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SEMANA 02
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PREPARAÇÃO EXTENSIVA

DELEGADO FEDERAL – 24 SEMANAS

SEMANA 02/24

Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 8
DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS .............................................................................. 8
1. HABEAS CORPUS .......................................................................................................................................... 11
2. MANDADO DE SEGURANÇA ........................................................................................................................ 25
3. MANDADO DE INJUNÇÃO ............................................................................................................................ 49
4. HABEAS DATA .............................................................................................................................................. 62
5. AÇÃO POPULAR (LEI Nº 4.717/65) ............................................................................................................... 67
6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI 7.347/85) ............................................................................................................ 75
7. INQUÉRITO CIVIL.......................................................................................................................................... 86
8. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC).......................................................................................... 88
META 2 ............................................................................................................................................................ 92
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS ........................................................................................... 92
1. DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................................................................... 92
1.1 Direitos Políticos Positivos...................................................................................................................................... 93
1.2 Direitos Eleitorais Negativos .................................................................................................................................. 95
1.3 Privação de Direitos Políticos ................................................................................................................................. 97
1.4. Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo: De Acordo com o Art. 38 da CF/88 ......................................... 98
2. PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................................................................. 100
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE ......................................................................... 104
1. NACIONALIDADE ........................................................................................................................................ 104
1.1 Espécies de Nacionalidade ................................................................................................................................... 104
1.2 Perda da Nacionalidade........................................................................................................................................ 107
1.3 Brasileiros Natos x Naturalizados ......................................................................................................................... 109
DIREITO PENAL: A LEI PENAL E SUA APLICAÇÃO ........................................................................................... 112
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL .......................................................................................................................... 112
1.1. Classificação das Leis Penais................................................................................................................................ 113
1.1.1 Leis Penais em Branco ................................................................................................................................... 114
1.2 Características da Lei Penal .................................................................................................................................. 116
2. LEI PENAL NO TEMPO ................................................................................................................................ 116
2.1. Teorias sobre a Eficácia da Lei Penal no Tempo .................................................................................................. 117
2.2. Abolitio Criminis .................................................................................................................................................. 118
2.3. Crime continuado, Crime permanente, Sucessão de leis penais ........................................................................ 122
2.4. Lei Excepcional e Temporária .............................................................................................................................. 124
2.5. Lei Intermediária ................................................................................................................................................. 125
3. LEI PENAL NO ESPAÇO ............................................................................................................................... 125
3.1. Princípios ............................................................................................................................................................. 126
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3.2. Extraterritorialidade ............................................................................................................................................ 128


3.3. Lugar Do Crime .................................................................................................................................................... 132
4. EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS (IMUNIDADES) .......................................................... 133
4.1 Introdução ............................................................................................................................................................ 133
4.2 Imunidades Diplomáticas ..................................................................................................................................... 134
4.3 Imunidades Parlamentares .................................................................................................................................. 137
4.3.1 Imunidade Parlamentar Absoluta / Material / Real / Substancial ou Inviolabilidade / Indenidade .............. 137
4.3.2 Imunidade Parlamentar Relativa / Formal..................................................................................................... 138
4.3.3 Imunidade relativa ao processo ..................................................................................................................... 139
4.3.4 Imunidade relativa à condição de testemunha ............................................................................................. 139
4.3.5 Imunidades dos Parlamentares dos Estados (Deputados Estaduais) ............................................................ 140
4.3.6 Imunidades dos Parlamentares dos Municípios (Vereadores) ...................................................................... 141
5. EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA .................................................................................................... 141
6. CONTAGEM DO PRAZO E FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA .......................................................... 143
7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL ................................................................................................................. 143
7.1 Espécies de Interpretação .................................................................................................................................... 144
7.2. Interpretação Extensiva X Interpretação Analógica X Analogia .......................................................................... 145
8. CONFLITO APARENTE DE NORMAS ........................................................................................................... 147
META 3 .......................................................................................................................................................... 153
DIREITO PROCESSUAL PENAL: INQUÉRITO POLICIAL .................................................................................... 153
1. INQUÉRITO POLICIAL ................................................................................................................................. 154
1.1 Conceito ............................................................................................................................................................... 154
1.1.1 Termo circunstanciado de ocorrência (TCO) ................................................................................................. 155
1.1.2 Investigação Preliminar ................................................................................................................................. 156
1.2 Conceito tradicional de Inquérito Policial (IP) ...................................................................................................... 156
1.2 Natureza Jurídica .................................................................................................................................................. 162
2. CARACTERÍSTICAS ...................................................................................................................................... 162
3. INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL ................................................................................................................ 175
4. INDICIAMENTO .......................................................................................................................................... 185
4.1 Constituição de Defensor quando o investigado for integrante da segurança pública ou militar – Art. 14-A do CPP.
.................................................................................................................................................................................... 195
5. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL .............................................................................................. 198
5.1 Arquivamento determinado por juiz incompetente ............................................................................................ 202
5.2 Arquivamento e recorribilidade ........................................................................................................................... 203
5.3 Arquivamento da ação penal privada .................................................................................................................. 204
5.4 Arquivamento implícito ........................................................................................................................................ 204
5.5 Arquivamento indireto ......................................................................................................................................... 205
5.6 Arquivamento e coisa julgada .............................................................................................................................. 205
6. DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO E A PROPOSITURA DE AÇÃO PENAL .............................................. 206
7. TRANCAMENTO (OU ENCERRAMENTO ANÔMALO) DO INQUÉRITO POLICIAL ......................................... 210
META 4 .......................................................................................................................................................... 219
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DIREITO ADMINISTRATIVO: ENTES DA ADMINISTRAÇÃO ............................................................................. 219


1. PRINCÍPIOS INERENTES À ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA (art. 6º, DL 200/67) .................................... 220
2. DESCENTRALIZAÇÃO X DESCONCENTRAÇÃO ............................................................................................ 221
2.1 Espécies de Descentralização ............................................................................................................................... 224
3. ÓRGÃOS PÚBLICOS .................................................................................................................................... 226
3.1 Teorias sobre a relação Estado x agentes ............................................................................................................ 229
3.2 Criação e Extinção de Órgãos Públicos ................................................................................................................. 230
3.3 Classificação dos Órgãos ...................................................................................................................................... 231
4. DESCENTRALIZAÇÃO .................................................................................................................................. 234
5. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA ....................................................................................................................... 234
5.1. Características comuns ........................................................................................................................................ 234
5.2 Entes da Administração Indireta .......................................................................................................................... 236
5.2.1 Autarquias ...................................................................................................................................................... 236
5.2.2 Agências Reguladoras .................................................................................................................................... 246
5.2.3 Agências Executivas ....................................................................................................................................... 252
5.2.4 Fundações Públicas ................................................................................................................................... 254
5.3 Empresas Estatais (Lei 13.303/2016) ................................................................................................................... 256
6. ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR .............................................................................................................. 271
6.1 Serviço Social Autônomo - Sistema “S” ................................................................................................................ 275
6.2 Entidades ou Fundações de Apoio ....................................................................................................................... 277
6.3 Organizações Sociais - OS (Lei 9637/98)............................................................................................................... 278
6.4 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP (Lei 9790/99) ....................................................... 282
6.5 Organizações da Sociedade Civil - OSC (Lei 13.019/14) ....................................................................................... 287
META 5 .......................................................................................................................................................... 302
DIREITO CIVIL: CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL E LINDB ........................................................... 302
1. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO BRASILEIRO .................................................................................. 302
1.1 Conceito ............................................................................................................................................................... 302
1.2 A Codificação Do Direito Civil ............................................................................................................................... 303
1.3 O Código Civil De 2002 ......................................................................................................................................... 303
1.4 Princípios Norteadores Do Novo Código: Eticidade, Sociabilidade E Operabilidade ........................................... 304
1.5 Do Direito Civil-Constitucional ............................................................................................................................. 307
1.6 Da Eficácia Horizontal Dos Direitos Fundamentais .............................................................................................. 309
1.8 A Eficácia Diagonal Dos Direitos Fundamentais ................................................................................................... 310
2. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO ..................................................................... 310
2.1 Vigência, aplicação, obrigatoriedade, interpretação e integração das leis .......................................................... 310
2.2 Antinomias ........................................................................................................................................................... 314
2.3 Aplicação temporal das normas ........................................................................................................................... 315
2.4 Aplicação do direito público ................................................................................................................................. 317
DIREITO CIVIL: DAS PESSOAS ......................................................................................................................... 325
1. PESSOAS NATURAIS ................................................................................................................................... 325
1.1 Incapacidade ........................................................................................................................................................ 326
1.2 Personalidade ....................................................................................................................................................... 328
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SEMANA 02/24

1.3 Nascituro .............................................................................................................................................................. 346


1.4 Emancipação ........................................................................................................................................................ 348
1.5 Morte Presumida e Ausência ............................................................................................................................... 349
1.6 Domicílio............................................................................................................................................................... 354
2. PESSOAS JURÍDICAS ................................................................................................................................... 355
2.1 Características ...................................................................................................................................................... 355
2.2 Requisitos para constituição ................................................................................................................................ 356
2.3 Classificação das pessoas jurídicas ....................................................................................................................... 356
2.4 Classificação quanto à função .............................................................................................................................. 357
2.5. Administração da pessoa jurídica ........................................................................................................................ 357
2.6 Extinção da pessoa jurídica .................................................................................................................................. 358
2.7 Desconsideração da personalidade jurídica ......................................................................................................... 358
META 6 – REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 366
Direito Constitucional: Remédios Constitucionais ..................................................................................................... 366
Direito Constitucional: Direitos Políticos .................................................................................................................... 368
Direito Constitucional: Direitos Da Nacionalidade ..................................................................................................... 369
Direito Penal: A Lei Penal E Sua Aplicação ................................................................................................................. 370
Direito Processual Penal: Inquérito Policial................................................................................................................ 371
Direito Administrativo: Entes Da Administração ........................................................................................................ 373
Direito Civil: Constitucionalização Do Direito Civil E Lindb......................................................................................... 375
Direito Civil: Das Pessoas ............................................................................................................................................ 376
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SEMANA 02/24

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 02


META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO CONSTITUCIONAL: Remédios Constitucionais
DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos Políticos
2 TER DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos da Nacionalidade
DIREITO PENAL: A Lei Penal e sua Aplicação
3 QUA DIREITO PROCESSUAL PENAL: Inquérito Policial
4 QUI DIREITO ADMINISTRATIVO: Entes da Administração
DIREITO CIVIL: Constitucionalização do Direito Civil e LINDB
5 SEX
DIREITO CIVIL: Das Pessoas
6 SÁB REVISÃO SEMANAL

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SEMANA 02/24

META 1

DIREITO CONSTITUCIONAL: REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII,
⦁ Art. 5, inc. LXXVII,
⦁ Art. 102, inc. I, “d”, “i” e “q”
⦁ Art. 102, inc. II, “a”
⦁ Art. 105, inc. I, “b”, “c” e “h”
⦁ Art. 105, inc. II, “a”
⦁ Art. 108, inc. I, “c” e “d”
⦁ Art. 108, inc. VII e VIII
⦁ Art. 121, §3º e §4º, inc. V
⦁ Art. 142, §2º

CPP
⦁ Art. 3-B, inc. XII
⦁ Art. 574, I
⦁ Art. 581, X
⦁ Art. 612
⦁ Arts. 647 a 667

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Lei 9507/97 (habeas data)
⦁ Lei 12.016/2009 (mandado de segurança)
⦁ Lei 13.300/2016 (mandado de injunção)
⦁ Lei 4717/65 (ação popular)
⦁ Art. 23, 24, 30, 32 e 41-A, Lei 8038/90

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER!


CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII
⦁ Art. 5, inc. LXXVII

CPP

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⦁ Art. 3º-B, inc. XXII


⦁ Arts. 647, 648, 651
⦁ Art. 654, caput.
⦁ Art. 655 e 656
⦁ Art. 660, §§ 1º e 4º

LEI 9507/97 (HABEAS DATA)


⦁ Art. 4º
⦁ Art. 7º
⦁ Art. 8º, §único
⦁ Art. 19

LEI 12.016/2009 (MANDADO DE SEGURANÇA)


⦁ Art. 1º e 3º
⦁ Art. 6º, caput
⦁ Art. 7º, inc. I e §4º
⦁ Art. 8º a 10º
⦁ Arts. 14 e 20
⦁ Arts. 21 a 23
⦁ Art. 26

LEI 13.300/2016 (MANDADO DE INJUNÇÃO)


⦁ Arts. 2º e 3º
⦁ Art. 8º e 9º
⦁ Arts. 11 a 13

Remédios Constitucionais: são garantias que consubstanciam meios colocados à disposição do


indivíduo para salvaguardar os seus direitos diante de ilegalidade ou abuso de poder cometido pelo Poder
Público.

ATENÇÃO!! Este é um ponto importante nas provas de Delegado Federal. O aluno deve estar
atento sobre os dispositivos constitucionais e jurisprudenciais sobre a matéria. Nos concursos
de 2013 e 2021 caíram duas questões relativas ao tema. Vejamos a seguir:

CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal: Cumpre ao STF julgar o recurso
ordinário de habeas corpus decidido em única instância pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Item Certo.

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O artigo 102, II, “a", da CRFB aduz que compete ao Supremo Tribunal Federal julgar, em recurso ordinário,
o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única
instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão.

É importante diferenciar:
STF - Julga em recurso ordinário - habeas corpus , o mandado de segurança, o habeas data e o mandado
de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão.
STJ - Julga originalmente - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado,
dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal

CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal: Cabe originariamente ao STF
processar e julgar habeas data contra ato de ministro de estado. Item errado.

O artigo 105, I, “b", da CRFB aduz que compete ao STJ processar e julgar habeas data contra ato de ministro
de estado.

DICA:
Mandado de segurança contra ato de Ministro de Estado → STJ julga (CF, Art. 105, I, b)
Habeas data contra ato de Ministro de Estado → STJ julga (CF, Art. 105, I, b)
Habeas corpus quando o Ministro de Estado é coator → STJ julga (CF, Art. 105, I, c)
Habeas corpus quando o Ministro de Estado é paciente → STF julga (CF, Art. 102, I, d)

CESPE / CEBRASPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado de Polícia: Segundo o STF, caso o interessado alegue
que a sentença condenatória tenha sido prolatada exclusivamente com fundamento em prova
emprestada, é possível a arguição de nulidade dessa decisão em sede de habeas corpus. Item errado.

A questão está errada porque não se pode arguir a nulidade do processo na via estreita do HC.

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. NULIDADE. AUSÊNCIA.


PROVA EMPRESTADA. VIOLAÇÃO AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA. INOCORRÊNCIA. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. HABEAS CORPUS UTILIZADO COMO SUCEDÂNEO DE REVISÃO CRIMINAL.
IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. I - O exame da alegação de nulidade da sentença condenatória -
ao argumento de que seria baseada somente em prova emprestada - é inviável na estreita via do habeas
corpus, que não admite revolvimento do contexto fático-probatório. II - Ainda que assim não fosse, o
acórdão atacado assentou estar o édito condenatório fundado em declarações de corréus, colhidos em
juízo, e não apenas em prova emprestada, o que afasta a alegada nulidade. III - O habeas corpus, em que
pese configurar remédio constitucional de largo espectro, não pode ser empregado como sucedâneo de

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revisão criminal. Precedentes. IV - Ordem denegada. (STF - HC: 95019 SP , Relator: Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-191 DIVULG 08-10-2009 PUBLIC 09-10-2009
EMENT VOL-02377-02 PP-00320)

CESPE / CEBRASPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado de Polícia: De acordo com o STJ, o habeas data é
instrumento idôneo para a obtenção de acesso aos critérios utilizados em correção de prova discursiva
aplicada em concursos públicos. Item errado.

HABEAS DATA. CONCURSO PÚBLICO. ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE OS CRITÉRIOS UTILIZADOS NA


CORREÇÃO DE PROVA DISCURSIVA. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA.
1. A Lei n. 9.507/97 é suficientemente clara ao expor, no art. 7º, as hipóteses em que se justifica o
manuseio do habeas data, não estando ali prevista, nem sequer implicitamente, a possibilidade de
utilização da via com o propósito de revolver os critérios utilizados por instituição de ensino na correção
de prova discursiva realizada com vista ao preenchimento de cargos na Administração Pública.
2. Agravo regimental não-provido.
(STJ - AgRg no HD: 127 DF 2005/0210018-3, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de
Julgamento: 14/06/2006, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJ 14/08/2006 p. 250)

1. HABEAS CORPUS

a) Previsão normativa: art. 5º, LXVIII, CF/88 e arts. 647 e ss do CPP.

Art. 5º LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;

b) Introdução
Típico de direito de primeira geração, o HC visa a garantir o direito individual de locomoção, por meio
de ordem exarada por órgão do Poder Judiciário, para que seja cessada a ameaça ou coação à liberdade de
locomoção do indivíduo.
No direito inglês, surgiu primeiramente na Magna Charta Libertatum, de 1215 e, no direito brasileiro,
surgiu pela 1ª vez na Constituição Federal de 1891, permanecendo nas demais constituições subsequentes.
Ressalta-se, contudo, que, inicialmente, e o HC visava proteger outros direitos distintos - e não
apenas a locomoção, por meio da chamada Teoria Brasileira do habeas corpus*. Porém, com a EC n° 1 de
1926, restringiu-se o HC apenas à liberdade de locomoção. Ensina o professor Marcelo Novelino:

Durante a Primeira República, com a introdução desse instituto no sistema


constitucional pátrio, surgiu a denominada “doutrina brasileira do habeas corpus”,
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que tinha Rui Barbosa como seu principal expoente. Em face da ausência de outras
garantias constitucionais na Carta de 1891, foi adotada uma interpretação ampla
acerca do cabimento desse mandamus, utilizado em diversas situações de ameaça
a direitos constitucionalmente assegurados – e não apenas à liberdade de
locomoção – decorrentes de ilegalidades ou abusos de poder. À época, o Supremo
Tribunal Federal adotou o entendimento de que a ação contemplava as situações
em que a liberdade de ir e vir era meio para atingir outro direito. A partir da reforma
constitucional de 1926, essa concepção foi superada e o habeas corpus passou a
ser utilizado apenas em seu sentido clássico (NOVELINO, 2017, p. 438).

Sobre o tema, confira a dica da Professora Thaianne:

https://youtu.be/dggvsbK8Ktc

c) Características do HC:
∘ O HC possui natureza dúplice: Ação de natureza penal não condenatória e remédio
constitucional.
∘ Possui autonomia própria
∘ Pode ser impetrado sem que exista processo
∘ Isento de custas
∘ Não exige capacidade postulatória
∘ Admite concessão de pedido liminar
∘ Exige violência ou coação + ilegalidade ou abuso de poder

d) Modalidades - O HC pode ser:


● Repressivo (liberatório): Quando o indivíduo já tiver desrespeitado o seu direito de locomoção;
● Preventivo (salvo-conduto): Quando há apenas ameaça ao seu direito de locomoção.

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CAIU EM PROVA – DELTA/PA 2016

Maria, gestante de feto anencéfalo, pretende a obtenção de autorização judicial para realização de aborto.
O Juízo de primeiro grau julgou improcedente o pedido. Pretende, agora, manejar um remédio constitucional
para evitar o cometimento de crime. Para tanto, deverá demandar por meio do seguinte instrumento:
a) ação popular.
b) habeas corpus
c) habeas data
d) mandado de segurança
e) mandado de injunção
Resposta: Letra B
Conforme já definido pelo STJ (HC 56572), a via do habeas corpus é adequada para pleitear a interrupção de
gravidez fora das hipóteses previstas no Código Penal (art. 128, incs. I e II), tendo em vista a real ameaça de
constrição à liberdade ambulatorial, caso a gestante venha a interromper a gravidez sem autorização judicial.
Observação: a questão foi utilizada como um exemplo para o estudo do cabimento do HC preventivo. É
necessário ressaltar que, no julgamento da ADPF nº 54, por 8 votos a 2, os Ministros do STF entenderam que
não é crime interromper a gravidez de fetos anencéfalos.

e) Legitimidade ativa: Universal. Qualquer pessoa pode impetrar HC:


∘ Pessoa física ou jurídica
∘ Nacional ou estrangeira
∘ Independentemente de capacidade civil.
∘ MP e juiz de ofício podem impetrar HC
Obs.1: Exceção ao princípio da inércia jurisdicional: O Juiz de direito, o Desembargador, Ministros,
Turma Recursal e o Tribunal poderão conceder habeas corpus de ofício, no exercício da função jurisdicional.

Obs.2: Não exige capacidade postulatória do impetrante, de modo que a ação pode ser formulada
sem advogado.

f) Legitimidade passiva: somente pessoa física!

STF: A pessoa jurídica NÃO pode figurar como paciente de HC, pois jamais estará
em jogo a liberdade de locomoção, ainda que se trate da possibilidade de apenação
da pessoa jurídica por crimes ambientais.

Obs.:É possível impetrar HC contra ato do sujeito coator, que tanto poderá ser autoridade pública
quanto agente privado (ex: agente de hospital que ilegalmente impede a saída do paciente).

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g) HC e ofensa indireta

STF: Será cabível o HC não só contra ofensa direta, mas também contra ofensa indireta, reflexa ou
potencial ou direito de locomoção, a exemplo do uso do HC para atacar a quebra de sigilo bancário em
procedimento que possa resultar prisão => Se a quebra de sigilo for determinada por autoridade fiscal, no
curso de procedimento administrativo tributário, é incabível HC, pois em processo administrativo NÃO
implica ofensa ao direito de locomoção.

h) Pressupostos ou condições para a concessão de HC

Uma vez conhecido o habeas corpus somente deverá ser concedido em caso de réu preso ou na
iminência de sê-lo, presentes as seguintes condições:
(1) Violação à jurisprudência consolidada do STF;
(2) Violação clara à Constituição; ou
(3) Teratologia na decisão impugnada, caracterizadora de absurdo jurídico.

STF. 1ª Turma. AgRg no HC 200.055, Rel. Min.


Roberto Barroso, julgado em 14/06/2021.

Veja algumas jurisprudências pertinentes!

É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus


É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus.
Isto porque, inexiste imposição legal de intimação do assistente do Ministério
Público no habeas corpus impetrado em favor do acusado. Ademais, como ele não
integra a relação processual instaurada nessa ação autônoma de natureza
constitucional, também não possui legitimidade para recorrer de decisões
proferidas em habeas corpus, por não constar essa atividade processual no rol
exaustivo do art. 271 do Código de Processo Penal. STF. 1ª Turma. AgRg no HC
203.737, Rel. Min. Carmem Lúcia, decisão monocrática em 31/08/2021.

Cabe habeas corpus contra a decisão que não homologa ou que homologa apenas
parcialmente o acordo de colaboração premiada. Atualmente, não existe previsão
legal de recurso cabível em face de não homologação ou de homologação parcial
de acordo. Logo, deve ser possível a impetração de habeas corpus. A homologação
do acordo de colaboração premiada é etapa fundamental da sistemática negocial
regulada pela Lei nº 12.850/2013, estando diretamente relacionada com o
exercício do poder punitivo estatal, considerando que nesse acordo estão
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regulados os benefícios concedidos ao imputado e os limites à persecução penal.


STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info
1004).

CUIDADO! Para o STJ, a decisão que recusa homologação do acordo de colaboração


premiada deve ser atacada por apelação! (Inf. 683)

Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada, cabe


habeas corpus ainda que para solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª
Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de


natureza criminal diversas da prisão. Isso porque, se descumprida a “medida
alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia, alcançando-se o direito de
ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

Cabe habeas corpus para questionar a decisão do magistrado que não permite que
os réus delatados apresentem alegações finais somente após os réus colaboradores
(Info 949)

i) Hipóteses em que NÃO é possível o cabimento de HC:


● Impugnar decisões de plenário de qualquer das turmas do STF;
● Impugnar determinação e suspensão dos direitos políticos;
● Impugnar penalidade administrativa de caráter disciplinar;
● Impugnar decisão condenatória à pena de multa, ou relativa a processo em curso por infração penal
a que a pena pecuniária seja a única cominada (SÚMULA 693 STF);
● Impugnar a determinação de quebra de sigilo telefônico, bancário ou fiscal, se desta medida não
puder resultar condenação à pena privativa de liberdade;
● Discutir o mérito das punições disciplinares militares => STF: NÃO cabe a discussão do mérito, mas
cabe HC para se analisar os pressupostos de legalidade da medida.
● Para discutir processo criminal envolvendo o art. 28 da Lei de Drogas
● Questionar afastamento ou perda de cargos públicos;
● Dirimir controvérsia sobre a guarda de filhos menores;
● Discutir matéria objeto de processo de extradição;
● Questionamento de condenação criminal quando já extinta a pena privativa de liberdade (SÚMULA
692 STF);
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● Impedir o cumprimento de decisão que determina o sequestro de bens imóveis;


● Discutir condenação imposta em processo de impeachment;
● Impugnar o mero indiciamento em inquérito policial, desde que presentes indícios de autoria de fato
que configure crime em tese;
● Impugnar omissão de relator na extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não
constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito (SÚMULA 692 STF);
● Tutelar o direito à visita em presídio;
● Impugnar decisões monocráticas proferidas por Ministro do Supremo Tribunal Federal. (Info 985 –
clipping)
● Contra ato de Ministro ou outro órgão fracionário fracionário da Corte. STF. Plenário. (HC 170263/DF,
22/06/2020)
● Reexame dos pressupostos de admissibilidade de recurso interposto no STJ.
● Não cabe HC de ofício no bojo de embargos de divergência
● Não cabe HC em ação que apura improbidade administrativa
● Em regra, não cabe habeas corpus contra decisão transitada em julgado (posição majoritária na
jurisprudência – Inf. 892)
● Não cabe HC para impugnar ato normativo que fixa medidas restritivas para prevenir a disseminação
da covid-19

Questões importantes:

É possível a impetração de habeas corpus e a interposição de recurso de forma concomitante?


O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o recurso cabível contra o ato
impugnado, será admissível apenas se:
a) For destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou
b) Se traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que reflita mediatamente na liberdade do
paciente.
Nas demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o exame das questões idênticas deve
ser reservado ao recurso previsto para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via transversa,
na liberdade individual.

STJ. 3ª Seção. HC 482549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em


11/03/2020 (Info 669).

A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas corpus em que se busca
o trancamento da ação penal? Com a celebração da transação penal, o habeas corpus que estava
pendente fica prejudicado ou o TJ deverá julgá-lo mesmo assim?

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● STJ: SIM. Fica prejudicado. A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de
habeas corpus em que se busca o trancamento da ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 495148-DF, Rel.
Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/09/2019 (Info 657).

● STF: NÃO. Não impede e o TJ deverá julgar o mérito do habeas corpus. A realização de acordo de
transação penal não enseja a perda de objeto de habeas corpus anteriormente impetrado. A
aceitação do acordo de transação penal não impede o exame de habeas corpus para questionar a
legitimidade da persecução penal. Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos
em casos de delitos de menor gravidade, a barganha no processo penal pode levar a riscos
consideráveis aos direitos fundamentais do acusado. Assim, o controle judicial é fundamental para a
proteção efetiva dos direitos fundamentais do imputado e para evitar possíveis abusos que
comprometam a decisão voluntária de aceitar a transação. Não há qualquer disposição em lei que
imponha a desistência de recursos ou ações em andamento ou determine a renúncia ao direito de
acesso à Justiça. STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/12/2019
(Info 964).

Com a concessão da suspensão condicional do processo, o habeas corpus que estava pendente fica
prejudicado ou o TRF deverá julgá-lo mesmo assim?

O Tribunal deverá julgar o habeas corpus. É a posição tranquila da jurisprudência:

O fato de o denunciado ter aceitado a proposta de suspensão condicional do


processo formulada pelo Ministério Público (art. 89 da Lei nº 9.099/95) não
constitui empecilho para que seja proposto e julgado habeas corpus em seu favor,
no qual se pede o trancamento da ação penal. Isso porque o réu que está
cumprindo suspensão condicional do processo fica em liberdade, mas ao mesmo
tempo terá que cumprir determinadas condições impostas pela lei e pelo juiz e, se
desrespeitá-las, o curso do processo penal retomará. Logo, ele tem legitimidade e
interesse de ver o HC ser julgado para extinguir de vez o processo. STJ. 5ª Turma.
RHC 41527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

💣 ATENÇÃO PARA A SÚMULA 648 DO STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido
de trancamento da ação penal por falta de justa causa feito em habeas corpus.

Vamos entendê-la?

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Imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público ajuizou ação penal contra João acusando-o da prática de determinado crime. O
juiz recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para responder a acusação.
João apresentou resposta escrita alegando que não havia justa causa e que, portanto, ele deveria ser
absolvido sumariamente. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido de absolvição sumária e determinou o
início da instrução penal.
João ainda continuava inconformado. Existe algum recurso que ele possa interpor? Cabe algum
recurso contra a decisão do juiz que rejeita o pedido de absolvição sumária?
R: NÃO. Não existe recurso cabível na legislação para esse caso. Diante disso, a jurisprudência admite
a impetração de habeas corpus sob o argumento de que existe risco à liberdade de locomoção.
Desse modo, em nosso exemplo, a defesa de João impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça
pedindo o trancamento da ação penal por falta de justa causa. O Desembargador negou o pedido de liminar
e designou o dia 15/08 para o julgamento do habeas corpus pela Câmara Criminal do TJ. Ocorre que, antes
disso, no dia 08/08, o juiz proferiu sentença condenando o réu.
Diante desse cenário, o que acontece com o julgamento do habeas corpus? O Tribunal de Justiça
irá apreciar o mérito do habeas corpus?
R.: NÃO. A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas
corpus se buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. A sentença
condenatória analisa a existência de justa causa de forma mais aprofundada, após a instrução penal com
contraditório e ampla defesa. Logo, não faz mais sentido o Tribunal examinar a decisão de rejeição da
absolvição sumária se já há uma nova decisão mais aprofundada. Será essa nova manifestação (sentença)
que precisará ser analisada. Logo, o réu terá que interpor apelação contra a sentença condenatória, recurso
de cognição ampla por meio do qual toda a matéria será devolvida ao Tribunal, que terá a possibilidade de
examinar se a condenação foi acertada, ou não.

Não é cabível examinar a inépcia da inicial acusatória, bem como a justa causa para
ação penal, após a prolação de sentença condenatória, porquanto todos os
elementos da exordial acusatória, bem como da conduta criminosa, foram
amplamente debatidos pelas instâncias ordinárias, em cognição vertical e
exauriente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 463.788/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
13/11/2018.

O pedido de trancamento do processo por inépcia da denúncia ou por ausência de


justa causa para a persecução penal não é cabível quando já há sentença, pois seria
incoerente analisar a mera higidez formal da acusação ou os indícios da
materialidade delitiva se a própria pretensão condenatória já houver sido acolhida,
depois de uma análise vertical do acervo fático e probatório dos autos.
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STJ. 6ª Turma. RHC 32.524/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
4/10/2016.

E se a sentença tivesse sido absolutória? Se o juiz tivesse absolvido João, o HC também ficaria
prejudicado?
R.: SIM. Com maior razão, o habeas corpus estaria prejudicado, mas agora por outro motivo: falta de
interesse processual já que a providência buscada pela defesa foi alcançada em 1ª instância. Nesse sentido:
A superveniência de sentença absolutória, na linha da orientação firmada nesta Corte, torna prejudicado o
pedido que buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa. STJ. 6ª Turma. AgInt
no RHC 31.478/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 26/03/2019.

Atenção: Ainda em 2021, poucos meses depois do enunciado ser aprovado, o STJ proferiu a seguinte
decisão que pode ser encarada como se fosse uma exceção à Súmula 648:

Se o habeas corpus discutia a quebra na cadeia de custódia da prova da


materialidade, o que teria ocorrido no momento do flagrante, a superveniência da
sentença condenatória não faz com que esse habeas corpus perca o objeto
A superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar habeas
corpus que analisa tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia
da prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como justa causa para a
própria ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 720).

Veja a explicação:

A superveniência de sentença condenatória nem sempre torna prejudicado o


habeas corpus, em razão da perda do seu objeto.
No caso concreto, por exemplo, os fatos que subjazem à discussão trazida pela
defesa acabaram por lastrear a denúncia e toda a persecução penal, além de haver
sido ventilados ainda no limiar do processo e de dizerem respeito à própria justa
causa para a ação penal.
Ao contrário do que ocorre com a prisão preventiva, por exemplo - que tem
natureza rebus sic standibus, isto é, que se caracteriza pelo dinamismo existente
na situação de fato que justifica a medida constritiva, a qual deve submeter-se
sempre a constante avaliação do magistrado -, o caso dos autos traz hipótese em
que houve uma desconformidade entre o procedimento usado na coleta e no
acondicionamento de determinadas substâncias supostamente apreendidas com o
paciente e o modelo previsto no Código de Processo Penal, fenômeno processual,
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esse, produzido ainda na fase inquisitorial, que se tornou estático e não modificável
e, mais do que isso, que subsidiou a própria comprovação da materialidade e da
autoria delitivas.
Assim, a superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar
a análise da tese defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia da
prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e empregada como anteparo ao
oferecimento da denúncia - ou, de forma mais ampla, como justa causa para a
própria ação penal -, máxime quando verificado que a parte alegou a matéria
oportuno tempore, isto é, logo após a sua produção e que essa tese já foi
devidamente examinada e debatida pela instância de origem.

j) Competência
Competência do STF, quando: art. 102, CF/88.
a. O paciente for: Presidente da República, Vice-Presidente da República, membros do Congresso
Nacional, Ministros do STF e Procurador Geral da República (art. 102, I, “b”);
b. O paciente for: Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, membros dos
Tribunais Superiores, do TCU e chefes de missão diplomática de caráter permanente (art. 102, I, “c”);
c. O coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou paciente for autoridade ou funcionário cujos
atos estejam diretamente sujeitos à jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à única instância
(STF) – art. 102, I, “i”;
d. O HC for decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (Nesse
caso o STF julga em recurso ordinário) – art. 102, II, “a”.

Competência do STJ, quando: art. 105, CF/88.


a. O coator ou paciente forem os mencionados na alínea “a”: Governador dos Estados e DF/
Desembargadores dos TJ dos Estados e DF/ Membros do Tribunal de Contas dos Estados e DF/
membros do TRF/ membros do TRE/ membros do TRT/ membros dos Conselhos ou Tribunal de
Contas do Município/ membros do MPU que oficiem perante tribunais (art. 105, I, “c”);
b. O coator for tribunal sujeito à jurisdição do STJ ou for Ministro de Estado, Comandante da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (art. 105, I, “c”);
c. O HC for decidido em única ou última instância pelos TRF’s ou pelos Tribunais de Justiça dos Estados,
DF ou Territórios, quando a decisão for denegatória. (Nesse caso o STJ julga em recurso ordinário) –
art. 105, II, “a”.

CUIDADO! Ministros de Estado e comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica:


- Quando forem pacientes – competência do STF
- Quando forem autoridades coatoras – competência do STJ

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Competência dos TRFs, quando: art. 108, CF/88.


a. A autoridade coatora for juiz federal(art. 108, I, “d”);
b. Julgam, em grau de recurso, causas decididas pelos juízes federais ou estaduais no exercício da
competência federal da área de jurisdição (art. 108, II).

Competência dos juízes federais, quando:


a. O HC for de matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (art. 109, VII).

Obs.1: O HC impetrado contra decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais será julgado pelo Tribunal
de Justiça Estadual. O STF superou a Sumula 690!

Sumula 690, STF – superada


Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de "habeas
corpus" contra decisão de Turma Recursal de Juizados Especiais Criminais.

Obs.2:Relator pode determinar, de forma discricionária, que HC seja julgado pelo Plenário do STF (e não pela
Turma)

A competência para julgar determinados habeas corpus é de uma das duas Turmas
do STF (e não do Plenário). Ex: HC contra decisão do STJ, em regra, é de
competência de uma das Turmas do STF. O Ministro Relator do HC no STF, em vez
de submetê-lo à Turma, pode levá-lo para ser julgado pelo Plenário? SIM. Essa
possibilidade encontra-se prevista no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. Para
fazer isso, o Relator precisa fundamentar essa remessa? É necessário que o Relator
apresente uma justificativa para que o caso seja levado ao Plenário? NÃO. É possível
a remessa de habeas corpus ao Plenário do STF, pelo relator, de forma
discricionária, com fundamento no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. STF.
Plenário. HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e 12/4/2018 (Info
897).

k) HC coletivo

O STF admitiu a possibilidade de habeas corpus coletivo. O habeas corpus se presta a salvaguardar
a liberdade. Assim, se o bem jurídico ofendido é o direito de ir e vir, quer pessoal, quer de um grupo
determinado de pessoas, o instrumento processual para resgatá-lo é o habeas corpus, individual ou coletivo.
A ideia de admitir a existência de habeas corpus coletivo está de acordo com a tradição jurídica nacional de
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conferir a maior amplitude possível ao remédio heroico (doutrina brasileira do habeas corpus). Apesar de
não haver uma previsão expressa no ordenamento jurídico, existem dois dispositivos legais que,
indiretamente, revelam a possibilidade de habeas corpus coletivo. Trata-se do art. 654, § 2º e do art. 580,
ambos do CPP.
O art. 654, § 2º estabelece que compete aos juízes e tribunais expedir ordem de habeas corpus de
ofício.
O art. 580 do CPP, por sua vez, permite que a ordem concedida em determinado habeas corpus seja
estendida para todos que se encontram na mesma situação. Assim, conclui-se que os juízes ou Tribunais
podem estender para todos que se encontrem na mesma situação a ordem de habeas corpus concedida
individualmente em favor de uma pessoa. Existem mais de 100 milhões de processos no Poder Judiciário, a
cargo de pouco mais de 16 mil juízes, exigindo do STF que prestigie remédios processuais de natureza coletiva
com o objetivo de emprestar a máxima eficácia ao mandamento constitucional da razoável duração do
processo e ao princípio universal da efetividade da prestação jurisdicional.
Diante da inexistência de regramento legal, o STF entendeu que se deve aplicar, por analogia, o art.
12 da Lei nº 13.300/2016, que trata sobre os legitimados para propor mandado de injunção coletivo.
Assim, possuem legitimidade para impetrar habeas corpus coletivo:
1) o Ministério Público;
2) o partido político com representação no Congresso Nacional;
3) a organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos 1 (um) ano;
4) a Defensoria Pública. STF. 2ª Turma.HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
20/2/2018 (Info 891).

Obs.: O STJ confirmou decisão que mandou soltar todos os presos do país que tiveram liberdade
condicionada à fiança. No habeas corpus coletivo, a DP do Espírito Santo sustentou que, diante do cenário
de pandemia da Covid-19, deveria ser superada a Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal e, nos termos da
Recomendação 62/2020 do CNJ, determinada a soltura imediata de todos os presos do estado que tiveram
o deferimento da liberdade provisória condicionado ao pagamento de fiança. O ministro Sebastião Reis
Júnior votou pela concessão do habeas corpus por reconhecer a plausibilidade jurídica das alegações e a
flagrante ilegalidade da situação desses presos.
Jurisprudência em teses do STJ sobre HC:

1) O STJ não admite que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao


recurso próprio (apelação, agravo em execução, recurso especial), tampouco à
revisão criminal, ressalvadas as situações em que, à vista da flagrante ilegalidade
do ato apontado como coator, em prejuízo da liberdade da paciente, seja cogente
a concessão, de ofício, da ordem de habeas corpus.

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2) O conhecimento do habeas corpus pressupõe prova pré-constituída do direito


alegado, devendo a parte demonstrar de maneira inequívoca a pretensão deduzida
e a existência do evidente constrangimento ilegal.
3) O trancamento da ação penal pela via do habeas corpus é medida excepcional,
admissível apenas quando demonstrada a falta de justa causa (materialidade do
crime e indícios de autoria), a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade.
4) O reexame da dosimetria da pena em sede de habeas corpus somente é possível
quando evidenciada flagrante ilegalidade e não demandar análise do conjunto
probatório..
5) O habeas corpus é ação de rito célere e de cognição sumária, não se prestando
a analisar alegações relativas à absolvição que demandam o revolvimento de
provas.
6) É incabível a impetração de habeas corpus para afastar penas acessórias de
perda de cargo público ou graduação de militar imposta em sentença penal
condenatória, por não existir lesão ou ameaça ao direito de locomoção.
7) O habeas corpus não é a via adequada para o exame aprofundado de provas a
fim de averiguar a condição econômica do devedor, a necessidade do credor e o
eventual excesso do valor dos alimentos, admitindo-se nos casos de flagrante
ilegalidade da prisão civil.
8) Não obstante o disposto no art. 142, § 2º, da CF, admite-se habeas corpus contra
punições disciplinares militares para análise da regularidade formal do
procedimento administrativo ou de manifesta teratologia.
9) A ausência de assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo na inicial de
habeas corpus inviabiliza o seu conhecimento, conforme o art. 654. § 1º, c, do CPP.
10) É cabível habeas corpus preventivo quando há fundado receio de ocorrência de
ofensa iminente à liberdade de locomoção.
11) Não cabe habeas corpus contra decisão que denega liminar, salvo em hipóteses
excepcionais, quando demonstrada flagrante ilegalidade ou teratologia da decisão
impugnada, sob pena de indevida supressão de instância, nos termos da Súmula
691/STF.
12) O julgamento do mérito do habeas corpus resulta na perda do objeto daquele
impetrado na instância superior, na qual é impugnada decisão indeferitória da
liminar.
13) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o
julgamento dos pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma
Recursal dos Juizados Especiais.
14) A jurisprudência do STJ admite a reiteração do pedido formulado em habeas
corpus com base em fatos ou fundamentos novos.
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15) O agravo interno não é cabível contra decisão que defere ou indefere pedido
de liminar em habeas corpus.
16) O habeas corpus não é via idônea para discussão da pena de multa ou prestação
pecuniária, ante a ausência de ameaça ou violação à liberdade de locomoção.
17) O habeas corpus não pode ser impetrado em favor de pessoa jurídica, pois o
writ tem por objetivo salvaguardar a liberdade de locomoção.
18) A jurisprudência tem excepcionado o entendimento de que o habeas corpus
não seria adequado para discutir questões relativas à guarda e adoção de crianças
e adolescentes.

CESPE / CEBRASPE - 2022 – Questões importantes:

I) Cabe habeas corpus em caso de imposição exclusivamente de pena de multa ao


sentenciado. Item errado.
Súmula 693 STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a
processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada

II) O habeas corpus pode ser interposto por qualquer pessoa, independentemente de inscrição na Ordem
dos Advogados do Brasil. Item certo.
A impetração de HC não exige capacidade postulatória e dispensa formalidades.

III) Sendo um instrumento legal de garantia do direito de ir e vir, o habeas corpus não pode ser impetrado
com o objetivo de discutir eventual ilegalidade de decisão que imponha pena restritiva de direito diversa
da prisão. Item errado.
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas
da prisão. Isso porque, se descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia,
alcançando-se o direito de ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).
CP, art. 44, § 4º A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o
descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar
será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias
de detenção ou reclusão.

IV) Recente construção jurisprudencial do STF passou a admitir, por analogia, a figura do habeas corpus
coletivo. Item certo.
É possível a impetração de HC coletivo, conforme entendimento exarado pelo STF (2ª Turma. HC
143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).

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2. MANDADO DE SEGURANÇA

Art. 5º, LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público;

a) Previsão legal: Art. 5º, LXIX da CF/88 e Lei 12.016/09

Lei 12.016/09. Art. 1º: Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que,
ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação
ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e
sejam quais forem as funções que exerça.

b) Natureza Jurídica: Ação judicial de natureza residual, subsidiária, civil, cabível quando o direito líquido e
certo protegido não for amparado por outros remédios constitucionais.

c) Cabimento: Proteger direito líquido e certo, não amparado por HC ou HD, sempre que, ilegalmente ou
com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la
por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

Atenção aos detalhes:


▪ Proteção de direito líquido e certo contra ilegalidade ou abuso de poder por parte de autoridade.
▪ Esse direito líquido e certo não é amparado por HC ou HD

d) NÃO cabe MS:


● De ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de caução => Se o MS
for impetrado contra omissão ilegal, descabe a aplicação da restrição deste inciso.
● Decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;
● Decisão judicial transitada em julgado

É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado


(art. 5º, III, da Lei nº 12.016/2009 e Súmula nº 268-STF). No entanto, se a
impetração do mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da
decisão questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito
do MS deverá ser julgado, não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a

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perda de objeto. STJ. Corte Especial. EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 14/03/2019 (Info 650).

● Contra lei em tese, salvo se produtora de efeitos concretos


● Contra atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, sociedades de
economia mista e concessionárias de serviço público, (art. 1º, §2º da Lei 12. 016/09)

§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial


praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia
mista e de concessionárias de serviço público.

O STF reafirmou a constitucionalidade deste dispositivo. Veja:


Não cabe mandado de segurança contra atos de gestão comercial praticados por
administradores de empresas públicas, sociedades de economia mista e
concessionárias de serviço público (art. 1º, § 2º da Lei nº 12.016/2019). STF.
Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre
de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info 1021).

Entenda: Trata-se de uma restrição legítima pelo fato de que os atos de gestão
comercial são atos estranhos à ideia da delegação do serviço público em si. Esses
atos se destinam à satisfação de interesses privados na exploração de atividade
econômica, submetendo-se a regime jurídico próprio das empresas
privadas,motive pelo qual não cabe mandado de segurança por força da própria
previsão constitucional – que admite o ajuizamento do mandado de segurança
somente contra atos praticados no desempenho de atribuições do poder publico
(art. 5, LXIX, CF/88)

● O mandado de segurança não se presta ao reexame de fatos e provas analisados pelo CNJ no processo
disciplinar (Info 933)
● Para convalidar a compensação tributária realizada pelo contribuinte (súmula 460 do STJ).

Súmula 460-STJ: É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada
pelo contribuinte
Súmula 213-STJ: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à
compensação tributária.

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- STJ: É incabível mandado de segurança que tem como pedido autônomo a


declaração de inconstitucionalidade de norma, por se caracterizar mandado de
segurança contra lei em tese.

- STJ: O mandado de segurança não pode ser utilizado com o intuito de obter
provimento genérico aplicável a todos os casos futuros de mesma espécie.

- STF: Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do


Conselho Nacional de Justiça, por não se tratar de ato que importe a substituição
ou a revisão do ato praticado por outro órgão do Judiciário. (Info 840)

MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECISÃO JUDICIAL


Para ser cabível, deve comprovar dois requisitos:
1) Inexistência de recurso adequado à impugnação da decisão judicial;
2) Demonstração de que a decisão é teratológica, por abuso de poder ou ilegalidade.

CESPE/2019 - É cabível mandado de segurança para proteger direito líquido e certo contra ilegalidade
praticada por diretor de sociedade de economia mista em decisão que homologa o resultado de licitação ou
em atos de gestão comercial. Item incorreto.

d) Direito Líquido e Certo

Segundo Leonardo Carneiro da Cunha, “ausente direito líquido e certo, haverá de


ser extinto o mandado de segurança, sem resolução do mérito, facultando-se à
parte o uso do procedimento comum.” (CUNHA, 2016, p. 508).

● Só cabe MS para direito líquido e certo, demonstrado de plano.


● NÃO cabe dilação probatória no MS.

OBS: A exigência de liquidez e certeza recai sobre a matéria de fato, as quais necessitam de
comprovação de plano. A matéria de direito, por mais complexa que se apresente, pode ser apreciada em
MS.

Súmula 625 – STF - Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de
mandado de segurança.

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Jurisprudência em Teses n. 85: A verificação da existência de direito líquido e certo,


em sede de mandado de segurança, não tem sido admitida em recurso especial,
pois é exigido o reexame da matéria fático-probatória, o que é vedado em razão da
súmula n. 7/STJ.

e) Legitimidade Ativa
● Pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, domiciliadas ou não no Brasil;
● Universalidades reconhecidas por lei;
● Órgãos públicos de grau superior, na defesa de suas prerrogativas e atribuições;
● Agentes políticos na defesa de suas atribuições e prerrogativas;
● MP, quando o ato emanar de juiz de primeiro grau de jurisdição.

STF (Info 848): O Tribunal de Justiça, mesmo não possuindo personalidade jurídica
própria, detém legitimidade autônoma para ajuizar mandado de segurança contra
ato do Governador do Estado em defesa de sua autonomia institucional. Ex:
mandado de segurança contra ato do Governador que está atrasando o repasse dos
duodécimos devidos ao Poder Judiciário.

Ministério Público do Tribunal de Contas não possui legitimidade para


impetrar mandado de segurança mesmo que para defender suas prerrogativas
institucionais. O Ministério Público de Contas não tem legitimidade para
impetrar mandado de segurança em face de acórdão do Tribunal de Contas perante
o qual atua. STF. Plenário virtual. RE 1178617 RG, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 25/04/2019 (repercussão geral).

Ilegitimidade ativa do MP para impetrar MS questionando decisão administrativa


que reconheceu a prescrição em processo administrativo. O Procurador-Geral da
República não possui legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com
o objetivo de questionar decisão que reconheça a prescrição da pretensão punitiva
em processo administrativo disciplinar. A legitimidade para impetrar mandado de
segurança pressupõe a titularidade do direito pretensamente lesado ou ameaçado
de lesão por ato de autoridade pública. O Procurador-Geral da República não tem
legitimidade para a impetração, pois não é o titular do direito líquido e certo que
afirmara ultrajado. Para a impetração do MS não basta a demonstração do simples
interesse ou atuação como custos legis, uma vez que os direitos à ordem
democrática e à ordem jurídica não são de titularidade do Ministério Público, mas
de toda a sociedade. STF. 2ª Turma. MS 33736/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 21/6/2016 (Info 831).
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Substituição Processual (legitimação extraordinária): O titular de direito líquido e certo decorrente


de direito, em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandado de segurança a favor do direito
originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente.

Ingresso de litisconsorte ativo: pode ocorrer até o despacho da petição inicial (art. 10, §2º, da Lei nº
12.016/09).

Falecimento do impetrante: É pacífico, no STF e no STJ, o entendimento de que o falecimento do


impetrante pessoa natural tem o condão de extinguir o mandado de segurança, sendo incabível na via
mandamental a sucessão e partes em razão da natureza personalíssima da ação. Nesse caso, ainda será
possível o acesso às vias ordinárias.

Entendimento de Leonardo Carneiro da Cunha sobre o falecimento após a fase de


conhecimento: “Tudo indica, todavia, que a morte do impetrante somente causa a
extinção sem resolução do mérito do mandado de segurança se seu falecimento se
operar durante a fase de conhecimento. Caso já tenha havido sentença com
trânsito em julgado, e havendo condenação ao pagamento de valores pecuniários
(na hipótese, por exemplo, de o impetrante ostentar a condição de servidor
público), é possível haver a sucessão mortis causa por seu espólio ou sucessores se
o falecimento do impetrante ocorrer já durante a execução. Nesse caso, não haverá
habilitação no mandado de segurança, mas sim num cumprimento de sentença.”
(CUNHA, 2016, p. 525).

-CESPE/2018: O parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança em defesa de
prerrogativa do Congresso Nacional. Item incorreto. Cabe destacar, contudo, que o parlamentar
individualmente tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança contra ato de processo
legislativo, em controle concreto. (STF MS-24642/DF) (STF -Inform711)

f) Legitimação Passiva
É a pessoa jurídica a qual pertence a autoridade coatora, responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder, autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

● Autoridades públicas de quaisquer poderes da União, Estados, DF e Municípios;


● Representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas;
● Dirigentes de pessoas jurídicas de direito privado, desde que no exercício de atribuições do Poder
Público.

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Lei 12.016/09
Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais
forem as funções que exerça.

§ 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou


órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem
como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de
atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.

Em se tratando de atribuição delegada, a autoridade coatora será o agente delegado e não a


autoridade delegante =>VIDE SÚMULA 510 STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência
delegada, contra ela cabe MS ou medida judicial.

Segundo Leonardo Carneiro da Cunha, o tema da legitimidade passiva no mandado


de segurança gera divergências doutrinárias, tendo surgido três correntes sobre o
tema:
I- Primeira corrente: defende que a própria autoridade coatora deve ocupar o polo
passivo da demanda, tendo em vista que é quem prestará informações e deverá
cumprir a determinação judicial.
II- Segunda corrente: considera que haverá a formação de litisconsórcio passivo
entre a autoridade e a pessoa jurídica de direito público. Entretanto, essa corrente
não tem aceitação jurisprudencial, já que a autoridade apenas presenta a pessoa
jurídica, não constituindo parte autônoma.
III- Terceira corrente: majoritária na doutrina e na jurisprudência, defende que é a
pessoa jurídica a que pertence a autoridade coatora que detém legitimidade
passiva, tendo em vista que é quem suportará as consequências financeiras da
demanda e contra quem será formada a coisa julgada, de modo que se a autoridade
indicada for subsittuída, não haverá prejuízo para o processo.

STJ: As autarquias possuem autonomia administrativa, financeira e personalidade


jurídica própria, distinta da entidade política à qual estão vinculadas, razão pela
qual seus dirigentes têm legitimidade passiva para figurar como autoridades
coatoras em ação mandamental.

TEORIA DA ENCAMPAÇÃO NO MANDADO DE SEGURANÇA


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Quando há indicação errônea da autoridade coatora, é possível aplicar a Teoria da encampação para sanar
tal vício, desde que observados alguns requisitos:
a) Existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou as informações e a que ordenou a prática
do ato impugnado;
b) Ausência de modificação de competência estabelecida na CF/88;
c) Defesa do mérito do litígio nas informações prestadas.

g) Liminar em mandado de segurança:

● Da decisão que concede/nega liminar – cabe agravo de instrumento

● Perempção e caducidade da liminar ocorre em 2 hipóteses:


(1) Quando o impetrante cria obstáculo ao normal andamento do processo
(2) Quando o impetrante deixa de promover atos e diligências por mais de 3 dias úteis.

Art. 8o Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou


a requerimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante
criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais
de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.

● Possibilidade de exigir fiança, caução ou depósito:

Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento
relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.

Esse dispositivo trata sobre a possibilidade de se conceder medida liminar em mandado de


segurança.
A OAB impugnou a parte final do dispositivo. Segundo a entidade, seria inconstitucional exigir o
pagamento prévio de caução, depósito ou fiança para a concessão de liminar. O STF não concordou com a
autora.
No exercício do seu poder geral de cautela, o magistrado pode analisar se determinado caso
específico exige caução, fiança ou depósito. A caução, fiança ou depósito, previstos no art. 7º, III, da Lei nº
12.016/2019, configuram mera faculdade, que pode ser exercida se o magistrado entender ser necessária
para assegurar o ressarcimento a pessoa jurídica. Não se trata, portanto, de um obstáculo ao poder geral de
cautela, mas uma faculdade que vai ao encontro do art. 300, § 1º, do CPC:
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Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir
caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa
vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.

Desse modo, é válido dizer que:

O juiz tem a faculdade de exigir caução, fiança ou depósito para o deferimento de


medida liminar em mandado de segurança, quando verificada a real necessidade
da garantia em juízo, de acordo com as circunstâncias do caso concreto (art. 7º, III,
da Lei nº 12.016/2019). STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info 1021).

● Vedação à concessão de liminar

Art. 7o § 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação
de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a
extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

Antigamente, entendia-se que não era possível conceder liminar em mandado de segurança para a
compensação de créditos tributários, entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior.
No entanto, em 2021, o STF considerou inconstitucional impedir ou condicionar a concessão de
medida liminar, o que caracteriza verdadeiro obstáculo à efetiva prestação jurisdicional e à defesa do direito
líquido e certo do impetrante. A Corte concluiu que:

É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a concessão de medida


liminar na via mandamental. STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes julgado em 9/6/2021 (Info 1021).

Em virtude dessa decisão do STF, fica SUPERADA a Súmula 212 do STJ: Súmula 212-STJ: A
compensação de créditos tributários não pode ser deferida em ação cautelar ou por medida liminar cautelar
ou antecipatória. (entendimento superado)

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Obs.: nos casos em que se veda a concessão da liminar, eventual sentença que conceda o MS não
poderá ser executada provisoriamente (art. 14, §3º):

§ 3o A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada


provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida
liminar.

h) Emenda da petição inicial


A possibilidade de correção do polo passivo do mandado de segurança gera divergências doutrinárias
e jurisprudenciais. Para o STJ, em regra, a indicação errônea da autoridade coatora deve acarretar a extinção
do processo sem resolução de mérito, sendo vedado emendar a petição inicial. Entretanto, há decisões
também do STJ que permitem a emenda da petição inicial do mandado de segurança, desde que seja possível
a identificação da verdadeira autoridade coatora pela simples leitura da petição e da documentação anexada.

Jurisprudência em Teses n. 43 do STJ: A indicação equivocada da autoridade


coatora não implica ilegitimidade passiva nos casos em que o equívoco é facilmente
perceptível e aquela erroneamente apontada pertence à mesma pessoa jurídica de
direito público.

Jurisprudência em Teses n. 86 do STJ: Admite-se a emenda à petição inicial de


mandado de segurança para a correção de equívoco na indicação da autoridade
coatora, desde que a retificação do polo passivo não implique alterar a
competência judiciária e que a autoridade erroneamente indicada pertença à
mesma pessoa jurídica da autoridade de fato coatora.

i) Apresentação de informações
Nos termos do art. 7º, I, da Lei nº 12.016/09, ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique
o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos
documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações.
Natureza jurídica: segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, em razão da adoção do entendimento
de que a autoridade coatora não é propriamente ré no mandado de segurança, suas informações não têm a
natureza jurídica de contestação.

STJ: A intempestividade das informações prestadas pela autoridade apontada


como coatora no mandado de segurança não induz a revelia, uma vez que ao
impetrante incumbe demonstrar, mediante prova pré-constituída dos fatos que
embasam a impetração, a ocorrência do direito líquido e certo.

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No entendimento de Leonardo Carneiro da Cunha, não apresentadas as informações, não se


presumem verdadeiros os fatos alegados pelo impetrante. Isso porque há presunção de legitimidade em
relação ao ato administrativo eventualmente questionado, que caberá ao impetrante afastar. Dessa forma,
essa presunção não será desfeita com a simples ausência de informações.

j) Prazo para impetração

Prazo: 120 dias, a contar, em regra, da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato
a ser impugnado.
Assim, depois que uma autoridade praticar um ato ilegal ou abusivo, a pessoa prejudicada terá o
prazo de até 120 dias para impugná-lo por meio de mandado de segurança. Ultrapassado este período, o
interessado continua com o direito de questionar o ato, mas deverá fazer isso mediante ação ordinária.
Caso a decisão que negar a segurança não tiver apreciado o mérito, será possível impetrar um novo
mandado de segurança, desde que não ultrapassado o período de 120 dias.

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120


(cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Art. 6º, §6º, da Lei n. 12.016/09: O pedido de mandado de segurança poderá ser
renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver
apreciado o mérito.

O prazo decadencial NÃO se suspende ou interrompe. Nem mesmo o pedido de reconsideração


administrativo interrompe a contagem desse prazo.

Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o


prazo para o mandado de segurança.

Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a


impetração de mandado de segurança.

Se o ato impugnado é de trato sucessivo, o prazo de 120 dias renova-se a cada ato.
Mandado de segurança preventivo: NÃO se pode falar em prazo decadencial para a sua impetração,
pois NÃO há ato coator a marcar a contagem.

STF (Info 1021): É constitucional o art. 23 da Lei nº 12.016/2009, que fixa o prazo
decadencial de 120 dias para a impetração de mandado de segurança.
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STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min.
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STJ (Info 578): O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra
redução do valor de vantagem integrante de proventos ou de remuneração de
servidor público renova-se mês a mês. A redução, ao contrário da supressão de
vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois não equivale à negação do
próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial para se impetrar a ação
mandamental renova-se mês a mês.
- Ato que SUPRIME vantagem: é ato ÚNICO (o prazo para o MS é contado da data
em que o prejudicado tomou ciência do ato).
- Ato que REDUZ vantagem: consiste em prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo
para o MS renova-se mês a mês).

STF (Info 884): Se no curso de um processo administrativo federal é praticado ato


contrário aos interesses da parte, o prazo de 120 dias para impetração de mandado
de segurança somente se inicia quando a parte for intimada diretamente, na forma
do § 3º do art. 26 da Lei nº 9.784/99

STF (Info 859):O STF já relativizou o prazo de 120 dias do MS em nome da


segurança jurídica. Em outubro/2004, a parte impetrou mandado de segurança no
STF. O writ foi proposto depois que já havia se passado mais de 120 dias da
publicação do ato impugnado. Dessa forma, o Ministro Relator deveria ter
extinguido o mandado de segurança sem resolução do mérito pela decadência.
Ocorre que o Ministro não se atentou para esse fato e concedeu a liminar pleiteada.
Em março/2017, a 1ª Turma do STF apreciou o mandado de segurança. O que fez o
Colegiado? Extinguiu o MS sem resolução do mérito em virtude da decadência?
NÃO. A 1ª Turma do STF reconheceu que o MS foi impetrado fora do prazo, no
entanto, como foi concedida liminar e esta perdurou por mais de 12 anos, os
Ministros entenderam que deveria ser apreciado o mérito da ação, em nome da
segurança jurídica. STF. 2ª Turma. MS 25097/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 28/3/2017 (Info 859).

k) Competência
A competência no MS é definida pela categoria da autoridade coatora e pela sua sede funcional.

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STJ: A competência para o mandado de segurança é absoluta. No caso dos


tribunais, é funcional; no caso do juízo de primeiro grau, é territorial e absoluta
ou em razão da pessoa.

Ensina Leonardo Carneiro da Cunha: “Se a autoridade coatora desempenha função estadual ou
municipal, e a matéria envolvida não for trabalhista, nem eleitoral, a competência será da Justiça Estadual.
Caso a autoridade exerça função federal, e, de igual modo, não haja matéria trabalhista ou eleitoral
envolvida, a competência será da Justiça Federal.” (CUNHA, 2016, p. 552)
Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, se a competência para o julgamento do MS for do juízo
de primeiro grau, tanto na Justiça Estadual como na Federal, a competência territorial será determinada pelo
local em que a autoridade exerce suas funções. Caso haja vara privativa da Fazenda Pública, a competência
será absoluta dentro da comarca.

● Competência originária do STF:MS contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do
próprio Supremo Tribunal Federal.
● Competência recursal do STF:recurso ordinário contra decisão denegatória de mandado de segurança
proferida em única instância pelos Tribunais Superiores
● Competência originária do STJ:MS contra atos de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal
● Competência recursal do STJ:recurso ordinário contra decisão denegatória de mandado de segurança
proferida em única instância por TJ ou TRF
● Competência originária de TRF:MS contra ato do próprio tribunal ou de juiz federal
● Competência da justiça federal de 1º grau: MS contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais
● Competência da justiça do trabalho:MS contra ato que envolva matéria sujeita à sua jurisdição.

TABELA DE COMPETÊNCIA DO MANDADO DE SEGURANÇA


contra atos
a) do Presidente da República,
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO b) das Mesas da Câmara dos Deputados e do
STF Senado Federal,
c) do Tribunal de Contas da União,
d) do Procurador-Geral da República e
e) do próprio Supremo Tribunal Federal.

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COMPETÊNCIA RECURSAL DO Recurso ordinário contra decisão denegatória de


STF: mandado de segurança proferida em única instância
pelos Tribunais Superiores
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO Contra atos
STJ: a) do próprio Tribunal
b) de Ministro de Estado,
c) dos Comandantes da Marinha,
d) do Exército e
e) da Aeronáutica ou
f) do próprio Tribunal

COMPETÊNCIA RECURSAL DO Recurso ordinário contra decisão denegatória de


STJ: mandado de segurança proferida em única instância por
TJ ou TRF
Contra ato
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DE a) do próprio tribunal
TRF: b) de juiz federal

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA Contra ato


FEDERAL DE 1º GRAU: a) de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO Contra ato
TRABALHO: a) que envolva matéria sujeita à sua jurisdição.

Súmula 623-STF: Não gera por si só a competência originária do Supremo Tribunal


Federal para conhecer do mandado de segurança com base no art. 102, I, n, da
Constituição, dirigir-se o pedido contra deliberação administrativa do tribunal de
origem, da qual haja participado a maioria ou a totalidade de seus membros.

Súmula 624-STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer


originariamente de mandado de segurança contra atos de outros tribunais

#DDEXPLICA
O STF não dispõe de competência originária para processar e julgar MS impetrado
contra ato de outros Tribunais judiciários, ainda que se trate do STJ. Compete ao

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próprio STJ julgar os mandados de segurança impetrados contra seus atos ou


omissões.

Súmula 330-STF: O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer


de mandado de segurança contra atos dos tribunais de justiça dos estados.

Súmula 41-STJ: O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar
e julgar, originariamente mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou
dos respectivos órgãos.

#DDEXPLICA. É o mesmo sentido da Súmula 624-STF. • MS contra ato do TJ é


julgado pelo próprio TJ.

Súmula 376-STJ: Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de


segurança contra ato de juizado especial.

STJ: Mandado de segurança impetrado contra Governador do Estado, a


competência, ainda que a matéria seja trabalhista, será do correspondente Tribunal
de Justiça.

STF: NÃO lhe cabe julgar, originariamente, MS contra atos praticados por outros
Tribunais e seus Órgãos. Os próprios Tribunais é que têm competência para julgar,
originalmente, MS contra seus atos, dos respectivos presidentes, câmaras e seções.

l) Amicus Curiae em mandado de segurança


Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, é chamado ou se oferece para intervir em
processo relevante, em razão de sua representatividade, com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua
opinião sobre o debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o
órgão julgador possa ter mais elementos para decidir de forma legítima.
Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte” ou “amigo do tribunal”.
Obs.: amici curiae é o plural de amicus curiae.

É possível a intervenção de amicus curiae em um processo de mandado de segurança? Trata-se de


tema polêmico.
∘ 1ª corrente: NÃO. No processo de mandado de segurança não é admitida a intervenção de terceiros
nem mesmo no caso de assistência simples. Se fosse admitida a intervenção do amicus curiae, isso

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poderia comprometer a celeridade do mandado de segurança (STF. 1ª Turma. MS 29192/DF, rel.


Min. Dias Toffoli, julgado em 19/8/2014. Info 755).

O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção


de terceiros, conforme se extrai do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na
modalidade de assistência litisconsorcial.
STJ. 1ª Seção. AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado
em 28/04/2020. STF. 2ª Turma. RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, DJE 06/11/2020.

No mesmo sentido: decisão monocrática do Min. Luiz Fux: “Tradicionalmente não


se admite a figura do amicus curiae na via do mandado de segurança, tendo em
vista o caráter personalíssimo da ação e a exigência de celeridade intrínsecos ao
writ” (STF. Decisão monocrática. MS 34196, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
18/05/2018).

∘ 2ª corrente: SIM. A doutrina defende que, com o novo CPC, é possível a intervenção de amicus
curiae em processo de mandado de segurança (Enunciado nº 249 do Fórum Permanente de
Processualistas Civis).
No mesmo sentido:
- STF. Decisão monocrática. MS 32451, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/06/2017.
- STF. Decisão monocrática. MS 35785, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
09/03/2020.

m) Reexame necessário:

Art. 14, §1º, da Lei n. 12.016/09: Concedida a segurança, a sentença estará sujeita
obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição.

STJ: As hipóteses de dispensa de remessa necessária previstas no art. 496 do CPC NÃO se aplicam ao
mandado de segurança, em razão da especialidade da norma contida na Lei n. 12.016/09.

Obs.: O entendimento exposto acima foi firmado em relação ao CPC/73 e em relação à Lei n.
1.533/51, que regia o MS. Contudo, segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, a doutrina majoritária
considera que o entendimento se manterá inalterado em face do novo CPC e da Lei n. 12.016/09
n) Recursos
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Agravo de instrumento: cabível da decisão que conceder ou denegar a liminar;


Apelação: Indeferimento da inicial pelo juiz, e da sentença que concede ou denega o mandado.

Art. 14, §2º, da Lei n. 12.016/09: Estende-se à autoridade coatora o direito de


recorrer.

OBS: O MS admite desistência em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente do


consentimento do impetrado, desde que não ocorrido o trânsito em julgado.

STJ (Info 533): O impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a


anuência do impetrado mesmo após a prolação da sentença de mérito.

O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, em um caso concreto


noticiado no Informativo 781, o STF afirmou que não é cabível a desistência de
mandado de segurança, nas hipóteses em que se discute a exigibilidade de
concurso público para delegação de serventias extrajudiciais, quando na espécie já
houver sido proferida decisão de mérito, objeto de sucessivos recursos. No caso
concreto, o pedido de desistência do MS foi formulado após o impetrante ter
interposto vários recursos sucessivos (embargos de declaração e agravos
regimentais), todos eles julgados improvidos. Dessa forma, o Ministro Relator
entendeu que tudo levaria a crer que o objetivo do impetrante ao desistir seria o
de evitar o fim da discussão com a constituição de coisa julgada. Com isso, ele
poderia propor uma ação ordinária em 1ª instância e, assim, perpetuar a
controvérsia, ganhando tempo antes do desfecho definitivo contrário. Assim, com
base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do STF indeferiu o pedido de desistência.
STF. 2ª Turma. MS 29093 ED-ED-AgR/DF, MS 29129 ED-ED-AgR/DF, MS 29189 ED-
ED-AgR/DF, MS 29128 ED-ED-AgR/DF, MS 29130 ED-ED-AgR/DF, MS 29186 ED-ED-
AgR/DF, MS 29101 ED-ED-AgR/DF, MS 29146 ED-ED-AgR/DF, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgados em 14/4/2015 (Info 781).

o) MS COLETIVO - Art. 5º, LXX da CF e art. 21 da Lei 12.016/09

Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e
em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;

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Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político
com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos
relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical,
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há,
pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou
de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde
que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

Pode ser impetrado:

● Partido político com representação no CN, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus
integrantes ou à finalidade partidária.
Obs.1: Basta 1 único representante na CD ou SF, filiado ao partido.
Obs.2: STJ vem entendendo que PP somente poderá impetrar MS coletivo para a defesa de seus
filiados e em questões políticas, ou seja, criou uma pertinência temática.

● Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento


há, pelo menos, 01 ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus
membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades,
dispensadas, para tanto, autorização especial.

Requisitos a serem preenchidos:


1.estar legalmente constituída: organizações sindicais, entidades de classe e associações;
2.estar em funcionamento há pelo menos 1 ano -é exclusivo das associações;
3.atuar na defesa dos interesses dos seus membros associados: pertinência temática estabelecida
pela CF entre o objeto do MS e os objetivos institucionais as organizações sindicais, entidades
de classe e associações.

A legitimidade é extraordinária, sendo o caso de substituição processual, razão pela qual NÃO se
exige autorização expressa dos titulares do direito.

Súmula 629/STF - A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de


classe em favor dos associados independe da autorização destes

Súmula 630/STF - A entidade de classe tem legitimação para o mandado de


segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da
respectiva categoria.

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CESPE/2019 - Entidade sindical constituída há menos de um ano e sediada em município da Federação tem
legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo a fim de garantir direito líquido e certo de seus
filiados que tenha sido lesado por ato de autoridade da administração fazendária federal. Item correto

CESPE/2018 - O mandado de segurança coletivo caracteriza-se por ter dois ou mais impetrantes, que sejam
pessoas físicas ou jurídicas, no polo ativo. Item incorreto.

Os direitos protegidos pelo MS podem ser:


● Coletivos;
● Individuais homogêneos.

art. 21, § único da Lei de MS.


Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser:

I - COLETIVOS, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de


natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre
si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;

II - INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS, assim entendidos, para efeito desta Lei, os


decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade
ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

Os direitos defendidos por organização sindical NÃO precisam ser o mesmo direito para todos os
seus membros, podendo ser um direito de apenas parte dos membros da entidade.

CAIU EM PROVA – DELTA/MG 2021:

Centenas de delegados civis do Estado ZW reuniram-se na sede do Sindicato dos Delegados local,
representante dos interesses dessa categoria. O sindicato está legalmente constituído e em funcionamento
há três anos. Depois de longo período sem reajustes na sua remuneração, em assembleia geral convocada
especialmente para deliberar a respeito das medidas a serem adotadas pelos sindicalizados, decidiram
adotar providências concernentes a manifestações de rua, em frente à Assembleia Legislativa, de maneira
pacífica e organizada. Ao ser comunicado sobre as reuniões acima, o Governador de Estado respondeu ao
Sindicato dos Delegados que as estava indeferindo, dando ordem expressa para que elas não fossem
realizadas. Dentre os remédios constitucionais abaixo, o adequado à iniciativa do Sindicato, para assegurar
os direitos dos filiados, sem necessidade de dilação e instrução probatórias, é:

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A) Ação Popular.
B) Mandado de Injunção coletivo.
C) Mandado de Segurança coletivo.
D) Mandado de Segurança individual.

GABARITO: LETRA C

ATENÇÃO! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!


Antigamente, no mandado de segurança coletivo impetrado contra autoridade vinculada à pessoa
jurídica de direito público, a liminar só poderá ser concedida após audiência do representante judicial da
pessoa jurídica, que deveria se pronunciar no prazo de 72 horas.
No entanto, em 2021, o STF julgou inconstitucional a exigência de oitiva prévia do representante da
pessoa jurídica de direito público como condição para a concessão de liminar em mandado de segurança
coletivo, por considerar que a disposição restringe o poder geral de cautela do magistrado. Conforme
argumentou o Min. Marco Aurélio:

“O preceito contraria o sistema judicial alusivo à tutela de urgência. Se esta surge


cabível no caso concreto, é impertinente, sob pena de risco do perecimento do
direito, estabelecer contraditório ouvindo-se, antes de qualquer providência, o
patrono da pessoa jurídica. Conflita com o acesso ao Judiciário para afastar lesão
ou ameaça de lesão a direito. Tenho como inconstitucional o artigo 22, § 2º, da Lei
nº 12.016/2009.”

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada


limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo
impetrante. (Vide ADIN 4296)
§ 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a
audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que
deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

CESPE - 2017 - PJC-MT - Delegado de Polícia Substituto: O mandado de segurança impetrado


por entidade de classe não terá legitimidade se a pretensão nele veiculada interessar a apenas
parte dos membros da categoria profissional representada por essa entidade. Item errado.

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SÚMULA 630 STF A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a
pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

p) Considerações gerais sobre MS:


∘ Prazo decadencial: 120 dias
∘ Não há dilação probatória
∘ Há reexame necessário
∘ Tanto a autoridade coatora como a pessoa jurídica devem ser indicadas na petição inicial
∘ Do indeferimento da petição inicial – cabe apelação
∘ Da decisão que concede/nega MS – cabe apelação
∘ Da decisão que concede/nega liminar – cabe agravo de instrumento
∘ Não cabe intervenção de terceiros no MS
∘ Não cabe embargos infringentes no MS
∘ Não cabe pagamento de honorários advocatícios no MS (salvo comprovada a má-fé)
∘ Não cabe ingresso de litisconsórcio ativo após o despacho da petição inicial
∘ Oitiva do MP em 10 dias
∘ Tem prioridade na tramitação, salvo HC.

Súmulas importantes sobre mandado de segurança:

Súmula 271 – STF - Concessão de mandado de segurança não produz efeitos


patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria.

Súmula 333-STJ: Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação


promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.

Súmula 429-STF: A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não


impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade

Súmula 474-STF: Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de


segurança, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra,
declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

Súmula 604-STJ: O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito


suspensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público

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Súmula 626-STF: A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo


determinação em contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em
julgado da decisão definitiva de concessão da segurança ou, havendo recurso, até
a sua manutenção pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar
deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração.

Súmula 631-STF: Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante


não promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.

Jurisprudência em teses sobre mandado de segurança:

EDIÇÃO N. 43: MANDADO DE SEGURANÇA – I

1) A indicação equivocada da autoridade coatora não implica ilegitimidade passiva


nos casos em que o equívoco é facilmente perceptível e aquela erroneamente
apontada pertence à mesma pessoa jurídica de direito público.
2) Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra
ele cabe o mandado de segurança ou medida judicial. (Súmula n. 510/STF)
3) A teoria da encampação tem aplicabilidade nas hipóteses em que atendidos os
seguintes pressupostos: subordinação hierárquica entre a autoridade efetivamente
coatora e a apontada na petição inicial, discussão do mérito nas informações e
ausência de modificação da competência.
4) O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora
em mandado de segurança no qual se impugna a elaboração, aplicação, anulação
ou correção de testes ou questões de concurso público, cabendo à banca
examinadora, executora direta da ilegalidade atacada, figurar no polo passivo da
demanda.
5) No Mandado de Segurança impetrado pelo Ministério Público contra decisão
proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte
passivo. (Súmula n. 701/STF).
6) A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda
quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria. (Súmula n. 630/STF)
7) A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor
dos associados independe da autorização destes. (Súmula n. 629/STF)
8) A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona a
interposição de recurso. (Súmula n. 202/STJ)

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9) A impetração de segurança por terceiro, nos moldes da Súmula n. 202/STJ, fica


afastada na hipótese em que a impetrante teve ciência da decisão que lhe
prejudicou e não utilizou o recurso cabível.
10) O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de
segurança, na hipótese de exclusão do candidato do concurso público, é o ato
administrativo de efeitos concretos e não a publicação do edital, ainda que a causa
de pedir envolva questionamento de critério do edital. 11) O prazo decadencial
para impetração mandado de segurança contra ato omissivo da Administração
renova-se mês a mês, por envolver obrigação de trato sucessivo.
12) Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra
ato de juizado especial. (Súmula n. 376/STJ)
13) O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de outros Tribunais ou dos
respectivos órgãos. (Súmula n. 41/STJ)
14) Admite-se a impetração de mandado de segurança perante os Tribunais de
Justiça para o exercício do controle de competência dos juizados especiais.
15) O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido
por Ministro de Estado. (Súmula n. 177/STJ)

EDIÇÃO N. 85: MANDADO DE SEGURANÇA – II

1) Compete à justiça federal comum processar e julgar mandado de segurança


quando a autoridade apontada como coatora for autoridade federal, considerando-
se como tal também os dirigentes de pessoa jurídica de direito privado investidos
de delegação concedida pela União.
2) O impetrante pode desistir da ação mandamental a qualquer tempo antes do
trânsito em julgado, independentemente da anuência da autoridade apontada
como coatora.
3) Ante o caráter mandamental e a natureza personalíssima da ação, não é possível
a sucessão de partes no mandado de segurança, ficando ressalvada aos herdeiros
a possibilidade de acesso às vias ordinárias.
4) O prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança tem início com
a ciência inequívoca do ato lesivo pelo interessado.
5) A verificação da existência de direito líquido e certo, em sede de mandado de
segurança, não tem sido admitida em recurso especial, pois é exigido o reexame de
matéria fático-probatória, o que é vedado em razão da Súmula n. 7/STJ.
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6) A ação mandamental não constitui via adequada para o reexame das provas
produzidas em Processo Administrativo Disciplinar - PAD.
7) Não cabe mandado de segurança para conferir efeito suspensivo ativo a recurso
em sentido estrito interposto contra decisão que concede liberdade provisória ao
acusado.
8) Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição. (Súmula n. 267/STF)
9) A impetração de mandado de segurança contra ato judicial é medida
excepcional, admissível somente nas hipóteses em que se verifica de plano decisão
teratológica, ilegal ou abusiva, contra a qual não caiba recurso.
10) O cabimento de mandado de segurança contra decisão de órgão fracionário ou
de relator do Superior Tribunal de Justiça é medida excepcional autorizada apenas
em situações de manifesta ilegalidade ou teratologia.
11) Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em
julgado. (Súmula n. 268/STF)
12) É incabível mandado de segurança que tem como pedido autônomo a
declaração de inconstitucionalidade de norma, por se caracterizar mandado de
segurança contra lei em tese. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 -
TEMA 430)
13) É necessária a efetiva comprovação do recolhimento feito a maior ou
indevidamente para fins de declaração do direito à compensação tributária em
sede de mandado de segurança. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 -
TEMA 118) (Súmula n. 213/STJ)
14) É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária
realizada pelo contribuinte. (Súmula n. 460/STJ) (Tese julgada sob o rito do art. 543-
C do CPC/73 - TEMA 258)
15) O mandado de segurança não pode ser utilizado com o intuito de obter
provimento genérico aplicável a todos os casos futuros de mesma espécie.

EDIÇÃO N. 91: MANDADO DE SEGURANÇA - III

1) Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e


pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional (Súmula n. 311/STJ) e, por
isso, podem ser combatidos pela via mandamental.
2) É incabível mandado de segurança para conferir efeito suspensivo a agravo em
execução interposto pelo Ministério Público.
3) O mandado de segurança não pode ser utilizado como meio para se buscar a
produção de efeitos patrimoniais pretéritos, uma vez que não se presta a substituir
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ação de cobrança, nos termos das Súmulas n. 269 e 271 do Supremo Tribunal
Federal.
4) Não configura ação de cobrança a impetração de mandado de segurança visando
a desconstituir ato administrativo que nega conversão em pecúnia de férias não
gozadas, afastando-se as restrições previstas nas Súmulas n. 269 e 271 do Supremo
Tribunal Federal.
5) O mandado de segurança é meio processual adequado para controle do
cumprimento das portarias de concessão de anistia política, afastando-se as
restrições das Súmulas n. 269 e 271 do Supremo Tribunal Federal.
6) O termo inicial do prazo de decadência para impetração de mandado de
segurança contra aplicação de penalidade disciplinar é a data da publicação do
respectivo ato no Diário Oficial.
7) O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de ação mandamental
contra ato que fixa ou altera sistema remuneratório ou suprime vantagem
pecuniária de servidor público e não se renova mensalmente inicia-se com a ciência
do ato impugnado.
8) O prazo decadencial para impetração de mandado de segurança não se suspende
nem se interrompe com a interposição de pedido de reconsideração na via
administrativa ou de recurso administrativo desprovido de efeito suspensivo.
9) Admite-se a emenda à petição inicial de mandado de segurança para a correção
de equívoco na indicação da autoridade coatora, desde que a retificação do polo
passivo não implique alterar a competência judiciária e que a autoridade
erroneamente indicada pertença à mesma pessoa jurídica da autoridade de fato
coatora.
10) O Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão possui
legitimidade para figurar no polo passivo de ação mandamental impetrada com o
intuito de ensejar a nomeação em cargos relativos ao quadro de pessoal do Banco
Central do Brasil BACEN.
11) As autarquias possuem autonomia administrativa, financeira e personalidade
jurídica própria, distinta da entidade política à qual estão vinculadas, razão pela
qual seus dirigentes têm legitimidade passiva para figurar como autoridades
coatoras em ação mandamental.
12) Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários
advocatícios. (Súmula n. 105/STJ)
13) A impetração de mandado de segurança interrompe o prazo prescricional em
relação à ação de repetição do indébito tributário, de modo que somente a partir
do trânsito em julgado do mandamus se inicia a contagem do prazo em relação à
ação ordinária para a cobrança dos créditos indevidamente recolhidos.
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14) A impetração de mandado de segurança interrompe a fluência do prazo


prescricional no tocante à ação ordinária, o qual somente tornará a correr após o
trânsito em julgado da decisão.

