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SEMANA 11/12
Sumário
META 1 ............................................................................................................................................................ 10
DIREITO PROCESSUAL PENAL: NULIDADES E RECURSOS EM GERAL ............................................................... 10
1. NULIDADES .................................................................................................................................................. 10
1.1. Atos Inexistentes e Atos Irregulares ...................................................................................................................... 10
1.2. Espécies De Nulidades ........................................................................................................................................... 11
1.3. Princípios Regentes das Nulidades ........................................................................................................................ 13
1.4. Momento para a Arguição das Nulidades Relativas (Art. 571 CPP) ...................................................................... 15
1.5. Convalidação das Nulidades Relativas................................................................................................................... 15
1.6. Nulidades no Inquérito Policial ............................................................................................................................. 16
2. DOS RECURSOS EM GERAL .......................................................................................................................... 33
2.1. Noções gerais ........................................................................................................................................................ 33
2.2. Características ....................................................................................................................................................... 33
2.3. Efeitos dos Recursos .............................................................................................................................................. 36
2.4. Vedação de Desistência do Recurso pelo Ministério Público (art. 576 CPP) ......................................................... 39
2.5. Múltipla Legitimidade Recursal (art. 577 CPP) ...................................................................................................... 39
2.6. Pressupostos de Admissibilidade dos Recursos .................................................................................................... 40
2.7 Princípio da Fungibilidade dos Recursos (art. 579 CPP) ......................................................................................... 42
LEI DE GENOCÍDIO ........................................................................................................................................... 52
1. INTRODUÇÃO HISTÓRICA ................................................................
............................................................ 52
2. NORMA PENAL EM BRANCO ÀS AVESSAS/AO REVÉS/INVERTIDA .............................................................. 53
3. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ............................................................................................................. 53
4. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................................................... 54
4.1. Genocídio praticado contra indígenas................................................................................................................... 55
5. EXTRATERRITORIALIDADE............................................................................................................................ 57
6. HEDIONDEZ DO CRIME DE GENOCÍDIO ....................................................................................................... 58
7. PRISÃO TEMPORÁRIA .................................................................................................................................. 59
8. DIFERENÇA ENTRE HOMICÍDIO EM ATIVIDADE TÍPICA DE GRUPO DE EXTERMÍNIO E GENOCÍDIO ............ 59
9. TERRORISMO E GENOCÍDIO ........................................................................................................................ 60
10. LIMPEZA ÉTNICA E GENOCÍDIO ................................................................................................................. 60
11 - GENOCÍDIO NA LEI 2.889/56: ................................................................................................................... 60
11.1 Condutas tipificadas na Lei 2.889/56: .................................................................................................................. 62
11.1.1 “Matar membros do grupo” .......................................................................................................................... 62
11.1.2 – Causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo: ................................................ 63
11.1.3 – Submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física
total ou parcial .......................................................................................................................................................... 65
11.1.4 – Adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo .................................................. 65
11.1.5 – Efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo ................................................... 66
12. ASSOCIAÇÃO PARA A PRÁTICA DE GENOCÍDIO ......................................................................................... 66
13. INCITAÇÃO AO GENOCÍDIO ....................................................................................................................... 67
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ATENÇÃO
Equipe DD
Prezado(a) aluno(a),
Caso possua alguma dúvida jurídica sobre o conteúdo disponibilizado no curso, pedimos que utilize a sua
área do aluno. Há um campo específico para enviar dúvidas.
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META 1
CPP:
⦁ Arts. 563 a 573 (Nulidades).
⦁ Arts. 574 a 580 (Dos Recursos em Geral).
1. NULIDADES
Nulidades "são os vícios que contaminam determinados atos processuais, praticados sem observância
da forma prevista em lei, podendo levar à sua inutilidade e consequente renovação" (NUCCI, 2008, p. 824).
Em face desse conceito, percebe-se que a nulidade é matéria privativa de ato processual, não
incidindo, portanto, em atos praticados ao longo do inquérito policial, que, por sua vez, consiste em mero
procedimento administrativo voltado para caracterização da justa causa da ação penal.
Se determinada prova produzida no inquérito não contempla algum requisito exigido por lei, essa
prova em específico não terá efeito, será desconsiderada, devendo ser necessariamente repetida em juízo,
não contaminando, porém, a futura ação penal a ser oferecida.
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A diferença consiste na gradação do vício resultante de cada um desses atos. Assim, o vício do ato
inexistente é muito mais grave do que aquele decorrente do ato nulo, que, por sua vez, é maior do que aquele
originado pelo ato irregular.
Nesse contexto, os atos inexistentes são aqueles "aos quais falta, de forma absoluta, algum dos
elementos exigidos pela lei; neles, o vício é de tal gravidade que sequer seria possível considerá-los como
atos processuais; são, na verdade, não-atos, em relação aos quais não se cogita de invalidação, pois a
inexistência constitui um problema que antecede a qualquer consideração sobre a validade" (GRINOVER;
GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p. 18).
Por não ingressarem no ordenamento jurídico, esses atos não podem ser convalidados nem
necessitam de decisão judicial para invalidá-los. É exemplo de ato inexistente uma audiência presidida por
promotor de justiça ou advogado, já que estes agentes não possuem jurisdição, motivo pelo qual o ato deve
ser renovado.
Os atos nulos são aqueles "em que a falta de adequação ao tipo legal pode levar ao reconhecimento
de sua inaptidão para produzir efeitos no mundo jurídico" (GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p.
18). A nulidade tem a natureza jurídica de sanção processual. Sendo que está também possui gradações, as
quais "variam segundo a maior ou menor intensidade do desvio do tipo legal" (GRINOVER; GOMES FILHO;
FERNANDES, 2009, p. 18). Nesse sentido, há duas espécies de nulidades, a nulidade absoluta e a nulidade
relativa, tema que será explorado no próximo tópico.
Já os atos irregulares "são infrações superficiais, não chegando a contaminar a forma legal, a ponto de
merecer renovação" (NUCCI, 2008, p. 825). São, portanto, "situações em que o desacordo com o modelo
legal é mínimo, ou se trata de formalismo inútil, residual de outras fases do direito processual, não chegando
a descaracterizar o ato" (GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p. 18).
Assim, os atos irregulares "são convalidados pelo simples prosseguimento do processo, embora devam
ser evitados" (NUCCI, 2008, p. 825). É exemplo de ato irregular o oferecimento de denúncia pelo Ministério
Público fora do prazo estabelecido em lei (prazo impróprio): o ato é válido, embora o Promotor de justiça
possa ser responsabilizado administrativamente.
Ato irregular:
ingressa no mundo
Ato inexistente: Ato nulo: jurídico e produz efeitos.
Sequer ingressa no Ingressa no mundo São infrações
mundo jurídico jurídico, podendo ou não superficiais,
produzindo efeitos produzir efeitos convalidadas pelo
prosseguimento do
processo
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As nulidades absolutas contêm vício mais grave, pois violam normas constitucionais. "A inobservância
da norma constitucional acarreta a desconformidade com o modelo imposto pela Lei Maior, ocasionando o
fenômeno da atipicidade constitucional" (GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p. 21).
Por conta desta gravidade do vício ocasionado pelas nulidades absolutas, estas podem ser decretadas
de ofício pelo juiz ou a requerimento das partes, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, não
precluem nem convalidam e independem da prova do prejuízo, afinal de contas há presunção absoluta de
prejuízo com a violação de norma constitucional.
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É princípio que se encontra previsto expressamente no art. 563 do CPP, segundo o qual nenhum ato
será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa (pás de nulitté
sans grief). Este princípio atende à economia processual e à celeridade, assim como ocorre no art. 566, do
CPP ao estabelecer que não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração
da verdade substancial ou na decisão da causa.
Ex.: testemunha que presta depoimento em idioma estrangeiro deve ser ouvida mediante intérprete
(art. 223 do CPP); se a oitiva ocorre sem intérprete, mas seu depoimento foi irrelevante para o deslinde da
causa, não há que se decretar a nulidade do ato.
Em verdade, trata-se de decorrência da aplicação do Princípio da Instrumentalidade das Formas: a
forma prevista em lei de um ato processual "não é um fim em si mesmo, motivo pelo qual se a finalidade
para a qual se pratica o ato foi atingida, inexiste razão para anular o que foi produzido" em desatenção à
norma jurídica (NUCCI, 2008, p. 826).
Em tese, este princípio teria maior aplicação nas nulidades relativas, pois para as nulidades absolutas
o prejuízo seria presumido de forma absoluta (juris et de jure), não permitindo prova em sentido contrário.
Desse modo, se houver uma nulidade absoluta, "deve ela ser reconhecida tão logo seja cabível, pois
atenta diretamente contra o devido processo legal" (NUCCI, 2008, p. 826). Contudo, existindo nulidade
relativa, ela será reconhecida apenas se "requerida pela parte prejudicada, tendo esta o ônus de evidenciar
o mal sofrido pelo não atendimento à formalidade legal" (NUCCI, 2008, p. 826).
Não obstante o entendimento doutrinário, o STF tem entendimento de que o prejuízo sempre deve
ser demonstrado para permitir o reconhecimento das nulidades, inclusive das nulidades absolutas (HC no
8i.510, 1a Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 11/12/2001, DJU 12/ 4/2002, p. 54).
Caiu em prova Delegado PC-SP/2018! Sobre as nulidades, é correto afirmar: segundo o princípio da
instrumentalidade das formas, não se anula um ato se, embora praticado em desacordo com a forma prevista
em lei, atingiu o seu fim. (Item considerado correto pela banca.)
É princípio que se encontra preconizado no art. 565, 1ª parte, do CPP, segundo o qual nenhuma das
partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido. Por meio desse princípio,
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protege-se "a ética na produção da prova, afastando-se a má-fé" (NUCCI, 2008, p. 827), afinal de contas
ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Exige-se, portanto, que a parte que alega a nulidade tenha
interesse para tanto (princípio do interesse no reconhecimento de nulidades).
Hipótese marcante de aplicação deste princípio veio estampada no art. 478 do CPP, com a redação
dada pela Lei n° 11.689/08, segundo o qual, durante os debates, as partes não poderão, sob pena de
nulidade, fazer referências:
É princípio que vem previsto no art. 565, 2ª parte, do CPP, segundo o qual nenhuma das partes poderá
arguir nulidade referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.
Exemplo de aplicação deste princípio é apresentado por Guilherme de Souza Nucci: "argui nulidade o
promotor por não ter sido a defesa intimada da expedição de carta precatória para ouvir testemunhas em
outra Comarca, embora afirme o defensor que nenhum prejuízo sofreu a defesa do réu" (NUCCI, 2008, p.
827-828).
Acrescente-se que o princípio ora em debate serve como prova do caráter meramente exemplificativo
do rol de nulidades (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 876-877).
O princípio em comento tem aplicação apenas para as nulidades relativas, pois, com o é cediço, as
nulidades absolutas devem ser reconhecidas a qualquer tempo, inclusive de ofício pelo juiz (NUCCI, 2008, p.
828).
É princípio que encontra guarida no art. 573, §1º, do CPP, segundo o qual a nulidade de um ato, uma
vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência.
Com o mencionado pelo dispositivo legal acima referido, para que haja a nulidade exige-se a
demonstração do nexo causal entre os atos processuais. Nesse sentido, "pode existir um nexo de causalidade
entre os diversos atos que se sucedem. Sendo assim, a ausência ou invalidade de um determinado ato
processual provoca sempre a indagação sobre a extensão da nulidade; trata-se de saber se a violação da
forma prescrita para o ato declarado nulo também atingiu outros atos ligados àquele; fala-se então em
nulidade originária e derivada" (GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p. 27).
Por força deste princípio é que o juiz deverá sempre declarar os atos a que se estende a nulidade (art.
573 §2°, do CPP), indicando aqueles que deverão ser renovados ou retificados (NUCCI, 2008, p. 829).
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De qualquer forma, certo é que "nem sempre a invalidação dos atos subsequentes ao anulado é
automática; segundo o CPP, somente os atos diretamente dependentes ou que sejam consequência do
viciado serão atingidos" (GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p. 28). Assim, "a nulidade dos atos
da fase postulatória do processo se propaga aos demais atos, enquanto a invalidade dos atos de instrução,
em regra, não contamina os outros atos de produção da prova validamente realizados" (GRINOVER; GOMES
FILHO; FERNANDES, 2009, p. 28).
Nesse sentido, a denúncia, por ser ato postulatório, caso seja nula, necessariamente contaminará os
atos posteriores. Já "a sentença, como ato final do procedimento, será sempre atingida pela invalidade dos
atos que a antecedem, sejam na fase postulatória, sejam instrutórios, a não ser que estes últimos não tenham
exercido qualquer influência na decisão (art. 566 do CPP)" (GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p.
28).
1.4. Momento para a Arguição das Nulidades Relativas (Art. 571 CPP)
Como é cediço, as nulidades absolutas podem ser arguidas a qualquer tempo e em qualquer instância,
inclusive após o trânsito em julgado da decisão.
Já as nulidades relativas devem ser arguidas nos respectivos prazos fixados em lei, sob pena de
preclusão.
Dentre estes prazos, ressalta-se que "não há mais o prazo previsto no art. 571, IV, pois não se utiliza
mais o disposto no capítulo das medidas de segurança, inaplicáveis aos imputáveis atualmente" (NUCCI,
2008, p. 845).
Ademais, frise-se que, nos termos da Súmula n° 160 do STF: "É nula a decisão do Tribunal que acolhe,
contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício",
entendimento este que é válido também para as nulidades absolutas.
Convalidar é "restabelecer a validade" (NUCCI, 2008, p. 846). É possível que a convalidação ocorra
apenas em se tratando de nulidade relativa.
Ela se dá em 3 (três) hipóteses, consoante previsão do art. 572 do CPP:
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Nos termos do art. 573 CPP, caso não seja possível corrigir ou superar o vício, a consequência natural
da decretação da nulidade é a renovação (pratica-se novamente o ato) ou a retificação (conserta-se o que
estava errado) do ato anulado.
O inquérito policial é instrumento informativo. Por isso, os vícios dele constantes, em regra, não
contaminam o processo penal. Em outros termos, havendo irregularidade no inquérito, não haverá
contaminação do processo penal correspondente. O inquérito se destina a produção de elementos
informativos e não provas, contudo, eventuais provas ilícitas que tenham sido colhidas (art. 155, CPP) serão
desentranhadas dos autos, assim como aquelas que dela derivarem (art. 157, CPP).
LETRA DA LEI
LIVRO III
DAS NULIDADES E DOS RECURSOS EM GERAL
TÍTULO I
DAS NULIDADES
Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo
para a acusação ou para a defesa.
Não há nulidade sem prejuízo – princípio da instrumentalidade das formas (pas de nullité sans grief).
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
Incompetência (nulidade absoluta ou relativa); Suspeição (nulidade relativa); Suborno (nulidade
absoluta).
II - por ilegitimidade de parte;
A ilegitimidade da parte, tanto a ad causam quanto a ad processum, gera a nulidade absoluta do feito.
Entretanto, a ilegitimidade do representante da parte é causa de nulidade relativa, conforme o art.
568 do CPP, que possibilita a ratificação dos atos processuais. É o exemplo de uma procuração
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outorgada a advogado com defeitos ou falhas - pode haver a sua regularização e o ato será
devidamente ratificado.
A falta de concessão de prazos à acusação e à defesa é causa de nulidade relativa do feito, a depender
da demonstração de prejuízo para cada uma das partes (condenação ou absolvição do réu).
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
É nulidade absoluta o ato de encaminhar o réu a plenário do Tribunal do júri sem decisão de pronúncia
ou se ela estiver incompleta ou defeituosa, contrariando o disposto no art. 413, § 1º do CPP.
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Súmula 423-STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso "ex-oficio", que se
considera interposto "ex-lege".
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das
suas respostas, e contradição entre estas. nulidade absoluta
● Ausência de pedido condenatório não implica em nulidade.
● Considera-se que a ausência de fundamentação é causa de nulidade da decisão judicial, por
descumprimento à CF, art. 93, IV. Todavia a descrição da fundamentação não será por si só, causa
de nulidade, mas poderá, conforme o caso, ensejar a reforma da decisão. Deve-se, todavia,
observar se a fundamentação, ainda que deficiente, foi suficiente para demonstrar às partes as
razões da decisão, a fim de possibilitar sua impugnação.
● SISTEMA MISTO: adotado no Brasil, já que o artigo 564 CPP explicitou um amplo rol de nulidades,
mas não conseguiu exaurir a matéria, de forma que o juiz poderá conformar o sistema na análise
do caso concreto, declarando nulidade amparada na ocorrência do prejuízo.
Obs.: Há situações em que o CPP adota SISTEMA PRIVATISTA: a reclamação da nulidade fica ao arbítrio
da parte, conforme seu interesse e o prejuízo que lhe tenha sido causado.
Nesse sentido, quando se fala em avaliar as nulidades, faz-se necessário fixar certos critérios, que são
possíveis através dos sistemas:
● Sistema Formalista = Norberto Avena (2017) compreende que há a predominância do meio
sobre o fim nesse sistema. Toda vez que o ato não for perpetrado do modo que é determinado
em lei, estará irremediavelmente viciado, sem importar se alcançou ou não o seu objetivo.
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● Sistema Legalista = Nesse sistema, nulos são somente os atos que assim preconizar a lei, de
forma expressa.
● Sistema Instrumental (instrumentalidade das formas) = O fim do ato processual deve
prevalecer sobre a forma como este é praticado. Conforme se verifica nos artigos 563 e 566
do CPP, este é o sistema adotado no Direito Brasileiro. Destaca-se que, caso o ato, ainda que
contrário à forma legal, alcance seu objetivo, poderá ser validado.
Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou
para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte
contrária interesse.
Não há nulidade provocada pela parte (art. 565 CPP)
- É princípio que se encontra insculpido no art.
565, 1ª parte, do CPP, segundo o qual nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado
causa, ou para que tenha concorrido. Por meio desse princípio, protege-se a ética na produção da
prova, afastando-se a má-fé processual, afinal de contas ninguém pode se beneficiar da própria
torpeza (aplicação do tu quoque no processo penal). Exige-se, portanto, que a parte que alega a
nulidade tenha interesse para tanto (princípio do interesse no reconhecimento de nulidades).
Nesse sentido, já decidiu o STJ que:
Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a
sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entanto, já havia
falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal. Vale ressaltar que, neste caso, não
havia pedido da defesa para que todos os advogados fossem intimados ou para que constasse o nome
de um causídico em específico nas publicações. Assim, estando o réu representado por mais de um
advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos
atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas
de forma diversa. Ressaltou que, antes da intimação, a defesa não havia informado ao Tribunal acerca
do falecimento do advogado intimado, incidindo no art. 565 do CPP, que veda a arguição de nulidade
à parte que tenha lhe dado causa. STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
07/03/2017. STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgado em 23/10/2018 (Info 921).
Não há nulidade por omissão de formalidade que só interesse à parte contrária (art. 565 CPP, 2ª
parte): É princípio segundo o qual nenhuma das partes poderá arguir nulidade referente a formalidade
cuja observância só à parte contrária interesse. Esse princípio é mais uma constatação da exigência de
prova do interesse na alegação da nulidade (princípio do interesse no reconhecimento de nulidades).
O princípio em comento tem aplicação apenas para as nulidades relativas, pois, como é cediço, as
nulidades absolutas devem ser reconhecidas a qualquer tempo, inclusive de ofício pelo juiz.
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Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver
influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.
Não há nulidade de ato irrelevante para o deslinde da causa.
Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o
processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.
Segundo entendimento doutrinário prevalecente, nos termos do art. 567 do CPP, na nulidade
relativa, são nulos apenas os atos decisórios, sendo mantidos os atos instrutórios. Desse modo, este
dispositivo legal acaba consagrando o princípio da conservação dos atos processuais. Se, porém, a
nulidade for absoluta, todos os atos processuais são inválidos (instrutórios e decisórios), sendo
necessário, portanto, o reinício de todo o processo (Nestor Távora).
Posicionamento do STF
Classicamente, o STF sempre possuiu o entendimento que o teor do art. 567 do CPP se aplica
para a nulidade absoluta, ao passo que a nulidade relativa não geraria a invalidade de qualquer ato
praticado, ou seja, “uma vez reconhecida a incompetência relativa, o único efeito é o deslocamento
do processo ao juízo competente, com o aproveitamento de todos os atos já realizados no processo"
(TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 862).
mitigando bastante as diferenças entre
Todavia, mais recentemente, a Corte suprema vem
competência absoluta e competência relativa. Assim, por exemplo, ao reconhecer a incompetência
(absoluta) da justiça militar em hipótese de crime que deveria ser julgado pela justiça federal,
entendeu que caberia a este tribunal somente anular a decisão condenatória. Nesse sentido,
asseverou-se que se deveria deixar ao juízo que o Supremo estaria a considerar competente a decisão
de anular, ou não, os demais atos do processo, pois, do contrário, haveria um salto jurisdicional.
Destarte, destacou-se caber ao juiz federal decidir acerca da subsistência, ou não, dos atos já
praticados. Acrescentou-se ainda que, atualmente, a divisão de competência em absoluta ou relativa
deveria ter como única consequência remeter os autos ao juízo competente, pois a jurisdição seria
una. Registrou-se tratar-se de tendência decorrente da translatio iudicii (reassunção do processo e-
remessa - dos autos ao juízo competente: nos casos em que é declarada a incompetência do juízo -
absoluta ou relativa). Concluiu-se que o juízo competente ao receber o processo, absorveria a causa
e a julgaria e, se entendesse necessário, poderia renovar os atos processuais (Informativo nº 755 do
STF).
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo
tempo sanada, mediante ratificação dos atos processuais.
Art. 569. As omissões da denúncia ou da queixa, da representação
, ou, nos
processos das contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante,
poderão ser supridas a todo o tempo, antes da sentença final.
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Ainda que o réu tenha constituído advogado antes do oferecimento da denúncia — na data da prisão
em flagrante — e o patrono tenha atuado, por determinação do Juiz, durante toda a instrução criminal,
é nula a ação penal que tenha condenado o réu sem a sua presença, o qual não foi citado nem
compareceu pessoalmente a qualquer ato do processo, inexistindo prova inequívoca de que tomou
conhecimento da denúncia.
STJ. 6ª Turma. REsp 1580435-GO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/3/2016 (Info 580).
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O art. 447 deve ser substituído pelo art. 463, caput e § 1º, CPP; não houve, porém, alteração quanto
ao prazo.
VI - as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais de Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500;
Neste caso, as nulidades devem ser arguidas por ocasião do oferecimento das alegações finais – art.
11, caput, - ou no momento da sustentação oral – art. 12, I -, ambos da Lei nº 8.038/90, a qual hoje
rege o procedimento dos feitos de competência do STF e do STJ.
A "nulidade de algibeira" ocorre quando a parte se vale da “estratégia” de não alegar a nulidade logo
depois de ela ter ocorrido, mas apenas em um momento posterior, se as suas outras teses não
conseguirem ter êxito. Dessa forma, a parte fica com um trunfo, com uma “carta na manga”,
escondida, para ser utilizada mais a frente, como um último artifício.
Esse nome foi cunhado pelo falecido Ministro do STJ Humberto Gomes de Barros. Algibeira = bolso.
Assim, a “nulidade de algibeira” é aquela que a parte guarda no bolso (na algibeira) para ser utilizada
quando ela quiser.
Tal postura viola claramente a boa-fé processual e a lealdade, que são deveres das partes e de todos
aqueles que participam do processo. Por essa razão, a “nulidade de algibeira” é rechaçada pela
jurisprudência do STJ.
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ATENÇÃO: Conforme entendimento do STJ, mesmo no processo penal não se admite a chamada
nulidade de algibeira. Caso concreto: a defesa técnica compareceu ao ato de oitiva de testemunha e
não alegou nulidade. Tampouco suscitou a suposta nulidade no recurso. Depois do trânsito em julgado,
ajuizou revisão criminal invocando a referida nulidade. A jurisprudência dos Tribunais Superiores não
tolera a chamada “nulidade de algibeira” - aquela que, podendo ser sanada pela insurgência imediata
da defesa após ciência do vício, não é alegada, como estratégia, numa perspectiva de melhor
conveniência futura. Tal atitude não encontra ressonância no sistema jurídico vigente, pautado no
princípio da boa-fé processual, que exige lealdade de todos os agentes processuais.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 732642-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 24/05/2022 (Info 741).
Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos
anteriores, serão renovados ou retificados.
§ 1o A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele
diretamente dependam ou sejam consequência.
É o princípio da causalidade. Por força deste princípio é que o juiz deverá sempre declarar os atos a
que se estende a nulidade (art. 573, § 2º, do CPP), indicando aqueles que deverão ser renovados ou
retificados.
§ 2o O juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.
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norma local expressa. STJ. 5ª Turma. RHC 168797-PI, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 7/3/2023 (Info 766).
O venire contra factum proprium também se aplica para o réu no processo penal.
A regra que veda o comportamento contraditório (venire contra factum proprium)
aplica-se a todos os sujeitos processuais, inclusive para o réu. Assim, não é aceitável
que o réu, após manifestar desinteresse em acompanhar o processo, já que mudou
de endereço sem informar o Juízo, depois que é decretada a sua revelia, venha aos
autos alegar a nulidade da condenação. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.265.981-
SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/2/2023 (Info 773).
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Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
Não há nenhuma nulidade quando o Juiz refuta o exame pericial não esclarecedor
nos crimes de estupro de vulnerável sem conjunção carnal, para, acolhendo as
demais provas, principalmente o depoimento da vítima e das testemunhas,
concluir pela condenação do réu, porque no sistema jurídico penal brasileiro
vigora o princípio do “livre convencimento motivado” do julgador. STJ. 6ª Turma.
AgRg nos EDcl no RHC 127.089/MG, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, julgado em
24/11/2020.
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entanto, não houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem que
fosse informada nova data. No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado
pessoalmente de uma lista de 90 processos que seriam julgados no dia seguinte,
entre eles a apelação que havia sido adiada. No dia 16/09/2014, o recurso foi
julgado sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer a sustentação
oral. Entendeu-se que não houve qualquer nulidade, já que a Defensoria Pública foi
intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em sessão do dia
seguinte e mesmo assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.
STF. 1ª Turma. HC 126081/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/8/2015 (Info
796).
: A apelação
Nulidade pela juntada posterior do voto vencido na apelação
interposta pelo réu foi julgada improvida. Essa decisão foi publicada no Diário
eletrônico. Ocorre que somente após a publicação, houve a juntada do voto
vencido. Para o STF, juntada do voto vencido em momento posterior à publicação
do acórdão afronta o princípio da ampla defesa. STF. 2ª Turma. HC 118344/GO, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/3/2014 (Info 739).
Designação de defensor dativo para audiência em que Defensor Público não pode
participar e inexistência de violação ao princípio do Defensor Público natural. Juiz
negou pedido da Defensoria Pública para adiar audiência de instrução
considerando que, naquela data, o Defensor Público que fazia a assistência jurídica
do réu já possuía audiência marcada em outra comarca. O magistrado, diante da
ausência do Defensor, designou defensor dativo para acompanhar o réu na
audiência. O STF entendeu que não houve violação aos princípios da ampla defesa
e do Defensor Público natural, considerando que: a) o inciso VI do art. 4º-A da LC
80/94 não garante exclusividade à Defensoria para atuar nas causas em que figure
pessoa carente; b) o indeferimento do pedido da defesa não causou prejuízo ao
réu, já que o defensor dativo teve entrevista prévia reservada com o acusado e
formulou perguntas na audiência, participando ativamente do ato processual; c) a
impossibilidade de a Defensoria atuar na comarca não acarreta direito à
redesignação dos atos processuais designados. STF. 2ª Turma. HC 123494/ES, Rel.
Min. Teori Zavascki, julgado em 16/2/2016 (Info 814).
Nulidade da intimação por edital de réu preso. Preso o réu durante o curso do
prazo da intimação por edital da sentença condenatória, essa intimação fica
prejudicada e deve ser efetuada pessoalmente. Se o réu está preso durante o prazo
do edital, ele deverá ser intimado pessoalmente da sentença condenatória, na
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forma do art. 392, I, CPP, restando prejudicada a intimação editalícia. STJ. 6ª Turma.
RHC 45584/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/5/2016 (Info 583).
Súmula n. 155 — É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de
PRECATÓRIA para inquirição de testemunha.
Súmula n. 156 — É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de QUESITO OBRIGATÓRIO.
Súmula n. 160 — É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de RECURSO DE OFÍCIO.
Súmula n. 162 — É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa NÃO
PRECEDEM aos das circunstâncias agravantes.
Súmula n. 206 — É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de jurado que funcionou em
julgamento ANTERIOR do mesmo processo.
Súmula n. 351 — É nula a citação por EDITAL de réu preso na MESMA UNIDADE da Federação em que o juiz
exerce a sua jurisdição.
Súmula 352-STF: Não é nulo o processo penal por falta de nomeação de curador ao réu menor que teve a
assistência de defensor dativo. (superada)
Súmula n. 366 — Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não transcreva
a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.
Súmula n. 431 — É nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda instância, sem prévia intimação, ou
publicação da pauta, salvo em HABEAS CORPUS.
Súmula n. 523 — No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade ABSOLUTA, mas a sua DEFICIÊNCIA
só o anulará se houver prova de PREJUÍZO para o réu.
Súmula n. 564 — A ausência de fundamentação do despacho de recebimento de denúncia por crime
falimentar enseja nulidade processual, salvo SE JÁ HOUVER sentença condenatória.
Súmula n. 706 — É RELATIVA a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por
PREVENÇÃO.
Súmula n. 707 — Constitui nulidade a falta de INTIMAÇÃO do denunciado para oferecer contrarrazões ao
recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de DEFENSOR DATIVO.
Súmula n. 708 — É NULO o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da RENÚNCIA do
único defensor, o réu não foi PREVIAMENTE intimado para constituir outro.
Súmula n. 712 — É nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do júri SEM
AUDIÊNCIA da defesa.
Súmula Vinculante n. 11 — Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga
ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
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autoridade e de NULIDADE da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade
civil do Estado.
Em linhas gerais, o recurso pode ser entendido como o direito que a parte possui de, na mesma
relação jurídica processual (o que o difere das ações autônomas de impugnação, que inauguram uma nova
relação jurídica processual), atacar decisão judicial que lhe contrarie, pleiteando sua revisão, total ou
parcial (NUCCI, 2008, p. 85 1).
Ele decorre da falibilidade humana, do sentimento natural de irresignação e da suposta experiência
dos órgãos jurisdicionais superiores. Tem natureza jurídica de mero desdobramento do direito de ação, pois
a matéria continua a ser discutida na mesma relação jurídica processual. Possui fundamento constitucional,
sendo extraído do princípio constitucional implícito do duplo grau de jurisdição e do princípio constitucional
explícito da ampla defesa (art. 5°, inciso LV, da Constituição Federal). Está também consagrado no Pacto de
São José da Costa Rica (art. 8°, 2- h).
2.2. Características
Sua interposição depende exclusivamente do desejo da parte de contrariar a decisão proferida (art.
574, primeira parte, do CPP). Há, porém, exceções.
A primeira delas diz respeito aos chamados recursos de ofício ou duplo grau de jurisdição obrigatório
(art. 574, incisos I e II, do CPP). A segunda envolve a extensão subjetiva do efeito devolutivo do recurso ou
efeito extensivo dos recursos, que é a possibilidade de extensão dos efeitos do recurso de um recorrente ao
corréu, em hipótese de concurso de agentes, desde que tais efeitos o beneficiem, extensão que não se aplica
apenas em relação aos benefícios de caráter exclusivamente pessoal (art. 580 do CPP), "como, por exemplo,
se um dos coautores é menor de 21 anos, a prescrição lhe será com putada pela metade. Pode ocorrer,
portanto, que sua punibilidade seja julgada extinta, enquanto a dos demais coautores permaneça íntegra"
(NUCCI, 2008, ·p. 853).
2. Disponibilidade
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Se o recurso é voluntário, podendo a parte decidir se irá ou não dele fazer uso, nada mais lógico que
a parte que o interpôs possa também dele desistir. Contudo, há exceção, uma vez que o art. 576, CPP VEDA
EXPRESSAMENTE a desistência de recurso interposto pelo Ministério Público.
3. Tempestividade
4. Taxatividade
O recurso deve estar previsto em lei de forma prévia e expressa (numerus clausus), como garantia a
segurança jurídica e para evitar atitudes protelatórias. NÃO há, portanto, hipótese de recurso inominado ou
de improviso (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 751).
Não obstante, admite-se interpretação extensiva no processo penal (art. 3, CPP), o que inclui, pois, os
recursos. Nesse sentido, o art. 581, CPP, que estabelece as hipóteses de recurso em sentido estrito, foram
ampliadas pela jurisprudência. A exemplo disso, o inciso I permite o RESE contra a decisão que não recebe a
denúncia ou a queixa e, a jurisprudência, admite também contra a decisão que não recebe o aditamento à
denúncia ou a queixa. Lado outro, não é possível se valer de interpretação extensiva para ampliar o rol em
situações que a lei quis excluir, como é o caso da decisão que recebe a denúncia ou queixa.
Para cada tipo de decisão judicial cabe um único e específico recurso, competindo à parte a escolha
do recurso adequado. Excepcionalmente, "uma mesma decisão pode comportar mais de um recurso. É o que
ocorre, por exemplo, com a possibilidade do manejo simultâneo do recurso especial ao STJ e do
extraordinário ao STF, quando uma mesma decisão ofenda a Constituição Federal e a legislação
infraconstitucional". (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 751).
É a "proibição de que a parte que recorreu tenha contra si prolatada uma nova decisão, em virtude da
reforma do julgado recorrido, que venha a piorar sua situação" (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 751). É a
direta, por meio da qual se entende que se "só a defesa recorre, tendo a
chamada reformatio in pejus
acusação se conformado com o provimento jurisdicional, a situação do réu não poderá ser piorada" (TÁVORA;
ALENCAR, 2009, p. 751).
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Nesse sentido, é de se registrar a redação da Súmula n° 160 do STF, segundo a qual se a acusação
recorreu, não poderá o tribunal reconhecer nulidade contra o réu que não tiver sido suscitada, salvo nas
hipóteses em que haja recurso de ofício.
De outro lado, frise-se que também é VEDADA a chamada reformatio in pejus indireta, que ocorre
quando o tribunal ad quem, em sede de recurso promovido exclusivamente pela defesa, anula a decisão
anterior, remetendo os autos ao órgão a quo para proferir novo julgado, que não pode piorar a situação do
acusado, "pois se pudesse fazê-lo, indiretamente estaria exasperando a situação do réu, quando só a defesa
tenha recorrido" (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 752). É essa a posição do STF (RTJ 84/687, 88/1.018, 95/1.018).
Durante muito tempo, o STJ (HC 37.101/PR, 6ª Turma, Rei. Min. Hélio Quaglia Barbosa, DJ 27.06.2005)
entendeu que se a decisão foi anulada por reconhecimento de hipótese de incompetência absoluta, ainda
que em sede de recurso exclusivo da defesa, o órgão a quo não estaria adstrito aos limites daquela decisão,
podendo piorar a situação do réu. Contudo, mais recentemente, o STJ decidiu que, na hipótese em tela, o
juízo a quo absolutamente competente está sim vinculado ao princípio da ne reformatio in pejus indireta,
não podendo agravar a situação do réu definida pelo juízo absolutamente incompetente (HC n° 124149/RJ).
Além disso, esse princípio não é aplicado para os jurados no Tribunal do Júri. Desse modo, se o primeiro
julgamento foi anulado em sede de apelação interposta exclusivamente pela defesa por ser a decisão
manifestamente contrária à prova dos autos, em um segundo julgamento, os jurados têm soberania para
decidir como quiserem (soberania dos veredictos), podendo inclusive agravar a situação do réu.
É o caso de uma primeira condenação em homicídio com apenas uma qualificadora e, no segundo
julgamento, os jurados condenarem o réu por homicídio com duas qualificadoras. Esse princípio, porém, é
aplicado ao juiz-presidente do Tribunal do Júri. Assim, ainda que no novo julgamento os jurados reconheçam
-presidente
qualificadoras ou causas de aumento de pena antes não reconhecidas (o que é possível), o juiz
deverá se ater ao máximo da pena imposta anteriormente (não pode agravar a situação do réu).
Se ao juiz fosse permitido agravar a situação do réu, teria este último prejuízo em razão do seu próprio
recurso, servindo como desestímulo ao seu oferecimento, violando-se, pois, o princípio constitucional da
ampla defesa. É esse o posicionamento mais recente do STF (Informativos números 542 e 619) e do STJ (HC
n° 228856/SP). Por fim, pondere-se que, em qualquer modalidade de procedimento, havendo recurso
exclusivo da acusação, o Tribunal poderá melhorar a situação do acusado, ainda que tenha que proferir
julgamento extra petita, sendo autorizada, desse modo, a aplicação do princípio da reformatio in melius,
"a reforma para melhor, mesmo em recurso específico da acusação, pedido justamente o oposto" (TÁVORA;
ALENCAR, 2009, p. 752).
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não alterou reprimenda do acórdão anterior, que havia transitado em julgado para
a acusação e que veio a ser anulado por iniciativa exclusiva da defesa. Exemplo:
sentença condenou o réu a 10 anos de reclusão. Defesa apelou. Tribunal de Justiça
reduziu a pena para 9 anos. Essa decisão transitou em julgado para ambas as partes.
Defesa impetrou habeas corpus junto ao STJ, que concedeu a ordem para anular o
acórdão do TJ por ausência de prévia intimação. TJ rejulgou a apelação e manteve
a condenação, fixando a pena em 9 anos (como na primeira vez). Contra este
segundo acórdão o Ministério Público interpôs recurso especial. STJ deu
provimento ao Resp para aumentar a pena do réu para 10 anos (como na sentença).
Essa decisão do STJ violou o princípio da non reformatio in pejus indireta
considerando que colocou o sentenciado em situação pior do que aquela que ele
tinha antes do habeas corpus. Desse modo, deve ser afastado o acréscimo da pena
(10 anos), restabelecendo-se o segundo acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça
no julgamento do recurso de apelação (9 anos). STJ. 3ª Seção. RvCr 4853-SC, Rel.
Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE), julgado
em 27/11/2019 (Info 663).
7. Complementariedade
1. Devolutivo
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É a regra geral, permitindo que o Tribunal reveja integralmente a matéria controversa sobre a qual
houve o inconformismo. Cabe também ao Tribunal a análise de matérias que podem ser arguidas de ofício e
a qualquer tempo, como as nulidades absolutas (salvo na hipótese definida na Súmula n° 160 do STF).
2. Suspensivo
É excepcional, impedindo que a decisão produza efeitos desde logo. No entanto, o efeito suspensivo
não provoca, em regra, a suspensão do andamento do processo, salvo "se houver impossibilidade lógica ou
previsão legal expressa no tocante a determinado ato" (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 758), a exemplo do
recurso em sentido estrito interposto contra a decisão de pronúncia, que, consoante o art. 584, § 2°, do CPP,
suspende o julgamento.
Destaca-se que não é a interposição do recurso que estabelece o efeito, mas a simples previsão deste.
Isso porque, enquanto não ultrapassado o prazo recursal, a decisão não produz efeitos. Logo, enquanto a
decisão submetida a recurso que não possui efeito suspensivo pode ser imediatamente executada, é
necessário aguardar o decurso do prazo recursal e, havendo interposição, a preclusão da decisão que jugue
o recurso, para dar início a execução.
Em regra, os recursos interpostos pelo Ministério Público NÃO são dotados de efeito suspensivo. Sobre
o tema, inclusive, cabe ressaltar entendimento sumulado do STJ.
SUM 604: O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a
recurso criminal interposto pelo Ministério Público.
É a devolução do feito ao mesmo órgão prolator da decisão impugnada, com a possibilidade de seu
reexame, o que ocorre nos embargos de declaração, no recurso em sentido estrito, na carta testemunhável
e no agravo em execução. Com esse efeito, permite-se o juízo de confirmação ou retratação.
Caiu em prova Delegado PC-SP/2018! Na teoria geral dos recursos fala-se em efeito iterativo ou diferido.
Assinale a alternativa que contempla recurso ou ação autônoma em que referido efeito está presente.
Recurso em sentido estrito. (Item considerado correto pela banca.)
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punibilidade seja julgada extinta, enquanto a dos demais coautores permaneça íntegra" (NUCCI, 2008, p.
853).
Esse efeito se aplica ainda que os coautores tenham sido denunciados em ações penais diversas.
Também pode ser aplicado às ações autônomas de impugnação (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 758).
5. Substitutivo
Uma vez conhecido o recurso, o julgamento proferido pelo Tribunal substitui a decisão impugnada
naquilo que tiver sido objeto de impugnação, independentemente se for dado ou negado provimento.
Contudo, esse efeito NÃO se aplica em caso de reconhecimento de nulidade da sentença, pois, nesse
caso, a decisão é anulada e deve o juízo a quo proferir nova.
6. Translativo
É a devolução ao Tribunal da apreciação de toda a matéria, a favor ou contra qualquer das partes.
Logo, em regra, não se admite em processo penal, uma vez que é vedada a reformatio in pejus. A única
hipótese de efeito translativo é quando houver os recursos de ofício.
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2.4. Vedação de Desistência do Recurso pelo Ministério Público (art. 576 CPP)
Nos termos do art. 576 do CPP, o Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto,
o que não deixa de ser lógico, já que o recurso é mero desdobramento do direito de ação e o Parquet não
pode desistir da ação em primeiro grau (logo, não pode desistir em grau recursal), por força do princípio da
indisponibilidade da ação penal pública (art. 42 do CPP).
Esclareça-se que a regra acima exposta não obriga que o Ministério Público ofereça um recurso.
Contudo, repita- se, uma vez oferecido o recurso, o órgão ministerial não pode dele desistir. Não obstante,
isso não impede que um membro do Parquet interponha um recurso e outro membro da instituição, com
base na independência funcional, em momento posterior, apresente as razões recursais concordando com
as razões expostas pelo juiz na sentença impugnada.
Caiu em prova Delegado PC-SP/2014! Dentre os recursos a seguir, aquele em que não é possível a desistência
é: em qualquer recurso interposto pelo Ministério Público. (Item considerado correto pela banca.)
O recurso pode ser interposto pelo Ministério Público, pelo querelante, pelo réu pessoalmente, por
seu procurador ou por seu defensor. Pode também ser interposto pelo assistente de acusação (artigos 584,
§1°, e 598 do CPP). Pode ainda interpor o terceiro de boa-fé, como no caso daquele cujo bem foi apreendido
ou sequestrado e que, apesar de apresentados os embargos, teve sua pretensão rejeitada pelo juiz (art. 130,
inciso II, do CPP).
No caso de divergência entre a vontade do réu e a vontade do defensor em recorrer, deve prevalecer
aquela de quem pretende recorrer, em proteção à ampla defesa. Nesse sentido é que a Súmula n° 705 do
STF apregoa: "A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não
impede o conhecimento da apelação por este interposta". Esse entendimento, porém, só é válido se o
recurso do réu trouxer real vantagem para ele: se tal vantagem for duvidosa ou incerta, prevalece a intenção
do defensor técnico, salvo manifestação de renúncia do réu tomada por termo, na presença de seu defensor,
que deverá esclarecê-lo sobre as consequências da renúncia e os benefícios do recurso (NUCCI, 2008, p. 857-
858).
Atenção:
Por força também da ampla defesa, é possível o processamento simultâneo dos recursos
presentados pelo defensor constituído e pelo defensor dativo. Nesse caso, as teses de defesa serão
processadas por sucessividade. De outro lado, se o réu figurar no recurso como recorrido, mesmo que o
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advogado constituído por ele tenha sido intimado para apresentar contrarrazões, tendo ele permanecido
inerte, faz-se imperiosa, em um primeiro momento, a intimação do acusado para que constitua novo
causídico. Somente se persistir essa situação é que será necessária, em um segundo momento, a nomeação
de defensor para o ato, por parte do juiz ou tribunal, conforme o caso, o que deflui da indisponibilidade da
defesa técnica, de acordo com o art. 263, caput, do CPP (STJ, Informativo n° 433). É esse inclusive um dos
fundamentos da Súmula n ° 707 d o STF: "Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor
dativo".
Em regra, o juízo de prelibação, ou seja, a análise dos pressupostos de admissibilidade é feita tanto no
juízo a quo quanto no juízo ad quem. Ou seja, é feito um duplo juízo de admissibilidade, não ficando o
Tribunal preso ao juízo de admissibilidade feito pelo juízo a quo.
Verificada a presença desses pressupostos, o recurso é conhecido (atenção a terminologia). Uma vez
conhecido, passa-se à análise do mérito, momento em que será ou não provido.
Embora haja inúmeros critérios doutrinários sobre a classificação dos pressupostos de admissibilidade
dos recursos, para fins didáticos, adotamos aquele utilizado majoritariamente pela doutrina, dividindo-os
entre pressupostos objetivos e subjetivos.
Os objetivos são:
Há, pois, decisões que não comportam o oferecimento de recurso, a exemplo da que recebe a
denúncia ou queixa, passível, entretanto, de impugnação por meio de habeas corpus.
A decisão que admite ou não o assistente de acusação é também irrecorrível (art. 273 do CPP),
comportando, no entanto, o manejo do mandado de segurança em matéria criminal.
2. Adequação: A parte necessita respeitar o recurso exato indicado na lei para cada tipo de decisão
impugnada.
Esse pressuposto admite mitigação pela fungibilidade recursal, que possibilita que o recurso
incorreto seja recebido como se o correto fosse, desde que não haja má-fé do recorrente.
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Se a parte oferecer o recurso antes do fim do prazo para ele previsto, ocorrerá a preclusão
consumativa, impedindo-se que a parte que já exerceu a prerrogativa recursal venha a de novo exercê-la,
visando, por exemplo, complementar as razões já oferecidas (TÁVORA; ALENCAR, 2009, p. 755).
De outro lado, nos termos da Súmula n° 216 do STJ, a tempestividade é aferida pelo registro no
protocolo da secretaria e não pela data da entrega na agência do correio, também pouco importando a data
que o juiz despachar os autos.
Em havendo dúvida sobre a tempestividade do recurso, ela deve ser resolvida em favor do
processamento do mesmo, efetivando-se assim o princípio do duplo grau de jurisdição (NUCCI, 2008, p. 862).
Cabe ressaltar que nos recursos apresentados separadamente (petição ou termo e depois razões) a
tempestividade é aferida apenas na interposição. Os Tribunais consideram que a apresentação das razões
recursais fora do prazo legal constitui mera irregularidade, que não obsta o conhecimento do recurso.
Uma vez necessária a intimação da defesa técnica e do acusado, visto que ambos possuem
legitimidade para interposição de recurso, o prazo só começa a correr após a intimação do último deles. No
caso do Ministério Público e Defensoria Pública, cuja intimação deve ser pessoal, o prazo tem início no
momento da entrega dos autos ao setor administrativo do órgão, conforme entendimento da jurisprudência
das Cortes. A Defensoria possui prazo em dobro (o MP não).
São fatos impeditivos do julgamento dos recursos a preclusão e a renúncia (GRINOVER; GOMES FILHO;
FERNANDES, 2009, p. 88). De outro lado, são fatos extintivos dos recursos a desistência e a deserção
(GRINOVER; GOMES FILHO; FERNANDES, 2009, p. 88).
A preclusão possui 3 (três) espécies, quais sejam: a) temporal - é o não oferecimento do recurso no
prazo previsto em lei (liga-se à intempestividade); b) lógica - é a incompatibilidade da prática de um ato
processual com outro já praticado (liga-se à renúncia); c) consumativa - ocorre quando a faculdade já foi
devidamente exercida.
A renúncia é operada antes da interposição do recurso, enquanto a desistência ocorre quando ele já
foi interposto. O Ministério Público não pode jamais desistir do recurso oferecido (art. 576 do CPP), embora
não esteja obrigado a oferecê-lo. Também não se admite a renúncia do recurso por parte do MP (NUCCI,
2008, p. 863). No caso do direito da defesa técnica e do acusado de recorrer, existindo divergência entre eles,
com a renúncia de um, prevalece a vontade daquele que tem interesse em recorrer, conforme entendimento
dos Tribunais. Por fim, a renúncia e desistência são irrevogáveis e irretratáveis.
Já a deserção ocorre quando faltar preparo do recurso do querelante, nos casos de crime que se
processe por ação penal exclusivamente privada ou personalíssima (art. 806, CPP). Na ação penal privada
subsidiária da pública, por não restar afastado o caráter público da ação, não há deserção por falta de
preparo. Além disso, a lei ressalva a hipótese de comprovada pobreza. Dessa forma, sendo demonstrado pelo
querelante que não tem condições de arcar com o preparo do recurso, sendo beneficiário da Justiça Gratuita,
a ele não será imposta a deserção.
