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RETA FINAL
SEMANA 03/12
Sumário
META 1 ............................................................................................................................................................ 12
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE III (ILICITUDE – CULPABILIDADE – TEORIA DO ERRO)............... 12
1. ILICITUDE ..................................................................................................................................................... 12
1.1 Terminologias ......................................................................................................................................................... 13
1.2 Relação entre a Tipicidade e a Ilicitude .................................................................................................................. 13
1.3. Causas de Exclusão da Ilicitude ............................................................................................................................. 14
1.3.1. Causas Legais de Exclusão da Ilicitude: também podem ser denominadas de descriminantes ou de
justificantes. A causa excludente ilicitude torna a conduta compatível com a ordem jurídica, levando a concluir-se
a conformidade do comportamento do agente com o ordenamento jurídico. ....................................................... 14
1.3.2. Causas Supralegais de Exclusão da Ilicitude ................................................................................................... 28
1.4. Excesso na Justificante .......................................................................................................................................... 29
2. CULPABILIDADE ........................................................................................................................................... 30
2.3. Funções da Culpabilidade ...................................................................................................................................... 31
2.2. Elementos da Culpabilidade .................................................................................................................................. 31
2.1.1. Imputabilidade: ............................................................................................................................................... 33
É o conjunto de condições pessoais que conferem ao sujeito ativo a capacidade de discernir e compreender os seus
atos. Ou seja, de atribuir responsabilidade por uma conduta típica e ilícita. A inimputabilidade exclui a capacidade
de entendimento e autodeterminação do agente, enquanto a semi-imputabilidade a reduz. ............................... 33
2.1.2. Potencial Consciência de Ilicitude................................ ................................................................................... 36
2.1.3. Exigibilidade de Conduta Diversa................................ .................................................................................... 36
3. TEORIA DO ERRO ......................................................................................................................................... 39
3.1. Erro de Tipo (art. 20, CP) ....................................................................................................................................... 39
3.2. Erro de Proibição ................................................................................................................................................... 44
DIREITO PENAL: CONCURSO DE PESSOAS E CONCURSO DE PESSOAS ............................................................
49
1. CONCURSO DE PESSOAS .............................................................................................................................. 49
1.1. Conceito ................................................................................................................................................................ 49
1.2 Requisitos ............................................................................................................................................................... 50
1.3 Teorias Sobre Concurso de Pessoas ....................................................................................................................... 53
1.4. Autoria ................................................................................................................................................................... 54
1.5. Participação ........................................................................................................................................................... 60
1.6. Concurso de Pessoas em crimes próprios e crimes de mão própria: .................................................................... 62
1.7. Concurso de pessoas em crimes culposos............................................................................................................. 63
1.8 Concurso de pessoas em crimes omissivos ............................................................................................................ 63
1.9 Cooperação dolosamente distinta ou participação em crime menos grave ou desvio subjetivo: ......................... 64
1.10 Concurso de pessoas e crimes multitudinários .................................................................................................... 65
1.11 Da (in)comunicabilidade das elementares e circunstâncias................................................................................. 65
2. CONCURSO DE CRIMES ................................................................................................................................ 66
2.1 Espécies de Concurso de Crimes ............................................................................................................................ 66
2.2 Sistemas de aplicação da pena ............................................................................................................................... 66
2.3 Concurso Material .................................................................................................................................................. 66
2.4 Concurso Formal (Ideal) ......................................................................................................................................... 68
2.5 Crime Continuado .................................................................................................................................................. 69
META 2 ............................................................................................................................................................ 72
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7.1 Espécies de Poder Constituinte Originário (também denominado inicial, inaugural, genuíno ou de 1.º grau) .. 205
7.1.1 Limitações Materiais ...................................................................................................................................... 207
7.1.2 Titularidade do Poder Constituinte Originário: Segundo Marcelo Novelino (2017, p. 73), para a doutrina
majoritária, a titularidade do poder constituinte reside sempre na soberania do povo. Essa posição deve ser
defendida nas provas. ............................................................................................................................................. 208
7.1.3 Legitimidade: Segundo Marcelo Novelino (2017, p. 75), a análise da legitimidade do Poder Constituinte
Originário pode ser feita sob dois prismas distintos: ............................................................................................. 208
7.2 Poder Constituinte Derivado
(instituído, constituído, secundário, de segundo grau, remanescente) ................ 208
7.2.1 Reformador: Tem o poder ou competência para modificar a Constituição por meio de um procedimento
específico, estabelecido pelo Poder Constituinte Originário. Ao contrário deste, que é um poder político, o Poder
Constituinte Derivado Reformador tem natureza jurídica, pois deve obedecer às limitações impostas pelo
Originário. ............................................................................................................................................................... 209
7.2.2 Poder Constituinte Derivado Decorrente: Assim como o reformador, também é jurídico e limitado pelo
originário. Possui o objetivo de estruturar a constituição dos Estados-membros, em decorrência da capacidade de
auto-organização estabelecida pelo originário. Tal capacidade consta artigo 25 da CF/88, o qual dita que “os
Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e Leis que adotarem, observados os princípios desta
Constituição”. ......................................................................................................................................................... 210
7.2.3 Poder Constituinte Derivado Revisor: Também é condicionado e limitado às regras do originário. Tal
manifestação ocorreu cinco anos após a promulgação da atual Constituição, por determinação do artigo 3º do
ADCT. ...................................................................................................................................................................... 211
7.3 Poder Constituinte Difuso .................................................................................................................................... 211
7.4 Poder Constituinte Supranacional ........................................................................................................................ 212
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
..................................................... 213
QUAL DEVE SER O FOCO? ........................................................................................................................................... 213
1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL ..................................................................................................................... 213
2. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.099/95 ................................................................................................. 214
3. JURISDIÇÃO CONSENSUAL NO PROCESSO PENAL ..................................................................................... 214
3.1 Velocidades do Direito Penal ............................................................................................................................... 215
4. CRITÉRIOS/PRINCÍPIOS ORIENTADORES E FINALIDADES DOS JUIZADOS .................................................. 215
5. COMPETÊNCIA DO JECRIM ........................................................................................................................ 216
5.1 Estatuto do Idoso ................................................................................................................................................. 218
5.2 Acusados com Foro por Prerrogativa de Função: ................................................................................................ 218
5.3 Jecrim nos Crimes Militares.................................................................................................................................. 218
5.4 Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher: .............................................................................. 219
5.5 Conexão e Continência entre Crime Comum e Infração de Menor Potencial Ofensivo: ..................................... 220
5.6 Competência Territorial ....................................................................................................................................... 220
5.7 Causas de Modificação da Competência dos Juizados ......................................................................................... 220
5.8 Nulidades .............................................................................................................................................................. 221
6. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO) ................................................................................ 221
7. FASE PRELIMINAR ...................................................................................................................................... 223
7.1 Composição Civil Dos Danos................................................................................................................................. 223
7.2 Transação Penal ................................................................................................................................................... 224
8. ANÁLISE DO PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO: ........................................................................... 226
9. SISTEMA RECURSAL DOS JUIZADOS .......................................................................................................... 228
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8.6 5ª Dimensão
......................................................................................................................................................... 298
8.7 6ª Dimensão ......................................................................................................................................................... 298
8.8 Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides ..................................................................................................... 298
9. A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK ........................................................................................... 299
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ATENÇÃO
Equipe DD
Prezado(a) aluno(a),
Caso possua alguma dúvida jurídica sobre o conteúdo disponibilizado no curso, pedimos que utilize a sua
área do aluno. Há um campo específico para enviar dúvidas.
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META 1
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE III (ILICITUDE – CULPABILIDADE – TEORIA DO ERRO)
CP:
⦁ Art. 20 a 25
⦁ Art. 26 a 28
⦁ Art. 65
⦁ Art. 73 e 74
⦁ Art. 163
⦁ Art. 213
⦁ Art. 228
CP:
⦁ Art. 20 e 21 (importantíssimos!)
⦁ Art. 25, §único (introduzido pelo Pacote Anticrime)
⦁ Art. 26
⦁ Art. 28, II e §1º
⦁ Art. 73 e 74 (importantíssimos!)
1. ILICITUDE
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1.1 Terminologias
b) Injusto x Ilicitude: A ilicitude e a tipicidade formam o INJUSTO. Dessa forma, ilicitude é uma parte do
injusto. Mirabete ensina que o injusto é a ação valorada como antijurídica.
a) Teoria da Absoluta Independência do Tipo / do Tipo Avalorado / Tipo Meramente Descritivo (Von Liszt
e Beling): o fato típico NÃO possui qualquer relação com a ilicitude.
● O tipo é a mera descrição objetiva do fato em lei (tipo penal acromático).
● Acaso a ilicitude deixe de existir, a tipicidade permanece.
● Para André Stefan (Direito Penal. Vol.1), trata-se de elemento valorativamente neutro.
● Sua concepção NÃO admitia o reconhecimento de elementos normativos ou subjetivos do tipo.
b) Teoria Indiciária do Tipo / da Ratio Cognoscendi (Max Ernst Mayer): O fato típico é presumidamente
ilícito, é um indício da ilicitude. É a teoria majoritária do CP.
● A tipicidade deixa de ter função meramente descritiva, vindo a representar um indício da
antijuridicidade.
● Onde há fumaça, há fogo, no sentido de que a tipicidade faz presumir a não conformidade com o
ordenamento jurídico, a ilicitude da conduta.
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● Praticando-se um fato típico, ele se presume ilícito. Essa presunção é relativa, pois admite prova em
contrário, podendo ser afastada por uma excludente de ilicitude.
● A tipicidade NÃO é valorativamente neutra ou descritiva, de modo que se torna cabível o
reconhecimento de elementos normativos e subjetivos do tipo penal.
c) Teoria da Absoluta Dependência / da Ratio Essendi / da Identidade (Edmundo Mezger): O fato típico e
ilícito seria um só elemento. A tipicidade não é só indício, é a essência da ilicitude, de modo que todo fato
típico NECESSARIAMENTE é ilícito.
● Origina-se, aqui, o “injusto penal”, que é o fato típico + ilícito, analisados em uma única ocasião.
● O tipo possui função constitutiva da ilicitude, de tal forma que se o fato for lícito, será atípico.
● A ilicitude faz parte da tipicidade, ou seja, é a fusão entre os dois substratos.
Ex.: O tipo penal do homicídio não seria matar alguém, mas matar alguém fora das hipóteses de legítima
defesa, estado de necessidade etc.
d) Teoria dos Elementos Negativos do Tipo: O tipo penal é composto por elementos positivos e elementos
negativos. Os positivos são explícitos (tipo penal), enquanto os elementos negativos estão implícitos (causas
excludentes de ilicitude). Para que o comportamento do agente seja típico, não podem estar configurados
os elementos negativos.
● Face positiva: é chamada de tipicidade provisória (o que nós conhecemos como tipicidade).
● Face negativa: é a ausência dos elementos negativos do tipo (o que nós conhecemos como causas
excludentes da ilicitude).
Há aqui uma absoluta relação de dependência entre o fato típico e a ilicitude, pois, para que seja típico,
não pode ser lícito, ou seja, deve também ser ilícito. Ex.: “matar alguém” = elemento positivo. No entanto,
matar alguém só será crime se o agente não estiver amparado em uma excludente da ilicitude, pois, caso
estivesse, incidiria um elemento negativo do tipo.
1.3.1. Causas Legais de Exclusão da Ilicitude: também podem ser denominadas de descriminantes ou de
justificantes. A causa excludente ilicitude torna a conduta compatível com a ordem jurídica, levando a
concluir-se a conformidade do comportamento do agente com o ordenamento jurídico.
a) Parte Geral do CP: Estado de necessidade; Legítima defesa; Estrito cumprimento de dever legal; e Exercício
regular do direito.
c) Legislação Especial:
Exemplos: Art. 303, Lei 7.565/86.
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b) Requisitos:
Perigo atual.
→ Pode advir da natureza, do homem, de comportamento animal.
→ Possui destinatário indeterminado.
O provocador do perigo NÃO pode beneficiar-se da excludente, salvo no caso em que tenha gerado
involuntariamente. Em outras palavras, aquele que por sua vontade produz o perigo não poderá agir em
estado de necessidade.
ATENÇÃO: Para que essa conduta esteja amparada pelo estado de necessidade, o indivíduo tem que,
necessariamente, escolher a opção menos danosa, SOB PENA DE AGIR EM EXCESSO. Ocorre que,
normalmente, a opção menos danosa é simplesmente a FUGA do perigo, justamente para evitar a lesão a
outro bem jurídico legítimo.
Isso porque, no estado de necessidade, há a exigência do commodus discessus (saída mais cômoda;
saída mais fácil, fuga).
→ No estado de necessidade, o objetivo é a eliminação da situação de perigo, e não a necessária
afirmação da prevalência do meu direito. Assim, ao contrário da legítima defesa, em que o indivíduo
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sofre uma injusta agressão, no estado de necessidade há dois bens jurídicos lícitos/devidos em
conflito, de modo que não é possível preservar ambos. Por isso, é necessário buscar a saída mais
cômoda para os dois bens jurídicos em risco.
→ Portanto, o commodus discessus é inerente à inevitabilidade do dano. Isso porque, se é possível
evitar o dano fugindo/se afastando da fonte de perigo, é um dever fazê-lo.
Há divergência acerca da configuração do dever legal. A discussão perpassa sobre o alcance (ou não)
do dever jurídico. Nesse contexto, para doutrina majoritária, em sentido amplo, se for o garantidor, mesmo
que por relação contratual, NÃO pode alegar estado de necessidade (a depender da situação poderia até
alegar inexigibilidade de conduta diversa, que afasta a culpabilidade).
O sacrifício somente será inevitável quando, mesmo correndo risco pessoal, for impossível a
preservação do bem. Em contrapartida, para quem não tem a obrigação de se arriscar, a inevitabilidade
significa que, se houver algum perigo para o agente, já lhe será possível o commodus discessus.
Ex.: Um bombeiro não pode alegar estado de necessidade como maneira de eximir-se do dever de
enfrentar o perigo.
→ Quando a ameaça for a direito próprio, haverá o estado de necessidade próprio. É o que ocorre
quando o agente, por exemplo, subtrai pequena quantia de alimento para não morrer de fome (furto
famélico) ou quando há um naufrágio e existem menos coletes salva-vidas do que o necessário e
uma pessoa mata outra para ficar com um colete e se salvar.
→ Quando a ameaça for a direito de terceiro, haverá estado de necessidade de terceiro. É o caso, por
exemplo, da subtração de pequena quantidade de alimento para alimentar e salvar a vida do filho
pequeno; o motorista que desvia o veículo em direção ao muro de uma casa, para evitar o
atropelamento de uma criança que atravessou a rua correndo.
Saliente-se que, no caso de defesa do direito de terceiro, é desnecessária a prévia autorização deste,
já que a lei não exige esse requisito. Não precisa também haver ratificação posterior pelo terceiro. Este
inspira-se no princípio da solidariedade humana.
● Teoria Diferenciadora: Se o bem jurídico sacrificado tiver um valor menor que o bem jurídico protegido,
haverá estado de necessidade com excludente da ilicitude, denominado de estado de necessidade
justificante. Por outro lado, se o bem sacrificado tiver o valor igual ou maior do que o bem protegido, a
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doutrina denominará esta situação de estado de necessidade exculpante, ou seja, haveria a exclusão da
culpabilidade. Teoria adotada pelo Código Penal Militar (art. 39 e art. 45, §único).
Obs: Embora ainda haja divergências doutrinárias, para teoria diferenciadora se o BJ sacrificado tem maior
valor ou igual que o BJ preservado é estado de necessidade exculpante! É DISTINTO da teoria unitária (que é
a adotada pelo CP), onde prevalece que o bem jurídico sacrificado pode ser de igual ou menor valor para ser
estado de necessidade justificante!
● Teoria Unitária: O estado de necessidade é sempre causa excludente da ilicitude. O agente não precisa
calcular o valor dos bens em conflito, basta que haja com razoabilidade.
NÃO há estado de necessidade exculpante, mas apenas o estado de necessidade justificante, que é
excludente da ilicitude e incidirá sempre que o bem sacrificado tiver valor igual ou menor que o bem jurídico
protegido. Teoria adotada pelo CP.
Sendo o bem sacrificado mais valioso do que o bem protegido, deverá o indivíduo responder pelo
crime, mas haverá uma causa de redução de pena de 1/3 a 2/3, conforme o §2º do art. 24 estabelece. O
dispositivo diz que embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.
Vamos esquematizar?
FURTO FAMÉLICO
É a subtração de algo por aquele que possui fome, podendo configurar estado de necessidade. Logo, o
furto de um pão, por quem está com fome e não possui recurso financeiro para comprá-lo, em situação de
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c) Espécies:
→ Quanto à titularidade: Próprio; De terceiro.
→ Quanto aos elementos subjetivos do agente: Real: existe efetivamente a situação de perigo;
Putativo: a situação de perigo foi fantasiada pelo agente (NÃO exclui a ilicitude) – descriminante
putativa (art. 20, §1º do CP).
→ Quanto ao terceiro que sofre a ofensa: Defensivo: sacrifica-se direito do próprio causado do perigo;
Agressivo: sacrifica-se direito de pessoa alheia à provocação do perigo. Gera responsabilidade civil,
embora não seja ilícito penal.
O autor Rogério Sanches considera o questionamento sobre possibilidade de estado de necessidade diante
de um crime habitual ou de um crime permanente. Segundo o autor, como a lei exige perigo atual,
inevitabilidade do comportamento lesivo e não razoabilidade de sacrifício do direito ameaçado (art. 24, CP),
, pois no crime
não há como aplicar esses requisitos legais nos casos de crime permanente e crime habitual
habitual, por exemplo, o sujeito não poderia exercer a medicina irregularmente em razão de um perigo atual.
Contudo, poderá, eventualmente, o indivíduo se valer de uma inexigibilidade de conduta diversa, que é uma
causa excludente da culpabilidade, não havendo em se falar em estado de necessidade em crime
habitual ou permanente.
2. LEGÍTIMA DEFESA
Inicialmente, é importante ressaltar que a legítima defesa é inerente à própria condição humana,
enquanto decorrência do instinto defensivo do homem. Desse modo, o ordenamento jurídico não poderia
criminalizar condutas praticadas nesse contexto, restando as legislações estabelecer condições, requisitos,
limitações e efeitos jurídicos a esse instituto.
É importante também observarmos que a autotutela (defesa de direitos com as próprias forças) é,
em regra, VEDADA em nosso ordenamento jurídico. Contudo, em hipóteses excepcionais, considerando que
o Estado não estará presente em todos os momentos para tutelar os direitos protegidos, admite-se a
autotutela. Desse modo, veja que a legítima defesa nada mais é do que maneira específica e autorizada de
exercer a defesa de direitos próprios ou de terceiros diante de injustas agressões.
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Agressão Reação
. Injusta; . Uso dos meios necessários;
. Atual ou iminente; . Uso moderado desses meios.
. Contra direito próprio ou de terceiros. . Conhecimento da situação de fato
justificante (elemento subjetivo) –
animus defendendi
Assim, passamos a analisar cada um dos requisitos exigidos para a configuração da legítima defesa.
Nos dizeres do professor Cléber Masson, agressão é toda ação ou omissão humana, consciente e
voluntária, que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem ou interesse consagrado pelo ordenamento jurídico.
O termo agressão somente é utilizado para agressões humanas, afastando, portanto, ações
praticadas institivamente por animais, salvo se o animal for utilizado como instrumento de ataques humanos.
Ademais, possui destinatário certo.
Pergunta-se: É possível a legítima defesa contra inimputáveis?
R.: SIM, conforme posicionamento da doutrina majoritária. Veja que a conduta do inimputável,
apesar de não haver culpabilidade, é típica e ilícita e, portanto, apta a ser repelida por legítima defesa.
Registramos posicionamento em sentido contrário exarado pelo professor Nelson Hungria para quem os
inimputáveis se equiparam a ataques realizados por animais e, quando repelidos, configurariam estado de
necessidade e não legítima defesa.
Pergunta-se: Seria possível a prática da legítima defesa contra uma omissão ilícita?
R.: SIM, Mezger fornece o exemplo do carcereiro que tem o dever de liberar o recluso cuja pena já
foi integralmente cumprida. Com a sua omissão ilícita, inevitavelmente agride um bem jurídico do preso,
autorizando a reação em legítima defesa.1
Ainda se exige que a agressão seja injusta. O conceito de injustiça se coaduna com a ideia de
contrariedade ao direito. Assim, NÃO é necessário que a conduta se configure especificamente como crime,
basta que ela seja praticada em desacordo com as normas jurídicas.
A doutrina admite a legítima defesa contra condutas culposas e até mesmo contra condutas despidas
de culpa, desde que revestidas de injustiça. Ex.: aquele que está sentado no banco de um ônibus e nota uma
pessoa que acabara de escorregar caindo em sua direção, pode, se necessário, empurrá-la contra o chão para
não ser atingido, exemplo citado na obra do professor Cleber Masson.
Pergunta-se: Admite-se legítima defesa da honra?
R.: NÃO! O STF entendeu, no bojo do julgamento da ADPF 779, que a tese da legítima defesa da
honra é inconstitucional! Assim, o STF entende que o acusado de feminicídio não pode ser absolvido, na
forma do art. 483, III, § 2º, do CPP, com base na tese da “legítima defesa da honra”, de modo que é proibido
1
MEZGER, Edniund. Tratado de derecho penal. Trad, espanhola Josè Arturo Rodrigues Mufloz. Madrid: Revista de
Derecho Privado, 1955. t 1, p. 453
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que a defesa, a acusação, a autoridade policial ou o magistrado utilizem, direta ou indiretamente, a tese de
legítima defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases pré-processual ou processual
penais, bem como durante julgamento perante o tribunal do júri.
Diferentemente do que ocorre em relação ao estado de necessidade, a legítima defesa autoriza que
a agressão seja atual ou iminente. Não seria razoável exigir que o agente tivesse sua integridade ofendida
para só então poder repeli-la.
De outro modo, a agressão passada ou a agressão futura e remota NÃO autorizam a incidência da
legítima defesa. No primeiro caso, justamente em razão de se configurar na verdade como vingança e, no
segundo, por se configurar como fórmula que desestimularia as pessoas a buscarem auxílio das autoridades
públicas quando sofrerem ameaças.
Vejamos conceito de agressão atual ou iminente apresentada pelo professor Cleber Masson:
→ Atual é a agressão presente, isto é, já se iniciou e ainda não se encerrou a lesão ao bem jurídico. Ex.:
a vítima é atacada com golpes de faca.
→ Iminente é a agressão prestes a acontecer, ou seja, aquela que se torna atual em um futuro imediato.
Ex.: o agressor anuncia â vítima a intenção de matá-la, vindo à sua direção com uma faca em uma
das mãos.
Em caso de agressão futura, porém certa, configurando legítima defesa antecipada, a doutrina
admite a configuração de excludente de culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa.
Observe que a legislação não exige que o bem defendido seja de propriedade do defensor
autorizando que a defesa ocorre em relação a bens jurídicos de terceiros. Em relação aos bens jurídicos, é
importante fazermos algumas observações:
a) Bem jurídico.
. Próprio ou de terceiros.
. Não só a vida ou a integridade física são passíveis de proteção em legítima defesa. Toda a
ordem de bens jurídicos pode ser tutelada e protegida pela legítima defesa.
. É possível a legítima defesa contra-ataques a bens de pessoas jurídicas ou mesmo contra
bens jurídicos do Estado.
. É possível ainda a defesa, por meio de legítima defesa, inclusive contra-ataques atuais ou
iminentes a fetos (nascituros).
● Pergunta-se: A conduta do sniper (atirador de elite) que atira no agressor que tem a vítima
na condição de refém, é abrangida por excludente de ilicitude?
R.: SIM. Veja que se enquadra perfeitamente nos requisitos que estamos analisando. Trata-se de
agressão atual ou iminente contra direito de terceiro. Desse modo, majoritariamente a conduta do sniper
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que dispara contra o agressor que tem refém em sua posse sempre foi, doutrinariamente, tratada como
legítima defesa. É justamente nesse sentido que a alteração legislativa milita, vejamos:
“Art.25. [...]
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele
agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.”
(NR)
Desse modo, agora, expressamente o legislador optou por tratar a condição do agente de segurança
pública que repele agressão atual ou iminente praticada por agressor que mantém a vítima na condição de
refém.
A repulsa a agressão deverá ser praticada se valendo dos meios necessários. Contudo, pergunta-se:
O que são meios necessários?
Os meios necessários são aqueles menos lesivos colocados à disposição do agente e que sejam
capazes de repelir a agressão atual ou iminente. Observe assim os requisitos de meio menos lesivo: à
disposição do agente que reage; e capaz de repelir a injusta agressão (deve ser eficiente).
Desse modo, a análise deve ser feita a partir da situação concreta, pois a reação até pode ser
desproporcional, quando o agente não possui outro meio menos lesivo apto a repelir a agressão que sofre.
OBS.: Inexistência do requisito “commodus discessus” - Observe que, ainda que o agente possa fugir
da injusta agressão, essa conduta NÃO é exigida dele. A ordem jurídica não pode abranger situações ilícitas
e não pode exigir de quem é atacado a conduta de fugir. Desse modo, a doutrina se posiciona no sentido de
não se exigir o que se convencionou chamar de commodus discessus.
COMMODUS DISCESSUS
Não é requisito para a É requisito para o ESTADO
LEGÍTIMA DEFESA. DE NECESSIDADE.
O uso dos meios necessários deve ocorrer na estrita necessidade de repelir a injusta agressão,
qualquer conduta que exceda o necessário para a defesa poderá ser tratada como excesso. Assim, o agente
será responsabilizado caso aja com excesso, o qual poderá ser doloso ou culposo.
Logicamente, não se exige que para essa análise cálculo matemático, até porque não é factível que
se exija essa exatidão de pessoas que estarão submetidas a situação de estresse e nervosismo. Exige-se, no
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entanto, proporcionalidade no uso dos meios necessários de forma que não se desconstitua a ideia do
instituto que é defender bens jurídicos da situação de risco.
OBS.: Existia previsão no texto originário do pacote anticrime a esse respeito, contudo essa disposição
não foi incluída no projeto aprovado.
Espécies:
. Quanto à forma de reação: Agressiva ou ativa: aquela em que a reação, contra a agressão
injusta, configura um fato previsto em lei como infração penal; e Defensiva ou passiva: aquela
em que a reação consiste em conter agressão, sem caracterizar fato típico.
. Quanto à titularidade do bem jurídico protegido: Própria: o agente defende um bem jurídico
de sua titularidade; e De terceiro: o agente defende um bem jurídico de outra pessoa.
. Quanto ao aspecto subjetivo de quem se defende: Real: aquela em que estão presentes todos
os requisitos do art. 25, CP. Exclui a ilicitude e, em consequência, o crime; Putativa ou
imaginária: o agente, equivocadamente, supõe presentes os requisitos da legítima defesa;
Subjetiva ou excessiva: aquela em que o agente, por erro escusável na apreciação da situação
fática, excede os limites da legítima defesa. O agente poderá ou não responder pelo excesso,
a depender do caso concreto; É o excesso derivado de erro de tipo escusável ou inevitável, a
vítima exagera ao interpretar a realidade de forma equivocada, pensando em necessitar de
meios mais gravosos do que realmente necessita; e Sucessiva: é o caso em que o sujeito que
sofreu a agressão injusta, reage em legítima defesa, porém, com excesso na agressão. Como
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esse excesso é uma agressão injusta, o que inicialmente era agressor fará jus à legítima defesa,
sendo possível, portanto, a legítima defesa sucessiva.
PONTOS IMPORTANTES:
(1) Estado de necessidade contra estado de necessidade
É possível falar em estado de necessidade contra estado de necessidade – lembre-se da “tábua de
salvação” em naufrágio para duas pessoas.
(2) Erro na execução (art. 73, CP) x Estado de necessidade e legítima defesa
São compatíveis. Havendo erro na execução em razão de estado de necessidade ou legítima defesa,
a vítima que foi acertada será considerada como se fosse a vítima virtual (pretendida do agente), incidindo
as excludentes no caso.
Relembrando que, a legítima defesa sucessiva é aquela que a vítima da agressão injusta, ao se defender, se
excede nos meios, o que enseja ao agente que iniciou a agressão injusta a possibilidade de se defender, isto
porque o excesso configura também agressão ilegítima! Na legítima defesa putativa é aquela suposta, em
que o indivíduo imagina que estão configurados os requisitos da legítima defesa.
Na verdade, NÃO cabe legítima defesa real contra nenhuma outra causa excludente de ilicitude real
(vez que não será agressão injusta). OBS.: Contudo, conforme já visto, é possível o estado de necessidade
bilateral.
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(6) Legítima defesa contra quem age amparado por excludente de culpabilidade
É possível a ocorrência da legítima defesa pois, ainda que não haja culpabilidade, ocorre um fato
típico e ilícito. Ex.: um inimputável por doença mental agride alguém sem capacidade de entender o caráter
ilícito do fato. Independentemente de sua capacidade de entendimento da ilicitude, sua agressão é injusta,
ensejando a legítima defesa.
OBS.1: A defesa contra agressão produzida em caso de um ataque epiléptico NÃO pode ser justificada pela
legítima defesa, mas seria caso de estado de necessidade.
OBS.2: É possível legítima defesa contra pessoa jurídica.
OBS.3: Se alguém desafia outrem e a pessoa aceita, nenhum dos dois estará em legítima defesa.
OBS.4: Os bens jurídicos supraindividuais NÃO são suscetíveis de legítima defesa.
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Espécies de excesso:
a) Doloso ou consciente: Quando o agente, ao se defender de uma injusta agressão, emprega meio que
sabe ser desnecessário ou, mesmo sabendo da desproporção, atua com imoderação.
Ex.: para se defender de um tapa, o sujeito mata a tiros seu agressor, caracterizando excesso doloso.
Se constatado o excesso doloso, a consequência é a responsabilidade do agente pelo resultado, no
exemplo citado o agente responderá pelo homicídio doloso.
b) Culposo ou inconsciente: Não houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se ainda
sofrendo o ataque, tendo o seu excesso decorrido de uma equivocada apreciação da realidade.
c) Exculpante: Não deriva nem de dolo, nem de culpa, mas de um erro plenamente justificado pelas
circunstâncias (legítima defesa subjetiva).
Diz respeito à agressão a bens jurídicos pelos agentes públicos no exercício de suas atribuições (art.
23, III, CP). Haveria incoerência caso o ordenamento jurídico impusesse um dever a alguém e o punisse
criminalmente por isso. Trata-se, portanto, de uma causa de exclusão da ilicitude que consiste na prática de
um fato típico em razão de o agente cumprir uma obrigação imposta por lei, de natureza penal ou não.
O estrito cumprimento do dever legal beneficia os agentes públicos em geral, mas é possível queparticular
o
também seja amparado pela excludente, desde que esteja cumprindo estritamente um dever legal. Ex.:
advogado que omite informações, recusando-se a depor, em razão do segredo profissional estabelecido no
EOAB.
→ O dever legal abarca a lei em sentido amplo, ou seja, qualquer ordem ou comando advindos do
Estado.
→ Se o agente se exceder, responderá pelo excesso. Caberia, por exemplo, legítima defesa diante desse
excesso.
→ NÃO é compatível com os crimes culposos, uma vez que a lei não obriga ninguém a ser imprudente,
negligente ou imperito.
→ No concurso de pessoas, o estrito cumprimento do dever legal para um dos agentes se comunica
aos demais que concorreram para o fato.
→ O agente deve ter consciência que está agindo acobertado por excludente (elemento subjetivo).
→ O autor Cláudio Brandão expõe que esse dever legal deve decorrer de norma de caráter geral, caso
seja uma norma individualizada, pode haver a exclusão da culpabilidade por obediência hierárquica,
em que o agente atua em razão de ordem não manifestamente ilegal.
A teoria da tipicidade conglobante de Zaffaroni promove o esvaziamento do instituto. Isso porque, o estrito
cumprimento do dever legal é analisado na tipicidade, uma vez que não se verifica a antinormatividade da
conduta.
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Para a teoria da imputação objetiva de Roxin, o estrito cumprimento do dever legal também pode ser
analisado na tipicidade, estando dentro do risco permitido.
DICA DD! O policial que mata o criminoso em uma troca de tiros ou em fuga NÃO age em estrito
cumprimento do dever legal. Não é dever de ninguém matar alguém. Nesse caso, o agente de segurança
pública age em LEGÍTIMA DEFESA, própria ou de terceiros.
● Excesso no estrito cumprimento do dever legal: Tanto no excesso doloso como no excesso
culposo na atuação em estrito cumprimento do dever legal, temos a ruptura dos limites do
dever.
Nessas hipóteses, o agente deixa de estar amparado pelo estrito cumprimento do dever legal porque
ele se excede, ou seja, ele ultrapassa os limites impostos pela norma.
Pergunta-se: Quais seriam as consequências imediatas dessa ruptura dos limites, ou seja, desse
excesso praticado pelo agente?
R.: Exclui a licitude da conduta, ou seja, se ele se excedeu, ele deixa de estar em estrito cumprimento
do dever legal, deixando de estar amparado uma causa excludente da ilicitude.
Além disso, se ele deixa de agir em estrito cumprimento do dever legal, o excesso acaba permitindo
a legítima defesa da pessoa agredida em seu direito (da pessoa que sofreu o excesso).
Ex.: A atuando em estrito cumprimento do dever legal, configura uma conduta lícita, de modo que B
(pessoa que está sofrendo os efeitos desse ato), não pode fazer nada, não pode repelir pois a conduta de A
é lícita. Se A se excede nos limites do estrito cumprimento do dever legal, sua conduta se torna ilícita, o que
abre a possibilidade para B repelir essa injusta agressão, repelir esse excesso. Assim, B pode atuar em legítima
defesa, pois ele está tendo seu direito agredido na medida em que a pessoa não está agindo em estrito
cumprimento do dever legal (por causa do excesso).
São as ações do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido em lei e
condicionadas à regularidade do exercício desse direito.
Exercício REGULAR de direito, ou seja, com proporcionalidade e observância de limites. Se houver
excesso o agente deve ser responsabilizado. Ademais, deve, de fato, ser um “direito”, estando previsto direta
ou indiretamente em lei. Conforme doutrina majoritária, NÃO pode ser baseado em costume (parte
minoritária entende que seria possível).
São requisitos: Proporcionalidade, Indispensabilidade e Elemento subjetivo. Também é necessário
que o agente tenha consciência que está agindo acobertado por excludente.
Ex.: Lesões em práticas esportivas; Prisão em flagrante realizada por particular (flagrante facultativo);
Intervenções médicas ou cirúrgicas (que também podem caracterizar estado de necessidade a depender da
situação, quando a intervenção médica não foi autorizada pelo paciente, por exemplo); e Direito de castigo
dos pais em relação aos filhos.
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ATENÇÃO: OFENDÍCULOS
a) Nomenclatura:
Doutrina MAJORITÁRIA: ofendÍculos = ofensáculos = defesas pré-dispostas.
Doutrina minoritária: diferencia ofendículos e ofensáculos de defesas pré-dispostas de forma que as
defesas mecânicas pré-dispostas estariam ocultas e seriam ignoradas pelo agressor. Nesse sentido, se
ela estiver oculta, ela não estaria abrangida pela causa de justificação. Já os ofendículos estão
aparentes e podem ser percebidos facilmente.
→ Conceito: Os ofendículos são aparatos pré-ordenados para defesa do patrimônio. Meio que as
pessoas utilizam para defender principalmente a propriedade e a inviolabilidade domiciliar (ex.:
cacos de vidros nos muros, cerca elétrica, pontas de lanças no portão etc). Devem ser visíveis, caso
contrário, estará configurado excesso.
b) Natureza jurídica:
☞ Doutrina MAJORITÁRIA: Enquanto o ofendículo não é acionado, o indivíduo age em
exercício regular de um direito.
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☞ Porém, quando é acionado o aparato protetor, a fim de repelir a injusta agressão, o indivíduo
agirá em legítima defesa preordenada.
Importante relembrar que se o consentimento do ofendido for elementar do crime, a análise é de tipicidade,
não havendo que se falar em excludente de ilicitude. Um exemplo é o crime de violação de domicílio: Art.150
do CP: entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de
quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências. Nota-se a partir da leitura que o consentimento
do ofendido é sua elementar (elementar é um elemento do tipo penal cuja ausência impede configuração do
delito, impede a tipicidade formal, pois, se há consentimento, torna-se a conduta atípica). Se não for
elementar do tipo, pode-se analisar se a hipótese de exclusão da ilicitude.
b) Requisitos:
i. Único titular / bem próprio;
ii. Agente capaz de consentir;
iii. Consentimento moral e que respeita os bons costumes;
iv. A doutrina tradicional diz que deve ser expresso, mas não precisa ser formal (pode ter qualquer
forma). A doutrina moderna admite também a tácita;
v. Prévio ou simultâneo à conduta, não admitindo que seja posterior (caso seja, pode ser causa extintiva
da punibilidade, como por exemplo a renúncia ou o perdão nas ações privadas);
vi. Bem disponível;
vii. O agente que comete o fato típico deve ter ciência desse consentimento (elemento subjetivo).
OBS.1: É cabível em crimes culposos. Ex.: vítima de lesão corporal de trânsito concordou com o excesso
de velocidade.
OBS.2: Se a falta de consentimento da vítima for elemento do fato típico, o consentimento excluirá a
própria tipicidade.
Exemplo:
Artigo 213 do CP (Estupro) Artigo 163 do CP (Dano)
O não consentimento do ofendido é O não consentimento do ofendido não é
elementar do tipo elementar do tipo.
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(2) ABORTO NECESSÁRIO OU TERAPÊUTICO (art. 128, I): Quando há risco de vida para a gestante;
Doutrina majoritária entende que a natureza jurídica do aborto necessário é uma causa especial de
estado de necessidade (Greco e Busatto).
Conforme previsão do art. 23, mesmo que esteja inicialmente acobertado pelas justificantes, o
agente responderá pelo excesso doloso ou culposo. O excesso pode incidir em qualquer uma das
excludentes de ilicitude.
De acordo com a doutrina, esse excesso poderá ser:
● Doloso: O sujeito, propositalmente, se propõe a ultrapassar os limites da justificante. Responderá
dolosamente pelo crime, ainda que o início da reação tenha sido legítimo. Será observado o
resultado.
● Culposo: O sujeito reage à uma agressão injusta, e, ao se defender, extrapola os limites sem que esta
fosse a sua intenção. Falta com seu dever objetivo de cuidado, agindo com imprudência, imperícia
ou negligência. Responderá culposamente pelo crime, caso haja previsão legal da modalidade
culposa.
● Acidental: Não decorre de um fato realizado pelo sujeito, e sim de caso fortuito ou força maior, de
modo que do ponto de vista penal, é irrelevante. O código penal diz que o sujeito só responderá se
agir com excesso doloso ou culposo, não abarcando acidental e nem podendo o agente responder
por este, vez que não há dolo ou culpa.
● Exculpante: Decorre de uma perturbação do estado anímico do agente, que lhe retira a capacidade
de atuar racionalmente, geralmente pelo medo ou susto. Como não foi tratado pelo código penal e
a doutrina diverge sobre sua consequência. Parte entende que o agente poderá responder se agiu
culposamente. Outra parte, por sua vez, entende que, embora a conduta não esteja amparada pela
excludente de ilicitude, é possível que sua culpabilidade seja afastada por inexigibilidade de conduta
diversa, tendo em vista que o indivíduo está fora de si.
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● Extensivo (Impróprio): é o excesso que ocorre em razão do uso imoderado de meios necessários.
Nesse caso, há o prolongamento da ação por tempo superior ao estritamente necessário (ou seja:
a reação persiste mesmo depois de cessada injusta agressão).
● Intensivo (Próprio): É a utilização de meios desproporcionais ou desnecessários durante a injusta
agressão. Nesse caso, ao contrário do excesso extensivo, agressão ainda não cessou.
Ex.: um lutador de muay thai que começa uma discussão com uma pessoa com força física muito
inferior à dele, onde ele poderia facilmente conter, porém ao invés disso, saca uma arma de fogo e
dispara até acabar as munições disponíveis.
2. CULPABILIDADE
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Vimos na primeira etapa da teoria do crime que esse conceito e esses elementos sofreram mudanças
ao longo do tempo, certo? Aqui traremos apenas um resumo de revisão da parte mais afeta à culpabilidade,
e dicas, em vídeo, do Professor Marcelo Veiga:
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FINALISTA
Adotado pelo CP. Teoria da culpabilidade: NORMATIVA PURA*.
(Hans Welzel)
Entra “potencial consciência da ilicitude” (que antes integrava
https://youtu.be/cdVEeqdE_6U similarmente o dolo, mas era ATUAL).
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2.1.1. Imputabilidade:
É o conjunto de condições pessoais que conferem ao sujeito ativo a capacidade de discernir e
compreender os seus atos. Ou seja, de atribuir responsabilidade por uma conduta típica e ilícita. A
inimputabilidade exclui a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente, enquanto a semi-
imputabilidade a reduz.
Momento para análise: ação ou omissão. Teoria da atividade.
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do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento. Logo, possui 3 requisitos para que
pessoa seja considerada inimputável:
1. Causal: exige-se a inexistência de doença mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou
retardado;
2. Consequencial: o agente deve possuir a capacidade de entender (momento cognitivo) e da
capacidade de querer (momento volitivo). Devendo entender o que faz e ser capaz de se
determinar conforme seu entendimento;
3. Cronológico: exige que a imputabilidade seja constatada ao tempo do crime, ou seja, no
momento da ação ou omissão do sujeito (teoria da atividade).
Obs.: apesar do CP adotar em regra, o critério biopsicológico, também adota-se o biológico, pois, segundo a
doutrina, referente à inimputabilidade dos menores de 18 anos.
Atenção! Jamais cumprirá as duas. Antes, isso até era possível, vez que o sistema adotado era o Duplo
Binário, em que o semi-imputável cumpria inicialmente a pena diminuída e depois medida de segurança.
Hoje, o Código adota o sistema VICARIANTE/UNITÁRIO, em que o agente deve cumprir ou uma, ou outra.
b) Excludentes da imputabilidade:
● Em razão de anomalia psíquica (art. 26, CP): Sistema biopsicológico. O agente pode ser inimputável
ou semi-imputável, como vimos.
● Em razão da idade do agente (art. 27, CP e 228 da CP): Sistema biológico. Se é menor de 18 anos é
inimputável. Há, nesse caso, presunção absoluta de inimputabilidade. Não podem ser submetidos à
justiça penal. Responderão pela prática de ato infracional análogo a crime perante o Juizado da
Infância e Juventude.
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Não esquecer da Súmula 711 do STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Ou seja, se o
agente iniciou a conduta menor, mas já era maior quando cessou, será considerado imputável, de modo que
lhe será aplicada a justiça penal comum.
EMBRIAGUEZ
ORIGEM GRAU
TEORIA DA ACTIO LIBERA IN CAUSA (teoria da ação livre da causa): Serve para justificar a punição de ato
transitório revestido de inconsciência, decorrente de ato antecedente que foi livre na vontade,
transferindo-se para este momento anterior a constatação da imputabilidade. A teoria busca analisar a
vontade no momento em que o agente ainda estava sóbrio, vez que “bebeu porque quis”. E até aqui tudo
bem.
Porém, o CP também a utiliza para a embriaguez voluntária ou culposa, em que o agente não tinha a
intenção prévia de cometer crime e, sobre isso, temos três correntes:
1ª Corrente: É responsabilidade penal objetiva, sendo inaceitável;
2ª Corrente: É responsabilidade penal objetiva, mas necessária para proteger o interesse público;
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3ª Corrente: Não se trata de responsabilidade penal objetiva e seria até desnecessária sua utilização,
vez que na embriaguez existe uma vontade residual, que fundamenta a responsabilidade penal.
Caiu em prova Delegado SP/2018! O Direito Penal trabalha com a necessidade de se apurar a
responsabilidade subjetiva para punir o autor do crime. No que concerne à responsabilidade objetiva, o
Direito Penal: admite-a excepcionalmente, quando pune aquele que agiu em estado de completa embriaguez
culposa (item correto).
OBS.: Ainda que sejam de elevada intensidade, a emoção e a paixão NÃO excluem a imputabilidade penal.
Contudo, o Código Penal, implicitamente, permite duas exceções a essa regra: I – coação moral irresistível,
em face da inexigibilidade de conduta diversa; e II – estado patológico, no qual se constituem autênticas
formas de doença mental.
Aferição se o sujeito possui condições de compreender que a sua conduta é reprovável. Conforme
doutrina majoritária (Geraldo Prado e Masson), isso é feito com base na “valoração da esfera do profano”.
Ainda que o agente desconheça o dispositivo em si, basta que na sua condição de leigo (profano) saiba
identificar que sua conduta é ilícita.
Enquanto na análise do fato típico ou da ilicitude se utiliza da figura do “homem médio”, para aferir
culpabilidade se avalia a partir das condições do próprio agente. O que vai excluir a potencial consciência da
ilicitude e, por ela, a culpabilidade, é o erro de proibição, se inevitável. Quando for evitável, haverá
diminuição de pena.
AUSÊNCIA
Consciência da Ilicitude Potencial Consciência da Ilicitude
ATENUANTE ERRO DE PROIBIÇÃO INEVITÁVEL
(art. 65 do CP – desconhecimento da
ilicitude da conduta)
Atenção! Não devemos confundir a exigência de potencial consciência da ilicitude com a possibilidade de o
agente alegar o desconhecimento da lei. A ignorância sobre o conhecimento de existência de lei não é causa
de exclusão de culpabilidade. Nesse sentido, há previsão na LINDB que ninguém pode se escusar de cumprir
a lei, alegando que não a conhece. Entretanto, a ignorância da lei é causa atenuante da pena, esta previsão
se encontra no art.65, II do Código Penal. Esta norma é aplicável aos crimes. Na lei de contravenções penais,
porém, há previsão específica que no caso de ignorância ou errada compreensão da lei, quando escusáveis,
a pena pode deixar de ser aplicada.
2.1.3. Exigibilidade de Conduta Diversa
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Obs.: A inexigibilidade de conduta diversa é uma causa geral de exclusão de culpabilidade fundada na não
censurabilidade de uma conduta, quando não se pode exigir do agente, em determinadas circunstâncias e
com base nos padrões sociais vigentes, diferente ação ou omissão.
OBS.: Se for coação física irresistível leva a exclusão da conduta e, consequentemente, do fato atípico.
a) Coação Moral Irresistível (art. 22, CP): O Código Penal não faz a diferenciação sobre o tipo de coação,
embora existam duas com consequências jurídicas diversas: moral e física. A coação MORAL exclui a
exigibilidade de conduta diversa (e consequentemente a culpabilidade). No caso de coação FÍSICA, não
haverá conduta por falta de vontade, de modo que o fato sequer será típico.
● Requisitos:
o Ameaça do coator, ou seja, promessa de mal grave e iminente que o coagido não é obrigado
a suportar e deve ser direcionada ao coagido ou alguém próximo a ele (se for um
desconhecido, em que pese não incida a coação moral irresistível, pode ser reconhecida
causa supralegal de inexigibilidade de conduta diversa);
o Inevitabilidade do perigo na posição em que se encontra o coagido;
o Caráter irresistível da ameaça.
● Consequência: Afasta a culpabilidade do coagido, mas NÃO gera impunidade, vez que será punível
o autor da coação por autoria mediata do crime. Não há concurso de pessoas, vez que falta liame
subjetivo.
Se a coação for RESISTÍVEL, o coagido será culpável e responderá com o coator em concurso de
agentes e apenas terá direito a uma atenuante genérica, sendo que para o coator incidirá agravante genérica
(arts. 62 e 65 do CP).
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OBS.: O temor reverencial consiste no receio de decepcionar pessoa a quem se deve elevado respeito. NÃO
se equipara à coação moral. NÃO há ameaça, apenas receio.
