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Informativo Temático 2022

Compilação dos Informativos STF 1042 a 1079

O Informativo Temático apresenta resumos organizados por assuntos e ramos do Direito.


Permite-se a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem alteração do conteúdo,
desde que citada a fonte.

Últimas atualizações:

• Informativo 1079:
o ARE 1316369/DF (Tema 1238 RG)
o ADI 4235/RJ
o ADI 4757/DF
o ADPF 1012/PA
o ADI 6981/SP
o ADI 6688/PR, ADI 6698/MS, ADI 6714/PR, ADI 7016/MS, ADI 6683/AP, ADI
6686/PE, ADI 6687/PI, ADI 6711/PI e ADI 6718/AP.

• Informativo 1078:
o RE 593448 (Tema 221 RG)
o ADPF 634
o ADI 7015
o RE 1276977 (Tema 1102 RG)
o HC 166373
o RE 776594 (Tema 919 RG).

• Informativo 1077:
o ADI 5623;
o ADI 4768;
o ADI 6997;
o ADI 4532;
o RE 841979 (Tema 756 RG);
o ARE 1307028 AgR.

• Informativo 1076:
o ADI 6740 e ADI 6738;
o ADI 5528;
o ADI 5517;
o ADI 4529;
o ADI 5657;
o ADI 6937.
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1
• Informativo 1075:
o ADI 7088 e ADI 7183;
o ADPF 828 TPI-quarta-Ref;
o ADI 7232 MC-Ref.

• Informativo 1074:
o ADI 7081
o ADI 7198
o ADI 6923
o ADI 7261 MC
o ADPF 763
o ADI 5368
o ADI 4582
o RE 629647 (Tema 1004 RG)
o RE 612686 (Tema 699 RG)
o ADI 6828.

• Informativo 1073:
o ADI 1846;
o ADI 2477 e ADI 2572;
o ADI 5595;
o ADI 6327;
o ADI 6619;
o RE 732686 (Tema 970 RG);
o ADI 5702.

• Informativo 1072:
o ADI 7172;
o ADPF 988;
o ARE 873804 AgR-segundo-ED-EDv-AgR;
o ADI 5282.

• Informativo 1071:
o ADPF 975;
o RE 642890 (Tema 465 RG);
o ADI 6151;
o ADI 2298.

• Informativo 1070:
o RE 820823 (Tema 922 RG);
o ADI 7211;
o ADI 7214;
o ADI 5969;
o ADI 6152;
o ADI 2692.

• Informativo 1069:
o ADI 6119; ADI 6139 e ADI 6466;
2

2
o RE 1008166;
o ADI 7149;
o ADI 6772;
o ADI 7188 e ADI 7189;
o ADI 7073.

• Informativo 1068:
o ADI 6649 e ADPF 695;
o ADI 3311;
o ADI 7222 MC-Ref;
o ADI 2355.

• Informativo 1067:
o ADI 6603;
o ADI 6860; ADI 6861 e ADI 6863;
o ARE 1370232;
o ADI 6511;
o ADI 2846.

• Informativo 1066:
o ADI 5791;
o RE 929886;
o ADI 5507;
o RE 1359139;
o ADI 7042; ADI 7043;

• Informativo 1065:
o ARE 843989;
o ADI 5271;
o ADI 6970;
o ADI 6088;
o ADI 5795;
o ADI 7111; ADI 7113; ADI 7116; ADI 7119 e ADI 7122;

• Informativo 1064:
o ADI 7137 e ADI 7142;
o ADI 6640 e ADI 6645;
o ADI 5349;

• Informativo 1063:
o ADI 6199;
o ADI 4662;
o ADI 6912;
o ADI 6328;

• Informativo 1062:
o ADI 7031;
o RE 964659 (Tema 900 RG);

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o ADI 7104 e ADI 7179;
o ADI 6230;
o ADI 7178 e ADI 7182;
o RE 1381261;
o ADI 5268;
o ADI 4785, ADI 4786 e ADI 4787;

• Informativo 1061:
o ADPF 708;
o ADI 6926;
o ADI 5755;
o ADI 6858;
o RHC 203546;

• Informativo 1060:
o ADI 2142;
o ADI 3396;
o ADI 7076;
o ADI 6660;
o ADI 7117 e ADI 7123;
o ADI 4039;

• Informativo 1059:
o ADI 3454;
o ADI 5119;
o ADI 400;
o ADPF 893;
o ADPF 188;

• Informativo 1058:
o ADI 6951 e ADI 6952;
o ADI 5399, ADI 6191 e ADI 6333 ED;
o RE 999435(Tema 638 RG);

• Informativo 1057:
o ADI 6308;
o ADI 7063;
o ADI 5563;
o ARE 1121633 (Tema 1046 RG);
o ADI 5331;
o ADI 5422;

• Informativo 1056:
o ADI 5910;
o ADI 4869;
o ADI 4709;
o ADI 5384;
o ADPF 323;
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4
• Informativo 1055:
o ADPF 915;
o ADPF 748;
o ADI 6595;
o RE 1224374 (Tema 1079 RG), ADI 4017 e ADI 4103;
o ADI 5052;
o ADI 6573; ADI 6911 e ADPF 863;

• Informativo 1054:
o ADI 5818 e ADI 3918;
o RE 1348854 (Tema 1182 RG);
o ADPF 722;
o ADI 4608;
o ADI 7083.

• Informativo 1053:
o ADI 6655;
o ADI 6148;
o ADI 7029;
o Pet 8242 AgR, Pet 8259 AgR, Pet 8262 AgR, Pet 8263 AgR, Pet 8267
AgR e Pet 8366 AgR.

• Informativo 1052:
o ADI 6808;
o ADPF 651;
o ADI 3152;
o RE 614384 (Tema 559 RG);
o RE 1286407 AgR-segundo.

SUMÁRIO

1.DIREITO ADMINISTRATIVO..............................................................................................................................................

1.1ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL..........................................................................................................

Atividade profissional de despachantes: competência legislativa para regulamentação -


ADI 6740/RN e ADI 6738/GO...........................................................................................................................

1.2AGÊNCIAS REGULADORAS................................................................................................................................

ANP e poder normativo de regulação - ADI 7031/DF......................................................................................

Atualização do rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar - ADI 7088/DF e


ADI 7183/DF......................................................................................................................................................

1.3AGENTES PÚBLICOS.............................................................................................................................................

5
Alteração de escolaridade para o cargo de perito técnico de polícia por meio de lei
estadual - ADI 7081/BA.....................................................................................................................................

1.4APOSENTADORIA..................................................................................................................................................

Inexigência de exercício por cinco anos na mesma classe para fins de cálculo de
aposentadoria - RE 1322195/SP (Tema 1207 RG)............................................................................................

1.5CARGOS EM COMISSÃO......................................................................................................................................

Tribunal de Contas estadual: requisitos constitucionais para a criação de cargos em


comissão - ADI 6655/SE....................................................................................................................................

1.6CONCURSO PÚBLICO...........................................................................................................................................

Isenção da taxa de inscrição em concurso público a servidores públicos estaduais - ADI


5818/CE e ADI 3918/SE....................................................................................................................................

1.7CONTRATOS ADMINISTRATIVOS.......................................................................................................................

Empresas estatais e transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão


compartilhada - ADI 1846/SC...........................................................................................................................

Transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de serviços


públicos - ADI 2946/DF.....................................................................................................................................

1.8CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA...........................................................................................................................

Contratação temporária: vacância de cargo público efetivo e educação pública - ADPF


915/MG...............................................................................................................................................................

1.9IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.....................................................................................................................

Nova Lei de Improbidade Administrativa e eficácia temporal - ARE 843989/PR (Tema


1.199 RG)............................................................................................................................................................

1.10LICENÇAS E AFASTAMENTOS..........................................................................................................................

Licença à gestante e à adotante para militares das Forças Armadas - ADI 6603/DF....................................

1.11PROCESSO ADMINISTRATIVO..........................................................................................................................

Processo administrativo e princípio da publicidade - ADI 5371/DF...............................................................

Repercussão na esfera administrativa da nulidade de provas no processo penal - ARE


1316369/DF (Tema 1238 RG)............................................................................................................................

1.12PROCURADORES; SUBSÍDIOS...........................................................................................................................

Quitação de dívida ativa por meio alternativo de cobrança e honorários advocatícios de


procuradores estaduais - ADI 5910/RO............................................................................................................

1.13REGIME PREVIDENCIÁRIO...............................................................................................................................

Criação de regime previdenciário específico para os agentes públicos não titulares de


cargos efetivos por lei estadual - ADI 7198/PA.................................................................................................

1.14REGISTRO DE IMÓVEIS......................................................................................................................................

6
Requisitos para a ratificação pela União de registros imobiliários decorrentes de títulos
expedidos pelos estados referentes a alienações e concessões de terras públicas situadas
nas faixas de fronteira - ADI 5623/DF.............................................................................................................

1.15REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO........................................................................................................

Flexibilização da aquisição de armas de fogo por meio de decreto presidencial - ADI


6119/DF, ADI 6139/DF e ADI 6466/DF............................................................................................................

1.16REMUNERAÇÃO..................................................................................................................................................

Alteração da forma de cálculo do auxílio-invalidez para servidores militares - RE


642890/DF (Tema 465 RG)................................................................................................................................

Auditor substituto de conselheiro de Corte de Contas estadual e remuneração


proporcional - ADI 6951/CE e ADI 6952/AM..................................................................................................

Impossibilidade de concessão de aumento pelo Poder Judiciário com fundamento no


princípio da isonomia - ARE 1341061/SC (Tema 1175 RG)............................................................................

Pensão mensal vitalícia a viúvas de ex-prefeitos - ADPF 975/CE...................................................................

1.17REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA.......................................................................................................................

Requisição administrativa de bens ou serviços públicos - ADI 3454/DF........................................................

1.18SERVIÇOS PÚBLICOS..........................................................................................................................................

Medidas para garantir a continuidade de serviços públicos essenciais e direito de greve


- ADI 4857/DF....................................................................................................................................................

Reajuste de tarifas telefônicas: cláusula contratual, inflação e revisão judicial - RE


1059819/PE (Tema 991 RG)..............................................................................................................................

1.19SERVIDOR PÚBLICO............................................................................................................................................

Extensão da licença-maternidade a servidor público pai solo - RE 1348854/SP (Tema


1182 RG).............................................................................................................................................................

Funções desempenhadas por Delegado de Polícia: atribuição de natureza jurídica e


caráter essencial ao Estado - ADI 5528/TO......................................................................................................

Lista tríplice para escolha de delegado-chefe da Polícia Civil - ADI 6923/RO...............................................

Polícia Civil: enquadramento como exercício de atribuição essencial à função


jurisdicional do Estado e à defesa da ordem jurídica - ADI 5517/ES..............................................................

Reenquadramento de servidor admitido sem concurso público antes da promulgação


da Constituição Federal de 1988 - ARE 1306505/AC (Tema 1157 RG)..........................................................

Restrição do direito de férias de servidores municipais - RE 593448/MG (Tema 221


RG)......................................................................................................................................................................

Servidor público: jornada de trabalho reduzida e remuneração inferior ao salário


mínimo - RE 964659/RS (Tema 900 RG)..........................................................................................................

1.20SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.................................................................................................................

7
Privatização de empresa estatal e transferência de débitos judiciais ao estado - ADI
5271/MA.............................................................................................................................................................

1.21TRIBUNAL DE CONTAS......................................................................................................................................

TCU: competência para fiscalizar verbas federais complementares ao


FUNDEF/FUNDEB - ADI 5791/DF................................................................................................................

2.DIREITO AMBIENTAL.........................................................................................................................................................

2.1ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE..................................................................................

Área de Preservação Ambiental Permanente e competência legislativa - ADI 5675/MG


.............................................................................................................................................................................

2.2COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.........................................................................................................

Fundo Clima: funcionamento, destinação de recursos e contingenciamento de verbas -


ADPF 708/DF....................................................................................................................................................

2.3COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS......................................................................................................

Composição de órgãos de controle ambiental - ADPF 651/DF.......................................................................

2.4LICENCIAMENTO AMBIENTAL..........................................................................................................................

Alteração dos critérios para dispensa de licenciamento ambiental por meio de norma
estadual - ADI 4529/MT....................................................................................................................................

Concessão automática de licença ambiental para empresas com grau de risco médio -
ADI 6808/DF......................................................................................................................................................

Licenciamento ambiental e competência municipal - ADI 2142/CE...............................................................

2.5POLUIÇÃO...............................................................................................................................................................

Resolução 491/2018-Conama: padrões de qualidade do ar e diretrizes da OMS - ADI


6148/DF..............................................................................................................................................................

2.6PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL.........................................................................

Supressão de marcos regulatórios ambientais e proibição do retrocesso ambiental -


ADPF 748/DF....................................................................................................................................................

2.7SANEAMENTO BÁSICO........................................................................................................................................

Região metropolitana: saneamento básico, poder decisório e recursos obtidos com a


empreitada comum - ADI 6573/AL; ADI 6911/AL e ADPF 863/AL................................................................

3.DIREITO CIVIL......................................................................................................................................................................

3.1ASSOCIAÇÃO..........................................................................................................................................................

Desfiliação de associado: quitação de débitos e/ou multas como condição - RE


820823/DF (Tema 922)......................................................................................................................................

3.2BEM DE FAMÍLIA...................................................................................................................................................

8
Bem de família: fiança; contrato de locação comercial e penhorabilidade - RE
1307334/SP (Tema 1127 RG).............................................................................................................................

3.3POSSE.......................................................................................................................................................................

COVID-19: Retomada das ações de reintegração de posse suspensas em razão da


pandemia - ADPF 828 TPI-quarta-Ref/DF......................................................................................................

3.4DIREITO AUTORAL................................................................................................................................................

Isenção do pagamento de direitos autorais em eventos sem fins lucrativos - ADI


6151/SC...............................................................................................................................................................

4.DIREITO CONSTITUCIONAL............................................................................................................................................

4.1ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO........................................................................................................................

Advogados da União: direito a férias de 30 dias anuais - RE 929886/SC.......................................................

4.2COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.............................................................................................................................

Concessão de meia-entrada em estabelecimentos de lazer e entretenimento para


professores da rede pública estadual e municipais de ensino - ADI 3753/SP.................................................

Concessão de porte de arma de fogo a procuradores estaduais por lei estadual - ADI
6985/AL..............................................................................................................................................................

Conversão dos autos de prisão em flagrante em diligência - ADI 4662/SP....................................................

Extinção da pena de prisão disciplinar de policiais e bombeiros militares - ADI


6595/DF..............................................................................................................................................................

Lei estadual e vedação à inscrição em cadastro de proteção ao crédito - ADI 6668/MG


.............................................................................................................................................................................

Lei estadual: SAC e atendimento telefônico gratuito - ADI 4118/RJ..............................................................

Militares estaduais grevistas e anistia das infrações disciplinares - ADI 4869/DF........................................

Norma estadual e emenda parlamentar impositiva em lei orçamentária - ADI 6308/RR


.............................................................................................................................................................................

Obrigações impostas aos planos de saúde e competência legislativa privativa da União -


ADI 7029/PB......................................................................................................................................................

Pessoas desaparecidas e divulgação de fotos em noticiários de TV e em jornais - ADI


5292/SC...............................................................................................................................................................

Prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário de passageiros e competência


legislativa estadual - ADI 4289/DF...................................................................................................................

Serviço de telecomunicação e proibição de oferta e comercialização de serviço de valor


adicionado - ADI 6199/PE.................................................................................................................................

Substituição de trabalhador privado em greve por servidor público - ADI 1164/DF......................................

4.3DEFENSORIA PÚBLICA.........................................................................................................................................

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Constitucionalidade do poder de requisição da Defensoria Pública - ADI 6852/DF, ADI
6862/PR, ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI
6873/AM, ADI 6875/RN.....................................................................................................................................

Defensoria pública estadual e poder de requisição - ADI 6860/MT; ADI 6861/PI e ADI
6863/PE..............................................................................................................................................................

Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais - ADI 4608/DF............................................................

Recriação de Assistência Jurídica da Justiça Militar - ADI 3152/CE.............................................................

4.4DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.....................................................................................................

CNJ e transferência do sigilo de dados fiscais e bancários - ADI 4709/DF....................................................

Compartilhamento de dados no âmbito da Administração Pública federal - ADI


6649/DF e ADPF 695/DF..................................................................................................................................

Dia da Consciência Negra: instituição de feriado local por lei municipal - ADPF
634/SP.................................................................................................................................................................

Lei da meia-entrada: entidades emitentes da CIE e liberdade de associação - ADI


5108/DF..............................................................................................................................................................

Liberdade de expressão e imunidade parlamentar - Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259


AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF..................................

Plano de redução de letalidade policial e controle de violações de direitos humanos -


ADPF 635 MC-ED/RJ.......................................................................................................................................

Produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público - ADPF


722/DF................................................................................................................................................................

Produtos fumígenos: restrições à publicidade e inserção de advertências sanitárias nas


embalagens - ADI 3311/DF...............................................................................................................................

Remanejamento de cargos em comissão de peritos do MNPCT, fragilização do combate


à tortura no País e abuso do poder regulamentar - ADPF 607/DF.................................................................

Reserva de assentos especiais para pessoas obesas - ADI 2477/PR e ADI 2572/PR.......................................

Resolução do TSE e enfrentamento à desinformação no processo eleitoral - ADI 7261


MC/DF................................................................................................................................................................

Restrições legais ao consumo de bebidas alcóolicas e condução de veículos automotivos


- RE 1224374/RS (Tema 1079 RG), ADI 4017/DF e ADI 4103/DF.................................................................

Saúde pública: financiamento federal e alteração da forma de cálculo dos recursos


mínimos aplicados pela União - ADI 5595/DF.................................................................................................

Transporte coletivo interestadual: gratuidade e redução de tarifa para jovens de baixa


renda - ADI 5657/DF.........................................................................................................................................

4.5EDUCAÇÃO BÁSICA.............................................................................................................................................

COVID-19: Realocação de recursos vinculados ao FUNDEB para ações de combate à


pandemia do novo coronavírus - ADI 6490/PI.................................................................................................

4.6ÍNDIOS......................................................................................................................................................................

10

10
Proteção territorial em terras indígenas não homologadas - ADPF 709 MC-segunda-
Ref/DF................................................................................................................................................................

4.7MINISTÉRIO PÚBLICO..........................................................................................................................................

Inamovibilidade dos membros do Ministério Público da União - ADI 5052/DF............................................

Prerrogativa do Ministério Público de posicionar-se ao lado do magistrado nos


julgamentos - ADI 4768/DF..............................................................................................................................

4.8ORÇAMENTO..........................................................................................................................................................

Emendas do relator-geral do orçamento: suspensão da execução orçamentária e


prestação de serviços essenciais à coletividade - ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, ADPF 851
MC-Ref-Ref/DF e ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF................................................................................................

Prazo para adequação ao sistema único e integrado de execução orçamentária - ADPF


763/DF................................................................................................................................................................

4.9ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA...............................................................................................................

Aplicabilidade das regras do Estatuto da Advocacia a advogados empregados públicos -


ADI 3396/DF......................................................................................................................................................

Energia elétrica e regulamentação por medida provisória com posterior conversão em


lei - ADI 3090/DF e ADI 3100/DF....................................................................................................................

4.10ORDEM SOCIAL...................................................................................................................................................

Ação para o fornecimento de medicamentos: fármaco com registro na Anvisa e na


União - RE 1286407 AgR-segundo/PR.............................................................................................................

Covid-19: educação e transferência de recursos para acesso à internet - ADI 6926/DF


.............................................................................................................................................................................

Educação infantil: dever estatal de garantir o atendimento em creche e pré-escola às


crianças de até cinco anos de idade - RE 1008166/SC (Tema 548 RG)...........................................................

FUNDEF/FUNDEB: precatório e pagamento de pessoal - ADPF 528/DF....................................................

Reserva de vagas para irmãos na mesma escola - ADI 7149/RJ.....................................................................

Termo inicial da licença-maternidade e do salário-maternidade - ADI 6327/DF...........................................

4.11ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.............................................................................................................................

Hipóteses constitucionais de intervenção estadual no município: rol taxativo - ADI


6619/RO..............................................................................................................................................................

4.12ORGANIZAÇÃO DOS PODERES........................................................................................................................

Inconstitucionalidade do bloqueio e penhora de receitas públicas vinculadas a


contratos de gestão firmados entre o Poder Público e entidades do terceiro setor -
ADPF 1012/PA...................................................................................................................................................

Liberdade de expressão e limites - AP 1044/DF...............................................................................................

4.13ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA..............................................................................................

11

11
Desmembramento de municípios sem consulta plebiscitária e EC 57/2008 - RE
614384/SE (Tema 559 RG)................................................................................................................................

4.14PODER EXECUTIVO............................................................................................................................................

Chefe do Poder Executivo estadual: dupla vacância do cargo no último biênio do


mandato - ADI 7137/SP e ADI 7142/AC...........................................................................................................

4.15PODER JUDICIÁRIO.............................................................................................................................................

Conselho Nacional de Justiça e análise prévia de anteprojetos de lei de criação de


cargos, funções e unidades judiciárias dos tribunais de justiça - ADI 5119/DF.............................................

Custas e emolumentos judiciais: majoração e criação de sanções processuais por ente


estadual - ADI 7063/RJ......................................................................................................................................

Tempo de serviço como critério de desempate para a promoção na carreira da


magistratura - ADI 6772/AL..............................................................................................................................

Transformação de juízos e juizados e definição de suas respectivas competências - ADI


4235/RJ...............................................................................................................................................................

4.16PROCESSO LEGISLATIVO..................................................................................................................................

Extemporaneidade do veto presidencial - ADPF 893/DF................................................................................

Iniciativa de leis sobre a organização do Ministério Público estadual - ADI 400/ES.....................................

Medida Provisória e recursos destinados a promoção da cultura e eventos - ADI 7232


MC-Ref/DF.........................................................................................................................................................

Processo legislativo para a autorização de alienação de ações de empresa estatal e


obtenção de crédito para o custeio de despesas correntes de estado-membro - ADI
5683/RJ...............................................................................................................................................................

Proposições legislativas e adoção do rito de urgência - ADI 6968/DF............................................................

Quórum para aprovação de emendas constitucionais estaduais - ADI 6453/RO............................................

4.17REGIME DE PRECATÓRIOS................................................................................................................................

Cancelamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPV) federais não


resgatados - ADI 5755/DF.................................................................................................................................

4.18REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS...................................................................................................................

Competência da União para explorar e legislar sobre atividades nucleares - ADI


6858/AM.............................................................................................................................................................

Competência legislativa: instalação de antenas transmissoras de telefonia celular e


ordenamento territorial - ARE 1370232/SP (Tema 1235 RG)..........................................................................

Construção de instalações nucleares e de energia elétrica: imposição de exigências por


norma estadual - ADI 7076/PR.........................................................................................................................

Convocação de autoridades pela Assembleia Legislativa e princípio da simetria - ADI


6640/PE e ADI 6645/AM...................................................................................................................................

12

12
COVID-19 e instituições de ensino: inadimplência, recusa de matrícula e competência
legislativa - ADI 7104/RJ e ADI 7179/RJ.........................................................................................................

Covid-19: indenização por incapacidade ou morte de profissionais da saúde em razão


da pandemia - ADI 6970/DF.............................................................................................................................

Covid-19: multa por descumprimento de cláusula de fidelidade contratual nos serviços


de telecomunicações - ADI 7211/RJ..................................................................................................................

Empresas de telefonia e internet: obrigatoriedade de inserção de mensagem nas faturas


- ADI 6088/AM...................................................................................................................................................

Exercício da competência comum para a proteção do meio ambiente - ADI 4757/DF..................................

Gratuidade de acesso às salas de cinemas para idosos - ARE 1307028 AgR/SP............................................

Isenção de tarifas de água e esgoto: predominância de interesse local e competência


legislativa - ADI 6912/MG.................................................................................................................................

Lei estadual: militares estaduais e instituição de contribuição para custear serviços de


saúde - ADI 5368/TO.........................................................................................................................................

Lei estadual: planos de saúde e limitação de tratamento para pessoas com deficiência -
ADI 7172/RJ.......................................................................................................................................................

Lei estadual e depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros - ADI 6660/PE...............................................

Lei federal e reajuste da previdência social nos estados e no Distrito Federal de forma
simultânea com o regime geral - ADI 4582/DF................................................................................................

Ministério Público de Contas estadual e limites legais de gastos do Poder Executivo -


ADI 5563/RR......................................................................................................................................................

Ministério Público estadual: movimentação funcional e modelo federal - ADI 6328/GO


.............................................................................................................................................................................

Obrigatoriedade de reserva de vagas de estacionamento para advogados em órgãos


públicos estaduais - ADI 6937/RO.....................................................................................................................

Porte de armas de fogo: presunção do risco da atividade e efetiva necessidade mediante


lei estadual - ADI 7188/AC e ADI 7189/AM.....................................................................................................

Prestação e divulgação de contas de sindicatos: exigência por lei distrital - ADI


5349/DF..............................................................................................................................................................

Proibição de apreensão e retenção de motocicletas, motonetas ou ciclomotores de até


150 cilindradas por falta de pagamento do IPVA - ADI 6997/RN...................................................................

Promoção e benefícios a novos clientes e extensão aos preexistentes - ADI 5399/SP;


ADI 6191/SP e ADI 6333 ED/PE......................................................................................................................

Substituição de sacos e sacolas plásticos por outros de materiais biodegradáveis


imposta por lei municipal - RE 732686/SP (Tema 970 RG).............................................................................

Tribunal de Contas estadual: normas gerais sobre prescrição e decadência - ADI


5384/MG.............................................................................................................................................................

4.19SEGURANÇA PÚBLICA.......................................................................................................................................

13

13
Polícia civil e independência funcional - ADI 5522/SP...................................................................................

4.20TRIBUNAL DE CONTAS......................................................................................................................................

Competência para o julgamento de contas dos Poderes estaduais e simetria federativa -


ADI 6981/SP.......................................................................................................................................................

4.21TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO..........................................................................................................................

Bens de informática e Zona Franca de Manaus - ADI 2399/AM....................................................................

5.DIREITO DA SAÚDE.............................................................................................................................................................

5.1VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA...............................................................................................

COVID-19: observância das decisões proferidas pelo STF em relação à


obrigatoriedade de vacinação - ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF............................................................................

6.DIREITO DO CONSUMIDOR..............................................................................................................................................

6.1CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO......................................................................................................

Normas estaduais sobre inclusão e exclusão de consumidores em cadastros de proteção


ao crédito - ADI 5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP...........................................................

7.DIREITO DO TRABALHO...................................................................................................................................................

7.1CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVO................................................................................................................

Ultratividade das cláusulas normativas de acordos e convenções coletivas - ADPF


323/DF................................................................................................................................................................

7.2DIREITO COLETIVO DO TRABALHO.................................................................................................................

Acordos e convenções coletivos: limitação ou afastamento de direitos trabalhistas e


horas “in itinere” - ARE 1121633/GO (Tema 1046 RG)..................................................................................

Dispensa em massa e intervenção sindical - RE 999435/SP (Tema 638 RG)..................................................

7.3PISO SALARIAL......................................................................................................................................................

Congelamento da base de cálculo para desindexação de piso salarial vinculado ao


valor do salário mínimo - ADPF 53 Ref-MC/PI; ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171
Ref-MC/MA........................................................................................................................................................

Piso salarial nacional para os profissionais da enfermagem - ADI 7222 MC-Ref/DF..................................

7.4REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA........................................................................................................

Débitos trabalhistas: índices de atualização monetária aplicáveis no âmbito da Justiça


do Trabalho - RE 1269353/DF (Tema 1191 RG)..............................................................................................

8.DIREITO ELEITORAL..........................................................................................................................................................

8.1CAMPANHA ELEITORAL......................................................................................................................................

Criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha - ADI 5795/DF..............................................

14

14
Forma de cálculo do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) - ADI
7058 MC/DF.......................................................................................................................................................

Prazo para o ajuizamento de representação que visa apurar condutas em desacordo


com as normas eleitorais relativas a arrecadação e gastos de recursos - ADI 4532/DF................................

8.2FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS...............................................................................................................................

Prazo para constituição e registro no TSE de partidos políticos e de federações


partidárias - ADI 7021/DF.................................................................................................................................

8.3MINIRREFORMA ELEITORAL..............................................................................................................................

Reunião de ações eleitorais sobre o mesmo fato para julgamento conjunto - ADI
5507/DF..............................................................................................................................................................

8.4PARTIDOS POLÍTICOS...........................................................................................................................................

Autonomia partidária: duração de mandato, prazo de vigência de órgãos provisórios e


anistia de multa - ADI 6230/DF........................................................................................................................

Fundo Partidário e Fundo Eleitoral: vedação de repasse de seus recursos - ADI


7214/DF..............................................................................................................................................................

8.5PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL.................................................................................................

Ampliação de gastos com publicidade institucional e princípio da anterioridade


eleitoral - ADI 7178/DF e ADI 7182/DF...........................................................................................................

8.6PROPAGANDA ELEITORAL..................................................................................................................................

Restrições à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação impressos e


na internet - ADI 6281/DF.................................................................................................................................

8.7REGISTRO DE CANDIDATURA............................................................................................................................

Reeleição ou recondução de membros de Mesa Diretora de Assembleias Legislativas -


ADI 6688/PR, ADI 6698/MS, ADI 6714/PR, ADI 7016/MS, ADI 6683/AP, ADI
6686/PE, ADI 6687/PI, ADI 6711/PI e ADI 6718/AP......................................................................................

9.DIREITO FINANCEIRO.......................................................................................................................................................

9.1AUTONOMIA ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA.............................................................................................

Lei de Diretrizes Orçamentárias: autonomia do Ministério Público estadual - ADI


7073/CE..............................................................................................................................................................

9.2RESPONSABILIDADE FISCAL.............................................................................................................................

Covid-19: prorrogação de benefício concedido para o enfrentamento da pandemia no


âmbito desportivo - ADI 7015/DF.....................................................................................................................

Lei estadual e concessão de benefício fiscal sem prévia estimativa de impacto


orçamentário e financeiro - ADI 6303/RR........................................................................................................

9.3FEDERALISMO FISCAL.........................................................................................................................................

Autonomia municipal e vinculação de parte do ICMS recebido pelo estado - ADI


2355/PR..............................................................................................................................................................
15

15
10.DIREITO PENAL..................................................................................................................................................................

10.1REINCIDÊNCIA.....................................................................................................................................................

Porte de drogas para consumo próprio e reincidência - RHC 178512/SP......................................................

11.DIREITO PREVIDENCIÁRIO............................................................................................................................................

11.1SALÁRIO DE BENEFÍCIO....................................................................................................................................

Constitucionalidade da “revisão da vida toda”: possibilidade do segurado do INSS


optar pela regra mais favorável para o cálculo de seu benefício previdenciário - RE
1276977/DF (Tema 1102 RG)............................................................................................................................

12. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.......................................................................................................................................

12.1BLOQUEIO DE VALORES....................................................................................................................................

Satisfação de créditos trabalhistas mediante bloqueio de recursos públicos repassados


pelo FNDE - ADPF 988/SC...............................................................................................................................

12.2EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA..................................................................................................

RPV: valor previsto no ADCT e fixação de quantia referencial inferior por ente
federado - RE 1359139/CE................................................................................................................................

12.3FAZENDA PÚBLICA.............................................................................................................................................

Execução fiscal: antecipação de pagamento de despesa com diligência de oficial de


justiça pela Fazenda Pública - ADI 5969/PA....................................................................................................

12.4IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA...................................................................................................................

Ação de improbidade administrativa: legitimidade ativa concorrente - ADI 7042/DF e


ADI 7043/DF......................................................................................................................................................

12.5LEGITIMIDADE RECURSAL...............................................................................................................................

Procuradorias municipais: legitimidade para interpor recurso em ação de controle de


constitucionalidade - ARE 873804 AgR-segundo-ED-EDv-AgR/RJ...............................................................

12.6PROCESSOS COLETIVOS....................................................................................................................................

Participação obrigatória de empregado em acordo celebrado no âmbito de ação civil


pública - RE 629647/RR (Tema 1004 RG)........................................................................................................

13.DIREITO PROCESSUAL PENAL......................................................................................................................................

13.1COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO......................................................................................

Competência penal originária do STF e “mandatos cruzados” - Inq 4342 QO/PR.......................................

Foro por prerrogativa de função: ampliação do rol de autoridades na esfera estadual -


ADI 6511/RR......................................................................................................................................................

13.2EXECUÇÃO PENAL..............................................................................................................................................

Execução penal: estudo a distância e remição da pena - RHC 203546/PR....................................................


16

16
13.3FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.......................................................................................................

Competência dos Tribunais para supervisionar investigações contra autoridades com


foro por prerrogativa de função - ADI 7083/AP...............................................................................................

13.4INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA.......................................................................................................................

Interceptação telefônica e prorrogações sucessivas - RE 625263/PR (Tema 661 RG)...................................

13.5INVESTIGAÇÃO PENAL......................................................................................................................................

Autorização para o prosseguimento de investigações contra magistrados - ADI


5331/MG.............................................................................................................................................................

13.6LEI MARIA DA PENHA........................................................................................................................................

Lei Maria da Penha e afastamento do agressor por delegados e policiais - ADI


6138/DF..............................................................................................................................................................

13.7NULIDADES..........................................................................................................................................................

Delatado e direito de falar por último - HC 166373/PR...................................................................................

13.8PROVAS..................................................................................................................................................................

Procedimento para reconhecimento de pessoas - RHC 206846/SP.................................................................

13.9PRISÃO PREVENTIVA..........................................................................................................................................

Prisão preventiva: prazo nonagesimal para a sua revisão e respectiva competência


jurisdicional - ADI 6581/DF e ADI 6582/DF...................................................................................................

13.10PRISÃO TEMPORÁRIA......................................................................................................................................

Fixação de condições obrigatórias e cumulativas para a decretação da prisão


temporária - ADI 3360/DF e ADI 4109/DF......................................................................................................

13.11TERMO CIRCUNSTANCIADO...........................................................................................................................

Competência para a lavratura de termo circunstanciado - ADI 5637/MG......................................................

14.DIREITO TRIBUTÁRIO......................................................................................................................................................

14.1CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS.................................................................................................................................

Artigo 149, § 2º, III, “a”, da CF: rol exemplificativo - RE 1317786/PE (Tema 1193 RG)
.............................................................................................................................................................................

PIS e COFINS: parcela não dedutível da base de cálculo - RE 1049811/SE (Tema 1024
RG)......................................................................................................................................................................

Majoração da base de cálculo de contribuição social por ato infralegal - RE


1381261/RS (Tema 1223 RG)............................................................................................................................

Regime não cumulativo da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins - RE 841979/PE


(Tema 756 RG)...................................................................................................................................................

Salário-educação: critério para a distribuição da arrecadação - ADPF 188/DF...........................................

17

17
14.2FATO GERADOR...................................................................................................................................................

Constitucionalidade da chamada “norma geral antielisão” - ADI 2446/DF..................................................

14.3ICMS........................................................................................................................................................................

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação superiores às das operações em geral - ADI 7117/SC e ADI 7123/DF.....................................

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação em percentuais superiores aos da alíquota geral do tributo - ADI
7111/PA, ADI 7113/TO, ADI 7116/MG, ADI 7119/RO e ADI 7122/GO...........................................................

Operacionalização da substituição tributária do ICMS por meio de lei ordinária


estadual - ADI 5702/RS......................................................................................................................................

Redução de alíquota do ICMS para cerveja à base de mandioca - ADI 6152/MA..........................................

Remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais julgados inconstitucionais


- RE 851421/DF (Tema 817 RG).......................................................................................................................

14.4IPVA.........................................................................................................................................................................

IPVA: contagem de prazos para atendimento dos princípios da anterioridade anual e


nonagesimal - ADI 5282/PR..............................................................................................................................

IPVA: isenção fiscal e tratamento não isonômico - ADI 5268/MG.................................................................

IPVA: isenção para veículos adquiridos mediante arrendamento mercantil e utilizados


por taxistas - ADI 2298/RS.................................................................................................................................

14.5IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.................................................................................................................................

Caracterização das entidades religiosas como instituições de assistência social para


fins de imunidade tributária - RE 630790/SP (Tema 336 RG).........................................................................

Imunidade recíproca de sociedade de economia mista prestadora exclusiva de serviço


público essencial - ACO 3410/SE......................................................................................................................

14.6IPI.............................................................................................................................................................................

Incidência de IPI sobre bacalhau seco e salgado e questão infraconstitucional - RE


627280/RJ (Tema 502 RG).................................................................................................................................

14.7IR.............................................................................................................................................................................

Pensão alimentícia e incidência do imposto de renda - ADI 5422/DF............................................................

Entidades fechadas de previdência complementar e incidência do IRRF e da CSLL -


RE 612686/SC (Tema 699 RG)..........................................................................................................................

14.8ISS............................................................................................................................................................................

Incidência do ISS sobre prestação de serviço de inserção de materiais de propaganda e


publicidade em qualquer meio - ADI 6034/RJ..................................................................................................

14.9ITCMD.....................................................................................................................................................................

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Incidência de ITCMD em relação a inventários e arrolamentos processados no exterior
- ADI 6828/AL....................................................................................................................................................

14.10PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL..............................................................................................

Art. 38 da Lei 9.430/1996: representação fiscal para fins penais e crimes contra a
Previdência Social - ADI 4980/DF....................................................................................................................

14.11TAXAS...................................................................................................................................................................

Cobrança de taxa de segurança para eventos - ADI 2692/DF.........................................................................

Fundo de Fiscalização das Telecomunicações e poder de polícia - ADI 4039/DF..........................................

Instituição de taxas de fiscalização em atividades inerentes ao setor de


telecomunicações - RE 776594/SP (Tema 919 RG)..........................................................................................

Parâmetros para o cálculo das custas judiciais e emolumentos - ADI 2846/TO.............................................

Taxas de fiscalização da atividade de mineração - ADI 4785/MG, ADI 4786/PA e ADI


4787/AP...............................................................................................................................................................

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19
1. DIREITO ADMINISTRATIVO

1.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL

Atividade profissional de despachantes: competência legislativa para regulamentação - ADI


6740/RN e ADI 6738/GO

ODS: 16

Resumo:

É privativa da União a competência para legislar sobre condições para o exercício da profissão de
despachante (CF/1988, art. 22, XVI), de modo que a disciplina legal dos temas relacionados à sua
regulamentação também deve ser estabelecida pela União.

Ao analisar o teor das leis estaduais impugnadas, verifica-se que, embora possam ter sido editadas com
o objetivo de determinar as regras de caráter administrativo sobre a atuação dos despachantes autônomos e
documentalistas junto aos órgãos de trânsito, acabaram por regulamentar a atividade profissional dessa categoria,
em afronta às regras de repartição de competências constitucionalmente previstas.

Nesse contexto, este Tribunal já declarou a inconstitucionalidade de normas e decretos estaduais


análogos e consolidou jurisprudência no sentido de reconhecer a competência privativa da União para legislar
sobre a matéria1.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedentes as ações para declarar a
inconstitucionalidade formal da Lei 10.161/2017 do Estado do Rio Grande do Norte, bem como da Lei
15.043/2004 e, por arrastamento, do Decreto 6.227/2005, ambos do Estado de Goiás.

ADI 6740/RN, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 21.11.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1076)

ADI 6738/GO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 21.11.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1076)

1.2 AGÊNCIAS REGULADORAS

ANP e poder normativo de regulação - ADI 7031/DF

ODS: 7

Resumo:

É constitucional a instituição do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis


(PMQC) por normativo da Agência Nacional do Petróleo (ANP), na medida em que o ato regulatório
apresenta correspondência direta com as diretrizes e os propósitos conferidos por sua lei instituidora.

1Precedentes citados: ADI 4387; ADI 6742; ADI 5251 e ADI 5412.

20

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As agências reguladoras, assim como os Poderes, instituições e órgãos do poder público, submetem-se
ao princípio da legalidade (CF/1988, art. 37, caput)2. No caso, as normas técnicas emanadas pela Resolução
790/2016 da ANP — que instituiu o PMQC — inserem-se no espaço de conformação previsto no art. 8º da Lei
9.478/19973, que atribui à agência reguladora a implementação da política nacional de petróleo, gás natural e
biocombustíveis com ênfase na proteção dos interesses dos consumidores quanto a preço, qualidade e oferta dos
produtos.

Ademais, a Resolução não transferiu a terceiros parcela da competência fiscalizatória que é própria da
ANP, mas conferiu tratamento isonômico na atribuição dos custos do monitoramento entre todos os agentes
econômicos da cadeia de comercialização de combustíveis, que, por auferirem os lucros da atividade, também
possuem o dever de assegurar perante o consumidor a qualidade dos produtos oferecidos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, nesta
extensão, a julgou improcedente.

ADI 7031/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1062)

Atualização do rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar - ADI 7088/DF e ADI


7183/DF

ODS: 3

Resumo:

São constitucionais os prazos para conclusão dos procedimentos administrativos de atualização do


rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar (Lei 9.656/1998, art. 10, §§ 7º e 8º), por inexistir
incompatibilidade entre a sua definição e a urgência dos pacientes na obtenção de um tratamento 4.

2Precedentes citados: ADI 4093; ADI 4954; RMS 28487; e ADI 4874.

3Lei 9.478/1997: “Art. 8º. A ANP terá como finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades
econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, cabendo-lhe: I - implementar , em sua
esfera de atribuições, a política nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis, contida na política energética nacional,
nos termos do Capítulo I desta Lei, com ênfase na garantia do suprimento de derivados de petróleo, gás natural e seus
derivados, e de biocombustíveis, em todo o território nacional, e na proteção dos interesses dos consumidores quanto a preço,
qualidade e oferta dos produtos; (...) XVII - exigir dos agentes regulados o envio de informações relativas às operações de
produção, importação, exportação, refino, beneficiamento, tratamento, processamento, transporte, transferência,
armazenagem, estocagem, distribuição, revenda, destinação e comercialização de produtos sujeitos à sua regulação;”

4Lei 9.656/1998: “Art. 10. É instituído o plano-referência de assistência à saúde, com cobertura assistencial médico-
ambulatorial e hospitalar, compreendendo partos e tratamentos, realizados exclusivamente no Brasil, com padrão de
enfermaria, centro de terapia intensiva, ou similar, quando necessária a internação hospitalar, das doenças listadas na
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial de
Saúde, respeitadas as exigências mínimas estabelecidas no art. 12 desta Lei, exceto: (...) § 7º A atualização do rol de
procedimentos e eventos em saúde suplementar pela ANS será realizada por meio da instauração de processo administrativo,
a ser concluído no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data em que foi protocolado o pedido, prorrogável por 90
(noventa) dias corridos quando as circunstâncias o exigirem. § 8º Os processos administrativos de atualização do rol de
procedimentos e eventos em saúde suplementar referente aos tratamentos listados nas alíneas c do inciso I e g do inciso II
do caput do art. 12 desta Lei deverão ser analisados de forma prioritária e concluídos no prazo de 120 (cento e vinte) dias,
contado da data em que foi protocolado o pedido, prorrogável por 60 (sessenta) dias corridos quando as circunstâncias o
exigirem.”

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Com efeito, a avaliação necessária à decisão pela incorporação de novos tratamentos demanda pesquisa,
estudo das evidências, realização de reuniões técnicas, oitiva dos interessados, de modo que não se afiguram
irrazoáveis os prazos assinados para conclusão da apreciação das propostas.

O formato adotado para a composição da Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e


Eventos em Saúde Suplementar (Lei 9.656/1998, art. 10-D, §§ 1º, 2º e 4º) não fere a Constituição Federal,
ante a ausência da alegada exclusão de participantes usuários de planos de saúde ou discriminação de
qualquer natureza5.

De fato, a Resolução Normativa 474/2021, que define a composição desse órgão, garante a presença de
representantes de entidades de defesa do consumidor, de associações de usuários de planos de saúde e de
organismos de proteção dos interesses das pessoas com deficiências e patologias especiais.

Ressalte-se que a exigência de que os membros indicados tenham formação que lhes permita
compreender as evidências científicas apresentadas, decorre da natureza técnica do procedimento de atualização
do rol.

São constitucionais os critérios a serem considerados no relatório elaborado pela referida


Comissão (Lei 9.656/1998, art. 10-D, § 3º), uma vez que não há submissão do direito à saúde à interesses
econômicos e financeiros6.

A avaliação econômica contida no processo de atualização do rol pela Agência Nacional de Saúde
Suplementar e a análise do impacto financeiro advindo da incorporação dos tratamentos demandados são
necessárias para garantir a manutenção da sustentabilidade econômico-financeira do setor de planos de saúde.

Outrossim, não se trata de sujeitar o direito à saúde a interesses econômicos e financeiros, mas sim de
considerar tais aspectos para garantir que os usuários de planos particulares continuem a ter acesso ao serviço e
às prestações médicas que ele proporciona.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu parcialmente das ações diretas, para
julgar improcedentes os pedidos de declaração de inconstitucionalidade do art. 10, §§ 7º e 8º, e do art. 10-D da
Lei 9.656/1998, com a redação dada pela Lei 14.307/2022.

ADI 7088/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 9.11.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1075)

ADI 7183/DF relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 9.11.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1075)

5Lei 9.656/1998: “Art. 10-D. Fica instituída a Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde
Suplementar à qual compete assessorar a ANS nas atribuições de que trata o § 4º do art. 10 desta Lei. § 1º O funcionamento e
a composição da Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar serão estabelecidos em
regulamento. § 2º A Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar terá composição e
regimento definidos em regulamento, com a participação nos processos de: I - 1 (um) representante indicado pelo Conselho
Federal de Medicina; II - 1 (um) representante da sociedade de especialidade médica, conforme a área terapêutica ou o uso da
tecnologia a ser analisada, indicado pela Associação Médica Brasileira; III - 1 (um) representante de entidade representativa
de consumidores de planos de saúde; IV - 1 (um) representante de entidade representativa dos prestadores de serviços na
saúde suplementar; V - 1 (um) representante de entidade representativa das operadoras de planos privados de assistência à
saúde; VI - representantes de áreas de atuação profissional da saúde relacionadas ao evento ou procedimento sob análise. (...)
§ 4º Os membros indicados para compor a Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde
Suplementar, bem como os representantes designados para participarem dos processos, deverão ter formação técnica
suficiente para compreensão adequada das evidências científicas e dos critérios utilizados na avaliação.”

6Lei 9.656/1998: “Art. 10-D (...) § 3º A Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde
Suplementar deverá apresentar relatório que considerará: I - as melhores evidências científicas disponíveis e possíveis sobre a
eficácia, a acurácia, a efetividade, a eficiência, a usabilidade e a segurança do medicamento, do produto ou do procedimento
analisado, reconhecidas pelo órgão competente para o registro ou para a autorização de uso; II - a avaliação econômica
comparativa dos benefícios e dos custos em relação às coberturas já previstas no rol de procedimentos e eventos em saúde
suplementar, quando couber; e III - a análise de impacto financeiro da ampliação da cobertura no âmbito da saúde
suplementar.”

22

22
1.3 AGENTES PÚBLICOS

Alteração de escolaridade para o cargo de perito técnico de polícia por meio de lei estadual
- ADI 7081/BA

ODS: 16

Resumo:

A exigência de diploma de nível superior, promovida por legislação estadual 7, para o cargo de
perito técnico de polícia - que anteriormente tinha o nível médio como requisito de escolaridade - não viola
o princípio do concurso público (CF/1988, art. 37, II) 8 nem as normas constitucionais sobre competência
legislativa (CF/1988, arts. 22, I; 24, XVI e § 4º)9.
Esta Corte já se pronunciou no sentido da constitucionalidade da exigência de nível superior para cargos
que anteriormente tinham o nível médio como requisito de escolaridade, pois trata-se de reestruturação da
Administração, e não provimento derivado por ascensão10 (4).
Ademais, a legislação estadual, além de não tratar de tema de competência legislativa privativa da
União, observou as determinações da Lei federal 12.030/2009.
Com efeito, a designação “perito técnico de polícia” em nada fere a exclusividade do status dos peritos
oficiais de natureza criminal, listados na referida lei federal.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido,
reconhecendo a constitucionalidade do art. 2º, III, Anexo III, 4ª Linha, da Lei 7.146/1992 e do art. 46 da Lei
11.370/2009 do Estado da Bahia.

ADI 7081/BA, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 21.9.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1074)

1.4 APOSENTADORIA

Inexigência de exercício por cinco anos na mesma classe para fins de cálculo de
aposentadoria - RE 1322195/SP (Tema 1207 RG)

7Lei 11.370/2009 do Estado da Bahia: “Art. 46- Para o ingresso nos cargos da carreira de Delegado de Polícia e demais
carreiras da Polícia Civil do Estado da Bahia será exigido diploma de conclusão de curso superior devidamente registrado no
Ministério da Educação.”

8CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”

9CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...) Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: (...) XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. (...) § 4º A
superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”

10Precedentes citados: ADI 1561 MC; ADI 4303 e ADI 5406

23

23
Tese fixada:

“A promoção por acesso de servidor a classe distinta na carreira não representa ascensão a cargo
diverso daquele em que já estava efetivado, de modo que, para fins de aposentadoria, o prazo mínimo de
cinco anos no cargo efetivo, exigido pelo artigo 40, § 1º, inciso III, da Constituição Federal, na redação da
Emenda Constitucional 20/1998, e pelos artigos 6º da Emenda Constitucional 41/2003 e 3º da Emenda
Constitucional 47/2005, não recomeça a contar pela alteração de classe.”

Resumo:

Para a aposentadoria voluntária de servidor público, o prazo mínimo de cinco anos no cargo em
que se der a aposentadoria refere-se ao cargo efetivo ocupado pelo servidor e não à classe na carreira
alcançada mediante promoção.

Na hipótese, a promoção do servidor à classe posterior dentro do mesmo cargo não caracteriza
provimento originário, mas sim derivado. Logo, quando a carreira for organizada em classes, o cálculo dos
proventos deve ter por base a remuneração percebida na mesma classe ocupada quando da aposentadoria 11.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1207 RG) e no mérito, por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria para desprover o recurso extraordinário.

RE 1322195/SP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 1º.4.2021 (INF
1049)

1.5 CARGOS EM COMISSÃO

Tribunal de Contas estadual: requisitos constitucionais para a criação de cargos em


comissão - ADI 6655/SE

Resumo:

É inconstitucional a criação de cargos em comissão sem a devida observância dos requisitos


indispensáveis fixados pelo STF12.

A Constituição Federal reservou à Administração Pública regime jurídico minucioso na conformação do


interesse público com a finalidade de resguardar a isonomia e a eficiência na formação de seus quadros de
pessoal. Os cargos em comissão, por sua vez, representam exceção à regra.

11Precedentes citados: ARE 1.248.344 AgR; RE 1.255.987 AgR; AI 813.763 AgR; RE 1.337.044 AgR.

12Tema 1010 da RG: “a) A criação de cargos em comissão somente se justifica para o exercício de funções de direção, chefia
e assessoramento, não se prestando ao desempenho de atividades burocráticas, técnicas ou operacionais; b) tal criação deve
pressupor a necessária relação de confiança entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado; c) o número de cargos
comissionados criados deve guardar proporcionalidade com a necessidade que eles visam suprir e com o número de
servidores ocupantes de cargos efetivos no ente federativo que os criar; e d) as atribuições dos cargos em comissão devem
estar descritas, de forma clara e objetiva, na própria lei que os instituir.”

24

24
Nesse contexto, a jurisprudência do STF é assertiva quanto às condições para a criação de cargos em
comissão13. No julgamento do RE 1.041.210 (Tema 1010 RG), o Tribunal cuidou de consolidar os critérios
cumulativos que devem nortear o controle de constitucionalidade das leis que os criam.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação, com eficácia
ex nunc a contar da publicação da ata de julgamento.

ADI 6655/SE, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 6.5.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1053)

1.6 CONCURSO PÚBLICO

Isenção da taxa de inscrição em concurso público a servidores públicos estaduais - ADI


5818/CE e ADI 3918/SE

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que isenta servidores públicos da taxa de inscrição em concursos
públicos promovidos pela Administração Pública local, privilegiando, sem justificativa razoável para
tanto, um grupo mais favorecido social e economicamente.

O STF compreende o concurso público como mecanismo que proporciona a realização concreta dos
princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade, não admitindo discrímen que, ao invés de fomentar a
igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos, amplia a desigualdade entre os possíveis candidatos 14.
Nesse contexto, esta Corte já proclamou a constitucionalidade de normas que, com fulcro na ideia de igualdade
material, instituíram benefício em favor de grupo social desfavorecido15.

No caso, as normas impugnadas ─ ao fundamento de incentivarem a permanência dos servidores


públicos nessa condição, valorizando-os de modo a concretizar o princípio da eficiência ─ se mostram
discriminatórias, pois, de forma anti-isonômica, favorecem a categoria em detrimento de um grupo de pessoas
que, por insuficiência de recursos, não conseguiria arcar com os custos da inscrição, restringindo,
consequentemente, o acesso à via do concurso público.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em julgamentos autônomos, julgou procedentes
as ações diretas para declarar a inconstitucionalidade (i) do parágrafo único do art. 4º da Lei 11.449/1988,
inserido pela Lei 11.551/1989, ambas do Estado do Ceará 16; e (ii) do art. 6º, III, “d”, da Lei 2.778/1989, do
Estado do Sergipe17.

ADI 5818/CE, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli,
julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1054)

13Precedentes citados: ADI 3.233; ADI 3.174; ADI 4.867; ADI 4.125; ADI 5.542; e RE 719.870 (Tema 670 RG).

14Precedentes citados: ADI 1350; ADI 2949; ADI 2364; ADI 3522; e ADI 5776.

15Precedentes citados: ADI 2177; e ADPF 186.

16Lei 11.449/1988 do Estado do Ceará: “Art. 4º (...) Parágrafo único. Os servidores públicos estaduais são isentos de
pagamento da taxa de inscrição em qualquer concurso de admissão no serviço público promovido pela Administração Pública
Estadual, Direta, Indireta e Fundacional.”

25

25
ADI 3918/SE, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1054)

1.7 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Empresas estatais e transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão


compartilhada - ADI 1846/SC

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Executivo e às empresas públicas e de economia
mista, cujo controle acionário pertença ao estado, de assinarem contratos ou outros instrumentos legais
congêneres que viabilizem a transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão compartilhada.

A lei estadual impugnada, de iniciativa parlamentar, invade a competência privativa do chefe do Poder
Executivo estadual para dispor sobre a organização da Administração Pública (CF/1988, art. 61, § 1º, II, e), bem
como a competência da União para legislar sobre direito civil e comercial (CF/1988, art. 22, I), na medida em
que restringe o âmbito de liberdade negocial de empresas públicas e sociedades de economia mista.

Por outro lado, a norma desobedece ao disposto no art. 173, § 1º, I a V, da CF/1988, no ponto em que
preconiza caber a lei federal disciplinar o “Estatuto da Empresa Pública”, observado o regime jurídico próprio
das empresas privadas, quanto a obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias 18.

Assim, a celebração de negócios jurídicos deve ser analisada individualmente e à luz da Lei
13.303/2016, sendo inviável que, por meio de lei estadual, de iniciativa parlamentar, se objetive proibir a
celebração de contratos com específicas disposições às empresas públicas e sociedades de economia mista, cujo
regime jurídico é único, de âmbito nacional19.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para,
confirmando os efeitos da medida cautelar concedida, declarar a inconstitucionalidade da Lei 10.760/1998 do
Estado de Santa Catarina20.

ADI 1846/SC, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 21.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1073)

17Lei 2.778/1989 do Estado de Sergipe: “Art. 6º: São também excluídas do campo de incidência das taxas estaduais, por
isenção: (...) III - a prática de atos e expedição de documentos relativos: (...) d) a inscrição de servidores públicos da
administração direta e indireta em qualquer concurso público promovido por entidade pública estadual de qualquer dos
poderes;”

18CF/1988: “Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços,
dispondo sobre: I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade; II - a sujeição ao regime jurídico
próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; III -
licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da administração pública; IV - a
constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários; V - os
mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores.”

19Precedente citado: ADI 2296.

26

26
Transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de serviços
públicos - ADI 2946/DF

Resumo:

É constitucional a transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de


serviços públicos, mediante anuência do poder concedente (Lei 8.987/1995, art. 27)21.

Nessas hipóteses, a base objetiva do contrato continua intacta. Permanecem o mesmo objeto contratual,
as mesmas obrigações contratuais e a mesma equação econômico-financeira. O que ocorre é apenas a sua
modificação subjetiva, seja pela substituição do contratado, seja em razão da sua reorganização empresarial.

Em nosso sistema jurídico, o que interessa à Administração é, sobretudo, a seleção da proposta mais
vantajosa, independentemente da identidade do particular contratado, ou dos atributos psicológicos ou subjetivos
de que disponha. No tocante ao particular contratado, basta que seja pessoa idônea, ou seja, que tenha
comprovada capacidade para cumprir as obrigações assumidas no contrato, o que também é aferido por critérios
objetivos e preestabelecidos.

Ademais, considerando a dinâmica peculiar e complexa das concessões públicas, é natural que o próprio
regime jurídico das concessões contenha institutos que permitam aos concessionários se ajustarem às
adversidades da execução contratual com a finalidade de permitir a continuidade da prestação dos serviços
públicos e, sobretudo, a sua prestação satisfatória ou adequada. A retomada dos serviços pela Administração
pode se mostrar demasiadamente onerosa para o poder público concedente e uma nova licitação, além de
implicar custos altíssimos, demanda tempo para seu necessário planejamento e, ao final, pode resultar em tarifas
mais caras para os usuários.

Por fim, ressalta-se que as normas constitucionais que estipulam a obrigatoriedade de licitação na
outorga inicial da prestação de serviços públicos a particulares não definem os exatos contornos do dever de
licitar (CF/1988, arts. 37, XXI, e 175, caput) 22. Cabe, portanto, ao legislador ordinário ampla liberdade quanto à
sua conformação à vista da dinamicidade e da variedade das situações fáticas a serem abrangidas pela respectiva
normatização23.

20Lei 10.760/1998 do Estado de Santa Catarina: “Art. 1º É vedado ao Poder Executivo, às empresas públicas e de economia
mista cujo controle acionário pertença ao Estado de Santa Catarina, assinarem contratos ou outros instrumentos legais
congêneres que em suas cláusulas conste a transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão compartilhada, das
mesmas. Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.”

21Lei 8.987/1995: “Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia anuência do
poder concedente implicará a caducidade da concessão. §1º Para fins de obtenção da anuência de que trata o caput deste
artigo o pretendente deverá: I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e
fiscal necessárias à assunção do serviço; e II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.”

22CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
obrigações. (...) Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.”

23Precedentes citados: ADI 5841 MC; ADI 2452; ADI 4829 e ADI 5942.

27

27
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado em
ação direta.

ADI 2946/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às
23:59 (INF 1046)

1.8 CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA

Contratação temporária: vacância de cargo público efetivo e educação pública - ADPF


915/MG

ODS: 4 e 16

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que, de maneira genérica e abrangente, permite a convocação


temporária de profissionais da área da educação sem prévio vínculo com a Administração Pública para
suprir vacância de cargo público efetivo.

O Plenário da Corte deliberou que a medida viola a regra constitucional do concurso público 24, ao
permitir a contratação de servidores para atividades absolutamente previsíveis, permanentes e ordinárias do
Estado, autorizando que sucessivas contratações temporárias perpetuem indefinidamente a precarização de
relações trabalhistas no âmbito da Administração Pública25.

Além disso, não basta que a lei autorize a contratação de pessoal por prazo limitado para conformar-se
ao texto constitucional, uma vez que a excepcionalidade das situações emergenciais afasta a possibilidade de que
elas, de transitórias, se transmudem em permanentes.

Nesse contexto, o Tribunal já definiu ser necessário para a contratação temporária que: a) os casos
excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja pré-determinado; c) a necessidade seja
temporária; e d) o interesse público seja excepcional. Quanto à contratação destinada a suprir necessidade
temporária que exsurge da vacância do cargo efetivo, ela há de durar apenas o tempo necessário para a realização
do próximo concurso público26.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
não recepção pela CF/88 dos dispositivos legais impugnados, além da inconstitucionalidade, por arrastamento,
dos atos normativos infralegais que guardam inteira dependência com aqueles, modulando os efeitos da decisão
no intuito de preservar os contratos temporários firmados até a conclusão do julgamento de mérito.

ADPF 915/MG, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1055)

24CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (...) IX – a lei
estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público;”

25Precedente citado: ADI 5267.

26Precedente citado: ADI 3649.

