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MANUAL DE FÍSICA

PARA FORMAÇÃO
MÉDIA TÉCNIC A

10.ª e 11.ª CLASSES

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

ÍNDICE

Prefácio ............................................................................................................................. 7
1- Conceitos Introdutórios............................................................................................. 8
1.1- Introdução......................................................................................................... 8
1.2 - Grandezas físicas........................................................................................... 8
1.3 – Sistema de Unidades................................................................................... 20
1.4 - Noções Básicas da Trigonometria.......................................................... 21

Parte 1: Mecânica. .............................................................................................................. 25


Unidade 1- Movimento de uma Partícula Material.................................................. 26

1.1 - Ponto Material........................................................................................................... 26


1.1.1 - Relatividade do movimento.................................................................. 27
1.2 - Trajectória................................................................................................................... 27
1.3 - Deslocamento............................................................................................................ 28
1.3.1- Origem dos Espaços................................................................................... 28
1.4 - Velocidade................................................................................................................... 29
1.4.1 - Velocidade Média....................................................................................... 29
1.4.2 - Velocidade Instantânea........................................................................... 33
1.5 - Movimento Rectilíneo e Uniforme.................................................................... 34
1.5.1- Aceleração...................................................................................................... 39
1.6-Movimento rectilíneo............................................................................................... 42
1.6.1- Movimento rectilíneo uniformemente variado............................. 42
1.6.2 - Queda de um Corpo.................................................................................. 51
1.6.3 - Ascensão de um Corpo............................................................................ 53
1.7 - Movimento circular................................................................................................. 56
1.7.1 - Movimento circular uniforme.............................................................. 57
1.8 - Movimento circular variado................................................................................ 59

Unidade 2 - Interacções entre Corpos............................................................................. 62

2.1- Força ............................................................................................................................. 62


2.2 - Leis de Newton......................................................................................................... 69

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

ÍNDICE

2.2.1 - Lei da Inércia............................................................................................... 69


2.22 - Lei Fundamental da Dinâmica ............................................................. 71
2.2.3 - Lei da Acção e Reacção............................................................................ 73
2.3 - Impulso e quantidade de movimento…………………………......................... 75
2.3.1- Impulso de uma Força.............................................................................. 81

Unidade 3 - Trabalho e Energia........................................................................................... 84

3.1 - Trabalho de uma Força Constante.................................................................... 84


3.2 - Trabalho de uma Força Variável........................................................................ 87
3.3 - Potência........................................................................................................................ 89
3.4 - Energia potencial..................................................................................................... 91
3.4.1 - Energia Potencial Elástica...................................................................... 92
3.5 - Energia Cinética - Teorema de Trabalho e Energia................................... 96
3.6 - Lei de Conservação da Energia Mecânica...................................................... 98

Parte 2: Fenómenos Térmicos…………………………………………...................... 101


Unidade 1- Energia Térmica................................................................................................. 102

1.1 Temperatura................................................................................................................. 102


1.1.1 Escalas Termométricas.............................................................................. 103
1.1.2 -Relações entre as Escalas Termométricas....................................... 104
1.2 - Dilatação dos Sólidos.............................................................................................. 107
1.2.1 -Dilatação Linear.......................................................................................... 107
1.2.2 - Dilatação Superficial................................................................................. 110
1.2.3 -Dilatação Volumétrica............................................................................... 111
1.3 - Transmissão de Calor............................................................................................. 112
1.4 - Capacidade Calorífica............................................................................................. 114
1.5 - Equilíbrio Térmico................................................................................................... 118

Unidade 2 - Equação de Estado de um Gás Perfeito................................................ 120

2.1 - Leis dos Gases…………………………………………………….................................. 120

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

ÍNDICE

2.2 - Processo Isotérmico: Lei de Boyle – Mariotte............................................. 124


2.3 - Processo Isobárico: (Gay-Lussac)..................................................................... 126
2.4 - Processo Isocórico : Lei de Jacques Charles............................................... 129
2.5 - Cálculo Cinético da Pressão................................................................................. 132
2.6 - Interpretação Cinética da Temperatura......................................................... 133
2.7 - Dilatação dos Gases................................................................................................. 137
2.7.1 - Energia Interna do Gás Perfeito..................................................................... 137
2.7.2 - Trabalho Realizado pelo Gás........................................................................... 140
2.8 - Experiência de Joule............................................................................................... 141

Unidade 3 - Termodinâmica.................................................................................................. 144

3.1 - Primeira Lei da Termodinâmica........................................................................ 144


3.1.1 -Transformação Isotérmica...................................................................... 144
3.1.2 - Transformação Isobárica........................................................................ 145
3.1.3 - Transformação Isocórica ou Isométrica.......................................... 146
3.1.4 - Transformação Adiabática..................................................................... 146
3.1.5 - Transformações Cíclicas......................................................................... 148
3.2 - A Segunda Lei da Termodinâmica.................................................................... 151
3.2.1 - Transformações Reversíveis................................................................. 152
3.2.2 - Transformações Irreversíveis............................................................... 152
3.3 - Máquinas Térmicas................................................................................................. 154
3.3.1 - Rendimento de uma Máquina Térmica............................................ 155
3.3.2 - O Ciclo de Carnot........................................................................................ 156
3.4 - A Conservação da Energia.................................................................................... 158
3.5 - A Energia Térmica: Uma Energia “Degradada”........................................... 159

Parte 3: Electrostática e Corrente Eléctrica contínua....................... 63


Unidade 1- Interacção Electrostática............................................................................... 164

1.1- Conceito de Cargas (Lei da Conservação da Carga)................................... 164


1.2 -Lei de Coulomb - Permitividade Elétrica do Meio...................................... 166

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

ÍNDICE

1.3 - Campo Electrostático............................................................................................. 168


1.4 - Trabalho do Campo Eléctrico............................................................................. 172
1.5 - Potencial Eléctrico................................................................................................... 175
1.6 - Capacidade Eléctrica.............................................................................................. 175
1.6.1 - Condensadores (Capacitores).............................................................. 178
1.6.2 - Energia do condensador carregado................................................... 178
1.6.3 - Energia do condensador carregado................................................... 179

Unidade 2 - Corrente Eléctrica Contínua....................................................................... 182

2.1 - Corrente Eléctrica.................................................................................................... 182


2.1.1 - Mecanismo da Condução da Corrente Eléctrica........................... 183
2.2 - Resistência de um Condutor Eléctrico (Resistividade)......................... 186
2.3 - Lei de Ohm para Segmento de um Circuito.................................................. 189
2.4 - Trabalho e Potência Eléctrica............................................................................. 192
2.5 - Energia dissipada num Condutor: Efeito Joule........................................... 193
2.6 - Força Electromotriz (f.e.m. eResistência Interna)..................................... 194
2.8 - Leis de Kirchhoff...................................................................................................... 204

Bibliografia............................................................................................................................ 215

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Prefácio
No quadro da Reforma Educativa na República de Angola, o Ministério da Educação através
do INIDE, propôs a elaboração de manuais didácticos para o Subsistema do Ensino Técnico
Profissional em Angola a fim de colmatar a falta de meios didácticos de ensino para corres-
ponder às exigências e objectivos de um ensino segundo normas universais.

É assim que um grupo deprofessores angolanoscom larga experiência no ensinode Física, juntou
esforços para elaborar o presente manual que, por certo, vai contribuir no aperfeiçoamento e
melhoria do ensino da Física e regular os procedimentos didácticos de acordo com os objecti-
vos superiormente preconizados pelo Estado Angolano através dos programas curriculares.

A Física é uma das ciências que junto com a Química e a Matemática, constitui o núcleo
e suporte fundamental para que os futuros profissionais nos mais diversos domínios da
indústria estabelecem e articulam os seus conhecimentos técnicos científicos com a prá-
tica quotidiana. Assim a Física para a Formação Técnica Profissional permite que os alunos
construam os fundamentos dos seus conhecimentos numa base sólida para a descrição dos
factos ou fenómenos naturais bem como na interpretação das mais diversas leis que regem
a natureza, permitindo-lhes, deste modo, actuarem com racionalismo e rigor científico
na busca de soluções para a resolução dos mais variados problemas do nosso quotidiano.

A fechar podemos assegurar que este manual constituí um interactivo dinâmico na aborda-
gem temática dos conceitos e leis o que confere uma larga abertura pragmática e específica
na formação dos futuros profissionais em Angola.

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

1. Conceitos Introdutórios

1.1. Introdução

A inclusão do estudo de alguns conceitos, no inicio deste manual, tem como objectivo criar um
suporte matemático e algébrico para melhor compreensão e interpretação em termos dimen-
sionais dos fenómenos físicos bem como suas leis. Como é notório sem o estudo da matemá-
tica e sua vinculação dialéctica ao estudo dos fenómenos Físicos seria difícil estabelecer a
relação entre a lei e o fenómeno, em termos de grandeza e dimensão. Já Galileu reconhecera
a importância de que se reveste a matemática no contexto do estudo dos fenómenos físicos,
quando considerou a matemática como linguagem natural da Física. Isto só por si vem con-
ferir maior quota a importância ao estudo prévio de algumas funções e operações matemá-
ticas antes de se estudar concretamente os aspectos algébricos e matemáticos que circuns-
crevem tais fenómenos físicos de uma forma geral e em particular dos fenómenos mecânicos.

Assim estaremos em condições de criar as bases conceptuais para o estudo quantitativo do


movimento mecânico, formulando de forma elementar as bases matemáticas sustentadoras.

1.2. Grandezas Físicas

Grandeza física é toda propriedade ou característica de um fenómeno


que é susceptível de ser medida e de se atribuir um valor numérico.

Exemplos: Velocidade, deslocamento, força, tempo, massa, etc...

Por sua vez as grandezas físicas são classificam-se em dois grupos que são: grandezas esca-
lares e vectoriais.

Grandezas Escalares
São aquelas que podem ser determinadas somente pelo seu valor numérico e pela sua
unidade.

Exemplo: A massa, o espaço, o tempo, etc.

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Grandezas Vectoriais

São aquelas, que para serem determinadas é necessário conhecer a direcção, sentido,
valor numérico e unidade.

Exemplo: deslocamento, velocidade, aceleração, etc.

Define-se um vector, como um segmento de recta dirigido.

Característica de um vector:

• Origem;
• Linha de acção;
• Sentido;
• Valor numérico;

Normalmente, os vectores são representados graficamente por um segmento de recta
terminada numa seta.

A B

Fig. 1 – Representação gráfica de um vector

Operações com Vectores


Como já anunciamos previamente, é possível somarmos ou subtrairmos vectores.

Regra geral se os vectores estiverem aleatoriamente colocados o vector resultante


obtém-se seguindo os seguintes passos:

Escolhe-se um ponto arbitrário no espaço ou plano.

• Faça coincidir a origem do vector com o ponto escolhido.


• Para o segundo vector, a sua origem deve coincidir com a extremidade do pri-
meiro vector.
• Finalmente a resultante deve ser traçada coincidindo sua origem com a origem
do primeiro e sua extremidade com a do segundo.

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Em caso de vectores ortonormados, (formam um ângulo entre si), o módulo do vector


resultante, seu módulo obtém-se aplicando a lei dos cossenos ou pelo método do para-
lelogramo.

Se o ângulo for igual a 90° o termo 2abcosα se anula, e assim temos a regra de Pitágo-
ras.

• Quando dois vectores têm a mesma direcção e o mesmo sentido (α = 0), o vector
resultante será:

     
x = x1 + x 2 Intensidade: x = x1 + x 2
       
x = x1 + x 2 Direcção: mesma de x+2 x2
x =x x=1 x+1e
         
x = x1x+=xx2 1 + x2 Sentido: mesmo de x+2 x2
x =x x=1 x+1e
  
x = x1 + x 2

• Quando dois vectores tiverem a mesma direcção e os sentidos opostos (α = 180º),


o vector resultante será:

   Intensidade: x = x1 − x 2
x = x1 + x 2
       
x = x1 + x 2 Direcção: mesma de x+2 x2
x =x x=1 x+1e
    
x = x1 x+=x2x1 + x2 Sentido: mesmo sentido do vector de maior
   intensidade
x = x1 + x 2

Soma de Dois Vectores


    
x =x x=1x+1e
Dados os vectores x+2x2 .
O vector soma de dois vectores pode ser obtido de duas maneiras.

1ª Transpõe-se paralelamente a si próprios ambos vectores de modo que as suas


origens coincidam; o vector resultante da soma será a diagonal do paralelogramo
que se obtém com base nos dois vectores iniciais (regra de paralelogramo).

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

B
  
x = x1 + x 2

x (vector soma)

O    A
x = x1 + x 2

Fig. 2 – Soma de vectores – regra do paralelogramo

2ª  Os vectores são transpostos a si próprios, de modo que, a extremidade de um seja


a origem do outro; o vector resultante da soma dos dois, será o traçado entre a
origem do primeiro e a extremidade do segundo. (método do triangulo)

  
x = x1 + x 2
(vector soma)
  
x = x1 + x 2

  
x = x1 + x 2
Fig. 3 – Soma de vectores – regra do triângulo

Analiticamente, o vector soma é dado por:

Intensidade (módulo) x = x12 + x22 + 2x1 x2 cosα

Esta expressão é obtida pela lei dos cossenos:

Para o triângulo OAC da figura 2, vale:

2 2 2
OC = OA + AC − 2.OA. AC .cos β

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

OA = x
OA = x1
1
AC =OB = x2
AC =OB = x2
OC = x
Mas: OC = x
β =180°−α
β =180°−α
cos β = − cos α
cos β = − cos α

Substituindo-se na Lei de Cossenos, obtém-se a expressão da intensidade do vector


soma (resultante)

x = x12 + x22 + 2x1 x2 cosα

Direcção: o vector resultante tem a direcção dada pela recta OC.


Sentido: o vector resultante tem o sentido de O para C.

Para o caso particular de dois vectores ortogonais entre si, basta aplicar o teorema de
Pitágoras:

     
x = x1 + x 2 x = x1 + x 2 x 22 = x122 + x222
x = x1 + x 2
x = x122 + x222
x = x1 + x 2
  
x = x1 + x 2
Fig. 4 – Vectores ortogonais

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Exercícios de aplicação

P1 – Determine o módulo de vector soma de dois vectores que formam entre si um ângulo
30º e cujos módulos são 7m e 4m.
Dado cos30° = 0,86

⎧ x1 = 7m
Dados ⎨ x2 = 4m
⎩ α = 30°

Resolução
Cálculo do módulo de x
   
x = x1 + x 2 x x = x1 + x 2 + 2x1 x 2 .cos α
2 2

   2 2
x = 7 + 4 + 2.7.4.cos 30°
x = x1 + x 2
x = 49 + 16 + 56.0, 86
x = 113,16
x = 10, 6m

P2 – Determine a intensidade do vector soma de dois vectores perpendiculares entre si e


cujos módulos são 3m e 4m.

⎧ x1 = 3m
Dados ⎨ x2 = 4m
⎩ α = 90°
Cálculo do módulo de x
Resolução
x = x1 + x 2 + 2x1 x 2 cos α
2 2

2 2
   x = 3 + 4 + 2.3.4.cos 90°
   x = x1 + x 2
x = x1 + x 2 x = 9 + 16 + 24.0
x = 9 + 16
x = 25
  
x = x1 + x 2 x = 5m

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Diferença entre dois Vectores


    
x =x x=1 x+1e
Dados os vectores x+2 x2 .
O vector diferença é dado por
  
x = x 2 − x1

x = (B0) − ( A0)

     
x = x1 + x 2 x = x1 + x2 diferença)
(vector

O    A
x = x1 + x 2

Fig. 5 – Diferença de vectores

Analiticamente, o vector diferença é dado pela lei dos cossenos para triângulo OAB:

Intensidade: x = x12 + x 22 − 2x1 x 2 cos α


Direcção: da recta AB
Sentido: de A para B

Exercícios de aplicação

P1 – Qual o módulo do vector diferença entre dois vectores que formam um ângulo de 30º
entre si e cujos módulos são 3m e 8m?

⎧ x1 = 3m
Dados ⎨ x2 = 8m
⎩ α = 30°

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Resolução
Cálculo do módulo x

x = x1 + x 2 − 2x1 x 2 cos α
2 2
     
x = x1 + x 2 x = x1 + x 2 2 2
x = 3 + 8 − 2.3.8.cos 30°
30°
x = 9 + 64 − 6.8.0, 8 x = 73−38 ,4
  
x = x1 + x 2 x = 34 , 6
x ≅ 5,8m

 
P2 – Determine o módulo do vector x1 − x2 dos vectores abaixo:
⎧ x1 = 5m
Dados ⎨ x2 = 2m 135°
  
⎩ cos 135° = –0,7 x = x1 + x 2
  
x = x1 + x 2
Resolução
⎧ x1 = 3m
Dados ⎨ x2 = 8m    135°
⎩ α = 135° x = x1 + x 2   
x = x1 + x 2

Cálculo do módulo de x

2 2
x = x1 + x 2 − 2x1 x 2 cos α
2 2
x = 5 + 2 − 2.5.2.cos 135°
x = 25 + 4 − 20.( −0, 7)
x = 29 + 14
x = 43 = 6 ,5m

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CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Produto de um número por um vector


     
x = x1 +
O produto de um número a por um vector x2
, resultará = x1 + x2 , dado
em um outroxvector
por:

Intensidade: x2 = a. x1
  
Direcção: a mesmaxde= x1 + x 2
  
Sentido: se a > o → mesmoxde= x1 + x 2
  
se a > o → contrário aoxde= x1 + x 2

Exercício de aplicação

       
P1 – Dado o vector
x = x1conforme
+ x2 x = x1 e –7
indica a figura, obter os vectores 2 +xx=2 x1.
+ x2

     
x = x1 + x 2 x = x1 + x 2
  
x = 1m x =2 x1 + x2
  
x–7
= x1 + x 2
     
x |2
= x1| += x2m
2
x|–7
= x1| += x7m
2

Projecção de um vector sobre um plano

P
  
x = x1 + x 2
P1
O x
xx
Fig. 6 – Projecção de um vector sobre um eixo

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Seja um vector x e um eixo. A projecção de x sobre o eixo x é feita projectando ortogo-


nalmente as suas extremidades sobre o eixo considerado

A sua intensidade é dada pelo produto do seu módulo pelo cosseno do ângulo adjacente.

xx = x cos α

Exercícios de aplicação

  
P1 – Dado o vector
x = x1conforme
+ x2 indica a figura, obter a intensidade da sua projecção no
eixo horizontal (x)

x = 4m   
x = x1 + x 2
60° x

Resolução
Dados: x = 4m   
x = x1 + x 2
Cos 60° = ½ 60°
x

xx

1
x x = x cos 60° = 4. = 2m
2


P2 – Dados os vectores a , b 
e c conforme indicam as figuras, obter as intensidades de
suas projecções no eixo horizontal x

 
a b 
c
30° 45°
x x x
a = 2m b = 2m c = 2m

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Resolução
 
a b 
30° 45° c
 
ax bx

ax = a.cos 30° bx = b.cos 45° c x = c.cos 90°


3 2 c x = 4.0
ax = 2. bx = 2.
2 2 cx = 0
ax = 3m bx = 1m

Decomposição dum Vector sobre dois Eixos Ortogonais


  
x = x1 +e xum
Dado um vector 2
sistema de dois eixos ortogonais x e y

P'' P
   x = x + x
x = x1y + x2 1 2
α P'
O  x
xx

Fig. 7 – Decomposição dum Vector sobre os eixos x e y

  
x = x1nos
Projectando-se ortogonalmente as extremidades do vector + x2eixos x e y obtemos
 
componentes rectangulares x x e y x .

Analiticamente temos: o triângulo OP´P é rectângulo, portanto:

OPOP x x
αα
coscos = = = =x x⇒x x x=x x=cos x cos
αα
OPOP x x
PPPP x y x y
sensen
αα== == ⇒ x y x=y xs
= exsnα
enα
OPOP x x

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Exercício de aplicação

  
P1 – Determine o módulo das componentes rectangulares do vector
x = x1 de
+ xmódulo
2
10
metros, conforme a figura.
  
x = x1 + x 2
30°

Resolução
  
x = x1, consideremos
Pelo ponto de origem do vector + x2 um sistema de eixos coordenados x
e y, como mostra a figura.

xy
30°
x
xx
  
x = x1nos
Projectando o vector + xeixos
2
x e y, temos:
Componente segundo x Componente segundo y

x x = x cos 30° x y = Xsen30°


3 1
x x = 10. x y = 10.
2 2
x x = 5 3m x y = 5m

  
P2 – Determine as componentes de um vector
x = x1 de
+ xmódulo
2
4 metros, que forma um
ângulo de 30º com a vertical.

Resolução
  
x = x1nos
Projectando o vector + xeixos
2
x e y temos:
Dados: x = 4m
α=60°

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MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Componente segundo x Componente segundo y

y
x x = x cos 60° x y = xsen60°
1   
x x = 4. x y = 4.
3    x = x1 + x 2
2 2 x = x1y + x2
x x = 2m 60°
xy = 2 3 x

x y = 2.1, 7m x y = 3, 4m xx

1.3. Sistema de Unidades

Medir uma grandeza física, significa compará-la à outra grandeza que se toma como uni-
dade. A grandeza a medir e a unidade devem ser uniformes, isto é, grandezas da mesma
espécie, limitando-se a ser diferentes somente pelo valor numérico.
A unidade de uma grandeza física, é uma grandeza que tem um valor numérico igual a
um. As unidades dividem-se em dois tipos: fundamentais e derivadas. A dimensão das
unidades fundamentais é escolhida independentemente da dimensão das outras grande-
zas. A dimensão das grandezas derivadas define-se segundo uma dependência entre esta
grandeza e as outras. O conjunto das unidades fundamentais e derivadas que se encon-
tram ligadas entre si, através de determinadas relações denomina-se sistema de unidades.

1) Sistema métrico – gravitatório (M. Kp.S)


As unidades fundamentais são o metro (unidade de comprimento), o quilgrama – força
(unidade de força) e o segundo (unidade de tempo).

Unidades derivadas

Unidade de superfície – a sua equação de definição é; S = C.L. Fazendo C = L = 1m,


conclui-se a unidade de superfície é o metro quadrado (m2).
Unidade de volume – a sua equação de definição é; V = CLH, fazendo C=L=H= 1m,
conclui-se que a unidade de volume é o metro cúbico (m3)
s
Unidade de velocidade – a sua equação de definição é; v = , fazendo S = 1m e t = 1s,
t
conclui-se que a unidade da velocidade é o metro por segundo (m/s).

20
MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

2) Sistema C. G. S
As unidades fundamentais são o centímetro (unidade de comprimento), o grama (unidade
de massa) e o segundo (unidade de tempo).
Unidades derivadas – obtêm-se a partir das equações de definição, como se fez para o sis-
tema métrico – gravitatório.
Unidade de superfície – é o centímetro quadrado (cm2)
Unidade de volume – é o centímetro cúbico (cm3)
Unidade de velocidade – é o centímetro por segundo (cm/s)
O sistema M.K.S integra-se amplamente no sistema internacional (SI), que adopta mais
quatro unidades fundamentais: o Ampère (A) – unidade de intensidade de corrente eléc-
trica; o Kelvin (K) – unidade de temperatura termodinâmica; a candela (cd) – unidade da
intensidade luminosa; o mole (mol) – unidade de quantidade de substância.

1.4. Noções Básicas da Trigonometria

Circunferência trigonométrica
Da figura 8 (circunferência trigonométrica), pode - se deduzir as relações fundamentais da
trigonometria. seno, co-seno, tangente e co-tangente.
A função seno vem da relação entre o componente coordenado y e o raio R, ou seja entre o
cateto oposto Ry e a Hipotenusa R, ao passo que a função co-seno é a relação entre o com-
ponente coordenado em x e o raio ou seja cateto adjacente Rx e a hipotenusa.

R=1

y
senα = =y y
R
x
cos α = = x
R y α
y senα
tgα = = x x
R cos α
x co
os α
cot gα = =
y senα
Fig. 8 – Circunferência trigonométrica

21
MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

y
senα = C
R
x
cos α = R
R y
y
tgα = α
x A B
x x
cot gα =
y

Relações mais utilizadas

sen2α + cos2 α = 1

a2 = b2 + c 2 + 2bc cos CAB


2 2
c2 = b + a
π
sen(α + ) = cos α
2
π
cos(α + ) = − senα
2

22
MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Valores de seno, cosseno, tangente e co-tangente de alguns ângulos

Ângulo seno cos tg cotg


0 1 0 ∞
(0 rad)

30º 1 3 1
(π/6 rad) 2 2 3
3

45º
(π/4 rad)
2 2 1 1
2 2

60º 3
1 1
(π/3 rad) 2 3
2 3

90º
1 0 ∞ 0
(π/2 rad)

180º
(π rad) 0 -1 0 –∞

23
24
PARTE I
Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

UNIDADE 2 – Interacções entre Corpos

UNIDADE 3 – Trabalho e Energia

25
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

PARTE 1: MECÂNICA
Esta primeira parte do manual trata da análise dos movimen-
tos, as variações de energia e as forças que actuam sobre um
corpo.

Unidade 1
Movimento de uma Partícula Material
O objectivo desta unidade é de descrever as formas básicas do
movimento mecânico e as leis que a regem.
A palavra movimento está ligada à vida e tem várias formas
de se manifestar, uma dessas formas é o movimento mecânico
que descreve a mudança de posição dos corpos no tempo.
A cinemática é a parte da Mecânica que se ocupa do estudo do
movimento, suas formas e suas leis sem ter em conta as causas
que os originam.

1.1. Ponto Material

A Física recorre à uma linguagem própria para caracterizar


alguns corpos. No estudo do movimento mecânico, considera-se
ponto material, um corpo cujas dimensões podem ser despreza-
das, no estudo de um determinado fenómeno, em relação a um
determinado referencial.
Ponto material é um corpo que possui uma quantidade de
massa, mas suas dimensões são desprezáveis quando compa-
radas às distâncias envolvidas no problema.
Exemplo:
a) O movimento de translação da Terra em torno do sol,
pode ser considerado como movimento de um ponto
material, enquanto o movimento de rotação da terra
em torno do seu eixo já não.

26
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

b) Um autocarro numa viagem de Caxito a Maquela do


Zombo, em comparação à estrada, tem seu tamanho des-
prezível, então, pode ser considerado um ponto material;
mas quando este mesmo autocarro faz manobras em um
estacionamento seu tamanho deixa de ser desprezível.

1.1.1. Relatividade do Movimento


O movimento de um corpo tem sempre um significado rela-
tivo. Por exemplo, uma pessoa sentada num comboio está em
repouso, relativamente ao sistema material que constitui o
comboio, mas está em movimento relativamente a qualquer
sistema material considerado no exterior do comboio (estação
do caminho de ferro, arvores etc). E qualquer destes sistemas
de referência está em repouso relativamente a outros.
Fig. 1.1 – Vulola observando o movi-
O conceito de movimento ou repouso é relativo sempre a mento do comboio
determinados corpos.
Diremos assim, que um ponto material está em movimento
relativamente a um referencial ou sistema de referência,
quando a sua posição em relação a este referencial, varia no
decorrer do tempo.

1.2. Trajectória

Denomina-se trajectória ao caminho percorrido por um móvel


em relação a um referencial adoptado.

y m

x km

Fig. 1.2 – Trajectória da esfera em movimento

27
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

A trajectória pode ser:


– Rectilínea
– Curvilínea
Imaginemos um helicóptero voando com uma velocidade
constante. Se, num determinado instante ele largar um saco
de arroz, este cairá segundo uma trajectória vertical em rela-
ção ao piloto do helicóptero. Mas, para um observador fixo na
Terra, a trajectória do saco será parabólica.

1.3. Deslocamento

1.3.1. Origem dos Espaços

S3
S2
S1

P1
Origem P2
0 dos P3
Espaços

Define-se origem dos espaços o ponto O (fixado arbitrariamente)


em relação ao qual são medidos os espaços, ou seja:

– no ponto P1 a distância do móvel à origem é s1


– no ponto P2 a distância do móvel à origem é s2
– no ponto P2 a distância do móvel à origem é s2

28
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Seja um móvel descrevendo uma trajectória qualquer orien-


tada ocupando as posições P01, P11, P2 ... etc.

0
P0
P2
P1
t = o (origem dos tempos)

Pode-se definir também a origem dos tempos como sendo o


instante em que começa a ser contado o tempo (t = 0) podendo
ser fixado em qualquer posição do móvel.
Por exemplo, quando o móvel na posição P0.
Espaço Inicial so
Define-se como espaço inicial (s0) a distância do móvel à ori-
gem dos espaços no início da contagem dos tempos (t = 0).
Se um móvel se movimenta em linha recta, a sua posição muda
em cada instante e no final do movimento, a sua posição será
diferente da posição inicial. A variação de posição do móvel
neste intervalo de tempo é designada deslocamento.

1.4. Velocidade

A velocidade é a relação entre a variação da posição no espaço


em determinado intervalo de tempo, ou seja. É uma grandeza
vectorial, ou seja possui direcção, sentido e módulo.
No Sistema Internacional (S.I.), a unidade da velocidade é o
m/s. Também utiliza-se o km/h como unidade da velocidade.
A conversão entre o km/h e o m/s, que é dada pela seguinte
relação:
1km 1000m
=
1h 3600s

29
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

A partir desta relação, é possível extrair o seguinte factor de


conversão:

m km km m
.3, 6 = e ÷ 3, 6 =
s h h s

1.4.1. Velocidade Média


Seja um móvel percorrendo a trajectória.

S1
t1
x1 t2
O x2

S2

Seja também:
x = x2 – x1 variação de posição [espaço (caminho) percor-
rido]

t = t 2 – t1 intervalo de tempo na variação Δs.



Define-se velocidade escalar média, entre os instantes t1 e t2, à
grandeza vm dada por:

x x 2 − x1 (1.1)
vm = =
t t 2 − t1

A velocidade média, indica o deslocamento que em média o


corpo efectua por unidade do tempo.
A velocidade média total não é sempre igual a média aritmé-
tica das velocidades.
Demonstremos isso algebricamente.

30
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Caso em que as distâncias são iguais, mas os tempos dife-


rentes
s
vm = (1)
t

Espaço total: S = S1 + S2 (2)

Tempo total: t = t1 + t 2 ;
ss ss ss ss ss ss
t1 t=1 =1 ,1 t, 2 t=2 =2 2⇒t =t =1 +1 +2 =2 = + + (3)
v1v1 v2v2 v1v1 v2v2 2v21v1 2v22v2

Substituindo (3) em (1), obtém-se

s
vm =
s s
+
2v1 2v2
(1.2)
2v1v2
vm =
v1 + v 2

Caso em que os tempos são iguais, mas distâncias dife-
rentes.

s (1)
vm =
t

t
t1 = t 2 =
2

s1 = v 1 . t 1

s2 = v 2 . t 2

s = s1 + s 2

t
s= (
v +v
2 1 2
) (2)

31
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Substituindo (2) em (1), obtém-se


t
(
v1 + v 2 )
vm = 2
t

vm =
(
t v1 + v 2 )
2t

v1 + v 2
vm =
2 (1,3)

Exercícios de aplicação

P1 – Um automóvel Resolução
percorre uma distân- ss s 200
200 km
200km km
vmvm=v= =⇒vmvm=v= = ⇒v v =v=133
= 133
133 3km
, 3km
, 3,km / /hh/ h
cia de 200 km, em 1h m
tt t m
11,5,h
5h
1 ,5h m m m
e 30min. Determine a
velocidade média em Para se obter a velocidade média em m/s, é preciso converter
km/h e em m/s. km em m e hora em segundo,
Dados
s = 200 km 1000mm
1000
vvmm==133
133, 3, 3. . ⇒vvmm==3737, 03
, 03mm//s s
t = 1h30 min = 1,5h 3600s s
3600

P2 – Um automóvel
moveu-se à velocidade
de 40 km/h durante
a primeira metade do Resolução
caminho e à velocidade
de 20 km/h durante a Pela fórmula 1.2, temos
segunda metade. Achar
a velocidade média do
2v1v2 2.40.20
automóvel. vm = logo vm = = 26, 66km / h
v1 + v 2 40 + 20
Dados
v1 = 40 km / h
v2 = 20 km / h
s
s1 = s 2 =
2


32
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

P1 – Um automóvel moveu-se à velocidade de 40 km/h


durante a primeira metade do tempo e à velocidade de 20
km/h durante a segunda metade. Achar a velocidade média R: v = 30 km/h
do automóvel.

