores depositados275.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação e revogou a
decisão que deferiu em parte a medida cautelar pleiteada, para assentar a constitucionalidade do art. 2º da EC
94/2016, na parte em que insere o art. 101, § 2º, I e II, no ADCT 276.
273
Precedente citado: ADI 4.357
274
Precedente citado: ADI 4.425 QO
275
Precedente citado: ADI 2.855
276
EC 94/2016: “Art. 2º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido dos seguintes arts. 101 a
105: ‘Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, em 25 de março de 2015, estiverem em mora com o
pagamento de seus precatórios quitarão até 31 de dezembro de 2020 seus débitos vencidos e os que vencerão dentro desse

116
ADI 5.679/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-feira), às
23:59

5.17 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Agências reguladoras: vedação do exercício de outras atividades profissionais por seus servidores
efetivos - ADI 6.033/DF

Tese fixada:
“É constitucional norma legal que veda aos servidores titulares de cargo efetivo de agências
reguladoras o exercício de outra atividade profissional, inclusive gestão operacional de empresa, ou de
direção político-partidária.”

Resumo:
A Lei 10.871/2004 — no ponto em que veda o exercício de outra atividade profissional, inclusive
gestão operacional de empresa ou direção político-partidária, com exceção dos casos admitidos em lei —
assegura a observância dos princípios da moralidade, da eficiência administrativa e da isonomia, e constitui
meio proporcional apto a garantir a indispensável isenção e independência dos servidores ocupantes de
cargos efetivos das agências reguladoras.
Um conjunto de normas constitucionais (CF/1988, arts. 5º, XVIII; 37, I; e 39, caput) demonstra que o
constituinte delegou ao legislador ordinário competência para: (i) especificar as restrições profissionais ao exercício
de qualquer trabalho, ofício ou profissão; (ii) regular os requisitos de acesso aos cargos públicos; e (iii) dispor sobre
o regime jurídico e planos de carreira dos servidores públicos ocupantes de cargos efetivos.
Ademais, o regime especial das agências reguladoras foi concebido para lhes assegurar independência e
isenção no desempenho de suas funções normativas, fiscalizatórias e sancionatórias.
Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte tem, reiteradamente, declarado a constitucionalidade de
preceitos legais que restringem a liberdade de exercício de atividade, ofício ou profissão com o objetivo de proteger
o interesse público contra possíveis conflitos de interesses decorrentes da prática profissional ou de tutelar princípios
constitucionais aplicáveis à Administração Pública 277.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade do art. 23, II, c, e do art. 36-A, da Lei 10.871/2004 278.

ADI 6.033/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Fiscalização de recursos do Fundo Penitenciário por tribunal de contas estadual - ADI 7.002/PR

período, depositando, mensalmente, em conta especial do Tribunal de Justiça local, sob única e exclusiva administração desse,
1/12 (um doze avos) do valor calculado percentualmente sobre as respectivas receitas correntes líquidas, apuradas no segundo
mês anterior ao mês de pagamento, em percentual suficiente para a quitação de seus débitos e, ainda que variável, nunca inferior,
em cada exercício, à média do comprometimento percentual da receita corrente líquida no período de 2012 a 2014, em
conformidade com plano de pagamento a ser anualmente apresentado ao Tribunal de Justiça local. (...) § 2º O débito de
precatórios poderá ser pago mediante a utilização de recursos orçamentários próprios e dos seguintes instrumentos: I - até 75%
(setenta e cinco por cento) do montante dos depósitos judiciais e dos depósitos administrativos em dinheiro referentes a processos
judiciais ou administrativos, tributários ou não tributários, nos quais o Estado, o Distrito Federal ou os Municípios, ou suas
autarquias, fundações e empresas estatais dependentes, sejam parte; II - até 20% (vinte por cento) dos demais depósitos judiciais
da localidade, sob jurisdição do respectivo Tribunal de Justiça, excetuados os destinados à quitação de créditos de natureza
alimentícia, mediante instituição de fundo garantidor composto pela parcela restante dos depósitos judiciais, destinando-se: a) no
caso do Distrito Federal, 100% (cem por cento) desses recursos ao próprio Distrito Federal; b) no caso dos Estados, 50%
(cinquenta por cento) desses recursos ao próprio Estado e 50% (cinquenta por cento) a seus Municípios;”
277
Precedentes citados: ADI 5.235; ADI 5.454 e ADI 3.541
278
Lei 10.871/2004: “Art. 23. Além dos deveres e das proibições previstos na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, aplicam-
se aos servidores em efetivo exercício nas Agências Reguladoras referidas no Anexo I desta Lei: (...) II - as seguintes proibições:
(...) c) exercer outra atividade profissional, inclusive gestão operacional de empresa, ou direção político-partidária, excetuados os
casos admitidos em lei; (...) Art. 36-A. É vedado aos ocupantes de cargos efetivos, aos requisitados, aos ocupantes de cargos
comissionados e aos dirigentes das Agências Reguladoras referidas no Anexo I desta Lei o exercício regular de outra atividade
profissional, inclusive gestão operacional de empresa ou direção político-partidária, excetuados os casos admitidos em lei.”

117
Tese fixada:
“1. É inconstitucional, por ausência de simetria com as competências do TCU e por afronta à
separação de poderes, lei que condicione genericamente o repasse de recursos federais à prévia aprovação de
projeto pelo Tribunal de Contas da unidade federativa destinatária das verbas. 2. É inconstitucional, por
contrariedade ao art. 70 e incisos da CF/88 e por desrespeito à autonomia federativa, lei federal que atribua
aos tribunais de contas estaduais competência para analisar contas relativas à aplicação de recursos
federais.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar os princípios da simetria e da separação de Poderes (CF/1988, art.
2º), e a autonomia federativa — norma estadual que condicione a transferência de recursos do Fundo
Penitenciário Nacional (FUNPEN) à prévia aprovação, pelo respectivo tribunal de contas, de projeto
apresentado por organização da sociedade civil que administre estabelecimento penal, bem como que atribua,
a esse órgão local, a prestação de contas relativas à aplicação de recursos federais.
Na espécie, ao condicionar todo e qualquer repasse de recursos do FUNPEN à aprovação de projeto pelo
tribunal de contas estadual, a norma impugnada lhe conferiu competência que não encontra parâmetro nas
atribuições do Tribunal de Contas da União (TCU)279.
Ademais, o critério definidor da competência fiscalizatória – federal, estadual ou distrital – é a origem dos
recursos públicos 280.
Nesse contexto, a lei impugnada não poderia fixar novas atribuições ao tribunal de contas estadual, nem
condicionar, genericamente, o repasse de recursos ao aval de órgão de controle autônomo e externo 281.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “e pelo Tribunal de Contas”, contida no inciso I do art. 3º-B, e do inciso V do
art. 3º-B, ambos da Lei Complementar 79/1994, com a redação dada pela Lei 13.500/2017 282.

ADI 7.002/PR, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.4.2023 (segunda-
feira), às 23:59

Pensão especial a dependentes de prefeitos e vice-prefeitos falecidos no exercício do mandato - ADPF


783/ES

ODS: 10

Tese fixada:
“São incompatíveis com a Constituição Federal de 1988 a concessão e, ainda, a continuidade do
pagamento de pensões mensais vitalícias não decorrentes do RGPS a dependentes de prefeitos e vice-
prefeitos, em razão do mero exercício do mandato eletivo.”

Resumo:
Contraria a ordem constitucional vigente — por se tratar de benefício incompatível com a sua
sistemática previdenciária e com os princípios republicano e da igualdade — o pagamento de pensão especial
a ex-detentor de cargo público e a seus dependentes.
Na linha da jurisprudência desta Corte, a concessão desse benefício implica tratamento diferenciado e
privilegiado, sem fundamento jurídico razoável e com ônus aos cofres públicos, em favor de quem não mais exerce
função pública ou presta qualquer serviço à Administração, ou, ainda, de quem jamais o fez 283.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a não
recepção das Leis 67/1977, 8/1979, e 105/1980, todas do Município de Mucurici/ES, bem como modulou os efeitos

279
Precedente citado: ADI 916.
280
Precedente citado: ADI 1.934.
281
Precedente citado: ADI 676.
282
Lei Complementar 79/1994: “Art. 3º-B Fica autorizada a transferência de recursos do Funpen à organização da sociedade
civil que administre estabelecimento penal destinado a receber condenados a pena privativa de liberdade, observadas as vedações
estabelecidas na legislação correlata, e desde que atenda aos seguintes requisitos: I - apresentação de projeto aprovado pelo
Tribunal de Justiça e pelo Tribunal de Contas da unidade federativa em que desenvolverá suas atividades; (…) V – prestação de
contas ao Tribunal de Contas da unidade federativa em que desenvolverá suas atividades.”
283
Precedentes citados: ADI 3.853; ADI 4.552 MC; ADPF 413 e ADPF 912.

118
da decisão tão somente para afastar o dever de devolução dos valores já pagos até a data da publicação da ata desse
julgamento.

ADPF 783/ES, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.18 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Acesso restrito aos processos do Sistema Eletrônico de Informações da Polícia Federal - ADPF 872/DF

ODS: 16

Tese fixada:
“O ato de qualquer dos poderes públicos restritivo de publicidade deve ser motivado objetiva,
específica e formalmente, sendo nulos os atos públicos que imponham, genericamente e sem fundamentação
válida e específica, impeditivo do direito fundamental à informação.”

Resumo:
É nulo — por violar o princípio da publicidade, bem como por restringir o direito à informação —
ato público que estabelece, genericamente e sem fundamentação válida e específica, que todos os processos do
Sistema Eletrônico de Informações da Polícia Federal (SEI-PF) sejam cadastrados com nível de acesso
restrito.
O controle de legalidade e finalidade dos atos administrativos exige transparência na gestão pública 284 e
não se restringe ao ato perfeito e acabado, pois abrange o processo administrativo que o precede e os motivos
determinantes para adoção de dada conduta pela Administração (Lei 12.527/2011, art. 7º) 285.
Nesse contexto, é inviável a averiguação da legitimidade dos atos da Administração Pública pelos cidadãos
e pelo Poder Judiciário se não houver possibilidade de cotejamento da motivação apontada com os fatos e atos
administrativos. A publicidade do processo administrativo que precede o ato, portanto, é imprescindível para essa
verificação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido para reconhecer a
nulidade do ato formalizado pelo Ofício 10/2021 CNS/CGAD/DLOG/PF, que estabeleceu que todos os processos do
SEI-PF sejam cadastrados com nível de acesso restrito.

ADPF 872/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 14.8.2023 (segunda-feira), às
23:59

5.19 PROCESSO LEGISLATIVO

Emenda parlamentar em projeto de iniciativa do chefe do Poder Executivo estadual: Plano de Cargos,
Carreira e Remunerações dos servidores da educação básica roraimense - ADI 6.091/RR

Resumo:

284
Precedentes citados: RE 766.390 AgR; SS 3.902 AgR- segundo e RE 865.401.
285
Lei 12.527/2011: “Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre outros, os direitos de obter: I -
orientação sobre os procedimentos para a consecução de acesso, bem como sobre o local onde poderá ser encontrada ou obtida a
informação almejada; II - informação contida em registros ou documentos, produzidos ou acumulados por seus órgãos ou
entidades, recolhidos ou não a arquivos públicos; III - informação produzida ou custodiada por pessoa física ou entidade privada
decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse vínculo já tenha cessado; IV - informação
primária, íntegra, autêntica e atualizada; V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e entidades, inclusive as relativas
à sua política, organização e serviços; VI - informação pertinente à administração do patrimônio público, utilização de recursos
públicos, licitação, contratos administrativos; e VII - informação relativa: a) à implementação, acompanhamento e resultados dos
programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores propostos; b) ao resultado de
inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, incluindo prestações
de contas relativas a exercícios anteriores.”

119
Embora possível a apresentação de emendas parlamentares a projetos de iniciativa privativa do
chefe do Poder Executivo, são inconstitucionais os atos normativos resultantes de alterações que promovem
aumento de despesa (CF/1988, art. 63, I), bem como que não guardem estrita pertinência com o objeto da
proposta original, ainda que digam respeito à mesma matéria.
No caso analisado, trata-se de projeto de lei que versa sobre regime jurídico e remuneração dos servidores
públicos estaduais na área da saúde, enviado à Assembleia Legislativa pelo chefe do Poder Executivo local, no
exercício de sua iniciativa privativa. Todavia, as emendas parlamentares instituíram gratificações e aumentos
remuneratórios, estabeleceram obrigação para realizar concursos públicos, definiram percentuais de cargos
comissionados e fixaram novos critérios para incrementos remuneratórios, com inegável aumento de despesa e em
patente desarmonia com o objeto do projeto inicial 286 287.
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e
bases da educação nacional (CF/1988, art. 22, XXIV) — norma estadual que dispõe sobre o reconhecimento e
a validação de títulos acadêmicos obtidos no exterior.
Consoante jurisprudência desta Corte, as questões afetas à internalização de títulos acadêmicos expedidos
por instituições de ensino superior estrangeiras devem ser regulamentadas por normas de caráter nacional, pois
representam interesse geral, demandando tratamento uniforme 288.
A lei estadual impugnada previu o aproveitamento de títulos e diplomas de cursos de pós-graduação lato
sensu e stricto sensu obtidos em instituições sediadas em países membros do Mercosul, e permitiu a sua
equiparação com os cursos oferecidos por instituições de ensino superior sediadas no Brasil com o consequente
pagamento de gratificação a partir da data do requerimento. Assim, tratou do tema de modo diverso do previsto na
legislação federal (Lei 9.394/1996, arts. 44 e 48).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade formal dos artigos 3º; 8º; 16 (inclusão do § 4º ao
art. 41 da Lei 892/2013); 17 (inclusão do § 5º do art. 41-A da Lei 892/2013); 23; 27; 30; 36 (inclusão do § 2º ao art.
112 da Lei 892/2013); e 37, todos da Lei 1.030/2016 do Estado de Roraima, atribuindo à decisão efeitos ex nunc a
contar da data da publicação da ata do julgamento.

ADI 6.091/RR, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 26.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

Municípios: criação, incorporação, fusão ou desmembramento - ADPF 819/MT

ODS: 16

Resumo:
Pendente a edição da lei complementar federal que assinale o prazo permitido para a criação e
alteração de municípios (CF/1988, art. 18, § 4º, na redação dada pela EC 15/1996), os estados estão impedidos
de editar normas que disciplinem a matéria e permitam surgimento de novos entes locais, ressalvada a
hipótese de convalidação do art. 96 do ADCT.
Mesmo após a EC 15/1996, o regramento referente à criação, incorporação, fusão e ao desmembramento de
municípios continuou a ser realizado por lei estadual, porém sujeito à observância de prazo determinado por lei
complementar federal, além de prévia consulta, mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos, e da
realização e divulgação de estudos de viabilidade municipal 289.
286
CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º
São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou
empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; (...) c) servidores públicos da União e
Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; (...) Art. 63. Não será admitido aumento da
despesa prevista: I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e §
4º;”
287
Precedentes citados: ADI 3.655; ADI 4.884; ADI 4.827, ADI 4.759; ADI 3.915; ADI 1.333; ADI 3.288 e ADI 2.350.
288
Precedentes citados: ADI 5.537; ADI 5.168 e ADI 2.501.
289
CF/1988: “Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. (...) § 4º A criação, a incorporação, a fusão e
o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e
dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de
Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 15, de 1996)
Vide art. 96 - ADCT”

120
Entretanto, o Congresso Nacional, ao invés de editar a mencionada lei complementar, optou por acrescentar
o art. 96 ao ADCT290, o que ocorreu mediante a promulgação da EC 57/2008. Assim, foram convalidados os atos de
criação de municípios editados no período compreendido entre a promulgação da EC 15/1996 e 31 de dezembro de
2006, desde que atendidos os demais requisitos estabelecidos na legislação estadual vigente à época.
Na espécie, o Município de Boa Esperança do Norte/MT foi criado em pleno atendimento aos requisitos
exigidos pela legislação estadual que vigorava na ocasião 291, razão pela qual a lei que o criou foi convalidada com a
promulgação da EC 57/2008 292.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ADPF para: (i) declarar a não
recepção do art. 178, caput, da Constituição do Estado de Mato Grosso; do art. 1º da Lei Complementar 43/1996 do
Estado de Mato Grosso; e do art. 3º, caput, da Lei Complementar 23/1992 do Estado de Mato Grosso; (ii) declarar a
inconstitucionalidade do art. 1º, caput, da Emenda Constitucional estadual 16/2000; e (iii) reconhecer a
convalidação da Lei mato-grossense 7.264/2000 pelo art. 96 do ADCT.

ADPF 819/MT, relator Ministro Luís Roberto Barroso, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento
virtual finalizado em 6.10.2023 (sexta-feira), às 23:59

Proposta de lei orçamentária estadual: deliberação popular mediante consulta direta - ADI 2.037/RS

Resumo:
É inconstitucional — por limitar o poder de iniciativa do chefe do Poder Executivo (CF/1988, art. 61,
§ 1º, II, “b” c/c o art. 165, III) — lei estadual que obriga a inclusão, na lei orçamentária anual, das escolhas
manifestadas pela população, em consulta direta, no que diz respeito à destinação de parcela voltada a
investimentos de interesses regional e municipal.
Conforme jurisprudência desta Corte, a vinculação da vontade popular na elaboração de leis orçamentárias
contraria a competência exclusiva do chefe do Poder Executivo 293.
Na espécie, a lei estadual impugnada, ao considerar as consultas populares como etapa obrigatória e
preliminar do processo legislativo da peça orçamentária, restringe indevidamente prerrogativa reservada ao
governador para apresentar sua proposta 294, além de contrariar o poder de emenda atribuído ao Poder Legislativo295 .
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 11.179/1998 do Estado do Rio Grande do Sul. Além disso, por unanimidade, atribuiu
efeito ex nunc à decisão, para que produza efeitos somente a partir de seu trânsito em julgado.

ADI 2.037/RS, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Tribunal de Justiça estadual: mudança do horário de expediente e da jornada de trabalho de seus


servidores por meio de resolução - ADI 4.450/MS

Resumo:

290
ADCT: “Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha
sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de
sua criação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 57, de 2008)”

291
Lei 7.264/2000 do Estado do Mato Grosso: “Art. 1º Fica criado o Município de Boa Esperança do Norte, com sede na
localidade do mesmo nome, com área territorial desmembrada dos Municípios de Sorriso e Nova Ubiratã.”
292
Precedente citado: ADI 3.799.
293
Precedente citado: ADI 2.680.
294
CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º
São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: (...) b) organização administrativa e
judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; (...) Art. 165. Leis de
iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: (...) III - os orçamentos anuais. (...) § 8º A lei orçamentária anual não conterá
dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de
créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.”
295
CF/1988: “Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos
créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum.”

121
É constitucional resolução de Tribunal de Justiça estadual que altera o horário de expediente
forense, pois se trata de matéria abrangida pelo autogoverno dos tribunais. Contudo, esse ato normativo não
pode modificar a jornada de trabalho dos servidores do Poder Judiciário local, porque o assunto diz respeito
ao regime jurídico destes, cuja iniciativa é privativa do chefe do Poder Executivo.
O texto constitucional prevê a iniciativa legislativa privativa do Presidente da República para dispor sobre
servidores públicos da União e dos territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria (CF/1988, art. 61, § 1º, II). Por se tratar de norma atinente ao processo legislativo, essa norma
configura princípio constitucional extensível ou de reprodução obrigatória pelos estados-membros (CF/1988, art. 25,
caput).
Na espécie, a resolução impugnada, ao mudar a jornada de trabalho dos servidores do respectivo tribunal de
justiça, atuou em ofensa ao princípio da separação dos Poderes, eis que infringiu iniciativa privativa do chefe do
Poder Executivo (CF/1988, arts. 2º e 61, § 1º, II, c)296.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para declarar
a inconstitucionalidade do art. 3º, II e § 2º da Resolução 568/2010 do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso
do Sul, na redação original e na conferida por sua Resolução 164/2017.

ADI 4.450/MS, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 27.10.2023, sexta-feira, às 23:59

5.20 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO

Critérios de rateio dos recursos do Fundo de Participação dos Estados e do DF - ADI 5.069/DF

ODS: 1, 10 e 17

Resumo:
É inconstitucional, por violar o art. 161, II, da Constituição Federal de 1988, norma de lei
complementar que distribui os recursos do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE)
entre esses entes da Federação sem a devida promoção do respectivo equilíbrio socioeconômico.
O critério de rateio adotado pela Lei Complementar 143/2013, que alterou a redação do art. 2º, II e III, da
Lei Complementar 62/1989297 manteve de forma dissimulada a sistemática fixada no Anexo Único da Lei

296
Precedente citado: ADI 2.400 MC.
297
Lei Complementar 62/1989, redação conferida pela Lei Complementar 143/2013: “Art. 2º. Os recursos do Fundo de
Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE), observado o disposto no art. 4º., serão entregues da seguinte forma: (...) II -
a partir de 1º de janeiro de 2016, cada entidade beneficiária receberá valor igual ao que foi distribuído no correspondente
decêndio do exercício de 2015, corrigido pela variação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
ou outro que vier a substituí-lo e pelo percentual equivalente a 75% (setenta e cinco por cento) da variação real do Produto
Interno Bruto nacional do ano anterior ao ano considerado para base de cálculo; III - também a partir de 1º de janeiro de 2016, a
parcela que superar o montante especificado no inciso II será distribuída proporcionalmente a coeficientes individuais de
participação obtidos a partir da combinação de fatores representativos da população e do inverso da renda domiciliar per capita
da entidade beneficiária, assim definidos: a) o fator representativo da população corresponderá à participação relativa da
população da entidade beneficiária na população do País, observados os limites superior e inferior de respectivamente, 0,07 (sete
centésimos) e 0,012 (doze milésimos), que incidirão uma única vez nos cálculos requeridos; b) o fator representativo do inverso
da renda domiciliar per capita corresponderá à participação relativa do inverso da renda domiciliar per capita da entidade
beneficiária na soma dos inversos da renda domiciliar per capita de todas as entidades. § 1º. Em relação à parcela de que trata o
inciso III do caput , serão observados os seguintes procedimentos: I - a soma dos fatores representativos da população e a dos
fatores representativos do inverso da renda domiciliar per capita deverão ser ambas iguais a 0,5 (cinco décimos), ajustando-se
proporcionalmente, para esse efeito, os fatores das entidades beneficiárias; II - o coeficiente individual de participação será a
soma dos fatores representativos da população e do inverso da renda domiciliar per capita da entidade beneficiária, observados os
ajustes previstos nos incisos III e IV deste parágrafo; III - os coeficientes individuais de participação das entidades beneficiárias
cujas rendas domiciliares per capita excederem valor de referência correspondente a 72% (setenta e dois por cento) da renda
domiciliar per capita nacional serão reduzidos proporcionalmente à razão entre o excesso da renda domiciliar per capita da
entidade beneficiária e o valor de referência, observado que nenhuma entidade beneficiária poderá ter coeficiente individual de
participação inferior a 0,005 (cinco milésimos); IV - em virtude da aplicação do disposto no inciso III deste parágrafo, os
coeficientes individuais de participação de todas as entidades beneficiárias deverão ser ajustados proporcionalmente, de modo
que resultem em soma igual a 1 (um). § 2º. Caso a soma dos valores a serem distribuídos, nos termos do inciso II do caput, seja
igual ou superior ao montante a ser distribuído, a partilha dos recursos será feita exclusivamente de acordo com o referido inciso,
ajustando-se proporcionalmente os valores. § 3º. Para efeito do disposto neste artigo, serão considerados os valores censitários ou
as estimativas mais recentes da população e da renda domiciliar per capita publicados pela entidade federal competente.”

122
Complementar 62/1989, além de estabelecer uma transição muito longa entre a metodologia de rateio originária e a
nova.
A sistemática originária previa a distribuição dos recursos do FPE em coeficientes fixos e foi declarada
inconstitucional pelo STF 298 por não promover a justa distribuição de recursos em conformidade com o texto
constitucional299 e, por conseguinte, não dar cumprimento à principal finalidade do Fundo, ou seja, a redução das
desigualdades regionais.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente prejudicada a ação e, na parte
remanescente, a julgou procedente para reconhecer a inconstitucionalidade dos incisos II e III e do § 2º do art. 2º da
Lei Complementar 62/1989, alterados pela Lei Complementar 143/2013, sem pronúncia de nulidade, mantendo-se a
aplicação desses dispositivos legais até 31/12/2025 ou até a superveniência de nova legislação sobre a matéria.

ADI 5.069/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 16.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Orçamento secreto: uso de emendas do relator para inclusão de novas despesas no projeto de lei
orçamentária anual da União - ADPF 850/DF, ADPF 851/DF, ADPF 854/DF e ADPF 1.014/DF

ODS: 16

Resumo:
É vedada a utilização das emendas do relator-geral do orçamento com a finalidade de criar novas
despesas ou de ampliar as programações previstas no projeto de lei orçamentária anual, uma vez que elas se
destinam, exclusivamente, a corrigir erros e omissões (CF/1988, art. 166, § 3º, III, alínea “a”).
As emendas do relator (classificadas sob o indicador orçamentário RP 9) são incompatíveis com a
Constituição Federal em virtude de seu caráter anônimo, sem identificação do proponente. Isso porque operam com
base na lógica da ocultação dos efetivos requerentes, por meio da qual todas as despesas nela previstas são
atribuídas, indiscriminadamente, à pessoa do relator-geral do orçamento, entre parlamentares incógnitos e o
orçamento público federal.
Assim, a sua utilização para a inclusão, na peça orçamentária, de recursos avulsos indicados por bancadas
ou parlamentares individualizados, quando não limitados a correções e ajustes técnicos, subverte o regramento
constitucional para confecção do orçamento público (CF/1988, arts. 165 e 166).
Esta Corte já se manifestou no sentido de ser condição de validade dos atos que compõem o ciclo
orçamentário a sua prática com atenção e fidelidade aos postulados republicanos e com a transparência necessária à
garantia de acesso de todos às informações de interesse público, desde a elaboração e o planejamento até a
realização das despesas públicas (CF/1988, arts. 1º, caput e parágrafo único; 5º, XXXIII; 37, caput e § 3º, II)300 .
Ademais, o condicionamento da liberação de recursos contemplados nas aludidas emendas à adesão de
parlamentares aos interesses do governo em votações, ainda que potencial, evidencia desvio de finalidade na
distribuição dos recursos do orçamento, o que é incompatível com o princípio constitucional da separação dos
Poderes (CF/1988, art. 2º).
Portanto, as indicações de beneficiários e prioridades de despesas operacionalizadas, em caráter primário,
por meio de emendas do relator-geral do orçamento, são incompatíveis com a ordem constitucional democrática e
republicana, em especial porque não observam os critérios objetivos orientados pelos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF/1988, art. 37, caput), além de desobedecerem os
princípios da máxima divulgação, da transparência ativa, da acessibilidade das informações, do fomento à cultura da
transparência e do controle social, nos termos da Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011, art. 3º, I a V).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedentes os pedidos deduzidos nas
ADPFs para (a) declarar incompatíveis com a ordem constitucional brasileira as práticas orçamentárias
viabilizadoras do chamado “esquema do orçamento secreto”, consistentes no uso indevido das emendas do relator-
geral do orçamento para efeito de inclusão de novas despesas públicas ou programações no projeto de lei
orçamentária anual da União; (b) declarar a inconstitucionalidade material do art. 4º do Ato Conjunto das Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal 1/2021 e do inteiro teor da Resolução CN 2/2021; (c) conferir
interpretação conforme às leis orçamentárias anuais de 2021 (Lei 14.144/2021) e de 2022 (Lei 14.303/2022),
vedando a utilização das despesas classificadas sob o indicador orçamentário RP 9 para o propósito de atender a
solicitações de despesas e indicações de beneficiários realizadas por deputados federais, senadores da República,
298
Precedentes citados: ADI 875; ADI 1.987; ADI 2.727 e ADI 3.243.
299
CF/1988: “Art. 161. Cabe à lei complementar: (…) II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o equilíbrio
socioeconômico entre Estados e entre Municípios.”
300
Precedentes citados: MS 24.725 MC (monocrática); ADPF 690 MC-Ref; ADPF 129 e MS 28.178

123
relatores da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e quaisquer “usuários externos” não vinculados aos órgãos da
Administração Pública federal, independentemente de tal requisição ter sido formulada pelos sistemas formais ou
por vias informais (cabendo, ainda, aos ministros de Estado titulares das pastas beneficiadas com recursos
consignados sob a rubrica RP 9 orientarem a execução desses montantes em conformidade com os programas e
projetos existentes nas respectivas áreas, afastado o caráter vinculante das indicações formuladas pelo relator-geral
do orçamento, nos moldes do art. 2º, § 1º, do Decreto 10.888/2021); e (d) determinar, a todas as unidades
orçamentárias e órgãos da Administração Pública em geral que realizaram o empenho, liquidação e pagamento de
despesas classificadas sob o indicador orçamentário RP 9, nos exercícios financeiros de 2020 a 2022, a publicação
dos dados referentes aos serviços, obras e compras realizadas com tais verbas públicas, assim como a identificação
dos respectivos solicitadores e beneficiários, de modo acessível, claro e fidedigno, no prazo de 90 (noventa) dias,
nos termos do voto da relatora.

ADPF 850/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 19.12.2022


ADPF 851/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 19.12.2022
ADPF 854/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 19.12.2022
ADPF 1.014/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 19.12.2022

5.21 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

Prestação de serviços de arrecadação e movimentação de recursos financeiros por instituições


financeiras privadas constituídas no País sob controle estrangeiro - ADI 3.565/MT

Tese fixada:
“É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que veda a prestação de serviços de
arrecadação e movimentação de recursos financeiros por instituições financeiras privadas constituídas no
País sob controle estrangeiro.”

Resumo:
É inconstitucional — por ofender os princípios da isonomia (CF/1988, art. 5º, “caput”), da livre
iniciativa e da livre concorrência (CF/1988, art. 170, “caput” e IV) — norma de Constituição estadual que
impede instituições financeiras privadas constituídas no País sob controle estrangeiro de prestarem serviços
financeiros ao Estado.
A Emenda Constitucional 6/1995 revogou o conceito de empresa brasileira de capital nacional e os
fundamentos constitucionais para a concessão de proteção e benefícios especiais e de tratamento preferencial na
aquisição de bens e serviços, exclusivamente em função da origem do capital das pessoas jurídicas (CF/1988, art.
171). No entanto, não se retirou do legislador a opção de impor restrições ao capital estrangeiro quando presentes
razões que as justifiquem, como, por exemplo, a existência de risco à soberania, à segurança nacional e à ordem
econômica.
As atividades descritas no dispositivo estadual impugnado, contudo, são meras operações bancárias de
pagamento de valores, eis que consistem na arrecadação de tributos e demais receitas e na movimentação de
recursos financeiros 301.
Nesse contexto, é prejudicial ao próprio Estado restringir ainda mais o número de instituições aptas a
operacionalizar pagamentos em seu nome. Por isso, não há necessidade de conferir tratamento diferenciado entre
potenciais prestadores do serviço conforme a origem do seu capital quando a contratação se restringe a instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central e que preencham requisitos de idoneidade econômico-financeira.

301
Precedente citado: Rcl 3.872 AgR.

124
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “em que brasileiros detenham mais de 50% (cinquenta por cento) do capital
com direito a voto”, constante do caput e dos §§ 1º e 2º do art. 171 da Constituição Estadual do Mato Grosso302.

ADI 3.565/MT, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.22 ORDEM SOCIAL

Beneficiários de programas de transferência de renda: autorização para contratação e ampliação da


margem de crédito - ADI 7.223/DF

ODS: 8

Resumo:
É constitucional — à luz dos arts. 1º, III; 3º, I; 6º, parágrafo único; e 203, todos da Constituição
Federal de 1988 — norma que autoriza a realização de empréstimos e financiamentos consignados, bem como
amplia a margem do crédito, aos titulares do benefício de prestação continuada (BPC) e de outros programas
federais de transferência de renda.
Conforme jurisprudência desta Corte, a sua atuação frente às soluções encontradas no debate legislativo e
nas discussões técnicas dos órgãos governamentais, quando da elaboração e implementação de políticas públicas,
deve ocorrer com cautela. Ressalvadas as hipóteses de flagrantes ilegalidade, abuso de poder ou teratologia, impõe-
se uma autocontenção do Poder Judiciário, em especial quando inexistente qualquer desproporcionalidade na
legislação objeto de análise, sob pena de indevida invasão no exame da discricionariedade política 303.
Nesse contexto, a questão referente ao acesso ao crédito com taxas de juros menores, direcionada às
famílias brasileiras, tem a finalidade de conferir proteção social aos necessitados, notadamente para garantir as suas
subsistências.
Na espécie, os novos limites de margem consignável, previstos na norma impugnada, não são
incompatíveis com os direitos à ordem econômica, à proteção constitucional do consumidor e à dignidade da pessoa
humana, de modo que também não devem prevalecer os argumentos quanto à possibilidade de fraude ou de
superendividamento das famílias com essa modalidade de empréstimo.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação, para assentar a
constitucionalidade dos arts. 1º e 2º, ambos da Lei 14.431/2022.

ADI 7.223/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às
23:59

Demarcação de terras tradicionalmente indígenas: desnecessidade de um marco temporal como


parâmetro à declaração do direito originário territorial - RE 1.017.365/SC (Tema 1.031 RG)

ODS: 1, 2, 3, 10, 15 e 16

302
Constituição do Estado do Mato Grosso: “Art. 171 A arrecadação de tributos e demais receitas, dos órgãos da Administração
Pública direta e indireta, será efetuada em instituições financeiras públicas e nas privadas em que brasileiros detenham mais de
50% (cinquenta por cento) do capital com direito a voto. § 1º As contribuições sociais devidas também serão obrigatoriamente
depositadas em instituição financeira pública estadual ou federal e nas privadas em que brasileiros detenham mais de 50%
(cinquenta por cento) do capital com direito a voto. § 2º A movimentação de recursos financeiros, do Poder Legislativo,
Executivo e Judiciário, deverá ser através de instituição financeira oficial, seja estadual ou federal, e privada em que brasileiros
detenham mais de 50% (cinquenta por cento) do capital com direito a voto.”
303
Precedentes citados: ADPF 825; RE 1.359.139 (Tema 1.231 RG) e ADI 6.362.

125
Tese fixada:
“I - A demarcação consiste em procedimento declaratório do direito originário territorial à posse das
terras ocupadas tradicionalmente por comunidade indígena; II - A posse tradicional indígena é distinta da
posse civil, consistindo na ocupação das terras habitadas em caráter permanente pelos indígenas, nas
utilizadas para suas atividades produtivas, nas imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e nas necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e
tradições, nos termos do § 1º do artigo 231 do texto constitucional; III - A proteção constitucional aos direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam independe da existência de um marco temporal em
05 de outubro de 1988 ou da configuração do renitente esbulho, como conflito físico ou controvérsia judicial
persistente à data da promulgação da Constituição; IV – Existindo ocupação tradicional indígena ou
renitente esbulho contemporâneo à promulgação da Constituição Federal, aplica-se o regime indenizatório
relativo às benfeitorias úteis e necessárias, previsto no § 6º do art. 231 da CF/88; V – Ausente ocupação
tradicional indígena ao tempo da promulgação da Constituição Federal ou renitente esbulho na data da
promulgação da Constituição, são válidos e eficazes, produzindo todos os seus efeitos, os atos e negócios
jurídicos perfeitos e a coisa julgada relativos a justo título ou posse de boa-fé das terras de ocupação
tradicional indígena, assistindo ao particular direito à justa e prévia indenização das benfeitorias necessárias
e úteis, pela União; e, quando inviável o reassentamento dos particulares, caberá a eles indenização pela
União (com direito de regresso em face do ente federativo que titulou a área) correspondente ao valor da
terra nua, paga em dinheiro ou em títulos da dívida agrária, se for do interesse do beneficiário, e processada
em autos apartados do procedimento de demarcação, com pagamento imediato da parte incontroversa,
garantido o direito de retenção até o pagamento do valor incontroverso, permitidos a autocomposição e o
regime do § 6º do art. 37 da CF; VI – Descabe indenização em casos já pacificados, decorrentes de terras
indígenas já reconhecidas e declaradas em procedimento demarcatório, ressalvados os casos judicializados e
em andamento; VII – É dever da União efetivar o procedimento demarcatório das terras indígenas, sendo
admitida a formação de áreas reservadas somente diante da absoluta impossibilidade de concretização da
ordem constitucional de demarcação, devendo ser ouvida, em todo caso, a comunidade indígena, buscando-se,
se necessário, a autocomposição entre os respectivos entes federativos para a identificação das terras
necessárias à formação das áreas reservadas, tendo sempre em vista a busca do interesse público e a paz
social, bem como a proporcional compensação às comunidades indígenas (art. 16.4 da Convenção 169 OIT);
VIII – A instauração de procedimento de redimensionamento de terra indígena não é vedada em caso de
descumprimento dos elementos contidos no artigo 231 da Constituição da República, por meio de pedido de
revisão do procedimento demarcatório apresentado até o prazo de cinco anos da demarcação anterior, sendo
necessário comprovar grave e insanável erro na condução do procedimento administrativo ou na definição
dos limites da terra indígena, ressalvadas as ações judiciais em curso e os pedidos de revisão já instaurados
até a data de conclusão deste julgamento; IX - O laudo antropológico realizado nos termos do Decreto nº
1.775/1996 é um dos elementos fundamentais para a demonstração da tradicionalidade da ocupação de
comunidade indígena determinada, de acordo com seus usos, costumes e tradições, na forma do instrumento
normativo citado; X - As terras de ocupação tradicional indígena são de posse permanente da comunidade,
cabendo aos indígenas o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e lagos nelas existentes; XI - As
terras de ocupação tradicional indígena, na qualidade de terras públicas, são inalienáveis, indisponíveis e os
direitos sobre elas imprescritíveis; XII – A ocupação tradicional das terras indígenas é compatível com a
tutela constitucional do meio ambiente, sendo assegurado o exercício das atividades tradicionais dos povos
indígenas; XIII – Os povos indígenas possuem capacidade civil e postulatória, sendo partes legítimas nos
processos em que discutidos seus interesses, sem prejuízo, nos termos da lei, da legitimidade concorrente da
FUNAI e da intervenção do Ministério Público como fiscal da lei.”

Resumo:
O reconhecimento do direito às terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas não se sujeita ao
marco temporal da promulgação da Constituição Federal (5/10/1988) nem à presença de conflito físico ou
controvérsia judicial existentes nessa mesma data.
Em mudança de posicionamento jurisprudencial, esta Corte concluiu pela inaplicabilidade da teoria do fato
indígena e pela prevalência da teoria do indigenato, segundo a qual a posse dos indígenas sobre as terras configura
um direito próprio dos povos originários e cuja tradicionalidade da ocupação deve ser considerada conforme os
parâmetros expressamente previstos no texto constitucional (CF/1988, art. 231, §§ 1º e 2º).
Se houver ocupação tradicional indígena ou renitente esbulho contemporâneo à data de promulgação da
Constituição Federal de 1988, são assegurados aos não índios o direito à indenização pelas benfeitorias úteis e
necessárias (CF/1988, art. 231, § 6º). Porém, na hipótese de inexistir quaisquer dessas situações, consideram-se
válidos e eficazes os atos e negócios jurídicos perfeitos e a coisa julgada relativos a justo título ou posse de boa-fé
das terras de ocupação tradicional indígena. Neste caso, o particular tem direito a ser previamente indenizado pela

126
União ao valor correspondente às benfeitorias necessárias e úteis, ou, quando inviável o seu reassentamento, ao
valor da terra nua 304.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.031 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para anular o acórdão recorrido e reformar a sentença
de primeiro grau, julgando, por conseguinte, improcedentes os pedidos deduzidos na petição inicial.

RE 1.017.365/SC, relator Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 27.9.2023

Validade do programa Bolsa Aluguel no Estado do Amapá - ADI 4.727/DF

ODS: 10 e 16

Resumo:
É constitucional lei estadual que autoriza o Poder Executivo a instituir, no âmbito do ente federado,
programa destinado ao pagamento de aluguel de imóvel a famílias que residam em local de situação de risco
iminente ou que tenham seu imóvel atingido por catástrofes, utilizando o valor do salário mínimo como
parâmetro para a concessão do benefício de programa social.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que o salário mínimo não pode ser usado
como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado 305, posicionamento que foi
consolidado com a edição do enunciado da Súmula Vinculante 4 306. Contudo, na espécie, não se trata de verba
remuneratória de servidor, mas de benefício assistencial destinado às pessoas em situação de vulnerabilidade
socioeconômica e cujo valor do salário mínimo é previsto como o teto da quantia a ser paga, de modo que não incide
a proibição constitucional (CF/1988, art. 7º, IV) nem a compreensão sumulada do Tribunal.
Ademais, não usurpa a competência privativa do chefe do Poder Executivo norma de origem parlamentar
que, embora possa criar despesa para a Administração Pública, não trata da estruturação ou atribuição de seus
órgãos, tampouco do regime jurídico de servidores, mas apenas determina o pagamento de auxílio aluguel pelo
Poder Público nas situações nela contempladas307.
304
CF/1988: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens. § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para
suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes. § 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas
minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas,
ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. § 4º As terras de que trata este artigo são
inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. § 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas
terras, salvo, ‘ad referendum’ do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou
no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato
logo que cesse o risco. § 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o
domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a
extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de
boa fé. § 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.”

305
Precedente citado: RE 565.714.
306
Súmula Vinculante 4: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de
base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial”.
307
Precedentes citados: ARE 878.911 RG; RE 871.658 AgR ; ADI 4.723 e ADI 4.288.

127
É inconstitucional norma que estabelece prazos ao chefe do Poder Executivo para a apresentação de
projetos de lei ou para a regulamentação de disposições legais.
Na espécie, a lei amapaense impugnada, de iniciativa do Poder Legislativo, criou obrigação ao Poder
Executivo e fixou o prazo de 90 dias para a regulamentação da norma, em afronta ao princípio da separação dos
Poderes308, sendo indiferente a finalidade da norma.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da expressão “no prazo de 90 (noventa) dias”, contida no art. 8º da Lei 1.600/2011
do Estado do Amapá 309.

ADI 4.727/DF, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado
em 23.2.2023

5.23 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Titularidade da União sobre bens localizados em zonas sob a influência das marés - ADPF 1.008/DF

Resumo:
É compatível com a atual ordem constitucional a norma que inclui entre os bens imóveis da União as
zonas onde se faça sentir a influência das marés (Decreto-Lei 9.760/1946, art. 1º, “c”).
Os bens pertencentes à União na data da promulgação da Constituição Federal de 1988 foram mantidos em
sua titularidade e as zonas de influência das marés são consideradas como terrenos de marinha, os quais integram o
patrimônio da União310 311.
308
Precedentes citados: ADI 821; ADI 3.394; ADI 179 e ADI 4.052.
309
Lei 1.600/2011 do Estado do Amapá: “Art. 1º. Fica o Poder Executivo autorizado a instituir o Programa Bolsa Aluguel, que
consiste na concessão de benefício financeiro destinado ao subsídio para pagamento de aluguel de imóvel a famílias que atendam
os seguintes requisitos: I. Residam em assentamentos precários e que devam ser removidas da área de risco iminente que não seja
passível de adequação urbanística; II. Estejam em área de desadensamento ou adequação urbana, nos processos de urbanização
de favela e áreas de ressaca; III. Cuja residência tenha sido destruída por incêndio, deslizamento, desmoronamento, vendaval, ou
esteja totalmente interditada pela Defesa Civil; IV. Tenham imóvel atingido por catástrofe, fato natural que inviabilize a moradia
ou qualquer fato análogo que impossibilite a moradia ou exploração econômica do imóvel. Parágrafo único. Com base em
avaliação técnica, devidamente fundamentada, a indicação das famílias a serem beneficiadas ficará sob a responsabilidade dos
órgãos competentes da administração. Art. 2º. O Programa Bolsa Aluguel instituído por esta Lei destina-se às famílias com renda
familiar per capita de até 3 (três) salários mínimos, e será efetuado na seguinte conformidade: I. Período máximo de 12 (doze)
meses, prorrogável pelo mesmo período; II. Caso não tenha ocorrido ainda o atendimento definitivo pelos programas de
habitação de interesse social; III. Desde que mantida a pobreza da família beneficiária. § 1º. Por se tratar de benefício financeiro
exclusivamente destinado ao subsídio para pagamento de locação de imóvel, os valores destinados a cada família não poderão
ultrapassar a (1) um salário mínimo. § 2º. É vedada a concessão do benefício a mais de um membro da mesma família, sob pena
de suspensão do benefício. Art. 3º. O limite de renda per capita previsto no caput do artigo 2° não se aplica nos casos previstos no
inciso IV do artigo 1° da presente Lei. Art. 4º. Nos casos de catástrofe, ou qualquer outro fato análogo, a família não necessitará
comprovar rendimentos, sendo beneficiária do programa com a simples demonstração de perda ou deterioração de perda do
imóvel residencial. Art. 5º. O pagamento às famílias deverá ser preferencialmente efetuado mediante depósito bancário, com a
indicação dos titulares para saques em dinheiro ou por meio de cartão eletrônico. § 1º. A titularidade para o pagamento dos
benefícios será preferencialmente concedida à mulher responsável pela família. § 2º. O pagamento dos benefícios deverá ser
realizado diretamente ao beneficiário ou, excepcionalmente, conforme o caso e a critério dos órgãos responsáveis, ao locador. §
3º. A Administração Pública não será responsável por qualquer ônus financeiro ou legal com relação ao locador, em caso de
inadimplência ou descumprimento de qualquer cláusula contratual por parte do beneficiário. Art. 6º. A localização do imóvel,
negociação de valores, contratação da locação e pagamento mensal aos locadores será responsabilidade do titular do benefício.
Parágrafo único. Caberá à Administração prestar orientação e apoio técnico ao beneficiário de forma a viabilizar a correta
utilização do benefício. Art. 7º. Cessará o benefício, perdendo o direito a ele a família que: I - deixar de atender, a qualquer
tempo, aos critérios estabelecidos no caput dos artigos 1º e 2º da presente Lei; II - sublocar o imóvel objeto da concessão do
benefício; III - descumprir qualquer das cláusulas do Termo de Responsabilidade, que deverá ser lavrado antes da concessão do
primeiro benefício mensal. Art. 8º. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, estabelecendo
normas necessárias para operacionalização do Programa. Art. 9º. As despesas decorrentes da execução desta Lei correrão por
conta de verbas orçamentárias próprias, suplementadas se necessário. Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação.”
310
CF/1988: “Art. 20. São bens da União: I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; (...) VII – os
terrenos de marinha e seus acrescidos;”
311
Precedentes citados: RE 60.813; RE 636.199 (Tema 676 RG) e ACO 317.

128
Ademais, a norma constitucional no sentido de que as ilhas fluviais e lacustres — não pertencentes à União
— são de propriedade dos estados-membros da Federação (CF/1988, art. 26, III) reforça o previsto no art. 20, I, da
CF/1988, de modo que outros bens podem ser atribuídos à União na forma da legislação que também se
compatibilize com o sistema constitucional.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para declarar a
recepção da alínea c do art. 1º do Decreto-Lei 9.760/1946 312pela Constituição Federal de 1988.

ADPF 1.008/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.24 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

Assembleia Legislativa: eleição para o cargo isolado de vice-governador em caso de vacância - ADI
999/AL

Resumo:
É inconstitucional — por violar o pressuposto da dupla vacância, previsto para o modelo federal e
cuja observância pelos estados-membros é obrigatória —, norma de Constituição estadual que determina, em
caso de vacância, eleição avulsa para o cargo de vice-governador pela Assembleia Legislativa.
A Constituição Federal de 1988 prevê que a eleição de governadores e vice-governadores deve ocorrer de
forma simultânea, sendo a do vice decorrência dos votos recebidos pelo titular. Não há que se falar em eleição
avulsa do substituto sem o titular313.
A previsão de eleição isolada de um ou de outro, quando ocorrer vacância, subverte o modelo
constitucional que posicionou a investidura no cargo de vice enquanto consequência da eleição do chefe do Poder
Executivo, na qualidade de seu substituto, sucessor e auxiliar. Nesse contexto, para viabilizar a continuidade do
projeto político escolhido pela maioria do eleitorado, apenas em caso de dupla vacância é que se cogitam novas
eleições, sejam elas diretas ou indiretas, conforme o período do mandato em que ocorrer a última vaga (CF/1988,
art. 81).
Ademais, apesar de o procedimento eleitoral em caso de dupla vacância ser matéria inserida na autonomia
do ente interessado, as hipóteses em que a Constituição estabelece eleições indiretas devem ser interpretadas de
forma restritiva, na medida em que representam exceção à soberania popular e dizem respeito à distribuição do
poder político e ao equilíbrio entre os poderes da República314.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Emenda Constitucional 10/1994 à Constituição do Estado de Alagoas 315.

ADI 999/AL, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Instituição do abono de permanência em atividade para magistrados do estado - ADI 2.952/RJ

312
Decreto-Lei 9.760/1946: “Art. 1º. Incluem-se entre os bens imóveis da União: (...) c) os terrenos marginais de rios e as ilhas
nestes situadas na faixa da fronteira do território nacional e nas zonas onde se faça sentir a influência das marés;”
313
CF/1988: “Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á
no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano
anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente, observado,
quanto ao mais, o disposto no art. 77 desta Constituição. (...) Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República
realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em
segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. § 1º A eleição do Presidente da
República importará a do Vice-Presidente com ele registrado.”
314
Precedentes citados: ADI 1.057; ADI 4.298; ADI 5.525.e ADI 2.709.
315
Emenda Constitucional 10/1994 do Estado de Alagoas: “Art. 1º O Art. 104 da Constituição do Estado de Alagoas passa a
viger com a seguinte redação: ‘Art. 104 O Vice-Governador substituirá o Governador no caso de impedimento e o sucederá no de
vacância. § 1º Impedidos o Governador e o Vice-Governador do Estado ou vagos os respectivos cargos, serão chamados ao
exercício do cargo de Governador, sucessivamente, o Presidente da Assembleia Legislativa e o Presidente do Tribunal de Justiça.
§ 2º Estando vago o cargo de Vice-Governador, far-se-á eleição do seu sucessor, cabendo à Assembleia elegê-lo. § 3º Vagando os cargos
de Governador e de Vice-Governador, far-se-á eleição noventa dias após a abertura da última vaga. 4º Ocorrendo a dupla
vacância nos dois últimos anos do período governamental, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias após a ocorrência
da última vaga na forma do que dispuser a Lei. § 5º O sucessor, em qualquer dos casos, deverá completar o período do seu
antecessor.’ Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação revogada as disposições em contrário.”

129
ODS: 8

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência da União para dispor sobre a magistratura brasileira
— norma estadual que cria nova vantagem remuneratória (benefício de permanência em atividade) para os
magistrados do Poder Judiciário local.
Até o advento de lei complementar de iniciativa do STF, o Estatuto da Magistratura continua a ser
disciplinado pela Lei Complementar 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN) 316.
As disposições da LOMAN constituem um regime jurídico único dos magistrados do País. Assim, como o
Poder Judiciário é nacional, os seus membros devem se submeter a regras uniformes 317, de modo que, para preservar
a independência assegurada constitucionalmente ao Poder Judiciário, as normas da LOMAN vinculam o Legislativo
e o Judiciário estaduais.
Nesse contexto, a natureza taxativa do rol de direitos e vantagens dos magistrados (LOMAN, art. 65)
impede o legislador ordinário, federal ou estadual, bem como os tribunais, quando da confecção do regimento
interno, de suprimir ou instituir novos benefícios a seus membros 318.
A alternativa de caracterização das normas da LOMAN como meramente programáticas ou não vinculantes
abriria uma via perigosa para a concessão ilimitada de privilégios, propiciando um quadro instável de “troca
institucional de boas vontades” entre os poderes locais, circunstância incompatível com a independência
constitucional do Poder Judiciário.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 1.856/1991 do Estado do Rio de Janeiro319.

ADI 2.952/RJ, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 31.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Movimentação na carreira da magistratura estadual: precedência da remoção sobre a promoção por


antiguidade - ADI 6.609/MG

ODS: 16

Resumo:
É constitucional lei estadual que garante a precedência da remoção sobre a promoção por
antiguidade na carreira da magistratura local.
Com o advento da EC 45/2004, que acrescentou o inciso VIII-A ao art. 93 da Constituição Federal de
1988320, a remoção sempre precederá à promoção por antiguidade ou merecimento, seja na carreira da magistratura
federal, seja na da estadual. Isso porque essa alteração constitucional impactou nas normas da Lei Complementar
35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura - LOMAN) que tratam de promoção e remoção (arts. 80 e 81).
A fim de evitar a preterição de magistrado mais antigo, os juízes que se encontram em uma determinada
entrância têm prioridade de escolha no preenchimento de vaga existente nessa mesma entrância (por meio de
remoção) sobre a promoção dos juízes de entrância inferior.

316
CF/1988: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:”
317
Precedentes citados: ADI 2.370 MC; ADI 2.753; ADI 1.503 e AO 185.
318
Precedentes citados: AO 820 AgR; RMS 21.405; AO 155; RMS 21.410; AO 184 e RE 100.584
319
Lei 1.856/1991: “Art. 1º É instituído o benefício de permanência em atividade para os magistrados, no percentual anual de 5%
(cinco por cento) por ano que exceder os trinta anos de serviço, até o máximo de 5 (cinco) anos. Art. 2º Este benefício será
incorporado aos proventos de inatividade, procedendo-se a devida revisão dos inativos, se o beneficiário houver completado, pelo
menos, cinco anos de judicatura. Art. 3º Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.”
320
CF/1988: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios: (...) II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e
merecimento, atendidas as seguintes normas: a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco
alternadas em lista de merecimento; b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e
integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar
vago; c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da
jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento; (...) e) não será promovido
o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido
despacho ou decisão; (...) VIII-A - a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca de igual entrância atenderá, no
que couber, ao disposto nas alíneas a, b, c e e do inciso II. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”

130
Nesse contexto, o critério para aferição de antiguidade é o efetivo exercício no cargo correspondente da
magistratura na entrância e não entre todas as entrâncias.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade do art. 178 da Lei Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais321.

ADI 6.609/MG, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento
finalizado em 19.10.2023

Remoção entre juízes vinculados a tribunais de justiça distintos - ADI 6.782/RN

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência da União para dispor sobre a magistratura brasileira,
tanto na justiça estadual como na justiça federal — norma estadual que permite a remoção entre juízes de
direito vinculados a diferentes tribunais de justiça.
Até o advento da lei complementar de iniciativa do STF 322, o Estatuto da Magistratura continua a ser
disciplinado pela Lei Complementar 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN) 323.
As disposições da LOMAN constituem um regime jurídico único dos magistrados do País. Assim, como o
Poder Judiciário é nacional, os seus membros devem se submeter a regras uniformes 324, de modo que, para preservar
a independência assegurada constitucionalmente ao Poder Judiciário, as normas da LOMAN vinculam o legislador e
o judiciário estaduais 325.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do trecho “permitindo-se a remoção entre juízes vinculados a Tribunais de Justiça distintos,
por resolução própria do Tribunal com a definição dos requisitos mínimos”, constante do art. 76, caput, da Lei
Complementar 643/2018 do Estado do Rio Grande do Norte 326.

ADI 6.782/RN, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Vinculação da remuneração dos deputados estaduais aos valores pagos aos deputados federais - ADI
6.545/DF

Resumo:
É inconstitucional — por representar modalidade de reajustamento automático e, desse modo, violar
o princípio da reserva legal (CF/1988, art. 27, § 2º), o pacto federativo e a vedação à equiparação entre
espécies remuneratórias (CF/1988, art. 37, XIII) — lei estadual que vincula a remuneração dos deputados
estaduais à dos deputados federais.
Com a edição da EC 19/1998, a fixação do subsídio dos deputados estaduais passou a ser exigida por meio
de lei 327 com o estabelecimento do percentual de 75% (setenta e cinco por cento) do subsídio dos deputados federais
como limite máximo ao subsídio dos deputados estaduais.
Entretanto, não se extrai da regra constitucional autorização para que a lei estabeleça pura e simples
vinculação do subsídio dos deputados estaduais ao dos deputados federais, o que faria com que qualquer aumento no
valor deste implicasse, automaticamente, aumento daquele 328.
321
Lei Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais: “Art. 178 – A remoção do Juiz, voluntária ou compulsória, só poderá
efetivar-se para comarca ou vara a ser provida por merecimento. Parágrafo único – A remoção de uma para outra vara da mesma
comarca poderá efetivar-se, mesmo em se tratando de vaga a ser provida por antiguidade.”
322
Precedentes citados: ADI 2.494; ADI 6.800 e ADPF 482.
323
Precedentes citados ADI 2.370 MC; ADI 2.753; ADI 1.503 e AO 185
324
Precedente citado AO 155.
325
Precedentes citados: ADI 2.494; ADI 6.800 e ADPF 482.
326
Lei Complementar 643/2018 do Estado do Rio Grande do Norte: “Art. 76. O acesso, a promoção, a remoção e a permuta dar-
se-ão nos termos das Constituições Federal e Estadual, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, dos atos normativos do CNJ e
daqueles expedidos pelo Tribunal de Justiça sobre a matéria, permitindo-se a remoção entre juízes vinculados a Tribunais de
Justiça distintos, por resolução própria do Tribunal com a definição dos requisitos mínimos.”
327
CF/1988: “Art. 27. (...) § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na
razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado o que
dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.”
328
Precedentes citados: ADI 5.856 e ADI 3.461.

131
Respeitados os limites constitucionais, os estados federados possuem autonomia para a fixação da
remuneração de seus agentes políticos (CF/1988, art. 25), mas existe vedação expressa à vinculação ou equiparação
de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público, objetivando,
justamente, impedir as majorações remuneratórias em cadeia 329.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 17.671/2018 do Estado de Santa Catarina, com extensão da declaração, por
arrastamento, aos diplomas anteriores que disciplinaram a matéria de igual forma e foram sucessivamente revogados
(as leis catarinenses 16.491/2014, 15.394/2010 e 13.912/2006).