● Requisitos:
o Ordem não seja manifestamente ilegal. A ordem é ilegal, mas com aparência de legalidade.
o Oriunda de superior hierárquico;
o Autoridade competente para emanar a ordem;
o Decorrente de relação de Direito Público. A posição de hierarquia que autoriza o
reconhecimento da excludente da culpabilidade somente existe no Direito Público;
o Cumprimento estrito da ordem. O executor não pode ultrapassar, por conta própria, os limites
da ordem que lhe foi endereçada, sob pena de afastamento da excludente.
c) Causas Supralegais de Exclusão da Culpabilidade: Ainda que não seja situação de coação moral
irresistível ou obediência hierárquica, admite-se no Brasil, tanto em sede doutrinária como
jurisprudencial, o reconhecimento de causas supralegais excludentes da culpabilidade, sempre baseadas
na inexigibilidade de conduta diversa, quando ficar demonstrado que, em determinada situação, não
era razoável exigir do agente que se portasse de outra maneira.
O entendimento que vem sendo adotado é que se trata de um rol exemplificativo de causas de exclusão de
culpabilidade, o que dá abertura para consideração de causas supralegais. A exigibilidade de conduta diversa
é o elemento que possibilita a discussão dessas causas supralegais, pois se trata de uma espécie de cláusula
geral de exclusão de culpabilidade. O Direito Penal não pode punir, por não ser reprovável, qualquer
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conduta, se, em tais circunstâncias não se poderia exigir comportamento diverso do agente, não se limitando
a obediência hierárquica e a coação moral irresistível. STJ, Resp 1782240/MG, Dje 16/12/2020.
● Estado de necessidade exculpante: Situações razoáveis de sacrifício de bem de maior valor para
proteger bem jurídico de menor valor. Isso porque, conforme visto, o CP adotou a teoria unitária.
● Excesso intensivo exculpante: Em eventual excludente de ilicitude, que decorre de medo, susto,
perturbação do ânimo.
● Legítima defesa preordenada: Como regra, não é admitida a legítima defesa futura, visto que a agressão
deve ser atual. Todavia, a doutrina aponta a possibilidade do reconhecimento de inexigibilidade de
conduta diversa.
● Cláusula de consciência: Situação em que alguém, por motivo de consciência ou de crença, pratica fato
criminoso, não violando direitos fundamentais individuais. Fica isento de pena.
● Desobediência civil: Ato de insubordinação, fundado na proteção de direitos fundamentais, desde que
o dano causado não seja relevante.
● Conflito de deveres: Tem como fundamento a escolha do mal menor.
3. TEORIA DO ERRO
Erro consiste na ausência de consciência acerca de um objeto juridicamente relevante. Ou seja: está
em erro quem desconhece “algo” que é relevante para o Direito.
Essa ausência de consciência pode aparecer em dois momentos distintos: fato típico e culpabilidade.
● Fato típico: consciência enquanto elemento cognitivo do dolo (lembrando que o dolo é formado
pelo elemento cognitivo “saber” e elemento volitivo “querer”) → incide no ERRO DE TIPO.
● Culpabilidade: exige a potencial consciência da ilicitude → incide NO ERRO DE PROIBIÇÃO.
Atenção! Esse tema é de extrema importância e confunde muitos alunos, então, sempre que puder, revise.
O ERRO DE TIPO recai sobre os elementos constitutivos do tipo, podendo recair sobre as
elementares, circunstâncias, justificantes ou qualquer dado agregado a determinada figura típica. Em regra,
no erro de tipo, há a falsa percepção da realidade e pode ser essencial ou acidental.
a) ESSENCIAL: Trata-se de falsa percepção da realidade que recai sobre dados principais do
tipo, ou seja, sobre elemento fático ou normativo que corresponda a elementar do tipo.
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O erro de tipo essencial subdivide-se em erro de tipo incriminador e erro de tipo permissivo.
● Erro de tipo incriminador: a falsa percepção da realidade incide sobre situação fática prevista como
elementar ou circunstância de tipo penal incriminador (daí o nome).
Ex.: O agente, em uma mesa de bar, subtrai o aparelho celular de outra pessoa acreditando ser o
seu, por serem idênticos. Aqui, o agente incorreu em erro sobre o elemento “coisa alheia”, que é uma
elementar do tipo penal.
● Erro de tipo permissivo: o erro recai sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação,
isto é, situação de fato descrita como requisito objetivo de uma excludente de ilicitude (tipo penal
permissivo).
Ex.: Antônio se depara com um sósia de seu inimigo que leva a mão à cintura, como se fosse sacar
algum objeto; Antônio, ao ver essa atitude, pensa estar prestes a ser atingido por um revólver e, por esse
motivo, saca de sua arma atirando contra a vítima, que nada possuía nas mãos ou cintura. No caso, Antônio,
apreciando mal a realidade, acreditava estar diante de uma injusta e iminente agressão, o que configuraria
legítima defesa.
Atenção! O erro de tipo evitável ou inevitável NÃO pode recair sobre elementos subjetivos especiais diversos
do dolo, integrantes do tipo subjetivo, mas só dos elementos descritivos ou normativos do tipo objetivo.
Note que o erro de tipo essencial sempre excluirá o dolo. Isso porque falta ao agente o elemento
cognitivo do dolo, qual seja, o “saber”. No erro de tipo essencial, não há esse saber, essa consciência por
parte do agente.
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Exclui o dolo – o agente não tem consciência do que faz Exclui o dolo – o agente continua não tendo
(a consciência é um dos elementos do dolo; sem consciência.
consciência não há dolo).
Pune a culpa, se prevista em lei - o resultado era
Exclui Culpa – o resultado é imprevisível (a previsível, caso em que se pode punir a culpa.
previsibilidade é elemento da culpa).
OBS1.: É possível haver erro de tipo em relação aos crimes omissivos impróprios, em que o dever
de agir é um elemento constitutivo do tipo penal. Portanto, quando a falsa percepção da realidade recair
sobre a existência do dever de agir para evitar o resultado, haverá erro de tipo. Ex.: o salva vidas avista
banhista se afogando em águas rasas de uma praia e acredita que este está brincando.
OBS2.: Ocorre delito putativo por erro de tipo quando o delito é imaginário ou erroneamente
suposto, tendo em vista que só existe na cabeça do agente. No delito putativo por erro de tipo, a pessoa sabe
que a conduta é criminosa e quer praticar o crime, mas, por erro nas circunstâncias fáticas, pratica um fato
penalmente irrelevante. Ex.: Jovem acredita verdadeiramente que está grávida pois sua menstruação atrasou
e, por ser uma gravidez indesejada, decide comprar remédios abortivos para praticar o autoaborto (art. 124,
CP). Ocorre que, posteriormente, descobre que não havia gravidez alguma.
Existem três espécies de delito putativo:
• Delito putativo por erro de tipo;
• Delito putativo por erro de proibição;
• Delito putativo por obra do agente provocador (também conhecido por delito de ensaio, de
experiência ou crime de flagrante preparado).
b) ACIDENTAL: Recai sobre dados periféricos/secundários do tipo. São desvios causais previsíveis que
não afastam a responsabilidade penal, pois, diferentemente do erro essencial, são irrelevantes para a
configuração do dolo. Se o agente fosse avisado, ele apenas “corrigiria” o problema e continua agindo
ilicitamente.
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● Quanto à coisa / sobre o objeto: O agente representa equivocadamente a coisa visada. O alvo era
um objeto específico e, por erro, acaba atingindo outro objeto.
. NÃO exclui dolo e culpa;
. NÃO isenta o agente de pena;
. Adota a teoria da concretização;
. O agente responde pelo crime praticado, ou seja, pelo objeto lesado, e não o visado.
● Quanto à pessoa / error in personae (art. 20 §3º do CP): O agente representa equivocadamente a
pessoa visada. Constitui um erro de identidade. NÃO há erro na execução, não há falha operacional,
mas sim falha na representação da vítima. Há uma confusão quanto à pessoa certa.
. NÃO exclui dolo e culpa;
. NÃO isenta o agente de pena;
. Adota a teoria da equivalência dos bens jurídicos;
. O agente responde pelas qualidades da vítima pretendida (vítima virtual), e não da vítima real.
Ex.: queria matar o pai, mas matou o tio que é muito parecido acreditando ser ele (assim, é possível
parricídio de pai vivo).
● Na execução / aberratio ictus (art. 73 do CP): O agente representa corretamente a vítima, mas atinge
pessoa diversa da pretendida por ACIDENTE ou ERRO no uso dos meios de execução. Normalmente,
ocorre por erro de pontaria na hora de atirar.
. NÃO exclui dolo e culpa;
. NÃO isenta o agente de pena;
. Adota-se a teoria da equivalência dos bens jurídicos (responde com base na vítima virtual)
Pode possuir:
1. Resultado único / unidade simples: atinge só a pessoa diversa, razão pela qual o agente
responde pelas qualidades da vítima pretendida (vítima virtual).
2. Resultado duplo / unidade complexa: o agente atinge a pessoa desejada e também pessoa
diversa por culpa no segundo, razão pela qual responde pelos dois crimes (doloso e
culposo) em concurso formal próprio. Ex.: Quer matar A, mas, por erro de execução, além
de matar A, atinge também B, causando-lhe lesões corporais. Nesse caso, responderá pelo
homicídio de A em concurso com lesão corporal culposa de B.
Erro na execução
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao
invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
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ATENÇÃO: Embora, para fins penais, seja considerada a vítima pretendida, denominada vítima virtual, ela é
irrelevante para fins processuais penais, que levará em consideração a vítima efetiva ou seja a vítima real.
● Resultado diverso do pretendido / aberratio criminis (art. 74 do CP): O agente, por acidente ou
erro na execução, provoca lesão em bem jurídico diverso do pretendido.
. NÃO exclui dolo e culpa
. NÃO isenta o agente de pena;
Pode possuir:
o Resultado único / unidade simples: Responde pelo crime efetivamente ocorrido a título de
culpa, se houver previsão legal da modalidade culposa. Segundo Zaffaroni, só vai responder
pela modalidade culposa do que efetivamente ocorreu se for menos grave que o resultado.
Caso contrário, responderá por tentativa do outro. Ex.: queria matar alguém e, ao jogar
uma pedra, acertou uma janela. Nesse caso, não vai responder pelo crime de dano (que,
inclusive, sequer comporta a modalidade culposa), mas por tentativa de homicídio.
o Resultado duplo / unidade complexa: o agente atinge lesiona os dois bens jurídicos, razão
pela qual responde pelos dois crimes em concurso formal.
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No primeiro, apesar do erro, o agente atinge o mesmo bem jurídico pretendido (pessoa x pessoa), enquanto,
no segundo, o agente atinge só o bem jurídico diverso ou também bem jurídico diverso do pretendido
(pessoa x coisa).
O agente atinge o MESMO bem jurídico O agente atinge bem jurídico DIVERSO do
visado. pretendido.
O resultado provocado é o MESMO que o O resultado provocado (danificar patrimônio)
pretendido, mas atinge PESSOA DIVERSA. é DIVERSO do pretendido (ceifar vida).
● Sobre o nexo causal / dolo geral / erro sucessivo / aberratio causae: O agente provoca o resultado
pretendido, com nexo causal diverso. Não há erro de execução, mas o resultado pretendido é
alcançado por um nexo causal diverso do planejado (há desvio no curso causal). Ex.: A jogou B da
ponte, pensando que este morreria afogado, mas morreu de traumatismo craniano por bater a
cabeça em uma pedra.
NÃO se pode confundir o dolo geral com o erro sobre o nexo causal (aberratio causae). No erro sobre
o nexo causal realiza-se UMA só conduta pretendendo o resultado, o qual é alcançado em virtude de um
processo causal diverso daquele imaginado. No dolo geral, todavia, o sujeito realiza DUAS condutas.
Pergunta-se: Como ficará a responsabilização do agente se o resultado provocado pelo nexo real
incidir qualificadora? Como no caso do erro sucessivo, em que a asfixia é uma qualificadora do crime de
homicídio? Nesse caso temos duas posições na doutrina:
1ª Corrente: O agente responde pelo nexo pretendido, sob pena de caracterizar responsabilidade
objetiva do agente. No exemplo acima, responderia por homicídio simples.
2ª Corrente: O agente responde pelo nexo efetivamente produzido (aquele que produziu o
resultado). No exemplo acima, responderia pelo homicídio qualificado pela asfixia.
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Causa excludente da potencial consciência da ilicitude (elemento da culpabilidade). A pena deve ser
dosada na medida da culpabilidade. Se inevitável, exclui-se a culpabilidade e o agente não é punido. Se
evitável, o agente é punido com a pena diminuída de um sexto a um terço. A pessoa sabe o que faz, mas
imagina que não é contra a lei.
Espécies de erro de proibição:
a) Direto x Indireto x Mandamental:
● Direto: o erro recai sobre o conteúdo da norma proibitiva, o agente acredita que a sua conduta é
lícita/atípica (art. 21 do CP).
● Indireto: o erro recai sobre uma causa excludente de ilicitude. Ou seja, o agente supõe que seu
comportamento, ainda que típico/ilícito, é amparado por alguma causa excludente de ilicitude
(descriminante putativa – art. 20, §1º do CP).
● Mandamental: o erro recai sobre o conhecimento uma norma mandamental (que impõe um
determinado comportamento). Pode ocorrer nos crimes omissivos próprios ou impróprios (o agente
conhece a situação fática, mas acha que não está obrigado, por lei, a agir).
b) Evitável x Inevitável:
● Inevitável: O erro era imprevisível. Analisa-se o perfil subjetivo do agente no caso concreto
(diferente do erro de tipo que é “homem médio”. Isenta o agente de pena, desaparecendo com a
potencial consciência da ilicitude e, consequentemente, a culpabilidade.
● Evitável: O erro do agente decorre de culpa, pois lhe era previsível. NÃO isenta de pena, mas pode
servir como causa de diminuição. Permanece a potencial consciência de ilicitude. O quantum da
diminuição é medido pelo grau de reprovabilidade.
Essencial
evitável - só exclui o
ERRO DE TIPO dolo, pune por crime
(interfere do dolo) culposo, se previsto
Acidental - não em lei
excluem dolo ou
erro jurídico-penal culpa
falsa percepção da
realidade
inevitável (exclui a
culpabilidade)
ERRO DE PROIBIÇÃO
(interfere na
culpabilidade
evitável (reduz a
pena de 1/6 a 1/3
ERRO DE TIPO (art. 20, caput) ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO (art. 21)
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O agente possui falsa percepção da O agente sabe o que faz, mas acredita ser
realidade/dos fatos. Não sabe o que faz. lícito o seu comportamento, enquanto, na
verdade, é proibido.
Ex.: Alguém em uma reunião atrasado para Ex.: Holandês que faz uso de maconha no
outro compromisso, desatento, pega o celular Brasil e imagina ser permitido aqui, como lá
de outra pessoa que era igual ao seu e leva é.
consigo. Em tese, subtraiu para si, coisa alheia
móvel, mas tinha falsa percepção sobre o
elemento “coisa alheia”, pois pensava que era
sua.
Se o erro é INEVITÁVEL/ESCUSÁVEL/ Se o erro é INEVITÁVEL/ESCUSÁVEL/
INVENCÍVEL/ DESCULPÁVEL: Exclui dolo e culpa. INVENCÍVEL/ DESCULPÁVEL: Exclui
Não há fato típico. Exclui o CRIME. potencial consciência da ilicitude. Afasta a
culpabilidade. Exclui a PENA.
Se o erro é EVITÁVEL/INESCUSÁVEL/
VENCÍVEL/INDESCULPÁVEL: Exclui dolo e Se o erro é EVITÁVEL/INESCUSÁVEL/
permite a punição por culpa quando previsto VENCÍVEL/INDESCULPÁVEL: Diminui a pena
em lei. (quantum com base na reprovabilidade).
ATENÇÃO: Descriminantes Putativas (erro de proibição indireto é uma espécie das descriminantes
putativas).
Descriminantes putativas
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato
é punível como crime culposo [CULPA IMPRÓPRIA, POR EXTENSÃO OU
EQUIPARAÇÃO].
As descriminantes putativas são excludentes de ilicitude imaginárias. Ou seja, ocorre quando a causa
de exclusão da ilicitude existe apenas na MENTE do autor de um fato típico, NÃO existindo concretamente.
Há 3 formas de o agente errar quanto às excludentes de ilicitude:
(1) Erro relativo aos pressupostos de fato / à situação fática de uma causa de exclusão de
ilicitude: O agente avalia mal a situação fática e acredita estar diante de um acontecimento
que, se existisse, admitiria uma causa excludente de ilicitude (tornando sua ação legítima).
Ex.: Homem chega em casa encontra outro homem mantendo conjunção carnal com sua esposa, a
qual confiava muito e que começou a gritar na hora que o viu. Acreditando que fosse um estuprador, o
marido atira e mata o outro, em uma situação de legítima defesa que não existia, que só existiu na cabeça
dele, pois ele interpretou erroneamente a situação fática. Leva as mesmas consequências do erro de tipo.
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Já que a descriminante putativa por erro de tipo não é outra coisa senão erro de tipo essencial incidente
sobre tipo permissivo. Assim, se o erro for evitável, o agente responderá por crime culposo, já que o dolo
será excluído, se o erro for inevitável, excluirá dolo e culpa e não haverá crime.
(2) Erro relativo à existência de causa de exclusão de ilicitude: O agente acredita que existe uma
excludente de ilicitude quando, na realidade, não existe. Assim, aqui, ao contrário do erro
quanto aos pressupostos fáticos, o indivíduo não avalia mal a realidade, mas acredita estar
diante de uma situação que autorizaria a excludente de ilicitude.
Ex.: Indivíduo que acha que pode matar a esposa que o traiu alegando a legítima defesa da honra (o
que não existe no ordenamento jurídico pátrio). Essa discriminante é considerada um erro de proibição
indireto e leva as mesmas consequências do erro de proibição.
▪ Para a teoria extremada (ou estrita) da culpabilidade: O erro quanto às descriminantes putativas
deverão sempre receber a mesma consequência jurídica do erro de proibição. É o que a doutrina
chama de erro de proibição indireto (o agente sabe que a conduta é proibida, mas acredita estar
acobertado por causa excludente de ilicitude).
▪ Para a teoria limitada da culpabilidade: O erro quanto às descriminantes putativas poderão receber
o tratamento de erro de tipo, chamado pela doutrina de erro de tipo permissivo (excluindo o fato
típico) ou erro de proibição (excluindo a culpabilidade), a depender da “espécie”:
(i) Se o erro é sobre a situação fática: erro de tipo permissivo;
(ii) Se o erro é sobre a existência ou limites de uma justificante: erro de proibição indireto.
Caso fossem adotados os sistemas clássico ou neoclássico, tanto o erro de proibição inevitável quanto
EVITÁVEL, SEMPRE excluiriam a culpabilidade. Isso porque lá, a exigência era a consciência ATUAL da ilicitude
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RETA FINAL
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(que integrava o dolo), então o agente DEVERIA ter consciência concreta da ilicitude da conduta no momento
da prática para que fosse reconhecida sua culpabilidade. Com o finalismo é que se deixou de exigir a
consciência atual para passar a exigir apenas a POTÊNCIAL consciência da ilicitude, possibilitando agora essa
divisão em evitável ou inevitável.
● Erro provocado por terceiro (art. 20, §2º, CP): No erro de tipo, o agente erra por conta própria. No
erro determinado por terceiro, há terceira pessoa que induz o agente em erro. Consequência:
. Quem determina o erro dolosamente responde por crime doloso; quem determina
culposamente, crime culposo;
. Se foi previsto ou previsível, o agente será responsabilizado por culpa.
● Erro de tipo psiquicamente condicionado (Zaffaroni): Sujeito que, embora capaz, pratica fato típico
sem a capacidade psíquica necessária para conhecer os elementos exigidos pelo tipo objetivo no
momento da conduta, por estar em um estado de erro de tipo psiquicamente condicionado, em razão
de fenômenos psicopatológicos (como alucinações ou ilusões).
Ex.: Lenhador muito cansado após incessantes horas de trabalho, sofre uma ilusão ótica que lhe faça
perceber uma árvore em lugar de um homem e, ao decidir cortá-la, causa lesões ou morte. Mesmo
realizando conduta típica, não se poderá falar de dolo, já que não se trata de uma conduta final de
lesionar ou de matar e sim de cortar uma árvore. Neste caso estaremos diante de uma incapacidade
de conhecer os elementos requeridos pelo tipo objetivo, proveniente de uma CAUSA
PSICOPATOLÓGICA, que não deve ser confundida com a incapacidade de culpabilidade
(inimputabilidade).
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CÓDIGO PENAL:
⦁ Art. 29 ao 31
⦁ Art. 69 a 72
CÓDIGO PENAL:
⦁ Art. 29 (muito importante!)
1. CONCURSO DE PESSOAS
1.1. Conceito
O concurso de pessoas consiste na reunião de mais de um agente, em que todos concorrem com
unidade de propósitos e de modo relevante para a prática da conduta típica. É o cometimento da mesma
infração penal por duas ou mais pessoas, que serão chamadas de coautor/ autor ou partícipe (art. 29, CP).
Essas pessoas devem atuar de forma relevante para o resultado e possuir identidade de propósito.
● Crimes unissubjetivos ou de concurso eventual: São os delitos que podem ser praticados apenas por
um sujeito ou por vários. O concurso de pessoas é eventual, ou seja, pode ou não ocorrer.
● Crimes plurissubjetivos ou de concurso necessário: São delitos nos quais o concurso de pessoas é
elementar do tipo: o tipo penal exige a pluralidade de agentes (plurissubjetivos). Ex: Rixa, associação
criminosa.
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Para o nosso estudo aqui, vai interessar o primeiro tipo: o de concurso eventual. Nos demais, a regra
aplicada será a do próprio tipo penal.
ATENÇÃO! Caso a cooperação ocorra depois da consumação, pode haver delito autônomo. Logo, não
será caso de responsabilização do sujeito pelo crime consumado anteriormente, caso não tenha havido
acordo prévio.
1.2 Requisitos
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Concurso de
Relevância causal da conduta
pessoas
Vínculo subjetivo entre os agentes
Unidade de infração
Existência de fato punível
☞ Obs.1: Vale lembrar que a autoria mediata não é espécie de concurso de agentes.
☞ Obs.2: Cuidado, pois nem sempre a participação de um menor será hipótese de autoria
mediata! Só haverá autoria mediata caso o agente se valha do menor como instrumento
para a prática de crime. Se o menor possuir, de alguma forma, domínio sobre a ação
criminosa, haverá concurso de agentes. Ex.: Um maior e um menor (de 17 anos) roubam
um ônibus. Nesse caso, o menor não está sendo utilizado como mero instrumento apto a
caracterizar autoria mediata. Veja a jurisprudência pertinente:
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Lembre-se que nosso Ordenamento Jurídico adota a Teoria da Equivalência dos Antecedentes
Causais (que utiliza o método de eliminação hipotética), de modo que não será possível punir uma conduta
que seja irrelevante para o nexo de causalidade. (O direito penal não se ocupa de condutas inócuas/
inofensivas).
Nesse sentido, para a doutrina amplamente majoritária, uma conduta relevante é qualquer
contribuição, seja física, moral, direta, indireta, omissiva, comissiva, para a execução do crime!
ATENÇÃO: Em regra, a contribuição para o crime deve ocorrer ANTES ou DURANTE a consumação.
Se praticada depois, poderá configurar crime autônomo. Excepcionalmente, a contribuição pode ser
prestada depois da consumação do crime, desde que tenha havido ajuste prévio.
✔ Obs.1: Não se exige liame subjetivo bilateral para caracterização do concurso de agentes.
Ou seja, não é necessário que haja reciprocidade no liame subjetivo. Ex.: empregada
doméstica, com raiva de seu patrão, deixa a porta da cozinha aberta para que o furtador (que
todos sabem que há no prédio), furte os bens. Nesse caso, mesmo que o furtador não saiba
da colaboração da empregada, há concurso de agentes, pois a vontade de ambos está
direcionada ao mesmo resultado. A empregada, então, será partícipe do furto.
✔ Obs.2: Vínculo subjetivo não se confunde com o ajuste ou ajuste prévio! Dessa forma, para
configurar concurso de agentes, é desnecessária a prévia combinação, bastando que
concorrente tenha consciência e vontade de aderir ao crime de terceiro. Ex.: pessoa
caminhando no condomínio e vê o agente furtando pertences de dentro de um carro, e
resolve furtar junto. Nesse caso, há concurso de pessoas, ainda que o liame subjetivo tenha
ocorrido durante a execução do crime.
✔ Obs.3: Nesse sentido, Masson aduz que o partícipe precisa aderir à vontade do autor, não
sendo necessário que o autor saiba da sua colaboração
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● Liame subjetivo é sinônimo de ciência malefici ou ciência celleris - indispensável para caracterizar o
concurso de pessoas.
4. UNIDADE DE INFRAÇÃO PENAL: Todos que concorrem para um determinado crime responderão por
ele, vez que, em regra, foi adotada a teoria monista mitigada, que admite exceções pluralistas
(veremos logo à frente). (Art. 29 do CP: quem de qualquer modo concorre para “O CRIME”). Mas
atenção, embora haja unidade de crimes, não há unidade de penas. A pena de cada um será fixada
de acordo com sua culpabilidade, seguindo individualmente os critérios da dosimetria.
Monista REGRA
Teorias
CASOS
Pluralista
EXCEPCIONAIS
Excepcionalmente, o Código Penal abre espaço para a teoria pluralista. Exemplos: Aborto provocado
por terceiro com o consentimento da gestante (ao terceiro executor imputa-se o crime do art. 126);
Bigamia; Corrupção passiva e ativa; falso testemunho ou falsa perícia.
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No campo do estudo da autoria, cumpre citar que se denomina de autoria por convicção a situação
do sujeito ativo que pratica o delito por motivo de convicção religiosa. A autoria de consciência, por outro
lado, seria a do sujeito ativo que age por entender que é dever de sua consciência, um dever moral.
1.4. Autoria
a) Conceito de autor: Na doutrina, há algumas teorias que buscam diferenciar autor e partícipe. Vejamos:
TEORIAS SOBRE A AUTORIA:
● Subjetiva ou unitária: Para essa teoria, autor é aquele que concorre de alguma forma para o fato.
— NÃO distingue autor e partícipe.
— Adota um conceito extensivo de autor.
— Falhas dessa teoria: Por não diferenciar autor e partícipe, a Teoria Subjetiva não resolve os
delitos de mão própria e nem os casos que envolvem assassino de aluguel.
● Extensiva: Todos os que dão causa ao resultado são autores, ou seja, não distingue autor de
partícipe, mas a lei distingue os graus de responsabilidade.
Obs.: Parte da doutrina afirma que a teoria extensiva é aquela em que não é possível
distinguir objetivamente o autor e o partícipe, de modo que essa distinção deve ser feita de forma
subjetiva, ou seja, de acordo com o animus do agente. Portanto, para essa doutrina, autor é aquele
que quer praticar o fato como próprio, enquanto partícipe é aquele que quer o fato como alheio.
● Teorias Objetiva ou Dualista (conceito restritivo de autor): Fazem diferenciação de autor e partícipe.
Parte da premissa de que nem todo aquele que causa o resultado é autor do delito, pode ser
subdividida em:
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o Teoria objetivo-material: Autor é quem contribui de forma mais relevante para a ocorrência
do resultado, logo, a diferença entre autor e partícipe reside na contribuição para o resultado
criminoso.
▪ Autor: Contribui com a conduta mais importante;
▪ Partícipe: aquele que menor contribui na causação do resultado.
● Teoria do domínio do fato: Trata-se de uma teoria objetiva-subjetiva, pois mistura um pouco as
teorias anteriores.
● Para Roxin, o conceito de autor não deve se restringir somente àqueles que praticam o verbo núcleo
do tipo penal, uma vez que, muitas vezes, o indivíduo que não pratica o verbo núcleo tem mais
culpabilidade do que aqueles que realizam, sobretudo em casos de autoria mediata. E, muitas
vezes, o crime é praticado por indivíduos que dividem as tarefas que são tão essenciais para a
realização do tipo que, se um deles decidisse não colaborar, o crime não se realizaria.
Assim, para a Teoria do Domínio do fato, autor é aquele que possui poder de decisão sobre
a realização do tipo, o que pode ocorrer em 3 contextos:
💣 A Teoria do Domínio do fato já foi aplicada pelo STF
(1) Domínio da ação (AUTOR IMEDIATO): É aquele que possui domínio sobre a própria ação. O
autor realiza pessoalmente os elementos do tipo. Ex.: É o assassino que, de forma livre e
consciente, está com a arma de fogo e dispara contra seu inimigo, matando-o.
(2) Domínio da vontade (AUTOR MEDIATO): É autor aquele que domina a vontade de um
terceiro que é utilizado como instrumento. O domínio da vontade se dá por erro, coação
ou aparatos organizados de poder:
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2.1 - Por instrumento = figura do autor mediato, utiliza-se normalmente de um inimputável para
prática delituosa (erro/coação).
2.2 - Domínio da organização – aparatos organizados de poder – o conhecido "AUTOR DE
ESCRITÓRIO" Possibilidade de domínio da vontade sobre executores que agem com culpabilidade e são
igualmente responsáveis. Ou seja, um autor por trás de outro autor. Autoria de escritório trata-se de uma
autoria mediata especial ou particular. Sua peculiaridade reside em que são autores tanto o que determina
quanto o determinado. O determinador é autor mediato de escritório, e o determinado é autor imediato (ou
direto), pois realiza um injusto culpável.
ERRO: Imagine que o médico diga a enfermeira para aplicar uma injeção com veneno no seu inimigo,
mas diz que é um medicamento de que ele precisa (erro provocado por terceiro). O médico é autor, por ter
o domínio da vontade no caso. O autor é o “homem de trás”, em autoria mediata.
COAÇÃO: Autor é também quem coage o executor, que age sem culpabilidade. Pode-se pensar no
sujeito que aponta uma arma de fogo para a esposa de um gerente de banco e manda ele subtrair valores
de outra conta e repasse a uma conta específica de terceiro (coação moral irresistível). O agente se vale de
uma pessoa sem culpabilidade como executora, agindo, assim, com domínio de vontade, respondendo como
autor.
APARATOS ORGANIZADOS DE PODER: Possibilidade de domínio de vontade sobre os executores que
agem com culpabilidade e são igualmente responsáveis. Ou seja, um autor por trás do outro autor. Os
aparatos organizados de poder seriam estruturas verticalizadas, ou seja, hierárquicas, que atuam de forma
apartada da ordem jurídica, ou seja, à margem do Direito. Os executores são fungíveis, o que torna o homem
de trás, autor do que os executores fazem por ordem dele, ainda que os executores também sejam autores
(não agem por erro nem coação).
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▪ É PARTÍCIPE: Quem concorre para o crime sem ter o domínio do fato, a exemplo da
instigação e auxílio.
INFO 748 STJ - Para a caracterização do delito de associação criminosa inserido em contexto societário, é
imprescindível que a denúncia contenha a descrição da predisposição comum de meios para a prática de
uma série indeterminada de delitos e uma contínua vinculação entre os associados com essa finalidade,
não bastando a menção da posição/cargo ocupado pela pessoa física na empresa. É insuficiente e
equivocado afirmar que um indivíduo é autor porque detém o domínio do fato se, no plano intermediário
ligado aos fatos, não há nenhuma circunstância que estabeleça o nexo entre sua conduta e o resultado lesivo
(comprovação da existência de plano delituoso comum ou contribuição relevante para a ocorrência do fato
criminoso).
INFO 880 STF - A teoria do domínio do fato não permite que a mera posição de um agente na escala
hierárquica sirva para demonstrar ou reforçar o dolo da conduta. Do mesmo modo, também não permite a
condenação de um agente com base em conjecturas. Assim, não é porque houve irregularidade em uma
licitação estadual que o Governador tenha que ser condenado criminalmente por isso.
* ATENÇÃO: A teoria do domínio do fato possui aceitação doutrinária e jurisprudencial, tendo sido adotada
no julgamento do Mensalão (AP 470) e Lava-jato. No entanto, o STF também utiliza a teoria objetivo-formal
em relação à criminalidade comum, assim, conclui-se que as duas teorias convivem pacificamente.
a. Autoria imediata: O próprio agente executa o fato, ou seja, realiza pessoalmente os elementos do tipo
penal, sem a necessidade de se servir de outra pessoa para a execução. Ocorre ainda quando o agente
utiliza um animal ou instrumento na realização do crime.
b. Autoria mediata: É aquele que utiliza uma pessoa, que atua sem dolo ou de forma não culpável, como
instrumento para a execução do fato.
✔ O autor mediato domina a vontade alheia para cometer o delito.
✔ Só cabe em crimes dolosos! A autoria mediata é incompatível com crimes culposos!
✔ A doutrina admite coautoria ou participação na autoria mediata.
✔ Hipóteses de autoria mediata: Inimputabilidade do executor; Coação moral irresistível;
Obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal; Erro de proibição inevitável; Erro
de tipo provocado por terceiro; Ação justificada do executor; Autoria de escritório ou aparatos
organizados de poder.
b.1. Autoria mediata e crime próprio: doutrina majoritária entende ser possível, desde que o autor
mediato preencha as qualidades do tipo. Ex.: Só poderá haver o crime de peculato por autoria mediata se
o “homem de trás” ostentar a qualidade de funcionário público.
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b.2. Autoria mediata e crime de mão própria: doutrina majoritária entende que é incompatível, pelo fato
de a conduta ser infungível. No entanto, o STF já admitiu no falso testemunho, em relação à conduta do
advogado que instrui a testemunha a mentir.
b.3. Autoria de escritório ou aparatos organizados de poder: Ocorre quando, dentro de uma “máquina
de poder”, o agente ordena que outrem execute determinada conduta. Em razão da fungibilidade dos
membros, o executor pode ser substituído a qualquer momento por outro integrante da organização.
Requisitos para configurar a autoria de escritório:
1) Poder de Mando: dentro da organização criminosa.
2) O aparato organizado de poder deve ser desvinculado do Ordenamento Jurídico (Para
Roxin, trata-se de requisito essencial).
3) Fungibilidade o executor: o executor pode ser substituído por outro integrante da
organização criminosa.
4) Alta disposição do executor para cumprir a ordem: o executor da ordem está sujeito à
inúmeras influências que o tornam mais disposto ao fato que outros delinquentes, razão pela
qual, contribuem com domínio do fato pelo homem de trás.
c. Autoria por convicção: Ocorre quando o agente tem conhecimento da norma penal, mas decide
transgredi-la por questões de consciência política, religiosa, filosófica, ou de qualquer outra natureza.
Ex.: quando a mãe de criança de tenra idade, por motivos religiosos, impede a transfusão de sangue que
seria capaz de salvar seu filho (enseja a responsabilidade pelo crime de homicídio, em face da omissão
penalmente relevante – ar. 13, §2º, “a”).
d. Autoria colateral ou parelha: Ocorre na hipótese em que duas ou mais pessoas, desconhecendo a
intenção da outra, praticam determinada conduta visando ao mesmo resultado.
✔ NÃO há um concurso de pessoa pela ausência do vínculo subjetivo e cada um responde por sua
conduta: CRIMES AUTÔNOMOS.
d.1. Autoria incerta - Surge no campo da autoria colateral, quando não se sabe qual dos autores causou o
resultado. Ex: A e B, um desconhecendo a conduta do outro, atiram ao mesmo tempo em C para matá-lo,
vindo este a óbito e não sendo possível identificar qual foi o disparo fatal. Há aplicação do in dubio pro reo:
ambos respondem por tentativa.
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#DICA DD! Ainda no bojo da autoria incerta, caso um dos agentes pratique crime impossível, ambos devem
se beneficiar pela atipicidade da conduta!
d.2. Autoria Complementar - Quando duas pessoas concorrem para o mesmo fato sem ter ciência disso, e
o resultado é efeito da soma das duas condutas.
e. Autoria Ignorada: Quando se desconhece o autor do crime. Instituto de direito processual penal.
Consequência: arquivamento do inquérito policial.
f. Autoria intelectual: É aquele que planeja a ação delituosa para ser executada por outras pessoas (DICA:
Lembrar do “Professor” do seriado La casa de papel).
ATENÇÃO: Embora haja entendimento em sentido contrário (Rogério Greco), a doutrina majoritária e
especializada entende que o autor intelectual somente poderá ser responsabilizado se tiver o domínio
do acontecer típico.
g. Coautoria
A coautoria ocorre quando dois ou mais indivíduos, com liame subjetivo, praticam a conduta típica.
Como diz Welzel: coautoria é autoria com uma divisão de trabalho entre os agentes. Nesse sentido, coautor
é aquele que “possui a tarefa” de praticar ato relevante na execução do plano delitivo global. Ou seja: cada
coautor realiza uma parte essencial do plano.
Fala-se, portanto, que a coautoria exige 2 requisitos:
(1) Requisito objetivo – divisão de tarefas
(2) Requisito subjetivo – existência de liame subjetivo
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RETA FINAL
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R.: Embora haja doutrina minoritária no sentido de que o coautor sucessivo deve ser responsabilizado por
toda a ação delituosa, prevalece na doutrina que ele somente será responsabilizado pelos atos posteriores à
sua adesão. Excepcionalmente, contudo, poderá ser responsabilizado por atos anteriores desde que tenha
conhecimento destes, e desde que o fato anterior não constitua crime mais grave.
1.5. Participação
Consiste em atribuir na conduta criminosa do autor ou coautores, praticando atos que não se
amoldam diretamente à figura típica e que não tenham o domínio final do fato. Assim, o partícipe não realiza
diretamente a figura típica, mas concorre induzindo, instigando ou auxiliando o autor.
A participação reclama dois requisitos:
(1) O propósito de colaborar para a conduta do agente principal (autor);
(2) A colaboração efetiva, por meio de um comportamento acessório que concorra para a conduta
principal.
O Código Penal adota a TEORIA DA ACESSORIEDADE LIMITADA OU MÉDIA, pela qual o partícipe
será punido se o autor praticar um fato típico e ilícito, independentemente da culpa e punibilidade do agente.
A participação só adquire relevância para o Direito Penal a partir do momento em que o autor pratica
um crime, pelo menos tentado. Art. 31, CP, in verbis: “o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio,
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”.
☞ É chamado pela doutrina de participação impunível – já que não se pune a participação se o crime
sequer chega a ser tentado.
☞ Adota-se, nesse caso, o princípio da executoriedade da participação.
Modalidades de participação:
a) Participação moral
● Induzimento: é fazer surgir na mente do autor a vontade criminosa (só pode haver induzimento
durante os atos preparatórios).
● Instigação: é reforçar na mente do autor a vontade criminosa pré-existente. (Pode haver instigação
tanto nos atos preparatórios quanto durante os atos executórios. Ex.: Pessoa instiga o agente de
modo a impedir a desistência voluntária).
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Tanto a instigação como o induzimento devem se direcionar a pessoa certa. Caso venham ser dirigida
ao público, pode vir a configurar crime de incitação ao crime, previsto no art. 286 do CP. Importante lembrar
que a participação moral seja eficaz ou eficiente. Essa influência deve ser causadora da decisão delitiva do
autor ou reforçá-la, deve ser decisiva. Exige-se a chamada causalidade psíquica.
Conforme doutrina majoritária, não existirá instigação ou induzimento se o autor já havia
resolvido cometer o crime anteriormente, o crime que aconteceria de qualquer modo, se denomina de
omnimodo facturus.
b) Participação material
● Auxílio: é concorrer materialmente para o crime, sem executá-lo.
☞ Pode haver auxílio tanto durante os atos preparatórios como durante os atos executórios.
☞ O auxílio prestado após a consumação do delito configurará participação, caso haja prévio
ajuste entre os indivíduos. Caso esse auxílio não seja antecipadamente ajustado, poderá
configurar o crime autônomo de favorecimento pessoal (art. 348, CP).
Prevalece só ser possível a participação dolosa em crime doloso. O partícipe deve aderir de forma
consciente e voluntária a conduta do autor. Roxin faz uma observação a partir do princípio da confiança:
os de outros. Quem entrega uma faca a um assassino
não se pode responsabilizar o agente por crimes dolos
de forma culposa, sem dolo de homicídio, não pode ser responsabilizado como partícipe.
⇒ O que é participação em cadeia? Ocorre quando alguém induz outrem a induzir, instigar ou auxiliar
terceira pessoa a praticar um crime. Exemplo: “A” convence “B” a convencer “C” a matar “D”. Nesse
ínterim, “A” e “B” participação em cadeia; “C” é o autor imediato do crime.
⇒ O que é participação sucessiva? O mesmo agente é instigado, induzido ou auxiliado por duas ou mais
pessoas, sem que estas conheçam a participação uma da outra. Exemplo: “A” induzido por “B” (sem o
conhecimento de C) e “C” (sem conhecimento de B) a matar “D”.
Por fim, se a participação for de menor importância, a pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3 para o
partícipe.
∘ Não existe coautoria de menor importância. A minorante só tem aplicação para o partícipe;
∘ Trata-se de direito subjetivo do réu;
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∘ O critério a ser adotado para saber se a participação é ou não de menor importância reside na
fungibilidade da contribuição. Ou seja: se for uma contribuição que “qualquer pessoa” possa
fazer, será participação de menor importância.
Vamos relembrar?
CRIME COMUM CRIME PRÓPRIO CRIME DE MÃO PRÓPRIA
O tipo penal não exige O tipo penal exige O tipo penal também exige qualidade ou
qualidade ou condição qualidade ou condição condição especial do agente.
especial do agente. especial do agente
Só admite participação*. Não admite coautoria
Admite coautoria e Admite coautoria e (por isso, é chamado de delito de conduta
participação participação infungível), pois somente a pessoa pode
praticar o delito, ainda que auxiliada por
alguém (regra).
Cuidado! Falsa Perícia, crime de mão própria,
excepcionalmente admite coautoria. (atenção,
aqui há divergência, embora tenha decisões
isoladas dos tribunais superiores, atenção ao
comando da questão!!)
⇒ É possível coautoria em crimes próprios? Sim! É possível coautoria em crimes de mão própria? Não!
☞ Lembrando da exceção acima já descrita em que o STF admitiu pela teoria do domínio final
do fato a coautoria do advogado no crime de falso testemunho.
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⇒ É possível haver coautoria em crimes culposos? Sim! A doutrina majoritária entende que cabe
coautoria em crimes culposos, quando a situação de perigo tenha criada em conjunto, pois o resultado é
obra comum imputado a todos os concorrentes.
Obs.: em uma prova discursiva é importante mencionar que existe forte corrente doutrinária no
sentido de que não seria possível coautoria em crimes culposos, tendo em vista que o dever objetivo de
cuidado é indecomponível. Nesse sentido: Nilo Batista, Juarez Cirino, Juarez Tavares.
⇒ É possível haver participação em crimes culposos? Não! A doutrina majoritária entende que não
cabe participação dolosa em crime culposo. Isso porque, além de não haver liame subjetivo, tendo em vista
que não é possível participar de um crime cujo resultado é produzido de forma involuntária, os crimes
culposos são tipos penais abertos, de modo que toda conduta que colaborar para o crime culposo,
configurará violação do dever objetivo de cuidado. Ou seja: todo serão coautores!
Obs.: Rogério Grecco entende que cabe participação em crimes culposos quando o agente induz
outrem a violar o dever objetivo de cuidado. Trata-se de posição minoritária no ordenamento jurídico
brasileiro.
⇒ É possível haver participação em crimes omissivos? Sim! Apesar de também haver divergência
doutrinária, prevalece que cabe participação “por ação” em crimes omissivos, através da participação moral
(instigação ou induzimento). Ex.: a pessoa poderia instigar o garante a não impedir o resultado, por exemplo.
Nesse caso, o garantidor seria autor do crime, enquanto aquele que o induziu seria partícipe do crime.
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Vale lembrar que a participação por omissão só será possível caso o agente tenha o dever e a
possibilidade de agir (seja garantidor na forma do art. 13, §2º, CP). Ex.: policial que presencia uma mulher
sendo vítima de roubo e, mesmo podendo, nada faz, pois estava falando ao telefone. Ele será partícipe.
1.9 Cooperação dolosamente distinta ou participação em crime menos grave ou desvio subjetivo:
Art. 29, §2º, CP - Se algum dos concorrentes (coautor e partícipe) quis participar de
crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até
metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
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Crimes multitudinários são aqueles praticados por multidões. Como por exemplo: violência praticada
por torcida organizada, rixa, rebeliões em presídios etc.
● Quem provoca esses crimes – tem a pena agravada (art. 62, I, CP);
● Quem pratica o crime sob a influência da multidão – tem a pena atenuada (art. 65, III, “e”).
Vamos relembrar:
a) Elementares (dados que formam o tipo fundamental – via de regra, caput, mas há exceções, ex.:
excesso de exação): Sempre comunicáveis, desde que sejam de conhecimento do outro agente.
b) Circunstâncias (integram o tipo derivado – qualificadoras, privilégio, causas de aumento ou
diminuição):
● Objetivas ou de caráter real: Dizem respeito ao crime – ex.: emprego de arma de fogo. Sempre
comunicáveis, desde que de conhecimento do outro agente.
● Subjetivas ou de caráter pessoal: Dizem respeito ao agente – ex.: motivo do crime.
Incomunicáveis, SALVO quando elementares do crime e de conhecimento do outro agente.
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Lei apliquem-se às demais situações de concurso de agentes (no que não for contrariada por disposições
especiais, eventualmente existentes).
Ademais, segundo a doutrina, "o argumento de que só os crimes praticados por organização
criminosa são capazes de gerar o benefício da colaboração não pode prosperar, pois, muitas vezes, não há
uma estrutura propriamente de organização (ou estrutura empresarial) e nem por isso os associados à prática
delitiva cometem delitos que não mereceriam um acordo com o Estado".
2. CONCURSO DE CRIMES
Conceito: Há concurso de crimes quando o agente pratica uma pluralidade de crimes, mediante uma
ou várias condutas. O estudo tem importância para aplicação das penas no caso de concurso de crimes, pois,
caso o agente pratique mais de um crime, é preciso averiguar como se dará a individualização da pena. Para
isso há sistemas de aplicação de penas.
Pode ocorrer entre crimes de qualquer espécie:
1) Comissivos ou omissivos;
2) Dolosos ou culposos;
3) Consumados ou tentados;
4) Simples ou qualificados;
5) Crimes ou contravenções penais.
● Sistema do cúmulo material: as penas de todos os crimes são somadas. É o sistema adotado para o
concurso material, concurso formal impróprio e para as penas de multas.
● Sistema da exasperação: é aplicada a pena do crime mais grave e exasperada de acordo com o
número de delitos que foi praticado no contexto. É adotado para o concurso formal próprio e para o
crime continuado.
● Sistema da absorção: a pena do delito mais grave absorve as demais. Não há previsão no nosso
ordenamento atualmente.
● Sistema da responsabilidade única e da pena progressiva única: não há cumulação de penas, mas
deve-se aumentar a responsabilidade do agente à medida que aumenta o número de infrações.
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Art. 69, do CP - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de
penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
Espécies:
● Homogêneo: crimes idênticos;
● Heterogêneo: crimes distintos.
Obs.1: soma das penas do concurso de crimes é considerada para fins de verificação da pena máxima
em abstrato de até 4 anos para que seja possível a concessão da fiança pelo delegado de polícia, bem como
para a verificação da pena mínima em abstrato não superior a 1 ano para fins de concessão de suspensão
condicional do processo.
Obs.2: Não se considera o concurso de crimes para efeitos da prescrição. Assim, para verificar a
prescrição, deve-se analisar a pena de cada crime (isoladamente). A extinção da punibilidade recai sobre cada
um isoladamente.
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O concurso formal ou ideal ocorre quando o agente pratica, mediante uma só conduta, dois ou mais
crimes, idênticos ou não.
Art. 70, do CP - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou,
se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até
metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o
disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art.
69 deste Código.
Ocorre quando o agente, mediante a prática de uma só conduta (o que não quer dizer único ato –
uma conduta pode ser fracionada em vários atos), pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Unidade de
conduta, pluralidade de crimes.
● Requisitos:
1) Conduta única;
2) Pluralidade de crimes - idênticos ou não.
● Espécies:
a) Homogêneo: crimes idênticos.
b) Heterogêneo: crimes distintos.