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Somente é possível recorrer se a decisão trouxer benefício à parte. É a chamada sucumbência. Por
conta disso, em regra, não se recorre contra os fundamentos da decisão. Entretanto, se ela gera efeito
consequencial concreto no direito da parte caberá o recurso. É o exemplo de um réu que é absolvido por
insuficiência de provas (hipótese que não encerra a discussão do caso, pois ainda cabe ação cível), quando
veiculada tese de legítima defesa (que não permite a ação cível). Nesse ponto, cabe destacar que prevalece
que diante da declaração de extinção da punibilidade, não subsiste interesse recursal.
O Ministério Público tem interesse para recorrer tanto como autor como custos legis, seja diante de
condenação ou absolvição. Entretanto, na ação penal exclusivamente privada, se há absolvição do querelado
e o querelante não recorre, não pode o Ministério Público recorrer, sob pena de violação do princípio da
disponibilidade (NUCCI, 2008, p. 860);
2. Legitimidade: O recurso deve ser oferecido por quem é parte na relação processual ou, se terceiro, desde
que expressamente autorizado por lei.
Tem legitimidade para recorrer o Ministério Público, o querelante, o réu e o defensor do réu (art.
577, CPP).
O réu tem capacidade postulatória autônoma para interpor recursos, mesmo sem a presença de
defesa técnica, quando o recurso puder ser interposto por termo nos autos, desacompanhado das razões,
que demandam defesa técnica. De igual modo, o defensor pode recorrer de forma autônoma, ainda que o
acusado não tenha interesse de impugnar a decisão.
Embora não esteja expressamente previsto no art. 577, CPP, o assistente de acusação possui
legitimidade para recorrer, em casos expressamente previstos na legislação, bem como em hipóteses
reconhecidas pela doutrina e jurisprudência. Sobre o recurso interposto pelo assistente de acusação cabe
destacar que não possui efeito suspensivo. Além disso, a legitimidade é subsidiária ou supletiva ao do órgão
ministerial, de modo que pode atuar em caso de inércia do MP ou quando o recurso deste for parcial,
cabendo a impugnação pelo restante do objeto da sucumbência (art. 271, CPP). Por fim, destaca-se que o
recurso do ofendido independe de sua prévia habilitação como assistente de acusação no feito.
O princípio da fungibilidade dos recursos significa que a interposição de um recurso por outro,
inexistindo má-fé, não impedirá que seja ele processado e conhecido como se fosse o recurso cabível (art.
579, caput e parágrafo único, do CPP). A inexistência da má-fé é evidenciada se o recurso for interposto
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dentro do prazo limite do recurso que seria cabível, conforme posição do STF (RTJ 92/123), embora doutrina
minoritária entenda que a boa-fé existiria se o recorrente não cometesse erro grosseiro no oferecimento do
recurso, ou seja, se houvesse dúvida objetiva (dúvida séria e fundada encontrada na doutrina e na
jurisprudência) quanto à escolha do recurso correto (adequação).
Observação:
Guarda relação com o princípio da fungibilidade dos recursos o princípio da conversão, segundo o qual
a "parte não será prejudicada pelo endereçamento errado do recurso, cabendo ao tribunal incompetente
para o qual o recurso foi endereçado remeter os autos ao órgão competente para apreciá-lo" (TÁVORA;
ALENCAR, 2009, p. 752).
LETRA DA LEI
TÍTULO II
DOS RECURSOS EM GERAL
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
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Há, contudo, corrente minoritária sustentando que, por uma interpretação sistemática, o art. 574, II,
do CPP continuaria válido, bastando, para tanto, substituir o art. 411 do CPP pelo art. 415 do Código.
Ainda de acordo com essa corrente, o recurso de ofício só existiria no caso de absolvição sumária do
Tribunal do Júri, não para aquela decisão de absolvição sumária prevista no art. 397 do CPP.
Outra exceção a voluntariedade dos recursos diz respeito à extensão subjetiva do efeito devolutivo
do recurso ou efeito extensivo dos recursos, que é a possibilidade de extensão dos efeitos do recurso
de um recorrente ao corréu, em hipótese de concurso de agentes, desde que tais efeitos o beneficiem,
extensão que não se aplica apenas em relação aos benefícios de caráter exclusivamente pessoal (art.
580 do CPP), como, por exemplo, se um dos coautores é menor de 21 anos, a prescrição lhe será
computada pela metade. Pode ocorrer, portanto, que sua punibilidade seja julgada extinta, enquanto
a dos demais coautores permaneça íntegra.
Art. 575. Não serão prejudicados os recursos que, por erro, falta ou omissão dos
funcionários, não tiverem seguimento ou não forem apresentados dentro do prazo.
Súmula 320-STF: A apelação despachada pelo juiz no prazo legal não fica prejudicada pela demora da
juntada, por culpa do cartório.
Súmula 425-STF: O agravo despachado no prazo legal não fica prejudicado pela demora da juntada,
por culpa do cartório; nem o agravo entregue em cartório no prazo legal, embora despachado
tardiamente.
Súmula 428-STF: Não fica prejudicada a apelação entregue em cartório no prazo legal, embora
despachada tardiamente.
Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.
Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo
querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor.
Pode também ser interposto pelo assistente de acusação (artigos 584, § 1º, e 598 do CPP). Pode ainda
interpor o terceiro de boa-fé, como no caso daquele cujo bem foi apreendido ou sequestrado e que,
apesar de apresentados os embargos, teve sua pretensão rejeitada pelo juiz (art. 130, inciso II, do CPP).
No caso de divergência entre a vontade do réu e a vontade do defensor em recorrer, deve prevalecer
aquela de quem pretende recorrer, em proteção à ampla defesa.
Súmula 705-STF: A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor,
não impede o conhecimento da apelação por este interposta.
Havendo divergência entre o condenado e seu defensor quanto ao desejo de recorrer, deve prevalecer
a vontade de quem detém os conhecimentos técnicos e visualiza a viabilidade recursal, prestigiando-
se o princípio do duplo grau de jurisdição e da ampla defesa (HC 235.498/SP, julgado em 12/06/2012).
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Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver
interesse na reforma ou modificação da decisão.
Art. 578. O recurso será interposto por petição ou por termo nos autos, assinado
pelo recorrente OU por seu representante.
§ 1o Não sabendo ou não podendo o réu assinar o nome, o termo será assinado
por alguém, a seu rogo, na presença de duas testemunhas.
§ 2o A petição de interposição de recurso, com o despacho do juiz, será, até o dia
seguinte ao último do prazo, entregue ao escrivão, que certificará no termo da
juntada a data da entrega.
§ 3o Interposto por termo o recurso, o escrivão, sob pena de suspensão por dez a
trinta dias, fará conclusos os autos ao juiz, até o dia seguinte ao último do prazo.
POR TERMO: A apelação por termo é aquela desprovida de rigor formal, bastando que o recorrente
revele o seu inconformismo com a decisão, demonstrando o desejo do recurso. O próprio réu poderá
apelar por termo, não se exigindo, portanto, capacidade postulatória para esse proceder, que será
necessária, entretanto, para a apresentação das razões.
POR PETIÇÃO: A petição recursal poderá, no ato de sua interposição, ser acompanhada de razões ou
não.
Art. 579. Salvo a hipótese de má
-fé, a parte não será prejudicada pela interposição
de um recurso por outro.
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso
interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.
O princípio da fungibilidade dos recursos (ou teoria do recurso indiferente ou teoria do "tanto vale")
significa que a interposição de um recurso por outro, inexistindo má-fé, não impedirá que seja ele
processado e conhecido como se fosse o recurso cabível (art. 579, caput e parágrafo único, do CPP). A
inexistência da má-fé é evidenciada se o recurso for interposto dentro do prazo limite do recurso que
seria cabível, conforme posição do STF (RTJ 92/123) e do STJ (Informativo nº 543), desde que o erro
não tenha gerado prejuízo à parte recorrida no que tange ao processamento do recurso, embora
doutrina minoritária entenda que a boa-fé existiria se o recorrente não cometesse erro grosseiro no
oferecimento do recurso, ou seja, se houvesse dúvida objetiva (dúvida séria e fundada encontrada na
doutrina e na jurisprudência) quanto à escolha do recurso correto (adequação).
Em suma:
REQUISITOS P/FUNGIBILIDADE: (i) Boa-fé; (ii) Recurso errado no prazo do recurso certo; (iii) Dúvida
objetiva (inexistência de erro grosseiro).
Guarda relação com o princípio da fungibilidade dos recursos o princípio da conversão, segundo o qual
a parte não será prejudicada pelo endereçamento errado do recurso, cabendo ao tribunal
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incompetente para o qual o recurso foi endereçado remeter os autos ao órgão competente para
apreciá-lo.
Pode ser conhecida como recurso em sentido estrito a apelação erroneamente interposta contra
decisão que julga inepta a denúncia, com a condição de que, constatada a ausência de má-fé, tenha
sido observado o prazo legal para a interposição daquele recurso e desde que o erro não tenha
gerado prejuízo à parte recorrida no que tange ao processamento do recurso. STJ. 5ª Turma. REsp
1.182.251-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/6/2014 (Info 543).
Caracteriza erro grosseiro a interposição de apelação contra decisão que desclassificou o crime
determinando a remessa dos autos ao Juizado Especial Criminal. Logo, se a parte interpôs apelação,
em vez de RESE, não pode ser aplicado o princípio da fungibilidade. STJ. 6ª Turma. REsp 611.877-RR,
Rel. originário Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 17/4/2012.
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do
recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de
caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.
O art. 580 não pode ser aplicado quando: a) o réu que estiver requerendo a extensão da decisão não
participar da mesma relação jurídico-processual daquele que foi beneficiado.requerente
O será, neste
caso, parte ilegítima; b) se invoca extensão da decisão para outros processos que não foram
examinados pelo órgão julgador. Isso porque, neste caso, o que o requerente está pretendendo é obter
a transcendência dos motivos determinantes para outro processo, o que não é admitido pela
jurisprudência do STF. STF. 1ª Turma. HC 137728 EXTN/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/5/2017
(Info 867).
INFO 857 STF- RECURSOS - Não é possível a interposição de recurso por e-mail
O art. 1º da Lei nº 9.800/99 prevê que "é permitida às partes a utilização de sistema de transmissão
de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam
de petição escrita." É possível a interposição de recurso por e-mail, aplicando-se as regras da Lei nº
9.800/99? NÃO. A ordem jurídica não contempla a interposição de recurso via e-mail. O e-mail não
configura meio eletrônico equiparado ao fax, para fins da aplicação do disposto no art. 1º da Lei nº
9.800/99, porquanto não guarda a mesma segurança de transmissão e registro de dados. STJ. 6ª
Turma. AgRg no AREsp 919.403/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/09/2016. STF. 1ª
Turma. HC 121225/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/3/2017 (Info 857).
O prazo para a interposição de recurso flui a partir da última publicação da decisão a ser impugnada,
de modo que a republicação, mesmo que desnecessária ou feita por equívoco, acarreta a reabertura
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A ausência de interposição de recurso pelo defensor, por si só, não é suficiente para comprovar
eventual prejuízo sofrido pelo réu com consequente nulidade processual. Assim, a ausência da
interposição de recurso cabível pelo advogado do réu, ainda que este seja assistido por defensor
público ou dativo, não constitui falta de defesa, uma vez que, no art. 574, caput, do CPP, é adotado
o princípio da voluntariedade dos recursos. STJ. 6ª Turma. HC 111.393-RS, Rel. Min. Alderita Ramos
de Oliveira (Desembargadora convocada do TJ-PE), julgado em 2/10/2012.
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(Não) É possível aplicar multa por litigância de má-fé no processo penal em face
do abuso do direito de recorrer. É possível aplicar multa por litigância de má-fé no
processo penal em face do abuso do direito de recorrer?
- 1C: SIM, pois configura abuso do direito de recorrer.
STF. 2ª Turma. HC 192814 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
16/11/2020.
- 2C: NÃO, dada a falta de previsão legal (sua aplicação constituiria indevida
analogia in malam partem).
STJ. 3ª Seção. REsp 1568445/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. p/ Acórdão
Ministro Ribeiro Dantas, julgado em 24/06/2020 (Info 677).
STJ. 6ª Turma. AgRg no RMS 39.859/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
09/03/2017.
Não cabe mandado de segurança contra decisão do juiz de 1ª instância que defere
ou indefere o desbloqueio de bens e valores; cabe apelação. Não é admissível a
impetração de mandado de segurança contra ato jurisdicional que defere o
desbloqueio de bens e valores. Isso porque se trata de decisão definitiva que,
apesar de não julgar o mérito da ação, coloca fim ao procedimento incidente. O
procedimento adequado para a restituição de bens é o incidente legalmente
previsto para este fim. O instrumento processual para impugnar a decisão que
resolve esse incidente é a apelação, sendo incabível a utilização de mandado de
segurança como sucedâneo do recurso legalmente previsto. STJ. 6ª Turma. REsp
1787449-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667).
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LEI DE GENOCÍDIO
Principais artigos: todos os artigos da lei (como a lei é pequena, a leitura atenta da sua integralidade
é necessária).
1. INTRODUÇÃO HISTÓRICA
O primeiro estudioso a se debruçar sobre o tema foi o polonês Rafael Lemkin, em 1944, com a
finalidade de entender a qualificação jurídica dos atos ocorridos na Alemanha Nazista. O autor concluiu que
a motivação dos homicídios em massa era por condições raciais, nacionais ou religiosas de se destruir uma
nação e apagar a sua personalidade cultural.
O professor Heleno Cláudio Fragoso faz a distinção entre homicídio e genocídio:
Historicamente, não há um marco preciso do início dessa prática. Todavia, existem registros
históricos de que são tão antigas quanto à existência da humanidade. No entanto, a preocupação com o
tratamento jurídico surgiu com a aprovação da Convenção para a Prevenção e Castigo do Crime de Genocídio,
em 1948. Esse diploma internacional, em seu artigo 1º, expede um mandado de criminalização aos Estados
signatários deste instrumento internacional. Veja: “As partes contratantes confirmam que o genocídio, quer
cometido em tempo de paz ou em tempo de guerra, é um crime contra o Direito Internacional, que elas se
comprometem a prevenir e a punir.”
Assim, atendendo ao mandado de criminalização, o Estado Brasileiro editou a Lei nº 2.889/56, que
define e pune o crime de genocídio na ordem interna. Veja:
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ATENÇÃO! Vale destacar que o delito de genocídio consta como de competência do Tribunal Penal
Internacional, possuindo definição semelhando ao estabelecido posteriormente pela lei brasileira (art. 6° do
Estatuto de Roma) conforme será visto mais adiante.
As normas penais em branco são aquelas em que o preceito primário precisa ser complementado. O
complemento pode se dar por lei ou por outro ato normativo. Ao contrário, no caso das normas penais em
branco às avessas, o que precisa ser complementado é o preceito secundário da norma, ou seja, a sanção
penal.
Nesse caso, somente uma lei pode complementar outra lei em branco invertida, sendo hipótese
obrigatória de lei penal em branco às avessas homogênea, sob pena de ferir o princípio da legalidade:
O Brasil aderiu ao Estatuto de Roma, que possui competência para julgar pessoas (e não Estados) que
cometam os seguintes crimes:
⮚ Crime de genocídio;
⮚ Crimes contra a humanidade;
⮚ Crimes de guerra;
⮚ Crime de agressão.
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Importante salientar que a competência do TPI é subsidiária de forma que somente será chamado a
julgar as infrações penais acima descritas no caso de omissão ou incapacidade por parte do Estado Nacional.
E, ao contrário do que é aplicado na ordem jurídica interna, que possui como regra a prescritibilidade
do crime de genocídio, a prática de crimes contra a humanidade, no contexto do TPI, é considerada
imprescritível, conforme dispõe o art. 29 do Estatuto de Roma.
Sobre o tema, cabe destacar a jurisprudência do STF, segundo a qual a prescritibilidade e
imprescritibilidade de crimes necessita de disciplina por lei interna:
Por ser considerado um crime contra a humanidade, o bem jurídico tutelado pela Lei que define e
pune o crime de genocídio é de natureza supraindividual, conforme já decidiu o STF:
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Não obstante lesão à vida e integridade física, o crime de genocídio não é considerado um crime
contra a vida, não sendo necessariamente da competência do Tribunal do Júri o seu julgamento. Assim
também já decidiu o STF:
Em suma: Em que pese o crime de genocídio, na prática, ser capaz de atingir diversos bens jurídicos (vida,
integridade física, dentre outros), os Tribunais Superiores já reconheceram que o bem jurídico primário
defendido pelos crimes de genocídio é a existência do grupo racial, étnico ou religioso (bens jurídicos
supraindividuais, coletivos ou transindividuais).
Uma questão importante e pertinente é a prática de genocídio contra os índios. Veja o que dispõe o
art. 109, XI da CF e a súmula 140 do STJ:
Como se percebe pela leitura do inciso, em regra, somente será de competência da Justiça Federal
os casos que envolvam disputa sobre direitos indígenas.
Regra: Assim, em regra, a competência para julgar crime no qual o indígena figure como autor ou vítima é da
Justiça Estadual. A Súmula 140-STJ é expressa nesse sentido: “Compete à justiça comum estadual processar
e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima”.
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O conceito de direitos indígenas, previsto no art. 109, XI, da CF/88, para efeito de fixação da
competência da Justiça Federal, é aquele referente às matérias que envolvam a organização social dos índios,
seus costumes, línguas, crenças e tradições, bem como os direitos sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, compreendendo, portanto, a hipótese em análise.
Dessa forma, o genocídio, quando praticado contra indígenas atrai a competência de um juiz federal
singular, já que envolve direitos indígenas (art. 109, XI da CF/88).
No entanto, quando praticado mediante a morte dos membros do grupo, o agente deverá responder
pelo genocídio em concurso formal impróprio com os delitos de homicídio, não sendo possível o princípio da
consunção, pois os tipos penais protegem bens jurídicos diversos. Nessa hipótese, os homicídios serão
julgados por um Tribunal do Júri Federal, que exercerá força atrativa em relação ao crime conexo de
genocídio. Assim, o STF:
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5. EXTRATERRITORIALIDADE
A regra aplicada no Código Penal Brasileiro é a da territorialidade, de forma que a lei brasileira será
aplicada aos crimes cometidos no território nacional. Ocorre que o art. 7º, I, “d” do mesmo diploma legal traz
a hipótese de extraterritorialidade, que é cabível quando a lei brasileira poderá ser aplicada a crimes
praticados em outros países.
RELEMBRANDO OS PRINCÍPIOS
As hipóteses de extraterritorialidade (incondicionada ou condicionada) que estão no artigo 7º do CP
foram inspiradas em princípios aceitos pela doutrina de forma geral.
O primeiro princípio é o da nacionalidade. Interessa aos países julgar os seus nacionais, quando
cometam crimes no exterior. A nacionalidade ativa evita uma lacuna de punição. Considere-se, por exemplo,
o Brasil, que não extradita nacionais. Imagine-se que um brasileiro vá aos Estados Unidos e mate duas
pessoas, fugindo de volta para o Brasil. Os Estados Unidos, após investigação, requerem a extradição do
agente para ser julgado em seu território. O Brasil não aceita, pois se trata de nacional. Por isso, instaura- se
um processo no Brasil para julgamento de seu nacional, para evitar a impunidade. Por sua vez, a
nacionalidade passiva é objeto de divergência conceitual: consiste na aplicação da lei penal da nacionalidade
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da vítima (primeira corrente); a aplicação da lei nacional pressupõe que o agente atinja um bem jurídico de
seu próprio estado ou de um concidadão (segunda corrente).
O segundo princípio é o da defesa, real ou da proteção, que considera a nacionalidade do bem
jurídico lesado ou a sua especial importância para o nosso país. Em determinados casos, o sujeito ativo não
é brasileiro, não há sujeito passivo ou também pode não ser brasileiro, todavia, o bem jurídico tutelado é
nacional ou especialmente importante para nós.
O terceiro princípio é o da justiça universal ou da justiça cosmopolita. A ideia original de justiça
universal, absolutamente inaplicável, é de que todos os países deveriam cooperar em conjunto para a
persecução de quaisquer delitos. Por exemplo, se João mata Antônio em Portugal, na Turquia poderia haver
um processo contra João. Isso é obviamente inviável na prática. Contudo, a colaboração entre países existirá
em alguns casos muito especiais, que tenham repercussão na comunidade internacional. Cite-se como
exemplo o apoderamento ilícito de aeronaves ou a destruição de cabos submarinos. Nesses casos não
interessa o sujeito ativo, o sujeito passivo, se o bem jurídico é brasileiro ou é especialmente importante para
o Brasil, desde que o Brasil seja signatário de tratados que objetivem aprimorar a persecução desses delitos,
que tem repercussão internacional.
O último princípio frequentemente apontado pela doutrina é o da representação, do pavilhão, da
bandeira ou da substituição que tem como conteúdo a ideia de substituição. Em alguns casos a jurisdição
principal será do país A. No entanto, considerando que houve alguma repercussão no país B e o país A não
tomou providências, o país B, subsidiariamente, poderá tomá-las. É, portanto, a possibilidade de um país agir
ante a inércia de outro.
Na alínea "d" do Código Penal, que trata especificamente do crime de genocídio, quando o agente
for brasileiro ou domiciliado no Brasil, a posição prevalente enxerga também o princípio da defesa, real
ou da proteção. Muito embora o bem jurídico não seja nacional, há uma especial importância do bem
jurídico, que fez com que o Brasil se comprometesse a reprimir o crime. Entretanto, parte da doutrina
aponta que a fundamentação está no princípio da justiça universal (Diego Luiz Victório Pureza em Leis
Penais Especiais, pg. 198).
O direito brasileiro adota o sistema legal para definição dos crimes hediondos (somente serão
hediondos aqueles delitos previstos em rol taxativo na lei). O art. 1º, I, da Lei 8.072/90 – Lei de Crimes
Hediondos – dispõe que será considerado crime hediondo a prática de genocídio em sua modalidade
tentada ou consumada, prevista nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei 2.889/56, ou seja, o delito de genocídio
propriamente dito, a associação para a prática de genocídio e a incitação ao genocídio.
Considerando que a Lei dos Crimes Hediondos faz remissão aos artigos 1°, 2° e 3° da Lei n°
2.889/1956 (Lei de Genocídio), podemos concluir que será considerado hediondo:
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7. PRISÃO TEMPORÁRIA
É importante salientar que foi adotado o critério legal para cabimento da decretação da prisão
temporária, de forma que somente o agente que cometeu algum dos crimes previstos na Lei 7.960/89
poderá ter a reprimenda decretada em seu desfavor.
Por se tratar de um crime hediondo, o prazo da prisão temporária será de 30 dias prorrogáveis
por mais 30, conforme art. 2º, §4º da Lei 7.960/89.
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doutrina DIVERGE sobre o tema. Para o autor Fernando Capez o grupo pode ser formado por
no mínimo duas pessoas. Já Rogério Sanches aduz que se deve usar o mesmo conceito de
grupo trazido pela Lei 12.694/2012, que dispõe o processo e o julgamento colegiado em
primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organização criminosa, ou seja, a reunião
de três ou mais pessoas. Por outro lado, para o doutrinador Alberto Silva Franco, é necessário
que tenham, no mínimo, 04 ou mais agentes.
DICA DD: Vê-se, portanto, que o bem jurídico tutelado por ambos crimes é diferente, de
forma que não se confundem. O dolo do agente também não é o mesmo.
9. TERRORISMO E GENOCÍDIO
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Trata-se de crime que somente pode ser cometido na modalidade dolosa, tendo em vista a
excepcionalidade do crime culposo, que não foi contemplado na lei de Genocídio. Ainda, a lei exige o
elemento subjetivo específico, ou especial fim de agir, qual seja, a intenção de destruir, no todo ou em parte,
grupo nacional, étnico, racial ou religioso.
A ação penal em todas as hipóteses é pública incondicionada, de titularidade do Membro do
Ministério Público.
A alínea “a” do art. 1º da Lei de Genocídio prevê a prática desse delito por intermédio da prática do
homicídio, ou seja, matar alguém. Como ensinam Nestor Távora e Rosmar Rodrigues, é necessário que o
agente tenha consciência de que as vítimas integrem o grupo nacional, étnico, racial ou religioso e tenha o
dolo de destruí-lo total ou parcialmente.
O tipo penal não prevê um número mínimo de vítimas, de forma que, constatado o dolo do agente,
mesmo que haja a morte de somente um ou alguns membros, é possível a tipificação como crime de
genocídio.
11.1.1.4 – Pena
Conforme dito anteriormente, trata-se de norma penal em branco ao inverso, de forma que o
preceito secundário se encontra no art. 121, §2º, do CP, sendo, portanto, de reclusão de 12 a 30 anos.
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Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
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A conduta do agente, portanto, se amoldará ao tipo penal caso ele pratique lesão corporal grave ou
gravíssima com o dolo de eliminação de grupo nacional, étnico, racial ou religioso.
Há divergência doutrinária no tocante à lesão corporal seguida de morte com a intenção de
destruição desses grupos será considerada genocídio. Parte dela entende que tal hipótese não poderá
expressamente essa hipótese, o que seria
configurar o delito de genocídio, pois a Lei de Genocídio não traz
uma violação ao princípio da legalidade. No entanto, também há quem sustente o contrário, alegando que a
lesão seguida de morte, numa visão ampla, é uma das hipóteses de matar membros do grupo, prevista na
alínea “a”.
11.1.2.3 – Pena
Conforme dito anteriormente, trata-se de norma penal em branco ao inverso, de forma que o
preceito secundário se encontra no art. 129, §1º, CP (01 a 05 anos) e 2º (02 a 08 anos).
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Nesse caso, a conduta do agente se perfectibiliza ao tipo penal caso ele submeta, intencionalmente
o grupo, a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial. Essa conduta
pode ser praticada por intermédio de internação em campos de concentração, redução à condição análoga
à escravidão, cessação no fornecimento de medicamentos e remédios, dentre outras.
Segundo Nucci, neste caso, prevê-se, na essência, um crime de perigo concreto, idôneo a gerar o
dano, que é a destruição dos integrantes do grupo em virtude da nacionalidade, etnia, raça ou religião. É
razoável considerar atitude genocida a inserção de pessoas em condições sub-humanas de subsistência, com
o intuito de atingir, em breve tempo, o dano, isto é, a eliminação do grupo.
11.1.3.3 – Pena:
Conforme dito anteriormente, trata-se de norma penal em branco ao inverso, de forma que o
preceito secundário se encontra no art. 270 do CP, sendo, portanto, de reclusão de 10 a 15 anos.
Trata-se de uma conduta praticada pelo agente que se dê de modo que evite o nascimento de novos
integrantes no grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Sua execução pode se dar das mais variadas formas,
a exemplo do aborto, ministração de métodos contraceptivos, esterilização compulsória, dentre outros.
Ressalte-se que tais medidas podem ser preventivas ou destrutivas.
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RETA FINAL
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Trata-se de crime formal, ou seja, não é necessário o resultado naturalístico, bastando que o agente
adote medidas destinadas a impedir o nascimento em seio do grupo, ainda que não impeça efetivamente. É
permitida a tentativa, pois trata-se de um crime plurissubsistente.
11.1.4.3 – Pena:
Conforme dito anteriormente, trata-se de norma penal em branco ao inverso, de forma que o
preceito secundário se encontra no art. 125 do CP, sendo, portanto, de reclusão de 03 a 10 anos.
Trata-se da conduta de deslocar uma criança de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso para
outro, com a finalidade de destruir total ou parcialmente a composição deste. Caso ocorra a transferência de
adolescentes ou adultos, não haverá prática dessa infração penal (não impedindo que o genocídio seja
tipificado com base em uma das outras alíneas).
Prevista no art. 2º da Lei de genocídio, trata-se de um crime especial ao previsto no art. 288 do CP
(associação criminosa). Vejamos:
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes mencionados
no artigo anterior:
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RETA FINAL
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Trata-se de um delito de concurso necessário em que mais de 03 pessoas se unem com a finalidade
em comum de praticar quaisquer das modalidades de genocídio trazidas pela lei.
É necessária a estabilidade e a permanência do vínculo associativo, de forma que se esses elementos
estiverem ausentes, será hipóteses de concurso de pessoas e não de crime autônomo.
12.3 – Pena:
Como se trata de lei penal em branco às avessas, conforme já dito anteriormente, a pena para os
agentes que praticam tal delito será a metade da cominada aos crimes ali previstos. Ou seja, irá depender da
modalidade utilizada pelo agente para a prática do genocídio.
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos crimes de que
trata o art. 1º:
Pena: Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se
consumar.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida
pela imprensa.
O delito em comento trata de tipificar a prática de estimular, incentivar, encorajar alguém a agir de
forma pública, destinada a prática de qualquer dos crimes previstos no art. 1º.
Ainda, o art. 3º descreve que a conduta deve ser destinada a incitar “alguém”, ou seja, pessoa certa
e determinada. Caso seja direcionada a pessoas indeterminadas, se amoldará a conduta ao crime previsto
no art. 286 do CP (Incitação ao crime).
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RETA FINAL
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Trata-se de crime comum podendo ser praticado por qualquer pessoa. No caso do sujeito passivo,
trata-se de crime contra a humanidade. O bem jurídico tutelado é a paz pública.
13.3 – Pena:
Como se trata de lei penal em branco às avessas, conforme já dito, a pena para os agentes que
praticam tal delito será a metade da cominada aos crimes ali previstos. Ou seja, irá depender da modalidade
utilizada pelo agente para a prática do genocídio.
Caso o crime incitado se consumar, a pena será a mesma do crime incitado.
Caso ainda seja cometida a incitação por meio da imprensa, haverá uma causa de aumento de 1/3.
Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando
cometido o crime por governante ou funcionário público.
Quaisquer dos delitos previstos na lei de genocídio (art. 1º, 2º ou 3º), caso sejam praticados por
governante ou funcionário público, a pena será aumentada de 1/3.
Embora o dispositivo faça menção à “agravante”, trata-se de causa de aumento, a ser considerada
na terceira fase da dosimetria da pena.
Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das respectivas penas a tentativa dos
crimes definidos nesta lei.
ATENÇÃO! A modalidade tentada dos crimes previstos na Lei do Genocídio, possui, disciplina
específica no art. 5° da mencionada lei. Logo, tratando-se de norma especial, não se aplicam
as disposições do Código Penal, segundo a qual a tentativa seria punida com a pena do crime
consumado diminuída de um a dois terços.
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Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão considerados crimes políticos para
efeitos de extradição.
O art. 5º LII da CF/88 prevê que não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou
de opinião. O art. 6ֻº da Lei de Genocídio orienta que os crimes previstos nela não serão considerados políticos
para fins de extradição. Portanto, será possível a extradição do autor de crime de genocídio, não podendo
se alegar, em seu benefício, que se trata de crime político.
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RETA FINAL
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META 2
Agentes vulnerantes são todos os INSTRUMENTOS OU MEIOS que atuam no organismo produzindo
lesão. Logo, é tudo aquilo que causa lesão (podendo ser instrumentos ou meios).
(1) Agentes Físicos Mecânicos: São aqueles que EXIGEM MOVIMENTO da vítima ou do agente (ou de ambos)
para produzir a lesão. Se os dois estiverem parados, não haverá lesão.
(2) Agentes Físicos Não Mecânicos: São aqueles que NÃO PRECISAM DE MOVIMENTO para causar lesão.
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RETA FINAL
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O agente vulnerante para agir não precisa de movimento. São eles, agente vulnerante: elétrico; térmico;
sonoro; luminoso; barométrico; radiante (eletricidade, calor, pressão, radiação).
Energias físicas não mecânicas são energias que, para serem transferidas, não dependem do
movimento. Dependem da variação da temperatura (energia térmica), da pressão (energia barométrica), da
variação dos elétrons por um fio condutor (energia elétrica), etc.
A energia térmica é percebida pelos nossos sentidos tanto pelo calor como pelo frio:
● Calor - excesso de energia;
● Frio - falta de energia.
A exposição de um ser vivo a temperaturas extremas acarreta modificações de sua matéria que
variam da congelação à carbonização.
Tanto o calor como o frio podem lesar o organismo, seja atuando de modo difuso ou de forma
concentrada em determinado ponto de sua superfície.
a) Introdução
O calor é uma transferência de energia. Ou seja: pode existir calor quente e calor frio.
A ação do calor pode se dar por:
Da ação do calor de modo difuso, decorrem alguns fenômenos que merecem destaque:
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RETA FINAL
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- Câimbra: Contrações musculares que, pode ser resultante da realização de trabalho muscular pesado em
ambientes com temperaturas altas.
- Miliária: Obstrução superficial na epiderme, forma vesículas, sem reação inflamatória (miliária cristalina ou
sudamina) ou na camada intermediária com inflamação em decorrência da irritação (miliária rubra ou
brotoeja).
- Síncope térmica: Ocorre hipotensão arterial em função da vasodilatação superficial.
- Intermação: Exaustão térmica ou prostração térmica. Excesso de calor em locais mal arejados, confinados,
ou pouco abertos e sem ventilação.
- Insolação: Proveniente do sol, temperatura, os raios solares e ausência de renovação de ar e a fadiga.
Atenção: para Hygino Hercules, é a forma mais grave das síndromes causadas pela exposição ao calor de
forma difusa.
1) Condução (por contato íntimo): Consiste na transferência de calor por contato direto da pele com
outros materiais, sendo o ar o mais comum. A fonte de calor tem que encostar no corpo.
· Ex.: Garfo no fogo vira sólido incandescente e transfere o calor por condução.
2) Irradiação (emissão de calor): Consiste na transferência de calor através de uma onda térmica. A fonte
de calor não toca no corpo (o calor é transmitido por onda).
· Ex.: Pessoa com frio que coloca a mão perto do fogo, se esquenta por irradiação.
3) Convexão (trocas de calor por ondas sucessivas): A sucessão de ondas de ar frio chegam no corpo.
· Ex.: O ventilador renova ondas de ar sucessivas que passam pelo seu corpo. Cada onda de ar
que passa leva calor com ele. O calor (frio) está sendo transferido por convexão.
Quando estes mecanismos são ineficazes, o organismo lança mão da sudorese (suor) para aumentar
a evaporação com o fim de dissipar o calor endógeno, e mesmo para resistir aos ganhos de calor provenientes
do meio ambiente.
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Em função dessas formas de dissipação do calor, o nosso organismo consegue diminuir a tendência
de elevação da temperatura corporal por vias distintas, mas sincronizadas. São elas:
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● A ação é sistêmica;
● Quadro de doença mais demorado.
Por sua vez, a QUEIMADURA é a ação térmica localizada. Há contato direto entre a fonte térmica e
o organismo.
● A fonte de calor entra em contato com o corpo;
● Ação localizada;
● Efeito imediato;
a) Termonoses: São doenças derivadas do calor. Esse calor pode ser calor quente ou calor frio.
1) Insolação: haverá insolação sempre que a fonte de calor causadora da termonose for a exposição
exagerada ao SOL.
Não exige a ação direta dos raios solares, pois pode desencadear-se em indivíduos abrigados do sol,
sujeitos, todavia, ao calor intenso dos dias de verão. Quase sempre tem origem acidental.
● Hygino entende que a insolação ocorre sempre que a termonose tiver como origem um mau
funcionamento do hipotálamo.
● Não é necessariamente ligado ao Sol. É ligado ao defeito em um órgão centrotermo regulador. O
hipotálamo (localizado no cérebro) é um órgão que controla a temperatura do corpo. Quando o
hipotálamo não funciona direito, há uma desregulagem na temperatura do corpo. Esse distúrbio térmico
no hipotálamo é chamado de Insolação.
● Quadro clínico:
- Câimbra térmica: Sudorese abundante causa perda de líquidos e sais minerais (Na+ e K+). A falta de
sais minerais altera a fisiologia muscular e surgem câimbras nos músculos mais solicitados.
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- Espasmo muscular: Não resulta de uma única contratura muscular. O músculo contrai e relaxa em
uma velocidade extremamente rápida, deixando a impressão que se trata de uma única contratura.
O alongamento da musculatura afetada pode solucionar momentaneamente o problema.
- Síncope Térmica: Perda de consciência, náuseas, vômitos.
- Exaustão pelo calor ou intermação. Intensa prostração, vertigens, vômitos.
- Palidez;
- Angústia precordial;
- Forte dor na cabeça;
- Transpiração;
- Coma;
- Rigidez da Nuca (Sinal de Kernig);
- Trismo (impossibilidade da abertura da boca);
- Convulsões, precedendo a morte.
2) Intermação: exposição constante ao CALOR (≠ Sol). Ou seja, quando a fonte de calor for qualquer outra
que não seja o Sol. Quando a fonte de calor não for o Sol.
· Ex.: bombeiro trabalhando em um incêndio. O fogo não atinge o bombeiro, mas o calor pode atingir.
· Lembre-se que a pessoa pode morrer também por asfixia, não só por intermação.
INSOLAÇÃO INTERMAÇÃO
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O Próprio nome sugere que é a lesão causada pela energia Se a fonte térmica não for o sol. Se for uma outra fonte
térmica, quando a fonte térmica é o sol. térmica qualquer e produzir lesões, essas lesões
recebem o nome genérico de intermação.
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RETA FINAL
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a) A forma clássica, própria dos debilitados, costuma ocorrer durante ondas de calor, é de
instalação lenta, com comprometimento mental e neurológico progressivo. A sudorese
cessa e o paciente apresenta pele quente, seca e, por vezes, avermelhada.
b) A forma relacionada aos esforços físicos, que pode ocorrer em ambiente de temperatura
não muito elevada, é de instalação rápida, por vezes fulminante. O paciente apresenta
sudorese, mas insuficiente para dissipar o calor produzido.
A elevação da TC na insolação depende de desequilíbrio entre o aporte e a eliminação do
calor, sem alteração do ponto de ajuste.
Importante! A literatura médico-legal aponta como principais causas de morte nos queimados as seguintes:
nas primeiras horas é a excessiva perda hidroeletrolítica, como possível choque hipovolêmico ou
neurogênico; a seguir, insuficiência respiratória (provocada por gases tóxicos). Após os primeiros dias, o
problema é a insuficiência renal ou o “pulmão de choque”; após isso é a infecção, principalmente a
generalizada.
São as QUEIMADURAS, de maior ou menor extensão, mais ou menos profundas, infectadas ou não,
advindas das ações das chamas, gases, líquidos e metais aquecidos.
Existem 3 classificações frequentemente utilizadas de queimaduras:
- Hoffman ou Lussena
- Krisek
- Pulaski
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RETA FINAL
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- 4° grau – carbonização
CLASSIFICAÇÃO DE HOFFMANN
Eritema simples, vermelhidão, rubefação
● A vermelhidão é chamada de SINAL DE CHRISTINSON;
● Pele descasca em 3 a 4 dias;
1º GRAU ● Pele fica avermelhada em razão da vasodilatação;
● Não deixa vestígios;
● Se o calor continua sendo transferido pelo corpo, avança para a queimadura de 2º
grau.
Vesicação, flictenas, bolhas (SINAL DE CHAMBERT).
● Não deixa vestígios
● Bolha sem líquido → queimadura feita em cadáver.
● Bolha com líquido → significa reação vital. Ou seja: se a bolha tiver líquido, essa
bolha foi feita em vivo.
⋄ → a reação de chambert
Se houver proteína nesse líquido (ex.: albumina)
deu positivo!!
⋄ Se não houver proteína nesse líquido ou encontrar uma quantidade
muito pequena → a reação de chambert deu negativo!
2º GRAU
● A flictena é uma lesão na epiderme, que ainda não atingiu a derme. Se
continuar a exposição à queimadura, já teremos uma queimadura e 3º grau.
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RETA FINAL
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RETA FINAL
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Caiu na Prova Delegado PC-AL (2023): Em relação a lesões por ação térmica e por ação elétrica, julgue os
itens a seguir. De acordo com a classificação de Lussena-Hoffman, a presença de flictena e bolhas na pele
(sinal de Chambert) caracteriza queimadura de segundo grau. (item correto).
Atenção! O Sinal do Montalti intra vitam é representado pela fuligem presente na mucosa da árvore
respiratória. É importante ressaltar que pode até haver carbonização do cadáver posteriormente, mesmo
que se encontre o Sinal de Montalti. Mas quando a carbonização se dá, a vítima já estava morta.
DICA DE PROVA: Queimadura de 2º grau causa MAIS DOR que a queimadura de 3º grau.
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HOFFMAN/LUSSENA KRISEK
Classificação de acordo com a profundidade: 1º ao Divide as queimaduras em superficiais, parciais e totais. As
4º grau parciais se subdividem em parcial superficial e parcial
profunda.
Obs:. Úlcera de Curling - É uma úlcera duodenal que pode surgir como consequência de uma queimadura
extensa. Ex.: fogo; líquido fervente, vapores superaquecidos, cáusticos, objetos incandescentes, substâncias
químicas classificadas como básicas ou alcalinas, como a soda cáustica.
c) Regra de Pulaski (Regra dos 9): extensão ou superfície corporal queimada (em %)
● Adulto:
- Membros inferiores: 18%
- Costas: 18%
- Frente do corpo: 18%
- Membros superiores: 9% (cada)
- Cabeça: 9%
- Região genital (perímetro): 1%
● Criança:
- Cabeça: 18%
- Frente do corpo: 18%
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RETA FINAL
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- Costas: 18%
- Membros inferiores: 14% (cada)
- Membros superiores: 9% (cada)
Quando há incêndio, há fuligem que desprende. Se a pessoa está viva, ela respira e a fuligem entra
na via respiratória. Se a pessoa está morta, o pulmão estará livre, fora de fuligem. Ou seja: a pessoa viva no
incêndio vai inalar essa fuligem e essa fuligem vai se impregnar nas vias respiratórias (traqueia, brônquios,
etc).
Em um incêndio, para saber se o indivíduo foi carbonizado morto ou vivo, verifica-se a árvore
respiratória. No caso do vivo, será observado o SINAL DE MONTALTI, que consiste na fuligem e fumaça nas
vias respiratórias.
Logo, a presença de fuligem e fumaça nas vias respiratórias (sinal de Montalti), permite aferir que
morreu no incêndio.
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RETA FINAL
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lesões/queimaduras de grau (não carboniza). Ex.: Marca o gado com o de 1º, 2º e 3º grau (não
todos os graus. instrumento com as iniciais. carboniza).
Lesões causadas pelo Mais geral do que local Predominantemente Lesões mais gerais do que
fogo são mais gerais do (escorre pelo corpo). localizadas, pois queimam local.
que locais. onde tocar.
Pode carbonizar (não é Não carboniza. Pode carbonizar (não é rara a Não carboniza.
rara a carbonização). carbonização).
Pelos crestados. Não cresta os pelos. Pelos crestados. Não cresta os pelos.
Lesões por fogo podem Lesões em graus Reproduzem a forma do Mais acidental do que
ser chamadas de lesões decrescentes de gravidade sólido, sendo geralmente criminosa.
em mapa geográfico ou à medida que o líquido criminosas e consistentes em Ex.: acidente com panela de
mapa mundi (áreas escorre. lesões patognomônicas. pressão, autoclave e saunas
integradas em meio a É ponto de fogo, então
outras gravemente queima igual fogo, a
queimadas). diferença é o formato, pois
tem forma definida!
d) Diagnóstico do agente térmico e características das lesões causadas por agentes vulnerantes
De acordo com a forma e a distribuição das lesões, é possível saber o estado físico do agente e, em
alguns casos, identificá-los.
Os diversos agentes causadores de queimaduras apresentam lesões com características diferentes.
Vejamos os agentes vulnerantes térmicos:
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
Assim como o calor, pode atuar de forma DIFUSA ou de forma DIRETA. A lesão produzida por frio
normalmente chama-se geladuras.
a) Conceito: Diz-se que há hipotermia quando a temperatura corporal cai abaixo dos 35ºC. Essa medida
de temperatura deve ser feita no reto ou, melhor ainda, no esôfago.
b) Sintomas e diagnóstico
O frio sistêmico (que não atua diretamente) faz diminuir as funções circulatórias e cerebrais. A ação do
frio leva a:
- Alterações do sistema nervoso;
- Arritmia e parada cardíaca;
- Diminuição da função cerebral, sonolência;
- Convulsões;
- Delírios;
- Perturbações dos movimentos;
- Anestesias;
- Congestão polivisceral (congestão) ou isquemia das vísceras;
- Podendo advir a morte.
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RETA FINAL
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a) Conceito: O frio também pode atuar diretamente sobre o corpo. Podem ocorrer GELADURAS.
Se o frio for extremo, muitos vasos se fecharão. Na proporção que o hipotálamo fecha esses vasos para
defender o interior do corpo, o sangue para de circular nas extremidades. Ex.: para de circular o sangue nos
pés, nas mãos, no nariz, na orelha.
Assim, em razão da demora na chegada do sangue nas extremidades, começaremos a ter lesões
causadas pela falta de oxigênio nos tecidos (geladuras). Lesões causadas pelo frio.
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
2.º GRAU ● SINAL DE CHAMBERT POSITIVO: presença de proteínas nas bolhas mostrando que a
pessoa estava viva.
● Necrose ou gangrena: úmida ou seca, posterior à mortificação dos tecidos, por
coagulação do sangue dentro dos capilares. Com a vasoconstricção, não passa sangue para
3.º GRAU os tecidos, ocasionando úlceras (feridas). Antes de morrer, a região fica
azulada/arroxeada/ preta e começa a cair (decompõe).
Obs.: Para Genival França há um 4º grau (que seria representado pela gangrena e/ou desarticulação de
segmento). De qualquer forma, no caso da classificação em graus para as geladuras, não há 5º grau.
Alguns sinais particulares pela morte decorrente da ação do frio, conforme Genival França:
● Úlcera de Wischnewski: infiltrações hemorrágicas na mucosa gástrica;
● Rigidez cadavérica precoce, intensa e extremamente demorada;
● Sangue de tonalidade menos escura e pouca coagulabilidade;
● Espuma sanguinolenta nas vias respiratórias.
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RETA FINAL
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Sinais cadavéricos:
✔ Rigidez: a rigidez no frio será muito mais intensa e duradoura.
✔ Manchas de hipóstase: no frio hipóstase e sangue de cor mais clara, rósea.
✔ Aspecto do sangue: sangue de coloração mais rosada.
✔ Outros: Espuma na via aérea (por isso a espuma nas vias aéreas não é sinal patognomônico de
afogamento). Sendo assim podemos ter a presença de espuma na via aérea nos casos de morte por
geladura.
I. A corrente elétrica só entra no corpo se ela puder sair. Ou seja, se ela não puder sair, ela não entra.
Ex.: se você se pendurar em um fio elétrico desencapado, mas estiver pendurado e os pés não tocarem
em nenhum outro local que tenha contato com a terra, a corrente elétrica não vai entrar no seu corpo
(não vai entrar porque não tem por onde sair); por outro lado, se você pendurado, encostar em algum
lugar que está em contato com a terra, a corrente vai entrar e vai escoar pela parede em direção à terra
e, obviamente, você será atingido pela corrente.
É por esse motivo que o passarinho pousa no fio de alta tensão e não morre. Porque a corrente elétrica
não entra no corpo dele porque não tem como sair.
II. A corrente elétrica vai procurar sempre o caminho mais curto para chegar à terra, em idênticas
condições entre os caminhos.
III. A corrente elétrica não gosta de resistência “ohm”.
· Ex.: tem 2 caminhos, e um deles oferece mais resistência à passagem da corrente e outro, ela vai pelo
caminho que tem menos resistência.
É preciso esclarecer que a energia/corrente elétrica pode ser natural (ou cósmica) ou industrial. As
lesões causadas vão variar conforme a energia causadora da lesão.
(A) Eletrofulguração: corrente elétrica de origem natural ou cósmica (ex.: descarga elétrica dos raios).
● Eletrofulguração: vítima não é levada a óbito;
● Eletrofulminação: alguns autores usam esse nome para as hipóteses em que a vítima vai a
óbito.
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RETA FINAL
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a) Conceito:
É a energia elétrica representada pelo raio. Ou seja, constata-se quando o choque elétrico é natural,
raio, corrente elétrica natural.
Quando a pessoa é atingida por um raio (energia de origem cósmica ou natural), pode aparecer um
sinal, que é o de SINAL DE LICHTENBERG:
● Não é um sinal obrigatório. Há casos que não aparecem. Não é porque a vítima foi atingida por um
raio que necessariamente haverá a presença.
● Tem aspecto arboriforme, de folha de samambaia, ramificado, reproduzindo os vasos sanguíneos
atingidos.
● O sinal é temporário/passageiro, desaparecendo com o tempo.
● O Sinal só se verifica em PESSOA VIVA! Se um cadáver for atingido por um raio, não haverá Sinal de
Lichtenberg. Isso porque não existe inflamação no cadáver. A inflamação é uma reação vital.