CAIU EM CONCURSO!

IBFC – PCBA/2022 – Delegado de Polícia: A Lei nº 12.016/2009 disciplina o mandado de segurança. De acordo
com a mencionada lei, assinale a alternativa correta.

a) Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe agravo interno.


b) A sentença não está sujeita ao duplo grau de jurisdição se for concedida a segurança.
c) A autoridade coatora não é parte legítima para recorrer de decisão ou sentença proferida em mandado de
segurança.
d) O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo liminar se constatar, em juízo prévio,
a plausibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida.
e) A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, ainda que sem decisão do mérito, impede
que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais

Resposta: Alternativa ‘D’

3. MANDADO DE INJUNÇÃO1

a) Introdução
Trata-se de remédio constitucional introduzido pelo PCO de 1988.
A Lei nº 13.300/16 disciplina o processo e julgamento do mandado de injunção individual e
coletivo.

Art. 5º, LXXI, CF/88 - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;

Art. 2º, Lei 13.300/2016 - Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e

1
Para aprofundamento, sugerimos: http://www.dizerodireito.com.br/2016/06/primeiros-comentarios-lei-133002016-
lei.html

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liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à


soberania e à cidadania.

Remédio à disposição de qualquer um que se sinta prejudicado pela falta de norma regulamentadora,
sem a qual resulte inviabilizado o exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionais. => Caso de
inércia governamental (“violação negativa do texto constitucional”).
Ensina Dirley da Cunha Jr.:

O objetivo do PCO ao criar o MI e a ADO foi introduzir mecanismos capazes de


combater a inefetividade de normas constitucionais, impedindo que a inação dos
órgãos incumbidos do dever de normativização venha a obstar o auferimento dos
direitos pelos destinatários da norma constitucional. Enquanto o MI é uma ação
constitucional de garantia individual concebido como instrumento de controle
concreto de constitucionalidade da omissão voltado à defesa de direitos subjetivos,
a ADO é uma ação constitucional de garantia da Constituição, um instrumento de
controle abstrato de constitucionalidade da omissão, empenhado na defesa
objetiva da CF.

Assim, podemos concluir:

(1) Trata-se de instrumento para combater a Síndrome de Inefetividade das Normas Constitucionais. Ao
lado da ADO, atacam a inefetividade das normas constitucionais de eficácia limitada, ante a ausência de
lei infraconstitucional integrativa para propiciar à norma constitucional a produção de todos os seus
efeitos.

(2) Trata-se de instrumento de controle concreto/incidental das inconstitucionalidades por omissão, sendo
voltado, portanto, para a tutela dos direitos subjetivos, garantia individual.

(3) Pressuposto: inviabilização dos exercícios de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania, pela ausência da norma regulamentadora.

Vamos esquematizar?
Mandado de Injunção ADO
Intentado por qualquer Legitimação restrita aos
pessoa física ou jurídica, que entes do art. 103 CF.
Legitimação se veja impossibilitada de

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exercer determinado direito


constitucional.
Busca-se solução para o caso O controle da omissão é
concreto, individualmente realizado em tese, sem a
Objeto considerado, diante da necessidade de estar
inércia do legislador. configurada uma
violação concreta a um
direito individual.
Julgamento STF, STJ, TSE, etc. (controle STF (controle
difuso) concentrado)

CESPE - 2013 - PC-BA - Delegado de Polícia: O mandado de injunção é remédio jurídico apto
a enfrentar a inconstitucionalidade por omissão. Item certo.

O mandado de injunção é um instrumento do processo constitucional voltado para a defesa


de direitos subjetivos em face de omissão do legislador ou de outro órgão incumbido de poder regulatório.
O art. 5º LXXI, da Constituição previu, expressamente, a concessão do mandado de injunção sempre que
a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

b) Cabimento
Partindo do texto constitucional, o art. 2.º da Lei n. 13.300/2016 estabelece que será concedido
mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania. A omissão é total quando a inércia é absoluta, ou seja, o preceito constitucional de
eficácia limitada não foi disciplinado. Por sua vez, considera-se parcial a regulamentação quando forem
insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente.
Em outras palavras: haverá MI quando a existência de direito ou liberdade constitucional, ou de
prerrogativa inerente à nacionalidade, soberania, cidadania, cujo exercício seja inviabilizado pela ausência
de norma infraconstitucional regulamentadora.
Note que NÃO é qualquer omissão do Poder Público que enseja o ajuizamento do MI, mas apenas
as omissões relacionadas às normas constitucionais de eficácia limitada de caráter mandatório, ou seja,
normas constitucionais que devem ter a sua plena aplicabilidade assegurada.
Portanto, normas constitucionais definidoras de princípios institutivos ou organizativos de natureza
facultativa, por outorgarem mera faculdade ao legislador, NÃO autorizam o ajuizamento do MI.

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STF determinou, em julgamento de mandado de injunção, que o governo federal


implemente, a partir de 2022, o programa de renda básica de cidadania, previsto
na Lei nº 10.835/2004. A Lei nº 10.835/2004 instituiu um programa denominado
“renda básica de cidadania”. Segundo esse programa, todas as pessoas residentes
no Brasil, não importando a sua condição socioeconômica, deverão receber um
benefício cujo valor deve ser fixado pelo Poder Executivo. O pagamento do
benefício deverá ser de igual valor para todos, e suficiente para atender às despesas
mínimas de cada pessoa com alimentação, educação e saúde. Como esse programa
ainda não havia sido implementado, em 2020 o Defensor Público-Geral Federal
ajuizou mandado de injunção contra o Presidente da República. O STF decidiu que,
como está presente estado de mora inconstitucional, deve ser fixado o valor da
renda básica de cidadania para o estrato da população brasileira em condição de
vulnerabilidade socioeconômica — pobreza e extrema pobreza — a ser efetivado,
pelo Presidente da República, no exercício fiscal seguinte ao da conclusão do
julgamento de mérito (2022). STF. Plenário. MI 7300/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/4/2021 (Info 1014).

Explicação Via Dizer o Direito:


Cabe mandado de injunção, neste caso? Ele pode ser impetrado contra o
Presidente da República?
SIM. Cabe mandado de injunção em face da ausência de fixação do valor da renda
básica de cidadania, instituída pela Lei nº 10.835/2004, cuja omissão é atribuída ao
Presidente da República.
A ausência de fixação do valor é forma de esvaziar o mandamento constitucional
de combate à pobreza, além de fazer letra morta ao disposto no referido diploma
legal.

Vale ressaltar, no entanto, que o mandado de injunção foi conhecido apenas


quanto ao benefício para as pessoas em situação de vulnerabilidade
Como vimos acima, esse benefício deveria ser pago a todas as pessoas residentes
no Brasil, independentemente da sua condição socioeconômica. Assim, pela lei,
mesmo que a pessoa seja milionária, ela teria direito de receber o benefício em
valor igual a uma pessoa miserável.

O STF afirmou que esse mandado de injunção ajuizado pelo Defensor Público-Geral
deveria ser parcialmente conhecido. Para o STF, o mandado de injunção somente
deveria ser conhecido no que tange à implementação do benefício para pessoas
em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em outras palavras, o STF afirmou
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que só iria analisar e determinar providências para garantir o benefício em favor


das pessoas em vulnerabilidade socioeconômica. Qual foi o argumento jurídico do
STF para isso?

Um dos objetivos da República brasileira é “erradicar a pobreza e a marginalização


e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (art. 3º, III, da CF/88), cuja
determinação é repassada a todos os níveis da Federação (art. 23, X), com auxílio
da sociedade.

A assistência aos desamparados é direito social básico (art. 6º). Assim, existem
direitos constitucionais das pessoas em situação de vulnerabilidade que não estão
sendo desempenhados pela falta da norma regulamentadora. Esse direito,
contudo, não existe para as pessoas com boa situação econômica. Não se pode
extrair, da Constituição Federal, o dever do Estado de pagar um benefício social
para as pessoas com boa situação econômica. O Estado não pode ser segurador
universal e distribuir renda a todos os brasileiros, independentemente de critério
socioeconômico. Na CF/88, não há qualquer determinação de atuação estatal nesse
sentido.

c) Descabimento
● Diante de falta de norma regulamentadora de direito previsto em normas infraconstitucionais => o
MI se destina a falta de normas regulamentadoras na CF.
● Diante da falta de regulamentação dos efeitos de MP não convertida em lei pelo CN;
● Se a CF outorga mera faculdade do legislador para regulamentar direito previsto em algum de seus
dispositivos.

STF: entende não haver interesse processual para o ajuizamento de MI quanto à


aposentadoria especial dos servidores públicos, em razão de já ter sido pacificado
o entendimento em Súmula Vinculante (SV 33). Cabível, portanto, reclamação
constitucional, e não MI.

STF: A jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que a edição do diploma


reclamado pela Constituição leva à perda de objeto do mandado de injunção.
Excede os limites da via eleita a pretensão de sanar a alegada lacuna normativa do
período pretérito à edição da lei regulamentadora.

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Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: Não será cabível o mandado de
injunção quando houver regulamentação da matéria por normas editadas pelo órgão legislador competente,
ainda que insuficientes.

Gabarito: literalidade do art. 2º, §único da Lei 13.300/2016. Art. 2º Conceder-se-á mandado de injunção
sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Parágrafo
único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas editadas pelo órgão
legislador competente.

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte alternativa: Não existindo lacuna que torne inviável
o exercício dos direitos e liberdades constitucionais, não há necessidade de mandado de injunção; portanto,
o mandado de injunção não pode ser concedido verificando-se a existência de norma anterior à Constituição
devidamente recepcionada.

Gabarito: "I. Mandado de injunção: ocorrência de legitimação "ad causam" e ausência de interesse
processual. 1. Associação profissional detém legitimidade "ad causam" para
impetrar mandado de injunção tendente a colmatação de lacuna da disciplina legislativa alegadamente
necessária ao exercício da liberdade de converter-se em sindicato (CF, art. 8.). 2. Não há interesse processual
necessário a impetração de mandado de injunção, se o exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa
constitucional da requerente não esta inviabilizado pela falta de norma infraconstitucional, dada
a recepção de direito ordinário anterior. (...)" (MI 144, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal
Pleno, julgado em 03/08/1992, DJ 28-05-1993 PP-10381 EMENT VOL-01705-01 PP-00013 RTJ VOL-00147-03
PP-00868)

d) Considerações importantes sobre o MI


∘ Instrumento de controle difuso/incidental
∘ Introduzido na CF/88
∘ Exige a falta de norma de eficácia limitada e caráter impositivo
∘ A omissão combatida pode ser total ou parcial
∘ Não é gratuito
∘ Exige advogado
∘ O indeferimento por ausência de provas não impede novo MI lastreado em novas provas
∘ A edição da norma regulamentadora objeto do MI acarreta a perda do objeto do MI
∘ Não admite medida liminar **

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** STF: É incabível a concessão de medida liminar em MI, uma vez que esse instituto
se destina à verificação da ocorrência, ou não, de mora da autoridade ou do Poder
de que depende a elaboração da norma regulamentadora do texto constitucional.

- CESPE/2015: Após a impetração de mandado de injunção, pendente de julgamento, o diploma legal objeto
da reclamação foi promulgado. Nessa situação, a ação não estará prejudicada por ser possível, na via
processual, discutir pretensão do interessado de sanar a lacuna normativa no período pretérito à edição da
lei regulamentadora. ASSERTIVA INCORRETA

e) Legitimação para o MI individual


● Polo Ativo: Qualquer pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, que se veja impossibilitada
de exercer o seu direito.
● Polo Passivo: Órgãos ou autoridades públicas que têm obrigação de legislar, mas estejam omissos
quanto à elaboração de norma regulamentadora, inclusive o Presidente da República, no tocante
às competências exclusivas do art. 61, CF/88).

Obs.1: Para o conhecimento do MI, o impetrante deve comprovar a titularidade direta do direito
constitucional em questão.

Obs.2: Em caso de normas de iniciativa reservada, o MI deverá ser impetrado também em face do
titular da referida iniciativa reservada (ex. iniciativa reservada do Presidente da República), pois é ele quem
deverá deflagrar o processo legislativo, não podendo o CN atuar sem a sua provocação.

Obs3: Para o STF, os particulares – ainda que estejam se beneficiando pela falta da norma
regulamentadora, NÃO se revestem de legitimidade passiva ad causam para o processo em MI, pois somente
ao Poder Público é imputável o dever constitucional de produção legislativa para dar efetividade aos direitos,
liberdades e prerrogativas constitucionais.

e) Competência:
As regras de competência para impetrar o mandado de injunção são disciplinadas na própria
Constituição Federal e variam de acordo com o órgão ou a autoridade responsável pela edição da norma
regulamentadora. Confira:

COMPETÊNCIA Quando a atribuição para elaborar a norma (poder de iniciativa) for


do(a)
STF • Presidente da República
(ART. 102, I, "Q") • Congresso Nacional

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• Câmara dos Deputados


• Senado Federal
• Mesas da Câmara ou do Senado
• Tribunal de Contas da União
• Tribunais Superiores
• Supremo Tribunal Federal.
órgão, entidade ou autoridade federal, excetuados os casos de
STJ*
competência do STF e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça
(ART. 105, I, "H")
Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal.
JUÍZES E TRIBUNAIS DA JUSTIÇA órgão, entidade ou autoridade federal nos assuntos de sua
MILITAR, JUSTIÇA ELEITORAL, competência.
JUSTIÇA DO TRABALHO
órgão, entidade ou autoridade federal, se não for assunto das
demais "Justiças" e desde que não seja autoridade sujeita à
competência do STJ.
JUÍZES FEDERAIS E TRFS*
Ex: compete à Justiça Federal julgar MI em que se alega omissão do
Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) na edição de norma de
trânsito que seria de sua atribuição (STJ MI 193/DF).
órgão, entidade ou autoridade estadual, na forma como
JUÍZES ESTADUAIS E TJS
disciplinada pelas Constituições estaduais.

f) Correntes acerca dos efeitos da decisão do Judiciário em MI:


(Caiu na 1ª Fase de Delegado de MG em 2018!)

Antes da edição da Lei 13.300/06, havia muita controvérsia na doutrina e jurisprudência a respeito
dos efeitos da decisão em sede de mandado de injunção. De forma bem sucinta:

a) Corrente não concretista – a decisão em MI apenas podia declarar em mora o legislador, não
podendo concretizar o direito cujo gozo encontrava-se impedido em apreço a separação de poderes.
(STF já adotou essa posição há muitos anos, até 2007).
b) Corrente concretista – a decisão em MI deve ir além da declaração em mora do legislador, sob pena
de tornar o remédio constitucional inócuo. A decisão em MI deve concretizar o direito discutido na
ação, através da edição de norma aplicável ao caso. (Posição da doutrina majoritária e o STF desde
2007 até os dias atuais).

Além disso, havia discussão sobre o alcance dos efeitos da decisão: seria limitado aso partes do
processo – inter partes - ou alcançaria todos com eficácia erga omnes?

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A lei 13.300/16 disciplinou o tema, estabelecendo que:

I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma


regulamentadora;
II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades
ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o
interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a
mora legislativa no prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput
quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção
anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma.

1. o órgão julgador determina prazo razoável para que o ente em mora supra a falta normativa.
2. Se ultrapassado prazo estabelecido sem a edição da norma regulamentadora, o órgão julgador irá
suprir a falta normativa estabelecendo “as condições em que se dará o exercício dos direitos, das
liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o
interessado promover ação própria visando a exercê-los.”

A doutrina diz que a Lei 13.300/2016 optou por adotar uma posição concretista intermediária, isto
é: ao julgar procedente o mandado de injunção, o Judiciário, antes de viabilizar o direito, deverá dar uma
oportunidade ao órgão omisso para que este possa elaborar a norma regulamentadora. Assim, a decisão
judicial fixa um prazo para que o Poder, órgão, entidade ou autoridade edite a norma que está faltando. Caso
esta determinação não seja cumprida no prazo estipulado, aí sim o Poder Judiciário poderá viabilizar o direito,
liberdade ou prerrogativa.
Mas não pode esquecer o § único do art. 8º! A lei dispensa a exigência de prévia fixação de prazo
razoável para a edição da norma regulamentadora nos casos em que ficar comprovado que o impetrado
deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma. Essa
exceção se filia à tese concretista direta:

* Corrente concretista direta: o Judiciário deverá implementar uma solução para


viabilizar o direito do autor e isso deverá ocorrer imediatamente (diretamente), não
sendo necessária nenhuma outra providência, a não ser a publicação do dispositivo
da decisão.

CORRENTE CONCRETISTA INTERMEDIÁRIA CORRENTE CONCRETISTA DIRETA

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O judiciário, ao julgar procedente o mandado o Judiciário deverá implementar uma solução


de injunção, antes de viabilizar o direito, para viabilizar o direito do autor e isso deverá
deverá dar uma oportunidade ao órgão ocorrer imediatamente (diretamente), não
omisso para que este possa elaborar a norma sendo necessária nenhuma outra
regulamentadora. providência, a não ser a publicação do
dispositivo da decisão.

É aplicada como regra É aplicada excepcionalmente

Por fim, o art. 9º da Lei disciplina os efeitos subjetivos da decisão que concede o mandado de injunção.
▪ Efeitos subjetivos = quem deve ser atingido pelos efeitos dessa decisão?

Art. 9º A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efeitos até
o advento da norma regulamentadora.
§ 1º Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando
isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da
prerrogativa objeto da impetração.
§ 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos
casos análogos por decisão monocrática do relator.
§ 3º O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a
renovação da impetração fundada em outros elementos probatórios.

Como regra geral, a eficácia subjetiva da decisão está limitada as partes (inter partes) e somente
produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora. É o que a doutrina denomina de eficácia
individual.
Excepcionalmente, a eficácia subjetiva da decisão poderá ser ultra partes ou erga omnes, quando for
inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da impetração. A
doutrina chama de eficácia geral.

CORRENTE CONCRETISTA GERAL CORRENTE CONCRETISTA INDIVIDUAL


Determina a aplicação analógica de outro O tribunal edita a norma do caso concreto,
diploma legislativo a todas as situações determinando a aplicação de um parâmetro
omissas até que o órgão omisso legal exclusivamente para aquele caso
regulamente a situação. Ex.: Em face da submetido a juízo, com efeitos inter partes.
inexistência de regra regulamentando o Ex.: Quanto à aposentadoria especial do
exercício do direito de greve pelos servidor que trabalha em atividade de risco,

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servidores públicos, o STF determinou a em face da ausência de lei regulamentadora,


aplicação analógica da lei de greves da o STF tem determinado a aplicação, em cada
iniciativa privada com efeitos erga omnes. caso concreto, da lei geral de benefícios da
previdência social.

Vamos esquematizar?

CONTEÚDO DA DECISÃO EFEITOS SUBJETIVOS DA DECISÃO

Adoção da tese concretista intermediária Adoção da tese da eficácia individual


1. o órgão julgador determina prazo
razoável para que o ente em mora supra a A eficácia subjetiva da decisão está
falta normativa. limitada as partes (inter partes) e
2. Se ultrapassado prazo estabelecido sem a somente produzirá efeitos até o advento
edição da norma regulamentadora, o da norma regulamentadora.
órgão julgador irá suprir a falta normativa
REGRA estabelecendo “as condições em que se
dará o exercício dos direitos, das
liberdades ou das prerrogativas
reclamados ou, se for o caso, as condições
em que poderá o interessado promover
ação própria visando a exercê-los
Adoção da tese concretista direta (art. 8º, § Adoção da tese da eficácia geral
único) A eficácia subjetiva da decisão poderá
o Judiciário deverá implementar uma solução ser ultra partes ou erga omnes, quando
para viabilizar o direito do autor e isso deverá for inerente ou indispensável ao
EXCEÇÃO ocorrer imediatamente (diretamente), não exercício do direito, da liberdade ou da
sendo necessária nenhuma outra providência, prerrogativa objeto da impetração.
a não ser a publicação do dispositivo da
decisão.

g) MI coletivo
Embora não haja previsão na CF, cabe o MI coletivo, nos mesmos termos do MS coletivo. Inclusive, a
própria Lei 13.300/2016 regula os termos do MI coletivo a partir do artigo 12 e seguintes.
No MI coletivo, os direitos, liberdades e prerrogativas protegidos são os pertencentes,
indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria.

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Dessa forma, deve ser proposto por legitimados previstos na Lei, em nome próprio, mas defendendo
interesses alheios. São legitimados para impetrar MI coletivo:

Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido:


I - pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses
sociais ou individuais indisponíveis;
II - por PARTIDO POLÍTICO COM REPRESENTAÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL,
para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus
integrantes ou relacionados com a finalidade partidária;
III - por ORGANIZAÇÃO SINDICAL, ENTIDADE DE CLASSE ou ASSOCIAÇÃO
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para
assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade
ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde
que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial;
IV - pela DEFENSORIA PÚBLICA, quando a tutela requerida for especialmente
relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais
e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição
Federal .

Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por


mandado de injunção coletivo são os pertencentes, indistintamente, a uma
coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte alternativa: O Ministério Público tem legitimidade para
impetrar mandado de injunção coletivo quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis. (2021)

Obs.1: Conforme entendimento do STF, não cabe a impetração de mandado de injunção coletivo
para proceder à revisão geral anual dos vencimentos dos servidores públicos.

"Independentemente da atuação do Poder Legislativo Estadual, é perceptível


que não se está diante da possibilidade de cabimento do mandado de injunção,
porque o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou quanto à impossibilidade da
referida impetração para proceder a revisão geral anual: "Agravo regimental em
mandado de injunção coletivo. 2. Art. 37, X, da Constituição Federal. 3. Não cabe
mandado de injunção para proceder à revisão geral anual. Precedentes. 4. Agravo
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a que se nega provimento." (MI 4265 AgR/DF, Relator (a): Min. GILMAR MENDES,
Julgamento: 30/04/2014, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Publicação 02/06/14)

Obs.2: A coisa julgada gerará efeitos apenas em relação aos substituídos pelo legitimado coletivo.
Contudo, também é possível a concessão de efeitos erga omnes na mesma situação tratada acima, ou seja,
desde que seja inerente ou indispensável ao exercício do direito ou liberdade.

Obs.3: O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos individuais, mas os
efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a desistência da demanda individual
no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva.

Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada


limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da
categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1o e 2o do
art. 9o.

Parágrafo único. O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em


relação aos individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o
impetrante que não requerer a desistência da demanda individual no prazo de 30
(trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva.

Sobre o tema, confira a dica da Professora Thaianne:

https://youtu.be/EHI3tOCeYK4

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-AP - Promotor de Justiça Substituto: É dispensável a


autorização expressa dos membros de associação para a impetração de mandado de injunção
coletivo pela entidade associativa. Item certo.

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Analogicamente, também incide aqui a Súmula 629/STF: A impetração de mandado de segurança coletivo
por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.

"As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos ou individuais
homogêneos, independentemente de autorização expressa dos associados." STJ. 2ª Turma. REsp
1796185/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2019

4. HABEAS DATA

a) Previsão normativa: Art. 5º, LXXII e Lei 9507/97

LXXII - conceder-se-á habeas data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

b) Hipóteses de concessão do habeas data: O HD poderá ser impetrado:


1) Para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
2) Para retificação desses dados, quando não se prefira fazer por meio sigiloso, judicial ou administrativo;
3) Para anotação nos assentamentos do interessado de contestação ou explicação sobre dado
verdadeiro, mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

Art. 7° Conceder-se-á habeas data:


I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou
explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência
judicial ou amigável.

STJ: Só pode pedir a retificação de dados o sujeito que tem conhecimento desses
dados. Portanto, não cabe cumular pedidos de prestação de informações e
correções de dados.
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STF: O HD NÃO é instrumento jurídico adequado para pleitear o acesso a autos de


processos administrativos.

Obs.1:Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem dos sistemas dos órgãos
fazendários

O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados


concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos
sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração
fazendária dos entes estatais. No caso concreto, o STF reconheceu que o
contribuinte pode ajuizar habeas data para ter acesso às informações relacionadas
consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR da Receita Federal. O SINCOR
(Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita
Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos
contribuintes pessoas jurídicas. A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu
raciocínio poderá ser aplicado para outros bancos de dados mantidos pelos órgãos
fazendários. STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
17/6/2015 (repercussão geral) (Info 790).

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa:


O Habeas Data não pode ser impetrado com a finalidade de obter dados referentes ao pagamento de
tributos do próprio contribuinte constantes de sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos
tributários da administração fazendária dos entes estatais.

Obs.2:Cuidado para não confundir o habeas data com o direito geral de informação, protegido por
mandado de segurança e previsto no inc. XXXIII da CF/88. Veja:

DIREITO GERAL DE INFORMAÇÃO REQUERIMENTO PARA ACESSO À INFORMAÇÕES


RELATIVAS À PESSOA DO IMPETRANTE
XXXIII - todos têm direito a receber dos LXXII - conceder-se-á habeas data:
órgãos públicos informações de seu a) para assegurar o conhecimento de informações
interesse particular, ou de interesse relativas à pessoa do impetrante, constantes de
coletivo ou geral, que serão prestadas no registros ou bancos de dados de entidades
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, governamentais ou de caráter público;
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

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imprescindível à segurança da sociedade e Dica: Aqui, não são informações de interesse da


do Estado pessoa impetrante, mas sim relativas ao
impetrante!i´-

Protegido por mandado de segurança Protegido por habeas data

c) Legitimidade ativa:
Pode ser ajuizado por qualquer pessoa física, brasileira ou estrangeira, bem como por pessoa jurídica
e órgãos despersonalizados.
Trata-se de uma ação personalíssima, que só pode ser ajuizada pelo titular do direito, salvo se houver
a morte do agente, hipótese em que poderá ser impetrado, excepcionalmente, pelo cônjuge e herdeiros.

d) Legitimidade passiva: Depende da natureza jurídica do registro ou do banco de dados.


● Registro ou banco de dados de entidade governamental: PJ integrante da administração pública
● Registro ou banco de dados de entidade de caráter público: é entidade privada.

e) Jurisdição condicionada
O HD é um processo de jurisdição condicionada. Isso porque, para impetrá-lo, deve ter ocorrido o
prévio requerimento administrativo e a negativa ou omissão pela autoridade administrativa. (Trata-se de
uma “exceção” ao princípio da inafastabilidade da jurisdição).

Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houve
recusa de informações por parte da autoridade administrativa

Lei 9507/97. Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts.
282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os
documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.

Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:


I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem
decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso
de mais de quinze dias sem decisão.

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f) Características gerais do HD
✔ Procedimento gratuito e não há ônus de sucumbência, mas se exige advogado para impetrar HD.
✔ Tem prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto HC e MS
✔ NÃO se sujeita a prazo prescricional ou decadencial.
✔ O pedido do HC pode ser renovado caso a decisão denegatória não tenha apreciado o mérito
✔ A lei não fala em medida liminar, mas a doutrina vem entendendo pela admissibilidade
✔ Não cabe reexame necessário
✔ Não admite atividade probatória

Já caiu em prova e foi considerada CORRETA a seguinte afirmativa: O Habeas Data, assim como o Mandado
de Segurança, não prevê fase probatória e, portanto, não pode ser impetrado quando controversa a matéria.

g) Prazos na lei:
∘ Requerimento: art. 2º
· 48 h para decidir o requerimento;
· 24h para comunicar a decisão ao requerente;

∘ Haverá omissão da autoridade quando não se manifestar: art. 8º, §único


· Pedido de acesso aos dados: 10 dias
· Pedido de retificação de dados: 15 dias.
· Pedido de complementação de dados: 15 dias.

∘ Após despachar a inicial: art. 9º e 12º


· Juiz comunica à autoridade coatora para apresentar informações que julgue necessárias em
10 dias
· Transcorridos esses 10 dias, o juiz deverá ouvir o MP em 5 dias
· Juiz deve decidir em 5 dias

h) Recursos
∘ Do despacho que indeferir liminarmente a petição inicial – apelação
∘ Da decisão que conceder ou negar o HD – apelação

Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, quando não for o caso de habeas data,
ou se lhe faltar algum dos requisitos previstos nesta Lei.
Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso previsto no art. 15.

Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas data cabe apelação.

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Parágrafo único. Quando a sentença conceder o habeas data, o recurso terá efeito
meramente devolutivo.

i) Competência:
● Art. 102, I, d: STF possui competência originária para processar e julgar HD contra atos do Presidente
da República, das Mesas da CD e do SF, do TCU, do PGR e do próprio STF.
● Art. 102, II, a: STF julga em recurso ordinário o HD decidido em única instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão.
● Art. 105, I, b: STJ processa e julga originariamente habeas data contra ato do Ministro de Estado,
Comandantes das Forças Armadas ou do próprio tribunal.(Caiu na prova de Delegado de Polícia
Federal de 2021!)
● Art. 108, I, c: TRFs processam e julgam habeas data contra ato do próprio tribunal e ou dos juízes
federais.
● Art. 109, VIII: juízes federais processam e julgam habeas data contra ato de autoridade federal.
● Art. 121, §4º, V: TSE processa e julga em grau de recurso habeas data denegado pelo TRE.
● Art. 125, §1º: no plano estadual, a competência será definida pela Constituição Estadual.

CAIU NA PROVA DELEGADO PC-RO (2022) O habeas data não pode ser utilizado para obtenção de cópia de
processo administrativo. (item correto)

Não se admite o emprego do habeas data como meio para a obtenção de cópia de autos de processo
administrativo disciplinar, em que o autor figure como implicado, porquanto tal propósito não encontra
abrigo no que dispõe o art. 7º, inciso I, da Lei 9.507/1997. STJ. 1ª Seção. HD 282/DF, Rel. Min. Sérgio Kukina,
julgado em 12/12/2018.

CESPE/2020: As ações de habeas corpus e habeas data são gratuitas e consideradas necessárias ao exercício
da cidadania, asseguradas como cláusulas pétreas na CF, de modo que é dever do Estado a garantia desses
direitos, sendo-lhe vedado suprimi-los. Item correto

RELEMBRANDO: o habeas data vem caindo corriqueiramente nas provas de Delegado


Federal. Atenção!!

CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal: Cabe originariamente ao STF
processar e julgar habeas data contra ato de ministro de estado. Item errado.

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O artigo 105, I, “b", da CRFB aduz que compete ao STJ processar e julgar habeas data contra ato de ministro
de estado.

DICA:
Mandado de segurança contra ato de Ministro de Estado → STJ julga (CF, Art. 105, I, b)
Habeas data contra ato de Ministro de Estado → STJ julga (CF, Art. 105, I, b)
Habeas corpus quando o Ministro de Estado é coator → STJ julga (CF, Art. 105, I, c)
Habeas corpus quando o Ministro de Estado é paciente → STF julga (CF, Art. 102, I, d)

CESPE / CEBRASPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado de Polícia: De acordo com o STJ, o habeas data é
instrumento idôneo para a obtenção de acesso aos critérios utilizados em correção de prova discursiva
aplicada em concursos públicos. Item errado.

HABEAS DATA. CONCURSO PÚBLICO. ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE OS CRITÉRIOS UTILIZADOS NA


CORREÇÃO DE PROVA DISCURSIVA. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA.
1. A Lei n. 9.507/97 é suficientemente clara ao expor, no art. 7º, as hipóteses em que se justifica o
manuseio do habeas data, não estando ali prevista, nem sequer implicitamente, a possibilidade de
utilização da via com o propósito de revolver os critérios utilizados por instituição de ensino na correção
de prova discursiva realizada com vista ao preenchimento de cargos na Administração Pública.
2. Agravo regimental não-provido.
(STJ - AgRg no HD: 127 DF 2005/0210018-3, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de
Julgamento: 14/06/2006, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJ 14/08/2006 p. 250)

5. AÇÃO POPULAR (LEI Nº 4.717/65)

Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência

Lei 4717/65
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a
declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal,
dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia
mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a
União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais
autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro
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público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do


patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União,
do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas
ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

A doutrina entende que a ação popular vigorou no período imperial e no início da República, durante
a vigência das Ordenações do Reino. Para alguns, a Constituição de 1824 já consagrava a ação. Com o advento
do CC de 1916, a doutrina majoritária passou a entender que o ordenamento jurídico não mais admitia a
ação popular.
A ação popular foi incluída expressamente na Constituição de 1934 e foi suprimida na Constituição
de 1937, tendo sido restabelecido na de 1946 e mantida nas seguintes.
As normas sobre a ação popular limitavam sua utilização para a tutela do patrimônio público
material. Com a lei 6.513/77 e a CF/88, o objeto da ação foi ampliado para incluir os bens imateriais que
fazem parte do patrimônio público (meio ambiente, moralidade administrativa e patrimônio
histórico/cultural).
NÃO é destinada à defesa de interesse subjetivo individual, mas de natureza coletiva, para anular ato
lesivo ao patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente e patrimônio histórico e cultural.
Assim, podemos extrair os seguintes requisitos: Deve haver lesividade aos direitos difusos específicos
elencados:
1. Ato lesivo ao patrimônio público;
2. Ato lesivo ao patrimônio de entidade de que o Estado participe;
3. Ato lesivo à moralidade administrativa;
4. Ato lesivo ao meio ambiente;
5. Ato lesivo ao patrimônio histórico e cultural.

Considerações importantes:
∘ Pode ser utilizada de modo preventivo ou repressivo
∘ A CF isenta o autor da ação popular de custas e ônus da sucumbência, SALVO comprovada má-fé
∘ A gratuidade beneficia o autor da ação, mas os réus, se condenados, deverão ressarcir as despesas
havidas pelo autor da ação.

a) Legitimidade ativa:
● Somente o cidadão pode propor ação popular.
● Exige-se capacidade postulatória: o cidadão que não tiver, deverá constituir advogado.
● Súmula 365/STF: Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
● Há decisões do STJ que estendem ao MP a legitimidade ativa para a ação popular (AREsp 746.846).

NÃO POSSUEM LEGITIMIDADE ATIVA:


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- Estrangeiros;
- Apátridas;
- Pessoa jurídica – Sumula 365, STF;
- Brasileiros com seus direitos políticos perdidos ou suspensos.

A doutrina majoritária entende que a legitimidade ativa do cidadão para propor ação popular é
extraordinária, uma vez que defende direito difuso, cujo titular é a coletividade. (NEVES, 2017, p. 307)

Art. 1º, §3º, da Lei n. 4.717/65: A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será
feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.

Segundo o STJ (Resp 1.242.800), a condição de eleitor não é condição de legitimidade, e o título de
eleitor é utilizado apenas como prova documental da cidadania. Dessa forma, é irrelevante o domicílio
eleitoral do autor, que poderá litigar contra ato praticado em local diverso de onde exerce seu direito de
voto.

Veja uma importante decisão sobre o tema:

Em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo
que o dano tenha ocorrido em outro local; contudo, diante das peculiaridades, as
ações envolvendo o rompimento da barragem de Brumadinho devem ser julgadas
pelo juízo do local do fato

Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada


em Brumadinho (MG). O rompimento resultou em um terrível desastre ambiental
e humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou ação popular contra a União,
o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para que os réus fossem
condenados a recuperar o meio ambiente degradado, pagar indenização pelos
danos causados e pagar multa por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas
(SP), ele ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a demanda foi distribuída para a
2ª Vara Federal de Campinas (SP). Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas Gerais
existem ações individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra
os mesmos réus e envolvendo pedidos semelhantes a essa ação popular ajuizada
em Campinas. Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do
domicílio do autor ou o juízo do local em que se consumou o ato danoso? O juízo
do local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal de Minas Gerais). Regra geral:
em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que
o dano tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa
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um direito político fundamental, deve-se facilitar o seu exercício. Exceção: o STJ


entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era excepcional com
inegáveis peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para
evitar tumulto processual em uma situação de enorme magnitude social,
econômica e ambiental. Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente,
a regra geral. Entendeu-se que seria necessário adotar uma saída pragmática para
permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos desta grande
tragédia. A regra geral do STJ deve ser usada quando a ação popular for isolada.
Contudo, no caso de Brumadinho havia uma ação popular em Campinas (SP)
competindo e concorrendo com várias outras ações populares e ações civis
públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações individuais tramitando
em MG, razão pela qual, em se tratando de competência concorrente, deve ser
eleito o foro do local do fato. Em face da magnitude econômica, social e ambiental
do caso concreto, é possível a fixação do juízo do local do fato para o julgamento
de ação popular que concorre com diversas outras ações individuais, populares e
civis públicas decorrentes do mesmo dano ambiental. STJ. 1ª Seção. CC 164362-
MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019 (Info 662).

OBS.: ISENÇÃO DE CUSTAS:


A CF/88 isenta o autor da ação popular de custas e ônus da sucumbência, SALVO comprovada má-
fé.
A gratuidade beneficia o autor da ação, mas os réus, se condenados, deverão ressarcir as despesas
havidas pelo autor da ação.

Art. 6º, §5º, da Lei n. 4.717/65: É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como
litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.

b) Legitimidade passiva:

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades


referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que
houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que,
por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos
do mesmo.

Há litisconsórcio passivo necessário entre:


1) a pessoa jurídica pública ou privada,
2) as autoridades responsáveis pelo ato e
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3) os beneficiários diretos dele.

A Lei da Ação Popular prevê que "qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugnado,
cuja existência ou identidade se torne conhecida no curso do processo e antes de proferida a sentença final
de primeira instância, deverá ser citada para a integração do contraditório, sendo-lhe restituído o prazo para
contestação e produção de provas" (inciso III do art. 7º da Lei 4.717/65).
A autorização legal da ampliação posterior do polo passivo da ação popular, no curso do processo e
antes da sentença, tem o objetivo de abarcar todas as pessoas físicas e/ou jurídicas que supostamente foram
beneficiadas ou são responsáveis pelo ato impugnado pelo autor popular. Assim, os réus poderão exercer o
contraditório pleno e, por conseguinte, irão se sujeitar aos efeitos da coisa julgada material.
Legitimação Bifronte: O art. 6º, §3º, da Lei n. 4.717/64 prevê que a pessoa jurídica de direito público
ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá
atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante
legal ou dirigente. Dessa forma, a pessoa jurídica poderá passar a atuar ao lado do autor, criando uma espécie
sui generis de litisconsórcio ativo ulterior (NEVES, 2017, p. 317). Legitimação bifronte significa que a pessoa
jurídica de direito público ou privado possui legitimidade para atuar em ambos os polos da demanda, de
acordo com o interesse público.

O STF não admite que Estado-membro componha o polo ativo de ação popular
originariamente.

c) Atuação do Ministério Público:

§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção


da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem,
sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou
dos seus autores.

STJ (AgRg no Resp 1.333.168): O Ministério Público como fiscal da ordem jurídica
detém legitimidade para a juntada de documentos e para formular pedidos de
produção de provas que entender necessárias.

Legitimidade ativa superveniente (art. 9º da Lei n. 4.717/65): Se o autor desistir da ação ou der
motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso
II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do
prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.

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Art. 9º: Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão
publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando
assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público,
dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o
prosseguimento da ação.

Art. 16: Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória


de segunda instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução.
O representante do Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes,
sob pena de falta grave.

d) Objeto

A sentença possui natureza cível, e se julgada improcedente, se sujeita ao duplo grau de jurisdição.

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com
efeito suspensivo. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 1973)

O cabimento da ação popular NÃO exige a comprovação de efetivo dano material, pecuniário.
Entende o STF que a lesividade decorre da ilegalidade, e a ilegalidade do comportamento, por si só, causa
dano.
Além da motivação dos atos lesivos, o próprio mérito do ato pode ser objeto de análise em sede de
ação popular, já que a discricionariedade não permite a contrariedade ao ordenamento jurídico, tampouco
o desatendimento ao interesse público específico do ato praticado (NEVES, 2017, p. 301).

STJ:É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para
pleitear que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem
em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região. STJ. 2ª
Turma. REsp 1294451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info
591).

STF: A AP não pode servir como substituto da ação direta de inconstitucionalidade,


por não se prestar ao ataque de lei em tese. Isso porque o julgamento de lei em
tese, em ação popular, por juiz de primeiro grau, implicaria usurpação de
competência do STF para o controle abstrato, acarretando a nulidade do respectivo
processo.
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STF: NÃO cabe AP contra ato de conteúdo jurisdicional, praticado por membro do
Judiciário no desempenho de sua função típica.

STF: A AP restringe-se, quanto ao seu âmbito de incidência, à esfera de atuação


administrativa de qualquer dos poderes do Estado, abrangendo apenas os atos
administrativos, fatos administrativos, resoluções que veiculam conteúdo
materialmente administrativo.

STJ possui firme orientação de que um dos pressupostos da Ação Popular é a lesão
ao patrimônio público. Ocorre que a Lei nº 4.717/65 deve ser interpretada de forma
a possibilitar, por meio de Ação Popular, a mais ampla proteção aos bens e direitos
associados ao patrimônio público, em suas várias dimensões (cofres públicos, meio
ambiente, moralidade administrativa, patrimônio artístico, estético, histórico e
turístico). Para o cabimento da Ação Popular, basta a ilegalidade do ato
administrativo por ofensa a normas específicas ou desvios dos princípios da
Administração Pública, dispensando-se a demonstração de prejuízo material. STJ.
2ª Turma. AgInt no AREsp 949.377/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
09/03/2017.

e) Competência
Definida pela origem do ato a ser anulado.Ex.: patrimônio lesado da União – competência da Justiça
Federal.
▪ Regra: A competência do juízo de 1º grau para processar e julgar ação popular contra ato de qualquer
autoridade, inclusive presidente da república.
▪ Exceção:competência originária do STF disposta no art. 102, I, “f” e “n” da CF

f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal,


ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente
interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;

O juízo da Ação Popular é universal, impondo-se a reunião de todas as ações conexas, com
fundamentos jurídicos iguais ou assemelhados.
STF: O foro especial por prerrogativa de função NÃO alcança ações populares ajuizadas contra
autoridades detentoras dessa prerrogativa.

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STF: AÇÃO ORIGINÁRIA. QUESTÃO DE ORDEM. AÇÃO POPULAR. COMPETÊNCIA


ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: NÃO-OCORRÊNCIA. PRECEDENTES.
1. A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até
mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo competente de
primeiro grau. Precedentes. 2. Julgado o feito na primeira instância, se ficar
configurado o impedimento de mais da metade dos desembargadores para
apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do
Supremo Tribunal Federal, com base na letra n do inciso I, segunda parte, do artigo
102 da Constituição Federal. 3. Resolvida a Questão de Ordem para estabelecer a
competência de um dos juízes de primeiro grau da Justiça do Estado do Amapá”
(AO 859/AP-QO, Tribunal Pleno, Redator para o acórdão o Ministro Maurício
Corrêa, DJ de 1º/8/2003).

O STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular,
ainda que ajuizada contra atos e/ou omissões do Presidente da República. A
competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até
mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo de 1º grau. STF.
Plenário. Pet 5856 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/11/2015 (Info 811).

l) Contestação:

Art. 7º, IV, da Lei n. 4.717/65: O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias,


prorrogáveis por mais 20 (vinte), a requerimento do interessado, se particularmente
difícil a produção de prova documental, e será comum a todos os interessados,
correndo da entrega em cartório do mandado cumprido, ou, quando for o caso, do
decurso do prazo assinado em edital.

m) Reexame necessário inverso:


Na ação popular, haverá reexame no caso de a sentença concluir pela carência ou pela improcedência
do pedido, mesmo que parcial (art. 19 da Lei n. 4.717/65). Dessa forma, haverá o reexame ainda que a
Fazenda Pública seja vitoriosa na demanda, no caso de permanecer na posição originária de réu.

Não se admite o cabimento da remessa necessária, tal como prevista no art. 19 da


Lei nº 4.717/65, nas ações coletivas que versem sobre direitos individuais
homogêneos. Ex: ação proposta pelo MP tutelando direitos individuais
homogêneos de consumidores. STJ. 3ª Turma.REsp 1374232-ES, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 612).

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6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI 7.347/85)

a) Conceito
A ação civil pública consiste em uma garantia constitucional prevista em lei própria (lei nº 7.347/85),
que busca proteger direitos de 3ª geração. A ACP tutela, portanto, direitos difusos e coletivos, bem como
direitos individuais indisponíveis.

ATENÇÃO: A ACP NÃO pode substituir a ADI, embora a inconstitucionalidade possa ser questão
prejudicial. Logo, a ACP é cabível apenas como meio de controle difuso.

b) Objeto
Tem por objeto a tutela preventiva ou ressarcitória dos seguintes bens ou direitos metaindividuais:
● Meio-ambiente;
● Consumidor;
● Bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
● Qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
● Infração da ordem econômica;
● Ordem urbanística;
● Honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos;
● Patrimônio público e social.

NÃO cabe ACP para veicular pretensões que envolvam:


● Tributos;
● Contribuições previdenciárias;
● FGTS**;
● Outros fundos de natureza institucional.

Art. 1º, Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional
cujos beneficiários podem ser individualmente determinados

** Em relação ao FGTS, tenha cuidado com o julgado do STF: O Ministério Público possui legitimidade para
propor ACP em defesa de direitos sociais relacionados com o FGTS

O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em


defesa de direitos sociais relacionados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS). STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
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9/10/2019 (repercussão geral – Tema 850) (Info 955). Em provas, tenha cuidado
com a redação do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 7.347/85: Art. 1º (...) Parágrafo
único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados.

CUIDADO: Se for cobrada a mera transcrição literal deste dispositivo em uma prova
objetiva, provavelmente, esta será a alternativa correta.

c) Legitimidade Ativa

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:


I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e
social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência,
aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico.

Trata-se de legitimidade:
✔ AUTÔNOMA: NÃO depende de participação ou autorização do titular do direito material;
✔ CONCORRENTE: Há mais de um legitimado;
✔ DISJUNTIVA: Um legitimado NÃO depende de autorização do outro para ajuizar a ação.

Natureza da legitimação: Para a corrente doutrinária majoritária, é necessário fazer a seguinte


distinção:

● Quando se tratar da tutela de direitos difusos e coletivos - o autor da ação age com legitimação
autônoma para a condução do processo, pois não decorre do direito material, mas da lei, que
conferiu aos legitimados a possibilidade de defender aquele direito;
● Quando se tratar da tutela de interesses individuais homogêneos - a legitimação é extraordinária,
pois a pessoa agiria em nome próprio, em defesa do interesse alheio.

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À luz do art. 5º, §5º, é possível a formação de litisconsórcio facultativo entre os autores coletivos.
Entretanto, para o STF, o litisconsórcio facultativo entre o MPF e o MPF exige a devida justificativa.

§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União,


do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida
esta lei

Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o


Ministério Público Estadual e o Federal depende da demonstração de alguma razão
específica que justifique a presença de ambos na lide. STJ. 3ª Turma. REsp 1254428-
MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2016 (Info 585).

(3) MINISTÉRIO PÚBLICO:


O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal
da lei.
Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério
Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará


obrigatoriamente como fiscal da lei.

§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação


legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

Veja algumas hipóteses já decididas pela jurisprudência:


● O MPF possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a cobrança de encargos
bancários supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas;
● O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular ato administrativo de aposentadoria que importe
lesão ao erário;
● O MP tem legitimidade para pleitear, em ACP, indenização decorrente de DPVAT
· Cuidado 1: superação da antiga súmula 470 STJ
· Cuidado 2: Segundo o STJ, uma associação de defesa do consumidor não tem legitimidade
para ajuizar ACP discutindo DPVAT, porquanto o seguro DPVAT não tem natureza
consumerista, faltando, portanto, pertinência temática
● O MP tem legitimidade para a defesa do patrimônio público;
● O MP tem legitimidade para pleitear a nulidade das cláusulas em contratos bancários;
● O MP tem legitimidade para propor ação a fim de tutelar a poluição sonora.
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Jurisprudências em teses do STJ:

1) O Ministério Público tem legitimidade para atuar em defesa dos direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos dos consumidores.

2) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública visando
tutelar direitos dos consumidores relativos a serviços públicos.

3) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o
objetivo de assegurar os interesses individuais indisponíveis, difusos ou coletivos
em relação à infância, à adolescência e aos idosos, mesmo quando a ação vise à
tutela de pessoa individualmente considerada.

4) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o
objetivo de assegurar assistência médica e odontológica à comunidade indígena,
em razão da natureza indisponível dos bens jurídicos salvaguardados e o status de
hipervulnerabilidade dos sujeitos tutelados.

5) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o
objetivo de assegurar os interesses individuais indisponíveis, difusos ou coletivos
em relação às pessoas desprovidas de recursos financeiros, mesmo quando a ação
vise à tutela de pessoa individualmente considerada.

6) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa
de interesses e direitos individuais homogêneos pertencentes a consumidores
decorrentes de contratos de cessão e concessão do uso de jazigos em cemitérios.

7) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o fim
de impedir a cobrança abusiva de mensalidades escolares.
Súmula 643-STF: O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil
pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.

8) O Ministério Público Estadual não tem legitimidade para ajuizar ação civil pública
objetivando defesa de bem da União, por se tratar de atribuição do Ministério
Público Federal.

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9) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública objetivando
a cessação dos jogos de azar.

10) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa
do patrimônio público. (Súmula n. 329/STJ)

11) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública
objetivando o fornecimento de medicamentos e tratamentos médicos, a fim de
tutelar o direito à saúde e à vida.

12) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa
dos interesses de mutuários do Sistema Financeiro da Habitação, visto que
presente o relevante interesse social da matéria.

14) O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública com o
objetivo de anular concurso realizado sem a observância dos princípios
estabelecidos na Constituição Federal.

(4) DEFENSORIA PÚBLICA:

Existem dois entendimentos doutrinários quanto à legitimidade da Defensoria Pública:


● 1ª CORRENTE (RESTRITIVA): a atuação só ocorre nos casos de hipossuficiência econômica;
● 2ª CORRENTE (AMPLIATIVA): ocorre nos casos de hipossuficiência econômica e técnica ou
organizacional.

A Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em


ordem a promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam
titulares, em tese, as pessoas necessitadas. STF. Plenário. RE 733433/MG, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 4/11/2015 (repercussão geral) (Info 806).

A Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa de
interesses individuais homogêneos de consumidores idosos que tiveram plano de
saúde reajustado em razão da mudança de faixa etária, ainda que os titulares não
sejam carentes de recursos econômicos. A atuação primordial da Defensoria
Pública, sem dúvida, é a assistência jurídica e a defesa dos necessitados
econômicos. Entretanto, também exerce suas atividades em auxílio a necessitados
jurídicos, não necessariamente carentes de recursos econômicos. A expressão
"necessitados" prevista no art. 134, caput, da CF/88, que qualifica e orienta a
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atuação da Defensoria Pública, deve ser entendida, no campo da Ação Civil Pública,
em sentido amplo. Assim, a Defensoria pode atuar tanto em favor dos carentes de
recursos financeiros como também em prol do necessitado organizacional (que são
os "hipervulneráveis"). STJ. Corte Especial. EREsp 1192577-RS, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 21/10/2015 (Info 573)

(5) ENTES POLÍTICOS:


Podem ajuizar ACP:
● União
● Estados
● DF
● Municípios

No caso de ação civil pública proposta por ente político, a pertinência temática ou
representatividade adequada são presumidas.
Isso porque não há dúvidas de que os entes políticos possuem, dentre suas finalidades institucionais,
a defesa coletiva dos consumidores. Trata-se, inclusive, de um comando constitucional:

Art. 5º, XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.

Município tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa
de direitos consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias. Em
relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que têm como finalidades
institucionais a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos
consumidores, não se exige pertinência temática e representatividade adequada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1509586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018
(Info 626).

(6) ASSOCIAÇÃO:

As associações possuem legitimidade para defesa dos direitos e dos interesses coletivos ou
individuais homogêneos, independentemente de autorização expressa dos associados. Isso porque, no
caso, estamos diante de umregime de substituição processual, em que a autorização para a defesa do
interesse coletivo em sentido amplo é estabelecida na definição dos objetivos institucionais, no próprio ato
de criação da associação, sendo, portanto, desnecessária, nova autorização ou deliberação assemblear.

Apesar de não exigir a autorização expressa dos associados, para ajuizar ACP, as associações devem
preencher os seguintes requisitos:
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1) Deve estar constituída há pelo menos 01 (um) ano;


2) Pertinência temática.

A necessidade de a associação estar constituída há pelo menos 1 ano é flexibilizada pela própria lei,
que dispensa tal requisito em caso de manifesto interesse social ou diante da relevância do bem jurídico
protegido.

§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou
pela relevância do bem jurídico a ser protegido

Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que
fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten. Como
regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há
pelo menos 1 ano. Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser
dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser
protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido
proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que: É
dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para
associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação
de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos. STJ. 2ª
Turma. REsp 1600172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info
591).

Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério


Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. E, segundo o STJ, em caso de dissolução da
associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua substituição no polo ativo por outra associação que
possua a mesma finalidade temática. Confira:

Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua
substituição no polo ativo por outra associação que possua a mesma finalidade
temática. O microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o
aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão da parte autora
pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado (ex: associação),
mormente em decorrência da importância dos interesses envolvidos em demandas

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coletivas. STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1405697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 10/09/2019 (Info 665).

Segundo o STJ, pode uma associação defender interesses transindividuais que ultrapassem os de seus
próprios associados, ainda que estes interesses sejam individuais homogêneos.

d) Legitimidade Passiva

A Lei de Ação Popular é omissa quanto à legitimidade passiva, razão pela qual o STJ e a doutrina
entendem pela aplicação do regramento geral do CPC.

e) Competência

● Critério Funcional - NÃO há prerrogativa de foro na Ação Civil Pública, razão pela qual o julgamento
é sempre em primeira instância.

● Critério Material:
⦁ Justiça eleitoral: É competente para questões relacionadas à sufrágio e questões político-
partidárias;
⦁ Justiça do trabalho: relação de trabalho;direito sindical;proteção ao meio ambiente do trabalho.
⦁ Justiça comum: Pode ser ajuizada na Justiça Federal, se presente uma das hipóteses do art. 109,
I, da CF/88.

⇨ É possível o incidente de deslocamento de competência em ACP.


⇨ NÃO cabe ACP em juizados cíveis, federais e da Fazenda.

● Critério Territorial
Em relação às ações civis públicas cujo objeto seja de âmbito local, deve-se aplicar o art. 2º da Lei nº
7.347/85, que prevê o foro do local onde tiver ocorrido o dano:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer
o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Em relação às ações civis públicas cujo objeto seja de âmbito nacional ou regional, a lei é omissa,
motivo pelo qual deve-se recorrer ao art. 93, II, do CDC, com base na noção de microssistema processual (art.
21 da LACP).

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Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a


justiça local:
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito
nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos
de competência concorrente.

Portanto, em se tratando de ação civil pública com abrangência nacional ou regional, sua propositura
deve ocorrer no foro, ou na circunscrição judiciária, de capital de Estado ou no Distrito Federal. E, uma vez
fixada essa competência, o primeiro que conhecer da matéria, entre os competentes, ficará prevento.

Art. 2º, Parágrafo único - A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para
todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir
ou o mesmo objeto.

(...). Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-
se a prevenção do juízo que primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento
de todas as demandas conexas. STF. Plenário. RE 1101937/SP, Rel. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 1075) (Info 1012).

Vamos esquematizar?

DANO LOCAL: Ajuizamento da ACP no local do dano (art. 2º)

DANO REGIONAL Ajuizamento da ACP na capital do estado;

DANO NACIONAL Ajuizamento da ACP no DF ou capital dos estados


envolvidos

f) Sucumbência na ACP

Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores


responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em
honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade
por perdas e danos.

Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação

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da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas


e despesas processuais.

● Nas ações da Lei da ação civil pública não haverá adiantamento de custas;
● Se o autor vencido for o MP, defensoria ou associação, será isento do pagamento dos ônus de
sucumbência, salvo má-fé:
● Se o MP for vencedor, o réu vencido será isento de custas de sucumbência, em razão do princípio da
simetria.

Em regra, o demandado que for sucumbente na ACP não tem o dever de pagar
honorários advocatícios. A parte que foi vencida em ação civil pública não tem o
dever de pagar honorários advocatícios em favor do autor da ação. A justificativa
para isso está no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP perder a
demanda, ele não irá pagar honorários advocatícios, salvo se estiver de má-fé
(art. 18 da Lei nº 7.347/85). Logo, pelo princípio da simetria, se o autor vencer a
ação, também não deve ter direito de receber a verba. Desse modo, em razão da
simetria, descabe a condenação em honorários advocatícios da parte requerida em
ação civil pública, quando inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre com a
parte autora. STJ. Corte Especial. EAREsp 962250/SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 15/08/2018.

OBS.: Existe precedente do STJ que faz uma ressalva: se a ação tiver sido proposta
associações e fundações privadas e a demanda tiver sido julgada procedente, neste
caso, o demandado terá sim que pagar honorários advocatícios. Assim, o
entendimento do STJ manifestado no EAREsp 962.250/SP "não se deve aplicar a
demandas propostas por associações e fundações privadas, pois, do contrário,
barrado de fato estaria um dos objetivos mais nobres e festejados da Lei
7.347/1985, ou seja, viabilizar e ampliar o acesso à justiça para a sociedade civil
organizada." (STJ. 2ª Turma. REsp 1796436/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 09/05/2019).

g) Considerações processuais importantes:

● ÓRGÃOS PÚBLICOS LEGITIMADOS E ASSOCIAÇÕES PRIVADAS PODEM TRANSACIONAR EM SEDE DE


ACP:

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Art. 5º, §6º - Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

A associação privada autora de uma ação civil pública pode fazer transação com o
réu e pedir a extinção do processo, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC. O art.
5º, § 6º da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os órgãos públicos
podem fazer acordos nas ações civis públicas em curso, não mencionando as
associações privadas. Apesar disso, a ausência de disposição normativa expressa no
que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do acordo. Isso
porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos diz
respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que
aos entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. STF. Plenário. ADPF
165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892).

● EFEITO SUSPENSIVO DA APELAÇÃO: Quem define que efeito terá a apelação é o próprio juiz da causa
(art. 14 LACP).

Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
irreparável à parte

● REEXAME NECESSÁRIO: Somente ocorre quando a ação é julgada improcedente ou extinta sem
julgamento do mérito.

● ABRANGÊNCIA DA SENTENÇA:

💣 MUITA ATENÇÃO AQUI! DECISÃO RECENTE SOBRE O TEMA!

O art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), com redação dada pela Lei nº 9.494/97,
estabelece o seguinte:

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra
ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

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Esse artigo foi alterado pela Lei nº 9.494/97 com o objetivo de restringir a eficácia subjetiva da coisa
julgada, ou seja, ele determinou que a coisa julgada na ACP deveria produzir efeitos apenas dentro
dos limites territoriais do juízo que prolatou a sentença.
Em outras palavras, o que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação civil pública
não produz efeitos no Brasil todo. Ela irá produzir efeitos apenas na comarca (se for Justiça Estadual) ou na
seção ou subseção judiciária (se for Justiça Federal) do juiz prolator.
A doutrina criticou bastante essa alteração promovida no art. 16 e afirmou que a regra ali prevista
não deveria ser aplicada por ser inconstitucional, impertinente e ineficaz. Como ficou então a posição da
jurisprudência?

● STJ –“A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada
ao território da competência do órgão jurisdicional que prolatou a decisão”. STJ. Corte Especial.
EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016.

● STF –“É INCONSTITUCIONAL a delimitação dos efeitos da sentença proferida em sede de ação civil
pública aos limites da competência territorial de seu órgão prolator. STF. Plenário. RE 1101937/SP,
Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 1075) (Info 1012).

Jurisprudências em teses do STJ que são pertinentes ao tema:

1) Por critério de simetria, não é cabível a condenação da parte vencida ao


pagamento de honorários advocatícios em favor do Ministério Público nos autos de
ação civil pública, salvo comprovada má-fé.

2) É possível a inversão do ônus da prova da ação civil pública em matéria ambiental


a partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei n.
7.347/1985.

3) No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para


ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença
proferida em ação civil pública. (Recurso Repetitivo - Tema 515)

7. INQUÉRITO CIVIL

É uma investigação administrativa a cargo do MP, destinada a colher elementos para eventual
propositura de ACP, podendo servir de base para o oferecimento de denúncia criminal.

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Art. 8º Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades


competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas
no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou
requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações,
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez)
dias úteis.
§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou
informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada
daqueles documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.
Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se
convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil,
promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas,
fazendo-o fundamentadamente.
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão
remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao
Conselho Superior do Ministério Público.
§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja
homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações
legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos
autos do inquérito ou anexados às peças de informação.
§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do
Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento,
designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da
ação.

a) Características
● Procedimento preparatório;
● Procedimento meramente administrativo;
● Procedimento informativo;
● Não obrigatório;
● É público;
● Privativo do MP;
● Inquisitorial (não há contraditório).

b) Fases do Inquérito Civil

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I) INSTAURAÇÃO:

Ocorre através de portaria, que deve indicar o objeto da investigação. A portaria pode ser baixada
das seguintes formas:
● De ofício;
● Por representação;
● Por requisição do procurador geral.

O fato de o promotor ter presidido o inquérito civil NÃO gera a suspeição para o ajuizamento de ACP;
Doutrina majoritária entende não ser possível a instauração de inquérito civil por denúncia anônima.

II) INSTRUÇÃO:
● Abrange o poder de vistoria e inspeção em qualquer órgão público;
● Poder de intimação de qualquer pessoa para depoimento, sob pena de condução coercitiva;
● Poder de requisição de documentos e informações a qualquer entidade pública ou privada.

III) CONCLUSÃO:

A LACP NÃO estipula prazo para a conclusão do inquérito civil. Ao final, o promotor tem duas opções:
● Promover a ACP;
● Promover o arquivamento fundamentado: ao propor o arquivamento, o promotor encaminha ao
órgão superior do MP, no prazo de 3 dias, sob pena de responsabilidade penal. Os órgãos superiores
designam uma sessão de julgamento, e podem ser tomadas as seguintes providências:
∘ Homologação do arquivamento;
∘ Conversão do julgamento em diligência;
∘ Rejeição da promoção do arquivamento, hipótese em que será nomeado outro promotor
para a propositura da ACP.

8. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC)

Ocorre quando a pessoa assume a responsabilidade pelo evento e se compromete a alterar a sua
conduta. Uma vez celebrado, possui a eficácia de título executivo extrajudicial:

Art. 5º, § 6° LACP. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

a) Cabimento - Cabe TAC nos direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos.


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A Lei nº 13.964 deu nova redação ao art. 17, § 1º, da Lei de Improbidade Administrativa, passando a
permitir a celebração de acordos de não persecução cível. O dispositivo, contudo, foi revogado pela Lei nº
14.230/21.

Art. 17. (...) § 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo
de não persecução cível, nos termos desta Lei.

Todavia, permanece a possibilidade da celebração de acordos de não persecução cível em matéria


de improbidade administrativa, pois apesar da revogação do art. 17, §1º, a Lei nº 14.230/21, incluiu o art.
17-B, de modo a continuar a permitir tal possibilidade:

Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circunstâncias do caso


concreto, celebrar acordo de não persecução civil, desde que dele advenham, ao
menos, os seguintes resultados: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida obtida, ainda que
oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo dependerá,
cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ou posterior à
propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão do Ministério
Público competente para apreciar as promoções de arquivamento de inquéritos
civis, se anterior ao ajuizamento da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo ocorrer antes ou
depois do ajuizamento da ação de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021)
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo
considerará a personalidade do agente, a natureza, as circunstâncias, a gravidade
e a repercussão social do ato de improbidade, bem como as vantagens, para o
interesse público, da rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, deverá ser realizada a
oitiva do Tribunal de Contas competente, que se manifestará, com indicação dos
parâmetros utilizados, no prazo de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser celebrado no curso
da investigação de apuração do ilícito, no curso da ação de improbidade ou no
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momento da execução da sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de


2021)
§ 5º As negociações para a celebração do acordo a que se refere o caput deste
artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de um lado, e, de outro, o investigado
ou demandado e o seu defensor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá contemplar a adoção de
mecanismos e procedimentos internos de integridade, de auditoria e de incentivo
à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta
no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em favor
do interesse público e de boas práticas administrativas. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021)
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o caput deste artigo, o
investigado ou o demandado ficará impedido de celebrar novo acordo pelo prazo
de 5 (cinco) anos, contado do conhecimento pelo Ministério Público do efetivo
descumprimento.
b) Legitimados

De todos os legitimados para ajuizar ACP, somente as associações NÃO podem celebrar TAC, pois o
art. 5º, §6º da LACP alude apenas aos órgãos públicos.
Qualquer legitimado pode celebrar TAC, sem necessidade de autorização dos demais.
TAC homologado judicialmente também só pode ser rescindido judicialmente, por ação anulatória.

c) Responsabilidade

Um órgão NÃO precisa de autorização de outro para celebrar TAC.


A responsabilidade pela fiscalização do cumprimento é do órgão celebrante do TAC.

d) Eficácia

O TAC tem eficácia de título executivo extrajudicial, e sua eficácia ocorre a partir do momento em que
é celebrado.

e) Compromisso preliminar

É um TAC parcial, em que se consegue apenas parte do acordo. A sua realização NÃO impede a
propositura da ACP contra outros investigados, ou para alcançar outros pedidos.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:
- Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado.
- Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional.
- Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional.
- Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Direitos Constitucional Descomplicado

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META 2

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS POLÍTICOS

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 14 a 17
⦁ Art. 37, §4º
⦁ Art. 55, IV
⦁ Art. 62, §1º, “a”,
⦁ Art. 68, §1º, II
⦁ Art. 85, III
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 14 e 15 (leitura completa! Importantíssimo!)
⦁ Art. 37, §4º

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não
afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

1. DIREITOS POLÍTICOS

É o instrumento pelo qual se garante o exercício da soberania popular. Podem ser divididos:
• DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS: Segundo José Afonso da Silva, consistem no “conjunto de normas
que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos
governamentais”.
• DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS: decorrem das normas que privam o cidadão, definitiva ou
temporariamente, dos direitos políticos positivos, especialmente do direito de votar e de ser votado.

Os direitos políticos, então, são instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da
soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja
direta, seja indiretamente.

De modo geral podemos classificar os regimes democráticos em três espécies: a) democracia direta,
em que o povo exerce por si o poder, sem intermediários, sem representantes; b) democracia representativa,

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na qual o povo, soberano, elege representantes, outorgando-lhes poderes, para que, em nome deles e para
o povo, governem o país; e c) democracia semidireta ou participativa, um “sistema híbrido”, uma democracia
representativa, com peculiaridades e atributos da democracia direta.

➢ A democracia participativa ou semidireta assimilada pela CF/88 (arts. 1.º, parágrafo único, e 14)
caracteriza-se, portanto, como a base para que se possa, na atualidade, falar em participação popular
no poder por intermédio de um processo, no caso, o exercício da soberania, que se instrumentaliza
por meio do plebiscito, referendo, iniciativa popular, bem como pelo ajuizamento da ação popular.

1.1 Direitos Políticos Positivos

As formas de exercício da soberania popular são o direito de sufrágio ativo (direito de votar) e passivo
(direito de ser votado), a iniciativa popular, a ação popular e a organização e participação em partidos
políticos.

A) INSTRUMENTOS DE PARTICIPAÇÃO DIRETA:

• PLEBISCITO: É consulta prévia formulada ao cidadão para que manifeste sua


concordância/discordância em relação a um tema contido em ato administrativo ou legislativo.
Exemplo: plebiscito para a escolha entre a forma (república ou monarquia constitucional) e sistema
de governo (presidencialismo ou parlamentarismo) (1993).
• REFERENDO: É uma consulta realizada posteriormente à edição do ato legislativo ou administrativo,
com o intuito de ratificá-lo ou rejeitá-lo. Exemplos: referendo para manutenção ou não do regime
parlamentarista (1963); referendo para a manifestação do eleitorado sobre a manutenção ou
rejeição da proibição da comercialização de armas de fogo e munição em todo o território nacional
(2005).

A autorização de referendo e a convocação de plebiscito são da competência exclusiva do


Congresso Nacional (CF, art. 49, XV).

• INICIATIVA POPULAR: Consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito
por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com
não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.

B) SUFRÁGIO:

É o direito de participar votando e sendo votado em eleições.

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C) ALISTABILIDADE:

É a capacidade eleitoral ativa, direito de votar. Características do voto no Brasil:


• LIVRE – a escolha pode dar-se entre os candidatos, ou ainda anular ou votar em branco. Em
contraposição à idéia do famoso voto de cabresto;
• DIRETO: Os representantes são escolhidos diretamente pelo povo, com exceção do art. 81, § 1º da
CF;
• SECRETO;
• UNIVERSAL;
• PERIÓDICO – característica da República, pois a Democracia exige mandatos por prazo
determinados.

ATENÇÃO:O voto é obrigatório para os que têm entre 18 e 70 anos, e facultativo para aqueles que
têm entre 16 e 18 anos e para os maiores de 70 anos e analfabetos.

INALISTÁVEIS (ART. 14, §2º, CF/88):


• Estrangeiros, salvo os portugueses equiparados (“quase nacionais”);
• Conscritos (aqueles em serviço militar obrigatório). O conceito de conscrito não é estendido somente
às pessoas que têm 17 e 18 anos, mas também aos médicos, dentistas, farmacêuticos, e veterinários
que esteja em serviço militar obrigatório conforme art. 4° da Lei 5.292/67.

D) ELEGIBILIDADE:

É a capacidade eleitoral passiva, ou seja, o direito de ser votado:

Art. 14, § 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:


A nacionalidade brasileira;
O pleno exercício dos direitos políticos;
O alistamento eleitoral;
O domicílio eleitoral na circunscrição;
A filiação partidária;

A idade mínima de:


a) Trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) Trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) Vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz
de paz;

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d) Dezoito anos para Vereador.

ATENÇÃO: O domicílio eleitoral não se confunde com o domicílio civil, razão pela qual a circunstância de o
eleitor residir em determinado município não o impede de se candidatar por outra localidade onde é inscrito
e com a qual mantém vínculos negociais, patrimoniais, profissionais, afetivos ou políticos.

1.2 Direitos Eleitorais Negativos

A. INELEGIBILIDADES:

É a falta de capacidade eleitoral passiva. Podem ser:


• INELEGIBILIDADES ABSOLUTAS: Impedem o exercício da capacidade eleitoral passiva para qualquer
cargo eletivo. Previstos no art. 14, § 4º, da CF:
∘ INALISTÁVEIS: Estrangeiros e conscritos;
∘ ANALFABETOS: Embora possam votar facultativamente, em nenhuma hipótese poderão ser
votados.
• INELEGIBILIDADES RELATIVAS: Impedem o exercício da capacidade eleitoral passiva para
determinados cargos ou em relação a determinado período.
∘ Da função exercida - art. 14, §§ 5º e 6º:

Art. 14. (...)


§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal,
os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período subsequente.
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores
de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos
mandatos até seis meses antes do pleito.

ATENÇÃO – PREFEITO ITINERANTE: Caracteriza-se pela alteração do domicílio eleitoral com finalidade de
burlar a regra que tolera apenas uma reeleição. O sujeito não pode se eleger por mais de um mandato no
Município A e então muda seu domicílio eleitoral para o Município B, vizinho de A, onde tentará eleger-se
prefeito. O STF entendeu tal conduta incompatível com o princípio republicano, pois visa à perpetuação no
poder.

• INELEGIBILIDADE REFLEXA – ART. 14, §7º: A inelegibilidade em razão do parentesco torna inelegíveis
no território de jurisdição do Chefe do Poder Executivo o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou
afins, até o segundo grau ou por adoção, salvo quando estes já forem detentores de mandato eletivo
e candidatos à reeleição.
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ATENÇÃO:

STF: A inelegibilidade reflexa abrange uniões homoafetivas. Também abrange o


cunhado/ cunhada (RE 171061)

Súmula Vinculante nº 18: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no


curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da
Constituição Federal.

Em caso de morte, vale destacar o seguinte julgado:


Ementa Oficial

Ementa: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. MORTE DE PREFEITO NO CURSO DO


MANDATO, MAIS DE UM ANO ANTES DO TÉRMINO. INELEGIBILIDADE DO CÔNJUGE
SUPÉRSTITE. CF, ART. 14, § 7º. INOCORRÊNCIA.
1. O que orientou a edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do
STF foi a preocupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de
sociedade conjugal seja utilizada como mecanismo de burla à norma da
inelegibilidade reflexa prevista no § 7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não
atrai a aplicação do entendimento constante da referida súmula a extinção do
vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges. 2. Recurso extraordinário a que
se dá provimento.
(RE 758461, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em
22/05/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213
DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)

Assim, temos a regra: DISSOLVER O VÍNCULO CONJUGAL NO CURSO DO MANDATO NÃO AFASTA A
INELEGIBILIDADE DO ARTIGO 14, §7º CRFB. E a exceção: Se o vínculo conjugal tiver sido rompido pela morte
de um dos cônjuges, a inelegibilidade em comento estás afastada. Motivo: Neste último caso, não há fraude
para fins eleitorais.
TESE DE REPERCUSSÃO GERAL 678: “A Súmula Vinculante 18 do STF (“A dissolução
da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a
inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal”) não se aplica
aos casos de extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges.”

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Há também a possibilidade de inelegibilidade em razão de outras hipóteses (LEGAL), pois, segundo o


art. 14, §9° da CF, lei complementar pode estabelecer, ainda, outras hipóteses como no caso da LC 64/90,
alterada pela Lei da Ficha Limpa (LC 135/10), esta declarada constitucional pelo STF.

Cabe asseverar apenas que a renúncia afasta a presente inelegibilidade, ou seja, se o Chefe do
Executivo renunciar, é possível que sua família se candidate a qualquer cargo no território de jurisdição do
titular. Tal renúncia deve se dar em até seis meses antes do pleito. É a chamada
heterodesincompatibilização, pois o sujeito se desincompatibiliza para terceiro poder concorrer a outros
cargos.
A exceção se dá no caso em que a renúncia se dá no segundo mandato -> nesse caso o membro da
família não poderá concorrer ao terceiro mandato, eis que, conforme entendimento da Justiça Eleitoral, é
vedado que uma mesma família ocupe determinado cargo por três mandatos consecutivos, conforme já
decidiu o TSE no caso “Garotinho” (ex-governador do Rio de Janeiro).
Em caso de desmembramento, o STF entende que a família do titular do executivo ente
desmembrado não pode se candidatar a cargos eletivos no novo ente criado. Ex.: Município A dá origem ao
Município B -> a família do Prefeito do Município A não pode concorrer a cargos eletivos no Município B.

MILITAR - ART. 14, § 8º:


O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I. Se contar menor de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; e,
II. Se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

ATENÇÃO: O militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos, conforme, art.
142, § 3º, V, da CF.

E, ainda, os JUÍZES, ART. 95, P.Ú., III, CF e MINISTÉRIO PÚBLICO, ART. 128, §5°, II, “e”, CF.

1.3 Privação de Direitos Políticos

A) CASSAÇÃO:

É vedada. O art. 15 da CF veda a retirada arbitrária de direitos políticos, pois a restrição dos direitos
políticos será sempre provisória, ou seja, sem caráter perpétuo, e ocorrerá nos casos de suspensão e perda;

B) PERDA:

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Configura privação definitiva, sendo necessária atividade específica do interessado para a


reaquisição. Hipóteses:

1. Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (art. 15, I): ação que tramita na
justiça federal, na qual o naturalizado volta a ser considerado estrangeiro;
2. Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII
(art. 15, IV). Enquanto não houver edição de lei regulamentando a prestação alternativa, não há
possibilidade de perder os direitos políticos;
3. Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra (art. 12, § 4º, II).

➢ Perdido o direito político, na hipótese de cancelamento da naturalização por sentença transitada em


julgado, a reaquisição só se dará por meio de ação rescisória. Se a hipótese for a perda por recusa de
cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, a reaquisição dar-se-á quando o
indivíduo, a qualquer tempo, cumprir a obrigação devida. Todavia, se a perda se der em virtude de
aquisição de outra nacionalidade, a Lei de Migração (Lei n. 13.445/2017) estabelece a seguinte regra:
“o brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4.º do art. 12 da Constituição Federal, houver
perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a
perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo”.

C) SUSPENSÃO:

Possui caráter temporário, e a reaquisição decorre automaticamente após determinado período ou


o implemento de determinada condição. Hipóteses:
➢ INCAPACIDADE CIVIL ABSOLUTA;
➢ CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA EM JULGADO, ENQUANTO DURAREM SEUS EFEITOS.
➢ IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, NOS TERMOS DO ART. 37, § 4º, CF.

1.4. Servidor Público e Exercício do Mandato Eletivo: De Acordo com o Art. 38 da CF/88

Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no


exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de
seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função,
sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários,
perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
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remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a


norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo,
seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para
promoção por merecimento;
V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social,
permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo de origem.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

CESPE / CEBRASPE - 2022 – Questões importantes !!

I) São condições de elegibilidade para o cargo de deputado estadual, entre outras, a


nacionalidade brasileira, a filiação partidária e a idade mínima de vinte e um anos, não
havendo previsão de idade máxima. Item certo.

Art. 14, § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:


I - a nacionalidade brasileira;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de: c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,
Vice-Prefeito e juiz de paz;

II) Uma Governadora está no fim do seu segundo mandato consecutivo no cargo. Considerando-se a
posição majoritária e atual do Supremo Tribunal Federal e as normas constitucionais sobre direitos
políticos, é correto afirmar que o cônjuge de governadora que esteja no fim de seu segundo mandato
consecutivo será inelegível em todo o território do respectivo estado, ainda que o vínculo conjugal se
dissolva no curso do mandato. Item certo.

Art. 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador
de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis
meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não
afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

OBS: A inelegibilidade do art. 14, § 7º, da Constituição NÃO ALCANÇA o cônjuge supérstite (sobrevivente
viúvo) quando o falecimento tiver ocorrido no primeiro mandato, com regular sucessão do vice-prefeito,

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e tendo em conta a construção de novo núcleo familiar. A Súmula Vinculante 18 do STF não se aplica aos
casos de extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges. (STF, RE 758.461, Tese RG 678,
2014).

2. PARTIDOS POLÍTICOS

São associações (pessoas jurídicas de direito privado) constituídas para a participação na vida política
de um país. Além do registro civil, também devem registrar seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

A) REGISTRO:

Devem se registrar tanto no Cartório de Registro Civil quanto no TSE:


• REGISTRO CIVIL: É requerimento do registro do partido junto ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas
da Capital Federal e é o meio pelo qual há a aquisição da personalidade jurídica.
• REGISTRO ELEITORAL: Efetivado perante o Tribunal Superior Eleitoral, e tem como finalidade o gozo
de prerrogativas de participar do processo eleitoral, receber recursos do fundo partidário e ter
acesso à rádio e à televisão para difusão de suas ideias e programas, conforme art. 7º, §2º, da Lei
9.096/95.

ATENÇÃO: Não existe no Brasil a candidatura avulsa, de modo que o candidato deve estar filiado a partido
político.

B) PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA:

1. LIBERDADE PARTIDÁRIA: É livre a criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos. No
entanto, deve obedecer ao disposto na Constituição:
• CARÁTER NACIONAL;
• PROIBIÇÃO DE RECEBIMENTO DE RECURSOS FINANCEIROS DE ENTIDADES OU GOVERNOS
ESTRANGEIROS OU DE SUBORDINAÇÃO A ESTES;
• PRESTAÇÃO DE CONTAS A JUSTIÇA ELEITORAL;
• FUNCIONAMENTO PARLAMENTAR DE ACORDO COM A LEI.

2. AUTONOMIA PARTIDÁRIA: Autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento,
devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e disciplina partidárias (art. 17, § 1º).

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3. VEDAÇÃO A PARTIDOS COMO ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR (ART. 14, § 4º): É vedado ao partido político
ministrar instrução militar ou paramilitar bem como utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar
uniforme para seus membros.

C) SISTEMAS ELEITORAIS:

• MAJORITÁRIO: O mandato eletivo fica com o candidato ou partido político que obteve a maioria dos
votos, independente dos votos do seu partido. Adotado para eleições de Presidente, Senador,
Governador e Prefeito;
• PROPORCIONAL: É obtido mediante alguns cálculos. Inicialmente, divide o número total de votos
válidos pelos cargos em disputa (quociente eleitoral). Em seguida, pega os votos de cada partido ou
coligação e divide pelo quociente eleitoral, anteriormente obtido (quociente partidário). Os
candidatos mais bem votados desse partido irão ocupar tais vagas. Adotado para eleições de
Deputado Federal, Estadual e Vereador.
• MISTO: Mescla regras do majoritário e proporcional, com votos distritais e votos gerais. É o sistema
adotado na Alemanha. No Brasil, não é adotado, embora seja ponto de discussão da reforma política.

FIDELIDADE PARTIDÁRIA:

Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, sai do partido político no qual foi eleito, ele perderá o cargo
que ocupa? (INF 787 STF)

• Sistema majoritário: NÃO se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sob pena de
violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor, já que o candidato escolhido é aquele que
obteve mais votos, não importando o quociente eleitoral nem o quociente partidário. Segundo
entendimento do STF, As características do sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato,
fazem com que a perda do mandato, no caso de mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere
a soberania popular (CF, art. 1.º, par. ún., e art. 14, caput)”. Assim, a perda de mandato por troca de partido
não se aplica ao sistema majoritário.STF definiu, então, a seguinte tese: “a perda do mandato em razão da
mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sob pena de violação da
soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor”.
• Sistema proporcional: O mandato parlamentar no sistema proporcional pertence ao partido político,
razão pela qual, em caso de mudança de partido político pelo parlamentar eleito, ele sofrerá um processo na
Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do seu mandato. O assunto está disciplinado na Resolução nº
22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as hipóteses consideradas como “justa causa” para a perda do
mandato. Em relação ao sistema proporcional (eleição de deputados federais, estaduais, distritais e
vereadores), o STF, em 03 e 04.10.2007, julgando os MS 26.602, 26.603 e 26.604, resolveu a matéria e

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estabeleceu que a fidelidade partidária deve ser respeitada pelos candidatos eleitos. Dessa forma,
teoricamente, aquele que mudar de partido (transferência de legenda) sem motivo justificado perderá o
cargo eletivo. Isso porque reconheceu o STF o caráter eminentemente partidário do sistema proporcional e
as inter-relações entre o eleitor, o partido político e o representante eleito. Mudar de partido caracteriza
desvio ético-político e gera desequilíbrio no Parlamento. É fraude contra a vontade do povo.