28

28
1.9 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Nova Lei de Improbidade Administrativa e eficácia temporal - ARE 843989/PR (Tema 1.199
RG)

ODS: 16

Tese fixada:

“É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de


improbidade administrativa, exigindo-se — nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA — a presença do elemento
subjetivo — DOLO; 2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 — revogação da modalidade culposa do ato
de improbidade administrativa —, é IRRETROATIVA, em virtude do artigo 5º, inciso XXXVI, da
Constituição Federal, não tendo incidência em relação à eficácia da coisa julgada; nem tampouco durante
o processo de execução das penas e seus incidentes; 3) A nova Lei 14.230/2021 aplica-se aos atos de
improbidade administrativa culposos praticados na vigência do texto anterior da lei, porém sem
condenação transitada em julgado, em virtude da revogação expressa do texto anterior; devendo o juízo
competente analisar eventual dolo por parte do agente; 4) O novo regime prescricional previsto na Lei
14.230/2021 é IRRETROATIVO, aplicando-se os novos marcos temporais a partir da publicação da lei.”

Resumo:

A partir do advento da Lei 14.230/2021 (nova Lei de Improbidade Administrativa – LIA) — cuja
publicação e entrada em vigor ocorreu em 26.10.2021 —, deixou de existir, no ordenamento jurídico, a
tipificação para atos culposos de improbidade administrativa.

A alteração promovida pelo legislador no texto original da Lei 8.429/1992, no sentido de suprimir a
modalidade culposa do ato de improbidade administrativa, é clara e plenamente válida, pois a própria
Constituição Federal delega à legislação ordinária a forma e tipificação dos atos ímprobos, assim como a
gradação das sanções constitucionalmente estabelecidas (CF/1988, art. 37, § 4º).

Nada obstante, com o advento da nova lei, o agente público que culposamente causar dano ao erário,
embora não mais responda por ato de improbidade administrativa, poderá responder civil e administrativamente
pelo ato ilícito.

Por força do art. 5º, XXXVI, da CF/198827, a revogação da modalidade culposa do ato de
improbidade administrativa, promovida pela Lei 14.230/2021, é irretroativa, de modo que os seus efeitos
não têm incidência em relação à eficácia da coisa julgada, nem durante o processo de execução das penas e
seus incidentes.

O princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica (CF/1988, art. 5º, XL) não tem aplicação
automática para a responsabilidade por atos ilícitos civis de improbidade administrativa, por ausência de
expressa previsão legal e sob pena de desrespeito à constitucionalização das regras rígidas de regência da
Administração Pública e responsabilização dos agentes públicos corruptos com flagrante desrespeito e
enfraquecimento do direito administrativo sancionador.

Referido princípio baseia-se em particularidades do direito penal, o qual está vinculado à liberdade do
criminoso (princípio do favor libertatis), fundamento inexistente no direito administrativo sancionador28. Trata-

27CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”

28Precedente citado: ARE 1019161 AgR.

29

29
se de regra de exceção que, como tal, deve ser interpretada restritivamente, prestigiando-se a regra geral da
irretroatividade da lei e a preservação dos atos jurídicos perfeitos, especialmente porque, no âmbito da jurisdição
civil, prevalece o princípio tempus regit actum29.

Incide a Lei 14.230/2021 em relação aos atos de improbidade administrativa culposos praticados
na vigência da Lei 8.429/1992, desde que não exista condenação transitada em julgado, cabendo ao juízo
competente o exame da ocorrência de eventual dolo por parte do agente.

Diante da revogação expressa do texto legal anterior, não se admite a continuidade de uma investigação,
uma ação de improbidade, ou uma sentença condenatória por improbidade com base em uma conduta culposa
não mais tipificada legalmente.

Entretanto, a incidência dos efeitos da nova lei aos fatos pretéritos não implica a extinção automática
das demandas, pois deve ser precedida da verificação, pelo juízo competente, do exato elemento subjetivo do
tipo: se houver culpa, não se prosseguirá com o feito; se houver dolo, prosseguir-se-á. Essa medida é necessária
porque, na vigência da Lei 8.429/1992, como não se exigia a definição de dolo ou culpa, muitas vezes a
imputação era feita de modo genérico, sem especificar qual era o elemento subjetivo do tipo.

Nesse contexto, todos os atos processuais até então praticados são válidos, inclusive as provas
produzidas, as quais poderão ser compartilhadas no âmbito disciplinar e penal, assim como a ação poderá ser
utilizada para fins de ressarcimento ao erário.

Os prazos prescricionais previstos na Lei 14.230/2021 30 não retroagem, sendo aplicáveis a partir
da publicação do novo texto legal (26.10.2021).

Isso se dá em respeito ao ato jurídico perfeito e em observância aos princípios da segurança jurídica, do
acesso à Justiça e da proteção da confiança, garantindo-se a plena eficácia dos atos praticados validamente antes
da alteração legislativa.

Com efeito, a inércia nunca poderá ser caracterizada por uma lei futura que, diminuindo os prazos
prescricionais, passe a exigir o impossível, isto é, que, retroativamente, o poder público — que foi diligente e
atuou dentro dos prazos à época existentes — cumpra algo até então inexistente 31. Por outro lado, a teor do que
decidido pela Corte no Tema 897 de repercussão geral, permanecem imprescritíveis as ações de ressarcimento ao
erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na LIA 32.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.199 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso extraordinário para extinguir a ação, e, por maioria, acompanhou os
fundamentos do voto do ministro Alexandre de Moraes (relator). Vencidos, parcialmente e nos termos de seus

29Precedentes citados: RE 415454 e RE 550910 AgR.

30Lei 8.429/1992, na redação da Lei 14.230/2021: “Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que
cessou a permanência. (...) § 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se: I - pelo ajuizamento da
ação de improbidade administrativa; II - pela publicação da sentença condenatória; III - pela publicação de decisão ou
acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condenatória ou que reforma sentença de
improcedência; IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de Justiça que confirma acórdão
condenatório ou que reforma acórdão de improcedência; V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acórdão de improcedência. § 5º Interrompida a prescrição, o
prazo recomeça a correr do dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste artigo. (...)”

31Precedentes citados: RE 1210551 AgR; RE 1244519 AgR; e RE 1243415 AgR-quarto.

32Precedente citado: RE 852475 (Tema 897 RG).

30

30
respectivos votos, os ministros André Mendonça, Nunes Marques, Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber,
Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.

ARE 843989/PR, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 18.8.2022 (INF
1065)

1.10 LICENÇAS E AFASTAMENTOS

Licença à gestante e à adotante para militares das Forças Armadas - ADI 6603/DF

ODS: 3, 5, 10 e 16

Resumo:

É inconstitucional ato normativo que, ao disciplinar a licença maternidade no âmbito das Forças
Armadas, estabelece prazos distintos de afastamento com fundamento na diferenciação entre a
maternidade biológica e a adotiva, bem como em função da idade da criança adotada.

A Constituição Federal não permite tratamento desigual à mãe biológica e à mãe adotiva, razão pela
qual ambas possuem o direito à licença maternidade nas mesmas condições, dada a prevalência do princípio do
superior interesse da criança.

Esse é o entendimento consolidado pelo Tribunal no julgamento do RE 778889/PE (Tema 782 da


sistemática da repercussão geral), reafirmado recentemente no julgamento da ADI 6.600/TO, oportunidade na
qual norma de conteúdo similar ao ora impugnado foi declarada inconstitucional 33.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 3º, caput, § 1º e § 2º, da Lei 13.109/201534.

ADI 6603/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1067)

1.11 PROCESSO ADMINISTRATIVO

Processo administrativo e princípio da publicidade - ADI 5371/DF

33Precedentes citados: RE 778889 (Tema 782 RG) e ADI 6600.

34Lei 13.109/2015: “Art. 3º À militar que adotar ou obtiver a guarda judicial de criança de até 1 (um) ano de idade serão
concedidos 90 (noventa) dias de licença remunerada. § 1º No caso de adoção ou guarda judicial de criança com mais de 1
(um) ano de idade, o prazo de que trata o caput deste artigo será de 30 (trinta) dias. § 2º Poderá ser concedida prorrogação de
45 (quarenta e cinco) dias à militar de que trata o caput e de 15 (quinze) dias à militar de que trata o § 1º deste artigo, nos
termos de programa instituído pelo Poder Executivo federal que garanta a prorrogação.”

31

31
Tese fixada:

“Os processos administrativos sancionadores instaurados por agências reguladoras contra


concessionárias de serviço público devem obedecer ao princípio da publicidade durante toda a sua
tramitação, ressalvados eventuais atos que se enquadrem nas hipóteses de sigilo previstas em lei e na
Constituição”.

Resumo:

Em regra, a imposição de sigilo a processos administrativos sancionadores, instaurados por


agências reguladoras contra concessionárias de serviço público, é incompatível com a Constituição.

Isso porque (i) a regra no regime democrático instaurado pela Constituição de 1988 é a publicidade dos
atos estatais, sendo o sigilo absolutamente excepcional; (ii) a Constituição Federal afasta a publicidade em
apenas duas hipóteses: informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança do Estado e da sociedade e
proteção à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas; (iii) essas exceções constitucionais,
regulamentadas pelo legislador especialmente na “Lei de Acesso à Informação”, devem ser interpretadas
restritivamente, sob forte escrutínio do princípio da proporcionalidade; e (iv) o STF deve se manter vigilante na
defesa da publicidade estatal, pois retrocessos à transparência pública têm sido recorrentes.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado e
declarou a inconstitucionalidade do art. 78-B da Lei 10.233/2001.

ADI 5371/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1045)

Repercussão na esfera administrativa da nulidade de provas no processo penal - ARE


1316369/DF (Tema 1238 RG)

ODS: 16

Tese fixada:

“São inadmissíveis, em processos administrativos de qualquer espécie, provas consideradas ilícitas


pelo Poder Judiciário.”

Resumo:

As provas declaradas ilícitas pelo Poder Judiciário não podem ser utilizadas, valoradas ou
aproveitadas em processos administrativos de qualquer espécie.
A Constituição Federal preconiza, de modo expresso, a inadmissibilidade, no processo, de provas
obtidas com violação a normas constitucionais ou legais 35. Nesse sentido, não é dado a nenhuma autoridade
pública valer-se de provas ilícitas em prejuízo do cidadão, seja no âmbito judicial, seja na esfera administrativa,
independentemente da natureza das pretensões deduzidas pelas partes. Ademais, as provas declaradas nulas em
processos judiciais não podem ser valoradas e aproveitadas, em desfavor do cidadão, em qualquer âmbito ou
instância decisória.
Nesse contexto, a compreensão consolidada do Tribunal é no sentido de que, para ser admitida em
processos administrativos, a prova emprestada do processo penal deve ser produzida de forma legítima e regular,
com observância das regras inerentes ao devido processo legal.

35CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;”

32

32
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1238 RG) e, no mérito, por maioria, reafirmou a jurisprudência
dominante sobre a matéria36 para negar provimento ao recurso extraordinário.

ARE 1316369/DF, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento finalizado no Plenário Virtual em 9.12.2022 (INF 1079)

1.12 PROCURADORES; SUBSÍDIOS

Quitação de dívida ativa por meio alternativo de cobrança e honorários advocatícios de


procuradores estaduais - ADI 5910/RO

Resumo:

É constitucional, desde que observado o teto remuneratório, norma estadual que destina aos
procuradores estaduais honorários advocatícios incidentes na hipótese de quitação de dívida ativa em
decorrência da utilização de meio alternativo de cobrança administrativa ou de protesto de título.

O STF já se manifestou pela constitucionalidade dos procedimentos alternativos à execução fiscal por
se inserirem, atendidas as suas orientações, no contexto das medidas que visam aprimorar a eficiência e a
eficácia da cobrança do crédito inscrito em dívida ativa37.

Também à luz da jurisprudência do Tribunal, é constitucional o pagamento, a procuradores estaduais, de


honorários advocatícios sucumbenciais e decorrentes de acordos administrativos — respeitado o limite
remuneratório constitucional, já que consistem em parcela remuneratória salarial —, não se vislumbrando nisso
usurpação da competência da União para legislar sobre direito civil ou processo civil (art. 22, I, da CF/88),
ofensa ao regime de subsídios e violação aos princípios da moralidade, da razoabilidade ou da isonomia 38.

No caso, a destinação de 10% sobre o valor total da dívida aos procuradores estaduais, quando utilizado
meio alternativo de cobrança administrativa ou de protesto de título, não ofende a razoabilidade ou a
proporcionalidade e é consonante com o princípio da eficiência, pois, quanto mais exitosa a atuação deles, mais
se beneficia a Fazenda Pública estadual e, assim, a coletividade.

Com esse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação direta para
conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 2º, § 5º, da Lei 2.913/2012, incluído pela Lei 3.526/2015,
ambas do Estado de Rondônia39, de modo a estabelecer que a soma dos subsídios e honorários percebidos

36Precedentes citados: Ext 1085 PET-AV; HC 96056; MS 36173; HC 102293; RMS 30295 AgR e RMS 28774.

37Precedentes citados: ADI 5135; ADI 5925; ADI 5881; ADI 5886; ADI 5890; ADI 5931; e ADI 5932.

38Precedentes citados: ADI 6165; ADI 6178; ADI 6181; ADI 6197; ADI 6053; ADPF 597; ADI 6159; e ADI 6170.

39Lei 2.913/2012 do Estado de Rondônia: “Art. 2°. Na cobrança de créditos do Estado, de suas autarquias e fundações, ficam
os Procuradores do Estado autorizados a não ajuizar execuções fiscais referentes aos débitos tributários e não tributários, ou
dar prosseguimento nas execuções fiscais já em andamento, quando o valor atualizado do crédito inscrito em dívida ativa for
igual ou inferior a 1.000 (um mil) Unidades Padrão Fiscal do Estado de Rondônia - UPF/RO. (...) § 5º. Na hipótese de
quitação da dívida, em decorrência da utilizado de meio alternativo de cobrança administrativa ou de protesto de título,
incidirão honorários advocatícios no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor total da dívida atualizada destinados na
forma do artigo 57, da Lei Complementar n. 20 de 2 de julho de 1987.”

33

33
mensalmente pelos procuradores estaduais não poderá exceder o teto remuneratório previsto no art. 37, XI, da
CF/1988.

ADI 5910/RO, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1056)

1.13 REGIME PREVIDENCIÁRIO

Criação de regime previdenciário específico para os agentes públicos não titulares de


cargos efetivos por lei estadual - ADI 7198/PA

ODS: 8

Resumo:

Viola o art. 40, caput e § 13, da Constituição Federal, a instituição, por meio de lei estadual, de um
regime previdenciário específico para os agentes públicos não titulares de cargos efetivos.
A competência legislativa dos estados e do Distrito Federal em matéria previdenciária restringe-se à
competência suplementar para o respectivo regime próprio (CF/1988, art. 24, § 2º) e à instituição da contribuição
previdenciária para o regime próprio (CF/1988, art. 149, § 1º). Em qualquer hipótese, o exercício dessa
competência legislativa é sempre limitada aos servidores titulares de cargo efetivo. Não há, pois, espaço para que
os entes subnacionais criem regime próprio de previdência para agentes públicos não titulares de cargos efetivos
40
.
Ressalte-se que, conforme disposto no art. 40, § 13, da CF/1988, aplica-se o Regime Geral de
Previdência Social ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração; de outro cargo temporário — inclusive mandato eletivo — ou de emprego público.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na ação
direta, para declarar a inconstitucionalidade do art. 98-A da Lei Complementar 39/2002 do Estado do Pará,
incluído pela Lei Complementar estadual 125/201941.

ADI 7198/PA, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 28.10.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1074)

40Precedente citado: ADI 4639

41Lei Complementar 39/2002 do Estado do Pará, com a redação conferida pela Lei Complementar estadual 125/2019: “Art.
98-A. O Estado do Pará poderá assegurar aposentadoria a seus servidores não titulares de cargo efetivo e pensão aos seus
dependentes, observado o limite pago pelo regime geral de previdência social, conforme o disposto no § 13 do art. 40 da
Constituição da República e, no que couber, as normas previstas nesta Lei Complementar. § 1º Para efeito deste artigo,
considera-se servidor não titular de cargo efetivo os que tenham ingressado sem concurso público, desde que atendidos,
cumulativamente, os seguintes requisitos: I - o ingresso tenha se dado entre a data da promulgação da Constituição Federal e
a data da promulgação da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998; II - seja constatada a existência de
contribuição para o Regime Próprio de Previdência Social estadual; e III - o servidor tenha completado os requisitos para
aposentadoria até a data da publicação da presente Lei ou tenha ocorrido o fato gerador para instituição de pensão
previdenciária. § 2º Os servidores enquadrados apenas nos incisos I e II do § 1º deste artigo deverão ser inscritos no Regime
Geral de Previdência Social, com consequente repasse das contribuições atuais e futuras para a Entidade gestora daquele
Regime, não possuindo direito ao recebimento de benefício previdenciário junto ao RPPS Estadual. § 3º Não se submetem ao
regime deste artigo os ocupantes de cargos exclusivamente comissionados.”

34

34
1.14 REGISTRO DE IMÓVEIS

Requisitos para a ratificação pela União de registros imobiliários decorrentes de títulos


expedidos pelos estados referentes a alienações e concessões de terras públicas situadas nas faixas
de fronteira - ADI 5623/DF

Resumo:

É constitucional a ratificação de registros imobiliários prevista na Lei 13.178/2015, desde que


observados os requisitos e condições exigidos pela própria norma e os previstos pela Constituição Federal
de 1988 concernentes à política agrícola, ao plano nacional de reforma agrária e à proteção dos bens
imóveis que atendam a sua função social.

A ratificação de registro imobiliário não se confunde com a doação de terras públicas ou a


desapropriação para fins de reforma agrária. Entretanto, a destinação dos imóveis, diante de sua origem pública,
deve ser compatível com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária (CF/1988, art. 188), eis
que asseguram o controle da efetividade do cumprimento da destinação racional aos bens.

O objetivo é impedir que a ratificação de título se converta em automática transferência de bens imóveis
da União42, até mesmo porque não seria legítimo que essa medida, permitida legalmente, pudesse ser realizada
sem obediência ao conjunto das normas constitucionais que conferem efetividade ao princípio da função social
da propriedade (CF/1988, arts. 5º, XXIII; 170, caput e III; e 186)43 44.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação para
atribuir interpretação conforme a Constituição aos artigos 1º, 2º e 3º da Lei 13.178/2015, fixando-se como
condição para a ratificação de registros imobiliários, além dos requisitos formais previstos naquele diploma, que
os respectivos imóveis rurais se submetam à política agrícola e ao plano nacional de reforma agrária previstos no
art. 188 da CF/1988 e aos demais dispositivos constitucionais que protegem os bens imóveis que atendam a sua
função social.

ADI 5623/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 25.11.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1077)

42CF/1988: “Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o
plano nacional de reforma agrária. § 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a
dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional. § 2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de terras públicas
para fins de reforma agrária.”

43Precedente citado: ADI 2213 MC.

44CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; (...)Art. 170. A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios: (...) III - função social da propriedade; (...) Art. 186. A função social é
cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que
favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.”

35

35
1.15 REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO

Flexibilização da aquisição de armas de fogo por meio de decreto presidencial - ADI


6119/DF, ADI 6139/DF e ADI 6466/DF

ODS: 16

Resumo:

A flexibilização, via decreto presidencial, dos critérios e requisitos para a aquisição de armas de
fogo prejudica a fiscalização do Poder Público, além de violar a competência legislativa em sentido estrito
para a normatização das hipóteses legais quanto à sua efetiva necessidade.

Do exame do ordenamento jurídico-constitucional brasileiro, já consideradas as incorporações


provenientes do direito internacional sobre direitos humanos, é possível concluir que (a) o direito à vida e à
segurança geram o dever positivo do Estado ser o agente primário na construção de uma política pública de
segurança e controle da violência armada; (b) não existe direito fundamental de possuir armas de fogo no Brasil;
(c) ainda que a Constituição Federal não proíba universalmente a aquisição e o porte de armas de fogo, ela exige
que sempre ocorram em caráter excepcional, devidamente justificado por uma particular necessidade; (d) o dever
de diligência estatal o obriga a conceber e implementar mecanismos institucionais e regulatórios apropriados
para o controle do acesso a armas de fogo, como procedimentos fiscalizatórios de licenciamento, de registro, de
monitoramento periódico e de exigência de treinamentos compulsórios; e (e) qualquer política pública que
envolva acesso a armas de fogo deve observar os requisitos da necessidade, da adequação e da
proporcionalidade.

Nesse contexto, não cabe ao Poder Executivo, no exercício de sua atividade regulamentar, criar
presunções de efetiva necessidade para a aquisição de uma arma de fogo distintas das hipóteses já disciplinadas
em lei, visto se tratar de requisito cuja demonstração fática é indispensável, mostrando-se impertinente
estabelecer a inversão do ônus probatório quanto à veracidade das informações constantes na declaração de seu
preenchimento45.

45Lei 10.826/2003: “Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva
necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de
antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito
policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; II – apresentação de documento
comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica
para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. § 1º O Sinarm expedirá autorização
de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma
indicada, sendo intransferível esta autorização. § 2º A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre
correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. § 3º A empresa que comercializar
arma de fogo em território nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter banco
de dados com todas as características da arma e cópia dos documentos previstos neste artigo. § 4º A empresa que
comercializa armas de fogo, acessórios e munições responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de
sua propriedade enquanto não forem vendidas. § 5º A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas
físicas somente será efetivada mediante autorização do Sinarm. § 6º A expedição da autorização a que se refere o § 1o será
concedida, ou recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do requerimento do
interessado. § 7º O registro precário a que se refere o § 4º prescinde do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste
artigo. § 8º Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o
interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas
características daquela a ser adquirida. (...) Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o
território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm. § 1º A
autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos
regulamentares, e dependerá de o requerente: I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional
de risco ou de ameaça à sua integridade física; II – atender às exigências previstas no art. 4º desta Lei; III – apresentar
documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente. § 2º A autorização de
porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou
abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas. (...) Art. 27. Caberá ao Comando
do Exército autorizar, excepcionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito. Parágrafo único. O disposto neste
artigo não se aplica às aquisições dos Comandos Militares.”

36

36
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta, referendou (i) a decisão
que: (i.1) concedeu com efeitos ex nunc a medida cautelar para suspender a eficácia do art. 12, § 1º e § 7º, IV, do
Decreto 5.123/2004 (com alteração dada pelo Decreto 9.685/2019); do art. 9º, § 1º, do Decreto 9.785/2019; e do
art. 3º, § 1º, do Decreto 9.845/2019; e (i.2) concedeu a cautelar para conferir interpretação conforme à
Constituição ao art. 4º do Estatuto do Desarmamento; ao inciso I do art. 9º do Decreto 9.785/2019; e ao inciso I
do art. 3º do Decreto 9.845/2019, fixando a orientação hermenêutica de que a posse de armas de fogo só pode ser
autorizada às pessoas que demonstrem concretamente, por razões profissionais ou pessoais, possuírem efetiva
necessidade; (ii) a decisão que concedeu, com efeitos ex nunc, a medida cautelar para: (ii.1) dar interpretação
conforme a Constituição ao art. 4º, § 2º, da Lei 10.826/2003, para se fixar a tese de que a limitação dos
quantitativos de munições adquiríveis se vincula àquilo que, de forma diligente e proporcional, garanta apenas o
necessário à segurança dos cidadãos; (ii.2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 10, § 1º, I, da Lei
10.826/2003, para fixar a tese hermenêutica de que a atividade regulamentar do Poder Executivo não pode criar
presunções de efetiva necessidade outras que aquelas já disciplinadas em lei; (ii.3) dar interpretação conforme a
Constituição ao art. 27 da Lei 10.826/2003, a fim de fixar a tese hermenêutica de que aquisição de armas de fogo
de uso restrito só pode ser autorizada no interesse da própria segurança pública ou da defesa nacional, não em
razão do interesse pessoal do requerente; e (ii.4) suspender a eficácia do art. 3º, II, a, b e c do Decreto
9.846/2019; e (iii) a decisão que concedeu, com efeitos ex nunc, a medida cautelar para: (iii.1) dar interpretação
conforme a Constituição ao art. 4º, § 2º, da Lei 10.826/2003; ao art. 2º, § 2º, do Decreto 9.845/2019; e ao art. 2º,
§ 3º, do Decreto 9.847/2019, fixando a tese de que os limites quantitativos de munições adquiríveis se limitam
àquilo que, de forma diligente e proporcional, garanta apenas o necessário à segurança dos cidadãos; e (iii.2)
suspender a eficácia da Portaria Interministerial 1.634/2020-GM-MD.

ADI 6119 MC-Ref/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.9.2022
(terça-feira), às 23:59 (INF 1069)

ADI 6139 MC-Ref/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.9.2022
(terça-feira), às 23:59 (INF 1069)

ADI 6466 MC-Ref/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.9.2022
(terça-feira), às 23:59 (INF 1069)

1.16 REMUNERAÇÃO

Alteração da forma de cálculo do auxílio-invalidez para servidores militares - RE


642890/DF (Tema 465 RG)

Tese fixada:

“A Portaria n. 931/2005 do Ministério da Defesa, que alterou a fórmula de cálculo do auxílio-


invalidez para os servidores militares, está em harmonia com os princípios da legalidade e da
irredutibilidade de vencimentos.”

Resumo:

A alteração da forma de cálculo do auxílio-invalidez devido aos servidores militares não viola os
princípios da legalidade e da irredutibilidade de vencimentos, desde que o valor global da remuneração
não sofra redução.

Isso porque o que a Constituição Federal assegura é a irredutibilidade nominal da remuneração global,
isto é, o montante constituído pela soma de todas as parcelas, gratificações e outras vantagens percebidas pelo
servidor46.

46Precedente citado: RE 384903 AgR.

37

37
Além disso, a jurisprudência desta Corte é firme no sentido da inexistência de direito adquirido a regime
jurídico e de direito à forma como são calculados os vencimentos, de modo que é possível suprimir ou alterar
auxílios, adicionais, gratificações ou outras parcelas, sob a condição de que seja preservada a irredutibilidade
nominal da remuneração global47.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 465 da repercussão geral,
deu provimento ao recurso extraordinário para reformar o acórdão recorrido e julgar improcedente o pedido
inicial.

RE 642890/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 7.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1071)

Auditor substituto de conselheiro de Corte de Contas estadual e remuneração proporcional


- ADI 6951/CE e ADI 6952/AM

ODS: 16

Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê o pagamento proporcional da remuneração devida a


conselheiro de Tribunal de Contas para auditor em período de substituição.

Com efeito, trata-se de compensação financeira, justa e devida, cuja constitucionalidade já foi
reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal48. Por constituir exercício temporário das mesmas funções, admite-
se o pagamento dos mesmos vencimentos e vantagens, por critério de isonomia. Não se trata, portanto, de
equiparação ou vinculação das remunerações das duas carreiras, prática vedada pela CF/198849 50.

Ademais, como o conteúdo das normas impugnadas não é a sistematização da remuneração da carreira
de auditor dos Tribunais de Contas estaduais, não há ofensa ao art. 37, X, da CF/1988 51. Inexiste, ainda, qualquer
afronta ao modelo federal de fiscalização dos Tribunais de Contas, cuja observância pelos estados é compulsória,
nos termos do art. 75 da CF/198852.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes as ações.

47Precedente citado: RE 563965 (Tema 41 RG).

48Precedentes citados: ADI 507; e ADI 6950.

49CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público;”

50Precedentes citados: ADI 396; ADI 1274; e ADI 431 MC.

51CF/1988: “Art. 37 (...) X – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente
poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral
anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;”

52Precedentes citados: ADI 5323; ADPF 272; ADI 4776; ADI 5290; e ADI 4416.

38

38
ADI 6951/CE, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.6.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1058)
ADI 6952/AM, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.6.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1058)

Impossibilidade de concessão de aumento pelo Poder Judiciário com fundamento no


princípio da isonomia - ARE 1341061/SC (Tema 1175 RG)

Tese fixada:

“Contraria o disposto na Súmula Vinculante 37 a extensão, pelo Poder Judiciário e com


fundamento no princípio da isonomia, do percentual máximo previsto para o Adicional de Compensação
por Disponibilidade Militar, previsto na Lei 13.954/2019, a todos os integrantes das Forças Armadas.” 53

Resumo:

Não se admite a concessão do Adicional de Compensação por Disponibilidade Militar no


percentual máximo estabelecido pela Lei 13.954/2019 a todos os integrantes das Forças Armadas, com
fundamento no princípio da isonomia.

Isso porque “não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob o fundamento de isonomia” (Súmula Vinculante 37).

Ademais, a opção pela adoção de valores variáveis a depender do cargo ocupado representa escolha
essencialmente política, baseada nas características próprias da carreira, tarefas desempenhadas, grau de
responsabilidade, entre outros, cuja análise compete apenas aos Poderes Executivo (que detém a iniciativa de lei)
e Legislativo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, reconheceu a existência de repercussão geral da
questão constitucional suscitada (Tema 1175 RG). Vencido o ministro Ricardo Lewandowski. No mérito, por
unanimidade, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria para conhecer o agravo e desprover o
recurso extraordinário.

ARE 1341061/SC, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 15.10.2021
(INF 1043)

Pensão mensal vitalícia a viúvas de ex-prefeitos - ADPF 975/CE

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por violação aos princípios republicano, democrático, da moralidade, da


impessoalidade e da igualdade, lei municipal que concede pensão especial mensal e vitalícia a viúvas de ex-
prefeitos.

Os cargos políticos de chefia do Poder Executivo são exercidos por mandatos temporários e os seus
ocupantes são transitórios, motivo pelo qual a jurisprudência desta Corte é no sentido da inexistência de qualquer
direito ao recebimento de pensão vitalícia por seus ex-ocupantes, nas esferas estadual e municipal, e por seus
respectivos dependentes54.

53Precedentes citados: RE 592.317; ARE 1.208.032; ARE 1.278.713.

39

39
A concessão do referido benefício pelo mero exercício de cargo eletivo implica quebra do tratamento
igual que deve ser conferido para pessoas em idênticas condições jurídico-funcionais. Assim, assegurar a
percepção de verba mensal a viúvas de ex-prefeitos configura condição privilegiada e injustificada em relação
aos demais beneficiários do Regime Geral de Previdência Social (CF/1988, art. 40, § 13, com a redação dada
pela EC 103/2019), que atenderam aos requisitos constitucionais e legais para a concessão de seus benefícios.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ADPF para declarar
não recepcionadas a Lei 405/198455 e a Lei 486/198956, ambas do Município de Caucaia/CE, bem como modulou
os efeitos da decisão, atribuindo-lhe eficácia a partir da data da publicação da ata do presente julgamento.

ADPF 975/CE, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 7.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1071)

1.17 REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA

Requisição administrativa de bens ou serviços públicos - ADI 3454/DF

ODS: 3, 10 e 16

Resumo:

A requisição administrativa “para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias,


decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias” —
prevista na Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (Lei 8.080/1990) — não recai sobre bens e/ou serviços
públicos de outro ente federativo.

O permissivo constitucional para a requisição administrativa de bens particulares, em caso de iminente


perigo público57, tem aplicação nas relações entre Poder Público e patrimônio privado, não sendo possível
estender a hipótese às relações entre as unidades da Federação.

54Precedentes citados: ADPF 833; ADPF 793; ADI 4552; ADI 4544; ADI 4601; ADI 3418; ADI 4545; ADI 3853; ADI
1461 e RE 638307.

55Lei 405/1984 do Município de Caucaia/CE: “Art. 1º Fica concedida a pensão vitalícia na quantia de Cr$ 200.000
(DUZENTOS MIL CRUZEIROS), às viúvas de ex-Prefeitos no Município de Caucaia. Art. 2º A pensão será devida,
independentemente de requerimento à sucessão legítima, na forma que dispuser o Código Civil Brasileiro e, será reajustada
sempre que aumentos sejam concedidos aos Inativos e Pensionistas da Prefeitura, e em igual percentual. Art. 3º Esta Lei
entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”

56Lei 486/1989 do Município de Caucaia/CE: “Art. 1º O valor mensal da pensão vitalícia, concedida às viúvas de ex-
prefeitos, de que trata a Lei nº 405, de 30 de novembro de 1984, passa a ser a correspondente a 25% (vinte e cinco por cento)
da Representação a que faz jus o Prefeito em exercício. Art. 2º As despesas decorrentes desta Lei correrão por conta de
dotações próprias consignadas no orçamento do Município. Art. 3º Revogadas as disposições em contrário, esta Lei entra em
vigor na data de sua publicação.”

57CF/1988: “Art. 5º (...) XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;”

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Nos termos da jurisprudência desta Corte 58, ofende o princípio federativo a requisição de bens e serviços
de um ente federado por outro, o que somente se admitiria excepcionalmente à União durante a vigência de
estado de defesa (CF/1988, art. 136, § 1º, II) e estado de sítio (CF/1988, art. 139, VII).

Entre os entes federados não há hierarquia, sendo-lhes assegurado tratamento isonômico, ressalvadas
apenas as distinções porventura constantes na própria CF/1988. Portanto, como as relações entre eles se
caracterizam pela cooperação e horizontalidade, tal requisição, ainda que a pretexto de acudir situação fática de
extrema necessidade, importa ferimento da autonomia daquele cujos bens ou serviços públicos são requisitados,
acarretando-lhe incontestável desorganização.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para atribuir
interpretação conforme a Constituição ao art. 15, XIII, da Lei 8.080/1990 59, excluindo a possibilidade de
requisição administrativa de bens e serviços públicos de titularidade de outros entes federativos.

ADI 3454/DF, relator Ministro. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1059)

1.18 SERVIÇOS PÚBLICOS

Medidas para garantir a continuidade de serviços públicos essenciais e direito de greve -


ADI 4857/DF

Resumo:

São constitucionais o compartilhamento, mediante convênio, com estados, Distrito Federal ou


municípios, da execução de atividades e serviços públicos federais essenciais, e a adoção de procedimentos
simplificados para a garantia de sua continuidade em situações de greve, paralisação ou operação de
retardamento promovidas por servidores públicos federais.

Nessa hipótese, não se criam cargos, nem se autoriza contratação temporária. Tampouco delegam-se
atribuições de servidores públicos federais a servidores públicos estaduais, ou autoriza-se a investidura em cargo
público federal sem a aprovação prévia em concurso público. O que se tem é o compartilhamento da execução da
atividade ou serviço para garantia da continuidade do serviço público em situações excepcionais ou temporárias,
motivo pelo qual a medida será encerrada ao término daquelas circunstâncias.

Ademais, considerando que o Decreto 7.777/2012 60, que prevê essa cooperação entre entes federativos,
retira seu fundamento legal da Lei 7.783/1989 (arts. 11 e 12) 61, a aplicação das medidas nele previstas deve se
restringir aos serviços públicos considerados essenciais.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente ação
direta.

ADI 4857/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 11.3.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1046)

58Precedentes citados: ACO 3463 MC-Ref; ACO 3393 MC-Ref.; ACO 3398 (monocrática); e ACO 3385 (monocrática).

59Lei 8.080/1990: “Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito
administrativo, as seguintes atribuições: (...) XIII – para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias,
decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da
esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-
lhes assegurada justa indenização;”

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Reajuste de tarifas telefônicas: cláusula contratual, inflação e revisão judicial - RE
1059819/PE (Tema 991 RG)

Tese fixada:

“Afronta o princípio da separação dos Poderes a anulação judicial de cláusula de contrato de


concessão firmado por Agência Reguladora e prestadora de serviço de telefonia que, em observância aos
marcos regulatórios estabelecidos pelo Legislador, autoriza a incidência de reajuste de alguns itens
tarifários em percentual superior ao do índice inflacionário fixado, quando este não é superado pela média
ponderada de todos os itens.”

Resumo:

Em regra, não cabe ao Poder Judiciário anular cláusula de contrato de concessão de serviço
público que autoriza o reajuste de tarifa telefônica em percentual superior ao índice inflacionário.

Isso porque a intervenção do Judiciário no âmbito regulatório dá-se com vistas ao controle de
legalidade, respeitadas as capacidades institucionais das entidades de regulação e a discricionariedade técnica
dos atos editados, motivo pelo qual interferir em ato autorizado pela Anatel, que não excedeu os limites
conferidos pelo legislador, importa em afronta ao princípio da separação dos Poderes 62.

Com base nesse entendimento, ao concluir a apreciação do Tema 991 da repercussão geral, o Plenário,
por maioria, deu provimento ao recurso extraordinário para, reformando o acórdão recorrido, julgar
improcedente ação civil pública, mantendo válido o acréscimo de 9% no reajuste individual dos itens tarifários
acima do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), constante na cláusula 11.1 do contrato de
concessão.

RE 1059819/PE, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

60Decreto 7.777/2012: “Art. 1º Compete aos Ministros de Estado supervisores dos órgãos ou entidades em que ocorrer
greve, paralisação ou retardamento de atividades e serviços públicos: I - promover, mediante convênio, o compartilhamento
da execução da atividade ou serviço com Estados, Distrito Federal ou Municípios; e II - adotar, mediante ato próprio,
procedimentos simplificados necessários à manutenção ou realização da atividade ou serviço. § 1º As atividades de liberação
de veículos e cargas no comércio exterior serão executadas em prazo máximo a ser definido pelo respectivo Ministro de
Estado supervisor dos órgãos ou entidades intervenientes. § 2º Compete à chefia de cada unidade a observância do prazo
máximo estabelecido no § 1º. § 3º A responsabilidade funcional pelo descumprimento do disposto nos §§ 1º e 2º será apurada
em procedimento disciplinar específico. Art. 2º O Ministro de Estado competente aprovará o convênio e determinará os
procedimentos necessários que garantam o funcionamento regular das atividades ou serviços públicos durante a greve,
paralisação ou operação de retardamento. Art. 3º As medidas adotadas nos termos deste Decreto serão encerradas com o
término da greve, paralisação ou operação de retardamento e a regularização das atividades ou serviços públicos. Art. 4º Este
Decreto entra em vigor na data de sua publicação.”

61Lei 7.783/1989: “Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam
obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não
atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. Art. 12. No caso de
inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis.”

62Precedente citado: ADI 4.679.

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1.19 SERVIDOR PÚBLICO

Extensão da licença-maternidade a servidor público pai solo - RE 1348854/SP (Tema 1182


RG)

ODS: 3, 8, 10 e 16

Tese fixada:

“À luz do art. 227 da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com absoluta
prioridade e do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade, prevista no art. 7º, XVIII, da
CF/88 e regulamentada pelo art. 207 da Lei 8.112/1990, estende-se ao pai genitor monoparental.”

Resumo:

O servidor público que seja pai solo ─ de família em que não há a presença materna ─ faz jus à
licença maternidade e ao salário maternidade pelo prazo de 180 dias, da mesma forma em que garantidos
à mulher pela legislação de regência.

A construção interpretativa e jurisprudencial do Tribunal, acompanhando os avanços da Constituição no


campo da justiça social e dos direitos da dignidade da pessoa humana, passou a legitimar e igualar as diversas
configurações de família e filiação. Inclusive, esta Corte tem reiteradamente realçado que a CF/1988 e o ECA
adotaram a doutrina da proteção integral e o princípio da prioridade absoluta das crianças e dos adolescentes
enquanto pessoas em desenvolvimento, devendo-lhes ser asseguradas todas as condições para uma convivência
familiar saudável, harmônica e segura, quer seja o vínculo familiar biológico ou estabelecido pelos institutos da
guarda ou adoção63.

Assim, embora inexistente previsão legal, o benefício deve ser excepcionalmente estendido ao pai de
família monoparental, em respeito aos princípios da isonomia de direitos entre o homem e a mulher 64 e da
proteção integral à criança65, já que destinado a assegurar o melhor interesse do menor, cujos laços de afetividade
com o responsável por sua criação e educação são formados ainda nos primeiros dias de vida.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.182 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1348854/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 12.5.2022 (INF


1054)

63Precedentes citados: ADI 5938; RE 629053 (Tema 497 RG); ADI 4878; ADI 5083; ADI 6600; ADI 4277; ADPF 132; e
RE 778889 (Tema 782 RG).

64CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;”

65CF/1988: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

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43
Funções desempenhadas por Delegado de Polícia: atribuição de natureza jurídica e caráter
essencial ao Estado - ADI 5528/TO

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual, oriunda de iniciativa parlamentar, que atribui


às funções de polícia judiciária e à apuração de infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia
natureza jurídica e caráter essencial ao Estado.

Sob o aspecto formal, compete exclusivamente ao chefe do Poder Executivo (CF/1988, art. 61, § 1º, II,
b e c) a iniciativa de normas sobre a organização administrativa e os servidores públicos, seu regime jurídico e
provimento de cargos66.

Já sob o aspecto material, o art. 144, § 6º, da Constituição Federal estabelece vínculo de subordinação
hierárquica da Polícia Civil ao governador de estado. Sendo assim, o desenho institucional inserido
constitucionalmente não legitima a governança independente da polícia judiciária, uma vez que cabem ao chefe
do Poder Executivo, dirigente máximo da Administração Pública, a prerrogativa e a responsabilidade pela
estruturação e pelo planejamento operacional dos órgãos locais de segurança pública, bem como a definição de
programas e ações governamentais prioritários a partir do quadro orçamentário do ente federado 67.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente em parte para declarar a inconstitucionalidade, sob o ângulo formal, do art. 116, §
1º, nas redações dadas pelas Emendas 37/2019 e 26/2014, e § 5º, no texto conferido pela Emenda 26/2014, bem
como, no campo material, da expressão “de natureza jurídica, essenciais e” contida no art. 116, § 1º, da
Constituição do Estado do Tocantins, nas redações dadas pelas Emendas 37/2019 e 26/2014.

ADI 5528/TO, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 21.11.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1076)

Lista tríplice para escolha de delegado-chefe da Polícia Civil - ADI 6923/RO

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual, oriunda de iniciativa parlamentar, que


disponha sobre a nomeação, pelo governador do estado, de ocupante do cargo de diretor-geral da Polícia
Civil, a partir de lista tríplice elaborada pelo Conselho Superior de Polícia.
A instituição de requisitos para a nomeação do delegado-chefe da Polícia Civil é matéria de iniciativa
privativa do chefe do Poder Executivo (CF/1988, art. 61, § 1º, II, c e e), e, dessa forma, não pode ser tratada por
emenda constitucional de iniciativa parlamentar68.

66Precedente citado: ADI 5075.

67Precedentes citados: ADI 5520; ADI 5522 e ADI 5536.

68Precedentes citados: ADI 2646 MC; ADI 2819

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44
Ademais, o art. 144, § 6º, da Constituição Federal, estabelece vínculo de subordinação das respectivas
polícias civis aos governadores de estado. Assim, a atribuição de maior autonomia ao Conselho Superior de
Polícia, materializada na elaboração de listas tríplices de observância obrigatória, mostra-se inconstitucional,
especialmente por restringir o poder de escolha do chefe do Poder Executivo estadual 69.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade do art. 146-A da Constituição rondoniense, incluído pela Emenda Constitucional 118/2016,
e, ainda, da Lei Complementar 1.005/2018 daquela unidade federada.

ADI 6923/RO, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 28.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1074)

Polícia Civil: enquadramento como exercício de atribuição essencial à função jurisdicional


do Estado e à defesa da ordem jurídica - ADI 5517/ES

Resumo:

É incompatível com a Constituição Federal norma de Constituição estadual que estabelece a


natureza jurídica da Polícia Civil como função essencial à atividade jurisdicional do Estado e à defesa da
ordem jurídica, bem como atribui aos Delegados de Polícia a garantia de independência funcional.

Competem ao chefe do Poder Executivo — dirigente máximo da Administração Pública — a


prerrogativa e a responsabilidade pela estruturação e pelo planejamento operacional dos órgãos locais de
segurança pública, bem como a definição de programas e ações governamentais prioritários a partir do quadro
orçamentário do ente federado70.

Sobre o tema, esta Corte reiterou a compreensão de que o art. 144, § 6º, da Constituição Federal
estabelece vínculo de subordinação hierárquica da Polícia Civil ao governador do estado, mostrando-se
inconstitucional a atribuição de autonomia ao órgão ou de independência funcional a seu dirigente, o Delegado
de Polícia71.

Ademais, o inquérito policial é procedimento pré-processual de natureza administrativa e inquisitória,


destinado a colher provas que subsidiem o exercício da ação penal pelo Ministério Público. Nesse contexto, o
seu condutor, o Delegado de Polícia, apesar de desempenhar atividades de conteúdo jurídico, não integra carreira
propriamente jurídica, pois, se assim o fosse, inviabilizaria o controle externo e o poder requisitório exercidos
pelo Parquet.

69Precedentes citados: ADI 5520; ADI 5536

70CF/1988: “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) IV - polícias
civis; (...) § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. (...) § 6º As polícias militares e
os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e
as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.”

71Precedentes citados: ADI 244; ADI 882; ADI 5520; ADI 5522 e ADI 5536.

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45
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação
para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 3º, 4º e 6º do art. 128 da Constituição do Estado do Espírito Santo,
acrescentados pela Emenda 95/201372.

ADI 5517/ES, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 21.11.2022 (segunda-
feira), às 23:59. (INF 1076)

Reenquadramento de servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da


Constituição Federal de 1988 - ARE 1306505/AC (Tema 1157 RG)

Tese fixada:

“É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de servidor


admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, mesmo que
beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista que esta regra transitória não
prevê o direito à efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal e decisão proferida na
ADI 3609 (Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe. 30/10/2014).”

Resumo:

Servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da CF/1988, ainda que
beneficiado pela estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT, não pode ser reenquadrado em novo Plano
de Cargos, Carreiras e Remuneração previsto para servidores efetivos.

Embora o art. 19 do ADCT 73 tenha conferido estabilidade excepcional aos servidores que foram
admitidos, sem concurso público, há pelo menos cinco anos contínuos da data da promulgação da CF/1988, nada
dispôs acerca da possibilidade de esses servidores usufruírem de benefícios legalmente estabelecidos para os
ocupantes de cargos efetivos que ingressaram mediante concurso público. Os servidores que adquiriram essa
estabilidade excepcional possuem apenas o direito de permanecer na função para as quais foram admitidos,
devendo submeter-se a certame público para serem efetivados no cargo, nos termos do art. 37, II, da CF/1988 74 e
75
.

Dessa forma, se nem mesmo os servidores que preenchem os requisitos do art. 19 do ADCT fazem jus
aos benefícios conferidos aos que ingressaram na Administração Pública mediante prévia aprovação em

72Constituição do Estado do Espírito Santo: “Art. 128. (...) § 3º No desempenho da atividade de polícia judiciária,
instrumental à propositura das ações penais, a Polícia Civil exerce atribuição essencial à função jurisdicional do Estado e à
defesa da ordem jurídica. § 4º Os Delegados de Polícia integram as carreiras jurídicas do Estado, dispensando-lhes o mesmo
tratamento legal e protocolar, motivo pelo qual se exige para o ingresso na carreira o bacharelado em Direito e assegura-se a
participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases do concurso público. (...) § 6º O Delegado de Polícia é
legítima autoridade policial, a quem é assegurada independência funcional pela livre convicção nos atos de polícia
judiciária.”

73ADCT: “Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da
administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo
menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são
considerados estáveis no serviço público.”

74CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”

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46
concurso público, com menos razão pode-se cogitar, no caso concreto, da continuidade de situação notoriamente
inconstitucional, em que servidor contratado pelo regime celetista, sem concurso público, sem qualquer
estabilidade, usufrui de benefícios legalmente previstos apenas para servidores públicos efetivos 76.

Além disso, a concessão de efeitos prospectivos à decisão proferida na ADI 3609 não teve por escopo
garantir efetividade aos servidores que ingressaram no serviço público estadual sem concurso até 5.2.2015, mas
sim conceder ao Estado tempo suficiente para realizar concurso público para o preenchimento dos cargos que
foram ocupados de forma inconstitucional e evitar a paralisação de serviço público essencial.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1157 da repercussão geral,
conheceu do agravo para, desde logo, dar provimento ao recurso extraordinário, e denegar a segurança.

ARE 1306505/AC, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 28.3.2022
(INF 1048)

Restrição do direito de férias de servidores municipais - RE 593448/MG (Tema 221 RG)

Tese fixada:

“No exercício da autonomia legislativa municipal, não pode o Município, ao disciplinar o regime
jurídico de seus servidores, restringir o direito de férias a servidor em licença saúde de maneira a
inviabilizar o gozo de férias anuais previsto no art. 7º, XVII da Constituição Federal de 1988.”

Resumo:

Lei municipal não pode limitar o direito fundamental de férias do servidor público que gozar, em
seu período aquisitivo, de mais de dois meses de licença médica.
O direito ao gozo de férias anuais remuneradas é constitucionalmente assegurado aos trabalhadores
urbanos e rurais (CF/1988, art. 7º, XVII) e extensível aos servidores públicos (CF/1988, art. 39, § 3º).
Não é possível inferir ou extrair do texto da Constituição Federal qualquer limitação ao exercício desse
direito77 , de modo que a legislação infraconstitucional não pode fazê-lo78 .
Portanto, embora a autonomia municipal também seja protegida por disposição constitucional expressa
(CF/1988, arts. 18 e 30), o município não pode, mesmo sob o pretexto de disciplinar o regime jurídico de seus
servidores, tornar irrealizável direito fundamental a eles conferido.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 221 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.
75Precedentes citados: ARE 1238618 AgR; ARE 1069876 AgR; ADI 289; ADI 3609; ADPF 482; ADI 1757; ADI 2364;
ADI 1476; ADI 5163; ADI 1269; ADI 1202; Rcl 35146 AgR; ADI 4233.

76Precedentes citados: ARE 985614 AgR; MS 30294; RE 817338; RE 1219419 AgR; ARE 1248621 AgR; ARE 1247837
AgR.

77CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...) XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; (...) Art. 39.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e
planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. (...) § 3º
Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII,
XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.”

78Precedente citado: RE 650851 QO

47

47
RE 593448/MG, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 2.12.2022 (sexta-
feira), às 23:59

Servidor público: jornada de trabalho reduzida e remuneração inferior ao salário mínimo -


RE 964659/RS (Tema 900 RG)

ODS: 8, 10 e 16
Tese fixada:

“É defeso o pagamento de remuneração em valor inferior ao salário mínimo ao servidor público,


ainda que labore em jornada reduzida de trabalho.”

Resumo:

É inconstitucional remunerar servidor público, mesmo que exerça jornada de trabalho reduzida,
em patamar inferior a um salário mínimo79.

O direito fundamental ao salário mínimo é previsto constitucionalmente para garantir a dignidade da


pessoa humana por meio da melhoria de suas condições de vida (CF/1988, art. 7º, IV), garantia que foi estendida
aos servidores públicos sem qualquer sinalização no sentido da possibilidade de flexibilizá-la no caso de jornada
reduzida ou previsão em legislação infraconstitucional (CF/1988, art. 39, § 3º).

A leitura conjunta dos dispositivos constitucionais atinentes ao tema, somado ao postulado da vedação
do retrocesso de direitos sociais, denota a finalidade de assegurar o mínimo existencial aos integrantes da
Administração Pública Direta e Indireta com a fixação do menor patamar remuneratório admissível 80,
especialmente se consideradas as limitações inerentes ao regime jurídico dos servidores públicos, cujas
características se distinguem do relativo às contratações temporárias ou originadas de vínculos decorrentes das
recentes reformas trabalhistas.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 900 da repercussão geral,
deu provimento ao recurso extraordinário para devolver os autos ao tribunal de origem para continuidade de
julgamento, a fim de que sejam decididas as demais questões postas no apelo, observados os parâmetros ora
decididos.

RE 964659/RS, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1062)

1.20 SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

Privatização de empresa estatal e transferência de débitos judiciais ao estado - ADI


5271/MA

79Precedentes citados: AI 815869 AgR; RE 565621 (monocrática); AI 742870 (monocrática); ARE 660010 (Tema 514 RG);
ARE 893698 (monocrática); ARE 891944 (monocrática); ARE 736433 (monocrática); ARE 887646 (monocrática); ARE
891945 (monocrática); ARE 663068 (monocrática); ADI 2238.

80Precedentes citados: ADI 1442; RE 340599; RE 582019 QO (Tema 142 RG).

48

48
Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê a assunção de obrigações financeiras resultantes de


sentença judicial proferida após a privatização de sociedade de economia mista prestadora de serviço
público pelo respectivo estado.

No caso, a Lei 7.514/2000 do Estado do Maranhão dispõe sobre matérias administrativas relativas à
desestatização de empresa estatal do setor de energia (Companhia Energética do Maranhão S.A – CEMAR) e à
responsabilidade do estado na sucessão de obrigações extraordinárias decorrentes da reorganização
administrativa, conteúdo inserido na competência outorgada constitucionalmente aos estados-membros 81.

A norma não cria despesas efetivas nem constitui privilégios fiscais concedidos à então estatal 82 83. Ela
também não viola o princípio da isonomia ou o ato jurídico perfeito. Isso porque, ao determinar a assunção de
apenas alguns débitos, o legislador atuou dentro de seu espaço de discricionariedade, visando tornar a operação
mais atrativa à luz do interesse público e estimular a aquisição. Ademais, a lei representa uma garantia adicional
ao adimplemento de dívidas contratuais assumidas previamente pela CEMAR, pois a transferência das
obrigações ao estado respeitou os contratos anteriormente celebrados, não havendo se falar em aceitação por
encargos futuros.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e a
julgou improcedente na parte conhecida.

ADI 5271/MA, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

1.21 TRIBUNAL DE CONTAS

TCU: competência para fiscalizar verbas federais complementares ao FUNDEF/FUNDEB


- ADI 5791/DF

Resumo:

Compete ao Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizar a aplicação, por parte dos demais entes
da Federação, de verbas federais, transferidas pela União, para complementar o Fundo de
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF)/Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).

81CF/1988: “Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. (...) Art. 25. Os Estados
organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º São
reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição”.

82CF/1988: “Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei. (...) § 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais
não extensivos às do setor privado.”

83Precedentes citados: ADI 5856; ADI 1440; e ADI 3599.

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49
Os recursos destinados ao FUNDEF/FUNDEB a título de complementação, quando o montante
investido pelos estados e pelo Distrito Federal não for suficiente para atingir o mínimo por aluno, são originários
da União 84 85.
Ademais, a fiscalização da aplicação de recursos federais é atribuição do TCU, conforme disposto na
Constituição Federal86 e na própria Lei Orgânica do Tribunal (Lei 8.443/1992).
Assim, a origem dos recursos é determinante para o adequado estabelecimento da competência
fiscalizatória87, de maneira que, caso se faça necessária a complementação da União, o TCU atuará, sem que isso
represente prejuízo à atuação do respectivo Tribunal de Contas estadual, visto que o Fundo é composto por
recursos estaduais e municipais88.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADI 5791/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 2.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1066)

84ADCT: “Art. 60 Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação, respeitadas as
seguintes disposições: (...) II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão constituídos por 20% (vinte por
cento) dos recursos a que se referem os incisos I, II e III do art. 155; o inciso II do caput do art. 157; os incisos II, III e IV do
caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o inciso II do caput do art. 159, todos da Constituição Federal, e distribuídos
entre cada Estado e seus Municípios, proporcionalmente ao número de alunos das diversas etapas e modalidades da educação
básica presencial, matriculados nas respectivas redes, nos respectivos âmbitos de atuação prioritária estabelecidos nos §§ 2º e
3º do art. 211 da Constituição Federal; (...) V - a União complementará os recursos dos Fundos a que se refere o inciso II do
caput deste artigo sempre que, no Distrito Federal e em cada Estado, o valor por aluno não alcançar o mínimo definido
nacionalmente, fixado em observância ao disposto no inciso VII do caput deste artigo, vedada a utilização dos recursos a que
se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Federal.” (com a redação dada pela Emenda Constitucional 53/2006)

85CF/1988: “Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. (...) Art. 212-A. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 desta Constituição à manutenção e ao desenvolvimento do
ensino na educação básica e à remuneração condigna de seus profissionais, respeitadas as seguintes disposições: (...) II - os
fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se referem
os incisos I, II e III do caput do art. 155, o inciso II do caput do art. 157, os incisos II, III e IV do caput do art. 158 e as
alíneas ‘a’ e ‘b’ do inciso I e o inciso II do caput do art. 159 desta Constituição; (...) IV - a União complementará os recursos
dos fundos a que se refere o inciso II do caput deste artigo; V - a complementação da União será equivalente a, no mínimo,
23% (vinte e três por cento) do total de recursos a que se refere o inciso II do caput deste artigo, distribuída da seguinte
forma: (...)”

86CF/1988: “Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de
Contas da União, ao qual compete: (...) II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e
valores públicos da Administração Direta e Indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder
Público Federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
erário público;”

87Precedentes citados: ACO 648; ACO 660; ACO 669; ACO 700; ACO 1156; ACO 1109; HC 80867; MS 24379; MS 25880;
MS 21644; MS 26969; e ADPF 528.

88Lei 14.113/2020: “Art. 30. A fiscalização e o controle referentes ao cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição
Federal e do disposto nesta Lei, especialmente em relação à aplicação da totalidade dos recursos dos Fundos, serão exercidos:
(...) II - pelos Tribunais de Contas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, perante os respectivos entes
governamentais sob suas jurisdições; III - pelo Tribunal de Contas da União, no que tange às atribuições a cargo dos órgãos
federais, especialmente em relação à complementação da União.”

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2. DIREITO AMBIENTAL

2.1 ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PERMANENTE

Área de Preservação Ambiental Permanente e competência legislativa - ADI 5675/MG

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em solo urbano de área de preservação
permanente (APP) fora das situações previstas em normas gerais editadas pela União.

Em matéria de competência legislativa concorrente, vale a regra da predominância do interesse,


respeitando-se a legislação estadual sempre — e apenas — que ela promover um aumento no padrão normativo
de proteção aos bens jurídicos tutelados89.

Nesse sentido, se a lei estadual amplia os casos de ocupação antrópica em áreas de preservação
permanente previstos na norma federal vigente à época (no caso, a Lei 11.977/2009, revogada pela Lei
13.465/2017), ela, além de estar em descompasso com o conjunto normativo elaborado pela União, flexibiliza a
proteção ao meio ambiente local, tornando-o mais propenso a sofrer danos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 2º, III; 3º, II, c, e 17 da Lei 20.922/2013 do Estado de
Minas Gerais.

ADI 5675/MG, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 17.12.2021
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1042)

2.2 COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Fundo Clima: funcionamento, destinação de recursos e contingenciamento de verbas -


ADPF 708/DF

ODS: 3, 13, 15 e 17

Tese fixada:

“O Poder Executivo tem o dever constitucional de fazer funcionar e alocar anualmente os


recursos do Fundo Clima, para fins de mitigação das mudanças climáticas, estando vedado seu
contingenciamento, em razão do dever constitucional de tutela ao meio ambiente (CF, art. 225), de direitos
e compromissos internacionais assumidos pelo Brasil (CF, art. 5º, § 2º), bem como do princípio
constitucional da separação dos poderes (CF, art. 2º c/c art. 9º, § 2º, LRF).”

Resumo:

É dever do Poder Executivo dar pleno funcionamento ao Fundo Nacional sobre Mudança do
Clima (Fundo Clima) e alocar anualmente seus recursos com o intuito de mitigar as mudanças climáticas,
sendo vedado o contingenciamento de suas receitas.

89Precedentes citados: ADPF 109; ADI 5.312; ADI 4.988.

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A União e os representantes eleitos têm dever constitucional, supralegal e legal de proteger o meio
ambiente e de combater as mudanças climáticas. Ademais, os tratados sobre direito ambiental desfrutam de
status supranacional, pois constituem espécie do gênero tratados de direitos humanos.

Assim, a tutela ambiental possui natureza jurídica vinculante, eis que não inserida em juízo político, de
conveniência e oportunidade, do chefe do Poder Executivo, de modo que, acaso evidenciado um contexto de
colapso nas políticas públicas atinentes ao tema, o Poder Judiciário deve atuar para garantir obediência ao
princípio da vedação ao retrocesso.

Além disso, a alocação de recursos do Fundo concretiza o dever constitucional de tutela e restauração
do meio ambiente, assim como dos direitos fundamentais que lhes são interdependentes. Como as suas receitas
são vinculadas por lei a atividades determinadas, não podem ser objeto de contingenciamento, nos moldes da Lei
de Responsabilidade Fiscal90.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para: (i) reconhecer
a omissão da União, em razão da não alocação integral dos recursos do Fundo Clima referentes a 2019; (ii)
determinar à União que se abstenha de se omitir em fazer funcionar o Fundo Clima ou em destinar seus recursos;
e (iii) vedar o contingenciamento das receitas que integram o Fundo.

ADPF 708/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1061)

2.3 COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS

Composição de órgãos de controle ambiental - ADPF 651/DF

ODS: 15, 16 e 17

Resumo:

São inconstitucionais as normas que, a pretexto de reestruturarem órgãos ambientais, afastam a


participação da sociedade civil e dos governadores do desenvolvimento e da formulação de políticas
públicas, bem como reduzem, por via de consequência, o controle e a vigilância por eles promovidos.

