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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÕES
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SUMÁRIO

1. TUTELA CAUTELAR NO PROCESSO PENAL...........................................................................................4


2. ESPÉCIES DE MEDIDA CAUTELAR........................................................................................................5
2.1. Medidas cautelares de natureza patrimonial ou civil..........................................................................5
2.2. Medidas cautelares de natureza probatória.......................................................................................5
2.3. Medidas cautelares de natureza pessoal............................................................................................5
3. PRISÕES.............................................................................................................................................7
3.1. Conceito.............................................................................................................................................7
3.2. Modalidades......................................................................................................................................7
4. PRISÃO EM FLAGRANTE...................................................................................................................15
4.1. Conceito...........................................................................................................................................15
4.2. Natureza Jurídica..............................................................................................................................15
4.3. Modalidades de Flagrante................................................................................................................19
4.4. Procedimento..................................................................................................................................23
LEITURA COMPLEMENTAR: RESUMO DO TRF SOBRE PRISÕES...........................................................................43
1.2.1. Prisão com pena ou prisão sanção....................................................................................................43
1.2.2. Prisão sem pena...............................................................................................................................43
1.2.2.1. Prisão civil por dívida (depositário infiel)..........................................................................................43
1.2.2.2. Prisão extrapenal.............................................................................................................................44
1.2.2.5. Prisão decorrente de desobediência à ordem de HC.............................................................................46
1.2.2.6. PRISÃO CAUTELAR, PRINCÍPIO DA NECESSIDADE E PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA....................................46
Regras gerais de prisão.....................................................................................................................................47
PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE DAS PRISÕES PROCESSUAIS. PROPORCIONALIDADE......................................50
EXIBIÇÃO DE MANDADO...................................................................................................................................51
PRISÃO FORA DA COMARCA.............................................................................................................................51
MOMENTO DA PRISÃO.....................................................................................................................................51
PRISÃO ESPECIAL..............................................................................................................................................52
PRISÃO EM FLAGRANTE....................................................................................................................................54
HIPÓTESES DE FLAGRANTE...............................................................................................................................56
FLAGRANTE PREPARADO OU PROVOCADO POR OBRA DO AGENTE PROVOCADOR...........................................57
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. FORMALIDADES..........................................................................................59
DAS CAUTELARES DISTINTAS DA PRISÃO. INOVAÇÃO DA LEI 12.403/2011. PREVISÕES GERAIS, APLICÁVEIS
TAMBÉM ÀS PRISÕES:......................................................................................................................................67
PRISÃO PREVENTIVA........................................................................................................................................71
PRISÃO TEMPORÁRIA.......................................................................................................................................98
1. NOÇÕES GERAIS: NATUREZA JURÍDICA..........................................................................................................98
2. REQUISITOS..................................................................................................................................................98
3. DECRETAÇÃO...............................................................................................................................................99
4. DECISÃO.......................................................................................................................................................99
5. LEGITIMIDADE E DECRETAÇÃO DE OFÍCIO...................................................................................................100
6. PRAZO DE DURAÇÃO...................................................................................................................................100
7. CONVERSÃO...............................................................................................................................................101
8. APRESENTAÇÃO DO PRESO.........................................................................................................................101
9. PRISÃO PARA RECORRER e PRISÃO DECORRENTE DE PRONÚNCIA...............................................................101
LIBERDADE PROVISÓRIA.................................................................................................................................103
I – DEFINITIVIDADE DA FIANÇA.......................................................................................................................109

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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II – REFORÇO DA FIANÇA................................................................................................................................109
III – FIANÇA SEM EFEITO.................................................................................................................................109
IV – QUEBRA DA FIANÇA.................................................................................................................................109
V – PERDA DA FIANÇA....................................................................................................................................109
VI – CASSAÇÃO DA FIANÇA.............................................................................................................................109
VII – FIANÇA INIDÔNEA...................................................................................................................................109
VIII – RESTAURAÇÃO DA FIANÇA.....................................................................................................................110
IX – DEVOLUÇÃO DA FIANÇA..........................................................................................................................110
X – DISPENSA DA FIANÇA................................................................................................................................110
XI – JURISPRUDÊNCIA EM TESES- STJ...............................................................................................................111
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO...................................................................................................112
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA...............................................................................................................................112

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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ATUALIZADO EM 05/04/20201

PRISÕES (LEI 12.402/2011)i


1. TUTELA CAUTELAR NO PROCESSO PENAL

*Lei 12.403/11: Entrou em vigor o dia 04.07.11.

É preciso elencar uma série de medidas. As medidas cautelares que serão adotadas na esfera penal almejam a
preservação e a eficiência de um procedimento principal, seja ele a investigação preliminar, seja ele o processo
principal.

#ADVERTÊNCIA: Na esfera penal, não há um processo cautelar autônomo, já que as medidas serão adotadas
incidentalmente no curso da investigação ou do processo.

*#OUSESABER: Como se sabe, as cautelares no processo penal se prestam a evitar prejuízos à efetividade do
processo em razão do decurso do tempo. As cautelares pessoais, por sua vez, são aquelas, como o próprio nome
diz, que recaem sobre as pessoas, por exemplo, uma prisão cautelar. As cautelares pessoais, no Processo Penal
brasileiro, durante anos, viveram um regime de estrita BIPOLARIDADE, consistente na dicotomia: PRISÃO VERSUS
LIBERDADE PROVISÓRIA. Tal dicotomia revelava-se extremamente deletéria, pois vivia entre os extremos: total
cerceamento da liberdade (com todos os seus estigmas e problemas) ou plena liberdade (muitas vezes sem o
necessário acompanhamento). Pois bem, em 2011, em uma das mais recentes reformas do Processo Penal,
rompeu-se com o sistema da BIPOLARIDADE, passando a adequar o ordenamento jurídico brasileiro às
chamadas REGRAS DE TÓQUIO de 1990, que estabelecem regras mínimas para a prisão cautelar, deixando-a
como medida de última ratio. Assim sendo, o sistema brasileiro passou a adotar mais NOVE medidas cautelares
PESSOAIS DIVERSAS DA PRISÃO. Hoje, por exemplo, passou a ser possível a proibição de ausentar-se da Comarca
quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução (evitando-se assim a
prisão).

*O STF concedeu parcialmente a ordem em “habeas corpus” para os réus da operação “Lava Jato” substituindo a
prisão preventiva por outras medidas cautelares (art. 319 do CPP). A prisão é a medida acauteladora mais grave
no processo penal, razão pela qual somente deve ser decretada quando absolutamente necessária. A prisão
somente é legítima em situações nas quais seja o único meio eficiente para preservar os valores jurídicos que a lei

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura
identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o
número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca
do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos
anteriormente citados.
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penal visa a proteger, segundo o art. 312 do CPP (garantia da ordem pública, da ordem econômica, conveniência
da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal). Fora dessas hipóteses excepcionais, a prisão
representa mera antecipação de pena, o que é inadmissível. O STF entendeu que o fato de o réu ser dirigente de
empresa com filial no exterior e de fazer constantemente viagens internacionais, por si só, não é suficiente para a
decretação da preventiva. Não há risco à conveniência da instrução penal, considerando que a instrução criminal
está praticamente concluída, tendo sido colhida toda a prova acusatória, e resta apenas a tomada de alguns
depoimentos da defesa. Por mais graves e reprováveis que sejam as condutas praticadas, isso não é suficiente
para justificar a prisão processual. Da mesma maneira, não é legítima a decretação da preventiva unicamente
com o argumento da credibilidade das instituições públicas. Ainda que a sociedade esteja, justificadamente,
indignada com a notícia dos crimes em comento, a exigir resposta adequada do Estado, também deve
compreender que a credibilidade das instituições somente se fortalece na exata medida em que seja capaz de
manter o regime de estrito cumprimento da lei, seja na apuração e julgamento dos delitos, seja na preservação
dos princípios constitucionais em jogo. STF. 2ª Turma. HC 127186/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
28/4/2015 - Info 783.

2. ESPÉCIES DE MEDIDA CAUTELAR

2.1.Medidas cautelares de natureza patrimonial ou civil

São aquelas que almejam a constrição patrimonial para viabilizar a futura indenização dos danos causados pelo
delito, além de evitar o enriquecimento lícito e de materializar a perda de bens como efeito da condenação (art.
91 do CP). Exemplos (que serão estudados no intensivo II): hipoteca legal, arresto e sequestro. Art. 91 CP.

2.2.Medidas cautelares de natureza probatória

É aquela que almeja preservar as fontes de prova, imprimindo a colheria de elementos para futura demonstração
da verdade. Ex. captação telefônica e produção antecipada de prova.

2.3.Medidas cautelares de natureza pessoal

São aquelas que vão imprimir uma restrição ou até mesmo a total privação na nossa liberdade de locomoção.
Importa aqui fazermos uma análise sistêmica dessas medidas cautelares de natureza pessoal.

Antes da Lei 12.403/11 tínhamos o sistema da bipolaridade das cautelares pessoais, afinal ou o agente estaria
preso cautelarmente ou usufruiria de liberdade provisória.

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Depois da Lei 12.403/2011, isto é, atualmente, o sistema da bipolaridade caiu. Afinal, se o agente é libertado, o
magistrado pode impor as chamadas medidas cautelares não prisionais, que acabam onerando a liberdade do
agente, mas são mais brandas que o cárcere (arts. 319 e 320 do CPP).

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Medidas Cautelares Art. 282.

Art. 282. § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a


requerimento das partes ou, quando no curso da investigação
§ 2o As medidas cautelares serão criminal, por representação da autoridade policial ou mediante
decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público.
requerimento das partes ou, quando no
curso da investigação criminal, por Obs. Juiz não pode mais decretar medida cautelar de ofício.
representação da autoridade policial ou
mediante requerimento do Ministério
Público. (Incluído pela Lei nº
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da
12.403, de 2011).
medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no
prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e
§ 3o Ressalvados os casos de urgência das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os
ou de perigo de ineficácia da medida, o casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e
juiz, ao receber o pedido de medida fundamentados em decisão que contenha elementos do caso
cautelar, determinará a intimação da concreto que justifiquem essa medida excepcional.
parte contrária, acompanhada de cópia
do requerimento e das peças
necessárias, permanecendo os autos em
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
juízo. (Incluído pela Lei nº 12.403,
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de
de 2011).
seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida,
impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão
preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste
§ 4o No caso de descumprimento de Código.
qualquer das obrigações impostas, o
juiz, de ofício ou mediante
requerimento do Ministério Público, de
Obs. Em caso de descumprimento, o juiz não pode, de ofício,
seu assistente ou do querelante, poderá
substituir a medida, cumular com outra ou decretar a prisão
substituir a medida, impor outra em
preventiva.
cumulação, ou, em último caso,
decretar a prisão preventiva (art. 312,
parágrafo único). (Incluído pela Lei
nº 12.403, de 2011). § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem
razões que a justifiquem.
§ 5o O juiz poderá revogar a medida
cautelar ou substituí-la quando verificar
a falta de motivo para que subsista,
bem como voltar a decretá-la, se Obs. Quando faltar motivo para que subsista a medida cautelar
sobrevierem razões que a justifiquem. imposta ou quando sobrevierem razões que a
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
justifique, o juiz poderá, de ofício, revogá-la ou substituí-la.

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§ 6o A prisão preventiva será § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não
determinada quando não for cabível a for cabível a sua substituição por outra medida cautelar,
sua substituição por outra medida observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da
cautelar (art. 319). substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de
forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto,
de forma individualizada.”

3. PRISÕES2

3.1.Conceito

Prisão é a restrição da liberdade de locomoção, fruto de uma autuação em flagrante, por ordem judicial motivada
ou ainda em razão de transgressão militar ou crime propriamente militar, comprometendo o nosso direito de ir,
vir ou ficar.

3.2.Modalidades

a) Prisão civil: o art. 5, LXIII, autoriza a prisão civil do devedor de alimentos e do depositário infiel, sendo que esta
norma não é autoaplicável. Regras interpretativas: 1. A Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 7º Dec.
678/92) autorizou tão somente a prisão do devedor de alimentos. CONCLUSÃO: O STF, no RE 466.343 reconheceu
que a convenção americana tem status de norma supralegal, de forma que a prisão do depositário infiel foi
sepultada e todos os dispositivos que regem o tema foram invalidados. Súmula vinculante nº 25 do STF e súmula
419 do STJ.

b) Prisão do falido: a antiga lei de falências (Decreto-lei 7661/45) autorizava no art. 35, parágrafo único, o cárcere
do falido que descumprisse os seus deveres normativos, sendo a prisão nitidamente obrigacional. O STJ, editando
a súmula 280 sepultou o art. 35 da antiga Lei falimentar, por incompatibilidade com o texto constitucional. A nova
lei de falências também trata da prisão do falido, mas como uma espécie de prisão preventiva. Art. 99, VII. Para
Paulo Rangel, essa nova disciplina se compatibiliza com a CF se a prisão for decretada no curso da investigação ou
do processo, e, desde que, estejam presentes, os requisitos da prisão preventiva. (art. 312 e 313 CPP).

c) Prisão administrativa: era aquela decretada por autoridade administrativa, no intuito de compelir o agente a
cumprir um dever regido pelo Direito Público. Diante da leitura constitucional da matéria, destacam-se duas
posições:

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A banca CESPE considerou correta, na prova do TJDFT/2016, a seguinte alternativa: “A audiência de custódia prevê que a
pessoa detida seja conduzida à presença do juiz, que, na ocasião, aferirá a legalidade do ato de constrição, para o fim de
mantê-lo ou não.”
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1. Tourinho Filho – o instituto não mais existe por sua incompatibilidade com o texto constitucional, o que foi
ratificado pela lei 12.403/11.

2. Nucci – quanto à legitimidade para a decretação, de fato, em regra, não mais existe prisão administrativa.
Estado de defesa, sítio, (autoridades não jurídicas decretam a prisão) flagrante e transgressão militar. Vale
lembrar que no aspecto da finalidade (teologia) ainda subsiste em situações pontuais, como ocorre no estatuto
do estrangeiro. (art. 81 da lei 6815/1980, alterado pela lei 12.878/2013, que entrou em vigor no dia 04/11/13).
Conclusões: a prisão para extradição e a prisão para a expulsão têm finalidade administrativa, mas quem decreta
é o STF. A prisão para deportação também tem finalidade administrativa, mas quem decreta é um juiz federal de
primeiro grau.

*#ATENÇÃO: após a publicação da Nova Lei de Migração, não há mais previsão de obrigatoriedade de prisão
administrativa para fins de extradição de estrangeiro.

d) Prisão com pena (carcer ad pognam): é aquela que decorre do trânsito em julgado da sentença condenatória.
Retribuição estatal ao mal causado pelo crime. Fruto de um título definitivo.

e) Prisão sem pena (carcer ad custodiam): é aquela admitida antes do trânsito em julgado, ou seja, no curso do
inquérito ou no curso do processo.

Obs.1: expressões sinônimas – prisão cautelar, prisão processual e prisão provisória.


Obs.2: espécies: a) flagrante; b) preventiva; c) temporária.
Obs.3: filtro da reforma: Com o advento da lei 11.689/08 e da Lei 11.719/08, os maus antecedentes ou a
reincidência não mais são enquadrados como fundamento de prisão cautelar e o juiz, ao proferir a pronúncia, ou
a sentença condenatória deve adotar as seguintes posturas:
• 1º. se o réu já estava preso, deve o juiz justificar o porquê da manutenção da prisão;
• 2º. se o réu já estava preso, deve o juiz dizer porque não cabe liberdade provisória;
• 3ª. Se o réu estava solto, só poderá ser preso se presentes da prisão preventiva (arts. 312 e 313 CPP).

#CONCLUSÃO: Logo, estão revogadas a prisão decorrente de pronúncia e decorrente de sentença condenatória
recorrível.
Obs. Compatibilidade com o princípio da presunção de inocência. Para o STF, sempre se entendeu que a
presunção de inocência se dilatava até o trânsito em julgado da sentença condenatória e, antes desse marco, o
cárcere só era cabível se presentes os requisitos. Desdobramento interpretativo: Execução provisória – segundo o
STF, nas súmulas 716 e 717, o preso cautelar pode usufruir dos benefícios da lei de execução penal, desde que
presentes os seguintes requisitos: I. Sentença condenatória proferida; II. Preclusão para a acusação. Situação
diversa acontece no mensalão, (AP 470, STF), no qual o STF autorizou a imediata execução da pena de parcela da
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decisão não amparada pelos embargos infringentes e que, portanto, já é imodificável. Essa decisão do STF mitiga
o seu próprio entendimento anterior, alguns entendendo que mitiga também o princípio da presunção de
inocência.

*ENTENDIMENTOATUAL #AJUDAMARCINHO3 #EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA:

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado da condenação
para que se inicie o cumprimento da pena, é constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de
inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88. Assim, é proibida a chamada “execução provisória da pena”. Vale
ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os
recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente
fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva
previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas
cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF
e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019 (Info 958). #IMPORTANTE
#MUDANÇADENTENDIMENTO

Evolução da jurisprudência:
Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso
sem efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena?
1ª Período Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução
provisória da pena.
Até fev/2009: Desse modo, se o réu estivesse condenado e interpusesse recurso especial
ou recurso extraordinário, teria que iniciar o cumprimento provisório da
SIM pena enquanto aguardava o julgamento.
Os recursos extraordinário e especial são recebidos no efeito devolutivo.
É possível a Assim, exauridas estão as instâncias ordinárias criminais é possível que o
execução provisória órgão julgador de segundo grau expeça mandado de prisão contra o réu
da pena (STF. Plenário. HC 68726, Rel. Min. Néri da Silveira, julgado em 28/06/1991).
2ª Período No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau),
mudou de posição e passou a entender que não era possível a execução
De fev/2009 a provisória da pena.
fev/2016: Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE
preso, mas desde que estivessem previstos os pressupostos necessários
NÃO para a prisão preventiva (art. 312 do CPP).
Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente)
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Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/stf-decide-que-o-cumprimento-da-pena.html
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e não como execução provisória da pena.
Principais argumentos:
• A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser
decretada a título cautelar.
NÃO é possível a
• A execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação
execução provisória
significa restrição do direito de defesa.
da pena
• A antecipação da execução penal é incompatível com o texto da
Constituição.
Esse entendimento durou até fevereiro de 2016.
3º Período: No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki),
retornou para a sua primeira posição e voltou a dizer que era possível a
De fev/2016 a execução provisória da pena.
nov/2019: Principais argumentos:
• É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de
SIM acórdão condenatório em 2º grau e isso não ofende o princípio
constitucional da presunção da inocência.
É possível a • O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem efeito
execução provisória suspensivo (art. 637 do CPP). Isso significa que, mesmo a parte tendo
da pena interposto algum desses recursos, a decisão recorrida continua produzindo
efeitos. Logo, é possível a execução provisória da decisão recorrida
enquanto se aguarda o julgamento do recurso.
• Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em 2º grau, deve-se
presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o
princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão
de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e provas, mas
apenas matéria de direito.
• É possível o estabelecimento de determinados limites ao princípio da
presunção de não culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não
impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório
produza efeitos contra o acusado.
• A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária
não compromete o núcleo essencial do pressuposto da não culpabilidade,
desde que o acusado tenha sido tratado como inocente no curso de todo o
processo ordinário criminal, observados os direitos e as garantias a ele
inerentes, bem como respeitadas as regras probatórias e o modelo
acusatório atual.
• É necessário equilibrar o princípio da presunção de inocência com a
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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efetividade da função jurisdicional penal. Neste equilíbrio, deve-se atender
não apenas os interesses dos acusados, como também da sociedade, diante
da realidade do intrincado e complexo sistema de justiça criminal brasileiro.
• “Em país nenhum do mundo, depois de observado o duplo grau de
jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa aguardando
referendo da Suprema Corte”.
4º Período: No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco
Aurélio), retornou para a sua segunda posição e afirmou que o
Entendimento atual: cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos
os recursos.
NÃO Assim, é proibida a execução provisória da pena.
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em
NÃO é possível a julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso,
execução provisória é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente
da pena fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os
requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP.
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas
cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena.
Principais argumentos:
• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que
“ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita
e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação
ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”.
Esse artigo é plenamente compatível com a Constituição em vigor.
*Obs. Com o pacote anticrime esse artigo ficou assim: Art. 283. Ninguém
poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em
julgado
• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de
interpretação.
• É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de
inocência pode obstruir as atividades investigatórias e persecutórias do
Estado. A repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem
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jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos investigados.
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos
nem o Poder Judiciário embasar suas decisões no clamor público.

*#CUIDADO: Os réus que estavam presos por força da execução provisória da pena deverão ser soltos com essa
nova decisão?
Deverá ser analisada a situação individual de cada um desses réus. Se eles estavam presos unicamente por força
da execução provisória da pena, é provável que sejam soltos. Se eles estavam presos porque presentes os
requisitos da prisão cautelar (art. 312 do CPP), a decisão do STF não altera a sua situação. Por isso, os Tribunais
deverão analisar cada um dos casos.

A nova decisão do STF é vinculante?


SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a constitucionalidade do art. 283 do CPP:
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso
da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.

Apesar de haver certa divergência doutrinária, prevalece que as decisões proferidas pelo STF em ação
declaratória de constitucionalidade possuem efeitos vinculantes e erga omnes.

O cenário acima está consolidado?


Por enquanto, sim. No entanto, não é possível afirmar, com segurança, que irá prevalecer por muito tempo. Isso
porque a decisão do STF foi construída com um placar apertado (6x5). Um dos Ministros que votou pela proibição
da execução provisória da pena foi Celso de Mello. O Ministro Celso de Mello se aposenta em novembro de 2020.
Se o novo Ministro que tomar posse defender a possibilidade da execução provisória da pena, o cenário acima
poderá ser, novamente, alterado.
Por enquanto, contudo, o que foi explicado acima é o que vale.

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Juiz condenou o réu, concedeu a ele o direito de recorrer em
liberdade. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs,
simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o
entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois
de receber os recursos especial e extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o
cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução
provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a
liberdade imediata do condenado. O STF concedeu a ordem, mas não para a liberdade imediata do condenado, e

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sim para que o Tribunal de Justiça analise eventual necessidade de prisão preventiva ou a aplicação de medidas
cautelares diversas. STF. 1ª Turma. HC 175405/PR e HC 176841/SC, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgados em 17/12/2019 (Info 964).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Juiz condenou o réu e negou a ele o direito de recorrer em liberdade
por estarem presentes os requisitos da prisão preventiva. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a
condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão
do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória
da pena. Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e extraordinário, determinou que o
condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição
e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou
habeas corpus pedindo a liberdade imediata do condenado. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente,
atualmente, não cabe execução provisória da pena. No entanto, no caso concreto, o juiz de 1ª instância decretou
a prisão preventiva do acusado e, depois, vedou-lhe o direito de recorrer em liberdade. Além disso, o Tribunal de
Justiça, apesar de ordenar a execução provisória, repetiu a necessidade de garantia da ordem pública. Logo, a
manutenção da prisão não foi apenas por conta da execução provisória da pena. Desse modo, não se pode dizer
que a decisão do Tribunal de Justiça tenha sido teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente
contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus. STF. 1ª
Turma. HC 176723/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
17/12/2019 (Info 964).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Tribunal do Júri condenou o réu. Juiz-Presidente concedeu a ele o
direito de recorrer em liberdade. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão,
o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que
o entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo
depois de receber os recursos especial e extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o
cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução
provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus no STJ pedindo a
liberdade imediata do condenado. O Ministro Relator do STJ, monocraticamente, negou o pedido de liminar. A
defesa impetrou, então habeas corpus para o STF contra essa decisão do Ministro do STJ. Cabe habeas corpus
neste caso? Não. Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do Ministro do STJ.
Aplica-se o raciocínio da súmula 691 do STF. Exceções: a regra acima exposta pode ser afastada em casos
excepcionais, quando a decisão atacada se mostrar teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou
manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas
corpus. No caso concreto, o STF entendeu que havia alguma situação excepcional que poderia justificar a
concessão do habeas corpus de ofício? Não. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente, atualmente, não
cabe execução provisória da pena. Isso foi decidido na ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). No entanto, o caso
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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concreto envolve uma condenação pelo Tribunal do Júri. Existem alguns Ministros do STF que entendem que seria
possível a execução provisória da pena nas condenações do Tribunal do Júri. Isso porque, em razão da soberania
dos vereditos, o Tribunal não pode reexaminar os fatos decididos pelos jurados. A discussão sobre a possibilidade
ou não de execução provisória das condenações do Tribunal do Júri será definida pelo STF no Recurso
Extraordinário 1235340, cujo relator é o Ministro Luís Roberto Barroso e que está previsto para ser julgado ainda
no ano de 2020. Logo, como existe essa possibilidade de o STF adotar a execução provisória nas condenações
envolvendo o Júri, não se pode dizer que a decisão do Tribunal de Justiça tenha sido teratológica, flagrantemente
ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder
de ofício o habeas corpus. STF. 1ª Turma. HC 175808/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Juiz condenou o réu, concedeu a ele o direito de recorrer em
liberdade, mas lhe aplicou uma série de medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP. Em
apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente,
recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no
sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos
especial e extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena. Ocorre
que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada
em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata do condenado. O STF
concedeu a ordem, mas não para a liberdade imediata do condenado, e sim para que o Tribunal de Justiça analise
eventual necessidade de prisão preventiva ou a aplicação de medidas cautelares diversas. STF. 1ª Turma. HC
174875/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/12/2019 (Info
962).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Não é possível a execução provisória da pena mesmo em caso de
condenações pelo Tribunal do Júri. STF. 2ª Turma. HC 163814 ED/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
19/11/2019 (Info 960). Obs: existe decisão da 1ª Turma em sentido contrário, ou seja, afirmando que “a prisão de
réu condenado por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o princípio constitucional da
presunção de inocência ou não-culpabilidade.” (STF. 1ª Turma. HC 118770, Relator p/ Acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 07/03/2017). Vale ressaltar, contudo, que essa decisão da 1ª Turma foi tomada antes do
resultado das ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, julgadas em 7/11/2019. #IMPORTANTE

*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF Ao julgar as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54, em


7/11/2019, o Plenário do STF firmou o entendimento de que não cabe a execução provisória da pena. A 1ª Turma
do STF aplicou esse entendimento em um caso concreto no qual o réu estava preso unicamente pelo fato de o
Tribunal de Justiça ter confirmado a sua condenação em 1ª instância, não tendo havido, contudo, ainda, o
trânsito em julgado. Logo, o STF, afastando a possibilidade de execução provisória da pena, concedeu a liberdade
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ao condenado até que haja o esgotamento de todos os recursos. STF. 1ª Turma. HC 169727/RS, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 26/11/2019 (Info 961).

