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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DA XX VARA

DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE XXXXXXXXX

XXXXXXXXXXXX, já qualificado nos autos em epígrafe, por


intermédio de seus advogados, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
apresentar PEDIDO DE SALVO CONDUTO, com fundamento no Art. 5o, LVII
da CF c.c Art. 283 do CPP, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

O acusado possui sessão plenária de julgamento pelo Tribunal do Júri


designada para ocorrer na data de 06/02/2020.

Ocorre que, Art. 492, I, “e” do CPP com redação dada pela Lei
13.964/2019 passou a prever a inconstitucional execução imediata das
condenações no tribunal do júri, nos casos em que a pena seja superior a 15
(quinze) anos.

Contudo, recentemente no julgamento das ADC’s 43, 44 e 54, o STF


passou a vedar a execução antecipada de pena, com fundamento na presunção
de inocência (Art. 5o, LVII da CF), somado ao fato de que o Art. 283 do CPP
somente prevê a possibilidade de 03 (três) espécies de prisões constitucionais em
nosso ordenamento: flagrante, cautelar ou em decorrência de condenação
transitada em julgado.

Isso por que, a presunção de inocência como regra de tratamento (de


acordo com Giulio Illuminati1 e Mauricio Zanoide2), tal como prevista em nossa
Constituição, não admite prisões automáticas ou execuções antecipadas de pena.

1 ILLUMINATI, Giulio. La presunzione d‟innocenza dell‟imputato. 6 ed. Bologna: Zanichelli Editore,


1984, p. 28/30

2 MORAES, Maurício Zanoide de. Presunção de inocência no processo penal brasileiro: análise de sua
estrutura normativa para a elaboração legislativa e para a decisão judicial. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2012. p. 424/427 e 538.
Aliás, o Ministro Gilmar Mendes em sua doutrina explica que a
Constituição de 1988 reconheceu o júri e a soberania dos veredictos como
garantia constitucional da pessoa humana no Art. 5o, XXXVIII3 tornando
evidente que a soberania não serve para proteção da decisão dos jurados, mas
sim para proteção do imputado, por Tiago Bunning Mendes conclui que:
“inexistem fundamentos para que o conteúdo protetiva da soberania dos
veredictos legitime a execução antecipada da decisão dos jurados, além da
afrontosa ofensa à presunção de inocência.” 4

Neste sentido, existem diversas decisões do STF vedando a execução


antecipada das condenações oriundas do Tribunal do Júri, vejamos:

EMENTA: “Habeas Corpus”. Condenação recorrível emanada


do Júri. Determinação do Juiz Presidente do Tribunal do
Júri, ordenando a imediata sujeição do réu sentenciado
à execução antecipada (ou provisória) da condenação
criminal. Invocação, para tanto, da soberania do
veredicto do Júri. Inadmissibilidade. Inexistência, a
propósito de condenações recorríveis proferidas por
órgãos judiciários de primeira instância (como o
Tribunal do Júri), de decisões do Supremo Tribunal
Federal revestidas de efeito geral e de eficácia
vinculante. Consequente inaplicabilidade, às decisões
do Conselho de Sentença, de precedentes do Supremo
Tribunal Federal que autorizam a execução penal
antecipada, pelo fato de tais julgados referirem-se a
condenações penais proferidas ou mantidas por Tribunais
de segundo grau, posição institucional evidentemente não
ostentada pelo Tribunal do Júri. A questão da soberania
dos veredictos do Júri. Significado da cláusula inscrita
no art. 5o, inciso XXXVIII, “c”, da Constituição.
Caráter não absoluto da soberania do Júri. Doutrina.
Precedentes. Existência, ainda, no presente caso, de
ofensa ao postulado que veda a “reformatio in pejus”.
Considerações em torno da regra consubstanciada no art.
617, “in fine”, do CPP. Exame da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal a respeito da prisão meramente
cautelar do sentenciado motivada por condenação
recorrível, notadamente quando o réu tenha permanecido
em liberdade ao longo do processo penal de conhecimento.
Prisão cautelar decretada na hipótese de condenação
penal recorrível: instituto de tutela cautelar penal
inconfundível com a esdrúxula concepção da execução
provisória ou antecipada da pena. Medida cautelar

3 MENDES, Gilmar Ferreira. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 9a Ed.
São Paulo: Saraiva, 2014, p. 485.
4 MENDES, Tiago Bunning. Direito ao recurso no processo penal: o duplo grau de jurisdição como
garantia exclusiva do imputado. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2019, p. 209.
concedida. (STF, MC no HC 174.759/CE, Rel. Min. Celso
de Mello, j. 20/09/2019)

Por esta razão, ainda antes da vigência da Lei 13.964/2019 esse juízo,
na pessoa de Vossa Excelência, já havia se manifestado em oportunidades
anteriores negando a aplicação do entendimento que já existia em 02 (duas)
decisões isoladas da 1a Turma do STF (HC 140.449/RJ e HC 118.770/SP) pela
execução antecipada das condenações no Tribunal do Júri.

Ademais, é preciso verificar que o próprio STF ainda não se


manifestou acerca da possibilidade da execução antecipada das condenações no
Tribunal do Júri, o que somente ocorrerá após o julgamento em Plenário do
Recurso Extraordinário 1.235.340 pautado para o dia 12/02/2020.

No caso em tela, ainda é preciso ressaltar que o acusado é réu solto em


decorrência de liberdade provisória concedida por este juízo, o que afasta a
necessidade de sua prisão antes de eventual trânsito em julgado da condenação.

Por fim, ressaltamos que o próprio Art. 492, parágrafo 3o permite ao


Juiz Presidente do Tribunal do Júri “deixar de autorizar a execução provisória das
penas de que trata a alínea e do inciso I do caput deste artigo, se houver questão
substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa
plausivelmente levar à revisão da condenação” comprovando que a execução
imediata da condenação não é medida imperativa e obrigatória a todos os casos.

Desta forma, requeremos a Vossa Excelência a expedição de salvo


conduto em favor do Acusado, com fundamento no Art. 660, parágrafo 4o do
CPP, em observância ao Art. 5o, LVII da CF c.c Art. 283 do CPP e sua
interpretação constitucional exarada no julgamento das ADC’s 43, 44 e 54 no STF.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Local e Data...

ADVOGADO
OAB...

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