Ex. Acidente de trânsito com pluralidade de Ex. Acidente de trânsito com duas vítimas,
vítimas com lesão culposa (todas as vítimas sendo uma fatal.
com lesão).
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Obs.: Essa distinção entre os dois tipos de concurso formal (perfeito e imperfeito) varia de acordo com o
elemento subjetivo que animou o agente ao iniciar a sua conduta. A expressão "desígnios autônomos" refere-
se a qualquer forma de dolo, seja ele direto ou eventual.
Obs.: No concurso formal próprio, se o cúmulo material é mais benéfico que a exasperação, aplicar-se-á o
primeiro. Utiliza-se, neste caso, o critério mais benéfico ao agente.
O agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e,
pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser
havidos como continuação do primeiro (chamados de crimes parcelares).
Teorias acerca do crime continuado:
a) Teoria da Unidade Real: entende que todos os crimes parcelares praticados são, de fato, um só delito.
b) Teoria da Ficção Jurídica (ADOTADA): Serão considerados um só delito apenas para a fixação da pena,
por questões de política criminal. É possível inferir esta informação pelo art. 119 do CP, que prevê que
a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um dos delitos, isoladamente.
c) Teoria Mista: Todos os crimes formam um terceiro tipo de delito.
REQUISITOS:
1) Pluralidade de condutas;
2) Pluralidade de crimes da mesma espécie (mesmo tipo penal);
3) Conexão temporal (via de regra, entre um crime e outro não pode haver um intervalo superior a 30
dias – há exceções de alguns crimes tributários, por suas peculiaridades, levando em conta o exemplo
de que a declaração de IR é feita apenas 1x ao ano);
4) Conexão espacial (os crimes devem ser praticados na mesma cidade ou, no máximo, em cidades
contíguas);
5) Conexão modal (modo de execução semelhantes);
6) O CP dá ao juiz a liberdade de exigir outras condições além das acima descritas.
Espécies:
a) Simples: crimes parcelares possuem penas idênticas.
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✔ Critério para aplicação da pena: o juiz escolhe qualquer das penas, e a aumenta de 1/6 a 2/3.
b) Qualificado: crimes parcelares possuem penas diversas (exemplo: furto simples consumado e furto
tentado; furto simples + furto qualificado – prevalece ser possível).
✔ Critério para aplicação da pena: o juiz escolhe a pena mais grave, e a aumenta de 1/6 a 2/3.
c) Específico: (atenção aqui!) Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo.
✔ Critério para aplicação da pena: o juiz aplica uma só pena, se idênticas, ou a maior, quando
não idênticas, aumentada de 1/6 até o triplo.
Atenção!! A continuidade delitiva específica é a que possui violência real, não abarca a presumida! Confira
o julgado: Em caso de estupro de vulnerável praticado contra duas ou mais vítimas, mediante violência
presumida, não há continuidade delitiva específica (art. 71, parágrafo único, do CP). Isso porque a violência
de que trata a continuidade delitiva especial é a real, não abarcando a violência presumida. STJ. 5ª Turma.
HC 232709/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/10/2016.
Poderá ser aplicada a regra do concurso material, então? Aplica-se o concurso material em caso de estupro
de vulnerável com violência presumida praticado contra vítimas diferentes? Também não. A jurisprudência
do STJ entende que, nas hipóteses de estupro praticado com violência presumida, não incide a regra do
concurso material nem da continuidade delitiva específica.
Neste caso, deverá ser aplicada a continuidade delitiva simples (art. 71, caput, do CP), desde que estejam
preenchidos, cumulativamente, os requisitos de ordem objetiva (pluralidade de ações, mesmas condições de
tempo, lugar e modo de execução) e o de ordem subjetiva, assim entendido como a unidade de desígnios ou
o vínculo subjetivo havido entre os eventos delituosos. STJ. 6ª Turma. REsp 1602771/MG, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 17/10/2017.
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2 1/6
3 1/5
4 1/4
5 1/3
6 1/2
7 ou mais 2/3
Atenção a súmula 497 STF sobre a prescrição especificamente aos crimes continuados
S. 497 STF: quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta
na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação.
Vamos esquematizar?
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META 2
CF/88
⦁ Art. 129, I
⦁ Art. 5º, LIX
CPP
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 5º, §4º
⦁ Art. 24 a 68
⦁ Art. 384 e 385
⦁ Art. 395
CPP:
⦁ Art. 3º-B, IV
⦁ Art. 24 e 25
⦁ Art. 28
⦁ Art. 28-A (importantíssimo!!!)
⦁ Art. 29
⦁ Art. 38, 41, 42, 46, 48, 49 e 51
⦁ Art. 60 (alto índice de cobrança em prova objetiva!)
⦁ Art. 65, 66 e 67 (alto índice de cobrança em prova objetiva!)
⦁ Art. 396
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condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público
em razão do exercício de suas funções.
Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta
o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.
Súmula 594-STF: Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo
ofendido ou por seu representante legal.
1. PRETENSÃO PUNITIVA
A pretensão punitiva possui o jus puniendi como seu elemento intersubjetivo, e é composta pelo
próprio direito de punir (poder/dever de punir), situado dentro da relação jurídico-penal que se forma após
a prática do crime.
Assim, a partir do momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este
direito de punir desce do plano abstrato e se transforma no ius puniendi in concreto.
2. AÇÃO PENAL
a) Conceito: O Estado trouxe para si o exercício da função jurisdicional, de modo que ele deverá
fornecer ao cidadão a tutela jurisdicional. Esse instrumento encontra-se solidificado no direito de ação.
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Nesse sentido, o direito de ação é o direito público subjetivo consagrado na CF/88, de se exigir do
Estado-Juiz a aplicação do direito objetivo ao caso concreto, para a solução da demanda penal.
A partir dela a parte acusadora – Ministério Público ou ofendido (querelante) – tem a possibilidade
de, mediante o devido processo legal, provocar o Estado-Juiz a dizer o direito objetivo no caso concreto.
(Renato Brasileiro).
b) Fundamento Constitucional: O direito de ação é extraído da própria Constituição Federal, art. 5º,
XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
O dispositivo constitucional consagra o chamado princípio da inafastabilidade de jurisdição. Assim,
se não exclui a apreciação, significa dizer que há o dever de prestá-la.
ATENÇÃO: NÃO se pode confundir, ainda, o direito de ação com o direito que se afirma ter quando se
exercita o direito de ação, o qual pode ser designado comodireito
o material deduzido em juízo. O direito
de ação é abstrato, pois independe do conteúdo que se afirma quando se provoca a jurisdição.
● Direito público: A ação é proposta contra o Estado, pois trata-se do direito de provocar o Estado-juiz
para o exercício da atividade jurisdicional, cuja natureza é pública, sendo função típica do Poder
Judiciário.
Atenção! A ação penal privada também apresenta a mesma característica, visto que há transferência
apenas da iniciativa da ação, mas NÃO da titularidade, visto que o poder punitivo pertence ao Estado.
● Direito subjetivo: O titular do direito de ação penal pode exigir do Estado-Juiz a prestação
jurisdicional, sendo essa titularidade conferida a um sujeito específico, conforme a legitimidade
conferida pela lei.
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● Direito autônomo: Não se confunde com o direito material que se pretende tutelar. O direito de
ação é o instrumento que viabiliza o pedido de condenação em relação a determinado fato, imputado
a certo indivíduo.
● Direito abstrato: Existe e será exercido mesmo quando a demanda for julgada improcedente, uma
vez que independe do resultado (característica relacionada a autonomia do direito de ação).
● Direito específico: Apresenta um conteúdo, que é o objeto da imputação. Ou seja, apesar de
abstrato, desenvolve-se a partir de um caso concreto.
a) Condições Genéricas: São aquelas condições que deve estar presente em toda e qualquer ação penal,
independentemente da natureza do crime, da pessoa processada, e do procedimento a ser seguido.
São elas:
1) Legitimidade para agir;
2) Interesse de agir;
3) Possibilidade jurídica do pedido + Justa causa (lastro probatório mínimo de suporte para
início da ação penal).
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b) Condições Específicas: São necessárias apenas em relação a determinadas infrações penais, ou ainda,
em alguns procedimentos específicos.
Ex.1: representação nos crimes de ação penal pública condicionada.
Ex.2: autorização de Assembleia para que determinados agentes políticos sejam criminalmente
processados.
▪ Ministério Público.
Na ação penal pública: A legitimidade ativa é, em regra, do
▪ Na ação penal privada: A legitimidade ativa é do ofendido ou de seu representante legal.
Lembre-se que, ainda que de ação penal pública, se verificada a inércia do MP, surge para o ofendido a
possibilidade de propor queixa-crime subsidiária (ação penal privada subsidiária da pública).
● Legitimidade passiva: A ação penal pode ser proposta em face apenas do suposto autor do fato
delituoso, com 18 anos completos ou mais.
ATENÇÃO!
(1) Legitimidade ad causam ativa e passiva da Pessoa Jurídica: A pessoa jurídica é dotada de
legitimidade ativa (pode oferecer ação penal pública, se restar caracterizada a inércia do MP, ou privada).
Nesse sentido, a disciplina do art. 37, CPP.
Também é admitida a legitimidade passiva (pode ser o provável autor do delito), porém adstrita aos
crimes ambientais. O art. 173, CF permite que a pessoa jurídica seja responsabilizada criminalmente quanto
aos crimes ambientais, e também quanto aos crimes contra a ordem econômica, financeira e contra a
economia popular, na forma da lei. Contudo, não há lei ordinária regulando a responsabilidade penal da
pessoa jurídica no que diz respeito aos crimes contra a ordem econômica, financeira e contra a economia
popular.
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(2) Legitimidade ad causam ativa de Ente Sem Personalidade Jurídica: O CDC possibilita que certas
entidades e órgãos da administração pública, direta e indireta, ainda que sem personalidade jurídica, atuem
como assistentes do Ministério Público e, também ajuízem a queixa-crime em caso de inércia do órgão
ministerial.
b.1) Necessidade: No processo penal a necessidade é presumida, pois “nulla poena sine judicio”.
Desse modo, NÃO é possível a imposição de pena sem existência de um processo penal.
Exceções:
1. Transação Penal (art. 76, Lei 9.099/95);
2. Acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP – inserido pelo Pacote Anticrime);
3. Colaboração premiada (art. 4º, Lei 12.850/13).
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OBS.: Todas as exceções elencadas são mitigações do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública,
segundo o qual, presentes as condições da ação, o MP é obrigado a denunciar (art. 24 CPP).
b.2) Adequação: É preciso pleitear-se uma medida adequada para buscar seus interesses.
Atenção: Essa adequação NÃO tem importância para as ações penais condenatórias. Tem relevância nas
ações penais não condenatórias, por exemplo, habeas corpus.
SUM 693, STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada.
SUM 694, STF: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de
militar ou de perda de patente ou de função pública.
SUM 695, STF: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade.
b.3) Utilidade: Consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer a tutela do direito do
autor.
A prescrição em perspectiva (virtual/hipotética) consiste no reconhecimento antecipado da
prescrição em virtude da constatação de que, no caso de possível condenação, eventual pena que venha a
ser imposta ao acusado estaria fulminada pela prescrição da pretensão punitiva retroativa, tornando inútil a
instauração do processo penal.
Nesse sentido, grande parte da doutrina sustenta a sua aplicação com fundamento na ausência de
condição de procedibilidade à luz da utilidade.
Entretanto, STF e STJ NÃO admitem a prescrição virtual.
c) Justa Causa: Podemos conceituar justa causa como sendo o lastro probatório mínimo indispensável para
a instauração de um processo penal.
Assim, deve a acusação ser portadora de elementos de informação que justifiquem a admissão da
acusação e o custo que representa o processo penal em termos de estigmatização e penas processuais.
Funciona, pois, como uma condição de garantia contra o uso abusivo de direito de acusar, evitando a
instauração de processos levianos ou temerários.
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A natureza jurídica da justa causa é alvo de divergência doutrinária, no entanto, prevalece que o CPP
insere a justa causa como condição genérica da ação, em razão do art. 395, III, CPP:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta;
I - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
A ocorrência dos fatos narrados na denúncia está indicada, nos autos, por inúmeros
elementos indiciários - oriundos de buscas e apreensões, quebras de sigilo e outras
medidas investigativas -, a justificar a presença de justa causa para a deflagração
da ação penal.
Além disso, tradicionalmente, a justa causa é analisada apenas sob a ótica
retrospectiva, voltada para o passado, com vista a quais elementos de informação
a justa causa
foram obtidos na investigação preliminar já realizada. Todavia,
também deve ser apreciada sob uma ótica prospectiva, com o olhar para o futuro,
para a instrução que será realizada, de modo que se afigura possível incremento
probatório que possa levar ao fortalecimento do estado de simples probabilidade
em que o juiz se encontra quando do recebimento da denúncia. STJ. Corte Especial.
APn 989/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/02/2022 (Info 726).
ATENÇÃO!
(1) Justa causa DUPLICADA na lavagem de capitais: A expressão “justa causa duplicada” refere-se à condição
para que seja iniciada uma ação penal para julgar um crime de lavagem de capitais, previsto na Lei nº.
9.613/98.
A doutrina aponta ainda para a existência de uma justa causa TRIPLICADA que ocorre quando a
infração penal antecedente à lavagem de capitais também possui uma infração penal antecedente para a sua
configuração. É o exemplo do crime de lavagem que tem como infração penal antecedente o crime de
receptação, o qual, por sua vez, tem como infração penal antecedente o crime de roubo.
Assim, quando do oferecimento da denúncia, cabe ao Parquet revelar o suporte probatório mínimo
em relação a estes três delitos, daí porque a justa causa se apresenta, de fato, triplicada.
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Imagine a seguinte situação hipotética: O Ministério Público ajuizou ação penal contra João
acusando-o da prática de determinado crime. O juiz recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para
responder à acusação. João apresentou resposta escrita alegando que não havia justa causa e que, portanto,
ele deveria ser absolvido sumariamente. O magistrado, contudo, rejeitou o pedido de absolvição sumária e
determinou o início da instrução penal.
Pergunta-se: Diante desse cenário, existe algum recurso que João possa interpor? Cabe algum
recurso contra a decisão do juiz que rejeita o pedido de absolvição sumária?
R.: NÃO. Não existe recurso cabível na legislação para esse caso. Nesse contexto, contudo, a
jurisprudência admite a impetração de habeas corpus sob o argumento de que existe risco à liberdade de
locomoção. Desse modo, em nosso exemplo, a defesa de João impetrou habeas corpus no Tribunal de Justiça
pedindo o trancamento da ação penal por falta de justa causa. O Desembargador negou o pedido de liminar
e designou o dia 15/08 para o julgamento do habeas corpus pela Câmara Criminal do TJ. Ocorre que, antes
disso, no dia 08/08, o juiz proferiu sentença condenando o réu.
Pergunta-se: Diante desse cenário, o que acontece com o julgamento do habeas corpus? O Tribunal
de Justiça irá apreciar o mérito do habeas corpus?
R.: NÃO. A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas
corpus se buscava o trancamento da ação penal sob a alegação de FALTA DE JUSTA CAUSA. Logo, o réu terá
que interpor apelação contra a sentença condenatória, recurso de cognição ampla por meio do qual toda a
matéria será devolvida ao Tribunal, que terá a possibilidade de examinar se a condenação foi acertada, ou
não.
Pergunta-se: E se a sentença tivesse sido absolutória? Se o juiz tivesse absolvido João, o HC também
ficaria prejudicado?
R.: SIM. Com maior razão, o habeas corpus estaria prejudicado, mas agora por outro motivo: FALTA
DE INTERESSE PROCESSUAL já que a providência buscada pela defesa foi alcançada em 1ª instância.
d) Originalidade: E, por fim, como uma condição da ação (mas que não é citada por toda a doutrina),
tem-se a ORIGINALIDADE. Segundo Afrânio Silva Jardim, a “originalidade” como condição genérica para o
regular exercício de qualquer ação. O autor sustenta que os tradicionais pressupostos objetivos extrínsecos
denominados “litispendência” e “coisa julgada” são, em verdade, condições da ação, porquanto não são
sanáveis, sem viabilidade de renovação da demanda com correção do vício. Em outros termos, a ação (penal)
tem que ser original, não se admitindo reproduções, em face da vedação de dupla persecução penal.
Nos ensinamentos dos professores, André Luiz Nicolitt e Afrânio Silva Jardim:
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● Condição de prosseguibilidade: é aquela necessária para dar prosseguimento à ação penal. Trata-
se da situação na qual a ação penal já está em curso, mas uma lei posterior altera a natureza da ação
penal para aquele crime. Ou seja: o crime que antes era de ação penal pública incondicionada (e, por
isso, não exigia representação), passou a ser de ação penal pública condicionada, de modo que essa
representação passa a ser condição necessária para dar prosseguimento na ação penal.
Ex.: A lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9099/95) passou a exigir representação para os crimes de lesão
corporal leve e lesão corporal culposa. Ou seja, tais crimes, que antes eram de ação penal pública
incondicionada, passaram a exigir a representação tanto para dar início à ação penal (hipótese em que a
representação funciona como condição de procedibilidade), como para dar continuidade à ação que já
estava em andamento (hipótese em que funciona como condição de prosseguibilidade).
Nesse sentido, qual a natureza da representação quando se tratar de lesão corporal leve ou culposa
no âmbito dos Juizados Especiais? R.: Depende!
▪ Processos relativos à lesão corporal leve e culposa ainda não iniciados: exige representação para
dar início à ação penal → condição de procedibilidade (art. 88, Lei 9.099/95).
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▪ Processos relativos à lesão corporal leve e culposa que já estavam em andamento: exige
representação para dar continuidade à ação penal → condição de prosseguibilidade (art. 91, Lei
9099/95).
OBS.: É certo que sem a representação não se pode nem iniciar a persecutio criminis, conforme preconiza o
artigo 5º, §4º, do CPP. Nesse caso, a representação é condição especial de persequibilidade, porque sem a
representação não há como deflagrar a persecutio criminis, que antecede a ação penal.
Sem representação a autoridade policial NÃO pode instaurar o inquérito e assim dar início à
persecutio (condição especial de persequibilidade), sem a representação não se procede em Juízo, isto é,
não se deflagra ação penal (condição especial de procedibilidade) e sem a representação não se pode dar
sequência ao feito (condição especial de prosseguibilidade).
OBS.: Para o professor Aury Lopes Jr, o processo penal não poderia se valer da teoria geral do processo civil
para conferir das mesmas condições da ação. Para o processualista penal, são condições da ação penal:
1) Prática de fato aparentemente criminoso;
2) Punibilidade concreta;
3) Legitimidade da parte;
4) Justa Causa.
a) Prática de fato aparentemente criminoso (fumus comissi delicti): O fato penalmente relevante praticado
em tese, deve ser típico, ilícito e culpável, não se admitiria uma ação penal por um fato que não fosse crime.
Ex.: denúncia por incesto, furto de coisa própria.
b) Punibilidade concreta: Deve o juiz rejeitar a peça acusatória quando houver prova de extinção da
punibilidade. Quando presente a causa de extinção de punibilidade, como prescrição, decadência, renúncia,
a denúncia ou queixa deverá ser rejeitada e o réu absolvido sumariamente, conforme o momento em que
seja reconhecida.
As outras duas condições para o professor Aury são idênticas as já exauridas acima e, por uma
questão de economia nos estudos, não abordaremos.
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2) PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE:
O MP, titular da ação penal, pode agir de ofício, não dependendo da autorização de ninguém, da
mesma forma que o ofendido também pode agir de ofício quando legitimado.
OBS.: O juiz não pode dar início ao processo de ofício, uma vez que a ação penal é de iniciativa do
MP, nos crimes de ação penal pública, ou do ofendido ou seu representante legal, nos crimes de ação penal
privada.
OBS.2: O juiz pode conceder habeas corpus de ofício (art. 654, §2º, CPP), visto que a restrição se
limita a atuação de ofício em ação penal condenatória. Ademais, a execução tem início de ofício.
ATENÇÃO: O STF, nos autos das ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305, por maioria, atribuiu interpretação
conforme ao caput do art. 28 para assentar que, ao se manifestar pelo arquivamento do inquérito policial
ou de quaisquer elementos informativos de mesma natureza, o MP submeterá sua manifestação ao juiz
competente e comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial, podendo encaminhar os autos
ao Procurador-Geral ou para a instância de revisão ministerial, quando houver, para fins de homologação,
na forma da lei.
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E, por unanimidade, atribuiu interpretação conforme ao §1º do art. 28 para assentar que, além da vítima
ou de seu representante legal, a autoridade judicial competente também poderá submeter a matéria à
revisão da instância competente do órgão ministerial, caso verifique patente ilegalidade ou teratologia no
ato do arquivamento.
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recepcionado pela CF/88. O art. 129, CF traz as funções institucionais do Ministério Público, dentre estas
“promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei”.
Exceções ao princípio da obrigatoriedade: Como visto acima, o princípio da obrigatoriedade possui status de
lei ordinária. Por isso, é possível que uma lei ordinária crie exceções ao princípio.
1. Transação Penal (art. 76 da Lei 9.099/95): Trata-se de um acordo celebrado entre o MP e o autor do
delito, objetivando o cumprimento imediato de pena restritiva de direito ou pena de multa.
É uma exceção, já que, se cabível, ao invés de oferecer uma denúncia o MP irá oferecer um acordo.
Alguns autores chamam de discricionariedade regrada2. Contudo, para Renato Brasileiro, o correto
seria obrigatoriedade mitigada.
2. Acordo de Não Persecução Penal (art. 28-A, CPP): É um acordo celebrado entre o MP e o autor do
delito, devidamente assistido por seu defensor, por meio do qual sujeita-se a determinadas
condições. Após o cumprimento, o MP irá requerer o arquivamento.
O acordo de não persecução penal, introduzido pelo Pacote Anticrime, também é um exemplo de
exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, haja vista que, presentes os requisitos e as
condições dispostas em lei, o MP pode deixar de oferecer denúncia.
3. Acordo de Leniência nos Crimes Contra a Ordem Econômica: É uma espécie de colaboração premiada.
O parcelamento do crédito tributário quando feito antes do recebimento da denúncia, fica suspensa
a pretensão punitiva.
2
Obviamente que o MP, por mandamento constitucional, já que o artigo 129, VIII, 2ª parte, da CR, diz que todas as
manifestações processuais do MP hão de ser fundamentadas – TEM que fundamentar. Por isso que é REGRADA!
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2) PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE:
De acordo com o princípio da indisponibilidade, o MP NÃO pode desistir da ação penal após o
oferecimento da denúncia.
3) PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE:
O titular da ação é o órgão oficial do Estado.
4) PRINCÍPIO DA (IN)DIVISIBILIDADE:
Há controvérsia sobre o caráter divisível da ação penal pública.
1ª Corrente (majoritária na doutrina): Entende que a ação penal públicaindivisível.
é
2ª Corrente (Tribunais Superiores): A ação penal pública admite a divisibilidade. Ou seja: o MP pode
oferecer denúncia em face de alguns investigados, sem prejuízo do prosseguimento das
investigações dos demais autores. Nesse contexto, até a sentença final, o MP pode incluir novas
pessoas no polo passivo, por meio do aditamento da denúncia. (é a corrente que deve ser adotada
em provas objetivas!)
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a) Decadência: A vítima dispõe do prazo decadencial de 06 (seis) meses para o exercício da ação
privada, contados do conhecimento do responsável pelo delito, sob pena de extinção da
punibilidade (art. 107, IV, CP)
b) Renúncia: É ato unilateral do ofendido, e ocorre quando a vítima se recusa a tomar providência
contra o seu agressor.
⋅ Se opera até o oferecimento da ação penal;
⋅ É irretratável;
⋅ A renúncia feita para um agressor necessariamente beneficia os demais (art. 49, do CPP);
⋅ Pode ser expressa ou tácita (atos do ofendido incompatíveis com o desejo de processar o
agressor);
⋅ Enseja a extinção da punibilidade.
OBS.1: Tanto a decadência como a renúncia ocorrem antes de iniciada a ação penal com o
oferecimento da queixa crime.
OBS.2: O prazo decadencial para a queixa-crime é improrrogável e NÃO se sujeita a nenhuma forma
de suspensão ou interrupção.
OBS.3: O princípio se aplica também a ação penal pública condicionada, no que tange à
representação ou à requisição (e APENAS nesse ponto, visto que uma vez presentes as demais elementos
para o oferecimento da ação, o MP é obrigado a agir).
2) PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE:
Após iniciada a queixa crime, o querelante pode dispor do seu direito de dar continuidade à queixa-
crime através de 2 institutos:
a) Perdão: Ato de liberalidade, e requer a aceitação pelo réu (ato bilateral). Trata-se de causa extintiva
de punibilidade e só é admissível até o trânsito em julgado;
RENÚNCIA PERDÃO
Instituto pré-processual. Instituto processual.
Ato unilateral. Ato bilateral.
A renúncia feita a um dos agentes O perdão concedido a apenas um dos
se estende aos demais (art. 49, CP). agentes delitivos não
necessariamente se estende aos
demais.
b) Perempção: É sanção processual pela desídia do querelante na ação privada (art. 60, CPP).
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Obs. Independentemente do momento em que o querelante decide abrir mão do seu direito de queixa, antes
mesmo de oferecida a queixa (através da decadência ou renúncia), ou após o oferecimento desta (através
do perdão ou perempção), a consequência será a mesma: extinção da punibilidade.
Obs. A perempção é uma sanção processual pela desídia do querelante na ação privada (art. 60, CPP). Assim,
conforme entendimento da jurisprudência, descabe o seu reconhecimento em sede de ação penal privada
subsidiária da pública, uma vez que, originariamente, trata-se de hipótese de ação penal pública.
c) Conciliação nos crimes contra a honra de competência do juiz singular (art. 522, CPP).
OBS.: Esse princípio NÃO se aplica a ação penal privada subsidiária da pública, pois, eventual manifestação
do querelante no sentido de dispor da ação penal já em curso importa na retomada, pelo Ministério Público,
da titularidade da ação penal. Trata-se da chamada ação penal indireta.
Vamos esquematizar?
● Antes de iniciada a queixa crime:
(a) Decadência Princípio da Conveniência e Oportunidade
(b) Renúncia
3) PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE:
Proposta ação penal privada, o querelante deve promovê-la contra TODOS os que contribuíram para
o delito, NÃO podendo deixar de processar os que sabidamente concorreram para a prática do crime.
Nesse sentido, a ação penal deve se estender a todos aqueles que praticaram a infração penal.
É nesse sentido a jurisprudência do STF:
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ATENÇÃO: Princípio da indivisibilidade da ação penal privada nas hipóteses de omissão voluntária e
involuntária.
O princípio da indivisibilidade significa que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores e
partícipes do delito. Segundo a posição da jurisprudência, o princípio da indivisibilidade SÓ se aplica para a
ação pena privada (art. 48 do CPP). O que acontece se a ação penal privada não for proposta contra todos?
O que ocorre se um dos autores ou partícipes, podendo ser processado pelo querelante, ficar de fora? Qual
é a consequência do desrespeito ao princípio da indivisibilidade?
● Se a omissão foi VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): O juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção
(arts. 104 e 107, V, do CP).
da punibilidade para todos
● Se a omissão foi INVOLUNTÁRIA: o MP deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça
o aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora.
Assim, conclui-se que a não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não configura, por si só,
renúncia tácita ao direito de queixa. Para o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa,
exige-se a demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa
-
crime se deu de forma deliberada pelo querelante. STJ. 5ª Turma. RHC 55142-MG, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info 562).
É a regra, de modo que, no silêncio da lei, o crime será de ação penal pública incondicionada.
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a) Titular: Ministério Público, cuja atribuição é privativa, conforme a CF (art. 129, I, CF).
b) Peça inicial: A denúncia é a peça privativa do Ministério Público que dá início à ação penal pública.
c) Prazos para oferecimento da denúncia:
A ação penal pública condicionada é aquela que depende da manifestação de vontade do legítimo
interessado para que a persecução penal possa se iniciar.
A ação penal pública pode ser condicionada à:
a) Representação do ofendido;
b) Requisição do Ministro da Justiça.
Lembrando que pode ser condição de prosseguibilidade (como vimos anteriormente), a exemplo da Lei
9.099/95 quando passou a exigir representação para as lesões corporais leves e culposas.
OBS.: Na sucessão processual, o prazo não é renovado, mas contínuo, de modo que são possíveis duas
situações:
1) Se o sucessor toma conhecimento da autoria no mesmo momento que a vítima, tem direito ao prazo
restante;
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2) Se o sucessor não tinha conhecimento da autoria, o prazo restante será contado no momento em
que atingir esse conhecimento.
O prazo é uno para os sucessores, de modo que basta que um deles tenha conhecimento da autoria,
para que tenha início o prazo decadencial para todos.
● Forma da representação: De acordo com o STJ/STF, ela tem forma livre, podendo ser oral ou por
escrito. Ou seja: NÃO precisa ser através de peça formal.
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● Prazo para a representação: 6 (seis) meses contados do conhecimento da autoria. NÃO interessa a
data do fato.
OBS.: O prazo para oferecimento da representação tem natureza decadencial, não se admite
suspensão, prorrogação ou interrupção.
● Retratação da Representação:
Regra: a retratação da representação é possível até antes do oferecimento da denúncia.
Exceção: Na Lei Maria da Penha, a retratação é possível até o recebimento da denúncia, em
audiência perante o juiz designada especialmente para esse fim.
Caiu em prova Delegado SP/2018! A retratação da representação, de acordo com o art. 25 do CPP e do art.
16 da Lei no 11.340/06 (Lei Maria da Penha), respectivamente, é inadmitida depois de oferecida a denúncia;
só será admitida perante o juiz, antes do recebimento da denúncia. (item correto).
● Eficácia objetiva da representação: A representação é feita para cada crime e abrange todos os
possíveis coautores e partícipes.
Por eficácia objetiva da representação, entende-se o seguinte: se oferecida a representação contra
um dos partícipes ou coautores do crime, o MP deve oferecer a denúncia contra todos aqueles que
praticaram o delito. Porém a representação só é válida para aquele delito.
Assim, se a vítima representou apenas pelo delito de injúria, NÃO é possível o MP amplie a
representação para abranger os crimes de calúnia e difamação, em face da eficácia objetiva da
representação. Não abrange outros crimes, envolvendo apenas todos os coautores.
4.2.2 Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça: É ato de conveniência política,
autorizando a persecução penal em alguns crimes.
● Prazo: A lei é omissa. Logo, pode ocorrer a qualquer tempo, enquanto não for extinta a punibilidade.
Ao contrário da representação, que deve ser oferecida no prazo decadencial de 6 meses, contados
do conhecimento da autoria, a lei silenciou acerca de eventual prazo para o oferecimento da requisição.
Entende-se, portanto, que a requisição NÃO está sujeita ao prazo decadencial, podendo ser oferecida a
qualquer tempo, desde que não tenha havido a extinção da punibilidade pelo advento da prescrição.
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● Destinatário: MP (PGJ).
☞ Há discricionariedade do Ministro da Justiça
☞ A requisição NÃO vincula o MP. Ou seja: o MP não está obrigado a oferecer denúncia.
● Hipóteses:
a) Crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil;
b) Crimes contra a honra praticados contra o Presidente ou Chefe de Governo Estrangeiro.
4.2.3 Ação Penal Pública Subsidiária da Pública: Para alguns doutrinadores, essa subespécie de ação penal
pode ser vislumbrada quando ocorre a atuação de um órgão do MP diante da inércia de outro órgão do MP.
Alguns exemplos dessa espécie “sui generis” de ação penal pública subsidiária da pública podem ser
apresentados:
a) Nos Crimes de Responsabilidade de Prefeitos, em caso de inércia do PGJ (lembrando que os Prefeitos
têm prerrogativa de função e são julgados pelos Tribunais de Justiça), a ação poderá este ser proposta
pelo PGR (art. 2º., § 2º, do Decreto-Lei 201/67)
b) Nos casos de deslocamento de competência como aqueles que ocorrem quando há “grave violação
dos direitos humanos” e inércia dos órgãos estaduais, podendo então o caso, mediante
representação do PGR perante o STJ, ser deslocado para a Justiça Federal, isso com o fim de “assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais
o Brasil seja parte” (art. 109, § 5º., CF). Também é mencionável a possibilidade de deslocamento de
competência para o Tribunal Penal Internacional (TPI), no caso de inércia dos órgãos internos
brasileiros envolvendo crimes contra a humanidade (artigo 5º., § 4º., CF).
Ocorre quando o Estado legitima o ofendido ou seu representante legal a ingressar com ação penal,
pleiteando a condenação do agressor, em hipóteses excepcionais.
O particular, portanto, passa a ter o direito de ação, a legitimidade para o oferecimento da ação penal
privada, embora a titularidade da ação penal permaneça com o Estado. Trata-se, como já visto, de hipótese
de legitimação extraordinária.
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Para o STF: na procuração, deverá ser individualizado o evento delituoso, não bastando apenas a
menção do nomen iuris do crime.
Para o STJ: basta mencionar o tipo penal ou nomen iuris, sendo desnecessário pormenorizar a
descrição da conduta.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais,
devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção
do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências
que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
Somente o ofendido pode ingressar em juízo, ou seja, o direito NÃO é transmitido ao representante
legal e nem haverá sucessão processual.
Aqui, a morte da vítima extingue a punibilidade do autor do delito.
Na atual legislação brasileira, há apenas um exemplo de crime dessa espécie. Vejamos:
Caiu em prova Delegado SP/2022! Nos termos do Código de Processo Penal, é correto afirmar que a ação
penal privada: personalíssima só pode ser intentada pela vítima e, em caso de falecimento antes ou depois
do início da ação, não poderá haver substituição para sua propositura ou seu prosseguimento. (item correto).
É aquela que pode ser proposta pelo ofendido ou seu representante legal. Na hipótese de ser
proposta pelo representante legal, há sucessão processual.
É a regra nos crimes contra a honra.
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Atenção: A diferença entre a ação penal exclusivamente privada e a ação privada personalíssima é que, na
ação penal exclusivamente privada, admite-se a sucessão processual, ao passo que na ação penal privada
personalíssima, somente o próprio ofendido pode ajuizar queixa crime.
Caiu em prova Delegado SP/2022! Nos termos do Código de Processo Penal, é correto afirmar que a ação
penal privada:
exclusiva, em caso de morte do ofendido antes do início da ação, esta poderá ser intentada, em qualquer
prazo, entre outras pessoas, por seu irmão. item incorreto).
exclusiva, em caso de morte do ofendido antes do início da ação, esta poderá ser intentada, em qualquer
prazo, entre outras pessoas, por seu cônjuge. (item incorreto).
● Conceito: A ação penal privada subsidiária da pública também é chamada de ação penal
acidentalmente privada/supletiva e será admitida quando estiver caracterizada a inércia do MP.
Assim, em havendo inércia do órgão ministerial, a ação penal privada subsidiária da pública será
exercida pela vítima ou por seu representante na condição de substituição processual, já que ela atua em
nome próprio pleiteando a punição que será exercida pelo estado.
● Fundamento legal e constitucional:
CF Art. 5º, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal;
CPP - Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do
processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Trata-se de forma de controle da obrigatoriedade da ação penal pública, bem como da inafastabilidade
da jurisdição.
● Pressupostos:
Há dois requisitos:
i. Só é cabível em face da inércia do MP;
Ex.: Se o promotor recebe o inquérito e em 15 dias (acusado solto) não faz nada, a partir do 16º dia
cabe ação penal privada. Se pedir arquivamento ou diligência não se trata de inércia, logo, não cabe ação
subsidiária.
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Conselho indigenista não pode ajuizar queixa-crime subsidiária por delito contra
índios (...) Essa queixa-crime deverá ser rejeitada, porque os conselhos
indigenistas não possuem legitimidade ativa em matéria penal. Na ação penal
privada (mesmo sendo a subsidiária da pública), a queixa-crime somente pode
ser promovida pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo
(art. 100, § 2º do CP e art. 30 do CPP). A suposta vítima dos crimes não foi o
conselho indigenista, mas sim os próprios índios que participaram da invasão.
STF. 1ª Turma. Inq 3862 ED/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2014.
(Info 768)
● Poderes do Ministério Público: Conforme lição de Fernando da Costa Tourinho Filho, o Ministério
Público, em face da queixa substitutiva, assume a posição de um litisconsorte, porém de natureza sui generis,
na medida em que não há cumulação de ações contra o mesmo réu. A doutrina fala que o MP atua como
uma espécie de “assistente litisconsorcial” (já caiu em prova!)
Pode-se, ainda, “falar em ‘interveniente adesivo obrigatório’, porquanto, oferecida a queixa, o
Ministério Público é obrigado a intervir em todos os termos do processo”. Nessa linha, é a lição de Nestor
Távora, para quem o Ministério Público, “na ação privada subsidiária, figura como interveniente adesivo
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obrigatório, atuando em todos os termos do processo, sob pena de nulidade (art. 564, III, d, CPP), tendo
amplos poderes”.
Assim, o MP pode:
(1) Repudiar a queixa, oferecendo denúncia substitutiva
Esclarece o Nestor Távora que quando a vítima “ingressa com a ação penal privada subsidiária, a
petição inicial é a queixa-crime SUBSIDIÁRIA da denúncia que não foi apresentada. Por sua vez, quando o MP
repudia a queixa, por entender que não houve omissão, a denúncia é SUBSTITUTIVA” da queixa repudiada.
OBS.: Na ação exclusivamente privada, NÃO pode o MP incluir coautor ou fato que o ofendido não
incluiu, sob pena de violação ao princípio da oportunidade. Contudo, em atenção ao princípio da
indivisibilidade, verificada omissão involuntária, o MP poderá oficiar o querelante para que promova o
aditamento.
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser
aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos
subsequentes do processo.
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Para o professor Nestor Távora, seria o litisconsórcio ativo entre o MP (no crime de ação penal
pública) e o querelante (nas hipóteses de ação penal privada).
Ex.: Estupro antes de 2009 (ação penal privada) conexo com tentativa de homicídio (ação penal
pública incondicionada), de modo que o MP oferece denúncia e vítima queixa e as ações correriam juntas
pela conexão.
Para o professor Luiz Flávio Gomes, só existe na Alemanha, onde é possível que MP ingresse com a
ação penal pública e, em seguida, a vítima ingresse de maneira adesiva, porém com objetivos indenizatórios.
Nesse contexto, há uma espécie de intervenção adesiva facultativa, relacionada à satisfação do dano
decorrente do crime.
Para Tourinho Filho/Denilson Feitoza, o instituto verificado na Alemanha, também é possível nos
crimes de ação penal privada, quando o MP promove a ação penal, mediante constatação de um interesse
público. Nesse caso, faculta-se ao ofendido ou seu representante legal intervir no processo como assistente.
OBS: NÃO confundir com a atuação obrigatória adesiva do MP (“interveniente adesivo obrigatório”)
na ação penal privada subsidiária da pública.
Críticas:
● Habeas corpus NÃO se trata de uma ação penal por excelência (ação penal propriamente
dita), mas sim de uma ação libertária, um meio de impugnação autônomo.
● A “denúncia” mencionada no art. 41, Lei 1.079/50, em verdade, compreende com incorreção
técnica do legislador, que confunde o termo “denúncia” com “notícia crime”. Além disso, os
ilícitos da Lei 1.079/50 não são crimes propriamente ditos, uma vez que sequer prevê sanções
penais em razão da prática das condutas ali previstas, mas sanções político-administrativas.
CONCLUSÃO: Em razão das críticas apresentadas, a doutrina majoritária entende NÃO existir no Brasil ação
penal popular (Noberto Avena). Contudo, há doutrina em sentido contrário (Tourinho Filho).
Ocorre quando as circunstâncias do caso concreto modificam a modalidade de ação penal a ser
ajuizada.
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Ex.1: Crimes contra o patrimônio, no contexto do art. 182 do CP (escusas absolutórias relativas),
quando cometidos sem violência ou grave ameaça podem depender de representação (ação penal pública
condicionada), sendo que a regra geral é a ação penal pública incondicionada.
Ex.2: Crimes contra a honra, em regra, são de ação penal privada, contudo, há algumas exceções.
Vejamos:
1. Injúria real mediante vias de fato
· Injúria real mediante lesão corporal GRAVE ou GRAVÍSSIMA: ação penal pública
incondicionada.
· Injúria real mediante lesão corporal LEVE: ação penal pública condicionada à representação
(art. 140, §2º, CP c/c 9.099/95).
· Injúria qualificada (art. 140, §3º, CP): ação penal pública condicionada à representação (art.
145, § único).
2. Crime contra a honra do presidente da república: ação penal pública condicionada à requisição do
Ministro da Justiça.
3. duas possibilidades → ação
Crime contra a honra de servidor público em razão de suas funções:
penal pública condicionada à representação OU ação penal privada, sendo hipótese de legitimidade
concorrente ALTERNATIVA (oferece denúncia ou queixa
-crime).
Ação a ser proposta contra o inimputável do art. 26, caput, pois é uma denúncia que NÃO visa a
condenação, mas a aplicação de medida de segurança, através da chamada absolvição imprópria.
Art. 26, CP - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
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● Denúncia: É a peça privativa do Ministério Público que dá início à ação penal pública.
● Queixa-crime: É a peça privativa do ofendido, de seu representante legal, seu sucessor ou ainda seu
curador que dá início à ação penal privada.
OBS.: É possível o litisconsórcio ativo entre o MP e o querelante, na hipótese de conexão entre crime
de ação penal pública e outro de ação penal privada. Nesse contexto, uma única ação penal contará com
uma denúncia e uma queixa.
As duas peças de início da ação penal serão analisadas em conjunto com as necessárias distinções
quando necessário.
I. Exposição do fato criminoso e suas circunstâncias: Consiste na narrativa do fato delituoso, com
todas as suas circunstâncias, de maneira clara, precisa, simples e objetiva, sob a pena de inviabilizar o direito
de defesa, pois, no processo penal, o acusado se defende dos fatos que lhe são imputados.
Salienta-se que a narrativa deve responder questionamentos básicos: Como? Quando? Quem? O
que? Por quê? Contra quem?
Segundo Renato Brasileiro, imputação “é a atribuição a alguém da prática de determinada infração
penal, funcionando como o ato processual por meio do qual se formula a pretensão penal”.
Cuidado! Quando se tratar de crime culposo, é imprescindível que o titular da ação penal (MP ou
querelante) descreva em que consistiu a imprudência, negligência ou imperícia.
A inobservância deste requisito acarreta a inépcia da peça acusatória, pois viola o princípio da ampla
defesa (inépcia formal), razão pela qual a peça deve ser rejeitada pelo juiz.
Para o reconhecimento ou não da inépcia da inicial, a doutrina diferencia elementos necessários e
secundários. Vejamos:
● Elementos NECESSÁRIOS (essenciais): São aqueles necessários para identificar o fato típico. A
ausência destes elementos causa evidente prejuízo à defesa e, portanto, nulidade absoluta. Não se
pode imaginar uma denúncia sem esses elementos essenciais, uma denúncia que não os têm, não
narra um fato criminoso.
● Elementos SECUNDÁRIOS (acidentais): São aqueles ligados às circunstâncias de tempo ou de espaço
cuja ausência nem sempre prejudica a ampla defesa, portanto, eventual vício pode produzir, no
máximo, uma nulidade relativa, devendo ser comprovado o prejuízo.
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Por conseguinte, com o escopo de evitar a criptoimputação, o Ministério Público deve fazer constar
da denúncia, de forma precisa e minuciosa, a descrição dos elementos estruturais que integram o tipo penal,
prestigiando o princípio da presunção de inocência e o exercício da ampla defesa.
● DENÚNCIA GENÉRICA: É a denúncia que não individualiza a conduta do agente, imputa fato a agente
sem descrever a conduta ou diversos fatos a agentes indistintamente.
A discussão ganha relevo quando se trata de crimes societários (crimes de gabinete), nos quais uma
PJ é utilizada como “manto protetivo”. A denúncia genérica, aqui, é aquela que inclui o diretor, o gerente, o
preposto da pessoa jurídica na ação apenas por ele ostentar essa qualidade, sem, contudo, descrever qual
foi a conduta criminosa dessa pessoa. Não estabelece o mínimo de vínculo entre o comportamento dessa
pessoa e o crime. Por isso, a denúncia genérica é inepta, devendo ser rejeitada por impedir o exercício do
contraditório e da ampla defesa.
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R.: Para a jurisprudência, agravantes NÃO precisam constar da peça acusatória, uma vez que podem
ser reconhecidas de ofício pelo juiz, mesmo que não tenham constado na denúncia (art. 385 CPP). Entretanto,
para parte da doutrina, isso viola a ampla defesa e o contraditório.
Norberto Avena afirma que ao contrário do que ocorre com as qualificadoras, a inclusão de
agravantes na denúncia é uma faculdade do MP. Esta conclusão, inclusive depreende-se dos próprios termos
do art. 385 do CPP, quando reza que o juiz pode reconhecer agravantes na sentença, “embora nenhuma
tenha sido alegada”.
● Emendatio libelli: NÃO há alteração em relação ao fato delituoso, limitando-se o juiz a modificar a
CLASSIFICAÇÃO formulada na peça acusatória, ainda que tenha que aplicar pena mais grave. Ex.: MP
oferece denúncia descrevendo um furto, mas classifica de maneira errada, como estelionato, razão
pela qual na hora da sentença, o juiz a corrige.
● Mutatio libelli: Ocorre quando o FATO que se comprovou pela instrução é diverso daquele narrado
na peça acusatória. Isso porque, decorre do surgimento, no curso da instrução, de prova de
ELEMENTAR ou CIRCUNSTÂNCIA não contida na peça acusatória. O MP deve aditar a denúncia e, em
seguida, abre-se prazo para a defesa se manifestar.
Segundo entendimento dos Tribunais Superiores, o momento adequado para a emendatio libelli é a
sentença. Contudo, admite-se a correção da capitulação já no recebimento da inicial quando ocorrer em
benefício do réu, permitindo a incidência de instituto despenalizador; quando acarretar a modificação do
juízo competente; quando necessária para determinação do procedimento aplicável; quando repercutir em
matérias de ordem pública, como a prescrição.
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V. Nome e assinatura da parte acusadora: Sob pena de que a peça seja tida como inexistente.
b) Requisitos da Queixa-Crime: O art. 44, CPP prevê como requisito específico da queixa procuração com
poderes especiais. O vício na procuração pode ser sanado, sendo que há duas correntes sobre o momento
em que pode ocorrer.
1ª Corrente: prazo decadencial, ou seja, 6 meses do conhecimento da autoria.
2ª Corrente (majoritária): antes da sentença, em observância ao art. 569, CPP, mesmo que escoado
o prazo decadencial.
c) Não preenchimento dos requisitos formais: Se não preenchidos os requisitos formais da denúncia ou da
queixa e isso implicar prejuízo à ampla defesa (vício insanável), deverá ocorrer a rejeição da inicial acusatória
(art. 395, I, CPP), bem como se faltar alguma condição da ação ou pressuposto processual ou se faltar justa
causa à ação penal.
Contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa cabe recurso em sentido estrito (prazo de 05
dias).
d) Prazos para oferecer a denúncia: Trata-se de prazo impróprio, ou seja, caso não seja observado, não
enseja a perda do direito de oferecer a denúncia!
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Se queixa crime: Prazo de 6 (seis) meses, contados a partir do conhecimento da autoria (art. 38, CPP).
e) Imputação cumulativa e alternativa: A denúncia pode ter cumulação de imputações. Pode tanto trazer
mais de um fato, hipótese em que temos cumulação objetiva, quanto mais de um sujeito, situação que
incorre em cumulação subjetiva.
NÃO é possível, contudo, a imputação alternativa, ou seja, diante da ausência de elementos
suficientes de prova da materialidade, trazer mais de um fato (como na imputação cumulativa), deixando
explícito que apenas um deles ocorreu.
f) Aditamento da denúncia: Ocorre quando, no curso da instrução, são descobertos novos fatos, pessoas ou
elementos de prova, de modo que o MP deverá complementar a peça acusatória, diante das novas
informações.