OBS: TSE - Justa causa para desfiliação partidária só é aplicável se eleito estiver no fim do mandato
vigente. De acordo com Admar Gonzaga, "o vereador poderá se desfiliar do seu partido com justa causa
apenas no prazo da janela partidária que coincidir com o final do seu mandato, ou seja, nas vésperas das
eleições municipais. Do mesmo modo, o detentor do cargo proporcional, como deputado federal e distrital,
poderá fazer jus à janela partidária na proximidade de uma Eleição Geral”. A decisão do colegiado foi
unânime.
O tema partidos políticos foi objeto de recentes alterações por emendas constitucionais. A EC 52/06
trouxe a desverticalização, de modo que as coligações partidárias não precisam ser as mesmas em âmbito
nacional, estadual e municipal, ou seja, não há obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. Mais adiante, a EC 97/17 veiculou a vedação de celebração
de coligações em eleições proporcionais a partir de 2020. Vejamos como ficou a atual redação do art. 17,
§1º da CF:

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura


interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos
permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar
os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias,
vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de
vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou
municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária.

Por fim, vale mencionar que a EC 97/17 estabeleceu alguns requisitos para os partidos terem acesso
ao fundo partidário. Vejamos como ficou a redação do §3º do art. 17:

§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio


e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por
cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma
delas; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
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II - tiveremelegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo


menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 97, de 2017)
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste
artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a
outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins
de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de
rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

Essas regras, contudo, deverão ser observadas somente a partir das eleições de 2030 (art. 3.º da
emenda), tendo sido estabelecidos requisitos gradativos a serem observados na forma do parágrafo único
do art. 3.º da emenda. A nova janela partidária constitucional está descrita no art. 17, § 5.º, nos termos
acima transcritos.

VACÂNCIA E SUPLÊNCIA:

O STF, no julgamento dos MS 30.260 e 30.272, em 27.04.2011, por 10 x 1, entendeu que a vaga
decorrente do licenciamento de titulares de mandato parlamentar, no caso para assumirem cargos de
secretarias de Estado, deverá ser ocupada pelos suplentes das coligações, e não dos partidos. Pode-se afirmar,
então, que, se houve formação de coligação, o que é opcional e encontra fundamento na Constituição (art.
17, § 1.º), a vaga de suplência pertente a esta, e não ao partido político.

ATENÇÃO!
ADI 4.650 - STF, em 17.09.2015, por maioria e nos termos do voto do Ministro
Relator, julgou procedente em parte o pedido formulado na ADI em referência para
declarar a inconstitucionalidade dos dispositivos legais que autorizavam as
contribuições de pessoas jurídicas às campanhas eleitorais. Decidiu que “o exercício
de direitos políticos é incompatível com as contribuições políticas de pessoas
jurídicas.”

De acordo com o STF, é inconstitucional proibir que emissoras de rádios e TVs difundam áudios ou
vídeos que ridicularizem candidato ou partido político durante o período eleitoral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Direito Constitucional Esquematizado. Pedro Lenza.

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DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS DA NACIONALIDADE

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 12 (leitura completa)
⦁ Art. 13 (leitura completa)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 12, I e II
⦁ Art. 12, §3º, §4º

1. NACIONALIDADE

É o vínculo político-jurídico que liga o indivíduo ao Estado, fazendo-o componente do seu povo e
sujeitando-o aos direitos e obrigações desta relação.
O art. 20 do Pacto de São José da Costa Rica dispõe que o direito à nacionalidade é direito
fundamental do indivíduo.
O art. 15 da Declaração Universal dos Direitos Humanos prevê que todo homem tem direito a uma
nacionalidade.
Então, todo homem, pelo simples fato de ser humano, tem direito a uma nacionalidade. Esse mesmo
homem não pode ser privado de sua nacionalidade sem que antes lhe seja ofertado o direito de mudar de
nacionalidade.

1.1 Espécies de Nacionalidade

A) ORIGINÁRIA:

Decorre de fato natural ou voluntário, adotada por cada Estado no exercício da sua soberania, e está
prevista no art. 12, I, da CF/88:
● CRITÉRIO TERRITORIAL (JUS SOLI OU “DIREITO DO SOLO”): é nacional quem nasce no território do
país;
● CRITÉRIO SANGUÍNEO (JUS SANGUINIS OU “DIREITO DO SANGUE”): o indivíduo adquire a
nacionalidade de seus ascendentes, independentemente de ter nascido no território de outro país.
● Brasil: Como regra, adota o critério do jus soli, embora existam hipóteses em que o critério
sanguíneo é aceito (art. 12, I, CF):

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∘ É brasileiro nato o indivíduo nascido no estrangeiro, filho de pai brasileiro ou mãe brasileira
a serviço da República Federativa do Brasil (jus sanguinis + critério funcional) (CF, art. 12, I,
b).
∘ Aos nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente (jus sanguinis + registro) (CF, art. 12, I, c,
primeira parte).
∘ Filhos de brasileiros nascidos no estrangeiro e que não tenham sido registrados na repartição
brasileira competente. Nesta hipótese, caso venha a residir no Brasil, o indivíduo poderá
optar, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira
(jus sanguinis + critério residencial + opção confirmativa) (CF, art. 12, I, c, segunda parte).
∘ O ius soli, em regra, é um critério oriundo dos países de imigração. O ius sanguinis é oriundo
de países de emigração, com “E”.

CAIU NA PROVA DELEGADO PC-RR (2022) No tocante ao direito de nacionalidade, segundo os termos do
texto constitucional brasileiro, diz-se que é uma aquisição de nacionalidade potestativa aquela em que o
filho, nascido no exterior, de pai brasileiro ou de mãe brasileira que não estejam a serviço do Brasil, vier a
residir em território brasileiro e optar, a qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira. (item correto)
No direito brasileiro, a nacionalidade potestativa é uma das hipóteses de nacionalidade originária!

Sobre o tema, veja a dica da Professora Thaianne;

https://youtu.be/nlK07XqNFJA

B) SECUNDÁRIA:

É aquela decorrente de um ato voluntário da pessoa, a naturalização. Pode ser:

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● NACIONALIDADE TÁCITA: costuma ser adotada quando o número de nacionais é menor do que o
desejado. Nesse caso, os estrangeiros residentes no País que não declararem, dentro de determinado
período, o ânimo de permanecer com a nacionalidade de origem, automaticamente adquirirão a
nacionalidade do país em que residem. NÃO está prevista na CF/88.
● Aquisição de NACIONALIDADE JURIMATRIMONI, ou seja, aquisição da nacionalidade brasileira em
razão do casamento. É aquele resultado imediato, direto, do casamento civil. O STF já se manifestou,
recorrentemente, no sentido de que no Brasil não existe esse tipo de aquisição de nacionalidade.
● NACIONALIDADE SECUNDÁRIA EXPRESSA:
∘ EXTRAORDINÁRIA: cria direito público subjetivo, sendo o ato de concessão vinculado.
Previsto, no art. 12, II, “b”, da CF, exige a residência por 15 anos ininterruptos no país, sem
condenação criminal.
∘ ORDINÁRIA: a sua concessão é ato discricionário. Art. 12, II, “a”, da CF/88.

ATENÇÃO – QUASE NACIONALIDADE: aplicável aos portugueses, conforme art. 12, § 1º da CF, desde que
haja reciprocidade em favor dos brasileiros. O português, sem precisar passar pelo processo de
naturalização, pode exercer os direitos inerentes aos brasileiros naturalizados, desde que resida
permanente no país.
Confira a dica da Professora Thaianne:

https://youtu.be/UPe4V4BwpWs

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1: Pessoa filha
de pai brasileiro nascida em país estrangeiro detém o direito à aquisição de nacionalidade
brasileira originária a partir do registro em consulado ou embaixada brasileira, desde que
venha a residir no Brasil. Item errado.

O registro no consulado ou embaixada brasileira já confere o status de brasileiro nato, não necessitando
que venha a residir no brasil.

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CF. Art. 12. São brasileiros: I - natos: os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira;

1.2 Perda da Nacionalidade

As hipóteses são enumeradas taxativamente pela CF/88, não sendo admitidos acréscimos ou
supressões por lei infraconstitucional, tampouco a renúncia à nacionalidade brasileira:

● CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO, POR SENTENÇA JUDICIAL, EM VIRTUDE DE ATIVIDADE


NOCIVA AO INTERESSE NACIONAL: é a denominada “perda-punição”. Ocorre por processo judicial
assegurado o contraditório e a ampla defesa, a ação de cancelamento de naturalização pode ser
deflagrada por representação do Ministro da Justiça, por solicitação de qualquer pessoa ou por
provocação do Ministério Público Federal. A competência para processar e julgar as causas
referentes à nacionalidade é da Justiça Federal (CF, art. 109, X). Possui efeitos ex-nunc, ou seja,
havendo a perda da nacionalidade por esse motivo, somente é possível a reaquisição por ação
rescisória. Desse modo, não é permitido a obtenção por meio de novo procedimento de
naturalização.
● NAS HIPÓTESES DE NATURALIZAÇÃO VOLUNTÁRIA: é a chamada “perda-mudança”. A aquisição de
outra nacionalidade acarreta, em regra, a perda da nacionalidade brasileira. Depende de prévia
instauração de processo administrativo, assegurada a ampla defesa, que tramita no Ministério da
Justiça. Possui efeitos ex-nunc e pode atingir o brasileiro nato e o naturalizado. Havendo a perda, sua
reaquisição será possível por meio de pedido dirigido ao Presidente da República, sendo o processo
instruído no Ministério da Justiça. Caso seja concedida, será feita por Decreto. Pergunta: neste caso,
a pessoa readquire a nacionalidade como nata ou naturalizada? MAJ – naturalizada. José Afonso da
Silva – nata. Exceções:

o RECONHECIMENTO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA PELA LEI ESTRANGEIRA: Trata-se do


reconhecimento da nacionalidade originária, ou seja, aquela adquirida com o nascimento
(primária). Ex.: o indivíduo que nasceu no território brasileiro, filho de italianos que estavam
em férias no Brasil (obs.: não se encontravam a serviço da Itália), será brasileiro nato (art. 12,
I, “a” — ius solis) e poderá adquirir a nacionalidade italiana (ius sanguinis) sem perder a
brasileira;
o IMPOSIÇÃO DE NATURALIZAÇÃO PELA NORMA ESTRANGEIRA: O brasileiro residente em
Estado estrangeiro que, como condição para sua permanência naquele país (por motivo de
trabalho, exercício profissional), ou para o exercício de direitos civis (herança, por exemplo),
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tiver, por imposição da norma estrangeira, de se naturalizar não perderá a nacionalidade


brasileira.

Ao contrário do cancelamento da naturalização em virtude de atividade nociva ao interesse nacional,


a perda da nacionalidade em decorrência da aquisição de outra dar-se-á após procedimento administrativo
em que seja assegurada a ampla defesa, por decreto do Presidente da República (art. 23 da Lei n. 818/49).

OBS.: Cancelada a naturalização por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional
(art. 12, § 4.º, I), ou perdida a nacionalidade (primária ou secundária) em decorrência da aquisição de outra
nacionalidade fora dos permissivos constitucionais (art. 12, § 4.º, II), seria possível readquiri-la?
o Cancelamento da naturalização: não poderá readquiri-la, a não ser mediante ação rescisória,
nunca por meio de um novo processo de naturalização, sob pena de contrariedade ao texto
constitucional;
o Aquisição de outra nacionalidade: o revogado art. 36 da Lei n. 818/49 pela Lei de Migração
previa a possibilidade de reaquisição por decreto presidencial, se o ex-brasileiro estivesse
domiciliado no Brasil. Pedro Lenza entende, contudo, que tal dispositivo só teria validade se a
reaquisição não contrariasse os dispositivos constitucionais e, ainda, se existissem elementos
que atribuíssem nacionalidade ao interessado.

CAIU EM CONCURSO

→ CEBRASPE – PC/PB – Delegado de Polícia - Edital: 2021

Suponha que João nasça no Brasil e seja filho de pai e mãe argentinos que estejam em território brasileiro a
serviço do Uruguai. Suponha, ainda, que Sandro nasça na Itália e seja filho de pai brasileiro que resida há
algum tempo no exterior, por interesse pessoal de estudo. Suponha, também, que Jaqueline nasça na
Espanha e seja filha de mãe brasileira, a serviço da República Federativa do Brasil naquele país. Nessa
situação, no momento do nascimento, é(são) brasileiro(s) nato(s)

A) João, Sandro e Jaqueline.


B) João, somente.
C) João e Jaqueline, somente.
D) Jaqueline, somente.
E) Sandro e Jaqueline, somente.

Resposta: A alternativa ‘C’ está correta.

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CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil: Suponha que João nasça no
Brasil e seja filho de pai e mãe argentinos que estejam em território brasileiro a serviço do
Uruguai. Suponha, ainda, que Sandro nasça na Itália e seja filho de pai brasileiro que resida há
algum tempo no exterior, por interesse pessoal de estudo. Suponha, também, que Jaqueline
nasça na Espanha e seja filha de mãe brasileira, a serviço da República Federativa do Brasil naquele país.
Nessa situação, no momento do nascimento, é(são) brasileiro(s) nato(s) João e Jaqueline, somente. Item
certo.

João, filho de Paraguaios, a serviço do Uruguai, não encontra guarida na CF, conforme art. 12, I, a: “são
brasileiros, natos, os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país.” Os pais de João são ambos estrangeiros, todavia não estão a
serviço do seu país e sim de país diverso.

Sandro, filho de brasileiro, que mora no exterior, é brasileiro nato, de acordo c art. 12, I, c: “ os nascidos
no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira
competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;” Sendo assim, Sandro não é nato, salvo se tiver
sido registrado em repartição Brasileira competente ou após maior idade , a qualquer tempo, opte pela
nacionalidade Brasileira.

Jaqueline, filha de brasileira a serviço do Brasil: “Art, 12, I, b - os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro
ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil”

1.3 Brasileiros Natos x Naturalizados

Embora a CF/88 vede que a lei diferencie brasileiros natos de naturalizados, existem algumas
exceções:

A. EXTRADIÇÃO:

Somente o naturalizado pode ser extraditado, nas seguintes hipóteses:


o Prática de crime comum antes da naturalização;
o Envolvimento comprovado em tráfico ilícito de entorpecentes em qualquer momento (“na
forma da lei”).

Súmula 421 do STF: Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado


casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

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O STF já decidiu que o brasileiro nato que venha a perder sua nacionalidade em razão da aquisição
de outra pode ser extraditado. No caso, uma brasileira, que já tinha o Green card, optou por naturalizar-se
americana. Entendeu o STF que a naturalização não era necessária para o regular exercício de seus direitos
civis, pois o Green card já lhe autorizava a permanecer licitamente em território americano. Tratando-se
de aquisição originária de outra nacionalidade, teve lugar a perda da nacionalidade brasileira por meio de
procedimento administrativo no Ministério da Justiça, podendo a cidadã ser extraditada em caso de
cometimento de crime em outro país. Assim se posicionou o STF no RExt 1462/DF.

B. CARGOS PRIVATIVOS:

Art. 12, § 3º da CF: São cargos privativos de brasileiros natos, assim definidos em
razão da segurança nacional e da defesa da soberania, eis que estão na linha
sucessória do Presidente da República.

São privativos de brasileiro nato os cargos:


● De Presidente e Vice-Presidente da República;
● De Presidente da Câmara dos Deputados;
● De Presidente do Senado Federal;
● De Ministro do Supremo Tribunal Federal;
● Da Carreira Diplomática;
● De Oficial das Forças Armadas; e
● De Ministro de Estado da Defesa.

C. CONSELHO DA REPÚBLICA:

Participam do Conselho da República, além de outros membros, seis cidadãos brasileiros natos,
segundo o art. 89 da CF/88.

D. PERDA DA CONDIÇÃO DE NACIONAL:

Somente o brasileiro naturalizado (nunca o nato) pode perder a condição de nacional, em virtude da
prática de atividade nociva ao interesse nacional.

E. EMPRESA JORNALÍSTICA E DE RADIODIFUSÃO (ART. 222, CAPUT, E §2º, DA CF):

O brasileiro naturalizado não pode ser proprietário e nem responsável editorial de seleção e direção
da programação de empresa de radiodifusão, salvo após 10 anos da naturalização.

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Referências Bibliográficas:

Direito Constitucional Esquematizado. Pedro Lenza.

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DIREITO PENAL: A LEI PENAL E SUA APLICAÇÃO

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

⦁ Art. 1º ao 12º, CP
⦁ Art. 71, CP
⦁ Art. 107, III, CP
⦁ Art. 70, CPP (análise comparativa com o art. 6º, CP)
⦁ Art. 2°, Lei 9.455/97
⦁ Art. 53, CF/88
⦁ Decreto. 56.435/65
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art 1º ao 7º, CP (leitura indispensável)


⦁ Art. 70, CPP (análise comparativa com o art. 6º, CP)
⦁ Art. 53, CF/88

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 611-STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a
aplicação de lei mais benigna.
Súmula 711-STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
Súmula 501-STJ: É cabível a aplicação retroativa da lei n. 11.343/06, desde que o resultado da incidência
de suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.360/76,
sendo vedada a combinação de leis.
Súmula 245-STF: A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa.
Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.

1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL

A lei penal é fonte formal imediata do direito penal e detém o monopólio para a criação de infrações
penais e cominação de penas.
No tocante à lei penal incriminadora, ela é formada por duas partes:
• Preceito primário: descrição da conduta típica (ex.: “matar alguém”);
• Preceito secundário: cominação da pena em abstrato (“reclusão de 6 a 20 anos”).

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O Brasil optou pelo sistema da proibição indireta, criado por Binding, segundo o qual a lei penal é
descritiva e não proibitiva. A lei não diz “não matar”, “não furtar”, ela apenas descreve as condutas proibidas.
O autor diferencia lei de norma.
A norma apresenta um comando, mandamental ou proibitivo. A exemplo, enquanto a lei descreve
como crime “matar alguém”, a norma que se extrai dela é “não matar”. Assim, quando o agente mata alguém,
ele realiza a lei e viola a norma. Logo, a lei é a forma de exteriorização da norma, como ela se apresenta para
a sociedade, e a norma precede à lei.
OBS.: A doutrina, na linguagem usual, mistura os conceitos, de modo que, embora seja necessário
conhecer a distinção, não se deve ficar adstrito ao sentido exato dos termos. Cuidado: Em uma prova, não
considere como errada uma alternativa na qual o termo “norma” é utilizado no sentido de “lei” e vice-versa.

1.1. Classificação das Leis Penais

De acordo com a doutrina, as leis penais podem ser classificadas da seguinte maneira:

A) INCRIMINADORAS: Criam crimes e cominam penas. Estão na Parte Especial do Código Penal e na
Legislação Penal Especial.

B) NÃO INCRIMINADORAS: Não criam crimes nem cominam penas, podendo ser subdividas em:

b.1) Justificantes: Autorizam a prática de condutas típicas em determinadas hipóteses, excluindo a


ilicitude. Em regra, estão previstas na Parte Geral do Código Penal (art. 23), mas algumas estão na
Parte Especial (art. 128 do CP) ou na Legislação Extravagante.

b.2) Exculpantes: Afastam a culpabilidade do agente ou estabelecem a impunidade de determinados


delitos. São exemplos: doença mental, menoridade, prescrição e perdão judicial.

Art. 25, parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele
agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de
crimes. Redação trazida pelo Pacote Anticrime.

OBS.: Parte da doutrina (Rogério Greco) classifica como normas permissivas as normas que afastam
a ilicitude (justificantes) e as que afastam a culpabilidade (exculpantes). Por sua vez, outra parte da
doutrina (Fernando Capez, Luiz Flávio Gomes) inclui nas normas permissivas apenas aquelas que
afastam a ilicitude do ato.

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b.3) Interpretativas: São normas que esclarecem o conteúdo e o significado de outras normas penais.
É o caso, por exemplo, do conceito de funcionário público para fins penais, previsto no art. 327 do
CP.

b.4) Finais (Complementares): Delimitam o campo de validade das leis incriminadoras, como os art.
2º e 5º do CP.

b.5) Diretivas: Estabelecem princípios, como o art. 1º do CP, que trata da reserva legal.

b.6) Integrativas (de Extensão): Complementam a tipicidade no tocante ao nexo causal em crimes
omissivos impróprios, à tentativa e à participação (arts. 13, §2º, 14, II e 29, caput, do CP,
respectivamente).

c) COMPLETAS / PERFEITAS: Apresentam todos os elementos da conduta criminosa.

d) INCOMPLETAS / IMPERFEITAS: São normas que reservam a complementação da definição da conduta


criminosa a uma outra lei, a um ato da Administração Pública ou a análise do julgador. São leis penais em
branco, nos dois primeiros casos, e tipos penais abertos, no último.

1.1.1 Leis Penais em Branco

“A lei penal em branco é também denominada de cega ou aberta, e pode ser


definida como a espécie de lei penal cuja definição da conduta criminosa reclama
complementação, seja por outra lei, seja por ato da Administração Pública. O seu
preceito secundário é completo, o que não se verifica no tocante ao primário,
carente de implementação” (MASSON, 2017, p. 127).

Franz Von Liszt diz que “são corpos errantes em busca de alma”.

ESPÉCIES DE LEI PENAL EM BRANCO:

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I – Lei penal em branco EM SENTIDO LATO / HOMOGÊNEA / IMPRÓPRIA: O complemento tem a mesma
natureza jurídica e deriva do mesmo órgão que elaborou a lei incriminadora, ou seja, é outra lei. Ex.: art. 169,
§ único, I, do Código Penal, complementado pelo art. 1.264 do Código Civil. Podem ser de duas espécies:

a) Lei penal em branco em sentido lato HOMOVITELINA: A lei incriminadora e o complemento


estão no mesmo diploma legislativo. Ex.: Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados
ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302.
b) Lei penal em branco em sentido lato HETEROVITELINA: A lei incriminadora e o complemento
estão em diplomas normativos diversos. Ex.: art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro
essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior.
É complementado pelo CC.

II – Lei penal em branco EM SENTIDO ESTRITO / HETEROGÊNEA / FRAGMENTÁRIA / PRÓPRIA: O


complemento tem natureza jurídica diversa e emana de órgão distinto do que elaborou a norma
incriminadora. Ex.: Lei de drogas e Portaria 344/98.

III – Lei penal em branco INVERSA ou AO AVESSO: O preceito primário é completo, mas o preceito
secundário (pena) depende de complementação. O complemento, nesse caso, deve ser uma lei, tendo em
vista o princípio da reserva legal. Ex.: genocídio.

IV – Lei penal em branco DE FUNDO CONSTITUCIONAL: O complemento do preceito primário é uma norma
constitucional. É o caso, de acordo com Cleber Masson (2017, p. 128), do crime de abandono intelectual,
definido no art. 246 do CP, uma vez que o conceito de “instrução primária” está previsto no art. 208, I, da CF.

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V – Lei penal em branco AO QUADRADO: É a norma cujo complemento também depende de


complementação. Ex.: art. 38 da Lei 9.605/98, que pune as condutas de destruir ou danificar florestas de
preservação permanente. O conceito de "floresta de preservação permanente" é dado pelo Código Florestal,
que, dentre várias hipóteses, previu um caso em que a área de preservação permanente será assim
considerada após declaração de interesse social por parte do Chefe do Poder Executivo.

1.2 Características da Lei Penal

a) Exclusividade: Somente a lei pode criar delitos e as penas correspondentes (art. 5º, XXXIX, da CF).

b) Imperatividade: Caso seja descumprida haverá a imposição de sanção (pena ou de uma medida).

c) Generalidade: Direciona-se a todas as pessoas, indistintamente, até mesmo aos inimputáveis.

d) Impessoalidade: Seus efeitos são projetados a fatos futuros, incidindo sobre qualquer pessoa que venha
a praticá-los, ressalvadas duas exceções: as leis de anistia e a abolitio criminis, as quais alcançam fatos
concretos.

e) Anterioridade: Somente pode ser aplicada se estava em vigor no momento da prática da infração penal,
ressalvado o caso da retroatividade benéfica.

2. LEI PENAL NO TEMPO

Em decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da


realização do fato criminoso (tempus regit actum).
Excepcionalmente, será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados,
desde que benéfica ao réu, de modo que NÃO há, no direito penal, irretroatividade maléfica ao réu.
Nesse contexto, a lei benéfica poderá retroagir mesmo que já tenha havido o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória.
Essa sistemática se aplica a norma que tenha caráter material (direito penal) ou misto (direito penal
e processual penal). Apenas as normas de natureza processual (puras) NÃO se submetem à retroatividade
benéfica.

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.

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Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,


aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado.

Ressalta-se que NÃO se pode dizer o mesmo acerca da jurisprudência, tendo em vista que, de acordo
com o entendimento dos Tribunais Superiores, é possível a aplicação de novo entendimento jurisprudencial
para fatos ocorridos antes da mudança. Em outras palavras: a irretroatividade maléfica da norma não se
aplica aos entendimentos jurisprudenciais. Veja:

Não há se falar em irretroatividade de interpretação jurisprudencial, uma vez que


o ordenamento jurídico proíbe apenas a retroatividade da lei penal mais gravosa.
Os preceitos constitucionais relativos à aplicação retroativa da norma penal
benéfica, bem como à irretroatividade da norma mais grave ao acusado (art. 5º, XL,
da Constituição Federal), são inaplicáveis aos precedentes jurisprudenciais. STF. 1ª
Turma. HC 161452 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2020. STJ. 5ª Turma.
AgRg nos EDcl no AREsp 1361814/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 19/05/2020.

2.1. Teorias sobre a Eficácia da Lei Penal no Tempo

● Teoria da Atividade: Considera-se praticado o crime no momento da conduta, ou seja, no momento


da ação ou da omissão.
● Teoria do Resultado (do Evento): Considera-se praticado o crime no momento do resultado.
● Teoria da Ubiquidade (Mista): Considera-se praticado o crime no momento da conduta OU do
resultado.

ATENÇÃO: O CP adotou a TEORIA DA ATIVIDADE, conforme artigo 4º, CP:

Art. 4º, CP - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,


ainda que outro seja o momento do resultado.

Essa definição só tem relevância em relação aos delitos materiais/causais, que demandam a
produção de resultado naturalístico, uma vez que, somente nestes, a consumação pode se dar em momento
diferente do da prática da conduta, qual seja, com a produção do resultado. Nos crimes formais e de mera
conduta, a consumação ocorre conjuntamente com a prática da ação ou omissão, não importando o
momento do resultado, por isso dispensa essa teoria.

Consequências da adoção da Teoria da Atividade:


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● Aplica-se a lei penal que estava em vigor no momento da conduta, salvo se a lei penal posterior for
mais favorável (irretroatividade maléfica ou retroatividade benéfica);
● A imputabilidade do agente deve ser analisada no tempo da conduta.

ATENÇÃO! Quanto ao termo inicial da prescrição da pretensão punitiva, o Código Penal adota a
TEORIA DO RESULTADO (art. 111, I, CP): A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa
a correr: I - do dia em que o crime se consumou.

Dica DD: Mnemônico LUTA


Lugar do crime = Ubiquidade
Tempo do crime = Atividade

CESPE - 2020 - TJ-PA - Analista Judiciário - Direito: Com relação ao tempo e ao lugar do crime,
o Código Penal brasileiro adotou, respectivamente, as teorias do(a) atividade e da ubiquidade.
Item certo.

Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.

Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

2.2. Abolitio Criminis

É a supressão da figura criminosa, abolir do ordenamento a figura de um tipo penal incriminador,


aplicando-se a retroatividade benéfica. Assim, prevê o art. 2º, do CP:

Art. 2º, CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória (ou seja, permanecem apenas os efeitos extrapenais – como civis,
administrativos, eleitorais etc).

ATENÇÃO! Se a lei descriminalizadora surgir na fase do inquérito policial já instaurado, os autos serão
relatados encaminhados ao Ministério Público (distribuição direta) ou ao judiciário (para envio ao Ministério
Público). E, conforme a sistemática atualmente vigente (à luz da suspensão da eficácia dos dispositivos

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decorrentes da Lei 13.964/19 pelo STF), após a promoção de arquivamento pelo Ministério Público, o juiz
homologará e, se não concordar com o arquivamento, deverá aplicar a sistemática do artigo 28 do CPP.

a) Natureza jurídica

1ª Corrente: Causa de extinção da punibilidade. Parece ter sido a adotada pelo CP, conforme art.107,
III, CP. Prevalece na doutrina.

Extinção da punibilidade
Art. 107, CP - Extingue-se a punibilidade:
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

2ª Corrente: Causa de exclusão de tipicidade gerando, por conseguinte, a extinção da punibilidade.


Só se extingue a punibilidade porque o fato deixou de ser típico (Flávio Monteiro de Barros). É uma crítica à
1ª corrente, pelo fato de que a extinção da punibilidade apenas tira o direito de punir do Estado, enquanto
o que ocorre aqui, na verdade, é a inexistência de crime. Não prevalece na doutrina.

O que é abolitio criminis temporária?

Com o Estatuto do Desarmamento, foi previsto um prazo para que proprietários de arma de fogo
entregassem ou regularizassem o registro da arma. Durante esse prazo, não incidiu o tipo penal respectivo,
o crime de posse irregular de arma de fogo ficaria “suspenso” por algum tempo. Esse prazo foi chamado de
“abolitio criminis temporária”.
Sobre o tema: Súmula 513 STJ: "A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 aplica-se ao
crime de posse de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005."
Essa abolitio criminis temporária se aplica a fatos praticados entre 23/12/2003 a 23/10/2005 para os crimes
de posse de arma de uso permitido e restrito, bem como as condutas equiparadas. Porém, a partir de
23/10/2005 a 31/12/2009, passou a incidir somente sobre a conduta de posse de uso permitido.

b) Abolitio Criminis X Princípio da continuidade normativo-típica

Na abolitio criminis há supressão da figura criminosa, pois a intenção do legislador é não mais
considerar o fato criminoso.
Já no princípio da continuidade normativo-típica há a migração do conteúdo criminoso para outro
tipo penal incriminador, pois a intenção é manter a natureza criminosa do fato. O STF também já utilizou o
termo transmudação geográfica do tipo penal.

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ABOLITIO CRIMINIS PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA


Supressão formal e material da figura criminosa. Supressão formal do tipo.

O fato deixa de ser criminoso. A intenção do legislador é manter a natureza


criminosa do fato, mas com outra roupagem, em
outro tipo penal.
A intenção é não mais considerar o fato criminoso Migração do conteúdo criminoso para outro tipo
penal incriminador.
Ex.: art. 210 – Adultério. Houve supressão tanto Ex.: art. 214 - Atentado violento ao pudor. O que
material, quanto formal da conduta do campo de antes era este crime, agora é estupro. Não houve
incidência do direito penal, deixando de ser crime. abolitio.

Outros exemplos que sofreram a continuidade típica normativa:

1. Apropriação indébita previdenciária - Desde a lei 9.983/00, essa conduta está prevista no art. 168-
A do CP. Porém, antes de 2000, tínhamos o art. 95 da Lei 8.212/91. O STF entendeu que a lei
9.983/00, ao alterar essa figura típica de posição (da Lei 8212 para o art. 168-A), o fez com o intuito
de ter uma continuidade típico normativa, de modo que, a rigor, não há sucessão de leis no tempo,
mas sim o princípio da CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA.

2. Rapto violento era previsto no art. 219, 220, 221 e 222 no CP - Essa figura do rapto foi revogada pela
Lei 11.106/05. No entanto, essa mesma Lei inclui o inciso V no art. 148, §1º do CP – sequestro e
cárcere qualificado se o crime for praticado com fins libidinosos. O STF decidiu que houve uma
CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA.
Esse exemplo já foi cobrado na prova
de Delegado de Polícia Federal.

3. Corrupção de menores prevista na Lei 2.252/54 (art. 1°) - Essa lei também foi revogada pela Lei
12.015/08, incluindo no ECA o art. 224-B. STF e STJ entenderam que não houve abolitio criminis e
consequente extinção da punibilidade. Pois essa conduta apenas migrou de tipo penal, havendo o
princípio da CONTINUIDADE TÍPICO NORMATIVA.

c) Abolitio Criminis x Novatio Legis in Mellius (“lex mitior”)

A novatio legis in mellius é a nova lei que de qualquer modo favoreça o agente (art. 2°, §único, CP):
A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos
por sentença condenatória transitada em julgado.

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Sobre o tema em estudo, destaca-se trecho do livro do Prof. Cléber Masson, cobrado na última
prova de Delegado de Polícia do Paraná (2021):

Lei penal benéfica, também conhecida como lex mitior ou novatio legis in mellius,
é a que se verifica quando, ocorrendo sucessão de leis penais no tempo, o fato
previsto como crime ou contravenção penal tenha sido praticado na vigência da
lei anterior, e o novel instrumento legislativo seja mais vantajoso ao agente,
favorecendo-o de qualquer modo. A lei mais favorável deve ser obtida no caso
concreto, aplicando-se a que produzir o resultado mais vantajoso ao agente
(teoria da ponderação concreta).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPR 2021): O que determina se a lei é mais favorável ao réu e com isso pode retroagir é a sua
aplicação ao caso concreto (e não a análise da norma em abstrato). (Item correto)

Semelhanças entre abolitio criminis e novatio legis:


● A retroatividade benéfica é automática, independente de cláusula expressa;
● Pode ser aplicada de ofício pelo juiz ou, ainda, mediante provocação das partes;
● Alcança, inclusive, fatos já definitivamente julgados, visto que a coisa julgada não é oponível à
retroatividade benéfica.

Juízo competente para a aplicação: Depende do momento em que se encontra a persecução penal.
a) Se estiver na fase do inquérito ou na ação penal de 1ª instância quem aplica é o juiz de 1ª grau.
b) Se estiver no Tribunal (recurso ou competência originária), será aplicada por ele.
c) Se a condenação já transitou em julgado, cabe ao juízo da execução, pouco importando a origem da
condenação.

Súmula 611 do STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao


JUÍZO DAS EXECUÇÕES a aplicação da lei mais benigna.

ATENÇÃO! A lei penal benéfica possui ULTRATIVIDADE, ou seja, pode ser aplicada mesmo após a sua
revogação, caso o fato tenha sido praticado durante a sua vigência.

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CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal: Manoel praticou conduta
tipificada como crime. Com a entrada em vigor de nova lei, esse tipo penal foi formalmente
revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida em outro tipo penal. Nessa situação, Manoel
responderá pelo crime praticado, pois não ocorreu a abolitio criminis com a edição da nova
lei. Item certo.

Trata-se da continuidade normativo típica e não de abolitio criminis. A abolitio criminis ocorre quando a
conduta praticada pelo agente deixa de ser tipificada como crime, assim, analisado todo o ordenamento
jurídico, não se identifica tipificação da conduta punida com pena privativa de liberdade.
No caso da assertiva, a conduta apenas migrou para outro tipo penal, continuando a existir.

2.3. Crime continuado, Crime permanente, Sucessão de leis penais

● Crime continuado: Previsto no art. 71 do CP, que assim o define:

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, prática dois
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

A título de exemplo, imagine que o agente pratica 03 furtos, nas mesmas circunstâncias de tempo,
local e modo de execução. Quando começou a cadeia criminosa, o furto era punido pela lei “A”, com pena
de 1 a 4 anos. No meio da cadeia criminosa, veio a lei “B”, que previa a pena de 1 a 5 anos. No crime
continuado, por uma ficção jurídica, considera-se a ocorrência de um crime só.

● Crime permanente: Trata-se de crime cuja consumação é prolongada no tempo pela vontade do
agente. Ex.: extorsão mediante sequestro - a consumação já se deu com a privação da liberdade, mas
enquanto a vítima não é libertada o crime continua se consumando.

Nestes dois casos, considerando que o agente deu continuidade às condutas por opção, aplica-se
sempre a última lei vigente, mesmo que mais grave, conforme entendimento sumulado.

Súmula 711, do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

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CRIME PERMANENTE CRIME CONTINUADO


É aquele cuja consumação se prolonga no É aquele em que o agente pratica, mediante mais
tempo, por vontade do agente. de uma ação ou omissão, dois ou mais delitos
Ex.: art. 159, CP (extorsão mediante sequestro). da mesma espécie, e pelas condições de tempo,
O crime se consuma no momento em que o lugar, maneira de execução e outras
agente priva a liberdade da vítima, mas continua semelhantes, devem os subsequentes ser
se consumando até a libertação do ofendido. havidos como continuação do primeiro. Trata-
Se a vítima foi sequestrada enquanto estava em se de uma ficção jurídica.
vigor a lei menos gravosa, mas no período em Ex.: Caso o agente pratique cinco crimes, porém
que ficou sob o poder do agente entrou em vigor os quatro primeiros estavam sob a regência da
lei mais gravosa, aplica-se a última. lei menos gravosa, enquanto que o quinto é
praticado na vigência da lei mais gravosa, aplica-
se a última.

É possível a combinação de leis penais para favorecer o réu (lex tertia)?

1ª Corrente: Não é possível, pois o juiz, assim agindo, transforma-se em legislador, criando uma terceira lei.
(Nelson Hungria). Prevalece no STF e STJ. Nesse sentido, a Súmula 501, STJ: “É cabível a aplicação retroativa
da lei n. 11.343/06, desde que o resultado da incidência de suas disposições, na íntegra, seja mais favorável
ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.360/76, sendo vedada a combinação de leis”.

2ª Corrente: É possível, visando atender os princípios constitucionais da ultratividade e retroatividade


benéfica. Não se trata de criação, mas combinação de leis (Luiz Flávio Gomes). Se o juiz pode aplicar o “todo”
de uma lei ou de outra para favorecer o agente, ele pode escolher “parte” de uma e de outra para o mesmo
fim. (Basileu Garcia).

Embora prevaleça a 1ª Corrente nas Cortes Superiores, não se pode ignorar que o próprio STJ tem
precedentes combinando leis. É o caso do art. 273 do CP e art. 33, Lei 11.343/06. Com alicerce no princípio
da proporcionalidade o STJ entendeu pela substituição do preceito secundário do art. 273, CP pelo do art.
33, Lei 11.343/06 (AgRg no REsp 1509051/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 03/09/2019, DJe 10/09/2019).

Em contraponto, julgado mais recente do STF vedou essa aplicação, conforme se verifica no Tema 1003 (RE
979962), cuja tese aprovada foi: “É inconstitucional a aplicação do preceito secundário do art. 273 do Código
Penal, com redação dada pela Lei nº 9.677/98 (reclusão, de 10 a 15 anos, e multa), à hipótese prevista no
seu § 1º-B, I, que versa sobre a importação de medicamento sem registro no órgão de vigilância sanitária.
Para esta situação específica, fica repristinado o preceito secundário do art. 273, na redação originária
(reclusão, de 1 a 3 anos, e multa).” (aprovada em 24/03/2021).
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2.4. Lei Excepcional e Temporária

● Lei temporária: É aquela que tem prefixado no seu texto o tempo de sua vigência. Logo, possui prazo
determinado na lei. Ex.: Lei 12.663/12 (Lei da FIFA).
● Lei excepcional: É a que atende a transitórias necessidades estatais, tais como guerra, epidemias,
calamidades. Perdura por todo o tempo excepcional, que não é preestabelecido na lei. É editada em
função de algum evento transitório, sendo que perdura enquanto persistir o estado de emergência.

Art. 3º, CP: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência.

Características:
. Autorrevogabilidade: Consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo fixado (lei
temporária) ou cessada a situação de anormalidade (lei excepcional).
. Ultratividade: Os fatos praticados durante sua vigência continuam sendo punidos ainda que
revogadas as leis temporária ou excepcional.

ATENÇÃO! Estas leis NÃO se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis, salvo se lei posterior for
expressa nesse sentido.

A alteração de complemento de norma penal em branco, retroage?

Segundo o STF, depende. Em se tratando de norma penal em branco homogênea (imprópria), cujo
complemento será outra lei, deve retroagir para beneficiar o réu.
Já nos casos de norma penal em branco heterogênea, cuja complementação normalmente é feita por ato
administrativo, só retroagirá caso o ato não se dê em situação de excepcionalidade, ou seja, se for proferido
em situação de normalidade. Assim, temos as seguintes hipóteses:
- Ato não visa proteger situação excepcional, ou seja, proferido em situações de normalidade: Há
retroatividade da lei penal benéfica, a exemplo da retirada do cloreto de etila da lista da Portaria da Anvisa
que complementa a Lei de Drogas.
- Ato que visa proteger situação excepcional: Não retroage. Por exemplo, portarias que fazem tabelamento
de preços, para reger, por exemplo, crimes contra a ordem econômica. Nestas hipóteses, se não foi
obedecido o tabelamento daquela data, mas posteriormente houve a correção da tabela para um patamar
superior, não haverá a retroatividade da lei penal, vez que o que se buscava era tutelar aquela situação de
caráter excepcional.

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ESPE / CEBRASPE - 2021 - TC-DF - Procurador: A novatio legis in mellius se aplica aos fatos
anteriores já decididos por sentença condenatória transitada em julgado, sem violar a
proteção constitucional à coisa julgada. Item certo.

Segundo o disposto no CP, Art. 2º, Parágrafo único: A lei posterior que, de qualquer modo, favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.

2.5. Lei Intermediária

Vamos exemplificar para ficar mais fácil.


Fulano praticou um delito durante a vigência da Lei 1, que cominou para tal conduta a pena de 6 anos
de reclusão. Durante o processo, entra em vigor a Lei 2, modificando a respectiva pena para 3 anos. Por fim,
quando da sentença, já está em vigor a Lei 3, que pune a mesma conduta com 4 anos de reclusão.
Assim, podemos facilmente verificar que a lei mais benéfica a ele é a 2ª, certo? Porém, ela não estava
em vigor nem na data do fato, nem na data da sentença, sendo uma lei intermediária. E aí, será que ela pode
ser aplicada?
Tanto a doutrina, como o STF entendem que SIM, é possível aplicar a lei intermediária, desde que
seja a mais benéfica entre as 3 na sua integralidade. E esta é uma lei possui duplo-efeito: retroatividade -
retroage para alcançar o fato; e ultratividade - possui força para alcançar a sentença ou o julgamento.
Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/QIi7-MlfCjk

3. LEI PENAL NO ESPAÇO

Eventualmente, um fato criminoso pode atingir os interesses de dois ou mais Estados igualmente
soberanos. Assim, o estudo da lei penal no espaço visa a delimitar qual é o âmbito territorial de aplicação da
lei penal brasileira.

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Vetores fundamentais para essa definição:


● Territorialidade (art. 5º, CP): Aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos no
território brasileiro. REGRA GERAL.
● Extraterritorialidade (art. 7º, CP): Aplicação da lei penal brasileira aos crimes cometidos do
exterior. EXCEÇÃO.
● Intraterritorialidade: Aplicação da lei estrangeira a crimes cometidos no Brasil. EXCEÇÃO.
Ex.: imunidades diplomáticas.

No ordenamento jurídico brasileiro, portanto, aplica-se a regra da TERRITORIALIDADE MITIGADA


(RELATIVIZADA / TEMPERADA).

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de


direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional
as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas
em porto ou mar territorial do Brasil.

Cuidado: De forma diversa, no processo penal é adotado o princípio da territorialidade absoluta.

3.1. Princípios

CESPE - 2004 - Polícia Federal - Delegado de Polícia: Um cidadão sueco tentou matar o
presidente do Brasil, que se encontrava em visita oficial à Suécia. Nessa hipótese, o crime
praticado não ficará sujeito à lei brasileira. Item errado.

Extraterritorialidade Incondicionada
a) Contra a vida ou a liberdade do Presidente.
b) Contra Patrimônio ou fé pública da Adm. Direta ou Indireta.
c) Contra a Adm. Pública, por quem está de serviço.
d) De genocídio (crime hediondo), quando o agente for brasileiro (nato ou naturalizado) ou domiciliado
no Brasil.

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● Princípio da Nacionalidade / Personalidade Ativa: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente,


não importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou dos bens jurídicos lesados. Ou seja, a
lei brasileira é aplicada em razão da nacionalidade do sujeito ativo - art. 7º, II, b, CP.

● Princípio da Nacionalidade / Personalidade Passiva: Aplica-se a lei penal da nacionalidade do sujeito


passivo. Ou seja, a lei brasileira é aplicada ao crime praticado por estrangeiro contra brasileiro - art.
7º, § 3º, CP.

● Princípio da Defesa Real / da Proteção / Real: Aplica-se a lei da nacionalidade do bem jurídico
violado, não importando o local ou nacionalidade do agente. Ou seja, a lei brasileira é aplicada ao
crime cometido fora do Brasil, que afete interesse nacional - art. 7º, I, a, b, c, CP.

● Princípio da Justiça Universal / Universalidade / Justiça Cosmopolita: O agente fica sujeito à lei do
país em que for capturado, não importa o local do crime, nem a nacionalidade do agente ou da
vítima. Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação de
repressão a determinados delitos de alcance transnacional. É pautado no direito de todos os países
em punir qualquer crime - art. 7º, I, d e II, a, CP (obs.: em relação ao inciso I, d, existem autores que
dizem que se trata do princípio do domicílio, mas a doutrina majoritária entende como justiça
universal).

● Princípio da Representação / da Bandeira / Subsidiário: A lei brasileira será aplicada aos crimes
cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas brasileiras, desde que não sejam
julgados no local do crime - art. 7º, II, c, CP.

O que é o território nacional para fins de limite de aplicação da lei?

Território é o espaço que o país exerce sua soberania política.


O território brasileiro abrange a superfície terrestre (solo e subsolo), as águas interiores, o mar
territorial (12 milhas marítimas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular - Lei n° 8.617/93, art. 1°)
e o espaço aéreo correspondente (teoria da soberania sobre a coluna atmosférica). No caso de território
neutro, aplica-se a lei do país do agente.
O conceito de território nacional abrange não apenas o espaço físico, mas, também, um espaço
jurídico por ficção, equiparação ou extensão, previsto no art. 5º, § 1º, CP.
Para aeronaves e navios:
⋅ Se públicos ou a serviço do Brasil: considera-se território brasileiro onde quer que se encontre;
⋅ Se privada ou mercante: somente se tiver em alto-mar (aplica-se a bandeira).

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EMBARCAÇÕES E AERONAVES SERÁ APLICADA A LEI BRASILEIRA


Públicas ou a serviço do governo estrangeiro. Quer se encontre em território nacional ou
estrangeiro.
Mercantes ou particulares brasileiras. Se estiverem em alto-mar ou no espaço aéreo
correspondente.
Estrangeiras. Apenas quando privadas em território nacional.

OBS.1: Princípio da reciprocidade


As embarcações e aeronaves estrangeiras, de natureza pública ou a serviço do governo estrangeiro,
são consideradas extensão do território estrangeiro, mesmo se estiverem em território brasileiro.

OBS.2: Embaixada é território nacional. NÃO é extensão do território que representa. No entanto, é
inviolável.

3.2. Extraterritorialidade

É a aplicação da lei brasileira ao CRIME praticado no estrangeiro.


ATENÇÃO! Não se aplica a lei brasileira às CONTRAVENÇÕES PENAIS praticadas no exterior (art. 2°,
DL 3.688/41).

A extraterritorialidade pode ser:

A) INCONDICIONADA: A simples prática do crime no exterior já autoriza a incidência da lei brasileira,


independentemente de qualquer requisito. As hipóteses estão previstas no art. 7°, I, CP:

● Crimes praticados contra a vida ou a liberdade do Presidente da República (ATENÇÃO! NÃO é honra,
ou patrimônio. É apenas vida ou liberdade do PR);
∘ Princípio da defesa real ou proteção.

● Crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território,


de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público;
∘ Princípio da defesa real ou proteção.

● Crimes praticados contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
∘ Princípio da defesa real ou proteção.

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● Crimes de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.


∘ Princípios: cosmopolita ou universalidade (genocídio), personalidade ativa (agente
brasileiro), domicílio (domiciliado no Brasil).

A Lei de Tortura prevê mais uma hipótese de extraterritorialidade incondicionada.

Art. 2°, Lei 9.455/97: (...) o disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não
tenha sido cometido no território nacional, sendo a vítima brasileira ou
encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

B) CONDICIONADA: Admissível nos crimes previstos no art. 7°, II, CP. É preciso respeitar as condições
cumulativas previstas no Código Penal.

● Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;


∘ Princípio da justiça universal.

● Crimes praticados por brasileiro;


∘ Princípio da personalidade / nacionalidade ativa.

● Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade


privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
∘ Princípio da representação / bandeira / pavilhão.

CONDIÇÕES (CUMULATIVAS):
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; (PRINCÍPIO DA DUPLA TIPICIDADE)
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.

C) HIPERCONDICIONADA: Conforme previsão no art. 7°, §3°, CP, a lei brasileira aplica-se também ao
crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil - princípio da personalidade passiva -, se,
além de reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não tiver sido pedida ou foi negada a extradição;
b) ter havido requisição do Ministro da Justiça.

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Parte da doutrina chama esse parágrafo de territorialidade hipercondicionada, tendo em vista que
além das condições previstas para a modalidade condicionada, precisa preencher uma dessas outras duas.

COMPETÊNCIA
Via de regra, a competência para julgar o indivíduo que praticou o crime fora do território nacional,
mas que está sujeito à aplicação da lei brasileira, será da Justiça Estadual. Contudo, excepcionalmente, se
estiver presente alguma das hipóteses do art. 109 da Constituição Federal, a competência será da Justiça
Federal.
Vale também a leitura do art. 88 do CPP, que determina que:

No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o


juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca
tiver residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.

Ainda, conforme o art. 8º, do CP, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil
pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Sobre o tema, a jurisprudência:

O agente não pode responder a ação penal no Brasil se já foi processado


criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro
O agente não pode responder à ação penal no Brasil se já foi processado
criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro. O art. 5º do Código
Penal afirma que a lei brasileira se aplica ao crime cometido no território nacional,
mas ressalva aquilo que for previsto em “convenções, tratados e regras de direito
internacional”. A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e o Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) proíbem de forma expressa a
dupla persecução penal pelos mesmos fatos. Desse modo, o art. 8º do CP deve
ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a jurisprudência da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla
persecução penal por idênticos fatos. Vale, por fim, fazer um importante alerta: a
proibição de dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada
com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas
pela CIDH. Isso significa que, se ficar demonstrado que o Estado que “processou” o
autor do fato violou os deveres de investigação e de persecução efetiva, o
julgamento realizado no país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo. Portanto,
se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre os
mesmos fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando
obrigações processuais positivas, a vedação de dupla persecução pode ser

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eventualmente ponderada para complementação em persecução interna. STF. 2ª


Turma. HC 171118/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

Explicação Dizer o Direito:


O STF já teve a oportunidade de se manifestar a respeito dessas regras, e, ao fazê-
lo obstou o prosseguimento de processo penal quanto a fatos já julgados por
jurisdição diversa: (...) Ninguém pode expor-se, em tema de liberdade individual, a
situação de duplo risco. Essa é a razão pela qual a existência de hipótese
configuradora de “double jeopardy” atua como insuperável obstáculo à
instauração, em nosso País, de procedimento penal contra o agente que tenha sido
condenado ou absolvido, no Brasil ou no exterior, pelo mesmo fato delituoso.
A cláusula do Artigo 14, n. 7, inscrita no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos, aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, qualquer que seja a
natureza jurídica que se lhe atribua (a de instrumento normativo impregnado de
caráter supralegal ou a de ato revestido de índole constitucional), inibe, em
decorrência de sua própria superioridade hierárquico-normativa, a possibilidade
de o Brasil instaurar, contra quem já foi absolvido ou condenado no exterior, com
trânsito em julgado, nova persecução penal motivada pelos mesmos fatos
subjacentes à sentença penal estrangeira. STF. 2ª Turma. Ext 1223, Rel. Min. Celso
de Mello, julgado em 22/11/2011.

Cuidado: O STJ já decidiu que: A pendência de julgamento de litígio no exterior não


impede, por si só, o processamento da ação penal no Brasil, não configurando bis
in idem. STJ. 6ª Turma. RHC 104.123-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
17/09/2019 (Info 656). Embora o caso concreto julgado pelo STJ tivesse algumas
peculiaridades, existe a dúvida se esse entendimento irá permanecer a partir
daquilo que decidiu o STF no HC 171118/SP.

Pontos importantes CESPE / CEBRASPE:

I - Aplica-se a lei penal brasileira a crimes cometidos dentro de aeronave ou embarcação


brasileira que seja pública ou esteja a serviço do governo, independentemente de onde se
encontrem, em razão do princípio da bandeira ou da representação. Item errado.

Em caso de aeronaves ou embarcações públicas (que é o caso da questão), aplica-se o Princípio da


Territorialidade, pois estas aeronaves são consideradas território brasileiro por extensão, onde quer que
se encontrem!

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II - Considere que um cidadão nascido no Chile tenha cometido um crime de estupro naquele país, após a
obtenção de sua naturalização secundária como brasileiro, com todos os efeitos legais a ela inerentes.
Nesse caso, é possível a aplicação da lei penal brasileira, sendo condição de procedibilidade para o início
da ação penal a entrada do agente em território nacional. Item certo.

O agente nasceu no Chile, mas o crime foi cometido após a obtenção da nacionalidade brasileira. Trata-
se de uma hipótese de extraterritorialidade condicionada. A lei brasileira pune os crimes praticados por
brasileiro no estrangeiro, desde que, cumulativamente, algumas condições estejam presentes. São elas:
- que tenha o agente entrado no território nacional;
- que a conduta seja punível também no país em que foi praticada;
- que a conduta esteja entre aquelas para as quais a lei brasileira autoriza a extradição;
- que o agente não tenha sido absolvido ou tenha cumprido a respectiva pena no estrangeiro;
- que o agente não tenha sido perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.
A norma não faz qualquer ressalva quanto ao cidadão brasileiro nato ou naturalizado.

Veja a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/QXy87jzOj8o

3.3. Lugar Do Crime

Pelo art. 6º, CP, adota-se a teoria da ubiquidade ou mista:

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão,


no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado. (Aplica-se a crimes à distância).

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OBS.1: Lugar do delito x Locus comissi delicti


Cuidado para não confundir o lugar do delito para o Código Penal (teoria da ubiquidade) com locus
comissi deliciti para o código de Processo Penal (teoria do resultado):
● Lugar do delito: serve para os crimes à distância (crimes que perpassam mais de um país).
. Tema de direito penal (art. 6º, CP);
. Adota a Teoria da Ubiquidade.
● Locus comissi delicti: lugar onde se consuma o crime.
. Tema de direito processual penal (art. 70, CPP);
. Adota a Teoria do Resultado.

OBS.2: Crime à distância x Crime plurilocal


● Crime à distância (espaço máximo): percorre territórios de dois Estados soberanos. Envolve
conflito internacional de jurisdição que se resolve com base no art. 6º, CP (teoria da
ubiquidade).
● Crime plurilocal: Percorre pluralidade de locais de um mesmo Estado Soberano. Aplica-se o
art. 70, do CPP (teoria do resultado).

DICA DD: De acordo com o CP o crime cometido dentro do território nacional, a bordo de navio que apenas
passava pelo mar territorial brasileiro aplica-se a lei nacional, porque o crime tocou o nosso território.
Atualmente, aplica-se a chamada PASSAGEM INOCENTE, dispondo que quando um navio passa no território
nacional somente como passagem necessária para chegar ao seu destino, não há necessidade de autorização
do Governo Brasileiro para tanto, hipótese em que NÃO se aplica a lei brasileira. A passagem inocente
somente se refere a navio, segundo Rogério Sanches os aviões não desfrutam da passagem inocente (art. 3º
da Lei nº 8.617/93).

DICA DD: Mnemônico LUTA


Lugar do crime = Ubiquidade
Tempo do crime = Atividade

4. EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS (IMUNIDADES)

4.1 Introdução

Vejamos o artigo 5º, caput e inciso I, CF:

Art. 5º, CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

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do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos


seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;

Imunidade diplomática/parlamentar x Artigo 5º, caput, e inciso I, da CF:


Nesse ponto, deve-se analisar que a isonomia garantida constitucionalmente é substancial,
permitindo tratar os desiguais de forma desigual, na medida de sua desigualdade. Além disso, a imunidade
leva em conta dados objetivos e não subjetivos do agente, haja vista que a imunidade é uma prerrogativa
funcional, e não um privilégio da pessoa. Nesse sentido, é possível dizer que a lei penal se aplica a todos,
nacionais ou estrangeiros, por igual, não existindo privilégios pessoais.
Há, no entanto, pessoas que, em virtude de suas funções, ou em razão de regras internacionais,
desfrutam de imunidades. Logo, longe de ser uma garantia pessoal, trata-se de necessária PRERROGATIVA
FUNCIONAL, proteção ao cargo ou função desempenhada pelo seu titular. Por isso, a doutrina entende que
NÃO se deve falar em “foro privilegiado”, mas sim em “foro por prerrogativa de função”.

PRIVILÉGIO PRERROGATIVA
É uma exceção da lei comum deduzida da É o conjunto de precauções que rodeiam a função.
situação de superioridade das pessoas que a Servem para o exercício da função.
desfrutam. O privilégio trabalha com a ideia de
que há pessoas superiores a outras.
É subjetivo e anterior à lei. É objetiva e deriva da lei.
Tem uma essência pessoal. É um anexo à qualidade do órgão.
É poder frente à lei. É conduto para que a lei se cumpra.
É próprio da aristocracia das ordens sociais É próprio das aristocracias das instituições
(nobreza, clero). governamentais.

4.2 Imunidades Diplomáticas

São imunidades de direito público internacional de que desfrutam:

i. Chefes de governo ou de Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;


ii. Embaixador e sua família;
iii. Funcionários do corpo diplomático e suas respectivas famílias;
iv. Funcionários das organizações internacionais, quando em serviço (ex. funcionários da ONU).

A imunidade diplomática garante o que? O diplomata deve obediência à nossa lei?

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Por força da característica da generalidade da lei penal, os agentes diplomáticos devem obediência
ao preceito primário do país em que se encontram. Escapam, no entanto, da sua competência jurídica, ou
seja, da punição (preceito secundário), permanecendo sob a eficácia da lei penal do Estado a que pertencem
(INTRATERRITORIALIDADE).
Primeiramente, é importante observar que a lei penal é formada pelo preceito primário (que possui
o conteúdo criminoso) e pelo preceito secundário (que traz a consequência jurídica, a sanção penal).
O diplomata deve sim obedecer ao preceito primário. O que a imunidade lhe garante é exatamente
escapar das consequências jurídicas, ficando sujeito às consequências do seu país de origem. Então, o
diplomata que mata alguém comete crime sim. O que fica diferente é a consequência jurídica.
E se no país de origem da diplomata não houver punição? Haverá, então, um conflito de direito
internacional, que, ao ser resolvido pelas imunidades, pode levar ao fato de o diplomata não ser punido.
OBS.: Por disposição expressa, o agente diplomático NÃO poderá ser objeto de nenhuma forma de
detenção ou prisão. Veja o art. 29 do Decreto 56.435:

A pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser objeto de nenhuma


forma de detenção ou prisão. O Estado acreditado tratá-lo-á com o devido respeito
e adotará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua pessoa,
liberdade ou dignidade.

Note, ainda, que esta inviolabilidade a que estão sujeitos se estende à sua residência particular,
documentos, correspondências e bens (art. 30, Decreto 56.435)

A residência particular do agente diplomático goza da mesma inviolabilidade e


proteção que os locais da missão.
2. Seus documentos, sua correspondência e, sob reserva do disposto no parágrafo
3 do artigo 31, seus bens gozarão igualmente de inviolabilidade.

OBS.: A imunidade diplomática NÃO impede a investigação policial!

Qual a natureza jurídica da imunidade diplomática? Existem duas correntes discutindo esse assunto.
1ª Corrente (majoritária): causa pessoal de isenção de pena.
2ª Corrente: causa impeditiva de punibilidade.

É possível renunciar à imunidade?


O diplomata NÃO pode renunciar à sua imunidade, pois é uma prerrogativa do cargo. Contudo, o
país de origem pode renunciar a imunidade do seu diplomata.
Ex. caso nos EUA em que um diplomata da Geórgia dirigindo embriagado atropelou a brasileira. O
país renunciou a imunidade do diplomata e ele respondeu de acordo com uma lei americana.
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Em resumo: A imunidade é irrenunciável. É vedado ao seu destinatário abdicar da prerrogativa (pois


esta é do cargo e não da pessoa). Poderá haver renúncia por parte do Estado de origem, ficando o diplomata
sujeito à lei do país em que ocorreu o crime (art. 32, Dec. 56.435/65):

1. O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus agentes


diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos do artigo 37.
2. A renuncia será sempre expressa.
3. Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição
nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a
imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção ligada à ação principal.
4. A renuncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações civis ou administrativas
não implica renúncia a imunidade quanto as medidas de execução da sentença para
as quais nova renúncia é necessária.

Os agentes consulares desfrutam de imunidade?


O agente consular possui imunidade somente nos delitos praticados em razão da função, NÃO
abrangendo os crimes praticados fora da função.

EMBAIXADOR AGENTE CONSULAR

Possui imunidade: Possui imunidade somente nos delitos


a) Nos crimes comuns; praticados em razão da função.
b) Nos crimes praticados em razão da
função.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Em viagem ao Rio de Janeiro, Paolo, italiano, filho do embaixador da Itália no Brasil,
registrado como dependente deste, com quem vive, foi à Lapa, onde se embriagou. Com a capacidade
psicomotora comprometida, assumiu a direção de um veículo e, em seguida, devido à embriaguez, atropelou
e matou uma pessoa. Nessa situação hipotética: Paolo não poderá ser punido pela lei brasileira, pois, salvo
em caso de renúncia, possui imunidade diplomática, embora possa ser punido pelas leis do Estado
acreditante. (Item correto)

A embaixada é extensão do território que representa?


Quanto à territorialidade das embaixadas, mesmo havendo divergências entre alguns doutrinadores,
decidiu o STF que as mesmas NÃO FAZEM parte do território do país que representam, tendo em vista que
as sedes diplomáticas, de acordo com a Convenção de Viena, possuem apenas inviolabilidade. Então, a

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embaixada não é extensão do território, mas é inviolável. Diante disso, para se cumprir a lei do país no
interior da embaixada, deve primeiro se passar pelas regras de direito internacional, NÃO se podendo
cumprir a lei do país nem mesmo se houver mandado judicial, ou flagrante delito.

Atenção !! Pontos importantes!

CESPE / CEBRASPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado de Polícia: Diferentemente dos arquivos
diplomáticos, os arquivos consulares podem ser violados em caso de fundada suspeita de
atentado contra a incolumidade do Estado receptor. Item errado.

Os arquivos e documentos consulares, a exemplo dos diplomáticos, são invioláveis em qualquer


circunstância e onde quer que se encontrem.

CESPE - 2013 - PC-BA - Delegado de Polícia: Somente mediante expressa manifestação pode o agente
diplomático renunciar à imunidade diplomática, porquanto o instituto constitui causa pessoal de exclusão
da pena. Item errado.

A imunidade é irrenunciável por parte do seu destinatário. Nada impede, por outro lado, a renúncia por
meio do Estado acreditante, com fundamento no art. 32 da Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas (1961) e art. 45 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares (1963).

4.3 Imunidades Parlamentares

4.3.1 Imunidade Parlamentar Absoluta / Material / Real / Substancial ou Inviolabilidade / Indenidade

Art. 53, caput, CF - Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e


penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

Há diversas correntes acerca da natureza jurídica da imunidade parlamentar absoluta:


1ª Corrente: É causa excludente de crime (Pontes de Miranda).
2ª Corrente: É causa que se opõe à formação do crime (Basileu Garcia).
3ª Corrente: É causa pessoal de exclusão de pena (Aníbal Bruno).
4ª Corrente: É causa de irresponsabilidade (Magalhães Noronha).
5ª Corrente: É incapacidade pessoal penal por razões políticas (Frederico Marques).
6ª Corrente: É causa de atipicidade (Luis Flávio Gomes e STF).

Súmula 245, STF: A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa
prerrogativa.
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ATENÇÃO! A súmula só se aplica no caso de imunidade parlamentar relativa (NÃO se aplica para a imunidade
parlamentar absoluta).

A imunidade só se aplica quando verificado o nexo causal com o exercício da função parlamentar.
OBS.: Segundo a jurisprudência dominante, nas dependências do parlamento, o nexo causal é
presumido. Fora das dependências do parlamento, o nexo deve ser comprovado.
Logo, os deputados e senadores não são imunes somente nas dependências do parlamento. São
imunes dentro e fora do parlamento. Ocorre que, dentro do parlamento, o nexo causal entre a prática do
delito e o exercício da função é presumido (facilitando a incidência da imunidade) e fora do parlamento, esse
nexo deve ser comprovado.
Não obstante, há jurisprudência do STF na qual foi afastada a incidência da imunidade por fato
ocorrido na Casa Legislativa. Isso porque a 1ª Turma salientou que o fato de o parlamentar estar na Casa
legislativa no momento em que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de cometimento de crimes
contra a honra, nos casos em que as ofensas são divulgadas pelo próprio parlamentar na Internet:

O Parlamento é o local por excelência para o livre mercado de ideias – não para o
livre mercado de ofensas. A liberdade de expressão política dos parlamentares,
ainda que vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade. Ninguém pode se
escudar na inviolabilidade parlamentar para, sem vinculação com a função, agredir
a dignidade alheia ou difundir discursos de ódio, violência e discriminação.
PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 10.3.2020. (PET-7174)

4.3.2 Imunidade Parlamentar Relativa / Formal

Art.53, §2º, CF - Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional


não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que,
pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. (Redação dada pela
EC nº 35, de 2001)

O termo inicial dessa imunidade é desde a expedição do diploma e a garantia por ela prevista é a de
que o parlamentar só pode ser preso em flagrante delito de crime inafiançável. Em todos os demais casos,
NÃO é cabível a prisão, pois incide a imunidade!
No caso de flagrante em crime inafiançável, a Casa Legislativa faz um juízo político da prisão. O juízo
NÃO é jurídico, mas político, ou seja, conforme a conveniência e oportunidade de se manter o parlamentar
preso.
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4.3.3 Imunidade relativa ao processo

Art.53, CF, §3º - Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto
da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da
ação. (Redação pela EC nº 35, de 2001)
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
(Redação pela EC nº 35, de 2001)
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.
(Redação pela EC nº 35, de 2001)

A garantia funcional consiste no fato de a Casa Legislativa respectiva (Câmara ou Senado) poder
sustar o andamento do processo, o que também suspende a prescrição.
Cuidado: A imunidade NÃO impede a instauração de Inquérito Policial e nem a realização de
investigação penal (STF).

4.3.4 Imunidade relativa à condição de testemunha

Art.53, §6º, CF - Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar


sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem
sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. (Redação
dada pela EC nº 35, de 2001)

Os deputados e senadores, quando arrolados, são obrigados a servir como testemunha. Eles prestam
o compromisso de dizer a verdade. Contudo, NÃO estão obrigados a testemunhar sobre as informações
recebidas ou prestadas em razão do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam
as informações.
Ressalta-se que os Congressistas serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre
eles e o juiz, nos termos do art.221, do CPP.

Art. 221, CPP - O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e


deputados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e
Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos
Municípios, os deputados às Assembleias Legislativas Estaduais, os membros do
Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos
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Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos


em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.

OBS.1: O parlamentar indiciado (sujeito à investigação policial) NÃO tem a prerrogativa a que se
refere o art. 221, do CPP. Essa prerrogativa é apenas para testemunha.
OBS.2: O STF, na AP 421, mitigou a prerrogativa do art.221, do CPP, pois utilizada para procrastinar
intencionalmente o regular andamento e desfecho do processo (caso concreto: o parlamentar ficou
marcando e desmarcando o horário e data da inquirição, então, o juiz designou dia e horário e determinou a
inquirição no dia e horário e local por ele determinados):

QUESTÃO DE ORDEM. AÇÃO PENAL. DEPUTADO FEDERAL ARROLADO COMO


TESTEMUNHA. NÃO INDICAÇÃO DE DIA, HORA E LOCAL PARA A OITIVA OU
NÃO COMPARECIMENTO NA DATA JÁ INDICADA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA
PARA O NÃO ATENDIMENTO AO CHAMADO JUDICIAL. DECURSO DE MAIS DE
TRINTA DIAS. PERDA DA PRERROGATIVA PREVISTA NO ART. 221, CAPUT, DO
CPP. Passados mais de trinta dias sem que a autoridade que goza da
prerrogativa prevista no caput do art. 221 do CPP tenha indicado dia, hora e
local para a sua inquirição ou, simplesmente, não tenha comparecido na data,
hora e local por ela mesma indicados, como se dá na hipótese, impõe-se a
perda dessa especial prerrogativa, sob pena de admitir-se que a autoridade
arrolada como testemunha possa, na prática, frustrar a sua oitiva,
indefinidamente e sem justa causa. Questão de ordem resolvida no sentido de
declarar a perda da prerrogativa prevista no caput do art. 221 do CPP, em
relação ao parlamentar arrolado como testemunha que, sem justa causa, não
atendeu ao chamado da justiça, por mais de trinta dias.

4.3.5 Imunidades dos Parlamentares dos Estados (Deputados Estaduais)

Art. 27, §1º, da CF: Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença,
impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

Os parlamentares dos Estados possuem as mesmas imunidades dos deputados federais, em razão do
princípio da simetria. Vejamos o entendimento do STF sobre o tema:

Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os


parlamentares federais no art. 53 da CF/88. São constitucionais dispositivos da
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Constituição do Estado que estendem aos Deputados Estaduais as imunidades


formais previstas no art. 53 da Constituição Federal para Deputados Federais e
Senadores. A leitura da Constituição da República revela, sob os ângulos literal e
sistemático, que os Deputados Estaduais também têm direito às imunidades formal
e material e à inviolabilidade que foram conferidas pelo constituinte aos
congressistas (membros do Congresso Nacional). Isso porque tais imunidades
foram expressamente estendidas aos Deputados pelo § 1º do art. 27 da CF/88. STF.
Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min.
Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019 (Info 939).

4.3.6 Imunidades dos Parlamentares dos Municípios (Vereadores)

Eles só possuem imunidade material, limitada aos atos praticados no exercício do mandato e dentro
da circunscrição do município. Então, essa é uma imunidade material limitada. Os vereadores NÃO possuem
imunidade formal ou relativa.

Cabe prisão cível alimentícia contra Congressista devedor de alimentos?

Há três correntes:
1ª Corrente: A imunidade abarca qualquer ato de privação da liberdade (Gilmar Mendes).
2ª Corrente: Há que se fazer distinção entre a natureza provisória dos alimentos e definitiva, cabendo a prisão
somente para o último caso tendo em vista que, quanto aos provisórios, ainda não se exauriu a prova (Rogério
Sanhes).
3ª Corrente: Cabível a prisão cível por dívida de alimentos independente da natureza observando o interesse do
alimentando (Novelino).

5. EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA

Dispõe o art. 9º, do CP: A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie
as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:

Obrigar o condenado à:
I- ● Reparação de danos civis; Depende de requerimento da parte interessada
● Restituições;
● Outros efeitos civis.
II - ● Sujeitar o condenado à medida Depende da existência de tratado de extradição entre o BR
de segurança. e o país de origem OU requisição do MJ.

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OBS.: Efeitos incondicionados


● Reincidência; INDEPENDEM de homologação.
● Detração.

Em regra, a sentença estrangeira NÃO precisa ser homologada no Brasil para gerar efeitos, bastando
prova legal da existência de condenação. No entanto, a sentença estrangeira necessita ser homologada no
Brasil pelo STJ (art. 105, I, “i”, da CF/88) para gerar:
● Efeitos civis, a exemplo da reparação de danos, dependendo, ainda, de pedido da parte interessada;
● Sujeição à medida de segurança:
∘ Se existir tratado de extradição: mediante requisição do PGR;
∘ Se inexistir tratado de extradição: mediante requisição do Ministro de Justiça.

ATENÇÃO! A súmula 420 do STF diz o seguinte: “Não se homologa sentença proferida no estrangeiro
sem prova do trânsito em julgado”.
Porém, com a entrada em vigor do CPC/2015, que trouxe previsão dos requisitos para a homologação
da sentença estrangeira, foi tacitamente revogado o art. 216-D, III, do RISTJ, que exigia o trânsito em julgado.
Agora, basta apenas que ela seja eficaz em seu país de origem. (Info 626 do STJ).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMS 2021): A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as
mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil, para obrigar o condenado à reparação do dano, a
restituições e a outros efeitos civis e, ainda, sujeitá-lo à medida de segurança. (Item correto)

ATENÇÃO! Esta questão veremos com maior profundidade quando do estudo de Direito
Internacional, porém tem relação com a eficácia de sentença estrangeira e caiu no último
concurso de Delegado Federal.

CESPE / CEBRASPE - 2021 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal: Conforme entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, não é possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine
o perdimento de imóvel situado no Brasil por considerar que o bem seja produto de infrações previstas
na Convenção de Palermo, como, por exemplo, o crime de lavagem de dinheiro. Item errado.

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. CONFISCO DE BENS IMÓVEIS, PRODUTOS DE ATIVIDADE


CRIMINOSA, SITUADOS NO BRASIL. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL. CONVENÇÃO DE PALERMO. CRIME
TIPIFICADO NAS LEGISLAÇÕES ESTRANGEIRA E NACIONAL. EFEITO DA CONDENAÇÃO PREVISTO TAMBÉM

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NA LEI BRASILEIRA. AUSÊNCIA DE OFENSA À SOBERANIA NACIONAL. REQUISITOS PREENCHIDOS.


HOMOLOGAÇÃO DEFERIDA.

1. A sentença homologanda determinou a perda de bens imóveis da Requerida, situados no Brasil, pois
foram objeto do crime de lavagem de dinheiro a que ela foi condenada.
2. Nos termos do art. 9.º, inciso I, do Código Penal, "A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei
brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para" "obrigar o
condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis". É o que ocorre no caso, pois
também a lei brasileira prevê a possibilidade de perda, em favor da União, ressalvado o direito do lesado
ou de terceiro de boa-fé, do produto do crime, como um dos efeitos da condenação (art. 91, inciso II,
alínea b, do Código Penal).
3. Não há ofensa à soberania nacional, pois a sentença não tratou especificamente sobre a situação dos
bens imóveis, sobre a sua titularidade, mas sim sobre os efeitos civis de uma condenação penal,
determinando o perdimento de bens que foram objeto de crime de lavagem de capitais. O confisco dos
bens, além de ser previsto na legislação interna, tem suporte na Convenção das Nações Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo), promulgada pelo Decreto n.º 5.015/2004, de
que também é signatária a Finlândia.
4. Os bens imóveis confiscados não serão transferidos para a titularidade do país interessado, mas serão
levados a hasta pública, nos termos do art. 133 do Código de Processo Penal.
5. Pedido de homologação deferido.
(SEC 10.612/EX, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/05/2016, DJe 28/06/2016)

6. CONTAGEM DO PRAZO E FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA

Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os
meses e os anos pelo calendário comum.

Ao contrário dos prazos processuais, os prazos penais são improrrogáveis e, na sua contagem, o dia
de início se inclui no cálculo.

Frações não computáveis da pena


Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de
direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.

7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

Interpretar é identificar a vontade da lei, definir seu conteúdo, seu significado, seu alcance.
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Na atividade interpretativa deve-se buscar sempre a mens legis, ou seja, a vontade da lei e não a
mens legislatoris, que é a vontade do legislador.
É de cunho obrigatório, ainda que a lei pareça clara.

7.1 Espécies de Interpretação

A) QUANTO AO SUJEITO (ORIGEM):

● Autêntica / Legislativa: Dada pela própria lei, ou seja, realizada pelo legislador, que edita uma lei
com a finalidade de explicar o significado de outra norma. É de aplicação obrigatória e RETROAGE,
mesmo que em prejuízo do réu, vez que não cria novo crime ou comina pena, apenas interpreta (só
não se aplica fatos transitados em julgado). Ex.: art. 327 do CP - conceito de funcionário público.
Divide-se em contextual (quando a norma interpretativa é editada no momento da norma
interpretada) e posterior (quando é criada depois da norma interpretada).
● Doutrinária / Científica: Dada pelos estudiosos, doutrinadores do direito penal. Ex.: exposição de
motivos do Código Penal, vez que dada pelos doutrinadores que elaboraram o projeto. (OBS.: a do
CPP é autêntica).
● Judicial / Jurisprudencial: Realizada pelos magistrados na decisão das causas que lhes são
submetidas ou fruto das decisões reiteradas dos tribunais, como regra não vinculantes. Exceção (são
vinculantes): sentença de caso concreto após o trânsito em julgado e súmulas vinculantes editadas
pelo STF.

B) QUANTO AO MODO ou MEIOS E MÉTODOS:


● Literal / Gramatical: Considera o sentido literal das palavras.
● Teleológica: Considera à vontade ou intenção objetivada na lei, sua finalidade, utilizando-se de vários
elementos (é a sugerida pelo artigo 5º da LINDB).
● Histórica: Busca a origem da lei, o fundamento de sua criação.
● Sistemática: Conjunto da legislação e dos princípios gerais de direito, sistema em que a norma está
inserida como um todo.
● Progressiva: A lei é interpretada de acordo com o progresso da ciência que está progredindo.

C) QUANTO AO RESULTADO:
● Declarativa: A letra da lei corresponde aquilo que o legislador quis dizer.
● Extensiva: Amplia o alcance das palavras da lei para corresponder ao alcance/vontade do texto.
Corrige a lei tímida, visto que ela disse menos do que gostaria.
● Restritiva: Reduz o alcance das palavras da lei para corresponder ao alcance/vontade do texto. A lei
disse mais do que desejava.

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● Progressiva / Adaptativa / Evolutiva: Busca amoldar a lei à realidade atual, de acordo com os
progressos da cultura, da sociedade, da tecnologia, das ciências etc. O fundamento está no princípio
dinâmico.
OBS.: A interpretação progressiva decorre de um modelo mais recente de interpretação,
desvinculado da Escola da Exegese, fundada em um raciocínio puramente silogista, mas valendo-se de uma
abertura do sistema jurídico e uso de recursos axiológicos.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCBA 2022): Relativamente aos métodos de interpretação da lei penal, assinale a alternativa
incorreta:
a) Interpretação contextual é realizada dentro do próprio texto elaborado, como no caso do art. 327 do
Código Penal, que explica o conceito de funcionário público para fins penais
b) A interpretação evolutiva é a forma de interpretação que, ao longo do tempo, vai se adaptando às
mudanças político-sociais e às necessidades do momento, como no caso da aplicação do crime de ato
obsceno, previsto no art. 233 do Código Penal, em que no passado se entendia que condutas como o beijo
lascivo se enquadravam em tal delito, mas, no presente, devido à maior “liberdade sexual”, entende-se que
o beijo lascivo, por si só, ainda que praticado em via pública, não configura o crime
c) A interpretação doutrinária paralela é aquela que surge simultaneamente a um texto legal. Em resumo, o
legislador edita determinada norma e, junto a ela, traz ensinamentos doutrinários sobre a sua matéria.
Exemplo nítido de interpretação doutrinária simultânea é a Exposição de Motivos do Código Penal
d) A interpretação teleológica-objetiva busca a vontade da lei em si, por meio da análise da exposição de
motivos da lei, por exemplo
e) A interpretação lógico-sistemática procura o sentido da lei, através da função gramatical dos vocábulos.
Trata-se da primeira etapa do processo interpretativo, pois as palavras podem ser equívocas, não espelhando
com fidelidade a vontade da lei
GABARITO: E - a interpretação sistemática conjunto da legislação e dos princípios gerais de direito, sistema
em que a norma está inserida como um todo.

7.2. Interpretação Extensiva X Interpretação Analógica X Analogia

● Interpretação Extensiva: Existe norma para o caso concreto, mas amplia-se o alcance da norma,
podendo ser feita até mesmo in malam partem.
Ex.: antigo art. 157, §2º, II, CP, hoje revogado, que utilizava o termo “arma” e a interpretação era de
que qualquer arma estaria abarcada;

ATENÇÃO! Esse entendimento, embora prevaleça em parte da doutrina, encontra precedente em


sentido contrário no STJ, entendendo pela proibição da interpretação extensiva in malam partem.
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STJ entende que em direito penal, não é permitida a interpretação extensiva para
prejudicar o réu, impondo-se a integração da norma mediante a analogia in bonam
partem, devendo a lei penal ser interpretada restritivamente quando prejudicial ao
réu e extensivamente quando a ele favorável. (EDcl no AgRg no HC 651.765/SP, Rel.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021,
DJe 14/12/2021).

● Interpretação Analógica: Existe norma para o caso, mas o legislador previu uma fórmula casuística
seguida de uma genérica, permitindo ao juiz encontrar outros casos similares. Também pode ser in
malam partem
Ex.: art.121, §2º, I, CP
“Paga, promessa de recompensa” – fórmula casuística
“Ou outro motivo torpe” – fórmula genérica
As duas opções citadas acima, são FORMAS DE INTERPRETAÇÃO.

● Analogia: NÃO existe norma para o caso concreto, e o juiz aplica a lei prevista para outro caso quando
verificada lacuna legislativa. Não é forma de interpretação, é FORMA DE INTEGRAÇÃO, de suprir
lacunas. Só é possível em benefício do réu.

Características:
∘ Não é forma de interpretação, mas de integração;
∘ Pressupõe lacuna;
∘ Parte-se do pressuposto de que não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo
pelo qual é preciso socorrer-se de previsão legal empregada à outra situação similar.

Pressupostos para aplicar a analogia:


∘ Certeza de que sua aplicação é favorável ao réu (analogia in bonan partem);
∘ Existência de uma efetiva lacuna legal a ser preenchida.

Para finalizarmos o assunto, vamos a uma tabelinha excelente para revisão, elaborada pelo professor
Rogério Sanches.

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ANALOGIA


É forma de interpretação É forma de interpretação É forma de integração do direito.
Existe norma para o caso Existe norma para o caso Não existe norma para o caso
concreto. concreto. concreto.

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Amplia-se o alcance da palavra Utilizam-se exemplos seguidos de Cria-se uma nova norma a partir de
(não importa no surgimento de uma forma genérica para alcançar outra (analogia legis) ou do todo do
uma nova norma). outras hipóteses. ordenamento jurídico (analogia iuris)
Prevalece ser possível sua É possível sua aplicação no Direito É possível sua aplicação no Direito
aplicação no Direito Penal in Penal in bonam ou in malam Penal somente in bonam partem.
bonam ou in malam partem. partem.
Ex.: a antiga expressão “arma” no Ex.: Homicídio mediante paga ou Ex.: isenção de pena, prevista nos
crime de roubo majorado (art. promessa de recompensa, ou por crimes contra o patrimônio, para
157, §2º, II, CP – hoje revogado). outro motivo torpe (art. 121, §2º, cônjuge e, analogicamente, para o
I, III e IV do CP) companheiro (art. 181, I do CP).