4. PRISÃO EM FLAGRANTE

4.1.Conceito

Em um conceito estático ou etimológico, que remonta à origem da expressão, o flagrante nada mais é do que
uma característica do delito, que ainda queima, em razão do seu pronto acontecimento. A palavra flagrante vem
do latim flagrare, que é uma corruptela de flagras, que significa arder, queimar.

Em um conceito mais dinâmico, flagrante é ferramenta constitucionalmente assegurada e que funciona para a
autopreservação social, autorizando a captura daquele que é surpreendido praticando um delito, trazendo assim
as seguintes finalidades:
i) Evitar a fuga;
ii) Evitar a consumação do crime;
iii) Levantar elementos indiciários que viabilizem a futura deflagração do processo.

4.2.Natureza Jurídica

 1ª posição: o flagrante teria natureza cautelar (entendimento prevalente);

 2ª Posição (Aury Lopes Júnior): a prisão em flagrante é precautelar, visto que as medidas cautelares
objetivam assegurar a utilidade do procedimento criminal principal. No caso do flagrante, ainda não existe
nem inquérito e nem processo, a persecução penal não iniciou. A tutela do flagrante é social e não
procedimental. Quando o flagrante acontece, o cenário é difuso, administrativo. A prisão só se cautelariza se
o magistrado converte o flagrante em prisão preventiva. Para Aury Lopes Júnior, o flagrante é uma medida
precautelar, de viés, nitidamente, administrativo e de proteção social. A medida se cautelariza com a sua
conversão em prisão preventiva.
 *Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Prisão em flagrante “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
Art. 283. Ninguém poderá ser preso competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de
senão em flagrante delito ou por ordem condenação criminal transitada em julgado.”
escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em
julgado ou, no curso da investigação ou
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do processo, em virtude de prisão
temporária ou prisão preventiva.

Art. 287. Se a infração for Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
inafiançável, a falta de exibição do mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será
mandado não obstará à prisão, e o imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o
preso, em tal caso, será imediatamente mandado, para a realização de audiência de custódia.”
apresentado ao juiz que tiver expedido
o mandado.

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Art. 310. Ao receber o auto de “Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo
prisão em flagrante, o juiz deverá máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da
fundamentadamente: (Redação prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a
dada pela Lei nº 12.403, de 2011). presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da
I - relaxar a prisão ilegal; Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
2011). § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
II - converter a prisão em flagrante agente praticou o fato em qualquer das condições constantes
em preventiva, quando presentes os dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848,
requisitos constantes do art. 312 deste de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) (legítima defesa),
Código, e se revelarem inadequadas ou poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade
insuficientes as medidas cautelares provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a
diversas da prisão; ou (Incluído todos os atos processuais, sob pena de revogação.
pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
III - conceder liberdade provisória, organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
com ou sem fiança. (Incluído pela fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
Lei nº 12.403, de 2011). ou sem medidas cautelares.
Parágrafo único. Se o juiz § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
verificar, pelo auto de prisão em realização da audiência de custódia no prazo estabelecido
flagrante, que o agente praticou o fato no caput deste artigo (24 horas após recebimento do auto de
nas condições constantes dos incisos I a prisão em flagrante) responderá administrativa, civil e penalmente
III do caput do art. 23 do Decreto-Lei pela omissão.
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do
Código Penal, poderá, prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
fundamentadamente, conceder ao audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
acusado liberdade provisória, mediante ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
termo de comparecimento a todos os sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
atos processuais, sob pena de preventiva.” (NR)
revogação. (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

*#ATENÇÃO Nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade 6298,


6299, 6300 e 6305 o ministro Luiz Fux concedeu Medida Cautelar
para suspender a eficácia do art. 310, §4 do Código de Processo
Penal 310, §4° (Inconstitucionalidade material):

“(e1) A ilegalidade da prisão como consequência jurídica para a


não realização da audiência de custódia no prazo de 24 horas fere

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a razoabilidade, uma vez que desconsidera dificuldades práticas
locais de várias regiões do país, bem como dificuldades logísticas
decorrentes de operações policiais de considerável porte. A
categoria aberta “motivação idônea”, que excepciona a ilegalidade
da prisão, é demasiadamente abstrata e não fornece baliza
interpretativa segura para aplicação do dispositivo.”4

ATENÇÃO: Houve mudanças significativas quanto a prisão em flagrante, que agora após 24 (vinte e quatro) horas
após a sua realização, deverá ser feita a audiência de custódia. Ainda, caso seja verificado pelo juiz que o agente é
reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito,
deverá denegar a liberdade provisória.
Há também uma previsão de penalidade administrativa, civil e penal, caso o juiz sem motivação idônea não
realize a audiência de custódia no prazo estabelecido.5
Antes da lei 13.964/19 a audiência de custódia apenas era prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos
(CADH) e no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, e regulada pela Resolução 213/15, e agora, está
prevista e regulada expressamente no CPP. Mas antes a falta de audiência de custódia não ensejava a nulidade da
prisão preventiva, e agora, transcorridas 24 horas após o decurso do prazo, a não realização de audiência de
custódia ensejará a ilegalidade da prisão, devendo ser relaxada, sem prejuízo da imediata decretação de prisão
preventiva.
#ATENÇÃO 2 O projeto proíbe que o juiz conceda liberdade provisória a quem for preso em flagrante se a pessoa
for reincidente, se fizer parte de organização criminosa ou milícia ou se portar arma de fogo de uso restrito. A
negação de liberdade provisória poderá ser com ou sem outras medidas cautelares.

*Audiência de custódia consiste no direito que a pessoa presa em flagrante possui de ser conduzida (levada), sem
demora, à presença de uma autoridade judicial (magistrado) que irá analisar se os direitos fundamentais dessa
pessoa foram respeitados (ex: se não houve tortura), se a prisão em flagrante foi legal e se a prisão cautelar deve
ser decretada ou se o preso poderá receber a liberdade provisória ou medida cautelar diversa da prisão. A
audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que ficou conhecida
como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto 678/92 e ainda não regulamentada
em lei no Brasil. Diante dessa situação, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015 regulamentando a
audiência de custódia no âmbito daquele Tribunal. O STF entendeu que esse Provimento é constitucional porque
não inovou na ordem jurídica, mas apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas normas da
CADH e do CPP. Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da separação dos poderes
porque não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações para os delegados de polícia, mas sim a citada
convenção e o CPP. STF. Plenário. ADI 5240/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/8/2015 (Info 795).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento


da prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta praticada é atípica não faz coisa julgada. Assim, esta
decisão não vincula o titular da ação penal, que poderá oferecer acusação contra o indivíduo narrando os mesmos

4
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI6298.pdf
5
https://jus.com.br/artigos/78653/pacote-anticrime-lei-n-13-964-2019-e-suas-mudancas-no-ambito-penal-e-processual-penal
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fatos e o juiz poderá receber essa denúncia. STF. 1ª Turma. HC 157.306/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
25/9/2018 (Info 917).

*#DEOLHONAJURIS #STJ #IMPORTANTE A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva


cumprido fora do âmbito territorial da jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da
condução do preso à autoridade judicial competente na localidade em que ocorreu a prisão. Não se admite, por
ausência de previsão legal, a sua realização por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a
custódia cautelar. STJ. 3ª Seção. CC 168.522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2019 (Info 663).

ALGUNS ASPECTOS SOBRE A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

Se for preso com foro privativo No caso de prisão em flagrante delito da competência originária de Tribunal, a
apresentação do preso poderá ser feita a um juiz que o Presidente do Tribunal ou Relator designar para esse fim.

Se o preso estiver internado ou impossibilitado de comparecer Estando a pessoa presa acometida de grave
enfermidade, ou havendo circunstância comprovadamente excepcional que a impossibilite de ser apresentada ao
juiz no prazo do caput, deverá ser assegurada a realização da audiência no local em que ela se encontre e, nos
casos em que o deslocamento se mostre inviável, deverá ser providenciada a condução para a audiência de
custódia imediatamente após restabelecida sua condição de saúde ou de apresentação.

Se não tiver juiz na comarca Se, por qualquer motivo, não houver juiz na comarca, a pessoa presa será levada
imediatamente ao substituto legal.

Quem participa da audiência A audiência de custódia será realizada na presença do Ministério Público e da
Defensoria Pública, caso a pessoa detida não possua defensor constituído. É vedada a presença dos agentes
policiais responsáveis pela prisão ou pela investigação durante a audiência de custódia (IMPORTANTE).

(Cespe – Defensor Público – DPE – DF/2019 – adaptada) Na audiência de custódia, caso não tenha advogado
particular, o preso poderá contar com a assistência de defensor público, que acompanhará o ato na presença do
juiz, do promotor de justiça, do secretário de audiência e dos policiais que promoveram a prisão. (ERRADO)

Se a pessoa presa em flagrante delito constituir advogado até o término da lavratura do auto de prisão em
flagrante, o Delegado de polícia deverá notificá-lo, pelos meios mais comuns, tais como correio eletrônico,
telefone ou mensagem de texto, para que compareça à audiência de custódia.

Direito à conversa reservada antes de começar a audiência: Antes da apresentação da pessoa presa ao juiz, será
assegurado seu atendimento prévio e reservado por advogado por ela constituído ou defensor público, sem a
presença de agentes policiais. Deve ser reservado local apropriado para garantir a confidencialidade do
atendimento prévio com advogado ou defensor público.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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O que o juiz deverá perguntar e fazer durante a audiência: Na audiência de custódia, a autoridade judicial
entrevistará a pessoa presa em flagrante, devendo: 1) esclarecer o que é a audiência de custódia, ressaltando as
questões a serem analisadas pela autoridade judicial; 2) assegurar que a pessoa presa não esteja algemada, salvo
em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, devendo a
excepcionalidade ser justificada por escrito; 3) dar ciência sobre seu direito de permanecer em silêncio; 4)
questionar se lhe foi dada ciência e efetiva oportunidade de exercício dos direitos constitucionais inerentes à sua
condição, particularmente o direito de consultar-se com advogado ou defensor público, o de ser atendido por
médico e o de comunicar-se com seus familiares; 5) indagar sobre as circunstâncias de sua prisão ou apreensão;
6) perguntar sobre o tratamento recebido em todos os locais por onde passou antes da apresentação à audiência,
questionando sobre a ocorrência de tortura e maus tratos e adotando as providências cabíveis; 7) verificar se
houve a realização de exame de corpo de delito, determinando sua realização nos casos em que: a) não tiver sido
realizado; b) os registros se mostrarem insuficientes; c) a alegação de tortura e maus tratos referir-se a momento
posterior ao exame realizado; d) o exame tiver sido realizado na presença de agente policial; 8) abster-se de
formular perguntas com finalidade de produzir prova para a investigação ou ação penal relativas aos fatos objeto
do auto de prisão em flagrante;

4.3.Modalidades de Flagrante

Só se admite o flagrante havendo enquadramento típico (hipótese subsumida a uma circunstância fática
normativa).

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da
infração.

a) Flagrante Próprio (real, propriamente dito, perfeito ou verdadeiro): Está em flagrante próprio quem é
capturado cometendo a infração. Nesse caso, o agente está na ascendência delitiva, praticando os atos
executórios no momento da captura (art. 302, I, CPP). Ocorre também o flagrante próprio quando o agente é
capturado ao acabar de cometer a infração. Nesse caso, os atos executórios já se encerram, mas o agente
não conseguiu se desvencilhar do local do crime – locus delicti (art. 302, II, CPP). EXECUTANDO OU NO
LOCAL.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


20
b) Flagrante Impróprio (irreal, quase flagrante): Nele o agente é perseguido logo após a prática da infração e,
havendo êxito, ele será capturado em situação que faça presumir ser ele o responsável.

Obs. Conceito de perseguição: estamos em perseguição quando vamos ao encalço do agente porque temos
informação própria de que ele partiu em determinada direção ou porque a informação foi fornecida por um
terceiro (art. 250 e 290 do CPP).

Obs. Fator temporal: o logo após é compreendido como tempo necessário para a autoridade tomar
conhecimento do fato, chegar ao local e deflagrar a perseguição. Para o STJ se a vítima é vulnerável o logo após
compreende também o tempo para que o representante legal tome conhecimento do fato (STJ HC 3496).

Obs. Requisito de validade da perseguição: O legislador não exigiu um contato visual nem um prazo definido para
a perseguição. Para que ela seja válida é necessário que ela seja contínua. Se ela for interrompida, não caberá
mais prisão em flagrante. No RJ três traficantes do comando vermelho ingressaram no Jardim Botânico e a polícia
passou três dias para encontrá-los. Não houve contato visual, mas a perseguição foi contínua. Dure o tempo que
durar. (art. 302, III, CPP).

Obs. Invasão domiciliar – para Nucci só pode ser invadida se for flagrante próprio (se a cada é o local o crime) –
essa posição já foi exigida em prova objetiva. Para Guilherme Nucci a invasão domiciliar disciplinada no art. 5, XI,
da CF pressupõe interpretação restrita sendo admitida nas hipóteses de flagrante próprio. Segunda posição: para
o STJ, a invasão domiciliar é admitida nas diversas hipóteses de flagrante (RHC 21326). PERSEGUIÇÃO.

c) Flagrante presumido/ficto/assimilado: nele o agente é encontrado logo depois da prática do delito com
objetos, armas ou papeis que façam presumir que é ele o responsável (art. 302, IV CPP). É a prisão que
sobrelevou o fator sorte. Também já foi chamado de feliz encontro.
ADVERTÊNCIA: evolução temporal – Para Fauzi Hassan estamos seguindo uma escala progressiva de tempo,
já que o flagrante próprio revela imediatidade, o impróprio comporta um tempo um pouco maior para iniciar
a perseguição (logo após) e o flagrante presumido comporta um lapso ainda maior para encontrar o agente
(logo depois).

d) Flagrante obrigatório ou compulsório. É aquele aplicado às forças policiais, caracterizando o estrito


cumprimento do dever legal (art. 301 CPP). Os integrantes da polícia mesmo de folga tem essa obrigação?
Segundo Nucci e a ACADEPOL, a obrigação subsiste mesmo fora de serviço, em razão do porte de arma.

e) Flagrante facultativo: por qualquer do povo. Art. 301 CPP. OBS. A atuação do particular se aplica tanto ao
próprio, quanto ao impróprio e ao presumido, não há limitação prévia (art. 301, CPP). Art. 301. Qualquer do

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


21
povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito.

f) Flagrante esperado. Criação doutrinária - Mirabete. Ele é uma hipótese válida de flagrante, em que pese não
estar disciplinado no código, retratando a atuação da polícia que se antecipa à atividade criminosa, fazendo
campana (leia tocaia) e aguardando a prática para que se efetive a captura.

Conclusão: percebe-se que se a espera for exitosa, a situação jurídica acaba sendo acobertada pelo flagrante
próprio, já que o individuo após a campana, é capturado executando o crime. Por outro lado, em nenhum
momento a polícia estimulou a prática delituosa.

g) Flagrante Forjado: A pessoa é presa, mas não quer praticar o crime, não compreende o que está
acontecendo, não tem dolo de delinquir, está sendo presa como expressão do arbítrio. Essa prisão deve ser
relaxada. Quem responde por crime é o agente forjador (responde por denunciação caluniosa ou abuso de
autoridade se for funcionário público). É aquele que envolve a prisão de uma pessoa inocente e que não
tinha domínio cognitivo da situação, pois em nenhum momento desejava delinquir. Essa prisão é
manifestamente ilegal, devendo ser relaxada (art. 310, I, CPP e art. 5º, LXV, CF). Nesse caso, a
responsabilidade criminal é do agente forjador que responderá por denunciação caluniosa, sem prejuízo de
eventual abuso de autoridade em sendo funcionário público. Art. 310. Ao receber o auto de prisão em
flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: I - relaxar a prisão ilegal.

h) Flagrante Preparado (provocado, delito de ensaio, delito putativo, imaginado por obra do agente
provocador): Estimula-se a prática criminosa, mas prende o indivíduo no clímax da ação criminosa. Para o
STF, na súmula 145, não se pode estimular a prática de um delito na esperança de se capturar as pessoas
seduzidas, já que os fins não justificam os meios. Nesse caso, não só a prisão é ilegal, como o fato praticado é
atípico, pois caracteriza crime impossível (Art. 17 CP), por absoluta ineficácia do meio. A situação de
preparação pode se originar no Estado ou de uma pessoa comum do povo. Crítica: Para Eugênio Pacceli a
súmula do STF é frágil já que a consumação ou não do crime, dependerá, na verdade, do êxito da captura.
Tira a policia de lá para ver se não se consuma. Ele está certo, mas em prova objetiva prevalece a posição do
STF.

Obs. Tráfico de drogas – se o traficante já tem a droga estocada consigo ou em depósito quando é abordado
por policial disfarçado de usuário, devemos reconhecer que a prisão é legal, pois a consumação do tráfico era
preexistente à provocação.

Obs. Quadro comparativo


ESPERADO FORJADO PREPARADO

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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Agente quer delinquir Agente não deseja delinquir Agente quer delinquir
Ausência de estímulo policial A polícia fabrica o crime Polícia estimula o delito
Prisão legal Prisão ilegal Prisão ilegal

i) Flagrante postergado, diferido, retardado, estratégico, ação controlada: ele é idealizado para que se
promova a captura em flagrante no momento mais estratégico, para se alcançar uma maior robustez
probatória, uma maior número de infratores e um enquadramento no delito exponencial de uma
determinada facção criminosa. Tratamento específico:

I. O instituto nasceu com o art. 2º, II, da Lei nº 9.034/95 (antiga lei das organizações criminosas) e,
atualmente vem disciplinado no art. 8º, §1º da Lei nº 12.850/2013. E agora na nova lei de crime organizado,
o Delegado deve comunicar (não é pedir) previamente ao juiz que irá retardar o flagrante e o magistrado
poderá fixar os limites da diligência, ouvido ao Ministério Público – ISSO VAI CAIR!!!. É quase um
requerimento.

II. Tráfico de drogas – nesse caso, o Delegado vai requerer o retardamento do flagrante ao juiz, que vai
deliberar, ouvido o MP. Para tanto é necessário que sejam conhecidos os infratores envolvidos e o provável
itinerário da droga (art. 53, II, da Lei nº 11.343/2006).

III. Na lavagem de capitais, o instituto é também autorizado, pressupondo deliberação judicial. (art. 4º, B, Lei
nº 9.613/98, inserido pela Lei nº 12.683/12).

j) Flagrante por apresentação: A Lei nº 12.403/11 revogou expressamente o art. 317, CPP que disciplinava o
tema, mas era ocioso, pois o raciocínio continua o mesmo, qual seja: quem se apresenta voluntariamente à
polícia não será preso em flagrante por ausência de enquadramento normativo. Todavia, em sendo o caso,
nada impede que o Delegado represente pela prisão preventiva ou pela prisão temporária.

O que seria flagrante fracionado?

R: Flagrante fracionado é o que ocorre nos casos de crime continuado, de acordo com o art. 71 do Código
Penal. Como existem várias infrações independentes, cada uma podendo constituir crime isoladamente, torna-
se possível a prisão em flagrante por cada uma delas, consubstanciando o que a doutrina denomina de crime
fracionado.

4.4.Procedimento

 Esfera Macro
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
23
a) captura: retrata o imediato cerceamento da liberdade. Quem foi capturado já está preso. Para conter o agente
serão empregados os esforços necessários, o que autoriza, inclusive o uso de algemas, para evitar a fuga do
preso, e como instrumento para coibir a agressão a policiais, a terceiros ou a lesão do próprio preso. A algema é
um mal menor para evitar a força letal. Súmula vinculante 11 do STF.

*Não cabe reclamação por uso indevido de algemas se este ocorreu por ordem de autoridade policial - Para o
Min. Marco Aurélio, a SV 11 refere-se apenas a situações em que o emprego abusivo da algema decorre de
decisão judicial, ou seja, no âmbito de um ato processual. Não abrange hipóteses em que seu uso decorreu de ato
administrativo da autoridade policial. Logo, os atos processuais, inclusive o decreto de prisão, não devem ser
anulados. Dessa forma, o referido preso tem o direito de questionar o uso das algemas e até de pedir,
eventualmente, a responsabilização do Estado ou dos agentes envolvidos. Isso, no entanto, terá que ser feito por
meio de ação própria e não por intermédio de reclamação alegando desrespeito à SV. STF. 1ª Turma. Rcl
7116/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/5/2016 (Info 827).

b) condução coercitiva: até a presença da autoridade.


c) Formalização da prisão: se da por meio da lavratura do auto
d) Recolhimento ao estabelecimento prisional, salvo se o indivíduo for admitido prestar fiança e o Delegado tenha
legitimidade para arbitrá-la (art. 322, CPP).

Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de
liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.

ADVERTÊNCIA: Em se tratado de infração de menor potencial ofensivo, a captura e a condução coercitiva são
admitidas, mas a lavratura do auto é substituída pelo TOC (termo circunstanciado de ocorrência) e o agente será
liberado independentemente de fiança. Art. 69, Lei 9.099/95.

 Esfera micro
a) Lavratura do Auto de Flagrante.
Antes da reforma de 2011, houve uma reforma em 2007 e o auto foi redesenhado. O auto era lavrado em
contexto único. Qual o prejuízo? O destacamento da PM ficava de castigo dentro da polícia esperando a lavratura.

O legislador fracionou esse procedimento. As pessoas vão sendo ouvidas em momentos diferentes.

Sujeitos envolvidos:
• Condutor (é aquele que apresenta o preso à autoridade independente de ter sido o responsável pela
captura);
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
24
• Conduzido (preso); testemunhas (a lei fala em testemunhas, logo precisam ser, ao menos, duas);
• Escrivão (na falta ou impedimento do escrivão, será nomeado escrivão ad hoc);
• Autoridade responsável por presidir a lavratura do auto (Delegado). O Delegado que preside a lavratura
do auto é o que atua do local da captura para que depois o preso seja conduzido para localidade onde o
crime se consumou. Se o local não tem Delegado, o auto vai ser lavrado na localidade mais próxima. A
atribuição é estabelecida pelo local da captura e o auto será remetido ao juiz competente para o processo.
Se na localidade não tem Delegado, o auto é lavrado na localidade mais próxima.

Outras autoridades têm atribuição para presidir a lavratura do auto. Para que outra autoridade presida é
necessário que haja pertinência temática: que o crime seja praticado contra ela ou na presença dela,
desde que no exercício das suas funções. Contudo, não é qualquer autoridade que tem essa prerrogativa.

 Outras autoridades poderão presidir a lavratura do auto flagrancial, desde que exista pertinência
temática. Vale dizer, é necessário que o delito seja praticado contra a autoridade ou na sua presença
durante o desempenho funcional. Quem seriam essas autoridades?
i. Juiz: à luz da análise do art. 307, CPP (exemplo: crime de falso testemunho com sentença proferida
em audiência). Cabe uma crítica por ofensa ao sistema acusatório.
ii. No cenário físico do Congresso Nacional, é possível que as mesas das Casas Legislativas procedam a
investigação e patrocinem a lavratura de auto de flagrante. Em consonância com a Súmula 397, STF,
as mesas das Casas Legislativas poderão presidir a investigação e patrocinar o flagrante nos delitos
ocorridos no âmbito do Congresso Nacional.
iii. Ministério Público: com a sinalização do STF e do STJ de que o Ministério Público pode promover
investigação (PIC), poderá também lavrar o auto flagrancial.
Uma parcela considerável da doutrina entende que o Ministério Público pode presidir a lavratura do auto
por interpretação extensiva do art. 307, CPP, pois quem pode o mais (investigar), poderá o menos
(presidir a lavratura do auto). Para HeraclitoMossin, o Ministério Público não poderá presidir a lavratura,
já que esta não é a sua atribuição primária, interpretando-se restritivamente o art. 307, CPP.

Estrutura Procedimental:
a) Oitiva do condutor: as declarações serão reduzidas a termo e será colhida a sua assinatura.
Recibo de entrega do preso – cabe ao Delegado emitir um recibo atestando que o preso lhe foi entregue e
em que condições. Mesmo sem previsão legal, nada impede que o preso seja submetido a exame de
corpo de delito.

b) Oitiva das testemunhas (no mínimo duas): as testemunhas tem conhecimento do fato delituoso e da
captura. As declarações prestadas serão reduzidas a termo e será colhida a respectiva assinatura. Após
isso, a testemunha será liberada.
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Havendo apenas uma testemunha do fato, o condutor poderá funcionar como segunda testemunha
(entendimento doutrinário prevalente).