O aditamento se justifica no princípio da correlação entre denúncia e sentença, pois, se o juiz só
pode condenar quem foi denunciado e em relação aos fatos que foram narrados na denúncia, caso surjam
novos elementos no curso da ação, o aditamento será necessário.
Poderá ser feito até o momento imediatamente anterior à sentença.
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R.: DEPENDE. O aditamento impróprio, bem como o aditamento próprio pessoal NÃO interrompem
a prescrição, contudo, o aditamento próprio real interrompe a prescrição quanto ao novo fato.
Pergunta-se: É possível o aditamento da queixa?
R.: O aditamento impróprio é possível. Há divergência acerca do aditamento próprio. Parte da
doutrina sustenta a inviabilidade, pois a não imputação implica na renúncia ao direito de queixa. Lado outro
há quem sustente posterior aditamento, quando no momento do oferecimento da queixa, não se tinha
ciência de certo fato e/ou pessoa.
Inicialmente, vale destacar uma crítica à nomenclatura, visto que o mais adequado seria acordo de
não deflagração da ação penal, pois, em verdade, já temos inquérito instaurado, ou seja, já há persecução
penal em andamento.
Trata-se de instituto de natureza mista (penal e processual) que possibilita uma solução negociada
no processo penal ao acusado que confessar a prática do crime e que, a partir disso, sofrerá as sanções
propostas pelo Ministério Público (instrumento de justiça negociada). Ao final, caso cumprido o acordo, há a
extinção da punibilidade.
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O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei
nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. STJ. 5ª Turma. HC 607003-
SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF.
1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.
Segundo a doutrina3, o instituto materializa a adoção, pelo sistema brasileiro, do chamado “plea
bargaining” Norte-Americano.
Conforme a previsão legal, poderá o Ministério Público propor ao investigado o acordo de não
persecução penal obedecidos os seguintes REQUISITOS:
a) Confissão formal e circunstancial do investigado;
b) Infração penal sem violência ou grave ameaça;
c) Infração penal com a pena mínima inferior a 4 anos;
d) Acordo necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.
Segundo o STJ "O acordo de não persecução penal - ANPP não constitui direito
subjetivo do investigado, assim pode ser proposto pelo Ministério Público
conforme as peculiaridades do caso concreto, quando considerado necessário e
suficiente para reprovar e prevenir infrações penais." (Agravo Regimental no
3
(Lima, 2017, p. 260)
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Recurso Especial nº 1.948.350/RS, STJ, 5ª Turma, unânime, rel. min. Jesuíno Rissato,
julgado em 9/11/2021, publicado no Dj em 17/11/2021)
Importante destacar, que segundo o §1º, para fins de aferição da pena mínima, serão consideradas
as causas de aumento e diminuição de pena.
Cumpridos os requisitos, o acordo será oferecido mediante as seguintes CONDIÇÕES, que poderão
ser ajustadas cumulativamente ou alternativamente:
a) Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê
-lo;
b) Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime;
c) Prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução,
na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
d) Pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
e) Cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal imputada.
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a) Se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da
lei; (Cuidado! Não confundir com suspensão condicional do processo)
b) Se o investigado for reincidente (genérico ou não) ou se houver elementos probatórios que
indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as
infrações penais pretéritas;
c) Ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em
acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo;
(Cuidado! Não confundir com suspensão condicional da pena) e
d) Nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a
mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. (Cuidado! Na violência
doméstica ou familiar contra homens também se aplica essa vedação).
Cumpridos os requisitos legais, o Membro do Ministério Público proporá o acordo com as condições
previstas em lei (de forma isolada ou cumulativa), na forma escrita e na presença do defensor (§3º).
Recebido o acordo, será realizada audiência para verificar sua legalidade e a voluntariedade.
Após, o juiz poderá homologar ou não o acordo de não persecução penal. Nas duas hipóteses os
autos retornam ao Ministério Público.
Caiu em prova Delegado SP/2022! A respeito do acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A, do
Código de Processo Penal, é correto afirmar que: O Juiz não participa da celebração dos termos do acordo
de não persecução penal, mas, por ocasião da homologação, poderá considerar inadequadas, insuficientes
ou abusivas as condições e devolver os autos ao Ministério Público para reformulação. (item correto).
Caso homologue o acordo (§6º), os autos retornarão para que o Ministério Público inicie sua
execução perante o juízo da execução. Cabe ao Ministério Público fiscalizar o cumprimento das condições
(penas antecipadas) e, caso sejam cumpridas, informará ao juiz para que seja declarada extinta a
punibilidade.
No caso de quebra do acordo, o Ministério Público comunicará ao juiz que o rescindirá, podendo o
Ministério Público determinar o prosseguimento das investigações ou denunciar o investigado.
Caso o acordo não seja homologado pelo juiz, os autos igualmente retornam ao Ministério Público,
para complementação das investigações ou oferecimento da denúncia.
Em ambas as soluções, a vítima será intimada (§9º).
"Uma vez oferecida denúncia pelo Membro do Ministério Público, com a respectiva
recusa em propor o acordo de não persecução penal, a defesa poderá requerer ao
Juiz a remessa dos autos ao órgão superior de revisão do Ministério Público, para
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Além disso, no caso de desclassificação do crime no curso da ação penal, será possível oferecer o
acordo de não persecução penal. Isso porque, embora a finalidade processual do acordo de não persecução
penal já esteja preclusa – tendo em vista que a ação penal foi deflagrada – a sua finalidade material, qual
seja, a finalidade de preservar o estado de inocência do indivíduo ainda permanece.
Ex.: O indivíduo foi denunciado por um crime de maior gravidade que, a princípio, não caberia acordo
de não persecução penal, caso haja a desclassificação do crime para um crime de menor gravidade, será
possível oferecer o acordo de não persecução penal (da mesma forma que é possível o oferecimento da
transação penal e suspensão condicional do processo).
O Ordenamento Jurídico Brasileiro adota o sistema da independência acerca da relação entre ação
penal e a ação civil decorrente de uma infração penal.
Por esse sistema, ambas as ações podem ser propostas de maneira independente, pois versam sofre
direitos diferentes (direito privado de cunho patrimonial e direito do Estado de punir).
Renato Brasileiro assevera que há um certo grau de mitigação no Sistema da Independência, haja
vista que o próprio juiz pode fixar, na sentença condenatória, um quantum a título de reparação pelos danos
causados (indenização mínima), à luz do art. 387, IV, CPP.
São 2 as formas de obter a indenização civil por danos decorrentes da infração penal:
1) Execução civil ex delicto (art. 63, CPP)
2) Ação civil ex delicto (art. 64, CPP)
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9.1 Execução Civil Ex Delicto (Art. 63, CPP) X Ação Civil Ex Delicto (Art. 64, CPP)
Fundamento legal: art. 63, CPP Fundamento legal: art. 64, CPP
Exige o trânsito em julgado da sentença penal Pode ser proposta a qualquer momento.
condenatória, visto que a sentença penal Logo, não exige o trânsito em julgado da
funciona como um título executivo judicial. sentença penal condenatória e pode ser
proposta ao mesmo tempo que a ação
penal.
Deve ser proposta exclusivamente em face do Pode ser proposta em face do condenado
condenado. ou do responsável civil (ex.: tutor,
curador, empregador, pais – em caso de
filhos menores).
● Ofendido;
● Representante legal;
● Herdeiro;
O art. 68 prevê que, na hipótese de vítimas hipossuficientes, a legitimidade para propor a ação civil
será do Ministério Público. No entanto, não podemos perder de vista que este dispositivo está passando por
uma inconstitucionalidade progressiva (dispositivo que era constitucional e está se tornando, com o decorrer
do tempo, inconstitucional). Isso porque, a partir do momento em que a Defensoria pública estiver
devidamente estruturada em todos estados, a legitimidade ativa será da Defensoria Pública, e não mais do
Ministério Público.
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O art. 387, IV, CPP, prevê que o juiz deve fixar um VALOR MÍNIMO a título de reparação de danos
causados pela infração penal.
Essa indenização abrange qualquer tipo de dano sofrido pelo crime. Portanto, inclui:
● Danos materiais;
● Lucros cessantes;
● Danos morais;
● Danos estéticos.
Para fixação de indenização mínima por danos morais, nos termos do art. 387, IV,
do CP, não se exige instrução probatória acerca do dano psíquico, do grau de
sofrimento da vítima, bastando que conste pedido expresso na inicial acusatória,
garantia suficiente ao exercício do contraditório e da ampla defesa. REsp 2.029.732-
MS, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
22/8/2023, DJe 25/8/2023. (Infor 784 STJ).
Para descobrirmos quais são os efeitos civis de uma sentença absolutória, devemos conjugar alguns
artigos do CPP com Código Civil. Vejamos:
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento
de dever legal ou no exercício regular de direito
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá
ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência
material do fato
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A existência de excludente de ilicitude só fará coisa julgada no juízo cível se o ofendido tiver dado causa à
excludente. Ex.: Se o ofendido for o autor da agressão injusta (no caso de uma legítima defesa), ou tiver
provocado a situação perigo atual (no caso do estado de necessidade), nessa hipótese não poderá pleitear
indenização no juízo cível.
Por outro lado, se o fato praticado com amparo em uma excludente de ilicitude tiver atingido terceiro
inocente (como, por exemplo, no estado de necessidade agressivo, em que o bem jurídico sacrificado é de
terceiro não causador do perigo), ainda que o estado de necessidade seja reconhecido no âmbito criminal,
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essa absolvição NÃO fará coisa julgada no juízo cível, de modo que a vítima atingida pode buscar a devida
reparação.
Ainda em relação aos efeitos cíveis de possíveis decisões proferidas em sede processual penal, há de
se ficar atento às seguintes hipóteses4:
a) Sentença absolutória imprópria: É dominante o entendimento no sentido de que, por mais que haja a
imposição de internação ou de tratamento ambulatorial, como tal sentença não tem natureza
condenatória, é INCAPAZ de gerar o dever de reparação do dano, além de não funcionar como título
4
Manual de Processo Penal Volume Único. Renato Brasileiro de Lima. 8ª edição. 2020. Pg. 403
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executivo. Isso, todavia, não impede o ajuizamento de ação civil contra a pessoa a quem competia a
guarda do inimputável.
b) Sentença absolutória proferida pelo Tribunal do Júri: diante do sigilo das votações e da adoção do
sistema da íntima convicção inerente ao Tribunal do Júri, resta impossível precisar o exato motivo que
deu ensejo à decisão dos jurados. Logo, é de se concluir que eventual sentença absolutória NÃO deve
fazer coisa julgada no cível.
c) Transação penal: esta decisão NÃO repercute no âmbito cível, vez que o art. 76, § 6º, da Lei nº 9.099/95,
dispõe expressamente que a imposição imediata de pena restritiva de direitos ou de multa não terá
efeitos civis, cabendo ao interessado propor a ação cabível no juízo cível;
d) Anistia: tem o condão de extinguir todos os efeitos penais decorrentes da prática do crime, sejam eles
principais, sejam eles secundários, mas não acarreta qualquer repercussão em relação aos efeitos
extrapenais. Logo, se concedida após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, nada
impede que o título obtido pelo ofendido seja executado perante o juízo cível.
e) Graça e indulto: Especificamente em relação aos reflexos cíveis, prevalece o entendimento de que
repercutem apenas em relação ao cumprimento da pena, subsistindo todos os efeitos penais
secundários e extrapenais, como a obrigação de reparar o dano. Logo, nada impede a execução da
sentença condenatória irrecorrível no âmbito cível.
f) Perdão judicial: Embora haja certa controvérsia quanto à natureza jurídica da decisão concessiva do
perdão judicial, prevalece que se trata de uma
decisão declaratória que NÃO produz qualquer efeito,
penal ou extrapenal. Veja a súmula nº 18 do STJ:
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CPP
⦁ Art. 3º-B, §1º
⦁ Art. 13-B
⦁ Art. 185, §2º
⦁ Art. 201, §3º
⦁ Art. 217
⦁ Art. 222
⦁ Art. 310
1. AUTOMAÇÃO DO PROCESSO
A informatização do processo judicial foi adotada expressa e legalmente com o advento da Lei
11.419/2006 (Dispõe sobre a informatização do processo judicial). Esse procedimento tem como
consequência a modernização do Poder Judiciário, destinando-se a dar maior celeridade processual.
Conforme o art. 1, § 1º da Lei 11.419/2006, aplica-se, indistintamente, aos processos civil, penal e
trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.
A regulamentação possui maior aplicabilidade no Processo Civil, em consonância com as disposições
do CPC. Entretanto, possui aplicabilidade e reflexos no processo penal, razão pela qual serão analisados
alguns de seus dispositivos, sob a perspectiva da incidência no âmbito da persecução de ordem criminal.
Em suma, consiste no uso do meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de
atos e transmissão de peças (art. 1º, caput).
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Todas as citações, intimações e notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio
eletrônico. Admite-se a intimação por meio do Diário de Justiça eletrônico – DJe, bem como em portal
próprio, de criação facultativa (art. 4 e art. 5).
Todavia, havendo problema técnico e sendo inviável o uso do meio eletrônico para a realização de
citação, intimação ou notificação, esses atos poderão ser praticados conforme as regras ordinárias
processuais, devendo neste caso o documento ser digitalizado e em seguida destruído (art. 9º).
A citação, por meio eletrônico, é vedada quando se tratar de processo criminal e direito infracional
(art. 6).
Os prazos têm início no primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da publicação (art. 4º,
§4º). A data da publicação é considerada como o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização do Diário
da Justiça eletrônico (art. 4º, §5º).
IMPORTANTE
Pergunta-se: E como fica no caso de dupla intimação, no portal eletrônico do Tribunal e DJe?
R.: Segundo o STJ, em julgado de 2021 (EAREsp 1.663.952-RJ), o termo inicial de contagem dos prazos
processuais, em caso de duplicidade de intimações eletrônicas, dá-se com a realizada pelo portal
eletrônico, que prevalece sobre a publicação no Diário da Justiça.
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que antes sequer eram considerados como condutas possivelmente realizáveis, passaram a ser frequentes
no universo da internet - que hoje é algo em ascensão na sociedade.
Nesse contexto, a persecução penal precisa se adequar à nova dinâmica delitiva, ou seja, a
persecução penal deve estar ajustada para compreender e adaptar-se às novas tecnologias, bem como para
permitir a localização e identificação desses crimes.
A título de exemplo, tem-se a Lei 9.296/96 que regulamenta a interceptação telefônica enquanto
meio de obtenção de prova. Na atualidade, contudo, tal meio torna-se cada vez mais obsoleto, pois, com a
ascensão das redes sociais e outros meios de comunicação como o aplicativo Whatsapp, a prática delitiva
pela via telefônica - ligação telefônica - é cada vez mais rara. Ademais, o Whatsapp utiliza criptografia de
ponta a ponta, isto é, um conjunto de ferramentas que transformam mensagens claras em código cifrado,
que só podem ser lidos por aqueles que possuem os meios de decodificar a mensagem. Ou seja, a chave.
Há uma clara dificuldade na própria elucidação dos crimes cometidos com a utilização de
instrumentos tecnológicos, notadamente no contexto em que existem uma série de sistemas de segurança
que impedem o acesso aos dados, como a criptografia ponta a ponta.
Além disso a própria preservação da cadeia de custódia é uma tarefa árdua, diante da fluidez dos
dados e facilidade com a qual estes e, consequentemente, os rastros do delito, podem ser apagados.
Por diversas vezes, os crimes possuem vítimas difusas, implicando em dificuldades na produção
probatória, além da maior gravidade das condutas, posto que são capazes de atingir um número
indeterminado de indivíduos.
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A definição do tempo do crime e também da competência para o processo e julgamento são outros
pontos de destaque e que gera discussão na doutrina e jurisprudência.
A solução para a maior parte dessas questões perpassa pelo uso das novas tecnologias na persecução
penal, ou seja, na apuração dos crimes. Contudo, nesse momento, há outro ponto de embate que é o direito
constitucional à privacidade, garantia à intimidade e à vida privada.
Não obstante, nota-se que a própria legislação processual penal tem tentado se adequar a essa nova
realidade ainda que de forma lenta. Nesse sentido, destaca-se o art. 13-B, incluído ao CPP pela Lei 13.344/16.
Além disso, a legislação especial tem inovado com a regulamentação de meios de obtenção de prova
que se valem das novas tecnologias como a infiltração virtual de agentes.
Em 2017, a atuação dos agentes de polícia na internet foi regulamentada no âmbito das investigações
de crimes contra a dignidade sexual de criança e de adolescente. Trata-se de meio de obtenção de prova
disciplinado no art. 190-A e seguintes da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Já em 2019, a partir da entrada em vigor da Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime), passou a ser
expressamente prevista a possibilidade de atuação de agentes infiltrados virtuais em organizações
criminosas, conforme regulamentação no art. 10-A e seguintes da Lei
12.850/13.
Passa a ser admitida a infiltração virtual de agentes policiais para a investigação do crime de
organização criminosa e conexos quando houver indícios da infração penal de que trata o art. 1º desta Lei, e
a prova não puder ser produzida por outros meios.
✓ Em regra – o fumus comissi delicti significa indícios de autoria + prova de materialidade.
✓ Exceção - para a infiltração de agentes, o fumus comissi delicti se limita à indicação de meros
indícios da existência de uma OCRIM.
Características importantes:
• Possui prazo máximo de até 6 meses, renováveis.
• Não pode ultrapassar a duração total de 720 dias, sempre comprovada a
necessidade, sendo nula a prova que não observar o procedimento legalmente previsto.
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IMPORTANTE
A infiltração virtual é apenas uma espécie do gênero infiltração de agentes.
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(...) 5. O Tribunal de origem deixou bem registrado que, no caso concreto, foram
observadas todas as diretrizes previstas para a prática do ato, sendo a lisura da
citação do paciente pelo aplicativo WhatsApp demonstrada ao menos pelos
seguintes elementos: número telefônico fornecido pelo concunhado; confirmação
da sua identidade por telefone pelo oficial de justiça quando da citação e
certificação realizada por ele; utilização do mesmo número de telefone para
confirmação de sua identidade, com posterior comparecimento para
interrogatório, pela autoridade policial; anuência quanto à realização do ato;
informação de que o réu não possuía condições para contratação de profissional
para patrocinar sua defesa, de modo que foi nomeada a Defensoria Pública. 6. Ora,
fica cristalino que foi indicado com precisão todo o procedimento adotado para
identificar o citando e atestar a sua identidade, o que garante a higidez das
diretrizes previstas no artigo 357 do Código de Processo Penal. Destaque-se que,
no mencionado dispositivo, não há exigência do encontro físico do citando com o
oficial de justiça. Verificada a identidade e cumpridas as diretrizes previstas na
norma procedimental, ainda que de forma remota, a citação é válida. (AgRg no
HC 685.286/PR, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 22/02/2022, DJe 25/02/2022)
IMPORTANTE
É NULA a citação realizada por aplicativo de mensagem (whatsapp) quando verificada a ausência de cautela
apta a atestar, de forma cabal, a identidade do citando. STJ. HC 652.068-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021.
Já no tocante à vítima, desde a edição da Lei 11.690/08, que alterou a redação do art. 201, §3º do
CPP, admite-se a intimação por meio eletrônico.
3. PROVAS DIGITAIS
As provas digitais estão intimamente conectadas aos crimes digitais. Mas quais são os crimes digitais?
É preciso analisar os delitos sob duas perspectivas para responder a esse questionamento: os bens jurídicos
protegidos e o modus operandi.
A doutrina classifica os crimes digitais em próprios ou puros quando o bem jurídico protegido é o
sistema informático e os dados informáticos. Assim, a conduta criminosa recai sobre o computador e seus
componentes ou sobre o sistema operacional e seus programas. Ex.: art. 154-A, CP.
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Lado outro, os crimes digitais impróprios ou impuros utilizam a tecnologia de forma acidental, como
instrumento para a execução do crime, incidindo sobre o modus operandi. Ex.: crimes contra a honra
praticados por meio das redes sociais.
Feita a devida conceituação, pode-se adentrar no tema das provas propriamente ditas.
Inicialmente, ressalta-se que as atitudes realizadas com suporte eletrônico deixam rastros, logo, é
necessário saber encontrá-los, pois servirão de provas no processo penal.
De início, destacam-se algumas dificuldades relativas à produção probatória no contexto digital:
• Velocidade da prática delitiva;
• Volatilidade da materialidade do crime;
• Transnacionalidade da conduta;
• Ausência de registros pelas vítimas.
IMPORTANTE
Apesar de ser focada nos computadores, é importante frisar que a ciência — também conhecida como
forense computacional — tem o objetivo de varrer mídias eletrônicas em busca de evidências que sirvam
como provas de crimes cometidos tanto no meio digital quanto no físico.
A perícia forense digital trabalha com evidências digitais que serão filtradas, quer sejam em
componentes físicos ou dados que foram processados eletronicamente e armazenados em mídias
computacionais. Nesse contexto, o profissional precisa ser altamente capacitado e atualizado, possuindo
uma habilidade para a recuperação de dados, análise de dados na internet e em tráfego de redes, análise de
vírus, análise de ataques e dados entre os quais já foram apagados, cifrados ou danificados há um tempo.
Trata-se de um campo novo no Brasil, ainda em desenvolvimento e que carece de uma padronização
dos procedimentos periciais. Nesse contexto, a doutrina de Carlos Henrique Calazans e Sandra Maria
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Calazans aponta que, para garantir o seu valor judicial, procedimentos serão ordenados estritamente às
normas gerais que abrangem todo o tipo de perícia.
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pedidos de quebra do sigilo. Não há ilegalidade nesse pedido, não sendo necessária
prévia autorização judicial.
STJ. 6ª Turma. HC 626.983-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF da 1ª Região), julgado em 08/02/2022. (Info 724)
ATENÇÃO! A preservação não se confunde com o acesso. O acesso a esses dados preservados, por sua vez, depende
de autorização judicial. O requerimento de guarda visa salvaguardar os dados até a concessão da quebra do sigilo.
A própria Lei 12.965/14 (Marco Civil da Internet) estabelece a possibilidade de acesso às informações,
desde que mediante autorização judicial:
Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de formar conjunto probatório
em processo judicial cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer
ao juiz que ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de
conexão ou de registros de acesso a aplicações de internet.
Percebe-se que, ao mesmo tempo que o dispositivo estabelece um direito à parte interessada de
requerer os registros, impõe um dever às empresas responsáveis pela guarda desses dados de fornecê-los.
Nesse ponto, contudo, cabe analisar a questão relativa à criptografia ponta a ponta.
O sistema de segurança mediante criptografia ponta a ponta impede o acesso da própria empresa
fornecedora do serviço do acesso às informações veiculadas por seus usuários, como ocorre nas mensagens
enviadas via aplicativo Whatsapp.
Pergunta-se: Nesse contexto, como conciliar a criptografia ponta a ponta com o disposto no art. 22?
Sobre o tema entende o STJ:
Logo, a Corte reconhece a impossibilidade técnica de fornecimento das informações, razão pela qual
descabe impor a multa (astreintes) decorrente do descumprimento de uma obrigação judicial. Sobre o tema,
inclusive, há ações de controle de constitucionalidade em trâmite no STF, cujo acompanhamento é
importante, pois assim que julgadas certamente será cobrada em provas. Trata-se da ADI 5527 e da ADPF
403.
Mais da jurisprudência sobre o tema:
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Provedor de e-mail não é obrigado a guardar e-mails que foram deletados. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.885.201-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/11/2021. (Info
719)
No julgado do informativo 719, destacou-se que não há previsão legal para armazenar mensagens
deletadas visto que, no Marco Civil da Internet, há apenas duas categorias de dados que devem ser
obrigatoriamente armazenados: os registros de conexão (artigo 13), pelo prazo de um ano; e os registros de
acesso à aplicação (artigo 15), por seis meses.
Tal previsão legal para guarda desses dados objetiva facilitar a identificação de usuários da internet
pelas autoridades competentes, haja vista que a responsabilização dos usuários é um dos princípios do uso
da internet no Brasil, conforme o artigo 3º, VI, da mencionada lei.
Assim, asseverou o STJ que a regra para os provedores de aplicação de internet tem o objetivo de
limitar as informações armazenadas à quantidade necessária para a condução de suas atividades, não
havendo previsão para armazenar as mensagens recebidas ou enviadas pelo usuário e que foram deletadas.
E ainda:
De acordo com a definição dada por André Luiz Santa Cruz Ramos:
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O bitcoin é uma criptomoeda que utiliza uma tecnologia ponto a ponto (peer-to-
peer) para criar um sistema de pagamentos on-line que não depende de
intermediários e não se submete a nenhuma autoridade regulatória centralizadora.
O código do bitcoin é aberto, seu design é público, não há proprietários ou
controladores centrais e qualquer pessoa pode participar do seu sistema de
gerenciamento coletivo. Enfim, o bitcoin é uma inovação revolucionária porque é o
primeiro sistema de pagamentos totalmente descentralizado. (Ramos, André Luiz
Santa Cruz. Direito Empresarial. 8ª ed., São Paulo: Método, 2018, p. 529)
Nesse sentido, conforme explicação do DoD: Ocorre que o acesso à carteira de criptomoedas exige,
necessariamente, a indicação da chave privada. Ou seja, ainda que a gerenciadora adote o sistema de dupla
autenticação, qual seja, digitação da senha e envio, via e-mail, do link de acesso temporário, a simples
entrada neste é insuficiente para propiciar o ingresso na carteira virtual e, consequentemente, viabilizar a
transação das criptomoedas. Segundo explicou o TJ/SP:
“Nesse passo, em que pese a alegação do autor no sentido de que a invasão a sua
conta de e-mail foi condição essencial para o saque indevido dos bitcoins existentes
em sua carteira virtual, tal fato, por si, não seria suficiente para possibilitar a
subtração das criptomoedas, a menos que o sistema de segurança do site que as
armazenava falhasse, o que não pode ser atribuído à ré, conforme bem ressaltou o
douto magistrado a quo - fls. 530. (...) Assim, eventual responsabilidade decorrente
da vulnerabilidade ou falha de segurança da plataforma virtual que armazenava as
criptomoedas do autor não pode ser transferida à ré, mesmo porque o hacker se
apropriou previamente de informações pessoais e sigilosas do legítimo usuário,
sendo necessário, inclusive, o fornecimento da senha de acesso do autor junto ao
site "blockchain.com". (e-STJ, fl. 759)”
Nesse contexto, é provável que o invasor tenha obtido a senha do autor, seja porque ele a tinha
armazenado no e-mail, forneceu a terceiro ou até mesmo em razão de eventual falha apresentada no sistema
da gerenciadora.
Nenhuma dessas circunstâncias guarda relação com a conduta do Google ou com o risco do serviço
por ele desenvolvido, razão pela qual não está configurado o nexo de causalidade. Logo, é descabida a
pretendida atribuição à empresa da responsabilidade pelo prejuízo material experimentado pelo autor.
O acesso aos dados de celulares depende de autorização judicial, tendo em vista a proteção conferida
pelo sigilo telefônico. Nesse sentido, dispõe a Lei 12.965/14 (Marco Civil da Internet).
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Embora os dados privados sejam protegidos pelas garantias constitucionais, a própria legislação
ressalva os dados cadastrais, visto que estes não são entendidos como parte da vida privada do indivíduo,
admitindo-se, pois, o acesso direto pelas autoridades que tenham interesse. Nessa linha de entendimento,
o Código de Processo Penal regulamenta o acesso a esse tipo de dado em tratando-se de certas espécies de
delitos. Vejamos o que dispõe o art. 13-A:
Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no
art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no
art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá
requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa
privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
No âmbito da atividade policial, cabe destacar que é possível a apreensão do telefone em uma
situação flagrancial, contudo, o acesso ao conteúdo dos aparelhos apreendidos depende de autorização
judicial.
Vejamos como dispõe o STJ:
Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio
da extração de dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular
do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no
momento da prisão em flagrante. STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 19/4/2016. (Info 583)
APROFUNDANDO:
A Sexta Turma – ao julgar recurso sob a relatoria da ministra Laurita Vaz – entendeu ser ilegal a substituição
do chip do celular do investigado por um número da polícia. Para o colegiado, de modo distinto da
interceptação telefônica – em que somente os diálogos entre o alvo interceptado e outras pessoas são
captados –, a substituição do chip do investigado por um da polícia, sem o conhecimento do alvo, daria ao
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investigador a possibilidade de conversar com os seus contatos e gerenciar todas as mensagens – hipótese
de investigação que não tem previsão na Constituição nem na Lei 9.296/1996 (processo em segredo judicial).
E, no REsp 1.630.097, a Quinta Turma estabeleceu que, sem o consentimento do réu ou a prévia autorização
judicial, é ilícita a prova colhida coercitivamente pela polícia em conversas mantidas pelo investigado com
outra pessoa em telefone celular, por meio do recurso de viva-voz.
4. AUDIÊNCIAS VIRTUAIS
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As partes serão intimadas com dez dias de antecedência da decisão que determinar a realização de
interrogatório por videoconferência. Além disso, antes do interrogatório por videoconferência, o preso
poderá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de
instrução e julgamento (CPP, art. 185, §§ 3º e 4º).
Independentemente da espécie de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista
prévia e reservada com o seu defensor, sendo que no caso de ser realizado por videoconferência, será
assegurado o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja no
presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso (CPP, art. 185, § 5º).
Conforme o professor Renato Brasileiro de Lima, mal entrou em vigor a Lei nº 11.900/09 e já se
instaurou intensa polêmica na doutrina acerca da (in)constitucionalidade da realização do interrogatório por
videoconferência. A nosso juízo, a realização do interrogatório por videoconferência não atende somente
aos objetivos de agilização, economia e desburocratização da justiça. Atende também à segurança da
sociedade, do magistrado, do membro do Ministério Público, dos defensores, dos presos, das testemunhas
e das vítimas, razão pela qual não pode ser tachada de inconstitucional. Se é verdade que direitos e garantias
individuais do cidadão funcionam como limites intransponíveis aos poderes persecutórios do Estado, não
menos correto é que tais direitos e garantias não são absolutos, podendo sofrer limitações, desde que tais
restrições estejam fundamentadas em lei e se mostrem compatíveis com o princípio da proporcionalidade.
Se o modelo garantista de processo pensado por Luigi Ferrajoli vem fundamentado nas premissas da
jurisdicionalidade, inderrogabilidade do juízo, separação das atividades de julgar e acusar, presunção de
inocência e contradição, forçoso é concluir que o interrogatório por videoconferência também preserva essas
cinco linhas mestras.
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“Da leitura do art. 217 do CPP fica a impressão de que, sendo a audiência realizada
por videoconferência, estaria o acusado autorizado a assisti-la, ou seja, a retirada
do acusado da sala de audiência seria permitida apenas quando da realização da
audiência na forma comum, leia-se, com a presença de todos. Não parece ser este
o objetivo do dispositivo. Na verdade, seja por meio da videoconferência, seja
pessoalmente, não se deve permitir, em hipótese alguma, que a pessoa
constrangida seja identificada pelo acusado. É bem verdade que a testemunha ou
o ofendido terão contato com os defensores do acusado, mas estes, sob
compromisso de seu grau, certamente não irão desvendar-lhe a identidade.”
(Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 774).
Além disso, a testemunha poderá ser inquirida por videoconferência, ou outro recurso tecnológico
de transmissão de sons e imagens em tempo real, quando ela morar fora da jurisdição do juiz, expedindo-se,
para esse fim, carta precatória.
O que se percebe pelos dispositivos em comento é que a videoconferência foi disciplinada de forma
a ser utilizada em casos excepcionais, não de forma generalizada, sob pena de afronta à lei. Além disso,
ressalta-se o argumento de possível violação aos princípios constitucionais do devido processo legal e da
ampla defesa.
No contexto da pandemia do Covid 19, foram suspensas as audiências presenciais, sendo admitida e
regulamentada as audiências realizadas em meio virtual. A regulamentação ocorreu por meio de Resoluções
do CNJ.
Inicialmente, cabe uma distinção, expressa na própria Resolução:
• Videoconferência: comunicação a distância realizada em ambientes de unidades judiciárias;
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Tratando-se de réu preso em local diverso do juízo da audiência, a regra será o interrogatório por
videoconferência, do presídio em que se encontrar recolhido. Em caso de réu preso na comarca ou réu solto,
poderá ser requerido o interrogatório por videoconferência.
ATENÇÃO! Enquanto no CPP o interrogatório por videoconferência ocorre sempre de forma excepcional (art. 185),
conforme a previsão da Resolução 354 do CNJ, no caso de réu preso em juízo diverso, o interrogatório por
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videoconferência será a regra e, ainda que esteja preso na sede do juízo ou solto, poderá ser requerida essa
modalidade de interrogatório. No CPP, a realização do interrogatório por videoconferência depende da verificação
de uma das hipóteses expressamente previstas.
A audiência de custódia é um instrumento processual, que impõe que o preso em flagrante seja
apresentado a autoridade judicial, no prazo de 24 horas, para que este decida a respeito da legalidade da
prisão e da necessidade de sua conversão em prisão preventiva.
Trata-se de garantia prevista em tratados internacionais em que o Brasil é signatário, como o Pacto
de San José da Costa Rica e o Pacto sobre Direitos Civis e Políticos de Nova York.
No âmbito interno foi inicialmente prevista na Resolução 213/2015 do CNJ, passando a contar com
previsão expressa no CPP, a partir da Lei 13.964/19.
Contudo, é preciso destacar previsão específica no capítulo que regulamente o juiz das garantias
acerca da vedação do emprego de videoconferência:
Inicialmente, o art. 3-B, §1º havia sido vetado pelo Presidente da República. Assim, levando-se em
consideração tal veto, bem como o período de restrição sanitária ocasionado pela pandemia, parte da
doutrina passou a admitir, então, exclusivamente em situações excepcionais, a realização da audiência de
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custódia por videoconferência, desde que presente uma das hipóteses listadas nos diversos incisos do §2º
do art. 185 do CPP, e conquanto fosse possível constatar a plena observância dos direitos fundamentais do
preso. Prova disso, aliás, é o teor do Enunciado n° 32 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de
Apoio Criminal (GNCCRIM):
“Em razão do veto presidencial ao §1º do art. 3º-B (que proibia a realização do ato
por videoconferência), nos casos em que se faça inviável a realização presencial do
ato (devidamente fundamentada) faculta-se o uso de meios tecnológicos”.
No entanto, uma vez que a realização da audiência de custódia por videoconferência já havia se
tornado uma rotina ao longo da pandemia, o Congresso Nacional deliberou, então, por derrubar os vetos do
Presidente da República ao Pacote Anticrime, ressuscitando o art. 3º-B, §1º, do CPP, que é categórico ao
vedar a realização desse ato processual com o emprego da videoconferência.
5. JURISDIÇÃO NA INTERNET
A competência para o processo e julgamento dos crimes cometidos pela internet é tema de constante
discussão. Isso se deve em razão da dificuldade de determinar a localização precisa da ocorrência, bem como
a extensão territorial do fato, pois na globalização da rede não existem limites territoriais, de forma que uma
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matéria publicada nela estará disponível no mundo inteiro tornando-se um grande desafio trabalhar com o
conceito de jurisdição e territorialidade no ambiente informático.
Sobre o tema, cabe destacar alguns entendimentos das Cortes Superiores que resolvem a
competência de certos crimes quando praticados na internet.
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b) o Brasil seja signatário de convenção ou tratado internacional por meio do qual assume o compromisso
de reprimir criminalmente aquela espécie delitiva; e c) a conduta tenha ao menos se iniciado no Brasil e o
resultado tenha ocorrido, ou devesse ter ocorrido no exterior, ou reciprocamente." (RE 628624, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO, Rel. p/ Acórdão Ministro EDSON FACHIN, TRIBUNAL PLENO, julgado em 29/10/2015, DJe
05/04/2016; sem grifos no original).
5.2. Estelionato
Do mesmo modo, o fato de o crime de estelionato ter sido cometido por meio da rede mundial de
computadores (internet) não atrai, necessariamente, a competência da Justiça Federal para o processamento
do feito. Além da transnacionalidade do delito, deve-se demonstrar lesão a bens, serviços e interesses da
União e que o País é signatário de acordos e tratados internacionais, a teor dos incisos IV e V do art. 109 da
CF. (STJ, CC 126.768/MG).
Além disso, é preciso considerar as alterações decorrentes da Lei 14.155/21 no art. 70 do CPP.
Ademais, veja, conforme o STJ, compete ao juízo estadual processar e julgar crime de estelionato
contra fundo estrangeiro no qual os atos desenvolvidos foram praticados em território nacional, ainda que
diverso o domicílio de sócio lesado. STJ. AgRg no CC 192.274-RJ, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Terceira Seção,
por unanimidade, julgado em 8/3/2023, DJe 10/3/2023. (Info 775)
Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência decorrente de crime
de ameaça contra a mulher cometido, por meio de rede social de grande alcance, quando iniciado no
estrangeiro e o seu resultado ocorrer no Brasil. (STJ, CC 150.712/SP – Informativo 636).
Inicialmente, cumpre salientar que, segundo o art. 109, V, da Constituição Federal, aos juízes federais
compete processar e julgar "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente".
No caso julgado, encontrando-se o suposto autor das ameaças em território estrangeiro, uma vez
que não se tem notícia do seu ingresso no país, tem-se um possível crime à distância, tendo em vista que
as ameaças foram praticadas nos EUA, mas a suposta vítima teria tomado conhecimento do seu teor no
Brasil.
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Ademais, destaca-se que, à luz do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, embora as
convenções internacionais firmadas pelo Brasil não tipifiquem ameaças à mulher, a Lei Maria da Penha,
que prevê medidas protetivas, veio concretizar o dever assumido pelo Estado Brasileiro de proteção à
mulher. Assim, é evidente a internacionalidade das ameaças que tiveram início nos EUA, por meio de rede
social de grande alcance, o que resulta na competência da Justiça Federal.
Destaque-se, ainda, que nos crimes contra a honra, se a conduta criminosa é cometida ou divulgada
em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena,
nos termos do § 2º do art. 141 do Código Penal, incluído pela Lei 13.964/19.
5.5. Criptomoedas
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A Terceira Seção do STJ julgou o conflito de competência CC 161.123/SP- que teve origem em
irregularidades cometidas numa espécie de corretagem sobre bitcoins – e decidiu pelo afastamento da
Justiça Federal considerando à inexistência de indícios da ocorrência de crimes contra o sistema financeiro
tendo em vista que criptomoedas não sofrem controle do Banco Central e não podem ser consideradas ativos
financeiros.
Outro caso, ainda, envolvendo criptomoedas resultou em conclusão diversa, ou seja, de que a
competência deve recair na Justiça Federal, pois os fatos não se limitaram à negociação de moedas virtuais
propriamente ditas. Consistem, também, em oferecer contratos de investimento coletivo sem o devido
registro de emissão perante a autoridade competente, o que atrai as disposições da Lei 7.492/86, tendo em
vista que tais contratos podem ser definidos como valores mobiliários, segundo o art. 2º, IX, da Lei n.
6.385/76:
Veja também que, no julgamento do HC 530.563-RS, 6ª Turma do STJ, envolvendo oferta pública de
contrato de investimento coletivo onde se oferecia ao público em geral uma oportunidade de investir
dinheiro em criptomoedas, havendo a possibilidade de terem retorno financeiro (“lucro”) caso houvesse a
valorização dessas criptomoedas, decidiu-se pela competência da justiça federal. (Info 667)
Por fim, “ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro
em detrimento de interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a
pirâmide financeira em investimento de grupo em criptomoeda”. (STJ, Informativo 673)
O Estado de São Paulo, atento ao desenvolvimento dos crimes praticados com o uso da internet,
desde 2001, criou uma Delegacia especializada em crimes de informática (Decreto n. 46.149, de 2 de outubro
de 2001).
A Unidade investiga crimes de informática próprios e impróprios, atuando somente nos praticados
na cidade de São Paulo, sendo que tal competência se estabelece pelo domicílio da vítima. Nos demais
municípios do Estado, que não possuem delegacia especializada, os crimes de informática são investigados
pelas Delegacias de Polícia locais.
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Além disso, quando há necessidade da realização de perícias, estas são feitas pelo Instituto de
Criminalística, que possui um núcleo de informática.
Nessa área de investigação, a Polícia Civil do Estado de São Paulo é referência nacional, visto que
começou a trabalhar especificamente na área quando ainda não se falava tanto no assunto pelo país, antes
do desenvolvimento das modalidades delitivas mais complexas, que hoje são perpetradas no meio virtual.
Em 2012 foi promulgada no Brasil a Lei 12.735/12, cujo art. 4º dispõe que os órgãos da polícia
judiciária estruturarão, conforme regulamentação, setores e equipes especializados no combate à ação
delituosa em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado. Nesse contexto,
outros Estados passaram a seguir o exemplo paulista e instituir delegacias especializadas, como é o caso do
Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.
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- Art. 70 e art. 72
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– lei distinta).
Portanto, para que seja considerada droga, a substância precisa atender a 2 requisitos:
● Ser capaz de causar dependência;
● Estar prevista como droga, em lei ou em portaria da Anvisa.
A coletividade, logo trata-se do que a doutrina chama de “crime vago”, uma vez que o sujeito passivo
é indeterminado.
● Regra: Dolo.
● Exceção: art. 38 “Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente,
ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
#DICA DD: Típico exemplo de crime culposo fechado, já que a regra é de que os crimes culposos são abertos.
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Crimes de perigo abstrato - são aqueles que não exigem a efetiva lesão de um bem jurídico ou a
colocação deste bem em risco real e concreto. São tipos penais que descrevem apenas um comportamento,
uma conduta, sem apontar um resultado específico como elemento expresso do injusto penal.
Crimes de perigo concreto – são aqueles que, para a consumação, se exige a comprovação de que
realmente houve perigo ou lesão ao bem jurídico.
● Regra: Os crimes da Lei de Drogas são crimes de perigo abstrato, ou seja, a prática da conduta
prevista em lei não está vinculada à demonstração de existência de perigo concreto, pois há
presunção absoluta de perigo ao bem jurídico.
● Exceção: Art. 39 é considerado crime de perigo concreto, tendo em vista que não basta conduzir a
embarcação ou aeronave após o consumo da droga, devendo demonstrar que efetivamente houve
a exposição do bem jurídico tutelado a perigo concreto de dano.
O art. 243 da CR/88 prevê a expropriação de propriedades rurais e urbanas onde forem localizadas
culturas ilegais de plantas psicotrópicas, assim como o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico
apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas. O STF em sede de
repercussão geral reconheceu que a expropriação poderá ser afastada se o proprietário comprovar que não
incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
A expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo”. [RE
635.336, rel. min. Gilmar Mendes, j. 14-12-2016, P, DJE de 15-9-2017, Tema 399.]
A medida de expropriação atingirá toda a propriedade, ainda que o cultivo seja realizado apenas em
parte da propriedade (STF, RE 543.974/MG). O doutrinador Gabriel Habib defende mesmo que caracterizado
como bem de família é possível a expropriação. O autor argumenta que deve ser aplicado, por analogia, o
art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90 que afasta a impenhorabilidade quando “o bem foi adquirido com produto de
crime”.
2. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
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Veja a JURISPRUDÊNCIA EM TESES - N. 221: 11) O princípio da insignificância não se aplica aos delitos
do art. 33, caput, e do art. 28 da Lei de Drogas, pois são crimes de perigo abstrato ou presumido.
É importante salientar que as plantações serão destruídas imediatamente pelo delegado de polícia.
Cuidado para não confundir a destruição imediata da plantação com a destruição da droga propriamente
dita, haja vista que esta depende de outros fatores, como a ocorrência ou não de flagrante, perícia da droga,
dentre outros que serão estudados adiante.
a) Condutas: São incriminadas cinco condutas, tratando-se de tipo penal misto alternativo:
● Adquirir: obter a propriedade, a título oneroso ou gratuito. O mais comum, entretanto, é a
compra;
● Trazer consigo: é sinônimo de portar, conduzir pessoalmente a droga;
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Há, ainda, a figura equiparada prevista no §1º, a qual a lei conferiu o mesmo tratamento, mas com
objeto material diferente. Em vez de se referir a drogas, refere-se à PLANTAS DESTINADAS À PREPARAÇÃO
DE PEQUENA QUANTIDADE DE DROGA.
● Semear
● Cultivar
● Colher
b) Elementos do Tipo:
▪ Elemento normativo do tipo – “sem autorização ou em desacordo com a autorização legal”. Se
houver autorização, o fato será atípico.
▪ Elemento Subjetivo especial (ou dolo específico) – tanto no caput como no §1º exige-se o dolo
específico, qual seja: PARA CONSUMO PESSOAL (caput) e PARA PREPARAR PEQUENA QUANTIDADE
DE DROGA (§1º).
🕮 Pergunta-se: Como determinar que é voltada ao consumo de PEQUENA quantidade (e não grande
quantidade apta a ensejar o crime de tráfico)? À luz do art. 28, §2º, para o juiz determinar se a quantidade
a consumo pessoal, deverá atentar-se para:
⦁ Natureza e à quantidade da substância apreendida;
⦁ Ao local e às condições em que se desenvolveu a ação;
⦁ Às circunstâncias sociais e pessoais do agente;
⦁ Conduta e aos antecedentes do agente.
#DICA DD: cuidado para não confundir o §2º do artigo 28 com o art. 52, I, que especifica o relatório a ser
elaborado pelo delegado de polícia.
c) Natureza Jurídica do art. 28: Em que pese o STF tenha deixado claro que o art. 28 tem natureza
jurídica de crime, é importante atentar para os fortes questionamentos doutrinários acerca do tema.
Vejamos:
❖ 1ª corrente - STF e doutrina majoritária: Houve uma DESPENALIZAÇÃO do art. 28, sob os seguintes
argumentos:
⦁ A lei, ao tratar do tema, classificou a conduta como crime, pois o art. 28 está
topograficamente localizado capítulo “Dos Crimes e das Penas”;
⦁ Estabeleceu o rito processual junto ao Juizado Especial Criminal;
⦁ O art. 5º, XLVI da CF/88 autoriza penas diversas das penas privativas de liberdade – reclusão
e detenção;
⦁ Ademais, a não previsão de pena privativa de liberdade em abstrato não a descaracteriza
como crime, pois a finalidade do art. 1° da Lei de Introdução ao CP ao exigir tal previsão era
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apenas a de diferenciar os crimes das contravenções penais. Ainda, quando a LICP entrou
em vigor não existiam penas alternativas;
⦁ O art. 30 da Lei de Drogas fala em prescrição, revelando, portanto, se tratar de crime.
CONCLUSÃO
Despenalização – a conduta continua sendo crime e a resposta estatal continua sendo uma pena, entretanto
há o abrandamento da sanção, não havendo privação de liberdade.
Descriminalização – a conduta deixa de ser crime, opera-se o fenômeno da “abolitio criminis” (revogação
formal do tipo + descontinuidade típico-normativa).
O que ocorreu no delito de porte de drogas para uso foi justamente o fenômeno da despenalização, tendo
em vista que o legislador manteve a natureza de infração penal, porém com sensação mais branda em
relação àquela aplicada pela lei anterior, consubstanciada na advertência sobre os efeitos das drogas,
prestação de serviços à comunidade e medida de comparecimento à programa ou curso educativo.
d) Flagrante delito: Não será imposta ao acusado prisão em flagrante, frente ao disposto no parágrafo
segundo do art. 48 da presente lei.
Ressalta-se que a vedação à prisão em flagrante significa apenas que não poderá ser lavrado auto
de prisão em flagrante, o qual funciona como um título prisional. E não cabe a lavratura justamente porque
ao crime do art. 28 não é cominada nenhuma forma de privação da liberdade. No entanto, é possível que o
indivíduo seja capturado e conduzido à delegacia para que seja feito um registro de ocorrência.
Por sua vez, o §3º prevê que o flagrante de uso de drogas será lavrado pela autoridade policial
somente na ausência de juiz.
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Nesse sentido, corroborando com a regra prevista no §3º, o Plenário do STF, no bojo da ADI nº 3.907,
decidiu que a autoridade policial pode lavrar termo circunstanciado de ocorrência e requisitar exames e
perícias em caso de flagrante de uso ou posse de entorpecentes para consumo próprio, desde que ausente
a autoridade judicial.