A Constituição Federal confere ao Poder Público e à coletividade o dever de preservar e defender o


meio ambiente91. A responsabilidade da coletividade só existe se a ela for viabilizada a participação na
formulação, execução e controle das políticas públicas ambientais, razão pela qual a Constituição também teve o

90Precedente citado: ADPF 347 MC.

91CF/1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e
restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a
diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que
se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade. (...)”

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cuidado de estabelecer o dever de o Poder Público promover a educação ambiental, em todos os níveis de ensino,
e a conscientização pública para a necessidade de preservação do meio ambiente (CF, art. 225, § 1º, VI).

Nesse sentido, as medidas de proteção ambiental devem se orientar para acolher a participação da
sociedade civil. Nesse contexto, a eliminação da presença de seus representantes na composição de órgãos
ambientais exclui a coletividade da atuação cívica das políticas adotadas, bem como confere ao Poder Executivo
o controle exclusivo de suas decisões, neutralizando o caráter plural, crítico e diversificado da formulação,
desempenho e controle social, que, por definição constitucional, caracteriza condição inerente à atuação desses
órgãos.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para (i) declarar a
inconstitucionalidade do art. 5º do Decreto 10.224/2020, que extinguiu a participação da sociedade civil no
Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente; e (ii) declarar a inconstitucionalidade do Decreto
10.239/2020, especificamente no ponto em que excluída a participação de governadores no Conselho Nacional
da Amazônia Legal; e do inciso CCII do art. 1º do Decreto 10.223/2020, especificamente no ponto em que se
extinguiu o Comitê Orientador do Fundo Amazônia.

ADPF 651/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 28.4.2022 (INF 1052)

2.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Alteração dos critérios para dispensa de licenciamento ambiental por meio de norma
estadual - ADI 4529/MT

Resumo:

É inconstitucional — por invadir a competência legislativa geral da União (CF/1988, art. 24, VI,
§§ 1º e 2º) e violar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (CF/1988, art. 225, § 1º, IV) —
norma estadual que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente.

A legislação estadual exorbitou dos limites expressamente estabelecidos pela legislação federal para o
tratamento da matéria, promovendo indevida inovação ao prever o aumento do mínimo de fonte de energia
primária idônea a criar uma presunção de significativa degradação ambiental, bem como ao inserir requisito
diverso para o licenciamento, consistente na extensão da área inundada92.

Por outro lado, a atuação normativa estadual flexibilizadora, ao desconsiderar o patamar mínimo
estabelecido para a configuração de atividade potencialmente poluidora, violou o direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado e afrontou a obrigatoriedade da intervenção do Poder Público em matéria
ambiental. Ademais, como os empreendimentos e atividades econômicas apenas são considerados lícitos e
constitucionais quando subordinados à regra de proteção ambiental, a norma impugnada, justamente por
representar proteção insuficiente, deixa de observar os princípios da proibição de retrocesso em matéria
socioambiental, da prevenção e da precaução93

92Precedente citado: ADI 5312.

93Precedentes citados: ADI 6288; ADI 4069; RE 739998 AgR e ADI 1086.

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Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade material dos artigos 3º, XII, e 24, XI, da LC 38/1995 do Estado de Mato Grosso 94, bem
como da expressão contida no artigo 24, VII, da mesma norma, tanto na redação vigente (“com área de
inundação acima de 13 km²”) quanto na anterior (“com área de inundação acima de 300ha”).

ADI 4529/MT, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 21.11.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1076)

Concessão automática de licença ambiental para empresas com grau de risco médio - ADI
6808/DF

ODS: 8 e 11

Resumo:

É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental no sistema responsável pela


integração (Redesim) para o funcionamento de empresas que exerçam atividades de risco médio nos
termos da classificação estabelecida em ato do Poder Público.

O licenciamento ambiental dispõe de base constitucional 95 e não pode ser suprimido, ainda que de forma
indireta, por lei. Também não pode ser simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a norma que o
excepcionar apresentar outro instrumento apto a assegurar a proteção ao meio ambiente com igual ou maior
qualidade.

Nesse contexto, a simplificação do procedimento pelo argumento da desburocratização e


desenvolvimento econômico, com controle apenas posterior, configura retrocesso inconstitucional, pois afasta os
princípios da prevenção e da precaução ambiental. A automaticidade, por sua vez, contraria norma específica
sobre o licenciamento ambiental, segundo a qual as atividades econômicas potencial ou efetivamente causadoras
de impacto ambiental estão sujeitas ao controle estatal 96.

94LC 38/1995 do Estado do Mato Grosso: “Art. 3º O COSEMA, órgão colegiado do Sistema Estadual de Meio Ambiente -
SIMA, tem a finalidade de assessorar, avaliar e propor ao Governo do Estado de Mato Grosso diretrizes da Política Estadual
do Meio Ambiente, bem como deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio
ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida, possuindo as seguintes atribuições: (...) XII - opinar
sobre o licenciamento ambiental das usinas termelétricas ou hidrelétricas com capacidade acima de 30MW, para o que,
obrigatoriamente, será exigida a prévia elaboração de Estudo de Impacto Ambiental-EIA e apresentação do respectivo
Relatório de Impacto Ambiental-RIMA, dependendo a validade da licença de aprovação pela Assembléia Legislativa; (Nova
redação dada pela LC 70/2000) (...) Art. 24 Dependerá de elaboração do EIA e respectivo RIMA, a serem submetidos à
aprovação da SEMA, o licenciamento da implantação das seguintes atividades modificadoras do meio ambiente: (...) VII - as
obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, com área de inundação acima de 13km 2 (treze quilômetros
quadrados), de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem, retificação de cursos d' água,
abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias e diques. (Nova redação dada pela LC 189/2004) Redação
anterior, dada pela LC 70/2000: VII - obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, com área de inundação acima
de 300 ha (trezentos hectares), de drenagem, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de
bacias e diques; (...) XI - usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária acima de 30 (trinta)
MW; (Nova redação dada pela LC 70/2000)”

95CF/1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) IV - exigir, na
forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;”

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Não possui fundamento constitucional válido a vedação da coleta adicional, pelos órgãos competentes,
de dados que não tenham sido disponibilizados na Redesim previamente ou no ato do protocolo do pedido de
licenciamento.

A proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, para as presentes e futuras gerações, não
pode ser comprometida por interesses empresariais nem ser dependente de motivações exclusivamente
econômicas, na medida em que o desenvolvimento econômico deve ocorrer de forma sustentável.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para
dar interpretação conforme ao art. 6º-A e ao inciso III do art. 11-A, ambos da Lei 14.195/2021 97, não aplicando-
os às licenças em matéria ambiental.

ADI 6808/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento em 28.4.2022 (INF 1052)

Licenciamento ambiental e competência municipal - ADI 2142/CE

Tese fixada:

“É inconstitucional interpretação do art. 264 da Constituição do Estado do Ceará de que decorra


a supressão da competência dos Municípios para regular e executar o licenciamento ambiental de
atividades e empreendimentos de impacto local.”

Resumo:

Cabe aos municípios promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos


que possam causar impacto ambiental de âmbito local.

Com amparo nas regras de repartição de competências, o entendimento desta Corte se firmou no sentido
de que o município é competente para legislar sobre o meio ambiente com a União e o estado no limite do seu
interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes
federados (CF/1988, art. 24, VI c/c o art. 30, I e II)98.

A Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecida pela Lei 6.938/1981, expressamente prevê que
dependem de licenciamento ambiental a construção, a instalação, a ampliação e o funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou

96Lei 6.938/1981: “Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.”

97Lei 14.195/2021: Art. 6º-A Sem prejuízo do disposto no inciso I do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro
de 2019, nos casos em que o grau de risco da atividade seja considerado médio, na forma prevista no art. 5º-A desta Lei, o
alvará de funcionamento e as licenças serão emitidos automaticamente, sem análise humana, por intermédio de sistema
responsável pela integração dos órgãos e das entidades de registro, nos termos estabelecidos em resolução do CGSIM. (...)
Art. 11-A. Não poderão ser exigidos, no processo de registro de empresários, incluídos produtores rurais estabelecidos como
pessoas físicas, e de pessoas jurídicas realizado pela Redesim: (...) III - coletas adicionais à realizada no âmbito do sistema
responsável pela integração, a qual deverá ser suficiente para a realização do registro e das inscrições, inclusive no CNPJ, e
para a emissão das licenças e dos alvarás para o funcionamento do empresário ou da pessoa jurídica.”

98Precedente citado: RE 586224 (Tema 145 RG).

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capazes de causar degradação ambiental sob qualquer forma. Nesse contexto, o conjunto normativo 99 100
e a
jurisprudência acerca do tema101 reforçam a referida competência municipal e a sua importância.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para conferir
interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 264 da Constituição do Estado do Ceará 102, no sentido de
que a aplicação do dispositivo deve se limitar à estrutura político-administrativa do Estado do Ceará, ficando
resguardadas as competências administrativa e legislativa dos municípios relativas ao licenciamento de
atividades e empreendimentos de impacto local.

ADI 2142/CE, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)

2.5 POLUIÇÃO

Resolução 491/2018-Conama: padrões de qualidade do ar e diretrizes da OMS - ADI


6148/DF

ODS: 3 e 11

Resumo:

Ainda é constitucional a Resolução 491/2018 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),


que dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Entretanto, nova norma deve ser editada.

Mantém-se a constitucionalidade da resolução haja vista o cotejo das teses trazidas na inicial com a
jurisprudência desta Corte. Ademais, quando editada, a regulação consistiu em avanço, de forma razoável, no
tratamento da matéria. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que, embora suas diretrizes
sejam pensadas para o uso mundial, os padrões locais podem variar de acordo com abordagens específicas para o
equilíbrio de riscos à saúde, viabilidade tecnológica, considerações econômicas e outros fatores políticos e
sociais.

99Lei Complementar 140/2011: “Art. 9º São ações administrativas dos Municípios: (...) XIV - observadas as atribuições dos
demais entes federativos previstas nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou
empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos
respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da
atividade; ou b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental
(APAs);”

100Resolução 237/1997 do CONAMA: “Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes
da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de
impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio. Art. 7º - Os
empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível de competência, conforme estabelecido nos artigos
anteriores.”

101Precedente citado: ADI 6288.

102Constituição do Estado do Ceará: “Art. 264. Qualquer obra ou atividade pública ou privada, para as quais a
Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, exigir Estudo de Impacto Ambiental, deverá ter o parecer técnico
apreciado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente – COEMA, com a publicação da resolução, aprovada ou não, publicada
no Diário Oficial do Estado.”

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Apesar disso, a resolução está em trânsito para a inconstitucionalidade e precisa ser aperfeiçoada. Logo,
o Conama deve editar norma atualizada tendo em conta os novos parâmetros de qualidade do ar recomendados
pela OMS.

Com esses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu de ação direta de inconstitucionalidade e
julgou improcedente o pedido nela formulado, para declarar ser ainda constitucional a Resolução 491/2018-
Conama e determinar que, no prazo de 24 meses a contar da publicação do acórdão, o Conama edite nova
resolução sobre a matéria, a qual deverá levar em consideração: (i) as atuais orientações da OMS sobre os
padrões adequados da qualidade do ar; (ii) a realidade nacional e as peculiaridades locais; bem como (iii) os
primados da livre iniciativa, do desenvolvimento social, da redução da pobreza e da promoção da saúde pública.
Decorrido o prazo de vinte e quatro meses concedido, sem a edição de novo ato que represente avanço material
na política pública relacionada à qualidade do ar, passarão a vigorar os parâmetros estabelecidos pela OMS
enquanto perdurar a omissão administrativa na edição da nova resolução. Vencidos os ministros Cármen Lúcia
(relatora), Edson Fachin, Roberto Barroso e Rosa Weber.

ADI 6148/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, redator do acórdão Ministro André Mendonça,
julgamento em 4 e 5.5.2022 (INF 1053)

2.6 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL

Supressão de marcos regulatórios ambientais e proibição do retrocesso ambiental - ADPF


748/DF

ODS: 2, 6, 8, 12, 15 e 16

Resumo:

É inconstitucional a Resolução CONAMA 500/2020.

O poder normativo atribuído ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) pela respectiva lei
instituidora consiste em instrumento para viabilizar, ao agente regulador, a implementação das diretrizes,
finalidades, objetivos e princípios expressos na Constituição e na legislação ambiental, orientando-se
necessariamente de modo compatível com a ordem constitucional de proteção do patrimônio ambiental.

Assim, a mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao


cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, compromete a observância do texto
constitucional, da legislação vigente e de compromissos internacionais.

No caso, a Resolução CONAMA 500/2020 revogou as Resoluções CONAMA 284/2001, 302/2002 e


303/2002, as quais dispõem, respectivamente, sobre (i) licenciamento de empreendimentos de irrigação; (ii)
parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de
uso do entorno; e (iii) parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.

Nesse contexto, ao revogar normativa necessária e primária de proteção ambiental na seara hídrica, o
ato normativo impugnado implicou evidente retrocesso na proteção e defesa dos direitos fundamentais à vida, à
saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois revela autêntica situação de degradação de
ecossistemas essenciais à preservação da vida sadia, comprometimento da integridade de processos ecológicos
essenciais e perda de biodiversidade, assim como o recrudescimento da supressão de cobertura vegetal em áreas
legalmente protegidas103.
103CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o

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É constitucional a Resolução CONAMA 499/2020.

Ao disciplinar condições, critérios, procedimentos e limites a serem observados no licenciamento de


fornos rotativos de produção de clínquer para a atividade de coprocessamento de resíduos, a Resolução atende
não apenas à exigência de estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de atividade potencialmente
causadora de degradação do meio ambiente, como também à obrigação imposta ao Poder Público de controlar o
emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente.

Além disso, sua disciplina guarda consonância com a Lei 12.305/2020, que institui a Política Nacional
de Resíduos Sólidos, muito bem observando os critérios de razoabilidade e proporcionalidade nela positivados
como princípios setoriais.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação
para (i) declarar a inconstitucionalidade da Resolução CONAMA 500/2020, com a imediata restauração da
vigência e eficácia das Resoluções CONAMA 284/2001, 302/2002 e 303/2002; e (ii) julgar improcedente o
pedido de inconstitucionalidade da Resolução CONAMA 499/2020.

ADPF 748/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1055)

2.7 SANEAMENTO BÁSICO

Região metropolitana: saneamento básico, poder decisório e recursos obtidos com a


empreitada comum - ADI 6573/AL; ADI 6911/AL e ADPF 863/AL

ODS: 6 e 16

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a concentração excessiva do poder decisório nas mãos de só
um dos entes públicos integrantes de região metropolitana.

A integração metropolitana de municípios visando promover melhorias das condições de saneamento


básico é compatível com a CF/1988, e a simples existência fática de isolamento ou não integração do sistema
não obsta a sua formação nos moldes da legislação de regência.

A concorrência entre o princípio do interesse comum e a autonomia municipal não deve traduzir-se em
total centralização do poder decisório metropolitano, uma vez que prevalece a tese da competência e da
titularidade conjuntas, que enseja a existência de uma estrutura colegiada assecuratória da participação dos
municípios integrantes da região metropolitana104.

Ainda que a gestão colegiada das regiões metropolitanas não esteja obrigada a respeitar a paridade de
votos entre seus integrantes, afronta o princípio da proibição da concentração decisória todo o desenho
institucional que agrupe poderes em apenas uma de suas pessoas políticas, conferindo-lhe o exercício do
predomínio absoluto nas instâncias deliberativas e/ou executivas.

lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”

104Precedentes citados: ADI 1.842; ADI 1.841; e ADI 796.

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Nesse mesmo contexto, é inadmissível que a gestão e a percepção dos frutos da empreitada
metropolitana comum, incluídos os valores referentes a eventual concessão à iniciativa privada, aproveitem a
apenas um dos entes federados.

A densificação da autonomia dos entes deve ser exercida com a lógica do compartilhamento,
assegurando-se a participação de todos na gestão dos recursos, mesmo que não siga uma proporção estrita. Ainda
que a Constituição e a jurisprudência não imponham um único modelo pré-fixado, é vedado que apenas um ente
absorva a integralidade das competências e das benesses.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, em julgamento conjunto e por unanimidade, julgou
parcialmente procedente a ADI 6.573 e totalmente procedentes a ADI 6.911 e a ADPF 863, modulando os efeitos
da decisão para resguardar a continuidade do essencial serviço de saneamento básico na região.

ADI 6573/AL, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1055)

ADI 6911/AL, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1055)

ADPF 863/AL, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1055)

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3. DIREITO CIVIL

3.1 ASSOCIAÇÃO

Desfiliação de associado: quitação de débitos e/ou multas como condição - RE 820823/DF


(Tema 922)

ODS: 16

Tese fixada:

“É inconstitucional o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débito referente a


benefício obtido por intermédio da associação ou ao pagamento de multa.”

Resumo:

Condicionar a desfiliação de associado à quitação de débitos e/ou multas constitui ofensa à


dimensão negativa do direito à liberdade de associação (direito de não se associar), cuja previsão
constitucional é expressa.

É possível, em tese, restringir um direito fundamental em três situações: (a) em razão de seu desenho
constitucional, quando a própria Constituição prevê limitação para o seu exercício; (b) em virtude de expressa
autorização na Carta Magna para que o legislador ordinário limite o seu exercício mediante regulamentação
legal; ou (c) em decorrência de uma ponderação com outros valores que possuam igual proteção
constitucional105.

Na hipótese, nenhuma dessas situações se faz presente, de modo que inexiste violação à isonomia entre
os associados. Isso porque (a) a Constituição Federal garante o amplo exercício da liberdade associativa,
restringindo somente a criação daquelas de caráter paramilitar 106; e (b) considerados os instrumentos próprios do
direito civil, não há princípio ou regra constitucional passíveis de serem invocados em favor da medida objeto de
análise.

No entanto, a associação pode se valer dos instrumentos de direito para cobrar eventuais compensações
ou multas em face de quem a ela se filia para obter benefícios, mas, após, dela se desliga, desde que o valor
guarde razoabilidade e proporcionalidade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 922 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso extraordinário para restabelecer a sentença.

RE 820823/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1070)

105Precedentes citados: ADI 1969 e RE 695911 (Tema 492 RG)

106CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; XVIII - a
criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal
em seu funcionamento; XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se
ou a permanecer associado; XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;”

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3.2 BEM DE FAMÍLIA

Bem de família: fiança; contrato de locação comercial e penhorabilidade - RE 1307334/SP


(Tema 1127 RG)

Tese fixada:

“É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, seja


residencial, seja comercial.”

Resumo:

A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também se


aplica no caso de locação de imóvel comercial.

A exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família contida no inciso VII do art. 3º da Lei
8.009/1990107 é necessária, proporcional e razoável, mesmo na hipótese de locação comercial.

É necessária e proporcional, pois os outros meios legalmente aceitos para garantir o contrato de locação
comercial, tais como caução e seguro-fiança, são mais custosos para grande parte dos empreendedores. Dessa
forma, a fiança afigura-se a garantia que melhor propicia ganhos em termos da promoção da livre iniciativa, da
valorização do trabalho e da defesa do consumidor.

Já a razoabilidade se assenta no fato de que o fiador tem livre disposição dos seus bens, o que deixa
patente que a restrição ao seu direito de moradia encontra guarida no princípio da autonomia privada e da
autodeterminação das pessoas, que é um princípio que integra a própria ideia ou direito de personalidade.

Com esses entendimentos, ao apreciar o Tema 1127 da repercussão geral, o Plenário, por maioria, negou
provimento a recurso extraordinário.

RE 1307334/SP, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022


(terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

107Lei 8.009/1990: “Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária,
trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) VII – por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de
locação.”

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3.3 POSSE

COVID-19: Retomada das ações de reintegração de posse suspensas em razão da pandemia


- ADPF 828 TPI-quarta-Ref/DF

ODS: 1, 3 e 11

Resumo:

Em face do arrefecimento dos efeitos da pandemia da Covid-19, cabe adotar um regime de


transição para a retomada das reintegrações de posse suspensas em decorrência da doença, por meio do
qual os tribunais deverão instalar comissões para mediar eventuais despejos antes de qualquer decisão
judicial, a fim de reduzir os impactos habitacionais e humanitários em casos de desocupação coletiva.

No contexto da alteração do cenário epidemiológico no Brasil, a retomada das reintegrações de posse


suspensas em razão da pandemia deve se dar de forma responsável, cautelosa e com respeito aos direitos
fundamentais em jogo. A execução simultânea de milhares de ordens de desocupação, que envolvem milhares de
famílias vulneráveis, geraria o risco de convulsão social. Por isso, é preciso estabelecer um regime de transição
para a progressiva retomada das reintegrações de posse.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a tutela provisória incidental
parcialmente deferida, para determinar a adoção de um regime de transição para a retomada da execução de
decisões suspensas na presente ação, nos seguintes termos: (a) Os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais
Federais deverão instalar, imediatamente, comissões de conflitos fundiários que possam servir de apoio
operacional aos juízes e, principalmente nesse primeiro momento, elaborar a estratégia de retomada da execução
de decisões suspensas pela presente ação, de maneira gradual e escalonada; (b) Devem ser realizadas inspeções
judiciais e audiências de mediação pelas comissões de conflitos fundiários, como etapa prévia e necessária às
ordens de desocupação coletiva, inclusive em relação àquelas cujos mandados já tenham sido expedidos. As
audiências devem contar com a participação do Ministério Público e da Defensoria Pública nos locais em que
esta estiver estruturada, bem como, quando for o caso, dos órgãos responsáveis pela política agrária e urbana da
União, estados, Distrito Federal em municípios onde se situe a área do litígio, nos termos do art. 565 do CPC 108 e
do art. 2º, § 4º, da Lei 14.216/2021 109; (c) As medidas administrativas que possam resultar em remoções coletivas
de pessoas vulneráveis devem: (i) ser realizadas mediante a ciência prévia e oitiva dos representantes das
comunidades afetadas; (ii) ser antecedidas de prazo mínimo razoável para a desocupação pela população
envolvida; (iii) garantir o encaminhamento das pessoas em situação de vulnerabilidade social para abrigos
públicos (ou local com condições dignas) ou adotar outra medida eficaz para resguardar o direito à moradia,
vedando-se, em qualquer caso, a separação de membros de uma mesma família. Por fim, o Tribunal referendou,

108CPC/2015: “Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição
inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá
designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º.”

109Lei 14.216/2021: “Art. 2º Ficam suspensos até 31 de dezembro de 2021 os efeitos de atos ou decisões judiciais,
extrajudiciais ou administrativos, editados ou proferidos desde a vigência do estado de calamidade pública reconhecido
pelo Decreto Legislativo 6, de 20 de março de 2020, até 1 (um) ano após o seu término, que imponham a desocupação ou a
remoção forçada coletiva de imóvel privado ou público, exclusivamente urbano, que sirva de moradia ou que represente área
produtiva pelo trabalho individual ou familiar. (...) § 4º Superado o prazo de suspensão a que se refere o caput deste artigo, o
Poder Judiciário deverá realizar audiência de mediação entre as partes, com a participação do Ministério Público e da
Defensoria Pública, nos processos de despejo, de remoção forçada e de reintegração de posse coletivos que estejam em
tramitação e realizar inspeção judicial nas áreas em litígio.”

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ainda, a medida concedida, a fim de que possa haver a imediata retomada do regime legal para desocupação de
imóvel urbano em ações de despejo (Lei 8.245/1991, art. 59, § 1º, I, II, V, VII, VIII e IX)110.

ADPF 828 TPI-quarta-Ref/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
2.11.2022 (quarta-feira), às 23:59 (INF 1075)

3.4 DIREITO AUTORAL

Isenção do pagamento de direitos autorais em eventos sem fins lucrativos - ADI 6151/SC

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que isenta o pagamento de direitos autorais pela execução de obras
musicais em eventos sem fins lucrativos promovidos no âmbito de seu território.

Os direitos autorais se inserem no ramo do Direito Civil, razão pela qual a norma estadual impugnada é
formalmente inconstitucional, pois afronta competência privativa da União para dispor sobre o tema (CF/1988,
art. 22, I). Verifica-se, ainda, ter havido o estabelecimento de novas hipóteses de limitação patrimonial não
previstas na Lei 9.610/1998 (Lei do Direito Autoral), que é a legislação federal específica sobre o tema e que não
é passível de alteração por norma estadual ou municipal111.

Ademais, a lei estadual impugnada também padece de inconstitucionalidade material, porque (i)
interfere no devido funcionamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuições (Ecad), o qual se
caracteriza como associação civil que exerce, com exclusividade, a arrecadação e distribuição de direitos
autorais, em razão da execução pública de obras musicais em todo o território nacional (CF/1988, art. 5º, XVIII);
bem como (ii) priva o aproveitamento econômico dos autores em evidente violação ao direito fundamental de
dispor, de modo exclusivo, sobre suas produções e de, com elas, obter proveito financeiro (CF/1988, art. 5º,
XXVII e XXVIII).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 17.724/2019 do Estado de Santa Catarina112.
110Lei 8.245/1991: “Art. 59. Com as modificações constantes deste capítulo, as ações de despejo terão o rito ordinário. §
1º Conceder - se - á liminar para desocupação em quinze dias, independentemente da audiência da parte contrária e desde que
prestada a caução no valor equivalente a três meses de aluguel, nas ações que tiverem por fundamento exclusivo: I - o
descumprimento do mútuo acordo (art. 9º, inciso I), celebrado por escrito e assinado pelas partes e por duas testemunhas, no
qual tenha sido ajustado o prazo mínimo de seis meses para desocupação, contado da assinatura do instrumento; II - o
disposto no inciso II do art. 47, havendo prova escrita da rescisão do contrato de trabalho ou sendo ela demonstrada em
audiência prévia; (...) V - a permanência do sublocatário no imóvel, extinta a locação, celebrada com o locatário. (...) VII - o
término do prazo notificatório previsto no parágrafo único do art. 40, sem apresentação de nova garantia apta a manter a
segurança inaugural do contrato; VIII - o término do prazo da locação não residencial, tendo sido proposta a ação em até 30
(trinta) dias do termo ou do cumprimento de notificação comunicando o intento de retomada; IX - a falta de pagamento de
aluguel e acessórios da locação no vencimento, estando o contrato desprovido de qualquer das garantias previstas no art. 37,
por não ter sido contratada ou em caso de extinção ou pedido de exoneração dela, independentemente de motivo.”

111Precedentes citados: ARE 1247009 AgR; ARE 961537 AgR; ARE 1186552 AgR; ADI 1472 e ADI 5800.

112Lei 17.724/2019 do Estado de Santa Catarina: “Art. 1º As entidades oficialmente declaradas de utilidade pública
estadual ou municipal, fundações ou instituições filantrópicas e associações de cunho recreativo, filantrópico, beneficente,
assistencial, promocional ou educacional legalmente constituídas, quando da realização de eventos que não visam ao lucro
promovidos no Estado de Santa Catarina, ficam dispensadas do pagamento de taxas, ou de outro tipo de cobrança, referentes
à retribuição ou direitos autorais por execuções de obras musicais. § 1º O direito à isenção previsto neste artigo depende de
comprovação, pela interessada, mediante documentação legal, da sua condição de pessoa jurídica constituída sob a forma de

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ADI 6151/SC, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 7.10.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1071)

4. DIREITO CONSTITUCIONAL

4.1 ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

Advogados da União: direito a férias de 30 dias anuais - RE 929886/SC

ODS: 16

Tese fixada:

“Os Advogados da União não possuem direito a férias de 60 (sessenta) dias, nos termos da
legislação constitucional e infraconstitucional vigentes.”

Resumo:

O atual ordenamento jurídico brasileiro prevê aos Advogados da União o direito de gozar somente
30 dias de férias anuais.
As normas que equiparavam os Advogados da União aos membros do Ministério Público da União,
assegurando-lhes o direito às férias de 60 dias (Lei 2.123/1953, Lei 4.069/1962 e Decreto-lei 147/1967) não
foram recepcionadas pela CF/1988 com status de lei complementar, mas sim de leis ordinárias, visto não
tratarem de matéria relativa à organização e ao funcionamento da Advocacia-Geral da União ( 113) (114).
Por essa razão, é válida a revogação de dispositivos dos referidos diplomas legais imposta pela Lei
9.527/1997, a qual, com o objetivo de conceder tratamento isonômico às carreiras jurídicas da União, estabelece
o direito de 30 dias de férias anuais aos servidores ocupantes de cargo efetivo de advogado, assistente jurídico,
procurador e demais integrantes do Grupo Jurídico, da Administração Pública Federal direta, autárquica,
fundacional, empresas públicas e sociedades de economia mista, a partir do período aquisitivo de 1997.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 1.063 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 929886/SC, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 2.9.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1066)

associação civil sem fins lucrativos, conforme determina a legislação brasileira. § 2º A isenção de que trata o presente artigo
abrange as execuções musicais realizadas em locais abertos ao público ou em estabelecimentos fechados. § 3º Incluem-se no
benefício da isenção prevista nesta Lei, entre outras com a mesma finalidade, as execuções de obras musicais e literomusicais
‘mecânicas’ com a utilização de fonogramas, videofonograma e audiovisuais, e a execução musical ‘ao vivo’. Art. 2º Esta Lei
entra em vigor na data de sua publicação.”

113CF/1988: “Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado,
representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua
organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.”

114Precedentes citados: RE 594481 (Tema 1.090 RG); RE 602381 (Tema 279 RG).

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4.2 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Concessão de meia-entrada em estabelecimentos de lazer e entretenimento para professores


da rede pública estadual e municipais de ensino - ADI 3753/SP

Resumo:

É constitucional lei estadual que concede aos professores das redes públicas estadual e municipais
de ensino o benefício da meia-entrada nos estabelecimentos de lazer e entretenimento.

A competência para legislar sobre direito econômico é concorrente entre a União, os estados-membros,
o Distrito Federal e os municípios 115. Assim, como a legislação federal atualmente vigente que trata do benefício
em comento (Lei 12.933/2013) não contempla a específica categoria profissional abrangida pela norma estadual
impugnada, o ente federado pode utilizar-se legitimamente de sua competência normativa supletiva para tanto 116.

Sob o aspecto material, também não há inconstitucionalidade, uma vez que a medida não viola, sob
qualquer aspecto, o princípio da isonomia. O tratamento desigual criado pela lei (concessão da meia-entrada
apenas à parcela da categoria) está plenamente justificado — constitui estratégia de política pública que se
coaduna com a priorização absoluta da educação básica. Além disso, revela-se como salutar intervenção
parcimoniosa do Estado na ordem econômica, que visa à realização de relevantes valores constitucionais, e como
condição para a concretização da justiça social.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação direta.

ADI 3753/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1050)

Concessão de porte de arma de fogo a procuradores estaduais por lei estadual - ADI
6985/AL

Resumo:

A concessão de porte de arma a procuradores estaduais, por lei estadual, é incompatível com a
Constituição Federal.

A Constituição Federal (CF) atribuiu à União a competência material para autorizar e fiscalizar o
armamento produzido e comercializado no País (CF, art. 21, VI) 117. Também outorgou ao legislador federal a
competência legislativa correspondente para ditar normas sobre material bélico (CF, art. 22, XXI) 118.

Além disso, a competência atribuída aos estados em matéria de segurança pública não pode se sobrepor
ao interesse mais amplo da União no tocante à formulação de uma política criminal de âmbito nacional, cujo

115CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito
tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...) Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre
assuntos de interesse local;”

116Precedentes citados: ADI 1950 e ADI 3512.

117CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;”

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pilar central constitui exatamente o estabelecimento de regras uniformes, em todo o País, para a fabricação,
comercialização, circulação e utilização de armas de fogo. Há, portanto, preponderância do interesse da União
nessa matéria, quando confrontado o eventual interesse do estado-membro em regulamentar e expedir
autorização para o porte de arma de fogo119.

Assim, não existe espaço de conformação para que o legislador subnacional outorgue o porte de armas
de fogo a categorias funcionais não contempladas pela legislação federal.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 81, VII, da LC 7/1991 120 do Estado de Alagoas.

ADI 6985/AL, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1045)

Conversão dos autos de prisão em flagrante em diligência - ADI 4662/SP

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional norma121 do provimento do Conselho da Magistratura estadual que proíbe o


juiz de converter os autos de prisão em flagrante em diligência.

Isso porque, a norma, além de desbordar dos limites do poder regulamentar, invade a competência
privativa da União para legislar sobre Direito Processual Penal (CF/1988, art. 21, I) 122.

Ademais, não há na lei processual, mesmo após as alterações introduzidas pela Lei 13.964/2019,
qualquer proibição à conversão do auto de prisão em flagrante em diligência. Dessa forma, o Conselho Superior
da Magistratura, a pretexto de disciplinar o bom funcionamento do plantão judiciário, indevidamente, inovou em
matéria processual penal.

118CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXI - normas gerais de organização, efetivos,
material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros
militares; (Redação dada pela EC 103/2019)”

119Precedente citado: ADI 3112.

120LC 7/1991 do Estado de Alagoas: “Art. 81. São prerrogativas do Procurador de Estado: (...) VII – portar arma, valendo
como documento de autorização a cédula de identidade funcional visada pelo Procurador-Geral do Estado e pelo Secretário
Estadual de Segurança Pública”

121Provimento CSM 1.898/2011: “Art. 2º- Acrescer o item 4.2 ao Capítulo XII das Normas de Serviço da Corregedoria-
Geral da Justiça, que passa a vigorar com a seguinte redação: 4.2. Ao receber a cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz
designado para atuar no plantão, na forma do artigo 310, incisos I, II e III, do Código de Processo Penal, deverá relaxar a
prisão ilegal, converter a prisão em flagrante em preventiva ou conceder a liberdade provisória, vedada a conversão em
diligência.”

122Precedentes citados: ADI 3896, ADI 2938; e ADI 5949.

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A possibilidade de ordenar diligências prévias consiste em prerrogativa inafastável do magistrado.

A norma impugnada também vulnera, diretamente, o princípio da independência funcional do juiz,


motivo pelo qual está eivada de vício material.

O princípio da independência judicial, corolário do princípio constitucional da independência do Poder


Judiciário, garante ao magistrado tomar medidas indispensáveis para a formação de sua convicção.

Isso não significa que se possa admitir a indefinida e irrazoável postergação da decisão judicial a
respeito da manutenção ou não da privação de liberdade em caráter cautelar, mas sim que, excepcionalmente,
havendo necessidade de se determinar diligências prévias para a formação da convicção judicial, o juiz
competente, inclusive o plantonista, deve decidir o quanto antes, ou seja, com a maior celeridade possível.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente o pedido
formulado para declarar a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão em diligência”, contida no
art. 2º do Provimento 1.898/2001 do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo e reiterada no art. 1.133 das Normas de Serviço da Corregedoria-Geral de Justiça, com redação dada pelo
Provimento CG 28/2019.

ADI 4662/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022 (segunda-feira),
às 23:59 (INF 1063)

Extinção da pena de prisão disciplinar de policiais e bombeiros militares - ADI 6595/DF

Resumo:

É inconstitucional lei federal, de iniciativa parlamentar, que veda medida privativa e restritiva de
liberdade a policiais e bombeiros militares dos estados, dos territórios e do Distrito Federal.

Na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal 123, compete ao chefe do Poder Executivo local
a iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico de servidores militares estaduais e distritais, por força do
princípio da simetria124.

No caso, a norma impugnada resultou da aprovação do Projeto de Lei 7.645/2014, de autoria


parlamentar. Dessa forma, ainda que se entendesse que ela dispõe sobre normas gerais, de competência da
União, há um incontornável vício de inconstitucionalidade formal 125.

A lei combatida também padece de inconstitucionalidade material. Não obstante as polícias militares e
os corpos de bombeiros militares dos entes federados subordinem-se aos governadores, constituem forças
auxiliares e reserva do Exército, sendo responsáveis, em conjunto com as polícias de natureza civil, e portando
armas letais, pela preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

123Precedentes citados: ADI 3930; ADI 4648; e ADI 6321.

124CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos
Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. §
1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: (...) f) militares das Forças
Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a
reserva.”

125Precedente citado: ACO 3396.

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Nesse contexto, os servidores militares estaduais e distritais submetem-se a um regime jurídico
diferenciado126, motivo pelo qual a própria Constituição, expressamente, autoriza a prisão por determinação de
seus superiores hierárquicos no caso de transgressão das regras e não lhes assegura sequer o habeas corpus em
relação às punições disciplinares127.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação direta para
declarar a inconstitucionalidade formal e material da Lei federal 13.967/2019.

ADI 6595/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1055)

Lei estadual e vedação à inscrição em cadastro de proteção ao crédito - ADI 6668/MG

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que vede a inscrição em cadastro de proteção ao crédito de usuário
inadimplente dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Não compete aos estados legislar sobre normas gerais de proteção ao consumidor ou concessão de
serviço público [Constituição Federal (CF), art. 175, parágrafo único, II] 128, 129(2).

A competência para elaborar a lei de delegação do serviço público que tratará dos direitos dos usuários
pertence ao ente federado dele titular. No entanto, essa lei cobrirá apenas os aspectos específicos da delegação,
pois cabe à lei nacional fixar as normas gerais de concessão e permissão de serviços públicos (CF, art. 22,
XXVII, e art. 175, caput)130.

Ademais, as normas gerais sobre consumo, editadas pela União, não preveem qualquer restrição quanto
aos tipos de débitos que possam ser inscritos nos bancos de dados e cadastros de consumidores [Código de
Defesa do Consumidor (CDC), arts. 43 e 44]. Assim, não é razoável conceber que uma lei estadual possa
estabelecer restrições quanto aos débitos que não podem ser inscritos em banco de dados ou cadastro de

126Precedente citado: RE 570177.

127CF/1988: “Art. 5º (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; (...)
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei
e da ordem. (...) § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.”

128CF/1988: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: (...) II - os direitos dos
usuários;”

129Precedente citado: ADI 5.575.

130CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXVII - normas gerais de licitação e contratação,
em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos
termos do art. 173, § 1°, III;”

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consumidores, criando situações não isonômicas em determinada região. O poder suplementar dos demais entes
da federação apenas pormenorizam a questão, complementando-a, mas jamais alterando-a em sua essência ou
mesmo estabelecendo regras incompatíveis com a norma131.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado na
ação direta, para declarar a inconstitucionalidade do art. 3º, parágrafo único, da Lei 18.309/2009 do Estado de
Minas Gerais132.

ADI 6668/MG, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1043)

Lei estadual: SAC e atendimento telefônico gratuito - ADI 4118/RJ

Resumo:

É válida lei estadual que obrigue empresas prestadoras de serviços de televisão por assinatura e
estabelecimentos comerciais de vendas no varejo e no atacado — que já possuam Serviço de Atendimento
ao Consumidor (SAC) — a fornecerem atendimento telefônico gratuito a seus clientes.

Sem que haja previsão normativa federal a desautorizar, o norte exegético do princípio federativo atrai
solução que preserve a competência do ente federado menor à luz do art. 24 da Constituição Federal (CF) 133.

No que tange ao direito do consumidor, sob o viés do fortalecimento do “federalismo centrífugo”, não
fere o modelo constitucional de repartição de competências legislação estadual supletiva do disposto na Lei
8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), particularmente se orientada a ampliar a esfera protetiva do
consumidor e limitados os seus efeitos ao espaço próprio do ente federado que a edita 134.

Sob o enfoque dos atuais contornos da repartição constitucional de competências — particularmente


delineados pela evolução do federalismo de cooperação —, o exercício da competência concorrente está
chancelado pelos §§ 1º e 2º do art. 24 da CF, haja vista o nítido caráter de suplementação do arcabouço jurídico
protetivo das relações de consumo que a obrigação de gratuidade no serviço de atendimento telefônico traduz.

Com esses entendimentos, o Plenário conheceu do pedido formulado em ação direta de


inconstitucionalidade apenas quanto ao art. 1º da Lei 5.273/2008 do Estado do Rio de Janeiro 135. No mérito, por
maioria, julgou improcedente a pretensão. Vencidos os ministros Gilmar Mendes, André Mendonça e Nunes
Marques.

131Precedente citado: ADI 3.623.

132Lei 18.309/2009 do Estado de Minas Gerais: “Art. 3º (…) Parágrafo único. É vedada a inscrição do nome do usuário dos
serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário em cadastro de proteção ao crédito, em razão de atraso no
pagamento da conta.”

133CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) V –
produção e consumo; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a
suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe
for contrário.”

134Precedentes citados: ADI 5.462 e ADI 4.351.

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ADI 4118/RJ, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1045)

Militares estaduais grevistas e anistia das infrações disciplinares - ADI 4869/DF

ODS: 16

Resumo:

É formalmente inconstitucional norma federal que concede anistia a policiais e bombeiros


militares estaduais por infrações disciplinares decorrentes da participação em movimentos
reivindicatórios por melhorias de vencimentos e de condições de trabalho.

A anistia de competência da União há de recair sobre crimes. Em matéria de infrações disciplinares,


cabe aos entes estaduais concedê-la a seus respectivos servidores, em face da autonomia que caracteriza a
Federação brasileira136. Quanto aos bombeiros e policiais militares, a competência estadual é realçada nos arts.
42 e 144, § 6º, da CF/1988137.

Ademais, embora ocorridas situações similares em mais de um estado, a irresignação dos grevistas
permaneceu direcionada às condições específicas de cada corporação, de modo que, não afastado o interesse
regional, compete ao chefe do Poder Executivo correspondente, por imposição do princípio da simetria, a
iniciativa de lei para tratar do tema138.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, na parte
conhecida, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão “e as infrações disciplinares

135Lei 5.273/2008-RJ: “Art. 1º Obrigam-se, no âmbito do território do Estado do Rio de Janeiro, as empresas de televisão
por assinaturas (TV a Cabo), estabelecimentos comerciais de venda no varejo e atacado, que possuam serviço de atendimento
ao consumidor - SAC, a colocarem à disposição de seus clientes atendimento telefônico gratuito, através do prefixo 0800,
para efetuar reclamações, esclarecimento de dúvidas e prestação de outros serviços. Parágrafo único. A empresa que, visando
atender o dispositivo desta Lei, divulgar, mas não disponibilizar efetivamente o serviço telefônico através do prefixo 0800,
terá sua inscrição estadual cassada, após regular processo administrativo.”

136Precedente citado: ADI 4377.

137CF/1988: “Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. § 1º Aplicam-se aos militares
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art.
40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo
as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. (...) Art. 144. (...) § 6º As polícias militares e os corpos de
bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias
penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.”

138Precedentes citados: ADI 341 e ADI 1440.

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70
conexas”, constante na lei impugnada139. Por maioria, a Corte atribuiu à decisão eficácia ex nunc a contar da data
de publicação da ata de julgamento.

ADI 4869/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

Norma estadual e emenda parlamentar impositiva em lei orçamentária - ADI 6308/RR

Resumo:

São inconstitucionais emendas parlamentares estaduais de caráter impositivo em lei orçamentária


anteriores à vigência das ECs 86/2015 e 100/2019.
O constituinte do Estado de Roraima, ao inovar e tratar da execução de emendas parlamentares
impositivas (individuais ou coletivas), não agiu dentro da competência suplementar permitida na seara da
legislação concorrente140, uma vez que dispôs em sentido contrário às normas gerais federais que efetivamente já
existiam à época sobre o tema e que não contemplavam o instituto141.
Além disso, inexiste no ordenamento jurídico brasileiro a figura da constitucionalidade superveniente 142,
de modo que não há se falar na consequente convalidação das normas.
Não cabe à Constituição estadual instituir a figura das programações orçamentárias impositivas
fora das hipóteses previstas no regramento nacional143.
A compreensão doutrinária e jurisprudencial anota que as normas da CF/1988 sobre processo legislativo
em geral e processo legislativo das leis orçamentárias em especial são de reprodução obrigatória pelas
Constituições estaduais, por força do princípio da simetria144.

139Lei 12.505/2011: “Art. 2º A anistia de que trata esta Lei abrange os crimes definidos no Decreto-Lei 1.001, de 21 de
outubro de 1969 – Código Penal Militar, e na Lei 7.170, de 14 de dezembro de 1983 – Lei de Segurança Nacional, e as
infrações disciplinares conexas, não incluindo os crimes definidos no Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código
Penal, e nas demais leis penais especiais.”

140CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) I - direito
tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da
União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”

141Precedente citado: ADI 6129 MC.

142Precedentes citados: ARE 683849 AgR; e RE 346084.

143Precedentes citados: ADI 5274; e ADI 2680.

144Precedente citado: ADI 422.

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71
No caso, apesar de a CF/1988 ter passado a prever expressamente sobre o tema, fixou limites diferentes
dos adotados pelo Estado roraimense.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente da ação e, nessa
parte, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 113, §§ 3º, 3º-A, 4º, 6º, 7º, 8º e 9º, da
Constituição do Estado de Roraima, acrescidos pelas Emendas Constitucionais 41/2014 e 61/2019, e, por
arrastamento, do art. 24, §§ 1º, 2º, 4º, 5º e 6º, da Lei 1.327/2019 (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e do art. 8º da
Lei 1.371/2020 (Lei Orçamentária Anual para o exercício de 2020), ambas do Estado de Roraima, mantidos os
efeitos da cautelar no período em que vigeu.

ADI 6308/RR, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1057)

Obrigações impostas aos planos de saúde e competência legislativa privativa da União -


ADI 7029/PB

ODS: 3

Resumo:

É formalmente inconstitucional lei estadual que estabelece obrigações referentes a serviço de


assistência médico-hospitalar que interferem nas relações contratuais estabelecidas entre as operadoras de
planos de saúde e seus usuários145.

Esses temas são relativos a direito civil e concernem à política de seguros, matérias conferidas
constitucionalmente à competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF 146.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei 11.782/2020 do Estado da Paraíba.

ADI 7029/PB, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 6.5.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1053)

Pessoas desaparecidas e divulgação de fotos em noticiários de TV e em jornais - ADI


5292/SC

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que fixe a obrigatoriedade de divulgação diária de fotos de crianças
desaparecidas em noticiários de TV e em jornais de estado-membro.

Na hipótese, a lei estadual invade a competência legislativa da União para dispor privativamente sobre
radiodifusão de sons e imagens, em afronta ao previsto no art. 22, IV, da CF 147 e 148. Além disso, cria obrigação à

145Precedentes citados: ADI 5173; ADI 4701.

146CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (…) VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência
de valores;”

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margem dos contratos de concessão dessas pessoas jurídicas com a União (poder concedente), em contrariedade
ao art. 21, XII, da CF149 e 150.

A lei estadual incide também em inconstitucionalidade material. Em primeiro lugar, porque estabelece
indevida interferência na liberdade de agentes econômicos privados ao obrigar a veiculação de conteúdo nos
jornais sediados no estado-membro, violando o princípio da livre iniciativa. Em segundo, porque ofende a
liberdade de informação jornalística dos veículos de comunicação social, os quais, por disposição expressa do
art. 220 da CF151 não podem sofrer restrições pelo poder público.

Nada obstante, há que se ressaltar que as leis nacionais que disciplinam a busca de pessoas
desaparecidas, em especial crianças e adolescentes (Lei 12.127/2009), estabelecem instrumentos próprios de
cooperação entre os entes federativos, facultada a importante contribuição de emissoras de rádio e televisão, mas
sempre mediante convênio. Não há, pois, que se cogitar — como realizado pela lei estadual questionada — a
imposição de divulgação de conteúdo por essas entidades em total desapego às regras de repartição de
competência e de respeito à legislação nacional sobre a matéria.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido formulado em ação
direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 16.576/2015 do Estado de Santa Catarina.

ADI 5292/SC, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1048)

Prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário de passageiros e competência


legislativa estadual - ADI 4289/DF

Resumo:

Compete aos estados-membros a definição do prazo de validade de bilhetes de transporte


rodoviário intermunicipal de passageiros.

Isso porque incumbe aos estados, como titulares da exploração do transporte rodoviário
intermunicipal152, a definição da respectiva política tarifária, à luz dos elementos que possam influenciá-la, como

147CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;”

148Precedentes citados: ADPF 335; ADPF 235.

149CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens e demais serviços de telecomunicações;” a) os serviços
de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;”

150Precedentes citados: ADI 3866; ADI 2337; ADI 6190; ADI 4477.

151CF/1988: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. §1º Nenhuma lei conterá
dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação
social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.”

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o prazo de validade do bilhete, nos termos do art. 175 da Constituição 153. Por ser o estado-membro aquele que
arca com os custos decorrentes de eventual prazo de validade mais elastecido, não cabe à União interferir no
poder de autoadministração do ente estadual quanto às concessões e permissões dos contratos de transporte
rodoviário de passageiros intermunicipal, sob pena de afronta ao pacto federativo.

Além disso, a norma impugnada gera uma situação regulatória inconsistente na qual os passageiros de
determinado estado podem ser submetidos a tratamento diverso conforme o serviço de transporte utilizado, em
afronta ao princípio da isonomia.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no mérito, julgou
procedente o pedido nela formulado, para declarar a inconstitucionalidade parcial do art. 1º da Lei federal
11.975/2009154, com redução de texto do vocábulo “intermunicipal”.

ADI 4289/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1050)

Serviço de telecomunicação e proibição de oferta e comercialização de serviço de valor


adicionado - ADI 6199/PE

Resumo:

É inconstitucional, por violar os arts. 21, XI, 22, IV, e 48, XII da CF/1988, norma estadual que
proíbe concessionárias de serviços de telecomunicação de ofertarem e comercializarem serviço de valor
adicionado (SVA)155.

Embora o SVA não constitua propriamente serviço de telecomunicação, a proibição de sua oferta e
comercialização acaba por interferir indiretamente na prestação dos serviços de telecomunicação, porque
restringe o plano de negócio das empresas do setor, com possíveis prejuízos para o equilíbrio econômico-
financeiro dos contratos de concessão.

Com efeito, a comercialização do SVA pelas empresas de telecomunicação constitui importante fonte de
receita alternativa ou acessória da concessionária, integrando-se, portanto, à estrutura econômico-financeira do
contrato de concessão do serviço público. Esses recursos são indispensáveis para manter a modicidade das tarifas
e a qualidade dos serviços.

152Precedentes citados: ADI 1052; ARE 742929 AgR; RE 549549 AgR; ADI 845; ADI 2349; ADI 1191 MC; ADI 5677;
ADI 4212.

153CF/1988: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas
concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários; III - política
tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado.”

154Lei 11.975/2009: “Art. 1º Os bilhetes de passagens adquiridos no transporte coletivo rodoviário de passageiros
intermunicipal, interestadual e internacional terão validade de 1 (um) ano, a partir da data de sua emissão, independentemente
de estarem com data e horários marcados.”

155Precedentes citados: ADI 6068 e ADI 6124 ED.

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A regulamentação desse tipo de serviço ou de qualquer outro agregado, portanto, pode ser feita apenas
pela União, em razão da sua íntima conexão econômica com o serviço de telecomunicação propriamente dito.

Com base nesse entendimento, o Plenário julgou procedente o pedido formulado para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 16.600/2019 do Estado de Pernambuco.

ADI 6199/PE, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1063)

Substituição de trabalhador privado em greve por servidor público - ADI 1164/DF

Resumo:

Não há vício de iniciativa de lei na edição de norma de origem parlamentar que proíba a
substituição de trabalhador privado em greve por servidor público.

No caso, ainda que a lei distrital impugnada 156, de iniciativa parlamentar, esteja voltada ao
funcionamento da Administração Pública, ela não se sobrepõe ao campo de discricionariedade política que a CF
reservou, com exclusividade, ao governador, no que toca a dispor sobre a organização administrativa.

Além disso, a norma revela-se harmônica com a CF, notadamente com os princípios do art. 37, caput, na
medida em que permite a substituição nos estritos limites dos parâmetros federais aplicáveis 157 e 158.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido formulado
em ação direta.

ADI 1164/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 1º.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1049)

4.3 DEFENSORIA PÚBLICA

Constitucionalidade do poder de requisição da Defensoria Pública - ADI 6852/DF, ADI


6862/PR, ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI 6873/AM,
ADI 6875/RN

Resumo:

156Lei Orgânica do Distrito Federal: “Art. 19. (...) XX - ressalvada a legislação federal aplicável, ao servidor público do
Distrito Federal é proibido substituir, sob qualquer pretexto, trabalhadores de empresas privadas em greve;”

157CF: “Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e
sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre
o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.”

158Lei 8.112/1990: “Art. 117. Ao servidor é proibido: (...) XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo
que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;”

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A Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de
seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações,
esclarecimentos e demais providências necessárias à sua atuação.

Delineado o papel atribuído à Defensoria Pública pela Constituição Federal (CF), resta evidente não se
tratar de categoria equiparada à Advocacia, seja ela pública ou privada, estando, na realidade, mais próxima ao
desenho institucional atribuído ao próprio Ministério Público.

Ao conceder tal prerrogativa aos membros da Defensoria Pública, o legislador buscou propiciar
condições materiais para o exercício de suas atribuições, não havendo que se falar em qualquer espécie de
violação ao texto constitucional, mas, ao contrário, em sua densificação. Nesse sentido, a retirada da prerrogativa
de requisição implicaria, na prática, a criação de obstáculo à atuação da Defensoria Pública, a comprometer sua
função primordial, bem como a autonomia que lhe foi garantida.

O Plenário, por maioria, em análise conjunta, julgou improcedentes os pedidos formulados em ações
diretas.

ADI 6852/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1045)

ADI 6862/PR, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1045)

ADI 6865/PB, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1045)

ADI 6867/ES, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1045)

ADI 6870/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1045)

ADI 6871/CE, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6872/AP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1045)

ADI 6873/AM, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira) às 23:59 (INF 1045)

ADI 6875/RN, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira) às 23:59 (INF 1045)

Defensoria pública estadual e poder de requisição - ADI 6860/MT; ADI 6861/PI e ADI
6863/PE

ODS: 16

Resumo:

É constitucional lei complementar estadual que, desde que observados os parâmetros de


razoabilidade e proporcionalidade, confere à Defensoria Pública a prerrogativa de requisitar, de
quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências,
processos, documentos, informações, esclarecimentos e demais providências necessárias ao exercício de
suas atribuições.

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A moldura constitucional referente à Defensoria Pública foi significativamente alterada com a
promulgação das ECs 45/2004, 74/2013 e 80/2014, oportunidade na qual se expandiu o papel, a autonomia e a
missão do órgão, aproximando-a do tratamento conferido ao Ministério Público 159 160.

Ausente qualquer vedação constitucional, aplica-se a teoria dos poderes implícitos, de modo que as
normas impugnadas se revelam como opção político-normativa razoável e proporcional com o objetivo de
viabilizar o efetivo exercício da missão constitucional do órgão.

Além de conferir maior concretude aos princípios constitucionais da isonomia, do acesso à Justiça e da
inafastabilidade da jurisdição, o poder de requisição propicia condições materiais para o exercício das atribuições
das Defensorias Públicas estaduais. Todavia, ele não alcança dados cujo acesso dependa de autorização judicial,
a exemplo dos protegidos pelo sigilo.

Com base nesse entendimento — e ratificando solução anteriormente adotada (Informativo 1045) —, o
Plenário, por unanimidade, em análise conjunta, julgou improcedentes as ações.

ADI 6860/MT, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1067)

ADI 6861/PI, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1067)

ADI 6863/PE, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1067)

Ouvidoria-Geral das Defensorias Públicas estaduais - ADI 4608/DF

Resumo:

É constitucional a norma federal que criou a Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública nos estados-
membros e estabeleceu suas competências.

Ao editar a Lei Complementar federal 80/1994, a União atuou conforme sua competência legislativa,
pois se limitou a instituir diretrizes gerais sobre a organização e a estrutura da Ouvidoria-Geral das Defensorias
Públicas estaduais, sem prever qualquer singularidade regional ou especificidade local.

159CF/1988: “Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. § 1º Lei complementar
organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua
organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos,
assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições
institucionais. (Renumerado do parágrafo único pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 2º Às Defensorias
Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro
dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito
Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 74, de 2013). § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso
II do art. 96 desta Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)”.

160Precedentes citados: ADI 6.852; ADI 6.875; ADI 6.865 e ADI 6.864.

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Ademais, inexiste inconstitucionalidade na decisão estatal de instituir um órgão composto por agentes
que satisfaçam determinados requisitos de capacidade técnica e institucional, com respeito aos princípios da
razoabilidade e da obrigatoriedade de concurso público 161. No caso, as atribuições que a lei conferiu aos seus
membros estão em consonância com as que a Constituição previu para a criação de cargos em comissão 162.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido formulado.

ADI 4608/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

Recriação de Assistência Jurídica da Justiça Militar - ADI 3152/CE

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que restabeleça, no âmbito do Poder Judiciário local, cargos de
Advogado da Justiça Militar vocacionados a patrocinar a defesa gratuita de praças da Polícia Militar.

Esse modelo não se coaduna com aquele implementado pela ordem constitucional inaugurada em 1988,
o qual dispõe que a função de defesa dos necessitados, quando desempenhada pelo Estado, é própria à
Defensoria Pública (CF, art. 134; LC 80/1994)163.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei 12.832/1998 do Estado do Ceará.

ADI 3152/CE, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 26.4.2022 (terça-feira),
às 23:59 (INF 1052)

4.4 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CNJ e transferência do sigilo de dados fiscais e bancários - ADI 4709/DF

Resumo:

É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários e fiscais


considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para apurar infração de sujeito

161Precedente citado: ADI 2903.

162CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (...) V - as funções de
confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às
atribuições de direção, chefia e assessoramento;”

163Precedentes citados: ADI 2903; ADI 3022.

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determinado, desde que em processo regularmente instaurado mediante decisão fundamentada e baseada
em indícios concretos da prática do ato.

Embora constitucionalmente protegido, o sigilo de dados bancários e fiscais pode ser objeto de
conformação legislativa devidamente justificada e ceder à consecução de fins públicos, com previsão de
hipóteses de transferência no interior da Administração Pública164.

Nesse contexto, a previsão regimental do CNJ 165 encontra amparo na lógica da probidade patrimonial
dos agentes públicos e a legitimidade da requisição por decisão singular do Corregedor, e não do Plenário,
encontra justificativa na função constitucional por ele exercida, de fiscalização da integridade funcional do Poder
Judiciário, em especial a idoneidade da magistratura nacional, que, por exercer a jurisdição — poder
indispensável ao Estado democrático de direito —, lhe é exigida estrita observância dos princípios da
Administração Pública e dos deveres funcionais respectivos.

Contudo, é preciso assegurar a existência de garantias ao contribuinte, de modo que não há espaço para
devassa ou varredura, buscas generalizadas e indiscriminadas na vida das pessoas, com o propósito de encontrar
alguma irregularidade.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, na parte
conhecida, julgou parcialmente procedente o pedido para conferir interpretação conforme a Constituição ao
dispositivo impugnado.

ADI 4709/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1056)

Compartilhamento de dados no âmbito da Administração Pública federal - ADI 6649/DF e


ADPF 695/DF

ODS: 16 e 17

Resumo:

É legítimo, desde que observados alguns parâmetros, o compartilhamento de dados pessoais entre
órgãos e entidades da Administração Pública federal, sem qualquer prejuízo da irrestrita observância dos
princípios gerais e mecanismos de proteção elencados na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei
13.709/2018) e dos direitos constitucionais à privacidade e proteção de dados.

Consoante recente entendimento desta Corte, a proteção de dados pessoais e a autodeterminação


informacional são direitos fundamentais autônomos, dos quais decorrem tutela jurídica específica e dimensão
normativa própria. Assim, é necessária a instituição de controle efetivo e transparente da coleta, armazenamento,
aproveitamento, transferência e compartilhamento desses dados, bem como o controle de políticas públicas que
possam afetar substancialmente o direito fundamental à proteção de dados 166.

164Precedentes citados: RE 601314 (Tema 225 RG); ADI 2386; ADI 2390; ADI 2397; ADI 2859; e RE 1055941 (Tema 990
RG).

165RI/CNJ: “Art. 8º Compete ao Corregedor Nacional de Justiça, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo
Estatuto da Magistratura: (...) V - requisitar das autoridades fiscais, monetárias e de outras autoridades competentes
informações, exames, perícias ou documentos, sigilosos ou não, imprescindíveis ao esclarecimento de processos ou
procedimentos submetidos à sua apreciação, dando conhecimento ao Plenário;”

166Precedente citado: ADI 6.387 Ref-MC.

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Na espécie, o Decreto 10.046/2019, da Presidência da República, dispõe sobre a governança no
compartilhamento de dados no âmbito da Administração Pública federal e institui o Cadastro Base do Cidadão e
o Comitê Central de Governança de Dados.