Obs.: Parte da doutrina (outra parte não se manifesta), diz que Sinal de Lichtenberg é Patognomônico de
eletricidade natural.
Caiu na Prova Delegado PC-AL (2023): Em relação a lesões por ação térmica e por ação elétrica, julgue os
itens a seguir. O sinal de Lichtemberg corresponde ao ponto de contato da energia elétrica artificial com o
corpo humano. (item incorreto) Sinal de Lichtemberg; aspecto arboriforme ou de samambaia com intensa
vasculite local advinda de eletricidade natural.
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RETA FINAL
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a) Conceito
Eletroplessão é o dano corporal, com ou sem êxito letal, provocado pela ação da corrente elétrica
industrial ou artificial, sobre os seres vivos.
As lesões originadas por essa forma de eletricidade variam com a voltagem, a amperagem, a natureza
da corrente (contínua ou alternada) e com condições peculiares ao próprio indivíduo a ela submetido.
b) Sinal / Marca de Jellinek: É uma espécie de queimadura e caracteriza o PONTO DE ENTRADA DA CORRENTE
ELÉTRICA (local onde a pessoa tocou no condutor). É uma queimadura pela passagem da corrente elétrica.
Essa marca não é obrigatória, pode aparecer ou não.
Marca de Jellinek
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RETA FINAL
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Queimadura elétrica
Obs.: Segundo Genival França a eletricidade industrial gera a síndrome chamada eletroplessão. No entanto,
se tal forma da eletricidade é utilizada como de execução de uma sentença de morte através de “cadeira
elétrica”, por exemplo, é chamada de eletrocussão.
V = R. I
I = V/R
▪ Raio = é uma corrente elétrica natural, cósmica ou meteórica. No raio, o fio condutor é o ar
atmosférico, quanto mais úmido mais fácil a corrente passa.
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- Relação entre resistência e intensidade: quanto maior a resistência, menor a intensidade da corrente.
Quanto menor a resistência, maior a intensidade da corrente.
Acerca da temática, há uma divergência que já foi cobrada em prova. Segundo França: “Ao que nos
parece, essas causas variam conforme a intensidade da corrente: na alta-tensão, acima de 1.200 volts, a
morte é cerebral, bulbar e cardiorrespiratória; nas tensões de 1.200 a 120 volts, a morte é por tetanização
respiratória e asfixia; e, abaixo de 120 volts, por fibrilação ventricular e parada cardíaca.”
Já, para Hygino, "O tipo de acidente mais comum a causar fibrilação ventricular acontece
preferencialmente no lar. É quando a pessoa tem as mãos molhadas, está descalça e toca num condutor de
110 ou 220 V. Na maioria das vezes ocorre no banheiro."
▪ Arco Elétrico = é provocado por uma carga elétrica de alta intensidade, mantida por uma tensão
relativamente baixa.
▪ Resistores
Os resistores podem ser associados de modo linear continuo (em série) ou por meio de ligações
colaterais (em paralelo) que derivam do tronco principal.
(1) Resistores em série - Associação em série = quando há apenas uma saída de corrente elétrica. O
risco de morrer é maior porque recebe toda a corrente, mas vai variar por onde a corrente
elétrica passou no corpo humano. Cada um dos resistores transporta toda corrente.
(2) Resistores em paralelo - Quando há duas saídas para a corrente elétrica. A corrente flui em maior
intensidade pelo de menor resistência.
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
Efeito Joule (ou efeito Térmico): É a transformação da corrente elétrica em energia térmica (calor)
ao atravessar uma resistência. Assim, quando a eletricidade se transforma em calor, gerando queimaduras,
ocorre o chamado EFEITO JOULE.
A quantidade de calor produzida é diretamente proporcional à intensidade da corrente, à voltagem
do circuito, ao seu tempo de duração e à resistência do resistor. Assim, quanto maior for a resistência, maior
esforço fará a corrente para atravessá-lo e esse esforço aquecerá o resistor.
Patia → doença;
Baro → pressão;
Baropatias → doenças oriundas da alteração de pressão.
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
Quando estamos ao nível do mar, existe, sobre a nossa cabeça, uma coluna de ar exercendo uma
pressão atmosférica. E essa coluna de ar exerce sobre nosso corpo uma pressão. Essa pressão mede 1atm (1
atmosfera). E essa pressão calculada é de 760 mm Hg (milímetros de mercúrio).
1 atm = 760 mm
Hg
muito baixas
Grandes altitudes = Baropatias decorrentes da permanência sob pressões
Sintomas:
1. Edemas cerebral e pulmonar;
2. Fortes dores de cabeça;
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
Obs.: o MAL DAS MONTANHAS é uma forma AGUDA DA DOENÇA. Porém existe também a FORMA CRÔNICA
dessa doença que consiste na DOENÇA DO MONGE.
Doença de Monge:
A doença de monge é uma forma crônica do Mal das Montanhas e dos Aviadores.
Quando a pessoa vive em grandes altitudes, ele vive em local de pouca oferta de oxigênio, de modo
que o corpo dele vai se adaptar a essa situação. Como o corpo se adapta?
R.: Através de um fenômeno chamado Poliglobulia Compensadora.
Quando o indivíduo estiver em baixas altitudes (ex.: fundo do mar), ele se submete a pressões muito
altas que podem acarretar o mal dos caixões ou mal dos mergulhadores.
Os problemas dependerão de alguns fatores:
1) Profundidade;
2) Tempo de mergulho;
3) Tempo de retorno à superfície.
No fundo do mar: a cada 10m de profundidade, a pressão aumenta em 1 atmosfera.
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
Outro problema que pode aparecer no mergulho em apneia é o barotrauma de ouvido. O aumento
da pressão dentro do ouvido pode ocasionar o rompimento do tímpano, gerando um trauma de ouvido.
(barotrauma de ouvido)
● A cavidade bucal comunica-se com o ouvido médio através das trompas auditivas;
● O meio externo comunica-se com o ouvido médio através do conduto auditivo externo;
● Separando os dois condutos, temos a membrada do tímpano;
● Assim, o barotrauma de ouvido pode romper o tímpano e, rompendo o tímpano, pode entrar
água no ouvido médio, e entrando água no ouvido médio, o mergulhador perde o equilíbrio e
o senso de direção embaixo da água, podendo gerar acidentes fatais ao mergulhador.
Sempre que se faz uma descida (imersão) é necessário equalizar, isto é, equilibrar a pressão interna
à externa, a fim de evitar ruptura do tímpano. Esta manobra pode ser exercida de várias formas:
▪ Manobra de Toynbee: que consiste em tapar o nariz e deglutir.
▪ Manobra de Valsava: em que o indivíduo sopra com força contra nariz e boca fechados.
Pressionando o nariz com o polegar e o indicador e obrigando o ar a "sair" pelos
ouvidos.
PARA FIXAR:
1) Mal da Montanha ou Mal dos Aviadores ⟶ DIMINUIÇÃO da pressão atmosférica (PARA CIMA).
2) Mal dos Mergulhadores ou Mal dos Caixões ⟶ AUMENTO da pressão atmosférica (PARA BAIXO).
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2.3.1 Explosões
As Explosões são Baropatias. Na sequência abaixo podemos observar que qualquer explosão decorre
de uma reação química, em um material explosivo de qualquer natureza que leva à formação de gases de
forma muito rápida e violenta. A expansão desses gases ocorre de forma rápida e violenta causando a
alteração da pressão. Isso porque há uma compressão e deslocamento do ar que causa modificações na
pressão atmosférica ao redor do indivíduo formando as chamadas ondas de pressão.
1) Blast primário: São Baropatias de explosões nos órgãos que contêm ar.
O blast primário decorre da onda de choque propriamente dita, ou seja, teremos uma lesão no corpo da
vítima que vai decorrer diretamente da transferência dessa alteração de pressão ao corpo. Sabemos que nas
explosões temos alterações muito súbitas de pressão atmosférica, com isso SE essa alteração “súbita” for
transferida diretamente ao corpo da pessoa próxima a explosão, os órgãos que mais irão sofrer com isso são
aqueles capazes de absorver essa pressão.
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Da mesma forma que a alteração da pressão atmosférica súbita pode causar rupturas e lesões nos órgãos
que contêm ar da pessoa próxima ao evento, poderá ela também impactar objetos que estejam próximos,
causando sua destruição/estilhaçamento (janela de vidro, garrafa, aparelhos eletrônicos, etc..). Os
fragmentos oriundos desse estilhaçamento funcionarão como microprojéteis, podendo afetar de forma
considerável aqueles que estiverem no local.
Nesses casos teremos a vítima próxima ao foco da explosão, onde receberá os efeitos do Blast
primário nos ouvidos, pulmões e tubos digestivo. Poderá sofrer ainda lesões causadas por fragmentos de
vidro e de outros objetos que se estilhaçaram com a explosão. Além dos pontos mencionados poderá
também ser arremessada em decorrência da formação de intensos ventos explosivos, causados pela súbita
alteração de pressão. Com arremesso e queda, teremos no Blast terciário apresenta predominantemente de
lesões contusas
4) Blast Quaternário: todas e quaisquer outras lesões que forem causadas pelos efeitos da explosão que
não se encaixam em nenhum dos outros Blast acima mencionados.
Caiu na Prova de Delegado do Estado do Rio de Janeiro (2022): No dia 13/6/2021, no munícipio de Santo
Antônio de Pádua – RJ, por ocasião dos festejos de seu padroeiro, houve uma explosão acidental de um
artefato explosivo composto exclusivamente por pólvora, que havia sido acionado pela vítima numa região
descampada, o que culminou no despedaçamento de parte do seu membro superior direito, bem como em
queimaduras extremas diversas, conforme descrição no laudo da necropsia. Nessa situação hipotética, com
base nas lesões descritas pelo perito legista, a autoridade policial deverá afirmar que se trata dos efeitos do
blast de nível primário – alternativa considerada correta.
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1. DIREITO FALIMENTAR
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O direito falimentar não busca punir o devedor insolvente, criminalizando a sua conduta e excluindo-
o do mercado, mas busca a preservação da empresa, sendo a falência reservada apenas para os devedores
irrecuperáveis.
Em 2021, foi implementada a Lei 14.112/2020, promovendo mudanças significativas na legislação de
falências. É importante esclarecer que, apesar das alterações substanciais, a legislação fundamental ainda
permanece sendo a Lei 11.101/2005.
Principais alterações:
I. Regulamenta o empréstimo para o devedor em recuperação judicial (dip financing), com
preferência de pagamento para os créditos derivados do empréstimo;
II. Ampliação das possibilidades de parcelamento de dívidas com a União para a empresa em
recuperação judicial;
III. Possibilidade de transação tributária (acordo para pagamento de dívida mediante concessão
de benefícios);
IV. Possibilidade de os credores apresentarem plano próprio de recuperação da empresa;
V. Possibilidade de prorrogação do stay period (período de suspensão de ações contra a empresa
em processo de recuperação judicial);
VI. Uso da conciliação e mediação no processo de recuperação e falência;
VII. Autorização para que produtores rurais que atuem como pessoa física possam requerer
recuperação judicial;
VIII. Regulamenta a insolvência transancional;
IX. Ampliação das possibilidades em que o juiz pode decretar falência do devedor;
X. Ampliação da proteção do adquirente de bens de uma empresa em recuperação judicial;
XI. Possibilidade de inclusão de créditos trabalhistas e por acidente de trabalho na recuperação
extrajudicial, se houver negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria profissional;
XII. Proibição de distribuição de lucros e dividendos durante a recuperação judicial;
XIII. Ampliação dos meios de recuperação judicial;
XIV. Alteração das condições para a venda de ativos não prevista no plano de recuperação
judicial;
XV. Regulamenta os pedidos de consolidação processual e consolidação substancial;
XVI. Obrigatoriedade de manutenção de banco de dados público e gratuito, disponível na
internet, com a relação de devedores falidos e em recuperação judicial;
XVII. Possibilidade de encerramento da recuperação judicial antes da homologação do quadro
geral de credores;
XVIII. Possibilidade de substituição do ato presencial da assembleia geral de credores por
deliberação virtual.
A Lei 14.112/2020 entrou em vigor em 23 de janeiro de 2021.
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2. FALÊNCIA
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● Após o requerimento do falido de declaração da extinção de suas obrigações, haverá prazo comum
de 5 dias para que qualquer credor, o Administrador Judicial e o Ministério Público se manifestem
exclusivamente para indicar inconsistências formais e objetivas, devendo o juiz proferir, em 15 dias,
sentença que declare extintas as obrigações do falido.
Sujeitos:
A princípio não podem falir, contudo podem passar por uma liquidação extrajudicial, situação na
qual é nomeado um liquidante. Esse liquidante pode pedir a falência das pessoas do inciso II.
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I. O próprio devedor (entretanto, na prática, a autofalência é hipótese rara, sobretudo pois a Lei
11.101/05 não prevê nenhuma sanção para o descumprimento do pedido de falência);
II. O cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III. Cotista ou acionista do devedor (entretanto, pouco usual, pois é mais fácil o sócio pedir para
se retirar da sociedade);
IV. Qualquer credor:
• Se o credor for empresário, deverá instruir a inicial com certidão da Junta Comercial
que comprove a regularidade de suas atividades.
• Se o credor NÃO possui domicílio no Brasil, deverá prestar caução relativa às custas
e a indenização do art. 101 Lei 11.101/05, devida em alguns casos de denegação de
falência.
• A dívida NÃO precisa sequer estar vencida, pois pode ser decretada ante a prática
de atos de falência.
STJ: A Fazenda Pública NÃO tem legitimidade e interesse de agir para decretar a
falência do devedor, por dispor da LEF, instrumento específico para a cobrança de
créditos tributário (conforme enunciado 56, da I Jornada Comercial da CJF).
STJ (Info 589): A natureza trabalhista do crédito não impede que o credor requeira
a falência do devedor. Assim, o credor trabalhista tem legitimidade ativa para
ingressar com pedido de falência, considerando que o art. 97, IV, da Lei nº
11.101/2005 não faz distinção entre credores.
Possui caráter híbrido ou complexo, ante a confluência de normas processuais e materiais. A falência
é procedimento que envolve atos materiais e processuais.
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IV. Inerência do risco: A crise pode sobrevir à empresa mesmo nos casos em que o empresário e
administrador agiram em cumprimento à lei e aos seus deveres, e não tomaram nenhuma decisão
precipitada equivocada ou irregular (Fábio Ulhoa Coelho).
V. Impacto social da crise: A que a quebra da empresa, com a consequente descontinuidade da
atividade econômica, pode provocar efeitos deletérios não só em relação ao empresário, empregados e
credores, mas também a interesses metaindividuais, com impactos sociais.
VI. Transparência: Deve orientar todo o processo de recuperação judicial e extrajudicial, bem como
a falência.
VII. Unidade, Indivisibilidade e Universalidade do juízo falimentar: O juízo do principal
estabelecimento do devedor ou da filial que tenha sede fora do Brasil é o único competente para homologar
o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência (art. 3º, Lei
11.101/05). Uma vez competente, o juízo deve conhecer de todas as ações sobre bens, interesses e negócios
do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas na Lei 11.101/05 em que o falido
figurar como autor ou litisconsorte ativo (art. 75, Lei 11.101/05).
VIII. Tratamento isonômico dos credores: Credores titulares de créditos da mesma natureza devem
ser tratados de forma isonômica, considerando a possibilidade de que o devedor falido não possua bens
suficientes para pagar todos os credores.
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envolvidas na fraude. PROCESSO REsp 1.686.123-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 22/03/2022.
Local do principal estabelecimento do devedor ou filial da empresa que tenha sede fora do país (art.
3º, Lei 11.101/05), ligada ao local onde exista o maior volume de negócios, muitas vezes NÃO coincidindo
com a sede da empresa.
Segundo o STJ, a expressão “principal estabelecimento” pode significar:
i. Centro vital das principais atividades do credor;
ii. Local onde o devedor mantém suas atividades e seu principal estabelecimento;
iii. Local onde a atividade se mantém centralizada.
Enunciado 465 CJF: Para fins de Direito Falimentar, o local do principal
estabelecimento é aquele de onde partem as decisões empresariais, e não
necessariamente a sede indicada no registro público.
A distribuição do pedido de falência ou recuperação judicial previne a jurisdição para qualquer outro
pedido de recuperação judicial ou falência relativa ao mesmo devedor.
Segundo o STJ insolvência do empresário deve ser compreendida em seu sentido jurídico e não
meramente em seu sentido técnico/econômico.
O doutrinador Rubens Requião apresenta alguns sistemas de determinação da insolvência:
I. Estado patrimonial deficitário: A insolvência se caracterizaria quando demonstrada a insuficiência
do ativo do empresário para saldar o seu passivo. Exige a demonstração contábil da insolvência, tornando
esse sistema muito lento (NÃO adotado no Brasil).
II. Cessação de pagamentos: A insolvência se caracterizaria quando o empresário parasse de efetuar
o pagamento de suas dívidas (NÃO adotado no Brasil).
III. Impontualidade injustificada: O devedor se considera juridicamente insolvente quando não paga
determinada obrigação líquida no seu vencimento.
IV. Sistema da enumeração legal: A insolvência se caracteriza pelos atos de falência.
O STJ entendia que o pedido de falência não poderia ser utilizado como meio de cobrança de dívidas.
No entanto, em alguns acórdãos do próprio Tribunal existem entendimentos contrários. Portanto, acaso
posteriormente verificado ser o pedido infundado, além de denegar a falência, o juiz poderá condenar o
autor ao pagamento de perdas e danos ao réu.
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O devedor possui o prazo de 10 (dez) dias para contestar, podendo alegar qualquer das matérias
previstas no art. 96 da Lei 11.101/05, quais sejam:
i. Falsidade de título;
ii. Prescrição;
iii. Nulidade da obrigação ou do título;
iv. Pagamento da dívida;
v. Qualquer outro fato que extinga ou suspenda a obrigação;
vi. Vício em protesto ou seu instrumento;
vii. Apresentação de recuperação judicial – no entanto, a decretação de falência impede o pedido
posterior de recuperação judicial;
viii. Cessação das atividades empresariais há mais de 02 anos antes do pedido da falência, comprovada
por documento hábil do registro público de empresas.
A decretação da falência NÃO fica obstada pelas matérias de defesa se, ao final, restarem obrigações
não atingidas pela defesa em montante superior a 40 salários-mínimos.
Ainda no prazo de resposta, pode o devedor realizar o depósito elisivo do valor da dívida reclamada
no pedido falimentar, devidamente corrigido, acrescido de juros e honorários advocatícios.
No entanto, se
o pedido falimentar estiver fundado em atos de falência, o depósito elisivo NÃO confere a absoluta
impossibilidade de decretação da falência.
a) Denegação da falência
Pode ser baseada: (i) na improcedência do pedido de falência; ou (ii) na realização de depósito elisivo.
I. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO: Cabe ao autor arcar com ônus da sucumbência (custas + honorários).
Ademais, poderá o juiz condenar ao pagamento de indenização, se entender que o pedido foi
requerido com dolo manifesto, caso em que as perdas e danos serão apuradas em liquidação. No
entanto, o dolo deve estar demonstrado (elemento subjetivo + nexo de causalidade), não sendo
suficiente a propositura da ação. Por ação própria, o terceiro prejudicado também pode reclamar
indenização dos responsáveis.
II. REALIZAÇÃO DO DEPÓSITO ELISIVO: Caberá ao juiz analisar os argumentos da contestação. Se
aceitos, a falência será denegada; se recusado, a falência será decretada, com intimação do credor
para levantar o depósito elisivo.
b) Decretação da falência
Ocorrerá caso o pedido de falência seja julgado procedente e não tenha sido realizado o depósito
elisivo.
Com a sentença, se instaura a execução concursal do empresário, e o processo apenas se encerra após
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a realização do ativo, pagamento dos credores e apresentação do relatório final pelo administrador judicial.
A decretação da falência suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
b.1) Natureza jurídica da sentença: Constitutiva, pois constitui o devedor em estado falimentar e instaura o
regime da execução concursal do seu patrimônio.
b.2) Conteúdo da sentença que decreta a falência (art. 99, Lei 11.101/05):
• Síntese do pedido, identificação do falido e nome dos administradores;
• Fixação do termo legal da falência;
• Ordenará ao falido que apresente m 05 dias a relação nominal dos credores, com endereço,
importância, natureza e classificação dos créditos, sob pena de desobediência;
• Explicitará o prazo para as habilitações de crédito;
• Ordenará a suspensão de todas as ações e execuções do falido, salvo as previstas nos §§1º e 2º do
art. 6° da Lei 11.101/05;
• Proibirá a prática de qualquer ato de oneração e disposição de bens do falido;
• Determinará as diligências necessárias para proteger os interesses das partes envolvidas;
• Ordenará ao Registro Público de Empresas a prenotação da expressão falido, data de decretação da
falência e inabilitação do art. 102 Lei 11.101/05;
• Nomeará administrador judicial;
• Determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras entidades para que
informem a existência de bens em nome do falido;
• Pronunciar-se-á sobre a continuidade das atividades do falido;
• Intimação do MP e das Fazendas para tomarem conhecimento da falência.
Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido
cabe apelação.
OBS.: O Juiz deverá ordenar a publicação do edital contendo a íntegra da decisão que decreta a falência e a
relação de credores.
b.3) Termo legal da falência (= período suspeito): É a delimitação de lapso temporal imediatamente anterior
à decretação da falência que será investigado pelos credores do devedor.
• Impontualidade injustificada: Retroage da data da sentença até 90 dias antes do primeiro protesto
por falta de pagamento até a sentença (de 90 dias antes do primeiro protesto até a sentença);
• Atos de falência: De 90 dias antes do pedido de falência até a data da sentença;
• Convolação da Recuperação Judicial: De 90 dias antes do requerimento da RJ até a convolação em
falência.
Com a fixação do período suspeito, a Lei 11.101/05 traz a ineficácia de certos atos praticados pelo
devedor falido antes da decretação da falência. São considerados atos objetivamente ineficazes:
i. Pagamento de dívidas não vencidas dentro do termo legal;
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ii. Pagamento de dívidas vencidas e exigíveis no termo legal por qualquer forma NÃO prevista no
contrato;
iii. Constituição de direito real de garantia dentro do termo legal, tratando-se de dívida contraída
anteriormente;
iv. Prática de atos a título gratuito desde 02 anos antes da decretação da falência;
v. Renúncia a herança/legado 02 anos antes da decretação da falência;
vi. Venda ou transferência de estabelecimento sem o consentimento expresso ou pagamento de todos
os credores a esse tempo existentes, não restando ao devedor bens suficientes para satisfazer o seu
passivo;
vii. Registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título gratuito ou
oneroso, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência.
A ineficácia pode ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada por ação própria
ou incidentalmente no curso do processo.
São considerados atos subjetivamente ineficazes, quando provado o intuito de prejudicar credores,
conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que contratou com ele, e o real prejuízo à massa.
Nesse caso, não poderá ser declarada de ofício, sendo necessário o ajuizamento de AÇÃO
REVOCATÓRIA, a ser proposta pelo administrador judicial, qualquer credor ou MP no prazo de 03 anos da
decretação da falência.
A ação revocatória pode ser ajuizada contra:
a) Todos os que figuraram no ato ou foram beneficiados;
b) Terceiros adquirentes que tinham ciência dos prejuízos dos credores;
c) Herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos itens antecedentes.
Os bens ou valores obtidos pela revocatória servirão, no futuro, para pagamento de todos os credores,
respeitada a ordem de preferência. Da sentença proferida na ação revocatória cabe apelação.
Jurisprudência sobre o tema:
A mera decisão de desconstituição da personalidade jurídica pela Justiça
trabalhista, por si só, não enseja o reconhecimento de usurpação da competência
do juízo falimentar, porque não atinge direta e concretamente os bens da massa
falida. STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 190.942-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 30/5/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
Depois da decretação da falência, o devedor falido não se convola em mero
expectador no processo falimentar, podendo praticar atos processuais em defesa
dos seus interesses próprios. STJ. 4ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.271.076-GO,
Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 24/4/2023 (Info 775).
A responsabilidade solidária e a extensão dos efeitos da falência ao sócio diretor
de sociedade anônima somente são admitidas mediante declaração em sentença
prévia proferida em processo autônomo reconhecendo a prática de atos que
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para acórdão Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, por maioria, julgado em
6/12/2022).
A reforma de 2021 introduziu dispositivos destinados a simplificar os procedimentos de modo que,
o art. 39, §4º, estabelece que qualquer deliberação realizada por Assembleia Geral de Credores pode ser
substituída, com idênticos efeitos por:
• Termo de adesão firmado por tantos credores quantos satisfaçam o quórum de aprovação
específico, nos termos estabelecidos no art. 45-A;
• Votação realizada por meio de sistema eletrônico que reproduza as condições de tomada de voto
da assembleia geral de credores;
• Outro mecanismo reputado suficientemente seguro pelo juiz.
As tomadas de decisões realizadas nesses formatos serão fiscalizadas pelo administrador judicial que
irá emitir parecer sobre sua regularidade.
Atenção!
A Assembleia Geral de Credores pode estabelecer um novo limite para
atualização dos créditos, desde que conste de forma expressa no plano de
soerguimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.936.385-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 7/3/2023 (Info 12 – Edição Extraordinária).
OBS.: O comitê pode funcionar em número reduzido caso uma das classes não indique representante.
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OBS.: Em qualquer modalidade de alienação do ativo, o Ministério Público será intimado pessoalmente, sob
pena de nulidade.
d) Recursos
Sentença que DECRETA a falência: agravo de instrumento.
Sentença que DENEGA a falência: apelação.
f) Pedidos de restituição
Se, eventualmente, na arrecadação dos bens do falido, se verificar a arrecadação de bens de terceiros,
deverão ser restituídos tais bens ao seu real proprietário.
OBS.: Há doutrinadores, inclusive, que dividem o procedimento de definição do ativo do
devedor falido nas
fases de integração (arrecadação dos bens) e desintegração (restituição de alguns desses bens arrecadados).
Hipóteses:
a) Bem arrecadado em propriedade de terceiro;
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b) Coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de
sua falência, se ainda não alienada;
c) Casos de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, cabendo a restituição em dinheiro
em moeda corrente nacional;
d) Declaração judicial de ineficácia de ato praticado pelo falido antes da decretação da quebra, caso em
que os contratantes de boa-fé terão direito à restituição dos bens ou valores entregues ao devedor.
OBS.: Tratando-se dos valores devidos pelo devedor falido relativos à contribuição social de seus
empregados, deve o INSS formular pedido de restituição, e não habilitar tais créditos no quadro geral. Deve,
portanto, ser habilitado como crédito fiscal, já que se trata de dinheiro do INSS e não do falido, como decidiu
o STJ.
OBS2.: Havendo falência de instituição financeira, os correntistas NÃO fazem jus ao pedido de restituição dos
valores depositados, devendo requerer a habilitação do crédito respectivo na classe dos credores
quirografários.
A restituição poderá ser pelo próprio bem ou em dinheiro. Em dinheiro, ocorrerá nas seguintes
hipóteses:
a) Quando a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, caso em que o credor receberá
o valor da avaliação do bem ou o respectivo preço, no caso da sua venda;
b) Quando se tratar de restituição de valores decorrentes de adiantamento a contrato de câmbio para
exportação;
c) Quando se tratar de restituição dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na
hipótese de revogação ou ineficácia do contrato.
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Súmula 417, STF: Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder do
falido, recebido em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse
ele a disponibilidade.
Súmula 495, STF: A restituição em dinheiro da coisa vendida a crédito, entregue nos
quinze dias anteriores ao pedido de falência ou de concordata, cabe, quando, ainda
que consumida ou transformada, não faça o devedor prova de haver sido alienada
a terceiro.
Conforme entendimento do STJ, uma vez que o procedimento de habilitação tem caráter contencioso,
com instrução probatória, o título que o embasa NÃO precisa ser título executivo.
O credor deve demonstrar a origem do crédito.
A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e
documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores,
podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
Após o período de habilitação, o administrador terá o prazo de 45 dias para publicar o edital com a
relação de credores. Se houver algum equívoco na lista de credores, o credor, o próprio devedor (ou sócio
da sociedade) ou o MP poderão apresentar impugnação, no prazo de 10 (dez) dias contados da publicação
do edital.
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A impugnação será autuada em separado e julgada pelo juízo universal da falência; no entanto,
havendo mais de uma impugnação sobre o mesmo crédito, serão autuadas e julgadas conjuntamente.
O juiz mandará intimar o credor cujo crédito foi impugnado para apresentar contestação, além do
comitê de credores e o administrador judicial, todos com prazo de manifestação de 05 dias.
Em face da decisão que resolve a impugnação, cabe agravo de instrumento.
A perda do prazo para a habilitação do crédito não significa que o credor perdeu o seu direito de
receber o seu crédito, pois as habilitações serão recebidas como retardatárias, implicando nas seguintes
consequências:
• Se as habilitações retardatárias forem apresentadas ANTES da homologação do quadro-geral de
credores, serão recebidas como impugnação;
• Se a habilitação ocorrer quando já homologado o quadro-geral de credores, será necessário requerer
ao juízo universal da falência, em
ação própria, a retificação do quadro para a inclusão do crédito
retardatário;
• Os credores retardatários, excetuados os créditos da relação de trabalho, NÃO terão direito a voto
na assembleia geral de credores;
• Os credores retardatários perderão o direito a rateios eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao
pagamento de custas.
O quadro geral de credores poderá ser alterado até o encerramento do processo falimentar, por ação
própria a ser ajuizada pelo Administrador Judicial, por qualquer credor, comitê de credores ou pelo MP.
A Fazenda Pública NÃO precisa formular o pedido de habilitação de crédito ao administrador judicial,
mas o STJ entende que a Fazenda Pública pode, se quiser, optar por habilitar o crédito com os demais
credores.
Sobre o tema, a jurisprudência: O prazo de 10 dias, previsto no art. 8º da Lei 11.101/2005, para
apresentar impugnação à habilitação de crédito, deve ser contado em dias corridos. STJ. (Info 739)
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Inabilitação empresarial automática do falido para exercer qualquer atividade empresarial a partir da
decretação de falência até a sentença que extingue as obrigações (se for sociedade empresária, a
inabilitação é da sociedade e não dos sócios).
Há, ainda, a perda do direito de administração de bens. Contudo, o falido poderá fiscalizar a
administração da falência.
Se o falido for condenado por crime falimentar, a condenação impõe a penalidade acessória de
inabilitação empresarial, que só cessará 05 anos após a extinção da punibilidade.
Contra a massa falida NÃO são exigíveis juros vencidos após a decretação de falência previstos em lei
e contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados.
Contratos do falido NÃO se extinguem de pleno direito, podendo ser cumpridos pelo administrador
judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa ou necessário à manutenção dos
ativos.
Caso o administrador judicial NÃO se manifeste expressamente sobre a continuidade do contrato, o
contratante pode interpelá-lo no prazo de 90 dias contado do termo de nomeação para que, em 10 dias,
declare se cumpre ou não o contrato. Se o administrador silenciar ou se negar a continuidade do contrato, o
contratante terá direito à indenização em valor a ser apurado em procedimento ordinário, sendo crédito
quirografário.
Para os contratos com cláusulas de resolução por falência, a quebra implica na resolução contratual.
Para contratos de compra e venda mercantil, os efeitos da decretação da falência dependerão do
momento de entrega das mercadorias.
● Se a coisa ainda estiver a caminho, o vendedor pode obstar a entrega da coisa ao falido (right of
stoppage in transitu), salvo se o falido de boa-fé já havia revendido a coisa a terceiro antes do
requerimento da falência, caso em que o credor será quirografário;
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● Se for coisa composta não entregue por completo, caso o administrador não continue com o
contrato, deverá devolver as partes do que já foi entregue;
● Para compra e venda com reserva de domínio, se o administrado não continuar o contrato, deve
devolver a coisa ao devedor e exigir dele a restituição dos valores pagos;
● Para compra e venda a termo de bens com cotação em bolsa ou mercado, se antes de
aperfeiçoada a entrega e o pagamento sobrevier a falência, e não continuar o contrato, deve se
comparar a cotação do dia em que o contrato foi assinado com a cotação do dia em que as
mercadorias seriam entregues, calculando-se o crédito em favor do falido;
● Para promessa de compra e venda de bens imóveis, falência do promitente vendedor – o contrato
deve ser cumprido; se falência do comprador, seus direitos serão arrecadados e vendidos em
juízo, e o novo comprado sub-roga-se no contrato;
● Contrato de locação, o locatário de imóvel do falido deve continuar pagando os alugueis;
● Obrigações do âmbito do Sistema Financeiro Nacional, o falido não poderá considerar o contrato
vencido antecipadamente;
● As contas correntes com o devedor serão encerradas no momento da decretação da falência,
verificando-se os respectivos saldos.
O mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de negócios, cessará seus
efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar contas de sua gestão.
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Cabe, ainda, destacar a introdução do art. 7º-A em 2020. O dispositivo criou o denominado “incidente
de classificação do crédito público”. Nos termos do art. 7º-A, §4º, IV, as execuções fiscais passam a ser
suspensas até o encerramento da falência, a partir da instauração do incidente. A doutrina (Fábio Ulhoa),
sustenta que a norma derrogou tácita e parcialmente o art. 187 do CTN, que estabelecia que a cobrança
judicial do crédito tributário não estaria sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência.
OBS.: O deferimento, por sua vez, da recuperação judicial, continua NÃO suspendendo as execuções fiscais
I- Ordem de preferência
O ativo corresponde a venda dos bens da massa falida, o que deve se iniciar antes mesmo de formado
o quadro-geral de credores.
Existe uma ordem de preferência na venda dos bens da empresa, sempre em atenção ao princípio da
preservação da empresa:
1º) Deve ser vendido o estabelecimento comercial em bloco, a fim de manter a empresa;
2º) Deve haver a alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas
isoladamente;
3º) Podem ser alienados em bloco os bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor;
4º) Alienação dos bens individualmente considerados.
OBS.: A realização do ativo terá início independentemente da formação do quadro-geral de credores.
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As modalidades típicas de venda devem ser precedidas de publicação em anúncio em jornal de ampla
circulação, com 15 dias de antecedência (bens móveis) e 30 dias na alienação da empresa ou de bens imóveis,
facultada a divulgação por outros meios que facilitem a venda.
São modalidades típicas:
i. Leilão por lances orais – aplicam-se as regras do CPC no que couber;
ii. Propostas fechadas – ocorre mediante a entrega em cartório e sob recibo dos envelopes lacrados
com as propostas, a serem abertos pelo juiz no dia indicado pelo edital;
iii. Pregão – ocorre mediante recebimento das propostas e leilão por lances orais, de que participarão
apenas aqueles que apresentarem propostas não inferiores a 90% da maior proposta ofertada.
OBS.: Em qualquer modalidade de realização de ativo, fica a massa falida dispensada da apresentação de
certidões negativas, bem como deve ser o MP intimado, sob pena de nulidade.
É possível apresentar impugnação para qualquer uma das três modalidades de alienação, por
quaisquer credores, devedor ou MP, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da arrematação, sendo os autos
conclusos ao juiz para que decida no prazo de 05 dias.
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serem iniciados os pagamentos dos credores, o que deve ocorrer segundo ordem de preferência.
Inicialmente devem ser pagos os créditos extraconcursais para, só então, iniciar o pagamento dos créditos
concursais.
STJ (Info 609): No processo de falência, a incidência de juros e correção monetária
sobre os créditos habilitados deve ocorrer até a decretação da quebra, entendida
como a data da prolação da sentença (e não sua publicação).
Os credores restituirão em dobro as quantias recebidas, acrescidas dos juros legais, se ficar
evidenciado dolo ou má-fé na constituição do crédito ou da garantia.
Pagos todos os credores, o saldo, se houver, será entregue ao falido.
I. Créditos extraconcursais
Devem ser pagos antes de qualquer outro crédito concursal, na seguinte ordem:
1) Remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação
do trabalho ou decorrente de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação
da falência; (obs.: os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 salários-mínimos
por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho)
2) Quantia fornecida à massa pelos credores;
3) Despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do produto, bem como
custas do processo de falência;
4) Custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;
5) Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a RJ ou após a decretação da
falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência.
• Créditos com garantia real. Ex.: créditos hipotecários, créditos pignoratícios, créditos caucionados,
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de debêntures com garantia real e os decorrentes de cédula de crédito rural. São créditos NÃO
sujeitos a rateio.
• Créditos fiscais
⇨ Se forem multas tributárias, se situam abaixo dos créditos quirografários.
⇨ Existe hierarquia, devendo ser pagos primeiro os créditos da União, Estados, DF + Territórios e
suas respectivas autarquias e por fim dos Municípios.
• Créditos com privilégio especial. NÃO se sujeitam a rateio.
⇨ Com a LC 147/2014, os créditos em favor dos microempreendedores individuais e das
microempresas e empresas de pequeno porte passaram a ser créditos com privilégio especial.
• Créditos com privilégio geral. Ex.: crédito por despesa de seu funeral.
• Créditos quirografários – São os créditos que NÃO possuem nenhuma espécie de privilégio ou
garantia.
• Multas e penas pecuniárias – São as multas contratuais e as pecuniárias por infração de leis penais
ou administrativas, inclusive as multas tributárias.
• Créditos subordinados – São os previstos em lei ou contrato, e os créditos dos sócios e dos
administradores sem vínculo empregatício.
Feitos os pagamentos aos credores, caberá ao Administrador Judicial prestar contas ao Juiz, no prazo
de 30 dias.
Posteriormente, o Juiz colocará as contas à disposição para que os interessados possam oferecer
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impugnação no prazo de 10 dias e depois remeterá ao MP para ofertar parecer em 05 dias. Se houver
impugnação ou parecer desfavorável, o administrador será novamente ouvido e o juiz julgará as contas
através de uma sentença.
Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de
10 (dez) dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos
pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que continuará o
falido.
Se as contas forem rejeitadas, o juiz, além de fixar as responsabilidades do Administrador, poderá
determinar o sequestro ou indisponibilidade de bens do administrador, servindo a sentença como título
executivo para indenização da massa, contra a qual caberá apelação.
O prazo prescricional das obrigações do falido recomeça a correr a partir do dia em que transitar em
julgado a sentença do encerramento da falência.
As obrigações do falido só serão extintas se houver:
i. Pagamento de todos os créditos;
ii. Pagamento, depois de realizado o ativo, de mais de 50% dos créditos quirografários, sendo facultado
ao falido o depósito da quantia necessária para atingir esse percentual;
iii. Decurso do prazo de 05 anos contado do encerramento da falência, se o falido NÃO houver sido
condenado por crime previsto na Lei;
iv. Decurso do prazo de 10 anos em caso de condenação do falido por crime.
A sentença de encerramento será publicada por edital e dela caberá apelação.
3. RECUPERAÇÃO JUDICIAL
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Apenas os que exercem atividade empresarial, NÃO se referindo a devedores civis, sendo aplicáveis as
mesmas regras da falência.
A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do
devedor, inventariante ou sócio remanescente.
Jurisprudência sobre o tema:
Associações civis sem fins lucrativos com finalidade e atividades econômicas
detêm legitimidade para requerer recuperação judicial. STJ. 4ª Turma. AgInt no TP
3654-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/03/2022 (Info 729).
Ao produtor rural que exerça sua atividade de forma empresarial há mais de dois
anos, é facultado requerer a recuperação judicial, desde que esteja inscrito na
Junta Comercial no momento em que formalizar o pedido recuperacional,
independentemente do tempo de seu registro. STJ. 2ª Seção. REsp 1905573-MT,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/06/2022 (Recurso Repetitivo – Tema
1145) (Info 743).
Caiu em prova Delegado PC-BA/2018! Poderá requerer a recuperação judicial o devedor: falido, desde que
estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades decorrentes da
falência. (Item considerado correto pela banca.)
Pode requerer o devedor que exerça as suas atividades há mais de 02 (dois) anos regularmente e
atenda aos seguintes requisitos cumulativos:
i. Não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades decorrentes;
ii. Não ter há pelo menos 05 (cinco) anos obtido concessão de RJ;
iii. Não ter, há pelo menos 08 (oito) anos, obtido concessão de RJ com base em plano especial;
iv. Não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada
por qualquer dos crimes previstos na Lei de Falências.
O empresário individual irregular ou a sociedade empresária irregular NÃO têm direito a RJ, sendo a
comprovação desse requisito realizada pela juntada da Certidão da Junta Comercial competente que ateste
a regularidade do exercício da atividade empresarial.
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Súmula 480, STJ: O juízo da recuperação judicial não é competente para decidir
sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa.
A petição inicial deve conter a descrição detalhada da crise econômica, apontado as causas
específicas e NÃO genéricas.
Além disso, a petição deve estar acompanhada das demonstrações contábeis dos 03 (três) últimos
exercícios sociais, devendo conter:
• Balanço patrimonial;
• Demonstração de resultados acumulados;
• Demonstração do resultado desde o último exercício social;
• Relatório gerencial do fluxo de caixa e sua projeção.
Deve apresentar também:
I. Relação completa nominal dos credores, inclusive com obrigação de fazer e dar, com indicação de
endereço de cada um, natureza, classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando a origem,
o regime dos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação;
II. Relação integral dos empregados com as funções, salários, indenizações e outras parcelas a que
tenham direitos;
III. Certidão de regularidade do devedor no Registro Público de empresas, o ato constitutivo atualizado
e as atas de nomeação dos atuais administradores;
IV. Relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;
V. Extratos atualizados das contas bancárias de devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de
qualquer modalidade, inclusive fundos de investimentos ou em bolsas de valores;
VI. Certidões de Cartório de Protestos situadas na comarca de domicílio ou sede do devedor e naquelas
onde possua filial;
VII. Relação de todas as ações judiciais em que o devedor figure como parte, inclusive de natureza
trabalhista, com a estimativa dos valores demandados.
Com a Reforma de 2020, foi incluída a seção “Da Consolidação Processual e da Consolidação
Substancial” (art. 69-G e art. 69-L). O objetivo da consolidação processual é permitir que diversos devedores
empresários que integrem grupo sob controle societário comum possam fazer somente um pedido de
recuperação judicial, embora cada devedor deva apresentar individualmente a documentação necessária.
A consolidação processual não acarreta a consolidação substancial, uma vez que os devedores
mantém a autonomia patrimonial, com a proposição de meios de recuperação independentes e específicos
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Se a inicial estiver em desacordo com o rol dos requisitos legais obrigatórios, o juiz deve determinar a
sua emenda.
Se preencher os requisitos, o juiz deferirá o processamento da RJ (note que NÃO é o mesmo que
conceder a RJ), em juízo sumário de cognição. Em face dessa decisão, o enunciado 54, da I Jornada de Direito
Comercial do CJF entendeu que o deferimento no processamento da RJ NÃO enseja o cancelamento da
negativação do nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito e nos tabelionatos de protestos. No
entanto, André Santa Cruz entende que o juiz pode determinar a suspensão dos efeitos das negativações.
agravo de instrumento.
Em face da decisão que defere o processamento da RJ, cabe
Deferido o processamento da RJ, o juiz nomeia administrador judicial com quase a mesma função que
no processo falimentar, salvo o fato de que na RJ o devedor continua com pleno direito de administração,
sendo apenas fiscalizado pelo administrador.
O juiz ainda determinará a dispensa da apresentação das certidões negativas para que o devedor
exerça as suas atividades, salvo para a contratação com o Poder Público ou para o recebimento de benefícios
fiscais e creditícios.
A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica: (art.6)
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao regime
desta Lei;
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos
credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos
à recuperação judicial ou à falência;
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e
apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda
de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à
recuperação judicial ou à falência.
A suspensão ocorrerá pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do
processamento da RJ, sendo restabelecido o direito dos credores a continuar com as demandas,
independente de pronunciamento judicial (stay period). Além disso, o §4º-A, introduzido ao art. 6 da Lei
11.101/05 pela Lei 14.112/20 possibilita outras hipóteses de prorrogação.
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O STJ entende que o simples decurso do prazo NÃO enseja a retomada automática das execuções
individuais, mas cabe ao juízo da recuperação decidir a esse respeito. Além disso, a Corte Superior tem
mitigado esse prazo, permitindo que a suspensão extrapole 180 dias, se o atraso na conclusão do processo
NÃO for por culpa do devedor.
Os Tribunais têm entendido que o deferimento do processamento de RJ apenas gera efeitos sobre as
ações e execuções contra a sociedade, mas NÃO contra os seus sócios avalistas, de modo que tais execuções
NÃO seriam suspensas e tramitariam normalmente.
Eventuais pedidos de falência ainda não julgados também serão suspensos e ficarão aguardando o
julgamento do pedido de RJ, cabendo ao devedor comunicar os juízos competentes de todas as ações a serem
suspensas.
O juiz também deverá intimar o MP e comunicar às Fazendas Públicas, bem como deverá expedir edital
para dar conhecimento geral, que deverá conter:
i. Resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da RJ;
ii. Relação nominal de credores, com a discriminação do valor atualizado e classificação de cada crédito;
iii. Advertência acerca dos prazos para a habilitação do crédito, para que os credores apresentem
objeção ao plano da RJ.
Após o deferimento do processamento da RJ, NÃO pode o credor desistir do pedido de, RJ
salvo se
obtiver a aprovação da desistência na Assembleia Geral de Credores (art. 52, § 4°, da Lei 11.101/05).
Pergunta-se: é possível pedido de recuperação judicial em litisconsórcio ativo? De acordo com a lei,
sim!
Art. 69-G. Os devedores que atendam aos requisitos previstos nesta Lei e que
integrem grupo sob controle societário comum poderão requerer recuperação
judicial sob consolidação processual. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
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STJ (Info 627): A ação de compensação por danos morais movida contra empresa
em recuperação judicial não deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado
da decisão final proferida no processo de soerguimento. O Superior Tribunal de
Justiça entende que credor com pequena dimensão pecuniária de crédito, no caso,
alicerçada em pedido de danos morais, não deve suportar o ônus da suspensão
ante o estado recuperacional.
O devedor terá 60 dias para apresentar o plano de recuperação judicial, contado da publicação da
decisão que defere o processamento da RJ, sob pena de convolação em falência.
Entretanto, em caso de rejeição do plano original, é possível a apresentação de proposta alternativa
por credor, caso em que a votação, conforme a Lei 14.112/20 que conferir a redação ao art. 56, §6º, deverá
satisfazer, cumulativamente, algumas condições.
Além disso, à luz do princípio da preservação da empresa viável, há a possibilidade de o juiz conceder
a recuperação quando o plano foi “quase” aprovado (cram down), na forma do art. 58, §1º, e desde que o
plano não implique em tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado.
O plano deverá conter:
i. Discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados;
ii. Sua viabilidade econômica;
iii. Laudo econômico-financeiro e de avaliação de bens e ativos do devedor, subscrito por profissional
habilitado legalmente ou empresa habilitada.
Como uma das medidas possíveis, em sede do plano de recuperação judicial, está o trespasse ou o
arrendamento do estabelecimento empresarial do devedor.
O plano de RJ NÃO poderá prever prazo superior a 01 (um) ano para pagamento dos créditos
trabalhistas e decorrentes de acidentes do trabalho, vencidos até a data do pedido de recuperação. Ademais,
o plano NÃO poderá prever prazo superior a 30 dias para pagamento, até o limite de 05 salários mínimos por
trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 03 meses anteriores ao pedido de
recuperação.
Estão excluídos da RJ o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis,
de arrendador mercantil, proprietário ou promitente vendedor do imóvel cujos contratos tenham cláusula
de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporação imobiliária, ou proprietário de contrato
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RETA FINAL
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de compra e venda com reserva de domínio. Além disso, os credores titulares de importâncias entregues ao
devedor a título de adiantamento de câmbio para exportação NÃO se sujeitam à RJ. Inclusive, a concessão
da RJ NÃO exime o fiador ou avalista quanto à garantia prestada ao devedor.
Para os que se submetem à RJ, devem se habilitar no processo de recuperação.
STJ (Info 604): Se as verbas trabalhistas estão relacionadas com serviços prestados
pelo empregado em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, tais
verbas também estarão sujeitas a esse procedimento, mesmo que a sentença
trabalhista tenha sido prolatada somente depois do deferimento da recuperação.
A consolidação do crédito trabalhista (ainda que inexigível e ilíquido) não depende
de provimento judicial que o declare — e muito menos do transcurso de seu
trânsito em julgado —, para efeito de sua sujeição aos efeitos da recuperação
judicial.
STJ (Info 610): Não ofende a coisa julgada a decisão de habilitação de crédito que
limita a incidência de juros de mora e correção monetária, delineados em sentença
condenatória de reparação civil, até a data do pedido de recuperação judicial.