ADI 6.545/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às 23:59

5.25 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

Sistema de cotas em universidade pública estadual: reserva de vagas para candidatos egressos de
escolas de ensino médio localizadas no estado - RE 614.873/AM

ODS: 4, 10 e 17

Resumo:
É inconstitucional — por violar a garantia de tratamento igualitário a todos os cidadãos brasileiros,
que veda a criação de distinções ou preferências entre si (CF/1988, art. 19, III) — lei estadual que assegura,
de forma infundada e/ou desproporcional, percentual das vagas oferecidas para a universidade pública local
a candidatos que cursaram integralmente o ensino médio em instituições públicas ou privadas da mesma
unidade federativa.
Na espécie, a lei estadual impugnada destinou 80% das vagas aos candidatos que se enquadrassem na
situação acima, de modo que a reserva de apenas 20% para aqueles que concluíram o ensino médio ou equivalente
em ente federativo diverso restringe excessivamente o acesso de outras pessoas e, consequentemente, reduz a
diversidade entre os alunos.
Nesse contexto, em que pese a nobre possibilidade de se corrigirem distorções socioeconômicas, como
ocorre com a implementação da política de reserva de vagas (cotas) para alunos egressos de escolas localizadas no
próprio estado, não pode o ente federativo criar discriminações regionais infundadas e desproporcionais 330 com a
finalidade de favorecer apenas os residentes em determinada região 331.
Com base nesse e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em preliminar suscitada por
questão de ordem, cancelou o Tema 474 da repercussão geral, e, no mérito, por maioria, negou provimento ao
recuso extraordinário para julgar inconstitucional a Lei 2.894/2004 do Estado do Amazonas332.

329
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público;”
330
CF/1988: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.”
331
Precedentes citados: ADI 4.868 e ADI 4.382.
332
Lei 2.841/2004 do Estado do Amazonas: “Art. 1º - As vagas em cursos e turnos oferecidas anualmente pela Universidade do
Estado do Amazonas em concursos vestibulares terão a distribuição seguinte: I - 80% (oitenta por cento) para candidatos que: a)
comprovem haver cursado as três séries do ensino médio em instituições públicas ou privadas no Estado do Amazonas; e, b) não
possuam curso superior completo ou não o estejam cursando em instituição pública de ensino. II - 20% (vinte por cento), para
candidatos que comprovem haver concluído o ensino médio ou equivalente em qualquer Estado da Federação ou no Distrito
Federal. § 1º - Sessenta por cento (60%) das vagas a que se refere o inciso I, dos cursos ministrados em Manaus, serão destinadas
a alunos que tenham cursado as três séries do ensino médio em escola pública no Estado do Amazonas. § 2º - Tratando-se de
candidato aprovado em exame supletivo, a Universidade exigirá, do candidato que disputar as vagas do inciso I, a comprovação,
na forma do edital respectivo, de residência no Estado do Amazonas por pelo menos 3 (três) anos. § 3º - O candidato indicará, no
ato da inscrição, o conjunto a que pertence a vaga que deseja disputar, responsabilizando-se pelas declarações que prestar. § 4º -
Na hipótese de não ser suficiente a quantidade de candidatos classificados em um dos conjuntos de vagas, a Universidade
convocará os do outro conjunto, respeitada a ordem de classificação (...)”

132
RE 614.873/AM, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento finalizado em 19.10.2023

5.26 REPARTIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES ADMINISTRATIVAS

Oferta de cursos técnicos por instituições privadas de ensino superior - ADI 7.327/DF

ODS: 4

Resumo:
É constitucional a Portaria 314/2022, editada pelo Ministro de Estado da Educação, que dispõe sobre
habilitação e autorização para a oferta de cursos técnicos por instituições privadas de ensino superior (IPES).
Na espécie, a oferta de cursos técnicos de nível médio custeados pela Bolsa Formação do Pronatec, como
previsto no ato normativo impugnado, é expressamente autorizada pela Lei 12.513/2011 (art. 20-B) e não representa
inovação no ordenamento jurídico nem invade o poder regulamentar do Ministro de Estado da Educação 333.
A mencionada oferta sem o aporte de recursos financeiros da União visa ampliar a oferta de educação
profissional e tecnológica, motivo pelo qual o contorno regulamentar também não foi ultrapassado, pois inexiste
determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/2019) quanto ao financiamento por
meio de recursos federais 334.
Ademais, a portaria ministerial harmoniza-se com o disposto na Constituição Federal de 1988 em matéria
de educação335. O exercício da competência supletiva da União, em colaboração com os estados e o Distrito Federal,
no que se refere à organização, supervisão e avaliação de instituições de ensino técnico-profissional de nível médio,
viabiliza uma gestão descentralizada e participativa para implementar política de expansão dos cursos técnicos,
democratizando o acesso à educação e à qualificação para o mercado de trabalho.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para
declarar a constitucionalidade da Portaria 314/2022 do Ministério da Educação.

ADI 7.327/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

333
Lei 12.513/2011: “Art. 20-B. As instituições privadas de ensino superior habilitadas nos termos do § 2º do art. 6º-A ficam
autorizadas a criar e ofertar cursos técnicos de nível médio, nas formas e modalidades definidas no regulamento, resguardadas as
competências de supervisão e avaliação da União, previstas no § 1º A supervisão e a avaliação dos cursos serão realizadas em
regime de colaboração com os órgãos competentes dos Estados e do Distrito Federal, nos termos estabelecidos em ato do
Ministro de Estado da Educação. § 2º A criação de novos cursos deverá ser comunicada pelas instituições de ensino superior aos
órgãos competentes dos Estados, que poderão, a qualquer tempo, pronunciar-se sobre eventual descumprimento de requisitos
necessários para a oferta dos cursos.”
334
Lei 9.394/2019: “Art. 9º A União incumbir-se-á de: (...) IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. (...) Art. 16. O
sistema federal de ensino compreende: I - as instituições de ensino mantidas pela União; II - as instituições de educação superior
mantidas pela iniciativa privada; III - os órgãos federais de educação.”
335
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) IX - educação,
cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (...) Art. 207. As universidades gozam de
autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão. § 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na
forma da lei. § 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica. (...) Art. 209. O ensino é
livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; II -
autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. (...) Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos
Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e
supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no
ensino fundamental e na educação infantil. 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e
médio. § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas
de colaboração, de forma a assegurar a universalização, a qualidade e a equidade do ensino obrigatório. § 5º A educação básica
pública atenderá prioritariamente ao ensino regular. § 6º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão ação
redistributiva em relação a suas escolas. § 7º O padrão mínimo de qualidade de que trata o § 1º deste artigo considerará as
condições adequadas de oferta e terá como referência o Custo Aluno Qualidade (CAQ), pactuados em regime de colaboração na
forma disposta em lei complementar, conforme o parágrafo único do art. 23 desta Constituição.”

133
5.27 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Agentes penitenciários: concessão de porte de arma de fogo por norma estadual - ADI 5.076/RO

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito penal e
material bélico (CF/1988, art. 22, I e XXI) — norma estadual que concede, de forma incondicionada, o porte
de arma de fogo a agentes penitenciários.

Conforme jurisprudência desta Corte, devidamente observado o sistema constitucional de repartição de


competências, não é franqueada aos estados e ao Distrito Federal a prerrogativa de legislar sobre a matéria em
debate, em especial porque também compete à União autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material
bélico (CF/1988, art. 21, VI), o que lhe viabiliza definir os requisitos sobre o porte funcional de arma de fogo 336.
Nesse contexto, o Estatuto do Desarmamento 337, lei federal que trata do tema, previu a possibilidade do
porte de arma de fogo pelos agentes penitenciários em dedicação exclusiva, com formação funcional e subordinados
a mecanismos de fiscalização e de controle interno. Contudo, essa autorização dependeria necessariamente de
comprovação da capacidade técnica e de aptidão psicológica para o seu manuseio, atestadas nos termos dispostos no
regulamento da lei.
A previsão contida na referida norma federal — editada com o objetivo de atender aos interesses públicos
prioritários e de fixar uma política criminal nacional uniforme à luz do pacto federativo, tratando de matérias de
predominante interesse geral — não autorizou o porte de arma de fogo a agentes penitenciários de forma
incondicionada, eis que sujeito ao preenchimento de requisitos específicos.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 3.230/2013 338, e, por arrastamento, da Lei 2.775/2012, ambas do Estado de Rondônia.

ADI 5.076/RO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Atendimento ao consumidor em âmbito estadual: fixação de tempo limite de espera - ADI 2.879/SC

ODS: 16

Resumo:
É constitucional — por não violar as regras do sistema constitucional de repartição de competências
— lei estadual que fixa limite de tempo proporcional e razoável para o atendimento de consumidores em
336
Precedentes citados: ADI 2.729; ADI 5.359; ADI 4.962; ADI 6.977; ADI 6.972; ADI 6.974 e ADI 4.991.
337
Lei 10.826/2003: “Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva
necessidade, atender aos seguintes requisitos: (...) III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o
manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. (...) Art. 6 o É proibido o porte de arma de fogo
em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para (...) VII – os integrantes do quadro
efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias; § 1º As pessoas previstas
nos incisos I, II, III, V e VI do caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela
respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento desta Lei, com validade em âmbito
nacional para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. § 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e guardas prisionais
poderão portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de
serviço, desde que estejam: I – submetidos a regime de dedicação exclusiva; II – sujeitos à formação funcional, nos termos do
regulamento; e III – subordinados a mecanismos de fiscalização e de controle interno. (...) § 2º A autorização para o porte de
arma de fogo aos integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e X do caput deste artigo está condicionada à
comprovação do requisito a que se refere o inciso III do caput do art. 4º desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento
desta Lei.”
338
Lei 3.230/2013 do Estado de Rondônia: “Art. 1º. A ementa da Lei nº 2.775, de 11 de junho de 2012, passa a vigorar com a
seguinte redação: ‘Dispõe sobre o porte de arma de fogo aos integrantes do quadro efetivo de Agentes Penitenciários do Estado
de Rondônia.’ Art. 2º. O artigo 1º da Lei nº 2.775, de 2012, passa a vigorar com a seguinte redação: ‘Art. 1º O porte de arma de
fogo será deferido aos integrantes do quadro efetivo de Agentes Penitenciários do Estado de Rondônia.’ Art. 3º. O artigo 2º da
Lei nº 2.775, de 2012, passa a vigorar com a seguinte redação: ‘Art. 2º. A concessão deferida aos integrantes do quadro efetivo de
Agentes Penitenciários autorizará o porte de arma de fogo, ainda que fora de serviço, em todo o Estado de Rondônia, devendo
sempre ser conduzida com o respectivo Certificado de Registro de Arma de Fogo e com a Carteira de Identidade Funcional.’ Art.
4º. Revoga o artigo 4º da Lei nº 2.775, de 11 de junho de 2012. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

134
estabelecimentos públicos e privados, bem como prevê a cominação de sanções progressivas na hipótese de
descumprimento.
Na espécie, não há usurpação da competência privativa da União para legislar sobre direito civil (CF/1988,
art. 22, I), pois inexiste interferência no regime de exploração, na estrutura remuneratória da prestação dos serviços
ou no equilíbrio dos contratos administrativos. Diferente disso, a limitação temporal imposta pela lei estadual
impugnada configura um mecanismo potencializador de proteção do consumidor 339, cuja competência legislativa é
concorrente (CF/1988, art. 24, VIII).
Ademais, os princípios da livre concorrência e da liberdade de exercício de atividades econômicas não são
absolutos nem podem negar concretude ou esvaziar o princípio da defesa do consumidor (CF/1988, art. 170, caput e
V), de modo que a imposição legal de limites de tempo predeterminados para o atendimento de consumidores
revela-se proporcional e razoável.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade da Lei 12.465/2002 do Estado de Santa Catarina 340.

ADI 2.879/SC, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 15.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Bombeiros militares voluntários: competência para realizar vistorias e fiscalizações quanto ao


cumprimento de normas de segurança nos municípios - ADI 5.354/SC

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência privativa da União para dispor sobre normas gerais
de organização dos corpos de bombeiros militares e defesa civil (CF/1988, art. 22, XXI e XXVIII c/c o art.
144, V e § 5º) — norma estadual que dispõe de forma contrária à legislação federal vigente sobre esses
assuntos e viabiliza a delegação de atividades tipicamente estatais a organizações voluntárias de natureza
privada.
A legislação federal prevê tão somente a possibilidade de o município firmar convênio com a respectiva
corporação militar estadual, caso não conte com unidade de corpo de bombeiros militar instalada 341. Ademais, ela
impede que os corpos de bombeiros voluntários criados pelos estados realizem atividades inseridas no poder de
polícia342. Quanto a esse ponto, a Lei 13.425/2017 nada dispõe sobre a possibilidade de delegação dessas atividades
a agentes privados.
Esta Corte já decidiu ser vedado aos estados, a partir da sua competência legislativa suplementar, inovar ou
divergir de disposições constantes da lei federal. Ademais, as atividades de fiscalização e punição das profissões
regulamentadas — tradicionalmente classificadas pela doutrina como poder de polícia — não são passíveis de
delegação a entidades particulares, de modo que devem ser necessariamente desempenhadas, por sua natureza
estatal, pela própria Administração, através de seus agentes públicos 343.
Desse modo, poderia ser delegada aos corpos de bombeiros voluntários apenas a execução de atos
materiais, mas não as atividades fiscalizatórias e de imposição de sanções.

339
Precedentes citados: ADI 5.833; ADI 6.066; ADI 5.745; ADI 5.940 e ADI 2.396.
340
Lei 12.465/2002 do Estado de Santa Catarina: “Art. 1º Fica a pessoa jurídica, pública ou privada, prestadora de serviços de
qualquer natureza, de atendimento a consumidores, obrigada a dar o atendimento solicitado, no prazo de quinze minutos em dias
úteis normais e de, no máximo trinta minutos, em dias que antecedem a feriados prolongados e nos imediatamente seguinte a
eles. Art. 2º O não cumprimento ao disposto no artigo anterior, sujeitará o infrator às sanções progressivas de: I - advertência; II -
multa no valor de R$ 425,64 (quatrocentos e vinte cinco reais e sessenta e quatro centavos); III - multa no valor de R$ 851,28
(oitocentos e cinqüenta e um reais e vinte oito centavos); e IV - multa no valor de R$ 1.276,92 (um mil duzentos e setenta e seis
reais e noventa e dois centavos). Art. 3º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias, a contar da data de
sua publicação. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.”
341
Lei 13.425/2017: “Art. 3º Cabe ao Corpo de Bombeiros Militar planejar, analisar, avaliar, vistoriar, aprovar e fiscalizar as
medidas de prevenção e combate a incêndio e a desastres em estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público, sem
prejuízo das prerrogativas municipais no controle das edificações e do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano e das
atribuições dos profissionais responsáveis pelos respectivos projetos. § 2º Os Municípios que não contarem com unidade do
Corpo de Bombeiros Militar instalada poderão criar e manter serviços de prevenção e combate a incêndio e atendimento a
emergências, mediante convênio com a respectiva corporação militar estadual.”
342
Lei 10.029/2000: “Art. 5o Os Estados e o Distrito Federal poderão estabelecer outros casos para a prestação de serviços
voluntários nas Polícias Militares e nos Corpos de Bombeiros Militares, sendo vedados a esses prestadores, sob qualquer
hipótese, nas vias públicas, o porte ou o uso de armas de fogo e o exercício do poder de polícia.”
343
Precedentes citados: ADI 5.163 e ADI 1.717.

135
Na espécie, os diplomas estaduais impugnados permitem que os municípios tanto celebrem convênios com
os corpos de bombeiros voluntários — para que estes verifiquem e certifiquem o atendimento às normas de
segurança contra incêndio — quanto deleguem, a essas mesmas entidades privadas, a competência para realizar
vistorias, fiscalizações e lavrar autos de infração.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade das expressões “para fins de verificação e certificação do atendimento às normas
de segurança contra incêndio”, constante do parágrafo único do art. 112, da Constituição do Estado de Santa
Catarina344, e “podendo os Municípios delegar competência aos bombeiros voluntários”, constante do parágrafo 1º
do art. 12 da Lei catarinense 16.157/2013 345.

ADI 5.354/SC, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Cadastro estadual de usuários e dependentes de drogas - ADI 6.561/TO

ODS: 10 e 16

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência privativa da União para legislar sobre matéria penal
e processual penal (CF/1988, art. 22, I), bem como por violar o Estado de direito, os direitos fundamentais e o
sistema constitucional especial de proteção de dados — lei estadual que cria cadastro de usuários e
dependentes de drogas, com informações concernentes ao registro de ocorrência policial, inclusive sobre
reincidência.
O exercício da competência concorrente em matéria de direito sanitário (CF/1988, art. 24, XII) deve
maximizar direitos fundamentais e não pode desrespeitar a norma federal. Nesse contexto, a Lei 11.343/2006 (Lei
de Drogas), que instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), dispõe que a
sistematização e gestão de informações compete à União (art. 8º-A, XII), de modo que os estados não podem criar
cadastro próprio.
Sob o aspecto material, o referido cadastro revela reprovação penal pela conduta autodestrutiva do cidadão
e tem viés de seletividade e higienização social. Desse modo, é incompatível com o Estado de direito e com os
direitos fundamentais constitucionalmente protegidos, em especial, os atinentes à igualdade (CF/1988, art. 5º,
caput), à dignidade da pessoa humana (CF/1988, art. 1º, III), à intimidade e à vida privada (CF/1988, art. 5º, X) e ao
devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV). Além disso, a lei estadual impugnada sequer prevê um protocolo claro
de proteção e tratamento do material cadastrado.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 3.528/2019 do Estado do Tocantins 346.

ADI 6.561/TO, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Cobradores de transporte coletivo e garantia de trabalho em face da automação - ADI 3.899/DF

344
Constituição do Estado de Santa Catarina: “Art. 112. Compete ao Município: (...) Parágrafo único. No exercício da
competência de fiscalização de projetos, edificações e obras nos respectivos territórios, os Municípios poderão, nos termos de lei
local, celebrar convênios com os corpos de bombeiros voluntários legalmente constituídos até maio de 2012, para fins de
verificação e certificação do atendimento às normas de segurança contra incêndio.”
345
Lei 16.157/2013 do Estado de Santa Catarina: “Art. 12. Considera-se infração administrativa toda ação ou omissão que viole
as regras jurídicas e técnicas concernentes às medidas de segurança e prevenção a incêndios e pânico. § 1º São autoridades
competentes para lavrar autos de infração e responsáveis pelas vistorias e fiscalizações os bombeiros militares e os Municípios,
podendo os Municípios delegar competência aos bombeiros voluntários.”
346
Lei 3.528/2019 do Estado do Tocantins: “Art. 1º Fica criado o Cadastro de Usuários e Dependentes de Drogas no Estado do
Tocantins. § 1º Os usuários e dependentes de drogas do Estado do Tocantins serão cadastrados pela Secretaria Estadual de
Segurança Pública, a partir do registro de ocorrência policial ou de outra fonte de informação oficial. § 2º A lista de que trata o
parágrafo anterior deverá conter: I – o nome do usuário ou dependente; II – o nome da droga de posse do usuário apontada no
registro de ocorrência policial ou de outra fonte de informação oficial; III – a forma pela qual o usuário ou dependente adquiriu a
droga; IV – outras informações de caráter reservado, objetivando preservar a intimidade do cadastrado. § 3º Este cadastro será
compartilhado com a Secretaria da Saúde. § 4º O nome do usuário será excluído da lista na data em que for requerido, devendo
acompanhar este pedido o laudo médico e informação oficial sobre a não reincidência, conforme preceitua a legislação em vigor.
Art. 2º O Cadastro de que trata esta Lei não poderá ser utilizado para outros fins que não seja o de propiciar aos Órgãos Públicos
o conhecimento dos usuários e dependentes de drogas e os meios legais para libertá-los do vício. Art. 3° Esta Lei entra em vigor
na data de sua publicação.”

136
Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência privativa da União para legislar sobre direito do
trabalho (CF/1988, art. 22, I) — lei distrital que assegura funções de trabalho aos atuais cobradores do
Serviço de Transporte Público Coletivo de empresa de ônibus que venha a implantar dispositivos de leitura e
registro de oferta e demanda para a cobrança de tarifas pelo sistema de bilhetagem eletrônica.
Na espécie, a lei distrital impugnada trata de matéria eminentemente trabalhista, na medida em que visa
garantir ao cobrador de ônibus a sua permanência no emprego. Nesse contexto, o objetivo da norma é conferir a
fruição do direito subjetivo de estabilidade parcial no emprego ao cobrador que mantinha vínculo de trabalho com
concessionária do serviço de transporte no momento em que implantada a bilhetagem eletrônica.
Ademais, a Constituição Federal de 1988, com o objetivo de proteger os direitos dos trabalhadores urbanos
e rurais, expressamente atribuiu à lei — que é presumidamente federal — a disciplina e a regulamentação da
delicada relação entre automação e perda de postos de trabalho, (CF/1988, art. 7º, XXVII).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 3.923/2006 do Distrito Federal 347.

ADI 3.899/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 22.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Competência da União para legislar sobre contrato de aprendizagem - ADI 3.093/RJ

Resumo:
É inconstitucional — por usurpar a competência privativa da União para legislar sobre direito do
trabalho (CF/1988, art. 22, I) — lei estadual que, ao criar o “estágio supervisionado, educativo e
profissionalizante” sob a forma de bolsa de iniciação ao trabalho ao menor que frequente o ensino regular ou
supletivo, constitui relação jurídica que se aproxima do instituto do contrato de aprendizagem.
O contrato de aprendizagem possui majoritário propósito educativo direcionado à inserção do aprendiz no
mercado de trabalho, eis que a relação se forma sem a participação de instituição de ensino, configurando relação de
natureza trabalhista especial. Diferencia-se do estágio, que tem caráter predominantemente educativo relacionado ao
projeto pedagógico do curso que o estagiário frequenta — tanto que a instituição de ensino tem a responsabilidade
de participar do vínculo —, motivo pelo qual a atribuição normativa sobre o tema é concorrente, por se tratar de
educação e ensino (CF/1988, art. 24, IX)348.
Na espécie, a lei estadual impugnada prevê a constituição da relação jurídica diretamente entre a empresa
ou entidade de direito público e o menor de 14 a 18 anos incompletos, sem a participação da instituição de ensino.
Essa circunstância, aliada à não exigência de termo de compromisso, afasta a natureza essencialmente educacional
capaz de configurar o pretendido estágio.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade, sem pronúncia de nulidade, da Lei 1.888/1991 do Estado do Rio de Janeiro, pelo prazo de 24
meses, período em que o legislador estadual deverá reapreciar a disciplina do estágio supervisionado, educativo e
profissionalizante à luz da disciplina estabelecida na Lei federal 11.788/2008. O Tribunal também modulou os

347
Lei 3.923/2006 do Distrito Federal: “Art. 1º A empresa de ônibus do Serviço de Transporte Público Coletivo do Distrito
Federal que venha a implantar dispositivos de leitura e registro de oferta e demanda para a cobrança de tarifas pelo sistema de
bilhetagem eletrônica deve assegurar, em cada veículo e durante todo o itinerário, funções de um assistente de bordo, de forma a
manter o emprego de cobrador. Parágrafo único. Mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, a denominação assistente
de bordo poderá ser substituída por outra que melhor expresse às novas funções definidas no art. 2º. Art. 2º Ao passarem a
assistente de bordo, os atuais cobradores poderão ter suas funções ampliadas, com a execução de novas atividades, especialmente
as relativas a: I – recebimento das tarifas pagas em moeda corrente; II – supervisão da utilização pelos usuários dos descontos e
gratuidades previstos em Lei; III – auxílio aos usuários idosos ou portadores de necessidades especiais; IV – orientação aos
usuários quanto a destino, itinerário, localidades e procedimentos relativos à coleta de tarifas por meio eletrônico; V –
provimento aos usuários de informações sobre o Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal. § 1º A ampliação
das funções prevista neste artigo não poderá resultar em redução salarial. § 2º As condições estabelecidas neste artigo farão parte
das exigências a serem incluídas nas licitações que venham a ser realizadas para a operação do Sistema de Transporte Público
Coletivo do Distrito Federal. Art. 3º O descumprimento desta Lei enseja à aplicação das penalidades decorrentes das normas de
concessão dos serviços públicos. Art. 4º O disposto nesta Lei aplica-se ao Serviço de Transporte Público Alternativo – STPA e ao
Serviço de Transporte Público Alternativo de Condomínios – STP AC. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 6º Revogam-se as disposições em contrário.”
348
Precedentes citados: ADI 5.477 e ADI 5.752.

137
efeitos da decisão, a fim de que passe a surtir efeitos após o prazo de 24 meses a contar da publicação da ata de
julgamento.

ADI 3.093/RJ, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 25.8.2023 (sexta-feira), às 23:59

Cômputo de gastos previdenciários como despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino -


ADI 6.412/PE

Tese fixada:
“É inconstitucional lei estadual que autoriza o cômputo de gastos previdenciários como despesas com
manutenção e desenvolvimento do ensino.”

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e
bases da educação nacional (CF/1988, art. 22, XXIV), bem como para dispor sobre as normas gerais de
educação (CF/1988, art. 24, IX e § 1º) — lei estadual que considera como despesas com manutenção e
desenvolvimento do ensino as dotações destinadas à previdência de docentes e demais profissionais da
educação.
A jurisprudência desta Corte entende que a definição do conceito de despesas com manutenção e
desenvolvimento do ensino é matéria atinente aos referidos temas de competência da União 349.
Nesse contexto, a Lei federal 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) não incluiu os gastos
com servidores inativos no específico rol de despesas previsto nos arts. 70 e 71. Além disso, pela lógica do que
estabelece o seu art. 71, VI, os dispêndios previdenciários também não podem ser considerados como de
manutenção e desenvolvimento do ensino público350.
Ademais, a EC 108/2020 incluiu o parágrafo 7º ao art. 212 da CF/1988, de modo a constitucionalizar a
exclusão dos gastos previdenciários do referido rol de despesas 351.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 6º, II, da Lei Complementar 43/2002 do Estado de Pernambuco 352.

349
Precedentes citados: ADI 5.719; ADI 6.049; e ADI 5.691.
350
Lei 9.394/1996: “Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com
vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a: I
- remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação; II - aquisição, manutenção, construção
e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino; III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao
ensino; IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão
do ensino; V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas de ensino; VI - concessão de bolsas de
estudo a alunos de escolas públicas e privadas; VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao
disposto nos incisos deste artigo; VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar.
IX – realização de atividades curriculares complementares voltadas ao aprendizado dos alunos ou à formação continuada dos
profissionais da educação, tais como exposições, feiras ou mostras de ciências da natureza ou humanas, matemática, língua
portuguesa ou língua estrangeira, literatura e cultura. (Incluído pela Lei nº 14.560, de 2023) Art. 71. Não constituirão despesas de
manutenção e desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino,
ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua
expansão; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural; III - formação de
quadros especiais para a administração pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; IV - programas suplementares
de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social; V - obras de
infra-estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; VI - pessoal docente e demais
trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.”
351
CF/1988: “Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
manutenção e desenvolvimento do ensino. (...) § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a
contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
53, de 2006) § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão distribuídas
proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 7º É vedado o uso dos recursos referidos no caput e nos §§ 5º e 6º deste artigo para
pagamento de aposentadorias e de pensões. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020).”
352
Lei Complementar 43/2002 do Estado de Pernambuco: “Art. 6º Constituirão despesas do Estado com manutenção e
desenvolvimento do ensino, para fins de demonstração do atendimento ao disposto no artigo 212 da Constituição Federal: (...) II
– a dotação orçamentária específica de que tratam o inciso VII do artigo 62 e o caput do artigo 63 da Lei Complementar nº 28, de
14 de janeiro de 2000, referente ao pessoal docente e aos demais profissionais de educação em gozo de benefício previdenciário,
inclusive seus pensionistas.”

138
ADI 6.412/PE, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

Concessão de áreas estaduais para exploração de atividades de ecoturismo e extração comercial de


madeira e subprodutos florestais - ADI 7.008/SP

ODS: 15

Tese fixada:
“1. É constitucional norma estadual que, sem afastar a aplicação da legislação nacional em matéria
ambiental (inclusive relatório de impacto ambiental) e o dever de consulta prévia às comunidades indígenas e
tradicionais, quando diretamente atingidas por ocuparem zonas contíguas, autoriza a concessão à iniciativa
privada da exploração de serviços ou do uso de bens imóveis do Estado; 2. A concessão pelo Estado não pode
incidir sobre áreas tradicionalmente ocupadas por povos indígenas, remanescentes quilombolas e demais
comunidades tradicionais.”

Resumo:
É constitucional lei estadual que autoriza à iniciativa privada a concessão da exploração dos serviços
ou do uso de áreas inerentes ao ecoturismo e à exploração comercial de madeireira ou de subprodutos
florestais, desde que respeite a legislação ambiental federal e não incida sobre áreas tradicionalmente
ocupadas por povos indígenas, remanescentes quilombolas e demais comunidades tradicionais.
A lei estadual impugnada disciplina as condições e os requisitos mínimos para a outorga das concessões à
iniciativa privada da exploração de serviços ou do uso de bens imóveis locais. Desse modo, a norma não afasta a
incidência de normas de proteção ambiental, de caráter geral, editadas pela União, que compreendem a
obrigatoriedade de licenciamento para empreendimentos e atividades potencialmente poluidoras. Ademais, ela
também observa o estatuto protetivo da população indígena, que inclui o dever constitucional de consulta prévia às
comunidades indígenas e tradicionais diretamente afetadas 353.
Entretanto, se a concessão ocorrer em território indígena, estará eivada de inconstitucionalidade, por se
tratar de área pertencente à União (CF/1988, art. 20, XI) e de usufruto exclusivo dos índios (CF/1988, art. 231). Da
mesma forma, as áreas ocupadas por comunidades tradicionais e de remanescentes quilombolas não podem ser
cedidas à iniciativa privada 354. Isso porque elas utilizam suas terras não só como moradia, mas como elo que
mantém a união do grupo e que permite a sua continuidade no tempo por sucessivas gerações, de modo a possibilitar
a preservação de sua identidade, cultura, valores e maneira de viver (CF/1988, arts. 215 e 216; ADCT, art. 68; e
Convenção 169 da OIT, arts. 13 e 14), sendo indiferente a fase em que se encontram a regularização fundiária ou a
demarcação e proteção das terras.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para
conferir interpretação conforme a Constituição à Lei 16.260/2016 do Estado de São Paulo, no sentido de afastar de
sua incidência as terras tradicionalmente ocupadas por comunidades indígenas, remanescentes quilombolas e demais
comunidades tradicionais.

ADI 7.008/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-
feira), às 23:59

353
CF/1988: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens. § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para
suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes. § 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas
minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas,
ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. § 4º As terras de que trata este artigo são
inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. § 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas
terras, salvo, ‘ad referendum’ do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou
no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato
logo que cesse o risco. § 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o
domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a
extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de
boa fé. § 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.”
354
Precedente citado: ADI 4.269.

139
Constitucionalidade do Estatuto Geral das Guardas Municipais - ADI 5.780/DF

Resumo:
É constitucional — na medida em que preserva a autonomia dos municípios (CF/1988, art. 144, § 8º)
e se limita a estabelecer critérios padronizados para a instituição, organização e exercício das guardas
municipais — a Lei federal 13.022/2014, a qual dispõe sobre o Estatuto Geral das Guardas Municipais.
Na espécie, a lei impugnada constitui norma geral, de competência da União, que, além de tratar da
organização das guardas municipais em todos os municípios do País, reconhece a prerrogativa dos entes municipais
para criá-las ou não, por lei, e para definir sua estrutura e funcionamento.
A jurisprudência desta Corte autoriza o exercício, pelas guardas municipais, da atividade fiscalizatória de
trânsito e, consequentemente, a aplicação de multas previstas em lei, por significar fiel manifestação do poder de
polícia 355 356. Ademais, conforme entendimento do Tribunal, revela-se legítimo o desempenho da atividade de
segurança pública por essas instituições 357 358.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para reconhecer a
constitucionalidade da Lei 13.022/2014.

ADI 5.780/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Contratos de operação de crédito: exigência da assinatura física de idosos e proteção ao consumidor -


ADI 7.027/PB

Resumo:
É constitucional — haja vista a competência suplementar dos estados federados para dispor sobre
proteção do consumidor (CF/1988, art. 24, V e § 2º) — lei estadual que torna obrigatória a assinatura física
de idosos em contratos de operação de crédito firmados por meio eletrônico ou telefônico com instituições
financeiras.
Não se vislumbra ofensa à competência privativa da União para legislar sobre direito civil e política de
crédito (CF/1988, arts. 21, VIII; e 22, I e VII), uma vez que a lei estadual impugnada não interfere no objeto do
contrato pactuado. Com efeito, a norma se destina a garantir o direito à informação dos consumidores idosos, bem
como a assegurar seu consentimento informado. Ademais, o diploma normativo fixa regras mais específicas, com o
intuito de resguardar o consumidor, sem infringir as normas de natureza geral editadas pela União.
Também não se verifica a alegada inconstitucionalidade material do ato normativo decorrente de suposta
violação aos princípios da proporcionalidade e da isonomia, ou por restrição à liberdade dos idosos. Isso porque o
legislador local se limitou a resguardar o idoso, prevenindo-o de fraudes que possam prejudicar o seu patrimônio.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, jugou improcedente a ação para reconhecer a
constitucionalidade da Lei 12.027/2021 do Estado da Paraíba359.
355
CTB/1997: “Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
(...) VI - executar a fiscalização de trânsito em vias terrestres, edificações de uso público e edificações privadas de uso coletivo,
autuar e aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa e as medidas administrativas cabíveis pelas infrações previstas
neste Código, excetuadas aquelas de competência privativa dos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do
Distrito Federal previstas no § 2º do art. 22 deste Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; (...) Art.
25. Os órgãos e entidades executivos do Sistema Nacional de Trânsito poderão celebrar convênio delegando as atividades
previstas neste Código, com vistas à maior eficiência e à segurança para os usuários da via.”
356
Precedente citado: RE 658.570 (Tema 472 RG).
357
Lei 13.675/2018: “Art. 9º É instituído o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), que tem como órgão central o Ministério
Extraordinário da Segurança Pública e é integrado pelos órgãos de que trata o art. 144 da Constituição Federal, pelos agentes
penitenciários, pelas guardas municipais e pelos demais integrantes estratégicos e operacionais, que atuarão nos limites de suas
competências, de forma cooperativa, sistêmica e harmônica. (...) § 2º São integrantes operacionais do Susp: (...) VII - guardas
municipais;”
358
Precedentes citados: RE 846.854 (Tema 544 RG); ADC 38; ADI 5.538 e ADI 5.948
359
Lei 12.027/2021 do Estado da Paraíba: “Art. 1º Fica obrigada, no Estado da Paraíba, a assinatura física das pessoas idosas em
contratos de operação de crédito firmado por meio eletrônico ou telefônico com instituições financeiras e de crédito, seus
representantes ou prepostos. Parágrafo único. Considera-se contrato de operação de crédito para fins desta Lei, todo e qualquer
tipo de contrato, serviços ou produtos na modalidade de consignação para desconto em aposentadorias, pensões, pecúlios,
poupanças, contas correntes, tais como empréstimos, financiamentos, arrendamentos, hipotecas, seguros, aplicações financeiras,
investimentos, ou qualquer outro tipo de operação que possua natureza de crédito. Art. 2º Os contratos de operação de crédito
firmados por meio eletrônico ou telefônico com pessoas idosas devem obrigatoriamente ser disponibilizados em meio físico, para

140
ADI 7.027/PB, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

Corpo de Bombeiros Militar: realização de perícia de incêndios e explosões - ADI 2.776/ES


Resumo:

É constitucional norma de Constituição estadual que atribui ao corpo de bombeiros militar (CBM)
competência para a coordenação e execução de perícias de incêndios e explosões em local de sinistros.
Contudo, essa competência não pode ser exclusiva, sob pena de prejudicar a atuação das polícias civis na
apuração criminal de fatos que envolvam incidentes dessa natureza.
O tema tratado diz respeito a procedimento em matéria processual (CF/1988, art. 24, XI), de modo que o
legislador estadual atuou dentro do regular exercício de sua competência concorrente 360.
A investigação criminal não é atribuição exclusiva dos órgãos de polícia judiciária 361 e esta Corte já
assentou a constitucionalidade da atribuição da atividade de perícia criminal por instituições independentes e
autônomas em relação à Polícia Civil 362. Assim, revela-se compatível com o texto constitucional a execução de
perícias de incêndio pelo CBM, pois relacionada à função precípua do órgão na realização de procedimento de
utilidade pública.
Nesse contexto, a atuação conjunta e coordenada dos órgãos de segurança pública é medida que (i) confere
máxima efetividade às funções confiadas a essas corporações para a elucidação de fatores e circunstâncias de
infrações penais (CF/1988, art. 144, §§ 4º e 5º); e (ii) tem a finalidade de resguardar os direitos fundamentais
alusivos à ordem, à segurança e à incolumidade das pessoas e do patrimônio público. Especificamente ao tema
incêndios e explosões, o CBM é a instituição que reúne o conhecimento técnico-científico, o treinamento e a
habilitação para atuar na prevenção, no combate e na mitigação dos incidentes.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação, para
declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do art. 130 da Constituição do Estado do Espírito
Santo, na redação dada pela EC estadual 12/1997, a fim de excluir a interpretação segundo a qual a realização de
perícias de incêndios e explosões em local de sinistros compete exclusivamente ao corpo de bombeiros militar do
estado.

ADI 2.776/ES, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às
23:59

Criação de Grupos de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaecos) por leis estaduais - ADI
2.838/MT e ADI 4.624/TO

ODS: 16

Resumo:
São constitucionais leis estaduais que dispõem sobre a criação de Grupos de Atuação Especial contra
o Crime Organizado (GAECOs) — órgãos de cooperação institucional dentro da estrutura do Ministério
Público local — com a finalidade de concretizar instrumentos procedimentais efetivos para a realização de
planejamento estratégico e garantir a eficiência e a eficácia dos procedimentos de investigação criminal
realizados para o combate à criminalidade organizada, à impunidade e à corrupção.

conhecimento das suas cláusulas e conseguinte assinatura do contratante, considerado idoso por Lei própria. Parágrafo único. A
instituição financeira e de crédito contratada deve fornecer cópia do contrato firmado ao idoso contratante, sob pena de nulidade
do compromisso. Art. 3º O descumprimento ao disposto nesta Lei sujeitará às instituições financeira e de crédito as seguintes
penalidades, sem prejuízo de outras previstas em legislação vigente: I - primeira infração: advertência; II - segunda infração:
multa de 300 (trezentas) UFR-PB (Unidades Fiscais de Referência do Estado da Paraíba); III - terceira infração: multa de 600
(seiscentas) UFR-PB (Unidades Fiscais de Referência do Estado da Paraíba); IV - a partir da quarta infração: multa de 2.000
(duas mil) UFR-PB (Unidades Fiscais de Referência do Estado da Paraíba), por cada infração. Art. 4º A fiscalização do disposto
nesta Lei será realizada pelos órgãos públicos nos respectivos âmbitos de suas atribuições, os quais serão responsáveis pelas
sanções decorrentes de infrações às normas nelas contidas, mediante procedimento administrativo, assegurados a ampla defesa e
o contraditório. Art. 5º Esta Lei entra em vigor após 90 (noventa) dias da data de sua publicação.”
360
Precedentes citados: ADI 2.922 e ADI 6.039 MC.
361
Precedente citado: ADI 593.727 (Tema 184 RG).
362
Precedente citado: ADI 2.575.

141
A Constituição Federal de 1988 ampliou o papel do Ministério Público, transformando-o em um verdadeiro
defensor da sociedade e do regime democrático 363, e permitiu à legislação ordinária a fixação de outras funções,
quando compatíveis com sua finalidade constitucional 364.
Nesse contexto, esta Corte assentou 365, inclusive em sede de repercussão geral 366, a legitimidade
do Ministério Público para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal, observados os
direitos e garantias de indivíduos investigados pelo Estado.
A estruturação do GAECO — como órgão interno na estrutura do Parquet e coordenado por membro da
própria instituição, com o apoio das Polícias Civil e Militar — garante ampla autonomia funcional aos seus
membros, bem como autonomia administrativa e financeira, com previsão de destinação orçamentária específica
dentro do orçamento ministerial.
Ademais, o duplo vínculo hierárquico dos servidores de corporações policiais integrantes do GAECO,
enquanto durar a sua atuação, não configura inconstitucionalidade. Trata-se de hipótese semelhante à que ocorre nos
institutos da cessão e da requisição de servidores públicos, em que a vinculação disciplinar permanece na “carreira-
mãe”, de modo que se cria uma vinculação apenas funcional para o exercício das funções inerentes ao próprio
GAECO.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, conheceu
parcialmente das ações e, nessas extensões, as julgou improcedentes para declarar a constitucionalidade da Lei
Complementar 119/2002 do Estado de Mato Grosso e da Lei Complementar 72/2011 do Estado de Tocantins.

ADI 2.838/MT, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às
23:59
ADI 4.624/TO, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às
23:59

Criação de parcerias público-privadas para a execução de obras públicas em âmbito municipal - ADPF
282/RO

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência privativa da União para legislar sobre normas gerais
de licitação e contrato (CF/1988, art. 22, XXVII) — norma municipal que autoriza a celebração de contrato
de parcerias público-privadas (PPP) para a execução de obra pública desvinculada de qualquer serviço
público ou social.
A Lei federal 11.079/2004 — que instituiu as normas gerais para licitação e contratação de PPP no âmbito
da Administração Pública — veda expressamente a celebração desse tipo de contrato quando o único objeto for a
execução de obra pública sem vinculação à prestação de serviço público ou social 367.
Nesse contexto, o dispositivo municipal impugnado, ao criar nova hipótese de PPP em evidente
contrariedade ao que previsto na lei federal, violou as regras constitucionais de repartição de competência 368.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade do art. 5º, IV, da Lei 1.327/2007 do Município de Ariquemes/RO 369.

ADPF 282/RO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 12.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

Criação de salas de descompressão para profissionais de enfermagem em hospitais - ADI 6.317/SP

363
Precedentes citados: Inq 4.045 AgR; HC 93.921 AgR; RHC 120.379 ED; ADI 4.693 e MS 34.730.
364
Precedentes citados: Inq 1.957 e HC 89.837.
365
Precedentes citados: HC 91.661; HC 96.638; HC 84.367 e RHC 97.926.
366
Precedente citado: RE 593.727 (Tema 184 RG).
367
Lei 11.079/2004: “Art. 2º Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou
administrativa. (...) § 4º É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada: (...) III – que tenha como objeto único o
fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução de obra pública.”
368
Precedente citado: ADI 3.670.
369
Lei 1.327/2007 do Município de Ariquemes/RO: “Art. 5º Pode ser objeto de parceria público-privada: (...) IV - Obras de infra-
estrutura e urbanismo de vias e ou logradouros e outros espaços públicos, de terminais rodoviários municipais, intermunicipais e
interestaduais incluídos as recebidas em delegação, do Estado ou da União.”

142
ODS: 3 e 16

Resumo:
É inconstitucional — por violação à competência privativa da União para legislar sobre direito do
trabalho (CF/1988, art. 22, I) — lei estadual que obriga hospitais públicos e privados a criarem uma sala de
descompressão para ser utilizada por enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem.
A lei impugnada prevê a ampliação de um direito criado para determinada categoria profissional e, ainda
que vise à melhoria da saúde de seus integrantes, trata de questão trabalhista. Por esse motivo, não há se falar que o
conteúdo normativo abrange matéria sanitária, atinente à política de proteção e defesa da saúde, cuja competência,
por outro lado, é concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal (CF/1988, art. 24, XII).
Ademais, como a lei em análise é de iniciativa parlamentar, também é possível verificar sua
inconstitucionalidade formal quanto aos hospitais públicos, pois deve partir do chefe do Poder Executivo a iniciativa
de projeto de lei para regular relação com seus próprios servidores.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 17.234/2020 do Estado de São Paulo370.
ADI 6.317/SP, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgamento
finalizado em 15.3.2023

Empresas industriais do setor têxtil: obrigação de colocar etiquetas em braile nas peças de vestuário
em âmbito estadual - ADI 6.989/PI

ODS: 10

Resumo:
É constitucional — pois não verificada violação aos princípios da livre iniciativa (CF/1988, arts. 1º,
IV; e 170, “caput”), da livre concorrência (CF/1988, art. 170, IV), da propriedade privada (CF/1988, art. 170,
II) e da isonomia (CF/1988, arts. 5º, “caput”; e 19, III), tampouco invasão à competência privativa da União
para legislar sobre comércio interestadual (CF/1988, art. 22, VIII) — lei estadual que obriga empresas do
setor têxtil a identificarem as peças de roupa com etiquetas em braile ou outro meio acessível que atenda as
pessoas com deficiência visual.
Os princípios da livre concorrência e da livre iniciativa possuem natureza instrumental, de modo que
configuram meio para consecução de outros objetivos. Nesse contexto, o estado, no exercício legítimo da
normatização, regulamentação e fiscalização da atividade econômica, pode editar diploma legal voltado à
implementação dos objetivos fundamentais da República (CF/1988, art. 3º, I, III e IV), à garantia da existência digna
de todos — conforme os ditames da justiça social (CF/1988, art. 170, caput) —, e à promoção da dignidade da
pessoa humana (CF/1988, art. 1º, III), especialmente das pessoas com deficiência.
Ademais, a competência para legislar sobre comércio interestadual e exterior possui natureza genérica, o
que permite que os entes federados, dentro das respectivas esferas, legislem de forma específica e conforme o
contexto local 371.
Na espécie, a norma estadual impugnada mantém vínculo de correlação com a competência concorrente
para legislar sobre produção e consumo (CF/1988, art. 24, V) e sobre proteção e integração social das pessoas com
deficiência (CF/1988, art. 24, XIV). No entanto, os efeitos da referida norma devem se exaurir nos limites
territoriais do Estado do Piauí, sob pena de afetar, de forma inconstitucional, o mercado interestadual.

370
Lei 17.234/2020 do Estado de São Paulo: “Art. 1º Os hospitais públicos e privados do Estado ficam obrigados a criar uma
sala de descompressão para ser utilizada pelos enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem. Art. 2º Nos
hospitais públicos, a utilização do espaço de descompressão de que trata o artigo 1º deverá ser regulamentada pela Secretaria da
Saúde do Estado. Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.”
371
Precedentes citados: ADI 5.126; ADI 2.832 e ADI 903.

143
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para declarar
a nulidade parcial sem redução de texto da Lei 7.465/2021 do Estado do Piauí 372, a fim de excluir do seu âmbito de
aplicabilidade a indústria têxtil não sediada no referido ente federado.

ADI 6.989/PI, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 16.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Energia elétrica: obrigatoriedade das concessionárias estaduais de expedirem notificação pessoal para
a realização de vistoria - ADI 3.703/RJ

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violação à competência da União para explorar os serviços e instalações de
energia elétrica e para legislar sobre energia (CF/1988, arts. 21, XVII, “b”; 22, IV; e 175, parágrafo único) —
lei estadual que obriga as empresas concessionárias de energia elétrica a expedirem notificação com aviso de
recebimento para a realização de vistoria técnica no medidor de usuário residencial.
Como a União é responsável pela prestação dos serviços de fornecimento de energia elétrica, também lhe
compete legislar sobre o regime jurídico das autorizadas, concessionárias e permissionárias desse serviço público,
bem como sobre os direitos do usuário, a política tarifária e a obrigação de manutenção da qualidade adequada do
serviço 373.
Na espécie, a lei estadual impugnada alterou aspectos relevantes da relação jurídico-contratual mantida
entre o poder concedente federal e as empresas do setor de energia elétrica, estabelecendo direito, em benefício dos
usuários do serviço público, não contido no instrumento contratual 374.
Ademais, essa previsão onera as concessionárias de serviço público, pois impacta diretamente nas receitas
por elas auferidas e, consequentemente, no custo e no equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão,
necessário à sustentabilidade do sistema de fornecimento de energia elétrica.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 4.724/2006 do Estado do Rio de Janeiro 375.

ADI 3.703/RJ, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

372
Lei 7.465/2021 do Estado do Piauí: “Art. 1º Ficam as empresas do setor têxtil obrigadas a identificarem as peças de vestuário
pelas mesmas produzidas com etiquetas em braile ou outro meio acessível que atenda as pessoas com deficiência visual. § 1º As
etiquetas de que trata o caput deste artigo deverão conter, no mínimo, informações quanto a cor e tamanho da peça. § 2º Fica
vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza pelas empresas do setor têxtil para o cumprimento do disposto
nesta Lei. Art. 2º O descumprimento ao que dispõe a presente Lei acarretará na aplicação de multa no valor de 2.000 (dois mil)
UFIRs-PI (Unidade Fiscal de Referência do Estado do Piauí), a ser revertida para o Fundo Estadual de Defesa dos Direitos da
Pessoa com Deficiência - FUNEDE-PI, aplicada em dobro no caso de reincidência, não obstante as demais cominações legais
previstas no Código de Defesa do Consumidor , sendo incumbência do Poder Executivo, por seu órgão competente, a fiscalização
de seu cumprimento e aplicação de eventuais multas. Art. 3º As empresas do setor têxtil terão o prazo de 180 (cento e oitenta)
dias para se adequarem ao disposto nesta Lei, contados da data de sua publicação. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação.”
373
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...) b)
os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados
onde se situam os potenciais hidroenergéticos; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas,
energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou
sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei
disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato
e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos
dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado.”
374
Precedentes citados: ADI 3.322 MC; ADI 3.533; ADI 2.615 MC; ADI 2.337 MC; ADI 3.866 e ADI 2.337.
375
Lei 4.724/2006 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º - As empresas concessionárias de serviços públicos fornecedoras de
energia elétrica, no Estado do Rio de Janeiro, quando da realização de vistoria técnica no medidor do usuário residencial, deverão
expedir notificação pessoal com aviso de recebimento (AR) a ser enviada para o endereço do consumidor, apresentando dia e
hora da vistoria, salvo quando do registro da queixa-crime de furto de energia na delegacia competente. Parágrafo único - A
vistoria Técnica deverá ser marcada em prazo superior a 48 (quarenta e oito) horas da entrega do Aviso de Recebimento pelo
usuário. Art. 2º - A não observância à regra do ‘caput’ do art. 1º ocasionará a nulidade absoluta do laudo de vistoria técnica
realizada no medidor do usuário residencial, salvo as hipóteses de denúncias expressas de furto de energia elétrica. Art. 3º - Esta
Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”

144
Implantação e compartilhamento de infraestrutura de telecomunicações em âmbito municipal - ADPF
1.031/DF

ODS: 9

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência da União exclusiva para explorar os serviços de
telecomunicações (CF/1988, art. 21, XI) e privativa para legislar sobre a matéria (CF/1988, art. 22, IV) — lei
municipal que dispõe sobre a implantação e o compartilhamento da infraestrutura de telecomunicações.
As atividades relacionadas ao setor de telecomunicações submetem-se ao poder central da União, a qual
editou a Lei 13.116/2015, que estabelece as normas gerais para implantação e compartilhamento da infraestrutura
desse setor.
Na espécie, a pretexto de proteger o meio ambiente e combater a poluição, a lei municipal impugnada
dispôs acerca dos serviços de telecomunicações, violando o sistema constitucional de repartição de competências 376.
Ademais, ao fixar, entre outras medidas, limites máximos de ruídos e vibrações, obrigatoriedade de licenciamento
das instalações mediante o pagamento de taxa e a previsão de penalidades, a referida norma acabou por interferir na
relação contratual entre o Poder Público e as concessionárias do setor.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu da ADPF e, por unanimidade, a julgou
procedente para declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.382/2022 do Município de Belo Horizonte/MG.

ADPF 1.031/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 15.9.2023 (sexta-feira), às
23:59

Instalação e o funcionamento de equipamentos de telefonia: criação de taxa de fiscalização em âmbito


municipal - ADPF 1.063/SP

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência da União privativa para legislar sobre
telecomunicações (CF/1988, art. 22, IV) e exclusiva para definir a forma e o modo da exploração desses
serviços (CF/1988, art. 21, XI c/c o art. 175) — legislação municipal que estabelece a obrigatoriedade de
condicionantes para a instalação e o funcionamento de antenas, postes, torres, contêineres e demais
equipamentos relacionados às Estações Transmissoras de Radiocomunicação (ETR).
Conforme a jurisprudência desta Corte, legislação local que repercute sobre o núcleo regulatório das
atividades de telecomunicação invade a competência privativa da União 377.
Na espécie, o município, a pretexto de exercer sua competência para proteção do meio ambiente, defesa da
saúde e regulamentação do uso e ocupação do solo e do zoneamento urbano, regulamentou, de modo indevido, o
modo de prestação dos serviços de telecomunicações.
Ademais, os dispositivos das normas impugnadas, ao instituírem e regulamentarem taxa para instalação,
licença de funcionamento e licença de compartilhamento e eventual renovação, infringem a competência tributária
da União378.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 7.972/2021 e do Decreto 39.370/2022, ambos do Município de Guarulhos/SP.

ADPF 1.063/SP, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 17.10.2023 (terça-feira),
às 23:59

Instituição, mediante lei estadual, do feriado comemorativo do “Dia de São Jorge” - ADI 4.092/RJ

376
Precedentes citados: ADPF 732; ADPF 731; ADI 5.575 e ADI 3.110.

377
Precedentes citados: ADI 3.110; ADI 5.723; ADI 5.575 e ADI 5.521.
378
Precedente citado: RE 776.594 (Tema 919 da RG).

145
ODS: 10 e 16

Resumo:
É constitucional — pois inserida dentro da competência comum dos entes federados para proteger
documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, monumentos, paisagens naturais
notáveis e sítios arqueológicos (CF/1988, art. 23, III), e da competência concorrente para legislar sobre esses
temas (CF/1988, art. 24, VII) — a instituição, pela Lei fluminense 5.198/2008, de feriado comemorativo do
“Dia de São Jorge”.
A Lei federal 9.043/1995379, que dispõe sobre feriados, não restringe a competência legislativa dos estados e
dos municípios apenas para os casos que elenca nem afasta o exercício de proteção dos bens histórico-culturais
imateriais pelos entes federados.
Na espécie, o Estado do Rio de Janeiro, nos moldes da proteção visada pela norma, justificou a instituição
de feriado de alta significação étnica ao demonstrar a relevância religiosa e cultural do santo católico São Jorge.
Assim, na linha de compreensão do federalismo cooperativo e consoante a atual jurisprudência desta Corte, deve ser
reconhecida a legitimidade das razões invocadas pelo Poder Público estadual 380 .
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade da Lei 5.198/2008 do Estado do Rio de Janeiro 381.

ADI 4.092/RJ, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento virtual
finalizado em 25.8.2023 (sexta-feira), às 23:59

Isenção de tarifa de energia elétrica em âmbito estadual aos consumidores atingidos por enchentes -
ADI 7.337 MC-Ref/MG

ODS: 16
Resumo:

Há plausibilidade jurídica na alegação de inconstitucionalidade, decorrente da incompatibilidade


com o modelo de repartição de competências — violação à competência da União para legislar sobre energia
elétrica (CF/1988, art. 22, IV), para explorar, diretamente ou por delegação, os serviços e instalações de
energia elétrica (CF/1988, art. 21, XI, “e”), e para dispor sobre política de concessão de serviços públicos
(CF/1988, art. 175, parágrafo único, III) —, de lei estadual que confere ao governador poderes para conceder
isenção de tarifa de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e comerciais atingidos por
enchentes no estado.
Na linha da jurisprudência da Corte 382, leis estaduais não podem interferir em contratos de concessão de
serviços federais, alterando as condições que impactam na equação econômico-financeira contratual e afetando a
organização do setor elétrico.
Na espécie, além da presença da fumaça do bom direito, vislumbra-se o perigo da demora diante do
iminente risco de se fazer impositiva a prestação gratuita de energia elétrica apta a ensejar desequilíbrio econômico-
financeiro no contrato de concessão, visto que, no presente período do ano, ocorrem fortes chuvas e enchentes no
estado.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a liminar concedida para, até julgamento
final do mérito, suspender os efeitos dos arts. 2º, 3º e 4º (caput e parágrafo único), todos da Lei 23.797/2021 do
Estado de Minas Gerais 383.
379
Lei federal 9.043/1995: “Art. 1º São feriados civis: I - os declarados em lei federal; II - a data magna do Estado fixada em lei
estadual. III - os dias do início e do término do ano do centenário de fundação do Município, fixados em lei municipal. (Inciso
incluído pela Lei nº 9.335, de 10.12.1996) Art. 2º São feriados religiosos os dias de guarda, declarados em lei municipal, de
acordo com a tradição local e em número não superior a quatro, neste incluída a Sexta-Feira da Paixão. Art. 3º Esta Lei entra em
vigor na data de sua publicação. Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário, especialmente o art. 11 da Lei nº 605, de 5 de
janeiro de 1949.”
380
Precedente citado: ADPF 634.
381
Lei 5.198/2008 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º - Fica instituído como feriado estadual o dia 23 de abril, ‘Dia de São
Jorge’. Art. 2º - Esta Lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.”
382
Precedentes citados: ADI 2.299; ADI 5.960; ADI 2.337 e ADI 6.912.
383
Lei 23.797/2021 do Estado de Minas Gerais: “Art. 2º – A Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig – poderá, mediante
ato do governador do Estado, conceder isenção total da tarifa de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e
comerciais atingidos por enchentes no Estado. Art. 3º – A isenção prevista nos arts. 1º e 2º aplica-se nos três meses subsequentes
ao período em que forem constatadas pelo poder público enchentes de grande proporção nos municípios do Estado. Art. 4º – Os
consumidores residenciais, industriais e comerciais atingidos por enchentes deverão procurar as empresas a que se referem os

146
ADI 7.337 MC-Ref/MG, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 28.2.2023 (terça-
feira), às 23:59

Lei estadual e proibição da instalação de usinas hidrelétricas sobre o Rio Cuiabá - ADI 7.319/MT

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência privativa da União para legislar sobre águas e
energia (CF/1988, art. 22, IV) e para dispor sobre os bens federais (CF/1988, art. 20, III e VIII), bem como
por ocupar indevidamente o espaço normativo da Agência Nacional de Águas (ANA) — lei estadual que
proíbe a construção de instalações hidrelétricas em toda a extensão de curso de água de domínio da União.
A situação normatizada está muito mais relacionada com a regulação do aproveitamento energético dos
cursos de água (CF/1988, arts. 21, XII, b; e 176) e a formulação de normas gerais de proteção do meio ambiente do
que com eventual competência subsidiária do estado federado para dispor sobre temas de competência comum 384.
Ademais, o legislador estadual não pode superar entendimento de agência reguladora legalmente
constituída para proteger determinado bem jurídico sem comprovar que se trata de um juízo baseado em evidência
385
.
A ANA é a autarquia sob regime especial que detém capacidade técnica e legal para definir as condições
para aproveitamentos hidrelétricos dos reservatórios do Rio Cuiabá. Na espécie, a lei estadual impugnada, sem
demonstrar erro evidente da ANA, pretendeu substituir o entendimento dela sobre a permissão ou não para
construção de usinas hidrelétricas em trechos daquele rio.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 11.865/2022 do Estado de Mato Grosso386.