Se não existe nenhuma testemunha do fato criminoso, a lavratura do auto de prisão em flagrante estará
prejudicada? Nesse caso, o Delegado lavrará o auto utilizando duas testemunhas que nada sabem do
fato, não tem conhecimento cognitivo do fato delituoso, mas vão declarar apenas que presenciaram a
apresentação do preso a autoridade policial. Essas testemunhas que nada sabem do fato são chamadas
de instrumentais/instrumentárias ou testemunhas de apresentação.

As testemunhas podem ser policiais? O STJ parte da premissa de que a testemunha não é escolhida pela
autoridade, sim pelo destino. O simples fato de o indivíduo ser policial não o impede de figurar como
testemunha.

c) Oitiva do conduzido: o preso será ouvido e as declarações que ele presta serão reduzidas a termo e será
colhida a sua assinatura.

Garantias: o conduzido será informado do seu direito constitucional ao silêncio e deve ser assegurada a
assistência. O direito de assistência será caracterizado como o telefonema, o direito de comunicar a
alguém da família ou da sua confiança de que foi preso. A presença do advogado não foi eleita como
garantia do preso no momento da lavratura do auto de prisão em flagrante. Será assegurado ao indivíduo
o direito ao silêncio, assim como o direito de assistência, que nada mais é do que a comunicação a alguém
de sua confiança que a prisão ocorreu. Se o advogado chegar a tempo, ele acompanha a oitiva, caso
contrário ela ocorre sem ele.

Assinatura: se o agente não pode, não sabe ou não quer assinar, esta omissão é suprida com a utilização
de duas testemunhas que também são instrumentais/instrumentárias.

d) Desfecho: cabe ao Delegado diante dos termos de declaração identificar se o crime ocorreu; se o
capturado é o responsável; se a captura aconteceu dentro da lei, pois em caso positivo determinará a
lavratura do auto.

Em caso negativo, subsistem duas posições interpretativas, quais sejam:


i. Para Guilherme Nucci, em caso negativo o capturado será liberado, o que significa que o Delegado
estará relaxando o flagrante, já que a prisão existe desde a captura. Como consequência pode ser
elaborado um mero boletim de ocorrência ou instaurado inquérito se houve crime, sem prejuízo da
representação pela preventiva ou pela temporária se for o caso;
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ii. Para Fernando Capez, na verdade o Delegado estaria exercendo um juízo negativo de admissibilidade
do flagrante que só estaria concretizado após a lavratura do auto e o recolhimento a cadeia. Logo,
não haveria propriamente relaxamento da prisão pelo Delegado.

Observação: o nosso Código de Processo Penal não provisionou a oitiva da vítima na lavratura do auto em
flagrante. Em que pese a omissão da lei, recomenda-se a oitiva da vítima antes das testemunhas.

Em 24 horas, contadas da prisão (captura), o Delegado possui as seguintes obrigações a cumprir:

Remeter o auto ao juiz, o que nos faz concluir que o auto será lavrado no máximo em 24 horas. Nesse mesmo
prazo, e por força da Lei nº 12.403/2011, a prisão também será comunicada ao membro do Ministério Público;
*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Art. 310. Ao receber o auto de “Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo
prisão em flagrante, o juiz deverá máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da
fundamentadamente: (Redação prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a
dada pela Lei nº 12.403, de 2011). presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da
I - relaxar a prisão ilegal; Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
2011). § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
II - converter a prisão em flagrante agente praticou o fato em qualquer das condições constantes
em preventiva, quando presentes os dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848,
requisitos constantes do art. 312 deste de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) (legítima defesa),
Código, e se revelarem inadequadas ou poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade
insuficientes as medidas cautelares provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a
diversas da prisão; ou (Incluído todos os atos processuais, sob pena de revogação.
pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
III - conceder liberdade provisória, organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
com ou sem fiança. (Incluído pela fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
Lei nº 12.403, de 2011). ou sem medidas cautelares.
Parágrafo único. Se o juiz § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
verificar, pelo auto de prisão em realização da audiência de custódia no prazo estabelecido
flagrante, que o agente praticou o fato no caput deste artigo (24 horas após recebimento do auto de
nas condições constantes dos incisos I a prisão em flagrante) responderá administrativa, civil e penalmente
III do caput do art. 23 do Decreto-Lei pela omissão.
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do
Código Penal, poderá, prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
fundamentadamente, conceder ao audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
acusado liberdade provisória, mediante ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
termo de comparecimento a todos os sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
atos processuais, sob pena de preventiva.” (NR)
revogação. (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

ATENÇÃO: Houve mudanças significativas quanto a prisão em flagrante, que agora após 24 (vinte e quatro) horas
após a sua realização, deverá ser feita a audiência de custódia. Ainda, caso seja verificado pelo juiz que o agente é

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reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito,
deverá denegar a liberdade provisória.
Há também uma previsão de penalidade administrativa, civil e penal, caso o juiz sem motivação idônea não
realize a audiência de custódia no prazo estabelecido.6
Antes da lei 13.964/19 a audiência de custódia apenas era prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos
(CADH) e no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, e regulada pela Resolução 213/15, e agora, está
prevista e regulada expressamente no CPP. Mas antes a falta de audiência de custódia não ensejava a nulidade da
prisão preventiva, e agora, transcorridas 24 horas após o decurso do prazo, a não realização de audiência de
custódia ensejará a ilegalidade da prisão, devendo ser relaxada, sem prejuízo da imediata decretação de prisão
preventiva.
#ATENÇÃO O projeto proíbe que o juiz conceda liberdade provisória a quem for preso em flagrante se a pessoa
for reincidente, se fizer parte de organização criminosa ou milícia ou se portar arma de fogo de uso restrito. A
negação de liberdade provisória poderá ser com ou sem outras medidas cautelares.

O juiz pode entender que a prisão efetivada foi ilegal, cabendo-lhe relaxar. Segundo Tourinho Filho, o
relaxamento nada mais é do que a libertação incondicional de quem foi preso ilegalmente (art. 5º, LXV, CF c/c art.
310, I, CPP). Se a prisão for legal, o juiz vai homologar o auto. Para que a pessoa permaneça presa, é necessário
que o juiz converta o flagrante em prisão preventiva ou temporária. A conversão vai acontecer se o Delegado
representar pela conversão ou se o Ministério Público o requerer.

#ATENÇÃO: Não cabe prisão de ofício na fase de investigação, por isso a conversão pressupõe provocação.
Se o juiz entender que a manutenção do cárcere é necessária, converterá o flagrante em preventiva ou
temporária, desde que os requisitos legais do cárcere estejam presentes e exista provocação nesse sentido. Se
entender que a prisão não é necessária, concederá ao agente liberdade provisória, que poderá estar cumulada
com as medidas cautelares do art. 319, CPP. Segundo Frederico Marques, a liberdade provisória é a contracautela
de resistência à prisão legal, que permite a libertação do flagranteado, normalmente cumulando com uma série
de obrigações chamadas de medidas cautelares não prisionais (art. 319, CPP).

Modalidades de Liberdade Provisória (art. 5º, LXVI, CF; art. 310, CPP)

Liberdade provisória sem fiança:


 Hipóteses de Cabimento

Tem direito ao instituto o agente que atuou amparado por eventual excludente de ilicitude, da parte geral (art.
23, CP) ou especial do Código. O projeto de lei nº 156 (novo CPP) permitirá que o próprio delegado liberte o
agente ao detectar a excludente de ilicitude.

A doutrina entende que também se aplica a mesma lógica para as causas excludentes de culpabilidade, exceto a
inimputabilidade. A nossa doutrina (Paulo Rangel), mesmo sem previsão legal, inclui as excludentes de
6
https://jus.com.br/artigos/78653/pacote-anticrime-lei-n-13-964-2019-e-suas-mudancas-no-ambito-penal-e-processual-penal
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culpabilidade (salvo a inimputabilidade), e as causas obstativas da punibilidade como fundamento para concessão
da liberdade provisória.

Obrigações: o agente será compromissado a comparecer a todos os atos da persecução para os quais for
convocado e, além disso, pode o juiz impor as medidas do art. 319, CPP.

Se o agente não preenche os requisitos da prisão preventiva será libertado, usufruindo da liberdade provisória.

Obrigações: nesse caso, poderá o juiz aplicar as medidas cautelares do art. 319, CPP.

Restrições: atualmente, o STF e o STJ construíram uma posição vanguardista quanto ao cabimento da liberdade
sem fiança, afinal crimes extremamente graves, considerados como inafiançáveis admitem o instituto,
destacando-se: crimes hediondos (art. 5º, XLIII, CF; art. 2º, II, da Lei nº 8.072/90 foi derrogado), crimes
equiparados a hediondos (tortura, tráfico de drogas, terrorismo), racismo (art. 5º, XLII, CF) e ação de grupos
armados civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado Democrático de Direito (art. 5º, XLIV, CF).

O STF declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do art. 44 da Lei de Tóxicos, derrubando a vedação a


liberdade sem fiança (STF HC 104.339).

Segunda a postura final do delegado, se o preso não possui advogado nas mesmas 24 horas, uma cópia do auto
será encaminhada a Defensoria Pública (§1º, art. 306, CPP). Nas mesmas 24 horas será entregue ao preso a nota
de culpa, como uma breve declaração contendo os motivos da prisão, os responsáveis e a indicação das eventuais
testemunhas (§2º, art. 306, CPP).

A adoção das três posturas imprime escopo de legalidade ao procedimento flagrancial.

#ATENÇÃO O PACOTEANTICRIME proíbe que o juiz conceda liberdade provisória a quem for preso em flagrante
se a pessoa for reincidente, se fizer parte de organização criminosa ou milícia ou se portar arma de fogo de uso
restrito. A negação de liberdade provisória poderá ser com ou sem outras medidas cautelares.

Flagrantes nas diversas modalidades de infração

O flagrante ordinariamente é admitido para todo tipo de infração.

Situações especiais:

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a. Crimes permanentes: nesse caso, a prisão em flagrante é admitida a qualquer tempo enquanto
perdurar a permanência, admitindo-se, inclusive, a invasão domiciliar (art. 5º, XI, CF c/c art. 303,
CPP). Atenção: analisar a natureza do crime (exemplo: estocagem de drogas).

b. Crimes de ação privada e de ação pública condicionada: nessas infrações o flagrante é admitido,
mas a lavratura do auto depende de manifestação de vontade do legítimo interessado. Para
Polastri Lima (MPRJ) se a vítima está impossibilitada de comparecer imediatamente na delegacia
admite-se que ela o faça no prazo da nota de culpa.

c. Crimes habituais: não se admite prisão em flagrante em crime habitual, pois no momento do
flagrante a autoridade estará apenas visualizando uma conduta isolada, não tendo condições de
atestar a habitualidade do fato e a própria tipicidade do crime. Crimes habituais são aqueles que
revelam um modo de vida do agente e para que exista tipicidade é necessário que a conduta seja
reiterada (exemplo: exercício ilegal da medicina, art. 282, CP). Para a doutrina amplamente
prevalente não caberá flagrante em crime habitual pela impossibilidade de constatação no
momento do flagra da existência de habitualidade. Mirabete, defendendo que a polícia deveria
primeiro aferir a habitualidade para depois capturar, assume a posição contrária, isolada.

d. Crimes formais: o flagrante tem cabimento no momento da realização da conduta delituosa e não
quando do exaurimento do crime.

e. Infrações de menor potencial ofensivo: admite-se a captura e condução coercitiva, mas a


lavratura do auto foi substituída pela mera confecção do TCO (art. 69, Lei nº 9.099/95). Para Luiz
Flávio Gomes, em posição prevalente, mesmo nas infrações de menor potencial ofensivo, a
residência pode ser invadida para que se promova a captura e a consequente condução coercitiva
com a devida adequação ao art. 5º, XI, CF.

Prisão Preventiva:

É a prisão cautelar cabível durante toda a persecução penal (pode acontecer na fase investigativa ou processual).
Havendo urgência, a preventiva pode ser decretada mesmo antes da instauração formal do inquérito. NÃO pode
mais ser decretada pelo juiz exofficio na fase processual, apenas por provocação. A reforma processual de 2011
refreou a atividade do juiz, não admitindo a decretação de ofício durante o inquérito policial, em respeito ao
sistema acusatório. E o pacote anticrime vedou sai conversão de ofício no processo também.
*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Prisão preventiva “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do


processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo
juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou
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Art. 311. Em qualquer fase da do assistente, ou por representação da autoridade policial.”
investigação policial ou do processo
penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, se no
curso da ação penal, ou a
requerimento do Ministério Público,
do querelante ou do assistente, ou
por representação da autoridade
policial. (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como


Art. 312. A prisão preventiva garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
poderá ser decretada como garantia conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
da ordem pública, da ordem aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
econômica, por conveniência da crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo
instrução criminal, ou para assegurar estado de liberdade do imputado.
a aplicação da lei penal, quando § 1º ...
houver prova da existência do crime § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser
e indício suficiente de motivada e fundamentada em receio de perigo e existência
autoria. (Redação dada pela Lei concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem
nº 12.403, de 2011). a aplicação da medida adotada.” (NR)
Parágrafo único. A prisão
preventiva também poderá ser
decretada em caso de
descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de
outras medidas cautelares (art. 282,
§ 4o). (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).

Art. 313. Nos termos do art. “Art. 313 ...


312 deste Código, será admitida a § 1º ...
decretação da prisão § 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva
preventiva: (Redação dada com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou
pela Lei nº 12.403, de 2011). como decorrência imediata de investigação criminal ou da
I - nos crimes dolosos punidos apresentação ou recebimento de denúncia.” (NR)
com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).
II - se tiver sido condenado por
outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o
disposto no inciso I do caput do art.
64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código
Penal; (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).
III - se o crime envolver
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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violência doméstica e familiar contra
a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução
das medidas protetivas de
urgência; (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).
IV - (revogado).
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011). (Revogado pela Lei nº
12.403, de 2011).
Parágrafo único. Também será
admitida a prisão preventiva quando
houver dúvida sobre a identidade
civil da pessoa ou quando esta não
fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em
liberdade após a identificação, salvo
se outra hipótese recomendar a
manutenção da
medida. (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).

Art. 315. A decisão que decretar, Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a
substituir ou denegar a prisão prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada.
preventiva será sempre motivada. § 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente
a existência de fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a aplicação da medida adotada.
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato


normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a
questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem


explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer


outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no


processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada
pelo julgador;

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula,


sem identificar seus fundamentos determinantes nem

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


32
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou


precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.”
Art. 316. O juiz poderá revogar a “Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
prisão preventiva se, no correr do revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou
processo, verificar a falta de motivo do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista,
para que subsista, bem como de bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que
novo decretá-la, se sobrevierem a justifiquem.
razões que a justifiquem. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o
órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua
manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.”

Obs. Juiz não poderá mais decretar a prisão preventiva de ofício, mas quando faltar motivo para que subsista ou
quando sobrevierem motivos que a justifique, o juiz poderá, de ofício, revogá-la ou substituí-la, respectivamente.
Um novo requisito para a prisão preventiva foi acrescentado: perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado. Necessidade de revisão da prisão preventiva a cada 90 (noventa) dias, sob pena de se tornar prisão
ilegal.

PRISÃO PREVENTIVA

ANTES DA LEI 13964/19 DEPOIS DA LEI 13964/19

Em qualquer fase da investigação policial ou do Em qualquer fase da investigação policial ou do


processo penal, caberá a PRISÃO PREVENTIVA
processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
decretada pelo juiz, a requerimento do ministério
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial – DE OFÍCIO O
requerimento do Ministério Público, do querelante ou
JUIZ SÓ PODE REVOGAR OU SUBSTITUIR A
do assistente, ou por representação da autoridade PREVENTIVA, ESTANDO VEDADA A DECRETAÇÃO.

policial

A prisão preventiva poderá ser decretada como A prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da
aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria E DE
existência do crime e indício suficiente de autoria. PERIGO GERADO PELO ESTADO DE LIBERDADE DO

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


33
IMPUTADO.

Não será admitida a decretação com a finalidade de


antecipação de cumprimento de pena ou como
decorrência imediata de investigação criminal ou da
apresentação ou recebimento de denúncia

Na motivação da decretação da prisão preventiva ou


de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar
concretamente a existência de fatos novos ou
contemporâneos que justifiquem a aplicação da

medida adotada.

NÃO SE CONSIDERA FUNDAMENTADA QUALQUER


DECISÃO JUDICIAL, seja ela interlocutória, sentença ou

acórdão, que:

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase

de ato normativo, sem explicar sua relação com a

causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados,

sem explicar o motivo concreto de sua incidência no


caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar

qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos

no processo capazes de, em tese, infirmar a

conclusão adotada pelo julgador;

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de

súmula, sem identificar seus fundamentos

determinantes nem demonstrar que o caso sob

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula,

jurisprudência ou precedente invocado pela parte,

sem demonstrar a existência de distinção no caso em

julgamento ou a superação do entendimento.

O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar
a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do
do processo, verificar a falta de motivo para que
processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como de novo decretá-la, se
subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.
sobrevierem razões que a justifiquem.

Decretada, deve-se revisar a necessidade de sua


manutenção a cada 90 dias – DEVER DE REVISÃO DA
NECESSIDADE DA MANUTENÇÃO DA PREVENTIVA A
CADA 90 DIAS!

A prisão preventiva não tem prazo prefixado em lei e devem estar presentes os requisitos do art. 312 e 313 do
CPP.
*#ATENÇÃO
#MODALIDADES DE PRISÃO PREVENTIVA:
1- CAUTELAR AUTÔNOMA - antes de sua decretação não houve prisão = exige a presença dos requisitos do art.
312 e 313.
2- CONVERTIDA DO FLAGRANTE – Antes de sua decretação houve prisão em flagrante = exige a presença dos art.
312 + 313 + incabível outras cautelares diversas da prisão – JUIZ só pode convertê-la mediante REQUERIMENTO
#PACOTEANTICRIME.
3- SUBSTITUTIVA DE MEDIDA CAUTELAR ANTERIOR QUE FOI DESCUMPRIDA – Antes de sua decretação havia sido
imposta uma medida cautelar ( preventiva é a ultima ratio) = exige apenas a presença dos requisitos do art. 312.

#REQUISITOS
Os requisitos previstos no art. 312 deverão estar presentes em toda preventiva:
1- Prova existência do crime
2- Indícios de autoria
3- #LEIANTICRIME: Indício de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado: gravidade concreta!
a) Perigo à ordem pública: Para configurar o risco de reiteração delitiva pode se admitir inquéritos em
andamento, e atos infracionais.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
35
b) Perigo à ordem econômica;
c) Instrução Processual;
d) Aplicação da lei penal.

Os requisitos previstos no art. 313 são essenciais para a prisão preventiva AUTONOMA e aquela que é
CONVETIDA DO FLAGRANTE:
1- Crime doloso com pena máxima superior a 4 anos
2- Reincidente em crime doloso com pena maior ou menor que 4 anos
3- Para garantir medidas protetivas de urgência contra mulher, enfermo, deficiente, criança
4- Dúvida sobre a identidade – fica preso até a identificação.

Requisitos
 Requisito Lógico
A preventiva só pode ser decretada se no caso não for adequada a decretação de outra medida cautelar prisional.
Como a preventiva é interpretada como a ultima ratio, ela só será decretada se não forem suficientes as medidas
cautelares não prisionais do art. 3019, CPP; Critério equilibrado de hermenêutica.
 Requisitos Dogmáticos
Analisando a dogmática, Fauzi Hassan sustenta que teremos o fumus comissi delicti (fumaça da prática do delito –
evidência do crime). É preciso de indícios de autorias, somados à prova da materialidade. Além disso, teremos o
periculum libertatis (perigo da liberdade, que em última análise vai nos dar as hipóteses de hipóteses de
decretação preventiva).

A prisão preventiva pode ser decretada para:


i. Garantia da ordem pública – é uma expressão aberta, fluída, o conteúdo vai depender da vontade do
intérprete.

A primeira posição sobre a compreensão do que é garantia da ordem pública é defendida por Rômulo
Moreira e Aury Lopes Júnior. Para eles, a expressão é fluída e não tem respaldo na Constituição
Federal, já que o cerceamento da liberdade exige um fundamento concreto. É a corrente garantista.

A segunda posição é adotada pelo STJ e é sinônimo de paz social, isto é, quando a pessoa em
liberdade provavelmente continuará delinquindo. Para a jurisprudência preponderante, a ordem
pública é sinônimo de paz social e é decretada quando o agente em liberdade provavelmente
continuará praticando infrações penais (HC 85922).

Para Guilherme Nucci, a ordem pública comporta uma tríplice análise envolvendo a periculosidade do
agente: a gravidade concreta do crime e a repercussão social do fato (clamor público). Atenção: para

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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o Supremo Tribunal Federal o clamor público não justifica individualmente o encarceramento (STF HC
80719).

#IMPORTANTE #INFO #STJ #DEFENSORIA #MAGISTRATURA #MP:


A prática de atos infracionais anteriores serve para justificar a decretação ou manutenção da prisão preventiva
como garantia da ordem pública, considerando que indicam que a personalidade do agente é voltada à
criminalidade, havendo fundado receio de reiteração. Não é qualquer ato infracional, em qualquer circunstância,
que pode ser utilizado para caracterizar a periculosidade e justificar a prisão antes da sentença. É necessário que
o magistrado analise: a) a gravidade específica do ato infracional cometido; b) o tempo decorrido entre o ato
infracional e o crime; e c) a comprovação efetiva da ocorrência do ato infracional. STJ. 3ª Seção. RHC 63.855-MG,
Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/5/2016 (Info 585).

*João, 19 anos, está respondendo a processo criminal por roubo. Quando era adolescente, João cumpriu
medida socioeducativa por homicídio. No momento da condenação, o juiz poderá considerar esse ato
infracional para fins de reincidência ou de maus antecedentes? NÃO. Atos infracionais não podem ser
considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base e muito menos servem para configurar
reincidência (STJ. 5ª Turma. HC 289.098/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/05/2014).

*João, 19 anos, está respondendo a processo criminal por roubo. Quando era adolescente, cumpriu medida
socioeducativa por homicídio. O juiz, ao decretar a prisão preventiva do réu, poderá mencionar a prática desse
ato infracional como um dos fundamentos para a custódia cautelar? Havia divergência entre as Turmas do STJ,
mas o tema agora restou pacificado. A resposta é SIM. A prática de atos infracionais anteriores serve para
justificar a decretação ou manutenção da prisão preventiva como garantia da ordem pública, considerando que
indicam que a personalidade do agente é voltada à criminalidade, havendo fundado receio de reiteração. STJ. 5ª
Turma. RHC 47.671-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/12/2014 (Info 554). STJ. 3ª Seção. RHC 63.855-
MG, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/05/2016.

*Atos infracionais não são antecedentes criminais, mas podem ser valorados. Os atos infracionais não podem
ser considerados como antecedentes penais já que ato infracional não é crime e medida socioeducativa não é
pena. Apesar disso, os registros sobre o passado de uma pessoa, seja ela quem for, não podem ser
desconsiderados para fins cautelares. A avaliação sobre a periculosidade de alguém impõe que se examine todo o
seu histórico de vida, em especial o seu comportamento perante a comunidade. Logo, os atos infracionais
praticados não servem como antecedentes penais e muito menos para firmar reincidência, mas não podem ser
ignorados, devendo ser analisados para se aferir se existe risco à garantia da ordem pública com a liberdade do
acusado.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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*Proteção do art. 143 do ECA só vale enquanto a pessoa for menor de 18 anos. O art. 143 do ECA prevê que "é
vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a
que se atribua autoria de ato infracional". Contudo, segundo entende o STJ, essa proteção estatal prevista no ECA
é voltada ao adolescente infrator somente enquanto ele estiver nessa condição. Assim, a partir do momento em
que se torna imputável, deixa de haver o óbice.