2
P2 – Um automóvel percorre de um percurso com velo-
3
cidade de 60 km/h e o restante com velocidade de 90 km/h.
Determine a velocidade escalar média do automóvel, durante R: 67,5 km/h
o percurso.

P3 – Um móvel num troço inicial da estrada, desenvol-


veu uma velocidade de 40 km/h, durante 2 horas, no troço
seguinte, sua velocidade passou para 70 km/h, durante 1hora.

a) Determine a distância total percorrida pelo móvel. a) R: s = 150 km/h


b) Determine a velocidade média do móvel, durante o per- b) R: v = 50 km/h
curso.

1.4.2. Velocidade Instantânea


Tomando como referência o caso anterior de velocidade média
verificamos que, à medida que se diminui o intervalo de tempo
entre os instantes t1 e t2 ou seja, Δt tendo para zero, a veloci-
dade média tende para a velocidade instantânea.
Isto é, a velocidade instantânea é o limite para o qual tende a
velocidade média, quando o intervalo de tempo Δt tende a zero.

s (1.4)
v = lim vm = lim
t →0 t →0 t

33
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

1.5. Movimento Rectilíneo


e Uniforme

Um dos movimentos mais simples que a cinemática estuda, é


o movimento rectilíneo uniforme. Esse movimento raramente
aparece na vida prática. Entretanto, o seu estudo serve de base
para a compreensão de movimentos mais complexos como:
• O movimento é rectilíneo porque a partícula percorre uma
trajectória em linha recta.
• O movimento é uniforme porque não há variação da velo-
cidade.
Movimento rectilíneo e uniforme é um movimento em que a
partícula material descreve ou efectua deslocamentos/espa-
Fig. 1.3 – Movimento rectilíneo e uni-
forme ços iguais em intervalos de tempos iguais.
Para determinar o deslocamento duma partícula material em
movimento rectilíneo e uniforme, durante um certo intervalo
de tempo Δ t precisamos saber o deslocamento da partícula
durante aquele intervalo de tempo. A relação entre a variação
do deslocamento e o intervalo de tempo, chama-se velocidade.

s (1.5)
v=
t

Onde Δ s = sf – s0 e Δ t = tf – t0
Em que
s – posição final
s0 – posição inicial
t – tempo final
t0 – tempo inicial
Tendo em conta que no inicio da contagem do movimento o
instante inicial é sempre igual a zero t0 = 0, vem:

s como Δ s = s – s e Δ t = t – t resulta:
v= 0 0
t
s = s0 + vt (1.6)

34
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Um automóvel
que se desloca com
a) movimento uniforme,
s ss 80 km
80
80km
km percorre 80km em
v v=v==⇒v v=v== ⇒v v=v=40 km
=40km
40km
/ /h/hh
t tt 2h2h
2h 2horas. Calcule:
a) A velocidade do auto-
b) móvel.
s = v.t ⇒ s = 40km / h.5h ⇒ s = 200km b) A distância percor-
rida pelo automóvel,
em 5horas.
Dados
s = 80 km
t = 2h

Exercícios propostos

P1 – Um comboio percorreu, em movimento uniforme, 750 km


durante 3 horas. Calcule:

a) A velocidade do comboio. a) R: v = 250 km/h


b) A distância percorrida pelo comboio em 0,5h. b) R: s = 125 km

P2 – Um ponto material movimenta-se segundo a equação


horária s = 30 – 5t (s em m e t em s)

a) Sua posição inicial. a) R: s0 = 30 m


b) Sua velocidade. b) R: v = –5m/s
c) Sua posição no instante 3 segundos. c) R: s3 = 15 m
d) O deslocamento no fim de 6 segundos. d) R: s6 = –30 m
e) O instante em que o móvel passa pela posição 20m. e) R: s20 = 2s
e) Esquematize o movimento num eixo orientado.

35
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

P3 – Um móvel desloca -se sobre uma recta e tem suas posições


em função do tempo representadas pela equação
s = 3+ 5t (s em m)
R: vm = 5m/s Determine a velocidade média do móvel nos intervalos (0 a 6) s
para os dois intervalos e (2 a 11) s.

P4 – Um autocarro move com movimento uniforme à velocidade


de 60 km/h. Com que velocidade deverá seguir outro automóvel
R: v = 65 km/h que parte 15 minutos depois, para alcançar o depois de 210 km.

P5 – Um avião passa sobre uma cidade com a velocidade de


400 km/h, que mantém durante o resto do percurso. Depois de
45 minutos passa um outro avião seguindo a mesma rota do
R: 900 km primeiro com velocidade de 600 km/h. A que distância da refe-
rida cidade o segundo avião ultrapassará o primeiro.

Gráficos do movimento rectilíneo uniforme


Para o movimento descrito neste capítulo podemos traçar os
gráficos

• Deslocamento – tempo
O deslocamento e o tempo são grandezas directamente pro-
porcionais. O gráfico é uma linha recta inclinada em relação ao
eixo das abcissas.
s s

t t
0 0

36
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

• Velocidade – tempo
Sendo a velocidade a mesma em qualquer instante, podemos
dizer que o gráfico da velocidade em função de tempo é uma
linha recta.
O valor da velocidade mantém-se constante. O gráfico é uma
linha paralela ao eixo das abcissas.

v v

t
t
Movimento progressivo Movimento regressivo

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Um móvel movi-


menta-se segundo a
t s equação:
0 4 s = 4 + 3t (SI)
1 7 Construa o gráfico de
s = f (t)
s (m)
7

t (s)
0 1

37
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

P1 – Um ponto material movimenta se em uma trajectória


rectilínea e tem suas posições, em função do tempo dadas pelo
b) gráfico.
R: O
 ponto material par- 56
s (m)

tindo da posição 6m,


atinge a posição 56m
em l0s (movimento
progressivo) na qual
pára durante 8s. Em
seguida retoma à
origem (0 m) em 8s
(movimento retró-
grado). Chegando à 6
4
t (s)
origem, parte nova- 10 18 26 30
mente com movi-
mento progressivo.
a) Construir o gráfico v = f (t) de todos os trechos;
b) Interpretar o movimento;
c) R: 4m
c) Qual o deslocamento do ponto material entre 26s e 30s?

P2 – Dois móveis A e B percorrem uma recta com MU e têm suas


posições, em função do tempo, dadas pelo gráfico:
s(m)
B A

t(s)
2
Determine: -3

a) R: 4s a) O Instante do encontro;

b) R: 13m b) A posição no instante do encontro.

38
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

1.5.1. Aceleração
Afirmamos sempre que um automóvel está a acelerar quando
o valor da sua velocidade está a aumentar com o decorrer do
tempo.
O conceito de aceleração em Física é, porém, mais geral. Assim,
dizemos que um móvel está a acelerar quando a sua veloci-
dade varia, com o decorrer do tempo. Podemos definir a ace-
leração como sendo a rapidez com que varia a velocidade no
decorrer do tempo

Fig. 1.4 – Automóvel acelerando

1.5.1.1 Aceleração Média


Quando uma partícula material varia a sua velocidade de v0 a
v durante o intervalo de tempo t0 a t, a aceleração média pode
ser definida como sendo a relação entre a rapidez com que
varia a velocidade e o tempo em que ocorreu essa variação.

v (1.7)
a=
t

onde Δ v = v – v0 e Δ t = t – t0

Unidade da aceleração
SI: metro por segundo ao quadrado (m/s2)
CGS: centímetro por segundo ao quadrado (cm/s2)

39
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios de aplicação

P1 – A velocidade de
um automóvel varia Resolução
de 5 m/s para 15 m/s
durante 4 segundos,
determine a acelera- vv22––vv11 15m
15 m//ss−−55m
m//ss
ção com que se move o aa==
tt
⇒aa== 44ss
automóvel.
Dados a = 2,5m / s2
v1 = 5m/s
v2 = 15m/s
t = 4s

P2 – Determinar a ace-
leração escalar média
do móvel que percorre Temos:
a trajectória.
v v2 − v1 10 − 5 5
am = = = = =5
P1 P2 t t 2 − t1 3− 2 1
O
t1=2 t2=3
t =0 v1=5 v2=10

P3 – Um automóvel, Resolução
partindo do repouso, v 2 – v1
desloca-se com uma a=
t 2 – t1
aceleração uniforme de
150 cm/s2. Dentro de
quanto tempo alcançará Como v1 = 0 e t1 = 0, vem
a velocidade de 15 m/s?
vv vv
Dados aa== 22⇒tt22== 22
tt22 aa
v1 = 0
t1 = 0 logo
a = 150cm/s2 15m / s
v2 = 15cm/s2 t 2
=
1,5m / s 2
= 10s

t2 = ?

40
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

P1 – A velocidade de um automóvel que se desloca com acele-


ração uniforme, aumentou de15m/s para 25m/s, durante 6,25
segundos. Determine a aceleração com que se deslocou o auto- R: a = 1,6 m/s2
móvel, durante este aumento de velocidade.

P2 – Um autocarro move-se com a velocidade de 10m/s, pára


durante 4 segundos depois de começar a travar. Determine a
aceleração com que o autocarro se deslocou durante a trava- R: a = 2,5m/s2
gem.

1.5.1.2 Aceleração Instantânea

A aceleração média nos informa de modo global a variação da


velocidade da partícula e não nos diz como, de forma efectiva,
ocorre essa variação em todos os trechos do movimento.
Uma informação precisa sobre como ocorre a variação da velo-
cidade em intervalos de tempo pequenos, só pode ser obtida
através do estudo da aceleração instantânea.
Dizemos que a aceleração no instante t é o limite para que
tende a aceleração média, quando o intervalo de tempo tende
para zero.
 
aA = lim am
t →o

No caso do movimento rectilíneo (e só neste), como os valores


das acelerações médias são dadas pela equação seguinte:


 v (1.8)
am =
t


41
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

1.6. Movimento Variado

O movimento mais comum no nosso dia a dia, é o movimento


variado. Nesse movimento, a partícula material descreve inter-
valos de espaços diferentes em intervalos de tempo iguais.
No movimento variado o módulo da velocidade aumenta uni-
formemente com o decorrer do tempo. O movimento é cha-
mado de acelerado quando o módulo da velocidade aumenta
uniformemente com o decorrer do tempo. Assim, o sinal da
velocidade coincide com o sinal da aceleração.
No entanto, o movimento variado pode ser também retardado.
O movimento é retardado quando o módulo da velocidade
diminui uniformemente com o decorrer do tempo. Nesse caso,
o sinal da velocidade não coincide com o sinal da aceleração.

1.6.1. M
 ovimento Rectilíneo Uniformemente
Variado
Movimento rectilíneo uniformemente variado é aquele cuja
trajectória é uma linha recta e sua aceleração é constante.
at = k

v
a=
t

onde Δt = t – t0 sendo t0 = 0,
vem v = v0 + a t (1.9)

42
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Função Horária do Espaço do Movimento


Uniformemente Variado
Analisemos o gráfico da velocidade de um móvel em movi-
mento uniformemente variado

V (m/s)

V0
base A base
menor maior
0
t(s)

A área (A) na figura representa, numericamente, o caminho


percorrido pelo móvel durante o tempo t

A=ΔS (1)
onde Δ S = S – S 0
Δ S = S – S 0 Espaço inicial do móvel (instante zero)
S = Espaço do móvel no instante genérico t

Por outro lado, a área da figura (trapézio) corresponde a:


v + v0
A = {(base maior + base menor)/2}. Altura ⇒ A = .t (2)
2

comparando (1) e (2) vem:


v + v0
S = .t (3)
t

43
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Mas v = v0 + a t, substituindo esse valor em (3), vem:


v0 + at + v0 2v0t + at + at 2
S = .t =
2 2

at 2
S = v0t +
2
1
s − s0 = v0t + a t 2
2

(função horária do espaço para o MUV)


1
s = s0 + v0t + at 2 (1.10)
2

Equação de Torricelli
Existe um caso particular que tem servido para a resolução de pro-
blemas em que a função do tempo é ignorada. Trata-se da equa-
ção de Torricelli. A equação de Torricelli relaciona a velocidade
com o espaço percorrido por um móvel. Ela é obtida eliminando o
tempo entre as equações horária e das velocidades e dos espaços.

1
s = s0 + v0t + at 2
2
v = v0 + a t

Isolando o tempo t na equação (1.9) obtemos:


v − v0
t=
a
Substituindo em (1.10) vem:

v − v0 1 v − v0 2
s = s0 + v 0 + a( )
a 2 a
v 0 v − v 02 1 v − 2 v0v + v0
2 2

s − s0 = + a
a 2 a2
v 0 v − v 02 v 2 − 2 v0 + v02
s − s0 = +
a 2a

44
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Reduzindo ao mesmo denominador temos:


2 a ( s − s0 ) 2(v0v − v02 ) + 2 v v0 − 2 v v0 + v 2
=
2a 2a
2a ( s − s0 ) = 2v0v − 2v02 + v 2 − 2v v0 + v02

2 a ( s − s0 ) = − v02 + v 2

v 2 = v02 + 2 a ( s − s0 )

Mas s–s0 = Δs

Logo v2 = v02 + 2aΔs (2.10)


Equação de Torricelli

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Um motorista de
um automóvel que se
a) desloca a 10m/s viu o
1 sinal vermelho do semá-
s = v0t + at 2 foro e começou a redu-
2
zir a velocidade, des-
1 locando-se com uma
s = 10 × 3 + .(−5).9 aceleração de 5 m/s2.
2
s = 30 − 22,5 → s = 7,5m a) Que distância per-
correu o automóvel
durante os três pri-
b) meiros segundos?

v 2 + v02 b) Que distância per-


s= correu o automóvel
2a
até imobilizar-se?
0 − 100 Dados
Como v = 0→ s = → s = 10m
2.( −5) v0 = 10m / s
a = 5m / s2
a) s = ? para t = 3s
b) s = ? para v = 0

45
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios de aplicação

Resolução
P2 – Um ponto mate-
rial em movimento ad- A equação v = 10–2t é do 1º grau, portanto o movimento é
quire velocidade que uniformemente variado, logo por comparação:
obedece à expressão v = 10 – 2t
v = v0+at
v = 10-2t
(t em s; v em m/s) a) v0 = 10m/s

b) a = 2m/s2
Calcule:
c) Quando t = 6m/s
a) A velocidade inicial;
v = 10 – 2t
b) A aceleração; v = 10 – 2.6
c) A velocidade no ins- v = 10 – 12
tante 6s; v = 2m/s (tem sentido contrário ao positivo da trajectória)
d) O instante em que o d) O ponto material muda de sentido quando v = 0
ponto material muda
v = 10 – 2t
de sentido.
0 = 10 – 2t → t = 5s

Exercícios propostos

P1 – Complete a tabela

R:  1m; 5m/s; 0m/s2; Equação do


movimento S0(m) V0(m/s) a (m/s2) S (t = 2s)
Tipo de
movimento
11m; MRU
S = 1 + 5t
0m; 0 m/s; 3 m/s2;
6m; MRUV S=
3 2
t
2
1m; 1m/s; 4 m/s2,
11m; MRU S = 2t2 + t + 1

46
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

P2 – Um automóvel iniciou um movimento uniformemente


retardado com velocidade de 12 m/s e percorreu 125 metros
durante 80 segundos. Calcular:
a) A aceleração do movimento; a) R: 0,26 m/s2
b) A velocidade depois de 30 segundos. b) R: 4,2 m/s

P3 – Um móvel parte do repouso com movimento de acele-


ração constante e igual a 5m/s2. Determine a velocidade e a
distância percorrida pelo móvel no fim de 8 segundos. R: 40m/s e 160m

Gráficos do movimento rectilíneo


uniformemente variado
Sendo a equação horária do movimento uniformemente
variado do 2.º grau, o diagrama é uma parábola.

s(m)

1000

500

t(s)
0 10 20 30 40

Fig. 1.5 – Gráfico do espaço

47
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

v(m/s)
50

40

a a
30

20

10 0 t 0 t

t(s)
a) 0 10 20 30 40 b)
Fig. 1.6 – a) Gráfico da velocidade b) Gráficos da aceleração

Pode-se apresentar nas seguintes formas:


• A recta tangente à parábola, no ponto em que ela corta o
eixo dos eixos (t = 0), representa geometricamente a velo-
cidade inicial, e a sua inclinação fornece o valor de com o
seu sinal.

Exercícios de aplicação

P1 – A velocidade de Resolução
um automóvel varia
de 5 m/s para 15 m/s
vv22––vv11 15m
15 m//ss−−55m
m//ss
durante 4 segundos, aa== ⇒aa==
determine a acelera- tt 44ss
ção com que se move o
automóvel. a = 2,5m / s2

Dados
v1 = 5m/s
v2 = 15m/s
t = 4s

48
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

P1 – Gráfico representa a variação da velocidade de uma partí-


cula que se move rectilineamente.

a) Qual é a velocidade inicial e final da partícula. a) R: v0 = 10 m/s; v = 30 m/s

b) Qual é a aceleração da partícula no instante t = 2 s. b) R: 5 m/s2


c) Qual é a aceleração da partícula no instante t = 3 s.
c) R: 5 m/s2
d) Como se chama este tipo de movimento
d) R: MRUA
e) Determine o deslocamento da partícula entre os instan-
tes t = 0 s e t = 4 s. e) R: 80m

f) Se no instante inicial, a partícula se encontrava em X = 3 m. f) R: 83m


Qual será a sua posição no instante t = 4 s

v(m/s)
35

30

25

20

15

10

0
t(s) 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5

P2 – Dado o gráfico da velocidade de um ponto material em


função do tempo, que se desloca
v(s/m)
numa trajectória rectilínea.
6
4

t(s)
0 2 5

49
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

a) R: 5m/s e 2m/s Determine:

b) R: 19m a) As velocidades nos instantes 1 s e 4 s;

b) O espaço percorrido no intervalo de 0s a 5s;


c) R: 3,8 m/s
c) A velocidade média no item anterior;
d) R:
d) Construa o diagrama a = f(t).
2
a(m/s )
1
5
2 t(s)
-2

P3 – O gráfico abaixo representa a velocidade de um ponto


material em função do tempo, que se desloca em uma trajectó-
ria rectilínea.

v(s/m)
a) R: 4,5m/s e 6m/s
6

b) R: 33m
3

c) R: 5,75m/s 0 2 4 6 18
t(s)

d) R:
Calcule:

a(m/s )
2 a) As velocidades nos instantes 1 s e 5 s;

b) O espaço percorrido no intervalo de 0s a 6 s;

6 18
t(s) c) A velocidade média no intervalo de 1 s a 8 s;
2
-0,5
d) Construa o diagrama a = f(t).

50
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

1.6.2. Queda de um Corpo

Queda livre é o movimento que consiste na queda dos corpos


desprezando a resistência do ar.

A aceleração da gravidade é considerada constante e repre-


senta-se pela letra «g». Portanto o seu valor varia depen-
dendo da altitude ou da latitude em que se realiza a medição.
Tendo em conta o nível do mar e uma latitude de 45° o seu
m
valor aproximado será g = 9,80665 2
s
Para esse caso teremos as seguintes equações de movimento:

Equação da velocidade

v = v0 + at
v = v0 + gt
Fig. 1.5 – Malenga deixa cair (aban-
dona) um corpo
Equação de Movimento

a
s = s0 + v0t + t 2 t 2
2

g
s = s0 + v0t + t 2
2

Equação de Torricelli

v2 = v 20 + 2aΔs

v2 = v 20 + 2gΔs

51
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Uma pedra foi solta
do terraço de um edifí-
cio de 180 m de altura.
Considerando a)
g = 10 m/s2, calcule: 2 2
gtgt 2h2h 2.180m 360
h h= = ⇒t = t= Logo t= =
a) O tempo gasto pela 22 gg 10m / s 2
10
pedra para chegar ao
chão.
36⇒t t==66s s
t t== 36
b) A velocidade da pedra
ao chegar ao chão.
Dados b)
h = 180m vv=v==22gh
2gh⇒vv=v==22.10
gh 2
.10
.10 .180⇒
.180
.180 vv=v==3600
3600==60
3600 mm/m/s/s s
=60
60
g = 10m / s2
a) t = ?
b) v = ?

Exercícios propostos

R: 4s P1 – Deixou-se cair verticalmente um grave do topo de uma


torre de 90 metros de altura. Calcular a duração da queda.

R: 176 m e 58,8 m/s P2 – Que espaço percorreria em 6 segundos, um objecto


caindo livremente na vertical? Que velocidade teria ao fim
desse tempo?

R: 52 m/s P3 – Um objecto foi lançado verticalmente de cima para baixo,


tendo gasto 4 segundos a percorrer uma distância de 200
metros. Calcular a velocidade inicial com que foi lançado.

52
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

1.6.3. Ascensão de um Corpo

Lançamento vertical

Fonte: Livro Didático Público/SEED

Observa a figura acima. A mesma representa o lançamento


vertical para cima de uma bola por um jovem. Desprezando a
resistência do ar notamos o seguinte:

• Ao subir a velocidade vai reduzindo até atingir a altura


máxima.
A velocidade escalar e a aceleração escalar devem ter
sinais opostos.
Este movimento de ascensão é um movimento uniforme-
mente retardado e pode ser comparado ao movimento
rectilíneo uniformemente variado estudado no capítulo
anterior. Para este movimento a aceleração é negativa e
durante este movimento a velocidade aumenta 9,8 em
cada 1 segundo.

• O corpo ao atingir a altura máxima, a sua velocidade é igual


a zero.

Segundo a análise do gráfico substituindo o espaço pela altura


obtemos:
1
h = h0 + v0t − gt 2 (1.11)
2

v = v0 – gt (1.12)

Utilizando a equação de Torricelli e tendo em conta que a


aceleração é negativa vem:

v2 = v 20 + 2aΔh

53
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Como v = 0 vem 0 = v0 – 2g (hmax – h2)


Se a velocidade inicial for V0 é possível determinar a altura
máxima (Hmáx).

v02
hmax =
2g
y = –g y = +g

Trajectória orientada para cima, Trajectória orientada para baixo,


portanto y = –g portanto y = –g

Propriedades do Lançamento Vertical


(Tempo de Subida e de Descida)
v02
A altura máxima atingida pelo corpo será: hmax = (1.13)
2g

Tempo de subida: é o tempo gasto pelo corpo desde o ponto de
partida até atingir a altura máxima. Sabendo que t0 = 0 e v0 ≠ 0,
no ponto mais alto da trajectória obtemos:
v = v0 + at
Como v = 0
v0 (1.14)
ts =
g

onde
v0
ts = e é o tempo de descida, o que significa que o
g tempo de subida e o de descida que o corpo
leva a percorrer é igual. Isto é :
ts = td

54
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Uma pedra lan-


çada verticalmente para
cima, alcança a altura
de 30 m. Quanto tempo
2h2h 2.30
2.30
t =t = ⇒t =t = ; t; =t = 6 6
=2=,2
49 ss
, 49 necessitará para alcan-
gg 1010 çar essa altura?
Dados
h = 30m
t = ?

Exercícios propostos

P1 – Com que velocidade deve ser lançada uma pedra verti-


calmente de baixo para cima para que atinja a altura de 70 m? R: 37 m/s e 2 ,7 s
Que tempo demora a subida?

P2 – Lançou-se verticalmente uma bola que atingiu 10 metros


de altura. Calcular:
a) R: 14 m/s2
a) A velocidade inicial com que a bola foi lançada.
b) O tempo que a bola leva a regressar ao ponto de partida. b) R: 2,8 s

P3 – Uma pedra foi lançada horizontalmente do topo de uma


torre de 30 m de altura, com uma velocidade de 20 m/s. Cal-
cular:
a) O tempo que demorou a queda. a) R: 2,5 s

b) A distancia da base da torre ao ponto onde caiu a pedra. b) R: 49 m


c) A velocidade total com que a pedra atingiu o solo. b) R: 31 m/s

55
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

1.7. Movimento Circular

Em Engenharia e na natureza em geral aparece com muita


frequência movimentos, cujas trajectórias são curvilíneas. As
trajectórias dos planetas e satélites artificiais no espaço cós-
mico, as trajectórias das peças das máquinas e mecanismos,
são curvilíneas.
Se define movimento circular como aquele cuja trajectória é
uma circunferência. Uma vez situado a origem CO de ângu-
los descrevemos o movimento circular mediante as seguintes
grandezas.

Posição angular, θ

r s
0
O
C

No instante t o móvel se encontra no ponto P. Sua posição


angular é dada pelo ângulo θ, que faz o ponto P com o centro
da circunferência C e o raio CO.

O ângulo θ, é o quociente entre o comprimento do arco s e o


s
raio da circunferência r, θ = . A posição angular é expressa
em radianos. r

Velocidade angular, ω

P’
t’ P
t

0’
0
O
C

56
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

No instante t' o móvel se encontrará na posição P' dada pelo


ângulo θ'. O móvel deslocou-se Δθ = θ'–θ no intervalo de tempo
Δt=t'–t compreendido entre t e t'.
Se denomina velocidade angular ao quociente entre o desloca-
mento angular e o intervalo de tempo.


ω= (1.15)
t

A velocidade angular expressa-se em radianos por segundo


(rad/s).

Velocidade linear, v
A velocidade linear, é calculada como a relação entre o compri-
mento do arco s e o respectivo intervalo de tempo.
s
v= (1.16)
t
A velocidade linear é expressa em metros por segundos (ms–1).
Substituindo na fórmula 2.17 o comprimento do arco, obtém-se:

rθrθ
v =v = ⇒, ,v =v r=ωrω (1.17)
t t

1.7.1. Movimento circular uniforme

Neste tipo de movimento, o módulo da velocidade é constante,


mas a direcção varia constantemente.
s = s0 + vt v v
sendo
s0 a posição da partícula no instante t = 0s
Dividindo ambos os membros da expressão anterior pelo raio
da trajectória, obtém-se:
ϕ = ϕ0 + ω t (1.18) v v

sendo ϕ0 o ângulo ao centro no instante t = 0s . Fig. 1.7 – Velocidade variável em


direcção
Esta expressão é válida para s < 2 π r.

57
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Período e Frequência
No movimento circular uniforme, o corpo ao se deslocar per-
corre a trajectória repetidas vezes, por isso é que este movi-
mento também é considerado de periódico.
O tempo que o corpo leva a dar uma volta completa chama-se
período (T).
O número de vezes que o corpo efectua por unidade de tempo
chama-se Frequência (ƒ)
n
f= , (1.19) onde n é o número de voltas que o corpo dá e
t Δt, o tempo gasto para se dar aquelas voltas.

Unidade da Frequência
No Sistema Internacional a Frequência mede-se pelo inverso
do segundo o que equivale a um Hz (Hertz)
Convém recordar que sendo r o raio da trajectória e T o perí-
odo do movimento (tempo que a partícula demora a descrever
uma volta completa), podemos escrever
2π r
v= = 2π r f e como a frequência do movimento é
T
1
f= ( Hz ) (hertz ) podemos ainda escrever
T
w = 2π f (1.20)

Aceleração Centrípeta (Normal)


A aceleração do movimento circular uniforme é centrípeta,
isto é, perpendicular a velocidade do movimento, ao longo do
ac
R raio em direcção ao centro da circunferência (trajectória).
ac ac
v2
ac = (1.21)
r
ac A aceleração centrípeta pode ser igualmente expressa através
da velocidade angular. Sabemos que v = ωr, substituindo v na
fórmula anterior, obtemos:
Fig. 1.8 – Aceleração centrípeta
a c = ω2 r (1.22)

58
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Podemos afirmar, que o módulo da aceleração centrípeta


depende da velocidade angular do corpo e do raio da trajec-
tória.

1.8. Movimento Circular Variado


Aceleração angular, α
Se denomina aceleração angular ao quociente entre a varia-
ção de velocidade angular e o intervalo de tempo gasto para
efectuar esta variação. A aceleração angular, que é responsá-
vel pela variação da velocidade angular, é definida pela razão
entre a variação da velocidade angular, e o intervalo de tempo
gasto para efectuar esta variação.

α=
t

Onde Δω = ω – ω0 e Δt = t – t0

ω −ω 0

α= (1.23)
t – t0

1.8.1. M
 ovimento Circular Uniformemente
Variado

Um movimento circular uniformemente acelerado é aquele


cuja aceleração α é constante.

As equações do movimento circular uniformemente variado


por analogia têm a mesma formulação que as equações do
movimento rectilíneo uniformemente variado.

α = constante
ω = ω0 + at

1 (1.24)
θ = θ0 + ω 0t + at 2
2

59
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios de aplicação

P1 – Uma partícula
efectua 1200 rpm numa Resolução
circunferência de 0,5 m
a)
de raio. Determine:
a) A velocidade angular ω = 2π f → ω = 2π.20
da partícula.
ω = 40rad / s
b) A velocidade linear
da partícula.
Dados b)
1200 v = ωr → v = 40π.0,5
f = 1200rpm = 20Hz
60s v = 20π m / s
r = 0,5m

a) ω = ?
b) v = ?

Exercícios propostos

P1 – Um disco tem 3,2 m de diâmetro e gira com velocidade


constante, efectuando 120 voltas por minuto. Calcular:
a) R: 12,56 rad/s a) A velocidade angular do disco.
b) R: 20 m/s b) A velocidade linear dos pontos da periferia.

P2 – Uma partícula tem movimento circular uniforme com


velocidade de 3 m/s. o raio da trajectória é de 1,2 m. Calcular:
a) R: 2,5 rad/s
a) A velocidade angular.
b) R: 7 m/s2 b) A aceleração centrípeta.

R: 0,25 m/s e 2 rad/s P3 – Que velocidade deve imprimir-se a uma partícula que
se move sobre uma trajectória circular de 25 cm de diâme-
tro, tenha uma aceleração centrípeta de 0,5 m/s2? Qual será a
velocidade angular da partícula?

60
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1 – Movimento de uma Partícula Material

Exercícios propostos

P4 – Duas polias de raios r1 = 0,05 m e r2 = 0,1 cm, respectiva-


mente, estão ligadas por uma correia. O período de rotação da
polia de menor raio é igual a 0,5 s. A que velocidade se desloca
a correia? Qual é o período de rotação da segunda polia. R: 0,6 m/s e 1s

P5 – Uma partícula realiza um movimento circular uniforme


de raio 5 m, completando uma volta em cada 5 s. Calcule a fre-
quência e a velocidade angular do movimento. R: 0,2 Hz e 1,256 rad/s

61
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Unidade 1I
Interacções entre Corpos
Na unidade anterior estudamos o movimento dos corpos mas,
não nos debruçamos sobre as causas que originam este movi-
mento. Nessa unidade vamos estudar o movimento dos corpos
bem como as suas causas.

2.1. Força

A palavra força é conhecida por nós desde a tenra idade. Ao falar-


mos da força interpretamos de formas diferentes independente-
mente dos efeitos apresentados.
Um corpo pode pôr-se em movimento ou variar a sua velocidade
caso o empurrarmos.

Fig. 2.1 – Kibato chutando uma bola No exemplo citado o corpo põe-se em movimento, muda de direc-
ção ou pára sob a acção de outro corpo.
A força é a expressão vectorial e completa da interacção entre
dois corpos físicos

Classificação das Forças


As forças podem classificar-se em:
1. Forças de contacto quando as superfícies dos corpos intera-
gem. Exemplo.
• Força de atrito,
• Força elástica,
• Força de tensão
2. Forças de campo quando ocorrem à distância. Exemplos
• Força nuclear (forte ou fraca),
• Força electromagnética,
• Força gravitacional.