ADI 7.319/MT, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 8.5.2023 (segunda-feira), às 23:59

Lei estadual e regras sobre edificação e ampliação de presídios locais - ADI 2.402/ES

Resumo:
É constitucional — por ausência de afronta ao direito social à segurança (CF/1988, art. 6º), ao direito
de propriedade (CF/1988, art. 5º, “caput” e XXII), ao princípio da proporcionalidade, ou à competência da
União para legislar sobre direito civil (CF/1988, art. 22, I) — lei estadual que fixa distância mínima entre
presídios e contingente máximo da população carcerária.
A ampliação ou construção de unidades prisionais constitui matéria de direito penitenciário, cuja
competência legislativa é concorrente (CF/1988, art. 24, I) 387. Nesse contexto, a lei estadual impugnada, ao proibir a
construção de presídio dentro do raio de vinte quilômetros de outros já existentes e a ampliação dos edifícios
prisionais com capacidade para quinhentos detentos, objetiva garantir a dignidade dos presos e a segurança tanto
deles quanto dos habitantes do entorno das unidades prisionais.
Ademais, em se tratando de bem público, o direito de propriedade encontra limites, seja na função social,
seja no interesse coletivo, que impõe balizas ao administrador para o uso, gozo e disposição da propriedade 388.
Na espécie, a lei capixaba não restringe o investimento do estado em segurança pública, mas apenas
estabelece parâmetros a serem observados pela Administração Pública estadual, com a imposição de restrições
adequadas, necessárias e proporcionais. Isso porque elas consideram os riscos da superlotação carcerária para a
integridade física e mental dos presidiários, bem assim a dificuldade de o Estado dispor de outras medidas

arts. 1º e 2º para a realização de cadastro e a obtenção da isenção de que trata esta lei no período estabelecido. Parágrafo único –
Caberá às empresas a que se referem os arts. 1º e 2º realizar a fiscalização dos imóveis isentos na forma desta lei no período
determinado.”
384
Precedentes citados: ADI 7.076; ADI 6.898 e ADPF 452.
385
Precedente citado: ADI 5.779.
386
Lei 11.865/2022 do Estado de Mato Grosso: “Art. 1º Fica proibida a construção de Usinas Hidrelétricas – UHEs e Pequenas
Centrais Hidrelétricas – PCHs, em toda a extensão do Rio Cuiabá. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”
387
Precedentes citados: ADI 4.118; ADI 6.727; ADI 5.112 e ADI 6.088
388
Precedente citado: ADI 6.482.

147
administrativas com o mesmo potencial de eficácia, levando-o a utilizar meio menos gravoso de controle da
população carcerária e de garantia do bem-estar dos detentos e da segurança da população local.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu parcialmente da ação e, nessa extensão, a
julgou improcedente para assentar a constitucionalidade da Lei 6.191/2000 do Estado do Espírito Santo 389.

ADI 2.402/ES, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira) às 23:59

Lei estadual que proíbe a fabricação, venda e comercialização de armas de fogo de brinquedo - ADI
5.126/SP

Resumo:
É constitucional lei estadual que proíbe, no âmbito de seu território, a fabricação, a venda e a
comercialização de armas de brinquedo que simulam armas de fogo reais.
A norma impugnada não usurpa a competência privativa da União para legislar sobre direito penal
(CF/1988, art. 22, I), tampouco sobre material bélico (CF/1988, art. 21, VI, e 22, XXI). Ao contrário, ela dispõe
sobre matéria afeta ao direito do consumidor e à proteção à infância e à juventude, inserindo-se, portanto, no âmbito
da competência concorrente das unidades da Federação (CF/1988, art. 24, V, VIII e XV, e art. 227). Dessa forma, o
estado tem competência suplementar para legislar sobre o assunto, podendo inclusive prever sanções administrativas
(CF/1988, art. 24, § 2º).
Não usurpa a competência privativa do chefe do Poder Executivo a lei que, embora crie despesa para
a Administração Pública, não trata da sua estrutura ou da atribuição de seus órgãos nem do regime jurídico
de servidores públicos.
Na linha da jurisprudência desta Corte, a mera circunstância de uma norma demandar atuação positiva do
Poder Executivo não a insere no rol de leis cuja iniciativa seja privativa de seu chefe 390.
Na espécie, o ato normativo questionado atribui a responsabilidade de fiscalização da lei ao Poder
Executivo, cabendo a ele designar o órgão responsável, bem como estimula a conscientização do disposto na lei por
meio de propaganda, deixando a regulamentação de como será realizada ao critério do Poder Executivo.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para reconhecer a
constitucionalidade da Lei 15.301/2014 do Estado de São Paulo 391.

ADI 5.126/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

Leis estaduais sobre associações de socorro mútuo e associações e cooperativas de autogestão de


planos de proteção contra riscos patrimoniais – ADI 6.753/GO e ADI 7.151/RJ

Resumo:

389
Lei 6.191/2000 do Estado do Espírito Santo: “Art. 1º Fica vedada à edificação de presídios dentro de um raio de 20 km (vinte
quilômetros) dos presídios já existentes. Art. 2º Fica vedada à ampliação dos edifícios prisionais que já tenham capacidade para
quinhentos detentos em suas dependências. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4º Revogam-se as
disposições em contrário.”
390
Precedente citado: ARE 878.911 RG (Tema 917 RG).
391
Lei 15.301/2014 do Estado de São Paulo: “Artigo 1º – Fica proibido fabricar, vender e comercializar armas de fogo de
brinquedo no território do Estado de São Paulo. Artigo 2º – As infrações às normas desta lei ficam sujeitas às seguintes sanções
administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas: I – advertência por escrito; II –
multa; III – suspensão das atividades do estabelecimento por 30 (trinta) dias; IV – cassação da licença e encerramento das
atividades do estabelecimento. § 1º – A multa prevista no inciso II será fixada em 1.000 (mil) Unidades Fiscais do Estado de São
Paulo (UFESPs). § 2º – A suspensão das atividades do estabelecimento por 30 (trinta) dias será aplicada quando o fornecedor
reincidir nas infrações do artigo 1º desta lei. § 3º – Na hipótese de descumprimento da sanção de suspensão das atividades do
estabelecimento por 30 (trinta) dias, prevista no inciso III, será instaurado processo para cassação da eficácia da inscrição do
fornecedor infrator no cadastro de contribuintes do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS). Artigo 3º – A fiscalização para o
fiel cumprimento desta lei será exercida pelo Poder Executivo, que, através de ato próprio, designará o órgão responsável. Artigo
4º – O Poder Executivo realizará ampla campanha educativa nos meios de comunicação para esclarecimento sobre os deveres,
proibições e sanções impostas por esta lei. Artigo 5º – As despesas decorrentes da aplicação desta lei correrão à conta das
dotações próprias consignadas no orçamento, suplementadas se necessário. Artigo 6º – Esta lei entra em vigor após decorridos 60
(sessenta) dias de sua publicação oficial.”

148
São inconstitucionais — por violarem a competência privativa da União para legislar sobre direito
civil, seguros e sistema de captação da poupança popular (CF/1988, art. 22, I, VII e XIX), bem como a sua
competência exclusiva para fiscalizar o setor de seguros (CF/1988, art. 21, VIII) — leis estaduais que dispõem
sobre associações de socorro mútuo e associações e cooperativas de autogestão de planos de proteção contra
riscos patrimoniais.
Na espécie, os diplomas estaduais impugnados — ainda que sob o pretexto de esclarecer as diferenças entre
os institutos da associação civil e do seguro empresarial — regulamentam e validam a comercialização de seguros
pelas referidas entidades como se seguradoras fossem, sem submetê-las às regras do regime jurídico securitário,
previstas em legislação federal 392.
As atividades desenvolvidas por essas associações e cooperativas caracterizam-se como oferta irregular de
seguro ao mercado e, embora presentes todos os elementos de um contrato de seguro — como o risco, a garantia, o
interesse segurável, entre outros —, não observam as normas impostas ao setor (Código Civil/2002, arts. 757 a 802;
e Decreto-Lei 73/1966).
Ademais, apesar da competência legislativa para dispor sobre produção e consumo ser concorrente entre a
União, estados e o DF (CF/1988, art. 24, V), tendo em vista a competência privativa da União para legislar sobre
direito civil, os entes regionais não estão autorizados a disciplinarem relações contratuais securitárias 393.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, em apreciação conjunta, por maioria, julgou procedentes as
ações para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei 20.894/2020 do Estado de Goiás e da Lei 9.578/2022 do
Estado do Rio de Janeiro.

ADI 6.753/GO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às 23:59
ADI 7.151/RJ, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às 23:59

Lei municipal: proibição de nepotismo e celebração de contratos com agentes públicos municipais - RE
910.552/MG (Tema 1.001 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“É constitucional o ato normativo municipal, editado no exercício de competência legislativa
suplementar, que proíba a participação em licitação ou a contratação: (a) de agentes eletivos; (b) de
ocupantes de cargo em comissão ou função de confiança; (c) de cônjuge, companheiro ou parente em linha
reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, de qualquer destes; e (d) dos demais servidores
públicos municipais.”

Resumo:
É constitucional — por não violar o sistema de repartição de competências e atender à vedação ao
nepotismo — norma municipal que proíbe a celebração de contratos do município com agentes públicos
municipais e respectivos parentes, até o terceiro grau. Contudo, esse impedimento não se aplica às pessoas
ligadas — por matrimônio ou parentesco, afim ou consanguíneo, até o terceiro grau, inclusive, ou por adoção
— a servidores municipais não ocupantes de cargo em comissão ou função de confiança, sob pena de
infringência ao princípio da proporcionalidade.
Os municípios dispõem de competência legislativa suplementar, em matéria de licitação e contratação
pública, para atender às suas peculiaridades locais, desde que respeitadas as normas gerais estabelecidas pela União
e os princípios constitucionais da Administração Pública 394.
De igual modo, a vedação ao nepotismo tem como fundamento de validade as normas principiológicas
constitucionais que resguardam a Administração Pública de ingerências pessoais e favoritismos políticos em
detrimento do interesse público395.
Nesse contexto, o impedimento de contratar com agentes públicos ou pessoas a eles vinculadas é
imperativo de moralidade e impessoalidade somente quando a situação fática permitir que se anteveja o risco de
influência sobre a conduta dos responsáveis pela licitação ou pela execução do contrato, a justificar uma espécie de

392
Precedentes citados: ADI 3.281; ADI 4.818; ADI 3.207 e ADI 1.646.
393
Precedente citado: ADI 4.704.
394
Precedentes citados: ADI 3.059; ADI 927; RE 423.560; ARE 648.476 AgR; RE 1.159.577 AgR; ADI 3.735; ADI 3.670 e ADI
2.990.
395
Precedentes citados: RE 579.951 (Tema 66 RG) e RE 570.392 (Tema 29 RG).

149
suspeição. Não há como presumi-la nas hipóteses em que a contratação pública ocorra com pessoas vinculadas a
servidores que não exercem nenhuma função de direção, chefia ou assessoramento.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.001 da repercussão geral,
deu provimento parcial ao recurso para conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 96 da Lei Orgânica do
Município de Francisco Sá/MG396, no sentido de excluir a proibição de contratação de pessoas ligadas, por
matrimônio ou parentesco, afim ou consanguíneo, até o terceiro grau, inclusive, ou por adoção, a servidores
municipais que não ocupem cargo em comissão ou função de confiança.

RE 910.552/MG, relatora Ministra Cármen Lúcia, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Normas de proteção a consumidores filiados a associações de socorro mútuo em âmbito estadual - ADI
7.099/MG

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional, por invadir a competência privativa da União para legislar sobre direito civil,
política de seguros e sistemas de captação de poupança popular (CF/1988, art. 22, I, VII e XIX) 397, lei estadual
que prevê normas de proteção aos consumidores filiados às associações de socorro mútuo.
No caso, a lei impugnada dispõe sobre associações civis com propósitos específicos, de natureza
econômica, atribuindo-lhes atividades semelhantes às das seguradoras, como o fornecimento de serviço e a
existência de obrigações pecuniárias, sem que haja submissão às normas do regime jurídico securitário previstas na
legislação federal (Código Civil e Decreto-Lei 73/1966).
Esta Corte já firmou jurisprudência no sentido de que essas entidades acabam por desenvolver atividade
que configura oferta irregular de seguro privado398.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 23.993/2021 do Estado de Minas Gerais 399.

ADI 7.099/MG, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 14.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

Obrigações contratuais de operadoras de plano de saúde em relação a pessoas com deficiência em


âmbito estadual - ADI 7.208/MT

ODS: 3

396
Lei Orgânica do Município de Francisco Sá/MG: “Art. 96 O Prefeito, o Vice-Prefeito, os Vereadores e os Servidores
Municipais, bem como as pessoas ligadas a qualquer deles por matrimônio ou parentesco, afim ou consanguíneo, até o terceiro
grau inclusive, ou por adoção não poderão contratar com o Município, subsistindo a proibição até seis meses após findas as
respectivas funções.”
397
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...) VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
(...) XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; (...)”
398
Precedentes citados: ADI 7.151 e ADI 6.753.
399
Lei 23.993/2021 do Estado de Minas Gerais: “Art. 1º As associações de socorro mútuo no Estado obedecerão ao disposto
nesta lei, no que se refere às normas de proteção aos consumidores a elas filiados. § 1º Consideram-se associações de socorro
mútuo, para os fins do disposto nesta lei, aquelas destinadas a organizar e intermediar o rateio das despesas certas e ocorridas
entre seus associados. § 2º Para efeitos desta lei, equiparam-se a consumidores os associados que participam do grupo de rateio e
utilizam os serviços prestados pelas associações de socorro mútuo. Art. 2º As associações de socorro mútuo ficam obrigadas a: I -
prestar aos associados informações sobre as regras do rateio de despesas realizadas, em observância aos princípios da
publicidade, da transparência e da ética; II - informar, em sua ficha de filiação, seu site e seu regulamento: a) ser uma associação
civil que realiza rateio de despesas já ocorridas entre seus associados e que não se confunde com seguro empresarial; b) que não
existe apólice ou contrato de seguro e que as normas são da própria associação e estão contidas em seu estatuto social; III -
informar aos associados, em linguagem clara, a norma criada pela associação referente ao rateio de despesas, por meio de
documento escrito, o qual deverá conter: a) os direitos dos associados quanto às despesas que a associação irá amparar e as que
serão excluídas do rateio; b) os procedimentos de amparo, filiação e desfiliação, bem como os respectivos prazos e obrigações
pecuniárias; c) outras regras que impliquem limitações de direitos dos associados; IV - promover trabalhos culturais, filantrópicos
e afins, inclusive cursos relativos à segurança no trânsito.”

150
Tese fixada:
“É inconstitucional, por violação à competência da União para legislar sobre direito civil e seguros
(CF/1988, art. 22, I e VII), lei estadual que estabelece obrigações contratuais para operadoras de planos de
saúde.”

Resumo:
Compete à União regular o mercado de planos de saúde, o que inclui a normatização da matéria
(CF/1988, art. 22, VII), bem como toda a fiscalização do setor (CF/1988, art. 21, VIII).
Os planos de saúde compartilham com os seguros e a previdência privada um forte componente atuarial.
Assim, a regulação econômica em sentido estrito é confiada ao ente central, de modo que, considerado o caráter
nacional da atividade regulada, cabe à União, na condição de única entidade federativa com abrangência territorial
para alcançar todo o mercado nacional, o planejamento, a absorção e a distribuição de seus efeitos 400.
Na espécie, a lei estadual impugnada busca definir, dentre outros, os tratamentos e intervenções
terapêuticas que as prestadoras estão obrigadas a custear, a cobertura a ser ofertada aos consumidores, a quantidade
e a duração das sessões. Nesse contexto, ela interfere diretamente na regulação dos planos de saúde, mais
especificamente na relação jurídica entre as suas operadoras e usuários, matéria que já possui vasta normatização
federal, seja pela Lei 9.656/1998 ou pelas resoluções da ANS que regulam o rol de procedimentos e eventos em
saúde.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 11.816/222 do Estado do Mato Grosso401.

ADI 7.208/MT, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Órgãos de segurança pública estadual e possibilidade de alienação de armas de fogo a seus integrantes
mediante venda direta - ADI 7.004/AL

Tese fixada:
“É inconstitucional, por violação à competência legislativa privativa da União, a lei estadual que
autoriza a seus órgãos de segurança pública a alienação de armas de fogo a seus integrantes, por meio de
venda direta.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre material bélico
(CF/1988, arts. 21, VI; e 22, XXI) e para editar normas gerais sobre licitações e contratos (CF/1988, art. 22,
XXVII), cujo prévio procedimento licitatório é requisito necessário para a contratação de obras, serviços,
compras e alienações pela Administração Pública (CF/1988, art. 37, XXI) — norma estadual que prevê a
modalidade de venda direta de arma de fogo aos membros de seus órgãos de segurança pública.

400
Precedentes citados: ADI 4.701; ADI 7.172; ADI 6.452 e ADI 7.023.
401
Lei 11.816/2022 do Estado do Mato Grosso: “Art. 1º As empresas de seguro-saúde, empresas de medicina de grupo,
cooperativas de trabalho médico ou outras que atuam sob a forma de prestação direta ou intermediação dos serviços médico-
hospitalares e operam no Estado de Mato Grosso estão obrigadas a garantir o atendimento integral e fornecer o tratamento
adequado às pessoas com deficiência, nos termos da Lei Federal nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, e da Lei Federal nº
13.146, de 6 de julho de 2015, não podendo impor restrições de qualquer natureza. § 1º Compreende-se por atendimento integral
e tratamento adequado como aqueles que cumprem total e integralmente a prescrição médica que definiu a melhor intervenção
terapêutica ou tratamento ao paciente pelo profissional de saúde que o acompanha. § 2º As determinações desta Lei não incluem a
busca ou fornecimento de medicamentos de quaisquer naturezas. Art. 2º As prestadoras de serviço de saúde descritas no caput do
art. 1° devem oferecer cobertura necessária para multiprofissional, respeitando os termos do médico assistente que acompanha a
pessoa com deficiência, sob pena de serem compelidas a custear ou reembolsar integralmente as despesas com profissionais não
credenciados. Parágrafo único A observância à prescrição médica indicada ao paciente, respeitando o atendimento
multiprofissional ao deficiente, abrange a presença de profissionais capacitados e especializados nas áreas prescritas, bem como a
quantidade e a duração das sessões e a aplicação da técnica indicada pelo médico assistente que acompanha o paciente com
deficiência. Art. 3º A fiscalização, apuração de denúncias e autuação por descumprimento desta Lei é de responsabilidade dos
órgãos de proteção ao consumidor, sem prejuízo da atuação do Ministério Público. Art. 4º O não cumprimento dos preceitos desta
Lei sujeitará às operadoras de plano ou seguro de saúde infratoras, sem descartar a responsabilidade solidária das clínicas de
tratamento, à multa de 1.000 (mil) Unidades Padrão Fiscal de Mato Grosso - UPF/MT para cada caso apurado, aplicando-se o
dobro em caso de reincidência. Parágrafo único. Os valores decorrentes da cobrança das multas serão integralmente revertidos
para capacitação, treinamento e melhoria das condições de trabalho dos profissionais que atuam junto às pessoas com deficiência
nas clínicas e centros de atendimento do Estado de Mato Grosso. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

151
O tratamento do uso de armas de fogo dentro do território nacional deve ser uniforme, razão pela qual o
interesse geral das normas que versam sobre armamento decorre do impacto que promovem na segurança de toda a
sociedade, não se limitando às fronteiras dos estados 402.
A Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), editada pela União no exercício de sua competência
constitucional, autoriza que os integrantes dos órgãos de segurança pública portem arma de fogo de propriedade
particular ou fornecida pela corporação ou instituição correspondente, mesmo fora de serviço, com validade em
âmbito nacional (art. 6º, § 1º). Ou seja, não há autorização legislativa para que os próprios participantes, mediante
compra direta, adquiram material bélico de suas respectivas corporações, assim como inexiste autorização, via lei
complementar, para que o estado legisle sobre o tema (CF/1988, art. 22, parágrafo único).
Ademais, a norma estadual impugnada instituiu hipótese de dispensa de licitação não prevista na legislação
federal que trata especificamente da matéria (Leis 8.666/1993 e 14.133/2021), ultrapassando indevidamente os
limites nela previstos.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da cautelar em
definitivo de mérito e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei 8.413/2021 do Estado de
Alagoas403.

ADI 7.004/AL, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira-feira),
às 23:59

Previsão de parcelamento de multas de trânsito e pagamento de débitos com cartões de crédito em


âmbito distrital - ADI 6.578/DF

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre trânsito e
transporte (CF/1988, art. 22, XI) — lei distrital que prevê a possibilidade de parcelamento de multas
decorrentes de infrações de trânsito e o pagamento de débitos com cartão de crédito.
Na espécie, a lei distrital impugnada possibilita o parcelamento das multas aplicadas aos veículos
automotores, emitidas por órgão ou entidade executiva de trânsito e executiva rodoviária do Distrito Federal, em até
12 vezes, e o pagamento dos débitos junto ao seu Departamento de Trânsito por cartão de crédito.
Esta Corte possui entendimento consolidado no sentido da inconstitucionalidade de normas estaduais que
disponham sobre as formas de pagamento das multas aplicadas pelos órgãos de fiscalização de trânsito, bem como
daquelas que, de algum modo, inovem em matéria pertinente à disciplina normativa do trânsito 404.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 5.551/2015 do Distrito Federal 405.

ADI 6.578/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às
23:59

402
Precedentes citados: ADI 3.258; ADI 3.112; ADI 2.729; ADI 4.962; ADI 4.991 e ADI 5.010.
403
Lei 8.413/2021 do Estado de Alagoas: “Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a possibilidade de a Polícia Civil, a Polícia Militar, o
Corpo de Bombeiros Militar e os demais órgãos de segurança pública do Estado de Alagoas a alienarem, por venda direta, as
armas de fogo, pertencentes ao patrimônio desses órgãos, para seus integrantes, da ativa e da inatividade. Parágrafo único. A
alienação para os agentes da segurança pública, da ativa e da inatividade, será feita por venda direta, em qualquer época, na
condição de posse definitiva, passando a referida arma a ser patrimônio pessoal do adquirente. Art. 2º A alienação por venda
direta das armas de fogo de que trata o art. 1º deve ser regulamentada por ato do Poder Executivo. Parágrafo único. Os recursos
provenientes da alienação de que trata esta Lei serão destinados a fundo específico da Instituição que vendeu a arma. Art. 3º A
alienação de arma de fogo por venda direta de que trata esta Lei somente se aplica aos integrantes da Polícia Civil, da Polícia
Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e dos demais órgãos da segurança pública do Estado de Alagoas que possuam
autorização para o porte de armas de fogo. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”
404
Precedentes citados: ADI 3.708; ADI 3.196; ADI 3.444; ADI 5.778; ADI 5.222; ADI 3.269 e ADI 6.612.
405
Lei 5.551/2015 do Distrito Federal: “Art. 1º As multas aplicadas aos veículos automotores, emitidas por órgão ou entidade
executiva de trânsito e executiva rodoviária do Distrito Federal, podem ser parceladas em até 12 vezes. Parágrafo único. A
solicitação do parcelamento previsto no caput e o pagamento da primeira parcela garantem ao proprietário do veículo a emissão
do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo. Art. 2º Os débitos junto ao Departamento de Trânsito do Distrito Federal
– DETRAN-DF podem ser pagos com cartão de crédito, ficando a cargo dos usuários todas as taxas cobradas pela respectiva
operadora do cartão de crédito. Art. 3º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 dias, contados da data de sua
publicação. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.”

152
Proibição de destruição e inutilização de bens apreendidos em operações de fiscalização ambiental -
ADI 7.203/RO

ODS: 11
Resumo:

É inconstitucional — por violar a competência da União para legislar sobre normas gerais de
proteção ao meio ambiente e sobre direito penal e processual penal (CF/1988, arts. 24, VI e VII; e 22, I) — lei
estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e inutilizarem bens particulares
apreendidos em operações de fiscalização ambiental.
O Poder Público e toda a sociedade possuem o dever de defender e preservar um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, sendo permitida a aplicação de sanções penais e administrativas às condutas e
atividades a ele lesivas (CF/1988, art. 225, caput, e § 3º).
As diretrizes traçadas pela legislação editada pela União (Lei 9.605/1998 e Decreto 6.514/2008), em
determinadas situações e atendidos todos os requisitos, permitem o uso do poder de polícia quando constatada a
infração ambiental, adotando-se a medida administrativa de destruição e inutilização dos produtos, subprodutos e
instrumentos da infração 406 407.
Nesse contexto, a sistemática adotada pela lei impugnada é incompatível com a legislação federal, uma vez
que o afastamento da sanção configura extravasamento da atuação legislativa estadual em detrimento das diretrizes
gerais estabelecidas pela União, o que, de acordo com a jurisprudência desta Corte é hipótese de reconhecimento de
inconstitucionalidade formal 408.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 5.299/2022 do Estado de Rondônia409.

ADI 7.203/RO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

Proibição de pulverização aérea de agrotóxicos no âmbito estadual - ADI 6.137/CE

406
Lei 9.605/1998: “Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos
autos. (...) § 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas,
hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. § 4° Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou
doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. § 5º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos,
garantida a sua descaracterização por meio da reciclagem. (...) Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes
sanções, observado o disposto no art. 6º: (...) IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; (...)
VIII - demolição de obra; (...) § 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V do caput obedecerão ao disposto no art.
25 desta Lei.”
407
Decreto 6.514/2008: “Art. 3º As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções: (...) V - destruição ou
inutilização do produto; (...) Art. 101. Constatada a infração ambiental, o agente autuante, no uso do seu poder de polícia, poderá
adotar as seguintes medidas administrativas: (...) V - destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos e instrumentos da
infração (...) Art. 111. Os produtos, inclusive madeiras, subprodutos e instrumentos utilizados na prática da infração poderão ser
destruídos ou inutilizados quando: I - a medida for necessária para evitar o seu uso e aproveitamento indevidos nas situações em
que o transporte e a guarda forem inviáveis em face das circunstâncias; ou II - possam expor o meio ambiente a riscos
significativos ou comprometer a segurança da população e dos agentes públicos envolvidos na fiscalização. Parágrafo único. O
termo de destruição ou inutilização deverá ser instruído com elementos que identifiquem as condições anteriores e posteriores à
ação, bem como a avaliação dos bens destruídos (...) Art. 134. Após decisão que confirme o auto de infração, os bens e animais
apreendidos que ainda não tenham sido objeto da destinação prevista no art. 107, não mais retornarão ao infrator, devendo ser
destinados da seguinte forma: (...) IV - os instrumentos utilizados na prática da infração poderão ser destruídos, utilizados pela
administração quando houver necessidade, doados ou vendidos, garantida a sua descaracterização, neste último caso, por meio da
reciclagem quando o instrumento puder ser utilizado na prática de novas infrações; V - os demais petrechos, equipamentos,
veículos e embarcações descritos no inciso IV do art. 72 da lei nº 9.605, de 1998, poderão ser utilizados pela administração
quando houver necessidade, ou ainda vendidos, doados ou destruídos, conforme decisão motivada da autoridade ambiental;”
408
Precedentes citados: ADI 6.650; ADI 6.672; ADI 5.675 e ADI 7.007 MC-Ref.
409
Lei 5.299/2022 do Estado de Rondônia: “Art. 1º Fica proibido aos órgãos ambientais de fiscalização e polícia militar do
Estado de Rondônia, a destruição e inutilização de bens particulares apreendidos nas operações/fiscalizações ambientais no
estado. Parágrafo único. Aos bens apreendidos na prática de infrações ambientais serão dados a destinação que prevê o art. 25, §
5°, da Lei Federal n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e/ou o disposto no art. 105 do Decreto Federal n° 6.514, de 22 de julho de
2008.”

153
ODS: 3, 14 e 15

Resumo:
É constitucional — por representar norma mais protetiva à saúde e ao meio ambiente do que as
diretrizes gerais da legislação federal, bem como estabelecer restrição razoável e proporcional às técnicas de
aplicação de pesticidas — norma estadual que veda a pulverização aérea de agrotóxicos na agricultura local e
sujeita o infrator ao pagamento de multa.
A jurisprudência desta Corte 410 é firme no sentido de que a proteção do meio ambiente e a defesa da saúde
são matérias de competência concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal (CF/1988, arts. 23, II e VI; e
24, VI e XII).
Nesse contexto, atuando conforme o sistema constitucional de repartição de competências, o legislador
cearense proibiu a utilização da técnica de pulverização aérea em seu território sem contrariar a regulamentação da
Lei 7.802/1989, a qual se limitou a traçar os parâmetros gerais sobre a matéria e estabelecer atividades de
coordenação e ações integradas411.
Na espécie, estudos técnicos constataram os riscos envolvidos pela prática e apontaram peculiaridades
locais que tornam proporcional a vedação estabelecida em favor do direito à saúde e dos princípios constitucionais
da prevenção e da precaução 412.
Ademais, a livre iniciativa não impede a regulamentação das atividades econômicas pelo Estado,
notadamente quando ela se mostrar indispensável ao resguardo de outros valores constitucionais. Assim, o Tribunal
tem privilegiado a proibição do retrocesso socioambiental, ao ponderar o direito à livre iniciativa com a defesa do
meio ambiente e a proteção da saúde humana.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nesta
extensão, a julgou improcedente para reconhecer a constitucionalidade do § 1º e do caput do art. 28-B da Lei
12.228/1993 do Estado do Ceará 413, incluídos pela Lei estadual 16.820/2019.

ADI 6.137/CE, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 26.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

Proibição de soltura de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos que produzem estampido em âmbito
municipal - RE 1.210.727/SP (Tema 1.056 RG)

ODS: 11, 15 e 16

Tese fixada:
“É constitucional – formal e materialmente – lei municipal que proíbe a soltura de fogos de artifício e
artefatos pirotécnicos produtores de estampidos.”

Resumo:
É constitucional — por dispor sobre a proteção do meio ambiente e a proteção e defesa da saúde,
matérias de competência legislativa concorrente entre a União, estados e DF (CF/1988, art. 24, VI e XII), e
estabelecer restrição necessária, adequada e proporcional no âmbito de sua competência suplementar e nos
limites de seu interesse local (CF/1988, art. 30, I e II) — lei municipal que veda a soltura de fogos de artifício e
artefatos pirotécnicos produtores de estampidos.
A lei municipal que confere regulamentação mais protetiva, considerados os impactos negativos à saúde e
ao meio ambiente advindos dos efeitos ruidosos causados com a queima de fogos de artifício e outros artefatos
similares414, atua nos limites do regular exercício de sua competência legislativa 415.
Na espécie, a proibição imposta pela Lei 6.212/2017 do Município de Itapetininga/SP 416 observa a
disciplina normativa estabelecida no âmbito federal. Nesse sentido, a Resolução CONAMA 02/1990 — que dispõe

410
Precedentes citados: ADI 1.278; ADI 2.730; ADI 3.470; ADPF 672 MC-Ref; RE 761.056 AgR e RE 286.789.
411
Lei 7.802/1989: “Art. 10. Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos arts. 23 e 24 da Constituição Federal,
legislar sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins, bem
como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte interno.”
412
Precedentes citados: RE 835.558 (Tema 648 RG); ADPF 101 e ADPF 656 MC.
413
Lei 12.228/1993 do Estado do Ceará: “Art. 28-B. É vedada a pulverização aérea de agrotóxicos na agricultura no Estado do
Ceará. § 1º A infração ao art. 1º sujeita o infrator ao pagamento de multa de 15 mil (quinze mil) UFIRCEs.”
414
Precedente citado: ADPF 567
415
Precedentes citados: RE 586.224 (Tema 145 RG); ADI 2.142 e ADPF 672 MC-Ref.

154
sobre o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora — expressamente autoriza a fixação, a
níveis estadual e municipal, de limites de emissão de ruídos em valores mais rígidos.
Nesse contexto, o legislador itapetingano privilegiou o princípio da proteção à saúde e ao meio ambiente
equilibrado, em regulamentação da máxima fruição da liberdade jurídica dos particulares e da livre exploração de
atividades econômicas. Ademais, a restrição é justificável em razão de premissas empíricas, motivo pelo qual, diante
da realidade fática local, inexiste ofensa aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.056 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.210.727/SP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 8.5.2023 (segunda-feira), às 23:59
Proibição do uso de “linguagem neutra” nas escolas e em editais de concursos públicos - ADI
7.019/RO

ODS: 4

Tese fixada:
“Norma estadual que, a pretexto de proteger os estudantes, proíbe modalidade de uso da língua
portuguesa viola a competência legislativa da União.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e
bases da educação nacional (CF/1988, art. 22, XXIV) — lei estadual que veda a adoção da “linguagem
neutra” na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas e privadas, assim como
em editais de concursos públicos locais.
Embora os estados possuam competência para legislar concorrentemente sobre educação, devem observar
as normas gerais editadas pela União (CF/1988, art. 24, IX).
Nesse contexto, a União editou, no exercício de sua competência nacional, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei 9.394/1996), cujo sentido engloba as regras que tratam de currículos, conteúdos
programáticos, metodologia de ensino ou modo de exercício da atividade docente 417. Portanto, no âmbito da
competência concorrente, a União fixa as regras minimamente homogêneas em todo território nacional 418.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade formal da Lei 5.123/2021 do Estado de Rondônia419.
ADI 7.019/RO, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

Regras relativas ao processo e julgamento de impeachment do governador - ADI 3.466/DF

416
Lei 6.212/2017 do Município de Itapetininga/SP: “Art. 1º Fica proibido na zona urbana do Município de Itapetininga a
soltura de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos que produzam estampido. Art. 2º O descumprimento do disposto nesta Lei
sujeitará os responsáveis às seguintes penalidades: I- multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) à pessoa física infratora, e de R$
10.000,00 (dez mil reais) à pessoa jurídica infratora. II- dobra do valor da multa na reincidência. Art. 3º O Poder Executivo
regulamentará esta Lei, no que couber. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”
417
Precedente citado: ADPF 457.
418
Lei 9.394/1996: “Art. 9º A União incumbir-se-á de: (...) IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os
currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;”
419
Lei 5.123/2021 do Estado de Rondônia: “Art. 1º Fica garantido aos estudantes do Estado de Rondônia o direito ao aprendizado
da língua portuguesa de acordo com a norma culta e orientações legais de ensino estabelecidas com base nas orientações
nacionais de Educação, pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VolP) e da gramática elaborada nos termos da
reforma ortográfica ratificada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - CPLP. Art. 2º O disposto no artigo anterior
aplica-se a toda Educação Básica no Estado de Rondônia, nos termos da Lei Federal nº 9.394/96, assim como aos Concursos
Públicos para acesso aos cargos e funções públicas do Estado de Rondônia. Art. 3º Fica expressamente proibida a denominada
‘linguagem neutra’ na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas ou privadas, assim como em
editais de concursos públicos. Art. 4º A violação do direito do estudante estabelecido no artigo 1º desta Lei acarretará sanções às
instituições de ensino privadas e aos profissionais de educação que concorrerem ministrar conteúdos adversos aos estudantes,
prejudicando direta ou indiretamente seu aprendizado à língua portuguesa culta. Art. 5º As Secretarias responsáveis pelo ensino
básico do Estado de Rondônia deverão empreender todos os meios necessários para a valorização da língua portuguesa culta em
suas políticas educacionais, fomentando iniciativas de defesa aos estudantes na aplicação de qualquer aprendizado destoante das
normas e orientações legais de ensino. Art. 6º Fica o Poder Executivo autorizado a firmar convênio com instituições públicas e
privadas voltadas à valorização da língua portuguesa no Estado de Rondônia. Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação.”

155
ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violação às regras previstas na Lei federal 1.079/1950 — norma de
Constituição estadual ou de Lei Orgânica distrital que atribuem à Assembleia ou à Câmara Legislativa o
julgamento do governador pela prática de crime de responsabilidade.
Conforme jurisprudência desta Corte — cujo entendimento foi consolidado com o enunciado da Súmula
Vinculante 46420 — ainda que a autoridade em julgamento esteja vinculada a outro ente federativo, a definição dos
crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da
competência legislativa privativa da União.
Nesse contexto, editou-se a Lei federal 1.079/1950, que, em seu art. 78, § 3º — norma recepcionada pela
Constituição Federal de 1988 421 —, prevê a realização do julgamento dos crimes de responsabilidade dos
governadores mediante um “tribunal especial” 422.
Isso porque a concentração do juízo de admissibilidade da acusação e do julgamento dos crimes de
responsabilidade do governador unicamente perante o Poder Legislativo local, que é unicameral, ofende o desenho
institucional de um juízo bifásico (CF/1988, art. 86).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar
inconstitucionais as expressões “e julgar” e “ou perante a própria Câmara Legislativa, nos crimes de
responsabilidade”, inseridas, respectivamente, no inciso XXIV do artigo 60 e no caput do artigo 103, ambos da Lei
Orgânica do Distrito Federal 423.

ADI 3.466/DF, relator Ministro Eros Grau, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às 23:59

Regulamentação das condições e percentuais mínimos de servidores de carreira para cargos


comissionados - ADO 44/DF

Resumo:
Não há omissão legislativa nem inércia do legislador ordinário quanto à edição de lei nacional que
discipline a matéria do inciso V do art. 37 da Constituição Federal 424, cabendo a cada ente federado definir as
condições e percentuais mínimos para o preenchimento dos cargos em comissão para servidores de carreira, a
depender de suas necessidades burocráticas.
A EC 19/1988 sistematizou a redação do mencionado dispositivo ao determinar a exclusividade do
exercício das funções de confiança e reservar ao domínio normativo de lei o estabelecimento dos casos, condições e

420
Súmula Vinculante 46: “A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo
e julgamento são da competência legislativa privativa da União.”
421
Precedente citado: ADI 1.628.
422
Lei 1.079/1950: “Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela forma que determinar a
Constituição do Estado e não poderá ser condenado, senão à perda do cargo, com inabilitação até cinco anos, para o exercício de
qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça comum. (...) § 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem
o processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o julgamento ser
proferido por um tribunal composto de cinco membros do Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do
Presidente do Tribunal de Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha desse Tribunal será feita - a dos
membros do legislativo, mediante eleição pela Assembléia: a dos desembargadores, mediante sorteio.”
423
Lei Orgânica do Distrito Federal: “Art. 60. Compete, privativamente, à Câmara Legislativa do Distrito Federal: (...) XXIV –
processar e julgar o Governador nos crimes de responsabilidade, bem como adotar as providências pertinentes, nos termos da
legislação federal, quanto ao Vice-Governador e Secretários de Estado do Distrito Federal, nos crimes da mesma natureza ou
conexos com aqueles; (redação dada pela Emenda à Lei Orgânica nº 44/2005) (...) Art. 103. Admitida acusação contra o
Governador, por dois terços da Câmara Legislativa, será ele submetido a julgamento perante o Superior Tribunal de Justiça, nas
infrações penais comuns, ou perante a própria Câmara Legislativa, nos crimes de responsabilidade.”
424
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os
cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)”

156
percentuais mínimos dos cargos em comissão a serem preenchidos por servidores de carreira. Por sua vez, o inciso II
do art. 37 da CF/1988425 permite a ocupação de cargo em comissão por servidores não efetivos.
Assim, inexiste impedimento para a produção de efeitos por aquela norma constitucional de eficácia
contida, o que afasta a dependência de sua regulamentação. Inclusive, a matéria já é objeto de disciplina de atos
normativos em vigor, como o art. 27 do Decreto 10.829/2021426, que regulamenta Lei 14.204/2021.
Ademais, a matéria relativa a regime jurídico-administrativo de servidor público compete à União, mas,
também, a cada ente da federação (CF/1988, art. 39, caput). Dessa forma, eventual lei nacional que disponha sobre
os casos, condições e percentuais mínimos de cargos em comissão pode vir a afrontar a autonomia e a competência
de cada um dos entes da Federação para tratar do tema e adequar a matéria às suas específicas necessidades 427.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADO 44/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 17.4.2023 (segunda-feira), às 23:59

Repartição de competências atinente ao serviço postal em caixas comunitárias - ADI 3.081/RJ

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência da União exclusiva para manter o serviço postal e
privativa para legislar sobre a matéria (CF/1988, arts. 21, X; e 22, V) — lei estadual que proíbe a entrega, em
caixas postais comunitárias, das correspondências que se enquadram como carta, cartão-postal e
correspondência agrupada.
A União, no exercício de sua competência privativa para legislar sobre o serviço postal 428, disciplinou a
entrega de correspondências em caixas postais comunitárias e não autorizou os estados e o Distrito Federal a
normatizarem eventuais questões específicas que tratem do tema.
O serviço postal prestado como prerrogativa exclusiva do ente central é constituído pelas atividades
previstas na Lei 6.538/1978429, e se restringe aos conceitos de carta, cartão-postal, impresso, cecograma, pequena-
encomenda e correspondência agrupada 430.
É inconstitucional lei estadual que — em contrariedade ao que dispõe a legislação federal que trata
da matéria e sem demonstrar interesse particular ou justificativa objetiva e precisa do respectivo ente
federativo — proíbe a postagem, em caixas postais comunitárias, de boletos de pagamento alusivos a serviços
prestados por empresas públicas e privadas.
Com relação aos boletos de pagamento, o STF reconhece a competência normativa concorrente dos estados
e do Distrito Federal para regular a sua postagem 431 — com fundamento na proteção do consumidor (CF/1988, art.
24, VIII) —, a qual admite tanto a suplementação ou repetição das normas gerais quanto a criação de regime
jurídico432.
Contudo, inexiste, na lei impugnada, referência explícita da situação concreta ou do interesse particular
local que legitime o surgimento de regime específico, discrepante do modelo federal, para as caixas postais
comunitárias no estado.

425
CF/1988: “Art. 37. (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”
426
Decreto 10.829/2021: “Art. 27. O Poder Executivo federal destinará a servidores de carreira, no mínimo, sessenta por cento
do total de cargos em comissão existentes na administração pública direta, autárquica ou fundacional.”
427
Precedentes citados: RMS 24.287; RE 1.069.936 AgR e RE 986.269 AgR.
428
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; (...) Art. 22. Compete
privativamente à União legislar sobre: (...) V - serviço postal;”
429
Lei 6.538/1978: “Art. 9º - São exploradas pela União, em regime de monopólio, as seguintes atividades postais: I -
recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de carta e cartão-postal; II - recebimento,
transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de correspondência agrupada: III - fabricação, emissão
de selos e de outras fórmulas de franqueamento postal. § 1º - Dependem de prévia e expressa autorização da empresa exploradora
do serviço postal; a) venda de selos e outras fórmulas de franqueamento postal; b) fabricação, importação e utilização de
máquinas de franquear correspondência, bem como de matrizes para estampagem de selo ou carimbo postal. § 2º - Não se
incluem no regime de monopólio: a) transporte de carta ou cartão-postal, efetuado entre dependências da mesma pessoa jurídica,
em negócios de sua economia, por meios próprios, sem intermediação comercial; b) transporte e entrega de carta e cartão-postal;
executados eventualmente e sem fins lucrativos, na forma definida em regulamento.”
430
Precedente citado: ADPF 46.
431
Precedente citado: ARE 649.379 (Tema 491 RG).
432
Precedentes citados: RE 586.224 (Tema 145 RG); ADPF 567; ADI 4.351 e RE 1.298.923 AgR.

157
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 3.477/2000 do Estado do Rio de Janeiro 433.

ADI 3.081/RJ, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 25.8.2023 (sexta-feira), às 23:59

Segurança veicular e atribuições de fiscalização do DETRAN - ADI 6.597/RJ

Resumo:
São inconstitucionais — por afronta à competência privativa da União para legislar sobre trânsito e
transporte (CF/1988, art. 22, XI) e por violar a reserva de iniciativa do chefe do Poder Executivo para dispor
sobre servidores públicos e órgãos da Administração Pública (CF/1988, art. 61, § 1º, II, “c” e “e”) — leis
estaduais, de origem parlamentar, que versam sobre a autodeclaração do proprietário de veículos
automotores acerca de sua conformidade quanto à segurança veicular e ambiental, e determinam que
eventual fiscalização seja realizada e filmada por agentes do DETRAN.
A regra da reserva de iniciativa de leis conferida ao presidente da República (CF/1988, art. 61, § 1º, II, c e
e) é aplicável simetricamente aos estados (CF/1988, art. 25), conforme jurisprudência desta Corte 434. Nesse
contexto, também incide para os casos em que a lei disponha sobre atribuições de órgãos da Administração Pública,
pois não se deve interpretar o texto constitucional de forma literal, a ponto de restringir sua aplicação apenas às leis
que criam ou extinguem Ministérios e órgãos da Administração Pública 435.
Na espécie, as leis estaduais impugnadas, ao preverem atribuições de agentes do DETRAN, dispõem sobre
servidores, motivo pelo qual são formalmente inconstitucionais.
Ademais, o tratamento de matérias afetas ao trânsito e ao transporte de modo distinto do previsto na
legislação federal (Código de Trânsito Brasileiro - Lei 9.503/1997) configura desobediência às regras de repartição
de competências e contraria a jurisprudência consolidada deste Tribunal 436.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade das Leis 8.269/2018 e 8.426/2019, ambas do Estado do Rio de Janeiro, e, por arrastamento, do
Decreto 46.549/2019, do governador do Estado do Rio de Janeiro, e da Portaria 5.533/2019 do presidente do
DETRAN/RJ.

ADI 6.597/RJ, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 17.4.2023 (segunda-feira), às
23:59

Serventias extrajudiciais: regras atinentes ao concurso para ingresso na carreira notarial por lei
estadual - ADPF 209/SP

Resumo:
É incompatível com a Constituição Federal de 1988 — por violar a competência da União para
definir os princípios básicos a serem seguidos na execução dos serviços notariais e de registro (CF/1988, art.

433
Lei 3.477/2000 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º O Poder Público Estadual garantirá, no uso de suas atribuições, a todos
os cidadãos residentes no Estado do Rio de Janeiro, as condições de acessibilidade e de prestação dos serviços postais. Art. 2º
Fica garantida, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a entrega de correspondência a todo cidadão no endereço, residencial ou
comercial, indicado pela remetente. Art. 3º É vedada, ao concessionário de serviços postais encarregado da distribuição
domiciliária de correspondências a utilização de caixas postais comunitárias ou quaisquer outros meios que possibilitem o
descumprimento do estabelecido no Art. 2º. § 1º Nas comunidades populares, de baixa renda, ou em áreas de difícil acesso onde
não existam endereços residenciais ainda identificados, o concessionário de serviços postais encarregado da distribuição
domiciliária de correspondência deverá, em trabalho conjunto com a Associação de Moradores dessas comunidades, ajudar no
processo de identificação e organização dos endereços residenciais, de forma a possibilitar aos carteiros a realização do trabalho
de distribuição de correspondência nesses endereços. § 2º Nas comunidades onde já tenham sido instaladas as caixas postais
comunitárias, o concessionário de serviços postais encarregado da distribuição domiciliária de correspondência deverá, no prazo
máximo de 180 (cento e oitenta) dias, substituí-las por carteiros para a realização da entrega domiciliar de correspondência, de
acordo com o estabelecido no parágrafo anterior. Art. 4º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.”
434
Precedentes citados: ADI 5.536; ADI 5.004; ADI 645; ADI 5.520; ADI 3.922 e ADI 4.884.
435
Precedentes citados: ADI 3.981 e ADI 5.916.
436
Precedentes citados: ADI 1.972; ADI 5.796; ADI 5.774 e ADI 3.135.

158
236) — norma estadual que objetiva regulamentar a forma de provimento de suas serventias extrajudiciais,
fixando regras do concurso para ingresso e remoção nos respectivos cartórios.
A referida competência foi reservada constitucionalmente ao legislador federal 437, que já a exerceu com a
edição da Lei 8.935/1994, a qual confere ao Poder Judiciário a realização dos certames e a consequente atribuição
para o ato de investidura na atividade notarial e de registro 438. Assim, norma estadual não pode acrescentar qualquer
condição restritiva além daquelas estabelecidas na legislação federal 439.
Ademais, com a finalidade de uniformizar os certames de provas e títulos para outorga de declaração de
serviços notariais e de registro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução 81/2009.
É incompatível com a Constituição Federal de 1988 — por violar o princípio da isonomia (CF/1988,
art. 5º, “caput”) — norma estadual que introduz novas regras para a avaliação de títulos nos concursos para
ingresso nas serventias extrajudiciais, prevendo benefícios a um grupo específico de candidatos.
Na espécie, a norma estadual impugnada conferiu indevida valoração aos títulos, beneficiando candidatos
que já desempenharam atividades funcionais pertinentes à área de notas e de registros, dando-lhes a possibilidade de
alcançar maior pontuação no certame. Essa circunstância restringe o universo de candidatos aptos a conquistar a
respectiva pontuação, razão pela qual configura afronta à igualdade de condições de acesso à função pública 440.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para
declarar não recepcionados pela Constituição Federal de 1988 os arts. 3º, § 2º; e 10, caput e §§ 2º, 4º, 5º e 6º, ambos
da Lei Complementar 539/1988 do Estado de São Paulo 441.

ADPF 209/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.5.2023 (terça-feira), às 23:59

Serviço de telefonia: garantia de sinal de celular em passagem subterrânea de trânsito no âmbito


estadual - ADI 7.404/RJ

ODS: 9

Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência da União privativa para legislar sobre
telecomunicações (CF/1988, art. 22, IV) e exclusiva para definir a forma e o modo da exploração desses
437
CF/1988: “Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. § 1º
Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus
prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. § 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de
emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. § 3º O ingresso na atividade notarial e de registro
depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso
de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.”
438
Precedente citado: ADI 2.069 MC.
439
Precedente citado: ADI 2.151.
440
Precedentes citados: ADI 3.580 e ADI 3.522.
441
Lei Complementar 539/1988 do Estado de São Paulo: “Artigo 3º - O provimento de cartório de classe inicial, de qualquer
natureza, far-se-á após aprovação em concurso público de provas e títulos. § 2º - O Provimento far-se-á mediante nomeação por
ato do Chefe do Poder Executivo, segundo a ordem de classificação obtida no concurso. (...) Artigo 10 - Os concursos
compreenderão prova escrita e avaliação dos títulos, realizando-se sempre na comarca da capital. (...) § 2º - A prova escrita
versará sobre matéria concernente à natureza da serventia em concurso. (...) § 4º - Os valores conferidos aos títulos serão os
seguintes: 1 - diploma de bacharel em Direito: 1 (um) ponto: 2 - cada período de 5 (cinco) anos de exercício da advocacia: 0,3
(três décimos) de ponto; 3 - cada período de 5 (cinco) anos ou fração superior a 30 (trinta) meses de exercício, ininterruptos ou
não, no cargo de serventuário extrajudicial, efetivo, interino ou substituto: 1,0 (um) ponto; 4 - cada período de 5 (cinco) anos ou
fração superior a 30 (trinta) meses de exercício, ininterruptos ou não, na função de oficial maior de serventia extrajudicial: 0,9
(nove décimos) de ponto; 5 - cada período de 5 (cinco) anos ou fração superior a 30 (trinta) meses de exercício no cargo de
escrevente extrajudicial : 0,8 (oito décimos) de ponto; 6 - cada período contínuo de 5 (cinco) anos ou fração superior a 30 (trinta)
meses de exercício como servidor de serventia extrajudicial, sem punição disciplinar: 0,4 (quatro décimos) de ponto, até o
máximo de 2 (dois) pontos; 7 - período superior a 180 (cento e oitenta) dias de exercício no cargo de serventuário, na qualidade
de interventor, sem prejuízo do disposto no item 3: 0,8 (oito décimos) de ponto; 8 - cada período de 5 (cinco) anos ou fração
superior a 30 (trinta) meses de exercício no cargo de auxiliar de serventia extrajudicial : 0,5 (cinco décimos) de ponto; 9 - período
superior a 2 (dois) anos, contado uma só vez, de exercício como escrivão eleitoral: 0,4 (quatro décimos) de ponto; 10 - período
igual a 2 (duas) eleições, contado uma só vez, de serviço à Justiça Eleitoral, como escrutinador, mesário ou auxiliar de qualquer
natureza, excluído o tempo contado pelo item anterior: 0,3 (três décimos) de ponto. § 5º - Quando a soma das frações de tempo
referidas nos itens 3, 4; 5 e 8 do parágrafo anterior superar 5 (cinco) anos e não tenham sido computadas para avaliação de
títulos, o candidato fará jus à pontuação mais elevada, correspondente à função que tenha exercido por período igual ou superior
a 30 (trinta) meses, ininterruptos ou não. § 6º - Os pontos apurados por períodos de exercício em serventia extrajudicial da mesma
natureza da posta em concurso serão acrescidos da terça parte.”

159
serviços (CF/1988, art. 21, XI c/c o art. 175) — lei estadual que assegura ao consumidor de serviço móvel de
telefonia o direito de funcionalidade e acesso de dados em passagens subterrâneas de trânsito em qualquer
modalidade de transporte utilizada.
Os estados-membros não podem, a pretexto de se valerem da competência concorrente para legislar sobre
proteção ao consumidor (CF/1988, art. 24, V), criar regras que interfiram no equilíbrio contratual entre o poder
federal e as concessionárias a ele vinculadas442.
Na espécie, a lei estadual impugnada extrapolou o equilíbrio da relação de consumo e ingressou em
definições específicas da legislação que rege os serviços de telecomunicações (Lei 9.472/1997 - Lei Geral de
Telecomunicações e Resoluções da ANATEL), como, por exemplo, a regulação de acesso à rede e a imposição de
ajustes técnicos e operacionais, os quais impactam diretamente no contrato de concessão firmado entre empresa
prestadora do serviço e Poder Público concedente, no caso, a União443.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 9.925/2022 do Estado do Rio de Janeiro444.
ADI 7.404/RJ, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 6.10.2023 (sexta-feira), às
23:59

Vagas para alunos com deficiência em escola pública mais próxima de sua residência - ADI 7.028/AP

ODS: 4

Tese fixada:
“É inconstitucional lei estadual que (a) reduza o conceito de pessoas com deficiência previsto na
Constituição, na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de estatura
constitucional, e na lei federal de normas gerais; (b) desconsidere, para a aferição da deficiência, a avaliação
biopsicossocial por equipe multiprofissional e interdisciplinar prevista pela lei federal; ou (c) exclua o dever
de adaptação de unidade escolar para o ensino inclusivo.”

Resumo:
É inconstitucional norma estadual que, a pretexto de legislar sobre os direitos das pessoas com
deficiência (PcD), restringe o conceito de PcD estabelecido na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência — incorporada ao direito interno como norma constitucional (Decreto 6.949/2009) 445 —, bem
como contraria regras gerais sobre o tema previstas na Lei federal 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com
Deficiência).
Na espécie, a competência legislativa suplementar (CF/1988, art. 24, XIV e § 2º) não autoriza que
determinada unidade federativa restrinja o conteúdo de lei federal quanto ao alcance da proteção destinada às PcD

442
Precedente citado: ADI 4.478.
443
Precedentes citados: ADI 5.723; ADI 5.575; ADI 6.199; ADI 5.521; ADI 4.861 e ADI 6.482.
444
Lei 9.925/2022 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º Fica assegurado, ao consumidor de serviço móvel de telefonia, o direito
a funcionalidade e acesso de dados para fins de ligação telefônica e utilização da internet em todas as passagens subterrâneas de
trânsito no Estado do Rio de Janeiro, cuja extensão seja superior a 1.000 (um mil) metros, independente da modalidade de
transporte que a utilize, em especial no transporte rodoviário, ferroviário e metroviário. Art. 2º As concessionárias de telefonia
móvel poderão viabilizar esse direito do consumidor por meio de repetidores de sinais nas passagens subterrâneas ou por meio de
instalação de equipamentos equivalentes nas composições de trem e metrô, para manter o sinal de telefonia aos usuários destes
serviços de transporte, respeitadas as regras para tal instalação previstas na Legislação Municipal e/ou Estadual. § 1º A instalação
destes equipamentos dar-se-á de forma gratuita, sem ônus para o consumidor, ficando as concessionárias de telefonia
responsáveis por qualquer custo relativo à alocação e manutenção destes equipamentos nos locais abrangidos por esta lei. § 2º As
concessionárias de telefonia deverão observar as regras locais específicas da Legislação de cada município no tocante à
engenharia, à construção e à localização de torres de transmissão de sinal de telefonia móvel e repetidores de sinal, caso
existentes, cumprindo todas as exigências para a instalação dos equipamentos previstos nesta Lei. Art. 3º As concessionárias de
telefonia terão o prazo de 12 (doze) meses para se adaptarem às previsões da presente lei. Art. 4º O Poder Executivo
regulamentará a presente lei. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.”
445
Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência: “Art. 1º. (...) Pessoas com deficiência são aquelas que
têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas”.

160
— seja com a segregação daqueles com tipo de deficiência específica, seja com a modificação dos critérios para
aferição da deficiência — ou, ainda, no que diz respeito à valorização e priorização do ensino inclusivo 446.
Ademais, a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de incentivar a educação livre de discriminação
(CF/1988, art. 208, III), de modo que não se justifica eximir as escolas, ainda sem preparo, do dever de prestar a
educação inclusiva447.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade: da expressão “física, mental ou sensorial”, constante do art. 1º, caput; da expressão
“decorrentes de problemas visuais, auditivos, mentais, motores, ou má formação congênita”, constante do art. 1º, §
4º, ambos da Lei 2.151/2017 do Estado do Amapá; bem como dos arts. 1º, § 5º, e 3º, da mesma lei amapaense 448.

ADI 7.028/AP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 16.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Vigilantes de empresas de segurança privada: concessão de porte de arma de fogo por lei estadual -
ADI 7.252/TO

ODS: 16

Tese fixada:
“É inconstitucional, por violação à competência legislativa privativa da União, lei estadual que
reconhece o risco da atividade e a efetiva necessidade do porte de armas de fogo para os vigilantes de
empresas de segurança privada.”
Resumo:
É inconstitucional — por invadir a competência da União exclusiva para autorizar e fiscalizar a
produção e o comércio de material bélico (CF/1988, art. 21, VI), e privativa para legislar sobre material
bélico (CF/1988, art. 22, XXI) — lei estadual que reconhece o risco da atividade e a efetiva necessidade do
porte de armas de fogo para os vigilantes de empresas de segurança privada.
Em estrita observância às regras de repartição de competências constitucionalmente previstas, a União
editou a Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), a qual dispõe, entre outras questões, sobre registro, posse e
comercialização de armas de fogo e munição. A referida norma atribui à Polícia Federal a competência para
autorizar o porte de arma de fogo de uso permitido em todo o território nacional 449.
Nesse contexto, tendo em vista a predominância de interesse nacional para tratar da matéria — o que
impõe, consequentemente, a necessidade de se garantir uniformidade na sua regulamentação em todo o território
brasileiro —, esta Corte já declarou a inconstitucionalidade formal de normas estaduais com conteúdo similar ao da
lei impugnada 450.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 3.960/2022 do Estado do Tocantins 451.