Para a sua plena validade, é necessário que seu conteúdo seja interpretado em conformidade com a
Constituição Federal, subtraindo do campo semântico da norma eventuais aplicações ou interpretações que
conflitem com o direito fundamental à proteção de dados pessoais.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedentes as ações, para
conferir interpretação conforme a Constituição Federal ao Decreto 10.046/2019, nos seguintes termos:

“1. O compartilhamento de dados pessoais entre órgãos e entidades da Administração


Pública, pressupõe: a) eleição de propósitos legítimos, específicos e explícitos para o tratamento de
dados (art. 6º, inciso I, da Lei 13.709/2018); b) compatibilidade do tratamento com as finalidades
informadas (art. 6º, inciso II); c) limitação do compartilhamento ao mínimo necessário para o
atendimento da finalidade informada (art. 6º, inciso III); bem como o cumprimento integral dos
requisitos, garantias e procedimentos estabelecidos na Lei Geral de Proteção de Dados, no que for
compatível com o setor público.

2. O compartilhamento de dados pessoais entre órgãos públicos pressupõe rigorosa


observância do art. 23, inciso I, da Lei 13.709/2018, que determina seja dada a devida publicidade
às hipóteses em que cada entidade governamental compartilha ou tem acesso a banco de dados
pessoais, ‘fornecendo informações claras e atualizadas sobre a previsão legal, a finalidade, os
procedimentos e as práticas utilizadas para a execução dessas atividades, em veículos de fácil
acesso, preferencialmente em seus sítios eletrônicos’.

3. O acesso de órgãos e entidades governamentais ao Cadastro Base do Cidadão fica


condicionado ao atendimento integral das diretrizes acima arroladas, cabendo ao Comitê Central
de Governança de Dados, no exercício das competências aludidas nos arts. 21, incisos VI, VII e
VIII do Decreto 10.046/2019: 3.1. prever mecanismos rigorosos de controle de acesso ao Cadastro
Base do Cidadão, o qual será limitado a órgãos e entidades que comprovarem real necessidade de
acesso aos dados pessoais nele reunidos. Nesse sentido, a permissão de acesso somente poderá ser
concedida para o alcance de propósitos legítimos, específicos e explícitos, sendo limitada a
informações que sejam indispensáveis ao atendimento do interesse público, nos termos do art. 7º,
inciso III, e art. 23, caput e inciso I, da Lei 13.709/2018; 3.2. justificar formal, prévia e
minudentemente, à luz dos postulados da proporcionalidade, da razoabilidade e dos princípios
gerais de proteção da LGPD, tanto a necessidade de inclusão de novos dados pessoais na base
integradora (art. 21, inciso VII) como a escolha das bases temáticas que comporão o Cadastro Base
do Cidadão (art. 21, inciso VIII); 3.3. instituir medidas de segurança compatíveis com os
princípios de proteção da LGPD, em especial a criação de sistema eletrônico de registro de acesso,
para efeito de responsabilização em caso de abuso.

4. O compartilhamento de informações pessoais em atividades de inteligência observará o


disposto em legislação específica e os parâmetros fixados no julgamento da ADI 6.529, Rel. Min.
Cármen Lúcia, quais sejam: (i) adoção de medidas proporcionais e estritamente necessárias ao
atendimento do interesse público; (ii) instauração de procedimento administrativo formal,
acompanhado de prévia e exaustiva motivação, para permitir o controle de legalidade pelo Poder
Judiciário; (iii) utilização de sistemas eletrônicos de segurança e de registro de acesso, inclusive
para efeito de responsabilização em caso de abuso; e (iv) observância dos princípios gerais de
proteção e dos direitos do titular previstos na LGPD, no que for compatível com o exercício dessa
função estatal.

5. O tratamento de dados pessoais promovido por órgãos públicos ao arrepio dos


parâmetros legais e constitucionais importará a responsabilidade civil do Estado pelos danos
suportados pelos particulares, na forma dos arts. 42 e seguintes da Lei 13.709/2018, associada ao
exercício do direito de regresso contra os servidores e agentes políticos responsáveis pelo ato
ilícito, em caso de culpa ou dolo.

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6. A transgressão dolosa ao dever de publicidade estabelecido no art. 23, inciso I, da
LGPD, fora das hipóteses constitucionais de sigilo, importará a responsabilização do agente estatal
por ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 11, inciso IV, da Lei 8.429/1992, sem
prejuízo da aplicação das sanções disciplinares previstas nos estatutos dos servidores públicos
federais, municipais e estaduais.”

Por fim, o Tribunal declarou, com efeito pro futuro, a inconstitucionalidade do art. 22 do Decreto
10.046/2019, preservando a atual estrutura do Comitê Central de Governança de Dados pelo prazo de 60
(sessenta) dias, a contar da data de publicação da ata de julgamento, a fim de garantir ao Chefe do Poder
Executivo prazo hábil para (i) atribuir ao órgão um perfil independente e plural, aberto à participação efetiva de
representantes de outras instituições democráticas; e (ii) conferir aos seus integrantes garantias mínimas contra
influências indevidas. Vencidos, parcialmente e nos termos de seus respectivos votos, os Ministros André
Mendonça, Nunes Marques e Edson Fachin.

ADI 6649/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 15.9.2022 (INF 1068)

ADPF 695/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 15.9.2022 (INF 1068)

Dia da Consciência Negra: instituição de feriado local por lei municipal - ADPF 634/SP

ODS: 10 e 16

Resumo:

É constitucional a instituição, por lei municipal, de feriado local para a comemoração do Dia da
Consciência Negra, a ser celebrado em 20 de novembro, em especial porque a data representa um símbolo de
resistência cultural e configura ação afirmativa contra o preconceito racial.
Sob múltiplos fundamentos constitucionais, a previsão do feriado assume inegável viés de fomento
cultural como ação afirmativa em sentido amplo, de caráter compulsório, cujo respaldo constitucional deriva
diretamente do disposto no art. 3º da Constituição Federal. Segundo o texto constitucional, a atuação comissiva
do Poder Público há de ser implementada para combater quaisquer formas de discriminação, em especial pelo
repúdio ao racismo (CF/1988, arts. 4º, VIII, e 5º, XLII) na promoção do bem de todos, objetivo fundamental da
República Federativa do Brasil e competência comum das unidades federativas (CF/1988, art. 23, I e X).
A consagração, pelo ente federado local, da data comemorativa de alta significação étnico-cultural como
feriado, além de não destoar do teor da Lei federal 9.093/1995 (que dispõe sobre feriados), permite a reflexão
sobre o tema, propicia o debate e preserva a memória, dando efetividade ao direito fundamental à cultura
(CF/1988, art. 215, § 2º). Sob essa ótica, inexiste usurpação da competência da União para legislar sobre direito
do trabalho, pois qualquer interpretação em sentido restritivo contrariaria o texto constitucional garantidor da
autonomia municipal (CF/1988, art. 30, I)167 .
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação da
medida cautelar em julgamento de mérito, e, por maioria, conheceu parcialmente da ADPF — apenas quanto ao

167Precedentes citados: ADI 1276 MC; ADI 1276; RMS 26071; ADI 1946 MC; ADI 1946 e RE 251470.

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art. 9º da Lei 14.485/2007 do Município de São Paulo/SP 168 — e, nesta parte, a julgou procedente, para o fim de
declarar constitucional o mencionado dispositivo.

ADPF 634/SP, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 30.11.2022 (INF 1078)

Lei da meia-entrada: entidades emitentes da CIE e liberdade de associação - ADI 5108/DF

Resumo:

É inconstitucional exigir das entidades estudantis locais e regionais, legitimadas para a expedição
da carteira de identidade estudantil (CIE), filiação às entidades de abrangência nacional.

O dever de filiação instituído pela Lei 12.933/2013, “Lei da meia-entrada”, viola o princípio da
liberdade de associação — que é visto como expressão da autonomia da vontade da pessoa natural ou jurídica
(voluntariedade) —, pois importa em indevida intervenção direta do Estado na autonomia de entidade estudantil,
que se vê obrigada a se associar a instituição não necessariamente alinhada a suas metas, princípios, diretrizes e
interesses.

Ademais, a interpretação teleológica e sistemática da norma denota que as “entidades estaduais e


municipais” nela referidas restringem-se às caracterizadas como de representação estudantil.

Admite-se a definição de um modelo único nacionalmente padronizado da CIE, desde que publicamente
disponibilizado e fixados parâmetros razoáveis que não obstem o acesso pelas entidades com prerrogativa legal
para sua emissão.

A medida confere maior racionalidade ao sistema, porquanto facilita a fiscalização e o combate às


fraudes. Assim, a escolha de certas entidades nacionais para a definição e disponibilização do modelo de CIE
constitui opção legítima do legislador, em especial diante da enorme representatividade e relevância de suas
atuações.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação direta.

ADI 5108/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1048)

Liberdade de expressão e imunidade parlamentar - Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259 AgR/DF, Pet
8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF

Resumo:

A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito manifestamente
difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias em razão da forma ou de críticas aviltantes.

É possível vislumbrar restrições à livre manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da lei
penal, em atos, discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos que incitem a
violência ou quando se tratar de discurso com intuito manifestamente difamatório.
168Lei 14.485/2007 do Município de São Paulo/SP: “Art. 9º Fica instituído o feriado municipal do Dia da Consciência
Negra, a ser comemorado todos os dias 20 de novembro”.

82

82
A garantia da imunidade parlamentar não alcança os atos praticados sem claro nexo de vinculação
recíproca entre o discurso e o desempenho das funções parlamentares.

Isso porque as garantias dos membros do Parlamento são vislumbradas sob uma perspectiva funcional,
ou seja, de proteção apenas das funções consideradas essenciais aos integrantes do Poder Legislativo,
independentemente de onde elas sejam exercidas.

No caso, os discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter injurioso e
difamatório, de forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese de prévia provocação ou retorsão imediata
capaz de excluir a tipificação, em tese, dos atos descritos nas queixas-crimes.

Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos
regimentais, recebeu queixas-crimes pelos delitos dos arts. 139 e 140 do Código Penal.

Pet 8242 AgR/DF, relator Ministro Celso de Mello, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8259 AgR/DF, relator Ministro Celso de Mello, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8262 AgR/DF, relator Ministro Celso de Mello, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8263 AgR/DF, relator Ministro Celso de Mello, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8267 AgR/DF, relator Ministro Celso de Mello, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Pet 8366 AgR/DF, relator Ministro Celso de Mello, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgamento em 3.5.2022 (INF 1053)

Plano de redução de letalidade policial e controle de violações de direitos humanos - ADPF


635 MC-ED/RJ

Resumo:

O Estado do Rio de Janeiro deve elaborar, no prazo máximo de 90 dias, um plano para redução
da letalidade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas forças de segurança, que
apresente medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos recursos necessários para a sua
implementação.

Nesse mesmo sentido, até que plano mais abrangente seja formulado, o emprego e a fiscalização da
legalidade do uso da força devem ser feitos à luz dos “Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas
de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei”, com todos os desdobramentos daí derivados.
Desse modo, cabe às forças de segurança a análise, diante das situações concretas, da proporcionalidade e da
excepcionalidade do uso da força, servindo os princípios como guias para o exame das justificativas
apresentadas a fortiori.

Portanto, o uso da força letal por agentes de Estado só se justifica quando, ressalvada a ineficácia da
elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de risco ou de violência, exauridos os
demais meios, inclusive os de armas não-letais, e necessário para proteger a vida ou prevenir um dano sério,
decorrente de uma ameaça concreta e iminente.

Ademais, nos termos do art. 227 da Constituição Federal, é imperiosa a necessidade de dar prioridade
absoluta às investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes.

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Além disso, a fim de resguardar o direito à vida, deve-se reconhecer a obrigatoriedade de
disponibilização de ambulâncias em operações policiais previamente planejadas em que haja a possibilidade de
confrontos armados.

De igual modo, no caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do Rio de
Janeiro, devem ser observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade: (i) a
diligência, no caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada somente durante o dia,
vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios à noite; (ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial,
pode ter por base denúncia anônima; (iii) a diligência deve ser justificada e detalhada por meio da elaboração de
auto circunstanciado, que deverá instruir eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente
por ato infracional e ser remetido ao juízo da audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e
(iv) a diligência deve ser realizada nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina.

Por fim, o Estado do Rio de Janeiro deve, no prazo máximo de 180 dias, instalar equipamentos de GPS
e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos age ntes de segurança, com o
posterior armazenamento digital dos respectivos arquivos.
Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário acolheu parcialmente embargos de declaração em
medida cautelar em arguição de descumprimento de preceito fundamental.

ADPF 635 MC-ED/RJ, relator Ministro Edson Fachin, julgamento em 2 e 3.2.2022 (INF 1042)

Produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público - ADPF 722/DF

ODS: 8 e 16

Resumo:

Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a segurança pública,


segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos deveres do Estado, devem operar com estrita
vinculação ao interesse público, observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e garantias
fundamentais.

Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder a colheita, a produção e o


compartilhamento de dados, informações e conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de órgão
ou de agente público169.

Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita de informações de servidores com postura
política contrária ao governo caracteriza desvio de finalidade e afronta aos direitos fundamentais da livre
manifestação do pensamento, da privacidade, reunião e associação, aos quais deve ser conferida máxima
efetividade, pois essenciais ao regime democrático.

Ademais, os órgãos de inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do Estado,
embora sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo 170, submetem-se também ao crivo do Poder
Judiciário, em respeito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição 171.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido para confirmar a
medida cautelar e declarar inconstitucionais atos do Ministério da Justiça e Segurança Pública de produção ou
compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, e as práticas cívicas de
169Precedentes citados: ADI 6529; ADI 5468; e ADI 4451.

170Lei 9.883/1999: “Art. 6º O controle e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder
Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional;”

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cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de movimento
político, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam seus
direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se.

ADPF 722/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

Produtos fumígenos: restrições à publicidade e inserção de advertências sanitárias nas


embalagens - ADI 3311/DF

ODS: 3

Resumo:

Não viola o texto constitucional a imposição legal de restrições à publicidade de produtos


fumígenos e de inserção de advertências sanitárias em suas embalagens quando se revelarem adequadas,
necessárias e proporcionais para alcançar a finalidade de reduzir o fumo e o consumo do tabaco, hábitos
que constituem perigo à saúde pública.

A propaganda comercial, embora protegida enquanto direito fundamental ─ eis que abrangida pelas
liberdades de expressão e comunicação (CF/1988, art. 5º, IV e IX) ─ sujeita-se a restrições, desde que
proporcionais, no cotejo com a proteção de outros valores públicos172.

Por sua vez, a atividade empresarial, inclusive a publicitária, submete-se aos princípios da ordem
econômica, razão pela qual deve dialogar com a concretização dos demais valores públicos e a proteção dos
direitos fundamentais potencialmente colidentes173.

Nesse contexto, o próprio texto constitucional explicita a possibilidade e a importância das limitações
publicitárias de produtos notadamente nocivos174.

Na espécie, a imposição das referidas medidas visa conferir efetividade às políticas públicas de combate
ao fumo e de controle do tabaco, desestimulando o seu consumo com o fim de proteger a saúde pública e
concretizar a proteção do consumidor em sua dimensão informativa, possibilitando-o a refletir sobre a prática
(CF/1988, art. 5º, XIV e XXXII, e art. 170, V).

Prevalece, portanto, a tutela da saúde (CF/1988, art. 6º), inclusive à luz da proteção prioritária da
criança e do adolescente (CF/1988, art. 227), sendo certo que as medidas limitam a livre iniciativa, na dimensão
expressiva e comunicativa, visando concretizar os objetivos fundamentais da República (CF/1988, art. 3º).

171CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”

172Precedente citado: RE 511961.

173Precedente citado: ADI 4306.

174CF/1988: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. (...) § 4º A propaganda
comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do
inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.”

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Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação. Impedidos
os Ministros Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia.

ADI 3311/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-feira) às
23:59 (INF 1068)

Remanejamento de cargos em comissão de peritos do MNPCT, fragilização do combate à


tortura no País e abuso do poder regulamentar - ADPF 607/DF

Resumo:

São indevidos, mediante decreto, o remanejamento dos cargos em comissão destinados aos peritos
do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), a exoneração de seus ocupantes e a
transformação dessa atividade em prestação de serviço público relevante não remunerado.

Tais medidas, implementadas por meio de ato infralegal (Decreto 9.813/2019) 175, levam ao
esvaziamento de políticas públicas previstas na Lei 12.847/2013, o que importa em abuso do poder regulamentar
e, por conseguinte, desrespeito à separação dos Poderes.

Na espécie, a violação se mostra especialmente grave, diante do potencial desmonte de órgão cuja
competência é a prevenção e o combate à tortura. A transformação da atividade em serviço público não
remunerado impossibilita que o trabalho seja feito com dedicação integral e desestimula profissionais
especializados a integrarem o corpo técnico do órgão.

Ademais, essas medidas colocam o Brasil em situação de descumprimento de obrigação assumida


perante a comunidade internacional e internalizada no âmbito do ordenamento jurídico pátrio, pois vai de
encontro à disciplina do Protocolo Facultativo à Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Decreto 6.085/2007), mediante o qual o País se obrigou “a tornar
disponíveis todos os recursos necessários para o funcionamento dos mecanismos preventivos nacionais”.

Com base nesse entendimento, o Plenário declarou a inconstitucionalidade dos arts. 1º, 2º (por
arrastamento), 3º e 4º, este último na parte em que altera o § 5º do art. 10 do Decreto 8.154/2013, todos do
Decreto 9.831/2019 (1), bem como da expressão “designados” do caput do mencionado art. 10 do Decreto
8.154/2013, conferindo interpretação conforme ao dispositivo para que se entenda que os peritos do MNPCT
devem ser nomeados para cargo em comissão, devendo, por consequência dessa decisão, ser restabelecida a
destinação de 11 cargos em comissão do Grupo Direção e Assessoramento Superiores - DAS 102.4 — ou cargo
equivalente — aos peritos do MNPCT, garantida a respectiva remuneração.

ADPF 607/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.3.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1048)

Reserva de assentos especiais para pessoas obesas - ADI 2477/PR e ADI 2572/PR

175Decreto 9.831/2019: “Art. 1º Ficam remanejados, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para a
Secretaria de Gestão da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, na
forma do Anexo I, onze cargos em comissão do Grupo Direção e Assessoramento Superiores - DAS 102.4. Art. 2º O Anexo II
ao Decreto nº 9.673, de 2 de janeiro de 2019, passa a vigorar com as alterações constantes do Anexo II a este Decreto. Art. 3º
Os ocupantes dos cargos em comissão que deixam de existir na Estrutura Regimental do Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos por força deste Decreto ficam automaticamente exonerados. Art. 4º O Decreto nº 8.154, de 16 de
dezembro de 2013, passa a vigorar com as seguintes alterações: (…) Art. 10. O MNPCT, órgão integrante da estrutura do
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, será composto por onze peritos, escolhidos pelo CNPCT e
designados por ato do Presidente da República, com mandato de três anos, admitida uma recondução por igual período. (…)
§ 5º A participação no MNPCT será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada.”

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ODS: 10 e 11

Resumo:

É constitucional lei estadual que prevê a reserva de assentos especiais a serem utilizados por
pessoas obesas, correspondente a 3% dos lugares em salas de projeções, teatros e espaços culturais
localizados em seu território e a, no mínimo, 2 lugares em cada veículo do transporte coletivo municipal e
intermunicipal.

A norma estadual impugnada tem como objeto a promoção da igualdade, com a finalidade de dispor
sobre o acesso, de maneira digna, a meios de transporte público e salas de projeções, teatros, espaços culturais.
Inexiste qualquer relação com a competência privativa da União referente à regulação de trânsito e transporte
(CF/1988, art. 22, IX), de modo que a política de inclusão adotada se enquadra na competência concorrente da
União, estados e municípios para promover o acesso à cultura, ao esporte e ao lazer (CF/1988, arts. 6º, 23, V, 24,
IX, 215 e 217, § 3º)176.

No tocante ao aspecto material, a quantidade de assentos reservados na lei estadual foi estabelecida em
percentual razoável, estando de acordo com a realidade brasileira e garantindo uma ocupação digna e confortável
às pessoas com obesidade, além de proteção adequada, necessária e proporcional para o atendimento desse
público. Ademais, a medida disposta na lei não invalida os conteúdos dos princípios do valor social do trabalho,
da livre iniciativa, da igualdade e da proteção da ordem econômica, mas, ao contrário disso, os pondera com o
princípio da dignidade da pessoa humana.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes ambas as ações,
para assentar a constitucionalidade da reserva de assentos prevista na Lei 13.132/2001 do Estado do Paraná 177.

ADI 2477/PR, relator Ministro. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 21.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1073)

ADI 2572/PR, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 21.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1073)

Resolução do TSE e enfrentamento à desinformação no processo eleitoral - ADI 7261


MC/DF

ODS: 16

Resumo:

176Precedente citado: ADI 903.

177Lei 13.132/2001 do Estado do Paraná: “Art. 1º. As salas de projeções, teatros e os espaços culturais no Estado do
Paraná que utilizam assentos para platéia, deverão reservar 3% (três por cento) desses lugares para utilização por pessoas
obesas. Art. 2º. As empresas concessionárias de transporte coletivo municipal e intermunicipal com sede no Estado do
Paraná, deverão reservar no mínimo 02 (dois) lugares em cada veículo, para atendimento do disposto nesta lei. Art. 3º. Os
lugares reservados de que tratam os artigos anteriores, consistirão em assentos especiais, de forma a garantir o conforto físico
compatível para as pessoas objeto desta lei. Art. 4º. Os responsáveis pelos decretos abrangidos pelas obrigações impostas por
esta lei terão o prazo de 120 (cento e vinte) dias, contados de sua publicação, para adequarem-se aos preceitos nela contidos.
Art. 5º. O Poder Executivo regulamentará a presente lei no prazo de 90 (noventa) dias, contados de sua publicação. Art. 6º.
Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”

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A Resolução 23.714/2022 do TSE — que dispõe sobre o enfrentamento à desinformação
atentatória à integridade do processo eleitoral — não exorbita o âmbito da sua competência normativa e
tampouco impõe censura ou restrição a meio de comunicação ou linha editorial da mídia impressa e
eletrônica.
Na hipótese, em análise perfunctória de medida cautelar, pode-se afirmar que a competência normativa
do TSE foi exercida nos limites de sua missão institucional e de seu poder de polícia, considerada, sobretudo, a
ausência de previsão normativa constante da Lei Geral das Eleições (Lei 9.504/1997), em relação à reconhecida
proliferação de notícias falsas, com aptidão para contaminar o espaço público e influir indevidamente na vontade
dos eleitores.
Nesse contexto, o direito à liberdade de expressão pode ceder, em concreto, no caso em que ela for
usada para erodir a confiança e a legitimidade da lisura político-eleitoral. Trata-se de cedência específica,
analisada à luz da violação concreta das regras eleitorais e não de censura prévia e anterior.
Eventual restrição se aplica apenas àquele discurso que, por sua falsidade patente, descontrole e
circulação massiva, atinge gravemente o processo eleitoral.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão que indeferiu a
medida cautelar em ação direta.

ADI 7261 MC/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 25.10.2022 (terça-
feira), às 23:59 (INF 1074)

Restrições legais ao consumo de bebidas alcóolicas e condução de veículos automotivos -


RE 1224374/RS (Tema 1079 RG), ADI 4017/DF e ADI 4103/DF

ODS: 3, 4, 8, 10, 11 e 16

Tese fixada:

“Não viola a Constituição a previsão legal de imposição das sanções administrativas ao condutor
de veículo automotor que se recuse à realização dos testes, exames clínicos ou perícias voltados a aferir a
influência de álcool ou outra substância psicoativa (art. 165-A e art. 277, §§ 2º e 3º, todos do Código de
Trânsito Brasileiro, na redação dada pela Lei 13.281/2016)”

Resumo:

É inadmissível qualquer nível de alcoolemia por condutores de veículos automotivos.

A premissa de que a “Lei Seca” pune na mesma intensidade condutores responsáveis e irresponsáveis
não se mostra correta, em face da inexistência de um nível seguro de “alcoolemia”. Assim, deixa de ser
considerado responsável também todo condutor de veículo que dirige após a ingestão de qualquer quantidade de
álcool. A norma, nesse sentido, se caracteriza como adequada, necessária e proporcional.

A eventual recusa de motoristas na realização de “teste do bafômetro”, ou dos demais procedimentos


previstos no CTB para aferição da influência de álcool ou outras drogas, por não encontrar abrigo no princípio da
não autoincriminação, permite a aplicação de multa e a retenção/apreensão da CNH validamente.

Isso porque não existem consequências penais ou processuais impostas diante da recusa na realização
do “teste do bafômetro” (etilômetro) ou dos demais procedimentos previstos nos artigos 165-A e 277, §§ 2º e 3º,
do CTB.

Nesses termos, a imposição de restrições de direitos, decorrente da recusa do motorista em realizar os


testes de alcoolemia previstos em lei178, revela-se meio adequado, necessário e proporcional em sentido estrito
para a efetivação, em maior medida, de outros princípios fundamentais como a vida e a segurança no trânsito,
sem que acarrete qualquer violação à dignidade da pessoa humana. Isso se circunscreve ao espaço de
conformação do legislador no desenho de políticas públicas.

178CTB: “Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita
certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo art. 277: (...)”

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São constitucionais as normas que estabelecem a proibição da venda de bebidas alcóolicas em rodovias
federais (Lei 11.705/2008, art. 2º)179.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, ao apreciar o Tema 1079 da repercussão geral, por
unanimidade, deu provimento ao recurso extraordinário e, por maioria, julgou improcedentes os pedidos
formulados nas ações diretas de inconstitucionalidade.

RE 1224374/RS, relator Ministro Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)


ADI 4017/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)
ADI 4103/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022 (INF 1055)

Saúde pública: financiamento federal e alteração da forma de cálculo dos recursos


mínimos aplicados pela União - ADI 5595/DF

ODS: 3, 16 e 17

Resumo:

São constitucionais — por não violarem o direito à saúde — os arts. 2º e 3º da EC 86/2015


(“Emenda do Orçamento Impositivo”), os quais alteraram a forma de cálculo dos recursos mínimos
aplicados anualmente, pela União, em Ações e Serviços Públicos de Saúde (ASPS) mediante a instituição
de subpisos anuais progressivos, neles incluída a parcela oriunda das receitas de “royalties” de petróleo e
de gás natural.

Não há comprovação de que a mudança dos parâmetros para a definição do patamar mínimo referente
ao financiamento federal desfigura o núcleo essencial de direito fundamental, notadamente do direito à saúde,
mesmo sob a ótica da vedação ao retrocesso social, visto ser admitida a regulamentação desses direitos por
critérios escolhidos pelo legislador ordinário.

Nesse contexto, inexiste violação à cláusula pétrea, pois não há como recusar ao legislador constituinte
derivado reformador a possibilidade de inovar na matéria se o próprio legislador ordinário tem competência para
regular o financiamento da saúde pública, fixando e reavaliando periodicamente os patamares mínimos de
investimento.

Além disso, a opção do legislador constituinte ponderou a necessidade de manutenção de políticas


estatais contínuas e abrangentes na área da saúde. Tanto é assim que a progressividade dos índices previstos pela
EC revela convergência com o compromisso exigido pela própria Constituição Federal de maior esforço fiscal
do Estado em favor dos serviços públicos de saúde.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu integralmente da ação e, no mérito, a
julgou improcedente, assentando a constitucionalidade dos arts. 2º e 3º da EC 86/2015180.

ADI 5595/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Alexandre de
Moraes, julgamento virtual finalizado em 17.10.2022 (segunda-feira), às 23:59 (INF 1073)

Transporte coletivo interestadual: gratuidade e redução de tarifa para jovens de baixa


renda - ADI 5657/DF

ODS: 10, 11, 16 e 17

179Lei 11.705/2008: “Art. 2º São vedados, na faixa de domínio de rodovia federal ou em terrenos contíguos à faixa de
domínio com acesso direto à rodovia, a venda varejista ou o oferecimento de bebidas alcoólicas para consumo no local.”

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Resumo:

É constitucional — por não ofender o direito de propriedade e os princípios da ordem econômica


e do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos — lei federal que determina a reserva,
por veículo, de duas vagas gratuitas e, após estas esgotarem, de duas vagas com tarifa reduzida em, no
mínimo, 50%, para serem utilizadas por jovens de baixa renda no sistema de transporte coletivo
interestadual de passageiros.

A norma impugnada concretiza o direito ao transporte a um grupo vulnerável, economicamente e


constitucionalmente tutelado, atribuindo ao poder regulamentar a definição dos procedimentos e critérios para o
seu exercício. Nesse contexto, a gratuidade dos hipossuficientes ao transporte interestadual de passageiros
assegura-lhes a liberdade de locomoção, mecanismo instrumental de concretização de acesso a outros direitos
básicos, além das externalidades positivas de âmbito social, como a maior integração nacional e o
desenvolvimento regional181.

Ademais, a Constituição Federal preceitua que a livre iniciativa e a propriedade privada devem ser
compatibilizadas com o objetivo de redução das desigualdades regionais e sociais, de forma a assegurar
existência digna a todos, conforme os ditames da justiça social. Com efeito, o Estado — desde que não acarrete
ônus excessivos aos atores privados, em especial no caso de contratos administrativos — pode intervir na ordem
econômica para assegurar o gozo de direitos fundamentais de pessoas em condição de fragilidade econômica e
social, implementando políticas públicas que estabeleçam meios para a consecução da igualdade de
oportunidades e da humanização das relações sociais, e dando concretude aos valores da cidadania e da
dignidade da pessoa humana182.

No caso, a reserva das gratuidades e dos benefícios tarifários legalmente instituídos não implica ônus
desproporcional às empresas prestadoras do serviço público de transporte coletivo interestadual de passageiros,
tendo em vista que o conjunto normativo relativo à matéria contempla mecanismos de correção de eventual
desequilíbrio econômico-financeiro dos contratos.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para declarar
a constitucionalidade do art. 32 da Lei 12.852/2013 (Estatuto da Juventude)183.

180EC 86/2015: “Art. 2º O disposto no inciso I do § 2º do art. 198 da Constituição Federal será cumprido
progressivamente, garantidos, no mínimo: I – 13,2% (treze inteiros e dois décimos por cento) da receita corrente líquida no
primeiro exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda Constitucional; II – 13,7% (treze inteiros e sete
décimos por cento) da receita corrente líquida no segundo exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda
Constitucional; III – 14,1% (quatorze inteiros e um décimo por cento) da receita corrente líquida no terceiro exercício
financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda Constitucional; IV – 14,5% (quatorze inteiros e cinco décimos por
cento) da receita corrente líquida no quarto exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda
Constitucional; V – 15% (quinze por cento) da receita corrente líquida no quinto exercício financeiro subsequente ao da
promulgação desta Emenda Constitucional. Art. 3º As despesas com ações e serviços públicos de saúde custeados com a
parcela da União oriunda da participação no resultado ou da compensação financeira pela exploração de petróleo e gás
natural, de que trata o § 1º do art. 20 da Constituição Federal, serão computadas para fins de cumprimento do disposto no
inciso I do § 2º do art. 198 da Constituição Federal.”

181Precedentes citados: ADI 2477; ADI 1052 e ADI 6474.

182Precedentes citados: ADI 2649; ADI 3768, ADI 1950; ADI 319 QO; ADI 1407 MC e ADI 2733.

183Lei 12.852/2013: “Art. 32. No sistema de transporte coletivo interestadual, observar-se-á, nos termos da legislação
específica: I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para jovens de baixa renda; II – a reserva de 2 (duas) vagas
por veículo com desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os jovens de baixa renda, a
serem utilizadas após esgotadas as vagas previstas no inciso I. Parágrafo único. Os procedimentos e os critérios para o
exercício dos direitos previstos nos incisos I e II serão definidos em regulamento.”

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ADI 5657/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento em 16 e 17.11.2022 (INF 1076)

4.5 EDUCAÇÃO BÁSICA

COVID-19: Realocação de recursos vinculados ao FUNDEB para ações de combate à


pandemia do novo coronavírus - ADI 6490/PI

Resumo:

É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao FUNDEB


para ações de combate à pandemia do novo coronavírus (COVID-19).

Os precedentes da Corte184 são firmes quanto à impossibilidade do uso dos recursos do FUNDEB para
gastos não relacionados à educação, pois possuem destinação vinculada a finalidades específicas, todas voltadas
exclusivamente à área educacional. Portanto, ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da COVID-19 e
os seus impactos na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba constitucionalmente
vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico para fins diversos da que ela se destina.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no mérito,
julgou improcedente o pedido.

ADI 6490/PI, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1044)

4.6 ÍNDIOS

Proteção territorial em terras indígenas não homologadas - ADPF 709 MC-segunda-


Ref/DF

Resumo:

É necessário que a União e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) executem e implementem


atividade de proteção territorial nas terras indígenas, independentemente de sua homologação.

Nos termos do art. 231 da Constituição Federal (CF/1988) 185, a União tem o dever (e não a escolha) de
demarcar as terras indígenas. No caso, a não homologação das demarcações dessas terras deriva de inércia
deliberada do Poder Público, em afronta ao direito originário dos índios.

Ademais, ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a FUNAI sinaliza a invasores que
a União se absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um convite à invasão de
terras que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática de ilícitos de toda ordem.

184Precedentes: ACO 648; ARE 1066281 AgR; ARE 1272638 AgR; RE 1122970 ED-AgR; STP 66; STP 68 AgR; STP 88
AgR; e ADI 5719.

185CF/1988: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar
todos os seus bens.”

91

91
Além disso, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros passem a ali transitar, o que põe
em risco a saúde dessas comunidades, expondo-as a eventual contágio por COVID-19 e outras enfermidades.

Com base nesse entendimento, o Plenário ratificou a medida cautelar já concedida para determinar: (i) a
suspensão imediata dos efeitos do Ofício Circular 18/2021/CGMT/DPT/FUNAI e do parecer
00013/2021/COAF-CONS/PFE-FUNAI/PGF/AGU; e (ii) a implementação de atividade de proteção territorial
nas terras indígenas pela FUNAI, independentemente de estarem homologadas. O ministro André Mendonça
acompanhou o voto do relator com ressalvas.

ADPF 709 MC-segunda-Ref/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
25.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1045)

4.7 MINISTÉRIO PÚBLICO

Inamovibilidade dos membros do Ministério Público da União - ADI 5052/DF

ODS: 8 e 16

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a designação bienal para o exercício de funções institucionais
inerentes às respectivas carreiras dos membros do Ministério Público da União (MPU).

Dentro da estrutura organizacional do MPU, as unidades de lotação dos integrantes de suas carreiras
correspondem aos denominados ofícios, que representam os locais em que exercidas suas atribuições
institucionais. Após lotados em determinado ofício, eles gozam da garantia constitucional da inamovibilidade 186.

Nesse contexto, o deslocamento para outro ofício, sem retorno ao de origem, por meio de designações e
redesignações bienais, conduz ao grave risco de movimentações casuísticas. Isso porque deixa margem para
lotação definitiva em ofício diverso ao que o membro atua, independentemente do concurso de sua vontade,
destoando daquelas de caráter meramente eventual, em manifesta afronta à garantia da inamovibilidade 187.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, dos artigos 216, caput, 217, caput, e 218, caput, todos da Lei
Complementar 75/1993, de modo a afastar qualquer interpretação que implique remoção do membro da carreira
de seu ofício de lotação188.

ADI 5052/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 20.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1055)

186CF/1988: “Art. 128. O Ministério Público abrange: (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa
é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros: I - as seguintes garantias: (...) b) inamovibilidade, salvo por motivo de
interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, por voto de dois terços de seus
membros, assegurada ampla defesa; (...)”

187Precedente: ADI 4414.

188Lei Complementar 75/1993: “Art. 216. As designações, salvo quando estabelecido outro critério por esta lei
complementar, serão feitas por lista, no último mês do ano, para vigorar por um biênio, facultada a renovação. Art. 217. A
alteração da lista poderá ser feita, antes do termo do prazo, por interesse do serviço, havendo: (...) Art. 218. A alteração
parcial da lista, antes do termo do prazo, quando modifique a função do designado, sem a sua anuência, somente será
admitida nas seguintes hipóteses: (...)”

92

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Prerrogativa do Ministério Público de posicionar-se ao lado do magistrado nos julgamentos
- ADI 4768/DF

ODS: 8 e 16

Resumo:

A prerrogativa atribuída aos membros do Ministério Público de situar-se no mesmo plano e


imediatamente à direita dos magistrados nas audiências e sessões de julgamento (Lei Complementar
75/1993, art. 18, I, “a”; e Lei 8.625/1993, art. 41, XI) não fere os princípios da isonomia, do devido
processo legal, da ampla defesa e do contraditório (CF/1988, art. 5º, I, LIV e LV) nem compromete a
necessária paridade de armas que deve existir entre a defesa e a acusação.

A atual posição dos sujeitos processuais na sala de audiências e de julgamento é justificada seja pela
tradição, seja pela diferenciada função desempenhada pelo órgão ministerial como representante do povo, uma
vez que atua de forma imparcial para alcançar os fins que lhe foram constitucionalmente conferidos 189.

O direito à igualdade das partes é substancial, não figurativa. Inclusive, a impessoalidade dos
magistrados e dos membros do Ministério Público é assegurada pela organização legal das carreiras. Se assim
não fosse, poderia ocorrer o subjetivismo nos julgamentos e a mudança de locais segundo afetos e desafetos, de
modo que, ao determinar os lugares, a lei evita essa possibilidade.

Além disso, a atuação do Parquet pode conjugar, simultânea ou alternadamente, os papéis de parte
processual e de custos legis, dada a singela circunstância de sua atribuição em defender o interesse público e a
sociedade. Assim, não se pode afirmar que a proximidade física entre o integrante do Ministério Público e o
magistrado, por si só, propicie algum tipo de influência ou comprometimento aos julgamentos.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 4768/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 23.11.2022. (INF 1077)

189CF/1988: “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (...)
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da
lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta
Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; IV - promover a ação de
inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta
Constituição; V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI - expedir notificações nos
procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei
complementar respectiva; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no
artigo anterior; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis
com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.”

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4.8 ORÇAMENTO

Emendas do relator-geral do orçamento: suspensão da execução orçamentária e prestação


de serviços essenciais à coletividade - ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, ADPF 851 MC-Ref-Ref/DF e
ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF

Resumo:

Diante dos riscos de paralisação de serviços essenciais à coletividade, deve-se dar, em juízo
cautelar, continuidade à execução das despesas classificadas sob o identificador de Resultado Primário 9
(RP 9).

As providências adotadas pelo Congresso Nacional e pelos órgãos do Poder Executivo da União em
cumprimento da decisão proferida no julgamento conjunto das ADPFs 850, 851 e 854 mostram-se suficientes, ao
menos em exame estritamente delibatório, para justificar o afastamento dos efeitos da suspensão determinada
pelo STF diante do risco de prejuízo que a paralisação da execução orçamentária traz à prestação de serviços
essenciais à coletividade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão que afastou a suspensão
determinada pelo item c da decisão anteriormente proferida, para autorizar a continuidade da execução das
despesas classificadas sob o indicador RP 9, devendo ser observadas para tanto, no que couber, as regras do Ato
Conjunto das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal 1/2021, e a Resolução 2/2021 do Congresso
Nacional.

ADPF 850 MC-Ref-Ref/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 16.12.2021
(quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

ADPF 851 MC-Ref-Ref/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 16.12.2021
(quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

ADPF 854 MC-Ref-Ref/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 16.12.2021
(quinta-feira), às 23:59 (INF 1042)

Prazo para adequação ao sistema único e integrado de execução orçamentária - ADPF


763/DF

Resumo:

O Decreto presidencial 10.540/2020, que estabelece prazo para que os entes federados promovam
adequação necessária para a integração ao sistema de publicidade de dados, estabelecido pela Lei
Complementar 156/2016, com padrão mínimo de transparência e qualidade, não ofende os princípios da
legalidade, da separação dos Poderes, da reserva de lei complementar, da publicidade, da eficiência e da
impessoalidade.
A Lei de Responsabilidade Fiscal retirou o caráter legal da matéria atinente às normas gerais de
contabilidade pública e delegou ao órgão técnico-burocrático da União a função de harmonização dos ditames
contábeis dos entes da Federação190. Dessa forma, o Poder Executivo atuou dentro do campo discricionário que
lhe foi reservado pela lei.
Sobre o tema, cumpre ressaltar ser razoável a escolha realizada no decreto impugnado de estabelecer
um novo regime de transição, com a dilação dos prazos, já que o novo padrão demanda notória expertise técnica.
Com base nesse entendimento, o Plenário conheceu da arguição de descumprimento de preceito
fundamental e, no mérito, julgou-a improcedente, de modo a declarar a constitucionalidade dos arts. 18 a 20 do
Decreto 10.540/2020.

ADPF 763/DF, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 28.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1074)

190Precedente citado: ADI 2250

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4.9 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

Aplicabilidade das regras do Estatuto da Advocacia a advogados empregados públicos -


ADI 3396/DF

ODS: 16

Resumo:

As regras previstas nos arts. 18 a 21 do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) 191 — que tratam
da relação de emprego, salário, jornada de trabalho e honorários de sucumbência — são aplicáveis aos
advogados empregados de empresas públicas e de sociedade de economia mista que atuam no mercado em
regime concorrencial (sem monopólio).

O poder público, ao exercer atividade econômica em regime de livre concorrência, deve nivelar-se aos
demais agentes produtivos para não violar princípios da ordem econômica, em especial o da livre concorrência
(CF/1988, art. 170, IV). Assim, ao atuar como empresário, o Estado se submete aos mesmos bônus e ônus do
setor, tornando imprescindível a submissão das empresas estatais não monopolistas às regras legais aplicáveis à
concorrência privada, inclusive no que tange às normas trabalhistas.

No entanto, esses advogados, assim como todos os servidores e empregados públicos em geral, também
estão sujeitos ao teto remuneratório do serviço público (CF/1988, art. 37, XI), quanto ao total da sua
remuneração (salários mais vantagens e honorários advocatícios), com exceção daqueles vinculados a empresa
pública, sociedade de economia mista ou subsidiária que não receba recursos do ente central para pagamento de
pessoal ou custeio e nem exerça sua atividade em regime monopolístico (CF/1988, art. 37, § 9º)192.

191Lei 8.906/1994: “Art. 18. A relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem reduz a
independência profissional inerentes à advocacia. Parágrafo único. O advogado empregado não está obrigado à prestação de
serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores, fora da relação de emprego. § 1º O advogado empregado não
está obrigado à prestação de serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores, fora da relação de emprego.
(Incluído pela Lei 14.365, de 2022) § 2º As atividades do advogado empregado poderão ser realizadas, a critério do
empregador, em qualquer um dos seguintes regimes: (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) I – exclusivamente presencial:
modalidade na qual o advogado empregado, desde o início da contratação, realizará o trabalho nas dependências ou locais
indicados pelo empregador; (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) II – não presencial, teletrabalho ou trabalho a distância:
modalidade na qual, desde o início da contratação, o trabalho será preponderantemente realizado fora das dependências do
empregador, observado que o comparecimento nas dependências de forma não permanente, variável ou para participação em
reuniões ou em eventos presenciais não descaracterizará o regime não presencial; (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) III –
misto: modalidade na qual as atividades do advogado poderão ser presenciais, no estabelecimento do contratante ou onde este
indicar, ou não presenciais, conforme as condições definidas pelo empregador em seu regulamento empresarial,
independentemente de preponderância ou não. (Incluído pela Lei 14.365, de 2022) § 3º Na vigência da relação de emprego,
as partes poderão pactuar, por acordo individual simples, a alteração de um regime para outro. (Incluído pela Lei 14.365, de
2022) Art. 19. O salário mínimo profissional do advogado será fixado em sentença normativa, salvo se ajustado em acordo ou
convenção coletiva de trabalho. Art. 20. A jornada de trabalho do advogado empregado, quando prestar serviço para
empresas, não poderá exceder a duração diária de 8 (oito) horas contínuas e a de 40 (quarenta) horas semanais. (Redação
dada pela Lei 14.365, de 2022) § 1º Para efeitos deste artigo, considera-se como período de trabalho o tempo em que o
advogado estiver à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, no seu escritório ou em atividades externas,
sendo-lhe reembolsadas as despesas feitas com transporte, hospedagem e alimentação. § 2º As horas trabalhadas que
excederem a jornada normal são remuneradas por um adicional não inferior a cem por cento sobre o valor da hora normal,
mesmo havendo contrato escrito. § 3º As horas trabalhadas no período das vinte horas de um dia até as cinco horas do dia
seguinte são remuneradas como noturnas, acrescidas do adicional de vinte e cinco por cento. Art. 21. Nas causas em que for
parte o empregador, ou pessoa por este representada, os honorários de sucumbência são devidos aos advogados empregados.
Parágrafo único. Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado empregado de sociedade de advogados são
partilhados entre ele e a empregadora, na forma estabelecida em acordo.”

192Precedente: ADI 6584.

95

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Também ficam excluídos dessa disciplina do Estatuto da Advocacia (arts. 18 a 21) todos os advogados
empregados de empresas públicas ou sociedades de economia mista ou suas subsidiárias que tenham sido
admitidos por concurso público, em cujos editais tenham sido estipuladas condições diversas daquelas do
estatuto, sem qualquer impugnação.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para
dar interpretação conforme a Constituição ao art. 4º da Lei 9.527/1997 193, excluindo de seu alcance os advogados
empregados públicos de empresa pública, sociedade de economia mista e suas subsidiárias, não monopolísticas,
com as ressalvas das compreensões acima indicadas.

ADI 3396/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 23.6.2022 (INF 1060)

Energia elétrica e regulamentação por medida provisória com posterior conversão em lei -
ADI 3090/DF e ADI 3100/DF

Resumo:

A Medida Provisória 144/2003, convertida na Lei 10.848/2004, que dispõe sobre a comercialização
de energia elétrica, não viola o art. 246 da Constituição Federal194 e 195.

Em primeiro lugar, porque a Emenda Constitucional (EC) 6/1995 não promoveu alteração substancial
na disciplina constitucional do setor elétrico, mas, em razão da revogação do art. 171 da CF, restringiu-se a
substituir a expressão “empresa brasileira de capital nacional” pela expressão “empresa constituída sob as leis
brasileiras e que tenha sua sede e administração no país”, incluída no § 1º do art. 176 da CF pela EC 6/1995.

Com efeito, o setor elétrico já estava, antes dessa alteração, aberto ao capital privado. Houve apenas
ampliação colateral em relação às empresas que poderiam ser destinatárias de autorização ou concessão para
explorar o serviço.

Além disso, a MP não se destinou a dar eficácia às modificações introduzidas pela EC 6/1995, mas a
regulamentar o art. 175 da CF, que dispõe sobre o regime de prestação de serviços públicos no setor elétrico.

Com base nesses fundamentos, o Plenário, por unanimidade conheceu em parte das ações diretas de
inconstitucionalidade analisadas em conjunto, e, nas partes conhecidas, julgou improcedentes os pedidos.

ADI 3090/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-feira),
às 23:59 (INF 1051)

ADI 3100/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-feira),
às 23:59 (INF 1051)

193Lei 9.527/1997: “Art. 4º As disposições constantes do Capítulo V, Título I, da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, não
se aplicam à Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como às
autarquias, às fundações instituídas pelo Poder Público, às empresas públicas e às sociedades de economia mista.”

194CF: “Art. 246. É vedada a adoção de medida provisória na regulamentação de artigo da Constituição cuja redação tenha
sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1º de janeiro de 1995 até a promulgação desta emenda, inclusive.”

195Precedentes: ADI 2005 MC, ADI 2473 MC, ADI 1518 MC, ADI 1597 MC e ADI 1975 MC.

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4.10 ORDEM SOCIAL

Ação para o fornecimento de medicamentos: fármaco com registro na Anvisa e na União -


RE 1286407 AgR-segundo/PR

Resumo:

É obrigatória a inclusão da União no polo passivo de demanda na qual se pede o fornecimento


gratuito de medicamento registrado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não incorporado aos
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Sistema Único de Saúde.

No caso, a decisão de autoridade judicial no sentido de que a União deve necessariamente compor o
polo passivo da lide está em consonância com a tese fixada por este Tribunal em sede de embargos de declaração
no RE 855.178 (Tema 793 da repercussão geral).

Com base nesse entendimento, a Primeira Turma deu provimento a agravo interno para negar
seguimento a recurso extraordinário, mantendo a remessa à Justiça Federal determinada na origem, bem como a
medida liminar deferida, até que o juízo competente analise a causa.

RE 1286407 AgR-segundo/PR, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento em 26.4.2022 (INF


1052)

Covid-19: educação e transferência de recursos para acesso à internet - ADI 6926/DF

ODS: 4

Resumo:

É constitucional norma federal que prevê a transferência de recursos pela União aos estados e ao
Distrito Federal para garantir o acesso à internet, com fins educacionais, por alunos e professores da
educação básica em virtude da calamidade pública decorrente da Covid-19.

No caso, a Lei 14.172/2021 está em consonância com a norma constitucional que posiciona a educação
como um direito social (CF/1988, art. 205), bem como ao princípio segundo o qual o ensino será ministrado com
“igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (CF/1988, art. 206, I), uma vez que objetiva
garantir a conectividade a alunos e professores da rede pública de ensino no contexto da pandemia da Covid-19.

Ademais, não há qualquer contrariedade ao devido processo legislativo, pois (i) a norma não prevê
qualquer disposição que implique na criação de órgãos na Administração Pública federal, na sua reorganização
ou na alteração de suas atribuições; e (ii) a aprovação do projeto de lei foi precedida da demonstração da
viabilidade financeira e orçamentária, em observância ao art. 113 do ADCT, respeitando as limitações legais
cabíveis e sem desobedecer ao regime extraordinário fiscal implementado pelas ECs 106/2020 e 109/2021.

Assim, foram observadas as regras legais e constitucionais voltadas ao equilíbrio fiscal e, dada a
existência de mecanismos para que a transferência dos recursos cumpra as finalidades designadas pela norma e
para que a política pública seja efetivamente implementada, não se vislumbra qualquer contrariedade ao
princípio da eficiência.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente do pedido
formulado na ação — para dele excluir o art. 2º, § 3º, alterado pela Lei 14.351/2022 — e, na parte conhecida, o
julgou improcedente para declarar a constitucionalidade dos demais preceitos da Lei 14.172/2021.

ADI 6926/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1061)

Educação infantil: dever estatal de garantir o atendimento em creche e pré-escola às


crianças de até cinco anos de idade - RE 1008166/SC (Tema 548 RG)
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97
ODS: 1, 4, 10 e 16

Tese fixada:

"1. A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino fundamental e ensino
médio — constitui direito fundamental de todas as crianças e jovens, assegurado por normas
constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta e imediata. 2. A educação infantil compreende
creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo Poder Público pode ser exigida
individualmente, como no caso examinado neste processo. 3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar
efetividade integral às normas constitucionais sobre acesso à educação básica."

Resumo

O Estado tem o dever constitucional de assegurar às crianças entre zero e cinco anos de idade o
atendimento em creche e pré-escola.

A educação infantil é direito subjetivo assegurado no próprio texto constitucional, mediante norma de
aplicabilidade direta e eficácia plena, isto é, sem a necessidade de regulamentação pelo Poder Legislativo. Nesse
contexto, os entes municipais, por meio de políticas públicas eficientes, são primariamente responsáveis por
proporcionar sua concretização196.

A educação básica representa prerrogativa constitucional deferida a todos, notadamente às crianças, e


seu adimplemento impõe a satisfação de um dever de prestação positiva pelo Poder Público, consistente na
garantia de acesso pleno ao sistema educacional, inclusive ao atendimento em creches e pré-escolas. Com efeito,
a universalização desse acesso tem potencial de contribuir substancialmente para a redução de desigualdades
sociais e raciais.

Ademais, a jurisprudência desta Corte firmou-se pela possibilidade de se exigir judicialmente do Estado
uma determinada prestação material com o objetivo de concretizar um direito fundamental 197.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 548 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário, confirmando o acórdão recorrido, para assentar o dever de a
municipalidade efetuar a matrícula de uma criança em estabelecimento de educação infantil próximo de sua
residência.

RE 1008166/SC, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 22.9.2022 (INF 1069)

196“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...) XXV–- assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-
escolas; (...) Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (...) Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) IV –
educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (...) Art. 211. A União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. (...) § 2º Os Municípios
atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. (...) Art. 227. É dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.”

197Precedentes citados: ARE 639337 AgR; AI 592075 AgR e RE 592937 AgR.

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98
FUNDEF/FUNDEB: precatório e pagamento de pessoal - ADPF 528/DF

Resumo:

O caráter extraordinário dos valores de complementação do FUNDEB pagos pela União aos
estados e aos municípios, por força de condenação judicial, justifica o afastamento da subvinculação
prevista nos arts. 60, XII, do ADCT198 e 22 da Lei 11.949/2007199.

Isso porque a observância à regra da subvinculação implicaria em pontual e insustentável aumento


salarial dos professores do ensino básico, que, em razão da regra de irredutibilidade salarial, teria como efeito
pressionar o orçamento público municipal nos períodos subsequentes — sem que houvesse receita subsequente
proveniente de novos precatórios inexistentes —, acarretando o investimento em salários além do patamar
previsto constitucionalmente, em prejuízo de outras ações de ensino a serem financiadas com os mesmos
recursos.

É inconstitucional o pagamento de honorários advocatícios contratuais com recursos destinados ao


FUNDEB, o que representaria indevido desvio de verbas constitucionalmente vinculadas à educação.

O comando constitucional é claro ao afirmar que os recursos recebidos por meio do FUNDEB devem
ser destinados exclusivamente à educação básica pública. Dessa forma, a utilização de tais verbas para
pagamento de honorários advocatícios contratuais caracterizaria violação direta ao texto constitucional 200. Por
outro lado, é admissível o pagamento de honorários advocatícios contratuais com verbas provenientes dos juros
moratórios incidentes sobre o valor do precatório devido pela União.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente arguição de
descumprimento de preceito fundamental.

ADPF 528/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

Reserva de vagas para irmãos na mesma escola - ADI 7149/RJ

ODS: 4

198ADCT: “Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação, respeitadas as
seguintes disposições: (…) XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento) de cada Fundo referido no inciso I do
caput deste artigo será destinada ao pagamento dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício.”

199Lei 11.494/2007: “Art. 22. Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos serão destinados
ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício na rede pública.
Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se: I - remuneração: o total de pagamentos devidos
aos profissionais do magistério da educação, em decorrência do efetivo exercício em cargo, emprego ou função, integrantes
da estrutura, quadro ou tabela de servidores do Estado, Distrito Federal ou Município, conforme o caso, inclusive os encargos
sociais incidentes; II - profissionais do magistério da educação: docentes, profissionais que oferecem suporte pedagógico
direto ao exercício da docência: direção ou administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional
e coordenação pedagógica; III - efetivo exercício: atuação efetiva no desempenho das atividades de magistério previstas no
inciso II deste parágrafo associada à sua regular vinculação contratual, temporária ou estatutária, com o ente governamental
que o remunera, não sendo descaracterizado por eventuais afastamentos temporários previstos em lei, com ônus para o
empregador, que não impliquem rompimento da relação jurídica existente.”

200Precedente: ARE 1.066.281 AgR.

99

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Resumo:

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de vagas, no


mesmo estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo escolar, pois
disciplina medida que visa consolidar políticas públicas de acesso ao sistema educacional e do maior
convívio familiar possível.

De acordo com a jurisprudência desta Corte 201, não viola a competência reservada ao chefe do Poder
Executivo lei de iniciativa parlamentar que reafirma ou densifica o conteúdo de direitos fundamentais previstos
na própria Constituição Federal e cujo conteúdo é de observância obrigatória pelos estados-membros (CF/1988,
art. 61, § 1º, II, e; e art. 84, VI, a).

Na espécie, a norma impugnada não cria despesa para a Administração Pública estadual, bem como não
trata da sua estrutura ou da atribuição ou funcionamento de seus órgãos, tampouco do regime jurídico de
servidores públicos, razão pela qual não há vício de inconstitucionalidade formal. Além de facilitar o acesso ao
sistema de ensino, a medida diminui a evasão escolar, fortalece a convivência familiar e facilita o transporte de
alunos, de modo a consolidar o direito fundamental à educação e a proteção aos interesses das crianças e dos
adolescentes, em reforço ao que já dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente202.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade da Lei 9.385/2021 do Estado do Rio de Janeiro203.

ADI 7149/RJ, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1069)

Termo inicial da licença-maternidade e do salário-maternidade - ADI 6327/DF

ODS: 1, 3, 5, 8 e 10

Resumo:

Nos casos de internações pós-parto que durem mais de duas semanas, o termo inicial da licença-
maternidade e do salário-maternidade é a alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido — o que ocorrer
por último —, prorrogando-se ambos os benefícios por igual período ao da internação, visto que não
podem ser reduzidos de modo irrazoável e conflitante com o direito social de proteção à maternidade e à
infância.

A proteção à maternidade e à infância (CF/1988, arts. 6º, caput, 201, II, 203, I, e 227, caput e § 1º, I) se
caracteriza como uma verdadeira liberdade positiva, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito

201Precedentes citados: ADI 4723; ADI 5243 e RE 1282228 AgR.

202Lei 8.069/1990: “Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: (...) V - acesso à escola
pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a
mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.”

203Lei 9.385/2021 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º Esta Lei altera a Lei nº 4.528, de 28 de março de 2005, para
dispor sobre a garantia de matrícula a irmãos, na mesma escola, na forma que menciona. Art. 2º O Art. 19, da Lei nº 4.528, de
28 de março de 2005, passa a vigorar acrescido do Inciso XII, que terá a seguinte redação: ‘Art. 19. [...] XII – o Poder
Executivo, mediante regulamentação própria , deverá garantir , a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo escolar,
reserva de vagas no estabelecimento de ensino mais próximo de sua residência , desde que a Unidade Escolar onde um dos
irmãos já esteja matriculado, possua a etapa ou ciclo escolar do outro irmão, e não tenha como meio de admissão processo
seletivo específico, por meio de sorteio público ou prova.’ Art. 3º As dotações orçamentárias contemplarão as despesas
previstas nesta Lei, devendo ser suplementadas, caso necessário. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”

100

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cujas finalidades são a melhoria das condições de vida dos hipossuficientes e a concretização da igualdade
social204.

Nesse contexto, e diante da elevada quantidade de nascimentos prematuros e de complicações de saúde


após o momento do parto, há uma omissão inconstitucional relativa no § 1º do art. 392, da CLT 205, e no art. 71 da
Lei 8.213/1991206, pois as crianças ou suas mães, internadas após o parto, são desigualmente privadas do período
destinado à convivência inicial.

Ademais, não há se falar em ausência de fonte de custeio para a implantação da medida, uma vez que o
benefício e sua fonte já existem 207. A Seguridade Social deve ser compreendida integralmente, como sistema de
proteção social que compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ADI como ADPF e,
ratificando a medida cautelar, a julgou procedente para conferir interpretação conforme a Constituição ao art.
392, § 1º, da CLT, assim como ao art. 71 da Lei 8.213/1991 e, por arrastamento, ao art. 93 do seu regulamento
(Decreto 3.048/1999), de modo a se considerar como termo inicial da licença-maternidade e do respectivo
salário-maternidade a alta hospitalar do recém-nascido e/ou de sua mãe, o que ocorrer por último, prorrogando-
se em todo o período o benefício, quando a internação exceder as duas semanas previstas no art. 392, § 2º, da
CLT, e no art. 93, § 3º, do Decreto 3.048/1999.

ADI 6327/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 21.10.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1073)

4.11 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Hipóteses constitucionais de intervenção estadual no município: rol taxativo - ADI


6619/RO

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional — por violação aos princípios da simetria e da autonomia dos entes federados
— norma de Constituição estadual que prevê hipótese de intervenção do estado no município fora das que
são taxativamente elencadas no artigo 35 da Constituição Federal.

204Precedente citado: ADI 5938.

205CLT: “Art. 392. A empregada gestante tem direito à licença-maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do
emprego e do salário. § 1o A empregada deve, mediante atestado médico, notificar o seu empregador da data do início do
afastamento do emprego, que poderá ocorrer entre o 28º (vigésimo oitavo) dia antes do parto e ocorrência deste.”

206Lei 8.213/1991: “Art. 71. O salário-maternidade é devido à segurada da Previdência Social, durante 120 (cento e vinte)
dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e a data de ocorrência deste, observadas as situações e
condições previstas na legislação no que concerne à proteção à maternidade.”

207Precedente citado: RE 778889 (Tema 782 RG).

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A Constituição Federal esgota por completo o assunto, não deixando qualquer margem para que as
Constituições estaduais disciplinem a matéria, dada a característica taxativa do rol constitucional 208.

Nesse contexto, esta Corte possui julgados recentes no sentido da inconstitucionalidade de dispositivos
de Constituições estaduais que estabeleçam hipóteses inéditas de intervenção estadual no município 209.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da alínea e do art. 113 da Constituição do Estado de Rondônia210.