Após a publicação de edital pelo juiz, os credores devem analisar o plano de recuperação judicial
apresentado e decidir se o devedor deve ter direito ou não à concessão da RJ. As objeções deverão ser
apresentadas pelo Juiz no prazo de 30 dias contados da publicação da relação preliminar de credores que o
administrador judicial elaborará, sendo esse prazo contado, em regra, a partir da relação preliminar de
credores elaborada pelo administrador judicial. Todavia, se o plano ainda não tiver sido apresentado, o prazo
das objeções se iniciará a partir da publicação do aviso de recebimento do plano.
Se não houver objeções, há aprovação tácita. Lado outro, se houver objeções, o juiz deverá convocar
assembleia geral de credores para deliberará sobre o plano, o que não excederá 150 dias contados do
deferimento do processamento da RJ. O STJ possui jurisprudência admitindo a desistência da objeção, desde
que seja feita até a convocação da assembleia.
Havendo objeção, NÃO cabe ao juiz analisá-la e julgá-la, devendo convocar a assembleia. Caso o plano
seja rejeitado na assembleia, deverá ser decretada a falência do devedor.
Assim, a assembleia pode tomar 3 (três) decisões sobre o plano da RJ:
1) Aprovar sem alterações;
2) Aprovar com alterações, caso em que o devedor deve consentir com as mudanças e elas não devem
causar prejuízos aos credores ausentes que não puderam votar;
3) Não aprovar, caso em que haverá a decretação da falência.
No entanto, o juiz poderá conceder a RJ com base em plano que não teve a aprovação, desde que a
assembleia tenha obtido, de forma cumulativa:
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i. Voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes
à assembleia, independente de classes;
ii. Aprovação de 02 classes de credores, ou, no caso de só haver duas classes, aprovação de ao menos
01;
iii. Na classe que houver rejeitado, exista o voto favorável de mais de 1/3 dos credores.
Vejamos, ainda, a jurisprudência sobre o tema:
E o contrário, é possível o juiz indeferir a recuperação judicial cujo plano foi aprovado pela
assembleia? O STJ entendeu que se o plano cumpriu todas as exigências legais e foi aprovado em
assembleia, o juiz deve homologá-lo e conceder a recuperação judicial do devedor, não podendo o
juiz se imiscuir no aspecto da viabilidade econômica da empresa. O juiz deve exercer o controle de
legalidade do plano, analisando se há fraude ou abuso de direito, mas não cabe a ele realizar o
controle sobre a viabilidade econômica do plano.
Enunciado 46 da I Jornada de Direito Comercial da CJF: Não compete ao juiz
deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a extrajudicial
com fundamento na análise econômico-financeira do plano de recuperação
aprovado pelos credores.
STJ (Info 591): Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles -
devidamente representados pelas respectivas classes - optar, por meio de
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RETA FINAL
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O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o
devedor e todos os credores a ele sujeitos.
Segundo o STJ (REsp 1260301/DF), a novação operada pelo plano de recuperação fica sujeito a uma
condição resolutiva, na medida em que o art. 61 da Lei 11.101/05 dispõe que o descumprimento de qualquer
obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, com o que os credores
terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores
eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial.
A decisão que concede a RJ é recorrível por agravo de instrumento, e poderá ser interposto por
qualquer credor ou pelo MP.
Na venda de filiais ou unidades isoladas, desde que prevista no plano da assembleia, o arrematante
NÃO assumirá qualquer ônus ou débito.
Na RJ, o devedor em crise não perde, em princípio, a administração da empresa, salvo se:
● Houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em RJ ou
falência anteriores, e por crime contra o patrimônio, economia popular ou ordem econômica;
● Houver indícios da prática de crime previsto na lei de falências;
● Houver agido com dolo, simulação ou fraude;
● Houver efetuado despesas desproporcionais e irrazoáveis;
● Negar-se a prestar informações solicitadas pelo comitê de credores ou administrador judicial;
● Tiver o seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial.
Em caso de afastamento, o juiz deverá convocar assembleia-geral de credores para deliberar o nome
do gestor judicial que assumirá a administração das atividades do devedor, e enquanto não eleito o gestor,
o administrador assumirá as funções.
Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor NÃO poderá onerar ou alienar bens
ou direitos de seu ativo permanente, salvo reconhecimento pelo Juiz.
As Fazendas Públicas e o INSS poderão deferir, nos termos da Lei específica, parcelamento de seus
créditos.
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Com e reforma de 2020, foi incluída a seção VI-A, denominada “Do Financiamento do Devedor e do
Grupo Devedor durante a Recuperação Judicial” (art. 69-A a art. 69-F). Envolve a regulamentação de
contratos garantidos pela oneração ou pela alienação fiduciária de bens e direitos, seus ou de terceiros
(sócios ou sociedades do mesmo grupo), pertencentes ao ativo não circulante, para financiar as atividades
e as despesas de reestruturação ou de preservação do valor de ativos. Como regra, o financiamento
independe de autorização judicial ou interferência dos credores.
A RJ se encerra com o cumprimento de todas as obrigações previstas no plano de até 02 (dois) anos
após a concessão da recuperação pelo Juiz.
Ne sentença que encerra a RJ, deve o juiz determinar o pagamento dos honorários ao administrador
judicial, devendo a segunda parcela ser paga após a prestação e aprovação de contas pelo juiz, como ocorre
no processo falimentar. Ainda deve ser apurado o saldo das custas judiciais a serem recolhidas, bem como
prestadas as contas pelo Administrador Judicial no prazo de 15 dias (apresentação de relatório
circunstanciado versando sobre a execução do plano de recuperação). Deverá ainda ser dissolvido o comitê
de credores e comunicado ao Registro Público de empresas para providências cabíveis.
STJ (Info 580): Se, após o biênio de supervisão judicial e desde que ainda não tenha
ocorrido o encerramento da recuperação judicial, houver aprovação de novo plano
de recuperação judicial, o credor que discordar do novo acordo não tem direito a
receber o seu crédito com base em plano anterior aprovado pelo mesmo órgão.
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Para microempresas e empresas de pequeno porte, foi concedido um plano de recuperação judicial
diferenciado, podendo ser optado pelo plano especial ou pelo tradicional.
O plano especial estará limitado às seguintes condições:
● Abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados
os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3 o e 4o do art. 49
da Lei falimentar;
● Preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas
de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter
ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas;
● Preverá pagamento da 1ª parcela no prazo máximo de 180 dias, contados da distribuição do
pedido de RJ;
● Estabelecerá a necessidade de autorização do juiz, após ouvido o administrador judicial e o
comitê de credores, para o devedor aumentar despesas ou contratar empregados.
Cumpre frisar que antes da apresentação do plano, deverá ser realizado o requerimento e preenchidos
os requisitos legais da RJ, somente quando o juiz deferir o processamento será apresentado o plano.
A aprovação do plano especial NÃO é competência da assembleia geral de credores, mas do próprio
juiz, bem como é ao juiz que compete rejeitá-lo e decretar a falência.
O juiz julgará improcedente o pedido de recuperação judicial e decretará a falência do devedor se
houver objeções, nos termos do art. 55, de credores titulares de mais da metade de qualquer uma das classes
de créditos previstos no art. 83, computados na forma do art. 45, todos dispositivos da lei falimentar.
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RETA FINAL
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alteração do plano de recuperação judicial, mesmo após ter se esgotado o prazo de 02 (dois) anos de
supervisão judicial previsto no art. 61 da lei falimentar. Um dos argumentos apontados pela Corte Superior
é a de que "pode o devedor, mediante a concordância dos credores que, reitere-se, aprovam o plano de
recuperação por ele proposto, ser beneficiado pela concessão de prazos maiores para pagamento de suas
dívidas ou de condições especiais, podendo até mesmo abater parte da dívida. Nesse momento, ocorre
verdadeiramente um jogo político, tanto do devedor quanto dos credores. (...)" (BEZERRA FILHO, Manoel
Justino. Lei de recuperação de empresas e falências comentada: Lei 11.101/2005: comentário artigo por
artigo. 4ª ed. São Paulo: RT, 2007, p. 145).
No julgado analisado, embora tenha extrapolado o prazo bienal previsto na lei falimentar, não houve
prolação de sentença a encerrar a recuperação judicial da empresa, razão pela qual a Assembleia Geral de
credores permaneceu com soberania para as deliberações pertinentes ao plano de recuperação judicial,
podendo adequá-lo às novas necessidades de credores e devedor.
4. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL
A Lei 11.101/05 previu a possibilidade de o devedor que preencher os requisitos do art. 48 propor e
negociar com credores plano de recuperação extrajudicial.
Requisitos legais: devem ser os mesmos para pedir a RJ. Outrossim, o devedor NÃO poderá requerer
a homologação de plano extrajudicial se estiver pendente pedido de recuperação judicial ou se houver
obtido a recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de
02 (dois) anos.
NÃO se submetem ao plano de recuperação extrajudicial, além dos credores já previstos na a falência
e RJ, os titulares de créditos fiscais, trabalhistas e acidentários. Logo, podem estar abrangidos no plano de
recuperação extrajudicial:
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Para obter a homologação do plano de recuperação extrajudicial pelo juiz, o devedor deverá requerê-
la por petição, devendo comprovar imediatamente os requisitos, além de juntar justificativa ou documentos
aturas dos credores que a ele aderiram. Nesse caso, a
que contenha seus termos ou condições, com as assin
homologação judicial é mera formalidade, não sendo condição imprescindível para a sua execução.
Após a distribuição do pedido de homologação, os credores NÃO poderão desistir da adesão ao plano,
salvo com anuência expressa dos demais signatários.
Excepcionalmente, o devedor poderá requerer a homologação de plano de recuperação extrajudicial
que obriga a todos os credores por ele abrangidos, desde que assinados por credores que representem mais
de 3/5 de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos.
Seja qual for o fundamento do pedido de homologação, apresentada a petição inicial do pedido de
homologação do plano, o juiz ordenará a publicação de edital, convocando todos os credores do devedor
para apresentar impugnação ao plano, no prazo de 30 dias, contados da data de publicação do edital, sendo
aberto prazo de 05 dias para que o devedor se manifeste.
A impugnação somente pode alegar:
● Não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do art. 163;
● Prática de qualquer dos atos previstos no art. 94, III ou art. 130 da Lei ou descumprimento de
requisito previsto para a Lei;
● Descumprimento de qualquer outra exigência legal.
Indeferido o pedido de homologação, o devedor pode: (i) interpor recurso de apelação SEM efeito
suspensivo; (ii) ou apresentar novo pedido de homologação, desde que o indeferimento tenha decorrido em
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As instituições financeiras não se sujeitam à lei falimentar, mas à liquidação extrajudicial (Lei 6.024/74).
Existem as seguintes modalidades:
INTERVENÇÃO LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL REGIME DE ADMISSÃO ESPECIAL
TEMPORÁRIA (RAET)
Objetivo: destituir os respectivos Objetivo: promover a extinção da Objetivo: perda do mandato dos
dirigentes. empresa. dirigentes.
Banco Central nomeia o Decretada pelo BACEN (ex officio Ocorre a substituição por um
interventor. ou a pedido da instituição). conselho diretor nomeado pelo
Banco Central.
Ao final pode: Aplicável quando há indícios de
● Retomar as atividades insolvência irrecuperável ou Ao final pode:
normais cometidas infrações às normas ● Retomar as atividades
● Decretar liquidação que regulam a atividade da normais;
● Falência instituição. ● Intervenção;
● Decretar liquidação;
Prazo de 6 meses prorrogáveis
uma vez pelo mesmo tempo. Prazo determinado prorrogável
uma única vez pelo máximo do
Suspende a exigibilidade das mesmo tempo.
obrigações vencidas e vincendas,
bem como torna inexigíveis os
depósitos já existentes na data da
decretação.
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META 3
CF/88
⦁ Arts. 37 ao 42
1. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ATENÇÃO! Trata-se do Direito Administrativo na Constituição, razão pela qual o tema não será visto
com a mesma extensão que na disciplina específica, mas uma visão geral envolvendo os aspectos
constitucionais.
Reforça-se a importância do tópico a ser estudado, pois, a partir dele, você será capaz de resolver
questões de Direito Constitucional e Direito Administrativo.
Segundo Uadi Lammêgo Bulos, Administração Pública é o conjunto orgânico e sistemático de normas
jurídicas que abrangem a Administração direta e indireta da União, Estados, DF e Municípios, regendo-se por
princípios constitucionais e administrativos.
O Constituinte de 1988 escolheu o critério orgânico para expressar o significado de Administração
Pública.
A CF/88 trata da Administração Pública nos arts. 37 a 42. No material, serão tratados os principais
pontos da matéria, o que NÃO dispensa a leitura dos dispositivos constitucionais.
● Legalidade
● Impessoalidade
● Moralidade
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● Publicidade
● Eficiência.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte.
(...)
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos.
1.2.1. Legalidade
A legalidade também aparece expressamente prevista no art. 5, II. Enquanto este dispositivo trata
da compreensão de que os administrados podem fazer aquilo que não é proibido por lei, o art. 37 deve ser
interpretado no sentido de que o agente público só pode atuar onde houver lei permitindo
.
ATENÇÃO!
Com a EC 19/98 ocorreu o movimento chamado “agencificação”, de modo que foram criadas
agências reguladoras (autarquias) de certas atividades as quais competiam ao Estado. Para o exercício dessa
função foi conferido o poder de editar atos normativos, de modo que ocorreu a denominada
“deslegalização”.
Nesse contexto, o que era tratado em lei formal, editada pelo Congresso Nacional, no âmbito do
Poder Legislativo, passou a ser regulamentado por atos normativos editados pelas agências reguladoras, que
integram o Poder Executivo.
Logo, a ideia de que o agente público só pode atuar quando houver lei permitindo deve ser revista,
posto que o administrador deve observância aos atos das agências.
1.2.2. Impessoalidade
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Esse princípio visa pautar a atuação pública em critérios objetivos, sem privilegiar um indivíduo em
detrimento do outro. Nesse contexto, surge a regra do concurso público, proibição do governante de utilizar
obras públicas para sua promoção pessoal, a vedação ao nepotismo.
Caiu em prova Delegado PC-SP/2022! No tocante ao regramento e aos princípios constitucionais que regem
a Administração Pública, é correto afirmar que: a vedação ao nepotismo é regra constitucional que decorre
do núcleo dos princípios da impessoalidade e da moralidade administrativas. (Item considerado correto pela
banca.)
1.2.3. Moralidade
Esse princípio estabelece que a atuação pública deve ser sempre pautada em parâmetros éticos-
jurídicos, regidos pela boa-fé e probidade.
1.2.4. Publicidade
Esse princípio se destina a dar transparência à atuação dos agentes públicos e garantir aos
administrados a possibilidade de fiscalizar essa atuação. Embora a publicidade seja a regra, ela comporta
restrições. Nos casos que envolvam a segurança nacional e ponderado o interesse público, é possível o seu
afastamento excepcional.
1.2.5. Eficiência
Trata-se de princípio não originário, inserido a partir da EC 19/98. Segundo o postulado, a atuação
pública deve buscar sempre o atendimento do máximo interesse público, com o menor ônus.
Segundo Uadi Lammêgo Bulos, agente público é toda pessoa física, investida na função de Estado,
incumbida de prestar serviços ao Poder Público. Por meio dos agentes públicos, o Estado encontra quem
exprima a sua vontade.
Podem se dividir em:
Agentes públicos que atuam no exercício da função política de Estado. São servidores estatutários, que
NÃO possuem vínculo contratual com o Estado. Seriam os detentores de mandato eletivo, secretários e
Ministros de Estado.
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Quanto aos Membros dos Tribunais de Contas, o STF já se manifestou no sentido de enquadrá-los
como agentes administrativos, e não como agentes políticos, razão pela qual incidiria a Súmula Vinculante
13 STF (vedação ao nepotismo).
Todos aqueles que, sem perder a qualidade de particulares, atuam em nome do Estado, mesmo em
caráter temporário ou ocasional. Se dividem em:
I. Designados: todos aqueles que atuam em virtude de convocação efetivada pelo Poder Público. Ex:
Mesários, jurados.
II. Voluntários: atuam voluntariamente em repartições, escolas, hospitais públicos.
III. Delegados: atuam na prestação do serviço público mediante delegação do Estado. Ex: Titulares de
serventias de cartórios, concessionários e permissionários de serviços públicos.
IV. Credenciados: atuam em nome do Estado em virtude de convênios celebrados com o Poder Público.
Ex: Médicos privados em convênio com o SUS.
● Serviço temporário, definido por lei específica, que deve especificar suas características, limite
máximo de duração e o regime dos servidores;
● Interesse público, devidamente justificado pela autoridade pública responsável pela contratação;
● Excepcionalidade da contratação, sendo o prazo de duração do contrato determinado pela lei
específica que regulamenta as contratações na esfera de cada ente federativo e deve ser definido no
contrato celebrado com o ente estatal.
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STF (Info 869): É compatível com a Constituição Federal a previsão legal que exija
o transcurso de 24 (vinte e quatro) meses, contados do término do contrato, antes
de nova admissão de professor temporário anteriormente contratado.
A CF/88, quando publicada, instituiu a exigência de Regime Jurídico Único para ingresso de pessoal
nas entidades da Administração direta, autárquica e fundacional, não se admitindo a contratação de
empregados pela CLT e a nomeação para assumir cargos estatutários ao mesmo tempo. Com isso, a maioria
dos entes federativos optou pelo regime estatutário, mas alguns Municípios optaram pelo celetista.
Com a EC 19/98, foi abolida a exigência de Regime Jurídico Único da Administração Direta,
autárquica e fundacional, passando a se admitir a convivência de ambos os regimes jurídicos (estatutário +
celetista).
Todavia, foi movida a ADI 2135, para declarar a inconstitucionalidade da EC 19/98, sob alegação de
incompatibilidade formal com a CF, sendo posteriormente concedida medida cautelar para suspender a nova
redação do art. 39 CF. Com isso, passou a ser admitido apenas um regime de servidores nos entes da
Administração direta, autárquica e fundacional.
Com isso, é obrigatório o Regime Jurídico Único, o qual proíbe que, somente no âmbito da mesma
esfera de governo haja multiplicidade de regimes, podendo o ente optar entre o celetista ou estatutário. E
todos os servidores que ingressaram antes da ADI 2135 mantêm o seu vínculo inalterado.
O regime estatutário prevalece ao celetista, por garantir maior segurança e conforto aos servidores.
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A doutrina e o STF sempre entenderam que, apesar do silêncio da lei, a escolha do regime
não representava um “cheque em branco” para o poder público, devendo ser adotado,
necessariamente, o regime estatutário para as atividades típicas do Estado (atividades-fim),
uma vez que seria fundamental a estabilidade dos agentes públicos, em razão da atividade.
Para atividades instrumentais (atividades-meio) das pessoas públicas, haveria liberdade para
a escolha do regime.
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Salvo em casos excepcionais, esse tipo de contratação se limita aos entes de direito privado
(empresas estatais e fundações de direito privado).
Aprovados em concurso, assinam contrato de emprego.
Possuem vínculo permanente com o Estado, a prazo indeterminado, sendo aplicável a CLT e o RGPS,
e se submetem a algumas restrições dos servidores públicos em geral:
● Proibidos de acumular seus empregos com outros cargos ou empregos públicos, salvo permissivo
constitucional;
● Podem ser responsabilizados por improbidade administrativa;
● Seus atos de submetem a controle judicial pelos remédios constitucionais;
● Devem se submeter a concurso público;
● Salários submetidos ao limite constitucional aplicado aos servidores públicos em geral.
A Súmula 390, II do TST determina que não é garantida a estabilidade prevista no art. 41 da CF/88
aos empregados públicos, mesmo entendimento da doutrina majoritária, já que a estabilidade, segundo CF,
só poderá ser adquirida pelos detentores de cargo efetivo. O STF já se posicionou no sentido de que, não
havendo garantia da estabilidade, é prescindível a justificativa para dispensa dos empregados das empresas
estatais, a exceção da ECT que, segundo STF, goza de regime de Fazenda Pública, com todas as prerrogativas
e limitações inerentes ao regime jurídico administrativo.
STF (RE 589.998): Reconhece o dever de motivar os atos de dispensa dos empregados das empresas estatais
prestadoras de serviço público, assegurando o contraditório e a ampla defesa.
Características:
● Unicidade normativa: A União detém competência privativa para legislar sobre direito do trabalho.
Logo, lei estadual que proibiu dispensa sem justa causa de empresa estatal estadual é
inconstitucional, pela falta de competência do Estado para legislar sobre direito do trabalho.
● Vínculo contratual: Os empregados públicos assinam contrato de trabalho.
● Competência para processo e julgamento da justiça do trabalho.
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STF: Não há direito adquirido a regime jurídico. Logo, os direitos instituídos pelo
estatuto dos servidores públicos não se incorporam ao patrimônio jurídico desses
agentes.
Características:
● Pluralidade normativa: Cada ente federativo possui autonomia para disciplinar normas estatutárias
que regem os seus respectivos servidores, sendo a iniciativa das leis do chefe do executivo;
● Vínculo legal: NÃO há contrato de trabalho, mas termo de posse. A ausência de vínculo contratual,
segundo o STJ, demonstra a inexistência do direito à inalterabilidade da situação funcional, por
predominar o interesse público na relação estatutária.
● Competência para processo e julgamento da justiça comum.
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Regime especial
Aplica-se aos agentes públicos contratados por tempo determinado (temporários), com
fundamento no art. 37, IX, da CRFB. Sendo norma de eficácia limitada, fica a cargo do
legislador estabelecer os casos de contratação por prazo determinado. Em razão da
autonomia federativa, compete a cada ente federado legislar sobre a matéria.
Os agentes temporários são contratados pela Administração Pública para exercer funções
públicas em caráter temporário e excepcional, mas não ocupam cargos ou empregos
públicos.
Requisitos:
a Existência de lei regulamentadora com a previsão dos casos de contratação temporária;
b Prazo determinado de contratação (a legislação deve estipular os prazos);
c Necessidade temporária (NÃO é possível utilizarcontratação
a para o exercício de funções
burocráticas ordinárias e permanentes);
d Excepcional interesse público (a contratação deve ser precedida de motivação que
demonstre de maneira irrefutável o excepcional interesse público);
e Pluralidade normativa, já que cada ente federado pode legislar autonomamente sobre as
hipóteses de contratação temporária e estabelecer os respectivos procedimentos;
f Vínculo contratual: celetista;
g Competência para processo e julgamento: Justiça comum, tendo em vista o caráter jurídico-
administrativo do agente, conforme entendeu o STF (embora o tema suscite divergências
doutrinárias).
Função de Confiança: É uma função sem cargo, função isolada dentro do serviço público,
somente podendo ser exercida por quem já esteja investido em cargo efetivo;
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Cargo em Comissão: É o cargo comissionado, também podendo ser exercido por servidores
de cargo efetivo.
Cada entidade deverá estabelecer, por lei, um percentual mínimo de cargos em comissão
que necessariamente serão preenchidos por servidores efetivos.
Devem ser acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos previstos em lei e aos estrangeiros,
na forma da legislação aplicável, em atenção ao princípio da isonomia.
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A CF prevê alguns casos que só podem ser preenchidos por brasileiros natos (art. 12, §3º).
Art. 12. § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa.
Quanto ao acesso aos cargos públicos por estrangeiros, a CF limita às hipóteses definidas em lei
específica, sendo norma de eficácia limitada, dependendo de regulamentação para produzir efeitos, não
sendo autoaplicável.
SÚMULA 231 TCU: A exigência de concurso público para admissão de pessoal se estende
a toda a Administração Indireta, nela compreendidas as Autarquias, as Fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, as Sociedades de Economia Mista, as Empresas
Públicas e, ainda, as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União,
mesmo que visem a objetivos estritamente econômicos, em regime de competitividade
com a iniciativa privada.
Não se admitem os concursos internos, pelos quais antigos servidores assumem cargos em nova
carreira que não guardam conformidade com a carreira na qual o servidor ingressou mediante concurso.
Exceções ao concurso público:
● Cargos em comissão;
● Servidores temporários;
● Cargos eletivos;
● Ex-combatentes – Desde que tenham participado efetivamente da II Guerra Mundial, conforme art.
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RETA FINAL
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53, I ADCT;
● Agentes comunitários de saúde e de combate às endemias – Processo seletivo simplificado;
● Nomeação direta para Ministro de Tribunais de Contas, STF, STJ e demais Tribunais Superiores;
● Dirigentes das empresas estatais – Por serem detentores de cargo em comissão, NÃO dependem de
concurso para a sua nomeação;
● Empresas estatais – A doutrina admite a contratação direta, sem necessidade de concurso, em
situações excepcionais, para a contratação de profissionais qualificados em determinados ramos de
atividade de interesse da entidade;
● OAB.
O prazo de validade do concurso é de até 02 anos. Admitindo-se uma única prorrogação, por igual
período. O prazo inicia a partir da publicação da homologação do resultado final do concurso público.
Cabe ao Administrador definir se há interesse na prorrogação, com base nos critérios de
oportunidade e conveniência (discricionário), devendo eventual prorrogação ocorrer antes do término de
vigência originário, sob pena de se tornar impossível.
É admitida a realização de novo processo seletivo, desde que respeitada a ordem de preferência aos
candidatos aprovados no concurso anterior.
STF (MS 31732 ED): Candidato aprovado em concurso público para formação de
cadastro reserva é mero detentor de expectativa de direito à nomeação.
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Conforme consignado, o Colegiado de origem concluiu pela legalidade da contratação, a título precário,
mediante a adoção da ordem da lista de classificação em concurso público. Reconheceu estar no âmbito da
discricionariedade administrativa a escolha da forma de admissão do prestador do serviço em caso, mesmo
após a aprovação do agravado em concurso público para o respectivo cargo. Assim, o acórdão recorrido
revelou dissonância com a jurisprudência do Supremo. Ambas as Turmas já se manifestaram sobre o tema.
Entendeu o Tribunal que a contratação demonstra a necessidade do serviço, implicando, portanto, a
preterição do candidato aprovado.
[ARE 947.736 AgR, rel. min. Marco Aurélio, 1ª T, j. 7-3-2017, DJE 74 de 11-4-2017.]
Cadastro reserva e ausência de direito subjetivo à nomeação: Este Supremo Tribunal Federal já assentou
que candidato aprovado em concurso público para formação de cadastro reserva é mero detentor de
expectativa de direito à nomeação. [MS 31.732 ED, rel. min. Dias Toffoli, 1ª T, j. 3-12-2013, DJE 250 de 18-
12-2013.]
Tese de Repercussão Geral (Tema 784): O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para
o mesmo cargo, durante o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à
nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de
preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por comportamento tácito ou
expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o
período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo candidato. Assim, o direito subjetivo
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à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas seguintes hipóteses: I – Quando a
aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital; II – Quando houver preterição na nomeação
por não observância da ordem de classificação; III – Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo
concurso durante a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e
imotivada por parte da administração nos termos acima.
STF (RE 598099): Dentro do prazo de validade do concurso, a Administração poderá escolher o momento
no qual se realizará a nomeação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação, a qual, de acordo com
o edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e, dessa forma, um dever imposto ao poder
público. Uma vez publicado o edital do concurso com número específico de vagas, o ato da Administração
que declara os candidatos aprovados no certame cria um dever de nomeação para a própria Administração
e, portanto, um direito à nomeação titularizado pelo candidato aprovado dentro desse número de vagas.
STF (RE 598099): Diante de demonstração de situações excepcionais, nas quais, por motivo de necessidade
pública superveniente, devidamente comprovada e justificada, a Administração poderá deixar de nomear
candidatos aprovados em concurso público, ainda que dentro do número de vagas, sob pena de priorizar o
direito do aprovado em detrimento do interesse geral.
STF (RE 608482): Não é compatível com o regime constitucional de acesso aos cargos públicos a manutenção
no cargo, sob fundamento de fato consumado, de candidato não aprovado em concurso que nele tomou
posse em decorrência de execução provisória de medida liminar ou outro provimento judicial de natureza
precária, supervenientemente revogado ou modificado. Igualmente incabível, em casos tais, invocar o
princípio da segurança jurídica ou o da proteção da confiança legítima. A posse ou o exercício em cargo
público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica a manutenção, em definitivo, do
candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor
constitucional que prepondera sobre o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese,
o princípio da proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial. Em suma, não
se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por força de decisão
judicial provisória posteriormente revista.
STJ (MS 20558): Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se
aposentou, antes do julgamento final de mandado de segurança, por tempo de contribuição durante esse
exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da segurança que inicialmente
permitira ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a cassação da aposentadoria. A Lei dos
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Servidores Públicos Federais (Lei n. 8.112/90), assim como as demais leis de servidores públicos dos demais
entes, preveem a cassação da aposentadoria apenas em duas hipóteses: a) demissão do servidor público (art.
134); e b) acumulação ilegal de cargos (art. 133, § 6º). Dessa forma, não há fundamento na lei para se cassar
a aposentadoria nesta hipótese.
A exigência da escolaridade deve ser determinada por meio de lei e deve ser compatível com as
funções a serem atribuídas aos servidores dos cargos a serem providos. O edital deve especificar claramente
a escolaridade mínima exigida para exercer as atividades naquele cargo público, dando ampla publicidade a
esta informação.
A impossibilidade de ingresso na carreira por qualquer necessidade especial deve se justificar pelas
atribuições da carreira.
A Lei 8.112/90 reserva até 20% das vagas aos portadores de deficiência, desde que não impeça o
exercício da função do cargo.
STF: Somente a lei pode estabelecer os limites e requisitos para acesso aos cargos
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A EC 45/2004 previu obrigatoriedade de atividade jurídica de 03 anos para que seja possível o
ingresso na magistratura e no MP. Para essas duas carreiras, a exigência não depende de Lei; para as demais
carreiras, é necessária a previsão legal, desde que justificada em razão das atribuições inerentes ao cargo.
Para a magistratura, a conclusão do curso de pós-graduação na área jurídica NÃO pode ser
considerada como tempo de atividade jurídica (mas para o MP se considera). Para as demais carreiras, cabe
ao edital do concurso ou à Lei da carreira definir como será feita a análise do requisito.
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1.5. Estabilidade
A efetividade é atributo do cargo público, definido por lei no momento de sua criação, sendo
requisito indispensável para a aquisição da estabilidade. Os cargos públicos estatutários podem ser:
A estabilidade possui pertinência com o serviço, e não com o cargo. Logo, o STJ já asseverou que “a
estabilidade diz respeito ao serviço público, e não ao cargo”, razão pela qual o servidor estável, ao ser
investido em novo cargo, não fica dispensado de cumprir novo estágio probatório, SALVO se o cargo estiver
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O texto originário previa que a estabilidade seria adquirida com 02 anos de efetivo exercício no cargo.
A EC 19/98 ampliou o prazo para a aquisição de estabilidade de 02 para 03 anos e acrescentou a
aprovação em avaliação especial de desempenho realizada por comissão designada para esse fim. Logo, os
requisitos passaram a ser:
Regra de estabilização: A estabilidade poderá ser adquirida pelos agentes que, mesmo sem
aprovação em concurso público, tenham ingressado no serviço público, ao menos 05 anos antes da
promulgação da CF/88, situação que NÃO se aplica a ocupantes de cargos, empregos de confiança ou em
comissão.
O servidor em estágio probatório, uma vez que ainda NÃO adquiriu a estabilidade, NÃO possui a
garantia de permanência no serviço. Todavia, a perda do cargo depende necessariamente do respeito ao
princípio do contraditório e ampla defesa, conforme súmula 21 do STF.
A SUM 331 TST prevê que ao empregado de empresa estatal, ainda que admitido por aprovação em
concurso público, não será garantida a estabilidade prevista no art. 41 da CF/88.
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Em caso de necessidade de redução das despesas com pessoal, a CF dispõe a seguinte gradação:
Redução em pelo menos 20% das despesas em cargos comissionados e funções de confiança;
Exoneração dos servidores públicos não estáveis;
Exoneração dos servidores estáveis: nesse caso, o cargo do servidor estável será extinto, sendo VEDADA
ao ente estatal a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo
prazo de 04 anos. Ademais, o servidor estável passa a receber uma indenização correspondente a
um mês de remuneração para cada ano de serviço público prestado.
A exoneração dos servidores estáveis deverá ser precedida de ato normativo motivado dos Chefes
de cada um dos poderes, o qual deverá apresentar a economia de recursos e o número de servidores a serem
exonerados, definindo critério impessoal para o desligamento de servidores estáveis.
1.5.5. Vitaliciedade
Prerrogativa conferida em função dos cargos que exercem e grau de responsabilidade. É garantida a
permanência no serviço público, somente sendo possível a perda do cargo por sentença judicial transitada
em julgado. Aplica-se ao MP, magistratura e Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas.
Alcance da vitaliciedade:
● Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas;
● Magistrados;
● Membros do MP.
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A vitaliciedade, no entanto, NÃO garante a permanência eterna no cargo. Não impede a extinção do
cargo, hipótese em que o servidor ficará em disponibilidade remunerada (S. 11 do STF) e o servidor vitalício
se sujeita à aposentadoria compulsória.
Os militares NÃO têm direito à greve nem de sindicalização, por expressa vedação constitucional.
Para os servidores civis, o direito de greve está garantido e será exercido por lei especial. O STF
entende que o direito de greve dos servidores públicos é norma de eficácia limitada à edição de lei específica
que o regulamente. Como atualmente inexiste norma infraconstitucional, o STF, ao julgar Mandado de
Injunção referente à matéria, determinou que enquanto não houver lei específica para regulamentar a greve
dos servidores, será usada a lei geral de greve (Lei 7.783/89) para o exercício deste direito.
A greve pode ser utilizada inclusive por servidores em estágio probatório, pois a ausência ao trabalho
NÃO se configura imotivada em caso de greve, mas ocorrida de forma deliberada.
Competência:
● Se a greve for realizada por empregados públicos: Justiça do Trabalho;
● Se realizada por servidores estatutários: Justiça Comum;
● :
Greve de servidores públicos civis, se movimento nacional ou abarcar mais de um ente federativo
STJ.
STF (RE 846854): A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a
abusividade de greve de servidores públicos celetistas da Administração pública
direta, autarquias e fundações públicas.
Sindicalização: Salvo os militares, aos servidores públicos civis é assegurado o direito à greve e à
sindicalização, norma de eficácia plena. O direito à sindicalização é uma faculdade do servidor, não podendo
ser objeto os vencimentos dos servidores públicos de convenção coletiva (Vide súmula 679 STF).
Tese de Repercussão Geral: I- O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é
vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança
pública. II- É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas
das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da
categoria.
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O STF afirmou expressamente que, ao decidir que os policiais civis não possuem direito de greve, não
estava aplicando o art. 142, § 3º, IV, da CF/88 por analogia a eles. A greve é proibida por força dos
princípios constitucionais que regem os órgãos de segurança pública.
A carreira policial, disciplinada pelo art. 144 da CF/88, tem como função exercer a segurança pública,
garantindo a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Diante da
relevância de suas funções e considerando que se trata de uma atividade que não pode ser exercida pela
iniciativa privada, considera-se que a atividade policial é uma "carreira de Estado".
A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito um balanceamento entre o direito de
greve e o direito de toda a sociedade à segurança pública e à manutenção da ordem pública e paz social.
Neste caso, há a prevalência do interesse público e do interesse social sobre o interesse individual de
uma categoria. Por essa razão, em nome da segurança pública, os policiais não podem fazer greve.
Importante destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito de greve X continuidade
do serviço público. A greve dos policiais é proibida não por causa do princípio da continuidade do serviço
público (o que seria muito pouco), mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da
segurança pública, à garantia da ordem pública e da paz social (art. 5º, caput).
O STF estabeleceu, como alternativa, a possibilidade de o sindicato dos policiais acionar o Poder
Judiciário para que seja feita mediação com o Poder Público, nos termos do art. 165 do CPC.
Nesse caso, é obrigatória a participação do Poder Público na mediação instaurada pelos órgãos classistas
das carreiras de segurança pública, para vocalização dos interesses da categoria.
Segundo a CF/88, em princípio NÃO é possível acumular cargos ou empregos públicos que qualquer
ente da Administração direta ou indireta da U, E, M, DF, abrangendo os servidores estatutários, celetistas e
temporários.
A CF veda a acumulação remunerada, razão pela qual, em princípio, NÃO há vedação para a
acumulação não remunerada de cargos, empregos e funções, desde que haja compatibilidade dos horários.
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ATENÇÃO!
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Exceções:
I. 02 cargos de professor;
II. Um cargo de professor com outro técnico ou científico → O STJ entende que os cargos técnicos ou
científicos, para fins de acumulação, são os que exigem nível superior ou formação técnica
especializada, não bastando ter a nomenclatura de técnico. Assim, os cargos de técnico judiciário
NÃO estão abrangidos pela norma Constitucional;
III. 02 cargos ou empregos privativos de profissionais da saúde, com profissões regulamentadas;
IV. Um cargo de magistrado ou membro de MP e um cargo de professor;
V. Um cargo efetivo e um cargo de vereador, se houver compatibilidade.
Para que a acumulação de cargos ou empregos seja lícita, deve haver a demonstração da
compatibilidade de horários.
ATENÇÃO!
O STJ superou o seguinte entendimento:
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O vencimento ou remuneração configuram verbas de caráter alimentar, razão pela qual não se
admite arresto, sequestro ou penhora.
A remuneração do servidor deve ser definida mediante lei específica, sendo igualmente necessária
para revisão ou alteração do valor remuneratório das carreiras em geral. A iniciativa para a edição de lei é de
cada um dos poderes do Estado, para os seus agentes.
No entanto, pode ser fixado, por meio de decreto legislativo
, desde que respeitada a limitação do
art. 37, XI (teto remuneratório), a remuneração do:
● Presidente da república e do vice-presidente;
● Ministros de estado;
● Senadores;
● Deputados federais.
O art. 37, X da CF define o direito à revisão geral anual dos vencimentos pagos aos
servidores estatais, devendo ser feita na mesma data e sem distinção de índices =>
Norma de eficácia limitada, pois exige lei específica, devendo ainda a revisão estar
prevista na LDO, nos moldes da CF e LRF. Assim, a ausência de lei a fixar a revisão
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O STF entendeu que, não sendo concedida a revisão, por meio de lei, NÃO compete ao Poder
Judiciário condenar o poder público ao pagamento de indenização. Isso porque a determinação para que se
indenize o servidor público seria verdadeira revisão imposta no exercício da jurisdição, sem regulamentação
legal.
A remuneração do servidor NÃO pode ser inferior ao salário mínimo, mas o vencimento básico pode
ser, desde que a remuneração total não o seja.
As diferenças de vencimentos para servidores públicos serão embasadas por critérios objetivos, não
sendo possível a discriminação de determinada carreira em
benefício de outras.
NÃO se admite a equiparação ou vinculação de espécies remuneratórias entre carreiras no serviço
público.
Súmula Vinculante 37: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de
isonomia.
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1.8.5 Subsídios
É a forma de pagamento feito em parcela única, não aceitando nenhum acréscimo patrimonial, a fim
de tornar mais clara a retribuição de determinados cargos.
É vedado aos que recebem subsídio o acréscimo fixado de qualquer gratificação, adicional, abono,
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória.
Salvo as carreiras em que é obrigatório o subsídio, o Poder Público pode optar pelo pagamento em
subsídio ou remuneração.
O regime de subsídio é obrigatório para:
● Membros de poder;
● Detentor de mandato eletivo;
● Ministros e secretários estaduais e municipais;
● Integrantes da AGU, procuradores do estado e defensores públicos;
● Ministros do TCU e servidores públicos policiais.
É facultativo para os demais agentes organizados em carreira.
Em qualquer hipótese, a instituição do subsídio depende de lei, NÃO decorre diretamente da
Constituição.
STF (Info 852): O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o
pagamento de terço de férias e décimo terceiro salário.
O STF pronunciou-se no sentido de que os juízes estaduais NÃO se submetem à regra do subteto,
mas ao teto de remuneração (o de Ministro do STF), posto que devem ser aplicadas as mesmas regras dos
Juízes Federais, por não existir tratamento diferenciado entre eles (interpretação conforme a Constituição).
Fica facultado aos Estados e ao DF fixar, mediante emenda às Constituições e Lei Orgânica, como
limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a 90,25% dos Ministros
do STF, NÃO se aplicando aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e Vereadores.
A expressão "Procuradores", contida na parte final do inciso XI do art. 37 da Constituição da
República, compreende os procuradores municipais, uma vez que estes se inserem nas funções essenciais à
Justiça, estando, portanto, submetidos ao teto de 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
cento) do subsídio mensal, em espécie dos Desembargadores do Tribunal de Justiça.
Empresas estatais igualmente se submetem ao teto remuneratório.
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A EC 47/2005 admite a fixação, mediante emendas às Constituições Estaduais e Lei Orgânica distrital,
de um subteto uniforme para os Estados e DF, em que o limite único seria o subsídio mensal dos
Desembargadores do respectivo TJ. No entanto, o referido subteto NÃO se aplicaria a Deputados Estaduais,
Distritais e Senadores.
O teto só será aplicado às empresas estatais e suas subsidiárias que seja dependente. As não
dependentes estão excluídas do teto.
A EC 41/2003 determinou a aplicação imediata do teto, devendo ser efetivada a redução das
remunerações acima do novo limite.
Regra geral: NÃO se admite a incidência de descontos da remuneração dos servidores estatais.
Exceções:
● Imposição legal ou por decisão judicial. Ex: desconto do IR, fixação de alimentos dos filhos.
● Consignação em folha de pagamento. Nesse caso, deve haver: (i) interesse da Administração; (ii)
autorização do servidor público.
● Ressarcimento ao erário. Estando de má-fé, o servidor deve devolver os valores recebidos no prazo
de 30 dias. Se não puder pagar de uma vez só dentro do prazo, é possível parcelar, desde que a
parcela seja, no mínimo 10% da remuneração do servidor.
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1.9. Férias
O servidor público tem direito a 30 dias de férias por ano, mas para que possa gozar do primeiro
período de férias, deve ter mais de 12 meses de exercício.
É possível a acumulação por no máximo 02 períodos de férias, desde que no interesse da
Administração.
A pedido do servidor e a critério da administração, as férias do servidor público podem ser parceladas
em até 03 períodos, mas o adicional de férias será pago uma única vez, no primeiro período.
STF: Caso o servidor seja exonerado antes de usufruir de seu período de férias, fará
jus ao pagamento de férias, de forma proporcional, com acréscimo do adicional de
1/3.
1.10. Aposentadoria
O art. 40, CF estabelece o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) aplicável aos servidores
titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente
federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial.
Logo, se observa que aos servidores ocupantes, exclusivamente, de cargo em comissão, função
temporária, inclusive detentores de mandato eletivo, ou emprego público deve ser aplicado o Regime Geral
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Antes da reforma era a denominada aposentadoria por invalidez. Além disso, o art. 40, §1º, I, CF
determina que o servidor regido por regime próprio de previdência se aposentará por incapacidade
permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de readaptação,
hipótese em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para verificação da continuidade das
condições que ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo.
Logo, devem ser observados três requisitos para concessão dessa modalidade de aposentadoria:
i. Incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido;
ii. Impossibilidade de readaptação;
iii. Submissão a avaliações periódicas para verificação da continuidade da situação de incapacidade.
Nos termos do art. 40, §1º, II, CF, ocorre aos 70 anos de idade, ou aos 75 anos, na forma de lei
complementar (redação dada pela EC 88/15).
O art. 100, ADCT prevê o limite de 75 anos para os Ministros do STF, Tribunais Superiores e TCU. A
LC 152/15 estende para o limite de 75 anos a aposentadoria dos servidores efetivos em todos os níveis de
governo (federal, estadual, distrital e municipal), aplicável também ao Judiciário, MP, DP e Tribunais ou
Conselhos de Contas.
NÃO se submetem a aposentadoria compulsória os servidores que ocupam exclusivamente cargo em
comissão, visto que a norma atinge apenas os ocupantes de cargo de provimento efetivo.
Lado outro, com a EC 103/19, conforme a redação dada ao art. 201, §16º, CF, os empregados das
estatais e dos consórcios públicos, mesmo regidos pela CLT, devem observar a regra da aposentadoria
compulsória.
A regulação do restante da matéria deve ser regulada por lei federal, conforme previsão
constitucional. Enquanto não for editada a referida lei, a EC 103/19 estabeleceu normas transitórias para
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disciplinar a matéria.
É possível observar, portanto, que a reforma retirou a possibilidade constitucional de aposentadoria
voluntária por tempo de contribuição, bem como aumentou a idade mínima necessária para a aposentadoria.
Além disso, são exigidos 10 anos no serviço público e 5 anos no cargo efetivo (homens e mulheres).
Obs.: Antes da reforma, era facultada a criação do regime complementar, que deveria ser realizado por meio
de entidades fechadas.
A CF 88 estabelece que somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a criação
de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
último caso, definir as áreas de sua atuação.
Logo, temos a seguinte situação:
● Autarquia: a própria lei cria a entidade.
● Demais entidades (empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações): a lei autoriza a
criação, que ocorre, efetivamente, mediante ato posterior.
Obs.: Doutrina de Direito Administrativo costuma realizar distinção entre fundações públicas de direito
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privado (lei autoriza a criação da entidade) e fundações públicas de direito público (lei cria a entidade).
No mesmo sentido, o art. 37, XX, CF, estabelece que a criação de subsidiárias depende de autorização
legislativa. O STF entende que é dispensável autorização legislativa para a criação de empresas subsidiárias,
desde que haja previsão para esse fim na própria lei que instituiu a empresa de economia mista matriz (STF,
ADI 1.649).
A extinção, igualmente, por respeito ao princípio do paralelismo, deve ser feita mediante lei.
1.11.1 Licitação
As obras, serviços, compras e alienações, quando envolverem o poder público em geral, devem ser
precedidas de processo de licitação pública. A observância do procedimento engloba todos os Poderes, em
todas as esferas, da Administração direta e indireta.
O art. 22, XXVII, CF estabelece como deve ser o regramento para a Administração direta e indireta
em geral. Já o art. 173, §1º, III, traz a regulamentação específica relativa as entidades que exploram atividade
econômica. Nesse contexto, a Administração em geral se submete ao regime da Lei 8.666/93 e da Lei
14.133/21 (atualmente, ambas as leis estão em vigor). Lado outro, as empresas públicas e sociedades de
economia mista observam a Lei 13.303/16.
Obs:. A Lei 13.303/16, conhecida como Estatuto Jurídico das Empresas Estatais é aplicável as empresas
públicas e sociedade de economia mista, independentemente da atividade realizada, ou seja, tanto aquelas
que prestam serviço público, quanto as que exercem atividade econômica.
A CF 88 estabelece que o agente público que praticar ato de improbidade se sujeita a suspensão de
direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e a imposição de ressarcimento
do erário.
A regulamentação do preceito constitucional ocorre por meio da Lei 8.4219/92, cujo estudo merece
especial destaque em razão das alterações ocorridas com o advento da Lei 14.230/21.
De todo modo, cabe destacar que a ação de improbidade administrativa é de natureza sancionatória,
contudo, possui natureza jurídica própria, de modo que não impede a responsabilização do agente também
nas esferas penal, cível e administrativa.
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O art. 37, §5º, CF dispõe que a lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por
qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.
Interpretando o dispositivo o STF estabeleceu que são imprescritíveis as ações de ressarcimento ao
erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa (STF, RE 852.475).
Lado outro, cabe destacar que a Suprema Corte firmou o entendimento no sentido de que são
prescritíveis as ações decorrentes de ilícitos civis (STF, RE 669.069), bem como de condenação proferida pelo
Tribunal de Contas (STF, RE n. 636.886).
Segundo o art. 37, §6º, CF, as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Trata-se da aplicação da denominada teoria do risco administrativo, pela qual o Estado responde
objetivamente pelos danos causados a terceiros. Já o agente público causador do dano, responde
regressivamente, perante o Estado, em caso de atuação com dolo ou culpa.
A disciplina NÃO se aplica as pessoas jurídicas de direito privado (empresas públicas e sociedades de
economia mista) que explorem atividade econômica.
ATENÇÃO! Essa temática será analisada com mais detalhes em Direito Administrativo no tópico específico.
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RETA FINAL
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1. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
No exercício da função administrativa, o Poder Público estabelece diversas relações jurídicas com
particulares, além de criar vínculos especiais de colaboração intergovernamental. Quando a relação tiver
natureza contratual, submetida aos princípios e normas do Direito Administrativo, serão contratos
administrativos. São exemplos: a concessão de serviço público, a parceria público-privada (PPP), o contrato
de gestão, o termo de parceria, entre outros.
Dispõe a Lei 14.133/21:
Art. 89. Os contratos de que trata esta Lei regular-se-ão pelas suas cláusulas e pelos
preceitos de direito público, e a eles serão aplicados, supletivamente, os princípios
da teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado.
§ 1º Todo contrato deverá mencionar os nomes das partes e os de seus
representantes, a finalidade, o ato que autorizou sua lavratura, o número do
processo da licitação ou da contratação direta e a sujeição dos contratantes às
normas desta Lei e às cláusulas contratuais.