446
Lei 13.146/2015: “Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será
biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: (...). Art. 28. Incumbe ao poder público
assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis
e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida;”
447
Precedentes citados: ADI 5.357 MC-Ref e ADI 6.590 MC-Ref.
448
Lei 2.151/2017 do Estado do Amapá: “Art. 1º Fica assegurada à pessoa com deficiência física, mental ou sensorial a
prioridade de vaga em escola pública, que esteja localizada mais próxima de sua residência. (...) § 4º Consideram-se deficiências,
para efeitos desta Lei, todas aquelas classificadas pela Organização Mundial da Saúde e que necessitam de assistência especial,
decorrentes de problemas visuais, auditivos, mentais, motores, ou má formação congênita. § 5º As deficiências dos estudantes
beneficiados serão comprovadas por meio de laudo médico fornecido por instituições médico-hospitalares públicas e competentes
para prestar tal comprovação. (...) Art. 3º Ficam excluídos da prioridade de que o art. 1º os estabelecimentos de ensino que não
possuam as condições necessárias para educação de portadores de deficiência mental e sensorial.”
449
Lei 10.826/2003: “Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de
competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm.”
450
Precedentes citados: ADI 7.188; ADI 6.974 e ADI 3.996.
451
Lei 3.960/2022 do Estado do Tocantins: “Art. 1º Fica reconhecido, no Estado do Tocantins, o risco da atividade e a efetiva
necessidade do porte de armas de fogo aos vigilantes de empresas de segurança privada do Estado do Tocantins. Art. 2º Esta Lei
entra em vigor na data de sua publicação.”

161
ADI 7.252/TO, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira), às
23:59

5.28 SEGURANÇA PÚBLICA

Reconhecimento das guardas municipais como órgão de segurança pública - ADPF 995/DF

ODS: 16

Resumo:
As guardas municipais são reconhecidamente órgãos de segurança pública e aquelas devidamente
criadas e instituídas integram o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).
O deslocamento topográfico da disciplina das guardas municipais no texto constitucional não implica a sua
desconfiguração como agentes de segurança pública, de modo que não prevalece o argumento acerca de sua simples
ausência em pretenso rol taxativo do art. 144 da CF/1988.
Nos termos da jurisprudência desta Corte 452, as guardas municipais, sob o aspecto material, exercem
atividade típica de segurança pública, consubstanciada na proteção de bens, serviços e instalações municipais
(CF/1988, art. 144, § 8º), e que se afigura essencial ao atendimento de necessidades inadiáveis da comunidade
(CF/1988, art. 9º, § 1º).
Ademais, o Congresso Nacional, no exercício de sua legítima competência legislativa (CF/1988, art. 144, §
7º), editou a Lei 13.675/2018 e colocou as guardas municipais como integrantes operacionais do SUSP (art. 9º, § 1º,
inciso VII). Já a Lei 13.022/2014, que dispõe sobre o Estatuto Geral das Guardas Municipais, prevê diversas
atribuições que são inerentes a agentes de segurança pública.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, converteu o julgamento da medida cautelar em
julgamento definitivo de mérito e julgou procedente a arguição para , nos termos do artigo 144, § 8º, da CF/1988,
conceder interpretação conforme a Constituição ao artigo 4º da Lei 13.022/2014 453 e ao artigo 9º da Lei 13.675/2018
454
, de modo a declarar inconstitucionais todas as interpretações judiciais que excluem as guardas municipais,
devidamente criadas e instituídas, como integrantes do Sistema de Segurança Pública.
ADPF 995/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 25.8.2023 (sexta-feira), às
23:59

5.29 SERVIÇO NOTARIAL E DE REGISTRO

Serviço notarial e de registro: prazo para a troca de substitutos por profissionais aprovados em
concurso público - ADI 1.183 ED/DF

452
Precedentes citados: RE 658.570 (Tema 472 RG); ADI 5.538; ARE 654.432 (Tema 541 RG) e ADI 6.621.
453
Lei 13.022/2014: “Art. 4º É competência geral das guardas municipais a proteção de bens, serviços, logradouros públicos
municipais e instalações do Município. Parágrafo único. Os bens mencionados no caput abrangem os de uso comum, os de uso
especial e os dominiais.”
454
Lei 13.675/2018: “Art. 9º É instituído o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), que tem como órgão central o Ministério
Extraordinário da Segurança Pública e é integrado pelos órgãos de que trata o art. 144 da Constituição Federal, pelos agentes
penitenciários, pelas guardas municipais e pelos demais integrantes estratégicos e operacionais, que atuarão nos limites de suas
competências, de forma cooperativa, sistêmica e harmônica. § 1º São integrantes estratégicos do Susp: I - a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, por intermédio dos respectivos Poderes Executivos; II - os Conselhos de Segurança Pública e
Defesa Social dos três entes federados. § 2º São integrantes operacionais do Susp: I - polícia federal; II - polícia rodoviária
federal; III – (VETADO); IV - polícias civis; V - polícias militares; VI - corpos de bombeiros militares; VII - guardas municipais;
VIII - órgãos do sistema penitenciário; IX - (VETADO); X - institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação;
XI - Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp); XII - secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres; XIII -
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec); XIV - Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad); XV -
agentes de trânsito; XVI - guarda portuária. XVII - polícia legislativa, prevista no § 3º do art. 27, no inciso IV do caput do art.
51 e no inciso XIII do caput do art. 52 da Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 14.531, de 2023) § 3º (VETADO). § 4º Os
sistemas estaduais, distrital e municipais serão responsáveis pela implementação dos respectivos programas, ações e projetos de
segurança pública, com liberdade de organização e funcionamento, respeitado o disposto nesta Lei.”

162
ODS: 8 e 16

Resumo:
É incompatível com a Constituição Federal de 1988 interpretação que extraia do art. 20 da Lei
8.935/1994 a possibilidade de que prepostos, indicados pelo titular de cartório ou mesmo pelos tribunais de
justiça, possam exercer substituições ininterruptas por períodos superiores a seis meses, em caso de vacância
da serventia. Nessa hipótese, o substituto não concursado se encontra na interinidade do cartório, de modo
que age em nome próprio e por conta própria.
Quando as substituições ultrapassem os seis meses decorrentes de vacância da serventia, a solução
constitucionalmente válida é a indicação, como substituto, de outro notário ou registrador, observadas as leis locais
de organização do serviço notarial e registral, ressalvada a possibilidade de os tribunais de justiça indicarem
substitutos ad hoc quando não houver, entre os titulares concursados, interessado que aceite a substituição, sem
prejuízo da imediata abertura de concurso público para preenchimento das vagas, e respeitado, em qualquer caso, o
teto constitucional na remuneração do interino (CF/1988, art. 37, XI).
Nesse contexto, diante do longo período no qual o dispositivo citado vem sendo aplicado com interpretação
diversa455, a progressiva troca dos substitutos não concursados então em exercício por titulares de serventia
extrajudicial devidamente aprovados em concurso público (CF/1988, arts. 37, II, e 236, § 3º) deve ser efetivada em
até seis meses, contados da conclusão deste julgamento. Ademais, por questão de segurança jurídica, e de modo a
preservar os direitos dos cidadãos que utilizaram os serviços cartorários de boa-fé, deve ser ressalvada, em qualquer
caso, a validade dos atos praticados por aqueles nomeados pelo tribunal de justiça, conforme as regras e
interpretações vigentes na ocasião.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu dos embargos de declaração e os
proveu parcialmente, para retificar trecho da parte dispositiva do acórdão embargado, bem como para esclarecer e
integrar os pontos supracitados (vide Informativo 1020).

ADI 1.183 ED/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 19.10.2023

5.30 SERVIDORES PÚBLICOS

Aposentadoria compulsória: fixação de idade e eficácia temporal - ADI 5.378/DF

Resumo:
É inconstitucional lei estadual que, editada no período entre a promulgação da EC 88/2015 (7.5.2015)
e a publicação da Lei Complementar 152/2015 (03.12.2015), estende a idade de aposentadoria compulsória
para cargos que não estejam expressamente indicados na Constituição Federal de 1988.
Na linha da jurisprudência desta Corte, por se tratar de norma geral de reprodução obrigatória pelos
estados-membros, estes não possuem competência para legislar sobre o tema, de modo que é vedado ao constituinte
estadual estabelecer limite de idade para aposentadoria compulsória diverso do fixado pela Constituição Federal 456.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do inciso II do artigo 57 da Constituição do Estado de Alagoas e do artigo 45 de seu ADCT,

455
Lei 8.935/1994: “Art. 20. Os notários e os oficiais de registro poderão, para o desempenho de suas funções, contratar
escreventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como empregados, com remuneração livremente ajustada e sob o
regime da legislação do trabalho. § 1º Em cada serviço notarial ou de registro haverá tantos substitutos, escreventes e auxiliares
quantos forem necessários, a critério de cada notário ou oficial de registro. § 2º Os notários e os oficiais de registro encaminharão
ao juízo competente os nomes dos substitutos. § 3º Os escreventes poderão praticar somente os atos que o notário ou o oficial de
registro autorizar. § 4º Os substitutos poderão, simultaneamente com o notário ou o oficial de registro, praticar todos os atos que
lhe sejam próprios exceto, nos tabelionatos de notas, lavrar testamentos. § 5º Dentre os substitutos, um deles será designado pelo
notário ou oficial de registro para responder pelo respectivo serviço nas ausências e nos impedimentos do titular.”
456
Precedente citado: ADI 4.698.

163
ambos na redação dada pela EC 40/2015 457. Além disso, o Tribunal, por maioria, modulou os efeitos temporais da
decisão, a fim de que ela os produza apenas após a data da inclusão em pauta desta ação no Plenário Virtual do STF.

ADI 5.378/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

Plantão laborado por policiais civis: programa de jornada extra de segurança com contraprestação
pecuniária por valor previamente estipulado - ADI 7.356/PE

ODS: 16

Tese fixada:
“Não viola o art. 7º, XVI, da CF, o estabelecimento de programa de jornada extra de segurança com
prestação de serviço em período pré-determinado e com contraprestação pecuniária em valor previamente
estipulado, desde que a adesão seja voluntária.”

Resumo:
É constitucional — pois não afronta o direito dos policiais civis à percepção de horas extras — norma
estadual que institui programa de jornada extra de segurança (PJES) com adesão não obrigatória e cujo
serviço é prestado em período pré-determinado e com contraprestação pecuniária pré-definida.
Na espécie, a aceitação ao programa é facultativa, sem produzir efeitos na vida funcional do servidor
público. Os plantões previstos pelas normas impugnadas não configuram serviços extraordinários, razão pela qual
não incide o adicional de 50% (cinquenta por cento) sobre a hora normal trabalhada (CF/1988, art. 7º, XVI c/c o art.
39, § 3º). Portanto, os policiais, voluntariamente, desempenham atividades excedentes às suas atribuições
funcionais, sob regime especial de trabalho, e recebem valor já estipulado, pago a título de prêmio ou incentivo.
Nesse contexto, o referido programa concilia o fortalecimento das ações de defesa e segurança com a
necessária contenção de gastos com pessoal e o compromisso com a responsabilidade fiscal.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade do art. 2º do Decreto 30.866/2007 458 e do art. 3º e Anexos I, II, III e VI, do Decreto
38.438/2012459, ambos do Estado de Pernambuco.

ADI 7.356/PE, relatora Ministra Cármen Lúcia, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

457
Emenda 40/2015 à Constituição do Estado de Alagoas: “Art. 1º O art. 57 da Constituição Estadual passa a vigorar com a
seguinte alteração: ‘Art. 57 (...) II – compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
anos de idade ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma da Lei Complementar;’ Art. 2º O Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte artigo 45: ‘Art. 45. Até que entre em vigor a Lei
Complementar de que trata o inciso II do art. 57 da Constituição Estadual, os Desembargadores e Juízes de Direito do Tribunal
de Justiça do Estado de Alagoas, os membros do Ministério Público Estadual e os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado
de Alagoas, aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade’. Art. 3º Esta Emenda Constitucional
entrega em vigor na data da sua publicação.”
458
Decreto 30.866/2007 do Estado de Pernambuco: “Art. 2º Os valores nominais de pagamento pela participação no Programa
Jornada Extra de Segurança – PJES, passam a ser, a partir de 1º de outubro de 2007, os constantes do Anexo Único deste Decreto.
Parágrafo único. Serão igualmente remunerados, na forma e condições definidas para o Programa de que trata o presente Decreto,
os contingentes empregados em outras modalidades de jornada suplementar, a qualquer título, inclusive as decorrentes de
eventuais convênios específicos celebrados com órgãos operativos da SDS.”
459
Decreto 38.438/2012 do Estado de Pernambuco: “Art. 3º Os serviços, cujos respectivos valores por cargo e/ou classes
militares são os constantes do Anexo I, serão realizados em turnos de: (...) II - 12 (doze) horas para Policiais Civis; e (...) § 1º As
cotas do Programa de Jornada Extra de que trata o Decreto nº 38.438, de 2012, não poderão ser realizadas pelo mesmo policial
continuamente em mais de 12 (doze) horas, com exceção das guardas externas realizadas em unidades prisionais em municípios
com menos de 100.000 (cem mil) habitantes. § 2º Em situações excepcionais, será permitido aos Policiais Civis e Militares do
Estado de que trata o art. 1º o cumprimento de escalas em turnos de 24 (vinte e quatro) horas, respeitado o intervalo mínimo de
12 (doze) horas de descanso entre os serviços do PJES e os serviços ordinários e de expediente. § 3º Para os fins do disposto no §
2º, consideram-se situações excepcionais os serviços desenvolvidos pelos grupamentos do Corpo de Bombeiros Militar de
Pernambuco, pela Polícia Militar de Pernambuco, no âmbito das cadeias públicas do interior do Estado, e pela Polícia Científica,
no âmbito da unidade de remoção de corpos através do Instituto de Medicina Legal Antônio Persivo Cunha – IMLAPC, bem
como aqueles assim considerados em face de sua natureza ou especificidade.”

164
Salário-esposa concedido a servidores casados por meio de leis municipal e estadual - ADPF 860/SP e
ADPF 879/SP

ODS: 8

Tese fixada:
“O pagamento de ‘salário-esposa’ a trabalhadores urbanos e rurais, e a servidores públicos, viola
regra expressa da Constituição de 1988 (art. 7º, XXX e art. 39, § 3º), e os princípios republicano, da
igualdade, da moralidade e da razoabilidade.”

Resumo:
A concessão de quaisquer benefícios remuneratórios a trabalhadores rurais e urbanos, ou a
servidores públicos, deve estar vinculada ao desempenho funcional, de modo que qualquer adicional que seja
pago apenas em virtude de seu estado civil viola a Constituição Federal, por constituir desequiparação
ilegítima em relação aos demais.
O texto constitucional proíbe a diferenciação de salários em razão do estado civil dos trabalhadores urbanos
e rurais 460, norma que também se aplica, por disposição expressa, aos servidores públicos 461.
Destarte, a fixação de vantagens pecuniárias diferenciadas a servidores públicos apenas é justificável se
pautada em critérios razoáveis e plausíveis, e cuja finalidade seja o interesse público, pois devem guardar correlação
com o cargo e suas atribuições em face de alguma contrapartida de seus beneficiários.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, julgou procedentes as
ADPFs para declarar a não recepção pela Constituição Federal de 1988 das Leis 775/1978, 1.055/1985 e
1.077/1986, todas do Município de São Simão/SP, assim como (i) dos arts. 124, V (expressão “e salário-esposa”), e
162, caput e parágrafo único, da Lei 10.261/1968; (ii) do art. 22 (expressão “salário esposa”) da Lei Complementar
500/1974; (iii) dos arts. 5º, II, e 12 da Lei Complementar 546/1988; e (iv) dos Decretos 7.110/1975 e 20.303/1982,
todos do Estado de São Paulo. Além disso, o Tribunal modulou os efeitos temporais da decisão para afastar a
devolução dos valores pagos até a publicação da ata do presente julgamento.

ADPF 860/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 6.2.2023 (segunda-feira), às
23:59
ADPF 879/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 6.2.2023 (segunda-feira), às
23:59

5.31 SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

Condenação criminal transitada em julgado: possibilidade de nomeação e posse de aprovados em


concurso público - RE 1.282.553/RR (Tema 1.190 RG)

ODS: 8 e 10

Tese fixada:
“A suspensão dos direitos políticos prevista no artigo 15, III, da Constituição Federal (‘condenação
criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos’) não impede a nomeação e posse de
candidato aprovado em concurso público, desde que não incompatível com a infração penal praticada, em
respeito aos princípios da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho (CF, art. 1º, III e IV) e
do dever do Estado em proporcionar as condições necessárias para a harmônica integração social do
condenado, objetivo principal da execução penal, nos termos do artigo 1º da LEP (Lei nº 7.210/84). O início

460
CF/1998: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...) XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil;”
461
CF/1988: “Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e
remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. (...) § 3º Aplica-se aos servidores
ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX,
podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.”

165
do efetivo exercício do cargo ficará condicionado ao regime da pena ou à decisão judicial do juízo de
execuções, que analisará a compatibilidade de horários.”

Resumo:
É possível a nomeação e a posse de condenado criminalmente, de forma definitiva, devidamente
aprovado em concurso público, desde que haja compatibilidade entre o cargo a ser exercido e a infração
penal cometida, sendo que o efetivo exercício dependerá do regime de cumprimento da pena e da inexistência
de conflito de horários com a jornada de trabalho.
Não se pode interpretar a norma constitucional (CF/1988, art. 15, III) como restritiva de outros direitos
senão daqueles em relação aos quais se cumpre a finalidade da suspensão dos direitos políticos.
Essa suspensão funciona como efeito automático da condenação criminal definitiva e visa a impedir que o
condenado participe da vida política do Estado, com a consequente restrição da capacidade eleitoral ativa e
passiva462. Assim, a exigência de quitação das obrigações eleitorais para fins de investidura em cargo público (Lei
8.112/1990, art. 5º, III) não deve ser aplicável àquele cujo exercício do voto encontra-se obstaculizado pelos efeitos
da condenação criminal.
Ademais, ainda que o pleno gozo dos direitos políticos também seja um requisito legal para a investidura
em cargo público (Lei 8.112/1990, art. 5º, II), a condenação criminal transitada em julgado não impede, por si só, a
nomeação e posse do condenado regularmente aprovado em concurso, visto que os seus direitos civis e sociais
permanecem devidamente assegurados e, portanto, o direito de trabalhar e de ter acesso aos cargos públicos 463.
A ressocialização dos presos no País é um desafio que deve ser enfrentado dando-lhes a possibilidade de
estudo e de trabalho, motivo pelo qual o princípio da dignidade da pessoa humana (CF/1988, art. 1º, III) impõe ao
Estado o dever de proporcionar condições favoráveis à integração social do condenado por meio da valorização do
trabalho no âmbito da iniciativa privada e, fundamentalmente, na esfera pública (CF/1988, art. 1º, IV).
Na espécie, o condenado foi aprovado em concurso público para o cargo de auxiliar de indigenismo, o qual
não se mostra incompatível com a condenação por tráfico de drogas. Além disso, é beneficiário do livramento
condicional, de modo que inexiste conflito de horários para o exercício das atribuições do cargo.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.190 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.282.553/RR, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 4.10.2023

5.32 TRIBUNAL DE CONTAS

Exercício da função de judicatura de contas por Tribunal de Contas estadual: observância da


estrutura sistêmica constitucional da atividade de controle - ADI 5.530/MS

ODS: 16

Tese fixada:
“São inconstitucionais normas que atribuem a emissão de pareceres opinativos aos auditores de
Tribunal de Contas estadual, por incompatibilidade com a função de judicatura de contas estabelecida pelos
arts. 73, § 4º, e 75, caput, da Constituição.”

Resumo:
Os entes federados possuem autonomia para fixar, em lei, as atribuições para o cargo de auditor
(ministros ou conselheiros substitutos) do respectivo Tribunal de Contas, e podem, inclusive, inovar em
relação às fixadas na Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União (Lei 8.443/1992). Contudo, elas devem
sempre obedecer ao perfil judicante do cargo expressamente instituído pela Constituição Federal de 1988
(arts. 73, § 4º; e 75), indispensável para que as atividades desempenhadas pelas Cortes de Contas sejam
exercidas com qualidade, autonomia e isenção.
462
CF/1988: “Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: (...) III -
condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;”
463
Lei 7.210/1984 (Lei de Execuções Penais): “Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.”

166
A Constituição Federal de 1988 dispõe que o auditor, cujo cargo deve ser replicado nos Tribunais de Contas
dos estados, Distrito Federal e municípios 464, exerce “atribuições da judicatura” mesmo quando não estiver em
substituição de ministro ou conselheiro, sendo-lhes asseguradas as garantias e impedimentos próprios de juiz (art.
73, § 3º).
Nesse contexto, os auditores não se confundem com profissionais responsáveis pelas auditorias e
fiscalizações, ou com servidores que auxiliam na atividade de controle externo, uma vez que prestaram concurso
público específico para realizar o julgamento das contas públicas, relatar e instruir processos, propor decisões e, por
vezes, ter assento no colegiado465. Desse modo, a emissão de pareceres ou quaisquer atos opinativos contradiz as
atribuições e garantias judicantes previstas para o cargo, eis que configuram tarefas desprovidas de caráter decisório.
Ademais, a previsão na lei estadual impugnada atinente aos vencimentos e vantagens do cargo, com vistas a
garantir padrão compatível com o exercício da judicatura, situa-se no âmbito de sua autonomia federativa, conforme
jurisprudência desta Corte, que entende possível a vinculação remuneratória entre auditores e conselheiros de
Tribunais de Contas estaduais466.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para:
(i) declarar a inconstitucionalidade do art. 14, I, II, III, IV; e da expressão “dos Auditores”, contida no art. 53, II,
ambos da Lei Complementar 160/2012 do Estado do Mato Grosso do Sul 467; (ii) atribuir interpretação conforme a
Constituição à expressão “estabelecidas em lei”, contida no art. 80, § 5º, da Constituição do Estado do Mato Grosso
do Sul 468, a fim de explicitar que as atribuições do cargo de auditor, fixadas em lei, devem guardar pertinência com
a função de judicatura de contas; e (iii) declarar a inconstitucionalidade, por arrastamento, da redação originária do
art. 14 da Lei Complementar 160/2012 e do art. 19, I e II, da Lei Complementar 48/1990, ambas do Estado do Mato
Grosso do Sul, a fim de evitar efeito repristinatório.

ADI 5.530/MS, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

5.33 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO

Socorro financeiro destinado ao setor cultural e de eventos: inércia do Poder Executivo e necessidade
de prorrogação da execução orçamentária - ADI 7.232 TPI-Ref/DF

ODS: 16

Resumo:
Diante da inércia do Poder Executivo em adotar providências para cumprir de modo integral e
tempestivo a decisão do STF que suspendeu os efeitos da MP 1.135/2022 e manteve a obrigatoriedade da
entrega dos recursos financeiros destinados a apoiar o setor cultural e de eventos, é legítima a prorrogação do
prazo de execução financeira até o final do ano de 2023, a fim de garantir a eficácia da medida cautelar
deferida e referendada oportunamente 469.
Conforme ressaltado pelo TCU, os recursos repassados por força da Lei Complementar 195/2022
representam transferência obrigatória da União, razão pela qual podem ser utilizados após o final de 2022, mesmo
que não empenhados e inscritos em restos a pagar no exercício.

464
Precedente citado: ADI 1.994.
465
Precedente citado: ADI 6.945
466
Precedentes citados: ADI 6.945; ADI 6.939; ADI 6.962; ADI 6.951; ADI 6.953 e ADI 6.941.
467
Lei Complementar 160/2012 do Estado do Mato Grosso do Sul: “Art. 14. Ao Auditor compete: I - analisar e emitir parecer nos
processos relativos às prestações de contas de Governo e de gestão e às tomadas de contas; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 194, de 16 de setembro de 2014) II - emitir parecer nos recursos relativos às matérias compreendidas nas
disposições do inciso I; (Redação dada pela Lei Complementar nº 194, de 16 de setembro de 2014) III - emitir parecer nos demais
processos de competência do Tribunal, quando solicitado por Conselheiro; (Redação dada pela Lei Complementar nº 194, de 16
de setembro de 2014) (...) Art. 53. Os processos devem ser instruídos, conforme as respectivas competências: (...) II - pelos
pareceres dos Auditores e dos Procuradores do Ministério Público de Contas;”
468
Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul: “Art. 80. O Tribunal de Contas do Estado, integrado por sete Conselheiros,
tem sede na Capital, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território estadual, exercendo, no que couber, as atribuições
previstas no art. 114. (...) § 5º Os Auditores, quando em substituição a Conselheiros, terão as mesmas garantias, prerrogativas,
impedimentos, vencimentos e vantagens dos titulares e quando, no exercício das demais atribuições estabelecidas em lei, as dos
magistrados de nível imediatamente inferior ao do adotado para os Conselheiros.”
469
Precedente citado: ADI 7.232 MC-Ref/DF

167
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão que deferiu a tutela de
urgência (i) para autorizar a execução da Lei Complementar 195/2022 (Lei Paulo Gustavo) pelos entes federados até
31.12.2023 ou até que o Congresso Nacional conclua a apreciação da MP 1.135/2022, devolvendo-se ao Tesouro
Nacional os recursos não utilizados até aquela data, na forma das leis da República; (ii) para que seja efetuado pelos
órgãos federais competentes, especialmente o Ministério da Fazenda e o Ministério do Turismo, até o dia
31.12.2022, sem óbice direto ou indireto, sob pena de responsabilidade de quem der causa ou impedir o
cumprimento integral das normas, o empenho global e emissão de nota de empenho para a unidade gestora da
SECULT/MTUR, nos termos dos itens 3.2.2.7, 3.2.2.7.1, 3.2.2.7.2 e 3.2.2.7.3 do Manual do SIAFI, para fins de
cumprimento da Lei 4.320/1964, pela impossibilidade de serem discriminados os valores para os favorecidos pelo
empenho dos recursos, isto é, os entes federados pela plataforma +Brasil; e (iii) para que se inscreva a
SECULT/MTUR em restos a pagar relativamente aos recursos empenhados nos termos do item anterior.

ADI 7.232 TPI-Ref/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual, realizado em sessão virtual
extraordinária, finalizado em 2.2.2023 (quinta-feira), às 23:59

5.34 VINCULAÇÃO REMUNERATÓRIA

Vinculação da remuneração do Ministério Público com a da Magistratura - ADI 570/PE

ODS: 8

Resumo:
A vinculação entre os subsídios dos membros do Ministério Público, ou de função essencial à Justiça,
e a remuneração da magistratura é vedada pelo art. 37, XIII, da Constituição Federal de 1988470.
Tanto a disciplina constitucional originária quanto a nova redação trazida pela EC 19/1998 vedam a
vinculação remuneratória entre cargos públicos cujas atribuições sejam distintas, como é o caso de magistrados e
membros do Ministério Público 471.
Por outro lado, é possível estabelecer gratificação por exercício de função essencial à Justiça, em favor de
membro do Ministério Público com base no mesmo percentual e na mesma forma da gratificação dada ao
magistrado, uma vez que o percentual incide sobre o vencimento base de cada qual e constitui apenas um parâmetro
de cálculo.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, (i) julgou parcialmente procedente a ação para
declarar inconstitucionais o art. 3º da Lei 10.437/1990 e o caput do art. 3º da Lei 10.438/1990, ambas do Estado de
Pernambuco; e (ii) julgou improcedente a ação com relação à parte final do art. 2º dos referidos diplomas legais 472
473
.

ADI 570/PE, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

470
CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”
471
Precedentes citados: ADI 1.274; ADI 396 e ADI 1.756.
472
Lei 10.437/1990 do Estado de Pernambuco: “Art. 2º Além da representação referida no artigo anterior, é atribuída aos
membros do Ministério Público uma gratificação pelo exercício de função essencial à Justiça, excluída do limite fixado no artigo
7º da Lei nº 10.311, de 07 de agosto de 1989, e calculada no mesmo percentual e pela mesma forma da gratificação instituída
pelo artigo 2º da Lei nº 10.317, de 08 de agosto de 1989. Art. 3º Em cumprimento ao disposto no artigo 135 da Constituição da
República, e visando manter o sistema de remuneração estabelecido nesta lei, os vencimentos dos membros do Ministério
Público serão reajustados, por lei de iniciativa do Procurador Geral da Justiça, sempre que forem alterados os vencimentos dos
magistrados”.
473
Lei 10.438/1990 do Estado de Pernambuco: “Art. 2º Aos titulares dos cargos de que trata esta lei é atribuída uma gratificação
pelo exercício de função essencial à Justiça, excluída do limite fixado pelo artigo 7º da Lei n° 10.311, de 07 de agosto de 1989 e
calculada no mesmo percentual e pela mesma forma da gratificação instituída pela Lei n° 10.317, de 08 de agosto de 1989. Art.
3º Em cumprimento ao disposto no artigo 135 da Constituição Federal, os vencimentos dos cargos de que trata esta lei serão
reajustados sempre que forem alterados os vencimentos dos magistrados e dos membros do Ministério Público.”

168
6. DIREITO DO CONSUMIDOR

6.1 CONTRATOS DE CONSUMO

Contrato de transporte aéreo internacional: má prestação do serviço, danos extrapatrimoniais e


legislação aplicável - RE 1.394.401/SP (Tema 1.240 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“Não se aplicam as Convenções de Varsóvia e Montreal às hipóteses de danos extrapatrimoniais
decorrentes de contrato de transporte aéreo internacional.”

Resumo:
Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor em detrimento das Convenções de Varsóvia e Montreal
nos casos em que se discute a responsabilidade das empresas de transporte aéreo internacional por dano
moral resultante de atraso ou cancelamento de voo e de extravio de bagagem.
Em diversos precedentes, esta Corte se pronunciou no sentido de que a incidência das normas previstas nas
Convenções internacionais de Varsóvia e de Montreal, tal como definida no julgamento do RE 636.331/RJ (Tema
210 RG), restringe-se às hipóteses de indenização por danos materiais. Isso porque, naquele processo paradigma, o
objeto do recurso foi delimitado, excluindo-se a controvérsia sobre reparação por dano moral.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.240 RG) e, no mérito, também por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria474 para negar provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.394.401/SP, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 15.12.2022

7. DIREITO DO TRABALHO

7.1 EXECUÇÕES TRABALHISTAS

Criação, mediante lei, do Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas (Funget) - ADO 27/DF

Resumo:
Há omissão inconstitucional do Poder Legislativo quanto à edição de lei que crie o Fundo de
Garantia das Execuções Trabalhistas (Funget) — conforme previsto pelo artigo 3º da EC 45/2004 475 —, o
qual é integrado, entre outras receitas, pelas multas decorrentes de condenações trabalhistas e
administrativas oriundas da fiscalização do trabalho.
A regulamentação do Funget garante a efetividade da prestação jurisdicional com a satisfação dos créditos
trabalhistas, motivo pelo qual se revela como um facilitador da execução trabalhista, tema cuja importância é
internacionalmente reconhecida (Convenção 173 da OIT, arts. 9º ao 13).
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a tramitação de projeto de lei não obsta a
caracterização de omissão inconstitucional, especialmente, se inobservado um prazo razoável de deliberação 476.
Na espécie, verifica-se omissão passível de ser reputada inconstitucional, evidenciada pelo lapso temporal
decorrido entre a publicação da EC 45/2004 e pela existência de projeto de lei em tramitação há dezesseis anos, e
sem andamento há três.

474
Precedentes citados: RE 1.221.934 AgR-ED-EDv-AgR; RE 1.240.833 AgR-EDv-AgR; RE 1.305.427 ED-AgR; RE 1.332.295
AgR; RE 1.332.687 AgR; RE 1.357.115 AgR; RE 1.336.056 AgR; Rcl 42.371 AgR; e Rcl 50.411 AgR.
475
EC 45/2004: “Art. 3º. A lei criará o Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas, integrado pelas multas decorrentes de
condenações trabalhistas e administrativas oriundas da fiscalização do trabalho, além de outras receitas.”
476
Precedentes citados: ADI 3.682 e ADO 30.

169
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, (i) declarou a mora do Congresso Nacional em
editar a lei pela qual se institui o Funget, nos termos determinados pelo art. 3º da EC 45/2004; e (ii) fixou o prazo de
24 meses, a contar da data da publicação do acórdão, para que a omissão inconstitucional seja sanada.

ADO 27/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

7.2 FORMAÇÃO TÉCNICA E PROFISSIONAL; PROGRAMA JOVEM APRENDIZ

Programa Jovem Aprendiz: contratação de profissionais por empresas participantes no âmbito


estadual - ADI 7.148/RO

ODS: 4

Tese fixada:
“É inconstitucional lei estadual que regulamenta o programa jovem aprendiz, por invasão da
competência privativa da União para legislar sobre direito do trabalho.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito do
trabalho (CF/1988, art. 22, I) — norma estadual que regulamenta o Programa Jovem Aprendiz.
O estabelecimento de diretrizes e a fixação de parâmetros para a contratação de profissionais jovens
aprendizes pelas empresas participantes do mencionado programa é disciplina que diz respeito às relações de
trabalho.
Nesse contexto, a pretexto de disciplinar o Programa Jovem Aprendiz, a lei estadual impugnada criou
disposições distintas do regramento federal, previsto pela CLT 477, como, por exemplo, a previsão de prioridades de
contratação próprias e a hipótese de extinção do contrato de aprendizagem 478.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, converteu o julgamento da cautelar em definitivo de
mérito e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei 4.716/2020 do Estado de Rondônia 479.
ADI 7.148/RO, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.4.2023 (segunda-feira), às
23:59

7.3 NORMAS DE PROTEÇÃO AO TRABAHADOR

Lei dos Caminhoneiros e condições de trabalho do motorista profissional rodoviário - ADI 5.322/DF

ODS: 3 e 8

477
CLT/1943: “Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo
determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, em programa de
aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o
aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação. (Redação dada pela Lei nº 11.180, de 2005)”
478
Precedentes citados: ADI 6.133; ADI 1.862 e ADI 2.609.
479
Lei 4.716/2020 do Estado de Rondônia: “Art. 1º As empresas que participam do Programa Jovem Aprendiz no Estado de
Rondônia deverão seguir as normativas previstas na presente Lei, sob pena de sanção. Art. 2º Para as contratações previstas na
Lei nº 10.097, de 2000, as empresas no Estado de Rondônia deverão dar prioridade aos alunos com as seguintes necessidades: I -
serem alunos de baixa renda; II - possuírem um rendimento escolar mediano ou baixo; III - que já participem de algum programa
de compensação social; e IV - que pratiquem "bicos" para auxiliar no sustento da família. Art. 3º As empresas deverão auxiliar o
Jovem Aprendiz a melhorar as condições socioeconômicas de sua família, para que o aluno possa focar nos Estudos. Art. 4º Nas
oportunidades que couber, a empresa deverá fornecer ou permitir ao Jovem Aprendiz a participar de cursos técnicos
profissionalizantes. Art. 5º O aluno deve aumentar seu rendimento acadêmico para um nível adequado para que possa obter a
média necessária para receber a aprovação em todas as disciplinas cursadas no primeiro ano da contratação, sob pena de ter o
contrato de aprendizagem extinto. Art. 6º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no que couber. Art. 7º Esta Lei entra em
vigor na data de sua publicação.”

170
Resumo:
São inconstitucionais dispositivos da “Lei dos Caminhoneiros” (Lei 13.103/2015) que desrespeitam os
direitos socias e as normas de proteção ao trabalhador (CF/1988, art. 7º), tais como os que preveem (a) a
redução e/ou o fracionamento dos intervalos intrajornadas e do descanso semanal remunerado; e (b) a
hipótese de descanso de motorista com o veículo em movimento; e aquele que (c) exclui do cômputo da
jornada diária de trabalho do motorista profissional o tempo decorrido durante a carga ou a descarga do
veículo, ou, ainda, a fiscalização da mercadoria.
O gozo do período restante de descanso interjornada, durante os intervalos da jornada diária de labor ou no
interior do veículo, além de impedir a completa recuperação física e mental do motorista — o que reflete
diretamente na segurança das rodovias —, desnatura a própria finalidade do descanso entre jornadas, direito social
indisponível.
Da mesma forma, a previsão de descanso com o veículo em movimento, quando dois motoristas
trabalharem em revezamento, desrespeita o que previsto constitucionalmente quanto à segurança e saúde do
trabalhador. Não há que se cogitar que o devido descanso ocorra em um veículo em movimento, o qual, muitas das
vezes, sequer possui acomodação adequada para o corpo repousar após a jornada diária ou semanal de trabalho.
Ademais, o chamado “tempo de espera” não pode ser excluído da jornada normal de trabalho nem da
jornada extraordinária, sob pena de causar efetivo prejuízo ao trabalhador, além de desvirtuar a própria relação
jurídica trabalhista existente.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário conheceu em parte da ação direta e, nessa
extensão, a julgou parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade: (i) por maioria, da expressão
“sendo facultados o seu fracionamento e a coincidência com os períodos de parada obrigatória na condução do
veículo estabelecida pela Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, garantidos o
mínimo de 8 (oito) horas ininterruptas no primeiro período e o gozo do remanescente dentro das 16 (dezesseis)
horas seguintes ao fim do primeiro período”, prevista na parte final do § 3º do art. 235-C; (ii) por maioria, da
expressão “não sendo computadas como jornada de trabalho e nem como horas extraordinárias”, prevista na parte
final do § 8º do art. 235-C; (iii) por unanimidade, da expressão “e o tempo de espera”, disposta na parte final do § 1º
do art. 235-C, por arrastamento; (iv) por unanimidade, do § 9º do art. 235-C, sem efeito repristinatório; (v) por
maioria, da expressão “as quais não serão consideradas como parte da jornada de trabalho, ficando garantido,
porém, o gozo do descanso de 8 horas ininterruptas aludido no § 3º”, do § 12 do art. 235-C; (vi) por maioria, da
expressão “usufruído no retorno do motorista à base (matriz ou filial) ou ao seu domicílio, salvo se a empresa
oferecer condições adequadas para o efetivo gozo do referido repouso”, constante do caput do art. 235-D; (vii) por
unanimidade, dos §§ 1º, 2º e 5º do art. 235-D; (viii) por unanimidade, do inciso III do art. 235-E, todos da CLT,
com a redação dada pelo art. 6º da Lei 13.103/2015; e (ix) por maioria, da expressão “que podem ser fracionadas,
usufruídas no veículo e coincidir com os intervalos mencionados no § 1º, observadas no primeiro período 8 horas
ininterruptas de descanso”, na forma como prevista no § 3º do art. 67-C do CTB, com redação dada pelo art. 7º da
Lei 13.103/2015.

ADI 5.322/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

7.4 REFORMA TRABALHISTA

Reforma Trabalhista: possibilidade de acordo individual para adoção da jornada 12 por 36 horas -
ADI 5.994/DF

Resumo:
É constitucional — na medida em que privilegia a liberdade de escolha do trabalhador e reforça o
equilíbrio entre os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa — norma da “ Reforma Trabalhista” (Lei
13.467/2017) que permite, por meio de acordo individual escrito entre o empregador e o trabalhador, a
adoção da jornada de 12 horas de trabalho seguidas por 36 horas ininterruptas de descanso.
A Constituição Federal não proíbe a jornada de 12 x 36 horas. Embora preveja a duração normal do
trabalho não superior a 8 horas diárias e 44 semanais, ela admite a relativização do tempo trabalhado mediante a
compensação de horários e a redução da jornada, ainda que por acordo ou convenção coletiva de trabalho (CF/1988,
art. 7º, XIII). Na espécie, as 4 horas diárias a mais são compensadas por 36 horas seguidas de descanso.
Nesse contexto, a possibilidade de acordo individual para a referida finalidade privilegia a liberdade do
trabalhador em optar por uma jornada já amplamente utilizada no ordenamento brasileiro, além de equilibrar os

171
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa 480, fundamentos da República Federativa do Brasil (CF/1988, art. 1º,
IV, c/c o art. 170, caput).
Ademais, a jurisprudência desta Corte reconhece a constitucionalidade dessa jornada para os bombeiros
civis e, até mesmo antes do advento da “Reforma Trabalhista”, a Súmula 444 do Tribunal Superior do Trabalho já
previa a sua aceitação481.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para reconhecer a
constitucionalidade do art. 59-A, caput e parágrafo único, da CLT, na redação dada pela Lei 13.467/2017 482.

ADI 5.994/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Reforma trabalhista: regras para uniformização da jurisprudência na Justiça do Trabalho - ADI


6.188/DF

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violar o princípio da separação de Poderes e a autonomia dos tribunais —
iniciativa do Poder Legislativo que cerceia a atribuição dos Tribunais Regionais do Trabalho e do Tribunal
Superior do Trabalho, derivada da própria função jurisdicional que lhes é inerente, de estabelecer, alterar ou
cancelar enunciados sumulares.
Embora a Constituição Federal de 1988 confira à União a iniciativa privativa para legislar em matéria de
processo, permanecem como competência do Poder Judiciário a definição de seus regimentos internos e a iniciativa
de leis que disponham sobre sua autonomia política, orgânica e administrativa 483 484.
Nesse contexto, ao dispor acerca da uniformização da jurisprudência pelos tribunais, o CPC não fixou
quórum, número de sessões ou outro parâmetro para a consecução dessa incumbência, eis que se trata de questão
reservada aos órgãos jurisdicionais colegiados de cada uma das cortes de justiça, segundo balizas interna
corporis485.

480
Precedente citado: ADPF 324.
481
Precedente citado: ADI 4.842.
482
CLT/1943: “Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 desta Consolidação, é facultado às partes, mediante acordo
individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho de doze horas seguidas por
trinta e seis horas ininterruptas de descanso, observados ou indenizados os intervalos para repouso e alimentação. (Incluído pela
Lei 13.467, de 2017) Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada pelo horário previsto no caput deste artigo abrange os
pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado e pelo descanso em feriados, e serão considerados compensados os
feriados e as prorrogações de trabalho noturno, quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 desta Consolidação.
(Incluído pela Lei 13.467, de 2017)”
483
CF/1988: “Art. 96. Compete privativamente: I - aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos
internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o
funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; (...) Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia
administrativa e financeira. § 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados
conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. § 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros
tribunais interessados, compete: I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais; II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos
Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. § 3º Se os órgãos referidos no § 2º não
encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder
Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária
vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º deste artigo. § 4º Se as propostas orçamentárias de que
trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos
ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 5º Durante a execução orçamentária do exercício,
não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de
diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.”
484
Precedentes citados: ADI 1.606; ADI 4.243; ADI 2.012; ADI 2.907; ADI 2.700; HC 143.333; AI 727.503 AgR-ED-EDv-
AgR-ED; MS 28.447; ADI 1.642 e ADI 98.
485
CPC/2015: “Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. § 1º Na forma
estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes
a sua jurisprudência dominante. § 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos
precedentes que motivaram sua criação.”

172
Ademais, não há qualquer circunstância distintiva que autorize um tratamento anti-isonômico entre as
várias cortes de justiça, em especial porque os tribunais integrantes da Justiça do Trabalho também são órgãos do
Poder Judiciário (CF/1988, art. 92).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 702, I, f, §§ 3º e 4º da CLT (Decreto-Lei 5.452/1943), na redação dada pela Lei
13.467/2017 486.

ADI 6.188/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento
virtual finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

Reforma Trabalhista: tabelamento e limitação dos valores de indenização por danos extrapatrimoniais
oriundos da relação de trabalho - ADI 6.050/DF, ADI 6.069/DF e ADI 6.082/DF

ODS: 8, 9, 10 e 16

Resumo:
É constitucional o tabelamento para fins de fixação do valor de indenização por dano moral
trabalhista previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Contudo, os montantes elencados na lei
não podem ser interpretados como um “teto”, mas apenas servem como parâmetro para a fundamentação da
decisão judicial, de modo a permitir que ela, desde que devidamente motivada, determine o pagamento de
quantias superiores.
Diante da discrepância das decisões judiciais no País, a “Reforma Trabalhista” (Lei 13.467/2017), ao
estabelecer esses indicadores e referenciais, buscou, na medida do possível, garantir tratamento isonômico aos
empregadores e empregados.
Conforme jurisprudência desta Corte, é inconstitucional a tarifação prévia e abstrata dos montantes de
indenização por dano extrapatrimonial mediante modelo legislativo que subtraia totalmente do juiz o seu
arbitramento, tornando-o um mero aplicador de cifras pré-determinadas que não podem ser adaptadas às
especificidades do caso concreto 487. Todavia, isso não equivale à proibição de métodos que auxiliem, a partir da
listagem de critérios interpretativos objetivos, na quantificação do dano, pois aptos a balizarem o livre
convencimento motivado do magistrado.
Ademais, na hipótese de eventuais lacunas na aplicação da legislação trabalhista, é possível o emprego
supletivo do Código Civil (Título IX) no âmbito das relações trabalhistas, contanto que não haja contrariedade com
o regime previsto na CLT.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta, julgou parcialmente
procedentes as ações para conferir interpretação conforme a Constituição e estabelecer que: (i) as redações
conferidas aos art. 223-A e 223-B, ambos da CLT 488, não excluem o direito à reparação por dano moral indireto ou
dano em ricochete (dano reflexo) no âmbito das relações de trabalho, a ser apreciado nos termos da legislação civil;
e (ii) os critérios de quantificação de reparação por dano extrapatrimonial previstos no art. 223-G, caput e § 1º, da
CLT, deverão ser observados pelo julgador como orientativos de fundamentação da decisão judicial, sendo
constitucional, porém, o arbitramento judicial do dano em valores superiores aos limites máximos dispostos nos
incisos I a IV do § 1º do art. 223-G, quando consideradas as circunstâncias do caso concreto e os princípios da
razoabilidade, da proporcionalidade e da igualdade 489.

486
CLT/1943: “Art. 702 - Ao Tribunal Pleno compete: I - em única instância: (...) f) estabelecer ou alterar súmulas e outros
enunciados de jurisprudência uniforme, pelo voto de pelo menos dois terços de seus membros, caso a mesma matéria já tenha
sido decidida de forma idêntica por unanimidade em, no mínimo, dois terços das turmas em pelo menos dez sessões diferentes
em cada uma delas, podendo, ainda, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou
decidir que ela só tenha eficácia a partir de sua publicação no Diário Oficial; (…) § 3º As sessões de julgamento sobre
estabelecimento ou alteração de súmulas e outros enunciados de jurisprudência deverão ser públicas, divulgadas com, no mínimo,
trinta dias de antecedência, e deverão possibilitar a sustentação oral pelo Procurador-Geral do Trabalho, pelo Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil, pelo Advogado-Geral da União e por confederações sindicais ou entidades de classe de
âmbito nacional. § 4º O estabelecimento ou a alteração de súmulas e outros enunciados de jurisprudência pelos Tribunais
Regionais do Trabalho deverão observar o disposto na alínea f do inciso I e no § 3º deste artigo, com rol equivalente de
legitimados para sustentação oral, observada a abrangência de sua circunscrição judiciária.”
487
Precedentes citados: RE 447.584 e ADPF 130.
488
CLT/1943: “Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho
apenas os dispositivos deste Título. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a
ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do
direito à reparação. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).”

173
ADI 6.050/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 6.069/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 6.082/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

7.5 RESCISÃO TRABALHISTA

Extinção de entidades da Administração Pública estadual e condicionamento, por decisão judicial, à


prévia conclusão de negociação coletiva - ADPF 486/RS

ODS: 8 e 16

Resumo:
São nulas — por violarem os princípios da separação dos Poderes e da legalidade — as decisões
judiciais que condicionam a rescisão de contratos de trabalho de empregados públicos não estáveis à prévia
conclusão de negociação coletiva, de modo a impedir que o estado federado realize atos tendentes a
descontinuar a atividade das fundações, sociedades de economia mista e autarquias estaduais.
A extinção de entidades da Administração Pública indireta deve ser autorizada por lei, inexistindo outras
condicionantes no texto constitucional 490. Ademais, é atribuição do chefe do Poder Executivo o tratamento da
organização da Administração Pública, podendo criar e extinguir entidades da Administração indireta, mediante lei,
conforme o melhor interesse da administração, devendo os funcionários dessas entidades serem concursados e
regidos pela CLT, observadas as exceções expressamente previstas constitucionalmente.
Na espécie, os pronunciamentos da Justiça do Trabalho condicionam a implementação de programa de
desestatização à conclusão de negociações coletivas, o que enseja conflito entre os Poderes, na medida em que
interferem na gestão estadual e obstaculizam a execução de decisões políticas tomadas pelo Poder Executivo e
acolhidas pelo Poder Legislativo estadual.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, não conheceu do pedido de
aditamento à inicial e, no mérito, julgou parcialmente procedente a ação para declarar a nulidade das aludidas
decisões judiciais.

ADPF 486/RS, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

7.6 VERBAS REMUNERATÓRIAS, INDENIZATÓRIAS E BENEFÍCIOS

Piso salarial nacional de enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem e parteira - ADI 7.222 MC-Ref-
segundo/DF

ODS: 3, 8 e 16

Resumo:
À luz do princípio federativo (CF/1988, arts. 1º, “caput”; 18; 25; 30; e 60, § 4º, I), o piso salarial
nacional da enfermagem deve ser pago pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios na medida dos
repasses dos recursos federais.
Mesmo após a edição da EC 127/2022 e da Lei 14.581/2023, previu-se uma forma apenas parcial e
temporária de a União transferir os recursos financeiros para custear a implementação do piso salarial nacional aos
489
CLT/1943: “Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará: I - a natureza do bem jurídico tutelado; II - a intensidade
do sofrimento ou da humilhação; III - a possibilidade de superação física ou psicológica; IV - os reflexos pessoais e sociais da
ação ou da omissão; V - a extensão e a duração dos efeitos da ofensa; VI - as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo
moral; VII - o grau de dolo ou culpa; VIII - a ocorrência de retratação espontânea; IX - o esforço efetivo para minimizar a ofensa;
X - o perdão, tácito ou expresso; XI - a situação social e econômica das partes envolvidas; XII - o grau de publicidade da ofensa. .
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017). § 1o Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos
ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017): I - ofensa de natureza
leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido; II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário
contratual do ofendido; III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido; IV - ofensa de
natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido.” (todos incluídos pela Lei nº 13.467, de 2017).”
490
Precedente citado: ADI 1.348.

174
entes subnacionais, razão por que inexiste a indicação de uma fonte segura capaz de arcar com os encargos
financeiros impostos aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios para além do corrente ano de 2023.
Nesse contexto, o pagamento a ser efetuado pelos entes subnacionais e seus órgãos da Administração
Pública indireta está condicionado ao aporte de recursos pela União (CF/1988, art. 198, §§ 14 e 15) 491. Eventual
insuficiência dessa complementação financeira, portanto, impõe à União providenciar crédito suplementar. Se
inexistir fonte que possa fazer frente aos custos exigidos, não será demandado dos referidos entes o cumprimento do
piso da Lei 14.434/2022.
No caso de carga horária reduzida, o piso salarial deve ser proporcional às horas trabalhadas.
O piso corresponde ao valor mínimo a ser pago em função da jornada de trabalho completa (CF/1988, art.
7º, XIII), de modo que a remuneração pode ser reduzida proporcionalmente se a jornada de trabalho for inferior, à
luz do senso comum e da ideia mínima de justiça 492.
Em relação aos profissionais celetistas em geral, a negociação coletiva entre as partes é exigência
procedimental imprescindível à implementação do piso salarial nacional. Nesse caso, prevalecerá o negociado
sobre o legislado.
Esse ajuste entre os sindicatos laborais e patronais viabiliza a adequação do piso salarial à realidade dos
diferentes hospitais e entidades de saúde pelo País e atenua o risco de externalidades negativas, especialmente
demissões em massa e prejuízo aos serviços de saúde 493. Não havendo acordo, incidirá a Lei 14.434/2022, que tem a
sua eficácia diferida pelo prazo de 60 dias (CLT, art. 616, § 3º, por aplicação analógica), contados da data de
publicação da ata deste julgamento, inclusive se já houver convenção ou acordo coletivo em vigor sobre o assunto 494.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, referendou a decisão de 15.5.2023, que revogou
parcialmente a medida cautelar deferida em 4.9.2022, acrescida de complementação, a fim de que sejam
restabelecidos os efeitos da Lei 14.434/2022 495, à exceção da expressão “acordos, contratos e convenções coletivas”
(art. 2º, § 2º), com a implementação do piso salarial nacional por ela instituído nos seguintes moldes:

491
CF/1988: “Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: (...) § 14. Compete à União, nos termos da lei, prestar
assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios e às entidades filantrópicas, bem como aos
prestadores de serviços contratualizados que atendam, no mínimo, 60% (sessenta por cento) de seus pacientes pelo sistema único
de saúde, para o cumprimento dos pisos salariais de que trata o § 12 deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 127, de
2022) § 15. Os recursos federais destinados aos pagamentos da assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios e às entidades filantrópicas, bem como aos prestadores de serviços contratualizados que atendam, no
mínimo, 60% (sessenta por cento) de seus pacientes pelo sistema único de saúde, para o cumprimento dos pisos salariais de que
trata o § 12 deste artigo serão consignados no orçamento geral da União com dotação própria e exclusiva. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 127, de 2022)”
492
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...) XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;”
493
Precedente citado: RE 999.435.
494
CLT/1943: “Art. 616 - Os Sindicatos representativos de categorias econômicas ou profissionais e as empresas, inclusive as
que não tenham representação sindical, quando provocados, não podem recusar-se à negociação coletiva. (Redação dada pelo
Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967) (...) 3º Havendo convenção, acordo ou sentença normativa em vigor, o dissídio coletivo deverá
ser instaurado dentro dos sessenta dias anteriores ao respectivo termo final, para que o novo instrumento possa ter vigência no dia
imediato a esse termo.”
495
Lei 14.434/2022: “Art. 1º A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 15-A, 15-B,
15-C e 15-D: ‘Art. 15-A. O piso salarial nacional dos Enfermeiros contratados sob o regime da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, será de R$ 4.750,00 (quatro mil setecentos e
cinquenta reais) mensais. Parágrafo único. O piso salarial dos profissionais celetistas de que tratam os arts. 7º, 8º e 9º desta Lei é fixado
com base no piso estabelecido no caput deste artigo, para o Enfermeiro, na razão de: I - 70% (setenta por cento) para o Técnico de Enfermagem;
II - 50% (cinquenta por cento) para o Auxiliar de Enfermagem e para a Parteira.’ ‘Art. 15-B. O piso salarial nacional dos
Enfermeiros contratados sob o regime dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais,
nos termos da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, será de R$ 4.750,00 (quatro mil setecentos e cinquenta reais) mensais.
Parágrafo único. O piso salarial dos servidores de que tratam os arts. 7º, 8º e 9º desta Lei é fixado com base no piso estabelecido
no caput deste artigo, para o Enfermeiro, na razão de: I - 70% (setenta por cento) para o Técnico de Enfermagem; II - 50%
(cinquenta por cento) para o Auxiliar de Enfermagem e para a Parteira.’ ‘Art. 15-C. O piso salarial nacional dos Enfermeiros
servidores dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de suas autarquias e fundações será de R$ 4.750,00 (quatro mil
setecentos e cinquenta reais) mensais. Parágrafo único. O piso salarial dos servidores de que tratam os arts. 7º, 8º e 9º desta Lei é
fixado com base no piso estabelecido no caput deste artigo, para o Enfermeiro, na razão de: I - 70% (setenta por cento) para o
Técnico de Enfermagem; II - 50% (cinquenta por cento) para o Auxiliar de Enfermagem e para a Parteira.’ ‘Art. 15-D.
(VETADO).’ Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. § 1º O piso salarial previsto na Lei nº 7.498, de 25 de
junho de 1986, entrará em vigor imediatamente, assegurada a manutenção das remunerações e dos salários vigentes superiores a
ele na data de entrada em vigor desta Lei, independentemente da jornada de trabalho para a qual o profissional ou trabalhador foi
admitido ou contratado. § 2º Os acordos individuais e os acordos, contratos e convenções coletivas respeitarão o piso salarial
previsto na Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, considerada ilegal e ilícita a sua desconsideração ou supressão.”

175
(i) em relação aos servidores públicos civis da União, autarquias e fundações públicas federais (Lei
7.498/1986, art. 15-B), a implementação do piso salarial nacional deve ocorrer na forma prevista
na Lei 14.434/2022;
(ii) em relação aos servidores públicos dos estados, Distrito Federal, municípios e de suas autarquias e
fundações (Lei 7.498/1986, art. 15-C), bem como aos profissionais contratados por entidades
privadas que atendam, no mínimo, 60% de seus pacientes pelo SUS (Lei 7.498/1986, art. 15-A):
(ii.a) a implementação da diferença remuneratória resultante do piso salarial
nacional deve ocorrer na extensão do quanto disponibilizado, a título de “assistência
financeira complementar”, pelo orçamento da União (CF/1988, art. 198, §§ 14 e 15, com
redação dada pela EC 127/2022);
(ii.b) eventual insuficiência da “assistência financeira complementar”
mencionada no item “ii.a” instaura o dever da União de providenciar crédito suplementar,
cuja fonte de abertura serão recursos provenientes do cancelamento, total ou parcial, de
dotações tais como aquelas destinadas ao pagamento de emendas parlamentares
individuais ao projeto de lei orçamentária destinadas a ações e serviços públicos de saúde
(CF/1988, art. 166, § 9º) ou direcionadas às demais emendas parlamentares (inclusive de
Relator-Geral do Orçamento). Não sendo tomada tal providência, não será exigível o
pagamento por parte dos entes referidos no item “ii”; e
(ii.c) uma vez disponibilizados os recursos financeiros suficientes, o pagamento
do piso salarial deverá ser proporcional nos casos de carga horária inferior a 8 (oito) horas
por dia ou 44 (quarenta e quatro) horas semanais.
(iii) Além disso, pelo voto médio, o Plenário também referendou o seguinte item “i” da decisão, nestes
termos: em relação aos profissionais celetistas em geral (Lei 7.498/1986, art. 15-A), a
implementação do piso salarial nacional deverá ser precedida de negociação coletiva entre as
partes, como exigência procedimental imprescindível, levando em conta a preocupação com
demissões em massa ou prejuízos para os serviços de saúde. Não havendo acordo, incidirá a Lei
14.434/2022, desde que decorrido o prazo de 60 (sessenta) dias, contados da data de publicação da
ata deste julgamento.