62
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Equilíbrio de uma Partícula


Habitualmente distinguimos dois tipos de equilíbrio: Estático
e dinâmico.
Equilíbrio estático:
observa-se quando a velocidade de um corpo é nula, o que
significa que o corpo está em repouso em relação a um
certo referencial. Fig. 2.2 – Bió equilibrando o seu peso

v = 0 equilíbrio estático
Equilíbrio dinâmico:
observa-se quando o corpo tem velocidade constante no
decorrer do tempo. O que significa que a velocidade não é
nula mas sim o corpo vai animado de movimento rectilí-
neo e uniforme (MRU).
V = constante ≠ 0 , equilíbrio dinâmico Fig. 2.2 – Equilíbrio dinâmico

Efeito de uma Força


Tal como já vimos não observamos a força mas conhecemos os
seus efeitos.
Uma força quando produz apenas deformação estamos em pre-
sença do efeito estático da força, pois não se observa movimento.
No caso da força produzir apenas uma aceleração podemos afir-
mar que estamos em presença do efeito dinâmico. Por exemplo
quando empurramos um móvel variamos a sua velocidade e
consequentemente aplicamos uma força sobre ele. Deixando de
aplicar a força automaticamente cessa a aceleração.
Assim a força é a causa e a aceleração é o efeito. Fig. 2.4 – Efeito de uma força

A força, é uma grandeza vectorial, pois para ser definida, é


necessário ter em conta a direcção, sentido e intensidade ou
valor numérico. Tem como unidade o Newton, no SI, e repre-
senta-se pela letra N.
Na técnica e na vida quotidiana empregam-se outras unidades
de força, o Kilograma-força kgf. e o Dine. Onde 1kgf = 9,8 N
e 1 dine = 10.–5 N.

63
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

A figura ao lado representa um dinamómetro que é o instru-


mento utilizado para medir a intensidade de uma força pela
deformação que produz num corpo elástico.
Este instrumento consiste numa mola helicoidal de aço envol-
vida por um protector. Na extremidade livre da mola há um
ponteiro que se desloca ao longo de uma escala.
A medida de uma força é feita por comparação da deformação
Fig. 2.5 – Equilíbrio dinâmico
por essa força com a de forças padrões.

Força Resultante

Constatamos geralmente que sobre um corpo não actua só


uma força, mas várias.
Escala Observa a figura, a mesma representa forças actu-
7kgf ando simultaneamente sobre o mesmo corpo.
F'1
F'2 As forças têm direcções diferentes, mas a acção
resultante é apenas efeito para um único fim. Este
fenómeno ocorre como se o corpo tivesse uma
única força.
Fig. 2.6 – Força resultante
A soma de forças que acabam por produzir um efeito único
denomina-se força resultante ou simplesmente resultante.

FR = F1 ± F2 ± . . . ± Fn (2.1)

Logo, a força resultante provoca a um corpo uma acção igual


a provocada por várias forças que actuam simultaneamente
sobre ele.

64
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Considere um
corpo de massa 2kg ini-
a) RN cialmente em repouso
sobre o qual actua hori-
zontal de 5N.
Fa F
a) Represente todas as
forças que actuam
P sobre o corpo.

b) Calcule a aceleração
F 5N adquirida pelo corpo.
b) F = m.a → a = → a =
m 2kg
c) Determine a sua velo-
a = 2,5m / s2 cidade ao fim de 3s.

d) Calcule a força que


seria necessária para
c) F = 5N v = ? t = 3s m = 2kg a = 2,5m / s2
que atingisse a velo-
F = m.a M.R.U.V. v = v0 + a.t cidade de 12ms–1 ao
fim de 4s.
Se v0 = 0
Logo v = a.t → v = 2,5m/s2.3s → v = 7,5m/s
Dados
m = 2kg
d) v = 12m / s t = 4s
F = 5N
v 12m / s
v = a.t → a = →a=
t 4s

a = 3m / s
F = m.a
F = 2kg.3m / s2
F = 6N

65
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios propostos

P1 – Sobre um corpo actuam forças dirigidas sob o ângulo de


90° uma relativa a outra. Uma força é igual a 40N. Qual o valor
R: F =30N da outra força se a resultante é de 50N.

P2 – Achar a resultante de duas forças de 600N cada uma apli-


R: FR = 1040N cadas a um corpo que formam um ângulo de 60° entre si.

P3 – Determinar a resultante de três forças de 200N cada


uma se a primeira e a segunda formam um ângulo de 30º e a
R: FR = 400N segunda e a terceira formam um ângulo de 60°.

Força de Atrito

Uma das manifestações das interacções mecânicas é a força de


atrito.
A força de atrito aparece sempre que houver contacto entre
os corpos, e está sempre orientada ao longo da superfície de
contacto, e opõe-se ao movimento corpo.
A força de atrito depende da natureza das superfícies que se
encontram em contacto e das forças que se exercem sobre as
superfícies onde surge o atrito (força normal à superfície).

Fat = μN (2.2)

Onde

Fat = força de atrito


μ = coeficiente de atrito (depende da natureza das super-
fícies em contacto)
N = força normal à superfície

66
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

A natureza da superfície em contacto é que definem o valor


máximo ou mínimo do atrito. Assim sendo o atrito pode ser
m2
estático ou dinâmico.
Logo para um valor máximo de atrito o seu coeficiente deno- m1
mina-se estático e para o valor mínimo o coeficiente deno- θ
mina-se cinético.
Existe porém uma força máxima de atrito de repouso, mas Fig. 2.7 – Corpo em movimento no
quando a força paralela à superfície se torna maior que a força plano inclinado

de atrito, o corpo adquire uma certa aceleração.


Se numa superfície de um corpo em repouso actuar uma força
orientada paralelamente à superfície de contacto dos corpos,
então, o corpo só começará a mover quando a força atingir
um determinado valor. O valor desta força determina o valor
máximo da força de atrito estático.
A força de atrito estático é a que nos impede de mover objecto
pesados.

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Um corpo é lan-


çado horizontalmente
v –v
2 2
v 2 sobre um plano hori-
s= 0
como v = 0, então a=− 0
zontal com velocidade
2a 2s
de 10ms–1 e para após
percorrer 50m. Deter-
100 100 mine o coeficiente de
a=− →a=− → a = –1m / s 2
2.50 100 atrito relativo às super-
fícies em contacto?
Fa = μN, N = m.g → Fa = μ.m.g
Dados
Fa = F → –μ.m.g = ma.a
v0 = 10m / s
s = 50m
aa m// ss22
––11m μ = ?
μ == → μ ==
→ → μ == 00,,11

−−gg 10m
––10 m// ss22 v = ?

67
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios de aplicação

Resolução
P2 – Um ponto material
de massa igual a 2kg esta
apoiado numa superfí-
cie horizontal perfeita- a)
F
mente liso, em repouso F = m.a → a =
uma força constante de m
intensidade 6N, paralelo 6N
ao apoio actua durante a= → a = 3m / s 2
2kg
10s, após as quais deixa
de existir, determine:
a) A aceleração nos 10s
b)
iniciais.
b) A velocidade ao fim v = a.t → v = 3m / s 2 .10s
de 10s. v = 30m / s
Dados
m = 2kg
F = 6N
t = 10s
a) a = ? b) v = ?

P3 – Um bloco de massa Resolução


10kg movimenta-se numa
mesa horizontal sob acção
de uma força horizontal F = ma, Fa = μ.N, N = P, P = m.g
de intensidade 30N, o coe-
ficiente de atrito dinâmico
entre o bloco e a mesa é
F − μ mg
de 0,20, sendo g=10m.s–2. F –μP = m.a → a =
Determine a aceleração m
do bloco.
Dados 30 − 0, 2.10.10
a= → a = 1m / s 2
m = 10kg 10
F = 30N
μ = 10s
g = 10m/s2

68
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios propostos

P1 – Dois blocos, de massa mA = 19kg e mB = 8kg, estão em


repouso, encostados ao outro e apoiados sobre uma superfície
plana horizontal cujo coeficiente de atrito cinético entre eles e
a superfície é μc = 0,50. Num determinado instante, aplica-se, R: F =56N
ao bloco A, uma força de módulo FA = 189N. Iniciado o movi-
mento, calcule o módulo da força exercida pelo bloco A Sobre
o B. (considere g = 10m.s–2).

P2 – Um camião de frutas desloca-se em movimento rectilí-


neo numa estrada horizontal, com velocidade uniforme igual a
20 m/s. O camião transporta, na carroçaria, uma caixa de man-
gas de Lândana de massa total 30 kg. Ao ver um sinal de trânsito
a 100m, o motorista começa a travar uniformemente, de modo a
parar junto dele. (coeficiente de atrito cinético μc = 0,10).
a) Faça um esquema das forças que actuam sobre a caixa
durante a travagem.
Calcule o módulo da componente da força que o chão da carro-
çaria exerce sobre a caixa durante a travagem. R: F =60N

2.2. Leis de Newton

2.2.1. Lei da Inércia

Antigamente os sábios sustentavam que o estado natural


dos corpos era o repouso. Para que saíssem desse estado era
necessária a acção de uma força e, quando essa força deixava
de agir o movimento terminava e os corpos voltavam imedia-
tamente ao seu estado natural, o repouso. Com a introdução
de método experimental de Galileu o princípio de inércia hoje
se pode definir da seguinte forma:
Todo corpo continua no estado de repouso ou de movi-
mento numa linha recta com velocidade escalar constante

69
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

a menos que seja obrigado a alterar esse estado pela


acção de uma força resultante externa. Assim, se a força
resultante sobre um corpo for nula, ele estará em repouso ou
em movimento rectilíneo e uniforme.
A tendência de um corpo manter seu estado de repouso
ou de movimento rectilíneo com velocidade constante
é chamada inércia. Por esse motivo, a primeira lei de
Newton também é conhecida como princípio da inér-
cia. A massa do um corpo é a medida da sua inércia. Assim,
quanto maior for a massa de um corpo, maior é a sua inércia.
A tendência de um corpo manter seu estado de repouso ou de
movimento rectilíneo com velocidade constante é chamada
inércia. Por esse motivo, a primeira lei de Newton também é
conhecida como princípio da inércia. A massa do um corpo é
a medida da sua inércia. Assim, quanto maior for a massa de
um corpo, maior é a sua inércia. Os referenciais para os quais
vale o princípio da inércia são chamados referenciais iner-
ciais. A aplicação, num ponto material, de uma força ou de
um sistema de forças cuja soma vectorial não é nula produz
nele uma variação de velocidade.

Exercícios de aplicação

P1 – Conforme recolha Resolução


de informações o uso
• No caso de acidente, os ocupantes dum carro que estive-
do cinto de segurança
rem sem cinto de segurança são atirados para frente.
é obrigatório para pre-
venir lesões graves nos • A possibilidade de sair ileso dum acidente sem uso do
motoristas e passagei- cinto é de um por mil.
ros no caso de aciden-
• O uso do cinto de segurança reduz de 60% a 80% as mor-
tes. Explique a que lei
tes em choques frontais.
da Física está isso rela-
cionado.

70
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios propostos

P1 – No espectáculo de circo o palhaço se coloca diante duma


mesa com uma toalha. Sobre a toalha se coloca pratos e talhe-
res. O palhaço puxa a toalha rapidamente da mesa, mas os
pratos e talheres permanecem sobre ela. Que lei de Newton
explica este fenómeno?

P2 – Porquê o cavaleiro é atirado para frente quando o cavalo


pára, negando-se a saltar o obstáculo?

2.2.2. Lei Fundamental da Dinâmica

A Lei da Inércia (1ª Lei de Newton) como já vimos estabelece


o que ocorre com a um corpo na ausência das forças aplicadas
sobre ele ou quando a resultante aplicada sobre ele é nula.
A origem das forças que actuam sobre os corpos pode ter
natureza gravitacional, electromagnética, nuclear, etc.
As forças causam a aceleração dos corpos. A experiência mos-
tra que as forças aplicadas sobre um corpo é a causa da sua
aceleração.
Quanto maior for a força F aplicada sobre um corpo de massa
m, tanto maior será a sua aceleração a.
Para corpos de massas diferentes, ao aplicarmos a mesma
força, a aceleração será maior no corpo com menor massa e
menor no corpo com menor massa.
A relação quantitativa entre a força, a aceleração e a massa
mencionada acima pode ser expressa da seguinte forma: Fig. 2.8 – Força F aplicada sobre um
corpo
F ~ a , para m = constante.
A 2ª Lei da Newton é conhecida por Lei fundamental da
Dinâmica e enunciada da seguinte maneira:
A resultante das forças que actuam sobre um corpo é directa-
mente proporcional à aceleração que esse corpo adquire.

71
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Fr = M.a (2.3)
No SI a unidade da força é obtida dessa equação e recebe o
nome de Newton.
1Newton = 1kgms–2

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Um ponto material
de massa 200 kg des-
loca-se com uma acele-
ração constante durante
10 s percorrendo uma t2 2s
distancia de 500 m. s = a → a = 2 → a = 10m / s 2
2 t
Determine a força nela
aplicada. F = m.a → F = 200kg.10m / s 2
Dados F = 2000N
m = 200kg
t = 10s
s = 500m
F=?

P2 – Um comboio de Resolução
20.000kg percorre 50m F
F = m.a → a =
em M.R.U.V, a força m
aplicada a locomotiva
7, 2kN
é de 7,2kN. Determine a= → a = 3, 6.10–1 m / s 2
a sua velocidade. 20.000kg

Dados t2 2s
s=a →t =
m = 20.000kg 2 a
s = 50m v = at → v = 3, 6.10–1 m / s 2 .17s
F = 7,2kN
v=? v = 6,12m / s

72
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios propostos

P1 – Um bloco é lançado sobre um plano horizontal com velo-


cidade de 30m/s, percorre 100 m até parar. Calcule o coefi- R: µ = 0,45
ciente de atrito dinâmico.

P2 – Um corpo cai livremente de altura de 80 m. Qual é que


R: s = 35m
seu deslocamento durante o último segundo da queda?

P3 – Um corpo é lançado verticalmente para cima com a velo-


cidade de 30 m/s.
a) A que altura a sua velocidade será três vezes inferior do
a) R: h = 30m
que a inicial?
b) Quanto tempo passará até esse momento? b) R: t = 2s

P4 – Dois corpos de massas 0,3kg e 0,2 kg, ligados entre si por


um fio inextensível de massa desprezível, são suspensos por
uma roldana fixa.
a) R: a = 2m/s2
a) Com que aceleração se movem os corpos?
b) Qual é a tensão no fio durante o movimento? b) R: FT = 2,4N

P5 – Uma grua eleva uma carga de massa 1t. Qual é a tensão


no cabo no inicio do levantamento se a carga se moveu com R: FT = 35kN
aceleração de 25m/s2?

2.2.3. Lei da Acção e Reacção

A experiência quotidiana nos mostra vários exemplos onde se


manifesta a acção e reacção.
Quando se mantém um corpo sobre uma mesa, este exerce
sobre a mesa uma acção que é representada pelo seu peso,
por outro lado, por parte da mesa há uma reacção que é repre-
sentada pela oposição à deslocação do corpo.
Quando puxamos uma mola, sentimos nas mãos a reacção
desta. Se a mola partir-se, o repentino desaparecimento da
reacção pode desequilibrar-nos.

73
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

p-1 Quando se dispara uma arma de fogo, a força propulsora


(acção) do projéctil provoca uma reacção oposta que origina
o recuo da arma.
Todos estes exemplos permitem-nos formular o principio de
acção e reacção segundo a qual:
A qualquer acção opõe-se sempre uma reacção com a
M M mesma direcção e intensidade, mas sentidos opostos.
Fig. 2.9 – Acção e reacção Geralmente a acção e a reacção têm pontos de aplicação dife-
rentes.

Exercícios de aplicação

P1 – Uma caixa de
massa 50kg é erguida
verticalmente para cima
com aceleração de 1m/s2 Resolução
dentro de um prédio.
Considere g=10m
a) Faça a configuração P = m. g → P = 500N
das forças que actuam
sobre a caixa e cal- Fr = m.a + mg → Fr = 50kg.1m / s 2 + 500N
cule a sua intensidade
durante a sua eleva- Fr = 550N
ção.
b) Qual a intensidade da
força exercida pela
caixa sobre o piso do
elevador.
Dados
m = 50kg
a = 1m/s2
g = = 10m/s2

74
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios propostos

P1 – Consideremos um corpo de massa igual a 6kg em repouso


sobre um plano horizontal liso. Aplica-se uma força horizontal
F = 30N sobre o corpo. Admitindo-se g = 10m/s2, determine os
módulos da.
a) R: a = 5m/s2
a) Aceleração do corpo.
b) Reacção normal do plano de apoio. b) R: FNA= 60N

P2 – Tunga Muanza escolhe um corpo de massa igual a 2kg


inicialmente colocado em repouso sobre um plano horizontal
perfeitamente liso. Sobre o corpo passa a actuar uma força F
de intensidade 16 N aplicada obliquamente 60° ao plano hori-
zontal. (Dados g = 10m/s2 e ângulo 60°).
Determine: os módulos da
a) R: a = 4m/s2
a) Aceleração do corpo.
b) Reacção normal do plano de apoio. b) R: FNA= 6,40N

2.3. Impulso e Quantidade


de Movimento

É sabido que as leis de Newton permitem resolver problemas


sobre o movimento dos corpos. Em muitos casos é difícil cal-
cular as forças que actuam sobre os corpos. Por exemplo, na
colisão entre dois corpos, sabe-se que eles interactuam-se
pela força de elasticidade, mas a determinação desta força por
vezes é difícil. No caso simples da colisão entre duas esferas,
a deformação de cada uma delas torna-se difícil definir, por-
quanto não se sabe os valores das grandezas presentes na lei
de Hooke (F = k x) nomeadamente a deformação x e a cons-
tante de rigidez k.
Para isso recorre-se à formulações simples da lei de movi-
mento de Newton para resolução de problemas da Mecânica.

75
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Impulso de uma força


Partindo da lei de movimento,
F = m.a (1)
A aceleração caracteriza a rapidez com que varia a velocidade,
ou seja,
v – v0
a= (2)
t

Substituindo o vector a em (1) vem:

v – v0
F =m (3)
t
Decompondo a fórmula (3) obtemos:
F.t = m(v–v0) (2.4)
Se considerarmos uma força constante F agindo num ponto
material durante um intervalo de tempo = t – t0, teremos o
impulso como sendo
I = F. Δt (2.5)
O vector impulso tem a mesma direcção e o mesmo sentido
da força, e sua intensidade é determinada pela expressão (5),
sendo F a intensidade da força e Δt, o intervalo de tempo em
que esta força actua.
No Sistema Internacional a unidade do Impulso é (N . s)
A intensidade do Impulso é tanto maior quanto maior for a inten-
sidade da força F e quanto maior for o intervalo de tempo Δt.
Num gráfico F = f(t), o Impulso da força F corresponde nume-
ricamente à área varrida pela figura geométrica.
F

A
A= F(t0–t1) = F. Δt
A=I 0 t0 t1 t

76
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

A propriedade anterior é válida mesmo que a força, mantendo


a mesma direcção, varie com o tempo.
Observando a fórmula (2.4), podemos deduzir o membro
direito como sendo a expressão que representa a quantidade
de movimento (ou momento linear) pois, envolve a massa e a
variação da velocidade do corpo.
p = m.(v–v0)
Sendo Δv = v – v0, onde v e v0 representam a velocidade final
e inicial do corpo respectivamente.
Então p = m.Δv (2.6)
A quantidade de movimento é uma grandeza vectorial com a
mesma direcção e o mesmo sentido do vector velocidade.
Se um sistema de pontos materiais de massas m1, m2, …, mn,
que em determinado instante apresentam velocidades respec-
tivas, v1, v2, …, vn, então a quantidade de movimento do sistema
representa – se da seguinte maneira:
p = m1v1 + m2v2 + ... + mnvn
(2.7)
p = p1 + p2 + ... + pn

No Sistema Internacional (SI), a unidade de medida da quan-


tidade de movimento é o quilograma x metro por segundo:
kg . m . s – 1.

Fig. 2.10 – Atleta efectuando um salto

77
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios de aplicação

P1 – A massa de um Resolução
caminhão é 5000 kg e
descreve uma trajec- a) o módulo da quantidade de movimento é:
tória rectilínea e hori-
zontal com velocidade p = m.v
de 25 m / s. Determine p = 5000kg.25m/s
a quantidade de movi-
mento: p = 125000kg.m/s
a) Do caminhão;
b) Do caminhão com uma
carga de 3000 kg de b)
massa. p = p1 + p2

Dados p = m1 v1 + m2 v2
m = 5000kg v1 = v2 → p = (m1 + m2).v
v = 25m/s
p = (5000 + 3000).25
a) p= ? do camião
b) v = ? do camião p = 200000kg.m/s
+ carga

Relação entre quantidade de movimento e impulso


(teorema do impulso)
A quantidade de movimento e o impulso de uma força são
grandezas físicas que se relacionam. No caso de um jogador
que aplica uma força F, durante o intervalo de tempo Δt, sobre
a bola de massa m que se movimenta com a velocidade inicial
v0, a acção da força causa na bola uma aceleração a, alterando
a velocidade para v1. Assim podemos dizer que a força F foi
a responsável pela alteração da quantidade de movimento da
bola de p0 = m v0 para p1 = m v1.
Daqui conclui-se que a acção da resultante das forças que
agem num ponto material, durante um intervalo de tempo Δt,

78
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

imprime nele um impulso I, que corresponde à variação da


quantidade de movimento nesse intervalo de tempo.
p = p1 – p0 ou I = Δp (2.8)
Essa expressão, conhecida pelo teorema do impulso, é válida para
referenciais inerciais e é válida também quer para o movimento
rectilíneo uniformemente variado, como para outros movimen-
tos em qualquer trajectória.

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – A massa de um
a) corpo que se desloca
p = m.v1 em movimento rectilí-
neo cuja resultante das
p1 = 0,4kg.5m/s forças se mantêm cons-
tante é 0,4 kg. Se a velo-
p1 = 2kg.m/s
cidade inicial for 5 m / s,
e passados 5 segundos
b) 5 segundos depois teremos:
essa velocidade sobe
p2 = m.v2 para 7 m / s, determine:
p2 = 0,4kg.7m/s a) A quantidade de movi-
mento inicial do corpo;
p2 = 2,8kg.m/s b) A quantidade de movi-
mento do corpo passa-
dos 5 segundos;
c) Considerando que os vectores p1 e p2 têm a mesma direcção c) O impulso da força
e o mesmo sentido, então resultante que sofre o
corpos;
I = p1 + p2 → I = 2 + 2,8 → I = 4,8N.s
d) A intensidade da força
resultante agente no
d) sendo corpo.
I Dados
I = F .t → F =
t m = 0,4kg
v1 = 5m / s
4 , 8N . s t = 5s
F= → F = 0, 96N
5s v2 = 7m / s

79
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Conservação da quantidade de movimento

Existem várias situações, em que o conceito de quantidade


de movimento é fundamental para o entendimento dos fenó-
menos físicos envolvidos. Estudemos o conceito de quanti-
dade de movimento no caso de interacções de curta duração
entre corpos em que a resultante de forças externas é nula
como acontece nas colisões e explosões.
Quando duas esferas colidem, ocorre, durante a colisão,
uma troca de forças num intervalo de tempo muito pequeno.
A acção dessas forças causa variações das quantidades de
movimento de mesma intensidade e de sentidos opostos,
mantendo-se constante a quantidade de movimento do sis-
tema.
Se ocorrer variação de quantidade de movimento, tal facto
dever-se-á à forças externas ao sistema (peso, atrito ou nor-
mal).
Assim, um sistema isolado é aquele cujas forças externas são
nulas ou possuem intensidade muito menor quando compa-
radas às forças internas ou ainda se a resultante das forças
externas for nula.
A quantidade de movimento total de um sistema se conserva
se a resultante das forças externas que agem no sistema for
nula. Este enunciado corresponde à lei da conservação da
quantidade de movimento.

80
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Um comboio de
massa 10000kg atingiu
a quantidade de movi-
a) mento 2,0.105kg ms–1
p 2.105 kgms –1 ao fim de 2,0s, partindo
Fm = → Fm = do repouso.
t 2s
a) Qual foi a força resul-
Fm = 1.105 N
tante média que o
acelerou?
b) Qual foi o valor da ace-
b) leração média?

Fm 1.105 N Dados
am = → am = m = 10000kg
m 1.104 kg
p = 2,105kg.m/s
am = 10m / s 2 t = 2s
a) Fm= ?
b) am= ?

2.3.1. Impulso de uma Força

Da 2ª Lei vimos que a força F aplicada sobre um corpo de


massa m imprime-lhe uma aceleração a.
v
Da expressão F = ma teremos, para a =
t

v (2.9)
F =m
t

ou F∆t = m∆v (2.10)

outra forma da expressão da 2ª lei

81
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

O produto da força pelo intervalo de tempo expressa uma


nova grandeza física, chamada Impulso da força sobre o corpo.
Caracteriza a força aplicada sobre um corpo durante um deter-
minado intervalo de tempo.
I = F∆t (2.11)
(Impulso da força)

O Impulso de uma força resultante, F, é devido à sua apli-


cação a um corpo durante um intervalo de tempo, é igual à
variação da quantidade de movimento desse corpo (m∆v)
ocorrida nesse intervalo de tempo.
No SI, a unidade do Impulso da força é obtida pelo produto da
unidade de força N pela unidade de tempo s, isto é Newton.
segundo (N.s).
N.s = (kg.ms–2).s = kgms–1

Exercícios de aplicação

P1 – Uma força F de
intensidade 20N, direc-
ção vertical e sentido
ascendente é aplicada Resolução
num ponto material
durante 10s. Deter- I = F.t
mine a intensidade, a
direcção e o sentido do I = F.t
impulso dessa força.
I = 20.10
Dados I = 200N.s
F = 20kg
t = 10s
I=?

82
PARTE I – Mecânica
UNIDADE 1I – Interacções entre Corpos

Exercícios propostos

P1 – Uma bola de massa 4kg é chutada contra uma parede


com velocidade 15m Sabendo que esta retorna com mesma
R: p = –120N.s
velocidade, qual o impulso aplicado pela parede a bola.

P2 – Uma arma de massa 6kg dispara uma bala de massa 200g


com a velocidade de 300m. Determine a velocidade de recuo R: v = –10m/s
da arma

83
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Unidade 1I1
Trabalho e Energia

3.1. Trabalho de uma Força Constante

A característica do movimento mecânico assenta (consiste) no


conceito de trabalho mecânico ou trabalho de uma força.
Na linguagem comum a palavra trabalho usa-se para exprimir
qualquer actividade exercida por um indivíduo.
Em Física o conceito de trabalho tem outro significado como
veremos nos seguintes exemplos:

a) b) c)

d) e)
Fig. 3.1 – Malenga levantando um objecto (a, b, c, d, e)

Um menino levanta um objecto.


Um avião a levantar voo;
Estes exemplos mostram que o trabalho mecânico se realiza
quando há deslocamento de um corpo sob a acção de uma
Fig. 3.2 – Um avião a descolar força.

84
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Se uma força aplicada a um corpo não produzir nele nenhum


deslocamento, diz-se que o trabalho dessa força é nulo.

Trabalho mecânico (W) é o trabalho realizado por


uma força quando produz um deslocamento no corpo.

Consideremos as seguintes situações:

1ª Situação: A força e o deslocamento têm a mesma direcção

O trabalho da força F no deslocamento (s) de AB é dado


pela expressão:
W = F.s (3.1)
Esse trabalho corresponde à energia transferida ao corpo
pela força nele aplicada supondo ideal o sistema, ou seja,
sem perdas de energia.
Quando a força tiver a mesma direcção e o mesmo sentido Fig. 3.3 – Malenga empurrando uma
caixinha
do deslocamento, o trabalho dessa força denomina-se
trabalho motor (W> 0). Se, pelo contrário tiver a mesma
direcção mas sentido oposto ao do deslocamento, então
denomina-se trabalho resistente (W < 0).
No Sistema Internacional o trabalho mede-se em Nm
1 Nm = 1 J

1 Joule é o trabalho realizado por uma força de


1 newton que actua na mesma direcção e sen-
tido de um deslocamento de l metro

No Sistema CGS o trabalho mede-se em Dina. Centímetro


1 dine.cm = 1 Erg
1 J = 105 dine.102 cm
1 J = 107 dine.cm
1 J = 107 erg

85
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

No Sistema Técnico o trabalho mede-se em Cavalo - Vapor


(CV) e Horse – Power (HP)
O Cavalo Vapor corresponde à potência necessária para
erguer a de m um corpo de massa 75 kg em 1 segundo
num local onde g = 9,8 m/s2
1 CV = 735 W
1 HP = 746 W

2ª Situação: A força e o deslocamento não têm a mesma direcção


(formam um ângulo entre SI)

O trabalho da força F no deslocamento (s) de AB é dado


pela expressão:
WAB = F.s cos α (3.2)
O trabalho é uma grandeza escalar. Por isso pode ser posi-
tivo (0° ≤ α < 90°) ou negativo (90° < α ≤ 180°). Quando
Fig. 3.4 – Ritinha puxando um car- a força for perpendicular à direcção do deslocamento, o
rinho amarrado a uma corda trabalho da força F é nulo, pois cos 90° = 0.

Exercício de aplicação

P1 – Tunga Muanza
eleva um corpo de massa
20kg a uma altura de 3m Resolução
durante 10s. Qual será
o valor da força que ele
deve exercer para que o F = m.g → F = 20kg.10m.s–2
corpo suba com veloci-
dade constante sabendo F = 200N
que a aceleração da gra-
W = F.s.cosα
vidade é de 10ms–2. Que
trabalho se realiza? W = 200N.3m.cos00
Dados
W = 600J
m = 20kg
s = 3m
t = 10s
F= ? W=?

86
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Exercícios propostos

P1 – Que grandezas caracterizam o trabalho mecânico?


Define-as.

P2 – Um corpo de massa 6kg é lançado horizontalmente com


a velocidade de 20m/s sobre uma superfície plana horizontal.
(Considere g = 10m/s2 e sem atrito).
a) Calcule o trabalho realizado pela força até o corpo atingir a) R: W = 1200J
o repouso.
b) Determine o trabalho realizado pela força peso e pela b) R: Wp = WN = 0
reacção normal do apoio durante todo o percurso.

3.2. Trabalho de uma Força Variável

Suponhamos um corpo de massa m que se desloca de um


ponto A (nível alto) para um ponto B (nível baixo), seguindo
uma trajectória qualquer.
Sendo P o peso do corpo e s o seu deslocamento entre os pon-
tos A e B, o trabalho realizado pela força peso tem a seguinte
expressão:
WAB = P.s cos α
WAB = P.h
WAB = m.g.h (3.3)
Independentemente do caminho a percorrer, o trabalho da força
peso não depende da trajectória entre os pontos de partida e de Fig. 3.5 – Corpo deslocando de
chegada. Por isso a força peso é uma força conservativa. baixo para cima

Se, pelo contrário o deslocamento se efectuar do ponto B para


o ponto B, ou seja, durante a subida, o trabalho da força peso
é negativo
WAB = P.h
WAB = m.g.h

87
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Exercício de aplicação

P1 – Calcula o traba-
lho realizado por uma
pedra que possuí uma Resolução
massa de 2kg quando
a mesma e atirada para
W = m.g.h
cima atingindo uma
altura de 8 metros, cuja W = 2kg.10m.s–2.8m
aceleração e de 10m.s–2.
W = 160J
Dados
W= ?
m = 2kg
h = 8m
g = 10m.s

Exercícios propostos

P1 – Um bloco com 4kg, inicialmente em repouso, é puxado


por Panzo António com uma força constante ao longo de uma
distância de 15m, sobre uma superfície plana, lisa e horizontal,
R: W = 2J
durante 2s. Qual o trabalho realizado por essa força.