§ 2º Os contratos deverão estabelecer com clareza e precisão as condições para sua
execução, expressas em cláusulas que definam os direitos, as obrigações e as
responsabilidades das partes, em conformidade com os termos do edital de
licitação e os da proposta vencedora ou com os termos do ato que autorizou a
contratação direta e os da respectiva proposta.
Contratos Administrativos X Contratos da Administração
Os contratos da Administração são gênero no qual estão contidos os contratos administrativos. Nos
contratos da Administração, há os contratos em que a Administração atua como público e em que atua
como privado.
Nos contratos de Direito Privado, não é necessário respeitar os requisitos e limitações da Lei 14.133/21,
embora deva respeitar as regras da licitação e serem celebrados por prazo determinado, bem como
estarem sujeitos ao controle do Tribunal de Contas.
1.1. Conceito
No contrato administrativo, a Administração age como poder público, com poder de império na
relação jurídica contratual, a exemplo do uso das cláusulas exorbitantes.
Segundo o doutrinador Celso Antônio Bandeira de Mello, “contrato administrativo é um tipo de avença
travada entre a Administração e terceiros na qual, por força de lei, de cláusulas pactuadas ou do tipo de
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VERTICALIDADE:
Característica dos contratos administrativos, tendo em vista a atuação do Poder Público com
supremacia em face do particular contratado.
Para que a pessoa possa participar de licitações e contratar com a Administração Pública é necessário
que comprove sua regularidade fiscal, ou seja, a inexistência de débitos com o Poder Público. Essa
regularidade fiscal não é exigida apenas no momento da licitação e da contratação, persistindo durante
toda a execução do contrato. No entanto, segundo o STJ, é ilegal reter o pagamento devido a fornecedor
em situação de irregularidade perante o Fisco. Essa prática não é permitida, considerando que não existe
autorização na Lei para que seja feita (viola o princípio da legalidade).
No caso de falta de regularidade fiscal durante a execução do pacto, a Lei de Licitações autoriza que
o Poder Público imponha penalidades ao contratado (art. 87) ou rescinda o contrato. STJ. 2ª Turma. AgRg
no REsp 1.313.659-RR, Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/10/2012.
A União deve tratar das normas gerais, e Estados, Municípios e Distrito Federal das normas
suplementares.
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empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°,
III;
a. Comutativo: gera direitos e deveres previamente estabelecidos para ambas as partes, não havendo
submissão à álea pelos contratantes;
c. De adesão: não admitem rediscussão de cláusulas contratuais, não podendo a administração modificar as
cláusulas por vontade ou sugestão do particular. O art. 92, Lei 14.133/21 enumera as cláusulas necessárias
de todo contrato administrativo;
f. Personalíssimo: os contratos devem ser celebrados com o vencedor da licitação, não podendo ser
transferido para terceiros, sendo permitida a subcontratação apenas em casos previstos em Lei. Por tal razão,
a subcontratação total ou parcial não prevista no edital de licitação e no contrato, a decretação de falência
ou insolvência civil do contratado, a dissolução da sociedade e o falecimento do contratado são causas que
autorizam a rescisão contratual.
g. Formal: o contrato e seus aditamentos devem ser por escrito (art. 91).
h. Submissão ao Direito Administrativo: ao contrário dos contratos privados, que são regidos pelo Direito
Civil ou Empresarial, os contratos administrativos estão submetidos aos princípios e normas de Direito
Público (regime jurídico administrativo);
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j. Mutabilidade: Diferentemente do que ocorre no direito privado, em que vigora o princípio segundo o qual
os contratos devem ser cumpridos tal como escritos, no Direito Administrativo, a legislação autoriza que a
Administração Pública promova a modificação unilateral das cláusulas do contrato.
1.4. Formalismo
b. O contrato deve ser escrito, através de termo ou instrumento de contrato. Para contratos de valores mais
baixos, a lei permite a substituição do termo de contrato por (art. 95, Lei 14.133/21):
● Carta de Contrato
● Nota de empenho da despesa
● Ordem de serviço
● Autorização da compra
Ainda nos casos de substituição do termo de contrato, NÃO é possível contrato verbal celebrado pela
Administração, sendo nulo e de nenhum efeito qualquer contrato verbal celebrado. A doutrina admite
contratos verbais para casos emergenciais. EXCEPCIONALMENTE, ADMITE-SE CONTRATO VERBAL, no caso
de pequenas compras ou de prestação de serviços de pronto pagamento, assim entendidos aqueles de valor
não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Leia-se: R$ 11.441,66 (onze mil, quatrocentos e quarenta e um
reais e sessenta e seis centavos). ATENÇÃO! VALOR ATUALIZADO PELO DECRETO Nº 11.317/22 E EM VIGOR
A PARTIR DE 01 DE JANEIRO DE 2023 (art. 95, § 2º, Lei 14.133/21).
d. Qualquer alteração contratual deve ser realizada por aditamento, em conformidade à Lei, e regularmente
publicada. A PUBLICAÇÃO é condição indispensável de eficácia do contrato e seus aditamentos.
Prazos de divulgação
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e. Caso a Administração deixe de publicar o contrato, ele é válido e perfeito, mas não será eficaz.
TCU: NÃO se prorroga contrato com prazo de vigência expirado, ainda que autorizado pela autoridade
competente. Nesse caso, celebra-se novo contrato.
OBS.: ATENÇÃO À REDAÇÃO DA EC 106/20, que institui regime extraordinário fiscal, financeiro e de
contratações para enfrentamento de calamidade pública nacional decorrente de pandemia:
1.5. Garantia
O art. 96 da Lei 14.133/21 prevê que, a critério da autoridade competente, em cada caso, poderá ser
exigida, mediante previsão no edital, prestação de garantia nos contratos administrativos, nas contratações
de obras, serviços e fornecimentos.
A depender da espécie de contratação o valor máximo da garantia é variável, conforme estabelecido
na lei.
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CAIU EM PROVA! PC-ES – 2022 Nos contratos administrativos, é obrigatória a adoção de garantia, ficando a
critério do contratado optar por uma das que estão previstas na Lei n.º 8.666/1993. Duas das modalidades
de garantia estabelecidas nessa legislação são: R: seguro-garantia e fiança bancária.
ATENÇÃO! Com relação à garantia contratual, a Lei 14.133/21 (art. 102) trouxe como novidade a
possibilidade de o edital exigir como garantia de contratos de obras e serviços de engenharia seguro-garantia,
estabelecendo que, em caso de inadimplemento contratual, caberá à seguradora concluir o objeto
contratado. Tal prática é chamada “step in right”, que significa a assunção da obrigação de entrega da obra
ou serviço no caso de o contratado falhar”. Pode também ser chamada de seguro
-garantia do tipo
performance bond com cláusula de retomada. Se ela assumir a execução e concluir o objeto do contrato,
estará isenta de pagar a importância segurada, ficando quite com suas obrigações.
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🡪 Será facultado à Administração, quando o convocado não assinar o termo de contrato ou não aceitar ou
não retirar o instrumento equivalente no prazo e nas condições estabelecidas, convocar os licitantes
remanescentes, na ordem de classificação, para a celebração do contrato nas condições propostas pelo
licitante vencedor.
🡪 Na hipótese de nenhum dos licitantes aceitar a contratação nos termos acima, a Administração, observados
o valor estimado e sua eventual atualização nos termos do edital, poderá:
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Art. 104. O regime jurídico dos contratos instituído por esta Lei confere à
Administração, em relação a eles, as prerrogativas de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de
interesse público, respeitados os direitos do contratado;
II - extingui-los, unilateralmente, nos casos especificados nesta Lei;
III - fiscalizar sua execução;
IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;
V - ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços
vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de:
a) risco à prestação de serviços essenciais;
b) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo
contratado, inclusive após extinção do contrato.
§ 1º As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos não poderão
ser alteradas sem prévia concordância do contratado.
§ 2º Na hipótese prevista no inciso I do caput deste artigo, as cláusulas econômico-
financeiras do contrato deverão ser revistas para que se mantenha o equilíbrio
contratual.
Art. 124. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas
justificativas, nos seguintes casos:
I - unilateralmente pela Administração:
a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor
adequação técnica a seus objetivos;
b) quando for necessária a modificação do valor contratual em decorrência de
acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta
Lei;
(...)
As alterações unilaterais feitas pela Administração Pública devem sempre decorrer de interesse
público superveniente devidamente justificado.
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Já a alteração do projeto ou das especificações é uma modificação qualitativa, com vistas a melhor
adequação técnica aos seus objetivos. Segundo o TCU, são requisitos para alteração qualitativa unilateral dos
contratos:
● Necessidade de comprovado motivo superveniente + motivação;
● Advento de situações ou tecnologias novas;
● Modificação moderada, sem alterar o objeto licitado;
● A alteração deve se estribar em fatos supervenientes devidamente atestados
e preservar a intangibilidade do objeto da contratação.
Requisitos:
● Motivação;
● Alteração decorrente de fato superveniente à contratação;
● Impossibilidade de descaracterização do objeto contratual;
● Preservação do equilíbrio econômico-financeiro;
● Apenas as cláusulas regulamentares (ou de serviço) podem ser alteradas unilateralmente, mas
NÃO as cláusulas econômicas (financeiras ou monetárias).
● Respeito aos percentuais previstos em lei para alteração unilateral das cláusulas
regulamentares.
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Fundamentos:
o O art. 65, §1º da Lei utiliza as expressões “acréscimos ou supressões”, o que denota a
quantidade do contrato;
o Nas definições das alterações unilaterais, apenas o art. 65, I, “b” faz menção a limites. NÃO
há menção, na alteração qualitativa, a limites legais.
Fundamentos:
o Ausência de distinção entre as alterações nas normas que impõem os limites percentuais,
admitindo-se a inobservância dos limites apenas para os casos de supressões por acordo
das partes.
o Rafael Rezende: Este entendimento estaria acertado, pois observa:
✔ Segurança jurídica e boa-fé;
✔ Economicidade;
✔ Moralidade e isonomia;
✔ Razoabilidade.
Observações importantes:
✔ As alterações unilaterais a que se refere o inciso I do caput do art. 124 da Lei não poderão
transfigurar o objeto da contratação.
✔ Nas alterações contratuais para supressão de obras, bens ou serviços, se o contratado já houver
adquirido os materiais e colocado no local dos trabalhos, estes deverão ser pagos pela Administração
pelos custos de aquisição regularmente comprovados e monetariamente reajustados, podendo
caber indenização por outros danos eventualmente decorrentes da supressão, desde que
regularmente comprovados.
✔ Caso haja alteração unilateral do contrato que aumente ou diminua os encargos do contratado, a
Administração deverá restabelecer, no mesmo termo aditivo, o equilíbrio econômico-financeiro
inicial.
✔ O pedido de restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro deverá ser formulado durante a
vigência do contrato e antes de eventual prorrogação.
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RETA FINAL
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✔ A formalização do termo aditivo é condição para a execução, pelo contratado, das prestações
determinadas pela Administração no curso da execução do contrato, salvo nos casos de justificada
necessidade de antecipação de seus efeitos, hipótese em que a formalização deverá ocorrer no prazo
máximo de 1 (um) mês.
ATENÇÃO! Para o STJ, a rescisão do contrato administrativo por ato unilateral da Administração Pública, sob
justificativa de interesse público, impõe ao contratante a obrigação de indenizar o contratado pelos prejuízos
daí decorrentes, incluídos os lucros cessantes. Direito Administrativo Consensual. Boa-fé objetiva. (REsp
1240057). Não é, contudo, pacífico na doutrina, já que há quem entenda que, se a lei excluiu os lucros
cessantes, não são passíveis de indenização (mera expectativa de direito).
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Caso o poder público seja inadimplente no contrato administrativo celebrado, o particular pode
rescindir o contrato unilateralmente? NÃO. A rescisão unilateral é cláusula exorbitante e só se aplica à
Administração Pública. O que a Lei 14.133 admite é que o particular SUSPENDA A EXECUÇÃO DO CONTRATO
(exceção de contrato não cumprido) se:
● o ente estatal determinar a suspensão da execução do contrato por prazo superior a 3 meses ou as
repetidas suspensões totalizarem 90 dias úteis, independente do pagamento obrigatório de
indenização pelas (des)mobilizações;
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● se houver atraso superior a 2 meses dos pagamentos devidos pela AP por despesas de obras, serviços
e fornecimento (art. 137, §3º, II, da Lei 14.133) (antes, era de 90 dias – mudança benéfica para o
particular).
Nesses casos, o contratado terá o direito de optar pela suspensão do cumprimento das obrigações
assumidas até a normalização da situação, podendo, ainda, pleitear judicialmente a extinção do contrato.
ATENÇÃO! A fiscalização contratual pela AP não exclui ou reduz a responsabilidade do particular contratado.
A aplicação das penalidades listadas abaixo são fruto do PODER DISCIPLINAR e podem ser aplicadas
ainda que se trate de inexecução parcial.
Espécies de penalidades:
● Advertência: sempre por escrito, para infrações mais leves. A advertência será aplicada
exclusivamente no caso de inexecução parcial do contrato, quando não se justificar a imposição de
penalidade considerada mais grave;
● Multa: não poderá ser inferior a 0,5% (cinco décimos por cento) nem superior a 30% (trinta por
cento) do valor do contrato licitado ou celebrado com contratação direta. Pode ser aplicada isolada
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Hipóteses de aplicação:
- dar causa à inexecução parcial do contrato que cause grave dano à Administração, ao
funcionamento dos serviços públicos ou ao interesse coletivo;
- dar causa à inexecução total do contrato;
- deixar de entregar a documentação exigida para o certame;
- não manter a proposta, salvo em decorrência de fato superveniente devidamente justificado;
- não celebrar o contrato ou não entregar a documentação exigida para a contratação, quando
convocado dentro do prazo de validade de sua proposta;
- ensejar o retardamento da execução ou da entrega do objeto da licitação sem motivo justificado;
Hipóteses de aplicação:
- apresentar declaração ou documentação falsa exigida para o certame ou prestar declaração falsa
durante a licitação ou a execução do contrato;
- fraudar a licitação ou praticar ato fraudulento na execução do contrato;
- comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude de qualquer natureza;
- praticar atos ilícitos com vistas a frustrar os objetivos da licitação;
- praticar ato lesivo previsto no art. 5º da Lei nº 12.846/2013, a Lei Anticorrupção.
Quando aplicada por órgão do Poder Executivo, será de competência exclusiva de ministro de Estado,
de secretário estadual ou de secretário municipal e, quando aplicada por autarquia ou fundação, será de
competência exclusiva da autoridade máxima da entidade. Quando aplicada por órgãos dos Poderes
Legislativo e Judiciário, pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública no desempenho da função
administrativa, será de competência exclusiva de autoridade de nível hierárquico equivalente às autoridades
referidas, na forma de regulamento. Para a doutrina, só pode ser aplicada para infrações graves, também
capituladas como crime. Atinge todos os entes da federação.
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Espécies de penalidades
Advertência • Por escrito;
• Infrações mais leves (exclusivamente para a inexecução parcial do
contrato sem dano grave – art. 155, I)
Multa • Penalidade pecuniária com valor definido no contrato;
• Pode ser descontada da garantia (se insuficiente, retém créditos e, se
for o caso, cobra judicialmente);
• Pode ser isolada ou cumulada com outras penalidades;
• Processo administrativo com 15 dias úteis para defesa;
• Limites: 0,5% < multa < 30% do valor do contrato.
Impedimento de • Máximo de 3 anos;
licitar e contratar • Aplica-se às entidades da AP direta ou indireta do ente federativo que
aplicou a penalidade
• Depende de processo administrativo conduzido por comissão de com
2 ou mais servidores estáveis / 15 dias úteis para defesa;
• Art. 155, II a VII.
Declaração de • Mínimo de 3 e máximo de 6 anos;
inidoneidade para • Aplica-se a todos os entes da AP durante sua vigência;
licitar e contratar • Sempre de competência da autoridade de nível hierárquico mais alto;
• Depende de processo de responsabilização conduzido por comissão
com 2 ou mais servidores estáveis / 15 dias úteis para defesa
• Art. 155, II a VII (se justificada penalidade mais grave) ou art. 155, VIII
a XII (fraude/ato ilícito/falsidade).
OBS. 1. A aplicação das sanções não exclui, em hipótese alguma, a obrigação de reparação integral do dano
causado à Administração Pública.
OBS. 2. Critérios: natureza e gravidade da infração; peculiaridades; agravantes e atenuantes; danos à AP;
implantação ou aperfeiçoamento de programa de integridade.
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CAIU EM PROVA! PC-SP– BANCA VUNESP – 2022: Com base na Lei n° 14.133/21, a respeito das infrações e
sanções administrativas praticadas em licitações e contratações públicas, assinale a alternativa correta.
R: Para a reabilitação de pessoa jurídica punida pela apresentação de declaração ou documentação falsa
exigida para o certame será necessária a implantação ou aperfeiçoamento de programa de integridade pelo
responsável.
Art. 160. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que utilizada
com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos
previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial, e, nesse caso, todos os
efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica serão estendidos aos seus
administradores e sócios com poderes de administração, a pessoa jurídica
sucessora ou a empresa do mesmo ramo com relação de coligação ou controle, de
fato ou de direito, com o sancionado, observados, em todos os casos, o
contraditório, a ampla defesa e a obrigatoriedade de análise jurídica prévia.
ATENÇÃO! O que é o impedimento indireto? A intenção é evitar que o particular se valha da personalidade
jurídica de uma empresa como escudo para burlar proibições de contratação, como condenações ocorridas
anteriormente. Verifica-se, por exemplo, em casos em que há presença de certos indícios: a) completa
identidade de sócios proprietários da empresa sucedida e sucessora; b) mesmo ramo de atividade; c)
transferência integral de acervo técnico e humano. Vide art. 14, §1º, da Lei 14.133: impedimento de licitar
àquele que “atue em substituição a outra pessoa, física ou jurídica, com o intuito de burlar a efetividade da
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sanção a ela aplicada, inclusive a sua controladora, controlada ou coligada, desde que devidamente
comprovado o ilícito ou a utilização fraudulenta da personalidade jurídica do licitante”.
a) a substituição da garantia de execução do contrato pelo particular, desde que não enseje prejuízos
ao ente público;
b) a necessidade de modificação do regime de execução da obra ou serviço, bem como do modo de
fornecimento, em face de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários;
c) a necessidade de modificação da forma de pagamento, por imposição de circunstâncias
supervenientes, mantido o valor inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com relação ao
cronograma financeiro fixado, sem a correspondente contraprestação de fornecimento de bens ou execução
de obra ou serviço; OBS. Só se admite pagamento antecipado de forma excepcional se propiciar sensível
economia de recursos ou for indispensável para obtenção do bem/serviço, mediante prévia justificativa e
estipulação expressa no edital.
d) o restabelecimento da relação que as partes pactuaram inicialmente entre os encargos do
contratado e a retribuição da administração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento,
objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato.
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Características:
● Decorre da lei (independe de previsão contratual);
● Incide sobre qualquer cláusula contratual (cláusulas regulamentares ou econômicas);
● Refere-se a fatos imprevisíveis ou previsíveis, mas de consequências incalculáveis;
● Restaura o equilíbrio econômico-financeiro do contrato;
● NÃO depende de periodicidade mínima.
Decorre da cláusula rebus sic stantibus, em que há desequilíbrio contratual e a administração precisa
proceder à revisão dos preços e prazos pactuados para que o ajuste seja cumprido.
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Art. 124, Lei 14.133/21. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados,
com as devidas justificativas, nos seguintes casos:
(...)
II - por acordo entre as partes:
(...)
d) para restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato em caso
de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe ou em decorrência de fatos
imprevisíveis ou previsíveis de consequências incalculáveis, que inviabilizem a
execução do contrato tal como pactuado, respeitada, em qualquer caso, a
repartição objetiva de risco estabelecida no contrato.
Hipóteses:
a. Caso Fortuito e Força Maior: Situações imprevisíveis e inevitáveis que alteram a relação contratual,
podendo decorrer de fatos humanos – não provocados por nenhuma das partes do acordo – ou por
fatos da natureza, em que nenhuma medida poderia ser tomada para obstá-la.
d. Fato do Príncipe: Desequilíbrio do contrato causado pelo Poder Público através de atuação
extracontratual (geral e abstrata) do ente estatal que atinge INDIRETAMENTE a relação contratual. Ex:
Criação de tributos ou encargos legais criados que terminam por incidir no contrato.
Art. 134. Os preços contratados serão alterados, para mais ou para menos,
conforme o caso, se houver, após a data da apresentação da proposta, criação,
alteração ou extinção de quaisquer tributos ou encargos legais ou a superveniência
de disposições legais, com comprovada repercussão sobre os preços contratados.
Observação: Para que a situação se caracterize como fato do príncipe, o agente que pratica a conduta
deve ser da mesma esfera de governo daquele que celebrou o contrato atingido, caso contrário, será
caso fortuito, ante a independência dos entes da federação.
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Art. 29 Não se aplica o disposto no art. 486 da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943, na hipótese de paralisação ou suspensão de
atividades empresariais determinada por ato de autoridade municipal,
estadual ou federal, para o enfrentamento do estado de calamidade pública
reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus, de que trata a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.
Assim, vedou-se a aplicação do art. 486 da CLT, que trata do fato do príncipe.
Art. 486 - No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, motivada por ato de
autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que
impossibilite a continuação da atividade, prevalecerá o pagamento da indenização, que ficará a
cargo do governo responsável.
STJ: O aumento do piso salarial da categoria NÃO constitui um fato imprevisível a autorizar a revisão do
contrato.
É possível a subcontratação parcial do objeto do contrato, desde que cumpridos requisitos definidos
em lei, haja previsão no edital e no contrato administrativo celebrado, sendo vedada a subcontratação
integral do objeto do contrato, de modo que a subcontratação em desrespeito às regras legais será
considerada i
nadimplemento contratual.
Dispõe a Lei 14.133/21:
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1.10. Duração
Todo contrato deve ter prazo de vigência definido no edital e no instrumento do contrato, com
compatibilidade à Lei Orçamentária, e ao PPA, quando ultrapassar um exercício financeiro.
O prazo de início da execução estará previsto no contrato, sendo que seu início NÃO necessariamente
coincidirá com o da data da assinatura.
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● Até 35 anos: contratos que gerem receita e nos contratos de eficiência, com investimento.
● Prazo indeterminado: pode ser estabelecido contrato por prazo indeterminado nos casos em que a
Administração é usuária de serviço público oferecido em regime de monopólio, desde que
comprovada, a cada exercício financeiro, a existência de créditos orçamentários vinculados à
contratação.
Art. 106. A Administração poderá celebrar contratos com prazo de até 5 (cinco)
anos nas hipóteses de serviços e fornecimentos contínuos, observadas as seguintes
diretrizes:
I - a autoridade competente do órgão ou entidade contratante deverá atestar a
maior vantagem econômica vislumbrada em razão da contratação plurianual;
II - a Administração deverá atestar, no início da contratação e de cada exercício, a
existência de créditos orçamentários vinculados à contratação e a vantagem em
sua manutenção;
III - a Administração terá a opção de extinguir o contrato, sem ônus, quando não
dispuser de créditos orçamentários para sua continuidade ou quando entender que
o contrato não mais lhe oferece vantagem.
§ 1º A extinção mencionada no inciso III do caput deste artigo ocorrerá apenas na
próxima data de aniversário do contrato e não poderá ocorrer em prazo inferior a
2 (dois) meses, contado da referida data.
§ 2º Aplica-se o disposto neste artigo ao aluguel de equipamentos e à utilização de
programas de informática.
Art. 107. Os contratos de serviços e fornecimentos contínuos poderão ser
prorrogados sucessivamente, respeitada a vigência máxima decenal, desde que
haja previsão em edital e que a autoridade competente ateste que as condições e
os preços permanecem vantajosos para a Administração, permitida a negociação
com o contratado ou a extinção contratual sem ônus para qualquer das partes.
Art. 108. A Administração poderá celebrar contratos com prazo de até 10 (dez)
anos nas hipóteses previstas nas alíneas “f” e “g” do inciso IV e nos incisos V,
VI, XII e XVI do caput do art. 75 desta Lei.
Art. 109. A Administração poderá estabelecer a vigência por prazo indeterminado
nos contratos em que seja usuária de serviço público oferecido em regime de
monopólio, desde que comprovada, a cada exercício financeiro, a existência de
créditos orçamentários vinculados à contratação.
Art. 110. Na contratação que gere receita e no contrato de eficiência que gere
economia para a Administração, os prazos serão de:
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PRORROGAÇÃO CONTRATUAL
Exigências do TCU:
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● Prorrogação: é o aumento de sua vigência além do prazo ajustado inicialmente. Tendo em vista que
o contrato deve estar em vigência para ser prorrogado, podemos concluir que não se pode estender
o prazo de um contrato findo.
● Renovação do contrato: é a celebração de um novo contrato entre as partes, com o mesmo objeto,
podendo ou não haver alteração total ou parcial das cláusulas contratuais. A renovação só poderá
ensa de licitação.
ocorrer com a realização de nova licitação, salvo nos casos de inexigibilidade e disp
CAIU EM PROVA! PC-BA – BANCA IBFC – 2022: De acordo com as disposições da Lei nº 14.133/2021 (Nova
Lei de Licitações e Contratos - NLLC) sobre a duração dos contratos, assinale a alternativa incorreta.
R: Deverá ser observado, no momento da contratação e a cada exercício financeiro, a disponibilidade de
créditos orçamentários, bem como a previsão no plano plurianual, quando ultrapassar 03 (três) anos. O
correto seria quando ultrapassar “1 (um) exercício financeiro” (art. 105).
O particular responde diretamente pelo serviço prestado ou bem entregue à Administração, ou ainda
pela obra por ele executada (art. 119 e art. 120).
Além disso, o particular deve arcar com todos os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e
comerciais resultantes da execução do contrato (art. 121).
Modificou seu entendimento apenas para decidir que, a partir daquele momento,
o ente público poderia ser responsabilizado em demandas dessa natureza, desde
TST
que comprovada a falha na fiscalização das obrigações contratuais (culpa in
vigilando) por parte dele.
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TST
Cabe ao ente público provar que houve fiscalização de contrato de terceirização.
(SDI – I)
STF TST
(em análise) (em análise)
ATENÇÃO! Com a redação da Lei 14.133/21, passou-se a prever que, nas contratações de serviços contínuos
com regime de dedicação exclusiva de mão de obra, a Administração Pública responde
solidariamente com
o contratado pelos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato e subsidiariamente pelos
encargos trabalhistas se comprovada falha na fiscalização do cumprimento das obrigações do contratado
(art. 121, §2º, da Lei 14.133).
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RETA FINAL
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Em casos de contratação de obras e serviços, a lei dispõe que o recebimento do objeto será feito
provisoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização, mediante de termo detalhado,
quando verificado o cumprimento das exigências de caráter técnico; e definitivamente, por servidor ou
comissão designada pela autoridade competente, mediante termo detalhado que comprove o atendimento
das exigências contratuais.
Em se tratando de compras, será recebido provisoriamente, de forma sumária, pelo responsável pelo
seu acompanhamento e fiscalização, com verificação posterior da conformidade do material com as
exigências contratuais; e definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade competente,
mediante termo detalhado que comprove o atendimento das exigências contratuais.
O recebimento provisório ou definitivo não excluirá a responsabilidade civil pela solidez e pela
segurança da obra ou serviço nem a responsabilidade ético-profissional pela perfeita execução do contrato,
nos limites estabelecidos pela lei ou pelo contrato.
Em se tratando de projeto de obra, o recebimento definitivo pela Administração não eximirá o
projetista ou o consultor da responsabilidade objetiva por todos os danos causados por falha de projeto.
Além disso, o recebimento definitivo pela Administração não eximirá o contratado, pelo prazo mínimo de 5
(cinco) anos, admitida a previsão de prazo de garantia superior no edital e no contrato, da responsabilidade
objetiva pela solidez e pela segurança dos materiais e dos serviços executados e pela funcionalidade da
construção, da reforma, da recuperação ou da ampliação do bem imóvel, e, em caso de vício, defeito ou
incorreção identificados, o contratado ficará responsável pela reparação, pela correção, pela reconstrução
ou pela substituição necessárias.
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SEMANA 11/12
a. Contrato de execução de obra: Celebrados pela Administração Pública para que o particular execute obra
para uso do ente estatal ou da coletividade (construção, reforma ou ampliação), podendo ser:
● Empreitada por preço global: único preço por obra toda, não sendo estipulado valor para cada item
do contrato;
● Empreitada por preço unitário: o poder público contrata a execução da obra ou serviço por preço
certo de unidades determinadas;
● Tarefa: mão de obra para pequenos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento de
materiais;
● Empreitada integral: contratação de um empreendimento em sua integralidade, sob inteira
responsabilidade da contratada até a sua entrega ao contratante em condições de entrada em
operação.
Para esse tipo de contrato, deve haver a elaboração de projeto básico (projeto arquitetônico) e projeto
executivo.
c. Contrato de fornecimento de bens: contratação de bens necessários à execução das atividades do órgão
público, devendo se guiar pelos preços praticados nos demais órgãos da Administração Pública, e atender ao
princípio da padronização.
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d. Contrato de concessão de serviços públicos: utilizado sempre que o Poder Público opte por promover a
prestação indireta de serviço público mediante delegação a particulares. Vide art. 175 da CF/88, Leis 8.987/95
e 11.079/04.
Concessão de serviço público é contratação regulamentada pela Lei 8.987/95, por meio da qual a
Administração transfere, mediante procedimento licitatório na modalidade concorrência ou diálogo
competitivo, a prestação de um determinado serviço público ao particular (pessoa jurídica ou consórcio de
empresas) que deverá prestá-lo por sua conta e risco, por prazo determinado, mediante a remuneração por
meio de cobrança de tarifas dos usuários do serviço.
Poderá ser simples, ou precedida de obra, quando é indispensável a prévia execução de obra,
reforma ou construção para possibilitar a prestação do serviço público.
A Lei 11.079/04 criou duas novas espécies de concessões de serviços públicos, designadas, pela
própria lei, como Parceria Público-Privada:
i) concessão patrocinada - adicionalmente às tarifas pagas pelos usuários, o particular contratado
recebe uma contraprestação pecuniária do poder público (assegurar modicidade das tarifas);
ii) concessão administrativa - a Administração Pública é a usuária, direta ou indireta, do serviço
público prestado, e fica responsável pelo pagamento das tarifas.
e. Permissão de serviços públicos: O art. 175 da CF entende ser contrato administrativo, e a Lei 8.987/95 diz
ser contrato de adesão (art. 40). Ao contrário da permissão de uso de bem público, a permissão de serviço
público é contrato administrativo celebrado mediante procedimento licitatório para a prestação de serviços
públicos por particulares (pessoas físicas ou jurídicas).
g. Contrato de Gestão: qualquer acordo operacional firmado entre a Administração central e organizações
sociais ou agências executivas, para fixar metas de desempenho, permitindo melhor controle de resultados.
Aplicável para agências executivas (Lei 9.649/98) e para as OS (Lei 9.637/98).
Discute-se a aplicabilidade do CDC para proteção dos entes públicos nos casos em que atuar como
consumidor de serviços prestados por particulares.
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Marçal Justen defende a inaplicabilidade, ao entender que o Poder Público não seria consumidor, já
que:
i) NÃO adquire serviços como consumidor final;
ii) encontra-se em posição de supremacia, não se coadunando com a vulnerabilidade do CDC.
Toshio Mukai defende a aplicação do CDC, já que ao contratar o fornecimento de bens ou serviços, o
Poder Público estaria na posição de destinatário final, sendo o CDC aplicado subsidiariamente ao se verificar
vulnerabilidade técnica, científica, fática ou econômica, podendo aplicar sanções previstas, não da Lei
14.133/21, mas no CDC. O TCU já entendeu ser possível a incidência do CDC aos contratos administrativos,
de forma subsidiária.
OBS.: Segundo o STJ, em se tratando de contrato administrativo, em que a Administração é quem detém
posição de supremacia justificada pelo interesse público, não incidem as normas do CDC, especialmente
quando se trata de aplicação de penalidades. Somente se admite a incidência do CDC nos contratos
administrativos em situações excepcionais, em que a Administração assume posição de vulnerabilidade
técnica, científica, fática ou econômica perante o fornecedor. (REsp 1661184 DF 2017/0006604-0)
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) afastou a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor (CDC) em ação que discute fiança bancária acessória a contrato administrativo que tinha como
beneficiária uma sociedade de economia mista de São Paulo. Para o colegiado, nem o contrato principal
–
que guarda as prerrogativas asseguradas por lei à administração pública – nem o contrato acessório
poderiam se submeter ao conceito de relação de consumo, ainda que por equiparação. (Resp 1745415)
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Art. 151. Nas contratações regidas por esta Lei, poderão ser utilizados meios
alternativos de prevenção e resolução de controvérsias, notadamente a
conciliação, a mediação, o comitê de resolução de disputas e a arbitragem.
Parágrafo único. Será aplicado o disposto no caput deste artigo às controvérsias
relacionadas a direitos patrimoniais disponíveis, como as questões relacionadas ao
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, ao
por quaisquer das partes e ao cálculo
inadimplemento de obrigações contratuais
de indenizações.
Art. 152. A arbitragem será sempre de direito e observará o princípio da
publicidade.
Art. 153. Os contratos poderão ser aditados para permitir a adoção dos meios
alternativos de resolução de controvérsias.
Art. 154. O processo de escolha dos árbitros, dos colegiados arbitrais e dos comitês
de resolução de disputas observará critérios isonômicos, técnicos e transparentes.
Serão aplicados às controvérsias relacionadas a direitos patrimoniais disponíveis, como as questões
relacionadas ao restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, ao inadimplemento de
obrigações contratuais por quaisquer das partes e ao cálculo de indenizações.
O comitê de disputas busca resolver conflitos, especialmente com relação a contratos de longa
duração, notadamente os contratos de infraestrutura e de inovação científica e tecnológica. Proporciona
uma espécie de gerenciamento que previne o acirramento das divergências e conflitos decorrentes do
desgaste natural das relações entre as partes envolvidas.
2. CONVÊNIOS
2.1. Convênios
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RETA FINAL
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São ajustes firmados entre a Administração Pública e entidades que possuam vontades convergentes,
mediante a celebração de acordo para melhor execução das atividades de interesse comum dos conveniados.
São firmados pela Administração para MÚTUA COOPERAÇÃO E com AUSÊNCIA DE CONTRAPOSIÇÃO
DE INTERESSES.
Podem ser definidos, portanto, como ACORDOS ADMINISTRATIVOS MULTILATERAIS firmados entre
entidades públicas de qualquer espécie, ou entre estas e organizações particulares, visando a cooperação
recíproca para alcançar objetivos de interesse comum a todos os conveniados.
Atenção! A Lei 11.107/05 foi alterada recentemente e passou a dispor:
Art. 1º (...)
§ 4º Aplicam-se aos convênios de cooperação, no que couber, as disposições desta
Lei relativas aos consórcios públicos. (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020)
Enquanto nos contratos administrativos as vontades dos particulares são divergentes, no convênio,
são convergentes.
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A cooperação associativa é uma característica dos convênios, razão pela qual os partícipes têm a
liberdade de ingresso e de retirada (denúncia) a qualquer momento, sendo vedada a cláusula de
permanência obrigatória.
Podem ser firmados entre entidades administrativas ou entre estas e entidades privadas sem fins
lucrativos. Na primeira hipótese, os convênios são instrumentos de descentralização (desconcentração)
administrativa; no segundo caso, os convênios funcionam como mecanismos de implementação do fomento,
viabilizando o exercício de atividades sociais relevantes por entidades privadas.
A Legislação exige para a formação do convênio à prévia aprovação do plano de trabalho proposto
pela organização interessada, devendo conter:
● Identificação do objeto a ser executado;
● Metas a serem atingidas;
● Etapas ou fases de execução;
● Plano de aplicação dos recursos financeiros;
● Cronograma de desembolso de valores pela entidade conveniada;
● Previsão de início e fim da execução do projeto, e da conclusão das etapas
ou fases programadas;
● Comprovação de que os recursos próprios para complementar a execução
do objeto estão devidamente assegurados.
As parcelas do convênio serão liberadas em estrita conformidade com o plano de aplicação aprovado,
salvo se houver irregularidade, situação em que as parcelas ficarão retidas até o saneamento.
Irregularidades (autorizam a retenção das parcelas do convênio):
● Falta de comprovação da boa e regular aplicação da parcela anteriormente
recebida;
● Desvio de finalidade na aplicação dos recursos, atrasos não justificados no
cumprimento das etapas ou fases programadas, inadimplemento do executor;
● Quando o executor deixar de adotar as medidas saneadoras apontadas pelo
partícipe repassador dos recursos.
SEMANA 11/12
Dispõe a CF/88:
A Lei 11.107/05 tem natureza jurídica de lei nacional, sendo aplicável a todas as esferas federativas.
O consórcio público NÃO é contrato administrativo, já que neste existem vontades divergentes das
partes contratantes, enquanto naquele há uma gestão associada dos entes federados que se unem para
prestação de serviços de interesse comum.
O consórcio público é gestão associada dos entes federativos, de qualquer esfera de governo, para a
prestação de serviços públicos de interesse comum, podendo ser formado por entes federativos de esferas
ção somente com entidades de mesma esfera de
de governo diferentes, não havendo previsão de forma
poder.
A celebração do consórcio resulta na instituição de uma nova pessoa jurídica, com personalidade
distinta da personalidade das entidades consorciadas (sociedade de propósito específico).
A lei dispõe que a União somente participará de consórcios públicos em que também façam parte
todos os Estados em cujos territórios estejam situados os Municípios consorciados.
O consórcio público será constituído por contrato, cuja celebração dependerá da prévia subscrição do
protocolo de intenções.
É possível conceituar consórcio público, portanto, como o CONTRATO ADMINISTRATIVO
MULTILATERAL, firmado entre entidades federativas, para persecução de objetivos comuns, que resulta na
criação de uma nova pessoa jurídica de direito público, caso em que recebe o nome de associação pública ou
de direito privado.
A criação do consórcio forma uma nova pessoa jurídica que NÃO se confunde com os entes
consorciados.
A nova pessoa jurídica pode ter personalidade de:
Direito Público: Associação Pública e faz parte da Administração INDIRETA de cada ente
consorciado;
201
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Direito Privado: Consórcio Público e será regido pelo direito civil. Nesse caso, a entidade NÃO
será integrante da Administração, mas por ser formada com verba estatal, será sujeita ao
controle do Tribunal de Contas.
O consórcio público, com personalidade jurídica de direito público ou privado, observará as normas de
direito público no que concerne à realização de licitação, à celebração de contratos, à prestação de contas e
à admissão de pessoal, que será regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
a) Protocolo de intenções
Sendo as associações uma espécie de autarquia (vide art. 41 CC), seria necessária a criação por lei
específica, e logo, não seria possível a sua criação por meio de acordo (consórcio). Deste modo, quando os
entes federativos firmam acordo, está sendo celebrado apenas o PROTOCOLO DE INTENÇÕES.
O protocolo de intenções representa uma espécie de minuta do futuro contrato de consórcio.
Posteriormente, este protocolo será enviado ao Poder Legislativo de cada um dos entes consorciados, como
projeto de lei e, com a ratificação do protocolo de intenções é formalizado o consórcio.
b) Autorização legislativa
c) Contrato de consórcio: Com a ratificação legislativa, os entes da Federação assinarão o contrato definitivo
de consórcio.
d) Personificação do consórcio
Como qualquer autarquia, a associação pública deverá receber orçamento dos entes consorciados
para a sua formação e manutenção, bem como devem ser cedidos servidores, bens móveis e imóveis.
202
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e) Contrato de rateio
O contrato de rateio é o instrumento adequado para que os entes consorciados repassem recursos
financeiros ao consórcio público.
O contrato de rateio será formalizado em cada exercício financeiro, e seu prazo de vigência não será
superior ao das dotações que o suportam, com exceção dos contratos que tenham por objeto exclusivamente
projetos consistentes em programas e ações contemplados em plano plurianual.
Deverá ser firmado CONTRATO DE RATEIO junto com o protocolo de intenções, para definir a parcela
de contribuição de cada um dos entes federativos na formação e manutenção do consórcio.
O contrato de rateio será formalizado em cada exercício financeiro e seu prazo de vigência NÃO será
superior ao das dotações que o suportam (01 ano), salvo os projetos contemplados no PPA ou a gestão
custeada por tarifas ou outros preços públicos.
É vedada a aplicação dos recursos entregues pelo contrato de rateio para o atendimento de despesas
genéricas, inclusive transferências ou operações de crédito.
f) Contrato de programa
Objetiva constituir e regulamentar as obrigações que um ente da Federação constituir para com outro
ente da Federação ou para com o consórcio público no âmbito da gestão associada de serviços públicos.
Em regra, pode ser celebrado entre entes federados ou entre estes e o consórcio. É possível, no
entanto, a celebração deste ajuste por entidades da Administração indireta, desde que haja previsão
expressa no contrato de consórcio ou no convênio de cooperação.
O contrato de programa continua mesmo quando extinto o consórcio público ou convênio de
cooperação. Trata-se da ULTRATIVIDADE DO CONTRATO DE PROGRAMA, pois o contrato permanece válido
e eficaz mesmo com a permanência de uma única parte no ajuste.
3.2. Objetivos
Prestar serviços e executar atividades de interesse de todos os entes consorciados, possuindo, por isso,
algumas prerrogativas de interesse público.
Os consórcios poderão firmar convênios, contratos, acordos de qualquer natureza, receber auxílios,
contribuições, subvenções sociais ou econômicas de outros órgãos e entidades do governo.
É garantida ao consórcio público a possibilidade de promover desapropriações e instituir servidões,
nos termos da declaração de utilidade pública ou interesse social realizada pelo poder público (NOTE que os
consórcios apenas executam a desapropriação, NÃO expedem o decreto, competência privativa do chefe do
executivo).
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O ente ainda pode ser contratado pela Administração direta ou indireta dos entes da Federação
consorciados, dispensada a licitação → CONTRATO DE PROGRAMA.
O consórcio poderá atuar como poder concedente, delegando serviços mediante a celebração de
contratos de concessão e permissão dos serviços públicos.
Para celebrar contratos, o consórcio público (seja de direito público ou privado) deve REALIZAR
LICITAÇÃO.
Em se tratando de compras, obras e serviços contratados por consórcio público, os valores de dispensa
da licitação previstos no art. 75, I e II, da Lei 14.133/21 serão duplicados.
É possível a retirada de um ente federativo do consórcio, desde que realizada mediante edição de ato
formal de seu representante na assembleia geral, na forma disciplinada por lei. Nesse caso, os bens
destinados ao consórcio público pelo consorciado que se retira SOMENTE serão revertidos ou retrocedidos
em caso de expressa previsão no contrato de consórcio público, ou no instrumento de transferência ou de
alienação.
A retirada ou a extinção de consórcio público ou convênio de cooperação não prejudicará as
obrigações já constituídas, inclusive os contratos, cuja extinção dependerá do pagamento das indenizações
eventualmente devidas
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c) Objeto: Desempenho de atividades administrativas que são da competência comum dos entes
consorciados.
d) Regime de pessoal: Para Rafael Oliveira, seria estatutário, embora exista doutrina que defenda o celetista,
pois a Lei 11.107/05, ao tratar do protocolo de intenções, faz menção aos “empregados públicos”.
f) Atos e contratos: As associações editam os seus próprios atos e celebram contratos com terceiros. É
reconhecida a possibilidade de as associações públicas promoverem desapropriações, caso em que a
competência declaratória é do Ente Federado, cabendo à associação a competência executória (promover
os atos para consumar a desapropriação).
g) Foro Processual:
b) Criação: Após autorização legal, com inscrição do ato constitutivo no respectivo registro.
c) Objeto: Não podem exercer atividades típicas de Estado, a exemplo do poder de polícia e o exercício de
atividades econômicas. Só podem desenvolver atividades que NÃO envolvam poder de autoridade.
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d) Regime de Pessoal: Celetistas, contratados por concurso público. Admite-se ainda a cessão de servidores
dos entes consorciados ao consórcio, os quais permaneceriam no regime de pessoal originário.
f) Atos e contratos: celebram contratos privados da Administração, mas o regime é híbrido, pois se
submetem ao controle dos Tribunais de Contas.
Referências Bibliográficas
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META 4
ARTIGOS IMPORTANTES
Código Civil – Arts. 99 e 100
Decreto-Lei Nº 3.365, De 21 De Junho De 1941.
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Segundo a autora Maria Sylvia Zanella di Pietro, a propriedade é o direito individual que assegura a
os poderes
seu titular uma série de poderes cujo conteúdo constitui objeto do direito civil, compreendendo
de usar, gozar e dispor da coisa, de modo absoluto, exclusivo e perpétuo
. Outrossim, tais poderes não podem
ser exercidos de forma ilimitada, uma vez que coexistem com direitos alheios, de igual natureza, além de
haver interesses públicos maiores, cuja tutela incumbe ao Poder Público exercer, ainda que em prejuízo de
interesses individuais.
b) Restritiva (branda) – O Estado impõe restrições e condicionamentos ao uso da propriedade pelo terceiro,
sem lhe retirar o direito de propriedade. Ex: Servidão, Requisição temporária, Limitação, Tombamento.
● Servidão possui natureza de direito real, porquanto incide diretamente sobre o bem do
particular.
● Ocupação temporária e a requisição possuem natureza de direito pessoal do Poder Público,
consubstanciando obrigações determinadas impostas ao particular.
● Desapropriação tem natureza jurídica de procedimento administrativo e judicial.
● Limitação administrativa, a seu turno, tem natureza de obrigação geral e abstrata imposta a
todos os cidadãos por ela atingidos.
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2. DESAPROPRIAÇÃO
Forma Originária de aquisição da propriedade, de modo que o bem chega ao acervo do Estado livre
de qualquer ônus de natureza real.
Segundo a autora Maria Sylvia Zanella di Pietro, são características presentes no conceito de
desapropriação:
Pode recair sobre todos os bens de valor econômico, sejam eles móveis ou imóveis, corpóreos ou
incorpóreos, públicos ou privados.
A desapropriação do espaço aéreo e subsolo só será necessária quando de sua utilização resultar
prejuízo patrimonial ao proprietário do solo.
É possível desapropriar créditos e ações referentes à cota de sociedade em pessoas jurídicas.
NÃO é possível desapropriar:
● Direitos personalíssimos;
● Moeda corrente no país;
● Pessoas físicas ou jurídicas (sujeitos de direito e não objeto de direito).
Os bens públicos podem ser desapropriados, desde que respeitada a “hierarquia federativa”, ou seja,
que a tomada seja do ente mais abrangente para o menos → A União pode desapropriar bens dos E/DF;
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Estados podem desapropriar os do M, mas em qualquer caso é VEDADA a desapropriação, por E, DF, M e
Territórios de ações, cotas e direitos representativos do capital de instituições e empresas cujo financiamento
dependa de autorização do Governo Federal e se subordine à sua fiscalização, SALVO autorização, por
decreto, do Presidente da República. (Vide Dec-Lei 3.365/41).
Súmula 479 STF: As margens dos rios navegáveis são domínio público, insuscetíveis
de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização.
O art. 5.º, XXIV, da CRFB consagra a desapropriação por utilidade pública, necessidade pública ou
interesse social. Enquanto as desapropriações por utilidade e necessidade pública estão previstas no
Decreto-lei 3.365/1941, a desapropriação por interesse social é regulada pela Lei 4.132/1962.
a) Utilidade Pública – Ente público deverá usar o bem diretamente, seja para obra pública ou para a
prestação de um determinado serviço. Ex: Presídio.
Obs.: É interditado ao Poder Judiciário decidir sobre a ocorrência, ou não, da utilidade pública na
desapropriação, o que não impede, porém, a revisão judicial quanto à competência, forma e regularidade
processual do ato de declaração. Art. 9º do Decreto Lei 3.365/41
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b) Necessidade Pública – Ente público deverá usar o bem diretamente (mesmas hipóteses de utilidade
pública), acrescida da situação de urgência. Ex: Posto de saúde.
INDENIZAÇÃO JUSTA
Valor de mercado do bem, sendo que só serão indenizadas as melhorias feitas até a data da declaração de utilidade
pública ou interesse social, salvo as benfeitorias úteis e necessárias, pagas ainda que executadas após esta data.
Inclui, ainda:
● Danos emergentes;
● Lucros cessantes;
● Correção monetária;
E, se feita na via judicial:
● Honorários advocatícios;
● Juros moratórios e compensatórios.
A indenização deverá ser feita previamente à imissão do poder público no bem expropriado, e deve
ser realizada em dinheiro.