*Decisão cautelar do STF: O STF ainda não enfrentou o tema em seu colegiado, mas existe ao menos uma decisão
monocrática recente na qual o Min. Luiz Fux afirmou que é possível utilizar atos infracionais pretéritos como
fundamento para a prisão preventiva. Veja: "(...) A prevalecer o argumento de que a prática de atos infracionais
na menoridade não se comunica com a vida criminal adulta, ter-se-á que admitir o absurdo de que o agente
poderá reiterar na prática criminosa logo após adquirir a maioridade, sem que se lhe recaia a possibilidade de ser
preso preventivamente. A possibilidade real de reiteração delituosa constitui, fora de dúvida, base empírica
subsumível à hipótese legal da garantia da ordem pública. (...)" (STF. Decisão monocrática. RHC 134121 MC, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 20/04/2016).

ii. Garantia da ordem econômica – A primeira posição é de Romulo Moreira e Aury Lopes Júnior. Para
eles, o fundamento é fluído, não tendo respaldo constitucional. Essa posição é minoritária. Para a
doutrina majoritária, respaldada pela jurisprudência, almeja-se aqui evitar a reiteração de delitos
contra a ordem econômica. Crítica: Tourinho Filho considera esse fundamento ocioso, pois a garantia
da ordem econômica está inserida em um contexto maior que é a garantia da ordem pública.
Enquadramento normativo: esse fundamento será aplicado aos crimes previstos nas Leis nº 1.521/51,
7.492/86, 7.134/83, 8.078/90, 8.176/91, 9.279/96 e 9.613/98.

iii. Garantia da instrução criminal – Almeja-se aqui tutelar a livre produção probatória, sendo que uma
vez encerrada a instrução, o fundamento cai por terra, podendo ser substituído por outro.

iv. Garantia da lei penal – Procura evitar a fuga. Fuga não se presume, não é uma especulação, deve ser
comprovada. Se o réu não compare a uma audiência e não justifica a ausência. Para a doutrina
majoritária, a fuga quanto a sua probabilidade exige demonstração idônea, logo a simples ausência
do réu, mesmo que injustificada a uma audiência, não é por si só fundamento para o cárcere. Do
mesmo modo, a miserabilidade extrema ou a riqueza absoluta não são fundamentos individuais de
cárcere.

v. Ausência de identificação civil – A prisão perdura até a apresentação do documento ou o


esclarecimento da dúvida quanto à identidade. Filtro constitucional: como a Constituição prevê a
identificação na eventualidade da ausência da identificação civil (art. 5º, LVIII, CF), é necessário
concluir que a preventiva só será decretada se a identificação criminal não for suficiente.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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vi. Violência doméstica – Havendo descumprimento das medidas protetivas de urgência, que nada mais
são do que medidas cautelares para blindar a vítima da violência doméstica, caberá a decretação da
prisão preventiva. Abrange a mulher, idoso, criança, adolescente e enfermo. Para parte da doutrina,
essa hipótese não tem autonomia e a prisão só estaria justificada se o indivíduo além de descumprir a
medida for um risco à ordem pública, às provas ou um risco de fuga.

vii. Havendo descumprimento das medidas cautelares pessoais do art. 319, CPP, o magistrado poderá
adotar as seguintes medidas: substituir a medida descumprida por outra mais adequada à situação
do agente; cumular a medida descumprida com outra, aumentando o ônus; revogar a medida
cautelar e decretar a prisão preventiva. Quanto a possibilidade de decretação de preventiva nessa
hipótese, independente da quantidade de pena do crime, subsistem duas posições. Para Renato
Brasileiro, a preventiva nesse caso pode ser decretada independente da quantidade de pena prevista
para o delito, desconsiderando-se, assim, o art. 313, CPP. Para Fábio Roque, o patamar do art. 313,
CPP deve ser respeitado, já que essa hipótese não foi trazida como uma exceção à regra.

viii. Legislação Especial – Nos crimes contra o sistema financeiro (art. 30, Lei nº 7.492/86), a preventiva
estaria justificada em razão da magnitude da lesão. Crítica: para a doutrina majoritária e para o STF,
esse fundamento não é bastante em si mesmo e não nos traz a utilidade do cárcere. Logo, é
necessário que estejam presentes os requisitos do artigo 312, CPP (STF HC 80717).

Admissibilidade da Preventiva:

A prisão preventiva é seletiva, não cabe qualquer caso, tem que ser lida dentro de uma ótica de filtragem (art.
313, CPP). A prisão preventiva é cabível para crime doloso com pena superior a 04 anos. Em se tratando da pena
máxima, são levadas em conta as qualificadoras e nas causas de aumento deveremos exasperar a pena do
patamar máximo (exemplo: se a causa de aumento é 1/3 a 2/3, multiplicará a pena por 2/3). Já nas causas de
diminuição, deveremos reduzir a pena considerando a fração mínima.

Excepcionalmente, a quantidade de pena é indiferente para a decretação da preventiva nas seguintes hipóteses.

a) Ausência de identificação civil – Para Eugênio Pacelli, esta hipótese é tão ampla que admite preventiva
até em crime culposo.
b) Se o indivíduo é reincidente em crime doloso (exemplo: condenado por lesões corporais e
posteriormente pratica um furto simples);
c) Descumprimento de medida protetiva de urgência no âmbito da violência doméstica.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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Para Renato Brasileiro, podemos enquadrar, ainda, o descumprimento das medidas cautelares do art.
319, CPP.

*#IMPORTANTE #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Não se pode decretar a prisão preventiva do acusado pelo


simples fato de ele ter descumprido acordo de colaboração premiada. Não há, sob o ponto de vista jurídico,
relação direta entre a prisão preventiva e o acordo de colaboração premiada. Tampouco há previsão de que, em
decorrência do descumprimento do acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente revogada. Por
essa razão, o descumprimento do que foi acordado não justifica a decretação de nova custódia cautelar. É
necessário verificar, no caso concreto, a presença dos requisitos da prisão preventiva, não podendo o decreto
prisional ter como fundamento apenas a quebra do acordo. STF. 1ª Turmá. HC 138207/PR, Rel. Min. Edson
Fáchin, julgádo em 25/4/2017 (Info 862).

Preventiva vs Excludentes de Ilicitude

Havendo indícios da presença de uma excludente de ilicitude, é sinal que a preventiva não poderá ser decretada.
Para Paulo Rangel, mesmo sem previsão legal, as excludentes de culpabilidade, salvo a inimputabilidade também
impedem a decretação da preventiva.

Fundamentação do Mandado

De acordo com o art. 93, IX, CF c/c art. 315, CPP, a decisão interlocutória que decreta a preventiva deve ser
necessariamente motivada e para o STJ a mera transcrição do texto legal não atende a exigência constitucional.

O tribunal ao julgar eventual habeas corpus não poderá suprir a ausência da motivação. Do mesmo modo, o
magistrado ao prestar informações como autoridade coatora não poderá fazê-lo.

Fundamentação per relationem: é aquela onde o magistrado se vale da íntegra da representação policial ou do
requerimento do Ministério Público ou do querelante para decretar a prisão, subsistindo duas posições: a nossa
doutrina não admite essa possibilidade, exigindo que o juiz, por intelecção própria, fundamente; os tribunais
superiores aceitam o instituto ao fundamento de que não há prejuízo (STJ HC 29.293).

Tempo da Preventiva

Não há prazo de duração da preventiva que se estende no tempo enquanto houver necessidade, que é medida
pela presença das suas hipóteses de decretação. Se elas desaparecem a preventiva será revogada (art. 316, CPP) e
nada impede que ela seja redecretada pelo surgimento de novas provas. Percebe-se que a preventiva segue a
cláusula rebus sic stantibus.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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Observação: O PL 156 (novo CPP) estabelece prazo para a preventiva, mensurado em razão da gravidade do
crime.

Para Gustavo Badaró, se a preventiva é temporalmente excessiva, ela se transforma em prisão ilegal, devendo ser
relaxada, o que dependerá, segundo os tribunais superiores, da análise de cada caso concreto à luz do prudente
arbítrio do juiz (art. 5º, LXXVIII, CF).

*#DELHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Deve ser concedida a liberdade provisória a réu primário preso
preventivamente sob a imputação de tráfico de drogas por ter sido encontrado com 887,89 gramas de maconha e
R$ 1.730,00. O STF considerou genéricas as razões da segregação cautelar do réu. Além disso, reconheceu como
de pouca nocividade a substância entorpecente apreendida(maconha). Reputou que a prisão de jovens pelo
tráfico de pequena quantidade de maconha é mais gravosa do que a eventual permanência em liberdade, pois
serão fatalmente cooptados ou contaminados por uma criminalidade mais grave ao ingressarem no ambiente
carcerário. STF. 1ª Turma. HC 140379/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
23/10/2018 (Info 921).

Prisão Temporária (Lei nº 7.960/89)

A lei da prisão temporária é fruto da medida provisória nº 111/89, e, pela patente dissonância com a necessidade
e urgência, parte da doutrina (ElmirDuclerc) entendeu que a medida afrontava a Constituição, o que foi afastado
pelo STF no julgamento da ADI 162.

A prisão temporária é a prisão cautelar cabível exclusivamente na fase investigativa, decretada pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou por representação da autoridade policial. Ela não caberá de oficio e não
foram contemplados o querelante e o assistente de acusação.

Decretada com prazo desde que presentes os requisitos do art. 1º, da Lei nº 7.960/89.

Pressupostos da Temporária

Precisa de fumus commissi delicti (inciso III), somado ao periculum libertatis (inciso I ou II).

Art. 1º da Lei nº 7.960/89:


i. Imprescindibilidade para a investigação;
ii. Se o indivíduo não possui residência física ou identificação civil;

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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iii. Havendo indícios de autoria ou de participação em um dos crimes graves previstos em lei (art. 1º da
Lei 8072/90 e

Esses requisitos precisam ser conjugados: sempre precisa do inciso III (por um dos crimes graves) + inciso I ou II.

Outras posições:
1ª posição: Luís Flavio Gomes - o inciso I e o III devem estar sempre presentes, e o inciso II é facultativo.
2ª posição: Mirabete - os requisitos não precisam ser cumulados (basta a presença do inciso I ou II ou III).
3ª posição: Scarance Fernandes – todos os requisitos precisam ser conjugados simultaneamente (inciso I, II e III).
4ª posição: ElmirDuclerc – a temporária não tem respaldo constitucional e na fase investigativa, além do
flagrante, só caberia preventiva.
5ª posição: Guilherme Nucci – em igualdade de condições, deve se dar prevalência a prisão temporária na fase do
inquérito.

Procedimento da Prisão Temporária


i. Provocação: o procedimento começa de uma provocação, emanada de um requerimento do
Ministério Público ou de uma representação da autoridade policial;
ii. O juiz dispõe de 24 horas para decidir sobre a provocação

Consequências:
As consequências procedimentais são:

 Prazo

Nos crimes comuns, o prazo da temporária é de 05 dias, prorrogáveis uma vez por mais 05 dias. Nos crimes
hediondos e assemelhados (tráfico de drogas, tortura e terrorismo) a prisão temporária é de 30 dias, prorrogáveis
uma vez por mais 30 dias.

Para que o juiz decrete a temporária ou prorrogue o prazo é necessária a prévia oitiva do Ministério Público. A
temporária se autorevoga pelo decurso do tempo e a libertação do preso independe da expedição de alvará de
soltura, sob pena de responsabilidade criminal por abuso de autoridade.

Nada impede, contudo, que na sequência seja decretada a prisão preventiva quando exaurido o prazo da prisão
temporária.

Decretada a temporária, o seu prazo, normalmente, passa a reger o tempo para conclusão do inquérito.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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*#NOVIDADELEGISLATIVA #LEI Nº 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE 2019
“Art.2º. § 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão temporária
estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado.
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela custódia deverá,
independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo se já
tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva.
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de prisão temporária.”

Separação dos presos


Atualmente, o art. 3º da Lei nº 7.960/89 e o art. 300, CPP, tem a mesma redação, de forma que o preso cautelar,
qualquer que seja ele, deve ficar separado do preso definitivo.

 Postura do Juiz

Pode o juiz, para fiscalizar o andamento prisional, determinar as seguintes medidas: apresentação do preso no
fórum; submissão do preso à exame de corpo de delito; requisitar informações ao delegado.

 Mandado prisional

Assim como ocorre com a preventiva, o mandado de prisão da temporária, além de motivado será expedido em
duas vias, sendo que uma delas é entregue ao preso para comunicá-lo dos motivos e dos responsáveis pelo
cárcere, funcionando como nota de culpa.

*#OUSESABER: O crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo admite prisão temporária?
O rol dos delitos que autorizam a decretação da prisão temporária é taxativo. Assim, em tese, a prisão temporária
só pode ser decretada em relação aos crimes enumerados no inciso III do art. 1 da Lei 7960. No entanto, após a
vigência desta lei 7960, entrou em vigor a lei dos crimes hediondos, que, em seu art. 2, parág. 3, passou a dispor
que a prisão temporária, “nos crimes previstos neste artigo”, terá o prazo de 30 dias, prorrogável por igual
período em caso de extrema e comprovada necessidade. Portanto, a partir da Lei 8072, a prisão temporária
passou a ser cabível não só em relação aos crimes previstos no inciso III do art. 1 da Lei 7960, como também em
relação aos crimes hediondos e equiparados. De fato, o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
restrito, atualmente, é considerado crime hediondo (mudança legislativa ocorrida em 2017), e embora não conste
no rol dos delitos que admitem prisão temporária previstos na Lei 7960, como explicado acima, se é crime
hediondo, também admite prisão temporária.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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LEITURA COMPLEMENTAR: RESUMO DO TRF SOBRE PRISÕES

1. PRISÃO

1.1. Conceito

Prisão: consiste na privação da liberdade de locomoção, mediante clausura, decretada por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, ou decorrente de flagrante delito. Conforme o artigo 5.º,
inciso LXI, da Constituição Federal, ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei.

1.2. Tipos de prisões

1.2.1. Prisão com pena ou prisão sanção


É a que decorre de uma sentença penal condenatória que já adquiriu a estabilidade da coisa julgada material, ou
seja, é a decretada pelo juiz para fins penais.

1.2.2. Prisão sem pena


A prisão sem pena é uma modalidade excepcional de prisão e não decorre de uma sentença penal condenatória
transitada em julgado, que pode ser:

1.2.2.1. Prisão civil por dívida (depositário infiel)

O STF declarou a ilegalidade da prisão em decorrência de inadimplemento de contrato garantido por alienação
fiduciária (RE 466.343/SP). Acolheu o STF a tese do Min. Gilmar Mendes (hierarquia supralegal dos tratados de
DH’s, como sói ser o Pacto de São José da Costa Rica). Mazzuoli e o Min. Celso de Mello entendem que referidos
tratados possuem hierarquia constitucional (art5, §2º, CF/88).

Histórico do entendimento jurisprudencial:

1º) 1984: STF sumula a admissão da prisão do depositário infiel:Súmula 619 STF (aprovada pelo TP em
17/10/1984): A prisão do depositário judicial pode ser decretada no próprio processo em que se constituiu o
encargo, independentemente da propositura de ação de depósito(REVOGADA).

Persistiu a discussão sobre as modalidades de depósito que admitiriam ou não a prisão.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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2º) 2008: Em dezembro desse ano, o STF passa a considerar ilícita a prisão do depositário infiel, qualquer que
seja a modalidade de depósito. Julgamento dos HC 87.585-TO e RE 466.343-SP. A Corte Suprema reconheceu que
os tratados de direitos humanos valem mais do que a lei ordinária. Duas correntes estavam em pauta: a do Min.
Gilmar Mendes, que sustentava o valor supralegal desses tratados, e a do Min. Celso de Mello, que lhes conferia
valor constitucional. Por cinco votos a quatro, foi vencedora (por ora) a primeira tese.

PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida coercitiva.
Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalternas. Interpretação do
art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto
de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº
92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
(STF - RE 466343, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2008, PUBLIC 05-06-2009)

3º) 2009: Editada a Súmula vinculante 25 STF:É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito. (PSV 31, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, TP, j. 16/12/2009)

4º) 2010: Súmula 419 STJ:Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel (j. 03/03/2010).

1.2.2.2. Prisão extrapenal

A CF não admite prisão extrapenal (Exemplo: prisão administrativa). Segundo Luiz Flávio Gomes, há prisões
administrativas previstas na lei e permitidas nas seguintes hipóteses:

a) Decretadas pelo juiz para fins administrativos: exemplo para expulsão de estrangeiro (artigo 69, Estatuto do
Estrangeiro). Aqui, embora o artigo fale que a prisão é decretada pelo Ministro da Justiça, Luiz Flávio e a
doutrina entendem que, após a CF/88, ela passou a ser decretada pelo Juiz. Pacelli chega a afirmar que essa
não é uma hipótese de prisão administrativa, mas sim de prisão preventiva para garantir a aplicação da lei. É
a chamada PPE/Prisão Preventiva para Extradição, senão vejamos:

6. Impende ressaltar, ainda, que a prisão administrativa de estrangeiro submetido a processo de expulsão,
prevista no Estatuto do Estrangeiro, não pode mais ser determinada pelo Ministro da Justiça, porquanto oart.
69 da referida norma é manifestamente incompatível com o texto constitucional disposto no art. 5º, caput,
inciso LXI. Sendo assim, a alegação do impetrante de constrangimento ilegal fundado na decretação de prisão
para fins de expulsão a ser proferida pelo Ministro de Estado da Justiça se mostra de todo desarrazoada,
porquanto como medida excepcional de restrição da liberdade e acautelatória do procedimento de expulsão

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


45
somente será admitidamediante decisão da autoridade judiciária, e não mais da autoridade administrativa,
nos termos da ordem constitucional vigente.
7. Habeas corpus extinto, sem julgamento de mérito, cassando-se a liminar anteriormente deferida.
Prejudicado o agravo regimental de iniciativa da União.
(STJ - HC 134.195/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/06/2009,
DJe 03/08/2009)

*O Estatuto do Estrangeiro foi inteiramente revogado pela Nova Lei de Migração, não mais prevendo
hipótese de prisão obrigatória para extradição.

b) Militar (artigo 5o., LXI, CF/88 e artigo 62, CPM): independe de ordem judicial, com ressalva prevista
expressamente na Constituição. Também chamada de prisão disciplinar.
c) Estado de defesa; com expressa previsão constitucional, decretada pela Autoridade Administrativa
d) Estado de sítio. (idem)

As prisões administrativas anteriormente previstas no artigo 319 (contra quem não paga impostos ou contra
estrangeiro desertor de navio) foram revogadas pela Lei 12.403/2011. Contudo, antes mesmo dessa lei, o STJ já
entendia não terem sido tais prisões recepcionadas.

Também, o art. 35 da antiga Lei de Falências previa a prisão automática do falido, mas a nova lei de falências não
permite mais a prisão automática do falido, subsistindo apenas a possibilidade de prisão preventiva do art. 99, VII,
da L. 11101/057.

Neste mesmo sentido, a Súm. 280 STJ: O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão
administrativa, foi revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.

1.2.2.5. Prisão decorrente de desobediência à ordem de HC

O Artigo 656, parágrafo único, CPP, prevê a possibilidade de prisão disciplinar, para o detentor do preso que se
recuse a dar cumprimento à ordem de habeas corpus.

Artigo 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o paciente, mandará
que este lhe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar.

7
Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: (...)VII – determinará as diligências
necessárias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus
administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime definido nesta Lei;
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
46
Parágrafo único. Em caso de desobediência, será expedido mandado de prisão contra o detentor, que será
processado na forma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado da prisão e apresentado em
juízo.
1.2.2.6. PRISÃO CAUTELAR, PRINCÍPIO DA NECESSIDADE E PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

De natureza processual, é prisão que ocorre antes do trânsito em julgado:

 PRISÃO EM FLAGRANTE;
 PRISÃO PREVENTIVA;
 PRISÃO TEMPORÁRIA;
 PRISÃO EM DECORRÊNCIA DE SENTENÇA RECORRÍVEL;*
 PRISÃO EM DECORRÊNCIA DA SENTENÇA DE PRONÚNCIA; *

*Atualmente, o entendimento Jurisprudencial é que somente subsistem os três primeiros tipos de prisão cautelar,
e não os dois últimos.

Quanto à sentença recorrível e à sentença de pronúncia, só haverá prisão se essas sentenças concluírem que
estão presentes os requisitos da prisão preventiva, e não pelo simples fato de ter advindo a sentença que
condenou ou pronunciou. Isso é decorrência do princípio da presunção de inocência. Também, a Lei 12.403/2011
cuidou de expressamente revogar esses dois tipos de prisão, anteriormente previstos pelo CPP.

Quanto à fundamentação em tais decisões, a jurisprudência do colendo STJ faz a seguinte distinção:

a. Entende ser insofismavelmente necessária na sentença recorrível (mérito);


“A Terceira Seção desta Corte pacificou o entendimento no sentido de que é indispensável a presença de
concreta fundamentação para o óbice ao direito de recorrer em liberdade, com base nos pressupostos
exigidos para a prisão preventiva, ainda que o réu tenha permanecido preso durante a instrução processual.
Precedentes.” (STJ - HC 234.330/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 12/06/2012,
DJe 20/06/2012)

b. Mitiga quanto a (des)necessidade na sentença de pronúncia, se, neste último caso, permanecerem
inalteradas as razões primeiras que levaram à prisão cautelar do agente.
“Consoante entendimento pacificado nesta Corte Superior, caso persistam os mesmos motivos que
ensejaram a prisão cautelar, desnecessário se torna proceder à nova fundamentação quando da prolação
da sentença de pronúncia, mormente quando inexistem fatos novos a justificar a revogação da medida
constritiva.” (STJ - HC 172.736/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe
28/06/2012).
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
47

Prisão cautelar, princípio da necessidade e presunção de inocência

As prisões cautelares são excepcionais (extrema ratioda ultima ratio– Luiz Flávio Gomes), em razão do princípio
da presunção de inocência, e somente se justificam caso efetivamente estejam previstos os requisitos legais.

O importante é que a prisão processual tem de ter uma nota clara de cautelaridade (para preservar as
investigações, a ordem pública, a ordem econômica, a aplicação da lei penal), e não de antecipação da pena.
Ademais, deve se caracterizar pela efetiva necessidade e pela proporcionalidade da medida em todos os seus
aspectos.

Regras gerais de prisão

As prisões processuais penais decorrentes de mandado somente poderão ser decretadas pelo juiz. A CPI não pode
determinar prisão, pois sempre que a CF/88 diz que algo somente poderá ser feito por ordem judicial, trata-se de
juiz stricto sensu (STF). Somente assim é que se pode alcançar a máxima efetividade dos direitos fundamentais.

A prisão deve ser decretada por ordem de juiz, exceto em duas situações: prisão em flagrante e recaptura. A
decisão do juiz deve ser fundamentada (na liminar ou na sentença).

Como regra, o juiz é sempre a autoridade competente, mas essa regra comporta exceções:

a. O superior militar;
b. Autoridade Administrativa no Estado de Sítio e no Estado de Defesa.

Destaco que, com a edição da Lei 12.694, de 24 de julho de 2012, que dispõe sobre o processo e o julgamento
colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir
pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, notadamente decretar a prisão ou medidas
assecuratórias (art. 1, I e §1º).

Note-se que não é qualquer juiz que pode expedir mandado de prisão, somente ao juiz penal é possível a
expedição de mandado de prisão; qualquer juiz pode prender em flagrante, como qualquer do povo.

Prisão correicional

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


48
A prisão para averiguação ou prisão correicional é ilegal. É crime de abuso de autoridade, quando efetuada por
polícia ou autoridade. Quando por particular, o crime é sequestro ou cárcere privado.

Aspectos constitucionais

Aspectos constitucionais relevantes para as prisões (art. 5o da CF/88):

Princípio do devido processo LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
legal processo legal
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
Princípio da inocência
sentença penal condenatória;
Na prisão em flagrante é extremamente importante, porque a partir daí vai
verificar a presença ou não dos requisitos da cautelaridade.
LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
Comunicação imediata pessoa por ele indicada;
O juiz faz o controle da legalidade, sob pena de relaxamento da pena, se o
juiz não relaxa uma prisão que sabia ser ilegal cometerá o crime de abuso de
autoridade.
Ausência de comunicação torna a prisão ilegal.
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
Flagrante e mandado de
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
prisão
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
Faz parte do direito de não-auto-incriminação (direito ao silêncio, direito de
não declarar e direito de não produzir prova contra si mesmo).
O silêncio não é confissão e vale na polícia e em juízo.
Direito ao silêncio
LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
Dentro desse direito está o direito de identificação de quem faz o
Identificação dos responsáveis interrogatório.
pela prisão LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou
por seu interrogatório policial;
Relaxamento de prisão ilegal LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
Liberdade provisória
liberdade provisória, com ou sem fiança;

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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Prisão Ilegalé diferente de prisão legal desnecessária: na última são cabíveis a liberdade provisória e a revogação;
na 1ª, cabe relaxamento.

Direito de assistência

O preso tem direito de assistência tanto da família quanto do advogado. Caso não informe o nome do seu
advogado, deve ser remetida cópia integral do flagrante para a Defensoria Pública (art. 306, §1º, CPP).

O advogado preso, em razão da profissão, tem direito de assistência de um representante da OAB. Se o advogado
foi preso por outro motivo, a prisão deve ser comunicada à OAB.

Direito de inviolabilidade de domicílio

A prisão pode ser feita sem consentimento do morador e sem mandado judicial diante de (1) flagrante, (2)
desastre ou (3) socorro, em qualquer dia ou hora.

Com mandando judicial, sem o consentimento do morador, somente será possível durante o dia. Mas com o
consentimento do morador em qualquer hora. Embora haja vários critérios para definir o que é dia (intervalo
entre a alvorada e o crepúsculo, intervalo entre as 6h e as 18h, dentre outros), prevalece o critério das 6h às 18h.

* #IMPORTANTE: O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de flagrante delito,
para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no
interior da residência. A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse
autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o
ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp 1.574.681-
RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).

*#OUSESABER: A existência de denúncias anônimas somada à fuga do acusado é capaz de justificar o ingresso
policial no domicílio do foragido sem ou seu consentimento ou sem determinação judicial? NÃO! Viola o direito
fundamental da inviolabilidade do domicílio (CF, art. 5º, inciso XI) o ingresso policial, sem justificativa prévia, no
domicílio do acusado, sem o seu consentimento ou determinação judicial, MESMO que baseada em denúncia
anônima somada à fuga do acusado, haja vista a inexistência de prévia investigação policial para averiguar a
veracidade das informações recebidas, bem como ausentes elementos mínimos de justa causa. Portanto, mostra-
se arbitrária a entrada forçada em domicílio nessas condições, não sendo suficiente para convalidar o ato a
flagrância posterior ao ingresso. Ver informativo n. 0623 do STJ.

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50
CÓDIGO ELEITORAL

Não pode ocorrer prisão de eleitor: 05 dias antes das eleições e 48h depois. Salvo nos seguintes casos:

a. Flagrante: inclusive no dia das eleições.


b. Condenação por sentença em crime inafiançável.
c. Violação de salvo-conduto (que é concedido em HC preventivo; quando alguém violar o salvo conduto do
paciente deverá ser preso).