P2 – Uma gota de chuva de massa igual a 0,1g cai no ar com


velocidade constante de 1m/s, percorrendo assim uma distân-
cia de 100m. A aceleração da gravidade no local é 10m/s–2.

a) Qual o trabalho realizado pela força peso durante a


a) R: W = 0,10J
queda?
b) Qual o trabalho executado pelas forças de resistência do
b) R: W = – 0,10J ar nessa queda?

88
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

3.3. Potência

Vimos que as forças realizam um trabalho sobre os corpos. As


máquinas são engenhos concebidos para realizar diferentes
tipos de trabalho. Qualquer máquina realiza um determinado
volume de trabalho num determinado tempo.
A potência é a rapidez com que é realizado o trabalho. Quanto
menor for o tempo para realizar o mesmo trabalho, maior a
potência desenvolvida e vice-versa.
A potência P de uma máquina é igual à razão entre o trabalho
W realizado e o intervalo de tempo t durante o qual ele foi rea-
lizado.

W F .s
P= , para W = F .s → P =
t t

Sendo

s
v = → P = F .v (3.4)
t

onde
F é a força e v a velocidade.
No sistema SI a unidade de potência é Watt (W)
1W = 1J/1s

Em engenharia emprega-se frequentemente uma unidade


equivalente à 1000W designado Quilowatt (KW) ou 1.000.
000 W, Megawatt (MW).
Outras unidades diferentes do SI são:
– Horse – Power (HP), 1HP = 746 W (Inglaterra)
– Cheval – vapeur (Cv), 1Cv = 735 W (França)

89
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Exercício de aplicação

P1 – Costuma-se medir Resolução


a potência de um carro
pela velocidade máxima a)
que ele é capaz de atin- v = 108km/h = 108/3,6 = 30m/s
gir em 10s de movi-
mento, em linha recta, a
partir do repouso. Para
um certo carro, essa
b)
velocidade máxima é
v 30
108km/h. Nessa situa- am = → am = = 3m / s 2
ção: t 10
a) Qual o valor dessa velo-
cidade máxima, em
c)
metros por segundo?
Pm = ? Força média que o carro desenvolve
b) Calcule a aceleração
média do carro nesse Fm = m.a → Fm = 1000.3 = 3000N
trecho, em metros por
segundo ao quadrado.
Deslocamento nesse trecho v2 = v20 = + 2as
c) Sabendo-se que a massa
do carro é 1000kg, 302 = 02 + 2.3.s = 150m
aproximadamente, cal-
cule a potência média Trabalho da força F
(em watt s) que ele
desenvolve nesse tre- W = F.d → W = 3000.150
cho, desprezando-se os
atritos. W = 4.5.105N
d) Qual a potência do
carro no instante 10s? Potência média
Dados W 4 ,5.105
Pm = → Pm = = 4 ,5.104 Watts
t = 10s t 10
v = 108km/h
a) v = ?
b) am = ? d)
c) m = 1000kg, Pm = ? P = F.v → P = 3000.30 = 9.104Watts
d) P = ?

90
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Exercícios propostos

P1 – A propaganda de um automóvel diz que ele consegue


atingir a velocidade de 108km/h numa recta horizontal de
150m, partindo do repouso. Sendo 1200kg a massa de auto- R: P = 54kW
móvel, determine a potência que ele desenvolve.

P2 – Uma máquina realiza um trabalho de 2400J em 15s.


R: P = 160 W
Determine a potência média desta máquina.

P3 – Um guindaste foi projectado para suspender vertical-


mente um fardo de massa igual a 3.103 kg, à altura de 10m, no
intervalo de tempo de 30s. A aceleração da gravidade no local
R: P = 9,8.103 W
é 9,8m/s2. Calcule a potência d média deve desenvolver.

3.4. Energia potencial

Chama-se energia potencial a que depende da posição mútua


dos corpos ou das posições relativas de um mesmo corpo.
A energia potencial é uma forma de existência da energia
mecânica quando está armazenada, podendo a qualquer
momento manifestar-se, transformando-se em outra forma
de energia. Por exemplo, sob a forma de movimento. A ener-
gia hidráulica e a nuclear é exemplos de existência de energia
potencial visto que são energias que estão em potência ou
armazenadas.
A energia potencial só depende das posições inicial e final. Por
esse motivo é associada ao trabalho das forças conservativas.

OBS: conservativa quer dizer que durante o movimento de um


corpo sujeito a esse tipo de força não há perca de energia
completa.

91
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Tipos de energia potencial

Energia potencial gravitacional: é a energia que os siste-


mas possuem perto da superfície da terra. Representa-se
mediante a seguinte fórmula:
Ep = m.g.h. (3.5)
onde: m, é a massa do corpo; g, aceleração gravitacional e h,
a altura.
g = cte e tem o valor de 9,8 ms–2
Para grandes distâncias muito longe da superfície da terra,
ex: satélites artificiais ou naturais, … etc. a energia gravitató-
ria representa-se mediante a seguinte fórmula:

M1 .m2
E g = −G (3.6)
R
onde G é a constante universal gravitacional, M1 a massa da
terra, m2, massa do corpo ou satélite, R distância tomada
desde o centro da terra até o corpo, relativo ao referencial,
neste caso tomado da terra.

3.4.1. Energia Potencial Elástica

É a energia de uma mola que possui elasticidade ou corda que


está esticada.
A mola é um corpo que apresenta comportamento ideal para
se estudar esse tipo de energia. Pois toda a energia que ela
recebe para se deformar realmente armazena, assim que a
energia potencial acumulada nessa mola representa-se pela
seguinte fórmula:
kx 2
Eelas = (3.7)
2
Onde x representa a deformação (contracção ou distensão)
sofrida pela mola e k é a constante elástica que mede o grau
de dificuldade para o corpo se deformar; depende do material
de fabrico da mola.

92
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Pela equação da energia potencial elástica, podemos notar que


quanto maior for a deformação e quanto maior for a dificul-
dade para o corpo se deformar (k), maior será a quantidade de
energia potencial elástica que essa mola armazenará.
A energia em todos esses casos esta sendo utilizada para
deformar um corpo.
Assim como nos exemplos citados, sempre que um corpo for
deformado e mantém a capacidade de diminuir essa deforma-
ção voltando ou não a forma original, dizemos que esse corpo
armazenou um tipo de energia chamada energia potencial
elástica.

Exemplos de ocorrências

a) b)

Fig. 3.6 – a) Mola distendida; b) Mulher puxando uma corda de arco e flecha

A designação potenial é devida ao facto de o corpo ser esti-


cado ou comprimido poder adquirir movimento espontâneo
após ser libertado. A denominação elástica vem do facto de
a capacidade de deformar e voltar a forma inicial, chamada
elasticidade. Tal como já fizemos referência no tema anterior a
energia potencial gravitacional é também uma energia arma-
zenada, e, associa-se a um corpo devido a sua posição em rela-
ção a outros corpos ou mesmo em relação a terra.

93
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Uma bola a ser abandonada de uma altura H a partir do ponto


A até ao ponto B que pode ser considerado como a Terra.
Á medida que a bola cai a energia potencial vai diminuindo e
aumenta a energia cinética, assim como a sua velocidade.
Quando uma mola elástica é esticada ou comprimida, a força
necessária para o efeito aumenta à medida que a mola aumenta
ou diminui de comprimento.

Fig. 3.7 – Mola em distensão

Segundo a Lei de Hook cujo gráfico se apresenta, o trabalho da


força F aplicada na mola e produz nela uma deformação x, pode
ser calculado em função da área do triângulo destacado na figura.

F(x)
kx

0 x X

Fig. 3.8 – Lei de Hook

A = W = (base.altura) / 2 = (x.k.x)/2

kx 2
W= (3.8)
2

94
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Se a mola for distendida (aumento de comprimento) ou compri-


mida (redução de comprimento) o trabalho da força elástica de
restituição será positivo.
Tal como a força peso, a força elástica é também uma força con-
servativa.

Exercício de aplicação

Resolução P1 – Qual será a energia


potencial elástica arma-
zenada numa mola de
constante elásti ca
kx 2 250.0, 04
Eelas = → Eelas = K = 250N.m–1 quando
2 2 estica 20cm?
Eelas = 5 J Dados
Eelas = ?
k = 250 N.m–1
x = 20cm = 0,2m

Exercício proposto

P1 – Uma bala de revolver é disparada verticalmente para cima


e atinge altura máxima de 4000m acima do ponto de disparo.
Considere g = 10m/s2 e despreze a resistência do ar, determine
R: V = –282 m/s
a velocidade com que a bala saiu do cano do revolver.

P2 – A massa do martelo de um bate-estacas é 200kg e ele cai


de 2m de altura sobre a estaca. Suponha o sistema conserva-
tivo e adopte g = 10m/s2.
a) Qual a energia potencial inicial do martelo, em relação à a) R: Ep = 4000J
estaca?
b) Qual a velocidade do martelo no instante do impacto? b) R: v = m/s

95
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

3.5. Energia Cinética


– Teorema de Trabalho e Energia
A velocidade de um ponto material varia por acção da força
aplicada. O trabalho da força aplicada está relacionado com a
variação da velocidade do ponto material.
Esta relação expressa-se mediante a energia cinética do
ponto material.
Para determinar a energia cinética de
um ponto material calculemos o pri-
meiro trabalho realizado para variar a
velocidade do ponto material de massa
m desde v1 até v2. Para isso apliquemos
ao ponto material uma força constante
paralela ao vector velocidade v1, força
que em certo intervalo de tempo, varia a
velocidade desde v1 até v2. Neste inter-
valo de tempo, o ponto material per-
corre uma distância s, e a força realiza o
trabalho.
Fig. 3.9 – Meninos observando a corrente da água do rio Kuanza
w = F.s (3.9)
O espaço percorrido pelo ponto material é dado por

v22 − v12
s= (3.10)
2a
A força dada por
F = m.a (3.11)

Substituindo as equações (3.10) e (3.11) na equação (3.9),


obtemos
v22 − v12
W = ma
2a
Donde
mv22 mv12 (3.12)
W= −
2 2

96
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Assim temos o trabalho da força que é igual a variação da


2
grandeza mv , que se denomina energia cinética. Designando
2
energia cinética por Ec:
mv 2 (3.13)
Ec =
2
A energia cinética é função do movimento. Em Física ener-
gia cinética de um ponto material define-se como sendo a
metade do produto da massa pelo quadrado da velocidade.
A energia cinética de um sistema é igual ao somatório das ener-
gias cinéticas de todas as partículas constituintes do sistema.
1
Ec = ∑ mv 2 (3.14)
2

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Uma bala de uma


espingarda, de massa
20g, tem a velocidade
a) 200m/s quando atinge
m.v 2 2.10–2.40000 uma parede e nela pe-
EC = → EC = v = 200m / s netra 25cm, até parar.
2 2
a) Qual a energia ciné-
EC = 400 J tica da bala ao atingir
a parede?
b) Qual a intensidade da
força de resistência da
b)
parede sobre a bala,
W = Ecf – Eci → F.s = Ecf – Eci supondo-a constante?

F.2,5.10–1 = 0 – 400 Dados


m = 20g = 2.10–2kg
F = 1600N
Ec = 400J
s = 25cm = 2,5.10–1m
a) Ec = ? b) F= ?

97
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Exercícios propostos

a) R: W = 9600J; P1 – Raquel puxa uma caixa de massa de 10kg ao longo de 8m


o trabalho reali- de uma superfície horizontal onde o atrito é desprezável.
zado causará uma A força exercida pela Raquel é horizontal, tem intensidade de
variação de veloci- 1200N e a caixa inicialmente estava em repouso.
dade da caixa

a) Determine o trabalho realizado pela Raquel?


b) R: W = 9600J;
W ≠ Ecf
b) Calcule a energia cinética final da caixa. Compare esse
pois Ecf = 0 valor com o trabalho realizado pela Raquel?

P2 – Um carro percorre uma curva plana, horizontal e circular,


de raio igual 1km, com a energia cinética constante igual a 2.105J.

a) R: F = 400N a) Calcule a força resultante actuando sobre o carro?


b) Qual o trabalho da força resultante sobre o carro ao per-
b) R: W = 0J
correr ¼ de circunferência?

3.6. Lei de Conservação


da Energia Mecânica

Energia mecânica é a soma da energia cinética com a energia


potencial que uma partícula tem num dado instante.
Exemplo:
uma bola solta do alto, durante a descida vai perdendo ener-
gia potencial e vai ganhando energia cinética. A soma destas
energias em cada instante é constante e denominamos de
energia mecânica.

Num sistema conservativo, a energia mecânica total perma-


nece constante, qualquer que seja a transformação do sistema.

98
PARTE I – Mecânica
UNIDADE III – Trabalho e Energia

Exercício de aplicação

Resolução P1 – O recorde olím-


pico de salto com vara
é aproximadamente 6m
de altura. Considerando
mv 2
= mgh que o atleta tenha conse-
2 guido transformar toda
a sua energia cinética
v = 2 gh
da corrida de impulso
para o salto em energia
v = 2.10.6
potencial gravitacional
v = 11m / s ao transpor o obstáculo,
calcule a sua velocidade
imediatamente antes de
fincar a vara no solo
para iniciar o salto?
Dados
g = 10m / s2
h = 6m
Ec = Ep
v=?

Exercício proposto

P1 – Uma mola de constante elástica 3200N/m mostra-se


comprimida de 0,2m contra o chão. Sobre ela, repousa um
bloco de massa M = 2kg. A mola é solta e arremessa o bloco
verticalmente. Qual é o módulo da velocidade do bloco quando
este atingir uma altura de 2,4m? Com relação à posição inicial,
R: v = 4 m/s
despreze todas as forças dissipativas e considere g = 10 m/s2.

99
100
PARTE II
Fenómenos
Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

UNIDADE 2 – Equação de Estado de um Gás Perfeito

UNIDADE 3 – Termodinâmica

101
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

PARTE 1I: FENÓMENOS TÉRMICOS

Unidade 1
Energia Térmica

Fig. 1.1 – Águas termais do Chilesso (Andulo)

Encontramo-nos, a todo instante da vida, em contacto com


outros corpos que nos dão a sensação de quente ou frio. Estas
sensações nos transmitem as primeiras noções da energia
térmica.

1.1. Temperatura

Sempre que falamos de temperatura de um corpo, fazemos


referência ao nível de vibração das suas moléculas.
A temperatura, porém, pode ser medida de várias maneiras.
Obtêm-se essas temperaturas de maneira indirecta, por com-
paração. Tal processo só é possível porque certas grandezas

102
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

das substâncias, a exemplo do comprimento de uma barra, o


volume de um gás ou o brilho da luz emitida por um sólido
muito quente, variarem com a temperatura. Medida a variação
sofrida por uma das grandezas, podemos avaliar a tempera-
tura de um corpo.
É com base na variação dessas grandezas que são construídos
os termómetros, dispositivos capazes de medir a temperatura
dos corpos.
Para que possam indicar a variação de temperatura dos diferen-
tes corpos, é preciso que os termómetros sejam graduados. E essa
graduação é feita de acordo com várias escalas termométricas.

1.1.1. Escalas Termométricas


Para o efeito é necessário estabelecer os seus pontos fixos,
atribuir aos mesmos e dividir em partes iguais o intervalo
entre eles, seguindo o seguinte:
Escolhemos determinados fenómenos físicos, que podem ser
repetidos em condições idênticas quantas vezes forem neces-
sárias. São exemplos de pontos fixos:
• (PG) Ponto de Gelo → corresponde à temperatura do
gelo que se transforma em água quando submetida à
pressão de uma atmosfera.
• (Pv) Ponto de Vapor → corresponde à temperatura da
água fervente que se transforma em vapor quando sub-
metida à pressão de uma atmosfera.

Depois dessa operação atribuir-se-lhes valores numéricos e, a


seguir, divide-se o intervalo entre eles em partes iguais.
As diferentes escalas dependem dos valores atribuídos a esses
pontos e as divisões feitas entre eles.
Dentre as escalas conhecidas, as mais utilizadas são:
• Celsius [°C]
• Fahrenheit [F]
• Kelvin [K]

103
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

°C Analisando cada escala que segue


90

80 Escala Célsius
70

60
Esta escala foi estabelecida pelo físico sueco Anders Celcius.
Ele atribuiu o valor zero ao ponto correspondente à tempe-
50

40

30 ratura do gelo e o valor 100 ao ponto de vapor. Divide-se esse


20
intervalo em 100 partes iguais. Cada uma dessas partes cor-
responde à variação de um grau Celsius.
10

Escala Fahrenheit
Fig. 1.2 – Termómetro com escala
Celsius Esta escala foi elaborada pelo físico alemão Daniel Fahrenheit,
e é muito usada nos países da língua inglesa.
°F De acordo com esta escala Fahrenheit, o ponto de gelo cor-
212
responde ao número 32 e o ponto de vapor ao número 212.
O intervalo entre esses números está dividido em 180 partes
iguais (212-32). Cada uma dessas partes corresponde à varia-
ção de um grau Fahrenheit.

Escala Kelvin

32
A escala Kelvin foi criada pelo físico inglês Lord Kelvin e é muito
usada em pesquisas científicas. Esta escala é conhecida também
por Escala Absoluta ou termodinâmica. O seu ponto de gelo cor-
Fig. 1.3 – Termómetro com escala
Fahrenheit
responde ao número 273 e o seu ponto de vapor ao número 373.

1.1.2. Relações entre as Escalas Termométricas


Para percebermos melhor as relações existentes entre as
várias escalas vamos considerar a seguinte situação:

Pv (ponto de vapor) 100 212 373

(temperatura
100 180 100
em
cada escala) C F K
X
C–0 F–32 K–273

PG (ponto de gelo) 0 32 273

Fig. 1.4 – Comparação entre escalas termométricas

104
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Sendo a temperatura igual, o mercúrio sofrerá a mesma dilata-


ção em todos os termómetros ainda que cada um esteja a mar-
car um valor diferente, devido a cada termómetro associar um
valor correspondente, na sua escala. Os segmentos que corres-
pondem à varia de temperatura (PV – PG) são iguais para todos
termómetros e os que correspondem à dilatação do mercúrio,
a partir do ponto de gelo (X – PG), também são iguais. Pode-
mos, desta feita estabelecer as seguintes relações:

X − PG C F − 32 K − 273,16
= = = (1.1)
PV − PG 100 180 100

Desde que conheçamos PG e PV podemos, consequentemente,


estabelecer correspondência entre quaisquer escalas.

Exercícios de aplicação
Resolução P1 – A temperatura
Para resolver esse problema, F − 32 C de um doente regista
=
basta aplicar as fórmulas 1.1 180 100 no termómetro 40°C.
relacionando a escala Fahre- C Determine o valor dessa
nheit com Celsius: F − 32 = .180 temperatura nas escalas
100
Fahrenheit e Kelvin.
180.40
F= + 32
100
F = 104°F

Relacionando a escala Kelvin K − 273,16 C


com a Celsius: =
100 100
C
K − 273 = .100
100
K − 273 = C
K = 40 + 273,16
K = 313K

Resposta: nas escalas Fahrenheit e Kelvin, a temperatura do


doente será respectivamente igual a: 104° e 313K.

105
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Exercícios propostos

P1 – Assinale com F ou V as seguintes afirmações:


a) Temperatura e o grau de agitação térmica das moléculas
de um corpos.
b) Dois sistemas estão em equilíbrio térmico com um ter-
ceiro, logo eles estão em equilíbrio entre si.
c) Um dos pontos fixos da escala termodinâmica e o ponto de
gelo que deve ser obtido sob pressão de 2 Atm na escala
Célsius corresponde 0 C ̊ na escala Fahrenheit corresponde
a 32 °F e na escala Kelvin a 27.
d) Quanto maior for a massa de um corpo tanto maior será
sua temperatura.
e) O zero absoluto (0° K = – 273 °C) é o estado de agitação que
encontramos os corpos.

P2 – Três corpos em contacto entre si estão em equilíbrio tér-


mico. Nessa situação podemos afirmar:
a) Os três corpos apresentam-se no mesmo estado físico.
b) A temperatura dos três corpos é a mesma.
c) O calor contido em cada um deles é o mesmo.
d) O corpo de maior massa tem mais calor que os outros dois.
e) Nenhuma das respostas anteriores.

R: T = 293°K P3 – Converta 68 °F para a escala Kelvin.

P4 – Uma massa de gás varia a sua temperatura entre 300 °K


R: t = 540
para 600°K. Quanto será essa variação na escala Fahrenheit?

R: t = 113°F e t = 318°K P5 – Que valores são lidos nos termómetros Fahrenheit e Kelvin
se o termómetro Célsius lê 45 °C?

106
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

1.2. Dilatação dos Sólidos

1.2.1. Dilatação Linear

A maior parte dos sólidos dilata-se quando aquecida. Suponha


que uma barra de determinado material tenha comprimento
L0 à temperatura inicial e que, quando a temperatura cresce,
ΔT, o comprimento aumentará de ΔL. A experiência mostra
que se ΔT não for muito grande, ΔL será directamente propor-
cional a ΔT. Certamente, ΔL também será proporcional a L0. Se
duas barras do mesmo material sofrerem a mesma variação
de temperatura, mas uma for o dobro da outra, então, a varia-
ção do comprimento desta também será o dobro da outra.
Introduzindo uma constante de proporcionalidade α (que é
diferente para materiais diferentes), pode se resumir nesta
relação.

ΔL = α L0 ΔT ou L = L0 (1 + α ΔT) (1.2)

A constante α que caracteriza as propriedades da expansão


térmica de um dado material, é chamada coeficiente de dila-
tação linear.
Para materiais que não têm direcções preferenciais, cada
dimensão varia de acordo com Equação 5.2. Assim, L pode
representar a espessura da barra, a aresta lateral de uma
tira comprida ou o diâmetro de um furo no material. Existem
alguns casos excepcionais. A madeira, por exemplo, expande-
se de modo diferente no sentido das fibras e no sentido trans-
versal e elas; monocristais de alguns materiais podem ter
diferentes propriedades ao longo de eixos cristalinos dife-
rentes. Deve-se enfatizar que a proporcionalidade directa
expressa em 5.2 não é exacta, mas aproximadamente correcta
para variações de temperatura suficientemente pequenas.
Para qualquer temperatura, pode-se definir um coeficiente
de dilatação térmica pela seguinte equação:

1 l (1.3)
α= .
L T

107
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Neste caso, observa-se que (α), para um dado material, varia


ligeiramente em função de transferência inicial e com a varia-
ção de temperatura. É, entrançando, boa, podendo-se igno-
rar estas variações. Valores médios de para vários materiais
estão listados na tabela (1-1):

Tabela (1-1) – Coeficiente de Dilatação Linear

Material α (°C)
Alumínio 2,4×10–5
Latão 2,0×10–5
Cobre 1,7×10–5
Vidro 0,4-0,9×10–5
Aço 1,2×10–5
Invar 0,09×10–5
Quartzo (fundido) 0,04×10–5

Li Figura 1

Barra de metal
Ti L
Lf
Barra de metal
Tf L=Lf-Li

Fig. 1.5 – Barra metálica em dilatação

108
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Exercícios de aplicação

P1 – Uma barra de aço


Resolução de 20.000 mm está sub-
metida a uma tempera-
Δl = αl0 Δt tura de 0 °C. Determine
o comprimento dessa
Δl = 12.10–6/ 0C.20000mm.100 °C
barra quando for aque-
Δl = 24mm cida a 100 °C.
l = l0 + Δl
l = 20000mm + 24mm Dados
l = 20024mm l0 = 20000mm
t0 = 00C
Δt = 1000C
α = 12.10–6/ 0C

P2 – Uma chapa de
Resolução cobre de forma rectan-
gular com as dimensões
de 0,5m x 2m e encon-
ΔS= βS0 Δt tra-se submetida a tem-
AS = 2.17.10–6 0C–1.1m2.(100 – 20) °C peratura de 20 °C. Qual
ΔS = 34.10–6 .80m2 → ΔS = 2,72.10–3 m2 é o aumento da área
sofrido por essa chapa
quando a sua tempe-
ratura atingir 100 °C?
(α = 17.10–6 °C–1).

Dados
S0 = 1m2
t0 = 200C
t = 1000C
α = 17.10–6 0C–1

109
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Exercícios propostos

R: α = 5 x 10–5 oC–1 P1 – O gráfico representa a variação do comprimento de uma


barra homogénea. Qual é o valor do coeficiente de dilatação
linear do material?
X

2,02

0 200 t(°C)

R: t = –5,4 oC P2 – Uma barra de cobre de 2 m de comprimento à temperatura


de 24 oC tem coeficiente de dilatação linear 1,7 x 10–5 oC–1. Em
que temperatura a barra terá 1 mm a menos de comprimento?

R: α = 8.10–6 oC–1 P3 – Uma placa metálica aquece-se de 0 oC a 50 oC e sua área


altera-se em 1000 cm2 para 1000,8 cm2. Calcule o coeficiente
linear médio da placa.

1.2.2. Dilatação Superficial

A dilatação superficial de um corpo é aquela em que predo-


mina a variação em duas dimensões e calculada através da
seguinte equação:
ΔS= β.S0.Δt dilatação superficial
S = S0 + βS0 Δt
S = S0 (1 + βΔt) (1.4)

Superfície total após dilatação


Sabendo β = 2α c oeficiente de dilatação superficial em relação
a linear
Logo S = S0 (1 + 2α.Δt) (1.5)

110
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Isto explica a razão pela qual a sua superfície é composta de dois


lados ou linhas (comprimento vezes comprimento).

No entanto, nalguns corpos, nenhuma das suas dimensões pode


ser descurada, pois a sua dilatação altera não apenas o seu com-
primento ou a sua superfície, mas também o seu volume. É o caso,
por exemplo, de um cubo, de um paralelepípedo ou de uma esfera.
Nestes casos, temos que considerar as três dimensões, pois o
corpo sofre uma dilatação volumétrica.

Exercício proposto

P1 – Uma chapa quadrada de ferro tem 3 m de lado a 20 °C. R: A = 2,4.10–5m2


Sabendo que o coeficiente de dilatação linear do ferro e 12 x
10–6 °C–1 , Calcule a área dessa chapa num local cuja a tempe-
ratura é de 95 F?

1.2.3. Dilatação Volumétrica

O aumento de temperatura normalmente causa um aumento


no volume tanto dos sólidos como dos líquidos. A experiência
mostra que, se a variação de temperatura Δt não for dema-
siado, o aumento de volume ΔV será aproximadamente pro-
porcional á variação de temperatura. Ela também será pro-
porcional ao volume inicial V0. Como na dilatação linear
A relação pode ser expressa assim:
ΔV = γ.V0. Δt (1.6)
A constante, γ que caracteriza as propriedades de dilatação
volumétrica de um dado material, é chamada coeficiente de
dilatação volumétrica.
Assim como coeficiente de dilatação volumétrica γ varia ligei-
ramente. Para muitas substâncias γ decresce quando a tem-
peratura diminui, aproximando de zero. É interessante notar
que, quanto maior for o ponto de fusão de um metal, menor
será o seu coeficiente de dilatação volumétrica.

111
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Exercícios propostos

R: γ = 5,36 .10–4 oC–1 P1 – Um recipiente de ferro tem um coeficiente de dilatação


linear de 12 . 10–6 °C–1. Se estiver a 0 °C totalmente cheio de um
liquido cujo volume e de 120 cm3. Ao ser aquecido o conjunto a
200 °C extravasam 12 cm3 de liquido. Determine o coeficiente
de dilatação real do líquido?

P2 – Um recipiente de vidro tem capacidade C de 91000 cm3


a 0 oC e contem a essa temperatura 90000 cm3 de mercúrio.
A que temperatura o recipiente estará completamente cheio de
mercúrio?

R: α = 6,7 .10–6 oC–1 P3 – O volume de um bloco metálico sofre um aumento de 0,4%


quando sua temperatura varia de 200 oC. Qual e o coeficiente de
dilatação linear desse metal?

R: V = 2512,75 cm3 P4 – Um recipiente de cobre tem a capacidade de 2500 cm3


a 0 oC. Calcule sua capacidade a 100 oC. Dados coeficiente de
dilatação linear do cobre e de 17.10–6 oC–1.

R: V = 50,18 m3 P5 – Um tanque de aço de forma cilíndrica tem um volume


de 50 m3 a temperatura de oC, calcule o seu volume a 100 oC,
α = 12 . 10–6 oC–1.

R: 3012,24 cm3 P6 – Um recipiente de cobre com capacidade de 3000 cm3


a 0 oC tem coeficiente de dilatação superficial de 34 . 10–6 oC–1.
Calcule a capacidade do recipiente a 80 oC?

1.3. Transmissão de Calor

No estudo precedente sobre a temperatura, discutiu-se o


conceito de temperatura em relação ao equilíbrio térmico.
Quando dois corpos que não estão inicialmente em equilíbrio
térmico são colocados em contactos ou são separados por
uma parede diatérmica, suas temperaturas variam até que
eles atinjam o equilíbrio térmico, pode-se, agora, examinar a

112
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

natureza da interacção que ocorre entre os corpos durante a


sua aproximação ao equilíbrio térmico. Uma discussão quan-
titativa leva ao conceito de calor, objecto no presente estudo.
Suponha que dois sistemas, A e B, sejam postos em contacto;
a temperatura de A é mais alta que a de B.
Quando o equilíbrio térmico é alcançado, verifica-se que a
temperatura de A diminui e de B aumentou.
Foi, assim, natural para primeiros investigadores nesse
campo, supor que A perdeu alguma coisa e que “essa alguma
coisa” flui para Benquisto e se processam variações de tempe-
ratura. É comum fazer-se referência a um fluxo, transmissão
ou referência de calor de A para B.
Pensou-se, inicialmente, que o processo de transferência de
calor fosse de um fluxo de um fluido invisível e sem peso, cha-
mado calórico, mas o trabalho de Court Rumford (1753-1814)
e de Sir James Prescott Joule (1818-1889) estabeleceu decisi-
vamente que o fluxo de calor é uma transferência de energia.
Chama-se fluxo de calor o processo de transferência de
energia que ocorre exclusivamente em virtude de dife-
renças de temperaturas. Assim, se a chama quente de um
bico de busen estiver em contacto com um sistema formado
de água e vapor de água, a água é convertida em vapor a tem-
peraturas e pressões altas. Sob essas condições, o vapor é
capaz de realizar mais trabalho que antes (atingindo a lâmina
de uma turbina, por exemplo).
Certamente, a transferência de energia também pode ocorrer
sem fluxo de calor. Num compressor de ar, um pistão móvel
pressiona uma massa de ar, realizando trabalho sobre esta,
á medida que comprime a volumes menores. Neste estado,
comprimido, o gás é capaz de realizar mais trabalho do que
antes e, consequentemente, ganhar energia.
Finalmente, num compressor de ar, este e o pistão encontram-
se em temperaturas diferentes, podendo ocorrer um fluxo de
calor entre o pistão e o ar. Este é um exemplo de processo
que envolve dois tipos de transferência de energia simultane-
amente: fluxo de calor e realização de trabalho.

113
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

1.4. Capacidade Calorífica

Suponha que uma pequena quantidade de calor Q, seja trans-


ferida entre um sistema e sua vizinha. Se o sistema sofrer uma
mudança de temperatura ΔT, a capacidade calorífica especi-
fica, ou calor específico, c, do sistema, é definida como:

Q (1.7)
C=
t

Ou seja, o calor Q, necessário para aumentar de ΔT a tempera-


tura da massa m do material é
O calor específico da água será aproximadamente

4,19 J• g –1 (°C) –1, 4190 J • kg –1 (°C) –1,


1 cal •g –1 •(°C)–1, ou 1 BTU •1b –1 •(°F) –1.