De acordo com o STF (Info. 1113), a submissão da desapropriação ao regime de precatórios não viola
o comando constitucional de indenização prévia e justa, pois se revela medida razoável para organizar as
finanças públicas do ente público.
Assim, na hipótese em que o ente federativo expropriante estiver em mora com a quitação de seus
precatórios (CF/1988, art. 100), o pagamento da diferença entre o valor das avaliações final e inicial do
imóvel desapropriado pelo Poder Público deve ser feito por meio de depósito judicial direto ao então
proprietário, em respeito à natureza prévia da indenização (CF/1988, art. 5º, XXIV).
Se o proprietário possuir débito com a Fazenda Pública, a indenização poderá ser reduzida para o
pagamento das dívidas.
Se particular sofrer dano extraordinário em decorrência da desapropriação, poderão ser cumuladas
no mesmo processo a indenização decorrente da intervenção e da responsabilidade civil.
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Segundo o autor Rafael Oliveira, a desapropriação urbanística se refere ao imóvel localizado na área
urbana que não atende a respectiva função social, possuindo, dessa forma, caráter sancionatório
(subsidiário), além de se destacarem duas de suas principais características:
1) Competência: Município ou Distrito Federal;
2) Indenização: títulos da dívida pública, resgatáveis em até dez anos.
Havendo Plano Diretor (apenas os Municípios que possuam plano diretor podem se valer dessa
modalidade), os proprietários de imóveis urbanos devem seguir as disposições impostas, sob pena de
descumprir a função social da propriedade, caso em que podem ser adotadas as seguintes medidas:
b) IPTU progressivo – Se a medida anterior for insuficiente, será aplicado o IPTU progressivo no tempo,
através da majoração da alíquota, pelo prazo de 05 (cinco) anos consecutivos, limitada a 15%, não podendo,
em nenhuma hipótese, ultrapassar esse percentual. Além disso, de um ano para outro, pode se acrescentar
na alíquota no máximo 100% do valor anterior, ou seja, é possível a duplicação anual da alíquota, não mais
do que isso.
c) Desapropriação especial urbana – Escoado o prazo de 5 (cinco) anos sem que o particular tenha tomado
qualquer providência no sentido de conferir função social ao bem, o ente municipal poderá decretar a
desapropriação, com indenização mediante a entrega de títulos da dívida pública, de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 (dez) anos, em parcelas anuais, iguais e
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e juros legais de 6% ao ano.
A indenização justa refletirá o valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante incorporado
em função de obras realizadas ao Poder Público na área onde o mesmo se localiza, e NÃO computará a
expectativa de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios.
Após a incorporação do bem ao patrimônio público, o Município deverá proceder ao adequado
aproveitamento do imóvel no prazo máximo de 05 (cinco) anos, diretamente, pela alienação ou concessão
de terceiros, com observância à licitação.
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Segundo o autor Rafael Oliveira, tal modalidade de desapropriação se refere ao imóvel rural que não
atende a sua função social, possuindo caráter sancionatório e finalidade específica (reforma agrária), além
de duas principais características:
1) Competência: União;
2) Indenização: títulos da dívida agrária, resgatáveis em até vinte anos.
Caso o imóvel NÃO cumpra a função social do imóvel rural, compete à União desapropriar por
interesse social para fins de reforma agrária, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis em até 20 anos, a partir do segundo ano de sua
emissão.
A função social é atendida quando a propriedade rural cumpre os seguintes requisitos (art. 186 da CRFB e
art. 9.º da Lei 8.629/1993):aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente; cumprimento das disposições que regulam as relações de
trabalho; e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. A desapropriação
rural (sancionatória) não se confunde com a desapropriação de imóvel rural por interesse social para fins
de reforma agrária. Enquanto a desapropriação rural é de competência exclusiva da União e representa uma
sanção ao particular que descumpre a função social do imóvel rural e recebe títulos da dívida agrária, a
segunda é a desapropriação ordinária que pode ser implementada por qualquer Ente federado e exige o
pagamento de indenização prévia, justa e em dinheiro. Com base nessa distinção, o STF e o STJ já admitiram
a desapropriação por interesse social de imóveis rurais por Estado da Federação para fins de reforma agrária,
com fundamento na regra geral (art. 5.º, XXIV, da CRFB e Lei 4.132/1962).
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afins e da exploração de trabalho escravo, sendo que o patrimônio confiscado será revertido a fundo
especial, criado por Lei, que terá destinação específica. Outrossim, não haverá direito à indenização.
NÃO indenizável, sendo, por isso, chamada pela doutrina de EXPROPRIAÇÃO.
Serão expropriados os bens móveis utilizados para o tráfico de drogas e os bens imóveis utilizados
para a plantação de psicotrópicos ilícitos.
Se forem desapropriados bens móveis, o Poder público deverá utilizá-los no combate ao tráfico de
drogas ou recuperação de viciados; para imóveis, serão destinados ao assentamento de colonos que farão a
plantação de gêneros alimentícios e medicamentosos, sendo VEDADA a incorporação desses bens ao
patrimônio público.
Ainda segundo a jurisprudência do STF, é possível discutir culpa no bojo do processo que trata da
expropriação confisco, ou seja, deve-se demonstrar que o proprietário tinha pelo menos ciência do que
ocorria em sua propriedade, tendo incorrido ao menos em culpa in vigilando ou in eligendo.
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Exceções:
1. Nas Desapropriações Comuns – Formalizada por portaria
● DNIT: Promover declaração de utilidade pública visando à implantação do Sistema Nacional de
Viação;
● ANEEL: Declaração de utilidade pública de bens privados para a instalação de empresas
concessionárias e permissionárias de energia elétrica.
c) Competência para executar - Ente que declarou a utilidade pública ou o interesse social. Admite-se
também a delegação da competência executória para entes da Administração Indireta, concessionárias de
serviços públicos e, até mesmo, consórcios públicos. Estas entidades não têm competência para decretar o
interesse no bem, mas poderão promover a desapropriação, mediante pagamento de valor indenizatório e
imissão na propriedade.
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Caso o ato declaratório sofra algum vício de ilegalidade, ficará sujeito a controle judicial, além da
possibilidade do exercício da autotutela, sendo vedado ao Judiciário decidir acerca da verificação ou não dos
casos de utilidade pública, já que o ato é discricionário.
Embora não transfira imediatamente o bem, com a declaração o Poder Público pode ingressar no
bem para fazer avaliações, medições, podendo se valer da força policial. A declaração expropriatória também
fixa o estado do bem, de modo que qualquer melhoria, salvo benfeitorias úteis (se autorizadas pelo Estado)
ou necessárias, NÃO será indenizada (Vide SUM 23 STF).
No entanto, o ato declaratório obedece a prazo de caducidade para o início dos atos de execução:
Decorrido o prazo supra, a declaração NÃO poderá ser executada, ante inércia administrativa. Porém,
o Estado poderá realizar nova declaração decorrido o prazo de 01 (um) ano.
Observação:
Enunciado 3 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ – Não constitui ofensa
ao artigo 9º do Decreto-Lei n. 3.365/1941 o exame por parte do Poder Judiciário,
no curso do processo de desapropriação, da regularidade do processo
administrativo de desapropriação e da presença dos elementos de validade do ato
de declaração de utilidade pública.
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B) Fase Executória: são adotados atos materiais pelo Poder Público ou seus delegatários, devidamente
autorizados por lei ou contrato, com o intuito de consumar a retirada da propriedade do proprietário
originário.
O Estado deverá adotar as providências necessárias à efetivação da desapropriação, com a
transferência do bem após o pagamento do valor justo indenizatório.
A execução pode ser na via administrativa, com pagamento de dinheiro antes da tomada da
propriedade, sem precatórios judiciais, ou se dar na via judicial, por Ação de Desapropriação, quando não
houver acordo em relação ao valor da indenização OU se o ente expropriante não souber quem ostenta e
qualidade de proprietário do bem.
A competência executória é mais ampla do que a declaratória.
O Poder Legislativo, embora possua competência declaratória, NÃO possui competência executória.
Delegatários de serviços públicos podem promover a desapropriação, mas essa competência
executória está condicionada à autorização expressa da lei ou contrato.
Quando não houver acordo administrativo quanto ao valor da indenização ofertado pelo
expropriante, soluciona-se o impasse perante o Poder Judiciário.
Segue rito especial, devendo a inicial obedecer aos requisitos do art. 319 CPC. Ao despachar a inicial,
o juiz indicará perito de sua livre escolha para proceder à avaliação dos bens. Citado, o réu terá 15 dias para
apresentar defesa, a qual somente poderá versar sobre o valor indenizatório OU vícios processuais, NÃO se
admitindo nenhuma outra matéria de defesa no bojo da ação de desapropriação. NÃO se admite a discussão
quanto à existência dos pressupostos da desapropriação, devendo a questão ser debatida em processo
autônomo.
Se houver vício de legalidade, o Judiciário poderá analisar em ação direta (autônoma).
Se o particular concordar com o valor ofertado pelo ente público no bojo da ação, o juiz deverá
homologar o acordo por sentença. Caso contrário, o perito deve apresentar laudo em cartório, até 05 dias
da data marcada para audiência de instrução e julgamento. Da sentença que fixar o preço da indenização,
caberá apelação, no prazo de 15 dias.
É possível que o Estado seja imitido provisoriamente na posse do imóvel ANTES de finalizada a ação
de desapropriação, desde que cumpridos os seguintes requisitos:
Declarada a urgência, o Estado terá 120 dias para requerer ao juízo a imissão provisória da posse,
fazendo o depósito do valor incontroverso em juízo, sob pena de decair a declaração de urgência. Se perdido
o prazo, essa declaração de urgência NÃO pode ser renovada, por sua própria natureza.
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1ª Corrente: A imissão provisória na posse seria incompatível com o art. 5º, XXIV, CRFB, que exige a justa e prévia
indenização em dinheiro. No caso, o proprietário seria afastado do seu bem sem o recebimento do valor integral
e definitivo da indenização.
2ª Corrente: NÃO há inconstitucionalidade, pois a indenização prévia e justa em dinheiro só é exigida para
retirada definitiva da propriedade, e não para a perda temporária da posse do bem. Ademais, a imissão tem por
objetivo antecipar a satisfação do interesse público. STF, STJ, Di Pietro, Carvalho Filho, Gasparini.
Realizada a imissão provisória, o réu poderá levantar por alvará judicial até 80% do depósito, ainda
que discorde do valor ofertado. O restante garante o juízo e só poderá ser levantado com a sentença. Caso o
expropriado levante a integralidade do depósito, presume-se que o valor depositado foi aceito e o juiz
homologará o acordo, por sentença, não havendo a possibilidade de se questionar o pagamento.
Com a imissão provisória da propriedade, exclui-se a obrigação de pagamento de tributos referentes
ao bem pelo proprietário, inclusive o IPTU. Isso porque, embora o particular permaneça proprietário do bem,
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na prática não possui a posse direta do bem, razão pela qual o STJ já decidiu que o proprietário somente é
responsável pelos impostos, inclusive IPTU, até a efetivação da imissão na posse provisória.
Segundo Mazza, a imissão provisória não pode ser indeferida pelo juiz se forem atendidos os
requisitos legais, configurando direito subjetivo do expropriante ao ingresso antecipado do Poder Público na
posse do bem.
A Lei 13.465/17 trouxe mais uma opção em prol do cidadão desapropriado: se houver acordo entre
as partes, reduzido a termo, a decisão concessiva de imissão provisória na posse pode implicar a aquisição
da propriedade pelo expropriante, hipótese em que o expropriado pode levantar 100% do valor depositado,
sem prejuízo de questionar o preço ofertado.
O Juiz, em sentença motivada, estabelecerá indenização justa, e se o valor determinado for maior do
que o valor depositado, a diferença deverá ser paga pelo ente estatal, respeitando a ordem cronológica de
precatórios. Nesse caso, incidem sobre a indenização algumas parcelas acessórias:
1) Correção monetária
A correção monetária é a atualização do valor, garantindo um pagamento com valor real. A correção
deve incidir desde o momento em que foi feita a avaliação pelo perito do juízo. Ademais, incide apenas sobre
os 20% do valor depositado em juízo inicialmente que não foram levantados. Ex.: Poder Público deposita 100
mil. Levanto 80 mil e os outros 20 são corrigidos desde a data do depósito. O perito avalia o bem em 200 mil
e o juiz acolhe tal avaliação. A correção é devida sobre os 100 mil e incide desde a data da perícia.
O art. 26, §2º do DL 3365 diz que a correção deve ser arbitrada pelo Magistrado. Contudo, após a
emenda do calote, o STF disse que não se pode utilizar os índices da caderneta de poupança como correção
monetária, eis que tais índices não revelam a real correção do valor. Deve o Magistrado, portanto, utilizar os
índices oficiais de inflação expedidos por instituições credenciadas (IPCA-E).
2) Juros moratórios
Segundo Rafael Oliveira, possuem a finalidade de recompor os prejuízos pelo atraso no efetivo
pagamento da indenização. Nesse sentido, são devidos em razão da demora no cumprimento da decisão
judicial. Logo, incidem sobre o valor arbitrado pelo juízo na sentença, que será pago mediante precatório.
A CF dá um prazo para que o Estado pague os valores devidos em razão de decisão judicial. Dentro
de tal prazo não há mora. Logo, a mora só incide em 01 de janeiro do ano seguinte àquele em que o precatório
deveria ter sido pago.
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Art. 15-B, DL 3365. Nas ações a que se refere o art. 15-A, os juros moratórios
destinam-se a recompor a perda decorrente do atraso no efetivo pagamento da
indenização fixada na decisão final de mérito, e somente serão devidos à razão de
até seis por cento ao ano, a partir de 1o de janeiro do exercício seguinte àquele em
que o pagamento deveria ser feito, nos termos do art. 100 da Constituição.
3) Juros compensatórios
Recentemente (2018), o STF terminou o julgamento da ADI 2322, tendo o Pretório Excelso decidido
por:
a) reconhecer a constitucionalidade do percentual de juros compensatórios de 6% (seis por cento)
ao ano para remuneração do proprietário pela imissão provisória do ente público na posse de seu bem,
declarando a inconstitucionalidade do vocábulo “até”, e interpretar conforme a Constituição o caput do art.
15-A DL 3365, de maneira a incidir juros compensatórios sobre a diferença entre 80% (oitenta por cento) do
preço ofertado em juízo pelo ente público e o valor do bem fixado na sentença.
b) declarar a constitucionalidade do § 1º e do § 2º do art.-A
15do Decreto-Lei 3.365/41 (juros
compensatórios devem existir apenas para compensar a perda de renda comprovada e não incide sobre
imóvel improdutivo).
Em resumo, após ADI 2332/DF ficou assim:
O STJ definiu a seguinte tese: Os juros compensatórios incidem pela simples perda antecipada da
posse, no caso de desapropriação, e pela limitação da propriedade, no caso de servidão administrativa nos
termos da Súmula n. 56/STJ.
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Não obstante os juros incidam em um mesmo processo, eles têm lugar em momentos diferentes,
segundo o entendimento do STJ. Os juros compensatórios incidem desde a imissão provisória na posse até a
sentença, ao passo que os juros moratórios incidem desde 1º de janeiro do ano seguinte ou subsequente à
inscrição do precatório até o efetivo pagamento.
4) Honorários advocatícios
Por fim, quanto aos honorários advocatícios, incidem na desapropriação somente sobre o valor da
sucumbência, ou seja, somente sobre o valor excedente arbitrado na sentença. Tais honorários devem ser
arbitrados no valor de 0.5% a 5%.
Importante atentar que o STF declarou inconstitucional o teto de 151 mil previsto no decreto, mas
não o percentual de 0,5 a 5%, que continua aplicável.
Para que a indenização seja justa, deve abarcar também os lucros cessantes da área remanescentes
quando houver prejuízo ou impossibilidade de utilização da área restante. Nesse caso o particular exerce seu
direito de extensão.
Base de Valor arbitrado no 20% não Valor arbitrado no laudo Valor inscrito em
cálculo laudo pericial. levantados pelo pericial - 80% levantados precatório.
particular. pelo particular.
Índice Índices oficiais de inflação – IPCA-E 6% a.a -> ADI 2332 6% a.a
usado
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**Na desapropriação indireta os juros compensatórios incidem desde a ocupação do imóvel pelo Poder
Público.
Primeira Seção do STJ acolhe revisão de enunciados e fixa três novas teses sobre juros em desapropriação.
Por unanimidade, os ministros firmaram as seguintes teses:
1. Súmulas 12, 70 e 102 do STJ: "As Súmulas 12 ("Em desapropriação, são cumuláveis juros
compensatórios e moratórios"), 70 ("Os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta,
contam-se desde o trânsito em julgado da sentença") e 102 ("A incidência sdo
juros moratórios sobre
compensatórios, nas ações expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei") somente se
aplicam às situações ocorridas até 12/01/2000, data anterior à vigência da MP 1.997-34".
2. ADI 2332 e recurso especial: "A discussão a respeito da eficácia e efeitos da medida cautelar ou do
julgamento de mérito da ADI 2.332 não comporta revisão em recurso especial".
3. Regência temporal dos juros compensatórios: "Os juros compensatórios observam o percentual
vigente no momento de sua incidência".
Alterações:
Ao acolher em parte a proposta de revisão, a Primeira Seção decidiu também manter inalteradas a Tese 184 e a
Súmula 141; cancelar a Súmula 408 e a Tese 283; adequar a redação das Teses 126, 280, 281 e 282.
O relator apontou que, nas modificações feitas pelo colegiado, foi mantida a jurisprudência da corte, com
alteração apenas na tese que exclui o cabimento da via especial quando a pretensão recursal versar, ainda que
indiretamente, sobre interpretação de matéria constitucional ou efeitos de decisão do STF, especificamente da
ADI 2.332.
Modulação dos efeitos:
Para o ministro Og Fernandes, seria descabida a modulação dos efeitos da decisão, pois o teor dos julgamentos
repetitivos do STJ nessa matéria sempre foi condicionado ao resultado de mérito do STF na ADI 2.332. Segundo
ele, é provável que não haja modulação nem sequer no processo definidor da questão constitucional, sendo
descabida sua afirmação no juízo infraconstitucional.
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De acordo com Mazza, a ação de desapropriação rural tem rito sumário e contraditório especial,
sendo que o rito expropriatório inicia com a expedição do decreto expropriatório, de competência do
Presidente da República, declarando de interesse social o imóvel, para fins de desapropriação. Então, com a
expedição do Decreto, legitima-se o expropriante para promover a vistoria e a avaliação do imóvel, inclusive,
com o auxílio de força policial, mediante prévia autorização do juiz, tendo a União ou o Incra o prazo
prescricional de 2 anos para propor tal ação.
Cabível para os casos em que o imóvel NÃO está cumprindo a sua função social, sendo de
competência exclusiva da União, tramitando na JF.
A ação deve ser proposta em 02 anos, sob pena de caducidade.
Caso intentada a desapropriação parcial, o proprietário poderá requerer na contestação a
desapropriação de todo imóvel, sendo hipótese do direito de extensão da desapropriação.
Petição inicial contém os requisitos do art. 319 CPC, devendo o juiz despachar a inicial em 48 h,
podendo emitir o expropriante provisoriamente na posse, sendo o expropriado citado para contestar no
prazo de 15 dias, não podendo tratar de matéria de interesse social declarado, não havendo restrição a outras
matérias de defesa apresentadas pelo réu. A sentença que condenar o expropriante em quantia superior a
50% sobre o valor oferecido na inicial ficará sujeita ao duplo grau de jurisdição.
O valor da indenização será em dinheiro para benfeitorias úteis e necessárias, e em títulos da dívida
agrária para a terra nua.
Os honorários advocatícios serão no percentual máximo de 20% entre o preço oferecido e o valor da
indenização, devendo ser fixado pelo juiz conforme a complexidade do caso.
Previsto no art. 1228, §4º do CC, ao admitir a desapropriação de bens privados, quando se tratar de
imóvel de extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 05 anos, de considerável número de
pessoas, desde que elas tenham realizado, isoladamente ou em conjunto, obras e serviços de relevante
interesse social e econômico.
NÃO é matéria de Direito Administrativo.
Segundo a autora Maria Sylvia Zanella di Pietro, essa modalidade de desapropriação é a que se
processa sem observância do procedimento legal, costumando ser equiparada ao esbulho e, por isso
mesmo, pode ser obstada por meio de ação possessória. Contudo, se o proprietário não o impedir no
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momento oportuno, deixando que a Administração lhe dê uma destinação pública, não mais poderá
reivindicar o imóvel, pois os bens expropriados, uma vez incorporados ao patrimônio público, não podem
ser objeto de reivindicação (art. 35 do Decreto-lei 3.365/41 e art. 21 da LC 76/93).
Ocorre nos casos em que o Estado invade bem privado sem respeitar os procedimentos
administrativos e judiciais inerentes à desapropriação, sendo conhecida como Apossamento Administrativo.
É a desapropriação que não observa o devido processo legal.
Diante da ocupação indevida do bem pelo Estado, o proprietário não pode mais reverter a situação,
buscando o bem para si, restando pleitear o pagamento da justa indenização através de Ação de
Desapropriação Indireta, em que o proprietário requerer ao juízo que reconheça a desapropriação e defina
um valor indenizatório justo.
É comum em casos nos quais o Estado disfarça a retirada do bem, sob a alegação de incidir
intervenções restritivas na propriedade.
Se o proprietário presenciar o esbulho estatal, pode se valer dos institutos processuais cabíveis, como
esbulho possessório e até reintegração de posse. Só NÃO poderá pleitear o retorno do bem ao seu patrimônio
se já houver sido utilizado para a execução de atividade pública.
A competência é do local da situação do imóvel.
A indenização será paga por precatório, e os juros deverão incidir a partir do esbulho perpetrado
pelo Estado, incidindo sobre todo o valor do bem, haja vista o não pagamento de qualquer indenização
prévia. Da mesma forma, serão devidos juros moratórios de 6% ao ano, a partir de janeiro do ano seguinte à
data de pagamento do precatório expedido.
NÃO cabe direito de extensão na desapropriação indireta, justamente porque o direito de extensão
só pode ser solicitado no curso da ação, antes do trânsito em julgado da sentença judicial.
Quanto ao prazo de prescrição havia controvérsia, pois:
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Segundo o autor Rafael Rezende, é o direito de o proprietário exigir que a desapropriação parcial se
transforme em total quando a parte remanescente, de forma isolada, não possuir valoração ou utilidade
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econômica razoável. Evita-se, dessa forma, que o proprietário, na prática, perca a integralidade da
propriedade com o recebimento de indenização parcial.
Ocorre nos casos em que o Estado desapropria um bem deixando uma área remanescente
inaproveitável, isoladamente, surgindo para o proprietário o direito de extensão. Nessas situações, o poder
público deverá desapropriar o bem por inteiro e indenizar tudo.
Se imóvel rural, a jurisprudência entende ser inaproveitável qualquer terreno menor do que um
módulo fiscal, sem que nestes casos seja necessário demonstrar que, efetivamente, não é possível fazer a
utilização do imóvel.
Esse requerimento deverá ser feito pelo particular, na via administrativa, ou por ação ordinária (se
não for possível o acordo). Excepcionalmente, a doutrina admite o requerimento do direito de extensão em
sede de defesa, no bojo da ação de desapropriação, como pedido contraposto à contestação.
Segundo o autor Rafael Oliveira, na tredestinação lícita, o Poder Público não satisfaz o interesse
público previsto no decreto expropriatório, mas sim outro interesse público; enquanto na ilícita, em vez de
atender o interesse público, o expropriante utiliza o bem desapropriado para satisfazer interesses
privados.
O fenômeno da tredestinação ocorre nos casos em que o Poder Público decide conferir outra
finalidade ao bem após a desapropriação (alteração de finalidade do objeto expropriado).
Se houver mudança da destinação específica, mantendo-se a finalidade genérica – busca do interesse
público – a tredestinação será lícita.
Se o Estado deixa de utilizar o bem no interesse social, não dando finalidade específica para o qual
havia sido desapropriado, ocorre a tredestinação ilícita (adestinação). Nesses casos, surge ao particular o
direito à retrocessão.
Há controversa acerca da natureza jurídica do direito à retrocessão, pois para parte da doutrina é
direito real, já que o proprietário tem direito a reaver o bem. STJ, Celso Antônio, Rafael Oliveira. Contudo,
para outra parte da doutrina, a situação se resolveria em perdas e danos, sendo direito pessoal. JSCF,
Gasparini. Há uma terceira corrente que entende ser direito misto, pois o expropriado poderia optar pela
devolução do bem (natureza real) ou pleitear perdas e danos (natureza pessoal). Di Pietro entende se tratar
de direito pessoal ou real, dependendo da preferência do particular expropriado, que poderia optar por
reaver o bem ou requerer perdas e danos.
O CC/02 inseriu o direito à retrocessão nos direitos pessoais (art. 519). Porém a jurisprudência
entende ser direito real, ante a prerrogativa de sequela do direito de propriedade, presente nos direitos
reais.
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A retomada do bem só será possível se o ente estatal desapropriar o bem e não conferir a ele
qualquer finalidade pública. Se o bem for afetado a uma utilização de caráter social, qualquer ação se
resolverá em perdas e danos.
Existem hipóteses legais de vedação da tredestinação e retrocessão. Nesse sentido, ao imóvel
desapropriado para implantação de parcelamento popular, destinado às classes de menor renda, não se dará
outra utilização, nem haverá retrocessão. Além disso, para Rafael Oliveira, não parece possível a retrocessão
na desapropriação amigável, pois se trata de verdadeiro contrato de compra e venda.
Em algumas hipóteses, o Poder Público desapropria o bem, mas não atende ao interesse público,
nem favorece interesses privados, permanecendo inerte. A omissão ou demora do Estado é capaz de
configurar a tredestinação?
A regra é a possibilidade de desistência da desapropriação. Contra essa, pode ser alegado fato
impeditivo do direito de desistência, consistente na impossibilidade de o imóvel ser devolvido como recebido
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ou com danos de pouca monta. Por ser fato impeditivo do direito de o expropriante desistir da
desapropriação, é ônus do expropriado provar sua existência, por aplicação da regra do art. 373 do CPC/2015.
Portanto, dois requisitos devem estar presentes para que a desistência seja válida:
● Ainda não tenha havido o pagamento integral do preço; e
● O imóvel possa ser devolvido sem alteração substancial que impeça que seja
utilizado como antes.
Segundo o autor Rafael Oliveira, a desapropriação por zona abrange a área contígua necessária ao
desenvolvimento de obras públicas e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em decorrência da
realização do serviço.
Se efetiva em razão da realização de obra pública, em que o Estado tenha a necessidade de
desapropriar, além do espaço necessário à construção da obra, a zona vizinha a essa construção.
Situações em que pode ocorrer:
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O domínio útil de imóvel objeto de aforamento pode ser objeto de disputa entre particulares,
admitindo-se a desapropriação envolvendo domínio útil, caso em que o valor da indenização será dividido
entre o titular do domínio real e o proprietário do bem.
Deverá ser pago pelo expropriante ao titular do domínio real o art. 103, §2º do Dec-Lei 9.760/46: “Na
consolidação pela União do domínio pleno de terreno que haja concedido em aforamento, deduzir-se-á do
valor do mesmo domínio a importância equivalente a 17%, correspondente ao valor do domínio direto. Logo,
o titular do domínio útil fará jus a 83% do valor indenizatório.
De acordo com Fernanda Marinela, a limitação administrativa impõe obrigações de caráter geral a
proprietários indeterminados, em benefício do interesse geral abstratamente considerado, afetando o
caráter absoluto do direito de propriedade.
Restrição de caráter geral, atingindo TODOS os proprietários que estiverem na situação descrita na
norma.
Afeta o caráter absoluto da propriedade. Restringe a forma de utilização do bem pelo particular sem,
contudo, dividir com terceiros.
Decorrem do exercício do Poder de Polícia, e limita a forma de utilização do bem. Ante ao caráter de
generalidade, geralmente a limitação administrativa produz efeitos ex nunc, NÃO retroagindo para atingir
pessoas e propriedades que respeitavam a situação anterior.
Características:
● Abstrato e geral
● Atinge caráter absoluto (o indivíduo continua utilizando sozinho a propriedade, com restrições).
● Atinge o caráter Exclusivo (o indivíduo usa junto com o estado a propriedade)
● Instituída por lei ou ato administrativo
● Fundamento Constitucional: art.5 XXIII e 170, inciso III, ambos CF/88
● Em regra, não há indenização. Excepcionalmente, poderá haver quando diminuir o valor econômico
do bem, conforme STJ. O prazo prescricional para que o proprietário busque a indenização por conta
das limitações administrativas é de 5 anos. (STJ INFO 508).
DIREITO DE PREEMPÇÃO: É uma limitação administrativa que confere, através de lei municipal, a
preferência ao Município para a aquisição de imóvel urbano, objeto de alienação onerosa entre particulares.
A lei poderá determinar a incidência do direito por, no máximo, 05 anos. Após esse prazo, deve-se respeitar
o prazo de 01 ano de carência.
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Pelo caráter normativo e geral, as limitações administrativas, em princípio, NÃO geram danos
específicos, NÃO ensejando o dever de indenizar pelo Poder Público. Porém, se uma pessoa sofrer prejuízo
diferenciado em relação aos demais atingidos, o STJ entende possível a indenização, sendo o prazo
prescricional para pleitear de 05 anos.
Se a pretexto de instituir limitação o ente estatal torne impossível a utilização do bem, há uma
hipótese de desapropriação indireta.
Vejamos, ainda, jurisprudência sobre o tema:
De acordo com a autora Fernanda Marinela, é intervenção na propriedade que implica a instituição
de direito real de natureza pública, impondo ao proprietário a obrigação de suportar um ônus parcial sobre
o imóvel de sua propriedade, em benefício de um serviço público ou de um bem afetado a um serviço
público. Afeta a exclusividade do direito de propriedade, porque transfere o caráter absoluto, quando implica
obrigação de não fazer. Acarreta gravame maior do que a ocupação temporária, porque tem caráter
perpétuo.
É direito real de natureza pública, devendo ser registrada em cartório de Registro de Imóveis, para
ter efeito erga omnes, e a restrição acompanhará o imóvel, mesmo em casos de alienação a terceiros.
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Afeta o caráter exclusivo da propriedade, pois o particular usa o bem concomitantemente com o
Estado.
Em determinados casos, a servidão administrativa não depende necessariamente da existência de
prédio dominante, pois a restrição imposta ao prédio serviente pode ser justificada exclusivamente pela
necessidade de prestação de serviços de utilidade pública. O essencial é que a servidão seja justificada pela
necessidade de atendimento do interesse público. Ex: Instalação de postes de energia elétrica em
propriedade privada, aposição de placa etc.
Decorre no Poder de Polícia do Estado e, caso a medida enseje prejuízos ao proprietário, será devida
indenização prévia.
A servidão administrativa é a intervenção na propriedade particular que decorre da instituição de direito real,
impondo ao proprietário a obrigação de suportar ônus parcial sobre o imóvel de sua propriedade, em
benefício de serviço público ou de um bem afetado a um serviço público.
(Item considerado correto pela
banca.)
Características:
● Natureza jurídica de DIREITO REAL
● Regida pelo art. 40 do Decreto Lei 3.365/41
● Recairá obrigatoriamente sobre bens imóveis
● Tem caráter de perpetuidade
● Finalidade é uma utilização pública
● Registrada no cartório de registro de imóveis
● Ex: fios de cabos de energia em propriedade particular
● Indenização: Regra: não há. Exceção: se houver sacrifício desproporcional ao particular.
Formas de instituição:
1) Acordo: Após declaração de utilidade pública, as partes concordam com a instituição da servidão, e
o acordo deve ser registrado no RGI. O STF reconhece proteção possessória às servidões de trânsito
aparentes, mesmo inexistindo o respectivo título e registro.
2) Sentença Judicial: Quando NÃO houver acordo entre as partes, o Poder Público deverá propor ação
judicial para constituir a servidão, em procedimento análogo à desapropriação.
3) Usucapião.
4) Lei - Há divergência doutrinária.
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1ª Corrente: A servidão só pode ser instituída por acordo ou sentença judicial, precedida de decreto
de utilidade pública, não sendo possível a instituição por lei. JSCF, Marçal Justen;
2ª Corrente: É possível por lei, a exemplo da servidão sobre as margens dos rios navegáveis, servidão
ao redor dos aeroportos. Di Pietro, Hely Lopes.
Parte da doutrina admite a servidão decorrente de lei diretamente, não havendo a necessidade de
edição de ato administrativo constitutivo. Porém, nesse caso a servidão tem as características de uma
limitação administrativa, não se configurando de fato uma servidão, como defende JSCF (Di Pietro entende
possível essa forma de servidão). Nesses casos, NÃO há pagamento de indenização como regra, salvo em
casos excepcionais.
A servidão pode ainda ser instituída mediante acordo com o particular, devendo ser precedida de
ato declaratório e com o pagamento de indenização. Se o particular concordar com o valor indenizatório
ofertado, a servidão será extrajudicial, por acordo (procedimento similar ao da desapropriação). Se não
concordar, deverá ser instituída por sentença judicial.
Para servidões administrativas aparentes, mesmo que o registro não seja efetivado, deverá ser
garantida a proteção em decorrência das obras realizadas (Vide SUM 415 STF).
A servidão possui caráter perpétuo, mas poderá ser extinta nas seguintes hipóteses (deve constar
nos registros do imóvel, salvo se servidão legal):
● Perda da coisa gravada com ônus real;
● Se a coisa dominante perder a sua afetação pública;
● Caso haja aquisição do bem imóvel pelo poder público que havia instituído a
servidão;
● Nas situações em que não haja mais o interesse público na manutenção da
servidão sobre o bem.
- Servidão Civil: Regida pelo Direito Privado, para proteger interesses particulares, sendo imposta a um prédio
privado em benefício de outro.
- Servidão Administrativa: Regida pelo Direito Administrativo, e um prédio privado se torna serviente à execução
de atividades de interesse público, se admitindo excepcionalmente a relação de dominação de um prédio a outro.
Em ambos os casos se trata de direito perpétuo, NÃO havendo prescrição pelo decurso do tempo.
STJ: Nas hipóteses em que ficar demonstrado que a servidão de passagem abrange
área superior àquela prevista na escritura pública, impõe-se o dever de indenizar,
sob pena de violação do princípio do justo preço.
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STJ: Não incide imposto de renda sobre os valores indenizatórios recebidos pelo
particular em razão de servidão administrativa instituída pelo Poder Público.
De acordo com a autora Fernanda Marinela, incide sobre bens móveis, imóveis e serviços e se justifica
em tempo de paz e de guerra; é competente a União para legislar sobre requisição civil ou militar, sendo que
o procedimento é unilateral e autoexecutório, portanto, independe da aquiescência do particular ou da
prévia intervenção do PJ; por fim, afeta a exclusividade do direito de propriedade.
É intervenção restritiva na propriedade privada que visa solucionar iminente perigo ou de guerra
declarada, com a utilização de bens privados pelo ente estatal enquanto durar a situação de risco ou a
guerra, em caráter transitório.
Por ser situação de perigo ou guerra declarada, a competência é exclusiva da União, conforme art.
22, III da CF.
Características:
● Demonstração de situação de perigo iminente;
● Pode ser determinada pelo Poder Público independente de concordância do
particular ou decisão judicial;
● Deve ser paga indenização, posterior à execução do ato e desde que
comprovados os danos ao bem objeto da restrição;
● Pode incidir sobre bens móveis e imóveis, havendo a possibilidade, inclusive,
de requisição de serviços.
● Pode incidir sobre bens consumíveis fungíveis (se infungíveis, seria o caso de
desapropriação).
É possível a instituição de requisição sobre bens e serviços públicos? O STF, ao analisar a requisição
federal de hospitais públicos municipais, entendeu que a requisição administrativa tem por objeto, em regra,
bens e serviços privados, e a requisição de bens e serviços públicos possui caráter excepcional e somente
pode ser efetivada após a observância do procedimento constitucional para declaração formal do Estado de
Defesa e do Estado de Sítio. NÃO é possível a requisição de bens públicos em situação de normalidade
institucional.
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De acordo com a autora Fernanda Marinela, é a forma de limitação do Estado à propriedade privada
que se caracteriza pela utilização transitória, gratuita ou remunerada de imóvel de propriedade particular,
para fins de interesse público; afeta a exclusividade do direito de propriedade; independe de perigo público.
É uma forma de intervenção branda pela qual o ente público utiliza um bem privado por prazo
determinado, para satisfazer necessidades de interesse público, de forma gratuita ou remunerada. Ex: uso
de terrenos vizinhos às obras públicas para a alocação de máquinas e assentamento dos funcionários da obra
(deve haver um ato declaratório) - ocupação temporária de bens para pesquisa e escavação.
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Em princípio, NÃO será devido o pagamento de indenização, SALVO se a utilização do bem pelo Poder
Público causar danos ao proprietário.
Para alguns doutrinadores, ocupação temporária é gênero, em que se divide a requisição e a
ocupação temporária.
Em geral, a ocupação temporária tem por objeto o bem imóvel do particular, necessário para a
execução de obra pública ou prestação de serviços públicos. Discute-se a possibilidade de ocupação de bens
móveis e de serviços:
1ª Corrente: Somente bem IMÓVEL pode ser ocupado temporariamente, pois o DL 3365/41 utilizou
a expressão “terrenos não edificados”. JSCF, Gasparini;
2ª Corrente: Pode ter por objeto bens imóveis, móveis e serviços. Marçal Justen Filho.
A legislação NÃO estabeleceu regras específicas sobre a instituição da ocupação temporária, razão
pela qual parte da doutrina afirma o seu caráter autoexecutável. Outros autores entendem que as
formalidades da ocupação temporária dependem da modalidade de ocupação:
3.5. Tombamento
Segundo o autor Rafael Oliveira assevera que tombamento pode ser entendido como a intervenção
estatal restritiva que tem por intuito a proteção do patrimônio cultural brasileiro, citando como exemplos de
bens tombados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional): Centro Histórico de
Salvador; conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha e de Ouro Preto (Minas Gerais); Casa de Gilberto
Freyre (Recife); Estação da Luz (São Paulo); Corcovado, Estádio do Maracanã, Morro do Pão de Açúcar e
conjunto arquitetônico e paisagístico de Parati (Rio de Janeiro).
É intervenção na propriedade a fim de proteger o meio ambiente, quanto aos aspectos do
patrimônio histórico, artístico e cultural.
Inspirado na tradição portuguesa, o ordenamento pátrio utilizou a expressão tombar, que significa
registrar, inventariar ou inscrever bens nos arquivos do Reino (“Livro do Tombo”), guardados na Torre do
Tombo, em Portugal.
É instituído por processo administrativo com a oitiva do proprietário.
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Características:
● Visa proteger o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural
● Natureza jurídica de espécie autônoma de intervenção
● Regulamentado pelo decreto 25/37
● É possível que um ente “menor” tombe bem de um ente “maior”
● Só haverá indenização se houver o esvaziamento do conteúdo do bem;
● Obs: Conforme jurisprudência cabe ao proprietário a responsabilidade pela conservação e
manutenção do bem tombado.
Pode recair sobre bens móveis ou imóveis, desde que sejam bens cujas características remontem a
aspectos de natureza histórica, artística e cultural.
ATENÇÃO! O STJ definiu a tese de que o ato de tombamento geral não precisa individualizar os bens
abarcados pelo tombo, pois as restrições impostas pelo Decreto-Lei n. 25/37 se estendem à totalidade dos
imóveis pertencentes à área tombada.
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Ainda, o STJ decidiu que, inexistindo ofensa à harmonia estética de conjunto arquitetônico tombado,
não há falar em demolição de construção acrescida.
O autor Di Pietro defende que o tombamento pode recair sobre bens incorpóreos, mas Matheus
Carvalho entende que não se pode aplicar tombamento sobre bens imateriais, existindo a previsão de
registro nos órgãos de proteção ao patrimônio.
Também, segundo Rafael Oliveira, cabe destacar a diferença entre tombamento e registro: “Verifica-
se que o tombamento e o registro são espécies de proteção do patrimônio cultural brasileiro. Enquanto o
tombamento é regulado pelo Decreto-lei 25/1937 e visa proteger os bens imóveis e móveis, o registro é
tratado no Decreto 3.551/2000 e tem por objetivo a proteção dos bens imateriais.”
Há controvérsia em relação ao tombamento de bens públicos “de baixo para cima” (tombamento
de bens federais por Estados e tombamento de bens federais e estaduais por Municípios):
1ª Corrente: Impossibilidade de tombamento de bens dos entes maiores pelos menores. JSCF;
2ª Corrente: Municípios podem tombar bens públicos estaduais e federais, assim como os Estados
podem tombar bens públicos federais, visto que o tombamento NÃO implica transferência da
propriedade. STJ e doutrina majoritária.
Em tese, NÃO é cabível indenização em virtude do tombamento. Porém, caso se demonstre que o
tombamento enseja gastos desproporcionais para a manutenção do bem, o poder público deverá indenizar
pelos prejuízos devidamente comprovados.
Classificações
a) Tombamento de ofício: É o tombamento de bens públicos que se instrumentaliza de ofício pelo Ente
federado que deve enviar notificação à entidade proprietária do bem;
b) Tombamento voluntário: Realizado mediante consenso, explícito ou implícito, do proprietário;
c) Tombamento compulsório: Realizado contra a vontade do proprietário. Após notificado, o proprietário
apresenta impugnação, dentro de 15 dias, no processo de tombamento. Nesse caso, órgão ou entidade
técnica apresenta nova manifestação, devendo o IPHAN decidir. A decisão depende de homologação do
Ministro da Cultura.
a) Obrigações de fazer
● Dever de conservação: O proprietário se responsabiliza por conservar o bem, devendo comunicar ao
Poder Público se não tiver condições de realizá-la;
● Dever de comunicação em caso de extravio, dentro do prazo de 05 dias, sob pena de multa de 10%
sobre o valor da coisa;
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● Registro Especial: Negociantes de antiguidades, obras de arte, manuscritos e livros antigos ou raros
são obrigados a um registro especial no IPHAN, devendo apresentar semestralmente relatório
completo das coisas que possuem.
ATENÇÃO: com o NCPC houve a revogação das disposições quanto ao direito de preferência no
tombamento. Vejamos:
Dessa forma, após a vigência do novo Código de Processo Civil fica extinto o direito de preferência
anteriormente atribuído ao Estado, podendo o particular livremente dispor do seu bem, devendo o
adquirente conservá-lo nas exatas condições definidas no ato de tombamento.
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Extinção:
O ato de tombamento é discricionário, podendo ser revogado por razões de interesse público.
Caso o tombamento contenha algum vício, poderá ser anulado por decisão administrativa ou por
determinação judicial.
Admite-se ainda a extinção pelo desaparecimento do bem tombado, ou ainda pelo cancelamento do
ato de tombamento
Referências Bibliográficas:
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1. INTRODUÇÃO
A Lei nº 14.197/21, acrescentou o Título XII na Parte Especial do Código Penal, relativo aos crimes
contra o Estado Democrático de Direito, além de revogar a antiga lei de Segurança Nacional, a Lei nº
7.170/83, bem como o art. 39 da Lei de Contravenções Penais, referente à contravenção penal de associação
secreta. Contudo, o artigo 5º desta lei previu um período de vacatio legis de 90 dias.
Conforme leciona André Stefan quanto aos crimes incluídos no Título XII, todos produzem imediatamente
lesão real ou potencial à integridade territorial, à soberania nacional, ao regime representativo e
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democrático, à Federação ou ao Estado de Direito, exceção feita aos crimes de interrupção do processo
eleitoral (art. 359-N) e violência política (art. 359-P), que são tipicamente eleitorais. Daí se conclui que os
crimes de atentado à soberania (art. 359
-I), atentado à integridade nacional (art. 359-J), espionagem (art.
359-K), abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359
-L), golpe de Estado (art. 359-M) e
sabotagem (art. 359-R), quando cometidos por motivação ou objetivos políticos, serão crimes políticos e,
deste modo, de competência da Justiça Comum Federal. Os delitos de interrupção do processo eleitoral e
violência política, por fim, são crimes eleitorais próprios, de tal forma que o processo e julgamento destas
infrações há de se dar perante a Justiça Eleitoral.
No mesmo sentido, Rogério Sanches: “É certamente da Justiça Federal a competência para julgar os crimes
contra a soberania nacional (arts. 359-1 a 359-K) e os crimes contra as instituições democráticas (arts. 359-L
e 359-M), pois evidente o interesse da União (art. 109, IV, da CF/88). Já nos crimes contra o funcionamento
das instituições democráticas no processo eleitoral (arts. 359-N a 359-0), a competência parece ser da Justiça
Eleitoral.
● Previsão Legal
LEI DE SEGURANÇA NACIONAL CÓDIGO PENAL
Art. 8º Entrar em entendimento ou negociação com Art. 359-I. Negociar com governo ou grupo
governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar
para provocar guerra ou atos de hostilidade contra atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo:
o Brasil.
Pena: reclusão, de 3 a 15 anos. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
● Sujeito ativo
Pode ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Assim, mesmo um estrangeiro
pode praticar o crime do art. 359-I do CP.
● Sujeito passivo
É o Estado.
A objetividade jurídica é a soberania externa do Estado brasileiro, de modo a pôr a nação a salvo
de conflitos bélicos ou de invasões estrangeiras. À República Federativa do Brasil incumbe o poder de se
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autogovernar, por meio de seus representantes democraticamente eleitos, aos quais, nas quadras
definidas pela Constituição, compete definir os destinos do país.
● Elemento subjetivo
O núcleo do tipo é negociar. O agente negocia com o governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes,
com o objetivo de que esse governo ou grupo estrangeiro:
a) provoque atos típicos de guerra contra o Brasil; ou
b) invada o nosso país.
Exige-se uma finalidade específica, a de provocar atos típicos de guerra contra o país ou invadi-lo.
Trata-se de elemento subjetivo especial. Não existe forma culposa.
Note que o conceito de “atos típicos de guerra” é conceito que não vem descrito no tipo. A definição
de atos típicos de guerra precisa ser extraída de normas complementares, como a convenção de Haia, por
exemplo. Tratando-se de norma penal em branco heterogênea.
● Classificação jurídica
O atentado à soberania é crime doloso, comissivo, comum (qualquer pessoa pode praticá-lo), formal
ou de consumação antecipada (de vez que da negociação não é necessário que resulte efetivamente ato de
guerra ou invasão do território nacional), de perigo abstrato ou presumido (o legislador descreve uma
conduta, presumindo-a perigosa à soberania nacional) e instantâneo (consuma-se com a negociação,
podendo adquirir caráter permanente, caso a negociação se protraia no tempo).
● Consumação
O crime se consuma com o mero ato de negociar, ou seja, de iniciar as tratativas. Assim, não é
necessário que o ajuste se concretize. Basta o ato de negociar, isto é, de discutir o assunto.
Se a guerra for efetivamente declarada, a pena será aplicada em dobro, nos termos do § 1º do art. 359-I.
✔ Causas de aumento:
§ 1º Aumenta-se a pena de metade até o dobro, se declarada guerra em
decorrência das condutas previstas no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº
14.197, de 2021) (Vigência)
✔ Qualificadora:
§ 2º Se o agente participa de operação bélica com o fim de submeter o território
nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país: (Incluído pela
243
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Como a conduta era tratada na Lei de Segurança Nacional? Não existe uma total identidade. A conduta que
mais se aproxima é a do revogado art. 9º da Lei nº 7.170/83:
Art. 9º Tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país.
Pena: reclusão, de 4 a 20 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até um terço; se resulta morte
aumenta-se até a metade.
● Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
● Bem protegido:
Enquanto se tutela, no art. 359-I, a soberania externa, o valor protegido no art. 359-J é a soberania
interna do Estado brasileiro, ou seja, a integridade do território nacional. Deve-se frisar que a Federação
brasileira, nos termos da Constituição Federal, é formada pela união indissolúvel dos estados, municípios e
do Distrito Federal (art. 1º, caput).
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Imagine, portanto, que um grupo de pessoas cria um movimento separatista, que defende que determinado
Estado-membro da Federação se torne um país independente do Brasil. Esse grupo cria um perfil no
Instagram com essas ideias, um canal no Youtube com vídeos sustentando essa posição e até camisas com a
logo do movimento. Se não houver a prática de violência ou grave ameaça, tais condutas não configuram o
crime do art. 359-J do CP. Vale ressaltar que, a depender do discurso empregado, tais condutas podem
configurar outros crimes, como o racismo (art. 20 da Lei nº 7.716/89).
● Sujeito ativo
Pode ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Não importa, para fins de
tipicidade, se o agente é brasileiro ou estrangeiro.
● Sujeito passivo
É o Estado.
● Elemento subjetivo
É o dolo acrescido de um elemento subjetivo especial: a finalidade de desmembrar parte do território
nacional para constituir país independente.