ADI 7.222 MC-Ref-segundo/DF, relator Ministro Roberto Barroso, redatores do acórdão Ministros Roberto Barroso
e Gilmar Mendes (voto conjunto), julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

8. DIREITO ELEITORAL

8.1 ELEIÇÕES INDIRETAS

Dupla vacância na chefia do Poder Executivo: eleições indiretas e autonomia estadual para
estabelecer a respectiva solução normativa - ADPF 969/AL

ODS: 16

Tese fixada:
“Os Estados possuem autonomia relativa na solução normativa do problema da dupla vacância da
Chefia do Poder Executivo, não estando vinculados ao modelo e ao procedimento federal (art. 81, CF), mas
tampouco pode desviar-se dos princípios constitucionais que norteiam a matéria, por força do art. 25 da
Constituição Federal devendo observar: (i) a necessidade de registro e votação dos candidatos a Governador
e Vice-Governador por meio de chapa única; (ii) a observância das condições constitucionais de elegibilidade
e das hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14 da Constituição Federal e na Lei Complementar a que
se refere o § 9º do art. 14; e (iii) que a filiação partidária não pressupõe a escolha em convenção partidária
nem o registro da candidatura pelo partido político; (iv) a regra da maioria, enquanto critério de averiguação
do candidato vencedor, não se mostra afetada a qualquer preceito constitucional que vincule os Estados e o
Distrito Federal.”

Resumo:

176
Os estados não estão vinculados ao modelo e ao procedimento federal (CF/1988, art. 81) para a
resolução normativa do problema da dupla vacância da chefia do Poder Executivo ocorrida no último biênio
do período governamental e decorrente de causas não eleitorais, mas encontram limites em outros preceitos e
princípios constitucionais (CF/1988, art. 25).
Deve ser observado o princípio da unicidade da chapa de governador e vice-governador, de forma que não
se admite a cindibilidade dessas candidaturas para a eleição indireta, pois é indissociável do próprio modelo
constitucional de exercício dos cargos (CF/1988, arts. 28 e 77). Assim, as inscrições das candidaturas ou as eleições
aos cargos não podem ser segregadas496.
Também devem ser observadas as condições constitucionais de elegibilidade e as hipóteses de
inelegibilidade previstas no art. 14 da CF/1988 497, inclusive as estabelecidas na legislação complementar
mencionada em seu § 9º. A exigência de filiação partidária, contudo, não representa obrigatoriedade de escolha do
candidato em convenção partidária e de registro da candidatura pelo partido político.
Quanto ao modo de votação na Assembleia Legislativa, é constitucional o estabelecimento em ato
normativo estadual de que seja nominal e aberto.
No que diz respeito ao critério majoritário de eleição para a declaração do vencedor, a norma estadual não
se vincula a qualquer preceito constitucional, razão pela qual pode existir previsão da sucessão de escrutínio com
critérios distintos, o que objetiva evitar, sobretudo, que grupos parlamentares menores bloqueiem qualquer solução
que imponha maioria absoluta.
É compatível com a Constituição Federal de 1988, pois não afronta o direito fundamental ao devido
processo legal, a regulamentação estadual do procedimento de inscrição dos aludidos candidatos com prazos
exíguos, por configurar medida necessária para que o impasse institucional não se prolongue
demasiadamente.
Nesse contexto, é necessário procedimento de registro de candidatura célere, motivo pelo qual inexiste, no
caso concreto, incompatibilidade entre os prazos e meios de impugnação e as exigências a serem cumpridas para
validação da inscrição, tampouco irrazoabilidade ou desproporcionalidade a impor a intervenção jurisdicional.
Com base nesses e em outros entendimentos 498, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente
procedente a ação, nos termos da medida cautelar anteriormente deferida, para: (a) conferir interpretação conforme a
Constituição ao item I do Edital de Convocação das Eleições Indiretas para o Preenchimento dos Cargos de
Governador e Vice-Governador do Estado de Alagoas de 8.4.2022 do Presidente da Assembleia Legislativa
Estadual499 e ao art. 4º da Lei alagoana 8.576/2022500, a fim de estabelecer que o registro e a votação dos candidatos
a governador e vice-governador devem ser realizados em chapa única; e (b) conferir interpretação conforme a
496
CF/1988: “Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro
domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do
mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77 desta
Constituição. (...) Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de
outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato
presidencial vigente. § 1º A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele registrado.”
497
CF/1988: “Art. 14. (...) § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I – a nacionalidade brasileira; II – o pleno
exercício dos direitos políticos; III – o alistamento eleitoral; IV – o domicílio eleitoral na circunscrição; V – a filiação partidária;
VI – a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para
Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou
Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou
substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. § 6º Para concorrerem a outros
cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos
respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou
Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I – se
contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado
pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. § 9º Lei complementar
estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a
moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
indireta.”
498
Precedentes citados: ADI 1.057 MC; ADI 1.057; ADI 2.709; ADI 4.298; ADI 5.418; ADI 5.619 e MI 6.938 AgR.
499
Edital de Convocação das Eleições Indiretas para o Preenchimento dos Cargos de Governador e Vice-Governador do Estado
de Alagoas: “I – O interessado deverá apresentar o registro de sua candidatura a Governador ou Vice-Governador perante a Mesa
Diretora da Assembleia Legislativa para concorrer as Eleições Indiretas a ser realizada em Sessão Extraordinária, exclusiva, no
dia 02 de maio de 2022, às 10h, no Plenário Deputado Tarcísio de Jesus da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas.”
500
Lei 8.576/2022 do Estado de Alagoas: “Art. 4º A eleição dar-se-á mediante voto nominal e aberto, e em escrutínios distintos, o
primeiro, para Governador, e o outro, para Vice-Governador, exigida maioria absoluta de votos, em primeiro escrutínio, e
maioria simples, em segundo escrutínio, presente a maioria absoluta dos Deputados.”

177
Constituição ao item II do mencionado edital de convocação 501 e, por decorrência lógica, ao art. 2º da Lei
8.576/2022 do Estado de Alagoas 502, a fim de estabelecer que (i) nos termos do precedente firmado na ADI
1.057/BA, a candidatura ao certame condiciona-se à observância das condições constitucionais de elegibilidade e
das hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14 da CF/1988 e na Lei Complementar a que se refere em seu § 9º;
e (ii) a filiação partidária não pressupõe a escolha em convenção partidária, tampouco o registro da candidatura pelo
partido político.

ADPF 969/AL, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 14.8.2023 (segunda-feira), às
23:59

8.2 MANDATO

Licença de deputado estadual para tratar de interesse particular e convocação de suplente - ADI
7.253/AC

ODS: 16

Resumo:
O prazo previsto para a convocação de suplente, no caso de licença de parlamentar para tratar de
interesses particulares (CF/1988, art. 56, § 1º), é de observância obrigatória pelos estados-membros e deve ser
adotado pelas respectivas Assembleias Legislativas.
Conforme jurisprudência desta Corte, o princípio da simetria submete estados e municípios a observarem,
em suas ordens jurídicas, os parâmetros estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 503.
Na espécie, a norma impugnada, ao diminuir o prazo para convocação de suplente de deputado estadual
licenciado, propicia a alternância excessiva no exercício do mandato e até mesmo o abuso da prerrogativa de licença
para tratar de interesse particular, em ofensa aos princípios republicano, democrático, da soberania popular e da
moralidade administrativa504.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “para tratar, sem remuneração, de interesse particular, por prazo superior a 60
(sessenta) dias”, prevista no § 1º do art. 43 da Constituição do Estado do Acre505.

ADI 7.253/AC, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

501
Edital de Convocação das Eleições Indiretas para o Preenchimento dos Cargos de Governador e Vice-Governador do Estado
de Alagoas: “II – Poderá Inscrever somente a um dos cargos, em até 72 (setenta e duas) horas antes da data da realização da
eleição, qualquer cidadão ou cidadã, desde que atenda a condição de ser brasileiro(a) maior de 30 (trinta) aos e respeitadas as
condições constitucionais e legais de elegibilidade.”
502
Lei 8.576/2022 do Estado de Alagoas: “Art. 2º Poderá inscrever a um dos cargos, perante a Mesa Diretora da Assembleia,
qualquer cidadão, desde que atenda a condição de ser brasileiro maior de 30 (trinta) anos, até 72 (setenta e duas) horas antes da
data da realização da eleição.”
503
Precedente citado: ADI 507.
504
CF/1988: “Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na
Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima
de doze. § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-sê-lhes as regras desta Constituição sobre
sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças
Armadas. (...) Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador: I – investido no cargo de Ministro de Estado, Governador
de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática
temporária; II – licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse particular,
desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa. § 1º O suplente será convocado nos
casos de vaga, de investidura em funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento e vinte dias.”
505
Constituição do Estado do Acre: “Art. 43. Não perderá o mandato o Deputado: (...) § 1º Dar-se-á a convocação de suplente nos
casos de vaga, de investidura em funções previstas neste artigo, de licença para tratamento de saúde por prazo superior a 120
(cento e vinte) dias e de licença para tratar, sem remuneração, de interesse particular, por prazo superior a 60 (sessenta) dias.”

178
8.3 PROCESSO ELEITORAL

Candidaturas femininas nas eleições proporcionais: punição no caso de fraudes e limitação de seu
alcance - ADI 6.338/DF

ODS: 5 e 16

Resumo:
É constitucional o entendimento jurisprudencial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) segundo o
qual é: (i) cabível a utilização da Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) para apuração de fraude à
cota de gênero; e (ii) imperativa a cassação do registro ou do diploma de todos os candidatos beneficiados por
essa fraude.
A fraude à cota de gênero, consubstanciada no lançamento fictício de candidaturas femininas — tão
somente para preencher o mínimo de 30% (trinta por cento), sem o empreendimento de atos de campanhas,
arrecadação de recursos, dentre outros — materializa conduta transgressora da cidadania (CF/1988, art. 1º, II), do
pluralismo político (CF/1988, art. 1º, V), da isonomia (CF/1988, art. 5º, I), subverte a política pública afirmativa e
afeta substancialmente a legitimidade, a normalidade e a lisura do pleito (CF/1988, art. 1º, parágrafo único, e art. 14,
caput, § 9º).
A utilização desse expediente fraudulento gera uma competição ilegítima pelo voto popular, uma vez que
ocasiona grave desequilíbrio entre os participantes em disputa. Como consequência, a sua prática proporciona o
registro de montante mais elevado de postulantes masculinos, o incremento do quociente partidário e,
consequentemente, do número de cadeiras alcançadas.
Nesse contexto, o TSE tem compreendido que toda fraude é uma conduta abusiva sob a óptica jurídica, o
que legitima a utilização da AIJE e da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) para apurar a ocorrência,
ou não, da fraude. Desse modo, a cassação do registro ou do diploma, em relação a todos os beneficiários do ato
fraudulento e abusivo, é efeito consequencial necessário da procedência do pedido deduzido em AIJE.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições) 506 e do art. 22, XIV, da Lei Complementar
64/1990 (Lei das Inelegibilidades)507.

ADI 6.338/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 31.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Candidaturas “sub judice” no sistema eleitoral proporcional e aproveitamento dos votos pelos partidos
políticos - ADI 4.513/DF, ADI 4.542/DF e ADPF 223/DF

ODS: 16

Tese fixada:
“Em atenção aos princípios democrático, da soberania popular e da centralidade dos partidos
políticos no sistema proporcional, o parágrafo único do art. 16-A da Lei 9.504/1997 deve ser interpretado no
sentido de excluir do cômputo para o respectivo partido apenas os votos atribuídos ao candidato cujo registro
esteja indeferido ‘sub judice’ no dia da eleição, não se aplicando no caso de candidatos com pedido de registro
deferido ou não apreciado.”

506
Lei 9.504/1997: “Art. 10. (...) § 3º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação
preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo.”
507
LC 64/1990: “Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à
Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e
pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade,
ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido
o seguinte rito: (...) XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a
inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade
para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou
diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de
autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de
processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar;”

179
Resumo:
Em regra, nas eleições proporcionais, devem ser computados como válidos para os partidos políticos
os votos dados aos candidatos “sub judice” cujos registros de candidatura estejam deferidos ou sem análise
pela Justiça eleitoral na data da realização do sufrágio e que, após a votação, sejam indeferidos por decisão
judicial.
As candidaturas sub judice referem-se aos candidatos cujos pedidos de registro ainda não contam com
deferimento definitivo na data das eleições e compreendem três situações distintas: (i) pedido de registro indeferido
com recurso pendente, (ii) pedido de registro deferido com recurso pendente; e (iii) pedido de registro ainda não
apreciado.
Por força dos princípios democrático, da soberania popular e da centralidade dos partidos políticos no
sistema eleitoral proporcional, o parágrafo único do art. 16-A da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições) deve ser
interpretado no sentido de excluir da contagem para as legendas apenas os votos atribuídos ao candidato sub judice
cujo registro esteja indeferido no dia da votação.
Na hipótese de registro de candidatura deferido ou não apreciado, e cuja situação venha a ser revertida por
decisão judicial após as eleições, os votos, embora não possam ser aproveitados pelo próprio candidato, serão
contabilizados em favor da agremiação pela qual ele concorreu 508, contribuindo para a formação do quociente
partidário.
Ademais, não fica impedida a posterior anulação de votos quando comprovado qualquer tipo de má-fé,
fraude ou manipulação processual para obter decisão de deferimento do registro ou retardar a apreciação do pedido
de registro de candidato manifestamente inelegível. Nesse contexto, é possível excepcionar a regra geral de
aproveitamento dos votos para as agremiações, a fim de se evitar que sejam criadas burlas ao sistema e para reprimir
as tentativas capazes de afetar a própria normalidade eleitoral.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, não conheceu da ADPF 223/DF,
conheceu parcialmente da ADI 4.542/DF e, integralmente da ADI 4.513/DF. Na extensão em que conhecidas as
ações, o Plenário, também por unanimidade, as julgou procedentes para atribuir interpretação conforme a
Constituição ao art. 16-A, parágrafo único, da Lei 9.504/1997509.

ADI 4.513/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às
23:59
ADI 4.542/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às
23:59
ADPF 223/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 12.4.2023 (quarta-feira), às
23:59

Cláusula de desempenho individual e escolha de suplentes - ADI 6.657/DF

Tese fixada:
“A exceção à exigência de votação nominal mínima, prevista para a posse de suplentes, constante do
art. 112, parágrafo único, do Código Eleitoral, não ofende a Constituição.”

Resumo:
É constitucional — por ausência de violação ao princípio democrático ou ao sistema proporcional das
eleições para o Poder Legislativo — a inexigência de cláusula de desempenho individual para a definição de
suplentes de vereador e de deputados federal e estadual.
Cabe à legislação infraconstitucional estabelecer os detalhes das regras atinentes ao sistema eleitoral
proporcional, não sendo possível extrair qualquer interpretação da Constituição Federal que condicione a posse dos
suplentes de parlamentares à votação mínima de 10% do quociente eleitoral 510.

508
Código Eleitoral: “Art. 175. (...) § 3º Serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a candidatos inelegíveis ou não
registrados. § 4º O disposto no parágrafo anterior não se aplica quando a decisão de inelegibilidade ou de cancelamento de
registro for proferida após a realização da eleição a que concorreu o candidato alcançado pela sentença, caso em que os votos
serão contados para o partido pelo qual tiver sido feito o seu registro.”
509
Lei 9.504/1997: “Art. 16-A. O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar todos os atos relativos à campanha
eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome mantido na urna eletrônica enquanto
estiver sob essa condição, ficando a validade dos votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por instância
superior. Parágrafo único. O cômputo, para o respectivo partido ou coligação, dos votos atribuídos ao candidato cujo registro
esteja sub judice no dia da eleição fica condicionado ao deferimento do registro do candidato.”
510
Precedente citado: ADI 5.920.

180
A ponderação legislativa se mostra razoável e prestigia o sistema proporcional e os partidos políticos, pois
assegura que o partido do titular mantenha a sua representatividade, mesmo no caso de posse do suplente, além de
preservar uma linha partidário-ideológica que seja harmoniosa entre a pessoa que assumirá o cargo legislativo e a
que o deixou.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade do art. 112, parágrafo único, da Lei 4.737/1965 (Código Eleitoral), na redação dada pelo art. 4º
da Lei 13.165/2015511.

ADI 6.657/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

Gastos com publicidade institucional no primeiro semestre do ano eleitoral: alteração dos critérios do
cálculo da média e princípio da anterioridade eleitoral - ADI 7.178/DF e ADI 7.182/DF

ODS: 16

Resumo:
É constitucional a modificação dos critérios de cálculo para a fixação do limite de gastos com
publicidade institucional dos órgãos públicos no primeiro semestre do ano eleitoral, promovendo ajustes na
redação do art. 73, VII, da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições). Entretanto, essa alteração não se aplica ao pleito
eleitoral de 2022, em razão do princípio da anterioridade eleitoral (CF/1988, art. 16).
Na espécie, estão presentes os suportes fáticos imprescindíveis à incidência do princípio da anterioridade
eleitoral, uma vez que o conteúdo das medidas impugnadas interage com normas proibitivas que tutelam a
idoneidade e a competitividade do processo eleitoral.
Não se vislumbra ofensa entre as regras fixadas pela Lei 14.356/2022 e o postulado da isonomia ou
igualdade de chances entre os candidatos, na medida em que elas não traduzem um salvo conduto para o aumento de
despesas, desvio de finalidade ou utilização da publicidade institucional em benefício de partidos e candidatos. Ao
contrário, a lei se limita a alterar os critérios de aferição da média de gastos efetuados sob essa rubrica, além de
prever índice de correção monetária e permitir a realização de propaganda direcionada à pandemia da Covid-19, sem
prejudicar outras campanhas de interesse público.
Ademais, a matéria versada pela norma impugnada não confronta o princípio da eficiência administrativa,
sobretudo porque, eventuais abusos serão devidamente apurados pela Justiça Eleitoral (Lei 14.356/2022, art. 4º).
Também não há elementos para se concluir que a mera alteração nos critérios implicará em ofensa ao princípio da
moralidade administrativa, notadamente se considerado o contexto em que ela foi editada.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, julgou parcialmente
procedentes as ações, apenas para conferir interpretação conforme a Constituição no sentido de que a inovação
trazida nos arts. 3º e 4º da Lei 14.356/2022 512 não se aplica ao pleito de 2022, em virtude do princípio da
anterioridade eleitoral513.

ADI 7.178/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59
ADI 7.182/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

511
Código Eleitoral: “Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que tenham obtido votos em
número igual ou superior a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente partidário indicar,
na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido. (Redação dada pela Lei nº14.211, de 2021) (...) Art.112. Considerar-
se-ão suplentes da representação partidária: (...) Parágrafo único. Na definição dos suplentes da representação partidária, não há
exigência de votação nominal mínima prevista pelo art. 108. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015).”
512
Lei 14.356/2022: “(...) Art. 3º O art. 73 da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com as seguintes
alterações: Art. 73. (...) VII - empenhar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade dos órgãos públicos
federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a 6 (seis) vezes a média
mensal dos valores empenhados e não cancelados nos 3 (três) últimos anos que antecedem o pleito; (...) § 14. Para efeito de
cálculo da média prevista no inciso VII do caput deste artigo, os gastos serão reajustados pelo IPCA, aferido pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou outro índice que venha a substituí-lo, a partir da data em que foram
empenhados. Art. 4º Não se sujeita às disposições dos incisos VI e VII do caput do art. 73 da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de
1997, a publicidade institucional de atos e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais e de suas respectivas
entidades da administração indireta destinados exclusivamente ao enfrentamento da pandemia causada pelo coronavírus SARS-
CoV-2 e à orientação da população quanto a serviços públicos relacionados ao combate da pandemia, resguardada a possibilidade
de apuração de eventual conduta abusiva, nos termos da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997.”
513
O julgamento da medida cautelar, que foi parcialmente deferida, foi divulgado no Informativo 1062/2022.

181
8.4 SISTEMA ELEITORAL PROPORCIONAL

Revisão periódica da proporcionalidade na relação deputado/população: omissão legislativa do


Congresso Nacional e sentença construtiva - ADO 38/DF

ODS: 16

Resumo:
A mora legislativa na edição de lei complementar para proceder aos ajustes necessários à adequação
do número de deputados federais à proporção da população de cada estado e do Distrito Federal configura
omissão inconstitucional do Congresso Nacional em dar efetividade à segunda parte do art. 45, § 1º, da
CF/1988.
A exigência da referida proporcionalidade se coloca no ordenamento jurídico como um princípio
constitucional. Assim, o não cumprimento do comando de seu restabelecimento periódico — na medida em que cria
assimetria representativa — implica em violação ao direito político fundamental ao sufrágio das populações das
unidades federativas sub-representadas e, por conseguinte, em contrariedade ao princípio democrático.
A inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 1º da Lei Complementar 78/1993 firmada por esta
Corte514 — em virtude da indelegabilidade da regulamentação da matéria — reforça o estado de inércia deliberada
do Congresso Nacional, o que não é descaracterizado pela mera existência de projetos de lei complementar em
tramitação no Poder Legislativo 515.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a mora do Congresso Nacional quanto à edição da lei complementar prevista na segunda parte do § 1º do
art. 45 da CF/1988 516, fixando prazo até 30 de junho de 2025 para que seja sanada a omissão, pela redistribuição
proporcional das cadeiras hoje existentes. O Tribunal também entendeu que, após esse prazo, e na hipótese de
persistência da omissão inconstitucional, caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinar, até 1º de outubro
de 2025, o número de deputados federais de cada estado e do Distrito Federal para a legislatura que se iniciará em
2027, bem como o consequente número de deputados estaduais e distritais (CF/1988, arts. 27, caput; e 32, § 3º ) 517,
observado o piso e o teto constitucional por circunscrição e o número total de parlamentares previsto na Lei
Complementar 78/1993, com base nos dados demográficos coletados pelo IBGE no Censo 2022 e na metodologia
utilizada por ocasião da edição da Resolução TSE 23.389/2013.

ADO 38/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 25.8.2023 (sexta-feira), às 23:59

8.5 TRANSPORTE DE ELEITORES

Obrigatoriedade do Estado em ofertar transporte público coletivo gratuito nos dias de eleições - ADPF
1.013/DF

ODS: 10, 11 e 16

Tese fixada:

514
Precedentes citados: ADI 4.947; ADI 4.963; ADI 4.965; ADI 5.020 e ADI 5.028.
515
Precedente citado: ADI 3.682.
516
CF/1988: “Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em
cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal. § 1º O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e
pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes
necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de
setenta Deputados.”
517
CF/1988: “Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na
Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima
de doze. (...) Art. 32. (...) § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27.”

182
“É inconstitucional a omissão do poder público em ofertar, nas zonas urbanas em dias de eleições,
transporte público coletivo de forma gratuita e em frequência compatível com aquela praticada em dias
úteis.”

Resumo:
Configura omissão inconstitucional do Poder Público a falta de oferta, com a mesma frequência e
regularidade dos dias úteis, de transporte público coletivo gratuito nas zonas urbanas em dia de eleições.
O fornecimento desse serviço já é previsto para os eleitores residentes em zonas rurais (Lei 6.091/1974 e
Resolução TSE 23.669/2021). Assim, a falha em assegurar o exercício do direito ao voto a todos os cidadãos
representa violação ao texto constitucional (CF/1988, art. 14), na medida em que é dever do Estado adotar medidas
capazes de concretizar os direitos previstos na Constituição Federal, no caso, que todos tenham plenas condições de
participar do processo eleitoral.
A ausência de política pública com essa finalidade tem o potencial de criar, na prática, um novo tipo de
voto censitário, que retira dos mais pobres a possibilidade de participação no processo eleitoral, tendo em vista a
extrema desigualdade social existente no Brasil. Ademais, a medida promove o combate à ilegalidade, evitando que
o transporte seja utilizado estrategicamente em localidades específicas e sirva como instrumento de interferência no
resultado eleitoral.
Nesse contexto, a ausência de normatização da matéria compromete a plena efetividade dos direitos
políticos, de modo que é legítima a atuação do STF para garantir o cumprimento do texto constitucional e, ao
mesmo tempo, reconhecer a preferência do Congresso Nacional em instituir a providência.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente
a ação para: (i) confirmar, no mérito, a medida cautelar concedida; (ii) fazer apelo ao Congresso Nacional para que
edite lei regulamentadora da política de gratuidade de transporte público nas zonas urbanas em dias de eleições, com
frequência compatível com aquela praticada em dias úteis; e, (iii) caso não editada a lei referida no item anterior,
determinar ao Poder Público que, a partir das eleições municipais de 2024, oferte, nas zonas urbanas em dias de
eleições, transporte coletivo municipal e intermunicipal, inclusive o metropolitano.

ADPF 1.013/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento finalizado em 18.10.2023

9. DIREITO FINANCEIRO

9.1 CONTRATOS

Plano de Auxílio aos estados e ao Distrito Federal: desistência e não ajuizamento de ações judiciais
como condição para a concessão e manutenção dos benefícios - ADI 7.168/DF

ODS: 8

Tese fixada:
“É constitucional a exigência legal de renúncia expressa e irrevogável pelos Estados-membros ao
direito em que se fundam ações judiciais que discutem dívida ou contrato objeto de renegociação com a
União.”

Resumo:
É constitucional — por ausência de ofensa aos princípios da inafastabilidade da jurisdição e aos
postulados da razoabilidade e da proporcionalidade — dispositivo legal que, nos contratos de
refinanciamento das dívidas dos estados e do Distrito Federal com a União, impõe como condição para a
concessão e a manutenção dos benefícios previstos na lei a desistência e o não ajuizamento de ações judiciais
que tenham por objeto a dívida ou o contrato renegociado.
A jurisprudência desta Corte, diante da faculdade em celebrar o termo aditivo de repactuação, já
reconheceu o caráter voluntário da adesão ao programa de renegociação da dívida previsto pela Lei Complementar
(LC) 156/2016, a qual estabelece o Plano de Auxílio aos estados e ao Distrito Federal 518. Nesse contexto, o ente
518
Precedentes citados: Pet 7.444 e ACO 3.085 AgR.

183
devedor pode escolher se mantém a discussão judicial sobre a dívida específica ou se, em juízo de oportunidade e
conveniência, desiste do processo judicial correspondente para que o seu débito receba o tratamento mais benéfico
proporcionado pela lei.
Essa exigência legal tem por escopo a própria concretização operacional do referido Plano de Auxílio, em
especial a apuração e a consolidação segura dos saldos devedores, uma vez que elimina interferências externas,
assegura previsibilidade aos contratantes e distribui de forma mais equitativa os ônus do ajuste entre as partes
envolvidas.
Ademais, a condição imposta não gera situação de vantagem desproporcional por parte da União, pois
concede benesse financeira aos entes mediante a prorrogação do prazo de pagamento de seus débitos e a redução dos
valores das prestações mensais das dívidas.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade do art. 1º, § 8º, da LC 156/2016519.

ADI 7.168/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

9.2 FEDERALISMO FISCAL

ICMS: efeitos da concessão de benefícios fiscais sobre o cálculo da parcela devida aos municípios na
repartição de receitas tributárias - RE 1.288.634/GO (Tema 1.172 RG)

Tese fixada:
“Os programas de diferimento ou postergação de pagamento de ICMS — a exemplo do
FOMENTAR e do PRODUZIR, do Estado de Goiás — não violam o sistema constitucional de repartição de
receitas tributárias previsto no art. 158, IV, da Constituição Federal, desde que seja preservado o repasse da
parcela pertencente aos municípios quando do efetivo ingresso do tributo nos cofres públicos estaduais.”

Resumo:
A obrigação de transferência da quota pertencente aos municípios sobre o produto da arrecadação
do ICMS, relativa à repartição constitucional das receitas tributárias, só ocorre quando há o efetivo
recolhimento do tributo, isto é, quando configurada a receita pública por parte do estado-membro.
O Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás (Fomentar) e o Programa de
Desenvolvimento Industrial de Goiás (Produzir) são benefícios fiscais convalidados tanto pelo Conselho Nacional
de Polítca Fazendária (CONFAZ) como pela Lei Complementar 160/2017 e cujos regramentos não violam o texto
constitucional 520.
Os referidos programas, apesar de não o explicitarem, tratam da hipótese de postergação ou diferimento do
recolhimento de ICMS, pois os termos “financiamento” e “empréstimo” neles utilizados consistem, em verdade, na
redução do montante de ICMS a ser recolhido no mês, com o pagamento do restante em parcelas subsequentes.
Logo, as parcelas “financiadas”/”emprestadas” ainda não ingressaram nos cofres estaduais.
Por não tratarem de parcela do produto de ICMS já arrecadado, a qual seria devida aos municípios, a
controvérsia relativa ao repasse de programas dessa natureza se distingue daquela tratada no Tema 42 da
repercussão geral 521. Por outro lado, com base no entendimento firmado no julgamento do Tema 653 da repercussão
geral 522, não se pode exigir — à luz do conceito técnico de arrecadação — o repasse aos municípios da parcela
diferida/postergada de ICMS.
A conclusão precoce pela obrigatoriedade de transferência apenas com base no ICMS escriturado fere a
autonomia federativa dos estados para implementar seus programas de benefícios fiscais, além de permitir impacto
negativo em seu equilíbrio fiscal.
519
LC 156/2016: “Art. 1o A União poderá adotar, nos contratos de refinanciamento de dívidas celebrados com os Estados e o
Distrito Federal com base na Lei nº 9.496, de 11 de setembro de 1997, e nos contratos de abertura de crédito firmados com os
Estados ao amparo da Medida Provisória nº 2.192-70, de 24 de agosto de 2001, mediante celebração de termo aditivo, o prazo
adicional de até duzentos e quarenta meses para o pagamento das dívidas refinanciadas. (...) § 8º A concessão do prazo adicional
de até duzentos e quarenta meses de que trata o caput deste artigo e da redução extraordinária da prestação mensal de que trata o
art. 3º depende da desistência de eventuais ações judiciais que tenham por objeto a dívida ou o contrato ora renegociados, sendo
causa de rescisão do termo aditivo a manutenção do litígio ou o ajuizamento de novas ações.”
520
CF/1988: “Art. 158. Pertencem aos Municípios: (...) IV – vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do
Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação.”
521
Precedente citado: RE 572.762 (Tema 42 RG).
522
Precedente citado: RE 705.423 (Tema 653 RG).

184
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.172 da repercussão geral,
conheceu do recurso extraordinário e negou-lhe provimento, além de julgar prejudicado o pedido de suspensão
nacional dos processos que discorram sobre o tema.

RE 1.288.634/GO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às
23:59

9.3 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

LDO distrital: cálculo do limite da despesa total com pessoal para o exercício financeiro e exclusão
dos valores relativos aos contratos de terceirização de mão-de-obra - ADI 5.598 MC/DF

ODS: 17

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência da União para estabelecer normas gerais sobre direito
financeiro e orçamentário (CF/1988, art. 24, I, II e §§ 1º a 4º) e por afrontar o princípio do equilíbrio fiscal
(CF/1988, art. 169) — lei distrital que, ao tratar do cálculo do limite da despesa total com pessoal para o
exercício financeiro, estabelece regime contrário ao fixado na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Na espécie, os diplomas distritais questionados, ao preverem que não se qualificam como substituição de
servidores e empregados públicos os contratos de terceirização de mão-de-obra cujo objeto é o desempenho de
atividades com determinadas características, invadem a competência da União e se antecipam ao intérprete da
legislação federal, em sentido colidente com o propósito do art. 18, § 1º, da LC 101/2000, a LRF 523.
Nesse contexto, o legislador distrital não pode, a pretexto de suplementar e especificar o sentido da referida
norma geral federal, alterar o seu significado de modo a afastar a sua incidência sobre hipótese em que, na realidade,
deveria incidir.
Ademais, as leis impugnadas, que dispõem sobre as diretrizes orçamentárias para os exercícios financeiros
de 2017 e 2018 do Distrito Federal, conferem ao Poder Executivo a possibilidade de excluir do cômputo das
despesas com pessoal, discricionariamente, todo e qualquer contrato de terceirização firmado pela Administração
distrital, de modo a consagrar a realização de despesa com pessoal em excesso aos limites estabelecidos na LRF 524.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da medida cautelar em
julgamento definitivo de mérito, conheceu parcialmente da ação e, nessa extensão, a julgou procedente para declarar
a inconstitucionalidade formal e material do art. 51, § 1º, da Lei 5.695/2016 525, e do art. 53, § 1º, da Lei
5.950/2017526, ambas do Distrito Federal.

523
LRF/2000: “Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com pessoal: o somatório dos
gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou
empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens,
fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e
vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de
previdência. § 1º Os valores dos contratos de terceirização de mão-de-obra que se referem à substituição de servidores e
empregados públicos serão contabilizados como ‘Outras Despesas de Pessoal’.”
524
Precedente citado: ADI 5.449 MC-Ref.
525
Lei 5.695/2016 do Distrito Federal: “Art. 51. O disposto no art. 18, § 1º, da LRF, aplica-se para fins de cálculo do limite da
despesa total com pessoal. § 1º Não se consideram como substituição de servidores e empregados públicos, para efeito do caput,
os contratos de terceirização relativos à execução indireta de atividades que, simultaneamente: I - sejam acessórias, instrumentais
ou complementares aos assuntos que constituem área de competência legal do órgão ou entidade; II - atenda a pelo menos uma
das seguintes situações: a) não se refiram a categorias funcionais abrangidas por plano de cargos do quadro de pessoal do órgão
ou entidade, salvo expressa disposição legal em contrário, ou b) se refiram a cargo ou categoria extinta, total ou parcialmente, c)
tenha sua desnecessidade declarada por meio de ato administrativo.”
526
Lei 5.950/2017 do Distrito Federal: “Art. 53. O disposto no art. 18, § 1º, da LRF, aplica-se para fins de cálculo do limite da
despesa total com pessoal. § 1º Não se consideram como substituição de servidores e empregados públicos, para efeito do caput,
os contratos de terceirização relativos à execução indireta de atividades que, simultaneamente: I – sejam acessórias, instrumentais
ou complementares aos assuntos que constituem área de competência legal do órgão ou entidade; II - atenda a pelo menos uma
das seguintes situações: a) não se refiram a categorias funcionais abrangidas por plano de cargos do quadro de pessoal do órgão
ou entidade, salvo expressa disposição legal em contrário; b) se refiram a cargo ou categoria extinta, total ou parcialmente; c)
tenha sua desnecessidade declarada por meio de ato administrativo.”

185
ADI 5.598/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Lei de Diretrizes Orçamentárias estadual: limitação das despesas previstas em folha complementar
pertencentes ao Poder Judiciário e ao Ministério Público e exigência de participação conjunta - ADI
7.340 MC-Ref/CE

ODS: 16

Resumo:
Encontram-se presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar, pois (i) há plausibilidade
jurídica quanto às alegações de que a norma cearense em debate não oportunizou a devida participação do
Poder Judiciário e do Ministério Público cearenses no ciclo orçamentário para o exercício de 2023; e (ii) há
perigo da demora na prestação jurisdicional, porque, na execução mensal do orçamento público do ente
cearense, a norma impugnada renovou a inconstitucional limitação da autonomia financeira do Poder
Judiciário e do Ministério Público estaduais outrora verificada na LDO 2022 (Lei 17.573/2021 do Estado do
Ceará).
Em apreciação envolvendo objeto similar ao do presente caso, esta Corte fixou a seguinte tese de
julgamento: “É inconstitucional a limitação de despesas da folha complementar do Ministério Público Estadual do
Estado do Ceará em percentual da despesa anual da folha normal de pagamento, sem a devida participação efetiva
do órgão financeiramente autônomo no ato de estipulação em conjunto dessa limitação na Lei de Diretrizes
Orçamentárias”527.
Nesse contexto, a grande probabilidade de a norma que dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e
execução da lei orçamentária cearense para o exercício de 2023 não ter possibilitado a participação do Poder
Judiciário e do Ministério Público estaduais, revela a aparente inconstitucionalidade do objeto ora hostilizado, por
violação à sistemática orçamentária e financeira528.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a medida cautelar deferida, com
eficácia ex tunc, para: (i) declarar a inconstitucionalidade da expressão “e Judiciário, no Ministério Público
Estadual”, contida no art. 74, § 5º, da Lei 18.159/2022 do Estado do Ceará 529; (ii) determinar que, até o julgamento
definitivo do mérito desta ação, não haja qualquer limitação por parte dos Poderes Executivo e Legislativo que se
fundamente no objeto ora impugnado em termos de execução orçamentária do Poder Judiciário e do Ministério
Público cearenses, no que se refere às despesas em folha suplementar em função de percentual dos gastos em folha
normal de pagamento, inclusive quanto ao mês de janeiro de 2023; e (iii) determinar aos Poderes Executivo e
Legislativo do Estado do Ceará que se abstenham de incluir norma limitativa da execução de despesas previstas em
folha suplementar do Poder Judiciário ou do Ministério Público estaduais, sem prévia e devida participação destes,
sob pena de responsabilidade em todas esferas cabíveis de quem der causa ou impedir o cumprimento integral dessa
decisão.

ADI 7.340 MC-Ref/CE, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 17.3.2023 (sexta-feira),
às 23:59
527
Precedente citado: ADI 7.073.
528
CF/1988: “Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. § 1º Os tribunais elaborarão suas
propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.
(...) Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (...) § 2º Ao Ministério Público é
assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a
criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a
política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento. § 3º O Ministério Público
elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. (...) Art. 168. Os recursos
correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos
Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês,
em duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º.”
529
Lei 18.159/2022 do Estado do Ceará: “Art. 74. Para efeito da elaboração e execução da despesa de pessoal, os Poderes e
órgãos consignarão dotações específicas, distinguindo pagamento da folha normal e pagamento da folha complementar. (...) § 5º
As despesas da folha complementar do exercício de 2023 não poderão exceder a 1% (um por cento) da despesa anual da folha
normal de pagamento de pessoal projetada para o exercício de 2023, em cada um dos Poderes, Executivo, Legislativo,
compreendendo o Tribunal de Contas do Estado, e Judiciário, no Ministério Público Estadual e na Defensoria Pública,
ressalvados o caso previsto no inciso I do § 3º deste artigo, e os casos definidos em lei específica.”

186
9.4 REPASSE DE VERBAS PÚBLICAS

Complementação ao Fundef: pagamento de débito originado de erro no cálculo das verbas a serem
repassadas pela União e regime de precatórios - RE 635.347/DF (Tema 416 RG)

ODS: 16

Teses fixadas:
1. “A complementação ao FUNDEF realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em
desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos.” 2. “Sendo tal
obrigação imposta por título executivo judicial, aplica-se a sistemática dos precatórios, nos termos do art. 100
da Constituição Federal.”

Resumo:
Quando ordenado em título executivo judicial, deve ser observada a sistemática dos precatórios
(CF/1988, art. 100, “caput”) para o pagamento das quantias que deixaram de ser repassadas pela União a
título de complementação financeira ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorização do Magistério (Fundef).
A adoção de parâmetros nacionais não descaracteriza o caráter regional dos fundos de natureza contábil,
gerenciados pelos estados federados, e objetiva igualar os investimentos em educação na Federação. Nesse contexto,
a jurisprudência desta Corte530 dispõe que o montante da referida complementação deve ser calculado com base no
valor mínimo nacional por aluno extraído da média nacional, de modo que o erro no cômputo impõe à União o
dever de suplementar os recursos.
A metodologia de cálculo que frustre a equiparação do valor mínimo por aluno à média nacional esbarra
não apenas na própria razão de criação do Fundef, mas em um dos objetivos fundamentais da República: a redução
das desigualdades sociais e regionais (CF/1988, art. 3º, III).
Ademais, como inexiste exceção constitucional específica, as quantias devidas devem ser quitadas
conforme o regime de precatórios, independentemente de sua destinação vinculada à educação 531.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 416 da repercussão
geral, deu parcial provimento ao recurso extraordinário para determinar que o pagamento da complementação da
União ao Fundef observe a sistemática dos precatórios.

RE 635.347/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

9.5 RESPONSABILIDADE FISCAL

Adesão ao Regime de Recuperação Fiscal: regras de ajuste financeiro e restrições temporárias aos
entes aderentes - ADI 6.930/DF

ODS: 16

Resumo:
As vedações à reposição de vacâncias de cargos públicos durante a vigência do Regime de
Recuperação Fiscal afrontam a autonomia dos estados e municípios, o princípio da proporcionalidade, bem
como o princípio da continuidade do serviço público. Contudo, a realização de concursos públicos e o
provimento de cargos pelos entes aderentes devem respeitar os requisitos legais usuais: (a) autorização da
autoridade estadual ou municipal competente; (b) avaliação das prioridades do ente político; e (c) existência
de viabilidade orçamentária na admissão.
Em regra, o legislador nacional pode limitar a admissão de pessoal por entes federados em recuperação
fiscal, sobretudo considerando que um dos problemas crônicos da Federação brasileira consiste no controle das

530
Precedentes citados: ACO 648; ACO 660; ACO 669 e ACO 700.
531
Precedentes citados: ADPF 528 e RE 1.428.399 RG (Tema 1.256 RG

187
despesas públicas com pessoal. Contudo, limitações dessa natureza devem respeitar a intangibilidade do pacto
federativo e a necessária harmonia das relações políticas entre os entes estatais brasileiros 532.
Na espécie, a submissão da referida reposição de vacâncias à autorização no Plano de Recuperação Fiscal
— ato administrativo complexo que demanda anuência de diversos órgãos federais, além de aprovação final do
Presidente da República — viola a autonomia dos estados e municípios, o princípio da proporcionalidade, na
vertente da proibição do excesso e interfere diretamente na continuidade administrativa dos serviços públicos
estaduais e municipais533.
A submissão dos investimentos executados por fundos públicos especiais ao teto de gastos ofende os
princípios da eficiência e da proporcionalidade, na medida em que não atinge o objetivo pretendido de
contribuir ou de fomentar a responsabilidade fiscal dos entes subnacionais.
Essa vinculação, quando não destinada ao pagamento de despesas obrigatórias, especialmente as
relacionadas ao custeio de pessoal, compromete a execução de investimentos em melhorias efetivas nos respectivos
serviços públicos, já que as verbas públicas não retornarão ao caixa único do Tesouro por expressa vedação legal e,
por isso, não poderão ser empregados em investimentos públicos.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente
a ação para conferir interpretação conforme a Constituição: (i) ao art. 8º, IV, da LC 159/2017, com a redação
conferida pela LC 178/2021, para autorizar a reposição de cargos vagos pelos entes federados que aderirem ao
Regime de Recuperação Fiscal instituído por aquele diploma normativo 534; e (ii) ao art. 2º, § 4º, da LC 159/2017,
com a redação conferida pela LC 178/2021, de modo a excluir do teto de gastos os investimentos executados com
recursos afetados aos fundos públicos especiais instituídos pelo Poder Judiciário, pelos Tribunais de Contas, pelo
Ministério Público, pelas Defensorias Públicas e pelas Procuradorias-Gerais dos estados e do Distrito Federal 535.

ADI 6.930/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

Criação de fundos destinados ao equilíbrio fiscal em âmbito estadual - ADI 5.635/DF

Tese fixada:
“São constitucionais as Leis 7.428/2016 e 8.645/2019, ambas do Estado do Rio de Janeiro, que
instituíram o Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal – FEEF e, posteriormente, o Fundo Orçamentário
Temporário – FOT, fundos atípicos cujas receitas não estão vinculadas a um programa governamental
específico e detalhado.”

Resumo:
É constitucional lei estadual que institui fundo atípico com a finalidade de promover o equilíbrio
fiscal da respectiva unidade federada, desde que suas receitas possuam destinação genérica, podendo atender
a quaisquer demandas.

532
Precedente citado: ACO 2.661 MC-Ref
533
Precedente citado: ADI 6.442
534
LC 159/2017: “Art. 8º São vedados ao Estado durante a vigência do Regime de Recuperação Fiscal: (...) IV - a admissão ou a
contratação de pessoal, a qualquer título, ressalvadas as reposições de: (Redação dada pela Lei Complementar nº 178, de 2021) a)
cargos de chefia e de direção e assessoramento que não acarretem aumento de despesa; (Incluída pela Lei Complementar nº 178,
de 2021) b) contratação temporária; e (Incluída pela Lei Complementar nº 178, de 2021) c) (VETADO); (Incluída pela Lei
Complementar nº 178, de 2021)”
535
LC 159/2017: “Art. 2º O Plano de Recuperação Fiscal será formado por leis ou atos normativos do Estado que desejar aderir
ao Regime de Recuperação Fiscal, por diagnóstico em que se reconhece a situação de desequilíbrio financeiro, por metas e
compromissos e pelo detalhamento das medidas de ajuste, com os impactos esperados e os prazos para a sua adoção. (Redação
dada pela Lei Complementar nº 178, de 2021) (...) § 4º Não se incluem na base de cálculo e no limite de que trata o inciso V do §
1º: (Redação dada pela Lei Complementar nº 178, de 2021) I - as transferências constitucionais para os respectivos Municípios
estabelecidas nos arts. 158 e 159, §§ 3º e 4º, e as destinações de que trata o art. 212-A, todos da Constituição Federal; (Incluído
pela Lei Complementar nº 178, de 2021) II - as despesas custeadas com as transferências de que trata o art. 166-A da
Constituição Federal; (Incluído pela Lei Complementar nº 178, de 2021) II - as despesas custeadas com recursos de
transferências previstas nos arts. 166 e 166-A da Constituição Federal; (Redação dada pela Lei Complementar nº 189, de 2022)
III - as despesas custeadas com doações e as transferências voluntárias definidas no art. 25 da Lei Complementar nº 101, de 4 de
maio de 2000; (Incluído pela Lei Complementar nº 178, de 2021) III - (revogado); (Redação dada pela Lei Complementar nº
189, de 2022) IV - as despesas em saúde e educação realizadas pelo ente em razão de eventual diferença positiva entre a variação
anual das bases de cálculo das aplicações mínimas de que tratam o § 2º do art. 198 e o art. 212 da Constituição Federal e a
variação do IPCA no mesmo período. (Incluído pela Lei Complementar nº 178, de 2021) V - as despesas custeadas com recursos
de transferências da União com aplicações vinculadas, conforme definido pela Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da
Economia. (Redação dada pela Lei Complementar nº 189, de 2022)”

188
Na espécie, trata-se de regramento que faz a redução parcial e transitória de benefícios fiscais de ICMS em
prol da formação de fundo local voltado ao equilíbrio fiscal do ente instituidor. Assim, a natureza jurídica dos
depósitos destinados ao fundo é de ICMS, cuja matéria se insere na competência tributária dos estados federados e
do Distrito Federal. Nesse contexto, para que inexista ofensa ao princípio da não afetação da receita de impostos 536,
as receitas que compõem o fundo não podem ser vinculadas a programas governamentais específicos.
Ademais, não se evidencia a criação de empréstimo compulsório ou de nova espécie tributária. A medida
adotada pela legislação estadual impugnada é adequada, necessária e proporcional, eis que as vantagens advindas do
maior equilíbrio fiscal do estado superam o custo individual de cada contribuinte.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a
ação, para conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 2º da Lei 7.428/2016 537 e ao art. 2º da Lei
8.645/2019 538, ambas do Estado do Rio de Janeiro, de modo a: (i) afastar qualquer exegese que vincule as receitas
vertidas ao FEEF/FOT a um programa governamental específico; e (ii) garantir a não cumulatividade do ICMS
relativo ao depósito instituído, sem prejuízo da vedação ao aproveitamento indevido dos créditos. Além disso, o
Tribunal salientou serem aplicáveis aos depósitos em questão as regras próprias do ICMS.

ADI 5.635/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.10.2023 (terça-feira), às
23:59

Lei de Responsabilidade Fiscal e o limite de gastos com pessoal - ADC 69/DF

ODS: 8, 10 e 17

Resumo:
São constitucionais — à luz do regime constitucional de repartição de competências (CF/1988, arts.
24, I; e 169, “caput”) e do equilíbrio federativo — dispositivos da Lei Complementar 101/2000 (Lei de
Responsabilidade Fiscal) que incluem, no cálculo dos gastos com pessoal pela Administração Pública, as
despesas com inativos e pensionistas, bem como o imposto de renda retido na fonte.
No plano financeiro, a Constituição Federal (CF/1988, art. 169, caput) estabelece que a despesa com
pessoal ativo e inativo da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios deve respeitar os limites fixados
em lei complementar de caráter nacional, no caso, a Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF 539.
Uma vez atribuída competência ao ente central para regular a questão de modo geral e uniforme por meio
de uma lei nacional, os entes subnacionais devem obediência ao regramento editado, sendo-lhes vedado escolher as
regras que irão adotar.
Nesse contexto, o entendimento que fundamenta a exclusão do imposto de renda retido na fonte do limite
de despesa de pessoal contraria diretamente o disposto no art. 19 da LRF — que enumera as parcelas não integrantes
do referido cálculo —, de forma que manifestações subnacionais em sentido ampliativo usurpam a competência
legislativa da União para editar normas gerais sobre direito financeiro (CF/1988, art. 24, I).
Ademais, excepcionadas as hipóteses previstas na LRF (art. 19, § 1º, VI), a desconsideração dos valores
pagos a inativos e pensionistas para o cálculo do limite de gastos com pessoal afronta a sistemática prevista pela
referida lei (art. 18, caput), bem como os dispositivos constitucionais acima referidos 540.

536
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a
repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e
serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração
tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de
crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;”
537
Lei 7.428/2016 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 2º – A fruição do benefício fiscal ou incentivo fiscal, já concedido ou que
vier a ser concedido, fica condicionada ao depósito ao FEEF do montante equivalente ao percentual de 10% (dez por cento)
aplicado sobre a diferença entre o valor do imposto calculado com e sem a utilização de benefício ou incentivo fiscal concedido à
empresa contribuinte do ICMS, nos termos do Convênio ICMS 42, de 3 de maio de 2016, já considerado no aludido percentual a
base de cálculo para o repasse constitucional para os Municípios (25%).”
538
Lei 8.645/2019 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 2º A fruição de incentivos fiscais e de incentivos financeiro-fiscais fica
condicionada ao depósito no fundo disciplinado no artigo 1º, de percentual de 10% (dez por cento), aplicado sobre a diferença
entre o valor do imposto calculado com e sem a utilização de benefícios ou incentivos fiscais concedidos à empresa contribuinte
do ICMS, já considerada, no aludido percentual, a base de cálculo para o repasse constitucional para os municípios.”

539
Precedente citado: ADPF 548.
540
Precedente citado: ADI 6.129 MC.

189
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da cautelar em
deliberação de mérito e julgou procedente a ação para declarar a constitucionalidade do art. 18, caput, e do art. 19,
caput, e §§ 1º e 2º, ambos da LRF 541.

ADC 69/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

10. DIREITO INTERNACIONAL

10.1 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Possibilidade da requisição direta de dados feita por autoridades nacionais a provedores no exterior -
ADC 51/DF

ODS: 16 e 17
Resumo:
As empresas de tecnologia que operam aplicações de internet no Brasil sujeitam-se à jurisdição
nacional e, como tal, devem cumprir as determinações das autoridades nacionais do Poder Judiciário —
inclusive as requisições feitas diretamente — quanto ao fornecimento de dados eletrônicos para a elucidação
de investigações criminais, ainda que parte de seus armazenamentos esteja em servidores localizados em
países estrangeiros.
A utilização apenas de mecanismos diplomáticos de obtenção de prova, por se revelarem acordos
complexos e morosos, dificulta a apuração de delitos cometidos em ambiente virtual, razão pela qual, uma vez
considerado o avanço tecnológico, não devem ser ignoradas outras formas de cooperação jurídica internacional,
previstas em tratados e convenções internacionais que objetivem dar maior celeridade à preservação da prova, tendo
em vista que a demora na obtenção dos dados pode ensejar a sua supressão.

541
LRF/2000: “Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com pessoal: o somatório dos
gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou
empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens,
fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e
vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de
previdência. (...) Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada
período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir
discriminados: I - União: 50% (cinqüenta por cento); II - Estados: 60% (sessenta por cento); III - Municípios: 60% (sessenta por
cento). § 1o Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, não serão computadas as despesas: I - de
indenização por demissão de servidores ou empregados; II - relativas a incentivos à demissão voluntária; III - derivadas da
aplicação do disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição; IV - decorrentes de decisão judicial e da competência de
período anterior ao da apuração a que se refere o § 2 o do art. 18; V - com pessoal, do Distrito Federal e dos Estados do Amapá e
Roraima, custeadas com recursos transferidos pela União na forma dos incisos XIII e XIV do art. 21 da Constituição e do art. 31
da Emenda Constitucional no 19; VI - com inativos e pensionistas, ainda que pagas por intermédio de unidade gestora única ou
fundo previsto no art. 249 da Constituição Federal, quanto à parcela custeada por recursos provenientes: (Redação dada pela Lei
Complementar nº 178, de 2021) a) da arrecadação de contribuições dos segurados; b) da compensação financeira de que trata
o § 9o do art. 201 da Constituição; c) de transferências destinadas a promover o equilíbrio atuarial do regime de previdência, na
forma definida pelo órgão do Poder Executivo federal responsável pela orientação, pela supervisão e pelo acompanhamento dos
regimes próprios de previdência social dos servidores públicos. (Redação dada pela Lei Complementar nº 178, de 2021) §
2o Observado o disposto no inciso IV do § 1o, as despesas com pessoal decorrentes de sentenças judiciais serão incluídas no
limite do respectivo Poder ou órgão referido no art. 20. § 3º Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, é
vedada a dedução da parcela custeada com recursos aportados para a cobertura do déficit financeiro dos regimes de
previdência. (Incluído pela Lei Complementar nº 178, de 2021)”

190
Nesse contexto, nos termos do artigo 11 da Lei 12.965/2014, conhecida como “Marco Civil da Internet” 542,
cuja previsão encontra respaldo na Convenção sobre Crimes Cibernéticos de Budapeste (art. 18), deverá ser
obrigatoriamente respeitada a legislação brasileira relativamente a qualquer operação de coleta, armazenamento,
guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações
de internet, em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional.
Ademais, inexiste inconstitucionalidade no procedimento do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria
Penal, previsto pelo Decreto 3.810/2001, nem nas normas fixadas em dispositivos do Código de Processo Civil e do
Código de Processo Penal que tratam da cooperação jurídica internacional e da emissão de cartas rogatórias, em
especial nos casos em que a comunicação ou a prestação de serviços tenham ocorrido fora do território nacional.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu da ação e no mérito, por unanimidade, a
julgou parcialmente procedente para declarar a constitucionalidade dos dispositivos indicados e a possibilidade de
solicitação direta de dados e comunicações eletrônicas das autoridades nacionais a empresas de tecnologia, nas
específicas hipóteses do art. 11 do Marco Civil da Internet e do art. 18 da Convenção de Budapeste, ou seja, nos
casos de atividades de coleta e tratamento de dados no País, de posse ou controle dos dados por empresa com
representação no Brasil e de crimes cometidos por indivíduos localizados em território nacional, com comunicação
desta decisão ao Poder Legislativo e ao Poder Executivo, para que adotem as providências necessárias ao
aperfeiçoamento do quadro legislativo, com a discussão e a aprovação do projeto da Lei Geral de Proteção de Dados
para Fins Penais (LGPD Penal) e de novos acordos bilaterais ou multilaterais para a obtenção de dados e
comunicações eletrônicas, como, por exemplo, a celebração do Acordo Executivo definido a partir do Cloud Act.

ADC 51/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 23.2.2023

10.2 TRATADOS INTERNACIONAIS

Denúncia de tratados internacionais: necessidade da manifestação da vontade do Congresso Nacional


- ADC 39/DF

ODS: 3 e 15

Tese fixada:
“A denúncia pelo Presidente da República de tratados internacionais aprovados pelo Congresso
Nacional, para que produza efeitos no ordenamento jurídico interno, não prescinde da sua aprovação pelo
Congresso.”

Resumo:
Em decorrência do próprio Estado Democrático de Direito e de seu corolário, o princípio da
legalidade, é necessária a manifestação de vontade do Congresso Nacional para que a denúncia de um tratado
internacional produza efeitos no direito doméstico, razão pela qual é inconstitucional a denúncia unilateral
pelo Presidente da República. Contudo, esse entendimento deve ser aplicado somente a partir da publicação
da ata do presente julgamento, mantendo-se a eficácia das denúncias realizadas até esse marco temporal.

542
Lei 12.965/2014: “Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados
pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra
em território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção dos
dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros. § 1º O disposto no caput aplica-se aos dados coletados em
território nacional e ao conteúdo das comunicações, desde que pelo menos um dos terminais esteja localizado no Brasil. § 2º O
disposto no caput aplica-se mesmo que as atividades sejam realizadas por pessoa jurídica sediada no exterior, desde que oferte
serviço ao público brasileiro ou pelo menos uma integrante do mesmo grupo econômico possua estabelecimento no Brasil. § 3º
Os provedores de conexão e de aplicações de internet deverão prestar, na forma da regulamentação, informações que permitam a
verificação quanto ao cumprimento da legislação brasileira referente à coleta, à guarda, ao armazenamento ou ao tratamento de
dados, bem como quanto ao respeito à privacidade e ao sigilo de comunicações. § 4º Decreto regulamentará o procedimento para
apuração de infrações ao disposto neste artigo.”

191
A exclusão das normas incorporadas ao ordenamento jurídico interno não pode ocorrer de forma
automática, por vontade exclusiva do Presidente da República, sob pena de vulnerar o princípio democrático, a
separação de Poderes, o sistema de freios e contrapesos e a própria soberania popular. Assim, uma vez ingressado
no ordenamento jurídico pátrio mediante referendo do Congresso Nacional, a supressão do tratado internacional
pressupõe também a chancela popular por meio de seus representantes eleitos 543.
Essa participação do Poder Legislativo ganha importância ainda mais elevada quando se tem em
perspectiva normas de proteção aos direitos humanos. Na espécie, trata-se de denúncia da Convenção 158 da
Organização Internacional do Trabalho - OIT, cujo intuito é proteger os trabalhadores contra a dispensa arbitrária ou
sem justa causa (direito social previsto no art. 7º, I, da CF/1988).
Em homenagem ao princípio da segurança jurídica, deve ser mantida a validade do Decreto
2.100/1996, por meio do qual o Presidente da República tornou pública a denúncia da Convenção 158 da OIT.
Embora, à luz do ordenamento constitucional, a denúncia de tratados internacionais dependa de anuência
do Congresso Nacional para surtir efeitos internamente, a prática institucional resultou em uma aceitação tácita da
denúncia unilateral por reiteradas vezes e em períodos variados da história nacional, de modo que se consubstanciou
em costume consolidado pelo tempo e que vinha sendo adotado de boa-fé e com justa expectativa de legitimidade,
eis que, até então, não foi formalmente invalidado.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para manter a validade
do Decreto 2.100/1996 e formular apelo ao legislador “para que elabore disciplina acerca da denúncia dos tratados
internacionais, a qual preveja a chancela do Congresso Nacional como condição para a produção de efeitos na
ordem jurídica interna, por se tratar de um imperativo democrático e de uma exigência do princípio da legalidade”.