Uma unidade de massa frequentemente usada, por conveni-


ência, é a molécula-grama, ou mais precisamente, o mol, defi-
nida como o número de gramas igual a massa molecular. Para
calcular o número de moles, n, divide-se a massa em gramas
pelo peso molecular; assim, n = m0M. obtém-se:

Q (1.8)
MC =
nt

O produto Mc é chamado capacidade calorífica molar. Por
definição,
Q
C=M =
c nt
Q = nC T

A capacidade calorífica molar de água é aproximadamente

75,3 J • mol –1 • (°C) –1 ou 18 cal • mol –1 • (°C) –1

Se o calor específico de um material for constante numa faixa


de temperatura de T1 a T2, então, a quantidade total de calor

114
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

que deve ser fornecida a um corpo de massa m para variar sua


temperatura será
Q = m.c.(T2–T1) (1.9)

Se T2 for maior que T1, Q será negativo, indicando transferên-


cia de calor para fora do corpo em vez de para dentro dele.
A tabela apresenta valores representativos de calor específico
de algumas substâncias.

Tabela (5-1) – Calores Específicos e Capacidades Caloríficas Molares Médias de Metais

Específico Intervalo de M, Molar C = Mc


Metal J•g –1 • (ºC) –1 Temperatura,ºC g • mol–1 J•mol–1 (ºC)
Berílio 1,97 20-100 9,01 17,7
Alumínio 0,91 17-100 27,0 24,6
Ferro 0,47 18-100 55,9 26,3
Cobre 0,39 15-100 63,5 24,8
Prata 0,234 15-100 108 25,3
Mercúrio 0,138 0-100 201 27,7
Chumbo 0,130 20-100 207 26,9

Figura 1.6 mostra que a variação de calor específico da água


com a temperatura. Pode-se observar que quantidade de
calor necessária para 14,5º C para 15,5º C a temperatura de
1 g de água é,
1 Cal a 15 °C = 4,186 J

4,22
da água, J • g–1 . (C°)–1

4,21
Calor específico

Caloria principal
4,20 Caloria IT
Caloria 15°
4,19 Caloria
termoquímica
4,18

4,17
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
t,ºC

Fig. 1.6 – Calor específico da água em função da temperatura

115
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

O calor específico ou a capacidade calorífica molar de uma


substância não são as únicas propriedades físicas cuja deter-
minação experimental requer a medida de uma quantidade de
calor. Condutividade térmica, calores de fusão, vaporização,
combustão, solução, e reacção, são exemplos de outras dessas
propriedades, chamadas propriedades térmica da matéria.
O campo da física e da físico-química que lida com medidas de
propriedades térmicas é chamado de calorimetria.

Exercícios de aplicação

P1 – O calor especifico
de uma substancia e de Resolução
0,5 cal/g °C. Se a tempe-
ratura de 4 g dessa subs-
tancia se eleva 10 °C, Q = c.m.Δt
qual será a Quantidade
Q = 0,5.4.10
de calor absorvida?
Q = 20cal
Dados
c = 0,5cal / g . °C
m = 4g
Δt = 10 °C

P2 – Calcule a quanti-
dade de emergia neces- Resolução
sária para elevar a tem-
peratura de um material
cujo calor especifico e Q = c.m.Δt
de 0,412 cal/g C de 40 C
Q = 0,412.5000.60
para 100 C, sabendo que
sua massa e de 5 Kg? Q = 123,6kcal
Dados
c = 0,412cal / g . °C
m = 5000g
Δt = 60 °C

116
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Exercícios de aplicação

P3 – Um bloco de
Resolução cobre c = 0,094 cal/g oC
de 1,2 kg e colocado
num forno ate atingir
Q = c.m.t o equilíbrio térmico.
Nessa situação o bloco
Q 1297 recebe 12972 cal. Qual
t = → t =
c.m 0, 094.1200 a variação de tempera-
tura sofrida pelo bloco?
t = 11,5°C
Dados
c = 0,094cal / g . °C
m = 1,2kg
Q = 1297cal

Exercícios propostos

P1 – Veja a tabela com cinco elementos e suas respectivas mas- R: Cobre


sas e calores específicos.
Diga qual deles tem maior capacidade térmica?

Metal C (cal/g°C) M(g)


Alumínio 0,217 100
Chumbo 0,031 500
Cobre 0,093 300
Prata 0,056 400
Ferro 0,113 200

P2 – Uma placa de cobre de 2cm de espessura e 1m2 de área R: Q = 132,5.104 kcal


possui faces com temperaturas de 100 oC e 20 oC. Calcule a
quantidade de calor que atravessa a placa em uma hora. (Dados
Kcu = 9,2.10–2 kcal/s.m. oC).

117
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Exercícios propostos

R: t = 6,36 oC P3 – O calor específico do ferro e igual a 0,110 cal/g C. Deter-


mine a temperatura final de uma massa de 400 g de ferro a tem-
peratura de 20 C após ter cedido 600 calorias?

R: c = 0,2 cal/g oC P4 – Um corpo de 250 g de massa a temperatura inicial de


10 C e aquecido durante 5 minutos por uma fonte de potencia
constante que lhe fornece 700 cal/ min. Ao final desse tempo a
temperatura do corpo e de 80 C. Qual e o valor do calor espe-
cifico da substancia do corpo?

1.5. Equilíbrio Térmico

Trocas de Calor

Chamamos de calorímetro um tipo de recipiente que termica-


mente isolado entre as trocas e o seu conteúdo e o meio exterior.

Fig. 1.7 – Cafeteira com água em Num sistema de vários corpos, termicamente isolados do meio
ebulição externo, a soma das quantidades de calor por eles trocados é
igual a zero.
Qcedido + Qrecebido = 0

Para um sistema de n corpos

Q1 + Q2 + ... + Qn = 0 (1.10)

Essa equação também é conhecida por equação de equilíbrio


térmico.

118
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1 – Energia Térmica

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Determine a capa-
cidade térmica de um
Q calorímetro contendo
Como
C= 200g de água a 15°C
t
que, tendo recebido
mais 90g de água fer-
Para o calorímetro temos vendo, tem a tempera-
tura final de equilíbrio
Qcal = C.Δt térmico igual a 36°C.
Note: A temperatura da
H2O fervendo é de 100°C
e as temperaturas inicial
Logo observando a equação térmica temos e final do calorímetro
Qcal + Qfria + Qquente = 0 são iguais às da água
contida nele.
(36 – 15).C + 200.1.(36 – 15) + 90.1 (36 – 100) = 0 Dados
C= ?
21.C + 4200 – 5760 = 0
mágua = 200g
C = 74.3cal / °C t1 = 150C
máguaferver = 90g
t2 = 360C

Exercícios propostos

P1 – Uma vasilha adiabática contém 100g de água a 20°C. Mis- R: Cfe = 0,11cal/g°C
turando 250g de ferro a 80°C a temperatura atinge 33°C. Deter-
mine o calor específico do ferro. (Cágua = 1cal/g°C).

P2 – Uma dona de casa mistura, numa garrafa térmica, 100 ml de


água a 25°C com 200ml de água a 40°C. A temperatura final dessa
mistura logo após atingir o equilíbrio térmico, é, em graus célsius, de
a) 29 b) 32 c) 35 d) 38

119
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Unidade 1I
Equação de Estado de um Gás Perfeito

2.1. Leis dos Gases

Para o estudo do comportamento dos gases adoptou-se o modelo


do gás perfeito ou ideal que deve obedecer as seguintes caracte-
rísticas:
• Suas partículas ou moléculas movem-se caoticamente ou
desordenadamente segundo as leis da mecânica clássica;
• Suas partículas não interagem entre si ou seja seus cho-
ques são desprezáveis.
• Os choques contra as paredes de recipientes que os contêm
são perfeitamente elásticos;
• Suas moléculas têm dimensões próprias e desprezáveis.
As grandezas macroscópicas que caracterizam o estado de um gás
são denominadas parâmetros termodinâmicos do gás. Os parâ-
metros termodinâmicos mais importantes do gás são o volume, a
pressão e a temperatura.
A relação existente entre os valores, dos vários parâmetros ter-
modinâmicos no inicio e no final do processo constitui a chamada
lei dos gases. A lei dos gases que estabelece a relação entre os três
parâmetros fundamentais do gás chama-se lei geral dos gases
perfeitos.
Na prática, durante um processo termodinâmico há sempre
variação de pelo menos dois parâmetros.

Lei geral dos gases perfeitos

A lei geral dos gases perfeitos estabelece a relação entre os três


parâmetros fundamentais do gás.

PV
= constante (2.1)
T

120
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Os valores de P, V e T correspondem a um único estado do gás,


a lei geral dos gases perfeitos pode ser enunciada da seguinte
forma: para uma massa constante de gás, a razão entre o
produto da pressão pelo volume e a temperatura do gás
permanece constante.
Equação de Mendeleev – Clapeyron (ou equação de estado
do gás perfeito)
m
PV = RT (2.2)
M

m: massa do gás
M: massa molar do gás
R: constante universal dos gases [R = 8,31 J/(mol.K)]
A constante universal dos gases R, deriva da equação dos gases
perfeitos:
pV
R=
nT

E definida para o valor

joule
R = 8, 31
mol.K

Partindo do exemplo, 1 mol de qualquer gás (n= 1mol), à tem-


peratura de 0°C (ou seja, T = 273K) e à pressão p = 1atm, ele
ocupa um volume V = 22,4 litros. Assim
atm.litro
R = 0, 082
mol.K

Dependendo da unidade de p, V, T, que frequentemente, para p


é expresso em Nm–2 e V, em m3. Nestas condições

N .m3
R = 8, 31
m2 .mol.k
j
R = 8, 31
mol.k
R = kN

121
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

R, representa fisicamente a energia devida a uma mole de um


gás.
Os processos termodinâmicos do gás, em que a massa do gás
e um dos parâmetros permanecem constante, denominam-se
isoprocessos.
Já que os parâmetros termodinâmicos que determinam o
estado de um gás são três, teremos três processos distintos.

Exercícios de aplicação

P1 – Determine a pres-
são que sofre 6 mole Resolução
de um gás perfeito
que ocupa 25,4 l de
volume a 27°C. É dada PV = nRT
a constante universal
dos gases perfeitos nRT 6.0, 082.300
P= →P=
R = 0,082 atm. l /mol.K. V 25, 4
Dados
P = 5, 8atm
n = 6mols
V = 25,4l
T = 27 °C = 300K
R = 0,082atm.l/mol.K

P2 – Determine o
Resolução
volume molar de um gás
perfeito sob condições
normais de pressão
pV = nRT
e temperatura. É dado
R = 0,082 atml/mol.K. nRT 1.0, 82.273
V= →V =
Dados p 1
P = 1atm
V = 22, 4l
T = 273K
n = 1mol

122
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercícios de aplicação

P3 – 60 gramas de gás
Resolução oxigénio, ocupa um
volume de 8 litros à
m temperatura de 25°C.
pV = nRT n= Qual é a pressão no
M
interior do recipiente
mRT 60.0, 082.298 (1 mol de O2 = 32 g e R
p= →p=
MV 32.8 = 0,082 atm. l /K.mol).

p = 5, 8atm Dados
m = 60g
V = 8l
T = 273 + 25 = 298K
R = 0,082atm.l/K.mol
M = 32g/mol

Resolução P4 – A massa de um
certo gás ocupa o volume
a) de 30 litros sob pressão
pV = nRT de 5 atm e a 27°C. Sendo
R = 0,082 atm. l /mol.K,
pV determine:
n=
RT a) O número de mols do
gás;
5.30
n= → n = 6mol
0, 082.300 b) A massa do gás, sendo
M = 20 g?

b) Dados
m V = 30l
M = 20 g / mol n= → m = n.M
M p = 5atm
m = 6.20 → m = 120 g R = 0,082atm.l/K.mol
T = 273 + 27 = 300K

123
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercícios propostos

R: t = 6,36 oC P1 – O Mauro Barros incumbiu a sua filha de encher uns


bidões para fazer gelo. A filha, no entanto, pôs 100g de água,
inicialmente a 20o C, num dos bidões e o colocou no congela-
dor, regulado para manter a temperatura, no interior, a –19oC,
sempre que a porta estiver fechada. No entanto, a porta ficou
tanto tempo aberta que a temperatura do ar dentro do conge-
lador chegou a –3o C.
Sabendo que a pressão atmosférica local é 1atm, o calor espe-
cífico de água 1 calg–1.oC, o calor latente de solidificação da
água 80calg–1, e considerando que o ar no interior do congela-
dor é um gás ideal, determine:

a) R: Q = 10kcal a) A quantidade de calor que a água do bidão deve perder


para que se converta totalmente em gelo a 0oC?

b) R: p = 0,94atm b) A
 pressão no interior do congelador imediatamente após
a filha ter fechado a porta.

2.2. Processo Isotérmico:


Lei de Boyle – Mariotte

Se a temperatura, T, de uma dada massa gasosa, for mantida


constante, o volume, V, deste gás será inversamente proporcional
à pressão, p, exercida sobre ele, ou seja, o produto da pressão pelo
volume de um gás é constante.
pv = cte (2.3)
Lei de Boyle-Marriote
Sendo
T = constante
ΔT = 0
Sofrendo o gás uma transformação que passa de um estado
para outro, então
p1V1 = p2V2 = Constante

124
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Apresentando o gráfico pV

p2
p1 B

v1 v2 v(l)

O gráfico descreve a relação entre a pressão e o volume. Quer


dizer que existe uma relação inversamente proporcional entre si.
Em virtude de estar descrevendo uma transformação isotér-
mica esta curva é também denominada isotérmica do gás.

Exercícios de aplicação

P1 – Um gás perfeito
Resolução ocupa 24 litros de vo-
lume a pressão de 3
atmosferas. Que volume
p1V1 = p2V2 ocupará esse gás se hou-
ver um aumento isotér-
p1 .V1 3.24 mico de 6 atmosfera de
V2 = → V2 =
p2 6 pressão?

V2 = 12l Dados
V1 = 24l
p1 = 3atm
p2 = 6atm

125
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercícios propostos

R: m = 7,5kg P1 – A SONANGOL construiu um reservatório para abastecer


o município de Cazenga contendo 10kg de gás sob pressão de
10.106 Nm–2. Retirou-se, no entanto, uma quantidade m de
gás do reservatório, mantendo-se a temperatura constante.
Sabendo-se que a pressão caiu para 2,5.106 Nm–2, determine a
quantidade m de gás que se retirou do reservatório.

P2 – Existindo 5 moles de um gás ideal a uma temperatura


R: p = 7,5atm constante de 27oC e ocupando um volume de 16,4 litros. Qual
é a pressão exercida por essa quantidade de gás? (dados
R = 0,082 atm.l/K.mol9.

2.3. Processo Isobárico:


Gay-Lussac

Se tomarmos um dado volume de gás a uma certa temperatura


inicial e o aquecermos sob pressão constante até uma outra
temperatura final, a dilatação observada será a mesma, qual-
quer que seja o gás usado na experiência, isto é, o valor do coefi-
ciente de dilatação volumétrica é o mesmo para todos os gases.
Uma transformação, em que o volume do gás varia com a
temperatura, enquanto a pressão é mantida constante (isobá-
rica → isos = igual; baros = pressão),
V
= constante (Lei de Gay-Lussac) (2.4)
T
Sendo
p = constante
Δp = 0
Sofrendo o gás uma transformação que passa de um estado
para outro, então verifica-se
V1 V2
= = constante
T 1
T2

126
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Apresentando o gráfico pV

P
T1 P = const T2

T2 > T1

V2
V1 V

Fig. 2.1 – Gráfico da pressão em função da temperatura

Fig. 2.2 – Gráfico do volume em função da temperatura

Enquanto o gráfico V-T de que se estabelecem acções funcio-


nais, sob pressão constante, o volume de um gás é directa-
mente proporcional à sua temperatura absoluta, ou seja

Quanto à influência da temperatura na densidade, já que o


volume duma certa massa de gás, à pressão constante, varia
m
com a temperatura, é claro que a densidade do gás ( ρ = )
V
terá valores diferentes para diferentes valores da tempera-
tura. Baseando-se nas conclusões a que chegámos a respeito
da transformação isobárica, podemos deduzir que, para uma
certa massa m do gás, teremos:
• Duplicando T → V duplica ⇒ ρ fica dividido por 2
• Triplicando T → V triplica ⇒ ρ fica dividido por 3
• Quadruplicando T → V quadruplic ⇒ ρ fica dividido por 4

127
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Conclusão
1
ρ~
T
Isto é, sendo mantida constante a pressão de uma dada massa
gasosa, sua densidade varia em proporção com a temperatura
absoluta.

Exercícios de aplicação

P1 – Um gás perfeito
ocupa 40 litros de vo- Resolução
lume a temperatura de
67 °C e sob pressão de 4
a)
atmosferas:
para p2 = 6atm T2 = 420° C
a) Que volume ocupará
esse gás se houver um
aumento isobárico de
6 atmosfera de pres- p1 . V1 p2 . V2 p1 . V1 . T2
= → V2 =
são à temperatura de T1 T2 p2 . T1
420°C?
Dados 4.40.420
V2 = → V2 = 167l
V1 = 40l 6.67
p1 = 4atm
T1 = 67°C

Exercício proposto

R: ∆T = 0 P1 – A BP – Angola estabeleceu um sistema gasoso que se


encontra, inicialmente, a 40oC e a uma pressão de 8,4.104 Nm–2.
Fornecendo-se uma quantidade de calor de 4.103 cal para esse
sistema e mantendo-se à pressão constante o seu volume
varia de 0,2m3. De acordo com a primeira lei da Termodinâ-
mica, determine a variação de temperatura sofrida pelo gás.
(dados: 1 cal = 4,2 J).

128
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

2.4. Processo Isocórico:


Lei de Jacques Charles

Se o volume é mantido constante, a transformação é chamada


isocórica ou isovolumétrica, cuja expressão matemática é:
P
= const . (2.5)
T
Sendo, V = const.
Sofrendo o gás uma transformação que passa de um estado
para outro, então verifica-se
P1 P2
= = constante
T1 T2

Apresentando o gráfico pV

p
B
p2
p1
A

T1 T2 T
Gráfico P – T

Analisando o comportamento do gás a volume constante


Amedeo Avogadro estabeleceu, com base em duas amostras,
o seguinte enunciado:
Volumes iguais, de gases diferentes, à mesma temperatura e
pressão contêm o mesmo número de moléculas.
Segundo Avogadro, estas duas amostras gasosas, ocupando
volumes iguais, sob a mesma pressão e temperatura, têm o
mesmo número de moléculas. Conhecida a lei de Avogadro
pode se determinar o número de moléculas existentes numa
dada massa do gás. Por exemplo, tomemos 1 mol de vários

129
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

gases diferentes (2g de H2, 32g de O2, 28g de N2, etc.). Dos nos-
sos conhecimentos de Química, sabemos que o número de
moléculas, em cada uma dessas amostras é o mesmo.
Este número é denominado número de Avogadro e é represen-
tado por N4.
O cientista Jean-Baptiste Perin, no início do século 20, reali-
zou uma série de experiências, procurando determinar o valor
de N4 , concluindo que este valor estaria compreendido entre
6,5.1023 e 7,2.1023 moléculas em cada mol. Posteriormente
medidas mais precisas mostraram que o valor NA é mais pró-
ximo de 6,02.1023 moléculas/mol.
Quanto à densidade ρ e à massa molecular M, tomando duas
massas gasosas, ocupando ambas o mesmo volume, a mesma
pressão e temperatura pela Lei de Avogadro conclui-se que
ρ ∼ M.
Isto é, a densidade de um gás directamente proporcional à sua
massa molecular.
pM
Considerando que ρ ~
T
m
Sendo m a massa da amostra gasosa, sabendo que ρ =
V
Logo m
V
~
pM
T
ou pV
pV
pV~
~~( )
m
m
M
M
m
M
TTT

O quociente m , entre a massa do gás e sua massa molecular,


pV ~ T
M
fornece-nos o número de moles, n, da amostra. Introduzindo
na relação anterior, a constante de proporcionalidade, a desig-
narmos por R, obteremos a equação a seguir:

pVpV
=R
pV~~( )
m
M
m
M
TT

pV = nRT

A pressão, p, o volume V e a temperatura absoluta T, duma dada


massa, contendo n mole do gás, estão relacionadas pela equação
pV = nRT
denominada equação de estado de um gás ideal ou perfeito.

130
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

pV
A presente equação pode tomar a forma = nR
T

Para uma dada massa de gás (n = constante), como R também


é constante, concluímos que
pV
= constante (2.6)
T

Assim se a massa gasosa passar de um estado para outro
estado, podemos relacionar estes dois estados pela seguinte
equação:

P1V1 P2V2
=
T1 T2

A equação é para o gás perfeito, podendo ser aplicada, com


boa aproximação, a uma gás qualquer desde que a sua tem-
peratura não seja muito baixa e sua pressão não seja muito
elevada.

Exercícios propostos

P1 – O senhor Rufino Quissonde calibrou os pneus do seu R: t = 87oC


carro à temperatura de 27 C. Depois de rodear bastante, ao
o

medir novamente a pressão, encontrou um resultado de 20%


superior ao valor da calibragem inicial. Supondo invariável o
volume das câmaras, determine a temperatura que o ar com-
primido deve ter atingido.

P2 – Um vaso, hermeticamente fechado, contém 10 litros de


um gás perfeito a 30o C suportando uma pressão de 2 atm.
A temperatura do gás é elevada até atingir 60o C
a) Calcule a pressão final do gás. a) R: p = 2,2 atm

b) Esboce o gráfico pressão x temperatura da transformação


mencionada.

131
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

2.5. Cálculo Cinético da Pressão

A pressão que um gás exerce sobre as paredes do recipiente


que o contém é devido às incessantes e contínuas colisões das
moléculas do gás contra as paredes do recipiente. Usando a
faculdade das leis da mecânica para as colisões das molécu-
las contra as paredes do recipiente, os físicos obtiveram uma
expressão matemática, relacionando a pressão exercida por
um gás com as seguintes grandezas:

N → número total das moléculas no recipiente


V → volume do recipiente
mo → massa de cada molécula
1 N
p= m v 2 → média dos quadrados da velocidade das moléculas.
3 V o

pp == ( )
11 NN
mooovv
33 VV m
222 (2.7)

Significa que

• p ∼ N → à quanto maior for o número total de moléculas,


maior será o número de colisões contra as paredes
e, portanto, maior será a pressão exercida pelo gás.
1
• p ~ → à quanto maior for o volume do recipiente, maior
V será a distância que a molécula terá que percorrer
para colidir contra as paredes e, consequentemente,
menor será o número de colisões, isto é, menor será
a pressão exercida pelo gás.
• p ∼ mO → à quanto maior for a massa de uma molécula, maior
será a sua quantidade de movimento e, assim,
maior será a força que ela exerce ao colidir contra
a parede do recipiente.
• p ∼ v–2 → à quanto maior for v–2, mais rapidamente as molé-
culas estarão em movimento. Nestas condições,
maior será a força que cada molécula exercerá ao
colidir contra a parede e, além disso, maior será o
número de colisões.

132
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

2.6. Interpretação Cinética


da Temperatura

A temperatura absoluta T, de um gás está relacionada com a


energia cinética média de suas moléculas.

A expressão:

pp == ( )
11 NN
mooovv
33 VV m
222

Pode ser escrita


1
p = Nm v 2
o
3

Comparando-a com a equação de estado de um gás ideal,


p.V = nRT

Obtemos

pp == ( )
11 NN
33 VV m
m vv 222 = nRT
ooo

Sendo NA (número de Avogadro) o número de moléculas que


existe em 1 mol e sendo n o número de moles que corresponde
a N moléculas, e N = nNA

Levando este valor de N à igualdade anterior, virá

1
3
nNmv 2= nRT ou mv
mv
mv22=2==333
RRR
NNNAA A
TTT
( )
Dividindo os dois membros desta igualdade por 2, teremos

111 22 2 333 RRR


mv
222
mv
mv ===
222 N
NNAAA ( )
TTT

133
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Nesta equação representa o termo do lado esquerdo a energia


R
cinética média das moléculas ( E c ), enquanto do segundo
NA
membro é constante, sabendo que tanto R quanto NA são
constantes. Este quociente é muito importante, é represen-
tado por k e denominado constante de Boltzmann, em home-
nagem a Ludwig Boltzmann, físico austríaco do século XIX.
Então

R
k=
NA

8, 31
k=
6, 02.10−23

k = 1, 38.10−23 J .K −1

Chegando-se assim à seguinte expressão

EC =
3 R
2 NA( )
T

3
E C = kT (2,7)
2

Logo, E c = f (T)

134
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Uma pessoa afirma
que colocou 3,5 moles de
a) um gás (comparando-se
com gás ideal) num reci-
Sabemos que um gás ideal, num certo estado, obedece à
piente de volume igual
equação pV = nRT. Com os dados fornecidos
a 8 litros e que, após o
T 0 27 + 273 = 300K estado de equilíbrio, a
temperatura do gás era
p = 5atm de 27°C e sua pressão
atm.litro 5 atm:
5atm.8litros ≠ 3,5mol.0, 082 .300K
mol.K
a) Poderiam estar cor-
40atm.litro ≠ 0, 861atm.litro40 rectas as medidas
feitas por esta pes-
Como pV não é igual a nRT, concluímos que as medidas soa?
realizadas pela pessoa não podem estar correctas, isto
b) S e, após uma veri-
é, não é possível, a qualquer gás (ideal), apresentar-se
ficação, constatou-
num estado com aqueles valores de p, V, n, T.
se que os valores
de p, V e T estavam
correctos, qual o
b) número real de
moles do gás coloca-
Da equação de estado obtemos dos no recipiente?

pV Dados
n=
RT
n = 3,5 moles
pV 5atm.8litros.mol.K
n= = R = 0,082atm.litro
RT 0, 082atm.litros.300K /mol.K
n = 1, 6moles V = 8 litros

Logo, no recipiente havia 1,6 moles do gás e não 3,5


moles como a pessoa havia afirmado. Observe que usa-
mos o valor R = 0,082 atm.litro/mol.K, uma vez que o
valor de p foi fornecido em atmosferas e de V em litros.

135
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercícios de aplicação

P2 – Um recipiente Resolução
contém H2 a 27°C. a)
Sabemos que
a) Qual é a energia
3
cinética média de E C = .kT
2
suas moléculas?
b) Qual seria a E c para k = 1, 30.10−23 J .K −1
as moléculas de O2 à T = 27°C + 273 = 300K
mesma temperatura
da questão anterior? 3 J
E C = .1, 38.10−23 .300K
c) S abendo que a massa 2 K
de uma molécula
E C = 6, 2.10−21 J
de H2 é 3,3.10–23kg,
qual deve ser a sua
velocidade para que b) A expressão E C = 3 k.T nos mostra que a energia ciné-
ela tenha uma ener- 2
gia cinética igual ao tica média das moléculas só depende da temperatura,
valor médio calcu- não dependendo da natureza do gás. Como o O2 e o H2
lado no ponto 2.1? estão à mesma temperatura, o valor de E c é o mesmo
para os dois gases.
Dados
R = 0,082atm.litro c)
/mol.K Como devemos ter

n = 3,5 moles 1
E C = mv 2
2

2E C
v=
m

2.6, 2.10−21
v=
3, 3.10−27

v = 1, 9.103 m / s

136
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercício proposto

P1 – Uma botija de gás contém 32g de CO2, a uma temperatura a) R: 44g.mol–1


de 127°C. Determine:
b) R: n = 8
a) A massa molecular do CO2.
b) O número de moles. c) R: v = 476m.s–1
c) A velocidade de suas moléculas.
d) R: Ec = 39840J
d) A energia cinética do gás.

2.7. Dilatação dos Gases


Conforme procedimento adoptados ao estudo da dilatação dos
sólidos e líquidos consideramos a temperatura como parâ-
metro fundamental para alteração das suas dimensões. Quer
dizer, alterando a temperatura, provocamos a mudança nas
dimensões da substância em estado sólido ou líquido. Isto sig-
nifica a relegar a pressão a uma função secundária, partindo
do pressuposto de não ter valores elevadíssimos.
Analisando este aspecto, do comportamento de um gás, verifi-
camos que as variações de pressão podem provocar variações
apreciáveis no seu volume e na sua temperatura. Estudando
experimentalmente o comportamento de uma dada massa de
gás, os físicos verificaram que seria possível expressar este com-
portamento através de relações matemáticas simples entre a
sua pressão, p, seu volume, V, e sua temperatura, T. Uma vez que
sejam conhecidos os valores dessas grandezas (massa, pressão,
volume e temperatura), a situação em que o gás se encontra fica
definida ou, noutras palavras, fica definido o seu estado.
Provocando-se uma variação numa dessas grandezas, verifica-se
que as outras também se modificam e estes novos valores carac-
terizam uma transformação ao passar de um estado para outro.

2.7.1. Energia Interna do Gás Perfeito


O gás perfeito define-se, como sendo o gás onde as forças de
atracção entre as moléculas são totalmente inexistentes, e as
moléculas podem ser consideradas como pontos materiais
sem estrutura interna. Isto significa que as moléculas do gás

137
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

perfeito não possuem energia potencial. Deste modo, a ener-


gia interna do gás perfeito é igual à soma das energias cinéti-
cas média das moléculas que constituem o gás.
Como os pontos materiais não possuem movimento de rota-
ção, para os gases monoatómicos, as moléculas efectuam
somente movimentos de translação.
Deste modo a energia interna de um gás perfeito monoató-
mico é dada por:
3m (2.7)
U= RT
2M
Onde
m: massa do gás perfeito
M: massa molar do gás
R: constante universal dos gases
T: temperatura
5m
Para o gás perfeito biatómico U = RT (2.8)
2M
m
Para um gás poliatómico U = 3 RT (2.9)
M

Exercícios de aplicação

P1 – Numa transfor-
mação de um mol de Resolução
gás ideal monoatómico
a volume constante, Cálculo da variação de energia
enquanto a temperatura
se eleva de 27oC a 50oC, 3
qual será a variação de U = nR(T2 − T1 )
2
energia interna do gás
em calorias? 3
U = .1.8,31.(323− 300)
Dados 2
1cal = 4,2l
8, 31 J U = 286 J
R=
mol.K
T1 = 27 + 273 = 300K
T2 = 50 + 273 = 323K

138
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercícios de aplicação

P2 – Uma transforma-
ção, conforme o grá-
Resolução
fico em baixo, na qual
100 moles do gás ideal
monoatómico rece-
bem do meio exterior
a) uma q de calor igual
(2 – 1) a 1,80.106J. (Dados
W = (3 + 6).105. R = 8,31J/mol.K).
2

W = 4 ,5.105 J P

p2
p1 B

v1 v2 v(l)

b) 
Determine:
sendo Q = 1, 8.10 J6
a) O trabalho realizado
pelo gás;
Q = W + U → U = Q − W
b) A variação de energia
U = 1, 8.10 − 4 ,5.10 → U = 13,5.10 J
6 5 5 interna do gás; A tem-
peratura do gás no
estado 1.

Dados
8, 31 J
R=
mol.K

n = 100moles
Q = 1,8.106J

139
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Exercícios propostos

P1 – Na figura presente o gráfico p x V de um gás, partindo do


ponto A para o ponto B, e depois um processo isovolumétrico,
atingindo o ponto C, que situa sobre a mesma isoterma que A
calcule:
p(atm)

6 A B

C TB
3
TA=200k
2 4 VB

a) R: W = 8.105 J a) O trabalho realizado pelo gás ao final do processo ABC.


b) R: W = 8.105 J b) Calor recebido pelo gás ao final do processo ABC.

P2 – Um gás ideal monoatómico é comprimido adiabatica-


mente, sofrendo uma variação de temperatura de 600k. Admi-
tindo que n = 3 moles, CV = 3cal/mol.K, R = 2cal/mol.K e 1 cal
= 4,2 J, determine:
a) R: Q = 0J
a) A quantidade de calor trocada nessa transformação.
b) R: 22680J b) A variação da energia interna do gás em Joules.

2.7.2. Trabalho Realizado pelo Gás

Um gás comprimido ao dilatar-se pode realizar trabalho.