● Consumação
Para o crime se consumar, basta que o agente, empregue violência ou grave ameaça com a finalidade
de desmembrar ainda que não tenha êxito. Trata-se, portanto, de crime formal, que não exige resultado
naturalístico.
Se o agente conseguir o desmembramento, isso será apenas considerado como circunstância
negativa na dosimetria da pena.
● Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
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O autor Nucci, comentando a Lei de Segurança Nacional, conceituava espionagem como sendo a
“investigação realizada por espião, pessoa especialmente designada para vasculhar dados secretos de outros
Estados, corporações ou mesmo do inimigo em campo de guerra” (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais
e processuais penais comentadas. Vol. 1. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 831)
Art. 359-K. Entregar a governo estrangeiro, a Art. 13. Comunicar, entregar ou permitir a
seus agentes, ou a organização criminosa comunicação ou a entrega, a governo ou grupo
estrangeira, em desacordo com determinação estrangeiro, ou a organização ou grupo de
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§ 1º Incorre na mesma pena quem presta auxílio Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
a espião, conhecendo essa circunstância, para I - Com o objetivo de realizar os atos previstos
subtraí-lo à ação da autoridade pública. neste artigo, mantém serviço de espionagem ou
§ 2º Se o documento, dado ou informação é dele participa;
transmitido ou revelado com violação do dever II - Com o mesmo objetivo, realiza atividade
de sigilo: aerofotográfica ou de sensoreamento remoto,
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 15 (quinze) anos. em qualquer parte do território nacional;
§ 3º Facilitar a prática de qualquer dos crimes III - oculta ou presta auxílio a espião, sabendo-o
previstos neste artigo mediante atribuição, tal, para subtraí-lo à ação da autoridade pública;
fornecimento ou empréstimo de senha, ou de IV - Obtém ou revela, para fim de espionagem,
qualquer outra forma de acesso de pessoas nãodesenhos, projetos, fotografias, notícias ou
autorizadas a sistemas de informações: informações a respeito de técnicas, de
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. tecnologias, de componentes, de
§ 4º Não constitui crime a comunicação, a equipamentos, de instalações ou de sistemas de
entrega ou a publicação de informações ou de processamento automatizado de dados, em uso
documentos com o fim de expor a prática de ou em desenvolvimento no País, que, reputados
crime ou a violação de direitos humanos. essenciais para a sua defesa, segurança ou
economia, devem permanecer em segredo.
● Sujeito ativo
O crime do caput do art. 359-K do CP pode ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se de crime
comum. Não importa, para fins de tipicidade, se o agente é brasileiro ou estrangeiro. Veremos, mais à frente,
que as figuras típicas dos §§ 2º e 3º do art. 359-K são classificadas como crimes próprios.
● Sujeito passivo
É o Estado.
● Elemento subjetivo
É o dolo, que deve recair sobre todos os elementos do tipo.
Assim, o agente deve ter consciência de que:
✔ A entrega daquele documento ou informação viola determinação legal ou regulamentar;
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✔ Aquele documento ou informação é classificado como secreto ou ultrassecreto nos termos da lei;
✔ A revelação daquele documento ou informação pode colocar em perigo a preservação da ordem
constitucional ou a soberania nacional.
Obs.: O crime pode ser cometido com dolo direto ou dolo eventual. NÃO se admite, por outro lado, a culpa
Pergunta-se: Se o agente entrega o documento ou a informação secretos ou ultrassecretos para uma
organização criminosa brasileira (ex.: PCC, Comando Vermelho, Família do Norte), haverá crime?
R.: Na vigência da Lei nº 7.710/83: constituía o crime do art. 13 da LSN (repare que o tipo revogado falava
em “organização ou grupo de existência ilegal”). Já na vigência da Lei nº 14.197/2021: NÃO configura o crime
do art. 359-K do CP. Para configurar o delito, é indispensável que a entrega ocorra para governo estrangeiro
ou organização criminosa estrangeira.
Trata-se de uma opção equivocada do legislador, conforme opinião de Rogério Sanches e Ricardo Silvares:
“Andou mal o legislador nesse ponto, pois ignorou a transnacionalidade das atividades criminosas
organizadas, e interação entre as organizações criminosas por todo o globo, bem como entre estas e grupos
guerrilheiros ou terroristas. Além disso, partiu o legislador da ingênua ou estranha presunção de que
organizações criminosas brasileiras mantêm fidelidade ao seu país. Assim, a uma organização criminosa
brasileira pode ser entregue documento sigiloso que, ao final, acabe parando em mãos de governo
estrangeiro, com risco à nossa soberania.” (CUNHA, Rogério Sanches da; SILVARES, Ricardo. Crimes contra o
Estado democrático de direito. Salvador: Juspodivm, 2021, p. 108).
● Exige-se que essa entrega ao governo ou organização criminosa estrangeiros seja física?
Não. O tipo penal fala em entregar “documento ou informação”. O documento, necessariamente,
está inserido em um suporte (que pode ser físico ou digital/virtual).
A informação, contudo, pode ser, inclusive, verbal. Ex: assessor da Presidência da República ouve,
em uma reunião presidencial, a informação secreta de que o Brasil irá iniciar um embargo econômico contra
determinado país e, em seguida, fornece essa informação para um agente desse Estado estrangeiro.
Art. 24. A informação em poder dos órgãos e entidades públicas, observado o seu
teor e em razão de sua imprescindibilidade à segurança da sociedade ou do Estado,
poderá ser classificada como ultrassecreta, secreta ou reservada.
Para a classificação da informação em determinado grau de sigilo, deverá ser
observado o interesse público da informação e utilizado o critério menos restritivo
possível, considerados:
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Rogério Sanches defende que sim: “Tendo em vista que toda a matéria referente
ao segredo de documentos ou informações está regulada na Lei acima citada, o
risco à ordem constitucional ou à soberania é presumido, sempre que o documento
for classificado como ultrassecreto ou secreto, isso porque as razões que autorizam
a imposição de sigilo nesse grau compreendem situações que trazem perigo à
soberania e a outros aspectos (descritos acima), que podem representar risco
também à ordem constitucional. Tal valoração é feita pela autoridade competente,
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a quem cabe dar a razão para imposição do segredo, conforme o art. 25 da Lei n.
12.527, e classificá-lo. Logo, sendo entregue a um dos atores estrangeiros
mencionados no caput do art. 359-K o documento ou informação já classificada
como secreta ou ultrassecreta, presumir-se-á o perigo à soberania ou à ordem
constitucional.” (Crimes contra o Estado democrático de direito. Salvador:
Juspodivm, 2021, p. 109-110).
Obs.: Só haverá crime se a entrega ocorrer em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Trata-
se, portanto, de um elemento normativo de ilicitude. Imagine que um agente diplomático, devidamente
autorizado pelo Presidente da República e conforme a regulamentação própria, fornece a um país
estrangeiro determinado documento secreto. Não haverá crime porque não houve entrega em desacordo
com determinação legal ou regulamentar.
● Incorre na mesma pena quem presta auxílio a espião, conhecendo essa circunstância, para subtraí-
lo à ação da autoridade pública.
Como se trata de um parágrafo, deve-se interpretá-lo em conjunto com o artigo ao qual ele faz parte.
Logo, quando o dispositivo fala em “espião” ele está se referindo ao indivíduo que comete o crime de
espionagem (art. 359-K do CP). Logo, o § 1º do art. 359-K pune a pessoa que auxilia o indivíduo que comete
o crime de espionagem com o objetivo de fazer com que ele escape à atuação das autoridades.
Trata-se de uma espécie de favorecimento pessoal específico.
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RETA FINAL
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● Facilitar a prática de qualquer dos crimes previstos neste artigo mediante atribuição, fornecimento
ou empréstimo de senha, ou de qualquer outra forma de acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Em tese o agente, responderia pelo caput ou pelo § 2º do art. 359-K, no entanto, o legislador resolveu
puni-lo de forma mais branda pelo fato de considerar que a sua participação seria de menor gravidade já que
“apenas” permitiu o facilitou o acesso de pessoas não autorizadas no sistema.
Na maioria dos casos, o sujeito responsável pelo crime é um agente público. No entanto, é possível
cogitar que seja também praticado por particulares, como no caso de um funcionário da empresa terceirizada
de informática, que fornece manutenção nos computadores e sistemas informatizados.
Atenção!! Não confundir com o art. 325, § 1º, I do CP
Art. 325 – Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime
mais grave.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha
ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de
informações ou banco de dados da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
O que irá diferenciar os dois delitos é a natureza das informações que estão contidas no sistema de
informações ou no banco de dados:
✔ Se forem documentos ou informações classificados como secretos ou ultrassecretos: o crime é o do
art. 359-K, § 3º do CP;
✔ Se não forem secretos ou ultrassecretos: o delito é o do art. 325, § 1º, I, do CP.
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RETA FINAL
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O Capítulo II, do Título XII traz os crimes contra as instituições democráticas. São crimes muito graves
que visam a combater o esfacelamento do Estado Democrático de Direito no âmbito interno, enquanto os
crimes contra a soberania nacional o protegem de ataques externos, inclusive com colaboração de nacionais
ou residentes no Brasil. Estão previstos dois crimes, cujos âmbitos de incriminação se tocam: o de abolição
violenta do Estado Democrático de Direito e o Golpe de Estado.
Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado
Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes
constitucionais:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à
violência.
Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou Art. 17. Tentar mudar, com emprego de
grave ameaça, abolir o Estado Democrático de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime
Direito, impedindo ou restringindo o exercício vigente ou o Estado de Direito.
dos poderes constitucionais: Pena: reclusão, de 3 a 15 anos.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, Parágrafo único. Se do fato resulta lesão
além da pena correspondente à violência. corporal grave, a pena aumenta-se até a
metade; se resulta morte, aumenta-se até o
dobro.
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RETA FINAL
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● Sujeito ativo
Pode ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
● Sujeito passivo
É o Estado.
● Consumação
O crime se consuma com a mera tentativa de abolir. Não é necessário que essa tentativa se
concretize. Trata-se de crime formal. Caso a tentativa se concretize, o crime já foi consumado e a dificuldade
será eventualmente punir o responsável considerando que ele será o vencedor do golpe e o Estado
Democrático de Direito terá ruído.
Em sentido contrário: Flávio Augusto Monteiro de Barros entende que a tentativa é possível quando, do
emprego da violência ou grave ameaça, não resultar qualquer restrição ao exercício dos poderes
constitucionais, por circunstâncias alheias à vontade do agente (Manual de direito penal: partes geral e
especial. 2ª ed., Salvador: JusPodivm, p. 1.677).
Obs.: Se o delito do art. 359-L for praticado por meio da ação de grupo armado, será inafiançável e
imprescritível por força do art. 5º, XLIV, da CF/88: Art. 5º (...) XLIV - constitui crime inafiançável e
imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático;
● Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
Art. 359-M. Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo
legitimamente constituído:
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
O crime consiste em agente que tenta derrubar o governo legitimamente constituído, antes do final
do mandato popular, empregando, para tanto, violência ou grave ameaça. Mais uma vez, o núcleo do tipo
traz uma locução verbal, “tentar depor”, que é uma forma tentada, modalidade de conatus. Nota-se, como
no caso do art. 359-L, não haver previsão de forma consumada da conduta, já que, caso o agente conseguisse
obter o seu intento, a ordem jurídica estaria abolida, de certa forma, e a previsão seria inócua.
Art. 359-M. Tentar depor, por meio de violência Art. 17. Tentar mudar, com emprego de
ou grave ameaça, o governo legitimamente violência ou grave ameaça, a ordem, o regime
constituído: vigente ou o Estado de Direito.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, Pena: reclusão, de 3 a 15 anos.
além da pena correspondente à violência. Parágrafo único. Se do fato resulta lesão
corporal grave, a pena aumenta-se até a
metade; se resulta morte, aumenta-se até o
dobro.
● Sujeito ativo
Pode ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
● Sujeito passivo
É o Estado.
Vale ressaltar que só haverá crime se o agente se utilizar de violência ou grave ameaça.
● Consumação
O crime se consuma com a mera tentativa de depor o governo. Não é necessário que essa tentativa
se concretize. Trata-se de crime formal. Caso a tentativa se concretize, o crime já foi consumado e a
dificuldade será eventualmente punir o responsável considerando que ele, possivelmente, será partidário do
novo governo.
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RETA FINAL
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Em sentido contrário: Flávio Augusto Monteiro de Barros afirma que se admite a tentativa, quando a violência
ou grave ameaça não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Manual de direito penal:
partes geral e especial. 2ª ed., Salvador: JusPodivm, p. 1.681).
Obs.: Se o delito do art. 359-M for praticado por meio da ação de grupo armado, será inafiançável e
imprescritível por força do art. 5º, XLIV, da CF/88: Art. 5º (...) XLIV - constitui crime inafiançável e
imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático.
● Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
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O Capítulo III do Título XII traz os crimes contra o funcionamento das instituições democráticas no
processo eleitoral. Como o próprio nome diz, o Estado democrático de direito não se assenta apenas no
império da lei, como decorrência de manifestação da vontade popular, mas também na exigência de eleições
periódicas, por meio do sufrágio universal, para escolha dos ocupantes dos cargos públicos de natureza
política. Por isso, os crimes de interrupção do processo eleitoral e de violência política visam proteger esse
aspecto importante do estado democrático do direito, essencial para a preservação de suas características.
Obs.: Não havia nenhum tipo penal na Lei nº 7.170/83 que fosse semelhante ao art. 359-N do CP, até mesmo
porque na época da sua edição (1983) ainda não havia sistema eletrônico de votação. Trata-se de novatio
legis incriminadora, dotada de irretroatividade.
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
● Sujeito ativo
Pode ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
● Sujeito passivo
É o Estado, na figura da Justiça Eleitoral.
● Consumação
O crime se consuma quando o agente conseguir efetivamente impedir ou perturbar a eleição ou sua
apuração, mediante violação indevida dos mecanismos de segurança. Trata-se de crime material.
Atenção! A Lei nº 9.504/97 estabelece normas gerais para as eleições. Em seu art. 72 ela prevê três crimes
que podem gerar confusão com o novo tipo do art. 359-N do CP.
Art. 72. Constituem crimes, puníveis com reclusão, de cinco a dez anos:
I - obter acesso a sistema de tratamento automático de dados usado pelo serviço
eleitoral, a fim de alterar a apuração ou a contagem de votos;
II - desenvolver ou introduzir comando, instrução, ou programa de computador
capaz de destruir, apagar, eliminar, alterar, gravar ou transmitir dado, instrução ou
programa ou provocar qualquer outro resultado diverso do esperado em sistema
de tratamento automático de dados usados pelo serviço eleitoral;
III - causar, propositadamente, dano físico ao equipamento usado na votação ou na
totalização de votos ou a suas partes.
Haverá discussão se o art. 72 da Lei nº 9.504/97 foi, ou não, revogado pelo art. 359-
N do CP.
● Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
● Crime de forma vinculada, que ocorre mediante violação indevida de mecanismos de segurança do
sistema eletrônico de votação estabelecido pela Justiça Eleitoral.
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
O tipo é misto alternativo, possuindo três núcleos: restringir, impedir e dificultar. Restringir significa
impor restrição, delimitar, reduzir o acesso. Impedir significa estorvar, obstruir. Dificultar consiste em
obstaculizar, é complicar, tornar difícil. Essas condutas devem ser praticadas pelos meios de execução:
violência física, sexual ou psicológica:
✔ Violência física: é o emprego de força física, é a vis absoluta, aquela violência que atinge a
integridade física ou a saúde da vítima;
✔ Violência sexual: utilizando-se do conceito do artigo 7º da Lei n. 11,340/2006, como interpretação
sistemática, é qualquer conduta que constranja a vítima a presenciar, a manter ou a participar de
relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza
a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus
direitos sexuais e reprodutivos;
✔ Violência psicológica: também em interpretação sistemática com o 7° da Lei n. 11.340/2006, é
qualquer conduta que cause à vítima dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação
de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro
meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
O restringir, impedir ou dificultar tem como objeto material o exercício de direitos políticos, que
envolvem a capacidade de votar e de ser votado. Os direitos políticos positivos se relacionam à possibilidade
de participar do sufrágio universal por meio do voto. São seus instrumentos, além do voto, o plebiscito, o
referendo e a iniciativa popular. Os direitos políticos positivos abrangem a capacidade ativa, de alistamento
e voto, e a capacidade passiva, de concorrer a um cargo público político, ou seja, de ser votado.
258
RETA FINAL
SEMANA 11/12
em razão de seu:
- sexo,
Restringir, - raça, utilizando-se para isso de
que a pessoa exerça seus
impedir ou - cor, violência física, sexual ou
direitos políticos
dificultar - etnia psicológica
- religião ou
- procedência nacional
● Sujeito ativo
Consiste em crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
● Sujeito passivo
A vítima pode ser qualquer pessoa, como o tipo penal menciona. Rogério Sanches discorda e afirma
que se trata de crime próprio porque a vítima deve ser “pessoa no exercício dos seus direitos políticos, seja
eleitor, candidato ou detentor de mandato eletivo” (ob. cit, p. 154).
● Meios
O tipo penal exige que haja emprego de violência física, sexual ou psicológica.
● Elemento subjetivo
O crime é punido a título de dolo. O tipo não exige um elemento subjetivo especial.
● Consumação
O crime se consuma com a prática de ato consistente em restringir, impedir ou dificultar o exercício
dos direitos políticos. Trata-se, portanto, de crime material.
● Ação penal
A ação penal é pública incondicionada.
Pergunta-se: O art. 359-P do CP é uma espécie de “racismo” e, portanto, configura crime imprescritível,
nos termos do art. 5º, XLII, da CF/88?
R.: A doutrina diverge sobre o tema.
Rogério Sanches defende que SIM: “Ao destrinchar o tipo fica fácil concluir que estamos diante de uma forma
especial do crime de racismo, fora da Lei 7.716/89. Envolvendo mais do que atribuição de qualidade negativa,
caracterizando verdadeira segregação ou incentivo a segregação, nos parece que o crime deve sofrer os
mesmos rigores ordenados pelo Constituinte no art. 5º, XLII: trata-se de delito inafiançável e imprescritível.”
(ob. cit., p. 157)
259
RETA FINAL
SEMANA 11/12
Em sentido contrário, Luiz Carlos dos Santos Gonçalves entende que NÃO se trata de crime imprescritível:
“(...) não entendemos o art. 359-P como imprescritível, condição que só mesmo a ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o estado democrático reúne. (...) A despeito de nossa
simpatia pessoal, não entendemos que a figura do art. 357-P seja modalidade de racismo, o que a faria
imprescritível. Apesar da menção a raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional (além de “sexo”), não
se tem aqui a proteção à dignidade da pessoa humana como bem jurídico. É crime “contra o funcionamento
das instituições democráticas no processo eleitoral”. Se a menção a raça, cor, etnia for suficiente para incluir
a conduta como modalidade de racismo, então o crime eleitoral de violência política do art. 326-B também
o será.” http://genjuridico.com.br/2021/09/20/crimes-de-violencia-politica/
A grande questão é saber se a Lei nº 14.197/2021, que incluiu o art. 359-P ao Código Penal, acarretou
a revogação do art. 326-B do CP. Vamos comparar os dois delitos:
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RETA FINAL
SEMANA 11/12
O crime se consuma com a prática de ato O crime se consuma com a prática de ato
consistente em assediar, constranger, humilhar, consistente em restringir, impedir ou dificultar o
perseguir ou ameaçar a vítima. exercício dos direitos políticos.
Não se exige resultado naturalístico. Trata-se de Trata-se, portanto, de crime material.
crime formal.
Pena: 1 a 4 anos e multa. Pena: 3 a 6 anos e multa.
Prevê causa de aumento de pena. Não prevê causa de aumento de pena.
Márcio Cavalcante, do Dizer o Direito explica: “A partir da comparação acima, parece-me que o art.
359-P do CP passou a abranger quase todas as condutas que já eram punidas pelo art. 326-B do CE. Vale
ressaltar, contudo, que entendo que ainda existem algumas poucas condutas que se enquadram apenas no
art. 326-B do CE. É o caso, por exemplo, do agente que constrange a candidata sem o emprego de violência
física, sexual ou psicológica. Neste caso, me parece que ele continuará respondendo pelo art. 326-B do CE,
desde que esse constrangimento não seja tão forte a ponto de configurar violência psicológica”.
Vale ressaltar que o autor Rogério Sanches pensa em sentido diverso: “Lendo e relendo o tipo penal
em comento, percebe-se que a Lei 14.197/21 foi além. Acabou por revogar, tacitamente, o crime do art. 326-
B do CE. O novo art. 359-P do CP criminaliza a violência política em face de qualquer pessoa (e não apenas
ob.( cit, p. 151).
mulher) em razão de seu sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.”
O Capítulo dos crimes contra o funcionamento dos serviços essenciais, numerado como IV no Título
XII, conta com apenas um tipo penal, o de sabotagem. A conduta poderia se amoldar em um crime contra a
incolumidade pública, especialmente serviços públicos, mas aqui há uma finalidade específica, pois a conduta
se volta contra a existência do Estado Democrático de Direito.
5.1 Sabotagem
É tipo misto alternativo, prevendo dois núcleos do tipo, destruir e inutilizar. Destruir é demolir,
devastar, extinguir. Inutilizar significa tornar inútil, estragar, deixar imprestável. Quem destrói retira a própria
natureza do objeto material que sofreu a conduta, enquanto a inutilização retira a utilidade.
261
RETA FINAL
SEMANA 11/12
Art. 359-R. Destruir ou inutilizar meios de Art. 15. Praticar sabotagem contra instalações
comunicação ao público, estabelecimentos, militares, meios de comunicações, meios e vias
instalações ou serviços destinados à defesa de transporte, estaleiros, portos, aeroportos,
nacional, com o fim de abolir o Estado fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras
Democrático de Direito: instalações congêneres.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
§ 1º Se do fato resulta:
a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a
metade;
b) dano, destruição ou neutralização de meios
de defesa ou de segurança; paralisação, total ou
parcial, de atividade ou serviços públicos
reputados essenciais para a defesa, a segurança
ou a economia do País, a pena aumenta-se até o
dobro;
c) morte, a pena aumenta-se até o triplo.
§ 2º Punem-se os atos preparatórios de
sabotagem com a pena deste artigo reduzida de
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● Sujeito ativo
Pode ser praticado por qualquer pessoa (trata-se de crime comum).
● Sujeito passivo
O Estado.
● Elemento subjetivo
Exige-se um elemento subjetivo especial: o agente pratica a conduta “com o fim de abolir o Estado
Democrático de Direito”. Não há previsão de forma culposa.
Se o sujeito praticar as condutas descritas no art. 359-R do CP, mas não tiver a finalidade de abolir o Estado
Democrático de Direito, ele poderá responder por um dos seguintes delitos:
. Dano qualificado (art. 163, parágrafo único, III, do CP);
· Dano a instalações militares (art. 264 do CPM); ou
· Crime do art. 70 do Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117/62).
● Consumação
O crime se consuma com a ocorrência de dano aos meios de comunicação ao público,
estabelecimentos, instalações ou serviços destinados à defesa nacional. Não logrando o agente produzir
dano ao objeto material ou não conseguindo inutilizá-lo, haverá a forma tentada (crime plurissubsistente).
Trata-se de crime formal, não se exigindo que haja a supressão do Estado Democrático de Direito.
Aliás, se ocorrer o resultado pretendido, certamente o crime não será punido pelo regime vencedor.
Poder-se-ia argumentar que se trata de crime material: se praticar sabotagem é danificar ou inutilizar
os objetos materiais, o resultado naturalístico só poderia ser o dano àqueles. Ocorreu que o legislador incluiu
no tipo penal um elemento subjetivo específico, que revela o resultado do crime, a abolição da democracia.
Ou seja, por meio do dano, busca o autor atingir o citado bem jurídico.
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Logo, “causando o sujeito ativo dano a uma instalação militar com o objetivo de abolir o Estado
Democrático de Direito estará consumado o crime do art. 359-R, ainda que a democracia reste preservada.”
(CUNHA, Rogério Sanches da; SILVARES, Ricardo. Ob. cit., p. 166).
6. DISPOSIÇÕES COMUNS
O art. 359-T do Código Penal traz disposições aplicável a todo o título XII, ou seja, aos crimes contra
o Estado Democrático de Direito.
Art. 359-T. Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos
poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos
e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de
aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com
propósitos sociais.
O art. 359-T do CP previu, por sua vez, que NÃO constitui crime contra o estado democrático de
direito:
✔ a manifestação crítica aos poderes constitucionais;
✔ a atividade jornalística; ou
✔ a reivindicação de direitos e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves,
de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais.
7. COMPETÊNCIA
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Crimes políticos, para os fins do artigo 102, II, b, da Constituição Federal, são
aqueles dirigidos, subjetiva e objetivamente, de modo imediato, contra o Estado
como unidade orgânica das instituições políticas e sociais e, por conseguinte,
definidos na Lei de Segurança Nacional, presentes as disposições gerais
estabelecidas nos artigos 1º e 2º do mesmo diploma legal. STF. 1ª Turma. RC 1473,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2017.
O Supremo Tribunal Federal, a partir de interpretação sistemática da Lei nº 7.170/83, assentou que,
para a tipificação de crime contra a segurança nacional, não basta a mera adequação típica da conduta,
objetivamente considerada, à figura descrita no art. 12 do referido diploma legal.
Assim, os crimes da Lei nº 7.170/83 eram, por força da parte inicial do inciso IV do art. 109, da CF/88,
de competência da Justiça Federal por serem classificados como crimes políticos.
Pergunta-se: A Lei nº 14.197/2021 revogou a Lei nº 7.170/83 e inseriu, no Código Penal, algumas
figuras típicas semelhantes àqueles que havia na Lei de Segurança Nacional. Diante disso, indaga-se: os
delitos inseridos pela Lei nº 14.197/2021 são crimes políticos?
R.: Rogério Sanches entende que não. Para ele, não há mais que se falar em crime político no Brasil
porque essa categoria só existiria nos regimes totalitários em que o cidadão luta contra a tirania do Estado.
Como no Brasil vigora um Estado Democrático de Direito, não há mais sentido em se falar em crimes políticos:
“Tal noção, contudo, somente faz sentido quando o delito é cometido sob um
regime não democrático, sendo necessário dar ares de dignidade à conduta
delitiva. Assim, faz todo sentido deixar de extraditar o estrangeiro que esteja sendo
buscado por um Estado no qual a democracia foi abolida, ainda que a ditadura viva
sob disfarce. Todo o arcabouço conceitual visto acima – os conceitos objetivo,
subjetivo ou misto de crime político – ainda pode ser aplicado se o delito for
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cometido em tempo ou lugar em que a democracia não vigore. É dizer, pode ser
aplicado para se evitar a extradição, que poderá representar ao estrangeiro danos
irreparáveis à sua liberdade, higidez física ou vida, e até mesmo em respeito ao
princípio do non-refoulement (não-devolução). O caso Olga Benário, de triste
memória, nos impede de cometer outro erro idêntico.
Com isso, concluímos que, num regime democrático, é dizer, num Estado
Democrático de Direito, o ataque a este deve constituir crime comum, apesar da
motivação política, sem sombra alguma de dignidade, merecendo, ao contrário, o
opróbrio.
A categoria do crime político pode e deve sobreviver onde campeia a tirania, mas
não no solo democrático, onde não há espaço para o conceito. Portanto, nenhum
dos crimes presentes em nosso ordenamento poderá ser considerado político,
ainda que tenha motivação política ou busque atingir o Estado Democrático de
Direito.
A mutação constitucional, porém, resta evidente e as regras dos arts. 102, II, “b”, e
109, IV (primeira figura) igualmente perderam por completo seus conteúdos.”
(CUNHA, Rogério Sanches da; SILVARES, Ricardo. Crimes contra o Estado
democrático de direito. Salvador: Juspodivm, 2021, p.-42).
41
Guardadas as devidas proporções e à luz dos valores trazidos pela Constituição Federal de 1988,
podemos afirmar que a Lei nº 14.197/2021 protege bens jurídicos semelhantes. Logo, faz todo sentido
concluir que os delitos trazidos pelo novo diploma representam os novos crimes políticos de que tratam o
art. 109, IV, da Constituição”.
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Segundo o autor, não parece que irá prevalecer no STF o argumento de que os crimes políticos só
existiram em regimes totalitários. Desde a Constituição Federal de 1988, o Brasil é, indiscutivelmente, um
Estado Democrático de Direito, com governos legitimamente eleitos. Desde 1988, não há que se falar em
ditadura no Brasil.
O STF, já sob a égide desse contexto democrático, decidiu que os crimes políticos de que trata a
Constituição Federal de 1988 eram aqueles tipificados na Lei nº 7.170/83 (requisito objetivo), desde que o
sujeito tenha agido com motivação e objetivos políticos em sua conduta (requisito subjetivo).
Logo, os delitos trazidos pela Lei nº 14.197/2021 são, em regra, crimes políticos porque preenchem
os dois requisitos, de ordem subjetiva e objetiva que eram considerados pelo STF na vigência da Lei nº
7.170/83: “i) motivação e objetivos políticos do agente, e ii) lesão real ou potencial à integridade territorial,
” (STF.
à soberania nacional, ao regime representativo e democrático, à Federação ou ao Estado de Direito.
Plenário. RC 1472, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/05/2016).
Art. 359-P. Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual
ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão de seu
sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional: Pena - reclusão, de 3 (três)
a 6 (seis) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
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democráticas. Logo, a competência seria da Justiça Federal com base na 2ª parte do art. 109, IV, da CF/88
(em detrimento de interesse da União).
· Arts. 359-N e 359-P: Competência da Justiça Eleitoral. Exceção: “no caso do crime do art. 359-P,
quando atenta contra o exercício do mandato, será da Justiça comum, estadual ou federal, a depender do
caso concreto. Impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual ou psicológica, o exercício do
mandato de um parlamentar ou chefe do executivo municipal ou estadual, a competência será da Justiça
estadual. Se o crime visar prejudicar um Congressista ou presidente da República, será da Justiça Federal,
pois patente o interesse da União (art. 109, IV, CF/88).” (ob. cit, p. 182).
· Art. 359-R: será de competência da Justiça Federal apenas se envolver estabelecimentos,
instalações ou serviços destinados à defesa nacional (art. 109, IV, da CF/88).
Obs.: Importante lembrar que, mesmo nos casos em que Sanches entende que a competência é da Justiça
Federal, há enorme relevância no fato de eles dizerem que essa competência é com base na segunda parte
do inciso IV do art. 109 da CF/88 (e não pelo fato de serem crimes políticos).
8. VIGÊNCIA
A Lei nº 14.197/2021 entra em vigor após decorridos 90 dias de sua publicação oficial (02/09/2021),
ou seja, entra em vigor em 01/12/2021.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Manuel de Direito Penal – Parte Especial – Volume Único – Michael Procopio Avelar
- Manual de Direito Penal – Parte especial – 15ª edição – Rogério Sanches Cunha.
- Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br
- Direito Penal: Parte Especial – Arts. 235 a 359-T – v. 3 / André Estefam. – 9. ed. –São Paulo : SaraivaJur.
(Coleção Direito Penal)
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META 5
1. INTRODUÇÃO
Dado o fato de que as crianças estão em constante desenvolvimento, nota-se que, principalmente
nas fases mais tenras, elas expressam experiências traumáticas mediante a utilização de desenhos, fantasias
e outros meios apropriados à sua idade, é imprescindível que profissionais qualificados colham estes
depoimentos, a fim de evitar a revitimização. Portanto, passaram a ser buscados mecanismos que atendam
a essas necessidades de forma adequada." Esta legislação está em total conformidade com os princípios
estabelecidos na Constituição Federal do Brasil.
O artigo 227 da Constituição enfatiza o dever do Estado, da família e da sociedade de garantir, com
absoluta prioridade, os direitos fundamentais de crianças e adolescentes, como o direito à vida e à dignidade,
bem como protegê-los de todas as formas de violência.
2. HISTÓRICO
3. TRATADOS INTERNACIONAIS
O Brasil é signatário de diversos tratados e convenções internacionais voltados para a proteção dos
direitos humanos, incluindo os direitos das crianças e adolescentes. Desde a Declaração dos Direitos da
Criança de Genebra em 1924 até a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989 (entrou em
vigor em 2 de setembro de 1990), o reconhecimento da necessidade de proteção especial para crianças e
adolescentes tem sido uma constante.
A Convenção das Nações Unidas sobre os direitos das crianças assegura às crianças o direito de serem
ouvidas em processos judiciais e compromete os Estados partes a adotar todas as medidas legislativas,
administrativas, sociais e educacionais para proteger a criança contra todas as formas de violência:
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Art. 12, 01. “os Estados partes garantirão à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir
livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em
consideração as opiniões da criança, de acordo com sua idade e maturidade”.
n. 02 “é assegurada à criança a oportunidade de ser ouvida nos processos judiciais e administrativos que
lhe respeitem, seja diretamente, seja através de representante ou de organismo adequado, segundo as
modalidades previstas pelas regras do processo da legislação nacional”.
Art. 19, 1, “os Estados partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais
apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou
tratamento negligente, maus tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a
custódia dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela.”
No mesmo sentido, o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à venda
de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil, promulgado pelo Decreto 5.007/04, e à Resolução
20/05 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas trazem diretrizes sobre crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de crimes.
Fase da vingança privada: a vítima era protagonista do conflito penal, pois a ela incumbia o processo a fim
de responsabilizar o acusado.
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● A Lei n. 13.431/17 tem relação tanto com a política criminal (quer evitar o dano derivado da
revitimização) como com o direito processual penal (disciplina processual da inquirição da
vítima).
5. INFORMAÇÕES GERAS
ATENÇÃO: Para a Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, bem como para o Protocolo Adicional à
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
-se criança pessoa com idade
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, considera
inferior a 18 (dezoito) anos.
● Primeira infância (Lei nº 13.257/16) – período que abrange os 6 (seis) primeiros anos ou 72
(setenta e dois) meses.
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Esta Lei normatiza e organiza o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente
vítima ou testemunha de violência, cria mecanismos para prevenir e coibir a violência, nos termos do art.
227 da Constituição Federal , da Convenção sobre os Direitos da Criança e seus protocolos adicionais, da
Resolução nº 20/2005 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas e de outros diplomas
internacionais, e estabelece medidas de assistência e proteção à criança e ao adolescente em situação de
violência.
• O dispositivo esclarece que principal objetivo da Lei nº 13.431/17 é estabelecer um SISTEMA
DE PROTEÇÃO de direitos voltado especificamente para crianças e adolescentes que são
vítimas ou testemunhas de violência.
• A Lei tem abrangência tanto na seara PROTETIVA, para minimizar os efeitos danosos, como na
seara REPRESSIVA, a fim de responsabilizar os vitimizadores (por exemplo quem comete crime
do artigo 24).
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Art. 2º A criança e o adolescente gozam dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-
lhes asseguradas a proteção integral e as oportunidades e facilidades para viver sem violência e preservar
sua saúde física e mental e seu desenvolvimento moral, intelectual e social, e gozam de direitos específicos
à sua condição de vítima ou testemunha.
• A Constituição Federal de 1988 elevou a nível constitucional o princípio da proteção integral
à criança e adolescente, sendo que a Lei nº 13.431/17 reforça o postulado do microssistema
legal de proteção à infância e adolescência
Parágrafo único. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios desenvolverão políticas
integradas e coordenadas que visem a garantir os direitos humanos da criança e do adolescente no âmbito
das relações domésticas, familiares e sociais, para resguardá-los de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, abuso, crueldade e opressão.
• Para alcançar o objetivo precípuo da lei, é necessária a articulação e integração das instâncias
públicas governamentais e da sociedade civil
● A Lei 13.431/17 insere-se no contexto dos arts. 86 e 87 do ECA.
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto
articulado de ações governamentais e não-governamentai
s, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios.
Art. 87. São LINHAS DE AÇÃO da política de atendimento:
- políticas sociais básicas;
- serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia de proteção social e de
prevenção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;
- serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos,
exploração, abuso, crueldade e opressão;
- serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; -
proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.
- políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e
a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes;
- campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com
necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
Art. 3º Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina
e, especialmente, as condições peculiares da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento,
às quais o Estado, a família e a sociedade devem assegurar a fruição dos direitos fundamentais com absoluta
prioridade.
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Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas de
violência:
I - violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua
integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico;
II - violência psicológica:
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao
adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e
xingamento, ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que possa
comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional;
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este;
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime violento
contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido,
particularmente quando isto a torna testemunha;
entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a
III - violência sexual,
praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em
foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda:
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a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para fins
sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico,
para estimulação sexual do agente ou de terceiro;
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em atividade
sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob
patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico;
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou
o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim
de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano,
abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento,
entre os casos previstos na legislação;
IV - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada,
inclusive quando gerar revitimização.
V - violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluídos os destinados a satisfazer suas necessidades, desde que a medida não se enquadre como
educacional. (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência
● ratio tem aplicação subsidiária
O objetivo de evitar a revitimização está previsto na LMP, cuja
à presente lei.
● Lei n. 13.185/15, Lei de combate ao Bullying: Segundo o art. 1º, §1º da Lei 13.185/15,
considera-se INTIMIDAÇÃO SISTEMÁTICA (bullying) todo ato de violência física ou psicológica,
intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou
grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor
e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
● Comumente, o bullying acontece no ambiente escolar, entre crianças e adolescentes.
Uma das principais inovações trazida pela Lei nº 13.431/17 foi a inclusão da VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL.
Como forma de impedir a vitimização secundária de crianças e adolescentes que sofreram algum tipo de
violência durante a colheita de seus depoimentos ou outros atos correlatos, a Lei nº 13.431/17 incluiu
está modalidade de violência em seu texto legal.
Secundária (ou revitimização): deriva mediatamente do crime, quando o sujeito passivo tem que resgatar
o contexto de violência de que fora vítima para auxiliar na persecução penal do agressor. Então, a
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revitimização cuida da instrumentalização punitiva da vítima, ou seja, o uso instrumental da vítima para
punir o réu.
Terciária: Procede no meio social, que estigma o indivíduo em razão de ele ter sido vítima de determinado
tipo de crime.
§ 1º Para os efeitos desta Lei, a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência
por meio de escuta especializada e depoimento especial.
§ 2º Os órgãos de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça adotarão os
procedimentos necessários por ocasião da revelação espontânea da violência.
● Revelação espontânea: trata-se das ocorrências que envolvam criança ou adolescente de livre
relato, sendo que é recomendável que os profissionais colham o relato sem interferências, a
fim de assegurar a não contaminação das respostas com eventuais induções.
§ 3º Na hipótese de revelação espontânea da violência, a criança e o adolescente serão chamados a
confirmar os fatos na forma especificada no § 1º deste artigo, salvo em caso de intervenções de saúde.
• O objetivo primordial em desobrigar a criança e o adolescente quando há intervenção médica
se respalda na “relação de confiança” entre a criança e o adolescente e o profissional da saúde
a quem o fato foi relatado. Desta forma, caso por exemplo haja a revelação durante eventual
tratamento psicológico, a criança e o adolescente não deverão ser ouvidos novamente,
permanecendo o dever do profissional da saúde em comunicar o que foi relatado.
§ 4º O não cumprimento do disposto nesta Lei implicará a aplicação das sanções previstas na Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
• Por exemplo, a omissão de notificação de casos suspeitos ou confirmados de violência por
parte do profissional da saúde ou educação podem ocasionar a responsabilidade
administrativa destes.
ECA, Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de
ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
● Com base na referida Lei, observa-se que será inadmissível que os órgãos que compõe a rede
de proteção e o sistema de justiça atuem de forma desarticulada ou descoordenada, sob pena
de tornarem os mecanismos da Lei ineficazes.
● Além de configurar um instrumento de prova específico para a proteção de crianças e
adolescentes com o depoimento especial e a escuta especializada, a Lei direciona esforços
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Não basta atender primeiro, mas é preciso atender melhor, e embora a coleta de evidências da violência
praticada seja importante, o bem-estar da criança/adolescente vítima ou testemunha, vem em primeiro
lugar. Assim, se se a inquirição da criança ou do adolescente sobre a situação de violência lhe ocasionar
prejuízo insuportável, a prova que se pretende deve ser produzida por outra maneira que não através de sua
oitiva.
O inciso III corrobora com a imprescindibilidade de se impor SIGILO aos processos e procedimentos judiciais
ou administrativos que envolvam crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de crime, além da
apuração de ato infracional.
Infração ao dever de sigilo – pode resultar em:
1. Infração administrativa – artigo 247 ECA – “Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização
devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial,
administrativo ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional”
2. Crime do artigo 24 da Lei 13.431/17 – “Art. 24. Violar sigilo processual, permitindo que depoimento de
criança ou adolescente seja assistido por pessoa estranha ao processo, sem autorização judicial e sem o
consentimento do depoente ou de seu representante legal”.
IV - ser protegido contra qualquer tipo de discriminação, independentemente de classe, sexo, raça,
etnia, renda, cultura, nível educacional, idade, religião, nacionalidade, procedência regional, regularidade
migratória, deficiência ou qualquer outra condição sua, de seus pais ou de seus representantes legais;
V - receber informação adequada à sua etapa de desenvolvimento sobre direitos, inclusive sociais,
serviços disponíveis, representação jurídica, medidas de proteção, reparação de danos e qualquer
procedimento a que seja submetido;
VI - ser ouvido e expressar seus desejos e opiniões, assim como permanecer em silêncio;
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A criança ou adolescente vítima ou testemunha de crime tem direito de se manter em silêncio, se essa
medida lhe for mais benéfica. Prevalece o direito ao bem-estar do menor em detrimento à persecução penal.
O exercício do direito ao silêncio poderá ocorrer durante o procedimento de escuta especializada ou
depoimento especial, sendo que o profissional deverá orientar acerca da possibilidade de não responder as
perguntas que lhe deixarem desconfortável.
VII - receber assistência qualificada jurídica e psicossocial especializada, que facilite a sua participação
e o resguarde contra comportamento inadequado adotado pelos demais órgãos atuantes no processo;
Tal dispositivo representa forte inovação da legislação brasileira ao tratar a vítima, efetivamente, como um
sujeito de direitos e não como um simples objeto de prova. Reconhece-se “a criança ou adolescente como
protagonista e sujeito de direitos, e não um objeto a ser manejado pelos adultos, ainda que tais adultos se
apresentem sob a capa estatal” (CORDEIRO, Cristiana de Faria)
A qualidade da assistência jurídica que deve ser prestada ao menor pressupõe um órgão especialista na
atuação da defesa da criança e do adolescente, que é, por excelência, o Ministério Público, o qual é
constitucional e legalmente talhado para a defesa dos menores (art. 127, caput e 129 IX da CF).
VIII - ser resguardado e protegido de sofrimento, com direito a apoio, planejamento de sua
participação, prioridade na tramitação do processo, celeridade processual, idoneidade do atendimento e
limitação das intervenções;
IX - ser ouvido em horário que lhe for mais adequado e conveniente, sempre que possível;
Conveniência no momento da oitiva: a disposição legal tem como objetivo assegurar que a criança ou
adolescente a serem ouvidos se sintam o mais à vontade possível na situação, evitando constrangimentos,
como retirá-los da sala de aula ou obrigá-los a faltar na escola.
X - ter segurança, com avaliação contínua sobre possibilidades de intimidação, ameaça e outras formas
de violência;
Link com legislação penal especial e direito penal
Os órgãos de proteção e o sistema judiciário, durante todo o trâmite processual, deverão atestar se há
possiblidade ou se de fato ocorreu algum tipo de intimidação ou outras formas de violência, o que é comum
na prática pois muitas vítimas ou testemunhas são silenciadas pelos agressores que prometem a ocorrência
de um mal para si ou para membros de sua família.
Nesse caso, poderá incidir os crimes de:
1. Coação no curso do processo – artigo 344 do Código Penal: “ Art. 344 - Usar de violência ou grave
ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra
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pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo
arbitral”
2. Violência institucional – Lei de Abuso de Autoridade – “Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou
a testemunha de crimes violentos a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a
reviver, sem estrita necessidade: (Incluído pela Lei nº 14.321, de 2022) I - a situação de violência; ou (Incluído
pela Lei nº 14.321, de 2022) II - outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização:
(Incluído pela Lei nº 14.321, de 2022)”
XI - ser assistido por profissional capacitado e conhecer os profissionais que participam dos
procedimentos de escuta especializada e depoimento especial;
XII - ser reparado quando seus direitos forem violados;
XIII - conviver em família e em comunidade;
XIV - ter as informações prestadas tratadas confidencialmente, sendo vedada a utilização ou o repasse
a terceiro das declarações feitas pela criança e pelo adolescente vítima, salvo para os fins de assistência à
saúde e de persecução penal;
Reitera-se o dever de sigilo das informações prestadas conforme já mencionado.
PROVA EMPRESTADA: a ressalva descrita no final do texto é que essas informações podem ser repassadas
para fins de assistência médica ou diante da persecução penal
. Neste ínterim, permite-se a transferência dos
depoimentos prestados pela criança e adolescente vítima ou testemunha de crime para ser utilizado em
procedimentos diversos, a título de prova emprestada, procedimentos estes sobre os mesmos fatos e
mesmas partes, por exemplo nas ações de destituição ou suspensão do poder familiar, tutela, guarda etc.
Art. 6º A criança e o adolescente vítima ou testemunha de violência têm direito a pleitear, por meio
de seu representante legal, medidas protetivas contra o autor da violência.
Parágrafo único. Os casos omissos nesta Lei serão interpretados à luz do disposto na Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) , na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei
Maria da Penha) , e em normas conexas.
Conceito de medidas protetivas de urgência: Consiste em qualquer medida cautelar decretada pelo
PJ que visa resguardar a vítima, pessoa vulnerável, de um dano iminente que ela possa sofrer derivado de
278
RETA FINAL
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violência que lhe pode ser assacada, por terceiro. Elas somente podem ser impostas pelo juízo porque
envolvem severas restrições a direitos fundamentais das pessoas contra quem são decretadas.
Linha do tempo do microssistema das medidas protetivas de urgência:
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pessoas. Essa vulnerabilidade justifica a aplicação complementar entre si das Lei nº 8.069/90,
Lei 11.340/06, Lei 13.431/17 e 14.344/2022, por exemplo, todas tendo por referência e
parâmetro a Lei nº 11.340/06.
TÍTULO III
DA ESCUTA ESPECIALIZADA E DO DEPOIMENTO ESPECIAL
● Essas medidas (escuta especializada e depoimento sem dano) justificam-se para evitar a
inquirição do menor no ambiente opressor representado pelo fórum, sobretudo o criminal.
● Buscam evitar a revitimização decorrente da violência institucional, pois, sem o emprego de
técnica adequada, a oitiva da criança e do adolescente sobre violência pode acarretar mais
trauma a eles.
280
RETA FINAL
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Art. 7º Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de violência com criança
ou adolescente perante órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao necessário para o
cumprimento de sua finalidade.
281
RETA FINAL
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Decisão: Trata-se de habeas corpus impetrado por Marcelo Giorgetti Junqueira, em favor de J.H.S, contra
decisão do Superior Tribunal de Justiça, nos autos do HC Nº 719602 /SP. […] Na hipótese dos autos, entendo
caracterizada situação ensejadora do afastamento da incidência da Súmula 691/STF. Observem-se trechos
do ato impugnado: “[…] Quanto aos pressupostos exigidos pelo art. 312, constato a prova da existência do
crime do art. 217-A, c/c artigo 226, inciso II, ambos do Código Penal, obviamente para fins de prisão
preventiva (que envolve apenas cognição superficial) e indícios da autoria em razão notadamente da
declaração de fls. 05 e escuta especializada de fls. 31/38 […]Diante dos fatos relatados pela vítima, a
genitora encaminhou a criança para o Hospital Universitário, local onde foi agendado o atendimento coma
psicóloga e realizada a escuta especializada. […] Logo, reputo inexistente ilegalidade manifesta ou
constrangimento ilegal passível de correção pela via estreita do mandamus. Ante o exposto, nego
seguimento ao habeas corpus. Publique-se. Brasília, 3 de fevereiro de 2022. Ministro Gilmar Mendes Relator
(STF, Habeas Corpus n. 211.588/DF. Relator: Ministro Gilmar Mendes, julgado em 3/02/2022, DJe de
7/02/2022).