ADC 39/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 16.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

11. DIREITO PENAL

11.1 CRIMES CONTRA AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

Atos criminosos de 8 de janeiro de 2023: competência jurisdicional do STF, crimes multitudinários e


concurso material de crimes contra as instituições democráticas - AP 1.060/DF

ODS: 16

Resumo:
Compete ao STF processar e julgar ação penal ajuizada contra civis e militares não detentores de
foro privilegiado quando existir evidente conexão entre as suas condutas e as apuradas no âmbito mais
abrangente de procedimentos em trâmite na Corte que envolvam investigados com prerrogativa de foro.
Na oportunidade em que este Tribunal analisou a admissibilidade de inúmeras denúncias oferecidas em
face de indivíduos, civis e militares, investigados em consequência dos atos criminosos de 8 de janeiro do corrente
ano, entendeu-se que a competência deve ser determinada pela conexão (CPP/1941, art. 76). Isso porque a extensão
e as consequências das condutas de associação criminosa e das demais imputadas aos investigados são objeto de
vários procedimentos em trâmite nesta Corte — cuja presidência também já foi oportunamente confirmada pelo
Plenário —, direcionados a descobrir a autoria dos financiadores e dos incitadores dos atos criminosos, inclusive
autoridades públicas, algumas delas com foro por prerrogativa de função.
Assim, além da existência de coautoria em delitos multitudinários, compreendeu-se haver conexão
probatória com outros inquéritos em curso neste Tribunal, nos quais diversos investigados possuem foro
privilegiado. Nesse contexto, as provas das infrações cometidas pelo então denunciado, ora réu, ou as circunstâncias
elementares delas, podem influir diretamente nas investigações que envolvem detentores de prerrogativa de foro 544.

543
CF/1988: “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos
ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; (...) Art. 84. Compete
privativamente ao Presidente da República: (...) VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do
Congresso Nacional;”

544
CPP/1941: “Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido
praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar,
ou por várias pessoas, umas contra as outras; II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as

192
No contexto dos crimes multitudinários (de multidão ou de autoria coletiva), e levando-se em
consideração a responsabilidade penal subjetiva, todos os agentes respondem pelos resultados lesivos aos bens
jurídicos.
Em delitos dessa natureza, a individualização detalhada das condutas encontra barreiras intransponíveis que
decorrem da própria característica coletiva dos atos. Contudo, é incontroverso que todos os agentes contribuem para
o resultado, na medida em que, mediante ação conjunta, direcionam seus esforços para o mesmo fim. Os
componentes exercem influência recíproca, uns sobre os outros, e cada indivíduo age com dolo ao aderir, de forma
voluntária e consciente, à confusão, à desordem ou à perturbação, fazendo parte delas.
É possível o concurso material pela prática dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de
Direito (CP/1940, art. 359-L) e de golpe de Estado (CP/1940, art. 359-M), na medida em que são delitos
autônomos e que demandam “animus” distintos do sujeito ativo.
Na espécie, vislumbra-se tentativa de golpe na conduta de se pedir intervenção militar a fim de trocar o
presidente legitimamente eleito pelo candidato perdedor. Essa conduta se diferencia daquela de atacar, com a
invasão, o funcionamento do Congresso Nacional ou do próprio STF, objetivando impedir ou restringir o exercício
dos Poderes. Nesse contexto, o tipo penal previsto no art. 359-L do Código Penal consagra um instrumento protetivo
do próprio Estado Democrático de Direito e de suas instituições.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação penal para
condenar o réu à pena total de dezessete anos (quinze anos e seis meses de reclusão e um ano e seis meses de
detenção) e ao pagamento de cem dias-multa (cada um no valor de 1/3 do salário mínimo), pois incurso (i) no art.
163, parágrafo único, I, II, III e IV (dano qualificado); no art. 288, parágrafo único (associação criminosa armada);
no art. 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de Direito); e no art. 359-M (golpe de Estado), todos do
Código Penal 545; bem como (ii) no art. 62, I (deterioração do patrimônio tombado), da Lei 9.605/1998 (Lei de
Crimes Ambientais)546 . Além disso, o Tribunal condenou o réu ao pagamento do valor mínimo indenizatório a título
de danos morais coletivos de R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais), a ser adimplido de forma solidária pelos
demais condenados, em favor do fundo a que alude o art. 13 da Lei 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública) 547, soma
a ser corrigida monetariamente a contar do dia da proclamação do resultado do julgamento colegiado, incidindo
juros de mora legais a partir do trânsito em julgado do acórdão.

AP 1.060/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 14.9.2023

outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; III – quando a prova de uma infração ou de
qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.”
545
CP/1940: “Dano Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: (...) Dano qualificado Parágrafo único - Se o crime
é cometido: I – com violência à pessoa ou grave ameaça; II – com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não
constitui crime mais grave; III – contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; IV – por
motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena – detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena
correspondente à violência. (...) Associação Criminosa Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de
cometer crimes: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é
armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. (...) Abolição violenta do Estado Democrático de Direito Art. 359-
L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o
exercício dos poderes constitucionais: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.
Golpe de Estado Art. 359-M. Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído: Pena –
reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, além da pena correspondente à violência.”
546
Lei 9.605/1998: “Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I – bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou
decisão judicial;”
547
Lei 7.347/1985: “Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por
um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da
comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.”

193
11.2 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Crime de apropriação indébita e depositário judicial: atipicidade da conduta de não pagamento de


parcela de dívida submetida à execução fiscal - HC 215.102/PR

Resumo:
Não comete o crime de apropriação indébita (CP/1940, art. 168, § 1º, II), pois ausente a elementar
“coisa alheia”, o sócio-administrador, nomeado depositário judicial, que deixa de transferir o montante
penhorado do faturamento da empresa para a conta judicial determinada pelo juízo da execução.
Na espécie, a sociedade empresária foi submetida a processo de execução fiscal e firmou, em audiência,
acordo para o pagamento parcelado de valores relativos à penhora sobre seu faturamento bruto, sendo o paciente
nomeado depositário fiel. Posteriormente, por descumprir o ajuste, ao não efetuar todos os depósitos, ele foi
condenado pelo crime de apropriação indébita.
Contudo, a conduta do paciente é atípica, visto tratar-se de apoderamento de coisa própria. Isso porque,
ainda que a empresa seja de responsabilidade limitada, a determinação judicial, na penhora de faturamento, é
dirigida ao depositário para que reserve valores de que já tem a propriedade e disponibilidade e, em momento
seguinte, transfira o montante penhorado para a conta judicial específica 548.
Ademais, ainda que atue como auxiliar da justiça para assegurar a efetivação da execução, o fiel
depositário, em respeito ao princípio da legalidade, só pode ser condenado na esfera penal se praticar um fato
previamente definido como crime549.
Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, rejeitou a preliminar formulada no sentido
de afetar o julgamento do feito ao Plenário e, no mérito, também por maioria, concedeu a ordem de habeas corpus
para absolver o paciente, por ausência de conduta típica.

HC 215.102/PR, relator Ministro Dias Toffoli, redator do acordão Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado
em 17.10.2023

11.3 CRIMES PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Tráfico de entorpecentes privilegiado: regime inicial aberto; substituição da pena privativa de


liberdade por restritiva de direitos e reincidência - PSV 139/DF

Enunciado fixado:
“É impositiva a fixação do regime aberto e a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos quando reconhecida a figura do tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006) e
ausentes vetores negativos na primeira fase da dosimetria (art. 59 do CP), observados os requisitos do art. 33,
§ 2º, ‘c’, e do art. 44, ambos do Código Penal.”

Resumo:
No caso de condenação pelo crime de tráfico privilegiado (Lei 11.343/2006, art. 33, § 4º), o
magistrado deve fixar o regime aberto para o cumprimento inicial da pena quando inexistirem circunstâncias
judiciais desfavoráveis na primeira fase da dosimetria (CP/1940, art. 59), o réu não for reincidente (CP/1940,
art. 33, § 2º, “c”) e a pena imposta não superar quatro anos. De igual modo, é obrigatória a substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos quando observados os requisitos legais (CP/1940, art.
44).
O referido delito550 não se harmoniza com a hediondez do tráfico de entorpecentes (Lei 11.343/2006, art.
33, caput e § 1º), o que reforça ainda mais o constrangimento ilegal da estipulação de regime inicial de

548
Precedente citado: HC 203.217.
549
CP/1940: “Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro
anos, e multa. Aumento de pena § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: (...) II - na qualidade de
tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;”

194
cumprimento de pena mais gravoso, em especial o fechado 551, se ausentes vetores negativos na primeira fase da
dosimetria da pena.
Ademais, a reincidência do réu desobriga a fixação do regime aberto. Por outro lado, para a conversão da
pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, o impedimento para a concessão do benefício é mais restrito, ou
seja, apenas se verificada a reincidência específica 552.
É de extrema importância a edição do verbete vinculante com a finalidade de otimizar os efeitos da
jurisprudência do STF, pois vinculará os demais órgãos do Poder Judiciário e promoverá a segurança jurídica,
evitando a multiplicação de processos sobre o mesmo tema.
Nesse contexto, as reiteradas decisões desta Corte 553 trazem em sua essência a envergadura constitucional
necessária à edição do verbete, relacionada à fundamentação das decisões (CF/1988, art. 93, IX) e aos postulados da
individualização da pena (CF/1988, art. 5º, XLVI), da legalidade (CF/1988, art. 5º, XXXIX), da humanização da
pena (CF/1988, art. 5º, III e XLII) e da proporcionalidade (CF/1988, art. 5º, LIV).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, acolheu a proposta de edição da
Súmula Vinculante 59.

PSV 139/DF, relator Ministro Presidente, julgamento finalizado em 19.10.2023

550
Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer,
ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz
consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-
prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II – semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de
drogas; III – utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou
consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. IV – vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (...) § 4º Nos delitos definidos no
caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”
551
Precedente citado: HC 118.533.
552
CP/1940: “Art. 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em
regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (...) § 2º – As penas privativas de liberdade
deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as
hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (...) c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4
(quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto (...) Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e
substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não
for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II – o réu
não for reincidente em crime doloso; III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,
bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. § 1o (VETADO) § 2º Na condenação
igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a
pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. § 3º
Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja
socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. § 4º A pena restritiva de
direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da
pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo
de trinta dias de detenção ou reclusão. § 5º Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da
execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva
anterior.”

553
Precedentes citados: HC 138.334; HC 134.140; HC 130.074; RHC 125.435; HC 120.876; HC 118.533; HC 117.813; HC
109.344; HC 100.590; HC 99.996; HC 97.256; HC 85.108 e HC 83.509.

195
11.4 DOSIMETRIA DA PENA

Condenação do réu por maioria: participação dos ministros que votaram pela absolvição na fase da
dosimetria da pena - QO na AP 1.025/DF

ODS: 16

Resumo:
A dosimetria da pena é uma fase independente do julgamento, razão pela qual todos os ministros
possuem o direito de se manifestar, independentemente de terem votado no sentido da absolvição ou
condenação do réu.
Assim como o julgamento de uma preliminar de mérito — como, por exemplo, a prescrição — não impede,
mesmo se afastada, que todos os ministros continuem a participar do julgamento, o voto vencido que absolve o réu
não priva o magistrado que o proferiu da participação do julgamento da dosimetria da pena.
Desse modo, se todos podem participar do julgamento de posteriores eventuais embargos de declaração,
nada obsta que participem da dosimetria da pena, de forma a garantir o amplo debate sobre a aplicação de uma pena
justa, garantia fundamental do réu, notadamente porque a decisão do Tribunal deve ser o reflexo do colegiado.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, resolvendo questão de ordem proposta pela
Presidência, decidiu pela participação de todos os ministros quando da votação relativa à dosimetria da pena,
inclusive dos que emitiram juízo absolutório.

QO na AP 1.025/DF, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgamento
finalizado em 25.5.2023

11.5 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Causas de extinção e suspensão da punibilidade: abrandamento da responsabilização penal decorrente


da prática de crimes contra a ordem tributária – ADI 4.273/DF

Resumo:
São constitucionais — por não violarem os preceitos dos arts. 3º, I a IV, e 5º, “caput”, ambos da
CF/1988 nem o princípio da proporcionalidade, sob a perspectiva da proibição da proteção deficiente —
dispositivos de leis que estabelecem a suspensão da pretensão punitiva estatal, em consequência do
parcelamento de débitos tributários, bem como a extinção da punibilidade do agente, se realizado o
pagamento integral.
No caso, o legislador penal-tributário, atuando em espaço de conformação que lhe é próprio, conferiu
prevalência à política de arrecadação dos tributos e de restabelecimento das atividades econômicas das empresas.
Nesse contexto, a adoção dessas medidas de despenalização (causas suspensiva e extintiva de punibilidade,
decorrentes do parcelamento ou pagamento integral dos débitos tributários), além de estimular essencialmente a
reparação do dano causado ao erário, contribui para a concretização dos objetivos fundamentais da República
(CF/1988, art. 3º).
Ademais, ao deixar, como ultima ratio, as sanções penais pela prática dos delitos contra a ordem tributária,
em conformidade com o postulado da proporcionalidade e da intervenção mínima do direito penal, o legislador
prestigia a liberdade, a propriedade e a livre iniciativa.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou o pedido prejudicado, no tocante ao art.
68 da Lei 11.941/2009, e improcedente quanto aos demais dispositivos impugnados na inicial, declarando, por

196
consequência, a constitucionalidade dos arts. 67 e 69 da Lei 11.941/2009 554 e do art. 9º, §§ 1º e 2º, da Lei
10.684/2003555.

ADI 4.273/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 14.8.2023 (segunda-feira), às
23:59

Decreto presidencial que concede graça: requisitos para sua validade e consonância com os ditames
constitucionais - ADPF 964/DF, ADPF 965/DF, ADPF 966/DF e ADPF 967/DF

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violar os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa
(CF/1988, art. 37, “caput”) e por incorrer em desvio de finalidade — decreto presidencial que, ao conceder
indulto individual (graça em sentido estrito), visa atingir objetivos distintos daqueles autorizados pela
Constituição Federal de 1988, eis que observa interesse pessoal ao invés do público.
O indulto é um dos mecanismos políticos de extinção da punibilidade previstos expressamente pela atual
ordem constitucional 556 e cuja utilização é vedada para crimes específicos 557. A partir de um complexo sistema de
freios e contrapesos, ele é considerado como importante instrumento de política criminal, voltado a atenuar
possíveis incorreções legislativas ou judiciárias em prol da reinserção e ressocialização de condenados que a ele
façam jus558 .
Diante de sua natureza jurídica de ato de governo ou ato político (espécie do gênero ato administrativo), o
indulto reveste-se de ampla discricionariedade, contudo, disso não resulta a sua impossibilidade absoluta de ser
questionado perante o Poder Judiciário, em especial para verificar se o seu objeto está de acordo com os ditames
constitucionais. Na linha da jurisprudência desta Corte, é possível realizar o controle de constitucionalidade de
decreto de indulto, notadamente quanto a possível ocorrência de desvio de finalidade 559.
Na espécie, o então Presidente da República, utilizando-se de sua competência constitucional, editou
decreto de indulto individual em favor de parlamentar federal que no dia imediatamente anterior foi condenado, pelo
Plenário do STF, à pena de oito anos e nove meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática dos crimes
de ameaça ao Estado Democrático de Direito e de coação no curso do processo. Nesse contexto, verificado que o
benefício foi concedido de modo absolutamente desconectado do interesse público — mas em razão do mero
vínculo de afinidade político-ideológico entre o chefe do Poder Executivo e o beneficiário — há evidente
desrespeito aos princípios norteadores da Administração Pública, principalmente o da impessoalidade e da
moralidade administrativa.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, em apreciação conjunta, por maioria, julgou procedentes as
ações para declarar a inconstitucionalidade do Decreto presidencial de 21 de abril de 2022.

ADPF 964/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 10.5.2023

554
Lei 11.941/2009: “Art. 67. Na hipótese de parcelamento do crédito tributário antes do oferecimento da denúncia, essa somente
poderá ser aceita na superveniência de inadimplemento da obrigação objeto da denúncia. (...) Art. 69. Extingue-se a punibilidade
dos crimes referidos no art. 68 quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos
oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento.
Parágrafo único. Na hipótese de pagamento efetuado pela pessoa física prevista no § 15 do art. 1º desta Lei, a extinção da
punibilidade ocorrerá com o pagamento integral dos valores correspondentes à ação penal.”
555
Lei 10.684/2003: “Art. 9º. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei no
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código
Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de
parcelamento. § 1º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. § 2º Extingue-se a
punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral
dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.”
556
CF/1988: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República (...) XII - conceder indulto e comutar penas, com
audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;”
557
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;”
558
Precedente citado: ADI 2.795 MC.
559
Precedente citado: ADI 5.874.

197
ADPF 965/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 10.5.2023
ADPF 966/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 10.5.2023
ADPF 967/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento finalizado em 10.5.2023

Termo inicial da prescrição executória estatal: a partir do trânsito em julgado para a acusação ou
para todas as partes - ARE 848.107/DF (Tema 788 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“O prazo para a prescrição da execução da pena concretamente aplicada somente começa a correr do
dia em que a sentença condenatória transita em julgado para ambas as partes, momento em que nasce para o
Estado a pretensão executória da pena, conforme interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal ao
princípio da presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal) nas ADC 43, 44 e 54.”

Resumo:
É incompatível com a atual ordem constitucional — à luz do postulado da presunção de inocência
(CF/1988, art. 5º, LVII) e o atual entendimento do STF sobre ele — a aplicação meramente literal do disposto
no art. 112, I, do Código Penal. Por isso, é necessário interpretá-lo sistemicamente, com a fixação do trânsito
em julgado para ambas as partes (acusação e defesa) como marco inicial da prescrição da pretensão
executória estatal pela pena concretamente aplicada em sentença condenatória.
Conforme jurisprudência firmada nesta Corte 560, o Estado não pode determinar a execução da pena contra
condenado com base em título executivo não definitivo, dada a prevalência do princípio da não culpabilidade ou da
presunção de inocência. Assim, a constituição definitiva do título judicial condenatório é condição de exercício da
pretensão executória do Estado.
Nesse contexto, a prescrição da pretensão executória pressupõe a inércia do titular do direito de punir.
Portanto, a única interpretação do inciso I do art. 112 do Código Penal 561 compatível com esse entendimento é a que
elimina do dispositivo a locução “para a acusação” e define como termo inicial o trânsito em julgado para ambas as
partes, visto que é nesse momento que surge o título penal passível de ser executado pelo Estado.
Ademais, a aplicação da literalidade do dispositivo impugnado, além de contrária à ordem jurídico-
normativa, apenas fomenta a interposição de recursos com fins meramente procrastinatórios, frustrando a
efetividade da jurisdição penal.
Com base nesse e outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 788 de repercussão
geral, negou provimento ao agravo em recurso extraordinário interposto pelo MPDFT e declarou a não recepção
pela Constituição Federal da locução “para a acusação”, contida art. 112, inciso I (primeira parte), do Código Penal,
conferindo-lhe interpretação conforme a Constituição no sentido de que a prescrição começa a correr do dia em que
transita em julgado a sentença condenatória para ambas as partes. Esse entendimento se aplica aos casos em que (i) a
pena não foi declarada extinta pela prescrição; e (ii) cujo trânsito em julgado para a acusação tenha ocorrido após
12.11.2020.

ARE 848.107/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

560
Precedentes citados: HC 84.078; ADC 43; ADC 44; ADC 54; HC 115.269 e ARE 682.013 AgR.
561
CP/1940: “Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e
verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. § 1º A
prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-
se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. § 2º
(Revogado pela Lei nº 12.234, de 2010). Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I - do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o
livramento condicional;”

198
11.6 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

Crimes praticados contra mulher no âmbito doméstico e familiar: dano moral e fixação do valor
mínimo na sentença - ARE 1.369.282 AgR/SE

Resumo:
O dano moral sofrido pela vítima é inerente aos crimes praticados contra a mulher no âmbito
doméstico e familiar, de modo que a fixação do respectivo valor mínimo indenizatório (CPP/1941, art. 387,
IV) pressupõe o respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa, viabilizados pela oportunidade de
manifestação do réu durante o curso da ação penal.
O crime praticado contra a mulher no âmbito doméstico e familiar resulta em dano moral in re ipsa, ou
seja, independe de instrução probatória específica para a sua apuração, uma vez que a simples comprovação da
prática da conduta delitiva é suficiente para demonstrá-lo, ainda que minimamente.
Por outro lado, a fixação da reparação civil mínima na sentença penal condenatória 562 pressupõe a
participação do réu, sob pena de violação aos postulados do contraditório e da ampla defesa 563.
Na espécie, foi observado o devido processo legal, na medida em que a fixação do referido valor decorreu
de pedido formulado na própria denúncia e que foi, inclusive, contraditado em sede de alegações finais defensivas.
Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento ao agravo regimental para
desprover o agravo em recurso extraordinário interposto pela defesa.

ARE 1.369.282 AgR/SE, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acordão Ministro Edson Fachin,
julgamento finalizado em 19.9.2023

Inconstitucionalidade da tese da “legítima defesa da honra” - ADPF 779/DF

ODS: 5, 10 e 16

Resumo:
É inconstitucional — por contrariar os princípios da dignidade da pessoa humana (CF/1988, art. 1º,
III), da proteção à vida (CF/1988, art. 5º, “caput”) e da igualdade de gênero (CF/1988, art. 5º, I) — o uso da
tese da “legítima defesa da honra” em crimes de feminicídio ou de agressão contra mulheres, seja no curso do
processo penal (fase pré-processual ou processual), seja no âmbito de julgamento no Tribunal do Júri.
A técnica jurídica não reconhece essa tese como uma das hipóteses excludentes de ilicitude (CP/1940, arts.
23, II, e 25), eis que o ordenamento jurídico prevê que a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade penal
(CP/1940, art. 28, I).
No Tribunal do Júri, a referida tese é usualmente suscitada, dada a prevalência da plenitude da defesa
(CF/1988, art. 5º, XXXVIII), a qual admite a apresentação de argumentos extrajurídicos. Todavia, a “legítima defesa
da honra” configura recurso argumentativo odioso, desumano e cruel utilizado pelas defesas de acusados de
feminicídio ou agressões contra mulheres para imputar às vítimas a causa de suas próprias mortes ou lesões,
contribuindo para a naturalização e a perpetuação da cultura de violência contra as mulheres no País.
Logo, independentemente de ser invocado como argumento não jurídico inerente à plenitude da defesa, o
uso da referida tese induz à nulidade do respectivo ato e do julgamento, porque representa prática destituída de
técnica e incompatível com os objetivos fundamentais da República (CF/1988, art. 3º, I e IV), além de ofensiva à
dignidade da pessoa humana, à vedação de discriminação e aos direitos à igualdade e à vida.
Nesse contexto, a ordem constitucional vigente impõe ao Estado não somente a obrigação de criar
mecanismos para coibir o feminicídio e a violência doméstica, mas o dever de não ser conivente e de não estimular
tais comportamentos (CF/1988, art. 226, § 8º).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a arguição para: (i) firmar
o entendimento de que a tese da “legítima defesa da honra” é inconstitucional, por contrariar os princípios
562
CPP/1941: “Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: (...) IV — fixará valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;”
563
Precedentes citados: RvC 5.437 e RE 691.136 AgR.

199
constitucionais da dignidade da pessoa humana, da proteção à vida e da igualdade de gênero; (ii) conferir
interpretação conforme a Constituição aos arts. 23, II, e 25, caput e parágrafo único, ambos do Código Penal 564, e
ao art. 65 do Código de Processo Penal 565, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da
legítima defesa e, por consequência, (iii) obstar à defesa, à acusação, à autoridade policial e ao juízo que utilizem,
direta ou indiretamente, a tese de “legítima defesa da honra” (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases
pré-processual ou processual penais, bem como durante o julgamento perante o Tribunal do Júri, sob pena de
nulidade do ato e do julgamento; (iv) diante da impossibilidade de o acusado beneficiar-se da própria torpeza, fica
vedado o reconhecimento da nulidade, na hipótese de a defesa ter-se utilizado da tese com esta finalidade; e (v)
conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 483, III, § 2º, do Código de Processo Penal 566, para entender
que não fere a soberania dos vereditos do Tribunal do Júri o provimento de apelação que anule a absolvição fundada
em quesito genérico, quando, de algum modo, possa implicar a repristinação da odiosa tese da “legítima defesa da
honra”.

ADPF 779/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento finalizado em 1º.8.2023

Lei Maria da Penha: obrigatoriedade de designação da audiência de retratação e do comparecimento


da vítima - ADI 7.267/DF

ODS: 5 e 16

Resumo:
A interpretação no sentido da obrigatoriedade da audiência prevista no artigo 16 da Lei Maria da
Penha (Lei 11.340/2006), sem que haja pedido de sua realização pela ofendida, viola o texto constitucional e as
disposições internacionais que o Brasil se obrigou a cumprir, na medida em que discrimina injustamente a
própria vítima de violência.
A audiência perante o juiz, de que trata o referido dispositivo para as ações penais públicas condicionadas à
representação da ofendida, tem a finalidade de viabilizar que a vítima, devidamente assistida por uma equipe
multidisciplinar, expresse, de forma livre, a sua vontade. Não se trata da mera avaliação da presença de um requisito
procedimental, de modo que não cabe ao magistrado delegar a realização da audiência a outro profissional, ou
designá-la de ofício ou a requerimento de outra parte.
Visto que a garantia da liberdade somente é assegurada caso a própria vítima, de forma exclusiva, solicite a
realização dessa solenidade, determinar o seu comparecimento ao ato configura desrespeito a sua intenção, que,
nesse caso, deve prevalecer.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para
dar interpretação conforme a Constituição ao artigo 16 da Lei 11.340/2006 567, no sentido de reconhecer a
inconstitucionalidade (i) da designação, de ofício, da audiência nele prevista; e (ii) do reconhecimento de que

564
CP/1940: “Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) II - em
legítima defesa; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima
defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de
crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)”
565
CPP/1941: “Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.”
566
CPP/1941: “Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: (Redação dada pela Lei nº 11.689,
de 2008) (...) III – se o acusado deve ser absolvido; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) (...) § 2º Respondidos afirmativamente
por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte
redação: (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) O jurado absolve o acusado?”
567
Lei 11.340/2006: “Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do
recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.”

200
eventual não comparecimento da vítima de violência doméstica implique “retratação tácita” ou “renúncia tácita ao
direito de representação”.

ADI 7.267/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

11.7 NORMA PENAL EM BRANCO

Complementação de norma penal em branco por ato normativo estadual ou municipal - ARE
1.418.846/RS (Tema 1.246 RG)

ODS: 3 e 16

Tese fixada:
“O art. 268 do Código Penal veicula norma penal em branco que pode ser complementada por atos
normativos infralegais editados pelos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios),
respeitadas as respectivas esferas de atuação, sem que isso implique ofensa à competência privativa da União
para legislar sobre direito penal (CF, art. 22, I).”

Resumo:
A complementação de norma penal em branco por ato normativo estadual, distrital ou municipal, para
aplicação do tipo de infração de medida sanitária preventiva (Código Penal, art. 268), não viola a
competência privativa da União para legislar sobre direito penal (CF/1988, art. 22, I).
O art. 268 do Código Penal 568 veicula, em sua redação, o preceito primário incriminador, isto é, o núcleo
essencial da conduta punível, de modo que a União exerceu, de forma legítima e com objetivo de salvaguardar a
incolumidade da saúde pública, sua competência privativa de legislar sobre direito penal.
No entanto, o referido tipo penal configura norma penal em branco heterogênea, razão pela qual necessita de
complementação por atos normativos infralegais, tais como decretos, portarias e resoluções 569. Na espécie, essa
complementação se faz mediante ato do poder público, compreendida a competência de quaisquer dos entes
federados.
Ademais, ela não se reveste de natureza criminal, mas, via de regra, administrativa e técnico-científica, o que
justifica a possibilidade de edição do ato normativo suplementador pelo ente federado com competência
administrativa para tanto.
Nesse contexto, de acordo com o entendimento desta Corte, a competência para proteção da saúde, no plano
administrativo e no legislativo, é compartilhada entre a União, o Distrito Federal, os estados e os municípios,
inclusive para impor medidas restritivas destinadas a impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa.
Assim, o descumprimento das medidas e dos atos normativos de controle epidemiológico previstos na Lei
13.979/2020, editados pelos entes federados em prol da incolumidade pública, enseja consequências no campo do
direito penal.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da repercussão geral da
questão constitucional suscitada (Tema 1.246 da repercussão geral) e, no mérito, por maioria, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria 570 para dar provimento ao recurso extraordinário e, consequentemente,
determinar o prosseguimento da ação penal ao afastar a alegação de atipicidade da conduta por ausência de norma
complementadora do art. 268 do Código Penal.

ARE 1.418.846/RS, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 24.3.2023

568
CP/1940: “Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença
contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é
funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.”
569
Precedente citado: HC 128.894.
570
Precedentes citados: ADI 6.341 MC-Ref; ADPF 672 MC-Ref e ADI 6.855.

201
12. DIREITO PREVIDENCIÁRIO

12.1 APOSENTADORIA ESPECIAL

Atividades de risco e aposentadoria especial com proventos calculados com base na integralidade e
paridade: direito de servidor público independentemente das regras das EC 41/2003 e 47/2005 - RE
1.162.672/SP (Tema 1.019 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“O servidor público policial civil que preencheu os requisitos para a aposentadoria especial
voluntária prevista na LC nº 51/85 tem direito ao cálculo de seus proventos com base na regra da
integralidade e, quando também previsto em lei complementar, na regra da paridade, independentemente do
cumprimento das regras de transição especificadas nos arts. 2º e 3º da EC 47/05, por enquadrar-se na exceção
prevista no art. 40, § 4º, inciso II, da Constituição Federal, na redação anterior à EC 103/19, atinente ao
exercício de atividade de risco.”

Resumo:
Até o advento da EC 103/2019, era constitucional a adoção, pelo legislador complementar, de
requisitos e critérios diferenciados, inclusive relativos ao cálculo e ao reajuste de proventos, a fim de garantir
a integralidade e a paridade na aposentação especial voluntária dos policiais.
O art. 40, § 4º, II, da Constituição Federal, na redação conferida pela EC 20/1998 ou pela EC 47/2005,
permitia que a aposentadoria especial de servidores que exercessem atividade de risco fosse concedida com a
integralidade e a paridade, sem a necessidade de cumprimento das regras de transição previstas nas EC 41/2003 e
47/2005, o que passou a ser exigido somente com o advento da EC 103/2019 571 572.
Na espécie, a Lei Complementar 51/1985, que regula a aposentadoria especial dos ocupantes das carreiras
policiais, constitui a regra geral no tocante ao regime de aposentadoria dos servidores policiais civis e garante a
integralidade dos proventos em âmbito nacional 573.
Já o direito à paridade, no âmbito da aposentadoria especial voluntária, precisa estar previsto em lei
complementar da unidade federada à qual pertence o servidor policial civil. Assim, a lei complementar de cada ente
da Federação poderá regular a hipótese excepcional do art. 40, § 4º, II, da CF, até o advento da EC 103/2019.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.019 da
repercussão geral, negou provimento a ambos os recursos extraordinários.

RE 1.162.672/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

571
CF/1988: “Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo
e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019) (...) § 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios em regime próprio de
previdência social, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019) § 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
diferenciados para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada
por equipe multiprofissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 4º-B. Poderão ser
estabelecidos por lei complementar do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados para aposentadoria
de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tratam o inciso IV do
caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
103, de 2019) § 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do respectivo ente federativo idade e tempo de
contribuição diferenciados para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria
profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)”
572
Precedente citado: ADI 5.403.
573
Precedente citado: ADI 5.039.

202
12.2 APOSENTADORIA POR INVALIDEZ

Aposentadoria por invalidez de pessoa com deficiência mental: análise da capacidade para a prática de
atos da vida civil e pagamento do benefício ao curador - RE 918.315/DF (Tema 1.096 RG)

ODS: 1, 10 e 16

Tese fixada:
“A enfermidade ou doença mental, ainda que tenha sido estabelecida a curatela, não configura, por
si, elemento suficiente para determinar que a pessoa com deficiência não tenha discernimento para os atos da
vida civil.”

Resumo:
É inconstitucional — por ofensa aos princípios da proporcionalidade e da dignidade da pessoa
humana — norma que prevê o pagamento da aposentadoria por invalidez decorrente de doença mental
somente ao curador do segurado, condicionado à apresentação do termo de curatela, ainda que provisório.
No caso concreto, a norma distrital impugnada, ao exigir a figura do curador para viabilizar o pagamento do
referido benefício, além de não observar a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, no que diz
respeito à teoria as incapacidades, contraria a sistemática estabelecida no Código Civil 574 e no Estatuto da Pessoa
com Deficiência575, cuja compreensão não conduz ao entendimento de sujeição de toda pessoa com doença mental à
interdição e, por conseguinte, à curatela.
Nesse contexto, não basta a constatação da enfermidade ou deficiência mental para efetivar-se a interdição,
pois é imprescindível que a pessoa a ser tutelada não possua o necessário discernimento para os atos da vida civil.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.096 da repercussão geral,
conheceu do recurso extraordinário e deu-lhe provimento para reformar o acórdão recorrido na íntegra e declarar a
inconstitucionalidade do § 7º do art. 18 da Lei Complementar 769/2008 do Distrito Federal 576.

RE 918.315/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira),
às 23:59

12.3 APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

Regime previdenciário de servidores estáveis nos termos do art. 19 do ADCT - RE 1.426.306/TO (Tema
1.254 RG)

ODS: 8 e 16

Tese fixada:

574
Código Civil de 2002: “Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir
a sua vontade; III -os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; IV - os excepcionais sem completo
desenvolvimento mental; V - os pródigos. (...) Art. 1.771. Antes de pronunciar-se acerca da interdição, o juiz, assistido por
especialistas, examinará pessoalmente o arguido de incapacidade. (...) Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se
referem os incisos III e IV do art. 1.767, o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os limites da
curatela, que poderão circunscrever-se às restrições constantes do art. 1.782.”
575
Estatuto da Pessoa com Deficiência: “Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua
capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será
submetida à curatela, conforme a lei. § 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão
apoiada. § 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às
necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.”
576
Lei Complementar 769/2008 do Distrito Federal: “Art. 18. A aposentadoria por invalidez é devida ao segurado que, estando
ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz de readaptação para o exercício das atribuições do cargo, de forma
compatível com a limitação que tenha sofrido, e deve ser paga, com base na legislação vigente, a partir da data da publicação do
respectivo ato e enquanto o servidor permanecer nessa condição. (...) § 7° O pagamento do benefício de aposentadoria por
invalidez decorrente de doença mental será feito somente ao curador do segurado, condicionado à apresentação do termo de
curatela, ainda que provisório.”

203
“Somente os servidores públicos civis detentores de cargo efetivo (art. 40, CF, na redação dada pela
EC 20/98) são vinculados ao regime próprio de previdência social, a excluir os estáveis nos termos do art. 19
do ADCT e os demais servidores admitidos sem concurso público.”

Resumo:
Após se aposentarem com vínculo no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), os servidores cuja
estabilidade foi adquirida pela regra excepcional do art. 19 do ADCT não possuem o direito de converter a
sua aposentadoria para o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) do respectivo estado-membro, por
não serem detentores de cargo efetivo.
A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de que os beneficiados pela estabilidade excepcional
prevista no art. 19 do ADCT 577 não dispõem das vantagens privativas dos servidores ocupantes de cargo efetivo, o
que afasta a possibilidade de participação no RGPS.
Nesse contexto, a partir da EC 20/1998, que conferiu nova redação ao art. 40 da CF/1988 578, o vínculo no
RPPS é exclusividade dos servidores investidos em cargo efetivo, isto é, aqueles aprovados em concurso público.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, reconheceu a existência de repercussão geral da
questão constitucional suscitada (Tema 1.254 da repercussão geral) e, no mérito, por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria 579 para não conhecer do recurso extraordinário interposto pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) e dar provimento ao apelo extraordinário interposto pelo Instituto de Gestão
Previdenciária do Estado do Tocantins (IGEPREV/TO).

RE 1.426.306/TO, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 13.6.2023

12.4 13º SALÁRIO

13º salário e sua integração na base de cálculo de contribuições previdenciárias - ADI 1.049/DF

Resumo:
É constitucional a exclusão da gratificação natalina (13º salário) da base de cálculo de benefício
previdenciário, notadamente diante da inexistência de ofensa à garantia constitucional da irredutibilidade do
valor dos benefícios da seguridade social.
O 13º salário possui natureza salarial e, como tal, pode ser tributado mediante contribuição previdenciária,
conforme enunciado da Súmula 688 do STF 580. Contudo, os benefícios previdenciários são calculados com base nos
valores das contribuições e no tempo de trabalho, motivo pelo qual a gratificação natalina, ao somar uma parcela de
contribuição às doze anuais, tem potencial para distorcer o aspecto temporal do cálculo do benefício.
É constitucional, em especial diante da ausência de violação ao direito adquirido, a eliminação do
abono de permanência em serviço do rol dos benefícios previdenciários sujeitos à carência de 180

577
ADCT: “Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração
direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos
continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço
público. § 1º O tempo de serviço dos servidores referidos neste artigo será contado como título quando se submeterem a concurso
para fins de efetivação, na forma da lei. § 2º O disposto neste artigo não se aplica aos ocupantes de cargos, funções e empregos de
confiança ou em comissão, nem aos que a lei declare de livre exoneração, cujo tempo de serviço não será computado para os fins
do "caput" deste artigo, exceto se se tratar de servidor. § 3º O disposto neste artigo não se aplica aos professores de nível
superior, nos termos da lei.”
578
CF/1988: “Art. 40 - Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
15/12/98)”; “Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)”; “Art.
40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário,
mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (...) (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)”
579
Precedentes citados: ADPF 573; ARE 1.069.876 AgR; ARE 1.364.531; ARE 1.381.190; RE 1.362.166 (monocrática); RE
1.364.524; RE 1.364.535; RE 1.369.863; RE 1.381.716; RE 1.392.419; RE 1.403.847; RE 1.416.017; RE 1.421.314; RE
1.375.560 AgR; RE 1.381.167 AgR e RE 1.380.122 AgR-EDv.
580
Súmula 688: “É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o 13º salário.”

204
contribuições mensais, já que mantido esse período de carência para as demais prestações pecuniárias
previstas (aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial).
No entanto, inexiste direito adquirido para aqueles que não preencheram os requisitos necessários até a data
da entrada em vigor da lei impugnada. Essa norma, a partir de então, tem o poder de modificar, legitimamente, a
relação previdenciária, a qual, por se inserir em um amplo regime jurídico, pode passar por alterações que
eventualmente afastem expectativas de direito 581.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou improcedente para assentar a constitucionalidade do art. 28, § 7º, da Lei 8.212/1991 582 e do art.
25, II, da Lei 8.213/1991583, ambos alterados pela Lei 8.870/1994.

ADI 1.049/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

12.5 REFORMA PREVIDENCIÁRIA

Reforma previdenciária: critérios de cálculo para a pensão por morte - ADI 7.051/DF

ODS: 8

Tese fixada:
“É constitucional o art. 23, caput, da Emenda Constitucional 103/2019, que fixa novos critérios de
cálculo para a pensão por morte no Regime Geral e nos Regimes Próprios de Previdência Social”.

Resumo:
É constitucional — à luz da autocontenção judicial no controle de constitucionalidade de Emendas à
Constituição Federal e da adequada consideração das capacidades institucionais e dos efeitos sistêmicos na
tomada de decisões judiciais envolvendo matérias atinentes à Previdência Social — o art. 23, “caput”, da EC
103/2019, que alterou o cálculo do benefício da pensão por morte.
O dispositivo impugnado584 teve como propósito a restauração do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema
previdenciário, de modo que inexiste ofensa ao princípio da contributividade. Desse modo, a instituição da pensão
por morte deve considerar, além da necessidade dos dependentes, a possibilidade real do sistema de arcar com esse
custo.
Ademais, essa reforma previdenciária resguardou os direitos adquiridos (EC 103/2019, art. 3º) e não violou
as legítimas expectativas ou a segurança jurídica, pois, mesmo ausente regra de transição específica para as pensões,
as regras incidentes sobre a aposentadoria acabam por produzir reflexos no cálculo do benefício por morte 585 .
Nesse contexto, a ocorrência de um decréscimo relevante no valor do benefício — que exigirá um
planejamento financeiro maior dos segurados com dependentes — não significa violação a nenhuma cláusula pétrea,
eis que o núcleo essencial do direito à previdência social e do princípio da dignidade da pessoa humana não oferece
parâmetros precisos para o cálculo da prestação pecuniária. Além disso, vedou-se que o benefício seja inferior ao
salário-mínimo quando for a única fonte de renda formal do dependente.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 7.051/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

581
Precedente citado: RE 278.718.
582
Lei 8.212/1991: “Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: (…) § 7º O décimo-terceiro salário (gratificação natalina)
integra o salário-de-contribuição, exceto para o cálculo de benefício, na forma estabelecida em regulamento.”
583
Lei 8.213/1991: “Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos
seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: (…) II – aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de
serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições mensais.”
584
EC 103/2019: “Art. 23. A pensão por morte concedida a dependente de segurado do Regime Geral de Previdência Social ou
de servidor público federal será equivalente a uma cota familiar de 50% (cinquenta por cento) do valor da aposentadoria recebida
pelo segurado ou servidor ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente na data do óbito,
acrescida de cotas de 10 (dez) pontos percentuais por dependente, até o máximo de 100% (cem por cento).”
585
EC 103/2019: “Art. 3º A concessão de aposentadoria ao servidor público federal vinculado a regime próprio de previdência
social e ao segurado do Regime Geral de Previdência Social e de pensão por morte aos respectivos dependentes será assegurada,
a qualquer tempo, desde que tenham sido cumpridos os requisitos para obtenção desses benefícios até a data de entrada em vigor
desta Emenda Constitucional, observados os critérios da legislação vigente na data em que foram atendidos os requisitos para a
concessão da aposentadoria ou da pensão por morte.”

205
12.6 REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Sistema previdenciário estadual e participação do Ministério Público - ADI 4.824/PI

ODS: 16

Tese fixada:
“1. É constitucional norma de lei estadual que imponha ao Ministério Público (i) a vinculação ao
regime próprio de previdência social do respectivo ente federado; e (ii) a participação, juntamente com os
poderes e demais órgãos autônomos, do custeio previdenciário. 2. É inconstitucional norma de lei estadual
que autorize a Secretaria de Estado de Fazenda a reter o valor correspondente às contribuições
previdenciárias devidas pelo Ministério Público, seus membros e servidores.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar a independência do Ministério Público — norma estadual que
permite que a Secretaria de Fazenda do estado retenha, na fonte, as contribuições previdenciárias devidas
pelo órgão ministerial, e por seus membros e servidores.
A autonomia financeira e orçamentária do Parquet envolve o direito de exigir o repasse das dotações
orçamentárias previstas em seu favor, em duodécimos, até o dia 20 de cada mês (CF/1988, art. 168),
independentemente das circunstâncias vivenciadas pelo ente político, tais como crise econômica e calamidade
financeira. Essa autonomia impede retenções ou contingenciamentos pelo Poder Executivo, devendo o repasse dos
duodécimos abranger a integralidade das verbas destinadas ao órgão autônomo, ao qual cabe gerenciar os próprios
recursos.
São constitucionais normas estaduais que impõem: (i) a vinculação do Ministério Público ao regime
próprio de previdência social daquela unidade federativa e (ii) a participação do referido órgão no
financiamento do sistema previdenciário estadual, inclusive mediante o custeio do abono de permanência dos
seus membros e servidores.
É uma imposição constitucional a inclusão de servidores e membros do Ministério Público estadual no
regime próprio de previdência social do estado. O art. 40, § 20, da CF/1988, inserido pela EC 41/2003, estabeleceu a
unicidade de regime previdenciário e de unidade gestora em cada ente federativo, vedando a existência de leis que
privilegiem determinadas categorias do serviço público.
A ótica contributiva e solidária do regime de repartição simples (CF/1988, art. 40, caput) impõe que o
Estado também responda por eventuais insuficiências, motivo pelo qual não se deve considerar apenas o Poder
Executivo se o regime próprio de previdência social é único para todo o ente federado.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente
a ação para declarar a inconstitucionalidade do art. 7º da Lei Complementar 39/2004 do Estado do Piauí 586.

ADI 4.824/PI, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Sistema previdenciário estadual e participação do Poder Judiciário - ADI 4.859/PI

ODS: 16

Tese fixada:
“1. É constitucional norma de lei estadual que imponha ao Poder Judiciário (i) participar,
juntamente com os demais poderes e órgãos autônomos, da cobertura de déficit e do custeio do regime
próprio de previdência social e (ii) realizar o pagamento do abono de permanência dos seus membros e
586
LC 39/2004 do Estado do Piauí: “Art. 7º À Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí compete reter na fonte e recolher à conta
específica do Fundo de Previdência Social do Estado do Piauí as contribuições advindas dos respectivos planos de custeio do
Regime Próprio de Previdência Social do Estado do Piauí, quando do repasse das disponibilidades financeiras para custeio das
despesas de pessoal da administração direta, autárquica e fundacional dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, do
Ministério Público e do Tribunal de Contas. Parágrafo Único. Aplica-se o que está determinado no caput ao que está previsto nos
arts. 3° e 6° desta lei.”

206
servidores. 2. É inconstitucional norma de lei estadual que autorize a Secretaria de Estado de Fazenda a reter
o valor correspondente às contribuições previdenciárias devidas pelo Poder Judiciário, seus membros e
servidores.”

Resumo:
É inconstitucional — por violar a independência do Poder Judiciário — norma estadual que permite
que a Secretaria de Fazenda do estado retenha, na fonte, as contribuições previdenciárias devidas pelo Poder
Judiciário, e por seus membros e servidores.
A autonomia financeira e orçamentária do Poder Judiciário envolve o direito de exigir o repasse das
dotações orçamentárias previstas em seu favor, em duodécimos, até o dia 20 de cada mês (CF/1988, art. 168),
independentemente das circunstâncias vivenciadas pelo ente político, tais como crise econômica e calamidade
financeira. autonomia impede retenções ou contingenciamentos pelo Poder Executivo, devendo o repasse dos
duodécimos abranger a integralidade das verbas destinadas ao Poder Judiciário, ao qual cabe gerenciar os próprios
recursos.
São constitucionais normas estaduais que impõem a participação do Poder Judiciário no
financiamento do sistema previdenciário estadual mediante (i) a cobertura de déficits e o custeio do regime
próprio de previdência social; (ii) o recolhimento da contribuição patronal relativa a seus servidores inativos
e pensionistas; ou (iii) o custeio do abono de permanência dos seus membros e servidores.
A ótica contributiva e solidária do regime de repartição simples (CF/1988, art. 40, caput) impõe que o
Estado também responda por eventuais insuficiências, motivo pelo qual não se deve considerar apenas o Poder
Executivo se o regime próprio de previdência social é único para todo o ente federado.
No que se refere à obrigação do Poder Judiciário estadual de recolher a contribuição patronal relativa aos
seus servidores inativos e pensionistas, o STF, com fundamento no princípio da solidariedade, já reputou
constitucional a cobrança de contribuição por aposentados e pensionistas 587. Como decorrência, a contribuição
patronal deve continuar a ser paga pelo empregador, isto é, pelo órgão ou entidade de origem do servidor inativo ou
instituidor da pensão.
Relativamente ao custeio do abono de permanência, trata-se de contraprestação pela continuidade em
serviço para além do tempo necessário, de caráter remuneratório. Assim sendo, compete a cada Poder ou órgão
autônomo arcar com o pagamento dessa parcela para os respectivos membros e servidores públicos.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e,
nessa extensão, a julgou parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 7º da Lei
Complementar 39/2004 do Estado do Piauí 588.

ADI 4.859/PI, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 10.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

13. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

13.1 AÇÃO RESCISÓRIA

Cabimento de ação rescisória e efeitos do empate em julgamento de processo de extradição - AR


2.921/DF

ODS: 16

Resumo:
É cabível o ajuizamento de ação rescisória em face de acórdão proferido pelo STF em processo de
extradição, pois este possui cunho predominantemente administrativo, não havendo que se falar na hipótese
de julgamento de natureza penal.

587
Precedente citado: ADI 3.105.
588
LC 39/2004 do Estado do Piauí: “Art. 7º À Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí compete reter na fonte e recolher à conta
específica do Fundo de Previdência Social do Estado do Piauí as contribuições advindas dos respectivos planos de custeio do
Regime Próprio de Previdência Social do Estado do Piauí, quando do repasse das disponibilidades financeiras para custeio das
despesas de pessoal da administração direta, autárquica e fundacional dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, do
Ministério Público e do Tribunal de Contas. Parágrafo Único. Aplica-se o que está determinado no caput ao que está previsto nos
arts. 3° e 6° desta lei.”

207
A extradição constitui instrumento de cooperação jurídica internacional e possui natureza jurídica de ato
administrativo, diplomático e jurídico.
Na espécie, trata-se de ação rescisória ajuizada contra acórdão da Segunda Turma desta Corte que, diante
do empate na votação decorrente da ausência de ministro por motivo de licença médica, concluiu pela prevalência
do voto mais favorável ao réu e julgou improcedente o pedido extradicional (Ext 1.560/DF). Como o objeto em
discussão é justamente a verificação da validade da prevalência desse voto em caso de empate, atrai-se a hipótese de
cabimento da rescisória referente à manifesta violação a literal dispositivo de norma jurídica (CPC/2015, art. 966,
V).
Verificada a ocorrência de empate em julgamento de processo de extradição, é necessário o seu
adiamento para que a decisão seja tomada somente depois do voto de desempate, visto que a aplicação de
solução mais favorável ao réu se restringe aos casos expressamente previstos na legislação.
A partir da leitura sistemática de dispositivos regimentais 589 e na linha da jurisprudência desta Corte 590, vê-
se que há preferência pela votação majoritária em julgamentos colegiados, com a obtenção do voto de desempate,
especialmente quando o empate se deve a situação totalmente solucionável, como no caso concreto (licença
médica). Nesse contexto, o Código de Processo Penal (CPP/1941, arts. 615, § 1º, e 664, parágrafo único) dispõe
sobre a necessidade de colheita do voto do presidente do Tribunal, da Câmara ou da Turma, se não tiver votado,
oportunidade em que proferirá, então, o voto de desempate, conhecido como “voto de qualidade”.
A solução favorável ao réu, no caso de empate em habeas corpus ou recurso criminal, configura situação
excepcionalíssima, que não pode ser estendida a casos distintos dos estabelecidos na lei.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para (i)
afastar a proclamação do resultado prolatada no mencionado processo de extradição; e (ii) determinar a remessa dos
autos à Segunda Turma para fins de aplicação do art. 150, §§ 1º e 2º, do RISTF, com a tomada do voto do ministro
ausente para a conclusão do julgamento.

AR 2.921/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 30.3.2023

13.2 ASSOCIAÇÕES

Associações genéricas e inaplicabilidade do Tema 1.119 RG - ARE 1.339.496 AgR/RJ

Resumo:
Não se aplica às associações genéricas — que não representam qualquer categoria econômica ou
profissional específica — a tese firmada no Tema 1.119 da sistemática da repercussão geral, sendo

589
RISTF: “Art. 13 São atribuições do Presidente: (…) IX - proferir voto de qualidade nas decisões do Plenário, para as quais o
Regimento Interno não preveja solução diversa, quando o empate na votação decorra de ausência de Ministro em virtude de: a)
impedimento ou suspeição; b) vaga ou licença médica superior a 30 (trinta) dias, quando seja urgente a matéria e não se possa
convocar o Ministro licenciado. (...) Art. 146. Havendo, por ausência ou falta de um Ministro, nos termos do art. 13, IX, empate
na votação de matéria cuja solução dependa de maioria absoluta, considerar-se-á julgada a questão proclamando-se a solução
contrária à pretendida ou à proposta. Parágrafo único. No julgamento de habeas corpus e de recursos de habeas corpus
proclamar-se-á, na hipótese de empate, a decisão mais favorável ao paciente. (...) Art. 150. O Presidente da Turma terá sempre
direito a voto. § 1º Se ocorrer empate, será adiada a decisão até tomar-se o voto do Ministro que esteve ausente. § 2º Persistindo a
ausência, ou havendo vaga, impedimento ou licença de Ministro da Turma, por mais de um mês, convocar-se-á Ministro da outra,
na ordem decrescente de antiguidade. § 3º Nos habeas corpus e recursos em matéria criminal, exceto o recurso extraordinário,
havendo empate, prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente ou réu. (...) Art. 205. Recebidas as informações ou
transcorrido o respectivo prazo, sem o seu oferecimento, o Relator, após vista ao Procurador-Geral, pedirá dia para julgamento,
ou, quando a matéria for objeto de jurisprudência consolidada do Tribunal, julgará o pedido. Parágrafo único. O julgamento de
mandado de segurança contra ato do Presidente do Supremo Tribunal Federal ou do Conselho Nacional da Magistratura será
presidido pelo Vice-Presidente ou, no caso de ausência ou impedimento, pelo Ministro mais antigo dentre os presentes à sessão.
Se lhe couber votar, nos termos do art. 146, I a III, e v, e seu voto produzir empate, observar-se-á o seguinte: i – não havendo
votado algum Ministro, por motivo de ausência ou licença que não deva perdurar por mais de três meses, aguardar-se-á o seu
voto; ii – havendo votado todos os Ministros, salvo os impedidos ou licenciados por período remanescente superior a três meses,
prevalecerá o ato impugnado.”
590
Precedentes citados: HC 74.761; AP 969; RC 1.468 segundo; AP 433; Inq 3.998 AgR; Inq 4.011 e Inq 4.005.

208
insuficiente a mera regularidade registral da entidade para sua atuação em sede de mandado de segurança
coletivo, pois passível de causar prejuízo aos interesses dos beneficiários supostamente defendidos.
No julgamento do aludido Tema 591, o STF considerou que a substituição processual pelas associações teria
sede direta no art. 5º, LXX, b, da CF/1988592 , e fixou a seguinte tese: “É desnecessária a autorização expressa dos
associados, a relação nominal destes, bem como a comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores
pretéritos de título judicial decorrente de mandado de segurança coletivo impetrado por entidade associativa de
caráter civil”.
Contudo, ao apreciar os embargos de declaração opostos contra o acórdão que fixou a tese, esta Corte
ressalvou, expressamente, não ter analisado se as associações genéricas poderiam ter seus associados beneficiados
por decisões em mandado de segurança coletivo593.
Nesse contexto, a mera criação e o registro da associação não impõem ou autorizam, no aspecto da atuação
processual, a automática e autêntica legitimidade ativa das associações, sendo necessário à regular substituição
processual, que se determine, minimamente, o seu objeto social, a partir do qual definido o conjunto de seus
associados594.
Com base nesse e em outros entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento ao agravo
regimental da União (Fazenda Nacional) para negar provimento ao agravo em recurso extraordinário da Associação
Brasileira de Contribuintes Tributários (ABCT).

ARE 1.339.496 AgR/RJ, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro André Mendonça, julgamento
em 7.2.2023

13.3 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Regime especial de pagamento de precatórios: sequestro de recursos financeiros estaduais em razão de


seu descumprimento - RE 597.092/RJ (Tema 231 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“É constitucional o sequestro de verbas públicas pela autoridade judicial competente nas hipóteses
do § 4º do art. 78 do ADCT, cuja normatividade veicula regime especial de pagamento de precatórios de
observância obrigatória por parte dos entes federativos inadimplentes na situação descrita pelo caput do
dispositivo”

Resumo:
No caso de atraso na quitação das parcelas de precatório, o sequestro de verbas públicas pela
autoridade judicial é constitucional, pois configurado descumprimento ao regime especial de pagamento
(ADCT, art. 78), cuja adesão dos entes federativos inadimplentes é obrigatória.
Originalmente, somente a preterição da ordem de pagamento ensejava a realização de sequestro da quantia
necessária à satisfação do débito (CF/1988, art. 100, § 2º, na redação original) 595. No entanto, a partir da EC
30/2000, todas as modificações referentes à sistemática dos precatórios passaram a admitir o sequestro para a
quitação das parcelas nas hipóteses de não alocação orçamentária para satisfazer os valores devidos, como, por
exemplo, a previsão contida no art. 103 do ADCT596.

591
Precedente citado: ARE 1.293.130 RG (Tema 1.119 RG)
592
CF/1988: “Art. 5º (...) LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: (...) b) organização sindical, entidade
de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;”
593
Precedente citado: ARE 1.293.130 ED (Tema 1.119 RG).
594
Precedente citado: RE 612.043 (Tema 499 RG).
595
CF/1988: “Art. 100 (...) § 2º - As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados ao Poder Judiciário,
recolhendo-se as importâncias respectivas à repartição competente, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão
exeqüenda determinar o pagamento, segundo as possibilidades do depósito, e autorizar, a requerimento do credor e
exclusivamente para o caso de preterimento de seu direito de precedência, o seqüestro da quantia necessária à satisfação do
débito. (Redação original)”

209
Nesse contexto, o regime especial do art. 78 do ADCT 597 é impositivo, visto que os precatórios se
encontram vencidos, em desrespeito à normatividade geral sobre a matéria (CF/1988, art. 100).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, apreciando o Tema 231 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 597.092/RJ, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 23.6.2023 (sexta-feira), às 23:59

13.4 EFETIVAÇÃO DOS JULGADOS

Constitucionalidade da previsão de medidas atípicas para assegurar o cumprimento de ordens


judiciais - ADI 5.941/DF

ODS: 3, 4, 10, 11 e 16

Resumo:
São constitucionais — desde que respeitados os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os valores especificados no próprio ordenamento processual 598, em especial os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade — as medidas atípicas previstas no CPC/2015 destinadas a assegurar a
efetivação dos julgados.
A duração razoável do processo, que decorre da inafastabilidade da jurisdição, deve incluir a atividade
satisfativa (CF/1988, art. 5º, LXXVIII; e CPC/2015, art. 4º). Assim, é inviável a pretensão abstrata de retirar
determinadas medidas do leque de ferramentas disponíveis ao magistrado para fazer valer o provimento
jurisdicional, sob pena de inviabilizar a efetividade do próprio processo, notadamente quando inexistir uma
ampliação excessiva da discricionariedade judicial.
A previsão de uma cláusula geral, contendo uma autorização genérica, se dá diante da impossibilidade de a
legislação considerar todas as hipóteses possíveis no mundo contemporâneo, caracterizado pelo dinamismo e pelo
risco relacionados aos mais diversos ramos jurídicos.