ADI 6619/RO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 21.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1073)

4.12 ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

Inconstitucionalidade do bloqueio e penhora de receitas públicas vinculadas a contratos de


gestão firmados entre o Poder Público e entidades do terceiro setor - ADPF 1012/PA

ODS: 3 e 16

Resumo:
São inconstitucionais — por violarem os princípios da separação de Poderes, da legalidade
orçamentária, da eficiência administrativa e da continuidade dos serviços públicos — decisões judiciais
que determinam a penhora ou o bloqueio de receitas públicas destinadas à execução de contratos de
gestão para o pagamento de despesas estranhas aos seus objetos.
No caso, as verbas atribuídas ao cumprimento de contratos de gestão são receitas públicas da saúde com
destinação orçamentária definida pelos entes responsáveis, sendo vedado ao Poder Judiciário alterar a sua
aplicação 211, conforme se observa da jurisprudência consolidada desta Corte212 .
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para suspender e
cassar os efeitos das decisões judiciais que determinaram a constrição (arresto, sequestro, bloqueio, penhora e

208CF/1988: “Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território
Federal, exceto quando: I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II -
não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; IV - o Tribunal de Justiça der provimento
a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de
lei, de ordem ou de decisão judicial.”

209Precedentes citados: ADI 2917 e ADI 6617.

210Constituição do Estado de Rondônia: “Art. 113. Ao Estado compete exercer em seu território todos os poderes que,
implícita ou explicitamente, não lhe sejam vedados pela Constituição Federal e, especialmente, intervir nos Municípios
somente quando: (...) e) não forem cumpridos os prazos estabelecidos nesta Constituição.”

211CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma
categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; (...) X - a transferência
voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e
Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios. (...) Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos
usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado.”

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liberação de valores) de recursos públicos do Estado do Pará, destinados à execução dos Contratos de Gestão
23/2014, 01/2017, 03/2017, 04/2017 e 05/2017, referidos na petição inicial e executados pela Organização Social
Pró-Saúde, declarando a inconstitucionalidade dos atos impugnados.

ADPF 1012/PA, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 12.12.2022 (segunda-feira), às
23:59

Liberdade de expressão e limites - AP 1044/DF

Resumo:

A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até
mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado
Democrático de Direito e a democracia.

A Constituição garante a liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de expressão não


pode ser usada para a prática de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio, contra a democracia ou
contra as instituições.

Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a abolição do
Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes constituídos e de
suas instituições.

Ademais, conforme jurisprudência do STF, a garantia constitucional da imunidade parlamentar 213 incide
apenas sobre manifestações proferidas no desempenho da função legislativa ou em razão desta, não sendo
possível utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas.

Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei
7.170/1983).

Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal, com a
manutenção do caráter proibido da conduta, há a configuração do fenômeno processual penal da continuidade
normativo-típica.

Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à democracia, ao Estado de


Direito e ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto democrático, a defesa do Estado,
de suas instituições e de seus poderes.

Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos arts.
18 e 23, IV, da Lei 7.170/1983 e a conduta prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela Lei
14.197/2021), bem como entre a conduta prevista no art. 23, II, da Lei 7.170/1983 e o conduta típica prevista no
art. 286, parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei 14.197/2021.

Com base nesses e em outros fundamentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente
ação penal.

AP 1044/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento em 20.4.2022 (INF 1051)

212Precedentes citados: ADPF 275; ADPF 556; ADPF 620 e ADPF 664.

213CF: “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos.”

103

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4.13 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

Desmembramento de municípios sem consulta plebiscitária e EC 57/2008 - RE 614384/SE


(Tema 559 RG)

Tese fixada:

“A EC nº 57/08 não convalidou desmembramento municipal realizado sem consulta plebiscitária


e, nesse contexto, não retirou o vício de ilegitimidade ativa existente nas execuções fiscais que haviam sido
propostas por município ao qual fora acrescida, sem tal consulta, área de outro para a cobrança do IPTU
quanto a imóveis nela localizados.”

Resumo:

A EC 57/2008 não convalidou a criação, fusão, incorporação e desmembramento de municípios


realizados sem consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos.

Município resultante de desmembramento realizado em desacordo com o art. 18, § 4º, da CF/1988 214
não detém legitimidade ativa para a cobrança de IPTU de imóvel situado em território a ele acrescido.

Na linha da jurisprudência da Corte 215, ao acrescentar o art. 96 ao ADCT 216, a EC 57/2008 aludiu à
inexistência de lei complementar federal à qual se refere o texto constitucional, sem dispensar, entretanto, a
observância do plebiscito da população dos municípios envolvidos.

Verifica-se, ademais, que a conclusão adotada pelo Tribunal de origem está de acordo com a orientação
fixada pelo STF no julgamento do RE 1171699 (Tema 400 da repercussão geral).

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 559 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 614384/SE, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 29.4.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1052)

4.14 PODER EXECUTIVO

Chefe do Poder Executivo estadual: dupla vacância do cargo no último biênio do mandato -
ADI 7137/SP e ADI 7142/AC

ODS: 16

Resumo:

214CF/1988: “Art. 18: (...) § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei
estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e
publicados na forma da lei. (Redação dada pela EC n. 15/1996)”

215Precedentes: RE 1171699; RE 1171699 ED; ADI 2921.

216ADCT: “Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja
lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado
à época de sua criação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 57, de 2008).”

104

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É inconstitucional, por violação ao princípio democrático, norma de Constituição estadual que, a
pretexto de disciplinar a dupla vacância no último biênio do mandato do chefe do Poder Executivo,
suprime a realização de eleições.

Conforme jurisprudência desta Corte, na hipótese de dupla vacância, no último biênio do mandato, a
disciplina sobre o processo de escolha do governador do estado e do prefeito do município compete (a) aos
estados-membros e aos municípios, respectivamente, se decorrente de causas não eleitorais; ou (b) à União, se
decorrente de causas eleitorais217.

Assim, muito embora o art. 81, § 1º, da CF/1988 218 não consubstancie norma de reprodução obrigatória,
a autonomia organizacional outorgada às unidades da Federação (art. 25, caput, da CF/1988 c/c o art. 11 do
ADCT) não afasta a indispensabilidade da realização de eleições, sejam diretas (regra), sejam indiretas
(exceção), pois, no Brasil, os mandatos políticos são exercidos por pessoas escolhidas pelo povo mediante
votação.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade do artigo 41, § 1º, da Constituição do Estado de São
Paulo219 e do art. 72, parágrafo único, da Constituição do Estado do Acre220.

ADI 7137/SP, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1064)

ADI 7142/AC, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1064)

4.15 PODER JUDICIÁRIO

Conselho Nacional de Justiça e análise prévia de anteprojetos de lei de criação de cargos,


funções e unidades judiciárias dos tribunais de justiça - ADI 5119/DF

Resumo:

217Precedentes citados: ADI 1057 MC; ADI 4298; ADI 1057; ADI 3549; ADI 4298 ED; ADI 5525; e ADI 2709.

218CF/1988: “Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias
depois de aberta a última vaga. § 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para
ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.”

219Constituição do Estado de São Paulo: “Art. 40. Em caso de impedimento do Governador e do Vice-Governador, ou
vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Governança o Presidente da Assembleia
Legislativa e o Presidente do Tribunal de Justiça. Art. 41. Vagando os cargos de Governador e Vice-Governador, far-se-á
eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º Ocorrendo a vacância no último ano do período governamental,
aplica-se o disposto no artigo anterior.”

220Constituição do Estado do Acre: “Art. 72. Vagando os cargos de Governador e Vice-Governador do Estado, far-se-á
eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. Parágrafo único. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período
governamental, serão chamados ao exercício do cargo o Presidente da Assembleia Legislativa e o Presidente do Tribunal de
Justiça, sucessivamente.”

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É constitucional a Resolução 184/2013 do CNJ no que determina aos tribunais de justiça estaduais
o encaminhamento, para eventual elaboração de nota técnica, de cópia dos anteprojetos de lei de criação
de cargos, funções comissionadas e unidades judiciárias 221.

A referida Resolução foi editada em consideração à Lei Complementar 101/2000 (Lei de


Responsabilidade Fiscal) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias quanto à geração de novas despesas públicas,
visando à execução orçamentária de forma responsável e equilibrada, nos termos do art. 167 da CF/1988. Insere-
se, portanto, na perspectiva de uma gestão do Poder Judiciário com responsabilidade, planejamento, avaliação,
controle, limite e transparência, a fim de fomentar o uso racional dos recursos públicos mediante análise prévia
de anteprojetos de lei.

Nesse contexto, inexiste qualquer tratamento normativo anti-isonômico, pois a adoção da nota técnica,
no que couber, quanto aos estados-membros e respectivos tribunais de justiça prestigia (i) o cumprimento da
missão constitucional do CNJ para realizar o controle financeiro em relação a toda a magistratura nacional, bem
como (ii) o respeito ao federalismo, à autonomia dos entes federativos quanto à programação financeiro-
orçamentária (CF/1988, art. 24, I), e ao autogoverno dos tribunais de justiça quanto à gestão de recursos
humanos (CF/1988, art. 96, I).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 5119/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1059)
Custas e emolumentos judiciais: majoração e criação de sanções processuais por ente
estadual - ADI 7063/RJ

ODS: 8

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que institui sanções processuais diversas da legislação federal
para litigantes que abusem do seu direito à prestação jurisdicional e um procedimento mais restritivo para
requerer o benefício da gratuidade de justiça.
Isso porque compete à União legislar sobre direito processual (CF/1988, art. 22, I) e já existe, no
Código de Processo Civil, expressão legislativa exaustiva sobre a matéria.
Além disso, as custas e os emolumentos classificam-se como tributo da espécie taxa, cuja aplicação é
direcionada ao sistema de justiça e, por essa razão, não podem ter como fato gerador principal um ato ilícito 222.
É constitucional norma estadual que fixa custas processuais mais elevadas para causas
consideradas de alto valor ou alta complexidade.
Com efeito, há pertinência entre o valor das custas e o custo do serviço judicial prestado, o que se revela
como efetiva progressividade tributária223.
No entanto, a determinação de “dobra de custas” sem a necessária correlação entre o valor da taxa e o
custo dos serviços prestados constitui afronta ao texto constitucional (CF/1988, art. 145, II). Portanto, se o
critério adotado é a qualidade do usuário do serviço, resta evidente a falta dessa referibilidade.
221Resolução 184/2013 - CNJ: “Art. 1º Os anteprojetos de lei de criação de cargos de magistrados e servidores, cargos em
comissão, funções comissionadas e unidades judiciárias no âmbito do Poder Judiciário da União obedecerão ao disposto nesta
Resolução. (...) § 3º Os Tribunais de Justiça dos Estados devem encaminhar cópia dos anteprojetos de lei referidos no caput
ao CNJ, que, se entender necessário, elaborará nota técnica, nos termos do artigo 103 do Regimento Interno.”

222CTN/1966: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que
não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.”

223Precedente: ADI 5612.

106

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Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente
procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 15-A; 15-B, caput; e 15-F a 15-I da Lei
3.350/1999, e arts. 135-D a 135-H do Decreto-Lei 5/1975, acrescidos respectivamente pelos arts. 1º e 2º da Lei
9.507/2021, todos do Estado do Rio de Janeiro.

ADI 7063/RJ, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1057)

Tempo de serviço como critério de desempate para a promoção na carreira da magistratura


- ADI 6772/AL

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por disciplinar matéria concernente ao Estatuto da Magistratura, norma


estadual que prevê a adoção do maior tempo de serviço público como critério de desempate para a
promoção de magistrados.

Compete à União, mediante lei complementar de iniciativa reservada ao Supremo Tribunal Federal,
legislar sobre a organização da magistratura nacional (CF/1988, art. 93, caput). Enquanto esta norma não é
editada, a uniformização do regime jurídico da magistratura permanece sob a regência da Lei Complementar
35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura - LOMAN).

Portanto, as disposições e regras nela previstas devem ser seguidas por todos os legisladores estaduais e
do Distrito Federal, sob pena de incidirem em inconstitucionalidade formal 224, de modo que o tempo de serviço
público — como previsto na norma estadual impugnada — representa critério estranho aos fixados pela
LOMAN225.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão "aquele que tiver maior tempo
de serviço público, ou, sucessivamente", do art. 174, e o inciso IV do § 3º do art. 175, ambos da Lei 6.564/2005
do Estado de Alagoas226.

ADI 6772/AL, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1069)

224Precedentes citados: ADI 4462; ADI 6781; ADI 6779; ADI 4042; ADI 6771, ADI 189 e ADI 3358.

225LOMAN: “Art. 80 - A lei regulará o processo de promoção, prescrevendo a observância dos critérios ele antiguidade e
de merecimento, alternadamente, e o da indicação dos candidatos à promoção por merecimento, em lista tríplice, sempre que
possível. § 1º - Na Justiça dos Estados: I - apurar-se-ão na entrância a antiguidade e o merecimento, este em lista tríplice,
sendo obrigatória a promoção do Juiz que figurar pela quinta vez consecutiva em lista de merecimento; havendo empate na
antiguidade, terá precedência o Juiz mais antigo na carreira;”

226Lei 6.564/2005 do Estado de Alagoas: “Art. 174. Verificado empate, na apuração da antiguidade, dar-se-á a precedência
ao magistrado mais antigo na carreira. Permanecendo o impasse, promover-se-á aquele que tiver maior tempo de serviço
público, ou, sucessivamente, o mais idoso. Art. 175. A promoção por merecimento pressupõe dois anos de efetivo exercício
na entrância, bem como integrar o magistrado a primeira quinta parte da lista de antiguidade a esta correspondente, salvo se
não houver, preenchendo tais requisitos, quem aceite o lugar vago. (…) § 3º Havendo empate na promoção por merecimento
entre mais de um juiz, adotará o tribunal o critério de desempate na seguinte forma: (…) IV – o de mais tempo de serviço
público;”

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Transformação de juízos e juizados e definição de suas respectivas competências - ADI
4235/RJ

4.16 PROCESSO LEGISLATIVO

Extemporaneidade do veto presidencial - ADPF 893/DF

Tese fixada:
“O poder de veto previsto no art. 66, § 1º, da Constituição não pode ser exercido após o decurso
do prazo constitucional de 15 (quinze) dias”
Resumo:
A prerrogativa do poder de veto presidencial somente pode ser exercida dentro do prazo
expressamente previsto na Constituição, não se admitindo exercê-la após a sua expiração.
No caso, apenas no dia imediatamente seguinte à expiração do prazo, a Presidência da República
providenciou a publicação de edição extra do Diário Oficial da União para a divulgação de novo texto legal com
a aposição adicional de veto a dispositivo que havia sido sancionado anteriormente.
Esse tipo de procedimento não se coaduna com a Constituição Federal 227, de modo que, ultrapassado o
período do art. 66, § 1º, da CF/1988, o texto do projeto de lei é, necessariamente, sancionado (art. 66, § 3º) e o
poder de veto não pode mais ser exercido. Portanto, a manutenção de veto extemporâneo na forma do art. 66, §
4º, da CF/1988 não retira a sua inconstitucionalidade, pois o ato apreciado pelo Congresso Nacional sequer
poderia ter sido praticado228. Nessa hipótese, caso o Legislativo deseje encerrar a vigência de dispositivo legal
por ele aprovado, deve retirá-lo da ordem jurídica por meio da sua revogação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do veto adicional publicado na edição extra do Diário Oficial da União de 15.7.2021 e,
assim, restabelecer a vigência do art. 8º da Lei 14.183/2021.
ADPF 893/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso,
julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-feira), às 23:59 (INF 1059)

Iniciativa de leis sobre a organização do Ministério Público estadual - ADI 400/ES

Tese fixada:
“A atribuição de iniciativa privativa ao Governador do Estado para leis que disponham sobre a
organização do Ministério Público estadual contraria o modelo delineado pela Constituição Federal nos
arts. 61, § 1º, II, d, e 128, § 5º.”

Resumo:
É inconstitucional a atribuição de iniciativa privativa a governador de estado para leis que
disponham sobre a organização do Ministério Público estadual.

227Precedentes: ADPF 714; ADPF 715; e ADPF 718.

228CF/1988: “Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República,
que, aquiescendo, o sancionará. § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional
ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. (...) § 3º
Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção. § 4º O veto será apreciado em
sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos
Deputados e Senadores.”

108

108
Nos estados, os Ministérios Públicos poderão estabelecer regras sobre sua organização, atribuições de
seus membros e seu estatuto por meio de lei complementar de iniciativa do respectivo Procurador-Geral de
Justiça229.
Assim, na esfera estadual, coexistem dois regimes de organização: (i) a Lei Orgânica Nacional (Lei
8.625/1993); e (ii) a Lei Orgânica do estado-membro, que delimita as regras acima referidas e que, como visto,
se dá através de lei complementar de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça 230.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “do Ministério Público”, contida no art. 63, parágrafo único, V, da
Constituição do Estado do Espírito Santo231.
ADI 400/ES, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso,
julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-feira) às 23:59 (INF 1059)
Medida Provisória e recursos destinados a promoção da cultura e eventos - ADI 7232 MC-
Ref/DF

ODS: 16

Resumo:

Devem ser suspensos os efeitos da Medida Provisória 1.135/2022 que, ao tratar sobre tema já
deliberado pelo Poder Legislativo, alterou a entrega obrigatória de recursos financeiros destinada ao setor
de cultura e eventos para mera autorização de repasse de verbas da União aos estados, Distrito Federal e
municípios, observada a disponibilidade orçamentária e financeira.

Na hipótese, em análise perfunctória de medida cautelar, pode-se afirmar que a referida Medida
Provisória não satisfez os requisitos de urgência e relevância, atuou com desvio de finalidade e abuso de poder,
além de invadir matéria reservada à lei complementar.

A Medida Provisória 1.135/2022 esvaziou a finalidade das Leis 14.399/2022 e 14.148/2021 e da LC


195/2022, que dispõem sobre ações emergenciais direcionadas ao setor cultural; burlou a livre atuação do
Parlamento, que havia derrubado os vetos presidenciais apostos nos referidos diplomas legais; e valeu-se de
instrumento extraordinário de criação de normas, para restabelecer a vontade do Poder Executivo sobre a
deliberação do Poder Legislativo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria referendou a decisão que deferiu a medida
cautelar requerida, para suspender os efeitos da Medida Provisória 1.135/2022, com efeitos ex tunc,
repristinando-se as Leis 14.399/2022, 14.148/2021 e a LC 195/2022, mantendo a Medida Provisória 1.135/2022
o seu curso regular no Congresso Nacional, como projeto de lei, na forma do art. 62 da Constituição Federal.

ADI 7232 MC-Ref/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 8.11.2022
(terça-feira), às 23:59 (INF 1075)

229CF/1988: “Art. 128 (...) § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas,
relativamente a seus membros:”

230Precedente: ADI 4142.

231CE/ES: “Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou comissão da Assembleia Legislativa, ao Governador
do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e aos cidadãos, satisfeitos os requisitos estabelecidos nesta
Constituição. Parágrafo único. São de iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que disponham sobre: (...) V
- organização do Ministério Público, da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública;”

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Processo legislativo para a autorização de alienação de ações de empresa estatal e obtenção
de crédito para o custeio de despesas correntes de estado-membro - ADI 5683/RJ

Resumo:

Não podem ser realizadas junto a instituições financeiras estatais operações financeiras com a
finalidade de obtenção de crédito para pagamento de pessoal ativo, inativo e pensionista, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios.

Observa-se que a “regra de ouro” das finanças públicas versada no art. 167, III, da CF/1988 232, segundo
a qual o ente público não deve se endividar mais que o necessário para realizar suas despesas de capital, não
impede a contratação de operações de crédito para o custeio de despesas correntes. O estado pode financiar suas
despesas de capital mediante receitas de operações de crédito, desde que estas não excedam o montante das
despesas de capital. Isso deverá ser observado pelo chefe do Poder Executivo quando fizer a operação financeira
autorizada por lei.

Ademais, o art. 167, X, da CF233 não proíbe a concessão de empréstimos para pagamento de pessoal. O
dispositivo veda, contudo, que os empréstimos realizados junto a instituições financeiras dos governos federal e
estaduais sejam utilizados para aquele fim. Impede-se, portanto, a alocação das receitas obtidas com instituições
financeiras estatais para o custeio de pessoal ativo e inativo. Por oportuno, nada impede a realização de
empréstimos com instituições financeiras privadas para pagamento de despesas com pessoal, porquanto a
proibição não as alcança.

Por fim, sob o aspecto formal, em especial sobre eventual desrespeito ao devido processo legislativo, a
norma estadual impugnada não possui qualquer vício a comprometer sua constitucionalidade.

No caso, o Estado do Rio de Janeiro aprovou lei ordinária que autoriza o Poder Executivo a alienar
ações representativas do capital social da Companhia Estadual de Águas e Esgotos – CEDAE, como meio de
garantia para obtenção de empréstimo para o pagamento da folha dos servidores ativos, inativos e pensionistas.

Com esses entendimentos, o Plenário, por maioria, confirmando a medida cautelar concedida, julgou
parcialmente procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade para dar interpretação
conforme à CF/1988 ao art. 2º, § 2º, da Lei 7.529/2017 do Estado do Rio de Janeiro. Vencido o ministro André
Mendonça.

ADI 5683/RJ, relator Ministra Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

Proposições legislativas e adoção do rito de urgência - ADI 6968/DF

Resumo:

É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que tramitam na


Câmara dos Deputados e no Senado Federal, descabendo ao Poder Judiciário examinar concretamente as
razões que justificam sua adoção.

232CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas
de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo
Poder Legislativo por maioria absoluta;”

233CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) X – a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, inclusive
por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de despesas
com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”

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Inexiste violação ao devido processo legislativo, pois as normas dos Regimentos Internos reduzem as
formalidades processuais para casos específicos, devidamente reconhecidos pela maioria legislativa, o que é
permitido pela própria Constituição234.

O silêncio constitucional quanto à indicação das Comissões das Casas Legislativas e à definição do
momento e oportunidade da intervenção deve ser interpretado como opção pela disciplina regimental, sob pena
de inviabilizar os próprios trabalhos legislativos.

Portanto, a adoção do rito é matéria interna corporis, sendo defeso ao STF adentrar em tal seara, o que
implicaria indevido controle jurisdicional sobre a interpretação do sentido e do alcance de normas meramente
regimentais, infringindo o princípio da separação dos Poderes235.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação direta.

ADI 6968/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-feira),
às 23:59 (INF 1051)

Quórum para aprovação de emendas constitucionais estaduais - ADI 6453/RO

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que preveja quórum diverso de 3/5 dos
membros do Poder Legislativo236 para aprovação de emendas constitucionais.

As regras e parâmetros do processo legislativo federal, como é o caso do processo de reforma


constitucional, na forma disposta pela Constituição Federal (CF), é de reprodução obrigatória nas Constituições
estaduais, em estrita observância ao princípio da simetria, ao qual a autonomia dos estados-membros se submete,
a teor do que prevê os arts. 25 da CF237 e 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT238.

Os precedentes da Corte239 são firmes no que diz respeito à limitação do poder constituinte derivado e
denotam a natureza estruturante das normas regentes do processo legislativo federal, o que enseja a

234CF/1988: “Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na
forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. (...) § 2º Às comissões,
em razão da matéria de sua competência, cabe: I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a
competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa; (...)”

235Precedentes: MS 38.199 MC e RE 1.297.884.

236CF/1988: “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) § 2º A proposta será discutida e votada
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos
dos respectivos membros. (...).”

237CF/1988: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. § 3º Os Estados poderão, mediante lei
complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de
municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.”

238ADCT: “Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo
de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Parágrafo único. Promulgada a
Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos
de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.”

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inconstitucionalidade das Constituições estaduais no ponto em que dissonantes quanto à formatação do processo
de emenda à Constituição.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta e, no mérito,
julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade do § 2º do art. 38 da Constituição do
Estado de Rondônia (CE-RO)240, com efeitos ex nunc, a contar da data de publicação da ata do julgamento.

ADI 6453/RO, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1043)

4.17 REGIME DE PRECATÓRIOS

Cancelamento de precatórios e requisições de pequeno valor (RPV) federais não resgatados


- ADI 5755/DF

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional o cancelamento automático — realizado diretamente pela instituição financeira


oficial depositária e sem prévia ciência do beneficiário ou formalização de contraditório — de precatórios
e RPV federais não resgatados em dois anos.

A medida infringe o princípio da separação dos Poderes, dada a impossibilidade de edição de medidas
legislativas para condicionar e restringir o levantamento de valores depositados a título de precatórios, já que
gestão de recursos destinados ao seu pagamento incumbe ao Judiciário por decorrência do texto constitucional
(CF/1988, art. 100), o qual não deixou margem limitativa do direito de crédito ao legislador
infraconstitucional241.

Também há violação aos princípios da segurança jurídica, do respeito à coisa julgada (CF/1988, art. 5º,
XXXVI) e do devido processo legal (CF/1988, art. 5º, LIV), sendo certo que a simples previsão da faculdade do
credor requerer posteriormente a expedição de novo ofício requisitório com a conservação da ordem cronológica
anterior não repara os vícios inerentes ao cancelamento.

Ademais, como nesse momento processual da tutela executiva a Fazenda Pública não detém a
titularidade da quantia, a previsão legal ofende o direito de propriedade (CF/1988, art. 5º, XXII), além de
conferir tratamento mais gravoso ao credor, criando distinção que deriva automaticamente do decurso do tempo,
sem averiguar as reais razões do não levantamento do montante, afastando-se da necessária obediência à
isonomia242.

239Precedentes: ADI 568 MC; ADI 216 MC; ADI 981; ADI 1.434; ADI 2.029; ADI 637; ADI 5.087 MC; ADI 2.420; ADI
3.777; ADI 2.654; ADI 486; e ADI 1.722 MC.

240CE-RO/1989: “Art. 38. A Constituição pode ser emendada mediante proposta: (...) § 2° A proposta será discutida e
votada em dois turnos, considerando-se aprovada quando obtiver, em ambos, dois terços dos votos dos membros da
Assembleia Legislativa.”

241Precedentes citados: ADI 3453 e ADI 2356 MC.

242Precedentes citados: ADI 584 MC; ADI 4357; e RE 657686.

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Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade material do art. 2º, caput e § 1º, da Lei 13.463/2017243.

ADI 5755/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento em 29 e 30.6.2022 (INF 1061)

4.18 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Competência da União para explorar e legislar sobre atividades nucleares - ADI 6858/AM

ODS: 12 e 15

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que dispõe sobre serviços de atividades


nucleares de qualquer natureza.

A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido da inconstitucionalidade formal de dispositivos nos


quais os estados-membros dispõem sobre atividades que se relacionem de alguma forma com o setor nuclear em
seus respectivos territórios, uma vez que, ao tratarem do assunto, incorrem em indevida invasão da competência
privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito 244 245.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade das expressões “rejeitos radioativos, lixo atômico” constante do § 2º do art. 233; “e
radioativos” do § 4º do mesmo artigo; e “[a] implantação, no território estadual, de usinas de energia nuclear,
instalação de processamento e armazenamento de material radioativo”, do § 1º do art. 235; bem como da íntegra
do § 8º do art. 233, todos da Constituição do Estado do Amazonas246.

ADI 6858/AM, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1061)

Competência legislativa: instalação de antenas transmissoras de telefonia celular e


ordenamento territorial - ARE 1370232/SP (Tema 1235 RG)

ODS: 9 e 17
243Lei 13.463/2017: “Art. 2° - Ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos valores não tenham
sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição financeira oficial. § 1º O cancelamento
de que trata o caput deste artigo será operacionalizado mensalmente pela instituição financeira oficial depositária, mediante a
transferência dos valores depositados para a Conta Única do Tesouro Nacional.”

244CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXVI - atividades nucleares de qualquer
natureza; (...) Art. 177. Constituem monopólio da União: (...) § 3º A lei disporá sobre o transporte e a utilização de materiais
radioativos no território nacional. (...) Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.”

245Precedentes citados: ADI 329; ADI 1575; ADI 330; ADI 4973; ADI 6896; ADI 6897; ADI 6895; ADI 6902; ADI 6905;
ADI 6908; ADI 6909; ADI 6913; ADI 6898; e ADI 6910.

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Tese fixada:

“É inconstitucional a Lei 13.756/2004 do município de São Paulo, por configurar invasão à


competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações e radiodifusão (CF/1988, art. 22,
IV).”

Resumo:

É inconstitucional, por violação à competência legislativa privativa da União, lei municipal que
versa sobre a instalação de estação rádio base (ERB) e dá ensejo à atividade fiscalizatória do município,
quanto ao uso e a ocupação do solo urbano em seu território.

Consoante entendimento pacificado deste Tribunal, a disciplina acerca da instalação de antenas


transmissoras de telefonia celular se insere na competência privativa da União para legislar sobre
telecomunicações e radiodifusão247.

Nesse contexto, a promoção do adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do


uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, assim como a proteção do patrimônio histórico-cultural
local, não autoriza os municípios a disporem sobre matérias nas quais a própria Constituição Federal, mediante o
sistema de repartição de competências, reserva como sendo privativa da União 248.

Ademais, o tema em debate não se confunde com a questão pendente de análise no RE 776594/SP
(Tema 919 da sistemática da repercussão geral), pois não foram questionados os limites da competência
tributária municipal para a instituição de taxas de fiscalização em atividades inerentes ao setor de
telecomunicações.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1235 RG) e, no mérito, também por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria249 para conhecer do agravo e negar provimento ao recurso
extraordinário, assentando a inconstitucionalidade da Lei 13.756/2004 do município de São Paulo/SP.

246Constituição do Estado do Amazonas: “Art. 233. O Poder Público estabelecerá sistemas de controle da poluição, de
prevenção e redução de riscos e acidentes ecológicos, valendo-se, para tal, de mecanismos para avaliação dos efeitos da ação
de agentes predadores ou poluidores sobre a qualidade física, química e biológica dos recursos ambientais, sobre a saúde dos
trabalhadores expostos a fontes poluidoras e da população afetada. (...) § 2º É vedada a utilização do território estadual como
depositário de rejeitos radioativos, lixo atômico, resíduos industriais tóxicos e corrosivos, salvo situação gerada dentro de
seus próprios limites, casos a serem obrigatoriamente submetidos ao Conselho Estadual de Meio Ambiente. (...) § 4º A
entrada de produtos explosivos e radioativos dependerá de autorização expressa do Órgão executor da Política Estadual de
Meio Ambiente. (...) § 8º A Zona Franca de Manaus, entendida a área territorial por ela delimitada, é declarada ‘Zona
Desnuclearizada’. (...) Art. 235. Lei disporá sobre as hipóteses de obrigatoriedade de realização, nos processos de
licenciamento, do estudo de impacto ambiental. (...) § 1º A implantação, no território estadual, de usinas de energia nuclear,
instalação de processamento e armazenamento de material radioativo e implantação de unidades de grande porte, geradoras
de energia hidroelétrica, respeitadas as reservas estabelecidas em lei e áreas indígenas, de acordo com o disposto no art. 231,
da Constituição da República, além da observância das normas e exigências legais e constitucionais, estarão sujeitas ao que
estabelece o art. 234, desta Constituição, ao parecer conclusivo do Conselho Estadual de Meio Ambiente e, na hipótese de
indicação favorável, aprovação por dois terços dos membros da Assembleia Legislativa, após consulta plebiscitária aos
habitantes da área onde se pretende implantar o projeto.”

247CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;”

248Precedente citado: ARE 929738 AgR.

249Precedentes citados: ADI 3110; RE 981825 AgR-segundo-ED e ARE 1313346 AgR.

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ARE 1370232/SP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 8.9.2022
(INF 1067)

Construção de instalações nucleares e de energia elétrica: imposição de exigências por


norma estadual - ADI 7076/PR

ODS: 7

Resumo:

É inconstitucional norma de Constituição estadual que impõe condições locais para a construção
de instalações nucleares e de energia elétrica.

Esta Corte tem reconhecido, reiteradamente, a inconstitucionalidade formal de leis estaduais


semelhantes, assentando a impossibilidade de interferência dos estados-membros em matérias relacionadas à
atividade nuclear e à energia, uma vez que, ao disporem sobre os assuntos, incorrem em indevida invasão da
competência privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito 250 251.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da redação original do art. 209 da Constituição do Estado do Paraná 252.

ADI 7076/PR, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1060)
Convocação de autoridades pela Assembleia Legislativa e princípio da simetria - ADI
6640/PE e ADI 6645/AM

Resumo:

É inconstitucional, por violação ao princípio da simetria e à competência privativa da União para


legislar sobre o tema (CF/1988, art. 22, I), norma de Constituição estadual que amplia o rol de autoridades
sujeitas à fiscalização direta pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade.

250CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão: (...) b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; (...) XIX - instituir sistema nacional de
gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; (...) XXIII - explorar os serviços e
instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e
condições: (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão; (...) XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;”

251Precedentes: ADI 329; ADI 1575; ADI 5960; e ADI 4973.

252Constituição do Estado do Paraná: “Art. 209. Observada a legislação federal pertinente, a construção de centrais
termoelétricas e hidrelétricas dependerá de projeto técnico de impacto ambiental e aprovação da Assembleia Legislativa; a de
centrais termonucleares, desse projeto, dessa aprovação e de consulta plebiscitária.”

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Isso porque o art. 50, caput, e § 2º, da CF/1988253, que prescreve sistemática de controle do Poder
Legislativo sobre o Poder Executivo, configura norma de repetição obrigatória pelos estados-membros, motivo
pelo qual a ordem jurídica estadual, seguindo essa lógica, deve referir-se a cargos correspondentes ao de ministro
de Estado, ou seja, a secretário de Estado ou equivalente em termos de organização administrativa.

No caso, ao incluírem outras autoridades além de secretários de Estado e dirigentes da Administração


Direta diretamente subordinados ao governador, as normas impugnadas desobedeceram ao sistema de repartição
de competências previstas constitucionalmente.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
parcialmente procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade das expressões “Presidente do Tribunal
de Contas do Estado” e “dirigentes da administração indireta”, constantes do inciso XXIX do art. 28 da
Constituição do Estado do Amazonas254255, assim como das expressões “Corregedor-Geral da Justiça”,
“Procurador-Geral da Justiça”, “Defensoria Pública” e “dirigentes da administração indireta ou fundacional”,
constantes do § 2º do art. 13 da Constituição do Estado de Pernambuco 256. Além disso, o Tribunal deu
interpretação conforme a Constituição Federal à expressão “dirigentes da administração direta”, para restringir a
possibilidade de sua convocação pela Assembleia Legislativa apenas quando estiverem diretamente subordinados
ao governador do estado.

ADI 6640/PE, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1064)

ADI 6645/AM, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1064)

COVID-19 e instituições de ensino: inadimplência, recusa de matrícula e competência


legislativa - ADI 7104/RJ e ADI 7179/RJ

ODS: 4

253CF/1988: “Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar
Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem,
pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem
justificação adequada. (...) § 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão encaminhar pedidos
escritos de informações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo, importando em crime
de responsabilidade a recusa, ou o não-atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.”

254Precedentes: ADI 3279; ADI 5300; ADI 5416; e ADI 6651.

255Constituição do Estado do Amazonas: “Art. 28. É da competência exclusiva da Assembleia Legislativa: (...) XXIX -
convocar Secretários de Estado, o Presidente do Tribunal de Contas do Estado e dirigentes de Órgãos da administração direta
e indireta, incluindo as autarquias, fundações, empresas públicas e sociedade de economia mista, importando crime de
responsabilidade a recusa ou o não comparecimento no prazo de 30 (trinta) dias, para prestarem informações sobre assuntos
previamente determinados.”

256Constituição do Estado de Pernambuco: “Art. 13. A Assembleia Legislativa receberá, em reunião previamente
designada, o Governador do Estado e o Presidente do Tribunal de Justiça, sempre que estes manifestarem o propósito de
expor assunto de interesse público. (...) § 2º Os Secretários de Estado, o Corregedor Geral da Justiça, os Procuradores Gerais
da Justiça, do Estado e da Defensoria Pública e os dirigentes da administração direta, indireta ou fundacional são obrigados a
comparecer perante a Assembleia Legislativa, quando convocados, por deliberação de maioria, de Comissão Permanente ou
de Inquérito, para prestar, pessoalmente, informações acerca de assunto previamente determinado. § 3º A falta de
comparecimento, sem justificativa adequada, a recusa, o não-atendimento de pedido de informações no prazo de trinta dias e
a prestação de informações falsas importam em crime de responsabilidade.”

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Resumo:

É inconstitucional, por violação à competência privativa da União para legislar sobre direito civil
(CF/1988, art. 22, I), norma estadual que impede as instituições particulares de ensino superior de
recusarem a matrícula de estudantes inadimplentes e de cobrar juros, multas, correção monetária ou
quaisquer outros encargos durante o período de calamidade pública causado pela pandemia da COVID-
19.

Na linha da jurisprudência consolidada desta Corte, trata-se de matérias obrigacional e contratual,


pertencentes ao ramo do direito civil, razão pela qual somente podem ser reguladas por meio de normas
federais257.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade do art. 6º, caput, e parágrafo único, da Lei 8.915/2020
do Estado do Rio de Janeiro258 (2).

ADI 7104/RJ, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1062)

ADI 7179/RJ, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1062)

Covid-19: indenização por incapacidade ou morte de profissionais da saúde em razão da


pandemia - ADI 6970/DF

ODS: 3

Resumo:

É constitucional norma federal que prevê compensação financeira de caráter indenizatório a ser
paga pela União por incapacidade permanente para o trabalho ou morte de profissionais da saúde
decorrentes do atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19.

No caso, a Lei 14.128/2021 dispõe sobre política pública social para atender finalidade específica, com
fundamento no dever estatal de promover políticas e programas de proteção e defesa da saúde. Ela não
representa qualquer interferência sobre o regime jurídico de servidores públicos da União ou a estrutura e
atribuições de órgãos da Administração Pública federal, inexistindo suposta violação à iniciativa privativa do
Presidente da República (CF/1988, art. 61, § 1º)259.

Ademais, a indenização prevista não configura despesa obrigatória de caráter continuado, eis que possui
como justificativa específica o enfrentamento das consequências sociais e econômicas decorrentes da crise
sanitária da Covid-19. Assim, o seu pagamento restringe-se ao período de calamidade pública e se insere no
regime fiscal excepcional disposto pelas ECs 106/2020 e 109/2021, através das quais a observância de

257Precedentes: ADI 6423; ADI 6435; ADI 6445; e ADI 6448.

258Lei 8.915/2020 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 6º O estabelecimento particular de ensino superior não poderá recusar
a matrícula ou a inscrição em disciplinas de estudante que tenha ficado inadimplente durante a vigência do estado de
calamidade pública instituído pela Lei nº 8.794, de 17 de abril de 2020. Parágrafo único. O estabelecimento particular de
ensino superior não poderá cobrar multas, juros, correção monetária ou outros encargos nas mensalidades com atraso de até
30 (trinta) dias após o vencimento, durante o período em que perdurar o estado de calamidade pública decorrente da
pandemia do novo coronavírus.”

259Precedentes citados: ARE 1281215 AgR; ADI 5677; ADI 4723; e ADI 2865.

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condicionantes fiscais foi flexibilizada, de modo que desnecessária a apresentação de estimativa do impacto
orçamentário e financeiro (ADCT, art. 113)260.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da medida
cautelar em definitivo de mérito e julgou improcedente a ação para declarar a constitucionalidade da Lei
14.128/2021.

ADI 6970/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1065)

Covid-19: multa por descumprimento de cláusula de fidelidade contratual nos serviços de


telecomunicações - ADI 7211/RJ

ODS: 3

Resumo:

É inconstitucional, por ofensa à competência privativa da União para legislar sobre


telecomunicações, lei estadual que veda a aplicação de multa por quebra de fidelidade nos serviços de TV
por assinatura, telefonia, internet e serviços assemelhados, enquanto perdurar a pandemia da Covid-19.

As competências para legislar sobre serviços de telecomunicações e para definir a forma e o modo da
exploração desses serviços cabem privativamente à União261.

A cláusula de fidelidade contratual é uma contrapartida decorrente de benefícios oferecidos aos


consumidores. A multa por seu descumprimento representa variável bastante significativa para a manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro na prestação do serviço, motivo pelo qual a sua exclusão pura e simples
repercute no campo regulatório das atividades de caráter público.

Nesse contexto, esta Corte já declarou, em diversas ocasiões, a inconstitucionalidade de legislações


locais cujo conteúdo — assim como o observado na lei estadual impugnada — repercutia no núcleo regulatório
das telecomunicações, por ensejar afronta à repartição de competências prevista constitucionalmente 262.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 8.888/2020 do Estado do Rio de Janeiro263.

ADI 7211/RJ, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1070)

Empresas de telefonia e internet: obrigatoriedade de inserção de mensagem nas faturas -


ADI 6088/AM

260Precedentes citados: ADI 6625 MC-Ref e ADI 6357 MC-Ref.

261CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão,
os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV – águas,
energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente
ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A
lei disporá sobre: I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu
contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II –
os direitos dos usuários; III – política tarifária; IV – a obrigação de manter serviço adequado.”

262Precedentes citados: ADI 5723; ADI 5575; ADI 6065; ADI 4907; ADI 6322; ADI 4649.

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Resumo:

É constitucional norma estadual que, a pretexto de proteger a saúde pública, obriga as


prestadoras de serviços de telefonia celular e de internet a inserirem, nas faturas de consumo, mensagem
incentivadora à doação de sangue.

A competência suplementar dos estados somente pode ser afastada caso a norma federal regule
determinada matéria de forma nítida e uniforme. Assim, deve haver um direcionamento das ações de governo do
ente local para o nacional, prevalecendo, a teor do princípio da subsidiariedade do federalismo brasileiro, uma
presunção a favor da competência daqueles mais próximos dos interesses da população 264.

No caso, não há usurpação de competência privativa da União, visto que o valor constitucional
primordialmente tutelado pela norma impugnada não é o serviço prestado por concessionárias de
telecomunicações, mas a proteção e defesa da saúde, matéria sujeita à competência legislativa concorrente
(CF/1988, art. 24, XII).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu parcialmente da ação e a julgou
improcedente na parte conhecida para declarar a constitucionalidade da Lei 4.658/2018 do Estado do
Amazonas265.

ADI 6088/AM, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

Exercício da competência comum para a proteção do meio ambiente - ADI 4757/DF

ODS: 15
Resumo:
A repartição de competências comuns, instituída pela LC 140/2011, mediante atribuição prévia e
estática das competências administrativas de fiscalização ambiental aos entes federados, atende às
exigências do princípio da subsidiariedade e do perfil cooperativo do modelo de Federação, cuja finalidade
é conferir efetividade nos encargos constitucionais de proteção dos valores e direitos fundamentais.
Essa escolha legislativa imprime racionalidade e eficiência na organização administrativa do poder de
polícia ambiental, eis que afasta a atuação simultânea e sobreposta dos diversos órgãos ambientais dos entes
federativos para o mesmo procedimento ou ato. Além disso, o princípio da subsidiariedade — enquanto

263Lei 8.888/2020 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º - Esta Lei dispõe sobre a vedação da aplicação de multa por
quebra de fidelidade nos serviços de TV por assinatura, telefonia, internet e serviços assemelhados, enquanto perdurar a
pandemia do coronavírus (COVID-19). Art. 2º - Ficam as concessionárias de TV por assinatura, telefonia, internet e serviços
assemelhados vedadas de aplicar multa por quebra de fidelidade aos consumidores que solicitarem o cancelamento do
contrato, portabilidade para outra operadora ou mudança de plano, enquanto perdurar a pandemia do coronavírus (COVID-
19). Art. 3º - Na hipótese de cancelamento total do serviço, a pedido do consumidor, a qualquer título, durante a vigência do
estado de calamidade gerado pela pandemia do COVID-19, a prestadora de serviços fica impedida de cobrar multa. Art. 4º -
O prestador de serviço não poderá alterar as demais cláusulas contratuais, em razão da suspensão da fidelidade temporal
requerida pelo consumidor, salvo se a mudança beneficiar esse último. Art. 5º - O descumprimento desta Lei sujeitará o
responsável ao pagamento de multa de 500 UFIR (Unidades Fiscais de Referência), que deverá ser revertida ao Fundo
Especial de Apoio a Programas de Proteção e Defesa do Consumidor – FEPROCON. Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data
de sua publicação”

264Precedentes citados: ADI 5356 e ADPF 109.

265Lei 4.658/2018 do Estado do Amazonas: “Art. 1º As empresas prestadoras de serviços e concessionárias de serviços de
água, luz, telefone e internet ficam obrigadas a inserir, nas faturas de consumo, mensagem de incentivo à doação e sangue.
Parágrafo único. A mensagem de que trata o caput deverá conter: I - a frase ‘Doe Sangue’; II - o sítio eletrônico do
HEMOAM; III - o número do telefone para informações, disponibilizado pelo HEMOAM. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na
data de sua publicação.”

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expressão do valor da democracia e dos deveres fundamentais de proteção — está devidamente observado, pois
o modelo federativo privilegia a atuação precípua do ente político mais próximo à realidade do fato e da
sociedade, cabendo ao ente político maior uma atuação supletiva 266.
No caso, não há que se falar em substituição da competência comum por competência privativa, porque
essa dimensão estática das competências administrativas é articulada à dimensão dinâmica, performada pelas
atuações supletivas e subsidiárias267.
Ademais, a previsão de instrumentos de cooperação institucional interfederativa — a exemplo da
delegação voluntária de atribuições e da execução de ações administrativas, nos limites da previsão legislativa,
com prazo indeterminado — fortalece o viés cooperativo idealizado pela legislação impugnada, visto que
autoriza e fomenta a conversação institucional para o remanejamento das competências federativas, seja de
licenciamento, seja de controle ou de fiscalização268.
É inconstitucional regra que autoriza estado indeterminado de prorrogação automática de licença
ambiental.
No ponto, o legislador foi insuficiente em sua regulamentação, uma vez que não disciplinou qualquer
consequência para a hipótese da omissão ou mora imotivada e desproporcional do órgão ambiental diante de
pedido de renovação de licença ambiental 269. Deve incidir o mesmo resultado normativo previsto para a hipótese
de omissão do agir administrativo no processo de licenciamento, eis que o legislador ofereceu resposta adequada,
consistente na atuação supletiva de outro ente federado (LC 140/2011, art. 15).
No exercício da cooperação administrativa cabe atuação suplementar — ainda que não conflitiva
— da União com a dos órgãos estadual e municipal.

266Precedentes citados: ADI 5480; ADI 4785; ADI 4786 e ADI 4787.

267LC 140/2011: “Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de
licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses: I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de
meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais
até a sua criação; II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve
desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou
conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação
em um daqueles entes federativos. Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar-se-á por meio de
apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação. Parágrafo único. A ação
subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor da atribuição nos termos desta Lei Complementar. Art. 17.
Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade,
lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental
cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. § 1o Qualquer pessoa legalmente identificada, ao
constatar infração ambiental decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de seu poder
de polícia. § 2o Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente federativo que tiver
conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao
órgão competente para as providências cabíveis. § 3o O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes
federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou
potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de
infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.”

268 LC 140/2011: “Art. 4º Os entes federativos podem valer-se, entre outros, dos seguintes instrumentos de cooperação
institucional: (...) V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei
Complementar; VI - delegação da execução de ações administrativas de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos
previstos nesta Lei Complementar. (...) Art. 14 (...) § 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença
ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência
supletiva referida no art. 15.”

269 LC 140/2011: “Art. 14 (…) § 4o A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120
(cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente
prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente.”

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Nesse contexto, o critério da prevalência de auto de infração do órgão licenciador (LC 140/2011, art. 17,
§ 3º) não oferece resposta aos deveres fundamentais de proteção, nas situações de omissão ou falha da atuação
daquele órgão na atividade fiscalizatória e sancionatória, por insuficiência ou inadequação da medida adotada
para prevenir ou reparar situação de ilícito ou dano ambiental.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes os
pedidos de declaração de inconstitucionalidade dos arts. 4º, V e VI, 7º, XIII, XIV, h, XV e parágrafo único, 8º,
XIII e XIV, 9º, XIII e XIV, 14, § 3º, 15, 17, caput e §§ 2º, 20 e 21, todos da LC 140/2011 e, por arrastamento, da
integralidade da legislação; e julgou parcialmente procedente a ação para conferir interpretação conforme a
Constituição Federal: (i) ao § 4º do art. 14 da LC 140/2011, para o fim de estabelecer que a omissão ou mora
administrativa imotivada e desproporcional na manifestação definitiva sobre os pedidos de renovação de licenças
ambientais instaura a competência supletiva do art. 15; e (ii) ao § 3º do art. 17 da LC 140/2011, esclarecendo que
a prevalência do auto de infração lavrado pelo órgão originalmente competente para o licenciamento ou
autorização ambiental não exclui a atuação supletiva de outro ente federado, desde que comprovada omissão ou
insuficiência na tutela fiscalizatória.

ADI 4757/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 12.12.2022 (segunda-
feira), às 23:59

Gratuidade de acesso às salas de cinemas para idosos - ARE 1307028 AgR/SP

Resumo:

É inconstitucional — por tratar de matéria que diz respeito a norma de direito econômico e
contrariar a disciplina conferida a benefício já previsto no art. 23 da Lei federal 10.741/2003 (Estatuto do
Idoso) — lei municipal que institui o acesso gratuito de idosos às salas de cinema da cidade, de segunda a
sexta-feira.

Esta Corte, nas oportunidades em que analisou a constitucionalidade de leis estaduais que concediam o
direito à meia-entrada em estabelecimentos de diversão, esporte, cultura e lazer, assentou que a competência para
legislar sobre direito econômico é concorrente entre a União, os estados-membros e o Distrito Federal, e que,
inexistindo legislação federal a dispor sobre o tema, o ente federado pode se utilizar de sua competência plena 270
271
.

Por sua vez, o poder legislativo municipal possui competência para suplementar a legislação federal e
estadual no que couber (CF/1988, art. 30, II). Contudo, é necessário que haja algum elemento de localidade afeto
à disciplina legislativa, o que não se vê no caso analisado.

Nesse contexto, vislumbra-se que o legislador municipal, ao editar a Lei 2.068/2019, dispôs sobre
matéria já prevista na Lei federal 10.741/2003272, não de forma a complementá-la, mas de substituí-la.

Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento ao agravo regimental
para determinar a reforma da decisão agravada e a manutenção do acórdão proferido pelo TJ/SP, objeto do

270CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) I
- direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a
competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre
normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.”

271Precedentes citados: ADI 1950; ADI 3512 e ADI 2163.

272Lei 10.471/2003: “Art. 23. A participação das pessoas idosas em atividades culturais e de lazer será
proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais,
esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais. (Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)”

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recurso extraordinário, que havia declarado a inconstitucionalidade da Lei 2.068/2019 do Município de
Cotia/SP273.

ARE 1307028 AgR/SP, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes,
julgado em 22.11.2022 (INF 1077)

Isenção de tarifas de água e esgoto: predominância de interesse local e competência


legislativa - ADI 6912/MG

ODS: 6 e 12.

Resumo:

É inconstitucional, por invadir a competência municipal para legislar sobre assuntos de interesse
local (CF/1988, art. 30, I e V), lei estadual que concede, por período determinado, isenção das tarifas de
água e esgoto e de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e comerciais 274.

A Constituição Federal estabelece a competência comum de todos os entes federativos para a promoção
de melhorias das condições do saneamento básico (CF/1988, art. 23, IX), cabendo à União instituir as
respectivas diretrizes (CF/1988, art. 21, XX).

Segundo as diretrizes nacionais para o saneamento básico, fixadas pela Lei 11.445/2007 e atualizadas
pela Lei do Novo Marco do Saneamento Básico (Lei 14.026/2020), compete aos municípios, responsáveis pela
gestão dos assuntos de interesse local e pela edição de leis que digam respeito a esses temas, a titularidade dos
serviços públicos de saneamento básico.

273Lei 2.068/2019 do Município de Cotia/SP: “Art. 1º As empresas de exibição cinematográfica com salas de
cinemas no Município de Cotia, ficam obrigadas a garantir o acesso de pessoas idosas a partir de 60 (sessenta) anos, as suas
dependências sem a cobrança de importância a qualquer título ou justificativa. Art. 2º Fica garantido a pessoas idosas, a partir
de 60 (sessenta) anos, o ingresso gratuito a todas as salas de exibição cinematográfica existentes no Município de Cotia, a
presente propositura tem a finalidade precípua de conceder o acesso amplo a cultura ao idoso da nossa cidade conforme os
preceitos normativos da Constituição Federal. Art. 3º A gratuidade de acesso a que se refere o artigo 2º da presente Lei será
exercida no período de segunda-feira a sexta-feira, em qualquer sala de exibição, em qualquer sessão que nela ingressarão
mediante a simples apresentação de documento de identidade com foto legalmente reconhecido. Art. 4º [sic] descumprimento
da presente Lei, implicará nas seguintes penalidades: I - Multa de R$ 1.000,00 (mil) reais corrigidos semestralmente pelo
INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) ou qualquer outro que venha substituí-lo; II - O triplo em caso de
reincidência; III - Suspensão das atividades por até 180 (cento e oitenta) dias; IV - Cassação do Alvará de funcionamento.
Art. 5º A fiscalização da presente Lei ficará a cargo do Conselho Municipal do Idoso e do Poder Executivo. Art. 6º As
empresas de exibição cinematográfica, com salas de cinema no Município de Cotia, ficam obrigadas a anexar de maneira
visível um cartaz, ao lado da bilheteria, contendo as informações sobre o direito ao acesso gratuito para as pessoas com 60
anos ou mais. § 1º cartaz deve conter no mínimo 30 centímetros de altura e 40 centímetros de largura, devendo ser impresso
em letras visíveis. Art. 7º Fica autorizado o recolhimento integral das importâncias arrecadadas em favor do Fundo Municipal
do Idoso. Art. 8º Poder Executivo regulamentará a presente Lei, no que couber, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data
de sua publicação. Art. 9º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”

274Precedentes: ADI 1842; ADI 2077; ADI 6492; ADI 6536; ADI 6583; ADI 6882; e ADI 4454.

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122
Não cabe às leis estaduais a interferência em contratos de concessão de serviços federal e
municipal, alterando condições que impactam na equação econômico-financeira 275.

No caso, as disposições impugnadas criam obrigações e retiram prerrogativas das concessionárias de


serviços públicos locais, interferindo diretamente nos contratos administrativos firmados entre o Poder Público e
os particulares.

Ainda que o estado seja o acionista majoritário das empresas concessionárias dos serviços de
saneamento básico, não se admite essa interferência.

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em ação
direta para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 1º, 4º, parágrafo único, e 5º da Lei 23.797/2021 do Estado
de Minas Gerais que dispõe sobre a concessão, por período determinado, de isenção total das tarifas de água e
esgoto e de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e comerciais atingidos por enchentes no
estado.

ADI 6912/MG, relator Ministra Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022
(segunda-feira), às 23:59 (INF 1063)

Lei estadual: militares estaduais e instituição de contribuição para custear serviços de


saúde - ADI 5368/TO

ODS: 3

Resumo:

É inconstitucional preceito de lei estadual que institui contribuição compulsória de bombeiros e


policiais militares estaduais para compor fundo de assistência, com o objetivo de custear serviços de saúde
a eles prestados. Contudo, o legislador estadual pode estabelecer contribuição facultativa com o aludido
fim 276.
O texto constitucional atribui à União a competência exclusiva para a instituição de contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas
(CF/1988, art. 149). Vale lembrar que os entes estaduais só podem instituir contribuição para custear o regime
previdenciário tratado no art. 40 da CF/1988277 .
Por outro lado, os serviços médicos, hospitalares, odontológicos e farmacêuticos podem ser prestados
aos militares estaduais, desde que não seja de modo impositivo, e sim facultativamente. Nesse contexto, o
benefício seria custeado mediante o pagamento de contribuição facultativa dos militares que se dispusessem a
dele fruir e os serviços de saúde consistiriam em autêntico plano de saúde complementar, distinto do Sistema
Único de Saúde.
Com esses entendimentos, o Plenário julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta
de inconstitucionalidade a fim de conferir ao art. 156, § 2º, da Lei 2.578/2012 do Estado do Tocantins 278
interpretação conforme à Constituição Federal, de modo a afastar o caráter compulsório da contribuição
mencionada no dispositivo, com modulação dos efeitos da decisão, estabelecendo que ela produza efeitos ex
nunc a partir da data de publicação da ata do julgamento do mérito e reconhecendo a impossibilidade de
repetição das contribuições recolhidas até a referida data.

275Precedentes: ADI 2299; ADI 2095; STP 111 AgR; e ADI 2340.

276Precedentes citados: ADI 3106; RE 573540 (Tema 55 RG); ACO 3455.

277CF/1988: “Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter
contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de
pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.”

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ADI 5368/TO, relator Ministra Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 28.10.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1074)

Lei estadual: planos de saúde e limitação de tratamento para pessoas com deficiência - ADI
7172/RJ

ODS: 3

Resumo:

É inconstitucional, por ofensa à competência privativa da União para legislar sobre direito civil e
política de seguros (CF/1988, art. 22, I e VII), lei estadual que veda, no âmbito de seu território,
operadoras de plano de saúde de limitarem consultas e sessões para o tratamento de pessoas com
deficiência.

As obrigações referentes a serviços de assistência médico-hospitalar são regidas por contratos de


natureza privada, razão pela qual são matérias atinentes ao direito civil e à política de seguros 279.

Consoante a Lei federal 9.656/1998 (Lei dos Planos de Saúde) — a que estão sujeitas as operadoras de
planos de saúde — o serviço de saúde prestado pela iniciativa privada subordina-se às normas e à fiscalização da
Agência Nacional de Saúde (ANS).

Ademais, a competência legislativa concorrente em matéria de defesa do consumidor não autoriza os


estados-membros a editarem normas sobre o tema, nem mesmo em caráter suplementar 280.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação da medida cautelar
em julgamento de mérito e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei
9.438/2021 do Estado do Rio de Janeiro281.

ADI 7172/RJ, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 17.10.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1072)

Lei estadual e depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros - ADI 6660/PE

278Lei 2.578/2012 do Estado do Tocantins: “Art. 156. O militar estadual contribui para: (...) II – fundo de assistência dos
Militares ativos e inativos. (...) § 2º Para fins do inciso II deste artigo, os militares ativos e inativos contribuem com 0,5% do
subsídio do posto ou da graduação para a formação do fundo de assistência, cuja regulamentação se faz por ato do
Comandante-Geral da Corporação.”

279Precedentes citados: ADI 7029; ADI 6441; ADI 6493; ADI 6452; ADI 4818; ADI 3402 e ADI 3207.

280Precedentes citados: ADI 5173 e ADI 4701.

281Lei 9.438/2021 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º É vedado aos planos de saúde de limitar consultas e sessões de
fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicoterapia no tratamento das pessoas com transtorno do espectro autista
(TEA), deficiência física, intelectual, mental, auditiva, visual e altas habilidades/superdotação no Estado do Rio de Janeiro.
Art. 2º O descumprimento das disposições desta lei sujeitará na aplicação de multa ao infrator no valor de 20.000 (vinte mil)
UFIR-RJ, devendo ser revertida para o Fundo do Conselho Estadual de Integração das Pessoas com Deficiência – CEPDE.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data da sua publicação.”

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ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre valores correspondentes a depósitos judiciais
e extrajudiciais de terceiros, ou seja, em que o ente federado não é parte interessada.

Sob o prisma formal, ao determinar que os depósitos judiciais e extrajudiciais, em dinheiro, à disposição
do poder judiciário estadual ou da Secretaria da Fazenda, serão efetuados em Conta Central de Depósitos
Procedimentais, o legislador estadual usurpou a competência da União para legislar sobre: (i) o Sistema
Financeiro Nacional (CF/1988, art. 21, VIII); (ii) a política de crédito e transferência de valores (CF/1988, arts.
22, VII, e 192); (iii) direito civil e processual (CF/1988, art. 22, I); e (iv) normas gerais de direito financeiro
(CF/1988, art. 24, I), atuando, neste último caso, além dos limites de sua competência suplementar, pois previu
hipóteses e finalidades não estabelecidas em normas gerais editadas pela União 282.

Quanto ao aspecto material, a disciplina que possibilita o uso e administração, pelo Poder Executivo, de
numerário de terceiros, cujo depositário é o Judiciário, viola a separação dos Poderes, dada a clara desarmonia ao
sistema de pesos e contrapesos. No caso, o tratamento legal impugnado ainda afronta o direito de propriedade
dos jurisdicionados ─ pois configura expropriação de recursos a eles pertencentes ─; caracteriza empréstimo
compulsório não previsto no art. 148 da CF/1988 283; bem como cria endividamento fora das hipóteses de dívida
pública permitidas pela Constituição284 285.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 12.305/2002 do Estado de Pernambuco, alterada pela Lei estadual 12.337/2003,
atribuindo à decisão efeitos ex nunc a contar da data da publicação da ata do julgamento.