No mesmo sentido, o STJ também em sede de HC, manteve a prisão preventiva de acusado por estupro de
vulnerável considerando a escuta especializada como prova idônea para a manutenção da prisão do
acusado:
PROCESSO PENAL. […] ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRISÃO PREVENTIVA. NECESSIDADE DE GARANTIA DA
ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA DELITUOSA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL […] 4. In
casu, os indícios de autoria, nos termos da exigência contida no art. 312 do CPP, estão configurados,
conforme consignado no decreto preventivo, na escuta especializada da vítima - com relatos detalhados
de como se deu a ação criminosa -, no laudo de perícia iconográfica de retrato falado - que teve 90% de
semelhança facial com o rosto do acusado -, no auto de reconhecimento fotográfico
- no qual a vítima
reconheceu o réu com total certeza - e no laudo sexológico
- o qual conclui pela presença de sinais de
violência sexual. Ademais, a superveniente condenação no primeiro grau de jurisdição reforça a conclusão
no sentido de ter sido ele autor do delito” (STJ, Habeas Corpus n. 661.882/PA. Relator: Ministro Ribeiro
Dantas, Quinta Turma, julgado em 5/10/2021, DJe de 8/10/2021).
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● Na fase judicial, tendo em vista que o juízo é o destinatário das provas e deve formar sua
convicção para absolver ou condenar o réu, é franqueada a ele a produção de ofício de provas.
Então caso o MP e a defesa não requeiram, o juízo, visando sobretudo ao bem-estar do menor,
pode determinar, ex officio, que este preste o depoimento especial.
● Não deve ser admitida a participação do assiste do MP no depoimento especial – quando
produzido em caráter de prova antecipada no IP ou no PIC, tendo em vista que o assistente de
acusação pode intervir apenas em “todos os termos da ação pública”.
● O depoimento especial, concretiza, na justiça brasileiro, o art. 12 da Convenção sobre Direito
da Criança (promulgada pelo Decreto nº 99.710/1990).
● Igualmente, o instituto materializa o art. 5º, VI da presente Lei.
● Trata-se de meio de produção de prova.
● Permite a criança ou ao adolescente ser ouvido em qualquer processo judicial, preservando-
o, todavia, de danos que lhe possam advir dessa sua inquirição.
● Realização obrigatória – não se tratando de mera faculdade procedimental (Resolução nº
299/2019 CNJ, art. 7º).
● Sua não realização por indeferimento do magistrado pode ser causa de inversão tumultuária
do processo, portanto, pode justificar o deferimento de correição parcial.
● A não observância das formalidades inerentes ao depoimento especial caracteriza nulidade
relativa, a qual, por não ser presumida, somente pode ser reconhecida mediante a
demonstração de prejuízo concreto ao réu.
Art. 9º A criança ou o adolescente será resguardado de qualquer contato, ainda que visual, com o
suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa que represente ameaça, coação ou constrangimento.
Art. 10. A escuta especializada e o depoimento especial serão realizados em
local apropriado e
acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam a privacidade da criança ou do adolescente
vítima ou testemunha de violência.
● MOMENTO PARA A REALIZAÇÃO O DEPOIMENTO ESPECIAL E DA ESCUTA ESPECIALIZADA: a
escuta especializa poderá ser utilizada tanto durante o processo judicial ou investigação
criminal, como em momento anterior à propositura de ambos, vez que o procedimento pode
angariar elementos de informação mínimos. Distinto do que ocorre com o depoimento
especial, que será realizado em sede policial ou judicial, sob um rito específico.
283
RETA FINAL
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É importante que o órgão da persecução penal garanta a comunicação tecnológica entre a sala de audiência
e o profissional que realizará a entrevista, pois, no depoimento especial, é possível a realização de perguntas
às crianças e adolescentes desde que não sejam visualizadas por estas e as perguntas sejam transmitidas
pelo profissional multidisciplinar. Além da tecnologia (por exemplo com a utilização de reunião virtual por
Skype), existe a possibilidade do profissional multidisciplinar utilizar um ponto auricular eletrônico, a fim de
receber as perguntas da sala de audiência sem que a criança ou adolescente ouça. No entanto, muitos
Tribunais entendem que o uso deste aparelho eletrônico não é adequado pois compromete o
desenvolvimento da entrevista.
Art. 11. O depoimento especial reger-se-á por protocolos e, sempre que possível, será realizado uma
única vez, em sede de produção antecipada de prova judicial, garantida a ampla defesa do investigado.
● Evita-se a violência institucional que revitimiza o menor, pois, o menor é inquirido na data mais
próxima do fato de que foi vítima ou que presenciou;
● A princípio, nem o juiz nem a autoridade policial devem ouvir DIRETAMENTE a criança e
adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, a menos que requeiram para serem
ouvidos pelo juiz (art. 12, §1º). Os órgãos da segurança pública, bem como o Poder Judiciário,
devem criar condições para que PROFISSIONAIS QUALIFICADOS efetuem essa oitiva;
● Diante da proximidade do fato, a inquirição tende a ser mais breve, pela vivacidade dos fatos
na mente da criança ou do adolescente;
● Impede-se a inquirição sucessiva por diferentes órgãos do Estado;
● Caráter de produção antecipada de prova (art. 156, I do CPP). Não é necessário nenhum
requisito especial, basta simplesmente que a testemunha ou vítima tenha menos de 07 anos
de idade ou, independentemente da idade, que o caso cuide de violência sexual (art. 11, §1º -
logo abaixo);
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RETA FINAL
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● Deve ser observado o contraditório (prévio ou diferido). Se for prévio, o autor dos fatos – se já
tiver sido identificado – juntamente com seu defensor, deve ser intimado para o ato, sob pena
de nulidade. Se for postergado, diferido ou retardado, haverá a possibilidade de contraditar a
prova resultante do ato, porém, após a sua produção.
§ 2º Não será admitida a tomada de novo depoimento especial, salvo quando justificada a sua
imprescindibilidade pela autoridade competente e houver a concordância da vítima ou da testemunha, ou
de seu representante legal.
DEPOIMENTO ESPECIAL COLHIDO EM SEDE POLICIAL:
Nem sempre a autoridade policial terá a necessidade da oitiva do menor em sede policial. Se existirem outros
elementos de informação mínimos e estritamente necessários para a identificação e a responsabilização do
agente (art. 22 da Lei nº 13.431/17 c/c art. 1º, VI da Resolução CONCPC-2/19), é possível dispensar a oitiva
do menor na fase de inquérito policial. A título de exemplo, quando houver relatório escrito ofertado por
psicólogo, assistente social ou conselheiro tutelar que acolheu/ouviu o relato espontâneo e/ou informal não
invasivo e desprovido de indução de respostas do menor, é possível dispensar o procedimento para evitar a
revitimização.
A autoridade policial somente realizará o depoimento especial caso exista um ambiente adequado,
equipamento de filmagem e profissional devidamente capacitado, conforme as exigências legais. “Sem isso,
a alternativa restante é a colheita de depoimento e ratificação de revelação espontânea e/ou informal ou
juntada de documento da rede de atendimento.” (LESSA, 2022). Ademais, quando for colhido em sede
policial, o depoimento especial poderá ser utilizado como prova (e não como elemento de informação) no
processo judicial, sem a necessidade de repetir tal ato.
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RETA FINAL
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“Tendo em vista que essas exceções então no parágrafo (especificação) de um artigo (regra), defendemos
que o rito se aplica apenas tão somente a esses casos, e não aos demais, onde a autoridade policial, diante
de comprovada emergência ou necessidade para a formação de convicção (sem que exista outro meio),
poderá, diante de mitigação da regra, realizar o depoimento especial independente de licença judicial (e
com o contraditório diferido), desde que disponha dos meios adequados para tanto.” (LESSA, 2022).
Neste ínterim, quando for o caso da necessidade de oitiva da criança ou adolescente em sede policial sob o
rito cautelar de antecipação de prova, entende-se pela necessidade de autorização judicial.
Trata-se de uma fase preliminar onde o profissional inicia a fase de “acolhimento” (recepção humanizada)
criando uma ligação ou empatia com a outra pessoa, esclarecendo informações necessárias. No âmbito da
psicologia, tal técnica é chamada de “Rapport”.
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RETA FINAL
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RETA FINAL
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TÍTULO IV
DA INTEGRAÇÃO DAS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 13. Qualquer pessoa que tenha conhecimento ou presencie ação ou omissão, praticada em local
público ou privado, que constitua violência contra criança ou adolescente tem o dever de comunicar o fato
imediatamente ao serviço de recebimento e monitoramento de denúncias, ao conselho tutelar ou à
autoridade policial, os quais, por sua vez, cientificarão imediatamente o Ministério Público.
Consoante artigo 13, há um dever coletivo de notificar as autoridades em caso de suspeita ou confirmação
de violência contra criança e adolescente. Tal obrigação estende-se a toda A SOCIEDADE, de sorte que para
algumas instituições e profissões, tal omissão poderá ocasionar infração administrativa ou crime.
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RETA FINAL
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Art. 14. As políticas implementadas nos sistemas de justiça, segurança pública, assistência social,
educação e saúde deverão adotar ações articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao
atendimento integral às vítimas de violência.
§ 1º As ações de que trata o caput observarão as seguintes diretrizes:
I - Abrangência e integralidade, devendo comportar avaliação e atenção de todas as necessidades da
vítima decorrentes da ofensa sofrida;
Tal política decorre diretamente do princípio da proteção integral, dado que é necessário identificar de
prontidão as necessidades das vítimas, a fim de evitar a revitimização ou novas violações a seus direitos.
Princípio da intervenção precoce: está previsto no artigo 100, inciso VI do ECA, e dispõe que a atuação das
autoridades deverá ser efetuada logo.
Lembrando que a lei não se limita a criar dispositivos repressivos, mas também incluir mecanismos
destinados à prevenção e assistência, com o objetivo de coibir a violência contra crianças e adolescentes
DISQUE 100
Em âmbito federal, existe o Disque100 como serviço de atendimento aos vulneráveis. O Disque Direitos
Humanos - Disque 100 é um serviço de utilidade pública do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania,
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RETA FINAL
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CAPÍTULO II
DA SAÚDE
Art. 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios PODERÃO criar, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), serviços para atenção integral à criança e ao adolescente em situação de violência,
de forma a garantir o atendimento acolhedor.
Art. 18. A coleta, guarda provisória e preservação de material com vestígios de violência SERÃO
realizadas pelo Instituto Médico Legal (IML) ou por serviço credenciado do sistema de saúde mais próximo,
que entregará o material para perícia imediata, observado o disposto no art. 5º desta Lei.
O artigo 158 do CPP aduz que “Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito
quando se tratar de crime que envolva: II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com
deficiência. (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)”. Visando a prioridade absoluta, HÁ PRIORIDADE NA
REALIZAÇÃO DE EXAME PERICIAL nos crimes que envolvam violência contra criança ou adolescente.
CAPÍTULO III
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 19. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios PODERÃO estabelecer, no âmbito do
Sistema Único de Assistência Social (Suas), os seguintes procedimentos:
I - elaboração de plano individual e familiar de atendimento, valorizando a participação da criança e
do adolescente e, sempre que possível, a preservação dos vínculos familiares;
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RETA FINAL
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Plano individual de atendimento - ECA, artigo 101, § 4 o “Imediatamente após o acolhimento da criança ou
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará
um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem
escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá
contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e princípios desta Lei”
§ 6 o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus
pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e
fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família
substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
CAPÍTULO IV
DA SEGURANÇA PÚBLICA
Art. 20. O poder público PODERÁ criar delegacias especializadas no atendimento de crianças e
adolescentes vítimas de violência.
§ 1º Na elaboração de suas propostas orçamentárias, as unidades da Federação alocarão recursos para
manutenção de equipes multidisciplinares destinadas a assessorar as delegacias especializadas.
291
RETA FINAL
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● Seguindo o princípio da prioridade absoluta previsto no artigo 4º, parágrafo único, alínea “d”
do ECA, haverá destinação prioritária de recursos
§ 2º Até a criação do órgão previsto no caput deste artigo, a vítima será encaminhada
prioritariamente a delegacia especializada em temas de direitos humanos.
§ 3º A tomada de depoimento especial da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência
observará o disposto no art. 14 desta Lei.
Art. 21. Constatado que a criança ou o adolescente está em risco, a autoridade policial requisitará à
autoridade judicial responsável, em qualquer momento dos procedimentos de investigação e
responsabilização dos suspeitos, as medidas de proteção pertinentes, entre as quais:
I - evitar o contato direto da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de violência com o
suposto autor da violência;
II - solicitar o afastamento cautelar do investigado da residência ou local de convivência, em se
tratando de pessoa que tenha contato com a criança ou o adolescente;
III - requerer a prisão preventiva do investigado, quando houver suficientes indícios de ameaça à
criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência;
IV - solicitar aos órgãos socioassistenciais a inclusão da vítima e de sua família nos atendimentos a que
têm direito;
V - requerer a inclusão da criança ou do adolescente em programa de proteção a vítimas ou
testemunhas ameaçadas; e
VI - representar ao Ministério Público para que proponha ação cautelar (DELEGADO REPRESENTA AO
MP – e não ao juiz - E O MP PROPOE A AÇÃO) de antecipação de prova, resguardados os pressupostos legais
e as garantias previstas no art. 5º desta Lei, sempre que a demora possa causar prejuízo ao desenvolvimento
da criança ou do adolescente.
Art. 22. Os órgãos policiais envolvidos envidarão esforços investigativos para que o depoimento
especial NÃO SEJA O ÚNICO meio de prova para o julgamento do réu.
É notório que crimes contra criança e adolescente, principalmente quando envolve violência sexual, são
cometidos na clandestinidade, muitas vezes dentro do âmbito familiar. Dito isso, o testemunho da vítima é
de grande importância como prova. Mas o legislador buscou evitar que uma condenação seja baseada
exclusivamente em uma única forma de evidência.
CAPÍTULO V
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RETA FINAL
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DA JUSTIÇA
Art. 23. Os órgãos responsáveis pela organização judiciária poderão criar juizados ou varas
especializadas em crimes contra a criança e o adolescente.
Parágrafo único. Até a implementação do disposto no caput deste artigo, o julgamento e a execução
das causas decorrentes das práticas de violência ficarão, preferencialmente, a cargo dos juizados ou varas
especializadas em violência doméstica e temas afins.
TÍTULO V
DOS CRIMES
Art. 24. Violar sigilo processual, permitindo que depoimento de criança ou adolescente seja assistido
por pessoa estranha ao processo, sem autorização judicial e sem o consentimento do depoente ou de seu
representante legal.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
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● Qualquer outra conduta que não seja permitir que um terceiro assista ao depoimento especial
é atípica ou poderá caracterizar outro delito autônomo.
● A autorização judicial e o consentimento do depoente para que terceiro assista ao depoimento
especial são causas de atipicidade.
Objeto material
● É o depoimento especial prestado pela criança ou adolescente, na fase judicial (pode ser
qualquer processo judicial – tanto criminal quanto civil).
● Diante da literalidade do art. 24, percebe-se que apenas a violação do sigilo do depoimento
especial prestado na fase judicial tipifica o crime em questão; em caso de depoimento
especial prestado na fase investigativa, perante a polícia judiciária ou o Ministério Público,
a violação do respectivo sigilo não caracteriza o crime sob estudo, mas pode tipificar o crime
do art. 325 do CP, se o sujeito ativo tiver acesso ao depoimento especial por força do seu cargo
ou o crime do art. 154 do CP, se o sujeito ativo tiver acesso ao depoimento especial em razão
de função, ministério, ofício ou profissão. Também a revelação verbal do depoimento especial
(ex.: um dos participantes da audiência conta a terceiro o que foi revelado no depoimento
especial) não tipifica este art. 24, mas o art. 325 ou o art: 154, ambos do CP.
● No conflito aparente entre este art. 24 e os arts. 154 e 325, ambos do CP, deve-se atentar para
a diferença significativa entre os verbos nucleares. O art. 24 é muito mais restrito, pois
incrimina apenas a conduta do sujeito ativo que permite que terceira pessoa, sem autorização
do juízo e consentimento do menor, assista ao depoimento especial. Já os arts. 154 e 325,
ambos do CP, incriminam a conduta de revelar (o art. 325 do CP também tipifica a ação de
facilitar a revelação) de segredo. "Revelar" é muito mais amplo e pode ser praticado por
variadas formas.
● O crime do art. 24 é doloso. Não há previsão de finalidade especial (elemento subjetivo
específico) na conduta do agente tampouco de culpa.
● A consumação ocorre a partir do momento em que o terceiro assiste ao depoimento especial,
seja ao vivo, enquanto ele é realizado, seja por intermédio da sua gravação Trata-se de crime
formal, que independe de qualquer dano naturalístico ao sujeito passivo.
● Cuidando-se de crime plurissubsistente, a tentativa (conatus) é possível.
● AÇÃO PENAL: Diante do silêncio da lei, a ação penal neste crime é pública incondicionada (v.
art. 24 do CPP).
● O presente crime configura infração de médio potencial ofensivo, pois, apesar de permitir o
benefício da suspensão condicional do processo em razão de a pena mínima ser igual a um
ano (art. 89 da Lei n. 9.099/95), a pena máxima é superior a dois anos, o que afasta a
competência do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei n. 9.099/95)
● A competência material será, em regra, da Justiça Estadual. Será competente a Justiça Federal
se o depoimento especial houver sido prestado perante a Justiça Federal.
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RETA FINAL
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TÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 25. O art. 208 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa
a vigorar acrescido do seguinte inciso XI:
“Art. 208. ...........................................................
...................................................................................
XI - de políticas e programas integrados de atendimento à criança e ao adolescente vítima
ou testemunha de violência.
.........................................................................” (NR)
Art. 26. Cabe ao poder público, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias contado da entrada em vigor
desta Lei, emanar atos normativos necessários à sua efetividade.
Art. 27. Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, no prazo máximo de 180 (cento e
oitenta) dias contado da entrada em vigor desta Lei, estabelecer normas sobre o sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, no âmbito das respectivas
competências.
Art. 28. Revoga-se o art. 248 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente) .
Art. 29. Esta Lei entra em vigor após decorrido 1 (um) ano de sua publicação oficial.
Brasília, 4 de abril de 2017; 196º da Independência e 129º da República.
Este texto não substitui o publicado no DOU de 5.4.2017*
7. JULGADOS PERTINENTES
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11.431/2017, não sendo a idade (conforme referido na decisão), por si só, fator
impeditivo. Decisão reformada. RECURSO MINISTERIAL PROVIDO.(Apelação
Criminal, Nº 70082593625, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado em: 06-11-2019). (TJ-RS - APR:
70082593625 RS, Relator: Lizete Andreis Sebben, Data de Julgamento: 06/11/2019,
Quinta Câmara Criminal, Data de Publicação: 14/11/2019). (grifado)
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prejuízo ao acusado, de acordo com o art. 563, do CPP, o que inocorre na hipótese.
- Não Provimento da Correição Parcial.( CORREIÇÃO PARCIAL 0019972-
02.2018.827.0000 - TO: TJ-TO, Primeira Câmara Criminal, Relator: Moura Filho,
julgado em 13/11/2018). (grifado)
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● Disponível em:
https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/766451089/7098336820198070000-
segredo-de-justica-0709833-6820198070000?ref=serp
● Segredo de justiça: impossibilidade de visualizar o inteiro teor
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douta autoridade impetrada, "a Comarca de Nova Odessa foi comtemplada após
a data da realização da audiência neste processo com a capacitação da equipe
técnica e dos Magistrados para a efetivação dos depoimentos" e, pelo fato de se
tratar de réu preso, "não foi possível a esta Magistrada designar audiência de
instrução para data distante a fim de esperar referida implantação" (fl. 42).
Portanto, dependendo de adaptação dos Tribunais para sua efetivação, tem-se que
referida lei não é autoaplicável, de modo que não há se falar em nulidade dos feitos
não alcançados por referida adaptação. Como já decidido por esta Corte em caso
semelhante, "a tomada das declarações só é feita se possível, razão pela qual sua
desatenção não a invalida" (Habeas Corpus nº 2076718-43.2019.8.26.0000, 6a
Câmara Criminal, Relator Desembargador José Raul Gavião de Almeida, julgado em
11 de abril de 2019). De qualquer forma, de acordo com as pertinentes informações
prestadas pela douta autoridade impetrada, "em beneficio da vítima, o ilustre
patrono do réu foi consultado quanto à conveniência de a vítima ser escutada na
presença da assistente social à época, a fim de ser melhor acolhida em audiência,
bem como para que a audiência se aproximasse o quanto possível do formato
previsto na Lei de depoimento especial, e foi o ilustre patrono que colocou
obstáculo à sua realização, conforme constou em ata; diante desse cenário, é
evidente que uma nova oitiva da vítima trará maiores prejuízos a esta e andará na
contramão dos objetivos da Lei, que é evitar submetê-la a novo constrangimento
de ter que falar reiteradas vezes sobre seu caso. Como ela já foi ouvida, não
considero sua oitiva de caráter imprescindível" (fl. 43). Desse modo, inexiste
constrangimento ilegal a ser reparado pela via do presente remédio constitucional.
Da leitura do excerto acima, verifica-se a impossibilidade da comarca, à época do
ato processual, de cumprir o que estabelecido na Lei nº 13.431/2017. Por outro
lado, a norma em destaque foi estabelecida para proteção do menor vítima de
violência sexual, não podendo a norma ser utilizada para apoiar nulidade
processual sem demonstração de prejuízo ao réu. Cumpre ressaltar, sobre o tema,
que no processo penal adota-se o princípio pas de nullité sans grief, que exige a
demonstração de efetivo prejuízo para a parte a fim de justificar a anulação de atos
processuais, o que não ocorre na presente hipótese, porquanto não conseguiu o
ora recorrente demonstrar de que maneira a oitiva do ofendido perante o Juízo
teria prejudicado sua defesa. Nesse sentido: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS
CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. DEPOIMENTO ESPECIAL DE VÍTIMA MENOR.
LEI 13.431/2017. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA ASSEGURADOS. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. RECURSO IMPROVIDO. 1. A Lei 13.431/2017 instituiu procedimentos de
proteção à criança e ao adolescente vítima de violência, prescrevendo o chamado
"depoimento especial" dessa vítima, com oitiva especializada em separado. 2.
302
RETA FINAL
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● Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/diarios/documentos/829280014/andamento-do-
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processo-n-0701068-7820198020055-acao-penal-procedimento-ordinario-
crimes-contra-a-dignidade-sexual-07-04-2020-do-tjal?ref=feed
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CF/88
🡪Art. 1º, III
🡪Art. 5º, I
🡪Arts. 226 a 230
CÓDIGO CIVIL
🡪 Art. 1.634
🡪 Art. 1593
🡪 Art. 1.596
🡪 Art. 1,521, VI
🡪 Art. 1.511
🡪 Art. 1.513
🡪 Art. 1.548
🡪 Art. 1.566, I,
🡪 Art. 1.724
🡪 Art. 1.723, § 1º,
🡪 Art. 1.561
🡪 Art. 1.565, § 2º
🡪 Art. 1.584, § 4º e § 5º
🡪 Arts. 1.635 a 1.638
🡪 Art. 1.727
🡪 Art. 1.790
ECA
🡪 Art. 25
🡪 Art. 28, § 3º
🡪 Art. 42,§2º § 5º
CÓDIGO PENAL
🡪 Art. 235
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1. ENTIDADES FAMILIARES
O Direito de Família passou por mudanças significativas nos últimos anos, principalmente a partir da
Constituição Federal de 1988, em que o Direito Civil passou por uma releitura com viés existencial norteado
pela dignidade da pessoa humana. De acordo com Flávio Tartuce, trata-se do fenômeno da “personalização”
do Direito Civil, ao lado da sua “despatrimonialização”, uma vez que a pessoa é tratada antes do patrimônio.
Perde o patrimônio o papel de ator principal e se torna mero coadjuvante2.
Além disso, as mudanças sociais, econômicas e culturais que ocorreram na sociedade implicaram
numa revisão do conceito de família, para além daquele pautado no modelo patriarcal e da figura do homem
como sendo o chefe da relação conjugal. Nesse sentido, vale destacar que a emancipação feminina teve
grande contribuição no reconhecimento, pelo Direito, de novos modos de convivência familiar.
Na vigência do Código Civil de 1916, considerava-se como família apenas o modelo tradicional
formado pelo casamento de um homem e uma mulher através de um ato formal e solene, baseado no
instituto do matrimônio e com finalidade reprodutiva. As demais relações estabelecidas fora do casamento
eram consideradas ilegítimas e classificadas como concubinato.
Ainda, a relação entre os cônjuges era assimétrica, pois o modelo vigente era patriarcal e
hierarquizado e havia uma relação de subordinação da mulher à figura masculina. O homem era considerado
chefe da família e quem detinha o pátrio poder. Observa-se a relação de submissão da mulher, por exemplo,
1
Nesse primeiro ponto, se utilizou como base também o seguinte artigo: PINHO, Camila de Figueiredo. Do conceito de
família e sua evolução no âmbito do direito. Jusbrasil. Disponível
em:<https://camilap93.jusbrasil.com.br/artigos/311632672/do-conceito-de-familia-e-sua-evolucao-no-ambito-do
direito#:~:text=Surge%2C%20enfim%2C%20a%20fam%C3%ADlia%20%E2%80%9C,de%20emancipa%C3%A7%C3%A3o
%20de%20seus%20membros%E2%80%9D.>
2
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único/Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.
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na redação original do art. 6º, II, do Código Civil de 1916, em que era previsto que a mulher casada era
considerada relativamente incapaz, enquanto subsistisse a sociedade conjugal.
Havia também distinção de tratamento jurídico entre filhos legítimos – aqueles concebidos durante
o casamento – e ilegítimos – aqueles concebidos em relação extramatrimoniais.
Ademais, a proteção conferida aos filhos biológicos também era desigual à conferida aos filhos
adotivos, tendo em vista que a adoção não produzia os mesmos efeitos jurídicos que a filiação biológica.
Exemplo dessa desigualdade era a norma que previa que com a morte dos adotantes cessava o vínculo
familiar, negando-se, dessa forma, o direito à herança aos filhos adotivos.
O casamento possuía a natureza jurídica de instituição, tendo em vista que o instituto da família era
o cerne de proteção do Direito, e não o indivíduo. Em decorrência dessa proteção, o casamento era
indissolúvel. Havia apenas a figura do desquite que possibilitava a dissolução da sociedade conjugal, mas
conservava íntegro o vínculo matrimonial.
Apenas em 1977 sobreveio a Emenda Constitucional n. 9 que pôs fim à indissolubilidade do
casamento, bem como a Lei 6.515/77 que inseriu o divórcio no ordenamento jurídico brasileiro. Além disso,
a Lei 6.515/77, conhecida como Lei do Divórcio, passou a chamar de separação judicial o que era previsto
como desquite.
Assim, com o desenvolvimento das relações, sobreveio a Constituição Federal de 1988 que alterou
substancialmente o tratamento jurídico conferido à Família e trouxe novos paradigmas, norteado,
principalmente, pelos princípios da igualdade, solidariedade e respeito à dignidade da pessoa humana.
CF, art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão
em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente
pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao
Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito,
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Analisando o referido dispositivo, se verifica que a primeira modificação importante diz respeito ao
alargamento e flexibilização do conceito jurídico de família. Os §§ 3º e 4º do art. 226 da Constituição Federal,
ao seguir o princípio da pluralidade, superam o antigo modelo matrimonializado, eis que a norma
constitucional reconhece como entidade familiar não apenas a formada pelo casamento, mas também a
união estável e a família monoparental. Ademais, a doutrina majoritária, bem como a jurisprudência dos
Tribunais Superiores entendem que as entidades familiares expressas no texto constitucional são
meramente exemplificativas, tendo em vista que o “caput” do art. 226 da CF/88 traz uma cláusula geral de
inclusão ao proteger a família, independente do modelo adotado.
Ainda, o princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros previsto no art. 226, § 5º, e no art.
5º, I, ambos da Constituição Federal, bem como o princípio da igualdade entre os filhos previsto no art. 227,
§6º, também da Constituição Federal, rompem com o antigo modelo patriarcal e hierarquizado, formando
um modelo de família igualitário e democrático.
Importante mencionar que a Lei Maria da Penha trouxe um conceito legal de família (art. 5º, II, Lei
11.340/06) pautado no princípio constitucional da pluralidade de entidades familiares ao prever que a família
é a compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 6: direito de família. 15. ed. – São Paulo: Saraiva Educação,
2018.
315
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unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. Ainda, o parágrafo único do art. 5º da Lei
Maria da Penha tutela as relações familiares independentemente de orientação sexual.
Ademais, a família deixa de ser vista como uma instituição e passa a ser vista como um instrumento,
não sendo um fim em si mesma, mas um meio para a busca da felicidade e realização pessoal de cada
indivíduo4.
Assim, em vista da característica instrumental da família, com base no direito à busca da felicidade
como corolário da dignidade da pessoa humana, surge o conceito “eudemonista” de família para Maria
Berenice Dias5.
Importante mencionar que o STF reconhece o direito à busca da felicidade como um princípio
implícito decorrente da dignidade da pessoa humana, conforme se percebe na decisão publicada no
Informativo 840 que segue:
4
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho. Manual de direito civil; volume único. – 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
5
DIAS, Maria Berenice. 10ª ed., São Paulo, 2015.
316
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em modelos pré-concebidos pela lei. (STF, RE 898.060/SC, Tribunal Pleno, Rel. Min.
Luiz Fux, j. 21.09.2016, publicado no seu Informativo n. 840).
317
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Como visto no primeiro tópico, o conceito contemporâneo de família foi alargado pela CF/88,
admitindo-se, assim, uma visão plural de entidades familiares, baseada no afeto e na busca pela felicidade
(conceito eudemonista).
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A doutrina majoritária entende que o art. 226, “caput”, da Constituição Federal traz uma cláusula
geral de inclusão, contemplando outras formas de entidades familiares além das expressas nos parágrafos
do mesmo artigo da CF/88. O “caput” do art. 226 da Constituição Federal possui a seguinte redação:
Extrai-se, assim, que a proteção especial decorrente do texto constitucional é dirigida a toda e
qualquer família considerada de forma ampla como corolário do princípio da igualdade e da dignidade da
pessoa humana. Os Tribunais Superiores também entendem que a ordem constitucional vigente traz um rol
meramente exemplificativo (numerus apertus) de entidades familiares, devendo ser protegidos os modelos
de família diversos do tradicional.
Os §§ 3º e 4º do art. 226 da Constituição Federal, ao seguir o princípio da pluralidade, superam o
modelo antigo matrimonializado, eis que a norma constitucional expressamente reconhece como entidade
familiar não apenas a formada pelo casamento, mas também a união estável e a família monoparental.
Ainda, a doutrina entende que há 3 requisitos para que se constitua uma entidade familiar: (a)
afetividade; (b) estabilidade – distinguindo-se dos relacionamentos eventuais ou esporádicos e (c)
ostensibilidade.
afeto,
Assim, o modelo contemporâneo de família assume uma visão pluralista, centrada no
contemplando uma diversidade de relações familiares existentes.
a) Família matrimonial: decorrente do casamento civil. Art. 226, §§ 1º e 2º, CF/88. O casamento
religioso tem efeito civil.
b) Família decorrente da união estável. Art. 226, § 3º, CF/88.
c) Família homoafetiva: decorrente da união de pessoas do mesmo sexo. A expressão “união
homoafetiva” foi criada por Maria Berenice Dias, e a maioria da doutrina contemporânea prefere utilizar essa
expressão a utilizar “união homossexual”, pois os membros dessa entidade familiar estão ligados pelo afeto
e não apenas pela sexualidade6. Importante destacar que as entidades familiares formadas por pessoa
transexual e intersexual possuem a mesma proteção.
O STF, em 2011, reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar, entendendo que essa
união deve seguir as mesmas regras e consequências da união estável heteroafetiva (ADPF 132/RJ e ADI
4.277). Já o STJ, além de seguir o mesmo entendimento do STF, reconhece juridicamente o casamento civil
entre pessoas do mesmo sexo, eis que o art. 226, §3º, Constituição Federal determina que seja facilitada a
conversão da união estável em casamento (REsp. 1.183.378/RS).
6
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho. Manual de direito civil; volume único. – 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
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d) Família monoparental: constituída pelo vínculo existente entre um dos genitores com seus filhos,
conforme expressamente prevista no art. 226, § 4º, CF/88.
e) Família anaparental ou solidária: é a família sem pais. Formada por pessoas que convivem e
possuem identidade de propósitos, ainda que não sejam parentes e sem conotação sexual. Dentro desse
conceito de família anaparental ou solidária, destaca-se decisão do STJ que reconheceu essa entidade familiar
em decisão que considerou como bem de família um imóvel em que residiam duas irmãs solteiras. (STJ, REsp
57.606/MG, 4.a Turma, Rel. Min. Fontes de Alencar, j. 11.04.1995, DJ 15.05.1995, p. 13.410).
Importante também outra decisão do STJ que reconheceu a família anaparental ao permitir a adoção
de uma criança por dois irmãos:
Pelo texto do ECA, a adoção conjunta somente pode ocorrer caso os adotantes
sejam casados ou vivam em união estável. No entanto, a 3ª Turma do STJ relativizou
essa regra do ECA e permitiu a adoção por parte de duas pessoas que não eram
casadas nem viviam em união estável. Na verdade, eram dois irmãos (um homem
e uma mulher) que criavam um menor há alguns anos e, com ele, desenvolveram
relações de afeto. (STJ. 3ª Turma. REsp 1217415-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 19/6/2012).
7
ROSA, Conrado Paulina da. Direito de Família Contemporâneo. Salvador: Juspodivm, 2021, p. 424-425
320
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g) Família extensa ou ampliada: prevista na Lei 12.010/2009 e no art. 25 do ECA, consiste naquela
que excede a unidade de pais e filhos ou do casal, sendo constituída por parentes próximos com os quais o
menor (criança ou adolescente) convém e mantém vínculos de afinidade e afeto.
h) Família paralela ou simultânea: esse modelo consiste, basicamente, na possibilidade de uma
mesma pessoa pertencer a vários núcleos familiares distintos. De forma exemplificativa, seria o
reconhecimento de uma mesma pessoa “A” estar casada com “B” e, simultaneamente, também manter
união estável com C.
Obs.: a concorrência de dois casamentos não é possível, pois, além de ser considerada crime (art.
235, do Código Penal), há previsão do impedimento matrimonial (art. 1.521, VI, Código Civil), acarretando a
nulidade absoluta do segundo casamento (art. 1.548, CC)8.
Há divergência na doutrina e na jurisprudência quanto ao reconhecimento jurídico da família paralela
ou simultânea como entidade familiar.
Antes de adentrar na discussão, observa-se que o Código Civil elenca a fidelidade como um dever a
ser cumprido por ambos os cônjuges na constância do casamento (art. 1.566, I, CC); já em relação à união
estável, há o dever de lealdade a ser cumprido entre os companheiros (art. 1.724, CC). Ainda, o art. 1.723, §
1º, Código Civil reconhece a nova união estável caso haja separação de fato na relação anterior.
Dessa forma, a primeira divergência circula em torno de se considerar ou não a monogamia como
um valor tutelado pelo ordenamento jurídico vigente e caso seja considerada, quais seriam os efeitos
jurídicos que surtiriam da quebra desse princípio ou regra.
Parte da doutrina, ainda que sustente que a monogamia consiste num princípio orientador das
relações familiares, entende que a quebra do dever de fidelidade ou lealdade não afasta a possibilidade do
reconhecimento jurídico da segunda união estável formada. Outra parte, entendendo a monogamia como
um princípio, inadmite a coexistência de entidades familiares. Ainda, há quem sustente que a monogamia
não é um princípio acolhido pelo ordenamento jurídico contemporâneo.
Surge então a discussão sobre qual a solução jurídica em caso de existência de um casamento
paralelo a uma união estável ou de uniões estáveis concomitantes.
Em relação especificamente de uniões estáveis concomitantes, há três correntes9:
8
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flavio. Famílias paralelas visão atualizada. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bi
bli_informativo/bibli_inf_2006/RPensam-Jur_v.13_n.2.11.pdf.
9
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flavio.
Famílias paralelas visão atualizada. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bi
bli_informativo/bibli_inf_2006/RPensam-Jur_v.13_n.2.11.pdf.
321
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(1) a primeira corrente entende que nenhuma união estável restará configurada, em face do princípio da
monogamia. Essa corrente é adotada pelo STJ.
(2) a segunda corrente entende que apenas primeira união estável será considerada e as demais relações,
em caso de boa-fé, serão reconhecidas como uniões estáveis putativas, em analogia ao art. 1.561 do Código
Civil que trata acerca do casamento putativo. Esse é o entendimento de Flávio Tartuce.
(3) a terceira corrente entende pelo reconhecimento jurídico de todas uniões estáveis, em face do
princípio da dignidade da pessoa humana, da afetividade, mínima intervenção estatal e igualdade.
Já a jurisprudência dos Tribunais Superiores, em regra, não reconhece a possibilidade de coexistência
de modelos familiares, independentemente se for um casamento concomitante a uma união estável ou
uniões estáveis plúrimas.
Nesse sentido, o STF fixou a seguinte tese de repercussão geral:
h) Família poliafetiva: consiste no núcleo familiar formado por 3 ou mais pessoas que se relacionam
afetivamente de forma recíproca, compartilhando entre si uma relação amorosa e com plena ciência de todos
os envolvidos. Aqui, há apenas um núcleo familiar, diferentemente das uniões paralelas ou simultâneas.
322
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A dignidade da pessoa humana encontra-se prevista no art. 1º, III, CF/88 e consiste num dos
fundamentos da República Federativa do Brasil. Não por acaso, é também denominado “superprincípio” ou
“princípio dos princípios”, uma vez que norteia toda a ordem jurídica, sendo a pessoa humana o foco de
proteção. Da mesma forma, o princípio da dignidade da pessoa humana torna-se o cerne do Direito de
Família e a pessoa passa a ser o foco de proteção dos institutos jurídicos familiares.
De acordo com Flávio Tartuce, não há ramo do Direito privado em que a dignidade da pessoa humana
tem maior ingerência ou atuação do que o Direito de Família, devendo a análise ser feita a partir da realidade
do ser humano, considerado o seu contexto social.
Nesse sentido, para exemplificar, vale mencionar que a jurisprudência, com base em tal princípio, já
admitiu a condenação de pais a indenizarem seus filhos em virtude de abandono afetivo (tese do abandono
paterno-filial – teoria do desamor).
Vale destacar também o direito à busca pela felicidade, considerado como um princípio
constitucional implícito, com força normativa. De acordo com o entendimento do STF, decorre da dignidade
da pessoa humana. Veja:
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O princípio em tela encontra-se previsto nos art. 5º, I e 226, § 5º, ambos da Constituição Federal e
no art. 1.511 do Código Civil, conforme dispositivos que seguem:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
10
CF, Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
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Art. 1.511 do CC: O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.
Assim, percebe-se que a Constituição Federal de 1988, ao prever a igualdade de deveres e direitos
entre os cônjuges e companheiros, rompe com o modelo patriarcal e hierarquizado centrado na figura do
homem como chefe da família e de submissão da mulher que era o existente na época do Código Civil de
1916. O Código Civil de 2002, acompanhando essas transformações, também estabeleceu o princípio da
igualdade.
E no mesmo sentido, o artigo 1.634 do Código Civil confere a ambos os cônjuges, o pleno exercício
do poder familiar e como bem observa Flávio Tartuce11, da igualdade entre os cônjuges e companheiros surge
também a igualdade na chefia familiar, que pode ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher em
um regime democrático de colaboração, podendo inclusive os filhos opinar (conceito de família
democrática), substituindo-se a expressão pátrio poder, por poder familiar.
A igualdade entre os filhos encontra-se prevista no art. 227, § 6º, da Constituição Federal e no art.
1.596 do Código Civil.
11
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020.
325
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Art. 1.596 do CC: Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.
Na vigência do Código Civil de 1916, havia distinção de tratamento jurídico entre filhos legítimos –
aqueles concebidos durante o casamento – e ilegítimos – aqueles concebidos em relação extramatrimoniais.
Igualmente, a proteção conferida aos filhos biológicos também era desigual à conferida aos filhos adotivos,
tendo em vista que a adoção não produzia os mesmos efeitos jurídicos que a filiação biológica.
Assim, a Constituição Federal de 1988 rompe com essas distinções de tratamento jurídico, bem como
atualmente não se usa mais os termos filho legítimo,
proíbe quaisquer designações discriminatórias, ou seja,
ilegítimo e adotivo, pois são termos que remontam a distinções discriminatórias vigentes anteriormente.
No mesmo sentido, há de se falar acerca da tese fixada em Repercussão Geral pelo STF (informativo
840) da igualdade entre a filiação biológica e socioafetiva, inclusive para fins sucessórios; e a decisão do STJ
(informativo 649) que também iguala a filiação através de técnica reprodução assistida heteróloga. Há, aqui,
o que a doutrina chama de Desbiologização do Direito de Família.
O art. 1.593 do Código Civil estabelece que a relação de parentesco pode resultar de outra origem.
Assim, com base nesse dispositivo extrai-se a igualdade de filiação advinda de outra origem, como é o caso
da socioafetiva ou por reprodução assistida heteróloga.
326
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Cumpre, por fim, observar que a proteção à família também é considerada essencial nos Tratados de
Direitos Humanos. Nesse sentido, menciona-se o artigo 17 da Convenção Americana de Direitos Humanos
que também estabelece o princípio da igualdade nas relações familiares como vetor.
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5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nascidos fora do
casamento como aos nascidos dentro do casamento.
O princípio da mínima intervenção estatal encontra-se previsto no art. 1.513 do Código Civil.
Já o art. 227, § 7º, da Constituição Federal (art. 1.565, § 2º, CC no mesmo sentido), ao tratar do
planejamento familiar, também garante o princípio da autonomia e liberdade dos indivíduos e da menor
intervenção estatal, conforme segue:
Assim, através do princípio em tela, o indivíduo possui liberdade e autonomia para escolher a forma
que deseja se relacionar, eis que a família é vista como um meio de promover a realização pessoal de seus
membros e garantir o direito à busca da felicidade. Dessa forma, prevalece a autonomia privada e a
intervenção do Estado nas relações familiares deve ocorrer apenas de forma excepcional, como “ultima
ratio”, consistindo num verdadeiro Direito de Família Mínimo.
328
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Retornando à análise do art. 1.513 do CC deve-se ter muito cuidado na sua leitura.
Isso porque o real sentido do texto legal é que o Estado ou mesmo um ente privado
não pode intervir coativamente nas relações de família. Porém, o Estado poderá
incentivar o controle da natalidade e o planejamento familiar por meio de
políticas públicas. A CF/1988 consagra a paternidade responsável e o planejamento
familiar, devendo o Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desses direitos, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais e privadas (art. 226, § 7º, da CF/1988). Ademais, o Estado deve
assegurar a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações (art. 226, § 8º, da
CF/1988)12. [destaque nosso]
Como visto nos tópicos 1.1 e 1.2, o conceito contemporâneo de família foi alargado pela CF/88,
admitindo-se, assim, uma visão plural de entidades familiares, em vista do princípio da pluralidade de
entidades familiares, baseada no afeto e na busca pela felicidade (conceito eudemonista).
caput”,
A doutrina majoritária entende que o art. 226, “ da Constituição Federal traz uma cláusula
geral de inclusão, contemplando outras formas de entidades familiares além das expressas nos parágrafos
do mesmo artigo da CF/88. O “caput” do art. 226 da Constituição Federal possui a seguinte redação:
Extrai-se, assim, que a proteção especial decorrente do texto constitucional é dirigida a toda e
qualquer família considerada de forma ampla como corolário do princípio da igualdade e da dignidade da
pessoa humana.
Os §§ 3º e 4º do art. 226 da Constituição Federal ao seguir o princípio da pluralidade, superam o
modelo antigo matrimonializado, eis que a norma constitucional expressamente reconhece como entidade
familiar não apenas a formada pelo casamento, mas também a união estável e a família monoparental.
Ainda, o Supremo Tribunal Federal também entende que a ordem constitucional vigente traz um rol
meramente exemplificativo (numerus apertus) de entidades familiares, devendo ser protegidos os modelos
de família diversos do tradicional. Percebe-se esse entendimento no julgado a seguir publicado no
Informativo 840:
12
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único/Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.
329
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familiares.
O fim expressamente assentado pelo texto legal
- colocação do adotando em
família estável - foi plenamente cumprido, pois os irmãos, que viveram sob o
mesmo teto, até o óbito de um deles, agiam como família que eram, tanto entre si,
como para o então infante, e naquele grupo familiar o adotado se deparou com
relações de afeto, construiu - nos limites de suas possibilidades - seus valores
sociais, teve amparo nas horas de necessidade físicas e emocionais, em suma,
encontrou naqueles que o adotaram, a referência necessária para crescer,
desenvolver-se e inserir-se no grupo social que hoje faz parte.
Nessa senda, a chamada família anaparental - sem a presença de um ascendente -
, quando constatado os vínculos subjetivos que remetem à família, merece o
reconhecimento e igual status daqueles grupos familiares descritos no art. 42, §2,
do ECA. (STJ, REsp 1217415/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/06/2012, DJe 28/06/2012)
O afeto tornou-se um valor juridicamente tutelado, sendo elevado a um princípio jurídico, decorrente
da dignidade da pessoa humana.
Assim, o princípio da afetividade ganhou novos contornos a partir da Constituição Federal de 1988,
eis que o conceito jurídico de família foi alargado, tornando-se o vínculo afetivo o foco de análise das
relações familiares desenvolvidas pelos indivíduos.
Nas palavras de Maria Berenice Dias13, “é o envolvimento emocional que leva a subtrair um
relacionamento do âmbito do direito obrigacional – cujo núcleo é a vontade – para inseri-lo no direito das
famílias, que tem como elemento estruturante o sentimento do amor que funde as almas e confunde
patrimônios, gera responsabilidades e comprometimentos mútuos”.
A afetividade, inclusive, é referida em dispositivos da legislação infraconstitucional, especialmente
no Estatuto da Criança e Adolescente e no Código Civil. O art. 25, parágrafo único, do ECA, por exemplo, traz
o conceito de família extensa ou ampliada com base no afeto. Por sua vez, o art. 28, § 3º, do ECA, trata da
colocação da criança ou adolescente em família substituta e traz como vetor de orientação judicial a análise
do afeto entre os envolvidos:
13
DIAS, Maria Berenice. 10ª ed., São Paulo, 2015.
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Ademais, o art. 1.584, § 5º, do Código Civil também traz o afeto como vetor de orientação ao dispor
sobre a guarda:
Ainda, Pablo Stolze ressalta14, ao analisar o art. 1.584, § 5º, Código Civil, que “nítida, aliás, nesse
ponto, é a evolução legislativa, por conta do abandono do princípio da culpa, e a substituição pela
afetividade, segundo o interesse dos filhos”.
O art. 226 da Constituição Federal considera a família como “base da sociedade”. E nessa perspectiva
contemporânea de se considerar a família em seu caráter instrumental e não um fim em si mesma que se
14
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho. Manual de direito civil; volume único. – 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
15
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2020.
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verifica que sua função social é realização pessoal de cada um dos seus membros, ou seja, um meio social
para a busca de nossa felicidade na relação com o outro16.
Vale destacar, ainda, que a função social da família deve ser interpretada à luz do contexto social e
das peculiaridades regionais de cada lugar. Com base nisso, e tendo em vista que o Direito deve acompanhar
as transformações sociais, tal princípio pode ser utilizado para fundamentar a união afetiva, o parentesco
civil decorrente da paternidade socioafetiva, a igualdade entre cônjuges e companheiros e a inserção de
crianças e adolescentes em suas famílias naturais ou substitutas.
A solidariedade social constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art.
3º, I, CF/88). O princípio da solidariedade no âmbito familiar consiste no dever de assistência material e moral
mútua entre todos os familiares.
O princípio da solidariedade familiar fundamenta vários dispositivos no Código Civil, como por
exemplo: o dever de assistência mútua aos cônjuges (art. 1.566, III, CC) e aos companheiros (art. 1.724, CC);
o pagamento de alimentos com base no “caput” do art. 1.694, do CC17; a responsabilidade civil dos pais em
relação aos filhos (arts. 932, I e 933, CC); entre outros institutos.
16
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho. Manual de direito civil; volume único. – 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
17
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem
para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. (...)
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A doutrina moderna vem acrescentando também o princípio da boa-fé objetiva como base para o
Direito de Família. Nesse sentido, o STJ já se posicionou:
“(...) nas relações familiares, o princípio da boa-fé objetiva deve ser observado e
visto sob suas funções integrativas e limitadoras, traduzidas pela figura do venire
contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório), que exige
coerência comportamental daqueles que buscam a tutela jurisdicional para a
solução de conflitos no âmbito do Direito de Família”. (STJ, REsp 1.087.163/RJ, 3.ª
Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18.08.2011, DJe 31.08.2011).
Vale lembrar que a boa-fé objetiva possui três funções, de acordo com o Código Civil, a saber: função
interpretativa (art. 113, “caput”), função de controle (art. 187, CC) – a fim de afastar o abuso de direito – e,
por último, função de integração (art. 422, CC).
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