8. CONFLITO APARENTE DE NORMAS

Atenção !! Este é um dos pontos mais importantes no tocante à Aplicação da Lei Penal. Este
tema é muito importante porque o conflito aparente de normas penais ocorre quando há duas
ou mais normas incriminadoras descrevendo o mesmo fato. Sendo assim, existe o conflito,
pois mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente, porque, apenas uma norma
é aplicada à hipótese.

Verifica-se quando há um só fato e, aparentemente, duas ou mais normas vigentes são aplicáveis a
ele.
ATENÇÃO! Trata-se de tema com alta incidência em provas.

a) Requisitos:
● Unidade de fato (fato único);
● Pluralidade de normas;
● Vigência simultânea de todas elas.

Cuidado: Aqui NÃO se trata de sucessão de leis penais no tempo, mas de duas leis penais que estão em vigor
simultaneamente. Se NÃO estão vigentes, aí sim o assunto é o conflito de leis penais no tempo, que se
resolverá, em regra, pela posterioridade; e, excepcionalmente, pela lei penal mais benéfica (art. 4º do CP).

b) Princípios Orientadores:

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● PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE:
Como explica Cleber Masson, há subsidiariedade entre duas leis penais quando ambas tratam de
estágios ou graus diversos de ofensa a um mesmo bem jurídico, de forma que a ofensa mais ampla e dotada
de maior gravidade, descrita pela lei primária, engloba a menos ampla, contida na subsidiária, ficando a
aplicabilidade desta condicionada à não incidência da outra.
A norma subsidiária só se aplica quando não houver subsunção do fato à norma mais grave, que é a
norma principal, devendo então ser aplicada a norma subsidiária, que segundo Hungria funciona como
“soldado de reserva”.
A subsidiariedade pode ser:
∘ Expressa: Ocorre quando o próprio tipo penal traz a fórmula “se não houver crime mais
grave”, como por exemplo, temos o crime de dano qualificado, previsto no art. 163, p. único,
II do CP (...) “se o crime é cometido com emprego de substância inflamável ou explosiva, se
o fato não constitui crime mais grave”.
∘ Tácita: Ocorre quando o tipo penal não traz a fórmula, mas é possível perceber o caráter de
subsidiariedade da norma. Ex.: roubo e furto, a depender de haver ou não a violência ou
grave ameaça.

ATENÇÃO: No contexto da incidência do princípio da subsidiariedade o delito menos grave funcionará como
CRIME DE PASSAGEM ou TIPO PENAL DE PASSAGEM.

Crime de Passagem ou Ubi Major Mino Cessati: O delito de menor gravidade é subsidiário diante de um
delito de maior gravidade. É o crime que eu pratico quando quero praticar um crime mais grave.

Ex.: Crime de dano é subsidiário ao crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo. Ora, para o
indivíduo praticar o furto pelo rompimento de obstáculo, ele necessariamente tem que praticar um dano.
Assim, o dano é um elemento qualificador da figura típica do furto qualificado. Pelo princípio da

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subsidiariedade, o indivíduo responde apenas pelo furto qualificado. Se, eventualmente faltar uma
elementar para o crime de furto, há o soldado de reserva: crime de dano.

● PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE:
A lei especial derroga a lei geral. O princípio da especialidade é de utilização obrigatória e prevalece
sobre os demais. Destaque-se que se exclui a aplicação da lei geral no caso concreto, mas não há revogação.
É a soma dos elementos da lei geral com elementos especializantes. Pode estar no mesmo diploma
legislativo ou diversos. Ex.: homicídio e infanticídio; omissão de socorro do CP e omissão de socorro de idoso
e vários outros.

ATENÇÃO! O princípio da especialidade é o único que se aplica sempre de maneira abstrata. Ou seja: a
comparação entre a norma geral e a norma especial é feita no plano abstrato. Todos os outros princípios
são aplicados em concreto (comparação em concreto)

● PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO:
Verifica-se quando o crime previsto por uma norma (consumida) não passa de uma fase de realização
do crime previsto em outra norma (consuntiva) ou é uma norma de transição para o último (crime
progressivo). A consunção pressupõe que esses crimes protejam o mesmo bem jurídico. Aplica-se às
seguintes hipóteses:
∘ Crime progressivo: Quando o agente, para alcançar um resultado ou crime mais grave,
precisa passar por um crime menos grave. Ex.: Para o homicídio, passa-se pela lesão corporal.
∘ Progressão criminosa: Há alteração do dolo. O agente pretende inicialmente produzir um
resultado e, depois de alcançá-lo opta por prosseguir na prática ilícita e reinicia outra
conduta, produzindo um evento mais grave. É uma nova vontade que surge na execução. O
fato inicial fica absorvido só respondendo pelo último.
∘ Fato anterior impunível (ante factum impunível): São fatos anteriores que estão na linha de
desdobramento da ofensa mais grave. A diferença é que no crime progressivo o crime
anterior era obrigatório; aqui o crime anterior (meio) foi o escolhido dentre os possíveis. Ex.:
Súmula 17, STJ: “quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é
por este absorvido”. O agente pratica falsidade documental, visando cometer um
estelionato. A falsidade foi um crime-meio para prática do estelionato, desse modo, é um
ante factum impunível.
∘ Fato simultâneo impunível: Também chamado de concomitante impunível, é aquele
praticado no mesmo momento em que é praticado o fato principal. Ex.: estupro em via
pública (o ato obsceno é um meio para prática do estupro).
∘ Fato posterior impunível (post factum impunível): O fato posterior impunível retrata o
exaurimento do crime principal praticado pelo agente, por ele não podendo ser punido. Aqui
se absorve o crime praticado, após exaurido o crime querido. Ex.: falsificação de documento
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e uso de documento falso – quando praticados pelo mesmo agente, ele só responde pela
falsificação.

CESPE - 2013 - PRF - Policial Rodoviário Federal: Havendo conflito aparente de normas, aplica-
se o princípio da subsidiariedade, que incide no caso de a norma descrever várias formas de
realização da figura típica, bastando a realização de uma delas para que se configure o crime.
Item errado.

O princípio que incide no caso de a norma descrever várias formas de realização da figura típica, bastando
a realização de um delas para que se configure o crime é o princípio da ALTERNATIVIDADE

Hipóteses casuísticas de incidência do princípio da consunção ou absorção:


(1): O crime consumado (delito perfeito) absorve o crime tentado (delito imperfeito).

(2): O crime de dano absorve o crime de perigo.

(3): Porte ilegal de arma e receptação dolosa - NÃO SE APLICA (Info 433 STJ).
A receptação e o porte ilegal de arma de fogo configuram crimes de natureza autônoma, com
objetividade jurídica e momento consumativo diversos. Tribunais vêm afirmando que os crimes de porte
ilegal de arma e receptação dolosa possuem bens jurídicos distintos, vítimas distintas, momentos de
consumação diferentes, motivo pelo qual NÃO há consunção entre eles.
Não há o que se falar em esgotamento de potencialidade lesiva da receptação no crime de porte
(como um crime de dano será absorvido pelo crime de perigo, embora de menor gravidade?)
Embora haja uma relação de meio-fim e múnus-plus, não há o respeito ao esgotamento da
potencialidade lesiva.

(4): Legítima defesa e uso de arma de fogo (Info 775 STF)


Contexto fático: Indivíduo pratica um fato típico, mas não ilícito (amparado por uma excludente de
ilicitude da legítima defesa). Ocorre que, o meio pelo qual ele utilizou para repelir a injusta agressão era uma
arma de fogo com numeração raspada, do qual ele não tinha o devido registro.
A discussão era: O delito de porte/posse de arma de fogo com numeração raspada resta absorvido
pelo crime de homicídio? Se sim, como o homicídio fora praticado em legítima defesa, a excludente de
ilicitude atingiria também o crime de porte de arma de fogo com numeração raspada?
A jurisprudência do STJ e STF sempre tiveram a posição de que seria possível a absorção, pelo
homicídio, de eventual porte de arma, se aquela arma for usada exclusivamente para a prática do homicídio,
ou seja, se a potencialidade lesiva daquela arma se esgotasse no homicídio.
Nesse julgado específico, o STF entendeu que a consunção NÃO alcançaria a posse ilegal de arma de
fogo com numeração raspada. Isso porque, nesse caso, o indivíduo efetivamente não teria “portado aquela
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arma de fogo exclusivamente para repelir a agressão”. A rigor, o indivíduo já portava a arma com a
numeração raspada, e então utilizou a arma para repelir a injusta agressão, de modo que a potencialidade
lesiva da arma não se esgotou no ato de legítima defesa.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRO 2022): O cotejo se dá entre fatos concretos, de modo que o mais completo, o inteiro,
prevalece sobre a fração. Não há um único fato buscando se abrigar em uma ou outra lei penal caracterizada
por notas especializantes, mas uma sucessão de fatos, todos penalmente tipificados, na qual o mais amplo
consome o menos amplo, evitando-se que este seja duplamente punido, como parte de um todo e como
crime autônomo. Cleber Masson (com adaptações). No conflito aparente de normas, o trecho apresentado
explica o princípio da consunção. (item correto)

● PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE:
a) Própria: Tem aplicação nos crimes plurinucleares, ou seja, crimes de ação múltipla ou conteúdo
variado, que são crimes compostos de pluralidade de verbos nucleares (ações típicas). Nesse caso, o
crime permanece único, não desnatura a unidade do crime. Ex.: art. 33 da Lei de Drogas. Ex.:
importar, guardar, transportar e vender a droga.
b) Imprópria: Quando duas ou mais normas penais disciplinam o mesmo fato.

Este último princípio não é unânime, não sendo aceito por relevante parcela da doutrina. Na
alternatividade própria não haveria conflito, não havendo pluralidade de normas aplicáveis, vez que a
conduta está no mesmo tipo penal. Na imprópria, se há duas leis tratando do mesmo fato, haveria, na
verdade, um conflito de leis penais no tempo, em que a segunda revogou a primeira.

DICA DD: Mnemônico SECA


S ubsidiariedade
E specialidade
C onsunção
A lternatividade

Os 3 primeiros são unânimes na doutrina e o 4º não. Então na hora de marcar, fique atento ao
comando da questão.
O objetivo do instituto é evitar o bis in idem e manter a unidade lógica e a coerência do sistema
penal. Pode até haver conflitos entre normas, mas o sistema é único, perfeito e apresenta ele próprio meios
para solucioná-los.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;


- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Manual de Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Rogério Sanches Cunha;

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META 3

DIREITO PROCESSUAL PENAL: INQUÉRITO POLICIAL

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, LIV, LV e LVI
⦁ Art. 5º, LVII
⦁ Art. 5º, LX a LVVII
⦁ Art. 5º, LXVIII e LXIX da CF/88
⦁ Art. 129, VIII

CPP:
⦁ Art. 3-A, CPP
⦁ Art. 3-B, CPP
⦁ Arts. 4º a 23, CPP
⦁ Art. 28, CPP
⦁ Art. 39, §§3º, 4º e 5º, CPP
⦁ Art. 67, I, CPP
⦁ Art. 107, CPP
⦁ Art. 149, §1º, CPP
⦁ Art. 155 e 158, CP
⦁ Art. 304, §1º, CP
⦁ Art. 311, CPP
⦁ Art. 378, II, CPP
⦁ Art. 395 e 397 do CPP
⦁ Art. 405, §1º, CPP
⦁ Art. 549, CPP

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Lei 12.830/2013
⦁ Lei 12.037/09 – art. 1º a 5º
⦁ Art. 3º, I, 8º e 9º da Lei 9296/96
⦁ Art. 1º, I da Lei 7960/899
⦁ Art. 4º-A, 10º e 10º-A da Lei 13.840/2013
⦁ Art. 9º ao Art. 28 do Código de Processo Penal Militar

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⦁ Art. 7º, XIV e XXI do Estatuto da OAB


⦁ Art. 7º, §§10º e 11º do Estatuto da OAB
⦁ Arts. 12, 30 e 32 da Lei de Abuso de Autoridade
⦁ Art. 28 e 51 da Lei de Drogas
⦁ Art. 301, CTB
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

⦁ Art. 5º, LX a LVVII da CF/88


⦁ Art. 3º-B, inc.: IV, VIII, IX, X e XI, CPP
⦁ Art. 5º, caput, §§2º , 4º e 5º, CPP
⦁ Art. 6º, CPP
⦁ Art. 10, CPP
⦁ Art. 13, 13-A e 13-B, CPP
⦁ Art. 14 e 14-A, CPP
⦁ Arts. 16, 17, 18 e 20 do CPP
⦁ Art. 28, CPP
⦁ Art. 395 e 397 do CPP
⦁ Art. 7º, XIV e XXI do Estatuto da OAB
⦁ Lei 12.830/2013 inteira (importantíssima!)
⦁ Art. 3º, IV da Lei 12.037/09

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula Vinculante 14-STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Súmula 524-STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de
Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

1. INQUÉRITO POLICIAL

ATENÇÃO !! Inquérito policial é o procedimento por excelência no âmbito das atribuições do


cargo de Delegado de Polícia. Não poderia ser diferente, é o tema mais cobrado em provas
de concursos públicos para ingresso na referida carreira.

1.1 Conceito

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É procedimento administrativo preparatório para o oferecimento da denúncia que tem como


objetivo a reunião dos elementos de convicção que habilitem o órgão de acusação para a propositura da
ação penal (pública ou privada).
NÃO é processo, pois não há contraditório, e possui natureza inquisitiva, pois decorre da reunião,
em uma mesma pessoa, das funções de iniciar, presidir e decidir o procedimento.

ATENÇÃO! Pelo princípio da presunção de inocência, a investigação de pessoa em inquérito policial NÃO
pode agravar a pena-base (Súmula 444 STJ).

1.1.1 Termo circunstanciado de ocorrência (TCO)

É um procedimento investigativo substitutivo do inquérito para os casos de flagrante em infrações


penais de menor potencial ofensivo, abarcando todas as contravenções penais e crimes cuja pena máxima
não ultrapasse 02 (dois) anos.
Tem previsão expressa no art. 69 da Lei 9.099/95:

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e
a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.

Exceções à lavratura do TCO: hipóteses em que não será possível lavrar termo circunstanciado de ocorrência.

1) Infrações de menor potencial ofensivo com autoria ignorada → o IP será lavrado mediante portaria,
e não TCO, uma vez que não é possível que o autor do crime (desconhecido) compareça ao JECRIM.

2) Crimes que demandam complexidade na investigação → o IP será lavrado mediante portaria, e não
TCO, uma vez que, nesses casos, não é possível observar os princípios que regem o Juizado Penal,
quais sejam: simplicidade, celeridade e informalidade.

3) Recusa a ser encaminhado para o JECRIM → na hipótese de o indivíduo se recusar a comparecer no


JECRIM, será lavrado APF, e não TCO.

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EXCEÇÃO: Crime de porte de drogas para uso pessoal (art. 28, Lei 11.343/06) → ainda que o autor se
recuse a comparecer no JECRIM, será lavrado TCO, uma vez que não é possível impor um título prisional
àquele que pratica o crime.

4) Nos crimes previstos no CTB, quando o autor não presta socorro imediato e integral à vítima → o
IP será lavrado mediante APF, considerando uma interpretação a contrário sensu do art. 301.

Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto
e integral socorro àquela.

1.1.2 Investigação Preliminar

O Estado, ao tomar conhecimento de uma infração penal, no uso do seu jus puniendi, dá início à
persecução penal. Assim, o que até então estava somente em um plano abstrato (normas), passa a existir no
plano concreto, através da persecução penal, que pode ser compreendida como “conjunto de atividades
levadas adiante pelo Estado, objetivando a aplicação da norma penal ao infrator da lei”.
Nessa esteira, temos que a persecução penal é composta por uma fase preliminar investigatória e
por uma fase judicial.
A fase preliminar, na maior parte das vezes, é marcada pela existência do Inquérito Policial. O
inquérito policial figura como principal instrumento investigatório. Contudo, não se trata do único meio,
existindo outras formas, por exemplo, as investigações feitas pelo MP, pelas CPIs e TCO.

1.2 Conceito tradicional de Inquérito Policial (IP)

Segundo Renato Brasileiro, o inquérito policial deve ser compreendido como sendo “procedimento
administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o objetivo de identificar
fontes de prova e colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a fim
de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”.

a) Presidido pela autoridade policial:


O inquérito policial será presidido pela autoridade policial, referindo-se à “pessoa” do Delegado de
Polícia. Nesse sentido, a Lei nº 12.830/13 – art. 2º. “As funções de polícia judiciária e a apuração das infrações
penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado”.
Ademais, o §1º estipula “Ao Delegado de Polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a
condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que
tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais”.

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Diante dos diplomas legais acima apontados, resta claro que a autoridade policial a qual o CPP faz
menção é a figura do “Delegado de Polícia”, sendo atribuição deste a presidência do Inquérito Policial”.
Confira a dica do professor Tiago Dantas:

https://youtu.be/FXqJ1Qtf87M

b) Dupla função do inquérito policial:


● Preservação: a preexistência de um inquérito evita a instauração de um processo penal temerário,
resguardando os direitos do acusado injustamente e evitando custos desnecessários para o Estado.
● Preparação: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em
juízo.
Os elementos de informação são úteis para o MP formar sua opinio delicti e para decretar as medidas
cautelares no bojo da investigação.

c) Objetivo do inquérito policial:


O inquérito policial possui a finalidade de identificar fontes de prova e proceder com a colheita de
elementos informativos acerca da materialidade e autoria da infração penal.
Inicialmente, cumpre destacar que as expressões fontes de prova e elementos de informação não
possuem o mesmo sentido.
Nessa linha, fontes de prova são todas pessoas ou coisas que tem algum conhecimento sobre o fato
delituoso. São anteriores ao processo e tem sua existência independentemente do próprio processo (ex.
Lesão corporal, o cadáver).

Atenção! Fonte de prova é tudo que está fora dos autos e que tem algum conhecimento sobre o fato
delituoso. As fontes de prova derivam do fato delituoso independentemente do processo, e são por trazerem
alguma informação sobre a autoria e/ou materialidade do fato delituoso.

Atenção! O conceito de elementos informativos não se confunde com o conceito de provas! O art. 155 do
CPP trouxe a distinção entre os elementos informativos e a prova.

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Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas.

→ Prova: aquilo que é produzido em contraditório judicial.


→ Elementos informativos: colhidos na investigação.
→ Exceções: provas cautelares/ não repetíveis e antecipadas - são elementos colhidos na investigação que
têm natureza jurídica de prova.

Vamos esquematizar as diferenças peculiares entre elementos de informação e provas:

Elementos informativos Provas

Colhidos na fase investigatória (IP, PIC, etc.). Em regra, produzido na fase judicial sob o crivo
do contraditório judicial.
É a regra, porque existem situações
excepcionais em que a prova seria produzida
sem ser na fase judicial.

Não é obrigatória a observância do contraditório É obrigatória a observância do contraditório e da


e da ampla defesa; (mesmo com o advento da ampla defesa.
Lei nº 13.245/2016).

O juiz deve intervir apenas quando necessário, e A prova deve ser produzida na presença do juiz.
desde que seja provocado nesse sentido. A presença pode ser direta ou remota.
[Em nosso ordenamento jurídico não se admite
a atuação de ofício do magistrado na fase
investigatória. Não é dotado de iniciativa
acusatória].

Finalidade: úteis para a decretação de medidas Finalidade: auxiliar na formação da convicção do


cautelares e auxiliam na formação da opinio juiz. O art. 155 menciona que o juiz deve se valer
delicti (convicção do titular da ação penal). da prova para formar sua convicção → Sistema
do livre convencimento motivado.

Obs.1: O fato de o advogado assistir o investigado na fase do inquérito policial NÃO retira daquele a
característica de ser “elemento informativo” – Veremos mais ao abordar a inquisitoriedade como
característica do IP.

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Obs.2: O juiz não deve atuar de ofício na fase investigatória, sob pena de violação ao sistema acusatório e do
princípio da imparcialidade. Inclusive, é com base nesse entendimento que o Pacote Anticrime positivou, de
forma expressa, a adoção do Sistema Acusatório pelo nosso Ordenamento Jurídico.

Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na
fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Desvalor probatório do inquérito policial:


De acordo com Renato Brasileiro, ao longo dos anos, sempre prevaleceu nos Tribunais o
entendimento de que, de modo isolado, elementos produzidos na fase investigatória não podem servir de
fundamento para uma condenação, sob pena de violação da garantia constitucional do contraditório e da
ampla defesa. No entanto, pela letra fria da lei (art. 155, caput do CPP), tais elementos poderiam ser usados
de maneira subsidiária, complementando a prova produzida em juízo sob o crivo do contraditório.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as


restrições estabelecidas na lei civil. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008)

Ressalta-se que é importante ter muito cuidado com esse entendimento. Isso porque o pacote
anticrime trouxe previsão de que os autos ficarão acautelados na secretaria agora, de modo que o juiz, em
tese, não deverá mais ter acesso aos elementos.

Consequências do desvalor probatório do IP:


Ora, se os elementos colhidos em sede de investigação criminal não podem embasar com
exclusividade uma sentença condenatória, no mesmo sentido eventuais vícios constantes do IP não têm o
condão, em regra, de contaminar o processo (justamente pois as informações somente serão utilizadas
como obter dictum de uma decisão).
Nesse contexto, em regra, os vícios do inquérito policial não contaminam a ação penal subsequente.
No entanto, parte da doutrina (majoritária) afirma que, quando estivermos diante das chamadas
provas ilícitas (ex. acesso ao WhatsApp sem autorização judicial), haverá sim a contaminação do processo, já

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que tais vícios comprometem a justa causa, que é justamente o lastro probatório mínimo para dar ensejo à
ação penal. Esse é o entendimento consolidado da jurisprudência. Veja:

Via de regra, eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não


contaminam a ação penal.
Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação preliminar não tem
o condão de nulificar o recebimento da denúncia e a ação penal deflagrada, quando
existam elementos autônomos que sustentam a decisão impugnada. Ademais, cabe
ressaltar que eventuais vícios na fase extrajudicial não contaminam o processo
penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito policial. STJ. 5ª Turma.
AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/09/2020.

Eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação


penal. STJ. 6ª Turma. RHC n. 112.336/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
07/11/2019.

O inquérito policial constitui procedimento administrativo, de caráter informativo,


cuja finalidade consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo
Ministério Público, razão pela qual irregularidades ocorridas não implicam, de
regra, nulidade de processo-crime. STF. 1ª Turma.HC 169.348/RS, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/12/2019.

Jurisprudência em Teses do STJ - EDIÇÃO N. 69: NULIDADES NO PROCESSO PENAL:


"As nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação
penal dela decorrente".

Em 2019, o STF (HC 169348/RS) proferiu decisão no sentido de que não há nulidade na ação penal
instaurada e apurada pela Polícia Federal, quando deveria ter sido conduzida, na realidade, pela polícia civil.
Veja:

“A Polícia Federal, sob a supervisão do Ministério Público estadual e do Juízo de


Direito, conduziu inquérito policial destinado a apurar crimes de competência da
Justiça Estadual. Entendeu-se que a Polícia Federal não tinha atribuição para apurar
tais delitos considerando que não se enquadravam nas hipóteses do art. 144, § 1º
da CF/88 e do art. 1º da Lei nº 10.446/2002. A despeito disso, o STF entendeu que
não havia nulidade na ação penal instaurada com base nos elementos
informativos colhidos. O fato de os crimes de competência da Justiça Estadual
terem sido investigados pela Polícia Federal não geram nulidade. Isso porque esse
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procedimento investigatório, presidido por autoridade de Polícia Federal, foi


supervisionado pelo Juízo estadual (juízo competente) e por membro do Ministério
Público estadual (que tinha a atribuição para a causa). O inquérito policial constitui
procedimento administrativo, de caráter meramente informativo e não
obrigatório à regular instauração do processo-crime, cuja finalidade consiste em
subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela
qual irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de processo-
crime” (Info. 964) - grifo nosso.

O tema é tão importante que ainda há outras decisões no mesmo sentido.

STF (RHC 131450/DF): “(...) A suspeição de autoridade policial não é motivo de


nulidade do processo, pois o inquérito é mera peça informativa, de que se serve o
Ministério Público para o início da ação penal. Assim, é inviável a anulação do
processo penal por alegada irregularidade no inquérito, pois, segundo
jurisprudência firmada no STF, as nulidades processuais estão relacionadas apenas
a defeitos de ordem jurídica pelos quais são afetados os atos praticados ao longo
da ação penal condenatória”.

STF (HC 85.286): “(...) Os vícios existentes no inquérito policial não repercutem na
ação [tecnicamente é processo] penal, que tem instrução probatória própria.
Decisão fundada em outras provas constantes dos autos, e não somente na prova
que se alega obtida por meio ilícito”.

STF (RE-AgR 425.734/MG): “os elementos do inquérito podem influir na formação


do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando complementam
outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório em juízo”.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCBA 2022): O inquérito policial é um procedimento preliminar, extrajudicial e preparatório


para a ação penal, sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis; é instaurado pela
polícia judiciária e tem como finalidade a apuração de infração penal e de sua respectiva autoria (item
considerado correto).

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2018 - Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: Polícia Federal: O fato de não ser cabível a oposição
de exceção de suspeição à autoridade policial na presidência do IP faz, por consequência, que
não sejam cabíveis as hipóteses de suspeição em investigação criminal. Item errado.

De acordo com o Art. 107 do CPP “Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do
inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal”. Portanto, cabe ao
Delegado de Polícia declarar-se suspeito ou impedido, nas hipóteses legais, e afastar-se da presidência
do inquérito.

1.2 Natureza Jurídica

É um mero procedimento administrativo, razão pela qual os vícios constantes do inquérito não têm
o condão de contaminar o processo penal subsequente, salvo nos casos de provas ilícitas.

Lei nº. 12.830/2013 Art. 2º. As funções de polícia judiciária e a apuração de


infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de natureza jurídica,
essenciais e exclusivas de Estado.

§1º. Ao delegado de polícia, cabe a condução da investigação criminal por meio de


inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo, a
apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.

Embora a atribuição da presidência do inquérito policial seja exclusiva da polícia, existem outros
meios de investigação que poderão ser feitos por outro órgão, que não a Polícia Judiciária. (Ex. Ministério
Público realiza PIC - Procedimento Investigatório Criminal).

2. CARACTERÍSTICAS

a) Procedimento administrativo de caráter investigatório: Não existe um rito ou uma ordem


determinada pela lei, razão pela qual não é possível o reconhecimento de nulidade procedimental.

b) Preparatório e informativo: Busca apurar indícios de autoria e materialidade para a propositura de


ação penal.

c) Obrigatório: Sempre que tomar conhecimento da ocorrência de infração penal que caiba ação penal
pública incondicionada deverá instaurar o inquérito.

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Pergunta de concurso: O Delegado de Polícia pode deixar de lavrar auto de prisão em flagrante, nas
hipóteses em que é cabível? R.: Há divergência doutrinária sobre o tema.
Parte da doutrina afirma que não. Isso porque o delegado de polícia deve fazer um juízo apenas
quanto à tipicidade formal e punibilidade. Em outras palavras: a análise do delegado de polícia restringe-se
tão somente à existência de autoria e materialidade típica e punível, não possuindo qualquer margem de
atuação quanto às excludentes.
Por outro lado, a doutrina moderna vem entendendo que sim! O delegado de polícia possui margem
de atuação para o controle de excludentes cabais da tipicidade, ilicitude e culpabilidade, de modo que pode
deixar de lavrar o auto de prisão em flagrante quando se deparar com tais circunstâncias. Nessa hipótese, o
delegado não lavra o APF, fazendo apenas o registro de ocorrência.

ATENÇÃO: a título de exemplo, a Polícia Civil do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo atua no
sentido da doutrina moderna, de modo que os delegados de polícia deixam de lavrar o APF quando há
manifesta causa de excludente da tipicidade (formal ou material), ilicitude ou culpabilidade.

d) Indisponível para a autoridade policial: A indisponibilidade do IP está relacionada com a


impossibilidade de o Delegado de Polícia poder arquivá-lo, nos moldes do art. 17 do CPP.

Fundamento legal: Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar
autos de inquérito.

Eventual arquivamento será promovido pelo MP e deferido pelo juízo.

O Pacote Anticrime (L.13964/19) alterou a sistemática de arquivamento do inquérito policial, transferindo


toda a atribuição para o órgão ministerial. Apesar da mudança, que inclusive está com a eficácia suspensa
por prazo indeterminado, o delegado continua impossibilitado de mandar arquivar os autos do IP,
permanecendo sua indisponibilidade.

e) Dispensável para a persecução penal: O inquérito é uma peça meramente informativa que tem a
finalidade de colher elementos de informação quanto à infração penal e sua autoria. Contudo, caso
o titular da ação penal disponha desse substrato mínimo necessário para o oferecimento da peça
acusatória, o inquérito será dispensável.

Obs.1: Parte da doutrina entende que a dispensabilidade do inquérito policial é um dos fundamentos para a
não contaminação do processo penal por eventuais vícios constantes do IP.

Fundamento Legal:

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Art. 39, §5º. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a


representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.

Art. 12 do CPP: O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que


servir de base a uma ou outra.

Obs.2: Nessa esteira, o STF já decidiu (Info 714), que é possível o oferecimento de ação penal com base em
provas colhidas no âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público.

Denúncia formulada com base em inquérito civil.


É possível o oferecimento de ação penal (denúncia) com base em provas colhidas
no âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público. STF.
Plenário. AP 565/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7 e 8/8/2013 (Info 714).

f) Escrito: Vide art. 9º, CPP, segundo o qual, todas as peças do inquérito policial serão, num só processo,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade;

DICA: Modernamente diz-se que é um procedimento que deve ser documentado, e não escrito.
Documentado porque, hoje, em muitos estados, o inquérito policial é digital. São tomados depoimentos,
declarações, interrogatórios, tudo por áudio visual. Não se tem mais caderno investigatório. As peças não
mais serão enumeradas e rubricadas pela autoridade policial.
Ressalta-se que é necessário documentar e relatar todos os elementos que foram encontrados.
Nesse sentido, dispõe o artigo 9º do Código de Processo Penal:

Art. 9º. Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Percebam que o dispositivo diz que ele deve ser escrito, datilografado e rubricado, isso com o
inquérito digital não há mais necessidade alguma, pois todas peças são digitais.
Mas tem previsão legal para isso?
Tem sim, vejam o teor do art. 405, §1º, CPP:

Art. 405, § 1º. Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado,
indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a
obter maior fidelidade das informações.

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Percebam que a lei se valeu da expressão investigado e indiciado, denominação técnica do inquérito
policial.
Confira a dica do professor Tiago Dantas:

https://youtu.be/JcAeC2DBOQM

g) Sigiloso: Vide art. 20, caput, CPP.


É cediço que a CF, em seu art. 93, IX garante o direito à publicidade. Contudo, o princípio da
publicidade é válido na fase judicial da persecução penal, e não na fase investigatória. Nas investigações, EM
REGRA, o inquérito policial deve ser conduzido de maneira sigilosa, até mesmo para se garantir a eficácia das
investigações.
O artigo 20, do CPP dispõe que a autoridade assegurará, no inquérito, o sigilo necessário à elucidação
do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Assim, se a autoridade policial verificar que a publicidade pode causar prejuízo à elucidação dos fatos,
pode decretar o sigilo do inquérito. No entanto, é direito do advogado ter acesso aos autos já documentados
e desde que não frustre diligências em andamento.

A doutrina afirma que o sigilo no inquérito policial possui uma dupla função:
1) Função utilitarista – é importante para assegurar a eficácia das investigações, por exemplo, não pode
divulgar a decretação da interceptação telefônica, sob pena da prova ser prejudicada.
2) Função garantista – é importante para preservar os direitos dos investigados. Ex.: evitar a exposição
midiática do investigado. (presunção de inocência sob a perspectiva da regra de tratamento).

Nesse sentido, o CPP:

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito, o sigilo necessário à elucidação do


fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

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⬥ Regra: Durante a investigação preliminar deve tramitar de forma sigilosa, sob pena de frustrar a
eficácia das medidas.
⬥ Exceção: Publicidade – Retrato Falado: O retrato falado chega a ser, inclusive, importante para o
desenvolvimento das investigações a publicidade nesta hipótese. Nesse caso, a publicidade é de caráter
importante para constatar outras pessoas que foram vítimas daquele criminoso.

Acesso do Advogado aos autos do Inquérito Policial:


O advogado tem acesso aos autos do Inquérito Policial? Precisa de procuração? Precisa de
autorização Judicial prévia? Qual o grau de acesso?
O sigilo pode ser:
1) Interno ou endógeno: não podendo ser oponível ao juiz, membro do MP e ao advogado do indiciado.
2) Externo ou exógeno: se opõe a terceiros estranhos aos autos.

O sigilo do inquérito policial é um sigilo, em regra, externo. Ou seja: não é possível opor sigilo às
“partes”, como defensor, membro do MP e juiz. Vejamos:
1) A CF/88 assegura, em seu art. 5º, LXIII, a assistência do advogado, de modo que o direito à defesa é
uma garantia constitucional.

CF, art. 5º. LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.

2) O Estatuto da OAB prevê que, em regra, o advogado não precisa de procuração para acessar os autos:

Art. 7º – São direitos do advogado:


XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
MESMO SEM PROCURAÇÃO, autos de flagrante e de investigações de qualquer
natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital.

§10º. NOS AUTOS SUJEITOS A SIGILO, deve o advogado apresentar procuração para
o exercício dos direitos que trata o inciso XIV.

3) A Súmula vinculante 14 prevê que o advogado tem o direito de acessar as informações que digam
respeito ao direito de defesa, desde que já documentadas nos autos, para que não haja risco ao
comprometimento da eficácia das diligências em curso.

Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no interesse do representado, ter


acesso amplo aos elementos de prova que, JÁ DOCUMENTADOS em procedimento
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investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam


respeito ao exercício do direito de defesa.

Estatuto da OAB, Art. 7º § 11º. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade


competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova
relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos,
quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da
finalidade das diligências.

O STF, em decisão veiculada no Info 964, entendeu que a negativa de acesso ao investigado a peças
que digam respeito a dados sigilosos de terceiros, que NÃO POSSUEM RELAÇÃO COM SEU DIREITO DE
DEFESA, não ofende a Súmula Vinculante 14.

Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que
o investigado tenha acesso amplo autos, inclusive a eventual relatório de
inteligência financeira do COAF, sendo permitido, contudo, que se negue o acesso
a peças que digam respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo de justiça.
Essa restrição parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o
acesso de um dos investigados a informações, de caráter privado de diversas
pessoas, que não dizem respeito ao direito de defesa dele. STF. 1ª Turma. Rcl 25872
AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

No mesmo sentido o STJ:

Não ofende o princípio da ampla defesa a negativa de acesso ao conteúdo de


medidas investigativas em curso que ainda não foram documentadas e cujo sigilo,
no momento, é imprescindível à sua efetividade. STJ. 5ª Turma. RHC 136.624-PR,
Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 13/04/2021.

4) O Estatuto da OAB - Lei nº 8.906/94 (redação dada pela Lei nº 13.245/16) passou a prever a
possibilidade de o advogado acompanhar seus clientes durante a apuração das infrações.

Obs.: Isso não altera a natureza inquisitorial do IP. Ou seja: a participação do advogado não se torna
obrigatória, mas apenas facultativa. Na hipótese de o advogado querer acompanhar seu cliente, o Delegado
de polícia não poderá obstar sua participação.

XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena
de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
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subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele


decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da
respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

ATENÇÃO: Caso seja injustificadamente negado ao defensor do investigado o acesso ao inquérito policial,
QUAIS MEDIDAS JUDICIAIS são cabíveis, visando à obtenção de acesso aos autos da investigação? (Questão
discursiva da prova de Delegado de Minas Gerais em 2018)
O candidato deveria contextualizar a questão abordando que uma das características do inquérito
policial é o sigilo; que este sigilo possui uma dupla função; que se trata de um sigilo eminentemente externo.
Após contextualizar, deve passar à resposta da questão: São 3 os mecanismos judiciais previstos em caso de
recusa injustificada por parte do Delegado de Polícia:
1) Reclamação ao Supremo Tribunal Federal: em razão da ofensa à SV 14 do STF.
2) Mandado De Segurança: em razão da ofensa ao direito líquido e certo do advogado de ter acesso a
inquérito policial (artigo 7, inciso XIV da lei 8.906/94
3) Habeas Corpus: em razão da ofensa ao art. 5º, LXVIII da CF/88.

ATENÇÃO: Apesar de o advogado ter o direito de acessar aos autos do inquérito policial, a própria lei
nos traz exceções, como por exemplo, crime onde seja decretado o segredo de justiça, não poderá outro
advogado, senão o do investigado ter acesso aos autos.
Por exemplo, crimes contra a dignidade sexual, pois tramitam em segredo de justiça (art. 234-B),
sendo assim, somente o advogado do investigado pode ter acesso.

Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão
em segredo de justiça. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).

No mesmo sentido, os crimes praticados por Organização Criminosa (Lei 12.850/2013):

Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial
competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências
investigatórias, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo
acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de
defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes
às diligências em andamento.

ATENÇÃO! Não é necessária, mesmo após a Lei 13.245/2016, a intimação prévia da defesa técnica do
investigado para a tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial.

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Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a tomada de depoimentos
orais na fase de inquérito policial. Não haverá nulidade dos atos processuais caso essa intimação não ocorra.
O inquérito policial é um procedimento informativo, de natureza inquisitorial, destinado
precipuamente à formação da opinio delicti do órgão acusatório.
Logo, no inquérito há uma regular mitigação das garantias do contraditório e da ampla defesa.
Esse entendimento justifica-se porque os elementos de informação colhidos no inquérito não se
prestam, por si sós, a fundamentar uma condenação criminal.
A Lei nº 13.245/2016 implicou um reforço das prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir
ao advogado o direito subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário de inquirições a ser definido
pela autoridade policial.
STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019 (Info 933).
Fonte: Dizer o direito.

Confira a dica do professor Tiago Dantas:

https://youtu.be/neJcGsbdpOg

h) Ausência de contraditório (procedimento inquisitorial):


Diferentemente do processo, que é acusatório e exige, para a sua validade, a observância dos
princípios do contraditório e ampla defesa, no inquérito policial esses elementos são apenas acidentais,
perfeitamente dispensáveis. Nas palavras de Renato Brasileiro:

“Cuida-se, a investigação preliminar, de mero procedimento de natureza


administrativa, com caráter instrumental, e não de processo judicial ou
administrativo. Dessa fase pré-processual não resulta a aplicação de uma sanção,
destinando-se tão somente a fornecer elementos para que o titular da ação penal
possa dar início ao processo penal. Logo, ante a impossibilidade de aplicação de
uma sanção como resultado imediato das investigações criminais, como ocorre, por
exemplo, em um processo administrativo disciplinar, não se pode exigir a

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observância do contraditório e da ampla defesa nesse momento inicial da


persecução penal” (LIMA, 2017, p. 120).

DICA!
Provas objetivas: NÃO existe a ampla defesa e contraditório em sede de inquérito policial.
Na realidade: PODE existir sim, entretanto, se não existir, o inquérito continua a ser válido ao contrário, do
processo que passa a ser inválido. Um exemplo disso é o artigo 5°, inciso LXIII da CRFB de 1988, que afirma
que o indiciado terá direito ao silêncio e à assistência de um advogado. Assim, isso já mostra um direito
defesa do indiciado.

i) Oficiosidade: Ao tomar conhecimento do crime, a autoridade policial age de ofício, independente de


provocação.
Contudo, há de se ter em mente que, para que a Autoridade Policial haja de ofício, depende da
natureza da ação penal do crime em análise. O Delegado só pode atuar de ofício em crimes cuja ação penal
seja pública incondicionada, porquanto, caso seja condicionada à representação ou de iniciativa privada,
deve aguardar a referida representação ou requerimento para deflagrar o procedimento administrativo.

Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


I - De ofício;
II - Mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a
inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

Art. 5º.§ 2 Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito


caberá recurso para o chefe de Polícia.

Considerando a oficiosidade do inquérito policial, o STJ decidiu, em 2019 (Info 652) que é possível
deflagrar investigação criminal com base em matéria jornalística.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCBA 2022): Em regra, a autoridade policial deve instaurar inquérito policial de ofício, sem
aguardar provocação, estando dispensada a anuência dos envolvidos e a necessidade de requerimento ou
requisição de quem quer que seja (item considerado correto).

A presidência da investigação é privativa da polícia judiciária?

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A presidência de investigação criminal NÃO é privativa da polícia judiciária, pois outras autoridades podem
presidir a investigação:
● TJ ou PGJ: Inquérito para apurar crime praticado por juiz ou promotor;
● CPI: Inquérito parlamentar;
● Investigação por agentes da Administração;
● Inquérito do CADE;
● Investigação pela comissão de inquérito do BACEN: Segundo o STF, o relatório dessa comissão,
encaminhado ao MP, constitui justa causa para o oferecimento de ação penal.
● Ministério Público: Embora o tema seja polêmico, a 2ª Turma do STF já admitiu que o MP
investigue, sem que isso implique usurpação de função da polícia civil (HC 91661). Outrossim,
promotor que atue investigando na fase preliminar NÃO estará impedido de oferecer denúncia
(Súmula 234 STJ).
● Forças Armadas: nos crimes militares da competência da Justiça Militar da União, as
investigações serão realizadas pelas Forças Armadas através de um inquérito policial militar. Já
nos crimes militares de competência da Justiça Militar Estadual será competente a Polícia Militar
ou Corpo de Bombeiros.

ATENÇÃO: A presidência da investigação pode não ser privativa da Autoridade Policial, mas a do Inquérito
Policial é, vide Lei 12.830/13!

j) Oficialidade: Somente os órgãos estatais podem presidir o inquérito policial.

k) Procedimento discricionário: discricionariedade significa liberdade de atuação dentro dos


parâmetros legais.

Existe uma liberdade de atuação da Autoridade Policial nos limites traçados pela lei. Por exemplo, ao
teor dos arts. 6 e 7º do CPP, consta um rol exemplificativo de diligências que poderão ser realizadas pelo
Delegado de Polícia. Não há um rito procedimental rígido que deve ser observado pelo Delegado, trata-se de
rol exemplificativo. Assim, a diligência será realizada ou não, a cargo da liberdade de atuação da autoridade.
A discricionariedade não pode ser confundida com arbitrariedade.

Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer


qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

ATENÇÃO: A discricionariedade NÃO É DE CARÁTER ABSOLUTO, de modo que existem diligências que são de
realização obrigatória. Assim, quanto a estas, o delegado não poderia negar a sua realização, como na
hipótese do exame de corpo de delito.
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O Delegado de Polícia só pode indeferir requerimentos quando se tratarem de diligências


impertinentes e protelatórias, não podendo indeferir as relevantes, como, por exemplo, o exame de corpo
de delito.
Nesse sentido, o artigo 158, CPP dispõe que quando a infração deixar vestígios, o exame de corpo de
delito é imprescindível.

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Confira a dica do professor Tiago Dantas:

https://youtu.be/MHshCzspgT0

l) Temporário: obviamente o IP tem prazo para finalizar. Doutrina moderna defende que a garantia da
razoável duração do processo também se aplica ao inquérito policial, evitando-se com isso inquéritos
“eternos”.
Ressalvados os prazos previstos em leis especiais, em regra, temos o seguinte cenário:
∘ Indiciado preso (inclusive preso provisório) - 10 dias (art. 10);
∘ Indiciado solto - 30 dias.

Prazo para concluir o inquérito policial:

Indiciado preso Indiciado solto


Regra Geral (art. 10, CPP) 10 dias 30 dias (prorrogável)
Polícia Federal 15 dias (prorrogáveis por 30 dias
mais 15)
Crimes contra a economia 10 dias 10 dias
popular

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Lei de drogas 30 dias (prorrogáveis por 90 dias (prorrogáveis por mais


mais 30) 90 dias)
Inquéritos Militares 20 dias 40 dias (prorrogáveis por mais
20).

CAIU EM PROVA:

Delegado do Estado de Minas Gerais 2021: Acerca dos prazos para encerramento de inquéritos policiais,
considerando o disposto no Título II do CPP (“Do Inquérito Policial”) e a legislação extravagante, é CORRETO
afirmar que caso um dos investigados seja preso preventivamente no curso das investigações, a Autoridade
Policial terá, como regra, o prazo de 10 dias após o cumprimento da ordem de prisão para finalizar o inquérito
(item considerado correto).

Delegado do Estado do Espírito Santo 2022: O prazo para o delegado de polícia civil concluir o inquérito
policial é de trinta dias, se o indiciado estiver solto, configurando constrangimento ilegal a superação desse
prazo sem autorização judicial, por se tratar de prazo próprio (item considerado incorreto).

O Pacote Anticrime trouxe a possibilidade de o Juiz das Garantias prorrogar o inquérito policial na hipótese
de investigado preso – o que não era admitido pela doutrina majoritária.
Assim, o juiz das garantias poderá determinar a prorrogação do inquérito policial por até 15 dias, mediante
representação da autoridade policial, ouvido o Ministério Público, possibilitando a conclusão das
investigações.

Destaca-se, que após o escoamento do prazo de 25 dias (10 + 15 e prorrogação), se não houver conclusão
das investigações, a prisão será imediatamente relaxada.

Art. 3º, § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da
autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até
15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente
relaxada.

ATENÇÃO! O art. 3º está com a eficácia suspensa por prazo indeterminado!

m) Unidirecional: Ao finalizar os autos do IP devem ser direcionados ao MP, pois ele é o titular da ação
penal (art. 129, I da CF/88). Enviar os autos do IP ao juiz, conforme preconiza o CPP, segundo a
doutrina majoritária, violaria o sistema acusatório e a imparcialidade do juízo.

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Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão
remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante
traslado.

DICA!
Para uma prova discursiva, deve ser abordada a crítica e a característica da unidirecionalidade, entretanto,
se for uma prova objetiva, marque que o IP é encaminhado ao juízo (juiz de garantias).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): O inquérito policial é atividade investigatória realizada por órgãos oficiais, não
podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade do exercício da ação penal pelo crime
investigado seja atribuída ao ofendido. Considerando-se as características do inquérito policial, é correto
afirmar que o texto anterior discorre sobre:
A) o procedimento escrito do inquérito policial.
B) a indisponibilidade do inquérito policial.
C) a oficiosidade do inquérito policial.
D) a oficialidade do inquérito policial.
E) a dispensabilidade do inquérito policial.

GABARITO: LETRA D.

(Delegado de PCRJ 2022): Assinale a opção correta, acerca de inquérito policial.


A) A autoridade policial que preside o inquérito policial para apurar crime de ação penal pública pode,
fundamentadamente, decidir sobre a conveniência e(ou) oportunidade de diligências requisitadas pelo
Ministério Público.
B) O inquérito policial, consoante o princípio da oficialidade, poderá ser instaurado apenas de ofício pela
autoridade policial ou mediante requisição do Ministério Público.
C) Com base em denúncia anônima de fato criminoso, a autoridade policial pode, independentemente de
apuração prévia, instaurar inquérito policial com fundamento exclusivo naquela informação anônima.
D) Não se permite ao indiciado qualquer tipo de intervenção probatória durante o inquérito policial.
E) O investigado deve ter acesso a todos os elementos já documentados nos autos do inquérito policial,
ressalvadas as diligências em andamento cuja eficácia dependa do sigilo.

GABARITO: LETRA E.

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3. INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL

Previsão legal: art. 5º, I do CPP.


É possível a instauração de ofício do inquérito através:
(i) Portaria;
(ii) Ato de prisão em flagrante;
(iii) Termo circunstanciado (JECRIM) → nos casos de IMPO.

a) De ofício pela autoridade policial, conforme art. 5º, I, CPP, por meio de notitia criminis, que se subdivide
em:

I. Notitia criminis de cognição imediata (ou espontânea): a autoridade policial toma conhecimento de
um fato delituoso por meio de suas atividades rotineiras;
II. Notitia criminis de cognição mediata (ou provocada): a autoridade policial toma conhecimento de
uma infração penal através de um expediente escrito feito por terceiro;
III. Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do
fato delituoso por meio da apresentação do indivíduo preso em flagrante.

ATENÇÃO! Delatio criminis: É a comunicação da prática de crime à autoridade policial. Pode ser:
● Delatio criminis simples: É a comunicação, por qualquer do povo, à autoridade policial, sobre o
conhecimento da existência de infração penal (art. 5º, §3º, CPP);
● Delatio criminis postulatória: É a representação do ofendido ou seu representante legal,
manifestação pela qual a vítima ou seu representante legal autorizam o Estado a instaurar o
inquérito.
● Delação anônima/apócrifa (Notitia criminis inqualificada): O STF entendeu que não autoriza o início
do inquérito. Porém, o Poder Público, provocado por delação anônima (“disque-denúncia”), pode
adotar medidas informais destinadas a apurar, previamente, a possível ocorrência de eventual
situação de ilicitude penal. Se constatada a infração penal, pode iniciar o inquérito, não pela mera
delação apócrifa, mas pela investigação e constatação da prática de um crime.

STF: Considerando a vedação ao anonimato (art. 5º, IV da CF/88), NÃO é possível a instauração de IP
com base unicamente em denúncia anônima, dada a ausência de elementos idôneos sobre a existência de
infração penal.
A jurisprudência do STF foi além da instauração de inquérito policial com base em notícia anônima:

Não é possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em


“denúncia anônima” (STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado
em 29/3/2016 (Info 819).
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Não é possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em


“denúncia anônima”. (STJ. 6ª Turma. HC 204.778/SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 04/10/2012).

Diante de uma notícia anônima, o Delegado de Polícia deve instaurar uma VPI (Verificação da
Procedência da Informação - art. 5, §3º, CPP), e, procedente a informação, instaurar o devido IP.

§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração


penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la
à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará
instaurar inquérito.

Vamos entender mais sobre a VPI (verificação da procedência da informação):


Trata-se de um instrumento investigatório simplificado para verificar a verossimilhança da notitia
crimins e a viabilidade da investigação, e servir de impeditivo de instauração de inquéritos policiais
infundados.
Como sabemos o inquérito policial não pode ser arquivado pelo Delegado de Polícia (art. 17, CPP),
então com o escopo de instaurar inquéritos sem base para a justa causa, o CPP trouxe esse instituto
investigatório.
A própria jurisprudência reconhece o instituto da VPI:

“A instauração de VPI (Verificação de Procedência das Informações) não constitui


constrangimento ilegal, eis que tem por escopo investigar a origem de delatio
criminis anônima, antes de dar causa à abertura de inquérito policial.” (STJ, HC
103566 RJ). “Destacou-se, de início, entendimento da Corte no sentido de que a
denúncia anônima, por si só, não serviria para fundamentar a instauração de
inquérito policial, mas que, a partir dela, poderia a polícia realizar diligências
preliminares para apurar a veracidade das informações obtidas anonimamente e,
então, instaurar o procedimento investigatório propriamente dito. (STF, HC
95244/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, 23.3.2010) – Precedentes: STF, RE 492480/SP; STJ,
HC 103566/RJ; STF, HC 84827/TO; STJ, HC 94546/RJ; STJ, HC 53703/RJ; STJ – HC
64096/PR; STJ, HC 44649/SP.

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. NOTÍCIA ANÔNIMA DE CRIME. APURAÇÃO.


EM MAIS DE UMA DELEGACIA. AUSÊNCIA DE INSTRUÇÃO ADEQUADA DO HABEAS
CORPUS. VPI (VERIFICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DAS INFORMAÇÕES). AUSÊNCIA DE

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CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PEDIDO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA


EXTENSÃO, DENEGADO.
1. A instrução adequada do habeas corpus cabe ao impetrante, se ele não
providencia as peças necessárias, não há como verificar se há ou não mais de uma
Delegacia de Polícia apurando o mesmo fato, supostamente criminoso.
2. A instauração de VPI (Verificação de Procedência das Informações) não
constitui constrangimento ilegal, eis que tem por escopo investigar a origem de
delatio criminis anônima, antes de dar causa à abertura de inquérito policial.

Características da VPI:
1) Se procedente a informação deve o delegado de polícia instaurar o inquérito policial
imediatamente, desde que o crime seja de ação penal pública incondicionada;
2) A simplicidade, celeridade e a informalidade são inerentes à VPI, não devendo conter expressões
ou conteúdos do inquérito;
3) Basta uma ordem da autoridade policial para que algum policial (agente ou investigador) faça o
levantamento de vida pregressa do “noticiado anonimamente”, local do suposto crime e ao final da diligência
prévia confecciona um relatório policial opinando sobre o fato;
4) As peças constantes da VPI devem acompanhar o inquérito policial ou outro procedimento (TC).

CAIU EM PROVA:

(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): Diante de notitia criminis inqualificada, antes de determinar a
abertura do inquérito policial, o delegado de polícia deve promover a diligência de verificação de procedência
das
informações, a fim de evitar delação inescrupulosa - item considerado correto.

DICA: Sobre o arquivamento direto da VPI pelo Delegado de Polícia, há certa divergência na doutrina no
sentido de que o delegado não poderia arquivar diretamente a VPI.

Nesse sentido, professor André Luiz Nicolitt (Nicolitt, André, 5ª ed. pág.190): “Ocorre que seja qual for o
nome que se dê, estaremos sempre diante de um procedimento investigatório e, por tal razão, submetido a
controle do Ministério Público, não podendo ser arquivado em sede policial”
O fundamento do professor Nicolitt encontra amparo no art. 28, CPP:
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do
inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a

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denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Em sentido contrário Adriano Souza Costa e Henrique Hoffmann (Temas Avançados de Polícia Judiciária, 3ª
ed, pág. 87): “A VPI pode ser arquivada diretamente pela autoridade policial a quem cabe o controle,
fiscalização, apreciação e decisão da VPI, mediante despacho fundamentado, constatada a inocorrência de
fato delituoso”.

Confira a dica do professor Tiago Dantas:

https://youtu.be/qNeFF0By_lU

b) Requisição do juiz ou MP, do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações privadas
e nas ações públicas subsidiárias: Conforme art. 5º, II, CPP.
A instauração do inquérito nos casos de requisição judicial ou ministerial tem natureza jurídica de
um ato administrativo complexo.
É plenamente constitucional o MP requerer a instauração do inquérito, conforme artigo 129, VII da
CF/88. Enquanto titular da ação penal pública e, portanto, destinatário final dos elementos de informação
colhidos em sede de IPL, pode o MP requisitar ao delegado a realização de diligências imprescindíveis à
formação de sua opinio delicti. Cuida-se (a requisição) de uma exigência para a realização de algo, com
fundamento da lei, não podendo ser confundida com uma ordem haja vista não haver relação de hierarquia
entre MP e Polícia. Se legal, o delegado de polícia tem o dever de realizá-la em apreço ao princípio da
obrigatoriedade que impõe às autoridades estatais, inclusive, um dever de agir de ofício diante da notícia de
infração penal.
Destaques:
(1) Delegado de polícia pode recusar a requisição de instauração de IPL feita pelo MP ou juiz?
R. Sim. A requisição não é vinculada ao delegado, ou seja, ele pode recusar, mas para isso será
necessário a fundamentação em eventual manifesta ilegalidade ou arbitrariedade dessa requisição.
Isso porque o delegado é agente da administração pública tendo compromisso com a legalidade. O
que o delegado não pode é negar cumprimento a uma requisição de instauração porque

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simplesmente discorda. → (RE 205473, 1998 – STF) Ex.: requisição de instauração de IPL com base,
exclusivamente, uma denúncia anônima seria um caso em que o delegado poderia recusar, de forma
fundamentada, o cumprimento da requisição sob o argumento da ilegalidade.

(2) Requisição não é causa de prevenção – se a requisição partir do juiz, ele não se torna prevento por uma
razão de principiológica, por ofensa a garantia do juiz natural. Ademais, não existe previsão legal para a
prevenção nessas hipóteses, como se pode extrair dos artigos 75 e 83 do CPP.

(3) Qual é a autoridade coatora para eventual HC trancativo de inquérito? Se for um habeas corpus
trancativo de inquérito requisitado por juiz ou MP será encaminhado para onde?

1ª Posição majoritária/ Tribunais Superiores - Como se trata de uma requisição (ordem), a autoridade
coatora é o requisitante de modo que o habeas corpus deverá ser endereçado para o TJ ou TRF
respectivo.

2ª Posição minoritária - Entende-se o delegado como autoridade coatora porque, embora pudesse
recusar a requisição, a ela aderiu, concretizando o delegado, portanto, a ilegalidade. Assim,
eventual habeas corpus seria encaminhado à primeira instância, estando impedido o juiz, por
ventura requisitante, de conhecê-lo por força do artigo 252, inciso IV do CPP, não sendo exagerado
afirmar que a hipótese seria, inclusive, de incompatibilidade.

(4) (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA REQUISIÇÃO JUDICIAL:

1ª Doutrina Majoritária - Entende que a requisição judicial de instauração de inquérito não foi
recepcionada pelo artigo 129, inciso I da CF/88, pois a instauração do inquérito se trata de atividade
persecutória do Estado, devendo, portanto, o magistrado se manter afastado em apreço ao sistema
acusatório.

2ª Posição – A requisição judicial não viola a Constituição pois encerra uma valoração precária e uma
cognição sumária incapaz de comprometer a imparcialidade do juiz.

A (im) possibilidade de instauração de inquérito de ofício pela autoridade judiciária e o Inq.4.781


do STF (Inquérito das Fake News).
Ensina Renato Brasileiro que “Em um sistema acusatório como o nosso, onde há nítida separação das
funções de investigar (e acusar), defender e julgar (CPP, art. 3º-A, incluído pela Lei n. 13.964/19), não se pode
permitir que o juiz instaure ou requisite a instauração de um inquérito policial.” Logo, deparando-se com
informações acerca da prática de ilícito penal, incumbe ao magistrado tão somente encaminhá-las ao órgão
do Ministério Público, nos termos do art. 40 do CPP.
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Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais


verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as
cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia.

Nesse contexto, vale destacar a polêmica decisão do STF no bojo do Inq. 4.781 – chamado de
inquérito das Fake News – em que o Min. Dias Tofoli determinou de ofício a instauração de um inquérito
“para apurar a existência de notícias fraudulentas (“fake News”), denunciações caluniosas, ameaças e
infrações revestidas de animus caluniandi, difamandi e injuriandi, que estariam supostamente atingindo a
honorabilidade e a segurança daquela Corte, de seus membros e familiares” (Portaria GP n. 69, de
14/03/2019 – Inq. 4.781), designando, para a condução do feito, o eminente Ministro Alexandre de Moraes.
É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do STF
determinou a instauração do Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência
de notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e atos
que podem configurar crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a
segurança do STF, de seus membros e familiares.
Também é constitucional o art. 43 do Regimento Interno do STF, que foi
recepcionado pela CF/88 como lei ordinária.
O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para ser constitucional, deve
cumprir as seguintes condicionantes:
a) o procedimento deve ser acompanhado pelo Ministério Público;
b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante.
c) o objeto do inquérito deve se limitar a investigar manifestações que acarretem
risco efetivo à independência do Poder Judiciário (art. 2º da CF/88). Isso pode
ocorrer por meio de ameaças aos membros do STF e a seus familiares ou por atos
que atentem contra os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a
democracia; e, por fim,
d) a investigação deve respeitar a proteção da liberdade de expressão e de
imprensa, excluindo do escopo do inquérito matérias jornalísticas e postagens,
compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive pessoais) na internet, feitas
anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e
divulgação em massa nas redes sociais.
O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede
ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver
autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro
Ministro.” Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na
“sede ou dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por
meio da internet permite estender (ampliar) o conceito de “sede”, uma vez que o
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STF exerce jurisdição em todo o território nacional. Logo, os crimes objeto do


inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual,
podem ser considerados como cometidos na sede ou dependência do STF. STF.
Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17 e 18/6/2020 (Info
982).

c) Requisição do juiz ou MP, do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações privadas
e nas ações públicas subsidiárias: Conforme art. 5º, II, 2ª parte do CPP:
Se crime de ação privada, o inquérito só pode ser iniciado se houver requerimento.
Recurso do despacho que indefere requerimento: recurso para o Chefe de Polícia (art. 5º, § 2º, CPP).

d) Representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo nas ações penais públicas
condicionadas: Nos crimes de ação pública condicionada o IP só pode ser iniciado se houver representação.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMG 2021): Considerando as hipóteses de requerimento do ofendido para a abertura de


inquérito policial em crimes de ação pública, é CORRETO afirmar que o inquérito, nos crimes em que a ação
pública depender de representação, poderá sem ela ser iniciado (item considerado incorreto).

Inquérito policial e crimes contra a ordem tributária


INFORMATIVO 601 STF: Enquanto não encerrada, na instância fiscal, o respectivo
processo administrativo, não se mostraria possível a instauração da persecução
penal nos delitos contra a ordem tributária, tipificados no art. 1º, da Lei nº
8.137/90. A razão é que o procedimento fiscal constitui o crédito tributário. Logo,
enquanto não concluído, há atipicidade penal.

Obs.: Se, além do crime contra a ordem tributária, houver delitos, subjacentes na investigação, nada obsta a
instauração do inquérito policial, ainda que seja crime contra a ordem tributária:

MINISTÉRIO PÚBLICO E DE NÃO-CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO


TRIBUTÁRIO. FALTA DE JUSTA CAUSA NÃO CARACTERIZADA. ORDEM DENEGADA.
1. (…) 2. ILEGALIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ANTE A FALTA DE
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NÃO OCORRÊNCIA NA
ESPÉCIE. De fato, a partir do precedente firmado no HC 81.611/DF, formou-se,
nesta Corte, jurisprudência remansosa no sentido de que o crime de sonegação
fiscal (art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990) somente se consuma com o
lançamento definitivo. No entanto, o presente caso não versa, propriamente,
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sobre sonegação de tributos, mas, sim, de crimes supostamente praticados por


servidores públicos em detrimento da administração tributária. Anoto que o
procedimento investigatório foi instaurado pelo Parquet com o escopo de apurar
o envolvimento de servidores públicos da Receita estadual na prática de atos
criminosos, ora solicitando ou recebendo vantagem indevida para deixar de
lançar tributo, ora alterando ou falsificando nota fiscal, de modo a simular crédito
tributário. Daí, plenamente razoável concluir pela razoabilidade da instauração
da persecução penal. Insta lembrar que um dos argumentos que motivaram a
mudança de orientação na jurisprudência desta Corte foi a possibilidade de o
contribuinte extinguir a punibilidade pelo pagamento, situação esta que sequer se
aproxima da hipótese dos autos. 3. ORDEM DENEGADA.” (HC 84.965, Rel. Min.
Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 11/04/2012).

“AGRAVO INTERNO. RECLAMAÇÃO. ALEGADA OFENSA À SÚMULA VINCULANTE 24.


INEXISTÊNCIA NO CASO CONCRETO. 1. A instauração de inquérito policial para
apurar outros crimes, além do previsto no art. 1º da Lei 8.137/1990, não ofende
o estabelecido no que enunciado pela Súmula Vinculante 24. 2. Reclamação, cuja
finalidade tem previsão constitucional taxativa, não admite o aprofundamento
sobre matérias fáticas. 3. A concessão de habeas corpus ex officio pelo STF somente
é cabível nas hipóteses em que ele poderia concedê-lo a pedido (art. 102, I, ‘i’, da
Constituição Federal), sob pena de supressão de instância. 4. Agravo interno a que
se nega provimento.” (Rcl 24.768-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Primeira
Turma, DJe de 01/09/2017)

4. Providências a serem tomadas pela autoridade policial (arts. 6º e 7º)

É rol NÃO taxativo:

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade


policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;

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V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo


III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas
testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível,
e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar
e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do
crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
dos filhos, indicado pela pessoa presa.

Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de


determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada
dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.

Entendimentos jurisprudenciais importantes:

(1) A condução coercitiva para fins de identificação datiloscópica em face de recusa imotivada do
indiciado NÃO constitui constrangimento ilegal.

(2) Súmula 522 STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica,
ainda que em situação de alegada autodefesa.

(3) STF: não é possível a condução coercitiva por parte do investigado PARA INTERROGATÓRIO.
Contudo, a Suprema Corte nada disse sobre testemunhas.
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:

Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório,


reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.

O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi
recepcionada pela Constituição Federal.
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Assim, não se pode fazer a condução coercitiva do investigado ou réu com o objetivo de submetê-lo
ao interrogatório sobre os fatos.

STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em
13 e 14/6/2018 (Info 906).

Obs.1: Importante esclarecer que o julgado acima tratou apenas da condução coercitiva de investigados e
réus à presença da autoridade policial ou judicial para serem interrogados.
Assim, não foi analisada a condução de outras pessoas como testemunhas, ou mesmo de
investigados ou réus para atos diversos do interrogatório, como o reconhecimento de pessoas ou coisas. Isso
significa que, a princípio, essas outras espécies de condução coercitiva continuam sendo permitidas.

Obs.2: Insta salientar que a nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19), em seu art. 10, restou tipificado
o crime de abuso a autoridade que conduzir coercitivamente, tanto o investigado quanto a testemunha:

Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado


manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Pedido de novas diligências: Segundo art. 16, deve ser feito diretamente entre MP e delegado, salvo
nas hipóteses de necessidade de autorização judicial se precisar de autorização, a exemplo da interceptação
telefônica.

Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à


autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento
da denúncia.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMG 2021): Sobre o inquérito policial, é CORRETO afirmar:


A) Não caberá qualquer recurso em face do despacho da autoridade policial que indeferir a abertura de
inquérito policial.
B) O acesso do advogado independe de procuração do investigado, mesmo que os autos do inquérito policial
estejam conclusos à autoridade policial.
C) O inquérito policial pode ser instaurado de ofício pela autoridade policial ou por requisição do Ministério
Público, em casos de crime de ação penal pública condicionada à representação, desde que haja repercussão
social do fato.

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D) O representante do Ministério Público, com atuação na área de investigação criminal, pode avocar a
presidência do inquérito policial, em sede de controle difuso da atividade policial.

GABARITO: LETRA B.

4. INDICIAMENTO

a) Conceito:
De acordo com o professor Francisco Sannini “é o ato formal, de atribuição exclusiva da autoridade
de Polícia Judiciária, que ao longo da investigação forma o seu livre convencimento no sentido de que há
indícios suficientes de que um suspeito tenha praticado determinado crime”.
● O Indiciamento deve ser, necessariamente, fundamentado em despacho;
● Deve ser apontado pelo delegado a autoria, materialidade e circunstâncias fáticas do fato criminoso.

b) Fundamento legal:
Por muito tempo não havia regramento acerca do ato de indiciamento no IP. Contudo, com o advento
da Lei 12.830/2013, trouxe a pormenorização da imputação formal do investigado. Essa lei é de leitura
obrigatória para o concurso.
O art. 2º, §6º, trouxe expressamente os pressupostos para indiciar alguém.

Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas


pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
(...)
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias.

c) Sujeito ativo e passivo

c.1. Sujeito Ativo:


É ato privativo do delegado de polícia, como é o presidente do inquérito policial, obviamente é ele a
autoridade com atribuição para o indiciamento.
É por meio do indiciamento que a autoridade policial aponta determinada pessoa como a autora do
ilícito em apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória, por meio da qual o delegado de
polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se admite que seja requerida
ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o presidente do inquérito à conclusão
de que determinado indivíduo seria o responsável pela prática criminosa, em nítida violação ao sistema
acusatório adotado pelo ordenamento jurídico pátrio.
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O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque o


indiciamento constitui atribuição exclusiva da autoridade policial.
Nesse sentido o STF/STJ:

Indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial. STJ. 5ª Turma. RHC


47.984SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552). STF. 2ª Turma.
HC 115015/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2013 (Info 717).

No caso julgado pelo STF, o juiz determinou à autoridade policial que fizesse o indiciamento formal
de algumas pessoas. A 2ª Turma do STF concedeu habeas corpus para anular esse indiciamento, deixando
claro que não cabe ao juiz tomar essa providência.
Nesse mesmo sentido é a inteligência do art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, que afirma que o
indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da polícia judiciária. STJ. 5ª Turma. RHC 47.984-SP, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552)
Na doutrina, Prof. Guilherme Nucci: “(...) não cabe ao promotor ou ao juiz exigir, através de
requisição, que alguém seja indiciado pela autoridade policial, porque seria o mesmo que demandar à força
que o presidente do inquérito conclua ser aquele o autor do delito. Ora, querendo, pode o promotor
denunciar qualquer suspeito envolvido na investigação criminal (...)” (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual
de Processo Penal e execução penal. São Paulo: RT, 2006, p. 139).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMS 2021): Segundo entendimento jurisprudencial dominante, o magistrado pode requisitar
ao Delegado de Polícia o indiciamento de investigados, inexistindo, para tanto, violação ao sistema acusatório
(item considerado incorreto).

c.2. Sujeito passivo:


Via de regra, qualquer pessoa pode ser indiciada. Entretanto, algumas autoridades estão afastadas
por lei de tal ato, como por exemplo membros do MP e membros da magistratura.
O art. 41, II da Lei 8625/93, diz que se houver indícios de crime praticados por membros do MP, os
autos do IP policial devem ser encaminhados ao Procurador Geral de Justiça a quem competir dar andamento
às investigações. No mesmo sentido é a Lei Orgânica da magistratura, em seu art. 33, parágrafo único da LC
nº 35/79, onde aos autos deverão ser remetidos ao TJ competente.
Contudo, a lei menciona expressamente que essas autoridades não poderão ser indiciadas no curso
da investigação, nada falando acerca do indiciamento em Auto de Prisão em Flagrante.

Lei complementar 35/79:


Art. 33 - São prerrogativas do magistrado:
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II - não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial
competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em
que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do magistrado ao
Presidente do Tribunal a que esteja vinculado (vetado);
Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de
crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os
respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a
fim de que prossiga na investigação.

Lei nº 8.625/93:
Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício
de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica:
II - não ser indiciado em inquérito policial, observado o disposto no parágrafo
único deste artigo;
Parágrafo único. Quando no curso de investigação, houver indício da prática de
infração penal por parte de membro do Ministério Público, a autoridade policial,
civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os
respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar
prosseguimento à apuração.

Segue um artigo de autoria do Delegado de Polícia/PR e colaborador do Dedicação Delta, Tiago


Dantas, sobre indiciamento de promotor e juiz.

https://jus.com.br/artigos/44741/o-indiciamento-de-juiz-e-de-promotor-realizado-pelo-delegado-de-
policiahttps://jus.com.br/artigos/44741/o-indiciamento-de-juiz-e-de-promotor-realizado-pelo-delegado-
de-policia

d) Consequências do indiciamento

1. A primeira consequência é de ordem prática, visto que o nome do indiciado irá constar do banco de
dados da polícia na condição de indiciado. Significa que caso ele seja abordado e realizada alguma
consulta, o policial verificará que ele foi o alvo central de determinada investigação.
2. A segunda consequência é no aspecto jurídico, pois as medidas cautelares pessoais dependem da
prova da materialidade do crime e indícios mínimos de autoria, ou seja, dos mesmos elementos do
indiciamento, e naturalmente, pode ser objeto de cautelares aflitivas no curso do inquérito policial.
Indica ainda que provavelmente o indiciado será submetido à fase da persecução penal.
3. E, por fim, sob o prisma social o ato de indiciamento coloca uma marca na pessoa do indiciado, que
o desqualifica perante a sociedade, refletindo na vida profissional, familiar e social.
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Atenção! Foi objeto de pergunta no concurso de DPC/ES em 2022:


“Conceitue indiciamento e discorra sobre suas características e seus efeitos negativos à luz da
jurisprudência do STF.”
A banca CEBRASPE trouxe como padrão de resposta a respeito dos “efeitos negativos à luz da
jurisprudência do STF” o seguinte:
“O indiciamento traz reflexos importantes na esfera jurídica de seu sujeito passivo.
Além de haver grande prejuízo ao indiciado em sua dimensão moral, pois passa a
figurar como pessoa formalmente investigada no âmbito criminal, o ato gera
registros no instituto de identificação, conforme expressamente previsto no art. 23
do CPP: “Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a
autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados
relativos à infração penal e à pessoa do indiciado.” Além disso, há previsão expressa
na Lei n.º 9.613/1998 do afastamento do servidor público indiciado por suposta
prática do crime de lavagem de capitais: “Art. 17-D: Em caso de indiciamento de
servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais
direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão
fundamentada, o seu retorno”. Todavia esse dispositivo foi declarado
inconstitucional pelo STF na ADI 4911: “5. Sendo o indiciamento ato dispensável
para o ajuizamento de ação penal, a norma que determina o afastamento
automático de servidores públicos, por força da opinio delicti da autoridade
policial, quebra a isonomia entre acusados indiciados e não indiciados, ainda que
denunciados nas mesmas circunstâncias. Ressalte-se, ainda, a possibilidade de
promoção de arquivamento do inquérito policial mesmo nas hipóteses de
indiciamento do investigado. 6. Ação Direta julgada procedente”. (ADI 4911,
Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES,
Tribunal Pleno, julgado em 23/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-285 DIVULG
02-12-2020 PUBLIC 03-12-2020) Por fim, destaque-se que a Lei n.º 10.826/2003
estabelece que “Art. 4.º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado
deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I
– comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de
antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral
e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão
ser fornecidas por meios eletrônicos”, de forma que eventualmente um indiciado
poderá ter a autorização negada em razão dos registros de inquérito contra si.”

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Obs.1: Caso o indiciado não seja condenado ou o IP seja arquivado, o ato de indiciamento deve ser cancelado,
com o escopo de assegurar a presunção de inocência e o princípio da dignidade da pessoa humana.

Obs.2: Na hipótese de surgirem novos elementos informativos que indiquem que outra pessoa foi a autora
do crime investigado, pode o delegado de polícia promover o desindiciamento?
Trata-se do ato de cassação ou revogação de anterior indiciamento. R.: Em que pese haver
divergência doutrinária, para as provas de delegado de polícia prevalece que sim. Os delegados de polícia
são agentes da Administração Pública e possuem o poder de autotutela, estampado na súmula 473 do STF,
de modo que podem rever seus atos quando eivados de vício.
Nesse sentido, o desindiciamento pode ser feito, não apenas pelo Delegado, mas também pelo Poder
Judiciário, uma vez verificada a ilegalidade daquele indiciamento.
Em outras palavras: O indiciamento é privativo do Delegado, mas o desindiciamento pode ser feito
pelo próprio Delegado, mas também poderá ser feito pelo Poder Judiciário se reconhecido constrangimento
ilegal no julgamento de um Habeas corpus.

e) Momento do indiciamento:
Via de regra, o momento adequado para o ato de indiciamento ocorre quando a autoridade policial
reúne os elementos de convicção, que indicam a autoria e materialidade do crime investigado.
Não há, na lei, um momento específico para indiciar. Assim, o indiciamento pode ser feito no início
do inquérito policial – nas hipóteses de flagrante delito, em que o indiciamento é automático, durante as
investigações ou, ainda, ao final, dentro do relatório expedido pelo delegado de polícia.
Destaca Renato Brasileiro que:

“Dada a importância do indiciamento como condição para o exercício do direito de


defesa na fase investigatória e a possibilidade do advento de prejuízos à pessoa do
indiciado, afigura-se indispensável a presença de elementos informativos acerca da
materialidade e da autoria do delito. Destarte, o indiciamento só pode ocorrer a
partir do momento em que reunidos elementos suficientes que apontem para a
autoria da infração penal, quando, então, o delegado de polícia deve cientificar o
investigado, atribuindo-lhe, fundamentadamente, a condição jurídica de
“indiciado”, respeitadas todas as garantias constitucionais e legais. Não se trata,
pois, de ato arbitrário nem discricionário, já que, presentes elementos informativos
apontando na direção do investigado, não resta à autoridade policial outra opção
senão seu indiciamento.” (in Manual de Processo Penal, edição 2020, página 224)

Parte da doutrina (professor Leonardo Marcondes) entende que o ato de indiciamento não deveria
ser ao final, devendo ocorrer no instante imediatamente anterior ao interrogatório.

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Já outra corrente, defendida por Aury Lopes Jr, afirma que o ato de indiciamento deve ocorrer logo
após o ato de interrogatório. Isso porque o ato de indiciamento tem um efeito negativo e não pode ser um
ato de surpresa de tal condição, que, caso feito ao final do inquérito policial, nada poderia fazer o indiciado
acerca do apontamento formal.
Independentemente do momento de indiciamento, o certo é que ele NÃO pode ser realizado após o
oferecimento da denúncia, sob pena de configurar abuso de autoridade e constrangimento ilegal.

CAIU EM PROVA:

(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): Havendo repercussão interestadual que exija repressão
uniforme, o delegado da Polícia Federal poderá apurar crimes cuja apuração seja de competência da justiça
estadual, não havendo mácula apta a invalidar a produção de prova - item considerado correto.

f) Indiciamento em crime de menor potencial ofensivo:


Como o indiciamento acarreta diversos efeitos deletérios ao suspeito, a sua consonância deve
guardar conexão com o ordenamento jurídico.
Como os crimes de IMPO devem observância aos institutos despenalizadores, não é adequado o ato
do indiciamento nesses crimes, haja vista que nem pode haver processo por força da transação penal, quiçá
indiciamento. Nesses crimes, a prática é o ato de um simples apontamento, como nos casos de adolescentes
em prática de ato infracional.

g) Espécies de indiciamento

1) Indiciamento material: é um ato decisório do delegado de polícia, onde ele expõe um substrato fáticos e
jurídicos que justificam a imputação do crime ao investigado. Ou seja, nada mais é do que a fundamentação
do ato do indiciamento. É a análise técnica-jurídica.

2) Indiciamento formal: é constituído por peças essenciais para formar a convicção da autoridade para o
indiciamento material. Peças como: 1) boletim de vida pregressa; b) auto de qualificação e interrogatório.

3) Indiciamento coercitivo: é aquele decorrente do APF, uma vez que os pressupostos do indiciamento são
quase os mesmos da lavratura do auto de prisão em flagrante. Quem é preso em flagrante, inevitavelmente
está indiciado. Pois, diante do flagrante, temos a prova da materialidade do crime, indícios de autoria e
circunstâncias fáticas. Nesse momento não realizamos um juízo de certeza e sim de mera probabilidade.

DICA: delegado de polícia trabalha com indícios e não com provas, pois quem trabalha com prova é juiz e
MP.

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4) Indiciamento indireto: é aquele realizado quando o investigado não é encontrado, estando em local
incerto e não sabido.

5) Indiciamento direto: é aquele realizado quando o investigado é encontrado e está presente.

6) Indiciamento complexo: trata-se de procedimento adotado em situações em que o investigado dispõe


por foro por prerrogativa de função.

Logo, se a decisão sobre o ato de indiciamento não pode ser tomada de forma direta pelo delegado
de polícia, dependendo de manifestação do judiciário, obviamente estamos diante de um ato complexo, em
analogia com a classificação em relação aos atos administrativos.

Efeito prodrômico do indiciamento

Ainda com base nos ensinamentos dos administrativistas, o efeito preliminar do ato administrativo (efeito
indireto) é que a representação pelo indiciamento de alguém com foro por prerrogativa de função faz surgir
o dever da autoridade judicial se manifestar para que o ato se aperfeiçoe.

A representação constitui uma exposição dos fatos, seguida de uma sugestão jurídica fundamentada.

Indiciamento envolvendo autoridades com foro por prerrogativa de função:

Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada.
Existem duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser
indiciadas:
a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79);
b) Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/93 e art. 41,
parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).

Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de


autoridades com foro por prerrogativa de função (não há dispositivo legal que vede
expressamente o indiciamento). No entanto, para isso, é indispensável que a
autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal competente para julgar
esta autoridade. Ex: em um inquérito criminal que tramita no STJ para apurar crime
praticado por Governador de Estado, o Delegado de Polícia constata que já existem
elementos suficientes para realizar o indiciamento do investigado. Diante disso, a

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autoridade policial deverá requerer ao Ministro Relator do inquérito no STJ


autorização para realizar o indiciamento do referido Governador.
Chamo atenção para o fato de que não é o Ministro Relator quem irá fazer o
indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O Ministro Relator irá
apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento. STF. Decisão monocrática.
HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/04/2016 (Info 825).

Portanto, a partir do momento em que determinado titular de foro por prerrogativa


de função passe a figurar como suspeito em procedimento investigatório, impõe-
se a autorização do Tribunal (por meio do Relator) para o prosseguimento das
investigações. Assim, caso a autoridade policial que preside determinada
investigação pretenda intimar autoridade que possui foro por prerrogativa de
função, em razão de outro depoente ter afirmado que o mesmo teria cometido fato
criminoso, deve o feito ser encaminhado previamente ao respectivo Tribunal, por
estar caracterizado procedimento de natureza investigatória contra titular de foro
por prerrogativa de função ( STF, Pleno, Inq.2.842/DF, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, DJe 41 26/02/2014) Agora, se houver simples menção ao nome de
um parlamentar federal, em depoimentos prestados por investigados, sem maiores
elementos acerca de seu envolvimento no fato delituoso, não há falar em
necessidade de remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal para o
processamento do inquérito (STF, 2ª Turma, HC 82.647/PR, Rel. Min. Carlos Velloso,
DJ 25/04/2003)

Existe decisão monocrática mais recente em sentido contrário: De acordo com o


Plenário do STF, é nulo o indiciamento de detentor de prerrogativa de foro,
realizado por Delegado de Polícia, sem que a investigação tenha sido previamente
autorizada por Ministro-Relator do STF (Pet 3.825-QO, Red. p/o Acórdão Min.
Gilmar Mendes). Diversa é a hipótese em que o inquérito foi instaurado com
autorização e tramitou, desde o início, sob supervisão de Ministro do STF, tendo o
indiciamento ocorrido somente no relatório final do inquérito. Nesses casos, o
indiciamento é legítimo e independe de autorização judicial prévia. Em primeiro
lugar, porque não existe risco algum à preservação da competência do STF
relacionada às autoridades com prerrogativa de foro, já que o inquérito foi
autorizado e supervisionado pelo Relator. Em segundo lugar, porque o
indiciamento é ato privativo da autoridade policial (Lei nº 12.830/2013, art. 2º, §
6º) e inerente à sua atuação, sendo vedada a interferência do Poder Judiciário
sobre essa atribuição, sob pena de subversão do modelo constitucional acusatório,
baseado na separação entre as funções de investigar, acusar e julgar. Em terceiro
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lugar, porque conferir o privilégio de não poder ser indiciado apenas a


determinadas autoridades, sem razoável fundamento constitucional ou legal,
configuraria uma violação aos princípios da igualdade e da república. Em suma: a
autoridade policial tem o dever de, ao final da investigação, apresentar sua
conclusão. E, quando for o caso, indicar a autoria, materialidade e circunstâncias
dos fatos que apurou, procedendo ao indiciamento. STF. Decisão monocrática. Inq
4621, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 23/10/2018.
Fonte: Dizer o Direito

Aproveitando o tema acerca do foro por prerrogativa de função, vamos ver como
ficam os reflexos da nova decisão do STF na investigação criminal…

RESTRIÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E REFLEXO NA


INVESTIGAÇÃO E INDICIAMENTO DE AUTORIDADES COM FORO
As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por
prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se
apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em
razão dele. Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser
diplomado como Deputado Federal, não se justifica a competência do STF, devendo
ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no
mandato, se o delito não apresentar relação direta com as funções exercidas,
também não haverá foro privilegiado.
Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
(1) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.
(2) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de
intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e
julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a
ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

STF adotou uma interpretação restritiva do foro de prerrogativa de função previsto na CF para os
parlamentares federais. O foro foi idealizado como instrumento destinado a garantir o livre exercício de
certas funções públicas e não para acobertar pessoas ocupantes do cargo. Estendê-lo aos crimes cometidos
antes da diplomação ou sem contexto funcional desnatura o instituto, transformando-o em instrumento

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de privilégio pessoal, ferindo o princípio da igualdade. normas que estabelecem restrições ao princípio da
igualdade devem ser interpretadas restritivamente.
O STF fez uma redução teleológica – uma interpretação teleológica restritiva do art. 102, I, b e c da
CF c/c art. 53, §1º.