De acordo com o procedimento previsto na norma, o autor do crime deve, de preferência, ser
encaminhado diretamente ao juízo competente, se disponível, para que ali seja lavrado o termo
circunstanciado de ocorrência e requisitados os exames e perícias necessários. Esse procedimento, segundo
a ministra, afasta a possibilidade de que o usuário de drogas seja preso em flagrante ou detido indevidamente
pela autoridade policial: “As normas foram editadas em benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do
ambiente policial quando possível e evitar que seja indevidamente detido pela autoridade policial.
e) Penas aplicadas para o art. 28: As penas, nas quais não se incluem nenhum mecanismo de
privação de liberdade, poderão ser aplicadas isoladas ou cumulativamente de acordo com o caso concreto,
à luz do princípio da individualização da pena.
● Advertência sobre os efeitos das drogas;
● Prestação de serviços à comunidade;
● Medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.
Caiu em prova Delegado RR/2022! Para quem transporta, para consumo pessoal, drogas sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, a Lei nº 11.343/2006 – Lei Antidrogas prevê a
(item correto).
pena de: advertência sobre os efeitos das drogas.
Obs.1: Tendo em vista a impossibilidade de aplicação de pena privativa de liberdade, não é cabível ordem de
habeas corpus em favor do usuário que praticou o tipo penal do art.28: SÚMULA 693, STF.
Obs.2: A prestação de serviços à comunidade e a medida educativa têm o prazo máximo de 5 meses (art. 28,
§3º). No caso de reincidência específica, o prazo máximo será de 10 meses (art. 28, §4º): (STJ, Info 662).
Caso o apenado deixe de cumprir as medidas impostas, poderá o juiz submetê-lo ainda à
admoestação verbal e multa, nessa ordem, como orienta o parágrafo sexto.
Caiu em prova Delegado SP/2022! Nos termos da Lei n° 11.343/2006 (Lei Antidrogas), é correto afirmar que:
para garantia do cumprimento da medida educativa de prestação de serviço à comunidade, havendo recusa
injustificada, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a admoestação verbal e multa. (item correto).
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Quanto ao prazo prescricional, esse em regra será de 2 anos, sendo observada as regras gerais de
interrupção e suspensão da prescrição, bem como a sua contagem pela metade do prazo na hipótese de o
agente ser menor de 21 anos na data do fato ou maior de 70 anos na data da sentença.
IMPORTANTE!
Em 2018 houve uma mudança jurisprudencial no sentido de entender que a condenação do agente por
crime do artigo 28 NÃO É APTA A GERAR REINCIDÊNCIA.
Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura
reincidência, mostra-se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que
este delito é punido apenas com “advertência”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”,
ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibilidade de conversão em pena privativa de
liberdade pelo descumprimento. Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da
LD está sendo fortemente questionada.
f) Rito processual: O art. 28 da Lei de Drogas é infração de menor potencial ofensivo. Seu processo e
julgamento seguem o rito sumaríssimo (arts. 60 e seguintes da Lei 9.099/95).
Por ser uma infração de menor potencial ofensivo, admite a concessão de institutos como suspensão
condicional do processo e transação penal.
Obs.: De acordo com o entendimento do STJ, no bojo do informativo 668/2020,processamento
o do
réu pela prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de prova deve ser
considerado como causa de revogação facultativa da suspensão condicional do processo.
O cumprimento dos requisitos acarretará a extinção da punibilidade. Por outro lado, o
descumprimento dos requisitos durante o período de prova pode acarretar a revogação obrigatória ou
facultativa do sursi. Veja:
Nesse sentido, considerando que a prática de contravenção penal é causa de revogação facultativa
da suspensão condicional do processo, o mesmo tratamento deve ser conferido para o caso de
cometimento do crime do art. 28 da Lei de Drogas. Em outras palavras: Se, durante o período de prova, o
agente pratica o crime do art. 28 da Lei de Drogas, a suspensão condicional do processo será facultativa –
e não obrigatória.
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g) Distinção com relação ao art. 290 do CPM – Princípio da Especialidade: O militar flagrado com
substância entorpecente em local sujeito à administração militar, comete o crime militar previsto no art. 290
do COM, em razão da aplicação do princípio da especialidade.
a) Considerações Iniciais:
● Objeto jurídico: A saúde pública e o equilíbrio sanitário da coletividade, colocado em risco pela
disseminação de substâncias que provocam dependência e expõem a risco a saúde física e mental
dos usuários.
● Sujeito ativo: “Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. A coautoria e a participação
são possíveis em todas as condutas descritas no tipo penal” (GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR,
2018, p. 97).
● Trata-se de crime de perigo abstrato, para sua configuração basta a prática de conduta pelo
agente, não necessitando que nenhum bem jurídico seja colocado em perigo, sendo faceta do que
a doutrina convencionou chamar de “antecipação da tutela penal”.
● Tipo penal misto alternativo, uma vez que o núcleo é composto por vários verbos e a realização
de mais de um deles não enseja concurso de crimes.
● Elemento normativo - “Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”. O tráfico só restará configurado se a conduta for praticada sem autorização legal.
● Não exige conduta finalisticamente voltada à obtenção de lucro.
● Norma penal em branco heterogênea, tendo como complemento a portaria 344/1998 da ANVISA.
● Competência: Em regra, o crime é da justiça estadual. Somente atrairá a competência da justiça
federal quando restar demonstrada a internacionalidade do delito.
Considerando que a maioria dos verbos do tipo são autoexplicativos, serão conceituados aqui
apenas os que exigem um maior esforço de raciocínio. No entanto, lembramos que é imprescindível a
leitura detalhada de todos os verbos constantes do caput do art. 33, ok?
⦁ IMPORTAR - consiste em fazer entrar o entorpecente no País, por via aérea, marítima ou por terra.
O crime pode ser praticado até pelo correio. O delito consuma-se no momento em que a droga
entra no território nacional. Pelo princípio da especialidade
, aplica-se a Lei de Drogas, e não o art.
334 do Código Penal (contrabando ou descaminho), delito que, dessa forma, só pune a importação
de outros produtos proibidos.
⦁ EXPORTAR - é enviar o entorpecente para outro país por qualquer dos meios mencionados.
Remeter é deslocar a droga de um local para outro do território nacional.
⦁ PREPARAR - consiste em combinar substâncias não entorpecentes, formando uma tóxica pronta
para o uso. Produzir é criar. É a preparação com capacidade criativa, ou seja, que não consista
apenas em misturar outras substâncias.
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⦁ FABRICAÇÃO - é a produção por meio industrial. Adquirir é comprar, obter a propriedade, a título
oneroso ou gratuito. Só configura o crime de tráfico se a pessoa adquire com intenção de,
posteriormente, entregar a consumo de outrem. Quem compra droga para uso próprio incide na
conduta prevista no art. 28 — porte de droga para consumo próprio, que possui pena muito mais
branda.
⦁ VENDER - é alienar mediante contraprestação em dinheiro ou outro valor econômico. Expor à
venda consiste em exibir a mercadoria aos interessados na aquisição. Oferecer significa abordar
eventuais compradores e fazê-los saber que possui a droga para venda. O significado das condutas
“guardar” e “ter em depósito” é objeto de controvérsia na doutrina. Com efeito, Nélson Hungria
entende que “ter em depósito” é reter a droga que lhe pertence, enquanto “guardar” é reter a
droga pertencente a terceiro. É esse também o entendimento de Fernando Capez. Para Vicente
Greco Filho, ambas as condutas implicam retenção da substância entorpecente, mas a figura “ter
em depósito” sugere provisoriedade e possibilidade de deslocamento rápido da droga de um local
para outro, enquanto “guardar” tem um sentido, pura e simplesmente, de ocultação.
⦁ TRANSPORTAR - significa conduzir de um local para outro em um meio de transporte e, assim,
difere da conduta “remeter” porque, nesta, não há utilização de meio de transporte viário. Enviar
droga por correio, portanto, constitui “remessa”, exceto se for entre dois países, quando consistirá
em “importação” ou “exportação”. Por sua vez, o motorista de um caminhão que leva a droga de
Campo Grande para São Paulo está “transportando” a mercadoria entorpecente. Trazer consigo é
conduzir pessoalmente a droga. É, provavelmente, a conduta mais comum, porque se configura
quando o agente, por exemplo, traz o entorpecente em seu bolso ou bolsa.
⦁ PRESCREVER - evidentemente, é sinônimo de receitar. Por essa razão, a doutrina costuma
mencionar que se trata de crime próprio, pois só médicos e dentistas podem receitar
medicamentos. Lembre-se de que há substâncias entorpecentes que podem ser vendidas em
farmácias, desde que haja prescrição médica. Porém, se o médico, intencionalmente, prescreve o
entorpecente, apenas para facilitar o acesso à droga, responde por tráfico. O crime consuma-se no
momento em que a receita é entregue ao destinatário. Se alguém, que não é médico ou dentista,
falsifica uma receita e consegue comprar a droga, responde por tráfico na modalidade “adquirir”
com intuito de venda posterior. A prescrição culposa de entorpecente (em dose maior que a
necessária ou em hipótese em que não é recomendável o seu emprego) caracteriza crime
específico, previsto no art. 38 da Lei de Drogas.
⦁ MINISTRAR - é aplicar, inocular, introduzir a substância entorpecente no organismo da vítima —
quer via oral, quer injetável. Exemplo: um farmacêutico injeta drogas em determinada pessoa sem
existir prescrição médica para tanto. Fornecer é sinônimo de proporcionar. O fornecimento
pressupõe intenção de entrega continuada do tóxico ao comprador e, por tal razão, difere das
condutas “vender” ou simplesmente “entregar”. O fornecimento e a entrega, ainda que gratuitos,
tipificam o crime.
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✔ Ter em depósito
✔ Trazer consigo
✔ Expor à venda
Os crimes permanentes protraem o seu momento consumativo no tempo e no espaço, razão pela qual
possibilitam tanto a aplicação da Súmula 711 do STF (aplicação da lei mais grave desde que não cessada a
permanência), bem como a prisão em flagrante a qualquer tempo enquanto não cessada a permanência.
● Na modalidade “adquirir”, a jurisprudência entende que, por se tratar de crime de perigo abstrato, o
crime se consuma independentemente da tradição da coisa. Assim, o mero fato de a droga ter sido
negociada por telefone enseja a aplicação da reprimenda penal. Nesse sentido:
ATENÇÃO: Antes existia divergência. Atualmente, NÃO configura crime a importação de pequena
quantidade de sementes de maconha.
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A divergência surgiu porque os frutos aquênios da cannabis sativa linneu não apresentam na sua
composição o THC (Tetrahidrocanabinol, também conhecido como THC, é uma substância psicoativa
encontrada na planta Cannabis Sativa, mais popularmente conhecida como maconha). Frisa-se que a THC é
prevista expressamente como droga na Portaria SVS/MS nº 344/1998, da ANVISA.
● Objeto material:
✔ Matéria prima;
✔ Insumo;
✔ Produtos químicos.
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para sua fabricação. STJ. 3ª Seção. CC 172464-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 10/06/2020. (Info 673)
● Condutas:
✔ Semear;
✔ Cultivar;
✔ Colher.
● Objeto material: plantas para serem usadas como MATÉRIA PRIMA para a produção de drogas.
● Condutas:
✔ Utilizar;
✔ Consentir que alguém utilize (o mero consentimento configura crime!)
● Objeto material: bem ou local que tem a posse/propriedade/guarda;
● Crime próprio – só quem tem a posse/propriedade/guarda pode praticar o crime.
Foi incluído o dispositivo previsto no inciso IV, §1º do Artigo 33, Lei 11.343/06. Lembre-se de que
dispositivo bastante semelhante foi incluído também no Estatuto do Desarmamento, especificamente no
artigo 17 e 18 do referido texto.
Trata-se de regulamentação das hipóteses que poderiam ser tratadas como crime impossível por se
configurarem como flagrante provocado. Ocorre que o próprio legislador nos diz que, nessas hipóteses, seria
possível a prática da infração penal quando houver elementos razoáveis de infração penal preexistente.
Vamos analisar um caso concreto à luz da mudança introduzida?
Ex.: Policial disfarçado aborda potencial traficante de drogas e tenta adquirir determinada
quantidade de droga. O vendedor entrega as drogas ao policial, momento que lhe é dado voz de prisão.
Em regra, aplica-se Súmula 145 do STF, a qual prevê que não há crime quando a preparação do
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Isso porque, no que diz respeito à modalidade
vender, o crime é impossível, diante da provocação do agente estatal, contudo, caso exista indícios razoáveis
da prática de infração preexistente (ex.: ter a droga em depósito), seria possível a configuração do delito.
Nesse caso, seria possível a prisão caso o traficante, mesmo antes da venda, caso houvesse indícios
suficientes de que tivesse a droga em depósito.
Conclusão: A Lei 13.964/2019 apenas positivou aquilo que já era defendido pela doutrina: a incitação
do agente ativo do crime pela autoridade policial e por seus agentes nem sempre se tratará de delito putativo
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por obra do agente provocador, sendo sim possível a configuração de crime, afastando-se a súmula 145 do
STF.
Cuidado com o enunciado 4 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ, que afasta a
criminalização do art. 33, §1º, inc. IV quando há evidente provocação por parte do policial disfarçado (sem
que haja elementos razoáveis de infração penal preexistente).
● Sujeito ativo - é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
● Sujeito passivo - ao lado da coletividade tem-se a pessoa instigada, induzida ou auxiliada.
O induzimento, o auxílio ou a instigação devem ser dirigidos à pessoa determinada ou a pessoas
determinadas;
● Consumação: Prevalece que o crime se aperfeiçoa quando a pessoa incentivada faz efetivo uso da
droga.
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● Considerações iniciais:
✔ Não é equiparado a crime hediondo;
✔ Infração de menor potencial ofensivo;
✔ Competência do Juizado Especial Criminal.
● Requisitos (cumulativos)
1) Oferta eventual da droga;
2) Oferta gratuita (inexistência de objetivo de lucro)
→ Esse é denominado um elemento subjetivo negativo do tipo - é situação especial
que não pode estar presente.
3) O destinatário seja do relacionamento de quem oferece a droga;
4) A droga é para consumo conjunto.
● Consumação: Esse crime se consuma com o oferecimento da droga, dispensando-se o efetivo uso
(uso conjunto é um especial fim de agir).
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Em atenção à jurisprudência dos tribunais superiores, é importante frisar que o tráfico privilegiado
não é crime equiparado a hediondo, nesse sentido:
Inclusive a Lei 13.964/2019 inseriu dispositivo expresso na Lei de Execução Penal (art. 112, §5º)
positivando o entendimento da doutrina e jurisprudência:
Vamos ver o que a jurisprudência já decidiu sobre o tema (é importantíssimo conhecer todas as
decisões!):
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de não persecução penal, mesmo se o Parquet tiver descrito os fatos na denúncia de maneira
imperfeita, pois o excesso de acusação (overcharging) não deve prejudicar o acusado. STJ. HC
822.947-GO, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 27/6/2023,
DJe 30/6/2023. (Ed. Extra n. 13)
◘ O fato de o acusado por tráfico de drogas ter sido pego com arma de fogo e, inclusive, ter
disparado contra os policiais na ocorrência, não impede a aplicação da causa de diminuição de
pena do tráfico privilegiado, na hipótese de essa circunstância ter sido considerada no crime de
resistência (HC 493.172, 6ª turma – julgado 25.06.2020). Cuidado! Trata -se de decisão
monocrática!
◘ Para fins do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, milita em favor do réu a presunção de que ele é
primário, possui bons antecedentes e não se dedica a atividades criminosas nem integra
organização criminosa; o ônus de provar o contrário é do Ministério Público. STF. 2ª Turma. HC
154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020
(Info 965).
◘ É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o
acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não
transitou em julgado? O tema era divergente, mas FIM DA DIVERGÊNCIA!
● A prática anterior de atos infracionais pode ser utilizada para afastar a causa de diminuição do art.
33, § 4º, da Lei de Drogas?
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Para a 2ª Turma do STF: NÃO. A prática anterior de atos infracionais pelo paciente
não configura fundamentação idônea a afastar a minorante do § 4º do art. 33 da
Lei 11.343/2006. Constata-se que a prática de atos infracionais não é suficiente
para afastar a minorante, visto que adolescente não comete crime nem lhe é
imputada pena. Nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente, as medidas
aplicadas são socioeducativas e objetivam a proteção do adolescente que cometeu
o paciente não
infração. Assim, a menção a atos infracionais praticados pel
configura fundamentação idônea para afastar a minorante.
STF. 2ª Turma. HC 191992, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 08/04/2021.
Para o STJ: SIM. O histórico de ato infracional pode ser considerado para afastar a
minorante do art. 33, § 4.º, da Lei n. 11.343/2006, por meio de fundamentação
idônea que aponte a existência de circunstâncias excepcionais, nas quais se
verifique a gravidade de atos pretéritos, devidamente documentados nos autos,
bem como a razoável proximidade temporal com o crime em apuração.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.916.596, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. p/ acórdão Min.
Laurita Vaz, julgado em 08/09/2021. (Info 712)
Jurisprudência “interessante”:
Deve ser concedida a liberdade provisória a réu primário preso
preventivamente sob a imputação de tráfico de drogas por ter sido encontrado
com 887,89 gramas de maconha e R$ 1.730,00. O STF considerou genéricas as
razões da segregação cautelar do réu. Além disso, reconheceu como de pouca
nocividade a substância entorpecente apreendida (maconha). Reputou que a
prisão de jovens pelo tráfico de pequena quantidade de maconha é mais gravosa
do que a eventual permanência em liberdade, pois serão fatalmente cooptados
ou contaminados por uma criminalidade mais grave ao ingressarem no ambiente
carcerário. STF. 1ª Turma. HC 140379/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Roberto Barroso, julgado em 23/10/2018. (Info 921)
◘ A grande quantidade de droga, isoladamente, não constitui fundamento idôneo para afastar a causa
de diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD
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◘ O fato de o réu ter ocupação lícita, por si só, não concederá o benefício caso este se dedique à
atividade criminosa ou não seja primário e de bons antecedentes. (STJ. 6° Turma. REsp 1.380.741)
● Objeto material:
✔ Maquinários
✔ Instrumentos
✔ Qualquer outro objeto destinado à fabricação da droga
Nessa hipótese, há uma espécie de antecipação da tutela penal, haja vista que o legislador criminaliza atos
preparatórios que possibilitem a prática do tráfico.
● A doutrina entende que há necessidade de exame pericial para atestar que o aparelho é
apto/capaz de produzir a droga.
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● De olho na Jurisprudência:
● Considerações iniciais:
✔ O crime de associação para o tráfico não é considerado tráfico de drogas;
✔ Não é crime equiparado a hediondo;
✔ Delito autônomo.
● Especial fim de agir: A associação deve ser destinada a praticar crimes de tráfico de drogas, ou seja,
os crimes definidos nos:
✔ Art. 33, caput;
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Não é necessário que os crimes sejam efetivamente praticados, uma vez que se trata de delito
autônomo e formal.
● Condutas:
✔ Financiar
✔ Custear
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● Autofinanciamento: O sujeito passivo não pode participar do tráfico de drogas. Se o fizer, responderá
pelo crime do art. 33 com a pena majorada pelo art. 40, VII da mesma Lei.
● Sujeito ativo: crime comum – pode ser praticado por qualquer pessoa.
→ Se esse colaborador for funcionário público, irá responder pelo art. 37 com causa de aumento do art.
40, II da Lei de Drogas.
● Condutas:
✔ Prescrever
✔ Ministrar
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Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto
a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as
circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho
de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de
fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito
Federal;
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RETA FINAL
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I – TRANSNACIONALIDADE DO DELITO
● Não é necessária a efetiva transposição da fronteira nacional. Basta o intuito de transferir a droga para
outro país com a concretização de todos os atos executórios necessários para tanto.
● Dupla imputação: para ser tráfico internacional, a droga apreendida tem que ser ilícita nos 2 países
envolvido.
LOGO APÓS ESSE JULGADO, A 3º SEÇÃO DO STJ CANCELOU o enunciado da súmula 528, que tratava da
competência do juízo federal para julgar crime cometido por pessoa que importou a droga por via postal.
De acordo com o novo entendimento, com o conhecimento do endereço designado para a entrega (por via
postal, a competência para processamento e julgamento deve ser fixada no juízo do local de destino, e não
onde foi apreendida a droga enviada.
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RETA FINAL
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Atente-se à jurisprudência:
◘ Não incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em caso
de tráfico de drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja tendo em vista que no
Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. (STJ, Info 671)
◘ Para o STJ, não incide a causa de aumento de pena do art. 40, III, da LD se o crime foi praticado em
dia e horário no qual a escola estava fechada e não havia pessoas lá. (STJ, Info 622)
◘ Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no
art. 40, III, da Lei 11.343/2006. (STJ, Info 659)
◘ Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de aumento do art. 40, III,
da LD, não importando quem seja o comprador, sendo irrelevante se o agente infrator visa ou não
aos frequentadores daquele local. (STF, Info 858)
◘ No delito de tráfico de drogas praticado nas proximidades das escolas, pode-se, excepcionalmente,
afastar a incidência da majorante do art. 40, inciso II, se as aulas estavam suspensas em razão da
COVID-19. (HC 407.487/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., DJe 15/12/2017).
Ratio da majorante: Maior reprovabilidade da conduta, colocando em risco não só a saúde pública, como
também a incolumidade de outras pessoas.
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penal será da JUSTIÇA ESTADUAL. STJ. AgRg no HC 691.423-SP, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 07/06/2022, DJe 14/06/2022.
(Edição Extraordinária n. 7)
● Doutrina Majoritária, STJ e 2ª turma do STF: Defendem o mesmo raciocínio do tráfico transnacional,
sendo dispensável a efetiva transposição, desde que haja a clara intenção de remessa da droga para
outra unidade da federação.
Súmula 587, STJ - Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei
11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da
federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o
tráfico interestadual.
VI - SUA PRÁTICA ENVOLVER OU VISAR A ATINGIR CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU A QUEM TENHA, POR
QUALQUER MOTIVO, DIMINUÍDA OU SUPRIMIDA A CAPACIDADE DE ENTENDIMENTO E DETERMINAÇÃO
Inf. 576, STJ: A participação do menor pode ser considerada para configurar o crime
de associação para o tráfico (art. 35) e, ao mesmo tempo, para agravar a pena como
causa de aumento do art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006. 6ª T. 2016.
Atenção:
Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts.
33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a
conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito,
mas apenas a majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006. (STJ, Info 595)
Enunciado 5 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ - Para a aplicação do art. 40, inc. VI, da
Lei n. 11.343/2006, é necessária a prova de que a criança ou adolescente atua ou é utilizada, de qualquer
forma, para a prática do crime, ou figura como vítima, não sendo a mera presença da criança ou adolescente
no contexto delitivo causa suficiente para a incidência da majorante.
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5. DOSIMETRIA DA PENA
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o
previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do
produto, a personalidade e a conduta social do agente.
Não subsiste a vedação da fixação de regime diferente do fechado, ou substituição da pena privativa
de liberdade por privativa de direito dentro das hipóteses de cabimento do art. 44 do CP, nesse sentido:
◘ Se o réu, não reincidente, for condenado a pena superior a 4 anos e que não exceda a 8 anos, e se as
circunstâncias judiciais forem favoráveis, o juiz deverá fixar o regime semiaberto. (STF, Info 859)
◘ STJ - Para fins de fixação da pena, não há necessidade de se aferir o grau de pureza da substância
apreendida uma vez que o art. 42 da Lei de Drogas estabelece como critérios "a natureza e a
quantidade da substância".
6. PROCEDIMENTO PENAL
Seguem abaixo disposições legais já comentadas anteriormente, mas cuja leitura e a fixação é de
suma importância.
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título
rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as
disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.
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RETA FINAL
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7. DA INVESTIGAÇÃO
O presente ponto é de suma importância, afinal, a investigação é a atividade fim da carreira almejada
por seus estudos, reiterando-se ser importante a leitura dos dispositivos para complementar e fixar o
conteúdo.
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RETA FINAL
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No §2º temos a aplicação da regra geral, em que as eventuais nulidades do inquérito não se
comunicam ao processo penal, bem como de que, em razão do contraditório, não é possível alegar
impedimento em sede de procedimento investigatório.
Repare que o prazo de 15 dias para a destruição da droga pelo delegado de polícia tem como termo
a quo a decisão do juízo! Sendo tal previsão aplicável em hipótese de flagrante.
Caso haja apreensão da droga sem a ocorrência de flagrante, o procedimento deverá ocorrer em 30
dias, contados da data de apreensão.
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RETA FINAL
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A lei 11.343 prevê também prazo especial para o inquérito policial, prazo esse que é frequentemente
objeto de cobrança, diferindo da regra geral que prevê 10 dias em caso de investigado preso e 30 em caso
de investigado solto.
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado
estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo
juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de
polícia judiciária.
Atenção: ambos os prazos são passíveis de uma duplicação por representação da autoridade policial,
deferimento pelo juiz, ouvido o MP, por ele ser o titular privativo da ação penal pública. Há quem defenda
que essa duplicação do prazo para indiciado preso é inaceitável, pois há claramente uma ofensa à
proporcionalidade sob o ângulo da necessidade, porque é claríssimo o excesso, e, portanto, a desproporção.
A reboque, isso também compromete, por óbvio, a duração razoável da persecução penal (artigo 5º, LXXVIII
da CR) porque há aqui a ofensa à duração razoável não só do processo, mas temos ofensa à duração razoável
da persecução penal.
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta
Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e
ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:
I - A infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos
órgãos especializados pertinentes
II - A não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores
químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no
território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número
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RETA FINAL
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a) Infiltração de agentes.
→ É a autoridade policial quem deve requerer a infiltração;
→ Somente o agente de polícia judiciária pode ser infiltrado.
b) Ação controlada.
→ Também chamado de Flagrante Postergado;
→ Consiste no permissivo legal para que a autoridade policial deixe de efetuar a intervenção no
momento em que o agente está em flagrante, para intervir em momento posterior considerado mais
eficaz do ponto de vista probatório.
c) Colaboração premiada
→ Consiste em uma causa especial de diminuição de pena para o agente que colaborar voluntariamente
com a persecução penal;
→ Diminuição de 1/3 a 2/3 da pena;
→ Depende da ocorrência de um dos seguintes resultados:
✔ Identificação dos demais coautores e participes;
✔ Recuperação total ou parcial do produto do crime.
Medidas assecuratórias (em sentido estrito) são medidas cautelares de natureza patrimonial que têm
como objetivo garantir que o acusado não se desfaça de seu patrimônio e, assim, se for definitivamente
condenado, possa arcar com os efeitos secundários extrapenais genéricos da condenação, previstos no art.
91 do CP (indenização quanto aos danos causados pelo crime e perda em favor da União dos instrumentos,
produtos e proveitos do delito).
As medidas assecuratórias são o sequestro, o arresto e a hipoteca legal. A Lei nº 13.840/2019
promoveu mudanças no art. 60 da Lei nº 11.343/2006, que trata sobre medidas assecuratórias que podem
ser decretadas pelo juiz em processos envolvendo os crimes da Lei de Drogas. Foram três as mudanças mais
importantes nesse dispositivo:
1) O magistrado não pode mais determinar a concessão das medidas assecuratórias de ofício;
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RETA FINAL
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2) Foi inserida a previsão expressa de que o assistente de acusação pode requerer ao juízo a
concessão de medidas assecuratórias;
3) O art. 60 possuías dois parágrafos trazendo regras de procedimento para essas medidas, tendo
revogado esses dispositivos e remetido a regulamentação para o CPP.
Atenção!!! Dia 06/04/22 foram Incluídos pela Lei nº 14.322, de 2022 os arts. 60 e
61 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 (Lei Antidrogas), passam a vigorar
com as seguintes alterações:
“Art. 60. § 5º Decretadas quaisquer das medidas previstas no caput deste artigo, o
juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente provas, ou
requeira a produção delas, acerca da origem lícita do bem ou do valor objeto da
decisão, exceto no caso de veículo apreendido em transporte de droga ilícita.
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§ 6º Provada a origem lícita do bem ou do valor, o juiz decidirá por sua liberação,
exceto no caso de veículo apreendido em transporte de droga ilícita, cuja
destinação observará o disposto nos arts. 61 e 62 desta Lei, ressalvado o direito de
terceiro de boa-fé.” (NR)
Os arts. 61 e 62 da Lei nº 11.343/2006 tratam sobre a apreensão e utilização dos bens apreendidos.
A Lei nº 13.840/2019 realizou grandes alterações nesses dispositivos.
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As armas que forem apreendidas não serão alienadas, mas sim recolhidas na forma da legislação
específica.
● Autos apartados: A alienação será realizada em autos apartados. Deverá haver a exposição sucinta
do nexo de instrumentalidade entre o delito e os bens apreendidos, a descrição e especificação dos
objetos, as informações sobre quem os tiver sob custódia e o local em que se encontrem.
● Avaliação dos bens: O juiz determinará a avaliação dos bens apreendidos, que será realizada por
oficial de justiça, no prazo de 5 dias a contar da autuação, ou, caso sejam necessários conhecimentos
especializados, por avaliador nomeado pelo juiz, em prazo não superior a 10 dias.
✔ Feita a avaliação, o juiz intimará o órgão gestor do Funad, o Ministério Público e o
interessado para se manifestarem no prazo de 5 (cinco) dias e, dirimidas eventuais
divergências, homologará o valor atribuído aos bens.
✔ Os valores arrecadados, descontadas as despesas do leilão, serão depositados em conta
judicial remunerada e, após sentença condenatória transitada em julgado, serão
revertidos ao Funad.
✔ Providência adicional no caso de veículos, embarcações ou aeronaves: No caso da
alienação de veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade ou ao
órgão de registro e controle a expedição de certificado de registro e licenciamento em
favor do arrematante, ficando este livre do pagamento de multas, encargos e tributos
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8. DA INSTRUÇÃO
Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do
Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.
§ 1º Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33,
caput e § 1º , e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o
afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público,
comunicando ao órgão respectivo.
§ 2º A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro dos 30
(trinta) dias seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a
realização de avaliação para atestar dependência de drogas, quando se realizará
em 90 (noventa) dias.
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ENTENDIMENTOS
JURISPRUDENCIAIS RELEVANTES
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RETA FINAL
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(STF HC 111840): o dispositivo que prevê que o regime inicial deve ser
necessariamente fechado nos crimes hediondos e equiparados (como é o tráfico de
drogas) é inconstitucional. O regime poderá ser aberto ou semiaberto, desde que
presentes os requisitos do art. 33, §2°, “b” e “c”, do Código Penal.
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1. INTRODUÇÃO
A proteção à pessoa com deficiência tem como fundamento os próprios direitos humanos, diante da
sua condição de hipossuficiência. Assim, tem como base a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
e, nas Américas, com o Pacto de São José da Costa Rica (1969).
Nesse contexto, destaca-se a tutela dos direitos da pessoa com deficiência na CF 88:
Importante!!! Considerando o fato de que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi
-se que é
aprovada pelo rito e quórum qualificado previsto no §3°, do art. 5° da Constituição Federal, conclui
diploma internacional que ostenta status de emenda constitucional, ocupando o patamar mais alto da
pirâmide normativa brasileira.
Art. 2º. Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
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Art. 2º-A. É instituído o cordão de fita com desenhos de girassóis como símbolo
nacional de identificação de pessoas com deficiências ocultas. (Incluído pela Lei
nº 14.624, de 2023)
§ 1º O uso do símbolo de que trata o caput deste artigo é opcional, e sua ausência
não prejudica o exercício de direitos e garantias previstos em lei. (Incluído pela
Lei nº 14.624, de 2023)
§ 2º A utilização do símbolo de que trata o caput deste artigo não dispensa a
apresentação de documento comprobatório da deficiência, caso seja solicitado
pelo atendente ou pela autoridade competente. (Incluído pela Lei nº 14.624, de
2023)
Cabe destacar, contudo, que antes da vigência da Lei 13.146/15, o Decreto 3.298/99 trouxe
definições acerca da pessoa com deficiência, regulamentando a Lei 7.853/89. Veja:
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III – deficiência visual – cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que
0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa
acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os
casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual
ou menor que 60º ; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições
anteriores; (Redação dada pelo Decreto n. 5.296, de 2004)
IV – deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à
média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou
mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado
pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; (Redação
dada pelo Decreto n. 5.296, de 2004) e) saúde e segurança; f) habilidades
acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho;
V – deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência não revogou tais disposições, pois, com o seu advento, houve
a revogação expressa de certos dispositivos legais (art. 123 da Lei 13.146/15). Portanto, permanecem
vigentes aqueles em que não houve menção expressa na Lei 13.146/15 e com ela são compatíveis.
1.3 Conceitos
O art. 3° da Lei 13.146/15 aponta alguns conceitos importantes acerca da disciplina da pessoa com
deficiência, razão pela qual, neste ponto, sugerimos a leitura do dispositivo.
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SEMANA 03/12
Superada a análise introdutória, serão abordados os crimes previstos no Estatuto da Pessoa com
Deficiência, que são o objeto de estudo no presente material. A Lei 13.146/15 tipifica 4 (quatro) crimes, nos
artigos 88 a art. 91.
Importante!!! São crimes que já encontram figuras correspondentes na legislação comum, porém, com maior
reprovabilidade considerando a vítima como pessoa vulnerável.
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O Código Penal qualifica a injúria quando utilizados na ofensa elementos referentes à deficiência do
ofendido. Esta, contudo, é distinta da discriminação prevista na legislação especial. Isso porque, se o
propósito do agente for o de atingir a honra subjetiva da vítima (específica), utilizando-se para tanto da sua
condição de deficiente, haverá injúria qualificada. Lado outro, se a conduta se dirige a toda uma coletividade
de pessoas com deficiência, pelo fato de assim o serem, há a conduta discriminatória do art. 88 da lei em
estudo.
b) Sujeitos: crime comum no polo ativo, sendo que no polo passivo somente pode figurar a pessoa
com deficiência.
Medidas cautelares: O § 3º menciona que na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá determinar,
ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência,
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no caso da prática do crime em estudo cometido pelos meios de comunicação social ou de publicação de
qualquer natureza, ante a urgente necessidade de se retirar o respectivo conteúdo discriminatório de
circulação aplicar medidas cautelares para: a) o recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do
material discriminatório; b) a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na internet.
Em caso de não atendimento de tais medidas de forma voluntária pelo agente ou pelos responsáveis
de empresas e veículos de comunicação utilizados para o crime, os omitentes deverão ser responsabilizados
pelo crime de desobediência (art. 330 do CP).
Importante!!! Protege-se a dignidade da pessoa humana da pessoa com deficiência e os seus direitos
fundamentais. Ademais, a Constituição Federal, em seu art. 3°, inciso IV, prescreve ser um dos objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
b) Sujeitos: crime comum no polo ativo, sendo que no polo passivo somente pode figurar a pessoa
com deficiência.
Importante!!! Se o sujeito ativo for funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se da função, haverá
o crime de peculato (art. 312 do Código Penal), cuja sanção penal é mais severa, sendo de reclusão, de dois
a doze anos, e multa.
Apropriar-se: é modalidade que pressupõe a posse ou detenção dos respectivos bens, proventos,
pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento de pessoa com deficiência.
Desviar: nesta modalidade o sujeito ativo, também em posse ou detenção da coisa, dá destinação
diversa ao bem.
Há causa de aumento de 1/3 se o sujeito ativo for o tutor, curador, síndico, liquidatário,
inventariante, testamentário ou depositário judicial ou agir em razão de ofício ou profissão.
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Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, casas de saúde, entidades
de abrigamento ou congêneres:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover as necessidades básicas
de pessoa com deficiência quando obrigado por lei ou mandado.
a) Condutas: o abandono da pessoa com deficiência deve ocorrer em locais específicos: hospitais,
casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres. Protege -se os direitos fundamentais da pessoa
com deficiência, em especial a vida, liberdade e incolumidade pessoal. Também é tipificada a conduta
daquele que descumpre o dever de prover as necessidades da pessoa com deficiência.
Obs.: se o abandono de pessoa com deficiência ocorrer em locais diversos, com a clara demonstração
de perigo à vida ou incolumidade pessoal da vítima, o comportamento poderá melhor se ajustar a outros
crimes a depender das peculiaridades do caso concreto (abandono de incapaz; tentativa de lesão corporal;
tentativa de homicídio; etc.) - Leis Penais Especiais - Vol. 4, Diego Luiz Victório Pureza, pgs. 693/694.
· Abandono de pessoa com deficiência (caput): é modalidade que pode ser praticada por meio de conduta
comissiva (levar a pessoa com deficiência a casa de saúde e ali abandoná-la) ou por meio de conduta omissiva
(afastar-se da pessoa com deficiência do local onde se encontra, abandonando-a).
· Abandono material (parágrafo único): é modalidade que pune o garantidor, responsável por prover as
necessidades básicas de pessoa com deficiência, seja por lei ou por mandado, que se omite voluntariamente
em prestar alimentos ou quaisquer outras providências que se mostrarem necessárias ao sustento e
subsistência da vítima.
b) Sujeitos: crime comum na conduta do caput, exigindo condição especial do sujeito ativo no
parágrafo único, uma vez que só pode ser praticado por aquele que tem o dever (por lei ou mandado) de
garantir a subsistência da pessoa com deficiência.
c) Ação Penal: pública incondicionada.
Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento
de pessoa com deficiência destinados ao recebimento de benefícios, proventos,
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O Bem jurídico tutelado nesse tipo penal é o patrimônio da pessoa com deficiência. Pune-se os
comportamentos: reter (segurar, deter consigo); utilizar (fazer uso) - De cartão magnético, qualquer meio
eletrônico ou documento de pessoa com deficiência destinados ao recebimento de benefícios, proventos,
pensões ou remuneração ou à realização de operações financeiras, com o fim de obter vantagem indevida
para si ou para outrem.
a) Sujeitos: crime comum no polo ativo, sendo que no polo passivo somente pode figurar a pessoa
com deficiência.
Há causa de aumento de 1/3 se o sujeito ativo for o tutor ou curador.
b) Consumação: As duas modalidades são crimes formais, logo, consuma -se no momento da
retenção ou utilização de algum dos objetos descritos no caput, independentemente de efetivo
resultado naturalístico, qual seja o enriquecimento ilícito do sujeito ativo ou de outrem.
De olho na jurisprudência:
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META 4
TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 3º do ADCT
⦁ Arts. 1º a 4º da CF/88 → saber na ponta da língua. Despenca em prova;
⦁ Art. 34, CF/88
⦁ Art. 60, CF/88 → saber na ponta da língua. Despenca em prova;
⦁ Arts. 136 e 137, CF/88
1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
Conforme Bernardo Gonçalves, “estabelecer o conceito de Constituição é, sem dúvida, uma tarefa
árdua, pois, conforme iremos observar, o termo é multifacetado, não havendo uma linearidade e
univocidade em torno de sua base semântica.” Embora existam várias acepções, basicamente os
doutrinadores conceituam Constituição como:
DICA: para não esquecer o conceito, lembrem-se dos objetivos das constituições, começando pela limitação
de poderes e estruturação do Estado.
J. J. Canotilho formulou o chamado conceito ideal de constituição. Este conceito ideal identifica-se
fundamentalmente com os postulados político liberais, considerando-se como elementos materiais
caracterizadores e distintivos os seguintes:
(a) a constituição deve consagrar um sistema de garantias da liberdade (esta essencialmente
concebida no sentido do reconhecimento de direitos individuais e da participação dos cidadãos nos
atos do poder legislativo através dos parlamentos);
(b) a constituição contém o princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra os
abusos dos poderes estaduais;
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(c) a constituição deve ser escrita (documento escrito). (CANOTILHO. José Joaquim Gomes. Direito
Constitucional. 6ª Edição Revista. Livraria Almedina. Coimbra, 1993, páginas 62 e 63).
Não há conceito único que defina o que é a Constituição. Por isso, cada doutrinador toma por base
um sentido com o fim de definir o termo “Constituição”.
a) Concepção SocioLógica (Ferdinand Lassale, em seu livro ¿Qué es una Constitución?): uma Constituição
só seria legítima se representasse o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder,
do contrário seria uma simples “folha de papel”. Portanto, a Constituição, segundo Lassale, seria a somatória
dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade.
b) Concepção PolíTica (Carl SchimiTt): A Constituição seria a decisão política fundamental, emanada do
titular do poder constituinte, enquanto a lei constitucional representaria os demais dispositivos que estão
inseridos no texto constitucional e que não contém matéria de decisão política fundamental. Conforme Pedro
Lenza, “pode-se afirmar, portanto, em complemento, que, na visão de Carl Schmitt, em razão de ser a
Constituição produto de certa decisão política, ela seria, nesse sentido, a decisão política do titular do poder
constituinte.”
c) Concepção Jurídica (Hans Kelsen): A Constituição é norma pura, dever-ser, dissociada de qualquer
fundamento sociológico, político ou filosófico (Constituição no mundo do dever-ser, e não no mundo do ser,
caracterizando-a como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais). Kelsen dá dois sentidos
à palavra Constituição:
● SENTIDO LÓGICO-JURÍDICO – a Constituição é a NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL, responsável
por dar sustentação ao sistema posto, e é o fundamento de validade de todas as outras leis.
● SENTIDO JURÍDICO-POSITIVO - é a Constituição positiva, conjunto de normas que regulam a criação
de outras normas, da qual todas as outras normas infraconstitucionais extraem seu fundamento de
validade. Logo, a Constituição é a lei máxima do direito positivo e encontra-se no topo da pirâmide
normativa.
d) Concepção Culturalista (Meirelles Teixeira e José Afonso da Silva): A Constituição é produto de um FATO
CULTURAL, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir.
e) Constituição aberta: Para que possa permanecer dentro de seu tempo e, assim, evitar o risco de
desmoronamento de sua “força normativa”.
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● Outorgada, não democrática ou imposta: impostas pelo detentor do poder de forma unilateral
(adverte-se que as os diplomas que dão início a uma ordem constitucional de maneira arbitrária e
imposta, isto é, sem participação da população, é denominada de “CARTA”);
Obs. No Brasil, as Constituições outorgadas foram as de 1824 (Império), 1937 (inspirada em modelo
fascista, extremamente autoritária — Getúlio Vargas), 1967 (ditadura militar), sendo que alguns
chegam inclusive a mencionar como exemplo de outorga a EC n. 1/69 (apesar de tecnicamente
impreciso).
● Promulgada, democrática, votada ou popular: nascem de debates políticos;
● Cesarista ou plebiscitárias (ou bonapartistas) : as constituições outorgadas submetidas a plebiscito
ou referendo na tentativa de aparentarem legitimidade são denominadas de constituições cesaristas
(NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, 2009, 3ª ed. p. 108). Em
outras palavras, cesarista é a constituição em que a participação popular se restringe a ratificar a
vontade do detentor do poder. Veja que a participação popular, nesses casos, não é democrática,
pois visa apenas ratificar a vontade do detentor do poder.
b) Quanto à forma:
● Escritas ou instrumental: é a Constituição sistematizada por procedimento formal;
● Não escritas ou consuetudinária: resultante das práticas costumeiras.
c) Quanto à mutabilidade/alterabilidade/estabilidade/consistência:
● Rígidas: o processo de alteração da Constituição é mais difícil e solene do que o processo de
formação das leis;
● Flexíveis ou Plásticas: a Constituição é alterada pelo mesmo processo utilizado para as leis ou até
mais simples;
💣 Atenção: NÃO necessariamente as Constituições costumeiras serão plásticas.
● Semirrígida: é a Constituição que exige que apenas uma parte do seu texto seja alterado por processo
legislativo diferenciado e mais dificultoso. Quanto ao restante do texto, é possível a alteração pelo
procedimento ordinário;
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d) Quanto ao conteúdo:
● Formais: constituição é tudo aquilo que está inserido no texto elaborado pelo Poder Constituinte,
por meio de um processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene do que o processo
de formação das demais leis que compõem o ordenamento jurídico. Dessa forma, como não importa
o conteúdo da norma, será constitucional tudo que constar do texto da Constituição, mesmo que
não se trate de assunto relevante para o Estado e a sociedade;
Conforme Lenza, “Formal, por seu turno, será aquela Constituição que elege como critério o processo
de sua formação, e não o conteúdo de suas normas. Assim, qualquer regra nela contida terá o caráter de
constitucional. A brasileira de 1988 é formal!”
● Materiais: leva em consideração o conteúdo da norma para defini-la como constitucional, que será
toda aquela que define e trata das regras estruturais da sociedade e de seus alicerces fundamentais.
Assim, podem existir normas constitucionais em textos esparsos, fora da Constituição. Ou seja, o
núcleo ideológico constitutivo do Estado e da Sociedade.
Toda constituição escrita é formal? NÃO, porque a constituição formal vai muito além de ser escrita,
exigindo supralegalidade/supremacia e procedimentos especiais para modificação. Logo, é possível uma
constituição escrita (textos constitucionais) que não seja formal (não goza de processo legislativo especial
para sua alteração).
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f) Quanto à ideologia:
● Ortodoxas: elaboradas em uma única linha ideológica;
● Ecléticas: elaboradas com várias linhas ideológicas, a exemplo da CF/88.
g) Quanto à eficácia (Karl Lowenstein) – Classificação ontológica/essência, pois analisa o MODO DE SER das
Constituições, conforme adequação à realidade social e política (o critério utilizado é a forma de
correspondência recíproca entre a norma da constituição e o poder político do Estado -processo de poder).
● Normativas (máxima eficácia, regulando todos os aspectos da vida social): são aquelas em que o
poder estatal está de tal forma disciplinado que as relações políticas e os agentes do poder
subordinam-se às determinações do seu conteúdo e do seu controle procedimental. Se adequa à
realidade, eis que pretende e consegue guiar o processo político. O texto se alinha com a realidade
política;
● Nominalistas: visa limitar a atuação dos detentores do poder econômico, político e social, mas essa
limitação NÃO se efetiva. Não corresponde à realidade, já que, apesar de pretender regular o
processo político, NÃO consegue fazê-lo. Não conseguem ser implementadas pois em descompasso
com a realidade política;
● Semânticas (existe só no papel, não sendo adequada à realidade social): a Constituição serve de
manutenção do poder pela classe dominante, mas NÃO objetiva alterar coisa alguma. Não tem por
fim regular a vida política do Estado, busca somente formalizar e manter o poder político vigente.
h) Quanto à extensão:
● Constituição Sintética (concisas, breves, sumárias, sucintas, básicas): é Constituição reduzida,
sucinta, a exemplo da norte-americana;
● Constituição Analítica (amplas, extensas, largas, prolixas, longas, desenvolvidas, volumosas,
inchadas): é Constituição extensa e prolixa, a exemplo da CF/88.
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As constituições dirigentes não se bastam com dispor sobre o estatuto do poder. Elas também
traçam metas, programas de ação e objetivos para as atividades do Estado nos domínios social, cultural e
econômico.
De toda sorte, associa-se a constituição-garantia a uma concepção liberal da política, enquanto a
constituição programática remete-se ao ideário do Estado social de direito.
A Constituição brasileira de 1988 tem induvidosa propensão dirigente.
Em suma: A Constituição garantia busca garantir a liberdade, limitando o poder; a balanço reflete
um degrau de evolução socialista e a dirigente estabelece um projeto de Estado (ex.: portuguesa).
CLASSIFICAÇÃO DA CF
Origem Promulgada (Popular)
Forma Escrita
Extensão Analítica (Prolixa)
Conteúdo Formal
Modo de elaboração Dogmática (Codificada)
Alterabilidade Rígida*(para alguns autores ela é super-
rígida, em razão do art. 60, § 4°, da CR/88)
Sistemática Reduzida (unitária)
Dogmática Eclética
BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE
De acordo com o professor Lenza, a brasileira de 1988, em um primeiro momento, como aponta Pinto
Ferreira, seria reduzida, codificada ou unitária. Contudo, especialmente diante da ideia de “bloco de
constitucionalidade”, parece caminharmos (de maneira muito tímida, ainda) para um critério que se
aproxima de Constituição esparsa (legal ou escrita não formal — escrita e que se apresenta fragmentada em
vários textos), especialmente diante da regra contida no art. 5.º, § 3.º, que admite a constitucionalização dos
tratados ou convenções internacionais de direitos humanos que forem incorporados com o quórum e
procedimento das emendas constitucionais.