596
ADCT: “Art. 103. Enquanto os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estiverem efetuando o pagamento da parcela
mensal devida como previsto no caput do art. 101 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, nem eles, nem as
respectivas autarquias, fundações e empresas estatais dependentes poderão sofrer sequestro de valores, exceto no caso de não
liberação tempestiva dos recursos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) Parágrafo único. Na vigência do regime
especial previsto no art. 101 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ficam vedadas desapropriações pelos
Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, cujos estoques de precatórios ainda pendentes de pagamento, incluídos os
precatórios a pagar de suas entidades da administração indireta, sejam superiores a 70% (setenta por cento) das respectivas
receitas correntes líquidas, excetuadas as desapropriações para fins de necessidade pública nas áreas de saúde, educação,
segurança pública, transporte público, saneamento básico e habitação de interesse social. (Incluído pela Emenda constitucional
nº 99, de 2017)”
597
ADCT: “Art. 78. Ressalvados os créditos definidos em lei como de pequeno valor, os de natureza alimentícia, os de que trata
o art. 33 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e suas complementações e os que já tiverem os seus respectivos
recursos liberados ou depositados em juízo, os precatórios pendentes na data de promulgação desta Emenda e os que decorram de
ações iniciais ajuizadas até 31 de dezembro de 1999 serão liquidados pelo seu valor real, em moeda corrente, acrescido de juros
legais, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos, permitida a cessão dos créditos. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 30, de 2000) § 1º É permitida a decomposição de parcelas, a critério do credor. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 30, de 2000) § 2º As prestações anuais a que se refere o caput deste artigo terão, se não liquidadas até o final do
exercício a que se referem, poder liberatório do pagamento de tributos da entidade devedora. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 30, de 2000) (Vide Emenda Constitucional nº 62, de 2009) § 3º O prazo referido no caput deste artigo fica
reduzido para dois anos, nos casos de precatórios judiciais originários de desapropriação de imóvel residencial do credor, desde
que comprovadamente único à época da imissão na posse. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 30, de 2000) § 4º O
Presidente do Tribunal competente deverá, vencido o prazo ou em caso de omissão no orçamento, ou preterição ao direito de
precedência, a requerimento do credor, requisitar ou determinar o seqüestro de recursos financeiros da entidade executada,
suficientes à satisfação da prestação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 30, de 2000)”
598
CPC/2015: “Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código; (...) Art. 8º Ao
aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (...)
Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos
gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros
meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados.”

210
Assim, as medidas atípicas devem ser avaliadas de forma casuística, de modo a garantir ao juiz a
interpretação da norma e a melhor adequação ao caso concreto, aplicando ao devedor ou executado aquela que lhe
for menos gravosa, mediante decisão devidamente motivada.
A discricionariedade judicial não se confunde com arbitrariedade, razão pela qual qualquer abuso deverá
ser coibido pelos meios processuais próprios, que são os recursos previstos no ordenamento processual.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade do art. 139, IV, do CPC/2015 599.

ADI 5.941/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 9.2.2023

13.5 IMPEDIMENTOS

Código de Processo Civil: regra sobre impedimentos de juízes - ADI 5.953/DF

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por violar os princípios do juiz natural, da razoabilidade e da
proporcionalidade — o inciso VIII do art. 144 do Código de Processo Civil (CPC/2015), que estabelece que o
magistrado está impedido de atuar nos processos em que a parte seja cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive, ainda que essa mesma parte seja representada por advogado de escritório diverso.
As hipóteses de exceção de impedimento devem ser aferidas objetivamente pelo magistrado, de forma a
viabilizar uma atuação imparcial e desinteressada.
Nesse contexto, uma cláusula aberta e excessivamente abrangente, como a prevista no dispositivo
impugnado, é irrazoável e inviabiliza, sobremaneira, a efetividade da jurisdição, pois define causa de impedimento
sem dar ao juiz o poder ou os meios para pesquisar a carteira de clientes do escritório de seu familiar, limitando a
sua averiguação às informações apresentadas por terceiros.
Ademais, a regra prevista pelo dispositivo impugnado gera uma presunção absoluta de impedimento, em
contrariedade ao princípio do juiz natural (CF/1988, art. 5º, XXXVII e LIII).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do inciso VIII do art. 144 do CPC (Lei 13.105/2015) 600.

ADI 5.953/DF, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 21.8.2023 (segunda-feira), às 23:59

13.6 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

Competência para julgar ação em que servidor celetista pleiteia parcela de natureza administrativa -
RE 1.288.440/SP (Tema 1.143 RG)

599
CPC/2015: “Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) IV- determinar
todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem
judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;”
600
CPC/2015: “Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: (...) VIII - em que figure
como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;”

211
ODS: 16

Tese fixada:
“1. A Justiça Comum é competente para julgar ação ajuizada por servidor celetista contra o Poder
Público, em que se pleiteia parcela de natureza administrativa, modulando-se os efeitos da decisão para
manter na Justiça do Trabalho, até o trânsito em julgado e correspondente execução, os processos em que
houver sido proferida sentença de mérito até a data de publicação da presente ata de julgamento.”

Resumo:
Compete à Justiça Comum o julgamento de ação na qual servidor celetista demanda parcela de
natureza administrativa contra o Poder Público.
Por se tratar de parcela administrativa, a causa de pedir e o pedido da ação fundamentam-se em norma
estatutária. Assim, embora o vínculo do servidor seja de natureza celetista, a apreciação do litígio não compõe a
esfera de competência da Justiça do Trabalho, conforme entendimento fixado por esta Corte ao interpretar o art. 114,
I, da Constituição Federal de 1988 601.
Ademais, por razões de segurança jurídica, os efeitos da decisão devem ser modulados, a fim de manter na
Justiça trabalhista, até o trânsito em julgado e correspondente execução, os processos em que proferida sentença de
mérito até a data de publicação da ata do presente julgamento 602.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.143 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.288.440/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

13.7 PARTES E PROCURADORES

Honorários advocatícios contratuais: pagamento com verbas do FUNDEF/FUNDEB e natureza


jurídica autônoma dos juros moratórios - RE 1.428.399/PE (Tema 1.256 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“1. É inconstitucional o emprego de verbas do FUNDEF/FUNDEB para pagamento de honorários
advocatícios contratuais. 2. É possível utilização dos juros de mora inseridos na condenação relativa a
repasses de verba do FUNDEF, para pagamento dos honorários contratuais.”

Resumo:
É inconstitucional — por caracterizar desvio de verbas constitucionalmente vinculadas — o
pagamento de honorários advocatícios contratuais com recursos alocados no FUNDEF/FUNDEB. Contudo,
essa vinculação não se aplica aos encargos moratórios do débito da condenação, motivo pelo qual o valor
correspondente pode ser destacado e retido do precatório para aquela finalidade.
A jurisprudência do STF consolidou-se no sentido de que os recursos alocados no Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF)/Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) devem ser
utilizados exclusivamente em ações de desenvolvimento e manutenção do ensino. Entretanto, tendo em vista que os
juros de mora legais têm natureza jurídica autônoma em relação à da verba em atraso 603, o advogado pode receber o
pagamento de honorários por meio de parcela adicional do precatório exclusivamente quanto à cobrança de encargos
moratórios.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.256 da repercussão geral) e reafirmou a jurisprudência dominante sobre
a matéria604 para dar parcial provimento ao recurso extraordinário, a fim de permitir que a verba honorária seja

601
Precedentes citados: RE 960.429 (Tema 992 RG); RE 655.283 (Tema 606 RG) e RE 846.854 (Tema 544 RG).
602
Precedentes citados: RE 600.091; RE 594.435 ED; RE 586.453 e RE 960.429 ED-segundos.
603
Precedente citado: RE 855.091 (Tema 808 RG).
604
Precedentes citados: ADPF 528; ARE 1.354.886 AgR; ARE 1.122.521 AgR; ARE 1.122.529 AgR-segundo; ARE 1.204.479
AgR-ED; ARE 1.279.796 AgR-segundo; ARE 1.299.060 AgR-segundo; ARE 1.375.480 AgR-ED; RE 1.086.215 AgR-ED e RE

212
destacada tão somente dos valores correspondentes aos juros moratórios incidentes no valor do precatório devido
pela União.

RE 1.428.399/PE, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 16.6.2023

14. DIREITO PROCESSUAL PENAL

14.1 EXECUÇÃO PENAL

Art. 127 da LEP: perda de dias remidos por falta grave e revisão ou cancelamento do enunciado da
súmula vinculante 9 - RE 1.116.485/RS (Tema 477 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“1. A revogação ou modificação do ato normativo em que se fundou a edição de enunciado de súmula
vinculante acarreta, em regra, a necessidade de sua revisão ou cancelamento pelo Supremo Tribunal Federal,
conforme o caso. 2. É constitucional a previsão legislativa de perda dos dias remidos pelo condenado que
comete falta grave no curso da execução penal.”

Resumo:
Em regra, deve-se revisar ou cancelar enunciado de súmula vinculante quando ocorrer a revogação
ou a alteração da legislação que lhe serviu de fundamento. Contudo, o STF pode concluir, com base nas
circunstâncias do caso concreto, pela desnecessidade de tais medidas.
O papel de última instância decisória e a função de órgão soberano sobre a interpretação constitucional não
foram conferidos constitucionalmente ao STF de forma isolada e absoluta 605. Em um ambiente democrático, não se
deve atribuir a qualquer órgão, seja do Poder Judiciário, seja do Poder Legislativo, a faculdade de pronunciar a
última palavra sobre o sentido da Constituição. Com efeito, visando promover o avanço e o aperfeiçoamento de
soluções democráticas às questões de interesse público, a interpretação constitucional deve perpassar por um
processo de construção plural entre os Poderes estatais — Legislativo, Executivo e Judiciário — e os diversos
segmentos da sociedade civil organizada.
O Poder Legislativo possui a prerrogativa de superar entendimentos vinculantes firmados por esta Corte,
mas, a depender do instrumento normativo adotado pelo Congresso Nacional, o caso concreto pode demandar
posturas distintas por parte do STF 606. Nesse contexto, o art. 5º da Lei 11.417/2006, que regulamentou o art. 103-A
da CF/1988, ofereceu solução para as hipóteses em que haja modificação ou revogação do diploma legislativo em
que a edição da Súmula Vinculante tenha se fundado 607.
Assim, na hipótese de manifesta dúvida sobre a constitucionalidade da lei superveniente de conteúdo
divergente e da medida legislativa adotada, o Poder Judiciário, quando provocado, pode se debruçar novamente
sobre a questão, de modo a estabelecer a prevalência ou não do conteúdo da Súmula Vinculante no caso concreto,
com a manutenção de seus efeitos.
É constitucional a perda dos dias remidos pelo condenado que comete falta grave no curso da
execução penal, nos termos previstos pelo art. 127 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal – LEP), na
redação dada pela Lei de 12.433/2011.
Na espécie, não se vislumbra superação legislativa inconstitucional em relação aos mandamentos da
Súmula Vinculante 9, mas um aperfeiçoamento de sua redação, diante da superveniência da Lei 12.433/2011, que
alterou o art. 127 da LEP 608. A súmula — sem pretender tecer considerações a respeito do conceito de falta grave ou
da intensidade da perda dos dias remidos (se total ou proporcional à falta grave cometida) — teve como principal
finalidade fixar a tese de que a previsão legislativa de perda dos dias remidos foi recepcionada pela nova ordem
constitucional, de modo que não haveria direito adquirido aos dias remidos em razão de estarem submetidos a regras

1.274.672 AgR-segundo.
605
Precedentes citados: RE 661.256; Rcl 11.243; MS 33.340; ADI 4.066 e ADPF 292.
606
Precedente citado: ADI 5.105.
607
Lei 11.417/2006: “Art. 5º Revogada ou modificada a lei em que se fundou a edição de enunciado de súmula vinculante, o
Supremo Tribunal Federal, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso.”
608
LEP/1984: “Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto
no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)”

213
específicas. A alteração legislativa superveniente, por sua vez, apenas limitou a 1/3 (um terço) o tempo remido
suscetível de ser revogado pelo juiz ante o cometimento de falta grave pelo condenado.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 477 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário. Nos termos do art. 5º da Lei 11.417/2006, o Tribunal resolveu aguardar
o julgamento das Propostas de Súmula Vinculante 60 e 64 para que se delibere quanto à oportunidade da revisão ou
cancelamento da SV 9, via adequada para apreciação da questão.

RE 1.116.485/RS, relator Ministro Luiz Fux julgamento virtual finalizado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

14.2 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Resolução do CNMP: utilização das interceptações telefônicas no âmbito do Ministério Público - ADI
5.315/DF

ODS: 10 e 16

Tese fixada:
“É constitucional o estabelecimento, por resolução do CNMP, de cautelas procedimentais para
proteção de dados sigilosos e garantia da efetividade dos elementos de prova colhidos via interceptação
telefônica.”

Resumo:
É constitucional — por não extrapolar as competências do Conselho Nacional do Ministério Público -
CNMP (CF/1988, art. 130-A, caput, § 2º, II), bem como não violar a competência privativa da União para
legislar sobre direito processual (CF/1988, art. 22, I), o princípio da legalidade (CF/1988, art. 5º, II) e a
competência da Polícia Judiciária (CF/1988, art. 144, § 1º, IV e § 4º) — a Resolução 51/2010 do CNMP, que
dispõe sobre o pedido e a utilização das interceptações telefônicas no âmbito do Ministério Público.
O conteúdo dessa resolução se insere na competência do CNMP para disciplinar os deveres funcionais dos
membros do Parquet, entre os quais o dever de sigilo e o de zelar pela observância dos princípios previstos no art.
37 da CF/1988 609.
O ato normativo impugnado versa sobre questões procedimentais, restringindo-se a uniformizar práticas
formais necessárias a assegurar a lisura e a eficiência da atuação ministerial, sem as quais a investigação poderia ser
comprometida. Assim, ele dá concretude ao princípio da eficiência e se compatibiliza com os limites das atribuições
do Conselho, além de regulamentar, de modo legítimo, a Lei 9.296/1996, dispondo sobre a atuação do Ministério
Público no seu cumprimento.
Ademais, inexiste interferência nas atribuições legais e constitucionais da autoridade policial na condução
dos procedimentos de interceptação telefônica, em especial porque a resolução não autoriza gravações intra murus
nem confere ao Parquet legitimidade investigatória.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação, para declarar a
constitucionalidade da Resolução 51/2010 do Conselho Nacional do Ministério Público.

ADI 5.315/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 1º.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

14.3 JUIZ DAS GARANTIAS

Lei Anticrime e alterações no CPP: juiz das garantias, procedimento de arquivamento do inquérito
policial, acordo de não persecução penal, obrigatoriedade de realização da audiência de custódia no
prazo de 24 horas e revogação automática de prisão - ADI 6.298/DF, ADI 6.299/DF, ADI 6.300/DF e
ADI 6.305/DF

ODS: 16

609
Precedente citado: ADI 4.263.

214
Audiência Pública: 1ª Parte 2ª Parte 3ª Parte 4ª Parte

Resumo:
É constitucional o art. 3º da Lei 13.964/2019 (Lei Anticrime), especificamente quanto à instituição e à
implementação do juiz das garantias no processo penal brasileiro, porquanto trata de questões atinentes ao
processo penal, matéria da competência legislativa privativa da União (CF/1988, art. 22, I), que tem natureza
cogente sobre todos os entes federativos e os Poderes da República. No entanto, é formalmente
inconstitucional — por configurar invasão desarrazoada à autonomia administrativa e ao poder de auto-
organização do Judiciário (CF/1988, art. 96, I) — a introdução, pela Lei Anticrime, do parágrafo único do
art. 3º-D do CPP, que impõe a criação de um “sistema de rodízio de magistrados” nas comarcas em que
funcionar um único juiz.
A implementação do juiz das garantias visa garantir uma maior imparcialidade, a proteção de direitos
fundamentais e o aprimoramento do sistema judicial. Contudo, para viabilizar a adoção do instituto de forma
progressiva e programada pelos tribunais, é necessário fixar prazo de transição mais dilatado e adequado ao
equacionamento da reorganização do Poder Judiciário nacional.
A atuação do juiz das garantias se encerra com o oferecimento da denúncia ou da queixa, e não com o
recebimento de uma delas, devendo o juiz da instrução ter acesso aos elementos produzidos no inquérito policial ou
no procedimento investigativo criminal. Restringir esse acesso afeta diretamente a independência funcional do
magistrado em exercer seu julgamento motivado, em busca da verdade real. Não se pode presumir que o simples
contato com os elementos que ensejaram a denúncia seja apto a vulnerar a imparcialidade do julgador.
Ademais, a inobservância do prazo previsto em lei não causa a revogação automática da prisão e o juízo
competente deve ser instado a avaliar os motivos que a ensejaram 610. Não é razoável, proporcional ou obediente ao
primado da inafastabilidade da jurisdição, exigir que, em toda e qualquer hipótese, independentemente de suas
peculiaridades e dos riscos envolvidos, a prisão seja automaticamente relaxada.
Além de não abranger as infrações de menor potencial ofensivo (CPP/1941, art. 3º-C), o juiz das garantias
também não se aplica: (i) aos tribunais, pois a colegialidade, por si só, é fato e reforço da independência e da
imparcialidade judicial, a justificar a diferença de tratamento; (ii) aos processos de competência do Tribunal do Júri,
pela mesma lógica do item anterior; e (iii) aos processos criminais de violência doméstica e familiar, porque a
natureza desses casos exige disciplina processual penal específica, que traduza um procedimento mais dinâmico,
apto a promover o pronto e efetivo amparo e proteção da vítima.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, ao analisar algumas das modificações ao
CPP/1941, implementadas pela Lei 13.964/2019 611, julgou parcialmente procedentes as ações para:

610
Precedente citado: ADI 6.581.
611
CPP/1941: “Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a
substituição da atuação probatória do órgão de acusação. Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade
da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do
Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (...) IV – ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal;
(...) VI – prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las, assegurado, no primeiro
caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto neste Código ou em legislação especial
pertinente; VII – decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis,
assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral; VIII – prorrogar o prazo de duração do inquérito,
estando o investigado preso, em vista das razões apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo;
IX – determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua instauração ou
prosseguimento; (...) XIV – decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; (...) § 1º O
preso em flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à presença do juiz de garantias no prazo de 24
(vinte e quatro) horas, momento em que se realizará audiência com a presença do Ministério Público e da Defensoria Pública ou
de advogado constituído, vedado o emprego de videoconferência. § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá,
mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito
por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada. Art.
3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com
o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código. § 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões
pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento. § 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o
juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas
cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias. § 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das
garantias ficarão acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos
autos do processo enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis,
medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado. § 4º Fica
assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do juízo das garantias. Art. 3º-D. O juiz que, na fase de
investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no
processo. Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um sistema de rodízio de
magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo. Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de

215
(i) por maioria, atribuir interpretação conforme ao art. 3º-A do CPP, para assentar que o juiz,
pontualmente, nos limites legalmente autorizados, pode determinar a realização de diligências
suplementares, para o fim de dirimir dúvida sobre questão relevante para o julgamento do mérito;
(ii) por maioria, declarar a constitucionalidade do caput do art. 3º-B do CPP, e, por unanimidade,
fixar o prazo de doze meses, a contar da publicação da ata do julgamento, para que sejam adotadas
as medidas legislativas e administrativas necessárias à adequação das diferentes leis de
organização judiciária, à efetiva implantação e ao efetivo funcionamento do juiz das garantias em
todo o País, tudo conforme as diretrizes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e sob a supervisão
dele. Esse prazo poderá ser prorrogado uma única vez, por no máximo doze meses, devendo a
devida justificativa ser apresentada em procedimento realizado junto ao CNJ;
(iii) por unanimidade, declarar a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do art. 20 da Lei
13.964/2019, quanto à fixação do prazo de trinta dias para a instalação dos juízes das garantias;
(iv) por unanimidade, atribuir interpretação conforme aos incisos IV, VIII e IX do art. 3º-B do CPP,
para que todos os atos praticados pelo Ministério Público, como condutor de investigação penal, se
submetam ao controle judicial (HC 89.837/DF) e fixar o prazo de até noventa dias, contados da
publicação da ata do julgamento, para os representantes do Parquet encaminharem, sob pena de
nulidade, todos os PIC e outros procedimentos de investigação criminal, mesmo que tenham outra
denominação, ao respectivo juiz natural, independentemente de o juiz das garantias já ter sido
implementado na respectiva jurisdição;
(v) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao inciso VI do art. 3º-B do CPP, para prever
que o exercício do contraditório será preferencialmente em audiência pública e oral;
(vi) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao inciso VII do art. 3º-B do CPP, para
estabelecer que o juiz pode deixar de realizar a audiência quando houver risco para o processo, ou
diferi-la em caso de necessidade;
(vii) por maioria, declarar a inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 3º-B do CPP, e atribuir
interpretação conforme para assentar que a competência do juiz das garantias cessa com o
oferecimento da denúncia;
(viii) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao § 1º do art. 3º-B do CPP, para estabelecer que
o preso em flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à presença
do juiz das garantias, no prazo de 24 horas, salvo impossibilidade fática, momento em que se
organização judiciária da União, dos Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem periodicamente
divulgados pelo respectivo tribunal. Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento
dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa
submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e penal. Parágrafo único. Por meio de regulamento, as
autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e a
identidade do preso serão, de modo padronizado e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo,
transmitidas à imprensa, assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida
à prisão. (...) Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza,
o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância
de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à
revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (...) Art. 28-A. Não sendo caso
de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou
grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal,
desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e
alternativamente: (...) III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do
Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do
art. 45 do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada
pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou (...) § 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas
no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo,
com concordância do investigado e seu defensor. (...) § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos
requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo. § 8º Recusada a homologação, o juiz
devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento
da denúncia. (...) Art. 157. (...) § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a
sentença ou acórdão. (...) Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas
após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído
ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (...)
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva.”

216
realizará a audiência com a presença do ministério público e da defensoria pública ou de advogado
constituído, cabendo, excepcionalmente, o emprego de videoconferência, mediante decisão da
autoridade judiciária competente, desde que este meio seja apto à verificação da integridade do
preso e à garantia de todos os seus direitos;
(ix) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao § 2º do art. 3º-B do CPP, para assentar que:
(a) o juiz pode decidir de forma fundamentada, reconhecendo a necessidade de novas
prorrogações do inquérito, diante de elementos concretos e da complexidade da investigação; e (b)
a inobservância do prazo previsto em lei não implica a revogação automática da prisão preventiva,
devendo o juízo competente ser instado a avaliar os motivos que a ensejaram, nos termos da ADI
6.581/DF;
(x) por unanimidade, atribuir interpretação conforme à primeira parte do caput do art. 3º-C do CPP,
para esclarecer que as normas relativas ao juiz das garantias não se aplicam às seguintes situações:
(a) processos de competência originária dos tribunais, os quais são regidos pela Lei 8.038/1990;
(b) processos de competência do tribunal do júri; (c) casos de violência doméstica e familiar; e (d)
infrações penais de menor potencial ofensivo;
(xi) por maioria, declarar a inconstitucionalidade da expressão “recebimento da denúncia ou queixa na
forma do art. 399 deste Código” contida na segunda parte do caput do art. 3º-C do CPP, e atribuir
interpretação conforme para assentar que a competência do juiz das garantias cessa com o
oferecimento da denúncia;
(xii) por maioria, declarar a inconstitucionalidade do termo “Recebida” contido no § 1º do art. 3º-C do
CPP, e atribuir interpretação conforme ao dispositivo para assentar que, oferecida a denúncia ou
queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento;
(xiii) por maioria, declarar a inconstitucionalidade do termo “recebimento” contido no § 2º do art. 3º-C
do CPP, e atribuir interpretação conforme ao dispositivo para assentar que, após o oferecimento da
denúncia ou queixa, o juiz da instrução e julgamento deverá reexaminar a necessidade das medidas
cautelares em curso, no prazo máximo de dez dias;
(xiv) por unanimidade, declarar a inconstitucionalidade, com redução de texto, dos §§ 3º e 4º do art. 3º-
C do CPP, e atribuir interpretação conforme para entender que os autos que compõem as matérias
de competência do juiz das garantias serão remetidos ao juiz da instrução e julgamento;
(xv) por unanimidade, declarar a inconstitucionalidade do caput do art. 3º-D do CPP;
(xvi) por unanimidade, declarar a inconstitucionalidade formal do parágrafo único do art. 3º-D do CPP;
(xvii) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao art. 3º-E do CPP, para assentar que o juiz das
garantias será investido, e não designado, conforme as normas de organização judiciária da União,
dos estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem periodicamente
divulgados pelo respectivo tribunal;
(xviii) por unanimidade, declarar a constitucionalidade do caput do art. 3º-F do CPP;
(xix) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao parágrafo único do art. 3º-F do CPP, para
assentar que a divulgação de informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso
pelas autoridades policiais, Ministério Público e magistratura deve assegurar a efetividade da
persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida à prisão;
(xx) por maioria, atribuir interpretação conforme ao caput do art. 28 do CPP, para assentar que, ao se
manifestar pelo arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da
mesma natureza, o órgão do Ministério Público submeterá sua manifestação ao juiz competente e
comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial, podendo encaminhar os autos para o
Procurador-Geral ou para a instância de revisão ministerial, quando houver, para fins de
homologação, na forma da lei;
(xxi) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao § 1º do art. 28 do CPP, para assentar que,
além da vítima ou de seu representante legal, a autoridade judicial competente também poderá
submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, caso verifique patente
ilegalidade ou teratologia no ato do arquivamento;
(xxii) por unanimidade, declarar a constitucionalidade dos arts. 28-A, caput, III, IV e §§ 5º, 7º e 8º do
CPP;
(xxiii) por maioria, declarar a inconstitucionalidade do § 5º do art. 157 do CPP;
(xxiv) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao caput do art. 310 do CPP, para assentar que o
juiz, em caso de urgência e se o meio se revelar idôneo, poderá realizar a audiência de custódia por
videoconferência;
(xxv) por unanimidade, atribuir interpretação conforme ao § 4º do art. 310 do CPP, para assentar que a
autoridade judiciária deverá avaliar se estão presentes os requisitos para a prorrogação excepcional
do prazo ou para sua realização por videoconferência, sem prejuízo da possibilidade de imediata
decretação de prisão preventiva; e

217
(xxvi) por unanimidade, fixar a seguinte regra de transição: quanto às ações penais já instauradas no
momento da efetiva implementação do juiz das garantias pelos tribunais, a eficácia da lei não
acarretará qualquer modificação do juízo competente.

ADI 6.298/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 24.8.2023


ADI 6.299/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 24.8.2023
ADI 6.300/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 24.8.2023
ADI 6.305/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 24.8.2023

14.4 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

Competência do TJDFT para julgar “habeas corpus” contra ato de autoridades locais - ADI 5.278/DF

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional — por usurpar a competência do STJ (CF/1988, arts. 105, I, “a” e “c”; e 128, I,
“d”) — norma que atribui ao TJDFT a competência originária para processar e julgar ações de “habeas
corpus” nas quais figurem como autoridades coatoras (i) o Presidente e membros do TJDFT; (ii) o Presidente
e membros do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF); e (iii) o Procurador-Geral de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios.
Consoante disposição expressa da Constituição Federal de 1988, compete ao STJ processar e julgar
originariamente a ação de habeas corpus quando o coator ou paciente for desembargador do TJDFT, membro do
TCDF ou membro do Ministério Público da União que oficie perante tribunais612.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade parcial, sem redução do texto, do art. 8º, I, c e d, da Lei 11.697/2008613, a fim de afastar a
interpretação segundo a qual compete ao TJDFT processar e julgar habeas corpus contra ato: (i) do Presidente ou
de qualquer dos membros do TJDFT; (ii) do Presidente ou qualquer dos membros do TCDF; e (iii) do Procurador-
Geral de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.

ADI 5.278/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Investigação de agentes com foro privilegiado perante o respectivo Tribunal de Justiça: necessidade de
prévia autorização judicial para a instauração - ADI 7.447 MC-Ref/PA
612
CF/1988: “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns,
os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de
Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de
Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; (...) c) os habeas corpus, quando o
coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea ‘a’, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição,
Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
(...) Art. 128. O Ministério Público abrange: (...) I - o Ministério Público da União, que compreende: (...) d) o Ministério Público
do Distrito Federal e Territórios;”
613
Lei 11.697/2008: “Art. 8º Compete ao Tribunal de Justiça: I – processar e julgar originariamente: (...) c) os mandados de
segurança e os habeas data contra atos do Presidente do Tribunal e de qualquer de seus órgãos e membros, do Procurador-Geral
da Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, dos Juízes do Distrito Federal e dos Territórios, do Governador do Distrito
Federal, dos Governadores dos Territórios, do Presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal e de qualquer de seus
membros, do Procurador-Geral do Distrito Federal e dos Secretários de Governo do Distrito Federal e dos Territórios; d) os
habeas corpus, quando o constrangimento apontado provier de ato de qualquer das autoridades indicadas na alínea c deste inciso,
exceto o Governador do Distrito Federal;”

218
ODS: 16

Resumo:
Encontram-se presentes os requisitos para a concessão de medida cautelar, pois (i) há plausibilidade
jurídica no direito alegado pelo requerente, que decorre da jurisprudência desta Corte quanto a necessidade
de autorização judicial prévia para a investigação de agentes públicos detentores de prerrogativa de foro; e
(ii) há perigo da demora na prestação jurisdicional, que se justifica pelo não acautelamento das situações
fáticas relacionadas à controvérsia constitucional objeto de apreciação.
Conforme jurisprudência desta Corte, as investigações contra autoridades com prerrogativa de foro perante
o STF submetem-se ao prévio controle judicial, circunstância que inclui a autorização judicial para as investigações
614 615
. Essa atividade de supervisão judicial deve ser constitucionalmente desempenhada durante toda a tramitação
das investigações, desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento da denúncia.
Nesse contexto, e diante do caráter excepcional das hipóteses constitucionais de foro por prerrogativa de
função, que possuem diferenciações em nível federal, estadual e municipal, o mesmo entendimento também é
aplicável às investigações que envolvem autoridades com foro privilegiado nos tribunais de segundo grau, motivo
pelo qual é necessária a supervisão das investigações pelo órgão judicial competente 616.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a decisão que deferiu em parte a
medida cautelar pleiteada para: (a) atribuir interpretação conforme a Constituição ao art. 161, I, a e b, da
Constituição do Estado do Pará, e aos arts. 24, XII, 116, 118, 232, 233 e 234, todos do Regimento Interno do
Tribunal de Justiça do Estado do Pará, de modo a estabelecer a necessidade de autorização judicial para a
instauração de investigações penais originárias perante o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, seja pela Polícia
Judiciária, seja pelo Ministério Público; e (b) determinar o imediato envio dos inquéritos policiais e procedimentos
de investigação da Polícia Judiciária e do Ministério Público instaurados ao Tribunal de Justiça, para imediata
distribuição e análise do desembargador relator sobre a existência de justa causa para a continuidade da
investigação.

ADI 7.447 MC-Ref/PA, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-
feira), às 23:59

14.5 PRISÃO ESPECIAL

Prisão especial aos portadores de diploma de curso superior - ADPF 334/DF

ODS: 10 e 16

Resumo:
É incompatível com a Constituição Federal de 1988 — por ofensa ao princípio da isonomia (CF/1988,
arts. 3º, IV; e 5º, “caput”) — a previsão contida no inciso VII do art. 295 do Código de Processo Penal (CPP)
que concede o direito a prisão especial, até decisão penal definitiva, a pessoas com diploma de ensino
superior.
A previsão do direito à prisão especial a diplomados em ensino superior não guarda relação com qualquer
objetivo constitucional, com a satisfação de interesses públicos ou com a proteção de seu beneficiário frente a algum
risco maior a que possa ser submetido em virtude especificamente do seu grau de escolaridade.

614
Regimento Interno do STF/1980: “Art 21. São atribuições do Relator: (...) XV – determinar a instauração de inquérito a
pedido do Procurador-Geral da República, da autoridade policial ou do ofendido, bem como o seu arquivamento, quando o
requerer o Procurador-Geral da República, ou quando verificar: (Redação dada pela Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho de
2011) a) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Incluída pela Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho
de 2011) b) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (Incluída pela
Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011) c) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; (Incluída pela
Emenda Regimental n. 44, de 2 de junho de 2011) d) extinta a punibilidade do agente; ou (Incluída pela Emenda Regimental
n. 44, de 2 de junho de 2011) e) ausência de indícios mínimos de autoria ou materialidade. (Incluída pela Emenda Regimental
n. 44, de 2 de junho de 2011).”
615
Precedentes citados: Pet 3.825 QO e Inq 2.411 QO.
616
Precedentes citados: AP 933 QO; AP 912; RE 1.322.854 AgR e ADI 7.083.

219
Assim, a referida norma não protege categoria de pessoas fragilizadas e merecedoras de tutela. Ao
contrário, configura medida estatal discriminatória, que promove a categorização de presos e fortalece as
desigualdades, pois beneficia, com base em qualificação de ordem estritamente pessoal (grau de instrução
acadêmica), aqueles que já são favorecidos por sua posição socioeconômica, visto que obtiveram a regalia de acesso
a uma universidade.
Nesse contexto, a extensão da prisão especial a essas pessoas caracteriza verdadeiro privilégio que, em
última análise, materializa a desigualdade social e o viés seletivo do direito penal, em afronta ao preceito
fundamental da Constituição que assegura a igualdade entre todos na lei e perante a lei.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ADPF para declarar a não
recepção do art. 295, VII, do CPP, pela Constituição Federal de 1988617.

ADPF 334/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 31.3.2023 (sexta-feira), às
23:59

14.6 PRISÃO PREVENTIVA

Prisão preventiva: incompatibilidade de sua manutenção com a fixação de regime distinto do fechado
em sentença condenatória - HC 214.070 AgR/MG

Resumo:
Viola o princípio da proporcionalidade a tentativa de compatibilizar a prisão preventiva com a
imposição do regime inicial de cumprimento de pena semiaberto ou aberto.
Na espécie, a fixação do regime semiaberto torna desproporcional a manutenção da prisão preventiva, por
significar imposição de medida cautelar mais gravosa à liberdade do que a estabelecida na própria sentença
condenatória, circunstância que se revela como verdadeiro constrangimento ilegal 618.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento ao agravo regimental e
concedeu a ordem de habeas corpus para revogar a prisão preventiva do paciente, ficando o juízo processante
autorizado, desde logo, a analisar a eventual necessidade de aplicação de medidas cautelares outras (CPP/1941, art.
319).

HC 214.070 AgR/MG, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento
finalizado em 20.6.2023

14.7 PROVAS

Operação Spoofing: destruição de material probatório apreendido a partir de invasões de dispositivos


eletrônicos de autoridades públicas, na posse de “hackers” presos na Polícia Federal - ADPF 605 MC-
Ref/DF

Resumo:

Estão presentes os pressupostos necessários para a concessão da medida cautelar, eis que: (i) a
fumaça do bom direito se vislumbra pela probabilidade, se dissipadas as provas, de frustração da efetividade
da prestação jurisdicional, em ofensa a preceitos fundamentais, como o do Estado de Direito (CF/1988, art.
1º) e o da segurança jurídica (CF/1988, art. 5º, “caput)”; e (ii) o perigo da demora na efetivação de uma
decisão judicial decorre da possibilidade de esse atraso gerar a perda irreparável de peças essenciais ao
acervo probatório da operação sob análise e de outros procedimentos correlatos.
617
CPP/1941: “Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando sujeitos
a prisão antes de condenação definitiva: (...) VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República;”
618
Precedentes citados: HC 118.257; HC 183.677; HC 123.226; e HC 132.923.

220
A salvaguarda do acervo probatório é essencial para a adequada elucidação de todos os fatos relevantes.
Ademais, a eliminação definitiva de elementos de informação requer decisão judicial, conforme previsto na Lei
9.296/1996619 e no Código de Processo Penal 620.
Somente após aprofundada cognição pelo Plenário desta Corte, em especial quanto à licitude dos meios
para a obtenção dos elementos de prova, cuja valoração adequada depende de todo o seu conjunto, é que será
possível concluir pela eventual inutilização de provas, mediante decisão judicial.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a cautelar anteriormente concedida
para determinar a preservação do material probatório já colhido no bojo da Operação “Spoofing” e de eventuais
procedimentos correlatos até o julgamento final da ação.

ADPF 605 MC-Ref/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 12.6.2023 (segunda-feira),
às 23:59

14.8 QUESTÃO DE ORDEM

Fatos supervenientes e possibilidade da apresentação do voto do ministro sucessor - QO no INQ


3.515/DF

Resumo:
A superveniência de fatos novos configura circunstância excepcional que permite que ministro que
atualmente ocupe a cadeira profira voto, ainda que seu antecessor, oportunamente, já tenha votado. Assim, a
preservação do voto do ministro sucedido só deve ocorrer se as condições e circunstâncias levadas a
julgamento permanecerem as mesmas.
Na espécie, caracterizam-se como fatos novos, à luz das disposições dos Códigos de Processo Civil e Penal
621 622
: o arquivamento de outros inquéritos policiais — nos quais os fatos objeto da denúncia ora em análise se
basearam —, a mudança de posicionamento do Ministério Público — que inicialmente pugnava pelo recebimento da
peça acusatória, mas agora pleiteia a sua rejeição por ausência de justa causa —, e as inovações legislativas sobre a
matéria. Portanto, embora o ministro relator à época já tivesse apresentado o seu voto pela rejeição dos aclaratórios,
os mencionados fatos supervenientes ocorreram somente após a sua saída.
Nesse contexto, o ministro sucessor pode proferir voto diante de nova circunstância fática, não antes
apreciada e que exerça influência direta no processo 623.
Com base nesse entendimento, a Primeira Turma, por unanimidade, acolheu a questão de ordem
apresentada pelo Ministro André Mendonça, atual relator, para possibilitar, em razão da superveniência de fatos
novos, que ele apresente voto nos embargos de declaração opostos, em cujo julgamento já consta o voto do antigo
relator, ora aposentado, Ministro Marco Aurélio.

QO no INQ 3.515/DF, relator Ministro André Mendonça, julgamento finalizado em 6.6.2023

619
Lei 9.296/1996: “Art. 9º A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a
instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte interessada.”
620
CPP/1941: “Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante termo nos
autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do reclamante. § 1º Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição autuar-
se-á em apartado, assinando-se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em tal caso, só o juiz criminal poderá decidir
o incidente. (...) Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (...) § 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada
inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690,
de 2008)”
621
CPC/2015: “Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir
no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a
decisão. Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.”
622
CPP/1941: “Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais de direito.”
623
Precedente citado: MS 28.801.

221
14.9 TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO)

Polícia Rodoviária Federal e a possibilidade de lavrar termo circunstanciado em casos de crime


federal de menor potencial ofensivo - ADI 6.245/DF e ADI 6.264/DF

Tese fixada:
“O Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) não possui natureza investigativa, podendo ser
lavrado por integrantes da polícia judiciária ou da polícia administrativa.”

Resumo:
É constitucional — por ausência de usurpação das funções das polícias judiciárias — a prerrogativa
conferida à Polícia Rodoviária Federal de lavrar termo circunstanciado de ocorrência (TCO), o qual,
diversamente do inquérito policial, não constitui ato de natureza investigativa, dada a sua finalidade de
apenas constatar um fato e registrá-lo com detalhes.
O TCO, nos moldes definidos pela Lei 9.099/1995, destina-se a registrar ocorrências de crimes de menor
potencial ofensivo, sem dar margem a qualquer procedimento que acarrete diligências para esclarecimento dos fatos
ou da autoria delitiva.
Esta Corte já reputou constitucional a lavratura de TCO por autoridade policial que não seja delegado de
polícia, por considerar que essa atribuição não é exclusiva da polícia judiciária, tal como ocorre nos casos
submetidos à investigação mediante inquérito policial624.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, julgou improcedentes
as ações para assentar a constitucionalidade do art. 6º do Decreto 10.073/2019, na parte em que modificou o art. 47,
XII, do Decreto 9.662/2019625.

ADI 6.245/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 6.264/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

15. DIREITO TRIBUTÁRIO

15.1 CONSELHOS DE CLASSE

Interdição profissional e exercício da capacidade eleitoral em face da inadimplência de anuidades -


ADI 7.020/DF

ODS: 16

Resumo:
É inconstitucional o inciso XXIII do art. 34 da Lei 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia), que prevê
constituir infração disciplinar o não pagamento de contribuições, multas e preços de serviços devidos à
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), depois de regular notificação para fazê-lo. Também é
inconstitucional a aplicação aos advogados inadimplentes do que dispõe o art. 37 da mesma norma, que
institui, como pena, a suspensão, a qual acarreta, por conseguinte, a interdição do exercício profissional.

624
Precedente citado: ADI 3.807.
625
Decreto 10.073/2019: “Art. 6º O Anexo I ao Decreto nº 9.662, de 2019, passa a vigorar com as seguintes alterações: (...) ‘Art.
47. À Polícia Rodoviária Federal cabe exercer as competências estabelecidas no § 2º do art. 144 da Constituição, no art. 20 da Lei
nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, no Decreto nº 1.655, de 3 de outubro de 1995, e,
especificamente. (...) XII - lavrar o termo circunstanciado de que trata o art. 69 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995’.
(NR)”

222
As mencionadas disposições 626 afrontam os princípios da proporcionalidade, da razoabilidade, do devido
processo legal substantivo (CF/1988, art. 5º, LIV) e, especialmente, do livre exercício profissional (CF/1988, art. 5º,
XIII).
A suspensão do exercício profissional, em decorrência da falta de pagamento das anuidades, configura
sanção política em matéria tributária, pois constitui meio indireto de coerção a fim de obter o adimplemento do
tributo627, sendo que a natureza sui generis da OAB não afasta a natureza tributária das contribuições e o respectivo
regime jurídico a elas atribuído.
São constitucionais o art. 134, § 1º, do Regulamento do Estatuto da Advocacia e da OAB, bem assim
os arts. 1º e 15, I, do Provimento 146/2011 do Conselho Federal da OAB, que instituem a exigência do
adimplemento das anuidades para que os advogados possam votar e/ou serem candidatos nas eleições
internas da OAB.
Essa específica determinação 628 629 não configura sanção política, tratando-se de norma de organização do
processo eleitoral da entidade, razoável e justificada, uma vez que não é desproporcional, muito menos irrazoável,
exigir de um candidato a dirigente e de seu eleitor o cumprimento de todos os deveres que possuem perante o órgão.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação
e, na parte conhecida, a julgou parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 34, XXIII, da
Lei 8.906/1994, e conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 37 do mesmo diploma legal, de modo a que
a sanção de interdição de exercício profissional não seja aplicável à hipótese prevista no referido art. 34, XXIII.

ADI 7.020/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

15.2 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Art. 25 da Lei 8.870/1994 e contribuição à seguridade social devida pelo produtor rural pessoa jurídica
- RE 700.922/RS (Tema 651 RG)

ODS: 2, 10 e 17

Tese fixada:
“I – É inconstitucional a contribuição à seguridade social, a cargo do empregador rural pessoa
jurídica, incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da sua produção, prevista no art. 25,
I e II, da Lei 8.870/1994, na redação anterior à Emenda Constitucional 20/1998; II – É constitucional a
contribuição à seguridade social, a cargo do empregador rural pessoa jurídica, incidente sobre a receita bruta
proveniente da comercialização da sua produção, prevista no art. 25, I e II, da Lei 8.870/1994, na redação
dada pela Lei 10.256/2001; III – É constitucional a contribuição social destinada ao Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural (Senar), de que trata o art. 25, § 1º, da Lei 8.870/1994, inclusive na redação conferida
pela Lei 10.256/2001.”
626
Lei 8.906/1994: “Art. 34. Constitui infração disciplinar: (...) XXIII - deixar de pagar as contribuições, multas e preços de
serviços devidos à OAB, depois de regularmente notificado a fazê-lo; (...) Art. 37. A suspensão é aplicável nos casos de: I -
infrações definidas nos incisos XVII a XXV do art. 34; § 1º A suspensão acarreta ao infrator a interdição do exercício
profissional, em todo o território nacional, pelo prazo de trinta dias a doze meses, de acordo com os critérios de individualização
previstos neste capítulo. § 2º Nas hipóteses dos incisos XXI e XXIII do art. 34, a suspensão perdura até que satisfaça
integralmente a dívida, inclusive com correção monetária.”
627
Precedente citado: RE 647.885 (Tema 732 RG).
628
Regulamento Geral do Estatuto Geral da Advocacia e da OAB: “Art. 134. O voto é obrigatório para todos os advogados
inscritos da OAB, sob pena de multa equivalente a 20% (vinte por cento) do valor da anuidade, salvo ausência justificada por
escrito, a ser apreciada pela Diretoria do Conselho Seccional. §1º O eleitor faz prova de sua legitimação, na modalidade online,
pela liberação de acesso por meio de senha pessoal e intransferível ou por meio de acesso via certificação digital ao sistema
eletrônico de votação, e, na modalidade presencial, apresentando sua carteira ou cartão de identidade profissional e o
comprovante de quitação com a OAB, suprível por listagem atualizada da Tesouraria do Conselho ou da Subseção.”
629
Provimento 146/2011 do Conselho Federal da OAB: “Art. 1º A eleição dos Conselheiros Federais, dos Conselheiros e da
Diretoria dos Conselhos Seccionais e das Subseções e da Diretoria da Caixa de Assistência dos Advogados será realizada na
segunda quinzena do mês de novembro, do último ano do mandato, mediante cédula única e votação direta e obrigatória dos
advogados regularmente inscritos na OAB e com ela adimplentes. (...) Art. 15. A votação será realizada na forma online e/ou
presencial, no modo e nos locais estabelecidos no edital de convocação das eleições, perante as Mesas Eleitorais constituídas pela
Comissão Eleitoral, caso a eleição se realize de modo presencial, nos termos do art. 134 do Regulamento Geral, observando-se,
em quaisquer das formas de votação, o seguinte: I - compõem o corpo eleitoral todos os advogados inscritos, recadastrados ou
não, adimplentes com o pagamento das anuidades, vedados novos parcelamentos nos 30 (trinta) dias antes das eleições;”

223
Resumo:
É constitucional o art. 25, I e II, da Lei 8.870/1994 630, com a redação dada pela Lei 10.256/2001, que
prevê contribuição à seguridade social, a ser paga pelo empregador rural pessoa jurídica, incidente sobre a
receita bruta proveniente da comercialização de sua produção, em substituição à contribuição incidente sobre
a folha de salários de que tratam os incisos I e II do art. 22 da Lei 8.212/1991.
Nos termos previstos na redação originária do dispositivo, feita pela Lei 8.870/1994, a referida contribuição
é inconstitucional. Por outro lado, na redação conferida pela Lei 10.256/2001, que é posterior à EC 20/1998, ela é
constitucional. Isso, porque somente após a alteração do texto constitucional ampliou-se a base econômica passível
de incidência para também se considerar a receita.
A contribuição, por estar assentada no art. 195, I, b, da CF/1988631, não necessita da edição de lei
complementar, já que não representa nova fonte de custeio para a seguridade social. Nesse sentido, esta Corte
reconheceu que, quando há autorização constitucional para a instituição da contribuição, inexiste afronta aos arts.
154, I, e 195, § 4º, da CF/1988632 633.
Ademais, a proibição constitucional à cumulatividade e ao bis in idem impede a criação de imposto ou
contribuição social novos com fato gerador ou base de cálculo próprios de imposto ou contribuição social já
existentes. Porém, é possível criar uma contribuição social constante do texto constitucional com fato gerador ou
base de cálculo idênticos aos de imposto existente. Quanto ao princípio da não cumulatividade dos novos tributos,
ele não se refere à cumulação de dois tributos já previstos na Constituição Federal e incidentes sobre o mesmo fato
gerador.
É constitucional a contribuição social destinada ao SENAR, a ser paga pelo empregador pessoa
jurídica que se dedique à produção rural, estabelecida pelo § 1º do art. 25 da Lei 8.870/1994634.
O ADCT expressamente autoriza a superposição tributária sobre fatos geradores idênticos (art. 240) e
remete a legislação do SENAR aos mesmos moldes do regramento das demais entidades de serviço social e
formação profissional (art. 62).
Além disso, a contribuição para o SENAR não se submete às vedações dos arts. 195, § 4º, e 154, I, da
CF/1988, pois seu fundamento de validade reside no art. 149 da CF/1988635.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 651 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário da União, para denegar a segurança pleiteada. Por
unanimidade, o Tribunal fixou a tese supracitada.

RE 700.922/RS, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgamento
finalizado em 15.3.2023

630
Lei 8.870/1994: “Art. 25. A contribuição devida à seguridade social pelo empregador, pessoa jurídica, que se dedique à
produção rural, em substituição à prevista nos incisos I e II do art. 22 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, passa a ser a seguinte
(Redação dada pela Lei nº 10.256, de 9.7.2001): I – dois e meio por cento da receita bruta proveniente da comercialização de sua
produção; II – um décimo por cento da receita bruta proveniente da comercialização de sua produção, para o financiamento da
complementação das prestações por acidente de trabalho.”
631
CF/1988: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha
de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro;”
632
CF/1988: “Art. 154. A União poderá instituir: I – mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde
que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; (...) Art.
195. (...) § 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido
o disposto no art. 154, I.”
633
Precedente citado: ADI 1.417.
634
Lei 8.870/1994: “Art. 25. A contribuição devida à seguridade social pelo empregador, pessoa jurídica, que se dedique à
produção rural, em substituição à prevista nos incisos I e II do art. 22 da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, passa a ser a seguinte:
(...) § 1º O disposto no inciso I do art. 3º da Lei 8.315, de 23 de dezembro de 1991, não se aplica ao empregador de que trata este
artigo, que contribuirá com o adicional de zero vírgula vinte e cinco por cento da receita bruta proveniente da venda de
mercadorias de produção própria, destinado ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR).”
635
CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e
de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o
dispositivo.”

224
Exigibilidade do PIS e da COFINS sobre as receitas financeiras das instituições financeiras - RE
609.096/RS (Tema 372 RG), RE 1.250.200/SP e RE 880.143/MG

Tese fixada:
“As receitas brutas operacionais decorrentes da atividade empresarial típica das instituições
financeiras integram a base de cálculo PIS/COFINS cobrado em face daquelas ante a Lei nº 9.718/98, mesmo
em sua redação original, ressalvadas as exclusões e deduções legalmente prescritas.”

Resumo:
As receitas financeiras auferidas pelas instituições financeiras enquadram-se no conceito de
faturamento, para fins de incidência do PIS e da COFINS, à luz do art. 195, I, da Constituição Federal, na
sua redação original 636.
Conforme jurisprudência desta Corte637, a definição de faturamento sempre foi sinônimo de receita bruta
operacional resultante das atividades empresariais típicas, o que não se alterou com a declaração de
inconstitucionalidade do art. 3º, § 1º, da Lei 9.718/1998638 639, que determinava a incidência de PIS/COFINS sobre
qualquer receita auferida pela pessoa jurídica, mesmo não operacional.
Tal entendimento também se reflete na acepção de receita bruta vinculada às atividades empresariais típicas
das instituições financeiras, e possibilita, dessa forma, a cobrança, em face dessas sociedades, da contribuição ao
PIS e à COFINS incidentes sobre a receita bruta operacional decorrente das suas atividades típicas.
Com base nesse e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta: (a) quanto ao
RE 609.096/RS, deu parcial provimento ao recurso interposto pela União, a fim de estabelecer a legitimidade da
incidência, com base na Lei 9.718/1998, do PIS sobre as receitas brutas operacionais decorrentes das atividades
empresariais típicas da ora recorrida; (b) com relação ao RE 1.250.200/SP, negou provimento ao recurso interposto
pelo Banco BNP Paribas Brasil S/A); e (c) relativamente ao RE 880.143/MG, deu parcial provimento ao recurso da
União, a fim de estabelecer a legitimidade da incidência do PIS/COFINS sobre as receitas brutas operacionais
decorrentes das atividades empresariais típicas da ora recorrida.

RE 609.096/RS, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento
virtual finalizado em 12.6.2023 (segunda-feira), às 23:59
RE 1.250.200/SP, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento
virtual finalizado em 12.6.2023 (segunda-feira), às 23:59
RE 800.143/MG, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento
virtual finalizado em 12.6.2023 (segunda-feira), às 23:59

Incidência da contribuição destinada ao SENAR sobre a receita bruta da comercialização da produção


rural - RE 816.830/SC (Tema 801 RG)

ODS: 8, 10, 16 e 17

Tese fixada:
“É constitucional a contribuição destinada ao Senar incidente sobre a receita bruta da
comercialização da produção rural, na forma do art. 2º da Lei 8.540/1992, com as alterações do art. 6º da Lei
9.528/1997 e do art. 3º da Lei 10.256/2001.”

Resumo:
636
CF/1988: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: I - dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro;”
637
Precedentes citados: RE 150.755; RE 574.706; RE 718.874; RE 700.922; ARE 1.397.044 ED-AgR; RE 578.846.
638
Lei 9.718/1998: “Art. 3º O faturamento a que se refere o artigo anterior corresponde à receita bruta da pessoa jurídica § 1º
Entende-se por receita bruta a totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade por ela
exercida e a classificação contábil adotada para as receitas.”
639
Precedentes citados: RE 346.084; RE 358.273; RE 357.950 e RE 390.840.

225
É constitucional — pois preservada a sua destinação ao “Sistema S”, configurando pleno
atendimento ao critério da pertinência entre o destino efetivo do produto arrecadado e a finalidade da
tributação — a incidência da contribuição destinada ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR)
sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção rural.
A referida contribuição tem natureza jurídica de contribuição social geral, instituída com fundamento no
caput do art. 149 da CF/1988640, motivo pelo qual é válida a substituição da base de cálculo folha de salário para
receita bruta da comercialização da produção rural, tal como determinado no art. 2º da Lei 8.540/1992 641 e
alterações posteriores.
Nesse contexto, ao prever, no art. 62 do ADCT, que o SENAR fosse criado “nos moldes da legislação
relativa ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e ao Serviço Nacional de Aprendizagem do
Comércio (SENAC)”, o legislador constituinte não quis dizer que a base de cálculo da contribuição para o custeio de
seus encargos fosse necessariamente a folha de salários. Nada impede que a contribuição ao SENAR tenha base de
cálculo própria, diferente das contribuições já existentes.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 801 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 816.830/SC, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

PIS e COFINS: alcance da decisão que entendeu pela inconstitucionalidade da inclusão do ICMS em
suas bases de cálculo - RE 1.452.421/PE (Tema 1.279 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“Em vista da modulação de efeitos no RE 574.706/PR, não se viabiliza o pedido de repetição do
indébito ou de compensação do tributo declarado inconstitucional, se o fato gerador do tributo ocorreu antes
do marco temporal fixado pelo Supremo Tribunal Federal, ressalvadas as ações judiciais e os procedimentos
administrativos protocolados até 15.3.2017.”

Resumo:
A atribuição de efeitos prospectivos à decisão que entendeu pela inconstitucionalidade da inclusão do
ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS alcança apenas os fatos geradores ocorridos após 15/3/2017,
que é o marco temporal da modulação proclamada no exame dos embargos de declaração opostos no bojo do
RE 574.706/PR (Tema 69 RG). Contudo, ficam ressalvadas as ações judiciais e procedimentos administrativos
protocolados até a referida data.
O voto condutor do acórdão proferido no julgamento do RE 574.706 ED/PR (Tema 69 RG) — ao invocar
decisão na apreciação do RE 593.849/MG (Tema 201 RG) — é extremamente claro e preciso quando destaca a
necessidade de modulação de efeitos para estabelecer que a nova interpretação desta Corte tenha eficácia somente
em relação aos fatos geradores ocorridos após a data da sessão em que ocorreu o julgamento de mérito do objeto
tratado no recurso, isto é, 15/3/2017.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.279 da repercussão geral) e reafirmou a jurisprudência dominante sobre
a matéria642 para dar provimento ao recurso extraordinário e, por conseguinte, assentar a possibilidade de exclusão
do ICMS da base de cálculo da contribuição ao PIS e à COFINS, tão somente em relação às obrigações tributárias
decorrentes de fatos geradores ocorridos a partir de 15/3/2017.

640
CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e
de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o
dispositivo.”
641
Lei 8.540/1992: “Art. 2° A contribuição da pessoa física de que trata a alínea a do inciso V do art. 12 da Lei 8.212, de 24 de
julho de 1991, para o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), criado pela Lei 8.315, de 23 de dezembro de 1991, é de
um décimo por cento incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da sua produção.”
642
Precedentes citados: RE 1.437.139 ED; RE 1.413.879 (monocrática); RE 1.427.658 (monocrática); ARE 1.429.845
(monocrática); RE 1.429.994 (monocrática); RE 1.429.218 (monocrática); ARE 1.434.907 (monocrática); RE 1.449.852
(monocrática); RE 1.450.911 (monocrática); RE 1.451.992 (monocrática); RE 1.452.272 (monocrática) e RE 1.453.954
(monocrática).

226
RE 1.452.421/PE, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 22.9.2023 (sexta-
feira), às 23:59

PIS/PASEP e COFINS incidentes sobre receitas financeiras: restabelecimento de alíquotas mediante


decreto presidencial e princípio da anterioridade nonagesimal - ADC 84 MC-Ref/DF

ODS: 8, 10 e 16

Resumo:
Encontram-se presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar, pois (i) há plausibilidade
jurídica quanto à alegação de constitucionalidade do Decreto 11.374/2023; e (ii) há perigo da demora na
prestação jurisdicional decorrente da constatação de controvérsia constitucional relevante e da existência de
decisões judiciais conflitantes sobre o tema. O Decreto 11.374/2023643 repristina dispositivos do Decreto
8.426/2015 644, anteriormente à alteração promovida pelo Decreto 11.322/2022645, no que diz respeito às alíquotas do
PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime
de apuração não cumulativa.
Nesse contexto, em juízo perfunctório, a referida alteração não configurou majoração tributária apta a atrair
a aplicabilidade do princípio da anterioridade nonagesimal (CF/1988, arts. 150, III, c; e 195, § 6º). Por isso, o
Decreto 11.374/2023 não pode ser equiparado a instituição ou aumento de tributo, razão pela qual não viola os
princípios da segurança jurídica e da não surpresa, dado que o contribuinte, desde 2015, já se submetia à incidência
das alíquotas de 0,65% para o PIS/PASEP e de 4% para a COFINS.
Ademais, como o regime tributário é definido pela lei vigente à data da ocorrência do fato gerador 646, que,
no caso das referidas contribuições, corresponde ao faturamento mensal (Leis 10.637/2002 e 10.833/2003), a norma
aplicável é o Decreto 8.426/2015 (art. 1º), repristinado pelo Decreto 11.374/2023.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão que deferiu a medida cautelar
requerida para suspender a eficácia das decisões judiciais que, de forma expressa ou tácita, afastaram a aplicação do
Decreto 11.374/2023, possibilitando o recolhimento da contribuição para o PIS/COFINS pelas alíquotas reduzidas
de 0,33% e 2%, respectivamente, até o exame de mérito desta ação.