Redução teleológica ou técnica da “dissociação” consiste em reduzir o campo de aplicação de uma


disposição normativa a somente a uma ou a algumas das situações de fato que a interpretação literal prevê
para adequá-la à finalidade da norma.

Antes, diante da interpretação literal do foro, o STF entendia que toda a investigação de autoridade
com foro no STF deveria ser supervisionada pelo Ministro-relator, exigindo desde a autorização prévia para
a instaurar e autorização para promover o indiciamento.
Agora, diante da redução teleológica, só subsistirá a supervisão judicial do Ministro se o crime for
depois da diplomação e com nexo funcional. Tratando-se de infração penal praticada antes da diplomação,
ou durante o mandato, mas despida de nexo funcional, o STF não intervirá em nada, sendo a condução das
investigações livre pela Polícia Civil ou Federal, sem necessidade de autorização para instauração, autorização
para indiciar, etc.

Investigações criminais envolvendo Deputados Federais e Senadores DEPOIS da AP 937 QO


Situação Atribuição para investigar
Se o crime foi praticado antes da diplomação ● Polícia (Civil ou Federal) ou MP.
Se o crime foi praticado depois da diplomação ● Não há necessidade de autorização do
(durante o exercício do cargo), mas o delito não STF
tem relação com as funções desempenhadas. ● Medidas cautelares são deferidas pelo
Ex: homicídio culposo no trânsito. juízo de 1ª instância (ex: quebra de sigilo)

Se o crime foi praticado depois da diplomação ● Polícia Federal e Procuradoria Geral da


(durante o exercício do cargo) e o delito está República, com supervisão judicial do
relacionado com as funções desempenhadas. STF.
Ex: corrupção passiva. ● Há necessidade de autorização do STF
para o início das investigações.
Fonte: Dizer o Direito

Veja as dicas do nosso professor Tiago Dantas:

https://youtu.be/2cj1Pcuu7ew

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4.1 Constituição de Defensor quando o investigado for integrante da segurança pública ou militar – Art.
14-A do CPP.

💣 Alteração promovida pelo Pacote Anticrime!

“Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art.
144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais,
inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for
a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no
art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o
indiciado poderá constituir defensor.

§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado
da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no
prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação.

§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de


defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá
intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos
fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para
a representação do investigado.

§3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do §2º deste artigo,
a defesa caberá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em que ela
não estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente à
respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá

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disponibilizar profissional para acompanhamento e realização de todos os atos


relacionados à defesa administrativa do investigado.

§4º A indicação do profissional a que se refere o §3º deste artigo deverá ser
precedida de manifestação de que não existe defensor público lotado na área
territorial onde tramita o inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese em
que poderá ser indicado profissional que não integre os quadros próprios da
Administração.

§5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio


dos interesses dos investigados nos procedimentos de que trata este artigo
correrão por conta do orçamento próprio da instituição a que esteja vinculado à
época da ocorrência dos fatos investigado.

§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares


vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que
os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.”.

A lei 13.964/19 incorporou no Código de Processo Penal uma sistemática que já era prevista no
âmbito da União, que era a possibilidade da AGU realizar a defesa judicial de agentes públicos (MP872,
transformada na lei ordinária 13.841/19).
Com a nova sistemática, a Autoridade Policial ao identificar que o suspeito é agente de segurança
pública ou militar e os fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, deverá
citar o investigado (leia-se: intimar), para que o investigado constitua defensor em até 48h.
Esgotado o prazo e não nomeado o defensor pelo investigado, a Autoridade Policial deverá intimar
a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo
de 48h, indique defensor para a representação do investigado.
Inicialmente, foram vetados os §§3º a 5º, no entanto o Congresso Nacional procedeu à derrubada
do veto, de modo que tais parágrafos voltaram a produzir efeitos!
Assim, operando-se o decurso do prazo de 48h a contar do recebimento da notificação, essa
atribuição recairá, preferencialmente, sobre a Defensoria Pública (CPP, art. 14-A, §3º). Na eventualidade de
não haver Defensor Público na área territorial onde tramita o procedimento investigatório e com atribuição
para nele atuar, deverá ser lavrada uma manifestação nesse sentido, quando, então, será possível a
indicação de um profissional da advocacia que não integra os quadros próprios da Administração para
acompanhar e realizar todos os atos relacionados à defesa administrativa do investigado (CPP, art. 14-A, §4º).
Nesse caso, os custos com o patrocínio dos interesses dos investigados correrão por conta do orçamento
próprio da instituição a que o servidor estivesse vinculado à época da ocorrência dos fatos investigados
(CPP, art. 14-A, §5º).
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Vamos a um resumo do procedimento:

Investigado: Caso o
Investigado
Agente de investigado
não nemeia
não nomeie
Segurança defensor no
defensor no
ou militar prazo
prazo de 48H

Cita-se Intima-se a
Fato: uso letal (intimação) o instituição
da força no investigado para que
execício da para nomeie
função constituir defensor no
defensor em prazo de 48H

O autor Renato Brasileiro, em seu Manual de Processo Penal, destaca que:


(1) O art. 14-A do CPP foi introduzido em um contexto crescente de proteção da ampla defesa no curso da
investigação preliminar:
▪ Constituição Federal;
▪ Art. 7º, XXI do Estatuto da OAB;
▪ Art. 15, II da Lei 13.869/19 – considera crime de abuso de autoridade prosseguir com o
interrogatório de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor
público, sem a presença do seu patrono → Renato Brasileiro diz que desde a entrada em
vigor desse crime (25.01.2020), se o investigado optar pela presença de um defensor, não
mais se poderá admitir a realização de nenhum interrogatório sem a presença deste;
(2) A constituição de defensor pelo servidor não é condição sine qua non para o prosseguimento das
investigações. Ainda que o investigado não tenha constituído advogado e ainda que a instituição a que
o agente público estava vinculado à época dos fatos não indique defensor para a sua representação, isso
jamais poderá funcionar como óbice ao prosseguimento das investigações.
(3) Uma vez constituído o defensor, incide os termos na Súmula Vinculante 14.
(4) Há uma impropriedade técnica no uso do termo “citação” – sabidamente conhecido como ato de
comunicação processual que dá ciência ao acusado acerca da instauração de um processo criminal –
contra a sua pessoa, chamando-o para se defender. O ideal é substituir o termo citado por notificado,
notificação esta que poderá ser feita por qualquer meio de comunicação.
O professor Rogério Sanches destaca que:

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O art. 14-A do CPP determina que o investigado seja citado da instauração do


procedimento, em razão do que pode constituir defensor no prazo de até 48
(quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação (§ 1º). De acordo com
o § 2º, se, esgotado o prazo sem a nomeação de defensor pelo investigado, a
autoridade responsável pela investigação deve intimar a instituição a que estava
vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no mesmo
prazo, indique defensor para a representação.
A regra é criticada por parte da doutrina em face das seguintes razões:
a. viola a cláusula constitucional isonômica, pois restringe a garantia anunciada aos agentes públicos
investigados por “fatos relacionados ao uso da força letal”, em evidente discriminação aos demais
servidores da segurança pública investigados por ações diversas;
b. dificulta a investigação de fatos graves, pois a falta de nomeação de defensor pelo investigado no
início da apuração administrativa resulta na suspensão da persecução inquisitorial até o saneamento
da exigência imposta pela lei;
c. desvio de finalidade no campo da assistência judiciária gratuita, assegurada, nos termos do art. 5°,
inc. LXXIV, da CF/88, àqueles que comprovam a insuficiência de recursos para arcar com o pagamento
dos honorários atinentes à prestação de serviços de defesa técnica por advogados particulares;
d. afronta a cláusula constitucional de prévia dotação orçamentária. As instituições militares
estaduais, tanto como as instituições civis de segurança pública, não contam com orçamento próprio.
A solução para o problema seria a implementação de assistência jurídica a seus integrantes; e, por
consequência, seriam necessárias a criação de um corpo jurídico de defensores e a consecutiva
contratação de pessoal, mediante lei, com respectiva previsão de recursos financeiros à criação de
cargos e funções próprios para o exercício de defesa técnica ao efetivo militar e civil.

CESPE / CEBRASPE - 2021 - PGE-CE - Procurador do Estado: No inquérito em que se apura


suposto crime de homicídio praticado por policial no exercício de suas funções, se o
investigado não constituir defensor, o delegado deverá intimar a instituição em que o policial
estava vinculado ao tempo do fato para que ela indique um causídico, às suas custas, caso
certificada a falta de atuação da defensoria pública. Item certo.

É justamente o que dispõe o art. 14-A caput e seus parágrafos do CPP inseridos pela Lei nº 13.964/2019.

5. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

a) Conceito: O arquivamento do inquérito policial é uma decisão judicial, muito embora ainda não haja um
processo judicial em curso. Ele depende de pedido de promoção de arquivamento feito pelo MP, que será
apreciado pelo juiz (Renato Brasileiro) - regulamento anterior ao Pacote Anticrime.

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b) Natureza jurídica: Em verdade, o arquivamento é um ato subjetivamente complexo, que envolve prévio
requerimento formulado pelo órgão do Ministério Público e posterior decisão da autoridade judiciária.
Quando o juiz homologa a promoção de arquivamento se incorpora a natureza de decisão judicial do
arquivamento do inquérito policial.
Contudo, o professor André Luiz Nicolitt, diz ser um ato administrativo, porquanto embora seja uma
decisão do juízo, ele não está na função tipicamente jurisdicional e sim administrativa (Nicolitt, André, 5ª ed.
Pág 205). Utilizam, ainda, a Súmula 524 do STF que faz referência a “despacho”.

Súmula 524/STF: Arquivado o inquérito policial por despacho do juiz, a


requerimento do promotor de justiça não pode a ação penal ser iniciada sem novas
provas.

Pergunta de prova oral (Delegado SC/2015):


Onde está o fundamento legal no CPP do arquivamento do inquérito policial? R: Não há no CPP um
dispositivo específico sobre as hipóteses de arquivamento. Entretanto, a doutrina se vale da combinação dos
artigos 395 c/c 397, ambos do CPP, pois são as hipóteses de rejeição da denúncia e absolvição sumária, ,
decisões que são pautadas em um juízo de cognição sumária e podem, à luz do art. 3º do CPP, serem aplicadas
por analogia à decisão que determina o arquivamento do inquérito policial.

c) Hipóteses: Como o CPP não trata as hipóteses de arquivamento, se aplica, por analogia, o tratamento da
rejeição da denúncia/queixa a absolvição sumária (art. 395 e 397, CPP):

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:


I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste
Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

Vamos analisar os incisos dos dispositivos legais:

● Atipicidade formal ou material

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∘ Atipicidade Formal: juízo de adequação, verificar se a conduta se adequa ao tipo penal, ocorre
quando conduta não se encaixa em nenhum tipo penal.
∘ Atipicidade Material: princípio da insignificância ou bagatela. Exemplo: âmbito tributário penal,
STF e STJ até 20 mil é insignificante, conduta atípica.
∘ Excludente da ilicitude/Excludente da culpabilidade, SALVO inimputabilidade.
No caso de inimputável, deve ser denunciado, porém com pedido de absolvição imprópria →
medida de segurança.

Obs: Na dúvida, de acordo com a doutrina majoritária, o promotor deve denunciar (in dubio pro societate).
Mas o juiz, na dúvida, na hora da sentença, quanto às descriminantes ou exculpantes, deve absolver (in dubio
pro reo).

● Causa extintiva da punibilidade


Questão interessante diz respeito a CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. Como promotor, quando juntar
certidão de óbito, é melhor requisitar ao cartório para comprovar. Todavia, o próprio cartório pode não
possuir a certidão correta, visto que o agente pode ter feito uso de atestado de óbito falso.
Caso o juiz venha a extinguir a punibilidade com esta certidão de óbito falsa, de acordo com o STF,
como a decisão se baseou em um ATO INEXISTENTE, não será considerada válida, podendo então o indivíduo
ser processado novamente.

● Ausência de elementos informativos quanto à autoria e materialidade


Grande parte dos arquivamentos. Ocorre quando as investigações não avançam em autoria e
materialidade e aí o MP promove o arquivamento com o juízo.

d) Coisa julgada na decisão de arquivamento

COISA JULGADA NA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO


Com a Lei 13.964/19, fica esvaziada a discussão sobre a coisa julgada na decisão de arquivamento, que passa
a ser, ao final, do órgão de revisão ministerial. Portanto, poderá o mesmo órgão, decidir sobre o seu
desarquivamento, não mais cabendo ao juiz.

Medidas cautelares concedidas para suspender sine die a eficácia:


(a) Da implantação do juiz das garantias e seus consectários (Artigos 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3ª-E, 3º-F, do
Código de Processo Penal); (b) Da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada
inadmissível (157, §5º, do Código de Processo Penal); (c) Da alteração do procedimento de arquivamento
do inquérito policial (28, caput, Código de Processo Penal); e(d) Da liberalização da prisão pela não
realização da audiência de custódia no prazo de 24 horas (Artigo 310, §4°, do Código de Processo
Penal);
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A nova sistemática do arquivamento do inquérito policial foi suspensa por decisão do STF, sendo assim,
vamos manter os comentários da sistemática atual e faremos as anotações pertinentes à mudança, caso ela
passe a vigorar em algum momento.

A coisa julgada ocorre quando estamos diante de uma decisão judicial que não comporta mais
recurso, tornando-se imutável.
∘ Coisa julgada formal: é a imutabilidade da decisão no processo em que foi proferida. Neste processo
não poderá ser modificada, mas em outro sim.
∘ Coisa julgada material: pressupõe a formal, é a imutabilidade da decisão fora do processo no qual
aquela foi proferida.
A depender do fundamento utilizado na promoção de arquivamento irá ocorrer coisa julgada formal
ou coisa julgada formal e material.
A seguir reproduzimos o quadro sobre as hipóteses de coisa julgada no arquivamento do IP:

Fundamento do arquivamento Espécie de coisa julgada

a) Ausência de pressupostos processuais ou de Coisa julgada formal


condições da ação

b) Falta de justa causa Coisa julgada formal

c) Excludente de ilicitude Divergência jurisprudencial


STJ: Coisa julgada material
STF: Coisa julgada formal

d) Excludente de culpabilidade Coisa julgada material (exceto inimputabilidade)

e) Excludente de punibilidade Coisa julgada material (exceto no caso de certidão de


óbito falsa)

f) Atipicidade do fato Coisa julgada formal e material

O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando, mesmo esgotados os prazos


para a conclusão das diligências, não foram reunidos indícios mínimos de autoria
ou materialidade.
O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando verificar que, mesmo após terem
sido feitas diligências de investigação e terem sido descumpridos os prazos para a
instrução do inquérito, não foram reunidos indícios mínimos de autoria ou
materialidade (art. 231, § 4º, “e”, do RISTF). A pendência de investigação, por prazo
irrazoável, sem amparo em suspeita contundente, ofende o direito à razoável

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duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF/88) e a dignidade da pessoa humana


(art. 1º, III, da CF/88). Caso concreto: tramitava, no STF, um inquérito para apurar
suposto delito praticado por Deputado Federal. O Ministro Relator já havia
autorizado a realização de diversas diligências investigatórias, além de ter aceitado
a prorrogação do prazo de conclusão das investigações. Apesar disso, não foram
reunidos indícios mínimos de autoria e materialidade. Com o fim do foro por
prerrogativa de função para este Deputado, a PGR requereu a remessa dos autos à
1ª instância. O STF, contudo, negou o pedido e arquivou o inquérito, de ofício,
alegando que já foram tentadas diversas diligências investigatórias e, mesmo assim,
sem êxito. Logo, a declinação de competência para a 1ª instância a fim de que lá
sejam continuadas as investigações seria uma medida fadada ao insucesso e
representaria apenas protelar o inevitável. STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 21/8/2018 (Info 912).
No mesmo sentido: STF. Decisão monocrática. INQ 4.442, Rel. Min. Roberto
Barroso, Dje 12/06/2018.
A decisão de arquivamento de inquérito policial lastreada na atipicidade do fato
toma força de coisa julgada material, sendo manifestamente incabível a
reabertura do feito por meio de correição parcial (HC 173594 AgR, Relator(a):
ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 03/05/2021, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-087 DIVULG 06-05-2021 PUBLIC 07-05-2021).

Atenção! Existe doutrina minoritária que defende que a decisão de arquivamento nunca fará coisa
julgada, seja formal, seja material. Como o arquivamento não é ato jurisdicional típico, desenvolvendo-se em
uma etapa pré-processual, não haveria de se falar em coisa julgada. (André Nicolitt e Afrânio Silva Jardim)

5.1 Arquivamento determinado por juiz incompetente

Alguns doutrinadores entendem que não haveria a produção de coisa julgada formal ou material.
No entanto, prevalece nos Tribunais que a decisão dada por juízo absolutamente incompetente não
é inexistente, mas, no máximo, nula. Caso a nulidade não tenha sido proclamada no momento oportuno, a
decisão terá o condão de produzir seus efeitos válidos.

Precedente: STF: “(...) A decisão que determina o arquivamento do inquérito


policial, quando fundado o pedido do Ministério Público em que o fato nele
apurado não constitui crime, mais que preclusão, produz coisa julgada material,
que - ainda quando emanada a decisão de juiz absolutamente incompetente -,
impede a instauração de processo que tenha por objeto o mesmo episódio (...)”

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(STF, 1ª Turma, HC 83.346/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 17/05/2005, DJ


19/08/2005).

5.2 Arquivamento e recorribilidade

Antes da reforma (L.13964/19), a decisão que deferia o arquivamento NÃO cabia recurso.
Exceções:
a) Crimes contra a economia popular ou contra a saúde pública: Existe previsão de reexame
necessário, também chamado de recurso de ofício (duplo grau obrigatório) - Art. 7º da lei 1521/51.

LCCEP - Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados
em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou
quando determinarem o ARQUIVAMENTO dos autos do respectivo inquérito
policial.

Não se aplica ao tráfico de drogas, mesmo sendo um crime contra a saúde, em razão da
especialidade.

A nosso ver o dispositivo foi tacitamente revogado, visto que a decisão final sobre o arquivamento é do órgão
ministerial de revisão, não mais cabendo ao juiz.

b) Contravenções do jogo do bicho e corrida de cavalos fora do hipódromo: Cabe RESE. LCP
(1508/51) art. 6º§único.

LCP Art. 6º Quando qualquer do povo provocar a iniciativa do Ministério Público,


nos termos do Art. 27 do Código do Processo Penal, para o processo tratado nesta
lei, a representação, depois do registro pelo distribuidor do juízo, será por este
enviada, incontinenti, ao Promotor Público, para os fins legais. Parágrafo único. Se
a representação for ARQUIVADA, poderá o seu autor interpor recurso no sentido
estrito.

O dispositivo deve ser interpretado na forma do Art. 28, §1º do CPP, devendo o recurso ser encaminhado ao
órgão ministerial de revisão.

c) Juiz arquiva o inquérito de ofício sem iniciativa do MP.


Essa é uma hipótese (ou medo) que não faz mais muito sentido, porque de qualquer forma o
arquivamento será submetido ao órgão ministerial de revisão. Antes a doutrina sustentava o cabimento de

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correição parcial, com a reforma, nos parece que faltaria interesse de agir, visto que a decisão poderá ser
revista pelo órgão ministerial de revisão.

d) Arquivamento nas hipóteses de atribuição originária do PGJ:

Lei n. 8.625/93, art. 12: “O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos
os Procuradores de Justiça, competindo-lhe: (…) XI - rever, mediante requerimento
de legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de
inquérito policial ou peças de informações determinada pelo Procurador-Geral de
Justiça, nos casos de sua atribuição originária”.

Com a reforma (L.13964/19) a atribuição para a revisão sobre o arquivamento passa a ser do órgão
ministerial de revisão (Art.28 do CPP).

Com a lei 13964/19, além das hipóteses de recursos que foram mantidas, a vítima ou seu representante
legal poderão recorrer, no prazo de 30 dias do recebimento da comunicação, submetendo a matéria ao
órgão de revisão ministerial (nova redação art. 28 do CPP);

5.3 Arquivamento da ação penal privada

Ocorre por pedido expresso do querelante, que será considerado renúncia e acarretará a extinção
da punibilidade, ou com o transcurso do prazo decadencial de 6 meses para exercício do direito de queixa
(art. 38, CPP).

5.4 Arquivamento implícito

Na lição de Afrânio Silva Jardim, referência no assunto: “entende-se por arquivamento implícito o
fenômeno de ordem processual decorrente de o titular da ação penal deixar de incluir na denúncia algum
fato investigado ou algum dos indiciados, sem expressa manifestação ou justificação deste procedimento.
Este arquivamento se consuma quando o juiz não se pronuncia na forma do art. 28 com relação ao que foi
omitido na peça acusatória”
Como se pode perceber, a doutrina que defende o arquivamento implícito parte da existência de
duas omissões: o promotor deixa de incluir na denúncia algum fato investigado (arquivamento implícito
objetivo) ou algum dos indiciados (arquivamento implícito subjetivo), sem justificação ou expressa
manifestação deste procedimento e o magistrado também se omite, deixando de aplicar a regra do art. 28
do CPP. É dessa conjugação de omissões que surge a defesa pela admissão do arquivamento implícito. E o
argumento reside no princípio da obrigatoriedade da ação penal pública → em apreço ao princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública, se o MP não inclui na denúncia todos os crimes e ou indiciados é
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porque reconheceu implicitamente a falta de justa causa. E se o juiz recebe a denúncia sem ressalvas é
porque implicitamente comungou da mesma orientação operando-se a partir do recebimento da denúncia
o arquivamento implícito.

Quando se consuma o arquivamento implícito?


R: De acordo com o professor Afrânio Silva Jardim, ocorre quando o juiz deixa de se arvorar do art.
28, em relação ao que foi omitido na denúncia, ocorre o arquivamento tácito.

ATENÇÃO: A jurisprudência e doutrina majoritária NÃO admitem o arquivamento implícito, porque a simples
omissão não implica arquivamento e o pedido de arquivamento deve ser fundamentado. Todo arquivamento
somente produz efeito se for um arquivamento explícito. Havendo omissão a respeito de um dado objetivo
ou subjetivo do inquérito, deve-se presumir que as investigações, quanto a parte omissa, continuam em
aberto.

Uma grande questão é saber como deverá atuar o juiz em caso de omissão do Ministério Público, tendo em
vista que o juiz não mais exerce o controle sobre o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e a
sistemática do antigo art. 28 foi substituída pelo controle realizado pelo órgão ministerial de revisão. Diante
das mudanças, acreditamos que não mais há que se falar em arquivamento implícito no processo penal (que
já não era aceito pelos Tribunais Superiores, de qualquer forma).

5.5 Arquivamento indireto

Ocorre quando o magistrado não concorda com o pedido de declinação de atribuição formulado
pelo órgão ministerial. O juiz recebe a manifestação como se fosse um pedido de arquivamento e aplica, por
analogia, o art. 28 do CPP, leia-se, homologa ou não e, caso não homologue, remete os autos PGJ.

Essa sistemática permanece vigente mesmo com a L. 13964/19. Isso porque o Art. 28 do CPP, alterado pela
referida lei, permanece com sua eficácia suspensa em decisão do STF na ADI 6298.

Caso o STF julgue o mérito e a norma volte a produzir efeitos, não fará mais sentido falarmos em
arquivamento indireto, visto que a providência de arquivamento passará a ser realizada exclusivamente no
âmbito do Ministério Público, não mais o juiz exercendo qualquer tipo de controle.

5.6 Arquivamento e coisa julgada

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Prevalece na doutrina que o arquivamento NÃO se submete à coisa julgada material, e ao surgirem
novas provas, o MP pode oferecer denúncia, desde que não tenha sido extinta a punibilidade por alguma das
hipóteses do art. 107, CP.

ATENÇÃO! Excepcionalmente, o arquivamento será definitivo, quando motivado, por exemplo, pela
prescrição ou, conforme já entendeu o STF, pela certeza da atipicidade do fato. Ressalta-se a divergência
entre os Tribunais acerca da coisa julgada no tocante ao reconhecimento da excludente de ilicitude. Para o
STJ faz sim coisa julgada material, não podendo ser revista.

Com a reforma (Lei 13964/19) e o reforço argumentativo no sentido de que a decisão possui natureza
administrativa, nos parece que a posição da doutrina permanece atual. Ou seja, se antes já não fazia coisa
julgada material, muito menos fará agora.

ESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal: Relatado o IP, sob a tese de
atipicidade penal do fato, o MP requereu o arquivamento dos autos, o que foi determinado
pelo competente juízo, em acolhimento à tese do MP. Nessa situação, o arquivamento dos
autos nos termos do requerimento do MP impede a reabertura das investigações pela
autoridade policial. Item certo.

O arquivamento em razão da atipicidade da conduta faz coisa julgada material.

6. DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO E A PROPOSITURA DE AÇÃO PENAL

Conforme dispõe o art. 18 do CPP, o inquérito só pode ser desarquivado se a autoridade policial tiver
obtido notícias de provas novas.
Cumpre destacar que a possibilidade de desarquivamento pressupõe que a decisão de arquivamento
tenha se pautado em hipótese que apenas formou coisa julgada formal (ex.: arquivamento por falta de lastro
probatório) posto que pautada na cláusula rebus sic stantibus: mantidos os pressupostos fáticos que serviram
de amparo ao arquivamento, esta decisão deve ser mantida; modificando-se o panorama probatório, nada
impede o desarquivamento do inquérito policial.
Art. 18, CPP: Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade
judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder
a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

ATENÇÃO: NÃO CONFUNDA!


Para o delegado de polícia proceder a novas pesquisas, dando continuidade às investigações – basta
que haja NOTÍCIAS de provas novas. Por outro lado, para o Ministério Público dar início a uma nova ação

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penal, não basta haver notícias de provas novas, é necessário que existam efetivamente PROVAS NOVAS.
Esse é o entendimento cristalizado na Súmula 524 do STF:
Súmula 524 STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a
requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.

Conforme ensina Renato Brasileiro, desarquivamento não é a mesma coisa que oferecer a denúncia.
▪ Desarquivar → significa reabrir as investigações, sendo suficiente para tal a notícia de provas novas.
▪ Oferecer denúncia → necessidade de SURGIMENTO DE PROVAS NOVAS.

Quem é responsável pelo desarquivamento do inquérito policial?


Há doutrinadores que entendem que é a autoridade policial. De acordo com o art. 18 do CPP, depois
de arquivado o inquérito por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas
pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Por questões práticas, como os autos do inquérito policial ficam
arquivados perante o Poder Judiciário – leia-se, juiz das garantias –, tão logo tome conhecimento da notícia
de provas novas, deve a autoridade policial representar ao Ministério Público, solicitando o desarquivamento
físico dos autos para que possa proceder a novas investigações.
Porém, a doutrina majoritária defende que o desarquivamento compete ao Ministério Público, titular
da ação penal pública, e, por consequência, destinatário final das investigações policiais. Diante de notícia de
prova nova a ele encaminhada, seja pela autoridade policial, seja por terceiros, deve promover o
desarquivamento, solicitando à autoridade judiciária o desarquivamento físico dos autos. Caso haja
dificuldades no desarquivamento físico dos autos do inquérito policial, nada impede que o Ministério Público
requisite a instauração de outra investigação policial.

Qual seria o conceito de provas novas?


Conforme jurisprudência e doutrina majoritária, provas novas são aquelas provas CAPAZES DE
ALTERAR O CONTEXTO PROBATÓRIO dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento.
De acordo com a doutrina, há duas espécies de provas novas:
a) prova formalmente nova → prova que já era conhecida, mas ganhou nova versão após o
arquivamento. Ex.: mudança no depoimento testemunhal
b) prova materialmente/substancialmente nova → é a prova inédita, desconhecida, que estava oculta
por ocasião do arquivamento.

Como já se pronunciou o STJ,

“três são os requisitos necessários à caracterização da prova autorizadora do


desarquivamento de inquérito policial (artigo 18 do CPP): a) que seja formalmente
nova, isto é, sejam apresentados novos fatos, anteriormente desconhecidos; b) que
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seja substancialmente nova, isto é, tenha idoneidade para alterar o juízo


anteriormente proferido sobre a desnecessidade da persecução penal; c) seja apta
a produzir alteração no panorama probatório dentro do qual foi concebido e
acolhido o pedido de arquivamento. Preenchidos os requisitos – isto é, tida a nova
prova por pertinente aos motivos declarados para o arquivamento do inquérito
policial, colhidos novos depoimentos, ainda que de testemunha anteriormente
ouvida, e diante da retificação do testemunho anteriormente prestado –, é de se
concluir pela ocorrência de novas provas, suficientes para o desarquivamento do
inquérito policial e o consequente oferecimento da denúncia”. (STJ, 6ª Turma, RHC
18.561/ES, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 11/04/2006).

Atenção! O STJ tem precedente afirmando que “mudança de entendimento jurisprudencial sobre aspectos
jurídicos da situação fática apreciada no procedimento investigatório arquivado não autoriza o
desarquivamento do inquérito policial” (STJ, Corte Especial, Apn 311/RO, Rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, j. 02/08/2006)

Qual é a natureza jurídica de “provas novas”?


A descoberta de provas novas funciona como condição de procedibilidade para o exercício da ação penal.

Entendimentos jurisprudenciais:
O MP dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e
garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação
do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva
constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais que se acham
investidos, em nosso País, os advogados (…) (STF: RE 593727).

As notícias anônimas não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal ou


mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos de
investigação, como interceptação telefônica ou busca a apreensão. Entretanto, elas
podem constituir fonte de informação e de provas que não podem ser
simplesmente descartadas pelo Poder Judiciário (STF: HC 106152).

O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso


porque o indiciamento constitui atribuição exclusiva da autoridade policial (STF:
RHC 47984).

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As investigações envolvendo autoridades com foro privativo no STF somente


podem ser iniciadas após autorização formal do STF. De igual modo, as diligências
investigatórias precisam ser previamente requeridas e autorizadas pelo STF (STF:
Inq 3387). Contudo, investigação envolvendo autoridades com foro privativo em
outros tribunais não exige prévia autorização judicial (STJ: REsp 1563962).

O arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base


em provas fraudadas não faz coisa julgada material (STF: HC 87395).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPB 2022): Em regra, é possível desarquivar o inquérito policial quando fundamentado na
A) atipicidade do fato.
B) falta de justa causa para a ação penal.
C) decadência do direito de representação do ofendido.
D) comprovação de coação moral irresistível.
E) menoridade do autor do fato.

GABARITO: LETRA B.

CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil: Em regra, é possível desarquivar
o inquérito policial quando fundamentado na falta de justa causa para a ação penal. Item
certo.

Esquema: Hipóteses de DESARQUIVAMENTO DO IP, caso o motivo do arquivamento seja:

1) Insuficiência de provas: é possível desarquivar, aplicando-se a regra geral do art. 18 do CPP (Súmula 524-
STF);
2) Ausência de pressuposto processual ou de condição da ação: é possível desarquivar, aplicando-se a regra
geral do art. 18 do CPP;
3) Falta de justa causa para a ação penal (não há indícios de autoria ou prova da materialidade): é possível
desarquivar, aplicando-se a regra geral do art. 18 do CPP;
4) Atipicidade (fato narrado não é crime): NÃO é possível desarquivar!
5) Existência manifesta de causa excludente de ilicitude:
5.1) STJ: NÃO é possível desarquivar (REsp 791471/RJ);
5.2) STF: é possível desarquivar (HC 87395-PR, Pleno, j. 23.03.2017 / HC 125101-SP, 2ª T.,J. 25/08/2015);
6) Existência manifesta de causa de excludente de culpabilidade: NÃO é possível desarquivar

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7) Existência manifesta de causa extintiva de punibilidade: NÃO é possível desarquivar (STJ HC 307.562/RS;
STF Pet 3943).
7.1) Exceção: extinção fundada em certidão de óbito falsa (STF: HC 104998 / SP - 1ª Turma, J.
14/12/2010)

7. TRANCAMENTO (OU ENCERRAMENTO ANÔMALO) DO INQUÉRITO POLICIAL

Como visto acima, o arquivamento resulta de um consenso entre o MP e o Juiz.


O trancamento, por sua vez, é determinado pelo juiz (não há consenso) quando a mera tramitação
do IP configura um constrangimento ilegal contra o paciente.
Segundo Renato Brasileiro, trata-se de medida de força que acarreta a extinção prematura das
investigações quando a mera tramitação do inquérito configurar constrangimento ilegal.
O trancamento do IP é uma medida de natureza excepcional, somente sendo possível quando:
∘ Não houver qualquer dúvida sobre a atipicidade (formal/material) da conduta.
∘ Presença de causa extintiva da punibilidade.
∘ Ausência de justa causa.

Salienta-se que o instrumento adequado para o trancamento do IP será:

● Habeas corpus – apenas nos casos em que há risco à liberdade de locomoção.


● Mandado de segurança – nos casos de pessoa jurídica, em que não há risco à liberdade de locomoção

CF, art. 5º, LXVIII: “conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder”.

Súmula 693 STF: “Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada”.

Por fim, a competência para o julgamento de eventual habeas corpus será: (Questão prova oral do
Estado do Amapá, 2017):
● Inquérito instaurado pelo Delegado de Polícia (autoridade coatora): juiz de primeira instância.
● Inquérito instaurado por requisição do Ministério Público (autoridade coatora): Tribunal competente
para irá julgar originariamente.

CAIU EM PROVA:

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(Delegado de Polícia Civil do RN/2021) No curso de inquérito policial, a autoridade policial indiciou Napoleão
pela prática do crime de homicídio qualificado, em que pese os elementos de informação colhidos
demonstrassem de maneira clara que o investigado agiu em legítima defesa. Visando combater tal decisão e
buscar o “trancamento” do inquérito policial, o advogado de Napoleão poderá:
A) interpor recurso para o chefe de polícia;
B) impetrar habeas corpus, sendo competente para julgamento um juiz de 1º grau;
C) impetrar habeas corpus, sendo competente para julgamento o Tribunal de Justiça respectivo;
D) interpor recurso em sentido estrito, sendo competente para julgamento um juiz de 1º grau;
E) impetrar habeas corpus para análise pelo chefe de polícia.

GABARITO: LETRA B

NOVA SISTEMÁTICA DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL


Antes da reforma Após a L.13964/19
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do ou de quaisquer elementos informativos da mesma
inquérito policial ou de quaisquer peças de natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à
informação, o juiz, no caso de considerar vítima, ao investigado e à autoridade policial e
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do encaminhará os autos para a instância de revisão
inquérito ou peças de informação ao procurador- ministerial para fins de homologação, na forma da lei.
geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar
órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no
insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação,
estará o juiz obrigado a atender. submeter a matéria à revisão da instância competente do
órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei
orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em
detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do
arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada
pela chefia do órgão a quem couber a sua representação
judicial. ” (NR)

ANTES DO PACOTE ANTICRIME (ESSA SISTEMÁTICA AINDA ESTÁ EM VIGOR, DEVIDO À EFICÁCIA
SUSPENSA DA NOVA REDAÇÃO DO ART. 28):
O art. 28 representava um CONTROLE JUDICIAL sobre o arquivamento (Princípio da Devolução), que
possuía 2 funções:
1ª: controle judicial externo do Princípio da Obrigatoriedade (que rege as ações penais públicas);
2ª: mecanismo de controle externo do próprio Ministério Público.
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Como funcionava?
● Ministério Público promove o arquivamento → Se o Juiz concordar, ele HOMOLOGA a decisão de
arquivamento.
● Ministério Público promove o arquivamento → Se o juiz não concordar, ele encaminha para o
Procurador Geral.

Opções que podem ser adotadas pelo Procurador Geral:


1) Ratificar o arquivamento – hipótese em que o juiz é obrigado a aceitar e deferir;
2) Oferecer denúncia;
3) Designar para que outro promotor ofereça denúncia.

Nessa última hipótese, existe divergência doutrinária se a designação do Procurador Geral vincula o
novo promotor. Em outras palavras: o promotor designado é obrigado a oferecer denúncia?

▪ 1ª corrente (Claudio Fonteles, Nicolitt, Polastri): possibilidade de recusa → como se trata de


designação, o promotor não pode ser obrigado a subscrever como sua uma opinião delitiva com a
qual discorda, o que ofenderia sua independência funcional
▪ 2ª posição (clássica, ainda dominante): impossibilidade de recusa → na realidade, como a denúncia
é atribuição do Procurador Geral, não se trata de designação, e sim delegação, atuando o promotor
como longa manus do Procurador Geral, o que é suficiente para a preservação da sua independência
funcional (o promotor designado estaria apenas veiculando a opinião delitiva do Procurador Geral).

Atenção à jurisprudência veiculada no Informativo 963 relacionado ao tema:

O Procurador-Geral de Justiça, se entender que é caso de arquivamento do


Procedimento de Investigação Criminal (PIC) por ausência de provas, não precisa
submeter essa decisão de arquivamento à apreciação do Tribunal de Justiça, não
se aplicando, nesta hipótese, o art. 28 do CPP. O arquivamento do PIC, promovido
pelo PGJ, nos casos de sua competência originária, não reclama prévia submissão
ao Poder Judiciário, pois este arquivamento, que é por ausência de provas, não
acarreta coisa julgada material. O chefe do Ministério Público estadual é a
autoridade própria para aferir a legitimidade do arquivamento do PIC. Logo,
descabe a submissão da decisão de arquivamento ao Poder Judiciário. STF. 1ª
Turma. MS 34730/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/12/2019 (Info 963).

Ocorre que, com o Pacote Anticrime, as mudanças na sistemática do arquivamento do inquérito


policial foram significativas. A partir de agora, não basta para o arquivamento de investigações criminais a
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promoção de arquivamento feita pelo Promotor Natural do feito. Passa a ser necessária, também, a
confirmação (homologação) dessa decisão de arquivamento por órgão de revisão do MP.
O arquivamento, portanto, será feito em duas etapas, assegurada a cientificação do investigado e da
vítima. Ademais, institui-se a possibilidade de recurso em face dessa decisão de arquivamento.
Trata-se de ato jurídico complexo, pois é produto duas manifestações de vontade, do Ministério
Público, presentado pelo Promotor de Justiça e pela instância de revisão.
Com a mudança, volta à baila a discussão sobre a natureza jurídica da decisão de arquivamento.
Para Afrânio Silva Jardim2, a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial tem
natureza de decisão judicial, porque oriunda do Poder Judiciário, em outras palavras, de decisão
administrativa em sentido lato.
Já para Fernando da Costa Tourinho Filho3, que ao comentarem a natureza jurídica de tal decisão não
fundamentam seu entendimento, a aludida decisão tem natureza de despacho judicial de expediente (CPP,
art. 800, III).
Entretanto, diante das alterações, a posição mais coerente nos parece a do Professor Guilherme de
Souza Nucci4:

“Observa-se, entretanto, que o juiz pode, acolhendo parecer do Ministério Público,


no sentido de haver insuficiência de provas para o oferecimento da denúncia,
determinar o arquivamento como providência meramente administrativa. ”

Agora, passa a ser uma decisão de natureza administrativa e que não se submete ao crivo judicial,
em respeito ao sistema acusatório, pois o arquivamento passa a ser realizado apenas no âmbito do MP.
Seguimos.
As mudanças trazidas pela L. 13964/19 vão ao encontro do que a doutrina já clamava, em respeito
ao princípio acusatório5.

“A imparcialidade do juiz, ao contrário, exige dele justamente que se afaste das


atividades preparatórias, para que mantenha seu espírito imune aos preconceitos
que a formulação antecipada de uma tese produz, alheia ao mecanismo do
contraditório, de sorte a avaliar imparcialmente, por ocasião do exame da acusação
formulada, com o oferecimento da denúncia ou queixa, se há justa causa para a
ação penal, isto é, se a acusação não se apresenta como violação ilegítima da
dignidade do acusado. [...] Neste plano, a manutenção do controle, pelo juiz, das
diligências realizadas no inquérito ou peças de informação, e do atendimento,

2
(Jardim, 2000, pp. 166-167)
3
(Filho, pp. 400-401)
4
(Nucci, 2019)
5
(Prado, 1999, p. 153)
213
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pelo promotor de justiça, ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública,


naquelas hipóteses em que, ao invés de oferecer denúncia, o membro do
Ministério Público requer o arquivamento dos autos da investigação, constitui
inequívoca afronta ao princípio acusatório. ”

Abaixo, vamos reestruturar o procedimento após as alterações:

Decisão de arquivamento
O órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial.
Após, o órgão do Ministério Público encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins
de homologação.
A vítima poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à
revisão na instância de revisão ministerial.
Crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito
policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.

A primeira observação importante, é que a lei conferiu apenas à vítima a possibilidade de provocar
a instância ministerial de revisão, deixando de fora o investigado e a Autoridade Policial.
Outro ponto é que a lei não mais trata da hipótese em que o juiz discordar do requerimento de
arquivamento, pelo simples fato de que não cabe ao Juiz de Garantias discordar ou não da opinião do
membro do Ministério Público. A decisão de arquivamento fica adstrita ao âmbito do Ministério Público,
isto é, uma providência meramente administrativa, em observância ao sistema acusatório (Art.129, I, da
CRFB e Art. 3º-A do CPP).
Assim, a L. 13964/19 suprimiu o controle judicial sobre o arquivamento da investigação preliminar,
sobre o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública e fortaleceu a atuação da vítima. O inquérito será
remetido para homologação ao órgão de revisão no próprio MP e a vítima poderá se manifestar se discordar
do arquivamento.
Conclusão:
▪ Antes do PAC – Promoção de arquivamento pelo MP + Homologação pelo Juiz.
▪ Após o PAC – ORDEM de arquivamento pelo MP + Homologação pela Instância de Revisão Ministerial.

Súmula 524/STF: Arquivado o inquérito policial por despacho do juiz, a


requerimento do promotor de justiça não pode a ação penal ser iniciada sem novas
provas.

Relatório da autoridade policial:


Fundamento legal: art. 10 do CPP

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Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta
hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30
dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela

§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará


autos ao juiz competente

§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido


inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas

§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade


poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que
serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Conceito: Cuida-se, o relatório, de peça elaborada pela autoridade policial (Delegado de Polícia), de
conteúdo eminentemente descritivo, onde deve ser feito um esboço das principais diligências realizadas na
investigação criminal.
A produção do relatório policial NÃO é condição sine qua non para o oferecimento da denúncia. Se
nem mesmo o IP é indispensável para o oferecimento da ação penal, imagina o relatório. Contudo, trata-se
de um dever legal do Delegado, sob pena de ser responsabilizado disciplinarmente.
Ocorre que esse raciocínio é ultrapassado. Sempre se disse que delegado de polícia faz apenas juízo
de tipicidade. Contudo, o direito penal adota o conceito analítico de crime. Crime é fato típico, ilícito e
culpável. Portanto, para que haja adequação típica em sentido lato é necessário que todos os elementos do
fato estejam presentes.
Nessa linha, vejamos o dispositivo legal:

Lei 11.343/06 - Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a
autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo: I -
relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a
levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância
ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação
criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes
do agente (…)

Esquematizando para as provas objetivas:


▪ Regra: O relatório é peça meramente descritiva, que aborda somente as diligências realizadas.
▪ Exceção: Na Lei de Drogas, o delegado deve emitir um juízo de valor sobre as circunstâncias do crime.
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Para onde o delegado de polícia deve enviar o relatório? O CPP prevê que o relatório deve ser
enviado ao juiz competente (art. 10, §1º do CPP).
Tribunais Superiores: Asseveram a constitucionalidade do dispositivo, uma vez que o
encaminhamento ao juiz é meramente administrativo. O magistrado redireciona automaticamente os autos
ao MP. Isso, portanto, não tem o condão de comprometer o sistema acusatório do processo.
Doutrina majoritária: Doutrina garantista sustenta que o envio do relatório final realizado pelo
delegado ao juiz ofende o sistema acusatório. O certo seria encaminhá-lo diretamente ao MP, por ser ele o
destinatário final do inquérito policial

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPR 2021): A partir de uma notitia criminis, a autoridade policial da Delegacia de Goioerê/PR
instaurou inquérito policial (IP) em desfavor de L.R. pela prática do crime previsto no art. 171, §2º, inciso III,
do Código Penal (defraudação de penhor). Após várias diligências, a autoridade entendeu que o fato é atípico.
Nesse caso, a autoridade policial deverá elaborar o relatório e encaminhar o IP a juízo (item considerado
correto).

Tramitação direta entre o Delegado de Polícia e o Ministério Público:

Embora se fale, ordinariamente, que o STF tem decisão (ADI 2886/RJ) no sentido de não admitir a
tramitação direta do inquérito policial com investigado solto entre a Polícia e o Ministério Público, na verdade
a decisão do STF não foi no sentido de INADMITIR A TRAMITAÇÃO DIRETA, mas sim declarar o artigo da Lei
Estadual (do MP/RJ) inconstitucional por contrariar previsão expressa em lei federal a qual dispõe acerca do
envio direto dos autos ao juiz (CPP). Tanto é que o STJ já declarou a resolução/portaria do MPF, que prevê a
tramitação direta, constitucional.
Ressalta-se, ainda, que há ação no STF que tramita com reconhecimento de repercussão geral (está
atualmente concluso ao relator RE 660.814) acerca de ato de provimento da Corregedoria-Geral de justiça.

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a tramitação direta do inquérito


policial entre a polícia e o Ministério Público. É CONSTITUCIONAL lei estadual que
preveja a possibilidade de o MP requisitar informações quando o inquérito policial
não for encerrado em 30 dias, tratando-se de indiciado solto. STF. Plenário. ADI
2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 3/4/2014 (Info 741).
Fonte: Dizer o Direito

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O STJ, por sua vez, tem precedente no sentido de admitir a tramitação direta entre a Polícia Federal
e o MPF, por atender à garantia da razoável duração do processo, economia processual e eficiência, sem
afastar a cláusula de reserva de jurisdição (Informativo 574, 5ª T. STJ).
Portaria baixada com fulcro na Res. 63/09 do CJF estabelecendo a tramitação direta do IPL entre
delegacia e MPF é legal:
● Atende a duração razoável do processo e aos postulados da economia processual e eficiência.
● É ciente que a Res. 63/09 do CJF é contestada no STF desde 2009 via ADI 4305.
● É ciente que – em 2014 – o STF via ADI 2886 declarou inconstitucional Lei do RJ que estabelecia a
tramitação direta. Mas, como o julgamento perdurou por muitos anos, iniciando em 2005, houve
mudança de composição da Corte de 3 dos 4 Ministros que foram votos vencidos, panorama que
pode alterar decisões futuras sobre o mesmo tema e impede de afirmar como certa a possível
declaração da inconstitucionalidade da Resolução do CJF objeto da ADI 4.305.

Inf. 574: Não é ilegal a portaria editada por Juiz Federal que, fundada na Res. CJF n.
63/2009, estabelece a tramitação direta de inquérito policial entre a Polícia Federal
e o Ministério Público Federal. De fato, o inquérito policial “qualifica-se como
procedimento administrativo, de caráter pré-processual, ordinariamente
vocacionado a subsidiar, nos casos de infrações perseguíveis mediante ação penal
de iniciativa pública, a atuação persecutória do Ministério Público, que é o
verdadeiro destinatário dos elementos que compõem a ‘informatio delicti’” (STF,
HC 89.837-DF, Segunda Turma, DJe 20/11/2009). Nesse desiderato, a tramitação
direta de inquéritos entre a Polícia Judiciária e o órgão de persecução criminal
traduz expediente que, longe de violar preceitos constitucionais, atende à garantia
da duração razoável do processo – pois lhe assegura célere tramitação –, bem como
aos postulados da economia processual e da eficiência. Ressalte-se que tal
constatação não afasta a necessidade de observância, no bojo de feitos
investigativos, da chamada cláusula de reserva de jurisdição, qual seja, a
necessidade de prévio pronunciamento judicial quando for necessária a adoção de
medidas que possam irradiar efeitos sobre as garantias individuais. Ademais, não
se pode alegar que haveria violação do princípio do contraditório e do princípio da
ampla defesa ao se impedir o acesso dos autos de inquérito pelos advogados, o que
também desrespeitaria o exercício da advocacia como função indispensável à
administração da Justiça e o próprio Estatuto da Advocacia, que garante o amplo
acesso dos autos pelos causídicos. Isso porque o art. 5º da Res. CJF n. 63/2009 prevê
expressamente que “os advogados e os estagiários de Direito regularmente
inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil terão direito de examinar os autos do
inquérito, devendo, no caso de extração de cópias, apresentar o seu requerimento
por escrito à autoridade competente”. Faz-se mister destacar que, não obstante a
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referida Resolução do CJF ser objeto, no STF, de ação direta de


inconstitucionalidade – ADI 4.305 –, o feito, proposto em 2009 pela Associação
Nacional dos Delegados de Polícia Federal, ainda está concluso ao relator, não
havendo notícia de concessão de pedido liminar. Assim, enquanto não existir
manifestação da Corte Suprema quanto ao tema, deve ser mantida a validade da
Resolução. Registre-se, ademais, que não se olvida a existência de julgado do STF,
nos autos da ADI 2.886, em que se reconhece a inconstitucionalidade de lei
estadual que determinava a tramitação direta do inquérito policial entre o
Ministério Público e a Polícia Judiciária, por entender padecer a legislação de vício
formal. Apesar de o referido julgamento ter sido finalizado em abril de 2014,
convém destacar que se iniciou em junho de 2005, sendo certo que, dos onze
Ministros integrantes da Corte (que votaram ao longo desses nove anos), quatro
ficaram vencidos, e que, dos votos vencedores, três ministros não mais integram o
Tribunal. Assim, não há como afirmar como certa a possível declaração da
inconstitucionalidade da 119 Resolução do CJF objeto da ADI 4.305. (2016 – 5ª
Turma).
Fonte: Dizer o Direito

CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-SE - Escrivão de Polícia: Concluído o inquérito policial em que
se investiga crime de ação penal privada, os autos deverão, obrigatoriamente, ser entregues
ao ofendido ou seu representante legal, mediante traslado. Item errado.

Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo
competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues
ao requerente, se o pedir, mediante traslado.

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META 4

DIREITO ADMINISTRATIVO: ENTES DA ADMINISTRAÇÃO

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 33
⦁ Art. 37, XIX, XX e XXI
⦁ Art. 37, §§ 6º, 8º
⦁ Art. 48, XI
⦁ Art. 51, IV e 52, XIII, da CF
⦁ Art. 61 § 1º, II, "e"
⦁ Art. 84, IV, VI, "a"
⦁ Art. 173, §1º e §2º e 174

Outros Diplomas Legais


⦁ Art. 51 da Lei nº 9.649/98
⦁ Art. 1º, §2º, I Lei 9.784/99
⦁ Lei 9637/98
⦁ Lei 13.303/16
⦁ Lei 13.019/14
⦁ Lei 9986/2000
⦁ Lei 13.848/2019

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


CF/88
⦁ Art. 37, XIX, XX e XXI, CF/88
⦁ Art. 37, §§ 6º, 8º, CF/88
⦁ Art. 48, XI, CF/88 (criação de ministérios deve ser por lei)
⦁ Art. 84, IV, VI, "a", CF/88

Lei 13.303/16 (lei das empresas públicas e sociedades de economia mista)


⦁ Art. 1º, caput e §§5º e 6º
⦁ Art. 2º, §§1º e 2º
⦁ Art. 3º, 4º e 5º
⦁ Art. 8º
⦁ Art. 27 a 30

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⦁ Art. 47 e 49
⦁ Art. 85 e 86

Lei 9637/98 (lei das organizações sociais - OS)


⦁ Art. 1º e 2º
⦁ Art. 5º, 6º, 7º e 9º
⦁ Art. 11º e 12º
⦁ Art. 14 e 17

Lei 9.790/99 (lei das organizações da sociedade civil de interesse público - OSCIP)
⦁ Art. 1º e 2º (atenção ao §único do art. 2º)
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 10, §1º
⦁ Art. 11, 14 e 16

Lei 13.019/2014 (lei das organizações da sociedade civil - OSC)


⦁ Art. 1º
⦁ Art. 2º, inc. I, II, VII, VIII e VIII-A
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 16 a 21
⦁ Art. 30, 31 e 35-A
⦁ Art. 39, 40 e 42, XX
⦁ Art. 69 e 73
⦁ Art. 84-B

Lei 13.848/2019 (lei das agências reguladoras)


⦁ Art. 3º e 5º
⦁ Art. 10, 14 e 15
⦁ Art. 34 e 35

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade
judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.
Súmula 8-STF: Diretor de sociedade de economia mista pode ser destituído no curso do mandato.

1. PRINCÍPIOS INERENTES À ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA (art. 6º, DL 200/67)

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• Planejamento: compreende a elaboração e atualização de planos de governo, bem como previsão


de gastos em orçamento;
• Coordenação: vinculada diretamente à hierarquia, visa a garantir uma maior eficiência na execução
das atividades públicas;
• Descentralização administrativa: consiste na transferência da prestação de serviços do ente
federativo para outras pessoas jurídicas especializadas na execução dessas atividades;
• Delegação de competência: extensão de uma competência administrativa entre agentes públicos,
dentro de uma mesma estrutura hierárquica de forma expressa e transitória;
• Controle: exercido em todos os níveis e órgãos do governo.

2. DESCENTRALIZAÇÃO X DESCONCENTRAÇÃO

É importante relembrar que Administração Pública é uma expressão plurissignificativa. Possui dois
sentidos:

• Subjetivo / Formal / Orgânico: conjunto de órgãos e entidades que integram a estrutura do Estado
e tem como função satisfazer o interesse público, a vontade política governamental. Nesse sentido,
é grafada com letras maiúsculas, pois se refere aos sujeitos.
• Objetivo / Material / Funcional: é o conjunto de atividades que esses órgãos e entidades
desempenham. Nesse sentido, é grafada com letras minúsculas, pois se refere às funções. Ex.:
fomentar iniciativa privada, prestar serviço público, exercer poder de polícia.

Assim, o exercício das atividades administrativas pode se dar tanto de forma centralizada quanto de
forma descentralizada.

a) Desconcentração:

Na desconcentração, o que o Estado faz é distribuir, dentro da sua estrutura, as atividades estatais.
Há uma especialização de funções dentro da mesma pessoa jurídica. Haverá a criação dos órgãos
públicos/órgãos estatais, sem que haja a criação de uma nova pessoa jurídica, pois se trata de mera divisão
interna.
Cada órgão tem sua atribuição específica, para garantir eficiência. Ex.: Ministério da Saúde, Secretaria
Estadual de Segurança Pública (não são pessoas jurídicas, mas sim órgãos criados a partir de um
procedimento de desconcentração). Portanto, tenha em mente que a desconcentração dá origem aos órgãos
públicos.

Características da Desconcentração:

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• Consiste na distribuição de competência dentro da mesma pessoa jurídica (criam centros de


competência em seu interior);
• A desconcentração administrativa pode ocorrer tanto na Administração Direta quanto na
Administração Indireta (uma autarquia pode desconcentrar parte de sua atribuição através de
criação de órgãos);
• A desconcentração decorre do poder hierárquico (relação de subordinação).
• Teoria Da Institucionalização (Marçal Justen): os órgãos públicos, embora NÃO contem com
personalidade jurídica, podem adquirir “vida” própria. Ex.: Exército brasileiro.

 Veremos as principais características dos órgãos mais à


frente!

Como tema foi cobrado (CESPE/2018/PC-SE/Delegado de Polícia):


No que se refere aos institutos da centralização, da descentralização e da desconcentração,
julgue o item a seguir.
Na administração pública, desconcentrar significa atribuir competências a órgãos de uma
mesma entidade administrativa.

Resposta: Certo.

b) Descentralização:

Na descentralização, o Estado vai transferir a execução da atividade para outra pessoa, seja física
ou jurídica, integrante ou não da Administração.
O Estado pode criar a pessoa jurídica para transferir a atividade (administração indireta) ou pode
realizar um contrato de concessão (com pessoa jurídica já existente) ou permissão de serviço público (com
pessoa jurídica ou pessoa física). Em outras palavras: Enquanto a desconcentração ocorre dentro de apenas
uma pessoa jurídica, na descentralização, há mais de uma pessoa envolvida.

Características da Descentralização:
• Deslocamento para uma nova pessoa (física ou jurídica);
• Transferência para pessoa da Administração indireta ou particulares;
• NÃO existe hierarquia, mas há controle e fiscalização (relação de vinculação, mas NÃO de
subordinação).

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STF: É dispensável a autorização legislativa para a criação de empresas subsidiárias, desde que haja previsão
para esse fim na própria lei que instituiu a empresa estatal, visto que a lei criadora é a própria medida
autorizadora. Vejamos o último julgado do STF em 2021 nesse sentido:

É dispensável a autorização legislativa para a alienação de controle acionário de


empresas subsidiárias (1). No julgamento da ADI 5624 MC-Ref/DF, prevaleceu o
entendimento de que a lei que autoriza a criação da empresa estatal matriz é
suficiente para viabilizar a criação de empresas controladas e subsidiárias, não
havendo se falar em necessidade de autorização legal específica para essa
finalidade. Assim, se é compatível com a CF a possibilidade de criação de
subsidiárias quando houver previsão na lei que cria a respectiva empresa estatal,
por paralelismo, não há como obstar, por suposta falta de autorização legislativa, a
alienação de ações da empresa subsidiária, ainda que tal medida envolva a perda
do controle acionário do Estado. Com base nesse entendimento, o Plenário, por
unanimidade, conheceu em parte da arguição de descumprimento de preceito
fundamental e, na parte conhecida, julgou improcedente o pedido formulado
contra o Edital de Leilão 1/2020 da Companhia Energética de Brasília (CEB), que se
destina a alienação de cem por cento do controle acionário da CEB-Distribuição S.A.
(1) Precedentes: ADI 5624 MC-Ref/DF, relator Min. Ricardo Lewandowski (DJe de
28.11.2019); Rcl 42.576/DF, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes (DJe de
25.3.2021).
ADPF 794/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em
21.5.2021 (sexta-feira), às 23:59.

OBS.: A centralização consiste na execução das tarefas administrativas pelo próprio Estado, por meio
de órgãos internos integrantes da administração direta.

Como o tema foi cobrado (CESPE/2018/PC-SE/Delegado de Polícia): No que se refere aos


institutos da centralização, da descentralização e da desconcentração, julgue o item a seguir.

A diferença preponderante entre os institutos da descentralização e da desconcentração é que,


no primeiro, há a ruptura do vínculo hierárquico e, no segundo, esse vínculo permanece.
Resposta: Certo.
Fundamentação: Como visto, a desconcentração decorre justamente da hierarquia e nela encontra
fundamento. No entanto, na descentralização, não existe uma relação de hierarquia ou subordinação
entre a entidade da administração indireta e o ente da administração direta, mas somente uma relação
de vinculação/tutela.

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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCES 2022). No que tange aos institutos da descentralização e da desconcentração, julgue os
itens a seguir. I - A principal diferença entre esses institutos decorre do número de pessoas jurídicas
envolvidas. II - A descentralização ocorre no âmbito de uma única pessoa jurídica. III - A desconcentração
administrativa acontece quando a administração reparte atribuições e competências dentro de um mesmo
órgão. R: Apenas os itens I e III estão certos.

2.1 Espécies de Descentralização

a) Outorga (descentralização legal, por serviços ou funcional)


⦁ Transfere a execução e a titularidade (doutrina majoritária);
⦁ Destina-se às pessoas jurídicas de direito público especializadas;
⦁ Requer lei específica;
⦁ Dá origem às entidades da Administração Indireta.

b) Delegação (descentralização por colaboração):


⦁ Só transfere a execução (e não a titularidade);
⦁ Entidades de direito privado;
⦁ Formalizada por ato unilateral ou contrato;
⦁ Dá origem às concessionárias e permissionárias.

Descentralização

Por serviços ou Por colaboração ou


outorga delegação

Por meio de Negócio


Transfere a Transfere só
Transfere Execução Jurídico ou ato
titularidade execução
unilateral

Ex.: contrato de
À particulares (NJ) e
Por meio de lei Só a entidades da AP concessão de
a própria AP (lei).
serviços públicos

Territorial

ATENÇÃO!

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Descentralização Territorial ou Geográfica: Ocorre com entidade geograficamente delimitada, dotada


de personalidade jurídica própria de direito público, com capacidade de administração e possibilidade de
execução das atividades estatais.
 Típica da França e Itália → NÃO admitida no Brasil desde a Proclamação da República.
 Alguns doutrinadores (Maria Sylvia Zanella de Pietro) aplicam para os territórios federais.

Descentralização Social (Diogo Figueiredo Moreira Neto): Consiste em aliviar do Estado a execução direta
ou indireta de atividades de relevância coletiva que possam ser convenientemente cometidas por
credenciamentos ou reconhecimentos a unidades sociais personalizadas.
Em outras palavras: consiste em formalizar parcerias (ou atos de reconhecimento) com entidades do 3º
Setor, com o intuito de criar condições favoráveis para o alcance de metas socialmente adequadas.

Com relação a este ponto, é importante que o estudante conheça as formas de controles
administrativos: Tutela x Hierarquia.

TUTELA ADMINISTRATIVA HIERARQUIA ADMINISTRATIVA


▪ NÃO se presume. Depende de Lei. ▪ Inerente à organização interna dos entes
federativos. NÃO depende de previsão legal.
▪ Pressupõe a existência de duas pessoas ▪ Existe no interior de uma mesma pessoa (fruto
jurídicas, em que uma exerce controle da desconcentração).
sobre a outra (fruto da descentralização).
▪ Condicionada pela lei. ▪ Incondicionada, sendo-lhe inerente uma série
de poderes administrativos.

CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia: A centralização consiste na execução de tarefas


administrativas pelo próprio Estado, por meio de órgãos internos e integrantes da
administração pública direta. Item certo.

A centralização administrativa é a situação em que o Estado executa suas tarefas diretamente, por
intermédio de seus inúmeros órgãos e agentes administrativos que compõem a sua estrutura funcional.
Em outras palavras, a centralização consiste na execução da atividade administrativa pelas próprias
pessoas políticas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), por meio dos órgãos das suas
respectivas Administrações Diretas.

Vamos esquematizar?

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DESCENTRALIZAÇÃO DESCONCENTRAÇÃO
Transferência da atividade administrativa para Distribuição interna de atividade dentro de uma
outra pessoa, física ou jurídica, integrante ou não mesma pessoa jurídica, resultando na criação de
do aparelho estatal. centros de competências, denominados órgãos
públicos, dentro de uma mesma estrutura
hierárquica.
Há mais de uma pessoa jurídica. Ocorre dentro da mesma pessoa jurídica.
Não há hierarquia, apenas controle e fiscalização. Há hierarquia e decorre do Poder Hierárquico.
Há uma relação de vinculação. Há uma relação de subordinação.
Pode ser: Dá origem aos órgãos públicos.
1) Descentralização por outorga, que dá origem às
entidades da Administração Indireta;
2) Descentralização por colaboração, na qual há
delegação à pessoa já existente, através de
concessão ou permissão.

3. ÓRGÃOS PÚBLICOS

Órgãos públicos são centros de atribuições que resultam da desconcentração administrativa. Sua
criação se justifica pela necessidade de especializar as funções, com o intuito de tornar a atuação estatal mais
eficiente. A principal característica dos órgãos é que eles NÃO possuem personalidade jurídica própria.
Outras características:
✓ Órgãos são centros especializados de competências.
✓ Criação e extinção devem ser feitas por meio de lei.
✓ Competência do órgão é intransferível e irrenunciável, mas pode ser delegada ou avocada.
✓ Presentes tanto na Administração direta como na Administração indireta.

Art. 1º, §2º, I, Lei 9.784/99 - Para os fins desta Lei, consideram-se: I - órgão - a
unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura
da Administração indireta.

✓ NÃO possuem patrimônio próprio.


✓ NÃO podem ser sujeitos de direitos ou de obrigações (uma vez que não possuem personalidade
jurídica). Ex.: uma morte ocorrida dentro de escola pública municipal será de responsabilidade
do Município, pois a escola e a prefeitura são órgãos públicos e, portanto, não são sujeitos de
obrigações.
✓ NÃO celebram contrato, contudo, o órgão realiza licitação, gestão e exercício do contrato,
ficando a cargo do ente personalizado a celebração do contrato.
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Exceção: Contrato de gestão/de desempenho.


Embora os órgãos públicos não possam celebrar contratos por não possuírem personalidade jurídica
e, consequentemente, capacidade contratual, o art. 37, §8º, da CF/88 admite a celebração de
“contrato de gestão” ou “contrato de desempenho” entre órgãos públicos e administradores ou
entes federativos, que tem como objetivo ampliar a autonomia gerencial orçamentária e financeira
dos órgãos, que deverão, em contrapartida, cumprir determinadas metas de desempenho.

§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da


administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser
firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a
fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor
sobre:
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e
responsabilidade dos dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.

Considerações importantes sobre o contrato de gestão/desempenho:


• Natureza jurídica: embora a doutrina seja pacífica no sentido de que o contrato de gestão NÃO
tem natureza de contrato administrativo, há divergência quanto à sua natureza jurídica:
∘ 1ª C (Rafael Oliveira e Maria Silva Di Pietro) - O contrato de gestão tem natureza de convênio
administrativo, sendo constitucional sua celebração. Para esses autores, o convênio
administrativo é sinônimo de ato administrativo complexo.
∘ 2ª C (Diogo Figueiredo Moreira Neto – minoritário): O contrato de gestão tem natureza
jurídica de ato administrativo complexo. Para ele, ato administrativo complexo não é
sinônimo de convênio administrativo.
• Classificação: O contrato de gestão é classificado pela doutrina em:
∘ Endógeno: Celebrado dentro da Administração Pública direta ou indireta (art. 37, §8º, CF). O
contrato de gestão será considerado endógeno quando celebrado, por exemplo, entre o
Estado e a Secretaria de Segurança Pública ou uma Autarquia.
∘ Exógeno: Celebrado entre a Administração Pública e os particulares em colaboração com o
Estado (3º Setor) (art. 5º, Lei 9.637/98).
• Inconstitucionalidade: Parte da doutrina afirma que o contrato de gestão é inconstitucional, por
2 fundamentos principais:
1) O Direito Brasileiro não permite o autocontrato;
2) Violação ao princípio da reserva legal, pois, se a criação do órgão se dá por lei, o aumento da
sua autonomia também deveria ocorrer mediante previsão legal.
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Veja o enunciado aprovado na I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ sobre o contrato de


desempenho:

Enunciado 11 – O contrato de desempenho previsto na Lei 13.934/2019, quando


celebrado entre órgãos que mantêm entre si relação hierárquica, significa a
suspensão da hierarquia administrativa, por autovinculação do órgão superior, em
relação ao objeto acordado, para substituí-la por uma regulação contratual, nos
termos do art. 3º da referida Lei.

Além disso, destaca-se a regulamentação pela Lei 13.934/19.

Art. 3º O contrato de desempenho constitui, para o supervisor, forma de


autovinculação e, para o supervisionado, condição para a fruição das flexibilidades
ou autonomias especiais.

 ATENÇÃO: Em regra, os órgãos, por NÃO terem personalidade jurídica, NÃO têm capacidade
processual, ou seja, não podem figurar em juízo por si próprios, mas sim por meio do ente a que se
subordinam.
Exceções:
1) Previsão legal. Ex.: Órgão público na defesa dos consumidores (art. 82, inc. III, CDC).

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá
ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
III – as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que
sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e
direitos protegidos por este código;

2) Órgãos titulares de direitos subjetivos, o que lhes confere capacidade processual para a defesa
das prerrogativas, bem como competências para defesa de atribuições institucionais. Ex:
Órgãos independentes e autônomos podem figurar em juízo, desde que (i) sejam órgãos de
cúpula de hierarquia administrativa; (ii) atuem na defesa de suas prerrogativas institucionais.

Fique atento à súmula e à jurisprudência sobre o tema!

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Súmula 525-STJ: A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas


personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os
seus direitos institucionais.

Obs.: STJ já reconheceu a capacidade processual para a Câmara dos Vereadores


impetrar MS, quando caracterizada a inércia do Município, na defesa de suas
prerrogativas institucionais.

Associação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade ativa para tutelar em


juízo direitos e interesses das pessoas jurídicas de direito público. STJ. 1ª Seção.
Resp 1503007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/6/2017 (Info 610).

#DD EXPLICA: O município é um ente político e, portanto, dotado de personalidade


jurídica própria, podendo figurar no polo das ações judiciais. A Associação dos
Municípios, por sua vez, possui natureza jurídica de direito privado, não podendo,
portanto, representar uma pessoa de direito público em juízo.

Legitimidade do TJ para impetrar mandado de segurança em defesa de sua


autonomia institucional. O Tribunal de Justiça, mesmo não possuindo
personalidade jurídica própria, detém legitimidade autônoma para ajuizar
mandado de segurança contra ato do Governador do Estado em defesa de sua
autonomia institucional. Ex: mandado de segurança contra ato do Governador que
está atrasando o repasse dos duodécimos devidos ao Poder Judiciário. STF. 1ª
Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

3.1 Teorias sobre a relação Estado x agentes

1. Teoria do Mandato: O agente público é mandatário da pessoa jurídica, sendo a relação construída
em função de um contrato de mandato.
Crítica: NÃO se admite que um Estado que NÃO tem vontade própria e nem tem como exteriorizá-
la possa assinar um contrato, instrumento que depende da autonomia da vontade. Ademais, essa teoria
permitiria a irresponsabilidade estatal pelos atos praticados pelos agentes com abuso de poder.

2. Teoria da Representação: O agente público seria representante do Estado por força de lei,
equiparando-se ao tutor ou curador, representando os incapazes.

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Crítica: A pessoa jurídica ficaria equiparada a um incapaz, sendo absurda a ideia de que o incapaz
confere representante de si mesmo. Além disso, o incapaz NÃO pode ser civilmente responsabilizado, o que
NÃO ocorre com o Estado.

3. Teoria do Órgão (Teoria da Imputação Volitiva) – Otto Von Gierke – Por essa teoria, a manifestação
do órgão público é atribuída à pessoa jurídica ao qual ele pertence. Ou seja: quando um agente
público, integrante de um órgão público, manifesta a sua vontade, na realidade, é a própria pessoa
estatal que está agindo. Por esse motivo, é possível imputar, ao Estado, os danos causados por seus
agentes.

Explica a teoria do funcionário de fato putativo, que é aquele cuja investidura foi irregular ou
viciada, mas cuja situação tem aparência de legalidade. Para a Teoria, consideram-se válidos os atos
praticados por um funcionário de fato putativo, em nome da boa-fé dos administrados, segurança jurídica e
legalidade dos atos, pois o ato é do órgão (e, consequentemente, da pessoa jurídica ao qual pertence), não
do agente.

3.2 Criação e Extinção de Órgãos Públicos

A regra é que os órgãos públicos sejam criados e extintos por lei ordinária. E, em regra, a lei será de
iniciativa do chefe do Executivo. Essa exigência aparece na CF em alguns momentos:

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro
ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso
Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais
Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
previstos nesta Constituição.

§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:


II – disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado
o disposto no art. 84, VI;

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;

Existem algumas exceções em relação à iniciativa da lei. Vejamos:


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 Iniciativa do Congresso Nacional (art. 48, XI)

Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não
exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias
de competência da União, especialmente sobre: XI – criação e extinção de
Ministérios e órgãos da administração pública;

 Para a criação de órgãos no Poder Judiciário, a iniciativa será do presidente do próprio TJ (art. 96,
II, “c” e “d”).
Art. 96. Compete privativamente:
II – ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça
propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

 No âmbito do MP, a iniciativa para a criação de órgãos será do chefe da instituição, ou seja, PGJ ou
PGR (art. 127, §2º).

Art. 127. § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e


administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder
Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os
por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e
os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.

É possível criar órgãos por ato administrativo? R.: Parte da doutrina (Carvalho Filho, Rafael Oliveira,
Fernando Barbalho) entende que a CF/88 admite, excepcionalmente, no âmbito do Senado Federal e Câmara
dos Deputados (art. 51, IV, e art. 52, XIII, da CF), que a própria casa disponha sobre a sua organização
administrativa, como a criação de órgãos. Em outras palavras: a criação de órgãos dentro da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal pode ser feita mediante resolução das respectivas casas, não se exigindo a
sanção presidencial, pois não se trata de lei. Por simetria, isso pode ser levado para os Estados e Municípios.

3.3 Classificação dos Órgãos

a) Quanto à hierarquia:
▪ Independentes: NÃO estão hierarquicamente subordinados a nenhum outro órgão, se
sujeitando apenas ao controle dos poderes estruturais do Estado (sistema de freios e
contrapesos). Têm origem na CF e ocupam o comando de cada um dos Poderes. Ex.: Presidência
da República, Congresso Nacional, STF.
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CUIDADO!
. O MP e TCU são considerados órgãos independentes, embora não façam parte de
nenhum poder!

. Embora sejam órgãos independentes, o Ministério Público Militar e o Ministério


Público do Trabalho não possuem legitimidade para demandar diretamente nos
Tribunais Superiores, por serem vinculados ao Ministério Público da União. Confira
os julgados abaixo:

O Ministério Público do Trabalho não tem legitimidade para atuar no âmbito do


Superior Tribunal de Justiça na condição de parte. STJ. 1ª Seção. AgRg no CC
122940-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/04/2020 (Info 670).

MPM não tem legitimidade para atuar diretamente no STF. STF. 2ª Turma. HC
155245 AgR-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 11/11/2019.

▪ Autônomos: órgãos imediatamente subordinados aos órgãos independentes. São órgãos


diretivos que desempenham funções de coordenação, planejamento, supervisão e controle.
Possuem ampla autonomia administrativa, financeira e técnica (NÃO possuem autonomia
política). Ex.: Ministério da Fazenda, Secretaria do Estado, AGU.
▪ Superiores: NÃO possuem autonomia e independência, embora conservem o poder de decisão
e controle sobre assuntos específicos de sua competência. Ex.: Secretaria da Receita Federal,
Polícias, Procuradorias.
▪ Subalternos: órgãos com reduzido poder de decisão, destinados à mera execução de atividades
administrativas. Ex.: zeladoria, almoxarifado etc.

b) Quanto à atuação funcional/manifestação de vontade:


▪ Singular: atua pela manifestação de vontade de um único agente. Ex.: Prefeitura, juízo de 1º
grau, presidência.
▪ Colegiado (ou pluripessoal): a tomada de decisão é feita de forma coletiva. Ex.: casas
legislativas, STF.

c) Quanto à estrutura:
▪ Simples (ou unitário): atua sozinho (um único centro de competência), sem subdivisões em seu
interior. Ex.: Gabinete.
▪ Composto: há mais de um órgão atuando em sua estrutura, mais de um centro de competência.
Ex.: Congresso Nacional é formado pela Câmara dos Deputados e Senado Federal.
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d) Quanto às funções:
▪ Ativos: execução de atividades administrativas.
▪ Consultivos: assessoramento (pareceres).
▪ De controle: fiscalização dos demais órgãos e agentes públicos.

e) Quanto ao âmbito de atuação:


▪ Central: atribuição em toda a área da pessoa jurídica que integram (federal, estadual e
municipal).
▪ Local: atribuição para atuar em determinado local.

CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil: Por serem entes despersonalizados, os
órgãos públicos não detêm capacidade processual para a defesa de suas prerrogativas e
competências. Item errado.

Como regra, os órgãos públicos são destituídos de capacidade processual; porém, a doutrina e a
jurisprudência nacionais vêm reconhecendo tal capacidade a órgãos de status constitucional, quando
necessária à defesa de suas prerrogativas e competências institucionais.

Resumindo...
NÃO estão hierarquicamente subordinados a
nenhum outro órgão, se sujeitando apenas ao
controle dos poderes estruturais do Estado
INDEPENDENTES (sistema de freios e contrapesos). Têm origem
na CF e estão no comando dos Poderes.
Órgãos imediatamente subordinados aos
órgãos independentes. São órgãos diretivos que
desempenham funções de coordenação,
QUANTO À AUTÔNOMOS planejamento, supervisão e controle. Possuem
HIERARQUIA autonomia administrativa e financeira (NÃO
possuem autonomia política).
NÃO possuem autonomia e independência,
embora conservem o poder de decisão e
SUPERIORES controle sobre assuntos específicos de sua
competência.

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SUBALTERNOS Órgãos com reduzido poder de decisão,


destinados à mera execução de atividades
administrativas.
QUANTO À SINGULAR Atua pela manifestação de vontade de um único
ATUAÇÃO agente.
FUNCIONAL/ COLEGIADO (OU A tomada de decisão é feita de forma coletiva.
MANIFESTAÇÃO DE PLURIPESSOAL)
VONTADE
SIMPLES OU UNITÁRIO Atuam sozinhos (um único centro de
QUANTO À competência), sem subdivisões em seu interior.
ESTRUTURA COMPOSTO Há mais de um órgão atuando em sua estrutura
(mais de um centro de competência).
QUANTO ÀS ATIVOS Responsáveis pela execução de atividades
FUNÇÕES administrativas.
CONSULTIVOS Exercem função de assessoramento.
DE CONTROLE Exercem função de fiscalização.
QUANTO AO Têm atribuição em toda a área da pessoa
ÂMBITO DE CENTRAL jurídica que integram (federal, estadual e
ATUAÇÃO municipal)
LOCAL Têm atribuição para atuar em determinado
local.

4. DESCENTRALIZAÇÃO

a) Descentralização Política: Feita pela CF, ao dividir a competência entre os entes federativos;
b) Descentralização Administrativa: Feita aos entes da administração indireta (descentralização
por outorga) e a particulares (descentralização por delegação).

Controle Finalístico (Vinculação/ Tutela administrativa/ Supervisão ministerial): É o controle pela


Administração Direta à pessoa política a qual é vinculada a Administração Indireta.

5. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

5.1. Características comuns

✓ Gozam de personalidade jurídica própria.

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✓ Possuem patrimônio próprio. No momento da sua criação, a entidade responsável transfere parte de seu
patrimônio ao novo ente, o qual terá liberdade para usá-lo.
✓ Possuem capacidade de autoadministração (autonomia técnica + administrativa). Cuidado! Essa
capacidade de autoadministração NÃO significa que elas podem definir regras para se organizarem
(matéria já foi objeto de questão do CESPE).
✓ Devem ter finalidade pública. NÃO poderão ter finalidade lucrativa, mas o lucro poderá ser uma
consequência da atividade.
✓ Sujeitas à supervisão ministerial (e NÃO ao poder hierárquico). Forma de controle que pode ocorrer por
meio de 3 hipóteses:
1) Controle Finalístico: deve-se assegurar que as entidades da Administração Indireta não estão
se desviando dos fins previstos nas leis instituidoras;
2) Controle Político: a Administração Direta pode nomear e exonerar livremente os dirigentes das
entidades administrativas. Exceção: dirigentes das agências reguladoras;
3) Controle Financeiro: exercido pelo Poder Legislativo com auxílio do TCU. Para a doutrina, além
das autarquias e fundações públicas, as estatais também se submetem ao controle financeiro,
desde que prestem serviço público.
✓ Necessidade de lei específica para criação das autarquias e autorização para criação dos demais entes da
administração indireta, neste caso, sendo imprescindível o registro dos atos constitutivos no cartório de
pessoas jurídicas ou na junta comercial para empresas estatais.

Art. 37, XIX - Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação.

OBS.: Criação de subsidiárias também exige lei.


⦁ NÃO precisa ser lei específica. A própria lei que institui a entidade pode autorizar.
⦁ A lei deve ser minuciosa, trazendo todas as áreas de atuação da entidade de forma específica
(princípio da especialidade). Já a organização pode ser feita através de ato administrativo.

CF, Art. 37, XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de


subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a
participação de qualquer delas em empresa privada;

Petrobrás pode criar subsidiárias e, em seguida, alienar o controle acionário delas


sem licitação e sem autorização legislativa específica. Caso concreto: a Petrobrás
elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender 8
refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as
proprietárias dessas refinarias e, em seguida, o controle acionário dessas
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subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização legislativa. Desse
modo, na prática, é como se a Petrobrás estivesse alienando as refinarias. O STF
afirmou que essa prática é legítima. A específica autorização legislativa somente é
obrigatória na hipótese de alienação do controle acionário de sociedade de
economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e específica
anuência para a criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária,
dentro de um elaborado plano de gestão de desinvestimento, voltado para
garantir maiores investimentos e, consequentemente, maior eficiência e eficácia
da empresa-mãe. Isso porque a inexistência de expressa proibição ou limitação de
alienação societária em relação à autorização legislativa genérica para a criação de
subsidiárias corresponde à concessão, pelo Congresso Nacional ao Poder Executivo,
de um importante instrumento de gestão empresarial, para garantir a eficiência e
a eficácia da sociedade de economia mista no cumprimento de suas finalidades
societárias. Portanto, na criação ou extinção de subsidiárias, o preceito maior de
gestão empresarial que deve ser seguido é garantir a melhor atuação, eficiência e
eficácia da empresa-mãe. STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 30/9 e 1º/10/2020 (Info
993).