Se for candidato, desde 15 dias antes das eleições. Salvo: flagrante.

CPI - REQUISITOS DE CAUTELARIDADE

A CPI não pode decretar a prisão.

REQUISITOS DE CAUTELARIDADE

As prisões cautelares devem preencher os requisitos da cautelaridade: fumus boni iuris e periculum in mora. No
processo penal, eles se travestem de fumus comissi delicti e periculum libertatis. As prisões cautelares têm duas
características: instrumentalidade e provisoriedade.

PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE DAS PRISÕES PROCESSUAIS. PROPORCIONALIDADE

A prisão processual não pode ser mais grave que a própria pena que poderá ser aplicada ao réu. Exemplo: não
cabe prisão preventiva em caso de contravenção, pois tudo indica que ao final o agente não será preso.

O art. 282 do CPP, com a redação da Lei 12.403/2011, cristalizou esse princípio, ao exigir de qualquer medida
cautelar pessoal os requisitos da adequação (ser ela realmente apta a tutelar o resultado útil do processo) e a
necessidade (limitar-se à medida do estritamente necessário para isso).

Nessa esteia, o art. 313 do CPP dispôs sobre alguns limites para a prisão preventiva que estão intimamente
relacionados à proporcionalidade, como a inadmissibilidade de prisão preventiva nos crimes dolosos com pena
privativa de liberdade inferior a 4 anos. Acolheu o legislador um apelo da doutrina, que aduzia que, em tese, em
tais hipóteses, a pena corporal poderia ser substituída por uma restritiva de direitos (art. 44, CP).

EXIBIÇÃO DE MANDADO

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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Sempre deve ser exibido o mandado.

Exceção: em crime inafiançável, a polícia pode prender, mesmo sem mandado, mas deve imediatamente
apresentado ao juiz. Entretanto, em crime afiançável não se prende de jeito nenhum.
A prisão em flagrante, também, prescinde de mandado.

PRISÃO FORA DA COMARCA

Deve ser feita por meio de precatória, expedida até mesmo por meios eletrônicos. Havendo urgência, a prisão
poderá ser requisitada por qualquer meio de comunicação. Ademais, em inovação da Lei 12.403/2011, o Juiz deve
registrar a ordem de prisão no sistema nacional do CNJ, e qualquer autoridade policial pode, sem necessidade de
nova ordem judicial, efetuar as prisões cujos mandados estejam cadastrados nesse sistema. Ademais, mesmo que
o mandado não esteja cadastrado ainda, o policial pode efetuar a prisão, comunicando ao juiz que decretou a
medida, o qual, então, deverá providenciar imediatamente o cadastro.

Quando o indivíduo está em outro país, deve ser emitida a carta rogatória. A INTERPOL dá apoio.

Prisão em perseguição: permite o ingresso em comarca alheia, mesmo que em Estado distinto da Federação. E em
outro país? NÃO, por proteção da soberania. No MERCOSUL, há tratados de cooperação entre os países.

MOMENTO DA PRISÃO

Ocorre quando é apresentado o mandado ou quando o indivíduo for intimado a acompanhar a autoridade.
Não há crime de fuga, sem violência. Mas a evasão da prisão é crime (artigo 352, CP).

Em regra, o uso de força física não é possível no momento da prisão.

Exceções:
a) fuga;
b) resistência ativa (o preso está agredindo) (quando for resistência passiva, deve ser combatida nos limites
necessários); Deve ser lavrado auto de resistência.

A autoridade policial não pode matar quem está fugindo; pode até atirar para cima ou para baixo, mas não pode
matar. Entretanto, se o fugitivo dá tiro no policial ele pode reagir da mesma forma.

Uso de algemas: quando necessário, o uso é possível, no termos da Súm. Vinc. 11 STF:

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Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fugaou de perigo à integridade física
própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

*#NOVIDADELEGISLATIVA #ATUALIZAOVADEMECUM: A Lei 13.434/2017 acrescenta parágrafo único ao art. 292


do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), para vedar o uso de algemas em
mulheres grávidas durante o parto e em mulheres durante a fase de puerpério imediato (Art. 292. (...) Parágrafo
Único: É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para
a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério
imediato).

PRISÃO ESPECIAL

Todos os bacharéis têm direito à prisão especial, quando da prisão cautelar. Também têm direito à prisão especial
os indivíduos que estejam nos artigos 295 e 296, CPP.

Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando
sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:
I - os ministros de Estado;
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos
secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; III - os membros do Parlamento Nacional,
do Conselho de Economia Nacional e das Assembléias Legislativas dos Estados;
IV - os cidadãos inscritos no "Livro de Mérito"; (DECRETO DO PR PARA A INSERÇÃO)
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (Redação dada
pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001)
VI - os magistrados;
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República;
VIII - os ministros de confissão religiosa;
IX - os ministros do Tribunal de Contas;
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo quando excluídos da lista por
motivo de incapacidade para o exercício daquela função;
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e Territórios, ativos e inativos. (Redação dada pela Lei
nº 5.126, de 20.9.1966)
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, consiste exclusivamente no recolhimento em local
distinto da prisão comum. (Incluído pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001)

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§ 2oNão havendo estabelecimento específico para o preso especial, este será recolhido em cela distinta do mesmo
estabelecimento.(Incluído pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001) (SE NÃO TEM A CELA ESPECIAL, SERÁ CABÍVEL A
PRISÃO DOMICILIAR)
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo, atendidos os requisitos de salubridade do ambiente,
pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequados à existência humana.
(Incluído pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001)
§ 4oO preso especial não será transportado juntamente com o preso comum. (L10.258/01)
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os mesmos do preso comum. (L10.258)

Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares,
de acordo com os respectivos regulamentos.

O rol do art. 295 do CPP é exemplificativo. Há também leis específicas cuidando de reservar ou mesmo ampliar
semelhantes prerrogativas aos membros de determinadas carreiras, como na L. 8.629/93, na LC 75/93 e na LC
35/79.

Em suma, é cabível para determinadas pessoas, em razão das funções públicas por elas exercidas, da formação
escolar por elas alcançada e, finalmente, em razão do exercício de atividades religiosas.

O referido art. 295 do CPP refere-se apenas às prisões provisórias, ou seja, às prisões cautelares, não se aplicando
àquelas resultantes de sentença penal condenatória, também tratadas como definitivas.

Os réus sujeitos à prisão especial têm a possibilidade de auferir a progressão de regime quando ainda estão
confinados nessas celas privativas. É o que determina a Súmula 717 do STF.

Sala de estado-maior é diferente de prisão especial. Os magistrados, membros do MP e advogados têm direito a
sala de estado-maior, e não a simples prisão especial. A diferença é que a sala de estado maior não tem grades e
nem é trancada pelo lado de fora, enquanto a prisão especial é. O STF fez essa diferenciação em situação
envolvendo advogado e considerou irregular a mera prisão especial no caso concreto.

A Sala de Estado-Maior se define por sua qualidade mesma de sala e não de cela ou cadeia. Sala, essa, instalada
no Comando das Forças Armadas ou de outras instituições militares (Polícia Militar, Corpo de Bombeiros) e que
em si mesma constitui tipo heterodoxo de prisão, porque destituída de portas ou janelas com essa específica
finalidade de encarceramento. Ordem parcialmente concedida para determinar que o Juízo processante
providencie a transferência do paciente para sala de uma das unidades militares do Estado de São Paulo, a ser
designada pelo Secretário de Segurança Pública. (STF - HC 91089, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira
Turma, julgado em 04/09/2007, DJe-126 DIVULG 18-10-2007 PUBLIC 19-10-2007)
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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*O advogado só terá direito à prisão em sala de Estado-Maior se estiver no livre exercício da profissão, o que
não é o caso se ele estiver suspenso dos quadros da OAB. Assim, decretada a prisão preventiva de advogado,
este não terá direito ao recolhimento provisório em sala de Estado Maior caso sua inscrição na ordem esteja
suspensa. STJ. 6ª Turma. HC 368.393-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/9/2016 (Info
591)

*#IMPORTANTE #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A prerrogativa conferida ao advogado da prisão em sala de


Estado-Maior (art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94) continua existindo mesmo que já estejamos na fase de execução
provisória da pena?  Redação literal da Lei: SIM. O art. 7º, V, afirma que o advogado terá direito de ser preso em
sala de Estado-Maior até que haja o trânsito em julgado.  STJ: NÃO. A prerrogativa conferida aos advogados pelo
art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94, referese à prisão cautelar, não se aplicando para o caso de execução provisória da
pena (prisãopena). STJ. 6ª Turma. HC 356.158/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/05/2016.  STF:
ainda não tem posição expressa sobre o tema. No entanto, a Corte não admite reclamação contra decisões dos
Tribunais que determinam a prisão dos advogados condenados em 2ª instância em unidades prisionais comuns
(STF. 2ª Turma. Rcl 25111 AgR/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2017. Info 865).

Há também outras vedações de prisões antes do trânsito em julgado, como ocorre com os membros do
Congresso Nacional (art. 53, CF: “salvo fragrante em crime inafiançável”), com as ressalvas ali previstas, e com
o presidente da República (art. 86, §3°, CF), que somente pode ser preso depois do trânsito em julgado.

PRISÃO EM FLAGRANTE

O auto de flagrante é uma das peças inaugurais do Inquérito policial. Notitia criminis de cognição coercitiva (é
coercitiva porque chegam com a notícia todos os envolvidos).
Nos crimes de APP CONDICIONADA e nos de delitos de AP PRIVADA, o auto não pode ser elaborado sem a
autorização da vítima, que, no entanto, não exige rigor formal;

SUJEITO ATIVO: O sujeito ativo (artigo 301, CPP) divide-se em flagrante obrigatório (autoridade policial – a
qualquer momento mesmo que não esteja trabalhando – e seus agentes devem prender quem se ache em estado
de flagrância - Lei 9.034/95, artigo 2 o., II, ação controlada, atribuição de discricionariedade para escolher o melhor
momento para identificar e responsabilizar maior número de integrantes) e facultativo (qualquer pessoa maior de
18 anos do povo poderá prender).

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Quando qualquer do povo prende alguém em flagrante, está agindo sob a excludente de ilicitude do exercício
regular de direito (art. 23, III, CP), e quando a prisão for realizada por policial, trata-se de estrito cumprimento
de dever legal (art. 23, III, CP).

No flagrante facultativo, o particular pode usar da força necessária para prender em flagrante, pois se a lei dá essa
faculdade, dá também os poderes para viabilizar a faculdade.

Quem prende em flagrante (particular ou autoridade) pode apreender documentos no flagrante.

A CPI e a guarda municipal podem prender em flagrante.

SUJEITO PASSIVO: No pólo passivo (quem pode ser preso), figuram os maiores de 18 anos (se menor, é
apreensão em flagrante). Não poder ser preso em flagrante é limitação à impossibilidade de lavratura do auto de
prisão em flagrante.

Mas algumas pessoas sofrem certas restrições sobre a possibilidade de serem presas em flagrante delito:

1) Promotor e Juiz:somente podem ser presos em flagrante por crime inafiançável e, mesmo assim, devem ser
apresentados imediatamente ao seu respectivo chefe (procurador geral de justiça e presidente do tribunal de
justiça), que velará pela regularidade da prisão.

2) Deputados Federais, estaduais e Senadores:somente podem ser presos em caso de crime inafiançável e
remessa do auto em 24h à Casa Legislativa que, pela maioria dos seus membros, deliberará sobre a prisão
(artigo 53, § 2o., CF).

3) Vereadores: podem figurar no pólo passivo da prisão em flagrante, sem restrições.


4) Presidente da República:não pode ser sujeito passivo de prisão em flagrante (artigo 86, § 3o, CF), o PR
somente estará sujeito à prisão depois da sentença penal condenatória, não podendo figurar no pólo passivo do
auto de prisão em flagrante.

5) Governador do Estado: não goza de imunidade, portanto, pode ser preso em flagrante; o STF diz que essa
prerrogativa não foi dada pela CF.

Ex: Caso Arruda/DF:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


56
PRISÃO - GOVERNADOR - LEI ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL. Porque declarada inconstitucional pelo Supremo -
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.024-4/DF, Relator Ministro Celso de Mello -, não subsiste a regra
normativa segundo a qual a prisão do Governador pressupõe sentença condenatória.
(STF - HC 102732, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 04/03/2010)

6) Embaixador/representante diplomático: não pode ser preso em flagrante, salvo se o Estado acreditante abrir
mão da imunidade. A imunidade se estende à família e ao pessoal da embaixada, salvo se forem nacionais do
Estado acreditado ou se tiverem domicílio no Brasil.

7) Cônsul: só pode ser preso em flagrante se o crime for grave. Define-se o que é crime grave no caso concreto, e
o STF já decidiu, no caso do Cônsul de Israel, que crime sexual cometido contra menores é crime grave. Os
familiares não gozam da imunidade, que é estendida ao pessoal técnico e administrativo.

HIPÓTESES DE FLAGRANTE

Abaixo, as hipóteses trazidas expressamente no CPP:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal; (flagrante próprio)
II - acaba de cometê-la; (flagrante próprio)
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração; (flagrante impróprio ou quase flagrante)
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da
infração. (flagrante ficto ou presumido)

FLAGRANTE PRÓPRIO OU PROPRIAMENTE DITO

No crime permanente, enquanto durar a permanência, persiste a situação de flagrância (seqüestro e cárcere
privado, p. ex.). O traficante pode ser preso em local distinto do que guarda a droga? Sim, porque enquanto
mantiver a droga em depósito, o traficante está praticando a conduta de tráfico, guardar.

Não há qualquer menção na lei sobre o prazo de 24 horas ser identificador como término do flagrante, sendo
possível haver prisão em flagrante até 72 horas depois da prática do ato, tudo a depender do caso concreto. O
que interessa para o flagrante é a caracterização das situações previstas na lei.

Questão relevante é saber o momento da efetiva consumação do crime para determinar a situação de flagrante.
Exemplo: crime de corrupção passiva (artigo 317, CP) – solicitar ou receber o funcionário público – consuma-se
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
57
com a simples solicitação; assim, se o funcionário solicita e combina o recebimento uma semana depois, no
momento do recebimento não há flagrante, mas mero exaurimento.

FLAGRANTE IMPRÓPRIO OU QUASE FLAGRANTE

Enquanto dura a perseguição, é cabível o flagrante impróprio. Ele só deixa de existir quando a própria autoridade
policial desistir de continuar a perseguição, e não simplesmente quando ela perde o criminoso de vista. Não há
um lapso temporal determinado para a prisão em flagrante impróprio.

FLAGRANTE PRESUMIDO OU FICTO

Há vários julgados que dizem que se o indivíduo se apresenta espontaneamente não há como caracterizar a
flagrância, porque não foi encontrado.

FLAGRANTE PREPARADO OU PROVOCADO POR OBRA DO AGENTE PROVOCADOR

A palavra-chave é indução.

Súmula 145 STF: Não há crime quando a preparação do fragrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.

Fundamento: o artigo 17 CP, que trata do crime impossível (não se pune a tentativa quando, por ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime), se aplica ao
flagrante preparado.

Há na doutrina vários exemplos, alguns até equivocados:

Exemplo: policial que se faz passar por usuário para comprar drogas e prender o traficante; se essa venda é
simulada, jamais se consumará o crime na modalidade vender, mas, em princípio é válido o flagrante em relação à
modalidade trazer consigo.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


58
Autoridades policiais/agentes: obrigados a promover o flagrante. art. 301
Flagrante compulsório ou
CPP. Exceção: arts. 8 e 9 o II Lei 12.850 e 53 II Lei 11343 (ação controlada
obrigatório (art. 301 CPP)
em organizações criminosas e tráfico).
Flagrante facultativo (art. 301 CPP) Qualquer do povo: faculdade de realizar o flagrante.
A polícia coloca “provas” forjando um flagrante; há, no mínimo, abuso de
Flagrante forjado
autoridade ou outro crime mais grave; não é válido.
Não há qualquer indução para a prática do crime, trata-se somente de
Flagrante esperado
delação; é válido.
Flagrante provocado/preparado
Há indução para a prática do crime; é inválido.
(súm. 145 STF)
A infiltração exige prévia autorização judicial; objetivo = verificação e
colheita de provas; não pode haver induzimento.
Já para a ação controlada, exige-se autorização judicial, em regra (Lei de
Ação controlada e infiltração policial
Drogas e Lavagem de Capitais), com exceção da Lei de Organização
FLAGRANTE PRORROGADO OU
Criminosa, que apenas exige comunicação ao juízo.
RETARDADO
A autoridade pode aguardar o melhor momento para promover o
(Leis 9.034 e 11.343)
flagrante, de modo a identificar e responsabilizar maior número de
integrantes.

Flagrante em várias espécies de crime: modalidades de crimes que comportam prisão em flagrante:

a. Crimes permanentes (aqueles em que se consumam a todo momento): a prisão em flagrante pode ocorrer a
qualquer momento. Exemplo: estocar droga em casa: a polícia poderá invadir esta casa a qualquer hora do
dia ou da noite, sendo este flagrante válido. Para Paulo Rangel, se a polícia entra e não encontra nada, há
abuso de autoridade, além de imprudência por parte do delegado.

b. Crimes habituais: não cabe flagrante nesses crimes, pelo fundamento de impossibilidade prática de
demonstrar a flagrância. Para Mirabete, posição minoritária, caberá flagrante.

c. Crimes de ação penal privada e ação penal pública condicionada: cabe sim, a prisão em flagrante, mas a
lavratura do auto de prisão em flagrante está condicionada à autorização da vítima. Nesses crimes, até
mesmo a instauração do inquérito pressupõe a autorização da vítima. Mas a solução não pode ser rígida.
Caso a vítima seja incapaz de dar seu consentimento, ou não esteja presente, lavra-se a prisão e busca-se
colher a manifestação do ofendido para efeito de lavratura do auto de prisão em flagrante. Para esta

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


59
autuação, basta a manifestação inequívoca da vítima ou de seu representante legal, não sendo necessária,
ainda, a representação ou a queixa. Mas, se no prazo de 24 horas para a entrega da nota de culpa o flagrante
não estiver lavrado, impõe-se a soltura do preso.

d. Crimes formais: o crime prevê o resultado, mas não o exige para a consumação do crime (Exemplos:
extorsão, concussão, corrupção). São crimes que se consumam com a conduta, independentemente do
resultado naturalístico. O flagrante cabe no momento da consumação e não no momento do exaurimento.

Obs.: nas infrações de menor potencial ofensivo (contravenções penais e crimes apenados em até 2 anos), não
há que se falar na lavratura do auto de prisão em flagrante, mas sim na confecção de termo circunstanciado.

AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. FORMALIDADES.


*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Prisão em flagrante “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
Art. 283. Ninguém poderá ser preso competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de
senão em flagrante delito ou por ordem condenação criminal transitada em julgado.”
escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em
julgado ou, no curso da investigação ou
do processo, em virtude de prisão
temporária ou prisão preventiva.

Art. 287. Se a infração for Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
inafiançável, a falta de exibição do mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será
mandado não obstará à prisão, e o imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o
preso, em tal caso, será imediatamente mandado, para a realização de audiência de custódia.”
apresentado ao juiz que tiver expedido
o mandado.

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Art. 310. Ao receber o auto de “Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo
prisão em flagrante, o juiz deverá máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da
fundamentadamente: (Redação prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a
dada pela Lei nº 12.403, de 2011). presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da
I - relaxar a prisão ilegal; Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa
ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
2011). § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
II - converter a prisão em flagrante agente praticou o fato em qualquer das condições constantes
em preventiva, quando presentes os dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848,
requisitos constantes do art. 312 deste de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) (legítima defesa),
Código, e se revelarem inadequadas ou poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade
insuficientes as medidas cautelares provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


60
diversas da prisão; ou (Incluído todos os atos processuais, sob pena de revogação.
pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
III - conceder liberdade provisória, organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
com ou sem fiança. (Incluído pela fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
Lei nº 12.403, de 2011). ou sem medidas cautelares.
Parágrafo único. Se o juiz § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
verificar, pelo auto de prisão em realização da audiência de custódia no prazo estabelecido
flagrante, que o agente praticou o fato no caput deste artigo (24 horas após recebimento do auto de
nas condições constantes dos incisos I a prisão em flagrante) responderá administrativa, civil e penalmente
III do caput do art. 23 do Decreto-Lei pela omissão.
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do
Código Penal, poderá, prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
fundamentadamente, conceder ao audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
acusado liberdade provisória, mediante ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
termo de comparecimento a todos os sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
atos processuais, sob pena de preventiva.” (NR)
revogação. (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

ATENÇÃO: Houve mudanças significativas quanto a prisão em flagrante, que agora após 24 (vinte e quatro) horas
após a sua realização, deverá ser feita a audiência de custódia. Ainda, caso seja verificado pelo juiz que o agente é
reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito,
deverá denegar a liberdade provisória.
Há também uma previsão de penalidade administrativa, civil e penal, caso o juiz sem motivação idônea não
realize a audiência de custódia no prazo estabelecido.8
Antes da lei 13.964/19 a audiência de custódia apenas era prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos
(CADH) e no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, e regulada pela Resolução 213/15, e agora, está
prevista e regulada expressamente no CPP. Mas antes a falta de audiência de custódia não ensejava a nulidade da
prisão preventiva, e agora, transcorridas 24 horas após o decurso do prazo, a não realização de audiência de
custódia ensejará a ilegalidade da prisão, devendo ser relaxada, sem prejuízo da imediata decretação de prisão
preventiva.

Prisão em flagrante: primeiro o juiz verifica se a prisão é legal ou não; sendo ilegal, relaxará; sendo legal, deverá,
agora por força do art. 310 do CPP, com a redação dada pela Lei 12.403/11, convertê-la em preventiva, se
presentes os requisitos do art. 312 (SE HOUVER REQUERIMENTO #PACOTEANTICRIME), e não se revelarem
adequadas ou suficientes uma das medidas cautelares diversas da prisão, ou ainda conceder liberdade provisória,
com ou sem fiança.

É dizer, atualmente, a doutrina entende que o agente não poderá permanecer mais segregado por força, apenas,
da prisão em flagrante, devendo o magistrado, fundamentadamente, tomar uma das medidas previstas no art.
310, CPP.

É feito, em regra, pela autoridade policial, mas há possibilidade legal de ser o auto lavrado pela autoridade
judiciária (se o crime for na sua presença, em audiência, por exemplo). Ouvem-se o condutor, as testemunhas e o

8
https://jus.com.br/artigos/78653/pacote-anticrime-lei-n-13-964-2019-e-suas-mudancas-no-ambito-penal-e-processual-penal
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
61
indiciado, nessa ordem, assegurado a esse último o direito ao silêncio. O apreendido menor de 21 anos não
precisa mais de curador, ao contrário de outrora. Se o réu não tiver advogado, serão os autos enviados
imediatamente à Defensoria Pública (art. 306, CPP). A nota de culpa tem de ser entregue em até 24 horas, sob
pena de relaxamento da prisão.

Por vezes, não é só a invocação do direito ao silêncio que obstaculiza a realização do interrogatório, uma vez que
outras situações impeditivas podem ocorrer. Ilustrando: o indiciado pode estar hospitalizado, porque trocou tiros
com a polícia e não está em condições de depor.

Registre-se ser a prisão em flagrante uma exceção à regra da necessidade de existência de ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária para a detenção de alguém. Por isso, é preciso respeitar, fielmente, os
requisitos formais para a lavratura do auto, que está substituindo o mandado de prisão expedido pelo juiz. Assim,
a ordem de inquirição deve ser exatamente a exposta no art. 304 do CPP: o condutor, em 1°, as testemunhas, em
seguida, e por último, o conduzido. A inversão dessa ordem deve acarretar o relaxamento da prisão, impondo-se
a responsabilidade da autoridade.

Autuado É o sujeito passivo da prisão em flagrante


É aquele que leva o preso à autoridade competente, para elaboração do auto; é preciso pelo
Condutor menos 02 testemunhas, sendo pacífico que o condutor pode depor como uma das
testemunhas para a validade do auto
São as citadas no item anterior; mas, se não tiver testemunhas, não impedirá a prisão em
flagrante, mas, com o condutor deverão assinar o auto de prisão, duas testemunhas
Testemunhas
(TESTEMUNHAS FEDATÁRIAS, dão fé ao fato) que tenham presenciado a apresentação do
preso à autoridade policial
Autoridade Como regra, é autoridade policialque lavra o auto de prisão em flagrante, mas há casos em
competente que o juiz pode lavrar, nos termos do artigo 307, parte final.

Artigo 307. Quando o fato for praticado na presença da autoridade ou contra esta, no
exercício de suas funções, constarão do auto: a narração deste fato, a voz de prisão, as
declarações que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado pela
autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao juiz a quem couber
tomar conhecimento do fato delituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o
auto.

Pode também o agente florestal (artigo 33, b, da Lei 4771/65, dispositivo prevê um
procedimento jurisdicialiforme está revogado, a lei de crimes ambientais não previu essa

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


62
disposição, mas, as duas são conciliáveis)

Presidente do Senado e da Câmara nos crimes ocorridos em seus recintos

Se for em local diverso do competente para a instauração da ação penal, a autoridade que lavrar o auto
encaminhará o preso e o auto para a autoridade que tenha competência. A realização da prisão por autoridade
incompetente ratione loci, não invalida o auto, pois não há jurisdição.

O auto de prisão em flagrante será redigido pelo escrivão por ordem do delegado policial, devendo ouvir
informalmente a todos que lhe foram apresentados. Se se convencer de que a hipótese foi de flagrância, o
delegado lavrará o auto e prenderá o autor, mas, se não se convencer, simplesmente registra o fato, baixa
portaria, instaura o IP e liberta o indivíduo, por considerar que inexistiu o flagrante. Essa discricionariedade é
concedida à autoridade policial, que pode avaliar se está ou não configurada a flagrância.