Ainda, existem vários artigos de emendas constitucionais que não foram introduzidos no “corpo” da
Constituição e, permanecendo como artigo autônomo das emendas, sem dúvida, têm natureza
constitucional e, portanto, eventual lei que contrarie artigo de emenda constitucional poderá ser declarada
inconstitucional, servindo a emenda como paradigma de confronto. Outro exemplo interessante é a EC n.
91/2016, que, sem introduzir qualquer artigo, seja no corpo ou mesmo no ADCT, alterou regra sobre perda
do mandato eletivo por infidelidade partidária, estabelecendo a possibilidade, excepcional e em período
determinado, de desfiliação, sem prejuízo do mandato.
Cabe alertar, contudo, que apesar dessa percepção, de modo geral, as provas de concursos vêm definindo a
brasileira de 1988 como reduzida.
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3. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
Conforme classificação elaborada por José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser
diferenciadas em elementos, considerando-se estrutura normativa e conteúdo:
● Elementos orgânicos: regulamentam a estrutura do Estado e do Poder;
● Elementos limitativos: limitam a atuação do poder estatal, a exemplo dos direitos e garantias
fundamentais;
● Elementos socioideológicos: identificam a ideologia adotada pelo constituinte;
● Elementos de estabilização constitucional: asseguram a vigência das normas constitucionais em
situação de conflito, garantem a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas;
● Elementos formais de aplicabilidade: estabelecem regras de aplicação da Constituição. Ex:
Preâmbulo, ADCT.
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4.1. Constitucionalismo
FASES:
a) CONSTITUCIONALISMO ANTIGO: é o da Antiguidade Clássica, com a ideia de garantir direitos para limitar
o poder, evitar o arbítrio.
● Hebreus: estabelecimento no estado teocrático de limitações ao poder político através da
legitimidade dos profetas para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites
bíblicos.
● Idade Média: Carta Magna de 1215 – estabelece a proteção a direitos individuais.
b) CONSTITUCIONALISMO CLÁSSICO (LIBERAL): século XVIII
● Surge a 1ª geração de direitos fundamentais (liberdade): direitos civis e políticos. Exigem abstenção
do Estado.
● Separação de Poderes.
● CF rígida e supremacia da CF.
● O Poder Judiciário é o principal encarregado de garantir a supremacia da CF Surgem as primeiras
Constituições escritas.
Quadro europeu: o reconhecimento do valor jurídico das Constituições tardou na Europa. Os
movimentos liberais (século XVIII) enfatizam o princípio da supremacia da lei e do parlamento. A Constituição
NÃO era norma vinculante, embora esse entendimento já começasse a ser desenvolvido nos EUA.
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c) CONSTITUCIONALISMO MODERNO (SOCIAL): após o fim da 1ª Guerra Mundial até o início da segunda.
● Exigem atuação positiva do Estado (Estado Social, intervencionista, prestador de serviço público).
● Crise do liberalismo diante das demandas sociais que abalaram o século XIX. O abstencionismo
estatal não garantia a igualdade essencial para a existência de igualdade de competições.
● Consagração dos direitos fundamentais de 2ª dimensão: gravitam em torno do valor IGUALDADE,
mas não meramente formal e sim a IGUALDADE MATERIAL (direitos sociais, econômicos e culturais).
Possuem um caráter positivo: exigem uma prestação do Estado. Surgem garantias institucionais.
● Adoção do Estado Social: o Estado transforma-se em prestador de serviços, intervindo no âmbito
social, econômico e laboral.
d) CONTEMPORÂNEO: após o fim da 2ª Guerra Mundial.
● Surgem os direitos fundamentais de 3ª geração (fraternidade): direitos transindividuais, como meio
ambiente, comunicação, consumidor.
● Alguns o chamam de neoconstitucionalismo. Outros diferenciam:
∘ No constitucionalismo contemporâneo, a hierarquia entre Constituição e lei é apenas formal:
o foco é a limitação do poder estatal.
∘ No neoconstitucionalismo, a hierarquia é de grau e axiológica (tem que observar espírito e
valores da CF): o foco é a concretização dos direitos fundamentais.
Caracteriza-se pelas Constituições garantistas, que tem como pilar a defesa dos direitos
fundamentais.
Período marcado pelas CONSTITUIÇÕES DIRIGENTES, que prescrevem programas a serem
implementados pelos Estados, normalmente por meio de normas programáticas.
4.2 Neoconstitucionalismo
A doutrina passa a desenvolver, a partir do pós-2ª Guerra Mundial, uma nova perspectiva em relação
ao constitucionalismo, denominada neoconstitucionalismo, ou, segundo alguns, constitucionalismo pós-
moderno, ou, ainda, pós-positivismo. Busca-se, dentro dessa nova realidade, não mais apenas atrelar o
constitucionalismo à ideia de limitação do poder político, mas, buscar a eficácia da Constituição.
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CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO:
● BUSCA EFICÁCIA DA CF E CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS;
● PÓS-POSITIVISMO: o positivismo tinha permitido barbáries com base na lei. Veio, então, o pós-
positivismo (o direito deve ter um conteúdo moral, vai além da legalidade estrita. Não basta apenas
respeitar a lei, tem que observar os princípios da moralidade e da finalidade pública);
● NORMATIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO: a Constituição Federal era documento político. Com o
neoconstitucionalismo, passa a ser documento JURÍDICO, com força vinculante;
● FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: as normas constitucionais têm aplicabilidade direta (conforme
sua densidade jurídica), os direitos irradiam da CF;
● CENTRALIDADE DA CONSTITUIÇÃO: a CF é o epicentro do ordenamento jurídico. Tem supremacia formal
e material. Consequências:
o Constitucionalização do direito: normas de outros ramos do direito estão na Constituição Federal
e há releitura dos institutos previstos na legislação infraconstitucional à luz da Constituição;
o Filtragem constitucional: há interpretação da lei à luz da Constituição Federal. Segundo a
interpretação conforme a CF, passa a lei no filtro da CF para extrair seu sentido constitucional.
Para Luís Roberto Barroso, toda interpretação jurídica é uma interpretação constitucional. Nas
palavras do professor Marcelo Novelino: “na interpretação conforme, exclui-se uma
interpretação do dispositivo que seja possível, mas que, se empregada, violaria a Constituição.
Seria, no caso, um tipo de situação constitucional imperfeita (ADI 2415)”.
● REMATERIALIZAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES: surgem Constituições prolixas, com extenso rol de direitos
fundamentais;
● MAIOR ABERTURA NA INTERPRETAÇÃO: os princípios deixam de ser meras diretrizes e passam a ser
espécies de norma;
● FORTALECIMENTO DO JUDICIÁRIO: o Judiciário irá garantir a supremacia da Constituição Federal. É o
ativismo judicial, postura mais ativa do Judiciário na implementação dos direitos. O Judiciário passa a
atuar como legislador positivo.
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1) Para a teoria procedimentalista (Jürgen Habermas): A Constituição deve se limitar à regulação formal
do processo democrático, sem estabelecer de antemão quais as metas ou valores substantivos a serem
perseguidos por aquela sociedade.
2) Para a teoria substancialista: Defende que a Constituição deve consagrar metas e valores a serem
perseguidos por aquela sociedade, traduzindo-se em uma Constituição dirigente, na expressão de
Canotilho.
Superando a antiga visão do discurso jurídico como uma racionalidade neutra, objetiva, imparcial,
asséptica, visão esta que apenas se presta à conformação ao status quo e à manutenção das desigualdades,
cabe ao juiz promover uma interpretação prospectiva da norma, que olhe para o futuro, e dela extrair seu
potencial transformador. Uma interpretação, portanto, que concretize os valores consagrados pelo texto
constitucional, para que não sejam “promessas constitucionais inconsequentes” (feliz expressão do Ministro
do STF Celso de Mello), normas meramente programáticas, retóricas.
Faz-se necessário, portanto, desenvolver uma compreensão crítica do direito e da realidade,
desconstruindo a pretensa neutralidade do discurso jurídico, para reconstruí-lo como ferramenta de
emancipação.
Dessa forma, o Judiciário atenderá à sua missão constitucional de concretização de seus vetores
axiológicos e exercerá papel ativo na construção de uma sociedade tal qual prometida pelo Texto Maior:
fraterna, justa, igualitária. Enfim, uma sociedade que realize a finalidade por excelência de um Estado de
Direito: a dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, em que o Poder Judiciário passa a ser coparticipante do processo constitucional,
questiona-se acerca da legitimidade do chamado “ativismo judicial” na consecução de políticas públicas,
já que os membros do Poder Judiciário não são eleitos pela vontade da maioria.
Para ser legítimo, o ativismo judicial deve ser excepcional (observar a separação de poderes) e
condicionado (observar o dever de argumentação). A partir dos requisitos para legitimidade do ativismo
judicial, é possível que o advogado público erija tese em sentido contrário, defendendo que a atuação
judicial, na espécie, é ilegítima, por:
1) violar o postulado da Separação dos Poderes;
2) não se sustentar em norma constitucional ou legal;
3) ser casuística; ou
4) descambar em problema ainda maior do que o veiculado na lide.
Consignadas tais limitações, vê-se, portanto, que o ativismo judicial não pode descambar para o
arbítrio judicial, que, a pretexto de imprimir juridicidade às normas constitucionais, especialmente os
princípios, finda por relegar a um segundo plano a segurança jurídica e a democracia.
Segundo Daniel Sarmento, “no Brasil, uma crítica que tem sido feita à recepção do
neoconstitucionalismo – eu mesmo a fiz em vários textos, bem como outros autores, como Humberto Ávila
e Marcelo Neves – é a de que ele tem dado ensejo ao excessivo arbítrio judicial, através do que chamo de
“carnavalização dos princípios constitucionais” (guarde essas expressões).
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Segundo o Doutrinador José Afonso da Silva, as normas Constitucionais podem possuir eficácia plena,
contida ou limitada:
● Normas Constitucionais de eficácia Plena: são as que não necessitam de complementação para que
possam produzir efeitos, tais normas possuem aplicabilidade imediata e integral;
● Normas Constitucionais de eficácia contida (ou prospectiva): são as que também possuem
aplicabilidade imediata e integral, por não necessitarem de complementação, no entanto podem ter
sua abrangência reduzida por norma infraconstitucional. São autoaplicáveis, mas se inserem na
discricionariedade do legislador. Exemplos: os artigos: 5º, incisos XIII (sobre a regulamentação de
profissões) e VIII (escusa de consciência).
● Normas Constitucionais de eficácia Limitada: são as que necessitam de integração por norma
infraconstitucional para que possam produzir efeitos jurídicos.
São normas que têm aplicabilidade apenas indireta ou mediata, pois dependem de complementação
infraconstitucional para possuírem aplicabilidade direta.
No entanto, mesmo sem sua regulamentação, tais normas produzem, mesmo que de forma mínima,
efeitos jurídicos, como o de vincular o legislador.
José Afonso da Silva entende que há dois tipos de normas limitadas:
∘ Normas de princípio institutivo ou organizativo: contém o início ou esquema de
determinado órgão, entidade ou instituição, deixando a efetiva criação e estruturação a
cargo de lei ordinária ou complementar. Exemplos: art. 18, §2º da CF e art. 25, §3º da CF.
∘ Normas de princípio programático: normas através das quais o constituinte, ao invés de
regular direta e imediatamente determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os
princípios a serem cumpridos pelos seus órgãos. – Tais normas NÃO dispõem de
aplicabilidade imediata, mas possuem carga eficacial, ante o princípio da força normativa
da Constituição. Exemplos: artigos 196; 205; 217; 218 todos da CF/88.
ATENÇÃO - CLASSIFICAÇÃO DE MARIA HELENA DINIZ: a autora incluiu mais uma espécie na classificação
acima apontada, afirmando a existência de normas constitucionais de eficácia absoluta ou super eficazes,
que são as cláusulas pétreas, ou seja, aquelas normas que não podem ser retiradas nem mesmo por emenda
constitucional.
Cláusulas pétreas são normas constitucionais com proteção adicional além das demais normas de
uma constituição rígida. Caracterizam-se por imutabilidade ou semi-imutabilidade. No caso brasileiro, as
cláusulas pétreas não são imutáveis, mas não podem ser objeto de emenda constitucional que tenda a aboli-
las, como dispõe o art. 60 da Constituição, ou seja, seu núcleo essencial precisa ser preservado. Para ser
classificada como rígida, uma constituição não precisa de cláusulas pétreas, pois basta que tenha processo
especial de reforma para ser considerada dessa espécie. As cláusulas pétreas são uma opção adicional que o
constituinte originário adota na proteção de certos tópicos constitucionais. BARCELLOS, Ana Paula de. Curso
de direito constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022. Livro eletrônico, p. 35 e s., item 1.3
[Constituição e classificações].
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preceitos expressos no texto constitucional, sem se valer de valores substantivos, sob pena de se substituir
as decisões políticas pelas judiciais.
b) Corrente não-interpretativista: defende um ativismo judicial na interpretação da Constituição,
proclamando a possibilidade, e até a necessidade, de os juízes invocarem e aplicarem valores substantivos,
como justiça, igualdade e liberdade. Assim, o juiz torna-se coparticipante do processo de criação do Direito,
completando o trabalho do legislador, ao fazer valorações para conceitos jurídicos indeterminados e realizar
escolhas entre as soluções possíveis e adequadas.
Canotilho: leciona que a questão do “método justo” em direito constitucional é um dos problemas
mais controvertidos. Por isso, para ele, NÃO há apenas um método de interpretação constitucional,
podendo-se afirmar que, atualmente, a interpretação das normas constitucionais obtém-se a partir de um
conjunto de métodos distintos, porém complementares.
a) Método jurídico ou hermenêutico cláSsico [SAVIGNY]: Parte da consideração de que a Constituição é uma
lei, de modo que a interpretação da Constituição não deixa de ser uma interpretação da lei. => TESE DA
IDENTIDADE DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL E INTERPRETAÇÃO LEGAL.
Com isso, para a interpretação da Constituição, deve o intérprete utilizar os elementos tradicionais
ou clássicos da hermenêutica, que remontam à Escola Histórica do Direito de Savigny:
● Elemento gramatical: também chamado de literal ou semântico, a análise se realiza de modo textual
e literal;
● Elemento histórico: análise o projeto de lei, a sua justificativa, exposição de motivos, pareceres,
discussões, as condições culturais e psicológicas que resultaram na elaboração da norma;
● Elemento sistemático ou lógico: busca a análise do todo;
● Elemento teleológico ou racional: busca a finalidade da norma;
● Elemento genético: busca investigar as origens dos conceitos utilizados pelo legislador;
● Elemento popular: a análise se implementa partindo da participação da massa, dos “corpos
intermediários”, dos partidos políticos, sindicatos, valendo-se de instrumentos como o plebiscito, o
referendo, o recall, o veto popular etc.
● Elemento doutrinário: parte da interpretação feita pela doutrina;
● Elemento evolutivo: segue a linha da mutação constitucional. Nesse método, o papel do intérprete
resume-se a descobrir o verdadeiro significado da norma, o seu sentido e, assim, atribui-se grande
importância ao texto da norma.
Caiu em prova Delegado RR/2022! A decisão do Supremo Tribunal Federal, prolatada na ADPF no 54, que
autoriza a realização voluntária do aborto de feto anencefálico teve como um dos seus expressos
fundamentos: a intepretação constitucional sem redução de texto. (item correto).
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#DICADD: É possível, igualmente, relacionar as iniciais para não esquecer: Hesse – Hermenêutico.
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e) Método normativo-estruturante [FRIEDERICH MULLER]: Parte da premissa de que existe uma relação
necessária entre o texto e a realidade. Foi idealizado por Friederich Müller, que afirma que o texto é apenas
a ponta do iceberg, não compreendendo a norma apenas o texto, mas também um pedaço da realidade
social. É um método também concretista, diferenciando-se dele, porém, na medida em que a norma a ser
concretizada não está inteiramente no texto, sendo o resultado entre este e a realidade.
As normas podem revelar-se sob a forma de princípios, regras ou postulados normativos. Normas e
princípios NÃO guardam hierarquia entre si, especialmente diante do princípio da unidade da Constituição.
Segundo Canotilho, os princípios são fundamento das regras, ou seja, são normas que estão na base
ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, uma função normogenética
fundamentante.
REGRAS PRINCÍPIOS
Grau de abstração reduzido. Grau de abstração elevado.
Suscetíveis de aplicação direta. Carecem de mediações concretizadoras.
Podem ser normas vinculativas com conteúdo São standards juridicamente vinculantes radicados
meramente funcional. nas exigências de justiça ou na ideia de direito.
Relatos descritivos de condutas a partir dos quais, A previsão dos relatos dá-se de maneira mais
mediante subsunção, chega-se à conclusão. abstrata, sem se determinar a conduta correta, já
que cada caso concreto deverá ser analisado para
que o intérprete dê o exato peso entre os princípios
em choque.
São mandamentos ou mandados de definição: são São mandados de otimização (Alexy): devem ser
sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas (tudo ou realizados na maior medida do possível. Podem ser
nada). satisfeitos em graus variados, a depender das
possibilidades jurídicas.
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Uma das regras em conflito OU será afastada pelo A colisão resolve-se pela ponderação ou
princípio da especialidade, OU será declarada balanceamento de princípios.
inválida.
a) UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO: a Constituição é una e indivisível. Por isso, deve ser interpretada como um
todo, de modo a evitar conflitos, contradições e antagonismos entre suas normas. Em decorrência, não há
hierarquia entre normas constitucionais e não há normas constitucionais originárias inconstitucionais.
É usado no conflito ABSTRATO de normas constitucionais.
Um dos exemplos de integração política é a definição pelo Pretório Excelso da competência comum dos
entes federativos para estabelecer ações de combate à pandemia da COVID
-19 (2020). Noutro giro, cita-se,
com exemplo de integração social a deliberação a respeito do casamento homoafetivo e sua compatibilidade
com a Constituição Federal de 1988.
d) MÁXIMA EFETIVIDADE: deve preferir a interpretação que dê mais eficácia e aplicabilidade aos direitos
fundamentais.
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e) FORÇA NORMATIVA: na aplicação da Constituição, deve ser dada preferência às soluções concretizadoras
de suas normas que as tornem mais eficazes e permanentes. A principal função desse princípio tem sido para
afastar interpretações divergentes. Segundo o STF, quando se tem interpretações divergentes sobre a
Constituição, estas enfraquecem a sua força normativa.
OBS: o da Força Normativa serve para todas as normas constitucionais; já o da Máxima Efetividade,
serve especificamente para os direitos fundamentais.
f) JUSTEZA OU CONFORMIDADE FUNCIONAL: tem por finalidade impedir que os órgãos encarregados da
interpretação constitucional cheguem a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-
funcional estabelecido pela Constituição. É um princípio de competência constitucional. Em outras palavras,
prescreve o referido princípio que, ao intérprete, é defeso modificar a repartição de funções fixadas pela
própria Constituição Federal. Assim, revelam-se incompatíveis, de acordo com essa diretriz interpretativa, as
propostas de mutação constitucional promovidas pelo Supremo Tribunal Federal, uma vez que, com esse
fenômeno, há verdadeira alteração da norma constitucional sem que haja qualquer modificação no seu texto
o que, de certa forma, acaba por usurpar a competência legislativa do Congresso Nacional.
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● Proporcionalidade em sentido estrito: ponderação entre o custo e o benefício da medida. Para ser
proporcional, a medida tem que trazer mais benefícios do que custos.
O movimento doutrinário chamado de moderna hermenêutica constitucional diz que toda a tarefa
de interpretação da CF deve estar voltada para um único objetivo: concretizar os direitos fundamentais.
Dentre essas modernas técnicas, estão previstas:
c) Interpretação conforme a Constituição: o Órgão Jurisdicional declara qual das possíveis interpretações se
mostra compatível com a Lei Maior. É princípio que se situa no âmbito do controle de constitucionalidade, e
não simples regra de interpretação.
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7. PODER CONSTITUINTE
Segundo Canotilho, o Poder Constituinte se revela como uma questão de “poder”, “força” ou
“autoridade” política que, em uma situação concreta, pode criar, garantir ou eliminar uma Constituição
entendida como lei fundamental da comunidade política. A doutrina aponta a existência de três poderes
constituintes: originário, derivado e difuso.
1. Poder Constituinte Originário: O Poder Constituinte Originário instaura uma nova ordem jurídica,
rompendo por completo com a ordem jurídica precedente e possui como características:
● Inicial: inaugura toda a normatividade jurídica;
● Autônomo: não convive com nenhum outro poder que tenha a mesma hierarquia;
● Incondicionado (juridicamente): não se sujeita a nenhuma outra norma jurídica;
● Ilimitado;
● Latente: é atemporal, contínuo, pois está pronto para ser acionado a qualquer momento;
● Poder de fato e poder político, podendo, assim, ser caracterizado como uma energia ou força social,
tendo natureza pré-jurídica, sendo que, por essas características, a nova ordem jurídica começa com
a sua manifestação, e não antes dela.
Canotilho observa que o poder constituinte “... é estruturado e obedece a padrões e modelos de
conduta espirituais, culturais, éticos e sociais radicados na consciência jurídica geral da comunidade e, nesta
medida, considerados como ‘vontade do povo’”. Fala, ainda, na necessidade de observância de princípios de
justiça (suprapositivos e supralegais) e, também, dos princípios de direito internacional (princípio da
independência, princípio da autodeterminação, princípio da observância de direitos humanos — neste último
caso de vinculação jurídica, chegando a doutrina a propor uma juridicização e evolução do poder
constituinte).
Caiu em prova Delegado SP/2022! Poder constituinte originário é o que cria uma Constituição. Assinale a
alternativa correta, considerando as características desse importante instituto jurídico: O princípio da
segurança das relações jurídicas não permite a restauração da eficácia de lei que perdeu vigência com o
advento de uma nova Constituição, quando esta é revogada por uma terceira Constituição (item correto).
7.1 Espécies de Poder Constituinte Originário (também denominado inicial, inaugural, genuíno ou de 1.º
grau)
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O hiato constitucional, também chamado pelo autor de revolução, verifica-se quando há um choque (ou
“divórcio”) entre o conteúdo da Constituição política (uma das formas do direito legislado) e a realidade
social ou sociedade. Conforme o autor Pedro Lenza, tomando por base essa ideia, qual seja, que o hiato
constitucional caracteriza verdadeira lacuna, intervalo, interrupção de continuidade, entendemos que
vários fenômenos poderão ser verificados, destacando-se:
■ convocação da Assembleia Nacional Constituinte e elaboração de nova Constituição;
■ mutação constitucional;
■ reforma constitucional;
■ hiato autoritário.
A partir da quebra do processo constitucional, vale dizer, diante da não correspondência entre o texto
posto e a realidade social, poderá surgir espaço para o denominado “momento constituinte” democrático
e, assim, diante da manifestação do poder constituinte originário, a elaboração de novo documento que
encontre legitimidade social.
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estaria liberado de valores referentes à sua legitimidade. Por ter o seu sentido na existência política, o
sujeito do Poder Constituinte poderia fixar livremente o modo e a forma da existência estatal a ser
consagrada na constituição, sem ter que se justificar em uma norma ética ou jurídica.
Características essenciais sob a óptica positivista: I- inicial, por não existir nenhum outro antes ou acima
dele; II- autônomo, por caber apenas ao seu titular a escolha do conteúdo a ser consagrado na constituição;
e III- incondicionado, por não estar submetido a nenhuma regra de forma ou de conteúdo.
b) Jusnaturalistas (Abade Sieyès): o Poder Constituinte é um poder jurídico (ou de direito). Os defensores
da existência de um direito eterno, universal e imutável, preexistente e superior ao direito positivado,
sustentam que o Poder Constituinte, apesar de não encontrar limites no direito positivo anterior, estaria
subordinado aos princípios do direito natural.
Características essenciais sob a óptica jusnaturalista: I- incondicionado juridicamente pelo direito positivo,
mas submetido aos princípios do direito natural; II- permanente, por não se exaurir com a conclusão de sua
obra; e III- inalienável, devido à impossibilidade de transferência, pela nação, desta titularidade.
A visão positivista de que o Poder Constituinte Originário tem plena liberdade para
definir o conteúdo a ser consagrado no texto
constitucional é refutada com base
no argumento de que, fora do direito positivo interno, existem limitações materiais
a serem observadas. (NOVELINO, 2017, p. 74).
I- Limites Transcendentes: são aqueles que, advindos de imperativos do direito natural, de valores éticos ou
de uma consciência jurídica coletiva, impõem-se à vontade do Estado, demarcando sua esfera de
intervenção. Nesse sentido, parte da doutrina sustenta o dever de manutenção, imposto ao Poder
Constituinte Originário pelo princípio da proibição de retrocesso, dos direitos fundamentais objeto de
consensos sociais profundos ou diretamente ligados à dignidade da pessoa humana.
II- Limites Imanentes: estão relacionados à configuração do Estado à luz do Poder Constituinte material ou
à própria identidade do Estado de que cada constituição representa apenas um momento da marcha
histórica. Referem-se a aspectos como a soberania ou a forma de Estado.
III- Limites Heterônomos: são provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos como, por
exemplo, as obrigações impostas ao Estado por normas de direito internacional. A globalização e a crescente
preocupação com os direitos humanos são fenômenos que têm contribuído para relativizar a soberania do
Poder Constituinte. Sob essa perspectiva, seria vedado às futuras constituições brasileiras consagrar a pena
de morte para além dos casos de guerra externa, antes o disposto na Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, que veda o restabelecimento da pena de morte nos Estados que a hajam abolido.
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Obs.: Em sua obra clássica “O que é o Terceiro Estado?”, Joseph Sieyès sustentava que o Terceiro Estado
seria a nação, titular do poder constituinte.
7.1.3 Legitimidade: Segundo Marcelo Novelino (2017, p. 75), a análise da legitimidade do Poder Constituinte
Originário pode ser feita sob dois prismas distintos:
I- Subjetivo: a legitimidade está relacionada à titularidade e ao exercício do poder. Para ser considerado
legítimo, o Poder Constituinte deve ser exercido por representantes do povo eleitos especificamente para
esse fim e nos limites da delegação.
II- Objetivo: o Poder Constituinte deve consagrar na constituição um conteúdo valorativo em conformidade
com determinadas limitações materiais e/ou correspondente aos anseios de seu titular. Nesse contexto,
Canotilho afirma que o critério da legitimidade do Poder Constituinte não é a mera posse do poder, mas a
conformidade do ato constituinte com a ideia de justiça e com os valores radicados na comunidade em um
determinado momento histórico. A consagração de uma justa ordenação dos interesses e forças sociais das
quais a Constituição se originou é fator indispensável para sua legitimidade.
É aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica
precedente. O objetivo fundamental do poder constituinte originário, portanto, é criar um novo Estado,
diverso do que vigorava em decorrência da manifestação do poder constituinte precedente. Em suma: se o
poder constituinte é a expressão da vontade política da nação, não pode ser entendido sem a referência aos
valores éticos, religiosos, culturais que informam essa mesma nação e que motivam as suas ações.
7.2 Poder Constituinte Derivado (instituído, constituído, secundário, de segundo grau, remanescente)
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● Condicionado ou limitado: só pode ser exercitado nos casos previstos pelo Poder Constituinte
Originário.
7.2.1 Reformador: Tem o poder ou competência para modificar a Constituição por meio de um procedimento
específico, estabelecido pelo Poder Constituinte Originário. Ao contrário deste, que é um poder político, o
Poder Constituinte Derivado Reformador tem natureza jurídica, pois deve obedecer às limitações impostas
pelo Originário.
Em princípio, o Poder Constituinte de Reforma NÃO pode criar cláusulas pétreas: somente o Poder
Constituinte Originário pode fazê-las. No entanto, pode ampliar o catálogo dos direitos fundamentais criados
pelo Poder Constituinte Originário.
Limites ao poder constituinte derivado reformador – art. 60, CF/88:
c) Materiais: excluem determinadas matérias do Poder Constituinte derivado reformador. Os limites podem
ser EXPRESSOS ou IMPLÍCITOS;
● Expressos: são as cláusulas de intangibilidade ou cláusulas pétreas do art. 60, § 4º da CF. Tutela-se
a proposta tendente a ABOLIR. Impede-se que haja a DELIBERAÇÃO da emenda. O STF entende
possível a impetração de MS por parlamentar (controle de constitucionalidade preventivo judicial).
● Implícitos: limitações que decorrem do núcleo de identidade da CF. Tudo aquilo que formar o núcleo
de identidade da CF é limitação implícita ao poder de reforma, é intangível.
⮚ Impossibilidade de alterar o titular do PCO e o titular do PC derivado.
⮚ Os limites explícitos ao poder de reforma são limites implícitos.
· Não se pode admitir que o poder derivado possa alterar seus próprios limites de atuação
estabelecidos pelo poder originário a quem está condicionado e limitado.
· Impossibilidade de se operar a dupla revisão: primeiro se alteram as limitações
expressas, para depois, promover as alterações desejadas.
d) Formais:
● Subjetivos: Iniciativa para a propositura de uma proposta de emenda constitucional (art. 60, I, II e III
da CF).
● Objetivos:
· Art. 60, §2º
· Art. 60, §3º
· Art. 60, §5º
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7.2.2 Poder Constituinte Derivado Decorrente: Assim como o reformador, também é jurídico e limitado pelo
originário. Possui o objetivo de estruturar a constituição dos Estados-membros, em decorrência da
capacidade de auto-organização estabelecida pelo originário. Tal capacidade consta artigo 25 da CF/88, o
qual dita que “os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e Leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição”.
A doutrina aponta que os princípios que devem ser seguidos pelos Estados-membros são:
a) Princípios sensíveis: essência da organização constitucional da Federação brasileira - art. 34, VII da CF - se
violados ensejam intervenção federal;
b) Princípios constitucionais estabelecidos: regras previstas para outros entes que, por consequência, veda
a atuação do Estado naquela matéria e;
c) Princípios constitucionais extensíveis: normas organizatórias da União aplicadas aos estados pelo
princípio da simetria, e podem ser expressos ou implícitos. Ex.: sistema eleitoral, imunidades e impedimentos
dos Deputados.
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● 1ª Corrente: há quem compreenda que as leis orgânicas são efetivo exercício do poder constituinte
derivado decorrente.
● 2ª Corrente (MAJORITÁRIA): inexiste tal poder no âmbito dos municípios, pois estes submetem-se
a um poder de terceiro grau, na medida em que devem observância a CF/88 e a respectiva
Constituição Estadual. Entende-se que o poder derivado decorrente somente existe em face do
segundo grau, ou seja, quando extrai seu fundamento de validade da própria constituição. Isso
porque o poder constituinte decorrente, conferido aos Estados-membros e ao Distrito Federal, não
se faz na órbita dos Municípios.
Obs. Igualmente aos Territórios Federais (que hoje não mais existem, mas poderão vir a ser criados),
de acordo com o art. 18, § 2.º, integram a União, não se falando em autonomia federativa, e,
portanto, não se cogitando em manifestação de poder constituinte derivado decorrente.
7.2.3 Poder Constituinte Derivado Revisor: Também é condicionado e limitado às regras do originário. Tal
manifestação ocorreu cinco anos após a promulgação da atual Constituição, por determinação do artigo 3º
do ADCT.
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CRFB/88
⦁ Art. 24, incisos X e XII, da CRFB;
⦁ Art. 98, da CRFB/88.
LEI N. 9.099/95
⦁ Art. 2°;
⦁ Art. 41;
⦁ Art. 60;
⦁ Art. 61;
⦁ Art. 62;
⦁ Art. 63;
⦁ Art. 65 e §1°;
⦁ Art. 69;
⦁ Art. 72;
⦁ Art. 74;
⦁ Art. 76;
⦁ Art. 77;
⦁ Art. 82;
⦁ Art. 90-A;
⦁ Art. 94;
LEI N. 10.741/03
⦁ Art. 94, Lei n° 10.741/03
1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL
Os Juizados Especiais integram o Poder Judiciário, com amparo em norma constitucional de eficácia
limitada, definidora de princípio institutivo, como se depreende da leitura do art. 98 da Constituição.
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Quando a Lei dos Juizados entrou em vigor, parte da doutrina a criticou, alegando a sua
inconstitucionalidade, isso porque a referida lei permite a transação penal envolvendo bem de natureza
indisponível, qual seja, a liberdade de locomoção.
Apesar das críticas, o STF entendeu pela constitucionalidade da Lei nº 9.099/95, ressaltando que as
inovações do referido diploma legislativo prestigiam a aplicação do princípio da intervenção mínima,
devendo, inclusive, retroagir.
Antes de adentrar aos aspectos da Lei, vejamos as principais diferenças entre a jurisdição consensual
e conflitiva no Processo Penal:
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discricionariedade regrada.
Nesse sentido, é possível notar que os Juizados Especiais Criminais foram criados com as seguintes
finalidades:
✔ Acelerar a prestação jurisdicional;
✔ Revitalizar a figura da vítima;
✔ Estimular a solução consensual dos conflitos.
É importante ressaltar que o tema está diretamente atrelado às velocidades do Direito Penal.
A doutrina do professor José Maria Silva Sanches, preconiza que existem 4 maneiras de atuação da
tutela penal, sendo esse conceito muito pertinente à temática da lei dos juizados especiais, justamente por
ela ser exemplo claro do que convencionou chamar de segunda velocidade do direito penal.
Dessa forma, podemos definir as velocidades como:
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Art. 62, Lei nº 9.099/95. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos
critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela
vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
a) ORALIDADE – Significa que todo o procedimento deve ter forma verbal em detrimento a forma
escrita.
O princípio da oralidade traz 4 importantes desdobramentos (i) concentração (audiência una); (ii)
imediatismo (o juiz proceder diretamente à colheita de todas as provas, em contato imediato com as partes);
(iii) irrecorribilidade das decisões interlocutórias (é possível o questionamento em preliminar em futura
apelação; em sede Habeas Corpus; ou ainda, nos moldes do art. 399, §2º, do CPP); (iv) princípio da
identidade física do juiz.
b) SIMPLICIDADE – O critério em questão preconiza que todo o procedimento, tanto os atos
jurisdicionais quanto os atos das partes devem ter forma simples, acessível, de modo a ser compreendido
por todos os personagens do processo, deixando de lado o formalismo típico da linguagem jurídica.
Podemos citar como exemplo desse princípio o §1º do art. 77 da Lei, que dispensa tanto o inquérito
policial (lembrando que o caráter dispensável do IP também é previsto no CPP), como a dispensa do exame
de corpo de delito (imprescindível no CPP).
c) INFORMALIDADE – Consiste na prática de atos de maneira desburocratizada, com menor atenção
às formalidades impostas pelo legislador.
d) ECONOMIA PROCESSUAL – entre duas alternativas válidas, deve-se priorizar aquela que for menos
onerosa ao Estado e às partes.
e) CELERIDADE – Um metacritério que é a junção finalística de todos os anteriores, uma vez que
todos eles têm como objetivo a criação de um processo mais célere.
5. COMPETÊNCIA DO JECRIM
A competência dos juizados especiais criminais é fixada com base em dois critérios:
1) A natureza da infração penal (infrações de menor potencial ofensivo);
2) A inexistência de circunstância que desloquem a competência para o juízo comum, quais sejam:
✔ Conexão e continência;
✔ Impossibilidade de citação pessoal do acusado;
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Caiu em prova Delegado RR/2022! Sobre o procedimento comum ordinário, sumário e sumaríssimo (juizado
especial criminal), é correto afirmar que: No procedimento sumaríssimo, em caso de complexidade, em
sendo o feito remetido ao juízo comum, prosseguirá sob o rito sumário. (item correto).
Por sua vez, os crimes de potencial ofensivo são definidos a partir da sua pena máxima em abstrato,
ou de possuírem natureza de contravenção penal, como orienta a legislação em comento.
Atenção: o conceito de IMPO (infração de menor potencial ofensivo) fala em crimes com pena máxima não
superior a 2 anos. Por isso deve sempre ser buscada a pena máxima possível em relação àquele delito
naquele caso concreto. Por isso, em se tratando de uma causa de aumento de pena, deve-se buscar o
quantum que mais aumente a pena. No caso de uma causa de diminuição de pena, utiliza-se o quantum que
menos diminua a pena.
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Art. 94, Lei n° 10.741/03. “Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento
previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que
couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. (Vide ADI
3.096-5 - STF)”
O STF, na ADI 3.096, entendeu que o art. 94 da Lei n° 10.741/03 não criou novo conceito de infração
de menor potencial ofensivo. Na verdade, se o crime não tiver pena máxima superior a 4 anos, aplica-se a
ele apenas o PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO da Lei dos Juizados e não os institutos
despenalizadores da Lei nº 9.099/95.
O Estatuto do Idoso veio para proteger o idoso, e por isso seria incompatível entender que haveria
um alargamento do conceito de infração de menor potencial ofensivo.
Em resumo:
Pena máxima < 2 anos Pena máxima >2 anos < 4 anos Pena máxima > 4 anos
Se o crime previsto no Estatuto do Se o crime previsto no Estatuto do Se o crime previsto no Estatuto do
Idoso tiver pena máxima não Idoso tiver pena máxima superior a Idoso tiver pena máxima superior a
superior a dois anos, será dois anos, mas que não ultrapasse 4 quatro anos, é da competência da
considerado infração de menor anos, aplica-se o art. 94, o que Vara Comum, sendo aplicado o
potencial ofensivo e “vai para o significa que será julgado pela vara procedimento comum ordinário.
Juizado”. comum, mas aplicando-se o
procedimento sumaríssimo.
Esses acusados têm direito aos institutos despenalizadores da Lei n° 9.099/95, mas obviamente não
serão julgados pelos Juizados.
O art. 90-A na Lei n° 9.099/95 vedou a aplicação da lei dos juizados no âmbito da Justiça Militar. Por
se tratar de lei mais gravosa, não pode retroagir para alcançar os crimes praticados antes de sua vigência. O
STF, no HC 99.743, entendeu que o art. 90-A é constitucional em relação aos crimes militares cometidos por
militares. No mesmo sentido é a Jurisprudência em teses do STJ:
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Art. 41, Lei nº 9.099/95. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099,
de 26 de setembro de 1995.
ADC 19: o STF declarou a constitucionalidade dos artigos 1°, 33 e 41 da lei Maria da Penha,
ponderando que é plenamente válido o critério de “discrímen” em virtude violência contra a mulher, a qual
se encontra em evidente situação de hipossuficiência. Conclusões do STF na ADC 19:
(1) Não cabe suspensão condicional do processo para os crimes e contravenções envolvendo violência
doméstica contra a mulher (isso já havia sido decidido pelo STF no HC 106.212).
(2) Em se tratando da contravenção penal de vias de fato ou do crime de lesão corporal leve ou culposa
no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher, a ação penal é de natureza pública
incondicionada.
Art. 14, Lei n° 11.340/06. “Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser
criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o
processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher.”
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OBS.: Apesar do uso da expressão “Juizados”, na verdade o que se tem é uma vara especializada, justamente
porque não será possível aplicar a Lei dos Juizados Criminais. Importante lembrar que o art. 33 da Lei nº
11.340/06 estabelece que enquanto não for possível criar uma Vara Especializada, deve-se colocar esta
competência cumulativamente em alguma vara criminal.
5.5 Conexão e Continência entre Crime Comum e Infração de Menor Potencial Ofensivo:
Nos casos de conexão, os delitos serão julgados pelo juízo com força atrativa, sem prejuízo da
aplicação dos institutos despenalizadores em relação à infração de menor potencial ofensivo:
No CPP adotou, como regra geral a teoria do resultado, estabelecendo que a competência será fixada
pelo local onde se consumar a infração, ou no caso de tentativa, o local onde for praticado o último ato de
execução: Art. 70, CPP. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
A Lei nº 9.099 estabeleceu que competência será fixada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal. Ocorre que tal expressão acarreta certa divergência na doutrina.
Art. 63, Lei n° 9.099/95. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em
que foi praticada a infração penal.
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b) Impossibilidade de citação pessoal do acusado: A Lei nº 9.099 diz que a citação deve ser pessoal,
no próprio juizado. No Jecrim não se admite citação por edital. Por isso, se o acusado não for encontrado e
for necessário fazer a citação por edital, os autos serão remetidos ao juízo comum.
c) Complexidade da Causa: Verificando que a causa é complexa, é possível solicitar ao juiz o
encaminhamento das peças ao Juízo comum. Ex.: prova pericial muito complexa que traria demora excessiva
ao processo; grande número de acusados (briga de torcida organizada).
5.8 Nulidades
Quanto à pronúncia de nulidade acerca dos atos processuais, adotou-se o princípio do Pas de nullité
sans grief, ou seja, a nulidade só poderá ser pronunciada caso fique demonstrado o prejuízo em concreto
para alguma das partes (art. 65, caput e §1º, da Lei n° 9.099/95).
a) Conceito: É o instrumento investigatório a ser utilizado para a apuração das infrações penais de
menor potencial ofensivo. A Lei n° 9.099/95 visou trazer um procedimento mais célere, e por isso criou uma
r inquérito para investigar IMPO.
fase investigatória mais rápida, pois não faz sentido instaura
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e
a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.
Caiu em prova Delegado BA/2022! Nos termos do art. 69, parágrafo único, da Lei no 9.099/95, ao autor do
fato típico definido como crime de menor potencial ofensivo, após a lavratura do termo circunstanciado,
caso se comprometa a comparecer junto ao Juizado Especial Criminal, não se imporá prisão em flagrante,
nem se exigirá fiança. (item correto).
O que o parágrafo único do art. 69 veda é a imposição de prisão em flagrante e não a captura.
Portanto, feita a captura, o autor do fato deverá ser conduzido coercitivamente para a lavratura do TCO (e
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não de APFD). Somente se ele não assumir o compromisso de comparecimento é que deverá ser lavrado
APFD.
b) Atribuição para lavrar TCO: O termo “autoridade policial” gerou uma série de discussões sobre
quem teria atribuição para a lavratura do termo circunstanciado. Há quem defenda que “autoridade
policial” é tão somente o Delegado de Polícia (Civil ou Federal) e, no caso de investigações militares, o Oficial
militar responsável pelo inquérito.
Uma segunda corrente defende que ‘autoridade policial” é o agente estatal designado para exercer
funções de autoridade policial (policial civil, policial federal ou policial militar)
O art. 191 da Lei nº 22.257/2016, do Estado de Minas Gerais, previu que os integrantes da Polícia
Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar podem lavrar termo circunstanciado de ocorrência.
A constitucionalidade da lei mineira foi questionada perante o STF, no bojo da ADI 5637/MG, julgada nos
seguintes termos: “3. Como não há atribuição privativa de delegado de polícia ou mesmo da polícia
judiciária para a lavratura do termo circunstanciado, norma estadual que atribui essa competência à polícia
militar não viola a divisão constitucional de funções entre os órgãos de segurança pública.”
Ademais,
É constitucional — por ausência de usurpação das funções das polícias judiciárias
— a prerrogativa conferida à Polícia Rodoviária Federal de lavrar termo
circunstanciado de ocorrência (TCO), o qual, diversamente do inquérito policial,
NÃO constitui ato de natureza investigativa, dada a sua finalidade de apenas
constatar um fato e registrá-lo com detalhes. STF. ADI 6.245/DF, relator Ministro
Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023 e ADI 6.264/DF,
relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 17.2.2023. (Info
1083).
✔ Recusa a ser encaminhado para o Jecrim, exceto no caso de crime de porte de drogas para consumo
pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/06);
✔ Nos crimes previstos no CTB, quando o autor não presta socorro imediato e integral à vítima - o
inquérito policial será lavrado mediante APF, considerando uma interpretação a contrário senso do
art. 301 do CTB.
d) Flagrante no TCO:
Do conteúdo do parágrafo único do art. 69 pode-se compreender que ao autor de infração de menor
potencial ofensivo que assumir o compromisso de comparecer em juízo não se imporá prisão em flagrante,
nem se exigirá cautelar de fiança. Diante disso, é possível sua condução até a autoridade policial?
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● Prisão captura - Trata-se da detenção do indivíduo que acabou de cometer um crime, não
importando a natureza da infração.
● Condução coercitiva – Trata-se da possibilidade de levar o conduzido em flagrante até a autoridade
policial, não importando a natureza da infração.
● Audiência preliminar – Onde o preso é ouvido pela autoridade policial, também não importando a
natureza da infração.
● Lavratura do Auto de prisão em flagrante – Autuação do ofensor e dos demais envolvidos na
ocorrência, tal etapa já não acontecerá em hipótese de infração de menor potencial ofensivo, ora,
lavra-se termo circunstanciado de ocorrência.
● Recolhimento ao cárcere.
● Apresentação em juízo para audiência de custódia.
Ante o exposto, é plenamente possível, bem como recomendável que se proceda até a etapa da
audiência preliminar, não se devendo falar em lavratura de auto de prisão em flagrante para os crimes de
menor potencial ofensivo.
7. FASE PRELIMINAR
No âmbito dos juizados nós temos a fase preliminar e a fase judicial. A audiência preliminar tem por
fim a concretização da justiça consensual, de modo que as partes podem evitar a instauração do processo
por meio de composição de danos cíveis e/ou transação penal.
Em não sendo possível resolver através da justiça consensual, aí sim passamos à fase judicial, com o
oferecimento da denúncia, citação do acusado e instrução normal do processo.
A composição civil dos danos consiste num acordo de natureza cível, celebrado entre o autor do
delito e o ofendido, objetivando a reparação do prejuízo causado pela infração. Com a composição dos danos
civis, a vítima terá em mãos um título executivo e o autor do fato será beneficiado com a renúncia ao direito
de queixa ou representação, que são causas extintivas da punibilidade.
Os crimes de ação penal pública incondicionada não são mencionados no art. 74. Todavia, isso não
significa que a composição dos danos civis não possa ocorrer nesses crimes. Ela é cabível, porém não irá
acarretar a extinção da punibilidade. Nesse caso, segundo a doutrina, haveria uma espécie de
arrependimento posterior (também chamado de “Ponte de Prata”), ensejando uma redução da pena de 1/3
a 2/3, desde que o crime tenha sido praticado sem violência ou grave ameaça a pessoa (art. 16 do CP).
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Mas, e se feita a composição civil, o autor deixar de efetuar pagamento do valor pactuado, haverá
restauração do direito de queixa ou representação? NÃO, POIS HOUVE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
Não havendo acordo, o ofendido poderá oferecer representação verbal, nos termos do art. 75.
No caso de não se chegar a um acordo, na hipótese de o sujeito passivo do delito ou seus sucessores
lançarem mão do direito de representação, não sendo o caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
realizar proposta do que a doutrina convencionou chamar de “transação penal”.
a) Conceito: A transação penal consiste em um negócio jurídico de natureza extraprocessual,
celebrado entre o titular da ação penal e o autor do fato delituoso, objetivando a imediata aplicação de pena
de multa ou de pena restritiva de direitos.
Trata-se de uma mitigação ao princípio da obrigatoriedade (presentes as condições da ação penal e
havendo justa causa o titular da ação penal – MP, é obrigado a oferecer denúncia): princípio da
discricionariedade regrada.
Diferentemente do ANPP, a transação penal não implica confissão.
ATENÇÃO: a condenação por contravenção penal não impede o benefício, tampouco a condenação a pena
de multa ou pena restritiva de direitos.
✔ Não ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena
restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
✔ Os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, indicarem ser necessária e suficiente a adoção da medida.
✔ No caso de crimes ambientais, a transação penal depende de prévia composição do dano ambiental,
salvo impossibilidade manifesta de fazê-lo (v. art. 27, Lei n° 9.605/98).
c) Legitimidade ativa para oferecimento da proposta de transação penal nos crimes de ação penal
privada
. 1ª Corrente: Mesmo em se tratando de crime de ação penal privada, a legitimidade para oferecimento de
proposta de transação penal é do Ministério Público.