643
Decreto 11.374/2023: “Art. 1°. Ficam revogados: (...) II – o Decreto n° 11.322, de 30 de dezembro de 2022; e (...) Art. 3°.
Ficam repristinadas as redações: I – do Decreto n° 8.426, de 1° de abril de 2015, anteriormente a alteração promovida pelo
Decreto n° 11.322, de 2022; e (...) Art. 4°. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.”
644
Decreto 8.426/2015: “Art. 1º Ficam restabelecidas para 0,65% (sessenta e cinco centésimos por cento) e 4% (quatro por
cento), respectivamente, as alíquotas da Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do
Servidor Público - PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre receitas
financeiras, inclusive decorrentes de operações realizadas para fins de hedge , auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime
de apuração não-cumulativa das referidas contribuições. (Repristinado pelo Decreto nº 11.374, de 2023) § 1º Aplica-se o disposto
no caput inclusive às pessoas jurídicas que tenham apenas parte de suas receitas submetidas ao regime de apuração não-
cumulativa da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS. § 2º Ficam mantidas em 1,65% (um inteiro e sessenta e cinco
centésimos por cento) e 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento), respectivamente, as alíquotas da Contribuição para o
PIS/PASEP e da COFINS aplicáveis aos juros sobre o capital próprio. § 3º Ficam mantidas em zero as alíquotas das contribuições
de que trata o caput incidentes sobre receitas financeiras decorrentes de variações monetárias, em função da taxa de câmbio, de:
(Incluído pelo Decreto nº 8.451, de 2015) (Produção de efeito) I - operações de exportação de bens e serviços para o exterior; e
(Incluído pelo Decreto nº 8.451, de 2015) (Produção de efeito) II - obrigações contraídas pela pessoa jurídica, inclusive
empréstimos e financiamentos. (Incluído pelo Decreto nº 8.451, de 2015) (Produção de efeito) § 4º Ficam mantidas em zero as
alíquotas das contribuições de que trata o caput incidentes sobre receitas financeiras decorrentes de operações de cobertura
(hedge) realizadas em bolsa de valores, de mercadorias e de futuros ou no mercado de balcão organizado destinadas
exclusivamente à proteção contra riscos inerentes às oscilações de preço ou de taxas quando, cumulativamente, o objeto do
contrato negociado: (Incluído pelo Decreto nº 8.451, de 2015) (Produção de efeito) a) estiver relacionado com as atividades
operacionais da pessoa jurídica; e (Incluído pelo Decreto nº 8.451, de 2015) (Produção de efeito) b) destinar-se à proteção de
direitos ou obrigações da pessoa jurídica. (Incluído pelo Decreto nº 8.451, de 2015) (Produção de efeito) Art. 2º Este Decreto
entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir de 1º de julho de 2015. Art. 3º Fica revogado, a partir de 1º
de julho de 2015, o Decreto nº 5.442, de 9 de maio de 2005.”
645
Decreto 11.322/2022: “Art. 1°. O Decreto n° 8.426, de 1° de abril de 2015, passa a vigorar com as seguintes alterações: ‘Art.
1°. Ficam estabelecidas em 0,33% (trinta e três centésimos por cento) e 2% (dois por cento), respectivamente, as alíquotas da
Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP e da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre receitas financeiras, inclusive decorrentes
de operações realizadas para fins de hedge , auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de apuração não-cumulativa das
referidas contribuições. .................’ (NR) Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação e produz efeitos a partir
de 1° de janeiro de 2023.”
646
Precedentes citados: : RE 584.100 RG (Tema 91 RG) e RE 566.032 RG (Tema 51 RG).

227
ADC 84 MC-Ref/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 8.5.2023 (segunda-feira), às 23:59

PIS/PASEP e COFINS: majoração indireta da carga tributária e imposição de observância da regra


da anterioridade nonagesimal - RE 1.390.517/PE (Tema 1.247 RG)

Tese fixada:
“As modificações promovidas pelos Decretos 9.101/2017 e 9.112/2017, ao minorarem os coeficientes
de redução das alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre a importação e
comercialização de combustíveis, ainda que nos limites autorizados por lei, implicaram verdadeira majoração
indireta da carga tributária e devem observar a regra da anterioridade nonagesimal, prevista no art. 195, §
6º, da Constituição Federal.”

Resumo:
Por configurar majoração tributária indireta, o redimensionamento dos coeficientes de redução das
alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS promovido pelos Decretos 9.101/2017 e 9.112/2017
submete-se à anterioridade nonagesimal (CF/1988, art. 195, § 6º).
O entendimento consolidado desta Corte anota que a regra da anterioridade nonagesimal 647 incide na
hipótese de decreto regulamentar que eleva o percentual da alíquota da contribuição para o PIS/PASEP e da
COFINS, ainda que a majoração tributária ocorra de forma indireta, como na redução de benefício fiscal.
Na espécie, o agravamento do ônus tributário impõe a necessidade do devido resguardo do lapso temporal
previsto constitucionalmente, com a finalidade de assegurar princípios como os da segurança jurídica,
previsibilidade orçamentária dos contribuintes e não surpresa.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.247 da repercussão geral) e, no mérito, também por unanimidade,
reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria 648 para negar provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.390.517/PE, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 12.4.2023

15.3 CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

Contribuição previdenciária sobre a receita bruta do comércio da produção agroindustrial - RE


611.601/RS (Tema 281 RG)

ODS: 2, 10, 16 e 17

Tese fixada:
“É constitucional o art. 22A da Lei 8.212/1991, com a redação da Lei 10.256/2001, no que instituiu
contribuição previdenciária incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, em
substituição ao regime anterior da contribuição incidente sobre a folha de salários.”

Resumo:

647
CF/1988: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: (...) § 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa
dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, ‘b’.”
648
Precedentes citados: ADI 5.277; RE 1.081.068 AgR; RE 1.227.782 AgR; ARE 1.236.990 AgR e RE 1.257.143 AgR.

228
É constitucional o art. 22-A da Lei 8.212/1991 649, que prevê contribuição das agroindústrias à
seguridade social incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, em
substituição às contribuições sobre a folha de salários de que tratam os incisos I e II do art. 22 da mesma lei.
Sobre o tema, o § 13 do art. 195 da CF/1988 — incluído pela EC 42/2003 e posteriormente revogado pela
EC 103/2019 — explicitou uma possibilidade já existente no texto originário da Constituição Federal de se
instituírem contribuições sobre o faturamento ou a receita (esta após a EC 20/1998), substitutivas de contribuições
sobre a folha de salários 650.
A receita bruta proveniente da comercialização dos produtos das agroindústrias se insere tanto na acepção
estrita de faturamento quanto na de receita, considerada a alteração implementada pela EC 20/1998 651. Ademais, a
mencionada contribuição previdenciária não incide sobre o valor estimado da produção, regime declarado
inconstitucional pelo STF 652.
O estabelecimento da receita bruta como base para a contribuição previdenciária, por desonerar a folha de
salários, estimula a formalização do trabalho no meio rural, em observância ao princípio de ordem econômica da
busca do pleno emprego (CF/1988, art. 170, VIII).
Além disso, inexiste violação ao princípio da isonomia, pois este convive, de modo especial, em harmonia
com o princípio da capacidade contributiva. Assim, tendo determinada agroindústria grande receita ou faturamento,
pode ela ser chamada a contribuir para a previdência social com recursos proporcionais a tal grandeza (CF/1988,
art. 145, § 1º).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 281 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 611.601/RS, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 16.12.2022 (sexta-feira), às 23:59

Majoração de alíquota de contribuição previdenciária de servidores públicos estaduais - ADI 2.521/PE

Resumo:
A majoração da alíquota para o custeio do Regime Próprio de Previdência Social de servidores
públicos estaduais de 10% para 13,50% e, posteriormente, para 14%, revela-se razoável e proporcional, de
modo que não produz efeito confiscatório nem atenta contra o princípio da irredutibilidade remuneratória.
Conforme jurisprudência desta Corte, é constitucional a criação ou o aumento de alíquota de contribuição
social, quando efetivada à luz da razoabilidade e da proporcionalidade e com o objetivo de preservação do equilíbrio
financeiro e atuarial do respectivo regime, isto é, para conter eventual déficit 653.
Na espécie, o quadro deficitário refletido nos demonstrativos das contas públicas do estado justifica a
referida medida, razão pela qual eventual pronunciamento de invalidade dos dispositivos legais impugnados — com
o retorno da alíquota de 10% após mais de duas décadas — inevitavelmente ensejaria severas consequências aos
seus cofres públicos.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou improcedente para assentar a constitucionalidade do art. 71, I e II, da Lei Complementar 28/2000
do Estado de Pernambuco.

ADI 2.521/PE, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 22.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

649
Lei 8.212/1991: “Art. 22A. A contribuição devida pela agroindústria, definida, para os efeitos desta Lei, como sendo o
produtor rural pessoa jurídica cuja atividade econômica seja a industrialização de produção própria ou de produção própria e
adquirida de terceiros, incidente sobre o valor da receita bruta proveniente da comercialização da produção, em substituição às
previstas nos incisos I e II do art. 22 desta Lei, é de: I – dois vírgula cinco por cento destinados à Seguridade Social; II – zero
vírgula um por cento para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, e
daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade para o trabalho decorrente dos riscos ambientais da
atividade.”
650
Precedentes citados: RE 599.309 (Tema 470 RG) e RE 231.673
651
Precedentes citados: RE 358.273 e RE 357.950.
652
Precedente citado: ADI 1.103.
653
Precedentes citados: ARE 875.958 (Tema 933 RG) e ADI 6.122.

229
Majoração escalonada de alíquota de contribuição previdenciária de servidores públicos ativos,
inativos e pensionistas, e de militares no âmbito estadual - ADI 5.944/CE

Resumo:
A majoração escalonada de 11% para 14% da alíquota de contribuição previdenciária de servidores
públicos estaduais ativos, inativos e pensionistas, e de militares, destinada a custear o Regime Próprio de
Previdência Social, revela-se razoável e proporcional, de modo que não ofende o princípio tributário da
vedação ao confisco.
Conforme jurisprudência consolidada desta Corte, a ausência de estudo atuarial específico e prévio à edição
de lei que aumente a contribuição previdenciária de seus servidores públicos não implica vício de
inconstitucionalidade, mas mera irregularidade que pode ser sanada pela demonstração do déficit financeiro ou
atuarial que justifique a medida fiscal 654.
Nesse contexto, inexiste, na espécie, afronta ao equilíbrio financeiro e atuarial do regime previdenciário.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação, para assentar a
constitucionalidade do art. 1º da Lei Complementar 167/2016, que alterou o art. 5º, §§ 1º, 2º e 3º, da Lei
Complementar 159/2016, ambas do Estado do Ceará 655.

ADI 5.944/CE, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 22.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

15.4 CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Prescrição intercorrente tributária e prazo de um ano de suspensão da execução fiscal - RE


636.562/SC (Tema 390 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“É constitucional o art. 40 da Lei 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal – LEF), tendo natureza
processual o prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo, inicia-se
automaticamente a contagem do prazo prescricional tributário de cinco anos.”

Resumo:
É constitucional — por não afrontar a exigência de lei complementar para tratar da matéria
(CF/1988, art. 146, III, “b”) — o art. 40 da LEF 656 — lei ordinária nacional — quanto à prescrição
intercorrente tributária e ao prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Contudo, o § 4º do aludido

654
Precedentes citados: ARE 875.958 (Tema 933 RG); ADI 6.122; ADI 7.026 e ADI 2.034.
655
Lei Complementar 159/2016 do Estado do Ceará: “Art. 5º A contribuição previdenciária dos contribuintes do Sistema Único
de Previdência Social do Estado do Ceará – SUPSEC, será calculada sobre a remuneração, proventos e pensão, observando o
disposto no §18, do art.40 da Constituição Federal e neste artigo. §1º A contribuição social do servidor público estadual ativo, de
quaisquer dos Poderes do Estado, do Ministério Público e da Defensoria Pública, incluídas as autarquias e fundações, bem como
dos militares, dos agentes públicos e dos membros de Poder, será de 12% (doze por cento) em 2017, 13% (treze por cento) em
2018 e 14% (quatorze por cento) em 2019, para a manutenção do SUPSEC, incidente sobre a totalidade da base de contribuição
definida em lei. §2º A contribuição social dos aposentados e militares da reserva remunerada e reforma, bem como dos
respectivos pensionistas de quaisquer dos Poderes do Estado, incluídas suas autarquias e fundações, para a manutenção do
SUPSEC, será de 12% (doze por cento) em 2017, 13% (treze por cento) em 2018 e 14% (quatorze por cento) em 2019, incidente
sobre a parcela que ultrapassar o limite máximo de contribuição e benefício do Regime Geral de Previdência Social – RGPS. §3º
A alíquota especial de contribuição previdenciária será de 24% (vinte e quatro por cento) em 2017, 26% (vinte e seis por cento)
em 2018 e 28% (vinte e oito por cento) em 2019, sobre o valor total da base de cálculo da contribuição.”
656
LEF/1980: “Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens
sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição. § 1º – Suspenso o curso da execução,
será aberta vista dos autos ao representante judicial da Fazenda Pública. § 2º – Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que
seja localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos. § 3º – Encontrados que
sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os bens, serão desarquivados os autos para prosseguimento da execução. § 4º – Se da
decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de
ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato. § 5º – A manifestação prévia da Fazenda Pública prevista
no § 4º deste artigo será dispensada no caso de cobranças judiciais cujo valor seja inferior ao mínimo fixado por ato do Ministro
de Estado da Fazenda.”

230
dispositivo deve ser lido de modo que, após o decurso do prazo de um ano de suspensão da execução fiscal, a
contagem do prazo de prescrição de cinco anos seja iniciada automaticamente.
A competência privativa da União para legislar sobre direito processual (CF/1988, art. 22, I), assim como a
norma do art. 146, III, b, da CF/1988 657, garantem a uniformidade do tratamento da matéria em âmbito nacional e,
consequentemente, a preservação da isonomia entre os sujeitos passivos nas execuções fiscais em todo o País.
Nesse contexto, inexiste vício de inconstitucionalidade formal, pois o dispositivo impugnado, embora
positivado mediante lei ordinária, não extrapola a norma constitucional a que atende. Ao estabelecer o termo inicial
para a prescrição intercorrente, ele apenas prevê um marco processual para a contagem do prazo, sem que deixe de
observar o prazo de cinco anos, estabelecido na Lei 5.172/1966 (Código Tributário Nacional - CTN). Em outras
palavras, o legislador ordinário se limitou a transpor o modelo estabelecido no art. 174 do CTNn 658, adaptando-o às
particularidades da prescrição observada no curso de uma execução fiscal.
No entanto, impedir o início automático da contagem do prazo da prescrição intercorrente — após o
término da suspensão — pode acarretar a eternização das execuções fiscais, em contrariedade aos princípios da
segurança jurídica e do devido processo legal, bem como à exigência da razoável duração do processo , o que
justifica a necessidade de se conferir interpretação conforme a Constituição ao § 4º do art. 40 da LEF.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 390 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 636.562/SC, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às
23:59

Restituição administrativa de indébito reconhecido na via judicial: necessidade de observância do


regime constitucional de precatórios - RE 1.420.691/SP (Tema 1.262 RG)

Tese fixada:
“Não se mostra admissível a restituição administrativa do indébito reconhecido na via judicial, sendo
indispensável a observância do regime constitucional de precatórios, nos termos do art. 100 da Constituição
Federal.”

Resumo:
A restituição de indébito tributário reconhecido na via judicial não pode ser efetivada
administrativamente, eis que deve plena observância ao regime constitucional de precatórios (CF/1988, art.
100).
Os pagamentos devidos pela Fazenda Pública em decorrência de pronunciamentos jurisdicionais devem ser
realizados por meio da expedição de precatório ou de requisição de pequeno valor, conforme o valor da condenação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral
da questão constitucional suscitada (Tema 1.262 da repercussão geral) e reafirmou a jurisprudência dominante sobre
a matéria659 para dar provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.420.691/SP, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 21.8.2023 (segunda-
feira)

15.5 IMPOSTOS

Cobrança de ICMS para operações internas em âmbito estadual: concessão de benefício fiscal em
função da origem da mercadoria - ADI 5.363/MG
ODS: 10, 16 e 17
657
CF/1988: “Art. 146. Cabe à lei complementar: (...) III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre: (...) b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;”
658
CTN/1966: “Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua
constituição definitiva. Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução
fiscal; (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) II - pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o
devedor; IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor.”
659
Precedentes citados: RE 1.387.512 AgR; RE 1.388.631 AgR; RE 1.405.737 AgR; RE 1.069.065 (monocrática); RE 1.380.072
(monocrática); RE 1.386.635 (monocrática); RE 1.394.095 AgR (monocrática); RE 1.400.737 (monocrática) e RE 1.403.643
(monocrática).

231
Resumo:
É inconstitucional — por violar a proibição da discriminação tributária entre bens e serviços em
razão de sua procedência ou destino (CF/1988, art. 152) — norma estadual que concede benefícios fiscais de
ICMS em operações que envolvam produtos originados em seu próprio território.
O gasto tributário destinado a fomentar operações com cesta básica visa dar concretude ao direito
fundamental à alimentação (CF/1988, arts. 6º, caput; 7º, IV; 208, VII; e 212, § 4º). Desse modo, a concessão de
benefício fiscal a um de seus produtos somente é válida quando aplicável a todos da mesma espécie indicada, sem
qualquer restrição quanto à respectiva origem 660.
Na espécie, a norma estadual impugnada, ao limitar o custo aos produtos com base na origem, criou uma
distinção entre entes da Federação e entre contribuintes que não é admitida pelo texto constitucional, em especial
porque prejudica os consumidores661.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu parcialmente da ação e, nessa extensão, a
julgou procedente para: (i) declarar a inconstitucionalidade das expressões “desde que produzidos no Estado”
presente no Item 22, a e b, da Parte 1 do Anexo II; e “produzidos no Estado” constante dos Itens 14 e 14.1 da Parte
1 do Anexo X, todos do Decreto 48.589/2023 do Estado de Minas Gerais (atual Regulamento estadual do ICMS -
RICMS/MG); e (ii) dar interpretação conforme a Constituição aos artigos 45; 112, I, f, 1; e 185, IX; aos Itens 4, 5, 8,
9, 10, 11, 13, 57 e 58 da Parte 6 do Anexo II; aos Itens 10 e 11 da Parte 1 do Anexo IV; ao art. 153, I e II, da Parte 1
do Anexo VII; aos Itens 16.0, 16.1, 17.0, 17.1, 18.0, 18.1, 24.0, 24.1, 24.2, 24.3, 24.4 e 24.5 da Tabela 17 da Parte 2
do Anexo VII; e ao art. 323, II, a, b, c e d, da Parte 1 do Anexo VIII, todos também do RICMS/MG, de modo a
afastar qualquer restrição à respectiva aplicação ou aplicação diferenciada baseada na origem dos bens tributados.

ADI 5.363/MG, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às 23:59

Diferencial de alíquotas de ICMS e critérios para a definição do local da operação ou da prestação e


do estabelecimento responsável pelo recolhimento - ADI 7.158/DF

ODS: 9

Tese fixada:
“É constitucional o critério previsto no § 7º do art. 11 da Lei Complementar nº 87/1996, na redação
dada pela Lei Complementar nº 190/2022, que considera como Estado destinatário, para efeito do
recolhimento do diferencial de alíquota do ICMS, aquele em que efetivamente ocorrer a entrada física da
mercadoria ou o fim da prestação do serviço, uma vez que conforme a Emenda Constitucional nº 87/2015.”

Resumo:
O § 7º do art. 11 da Lei Complementar (LC) 87/1996, incluído pela LC 190/2022 662 , além de não
alterar o fato gerador do ICMS, tal como previsto pelo art. 155, II, da CF/1988 663 — eis que permanece
exigindo a ocorrência de circulação jurídica para a incidência do imposto —, está em consonância com a EC
87/2015.

660
Precedente citado: ADI 3.410.
661
CF/1988: “Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e
serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.”
662
LC 87/1996: “Art. 11. O local da operação ou da prestação, para os efeitos da cobrança do imposto e definição do
estabelecimento responsável, é: (...) V - tratando-se de operações ou prestações interestaduais destinadas a consumidor final, em
relação à diferença entre a alíquota interna do Estado de destino e a alíquota interestadual: (...) b) o do estabelecimento do
remetente ou onde tiver início a prestação, quando o destinatário ou tomador não for contribuinte do imposto. (...) § 7º Na
hipótese da alínea ‘b’ do inciso V do caput deste artigo, quando o destino final da mercadoria, bem ou serviço ocorrer em Estado
diferente daquele em que estiver domiciliado ou estabelecido o adquirente ou o tomador, o imposto correspondente à diferença
entre a alíquota interna e a interestadual será devido ao Estado no qual efetivamente ocorrer a entrada física da mercadoria ou
bem ou o fim da prestação do serviço.”
663
CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda
que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

232
O art. 11 da Lei Complementar 87/1996 dispõe sobre o aspecto espacial do ICMS, na medida em que
estipula critérios diversos para a definição do local da operação ou da prestação, para efeito de cobrança do imposto
e definição do estabelecimento responsável pelo recolhimento. Já o art. 155, II, da CF/1988, indica o elemento
material da obrigação tributária. Trata-se de normas que fixam aspectos distintos da relação jurídico-tributária.
Destarte, o legislador infraconstitucional — ao fixar como sujeito ativo do diferencial de alíquotas do
ICMS (DIFAL-ICMS) o estado em que efetivamente ocorrer a entrada física da mercadoria ou o fim da prestação do
serviço, quando outro for o domicílio fiscal do adquirente ou tomador — visa garantir o equilíbrio na arrecadação
tributária daquele imposto pelas unidades federadas, sejam elas produtoras ou destinatárias das mercadorias ou
serviços (§ 7º do art. 11 da LC 87/1996, na redação dada pela LC 190/2022).
Nesse contexto, o diferencial de alíquotas nas operações interestaduais cabe ao estado em que localizado o
consumidor final, ou seja, à unidade federada em que efetivamente ocorrer a entrada física da mercadoria ou bem ou
o fim da prestação do serviço 664.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes as ações para reconhecer
a constitucionalidade do § 7º do art. 11 da LC 87/1996, na redação dada pela LC 190/2022.

ADI 7.158/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 6.2.2023 (segunda-feira), às
23:59

Direito a crédito de ICMS requerido por distribuidora de combustíveis nas operações com diferimento
do pagamento do tributo - RE 781.926/GO (Tema 694 RG)

ODS: 16

Tese fixada:
“O diferimento do ICMS relativo à saída do álcool etílico anidro combustível (AEAC) das usinas ou
destilarias para o momento da saída da gasolina C das distribuidoras (Convênios ICMS 80/1997 e 110/2007)
não gera o direito de crédito do imposto para as distribuidoras.”

Resumo:
As distribuidoras de combustíveis não possuem direito a crédito do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) relativo ao álcool etílico anidro combustível (AEAC) adquirido de usinas ou
destilarias quando ocorrer o diferimento do pagamento daquele tributo (consistente em substituição
tributária para trás).
A “gasolina C”, comercializada pelas distribuidoras, resulta da mistura de “gasolina A”, insumo adquirido
de refinarias com o AEAC, insumo adquirido das usinas e destilarias pelo regime de diferimento.
Nesse contexto, o ICMS referente à saída do álcool anidro das usinas ou destilarias é postergado para o
momento em que ocorrer a saída da “gasolina C” dos estabelecimentos distribuidores de combustíveis. O estado
federado não cobra o ICMS quando da própria saída do AEAC das usinas ou destilarias para as distribuidoras. As
usinas, as destilarias e as refinarias também nada pagam a título do ICMS quando da saída do álcool em questão.
Assim, sem o recolhimento anterior do ICMS, não é possível o creditamento pelas distribuidoras em razão da
aquisição do AEAC, ainda que o imposto fique “destacado” na nota fiscal de venda do álcool 665.
A técnica do diferimento respeita a não cumulatividade, que busca afastar o efeito cascata da tributação.
Ausente esse efeito, inexiste qualquer violação ao preceito do art. 155, § 2º, I, da CF/1988 666. Ademais, a cobrança
unificada do ICMS não se confunde com cobrança cumulativa do imposto 667.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 694 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

664
CF/1988: “Art. 155. (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) VII - nas operações e prestações que
destinem bens e serviços a consumidor final, contribuinte ou não do imposto, localizado em outro Estado, adotar-se-á a alíquota
interestadual e caberá ao Estado de localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna do
Estado destinatário e a alíquota interestadual; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015)”
665
Precedente citado: ADI 4.171.
666
CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II – operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda
que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: I – será
não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de
serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal;”
667
Precedente citado: RE 91.848.

233
RE 781.926/GO, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Incidência de ISS sobre cessão de direito de uso de espaços em cemitérios para sepultamento - ADI
5.869/DF

Resumo:
É constitucional a incidência de ISS sobre a cessão de direito de uso de espaços em cemitérios
para sepultamento, pois configura operação mista que, como tal, engloba a prestação de serviço consistente
na guarda e conservação de restos mortais inumados.
A jurisprudência desta Corte evoluiu substancialmente no que se refere às hipóteses de incidência do ISS:
superou-se a classificação eminentemente civilista de obrigações de dar ou de fazer 668 para conferir maior relevância
à lista de serviços definida por lei complementar e ao caráter imaterial da prestação de serviços. Nesse contexto, em
que pese a dissociação da “prestação de serviço” da “obrigação de fazer”, mantém-se a ideia de que o ISS incide
sobre o oferecimento de utilidade a outrem, podendo se realizar, ou não, com “obrigação de dar” 669.
Na espécie, a inclusão da atividade de “cessão de uso de espaços em cemitérios para sepultamento” não se
restringe a uma mera obrigação de dar, no sentido de locação do espaço físico pura e simples, visto que também
abrange a prestação de serviços relativos à guarda ou à custódia de cadáveres ou restos mortais, os quais se
enquadram no conceito tradicional de serviços.
Ademais, as obrigações mistas (fornecimento de mercadoria conjunto com prestação de serviços)
encontram-se sujeitas ao ISS, desde que previstas em lei complementar 670.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para reconhecer
a constitucionalidade do subitem 25.05 da lista de serviços anexa à Lei Complementar 116/2003, o qual prevê a
incidência do ISS sobre a cessão de uso de espaços em cemitérios para sepultamento.

ADI 5.869/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

IOF: incidência em contratos de mútuo sem participação de instituições financeiras - RE 590.186/RS


(Tema 104 RG)

Tese fixada:
“É constitucional a incidência do IOF sobre operações de crédito correspondentes a mútuo de
recursos financeiros entre pessoas jurídicas ou entre pessoa jurídica e pessoa física, não se restringindo às
operações realizadas por instituições financeiras.”

Resumo:
O âmbito de incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos contratos de empréstimo
de recursos financeiros não se limita às operações de crédito praticadas por instituições financeiras.
Conforme jurisprudência desta Corte 671, inexiste qualquer disposição constitucional ou do Código
Tributário Nacional que preveja a mencionada limitação.
O referido contrato, cuja previsão se encontra na Lei 9.779/1999 672, insere-se na espécie “operações de
crédito”, ainda que firmado entre particulares. Nesse contexto, a Constituição Federal autoriza a instituição do IOF
673
, por se tratar de negócio jurídico realizado com o objetivo de se obter, junto a terceiro e sob vínculo de confiança,
a disponibilidade de recursos que serão restituídos após período de tempo específico e com sujeição dos riscos
inerentes à operação.

668
Precedente citado: RE 116.121.
669
Precedentes citados: RE 651.703 (Tema 581 RG) e ADI 1.945.
670
Precedentes citados: RE 603.136 (Tema 300 RG); RE 651.703 (Tema 581 RG) e RE 592.905 (Tema 125 RG) e ADI 6.034.
671
Precedente citado: ADI 1.763.
672
Lei 9.779/1999: “Art. 13. As operações de crédito correspondentes a mútuo de recursos financeiros entre pessoas jurídicas ou
entre pessoa jurídica e pessoa física sujeitam-se à incidência do IOF segundo as mesmas normas aplicáveis às operações de
financiamento e empréstimos praticadas pelas instituições financeiras.”
673
CF/1988: “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a
títulos ou valores mobiliários;”

234
Ademais, apesar de o IOF ter sido criado como instrumento de regulação do mercado financeiro e da
política monetária, sua função regulatória não é exclusiva, de modo que a incidência do imposto também não fica
restrita a operações do mercado financeiro 674.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 104 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 590.186/RS, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 6.10.2023 (sexta-feira), às 23:59

ISS: incidência sobre atividades de franquia postal - ADI 4.784/DF


Tese fixada:
“É constitucional a cobrança do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) sobre a
franquia postal.”

Resumo:
É constitucional a cobrança do ISS — contida no item 17.08 da lista de serviços anexa à Lei
Complementar 116/2003 — sobre o contrato de franquia postal.
Reitera-se, nesse sentido, o posicionamento desta Corte 675 no sentido da constitucionalidade da incidência
do ISS sobre o contrato de franquia, pois configurada a materialidade “serviços de qualquer natureza não
compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar” (CF/1988, art. 156, III).
O referido contrato representa uma relação complexa, visto que abrange não só a cessão do direito de uso
de marca, mas diversas outras obrigações a serem cumpridas pelos contratantes. A unidade contratual desse misto de
obrigações é intrínseca, de modo que não é possível, para fins de incidência do ISS, realizar o fracionamento entre
aquelas “de dar” e as “de fazer”.
Nesse contexto, a natureza complexa das relações jurídicas submetidas à incidência do referido imposto não
é impeditivo à configuração da materialidade tributária.
Com base nesse e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu parcialmente da ação e,
nessa extensão, a julgou improcedente, para declarar a constitucionalidade do item 17.08 da lista de serviços anexa
à Lei Complementar 116/2003 676.

ADI 4.784/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às
23:59

ISS: incidência sobre atividades relativas à hospedagem - ADI 5.764/DF

Resumo:
É constitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) sobre as
atividades relativas à hospedagem de qualquer natureza, prevista no subitem 9.01 da lista de serviços anexa à
Lei Complementar 116/2003.
Os contratos que veiculam hospedagem de qualquer natureza, nos meios dispostos na referida lista, são
preponderantemente de serviços. Ademais, o ISS incide sobre as atividades que representam obrigações de fazer e
obrigações mistas, que incluem obrigação de dar 677.
Não se pode fazer confusão entre a relação negocial de hospedagem e o contrato de locação de bem imóvel,
de modo que é indevido excluir da base de cálculo desse tributo municipal a parcela da locação da unidade
habitacional, visto que a circulação de serviço prevista contratualmente tem caráter singular e ganha sentido
econômico com sua visualização unitária.
Assim, dada a prevalência da uniformização da legislação federal, reforça-se o entendimento do STJ de que
todas as parcelas que integram o preço do serviço de hotelaria compõem a base de cálculo do ISS.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação,
para assentar a constitucionalidade do subitem 9.01 da lista de serviços anexa à Lei Complementar 116/2003 678.

674
Precedente citado: RE 583.712 (Tema 102 RG).
675
Precedente citado: RE 603.136 (Tema 300 RG).
676
Lista de serviços anexa à LC 116/2003: “17.08 – Franquia (franchising).”
677
Precedentes citados: RE 651.703 (Tema 581 RG); RE 603.136 (Tema 300 RG) e RE 784.439 (Tema 296 RG).
678
Lista de serviços anexa à Lei Complementar 116/2003: “9 – Serviços relativos a hospedagem, turismo, viagens e congêneres.
9.01 – Hospedagem de qualquer natureza em hotéis, apart-service condominiais, flat, apart-hotéis, hotéis residência, residence-
service, suite service, hotelaria marítima, motéis, pensões e congêneres; ocupação por temporada com fornecimento de serviço
(o valor da alimentação e gorjeta, quando incluído no preço da diária, fica sujeito ao Imposto Sobre Serviços).”

235
ADI 5.764/DF, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 29.9.2023 (sexta-feira), às 23:59

ISS: modificação do local de incidência tributária para serviços de planos de saúde e financeiros - ADI
5.835/DF, ADI 5.862/DF e ADPF 499/DF

Resumo:
São inconstitucionais — por violarem o princípio da segurança jurídica e representarem ameaça à
estabilidade do pacto federativo fiscal — dispositivos de leis complementares federais que, ao alterar a Lei
Complementar 116/2003 (que dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN, de
competência dos municípios e do Distrito Federal, e dá outras providências), fixaram o recolhimento do
tributo no domicílio do tomador de serviços, em hipóteses específicas.
Essa modificação — promovida pela Lei Complementar 157/2016 e, posteriormente, pela Lei
Complementar 175/2020 — exigiria que a nova disciplina normativa apontasse com clareza e confiabilidade o
conceito de “tomador de serviços”, o que não ocorreu.
A ausência dessa definição e a existência de diversas leis municipais que tratam do tema, em suas
respectivas localidades, geram forte abalo no princípio da segurança jurídica, apto a potencializar os conflitos de
competência entre unidades federadas e um retrocesso nas relações, comprometendo a regularidade da atividade
econômica, com consequente desrespeito à própria razão de existência do artigo 146 da Constituição Federal 679.
Com base nesse e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta, confirmou os
efeitos da medida cautelar deferida na ADI 5.835/DF, extinguiu parcialmente as ações pela perda superveniente de
parte do objeto, e, quanto ao remanescente, as julgou procedentes para declarar a inconstitucionalidade do art. 1º da
Lei Complementar 157/2016 e do art. 14 da Lei Complementar 175/2020, bem como, por arrastamento, dos artigos
2°, 3°, 6°, 9°, 10 e 13 da Lei Complementar 175/2020.

ADI 5.835/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADI 5.862/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às
23:59
ADPF 499/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

Lei municipal e cobrança do IPTU: delegação à esfera administrativa da avaliação individualizada de


imóvel novo não previsto na Planta Genérica de Valores à época do lançamento do imposto - ARE
1.245.097/PR (Tema 1.084 RG)

ODS: 16

Tese fixada:

679
CF/1988: “Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer
normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em
relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; b)
obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo
praticado pelas sociedades cooperativas. d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as
empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das
contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. Parágrafo único. A lei
complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que: I - será opcional para o contribuinte; II - poderão ser
estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado; III - o recolhimento será unificado e centralizado e a
distribuição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou
condicionamento; IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado
cadastro nacional único de contribuintes.”

236
“É constitucional a lei municipal que delega ao Poder Executivo a avaliação individualizada, para
fins de cobrança do IPTU, de imóvel novo não previsto na Planta Genérica de Valores, desde que fixados em
lei os critérios para a avaliação técnica e assegurado ao contribuinte o direito ao contraditório.”

Resumo:
É compatível com o princípio da legalidade tributária, desde que fixe os critérios para a avaliação
técnica e assegure ao contribuinte o direito ao contraditório, lei municipal que confere à esfera
administrativa, para efeito de cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), a competência para
apurar — mediante avaliação individualizada — o valor venal de imóvel novo não previsto na Planta
Genérica de Valores (PGV) à época do lançamento do tributo.
O surgimento de imóveis novos — decorrentes de parcelamento de solo urbano ou de inclusão de área
anteriormente rural em zona urbana, que não constem originalmente na PGV, pois ganharam nova matrícula e
passaram a ter existência autônoma em relação ao imóvel original — permite ao município realizar uma avaliação
individualizada para apurar o seu valor venal, com base em requisitos técnicos legais. Nessas hipóteses, o IPTU
poderá ser lançado e o contribuinte terá resguardado o seu direito ao contraditório em relação à quantia atribuída
pelo Fisco municipal.
Nenhum imposto tem o seu valor em concreto veiculado em lei, de modo que a quantificação da base
calculada cabe à atividade administrativa de lançamento. Nesse contexto, o referido procedimento de mensuração,
amparado em critérios legais, não representa majoração de base de cálculo mediante ato infralegal.
Na espécie, a lei municipal impugnada delega à Administração tributária local a realização de avaliação
técnica individualizada de imóveis novos com base em critérios objetivos, também utilizados para a elaboração da
própria PGV, devidamente aprovada pelo Poder Legislativo. Além disso, a expressão “quaisquer outros dados
informativos obtidos pela Administração” não revela um conteúdo vago, mas permite a utilização de informações
tecnicamente admitidas.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.084 da repercussão
geral, conheceu do agravo para dar parcial provimento ao recurso extraordinário, a fim de afastar as preliminares e
reconhecer a constitucionalidade do art. 176, I, f, e § 5º, da Lei 7.303/1997 do Município de Londrina/PR (Código
Tributário municipal) 680.

ARE 1.245.097/PR, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

Leis Complementares 192/2022 e 194/2022: STF e autocomposição federativa referente à fixação de


alíquotas do ICMS incidentes sobre combustíveis - ADPF 984/DF e ADI 7.191 2º JULG/DF

ODS: 8, 9, 16 e 17

Resumo:
O papel do STF no contexto da autocomposição, consideradas as variáveis político-fiscal-
orçamentárias, é o de reconstruir pontes para devolver à arena político-legislativa solução final mais
adequada para a tutela dos interesses envolvidos após a conclusão da mediação/conciliação.
A questão constitucional examinada nas ações relaciona-se com temas centrais do federalismo, como a
autonomia financeira e a partilha dos recursos tributários. Nesse contexto, os atores do pacto federativo — União,
todos os estados e o Distrito Federal —, na linha do federalismo cooperativo 681, buscaram solucionar os impasses
advindos das Leis Complementares (LC) 192/2022 e 194/2022 e seus desdobramentos, cujas negociações foram
anteriormente infrutíferas.
No acordo, com reflexos sobre outras demandas pendentes nesta Corte, chegou-se a uma solução quanto à
compensação devida pela União aos estados federados e ao Distrito Federal em decorrência da redução do ICMS
determinada pela LC 194/2022, com explicitações e condicionantes. Em atitude de boa-fé, os entes estaduais e

680
Lei 7.303/1997 do Município de Londrina/PR: “Art. 176. O valor dos imóveis será apurado com base nos dados fornecidos
pelo Cadastro Imobiliário levando em conta, a critério da repartição, os seguintes elementos: I – no caso de terrenos: a) o valor
declarado pelo contribuinte; b) o índice médio de valorização correspondente à região em que esteja situado o imóvel; c) os
preços dos terrenos nas últimas transações de compra e venda; d) a forma, as dimensões, os acidentes naturais e outras
características do terreno; e) existência de equipamentos urbanos tais como água, esgoto, pavimentação, iluminação, limpeza
pública e outros melhoramentos implantados pelo Poder Público; f) quaisquer outros dados informativos obtidos pela
Administração e que possam ser tecnicamente admitidos. (...) § 5º Os critérios previstos nos incisos I e II serão utilizados para
apurar o valor venal dos imóveis não previstos na Planta Genérica de Valores à época do lançamento do tributo.”
681
Precedente citado: ADO 25 QO.

237
distrital celebraram convênio para adoção do ICMS uniforme e monofásico para todos os combustíveis, inclusive a
gasolina.
Assim, o acerto político-jurídico realizado no bojo das duas ações possuirá eficácia erga omnes e efeito
vinculante nos exatos termos propostos e o cumprimento da autocomposição será objeto de acompanhamento por
este Tribunal.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta, homologou
o acordo firmado entre a União e todos os entes estaduais e distrital para encaminhá-lo ao Congresso Nacional, a fim
de que sejam tomadas as providências cabíveis ao aperfeiçoamento da LC 192/2022 e da LC 194/2022, devendo a
União apresentar o correspondente Projeto de Lei Complementar (PLP) e o Tribunal de Contas da União ser
comunicado do resultado deste julgamento.

ADPF 984/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às 23:59
ADI 7.191 2º JULG/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às
23:59

Operações com energia elétrica: inclusão da TUSD e TUST na base de cálculo do ICMS e
competência legislativa - ADI 7.195 MC-Ref/DF

ODS: 9

Resumo:
Vislumbram-se presentes os requisitos para a manutenção da cautelar: (i) a fumaça de bom direito
decorre da alegada ilegitimidade da definição dos parâmetros para a incidência do ICMS (imposto estadual)
por norma editada pelo Poder Legislativo federal, ainda que veiculada por meio de lei complementar, bem
como da adoção do termo “operações”; e (ii) o perigo da demora se revela em face dos prejuízos bilionários
sofridos pelos cofres estaduais em decorrência da norma legal impugnada.
Ainda existe uma indefinição (a questão é objeto de análise pelo Tema repetitivo 986 no STJ, cujo
julgamento encontra-se pendente) sobre qual seria a base de cálculo adequada do ICMS na tributação da energia
elétrica, ou seja, se a base de cálculo passível de ser tributável corresponderia ao valor da energia efetivamente
consumida ou ao valor da operação, o que incluiria, no último caso, os encargos setoriais denominados Tarifa de
Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) e Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (TUST).
Há indícios, ainda, de que o Poder Legislativo federal, ao editar a norma complementar questionada,
desbordou do poder conferido pela Constituição Federal para disciplinar questões relativas ao ICMS.
Aparentemente, o art. 155, II, e § 3º, da CF/1988 682, e o art. 34, § 9º, do ADCT 683 disciplinaram a questão no
sentido de atestar a incidência da exação sobre o total das operações e não do montante relativo ao exclusivo
consumo do bem, no caso, da energia elétrica.
Ademais, revela-se urgente a concessão da medida diante da manifestação da Secretaria Nacional do
Consumidor (SENACON), a qual instou os estados a excluir os valores da TUSD e da TUST da base do ICMS, sob
pena de atuarem ilegalmente e em clara lesão a direitos do consumidor de energia elétrica.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão que concedeu a medida
cautelar pleiteada, para suspender os efeitos do art. 3º, X, da LC 87/1996, com a redação dada pela LC 194/2022 684,
até o julgamento do mérito da ação.

682
CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda
que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) § 3º À exceção dos impostos de que tratam o inciso II do caput deste
artigo e o art. 153, I e II, nenhum outro imposto poderá incidir sobre operações relativas a energia elétrica, serviços de
telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País.”
683
ADCT: “Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do primeiro dia do quinto mês seguinte ao da
promulgação da Constituição, mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a redação dada pela Emenda nº 1, de 1969, e
pelas posteriores. (...) § 9º Até que lei complementar disponha sobre a matéria, as empresas distribuidoras de energia elétrica, na
condição de contribuintes ou de substitutos tributários, serão as responsáveis, por ocasião da saída do produto de seus
estabelecimentos, ainda que destinado a outra unidade da Federação, pelo pagamento do imposto sobre operações relativas à
circulação de mercadorias incidente sobre energia elétrica, desde a produção ou importação até a última operação, calculado o
imposto sobre o preço então praticado na operação final e assegurado seu recolhimento ao Estado ou ao Distrito Federal,
conforme o local onde deva ocorrer essa operação.”
684
LC 87/1996: “Art. 3º O imposto não incide sobre: (...) X - serviços de transmissão e distribuição e encargos setoriais
vinculados às operações com energia elétrica. (Incluído pela Lei Complementar nº 194, de 2022)”

238
ADI 7.195 MC-Ref/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Redução da alíquota do ICMS nas operações com cerveja acrescida de suco de laranja - ADI 7.374/SE
ODS: 8 e 9

Resumo:
É inconstitucional norma estadual que — sem a anuência prévia dos demais estados, formalizada em
convênio celebrado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), e em desacordo com a regra do
art. 113 do ADCT — reduz a alíquota do ICMS incidente sobre cervejas que contenham suco de laranja
concentrado e/ou suco integral de laranja em sua composição, diferenciando-as das demais cervejas e bebidas
alcoólicas.
Na espécie, a concessão do referido benefício fiscal não foi precedida de estudos de estimativa de impacto
financeiro e orçamentário, nem da previsão de medidas compensatórias 685 686. Além disso, a inexistência de prévia
deliberação dos demais estados e do Distrito Federal, em acordo celebrado pelo Confaz, implica ruptura do pacto
federativo, por causar desequilíbrio concorrencial entre os entes da Federação, e gera a chamada “guerra fiscal” 687
688
.
Ademais, a norma impugnada, ao privilegiar produtores de cerveja com a utilização de laranja no
respectivo estado, conferiu tratamento tributário distinto em razão da origem das mercadorias, em ofensa aos
princípios da isonomia tributária (CF/1988, art 150, II) e da não discriminação em razão da procedência ou destino
dos bens e serviços (CF/1988, art. 152)689.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 1º da Lei 8.895/2021 690, que acrescentou a alínea m ao inciso I do caput do art. 18 da
Lei 3.796/1996, ambas do Estado de Sergipe.

ADI 7.374/SE, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 11.9.2023 (segunda-feira), às
23:59

Taxa municipal de fiscalização do funcionamento de postes de transmissão de energia - ADPF 512/DF

Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência da União privativa para legislar sobre energia
(CF/1988, art. 22, IV) e exclusiva para fiscalizar os serviços de energia e editar suas normas gerais sobre sua
transmissão (CF/1988, arts. 21, XII, “b”; e 175) — norma municipal que, sob o fundamento do exercício do
poder de polícia, institui taxa em razão da fiscalização da ocupação e da permanência de postes instalados em
suas vias públicas.
A impossibilidade de os municípios instituírem taxas para fiscalização de postes de energia elétrica tem
sido reconhecida pela jurisprudência, em virtude da competência exclusiva da União para tanto, por meio da
Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL 691.
685
ADCT: “Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro.”
686
Precedentes citados: ADI 6.074; ADI 5.816 e ADI 6.303.
687
CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente,
proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação
jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; (...) Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) § 2º O imposto previsto no
inciso II atenderá ao seguinte: (...) XII - cabe à lei complementar: (...) g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados
e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.”
688
Precedentes citados: ADI 4.635 MC-AgR-Ref; ADI 2.811; ADI 5.467; ADI 3.796 e ADI 6.152.
689
Precedentes citados: ADI 6.222; ADI 3.984 e ADI 5.472.
690
Lei 8.895/2021 do Estado de Sergipe: “Art. 1º Fica acrescentada a alínea ‘m’ ao inciso I do ‘caput’ do art. 18 da Lei nº 3.796,
de 26 de dezembro de 1996, com a seguinte redação: ‘Art. 18 (...) I - (...) a) (...) m) cervejas que contenham, no mínimo, 0,35%
(zero vírgula trinta e cinco por cento) de suco de laranja concentrado e/ou suco integral de laranja em sua composição e desde
que comercializadas em embalagem de vidro ou em lata - 13% (treze por cento). II - (...)’ Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data
de sua publicação. Art. 3º Ficam revogadas as disposições em contrário.”
691
Precedentes citados: RE 640.286 AgR; RE 581.947 ED (Tema 261 RG) e RE 776.594 (Tema 919 RG).

239
No exercício de suas competências, a União editou a Lei 9.427/1996, a qual proibiu a unidade federativa de
exigir de concessionária ou permissionária — sob sua ação complementar de regulação, controle e fiscalização —
obrigação não prevista ou que resulte em encargo distinto do pretendido de empresas congêneres, sem que exista
prévia autorização da ANEEL692.
Ademais, a Lei 8.987/1995, ao cuidar do regime de concessão e permissão, determinou que, nos contratos
de concessão, fiquem expressos os direitos e garantias do poder concedente, inclusive os relacionados a
modernização, aperfeiçoamento e ampliação das instalações de energia elétrica.
Desse modo, a presunção dos entes menores para, nos assuntos de interesse comum e concorrente,
legislarem sobre seus respectivos interesses, foi expressamente afastada por lei federal.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para
declarar a inconstitucionalidade do art. 5º, VI, da Lei Complementar 21/2002 do Município de Santo Amaro da
Imperatriz/SC 693, com eficácia ex nunc, de modo a produzir efeitos a partir da publicação da ata desse julgamento.

ADPF 512/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59

Zona Franca de Manaus e determinação do encerramento do diferimento ou da suspensão do ICMS


devido na compra de combustíveis por meio de Convênio do Confaz - ADI 7.036/DF

ODS: 16
Resumo:
É inconstitucional — por violar os arts. 40 do ADCT 694 e 155, § 2º, X, “a”, da CF/1988 — trecho de
dispositivo de convênio interestadual que determina o encerramento do diferimento ou suspensão do
lançamento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devido na compra de etanol
anidro combustível (EAC) ou de biodiesel (B100) quando a operação interestadual for isenta ou não incidir o
tributo na saída do insumo para distribuidora de combustíveis situada na Zona França de Manaus (ZFM).
Na hipótese de encerramento dos referidos benefícios fiscais, embora se faça alusão à existência de uma
isenção ou não tributação, há inequívoca necessidade de a distribuidora de combustíveis adquirente dos insumos
pagar o ICMS à unidade federada remetente do EAC ou do B100.
Sob pena de se descaracterizar a ZFM, a eficácia da proteção do art. 40 do ADCT depende da manutenção
dos favores fiscais previstos no Decreto-lei 288/1967 695, o qual expressamente estabelece que a operação de venda
ou remessa de mercadorias de origem nacional — para consumo ou industrialização na ZFM — equivale, para todos
os efeitos fiscais, a exportação. Relativamente ao ICMS, o texto constitucional dispõe serem imunes as operações
que destinem mercadorias para o exterior (art. 155, § 2º, X, a), razão pela qual inexiste competência dos estados
federados ou do Distrito Federal a amparar a instituição ou a cobrança do imposto nessas hipóteses.
Assim, o tributo não pode ser cobrado na operação interestadual de saída dos insumos para distribuidora de
combustíveis localizada na ZFM. Contudo, a imunidade ao ICMS é inaplicável na operação interestadual de saída
para distribuidora de combustíveis localizada em outras áreas de livre comércio — como a Amazônia Ocidental —,
pois as normas do art. 40 do ADCT são direcionadas apenas à ZFM696.
Na parte em que não dizem respeito à ZFM, os §§ 2º e 3º da cláusula vigésima primeira do Convênio ICMS
110/2007 697, firmado no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), cuidam de substituição
692
Lei 9.427/1996: “Art. 21. Na execução das atividades complementares de regulação, controle e fiscalização dos serviços e
instalações de energia elétrica, a unidade federativa observará as pertinentes normas legais e regulamentares federais. § 1º As
normas de regulação complementar baixadas pela unidade federativa deverão se harmonizar com as normas expedidas pela
ANEEL. § 2º É vedado à unidade federativa conveniada exigir de concessionária ou permissionária sob sua ação complementar
de regulação, controle e fiscalização obrigação não exigida ou que resulte em encargo distinto do exigido de empresas
congêneres, sem prévia autorização da ANEEL.”
693
Lei Complementar 21/2002 do Município de Santo Amaro da Imperatriz/SC: “Art. 5º A base de cálculo da taxa será
determinada em função da natureza, da atividade e da finalidade de utilização do móvel, equipamento, utensílio, veículo e ou
quaisquer outro objeto: (...) VI – Postes ou similares, por unidade, por mês ou fração: R$ 2,00;”
694
ADCT: “Art. 40. É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas características de área livre de comércio, de exportação e
importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da Constituição. Parágrafo único.
Somente por lei federal podem ser modificados os critérios que disciplinaram ou venham a disciplinar a aprovação dos projetos
na Zona Franca de Manaus.”
695
Precedentes citados: ADI 2.399 e ADI 4.254.
696
Precedentes citados: ADI 2.348 MC e RE 631.435 AgR.
697
Convênio ICMS 110/2007-Confaz: “Cláusula vigésima primeira. Os Estados e o Distrito Federal concederão diferimento ou
suspensão do lançamento do imposto nas operações internas ou interestaduais com EAC ou com B100, quando destinados a
distribuidora de combustíveis, para o momento em que ocorrer a saída da gasolina C ou a saída do óleo diesel B promovida pela

240
tributária do ICMS em operações envolvendo combustíveis e abrangem todas as distribuidoras que ali se
enquadrem, não apenas as localizadas em áreas de livre comércio. Nesse contexto, o encerramento do diferimento
do tributo pode ser alvo de deliberação pelos estados federados e pelo DF e não evidencia ofensa a preceitos
constitucionais.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação, apenas
para declarar a inconstitucionalidade da expressão “para a Zona Franca de Manaus”, constante do § 2º da cláusula
vigésima primeira do Convênio ICMS 110/2007-Confaz.

ADI 7.036/DF, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual
finalizado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

15.6 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

“Trading companies”: venda do serviço de frete e imunidade tributária - RE 1.367.071 AgR-EDv/PR

Resumo:
Não incide a contribuição para o PIS e a COFINS sobre as receitas auferidas pelo operador de
transporte com o serviço de frete contratado por trading companies.
Esta Corte já se manifestou no sentido de que o escopo da imunidade tributária prevista no art. 149, § 2º, I,
da Constituição Federal 698 é a desoneração da carga tributária sobre transações comerciais que envolvam a venda
para o exterior, evitando-se a indesejada exportação de tributos, a fim de tornar mais competitivos os produtos
nacionais e contribuir para geração de divisas e o desenvolvimento nacional 699.
O preço do frete inclui a carga tributária sobre ele incidente, a qual será repassada para a operação de
exportação, tanto realizada diretamente por uma empresa exportadora quanto por uma trading company (comercial
exportadora com fins específicos de exportação). Assim, caso se admita a incidência tributária nessa hipótese,
frustra-se o principal objetivo pretendido pelo constituinte, que é a desoneração das exportações.
Nesse contexto, apesar de o presente caso apresentar situação fática diversa da que foi objeto de análise
quando da fixação da tese do Tema 674 da repercussão geral, os fundamentos adotados nesse último são suficientes
para assegurar que a norma imunizante também alcance as receitas oriundas do serviço de frete destinado à
mercadoria a ser exportada, seja a empresa contratante a própria exportadora ou a comercial exportadora. Isso
porque, no referido precedente, o ponto determinante da decisão não foi quanto ao fato da venda ao exterior ter sido
realizada de forma direta ou indireta, mas que o seu fim específico fosse o de destinar um produto à exportação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, negou provimento aos embargos de divergência e
confirmou o acórdão recorrido que deu provimento ao recurso extraordinário.

RE 1.367.071 AgR-EDv/PR, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Alexandre de
Moraes, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

15.7 SANÇÕES TRIBUTÁRIAS

Débito tributário: multa isolada pela não homologação de declaração de compensação - ADI 4.905/DF

ODS: 10 e 16

distribuidora de combustíveis, observado o disposto no § 2°. § 1º O imposto diferido ou suspenso deverá ser pago de uma só vez,
englobadamente, com o imposto retido por substituição tributária incidente sobre as operações subsequentes com gasolina ou
óleo diesel até o consumidor final, observado o disposto nos §§ 3° e 13. § 2° Encerra-se o diferimento ou suspensão de que trata
o caput na saída isenta ou não tributada de EAC ou B100, inclusive para a Zona Franca de Manaus e para as Áreas de Livre
Comércio. § 3° Na hipótese do § 2°, a distribuidora de combustíveis deverá efetuar o pagamento do imposto suspenso ou diferido
à unidade federada remetente do EAC ou do B100.”
698
CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e
de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o
dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: I - não
incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;”
699
Precedentes citados: RE 759.244 (Tema 674 RG); RE 627.815; RE 606.107 (Tema 283 RG)

241
Resumo:
É inconstitucional — por violar o direito fundamental de petição e o princípio da proporcionalidade
— a aplicação de multa isolada pela mera não homologação de declaração de compensação quando não
caracterizados má-fé, falsidade, dolo ou fraude.
Atendidos os requisitos legais, a compensação tributária configura direito subjetivo do sujeito passivo que
não se subordina à apreciação de conveniência e oportunidade da administração tributária. Por sua vez, a declaração
de compensação é um pedido lato sensu submetido à análise da administração, que decidirá de forma definitiva,
expressa ou tacitamente, pela homologação ou não.
Nesse contexto, a norma impugnada não se mostra proporcional, porque (i) não é adequada para coibir
fraudes, falsidade ou abuso de direito, eis que essas condutas não fazem parte do preceito antecedente para a
aplicação da sanção; e (ii) a penalidade de multa não atende ao teste da necessidade, por existirem mecanismos
menos gravosos ao contribuinte de boa-fé para a proteção dos interesses do Fisco.
Ademais, a aplicação automática da referida multa inibe o sujeito passivo — atingindo principalmente os
contribuintes de boa-fé — de pleitear a homologação da declaração de compensação, de modo que representa
obstáculo ao exercício de seu direito de petição.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nessa extensão, a
julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade do § 17 do art. 74 da Lei 9.430/1996, incluído pela Lei
12.249/2010 e alterado pela Lei 13.097/2015 700, e, por arrastamento, a inconstitucionalidade do inciso I do § 1º do
art. 74 da Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil 2.055/2021.

ADI 4.905/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Multa automática pela simples negativa do pedido de compensação tributária - RE 796.939/RS (Tema
736 RG)

ODS: 16 e 17

Tese fixada:
“É inconstitucional a multa isolada prevista em lei para incidir diante da mera negativa de
homologação de compensação tributária por não consistir em ato ilícito com aptidão para propiciar
automática penalidade pecuniária.”

Resumo:
O pedido de compensação tributária não homologado, ao invés de configurar ato ilícito apto a
ensejar sanção tributária automática (Lei 9.430/1996, art. 74, § 17), configura legítimo exercício do direito de
petição do contribuinte (CF/1988, art. 5º, XXXIV).
Esse pedido de compensação não se compatibiliza com a função repressora das multas tributárias, pois a
automaticidade da sanção, sem se considerar a índole subjetiva do agente, tornaria ilícito o próprio exercício de um
direito subjetivo público garantido pela Constituição701.
Além disso, o art. 74, § 17, da Lei 9.430/1996702 viola o princípio do devido processo legal em suas duas
dimensões703. Quanto à dimensão processual, não se observa, no processo administrativo fiscal sob exame, uma
garantia às partes em relação ao exercício de suas faculdades e poderes processuais. Quanto à material, inexiste
700
Lei 9.430/1996: “Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a
tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá
utilizá-lo na compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. (...)
§ 17. Será aplicada multa isolada de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do débito objeto de declaração de compensação não
homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo.”
701
CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições
públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;”
702
Lei 9.430/1996: “Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a
tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá
utilizá-lo na compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. (...)
§ 17. Será aplicada multa isolada de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do débito objeto de declaração de compensação não
homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo.”

242
razoabilidade, pois a legitimidade tributária é ignorada na hipótese, dada a insatisfação simultânea do binômio
eficiência e justiça fiscal por parte do Estado.
Nesse contexto, somente a partir de um necessário juízo concreto, motivado e fundamentado em relação à
observância, ou não, do princípio da boa-fé pelo contribuinte que pretende a compensação tributária na via
administrativa, será possível afirmar eventual abusividade no exercício do seu direito constitucional de petição, e
aplicar a sanção tributária correspondente.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 736 da repercussão geral,
conheceu do recurso extraordinário e negou-lhe provimento para declarar a inconstitucionalidade do já revogado §
15, e do atual § 17 do art. 74 da Lei 9.430/1996.
RE 796.939/RS, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

703
Precedentes citados: ADI 173; ARE 915.424 AgR e ADPF 156.

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