É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia


mista ou de empresa pública em programa de desestatização STF. Plenário. ADI
6241/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/2/2021 (Info 1004).

5.2 Entes da Administração Indireta

5.2.1 Autarquias

a) Conceito: São pessoas jurídicas de direito público interno, pertencentes à Administração Indireta,
criadas por lei específica para o exercício de atividades típicas, próprias do Estado (ou seja: atividades que
só podem ser desempenhadas por pessoas jurídicas de direito público). Possuem regime muito semelhante
ao dos entes da Administração Direta. Ex.: INSS, INCRA, conselhos de classe, Universidades Federais, IBAMA,
Banco Central, autarquias territoriais, agências reguladoras, associações públicas de regime público (lei
11.107/05).

b) Características:
⦁ NÃO possuem autonomia política, mas possuem autonomia financeira e de autorregulação.
⦁ Possuem regime jurídico de Direito Público.

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⦁ São CRIADAS por lei específica (competência do chefe do Poder Executivo), através da
descentralização por outorga ou descentralização legal. (art. 37, XIX da CF).

Art. 37. (...) XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua
atuação;

⦁ Possuem personalidade jurídica própria.


⦁ Possuem patrimônio próprio.
⦁ Bens autárquicos são bens públicos que, portanto, se sujeitam à impenhorabilidade, à
imprescritibilidade e à inalienabilidade relativa.
⦁ Praticam atos administrativos.
⦁ Precisam fazer licitação quando firmarem contratos administrativos, podendo haver a
previsão de cláusulas exorbitantes.
⦁ Sujeitas a controle financeiro do Tribunal de Contas.
⦁ Sujeitas ao regime estatutário, razão pela qual NÃO se admite o ingresso de servidores
celetistas para a prestação dos serviços nos entes da administração direta, autárquica e
fundacional.
⦁ Submetem-se ao regime de precatórios, SALVO os conselhos profissionais.
⦁ Possuem imunidade tributária recíproca em relação aos IMPOSTOS.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado


à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
§ 2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda
e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

 Atenção! A imunidade tributária recíproca das autarquias é chamada de


condicionada porque se limita aos patrimônios, rendas ou serviços que estejam
vinculados às suas finalidades essenciais ou sejam delas decorrentes.

⦁ Possuem prerrogativas processuais. Ex.: prazo em dobro, reexame necessário.

Súmula 644 STF - Ao titular do cargo de procurador de autarquia não se exige a


apresentação de instrumento de mandato para representá-la em juízo.
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c) Responsabilidade Civil: As autarquias possuem responsabilidade civil objetiva, com fundamento


na Teoria do Risco Administrativo (art. 37, §6º, da CF/88).

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de


serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

Por possuírem personalidade jurídica própria e patrimônio próprio, as autarquias respondem


diretamente com o seu patrimônio. No entanto, caso não consigam arcar, o Estado responde
subsidiariamente. Ou seja: há responsabilidade subsidiária do ente criador.

d) Regime Jurídico: Estatutário (art. 39, CF/88).


 Na promulgação da CF/88: Obrigatoriedade do regime jurídico único.
 Com a Reforma Administrativa (EC 19/98): Fim da obrigatoriedade do Regime Jurídico Único.
 Decisão liminar do STF em ADI: Retorno da obrigatoriedade do RJU, liminar com efeitos ex
nunc.

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito


de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores
da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. (Vide
ADIN nº 2.135-4)

CONCLUSÃO:
Regime deve ser estatutário, SALVO contratações celetistas antes da decisão do STF e após a reforma
administrativa.
NÃO se admite o ingresso de servidores celetistas para a prestação dos serviços nos entes da administração
direta, autárquica e fundacional, pois são regidos pela Lei 8.112/90.

Consequências da adoção do regime estatutário:


✓ Exige concurso público (art. 37, II, da CF);
✓ Submetem-se ao teto remuneratório (art. 37, XI, da CF);
✓ Submetem à proibição de cumulação de cargos (art. 37, XVI, da CF).

e) Controle da Administração Indireta: A Administração indireta se submete a um controle


meramente finalístico, tendo em vista que NÃO HÁ SUBORDINAÇÃO ENTRE OS ENTES DA ADMINISTRAÇÃO
INDIRETA E DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA.
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Estão sujeitas também ao controle financeiro do Tribunal de Contas.

f) Espécies de autarquias:
1. Autarquias profissionais (autarquias corporativas, corporações profissionais, conselhos
profissionais): Exercem atividade tipicamente pública de fiscalização sobre determinadas
categorias profissionais.
▪ As anuidades são tributos.
▪ Atenção à jurisprudência sobre o tema (destacada abaixo).

2. Autarquias territoriais (art. 33 da CF/88): É a manifestação da descentralização política com a


criação de territórios, razão pela qual, no Brasil, NÃO ostentam a qualidade de entes da
Administração indireta. Trata-se de desmembramento político.

3. Autarquias em regime especial


Subdividem-se nas seguintes espécies:
a. Autarquias culturais: Universidades Públicas.
▪ Autonomia pedagógica, didático-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial;
▪ Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão;
▪ Escolha do reitor pelos docentes/ discentes;
▪ Mandato certo dos dirigentes.
b. Agências reguladoras: Criadas para controlar e fiscalizar as atividades de interesse da
sociedade e executadas por particulares ou até mesmo por entidades privadas da
Administração Indireta.

Obs.: Parte da doutrina ainda menciona as Agências executivas e Associações públicas como espécies de
autarquia:
• Agências executivas: São as autarquias e fundações públicas que celebram contrato de gestão
com o intuito de melhorar sua eficiência e reduzir custos (art. 51 e 52 da Lei 9649/98).
• Associações públicas: Os consórcios públicos (art. 241 da CF/88), quando se constituem na
forma de pessoa jurídica de direito público, assumem a forma de autarquia integrante da
Administração Indireta dos entes federativos consorciados.

Consórcio público de direito público: Assume a forma de ASSOCIAÇÃO PÚBLICA,


adquirindo a personalidade jurídica com a subscrição de protocolo de
intenções. Nesta hipótese, ele integra a Administração Pública Indireta de todos os
entes da federação que formam o consórcio.

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Consórcio público de direito privado: Terá a forma de ASSOCIAÇÃO CIVIL e


será regido pelas normas do direito privado. Sua constituição depende, portanto,
da inscrição do ato constitutivo no registro civil de pessoas jurídicas.

CESPE/CEBRASPE (2021): Se entes da federação celebrarem consórcio público para realização de


determinado objetivo de interesse comum, esse consórcio passará a integrar a administração indireta dos
entes envolvidos, seja qual for a personalidade jurídica adquirida. Item incorreto.

Fique atento às principais jurisprudências sobre o tema:

É inconstitucional a suspensão do exercício profissional em razão do


inadimplemento de anuidades devidas à entidade de classe. O Estatuto da OAB
(Lei nº 8.906/94) prevê que o advogado que deixar de pagar as contribuições
devidas à OAB (anuidades) pratica infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei nº
8.906/94) e pode ser suspenso do exercício, ficando proibido de exercer a
advocacia enquanto não pagar integralmente a dívida, com correção monetária
(art. 37, § 2º). O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque
representam medida desproporcional que caracteriza sanção política, além de
ofender a livre iniciativa e a liberdade profissional. É inconstitucional a suspensão
realizada por conselho de fiscalização profissional do exercício laboral de seus
inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção
política em matéria tributária. STF. Plenário. RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 732) (Info 978). (MUITO
IMPORTANTE!)

É inconstitucional lei estadual que obrigue a participação de representante da


seccional da OAB em órgão colegiado da Administração Pública estadual. É
possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB,
um representante da Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido.
No entanto, a lei não pode impor a presença de representante da OAB (“autarquia
federal”) em órgão da Administração Pública local. STF. Plenário. ADI 4579/RJ, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios. Os


pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de
Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de
precatórios. STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac.

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Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). (MUITO
IMPORTANTE!)

Anuidade da OAB tem natureza tributária? Os Tribunais Superiores divergem


sobre o tema: STJ: NÃO. Os créditos decorrentes da relação jurídica travada entre
a OAB e os advogados não compõem o erário e, consequentemente, não têm
natureza tributária. STJ. 1ª Turma. REsp 1574642/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina,
julgado em 16/02/2016. STF: SIM. As anuidades cobradas pelos conselhos
profissionais caracterizam-se como tributos da espécie contribuições de interesse
das categorias profissionais, nos termos do art. 149 da Constituição da República.
STF. Plenário. RE 647885, Rel. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020. (MUITO
IMPORTANTE!)

Os conselhos profissionais gozam das prerrogativas processuais da Fazenda


Pública. Os Conselhos de Fiscalização Profissional detêm natureza jurídica de
autarquias e, dessa forma, possuem as prerrogativas processuais conferidas à
Fazenda Pública. STJ. 2a Turma. AgRg no Ag 1388776/RJ, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 07/06/2011. Exceção: Os pagamentos devidos, em razão de
pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN,
CRO) não se submetem ao regime de precatórios. STF. Plenário. RE 938837/SP, rel.
orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017
(repercussão geral) (Info 861).

Para que o Conselho Profissional demita um servidor seu, é necessário processo


administrativo? SIM. Como os Conselhos de Fiscalização Profissional têm natureza
jurídica de autarquia, devem ser aplicados aos seus servidores os art. 41 da CF/88
e 19 do ADCT, razão pela qual não podem ser demitidos sem a prévia instauração
de processo administrativo. Assim, o servidor de órgão de fiscalização profissional
não pode ser demitido sem a prévia instauração de processo administrativo
disciplinar. STF. 2ª Turma. RE 838648 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
07/04/2015. Exceção: OAB (STF ADI 3026).

Os Conselhos Profissionais, para contratarem "funcionários", precisam fazer


concurso público? SIM. Como os Conselhos Profissionais são autarquias exercendo
uma atividade tipicamente pública (fiscalização do exercício profissional), precisam
respeitar a regra do art. 37, II, da CF/88, que exige concurso público para a
contratação de servidores. Assim, quando os Conselhos de Fiscalização Profissional
vão fazer a contratação de seu pessoal é imprescindível a realização de concurso
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público. STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015. STF.
2ª Turma. RE 758168 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/06/2014.
Exceção: OAB. O STF decidiu que a OAB, quando vai contratar seus empregados,
não precisa realizar concurso público (STF ADI 3026).

Contratação de empregados de conselhos profissionais pela CLT é constitucional.


O art. 58, § 3º da Lei nº 9.649/98 prevê o seguinte: § 3º Os empregados dos
conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são regidos pela legislação
trabalhista, sendo vedada qualquer forma de transposição, transferência ou
deslocamento para o quadro da Administração Pública direta ou indireta. Essa
previsão é constitucional. Os Conselhos Profissionais, enquanto autarquias
corporativas criadas por lei com outorga para o exercício de atividade típica do
Estado, tem maior grau de autonomia administrativa e financeira, constituindo
espécie sui generis de pessoa jurídica de direito público não estatal, a qual não se
aplica a obrigatoriedade do regime jurídico único preconizado pelo art. 39 da CF/88
(regime jurídico único). Em razão da natureza peculiar dos Conselhos Profissionais,
permite-se o afastamento de algumas das regras ordinárias impostas às pessoas
jurídicas de direito público. STF. Plenário. ADC 36, Rel. Cármen Lúcia, Rel. p/
Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020. (MUITO IMPORTANTE!)

Os Conselhos Profissionais estão submetidos à fiscalização do Tribunal de Contas?


SIM. Por serem autarquias federais, os Conselhos Profissionais têm o dever de
prestar contas ao Tribunal de Contas da União (art. 71, II, CF/88). STF. MS 28469
AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Luiz Fux, julgado
em 19/02/2013. Exceção: OAB (STF ADI 3026). (MUITO IMPORTANTE!)

Treinador ou instrutor de tênis não precisa ser inscrito no Conselho Regional de


Educação Física. O exercício da atividade de treinador ou de instrutor de tênis não
exige o registro no Conselho Regional de Educação Física. STJ. 2ª Turma. AgInt no
REsp 1767702-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 29/06/2020 (Info 677).

Jurisprudência em Teses do STJ


EDIÇÃO N. 135: CONSELHOS PROFISSIONAIS - I

1) Os conselhos de fiscalização profissionais possuem natureza jurídica de


autarquia, sujeitando-se, portanto, ao regime jurídico de direito público.

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2) Com a suspensão da redação dada pela Emenda Constitucional n. 19/1998


ao caput do art. 39 da Constituição Federal de 1988, no julgamento da Medida
Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.135/DF, o regime jurídico
dos conselhos profissionais deve ser, obrigatoriamente, o estatutário
(ATENÇÃO! Verifique a conclusão do STF no julgamento da ADC 36, colacionada
acima, em que se decidiu que a contratação de empregados de conselhos
profissionais pela CLT é constitucional).

3) Os servidores dos conselhos de fiscalização profissional submetem-se ao


regime jurídico único, de modo que a aposentadoria ocorrida após a publicação
das decisões proferidas nas ADI n. 1.717/DF e ADI n. 2.135/DF, esta última em
sede de liminar, segue o regime estatutário.

4) Os conselhos de fiscalização profissionais não podem registrar seus veículos


como oficiais porque compõem a administração pública indireta e o §1º do art.
120 do Código de Trânsito Brasileiro - CTB autoriza apenas o registro de veículos
oficiais da administração direta.

5) Os conselhos profissionais têm poder de polícia para fiscalizar as profissões


regulamentadas, inclusive no que concerne à cobrança de anuidades e à
aplicação de sanções.

6) A partir da vigência da Lei n. 12.514/2011, o fato gerador para a cobrança de


anuidades de órgão de fiscalização profissional é o registro no conselho e não
mais o efetivo exercício da profissão.

7) As anuidades devidas aos conselhos profissionais constituem contribuição de


interesse das categorias profissionais, de natureza tributária, sujeita a
lançamento de ofício.

8) O prazo prescricional para cobrança de anuidades pagas aos conselhos


profissionais tem início somente quando o total da dívida inscrita atingir o valor
mínimo correspondente a 4 (quatro) anuidades, conforme disposto no art. 8º da
Lei n. 12.514/2011.

9) A Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, embora possua natureza jurídica


especialíssima, submete-se ao disposto no art. 8º da Lei n. 12.514/2011, que
determina que os conselhos de classe somente executarão dívida de anuidade
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quando o total do valor inscrito atingir o montante mínimo correspondente a 4


(quatro) anuidades.

10) Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal promovida por
Conselho de Fiscalização Profissional. (Súmula n. 66/STJ)

11) Não se aplica o art. 20 da Lei n. 10.552/2002, que determina o arquivamento


provisório das execuções de pequeno valor, às execuções fiscais propostas pelos
conselhos regionais de fiscalização profissional.

12) Em execução fiscal ajuizada por conselho de fiscalização profissional, seu


representante judicial possui a prerrogativa de ser pessoalmente intimado.
(Recurso Repetitivo - Tema 580)

Jurisprudência em Teses do STJ


EDIÇÃO N. 136: CONSELHOS PROFISSIONAIS - II

1) O registro no conselho de fiscalização profissional está vinculado à atividade


básica ou à natureza dos serviços prestados pela empresa, por força do que
dispõe o art. 1º da Lei n. 6.839/1980.

2) A atividade fiscalizatória exercida pelos conselhos profissionais, decorrente


da delegação do poder de polícia, está inserida no âmbito do direito
administrativo, não podendo ser considerada relação de trabalho e, de
consequência, não está incluída na esfera de competência da Justiça Trabalhista.

3) O benefício da isenção do preparo, conferido aos entes públicos previstos no


art. 4º, caput, da Lei n. 9.289/1996, é inaplicável aos conselhos de fiscalização
profissional. (Recurso Repetitivo - Tema 625).

4) A atividade de músico é manifestação artística protegida pela garantia da


liberdade de expressão, de modo que a exigência de inscrição na Ordem dos
Músicos do Brasil - OMB, bem como de pagamento de anuidade para o exercício
de tal profissão, torna-se incompatível com a Constituição Federal de 1988.

5) As empresas de factoring convencional não precisam ser registradas nos


conselhos regionais de administração, visto que suas atividades são de natureza
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eminentemente mercantil, ou seja, não envolvem gestões estratégicas, técnicas


e programas de execução voltados a um objetivo e ao desenvolvimento de
empresa.

6) O exame de suficiência instituído pela Lei n. 12.249/2010, que alterou o art.


12, § 2º, do Decreto-Lei n. 9.295/1946, será exigido de contadores e de técnicos
em contabilidade que completarem o curso após a vigência daquela lei.

7) O ato do Conselho de Contabilidade, que requisita dos contadores e dos


técnicos livros e fichas contábeis de seus clientes, não viola os princípios da
privacidade e do sigilo profissional, já que visa à fiscalização da atividade
contábil dos profissionais nele inscritos.

8) Os Conselhos Regionais de Farmácia possuem atribuição para fiscalizar e


autuar as farmácias e as drogarias quanto ao cumprimento da exigência de
manter profissional legalmente habilitado (farmacêutico) durante todo o
período de funcionamento dos respectivos estabelecimentos. (Súmula n.
561/STJ) (Recurso Repetitivo - Tema 715)

9) É facultado aos técnicos de farmácia, regularmente inscritos no Conselho


Regional de Farmácia, a assunção de responsabilidade técnica por drogaria,
independentemente do preenchimento dos requisitos previstos no art. 15, § 3º,
da Lei n. 5.991/1973, c/c o art. 28 do Decreto n. 74.170/1974, entendimento
que deve ser aplicado até a entrada em vigor da Lei n. 13.021/2014. (Recurso
Repetitivo - Tema 727)

10) Não estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de


Medicina Veterinária, nem à contratação de profissionais nele inscritos como
responsáveis técnicos, as pessoas jurídicas que explorem as atividades de
comercialização de animais vivos e de venda de medicamentos veterinários,
pois não são atividades reservadas à atuação privativa de médico veterinário.

11) Não há comando normativo que obrigue a inscrição de professores e de


mestres de artes marciais, ou mesmo de danças, de capoeira e de ioga, nos
Conselhos de Educação Física, porquanto, à luz do que dispõe o art. 3º da Lei n.
9.696/1998, essas atividades não são próprias dos profissionais de educação
física.

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12) O registro de restaurantes e de bares no Conselho Regional de Nutrição e a


presença de profissional técnico (nutricionista) não são obrigatórios, pois a
atividade básica desses estabelecimentos não é a fabricação de alimentos
destinados ao consumo humano (art. 18 do Decreto n. 84. 444/1980), nem se
aproxima do conceito de saúde trazido pela legislação específica.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPR 2021): Os Conselhos de Fiscalização Profissional detêm natureza jurídica de autarquias,
cabendo-lhes prazo em dobro para recorrer em processos judiciais (item considerado correto).

5.2.2 Agências Reguladoras

a) Origem: De inspiração norte-americana, foram instituídas no Brasil a partir da década de 90, para
estabelecer novo modelo regulatório brasileiro.

b) Definição: São autarquias em regime jurídico especial, dotadas de autonomia reforçada em relação
ao ente central, com base em dois fundamentos:
1) Despolitização (desgovernamentalização): busca retirar do âmbito político e conferir um
tratamento técnico ao setor regulado (o que acarreta, consequentemente, maior segurança
jurídica).
2) Necessidade de celeridade na regulação de determinadas atividades técnicas: teoricamente,
a agência reguladora, quando baixa normas para o setor, teria maior velocidade para se
adaptar à realidade econômica e tecnológica, que muda rapidamente.

c) Funções: Exercem funções executivas, normativas e judicantes de Estado, NÃO desempenhando


funções de governo. Podem exercer as seguintes atividades:
∘ Administrativas clássicas, ex: poder de polícia;
∘ Poder normativo;
∘ Judicante, resolvendo conflitos entre os judicados.

d) Características:
✓ AUTONOMIA ADMINISTRATIVA:
∘ Nomeação diferenciada dos dirigentes – Nomeados pelo Presidente da República após
aprovação prévia do Senado para cumprir mandato certo (demais autarquias: demissíveis
ad nutum e comissionados);
 Obs.1: NÃO é possível exigir a aprovação prévia do Senado para a exoneração dos
dirigentes.
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 Obs.2: NÃO se submetem à exoneração ad nutum.

∘ Período de quarentena dos dirigentes (art. 8º da Lei 9986/2000, com redação dada pela
Lei 13.848/2019) – Durante o prazo de 6 meses ficam impedidos de exercer atividade no
setor regulado, contados da exoneração ou término do mandato, sendo assegurada
remuneração compensatória.
 Lei específica pode estabelecer prazo diferenciado. Ex.: 1 ano para ANEEL, ANS,
ANP. Nesse período, ficará o antigo dirigente vinculado à agência, fazendo jus à
remuneração compensatória equivalente à do cargo que exerceu.

Art. 8º Os membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada ficam impedidos


de exercer atividade ou de prestar qualquer serviço no setor regulado pela
respectiva agência, por período de 6 (seis) meses, contados da exoneração ou do
término de seu mandato, assegurada a remuneração compensatória.

∘ Estabilidade forçada dos dirigentes - É estabilidade diferenciada. Possuem mandato


certo de 5 anos, vedada a recondução (Art. 6º da Lei 9986/2000).
 Obs.: Antes da Lei 13.848/2019, que alterou a redação do art. 6º da Lei 9986, o
mandato dos dirigentes não poderia ultrapassar o mandato do presidente. Com
a novel lei, o mandato passou a ter prazo certo de 5 anos, não coincidindo mais
com o mandato presidencial, justamente para conferir maior autonomia técnica
à agência.

Art. 6º O mandato dos membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada das


agências reguladoras será de 5 (cinco) anos, vedada a recondução, ressalvada a
hipótese do § 7º do art. 5º. (Redação dada pela Lei nº 13.848, de 2019) Vigência
Parágrafo único. Em caso de vacância no curso do mandato, este será completado
por sucessor investido na forma prevista no art. 5º.

✓ AUTONOMIA DECISÓRIA:
∘ Impossibilidade de manejar recurso hierárquico impróprio - O objetivo é assegurar que
a decisão final na esfera administrativa seja da autarquia, em razão da sua autonomia
decisória. Ressalta-se que a impossibilidade de manejar recurso hierárquico impróprio
não afasta a apreciação pelo Poder Judiciário.

Enunciado 25 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ - A ausência de tutela


a que se refere o art. 3º, caput, da Lei 13.848/2019 impede a interposição de
recurso hierárquico impróprio contra decisões finais proferidas pela diretoria
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colegiada das agências reguladoras, ressalvados os casos de previsão legal expressa


e assegurada, em todo caso, a apreciação judicial, em atenção ao disposto no art.
5º, XXXV, da Constituição Federal.

✓ AUTONOMIA FINANCEIRA:
∘ Possuem recursos próprios e recebem dotações orçamentárias:
▪ Recursos próprios - Podem instituir as taxas regulatórias;
▪ Recebimento de dotações orçamentárias - Enviam proposta orçamentária ao
Ministério ao qual estão vinculadas, para receber recursos que serão geridos pela
própria agência reguladora.

APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS:

Qual a natureza jurídica das taxas regulatórias?


1ª Corrente (JSCF): É uma espécie de tributo. Assim, será criada por lei (pela lei da agência), tem
compulsoriedade e tem fato gerador da taxa de poder de polícia. A agência reguladora exerce poder de
polícia nesse setor. Não é taxa de serviço, pois quem presta o serviço é o particular.
2ª corrente (Alexandre de Aragão): Depende da natureza da agência. Se for uma agência que regula a
atividade econômica (ex. ANCINE), a taxa tem natureza tributária. Se a agência regula o serviço público
concedido, ela apenas fiscaliza o cumprimento de um contrato administrativo (energia, telecomunicações),
haverá um poder disciplinar e terá natureza jurídica de um preço contratual/preço público.

✓ AUTONOMIA NORMATIVA: Gozam de poder normativo/regulatório.


∘ O fundamento do poder normativo das agências reguladoras baseia-se na técnica da
deslegalização ou delegificação, segundo a qual o próprio legislador retira
determinadas matérias do âmbito da lei e as passa para o âmbito do regulamento. Nesse
caso, por se tratarem de matérias tão específicas de ordem técnica, elas não poderiam
ser disciplinadas pela lei.
∘ NÃO é poder legislativo, devendo se ater a aspectos técnicos, subalternos à lei.
∘ As agências reguladoras NÃO inovam no ordenamento jurídico, ou seja, NÃO expedem
atos normativos primários.
∘ O poder normativo só obriga o prestador de serviços, jamais o particular.

 CUIDADO: não se trata de poder regulamentar!

Vamos aprofundar um pouco?

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Podemos fazer a distinção entre atos regulatórios e atos regulamentares. Nem todos os autores fazem
essa distinção. Para Rafael Oliveira, temos 03 diferenças entre os dois termos.
A primeira diferença se refere ao fundamento normativo. Quando a CRFB/88 fala em regulação, ela traz o
art. 174. Não é a única norma, claro! Contudo, o art. 174 fala do Estado regulador (aparece também no art.
21, inc. XI e art. 177). Já a expressão regulamentação aparece no art. 84, inc. IV, da CRFB/88 (competências
privativas do chefe do executivo). Assim, compete privativamente ao chefe do executivo editar decretos e
regulamentos para a fiel execução da lei.
A segunda diferença se refere ao responsável pela atividade. Na regulação, a grande protagonista é a
agência reguladora. Claro que não é apenas a agência reguladora que regula, pois o art. 174 da CRFB/88 diz
que o Estado tem que regular a economia e essa regulação vai ser definida na forma da lei. Logo, não diz
que a regulação é feita apenas e exclusivamente por agências reguladoras. Todavia, pelo cenário normativo
de hoje e pelas diversas agências reguladoras que foram criadas, basicamente, a regulação será exercida
por agências reguladoras. Há outras entidades parecidas com as agências reguladoras que vão exercer
atividade similar à regulação. Ex. CVM, Bacen, que são autarquias, mas são muito parecidas com as
agências reguladoras. Por outro lado, em relação à regulamentação, trata-se de competência privativa do
chefe do executivo (presidente, governadores de Estado e prefeitos). Assim, os atos regulamentares são
exercidos pelo chefe do executivo. Só o chefe do executivo pode baixar decreto regulamentar.
A terceira diferença é o caráter. Na regulação, a atividade regulatória tem caráter predominantemente
técnico. A regulação é exercida especialmente por agências reguladoras. Logo, é uma autarquia composta
por agentes públicos (concursados ou por cargos em comissão) que teoricamente possuem maior expertise
naquele setor regulado. Dessa forma, é uma atividade predominantemente técnica, sendo exercida por
pessoas que têm conhecimento naquele setor regulado. Já a regulamentação seria uma atividade
essencialmente política, visto ser exercida privativamente pelo chefe do executivo.

Diferenças REGULAÇÃO REGULAMENTAÇÃO


Fundamento normativo O art. 174 da CRFB/88 fala do Aparece no art. 84, inc. IV, da
Estado regulador. CRFB/88.
Responsável pela atividade A grande protagonista é a agência É de competência privativa do
reguladora. chefe do executivo.
Caráter A atividade regulatória tem É uma atividade essencialmente
caráter predominantemente política.
técnico.

e) Poder normativo e deslegalização: A legislação confere autonomia às agências reguladoras para


editar atos administrativos normativos, dotados de conteúdo técnico e respeitados os parâmetros
legais no setor regulado. Há controvérsias em relação à constitucionalidade, existindo duas
correntes:

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• 1ª Corrente: Inconstitucionalidade do poder normativo amplo das agências reguladoras,


por violar a separação de poderes e a legalidade, sendo vedada a criação de direitos e
obrigações por meio de atos regulatórios editados com fundamento em delegação legislativa
inominada. Nesse sentido: Celso Antônio e Di Pietro (Di Pietro só excepciona dessa vedação
a ANATEL e a ANP, por possuir previsão constitucional).
• 2ª Corrente: Constitucionalidade do poder normativo técnico ampliado reconhecido às
agências reguladoras que poderão editar atos normativos, em razão da deslegalização, que
constitui o fundamento normativo desse poder. Na doutrina: José dos Santos, Diogo de
Figueiredo.

DESLEGALIZAÇÃO (DELEGIFICAÇÃO) / DESLEGIFERAÇÃO / REBAIXAMENTO DO GRAU HIERÁRQUICO


LEGISLATIVO

É a retirada, pelo próprio legislador, de certas matérias do domínio da lei, passando-as ao domínio do
regulamento.
Com a deslegalização, opera-se uma degradação da hierarquia normativa de determinada matéria que, por
opção do legislador, deixa de ser regulada por lei e passa para a seara do ato administrativo normativo.
A lei deslegalizadora NÃO chega a determinar o conteúdo material da futura normatização administrativa,
limitando-se a estabelecer standards e princípios a serem respeitados na atividade administrativo-
normativa.
Limites constitucionais à deslegalização:
a) Casos de reserva legislativa específica previstos na CF, que devem ser veiculados por lei formal;
b) Matérias a serem reguladas por lei complementar NÃO admitem deslegalização, pois são reservas
legislativas específicas.

Agências Reguladoras Estaduais → Na ADI 1949/RS, entendeu o STF:


 Constitucional a nomeação de dirigentes, possuindo como etapas prévias a
indicação do Governador do Estado e aprovação pela Assembleia Legislativa =>
Modelo simétrico ao previsto na CF/88.
 Inconstitucional a exoneração dos dirigentes ANTES do termo final, por decisão
da Assembleia Legislativa, por alijar a participação do executivo.

ATENÇÃO! FENÔMENO DA CAPTURA DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

A "captura" descreve a situação em que o ente regulador passa a atuar sem imparcialidade, favorecendo
sistematicamente uma das partes envolvidas com a atividade regulada ou passa a ser uma estrutura
inoperante, meramente figurativa. Pode significar o risco de concussão (corrupção dos dirigentes), como

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também a captura por contaminação de interesses, em que o órgão regulador assume os valores e interesses
do regulado como se fossem interesses da coletividade, a captura por insuficiência de meios, que ocorre
quando a atuação do agente regulador é inviabilizada pela ausência ou má qualidade de seus recursos e a
captura pelo poder político, situação que ocorre quando não existem os instrumentos legais capazes de
assegurar a efetiva autonomia da agência reguladora e ela passa a ser um mero agente dos interesses
político-partidários dos governantes.

Fique de olho nas jurisprudências mais importantes sobre o tema:

É constitucional a previsão de que a ANVISA pode proibir produtos e insumos em


caso de violação da legislação ou de risco iminente à saúde, inclusive cigarros com
sabor e aroma. É constitucional o art. 7º, III e XV, da Lei nº 9.782/99, que preveem
que compete à ANVISA: III - estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as
políticas, as diretrizes e as ações de vigilância sanitária; XV - proibir a fabricação, a
importação, o armazenamento, a distribuição e a comercialização de produtos e
insumos, em caso de violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde;
Entendeu-se que tais normas consagram o poder normativo desta agência
reguladora, sendo importante instrumento para a implementação das diretrizes,
finalidades, objetivos e princípios expressos na Constituição e na legislação setorial.
Além disso, o STF, após empate na votação, manteve a validade da Resolução RDC
14/2012-ANVISA, que proíbe a comercialização no Brasil de cigarros com sabor e
aroma. Esta parte do dispositivo não possui eficácia erga omnes e efeito vinculante.
Significa dizer que, provavelmente, as empresas continuarão ingressando com
ações judiciais, em 1ª instância, alegando que a Resolução é inconstitucional e
pedindo a liberação da comercialização dos cigarros com aroma. Os juízes e
Tribunais estarão livres para, se assim entenderem, declararem inconstitucional a
Resolução e autorizar a venda. Existem, inclusive, algumas decisões nesse sentido
e que continuam valendo. STF. Plenário. ADI 4874/DF, Rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 1º/2/2018 (Info 889).

Multas previstas em resoluções criadas por agências reguladoras. Não há violação


do princípio da legalidade na aplicação de multa previstas em resoluções criadas
por agências reguladoras, haja vista que elas foram criadas no intuito de regular,
em sentido amplo, os serviços públicos, havendo previsão na legislação ordinária
delegando à agência reguladora competência para a edição de normas e
regulamentos no seu âmbito de atuação. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 825776/SC,
Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/04/2016.

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Nomeação e destituição de dirigentes de agências reguladoras e prévia aprovação


da ALE. É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de
determinada agência reguladora somente poderão ser nomeados após
previamente aprovados pela Assembleia Legislativa. Por outro lado, é
INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes de agência
reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva
da Assembleia Legislativa, sem qualquer participação do Governador do Estado.
Essa previsão viola o princípio da separação dos poderes (at. 2º da CF/88). STF.
Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2014 (Info 759).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCBA 2022): A agência reguladora, por decisão colegiada, poderá convocar audiência pública
para formação de juízo e tomada de decisão sobre matéria considerada relevante (item considerado correto).

(Delegado de PCRO 2022): Determinado município concedeu a particulares os serviços de tratamento de


esgoto e pretende criar entidade no intuito de controlar e fiscalizar a execução desse serviço público.
Considerando a situação hipotética apresentada, assinale a opção correta a respeito das agências
reguladoras, observada a legislação pertinente e a jurisprudência do STF.
a) As decisões tomadas no âmbito da competência da agência reguladora que se busca criar deverão se
submeter a recurso dirigido a órgãos ou autoridades às quais a referida agência esteja vinculada.
b) A autorização para a criação da agência reguladora deverá ser veiculada em lei municipal, ainda que o
diploma legislativo verse outros temas.
c) Não será possível a criação de agência reguladora pelo município, visto que a edição dessas entidades é
atribuição exclusiva da União.
d) Será legítimo à agência reguladora, no exercício das atividades decorrentes do poder de polícia e no âmbito
da respectiva competência, promover, de ofício, a busca e a apreensão de bens.
e) No âmbito da regulação setorial de saneamento básico, será legítimo à agência reguladora editar atos
normativos gerais e abstratos, de caráter técnico.
Item correto: letra “e”.

5.2.3 Agências Executivas

a) Conceito: É uma autarquia ou fundação que recebeu esta qualificação por ter celebrado um contrato
de gestão com a Administração Pública (art. 37, §8º, CF/88) e por possuir um plano de reestruturação
(art. 51 da Lei nº 9.649/98).

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Art. 37, § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e


entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante
contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha
por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo
à lei dispor sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

 Atenção! A Lei 13.934/2019 regulamenta o contrato de desempenho, previsto


no § 8º do art. 37 da Constituição Federal.

Há muitas autarquias e fundações ineficientes, de modo que o contrato de gestão é uma tentativa
de modernização. São exemplos de agências executivas: INMETRO e SUDENE.

b) Requisitos:
• Autarquia ou fundação ter plano estratégico de reestruturação e desenvolvimento em
andamento;
• Celebração de contrato de gestão com Ministério Supervisor com periodicidade mínima de 01
ano.

Obs.1: O Presidente da República expede decreto, concedendo a qualidade de agência executiva.


Obs.2: A desqualificação da fundação como agência executiva é realizada por decreto, por iniciativa
do Ministério Supervisor.

c) Características
✓ Gozam de dispensa de licitação para celebração de contratos, cujos limites de valor são
duplicados em relação aos do art. 75, I e II, da Lei 14133/21, cf. §2º do mesmo artigo.

ATENÇÃO! Os valores do artigo 75, I e II, da Lei 14133/21 foram atualizados pelo Decreto 11317, que entrou
em vigor em 1º/01/2023:
a) Art. 75, caput, inciso I - R$ 114.416,65 (cento e quatorze mil quatrocentos e dezesseis reais e sessenta e
cinco centavos) – obras e serviços de engenharia ou serviços de manutenção de veículos automotores;
b) Art. 75, caput, inciso II - R$ 57.208,33 (cinquenta e sete mil duzentos e oito reais e trinta e três centavos)
– outros serviços e compras.

✓ Podem ter natureza de autarquia ou de fundação pública.


✓ As autarquias ou fundações temporariamente serão agências executivas, enquanto durar o
contrato de gestão. É apenas um status temporário. Não se pode falar em conversão, mas mera
qualificação (José dos Santos).

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✓ Busca mais eficiência e redução de custos.

5.2.4 Fundações Públicas

a) Definição: Pessoas jurídicas sem fins lucrativos, cujo elemento essencial é a utilização do patrimônio
para a satisfação de objetivos sociais, definidos pelo instituidor.

Em outras palavras: a fundação é um patrimônio afetado (destinado) à realização de um fim,


possuindo, por essa razão, personalidade jurídica própria distinta de seu instituidor. Desse modo, o
instituidor da fundação separa (destaca) um determinado patrimônio (dinheiro, imóveis, créditos etc.)
declarando que esses bens serão utilizados para a realização de um objetivo específico.

b) Criação:
• Fundações públicas de direito público - são criadas por lei ordinária específica, mas seu objeto
de atuação deve ser definido por lei complementar.
• Fundações públicas de direito privado - a criação é autorizada por lei ordinária específica, sendo
criadas após o registro no cartório competente, mas seu objeto de atuação deve ser definido
por lei complementar.

Art. 37, XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;

c) Possuem regime híbrido ou misto:


• Direito Público: Autarquias fundacionais cuja criação ocorre por lei específica.
• Direito Privado: Fundações governamentais (regime híbrido ou misto) cuja criação é autorizada
por lei.

OBS.1: Para Celso Antônio, as fundações são pura e simplesmente autarquias.


OBS.2: Para Rafael Oliveira, a ausência de lucro NÃO afasta a necessidade de eficiência por parte da
entidade. Na hipótese de resultados financeiros positivos, quando os créditos superam as despesas, os
valores, considerados superávit (e não lucro), deverão ser reinvestidos nas finalidades da entidade, não
sendo permitida a sua distribuição ou repartição entre seus administradores.

Quadro via @DizeroDireito:


FUNDAÇÃO PÚBLICA DE DIREITO PÚBLICO FUNDAÇÃO PÚBLICA DE DIREITO PRIVADO
Estão sujeitas ao regime público. Estão sujeitas ao regime privado.

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São criadas por lei específica (são uma espécie de Deve ser editada uma lei específica autorizando que
autarquia, por isso também chamadas de o Poder Público crie a fundação. Em seguida, será
“fundações autárquicas”). necessário fazer a inscrição do estatuto dessa
fundação no Registro Civil de Pessoas Jurídicas,
quando, então, ela adquire personalidade jurídica.

d) Atividade:
• Fundação Pública de Direito Público: atividades típicas de Estado;
• Fundação Pública de Direito Privado: atividades de conteúdo econômico passíveis de
delegação.

e) Patrimônio:
• Fundação Pública de Direito Público: bens públicos;
• Fundação Pública de Direito Privado: bens privados (em regra).
Obs.: Bens privados afetados ao serviço público, ou seja, empregados diretamente na
prestação de serviços públicos, sujeitam-se às regras de direito público.

f) Regime de pessoal:
• Fundação Pública de Direito Público: Estatutário;
• Fundação Pública de Direito Privado: Celetista.
Obs.: Ambas se sujeitam à vedação ao acúmulo de cargos; necessidade de realizar concurso
público; teto remuneratório previsto na CF/88.

Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado pode adotar o


regime celetista para contratação de seus empregados. É constitucional a
legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as
relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com
personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de
saúde. STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020
(Info 997).

Observações importantes:
◘ Tanto as fundações públicas de direito público quanto as de direito privado possuem imunidade
tributária de impostos sobre rendas, bens ou serviços, conforme dispõe o artigo 150, inciso VI, alínea
“a” e §2º, da Constituição Federal.
◘ Somente as fundações públicas de direito público:
 Possuem prerrogativas processuais;

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 Submetem-se ao regime de precatório.


◘ As fundações estatais NÃO se submetem ao controle do MP, pois a previsão do art. 66 do CC se refere,
exclusivamente, às fundações privadas, instituídas por particulares, bem como o DL 200/67 afasta a
aplicação do CC às fundações estatais.

Fique atento à jurisprudência sobre o tema:

A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou


privado, a depender do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas.
A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime
público ou privado depende: i) do estatuto de sua criação ou autorização e ii) das
atividades por ela prestadas. As atividades de conteúdo econômico e as passíveis
de delegação, quando definidas como objetos de dada fundação, ainda que essa
seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime
jurídico de direito privado. STF. Plenário.RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas
processuais. A isenção das custas processuais somente se aplica para as entidades
com personalidade de direito público. Dessa forma, para as Fundações Públicas
receberem tratamento semelhante ao conferido aos entes da Administração
Direta, é necessário que tenham natureza jurídica de direito público, que se adquire
no momento de sua criação, decorrente da própria lei. STJ. 4ª Turma. REsp
1.409.199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020 (Info 676)

5.3 Empresas Estatais (Lei 13.303/2016)

a) Conceito
As Empresas Públicas (EP) e Sociedades de Economia Mista (SEM) são pessoas jurídicas de direito
privado integrantes da Administração Pública Indireta.
São regidas por um regime predominantemente privado, chamado por alguns de regime híbrido, sui
generis. Isso porque, por mais que sejam influenciadas pelo regime privado, possuem características do
regime de direito público.

Obs.: NÃO serão titulares de serviço público, recebendo apenas sua descentralização para a execução (NÃO
há outorga do serviço).

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A Lei 13.303/16 estabelece o estatuto jurídico das empresas estatais (empresas públicas, SEM e suas
subsidiárias e demais empresas privadas controladas pelo Estado). O diploma normativo regulamenta o art.
173, §1º, da CRFB/88, que impõe a fixação, por meio de estatuto (lei ordinária), de regras sobre licitações e
contratos, questões societárias, função social das estatais e sua fiscalização pelo poder público e pela
sociedade civil, além da aplicação das mesmas normas de direito privado às empresas estatais, no que
couber. Assim, foi editada a Lei 13.303/16.

Art. 3º Empresa pública é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito


privado, com criação autorizada por lei e com patrimônio próprio, cujo capital social
é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos
Municípios.
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça em
propriedade da União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município, será
admitida, no capital da empresa pública, a participação de outras pessoas jurídicas
de direito público interno, bem como de entidades da administração indireta da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Art. 4º Sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade jurídica


de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade
anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade da administração
indireta.
§1º A pessoa jurídica que controla a sociedade de economia mista tem os deveres
e as responsabilidades do acionista controlador, estabelecidos na Lei nº 6.404, de
15 de dezembro de 1976, e deverá exercer o poder de controle no interesse da
companhia, respeitado o interesse público que justificou sua criação.
§2º Além das normas previstas nesta Lei, a sociedade de economia mista com
registro na Comissão de Valores Mobiliários sujeita-se às disposições da Lei no
6.385, de 7 de dezembro de 1976.

b) Criação das Estatais


Em regra, a estatal precisa de lei autorizativa para a sua criação, bem como para a criação de suas
subsidiárias e participação em outras empresas privadas, conforme art. 37, XIX e XX, da CRFB/88 e art. 2º,
§§1º e 2º, da Lei 13303/16 (ressalvadas as exceções do §3º).

Art. 37 da CRFB/88.

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XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias
das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de
qualquer delas em empresa privada;

O art. 37, XIX, da CRFB/88 define que somente por lei específica poderá ser autorizada a instituição
de estatais. Havia uma controvérsia quanto à parte final desse inciso, que determina que “cabe à lei
complementar definir as áreas de sua atuação”. Nunca houve polêmica quanto ao fato de a lei ordinária
específica criar autarquia e autorizar a criação de estatais.
Contudo, o que significa “neste último caso”? Parte da doutrina entendia que essa ressalva apenas
se aplicaria às fundações e outros entendiam que a lei complementar também definiria a área de atuação
das empresas estatais, além das fundações.
A tese majoritária sempre foi no sentido que a expressão “neste último caso” apenas se refere às
fundações (Rafael Oliveira). Logo, a própria lei ordinária que autoriza a criação da estatal já deve definir qual
vai ser a sua área de atuação, não necessitando de lei complementar. A própria Lei 13.303/16 não exige lei
complementar, apenas lei.
Ressalta-se que, quanto às empresas subsidiárias, o STF entende pacificamente que não seria
necessária uma lei específica autorizando a criação de cada subsidiária, bastando uma autorização legal
genérica. Vale lembrar, contudo, que é necessária uma lei específica para a criação de cada estatal
(“empresa-mãe”).

(...) 2. É dispensável a autorização legislativa para a criação de empresas


subsidiárias, desde que haja previsão para esse fim na própria lei que instituiu a
empresa de economia mista matriz, tendo em vista que a lei criadora é a própria
medida autorizadora. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
STF. Plenário. ADI 1649, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em 24/03/2004.

A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de


economia mista exige autorização legislativa e licitação. Por outro lado, não se
exige autorização legislativa para a alienação do controle de suas subsidiárias e
controladas. Nesse caso, a operação pode ser realizada sem a necessidade de
licitação, desde que siga procedimentos que observem os princípios da
administração pública inscritos no art. 37 da CF/88, respeitada, sempre, a exigência
de necessária competitividade. STF. Plenário. ADI 5624 MC-Ref/DF, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 5 e 6/6/2019 (Info 943). ATENÇÃO! A primeira

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frase do presente julgado caiu exatamente nesses termos na prova de Delta da PCRJ
2022.

Petrobrás pode criar subsidiárias e, em seguida, alienar o controle acionário delas


sem licitação e sem autorização legislativa específica. (...) A específica autorização
legislativa somente é obrigatória na hipótese de alienação do controle acionário de
sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e
específica anuência para a criação e posterior alienação de ativos da empresa
subsidiária, dentro de um elaborado plano de gestão de desinvestimento, voltado
para garantir maiores investimentos e, consequentemente, maior eficiência e
eficácia da empresa-mãe. (Info 993)

É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia


mista ou de empresa pública em programa de desestatização. O art. 37, XIX, da
CF/88 afirma que é necessária a edição de uma lei específica para se autorizar a
instituição de uma sociedade de economia mista ou uma empresa pública. Para que
ocorra a desestatização da empresa estatal também necessária lei específica ou
basta uma autorização genérica prevista em lei que veicule programa de
desestatização? A Lei nº 9.491/97 tratou sobre o Programa Nacional de
Desestatização e autorizou a desestatização de empresas estatais. Essa lei genérica
é suficiente? Em regra, sim. É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão
de sociedade de economia mista ou de empresa pública em programa de
desestatização. Não se aplica o princípio do paralelismo das formas. Exceção: em
alguns casos a lei que autorizou a criação da empresa estatal afirmou
expressamente que seria necessária lei específica para sua extinção ou
privatização. Nesses casos, obviamente, não é suficiente uma lei genérica (não
basta a Lei nº 9.491/97), sendo necessária lei específica. STF. Plenário. ADI 6241/DF,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/2/2021 (Info 1004).

c) Finalidades: Pode ter duas finalidades:


✓ Prestadora de serviço público;
✓ Exploradora de atividade econômica.

Enunciado 8 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ - O exercício da função


social das empresas estatais é condicionado ao atendimento da sua finalidade
pública específica e deve levar em conta os padrões de eficiência exigidos das
sociedades empresárias atuantes no mercado, conforme delimitações e
orientações dos §§ 1º a 3º do art. 27 da Lei 13.303/2016.
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d) Capital:
▪ Empresas Públicas: capital 100% público;
▪ Sociedade de Economia Mista: capital misto (maior parte público).

e) Forma Societária:
▪ Empresas Públicas: Qualquer forma societária. Há a possibilidade, inclusive, de empresas públicas
com um único sócio, a exemplo da CEF, assim como na forma de sociedade anônima.
▪ Sociedade de Economia Mista: Somente sociedade anônima.

Art. 4º Sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade jurídica


de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade
anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade da administração
indireta.
Art. 5º A sociedade de economia mista será constituída sob a forma de sociedade
anônima e, ressalvado o disposto nesta Lei, estará sujeita ao regime previsto na Lei
nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976.

CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCPR 2021). Tendo em conta as peculiaridades das empresas estatais na organização da
Administração Pública brasileira, assinale a alternativa correta. R: As sociedades de economia mista não
poderão adotar como tipo societário o de sociedade limitada, podendo ser constituídas somente como
sociedades anônimas.

f) Competência:
▪ Empresa Pública Federal: Justiça Federal;
▪ Sociedade de Economia Mista Federal: Justiça Estadual.
Exceções (serão processadas na Justiça Federal):
∘ Se a União intervier como assistente ou opoente;
∘ MS contra ato ou omissão do dirigente da sociedade de economia mista federal, investido em
função administrativa.

Súmula 517 STF: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal,
quando a União intervém como assistente ou opoente.

Súmula 556 STF: É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é
parte sociedade de economia mista.
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g) Regime de pessoal: Celetista (CLT), mas, por possuírem um regime jurídico híbrido, se sujeitam a
algumas prerrogativas e regras da Administração Pública:
✓ Concurso público (art. 37, II, da CF);
✓ Teto remuneratório (art. 37, XI e §9º, da CF);
✓ Regras de cumulação de empregos públicos (art. 37, XVI, da CF);
✓ Lei de improbidade administrativa (Lei 8.429/92);
✓ Obediência aos princípios administrativos (art. 37, caput, da CF).

Art. 37, § 9º. O disposto no inciso XI [teto remuneratório] aplica-se às empresas


públicas e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para
pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral.

OBS.1: O regime varia de acordo com a finalidade da empresa estatal. Se presta serviço público, o regime se
aproxima mais daqueles das pessoas jurídicas de direito público. Se for exploradora de atividade
econômica, se aproxima das empresas privadas que estão fora da Administração.
OBS.2: Se as empresas estatais e subsidiárias NÃO receberem recursos dos entes federativos para custeio e
manutenção de pessoal, pode haver pagamentos acima do teto remuneratório.
OBS.3: É necessário motivar a dispensa de seus empregados.

h) Administradores: Os administradores das SEM e EP devem ser (art. 17 da Lei 13303/16):


✓ Cidadãos de reputação ilibada e notório conhecimento;
✓ Tempo mínimo de experiência profissional;
✓ Formação acadêmica compatível;
✓ Não ser inelegível.

Hipóteses de inelegibilidade dos administradores - É vedada a indicação de (art. 17, §2º):


∘ Representante do órgão regulador ao qual a estatal está sujeita, de Ministro de Estado, de
Secretário de Estado, de Secretário Municipal, de titular de cargo, sem vínculo permanente
com o serviço público, de natureza especial ou de DAS na Administração, ainda que
licenciados do cargo;
∘ Dirigente estatutário de partido político e de titular de mandato no Poder Legislativo de
qualquer ente da federação, ainda que licenciados;
∘ Pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de
partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de
campanha eleitoral;
∘ Pessoa que exerça cargo em organização sindical;
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∘ Pessoa que tenha firmado contrato ou parceria, como fornecedor ou comprador,


demandante ou ofertante, de bens ou serviços de qualquer natureza, com a pessoa político-
administrativa controladora da estatal ou com a própria empresa ou sociedade em período
inferior a 3 anos antes da data de nomeação;
∘ Pessoa que tenha ou possa ter qualquer forma de conflito de interesse com a pessoa
político-administrativa controladora da estatal ou com a própria empresa ou sociedade.

CESPE/CEBRASPE (2021): No que se refere à compliance e à composição do conselho de administração e da


diretoria de empresas estatais, julgue o item subsequente. É vedada a indicação de dirigente estatutário de
partido político para atuar no conselho de administração ou na diretoria de uma estatal. Item correto.

i) Patrimônio: Bens privados, mas sofre modulações de direito público, especificamente no tocante à
alienação, que depende do cumprimento das exigências do art. 49 da Lei 13303/16, com redação dada
pela Lei 14.002/20:

Art. 49. A alienação de bens por empresas públicas e por sociedades de economia
mista será precedida de: (Vide Lei nº 14.002, de 2020)
I - avaliação formal do bem contemplado, ressalvadas as hipóteses previstas nos
incisos XVI a XVIII do art. 29;
II - licitação, ressalvado o previsto no § 3º do art. 28.

j) Controle:
Sujeição ao controle do Tribunal de Contas. O STF entendeu existir esse controle, pois na instituição
das empresas estatais haveria contribuição do erário (patrimônio público).
Se há empresas estatais com mais de um Ente Federado participando, o controle será exercido
apenas pelo Tribunal de Contas responsável pelo controle das contas do ente federado administrador da
estatal, conforme decidiu o STF.

k) Licitação e contratos:
A Lei das Estatais passou a disciplinar a realização de licitações e contratos no âmbito das empresas
públicas e sociedades de economia mista, independentemente da natureza da atividade desempenhada
(prestadora de serviço ou exploradora de atividade econômica).
Nesse sentido, a Lei 8.666/93 deixou de ser aplicada a essas entidades, salvo nos casos
expressamente descritos na própria Lei 13.303/16 (normas penais e parte dos critérios de desempate). Além
disso, com o advento da Lei 14.133/21, que revogou a Lei 8.666/93 (art. 193, Lei 14.133/21), a disciplina
especial da Lei 13.303/16 permanece em vigor.
Os contratos terão prazo máximo de 5 anos, salvo:
∘ Projetos contemplados no plano de negócios e investimentos;
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∘ Prática rotineira de mercado e a imposição desse prazo inviabilize ou onere excessivamente o


negócio.

l) Imunidade tributária:
• Se atuam em regime concorrencial: NÃO gozam de imunidade;
• Se prestadoras de serviços públicos não remunerados por preços públicos ou tarifas OU se estatais
que exercem atividades monopolizadas: Gozam de imunidade.

Art. 173, §2º, da CF/88 - As empresas públicas e as sociedades de economia mista


não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado – só
podem ter privilégios que a iniciativa privada também tenha.

Art. 150, §3º, da CF/88 - As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não
se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de
atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos
privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo
usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto
relativamente ao bem imóvel.

ATENÇÃO: O art. 173, §2º, da CF assim dispõe: § 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista
não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.
Entretanto, segundo a doutrina majoritária, em que pese não haver menção expressa ou distinção entre
as empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividades econômicas e
prestadoras de serviços públicos, tal vedação se aplica somente às empresas públicas e sociedades de
economia mista exploradoras de atividades econômicas.
Vejamos o que diz Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo sobre o tema: “(...) é amplamente majoritário o
entendimento de que a vedação alcança somente as empresas públicas e sociedades de economia mista
exploradoras de atividades econômicas – e não as prestadoras de serviço públicos.” (Direito Administrativo
Descomplicado. 24ª Edição. Pág. 87).
Ressalta-se, por fim, que essa concessão de benefício fiscal exclusivo deve obedecer a natural observância
dos princípios constitucionais pertinentes.

ATENÇÃO! Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, embora seja empresa pública, possui
tratamento diferenciado, uma vez que:
• Submete-se ao regime de Fazenda Pública;
• Possui imunidade tributária;
• Submete-se ao regime de precatório;

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• Seus bens são impenhoráveis.

Obs.: NÃO configura irregularidade a transferência de atividades auxiliares da atividade postal. Ex: Entrega
de encomendas e impressos podem ser delegados, por NÃO serem considerados serviços postais
propriamente ditos.

m) Precatório: Somente as empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam serviços
públicos submetem-se ao regime de precatórios.

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? É


aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras
de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial. STF. Plenário.
ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de


sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não
concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas. Sociedade de
economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao
regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer
constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da
legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos
poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III). STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

É possível aplicar o regime de precatórios às empresas públicas? Não se


submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de
personalidade jurídica de direito privado com patrimônio próprio e autonomia
administrativa que exerçam atividade econômica sem monopólio e com
finalidade de lucro. STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de
Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/8/2018 (Info 910). Ex: a
Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina - APPA ostenta personalidade
jurídica de direito privado, exerce atividade econômica em regime concorrencial,
sem monopólio e com vista a auferir lucro (Lei nº 17.895/2013, do Estado do
Paraná). Sujeita-se, portanto, ao regime jurídico das empresas privadas (art. 173,
§§ 1º, II, e 2º, da CF/88), a ela não se aplicando o regime de precatórios previsto no
art. 100 da CF/88.

n) Falência: A lei de falências exclui as estatais (art. 2º, I, da Lei 11101/05), mas a doutrina é divergente:
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1ª Corrente: Sujeitam-se à falência, tendo em vista o disposto no art. 173, §1º, II da CF, sendo
inconstitucional o dispositivo da lei de falências.
2ª Corrente: Interpretação conforme a Constituição, para compatibilizar a lei de falências com o
art. 173 da CF, de modo que apenas empresas estatais prestadoras de serviços públicos são
afastadas da falência. Celso Antônio, José dos Santos, Diógenes Gasparini e Di Pietro.
3ª Corrente: Não se sujeitam à falência. Rafael Oliveira.

ATENÇÃO: Excluem-se da Administração Indireta e do conceito de empresas estatais as entidades


privadas que possuem participação minoritária do Estado, ainda que recebam influência estatal em
razão de classe especial (GOLDEN SHARES).

GOLDEN SHARE: Prevista expressamente na lei do Programa Nacional de Desestatização (art. 8º da Lei
9491/97) – sempre que houver razões que justifiquem, a União deterá, direta ou indiretamente, ação
de classe especial do capital social da empresa ou instituição financeira objeto de desestatização, que
lhe confira poderes especiais em determinadas matérias, as quais deverão ser caracterizadas nos seus
estatutos sociais. Ex: EMBRAER e VALE.

Pontos importantes pra Banca:

I - As autarquias são pessoas jurídicas com capacidade de autodeterminação, patrimônio e


receitas próprias, criadas por lei para o desempenho de atividades típicas do Estado,
submetidas ao controle hierárquico pela administração pública direta. Item errado.

O erro está no final, pois não há controle hierárquico, o que há é o controle finalístico / supervisão
ministerial, em que o ente da administração direta que a criou verifica se está sendo cumprida a finalidade
pela qual foi criada a autarquia.

II - As sociedades de economia mista e empresas públicas são entidades de direito privado integrantes da
administração indireta, criadas por autorização legal, para o desempenho de atividades gerais de caráter
econômico ou, em certas situações, prestação de serviços públicos. Item certo.

III - Por meio da contratação de consórcios públicos, poderão ser constituídas associações públicas para a
realização de objetivos de interesse comum, adquirindo tais entidades personalidade jurídica de direito
público e passando a integrar a administração indireta de todos os entes federativos consorciados. Item
certo.

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- Consórcio público constituído como pessoa jurídica de direito público - assume a forma de associação
pública - integra a administração indireta
- Consórcio público constituído como pessoa jurídica de direito privado - assume a forma de associação
civil - não integra a administração pública

IV - É permitida a criação de autarquias por medida provisória, se houver urgência em descentralizar o


poder estatal e formalizar atividades administrativas em caráter emergencial. Item errado.

Art. 37 - CF - XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de
empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
último caso, definir as áreas de sua atuação;

Entretanto, é possível a criação de autarquia através de MP (desde que haja relevância e urgência NA
CRIAÇÃO) e que seja convertida em LEI ESPECÍFICA posteriormente. A questão erra ao não informar da
necessidade de conversão da MP através de uma lei específica, seguindo o processo legislativo previsto
em lei.

V - Sociedades de economia mista são, obrigatoriamente, organizadas sob a forma de sociedade anônima.
Item certo.

- Empresa pública qualquer forma admitida em lei


- Sociedade de economia mista, somente na forma de S/A.

Julgados importantes sobre o tema:

É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e


aprovação da Assembleia Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os
dirigentes das autarquias e fundações públicas, os presidentes das empresas de
economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem como os
titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado. STF. Plenário.
ADI 2167/RR, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980). (ATENÇÃO! Este julgado caiu na prova
para Delegado de Polícia da PCPR 2021).

 Obs: No caso das autarquias, vale ressaltar que é possível exigir sabatina
prévia para os membros das agências reguladoras, que são autarquias
especiais. Pela legislação, os conselheiros, no modelo federal, são
submetidos à aprovação do Poder Legislativo.
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A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de


economia mista exige autorização legislativa e licitação. A alienação do controle
acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige autorização
legislativa e licitação. Por outro lado, não se exige autorização legislativa para a
alienação do controle de suas subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação
pode ser realizada sem a necessidade de licitação, desde que siga procedimentos
que observem os princípios da administração pública inscritos no art. 37 da CF/88,
respeitada, sempre, a exigência de necessária competitividade. STF. Plenário. ADI
5624 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5 e 6/6/2019 (Info
943).

A Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) não está


submetida ao regime constitucional dos precatórios. O Metrô-DF é empresa
pública, regida pelo direito privado. Embora preste serviço de utilidade pública, a
empresa não desempenha serviço público essencial em sentido típico ou de caráter
monopolístico. O Metrô-DF desenvolve atividade econômica com a exploração
comercial de marcas, patentes, tecnologia e serviços técnicos especializados, com
a distribuição de dividendos, o que permite a penhora de seus bens. Vale ressaltar
ainda que há distribuição de lucros entre os acionistas da empresa. Diante desse
contexto, não há como se aplicar o regime de precatório para o Metrô-DF. STF. 1ª
Turma. Rcl 29637 AgR/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

Veja, ainda, os enunciados aprovados na I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ sobre as


estatais.

Enunciado 13 - As empresas estatais são organizações públicas pela sua finalidade,


portanto, submetem-se à aplicabilidade da Lei 12.527/2011 “Lei de Acesso à
Informação “, de acordo com o art. 1º, parágrafo único, inc. II, não cabendo a
decretos e outras normas infralegais estabelecer outras restrições de acesso a
informações não previstas na Lei.

Enunciado 14 - A demonstração da existência de relevante interesse coletivo ou de


imperativo de segurança nacional, descrita no § 1º do art. 2º da Lei 13.303/2016,
será atendida por meio do envio ao órgão legislativo competente de
estudos/documentos (anexos à exposição de motivos) com dados objetivos que

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justifiquem a decisão pela criação de empresa pública ou de sociedade de


economia mista cujo objeto é a exploração de atividade econômica.

Enunciado 22 - A participação de empresa estatal no capital de empresa privada


que não integra a Administração Pública enquadra-se dentre as hipóteses de
“oportunidades de negócio” prevista no art. 28, § 4º, da Lei 13.303/2016, devendo
a decisão pela referida participação observar os ditames legais e os regulamentos
editados pela empresa estatal a respeito desta possibilidade.

Enunciado 24 - Viola a legalidade o regulamento interno de licitações e contratos


editado por empresa estatal de qualquer ente da federação que estabelece prazo
inferior ao previsto no art. 83, § 2º, da Lei n. 13.303/2016, referente à apresentação
de defesa prévia no âmbito de processo administrativo sancionador.

Enunciado 27 - A contratação para celebração de oportunidade de negócios,


conforme prevista pelo art. 28, § 3º, II, e § 4º da Lei n. 13.303/2016 deverá ser
avaliada de acordo com as práticas do setor de atuação da empresa estatal. A
menção à inviabilidade de competição para concretização da oportunidade de
negócios deve ser entendida como impossibilidade de comparação objetiva, no
caso das propostas de parceria e de reestruturação societária e como
desnecessidade de procedimento competitivo, quando a oportunidade puder ser
ofertada a todos os interessados.

Enunciado 30 - A "inviabilidade de procedimento competitivo" prevista no art. 28,


§ 3º, inc. II, da Lei n. 13.303/2016 não significa que, para a configuração de uma
oportunidade de negócio, somente poderá haver um interessado em estabelecer
uma parceria com a empresa estatal. É possível que, mesmo diante de mais de um
interessado, esteja configurada a inviabilidade de procedimento competitivo.

Jurisprudência em teses do STJ – ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


INDIRETA – Edição nº 79

1) Aplica-se a prescrição quinquenal do Decreto n. 20.910/32 às empresas públicas


e às sociedades de economia mista responsáveis pela prestação de serviços
públicos próprios do Estado e que não exploram atividade econômica.

2) Inexiste direito à incorporação de vantagens decorrentes do exercício de cargo


em comissão ou função de confiança na administração pública indireta.
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3) As autarquias possuem autonomia administrativa, financeira e personalidade


jurídica própria, distinta da entidade política à qual estão vinculadas, razão pela
qual seus dirigentes têm legitimidade passiva para figurar como autoridades
coatoras em Mandados de Segurança.

4) As empresas públicas e as sociedades de economia mista prestadoras de serviços


públicos possuem legitimidade ativa ad causam para a propositura de pedido de
suspensão, quando na defesa de interesse público primário.

5) A universidade federal, organizada sob o regime autárquico, não possui


legitimidade para figurar no polo passivo de demanda que visa à repetição de
indébito de valores relativos à contribuição previdenciária por ela recolhidos e
repassados à União.

6) Os Conselhos de Fiscalização Profissionais possuem natureza jurídica de


autarquia, sujeitando-se, portanto, ao regime jurídico de direito público.
Exceção: a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público
independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes
no direito brasileiro (STF. Plenário. ADI 3026, Rel. Min. Eros Grau, julgado em
08/06/2006).

7) O benefício da isenção do preparo, conferido aos entes públicos previstos no art.


4º, caput, da Lei n. 9.289/1996, é inaplicável aos Conselhos de Fiscalização
Profissional. (Recurso Repetitivo - Tema 625)

8) O arquivamento provisório previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, dirigido aos


débitos inscritos como dívida ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional ou por ela cobrados, não se aplica às execuções fiscais movidas pelos
conselhos de fiscalização profissional ou pelas autarquias federais. (Súmula n.
583/STJ) (Recurso Repetitivo - Temas 636 e 612)

9) Os créditos das autarquias federais preferem aos créditos da Fazenda estadual


desde que coexistam penhoras sobre o mesmo bem. (Súmula n. 497/STJ) (Recurso
Repetitivo - Tema 393) [ATENÇÃO! A Súmula 497 foi cancelada pelo STJ, por estar
em desconformidade com a decisão proferida pelo STF na ADPF 357, em que foram
declarados inconstitucionais o art. 187, p.ú, do CTN e o art. 29, p.ú, da LEF que
estabeleciam ordem de preferência das pessoas jurídicas de direito público no
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recebimento de créditos de dívida ativa (1º. União e suas autarquias; 2º. Estados,
DF, Territórios e suas autarquias; 3º. Municípios e suas autarquias), por violarem os
princípios federativo e da isonomia entre os entes federativos (art. 19, III, da CF).
Também nesta mesma linha foi cancelada a Súmula 563 do STF.

10) As agências reguladoras podem editar normas e regulamentos no seu âmbito


de atuação quando autorizadas por lei.

11) Não é possível a aplicação de sanções pecuniárias por sociedade de economia


mista, facultado o exercício do poder de polícia fiscalizatório.

12) Compete à justiça federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.
(Súmula n. 150/STJ)

13) Compete à justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis em que é
parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
(Súmula n. 42/STJ)

14) Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as


instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a
União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.
(Súmula n. 501/STF)

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMG 2021): As sociedades de economia mista e as empresas públicas, pessoas jurídicas
integrantes da Administração Pública Indireta, se assemelham em vários aspectos, ao ponto de serem
abordadas em conjunto por grande parte dos doutrinadores, e, inclusive, intituladas por alguns deles como
“empresas estatais”.
Com base nessa informação, marque com V (verdadeiro) ou com F (falso) as seguintes afirmações:
( ) As sociedades de economia mista e as empresas públicas são criadas com o objetivo de permitir ao Estado
a exploração de atividades econômicas, em sentido estrito, admitindo-se, contudo, que tenham por objeto
a prestação de serviços públicos.
( ) Os bens pertencentes às sociedades de economia mista e às empresas públicas são suscetíveis de penhora
em sede de ação de execução municiada com título judicial ou extrajudicial.

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( ) As empresas públicas e as sociedades de economia mista sempre têm personalidade jurídica de direito
privado, qualquer que seja o seu objeto, mas à vista da natureza híbrida, estão sujeitas às normas de direito
privado e também de direito público.
( ) Pelo princípio da simetria, a criação e a extinção das sociedades de economia mista e das empresas
públicas dependem de lei específica que autorize.
Gabarito: V V V F.

6. ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR

Em direito administrativo, além da clássica divisão entre Administração direta e indireta, os autores
dividem o Estado em setores:
• Primeiro setor: composto pela administração direta e indireta;
• Segundo setor: para a professora Di Pietro, seria o mercado, o qual é formado pelas concessionárias
e permissionárias de serviço público;
• Terceiro setor: composto pelo que a doutrina chama de particulares em colaboração com o Estado.

São subdivisões do Terceiro Setor:


∘ Sistema ‘S’: Serviços sociais autônomos, tais como o SESI, SESC, SENAI e SENAC;
∘ Sistema ‘OS’: Organizações sociais, regidas pela Lei 9.637/98;
∘ OSCIP’s: Organizações da sociedade civil de interesse público, regidas pela Lei 9.790/99;
∘ OSC’s: Organizações da sociedade civil, regidas pela Lei 13.019/14;
∘ Fundações de apoio.

a) Introdução:
As entidades do 3º Setor são particulares em colaboração, sem fins lucrativos, que atuam ao lado
do Estado na prestação de serviços públicos e atividades de interesse social, mediante vínculo formal de
parceria com o Estado. Em outras palavras: são entidades privadas que não integram a estrutura da
Administração Pública Direta ou Indireta!
Tais entidades recebem incentivos do Poder Público, mediante dotação orçamentária, cessão de
bens públicos, e se submetem, consequentemente, às restrições de controle impostas ao ente estatal,
sujeitos ao controle do Tribunais de Contas.

Características principais:
✓ São criadas pela iniciativa privada (“particulares em colaboração”);
✓ Não integram formalmente a Administração Pública;
✓ A criação depende de lei autorizativa;
✓ Possuem vínculo legal ou negocial com o Estado;
✓ Não possuem finalidade lucrativa;
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✓ Recebem benefícios públicos;


✓ Possuem regime jurídico de direito privado;
✓ Adquirem personalidade jurídica com a inscrição do estatuto em cartório próprio;
✓ Prestam atividades privadas de interesse social (serviços não exclusivos de Estado).

Principais consequências por serem entidades privadas (pessoa jurídica de direito privado):
✓ Bens privados;
✓ Regime CLT;
✓ NÃO exige concurso público;
✓ NÃO possuem prerrogativas processuais;
✓ NÃO se submetem a precatórios;
✓ NÃO se submetem ao teto remuneratório previsto na CF/88;
✓ NÃO precisam fazer licitação (doutrina majoritária);
✓ NÃO precisam ter a remuneração fixada por lei.

CESPE/CEBRASPE (2021): Serviços sociais autônomos são pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem
fim econômico, criadas por lei para desempenhar certas atividades, integrando a administração pública
indireta. Item incorreto, pois não podem ter fim econômico nem integram a Administração Pública indireta.

b) Espécies:
• Sistema S - Serviço Social Autônomo;
• Sistema OS - Organização Social
• Sistema OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público;
• Sistema OSC - Organizações da Sociedade Civil;
• Fundações de apoio.

CESPE - 2013 - PC-BA - Delegado de Polícia: Entidades paraestatais são pessoas jurídicas
privadas que colaboram com o Estado no desempenho de atividades não lucrativas, mas não
integram a estrutura da administração pública. Item certo.

São entes privados que não integram a administração direta ou indireta, mas que exercem atividades de
interesse público sem finalidade lucrativa. Integram o chamado 3º setor.

c) Foro processual:
∘ É a Justiça Estadual, inclusive para as entidades que formalizam parcerias com a União.
∘ Serviços sociais autônomos que recebem recursos federais: Justiça Estadual (Súm. 516 STF).

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Súmula 516 STF - O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito à jurisdição da
Justiça estadual.

De quem é a competência para julgar as causas envolvendo os serviços sociais


autônomos? Em regra, a competência é da Justiça Comum Estadual. STF. RE
414375/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 31/10/2006.

d) Controle: Para a doutrina amplamente majoritária, sujeitam-se ao controle do TCU.


Nas palavras do professor Rafael Oliveira:

“As entidades do Terceiro Setor, que formalizam parcerias com o Poder Público,
são fiscalizadas pelo respectivo Ente federativo parceiro, pelo Ministério Público e
pelo Tribunal de Contas, na forma do art. 70, parágrafo único, da CRFB. Da mesma
forma, admite-se o controle social, especialmente por meio da propositura da
ação popular.”

Cuidado com o entendimento do STF sobre o tema:

Os recursos geridos pelos serviços sociais autônomos não são considerados


recursos públicos. Os recursos geridos pelos serviços sociais autônomos são
considerados recursos públicos? NÃO. Segundo entende o STF, os serviços sociais
autônomos do denominado sistema “S”, embora compreendidos na expressão de
entidade paraestatal, são pessoas jurídicas de direito privado, definidos como entes
de colaboração, mas não integrantes da Administração Pública. Assim, quando o
produto das contribuições ingressa nos cofres dos Serviços Sociais Autônomos,
perde o caráter de recurso público. STF. Plenário. ACO 1953 AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 18/12/2013.

e) Regime de Pessoal: Empregados celetistas (submetem-se à CLT).


NÃO se aplica as regras de concurso público. No entanto, doutrina majoritária e STF entendem que
deve haver um processo seletivo público, objetivo e impessoal, de modo que a contratação obedeça aos
princípios constitucionais da impessoalidade e moralidade.

Os serviços sociais autônomos não precisam realizar concurso público para


contratar seu pessoal. Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso
público para contratar seu pessoal? NÃO. Os serviços sociais autônomos, por
possuírem natureza jurídica de direito privado e não integrarem a Administração
Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse público em cooperação
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com o ente estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de concurso público
(art. 37, II, da CF/88) para contratação de seu pessoal. Obs.: vale ressaltar, no
entanto, que o fato de as entidades do Sistema “S” não estarem submetidas aos
ditames constitucionais do art. 37 não as exime de manterem um padrão de
objetividade e eficiência na contratação e nos gastos com seu pessoal. STF.
Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014
(repercussão geral) (Info 759).

f) Patrimônio: Bens privados.


No entanto, os bens privados adquiridos com recursos públicos sofrerão influxos do regime de direito
público. Ex.: Em determinadas hipóteses, podem ser considerados impenhoráveis, em razão da necessidade
de continuidade das atividades sociais. Ou, ainda, após o término da parceria, os bens devem ser transferidos
ao patrimônio de outra entidade similar ou ao patrimônio do Estado, sob a alegação de necessidade de
continuidade das atividades sociais.

g) Licitação
• Licitação entre o Estado e as entidades do 3º setor: Embora haja divergência, a doutrina majoritária
entende que não há necessidade de licitação. Isso porque os contratos de gestão e termos de
parceria firmados entre o 3º Setor e a Administração possuem natureza jurídica de convênio (que
busca o interesse comum entre os partícipes), e não de contrato administrativo que exige licitação.
• Licitação entre o 3º setor e a contratação com terceiros utilizado dinheiro público: Há forte
divergência doutrinária sobre o tema. Veja:
1ªC (José dos Santos): Exige a licitação, tendo em vista que a hipótese se subsome à
expressão “demais entidades controladas direta ou indiretamente pelo Poder Público”,
constante do art. 1º, p.ú, da Lei 8666 c.c. art. 1º, II, da Lei 14133/21.
2ª C (Diogo Moreira): Não exige licitação, pois não é possível ampliar, mediante lei ordinária,
o rol de destinatários da licitação previsto no art. 37, XX, da CF/88. Haveria, no caso, uma
inconstitucionalidade por vício formal.
3ª C (Rafael Oliveira e TCU): Não exige licitação, mas é necessário um procedimento
simplificado e objetivo para as contratações realizadas com dinheiro público, de modo a
atender aos princípios constitucionais, sobretudo o da impessoalidade. Ressalta-se que essa
foi a posição adotada pelas leis da OS (art. 17) e OSCIP (art. 14):

Lei 9637/98. Art. 17. A organização social fará publicar, no prazo máximo de
noventa dias contado da assinatura do contrato de gestão, regulamento próprio
contendo os procedimentos que adotará para a contratação de obras e serviços,
bem como para compras com emprego de recursos provenientes do Poder Público.

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Lei 9790/99. Art. 14. A organização parceira fará publicar, no prazo máximo de
trinta dias, contado da assinatura do Termo de Parceria, regulamento próprio
contendo os procedimentos que adotará para a contratação de obras e serviços,
bem como para compras com emprego de recursos provenientes do Poder Público,
observados os princípios estabelecidos no inciso I do art. 4o desta Lei.

h) Responsabilidade civil das entidades do 3º setor: Trata-se de tema com grande divergência doutrinária,
de modo que é importante atentar-se às 3 posições para eventual prova discursiva:
1ª C (Cristiana Fortini): Haverá responsabilidade objetiva das entidades do 3º setor, pois as
atividades sociais por elas desenvolvidas podem ser qualificadas como serviços públicos, atraindo a
incidência do art. 37, §6º, da CF/88.
2ª C (José dos Santos): Depende da parceria. Em se tratando dos sistemas sociais autônomos
(Sistema “S”), que desempenham atividades de caráter meramente social e podem ser qualificadas
como serviços públicos, a responsabilidade será objetiva, na forma do art. 37, §6º, da CF/88. Por
outro lado, em se tratando de organizações sociais (“OS”) ou organizações sociais da sociedade civil
de interesse público (“OSCIP”), a responsabilidade será subjetiva, pois tais entidades exercem
parceria meramente desinteressada.
3ª C (Rafael Oliveira e Villela Souto): Trata-se de responsabilidade subjetiva, em razão da
inexistência de serviço público. Embora tenham relevância social, são atividades privadas prestadas
em nome próprio, motivo pelo qual devem seguir o regramento da legislação civil. E, segundo a lei
civil, somente haverá responsabilidade objetiva em casos previstos expressamente por lei, ou
quando a natureza da atividade desempenhada implicar risco para as pessoas, na forma do art. 927
do CC.
 Para essa 3ª corrente, haverá ainda responsabilidade subsidiária do Estado pelos danos
causados pelo 3º setor no desempenho das atividades que são objeto de parceria.

6.1 Serviço Social Autônomo - Sistema “S”

São entidades criadas mediante autorização legal para a realização da atividade de fomento,
auxílio e capacitação de determinadas categorias profissionais, seja indústria ou comércio. É o chamado
SISTEMA “S” (SESI, SENAI, SENAC, SENAR).
NÃO atuam na prestação de serviços públicos exclusivos de Estado por meio de delegação de
atividades, mas executam atividades particulares de cunho social, sem a intenção de auferirem qualquer
espécie de lucro. A atuação é de fomento e não de prestação de serviço público.

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Estas entidades são particulares, criadas por autorização legal para a execução de atividades de
interesse do Estado, admitindo-se que sejam constituídas sob a forma de associação ou fundação ou, ainda,
por meio de estruturas não previstas no direito civil e reguladas pela lei específica da entidade.
Para auxiliar na execução de suas atividades, o Poder Público lhes transfere a capacidade tributária
ativa, de modo que os entes do serviço social autônomo gozam de parafiscalidade, que é a transferência
do poder de cobrar e fiscalizar tributos.
Não obstante a concessão da capacidade tributária, tratam-se de entidades privadas e, por isso,
NÃO gozam de privilégios administrativos, sejam fiscais, processuais ou contratuais.
As ações propostas em face desses entes deverão tramitar na Justiça Estadual (Súm. 516 STF).

Súmula 516 STF - O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito à jurisdição da
Justiça estadual.

O regime de pessoal se submete à CLT e NÃO dependem de concurso público para ingresso em suas
atividades. No entanto, os empregados são considerados agentes públicos (conceito mais amplo) e se
submetem à LIA (Lei 8.429/92).
Por constituírem pessoas jurídicas privadas, NÃO se submetem ao regime de precatório em relação
ao pagamento de seus débitos oriundos de sentença judicial, conforme decidiu o STF (ADI 1.923-DF).

Fique atento à jurisprudência sobre o tema:

Serviços sociais autônomos NÃO devem figurar no polo passivo de ação proposta
pelo contribuinte discutindo a exigibilidade das contribuições sociais. As
entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas
ações judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte
e a União e a repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas. Os serviços
sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas
de direito privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre
contribuinte e ente federado. O direito que tais entidades possuem à receita
decorrente da subvenção não gera interesse jurídico a ponto de justificar a
ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos serviços sociais
autônomos nesta lide é reflexo e meramente econômico. STJ. 1ª Seção. EREsp
1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/04/2019 (Info 646).

Serviços sociais autônomos gozam de imunidade tributária. Os serviços sociais


autônomos gozam de imunidade tributária? SIM. O art. 150, VI, “c” da CF/88 prevê
que as instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, gozam
de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que atendidos os requisitos
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previstos na lei. As entidades do chamado “Sistema S”, tais como SESI, SENAI,
SENAC e SEBRAE, também gozam de imunidade porque promovem cursos para a
inserção de profissionais no mercado de trabalho, sendo consideradas instituições
de educação e assistência social. Se o SENAC adquire um terreno para a construção
de sua sede, já havendo inclusive um projeto nesse sentido, deverá incidir a
imunidade nesse caso considerando que o imóvel será destinado às suas finalidades
essenciais. STF. 1ª Turma. RE 470520/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
17/9/2013 (Info 720).

Os serviços sociais autônomos não gozam das prerrogativas processuais inerentes


à Fazenda Pública. Os serviços sociais autônomos gozam das prerrogativas
processuais inerentes à Fazenda Pública (ex.: prazo em dobro para recorrer)? NÃO.
As entidades paraestatais não gozam dos privilégios processuais concedidos à
Fazenda Pública. STF. AI 841548 RG, julgado em 09/06/2011.

Competência para julgar as causas envolvendo os serviços sociais autônomos. De


quem é a competência para julgar as causas envolvendo os serviços sociais
autônomos? Em regra, a competência é da Justiça Comum Estadual. STF. RE
414375/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 31/10/2006. Súmula 516-STF: O
Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito a jurisdição da justiça estadual.

6.2 Entidades ou Fundações de Apoio

As entidades ou fundações de apoio são instituídas por servidores públicos, em nome próprio, sob
a forma de fundação, associação ou cooperativa, sempre sem finalidade lucrativa, para prestação, em
caráter privado, de serviços sociais não exclusivos do Estado.
As fundações de apoio são instituídas por particulares com o objetivo de auxiliar a Administração
Pública, por meio da elaboração de convênios ou contratos, não se confundindo com a entidade estatal.
Atuam, em especial, ao lado de hospitais e universidades Públicas, auxiliando no exercício da
atividade destas entidades, através da realização de programas de pesquisa e extensão.
O vínculo com o poder público decorre da assinatura de convênio, que lhe garante a destinação de
valores públicos, com dotação orçamentária específica, além da possibilidade de cessão de bens públicos e,
até mesmo, a cessão de servidores.
Possuem personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio e administração próprios, NÃO
fazendo parte da Administração Indireta, sendo suas demandas julgadas pela Justiça Estadual.
As entidades de apoio, quando tiverem natureza jurídica de fundação, deverão estar constituídas
sob a forma de fundações de direito privado, sem fins lucrativos, regidas pelo Código Civil.