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. 2ª Corrente: Se o crime é de ação penal privada, apenas o ofendido pode oferecer proposta de transação
penal.
d) Recusa injustificada por parte do titular da ação penal em oferecer a proposta da transação
penal: Por parte do ofendido nos crimes de ação penal privada: nesse caso, não há nada a ser feito. Contudo,
por parte do Ministério Público nos crimes de ação pública: aplicar-se-á o entendimento exposto ao teor da
súmula 696 do STF.
e) Momento para oferecimento da proposta: Em regra, a transação penal deve ser oferecida antes
do início do processo. Entretanto, nos casos de desclassificação ou de procedência parcial da pretensão
punitiva, é possível o oferecimento de proposta de transação penal.
f) Homologação do acordo de transação penal: Ainda que homologada, a transação penal NÃO FAZ
COISA JULGADA MATERIAL. Assim, se o acordo for descumprido, o feito retornará ao status quo, ou seja, o
processo retoma, e a partir de então poderá ser instaurado o inquérito policial, bem como, oferecida
denúncia.
Fique atento à jurisprudência em teses do STJ sobre transação penal:
Edição nº 96. É cabível a suspensão condicional do processo e a transação penal
aos delitos que preveem a pena de multa alternativamente à privativa de liberdade,
ainda que o preceito secundário da norma legal ultrapasse os parâmetros mínimo
e máximo exigidos em lei para a incidência dos institutos em comento.
Edição número Edição nº 93.
5) Opera-se a preclusão se o oferecimento da proposta de suspensão condicional
do processo ou de transação penal se der após a prolação da sentença penal
condenatória.
7) A transação penal não tem natureza jurídica de condenação criminal, não gera
efeitos para fins de reincidência e maus antecedentes e, por se tratar de submissão
voluntária à sanção penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal
nem da responsabilidade civil.
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OBS.: A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas corpus em que
se busca o trancamento da ação penal?
STJ. 6ª Turma (Info 657):
STF. 2ª Turma (HC 176785/DF):
Destacaremos apenas as diferenças, no entanto, não deixe de ler todos os demais dispositivos,
pois as bancas estão sempre inovando!
a) Oferecimento da peça acusatória: pode ser apresentada oralmente (e reduzida a termo) ou por
escrito.
b) Citação: Como vimos anteriormente, no âmbito do JECRIM não se admite a citação por edital,
posto que é incompatível com a celeridade prevista para os processos de competência dos Juizados. No
entanto, é admissível a citação por hora certa.
c) Número de testemunhas: Há quem entenda que o número de testemunhas a serem arroladas é
de 5. Mas o melhor é entender que este limite é 3, até porque o artigo 34, ainda que se trate das causas
cíveis, se refere a apenas 3 testemunhas.
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d) Defesa preliminar: nos Juizados, antes de receber/rejeitar a peça acusatória, o juiz deve dar a
palavra à defesa.
⋅ A defesa preliminar deve ser apresentada entre o oferecimento e o recebimento da peça
acusatória.
⋅ Pode ser oral.
⋅ Tem o objetivo de convencer o juiz a rejeitar a denúncia ou queixa.
⋅ Deve ser apresentada pelo defensor, não podendo ser apresentada pelo acusado.
OBS.: A Lei nº 9.099/95 não estabeleceu tempo para os debates orais, devendo ser aplicado, o art. 403 do
CPP, que fixa o tempo de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos.
f) Dever processual de tutela da dignidade da vítima e testemunhas por todas as partes e demais
sujeitos processuais (Lei Mariana Ferrer): A Lei nº 14.245/2021, que ficou conhecida como “Lei Mariana
Ferrer”, foi editada com o objetivo de coibir atos atentatórios à dignidade da vítima ou testemunhas, durante
a realização de audiências.
Art. 81, Lei nº 9.099/95. (...) § 1º-A. Durante a audiência, todas as partes e demais
sujeitos processuais presentes no ato DEVERÃO RESPEITAR A DIGNIDADE DA
VÍTIMA, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao
juiz garantir o cumprimento do disposto neste artigo, vedadas: (Incluído pela Lei
nº 14.245, de 2021)
g) Possibilidade de absolvição sumária: O art. 394 do CPP que prevê a absolvição sumária (art. 397
do CPP) é aplicado a todos os procedimentos penais de 1º grau mesmo que não regulados no CPP. Com isso
a doutrina vem sustentando que esse instituto também é aplicável no âmbito dos juizados. Dessa forma,
concluímos ser possível a absolvição sumária ainda que no âmbito dos Juizados Especiais.
227
RETA FINAL
SEMANA 03/12
Por força da própria CF, em regra, os recursos interpostos contra as decisões proferidas pelos
juizados especiais serão julgados por uma Turma Recursal, que é composta por três juízes em exercício no 1º
grau de jurisdição. Deve-se aplicar subsidiariamente o CPP, pois a Lei dos Juizados somente fala em apelação
e embargos de declaração. Ex.: cabe RESE.
9.1 Apelação
. Hipóteses de cabimento:
✔ Rejeição da peça acusatória;
✔ Sentença condenatória ou absolutória;
✔ Decisão homologatória da transação penal.
228
RETA FINAL
SEMANA 03/12
§ 2º Os embargos de declaração interrompem o prazo Art. 619, CPP. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais
para a interposição de recurso. de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício. embargos de declaração, no prazo de 02 dias contado
da sua publicação, quando houver na sentença
ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.
Por petição ou oralmente. Interposição por peça escrita.
Prazo de 5 dias. Prazo de 2 dias.
Cabimento: obscuridade, contradição ou omissão. Cabimento: ambiguidade, obscuridade, contradição
ou omissão.
Os embargos de declaração sempre Interrompem o prazo para outros recursos (aplicação
INTERROMPERÃO o prazo para interposição dos subsidiária do art. 538 do CPC)
demais recursos. Art. 538, CPC. Os embargos de declaração
interrompem o prazo para a interposição de outros
recursos, por qualquer das partes.
Art. 89, Lei nº 9.099/95. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou
inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer
a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde
que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por
outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena.
a) Conceito: É instituto despenalizador por meio do qual se permite a suspensão do processo por
um período de prova (2 a 4 anos), desde que cumpridas certas condições.
b) Requisitos:
→ Crime (ou contravenção penais) com pena mínima igual ou inferior a 1 ano;
OBS.: A lei apenas fala em crime, mas o entendimento é que a suspensão condicional do processo também
é cabível quando se trata de contravenção penal, haja vista que contravenção penal é ainda menos grave
que o crime. O que é considerado é a pena MÍNIMA, ainda que não sujeitos aos juizados, não é um benefício
exclusivo do Juizado Especial Criminal.
229
RETA FINAL
SEMANA 03/12
ATENÇÃO: O STF e o STJ entendem que, nos crimes em que a pena de multa vier cominada de maneira
alternativa será cabível a suspensão condicional do processo, ainda que a pena mínima privativa de
liberdade seja superior a 1 ano. É nesse sentido a jurisprudência em teses do STJ (edição nº 96).
Art. 77, CP. A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos,
poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
c) Legitimidade para oferecimento da proposta: A suspensão condicional do processo não pode ser
concedida de ofício pelo juiz. Deve ser ofertada pelo Ministério Público, nos casos de ação penal pública ou,
ainda, pelo querelante, nos casos de ação penal privada.
Diante da recusa injustificada do MP, aplica-se o art. 28, CPP (princípio da devolução), nos termos da
súmula 696 do STF.
d) Aceitação da proposta: A proposta deve ser aceita pelo acusado E por seu defensor (todos os
institutos despenalizadores dependem da presença de advogado).
Havendo divergência entre a defesa técnica e a vontade do acusado, prevalece, segundo a lei, esta
última. Trata-se de interpretação do art. 89, §7°, da Lei nº 9.099/95.
Uma vez aceita a proposta de suspensão condicional do processo, será submetida à apreciação do
juiz.
Determinada a suspensão do processo (aceita e homologada), a prescrição também será suspensa.
230
RETA FINAL
SEMANA 03/12
O STJ destaca que o descumprimento das condições impostas durante o período de prova enseja a
revogação do benefício, mesmo que já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a fato ocorrido
durante sua vigência. Essa foi a interpretação extraída do art. 89, §4º, da Lei 9.099/95.
g) Extinção da Punibilidade: A suspensão é concedida de 2 a 4 anos.
Mas o mero decurso prazo extingue a punibilidade? Os tribunais entendem que, ainda que expirado
o período de prova, caso seja descoberto que não cumpriu as condições durante esse período o benefício
poderá ser revogado.
Em outras palavras: a suspensão do processo pode ser revogada mesmo após o decurso do período
de prova, caso verificado o descumprimento de condição durante o curso do benefício, e desde que não haja
anterior declaração de extinção da punibilidade.
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SEMANA 03/12
incidência do ANPP antes da formalização da acusação em juízo (art. 28-A do CPP). Se por qualquer razão,
inviável o ANPP, passa-se à formalização da acusação (arts. 41 e 395 do CPP) e seu juízo de admissibilidade
(pelo juiz), na forma do art. 396 do CPP. Quando já recebida a ação penal, cogita-se a possibilidade de
incidência da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n 9.099/95). Como se vê, a relação entre o
ANPP e a suspensão condicional do processo é de sucessividade. Só se cogita de um depois de se esgotar a
possibilidade do outro. (Leis Penais Especiais Comentadas, Editora JusPodivm, 5ª Edição, P. 888).
CF/88
⦁ Art. 5º, XXXII
⦁ Art. 24, VIII
⦁ Art. 170, V
232
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Conforme lição da Professora Cláudia Lima Marques, o CDC é um microssistema que visa balizar a
ordem pública de proteção do consumidor. Assim, enxerga as demandas referentes ao consumo sob três
aspectos: prevenção, reparação e repressão.
Além disso, o Direito Penal do Consumidor se ampara nos princípios da prevenção e precaução e
visa, principalmente, prevenir as desconformidades mercadológicas.
Embora a Lei 8.078/90 estabeleça os crimes contra as relações de consumo, isso não exclui outras
infrações penais previstas em legislações diversas que digam respeito a qualquer relação de consumo. Nesse
sentido:
Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código,
sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas
nos artigos seguintes.
Nesse contexto, a título de exemplo, temos o art. 7º da Lei 8.137/90 (Lei de Crimes Contra a Ordem
Tributária, Econômica e Contra as Relações de Consumo) que, em seus incisos, estabelece uma série de
condutas consideradas crimes contra as relações de consumo. Vejamos:
SEMANA 03/12
Cabe destacar, ainda, a Lei 1.521/51 que trata dos crimes e contravenções contra a economia
popular.
Vale destacar algumas terminologias importantes:
Consumidor: Toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final (art. 2°). Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis,
que haja intervindo nas relações de consumo (parágrafo único do art. 2°).
Fornecedor: Toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços (art. 3°).
Produto: Qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (§1 do art. 3°).
Serviço: Qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista (§2° do art. 3°).
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RETA FINAL
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Os crimes previstos no CDC, em regra, são crimes de perigo abstrato, de modo que a consumação
independe da ocorrência de efetivo dano ao bem jurídico.
Acrescenta-se, conforme lição da Professora Cláudia Lima Marques:
Além disso, em regra, o elemento subjetivo dos crimes é o dolo. O CDC prevê apenas dois crimes
passíveis de punição na modalidade culposa. Veja:
Art. 66: Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,
durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços.
(...)
§ 2° Se o crime é culposo:
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RETA FINAL
SEMANA 03/12
3. SUJEITOS
Os crimes previstos no CDC têm como sujeito ativo o fornecedor, e o sujeito passivo é o consumidor.
O objeto é um produto ou serviço. Além disso, a legislação consumerista permite a responsabilidade criminal
do diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica. Nesse sentido:
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código,
incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o
diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por
qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção
em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele
proibidas.
4. PENAS
A todos os tipos penais trazidos pelo CDC, são cominadas pena de detenção e/ou multa. Logo, não
há previsão de pena de reclusão para os crimes contra as relações de consumo previstos no CDC.
Além disso, convém destacar que as penas de detenção e multa podem ser impostas de forma
cumulativa ou alternadamente com as penas restritivas de direitos previstas no rol do art. 78.
A pena máxima cominada aos tipos previstos no CDC é de 2 (dois) anos. Portanto, todos os crimes
previstos na legislação consumerista são infrações de menor potencial ofensivo, sujeitando-se às
disposições da Lei 9.099/95. São cabíveis os benefícios da composição civil dos danos, transação penal e
suspensão condicional do processo, bem como acordo de não persecução penal, nos termos do art. 28-A do
Código de Processo Penal.
No que tange a pena pecuniária, a fixação deve observar as disposições do Código Penal. Nesse
sentido dispõe o próprio CDC ao estabelecer que tal sanção será fixada em dias-multa, correspondente ao
mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime.
O CDC disciplina, ainda, circunstâncias agravantes específicas, previstas no art. 76. Vejamos:
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:
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RETA FINAL
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É cabível o arbitramento de fiança pelo delegado de polícia, conforme o art. 322 do CPP. Nesse caso,
estabelece o art. 79 como será determinado o valor da fiança. Vejamos:
Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata este código, será fixado pelo
juiz, ou pela autoridade que presidir o inquérito, entre cem e duzentas mil vezes o
valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha a
substituí-lo.
Parágrafo único. Se assim recomendar a situação econômica do indiciado ou réu, a
fiança poderá ser:
a) reduzida até a metade do seu valor mínimo;
b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.
5. CRIMES EM ESPÉCIE
5.1 Art. 63
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Vale mencionar que a conduta prevista no dispositivo se refere à periculosidade inerente do bem
(em outras palavras: o risco normal e previsível que acompanha o bem). Por outro lado, se o bem apresenta
periculosidade indevida e o fornecedor conhece ou deveria conhecer tal fato, a conduta se amoldará ao
delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137, de 27.12.1990.
5.2 Art. 64
Nota-se que as condutas previstas nos arts. 63 e 64 do CDC são semelhantes. Nesse sentido, convém
apontar que o principal elemento diferenciador se relaciona ao “dado temporal do conhecimento prévio ou
não da insegurança, ou seja, sua percepção a priori ou a posteriori em relação ao instante da colocação do
produto ou serviço no mercado” (Cláudia Lima Marques).
Além disso, o delito previsto no parágrafo único do art. 64 é denominado pela doutrina como “crime
de omissão de ‘recall’”. Vale dizer que o “recall” pode ser voluntário ou por determinação oficial, sendo certo
que a conduta em análise somente se aplica a este último.
Importante!!!
Em que pese a omissão involuntária do legislador, caso seja possível que 0
fornecedor retire direta e imediatamente os produtos nocivos ou perigosos do
mercado assim deverá fazê-lo. Porém, só será crime se a não retirada dos produtos
tiver como pressuposto a determinação da autoridade competente, por força do
princípio da legalidade penal. Dessa forma, ausente a determinação da autoridade
competente, caso o fornecedor perceba que houve a colocação no mercado de
produtos nocivos ou perigosos, apenas a omissão na comunicação da autoridade
competente e aos consumidores será considerada criminosa, não alcançando a
omissão na retirada imediata dos produtos do mercado. Leis Penais Especiais - Vol.
4, Diego Luiz Victório Pureza, pg. 809.
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5.3 Art. 65
De acordo com a doutrina, não basta a mera contrariedade da licença. Para que o delito se caracterize
é necessário que a contrariedade seja referente a regulamentação propriamente dita, feita por decreto,
portaria, circular e etc.
5.4 Art. 66
Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a
natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,
durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
§ 2º Se o crime é culposo;
Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.
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5.5 Art. 67
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou
abusiva:
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.
Obs.: a punição pode se dar a título de dolo (“sabe”) ou culpa (“deveria saber”). Vale mencionar que,
por razões de política criminal, o legislador atribuiu a mesma reprovabilidade (sanção), independentemente
do elemento subjetivo.
5.6 Art. 68
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de
induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde
ou segurança:
Pena – Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Obs.: a punição pode se dar a título de dolo (“sabe”) ou culpa (“deveria saber”). Vale mencionar que,
por razões de política criminal, o legislador atribuiu a mesma reprovabilidade (sanção), independentemente
do elemento subjetivo.
5.7 Art. 69
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à
publicidade:
Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.
5.8 Art. 70
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Nem toda utilização de peças ou componentes usados é vedada pelo CDC. Conforme ensina Antonio
Herman V. Benjamin, “a proibição, percebe-se, é de direito dispositivo, ou seja, o consumidor pode abrir mão
da garantia a peças e componentes novos. Mas, para tanto, tem de fazê-lo expressamente”.
Além disso, o consentimento posterior do consumidor faz desaparecer a incriminação.
5.9 Art. 71
Atenção! Cobrança irregular e cobrança indevida de dívidas NÃO se confundem. O delito em estudo
visa sancionar o modo pelo qual se cobra determinada dívida (e não a sua existência).
Conforme ensina Antonio Herman V. Benjamin:
Por fim, veja os ensinamentos de Diego Luiz Victório Pureza, Leis Penais Especiais - Vol. 4, páginas
822/823:
ameaça: vis compulsiva, empregando sobre a vítima a promessa de mau grave e
injusto;
coação: pode ser física ou moral, de modo a reduzir a esfera de liberdade da vítima
por meio de constrangimento intimidador;
constrangimento físico ou moral: como exemplo, podemos destacar caso julgado
pelo STJ em que um fornecedor de energia elétrica cortou a luz e energia de
consumidora que, no caso, era portadora do vírus HIV (necessitando de energia
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5.10 Art. 72
Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele
constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:
Pena – Detenção de seis meses a um ano ou multa.
5.11 Art. 73
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Quando o fornecedor deixa de comunicar aos órgãos de proteção o adimplemento do consumidor, incorre
no crime do art. 73 do CDC.
5.12 Art. 74
Importante destacar que a garantia a que se refere o delito em estudo deve ser a contratual, não se
confundindo com a garantia legal. A garantia contratual é complementar à garantia legal e é combinada entre
as partes (perceba que dessa forma, o fornecedor age de forma desleal ao não entregar ao consumidor o
termo de garantia nos moldes pactuados). Ademais, conforme preceitua o art. 24 do CDC, a garantia legal
independe de termo expresso em contrato, e eventual cláusula contratual dispensando as garantias legais
ao consumidor será abusiva e, portanto, nula de pleno direito. Logo, o objeto do crime em estudo é a garantia
contratual, devendo constar corretamente de forma expressa no contrato (Diego Luiz Victório Pureza, Leis
Penais Especiais - Vol. 4, página 824).
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META 5
TODOS OS ARTIGOS
⦁ LINDB – leitura inteira
⦁ Art. 1º ao Art. 78, CC
⦁ Art. 5º, XXX e XXXI, CF/88
⦁ Art. 5º, XXXVI, CF/88
⦁ Art. 37, §6º, CF/88
⦁ Art. 173, §1º, CF/88
⦁ Art. 133 a 137, CPC
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
LINDB:
⦁ Art. 1º, 2º e 4º
⦁ Art. 6º
⦁ Arts. 8º a 10º.
⦁ Art. 12
⦁ Arts. 20 a 30
CF/88
⦁ Art. 5º, XXX, CF/88
Obs. É muito importante compreender esta breve introdução à matéria, por isso está sendo trabalhada.
1.1 Conceito
O Direito Civil pode ser conceituado como o complexo de normas, princípios e regras que disciplinam
as relações privadas desde antes do nascimento até depois da morte do ser humano. Tem como objeto o
regramento da vida humana, acompanhando a existência humana em todos os seus momentos, daí ser
chamado de direito comum.
Além de ab-rogar todo o Código Civil de 1916, o Código Civil de 2002 derrogou a parte geral do Código
Comercial de 1850, redimensionando a disciplina dos atos e fatos jurídicos, ao eleger os negócios jurídicos
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como instrumento de trânsito das relações civis, além de alterar a ordem da parte especial e unificar as
obrigações civis e mercantis (direito empresarial).
Adentra o novo diploma na ordem do ser da Constituição Federal de 1988, promovendo a
despatrimonialização e uma repersonificação do direito civil. O ser humano, antes esquecido em
detrimento da propriedade, passa a ocupar papel central, sendo a propriedade funcionalizada em prol do
ser humano (função social). O mesmo ocorreu com os contratos, a empresa, a família, etc. Ressocializa-se
o direito civil.
Também é interessante notar que o Código Civil de 2002 contempla inédita preocupação
principiológica, elegendo a eticidade, a operabilidade e a sociabilidade como os três pilares fundamentais
sobre os quais se construiu o texto legislativo do novo diploma.
O novo código passa a adotar o modelo de cláusulas gerais (abertas), abandonando a concepção
positivista pretérita, que defendia a possibilidade da normatização prever todos os problemas concretos.
Por cláusula geral se infere uma norma, obediente ao devido processo legislativo, na qual há uma
hipótese legal que confere tratamento jurídico a um domínio amplo de casos. É o antônimo das normas
casuísticas, as quais abrangem um domínio específico de casos.
a) Eticidade: Consiste em um dever jurídico de condução das relações civis de forma proba, impondo
um agir segundo os valores sociais e morais relevantes, fincados na boa-fé e na equidade.
Manifesta-se pela boa-fé objetiva, nas relações patrimoniais e pela socioafetividade, nas relações
existenciais.
A boa-fé nas relações patrimoniais pode ser inferida sob seu prisma subjetivo e objetivo. A subjetiva
revela um estado psicológico, enquanto a objetiva uma norma de conduta esperada pela comunidade.
ATENÇÃO!!! Não se pode confundir boa-fé objetiva com boa-fé subjetiva. Deve-se decorar as principais
diferenças entre esses conceitos:
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RETA FINAL
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c) Operablidade: consiste no fato de as normas do vigente Código serem de mais fácil acesso,
possibilitando que uma gama bem maior da sociedade as entenda e utilize mais corriqueiramente. É a
qualidade de ser operável.
Relaciona-se de forma perfeita com o princípio constitucional do acesso à justiça (art. 5º, inciso XXXV,
da CF/88). Uma vez conhecida a norma, por ser operável e inteligível à maioria da população, tem-se maior
acesso ao Poder Judiciário.
SEMANA 03/12
regra proibitiva da união estável entre pessoas do mesmo sexo. A partir de uma interpretação conforme, em
consonância com os preceitos constitucionais, houve uma revalorização do dispositivo, para nele albergar as
uniões homoafetivas, com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana e da isonomia (art. 1º,
inciso III c/c art. 5º, caput, ambos da CF/88).
Incialmente, é possível afirmar que os direitos fundamentais estão para a Constituição Federal, assim
como os direitos de personalidade estão para o Código Civil brasileiro. São dois lados de uma mesma moeda
denominada dignidade da pessoa humana.
É consabido que os direitos fundamentais surgiram numa ideia de limitação do poder absoluto do
Estado e proteção do indivíduo, conferindo-se direitos básicos e garantias a qualquer pessoa. Nesta relação
Estado-indivíduo, diz-se que há uma eficácia vertical dos direitos fundamentais, pois nesta relação há um
poder “superior” (o Estado) e um infinitamente “inferior” (o indivíduo), certo que não estão em posições
iguais, sendo evidente a proeminência de força do Estado.
Após a evolução da teoria dos direitos fundamentais, passou-se a reconhecer que os direitos
fundamentais não incidem apenas em relações desiguais, porém também em relações particulares em que
há uma igualdade de armas. Aqui, surge a eficácia horizontal dos direitos fundamentais que é justamente
incidência e observância de todos os direitos fundamentais nas relações privadas (particular -particular).
A teoria irradiante, ou da eficácia horizontal, disciplina que a direta aplicação dos direitos
fundamentais às relações do direito civil, visando dar máximo efeito dos valores constitucionais a toda
legislação brasileira, em prol da dignidade da pessoa humana. Nas palavras do Professor Ingo Wolfgang
Sarlet:
À guisa de exemplo, cite-se o emblemático caso decidido pelo STF no RE 201819/RJ, publicado em
11/10/2005, que determinou a reintegração de associado excluído do quadro daquela pessoa jurídica, em
direito à defesa e contraditório como comprovação forense da eficácia horizontal destes direitos
fundamentais. Em outras oportunidades o Supremo Tribunal Federal prestigiou os direitos da personalidade
e a teoria irradiante, como se infere nos RE’s de números 160222-8, 158215-4 e 161243-6.
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É cediço que as relações entre particulares nem sempre se apresentam de forma equilibrada. Por
isso, é relativamente comum nos depararmos com situações em que as pessoas estão em uma posição de
desigualdade, com prevalência de uma sobre a outra. Os principais exemplos desses tipos de situação de
desigualdade entre particulares são as relações trabalhistas e consumeristas. Tanto no direito do trabalho
quanto no direito do consumidor o poderio econômico-financeiro das empresas/patrão pode resultar em
graves violações aos direitos fundamentais de consumidores e trabalhadores, partes hipossuficientes nas
respectivas relações jurídicas.
Foi a partir dessa realidade que nasceu a teoria da eficácia diagonal dos direitos fundamentais. Para
a referida teoria, os direitos fundamentais devem ser aplicados/respeitado em relações
privadas caracterizadas por uma notória desigualdade de poder, em razão da hipossuficiência de uma das
partes da relação.
Essa teoria recebe a denominação de eficácia diagonal por que, em tese, as partes estão em
situações equivalentes, não havendo uma preponderância de uma sobre a outra. Ocorre que, na prática,
aquele que possui o poder econômico consegue se sobrepor perante a outra parte, razão pela qual se
defende o devido respeito e a consequente aplicabilidade dos direitos fundamentais nas relações entre
particulares.
Desse modo, é possível concluir que a eficácia diagonal dos direitos fundamentais nada mais é que
a efetiva aplicação dos direitos fundamentais em relações privadas marcadas pela desigualdade entre os
particulares, em especial quando puder se verificar uma relação de intimidade entre o poderio econômico -
financeiro e a vulnerabilidade da parte hipossuficiente.
A LINDB disciplina o âmbito de aplicação das normas jurídicas, e possui natureza de norma de
sobredireito ou de apoio, consistente no conjunto de regras cujo objetivo é disciplinar as próprias normas
jurídicas, isto é, disciplina a emissão e aplicação de outras normas jurídicas. (=postulados normativos).
a) VIGÊNCIA: É critério puramente temporal da norma. Trata-se do lapso temporal em que a norma tem força
obrigatória. O início da vigência marca o começo de sua exigibilidade.
ATENÇÃO - VACATIO LEGIS: É o período entre a publicação e o início de vigência da norma. Pode ser
definido como o tempo necessário para que o texto normativo se torne efetivamente conhecido, e variará
de acordo com a repercussão social da matéria.
b) Obrigatoriedade: Uma vez publicada a lei, presume-se o conhecimento geral, razão pela qual ninguém
pode descumpri-la alegando que não a conhece:
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c) Interpretação: “Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica” (Maria Helena Diniz).
d) Integração: Utilização de mecanismos para suprir as lacunas da lei, quando inexiste norma aplicável
diretamente ao caso concreto. De acordo com o art. 4º da LINDB, são formas de integração da lei:
● Analogia;
● Costumes;
● Princípios gerais do direito.
* Importante ressaltar que a EQUIDADE não consta do rol do art. 4º da LINDB, mas alguns doutrinadores,
como Maria Helena Diniz, a incluem dentre as formas de integração da lei. No Direito Tributário, a equidade
é expressamente prevista como forma de integração da lei (art. 108, inciso IV, do CTN).
ATENÇÃO: A interpretação pode ocorrer sempre, mesmo que a lei seja clara. Em contrapartida, a integração
depende da existência de LACUNAS que, por sua vez, podem ser:
● AUTÊNTICAS (PRÓPRIAS) – ocorrem quando o legislador não identificou uma hipótese.
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● NÃO-AUTÊNTICAS (IMPRÓPRIAS) – o legislador previu, mas preferiu não tratar sobre o assunto.
I. Analogia: É a utilização de uma norma próxima ou semelhante para regular uma situação que não foi
regulamentada pelo Direito. Pode ser dividida em:
● Analogia legal – a relação da semelhança toma por base outra lei;
● Analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em outro caso concreto.
ATENÇÃO: ANALOGIA X INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA - Na analogia rompe-se com os limites do que está
previsto na norma, havendo integração da norma jurídica. Na interpretação extensiva apenas amplia-se o
seu sentido.
II. Costumes: São as práticas e usos reiterados, de conteúdo lícito e com relevância jurídica. Podem ser:
● Costume segundo a lei (secundum legem): Incide quando há referência expressa ao costume no texto
legal.
● Costume na falta da lei (praeter legem): É aplicado quando a lei for omissa, sendo denominado de
costume integrativo.
● Costume contra a lei (contra legem): É a aplicação do costume contrária a lei. Nesse caso, há abuso
de direito.
III. Princípios gerais do Direito: São as ideias centrais do sistema, estabelecendo suas diretrizes e dando um
conteúdo harmonioso, lógico e racional.
2.2 Antinomias
São o choque de duas normas jurídicas emanadas de autoridade competente. Para a solução desses
conflitos, utilizam-se três critérios:
● Cronológico: norma posterior prevalece sobre norma anterior;
● Especialidade: norma especial prevalece sobre norma geral;
● Hierárquico: norma superior prevalece sobre norma inferior.
Caiu em prova Delegado SP/2014! Assinale a alternativa correta, de acordo com as disposições da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n.º 4.657/1942): A lei nova revoga a lei antiga,
quando com esta incompatível, ainda que não haja expressa declaração de revogação (item correto).
Atenção: Quanto aos critérios de colisão, as antinomias podem ser classificas em:
● De primeiro grau: o choque envolve apenas um dos critérios de solução de conflito;
● De segundo grau: o choque envolve dois critérios de solução de conflito.
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ATENÇÃO:
● Se houver conflitos de segundo grau, envolvendo os critérios cronológico e da especialidade:
prevalecerá o da especialidade – Conflito aparente;
● Se houver conflitos entre os critérios cronológico e hierárquico: prevalecerá o hierárquico – Conflito
aparente;
● Se houver conflito de segundo grau, envolvendo os critérios da especialidade e hierárquico: haverá
conflito real, pois, a doutrina aponta o critério hierárquico como mais forte e, ao seu turno, o critério
da especialidade está na CF/88 (princípio da isonomia). Para os casos de conflito real Maria Helena
aponta duas soluções:
A irretroatividade é a regra prevista na LINDB. Adota-se a ideia do tempus regit actum, ou seja, a lei
nova não atinge os fatos anteriores ao início de sua vigência. A lei nova não poderá prejudicar direito
adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. Em consequência, os fatos anteriores à vigência da lei nova
regulam-se não por ela, mas pela lei do tempo em que foram praticados.
Porém, podem existir hipóteses que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei nova,
para alcançar fatos pretéritos ou os seus efeitos. Assim, a doutrina faz uma distinção entre retroatividade
máxima, média e mínima:
● Retroatividade máxima ou restitutória: a lei alcança a coisa julgada (sentença irrecorrível) ou os
fatos jurídicos consumados;
● Retroatividade média: a lei nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos verificados antes dela. A
lei nova atinge os direitos exigíveis, mas não realizados antes de sua vigência;
● Retroatividade mínima, temperada ou mitigada: a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos
anteriores verificados após a data em que ela entra em vigor. Logo, alcança apenas as prestações
futuras de negócios firmados antes do advento de nova lei.
A LINDB determina as regras de aplicação espacial das normas, dentre elas destacam-se:
● Começo e fim da personalidade – aplicam-se as normas do país em que for domiciliada a pessoa,
inclusive quanto ao nome, à capacidade e aos direitos de família.
● Casamento – se realizado no Brasil o casamento, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. Tendo os nubentes domicílio diverso,
regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. Além disso, a LINBD
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estabelece que o regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, o do primeiro domicílio conjugal. Quanto ao divórcio
realizado no estrangeiro em que um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, haverá reconhecimento
no Brasil depois de 1 ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial
por igual prazo, caso em que produzirá efeito imediato.
● Obrigações: a LINDB consagra a regra de aplicação das leis do local em que foram constituídas.
● Sucessão por morte ou por ausência: obedece às normas do país do último domicílio do de cujus.
Atenção à jurisprudência:
Aplica-se a lei brasileira para reger a sucessão de bem imóvel situado no exterior?
A Justiça brasileira é competente para julgar inventário e partilha de bem imóvel
localizado em outro país?
NÃO. Ainda que o domicílio do autor da herança seja o Brasil, aplica-se a lei
estrangeira da situação da coisa (e não a lei brasileira) na sucessão de bem imóvel
situado no exterior.
O art. 10 da LINDB afirma que a lei do domicílio do autor da herança regulará a
sucessão por morte. Ocorre que essa regra não é absoluta e deverá ser interpretada
sistematicamente, ou seja, em conjunto com os demais dispositivos que regulam o
tema, em especial o art. 8º, caput, e § 1º do art. 12, ambos da LINDB e o art. 89 do
CPC 1973 (art. 23 do CPC 2015).
Desse modo, esses dispositivos revelam que a lei brasileira só se aplica para os bens
situados no Brasil e autoridade judiciária brasileira somente poderá fazer o
inventário dos bens imóveis aqui localizados.
Mas no caso em que há um bem imóvel no Brasil e outro no exterior, como fazer?
Deverão ser abertos dois inventários: um aqui no Brasil para reger o bem situado
em nosso território e outro no exterior para partilhar o imóvel de lá.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.362.400-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
28/4/2015 (Info 563). (Via DoD)
● Vocação hereditária: serão aplicadas as regras nacionais no caso de vocação hereditária para
suceder bens de estrangeiro situados no Brasil, salvo se mais favoráveis ao cônjuge e aos filhos as
normas do último domicílio.
● Sociedades e fundações: deve ser aplicada a norma do local de sua constituição.
É a perda de vigência de uma lei em razão do surgimento de outra lei no ordenamento, incompatível
com a primeira. A revogação pode ser:
● Total (ab-rogação);
● Parcial (derrogação);
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A Lei nº 13.655/2018 incluiu diversos artigos na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
que cuidam de regras sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público. São
normas aplicadas nas esferas administrativa (como nos processos administrativos), controladora (como o
Tribunal de Contas) e judicial (como nos processos que tramitam perante o Poder Judiciário).
Nesses âmbitos, o art. 20 da LINDB prevê que não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos
sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão, sendo que a motivação demonstrará a
necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação do ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
O que são “valores jurídicos abstratos”. São inúmeros exemplos: “dignidade da pessoa humana” (art.
1º, III), “valores sociais do trabalho e da livre iniciativa” (art. 1º, IV), “moralidade” (art. 37, caput), “bem-estar
e a justiça sociais” (art. 193), “meio ambiente ecologicamente equilibrado” (art. 225), todos da CRFB. Esses
valores jurídicos abstratos são normalmente classificados como princípios (normas que possuem um grau de
abstração maior que as regras).
Desse modo, a decisão administrativa, judicial ou do órgão controlador pode ser fundamentada em
valores jurídicos abstratos, como os princípios constitucionais da isonomia e da dignidade da pessoa humana,
porém o julgador deve esclarecer suas considerações quanto às consequências práticas da decisão, como,
por exemplo, as repercussões econômicas da medida.
Constata-se, ainda, que a norma legal trata expressamente dos corolários do princípio da
proporcionalidade, quais sejam a necessidade e adequação. Assim, a medida deve ser necessária, não
excedendo os limites indispensáveis à conservação do direito, e adequada, mostrando-se efetivamente apta
a alcançar os objetivos pretendidos.
Destaca-se que o princípio da proporcionalidade se divide em três subprincípios:
a) subprincípio da ADEQUAÇÃO: no qual deve ser analisado se a medida adotada é idônea (capaz)
para atingir o objetivo almejado;
b) subprincípio da NECESSIDADE: consiste na análise se a medida empregada é ou não excessiva; e
c) subprincípio da PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: representa a análise do custo-
benefício da providência pretendida, para se determinar se o que se ganha é mais valioso do que aquilo que
se perde.
No art. 21 busca-se uma reflexão aprofundada do julgador sobre as consequências jurídicas e
administrativas de sua decisão, que - ao invalidar ato, contratos, ajuste, processo ou norma administrativa –
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atingirá, direta ou indiretamente, a coletividade. Nesse sentido, sendo possível a regularização, a decisão
deverá indicar os meios para tanto, de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais.
No tocante à interpretação das normas sobre gestão pública, o art. 22 estabelece que serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo,
sem prejuízo dos administrados. Dessa maneira, as normas de gestão pública devem ser interpretadas
considerando as peculiaridades de cada ente público, especialmente, por exemplo, dos Municípios – na
maioria das vezes menores e localizados no interior do Estado – onde a estrutura administrativa e técnica é
precária.
Além disso, os parágrafos do art. 22 dispõem que, em decisão sobre regularidade de conduta ou
validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias
práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente. Na aplicação de sanções, serão
consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para a
administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente, sendo que
as sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma natureza
e relativas ao mesmo fato.
O art. 23 prevê uma espécie de modulação de efeitos ao prescrever que a decisão administrativa,
controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo
indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime de transição
quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo
proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.
O art. 26 estabelece que para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá,
após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de
relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual
só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.
Esse compromisso tem por escopo buscar solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e
compatível com os interesses gerais, não podendo conferir desoneração permanente de dever ou
condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral e deverá prever com clareza as obrigações
das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento.
Consoante o art. 27, a decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,
poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do
processo ou da conduta dos envolvidos.
Com relação à responsabilidade civil do agente público, o art. 28 prevê que o mesmo responderá
pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. Ressalta-se,
contudo, que essa previsão se afasta da regulamentação constitucional que estabelece a responsabilidade
do agente público, somente de forma regressiva, quando tiver agido com dolo ou culpa. Ademais, o Código
de Processo Civil (arts. 143, 181, 184 e 187) possui dispositivos específicos que tratam da responsabilidade
dos magistrados e dos membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública, o que
afastaria a aplicação do art. 28 da LINDB.
Conforme no site dizerodireito: Segundo a doutrina e o voto do Min. Joaquim Barbosa no MS
24.631/DF (DJ 01/02/2008), existem três espécies de parecer:
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Cabe esclarecer que a doutrina divide a culpa em três subespécies: culpa grave, leve e levíssima. O
erro grosseiro é sinônimo de culpa grave.
O art. 29 estabelece que em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade
administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para
manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão. A
convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta pública,
observadas as normas legais e regulamentares específicas, se houver. Ressalva-se, apenas, que apenas esse
dispositivo (art. 29) entrará em vigor após decorridos 180 dias de sua publicação oficial, que ocorreu em
25/04/2018.
Por fim, o art. 30 dispõe que as autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica
na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a
consultas, sendo que esses instrumentos terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se
destinam, até ulterior revisão.
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CÓDIGO CIVIL:
⦁ Arts. 1º a 4º
⦁ Art. 7, 11, 13 e 16
⦁ Arts. 22, 23 e 25
⦁ Arts. 26 a 28
⦁ Arts. 37 a 39
⦁ Art. 43 a 45
⦁ Arts. 50 a 52
⦁ Arts. 53 e 57
⦁ Arts. 70 a 76.
CF/88
⦁ Art. 5º, XXX, CF/88
1. PESSOAS NATURAIS
Pessoa é o ser humano ou entidade dotado de personalidade, isto é, que tem aptidão para a
titularidade de direitos e deveres na ordem jurídica. Nesse sentido, em relação à pessoa natural, é necessário
distinguir:
1.1 Incapacidade
A teoria das incapacidades está diretamente ligada à ausência da capacidade de fato (e não da
capacidade de direito). A incapacidade civil pode ser desdobrada em: absoluta e relativa.
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Neste tema, de grande importância é o Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei nº 13.146/2015, o
qual promoveu verdadeira remodulação da teoria das incapacidades, ao alterar os arts. 3º e 4º do CC, de
forma a concretizar um sistema normativo inclusivo, em observância à dignidade da pessoa humana. A
pessoa com deficiência é dotada de capacidade legal plena, ainda que haja a necessidade de adoção de
institutos assistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e, excepcionalmente, a curatela
limitada.
Com esse novo panorama, temos, atualmente, as seguintes hipóteses:
Obs.1: Os atos praticados pelos absolutamente incapazes são NULOS (art. 166, I, do CC), não podendo ser
ratificados, pois tal vício não convalesce (art. 169), podendo o juiz assim declará-los de ofício. Protege-se,
entretanto, a boa-fé de terceiros. Os atos civis de seu interesse deverão ser exercidos por seus
representantes – pais, tutores ou curadores.
Obs.2: Absolutamente incapazes devem ser REPRESENTADOS por quem de direito.
Obs.3: Mesmo em se cuidando de pessoas absolutamente incapazes, a ordem jurídica reconhece a
possibilidade de que sua vontade seja considerada, nos casos em que envolvidas escolhas existenciais, ex.
consentimento obrigatório do maior de 12 anos no procedimento de adoção (art. 28, §2º, do ECA)
Obs.4: A vontade dos relativamente capazes tem relevância jurídica, o que possibilita sua atuação direta nos
atos civis, desde que acompanhados de ASSISTENTE, com algumas exceções (ser mandatário, testemunha).
É causa de anulabilidade dos atos jurídicos (art. 171, I, do CC).
1.2 Personalidade
* ATENÇÃO: Embora existam divergências, prevalece o entendimento de que pessoa jurídica possui direitos
da personalidade. A pessoa jurídica tem direitos da personalidade por equiparação, conforme prevê o art. 52
do CC. Os danos morais são lesões a direitos da personalidade (danos imateriais).
Súmula 227/STJ – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral, pois ela possui direitos da personalidade.
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b) Temas Atuais
I. Consenso afirmativo: direito da pessoa dispor gratuitamente do seu corpo, no todo ou em parte,
para depois de sua morte, com objetivo científico ou terapêutico (art. 14 do CC).
Nessa temática, ganha relevo a figura do testamento vital ou living will, em que o paciente, de forma
prévia, especifica os tratamentos, procedimentos e cuidados a que deseja ou não se submeter quando não
puder se expressar de forma autônoma. No Brasil não há lei específica sobre o instituto, cuja validade tem
sido defendida com base na dignidade da pessoa humana (artigo 1, III, CF), na liberdade e na
autodeterminação dela decorrentes (artigo 5, II, da CF), na privacidade (artigo 5º, X, da CF) e na
impossibilidade de submissão do paciente a tratamento sem seu consentimento (artigo 15, do CC).
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II. Consentimento Informado: o CC, em seu art. 13, prevê que só pode haver a diminuição
permanente da integridade física se houver exigência médica, que pode ser por motivo de saúde física ou
psíquica, o que abrange as cirurgias plásticas e cirurgias de transgenitalização. Inclusive, especificamente no
tocante à submissão a tratamento médico, exige-se o consentimento informado, ou seja, o paciente tem
direito de saber qual é o tratamento ou a cirurgia e quais as suas consequências. Conclui-se, portanto, que a
responsabilidade do médico é TÉCNICA + DEVER DE INFORMAÇÃO.
III. Direito ao esquecimento: O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não
permitir que, em razão da passagem do tempo, um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado
momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos.
O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em paz” ou o “direito de
estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let alone e, em países de língua espanhola, é alcunhado
de derecho al olvido.
A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a liberdade de
expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a intimidade, privacidade e honra,
passando por evolução jurisprudencial.
O STJ reconheceu o direito ao esquecimento em dois julgados principais: O caso “Aída Curi” (REsp
1.335.153-RJ) e a situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 28/5/2013), hipótese em que entendeu que o direito à informação deveria ser exercido de forma
compatível com a intimidade e a honra das pessoas. Ressalta-se, contudo, que o deferimento ou não do
direito ao esquecimento sempre dependeu da análise do caso concreto e da ponderação dos interesses
envolvidos.
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Vale ressaltar, ainda, que o STJ possui o entendimento de que, quando os registros da folha de
antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação
à teoria do direito ao esquecimento, pois não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos
antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso para fins de aplicação da reprimenda, pois a
transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. Se o transcurso do tempo impede que
condenações anteriores configurem reincidência, esse mesmo fundamento - o lapso temporal - deve ser
sopesado na análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma. HC
452.570/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.
No entanto, o tema passou por uma evolução jurisprudencial. Isso porque o STJ passou a relativizar
o direito ao esquecimento, ao passo que o STF passou a entender pela sua incompatibilidade com a
Constituição Federal. Confira:
Seguindo o entendimento do STF, o STJ decidiu no mesmo sentido afirmando que o direito ao
esquecimento é considerado incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro. Logo, não é capaz de
justificar a atribuição da obrigação de excluir a publicação relativa a fatos verídicos. STJ. 3ª Turma. REsp.
1961581-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/12/2021 (Info 723).
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Informativo 546, STJ: Configura dano moral a divulgação não autorizada de foto de
pessoa física em campanha publicitária promovida por sociedade empresária com
o fim de, mediante o incentivo à manutenção da limpeza urbana, incrementar a sua
imagem empresarial perante a população, ainda que a fotografia tenha sido
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Houve a alteração dos artigos 55 a 57 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973 – sugere-se a
leitura), com o afastamento da regra geral de imutabilidade do nome da pessoa humana, o que, inclusive,
já era defendido pela doutrina que entendia que deveria se resguardar um espaço de autonomia
relativamente ao prenome.
VII. Transexuais: Define-se a orientação sexual como a expressão individual da sexualidade, que identifica
qual o objeto da atração sexual e afetiva do indivíduo. Já a identidade do gênero diz respeito ao gênero com
o qual uma pessoa se identifica, independente do seu sexo biológico.
Transexuais e direito à mudança do prenome e do gênero no registro civil - Anteriormente, doutrina
e jurisprudência entendiam, majoritariamente, pela negação da retificação do registro civil do transexual.
Contudo, o art. 8º da Convenção de Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais
consagra que toda pessoa tem o direito à vida privada e familiar e à identidade pessoal, de modo que houve
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uma evolução jurisprudencial quanto ao tema. Atualmente, para os Tribunais Superiores, o transgênero
pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia de transgenitalização e
mesmo sem autorização judicial.
Além disso, em atendimento aos princípios constitucionais do direito à dignidade humana, à
autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da vedação à tortura e ao tratamento degradante e
desumano, os transexuais e travestis com identificação com o gênero feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou masculino.
1.3 Nascituro
É o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. Algumas teorias tentam explicar
a proteção jurídica do nascituro:
* Qual teoria prevalece? O CC/02 não deixou claro a teoria adotada, pois o art. 2º menciona tanto o
termo “nascimento”, quanto “concepção”. Todavia, é a teoria concepcionista que guarda maior
compatibilidade, a partir de uma interpretação sistemática do ordenamento e que vem sendo adotada pela
jurisprudência, a exemplo da lei de alimentos gravídicos e de decisões do STJ que admitiram o dano moral
ao nascituro e até mesmo pagamento de DPVAT pela morte de nascituro (STJ, Info 547).
Além disso, consta na Convenção Americana (Pacto de São José da Costa Rica);
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1.4 Emancipação
É uma antecipação da capacidade de fato (e NÃO da maioridade), por meio da qual um relativamente
incapaz se torna plenamente capaz. Pode ser:
● VOLUNTÁRIA: Decorre de ato unilateral dos pais, ou de um deles na falta do outro, sendo
irrevogável. Nessa hipótese, os pais continuam respondendo pelos atos ilícitos dos filhos.
● JUDICIAL: Concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo menos 16 anos
completos.
● LEGAL: Decorre de previsão legal:
∘ Casamento; Atenção! Divórcio, morte do cônjuge ou anulação do casamento para o cônjuge
de boa-fé não fazem retornar a incapacidade.
∘ Exercício de cargo ou emprego público efetivo; Cuidado! Não é nomeação e nem posse e sim
exercício.
∘ Colação de grau em curso de ensino superior;
∘ Estabelecimento civil ou comercial ou existência de relação de emprego do maior de 16 anos
que gerem economia própria.