Consideremos o gás contido num cilindro munido de um
êmbolo móvel. O êmbolo permanecerá em repouso enquanto
a pressão do ar (pressão atmosférica) for igual a pressão no
interior do cilindro. Suponhamos que a pressão do ar e do gás
tomam o valor p, a temperatura do gás o valor T.
Aquecendo lentamente o gás no interior do cilindro, até uma
temperatura T2, o gás dilatar-se-á, segundo um processo

140
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

isobárico, e o êmbolo deslocar-se-á da posição inicial para a


final por um valor Δl, logo o gás realizará trabalho. A força res-
ponsável por este trabalho é igual a p.S donde S é a superfície V
da secção transversal do cilindro.
t
Conforme os conhecimentos da mecânica o trabalho reali- V0
S S
zado por uma força é dado por;
W = FΔl Fig. 2.3 – Gás comprimido

Mas F = p.S logo W = pSΔl


Como S.Δl é igual à variação do volume do gás durante o aque-
cimento isobárico de T1 a T2, obtemos
W = p(V2 – V1)

Exercícios propostos

P1 – Um balão vazio tem volume desprezável e cheio pode R: W = 400J


atingir 4.10 m . Qual o trabalho realizaria o ar contra a atmos-
–3 3

fera para encher este balão, à temperatura ambiente.

P2 – Num cilindro, o vapor entra sob pressão constante de R: W = 2500J


50Nm–2, empurrando o pistão, cuja área é de 100cm2 , num
percurso de 50cm. Qual o trabalho realizado pelo vapor nesse
percurso.

2.8. Experiência de Joule

A energia interna de um corpo pode variar também com a rea-


lização de trabalho mecânico, isto é, disso se pode obter ener-
gia calorífica.

Exemplo: observa-se um aquecimento em pregos quando são


martelados.

141
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Como com a realização de trabalho mecânico se pode obter


energia a calorífica; levanta-se a seguinte questão: o trabalho
mecânico realizado e a quantidade de calor produzida são
proporcionais? James Joule, na tentativa de encontrar res-
posta para esta questão, realizou uma série de experiências
ao longo das quais obteve uma resposta afirmativa.
Na experiência de Joule é determinado o equivalente mecâ-
nico do calor expresso na relação entre a unidade de energia
joule e a unidade de calor caloria.
Um recipiente isolado termicamente, contendo uma certa
quantidade de água, com um termómetro para medir sua
temperatura, um eixo com umas paletas que é colocada em
movimento pela acção de um peso, conforme ilustrado na
figura demonstra que o peso, que se move com velocidade
praticamente constante, perde energia potencial. Como con-
sequência, a água é agitada pelas paletas e aquecida devido
a fricção.
Se o bloco de massa M desce uma altura h, a energia potencial
diminui em Mgh.
Com esta experiência Joule conseguiu demonstrar que a
quantidade de calor libertada por atrito é directamente pro-
porcional ao trabalho mecânico realizado.
Joule deduziu que a diminuição de energia potencial pro-
porciona o aumento de temperatura da água. A constante
de proporcionalidade (o calor específico de água) é igual a
4.186 J/(g °C). Portanto, 4.186 J de energia mecânica elevam
a temperatura de 1g de água em 1° C.
Entretanto, na prática, é até hoje usada uma outra unidade
de calor, muito antiga (da época do calórico), denominada 1
caloria = 1cal. Por definição, 1 cal é a quantidade de calor
que deve ser transferida a 1 grama de água para que sua
temperatura se eleva a 1°C. Joule, no entanto, estabeleceu,
nas suas experiências a relação entre estas duas unidades,
encontrando
1 cal = 4,18 j

142
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE 1I – Equação de Estado de um Gás Perfeito

Seja M a massa do bloco que pende e h seu deslocamento ver-


tical
• m a massa de água do calorímetro
• T0 a temperatura inicial da água e T a temperatura final
• g = 9.8 m/s2 a aceleração da gravidade

A conversão de energia mecânica em calor é expressa pela


seguinte equação:
Em = Q ou Mgh = mc(T-T0)
J
Logo o calor específico da água é expresso em
kg.K

Mgh
C=
m(T – T0 )

143
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Unidade 1I1
Termodinâmica

3.1. Primeira Lei da Termodinâmica

Analisando a transformação isobárica de uma certa massa


gasosa, a energia térmica ∆Q, fornecida pelo meio exterior
através do aquecimento, teve dupla finalidade:
a) Aumentar a energia interna do sistema através de um
aumento da energia cinética média, e, consequente-
mente, da temperatura;
b) Realizar um trabalho sobre o meio exterior, deslo-
cando o êmbolo E numa distância d.

Esta transformação é regida pela Primeira Lei da Termodinâ-


mica, que na realidade é a Lei da Conservação da Energia. Esta
lei diz-nos:
A quantidade de Energia Térmica (∆Q) trocada entre o
sistema e o meio é igual a soma da variação de sua ener-
gia interna (∆U) com o trabalho realizado no sistema (W).

Matematicamente, a expressão da primeira lei é a seguinte:


∆Q = ∆U + W (3.1)
Para melhor fixação desta lei, vamos analisá-la nas transfor-
mações de gases ideais.

3.1.1. Transformação Isotérmica

Nesta transformação, a temperatura se mantém constante.


Como a variação de Energia Interna depende directamente da
variação da temperatura se ∆T = 0 teremos ∆U = 0.
Assim, a expressão da primeira lei adquire a seguinte fórmula:
∆Q = ∆U + W
∆Q = 0 + W
∆Q = W

144
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Essa forma nos permite que:


Numa transformação isotérmica a energia térmica é
totalmente utilizada na realização do trabalho.

Exercício proposto

P1 – Um gás mantido a temperatura constante, tem pressão R: p´ = 1,25p logo a


inicial p e volume inicial V. Determine o acréscimo percentual pressão aumenta
da pressão quando o volume é reduzido de 20%. 25%.

3.1.2. Transformação Isobárica

Neste caso há uma variação de temperatura e uma variação de


volume. A variação de temperatura produz uma variação de
energia interna ΔU; a variação do volume produz um trabalho.
Assim, a Primeira Lei pode ser escrita da seguinte forma:

∆Q = ∆U + W
Analisando a expressão acima, podemos concluir que:
Numa transformação isobárica, a quantidade de calor trocada
entre o meio e o sistema é sempre maior que o trabalho realizado.

Exercício proposto

P1 – Um cilindro de paredes rígidas e êmbolo móvel sem R: T = 480K


atrito, contém um certo gás no seu interior. Quando a tempe-
ratura é 27°C, o volume ocupado pelo gás é 5 litros. Qual deve
ser a temperatura para que o volume do gás seja de 8 litros,
mantendo a pressão constante.

145
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

3.1.3. Energia Potencial Elástica

Neste caso, o volume permanece constante; ocorre apenas


variação de temperatura e pressão. Assim sendo, e se não hou-
ver variação de volume, não haverá trabalho realizado (W = 0).
Pela Primeira Lei da Termodinâmica, temos então:
∆Q = ∆U + W
∆Q = ∆U + 0
∆Q = ∆U

A partir disso, podemos concluir que: Numa transformação


isométrica, a variação da energia interna do sistema, é igual à
quantidade de calor que o sistema troca com o meio exterior.

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Um gás contido a
volume constante, tem
pressão inicial e tempe- O gás evolui do estado (p, V, 300) para estado (2p, V, T1).
ratura inicial T = 27o C. Como a transformação é isométrica, temos
Determine, na escala
Célsius, a temperatura
p p p 2p
em que esse gás exer- = → = → T1 = 600K
cerá o dobro da pressão. T T1 300 T1

Dados TC = 600 − 273 → TC = 327K


T = 27°C = 300K
TC = ?
P = 2p

3.1.4. Transformação Adiabática

Uma transformação é Adiabática quando o sistema não troca


calor com o meio exterior. Experimentalmente, pode-se rea-
lizar uma transformação Adiabática isolando o sistema ter-
micamente do meio exterior ou efectuando a transformação

146
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

rapidamente. Como a transmissão de calor é lenta, qualquer


transformação realizada com rapidez pode ser considerada
Adiabática.
Se a transformação é Adiabática, portanto ΔQ = 0. Então, pela
Primeira Lei da Termodinâmica, temos:
∆Q = ∆U + W
0 = ∆U + W
W = – ∆U

Ora, podemos afirmar: Numa transformação Adiabática, todo


o trabalho realizado corresponde à variação da energia interna
do sistema, uma vez que não há troca de energia com o meio
exterior.

Exercícios de aplicação

P1 – Num processo
Resolução adiabático, não exis-
tem trocas de calor
entre o sistema termo-
dinâmico e sua vizi-
Uma transformação adiabática temos o trabalho conver-
nhança, ou seja: Q = 0.
tido em energia e vice-versa. Pela primeira Lei da Termo-
Considerando como
dinâmica:
sistema termodinâ-
W = – ∆U mico um gás ideal, con-
tido num recipiente de
Quando há uma compressão V < V1 e W < 0
paredes termicamente
Logo, pela expressão anterior, concluímos que ∆U > 0, e, isoladas, perguntamos
consequentemente, ∆T > 0. o que acontece com
a temperatura do gás
Ou seja, nesse processo, a temperatura aumenta. ideal, quando sofre
uma compressão adia-
bática.

147
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Exercício proposto

P1 – Um gás ideal monoatómico é comprimido adiabati-


camente sofrendo uma variação ode temperatura de 600K.
Sabendo que n = 3 moles, cv = 3cal/mol.K, R = 2 cal/mol.K e
1cal = 4,2J, determine:
a) R: Q = 0
a) A
 quantidade de calor trocada nessa transformação.
b) R: ∆U = 22680J
b) A
 variação de energia interna do gás, em joules.
c) R: W = – 22680J c) O
 trabalho realizado sobre o gás.

3.1.5. Transformações Cíclicas

No estudo que fizemos até agora, analisamos transformações


de massas gasosas isotérmicas, isobáricas, isométricas e adia-
báticas. Continuando o estudo dessas transformações, vamos
analisar agora as transformações cíclicas.
Chamamos de transformação cíclicas, ou simplesmente ciclo,
ao conjunto de transformações por que passa certa massa
gasosa, no qual a situação final do gás é exactamente igual à
situação inicial.
P
No gráfico fig. 3.1 acima apresentamos um ciclo, constituído
B C
P2 por uma transformação isométrica, (AB), uma isobárica (BC),
outra isométrica (CD) e outra isobárica (DA). Vamos analisar
cuidadosamente cada transformação:
P1 D
A a) Como a temperatura inicial é igual à final, podemos afir-
V1 V2 V
mar que num ciclo não há variação da energia interna
do sistema. Entre A e B e entre C e D, o trabalho reali-
Fig. 3.1 – Transformação cíclica zado é nulo (transformação isométrica).
b) O trabalho realizado na expansão BC (fig. 3.2 a) é maior
que o trabalho realizado na compressão DA (fig. 3.2 b).
A diferença entre esses trabalhos corresponde à área
interna, mostrada na (fig. 3.2 c).

148
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

P P P
B C
B C B C P2
P2
P2

WBC WBC
WBC

A P1 D P1 D
P1 A A
V WDA V V

V1 V2 V1 V2 V1 V2
a) b) c)
Fig. 3.2 – Expansão e compressão

Aplicando a Primeira Lei da Termodinâmica ao ciclo, temos:


∆U = 0 e W > 0
Assim
∆Q = ∆U + W
∆Q = W
Esse resultado diz-nos que, durante um ciclo, a energia tro-
cada em forma de calor entre o meio exterior e o sistema é
igual ao trabalho realizado na transformação. Como o trabalho
é positivo, conclui-se que o sistema perdeu energia. Em outras
palavras, o sistema recebeu calor e forneceu trabalho. Houve,
portanto, transformação de calor em trabalho.
Consideramos agora uma transformação cíclica, operando em
sentido contrário à que acabamos de ver isto é, sofrendo a
transformação no sentido anti-horário:

P P P

B B B C
C C P2
P2
P2

WBC WBC
WBC

P1 D A P1 D
A P1 A
WDA V V V

V1 V2 V1 V2 V1 V2

Fig. 3.3 – Transformação cíclica, operando em sentido contrário

149
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Esse resultado mostra-nos que o sistema (gás) recebeu ener-


gia do meio, embora a sua energia interna não tenha sofrido
variação. Em outras palavras, houve conversão de trabalho em
calor.
P
Vamos agora resumir as ideias sobre uma transformação
W>0
cíclica:
a) Sempre que ocorrer uma transformação em ciclo, não
haverá variação de energia interna do sistema, pois a
V temperatura final é igual à inicial.
V1 V2
Fig. 3.4 – Gráfico P – V de um ciclo
b) Num gráfico pressão x volume, sempre que um ciclo
percorrido no sentido horário for percorrido no sentido horário, haverá um trabalho
positivo do sistema, isto é, o sistema (gás) fornece tra-
P balho ao meio exterior. Como exemplo desse tipo de
ciclo, podemos mencionar as transformações realiza-
W<0 das pelas máquinas térmicas.
c) Sempre que a transformação se verificar no sentido
anti-horário, haverá trabalho negativo, isto é, o meio
V exterior estará a realizar trabalho sobre o sistema.
V1 V2 O sistema receberá energia e haverá transformação de
Fig. 3.5 – Gráfico P – V de um ciclo trabalho em calor. Tal transformação ocorre, por exem-
percorrido no sentido anti-horário plo, num refrigerador.

Exercícios de aplicação

P1 – Uma amostra de
gás perfeito sofre uma
expansão de 2.10–3m3 Resolução
à pressão constante
de 1,2.105N/m2. Qual o W = p. ∆V
trabalho realizado pelo
gás nessa transforma- W = 1,2.105 .2.10–3 → W = 240J
ção?
Dados
∆V = 2.10–3 m3
p = 1,2.105 N / m2

150
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Exercício proposto

P1 – Um gás perfeito descreve o ciclo ABCDA, como indica a


figura.
P
B C
P2

P1 D
A
V1 V2 V

Determine o trabalho que o sistema troca com o meio nas


transformações: a) R: WAB= 6J
a) AB.
b) R: WBC = 0
b) BC.
c) R: WCD = – 2J
c) CD.
d) DA. d) R: WDA = 0J
e) ABCDA. e) R: WABCDA= 4J

3.2. A Segunda Lei


da Termodinâmica

No capítulo anterior analisamos a relação entre trabalho e


calor. Contudo, em nenhum momento determinamos em que
condições as transformações de trabalho em calor e as trans-
formações de calor em trabalho são possíveis.
A segunda Lei da Termodinâmica vem completar a Primeira,
determinando em que condições as transformações entre sis-
temas podem ser realizadas.
Entretanto, antes de enunciarmos a Segunda Lei, vamos anali-
sar, através de algumas situações reais, os conceitos de trans-
formações reversíveis e irreversíveis.

151
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

3.2.1. Transformações Reversíveis

Imaginemos um corpo que cai de uma certa altura sobre uma


“cama elástica”. Imaginemos também que possamos desprezar
todos os atritos. Neste caso, ao atingir a cama elástica, o corpo
é impulsionado de volta, atingindo, praticamente, a posição
inicial. Nesse processo de queda e volta, não houve variação
da energia mecânica do sistema. A queda é, então, uma trans-
formação reversível, pois há grande possibilidade de ocorrer
o movimento inverso, isto é, a volta do corpo às condições ini-
Fig. 3.6 – Transformação reversível ciais.
Se analisou cuidadosamente a situação exposta, deve ter
observado que trabalhamos em condições ideais. Na realidade
não existem transformações reversíveis, pois o atrito quase
sempre está presente durante as transformações.

3.2.2. Transformações Irreversíveis

Vamos analisar agora outra transformação. Um bloco de massa


usada por pedreiros é lançado do alto da rampa. Enquanto a
massa cai, a sua energia potencial vai se transformando em
energia cinética. Porém, a energia mecânica do sistema man-
tém-se constante.
Quando a massa atinge o solo, a sua energia mecânica trans-
forma-se noutra forma de energia, a energia interna. É por isso
Fig. 3.7 – Transformação irreversível que a temperatura do corpo e a do chão aumentam. É possível
fazer com que a energia térmica gerada no impacto da massa
com o chão se reúna novamente e faça a massa subir até a
posição inicial? Não. Pois o caso contrário não ocorrerá. Neste
caso, dizemos que a queda é uma transformação irreversí-
vel.
Da mesma forma, quando você toma o seu café pela manhã, o
leite e o café estão, inicialmente, separados. Deitando o café no
leite, eles se misturam: ocorre uma transformação. Nesse caso
também não ocorrerá uma transformação inversa, ou seja, do
café separar-se espontaneamente do leite. Essa transformação
é irreversível.

152
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Quando soltamos uma bola de ténis de uma certa altura, a bola


bate no chão e salta diversas vezes; a cada salto a bola atinge
uma altura menor, até parar. Isso significa que a sua energia
mecânica se transforma em calor. É altamente improvável que
a energia térmica se reuna para fazer com que a bola realize a
transformação inversa.
Além desses três exemplos, pode lembrar-se de outros seme-
lhantes, onde se observa a transformação de energia mecânica
em calor e nos quais não ocorre transformações irreversíveis.
Observe que a transformação inversa não ocorre experimen-
talmente, mas teoricamente ela é possível.
O calor passa espontaneamente de um corpo de maior tempe-
ratura para um corpo de menor temperatura.
A Segunda Lei da Termodinâmica refere-se exactamente a
este tipo de transformação. De acordo com essa lei, as trans-
formações naturais, espontâneas, realizam-se de acordo com
um sentido preferencial. Assim, para um corpo que se encon-
tra no alto de uma rampa, o sentido preferencial, natural, é o
da descida da rampa. Assim, uma vez solto, o corpo descerá
até o ponto mais baixo. Para faze-lo subir seria necessário um
agente externo, pois o corpo não subiria espontaneamente.
Da mesma forma que examinamos essas transformações, você
poderá examinar outras transformações semelhantes. No
entanto, a conclusão é uma só: t ra
ns
fo r
ma
As transformações espontâneas são irreversíveis. t ra çã
on
ns ão
fo r -es
ma
Observando o sentido da transferência espontânea da energia çã
oe
po
ntâ
sp ne
térmica de um sistema para outro, Rudolf Clausius enunciou a on
tân
a
ea
Segunda Lei da Termodinâmica:
O calor passa espontaneamente de um corpo de maior tempe-
ratura para um corpo de menor temperatura.
Veja que nesse enunciado fica evidente o sentido preferencial do Fig. 3.8 – Transformação espontânea
e não espontânea
processo, o qual é determinado pela diferença de temperatura.
Nós sabemos pelas nossas próprias vivências que é relati-
vamente fácil transformar energia mecânica ou eléctrica em
calor: atirar as mãos, esfregar dois corpos, entortar um arame,

153
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

acender uma lâmpada e1éctrica, etc. O inverso, isto é, trans-


formar o calor em trabalho, muito difícil pois são necessá-
rias condições especiais. Essa dificuldade levou Sadi Carnot a
enunciar de outra forma a Segunda Lei da Termodinâmica:

Só é possível transformar calor em trabalho quando dis-


pomos de duas fontes com temperaturas diferentes.

Esse enunciado, que parece evidente, pode ser comprovado


quando estudarmos as máquinas térmicas.

3.3. Máquinas Térmicas

Uma máquina térmica é um sistema que, recebendo energia


como calor, é capaz de realizar trabalho.
Consideramos a expansão isotérmica de um gás contido num
cilindro munido de um êmbolo móvel (fig. 3.9): o gás recebe
energia como calor e realiza trabalho ao empurrar o êmbolo.
Se a sua energia interna não variar (ΔU = 0), toda a energia que
vai recebendo como calor é convertida em trabalho:
ΔU = 0 ⇔W + Q = 0 ⇔ W = –Q
Fig. 3.9 – Gás contido num cilindro
munido de um êmbolo
Mas, para que isto continuasse a acontecer, o cilindro deveria
ter um comprimento infinito, o que não é possível. Se quere-
mos uma produção contínua de trabalho, temos de fazer voltar
o gás ao estado inicial? Fazendo-o ceder alguma energia como
calor a outro sistema à temperatura mais baixa: o gás contrai-
se e a pressão atmosférica obriga o êmbolo a voltar à posição
inicial. Diz-se que o gás realizou um ciclo. Neste caso, a ener-
gia interna do gás no estado final é igual à energia interna no
estado inicial.
Isto significa que, se o gás receber a energia Q1, como tem de
ceder a energia Q2, apenas a diferença Q1– |Q2| se converte em
trabalho:
Fig. 3.10 – Sistema de refrigeração
ΔU = 0 ⇔W + Q1+ Q2

154
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Atendendo à convenção de sinais, W < 0, Q1 > 0 e Q2 < 0

|W| = |Q1| – |Q2| (3.2)

É, portanto, impossível converter completamente calor em


trabalho.
Ao sistema termodinâmico que, uma máquina térmica, sofre
transformações, chama-se agente de transformaçãos.

3.3.1. Rendimento de uma Máquina Térmica


Fig. 3.11 – Sistema termodinâmico
Sabemos que é impossível mover um conjunto de pás ligadas
a um eixo, através de uma corrente de água entre dois reser-
vatórios, se ambos estiverem no mesmo nível (a menos que
se usem processos externos de compressão num dos reserva-
tórios). Para que haja realização de trabalho, é preciso que os
dois reservatórios se encontrem em níveis diferentes. Desse
modo, a água correrá do reservatório de nível mais alto para o
mais baixo, movendo as pás e realizando o trabalho.
Em Termodinâmica, acontece algo semelhante. A experiência
de muitos anos mostrou que uma máquina térmica, como um
motor de explosão ou um motor a vapor, só transforma calor
em trabalho, operando em ciclos nas seguintes condições:
a) A máquina térmica opera entre duas fontes térmicas de
diferentes temperaturas, uma quente e a outra fria. A
máquina retira calor da fonte quente (Q1), transforma
parte desse calor em trabalho (W) e rejeita a outra
parte (Q2) para a fonte fria.

Q1 Q2
fonte quente W fonte fria
térmica

Fig. 3.12 – Máquina térmica

155
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

b) Esta máquina opera em ciclos. Como pode verificar, a


quantidade de calor Q1 é sempre maior que a quanti-
dade Q2. Assim, podemos definir uma nova grandeza: o
rendimento de uma máquina.

trabalho realizado pela máquina


η=
alor retirado da fonte quente
quantidade de ca

W
η= (3.3)
Q1

Sendo W = Q1 – Q2, pela Lei da Conservação da Energia, temos

Q1 − Q2
η= (3.4)
Q1

Ou ainda
Q1 Q2
η= −
Q1 Q1

Q2
η = 1−
Q1

3.3.2. O Ciclo de Carnot

P
Estudando as máquinas térmicas, Carnot descobriu um ciclo
de quatro transformações reversíveis duas isotérmicas e duas
A adiabáticas que proporcionam o máximo rendimento térmico
para uma máquina. O esquema abaixo apresenta o Ciclo de
Carnot. T1 a temperatura da fonte quente e T2 a da fonte fria.
B

D
T1
C
T2 V

Fig. 3.13 – Ciclo de Carnot

156
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Analisemos cada uma das transformações do ciclo:


AB – Nessa transformação, o gás sofre uma expansão, rece-
bendo calor da fonte Q1 e realizando trabalho; sua tem-
peratura, porém, mantém se constante.
BC – Nessa transformação, o gás sofre uma expansão adiabá-
tica; sua temperatura diminui, mas não ocorre troca de
calor com o meio exterior.
CD – Nessa transformação, o gás sofre uma compressão, a
temperatura constante. O meio exterior realiza trabalho
sobre o gás, sem que haja variação de temperatura. O gás
rejeita calor (Q2) para o meio exterior; este calor não se
transforma em trabalho.
DA – Ocorre uma compressão adiabática, completando se o ciclo.
Com relação ao Ciclo de Carnot, é importante que você saiba
o seguinte:
a) Uma máquina que opera dentro do Ciclo de Carnot tem
o máximo rendimento. Ou seja, nenhuma máquina tér-
mica operando em ciclos pode ter rendimento superior
ao de uma máquina de Carnot.
b) O rendimento de uma máquina de Carnot depende das
temperaturas das fontes quente e fria. Carnot demons-
trou que a quantidade de calor que é retirada da fonte
quente (Q1) e a que é rejeitada para a fonte fria (Q2) são
proporcionais às temperaturas absolutas das fontes.
Q T Q
ou seja 2 = 2 como η = 1 – 2 ,
Q1 T1 Q1
T2
então η = 1 – (3.5)
T1
T2
c) Na expressão η = 1 – , quanto menor for a temperatura
T1
T2 (fonte fria), maior será o rendimento, pois menor
T
se torna a razão 2 . Assim, quando a temperatura T2
T1
atingisse zero K (zero absoluto), teríamos um rendi-
mento 100%. No entanto, isso é impossível, pois con-
traria a Segunda Lei da Termodinâmica.

157
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

Exercícios de aplicação

P1 – Um motor eléc- Resolução


trico efectua 8 ciclos
a) Q1 = W + Q2 → W = Q1 – Q2
por segundo. Em cada
ciclo, ele retira 600J W = 600J – 300J → W = 300J
de uma fonte quente e
cede 300J a uma fonte
fria. Determine: b) 300 J
η = W →η =
a) O trabalho realizado Q1 600 J
pelo motor em cada
η = 0,5 = 50%
ciclo.
b) O Rendimento de
cada ciclo.
c) Cálculo do trabalho durante 8 ciclos
c) A potência máxima
do motor. 1 ____________ 300

Dados 8 ____________ x
Número de ciclos = 8 x = 2400J
Δt = 1s
Q1 = 600J Cálculo da potência
Q2 = 300J W 2400 J
P= →P=
a) W = ? t 1s
b) W = ? P = 2400 Watts
c) η = ?

3.4. A Conservação da Energia

Algumas ideias relativas à energia nos acompanharam cons-


tantemente nestes estudos de Física, tanto em mecânica como
em Electricidade e em Termonologia. Neste tema faremos,
então, uma síntese de todos os assuntos que estudamos a res-
peito da energia e de suas leis.

158
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

A Primeira Lei da Termodinâmica refere-se à conservação da


energia em todos os tipos de transformação. Esse princípio é
sintetizado na equação:

ΔQ = AU + W

A Segunda Lei da Termodinâmica completa a primeira, pois


indica-nos que as transformações ocorrem de acordo com um
sentido preferencial. Assim, embora a Primeira Lei afirme que
a quantidade de energia que passa de um corpo para outro é
constante, não levando em conta o sentido da transferência,
a Segunda Lei afirma que o calor passa espontaneamente de
um corpo de maior temperatura para outro de menor tem-
peratura. Dessa forma, embora não contrarie a Primeira Lei,
é impossível a transformação inversa, isto é, é impossível o
calor passar de um corpo de menor temperatura para outro
de maior temperatura.

3.5. A Energia Térmica:


Uma Energia “Degradada”

Durante os estudos da Física, observamos que é muito


comum ocorrer a transformação da energia mecânica ou
eléctrica em energia térmica, mas raramente ocorre o
inverso, ou seja, raramente o calor se transforma em outra
forma de energia.

Vejamos alguns exemplos:

Um automóvel andando a uma velocidade de 80 km/h tem


uma grande energia cinética. Quando o carro é travado e pára,
sua energia cinética se reduz a zero. Sabemos pelo Principio
da conservação da Energia que a energia cinética do carro não
pode se perder. Onde estará ela? Será que essa energia pode
ser utilizada para realizar trabalho? É evidente que não pois
a energia cinética se transformou em energia térmica e, dessa
forma, não, podemos utilizá-la para realizar trabalho. Dizemos,
então, que a energia cinética que se apresentava “organizada”

159
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

e disponível para o trabalho se “degradou”, isto é, se transfor-


mou numa forma de energia não disponível para a realização
de trabalho: a energia térmica.

O mesmo ocorre quando você dispõe de um tanque de água


a 100 ≠C e outro a 0 °C. Devido à diferença de temperatura, a
energia "organizada", isto é concentrada na água quente, pode
ser utilizada, ao passar para o tanque frio, para a realização de
um trabalho numa máquina térmica que opere entre duas fon-
tes de temperaturas, diferentes. No entanto, se misturarmos
as duas quantidades de água, embora a quantidade de energia
continue a mesma, a disponibilidade desta energia para a rea-
lização de trabalho deixa de existir.

Analisando esses exemplos, podemos introduzir aqui, embora


muito superficialmente, a noção de entropia. Esta grandeza
depende apenas do estado inicial e do estado final de um sis-
tema. A variação dessa grandeza entre estes estados é que irá
determinar o sentido em que um processo natural evolui. Essa
grandeza foi introduzida em 1865 pelo físico Alemão Rudolf
Clausius e chama-se entropia, palavra que em grego significa
«capacidade de se modificar internamente». Esta grandeza
que se representa pela letra S, foi definida de tal forma que a
sua variação, ΔS, é:

• ΔS = 0 em processos reversíveis; nestes, a entropia do


sistem a e sua vizinhança mantém-se;

• ΔS > 0 em processos irreversíveis; nestes, a entropia do


sistema e sua vizinhança aumenta;

• S < 0 é impossível; a entropia de um sistema e sua vizi-


nhança nunca pode diminuir.

A entropia está associada à existência de uma tendência


espontânea para que todas as transformações se realizem
no sentido de um aumento “desordem” do sistema. Assim,
um pedaço de gelo tem uma estrutura organizada. Deixando
o gelo em condições normais de temperatura e pressão, sua
tendência é derreter-se, isto é, assumir uma estrutura mais

160
PARTE II – Fenómenos Térmicos
UNIDADE III – Termodinâmica

desorganizada, a forma líquida. Quando a água for deixada em


condições normais, a sua tendência espontânea é passar para
o estado gasoso, ou seja, evaporar. Esse estado caracteriza-se
por uma maior desordem molecular.

Resumindo, podemos dizer que:

Existe uma tendência espontânea para que todas as


transformações se realizem no sentido de um aumento
da entropia.

Esses processos espontâneos de transformação são irreversí-


veis, pois, embora a energia se mantenha constante, ela é cada
vez menos disponível.

161
162
PARTE III
Electrostática e
Corrente Eléctrica
Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

UNIDADE 2 – Corrente Eléctrica Contínua

163
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

PARTE I1I:
ELECTROSTÁTICA E CORRENTE
ELÉCTRICA CONTÍNUA

Unidade 1
Interacção Electrostática

A Electrostática é a parte da física que estuda as


propriedades e a acção mútua (interacção) das
cargas eléctricas em repouso, em relação a um
sistema inercial de referência.

A electrostática baseia-se em dois princípios fundamentais, a


saber:
– Princípio da atracção e repulsão.
– Princípio da conservação das cargas eléctricas.

1.1. Conceito de Cargas


(Lei da Conservação da Carga)
elétron
práton
Todos os corpos são formados de átomos. Cada átomo é cons-
neutron tituído por um grande número de partículas elementares, das
quais as principais são os electrões, os protões e os neutrões.
Embora hoje existam modelos mais complexos para explicar
como essas partículas distribuem-se no átomo, ficaremos,
para simplificar, com o modelo planetário proposto pelo
Rutherford. Segundo esse modelo, os protões e os neutrões
Fig. 1.1 – Modelo de atómico de
Rutherford
estão fortemente coesos numa região central chamada núcleo,
enquanto os electrões giram ao redor do núcleo (como os pla-
netas ao redor do sol), constituindo a electrosfera.

164
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

Por meio de experiências constata-se que os protões se repe-


lem, o mesmo acontece com os electrões. Para explicar essas
ocorrências, estabeleceu-se que protões e electrões possuem
uma propriedade física à qual se deu o nome de Carga eléc-
trica.

As características e propriedades da carga eléctrica:

–Existem dois tipos de carga eléctrica, positiva e negativa.


– Cargas eléctricas do mesmo tipo repelem-se, de tipos
diferentes atraem-se.
– Em todo átomo, o número de electrões é igual ao número
de protões, ou seja, todo átomo é electricamente neutro.