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Essas fundações se sujeitam à fiscalização do MP, à legislação trabalhista e ao prévio registro e


credenciamento no Ministério da Educação, e no Ministério da Ciência e tecnologia, renovável
bienalmente.
Na execução dos vínculos jurídicos (convênios, contratos, acordos e/ou ajustes), que envolvam a
aplicação de recursos públicos, as fundações de apoio sujeitam-se às seguintes obrigações:
• Observância da legislação de licitações e contratos administrativos;
• Prestação de contas de recursos aplicados aos órgãos públicos financiadores;
• Submissão ao controle finalístico e de gestão pelo órgão máximo da Instituição Federal de ensino;
• Fiscalização da execução dos contratos pelo TCU e órgão de controle interno competente.
Podem se utilizar de servidores públicos federais, que NÃO possuirão vínculo empregatício com a
fundação e poderão receber bolsas de ensino, pesquisa e extensão, respeitadas condições e limites fixados
no regulamento.

6.3 Organizações Sociais - OS (Lei 9637/98)

São entidades privadas, sem fins lucrativos, qualificadas na forma da Lei 9.637/98, que celebram
contrato de gestão com o Estado para o cumprimento de metas de desempenho e recebimento de
benefícios públicos, através da prestação de serviços públicos NÃO exclusivos de estado, como ensino,
pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente etc.
É importante lembrar que tais entidades NÃO integram a estrutura da administração, de modo que
sua criação independe de lei. No entanto, por executarem atividades de interesse social, sem escopo de
lucro, e receberem auxílio do ente estatal de diversas formas, sujeitam-se a algumas restrições impostas à
Fazenda Pública.

a) Qualificação como ‘OS’


A qualificação de entidade privada como OS é temporária, somente sendo vigente enquanto durar
o vínculo firmado. Trata-se, ainda, de ato discricionário, e depende de 2 requisitos:
(1) Comprovação do registro do seu ato constitutivo;
(2) Aprovação da qualificação pelas autoridades competentes: i) Ministro de Estado da Administração
Federal e Reforma do Estado e ii) titular do órgão supervisor da área de atividade correspondente.

Art. 2o São requisitos específicos para que as entidades privadas referidas no artigo
anterior habilitem-se à qualificação como organização social:
I - comprovar o registro de seu ato constitutivo, dispondo sobre:
a) natureza social de seus objetivos relativos à respectiva área de atuação;
b) finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus
excedentes financeiros no desenvolvimento das próprias atividades;

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c) previsão expressa de a entidade ter, como órgãos de deliberação superior e de


direção, um conselho de administração e uma diretoria definidos nos termos do
estatuto, asseguradas àquele composição e atribuições normativas e de controle
básicas previstas nesta Lei;
d) previsão de participação, no órgão colegiado de deliberação superior, de
representantes do Poder Público e de membros da comunidade, de notória
capacidade profissional e idoneidade moral;
e) composição e atribuições da diretoria;
f) obrigatoriedade de publicação anual, no Diário Oficial da União, dos relatórios
financeiros e do relatório de execução do contrato de gestão;
g) no caso de associação civil, a aceitação de novos associados, na forma do
estatuto;
h) proibição de distribuição de bens ou de parcela do patrimônio líquido em
qualquer hipótese, inclusive em razão de desligamento, retirada ou falecimento de
associado ou membro da entidade;
i) previsão de incorporação integral do patrimônio, dos legados ou das doações que
lhe foram destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes de suas
atividades, em caso de extinção ou desqualificação, ao patrimônio de outra
organização social qualificada no âmbito da União, da mesma área de atuação, ou
ao patrimônio da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, na
proporção dos recursos e bens por estes alocados;
II - haver aprovação, quanto à conveniência e oportunidade de sua qualificação
como organização social, do Ministro ou titular de órgão supervisor ou regulador
da área de atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro de Estado
da Administração Federal e Reforma do Estado.

A desqualificação pode ocorrer quando houver o descumprimento das disposições previstas no


contrato de gestão, devendo ser precedida de processo administrativo em que se assegure a ampla defesa.
Segundo a lei, a desqualificação enseja a reversão automática dos bens permitidos e dos valores entregues
à OS.

Art. 16. O Poder Executivo poderá proceder à desqualificação da entidade como


organização social, quando constatado o descumprimento das disposições contidas
no contrato de gestão.
§ 1º A desqualificação será precedida de processo administrativo, assegurado o
direito de ampla defesa, respondendo os dirigentes da organização social,
individual e solidariamente, pelos danos ou prejuízos decorrentes de sua ação ou
omissão.
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§ 2o A desqualificação importará reversão dos bens permitidos e dos valores


entregues à utilização da organização social, sem prejuízo de outras sanções
cabíveis.

b) Contrato de gestão
O vínculo da OS com o Poder Público ocorre pelo contrato de gestão, instrumento firmado que visa
ao fomento e à execução de atividades relacionadas ao estudo, pesquisa, desenvolvimento tecnológico,
cultura, meio ambiente e saúde.

Requisitos para a validade do contrato de gestão:


(1) Discriminar atribuições, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da organização
social;
(2) Especificar programas de trabalho, metas, prazos de execução e critérios objetivos de avaliação
de desempenho;
(3) Estipular limites e critérios para despesas com remuneração e vantagens de qualquer natureza;
(4) Observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
economicidade.

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, entende-se por contrato de gestão o instrumento
firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social,
com vistas à formação de parceria entre as partes para fomento e execução de
atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1º.

Art. 6º O contrato de gestão, elaborado de comum acordo entre o órgão ou


entidade supervisora e a organização social, discriminará as atribuições,
responsabilidades e obrigações do Poder Público e da organização social.
Parágrafo único. O contrato de gestão deve ser submetido, após aprovação pelo
Conselho de Administração da entidade, ao Ministro de Estado ou autoridade
supervisora da área correspondente à atividade fomentada.

Art. 7º Na elaboração do contrato de gestão, devem ser observados os princípios


da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e,
também, os seguintes preceitos:
I - especificação do programa de trabalho proposto pela organização social, a
estipulação das metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução, bem
como previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a
serem utilizados, mediante indicadores de qualidade e produtividade;

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II - a estipulação dos limites e critérios para despesa com remuneração e


vantagens de qualquer natureza a serem percebidas pelos dirigentes e
empregados das organizações sociais, no exercício de suas funções.
Parágrafo único. Os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da área de
atuação da entidade devem definir as demais cláusulas dos contratos de gestão de
que sejam signatários.

c) Remuneração e fiscalização
Durante a execução do contrato de gestão, a OS receberá sua contraprestação em função do
atingimento da meta de desempenho fixada, e NÃO das atividades realizadas.
Para os servidores estatais cedidos, o pagamento de sua remuneração será feito pelos cofres
públicos e NÃO será incorporado aos vencimentos de origem do servidor cedido qualquer vantagem
pecuniária que vier a ser paga pela organização social, com recursos provenientes do contrato de gestão.
Ante os benefícios concedidos, estas entidades se submetem a controle, efetivado pelo Ministério
supervisor daquela atividade executada, e pelo TCU, com submissão à Lei de Improbidade Administrativa
(NÃO há fiscalização por agência reguladora).
Os resultados atingidos com a execução do contrato de gestão devem ser analisados,
periodicamente, por comissão de avaliação, indicada por autoridade supervisora. Além disso, as OS devem
ter um Conselho de Administração, nos moldes da Lei, com participação obrigatória de representantes do
povo e do poder público, nos percentuais estipulados em lei.

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS - Constitucionalidade da Lei 9.637/98

Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, prestadoras de atividades
de interesse público e que, por terem preenchido determinados requisitos previstos na Lei 9.637/98,
recebem a qualificação de “organização social”. A pessoa jurídica, depois de obter esse título de
“organização social”, poderá celebrar com o Poder Público um instrumento chamado de “contrato de
gestão” por meio do qual receberá incentivos públicos para continuar realizando suas atividades. Foi
ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art. 24, XXIV, da Lei
8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de organizações sociais. O Plenário do STF não
declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação conforme a Constituição para deixar
explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e de acordo com parâmetros fixados
em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, com
observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF;

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c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e outorga de
permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas devem ser conduzidas de
forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF; (ATENÇÃO!
A Lei 14133/21 não trouxe a referida hipótese de licitação dispensável no art. 75).
d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública, objetiva e impessoal,
com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento próprio a ser
editado por cada entidade; e
e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da
União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada.
STF. Plenário. ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 15 e
16/4/2015 (Info 781).
 É imprescindível a leitura dos demais dispositivos da Lei 9637/98.

6.4 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP (Lei 9790/99)

Primeiramente, perceba que a OSCIP não é uma pessoa jurídica, mas sim uma qualificação especial
concedida pelo Estado às entidades privadas sem fins lucrativos, em funcionamento há pelo menos 3 anos,
e criadas para a prestação de serviços públicos não exclusivos do Estado, a exemplo de:
• Promoção de assistência social;
• Cultura;
• Defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
• Educação;
• Saúde;
• Segurança alimentar e nutricional;
• Defesa, preservação e conservação do meio ambiente;
• Desenvolvimento sustentável etc.

Art. 1º Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse


Público as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido
constituídas e se encontrem em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três)
anos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos
requisitos instituídos por esta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014)
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica de
direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros,
diretores, empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou
líquidos, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio,

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auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na


consecução do respectivo objeto social.

a) Qualificação como OSCIP


Ao contrário da qualificação em “OS”, que é um ato discricionário, a qualificação em OSCIP é um ato
vinculado do Ministério da Justiça. Assim, em regra, se preenchidos os requisitos previstos em lei, deve-se
conceder a qualificação.
O art. 2º da Lei traz algumas hipóteses em que a entidade NÃO poderá receber a qualificação de
OSCIP, ainda que preencha todos os requisitos.

Art. 1º, §2º. A outorga da qualificação prevista neste artigo é ato vinculado ao
cumprimento dos requisitos instituídos por esta Lei.

Art. 2º. NÃO são passíveis de qualificação como Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público, ainda que se dediquem de qualquer forma às atividades descritas
no art. 3º desta Lei:
I - as sociedades comerciais;
II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria
profissional;
III - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos,
práticas e visões devocionais e confessionais;
IV - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações;
V - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a
um círculo restrito de associados ou sócios;
VI - as entidades e empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados;
VII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras;
VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas
mantenedoras;
IX - as organizações sociais;
X - as cooperativas;
XI - as fundações públicas;
XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito privado criadas por
órgão público ou por fundações públicas;
XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o
sistema financeiro nacional a que se refere o art. 192 da Constituição Federal.

Parágrafo único. Não constituem impedimento à qualificação como Organização da


Sociedade Civil de Interesse Público as operações destinadas a microcrédito
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realizadas com instituições financeiras na forma de recebimento de repasses,


venda de operações realizadas ou atuação como mandatárias. (Incluído pela Lei
nº 13.999, de 2020)

Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o


princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das
Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes
finalidades:
I - promoção da assistência social;
II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de
participação das organizações de que trata esta Lei;
IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de
participação das organizações de que trata esta Lei;
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
VII - promoção do voluntariado;
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;
IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de
sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria
jurídica gratuita de interesse suplementar;
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia
e de outros valores universais;
XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e
divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam
respeito às atividades mencionadas neste artigo.
XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibilização e a
implementação de tecnologias voltadas à mobilidade de pessoas, por qualquer
meio de transporte. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às atividades nele previstas
configura-se mediante a execução direta de projetos, programas, planos de ações
correlatas, por meio da doação de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda
pela prestação de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins
lucrativos e a órgãos do setor público que atuem em áreas afins.

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b) Termo de parceria
O vínculo firmado entre a OSCIP e o Poder Público ocorre mediante a celebração de termo de
parceria, que, além de estabelecer metas de desempenho, discriminará direitos, responsabilidades e
obrigações das partes signatárias.
O termo de parceria permite a destinação de valores públicos às instituições privadas, mediante
dotação orçamentária, com liberação destes recursos em conta bancária específica. Ou seja: após a
celebração do termo de parceria, as entidades estarão aptas a receber recursos orçamentários do Estado.
O termo de parceria deve conter as seguintes cláusulas:
 Objeto;
 Definição de metas;
 Critérios objetivos de avaliação de desempenho;
 Previsão de receitas e despesas;
 As obrigações da OSCIP;
 Obrigatoriedade de publicação na imprensa oficial do Município, Estado ou União, de extrato
de termo de parceria e de demonstrativo de execução física e financeira.

Art. 9o Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento


passível de ser firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público destinado à formação de
vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades
de interesse público previstas no art. 3o desta Lei.

Art. 10. O Termo de Parceria firmado de comum acordo entre o Poder Público e as
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público discriminará direitos,
responsabilidades e obrigações das partes signatárias.
§ 1o A celebração do Termo de Parceria será precedida de consulta aos Conselhos
de Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, nos
respectivos níveis de governo.
§ 2o São cláusulas essenciais do Termo de Parceria:
I - a do objeto, que conterá a especificação do programa de trabalho proposto pela
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público;
II - a de estipulação das metas e dos resultados a serem atingidos e os respectivos
prazos de execução ou cronograma;
III - a de previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a
serem utilizados, mediante indicadores de resultado;
IV - a de previsão de receitas e despesas a serem realizadas em seu cumprimento,
estipulando item por item as categorias contábeis usadas pela organização e o
detalhamento das remunerações e benefícios de pessoal a serem pagos, com
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recursos oriundos ou vinculados ao Termo de Parceria, a seus diretores,


empregados e consultores;
V - a que estabelece as obrigações da Sociedade Civil de Interesse Público, entre as
quais a de apresentar ao Poder Público, ao término de cada exercício, relatório
sobre a execução do objeto do Termo de Parceria, contendo comparativo
específico das metas propostas com os resultados alcançados, acompanhado de
prestação de contas dos gastos e receitas efetivamente realizados, independente
das previsões mencionadas no inciso IV;
VI - a de publicação, na imprensa oficial do Município, do Estado ou da União,
conforme o alcance das atividades celebradas entre o órgão parceiro e a
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, de extrato do Termo de
Parceria e de demonstrativo da sua execução física e financeira, conforme modelo
simplificado estabelecido no regulamento desta Lei, contendo os dados principais
da documentação obrigatória do inciso V, sob pena de não liberação dos recursos
previstos no Termo de Parceria.

Para a celebração de termo de parceria, NÃO há a necessidade de realizar licitação, ante o vínculo
de convênio. No entanto, caso haja mais de um interessado na celebração do termo de parceria, e todos
cumpram os requisitos legais, a Administração deverá realizar procedimento simplificado que justifique a
escolha de uma entidade em detrimento de outra.

c) Fiscalização
As entidades se sujeitam ao controle financeiro e orçamentário exercido pelo Tribunal de Contas,
além do acompanhamento e fiscalização do termo de parceria por órgão do Poder Público.
As OSCIP devem constituir Conselho Fiscal ou órgão equivalente, dotado de competência para
opinar sobre os relatórios de desempenho financeiro e contábil e sobre as operações patrimoniais
realizadas.
Servidores Públicos podem participar da composição do conselho de uma OSCIP, sendo vedada a
percepção de remuneração ou subsídio a qualquer título.

ATENÇÃO:
A lei exige que a OSCIP tenha um CONSELHO FISCAL, mas NÃO exige um Conselho de Administração.
A lei exige que a OS tenha um CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO, mas NÃO exige que tenha um Conselho
Fiscal.

Vamos esquematizar as principais diferenças entre OS e OSCIP?

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ORGANIZAÇÕES SOCIAIS OSCIP


ENTIDADES Entidades privadas sem fins Entidades privadas sem fins
lucrativos. lucrativos em regular
funcionamento há pelo
menos 3 anos.
QUALIFICAÇÃO Ato discricionário do Poder Ato vinculado do Poder
Público. Público
COMPETÊNCIA PARA A Ministério ou Órgão regulador Ministério da Justiça.
QUALIFICAÇÃO responsável pela área de
atuação da entidade
ÓRGÃO DE DELIBERAÇÃO Presença obrigatória do Presença facultativa de
SUPERIOR DA ENTIDADE representante do Poder Público. servidor público na
composição do Conselho da
entidade.
VÍNCULO JURÍDICO Contrato de gestão. Termo de parceria.
(PARCERIA)
É mais ampla do que a das
organizações sociais, porque
Ensino, pesquisa científica,
ÁREA DE ATUAÇÃO abrange, além de todo o
desenvolvimento tecnológico,
campo de atuação destas
proteção e preservação do meio
últimas, diversas outras áreas
ambiente, cultura e saúde.
previstas no art. 3º da Lei
9.790/1999.
CONSELHO OBRIGATÓRIO Conselho de Administração Conselho Fiscal
Perde-se a qualificação de
OSCIP, a pedido ou mediante
Perde-se a qualificação de OS a
decisão proferida em processo
pedido ou se descumprido o
DESQUALIFICAÇÃO administrativo ou judicial, de
contrato de gestão, mediante
iniciativa popular ou do
processo administrativo, em
Ministério Público, em que
que seja assegurado o direito ao
sejam assegurados o
contraditório e à ampla defesa.
contraditório e a ampla
defesa.

6.5 Organizações da Sociedade Civil - OSC (Lei 13.019/14)

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A Lei 13.019/14 foi um novo marco regulatório para as parcerias formalizadas entre a
Administração Pública e as Organizações da Sociedade Civil, que são entidades privadas sem fins
lucrativos e que desempenham atividades socialmente relevantes.
Nesse sentido, a Lei busca regular, em âmbito nacional, o regime jurídico das parcerias voluntárias,
envolvendo ou não a transferência de recursos financeiros, firmados entre a Administração e as
organizações da sociedade civil sem fins lucrativos.

OBS.: Para a doutrina majoritária, trata-se de norma NACIONAL (e não federal), que estabelece normas
gerais aplicadas a todos os entes federativos (e não apenas à União).

Art. 1º Esta Lei institui normas gerais para as parcerias entre a administração
pública e organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a
consecução de finalidades de interesse público e recíproco, mediante a execução
de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em planos de trabalho
inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de
cooperação. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)

a) Aplicabilidade e inaplicabilidade da Lei: Aplica-se às parcerias entre Administração direta e indireta


e organizações da sociedade civil.
Mas quem seria, aqui, a Administração Pública? R.: Na teoria, Administração Pública engloba a
Administração direta (entes federativos e seus órgãos) e a Administração indireta (autarquias, estatais e
fundações).
No entanto, tenha cuidado: o art. 2º da Lei 13.019/14 oferece uma série de conceitos para fins de
interpretação e aplicação da própria norma e, segundo o legislador, tal lei NÃO SE APLICA às empresas
estatais: a) exploradoras de atividades econômicas e; b) prestadoras de serviço público, mas não
dependentes do orçamento público.

II - administração pública: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e respectivas


autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista
prestadoras de serviço público, e suas subsidiárias, alcançadas pelo disposto no §
9º do art. 37 da Constituição Federal ; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)

A sociedade civil, por sua vez, é composta por:


• Entidades (privadas) sem fins lucrativos;
• Sociedades cooperativas;
• Organizações religiosas.

Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se:


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I - ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de


2015)

a) entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios ou
associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais
resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos,
isenções de qualquer natureza, participações ou parcelas do seu patrimônio,
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente
na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da
constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva;

Entenda: o excesso de arrecadação é superávit e a lei diz que ele tem que ser
reinvestido na própria atividade da entidade.

b) as sociedades cooperativas previstas na Lei nº 9.867, de 10 de novembro de


1999 ; as integradas por pessoas em situação de risco ou vulnerabilidade pessoal
ou social; as alcançadas por programas e ações de combate à pobreza e de geração
de trabalho e renda; as voltadas para fomento, educação e capacitação de
trabalhadores rurais ou capacitação de agentes de assistência técnica e extensão
rural; e as capacitadas para execução de atividades ou de projetos de interesse
público e de cunho social. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)

c) as organizações religiosas que se dediquem a atividades ou a projetos de


interesse público e de cunho social distintas das destinadas a fins exclusivamente
religiosos; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)

Entenda: não se trata de fomentar a atividade religiosa, e sim a atividade social


desenvolvida por entidade religiosa.

O art. 3º prevê as hipóteses em que a lei NÃO será aplicada.

Art. 3º NÃO se aplicam as exigências desta Lei:


I - às transferências de recursos homologadas pelo Congresso Nacional ou
autorizadas pelo Senado Federal naquilo em que as disposições específicas dos
tratados, acordos e convenções internacionais conflitarem com esta Lei;
II - (revogado);

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III - aos contratos de gestão celebrados com organizações sociais, desde que
cumpridos os requisitos previstos na Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998; (aplica-
se a lei específica).
IV - aos convênios e contratos celebrados com entidades filantrópicas e sem fins
lucrativos nos termos do §1º do art. 199 da Constituição Federal; (Lei 13.018/14)
V - aos termos de compromisso cultural referidos no §1º do art. 9º da Lei no 13.018,
de 22 de julho de 2014;
VI - aos termos de parceria celebrados com organizações da sociedade civil de
interesse público, desde que cumpridos os requisitos previstos na Lei no 9.790, de
23 de março de 1999; (essa previsão não constava da redação original, mas, por
razoabilidade, foi incluída, pois não fazia sentido se aplicar a Lei 13.019/14 à
OSCIP e não se aplicar à OS).
VII - às transferências referidas no art. 2º da Lei no 10.845, de 5 de março de 2004,
e nos arts. 5º e 22 da Lei no 11.947, de 16 de junho de 2009;
VIII - (VETADO);
IX - aos pagamentos realizados a título de anuidades, contribuições ou taxas
associativas em favor de organismos internacionais ou entidades que sejam
obrigatoriamente constituídas por:
a) membros de Poder ou do Ministério Público;
b) dirigentes de órgão ou de entidade da administração pública;
c) pessoas jurídicas de direito público interno;
d) pessoas jurídicas integrantes da administração pública;
X - às parcerias entre a administração pública e os serviços sociais autônomos.

Assim, em resumo, as parcerias que são reguladas por legislação específicas continuam sendo
reguladas pela legislação específica. Hoje, temos um microssistema dentro do 3º setor, com normas que
tratam de diversas parcerias. Ex. legislação que trata de parcerias com OS, com OSCIP, com o Sistema S
(serviço social autônomo). Assim, a Lei 13.019/14 não é aplicável às parcerias que possuem lei específica.

b) Formas de seleção das organizações: A Lei 13.019/14 estabelece, como regra geral, o procedimento
de chamamento público. Assim, quando a Administração Pública for celebrar parceria com uma OSC, ela
deve fazer um procedimento objetivo com regras impessoais para a escolha da entidade privada que vai se
beneficiar da parceria. Note que não há necessidade de licitação, mas sim de um procedimento
administrativo com regras simplificadas que garantam uma escolha impessoal da entidade privada.
Além do chamamento público, a lei também menciona o Procedimento de Manifestação de
Interesse Social (PMIS), cuja definição está prevista pelo art. 18:

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Art. 18. É instituído o Procedimento de Manifestação de Interesse Social como


instrumento por meio do qual as organizações da sociedade civil, movimentos
sociais e cidadãos poderão apresentar propostas ao poder público para que este
avalie a possibilidade de realização de um chamamento público objetivando a
celebração de parceria.

O chamamento público busca selecionar, de forma objetiva e impessoal, a entidade que firmará
termo de fomento ou termo de colaboração com o Poder Público.

ATENÇÃO! Só há necessidade de chamamento público quando o vínculo com o Estado for celebrado
mediante termo de fomento ou termo de colaboração. Isso porque, como no acordo de cooperação NÃO há
transferência de recursos públicos, não há necessidade de realizar o chamamento público.

O PMIS, por sua vez, visa selecionar um projeto para eventual chamamento público futuro. Ou seja:
após o procedimento de manifestação de interesse social (PMIS), o projeto poderá ser selecionado e, caso
efetivamente seja, deve o Estado realizar o chamamento público. Fala-se em “poderá”, pois a apresentação
do projeto pela entidade NÃO vincula o Estado, que está livre para realizar ou não o chamamento público.
Em outras palavras: o PMIS NÃO visa selecionar a entidade que irá firmar a parceria, mas sim avaliar
os projetos apresentados pelas entidades interessadas. Tanto é que:
(i) O PMIS é facultativo, não vincula o Estado e nem dispensa a necessidade de realizar o futuro
chamamento público. Na realidade, o PMIS precede o chamamento público. Após o PMIS, o
Estado poderá realizar ou não o chamamento público, sem direito à indenização caso não o faça.
(ii) A entidade que apresentou o projeto eventualmente selecionado no PMIS ou que dele participou
não está impedida de participar do chamamento público.

Art. 21. A realização do Procedimento de Manifestação de Interesse Social não


implicará necessariamente na execução do chamamento público, que acontecerá
de acordo com os interesses da administração.
§ 1º A realização do Procedimento de Manifestação de Interesse Social não
dispensa a convocação por meio de chamamento público para a celebração de
parceria.
§ 2º A proposição ou a participação no Procedimento de Manifestação de Interesse
Social não impede a organização da sociedade civil de participar no eventual
chamamento público subsequente.
§ 3º É vedado condicionar a realização de chamamento público ou a celebração de
parceria à prévia realização de Procedimento de Manifestação de Interesse
Social. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)

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No chamamento público da Lei 13.019/14, primeiro, o poder público seleciona a proposta mais
vantajosa da entidade privada sem fins lucrativos. Depois, o poder público avalia o que chamamos de
requisitos de habilitação, isto é, se a entidade cumpre os requisitos legais para ser beneficiada com o termo
de fomento ou termo de colaboração. Além desse julgamento antes da habilitação, a Lei 13.019/14
estabelece outros critérios submetidos à avaliação (que não são os tradicionais da Lei 8666/93 e da Lei
14133/21). Ex. grau de adequação da proposta aos objetivos específicos objeto da parceria e, quando for o
caso, ao valor de referência constante do chamamento público.
1º. Julgamento/seleção da proposta mais vantajosa através de critérios de julgamentos
próprios/específicos;
2º. Análise do preenchimento dos requisitos de habilitação.

As regras do chamamento público aparecem a partir do art. 23 da Lei 13.019/14.

Art. 23. A administração pública deverá adotar procedimentos claros, objetivos e


simplificados que orientem os interessados e facilitem o acesso direto aos seus
órgãos e instâncias decisórias, independentemente da modalidade de parceria
prevista nesta Lei.
Parágrafo único. Sempre que possível, a administração pública estabelecerá
critérios a serem seguidos, especialmente quanto às seguintes características:
I - objetos;
II - metas;
III - (revogado);
IV - custos;
V - (revogado);
VI - indicadores, quantitativos ou qualitativos, de avaliação de resultados.

Art. 24. Exceto nas hipóteses previstas nesta Lei, a celebração de termo de
colaboração ou de fomento será precedida de chamamento público voltado a
selecionar organizações da sociedade civil que tornem mais eficaz a execução do
objeto. (ATENÇÃO! Essa é a regra geral, mas a lei consagra casos de dispensa de
chamamento público e casos de inexigibilidade de chamamento público).
§1º O edital do chamamento público especificará, no mínimo:
I - a programação orçamentária que autoriza e viabiliza a celebração da parceria;
II - (revogado);
III - o objeto da parceria;
IV - as datas, os prazos, as condições, o local e a forma de apresentação das
propostas;

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V - as datas e os critérios de seleção e julgamento das propostas, inclusive no que


se refere à metodologia de pontuação e ao peso atribuído a cada um dos critérios
estabelecidos, se for o caso; (OBS: São dois critérios: adequação da proposta ao
projeto do poder público e a questão do valor da referência).
VI - o valor previsto para a realização do objeto;
VII - (revogado); (OBS. Exigia-se 03 anos de existência da entidade, mas isso foi
revogado em 2015).
VIII - as condições para interposição de recurso administrativo;
IX - a minuta do instrumento por meio do qual será celebrada a parceria;
X - de acordo com as características do objeto da parceria, medidas de
acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e idosos.

Art. 27. O grau de adequação da proposta aos objetivos específicos do programa


ou da ação em que se insere o objeto da parceria e, quando for o caso, ao valor de
referência (OBS. Evita-se falar em “preço”, pois este dá a ideia de custos mais
lucros e aqui não há lucros) constante do chamamento constitui critério
obrigatório de julgamento.
§1º As propostas serão julgadas por uma comissão de seleção previamente
designada, nos termos desta Lei, ou constituída pelo respectivo conselho gestor, se
o projeto for financiado com recursos de fundos específicos.
§2º Será impedida de participar da comissão de seleção pessoa que, nos últimos
cinco anos, tenha mantido relação jurídica com, ao menos, uma das entidades
participantes do chamamento público. (OBS. Visa garantir maior lisura no
procedimento).
§5º Será obrigatoriamente justificada a seleção de proposta que não for a mais
adequada ao valor de referência constante do chamamento público. (OBS. Quando
se optar por uma entidade privada que tenha valor “mais alto” que a outra, mas
que apresenta uma adequação melhor, isso tem que ser justificado).
§6º A homologação não gera direito para a organização da sociedade civil à
celebração da parceria.

Art. 28. Somente depois de encerrada a etapa competitiva e ordenadas as


propostas, a administração pública procederá à verificação dos documentos que
comprovem o atendimento pela organização da sociedade civil selecionada dos
requisitos previstos nos arts. 33 e 34 (OBS. Esses artigos estabelecem exigências
mínimas para que uma entidade privada possa ser beneficiada com a parceria
com a AP. Então, o julgamento antecede o que seria a “fase de habilitação” – está
entre aspas porque a lei não usa essa expressão).
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c) Exceção ao chamamento público: parcerias diretas


A Lei 13.019/14 vai trazer a regra do chamamento público, mas também traz casos de dispensa e
inexigibilidade do chamamento público. As hipóteses são mais restritas, mas elas têm inspiração em
hipóteses previstas na Lei 8.666/93 e agora na Lei 14.133/21.
• Dispensa de chamamento público (art. 30)
 Hipóteses relacionadas à necessidade proeminente/guerra/calamidade;
 Trata-se de rol TAXATIVO;
 A atuação da Administração pública é discricionária (ou seja: pode dispensar o chamamento
público ou não).
Art. 30. A administração pública poderá DISPENSAR A REALIZAÇÃO DO
CHAMAMENTO PÚBLICO:
I - no caso de urgência decorrente de paralisação ou iminência de paralisação de
atividades de relevante interesse público, pelo prazo de até cento e oitenta dias;
(OBS. Nesses 180 dias, poderá a AP fazer parcerias sem chamamento público).
II - nos casos de guerra, calamidade pública, grave perturbação da ordem pública
ou ameaça à paz social;
III - quando se tratar da realização de programa de proteção a pessoas ameaçadas
ou em situação que possa comprometer a sua segurança;
IV - (VETADO).
V - (VETADO);
VI - no caso de atividades voltadas ou vinculadas a serviços de educação, saúde e
assistência social, desde que executadas por organizações da sociedade civil
previamente credenciadas pelo órgão gestor da respectiva política.

 Para o professor Rafael Oliveira, o inciso VI seria, na realidade, uma hipótese


de inexigibilidade, pois o credenciamento sempre foi tratado como hipótese
anômala/atípica de inexigibilidade de licitação com fundamento no art. 25,
caput, da Lei 8.666/93 (atual art. 74 da Lei 14.133/21).

• Inexigibilidade de chamamento público (art. 31)


 Hipóteses de impossibilidade de competição;
 Trata-se de rol EXEMPLIFICATIVO;
 A atuação da Administração Pública é vinculada. Ainda que queira realizar o chamamento
público, não poderá fazê-lo.

Art. 31. Será considerado INEXIGÍVEL O CHAMAMENTO PÚBLICO na hipótese de


inviabilidade de competição entre as organizações da sociedade civil, em razão da
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natureza singular do objeto da parceria ou se as metas somente puderem ser


atingidas por uma entidade específica, especialmente quando:
I - o objeto da parceria constituir incumbência prevista em acordo, ato ou
compromisso internacional, no qual sejam indicadas as instituições que utilizarão
os recursos;
II - a parceria decorrer de transferência para organização da sociedade civil que
esteja autorizada em lei na qual seja identificada expressamente a entidade
beneficiária, inclusive quando se tratar da subvenção prevista no inciso I do §3º do
art. 12 da Lei no 4.320, de 17 de março de 1964, observado o disposto no art. 26 da
Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.

• Requisitos para as parcerias diretas


O art. 32 da Lei 13.019/14 estabelece algumas exigências para a formalização das parcerias diretas
(tanto para a dispensa quanto para a inexigibilidade).

Art. 32. Nas hipóteses dos arts. 30 e 31 desta Lei, a ausência de realização de
chamamento público será justificada pelo administrador público.
§1º Sob pena de nulidade do ato de formalização de parceria prevista nesta Lei, o
extrato da justificativa previsto no caput deverá ser publicado, na mesma data em
que for efetivado, no sítio oficial da administração pública na internet e,
eventualmente, a critério do administrador público, também no meio oficial de
publicidade da administração pública. (OBS. Curiosidade: há obrigatoriedade de
publicização via internet e facultatividade via diário oficial).
§2º Admite-se a impugnação à justificativa, apresentada no prazo de cinco dias a
contar de sua publicação, cujo teor deve ser analisado pelo administrador público
responsável em até cinco dias da data do respectivo protocolo. (OBS. A lei instaura
uma espécie de procedimento de impugnação ao procedimento de dispensa ou
inexigibilidade; depois desse prazo, há preclusão na via administrativa e a parceria
será formalizada diretamente com o interessado. Claro que pode haver
impugnação judicial quanto à validade da parceria seja por ação popular, ACP etc.).
§3º Havendo fundamento na impugnação [acolhida a argumentação apresentada
na impugnação), será revogado o ato que declarou a dispensa ou considerou
inexigível o chamamento público, e será imediatamente iniciado o procedimento
para a realização do chamamento público, conforme o caso.
§4º A dispensa e a inexigibilidade de chamamento público, bem como o disposto
no art. 29, não afastam a aplicação dos demais dispositivos desta Lei.

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Depois de realizado o chamamento público, o poder público vai selecionar a entidade privada
interessada que apresentou a melhor proposta e com ela vai celebrar o vínculo jurídico (a parceria). A Lei
13.019/14 traz 03 parcerias distintas: termo de colaboração, termo de fomento e acordo de colaboração. O
art. 2º da Lei 13.019/14 define cada um desses instrumentos.

d) Instrumentos públicos de parceria:


• Termo de colaboração - Instrumento de parceria para consecução de finalidades públicas propostas
pela administração. Envolve transferência de recursos.
• Termo de fomento - Instrumento de parceria para consecução de finalidades públicas propostas pela
sociedade civil. Envolve transferência de recursos.
• Acordo de cooperação – Instrumento de parceria que NÃO envolve a transferência de recursos.

VII - TERMO DE COLABORAÇÃO: instrumento por meio do qual são formalizadas as


parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade
civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco propostas
pela administração pública que envolvam a transferência de recursos
financeiros; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)

VIII - TERMO DE FOMENTO: instrumento por meio do qual são formalizadas as


parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade
civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco propostas
pelas organizações da sociedade civil, que envolvam a transferência de recursos
financeiros; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)

VIII-A - ACORDO DE COOPERAÇÃO: instrumento por meio do qual são formalizadas


as parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da
sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco
que não envolvam a transferência de recursos financeiros; (Incluído pela Lei nº
13.204, de 2015)

Veja ainda o que dispõem os artigos 16 e 17:

Art. 16. O termo de colaboração deve ser adotado pela administração pública para
consecução de planos de trabalho de sua iniciativa, para celebração de parcerias
com organizações da sociedade civil que envolvam a transferência de recursos
financeiros. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)

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Parágrafo único. Os conselhos de políticas públicas poderão apresentar propostas


à administração pública para celebração de termo de colaboração com
organizações da sociedade civil.

Art. 17. O termo de fomento deve ser adotado pela administração pública para
consecução de planos de trabalho propostos por organizações da sociedade civil
que envolvam a transferência de recursos financeiros. (Redação dada pela Lei nº
13.204, de 2015)

Por fim, segundo a lei, os instrumentos só passam a produzir efeitos jurídicos após a publicação em
meio oficial de publicidade (diário oficial).

Art. 38. O termo de fomento, o termo de colaboração e o acordo de cooperação


somente produzirão efeitos jurídicos após a publicação dos respectivos extratos no
meio oficial de publicidade da administração pública. (tem que ser publicizado no
DO).

Parceria para a consecução de


planos de trabalho de
TERMO DE COLABORAÇÃO iniciativa da AP e envolve
recursos financeiros

Parcerias para a consecução de


Três Parcerias planos de trabalho propostos por
TERMO DE FOMENTO organizações da sociedade civil
(Instrumentos Jurídicos) que envolvam a transferência de
recursos financeiros.

Não envolve a transferência


ACORDO DE COOPERAÇÃO de recursos financeiros

e) Parcerias “ficha limpa”.


Rafael Oliveira apelida as hipóteses do art. 39 de “parcerias ficha limpa” porque há várias vedações
fortemente influenciadas pela Lei da Ficha Limpa.

Art. 39. Ficará impedida de celebrar qualquer modalidade de parceria prevista


nesta Lei a organização da sociedade civil que:
I - não esteja regularmente constituída ou, se estrangeira, não esteja autorizada a
funcionar no território nacional;
II - esteja omissa no dever de prestar contas de parceria anteriormente celebrada;

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III - tenha como dirigente membro de Poder ou do Ministério Público, ou dirigente


de órgão ou entidade da administração pública da mesma esfera governamental na
qual será celebrado o termo de colaboração ou de fomento, estendendo-se a
vedação aos respectivos cônjuges ou companheiros, bem como parentes em linha
reta, colateral ou por afinidade, até o segundo grau; (OBS. Veda-se o nepotismo
disfarçado/indireto).
IV - tenha tido as contas rejeitadas pela administração pública nos últimos cinco
anos, exceto se:
a) for sanada a irregularidade que motivou a rejeição e quitados os débitos
eventualmente imputados;
b) for reconsiderada ou revista a decisão pela rejeição;
c) a apreciação das contas estiver pendente de decisão sobre recurso com efeito
suspensivo;
V - tenha sido punida com uma das seguintes sanções, pelo período que durar a
penalidade:
a) suspensão de participação em licitação e impedimento de contratar com a
administração;
b) declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a administração
pública;
c) a prevista no inciso II do art. 73 desta Lei;
d) a prevista no inciso III do art. 73 desta Lei;
VI - tenha tido contas de parceria julgadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal ou
Conselho de Contas de qualquer esfera da Federação, em decisão irrecorrível, nos
últimos 8 (oito) anos;
VII - tenha entre seus dirigentes pessoa:
a) cujas contas relativas a parcerias tenham sido julgadas irregulares ou rejeitadas
por Tribunal ou Conselho de Contas de qualquer esfera da Federação, em decisão
irrecorrível, nos últimos 8 (oito) anos;
b) julgada responsável por falta grave e inabilitada para o exercício de cargo em
comissão ou função de confiança, enquanto durar a inabilitação;
c) considerada responsável por ato de improbidade, enquanto durarem os prazos
estabelecidos nos incisos I, II e III do art. 12 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992.

f) Contratações
A doutrina majoritária sempre defendeu que a entidade privada do 3º setor não precisa fazer uma
licitação formal, bastando um processo objetivo com regras impessoais, garantindo a observância dos
princípios constitucionais.

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Portanto, as contratações de bens e serviços realizadas pelas entidades da sociedade com recursos
públicos devem observar procedimento que atenda aos princípios da Administração Pública.
A seleção da equipe de trabalho deve ser precedida de processo seletivo, com regras transparentes,
impessoais e objetivas para a seleção dos empregados. A remuneração NÃO gera vínculo com a
Administração.

g) Prestação de contas e accountability


Foi publicada a Lei nº 14.309/2022 para permitir a realização de reuniões e deliberações virtuais
pelas organizações da sociedade civil. Vejamos:

Art. 4º-A. Todas as reuniões, deliberações e votações das organizações da


sociedade civil poderão ser feitas virtualmente, e o sistema de deliberação remota
deverá garantir os direitos de voz e de voto a quem os teria em reunião ou
assembleia presencial.

h) Responsabilidade e sanções
A OSC possui responsabilidade exclusiva pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e
comerciais relativos ao funcionamento da instituição e ao adimplemento do termo de colaboração ou de
fomento, inexistindo responsabilidade solidária ou subsidiária da Administração na hipótese de
inadimplemento.
Ou seja: aqui, a lei estabelece que o Estado NÃO terá qualquer responsabilidade pela parceria, seja
solidária, seja subsidiária.

CRÍTICA DA DOUTRINA: Essa ausência de responsabilidade parece ser inconstitucional porque se o Estado
formaliza uma parceria, ele não pode abrir mão de suas obrigações. E ele tem a obrigação de fiscalizar a
parceria. Então, se o Estado é omisso, é razoável se falar em responsabilidade (seja subsidiária, como é a
regra, seja solidária, como se opera nos encargos previdenciários).

Para uma prova de concurso, deve-se observar a letra da lei: o Estado não tem qualquer
responsabilidade.

Art. 42. As parcerias serão formalizadas mediante a celebração de termo de


colaboração, de termo de fomento ou de acordo de cooperação, conforme o caso,
que terá como cláusulas essenciais:
XX - a responsabilidade exclusiva da organização da sociedade civil pelo pagamento
dos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais relacionados à
execução do objeto previsto no termo de colaboração ou de fomento, não
implicando responsabilidade solidária ou subsidiária da administração pública a
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inadimplência da organização da sociedade civil em relação ao referido pagamento,


os ônus incidentes sobre o objeto da parceria ou os danos decorrentes de restrição
à sua execução.

Em relação às sanções, a lei comina 3 espécies: advertência, suspensão temporária de


participação/impedimento e inidoneidade. ATENÇÃO! NÃO há a cominação de multa.

Art. 73. Pela execução da parceria em desacordo com o plano de trabalho e com
as normas desta Lei e da legislação específica, a administração pública poderá,
garantida a prévia defesa, aplicar à organização da sociedade civil as seguintes
sanções:
I - advertência;
II - suspensão temporária da participação em chamamento público e impedimento
de celebrar parceria ou contrato com órgãos e entidades da esfera de governo da
administração pública sancionadora, por prazo não superior a dois anos;
III - declaração de inidoneidade para participar de chamamento público ou celebrar
parceria ou contrato com órgãos e entidades de todas as esferas de governo,
enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja
promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade,
que será concedida sempre que a organização da sociedade civil ressarcir a
administração pública pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da
sanção aplicada com base no inciso II.

Perceba que a lei diferenciou o âmbito de aplicação da suspensão e da idoneidade:


• No que toca à suspensão - a lei fala em “AP sancionadora”. Ex. Estado aplicou suspensão à OSC,
logo, ela não poderia participar nesse Estado do chamamento público e parcerias. Contudo, em
outros Estados poderia participar.
• No que toca à inidoneidade – a sanção valeria em todas as esferas de governo. Uma entidade
declarada inidônea por um Estado não poderia ser participante de chamamento e parcerias não
apenas com o Estado que sancionou, mas também com nenhum outro ente federativo. Assim,
é mais grave que a suspensão.
Para prova de concurso público, vale a letra da lei!

Veja os enunciados aprovados na I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ sobre o tema:

Enunciado 5 - O conceito de dirigentes de organização da sociedade civil


estabelecido no artigo 2º, inciso IV, da Lei Federal n. 13.019/2014 contempla
profissionais com a atuação efetiva na gestão executiva da entidade, por meio do
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exercício de funções de administração, gestão, controle e representação da pessoa


jurídica, e, por isso, não se estende aos membros de órgãos colegiados não
executivos, independentemente da nomenclatura adotada pelo estatuto social.

Enunciado 9 - Em respeito ao princípio da autonomia federativa (art. 18 da CF), a


vedação ao acúmulo dos títulos de OSCIP e OS prevista no art. 2º, inc. IX, c/c art.
18, §§ 1º e 2º, da Lei n. 9.790/1999 apenas se refere à esfera federal, não
abrangendo a qualificação como OS nos Estados, no Distrito Federal e nos
Municípios.

Referências bibliográficas:

Rafael Carvalho Resende Oliveira. Curso de Direito Administrativo


Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo
Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Curso de Direito Administrativo

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META 5

DIREITO CIVIL: CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL E LINDB

TODOS OS ARTIGOS
⦁ LINDB – leitura inteira
⦁ Art. 1º ao Art. 78, CC
⦁ Art. 5º, XXX e XXXI, CF/88
⦁ Art. 5º, XXXVI, CF/88
⦁ Art. 37, §6º, CF/88
⦁ Art. 173, §1º, CF/88
⦁ Art. 133 a 137, CPC
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

LINDB:
⦁ Art. 1º, 2º e 4º
⦁ Art. 6º
⦁ Art. 7º, §§ 3º, 4º, 6º
⦁ Arts. 8º a 10º.
⦁ Art. 12
⦁ Arts. 20 a 30 (alteração legislativa recente!)

CF/88
⦁ Art. 5º, XXX, CF/88

1. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO BRASILEIRO

1.1 Conceito

O Direito Civil pode ser conceituado como o complexo de normas, princípios e regras que disciplinam
as relações privadas desde antes do nascimento até depois da morte do ser humano. Tem como objeto o
regramento da vida humana, acompanhando a existência humana em todos os seus momentos, daí ser
chamado de direito comum.
Contempla direitos patrimoniais (obrigações, responsabilidade civil, contratos, etc.) e direitos
existenciais (família, vida, estado civil, etc.). É o direito do dia-a-dia, é o direito de todas as pessoas.

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1.2 A Codificação Do Direito Civil

Como se sabe, o Brasil foi colonizado por Portugal de modo que nos primeiros séculos da nação
brasileira se experimentava neste território a aplicação do direito português. As denominadas Ordenações
do Reino (Legislações de Portugal) eram as que se aplicavam a um Brasil rural, patriarcal, escravagista,
colonizador e não-republicano.
Em 07 de setembro de 1822 veio a lume a independência do Brasil. No ano de 1867, Portugal revogou
as Ordenações Filipinas que, nada obstante, continuaram a viger no Brasil por longos anos, até o advento do
Código Civil de 1916.Trata-se de um código patrimonialista, agrário, conservador, individualista, que seguiu
a lógica do iluminismo. Criado sobre a égide de uma sociedade colonial, patriarcal, rural e escravagista,
valores como o trabalho, a igualdade e a função social da propriedade não estavam presentes no primeiro
Código Civil Brasileiro.
Este código sobreviveu por mais de 80 (oitenta) anos. Não foram poucas as leis ordinárias e os
microssistemas que surgiram após este Código Civil, que não foi capaz de se sustentar ante as mudanças
sociais que se seguiram a sua publicação, máxime, diante do Dirigismo Estatal e da 1ª Grande Guerra
Mundial.
A gota d’água foi o advento de uma nova ordem constitucional em 1988, cidadã e fundada na tutela
do ser humano digno, o que causava grave descompasso em relação a um Código Civil patrimonialista fincado
na ordem do ter.

1.3 O Código Civil De 2002

Além de ab-rogar todo o Código Civil de 1916, o Código Civil de 2002 derrogou a parte geral do Código
Comercial de 1850, redimensionando a disciplina dos atos e fatos jurídicos, ao eleger os negócios jurídicos
como instrumento de trânsito das relações civis, além de alterar a ordem da parte especial e unificar as
obrigações civis e mercantis (direito empresarial).
Adentra o novo diploma na ordem do ser da Constituição Federal de 1988, promovendo a
despatrimonialização e uma repersonificação do direito civil. O ser humano, antes esquecido em
detrimento da propriedade, passa a ocupar papel central, sendo a propriedade funcionalizada em prol do
ser humano (função social). O mesmo ocorreu com os contratos, a empresa, a família, etc. Ressocializa-se
o direito civil.
A legislação civilista passa a ter contato direto com os direitos e garantias fundamentais, sendo o
direito civil constitucionalizado (“constitucionalização do direito civil”). Os direitos e garantias fundamentais,
na feliz expressão do professor Daniel Sarmento, passam a ter eficácia radiante, aplicando-se às relações
horizontais ou privadas. Exige-se, por exemplo, o devido processo legal para a exclusão de associado dos
quadros da associação (art. 5 º, inciso LV, da CF/88 c/c art. 57 do CC), e confere-se direito a recurso à minoria
vencida, na hipótese de alteração do estatuto funcional (art. 68 do CC).

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Contemplando 2046 artigos, o Código Civil de 2002 se dividiu em duas partes. A Parte Geral regular
as pessoas, os bens e os fatos jurídicos, enquanto que a Parte Especial foi dividida em 05 (cinco) subpartes:
o direito das obrigações, o direito da empresa, o direito das coisas, o direito de família e o direito das
sucessões.

1.4 Princípios Norteadores Do Novo Código: Eticidade, Sociabilidade E Operabilidade

Também é interessante notar que o Código Civil de 2002 contempla inédita preocupação
principiológica, elegendo a eticidade, a operabilidade e a sociabilidade como os três pilares fundamentais
sobre os quais se construiu o texto legislativo do novo diploma.
O novo código passa a adotar o modelo de cláusulas gerais (abertas), abandonando a concepção
positivista pretérita, que defendia a possibilidade da normatização prever todos os problemas concretos.

Por cláusula geral se infere uma norma, obediente ao devido processo legislativo, na qual há uma
hipótese legal que confere tratamento jurídico a um domínio amplo de casos. É o antônimo das normas
casuísticas, as quais abrangem um domínio específico de casos.

a) Eticidade
Consiste em um dever jurídico de condução das relações civis de forma proba, impondo um agir
segundo os valores sociais e morais relevantes, fincados na boa-fé e na equidade.
Manifesta-se pela boa-fé objetiva, nas relações patrimoniais e pela socio afetividade, nas relações
existenciais.
A boa-fé nas relações patrimoniais pode ser inferida sobe seu prisma subjetivo e objetivo. A subjetiva
revela um estado psicológico, enquanto a objetiva uma norma de conduta esperada pela comunidade.

ATENÇÃO!!! Não se pode confundir boa-fé objetiva com boa-fé subjetiva. Deve-se decorar as principais
diferenças entre esses conceitos:

Boa-fé SUBJETIVA Boa-fé OBJETIVA


Não é um princípio, mas sim um estado É uma regra de conduta.
psicológico (um fato). Significa manter uma conduta de acordo com
padrões sociais de lisura, honestidade e
Muito utilizada no Direito Real (exs: posse, correção.
usucapião, benfeitorias, etc). Tem como objetivo não frustrar a legítima
confiança da outra parte.
Para examinar a boa-fé subjetiva, deve-se Para examinar a boa-fé objetiva, deve-se
analisar se a pessoa pensava, sinceramente, analisar se a pessoa agiu de acordo com os

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que agia ou não de acordo com o direito (é padrões de comportamento(standards)


examinado se a pessoa tinha boas ou más impostos pelo direito em determinada
intenções). localidade e em determinada situação.
Deve ser examinada internamente, ou seja, de Deve ser examinada externamente, ou seja,
acordo com o sentimento da pessoa. não importa qual era o sentimento da pessoa,
mas sim a sua conduta.

Aplicação nos ramos do direito


Normalmente, o estudo da boa-fé objetiva é feito no Direito Civil. No entanto, indaga-se:

É possível a aplicação da boa-fé objetiva nos demais ramos do Direito?


SIM. A boa-fé objetiva surgiu inicialmente no Direito Civil, mas a sua aplicação foi expandida para
todos os demais ramos do direito, inclusive para os ramos do chamado “direito público”, como é o caso do
Direito Administrativo. Assim, por exemplo, de acordo com o STJ, a teoria dos atos próprios (venire contra
factum proprium) é aplicada ao poder público.
Em suma, a boa-fé objetiva deve estar presente em toda e qualquer relação jurídica.
O atual código civil trouxe a boa-fé, em sua aplicação relacionada à esfera patrimonial, nos artigos
113 e 422, os quais dispõem respectivamente:

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos
do lugar de sua celebração.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,
como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

A boa-fé objetiva possui 03 (três) funções: função interpretativa, integrativa e restritiva ou


limitadora:

● A função interpretativa impõe ao operador do direito a leitura das relações patrimoniais calcada
na ética, observando-se as interpenetrações sistemáticas do Código Civil e demais diplomas
jurídicos, além dos fatores metajurídicos.

● O papel integrativo, com construção de deveres anexos de cooperação, traz a existência no


contrato de certas obrigações, independentemente de disposição contratual expressa, como o
dever de zelo, informação, confiança, lealdade, redução das perdas (duty of mitigate) e
assistência recíproca.

O descumprimento de um dever anexo é denominado de violação positiva do


contrato ou adimplemento fraco/imperfeito/defeituoso. Para o STJ, a violação a
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quaisquer deveres anexos implica em inadimplemento contratual de quem lhe


tenha dado causa (REsp 595631/SC).

● função restritiva ou limitadora assevera a possibilidade de revisão do contrato sobre a ótica da


boa-fé, sendo restringidas certas cláusulas.

Por outro lado, destaque-se que as relações extrapatrimoniais não são estranhas a eticidade, sendo
terreno fecundo no qual a ética é veiculada mediante a socioafetividade geradora de confiança. Tem-se como
exemplo as relações de família, que hoje devem ser construídas pela via do afeto, da desbiologização, da
igualdade, do caráter democrático e plural.

b) Sociabilidade

Sociabilidadeé outro princípio geral marcante do vigente Código Civil, consistindo na quebra do
paradigma liberal-individual e ascensão do transindividual. É a transmutação da visão individualista da
codificação de 1916, para a solidária de 2002, em combate ao exacerbado individualismo possessivo de
outrora.
Traduz a consagração e materialização na órbita civil dos princípios do solidarismo social, justiça
distributiva e diminuição das desigualdades sociais, todos de base constitucional (art. 3º, inciso I, III e IV, da
CF/88), em afronta à visão egoística pretérita.
A sociabilidade é instrumentalizadano Código Civil em três esferas principais: função social do
contrato(art. 421), função social da propriedade e função social da posse (art. 1228). Dentre elas, é a função
social da propriedade a única que, expressamente, tem sede constitucional, especificamente nos arts. 5º,
XXIII; art. 170, inciso III; e artigos 182 e 186, todos da CF/88.
A força obrigatória do contrato (pacta sunt servanda) não fica estranha a esse fenômeno de revisão,
verificando-se a necessidade de estabelecer trocas úteis e justas, com vistas à promoção da equivalência
material das prestações ou, como também é denominada, justiça contratual.

c) Operablidade

Operabilidade é o terceiro princípio informador do atual Código Civil. Consiste no fato de as normas
do vigente Código serem de mais fácil acesso, possibilitando que uma gama bem maior da sociedade as
entenda e utilize mais corriqueiramente. É a qualidade de ser operável.
Relaciona-se de forma perfeita com o princípio constitucional do acesso à justiça (art. 5º, inciso XXXV,
da CF/88). Uma vez conhecida a norma, por ser operável e inteligível à maioria da população, tem-se maior
acesso ao Poder Judiciário.

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Operabilidade é princípio que remonta a construção do princípio vetor de interpretação


constitucional da coloquialidade. Remete ao ideal do direito operável à sua maleabilidade, a qual foi deveras
aumentada em virtude da inserção de cláusulas gerais.

1.5 Do Direito Civil-Constitucional

A constitucionalização do direito civil, ou direito civil-constitucional, é um movimento doutrinário e


jurisprudencial que visa a imprimir uma reinterpretação do Código Civil, em consonância com a Constituição
Federal. Assim, relativiza-se o princípio da autonomia privada para abarcar outros princípios superiores, a
saber, dignidade da pessoa humana, eficácia horizontal dos direitos fundamentais, função social da
propriedade, entre outros.
Em síntese, deve-se entender que as normas de direito civil têm que ser lidas e aplicadas à luz dos
princípios e valores consagrados no texto constitucional. Este é um ditame do chamado Estado Democrático
de Direito que tem na Constituição sua base hermenêutica. Ou seja: o direito civil-constitucional nada mais
é do que um novo caminho metodológico que procura analisar os institutos privados a partir da Constituição,
e, eventualmente, os mecanismos constitucionais a partir do Código Civil e da legislação infraconstitucional,
em uma análise de mão dupla.
A Constituição Federal de 1988, além de ser a norma superior do ordenamento, passa a ser um vetor
interpretativo do novo Código Civil de 2002, complementando suas normas e princípios. Desse modo, o
Código Civil não poderá deixar de observar esse novo modelo jurídico, que preza pelos direitos fundamentais,
e aquelas normas que não observam tais preceitos deverão ser reinterpretadas ou simplesmente afastadas,
já que esbarram na Lei Maior. Há, portanto, uma unificação do direito civil ao direito constitucional,
formando um todo que regula as relações privadas, com fulcro na observância dos preceitos constitucionais.
Esta civilização da constituição evidencia hoje o papel central do texto constitucional no
ordenamento jurídico, passando institutos privados, a exemplo do trabalho, propriedade e contrato, a
ocuparem locus constitucional.
Assim, assume a Constituição Federal, com isto, o seu verdadeiro papel de elemento unificador,
integrador e orientador de todo o sistema civil, sendo o vértice axiológico do qual necessitava o
ordenamento para integrá-lo. Ocorre que, quando promove a Constituição de 1988, a reunificação do
sistema, pautada no ideal do ser, encontra um então Código Civil fincado na ordem do ter, instalando-se um
verdadeiro descompasso ideológico, sendo esse o fundamento da mudança da legislação civilista.
Abre-se caminho para a despatrimonialização do direito civil, sendo retirados do seu centro imediato
institutos como propriedade e o contrato, os quais cedem seus lugares ao homem, sua dignidade, bem-estar
e procura de justiça social. Ao lado dessa respersonificação, infere-se o rompimento do individual, o qual
cede espaço para o difuso e o socialmente relevante.
Desse modo, mitiga-se o paradigma liberal-individual, pois o constitucionalismo de 1988 não mais
confere espaço parao singular em detrimento do difuso. Chega-se ao solidarismo.

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Exemplo prático da referida constitucionalização do direito civil está na interpretação que o Supremo
Tribunal Federal (STF) conferiu ao art. 1723 do Código Civil de 2002. A um primeiro momento era visto como
regra proibitiva da união estável entre pessoas do mesmo sexo. A partir de uma interpretação conforme, em
consonância com os preceitos constitucionais, houve uma revalorização do dispositivo, para nele albergar as
uniões homoafetivas, com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana e da isonomia (art. 1º,
inciso III c/c art. 5º, caput, ambos da CF/88).

DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO


(HOMOAFETIVO). INTERPRETAÇAO DOS ARTS. 1.524, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565
DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. INEXISTÊNCIA DE VEDAÇAO EXPRESSA A QUE SE
HABILITEM PARA O CASAMENTO PESSOAS DO MESMO SEXO.
VEDAÇAO IMPLÍCITA CONSTITUCIONALMENTE INACEITÁVEL. ORIENTAÇAO
PRINCIPIOLÓGICA CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF N. 132/RJ E
DA ADI N. 4.277/DF.
1. Embora criado pela Constituição Federal como guardião do direito
infraconstitucional, no estado atual em que se encontra a evolução do direito
privado, vigorante a fase histórica da constitucionalização do direito civil , não é
possível ao STJ analisar as celeumas que lhe aportam "de costas" para
a Constituição Federal, sob pena de ser entregue ao jurisdicionado um direito
desatualizado e sem lastro na Lei Maior. Vale dizer, o Superior Tribunal de Justiça,
cumprindo sua missão deuniformizar o direito infraconstitucional, não pode
conferir à lei uma interpretação que não seja constitucionalmente aceita.2. O
Supremo Tribunal Federal, no julgamento conjunto da ADPF n. 132/RJ e da ADI n.
4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002 interpretação conforme
à Constituição para dele excluir todo significado que impeça o reconhecimento da
união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade
familiar , entendida esta como sinônimo perfeito de família . (...)8. Os
arts. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565, todos do Código Civil de 2002, não vedam
expressamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não há como se
enxergar uma vedação implícita ao casamento homoafetivo sem afronta a
caros princípios constitucionais, como o da igualdade, o da não discriminação, o da
dignidade da pessoa humana e os do pluralismo e livre planejamento familiar.9.
Não obstante a omissão legislativa sobre o tema, a maioria, mediante seus
representantes eleitos, não poderia mesmo "democraticamente" decretar a perda
de direitos civis da minoria pela qual eventualmente nutre alguma aversão. Nesse
cenário, em regra é o Poder Judiciário - e não o Legislativo - que exerce um papel
contramajoritário e protetivo de especialíssima importância, exatamente por não
ser compromissado com as maiorias votantes, mas apenas com a lei e com
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a Constituição, sempre em vista a proteção dos direitos humanos fundamentais,


sejam eles das minorias, sejam das maiorias. (REsp 1183378 RS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, j. 25/10/2011, DJe 01/02/2012)

1.6 Da Eficácia Horizontal Dos Direitos Fundamentais

Incialmente, é possível afirmar que os direitos fundamentais estão para a Constituição Federal, assim
como os direitos de personalidade estão para o Código Civil brasileiro. São dois lados de uma mesma moeda
denominada dignidade da pessoa humana.
É consabido que os direitos fundamentais surgiram numa ideia de limitação do poder absoluto do
Estado e proteção do indivíduo, conferindo-se direitos básicos e garantias a qualquer pessoa. Nesta relação
Estado-indivíduo, diz-se que há uma eficácia vertical dos direitos fundamentais, pois nesta relação há um
poder “superior” (o Estado) e um infinitamente “inferior” (o indivíduo), certo que não estão em posições
iguais, sendo evidente a proeminência de força do Estado.
Após a evolução da teoria dos direitos fundamentais, passou-se a reconhecer que os direitos
fundamentais não incidem apenas em relações desiguais, porém também em relações particulares em que
há uma igualdade de armas. Aqui, surge a eficácia horizontal dos direitos fundamentais que é justamente
incidência e observância de todos os direitos fundamentais nas relações privadas (particular-particular).
A teoria irradiante, ou da eficácia horizontal, disciplina que a direta aplicação dos direitos
fundamentais às relações do direito civil, visando dar máximo efeito dos valores constitucionais a toda
legislação brasileira, em prol da dignidade da pessoa humana. Nas palavras do Professor Ingo Wolfgang
Sarlet:

(...) a constatação de que os direitos fundamentais, na qualidade de princípios


constitucionais, e por força do princípio da unidade do ordenamento jurídico, se
aplicam relativamente a toda ordem jurídica, inclusive privada; bem como a
necessidade de se protegerem os particulares também contra atos atentatórios
aos direitos fundamentais provindos de outros indivíduos ou entidades
particulares (A eficácia dos direitos fundamentais, Livraria do Advogado, 2003, p.
356).

À guisa de exemplo, cite-se o emblemático caso decidido pelo STF no RE 201819/RJ, publicado em
11/10/2005, que determinou a reintegração de associado excluído do quadro daquela pessoa jurídica, em
direito à defesa e contraditório como comprovação forense da eficácia horizontal destes direitos
fundamentais. Em outras oportunidades o Supremo Tribunal Federal prestigiou os direitos da personalidade
e a teoria irradiante, como se infere nos RE’s de números 160222-8, 158215-4 e 161243-6.

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1.8 A Eficácia Diagonal Dos Direitos Fundamentais

É cediço que as relações entre particulares nem sempre se apresentam de forma equilibrada. Por
isso, é relativamente comum nos depararmos com situações em que as pessoas estão em uma posição de
desigualdade, com prevalência de uma sobre a outra. Os principais exemplos desses tipos de situação de
desigualdade entre particulares são as relações trabalhistas e consumeristas. Tanto no direito do trabalho
quanto no direito do consumidor o poderio econômico-financeiro das empresas/patrão pode resultar em
graves violações aos direitos fundamentais de consumidores e trabalhadores, partes hipossuficientes nas
respectivas relações jurídicas.
Foi a partir dessa realidade que nasceu a teoria da eficácia diagonal dos direitos fundamentais. Para
a referida teoria, os direitos fundamentais devem ser aplicados/respeitado em relações
privadas caracterizadas por uma notória desigualdade de poder, em razão da hipossuficiência de uma das
partes da relação.
Essa teoria recebe a denominação de eficácia diagonal por que, em tese, as partes estão em
situações equivalentes, não havendo uma preponderância de uma sobre a outra. Ocorre que, na prática,
aquele que possui o poder econômico consegue se sobrepor perante a outra parte, razão pela qual se
defende o devido respeito e a consequente aplicabilidade dos direitos fundamentais nas relações entre
particulares.
Desse modo, é possível concluir que aeficácia diagonal dos direitos fundamentais nada mais é que
a efetiva aplicação dos direitos fundamentais em relações privadas marcadas pela desigualdade entre os
particulares, em especial quando puder se verificar uma relação de intimidade entre o poderio econômico-
financeiro e a vulnerabilidade da parte hipossuficiente.

2. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

ATENÇÃO!! A LINDB disciplina o âmbito de aplicação das normas jurídicas, e possui


natureza de norma de sobredireito ou de apoio, consistente no conjunto de regras cujo
objetivo é disciplinar as próprias normas jurídicas, isto é, disciplina a emissão e aplicação de
outras normas jurídicas. (=postulados normativos).

2.1 Vigência, aplicação, obrigatoriedade, interpretação e integração das leis

a) VIGÊNCIA:

É critério puramente temporal da norma. Trata-se do lapso temporal em que a norma tem força
obrigatória. O início da vigência marca o começo de sua exigibilidade.

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ATENÇÃO - VACATIO LEGIS: É o período entre a publicação e o início de vigência da norma. Pode ser
definido como o tempo necessário para que o texto normativo se torne efetivamente conhecido, e variará
de acordo com a repercussão social da matéria.

Decreto-Lei nº 4.657/42 (LINDB): Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a


vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida,
se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

Como o tema foi cobrado (CESPE/2018/PC-SE/Delegado de Polícia):

Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi publicada
oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo de sua vigência. Sessenta
dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação em que as partes discutem um contrato
firmado anos antes sobre o assunto objeto das referidas normas.

Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro:

No momento do ajuizamento da ação, a nova lei já estava em vigor.

Resposta: Correto

Como o tema foi cobrado (CESPE/2018/PC-SE/Delegado de Polícia):

Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi
publicada oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo
de sua vigência. Sessenta dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação em que as
partes discutem um contrato firmado anos antes sobre o assunto objeto das referidas normas.

Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro:

No momento do ajuizamento da ação, a nova lei já estava em vigor.

Resposta: Correto

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b) Obrigatoriedade:

Uma vez publicada a lei, presume-se o conhecimento geral, razão pela qual ninguém pode
descumpri-la alegando que não a conhece:

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

c) Interpretação:

“Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica” (Maria Helena


Diniz).

I. Classificação quanto ao agente:


● Autêntica ou pública: Apresentada pela via legislativa;
● Judicial: Realizada pelos juízes e tribunais na atividade judicante, ao aplicar a lei na solução dos casos
em julgamento.
● Doutrinária: Proveniente das obras de juristas, a partir de trabalhos teóricos ou pareceres.
● Administrativa, manifestada pelos órgãos da administração pública, ao editar atos normativos ou
julgar processo administrativo.

II. Classificação quanto à natureza:


● Literal ou gramatical: É a extração do sentido da norma através das regras linguísticas;
● Lógica ou racional: É a compreensão da norma por meio de raciocínios lógicos, analisando as leis e
comparando-as com outros trechos, de forma a alcançar a perfeita compatibilidade;
● Sistemática: Proveniente da consideração do sistema em que se encontra a norma, relacionando-a
com outras concernentes ao mesmo objeto;
● Histórica: Decorrente da análise do processo histórico em que surgiu a lei;
● Teleológica objetiva ou sociológica: É a compreensão da norma com o intuito de adaptar a sua
finalidade às novas exigências sociais. Possui substrato legal, o art. 5º da LINDB.

III. Classificação quanto à extensão:


● Extensiva ou ampliativa: Forma de interpretação que amplia o sentido da norma além do que
indicam os seus termos;
● Restritiva: Redução da amplitude do preceito, com o objetivo de dar àquela norma aplicação
razoável e justa;
● Declarativa: Extração do sentido da lei sem a necessidade de expansão ou retração do alcance do
enunciado normativo.

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d) Integração:

Utilização de mecanismos para suprir as lacunas da lei, quando inexiste norma aplicável diretamente
ao caso concreto. De acordo com o art. 4º da LINDB, são formas de integração da lei:

● Analogia;
● Costumes;
● Princípios gerais do direito.

Artigo 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.

* Importante ressaltar que a EQUIDADE não consta do rol do art. 4º da LINDB, mas alguns doutrinadores,
como Maria Helena Diniz, a incluem dentre as formas de integração da lei. No Direito Tributário, a equidade
é expressamente prevista como forma de integração da lei (art. 108, inciso IV, do CTN).

ATENÇÃO: A interpretação pode ocorrer sempre, mesmo que a lei seja clara. Em contrapartida, a integração
depende da existência de LACUNAS que, por sua vez, podem ser:
● AUTÊNTICAS (PRÓPRIAS) – ocorrem quando o legislador não identificou uma hipótese.
● NÃO-AUTÊNTICAS (IMPRÓPRIAS) – o legislador previu, mas preferiu não tratar sobre o assunto.

OBS.: Silêncio Eloquente = Opção do legislador em excluir, intencionalmente, certo fato do comando legal
(DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008). É o contrário de lacuna da lei,
pois nessas hipóteses não se pode fazer analogia (RE 130522, DJ 28.6.1991, pág. 529)

I. Analogia: É a utilização de uma norma próxima ou semelhante para regular uma situação que não foi
regulamentada pelo direito. Pode ser dividida em:
● Analogia legal – a relação da semelhança toma por base outra lei;
● Analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em outro caso concreto.

ATENÇÃO: ANALOGIA X INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA - Na analogia rompe-se com os limites do que está
previsto na norma, havendo integração da norma jurídica. Na interpretação extensiva apenas amplia-se o
seu sentido.

II. Costumes: São as práticas e usos reiterados, de conteúdo lícito e com relevância jurídica. Podem ser:
● Costume segundo a lei (secundum legem): Incide quando há referência expressa ao costume no texto
legal.
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● Costume na falta da lei (praeter legem): É aplicado quando a lei for omissa, sendo denominado de
costume integrativo.
● Costume contra a lei (contra legem): É a aplicação do costume contrária a lei. Nesse caso, há abuso
de direito.

III. Princípios gerais do Direito: São as ideias centrais do sistema, estabelecendo suas diretrizes e dando um
conteúdo harmonioso, lógico e racional.

CAIU EM CONCURSO! IBFC – PCBA/2022 – Delegado de Polícia: No que se refere ao disposto na Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro, assinale a alternativa correta.
a) Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país três meses depois de oficialmente publicada.
b) Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 120 dias depois de
oficialmente publicada.
c) As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
d) Mesmo se for destinada à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
e) A lei revogada, via de regra, restaura-se por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Resposta: A alternativa ‘C’ está correta.

2.2 Antinomias

São o choque de duas normas jurídicas emanadas de autoridade competente. Para a solução
desses conflitos, utilizam-se três critérios:
● Cronológico: norma posterior prevalece sobre norma anterior;
● Especialidade: norma especial prevalece sobre norma geral;
● Hierárquico: norma superior prevalece sobre norma inferior.

Atenção: Quanto aos critérios de colisão, as antinomias podem ser classificas em:
● De primeiro grau: o choque envolve apenas um dos critérios de solução de conflito;
● De segundo grau: o choque envolve dois critérios de solução de conflito.

Já quanto à possibilidade ou não de solução do conflito, classificam-se em:


● Aparente: quando, de acordo com os três critérios de solução, há possibilidade de resolução do
conflito;
● Real: não se consegue resolver o conflito.

ATENÇÃO:

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● Se houver conflitos de segundo grau,envolvendo os critérios cronológico e da especialidade:


prevalecerá o da especialidade – Conflito aparente;
● Se houver conflitos entre os critérios cronológico e hierárquico: prevalecerá o hierárquico – Conflito
aparente;
● Se houver conflito de segundo grau, envolvendo os critérios da especialidade e hierárquico: haverá
conflito real, pois, a doutrina aponta o critério hierárquico como mais forte e, ao seu turno, o critério
da especialidade está na CF/88 (princípio da isonomia). Para os casos de conflito real Maria Helena
aponta duas soluções:

∘ Legislativa: A edição de uma terceira norma para estabelecer qual prevalecerá;

∘ Judicial: O aplicador do direito escolherá uma das duas normas, tendo como base os arts. 4º
e 5º da LINDB – analogia, princípios gerais do direito e função social da norma.

2.3 Aplicação temporal das normas

A irretroatividade é a regra prevista na LINDB. Adota-se a ideia do tempus regit actum, ou seja, a lei
nova não atinge os fatos anteriores ao início de sua vigência. A lei nova não poderá prejudicar direito
adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.Em consequência, os fatos anteriores à vigência da lei nova
regulam-se não por ela, mas pela lei do tempo em que foram praticados.

Porém, podem existir hipóteses que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei nova,
para alcançar fatos pretéritos ou os seus efeitos.Assim, a doutrina faz uma distinção entre retroatividade
máxima, média e mínima:
● Retroatividade máxima ou restitutória: a lei alcança a coisa julgada (sentença irrecorrível) ou os
fatos jurídicos consumados;

● Retroatividade média: a lei nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos verificados antes dela. A
lei nova atinge os direitos exigíveis, mas não realizados antes de sua vigência;

● Retroatividade mínima, temperada ou mitigada: a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos
anteriores verificados após a data em que ela entra em vigor. Logo, alcança apenas as prestações
futuras de negócios firmados antes do advento de nova lei.

Como o tema foi cobrado (CESPE/2018/PC-SE/Delegado de Polícia):

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Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi publicada
oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo de sua vigência.
Sessenta dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação em que as partes
discutem um contrato firmado anos antes sobre o assunto objeto das referidas normas.

Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Apesar de a nova lei ter revogado integralmente a anterior, ela não se aplica ao contrato objeto
da ação.

Resposta: Correto
Fundamentação: Conforme prevê o art. 6º da LINDB, a Lei em vigor terá efeito imediato e geral,
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Como o tema foi cobrado (CESPE/2018/PC-SE/Delegado de Polícia):


Uma nova lei, que disciplinou integralmente matéria antes regulada por outra norma, foi publicada
oficialmente sem estabelecer data para a sua entrada em vigor e sem prever prazo de sua vigência. Sessenta
dias após a publicação oficial dessa nova lei, foi ajuizada uma ação em que as partes discutem um contrato
firmado anos antes sobre o assunto objeto das referidas normas.

Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o seguinte item, com base na Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro.

Apesar de a nova lei ter revogado integralmente a anterior, ela não se aplica ao contrato objeto da ação.

Resposta: Correto
Fundamentação: Conforme prevê o art. 6º da LINDB, a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados
o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

1.4. Aplicação espacial das normas (artigos 7 ao 19 - LINDB)

A LINDB determina as regras de aplicação espacial das normas, dentre elas destacam-se:

● Começo e fim da personalidade – aplicam-se as normas do país em que for domiciliada a pessoa,
inclusive quanto ao nome, à capacidade e aos direitos de família.

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● Casamento – se realizado no Brasil o casamento, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. Tendo os nubentes domicílio diverso,
regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. Além disso, a LINBD
estabelece que o regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, o do primeiro domicílio conjugal. Quanto ao divórcio
realizado no estrangeiro em que um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, haverá reconhecimento
no Brasil depois de 1 ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial
por igual prazo, caso em que produzirá efeito imediato.

● Obrigações: a LINDB consagra a regra de aplicação das leis do local em que foram constituídas.

● Sucessão por morte ou por ausência: obedece às normas do país do último domicílio do de cujus.

● Vocação hereditária: serão aplicadas as regras nacionais no caso de vocação hereditária para
suceder bens de estrangeiro situados no Brasil, salvo se mais favoráveis ao cônjuge e aos filhos as
normas do último domicílio.

● Sociedades e fundações: deve ser aplicada a norma do local de sua constituição.

1.5. Revogação das leis

É a perda de vigência de uma lei em razão do surgimento de outra lei no ordenamento, incompatível
com a primeira. A revogação pode ser:
● Total (ab-rogação);
● Parcial (derrogação);
● Expressa: Expressamente exclui lei anterior do ordenamento jurídico;
● Tácita: A nova lei é absolutamente incompatível com a anterior;
● Global: A nova lei disciplina totalmente a matéria disciplinada pela lei anterior;

O QUE É REPRISTINAÇÃO? É POSSÍVEL SUA OCORRÊNCIA?


Repristinação é a restauração da vigência de uma lei anteriormente revogada em virtude da revogação da
lei revogadora. Segundo o art. 2º, §3º, da LINDB, salvo disposição em contrário, a lei revogada NÃO se
restaura por ter a lei revogadora perdido sua vigência.

2.4 Aplicação do direito público

A Lei nº 13.655/2018 incluiu diversos artigos na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
que cuidam de regras sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público. São
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normas aplicadas nas esferas administrativa (como nos processos administrativos), controladora (como o
Tribunal de Contas) e judicial (como nos processos que tramitam perante o Poder Judiciário).
Nesses âmbitos, o art. 20 da LINDB prevê que não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos
sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão, sendo que a motivação demonstrará a
necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação do ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
O que são “valores jurídicos abstratos”. São inúmeros exemplos: “dignidade da pessoa humana” (art.
1º, III), “valores sociais do trabalho e da livre iniciativa” (art. 1º, IV), “moralidade” (art. 37, caput), “bem-estar
e a justiça sociais” (art. 193), “meio ambiente ecologicamente equilibrado” (art. 225), todos da CRFB. Esses
valores jurídicos abstratos são normalmente classificados como princípios (normas que possuem um grau de
abstração maior que as regras).
Desse modo, a decisão administrativa, judicial ou do órgão controlador pode ser fundamentada em
valores jurídicos abstratos, como os princípios constitucionais da isonomia e da dignidade da pessoa humana,
porém o julgador deve esclarecer suas considerações quanto às consequências práticas da decisão, como,
por exemplo, as repercussões econômicas da medida.
Constata-se, ainda, que a norma legal trata expressamente dos corolários do princípio da
proporcionalidade, quais sejam a necessidade e adequação. Assim, a medida deve ser necessária, não
excedendo os limites indispensáveis à conservação do direito, e adequada, mostrando-se efetivamente apta
a alcançar os objetivos pretendidos.
Destaca-se que o princípio da proporcionalidade se divide em três subprincípios:
a) subprincípio da ADEQUAÇÃO: no qual deve ser analisado se a medida adotada é idônea (capaz)
para atingir o objetivo almejado;
b) subprincípio da NECESSIDADE: consiste na análise se a medida empregada é ou não excessiva; e
c) subprincípio da PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: representa a análise do custo-
benefício da providência pretendida, para se determinar se o que se ganha é mais valioso do que aquilo que
se perde.

O art. 21 dispõe que:

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa
deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for
o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional
e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos
atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam
anormais ou excessivos.

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Busca-se, assim, uma reflexão aprofundada do julgador sobre as consequências jurídicas e


administrativas de sua decisão, que - ao invalidar ato, contratos, ajuste, processo ou norma administrativa –
atingirá, direta ou indiretamente, a coletividade. Nesse sentido, sendo possível a regularização, a decisão
deverá indicar os meios para tanto, de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais.
No tocante à interpretação das normas sobre gestão pública, o art. 22 estabelece que serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo,
sem prejuízo dos administrados. Dessa maneira, as normas de gestão pública devem ser interpretadas
considerando as peculiaridades de cada ente público, especialmente, por exemplo, dos Municípios – na
maioria das vezes menores e localizados no interior do Estado – onde a estrutura administrativa e técnica é
precária.
Além disso, os parágrafos do art. 22 dispõem que, em decisão sobre regularidade de conduta ou
validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias
práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente. Na aplicação de sanções, serão
consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para a
administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente, sendo que
as sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma natureza
e relativas ao mesmo fato.

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os


obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a
seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados. (Regulamento)
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias
práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do
agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da
infração cometida, os danos que dela provierem para a administração pública, as
circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do
agente. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das
demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018)

CESPE/2020 - Em procedimento de aferição de irregularidades em gestão de contratos administrativos,


devem ser avaliadas as dificuldades reais do gestor, consideradas as circunstâncias práticas a ele impostas.
Item correto.

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O art. 23 prevê uma espécie de modulação de efeitos ao prescrever que a decisão administrativa,
controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo
indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime de transição
quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo
proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.
O CPC/2015 possui um dispositivo tratando sobre a possibilidade de modulação dos efeitos de
decisão judicial. Ressalte-se, contudo, que a redação do CPC é bem superior à do art. 23 da LINDB, sendo
mais clara e objetiva.
Art. 927 (...)
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos
repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no
da segurança jurídica.

Dispõe o art. 24 que:

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à


validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção
já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo
vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem
inválidas situações plenamente constituídas.
Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e
especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência
judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

Cuida-se de previsão que busca garantir a segurança jurídica às situações constituídas à luz de um
entendimento geral válido.

O art. 26 estabelece que para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá,
após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de
relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual
só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.

Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na


aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade
administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após
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realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral,


celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual
só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial. (Incluído pela Lei
nº 13.655, de 2018) (Regulamento)

§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo:


I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os
interesses gerais;
II – (VETADO);
III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento
de direito reconhecidos por orientação geral;
IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu
cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento.

Esse compromisso tem por escopo buscar solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e
compatível com os interesses gerais, não podendo conferir desoneração permanente de dever ou
condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral e deverá prever com clareza as obrigações
das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento.

Consoante o art. 27:

Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,


poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou
injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos.
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes
sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso
processual entre os envolvidos.

Com relação à responsabilidade civil do agente público, o art. 28 prevê que o mesmo responderá
pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. Ressalta-se,
contudo, que essa previsão se afasta da regulamentação constitucional que estabelece a responsabilidade
do agente público, somente de forma regressiva, quando tiver agido com dolo ou culpa. Ademais, o Código
de Processo Civil (arts. 143, 181, 184 e 187) possui dispositivos específicos que tratam da responsabilidade
dos magistrados e dos membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública, o que
afastaria a aplicação do art. 28 da LINDB.

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Caiu na prova Delegado – PCGO (2022) No que diz respeito à Lei de Introdução às normas do Direito
Brasileiro, informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma a seguir e assinale a alternativa com a
sequência correta:

(V) Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de


caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.
(F) A decisão do processo, nas esferas administrativa ou controladora, não poderá impor compensação por
benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos
envolvidos.
(V) As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas,
inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas, que terão caráter
vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.
(V) O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou
erro grosseiro.

Questão bastante educativa para sedimentar conhecimento! Pra cima!