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua
assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das
testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo,
após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. (Redação dada pela Lei nº
11.113, de 2005).
§ 1º Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão,
exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso
for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.
§ 2º A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o
condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à
autoridade.
§ 3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será
assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. (Redação dada pela Lei nº
11.113, de 2005)
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos,
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Formalidades do auto de prisão – o auto de prisão é um ato complexo que tem por finalidade assegurar a prisão
daquele que tenha sido localizado em estado de flagrância. Trata-se de uma hipótese de prisão cautelar efetivada

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


63
por autoridade policial9 e não por um juiz de direito. Por sua característica especial, deve estar revestida de
algumas formalidades que assegurarão a lisura dessa limitação à liberdade de locomoção:

a. Deve ser feita a comunicação imediata (artigo 5 o., LXII, CF) ao juiz de direito (velará pela regularidade da
prisão) e à família ou pessoa que o preso indicar (adotarão providências ou medidas para buscar o
relaxamento de uma prisão ilegal). Essa comunicação, pelo entendimento de alguns processualistas, deve ser
feita no prazo de 24h, aplicando-se a regra de emissão de nota de culpa. Há na doutrina quem sustente que a
ausência de comunicação implica a invalidade do auto, como peça coercitiva; mas a posição mais correta é a
que afirma que a invalidade ocorrerá somente se houver a demonstração de prejuízo. Tanto em um como em
outro caso, a ocorrência de invalidade restringe-se ao auto de prisão como instrumento de coerção de
liberdade, não implicando qualquer efeito sobre as informações colhidas.

b. Assistência de família e de advogado (LXIII) – o preso pode deixar de exercer o seu direito de ter a
assistência, ou seja, ele pode não querer a presença de ninguém no momento da lavratura do auto, o que a
polícia tem que garantir é o seu direito de assistência, que pode ser dispensado;

c. Silêncio (LXIII) nemotenetur se detegere– o réu tem o direito de permanecer calado, tem o direito de não
produzir prova contra si mesmo. Desse princípio extraem-se as seguintes conseqüências: não pode ser
compelido ao bafômetro*, a doar sangue, a fornecer material para exame de DNA, a se submeter ao exame
químico-toxicológico.

*“Em sessão realizada no dia 28/3/2012, a Terceira Seção desta Corte Superior de Justiça, no julgamento
do Resp. n.º 1.111.566/DF, admitido como representativo de controvérsia, decidiu, por maioria de votos,
que após o advento da Lei n.º 11.706/08, a incidência do delito previsto no art. 306 da Lei n.º 9.503/97 se
configura quando comprovado que o agente conduzia veículo automotor sob o efeito de álcool em
concentração superior ao limite previsto em lei, mediante a realização de exame de sangue ou teste do
bafômetro. In casu, embora tenha a denúncia e o laudo policial atestado a existência de indícios veementes
do estado de embriaguez do Recorrido, não houve qualquer comprovação no grau de concentração
alcóolica em seu sangue, o que impede o prosseguimento da ação penal ante a ausência de elementar
objetiva do tipo penal.” (STJ – AgRg no Resp 1207720/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 12/06/2012, Dje 19/06/2012)

ATRIBUIÇÃO DE FALSA IDENTIDADE PARA OCULTAR ANTECEDENTES CRIMINAIS

9
O artigo 305, CPP, diz que no caso de impedimento do escrivão, a autoridade policial pode designar qualquer pessoa para
lavrar o auto de prisão em flagrante, depois de prestado o compromisso.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
64
É típica a conduta do acusado que, no momento da prisão em flagrante, atribuiu para si falsa identidade (art.
307 do CP), ainda que em alegada situação de autodefesa. STJ. 3ª Seção. REsp 1.362.524-MG, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 23/10/2013.

Assim como no caso de uso de documento falso, também na hipótese de falsa identidade, o STF entende que há
crime quando o agente, para não se incriminar, atribui a si numa identidade que não é sua. Essa questão já foi,
inclusive, analisada pelo Pleno do STF em regime de repercussão geral.

Em suma, tanto o STF como o STJ entendem que a alegação de autodefesa não serve para descaracterizar a
prática dos delitos do art. 304 ou do art. 307 do CP.

*#SÚMULA: 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que
em situação de alegada autodefesa. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.

 Discussão quanto à caracterização do crime de atribuição de falsa identidade (art. 307, CP) quanto à
conduta de apresentar-se como outra pessoa perante a autoridade policial.
 NÃO CARACTERIZA CRIME: essa atitude representa uma manifestação da direito de autodefesa,
não podendo ser reconhecida como tipo penal.
Há divergência dentro da 5ª Turma do STJ, historicamente mais rigorosa.

*HABEAS CORPUS. ART. 307 DO CÓDIGO PENAL. CRIME DE FALSA IDENTIDADE. EXERCÍCIO DE AUTODEFESA.
CONDUTA ATÍPICA. "PRIVILÉGIO CONSTITUCIONAL CONTRA A AUTO-INCRIMINAÇÃO: GARANTIA BÁSICA QUE
ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS.(...)
1. O direito do investigado ou do acusado de não produzir prova contra si foi positivado pela Constituição da
República no rol petrificado dos direitos e garantias individuais (art. 5.º, inciso LXIII). É essa a norma que
garante status constitucional ao princípio do "Nemo tenetur se detegere" (STF, HC 80.949/RJ, Rel. Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, 1.ª Turma, DJ de 14/12/2001), segundo o qual, repita-se, ninguém é obrigado a
produzir quaisquer provas contra si.
Omissis.
5. É atípica a conduta de se atribuir falsa identidade perante autoridade policial com o intuito de não se
incriminar, pois se trata de hipótese de autodefesa, consagrada no art. 5.º, inciso LXIII, da Constituição
Federal, que não configura o crime descrito no art. 307 do Código Penal. Precedentes.
6. Habeas corpus concedido, para absolver o Paciente do crime de falsa identidade.
(STJ - HC 167.520/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 19/06/2012, DJe 28/06/2012)

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


65
*HABEAS CORPUS. PENAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PARA SUA
VERIFICAÇÃO. INSTRUÇÃO DEFICIENTE. ART. 307 DO CP. FALSA IDENTIDADE. OBJETIVO DE OCULTAR
ANTECEDENTES CRIMINAIS. ALEGAÇÃO DE AUTODEFESA. INADMISSIBILIDADE. CONDUTA TÍPICA. ORDEM
PARCIALMENTE CONHECIDA E, NA EXTENSÃO, DENEGADA.

1. Em relação à prescrição da pretensão punitiva, verifico que os autos não estão suficientemente instruídos,
o que torna inviável a sua análise, não sendo possível visualizar os marcos interruptivos apontados pelo
impetrante, notadamente a data da publicação da sentença condenatória.
2. Esta Corte, em recentes julgados, observando orientação emanada do Supremo Tribunal Federal, firmou
compreensão no sentido de que tanto o uso de documento falso (art. 304 do Código Penal), quanto a
atribuição de falsa identidade (art. 307 do Código Penal), ainda que utilizados para fins de autodefesa,
visando a ocultação de antecedentes, configuram crime.
3. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, denegado.
(STJ - HC 151.554/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2012,
DJe10/05/2012)

 CARACTERIZA CRIME: essa conduta não caracteriza manifestação do direito de autodefesa,


restando configurada a figura penal.
Posição adotada pela 6ª Turma do STJ e pelo STF.

*DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. FALSA IDENTIDADE PARA EXIMIR-SE DE RESPONSABILIDADE. DIREITO À
AUTODEFESA. INAPLICABILIDADE. CONDUTA QUE SE AMOLDA AO ART. 307 DO CÓDIGO PENAL. ORDEM
DENEGADA.

1. A Sexta Turma deste Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à posição adotada pelo Supremo
Tribunal Federal, firmou a compreensão de que tantoa conduta de utilizar documento falso como a de
atribuir-se falsa identidade, para ocultar a condição de foragido ou eximir-se de responsabilidade,
caracterizam, respectivamente, o crime do art. 304 e do art. 307 do Código Penal, sendo inaplicável a tese de
autodefesa.
2. No caso, conforme depreende-se da imputação, no momento de sua prisão, o paciente atribuiu-se falsa
identidade para eximir-se de responsabilidade penal, estando, portanto, caracterizada a tipicidade da
conduta.
3. Ordem denegada.
(STJ - HC 151.802/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
19/04/2012, DJe 30/04/2012)

Qual aposição adotada no TRF1?


CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
66

Há um julgado do Des. Ítalo Mendes (TRF1 - ACR 0024644-39.2010.4.01.3800/MG), que compõe a Banca na
qualidade de suplente, de novembro de 2011, no qual ele, filiando-se à posição até então adotada pelo STJ,
entendeu pela atipicidade da conduta, pelas razões já expostas (autodefesa).
Contudo, deve-se ter em mente que, atualmente, esta tese da autodefesa perdeu força no próprio STJ, após
o STF entender pela tipicidade da falsa identidade nas condições aqui aduzidas, o que pode levar o eminente
Desembargador a rever seu posicionamento.

Por sua vez, encontrei um precedente mais antigo, de 2007, em julgamento que contou com a participação
do juiz convocado Dr. Saulo Casali, também componente da Banca, onde se entendeu pela tipicidade da
conduta de atribuir-se falsa identidade para ocultar-se da atuação policial.

d. Direito de ser informado sobre o silêncio sob pena de nulidade do auto (STF). Contra, dizendo que não há
invalidade (STJ), salvo se decorrer algum prejuízo, p. ex., se o réu não foi informado de seu direito, mas,
permaneceu em silêncio, não há porque se falar em nulidade.

e. Nota de culpa – possui um nome muito infeliz podendo levar ao entendimento que seria um reconhecimento
de culpa, mas ela nada mais é do que a cientificação do preso dos motivos pelos quais está sendo preso. Será
entregue ao preso no prazo de 24h, que deverá assinar; se não o fizer, o delegado chamará duas
testemunhas que certificarão a entrega. A falta da nota de culpa somente implicará nulidade do auto de
prisão em flagrante se daí resultar prejuízo.

 Hipóteses em que há afastamento do flagrante – há algumas hipóteses nas quais o flagrante não será
configurado:

1. O CTB prevê que nos crimes de trânsito, em sendo prestado socorro à vítima pelo agente, estará afastado o
flagrante;

2. Nos Juizados Especiais Criminais, se o agente preso em flagrante assinar um termo de comparecimento ao
juizado não terá o flagrante mantido;

 Contravenções penais: não é possível a lavratura do auto, exceto se há recusa de comparecimento em


juízo.

 Flagrante e excludentes de antijuridicididade: pelo CPP cabe o flagrante, podendo ser lavrado, cabendo
ao juiz conceder liberdade provisória. Não cabe preventiva (art. 314, Lei 12.403/11). Solução jurídica:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


67
lavrar o auto para a documentação, mas não recolher ao cárcere. Note-se que a lei não diz isso, cabe ao
juiz liberar em caso de excludentes de ilicitude.

DAS CAUTELARES DISTINTAS DA PRISÃO. INOVAÇÃO DA LEI 12.403/2011. PREVISÕES GERAIS, APLICÁVEIS
TAMBÉM ÀS PRISÕES:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente
previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou
acusado. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Medidas Cautelares Art. 282.

Art. 282. § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a


requerimento das partes ou, quando no curso da investigação
§ 2o As medidas cautelares serão
criminal, por representação da autoridade policial ou mediante
decretadas pelo juiz, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público.
requerimento das partes ou, quando no
curso da investigação criminal, por Obs. Juiz não pode mais decretar medida cautelar de ofício.
representação da autoridade policial ou
mediante requerimento do Ministério
Público. (Incluído pela Lei nº § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da
12.403, de 2011). medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no
prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e
§ 3o Ressalvados os casos de urgência das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os
ou de perigo de ineficácia da medida, o casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e
juiz, ao receber o pedido de medida fundamentados em decisão que contenha elementos do caso
cautelar, determinará a intimação da

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


68
parte contrária, acompanhada de cópia concreto que justifiquem essa medida excepcional.
do requerimento e das peças
necessárias, permanecendo os autos em
juízo. (Incluído pela Lei nº 12.403, § 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
de 2011). impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de
seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida,
impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão
§ 4o No caso de descumprimento de preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste
qualquer das obrigações impostas, o Código.
juiz, de ofício ou mediante
Obs. Em caso de descumprimento, o juiz não pode, de ofício,
requerimento do Ministério Público, de
substituir a medida, cumular com outra ou decretar a prisão
seu assistente ou do querelante, poderá
preventiva.
substituir a medida, impor outra em
cumulação, ou, em último caso,
decretar a prisão preventiva (art. 312,
§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
parágrafo único). (Incluído pela Lei
medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
nº 12.403, de 2011).
para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem
razões que a justifiquem.

§ 5o O juiz poderá revogar a medida Obs. Quando faltar motivo para que subsista a medida cautelar
cautelar ou substituí-la quando verificar imposta ou quando sobrevierem razões que a justifique, o juiz
a falta de motivo para que subsista, poderá, de ofício, revogá-la ou substituí-la.
bem como voltar a decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não
for cabível a sua substituição por outra medida cautelar,
observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da
§ 6o A prisão preventiva será substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de
determinada quando não for cabível a forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto,
sua substituição por outra medida de forma individualizada.”
cautelar (art. 319).

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso
da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


69

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Art. 283. Ninguém poderá ser preso “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou
senão em flagrante delito ou por ordem por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
escrita e fundamentada da autoridade competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de
judiciária competente, em decorrência condenação criminal transitada em julgado.”
de sentença condenatória transitada em
julgado ou, no curso da investigação ou
do processo, em virtude de prisão
temporária ou prisão preventiva.

283 § 1º As medidas cautelares previstas neste Título não se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa
ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). – Expressão do
princípio da proporcionalidade ou da homogeidade.
§ 2º A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à
inviolabilidade do domicílio. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 10

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Art. 287. Se a infração for Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
inafiançável, a falta de exibição do mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será
mandado não obstará à prisão, e o imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o
preso, em tal caso, será imediatamente mandado, para a realização de audiência de custódia.”
apresentado ao juiz que tiver expedido
o mandado.

DISPOSIÇÕES ESPECÍFICAS PARA AS CAUTELARES PESSOAIS DISTINTAS DA PRISÃO. 11

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
10
#FICADEOLHO: Caiu na DPE/AC – 2017 (CESPE)
11
A seguinte assertiva foi considerada correta (TJPR – 2017): São medidas cautelares diversas da prisão, entre outras, o
comparecimento periódico em juízo, a monitoração eletrônica e a fiança.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
70
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato,
deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva
o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha
residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando
houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando
os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a
obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403,
de 2011).
IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 1º a 3º (Revogados pela Lei nº 12.403, de 2011).
§ 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com
outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar
as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24
(vinte e quatro) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

* #OLHAOGANCHO: A cautelar fixada de proibição para que agente diplomático acusado de homicídio se ausente
do país sem autorização judicial não é adequada na hipótese em que o Estado de origem do réu tenha renunciado
à imunidade de jurisdição cognitiva, mas mantenha a competência para o cumprimento de eventual pena criminal
a ele imposta. STJ. 6ª Turma. RHC 87.825-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/12/2017 (Info 618).

Legitimidade para requerer as cautelares (Pacelli): na investigação, MP e autoridade policial (juiz de ofício não).
No processo, juiz de ofício TAMBÉM NÃO (lei anticrime) ; MP ou querelante; ou assistente. Quanto ao assistente,
a doutrina divergia, mas a nova lei pacificou a sua legitimidade.

Mesmo nos crimes inafiançáveis, segundo Pacelli, é possível utilizar as cautelares distintas de prisão (exceto
apenas, naturalmente, a fiança).
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
71

*PRISÃO. Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao tráfico, mas já
desfeita, pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão. Na hipótese em que a atuação do
sujeito na organização criminosa de tráfico de drogas se limitava à lavagem de dinheiro, é possível que lhe sejam
aplicadas medidas cautelares diversas da prisão quando constatada impossibilidade da organização continuar a
atuar, ante a prisão dos integrantes responsáveis diretamente pelo tráfico. STJ. 6ª Turma. HC 376.169-GO, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 1/12/2016 (Info 594).

*Não é possível que o juiz determine, como medida cautelar substitutiva da prisão, a incomunicabilidade do
acusado com seu genitor/corréu. A fixação da medida restritiva substitutiva não deve se sobrepor a um bem tão
caro como é a família, sendo isso protegido inclusive pela Constituição Federal, em seu art. 226. STJ. 6ª Turma.HC
380.734-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

PRISÃO PREVENTIVA

É uma modalidade de prisão importante, que gera reflexos em outros temas importantes no Direito Processual
Penal, dentre eles, a liberdade provisória, prisão por pronúncia, prisão para apelar.
Art. 311. (...)

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Art. 311. Em qualquer fase da “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo
investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a
penal, caberá a prisão preventiva requerimento do Ministério Público, do querelante ou do
decretada pelo juiz, de ofício, se no assistente, ou por representação da autoridade policial.”
curso da ação penal, ou a requerimento
do Ministério Público, do querelante ou
do assistente, ou por representação da
autoridade policial. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

OBSERVAÇÃO: A prisão preventiva pode ser decretada a qualquer tempo, na investigação ou no processo (ao
contrário da temporária, que é só na investigação). A legitimidade para requerer, na investigação, é da Polícia ou
do MP, apenas. Nessa fase, o Juiz não pode decretar de ofício. No processo, é do Juiz (que, nesta outra fase, pode
decretar de ofício), do MP ou do querelante, e do assistente. Quanto ao assistente, havia polêmica, mas a nova lei
deixou clara sua legitimação.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
72

Destaco que, com a edição da Lei 12.694, de 24 de julho de 2012, que dispõe sobre o processo e o julgamento
colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir
pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, notadamente decretar a prisão ou medidas
assecuratórias (art. 1, I e §1º).

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal (requisitos), quando houver prova
da existência do crime e indício suficiente de autoria (pressupostos). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Art. 312. A prisão preventiva Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia
poderá ser decretada como garantia da da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da
ordem pública, da ordem econômica, instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
por conveniência da instrução criminal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
ou para assegurar a aplicação da lei autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
penal, quando houver prova da
§
existência do crime e indício suficiente
1º ........................................................................................................
de autoria. (Redação dada pela Lei
.....
nº 12.403, de 2011).

§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada


Parágrafo único. A prisão
e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos
preventiva também poderá ser
novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida
decretada em caso de descumprimento
adotada.” (NR)
de qualquer das obrigações impostas
por força de outras medidas cautelares
(art. 282, § 4o). (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o). (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


73
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, seráadmitida a decretação da prisão preventiva: (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011). – princípio da proporcionalidade ou homogeneidade. Crime culposo não admite
preventiva, pela lei. Já se o crime for doloso, mas tiver pena máxima até 4 anos, só admitirá preventiva em caso
de reiteração, com base no inciso seguinte.

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011). – reincidente em crime doloso, salvo se já transcorreram mais de 5 anos após o
cumprimento da pena.

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011). – Aqui, para Pacelli, não se exige que a pena máxima cominada seja superior a 4 anos, mas é
preciso que o crime seja doloso e que haja alguma pena privativa de liberdade cominada.

*#DEOLHONAJURIS #STJ #DIZERODIREITO: A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica,


não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu. O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será
admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas
de urgência”. Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção
penal). Logo, não há previsão legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal.
Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita. STJ. 6ª Turma.
HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
26/06/2018 (Info 632). #IMPORTANTE

Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da
pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Art. 313. Nos termos do art. 312 “Art. 313. ...........................................................................................


deste Código, será admitida a
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
74
decretação da prisão preventiva:
§ 1º ...................................................................................................
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a
finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como
I - nos crimes dolosos punidos
decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação
com pena privativa de liberdade
ou recebimento de denúncia.” (NR)
máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

II - se tiver sido condenado por


outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o
disposto no inciso I do caput do art. 64
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal;
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).

III - se o crime envolver violência


doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de
urgência; (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).

IV - (revogado). (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
(Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único. Também será


admitida a prisão preventiva quando
houver dúvida sobre a identidade civil
da pessoa ou quando esta não fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la,
devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


75

identificação, salvo se outra hipótese


recomendar a manutenção da
medida. (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).

Art. 314. (...) Não cabe prisão preventiva se houver comprovação de excludentes de ilicitude.

Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada. (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Art. 315. A decisão que decretar, Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada.
preventiva será sempre motivada.
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a
existência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a
aplicação da medida adotada.

§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial,


seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato


normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o


motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra


decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo


capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


76

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem


identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que
o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou


precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.”

Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo para que
subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº
5.349, de 3.11.1967) – É rebus sic stantibus: o juiz pode revogar ou substituir por cautelar diversa, a qualquer
momento.

*Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019

Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão “Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar
preventiva se, no correr do processo, a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo,
verificar a falta de motivo para que verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como
subsista, bem como de novo decretá-la, novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
se sobrevierem razões que a
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão
justifiquem.
emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a
cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício,
sob pena de tornar a prisão ilegal.”

Obs. Juiz não poderá mais decretar a prisão preventiva de ofício, mas quando faltar motivo para que subsista
ou quando sobrevierem motivos que a justifique, o juiz poderá, de ofício, revogá-la ou substituí-la,
respectivamente.

ANTES DA LEI 13964/19 DEPOIS DA LEI 13964/19

Em qualquer fase da investigação policial ou do Em qualquer fase da investigação policial ou do


processo penal, caberá a PRISÃO PREVENTIVA
processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
decretada pelo juiz, a requerimento do ministério

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


77
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial – DE OFÍCIO O
requerimento do Ministério Público, do querelante ou
JUIZ SÓ PODE REVOGAR OU SUBSTITUIR A
do assistente, ou por representação da autoridade PREVENTIVA, ESTANDO VEDADA A DECRETAÇÃO.

policial

A prisão preventiva poderá ser decretada como A prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar
a aplicação da lei penal, quando houver prova da
a aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria E DE
existência do crime e indício suficiente de autoria. PERIGO GERADO PELO ESTADO DE LIBERDADE DO
IMPUTADO.

Não será admitida a decretação com a finalidade de


antecipação de cumprimento de pena ou como
decorrência imediata de investigação criminal ou da
apresentação ou recebimento de denúncia

Na motivação da decretação da prisão preventiva ou


de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar
concretamente a existência de fatos novos ou
contemporâneos que justifiquem a aplicação da

medida adotada.

NÃO SE CONSIDERA FUNDAMENTADA QUALQUER


DECISÃO JUDICIAL, seja ela interlocutória, sentença ou

acórdão, que:

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase

de ato normativo, sem explicar sua relação com a

causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados,

sem explicar o motivo concreto de sua incidência no


caso;

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


78
III - invocar motivos que se prestariam a justificar

qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos

no processo capazes de, em tese, infirmar a

conclusão adotada pelo julgador;

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de

súmula, sem identificar seus fundamentos

determinantes nem demonstrar que o caso sob

julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula,

jurisprudência ou precedente invocado pela parte,

sem demonstrar a existência de distinção no caso em

julgamento ou a superação do entendimento.

O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
revogar a prisão preventiva se, no correr da
do processo, verificar a falta de motivo para que
investigação ou do processo, verificar a falta de
subsista, bem como de novo decretá-la, se
motivo para que ela subsista, bem como novamente
sobrevierem razões que a justifiquem.
decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Decretada, deve-se revisar a necessidade de sua


manutenção a cada 90 dias – DEVER DE REVISÃO DA
NECESSIDADE DA MANUTENÇÃO DA PREVENTIVA A
CADA 90 DIAS!

*#OUSESABER: Certo ou Errado? O descumprimento do acordo de colaboração premiada é fundamento idôneo


para a decretação da prisão preventiva. ITEM ERRADO. Ao contrário do afirmado, a Lei 12.850/2013, norma
central do instituto da colaboração premiada, não apresenta a revogação da prisão preventiva como benefício
previsto pela realização de acordo de colaboração premiada. Tampouco há previsão de que, em decorrência do
descumprimento do acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente revogada. Portanto, a celebração
de acordo de colaboração premiada não é, por si só, motivo para revogação de prisão preventiva. Esse foi o

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


79
entendimento do STF em recente julgado, ao afirmar não haver, do ponto de vista jurídico, relação direta entre o
acordo de colaboração premiada e a prisão preventiva, sendo necessária a verificação, no caso concreto, da
presença dos requisitos da prisão preventiva, conforme art. 312 e seguintes do CPP, não podendo o decreto
prisional ter como fundamento apenas a quebra do acordo. (HC 138207/PR, rel. Min. Edson Fachin, julgamento
em 25.4.2017)

Tem como REQUISITOS:


Fumus boni juris (fumus comissi delicti); periculum in mora (periculum libertatis); proporcionalidade
(homogeneidade, adequação e real necessidade da prisão, não sendo suficiente medida cautelar pessoal distinta);
mais os pressupostos (indícios de autoria e prova da materialidade) e requisitos (garantia da ordem pública,
econômica, conveniência da instrução criminal, assegurar a aplicação da lei penal) específicos do art. 312 (quer os
quatro do caput, quer a inobservância de cautelares pessoais distintas); e os requisitos específicos do art. 313
(salvo, segundo Pacelli, na hipótese de inobservância de cautelares pessoais distintas, em que se dispensa o art.
313).

GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA: indícios concretos de que o agente voltará a delinquir, associados à gravidade e
à repercussão do delito. Não se confunde com o mero clamor público, que não justifica isoladamente a prisão
preventiva. Ele é apenas mais um critério a ser tomado como acessório, mas não um critério autônomo apto a
lastrear, por si só, a medida.

GARANTIA DA ORDEM ECONÔMICA: É a aplicação da garantia da ordem pública especificamente no campo da


ordem econômica.

POR CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL: Exemplos - réu que ameaça a testemunha, assaltante solto que
não comparece à audiência.

PARA ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL: Possibilidade concreta de fuga. A prisão preventiva não pode ser
decretada isoladamente pelo fundamento do artigo 366, é preciso que haja a verificação dos demais requisitos.
Se o réu foi citado por edital e não compareceu, também não pode ser decretada a preventiva por garantia da
instrução criminal, pois, para obstruir a instrução criminal, o réu tem de estar presente. Em princípio, são
argumentos incompatíveis entre si.

Os Tribunais Superiores entendem que a prisão preventiva só é legítima se fundamentada em elementos


concretos e bases empíricas, donde se repudia as prisões decretadas com fundamento em termos genéricos
como clamor popular, credibilidade do Judiciário ou mera referência retórica à “ordem pública”.

FORMAS DE APLICAÇÃO:
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
80
Para Pacelli, a preventiva pode ser aplicada: autonomamente (com os requisitos dos arts. 312 e 313), como
conversão da prisão em flagrante (com os requisitos dos arts. 312 e 313 também) ou de maneira substitutiva,
como conversão das demais cautelares pessoais (aqui, não são necessários os requisitos do art. 313).
Não cabe preventiva para crimes culposos (mas Pacelli admite se, em razão da reiteração criminosa, for possível
antever uma possível aplicação de pena privativa de liberdade ao final). Também não cabe se a pena privativa de
liberdade não for cominada ao crime (exemplo: caso do uso de drogas).

PRAZO:
Antes a doutrina entendia que esse prazo era de 81 dias, fazendo-se uma soma de diversos prazos constantes no
CPP. Contudo, não há prazo legal. Deve ser por tempo razoável, caso não tenha findado a instrução penal. O
prazo é contado desde a prisão do acusadoaté o término da instrução penal. Após o término da instrução, fica
superada a alegação de excesso de prazo, conforme a Jurisprudência.
De todo modo, as duas principais balizas são:
a. O prazo não é rígido e peremptório, e casos complexos, inúmeras vezes, admitem preventivas por
prazos maiores, levando-se em conta o número de réus, seus comportamentos, a necessidade de atos
processuais fora da comarca de origem, dentre outros pontos; Tudo examinado sob o prisma do
princípio da razoabilidade (Não esquecer)!!

b. Se houver excesso de prazo, a prisão será relaxada, ainda que se trate de crime hediondo. A mora deve
ser ocasionada pelo Estado-Juiz.

* Em um caso concreto, os réus, embora pronunciados, estavam aguardando presos há 7 anos serem julgados
pelo Tribunal do Júri. Diante disso, o STF concedeu ordem em “habeas corpus” para revogar prisão preventiva em
razão do excessivo prazo de duração da prisão. Além disso, determinou que o STJ julgue recurso especial
interposto contra o acórdão que confirmou a sentença de pronúncia referente no prazo máximo de dez sessões
(entre ordinárias e extraordinárias), contado da comunicação da decisão. Em nosso sistema jurídico, a prisão
meramente processual do indiciado ou do réu reveste-se de caráter excepcional, mesmo que se trate de crime
hediondo ou de delito a este equiparado. O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho
judiciário – não derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório causalmente atribuível ao réu –, traduz
situação anômala que compromete a efetividade do processo. Além de tornar evidente o desprezo estatal pela
liberdade do cidadão, frustra uma prerrogativa básica que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do
litígio sem dilações indevidas (art. 5º, LXXVIII, da CF/88). Ademais, a duração prolongada, abusiva e irrazoável da
prisão cautelar ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade da pessoa humana, que representa
significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento
constitucional. STF. 2ª Turma. HC 142177/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/6/2017 (Info 868).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


81
*Em um caso concreto, o réu foi preso preventivamente pela suposta prática de delitos previstos na Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas). Ocorre que já se passaram mais de quatro anos desde a prisão preventiva sem
haver, sequer, audiência de interrogatório. Diante disso, o STF entendeu que havia flagrante excesso de prazo na
segregação cautelar e, por essa razão, concedeu habeas corpus para determinar a soltura do paciente. Embora a
razoável duração do processo não possa ser considerada de maneira isolada e descontextualizada das
peculiaridades do caso concreto, diante da demora no encerramento da instrução criminal, sem que o paciente,
preso preventivamente, tenha sido interrogado e sem que tenham dado causa à demora, não se sustenta a
manutenção da constrição cautelar. STF. 2ª Turma. HC 141583/RN, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
19/9/2017 (Info 878)

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Para a decretação da prisão preventiva, o art 312 do CPP exige a prova da
existência do crime O decreto prisional é, portanto, ilegal se descreve a conduta do paciente de forma genérica e
imprecisa e não deixa claro, em nenhum momento, os delitos a ele imputáveis e que justificariam a prisão
preventiva A liberdade de um indivíduo suspeito da prática de infração penal somente pode sofrer restrições se
houver decisão judicial devidamente fundamentada, amparada em fatos concretos e não apenas em hipóteses ou
conjecturas, na gravidade do crime ou em razão de seu caráter hediondo O juiz pode dispor de outras medidas
cautelares de natureza pessoal, diversas da prisão e deve escolher aquela mais ajustada às peculiaridades da
espécie de modo a tutelar o meio social, mas também dar, mesmo que cautelarmente, resposta justa e
proporcional ao mal supostamente causado pelo acusado. No caso concreto o STF entendeu que o perigo que a
liberdade do paciente representaria à ordem pública ou à aplicação da lei penal poderia ser mitigado por medidas
cautelares menos gravosas do que a prisão. Além disso os fatos imputados ao paciente ocorreram há alguns anos
(2011 a 2014 não havendo razão para, agora (2018), ser decretada a prisão preventiva. Diante disso o STF
substituiu a prisão preventiva pelas medidas cautelares diversas de: a) comparecimento periódico em juízo; b)
proibição de manter contato com os demais investigados; c) entrega do passaporte e proibição de deixar o País
sem autorização do juízo. STF. 2ª Turma. HC 157.604/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/9/2018 (Info
914).

*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF: A prisão cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional


e não pode ser utilizada como instrumento de punição antecipada do réu Para a decretação ou manutenção da
prisão cautelar é necessário demonstrar o cumprimento dos requisitos previstos no art. 312 do CPP. A liberdade
de um indivíduo suspeito da prática de infração penal somente pode sofrer restrições se houver decisão judicial
devidamente fundamentada, amparada em fatos concretos, e não apenas em hipóteses ou conjecturas. A prisão
cautelar, portanto, constitui medida de natureza excepcional e não pode ser utilizada como instrumento de
punição antecipada do réu. STF. 2ª Turma. HC 152676/PR, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 9/4/2019 (Info 937).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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*#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF No HC 143641/SP, a 2ª Turma do STF decidiu que, em regra, deve ser
concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam gestantes, puérperas, mães de crianças ou
mães de pessoas com deficiência. Vale ressaltar, no entanto, que nem toda mãe de criança deverá ter direito à
prisão domiciliar ou a receber medida alternativa à prisão. De fato, em regra, o mais salutar é evitar a prisão e
priorizar o convívio da mãe com a criança. Entretanto, deve-se analisar as condições específicas do caso porque
pode haver situações em que o crime é grave e o convívio com a mãe pode prejudicar o desenvolvimento do
menor. Ex: situação na qual a mulher foi presa em flagrante com uma enorme quantidade de armamento em sua
residência. Além disso, havia indícios de que ela integra grupo criminoso voltado ao cometimento dos delitos de
tráfico de drogas, disparo de arma de fogo, ameaça e homicídio. STF. 1ª Turma. HC 168900/MG, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 24/9/2019 (Info 953)

PRISÃO DOMICILIAR

É mais uma inovação da lei 12.403/2011. A prisão domiciliar não é uma medida como as do art 319 e 320
(cautelares pessoais distintas da prisão), que são alternativas menos gravosas à prisão, afastando a sua incidência.
Ao contrário, a prisão domiciliar é um tipo especial de prisão que substituia preventiva quando estão presentes os
requisitos dos arts. 312 e 313, mas, por alguma particularidade do acusado, ele não pode se submeter ao gravame
do cárcere.

Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo
dela ausentar-se com autorização judicial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: (Redação dada pela Lei
nº 12.403, de 2011).
I - maior de 80 (oitenta) anos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Note-se que não
basta estar acometido de doença grave, como câncer ou AIDS; tem que estar extremamente debilitado.
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; (Incluído
pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco. (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.
(Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

*#CUIDADO: A Lei nº 13.257/2016 alterou as hipóteses de prisão domiciliar previstas nos incisos IV, V e VI do art.
318 do CPP. Hipóteses de prisão domiciliar do CPP:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
I — maior de 80 anos;
II — extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III — imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos de idade ou com deficiência;
IV - gestante;
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.

*#ATENÇÃO #MODIFICAÇÃOLEGISLATIVA #DIZERODIREITO: Comentários à Lei 13.769/2019: prisão domiciliar e


progressão especial para gestante e mulher que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência
Vou tratar hoje sobre a Lei nº 13.769/2018, que trouxe novas regras sobre:
• prisão domiciliar e
• execução de pena...
... envolvendo:
• gestante ou
• mulher que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência.

Antes de explicar exatamente aquilo que mudou, é importante contextualizar o tema.

ALTERAÇÕES NA PRISÃO DOMICILIAR


Prisão domiciliar do CPP x Prisão domiciliar da LEP
O tema “prisão domiciliar” é previsto tanto no CPP como na LEP, tratando-se, contudo, de institutos diferentes,
conforme se passa a demonstrar:

PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP


Arts. 317 e 318 do CPP. Art. 117 da LEP.
O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo à
à possibilidade de o réu, em vez de ficar em prisão possibilidade de a pessoa já condenada cumprir a sua
preventiva, permanecer recolhido em sua residência. pena privativa de liberdade na própria residência.
Trata-se de uma medida cautelar por meio da qual o Trata-se, portanto, da execução penal (cumprimento
réu, em vez de ficar preso na unidade prisional, da pena) na própria residência.
permanece recolhido em sua própria residência.
Continua tendo natureza de prisão, mas uma prisão
“em casa”.
Hipóteses (importante): Hipóteses (importante):
O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela O preso que estiver cumprindo pena no regime aberto
domiciliar quando o agente for: poderá ficar em prisão domiciliar quando se tratar de
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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condenado(a):
I — maior de 80 anos;
I — maior de 70 anos;
II — extremamente debilitado por motivo de doença
grave; II — acometido de doença grave;

III — imprescindível aos cuidados especiais de pessoa


menor de 6 anos de idade ou com deficiência; III — com filho menor ou deficiente físico ou mental;

IV — gestante; IV — gestante.

V — mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade


incompletos;

VI — homem, caso seja o único responsável pelos


cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos.

Obs.: os magistrados, membros do MP, da Defensoria e


da advocacia têm direito à prisão cautelar em sala de
Estado-Maior. Caso não exista, devem ficar em prisão
domiciliar.
O juiz pode determinar que a pessoa fique usando uma O juiz pode determinar que a pessoa fique usando uma
monitoração eletrônica. monitoração eletrônica.

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF #IMPORTANTE. A prisão domiciliar do art. 318 do CPP só se aplica
para os casos de prisão preventiva, não podendo ser utilizado quando se tratar de execução definitiva de título
condenatório (sentença condenatória transitada em julgado). Não é possível a concessão de prisão domiciliar
para condenada gestante ou que seja mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver
sentença condenatória transitada em julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. STF. 1ª Turma.
HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Prisão domiciliar do CPP

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Como vimos no quadro acima, o CPP, ao tratar da prisão domiciliar, prevê a possibilidade de o réu, em vez de ficar
em prisão preventiva, permanecer recolhido em sua residência. Trata-se de uma medida cautelar na qual, em vez
de a pessoa ficar na unidade prisional, ela ficará recolhida em sua própria residência:
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo
dela ausentar-se com autorização judicial.

As hipóteses em que a prisão domiciliar é permitida estão elencadas no art. 318 do CPP.

Prisão domiciliar de gestantes e mães de crianças


Os incisos IV e V do art. 318 do CPP preveem que a mulher acusada de um crime terá direito à prisão domiciliar se
estiver gestante ou for mãe de criança:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
(...)
IV - gestante; (Redação dada pela Lei 13.257/2016)
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; (Incluído pela Lei 13.257/2016)

Discussão sobre a obrigatoriedade ou não de o juiz decretar a prisão domiciliar nessas hipóteses
Se você reparar na redação do caput do art. 318 do CPP, ela diz que o juiz PODERÁ substituir a prisão preventiva
pela domiciliar nas hipóteses ali elencadas.
Diante disso, surgiram as seguintes dúvidas:
Se uma mulher grávida estiver em prisão preventiva, o juiz, obrigatoriamente, deverá conceder a ela prisão
domiciliar com base no art. 318, IV, do CPP?
As hipóteses de prisão domiciliar previstas nos incisos IV e V do art. 318 do CPP são consideradas obrigatórias ou
facultativas?

O que o STF decidiu?


REGRA: SIM. As hipóteses são obrigatórias.
Em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam:
- gestantes
- puérperas (que deu à luz há pouco tempo)
- mães de crianças (isto é, mães de menores até 12 anos incompletos) ou
- mães de pessoas com deficiência.

EXCEÇÕES:
Não deve ser autorizada a prisão domiciliar se:
1) a mulher tiver praticado crime mediante violência ou grave ameaça;
2) a mulher tiver praticado crime contra seus descendentes (filhos e/ou netos);
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
86
3) em outras situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que
denegarem o benefício.

STF. 2ª Turma. HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).

O que fez a Lei nº 13.769/2018?


Positivou no CPP o entendimento manifestado pelo STF.
A principal diferença foi que o legislador não incluiu a exceção número 3.
Além disso, na exceção 2 não falou em descendentes, mas sim em filho ou dependente.
Veja o art. 318-A incluído pela Lei nº 13.769/2018 no CPP:
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

Assim, imagine que Maria, mãe de uma criança de 5 anos, é presa em flagrante por tráfico de drogas.

A exceção 3 ainda é possível? O juiz poderá deixar de aplicar a prisão domiciliar em outras situações
excepcionalíssimas?
Aqui temos o ponto mais polêmico da novidade legislativa. Teria sido um silêncio eloquente do legislador com o
objetivo de superar, neste ponto, o entendimento do STF sobre o tema ou representaria uma simples omissão?
Particularmente, penso que a terceira exceção continua existindo. Isso porque ela foi fixada pelo STF não por
conta da interpretação da lei, mas sim com base em uma verdadeira construção (criação) jurisprudencial. As três
exceções não eram previstas em nenhum lugar. Logo, parece-me que o fato de o legislador não ter encampado
expressamente essa terceira exceção não significa que ela não exista.
O legislador não tem condições de prever todas as hipóteses excepcionais, sendo justificável que o magistrado,
diante de um caso concreto, identifique que a concessão da prisão domiciliar ameaçará a garantia da ordem
pública/econômica, a conveniência da instrução criminal ou que irá colocar em risco a aplicação da lei penal.
Contudo, como já dito, trata-se de tema que gerará debates e certamente haverá posições em sentido contrário.

Juiz poderá aplicar outras medidas cautelares em conjunto com a prisão domiciliar
O art. 319 prevê uma lista de medidas cautelares que podem ser impostas ao réu.
O legislador disse que o juiz, ao conceder a prisão domiciliar, poderá fixar, de forma cumulativa, alguma dessas
medidas cautelares do art. 319. É o que prevê o novo art. 318-B, inserido pela Lei nº 13.769/2018:
Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem prejuízo da aplicação
concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste Código.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


87
Ex: juiz pode determinar que a mulher permaneça em prisão domiciliar e, além disso, também tenha que pagar
uma fiança (art. 319, VIII, do CPP).
Obs: veja que art. 318-B não se aplica apenas para os casos de prisão domiciliar envolvendo mulheres gestantes
ou com filhos, abrangendo também as demais hipóteses de prisão domiciliar do art. 318.

Juiz não deverá aplicar a prisão domiciliar se for o caso de liberdade provisória
Apesar de ser óbvio, é importante registrar que, se o juiz entender que é possível a concessão da liberdade
provisória, neste caso, não deverá manter a mulher em prisão domiciliar. Isso porque a liberdade provisória,
ainda que com a aplicação das medidas cautelares do art. 319 do CPP, é medida mais benéfica que a prisão
domiciliar.
Ex: mulher gestante é presa em flagrante; juiz, em vez de determinar a prisão domiciliar, entende que é possível a
concessão de liberdade provisória cumulada com comparecimento periódico em juízo (art. 320 c/c 319, I, do CPP).

Qual é o conceito de “criança”?


A pergunta aqui pode parecer óbvia, mas não o é.
No ordenamento jurídico brasileiro, o conceito de criança é definido pelo art. 2º do ECA, sendo a pessoa com até
12 anos incompletos:
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Penso que esse é o entendimento mais correto, até porque o art. 318-A deve ser interpretado em conjunto com o
art. 318, IV, do CPP, que diz o seguinte:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
(...)
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;

No entanto, é possível que surja uma interessante tese defensiva, qual seja, a da aplicação do conceito de criança
adotado pela comunidade internacional. Explico melhor.
A Convenção sobre os Direitos da Criança é um tratado internacional assinado pelo Brasil e promulgado por meio
do Decreto nº 99.710/90. Este tratado traz um conceito mais elástico de que criança afirmando que é a pessoa
menor de 18 anos:
Artigo 1
Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito anos de
idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes.

Assim, se fosse adotado o conceito da Convenção, uma mulher presa que tenha um filho de 15 anos, por
exemplo, teria direito à prisão domiciliar, com base no art. 318-A, que fala apenas em criança:
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Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas
com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
(...)

Reitero, contudo, que não se trata da melhor intepretação.

Comprovação
• A comprovação da gravidez é realizada por meio de exame, sendo razoável a sua dispensa em casos notórios.
• A comprovação da filiação é feita pela certidão de nascimento ou pela cédula de identidade da criança.
• A comprovação da condição de pessoa com deficiência é feita por laudo/atestado médico ou por outro
documento idôneo (ex: sentença de curatela).

Deficiência
Vale ressaltar que a deficiência poderá ser física ou mental.

Responsável
O art. 318-A fala que deverá ser concedida a prisão domiciliar para a mulher que for “responsável” por crianças
ou pessoas com deficiência.
A expressão “responsável” é ampla e abrange, portanto, não apenas casos de guarda, tutela ou curatela, mas
também outras hipóteses nas quais a mulher seja a única que cuidava da criança ou da pessoa com deficiência.
Ex: a mulher presa era a única parente próxima de sua irmã, pessoa com deficiência, sendo a custodiada a
responsável por todos os cuidados.

Guarda efetiva
A lei não exige que a mulher tenha a guarda efetiva da criança.
Assim, em tese, mesmo que o pai possua a guarda unilateral da criança, ainda assim, pelo texto do artigo, haveria
direito à prisão domiciliar. Veremos como os Tribunais irão interpretar essa questão e se exigirão a guarda efetiva
como condição para a concessão da medida.
Algo, contudo, me parece certo: se ficar constatada a suspensão ou destituição do poder familiar por outros
motivos que não a prisão, a mulher não terá direito à prisão domiciliar com base no art. 318-A do CPP.

E se a mulher for reincidente, mesmo assim ela terá direito à prisão domiciliar?
A regra e as exceções acima explicadas também valem para a reincidente.
Desse modo, o simples fato de a mulher ser reincidente não faz com que ela perca o direito à prisão domiciliar.

O Delegado pode, após lavrar o flagrante, já determinar a prisão domiciliar da mulher gestante ou mãe de
criança ou de filho com deficiência? A autoridade policial pode determinar a aplicação do art. 318-A do CPP?
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NÃO. A substituição de prisão preventiva por prisão domiciliar é uma competência exclusiva da autoridade
judiciária, conforme prevê expressamente o caput do art. 318 do CPP.
Assim, caso o Delegado lavre o auto de prisão em flagrante de uma mulher grávida, ele deverá mantê-la presa
(em uma acomodação condigna) e encaminhar o auto de prisão em flagrante à autoridade policial ressaltando
que se trata de flagranteada gestante a fim de que o magistrado delibere acerca da prisão domiciliar.

ALTERAÇÕES NA PROGRESSÃO DE REGIME

Regimes de cumprimento de pena


Existem três regimes de cumprimento de pena:
a) Fechado: a pena é cumprida na Penitenciária.
b) Semiaberto: a pena é cumprida em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.
c) Aberto: a pena é cumprida na Casa do Albergado.

Progressão de regime
No Brasil, adota-se o sistema progressivo (ou inglês), ainda que de maneira não pura.
Assim, de acordo com o Código Penal e com a Lei de Execução Penal, as penas privativas de liberdade deverão ser
executadas (cumpridas) em forma progressiva, com a transferência do apenado de regime mais gravoso para
menos gravoso tão logo ele preencha os requisitos legais.

Requisitos para a progressão de regime


Os requisitos para que a pessoa tenha direito à progressão de regime estão previstos na Lei nº 7.210/84 (Lei de
Execução Penal – LEP) e também no Código Penal.
Veja abaixo um resumo:

Requisitos para a progressão do regime FECHADO para o SEMIABERTO:


Requisito OBJETIVO *LEI 13.964/2019 #PACOTE ANTICRIME
16% Primário + sem violência ou grave ameaça
20% Reincidente + sem violência ou grave ameaça
25% Primário + com violência ou grave ameaça
30% Reincidente + com violência ou grave ameaça
40% Primário + Crime Hediondo/Equiparado
50% Primário + Crime Hediondo/Equiparado, com resultado morte, VEDADO O
LIVRAMENTO CONDICIONAL.
50% Exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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para a prática de crime hediondo ou equiparado
50% Crime de constituição de milícia privada
60% Reincidente + crime hediondo/equiparado
70% Reincidente + crime hediondo/equiparado, com resultado morte, VEDADO O
LIVRAMENTO CONDICIONAL.
Requisito Bom comportamento carcerário durante a execução (mérito).
SUBJETIVO
Requisito FORMAL Oitiva prévia do MP e do defensor do apenado (§ 1ºA do art. 112 da LEP).

Requisitos para a progressão do regime SEMIABERTO para o ABERTO:


16% Primário + sem violência ou grave ameaça
20% Reincidente + sem violência ou grave ameaça
25% Primário + com violência ou grave ameaça
30% Reincidente + com violência ou grave ameaça
40% Primário + Crime Hediondo/Equiparado
50% Primário + Crime Hediondo/Equiparado, com resultado morte, VEDADO O
Requisito OBJETIVO LIVRAMENTO CONDICIONAL.
50% Exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada
para a prática de crime hediondo ou equiparado
50% Crime de constituição de milícia privada
60% Reincidente + crime hediondo/equiparado
70% Reincidente + crime hediondo/equiparado, com resultado morte, VEDADO O
LIVRAMENTO CONDICIONAL.
Requisito SUBJETIVO Bom comportamento carcerário durante a execução (mérito).
Requisito FORMAL Oitiva prévia do MP e do defensor do apenado (§ 1ºA do art. 112 da LEP).
Além dos requisitos acima expostos, o reeducando deve:
a) Aceitar o programa do regime aberto (art. 115 da LEP) e as condições especiais
impostas pelo Juiz (art. 116 da LEP);
Requisitos
b) Estar trabalhando ou comprovar a possibilidade de trabalhar imediatamente quando
ESPECÍFICOS do
for para o regime aberto (inciso I do art. 114);
regime aberto
c) Apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime (inciso II do art. 114).

Requisito OBJETIVO adicional no caso de condenados por crime contra a Administração Pública:
No caso de crime contra a Administração Pública, para que haja a progressão será necessária ainda:
• a reparação do dano causado; ou
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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• a devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.

Isso está previsto no § 4º do art. 33 do Código Penal:


§ 4º O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena
condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos
legais.

Requisitos para a progressão de regime no caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças
ou pessoas com deficiência:
A Lei nº 13.769/2018 criou, no § 3º do art. 112 da LEP requisitos diferenciados (mais brandos) para condenadas:
• gestantes; ou
• que sejam mães ou responsáveis por crianças ou pessoas com deficiência.

Veja a redação do § 3º do art. 112 da LEP, inserido pela Lei nº 13.769/2018:


Art. 112 (...)
§ 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, os
requisitos para progressão de regime são, cumulativamente:
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;
IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento;
V - não ter integrado organização criminosa.

A LEP denomina esse § 3º do art. 112 de “progressão especial”.

Novo crime doloso ou falta grave


Como se vê, o novo § 3º do art. 112 traz um benefício para a condenada gestante ou que for mãe ou responsável
por crianças ou pessoas com deficiência.
O § 4º, contudo, faz uma ressalva e prevê que, se a mulher for:
• condenada por novo crime doloso; ou
• praticar falta grave

... ela perderá o direito de se beneficiar com os requisitos diferenciados do § 3º.

Veja a redação do § 4º do art. 112 da LEP, inserido pela Lei nº 13.769/2018:


Art. 112 (...)

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


92
§ 4º O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação do benefício previsto no § 3º
deste artigo.

Assim, em caso de cometimento de novo crime doloso ou prática de falta grave isso implicará:
• na regressão de regime (art. 118, I, da LEP); e
• na impossibilidade de se beneficiar dos requisitos favorecidos do § 3º.