A carga eléctrica (q) se conserva, isto é, a carga eléctrica total


de um sistema electricamente isolado é constante (afirma-
ção conhecida também como Princípio da Conservação da
Carga Eléctrica) e é quantizada, isto é, qualquer carga pelo
seu módulo é um múltiplo da carga eléctrica elementar – a
carga e do electrão (q = ne).
A carga eléctrica q é uma grandeza física que determina a
intensidade das interacções electromagnéticas.

A grandeza carga eléctrica ou quantidade de electricidade é


representada por q.

A carga eléctrica do protão é igual em módulo à carga eléctrica do


electrão, constituindo a menor quantidade de carga encontrada
na natureza, cujo valor determinado experimentalmente é:

e = 1,6.10–19C

No SI, a carga q tem como unidade o coulomb (símbolo: C)

O coulomb é uma unidade de carga muito grande – a carga eléc-


trica de uma nuvem de tempestade, por exemplo, tem apenas
algumas centenas de coulombs. Por essa razão, quase sempre
nos referimos a submúltiplos do coulomb, como o microcou-
lomb, µC (10–6C), o nanocoulomb nC (10–9 C), e o picocoulomb,
pC (10–12C).

165
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

1.2. Lei de Coulomb – Permitividade


Elétrica do Meio

Por volta de 1775, algumas evidências experimentais con-


venceram o físico-químico inglês Priestley de que a interac-
ção eléctrica deveria ser descrita por uma lei semelhante à da
interacção gravitacional – a atracção ou repulsão entre cargas
eléctricas deveria ser também directamente proporcional ao
produto das cargas eléctricas, grandeza equivalente à massa
na interacção gravitacional, e inversamente proporcional à
distância. Dez anos depois, em 1785, o físico Charles Augustin
de Coulomb comprovou experimentalmente a previsão teó-
rica de Priestley, num resultado que conhecido como Lei de
Coulomb:

A intensidade das forças de interacção (F) entre dois


corpos pontuais imóveis de cargas eléctricas q1 e q2 é
directamente proporcional ao produto dos módulos des-
sas cargas e inversamente proporcional ao quadrado da
distância (r) entre eles.

Matematicamente, a Lei de Coulomb é expressa na forma:

q1 q 2
F =k (1.1)
r2
Onde q1 e q2 são as cargas; r é a distância entre as cargas; e
k é o coeficiente de proporcionalidade que é numericamente
igual à força de interacção das cargas unitárias que se locali-
zam a uma distância igual à unidade de comprimento. O valor
de k para o vácuo (vazio) torna-se:

N .m2
k0 = 9.109
C2

166
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

A constante de proporcionalidade, k, é designada constante


de Coulomb ou constante electrostática e o seu valor
depende do meio onde se dá a interacção; não é uma cons-
tante universal como acontece com a constante de gravitação
G (constante de gravitação universal).
Por exemplo, verifica-se experimentalmente que duas cargas
pontuais de 1C, colocadas à distância de 1m, dentro de água
(pura), se repelem com uma força eléctrica de intensidade X
vezes inferior àquela com que as mesmas cargas se repelem
no vácuo. Portanto, a constante de Coulomb para a água é 80
vezes menor do que a constante de Coulomb para o vácuo, k0.
Cada meio é, então, caracterizado pela sua permitividade, ε,
sendo:
1
k = 4πε
A permitividade eléctrica do meio, ε, traduz a interferência
do meio nas interacções electrostáticas e é constante para cada
meio. Quanto maior é a permitividade eléctrica de um meio,
menor o valor de k e, consequentemente, menor é a intensi-
dade da força eléctrica entre as duas cargas eléctricas.
No vácuo, a permitividade eléctrica, ε0, é mínima, sendo o
seu valor:
C2
ε 0 = 8.854188.10–2
N –1m2

A permitividade eléctrica do ar (PTN) é praticamente igual ao


vácuo, embora ligeiramente superior.

εr = 1,0005 ε0

É habitual comparar-se a permitividade eléctrica de um


meio,ε, com a permitividade eléctrica do vácuo, ε0, através da
permitividade relativa, εr, que se define pelo quociente:

εr = ε
ε0

167
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

1.3. Campo Electrostático

O campo electrostático é o meio material que permite a inte-


racção electrostática. É representado por E e é uma grandeza
vectorial cuja direcção e sentido é a da força.
Por definição E=F (1.2)
q0

Onde F é a força electrostática,


qo é a carga de prova
No SI a unidade do campo electrostático é o N/C

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Calcule a intensi-
dade de força coulom-
biana entre duas cargas Pela lei de Coulomb
eléctricas iguais a 1C,
situadas no vácuo e a
1m de distância. A cons- q1 q 2
F =k
tante electrostática é r2
k0 = 9.109 N.m2/C2?
Dados F = 9.109
1 1
q1 = q2 = IC 12
r = 1m
9 N .m
2 F = 9.109 N
k = 9.10
C2

P2 – Um corpo inicial- Resolução


mente neutro é electri- Q = n. e
zado com carga Q = 32 µC.
Qual o número de elec- Q 32.10–6
trões retirados do corpo? n= →n=
e 1, 610–19
Dados
Q = 32mC n = 2.1014
m=?

168
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

Exercícios propostos

P1 – Num ponto M do espaço é colocada uma carga q = 2.10 –6 C R: E = 5.106 N/C,


e fica sujeita a uma força eléctrica F = 10 N, para o norte. Neste para o norte
caso, calcule a intensidade e o sentido do campo eléctrico.

P2 – Sobre uma carga de 4 C, localizada em um ponto P, actua R: F = 10 N


uma força de 8 N. Se trocarmos a carga de 4 C por uma outra de
5 C, qual será a intensidade da força sobre essa carga quando no
ponto P?

P3 – Um partícula cuja carga eléctrica é q = 3.10–8 C, posta no


ponto P que se encontra a 3 m de uma carga Q, no vácuo, sofre
a acção de uma força de módulo F = 1,5.10–2 N.
a) R: E = 5.105 N/C
a) Qual será o módulo do campo eléctrico em P?
b) Admitindo-se que esse campo eléctrico se deve exclusiva- b) R: Q
 = 5.10–4C ou
mente a Q, qual o valor de Q? Q = - 5.10–4C

Linhas de Força
O conceito de linhas de força tem como finalidade representar
o cmpo electrostático através de diagramas.
As linhas de forças
 são traçadas de tal modo que, em cada
ponto, o vector E seja tangente a elas, é possível determinar a
direcção e o sentido do campo num ponto, quando se conhe-
cem as linhas de força que passam por este ponto.
As linhas de força são traçadas mais próximas uma das outras
nas regiões onde o campo eléctrico é mais intenso, e obser-
vando a operação entre estas linhas, é possível obter infor-
mações sobre o módulo do vector campo electrostático.  Em
cada ponto do espaço onde existe carga tem um vector E , cujo
módulo diminui à medida que nos afastamos da carga.
 s linhas de força dos campos que acabamos de estudar
A
apresentam uma configuração própria e simples. Outras

169
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

E3 linhas de força

E2
E1

(a) (b)

Fig. 1.2 – Linhas de força do campo eléctrico

distribuições de cargas criam campos cujas linhas de força


podem representar formas como as representadas nas figuras
1.2 (a) e (b).

Fig. 1.3 – Configurações das linhas de força do campo eléctrico

Consideremos o caso de linhas de forças do campo uni-


forme duas placas, paralelas, separadas por uma distância
pequena em relação às dimensões de placas.
Se colocarmos uma carga de prova positiva Q2, num ponto P1
situado entre
 as placas, esta carga ficará sujeita à acção de
uma força F, devido ao campo eléctrico criado pelas placas no
espaço entre elas. Deslocando-se a carga Q2 para outro ponto
qualquer entre
 as placas verifica-se que irá actuar sobre Q2
Fig. 1.4 – Linhas de força do campo
uma força F do mesmo módulo, mesma direcção e mesmo
eléctrico sentido que aquela que actuava quando Q2 se encontrava em

170
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

P1. Concluímos que o campo eléctrico existente entre as placas


tem, em qualquer ponto, o mesmo módulo, a mesma direcção e
o mesmo sentido. Um campo como este é denominado uniforme.
E

Campo Eléctrico Criado por Carga Pontual


Consideremos uma carga pontual Q1, no ar, e um ponto situado
a uma distância R desta carga, fig. 1.6.
Fig. 1.5 – Campo eléctrico uniforme
Se colocarmos uma carga de  prova Q2 neste ponto P, ela fica
sujeita a uma força eléctrica F, cujo módulo poderá ser calculado
QQ
pela lei de Coulomb, isto é, F = k0 1 2 2 Q1
r r P
sendo E =
F
, + E
Q2
Q1
obtém-se E = k0 (1.3) Q1
r2 E = k0
r2
Portanto, esta expressão permite-nos calcular a intensidade Fig. 1.6 – Campo eléctrico criado
por uma carga pontual
do campo num certo ponto, quando conhecemos o valor da
carga pontual que criou este campo e a distância do ponto
para esta carga.
Analisando as expressões do campo de uma carga pontual,
podemos tirar as seguintes conclusões:
• A carga não aparece nessa expressão porque a inten-
sidade de campo eléctrico num ponto não depende da
carga de prova.
• A intensidade E, num dado ponto, é directamente propor-
cional à carga que cria o campo. Vide o, gráfico da fig.1.7. E
Quer dizer que fazendo variar o valor de Q1, a intensidade do
campo no ponto P, referido na fig.1.7, variará de tal modo que
o gráfico E×Q terá o aspecto apresentado na fig.1.8;
• A expressão do campo eléctrico mostra-nos também,
que o campo eléctrico de uma carga pontual Q1,o seu Q
a E~ Q
valor torna-se tanto menor quanto maior for a distância
1 Fig. 1.7 – Dependência da carga e
r, entre o ponto e a carga Q1; pois E ~ 2 campo eléctrico
r

171
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

E A intensidade do campo é inversamente proporcional


ao quadrado da distância r. Daí resulta o gráfico, fig. 1.8.

1.4. Trabalho do Campo Eléctrico


r
1
b E~ Quando um campo eléctrico realiza um trabalho WAB sobre
r
uma carga de prova positiva Q, que se desloca de um ponto
Fig. 1.8 – Dependência campo eléc-
trico distância A para um ponto B, a diferença de potencial VAB entre estes
pontos é obtida dividindo-se o trabalho realizado pelo valor
da carga que foi deslocada, isto é:
WAB
VAB = (1.4)
Q

WAB = F.d ou WAB = QEd (1.5)

A d.d.p. entre as placas comportar-se-á, conforme a fig. 1.9,


isto é:
WAB QEd
VAB = =
Q Q

VAB = Ed (1.6)

+ - A d.d.p. acima calculada, é de grande utilidade porque permite-


+ E - -nos também calcular o valor do campo eléctrico, assim:
+ -
+ - V
+ B - E=
+ - d
+ -
Q -
+
+

- Quando a força eléctrica, não é constante, o cálculo do traba-


+ - lho só pode ser feito usando-se métodos matemáticos. Assim:
+ A -
+ -
+ - Q (1.7)
V = k0
r
d
Valor de potencial obtido de uma referência dum ponto afas-
Fig. 1.9 – Campo eléctrico uniforme
no interior de duas placas tado da carga Q ou valor de potencial em relação a um ponto
no infinito.

172
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Suponha que, na
figura abaixo, uma carga
positiva Q = 2.10–7C se
a) desloca de A para B e que
A d.d.p. entre A e B é dada por o trabalho realizado pela
força eléctrica, sobre ela,
fosse WAB = 5.10–3J.
WAB 5.10−3 J +-
VAB = = + E -
Q 2.10−7 C + -
+ -
+ B -
+ -
+ -
Q -
+

+
-
+ -
+ A -
+ -
+ -
d
b)
Da expressão a) Qual é a diferença de
potencial VAB entre A
WAB e B?
VAB =
Q b) Se uma carga positiva
Q = 9.10–6C for aban-
WAB = Q.VAB donada no ponto A
da mesma figura, qual
será o trabalho que a
força eléctrica reali-
Como a d.d.p. já foi determinada, temos
zará sobre essa carga
J ao deslocá-la de A
WAB = 6.106 C 2,5.104
C para B?

WAB = 15.10–2 J Dados


WAB = 5.10–3J
Q = 2.10–7C
a) VAB = ?
b) WAB = ?

173
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Suponha que na
figura abaixo o valor Q1 2.10–6
da carga Q1 seja 2μC. VA = k → VA = 9.109
rA 2.10–1
Suponha, ainda, que as
distâncias da carga Q1 VA = 9.104 V
aos pontos A e B sejam
rA = 20 cm e rB = 60 cm.
Q1 2.10–6
Calcular a d.d.p. (VAB). VB = k → VB = 9.109
rB 6.10–1
Q q F
A
B VB = 3.104 V

A d.d.p. entre A e B será:


VAB = VA − VB
Dados
Q1 = 2mC = 2.10–6C VAB = 9.104 V – 3.104 V
rA = 20cm = 2.10–1m
VAB = 6.104 V
rB = 60cm = 6.10–1m

Exercícios propostos

P1 – Uma carga pontual Q estabelece, no ponto A, o campo


eléctrico E , como mostra a figura. Q E
A B
d
a) S endo d a distância entre A e B, a voltagem entre esses
pontos poderia ser calculada por VAB = Ed? Explique?
WAB
b) A expressão VAB = poderia ser usada para calcular
Q
essa diferença de potencial?

P2 – a) Calcule, em V/mm, a inclinação do gráfico obtido no


exercício anterior.
b) Expresse, em V/mm e em N/C, a intensidade do campo
entre as placas.

174
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

1.5. Potencial Eléctrico

Conhecemos já uma grandeza que por depender unicamente


da localização do ponto (grandeza posicional) caracteriza
o campo electrostático – o vector campo eléctrico. Este se
associa a cada ponto uma grandeza vectorial à força por uni-
dade de carga colocada no ponto. De modo idêntico iremos
associar a cada ponto do campo uma grandeza escalar que só
depende da posição da carga.
A energia potencial de um sistema campo – carga não pode
caracterizar esta grandeza escalar, uma vez que depende da
carga colocada no ponto. No entanto, se considerarmos a ener-
gia potencial por unidade de carga, obteremos uma grandeza
posicional escalar, que já permite caracterizar o campo nesse
ponto. A essa grandeza chamaremos potencial eléctrico.
Esta grandeza designa-se por V e poderemos escrever:
Ep
V= (1.8)
Q

sendo Ep a energia potencial eléctrica.

Unidade SI de V

[ V ] = [ p ] = 1 J = 1 volt
E

[ P ] 1C
Desta expressão resulta a unidade S.I. do potencial eléctrico –
volt (joule por Coulomb).
Como a energia potencial eléctrica é:
Q1Q2
Ep = k (1.9)
r
e o potencial eléctrico num ponto à distância r da carga fonte
de campo Q1 será:
Q1Q2
k
V= r
Q2

175
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

logo:
Q1
V =k (1-10)
r

Sendo o trabalho realizado pelas forças do campo ao deslocar


a carga Q2 entre dois pontos igual à variação de energia poten-
cial dos sistema temos W A→B = ΔEp

logo W A→B = EpA– EpB (1-11)

A Assim dividindo esta expressão por Q (carga criadora de


campo) obtemos o trabalho realizado por unidade de carga

WA→B E pA E pB
= −
Q Q Q

WA→B
logo = VA − VB =  V
Q

em que VA – VB = ΔV é a diferença de potencial eléctrico entre


os pontos A e B.
Utilizando estas expressões podemos definir diferença de
potencial entre dois pontos e potencial num ponto.

A diferença de potencial eléctrico entre dois


pontos do campo é o trabalho realizado pelas
forças do campo no transporte da carga unitária
de um ponto para o outro.

176
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

Exercícios propostos

P1 – Qual o trabalho necessário para levar uma carga de R: W = –2.10–3J


500.10–12 C de um ponto situado a 20 m de uma carga de 1.000 µC
a um ponto a 2m dela?
Considere as cargas no vácuo (kO = 9.109 N.m2 / C2).

P2 – Determine o trabalho das forças de campo eléctrico de uma R: W = 4,5.10–4J


carga puntiforme Q = 5µC para transportar outra carga punti-
forme q = 2.10–2 µC de um ponto A a outro ponto B, distantes 1 m
e 2 m da carga Q, respectivamente. (Dado kO = 9.109 N.m2 / C2).

P3 – Uma objecto de pequenas dimensões, com uma carga


eléctrica Q, cria um potencial igual a 1000 V, nume ponto A, a
uma distância de 0,1 m. Determine o valor. a) R: E = 104N/C
a) Do campo eléctrico no ponto A.
b) R: V
 = 500 V;
b) Do potencial e do campo eléctrico em um ponto B, que
E = 2,5.103N/C
dista 0,2 m do objecto.

1.6. Capacidade eléctrica

Consideremos dois condutores, inicialmente neutros, quando


são carregados, um deles adquire a carga +|q| e o outro –|q|.
Entre os condutores surge um campo eléctrico e cria-se
uma diferença de potencial (tensão). A medida que a tensão
aumenta, o campo eléctrico entre os condutores intensifica-se.
A grandeza física que caracteriza a capacidade de dois condu-
tores acumular carga eléctrica, denomina-se Capacidade eléc-
trica (c), e é medida pelo quociente da carga (q) de um dos
condutores pela diferença de potencial (U) entre os condutores

q
C= (1.12)
U

177
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de capa-


cidade eléctrica é o farad (F). O farad é uma unidade de medida
considerada muito grande para circuitos práticos, por isso, são
utilizados valores de capacidade expressos em microfarads
(μF), nanofarads (nF) ou picofarads (pF).

1.6.1. Condensadores (Capacitores)

Capacitor, (condensador), é um componente que armazena


energia num campo eléctrico, acumulando um desequilíbrio
interno de carga eléctrica.
Os formatos típicos consistem em dois eléctrodos ou placas que
armazenam cargas opostas. Estas duas placas são condutoras
e são separadas por um isolante ou por um dieléctrico. A carga
é armazenada na superfície das placas, no limite com o dieléc-
trico. Devido ao facto de cada placa armazenar cargas iguais,
porém opostas, a carga total no dispositivo é sempre zero.
Quando uma diferença de potencial U = E.d é aplicada às pla-
cas do condensador simples, surge um campo eléctrico entre
elas. Este campo eléctrico é produzido pela acumulação de
uma carga nas placas.
Segundo a forma das superfícies condutoras, os condensado-
res podem ser de placas paralelas, condensadores cilíndricos
ou condensadores esféricos.

1.6.2. Energia do condensador carregado


Para carregar um condensador, é necessário realizar traba-
lho na separação das cargas positivas das negativas. A energia
armazenada num condensador é igual ao trabalho feito para
carregá-lo, e é dada pela seguinte fórmula:
qU
W= (1.13)
2
Substituindo na fórmula (1.13) a carga ou a diferença de
potencial pela fórmula (1.12) da capacidade do condensador,
tem-se:
qU q2 CU 2
W= = = (1.14)
2 2C 2

178
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

1.6.3. Energia do condensador carregado


Num circuito de condensadores montados em paralelo todos
estão sujeitos à mesma diferença de potencial (tensão). Para C1 C2 Cn
calcular a sua capacidade total:
Fig. 1.10 – Capacitores associados
C1 = C1+ C2+ ... + Cn (1.15) em paralelo

A carga para os capacitores em série é a mesma, porém cada


capacitor terá uma queda de tensão (diferença de potencial
entre seus terminais) diferente. A soma das diferenças de C1 C2 Cn
potencial (tensão) é igual a diferença de potencial total. Para
Fig. 1.11 – Capacitores associados
calcular a capacidade total:
em série
1 1 1 1
= + + ... + (1.16)

C C C
t 1 2 C n

Na associação mista de capacitores, tem-se capacitores asso-


ciados em série e em paralelo. Nesse caso, o capacitor equi-
valente deve ser obtido, resolvendo-se o circuito em partes,
conforme a sua configuração. Por isso, calcule, antes associa-
ção de capacitores em série para após efectuar o cálculo dos
capacitores em paralelo ou vice-versa.

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Um condensador
ligado aos terminais
de uma pilha de 1,5 V
q 3µC
c= →c= adquire carga de 3 μC.
U 1,5V Determine a sua capa-
cidade.
c = 2µF
Dados
U = 1,5V
q = 2 μC
c=?

179
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

Exercícios de aplicação

P2 – Um condensador, Resolução
ligado aos terminais de
uma bateria de 12 v, a)
armazena carga de 50 q 50nC
nC. Determine. C= →C =
U 12V
a) A capacidade do
c = 4 , 2nF
condensador;
b) A energia armaze-
nada.
b)
Dados
qU 5.10–8 C .12V
U = 12V W= →W =
2 2
q = 50nC = 5.10–8C
a) C = ? W = 3.10–7 J
b) W = ?

P3 – Dois condensa- Resolução


dores C1 = 20μF e C2 =
a)
60μF estão associados
1 1 1 1 1 1 1 4
em série. Aplicou-se = + → = + → =
aos terminais da asso- Ct C1 C 2 Ct 20 60 Ct 60
ciação uma ddp igual a
6 V. Determine. Ct = 15µF

a) A capacidade total;
b) A carga total; b)
c) A
 ddp em cada con-
qt = Ct .U → qt = 15µF .6V → qt = 90µC
densador.
Dados
C1 = 20mF
c)
C2 = 60mF qt 90µC
U1 = → U1 = → U1 = 4 ,5V
U = 6V C1 20µF
a) Ct = ?
b) q1 = ? qt 90µC
U2 = → U2 = → U2 = 1,5V
c) U1 = ? U2 = ? C1 60µF

180
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1 – Interacção Electrostática

Exercícios de aplicação

Resolução P4 – Dois condensa-


dores C1 = 20μF e C2 =
a) 60μF estão associados
Ct = C1 + C2 → Ct = 20µF + 60µF → Ct = 80µF em paralelo. Aplicou-se
aos terminais da asso-
ciação uma ddp igual a
6 V. Determine.
b) a) A capacidade total;
q1 = C1 .U → q1 = 20µF .6V → q1 = 120µC b) A carga acumulada em
cada condensador;
q2 = C2 .U → q2 = 60µF .6V → q2 = 360µC c) A carga total.
Dados
c) C1 = 20mF
qt = q1 + q2 → qt = 120µC + 360µC → qt = 480µC C2 = 60mF
U = 6V
a) C1 = ?
b) q1 = ? q2 = ?
c) qt = ?

Exercícios propostos

P1 – Um condensador ligado a uma bateria de 12V adquire R: q = 8 nC


carga de 4 nC. Qual a carga acumulada pelo mesmo condensa-
dor quando ligado a uma bateria de 24V?

P2 – Dois condensadores C1 = 3μF e C2 = 6μF estão associados


a) R: q2 = 12μC
em série. Aplicando-se uma ddp aos seus terminais, o conden-
sador C1 acumula uma carga igual a 12 μC. Determine: b) R: U1 = 4V e U2 = 2V
a) A carga acumulada por C2. c) R: Ct = 2μF
b) A ddp em cada condensador.
c) A capacidade total.

P3 – Dois condensadores C1 = 10000pF e C2 = 1500pF estão R: q2 = 3.10–7C


associados em paralelo. Qual é a carga acumulada pelo segundo
condensador, sabendo que a carga do primeiro é igual a 6μC?

181
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Unidade 1I
Corrente Eléctrica Contínua

Fig. 2.1 – Linha de transportação de energia eléctrica

2.1. Corrente Eléctrica

A corrente eléctrica é o movimento ordenado de cargas eléc-


tricas.
Protões (p) e electrões (e) apresentam uma propriedade não
manifestada pelos neutrões, denominada carga eléctrica.
Convencionou-se que os protões apresentam carga eléctrica
positiva (+) e os electrões carga eléctrica negativa (–).
Quando em presença dos seguintes casos,

P P
Repulsão

E E

P E Atracção

Fig. 2.2 – Principio de atracão e de repulsão

182
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

• Um átomo electricamente neutro apresenta um número


de protões igual ao número de electrões e não manifesta
propriedades eléctricas.
• Se o átomo perder um ou mais electrões de sua electros-
fera, o número de protões no núcleo passa a predominar,
o átomo passa a manifestar propriedades eléctricas, tor-
nando-se ião positivo.
• Se o átomo receber electrões na sua electrosfera, ele pas-
sará a manifestar comportamento eléctrico oposto ao
anterior, tornando num ião negativo.

A carga eléctrica do protão é igual em módulo à carga eléctrica


do electrão, constituindo a menor quantidade de carga encon-
trada na natureza. O seu valor é denominado carga eléctrica
elementar e representada por e, de valor experimentalmente
determinado:
e = 1,6.10–19C

2.1.1. Mecanismo da Condução


da Corrente Eléctrica

Chama-se condutor eléctrico a todo o meio que


permite a movimentação de cargas no seu inte-
rior. Se essa movimentação relativa não ocorrer, o VA< VB
meio constituirá um isolador eléctrico. A B
A
Condutores eléctricos mais comuns: Condu-
B tores

Campo eléctricio criado por dois condutores, A e B, quando isolados


a) Metais
a)

Esses possuem grandes quantidades de electrões C


A B
livres, constituindo a denominada nuvem electró-
nica, com ligação fraca com o núcleo e com uma
certa liberdade que lhes confere condutibilidade.
G
Nos condutores metálicos
VA< VB
Tomemos para estudos dois condutores nas con- b)
dições que se apresentam nas fig.2.3 a) e 2.3 b). Fig. 2.3 a), b) – Linhas de força do campo eléctrico criado

183
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

A fig. 2.3a mostra o que se passa com as linhas de campo


quando se colocam dois condutores isolados, enquanto na
fig. 2.3 b) ocorre a deformação do campo eléctrico e quando
se ligam os dois condutores por um fio condutor C: as linhas
de campo eléctrico concentram-se quase todas no interior e à
superfície do fio.
O campo eléctrico torna-se particularmente intenso no fio
condutor, e praticamente inexistente fora desse fio.
Os electrões de condução passam a sofrer os efeitos da actua-
ção de forças eléctricas F, e são opostamente orientadas para o
sentido do campo eléctrico, pois:
  
F = Q.E = −eE (2.1)
onde Q= e = módulo da carga de electrão e E = campo eléctrico
Os electrões de condução são arrastados
 lentamente para o
sentido oposto ao do campo eléctrico E .
Em síntese
• Num condutor metálico, a corrente eléctrica estacioná-
ria consiste no arrastamento lento de electrões no sen-
tido oposto ao do campo eléctrico estabelecido no con-
dutor, quer à superfície quer no interior do condutor,
com a velocidade da ordem de mm/s.
• Os electrões deslocam-se quer à superfície quer no inte-
rior dos fios condutores, onde o campo eléctrico não só
não é nulo como até é particularmente intenso. A velo-
cidade com que, na ligação do circuito, se estabelece e
propaga o campo eléctrico é da ordem de 200.000 km/s.

b) Electrolíticos

Nos condutores electrolíticos

Num condutor electrolítico há dois fluxos de carga eléctrica


de sentidos opostos; as cargas positivas, transportadas pelos
catiões, fluem no sentido do campo eléctrico; as cargas nega-
tivas, transportadas pelos aniões, fluem no sentido oposto ao
do campo eléctrico.

184
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

CuSO4 (aquoso)
C (-) A (+)
+ ++ + - - -
+ -
+ + + + + - -
-- -
Fig. 2.4 – Corrente nos electrólitos

A = ânodo
C = cátodo
} Eléctrodos

O sulfato de cobre é um exemplo de condutor electrolítico de


uma substância química, cuja solução aquosa é boa condutora
da corrente eléctrica, a que se chama condutor electrolítico.
Os catiões e os aniões movem-se caótica e desordenadamente,
na ausência da corrente eléctrica. Quando se fecha o circuito e
passa corrente eléctrica, esses iões orientam-se. É assim que
surgem dois fluxos, conforme referido atrás..

c) Gasosos

Nos condutores gasosos

Nas descargas eléctricas através dos gases, os portadores de


carga são os iões positivos, resultantes da ionização ou do
arranque de um metal por emissão fotoelectrónica ou termoe-
lectrónica, quando ocorrem.
No entanto, o papel dos electrões é mais importante do que o
dos iões.
Considerando as forças eléctricas de igual intensidade a actuar
nuns e noutros, tem-se F = me− ⋅ ae− e F = me− ⋅ a(ião)
sendo me− 〈〈 mião logo ve− 〈〈 v ião

185
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

S. C S. R Significando assim a importância ou o factor decisivo no que


I
G
I respeita a intensidade de corrente.
I
Quanto ao sentido de arrastamento de electrões cumpre-se
M
I I seguir o conceito:
I
A
R • Ao sentido em que são arrastados os electrões chama-se
Fig. 2.5 – Sentidos real e convencio- sentido real ou sentido electrónico da corrente (no caso
nal da corrente eléctrica
dos condutores electrolíticos e gasosos, embora os dois
sentidos sejam opostos na migração dos portadores de
carga).
• Ao sentido oposto ao sentido electrónico ou seja do
pólo positivo para o pólo negativo no circuito exterior
ao gerador chama-se sentido convencional (conforme
o físico francês Ampère e outros fundadores da teoria
electromagnética).

2.2. Resistência de um Condutor


Eléctrico (Resistividade)

A resistência de um condutor (metálico, electrolítico ou


gasoso) é uma grandeza macroscópica que traduz a oposição
deste condutor ao movimento dos portadores de carga.
Consideremos condutores feitos do mesmo material, mas que
diferem pelos comprimentos e pelas áreas das secções trans-
versais.
É possível estabelecer uma lei, segundo a qual a resistência
eléctrica R. de fios condutores de dado material é directa-
mente proporcional ao comprimento  do fio e inversamente
proporcional à área A de secção transversal do fio:

 (2.3)
R=ρ
A

A constante de proporcionalidade ρ é denominada resistivi-


dade eléctrica do material de que é feito o fio.

186
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

No Sistema Internacional de unidades (SI), a unidade de resis-


tividade é o ohm × metro (Ω . m), Assim, da equação anterior,
obtemos:
[ R] ⋅ [ A] [ m2]
[ρ] = [] = Ω [m] = Ω ⋅ m

Observemos que se tivermos um fio de comprimento  = 1m


e secção transversal de área A = 1m2 a resistividade ρ será

numericamente igual à resistência eléctrica. Por isso, pode-
mos dizer que a resistividade mede numericamente a resis-
tência eléctrica por unidade de comprimento e por unidade de
área de secção transversal.
Outras unidades, não pertencentes ao SI, também costumam
ser usadas. As mais comuns são:

⎛ Ω × mm 2 ⎞
⎜( ),(Ω× cm )⎟
⎝ m ⎠

Quanto melhor condutor for o material do fio, tanto menor


será a sua resistividade. Por isso, os metais são, de um modo

geral, as substâncias com menores resistividades.
A resistividade de um material depende da temperatura,
aumentando quando se aquece o condutor, na maior parte
dos casos. Assim, quando a temperatura de um fio condu-
tor aumenta, geralmente sua resistência aumenta em vista
ao aumento da resistividade da substância que o constitui.
A variação da resistência por dilatação térmica do fio pode ser
desconsiderada.
Experimentalmente, é possível verificar que a resistividade
de um dado material varia com a temperatura obedecendo à
equação:
ρ = ρ0 (1 + a Δt θ) (2.4)

ρ = resistividade da substância final


ρ0 = resistividade inicial da substância
Δt = variação da temperatura
a = coeficiente de dilatação da substância

187
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Como os efeitos da dilatação não desprezáveis, a equação


anterior pode ser estendida para os valores da resistência de
um fio condutor desse material. Assim:

R0 A RA
Realmente, sendo ρ0 = e ρ= , vem
 

RA R0 A

=

(
1 + α t θ )

( )
logo R = R0 1 + α t θ (2.5)

R0 = Resistência do fio na temperatura inicial, t0


R = Resistência do fio na temperatura final, t

Para os metais puros, verifica-se que a resistividade aumenta


com o aumento da temperatura. Esses materiais apresentam
coeficiente de temperatura α positivo.
Há materiais, como grafite, em que a resistividade diminui
quando a temperatura aumenta, tendo pois coeficiente de
temperatura α negativo.
Fisicamente, explica-se o aumento da resistividade e da resis-
tência eléctrica dos metais com a temperatura pelo aumento da
agitação térmica dos átomos que constituem o metal, acarre-
tando um aumento no número de choques entre as cargas em
movimento e as outras partículas constituintes do fio condutor.
Na grafite, o aumento da agitação existe, mas é compensado ou
superado pelo aumento da quantidade de electrões - livres, o
que acarreta uma diminuição na resistividade e na resistência
eléctrica.
Em certas ligas metálicas, como a constantana, a manganina
e o nicromo, esses dois efeitos praticamente se equilibram e
como resultado a resistividade do material não varia com a
temperatura: seu coeficiente de temperatura é praticamente
nulo. Tais materiais, por possuírem tais característica, costu-
mam ser usados como padrões de resistência.