Conforme no site dizerodireito: Segundo a doutrina e o voto do Min. Joaquim Barbosa no MS


24.631/DF (DJ 01/02/2008), existem três espécies de parecer:

FACULTATIVO OBRIGATÓRIO VINCULANTE


O administrador NÃO É O administrador é obrigado a O administrador é obrigado a
obrigado a solicitar o parecer solicitar o parecer do órgão solicitar o parecer do órgão
do órgão jurídico. jurídico. jurídico.
O administrador pode O administrador pode O administrador NÃO pode
discordar da conclusão discordar da conclusão discordar da conclusão
exposta pelo parecer, desde exposta pelo parecer, desde exposta pelo parecer.
que o faça que o faça Ou o administrador decide
fundamentadamente. fundamentadamente com nos termos da conclusão do
base em um novo parecer. parecer, ou, então, não
decide.
Em regra, o parecerista não Em regra, o parecerista não Há uma partilha do poder de
tem responsabilidade pelo tem responsabilidade pelo decisão entre o administrador
ato administrativo. ato administrativo. e o parecerista, já que a
decisão do administrador

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Contudo, o parecerista pode Contudo, o parecerista pode deve ser de acordo com o
ser responsabilizado se ficar ser responsabilizado se ficar parecer.
configurada a existência de configurada a existência de
culpa ou erro grosseiro. culpa ou erro grosseiro. Logo, o parecerista responde
solidariamente com o
administrador pela prática do
ato, não sendo necessário
demonstrar culpa ou erro
grosseiro.

Ressalta-se, ainda, a MP 966/2020 que dispunha sobre a responsabilização de agentes públicos por
atos relacionados com a pandemia da covid-19. O caput do art. 1º da MP previa o seguinte (quadro retirado
do site dizerodireito):

REGIME DE RESPONSABILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS NAS ESFERAS CIVIL E


ADMINISTRATIVA POR MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DA COVID-19
Os agentes I - enfrentamento da emergência de Se tiverem
públicos somente saúde pública decorrente da covid-19. Ex: agido ou se omitido
poderão ser dispensa de licitação para compra de com:
responsabilizados respiradores. • DOLO ou
pela prática de atos II - combate aos efeitos econômicos e •ERRO
relacionados com as sociais decorrentes da covid-19. Ex: concessão GROSSEIRO.
medidas de: de anistia ou remissão para empresários.

Cabe esclarecer que a doutrina divide a culpa em três subespécies: culpa grave, leve e levíssima. O
erro grosseiro é sinônimo de culpa grave. Assim, é como se o art. 1º da MP dissesse: o agente público
somente responderia em caso de dolo ou culpa grave.
A MP 966/2020 teve seu prazo de vigência encerrado no dia 10/09/2020.
O art. 1ºda MP 966/2020 se aproximava daquilo que prevê o art. 28 da LINDB:

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655/2018)

CESPE/2020 - O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de
dolo ou erro grosseiro. Item correto.

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O art. 29 estabelece que em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade
administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para
manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão. A
convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta pública,
observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver. Ressalva-se, apenas, que apenas esse
dispositivo (art. 29) entrará em vigor após decorridos 180 dias de sua publicação oficial, que ocorreu em
25/04/2018.
Por fim, o art. 30 dispõe que as autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica
na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a
consultas, sendo que esses instrumentos terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se
destinam, até ulterior revisão.

CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RJ - Delegado de Polícia: No que diz respeito à Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), com as alterações da Lei n.º 13.655/2018, julgue os
itens a seguir.

I - A previsão do princípio do devido processo legal decisório não só almeja a segurança jurídica, mas
também abarca nuances de certeza jurídica, que expressa o estado de conhecimento da ordem jurídica
pelas pessoas. Item certo.
II - Os instrumentos do compromisso e da compensação instauraram nos processos administrativos e
judiciais a transação de direito público, sendo que enquanto o compromisso pode se dar em processo
administrativo ou judicial, a compensação só é admitida em processo judicial. Item certo.
III - A segurança jurídica possui um duplo aspecto: o objetivo e o subjetivo. O primeiro é concernente às
qualidades necessárias à ordem jurídica e já definidas, enquanto o subjetivo se traduz na ausência de
dúvida quanto à proteção jurídica. Item certo.
IV - O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas, em caso de dolo
ou erro grosseiro, o que não se confunde pelo denominado crime de hermenêutica. Item certo.

Referências Bibliográficas:
Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil.
Nelson Rosenvald. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB.

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DIREITO CIVIL: DAS PESSOAS

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CÓDIGO CIVIL:
⦁ Arts. 1º a 4º
⦁ Art. 7, 11, 13 e 16
⦁ Arts. 22, 23 e 25
⦁ Arts. 26 a 28
⦁ Arts. 37 a 39
⦁ Art. 43 a 45
⦁ Arts. 50 a 52
⦁ Arts. 53 e 57
⦁ Arts. 62, 64, 66 e 69
⦁ Arts. 70 a 76.

CF/88
⦁ Art. 5º, XXX, CF/88

1. PESSOAS NATURAIS

Pessoa é o ser humano ou entidade dotado de personalidade, isto é, que tem aptidão para a
titularidade de direitos e deveres na ordem jurídica. Nesse sentido, em relação à pessoa natural, é necessário
distinguir:

● CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO: capacidade genérica, adquirida juntamente com a


personalidade, e que consiste na aptidão do indivíduo para ser sujeito de direitos e deveres na
ordem privada. Todas as pessoas têm esta capacidade, sem distinção.
● CAPACIDADE DE FATO OU DE EXERCÍCIO: aptidão para pessoalmente praticar atos da vida civil.
Está ligada à teoria das incapacidades.
● CAPACIDADE CIVIL PLENA: é a reunião das capacidades de direito e de fato em relação a uma
pessoa.

Capacidade de direito + Capacidade de fato = Capacidade civil plena

A capacidade NÃO se confunde com personalidade:

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Enquanto a personalidade tende ao exercício de relações existenciais, a capacidade


diz respeito ao exercício de relações patrimoniais. Exemplificando, ter
personalidade é titularizar os direitos da personalidade, enquanto ter capacidade é
poder concretizar relações obrigacionais, como o crédito e o débito. (Nelson
Rosenvald).

Personalidade

Está atrelada à tutela e à promoção da dignidade da pessoa humana, pela qual se deve reconhecer
ao ser humano um conjunto mínimo de atributos, direitos e garantias, sem o qual não será possível a vida
com dignidade. A AQUISIÇÃO DE PERSONALIDADE, a despeito das divergências doutrinárias sobre o tema,
que serão abordadas mais a frente, nos termos do art. 2º do CC, ocorre com o nascimento com vida, quando
há a separação do ventre materno e o ar entra nos pulmões. A EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE ocorre com a
morte, conforme art. 6º do CC.

1.1 Incapacidade

A teoria das incapacidades está diretamente ligada à ausência da capacidade de fato (e não da
capacidade de direito). A incapacidade civil pode ser desdobrada em: absoluta e relativa.

Neste tema, de grande importância é o Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei nº 13.146/2015, o
qual promoveu verdadeira remodulação da teoria das incapacidades, ao alterar os arts. 3º e 4º do CC, de
forma a concretizar um sistema normativo inclusivo, em observância à dignidade da pessoa humana. A
pessoa com deficiência é dotada de capacidade legal plena, ainda que haja a necessidade de adoção de
institutos assistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e, excepcionalmente, a curatela
limitada.

Com esse novo panorama, temos, atualmente, as seguintes hipóteses:

● Absolutamente incapazes: apenas os menores de 16 (dezesseis anos). Foram retiradas as


previsões: daqueles que, por causa transitória, não pudessem exprimir a sua vontade, e os que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tivessem o necessário discernimento para a prática
dos atos da vida civil.

● Relativamente incapazes:
∘ Maiores de 16 e menores de 18 anos - previsão originária;
∘ Ébrios habituais e viciados em tóxicos - previsão originária;
∘ Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade;
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∘ Os pródigos – previsão originária.

* Os atos praticados pelos absolutamente incapazes são NULOS (art. 166, I, do CC), não podendo ser
ratificados, pois tal vício não convalesce (art. 169), podendo o juiz assim declará-los de ofício. Protege-se,
entretanto, a boa-fé de terceiros. Os atos civis de seu interesse deverão ser exercidos por seus
representantes – pais, tutores ou curadores.

* Absolutamente incapazes devem ser REPRESENTADOS por quem de direito.

* Mesmo em se cuidando de pessoas absolutamente incapazes, a ordem jurídica reconhece a possibilidade


de que sua vontade seja considerada, nos casos em que envolvidas escolhas existenciais, ex. consentimento
obrigatório do maior de 12 anos no procedimento de adoção (art. 28, §2º, do ECA)

* A vontade dos relativamente capazes tem relevância jurídica, o que possibilita sua atuação direta nos atos
civis, desde que acompanhados de ASSISTENTE, com algumas exceções (ser mandatário, testemunha). É
causa de anulabilidade dos atos jurídicos (art. 171, I, do CC).

CAIU EM CONCURSO! FUMARC – PCMG/2021 – Delegado de Polícia

A., inscrito no CPF sob nº 00.000.000-00, sócio gerente de AB Ltda., alienou para CD S/A um imóvel da
sociedade empresária sem anuências dos demais sócios L. e J. Estes dois sócios entendem que a alienação é
inválida, porque A., na data em que foi feita a alienação, era portador de gravíssima doença mental. Quanto
à invalidade e tendo em conta o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a alienação é: apenas anulável, porque
não existe mais nulidade por incapacidade civil absoluta do agente em decorrência de doença mental.

CESPE - 2016 - PC-PE - Delegado de Polícia: Os pródigos, outrora considerados relativamente


incapazes, não possuem restrições à capacidade civil, de acordo com a atual redação do
código em questão. Item errado.

Os pródigos, de acordo com a atual redação do Código Civil, são considerados relativamente incapazes,
possuindo restrições à capacidade civil.

CESPE - 2016 - PC-PE - Delegado de Polícia: Indivíduo que, por deficiência mental, tenha o discernimento
reduzido é considerado relativamente incapaz. Item errado.

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Conforme a Lei 13.146/2015 (EPD), a deficiência não afeta a plena capacidade de exercer os atos da vida
civil. Ou seja, pessoas com deficiência poderão exercer plenamente os atos da vida civil.

CESPE - 2016 - PC-PE - Delegado de Polícia: O indivíduo que não consegue exprimir sua vontade é
considerado absolutamente incapaz. Item errado.

Aqueles que, permanente ou transitoriamente, não puderem exprimir a sua vontade são RELATIVAMENTE
incapazes.

CESPE / CEBRASPE - 2013 - Polícia Federal - Delegado: Se o beneficiário de ato jurídico


praticado por incapaz provar ter agido de boa-fé, o ato será anulado somente em caso de o
incapaz ser interditado por ocasião de sua prática. Item errado.

Justificativa do CESPE: "O STJ já tem posicionamento firme no sentido de que a anulação do ato não
depende de interdição anterior a sua prática. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FUNDAMENTAÇÃO. PROVA.
INTERDIÇÃO. Somente a ausência de fundamentação, não ocorrente na espécie, é queenseja a decretação
de nulidade da sentença com base no art. 458, II, não a fundamentação sucinta. Sendo o processo anulado
por motivo não referente à prova, esta pode ser utilizada, no mesmo feito, desde que ratificada, em
respeito ao princípio da economia processual. Os atos praticados pelo interditado anteriores à
interdição podem ser anulados, desde que provada a existência de anomalia psíquica - causa da
incapacidade - já no momento em que se praticou o ato que se quer anular. Recurso não conhecido.(REsp
255271/GO, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 28/11/2000, DJ
05/03/2001, p. 171)."

1.2 Personalidade

Compreende o conjunto de atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções


sociais, com o fim de proteger a essência e a existência do ser humano.

* ATENÇÃO: Embora existam divergências, prevalece o entendimento de que pessoa jurídica possui direitos
da personalidade.

Pessoa jurídica tem direito da personalidade?

A pessoa jurídica tem direitos da personalidade por equiparação, conforme prevê o art. 52 do CC. Os
danos morais são lesões a direitos da personalidade (danos imateriais).

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Súmula 227/STJ – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral, pois ela possui direitos
da personalidade.

Gustavo Tepedino entende que dano moral é lesão à dignidade humana. Desse modo, a pessoa
jurídica não sofreria dano moral, razão pela qual ele criou uma nova classificação jurídica (dano
institucional).

No entendimento de Tepedino, Barboza e Moraes (2004, p. 134), para as “pessoas jurídicas sem
fins lucrativos deve ser admitida a possibilidade de configuração de danos institucionais, aqui conceituados
como aqueles que, diferentemente dos danos patrimoniais ou morais, atingem a pessoa jurídica em sua
credibilidade ou reputação.”6

Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais
relacionados à violação da honra ou da imagem, quando a credibilidade
institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais
jurisdicionados em geral for evidente. STJ. 2ª Turma. REsp 1722423-RJ, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 24/11/2020 (Info 684).

a) Características dos direitos da personalidade:

São oponíveis erga omnes, o que NÃO significa que são


ABSOLUTOS ilimitados. Nesse aspecto, são relativos, devendo ser
ponderados em caso de colisão.
GERAIS Outorgados a todas as pessoas.
EXTRAPATRIMONIAIS Ausência de conteúdo patrimonial direto, aferível
objetivamente, a exemplo dos danos morais.
O titular não pode deles dispor de forma total e
permanente. ATENÇÃO: A indisponibilidade é relativa, pois
INDISPONÍVEIS o Código Civil admite restrição voluntária, desde que não
seja permanente, genérica e não viole a dignidade do
titular.
IMPENHORÁVEIS O direito da personalidade não pode ser penhorado, mas o
crédito dele decorrente sim.
VITALÍCIOS Os direitos da personalidade perduram durante toda a vida
da pessoa e alguns, inclusive, têm projeção após a morte

6
https://jus.com.br/artigos/25004/sobre-dano-e-responsabilidade-civil
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IMPRESCRITÍVEIS Não existe prazo para seu exercício, não se extinguindo


pelo não uso.

NÃO CONFUNDA: DIREITOS DA PERSONALIDADE SÃO, SIMULTANEAMENTE, ABSOLUTOS


(oponíveis erga omnes) e RELATIVOS (ponderados em caso de conflito).

CAIU EM CONCURSO! CEBRASPE – PC RJ/2021 – Delegado de Polícia

Acerca dos direitos fundamentais, à luz do direito civilista:


Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são irrenunciáveis e poderão ser
transmitidos, caso o seu exercício sofra limitação voluntária.

Resposta: Incorreta. De acordo com o art. 11 do Código Civil, com exceção dos casos previstos em lei, os
direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.

- Abstratamente, os direitos fundamentais, entre os quais o direito da personalidade, sempre terão grau de
importância entre si, independentemente da análise do caso em concreto.
Resposta: Incorreta. O grau de importância dos direitos fundamentais, entre os quais o direito da
personalidade, depende de análise do caso concreto (STJ, REsp 1.170.239).

b) Temas Atuais

I. Consenso afirmativo: direito da pessoa dispor gratuitamente do seu corpo, no todo ou em parte,
para depois de sua morte, com objetivo científico ou terapêutico (art. 14 do CC).

Nessa temática, ganha relevo a figura do testamento vital ou living will, em que o paciente, de forma
prévia, especifica os tratamentos, procedimentos e cuidados a que deseja ou não se submeter quando não
puder se expressar de forma autônoma. No Brasil não há lei específica sobre o instituto, cuja validade tem
sido defendida com base na dignidade da pessoa humana (artigo 1, III, CF), na liberdade e na
autodeterminação dela decorrentes (artigo 5, II, da CF), na privacidade (artigo 5º, X, da CF) e na
impossibilidade de submissão do paciente a tratamento sem seu consentimento (artigo 15, do CC).

Não há exigência de formalidade específica acerca da manifestação de última


vontade do indivíduo sobre a destinação de seu corpo após a morte, sendo possível
a submissão do cadáver ao procedimento de criogenia em atenção à vontade
manifestada em vida. A criogenia (ou criopreservação) é a técnica de congelamento

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do corpo humano após a morte, em baixíssima temperatura, a fim de conservá-lo,


com o intuito de reanimação futura da pessoa caso sobrevenha alguma importante
descoberta científica que possibilite o seu retorno à vida. Em outras palavras, a
criogenia consiste no congelamento de cadáveres a baixas temperaturas, com a
finalidade de que, com os possíveis avanços da ciência, sejam, um dia,
ressuscitados.
STJ. 3ª Turma. REsp 1693718-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
26/03/2019 (Info 645).7

II. Consentimento Informado: o CC, em seu art. 13, prevê que só pode haver a diminuição
permanente da integridade física se houver exigência médica, que pode ser por motivo de saúde física ou
psíquica, o que abrange as cirurgias plásticas e cirurgias de transgenitalização. Inclusive, especificamente no
tocante à submissão a tratamento médico, exige-se o consentimento informado, ou seja, o paciente tem
direito de saber qual é o tratamento ou a cirurgia e quais as suas consequências. Conclui-se, portanto, que a
responsabilidade do médico é TÉCNICA + DEVER DE INFORMAÇÃO.

Com efeito, não se admite o chamado “blanket consent”, isto é, o consentimento


genérico, em que não há individualização das informações prestadas ao paciente,
dificultando, assim, o exercício de seu direito fundamental à autodeterminação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1848862-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
05/04/2022 (Info 733).8

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o


consentimento informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo
princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os
elementos probatórios que mais facilmente lhe possam ser exigidos. STJ. 4ª Turma.
REsp 1540580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF
5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).9

CAIU EM CONCURSO! CEBRASPE/PCRJ-2021/Delegado de Polícia

Acerca dos direitos fundamentais, à luz do direito civilista:

7
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/022e0ee5162c13d9a7bb3bd00fb032ce. Acesso em:
09/12/2022.
8
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/44012e792781772d8795acf27fabed2f. Acesso em:
09/12/2022
9
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/34e420f6e47d96669897a45586997a57. Acesso em:
09/12/2022.
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- De acordo com Código Civil Brasileiro, seja qual for a circunstância, cada pessoa tem a liberdade para dispor
do próprio corpo do modo que bem desejar, tanto por meio de
mutilações quanto por qualquer forma de diminuição permanente da integridade física.
Resposta: Incorreta. De acordo com o art. 13 do Código Civil, salvo por exigência médica, é defeso o ato de
disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os
bons costumes. O ato de disposição do próprio corpo será admitido também para fins de transplante, nos
termos estabelecidos em lei especial.

- Ao tratar da proteção à integridade física e do direito ao próprio corpo, o Código Civil Brasileiro traz a
possibilidade de recusa em submeter-se a tratamento ou intervenção médica em situações em que o
procedimento demonstre risco à vida da pessoa.
Resposta: Correta. O art. 15 do Código Civil estabelece que ninguém pode ser constrangido a submeter-se,
com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil: Conforme o Código Civil e o
entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os direitos da
personalidade podem ser objeto de disponibilidade, como no caso de disposição, para fins
científicos, do próprio corpo para depois da morte. Item certo.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou
em parte, para depois da morte.

Enunciado 139 da JDC – Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não
especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular,
contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.

III. Direito ao esquecimento:

O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que, em razão da
passagem do tempo, um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja
exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos. Veja a definição dada por Anderson
Schreiber:

(...) o direito ao esquecimento é, portanto, um direito (a) exercido necessariamente


por uma pessoa humana; (b) em face de agentes públicos ou privados que tenham
a aptidão fática de promover representações daquela pessoa sobre a esfera pública
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(opinião social); incluindo veículos de imprensa, emissoras de TV, fornecedores de


serviços de busca na internet etc.; (c) em oposição a uma recordação opressiva dos
fatos, assim entendida a recordação que se caracteriza, a um só tempo, por ser
desatual e recair sobre aspecto sensível da personalidade, comprometendo a plena
realização da identidade daquela pessoa humana, ao apresentá-la sob falsas luzes
à sociedade. (Anderson SCHREIBER. Direito ao esquecimento e proteção de dados
pessoais na Lei 13.709/2018. In: TEPEDINO, G; FRAZÃO, A; OLIVA, M.D. Lei geral de
proteção de dados pessoais e suas repercussões no direito brasileiro. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 376).

O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em paz” ou o “direito de


estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let alone e, em países de língua espanhola, é alcunhado
de derecho al olvido. É o caso, por exemplo, da apresentadora Xuxa que, no passado, fez um determinado
filme do qual se arrepende e que ela não mais deseja que seja exibido ou rememorado por lhe causar
prejuízos profissionais e transtornos pessoais. Sem dúvida nenhuma, o principal ponto de conflito quanto à
aceitação do direito ao esquecimento reside justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de
expressão e de imprensa e com o direito à informação.
A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a liberdade de
expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a intimidade, privacidade e honra,
passando por evolução jurisprudencial.
O STJ reconheceu o direito ao esquecimento em dois julgados principais: O caso “Aída Curi” (REsp
1.335.153-RJ) e a situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 28/5/2013), hipótese em que entendeu que o direito à informação deveria ser exercido de forma
compatível com a intimidade e a honra das pessoas. Ressalta-se, contudo, que o deferimento ou não do
direito ao esquecimento sempre dependeu da análise do caso concreto e da ponderação dos interesses
envolvidos.
Em março de 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado um enunciado defendendo
a existência do direito ao esquecimento como uma expressão da dignidade da pessoa humana. Veja:
“Enunciado 531: A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento.”
Vale ressaltar, ainda, que o STJ possui o entendimento de que, quando os registros da folha de
antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação
à teoria do direito ao esquecimento, pois não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos
antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso para fins de aplicação da reprimenda, pois a
transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. Se o transcurso do tempo impede que
condenações anteriores configurem reincidência, esse mesmo fundamento - o lapso temporal - deve ser
sopesado na análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma. HC
452.570/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.
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No entanto, o tema passou por uma evolução jurisprudencial. Isso porque o STJ passou a relativizar
o direito ao esquecimento, ao passo que o STF passou a entender pela sua incompatibilidade com a
Constituição Federal. Confira:

O chamado direito ao esquecimento, apesar de ser reconhecido pela


jurisprudência, não possui caráter absoluto. Em caso de evidente interesse social
no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, não se pode proibir a
veiculação de matérias jornalísticas relacionados com o fato criminoso, sob pena
de configuração de censura prévia, vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em
tal situação, não se aplica o direito ao esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp
1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info
670).

STF, de 11/02/2021, em sede de Repercussão Geral – Tema 786! É incompatível


com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como
o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados
verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação social
analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício da liberdade de
expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos
parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à proteção da honra, da
imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as expressas e específicas
previsões legais nos âmbitos penal e cível. STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral – Tema 786) (Info 1005).

Seguindo o entendimento do STF, o STJ decidiu no mesmo sentido afirmando que o direito ao
esquecimento é considerado incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro. Logo, não é capaz de
justificar a atribuição da obrigação de excluir a publicação relativa a fatos verídicos. STJ. 3ª Turma. REsp.
1961581-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/12/2021 (Info 723).
Importante pontuar, porém, que o STF admite a desindexação do nome da pessoa a determinado
fato específico desabonador em caso de provedores de busca de internet, o que não se confunde com o
direito ao esquecimento:

A determinação para que os provedores de busca na internet procedam a


desvinculação do nome de determinada pessoa, sem qualquer outro termo
empregado, com fato desabonador a seu respeito dos resultados de pesquisa não
se confunde com o direito ao esquecimento, objeto da tese de repercussão geral

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786/STF. STJ. 3ª Turma. REsp 1660168/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 21/06/2022 (Info 743).

CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-PB - Delegado de Polícia Civil: Suponha que determinado canal
na internet esteja divulgando a história de um crime que tenha ocorrido, em município
brasileiro, há mais de 50 anos. Suponha, ainda, que a informação acerca desse fato verídico
tenha sido licitamente obtida e divulgada e que o condenado pelo crime ajuíze ação na qual
solicite a suspensão da divulgação do fato, alegando ter direito constitucional ao esquecimento. Nessa
situação, a referida alegação é improcedente, pois a ideia de um direito ao esquecimento é incompatível
com a Constituição. Item certo.

INFORMATIVO 1005 DO STF: O ordenamento jurídico brasileiro não consagra o denominado direito ao
esquecimento. É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido
como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e
licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais
excessos ou abusos no exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a
caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à proteção da honra, da
imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as expressas e específicas previsões legais nos
âmbitos penal e cível. STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021
(Repercussão Geral – Tema 786) (Info 1005).

IV. Direito à imagem e Danos morais

CF. Art. 5º V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;

Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e


materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos
fundamentais ocorridos durante o regime militar.

Súmula 642-STJ: O direito à indenização por danos morais transmite-se com o


falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para
ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.

Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não


autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.

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Ex: empresa utiliza, sem autorização, a imagem de uma pessoa em um comercial


de TV. Desse modo, com a edição da Súmula 403, o STJ firmou o entendimento de
que a publicação da imagem de terceiro, sem a sua autorização, configura dano
moral in re ipsa, quando esta utilização for feita com fins econômicos ou comerciais.
O fundamento para esta súmula é o art. 20 do Código Civil. Exceção: A Súmula 403
do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada à fato histórico
de repercussão social. Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o
assassinato da atriz Daniela Perez, tendo realizado, inclusive, uma entrevista com
Guilherme de Pádua, condenado pelo homicídio. Foram exibidas, sem prévia
autorização da família, fotos da vítima Daniela. O STJ entendeu que, como havia
relevância nacional na reportagem, não se aplica a Súmula 403 do STJ, não havendo
direito à indenização. STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas
BôasCueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/10/2017 (Info 614).

Jurisprudência relevante sobre o tema:

Informativo 621, STJ: A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação da


imagem de pessoa como coadjuvante em documentário que tem por objeto a
história profissional de terceiro. Ação de indenização proposta por ex-goleiro do
Santos em virtude da veiculação indireta de sua imagem (por ator profissional
contratado), sem prévia autorização, em cenas do documentário “Pelé Eterno”. O
autor alegou que a simples utilização não autorizada de sua imagem, ainda que de
forma indireta, geraria direito a indenização por danos morais,
independentemente de efetivo prejuízo. O STJ não concordou. A representação
cênica de episódio histórico em obra audiovisual biográfica não depende da
concessão de prévia autorização de terceiros ali representados como coadjuvantes.
O STF, no julgamento da ADI 4.815/DF, afirmou que é inexigível a autorização de
pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais bem
como desnecessária a autorização de pessoas nelas retratadas como coadjuvantes.
A Súmula 403/STJ é inaplicável às hipóteses de representação da imagem de pessoa
como coadjuvante em obra biográfica audiovisual que tem por objeto a história
profissional de terceiro. STJ. 3ª Turma.REsp 1454016-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Rel. Acd. Min. Ricardo Villas BôasCueva, julgado em 12/12/2017

Informativo 674 STJ: O uso da imagem de torcedor inserido no contexto de uma


torcida não induz a reparação por danos morais quando não configurada a
projeção, a identificação e a individualização da pessoa nela representada

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Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a


depender das circunstâncias, especialmente quando se trata de imagem de
multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público, há julgados do STJ em
que se admite o consentimento presumível, o qual deve ser analisado com extrema
cautela e interpretado de forma restrita e excepcional. De um lado, o uso da
imagem da torcida - em que aparecem vários dos seus integrantes - associada à
partida de futebol, é ato plenamente esperado pelos torcedores, porque
costumeiro nesse tipo de evento; de outro lado, quem comparece a um jogo
esportivo não tem a expectativa de que sua imagem seja explorada
comercialmente, associada à propaganda de um produto ou serviço, porque, nesse
caso, o uso não decorre diretamente da existência do espetáculo. A imagem é a
emanação de uma pessoa, a forma com a qual ela se projeta, se identifica e se
individualiza no meio social. Não há violação ao direito à imagem se a divulgação
ocorrida não configura projeção, identificação e individualização da pessoa nela
representada. No caso concreto, o autor não autorizou ainda que tacitamente a
divulgação de sua imagem em campanha publicitária de automóvel. Ocorre que,
pelas circunstâncias, não há que se falar em utilização abusiva da imagem,
tampouco em dano moral porque o vídeo divulgado não destaca a sua imagem,
mostrando o autor durante poucos segundos inserido na torcida, juntamente com
vários outros torcedores. STJ. 3ª Turma. REsp 1772593-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 16/06/2020

Informativo 672, STJ: Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto


da vítima não estar evidenciado de maneira flagrante é irrelevante para a
configuração dos danos morais
Caso concreto: Paulo e Letícia eram namorados. Paulo tirou fotografias de Letícia
em que ela aparece de biquini, em poses sensuais, mas sem aparecer seu rosto.
Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma de vingança, publicou tais
imagens em um perfil criado no Facebook. Letícia denunciou as publicações por
meio dos canais disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a plataforma não
aceitou retirar as fotografias alegando que não são fotografias pornográficas
(considerando que não há nudez), além do fato de não estar sendo exposto de
forma evidente. O STJ não concordou com os argumentos do Facebook e o
condenou a pagar indenização por danos morais em favor da autora. A “exposição
pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” é uma espécie,
constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta
indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que
deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis. Não
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há como descaracterizar um material pornográfico apenas pela ausência de nudez


total. Neste caso concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em
posições com forte apelo sexual. O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado
nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais
na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que sua
intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não
autorizada lhe é humilhante e viola flagrantemente seus direitos de personalidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1735712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020

Informativo 549, STJ: Configura dano moral indenizável a divulgação não


autorizada da imagem de alguém em material impresso de propaganda político-
eleitoral, independentemente da comprovação de prejuízo.

Informativo 546, STJ: Configura dano moral a divulgação não autorizada de foto de
pessoa física em campanha publicitária promovida por sociedade empresária com
o fim de, mediante o incentivo à manutenção da limpeza urbana, incrementar a sua
imagem empresarial perante a população, ainda que a fotografia tenha sido
capturada em local público e sem nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa. O
dano moral decorre do simples uso não autorizado da imagem.

Informativo 921, STF: Inexistência do direito à indenização em razão da


divulgação, no jornal, de imagem do cadáver morto em via pública. Jornal
divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via
pública. Os familiares do morto ajuizaram ação de indenização por danos morais
contra o jornal alegando que houve violação aos direitos de imagem. O STF julgou
a ação improcedente argumentando que condenar o jornal seria uma forma de
censura, o que afronta a liberdade de informação jornalística. STF. 2ª Turma. ARE
892127 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018.

Informativo 789, STF: É inexigível o consentimento de pessoa biografada


relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual
desnecessária a autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de
familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes. Caso o biografado ou
qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram
violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas
por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a
publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015.
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CESPE/2019 - Embora o direito à honra seja personalíssimo, o direito de exigir sua reparação econômica, no
caso de dano moral, se transmite aos sucessores do ofendido, caso este tenha falecido. Item correto.

VI. Direito ao nome:

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá
ao nome.

É o direito à individualização da pessoa. Subdivide-se em:

● Prenome: Identifica a pessoa e pode ser simples ou composto. Ex: José ou José Maria.
● Sobrenome (ou patronímico): identifica a origem ancestral, familiar. Ex: Silva.
● Agnome: Partícula diferenciadora que serve para distinguir pessoas pertencentes à mesma
família e com o mesmo nome. Ex: Júnior, Filho, Neto, Sobrinho;
● Hipocorístico: É um apelido, uma alcunha que designa alguém pessoal e profissionalmente. Ex:
Xuxa. Não é elemento do nome, embora mereça proteção.
● Pseudônimo: É o nome que identifica alguém tão somente em sua esfera profissional. Ex: Bruna
Marquezine, embora seu nome verdadeiro seja Bruna Reis Maia. Pelo art. 19 do CC, o
pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Não é
elemento do nome, embora mereça proteção.

Algumas jurisprudências correlatas:

A existência de um homônimo que responde a processo criminal, ainda que em


outro estado da federação, pode ensejar um constrangimento capaz de
configurar o justo motivo para fundamentar a inclusão de patronímico. STJ. 3ª
Turma. REsp 1962674-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/05/2022
(Info 748).

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A discrepância entre a assinatura artística e o nome registral não consubstancia


situação excepcional e motivo justificado à alteração da grafia do apelido de
família. Caso concreto: o sobrenome do artista plástico Romero Britto,
mundialmente conhecido, é grafado com apenas uma letra “t” (Brito). Sua
assinatura artística, contudo, é feita com duas letras “t” (Britto). O artista ajuizou,
então, uma ação pedindo a alteração do seu patronímico (de Brito para Britto). O
pedido não foi acolhido. A modificação pretendida alteraria a própria grafia do
apelido de família e, assim, representaria violação à regra registral que exige a
preservação do sobrenome, com o objetivo de indicar a estirpe familiar, o que tem
relação com o próprio interesse público. STJ. 4ª Turma. REsp 1729402-SP, Rel. Min.
Marco Buzzi, julgado em 14/12/2021 (Info 723).

É admissível a exclusão de prenome da criança na hipótese em que o pai


informou, perante o cartório de registro civil, nome diferente daquele que havia
sido consensualmente escolhido pelos genitores. Houve, neste caso, exercício
abusivo do direito de nomear o filho, o que autoriza a modificação posterior do
nome da criança, na forma do art. 57, caput, da Lei nº 6.015/73. Nomear o filho é
típico ato de exercício do poder familiar, que pressupõe bilateralidade e
consensualidade, ressalvada a possibilidade de o juiz solucionar eventual
desacordo entre eles, inadmitindo-se, na hipótese, a autotutela. STJ. 3ª Turma.
REsp 1905614-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução


do vínculo conjugal pelo falecimento do cônjuge. Embora o art. 1.571, §2º, do CC
preveja a possibilidade de retomada do nome de solteiro(a) somente em caso de
divórcio, o STJ entende que também é possível em caso de dissolução de vínculo
conjugal, não havendo razão plausível para tratar de modo diferenciado duas
situações semelhantes. STJ. 3ª Turma. REsp 1724718-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 22/05/2018 (Info 627).

É admissível a alteração do registro civil para mudança do nome após aquisição


de dupla cidadania. O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome
retificado no registro civil do Brasil, desde que isso não cause prejuízo a terceiros,
quando vier a sofrer transtornos no exercício da cidadania por força da
apresentação de documentos estrangeiros com sobrenome imposto por lei
estrangeira e diferente do que consta em seus documentos brasileiros. STJ. 3ª
Turma. REsp 1310088-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para acórdão
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/5/2016 (Info 588).
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É direito subjetivo da pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento


de seus filhos após divórcio. A averbação do patronímico no registro de
nascimento do filho em decorrência do casamento atrai, à luz do princípio da
simetria, a aplicação da mesma norma à hipótese inversa, qual seja, em decorrência
do divórcio, um dos genitores deixa de utilizar o nome de casado (art. 3º, parágrafo
único, da Lei nº 8.560/1992). STJ. 3ª Turma. REsp 1279952-MG, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

É admissível o retorno ao nome de solteiro do cônjuge ainda na constância do


vínculo conjugal. Exemplo hipotético: Regina Andrade Medina casou-se com João
da Costa Teixeira. Com o casamento, ela passou a ser chamada de Regina Medina
Teixeira. Ocorre que, após anos de casada, Regina arrependeu-se da troca e deseja
retornar ao nome de solteira. Ela apresentou justas razões de ordem sentimental e
existencial. O pedido deve ser acolhido a fim de ser preservada a intimidade, a
autonomia da vontade, a vida privada, os valores e as crenças das pessoas, bem
como a manutenção e perpetuação da herança familiar. STJ. 3ª Turma. REsp
1873918-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

É possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico


do marido ao nome da mulher durante a convivência matrimonial. O cônjuge
pode acrescentar sobrenome do outro (§ 1º do art. 1.565, do Código Civil). Em
regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio,
sendo essa providência requerida no processo de habilitação do casamento. A
despeito disso, não existe uma vedação legal expressa para que, posteriormente,
no curso do relacionamento, um dos cônjuges requeira o acréscimo do outro
patronímico do seu cônjuge por meio de ação de retificação de registro civil,
especialmente se o cônjuge apresenta uma justificativa. Vale ressaltar que o art.
1.565, §1º do CC não estabelece prazo para que o cônjuge adote o apelido de
família do outro, em se tratando, no caso, de mera complementação, e não
alteração do nome. Assim, é possível a retificação do registro civil para acréscimo
do segundo patronímico do marido ao nome da mulher durante a convivência
matrimonial. STJ. 3ª Turma. REsp 1648858-SP, Rel. Min. Ricardo Villas BôasCueva,
julgado em 20/08/2019 (Info 655).

Exclusão dos sobrenomes paternos em razão do abandono pelo genitor. (...). O


princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico brasileiro.
Além disso, a referida flexibilização se justifica pelo próprio papel que o nome
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desempenha na formação e consolidação da personalidade de uma pessoa. Desse


modo, o direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias
decorrentes do abandono paterno e, especialmente, corresponda à sua realidade
familiar, sobrepõe-se ao interesse público de imutabilidade do nome, já
excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos. Sendo assim, nos moldes
preconizados pelo STJ, considerando que o nome é elemento da personalidade,
identificador e individualizador da pessoa na sociedade e no âmbito familiar,
conclui-se que o abandono pelo genitor caracteriza o justo motivo de o interessado
requerer a alteração de seu nome civil, com a respectiva exclusão completa dos
sobrenomes paternos. STJ. 3ª Turma. REsp 1304718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 18/12/2014 (Info 555).

NOVIDADE LEGISLATIVA. Ressalta-se que a ordem jurídica considerava o prenome, em regra,


imutável, até o fim de junho de 2022, quando foi publicada a Lei 14.382/2022, que dispõe sobre o Sistema
Eletrônico dos Registros Públicos.

Houve a alteração dos artigos 55 a 57 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973), com o
afastamento da regra geral de imutabilidade do nome da pessoa humana, o que, inclusive, já era defendido
pela doutrina que entendia que deveria se resguardar um espaço de autonomia relativamente ao prenome.

Art. 55. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome, observado que ao prenome serão acrescidos os sobrenomes dos
genitores ou de seus ascendentes, em qualquer ordem e, na hipótese de acréscimo
de sobrenome de ascendente que não conste das certidões apresentadas, deverão
ser apresentadas as certidões necessárias para comprovar a linha ascendente.
§ 1º O oficial de registro civil não registrará prenomes suscetíveis de expor ao
ridículo os seus portadores, observado que, quando os genitores não se
conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso à decisão
do juiz competente, independentemente da cobrança de quaisquer emolumentos.
§ 2º Quando o declarante não indicar o nome completo, o oficial de registro lançará
adiante do prenome escolhido ao menos um sobrenome de cada um dos genitores,
na ordem que julgar mais conveniente para evitar homonímias.
§ 3º O oficial de registro orientará os pais acerca da conveniência de acrescer
sobrenomes, a fim de se evitar prejuízos à pessoa em razão da homonímia.
§ 4º Em até 15 (quinze) dias após o registro, qualquer dos genitores poderá
apresentar, perante o registro civil onde foi lavrado o assento de nascimento,
oposição fundamentada ao prenome e sobrenomes indicados pelo declarante,
observado que, se houver manifestação consensual dos genitores, será realizado o
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procedimento de retificação administrativa do registro, mas, se não houver


consenso, a oposição será encaminhada ao juiz competente para decisão. (NR)
Art. 56. A pessoa registrada poderá, após ter atingido a maioridade civil, requerer
pessoalmente e imotivadamente a alteração de seu prenome,
independentemente de decisão judicial, e a alteração será averbada e publicada
em meio eletrônico.
§ 1º A alteração imotivada de prenome poderá ser feita na via extrajudicial
apenas 1 (uma) vez, e sua desconstituição dependerá de sentença judicial.
§ 2º A averbação de alteração de prenome conterá, obrigatoriamente, o prenome
anterior, os números de documento de identidade, de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas (CPF) da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil, de
passaporte e de título de eleitor do registrado, dados esses que deverão constar
expressamente de todas as certidões solicitadas.
§ 3º Finalizado o procedimento de alteração no assento, o ofício de registro civil de
pessoas naturais no qual se processou a alteração, a expensas do requerente,
comunicará o ato oficialmente aos órgãos expedidores do documento de
identidade, do CPF e do passaporte, bem como ao Tribunal Superior Eleitoral,
preferencialmente por meio eletrônico.
§ 4º Se suspeitar de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade ou simulação quanto
à real intenção da pessoa requerente, o oficial de registro civil fundamentadamente
recusará a retificação. (NR)
Art. 57. A alteração posterior de sobrenomes poderá ser requerida pessoalmente
perante o oficial de registro civil, com a apresentação de certidões e de documentos
necessários, e será averbada nos assentos de nascimento e casamento,
independentemente de autorização judicial, a fim de:
I - inclusão de sobrenomes familiares;
II - inclusão ou exclusão de sobrenome do cônjuge, na constância do casamento;
III - exclusão de sobrenome do ex-cônjuge, após a dissolução da sociedade conjugal,
por qualquer de suas causas;
IV - inclusão e exclusão de sobrenomes em razão de alteração das relações de
filiação, inclusive para os descendentes, cônjuge ou companheiro da pessoa que
teve seu estado alterado.
...................................................................................................................
§ 2º Os conviventes em união estável devidamente registrada no registro civil de
pessoas naturais poderão requerer a inclusão de sobrenome de seu companheiro,
a qualquer tempo, bem como alterar seus sobrenomes nas mesmas hipóteses
previstas para as pessoas casadas.
§ 3º (Revogado).
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§ 3º-A O retorno ao nome de solteiro ou de solteira do companheiro ou da


companheira será realizado por meio da averbação da extinção de união estável
em seu registro.
§ 4º (Revogado).
§ 5º (Revogado).
§ 6º (Revogado).
..................................................................................................................
§ 8º O enteado ou a enteada, se houver motivo justificável, poderá requerer ao
oficial de registro civil que, nos registros de nascimento e de casamento, seja
averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja
expressa concordância destes, sem prejuízo de seus sobrenomes de família. (NR)

CESPE/2019 (Adaptada): O nome da pessoa pode ser utilizado em propaganda comercial, mesmo sem a sua
autorização. Item incorreto.

VII. Transexuais

Define-se a orientação sexual como a expressão individual da sexualidade, que identifica qual o
objeto da atração sexual e afetiva do indivíduo. Já a identidade do gênero diz respeito ao gênero com o qual
uma pessoa se identifica, independente do seu sexo biológico.

A transexualidade diz respeito justamente à condição do indivíduo que possui uma identidade de
gênero diferente da que lhe foi designada no nascimento com base no sexo biológico, o que faz surgir o
desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto.

Transexuais e direito à mudança do prenome e do gênero no registro civil:

Anteriormente, doutrina e jurisprudência entendiam, majoritariamente, pela negação da retificação


do registro civil do transexual. Contudo, o art. 8º da Convenção de Salvaguarda dos Direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais consagra que toda pessoa tem o direito à vida privada e familiar e à identidade
pessoal, de modo que houve uma evolução jurisprudencial quanto ao tema. Atualmente, para os Tribunais
Superiores, o transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia
de transgenitalização e mesmo sem autorização judicial.

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e


de sua classificação de gênero no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada
além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá exercer tal
faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa
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alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a


inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do registro não constará nenhuma
observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro teor,
salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial.
Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de
ofício ou a requerimento do interessado a expedição de mandados específicos para
a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os
quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos. STF. Plenário. RE
670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/8/2018 (repercussão geral) (Info
911).

Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de


transgenitalização, ou da realização de tratamentos hormonais ou
patologizantes, possuem o direito à alteração do prenome e do gênero (sexo)
diretamente no registro civil. O direito à igualdade sem discriminações abrange a
identidade ou expressão de gênero. A identidade de gênero é manifestação da
própria personalidade da pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado apenas o
papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. A pessoa transgênero que comprove
sua identidade de gênero dissonante daquela que lhe foi designada ao nascer por
autoidentificação firmada em declaração escrita desta sua vontade dispõe do
direito fundamental subjetivo à alteração do prenome e da classificação de gênero
no registro civil pela via administrativa ou judicial, independentemente de
procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se tratar de tema relativo ao
direito fundamental ao livre desenvolvimento da personalidade. STF. Plenário. ADI
4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado
em 28/2 e 1º/3/2018 (Info 892).

O direito dos transexuais à retificação do prenome e do sexo/gênero no registro


civil não é condicionado à exigência de realização da cirurgia de transgenitalização.
Trata-se de novidade porque, anteriormente, a jurisprudência exigia a realização
da cirurgia de transgenitalização. STJ. 4ª Turma.REsp 1626739-RS, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 9/5/2017 (Info 608).

Além disso, em atendimento aos princípios constitucionais do direito à dignidade humana, à


autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da vedação à tortura e ao tratamento degradante e
desumano, os transexuais e travestis com identificação com o gênero feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou masculino.

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Em 19.03.2021, o ministro Luís Roberto Barroso ajustou os termos de medida


cautelar deferida em junho de 2019, na Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 527, de modo a determinar que presas transexuais e travestis
com identidade de gênero feminino podem optar por cumprir penas em
estabelecimento prisional feminino ou masculino. Nesse último caso, elas devem
ser mantidas em área reservada, como garantia de segurança. Segundo Barroso,
essa evolução de tratamento dado à matéria no âmbito do Poder Executivo decorre
do diálogo institucional ensejado pela judicialização da matéria, que permitiu uma
“saudável interlocução” com associações representativas de interesses desses
grupos vulneráveis, o Executivo e o Judiciário. Decorre também da jurisprudência
consolidada no STF no sentido de reconhecer o direito desses grupos a viver de
acordo com a sua identidade de gênero e a obter tratamento social compatível com
ela. O ministro ressaltou ainda que, dentre os Princípios de Yogyakarta, documento
aprovado em 2007 pela comunidade internacional com o objetivo de produzir
standards específicos para o tratamento da população LGBTI, o de número 9
recomenda que, caso encarceradas, essas pessoas possam participar das decisões
relacionadas ao local de detenção adequado à sua orientação sexual e identidade
de gênero. Fonte: Site do STF

CAIU EM CONCURSO! CEBRASPE – PCES/2022 – Delegado de Polícia: Gilvan e Mariana mantinham


relacionamento amoroso havia seis anos, quando Mariana engravidou. O casal contou aos familiares e
amigos que a criança que estava a caminho era um menino e se chamaria Cauã. No entanto, às vésperas do
nascimento do filho, Gilvan rompeu o relacionamento após ter descoberto que, havia três meses, Mariana
mantinha outro relacionamento amoroso. Nascida a criança, Gilvan registrou-a com o nome de Enzo Cauã,
em homenagem ao seu avô, sem consultar Mariana. Nessa situação hipotética, em consonância com o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, Mariana
C) poderá requerer, perante o cartório de registro civil, a exclusão do prenome Enzo, sob o argumento de
que Gilvan violou o dever de lealdade familiar e a boa-fé objetiva.

Resposta: A alternativa ‘C’ está correta. O STJ, no julgamento do REsp 1.905.614/SP (DJe 06/05/2021) fixou
o entendimento de que é admissível a exclusão de prenome da criança na hipótese em que o pai informou,
perante o cartório de registro civil, nome diferente daquele que havia sido consensualmente escolhido pelos
genitores.

1.3 Nascituro

É o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. Algumas teorias tentam explicar
a proteção jurídica do nascituro:
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NATALISTA PERSONALIDADE CONCEPCIONISTA


CONDICIONAL
- A personalidade só inicia - A personalidade civil se - A personalidade jurídica se
no nascimento com vida; inicia com o nascimento com inicia com a concepção,
- O nascituro NÃO pode ser vida, mas o nascituro embora alguns direitos só
considerado pessoa, pois só titulariza direitos sejam exercitáveis com o
é considerado pessoa quem submetidos à condição nascimento.
nasce com vida. suspensiva (ou direitos - O nascituro é pessoa desde
- O nascituro tem apenas eventuais). o momento em que é
expectativa de direitos. - O nascituro possui direitos concebido.
sob condição suspensiva. - O nascituro é sujeito de
direitos).

* Qual teoria prevalece?

O CC/02 não deixou claro a teoria adotada, pois o art. 2º menciona tanto o termo “nascimento”,
quanto “concepção”. Todavia, é a teoria concepcionista que guarda maior compatibilidade, a partir de uma
interpretação sistemática do ordenamento e que vem sendo adotada pela jurisprudência, a exemplo da lei
de alimentos gravídicos e de decisões do STJ que admitiram o dano moral ao nascituro e até mesmo
pagamento de DPVAT pela morte de nascituro (STJ. 4ª Turma. REsp 1415727-SC, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547).

JDC1 - A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que


concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.

Além disso, consta na Convenção Americana (Pacto de São José da Costa Rica);

Artigo 4. Direito à vida


1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser
protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser
privado da vida arbitrariamente.

CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil: O início da personalidade civil das pessoas
físicas e das pessoas jurídicas de direito privado ocorre, respectivamente, com o nascimento
com vida e com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, quando necessária. Item certo.

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CC, Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde
a concepção, os direitos do nascituro.

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

1.4 Emancipação

É uma antecipação da capacidade de fato (e NÃO da maioridade), por meio da qual um relativamente
incapaz se torna plenamente capaz.

Enunciado JDC 3: A redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos
18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica
situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações
similares de proteção, previstas em legislação especial.
Enunciado JDC 397: A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz
está sujeita à desconstituição por vício de vontade.
Enunciado JDC 530: A emancipação, por si só, não elide a incidência do Estatuto da
Criança e do Adolescente.

Pode ser:

● VOLUNTÁRIA: Decorre de ato unilateral dos pais, ou de um deles na falta do outro, sendo
irrevogável. Nessa hipótese, os pais continuam respondendo pelos atos ilícitos dos filhos.
● JUDICIAL: Concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos 16 anos
completos.
● LEGAL: Decorre de previsão legal:
∘ Casamento; Atenção! Divórcio, morte do cônjuge ou anulação do casamento para o cônjuge
de boa-fé não fazem retornar a incapacidade.
∘ Exercício de cargo ou emprego público efetivo; Cuidado! Não é nomeação e nem posse e sim
exercício.
∘ Colação de grau em curso de ensino superior;
∘ Estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego do maior de 16 anos
que gerem economia própria.

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CAIU EM CONCURSO! NC-UFPR – PCPR/2021 – Delegado de Polícia


D.M., menor com dezesseis anos de idade, ficou órfã perdendo seu pai e sua mãe por conta da pandemia do
novo coronavírus. Agora, após ser recentemente aprovada no vestibular de medicina, ela precisa manter-se
economicamente sozinha, tendo apenas um tio como tutor, que administra os bens e negócios deixados
pelos seus pais, os quais empregam uma grande quantidade de trabalhadores. Considerando as informações
apresentadas, assinale a alternativa correta.
A assertiva correta foi “D.M. poderá ser emancipada somente por decisão judicial, após ouvido seu tutor,
tendo em vista o falecimento de ambos os seus genitores.”

1.5 Morte Presumida e Ausência

A morte presumida pode ser com ou sem declaração de ausência.

a) Morte Presumida: Ocorre nas seguintes hipóteses:

● Com declaração de ausência: nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva
(art. 6º);
● Sem declaração de ausência: se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo
de vida e, se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até
dois anos após o término da guerra (art. 7º).

Art. 6º - A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,


quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.
Art. 7º - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado
até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá
ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença
fixar a data provável do falecimento.

CESPE/2021: Em caso de desaparecimento do corpo de pessoa vitimada em grave acidente aéreo, depois de
esgotadas as buscas e averiguações, a declaração de óbito independe de decretação judicial de ausência.
Item correto.

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ATENÇÃO! COMORIÊNCIA. Quando não for possível precisar a ordem cronológica das mortes de pessoas que
morreram na mesma ocasião, chamadas comorientes, a lei prevê a presunção de haverem falecido no mesmo
instante. Se forem parentes, a consequência é que tais pessoas NÃO sucederão reciprocamente, abrindo-se
cadeias sucessórias distintas (art. 8º, CC).

CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia: Um homem de cinquenta anos de idade assassinou
a tiros a esposa de trinta e oito anos de idade, na manhã de uma quarta-feira. De acordo com
a polícia, o homem chegou à casa do casal em uma motocicleta, chamou a mulher ao portão
e, quando ela saiu de casa, atirou nela com uma arma de fogo, matando-a imediatamente. Em
seguida, ele se matou no mesmo local, com um disparo da arma encostada na própria têmpora.

Considerando a situação hipotética apresentada e os diversos aspectos a ela relacionados, julgue o item a
seguir.

O evento caracteriza um episódio de comoriência. Item errado.

“Se duas ou mais pessoas morrem na mesma ocasião, não se podendo provar quem faleceu primeiro,
presume-se, pela legislação civil brasileira, que elas tiveram mortes simultâneas. A isso chama-se
comoriência. Desta forma, comoriência é o instituto jurídico que admite mortes simultâneas de duas ou
mais pessoas falecidas em um mesmo momento e quando não se pode estabelecer quem morreu primeiro
(Código Civil, artigo 8o – “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”).

Todavia, havendo condições de provar que uma delas faleceu momentos antes – dá-se o nome de
premoriência –, pode haver, por exemplo, sensíveis modificações na ordem da sucessão, variando de
acordo com a cronologia dessas mortes.” FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, Editora Guanabara
Koogan, 10ª edição, 2015, p. 1075

b) Ausência: é o desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio, sem dar notícias de onde se
encontra, sem deixar procurador para administrar seus bens. Necessita de declaração judicial. Quanto à
tutela dos bens, possui três fases:

● 1ª FASE - CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE: inicia-se com a petição inicial de qualquer
interessado ou do MP. O juiz deverá arrecadar os bens abandonados e nomear curador.
- O curador será, em primeiro lugar, o cônjuge do ausente, desde que não separado judicialmente
ou de fato, por mais dois anos. Subsidiariamente, serão nomeados os ascendentes e, em seguida,
os descendentes.

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- Se não houver nenhuma dessas pessoas, o juiz escolherá um curador, responsável pela
administração e conservação do patrimônio do ausente.

Da Curadoria dos Bens do Ausente


Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os
bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público,
declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente
deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato,
ou se os seus poderes forem insuficientes.
Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme
as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos
tutores e curadores.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou
de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo
curador.
§ 1 o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o
cargo.
§ 2 o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
§ 3 o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.

● 2ª FASE - SUCESSÃO PROVISÓRIA: Ocorre após decorrido 1 ano da arrecadação ou, caso o
ausente tenha deixado procurador, passados 3 anos. Consiste em uma administração para
preservar os bens do ausente.
- Depende de pedido dos interessados.
- Se não houver interessados, o MP pode requerer a sucessão provisória.
- A sentença que a determina produz efeitos depois de 180 dias de sua publicação, mas, tão logo
transite em julgado, ocorre a abertura do testamento e do inventário, como se o ausente fosse
falecido.
- Se o herdeiro ou interessado não pleitear a abertura do inventário, após 30 dias do trânsito em
julgado, a massa de bens do ausente será considerada como herança jacente.
- Os herdeiros que se imitirem na posse dos bens devem prestar garantia pignoratícia ou
hipotecária, com exceção do cônjuge, dos ascendentes e dos descendentes.
- Durante esse período, não se poderá alienar os imóveis do ausente.
- Reaparecendo o ausente e provando os sucessores que a ausência foi injustificada e voluntária,
ele perderá os frutos em favor daqueles.
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Da Sucessão Provisória
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados
requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram
interessados:
I - o cônjuge não separado judicialmente;
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá
efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe
em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e
partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.
§ 1 o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na
sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.
§ 2 o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até
trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão
provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma
estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão
dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos
garantidos pela União.
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão
garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos
quinhões respectivos.
§ 1 o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia
exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob
a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste
essa garantia.
§ 2 o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua
qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse
dos bens do ausente.
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por
desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.

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Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando


ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações
pendentes e as que de futuro àquele forem movidas.
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do
ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os
outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos,
segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério
Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi
voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e
rendimentos.
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta
de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe
tocaria.
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do
ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros,
que o eram àquele tempo.
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida
a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos,
ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a
entrega dos bens a seu dono.

● 3ª FASE - SUCESSÃO DEFINITIVA: Ocorre após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que
concedeu a abertura da sucessão provisória. Na mesma oportunidade, levantam-se as garantias
prestadas.
- Pode ocorrer em menor prazo, se o ausente tinha 80 anos e o seu desaparecimento tenha
ocorrido há pelo menos 5 anos.
- Após o trânsito em julgado da sentença que concede a sucessão definitiva dos bens, declara-se
a morte presumida.
- Retornando o desaparecido ou algum de seus descendentes ou ascendentes, nos 10 anos
seguintes à abertura da sucessão definitiva, receberá os bens no estado em que se encontrarem,
os sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido.

Da Sucessão Definitiva
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura
da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o
levantamento das cauções prestadas.

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Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o


ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão
definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes
haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em
seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido
pelos bens alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não
regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União,
quando situados em território federal.

CAIU EM CONCURSO:

→ IBFC – PCBA/2022 – Delegado de Polícia: No que se refere às disposições do Código Civil sobre
personalidade e capacidade, assinale a alternativa que aborde corretamente a definição de comoriência.

a) Ocorre naqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade.
b) Ocorre se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida.
c) Ocorre se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após
o término da guerra.
d) Ocorre, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão provisória.
e) Ocorre se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos
comorientes precedeu aos outros, presumindo-se simultaneamente mortos.

Resposta: Alternativa ‘E’ (art. 8º, CC).

1.6 Domicílio

É o lugar onde a pessoa se fixa com ânimo definitivo.

Distinção entre moradia, residência e domicílio

● Moradia: Lugar em que a pessoa física se estabelece temporariamente.


● Residência: Lugar onde a pessoa física se estabelece com habitualidade. Uma pessoa pode ter mais
de uma residência.

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● Domicílio: é o lugar em que a pessoa física fixa residência com ânimo definitivo, transformando-o em
centro de sua vida jurídica e social. O que diferencia domicílio de residência é o ânimo de permanência, a
definitividade.

a) Espécies de domicílio:

● CONVENCIONAL: é aquele que se fixa por ato de vontade própria, ou seja, a pessoa fixa por ato de
vontade, ao se mudar.
● LEGAL OU NECESSÁRIO: é aquele determinado por lei e previsto no art. 76:
∘ Incapaz: domicílio de seu representante ou assistente;
∘ Preso: onde cumpre pena;
∘ Servidor público: onde exerce permanentemente as suas funções;
∘ Militar: onde está servindo;
∘ Marítimo: local da matrícula do navio.
● DE ELEIÇÃO OU ESPECIAL (art. 78 do CC): é o domicílio previsto em um contrato.

CAIU EM CONCURSO! AOCP – PCPA/2021 – Delegado de Polícia [adaptada]


De acordo com o que dispõe o Código Civil acerca do domicílio, se a administração, ou diretoria, tiver a sede
no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada
uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder. Item correto.

CAIU EM CONCURSO! CESPE – PF/2021 – Delegado de Polícia Federal


Se uma pessoa viver, de forma alternada, em diversas residências, qualquer uma delas poderá ser
considerada seu domicílio. Item correto.

CAIU EM CONCURSO! VUNESP – PCSP/2018 – Delegado de Polícia [adaptada]


O domicílio do preso é o lugar onde foi julgada a ação penal. Item incorreto.

2. PESSOAS JURÍDICAS

É o grupo humano criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a
realização de fins comuns.

2.1 Características

● Personalidade própria, distinta dos seus membros;

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● Patrimônio próprio e independente;


● Possuem estrutura organizacional própria;
● Publicidade de sua constituição.

Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados,
instituidores ou administradores. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento


lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de
estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e
inovação em benefício de todos.

2.2 Requisitos para constituição

● Vontade das partes em criar entidade distinta dos seus membros, materializada no ato de
constituição, que será:
∘ Estatuto: Se associações;
∘ Contrato Social: Se sociedades simples ou empresárias;
● Observância das condições legais;
● Objetivos lícitos.

Dispõe o Código Civil:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando
necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no
registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas
jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da
publicação de sua inscrição no registro.

2.3 Classificação das pessoas jurídicas

● Corporação (reunião de pessoas): os seus objetivos são voltados para o bem dos seus membros e
dividem-se em:
∘ Associações
∘ Sociedades (simples ou empresárias).

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● Fundação (reunião de bens): as fundações têm objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor.
Nas fundações, o patrimônio é elemento essencial.

2.4 Classificação quanto à função

● Pessoas jurídicas de Direito Público:


∘ Direito público externo: Estados estrangeiros, inclusive a Santa Sé, bem como todas as
pessoas que forem regidas pelo direito internacional público, inclusive organismos
internacionais;
∘ Direito público interno:
▪ Administração direta: União, Estados, Distrito Federal, Municípios;
▪ Administração indireta: autarquias, fundações públicas e demais entidades de caráter
público criadas por lei.

● Pessoas jurídicas de Direito Privado:


∘ Corporações:
▪ Associações;
▪ Sociedades simples e empresárias.

ATENÇÃO! O inciso vi que incluía a EIRELI (empresas individuais de responsabilidade limitada) como pessoa
jurídica de direito privado foi revogado pela MP nº 1.085/2021, já convertida na lei nº 14.382/2022.

▪ Partidos políticos;
▪ Organizações religiosas;
▪ Sindicatos;

∘ Fundações particulares.

ATENÇÃO! As empresas públicas e as sociedades de economia mista, embora façam parte da administração
indireta, são dotadas de personalidade jurídica de direito privado (DL 200/67), sujeitando-se ao regime
próprio das empresas privadas (CF, art. 173, § 1º).

2.5. Administração da pessoa jurídica

Os atos dos administradores obrigam a pessoa jurídica quando exercidos nos limites de seus poderes
definidos no ato constitutivo.
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Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões serão tomadas pela maioria de votos
dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.
O direito de anular as decisões referidas decai em 3 anos, quando violarem a lei ou o estatuto, ou
forem eivados de erro, dolo, simulação ou fraude.

Atenção à inclusão do art. 48-A no Código Civil, promovida pela Medida Provisória nº 1.045/2021,
já convertida na Lei nº 14.382/2022:

Art. 48-A. As pessoas jurídicas de direito privado, sem prejuízo do previsto em


legislação especial e em seus atos constitutivos, poderão realizar suas assembleias
gerais por meios eletrônicos, inclusive para os fins do disposto no art. 59,
respeitados os direitos previstos de participação e de manifestação. (Incluído pela
Lei nº 14.382, de 2022)

2.6 Extinção da pessoa jurídica

● Extinção convencional: ocorre quando os sócios anuem em extinguir a pessoa jurídica mediante
distrato.
● Extinção administrativa: resulta da cassação da autorização de constituição e funcionamento de
determinadas pessoas jurídicas.
● Extinção judicial: ocorre por meio de sentença prolatada em processo judicial.
● Extinção legal: ocorre quando determinada por lei.
● Extinção pelo decurso do prazo: quando expira o prazo de sua existência.

2.7 Desconsideração da personalidade jurídica

I. Conceito:

O art. 49-A do Código Civil prevê, expressamente, que as pessoas jurídicas possuem personalidade
distinta da dos seus membros, não se confundindo com seus sócios, associados, instituidores ou
administradores.
Ainda segundo este dispositivo, em seu parágrafo único, a autonomia patrimonial das pessoas
jurídicas é um instrumento LÍCITO de alocação e segregação de riscos, com a finalidade de estimular
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos.
Não raramente, contudo, a referida autonomia é mal utilizada, dando origem à chamada teoria da
desconsideração da personalidade jurídica, ou disregard of the legal entity. Por essa teoria, há o afastamento
temporário da personalidade jurídica da entidade para permitir que os credores prejudicados possam

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satisfazer os seus direitos no patrimônio pessoal dos sócios ou administradores beneficiados, direta ou
indiretamente, pelo ato abusivo.
Com isso, é possível ao juiz, em casos de abuso da personalidade jurídica, desconsiderar a autonomia
patrimonial para atingir e vincular os bens particulares dos sócios à satisfação das dívidas da sociedade.

II. Teoria da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil

O CC/16 não previa a desconsideração da personalidade jurídica

Rubens Requião, na década de 60, foi um dos primeiros a defender a teoria, embora sem previsão legal

O art. 28 do CDC foi a primeira lei a prever o instituto (teoria menor)

Art. 18 da Lei nº 8.884/94 (Antiga Lei Antitruste)

Art. 4º da Lei nº 9.605/98 (teoria menor)

Previsão no art. 50 do CC/2002

Art. 34 da Lei nº 12.529/2011

Alteração do art. 50 do CC pela Lei nº 13.874/2019

Segundo André da Santa Cruz Ramos, o CC/2002, ao prever a aplicação da teoria apenas quando
demonstrado o abuso de personalidade jurídica, consubstanciado este no desvio de finalidade ou na
confusão patrimonial, se manteve fiel aos postulados fundamentais da disregard doctrine.

O art. 50 do CC é, atualmente, a regra matriz da disregard doctrine no direito brasileiro, sendo de


aplicação obrigatória a todos os casos de desconsideração, SALVO OS REGULADOS POR LEI ESPECIAL:

∘ Relações de consumo (art. 28 do CDC);


∘ Crimes ambientais (art. 4º da Lei nº 9.605/98);
∘ Infrações à ordem econômica (art. 34 da Lei nº 12.529/11);

A desconsideração da personalidade jurídica, no âmbito das relações civis gerais, está disciplinada no
art. 50 do CC:

Redação Original

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Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Redação Atual
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para
que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos
aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874,
de 2019)

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da


pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos
de qualquer natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os
patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
I - Cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
II - Transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os
de valor proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão
das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que
trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da
pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído
pela Lei nº 13.874, de 2019)

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Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para
seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se
conclua.
§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua
dissolução.
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às
demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa
jurídica.

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade.

Desse modo, na desconsideração da personalidade jurídica, o juiz, mediante requerimento, autoriza


que os bens particulares dos administradores ou sócios sejam utilizados para arcar com as dívidas da pessoa
jurídica, mitigando, assim, a autonomia patrimonial.
Somente poderá ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica nas relações jurídicas regidas
pelo Código Civil se ficar caracterizado que houve abuso da personalidade jurídica.
O abuso da personalidade jurídica pode ocorrer em duas situações:
● Desvio de finalidade: é o ato intencional dos sócios em fraudar terceiros, utilizando a autonomia
da pessoa jurídica como um escudo;
● Confusão patrimonial: ocorre quando, na prática, não há separação entre o patrimônio da
pessoa jurídica e os dos seus sócios. Ex: todas as despesas pessoais dos sócios são pagas com o
cartão de crédito da empresa, os veículos utilizados são da empresa, os funcionários fazem
serviços pessoais para os sócios etc.

CAIU NA DISCURSIVA – DELEGADO DE POLÍCIA – GOIÁS (2023)


Discorra sobre a desconsideração da personalidade jurídica abordando, de forma fundamentada, os
seguintes tópicos:
a) Conceito;
b) Teorias maior e menor; e
C) Desconsideração inversa da personalidade jurídica.

CESPE/2021 - Segundo o Código Civil em vigor, a alteração da finalidade original da atividade econômica
específica de pessoa jurídica é, por si só, indicativo de desvio de finalidade para efeito de desconsideração
da personalidade jurídica. Item incorreto à luz do art. 50, parágrafo 5º do Código Civil.

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III. Teorias sobre a desconsideração:

● Teoria Maior: NÃO basta que a Pessoa Jurídica esteja insolvente e, portanto, impossibilitada
financeiramente de cumprir com suas obrigações perante seus credores. Ao lado da demonstração
da insolvência da Pessoa Jurídica, deverá figurar adicionalmente ou o elemento subjetivo (desvio de
finalidade) ou o elemento objetivo (confusão patrimonial). Adotada no art. 50 do CC;
● Teoria Menor: Adotada no Direito Ambiental e Direito do Consumidor, a personalidade jurídica será
desconsiderada sempre que for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
aos consumidores. Logo, deve provar apenas a insolvência.

ATENÇÃO – MODERNAS TEORIAS SOBRE DESCONSIDERAÇÃO:

● Desconsideração Inversa: vem sendo aplicada pelo STJ, sobretudo em casos de direito de família,
permitindo ao juiz que autorize a desconsideração da pessoa natural para atingir o patrimônio da
pessoa jurídica da qual ele seja sócio, quando dela se utilize para ocultar bens pessoais. Com a Lei nº
13.874/2019, ganhou previsão expressa no art. 50, §3º, do CC.

CFJ, Enunciado 283 – Art. 50. “É cabível a desconsideração da personalidade jurídica


denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica
para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.

Art. 50, § 3º. O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à
extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

● Desconsideração Expansiva: é a possibilidade de desconsideração para alcançar um sócio


eventualmente oculto da sociedade, comumente escondido na empresa controladora. Muito
comum nos casos em que pessoa jurídica se vale de “sócio laranja”.

● Desconsideração Indireta: é a possibilidade de responsabilização da empresa controladora que


utiliza abusivamente a personalidade da empresa controlada para causar prejuízos a terceiros ou
para obtenção de vantagens indevidas.

CJF, Enunciado 406: “A desconsideração da personalidade jurídica alcança os


grupos de sociedade quando presentes os pressupostos do art. 50 do Código Civil
e houver prejuízo para os credores até o limite transferido entre as sociedades”.

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Atenção! Como disposto no art. 50, §4º, do CC, a mera existência de grupo econômico sem a
presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo – desvio de finalidade ou confusão patrimonial –
não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.

IV. Efeitos da desconsideração da personalidade jurídica da sociedade

A desconsideração da personalidade jurídica NÃO acarreta o fim da pessoa jurídica, mas possui os
seus efeitos adstritos ao caso concreto em que foi requerida. Isto significa que a sociedade continua a existir
normalmente e os efeitos da sua personalização permanecem respeitados em todas as demais relações
jurídicas em que figurar.
Há uma suspensão temporária dos efeitos da personalização num determinado caso específico,
não estendendo os seus efeitos para as demais relações jurídicas das quais a pessoa jurídica faça parte.

ATENÇÃO: A aplicação da teoria da desconsideração NÃO significa a possibilidade de execução de todos os


sócios e/ou administradores da sociedade, indistintamente. Somente serão atingidos aqueles sócios que se
beneficiaram, direta ou indiretamente, do uso abusivo da pessoa jurídica.

ATENÇÃO: O NCPC trouxe o procedimento de INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA (Arts. 133-137).

Veja a jurisprudência pertinente sobre o tema:

Sócio devedor tem legitimidade e interesse para impugnar desconsideração


inversa da personalidade jurídica. Exemplo: João iniciou o cumprimento de
sentença contra Pedro exigindo o pagamento de certa quantia. Não foram
encontradas contas bancárias nem bens veículos ou imóveis em nome de Pedro.
João pediu a instauração de incidente de desconsideração inversa da personalidade
jurídica a fim de atingir o patrimônio da pessoa jurídica Alfa, considerando que
Pedro é um dos sócios. O juiz deferiu a desconsideração inversa da personalidade
jurídica, considerando que ficou demonstrado a confusão patrimonial. Pedro possui
legitimidade e interesse para impugnar essa decisão que deferiu a desconsideração
inversa. STJ. 3ª Turma. REsp 1980607-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 09/08/2022 (Info 744).10

10
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d5b2bbd3e57d6c19003667a447475589. Acesso em:
09/12/2022.
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Não há condenação em honorários advocatícios em incidente de desconsideração


da personalidade jurídica. Tratando-se de incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, não cabe a condenação nos ônus sucumbenciais em razão
da ausência de previsão legal. Logo, é irrelevante apurar quem deu causa ou foi
sucumbente no julgamento final do incidente. STJ. 3ª Turma. REsp 1845536-SC, Rel.
Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/05/2020
(Info 673).11

Membros do conselho fiscal de uma cooperativa não podem ser atingidos pela
desconsideração da personalidade jurídica se não praticaram nenhum ato de
administração. A despeito de não se exigir prova de abuso ou fraude para fins de
aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica,
tampouco de confusão patrimonial, o § 5º do art. 28 do CDC não dá margem para
admitir a responsabilização pessoal de quem jamais atuou como gestor da
empresa. STJ. 3ª Turma. REsp 1766093-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/11/2019 (Info 661).12

A instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica não


exige prova de inexistência de bens do devedor. Nas causas em que a relação
jurídica for cível-empresarial, a desconsideração da personalidade da pessoa
jurídica será regulada pelo art. 50 do Código Civil. A inexistência ou não localização
de bens da pessoa jurídica não é condição para a desconsideração da personalidade
jurídica. O que se exige é a demonstração da prática de desvio de finalidade ou de
confusão patrimonial (art. 50 do CC). Assim, o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica pode ser instaurado mesmo nos casos em que não for
comprovada a inexistência de bens do devedor. STJ. 4ª Turma. REsp 1729554/SP,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/05/2018.

O encerramento das atividades ou dissolução da sociedade, ainda que irregulares,


não é causa, por si só, para a desconsideração da personalidade jurídica prevista
no Código Civil. STJ. 2ª Seção. EREsp 1306553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 10/12/2014 (Info 554).

11
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9ab8a8a9349eb1dd73ce155ce64c80fa. Acesso em:
09/12/2022.
12
https://buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/58f1e2bfc0c0c182f1afdab7cae02402. Acesso em:
09/12/2022.
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Referências Bibliográficas:

Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil.


Nelson Rosenvald. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB.
André Santa Cruz Ramos. Direito Empresarial Esquematizado.

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META 6 – REVISÃO SEMANAL

Direito Constitucional: Remédios Constitucionais

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII,
⦁ Art. 5, inc. LXXVII,
⦁ Art. 102, inc. I, “d”, “i” e “q”
⦁ Art. 102, inc. II, “a”
⦁ Art. 105, inc. I, “b”, “c” e “h”
⦁ Art. 105, inc. II, “a”
⦁ Art. 108, inc. I, “c” e “d”
⦁ Art. 108, inc. VII e VIII
⦁ Art. 121, §3º e §4º, inc. V
⦁ Art. 142, §2º

CPP
⦁ Art. 3-B, inc. XII
⦁ Art. 574, I
⦁ Art. 581, X
⦁ Art. 612
⦁ Arts. 647 a 667

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Lei 9507/97 (habeas data)
⦁ Lei 12.016/2009 (mandado de segurança)
⦁ Lei 13.300/2016 (mandado de injunção)
⦁ Lei 4717/65 (ação popular)
⦁ Art. 23, 24, 30, 32 e 41-A, Lei 8038/90

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER!


CF/88
⦁ Art. 5º, inc. LXVIII a LXXIII
⦁ Art. 5, inc. LXXVII

CPP

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⦁ Art. 3º-B, inc. XXII


⦁ Arts. 647, 648, 651
⦁ Art. 654, caput.
⦁ Art. 655 e 656
⦁ Art. 660, §§ 1º e 4º

LEI 9507/97 (HABEAS DATA)


⦁ Art. 4º
⦁ Art. 7º
⦁ Art. 8º, §único
⦁ Art. 19

LEI 12.016/2009 (MANDADO DE SEGURANÇA)


⦁ Art. 1º e 3º
⦁ Art. 6º, caput
⦁ Art. 7º, inc. I e §4º
⦁ Art. 8º a 10º
⦁ Arts. 14 e 20
⦁ Arts. 21 a 23
⦁ Art. 26

LEI 13.300/2016 (MANDADO DE INJUNÇÃO)


⦁ Arts. 2º e 3º
⦁ Art. 8º e 9º
⦁ Arts. 11 a 13

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Direito Constitucional: Direitos Políticos

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 14 a 17
⦁ Art. 37, §4º
⦁ Art. 55, IV
⦁ Art. 62, §1º, “a”,
⦁ Art. 68, §1º, II
⦁ Art. 85, III
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 14 e 15 (leitura completa! Importantíssimo!)
⦁ Art. 37, §4º

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não
afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

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Direito Constitucional: Direitos Da Nacionalidade

TODOS OS ARTIGOS
CF/88
⦁ Art. 12 (leitura completa)
⦁ Art. 13 (leitura completa)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CF/88
⦁ Art. 12, I e II
⦁ Art. 12, §3º, §4º

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Direito Penal: A Lei Penal E Sua Aplicação

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

⦁ Art. 1º ao 12º, CP
⦁ Art. 71, CP
⦁ Art. 107, III, CP
⦁ Art. 70, CPP (análise comparativa com o art. 6º, CP)
⦁ Art. 2°, Lei 9.455/97
⦁ Art. 53, CF/88
⦁ Decreto. 56.435/65
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art 1º ao 7º, CP (leitura indispensável)


⦁ Art. 70, CPP (análise comparativa com o art. 6º, CP)
⦁ Art. 53, CF/88

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 611-STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a
aplicação de lei mais benigna.
Súmula 711-STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
Súmula 501-STJ: É cabível a aplicação retroativa da lei n. 11.343/06, desde que o resultado da incidência
de suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.360/76,
sendo vedada a combinação de leis.
Súmula 245-STF: A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa.
Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.

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Direito Processual Penal: Inquérito Policial

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, LIV, LV e LVI
⦁ Art. 5º, LVII
⦁ Art. 5º, LX a LVVII
⦁ Art. 5º, LXVIII e LXIX da CF/88
⦁ Art. 129, VIII

CPP:
⦁ Art. 3-A, CPP
⦁ Art. 3-B, CPP
⦁ Arts. 4º a 23, CPP
⦁ Art. 28, CPP
⦁ Art. 39, §§3º, 4º e 5º, CPP
⦁ Art. 67, I, CPP
⦁ Art. 107, CPP
⦁ Art. 149, §1º, CPP
⦁ Art. 155 e 158, CP
⦁ Art. 304, §1º, CP
⦁ Art. 311, CPP
⦁ Art. 378, II, CPP
⦁ Art. 395 e 397 do CPP
⦁ Art. 405, §1º, CPP
⦁ Art. 549, CPP

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Lei 12.830/2013
⦁ Lei 12.037/09 – art. 1º a 5º
⦁ Art. 3º, I, 8º e 9º da Lei 9296/96
⦁ Art. 1º, I da Lei 7960/899
⦁ Art. 4º-A, 10º e 10º-A da Lei 13.840/2013
⦁ Art. 9º ao Art. 28 do Código de Processo Penal Militar
⦁ Art. 7º, XIV e XXI do Estatuto da OAB
⦁ Art. 7º, §§10º e 11º do Estatuto da OAB

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⦁ Arts. 12, 30 e 32 da Lei de Abuso de Autoridade


⦁ Art. 28 e 51 da Lei de Drogas
⦁ Art. 301, CTB
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

⦁ Art. 5º, LX a LVVII da CF/88


⦁ Art. 3º-B, inc.: IV, VIII, IX, X e XI, CPP
⦁ Art. 5º, caput, §§2º , 4º e 5º, CPP
⦁ Art. 6º, CPP
⦁ Art. 10, CPP
⦁ Art. 13, 13-A e 13-B, CPP
⦁ Art. 14 e 14-A, CPP
⦁ Arts. 16, 17, 18 e 20 do CPP
⦁ Art. 28, CPP
⦁ Art. 395 e 397 do CPP
⦁ Art. 7º, XIV e XXI do Estatuto da OAB
⦁ Lei 12.830/2013 inteira (importantíssima!)
⦁ Art. 3º, IV da Lei 12.037/09

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula Vinculante 14-STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Súmula 524-STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de
Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

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Direito Administrativo: Entes Da Administração

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 33
⦁ Art. 37, XIX, XX e XXI
⦁ Art. 37, §§ 6º, 8º
⦁ Art. 48, XI
⦁ Art. 51, IV e 52, XIII, da CF
⦁ Art. 61 § 1º, II, "e"
⦁ Art. 84, IV, VI, "a"
⦁ Art. 173, §1º e §2º e 174

Outros Diplomas Legais


⦁ Art. 51 da Lei nº 9.649/98
⦁ Art. 1º, §2º, I Lei 9.784/99
⦁ Lei 9637/98
⦁ Lei 13.303/16
⦁ Lei 13.019/14
⦁ Lei 9986/2000
⦁ Lei 13.848/2019

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


CF/88
⦁ Art. 37, XIX, XX e XXI, CF/88
⦁ Art. 37, §§ 6º, 8º, CF/88
⦁ Art. 48, XI, CF/88 (criação de ministérios deve ser por lei)
⦁ Art. 84, IV, VI, "a", CF/88

Lei 13.303/16 (lei das empresas públicas e sociedades de economia mista)


⦁ Art. 1º, caput e §§5º e 6º
⦁ Art. 2º, §§1º e 2º
⦁ Art. 3º, 4º e 5º
⦁ Art. 8º
⦁ Art. 27 a 30
⦁ Art. 47 e 49
⦁ Art. 85 e 86

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Lei 9637/98 (lei das organizações sociais - OS)


⦁ Art. 1º e 2º
⦁ Art. 5º, 6º, 7º e 9º
⦁ Art. 11º e 12º
⦁ Art. 14 e 17

Lei 9.790/99 (lei das organizações da sociedade civil de interesse público - OSCIP)
⦁ Art. 1º e 2º (atenção ao §único do art. 2º)
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 10, §1º
⦁ Art. 11, 14 e 16

Lei 13.019/2014 (lei das organizações da sociedade civil - OSC)


⦁ Art. 1º
⦁ Art. 2º, inc. I, II, VII, VIII e VIII-A
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 16 a 21
⦁ Art. 30, 31 e 35-A
⦁ Art. 39, 40 e 42, XX
⦁ Art. 69 e 73
⦁ Art. 84-B

Lei 13.848/2019 (lei das agências reguladoras)


⦁ Art. 3º e 5º
⦁ Art. 10, 14 e 15
⦁ Art. 34 e 35

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade
judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.
Súmula 8-STF: Diretor de sociedade de economia mista pode ser destituído no curso do mandato.

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Direito Civil: Constitucionalização Do Direito Civil E Lindb

TODOS OS ARTIGOS
⦁ LINDB – leitura inteira
⦁ Art. 1º ao Art. 78, CC
⦁ Art. 5º, XXX e XXXI, CF/88
⦁ Art. 5º, XXXVI, CF/88
⦁ Art. 37, §6º, CF/88
⦁ Art. 173, §1º, CF/88
⦁ Art. 133 a 137, CPC
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

LINDB:
⦁ Art. 1º, 2º e 4º
⦁ Art. 6º
⦁ Art. 7º, §§ 3º, 4º, 6º
⦁ Arts. 8º a 10º.
⦁ Art. 12
⦁ Arts. 20 a 30 (alteração legislativa recente!)

CF/88
⦁ Art. 5º, XXX, CF/88

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SEMANA 02/24

Direito Civil: Das Pessoas

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER

CÓDIGO CIVIL:
⦁ Arts. 1º a 4º
⦁ Art. 7, 11, 13 e 16
⦁ Arts. 22, 23 e 25
⦁ Arts. 26 a 28
⦁ Arts. 37 a 39
⦁ Art. 43 a 45
⦁ Arts. 50 a 52
⦁ Arts. 53 e 57
⦁ Arts. 62, 64, 66 e 69
⦁ Arts. 70 a 76.

CF/88
⦁ Art. 5º, XXX, CF/88

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