ADI 6660/PE, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 20.6.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1060)

Lei federal e reajuste da previdência social nos estados e no Distrito Federal de forma
simultânea com o regime geral - ADI 4582/DF

Resumo:

É formalmente inconstitucional lei federal que determina a todos os entes federados


mantenedores de regimes próprios da previdência social a realização de reajustes, na mesma data e índice
em que se der o reacerto dos benefícios do regime geral, excetuados os beneficiados pela garantia da
paridade.

282Precedentes: ADI 5072; ADI 5747; ADI 4114; e ADI 5616.

283CF/1988: “Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I – para atender a
despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II – no caso de investimento
público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, ‘b’. Parágrafo único. A
aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.”

284CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas
de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo
Poder Legislativo por maioria absoluta;”

285Precedentes: ADI 5099; ADI 5409; ADI 5459; ADI 5414; e ADI 5392.

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Com efeito, o art. 15 da Lei 10.887/2004 fere a autonomia administrativa e financeira dos entes
federados, que se caracteriza pela denominada tríplice capacidade de auto-organização e normatização própria,
autogoverno e autoadministração 286.
De fato, nos termos da CF/88, art. 24, XII e § 1º, a regência federal deve ficar restrita ao
estabelecimento de normas gerais, que não alcançam a revisão dos proventos 287.
Entretanto, não há inconstitucionalidade no objeto, caso se considere a lei dirigida unicamente à União,
havendo, assim, uma vinculação entre o RGPS e o regime próprio de previdência social em nível federal 288.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu da ação direta de
inconstitucionalidade e, no mérito, julgou-a procedente para fins de conferir interpretação conforme à
Constituição ao art. 15 da Lei 10.887/2004, com a redação que lhe foi atribuída pela Lei 11.784/2008, de modo a
restringir-lhe a aplicabilidade apenas aos servidores ativos e inativos e aos pensionistas da União.

ADI 4582/DF, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 28.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1074)

Ministério Público de Contas estadual e limites legais de gastos do Poder Executivo - ADI
5563/RR

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por ofensa ao princípio da separação dos Poderes, norma estadual que
submete as despesas com pessoal do Ministério Público de Contas aos limites orçamentários fixados para
o Poder Executivo.
Cabe ao próprio Tribunal de Contas a iniciativa de leis que tratem de sua organização e estrutura
internas, o que inclui a organização do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas estadual, não sendo
admissível que ato legislativo de iniciativa do Executivo disponha sobre a matéria 289.
Ademais, o Parquet junto ao Tribunal de Contas integra, em termos estruturais, as Cortes de Contas,
órgãos auxiliares do Poder Legislativo no mister de controle externo, motivo pelo qual suas despesas não devem
se submeter aos limites orçamentários fixados para o Poder Executivo, sendo certo, ainda, que o limite
prudencial de despesas com pessoal se aplica a cada um dos Poderes do ente federativo290.

286Lei 11.784/2008: “Art. 171. O art. 15 da Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 15. Os proventos de aposentadoria e as pensões de que tratam os arts. 1º e 2º desta Lei serão reajustados, a partir de
janeiro de 2008, na mesma data e índice em que se der o reajuste dos benefícios do regime geral de previdência social,
ressalvados os beneficiados pela garantia de paridade de revisão de proventos de aposentadoria e pensões de acordo com a
legislação vigente.”

287CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre (...) XII -
previdência social, proteção e defesa da saúde; §1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á
a estabelecer normas gerais.”

288Precedente citado: ADI 927 MC

289Precedentes: ADI 1994; ADI 3051; e ADI 3976 MC.

290Precedentes: ADI 2378; ADI 789; ADI 3315; e ADI 2238 MC.

126

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Além disso, à luz do princípio da simetria, as normas relativas à organização do Tribunal de Contas da
União devem ser observadas no desenho institucional dos demais tribunais de contas 291.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade do art. 47-A, § 3º, da Constituição do Estado de Roraima292.

ADI 5563/RR, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1057)
Ministério Público estadual: movimentação funcional e modelo federal - ADI 6328/GO

Resumo:

É inconstitucional lei estadual que prevê movimentação funcional entre membros do Ministério
Público, mediante procedimentos e critérios diversos dos estabelecidos pelo modelo federal 293.

No caso, a norma estadual impugnada define critérios para hipóteses de movimentação funcional
denominadas remoção interna e permuta temporária, que são incompatíveis com o disposto na Constituição
Federal e no regramento geral editado pela União (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP).

Em relação à remoção interna294, a lei estadual oportuniza o provimento do cargo por membro que
exerça outro cargo na mesma comarca, suprimindo a fase de publicação de edital para a divulgação da abertura
da vaga pelo respectivo Conselho Superior constante do art. 62 da LONMP (Lei 8.625/1993). Ademais, a norma
estadual dispõe que a remoção interna deve observar o critério de antiguidade na comarca. A LONMP não prevê
o critério de antiguidade na comarca como solução para concorrência entre membros do Ministério Público para
o provimento de cargo vago. Essas regras estaduais não apenas suprimem a fase de publicação de edital da
LONMP, como privilegiam os promotores de mesma categoria ou entrância do cargo vago em detrimento de
outros que sejam da mesma entrância, porém de outra comarca, em vulneração aos princípios da isonomia e da
impessoalidade.

Quanto à remoção por permuta295, a temporalidade prevista pela norma local cria figura nova de
movimentação funcional, uma vez que o art. 64 da LONMP não estatui a reversão da permuta apenas em razão
do decurso do tempo. Ao tratar da “renovação de remoção por permuta somente permitida após o decurso de dois
anos”, o inciso II do referido art. 64 se refere a eventual nova pretensão de movimentação funcional, pelo mesmo

291Precedente: ADI 916.

292CE/RO: “Art. 47-A. O Ministério Público de Contas, órgão auxiliar da Assembleia Legislativa, é instituição permanente
e essencial às funções de fiscalização e controle externo do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais, individuais e indisponíveis. (...) § 3º As despesas com o Ministério Público de Contas
ocorrerão por conta da dotação orçamentária anual, dentro dos limites legais destinados ao Poder Executivo Estadual.”

293Precedentes: ADI 3783; ADI 6294; ADI 5402; AO 1789; ADI 3698; ADI 6779; AO 2548; ADI 4758; e RE 1037926
(Tema 964 RG).

294Lei Complementar 25/1998 do Estado de Goiás: “Art. 167-A. A remoção interna é forma de provimento anterior à
fixação de critérios pelo Conselho Superior do Ministério Público e à publicação do respectivo edital. (...) § 3º Na remoção
interna adotar-se-á o critério da antiguidade na comarca.”

295Lei Complementar 25/1998 do Estado de Goiás: “Art. 169-A. A remoção por permuta temporária entre membros do
Ministério Público da mesma entrância ou categoria dependerá de pedido escrito e conjunto, formulado pelos interessados ao
Conselho Superior do Ministério Público, que poderá ser indeferida por motivo de interesse público. § 1º A permuta
temporária terá duração de dois anos, prorrogável por igual período, observadas as disposições do caput.”

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fundamento. Portanto, o interstício de 2 anos é previsto na LONMP como impeditivo da realização de nova
permuta, e não como um limite temporal para a eficácia da permuta, como pretendido pelo legislador estadual.

Além de os dispositivos impugnados incorrerem em inconstitucionalidade formal por invasão da


competência da União para a definir normas gerais para os Ministérios Públicos estaduais (CF/1988, art. 61, § 1º,
II, d), sob o aspecto material, violam o que previsto pela Constituição Federal para a progressão e movimentação
funcional de magistrados (CF/1988, art. 93, II e VIII-A), quanto aos critérios de antiguidade e merecimento, os
quais se estendem aos membros do Ministério Público (CF/1988, art. 129, § 4º).

Com esses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em ação
direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei Complementar 113/2014 do Estado de Goiás, no que
introduziu os arts. 167-A e 169-A à Lei Complementar 25/1998 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado
de Goiás).

ADI 6328/GO, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 15.8.2022
(segunda-feira), às 23:59 (INF 1063)

Obrigatoriedade de reserva de vagas de estacionamento para advogados em órgãos públicos


estaduais - ADI 6937/RO

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional — por violar o princípio da separação dos Poderes (CF/1988, art. 2º), em
decorrência da usurpação da iniciativa exclusiva do Poder Executivo para legislar sobre a organização e a
administração dos órgãos da Administração Pública (CF/1988, art. 61, § 1º, II, “e”, e art. 84, VI, “a”) —
lei de iniciativa parlamentar que institui regra de reserva de vagas de estacionamento aos órgãos públicos
estaduais.

Este Tribunal possui entendimento consolidado no sentido de que a reserva de iniciativa legislativa do
chefe do Poder Executivo federal (CF/1988, art. 61, § 1º, II, e), além de aplicável aos entes federados pelo
princípio da simetria, comporta não apenas a criação de órgão administrativo, mas também a imposição de
normas que modifiquem o funcionamento daqueles já existentes296.

Nesse contexto, esta Corte já declarou a inconstitucionalidade formal de diversas normas de iniciativa
parlamentar que criaram atribuições e encargos aos órgãos públicos estaduais, dada a patente violação da norma
constitucional que determina a iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo para disciplinar a sua
organização administrativa297.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 5.047/2021 do Estado de Rondônia298.

ADI 6937/RO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 21.11.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1076)

296Precedentes citados: ADI 4945 e ADI 5140.

297Precedentes citados: ADI 4710 e ADI 6007.

298Lei 5.047/2021 do Estado de Rondônia: “Art. 1º Fica estabelecida a obrigatoriedade de reserva de vagas de
estacionamento para advogados em órgãos públicos estaduais no Estado de Rondônia. Parágrafo único. Os estacionamentos
dos órgãos públicos estaduais devem reservar de 5% (cinco por cento) do total de vagas aos advogados. Art. 2º Esta Lei entra
em vigor na data de sua publicação.”

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Porte de armas de fogo: presunção do risco da atividade e efetiva necessidade mediante lei
estadual - ADI 7188/AC e ADI 7189/AM

Resumo:

É inconstitucional, por violar competência da União para legislar sobre materiais bélicos, norma
estadual que reconhece o risco da atividade e a efetiva necessidade do porte de arma de fogo ao atirador
desportivo integrante de entidades de desporto legalmente constituídas e ao vigilante de empresa de
segurança privada.

A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de que, com o objetivo de garantir a


uniformidade na regulamentação do tema em todo o território nacional, a definição dos requisitos para a
concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares desse direito é de competência da União 299 300.

No caso, as leis estaduais impugnadas — ao presumirem o risco das atividades e a necessidade do porte
de armas de fogo para as pessoas acima referidas — suprimiram requisito estabelecido pela legislação federal,
segundo a qual o exame para a concessão da respectiva autorização cabe à Polícia Federal 301. Ademais, inexiste
lei complementar da União autorizando os estados-membros a legislarem sobre questões específicas acerca da
matéria.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, converteu as
medidas cautelares em julgamento de mérito e julgou procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade
da Leis 3.941/2022 e 3.942/2022, ambas do Estado do Acre302, e da Lei 5.835/2022 do Estado do Amazonas303.

299CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico; (...)
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares;”

300Precedentes citados: ADI 4962; ADI 5010; ADI 4991; ADI 6982; ADI 6985; ADI 2729 e ADI 6978.

301Lei 10.826/2003: “Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é
de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm. § 1º A autorização prevista neste
artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de
o requerente: I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua
integridade física; II – atender às exigências previstas no art. 4º desta Lei; III – apresentar documentação de propriedade de
arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente.”

302Lei 3.941/2022 do Estado do Acre: “Art. 1º Esta lei reconhece, no Estado, o risco da atividade e a efetiva necessidade
do porte de armas de fogo ao atirador desportivo, integrante de entidades de desporto legalmente constituídas nos termos do
inciso IX, do art. 6º, da Lei Federal nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Art. 2º O Poder Executivo, dentro do prazo de
noventa dias, regulamentará a presente lei e estabelecerá os critérios para sua implementação e cumprimento. Art. 3º Esta Lei
entra em vigor na data de sua publicação”.
Lei 3.942/2022 do Estado do Acre: “Art. 1º Esta lei reconhece o risco da atividade e a efetiva necessidade do porte de armas
de fogo aos vigilantes de empresa de segurança privada do Estado. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.

303
Lei 5.835/2022 do Estado do Amazonas: “Art. 1º Fica reconhecido, no âmbito do Estado do Amazonas, o risco da atividade e
a efetiva necessidade do porte de armas de fogo ao atirador desportivo integrante de entidades de desporto legalmente
constituídas nos termos do inciso IX, do artigo 6º, da Lei Federal n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Art. 2º O Poder
Executivo, dentro do prazo de 90 dias, regulamentará a presente Lei e estabelecerá os critérios para sua implementação e
cumprimento. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.

129

129
ADI 7188/AC, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1069)

ADI 7189/AM, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1069)

Prestação e divulgação de contas de sindicatos: exigência por lei distrital - ADI 5349/DF

Resumo:

É inconstitucional, por violar o art. 22, I, da CF/1988 304, norma distrital que obriga os sindicatos a
divulgarem na internet a prestação de contas das verbas recebidas a título de contribuição confederativa,
sindical e de outros recursos recebidos do Distrito Federal.

No caso, a lei impugnada305, ao impor, de maneira ampla, nova obrigação aos sindicatos, invade
competência legislativa privativa da União, pois guarda pertinência com o direito coletivo do trabalho, assim
como — sob um prisma mais abrangente — o direito civil, enquanto entidades associativas.

Não se admite que ente federativo diverso imponha espécie de obrigação tributária acessória a
entes destinatários de exação.

As contribuições recebidas pelos sindicatos têm natureza tributária. Assim, mesmo em se tratando de
verba pública — enquanto receita tributária com destinação específica —, não é qualquer ente público que pode
estabelecer obrigações ligadas a esse mesmo tributo, mas somente aquele que tem competência normativa: a
União (CF/1988, art. 149)306.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 5.470/2015 do Distrito Federal.

ADI 5349/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1064)

Proibição de apreensão e retenção de motocicletas, motonetas ou ciclomotores de até 150


cilindradas por falta de pagamento do IPVA - ADI 6997/RN

ODS: 8
Resumo:

304
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”

305
Lei 5.470/2015 do Distrito Federal: “Art. 1º Os sindicatos regidos pelo Decreto-Lei nº 1.402, de 5 de julho de 1939, ficam
obrigados a publicar, na rede mundial de computadores, as ações e as prestações de contas de cada exercício, decididas em
escrutínio secreto pelas respectivas assembleias gerais ou conselhos de representantes, com prévio parecer do conselho fiscal,
correspondentes às contribuições recebidas dos integrantes da categoria, no âmbito do Distrito Federal. Parágrafo único. As
prestações de contas mencionados no caput abrangem também valores oriundos de forma direta e indireta do Governo do
Distrito Federal – GDF, inclusive parcelas recebidas a título de repasse de convenção coletiva de trabalho em contratos de
serviços de mão de obra terceirizados.”

306
Precedentes: MS 28465; MS 34296 AgR; e ADI 5794.

130

130
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre trânsito e
transporte (CF/1988, art. 22, XI) e conferir tratamento diverso do previsto no Código de Trânsito
Brasileiro307 — lei estadual que proíbe a apreensão e a remoção de motocicletas, motonetas e ciclomotores
de até 150 cilindradas, por autoridade de trânsito, em razão da falta de pagamento do IPVA.

Esta Corte, em várias oportunidades, declarou a inconstitucionalidade de normas estaduais análogas 308,
tendo, inclusive, retirado do ordenamento jurídico, em recente julgado e pelos mesmos fundamentos ora
utilizados, leis fluminenses que permitiam a circulação de veículos automotores nas vias públicas sem o regular
pagamento do IPVA309.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade formal da Lei 10.963/2021 do Estado do Rio Grande do Norte310.

ADI 6997/RN, relator Ministro Gilmar Mendes julgamento virtual finalizado em 25.11.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1077)

307
CTB/1977: “Art. 131. O Certificado de Licenciamento Anual será expedido ao veículo licenciado, vinculado ao Certificado
de Registro, no modelo e especificações estabelecidos pelo CONTRAN. (...) § 2º O veículo somente será considerado
licenciado estando quitados os débitos relativos a tributos, encargos e multas de trânsito e ambientais, vinculados ao veículo,
independentemente da responsabilidade pelas infrações cometidas. (...) Art. 230. Conduzir o veículo: (...) V - que não esteja
registrado e devidamente licenciado; VI - com qualquer uma das placas de identificação sem condições de legibilidade e
visibilidade: Infração - gravíssima; Penalidade - multa e apreensão do veículo; Medida administrativa - remoção do veículo;
(…) Art. 270. O veículo poderá ser retido nos casos expressos neste Código. (...) § 2º Não sendo possível sanar a falha no
local da infração, o veículo, desde que ofereça condições de segurança para circulação, poderá ser liberado e entregue a
condutor regularmente habilitado, mediante recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual, contra apresentação de
recibo, assinalando-se prazo razoável ao condutor para regularizar a situação, para o que se considerará, desde logo,
notificado. (Redação dada pela Lei nº 13.160, de 2015). § 3º O Certificado de Licenciamento Anual será devolvido ao
condutor no órgão ou entidade aplicadores das medidas administrativas, tão logo o veículo seja apresentado à autoridade
devidamente regularizado. (...) § 6º Não efetuada a regularização no prazo a que se refere o § 2º, será feito registro de
restrição administrativa no Renavam por órgão ou entidade executivo de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, que será
retirada após comprovada a regularização. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015). § 7º O descumprimento das obrigações
estabelecidas no § 2º resultará em recolhimento do veículo ao depósito, aplicando-se, nesse caso, o disposto no art. 271.
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015). Art. 271. O veículo será removido, nos casos previstos neste Código, para o depósito
fixado pelo órgão ou entidade competente, com circunscrição sobre a via. § 1º A restituição do veículo removido só ocorrerá
mediante prévio pagamento de multas, taxas e despesas com remoção e estada, além de outros encargos previstos na
legislação específica. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015). § 2º A liberação do veículo removido é condicionada ao reparo
de qualquer componente ou equipamento obrigatório que não esteja em perfeito estado de funcionamento. (Incluído pela Lei
nº 13.160, de 2015). § 3º Se o reparo referido no § 2º demandar providência que não possa ser tomada no depósito, a
autoridade responsável pela remoção liberará o veículo para reparo, na forma transportada, mediante autorização, assinalando
prazo para reapresentação. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016). § 4º Os serviços de remoção, depósito e guarda de
veículo poderão ser realizados por órgão público, diretamente, ou por particular contratado por licitação pública, sendo o
proprietário do veículo o responsável pelo pagamento dos custos desses serviços. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de
2016). § 5º O proprietário ou o condutor deverá ser notificado, no ato de remoção do veículo, sobre as providências
necessárias à sua restituição e sobre o disposto no art. 328, conforme regulamentação do CONTRAN. (Incluído pela Lei nº
13.160, de 2015). § 6º Caso o proprietário ou o condutor não esteja presente no momento da remoção do veículo, a
autoridade de trânsito, no prazo de 10 (dez) dias contado da data da remoção, deverá expedir ao proprietário a notificação
prevista no § 5º, por remessa postal ou por outro meio tecnológico hábil que assegure a sua ciência, e, caso reste frustrada, a
notificação poderá ser feita por edital. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016). (...) § 9º Não caberá remoção nos casos
em que a irregularidade puder ser sanada no local da infração. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)”.

308
Precedentes citados: ADI 5283; ADI 6605 e ADI 3269.

309
Precedente citado: ADI 5796.

131

131
Promoção e benefícios a novos clientes e extensão aos preexistentes - ADI 5399/SP; ADI
6191/SP e ADI 6333 ED/PE

ODS: 4 e 16
Tese fixada:
“É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino e de
telefonia celular a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes.”
Resumo:
Serão preservados os votos proferidos em ambiente virtual por ministro aposentado ou cujo
exercício do cargo tenha cessado por outro motivo, ainda que a continuidade do julgamento se dê no
Plenário presencial após pedido de destaque.
Com base nesse entendimento, o Plenário, preliminarmente e por maioria, acolheu questão de ordem
suscitada pelo ministro Alexandre de Moraes, de modo que, no caso concreto, seja mantido o voto proferido pelo
ministro Marco Aurélio na sessão virtual de 20 a 27.11.2020, além de garantir que esse posicionamento passe a
ser adotado a partir do presente julgamento, não se aplicando aos processos já julgados.
É inconstitucional norma estadual que obriga empresa privada de telefonia celular e instituição
de ensino a garantir idênticos benefícios promocionais tanto aos novos clientes quanto aos antigos.
Ao impor aos prestadores de serviços de ensino a obrigação de estender o benefício de novas
promoções aos clientes preexistentes, a norma promove ingerência em relações contratuais já estabelecidas sem
que exista conduta lesiva ou abusiva por parte do prestador 311. Por essa razão, afasta-se a compreensão de que se
estaria diante de matéria consumerista, de modo que a alteração de forma geral e abstrata do conteúdo de
negócios jurídicos caracteriza norma de direito civil, cuja competência legislativa é privativa da União 312.
Relativamente às concessionárias de serviços telefônicos móveis, a criação de obrigações e sanções por
lei estadual — no caso, extensão aos clientes antigos de promoções ofertadas a novos —, ainda que sob o
argumento de proteger os direitos do consumidor, também invade a competência da União 313 314.

310
Lei 10.963/2021 do Estado do Rio Grande do Norte: “Art. 1º Ficam proibidas a apreensão e a remoção de motocicletas,
motonetas ou ciclomotores de até 155cc (cento e cinquenta e cinco cilindradas), por autoridade de trânsito, em função da não
identificação de pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, no Estado do Rio Grande do
Norte. Parágrafo único. Não se aplica o caput deste artigo quando a autoridade fiscalizadora estadual estiver de posse de
mandado judicial ou identificar a ocorrência de outras hipóteses de apreensão e remoção previstas na Lei Federal nº 9.503, de
23 de dezembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro – CTB). Art. 2º A autoridade administrativa estadual atenderá, a
requerimento do proprietário interessado na retirada de motocicleta, motoneta ou ciclomotor de até 155cc (cento e cinquenta
e cinco cilindradas) apreendidos até a data da entrada em vigor desta Lei, exclusivamente em decorrência da não
identificação de pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, a sua restituição sem ônus para
o contribuinte. Art. 3º O Poder Executivo regulamentará esta Lei, no que couber. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de
sua publicação.”

311
Precedentes: ADI 6435; e ADI 6484.

312
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”

313
Precedentes citados: ADI 4907; ADI 5121; ADI 5722; ADI 4083; ADI 4401 MC; ADI 4533 MC; e ADI 3959.

132

132
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, em julgamento conjunto, por maioria, (i)
conheceu parcialmente das ações diretas e, nessa parte, as julgou parcialmente procedentes para declarar a
inconstitucionalidade parcial do art. 1º, parágrafo único, inciso 1, no que diz respeito ao serviço de telefonia
móvel, e inciso 5, no que diz respeito ao serviço privado de educação, ambos da Lei 15.854/2015 do Estado de
São Paulo; e (ii) acolheu os embargos de declaração para reconsiderar a decisão embargada e declarar a nulidade
parcial, sem redução de texto, do art. 35, II, da Lei 16.559/2019 do Estado de Pernambuco, em ordem a excluir
as instituições de ensino privado da obrigação de conceder a seus clientes preexistentes os mesmos benefícios de
promoções e liquidações destinadas a novos clientes.
ADI 5399/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)
ADI 6191/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)
ADI 6333 ED/PE, relator Ministro Gilmar Mendes, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento em 9.6.2022 (INF 1058)

Substituição de sacos e sacolas plásticos por outros de materiais biodegradáveis imposta por
lei municipal - RE 732686/SP (Tema 970 RG)

ODS: 11, 12, 14 e 15

Tese fixada:

“É constitucional – formal e materialmente – lei municipal que obriga à substituição de sacos e


sacolas plásticos por sacos e sacolas biodegradáveis.”

Resumo:

Os municípios — no limite de seu interesse local e desde que em harmonia com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados — possuem competência para legislar sobre meio ambiente, e,
caso sua regulamentação seja mais protetiva, pode ter prevalência sobre a legislação federal ou estadual.

A proteção ao meio ambiente é, concomitantemente, competência administrativa comum a todos os


entes federativos (CF/1988, art. 23, VI) e competência legislativa concorrente da União, dos estados e do Distrito
Federal (CF/1988, art. 24, VI). Além disso, quando o assunto é de interesse predominantemente local e demanda
ação urgente, o ente municipal pode legislar suplementarmente (CF/1988, art. 30, I e II), estabelecendo normas
específicas e, em sendo o caso, também normas gerais, sempre que necessário ao exercício de competências
materiais, comuns ou privativas315.

Nesse contexto, a restrição da circulação de sacolas plásticas se amolda aos requisitos para a
competência supletiva dos municípios, dada a gravidade dos impactos ambientais e a maior facilidade em reunir
os agentes da cadeia produtiva do plástico.

314
CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas,
energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente
ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A
lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu
contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II -
os direitos dos usuários;”

315
Precedentes citados: ADI 2142; ADI 6288; RE 586224 (Tema 145 RG); ADPF 567; RE 729731 ED-AgR; ADPF 273 e RE
194704.

133

133
Ademais, o órgão legislador municipal privilegiou o princípio da proteção ao meio ambiente equilibrado
(CF/1988, art. 225), em regulamentação da máxima fruição da liberdade jurídica dos particulares e da livre
exploração de atividades econômicas (CF/1988, art. 1º, IV, art. 5º, I, e art. 170). Portanto, a característica
restritiva da legislação impugnada se revela necessária, adequada e proporcional, de modo a viabilizar o mesmo
desenvolvimento da atividade econômica empresarial de uma forma mais protetiva ao meio ambiente. Trata-se,
também, de normatização que fortalece, no plano local, as diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(Lei 12.305/2010).

Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, apreciando o Tema 970 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para assentar a constitucionalidade da Lei
7.281/2011 do Município de Marília/SP, e, por maioria, modulou os efeitos da decisão, conferindo o prazo de 12
(doze) meses, a contar da publicação da ata do presente julgamento, para que os órgãos públicos e os agentes
privados alcançados pela norma possam se adaptar à incidência de suas disposições.

RE 732686/SP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 19.10.2022 (INF 1073)

Tribunal de Contas estadual: normas gerais sobre prescrição e decadência - ADI 5384/MG

ODS: 16

Resumo:

É constitucional norma estadual decorrente de emenda parlamentar a projeto de lei de iniciativa


do Tribunal de Contas estadual que veicule regras sobre prescrição e decadência a ele aplicáveis.

A norma impugnada trata sobre ações de fiscalização de Corte de Contas estadual, tendo em perspectiva
a passagem do tempo, não implicando vulneração de sua autonomia ou autogoverno, já que não altera sua
organização ou funcionamento316. Assim, inexiste vício de iniciativa ou abuso do poder de emenda parlamentar,
pois presente a pertinência temática com o escopo do projeto originariamente enviado ao Poder Legislativo e
verificado que a disciplina jurídica nele inserida não implica aumento de despesa.

Ademais, o princípio da simetria não pode ser invocado de modo desarrazoado, em afronta à sistemática
constitucional de repartição de competências e à própria configuração do sistema federativo. Não obstante a
ausência de disciplina expressa no ordenamento jurídico sobre prescrição e decadência no âmbito do TCU, a
criação desses institutos pelos Tribunais de Contas nas diversas unidades federativas alinha-se com a
interpretação mais consentânea com a CF/1988, notadamente o caráter excepcional das regras de
imprescritibilidade317.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação.

ADI 5384/MG, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1056)

316
Precedentes: ADI 4421 MC; ADI 4643 MC; e AC 2511 AgR.

317
Precedentes: MS 32201; e MS 25403.

134

134
4.19 SEGURANÇA PÚBLICA

Polícia civil e independência funcional - ADI 5522/SP

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que assegure a independência funcional a delegados de polícia,


bem como que atribua à polícia civil o caráter de função essencial ao exercício da jurisdição e à defesa da
ordem jurídica318.

A polícia civil está, necessariamente, subordinada ao chefe do Poder Executivo estadual, logo, não é
possível atribuir-lhe independência funcional, sob pena de ofensa ao art. 129, I, VI e VIII 319, bem como ao art.
144, § 6º320, da Constituição Federal (CF).

As normas, ainda que originárias do poder constituinte decorrente, que venham a atribuir autonomia
funcional, administrativa ou financeira a outros órgãos ou instituições não constantes da CF, padecem de vício de
inconstitucionalidade material, por violação ao princípio da separação dos Poderes.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade, em sua integralidade, da Emenda Constitucional 35/2012 do
Estado de São Paulo, que alterou o art. 140 da Constituição paulista.

ADI 5522/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1044)

4.20 TRIBUNAL DE CONTAS

Competência para o julgamento de contas dos Poderes estaduais e simetria federativa - ADI
6981/SP

ODS: 16

Tese fixada:
“É inconstitucional norma de Constituição Estadual que amplia as competências de Assembleia
Legislativa para julgamento de contas de gestores públicos, sem observar a simetria com a Constituição
Federal, por violação aos arts. 71, II, e 75 da CF/1988.”

Resumo:

318
Precedentes: ADI 244 MC, ADI 5520.

319
CF: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na
forma da lei; (...) IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos
Estados, nos casos previstos nesta Constituição; (...) VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;”

320
CF: “Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) § 6º As polícias militares e
os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e
as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.”

135

135
É inconstitucional — por contrariar o princípio da simetria e o que disposto no art. 71, II, da
CF/1988 321 — norma de Constituição estadual que atribui à Assembleia Legislativa competência exclusiva
para tomar e julgar as contas prestadas pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
O art. 75 da CF/1988 determina expressamente que o modelo federal de controle orçamentário e
financeiro se aplica aos Tribunais de Contas dos estados, vinculando, assim, o constituinte estadual 322 .
Em âmbito federal, apenas as contas da Presidência da República são julgadas pelo Congresso
Nacional323. Nas demais hipóteses, inclusive quanto aos Poderes Legislativo e Judiciário, a competência é do
Tribunal de Contas da União.
Desse modo, em atenção ao postulado da simetria, compete à Assembleia Legislativa estadual, tão
somente, o julgamento das contas do governador e a apreciação dos relatórios sobre a execução dos planos de
governo. Caso contrário, haveria restrição indevida da competência do Tribunal de Contas local324 .
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade das expressões “pela Mesa da Assembleia Legislativa” e “e pelo Presidente do Tribunal de
Justiça, respectivamente, do Poder Legislativo, do Poder Executivo e do Poder Judiciário”, constantes do art. 20,
VI, da Constituição do Estado de São Paulo 325.

ADI 6981/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 12.12.2022 (segunda-
feira), às 23:59

4.21 TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO

Bens de informática e Zona Franca de Manaus - ADI 2399/AM

Resumo:

321
CF/1988: “Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual
compete: (...) II – julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e
indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda,
extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;”

322
CF/1988: “Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização
dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete
Conselheiros.”

323
CF/1988: “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) IX – julgar anualmente as contas prestadas pelo
Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;”

324
Precedentes citados: ADI 6983 e ADI 6984.

325
Constituição do Estado de São Paulo: “Artigo 20 – Compete, exclusivamente, à Assembleia Legislativa: (...) VI – tomar e
julgar, anualmente, as contas prestadas pela Mesa da Assembleia Legislativa, pelo Governador e pelo Presidente do Tribunal
de Justiça, respectivamente, do Poder Legislativo, do Poder Executivo e do Poder Judiciário, e apreciar os relatórios sobre a
execução dos Planos de Governo;”

136

136
É constitucional a exclusão dos bens de informática dos incentivos fiscais previstos para a Zona
Franca de Manaus, promovida pela Lei 8.387/1991.
A Lei 8.387/1991 não reduziu favor fiscal previsto pelo Decreto-lei 288/1967 326, nem violou o art. 40 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)327.
Com efeito, o art. 40 do ADCT garante a manutenção dos favores fiscais outorgados pelo Decreto-lei
288/1967 e existentes ao tempo da promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988.
Ocorre que, quando a CF foi promulgada, os bens de informática não eram regulados pelo Decreto-lei
288/1967, mas pela Lei 7.232/1984 (Lei de Informática). Isso se deu em razão da revogação tácita, já que diante
da incompatibilidade entre as duas normas, prevaleceu a Lei de Informática por ser lei mais nova e especial em
relação ao decreto-lei.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, declarou a perda de objeto da ação direta em
relação ao art. 11 da Lei 10.176/2001 e ao art. 2º, § 3º, da Lei 8.387/1991 e, quanto aos demais dispositivos
questionados, julgou improcedente o pedido formulado. Vencidos, parcialmente, os ministros Marco Aurélio
(relator), Rosa Weber, Edson Fachin e Roberto Barroso.

ADI 2399/AM, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Dias Toffoli, julgamento
virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1043)

5. DIREITO DA SAÚDE

5.1 VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA

COVID-19: observância das decisões proferidas pelo STF em relação à obrigatoriedade de


vacinação - ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF

Resumo:

As notas técnicas objeto de análise (1), ao disseminarem informações matizadas pela dubiedade e
ambivalência, no concernente à compulsoriedade da imunização, podem desinformar a população,
desestimulando a vacinação contra a Covid-19.

Considerada a ambiguidade com que foram redigidas no tocante à obrigatoriedade da vacinação, as


notas técnicas podem ferir, dentre outros, os preceitos fundamentais que asseguram o direito à vida e à saúde,
além de afrontarem entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento das ADIs
6.586/DF e 6.587/DF e do ARE 1.267.879/SP.

Nesses termos, o Ministério da Saúde (MS) e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MMFDH) devem fazer constar de suas respectivas notas técnicas 328 a interpretação conferida pelo
326
Precedente: ADI 4.254

327
ADCT: “Art. 40. É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas características de área livre de comércio, de exportação e
importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da Constituição.”

328
Notas Técnicas 2/2022/SECOVID/GAB/SECOVID/MS e 1/2022/COLIB/CGEDH/SNPG/MMFDH.

137

137
STF ao art. 3°, III, d, da Lei 13.979/2020 329, no sentido de que: (i) “a vacinação compulsória não significa
vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser implementada por meio
de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à
frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes”, esclarecendo, ainda, que
(ii) “tais medidas, com as limitações expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos estados,
Distrito Federal e municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência”, dando ampla publicidade à
retificação ora imposta.

É vedado ao governo federal a utilização do canal de denúncias “Disque 100” do MMFDH para
recebimento de queixas relacionadas à vacinação contra a Covid-19, bem como para o recebimento de queixas
relacionadas a restrições de direitos consideradas legítimas pelo STF 330.

Esse canal é um serviço de disseminação de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e de


denúncias de violações de direitos humanos 331. A sua utilização, fora de suas finalidades institucionais, configura
desvirtuamento do canal.

Com base nesse entendimento, o Plenário, referendou a medida cautelar pleiteada.

ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em
18.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

329
Lei 13.979/2020, art. 3º. “Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional de que trata esta
Lei, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competência, entre outras, as seguintes medidas: (...) III - determinação
de realização compulsória de: (...) d) vacinação e outras medidas profiláticas;”

330
Precedentes: ADI 6.586; ADI 6.587 e ARE 1.267.879.

331
Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-violacao-de-direitos-humanos .

138

138
6. DIREITO DO CONSUMIDOR

6.1 CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO

Normas estaduais sobre inclusão e exclusão de consumidores em cadastros de proteção ao


crédito - ADI 5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP

Resumo:

A adoção de sistema de comunicação prévia a consumidor inadimplente por carta registrada com
aviso de recebimento configura desrespeito à Constituição Federal.

No caso, a norma impugnada claramente transgride o modelo normativo geral criado pela União
(Código de Defesa do Consumidor, art. 43, § 2º). Além disso, a disciplina normativa estadual afeta direta e
ostensivamente relações comerciais e consumeristas que transcendem os limites territoriais do ente federado,
bem como transfere todo o ônus financeiro da inadimplência da pessoa do devedor para a sociedade em geral.

É inconstitucional a previsão, por lei estadual, de “prazo de tolerância” a impedir que o nome do
consumidor inadimplente seja imediatamente inscrito em cadastro ou banco de dados.

Isso porque, ao prever hipótese suspensiva dos efeitos do vencimento de dívida, o preceito normativo
em questão dispõe sobre o tempo do pagamento e os efeitos da mora, intervindo na legislação federal sobre
direito civil e comercial, matérias reservadas à União (Constituição Federal, art. 22, I).

A supressão da verificação prévia quanto à existência do crédito, exigibilidade do título e


inadimplência do devedor não caracteriza violação do princípio da vedação ao retrocesso.

Com o advento da Lei estadual 16.624/2017, não é mais obrigatória a apresentação, pelos credores, de
documentos capazes de atestar a existência da dívida, a exigibilidade e a insolvência. Agora, tais documentos
somente serão exigidos na hipótese de solicitação, de caráter voluntário, pelo próprio devedor ou pela empresa
administradora dos dados. Essa modificação legislativa não consubstancia ofensa à Constituição ou retrocesso
social em desfavor dos consumidores.

Nesses termos, o Plenário, por unanimidade, conheceu parcialmente das ações diretas de
inconstitucionalidade e, na parte conhecida, julgou-as parcialmente procedentes.

ADI 5224/SP, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às
23:59 (INF 1046)

ADI 5252/SP, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às
23:59 (INF 1046)

ADI 5273/SP, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às
23:59 (INF 1046)

ADI 5978/SP, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às
23:59 (INF 1046)

139

139
7. DIREITO DO TRABALHO

7.1 CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVO

Ultratividade das cláusulas normativas de acordos e convenções coletivas - ADPF 323/DF

ODS: 8, 10 e 16

Resumo:

É inconstitucional a interpretação jurisprudencial da Justiça do Trabalho que mantém a validade


de direitos fixados em cláusulas coletivas com prazo já expirado até que novo acordo ou convenção
coletiva seja firmado.

Não cabe ao TST agir excepcionalmente e, para chegar a determinado objetivo, interpretar norma
constitucional de forma arbitrária. Assim, a ultratividade das normas coletivas, ao argumento de que as cláusulas
pactuadas se incorporam aos contratos de trabalho individual, é incompatível com os princípios da legalidade, da
separação dos Poderes e da segurança jurídica332.

Ademais, a Corte trabalhista, ao avocar para si a função legiferante, afastou o debate público e todos os
trâmites e garantias típicas do processo legislativo, passando, por conta própria, a ditar não apenas norma, mas os
limites da alteração que criou, além de selecionar arbitrariamente quem seria atingido pela sua compreensão.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ADPF para declarar a
inconstitucionalidade da Súmula 277 do TST, na versão atribuída pela Resolução 185/2012 333, assim como de
interpretações e decisões judiciais que entendem que o art. 114, § 2º, da CF/1988 334, autoriza a aplicação do
princípio da ultratividade de normas de acordos e de convenções coletivas.

ADPF 323/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 27.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1056)

7.2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

Acordos e convenções coletivos: limitação ou afastamento de direitos trabalhistas e horas


“in itinere” - ARE 1121633/GO (Tema 1046 RG)

332
CLT/1943: “Art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente (...) II - Prazo de vigência;” (...) Art.
614 (...) § 3º Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho superior a dois anos,
sendo vedada a ultratividade.”

333
Súmula 277/TST: “CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO.
EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012,
DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os
contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de
trabalho.”

334
CF/1988: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) § 2º Recusando-se qualquer das partes à
negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao
trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.”

140

140
ODS: 8, 10 e 16

Tese fixada:

“São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação


setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da
explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente
indisponíveis.”

Resumo:

É constitucional norma oriunda de negociação coletiva que, apesar de limitar ou afastar direitos
trabalhistas, assegura aos trabalhadores os direitos absolutamente indisponíveis.

Os acordos e convenções coletivas devem ser interpretados com base no princípio da equivalência entre
os negociantes, de modo que a autonomia coletiva — cujo reconhecimento não significa renúncia ao acesso à
Justiça — não pode ser simplesmente substituída pela invocação do princípio protetivo ou da primazia da
realidade, oriundos do direito individual trabalhista.

Além disso, ajustes acordados com aval sindical são revestidos de boa-fé e a invalidade deles deve ser a
exceção, não a regra. A anulação dos acordos, na parte em que supostamente interessa ao empregador, mantidos
os ônus assumidos no que diz respeito ao trabalhador, ao mesmo tempo em que viola o art. 7º, XXVI, da
CF/1988335, leva a um claro desestímulo à negociação coletiva, que deveria ser valorizada e respeitada,
especialmente em momentos de crise336.

Conjugada a autonomia coletiva com o princípio da adequação setorial negociada, é possível a


disponibilidade dos direitos trabalhistas em acordos e convenções coletivos, desde que resguardado um patamar
mínimo civilizatório, o qual é composto, em linhas gerais, pelas normas constitucionais, pelas normas de tratados
e convenções internacionais incorporados ao direito brasileiro e pelas normas que, mesmo infraconstitucionais,
asseguram garantias mínimas de cidadania aos trabalhadores.

No caso, quanto às horas in itinere — cuja questão se vincula diretamente ao salário e à jornada de
trabalho —, trata-se de direito disponível, sujeito, portanto, à autonomia da vontade coletiva 337 (3).

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1.046 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso.

ARE 1121633/GO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento em 1º e 2.6.2022 (INF 1057)

Dispensa em massa e intervenção sindical - RE 999435/SP (Tema 638 RG)

ODS: 8 e 16

Tese fixada:

335
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...) XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;”

336
Precedente: RE 590415 (Tema 152 RG).

337
Precedente: RE 895759 AgR-segundo.

141

141
“A intervenção sindical prévia é exigência procedimental imprescindível para a dispensa em
massa de trabalhadores, que não se confunde com autorização prévia por parte da entidade sindical ou
celebração de convenção ou acordo coletivo.”

Resumo:

A dispensa em massa de empregados deve ser precedida da tentativa de diálogo entre a empresa e
o sindicato dos trabalhadores.

À luz dos postulados da proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa
causa, da representatividade dos sindicatos e da valorização da negociação coletiva, as entidades sindicais
obreiras devem ser ouvidas antes da demissão coletiva de empregados, o que se revela como requisito
procedimental indispensável.

Não se exige que cheguem a um acordo de vontades, à celebração de convenção ou acordo coletivos,
tampouco que haja autorização prévia do sindicato, assim como a fixação de condições. Impõe-se tão somente o
dever de negociar, no sentido da abertura do diálogo entre os polos antagônicos, oportunizando o alcance de
soluções alternativas, menos drásticas e danosas.

Nesse contexto, se houver impasse absoluto, a vontade do empregador prevalecerá, de modo que
inexiste afronta à livre iniciativa ou à razoabilidade e proporcionalidade do procedimento.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 638 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 999435/SP, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Edson Fachin, julgamento
em 8.6.2022 (INF 1058)

7.3 PISO SALARIAL

Congelamento da base de cálculo para desindexação de piso salarial vinculado ao valor do


salário mínimo - ADPF 53 Ref-MC/PI; ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171 Ref-MC/MA

Resumo:

A fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo mostra-se compatível com o texto
constitucional, desde que não ocorra vinculação a reajustes futuros 338.

A parte final do inciso IV do art. 7º da Constituição Federal (CF) 339 não veda a pura e simples utilização
do salário-mínimo como mera referência paradigmática, destinada a servir como parâmetro para definir a justa
proporção do valor remuneratório mínimo apropriado à remuneração de determinada categoria profissional.

338
Precedentes: RE 565.714; Rcl 19.193 AgR; Rcl 9.951 AgR; Rcl 19.130 AgR; ADPF 95 MC; ADI 3.934, ARE 842.157 RG;
ADI 2.672; ADI 1.568; ADI 4.637.

339
CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...) IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e
às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;”

142

142
Entretanto, a estipulação do piso salarial com referência a múltiplos do salário-mínimo não pode dar ensejo a
reajustamentos automáticos futuros voltados à adequação do salário inicialmente contratado aos novos valores
vigentes para o salário-mínimo nacional. Evita-se, com isso, a indesejável espiral inflacionária resultante do
reajuste automático de verbas salarias e parcelas remuneratórias no âmbito do serviço público e da atividade
privada, assim como a elevação concomitante de preços de produtos e serviços nos diversos setores da economia
nacional.

No caso, especificamente com relação à aplicação da norma inscrita no art. 5º da Lei 4.950-A/66,
entendeu-se que o congelamento da base de cálculo do piso salarial serve como critério de desindexação do valor
do salário-mínimo e deve ter, como marco temporal, a data da publicação da ata do julgamento que reconhecer a
incompatibilidade da norma com a CF.

Com base nesse entendimento, o Plenário converteu o referendo de medida cautelar em julgamento de
mérito, conheceu em parte de arguições de descumprimento de preceito fundamental 340 e, por maioria, julgou
parcialmente procedentes os pedidos nelas formulados.

ADPF 53 Ref-MC/PI, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1044)

ADPF 149 Ref-MC/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

ADPF 171 Ref-MC/MA, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 18.2.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1044)

Piso salarial nacional para os profissionais da enfermagem - ADI 7222 MC-Ref/DF

ODS: 3

Resumo:

Os efeitos da Lei 14.434/2022 ficarão suspensos até que sejam avaliados os seus impactos sobre a
situação financeira dos estados e municípios, os riscos para a empregabilidade e a qualidade dos serviços
de saúde, tudo com base em informações a serem prestadas, no prazo de 60 (sessenta) dias, pelos entes
estatais, órgãos públicos e entidades representativas da área de saúde.

No caso, estão presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar: a plausibilidade jurídica das
alegações de inconstitucionalidade da norma ─ ao menos até que esclarecidas as questões suscitadas ─ e o
evidente perigo na demora.

O primeiro se justifica (i) pelo suposto vício de iniciativa no processo legislativo, tendo em vista que
toda a sua tramitação se deu sem amparo de norma constitucional legitimadora da instituição do piso salarial e a
superveniente constitucionalização via emenda não teria o condão de sanar o vício de origem; (ii) pela indicação
de vulneração ao pacto federativo, dada a interferência na autonomia financeira e orçamentária de estados e
municípios (CF/1988, art. 169, § 1º, I); e (iii) pela alegada desproporcionalidade da medida em relação a
destinatários com menor poderio econômico.

Já o segundo decorre da incidência imediata do piso salarial e do alegado risco à prestação e à qualidade
dos serviços de saúde, considerando-se a ameaça de demissões em massa (CF/1988, art. 170, VIII) e de redução
tanto da oferta de leitos hospitalares como dos quadros de enfermeiros e técnicos (CF/1988, art. 196).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a medida cautelar para manter
suspensos os efeitos da Lei 14.434/2022 até que sejam devidamente esclarecidos os seus impactos sobre cada um
dos pontos elencados.

340
Precedente: Rp 716

143

143
ADI 7222 MC-Ref/DF, relator Ministro Luís Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
16.9.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1068)

7.4 REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

Débitos trabalhistas: índices de atualização monetária aplicáveis no âmbito da Justiça do


Trabalho - RE 1269353/DF (Tema 1191 RG)

Tese fixada:

“I - É inconstitucional a utilização da Taxa Referencial - TR como índice de atualização dos


débitos trabalhistas, devendo ser aplicados, até que sobrevenha solução legislativa, os mesmos índices de
correção monetária e de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, quais sejam a incidência do
IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do
Código Civil), à exceção das dívidas da Fazenda Pública, que possuem regramento específico. A incidência
de juros moratórios com base na variação da taxa SELIC não pode ser cumulada com a aplicação de
outros índices de atualização monetária, cumulação que representaria bis in idem;

II - A fim de garantir segurança jurídica e isonomia na aplicação desta tese, devem ser observados
os marcos para modulação dos efeitos da decisão fixados no julgamento conjunto da ADI 5.867, ADI 6.021,
ADC 58 e ADC 59, como segue: (i) são reputados válidos e não ensejarão qualquer rediscussão, em ação
em curso ou em nova demanda, incluindo ação rescisória, todos os pagamentos realizados utilizando a TR
(IPCA-E ou qualquer outro índice), no tempo e modo oportunos (de forma extrajudicial ou judicial,
inclusive depósitos judiciais) e os juros de mora de 1% ao mês, assim como devem ser mantidas e
executadas as sentenças transitadas em julgado que expressamente adotaram, na sua fundamentação ou
no dispositivo, a TR (ou o IPCA-E) e os juros de mora de 1% ao mês; (ii) os processos em curso que
estejam sobrestados na fase de conhecimento, independentemente de estarem com ou sem sentença,
inclusive na fase recursal, devem ter aplicação, de forma retroativa, da taxa Selic (juros e correção
monetária), sob pena de alegação futura de inexigibilidade de título judicial fundado em interpretação
contrária ao posicionamento do STF (art. 525, §§ 12 e 14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC e (iii) os
parâmetros fixados neste julgamento aplicam-se aos processos, ainda que transitados em julgado, em que
a sentença não tenha consignado manifestação expressa quanto aos índices de correção monetária e taxa
de juros (omissão expressa ou simples consideração de seguir os critérios legais).”

Resumo:

Não se aplica a Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária de débitos trabalhistas.

Tendo-se em vista que a TR não reflete o poder aquisitivo da moeda nacional, a Justiça laboral deve
utilizar, até que o Poder Legislativo oportunamente solucione a questão, os mesmos índices de correção
monetária e de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, isto é, o Índice Nacional de Preço ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) na fase pré-judicial e a taxa do Sistema Especial de Liquidação e
Custódia (SELIC) a partir do ajuizamento da ação. Também devem ser estritamente observados os marcos
fixados para a modulação dos efeitos da decisão plenária proferida no julgamento conjunto acima destacado,
cujas balizas foram expressamente reproduzidas na tese do tema de repercussão geral.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1191 RG). No mérito, por maioria, reafirmou a jurisprudência
dominante sobre a matéria para prover parcialmente o recurso extraordinário.

RE 1269353/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 17.12.2021
(INF 1043)

144

144
8. DIREITO ELEITORAL

8.1 CAMPANHA ELEITORAL

Criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha - ADI 5795/DF

ODS: 16

Resumo:

É constitucional a criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) por meio


de norma infraconstitucional, dada a inexistência de obrigação ou proibição sobre o tema na CF/1988.

O Congresso Nacional entendeu que o método de financiamento de campanha até então em vigor, após
a declaração de inconstitucionalidade das doações por pessoas jurídicas de direito privado 341, não se revelava
suficiente para atender às demandas. Por essa razão, instituiu o FEFC, constituído apenas em anos eleitorais com
destinação de parcela do orçamento da União e com objetivo exclusivo de financiar as campanhas eleitorais com
recursos públicos342.

A atual Constituição não contempla qualquer previsão que estabeleça a exclusividade do Fundo
Partidário e impeça a criação de novos fundos destinados ao financiamento de partidos políticos e de campanhas
eleitorais. Também não há dispositivo que imponha à temática sua veiculação somente por meio de Emenda à
Constituição.

Nesse contexto, o exercício do controle de constitucionalidade de leis e atos normativos impõe ao Poder
Judiciário, por autocontenção, respeito ao espaço privativo de deliberação atribuído constitucionalmente aos
demais Poderes da República, assim como às escolhas políticas legitimamente adotadas pelos parlamentares.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu o julgamento da medida liminar
em definitivo de mérito, conheceu parcialmente da ação, e a julgou improcedente na parte conhecida.

ADI 5795/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

Forma de cálculo do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) - ADI 7058


MC/DF

Resumo:

Não cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) adentrar o mérito da opção legislativa para
redesenhar a forma de cálculo do valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) (Lei
14.194/2021, art. 12, XXVII)343.

Muito embora reconheça-se a possibilidade de o STF adentrar no controle de normas orçamentárias 344, é
imprescindível guardar certa deferência institucional em relação às opções feitas pelas Casas Legislativas, em

341
Precedente citado: ADI 4650.

342
Lei 9.504/1997: “Art. 16-C. O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) é constituído por dotações
orçamentárias da União em ano eleitoral, em valor ao menos equivalente: (...) II - a 30% (trinta por cento) dos recursos da
reserva específica de que trata o inciso II do § 3º do art. 12 da Lei nº 13.473, de 8 de agosto de 2017. (Incluído pela Lei nº
13.487, de 2017)”.

145

145
especial quando esse diálogo vem aperfeiçoado pela análise e rejeição de veto formulado pelo chefe do Poder
Executivo345.

O FEFC é um importante instrumento ao atual modelo de financiamento de campanhas eleitorais,


voltando-se a suprir o processo eleitoral com condições materiais de existência. Decorre de uma opção legítima
do legislador de, em atenção ao que decidido pelo STF na ADI 4650, conferir os meios necessários para que as
mais diversas candidaturas se façam presentes no jogo democrático.

A fixação da verba pública destinada ao FEFC é campo de atuação eminentemente político, e o


resultado de tal processo, desde que respeitadas as regras previamente fixadas, em nada pode representar desvio
de finalidade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, indeferiu medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade. Vencidos os ministros Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen Lúcia, e, em maior
extensão, os ministros André Mendonça (relator) e Ricardo Lewandowski.

ADI 7058 MC/DF, relator Ministro André Mendonça, redator do acórdão Ministro Nunes Marques,
julgamento finalizado em 3.3.2022 (INF 1045)

Prazo para o ajuizamento de representação que visa apurar condutas em desacordo com as
normas eleitorais relativas a arrecadação e gastos de recursos - ADI 4532/DF

ODS: 16

Resumo:

A fixação do prazo de 15 (quinze) dias para o ajuizamento da representação prevista no art. 30-A
da Lei 9.504 /1997, com a redação dada pela Lei 12.034/2009, não compromete os valores da isonomia
entre os candidatos nem afronta o sistema de proteção à lisura e à legitimidade das eleições (CF/1988, art.
14, § 9º)346.

343
Lei 14.194/2021: “Art. 12. O Projeto de Lei Orçamentária de 2022, a respectiva Lei e os créditos adicionais discriminarão,
em categorias de programação específicas, as dotações destinadas a: (...) XXVII - Fundo Especial de Financiamento de
Campanha, financiado com recursos da reserva prevista no inciso II do § 4º do art. 13, no valor correspondente a 25% (vinte
e cinco por cento) da soma das dotações para a Justiça Eleitoral para exercício de 2021 e as constantes do Projeto de Lei
Orçamentária para 2022, acrescentado do valor previsto no inciso I do art. 16-C da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997;”

344
Precedente: ADI 4048.

345
Precedente: ADI 5468.

346
CF/1988: “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e, nos termos da lei, mediante: (...) § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos
de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.”

146

146
O estabelecimento do referido prazo decadencial se harmoniza com os princípios que regem o exercício
da jurisdição eleitoral, em especial o da segurança jurídica, da celeridade e da duração razoável do processo
(CF/1988, art. 5º, LXXVIII; e Lei 9.504/1997, art. 97-A), com o objetivo de proporcionar a estabilização do
resultado das urnas, de modo a refletir a vontade soberana do eleitor.

Nesse contexto, os meios de impugnação e os recursos específicos da Justiça Eleitoral são taxativos e
submetidos a exíguos prazos preclusivos, adequando-se a cada fase do processo eleitoral, circunstâncias
justificáveis pela necessidade de estabilização das relações jurídicas, pelos resultados das eleições e pela
temporalidade dos mandatos políticos.

Ademais, o intuito da norma foi suprir lacuna procedimental decorrente da ausência de sanção imediata
no âmbito das prestações de contas, uma vez que a desaprovação jamais repercutiu diretamente nos diplomas ou
mandatos dos candidatos eleitos e no direito à obtenção de quitação eleitoral.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade da expressão “no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação”, constante do art. 30-A da Lei
9.504/1997, com a redação que lhe foi conferida pela Lei 12.034/2009347.

ADI 4532/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.11.2022 (sexta-feira)
às 23:59 (INF 1077)

8.2 FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS

Prazo para constituição e registro no TSE de partidos políticos e de federações partidárias -


ADI 7021/DF

Resumo:

A fim de participarem das eleições, as federações partidárias devem estar constituídas como
pessoa jurídica e obter o registro de seu estatuto perante o TSE no mesmo prazo aplicável aos partidos
políticos.

Verifica-se, em sede de referendo de medida cautelar, incompatibilidade, com o princípio da isonomia,


das previsões legais que permitem que as federações partidárias possuam prazo superior ao dos partidos políticos
para se constituírem.

Com efeito, a própria Lei 14.208/2021 prevê que a federação atuará como se fosse uma única
agremiação partidária (art. 11-A, caput, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021) 348 e que se
aplicam às federações “todas as normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito às
eleições” (art. 11-A, § 8º, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021)349.

347
Lei 9.504/1997: “Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15
(quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar
condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos. (Redação dada pela Lei
12.034/2009)”.

348
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. Dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em
federação, a qual, após sua constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, atuará como se fosse uma
única agremiação partidária.”

147

147
Entretanto, a mesma lei permite que as federações possam ser constituídas até a data final do período de
realização das convenções partidárias (art. 11-A, § 3º, III, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei
14.208/2021)350, ao passo que, para os partidos políticos, impõe-se a constituição e o registro até seis meses antes
das eleições (art. 4º da Lei 9.504/1997)351.

Diante dessas previsões legais, aparenta haver desequiparação irrazoável na medida em que se permite
que agremiações concorrentes ao mesmo pleito sigam regras e cronogramas diversos, situação que não deve ser
sustentada pelo Direito.

Excepcionalmente, nas eleições de 2022, o prazo para constituição de federações partidárias fica
estendido até 31 de maio do mesmo ano.

Mediante ponderação entre os princípios da isonomia (entre partidos políticos e federações), da


segurança jurídica e da maior efetividade da norma que criou o instituto das federações partidárias, entende-se
que o prazo fixado é um meio-termo. Ele confere maior prazo para negociações, mas, ao mesmo tempo, evita
uma extensão excessiva, o que tornaria o instituto das federações perigosamente aproximado das coligações e
poderia trazer-lhe uma lógica “de ocasião”, que é o que se quer evitar. Além disso, esse prazo minimiza
eventuais efeitos competitivos adversos que uma constituição tardia das federações poderia produzir na
competição com partidos políticos.

Com base nesses fundamentos, o Plenário, por maioria, referendou medida cautelar deferida
parcialmente em ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 7021/DF MC-Ref, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento em 9.2.2022 (INF 1043)

8.3 MINIRREFORMA ELEITORAL

Reunião de ações eleitorais sobre o mesmo fato para julgamento conjunto - ADI 5507/DF

ODS: 16

Resumo:

349
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. (...) § 8º Aplicam-se à federação de partidos todas as
normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito às eleições, inclusive no que se refere à escolha e
registro de candidatos para as eleições majoritárias e proporcionais, à arrecadação e aplicação de recursos em campanhas
eleitorais, à propaganda eleitoral, à contagem de votos, à obtenção de cadeiras, à prestação de contas e à convocação de
suplentes.”

350
Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021: “Art. 11-A. (...) § 3º A criação de federação obedecerá às seguintes
regras: (...) III - a federação poderá ser constituída até a data final do período de realização das convenções partidárias;”

351
Lei 9.504/1997, com redação dada pela Lei 13.488/2017: “Art. 4º. Poderá participar das eleições o partido que, até seis
meses antes do pleito, tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral, conforme o disposto em lei, e tenha, até a
data da convenção, órgão de direção constituído na circunscrição, de acordo com o respectivo estatuto.”

148

148
A regra geral que determina a reunião de ações eleitorais que versem sobre os mesmos fatos para
julgamento conjunto pode ser afastada sempre que o magistrado aferir a pertinência da separação dos
feitos, à luz das circunstâncias do caso concreto e das exigências inerentes aos postulados do devido
processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
A exigência de lei complementar para dispor sobre a organização da Justiça Eleitoral restringe-se à
competência em função da matéria e não diz respeito às regras de distribuição por prevenção ou conexão, que
possuem natureza processual. Assim, o fato de a lei impugnada ser ordinária não representa
inconstitucionalidade formal (352).
Ademais, a reforma trazida pela Lei 13.165/2015, com relação ao art. 96-B da Lei 9.504/1997 ( 353),
objetivou consolidar o avanço jurisprudencial do TSE no sentido de facultar ao magistrado, sempre que possível,
o julgamento conjunto de processos com a mesma base fática. Isso foi feito com vistas a conferir maior
racionalidade e celeridade ao processo eleitoral, reforçando a segurança jurídica, por evitar decisões conflitantes.
Trata-se de opção válida do legislador ordinário, a fim de dar concretude a diversos princípios
constitucionais, de modo que as medidas previstas preservam as funções institucionais do Ministério Público e as
garantias processuais das partes (354).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para
conferir interpretação conforme ao § 2º do art. 96-B da Lei 9.504/1997, acrescentado pelo art. 2º da Lei
13.165/2015, no sentido de que a regra geral de reunião dos processos pode ser afastada, no caso concreto,
sempre que a celeridade, a duração razoável do processo, o bom andamento da marcha processual, o
contraditório e a ampla defesa, a organicidade dos julgamentos e o relevante interesse público envolvido
recomendem a separação dos feitos.