188
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Quadro 1 – Valores da resistividade e coeficiente de temperatura


de algumas substâncias a 20ºC

[ρ] = Ω mm
[ ]
2
Material [α] = [0C–1]
m
Prata 0,0159 0,0040
Cobre 0,0170 0,0040
Alumínio 0,0270 0,0036
Ferro 0,0970 0,0050
Platina 0,0980 0,0039
Chumbo 0,02100 0,0042
Tungsténio 0,0550 0,0048
Mercúrio 0,9500 0,0009
Constantana 0,49 Menor que 10–5
Manganina 0,48 Menor que 10–5
Nicromo 1,12 0,00017
Grafite 0,4 a 0,7 -2.10–4 a –8.10–4

A tabela acima fornece, para algumas substâncias, valores da


resistividade a 20°C e o respectivo coeficiente de temperatura.

2.3. Lei de Ohm para Segmento


de um Circuito

Para resistência pura, a d.d.p., U e a intensidade da corrente i


são directamente proporcionais:
U = Ri
R é uma constante de proporcionalidade, e uma característica
do resistor denominada resistência eléctrica.
Unidade no SI de Resistência

[U ] = 1volt = 1ohm
[ R] =
[i] 1ampére
1V
1Ω = (SI)
1A

189

PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Todo resistor que obedece a lei de Ohm é denominado resistor


óhmico, apresentando as características ilustradas no gráfico
da fig. 2.6.
U
Nesse gráfico, a tangente do ângulo θ de inclinação da recta
θ mede numericamente a resistência eléctrica do condutor:

i
Cateto oposto U
Fig. 2.6 – Característica corrente – tgθ = =
tensão do resistor Óhmico Cateto adjacente i

tgθ = R

Nas resistências óhmicas, alterando-se a d.d.p., modifica-se


U
a intensidade de corrente, mas a resistência eléctrica R =
i
permanece constante.
U
Resistências há em que, alterando-se a d.d.p., em suas extremi-
dades, altera-se a intensidade de corrente, mas as suas gran-
U2 dezas não variam proporcionalmente. Tais resistências não
obedecem à lei de Ohm, sendo denominados resistências não-
U1
óhmicas, tal como ilustra o gráfico da fig. 2.7.
0 i1 i2 i Se chamarmos de resistência eléctrica dos resistores não-óhmi-
cos a razão entre a d.d.p., e a intensidade de corrente, observa-
Fig. 2.7 – Característica da resistên- remos que essa resistência eléctrica não se mantém constante,
cia não - Óhmica
isto é, seu valor depende da d.d.p. aplicada.

Assim

U1
R1 =
i1

U2
R2 =
i2

Com R1 ≠ R2

190
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Uma resistência


óhmica é percorrido
por uma corrente eléc-
a)
trica de intensidade
Pela lei de Ohm, U = R.i 5A, quando submetida
a uma d.d.p. de 100V.
U 100V Determine.
R= →R=
i 5A a) A resistência eléc-
trica da resistência;
R = 20Ω b) A intensidade de cor-
rente que percorre a
resistência quando
b) é submetida a uma
d.d.p. de 250V.
U 250V
i= →i= Dados
R 20Ω
i = 5A
i = 12,5A U = 100V
a) U = ?
b) I = ? U = 250V

Exercícios propostos

P1 – O cobre tem uma resistividade a 20°C de 1,7.10–8Ω.m. Cal- R: 8,5.10–4Ω


cule a resistência de um fio de cobre de 1 m de comprimento e
0,2 cm2 de área de secção transversal nessa temperatura.

P2 – Aplicando uma ddp de 12 V em um resistor ôhmico, ele é R: R = 4Ω; i = 2,5A


percorrido por uma corrente de 3 A. Determine a resistência do
resistor e a corrente quando a ele se aplicar uma ddp de 10V.

P3 – Um chuveiro possui uma resistência 10Ω. Qual será a R: i = 22A


corrente, quando ligado a 220V?

191
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

2.4. Trabalho e Potência Eléctrica

Fig. 2.8 – Gerador eléctrico

Durante o deslocamento da carga q no interior do condutor


o campo eléctrico realiza um trabalho sobre a carga, que se
designa por trabalho da corrente eléctrica.
Se durante o intervalo de tempo ∆t a carga q atravessar a secção
do condutor, a força eléctrica que age em q será F = qE. Assim o
campo eléctrico realiza o trabalho W = Fs, sendo s o módulo do
deslocamento da referida carga.

Para F = qE, teremos W = qEs

Sendo a energia eléctrica U = Es , uma vez que a intensidade da


q
corrente I = , este trabalho é igual a W = IUt.
t
Assim o trabalho da corrente eléctrica num circuito é igual
ao produto da intensidade da corrente I pela tensão U e pelo
intervalo de tempo ∆t, durante o qual o trabalho foi realizado.
Se a tensão for expressa através da intensidade da corrente,
ou a intensidade da corrente através da tensão com base na

192
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

lei de Ohm para um sector do circuito, teremos três fórmulas


equivalentes para o trabalho da corrente:
W = IUt (2.6)
W = I2 Rt
U 2t
W=
R

Cada fórmula é adaptada para cada de ligação de condutores


(série ou paralelo).
Qualquer aparelho eléctrico consome uma certa quantidade
de energia por unidade de tempo. Deste modo a par do traba-
lho da corrente, importa conhecer a potência correspondente
a cada aparelho eléctrico.
A potência da corrente é igual ao quociente do trabalho da cor-
rente realizado durante um determinado intervalo de tempo.

W
P= = IU
t
Substituindo as fórmulas equivalentes do trabalho, obtemos:
P = IU (2.7)
P = I2 R
U2
P=
R

2.5. Energia Dissipada num Condutor:


Efeito Joule

Sempre que passa corrente num circuito há desenvolvimento


de calor. Este calor é devido ao choque dos electrões livres con-
tra os átomos do condutor no seu movimento. Os átomos em
virtude disso entram em movimento, o qual gera calor. Deste
modo os electrões perdem uma parte da sua energia, a qual se
converteu em calor.

193
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

O fenómeno do desenvolvimento de calor num condutor pela


passagem da corrente eléctrica chama-se efeito joule.
Efeito Joule (lei de Joule) é uma lei física que expressa a rela-
ção entre o calor gerado e a corrente eléctrica que percorre um
condutor em determinado tempo. O nome é devido a James
Prescott Joule (1818-1889) que estudou o fenómeno em 1840.
Q = I2. R.t (2.8)
onde:
• Q é o calor gerado por uma corrente constante percor-
rendo uma determinada resistência eléctrica por deter-
minado tempo.
• I é a corrente eléctrica que percorre o condutor com
determinada resistência R.
• R é a resistência eléctrica do condutor.
• t é a duração ou espaço de tempo em que a corrente
eléctrica percorreu ao condutor.

Aplicações do efeito Joule – Há casos em que o efeito Joule


resulta em pura perda. É o que acontece no transporte de
energia eléctrica a longa distância, visto que neste caso o
desenvolvimento de calor nos cabos não é aproveitado. Mas
as aplicações práticas importantes do efeito Joule são várias
– lâmpadas eléctricas de incandescência, aparelhos de aqueci-
mento, ferros de engomar, ferros de soldar, etc.

2.6. Força Electromotriz


(f.e.m. e Resistência Interna)

O gerador eléctrico é um dispositivo que fornece energia as


cargas elementares para que essas se mantenham em circula-
ção. Quer dizer que o gerador eléctrico mantém a d.d.p. entre
os pontos do circuito, para que a corrente eléctrica circule.
Assim define-se:
Gerador eléctrico como o dispositivo que converte ener-
gia eléctrica noutras formas de energia.

194
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

O gerador pode ser ideal ou real:


Ideal: Q
 uando não apresenta resistência eléctrica interna,
(r = 0); quer dizer que não há dissipação de ener-
gia no interior do circuito, transferindo-se integral-
mente toda a energia eléctrica gerada às cargas,

ε
i
A B
+ –
i
R

Fig. 2.9 – Gerador em série com uma resistência

A d.d.p. nos seus terminais (A e B) corresponde à


sua força electromotriz (f.e.m.).

Real: Quando, percorrido por corrente eléctrica, vai man-


tendo entre os seus terminais uma d.d.p. (U) menor
que essa força electromotriz (f.e.m.) ε, ocorrendo
assim uma queda (dissipação) de potencial (ri)
dentro do próprio gerador.

Nos terminais do gerador a d.d.p. corresponde a taxa de eleva-


ção de potencial que realmente ocorreu:
U = ε – ri (2.9)
Equação característica do gerador eléctrico.
Desta equação, conclui-se que a d.d.p., nos terminais do gera-
dor real só é igual à força electromotriz ε, quando é nula a
intensidade da corrente (i = 0). E isso só ocorre se o gerador
não estiver ligado a nenhum circuito, e é por isso, que essa
d.d.p. é chamada também tensão em aberto do gerador.
ε r

Circuito gerador-resistor. Lei de Pouillet R i

O cálculo da d.d.p., nos terminais do resistor é feito pela lei de i


Ohm, e conforme figura ao lado, temos:
U = Ri Fig. 2.10 – Circuito gerador – resistor

195
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

No entanto, nos pólos do gerador, a d.d.p. é dada por:


U = ε– ri
Igualando as duas equações resultantes, obtém-se:
Ri = ε – r .i
ε = Ri + ri
(
ε =i R+r )
ε (2.10)
i=
R+r
Essa equação, que nos dá a intensidade de corrente que per-
corre um circuito simples do tipo gerador-resistor, e que tra-
duz matematicamente a Lei de Pouillet.
Contudo, no circuito externo, em vez de um único resistor, pode-
mos ter uma associação de resistores, representando, nesse caso,
R, a resistência eléctrica do resistor equivalente à associação.

Exercícios de aplicação

P1 – Um gerador eléc- Resolução


trico possui f.e.m. 30 V
e resistência interna 2Ω. a)
Determine: U = ε − ri → U = 30V − 2 Ω. 5 A → U = 20V
a) A tensão nos seus
terminais, quando
atravessado por uma
corrente eléctrica de
intensidade 5A;
b) A intensidade da cor- b)
rente eléctrica que é U = 12V
atravessada quando
U = ε − ri
a tensão nos seus ter-
minais é de 12V. ε −U 30V − 12V
Dados i= →i=
r 2Ω
ε = 30V
r = 2Ω i = 9A
i = 5A

196
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios de aplicação

Resolução P2 – A curva caracte-


rística de um gerador é
Do gráfico concluímos que ε = 24V
apresentada na figura
O coeficiente linear da recta é ICC = 4A abaixo. Determine a
f.e.m., a resistência in-
abcissa do ponto onde a recta intercepta o eixo dos i;
terna e a intensidade
A resistência interna é unicamente igual à tangente do da corrente de curto-
ângulo, θ: -circuito do gerador.
U[V]
Cateto oposto
tgθ =
Catetoadjacente 24

24V
tθ = =6
4A
θ
r = 6,0Ω
0 4 i[A]

Resolução P3 – No circuito esque-


matizado na figura abaixo
tem-se um resistor ligado
a) aos terminais de um gera-
ε 25V dor. Determine:
i= →i=
R+r 3Ω + 2Ω a) A intensidade da cor-
rente que atravessa o
i = 5A circuito;
b) A d.d.p. no resistor
i
i i
b)
U = R.i ε = 25V r = 3Ω
r = 2Ω
U = 3Ω.5A i
U = 15V
Dados
ε = 25V
r = 2Ω
R = 3Ω

197
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios propostos

P1 – Determine a f.e.m. e a resistência interna do gerador


equivalente à seguinte associação.

A 1,0Ω 6,0V 1,0Ω 12V 2,0Ω 12V B

P2 – Determine a f.e.m. e a resistência interna equivalente a


seguinte associação do gerador:

A
12V 12V 12V

3,0Ω 3,0Ω 3,0Ω


B

Potência de um gerador

Designando por potência de um gerador a energia a transfor-


mar, de uma forma não eléctrica, por unidade de tempo, rela-
cionando-a com a f.e.m., essa potência gasta é o que se chama,
vulgarmente, por potência de um gerador.
Considerando que a energia transformada em forma eléctrica,
por um gerador, é:
Ee = εg it

Vem
Ee E git
Pg = = = E gi
t t
Pg = ε gi (2.11)

A potência fornecida pelo gerador à linha ou potência útil.

198
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Tendo-se
Eu = U git

EU U git
Plinha = Pu = =
t t
Plinha = Pu = U gi

Unidade SI da P

[ΔW ] = ε i
[P ] = [ ][ ]
[Δt ]
 
1J
[P ] = = [1V ][1 A] = 1Watt = 1W
1s


Associação de geradores em série

Os geradores associados em série são percorridos pela mesma


Q
corrente eléctrica Q = i.t → i = .
t

i ε1 r ε2 r εn i
x 1 2 y
rn
U1 U2

Fig. 2.11 – Geradores associados em série

x εs rs y
O gerador equivalente é per-
corrido por corrente da mesma
intensidade que a associação e
mantém entre os seus pólos a U
mesma d.d.p. que na associação,
fig. 42.1 Fig. 2.12 – Gerador equivalente da associação em série

199
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Nesse exemplo, o pólo positivo do primeiro e negativo do


último são os pólos da associação.
É propriedade fundamental da associação em série:
A intensidade de corrente é a mesma em todos os geradores.
Sendo n geradores de f.e.m. ε1, ε2... εn e resistência internas r1,
r2 ... rn associados em série, a d.d.p. nos geradores associados é:
U = U1 + U2... + Un
Com a equação característica para os valores da d.d.p.
εs– rs.i = (ε1– r1) + (ε2– r2) + ... + (εn– rn)
Gerador equivalente
εs– rs.i = (ε1– r1) + ... + (r1+ r2 + ... + rn).i
εs = ε1 + ε2 + ... + εn
Portanto, a associação em série de geradores produz um
aumento n a f.e.m. e na resistência interna.
No caso de n geradores iguais, com força electromotriz ε e
resistência interna r, temos:
εs = nε
Rs = nr

Associação de geradores em paralelo

Neste tipo de associação, todos os pólos positivos dos gerado-


res são ligados entre si.
Os geradores associados em paralelo mantêm em conjunto
uma d.d.p.
ε r
i
n i
ε r n
x y
r
i ε i
n n

Fig. 2.13 – Geradores associados em paralelo

200
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

O gerador equivalente, percorrido por corrente de intensidade


igual à da associação, mantém a mesma d.d.p., :

x εp rp y

Fig. 2.14 – Gerador equivalente da associação em paralelo

Sendo (i) a intensidade da corrente que atravessa a associação,


i
em cada um dos geradores a intensidade de corrente é .
n
Os geradores associados mantêm, em conjunto, uma d.d.p.,
entre os terminais da associação.
Para o gerador equivalente vem:
U = εp – rpi
Para cada gerador associado vem:
i
U =ε −r
n

Igualando as duas expressões, obtemos:


i
ε p − rpi = ε − r
n

Fazendo a identidade entre os termos do primeiro e do segundo


membro, vem:
εp = ε

r
rp =
n

Concluindo que a associação de geradores ligados em paralelo a


f.e.m. se mantém, havendo diminuição na resistência interna.

201
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios de aplicação

P1 – A f.e.m. de um dado
motor é 12V acoplado
a uma roda R. Sabendo Resolução
que a intensidade da cor-
rente eléctrica que o ali-
menta é 0,01A, que ener- ε = E ε → Eε = ε .Q = ε .i.t
Q
gia mecânica fornece à
roda R durante 10s de Eε = 12V .0, 01 A.10s → Eε = 1, 2Watt
funcionamento?
Dados
ε = 12V i = 0,01A
t = 10s

P2 – Ligando-se um Resolução
resistor a uma tensão de
Q 2, 7C
110V, uma secção recta i= →i=
é atravessada pela carga t 10s
de 2,7 C em 10s. Qual é a i = 0, 27 A
intensidade da corrente
que atravessa esse resis- Se U = 40, 7V
tor quando se liga a uma
tensão de 40,7V? R = 407V
Dados U 40, 7V
U = 110V Q = 2,7C i= →i= → i = 0, 1 A
R 407 Ω
t = 10s

P3 – Determine a força
electromotriz e a resis-
tência interna do gerador Resolução
equivalente à seguinte
associação de pilhas: 10 εs = n.ε→ εs= 10.1,5V
pilhas iguais, cada uma
de força electromotriz εs = 15V
ε = 1,5V e resistência r =
rs = n.r→ rs = 10.0,1Ω
0,10Ω, ligadas em série.
Dados rs = 1Ω
n = 10 r = 0,1Ω
ε = 1,5V

202
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios de aplicação

Resolução P4 – Determine a
A força electromotriz εp do gerador equivalente à associa- força electromotriz e a
ção é dada por εp = ε resistência interna do
portanto εp = ε = 1,5V gerador equivalente à
associação de 10 pilhas
A resistência interna rp do gerador equivalente à associa- iguais, cada uma de
ção vale: r força electromotriz ε
rp =
n = 1,5V e resistência
0,10 interna r = 0,10Ω, liga-
Sendo r = 0,10Ω, n = 10 logo; rp = Ω→rp = 0,01Ω das em paralelo.
10

Exercícios propostos

P1 – Considere o circuito esquematizado na figura. Deter-


mine: 6,0Ω
a) A
 intensidade de cor-
rente através do gera- 12V A

dor; 2,0Ω 12Ω 6,0Ω

b) A leitura do amperíme- 6,0V


1,0Ω
tro A, suposto ideal.

P2 – Determine a força electromotriz e a resistência interna


do gerador equivalente à associação de 10 pilhas iguais, cada
uma de força electromotriz E = 1,5 V e resistência interna
r = 0,10Ω, ligadas em paralelo.

P3 – Para o circuito esquematizado, determine:


a) A intensidade de cor- 3,0Ω 20V
1,5Ω
rente através dos gera-
3,0Ω 20V
dor;
b) A intensidade de cor- 6,0Ω 8,0Ω
rente através dos resi-
tores de 6,0 e 8,0 Ω . 3,0Ω

203
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

2.8. Leis de Kirchhoff

Vimos que os circuitos eléctricos simples, com único percurso


para a corrente eléctrica, do tipo gerador - resistor ou gera-
dor – resistor – receptor é facilmente resolvido passando pela
aplicação da lei de Pouillet:
ε −ε'
i=
R+r +r'

Porém se o circuito for mais complexo, incluindo vários per-


cursos fechados, a resolução torna-se mais complicada, sendo
útil, nesses casos, a aplicação de certas regras especiais conhe-
cidas como Leis de Kirchhoff.
Antes, porém, da sua abordagem teremos em conta algumas
convenções para a determinação da polaridade e d.d.p. dos
elementos de um circuito.

Polaridade e d.d.p. dos elementos de circuito


Gerador e receptor ideal

O gerador eléctrico é um dispositivo que fornece energia às


cargas eléctricas elementares para que essas se mantenham a
circular. Isto quer dizer que o gerador eléctrico mantém a d.d.p.
entre os pontos do circuito, para que a corrente eléctrica circule.
A energia eléctrica fornecida às cargas, o gerador obtém-na a
partir de outras formas de energia, enquanto o receptor e qual-
quer dispositivo eléctrico que, ao ser atravessado pela corrente
eléctrica, transforma a energia eléctrica noutra forma de ener-
gia, que não seja exclusivamente a térmica. É evidente que, em
qualquer receptor, há também a conversão de energia eléctrica
em energia térmica, por efeito Joule, razão pela qual dizemos
A + B que o receptor tem resistência interna (r). No receptor ocorrem
duas quedas de potencial no sentido da corrente. Para indi-
car a ocorrência dessa queda, representamos o receptor com
Fig. 2.15 – Gerador
dois pólos, um positivo, de maior potencial, e outro negativo,
de potencial mais baixo, circulando a corrente do pólo positivo
para o pólo negativo, figura 2.15.

204
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

A: pólo positivo → potencial menor.


B: pólo negativo → potencial eléctrico maior.

Assim
VB – VA = +ε
VA – VB = –ε

Havendo, por isso, de adoptar um sentido de percurso (α),


estabelecendo a seguinte regra:
A d.d.p. pode ser: +ε ou –ε, valendo o sinal da entrada no sen-
tido do percurso (α) adoptado.

ε ε
A + B + B

α α
a) b)

Fig. 2.16 – Geradores com respectivos sinais de entrada, a) positivo b) negativo

a) α entra pelo pólo positivo: VB – VA = +ε


b) α entra pelo pólo negativo: VA – VB = –ε

Resistores
R
Para os resistores, a polaridade é dada pelo sentido da corrente. A B
+
A corrente eléctrica tem o sentido do pólo positivo para o pólo i
negativo. Fig. 2.17 – Resistor com respectivos
pólos
A d.d.p. pode ser + Ri ou – Ri, valendo, também o sinal de entrada
no sentido do percurso (α) adoptado.

205
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

R R
A B A B
+ +
i i
α α
α entra pelo pólo positivo α entra pelo pólo negativo
V A – VB = + R.i V B – VA = – R.i

Fig. 2.18 – Resistores com respectivos sinais de entrada, a) positivo b) negativo

Cálculo da d.d.p. num trecho do circuito

Para o cálculo da d.d.p. entre os extremos deste trecho de cir-


cuito, devemos proceder da seguinte maneira:
• Marcar as polaridades de todos os elementos.
• Adoptar um sentido de percurso (α).
Adoptando de A para B, obtemos VA – VB e de B para A obtemos
VB – VA.

r1 ε1 R ε2
A B
+ + +
i
α

Fig. 2.19 – Trecho de um circuito

A d.d.p. total entre os extremos do circuito é igual à soma algé-


brica das d.d.p. em todos elementos. Para cada d.d.p. vale o sinal
de entrada no sentido do circuito adoptado. Assim, conforme a
figura 2.15, temos;
VB − VA = r1 .i − ε1 + R.i + ε 2 + r2 .i

206
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios de aplicação

Resolução P1 – Para o trecho de circuito abaixo, calcule


a d.d.p entre os pontos A e B.

Marcamos as polaridades em sentido de A


r1=2Ω r2=1Ω R=3Ω r3=1,5Ω
B
percurso α (de A para B).
ε1=5V ε2=10V ε3=20V
Temos
I = 4A

Dados
r1 ε1 r2 ε2 R r3 ε r1=2Ω, r2=1Ω, r3=1,5Ω, R=3Ω,
A + – + – + – B
3

+ – + – + – + – ε1=5V, ε2=10V, ε3=20V


I

Logo:

VA − VB = r1 .i + ε1 + r2 .i + ε 2 + R.i + r3 .i − ε 3

VB – VA = 2Ω.4A + 5V + 1Ω.4A + 10V + 3Ω.4A + 1,5Ω.4A – 20V

Então:
VA – VB = 25V

207
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios de aplicação

P2 – Considere o trecho do circuito Resolução


representado a seguir e determine: a) i3 = i1 + i2
a) i3;
i3 = 5 A + 2A
b) VA – VC ;
a) VD – VC i3 = 7 A

r1=2Ω ε1=20V ε2=10V r2=3Ω


A B C b) O percurso α adoptado tem sentido de A
para B e para C:
i1= 5A i3 i2= 2A α
R=8Ω
r1 ε1 ε2 r2
A B C
– + + –
+ – – +
D
i1 i3 i2
Dados R=8Ω
r1=2Ω, r2=3Ω, R=8Ω,
β
ε1=20V, ε2=10V, i1=5A, i2=2A, D
Logo:
VA – VC = r1. i1 – ε1 + ε2 – r2. i2
VA – VC = 2Ω.5A – 20V + 10V – 3Ω.2A
VA – VC = – 6V

c) O percurso β tem o sentido de D para B e


para C.
Logo:
VD – VC = R. i3 + ε2 – R2. i2
VD – VC = 8Ω.7A + 10V – 3Ω.2A
VD – VC = – 52V

208
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios propostos

P1 – No trecho de circuito representado ao lado qual a d.d.p.


entre os pontos A e B?

10V 20V
A 3,0Ω B
5,0Ω 3,0Ω
i = 2,0A

P2 – No trecho de circuito ao lado esquematizado, calcule:


a) A d.d.p. entre os pontos A e B;
b) A intensidade de corrente i3.
c) A d.d.p. entre os pontos B e D.

Primeira Lei de Kirchhoff ou Lei dos Nós

Num circuito eléctrico, chama-se nó ou nodo um ponto comum


a três ou mais condutores.
Lei dos nós ou nodos:
A soma algébrico das intensidades de corrente que ocorrem
num modo é nula, considerando-se positivas as que se aproxi-
mam e negativas as que se afastam do modo.

A B C

ε1 i1 i3
i2

E ε2 D
Fig. 2.20 – Circuito ramificado

209
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Existem dois nós (nodos): B e E


Nestes nós a corrente eléctrica se distribui assim: no nó B,
Sendo
i1 = i2+ i3
assim
i1 – (i2+ i3) = 0
i1 se aproxima e uma vez, que o valor algébrico de soma de i2
com i3 corresponda ao valor i2, i3 estes afastam-se.

Segunda Lei de Kirchhoff ou Lei das Malhas

Numa malha qualquer a soma algébrica das f.e.m. é igual à soma


algébrica das quedas de tensão nos vários ramos que consti-
tuem a malha.

Note bem:
Num circuito eléctrico chama-se ramo todo o trecho do circuito
que vai de nó a nó. Assim, analisando-se da figura anterior,
temos três ramos:
1. BE
2. BCDE
3. BAFE
A cada ramo corresponde uma intensidade de corrente eléc-
trica.

210
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios de aplicação

Resolução
P1 – Utilizando a segunda lei de Kirchhoff,
Para aplicação da segunda lei de Kirchhoff determine a intensidade de corrente no
devemos: adoptar um sentido para a cor- circuito esquematizado na figura abaixo. A
rente eléctrica; adoptar um sentido de per- seguir calcule a d.d.p entre os pontos A e B.
curso; e marcar as polaridades. Para o cir-
cuito em questão. Temos:
ε1 r1 ε1=25V r1=2Ω
i

+ – + –
+ R1 R1=3Ω
ε2 α – ε2=25V

r2
+ ε3 ε3=30V
i r1=2Ω
r3 i r3=3Ω

Afastando-se de A e percorrendo-se a malha (trajectória) no sentido horário, temos:


ε1 + r1 . i+ R1 i – ε3 + r3 . i + r2 i – ε2 = 0
ε2 + ε3 – ε1
i (r1 + R1 + r3 + r2 ) = ε2 + ε3 – ε1 →
r1 + R1 + r3 + r2
(20V + 30V) 25V 25V
i= =
2Ω + 3Ω + 3Ω + 2Ω 10Ω

i = 2,5A

Se i resultante for negativo significa que o sentido da corrente é contrário ao sentido adoptado.
Para o cálculo da d.d.p. entre os pontos A e B, vamos percorrer o trecho de circuito indicado
na figura a seguir: ε1 r1
A + – + –

i i = 2,5 A

α +
R1
VA – VB = ε1 + r1. i + R1 i – ε3 –

VA – VB = + 25Ω + 2Ω.2,5A + 3Ω.2,5A – 30V + ε3
VA – VB = 7,5V B

211
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios propostos

P1 – Utilizando a segunda lei de Kirchhoff para o circuito


gerador-receptor esquematizado, prove que:

E−E (Lei de Pouillet)


i=
R+r +r
i R
i i
E E'
r i r'

P2 – Utilizando a segunda Lei de Kirchhoff, determine a inten-


sidade de corrente no circuito. A seguir, calcule a d.d.p. entre
os pontos A e B.

3,0Ω 1,0Ω 8,0V

2,0Ω 2,0Ω

6,0V 7,0V
1,0Ω
A 13V

P3 – No circuito da figura E1 = 24V, E2 = 12V e R = 6,0Ω. Deter-


mine as intensidades de corrente em todos os ramos do cir-
cuito.

E1 R
R
E2

212
PARTE III – Electrostática e Corrente Eléctrica Contínua
UNIDADE 1I – Corrente Eléctrica Contínua

Exercícios propostos

P4 – Para o circuito da figura em baixo determine as intensi-


dade de corrente em todos os ramos.

4,0Ω 4,0Ω

2,0Ω 3,0Ω 2,0Ω

60V 60V

213
214
MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

BIBLIOGRAFIA

1. Física, História e cotidiano, de José Roberto Bonjorno, Regina Azenha


Bonjorno

2. Valter bonjorno, Clinton Marcico Ramos, 9º ano de escolaridade, FTD


(EDITORA)

M. Margarida R. D. Rodrigues Fernando Morão Lopes Dias, Porto Editora

3 Física, Ciências Físico – químicas, 10º Ano Maria Teresa Marques de Sá,
Texto Editora, Portugal

4. Manual de física, 9ª classe Angola

5. Maria da Graça Breganha Jesus Joaquim Baptista Eu e a Física 9º ano


Noémia Maciel, Ana Miranda, Porto Editora

6. I. K. Kikóine, A. K. Kikóine, Física 2, Editora Mir Moscovo 1996

7. José A. Teixeira, Curso de física, Tomo I – 6º Ano, Porto Editora

8. Física Mecânica volume 1 segundo grau / Avelino Alves Filho, Edson


Ferreira de Oliveira e José Luís de Campos Robortella, Editora: Ática,
1984-1985

9. Física Clássica, volumes I, II, III, IV e V / Caio Sérgio Calçada e José Luís
Sampaio, Editora: Atual, 1985

10. Física Aula por Aula, volume I / Cláudio Xavier e Benigno Barreto, Edi-
tora: FTD, 2008

11. Física: história e cotidiano volume único / José Roberto Bonjorno…,


Editora: FTD, 2005

12. Física volume único / António Máximo e Beatriz Alvarenga, Editora:


Scipione, 1997

14. Física Fundamental Novo: Volume único, 2º Grau José Roberto Bon-
jorno et al. São Paulo: FTD, 1999

215
MANUAL DE FÍSICA PARA FORMAÇÃO MÉDIA TÉCNICA

BIBLIOGRAFIA

15. Física Aula por Aula, Vol. 1, 1ª edição Cláudio Xavier da Silva Benigno
Barreto. São Paulo: FTD, 2008

16. OS fundamentos da Física, Vol. 3, 7ª edição revista e ampliada Francisco


Ramalho Ju, Nicolau Gilberto Ferraro, Paulo António de Toledo Soares
São Paulo: Moderna, 1999

17. Manual de Física 9ª Classe, Maurício José Barros, Luanda: Livraria Men-
sagem, 2003

18. Manual de Física 10ª Classe, Maurício José Barros, Luanda: Livraria
Mensagem, 2003

19. Guias – Cursos pró encuentros- Foc IV, Ernesto de la Torre García, Fran-
cisco Hernández, Habana: Editorial de libros para la educación, 1981

20. Física: História e cotidiano: mecânica 1, José Roberto Bonjorno et al.


São Paulo: FTD, 2003

216

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