ATENÇÃO! COMORIÊNCIA. Quando não for possível precisar a ordem cronológica das mortes de pessoas que
morreram na mesma ocasião, chamadas comorientes, a lei prevê a presunção de haverem falecido no mesmo
instante. Se forem parentes, a consequência é que tais pessoas NÃO sucederão reciprocamente, abrindo-se
cadeias sucessórias distintas (art. 8º, CC).
b) Ausência: é o desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio, sem dar notícias de onde se
encontra, sem deixar procurador para administrar seus bens. Necessita de declaração judicial. Quanto à
tutela dos bens, possui três fases:
● 1ª FASE - CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE: inicia-se com a petição inicial de qualquer
interessado ou do MP. O juiz deverá arrecadar os bens abandonados e nomear curador.
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- O curador será, em primeiro lugar, o cônjuge do ausente, desde que não separado judicialmente
ou de fato, por mais dois anos. Subsidiariamente, serão nomeados os ascendentes e, em seguida,
os descendentes.
- Se não houver nenhuma dessas pessoas, o juiz escolherá um curador, responsável pela
administração e conservação do patrimônio do ausente.
● 2ª FASE - SUCESSÃO PROVISÓRIA: Ocorre após decorrido 1 ano da arrecadação ou, caso o
ausente tenha deixado procurador, passados 3 anos. Consiste em uma administração para
preservar os bens do ausente.
- Depende de pedido dos interessados.
- Se não houver interessados, o MP pode requerer a sucessão provisória.
- A sentença que a determina produz efeitos depois de 180 dias de sua publicação, mas, tão logo
transite em julgado, ocorre a abertura do testamento e do inventário, como se o ausente fosse
falecido.
- Se o herdeiro ou interessado não pleitear a abertura do inventário, após 30 dias do trânsito em
julgado, a massa de bens do ausente será considerada como herança jacente.
- Os herdeiros que se imitirem na posse dos bens devem prestar garantia pignoratícia ou
hipotecária, com exceção do cônjuge, dos ascendentes e dos descendentes.
- Durante esse período, não se poderá alienar os imóveis do ausente.
- Reaparecendo o ausente e provando os sucessores que a ausência foi injustificada e voluntária,
ele perderá os frutos em favor daqueles.
● 3ª FASE - SUCESSÃO DEFINITIVA: Ocorre após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que
concedeu a abertura da sucessão provisória. Na mesma oportunidade, levantam-se as garantias
prestadas.
- Pode ocorrer em menor prazo, se o ausente tinha 80 anos e o seu desaparecimento tenha
ocorrido há pelo menos 5 anos.
- Após o trânsito em julgado da sentença que concede a sucessão definitiva dos bens, declara-se
a morte presumida.
- Retornando o desaparecido ou algum de seus descendentes ou ascendentes, nos 10 anos
seguintes à abertura da sucessão definitiva, receberá os bens no estado em que se encontrarem,
os sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido.
1.6 Domicílio
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● Residência: Lugar onde a pessoa física se estabelece com habitualidade. Uma pessoa pode ter mais
de uma residência.
● Domicílio: é o lugar em que a pessoa física fixa residência com ânimo definitivo, transformando-o em
centro de sua vida jurídica e social. O que diferencia domicílio de residência é o ânimo de permanência, a
definitividade.
a) Espécies de domicílio:
● CONVENCIONAL: é aquele que se fixa por ato de vontade própria, ou seja, a pessoa fixa por ato de
vontade, ao se mudar.
● LEGAL OU NECESSÁRIO: é aquele determinado por lei e previsto no art. 76:
∘ Incapaz: domicílio de seu representante ou assistente;
∘ Preso: onde cumpre pena;
∘ Servidor público: onde exerce permanentemente as suas funções;
∘ Militar: onde está servindo;
∘ Marítimo: local da matrícula do navio.
● DE ELEIÇÃO OU ESPECIAL (art. 78 do CC): é o domicílio previsto em um contrato.
2. PESSOAS JURÍDICAS
É o grupo humano criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a
realização de fins comuns.
2.1 Características
● Vontade das partes em criar entidade distinta dos seus membros, materializada no ato de
constituição, que será:
∘ Estatuto: Se associações;
∘ Contrato Social: Se sociedades simples ou empresárias;
● Observância das condições legais;
● Objetivos lícitos.
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Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando
necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no
registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas
jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da
publicação de sua inscrição no registro.
● Corporação (reunião de pessoas): os seus objetivos são voltados para o bem dos seus membros e
dividem-se em:
∘ Associações
∘ Sociedades (simples ou empresárias).
● Fundação (reunião de bens): as fundações têm objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor.
Nas fundações, o patrimônio é elemento essencial.
ATENÇÃO! O inciso vi que incluía a EIRELI (empresas individuais de responsabilidade limitada) como pessoa
jurídica de direito privado foi revogado pela MP nº 1.085/2021, já convertida na lei nº 14.382/2022.
▪ Partidos políticos;
▪ Organizações religiosas;
▪ Sindicatos;
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∘ Fundações particulares.
ATENÇÃO! As empresas públicas e as sociedades de economia mista, embora façam parte da administração
indireta, são dotadas de personalidade jurídica de direito privado (DL 200/67), sujeitando-se ao regime
próprio das empresas privadas (CF, art. 173, § 1º).
Os atos dos administradores obrigam a pessoa jurídica quando exercidos nos limites de seus poderes
definidos no ato constitutivo.
Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões serão tomadas pela maioria de votos
dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.
O direito de anular as decisões referidas decai em 3 anos, quando violarem a lei ou o estatuto, ou
forem eivados de erro, dolo, simulação ou fraude.
Atenção à inclusão do art. 48-A no Código Civil, promovida pela Medida Provisória nº 1.045/2021,
já convertida na Lei nº 14.382/2022:
● Extinção convencional: ocorre quando os sócios anuem em extinguir a pessoa jurídica mediante
distrato.
● Extinção administrativa: resulta da cassação da autorização de constituição e funcionamento de
determinadas pessoas jurídicas.
● Extinção judicial: ocorre por meio de sentença prolatada em processo judicial.
● Extinção legal: ocorre quando determinada por lei.
● Extinção pelo decurso do prazo: quando expira o prazo de sua existência.
I. Conceito: O art. 49-A do Código Civil prevê, expressamente, que as pessoas jurídicas possuem
personalidade distinta da dos seus membros, não se confundindo com seus sócios, associados, instituidores
ou administradores.
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Ainda segundo este dispositivo, em seu parágrafo único, a autonomia patrimonial das pessoas
jurídicas é um instrumento LÍCITO de alocação e segregação de riscos, com a finalidade de estimular
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos.
Não raramente, contudo, a referida autonomia é mal utilizada, dando origem à chamada teoria da
desconsideração da personalidade jurídica, ou disregard of the legal entity. Por essa teoria, há o afastamento
temporário da personalidade jurídica da entidade para permitir que os credores prejudicados possam
satisfazer os seus direitos no patrimônio pessoal dos sócios ou administradores beneficiados, direta ou
indiretamente, pelo ato abusivo.
Com isso, é possível ao juiz, em casos de abuso da personalidade jurídica, desconsiderar a autonomia
patrimonial para atingir e vincular os bens particulares dos sócios à satisfação das dívidas da sociedade.
Segundo André da Santa Cruz Ramos, o CC/2002, ao prever a aplicação da teoria apenas quando
demonstrado o abuso de personalidade jurídica, consubstanciado este no desvio de finalidade ou na
confusão patrimonial, se manteve fiel aos postulados fundamentais da disregard doctrine.
O art. 50 do CC é, atualmente, a regra matriz da disregard doctrine no direito brasileiro, sendo de
aplicação obrigatória a todos os casos de desconsideração, SALVO OS REGULADOS POR LEI ESPECIAL:
∘ Relações de consumo (art. 28 do CDC);
∘ Crimes ambientais (art. 4º da Lei nº 9.605/98);
∘ Infrações à ordem econômica (art. 34 da Lei nº 12.529/11);
A desconsideração da personalidade jurídica, no âmbito das relações civis gerais, está disciplinada no
art. 50 do CC:
Redação Atual
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para
que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos
aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874,
de 2019)
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● Teoria Maior: NÃO basta que a Pessoa Jurídica esteja insolvente e, portanto, impossibilitada
financeiramente de cumprir com suas obrigações perante seus credores. Ao lado da demonstração
da insolvência da Pessoa Jurídica, deverá figurar adicionalmente ou o elemento subjetivo (desvio de
finalidade) ou o elemento objetivo (confusão patrimonial). Adotada no art. 50 do CC;
● Teoria Menor: Adotada no Direito Ambiental e Direito do Consumidor, a personalidade jurídica será
desconsiderada sempre que for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
aos consumidores. Logo, deve provar apenas a insolvência.
● Desconsideração Inversa:vem sendo aplicada pelo STJ, sobretudo em casos de direito de família,
permitindo ao juiz que autorize a desconsideração da pessoa natural para atingir o patrimônio da
pessoa jurídica da qual ele seja sócio, quando dela se utilize para ocultar bens pessoais. Com a Lei nº
13.874/2019, ganhou previsão expressa no art. 50, §3º, do CC.
● Desconsideração Expansiva: é a possibilidade de desconsideração para alcançar um sócio
eventualmente oculto da sociedade, comumente escondido na empresa controladora. Muito
comum nos casos em que pessoa jurídica se vale de “sócio laranja”.
● Desconsideração Indireta: é a possibilidade de responsabilização da empresa controladora que
utiliza abusivamente a personalidade da empresa controlada para causar prejuízos a terceiros ou
para obtenção de vantagens indevidas.
Atenção! Como disposto no art. 50, §4º, do CC, a mera existência de grupo econômico sem a
presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo – desvio de finalidade ou confusão patrimonial –
não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
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Membros do conselho fiscal de uma cooperativa não podem ser atingidos pela
desconsideração da personalidade jurídica se não praticaram nenhum ato de
administração. (STJ, Info 661).
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TODOS OS ARTIGOS
CÓDIGO CIVIL
⦁ Art. 79 ao Art. 103
⦁ Art. 1.229 e 1.230
⦁ Art. 1711 ao 1722
CF/88
⦁ Art. 20 e 26
⦁ Art. 176
⦁ 191, §único
1. CONCEITO
Bens: São todas as coisas com interesse econômico e/ou jurídico. É tudo aquilo que tenha existência
fora do ser humano, materializado ou não, economicamente apreciável ou não, sobre o qual incide o poder
de seu titular.
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2. CLASSIFICAÇÃO
A) Bens corpóreos e incorpóreos: Os primeiros têm existência física, concreta. Os últimos não são
percebidos pelos sentidos.
B) Bens móveis e imóveis (arts. 79 a 84):
É de extrema importância identificar, no mundo jurídico, se um bem é móvel ou imóvel. Isso porque,
a depender da natureza do bem, os impactos serão diversos, como veremos adiante.
● Móveis: São os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia
, sem
alteração de sua substância ou da destinação econômico-social
Os bens podem ser móveis: por sua natureza (art. 82) ou por força da lei (arts. 83 e 84).
OBS.: Natureza Jurídica dos Animais. Para o Código Civil, os animais são coisas (bens móveis). Há quem
defenda que, embora não sejam pessoas, os animais são sujeitos de direito. Para o STJ, os animais possuem
natureza especial, são seres sencientes, pois são dotados sensibilidade (sentem as mesmas dores e
necessidades biopsicológicas dos animais racionais), razão pela qual o seu bem-estar deve ser considerado
(STJ, REsp 1.713.167 – SP).
● Imóveis: são os que não podem ser mobilizados, transportados ou removidos sem a sua destruição.
No que tange à extensão dos bens imóveis, o direito brasileiro adota o CRITÉRIO DA UTILIDADE.
Ou seja: o bem imóvel abrange o espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade que
sejam úteis ao seu exercício.
Cuidado! Mesmo havendo tal extensão, a propriedade do solo NÃO ABRANGE: jazidas, minas e demais
recursos minerais, dentro outros, pois tais bens são de propriedade da União (art. 176, CF/88), sendo
propriedade distinta da do solo.
ATENÇÃO: Os navios e aeronaves, embora sejam móveis pela natureza ou essência, são tratados pela lei
como imóveis pois estão sujeitos a matrícula e registro.
b) Bens imóveis por acessão física: Plantações e construções, que se prendam ao solo;
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1- As edificações que, separadas do solo, forem removidas para outro local, desde que tenham conservado
sua unidade. (art. 81, inc. I)
Obs: tais edificações devem servir a instalação definitiva, de modo que as construções transitórias
(destinadas a uma finalidade própria e efêmera), não são consideradas bens imóveis em questão. Ex.: circos,
stands em feiras, etc.
2- Os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. (art. 81, inc. II).
c) Bens imóveis por acessão intelectual: são coisas móveis que são imobilizadas, por exemplo, o
maquinário na fazenda agrícola.
ATENÇÃO: O PENHOR AGRÍCOLA não é considerado bem móvel mas direito real sobre objetos imóveis,
porque a colheita e a safra se agregam ao solo e por definição de lei é considerado bem imóvel.
d) Bens imóveis por determinação/equiparação legal: os bens são imóveis por mera opção legislativa,
sendo irrelevante seu aspecto naturalístico.
▪ Os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram
▪ O direito à sucessão aberta.
Caiu em prova Delegado SP/2018! Sobre as diferentes classes de bens, assinale a alternativa correta:
Consideram-se bens móveis as energias que tenham valor econômico e o direito à sucessão aberta. (item
INcorreto).
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e) Bens fungíveis e infungíveis: Estão ligados à possibilidade de substituição por outro igual.
● Fungíveis: Podem ser substituídos por outros de mesma qualidade, quantidade e espécies (artigo
85). Ex.: soja, café, dinheiro.
● Infungíveis: NÃO podem ser substituídos, seja por ato de vontade do titular ou em função do valor
histórico do bem. Todos os bens imóveis são infungíveis, assim como os bens móveis insubstituíveis.
Ex.: obra de arte, livro autografado.
Obs.: Em regra, a fungibilidade decorre da natureza do bem. No entanto, nada impede que a vontade das
partes torne um bem essencialmente fungível, em bem infungível.
Ex.: um relógio que, em tese, seria fungível, mas por uma particularidade qualquer se torna infungível (como
no caso de ter sido presenteado pelo falecido pai do atual proprietário).
Caiu em prova Delegado SP/2018! Sobre as diferentes classes de bens, assinale a alternativa correta: Os bens
naturalmente divisíveis só podem tornar-se indivisíveis por determinação legal. (item INcorreto).
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Frutos
ACESSÓRIOS
Produtos
BENS
Pertenças
Benfeitorias
Partes
integrantes
1. Frutos: São bens acessórios com origem no bem principal, mantendo a integridade desse último,
sem a diminuição da sua substância ou quantidade.
● Quanto à origem:
✔ Naturais: decorrentes da essência da coisa principal, como as frutas de uma árvore;
✔ Industriais: decorrentes de uma atividade humana, caso de um material produzido por uma
Fábrica;
✔ Civis ou Rendimentos: decorrentes de uma relação jurídica e econômica, de natureza
privada, também chamados de rendimentos. Ex.: aluguéis.
Caiu em prova Delegado SP/2018! Sobre as diferentes classes de bens, assinale a alternativa correta: Apesar
de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico (item
correto).
● Quanto ao estado:
✔ Pendentes: são aqueles que estão ligados à coisa principal, e que não foram colhidos;
✔ Percebidos: são os colhidos do principal e separados;
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2. Produtos: São os bens acessórios que saem da coisa principal, diminuindo a sua quantidade e
substância, por serem bens não renováveis (esgotáveis). Ex.: Diamante extraído de uma mina.
3. Pertenças: São bens destinados a servir um outro bem principal, por vontade ou trabalho intelectual
do proprietário. São bens que se acrescem, como acessórios à coisa principal, mas não a integram (é
o que as diferencia das partes integrantes). Ex.: Armários em uma cozinha.
Enunciado JDC535: Para a existência da pertença, o art. 93 do CC NÃO ABRANGEM AS PERTENÇAS, salvo se
o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.
4. Partes integrantes: São bens acessórios unidos ao bem principal, formando com este último um todo
independente. Por serem desprovidos de existência material própria, se as partes integrantes forem
separadas do bem principal, este não servirá mais ao seu uso normal. Ex: lente de máquina
fotográfica.
5. Benfeitorias: Acessórios introduzidos pelo homem em um bem móvel ou imóvel já existente. Podem
ser:
▪ Necessárias: Objetivam conservar o bem ou evitar que se deteriorem;
▪ Úteis: Facilitam o uso do bem;
▪ Voluptuárias (ou Suntuárias): Destinam-se ao embelezamento, deleite.
Vamos ver a relação dos frutos e das benfeitorias com o possuidor de boa-fé e má fé?
POSSUIDOR DE BOA-FÉ POSSUIDOR DE MÁ-FÉ
Desconhece o vício que paira sobre a coisa Conhecedor do vício que paira sobre a coisa.
Frutos Frutos
✔ Tem direito aos frutos percebidos enquanto ✔ Responde pelos frutos colhidos e percebidos.
durar a boa-fé
✔ Responde pelos frutos que deixou de perceber
✔ Restituição dos frutos pendentes ao tempo em por sua culpa.
que cessou a boa-fé, deduzidos os custos.
✔ Tem direito as despesas de produção e custeio.
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Casos especiais
(1) STJ - Quando irregularmente ocupado o bem
público, não há que se falar em direito de
retenção pelas benfeitorias realizadas,
tampouco em direito a indenização pelas
acessões, ainda que as benfeitorias tenham sido
realizadas de boa-fé. Isso porque, nesta
hipótese não há posse, mas mera detenção, de
natureza precária.
O Código Civil tratou a temática de forma superficial, porque, na realidade, a matéria é de direito
administrativo.
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Caiu em prova Delegado SP/2014! Com relação aos bens públicos, é correto afirmar que: podem ser de uso
gratuito ou retribuído, conforme disposição legal. (item correto).
Enunciado. 287, CJF: o rol do art. 99, CC não afasta a sistemática dos bens públicos
por afetação. Os bens públicos por afetação são aqueles que pertencem à pessoa
jurídica de direito privado, mas que estão afetados. A vinculação ao interesse
público primário (afetação) justifica que tais bens sejam tratados como se público
fossem.
Os efeitos práticos dos bens públicos por afetação: impenhorabilidade, impossibilidade de usucapião, etc.
Bens dominicais: são os bens desafetados. Por não estarem afetados, os bens dominicais são
alienáveis, obedecidas as formalidades legais (arts. 100 e 101, CC). Ou seja: a desafetação justifica a
alienabilidade.
Caiu em prova Delegado SP/2014! Com relação aos bens públicos, é correto afirmar que: os de uso especial
e os dominicais são inalienáveis, inadmitindo desafetação. (item INcorreto).
Obs.: O art. 99, parágrafo único, CC fez uma confusão: trouxe uma nova modalidade de bens dominicais. Ou
seja, além dos desafetados, passamos também a ter também outros bens dominicais.
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No âmbito do direito civil, temos o enunciado. 141, CJF: a regra se aplica aos conselhos profissionais
e às fundações públicas.
DICA → no direito civil, sempre cai a literalidade do art. 99, parágrafo único, CC (em prova de múltipla
escolha). Se o examinador for além, vai cobrar o enunciado 141.
Obs.: Vedação à usucapião de bens públicos, que constava apenas da CF/88 (art. 191, parágrafo único),
também consta do CC (art. 102, CC).
Obs.: Art. 103, CC: O art. 103 prevê que o uso comum de bens públicos pode ser comum ou oneroso, a
depender de previsão normativa. Dessa forma, em tese, admite-se a remuneração por uso de bem público.
Engendrada pelo Min. Luiz Edson Fachin, a TEORIA DO ESTATUTO JURÍDICO DO PATRIMÔNIO
MÍNIMO preconiza que o ordenamento jurídico deve sempre procurar garantir um mínimo de patrimônio
(mínimo existencial) ao indivíduo como forma de garantir-lhe a sua dignidade. Como exemplos da aplicação
dessa teoria podemos citar, o art. 548 do CC (vedação à doação universal), art. 928 do CC (responsabilidade
civil do incapaz) e a Lei nº 8.009/90 (impenhorabilidade do bem de família).
Há duas espécies de bem de família: voluntário e legal.
⇒ Voluntário aquele instituído por ato de vontade do casal, da entidade familiar ou até mesmo de
terceiro, mediante:
(a) registro no Cartório de Imóveis,
(b) por escritura pública ou
(c) testamento.
Para evitar fraudes, o bem de família voluntário não pode ultrapassar o limite de 1/3 do patrimônio
líquido dos seus instituidores.
A instituição do bem de família voluntário acarreta 2 efeitos fundamentais:
● Impenhorabilidade (CC, 1715): “O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua
instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.”
● Inalienabilidade (CC, 1717): “O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família,
não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento
dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.”
Essas características não são absolutas, podendo ser afastadas em casos excepcionais ou se
eventualmente extinto o bem de família.
Vale acrescentar, a teor do art. 1712, que o bem de família voluntário poderá compreender valores
mobiliários (renda), aplicados na conservação do imóvel e no sustento da família, podendo essa renda,
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inclusive, ser administrada por instituição financeira (art. 1713, §3º do CC) (em caso de liquidação dessa
entidade, os valores serão transferidos para outra instituição congênere, art. 1718 - trust).
⇒ Bem de Família legal: instituído pela Lei 8009/90, concretiza o direito constitucional à moradia e a
noção de patrimônio mínimo (FACHIN), decorrente do valor superior da dignidade da pessoa humana. Anote-
se que, em razão de tal caráter protetivo, a Lei 8009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência,
nos termos da súmula 205 do STJ.
Ademais, também privilegiando a proteção constitucional do direito à moradia, o STJ entendeu que
a impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é afastada pelo fato de o imóvel
pertencer à sociedade empresária. (Info 579/STJ)
- Se houver 2 imóveis residenciais em que a família alternadamente viva, nos termos do art. 5º da
Lei 8009/90, a proteção legal recai no de menor valor, salvo se o imóvel mais valioso houver sido inscrito
como bem de família voluntário.
Com relação aos bens MÓVEIS, o art. 2º da Lei 8009 exclui de sua proteção veículos de transporte,
obras de arte e adorno suntuosos. Ademais, o locatário tem a proteção dos bens móveis quitados que
guarnecem a residência, desde que não sejam suntuosos.
⬥ Regra: proteção do bem de família é norma cogente, não podendo o devedor abrir mão de tal
benesse.
⬥ Exceção: em acordo homologado judicialmente, o executado pactuou a prorrogação do prazo para
pagamento e a redução do valor da dívida que contraíra em benefício da família, dando em garantia
o bem de família -> arguir a impenhorabilidade seria venire contra factum proprium. (Info 558/STJ)
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1.1 Conceito
O conceito de direitos humanos, segundo Gregorio Robles, não é pacífico, pois sofre influência de
pontos de vista de cunhos político e ideológico. Entretanto, de acordo com a definição dada pelos
doutrinadores brasileiros, há um ponto em comum: a concretização da dignidade da pessoa humana a todos
os seres humanos.
Para Paulo Henrique Gonçalves Portela, os direitos humanos são aqueles direitos
essenciais para que o ser humano seja tratado com a dignidade que lhe é inerente
e aos quais fazem jus todos os membros da espécie humana, sem distinções.
Para André de Carvalho Ramos, os direitos humanos consistem em um conjunto
de direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade,
igualdade e dignidade. Os direitos humanos são, em suma, todos os direitos
essenciais e indispensáveis à vida digna, não havendo um rol predefinido e taxativo.
Os direitos humanos podem, ainda, ser caracterizados de acordo com a corrente a ser considerada:
1°) Jusnaturalista: os direitos humanos são naturais, inerentes às pessoas, a qualquer tempo e em
qualquer lugar. Não precisam estar positivados.
2°) Universalista: os direitos humanos são direitos universais, ou seja, de todas as pessoas, em
qualquer lugar, sendo protegidos pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos.
3°) Constitucionalista: os direitos humanos são aqueles reconhecidos pela Constituição de
determinado Estado, ou seja, aqueles direitos constitucionais positivados internamente.
Ao se referir aos direitos essenciais à pessoa humana, pode-se deparar com diversas nomenclaturas que,
entretanto, não são sinônimas:
● Direitos Humanos – são aqueles direitos indispensáveis à uma vida digna, previstos em normas
internacionais de proteção dos direitos humanos.
283
RETA FINAL
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● Direitos do Homem – referem-se aos direitos naturais, aqueles inatos ao homem, que não
dependem de previsão na ordem jurídica positiva, e que decorrem da razão divina ou da razão
humana (estão relacionados com o jusnaturalismo).
● Direitos fundamentais – materializam a dignidade humana no plano interno. Ou seja: são aqueles
positivados nas Constituições dos Estados (ex: artigo 5º da CF/88).
3.1 Jusnaturalismo
É a primeira das teorias fundamentadoras dos Direitos Humanos. O jusnaturalismo é uma corrente
que defende a existência de um conjunto de normas vinculantes anterior e superior ao sistema de normas
fixadas pelo Estado – direito posto. Existem duas bases para o jusnaturalismo: (i) teológica; e (ii) racional.
∙Teológica: A teoria jusnaturalista teológica existe desde a antiguidade clássica, com o pensamento
judaico-cristão. Para essa teoria, as pessoas possuem direitos naturais de origem divina, que lhes foram
conferidos porque são filhos de Deus.
∙ Racional: Hugo Grotius diz que, mesmo se Deus não existisse, o ser humano teria direitos pelo
simples fato de ser humano. No estado de natureza, o ser humano tem direitos. É o pensamento dos
iluministas do século XVIII (Locke, Rousseau, Montesquieu). O jusnaturalismo racional moveu o nascimento
dos direitos humanos na modernidade.
Para o Jusnaturalismo, as ideias precursoras de limitação ao poder e de emancipação da pessoa
humana como titular de direitos inerentes, resultaram na concepção de que a Pessoa Humana é fundamento
absoluto, atemporal e global desses direitos.
5
Vide material de Direito Internacional.
284
RETA FINAL
SEMANA 03/12
A pessoa é a mesma em todos os lugares e, considerando as diversidades culturais, deve ser tratada
igualmente, de forma justa e solidária. Ressalta-se a dignidade inerente a todo e qualquer ser humano como
a razão máxima do Direito e da Sociedade, devendo ser resguardada e cultivada por estes.
Os direitos humanos seriam, assim, o conjunto de condições, garantias e comportamentos, capazes
de assegurar a característica essencial do homem, a sua dignidade, de forma a conceder a todos, sempre, o
cumprimento das necessidades inseridas em sua condição de pessoa humana.
Dessa forma, esses direitos não são criados pelos homens ou pelos Estados, eles são preexistentes
ao Direito, restando a estes apenas “declará-los”, nunca constituí-los.
3.2 Positivismo
Para a Escola Positivista, o fundamento dos direitos humanos consiste na existência de norma posta,
cujo pressuposto de validade está em sua edição conforme as regras estabelecidas na Constituição.
A ideia positivista sobre direitos humanos, apresentada por Norberto Bobbio, afirma a inexistência
de um direito absoluto.
Bobbio explica que a dogmática jurídica se caracteriza pela historicidade, o que significa dizer que o
Direito é passível de constantes modificações, advindas das mudanças sociais. Para o autor, não se pode dar
um fundamento eterno para algo que necessariamente sofrerá modificações.
Um preceito só pode ser considerado jurídico quando nele estiver presente o caráter repressivo, que
lhe concede eficácia, como bem ressaltava Hans Kelsen. Se a Ordem Jurídica nada pode fazer para assegurar
o cumprimento desses preceitos, eles não podem ser denominados “direito”, pois são meras expectativas de
conduta, meras expressões de boas intenções que orientam a ação para um futuro indeterminado, incerto.
Portanto, para os positivistas, a ausência de coercibilidade dos direitos naturais lhe retira a própria
natureza de “direitos”, devendo os direitos humanos passar por um processo de positivação.
Atualmente, porém, há uma tendência à “positivação” dos direitos humanos, de forma a inseri-los
nas Constituições Estatais, através da criação de novos mecanismos para garanti-los, além da difusão de sua
regulação por meio de mecanismos internacionais, como os Tratados e Convenções Internacionais de
Direitos Humanos.
Com isso, já se pode falar num conceito positivo de direitos humanos, que seriam os direitos
fundamentais, assegurados ao indivíduo, através da regulamentação e aplicação desses direitos, tanto no
campo estatal como no campo supraestatal.
3.3 Jusinternacionalista
Parte da doutrina defende existir ainda uma 3ª corrente acerca dos fundamentos dos direitos
humanos: o Jusinternacionalismo. A corrente Jusinternacionalista afirma que o fundamento dos direitos
humanos é o próprio Direito Internacional.
Para essa corrente, se o direito estiver previsto na ordem internacional, já pode ser caracterizado
como uma norma de direitos humanos, não havendo necessidade de estar positivado na ordem jurídica
interna do Estado.
285
RETA FINAL
SEMANA 03/12
Conforme leciona o Professor André de Carvalho Ramos: “A contar dos primeiros escritos das
comunidades humanas ainda no século VIII a.C. até o século XX d.C., são mais de vinte e oito séculos rumo à
afirmação universal dos direitos humanos, que tem como marco a Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948”.
Caiu em prova Delegado SP/2018! No tocante à temática dos direitos humanos, considerando seu
surgimento e sua evolução histórica, assinale a alternativa que contempla correta e cronologicamente seus
marcos históricos fundamentais: O iluminismo, a Revolução Francesa e o fim da Segunda Guerra Mundial
(item correto).
SEMANA 03/12
A crise da Idade Média, início da Idade Moderna e os primeiros diplomas de direitos humanos
Mesmo com o poder dos governantes limitado, uma vez que era baseado na vontade divina, nota-se
o surgimento de alguns movimentos de reivindicação da liberdade, como:
⋅ Declaração das Cortes de Leão (Península Ibérica, 1188)
⋅ Magna Carta Inglesa (1215), que trazia direitos dos indivíduos contra o Estado.
O Renascimento e a Reforma Protestante deram lugar ao surgimento dos Estados Nacionais
absolutistas europeus, quando verificou-se uma forte centralização de poder na figura do rei. No século XVII
o Estado Absolutista começa a ser duramente questionado, especialmente na Inglaterra. Destacam-se, aqui:
⋅ “Petition of right”, de 1628 – dever do rei de não cobrar impostos sem autorização do
Parlamento; “nenhum homem livre podia ser detido ou preso ou privado dos seus bens, das
suas liberdades e franquias, ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo molestado,
a não ser por virtude de sentença legal dos seus pares ou da lei do país”.
⋅ “Habeas Corpus Act”, de 1679 – formalizou a proteção judicial aos injustamente presos.
⋅ “Bill of Rights”, de 1689 – reduzindo o poder dos reis ingleses de forma definitiva. Afirma a
vontade da lei sobre a vontade do rei.
⋅ “Act of Settlement”, de 1701 – fixou a linha sucessória da coroa inglesa e reafirmou o poder
do Parlamento em detrimento do poder dos monarcas.
287
RETA FINAL
SEMANA 03/12
A Revolução Francesa fez nascer os ideais representativos dos direitos humanos, quais sejam a
igualdade, a liberdade e a fraternidade. Aqui foi editada a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do
Cidadão, adotada pela Assembleia Nacional Constituinte francesa em 1789. A Declaração, composta por 17
artigos, foi concebida como preâmbulo da Constituição Francesa de 1791.
Também em 1791 foi elaborado o projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã,
reivindicando a igualdade de direitos de gênero.
Por fim, com o final da II Guerra Mundial, os homens se conscientizaram da necessidade de não se
permitir que seres humanos novamente sofressem aquelas atrocidades cometidas pelos nazistas. A barbárie
do totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio da negação do valor da
pessoa humana como valor-fonte do direito. (Piovesan, 2019). Houve uma mudança de paradigma em que
não mais seguia-se a lei de forma cega, com uma reaproximação entre direito e moral.
De acordo com a doutrina, a criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos está relacionada
ao pós Segunda Guerra Mundial e a nova organização da sociedade internacional. Um dos grandes marcos
foi a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1945, na Conferência de São Francisco.
O tratado institutivo da ONU foi denominado “Carta de São Francisco”.
A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco, em 26 de junho de 1945, após o término
da Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, entrando em vigor em 24 de outubro
daquele mesmo ano.
De acordo com o Preâmbulo da Carta das Nações Unidas:
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PROPÓSITOS E PRINCÍPIOS
ARTIGO 1 - Os propósitos das Nações unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar,
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de
agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de
conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste
ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da
paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao
princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras
medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas
internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução
desses objetivos comuns.
ARTIGO 2 - A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos
mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:
1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e
vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as
obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta.
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ATENÇÃO! Como a Carta de São Francisco (ou Carta da ONU) não listou o rol de direitos considerados
humanos e fez-se necessária a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – art. 1° ao 21,
os direitos civis e políticos; e nos arts. 22 ao 27, os direitos econômicos, sociais e culturais –, a doutrina
majoritária entende que a DUDH é o verdadeiro marco da internacionalização e da universalização do
Direito Internacional dos Direito Humanos (para o autor André de Carvalho Ramos o marco foi a Carta da
ONU).
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2°) Liga da Nações: criada após a Primeira Guerra Mundial, flexibilizou a autonomia dos Estados para
que se pudesse promover a cooperação, a paz e a segurança internacional, respeitando-se os direitos
humanos.
3°) Organização Internacional do Trabalho (OIT): criada após a Primeira Guerra Mundial, tratava-se
de um mecanismo institucionalizado de proteção aos direitos humanos nas relações de trabalho.
6.1 Historicidade
A proteção dos direitos humanos são fruto de uma evolução histórica, fruto de uma emancipação
evolutiva, que foi ganhando espaço com a mudança de perspectiva da sociedade, ou seja, a sociedade foi
acrescentando novas necessidades à ideia de direito mínimo para uma vida com dignidade. Dessa forma,
essas conquistas foram paulatinas na história da humanidade, sendo os direitos humanos fruto das
demandas sociais de determinados momentos históricos.
6.2 Universalidade
-los
“Todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, podendo pleiteá
em qualquer foro nacional ou internacional (parágrafo 5° da Declaração e Programa
de Ação de Viena de 1993);”
Os direitos humanos são oponíveis a todos, independentemente de quaisquer condições (exs: etnia,
raça, gênero, procedência nacional). Dessa forma, são universais, representando a possibilidade de o
indivíduo pleitear seus interesses perante instâncias internacionais em caso de insatisfação em relação às
instâncias nacionais. Requisitos devem ser cumpridos para tanto.
Vale dizer que “todos os direitos humanos são universais, indivisíveis e inter-relacionados, devendo
a comunidade internacional considerá-los, globalmente, de forma justa e equitativa, no mesmo pé e com
igual ênfase” (André de Carvalho Ramos).
Os direitos fundamentais não são absolutos: isso quer dizer que, por vezes, dois direitos
fundamentais podem chocar-se. Chama-se conflito positivo. Nesse caso, devem os direitos serem sopesados
no caso concreto, de acordo com o Supremo Tribunal Federal.
Apesar da limitabilidade inerente à natureza dos direitos humanos, a doutrina contemporânea
sustenta que existem 2 exceções a essa regra, as quais seriam direitos considerados absolutos: a vedação à
tortura (art. 5° da DUDH) e a vedação à escravidão (art. 4° da DUDH).
Caiu em prova Delegado SP/2018! Assinale a alternativa correta a respeito das características dos direitos
humanos: O Princípio da ilimitabilidade garante que o Estado e a sociedade não podem limitar a fruição dos
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direitos humanos já conquistados, com o objetivo de disciplinar situações excepcionais que venham a reduzir
o alcance desses direitos. (item INcorreto).
6.4 Irrenunciabilidade
Diferentemente do que ocorre com os direitos subjetivos em geral, os direitos humanos têm como
característica básica a irrenunciabilidade, que se traduz na ideia de que a autorização de seu titular não
justifica ou convalida qualquer violação do seu conteúdo.
OBS: O STF admite, excepcionalmente, a renúncia temporária aos direitos que não ferem o núcleo da
dignidade da pessoa humana, como no caso de participação em reality show.
Os direitos humanos são inalienáveis, na medida em que não permitem a sua desinvestidura por
parte do titular, não podendo ser transferidos ou cedidos (onerosa ou gratuitamente) a outrem, ainda que
com o consentimento do agente, tendo em vista que não são passíveis de valoração econômica. Por isso, são
indisponíveis e inegociáveis.
Caiu em prova Delegado SP/2018! Assinale a alternativa correta a respeito das características dos direitos
humanos: O Princípio da inalterabilidade estabelece que os direitos humanos não sofrem alterações com o
decurso do tempo, pois têm caráter eterno, não se ganham nem se perdem com o tempo, são anteriores,
concomitantes e posteriores aos indivíduos. (item INcorreto).
6.6 Imprescritibilidade
São os direitos humanos imprescritíveis, não se esgotando com o passar do tempo e podendo ser a
qualquer tempo vindicados, não se justificando a perda do seu exercício pelo advento da prescrição.
Em outras palavras, os direitos humanos não se perdem ou divagam no tempo, salvo as limitações
expressamente impostas por tratados internacionais que preveem procedimentos perante cortes ou
instâncias internacionais.
Os tratados internacionais de direitos humanos, da mesma forma que as leis internas, não podem
impor restrições que diminuam ou nulifiquem direitos já anteriormente assegurados, tanto no plano interno
quanto na própria órbita internacional. Assim, se uma norma posterior revoga ou nulifica uma norma anterior
mais benéfica, essa norma posterior é inválida por violar o princípio internacional da vedação do retrocesso
(igualmente conhecido como princípio da “proibição de regresso”, do “não retorno” ou “efeito cliquet”).
Nesse sentido, vários tratados de direitos humanos já contêm cláusulas a prever que nenhuma de
suas disposições “pode ser interpretada no sentido de limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou
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liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de
Convenções em que seja parte um dos referidos Estados”, tal como faz o art. 29, “b”, da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos de 1969.
Destaque-se que há várias manifestações no STF sobre esse princípio, especialmente do Min. Celso
de Mello, para quem “o princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de
caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social
em que ele vive.” (STF, ARE n.º 639.337 AgR/SP, 2.ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.08.2011, DJe
15.09.2011.).
Quadro sinóptico com a diferenciação dos seguintes institutos:
6.8 Essencialidade
Os direitos humanos são essenciais por natureza, tendo por conteúdo os valores supremos do ser
humano e a prevalência da dignidade humana (conteúdo material), revelando-se essenciais, também, pela
sua especial posição normativa (conteúdo formal), permitindo-se a revelação de outros direitos
fundamentais fora do rol de direitos expresso nos textos constitucionais.
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Os direitos humanos pertencem a todos os indivíduos pela simples circunstância de serem pessoas
humanas. Em suma, basta a condição de ser pessoa humana. É a qualidade de pertencimento desses direitos
a todos os membros da espécie humana, sem qualquer distinção
Ou seja: Os direitos humanos são inerentes ou inatos (naturalmente ligados) aos seres humanos.
Lembrando: Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948: marco da universalidade e inerência dos
direitos humanos.
Todos os direitos humanos contribuem para a garantia da dignidade da pessoa humana, interagindo-
se entre si, sendo que uma geração de direitos humanos complementa outra geração de direitos humanos.
(Ex: primeira geração complementa a segunda geração e ambas complementam a terceira geração de
direitos humanos).
De acordo com André de Carvalho Ramos:
6.11 Inexauribilidade
Os direitos humanos são inexauríveis, inesgotáveis, tendo em vista que sempre haverá a
possibilidade de se expandir o rol de direitos a serem protegidos, não podendo, ao contrário, diminuir-se
esses direitos, em vedação ao efeito cliquet.
Um debate muito importante é discutir até que ponto os direitos humanos devem ser universais,
visto que o direito que está ligado ao essencial para uma vida digna pode variar a depender da cultura de um
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povo. Daí surge o debate entre o universalismo (universalidade dos direitos humanos independem da cultura
local) e o relativismo cultural (limitação cultural ao universalismo).
O debate entre os universalistas e os relativistas culturais retoma o dilema a respeito dos
fundamentos dos direitos humanos: por que temos direitos? As normas de direitos humanos podem ter um
sentido universal ou são culturalmente relativas?
Cada cultura possui seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está relacionado às
específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade. Não há moral universal, já que a história
do mundo é a história de uma pluralidade de culturas. Há uma pluralidade de culturas no mundo e essas
culturas produzem seus próprios valores. Na crítica dos relativistas, os universalistas invocam a visão
hegemônica da cultura eurocêntrica ocidental, na prática de um canibalismo cultural. Já para os
universalistas, os relativistas, em nome da cultura, buscam acobertar graves violações a direitos humanos.
Ademais, complementam, as culturas não são homogêneas, tampouco compõem uma unidade coerente;
mas são complexas, variáveis, múltiplas, fluidas e não estáticas. São criações humanas e não destino.
Neste debate, destaca-se a visão de Boaventura de Souza Santos, em defesa de uma concepção
multicultural de direitos humanos, inspirada no diálogo entre as culturas, a compor um multiculturalismo
emancipatório. Para Boaventura, “os direitos humanos têm que ser reconceptualizados como multiculturais.
O multiculturalismo, tal como eu o entendo, é precondição de uma relação equilibrada e mutuamente
potenciadora entre a competência global e a legitimidade local, que constituem os dois atributos de uma
política contra-hegemônica de direitos humanos no nosso tempo”. Prossegue o autor defendendo a
necessidade de superar o debate sobre universalismo e relativismo cultural, a partir da transformação
cosmopolita dos direitos humanos. Na medida em que todas as culturas possuem concepções distintas de
dignidade humana, mas são incompletas, haver-se-ia que aumentar a consciência dessas incompletudes
culturais mútuas, como pressuposto para um diálogo intercultural. A construção de uma concepção
multicultural dos direitos humanos decorreria desse diálogo intercultural.
A respeito do diálogo entre as culturas, merecem menção as reflexões de Amartya Sen sobre direitos
humanos e valores asiáticos, particularmente pela crítica feita a interpretações autoritárias desses valores e
pela defesa de que as culturas asiáticas (com destaque ao Budismo) enfatizam a importância da liberdade e
da tolerância. Menção também há que ser feita às reflexões de Abdullah Ahmed An-na’im, ao tratar dos
direitos humanos no mundo islâmico com base em uma nova interpretação do islamismo e da sharia.
Acredita-se, de igual modo, que a abertura do diálogo entre as culturas, com respeito à diversidade
e com base no reconhecimento do outro, como ser pleno de dignidade e direitos, é condição para a
celebração de uma cultura dos direitos humanos, inspirada pela observância do “mínimo ético irredutível”,
alcançado por um universalismo de confluência. Para tanto, essencial é o potencial emancipatório e
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transformador do diálogo, em que o vértice não seja mais marcado pela ideia do choque entre civilizações
(“clashof civilizations”), mas pela ideia do diálogo entre civilizações (“dialogue Among civilizations”).
Confira a dica do Professor Rafael de Lazari:
https://youtu.be/WkmAI8uAuPY
8.1 Introdução
As dimensões ou gerações dos direitos humanos são cobrados com frequência nos Concursos
Públicos. O tema foi apresentado pela primeira vez por Karel Vasak, em sua forma clássica chamada de
Gerações dos Direitos Humanos, desdobrando-se em 1ª, 2ª e 3ª gerações. Em provas objetivas, a tendência
é que se cobre essas gerações, tendo em vista que não há controvérsias relevantes sobre elas.
No tocante à terminologia, contemporaneamente é preferível adotar a expressão “dimensões”, em
detrimento da expressão “gerações”, afastando a ideia de substituição de uns direitos pelos outros.
Entretanto, a doutrina moderna amplificou tais dimensões, apresentando outras mais. Essas, por
serem controvertidas em alguns pontos, se cobradas em provas objetivas, devem ser específicas em relação
a seu autor e suas características, sob pena de anulação.
Ademais, existe uma corrente doutrinária que afirma que não faz sentido haver demais dimensões,
uma vez que se tratam de mero desdobramento das 1ª, 2ª e 3ª dimensões, sendo possível a inclusão dos
direitos caracterizados naquelas dimensões dentro dessas últimas dimensões.
Cumpre destacar que se trata de uma divisão meramente acadêmica, pois os direitos dos seres
humanos não devem ser divididos em gerações ou dimensões estanques. Tais gerações apenas retratam a
valorização de determinados direitos em momentos históricos distintos.
Em decorrência da passagem dos Estado Absolutista para o Estado Liberal, com origem nas
revoluções liberais, como as Revoluções Inglesas, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, o indivíduo
pleiteou o absenteísmo estatal, ou seja, um não fazer estatal, para garantir seus direitos civis e políticos,
como o direito à vida, à liberdade, à expressão, ao voto e à igualdade formal.
Documentos externos mais importantes:
● Bill of Rights (Inglaterra - 1689).
● Declaração do Bom Povo do Estado da Virgínia (EUA - 1776).
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Caiu em prova Delegado SP/2018! Esse documento histórico de remota conquista dos direitos humanos foi
editado com o escopo de assegurar a Supremacia do Parlamento sobre a vontade do Rei, controlando e
reduzindo os abusos cometidos pela nobreza em relação aos seus súditos, em especial declarando, dentre
outras conquistas, o direito de petição, eleições livres e a proibição de fianças exorbitantes e de penas
severas: The Bill of Rights, de 1689. (item correto).
No Brasil:
● Constituição do Império (1824).
● Constituição da República (1891).
No início do século XX, em decorrência dos excessos da Revolução Industrial, os indivíduos sentiram
a necessidade de prestações positivas do Estado, ou seja, um fazer estatal, para que fossem satisfeitos os
seus direitos sociais, econômicos e culturais, como o direito ao trabalho, ao seguro social, à subsistência,
amparo à doença, à velhice, lazer, entre outros.
Documentos externos mais importantes:
● Constituição Mexicana (1917).
● Constituição Alemã ou Constituição de Weimar (1919).
● Criação da Organização Internacional do Trabalho (1919).
● Tratado de Versalhes (1919).
No Brasil:
● Constituição da Era Vargas (1934)
Apesar dos direitos sociais possuírem, em regra, uma natureza positiva, alguns direitos sociais
possuem natureza negativa, como o direito de greve. Portanto, cuidado na prova.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial, com criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945 e
com a internacionalização dos direitos humanos, busca-se proteger direitos difusos, coletivos e
transindividuais, como a paz, o meio ambiente equilibrado, o direito do consumidor, a autodeterminação
dos povos, entre outros. Desse modo busca-se proteger um número indeterminado e indeterminável de
pessoas.
Documentos externos importantes:
● Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
No Brasil:
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● Constituição de 1946.
● Constituição de 1988.
8.5 4ª Dimensão
8.6 5ª Dimensão
8.7 6ª Dimensão
(Mazzuoli, 2018)
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A Teoria dos 4 Status de Jellinek trata-se de uma classificação dos direitos humanos, desenvolvida no
final do século XIX, por Georg Jellinek, a qual afirma que o indivíduo pode ser encontrado em 4 situações
diante do Estado. Os 4 status são:
1°) Status Passivo (status subjectionis): o indivíduo encontra-se em um estado de submissão para
com o Estado, podendo este exigir determinadas condutas ou impor limitações àquele.
2°) Status Negativo (status libertatis): o indivíduo exige uma prestação negativa do Estado, a fim de
assegurar o pleno exercício de seus direitos na vida privada. Exemplo: não prender sem o devido
processo legal. Direito de propriedade.
3°) Status Positivo (status civitatis): o indivíduo exige uma prestação positiva do Estado, emergindo-
se direitos às prestações sociais. Exemplo: direito à igualdade material.
4°) Status Ativo (Status Activus): direito de o indivíduo participar da formação da vontade estatal de
forma ativa. Exemplo: exercícios dos direitos políticos.
O STF invocou o status ativo no caso do direito de nomeação de aprovado em concurso público
classificado entre o número disponível de vagas previsto no Edital.
Bibliografia:
Almeida, G. A. (2009). Direitos Humanos. São Paulo : Atlas.
Castilho, R. (2011). Direitos Humanos (coleção sinopses jurídicas). São Paulo : Saraiva.
Comparato, F. K. (2017). A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva.
Mazzuoli, V. d. (2018). Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Método.
Piovesan, F. (2019). Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo : Saraiva.
Ramos, A. d. (2018). Curso de Direitos Humanos. São Paulo : Saraiva.
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