ADI 5507/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 2.9.2022 (sexta-feira), às
23:59

8.4 PARTIDOS POLÍTICOS

Autonomia partidária: duração de mandato, prazo de vigência de órgãos provisórios e


anistia de multa - ADI 6230/DF

ODS: 5 e 16
Resumo:

352
CF/1988: “Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das
juntas eleitorais.”

353
) Lei 9.504/1997: “Art. 96-B. Serão reunidas para julgamento comum as ações eleitorais propostas por partes diversas sobre
o mesmo fato, sendo competente para apreciá-las o juiz ou relator que tiver recebido a primeira. (Incluído pela Lei nº 13.165,
de 2015) § 1º O ajuizamento de ação eleitoral por candidato ou partido político não impede ação do Ministério Público no
mesmo sentido. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) § 2º Se proposta ação sobre o mesmo fato apreciado em outra cuja
decisão ainda não transitou em julgado, será ela apensada ao processo anterior na instância em que ele se encontrar, figurando
a parte como litisconsorte no feito principal. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015) § 3º Se proposta ação sobre o mesmo fato
apreciado em outra cuja decisão já tenha transitado em julgado, não será ela conhecida pelo juiz, ressalvada a apresentação de
outras ou novas provas. (Incluído pela Lei nº 13.165, de 2015)”

354
Precedente citado: ARE 728188 (Tema 680 RG)

149

149
Os partidos políticos podem, no exercício de sua autonomia constitucional, estabelecer a duração
dos mandatos de seus dirigentes, desde que compatível com o princípio republicano da alternância do
poder concretizado por meio da realização de eleições periódicas em prazo razoável.

O ideal democrático firma-se na temporalidade dos mandatos, o que viabiliza sua renovação e
alternância de poder, motivo pelo qual os princípios democrático e republicano não autorizam que a autonomia
assegurada às agremiações partidárias seja interpretada contrariamente à Constituição, autorizando a perpetuação
dos mandatos das lideranças partidárias355.

É inconstitucional a previsão do prazo de até oito anos para a vigência dos órgãos provisórios dos
partidos356, para evitar distorções ao claro significado de “provisoriedade”, notadamente porque, nesse
período, podem ser realizadas distintas eleições em todos os níveis federativos.

O poder não deve ser exercido por tempo indeterminado ou excessivo, sendo imprescindível a apuração
democrática da vontade dos filiados. Ocorre que as comissões provisórias normalmente são compostas por
pessoas não eleitas por seus pares, mas indicadas pela direção do partido e com sucessivas reconduções. Essa
circunstância é capaz de minar a democracia interna, pois apta a acarretar a falta de autenticidade dos partidos
políticos, culminando em sérios reflexos na legitimidade do sistema político.

Ademais, o Supremo Tribunal Federal não pode, sob pena de atuar como legislador positivo, estabelecer
um único prazo, aplicável indistintamente a todas as agremiações e em todos os cenários. Cabe à Justiça Eleitoral
analisar, na apreciação do registro dos estatutos ou quando trazida a questão em casos concretos, a
constitucionalidade e legalidade do prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos.

Nesse contexto, o Tribunal, especificamente quanto a essa parte na qual reconhece a


inconstitucionalidade da norma, modulou os seus efeitos exclusivamente a partir de janeiro de 2023, prazo
posterior ao encerramento do presente ciclo eleitoral, após o qual o TSE poderá analisar a compatibilidade dos
estatutos com o que ora decidido.

É constitucional a previsão de concessão de anistia às cobranças, devoluções ou transferências ao


Tesouro Nacional que tenham como causa as doações ou contribuições feitas em anos anteriores por
servidores públicos que exerçam função ou cargo público de livre nomeação e exoneração, desde que
filiados a partido político.

A pecúnia a ser anistiada (Lei 9.096/1995, art. 55-D) é de cunho eleitoral e não ostenta caráter de
tributo, razão pela qual não compõe o orçamento público, afastando-se do campo de abrangência do art. 113 do
ADCT — cujo objeto de proteção é a receita de caráter fiscal 357. Assim, é desnecessária a prévia estimativa
acerca de impacto financeiro e orçamentário por parte das proposições legislativas que prevejam a renúncia de
seus recursos financeiros.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação e
modulou os efeitos da decisão no trecho em que reconhece a inconstitucionalidade da norma.

355
Precedentes: ADI 5617 e ADI 5311.

356
Lei 9.096/1995: “Art. 3º É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento. (...) § 3º O prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos poderá ser de até 8 (oito) anos
(Incluído pela Lei nº 13.831, de 2019)”.

357
ADCT: “Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser
acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 95, de
2016)”.

150

150
ADI 6230/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1062)

Fundo Partidário e Fundo Eleitoral: vedação de repasse de seus recursos - ADI 7214/DF
ODS: 16

Resumo:

São constitucionais, visto não ofenderem a autonomia partidária, os dispositivos de Resolução


editada pelo TSE que vedam o repasse de recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha (FEFC) por partidos políticos ou candidatos não pertencentes à mesma
coligação e/ou não coligados.

No caso, a atividade normativa do TSE não passou da esfera regulamentar. A vedação prevista pelos
dispositivos impugnados encontra amparo direto na Constituição Federal 358 e na legislação eleitoral, revelando-se
plenamente razoável, pois leva em conta a finalidade dos repasses de recursos do FEFC e do Fundo Partidário,
bem como a necessidade de acabar com as assimetrias causadas pela existência de coligações em eleições
proporcionais.

Com efeito, o montante dos referidos fundos que será repartido entre as agremiações políticas é definido
pelo critério da representatividade no Congresso Nacional, não sendo plausível permitir o repasse de seus
recursos a candidatos de partidos distintos não pertencentes à mesma coligação, especialmente em razão da
natureza pública dessas verbas.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade do art. 17, § 2°, I, II, e do art. 19, § 7°, I, II, ambos da Resolução TSE 23.607/2019 359.

ADI 7214/DF, relator Minisro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1070)

358
CF/1988: “Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional,
o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I
- caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. § 1º É
assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e
duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de
escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017).
(...) § 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os
partidos políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) I - obtiverem, nas
eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um
terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo
menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017).”

359
Resolução 23.607/2019 do TSE: “Art. 17. O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) será disponibilizado
pelo Tesouro Nacional ao Tribunal Superior Eleitoral e distribuído aos diretórios nacionais dos partidos políticos na forma
disciplinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (Lei nº 9.504/1997, art. 16-C, § 2º). § 1º Inexistindo candidatura própria ou em
coligação na circunscrição, é vedado o repasse dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) para
outros partidos políticos ou candidaturas desses mesmos partidos. § 2º É vedado o repasse de recursos do FEFC, dentro ou
fora da circunscrição, por partidos políticos ou candidatas ou candidatos: I - não pertencentes à mesma coligação; e/ou II -
não coligados. (...) Art. 19. Os partidos políticos podem aplicar nas campanhas eleitorais os recursos do Fundo Partidário,
inclusive aqueles recebidos em exercícios anteriores. (...) § 7º É vedado o repasse de recursos do Fundo Partidário, dentro ou
fora da circunscrição, por partidos políticos ou candidatas ou candidatos: I - não pertencentes à mesma coligação; e/ou II -
não coligados.”

151

151
8.5 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL

Ampliação de gastos com publicidade institucional e princípio da anterioridade eleitoral -


ADI 7178/DF e ADI 7182/DF

ODS: 16
Resumo:

A ampliação dos limites para gasto com publicidade institucional às vésperas das eleições pode
afetar significativamente as condições da disputa eleitoral, sendo necessário postergar, em obediência ao
princípio da anterioridade eleitoral (CF/1988, art. 16), a eficácia de alterações normativas nesse sentido.

Essa medida, cujo conteúdo interage com normas proibitivas que tutelam a idoneidade e
competitividade do processo eleitoral360, pode configurar desvio de finalidade no exercício de poder político,
com reais possibilidades de influência no pleito eleitoral e perigoso ferimento à liberdade do voto (CF/1988, art.
60, IV, b), ao pluralismo político (CF/1988, art. 1º, V e parágrafo único), ao princípio da igualdade (CF/1988, art.
5º, caput) e à moralidade pública (CF/1988, art. 37, caput).

Ademais, a ampla publicidade de “atos e campanhas dos órgãos públicos” com financiamento do
orçamento público — ainda que com o intuito de divulgar ações governamentais atinentes ao enfrentamento da
calamidade pública provocada pela pandemia da Covid-19 — pode, em tese, implicar favorecimento dos agentes
públicos que estiveram à frente dessas ações, com comprometimento da normalidade e legitimidade das eleições
que serão realizadas neste ano.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em julgamento conjunto, concedeu parcialmente
a medida cautelar para conferir interpretação conforme a Constituição à Lei 14.356/2022 361, estabelecendo que,
por força do princípio da anterioridade eleitoral, a norma não produz efeitos antes do pleito eleitoral de outubro
de 2022.

ADI 7178/DF, relator Ministro Dias Toffoli, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1062)

ADI 7182/DF, relator Ministro Dias Toffoli, redator do acórdão Ministro. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 1º.7.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1062)

360
Precedentes: ADI 3345; ADI 4307; e ADC 29.

361
Lei 14.356/2022: “(...) Art. 3º O art. 73 da Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997, passa a vigorar com as seguintes
alterações: Art. 73. (...) VII - empenhar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade dos órgãos
públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a 6 (seis)
vezes a média mensal dos valores empenhados e não cancelados nos 3 (três) últimos anos que antecedem o pleito; (...) § 14.
Para efeito de cálculo da média prevista no inciso VII do caput deste artigo, os gastos serão reajustados pelo IPCA, aferido
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou outro índice que venha a substituí-lo, a partir da data
em que foram empenhados. (NR) Art. 4º Não se sujeita às disposições dos incisos VI e VII do caput do art. 73 da Lei nº
9.504, de 30 de setembro de 1997, a publicidade institucional de atos e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou
municipais e de suas respectivas entidades da administração indireta destinados exclusivamente ao enfrentamento da
pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 e à orientação da população quanto a serviços públicos relacionados ao
combate da pandemia, resguardada a possibilidade de apuração de eventual conduta abusiva, nos termos da Lei nº 9.504, de
30 de setembro de 1997.”

152

152
8.6 PROPAGANDA ELEITORAL

Restrições à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação impressos e na


internet - ADI 6281/DF

Resumo:

São constitucionais as restrições, previstas na Lei das Eleições (Lei 9.504/1997, arts. 43, caput, e
57-C, caput e § 1º)362, à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação impressos e na
internet.

Considerando-se que o pagamento das propagandas eleitorais no Brasil se dá atualmente com recursos
públicos, na ampla maioria dos casos, então a regulamentação da propaganda eleitoral está mais direcionada para
a forma do gasto do Fundo Eleitoral do que propriamente para disciplinar a liberdade de expressão. Trata-se de
uma opção política do legislador sobre onde e como devam ser gastos recursos públicos.

Ademais, as diretrizes relativas à propaganda eleitoral voltam-se à realização de princípios próprios, tais
como a paridade de armas entre os candidatos e a preservação das eleições, pondo-os a salvo do abuso do poder
econômico, sempre disposto a influir no resultado das urnas.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado em
ação direta. Vencidos os ministros Luiz Fux (presidente e relator), Edson Fachin, Roberto Barroso e Cármen
Lúcia, que o julgaram procedente, e, em menor extensão, o ministro André Mendonça, que o julgou parcialmente
procedente.

ADI 6281/DF, relator Ministro Luiz Fux, redator do acórdão Ministro Nunes Marques, julgamento em
10, 16 e 17.2.2022 (INF 1044)

362
Lei 9.504/1997: “Art. 43. São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação paga, na imprensa escrita, e a
reprodução na internet do jornal impresso, de até 10 (dez) anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas diversas,
para cada candidato, no espaço máximo, por edição, de 1/8 (um oitavo) de página de jornal padrão e de 1/4 (um quarto) de
página de revista ou tabloide. (Redação dada pela Lei 12.034/2009) (...) Art. 57-C. É vedada a veiculação de qualquer tipo de
propaganda eleitoral paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma
inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações e candidatos e seus representantes. (Redação dada
pela Lei 13.488/2017) § 1º É vedada, ainda que gratuitamente, a veiculação de propaganda eleitoral na internet, em sítios:
(Incluído pela Lei 12.034/2009) I – de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos; (Incluído pela Lei 12.034/2009)”

153

153
8.7 REGISTRO DE CANDIDATURA

Reeleição ou recondução de membros de Mesa Diretora de Assembleias Legislativas - ADI


6688/PR, ADI 6698/MS, ADI 6714/PR, ADI 7016/MS, ADI 6683/AP, ADI 6686/PE, ADI 6687/PI,
ADI 6711/PI e ADI 6718/AP

ODS: 16

Teses fixadas:
“(i) a eleição dos membros das Mesas das Assembleias Legislativas estaduais deve observar o
limite de uma única reeleição ou recondução, limite cuja observância independe de os mandatos
consecutivos referirem-se à mesma legislatura; (ii) a vedação à reeleição ou recondução aplica-se somente
para o mesmo cargo da mesa diretora, não impedindo que membro da mesa anterior se mantenha no
órgão de direção, desde que em cargo distinto; (iii) o limite de uma única reeleição ou recondução, acima
veiculado, deve orientar a formação da Mesa da Assembleia Legislativa no período posterior à data de
publicação da ata de julgamento da ADI 6.524, de modo que não serão consideradas, para fins de
inelegibilidade, as composições eleitas antes de 7.1.2021, salvo se configurada a antecipação fraudulenta
das eleições como burla ao entendimento do Supremo Tribunal Federal.”

Resumo:
É permitida apenas uma reeleição ou recondução sucessiva ao mesmo cargo da Mesa Diretora,
mantida a composição das mesas das Assembleias Legislativas eleitas antes da data de publicação da ata
de julgamento da ADI 6524/DF (7.1.2021).
Conforme precedentes desta Corte, a regra proibitiva contida no art. 57, § 4º, da CF/1988 363 não
constitui preceito de observância obrigatória pelos estados e o Distrito Federal, de modo que não pode funcionar
como parâmetro de controle da constitucionalidade de regra inserida nas Constituições estaduais 364, pois
configura pleno exercício de suas autonomias político-administrativas (CF/1988, art. 18).
Por outro lado — ainda que observada a relativa autonomia das Casas Legislativas estaduais para reger
o processo eletivo da Mesa Diretora — a possibilidade de reeleições sucessivas e ilimitadas para os cargos
diretivos do Poder Legislativo estadual mostra-se incompatível com os princípios republicano e democrático, os
quais exigem a alternância de poder e a temporariedade dos mandatos, sendo-lhes permitida uma única
recondução 365.
Em relação à definição do marco temporal para a atribuição de efeitos em sede de controle concentrado
de constitucionalidade, este Tribunal tem adotado como referência a data da publicação da ata de julgamento,
considerando o que dispõe o art. 28 da Lei 9.868/1999 366. Desse modo, o precedente firmado no julgamento da
363
CF/1988: “Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º
de agosto a 22 de dezembro. (...) § 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no
primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos,
vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente.”

364
Precedentes citados: ADI 6707 e ADI 6721 MC-Ref.

365
Precedentes citados: ADI 6524; ADI 6685 e ADI 6704.

366
Lei 9.868/1999: “Art. 28. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal Federal
fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão.”

154

154
ADI 6524/DF deve ser aplicado aos parlamentares que tomaram posse em cargos diretivos das Assembleias
Legislativas a partir da data da publicação de sua ata de julgamento, salvo se configurada a antecipação
fraudulenta das eleições como burla ao entendimento do STF.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, em sessão de julgamento presencial designada
para a proclamação de resultados — tendo em vista que as ações foram oportunamente apreciadas de modo
conjunto no ambiente virtual —, proclamou individualmente cada um deles e fixou as referidas teses.
ADI 6688/PR, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 7.12.2022
ADI 6698/MS, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 7.12.2022
ADI 6714/PR, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 7.12.2022
ADI 7016/MS, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 7.12.2022
ADI 6683/AP, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 7.12.2022
ADI 6686/PE, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 7.12.2022
ADI 6687/PI, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 7.12.2022
ADI 6711/PI, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 7.12.2022

9. DIREITO FINANCEIRO

9.1 AUTONOMIA ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA

Lei de Diretrizes Orçamentárias: autonomia do Ministério Público estadual - ADI 7073/CE

ODS: 16

Tese fixada:

“É inconstitucional a limitação de despesas da folha complementar do Ministério Público


Estadual do Estado do Ceará em percentual da despesa anual da folha normal de pagamento, sem a
devida participação efetiva do órgão financeiramente autônomo no ato de estipulação em conjunto dessa
limitação na Lei de Diretrizes Orçamentárias.”

Resumo:

É indispensável a efetiva participação do Ministério Público — órgão constitucionalmente


autônomo — no ciclo orçamentário, sob pena da respectiva norma incidir em inconstitucionalidade por
afronta à sistemática orçamentária e financeira prevista na Constituição Federal (art. 127, §§ 3º a 6º, e art.
168, caput)367.

367
CF/1988: “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (...) § 3º O
Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. §
4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de
diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores
aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 3º. § 5º Se a proposta
orçamentária de que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º, o Poder
Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 6º Durante a
execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem
os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos
suplementares ou especiais. (...) Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos
suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria
Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art.
165, § 9º.”

155

155
Com efeito, essa Corte já firmou entendimento no sentido de que a garantia atribuída ao Poder
Judiciário, de ser consultado no momento da elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias, aplica-se
extensivamente ao Ministério Público368.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “no Ministério Público Estadual”, contida no art. 74, § 5º, da Lei
17.573/2021, do Estado do Ceará369.

ADI 7073/CE, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1069)

9.2 RESPONSABILIDADE FISCAL

Covid-19: prorrogação de benefício concedido para o enfrentamento da pandemia no


âmbito desportivo - ADI 7015/DF

Resumo:

É inconstitucional — por violar os princípios da legalidade, da segurança jurídica, da não


surpresa dos contribuintes e da isonomia — a interpretação do artigo 1º da Lei 14.117/2021 no sentido de
condicionar os efeitos da suspensão de exigibilidade dos parcelamentos de dívidas no âmbito do Programa
de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT) ao término da
vigência do Decreto Legislativo 6/2020.
Esta Corte já teve a oportunidade de determinar a aplicação prospectiva de medidas inicialmente
planejadas para vigorar de maneira coincidente com a vigência prevista no Decreto legislativo 6/2020 370, pelo
tempo necessário à superação da fase mais crítica da pandemia 371.
Assim, deve-se considerar a alteração do quadro fático relacionado à calamidade pública instaurada pela
pandemia Covid-19 como justificativa para o restabelecimento do pagamento dos parcelamentos de que trata a
norma impugnada. Vislumbra-se, nesse sentido, a flexibilização das normas sanitárias nos entes federados, o
decurso razoável do tempo para o reequilíbrio das contas dos clubes e a retomada de receita advinda de bilheteria

368
Precedente citado: ADI 6594.

369
Lei 17.573/2021 do Estado do Ceará: “Art. 74. Para efeito da elaboração e execução da despesa de pessoal, os Poderes e
órgãos consignarão dotações específicas, distinguindo pagamento da folha normal e pagamento da folha complementar. (...) §
5º As despesas da folha complementar do exercício de 2022 não poderão exceder a 1% (um por cento) da despesa anual da
folha normal de pagamento de pessoal projetada para o exercício de 2022, em cada um dos Poderes, Executivo, Legislativo,
compreendendo o Tribunal de Contas do Estado, e Judiciário, no Ministério Público Estadual e na Defensoria Pública,
ressalvados o caso previsto no inciso I do § 3º deste artigo e os definidos em lei específica.”

370
Decreto Legislativo 6/2020: “Art. 1º Fica reconhecida, exclusivamente para os fins do art. 65 da Lei Complementar nº 101,
de 4 de maio de 2000, notadamente para as dispensas do atingimento dos resultados fiscais previstos no art. 2º da Lei nº
13.898, de 11 de novembro de 2019, e da limitação de empenho de que trata o art. 9º da Lei Complementar nº 101, de 4 de
maio de 2000, a ocorrência do estado de calamidade pública, com efeitos até 31 de dezembro de 2020, nos termos da
solicitação do Presidente da República encaminhada por meio da Mensagem nº 93, de 18 de março de 2020.”

371
Precedentes citados: ADI 6625 MC-Ref e ADPF 828 TPI-Ref.

156

156
nos últimos meses, decorrente do retorno de público aos estádios, além dos indícios de superação da fase mais
crítica da pandemia.
Desse modo, interpretações restritivas ao artigo 1° da Lei 14.117/2021 372, quer limitando ou fazendo
coincidir o termo final da suspensão da exigibilidade das parcelas do PROFUT à vigência do Decreto legislativo
6/2020, afiguram-se incompatíveis com a ordem constitucional, visto que a medida prevista naquela norma,
diante da realidade presente, deixou de ser dotada de razoabilidade.
Com base nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, e nos termos da medida cautelar
anteriormente deferida, julgou parcialmente procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da
interpretação do artigo 1º da Lei 14.117/2021 que condicione os efeitos da suspensão de exigibilidade dos
parcelamentos ao término da vigência do Decreto Legislativo 6/2020. Ademais, dada a notória mudança no
contexto fático relacionado à pandemia da Covid-19, foi restabelecida a exigibilidade das parcelas autorizadas
pelo art. 6º da Lei 13.155/2015373 a contar do julgamento de mérito desta ação.

ADI 7015/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.12.2022 (sexta-
feira), às 23:59

Lei estadual e concessão de benefício fiscal sem prévia estimativa de impacto orçamentário
e financeiro - ADI 6303/RR

Tese fixada:

“É inconstitucional lei estadual que concede benefício fiscal sem a prévia estimativa de impacto
orçamentário e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT.”

Resumo:

O art. 113 do ADCT 374 é aplicável a todos os entes da Federação 375 e a opção do Constituinte de
disciplinar a temática nesse sentido explicita a prudência na gestão fiscal, sobretudo na concessão de
benefícios tributários que ensejam renúncia de receita.

Isso ocorre porque a elaboração do referido estudo concede ao Poder Legislativo, como órgão
vocacionado a versar sobre a instituição de benefícios fiscais, o controle não somente dos objetivos
constitucionais que se pretendem atingir por meio de benesse fiscal, como também o controle financeiro da
escolha política.

372
Lei 14.117/2021: “Art. 1º Fica suspensa a exigibilidade das parcelas autorizadas pelo art. 6º da Lei nº 13.155, de 4 de agosto
de 2015, devidas pelas entidades desportivas profissionais de futebol que aderiram ao Programa de Modernização da Gestão
e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut) durante o período da calamidade pública decorrente da pandemia
da Covid-19, declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”.

373
Lei 13.155/2015: “Art. 6º As entidades desportivas profissionais de futebol que aderirem ao Profut poderão parcelar os
débitos na Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda, na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e no
Banco Central do Brasil, e os débitos previstos na Subseção II, no Ministério do Trabalho e Emprego”.

374
CF, art. 113. “A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada
da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro”.

375
Precedentes: ADI 6.074, ADI 5.816.

157

157
Além disso, a regra constitucional observa o regime preexistente definido no art. 14 da Lei
Complementar (LC) 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) 376, no tocante à concessão e ao aumento de
benefícios fiscais que ocasionem a renúncia de receita.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta, para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei Complementar 278/2019 do Estado de Roraima.

ADI 6303/RR, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 11.3.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1046)

9.3 FEDERALISMO FISCAL

Autonomia municipal e vinculação de parte do ICMS recebido pelo estado - ADI 2355/PR

Resumo:

É inconstitucional, por violação à cláusula constitucional da não afetação da receita oriunda de


impostos e à autonomia municipal, norma estadual que determina a forma de aplicação dos recursos
destinados ao município em razão da repartição constitucional de receitas.

Conforme jurisprudência desta Corte, é de pleno direito dos próprios municípios a parcela que lhes é
devida na repartição constitucional de receitas, de modo que não cabe o estabelecimento de qualquer forma de
condicionamento ou retenção pelos estados377.

Os estados-membros podem fixar, mediante lei, a maneira como será feito o crédito de parcela do valor
da arrecadação do ICMS a ser repartido (CF/1988, art. 158, IV e parágrafo único). Contudo, isso não implica
alteração da titularidade da quota pertencente aos municípios, razão pela qual a destinação que será dada ao
repasse depende de decisão autônoma do ente municipal beneficiário, notadamente porque ocorre em fase
posterior ao ingresso do montante no erário378.

376
LC 101/2000, art. 14. “A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia
de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua
vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes
condições: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária,
na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes
orçamentárias; II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento
de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou
contribuição. § 1º A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não
geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou
contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. § 2º Se o ato de concessão ou ampliação do
incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em
vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso. § 3º O disposto neste artigo não se aplica: I – às
alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1º; II –
ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.”

377
Precedentes citados: RE 572762; RE 1277998 AgR-EDV e ADI 1374.

378
CF/1988: “Art. 30. Compete aos Municípios: (...) III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar
suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; (...) Art. 167.
São vedados: (...) IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da
arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de
saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como
determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por
antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;”

158

158
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, confirmou a medida cautelar anteriormente
deferida (Informativo 273) e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei 12.690/1999
do Estado do Paraná379.

ADI 2355/PR, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 16.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1068)

10.DIREITO PENAL

10.1 REINCIDÊNCIA

Porte de drogas para consumo próprio e reincidência - RHC 178512/SP

Resumo:

Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior pelo delito do art.


28 da Lei 11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”, para fins de reincidência.

O delito previsto no art. 28 da Lei 11.343/2006 não comina pena privativa de liberdade, mas tão
somente “advertência sobre os efeitos das drogas” (inc. I); “prestação de serviços à comunidade” (inc. II) e
“medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo” (inc. III).

Não se afigura razoável, portanto, permitir que uma conduta que possui vedação legal quanto à
imposição de prisão, a fim de evitar a estigmatização do usuário de drogas, possa dar azo à posterior
configuração de reincidência.

Deve-se ponderar, ainda, que a reincidência depende da constatação de que houve condenação criminal
com trânsito em julgado, o que não ocorre em grande parte dos casos de incidência do art. 28 da Lei
11.343/2006.

Com base nesse entendimento, a Segunda Turma, por maioria, negou provimento a agravo regimental.

RHC 178512 AgR/SP, relator Ministro Edson Fachin, julgamento em 22.3.2022 (INF 1048)

379
Lei 12.690/1999 do Estado do Paraná: “Art. 1º Os Municípios obrigatoriamente aplicarão 50% (cinquenta por cento) do
Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recebido pelo fato de possuírem reservas
indígenas em seu território consideradas unidades de conservação ambiental, nos termos do artigo 2º da Lei Complementar nº
59, de 1º de outubro de 1991, alterado pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 67, de 08 de janeiro de 1993, diretamente nas
respectivas áreas de terras indígenas. Art. 2º O valor previsto no artigo anterior será aplicado pelos Municípios diretamente
nas áreas de terras indígenas que abriguem em seu território nos termos das respectivas leis de orçamento. Art. 3º Esta Lei
entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”

159

159
11.DIREITO PREVIDENCIÁRIO

11.1 SALÁRIO DE BENEFÍCIO

Constitucionalidade da “revisão da vida toda”: possibilidade do segurado do INSS optar


pela regra mais favorável para o cálculo de seu benefício previdenciário - RE 1276977/DF (Tema
1102 RG)

ODS: 10 e 16

Tese fixada:
“O segurado que implementou as condições para o benefício previdenciário após a vigência da Lei
9.876, de 26.11.1999, e antes da vigência das novas regras constitucionais, introduzidas pela EC 103/2019,
tem o direito de optar pela regra definitiva, caso esta lhe seja mais favorável”

Resumo:
É possível a aplicação da regra mais vantajosa à revisão da aposentadoria de segurados que
tenham ingressado no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) até o dia anterior à publicação da Lei
9.876/1999, que criou o fator previdenciário e alterou a forma de apuração dos salários de contribuição
para efeitos do cálculo de benefício, dele excluindo as contribuições anteriores a julho de 1994.
A intenção do legislador, ao desconsiderar as contribuições prévias ao período de lançamento do “Plano
Real”, foi preservar o valor das aposentadorias dos efeitos deletérios dos altos índices de inflação daquela época
e, com isso, beneficiar principalmente os segmentos de trabalhadores de menor renda 380.
Essa regra transitória é mais benéfica àqueles que tiveram suas remunerações aumentadas no período
mais próximo da aposentadoria em virtude da percepção de renda salarial mais elevada, com o consequente
aumento no valor das contribuições. No entanto, não é a realidade do segmento dos trabalhadores com menor
escolaridade, que têm a trajetória salarial decrescente quando se aproxima o momento de sua aposentadoria.
Nesse contexto, negar a opção pela regra definitiva 381, tornando a norma transitória obrigatória aos que
ser filiaram ao RGPS antes de 1999, é medida que desconsidera todo o histórico contributivo do segurado e lhe
causa grave prejuízo, de modo a subverter a própria finalidade da norma de transição 382.
Portanto, o contribuinte tem o direito de escolher o critério de cálculo que lhe proporcione a maior
renda mensal possível, a partir de seu histórico das contribuições. Ademais, admitir que a norma transitória
importe ao segurado mais antigo tratamento mais gravoso em comparação ao novo é prática que contraria o
princípio da isonomia.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1102 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.
380
Lei 9.876/1999: “ Art. 3o Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação desta Lei, que
vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do
salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no
mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto
nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei no 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei.”

381
Lei 8.213/1991: “Art. 29. O salário-de-benefício consiste: I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do
art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o
período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário; II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do
inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de
todo o período contributivo.”

382
Precedente citado: RE 630501 (Tema 334 RG).

160

160
RE 1276977/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento finalizado em 1º.12.2022

12. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

12.1 BLOQUEIO DE VALORES

Satisfação de créditos trabalhistas mediante bloqueio de recursos públicos repassados pelo


FNDE - ADPF 988/SC

ODS: 4

Resumo:

Ofendem os princípios da legalidade orçamentária, da separação dos Poderes e da continuidade


da prestação dos serviços públicos as decisões judiciais que, com o objetivo de satisfazer créditos
trabalhistas, determinam o bloqueio de recursos públicos federais transferidos às Associações de Pais e
Professores (APPs) pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a implementação
do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE).

O montante atribuído às APPs destina-se ao cumprimento de atividades essencialmente públicas, razão


pela qual a respectiva execução dos valores deve seguir as regras constitucionais de organização orçamentária
das finanças públicas383.

Essas associações são unidades executoras próprias, e, por isso, devem empregar os recursos obtidos
pelo PDDE nas finalidades legais, vedada a sua utilização para o pagamento de pessoal384.

Ademais, os recursos públicos de aplicação compulsória em educação são impenhoráveis 385 e esta Corte
afasta a possibilidade de o Poder Judiciário modificar, mediante a imposição de atos constritivos, a destinação de
verbas previamente definida pelas autoridades governamentais competentes, por configurar indevida
interferência nas atribuições reservadas aos demais Poderes386.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ADPF para
determinar a suspensão das decisões judiciais proferidas pela Justiça do Trabalho do Estado de Santa Catarina
que determinaram o bloqueio, penhora ou sequestro sobre verbas repassadas pelo FNDE, referentes ao PDDE, às

383
CF/1988: “Art. 167. São vedados: (...) VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria
de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa;”

384
Precedentes citados: ADPF 484, ADPF 275, ADPF 485, ADPF 585 AgR, ADPF 387 e ADPF 664 MC-Ref.

385
CPC/2015: “Art. 833. São impenhoráveis: (...) IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em educação, saúde ou assistência social;”

386
Precedentes citados: ADPF 114 e ADPF 620.

161

161
APPs naquele estado para satisfazer crédito trabalhista e determinar a imediata devolução das verbas bloqueadas
para o atendimento dos fins a que se destinam os valores.

ADPF 988/SC, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 17.10.2022 (segunda-
feira), às 23:59 (INF 1072)

12.2 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

RPV: valor previsto no ADCT e fixação de quantia referencial inferior por


ente federado - RE 1359139/CE

ODS: 16

Tese fixada:

“(I) As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em
patamares inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua
capacidade econômica. (II) A aferição da capacidade econômica, para este fim, deve refletir não somente a
receita, mas igualmente os graus de endividamento e de litigiosidade do ente federado. (III) A ausência de
demonstração concreta da desproporcionalidade na fixação do teto das requisições de pequeno valor
impõe a deferência do Poder Judiciário ao juízo político-administrativo externado pela legislação local.”

Resumo:

Ao editar norma própria, o ente federado, desde que em consonância com sua capacidade
econômica e com o princípio da proporcionalidade, pode estabelecer quantia inferior à prevista no art. 87
do ADCT como teto para o pagamento de seus débitos judiciais por meio de Requisição de Pequeno Valor
(RPV).
O patamar provisório fixado no ADCT (387) para o pagamento de RPV não é irredutível, cabendo a cada
unidade federativa estipular o valor máximo para essa especial modalidade de pagamento de acordo com sua
capacidade econômica, cuja aferição deve considerar, além do quantum das receitas auferidas, os graus de
endividamento e de litigiosidade do ente público
No tocante à atuação do Poder Judiciário, deve ser adotada uma postura de autocontenção quando não
houver demonstração concreta da desproporcionalidade na fixação do valor referencial.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1.231 RG) e, no mérito, também por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria ( 388) para dar provimento ao recurso extraordinário, assentando a
constitucionalidade da Lei 10.562/2017 do Município de Fortaleza/CE, que fixa como teto para pagamento das
RPVs o equivalente ao maior benefício do Regime Geral de Previdência Social. Não se manifestou o ministro
André Mendonça.

387
ADCT: “Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis
definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou
obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: I – quarenta salários-mínimos, perante
a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II – trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios. Parágrafo único.
Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o pagamento far-se-á, sempre, por meio de precatório, sendo
facultada à parte exequente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o
precatório, da forma prevista no § 3º do art. 100.”

388
Precedentes citados: ADI 2868; ADI 4332; e ADI 5100.

162

162
RE 1359139 RG/CE, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 1º.9.2022

12.3 FAZENDA PÚBLICA

Execução fiscal: antecipação de pagamento de despesa com diligência de oficial de justiça


pela Fazenda Pública - ADI 5969/PA

Resumo:

É inconstitucional, por violar competência legislativa privativa da União, lei estadual que obriga a
Fazenda Pública a antecipar o pagamento das despesas com diligências dos oficiais de justiça.

A lei estadual impugnada dispôs sobre dever do sujeito processual (na hipótese, a Fazenda Pública em
execução fiscal), motivo pelo qual se pode afirmar que versou sobre norma de processo civil, incidindo,
portanto, em inconstitucionalidade formal389.

Ademais, nos termos da conclusão alcançada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará, tanto em sede
de processo administrativo como em sede jurisdicional, a Gratificação de Atividade Externa (GAE), percebida
pelos oficiais de justiça, não abrange as despesas com diligências por eles praticadas, em decorrência da atuação
da Fazenda Pública, nas execuções fiscais.

Todavia, a declaração de inconstitucionalidade não importa, por si só, na dispensa da referida


antecipação. Isso porque subsiste a orientação do STJ acerca da interpretação do artigo 39 da Lei 6.830/1980 —
cuja uniformização da jurisprudência culminou na edição da Súmula 190 390 —, entendimento que encontra
amparo em antigos julgados desta Corte391.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade formal do § 2º do art. 12 da Lei 8.328/2015 do Estado do Pará392.

ADI 5969/PA, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1070)

389
CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”

390
Súmula 190/STJ: “Na execução fiscal, processada perante a Justiça Estadual, cumpre à Fazenda Pública antecipar o
numerário destinado ao custeio das despesas com o transporte dos oficiais de justiça.”

391
Precedentes citados: RE 108183 e RE 108845.

392
Lei 8.328/2015 do Estado do Pará: “Art. 12. Caberá às partes recolher antecipadamente as custas processuais dos atos que
requeiram ou de sua responsabilidade no processo, observado o disposto nesta Lei. (...) § 2º A Fazenda Pública, nas
execuções fiscais, deve antecipar o pagamento das despesas com a diligência dos oficiais de justiça”

163

163
12.4 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Ação de improbidade administrativa: legitimidade ativa concorrente - ADI


7042/DF e ADI 7043/DF

ODS: 16

Resumo:

Os entes públicos que sofreram prejuízos em razão de atos de improbidade também estão
autorizados, de forma concorrente com o Ministério Público (MP), a propor ação e a celebrar acordos de
não persecução civil em relação a esses atos.
A CF/1988 prevê, de modo expresso, a privatividade da legitimidade do MP apenas para a propositura
da ação penal pública, eis que afasta tal característica com relação às ações de natureza cível, não impedindo,
para as mesmas hipóteses elencadas, a legitimação de terceiros ( 393).
Além disso, nas ações de improbidade administrativa, a atuação do MP é extraordinária na defesa do
patrimônio público em sentido amplo. Já a atuação da pessoa jurídica lesada ─ que foi quem sofreu os efeitos
gravosos dos atos ímprobos ─ é ordinária, pois objetiva a proteção, em seu próprio nome, daquilo que lhe é
inerente: seu patrimônio.
A Constituição consagrou, como vetores básicos da Administração Pública, o respeito à legalidade,
impessoalidade e moralidade (CF/1988, art. 37, caput), além do combate à corrupção e à improbidade
administrativa. Dessa forma, a supressão da prerrogativa das pessoas jurídicas lesadas fere a lógica
constitucional de proteção ao patrimônio público, e representa grave limitação ao amplo acesso à jurisdição ( 394).
No tocante ao polo passivo, não deve existir obrigatoriedade de defesa judicial do agente público que
cometeu ato de improbidade por parte da Advocacia Pública, pois a sua predestinação constitucional, enquanto
função essencial à Justiça, identifica-se com a representação judicial e extrajudicial dos entes públicos. Contudo,
permite-se essa atuação em caráter extraordinário e desde que norma local assim disponha.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, em julgamento conjunto, julgou parcialmente
procedentes as ações para (a) declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do caput e dos §§
6º-A e 10-C do art. 17, assim como do caput e dos §§ 5º e 7º do art. 17-B, ambos da Lei 8.429/1992, na redação
dada pela Lei 14.230/2021, de modo a restabelecer a existência de legitimidade ativa concorrente e disjuntiva
entre o Ministério Público e as pessoas jurídicas interessadas para a propositura da ação por ato de improbidade
administrativa e para a celebração de acordos de não persecução civil; (b) declarar a inconstitucionalidade
parcial, com redução de texto, do § 20 do art. 17 da Lei 8.429/1992, incluído pela Lei 14.230/2021, no sentido de
que não existe “obrigatoriedade de defesa judicial”; havendo, porém, a possibilidade dos órgãos da Advocacia
Pública autorizarem a realização dessa representação judicial, por parte da assessoria jurídica que emitiu o
parecer atestando a legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo administrador público, nos termos
autorizados por lei específica; e (c) declarar a inconstitucionalidade do art. 3º da Lei 14.230/2021. Por via de
consequência, o Tribunal também declarou a constitucionalidade (a) do § 14 do art. 17 da Lei 8.429/1992,
incluído pela Lei 14.230/2021; e (b) do art. 4º, X, da Lei 14.230/2021. Vencidos, parcialmente, os ministros
Nunes Marques, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, nos termos de seus votos.

ADI 7042/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 31.8.2022


ADI 7043/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 31.8.2022

393
CF/1988: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na
forma da lei; (…) III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; (…) § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis
previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.”

394
Precedentes citados: ADI 3943; RE 208790 e RE 409356.

164

164
12.5 LEGITIMIDADE RECURSAL

Procuradorias municipais: legitimidade para interpor recurso em ação de controle de


constitucionalidade - ARE 873804 AgR-segundo-ED-EDv-AgR/RJ

ODS: 16

Resumo:

A procuradoria jurídica estadual ou municipal possui legitimidade para interpor recurso em face
de acórdão de tribunal de justiça proferido em representação de inconstitucionalidade.

Em que pese existirem alguns paradigmas em sentido contrário ao da decisão ora agravada, a decisão
embargada é no sentido da orientação fixada pelo Plenário desta Corte, de modo que não subsiste a alegada
divergência jurisprudencial395.

Nesse contexto, prevalece o entendimento de que a ausência de assinatura do chefe do Poder Executivo
na petição recursal não constitui óbice para a análise do recurso, sendo suficiente que a peça seja subscrita pelo
procurador, que também detém legitimidade recursal em ações de controle de constitucionalidade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental.

ARE 873804 AgR-segundo-ED-EDv-AgR/RJ, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgado em 13.10.2022


(INF 1072)

12.6 PROCESSOS COLETIVOS

Participação obrigatória de empregado em acordo celebrado no âmbito de ação civil


pública - RE 629647/RR (Tema 1004 RG)

ODS: 8 e 16

Tese fixada:

“Em ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho em face de empresa estatal,
com o propósito de invalidar a contratação irregular de pessoal, não é cabível o ingresso, no polo passivo
da causa, de todos os empregados atingidos, mas é indispensável sua representação pelo sindicato da
categoria.”

Resumo:

Os interesses dos empregados diretamente afetados por acordo firmado no âmbito de processos
coletivos devem ser defendidos pelo sindicato que representa a categoria, não havendo imprescindibilidade
da citação de cada empregado para formação de litisconsórcio passivo.
A pretensão de inclusão de todos os indivíduos eventualmente atingidos pelo acordo mostra-se
incompatível com a estrutura do processo coletivo, especialmente por comprometer a efetividade e a celeridade
processual.

395
Precedentes citados: RE 570392 e RE 839950.

165

165
Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, apreciando o Tema 1.004 da repercussão geral,
deu parcial provimento ao recurso extraordinário e julgou procedente o pedido da ação rescisória para, em Juízo
rescindente, desconstituir o acordo em apreço e, em juízo rescisório, determinar a reabertura da instrução
processual perante a vara do Trabalho de origem, com a devida integração do sindicato à lide.

RE 629647/RR, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 28.10.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1074)

13.DIREITO PROCESSUAL PENAL

13.1 COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Competência penal originária do STF e “mandatos cruzados” - Inq 4342 QO/PR

Resumo:

A competência penal originária do STF para processar e julgar parlamentares 396 alcança os
congressistas federais no exercício de mandato em casa parlamentar diversa daquela em que consumada a
hipotética conduta delitiva, desde que não haja solução de continuidade.

Uma vez presentes as balizas estabelecidas no julgamento da AP 937 QO 397, o foro por prerrogativa de
função alcança os casos denominados “mandatos cruzados” de parlamentar federal, quando não houver
interrupção ou término do mandato.

Dessa forma, quando o investigado ou acusado não tiver sido novamente eleito para os cargos de
deputado federal ou senador, a competência do STF deve ser declinada.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, resolveu questão de ordem para assentar a
manutenção da competência criminal originária do STF.

Inq 4342 QO/PR, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 1º.4.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1049)

Foro por prerrogativa de função: ampliação do rol de autoridades na esfera estadual - ADI
6511/RR

ODS: 16

Resumo:

É inconstitucional, por violação ao princípio da simetria, norma de Constituição Estadual que


confere foro por prerrogativa de função a autoridades que não guardam semelhança com as que o detém
na esfera federal.

A jurisprudência desta Corte se firmou em torno de uma compreensão restritiva acerca da matéria, de
modo que os estados-membros devem observância ao modelo adotado na CF/1988. Assim, não pode o ente
396
CF/1988: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I -
processar e julgar, originariamente: (...) b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os
membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;”

397
Precedente: AP 937 QO.

166

166
estadual, de forma discricionária, estender o foro por prerrogativa de função à cargos diversos daqueles
abarcados pelo legislador federal, sob pena de violação às regras de reprodução automática 398 399.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade material das expressões "Reitores de Universidades Públicas" e "Diretores Presidentes das
entidades da Administração Estadual Indireta", previstas no art. 77, X, a e b, da Constituição do Estado de
Roraima400. Além disso, por razões de segurança jurídica, o Tribunal modulou a decisão, a fim de conferir efeitos
ex nunc à declaração de inconstitucionalidade.

ADI 6511/RR, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022 (terça-feira), às
23:59 (INF 1067)

13.2 EXECUÇÃO PENAL

Execução penal: estudo a distância e remição da pena - RHC 203546/PR

ODS: 4 e 16

Resumo:

A ineficiência do Estado em fiscalizar as horas de estudo realizadas a distância pelo condenado


não pode obstaculizar o seu direito de remição da pena, sendo suficiente para comprová-las a certificação
fornecida pela entidade educacional.

Nesse contexto, constando do atestado emitido pelo Sistema de Informações Penitenciárias que o
sentenciado concluiu o aprendizado das disciplinas, a inércia estatal em acompanhar e fiscalizar o estudo a
distância não deve ser a ele imputada, sob pena de prejudicá-lo pelo descumprimento de uma obrigação que não
é sua401.

398
CF/1988: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios
desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. (...)
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência
dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de
Justiça.”

399
Precedentes citados: ADI 2587 MC; ADI 2553; ADI 6512; ADI 6513; ADI 3294; ADI 6502; ADI 6504 e ADI 6515.

400
Constituição do Estado de Roraima: “Art. 77. Compete ao Tribunal de Justiça do Estado: (Artigo com redação dada pela
Emenda Constitucional n° 16/2005). [...] X - processar e julgar originariamente; (Inciso com redação dada pela Emenda
Constitucional n° 26/2010) a) nos crimes comuns, o Vice-Governador do Estado, os Secretários de Estado e os agentes
públicos a eles equiparados, o Reitor da Universidade Estadual, os Juízes Estaduais, os membros do Ministério Público, os
membros do Ministério Público de Contas e os Prefeitos Municipais e os Vereadores, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral. b) nos crimes comuns, os Deputados Estaduais e os Diretores- Presidentes das entidades da Administração Estadual
Indireta; (Alínea com redação dada pela Emenda Constitucional n° 15/2003).”

401
LEP: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo,
parte do tempo de execução da pena. § 1º A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: I – 1 (um) dia de pena
a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou
superior, ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; (...) § 2º As atividades de estudo a
que se refere o § 1º deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e

167

167
Em respeito ao princípio da igualdade, notadamente em situações precárias, é necessário sobrevalorizar
a remição da pena, de modo que não se pode presumir que o condenado não tenha efetivamente se dedicado aos
estudos na cela.

Com base nesse entendimento, a Primeira Turma deu provimento ao recurso ordinário em habeas
corpus para conceder a ordem e declarar remido mais um dia da pena do recorrente, totalizando três dias: dois
dias referentes ao estudo presencial, já reconhecidos pelo juízo da execução, e um dia referente ao estudo a
distância.

RHC 203546/PR, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento em 28.6.2022 (INF 1061)

13.3 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Competência dos Tribunais para supervisionar investigações contra autoridades com foro
por prerrogativa de função - ADI 7083/AP

ODS: 16

Resumo:

É constitucional a norma de Regimento Interno de Tribunal de Justiça que condiciona a


instauração de inquérito à autorização do desembargador-relator nos feitos de competência originária
daquele órgão.

Na hipótese, não há ofensa ao sistema acusatório, pois a previsão regimental decorre da normativa
constitucional que determina o foro específico, sujeitando investigações contra determinadas autoridades a maior
controle judicial, pela importância das funções que exercem.

Quanto à necessidade de supervisão judicial dos atos investigatórios, tem-se, pela interpretação
sistemática da CF/88 e com fulcro na jurisprudência consolidada desta Corte, que o mesmo tratamento conferido
às autoridades com foro por prerrogativa de função no STF deve ser aplicado, por simetria, àquelas com foro em
outros tribunais, em observância ao princípio da isonomia, que garante o mesmo tratamento aos que estejam em
situação igual402.

Ademais, inexiste usurpação das funções institucionais conferidas constitucionalmente ao Ministério


Público, pois o órgão mantém a titularidade da ação penal e as prerrogativas investigatórias, devendo apenas
submeter suas atividades ao controle judicial.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu a apreciação do requerimento de
medida cautelar em julgamento de mérito e julgou improcedente a ação direta para declarar a constitucionalidade
do dispositivo impugnado403.

deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados.”

402
Precedentes: Inq 2411 QO; Pet 3825 QO; Inq 3438; AP 933 QO; AP 912 QO; e RE 1322854 AgR.

403
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Amapá: “Art. 48. Cada feito que ingresse no Tribunal terá um Relator escolhido
mediante distribuição aleatória, salvo já exista Relator prevento. (…) § 3º Caberá, ainda, ao Relator: (…) IX - autorizar a
instauração de inquérito a pedido do Procurador-Geral de Justiça, da autoridade policial ou do ofendido.”

168

168
ADI 7083/AP, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 13.5.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1054)

13.4 INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

Interceptação telefônica e prorrogações sucessivas - RE 625263/PR (Tema 661 RG)

Tese fixada:

“São lícitas as sucessivas renovações de interceptação telefônica, desde que, verificados os


requisitos do artigo 2º da Lei 9.296/1996 e demonstrada a necessidade da medida diante de elementos
concretos e a complexidade da investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente
motivadas, com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das investigações.

São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação com o
caso concreto.”

Resumo:

A interceptação telefônica pode ser renovada sucessivamente se a decisão judicial inicial e as


prorrogações forem fundamentadas, com justificativa legítima, mesmo que sucinta, a embasar a
continuidade das investigações.

Para tanto, devem estar presentes os requisitos do art. 2º da Lei 9.296/1996 404 e ser demonstrada a
necessidade concreta da interceptação, bem assim a complexidade da investigação. Em qualquer hipótese —
decisão inicial ou de prorrogação —, a motivação deve ter relação com o caso concreto. No tocante às
prorrogações, não precisa ser, necessariamente, exauriente e trazer aspectos novos.

Cumpre observar que a ausência de resultado incriminatório obtido com eventual interceptação de
comunicações telefônicas não impede a continuidade da diligência.

Quanto à duração total de medida de interceptação telefônica, atualmente não se reconhece a existência
de um limite máximo de prazo global a ser abstratamente imposto. Por oportuno, o prazo máximo de duração do
estado defesa (CF, art. 136, § 2º)405 não é fundamento para limitar a viabilidade de renovações sucessivas.

Com esses entendimentos, ao apreciar o Tema 661 da repercussão geral, o Plenário, por maioria, deu
provimento a recurso extraordinário, para declarar a validade, no caso concreto, das interceptações telefônicas
realizadas e de todas as provas delas decorrentes. Vencidos os ministros Gilmar Mendes (relator), Dias Toffoli,
Nunes Marques e Ricardo Lewandowski.

404
Lei 9.296/1996: “Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das
seguintes hipóteses: I – não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II – a prova puder ser
feita por outros meios disponíveis; III – o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de
detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive
com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.”

405
CF/1988: “Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou
a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções
na natureza. § 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem
abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: I – restrições aos
direitos de: (...) c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; (...) § 2º O tempo de duração do estado de defesa não será
superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua
decretação.”

169

169
RE 625263/PR, relator Ministro Gilmar Mendes, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento em 17.3.2022 (INF 1047)

13.5 INVESTIGAÇÃO PENAL

Autorização para o prosseguimento de investigações contra magistrados - ADI 5331/MG

Tese fixada:

“É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão colegiado do tribunal
autorizar o prosseguimento de investigações contra magistrados, por criar prerrogativa não prevista na
Lei Orgânica da Magistratura Nacional e não extensível a outras autoridades com foro por prerrogativa
de função.”

Resumo:

É inconstitucional norma estadual que impõe a necessidade de prévia autorização do órgão


colegiado do tribunal competente para prosseguir com investigações que objetivam apurar suposta prática
de crime cometido por magistrado.

Atualmente, a disciplina das matérias institucionais da magistratura nacional decorre da Lei


complementar 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN), segundo a qual não há qualquer
previsão dessa condicionante para a continuidade das investigações 406. Também não há se falar, na hipótese, em
aplicação da ratio decidendi da ADI 7083407.

Nesse contexto, a norma estadual impugnada, ao dispor de modo distinto à lei federal, promove
indevida inovação, afrontando o art. 93 da CF/1988. Ademais, ofende o princípio da isonomia, pois cria garantia
mais extensa aos juízes estaduais mineiros do que a prevista aos demais membros da magistratura nacional e
demais autoridades com foro por prerrogativa de função.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido para
declarar a inconstitucionalidade da expressão “na primeira sessão” do art. 90, § 1º, da Lei Complementar
59/2001 do Estado de Minas Gerais, e atribuir interpretação conforme a Constituição à expressão “órgão
competente do Tribunal de Justiça”, prevista no mesmo dispositivo, a fim de estabelecer que caberá ao relator
autorizar o prosseguimento das investigações408.

406
LOMAN: “Art. 33 - São prerrogativas do magistrado: (...) Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver
indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao
Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.”

407
Precedente: ADI 7083.

408
Lei Complementar 59/2001 do Estado de Minas Gerais: “Art. 90 São prerrogativas do magistrado: (...) § 1º Quando, no
curso de investigação, houver indício da prática de crime por magistrado, a autoridade policial remeterá os autos ao Tribunal
de Justiça, cabendo ao órgão competente do Tribunal de Justiça, na primeira sessão, autorizar ou não o prosseguimento das
investigações.”

170

170
ADI 5331/MG, relatora Ministra Rosa Weber, redator do acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento
virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1057)

13.6 LEI MARIA DA PENHA

Lei Maria da Penha e afastamento do agressor por delegados e policiais - ADI 6138/DF

Resumo:

É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a fim de afastar o


agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, quando constatado risco atual ou
iminente à vida ou à integridade da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus
dependentes, conforme o art. 12-C inserido na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) 409.

A inclusão dos dispositivos questionados na Lei Maria da Penha — art. 12-C, II, III e § 1º — é razoável,
proporcional e adequada. Ela permite a retirada imediata do algoz, sem ordem judicial prévia, mediante a
atuação de delegados de polícia, quando o município não for sede de comarca, e de policiais, quando o
município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. Em ambos os
casos, o juiz deverá ser comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá sobre a manutenção ou revogação
da medida protetiva de urgência. O afastamento ocorre de forma excepcional, supletiva e ad referendum do
magistrado. Esse importante mecanismo visa garantir a efetividade da retirada do agressor e inibir a violência no
âmbito das relações domésticas e familiares.

Ademais, a opção do legislador não contraria a cláusula da inviolabilidade de domicílio, tampouco


ofende o devido processo legal (CF, art. 5º, XI e LIV) 410. As mudanças estão em consonância com o texto
constitucional, que não exige ordem judicial prévia para o afastamento, bem como determina a criação de
mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações familiares (CF, art. 226, § 8º) 411.

Além disso, a legislação está de acordo com o sistema internacional de proteção aos direitos humanos
das mulheres e de combate à violência contra a mulher, que evoluiu no sentido de recomendar a criação de
mecanismos preventivos e repressivos eficazes e, dentre outras considerações, a outorga de prioridade à
segurança sobre os direitos de propriedade.

409
Lei 11.340/2006: “Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica
da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do
lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: I – pela autoridade judicial; II – pelo delegado de polícia, quando o
Município não for sede de comarca; ou III – pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver
delegado disponível no momento da denúncia. § 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será
comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da
medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente. § 2º Nos casos de risco à integridade física
da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.” (incluídos
pela Lei 13.827/2019)

410
CF/1988: “Art. 5º (...) XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
(...) LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;”

411
CF/1988: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 8º O Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações.”

171

171
Com esses entendimentos, o Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta e declarou
a constitucionalidade das normas impugnadas.

ADI 6138/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento em 23.3.2022 (INF 1048)

13.7 NULIDADES

Delatado e direito de falar por último - HC 166373/PR

ODS: 16

Tese fixada:
"Havendo pedido expresso da defesa no momento processual adequado (art. 403 do CPP e art. 11
da Lei 8.038/1990), os réus têm o direito de apresentar suas alegações finais após a manifestação das
defesas dos colaboradores, sob pena de nulidade."

Resumo:
O corréu delatado detém a prerrogativa de produzir suas alegações finais após a apresentação das
defesas dos corréus colaboradores, desde que o requeira expressamente e no momento adequado, ou seja,
quando da abertura dessa fase processual [CPP, art. 403 412; e Lei 8.038/1990, art. 11413].
No exercício pleno da ampla defesa, está contido o direito do corréu delatado falar por último, ou seja,
depois do delator ou do colaborador premiado.
O indeferimento de prazo sucessivo ao réu delatado que expressamente o requer, no momento devido,
equivale à supressão do seu direito de defesa e configura nulidade processual.
Contudo, são absolutamente válidos os processos nos quais a defesa não tiver oportunamente solicitado
a observância da mencionada sequência de apresentação das alegações finais.
Com base nesse entendimento, e considerando as peculiaridades, os debates e o contexto do caso
concreto, o Plenário, por unanimidade, fixou a referida tese para a matéria deliberada no habeas corpus, cuja
apreciação do mérito finalizou-se na sessão plenária realizada no dia 2.10.2019, oportunidade na qual o
julgamento foi suspenso unicamente para se fixar, em assentada posterior, uma tese jurídica (Informativo 954).

HC 166373/PR, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento finalizado em 30.11.2022

412
CPP: “Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por
20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir,
sentença. § 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual. § 2º Ao assistente do
Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo
de manifestação da defesa. § 3º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às
partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias
para proferir a sentença.”

413
Lei 8.038/1990: “Art. 11 – Realizadas as diligências, ou não sendo estas requeridas nem determinadas pelo relator, serão
intimadas a acusação e a defesa para, sucessivamente, apresentarem, no prazo de quinze dias, alegações escritas. § 1º - Será
comum o prazo do acusador e do assistente, bem como o dos corréus. § 2º - Na ação penal de iniciativa privada, o Ministério
Público terá vista, por igual prazo, após as alegações das partes. § 3º - O relator poderá, após as alegações escritas, determinar
de ofício a realização de provas reputadas imprescindíveis para o julgamento da causa.”

172

172
13.8 PROVAS

Procedimento para reconhecimento de pessoas - RHC 206846/SP

Resumo:

A desconformidade ao regime procedimental determinado no art. 226 do CPP deve acarretar a


nulidade do ato e sua desconsideração para fins decisórios, justificando-se eventual condenação somente
se houver elementos independentes para superar a presunção de inocência.

O reconhecimento de pessoas, presencial ou por fotografia, deve observar o procedimento previsto no


art. 226 do Código de Processo Penal (CPP) 414, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se
encontra na condição de suspeito da prática de um crime e para uma verificação dos fatos mais justa e precisa.

A inobservância do procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o


reconhecimento da pessoa suspeita, de modo que tal elemento não poderá fundamentar eventual condenação ou
decretação de prisão cautelar, mesmo se refeito e confirmado o reconhecimento em juízo. Se declarada a
irregularidade do ato, eventual condenação já proferida poderá ser mantida, se fundamentada em provas
independentes e não contaminadas415.

A realização do ato de reconhecimento pessoal carece de justificação em elementos que indiquem, ainda
que em juízo de verossimilhança, a autoria do fato investigado, de modo a se vedarem medidas investigativas
genéricas e arbitrárias, que potencializam erros na verificação dos fatos.

Com base nesses entendimentos, a Segunda Turma, por maioria, deu provimento a recurso ordinário em
habeas corpus.

RHC 206846/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento em 22.2.2022. (INF 1045)

13.9 PRISÃO PREVENTIVA

Prisão preventiva: prazo nonagesimal para a sua revisão e respectiva competência


jurisdicional - ADI 6581/DF e ADI 6582/DF

Resumo:

414
CPP: “Art. 226 - Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma: I -
a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; Il - a pessoa,
cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança,
convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para
o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser
reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas
presenciais. Parágrafo único. O disposto no III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de
julgamento.”

415
Precedentes: HC 75.331; HC 172.606; HC 157.007; RHC 176.025.

173

173
O transcurso do prazo previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo Penal
(CPP) não acarreta, automaticamente, a revogação da prisão preventiva e, consequentemente, a concessão
de liberdade provisória.

Isso porque não houve, por parte da lei, a previsão de automaticidade. O parágrafo único do art. 316 do
CPP416 não dispõe que a prisão preventiva passa a ter 90 dias de duração. Estabelece, tão somente, a necessidade
de uma reanálise, que pressupõe a reavaliação da subsistência, ou não, dos requisitos que fundamentaram o
decreto prisional417.

A exigência da revisão nonagesimal quanto à necessidade e adequação da prisão preventiva aplica-se


até o final dos processos de conhecimento.

O art. 316, parágrafo único, do CPP incide até o final dos processos de conhecimento, onde há o
encerramento da cognição plena pelo Tribunal de segundo grau, não se aplicando às prisões cautelares
decorrentes de sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado. O dispositivo legal
aplica-se, igualmente, aos processos em que houver previsão de prerrogativa de foro.

Com base nesse entendimento, o Plenário conheceu de ações diretas e, no mérito, por maioria, julgou-as
parcialmente procedentes.

ADI 6581/DF, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

ADI 6582/DF, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às 23:59 (INF 1046)

13.10 PRISÃO TEMPORÁRIA

Fixação de condições obrigatórias e cumulativas para a decretação da prisão temporária -


ADI 3360/DF e ADI 4109/DF

Resumo:

A decretação de prisão temporária somente é cabível quando (i) for imprescindível para as
investigações do inquérito policial; (ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado;
(iii) for justificada em fatos novos ou contemporâneos; (iv) for adequada à gravidade concreta do crime, às
circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado; e (v) não for suficiente a imposição de medidas
cautelares diversas.

A prisão temporária não pode ser utilizada como meio de prisão para averiguação ou em violação ao
direito à não autoincriminação, pois caracteriza abuso de autoridade, na medida em que representa instrumento
utilizado como forma manifesta de constrangimento, impondo, por vias transversas, a submissão da pessoa em
prestar depoimento na fase inquisitorial 418; ou quando fundada tão somente porque o representado não possui

416
CPP/1941: “Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da
investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão
revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de
tornar a prisão ilegal.”

417
Precedente: SL 1395 MC-Ref.

418
Precedentes: ADPF 395; e ADPF 444.

174

174
residência fixa, o que vai de encontro ao princípio constitucional da igualdade em sua dimensão material, já que
essa circunstância pode revelar-se como uma situação de vulnerabilidade econômico-social.

Além disso, o rol do inciso III do artigo 1º da Lei 7.960/1989 é taxativo e representa opção do Poder
Legislativo, que, dentro de sua competência constitucional precípua, conferiu especial atenção a determinados
crimes, de modo compatível com a Constituição Federal de 1988 (CF/1988).

Por fim, não é incompatível com o texto constitucional: (i) a expressão “será” (art. 2º, caput, da Lei
7.960/1989)419, já que a decretação da prisão temporária não se revela como medida compulsória, devendo ser
obrigatoriamente fundamentada (§ 2º do art. 2º da Lei 7.960/1989 e art. 93, IX, da CF/1988) (3) 420; e (ii) o prazo
de 24 horas previsto no art. 2º, § 2º, da Lei 7.960/1989, porque, além de impróprio, justifica-se pela urgência na
análise do pedido pelo magistrado visando à eficiência das investigações.

Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto, por maioria, conheceu da ADI
3360/DF e em parte da ADI 4109/DF e, no mérito, julgou parcialmente procedentes os pedidos para dar
interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 1º da Lei 7.960/1989 421.

ADI 3360/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, redator para o acórdão Ministro Edson Fachin,
julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59. (INF 1043)

ADI 4109/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, redator para o acórdão Ministro Edson Fachin,
julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59. (INF 1043)

13.11 TERMO CIRCUNSTANCIADO

Competência para a lavratura de termo circunstanciado - ADI 5637/MG

419
Lei 7.960/1989: “Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade policial ou de
requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade. (...) § 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser fundamentado e prolatado dentro
do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do requerimento.”

420
CF/1988: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios: (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação;”

421
Lei nº 7.960/89: “Art. 1° Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; II -
quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III -
quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148,
caput, e seus §§ 1° e 2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); e)
extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art.
223, caput, e parágrafo único); g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e
parágrafo único); h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); i) epidemia com
resultado de morte (art. 267, § 1°); j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela
morte (art. 270, caput, combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts.
1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de suas formas típicas; n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei
n° 6.368, de 21 de outubro de 1976); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986); p) crimes
previstos na Lei de Terrorismo.”

175

175
Resumo:

É constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura de termos


circunstanciados pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiro Militar.

O termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a ocorrência de crimes de menor
potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura atividade investigativa e, por via de consequência, não se
revela como função privativa de polícia judiciária422.

A CF conferiu aos estados e ao Distrito Federal, a partir da competência concorrente, a competência


para editar normas legislativas que garantam maior eficiência e eficácia na aplicação da Lei 9.099/1995 423. Esta
norma federal viabiliza a lavratura do termo por qualquer autoridade legalmente reconhecida424 e não há
impeditivo para que os estados-membros indiquem quais são elas ou, de qualquer modo, disciplinem essa
atribuição.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu de ação direta e, no mérito,
julgou-a improcedente para declarar a constitucionalidade do art. 191 da Lei 22.257/2016 do Estado de Minas
Gerais425.

ADI 5637/MG, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 11.3.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1046)

422
Precedente: ADI 3807.

423
CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) X - criação,
funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; (...).”

424
Lei 9.099/1995: “Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o
encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao
juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a vítima.”

425
Lei estadual mineira 22.257/2016: “Art. 191 - O termo circunstanciado de ocorrência, de que trata a Lei Federal nº 9.099, de
26 de setembro de 1995, poderá ser lavrado por todos os integrantes dos órgãos a que se referem os incisos IV e V do caput
do art. 144 da Constituição da República.”

176

176
14.DIREITO TRIBUTÁRIO

14.1 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Artigo 149, § 2º, III, “a”, da CF: rol exemplificativo - RE 1317786/PE (Tema 1193 RG)

Tese fixada:

“A contribuição prevista no artigo 1º da Lei Complementar 110/2001 foi recepcionada pela


Emenda Constitucional 33/2001.”

Resumo:

A base de cálculo da contribuição prevista pelo artigo 1º da Lei Complementar 110/2001 426 é
compatível com o texto constitucional, mesmo após o advento da Emenda Constitucional 33/2001.

A Corte, no julgamento do RE 878.313 (Tema 846 da repercussão geral), assentou a constitucionalidade


da contribuição social prevista no artigo 1º da Lei Complementar 110/2001, afastando qualquer possibilidade de
discussão acerca do exaurimento da finalidade para a qual ela foi instituída.

Ademais, o acréscimo realizado pela EC 33/2001 ao art. 149, § 2º, III, da CF/88 427 não estabeleceu um
rol exaustivo das bases econômicas passíveis de tributação por contribuições sociais e de intervenção no domínio
econômico. Portanto, a base de cálculo da contribuição do artigo 1º da Lei Complementar 110/2001, que é o
saldo da conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, é compatível com o texto constitucional. Por
via de consequência, impõe-se a manutenção da exigibilidade de seu recolhimento pelo contribuinte.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1193 RG). No mérito, por maioria, reafirmou a jurisprudência
dominante sobre a matéria428 para prover o recurso extraordinário.

RE 1317786/PE, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 4.2.2022 (INF
1042)

PIS e COFINS: parcela não dedutível da base de cálculo - RE 1049811/SE (Tema 1024 RG)

426
LC 110/2001: “Art. 1º Fica instituída contribuição social devida pelos empregadores em caso de despedida de empregado
sem justa causa, à alíquota de dez por cento sobre o montante de todos os depósitos devidos, referentes ao Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço – FGTS, durante a vigência do contrato de trabalho, acrescido das remunerações aplicáveis às contas
vinculadas. Parágrafo único. Ficam isentos da contribuição social instituída neste artigo os empregadores domésticos”.

427
CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico
e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado
o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que
alude o dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste
artigo: (...)III - poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e,
no caso de importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada”

428
Precedentes: ADI 2.556; ADI 2.568; RE 878.313; RE 603.624; RE 630.898; ARE 1.311.473 AgR; RE 1.250.692
segundo AgR; ARE 1.349.153; ARE 1.310.658; ARE 1.340.940; ARE 1.309.537; RE 1.000.402 ED; ARE
1.353.467; ARE 1.147.146; e ARE 1.185.369.

177

177
Tese fixada:

“É constitucional a inclusão dos valores retidos pelas administradoras de cartões na base de


cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS devidas por empresa que recebe pagamentos por meio de
cartões de crédito e débito.”

Resumo:

O valor total recebido por empresa, mediante venda por meio de cartão de crédito ou débito,
ainda que uma parte desse montante seja repassado à administradora do cartão, se insere na base de
cálculo das contribuições para o PIS e para a COFINS.

As taxas retidas pelas administradoras de cartões de crédito e débito constituem custos operacionais do
contribuinte, repassados aos clientes no momento da venda ou da prestação dos serviços, integrando, dessa
forma, o conceito de faturamento. Nesses termos, eventual interpretação que retire os custos operacionais do
conceito legal de faturamento acaba por esvaziar a base de cálculo da incidência fiscal.

Ademais, não existindo em nosso ordenamento jurídico previsão que autorize a hipótese de não
incidência pretendida pelo recorrente, descabe ao Poder Judiciário desempenhar a função de legislador positivo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 1024 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 1049811/SE, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-feira), às 23:59 (INF 1047)

Majoração da base de cálculo de contribuição social por ato infralegal - RE 1381261/RS


(Tema 1223 RG)

Tese fixada:

“São inconstitucionais o Decreto nº 3.048/99 e a Portaria MPAS nº 1.135/01 no que alteraram a


base de cálculo da contribuição previdenciária incidente sobre a remuneração paga ou creditada a
transportadores autônomos, devendo o reconhecimento da inconstitucionalidade observar os princípios da
congruência e da devolutividade.”

Resumo:

É inconstitucional, por afronta ao princípio da legalidade estrita, a majoração da base de cálculo


de contribuição social por meio de ato infralegal.

No caso, o Decreto 3.048/1999 e a Portaria 1.135/2001 do Ministério da Previdência e Assistência


Social (MPAS) alteraram a base de cálculo do tributo de que dispõem ao estipular que, no lugar da remuneração
efetivamente paga aos transportadores autônomos — conforme critério estabelecido pela Lei 8.212/1991 —, se
considerasse o resultado de um percentual (11,71% ou 20%) incidente sobre o valor bruto do frete, carreto ou
transporte de passageiros.

Com isso, a alíquota da contribuição previdenciária passou a não mais incidir sobre a remuneração
efetivamente paga, e sim sobre um novo montante, cujo valor previsto abrange, além da remuneração do
transportador autônomo, outras parcelas, como combustível, seguros e desgaste do equipamento.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência da repercussão
geral da questão constitucional suscitada (Tema 1223 RG) e, no mérito, também por unanimidade, reafirmou a
jurisprudência dominante sobre a matéria 429 para dar provimento ao recurso extraordinário, assentando a
inconstitucionalidade do Decreto 3.048/1999 e da Portaria MPAS 1.135/2001.

429
Precedentes RMS 25476; RE 762028 AgR; e RE 894605 AgR-ED-AgR

178

178
RE 1381261/RS, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento finalizado no Plenário Virtual em 5.8.2022
(INF 1062)

Regime não cumulativo da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins - RE 841979/PE (Tema


756 RG)

ODS: 16

Teses fixadas:

“I. O legislador ordinário possui autonomia para disciplinar a não cumulatividade a que se refere
o art. 195, § 12, da CF/1988, respeitados os demais preceitos constitucionais, como a matriz constitucional
das contribuições ao PIS e Cofins e os princípios da razoabilidade, da isonomia, da livre concorrência e da
proteção à confiança; II. É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão
geral, a discussão sobre a expressão ‘insumo’ presente no art. 3º, II, das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 e
sobre a compatibilidade, com essas leis, das IN/SRF 247/2002 (considerada a atualização pela IN/SRF
358/2003) e 404/2004; III. É constitucional o § 3º do art. 31 da Lei 10.865/2004.”

Resumo:

O § 12 do art. 195 da CF/1988 430 autoriza a coexistência dos regimes cumulativo e não cumulativos
da contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor
Público (PIS/Pasep) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), contudo, ao
exercer essa opção e ao disciplinar o regime não cumulativo, o legislador deve ser coerente e racional,
observando o princípio da isonomia, a fim de não gerar desequilíbrios concorrenciais e discriminações
arbitrárias ou injustificadas431.

Nesse contexto, são válidas as disposições previstas nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 que: (i)
estabeleceram como se deve aproveitar o crédito decorrente, dentre outros itens, de ativos produtivos, de
edificações e de benfeitorias (art. 3º, § 1º, III); e (ii) impossibilitaram o aproveitamento de créditos quanto ao
valor de mão de obra paga a pessoa física e ao da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da
contribuição ao PIS/Pasep ou da Cofins, inclusive no caso de isenção, esse último quando revendidos ou
utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota zero, isentos ou não alcançados pela
contribuição (art. 3º, § 2º, I e II).

Por outro lado, não se depreende diretamente do texto constitucional o que se deve entender pelo
vocábulo “insumo” para fins da não cumulatividade da contribuição ao PIS e da Cofins, cabendo à legislação
infraconstitucional dispor sobre o assunto.

A revogação total da possibilidade de crédito, sem a limitação temporal específica estabelecida no


caput do art. 31 da Lei 10.865/2004, não ofende a irretroatividade tributária ou a proteção da confiança. Já a
proibição contida no § 3º desse dispositivo legal vale para todos os contribuintes inseridos no regime não

430
CF/1988: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (...) b)
a receita ou o faturamento; (...) § 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições
incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas.”

431
Precedentes citados: RE 607642 (Tema 337 RG); RE 570122 (Tema 34 RG); RE 587108 (Tema 179 RG); RE 1178310
(Tema 1047 RG); RE 1043313 (Tema 939 RG); RE 599316 (Tema 244 RG) e RE 607109 (Tema 304 RG).

179

179
cumulativo das contribuições, respeitou a anterioridade nonagesimal e está dentro do poder de conformação do
legislador432 433.

Ademais, quando do início da produção dos efeitos desse dispositivo, os contribuintes só possuíam
direito adquirido a crédito da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins em relação ao valor dos aluguéis ou das
contraprestações de arrendamento mercantil concernentes aos meses decorridos até a véspera daquela data. De
qualquer forma, inexiste direito adquirido a regime jurídico, inclusive em sede de matéria tributária.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 756 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 841979/PE, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 25.11.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1077)

Salário-educação: critério para a distribuição da arrecadação - ADPF 188/DF

ODS: 4, 10 e 16

Tese fixada:

“À luz da EC 53/2006, é incompatível com a ordem constitucional vigente a adoção, para fins de
repartição das quotas estaduais e municipais referentes ao salário-educação, do critério legal de unidade
federada em que realizada a arrecadação desse tributo, devendo-se observar unicamente o parâmetro
quantitativo de alunos matriculados no sistema de educação básica.”

Resumo:

A partir da EC 53/2006, que incluiu o § 6º ao art. 212 da CF/1988 434, as cotas do salário-educação
destinadas aos estados e municípios têm o número de alunos matriculados nas redes públicas de ensino
como único critério de distribuição da arrecadação.

A regra prevista no § 1º do art. 15 da Lei 9.424/1996 435, com a redação dada pela Lei 10.832/2003, se
tornou incompatível com a CF/1988 após o advento da referida emenda. Isso porque a literalidade do texto
constitucional evidencia exatamente que as cotas destinadas aos estados e municípios (2/3 do montante
arrecadado) devem ser distribuídas nacionalmente de acordo com o número de alunos matriculados nas redes de
ensino, já que não há qualquer referência à lei e tampouco à proporcionalidade quanto ao valor arrecadado em
cada estado.

Nesse contexto, critério de distribuição com base na proporcionalidade do local de arrecadação não
atende ao objetivo da República de reduzir as desigualdades regionais, pois contribui para aumentar a

432
Lei 10.865/2004: “Art. 31. É vedado, a partir do último dia do terceiro mês subseqüente ao da publicação desta Lei, o
desconto de créditos apurados na forma do inciso III do § 1º do art. 3º das Leis 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833,
de 29 de dezembro de 2003, relativos à depreciação ou amortização de bens e direitos de ativos imobilizados adquiridos até
30 de abril de 2004. (...) § 3º É também vedado, a partir da data a que se refere o caput, o crédito relativo a aluguel e
contraprestação de arrendamento mercantil de bens que já tenham integrado o patrimônio da pessoa jurídica.”

433
Precedentes citados: ADI 3184; RE 354870 AgR; RE 634573 AgR e RE 1043313 (Tema 939 RG).

434
CF/1988: “Art. 212 (...) § 6º as cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão
distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de
ensino.”

180

180
discrepância entre os valores dispensados com o financiamento de cada aluno no Brasil. Por outro lado, a
repartição igualitária da arrecadação da contribuição social em referência é uma forma de concretização do
princípio federativo, com ênfase na cooperação fiscal entre os diversos centros de governo para a progressiva
realização da igualdade das condições sociais de vida em todo o território nacional.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para dar interpretação
conforme ao conjunto normativo compreendido pelo art. 15, § 1º, da Lei federal 9.424/1996, e pelo art. 2º da Lei
federal 9.766/1998, ambas alteradas pela Lei 10.832/2003, de modo a determinar que as cotas estaduais e
municipais cabíveis, a título de salário-educação, sejam integralmente distribuídas, observando-se tão somente a
proporcionalidade do número de alunos matriculados de forma linear. Por fim, o Tribunal, por unanimidade,
modulou os efeitos da decisão, para que produza efeitos somente a partir de 1º.1.2024.

ADPF 188/DF, relator Ministro Edson Fachin, julgamento em 15.6.2022 (INF 1059)

14.2 FATO GERADOR

Constitucionalidade da chamada “norma geral antielisão” - ADI 2446/DF

Resumo:

Não viola o texto constitucional a previsão contida no parágrafo único do art. 116 do Código
Tributário Nacional436.

Essa previsão legal não constitui ofensa aos princípios constitucionais da legalidade, da estrita
legalidade e da tipicidade tributária, e da separação dos Poderes.

Em verdade, ela confere máxima efetividade a esses preceitos, objetivando, primordialmente, combater
a evasão fiscal, sem que isso represente permissão para a autoridade fiscal de cobrar tributo por analogia ou fora
das hipóteses descritas em lei, mediante interpretação econômica. Nesse contexto, apenas viabiliza que a
autoridade tributária aplique base de cálculo e alíquota a uma hipótese de incidência estabelecida em lei e que
tenha efetivamente se realizado.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação direta.

ADI 2446/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 8.4.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1050)

435
Lei 9.424/1996: “Art 15. O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5º, da Constituição Federal e devido pelas empresas, na
forma em que vier a ser disposto em regulamento, é calculado com base na alíquota de 2,5% (dois e meio por cento) sobre o
total de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados empregados, assim definidos no art. 12, inciso I,
da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. § 1 o O montante da arrecadação do Salário-Educação, após a dedução de 1% (um por
cento) em favor do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, calculado sobre o valor por ele arrecadado, será distribuído
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, observada, em 90% (noventa por cento) de seu valor, a
arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito Federal, em quotas, da seguinte forma:”

436
CTN: “Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus efeitos: (...)
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de
dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária,
observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (Incluído pela LC 104/2001)”

181

181
14.3 ICMS

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação superiores às das operações em geral - ADI 7117/SC e ADI 7123/DF

ODS: 8 e 9

Resumo:

É inconstitucional norma distrital ou estadual que, mesmo adotando a técnica da seletividade,


prevê alíquota de ICMS sobre energia elétrica e serviços de comunicação — os quais consistem sempre em
itens essenciais — mais elevada do que a incidente sobre as operações em geral.

Na linha da jurisprudência desta Corte, a Constituição Federal não obriga os entes competentes a
adotarem a seletividade no ICMS. Entretanto, se houver essa adoção, caberá ao legislador realizar uma
ponderação criteriosa das características intrínsecas do bem ou serviço em razão de sua essencialidade com
outros elementos, como a capacidade econômica do consumidor final, a destinação do bem ou serviço, e a justiça
fiscal, tendente à menor regressividade desse tributo indireto. Assim, o ente federado que efetivamente adotar a
seletividade para disciplinar o referido imposto deverá conferir efetividade a esse preceito em sua eficácia
positiva, sem deixar de observar a sua eficácia negativa437.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedentes as ações para declarar a
inconstitucionalidade (i) das alíneas a e c do inciso II do art. 19 da Lei 10.297/1996 do Estado de Santa Catarina;
e (ii) do item 13 da alínea a do inciso II do art. 18 da Lei 1.254/1996 do Distrito Federal, bem como da alínea b e
da expressão “para serviço de comunicação” constante da alínea f do mesmo inciso. Ademais, em ambas as
ações, modulou os efeitos da decisão, a fim de estipular que produza efeitos a partir do exercício financeiro de
2024, ressalvando-se as ações ajuizadas até 5.2.2021438.

ADI 7117/SC, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1060)

ADI 7123/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1060)

ICMS: fixação de alíquotas sobre operações com energia elétrica e serviços de


comunicação em percentuais superiores aos da alíquota geral do tributo - ADI 7111/PA, ADI
7113/TO, ADI 7116/MG, ADI 7119/RO e ADI 7122/GO

ODS: 8 e 9

Resumo:

São inconstitucionais normas estaduais que fixam a alíquota do ICMS para operações de
fornecimento de energia elétrica e serviços de comunicação em patamar superior à cobrada sobre as
operações em geral.

O legislador estadual fica limitado, para a fixação de alíquotas do ICMS, pelas balizas que norteiam o
sistema constitucional tributário. Assim, diante do que impõem a seletividade tributária e seu critério da

437
Precedente: RE 714139 (Tema 745 RG).

438
Precedentes: RE 851108 (Tema 825 RG); ADI 6819; ADI 6821: ADI 6824; ADI 6825; ADI 6826; ADI 6834; ADI 6835; ADI
6836; e ADI 6839.

182

182
essencialidade, deve ser garantida, nos casos, a aplicação do princípio da seletividade, o qual determina a
incidência de alíquotas mais baixas sobre os produtos e serviços considerados essenciais e indispensáveis à
subsistência digna dos cidadãos, visando à justiça fiscal.

Esse foi o entendimento consolidado pelo Tribunal no julgamento do RE 714139/SC (Tema 745 da
sistemática da repercussão geral), reafirmado recentemente no julgamento das ADIs 7117/SC e 7123/DF,
oportunidade na qual normas de conteúdo idêntico aos ora impugnados foram declaradas inconstitucionais 439.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, em julgamento conjunto, julgou
procedentes as ações para declarar a inconstitucionalidade (i) do art. 12, I, b, e III, a, da Lei 5.530/1989 do
Estado do Pará; (ii) do art. 27, I, a, e VI, da Lei 1.287/2001 do Estado do Tocantins; (iii) do art. 12, g.2 e j, da
Lei 6.763/1975 do Estado de Minas Gerais; (iv) do art. 27, I, e e f, itens 2 e 5, da Lei 688/1996 do Estado de
Rondônia; e (v) do art. 27, III, a, e XI, a e b, item 1, da Lei 11.651/1991 do Estado de Goiás.

Ademais, nas cinco ações, modulou os efeitos da decisão para estipular que a declaração de
inconstitucionalidade produza efeitos a partir do exercício financeiro de 2024.

ADI 7111/PA, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

ADI 7113/TO, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

ADI 7116/MG, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

ADI 7119/RO, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

ADI 7122/GO, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 26.8.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1065)

Operacionalização da substituição tributária do ICMS por meio de lei ordinária estadual -


ADI 5702/RS

Resumo:

A instituição de hipótese de substituição tributária do ICMS, imputando-se a estabelecimento


atacadista o dever de recolhimento do tributo em relação às operações subsequentes, pode ser feita por
meio de lei ordinária estadual, devidamente regulamentada por decreto.

Exige-se, por parte de cada um dos entes competentes para instituir o ICMS, lei própria no sentido de
operacionalizar o que previsto em norma geral da legislação tributária. Nesse contexto, a expressão “lei”,
presente no art. 150, § 7º, da CF/1988440, diz respeito à espécie legislativa “lei ordinária” (CF/1988, art. 59, III),
motivo pelo qual a imputação da referida responsabilidade tributária não demanda “lei complementar” (CF/1988,
art. 59, II).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, conheceu em parte da ação e, nesta
extensão, a julgou improcedente.

439
Precedentes citados: RE 714139 (Tema 745 RG); ADI 7117; e ADI 7123

440
CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável
pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e
preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.”

183

183
ADI 5702/RS, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 21.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1073)

Redução de alíquota do ICMS para cerveja à base de mandioca - ADI 6152/MA

Resumo:

A redução de alíquota do ICMS requer a comprovação do impacto financeiro e orçamentário,


além da celebração de convênio entre os estados e o Distrito Federal e a demonstração da essencialidade
dos bens e serviços.

Com efeito, a lei estadual impugnada é formalmente inconstitucional porque promoveu a redução da
alíquota de ICMS sem que a proposição fosse instruída com a devida estimativa do seu impacto orçamentário e
financeiro (ADCT, art. 113)441.

A concessão de incentivo fiscal — tal qual a redução de alíquota — é ato complexo que demanda
necessariamente a integração de vontades via celebração de convênio entre os diferentes entes federativos, dado
o seu caráter nacional, conforme disciplinado nas Leis Complementares 24/1975 e 160/2017442.

Ademais, na hipótese, o estabelecimento de renúncia fiscal em razão da matéria-prima não observa


qualquer critério de discrímen, acarretando desigualdade inconstitucional (CF/1988, art. 150, II) e desequilíbrio
concorrencial (CF/1988, art. 170, II).

Também não houve atendimento ao critério da essencialidade do bem, que norteia o princípio da
seletividade tributária, segundo o qual se busca uma justa repartição do ônus tributário entre os indivíduos, de
acordo com sua capacidade econômica443.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade formal e material dos artigos 1º e 2º da Lei 11.011/2019 do Estado do Maranhão 444.

ADI 6152/MA, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1070)

441
Precedentes citados: ADI 6102; ADI 6074 e ADI 5816.

442
CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda
que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) XII
- cabe à lei complementar: (...) g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções,
incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.”

443
Precedente citado: RE 714139.

444
Lei 11.011/2019 do Estado do Maranhão: “Art. 1º Fica acrescida a alínea ‘m’ ao inciso II do art. 23 da Lei nº 7.799, de 19 de
dezembro de 2002, que terá a seguinte redação: ‘Art. 23 (...) (...) II - (...) (...) m) nas operações com cervejas que contenham,
no mínimo, 15% (quinze por cento) de fécula de mandioca em sua composição, e desde que comercializadas em embalagem
retornável.’ Art. 2º Fica acrescido o parágrafo único ao art. 23 da Lei nº 7.799, de 19 de dezembro de 2002, que terá a
seguinte redação: ‘Art. 23 (...) (...) Parágrafo único. O Poder Executivo regulamentará os critérios de comprovação do
percentual existente de fécula de mandioca na composição das cervejas referidas na alínea ‘m’ do inciso II deste artigo.’. Art.
3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir de 1º de março de 2019.”

184

184
Remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais julgados inconstitucionais -
RE 851421/DF (Tema 817 RG)

Tese fixada:

“É constitucional a lei estadual ou distrital que, com amparo em convênio do CONFAZ, conceda
remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais anteriormente julgados inconstitucionais.”

Resumo:

É cabível a concessão de remissão, com amparo em convênios CONFAZ, de créditos de ICMS


oriundos de benefícios fiscais declarados inconstitucionais.

No caso, a Lei distrital 4.732/2011 não “ressuscitou” benefícios fiscais unilaterais declarados
inconstitucionais, mas apenas remitiu, com amparo em convênios, os créditos de ICMS decorrentes,
configurando-se, assim, novo benefício fiscal.

Ademais, a lei distrital reuniu os requisitos formais e materiais para resguardar a segurança jurídica em
favor dos contribuintes. Isso porque, com base no art. 155, § 2º, XII, g, da Constituição Federal e na Lei
Complementar 24/1975, remitiu os créditos que seriam cobrados inclusive dos contribuintes que usufruíram de
benefícios fiscais condicionais ou onerosos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o tema 817 da repercussão
geral, negou provimento ao recurso extraordinário e reconheceu a constitucionalidade da Lei distrital
4.732/2011, com a redação dada pela Lei distrital 4.969/2012.

RE 851421/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.12.2021 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1042)

14.4 IPVA

IPVA: contagem de prazos para atendimento dos princípios da anterioridade anual e


nonagesimal - ADI 5282/PR

Tese fixada:

“I - No caso de um tributo sujeito duplamente à anterioridade de exercício e à noventena, a lei que


institui ou majora a imposição somente será eficaz, de um lado, no exercício financeiro seguinte ao de sua
publicação e, de outro, após decorridos noventa dias da data de sua divulgação em meio oficial. Logo, a
contar da publicação da lei, os prazos transcorrem simultaneamente, e não sucessivamente. II - Não há
desvio de finalidade no caso de lei ordinária alterar o aspecto temporal do IPVA para viabilizar, a um só
tempo, o respeito à garantia da anterioridade, inclusive nonagesimal, e viabilizar a tributação dos veículos
automotores pela alíquota majorada no exercício financeiro seguinte ao da publicação desse diploma legal.
Afinal, a finalidade da legislação é lícita e explícita. III - O princípio da igualdade tributária não resta
ofendido na hipótese de um veículo automotor novo submeter-se a alíquota distinta de IPVA em
comparação a outro automóvel adquirido em anos anteriores no lapso referente aos 90 (noventa) dias da
noventena, em certo exercício financeiro. Sendo assim, pela própria sistemática de tributação do IPVA
posta na legislação infraconstitucional, não se cuida de tratamento desigual entre contribuintes que se
encontrem em situação equivalente.”

Resumo:

É simultânea a contagem dos prazos das garantias fundamentais a que se referem os princípios da
anterioridade anual e nonagesimal tributárias, a partir da data da publicação da lei que institui ou majora
o tributo.

185

185
Com efeito, ambas as anterioridades se caracterizam como uma única norma-regra, de modo que a
respectiva incidência se opera sempre por completo: tudo ou nada. Esta Corte possui precedente no sentido da
contagem simultânea, e não sucessiva, dos prazos445 446.

Ademais, não fere o princípio da igualdade tributária a diferenciação do momento da incidência do


Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) quando a finalidade é alcançar objetivos
constitucionais, como, por exemplo, estimular a compra de veículos novos em prol do desenvolvimento e da
industrialização no País ou o mercado interno como patrimônio nacional 447 448. Também devem ser consideradas
nessa análise as peculiaridades da sistemática normativa local quanto ao tratamento do tributo específico.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação, assentando a
constitucionalidade do art. 5º, § 1º, e do art. 6º, ambos da Lei 18.371/2014 do Estado do Paraná449.

ADI 5282/PR, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 17.10.2022
(segunda-feira), às 23:59 (INF 1072)

IPVA: isenção fiscal e tratamento não isonômico - ADI 5268/MG

Resumo:

É inconstitucional condicionar o benefício de isenção fiscal do IPVA quanto à propriedade de


veículos utilizados para o serviço de transporte escolar com a filiação de seus motoristas profissionais
autônomos a sindicato ou cooperativa.

445
CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente,
proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da
denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos
antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que
os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;”

446
Precedente citado: ADI 3694.

447
CF/1988: “Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o
desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei
federal. Parágrafo único. O Estado estimulará a formação e o fortalecimento da inovação nas empresas, bem como nos
demais entes, públicos ou privados, a constituição e a manutenção de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes
promotores da inovação, a atuação dos inventores independentes e a criação, absorção, difusão e transferência de tecnologia.”

448
Precedente citado: ADI 1643.

449
Lei 18.371/2014 do Estado do Paraná: “Art. 5.º O fato gerador do imposto de que trata a Lei nº 14.260, de 2003, referente ao
exercício de 2015, em relação aos veículos automotores adquiridos em anos anteriores, ocorrerá no dia 1º de abril de 2015. §
1º O IPVA de que trata o caput deste artigo terá seu vencimento em 1º de abril de 2015. § 2º O disposto no caput deste artigo
não se aplica nas transferências de veículos automotores usados para outras unidades federadas, adquiridos em exercício
anterior ao de 2015, hipótese em que considerar-se-á ocorrido o fato gerador na data da transferência. Art. 6º Esta Lei entra
em vigor na data da sua publicação, produzindo efeitos a partir do 1º dia do quarto mês subsequente ao da publicação em
relação ao art. 1º, ao inciso I do art. 4º e ao art. 7º.”

186

186
Não há justificativa razoável para se conferir tratamentos distintos a motoristas que prestam os mesmos
serviços de transporte escolar pelo simples fato de possuírem ou não vínculo com as referidas entidades
associativas. Esse critério de discrímen não guarda qualquer conexão com os objetivos da política pública
envolvida na isenção, além de contrariar os interesses constitucionais nela envolvidos, quais sejam, baratear e
melhorar o transporte escolar e impulsionar o acesso à educação.

Além disso, a condição imposta pela norma impugnada, de forma indireta, constrange o proprietário de
veículo a se filiar às entidades associativas a fim de usufruir da benesse fiscal, e compele os já filiados a
permanecerem nessa posição, em evidente afronta aos princípios da isonomia, da liberdade sindical e da
liberdade de associação450.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nesta extensão, a
julgou procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão “prestado por cooperativa ou sindicato ou
contratado pela Prefeitura Municipal, individualmente ou por meio de cooperativa ou sindicato” constante do art.
3º, XVII, da Lei 14.937/2003 do Estado de Minas Gerais, na redação conferida pela Lei 18.726/2010, sem,
contudo, invalidar a norma que prevê a isenção de IPVA referida no dispositivo na hipótese de contratação do
serviço de transporte escolar pela prefeitura451.

ADI 5268/MG, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 5.8.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1062)

IPVA: isenção para veículos adquiridos mediante arrendamento mercantil e utilizados por
taxistas - ADI 2298/RS

Resumo:

Não afronta o fato gerador do IPVA (propriedade do veículo pela instituição arrendante) e nem
altera o sujeito passivo da obrigação tributária a isenção relativa aos veículos adquiridos por meio de
arrendamento mercantil (“leasing”) e usados no transporte individual de passageiros, na categoria
aluguel, prestado por permissionários (taxistas).

A Constituição Federal admite a adoção de alíquotas diferenciadas em função do tipo e do uso do


veículo, com fins de promover a igualdade fiscal452.

Nesse contexto, a concessão de isenção, em virtude de o automóvel ser objeto de contrato de


arrendamento mercantil convencionado em benefício de taxista, consiste em diferenciação com base na utilidade
dada ao veículo.

Assim, esses profissionais são beneficiados, de forma indireta, pela isenção aplicada em favor da
entidade arrendante, pois passam a usufruir da diminuição dos custos da operação financeira.

450
Precedentes: ADI 1655 e ADI 3464.

451
Lei 14.937/2003 do Estado de Minas Gerais: “Art. 3º - É isenta do IPVA a propriedade de: (…) XVII - veículo de motorista
profissional autônomo, ainda que gravado com o ônus da alienação fiduciária, ou em sua posse em decorrência de contrato de
arrendamento mercantil ou leasing por ele celebrado, desde que utilizado para o serviço de transporte escolar prestado por
cooperativa ou sindicato ou contratado pela Prefeitura Municipal, individualmente ou por meio de cooperativa ou sindicato
(Inciso com redação dada pelo art. 1º da Lei nº 18.726, de 14/1/2010);”

452
CF/1988: “Art. 155 Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) III - propriedade de veículos
automotores. (...) § 6º O imposto previsto no inciso III: (...) II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e
utilização.”

187

187
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar a
constitucionalidade da Lei 11.461/2000 do Estado do Rio Grande do Sul453.

ADI 2298/RS, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 23.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1071)

14.5 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

Caracterização das entidades religiosas como instituições de assistência social para fins de
imunidade tributária - RE 630790/SP (Tema 336 RG)

Tese fixada:

“As entidades religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência social a fim de se
beneficiarem da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição, que abrangerá não só
os impostos sobre o seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos sobre a importação de bens
a serem utilizados na consecução de seus objetivos estatutários.”

Resumo:

As organizações assistenciais religiosas podem ser abrangidas pela imunidade prevista no art. 150,
VI, “c”, da CF/1988454.

Essas entidades desempenham um papel extremamente relevante, não sendo raras as que possuem um
componente social que, para além de colaborar com o Estado, muitas vezes substituem a ação estatal na
assistência aos necessitados. Nesse sentido, as ações assistenciais exercidas por entidades religiosas são
plenamente compatíveis com o modelo constitucional brasileiro de assistência social.

Além disso, a Corte vem conferindo amplitude à norma constitucional imunizante 455, de modo a
abranger todos os impostos que de alguma forma possam desfalcar o patrimônio, prejudicar as atividades ou
reduzir as rendas da entidade imune, ainda que estejam apenas indiretamente relacionados com as suas
finalidades essenciais. A condição é que os recursos obtidos sejam vertidos ao implemento de tais fins.

Havendo correspondência entre o recurso obtido e a aplicação nas finalidades essenciais, restará
configurado o liame exigido pelo texto constitucional. Dessa forma, o alcance da imunidade é determinado pela
destinação dos recursos auferidos pela entidade, e não pela origem ou natureza da renda.

453
Lei 11.461/2000 do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 1º Acrescenta-se um parágrafo ao artigo 4º da Lei nº 8.115, de 30 de
dezembro de 1985, e alterações, com a seguinte redação: § 5º A isenção prevista na letra ‘a’ do inciso VII aplica-se
igualmente aos casos de aquisição de veículos pelo sistema de ‘leasing’. Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua
publicação. Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.”

454
CF, art. 150. “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: (...) c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,
inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem
fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;”

455
Precedentes: RE 237.718; RE 611.510 (Tema 328 RG); Enunciado 52 da Súmula Vinculante.

188

188
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, apreciando o Tema 336 da repercussão
geral, conheceu do recurso extraordinário e deu-lhe provimento.

RE 630790/SP, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1047)

Imunidade recíproca de sociedade de economia mista prestadora exclusiva de serviço


público essencial - ACO 3410/SE

Resumo:

Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento


de água potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca sobre
impostos federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços.

Prevalece na Corte o entendimento de que, para a extensão da imunidade tributária recíproca da


Fazenda Pública a sociedades de economia mista e empresas públicas, é necessário preencher 3 (três) requisitos:
(i) a prestação de um serviço público; (ii) a ausência do intuito de lucro e (iii) a atuação em regime de
exclusividade, ou seja, sem concorrência 456 e 457. No caso, os documentos acostados comprovam que, em relação
à Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO, os requisitos foram atendidos.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido para
reconhecer a imunidade recíproca à DESO, enquanto mantidos os requisitos.

ACO 3410/SE, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.4.2022 (quarta-
feira), às 23:59 (INF 1051)

14.6 IPI

Incidência de IPI sobre bacalhau seco e salgado e questão infraconstitucional - RE


627280/RJ (Tema 502 RG)

Tese fixada:

“É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a


controvérsia relativa à incidência de IPI sobre o bacalhau seco e salgado oriundo de país signatário do
GATT.”

Resumo:

Não possui repercussão geral, diante de sua natureza infraconstitucional, a discussão sobre a
incidência de IPI sobre o bacalhau seco e salgado vindo de país signatário do GATT.

Em razão da natureza infraconstitucional da controvérsia posta no recurso extraordinário, que


demandaria o reexame do acervo probatório dos autos e da legislação infraconstitucional pertinente (Código
Tributário Nacional, Lei 4.502/1964, Lei 10.451/2002, Decreto 4.070/2001 e Decreto 4.544/2002), cabe a

456
CF/1988: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;”

457
Precedentes: RE 599.628; RE 627.242 AgR; e RE 600.867.

189

189
revisão do reconhecimento da repercussão geral, nos termos do art. 323-B do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal (RI/STF)458 e 459.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, após rever o reconhecimento da
repercussão geral quanto ao Tema 502 da repercussão geral, não conheceu do recurso extraordinário.

RE 627280/RJ, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 18.3.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1047)

14.7 IR

Pensão alimentícia e incidência do imposto de renda - ADI 5422/DF

ODS: 10 e 17

Resumo:

É inconstitucional norma que prevê a incidência do imposto de renda sobre valores percebidos
pelo alimentado a título de alimentos ou pensão alimentícia.

A materialidade do imposto de renda (IR) está necessariamente ligada à existência de acréscimo


patrimonial460. Nesse contexto, os alimentos ou pensão alimentícia oriundos do direito de família representam,
para os alimentados, apenas entrada de valores, pois se revelam como montantes retirados dos acréscimos
patrimoniais auferidos pelo alimentante.

Assim, o recebimento de renda ou provento de qualquer natureza pelo alimentante ─ de onde ele retira a
parcela a ser paga ao credor dos alimentos ─ já configura, por si só, fato gerador do IR. Por isso, submeter
também os valores recebidos pelo alimentado representa nova incidência do mesmo tributo sobre a mesma
realidade, configurando bis in idem camuflado e sem justificação legítima, em evidente violação ao texto
constitucional.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, conheceu em parte da ação e, nessa parte, a
julgou procedente para dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, § 1º, da Lei 7.713/1988, aos arts. 4º
e 46 do Anexo do Decreto 9.580/2018, e aos arts. 3º, caput e § 1º; e 4º do Decreto-lei 1.301/1973, com o intuito
de afastar a incidência do imposto de renda sobre valores decorrentes do direito de família percebidos pelos
alimentados a título de alimentos ou de pensões alimentícias.

ADI 5422/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 3.6.2022 (sexta-feira), às
23:59 (INF 1057)

Entidades fechadas de previdência complementar e incidência do IRRF e da CSLL - RE


612686/SC (Tema 699 RG)

458
Precedentes: RE 660970; AI 235708 AgR; AI 708736 AgR; AI 845360 AgR; ARE 916075 AgR; AI 711909 AgR; RE 362596
AgR; ARE 804350 AgR; AI 651473 Edv-AgR; ARE 1279288 AgR.

459
RI/STF: “Art. 323-B. O relator poderá propor, por meio eletrônico, a revisão do reconhecimento da repercussão geral quando
o mérito do tema ainda não tiver sido julgado.” (Incluído pela Emenda Regimental 54, de 1º.7.2020)

460
Precedente: RE 117887.

190

190
Tese fixada:

“É constitucional a cobrança, em face das entidades fechadas de previdência complementar não


imunes, do imposto de renda retido na fonte (IRRF) e da contribuição social sobre o lucro líquido
(CSLL).”

Resumo:

A cobrança do IRRF e da CSLL de entidades fechadas de previdência complementar, não


abrangidas por imunidades tributárias, é compatível com a Constituição Federal.
Ausente imunidade tributária aplicável, mesmo as entidades sem fins lucrativos podem ser reconhecidas
como contribuintes do imposto de renda ou da contribuição social sobre o lucro líquido, caso realizem o fato
gerador.
Com efeito, a CF/1988 não exige que o contribuinte tenha, necessariamente, fins lucrativos para haver a
incidência dos mencionados tributos. A ausência de finalidade lucrativa não impossibilita que tais entidades
aufiram resultados positivos ou outros acréscimos patrimoniais.
No caso, as rendas oriundas de aplicações financeiras e os resultados positivos das entidades fechadas
de previdência privada se enquadram no que se entende por renda, lucro ou acréscimo patrimonial, que são fatos
geradores daqueles tributos.
No mais, as contribuições para a seguridade social se assentam na solidariedade geral. Dessa forma, a
pessoa jurídica equiparada à empresa na forma da lei, mesmo que não tenha fins lucrativos, pode ser chamada a
contribuir para a seguridade social, inclusive mediante contribuição incidente sobre o lucro.
Por fim, apesar de não ser possível falar, contabilmente, em apuração de lucro ou de prejuízo pelas
entidades fechadas de previdência privada — e sim apuração de superávits ou de déficits —, a contabilidade,
ainda que possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinação das bases de cálculo de diversos
tributos, de modo algum subordina a tributação.
Com base nesse entendimento, ao apreciar o Tema 699 da repercussão geral, o Plenário, por
unanimidade, negou provimento ao recurso extraordinário.

Precedentes citados: RE 585181 AgR e RE 606107.

RE 612686/SC, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 28.10.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1074)

14.8 ISS

Incidência do ISS sobre prestação de serviço de inserção de materiais de propaganda e


publicidade em qualquer meio - ADI 6034/RJ

Tese fixada:

“É constitucional o subitem 17.25 da lista anexa à LC nº 116/03, incluído pela LC nº 157/16, no


que propicia a incidência do ISS, afastando a do ICMS, sobre a prestação de serviço de inserção de textos,
desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em qualquer meio (exceto em livros, jornais,
periódicos e nas modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e
gratuita).”

Resumo:

191

191
A inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em qualquer meio
(exceto em livros, jornais, periódicos e modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens
de recepção livre e gratuita) é passível de tributação por ISS461.

Isso porque mencionada atividade, ainda que imprescindível à operacionalização do serviço de


comunicação social, está, por ser preparatória desse serviço, fora do âmbito de materialidade do ICMS-
comunicação. Ademais, a atividade não desborda do conceito de serviços de qualquer natureza para fins de
incidência do ISS.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedentes os pedidos
formulados em ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 6034/RJ, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 8.3.2022 (terça-feira), às
23:59 (INF 1046)

14.9 ITCMD

Incidência de ITCMD em relação a inventários e arrolamentos processados no exterior -


ADI 6828/AL

Resumo:

É vedado aos estados e ao Distrito Federal instituir o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e
Doação (ITCMD) nas hipóteses dispostas no art. 155, § 1º, III, da Constituição Federal, sem a edição da lei
complementar federal exigida pelo referido dispositivo constitucional 462.
Esta Corte — diante da omissão do legislador nacional em estabelecer normas gerais pertinentes à
competência para instituir o ITCMD — tem reconhecido, reiteradamente, a inconstitucionalidade de leis ou
decretos estaduais sobre o tema, haja vista a necessidade da edição de lei complementar para fins de instituição
do imposto sobre transmissão causa mortis e doação pelos estados e DF, nas situações especificamente
ressalvadas na Constituição Federal 463.
No julgamento do RE 851.108 (Tema 825 RG), o Tribunal consignou a impossibilidade de os estados-
membros e o Distrito Federal usarem da competência legislativa plena, com fundamento no art. 24, § 3º, da CF e
no art. 34, § 3º, do ADCT, para a instituição do ITCMD nas hipóteses previstas no art. 155, § 1º, III, casos em
que ficaria ela condicionada à prévia regulamentação mediante lei complementar federal.
Ademais, o STF reconheceu a omissão inconstitucional na regulamentação do artigo 155, § 1º, III, da
CF e estabeleceu prazo para que o Congresso Nacional edite lei complementar com normas gerais definidoras do
ITCMD nas doações e nas heranças instituídas no exterior 464.

461
Precedentes: RE 592905; RE 547245; RE 651703; RE 603136; RE 634764; ADI 3142; ADI 5659; ADI 4389 MC; RE
572020; RE 912888.

462
“Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de
quaisquer bens ou direitos; (…) § 1º O imposto previsto no inciso I: I - relativamente a bens imóveis e respectivos direitos,
compete ao Estado da situação do bem, ou ao Distrito Federal; II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao
Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito Federal; III - terá
competência para sua instituição regulada por lei complementar: a) se o doador tiver domicilio ou residência no exterior; b)
se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário processado no exterior.”

463
Precedentes citados: ADI 6836, ADI 6822, ADI 6825, ADI 6826, ADI 6820, ADI 6817, ADI 6819

192

192
Com base nesse entendimento, o Plenário declarou a inconstitucionalidade do art. 7º, III, do Decreto
10.306/2011, do Estado de Alagoas, bem como a nulidade, sem redução de texto, do art. 7º, I, a, do mesmo
diploma, para fins de excluir de seu programa normativo a possibilidade de incidência de ITCMD em relação a
inventários e arrolamentos processados no exterior, com a modulação dos efeitos da decisão, para que tenha
eficácia a partir da publicação do acórdão prolatado no RE 851.108 (20.4.2021), estando ressalvadas as ações
judiciais pendentes de conclusão até o mesmo marco temporal em que se discuta “ (1) a qual Estado o
contribuinte deveria efetuar o pagamento do ITCMD, considerando a ocorrência de bitributação; ou (2) a
validade da cobrança desse imposto, não tendo sido pago anteriormente”.

ADI 6828/AL, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtual finalizado em 28.10.2022 (sexta-
feira), às 23:59. (INF 1074)

14.10 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL

Art. 38 da Lei 9.430/1996: representação fiscal para fins penais e crimes contra a
Previdência Social - ADI 4980/DF

Resumo:

A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes de apropriação indébita previdenciária
e de sonegação de contribuição previdenciária será encaminhada ao ministério público depois de
proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário
correspondente.

Não se vislumbra inconstitucionalidade formal ou material do art. 83 da Lei 9.430/1996 465. A alteração
normativa condiciona o momento de envio da representação fiscal, para fins penais — no tocante aos crimes de
apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária —, à necessidade de
exaurimento do processo administrativo de constituição do crédito. Logo, o dispositivo impugnado confere
linearidade ao procedimento administrativo, ao estender àqueles delitos idêntica solução prevista para os demais
crimes contra a ordem tributária.

O preceito tem como destinatários os agentes fiscais. Ele não cuida do momento de consumação de
delitos, tampouco versa sobre condição de procedibilidade para a persecução penal. Portanto, é inapropriada a
discussão sobre a natureza dos crimes envolvidos, especialmente por se tratar de clara opção política do
legislador. Ademais, o entendimento pela constitucionalidade da norma encontra apoio na jurisprudência do
STF466.

Com esses entendimentos, o Plenário conheceu de ação direta de inconstitucionalidade e, por maioria,
julgou improcedentes os pedidos nela formulados.

ADI 4980/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento finalizado em 10.3.2022 (INF 1047)

464
Precedente citado: ADO 67

465
Lei 9.430/1996: “Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos
arts. 1º e 2º da Lei 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e
337-A do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de
proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.”

466
Precedentes: ADI 1.571; HC 81.611; e ADI 4.974.

193

193
14.11 TAXAS

Cobrança de taxa de segurança para eventos - ADI 2692/DF

Resumo:

É inconstitucional a cobrança de taxa de segurança para eventos, visto que a segurança pública
deve ser remunerada por meio de impostos, já que constitui serviço geral e indivisível, devido a todos os
cidadãos, independentemente de contraprestação.

O serviço de segurança pública tem natureza universal e é prestado a toda a coletividade, mesmo na
hipótese de o Estado se ver na contingência de fornecer condições específicas de segurança a certo grupo. Como
a sua finalidade é a preservação da ordem pública e da incolumidade pessoal e patrimonial (CF/1988, art. 144), é
dever do Estado atuar com os seus próprios recursos, ou seja, sem exigir contraprestação específica dos cidadãos.

Nesse contexto, é inviável remunerá-lo mediante taxa 467, sob pena de violar disposição constitucional
expressa que preceitua a possibilidade desse tributo ser cobrado em virtude do exercício do poder de polícia ou
da utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou
postos a sua disposição (CF/1988, art. 145, II).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 1.732/1997468 e, por arrastamento, do Decreto 19.972/1998, ambos do Distrito
Federal.

ADI 2692/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 30.9.2022 (sexta-
feira), às 23:59 (INF 1070)

Fundo de Fiscalização das Telecomunicações e poder de polícia - ADI 4039/DF

Resumo:

É legítimo o poder de polícia conferido à ANATEL para fiscalizar as atividades de radiodifusão.

O Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL), criado pela Lei 5.070/1966, é composto, de
forma não exclusiva, por diversas fontes, dentre as quais as relativas ao poder de outorga do direito uso de
radiofrequência para qualquer fim, inclusive multas e indenizações, e pelos recursos das Taxas de Fiscalização
de Instalação e de Fiscalização de Funcionamento. A totalidade do montante é aplicada pela Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL) nas atividades prescritas legalmente, merecendo relevo a fiscalização dos serviços
de radiodifusão (art. 211 da Lei 9.472/1997).

467
Precedentes citados: ADI 7035; ADI 1942; RE 739311 AgR; RE 535085 AgR e RE 964541 AgR.

468
Lei 1.732/1997 do Distrito Federal: “Art. 1º Fica instituída, no âmbito do Distrito Federal, a taxa de segurança para eventos –
TSE. Art. 2º A taxa de segurança para eventos – TSE – tem como fato gerador a prestação de serviços em eventos de fins
lucrativos e promocionais pela Polícia Civil, pela Polícia Militar, pelo Corpo de Bombeiros Militar ou pelo Departamento de
Trânsito. Parágrafo único – Consideram-se de fins lucrativos os eventos para os quais são cobrados ingressos com o objetivo
de auferir lucros e promocionais os destinados à publicidade de empresas privadas ou de seus produtos. Art. 3º A taxa de
segurança para eventos – TSE – será paga antecipadamente à efetivação do ato e é devida pelos promotores sob pena de não
ser autorizada a realização do evento. Art. 4º A taxa instituída por esta Lei será calculada em função do local de realização do
evento, da capacidade de público e do número de policiais e equipamentos necessários. Art. 5º Os recursos provenientes da
cobrança da taxa de segurança para eventos – TSE – serão destinados exclusivamente à manutenção e à aquisição de
equipamentos para a Polícia Civil, para a Polícia Militar, para o Corpo de Bombeiros Militar ou para o Departamento de
Trânsito. Art. 6º O Poder Executivo regulamentará a cobrança da taxa de segurança para eventos no prazo de trinta dias. Art.
7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário.”

194

194
Nesse contexto, não cabe à ANATEL a outorga dos mencionados serviços — que permanece no âmbito
do Poder Executivo —, incumbindo-lhe tão somente a realização da fiscalização dos aspectos técnicos de suas
estações, que é inerente ao poder de polícia que lhe foi atribuído e, consequentemente, legitima a imposição das
referidas taxas469.

Ademais, os recursos do FISTEL são empregados pela agência reguladora em ações que abrangem toda
a área de telecomunicações, incluindo os serviços de radiodifusão, de modo que não se pode falar em violação ao
princípio da isonomia.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação.

ADI 4039/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 24.6.2022 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1060)

Instituição de taxas de fiscalização em atividades inerentes ao setor de telecomunicações -


RE 776594/SP (Tema 919 RG)

Tese fixada:
“A instituição de taxa de fiscalização do funcionamento de torres e antenas de transmissão e
recepção de dados e voz é de competência privativa da União, nos termos do art. 22, IV, da Constituição
Federal, não competindo aos Municípios instituir referida taxa.”

Resumo:
Compete privativamente à União instituir a Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF)
recolhidas ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL), devida pelas concessionárias,
permissionárias e autorizadas de serviços de telecomunicações e de uso de radiofrequência, anualmente,
pela fiscalização do funcionamento das estações 470.
É competência privativa da União legislar e explorar, de modo direto ou indireto, os serviços de
telecomunicação, nos termos da lei (CF/1988, arts. 21, XI, e 22, IV). Nesse contexto, os municípios não podem,
sob o pretexto de disciplinar a taxa de fiscalização da observância de suas leis locais, enveredar pela fiscalização
do funcionamento de torres ou antenas de transmissão e recepção de dados e voz ou da execução dos serviços de
telecomunicação.
Por outro lado, uma vez respeitadas as competências da União e as leis por ela editadas
— especialmente a Lei Geral de Telecomunicações, a Lei Geral de Antenas, a Lei do Fundo de Fiscalização das
Telecomunicações e as leis sobre normas gerais de direito urbanístico — os municípios podem instituir taxa para
fiscalização do uso e ocupação do solo por torres e antenas de transmissão e recepção de dados e voz, desde que
observada a proporcionalidade com o custo da atividade municipal subjacente (CF/1988, art. 30, VIII).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema 919 da repercussão
geral, deu provimento ao recurso extraordinário para conceder a segurança pleiteada. Por fim, modulou os
efeitos da declaração de inconstitucionalidade da Lei 2.344/2006 do Município de Estrela d’Oeste/SP 471 para que
a decisão produza efeitos a partir da data da publicação da ata de julgamento do mérito, ficando ressalvadas as
ações ajuizadas até a mesma data.

RE 776594/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 2.12.2022 (sexta-feira),
às 23:59

Parâmetros para o cálculo das custas judiciais e emolumentos - ADI 2846/TO

469
Precedentes: ARE 906203 AgR-EDv; ADI 6211; ADI 5480; e RE 588322.

470
Lei 5.070/1966: “Art. 6° As taxas de fiscalização a que se refere a alínea f do art. 2° são a de instalação e a de funcionamento. (...) § 2° Taxa
de Fiscalização de Funcionamento é a devida pelas concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviços de telecomunicações e de uso
de radiofreqüência, anualmente, pela fiscalização do funcionamento das estações. (Redação dada pela Lei nº 9.472, de 1997).”

195

195
ODS: 10 e 16
Resumo:

É válida a cobrança das custas judiciais e emolumentos tendo por parâmetro o valor da causa ou
do bem ou negócio objeto dos atos judiciais e extrajudiciais, desde que definidos limites mínimo e máximo
e mantida uma razoável e proporcional correlação com o custo da atividade.

Na linha da jurisprudência desta Corte, essa forma de cálculo é plenamente admitida, visto que os
parâmetros fixados não constituem a base de cálculo da taxa respectiva, mas apenas um critério para a sua
incidência, haja vista ser impossível aferir, em cada caso, o efetivo custo do serviço 472.

Ademais, inexiste violação à garantia constitucional de prestação jurisdicional e ao acesso à Justiça,


visto que a lei permite ao juiz, em cada caso concreto, verificar a necessidade da concessão do benefício da
justiça gratuita e, consequentemente, isentar a parte do pagamento das custas judiciais.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para declarar a
constitucionalidade da Lei 1.286/2001 do Estado do Tocantins.

ADI 2846/TO, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 13.9.2022
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1067)

Taxas de fiscalização da atividade de mineração - ADI 4785/MG, ADI 4786/PA e ADI


4787/AP

ODS: 12, 15, 16 e 17


Resumo:

É constitucional a instituição, por meio de lei estadual, de taxas de controle, monitoramento e


fiscalização de atividades de pesquisa, lavra, exploração e aproveitamento de recursos minerários
(TFRM).

Os estados-membros possuem competência administrativa fiscalizatória sobre recursos hídricos e


minerais, desde que informado pelo princípio da subsidiariedade, emanado de uma concepção própria do

471
Lei 2.344/2006 do Município de Estrela d’Oeste/SP: “Artigo 1º - Fica instituída no Município de Estrela d’Oeste a Taxa
decorrente do Efetivo Exercício do Poder de Polícia Administrativa de Fiscalização de Licença para o Funcionamento das
Torres e Antenas de Transmissão e Recepção de Dados e Voz, que estejam instaladas nos limites do Município. Artigo 2º - O
valor cobrado de cada TORRE OU ANTENA de que trata o artigo anterior, será de 450 UFESP’s anuais. Artigo 3º - Os
contribuintes da Taxa de que trata o artigo serão quaisquer pessoas Jurídicas que derem causa ao exercício de atividade ou a
prática de atos sujeitos ao poder de polícia administrativa do município. Artigo 4º - A taxa será arrecadada mediante guia
oficial preenchida pelo setor competente ou pelo contribuinte, cujo pagamento deverá ocorrer até o dia 31 de março de cada
ano. Parágrafo 1º - Quando anual, para efeito de renovação da licença será arrecadada conforme definido no artigo anterior e
as iniciais serão arrecadadas no ato da concessão da licença. Parágrafo 2º - Será a Taxa lançada de forma individual e integral
ou na razão de 1/12 (um doze avos) para cada um dos meses restantes do ano, a partir da data de início das atividades. Artigo
5º - Esta lei entra em vigor em 01 de janeiro de 2007”.

472
Precedentes citados: ADI 3826; ADI 3887; ADI 1948 e RE 177835.

196

196
federalismo cooperativo brasileiro 473, de modo que é possível desempenharem, quando traduzível em serviço
público ou poder de polícia, atividade administrativa remunerada mediante taxa (CF/1988, art. 145, II).

A base de cálculo das taxas minerárias deve guardar razoável proporcionalidade entre a
quantidade de minério extraído e o dispêndio de recursos públicos com a fiscalização dos contribuintes,
observados os princípios da proibição do confisco e da precaução ambiental.

Nesse contexto, é razoável utilizar o volume de minério extraído como quantificação tributária, pois,
quanto maior ele for, maior pode ser o impacto social e ambiental do empreendimento, motivo pelo qual mais
elevado também deve ser o grau de controle e fiscalização do poder público 474. No caso, há correlação entre o
valor das taxas e os custos estatais, de modo que as exações são suportáveis pelos contribuintes, descabendo
arguir eventual desproporcionalidade, em especial diante dos expressivos lucros dessas empresas.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, em julgamento conjunto, julgou improcedente
as ações nas partes que foram conhecidas.

ADI 4785/MG, relator Ministro Edson Fachin, julgamento em 1º.8.2022 (INF 1062)

ADI 4786/PA, relator Ministro Nunes Marques, julgamento em 1º.8.2022 (INF 1062)

ADI 4787/AP, relator Ministro Luiz Fux, julgamento em 1º.8.2022 (INF 1062)

473
Precedentes: ADI 6211; ADI 5512; e ADI 5480.

474
Precedente: ADI 2551 MC-QO.

197

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