E se a mulher gestante ou mãe/responsável por crianças ou pessoas com deficiência estiver cumprindo pena por
crime hediondo? Também se aplica o novo § 3º do art. 112 da LEP para mulheres condenadas por crime
hediondo?
SIM. A Lei nº 13.769/2018 alterou expressamente a Lei nº 8.072/90 para dizer que também no caso de crimes
hediondos, devem ser aplicados os requisitos abrandados do § 3º do art. 112 da LEP. Veja:

Antes da Lei nº 13.769/2018 ATUALMENTE


Art. 2º (...)
Art. 2º (...) § 2º A progressão de regime, no caso dos condenados
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o
aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do
reincidente. art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de
Execução Penal).

*#ATENÇÃO #PACOTEANTICRIME A LEI 13964/19 REVOGOU o art. 2, § 2º A progressão de regime, no caso dos
condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5, se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho
de 1984 (Lei de Execução Penal).

REQUISITO OBJETIVO

Crimes HEDIONDOS Gestante ou que for mãe ou


Crimes “COMUNS” responsável por crianças ou
ou equiparados pessoas com deficiência

16% Primário + sem violência 40% Primário + Crime 1/8

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


93
Hediondo/Equiparado

50% Primário + Crime


Hediondo/Equiparado, com
resultado morte, VEDADO O Cumulativamente:
LIVRAMENTO CONDICIONAL.
I - não ter cometido crime com
ou grave ameaça violência ou grave ameaça a
pessoa;
50% Exercer o comando,
individual ou coletivo, de II - não ter cometido o crime
20% Reincidente + sem
organização criminosa estruturada contra seu filho ou dependente;
violência ou grave ameaça
para a prática de crime hediondo
III - ter cumprido ao menos 1/8 da
ou equiparado
pena no regime anterior;
25% Primário + com violência
IV - ser primária e ter bom
ou grave ameaça
50% Crime de constituição de comportamento carcerário,
milícia privada comprovado pelo diretor do
estabelecimento;
30% Reincidente + com
violência ou grave ameaça V - não ter integrado organização
60% Reincidente + crime
criminosa.
hediondo/equiparado

70% Reincidente + crime


hediondo/equiparado, com
resultado morte, VEDADO O
LIVRAMENTO CONDICIONAL.

Acompanhamento da execução da pena dessas mulheres


A Lei nº 13.769/2018 acrescentou o inciso VII ao art. 72 da LEP para dizer que o Departamento Penitenciário
Nacional deverá:
VII - acompanhar a execução da pena das mulheres beneficiadas pela progressão especial de que trata o § 3º do
art. 112 desta Lei, monitorando sua integração social e a ocorrência de reincidência, específica ou não, mediante
a realização de avaliações periódicas e de estatísticas criminais.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


94
Na verdade, quem irá realizar esse acompanhamento é o Departamento Penitenciário local (ou órgão similar) e
encaminhar ao Departamento Penitenciário Nacional os resultados obtidos.

Os resultados obtidos por meio do monitoramento e das avaliações periódicas serão utilizados para avaliar
eventual desnecessidade do regime fechado de cumprimento de pena para essas mulheres nos casos de crimes
cometidos sem violência ou grave ameaça.

Vigência
A Lei nº 13.769/2018 entrou em vigor na data de sua publicação (20/12/2018), de forma que já poderá ser
aplicada para as condenadas que estejam cumprindo pena ainda que por crimes cometidos antes da vigência da
Lei.

*#STF #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #DIZERODIREITO: O art. 318, II, do CPP é chamado de prisão domiciliar
humanitária. Em um caso concreto, o STF entendeu que deveria conceder prisão humanitária ao réu tendo em
vista o alto risco de saúde, a grande possibilidade de desenvolver infecções no cárcere e a impossibilidade de
tratamento médico adequado na unidade prisional ou em estabelecimento hospitalar — tudo demostrado
satisfatoriamente no laudo pericial. Considerou-se que a concessão da medida era necessária para preservar a
integridade física e moral do paciente, em respeito à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF). STF. 2ª
Turma. HC 153961/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/3/2018 (Info 895).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: Não é cabível a substituição da prisão preventiva pela domiciliar
quando o crime é praticado na própria residência da agente, onde convive com filhos menores de 12 anos. STJ. 5ª
Turma. HC 457.507/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/09/2018. STJ. 6ª Turma. HC
441.781-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/06/2018 (Info 629).

PRISÃO
Novas hipóteses de prisão domiciliar trazidas pelo Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016)

O Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016), ao alterar as hipóteses autorizativas da concessão de
prisão domiciliar, permite que o juiz substitua a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for gestante ou
mulher com filho até 12 anos de idade incompletos (art. 318, IV e V, do CPP). STF. 2ª Turma. HC 134069/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016 (Info 831).

É preciso pontuar que a mencionada norma, o legislador ao trazer tal modificação ao CPP, demonstrou total
preocupação ao Estatuto da Criança e do Adolescente e na Convenção Internacional dos Direitos da Criança, e a
Constituição Federal que estabelece em seu artigo 227:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


95

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los à salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

Dentre os direitos humanos assegurados expressamente pela Constituição Federal, estão o direito social à
proteção da maternidade e da infância e o direito das mulheres encarceradas de permanência com seus filhos
durante a fase de amamentação. É o que dispõem o artigo 5º, inciso L, e o artigo 6º, caput, da Constituição
Federal:

“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]

“Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição”.

A última reforma das medidas cautelares processuais penais, promovida pela Lei nº 12.403/11, elencava 04
(quatro) hipóteses de substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar; eram elas a do maior de 80
(oitenta) anos; do extremamente debilitado por motivo de doença grave; quando imprescindível aos cuidados
especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; e, por fim, quando gestante a partir do 7º
(sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.

Por outro lado, a Lei 13.257/16 ao acrescentar os inciso IV, V, VI ao artigo 318 do Código de Processo Penal,
demonstra a excepcionalidade da prisão preventiva, trazendo em seus incisos a hipótese de prisão domiciliar ao
réu que aguarda julgamento, prisão esta, positivada no artigo 317 do Código de Processo penal.

“Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo
dela ausentar-se com autorização judicial”.

Feita a alteração legislativa, conforme artigo 41 da lei 13.257/2016, o artigo 318 do Código de Processo penal,
restou da seguinte forma:

Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
96
I - maior de 80 (oitenta) anos;
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência;
IV - gestante
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.

Em contra ponto, podemos assegurar que o acréscimo dos inciso IV, V, VI do Código de Processo Penal, não são
suficientes que a apenada que preencha estes requisitos obrigatoriamente seja convertida a prisão preventiva em
prisão domiciliar. O Juiz ao analisar tal possibilidade, deverá levar em consideração os demais requisitos do artigo
312 do Código de processo Penal, de modo que não acarrete perigo à garantia da ordem pública, à conveniência
da instrução criminal ou implique risco à aplicação da lei penal. Em especial a garantia da ordem pública.

Por outro lado, pontuou o julgador que o art. 318 do CPP não criou um direito subjetivo ao preso provisório. Ou
seja, o verbo “poderá” não deve ser interpretado como “deverá”, trazendo assim uma faculdade, e não uma
obrigação, para o juiz. Do contrário, disse, “toda pessoa com prole na idade indicada no texto legal” teria
assegurada a prisão domiciliar, mesmo que fosse identificada a necessidade de medida mais severa.

Em síntese, a prisão domiciliar não deve ser concedida quando a prisão preventiva for a única hipótese a tutelar,
com eficiência, situação de evidente e imperiosa necessidade da prisão cautelar.

Por esta ótica, mister se faz o magistrado ao analisar tal hipótese, Como determina o parágrafo único do art. 318,
o magistrado deve exigir prova idônea dos requisitos previstos naquele artigo e contrabalançar os requisitos do
artigo 312 do CPP, e o princípio da dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado brasileiro constituído em
Estado Democrático de Direito.

Em seu artigo 43 positiva que a Lei 13.257/2016 não possui vacatio legis, de forma que entrou em vigor na data
de sua publicação.

As hipóteses de prisão domiciliar previstas nos incisos do art. 318 do CPP são sempre obrigatórias? Em outras
palavras, se alguma delas estiver presente, o juiz terá que, automaticamente, conceder a prisão domiciliar sem
analisar qualquer outra circunstância?
NÃO. O art. 318 do CPP, que traz as hipóteses de prisão domiciliar, deve ser aplicado de forma restrita e diligente,
verificando-se as peculiaridades de cada caso (Min. Gilmar Mendes, no HC 134069/DF, julgado em 21/06/2016).
Existem julgados do STJ afirmando isso expressamente:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


97
(...) 1. A Lei n. 13.257/2016, conhecida por Estatuto da Primeira Infância, prevê a formulação e a implementação
de políticas públicas para as crianças que estejam nos seis anos incompletos de vida.
2. A referida lei estabelece amplo conjunto de ações prioritárias que devem ser observadas na primeira infância (0
a 6 anos de idade), mediante “princípios e diretrizes para a formulação e implementação de políticas públicas
para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no
desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano” (art. 1º), em consonância com o Estatuto da
Criança e do Adolescente.
3. A alteração e os acréscimos feitos ao art. 318 do Código de Processo Penal encontram suporte no próprio
fundamento que subjaz à Lei n. 13.257/2016, notadamente a garantia do desenvolvimento infantil integral como
o “fortalecimento da família no exercício de sua função de cuidado e educação de seus filhos na primeira
infância” (art. 14, § 1º).
4. A presença de um dos pressupostos do art. 318 do Código de Processo Penal constitui requisito mínimo, mas
não suficiente para, de per si, autorizar a substituição da custódia preventiva por prisão domiciliar, devendo o
magistrado avaliar se, no caso concreto, o recurso à cautela extrema seria a única hipótese a afastar o periculum
libertatis. (...).
STJ. 6ª Turma. HC 354.608/PR, Rel Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 24/05/2016.

* #IMPORTANTE #VAIDESPENCAREMPROVA:

(#DICADACOACH: Leia integralmente o julgado no Info 891 do STF)

* O STF reconheceu a existência de inúmeras mulheres grávidas e mães de crianças que estavam cumprindo
prisão preventiva em situação degradante, privadas de cuidados médicos pré- natais e pós-parto. Além disso, não
havia berçários e creches para seus filhos. Também se reconheceu a existência, no Poder Judiciário, de uma
“cultura do encarceramento”, que significa a imposição exagerada e irrazoável de prisões provisórias a mulheres
pobres e vulneráveis, em decorrência de excessos na interpretação e aplicação da lei penal e processual penal,
mesmo diante da existência de outras soluções, de caráter humanitário, abrigadas no ordenamento jurídico
vigente. A Corte admitiu que o Estado brasileiro não tem condições de garantir cuidados mínimos relativos à
maternidade, até mesmo às mulheres que não estão em situação prisional. Diversos documentos internacionais
preveem que devem ser adotadas alternativas penais ao encarceramento, principalmente para as hipóteses em
que ainda não haja decisão condenatória transitada em julgado. É o caso, por exemplo, das Regras de Bangkok.
Os cuidados com a mulher presa não se direcionam apenas a ela, mas igualmente aos seus filhos, os quais sofrem
injustamente as consequências da prisão, em flagrante contrariedade ao art. 227 da Constituição, cujo teor
determina que se dê prioridade absoluta à concretização dos direitos das crianças e adolescentes. Diante da
existência desse quadro, deve-se dar estrito cumprimento do Estatuto da Primeira Infância (Lei 13.257/2016), em
especial da nova redação por ele conferida ao art. 318, IV e V, do CPP, que prevê: Art. 318. Poderá o juiz substituir
a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: IV - gestante; V - mulher com filho de até 12 (doze) anos
de idade incompletos; Os critérios para a substituição de que tratam esses incisos devem ser os seguintes: REGRA.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
98
Em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam - gestantes - puérperas
(que deram à luz há pouco tempo) - mães de crianças (isto é, mães de menores até 12 anos incompletos) ou -
mães de pessoas com deficiência. EXCEÇÕES: Não deve ser autorizada a prisão domiciliar se: 1) a mulher tiver
praticado crime mediante violência ou grave ameaça; 2) a mulher tiver praticado crime contra seus descendentes
(filhos e/ou netos); 3) em outras situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas
pelos juízes que denegarem o benefício. Obs1: o raciocínio acima explicado vale também para adolescentes que
tenham praticado atos infracionais. Obs2: a regra e as exceções acima explicadas também valem para a
reincidente. O simples fato de que a mulher ser reincidente não faz com que ela perca o direito à prisão
domiciliar. STF. 2ª Turma. HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).

PRISÃO TEMPORÁRIA

1. NOÇÕES GERAIS: NATUREZA JURÍDICA

Também é uma prisão de natureza cautelar.

É constitucional, de acordo com o entendimento do STF.


Sendo assim, depende, para sua decretação, do preenchimento dos requisitos do FUMUS BONI IURIS, do
PERICULUM LIBERTATIS e da adequação às hipóteses específicas previstas na lei (hipóteses legais de incidência ou
condições de admissibilidade).

2. REQUISITOS
Estão previstos na lei:

Artigo 1o. Caberá prisão temporária:


I – quando imprescindível para as investigações do IP;
II – quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
identidade;
III – quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
participação do indiciado nos seguintes crimes (rol TAXATIVO dos crimes).

Pela doutrina, é necessário que haja um dos dois primeiros requisitos (ou o I ou o II), ASSOCIADO SEMPRE AO
INCISO III. O I ou o II representam o periculum libertatis, e o III é o fumus comissi delicti. São esses os requisitos.

A) FUMUS BONI IURIS – está previsto no inciso III do artigo 1o acima transcrito: FUNDADAS RAZÕES (...). Mas, a
redação do dispositivo merece crítica:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


99
FUNDADAS RAZÕES, é lógico que as razões devem ser fundadas, jamais se decretaria por razões infundadas;
EM QUALQUER PROVA ADMITIDA NA LEGISLAÇÃO PENAL, está errada porque o Direito Penal não cuida de
provas;
DE AUTORIA OU PARTICIPAÇÃO, não era necessária a distinção, porque no Direito Penal brasileiro adota-se a
teoria monista, assim, essa distinção é inócua, bastaria dizer autoria para compreender também as formas de
participação;
DO INDICIADO, quando se refere a indiciado, o legislador coloca por terra tudo que foi dito anteriormente,
porque a expressão indiciado já subentende a existência de formalização da suspeita, ou seja, já existem os
indícios de autoria, note-se que o termo utilizado aqui é no sentido atécnico, porque não é exigência obrigatória
para a decretação da prisão, que o indivíduo seja formalmente indiciado.

B) PERICULUM LIBERTATIS – está previsto nos incisos I e II, que demonstram a necessidade da decretação da
prisão. Esse requisito tem que ser bem interpretado.

C) HIPÓTESES LEGAIS – estão previstas no inciso III, que elenca o rol dos crimes.

3. DECRETAÇÃO
Somente pode ser decretada durante a investigação policial, não podendo ser decretada depois de instaurada a
ação penal. Ela tem o objetivo de facilitar uma eficaz investigação,sendo que a preventiva visa a proteger a ordem
pública, a ordem econômica, a instrução criminal e a aplicação da lei penal. Essa distinção entre os tipos de prisão
é importante.

4. DECISÃO
DECISÃO deve ser fundamentada e expedida no prazo de 24horas. O juiz deve demonstrar a necessidade da
prisão.

5. LEGITIMIDADE E DECRETAÇÃO DE OFÍCIO


*O juiz NÃO pode decretar a prisão temporária ou preventiva (entendimento após a vigência da Lei nº
13.964/2019).

Quando há requerimento da autoridade policial, o juiz deve ouvir o MP antes.

Se o juiz indefere esse requerimento da polícia, o delegado não tem legitimidade para recorrer.

A decretação dessa prisão não interessa ao magistrado, porque a investigação criminal somente interessa à
autoridade policial e ao MP.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


100
E a vítima nos crimes de ação privada tem interesse na instrução criminal? Há duas posições:
a) Não pode requerer porque a lei não prevê;
b) Pode requerer porque a vítima é titular da ação privada. Essa posição é mais adequada ao sistema do CPP. A
doutrina admite que a vítima (nos crimes de ação penal privada) requeira a devolução do IP à autoridade policial
para novas diligências. Assim, aplica-se extensivamente essa regra para o pedido de decretação de prisão
temporária (interpretação sistemática). Se o MP como titular da ação penal pública pode requerer a decretação
da prisão temporária, o titular da ação penal privada também pode.

6. PRAZO DE DURAÇÃO
Regra: 05 dias, prorrogáveis por mais 05 dias, em caso de comprovada e extrema necessidade.
Exceção: crimes hediondos e equiparados: 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias, também em caso de
comprovada e extrema necessidade.

Como pode existir um prazo de prisão temporária superior ao prazo do IP (10 dias estadual e15 dias federal)?

1ª corrente: o prazo para término do IP não conta durante a prisão temporária, assim o prazo para término do IP
será prorrogado, porque a temporária é imprescindível para a investigação.
O prazo da prisão temporária é um prazo independente, não será computado no prazo de 81 dias e nem no prazo
para término do IP.
Demercian: não pode haver dilação de prazo na prisão preventiva; na prisão em flagrante e na preventiva, se
houver a revogação por excesso de prazo, elas não podem mais ser decretadas.

2ª corrente: Luiz Flávio Gomes: ninguém dá resposta convincente para isso. Em sua posição mais garantista, o
autor defende que se trata de alteração do disposto no prazo do CP, assim o preso deve ser solto, no prazo do
término do IP.

7. CONVERSÃO
A prisão temporária pode ser convertida em prisão preventiva, com o vencimento do prazo da temporária, que
será revogada, sendo posteriormente decretada a preventiva.

8. APRESENTAÇÃO DO PRESO
Pelo artigo 2o, § 3o, da lei: o magistrado pode determinar que o preso seja apresentado ou submetido a exame de
corpo de delito. Esse dispositivo é interessante porque se inspirou na ação de habeas corpus (tome-se o corpo
desse que sofre constrangimento e apresente-o ao juiz para verificação).

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101
9. PRISÃO PARA RECORRER e PRISÃO DECORRENTE DE PRONÚNCIA
Ambas as hipóteses – que já eram consideradas não recepcionadas pela CF, conforme a doutrina e a
Jurisprudência – foram expressamente revogadas pelas reformas processuais penais. Elas se confrontavam com o
princípio da presunção de inocência

10. PRISÃO ALBERGUE E DOMICILIAR:

Prisão albergue não é prisão cautelar, mas sim prisão-pena, no regime aberto.

A casa de albergado é o estabelecimento penitenciário destinado à execução do regime aberto de cumprimento


da pena privativa de liberdade. A casa de albergado deve ser posta em centros urbanos e não pode ter obstáculos
para a fuga, haja vista que o regime aberto é fundado no princípio da responsabilidade e da autodisciplina do
condenado. O condenado trabalha durante o dia e se recolhe à casa do albergado durante a noite.

Quando inexiste vaga na casa de albergado, qual a medida a ser tomada com os condenados que têm direito ao
regime aberto pela progressão ou pela fixação de regime inicial? Nossos tribunais propõem duas possibilidades de
solucionar o problema: a) o condenado deve aguardar, no regime semi-aberto, fechado ou em cadeia pública, a
vaga em casa de albergado, b) o condenado poderá cumprir o regime albergue em prisão domiciliar.

A jurisprudência do STJ e do STF, atualmente, filia-se à compreensão segundo a qual é admitida a conversão em
prisão domiciliar (aqui vista como prisão-pena, e não como prisão cautelar, na forma prevista no CPP).

PENA – EXECUÇÃO – REGIME. Ante a falência do sistema penitenciário a inviabilizar o cumprimento da pena no
regime menos gravoso a que tem jus o reeducando, o réu, impõe-se o implemento da denominada prisão
domiciliar. Precedentes: Habeas Corpus nº 110.892/MG, julgado na Segunda Turma em 20 de março de 2012,
relatado pelo Ministro Gilmar Mendes, 95.334-4/RS, Primeira Turma, no qual fui designado para redigir o
acórdão, 96.169-0/SP, Primeira Turma, de minha relatoria, e 109.244/SP, Segunda Turma, da relatoria do Ministro
Ricardo Lewandowski, com acórdãos publicados no Diário da Justiça de 21 de agosto de 2009, 9 de outubro de
2009 e 7 de dezembro de 2011, respectivamente.
(STF - HC 107810, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 17/04/2012, PUBLIC 03-05-
2012)

Inexistindo vaga em casa de albergado, mostra-se possível, em caráter excepcional, permitir ao sentenciado, a
quem se determinou o cumprimento da reprimenda em regime aberto, o direito de recolher-se em prisão
domiciliar. Precedentes: STF - HC 95.334/RS, Rel. p/ Acórdão Min. MARCO AURÉLIO; STJ - REsp 1.112.990/RS, Rel.
Min.
ARNALDO ESTEVES LIMA; STJ - HC 97.940/RS, Rel. Min.LAURITA VAZ; STJ - RHC 12.470/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ.
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102
(STJ - AgRg no HC 226.716/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe
21/05/2012)

Já quanto ao TRF1, em consulta realizada em agosto de 2012 no sítio eletrônico do Tribunal, apenas encontrei
julgados antigos, de 1994 e 1996, cujos relatores foram, respectivamente, os então Des. Eliana Calmon e
Fernando Gonçalves, que já se filiavam à corrente do STJ que permitia a conversão.

*Súmula Vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado
em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.

*#DEOLHONAJURIS #STJ #DIZERODIREITO: A inexistência de estabelecimento penal adequado ao regime


prisional determinado para o cumprimento da pena não autoriza a concessão imediata do benefício da prisão
domiciliar, porquanto, nos termos da Súmula Vinculante n. 56, é imprescindível que a adoção de tal medida seja
precedida das providências estabelecidas no julgamento do RE 641.320/RS, quais sejam: i) saída antecipada de
outro sentenciado no regime com falta de vagas, abrindo-se, assim, vagas para os reeducandos que acabaram de
progredir; ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em
prisão domiciliar por falta de vagas; e iii) cumprimento de penas restritivas de direitos e/ou estudo aos
sentenciados em regime aberto. STJ. 3ª Seção. REsp 1.710.674-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 22/08/2018 (recurso repetitivo) (Info 632).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: A SV 56 destina-se com exclusividade aos casos de cumprimento de


pena, ou seja, aplica-se tão somente ao preso definitivo ou àquele em execução provisória da condenação. Não se
pode estender a citada súmula vinculante ao preso provisório (prisão preventiva), eis que se trata de situação
distinta. Por deter caráter cautelar, a prisão preventiva não se submete à distinção de diferentes regimes. Assim,
sequer é possível falar em regime mais ou menos gravoso ou estabelecer um sistema de progressão ou regressão
da prisão. STJ. 5ª Turma. RHC 99.006-PA, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 07/02/2019 (Info 642).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ #IMPORTANTE A concessão da prisão domiciliar com base no art. 318-
A do CPP aplica-se também no caso de execução provisória da pena. É possível a concessão de prisão domiciliar,
ainda que se trate de execução provisória da pena, para condenada gestante ou que seja mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência. Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe
ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que: I - não
tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II - não tenha cometido o crime contra seu filho
ou dependente. STJ. 5ª Turma. HC 487.763-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 02/04/2019
(Info 647).

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103
CUIDADO! Com o atual entendimento de que NÃO é possível a execução provisória da pena, o julgado acima
perdeu o sentido (no caso de domiciliar para execuções provisórias).

LIBERDADE PROVISÓRIA

Destaco que, com a edição da Lei 12.694, de 24 de julho de 2012, que dispõe sobre o processo e o julgamento
colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá
decidirpela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, notadamente concessão de
liberdade provisória, decretar a prisão ou medidas assecuratórias (art. 1, II e §1º).

Pelo novo art. 310, o Juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a
realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz
deverá, fundamentadamente:

§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições
constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal) (legítima defesa), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante
termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação.

§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que
porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares.

§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo
estabelecido no caput deste artigo (24 horas após recebimento do auto de prisão em flagrante) responderá
administrativa, civil e penalmente pela omissão.

§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não
realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser
relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão
preventiva.” (NR)

#ATENÇÃO O projeto proíbe que o juiz conceda liberdade provisória a quem for preso em flagrante se a pessoa
for reincidente, se fizer parte de organização criminosa ou milícia ou se portar arma de fogo de uso restrito. A
negação de liberdade provisória poderá ser com ou sem outras medidas cautelares.

A liberdade provisória é, pois, a restituição de liberdade ao indiciado preso em flagrante delito. Há quatro tipos:

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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a) Liberdade provisória em que é vedada a fiança: é a concedida no caso de crimes inafiançáveis. Converte-se a
prisão em flagrante em uma cautelar distinta da prisão, nos casos em que não estão presentes os requisitos da
preventiva. Só não se pode aplicar a fiança.
Recentemente, em 10.05.2012, o Plenário do STF, por maioria, no julgamento do HC 104.339/SP (rel. Min.
Gilmar Mendes), declarou a inconstitucionalidade incidental da expressão “e liberdade provisória”, constante
do art. 44, caput, da Lei 11.343/2006. Na oportunidade, a Corte determinou que fossem apreciados os
requisitos previstos no art. 312 do CPP para que, se for o caso, fosse mantida a segregação cautelar do
paciente.
Foi o que ocorreu, também, no Estatuto do Desarmamento, que teve dispositivos julgados inconstitucionais.

b) Liberdade provisória com fiança: converte-se a prisão em flagrante em fiança, podendo ou não ser
acompanhada de outra cautelar pessoal.

c) Liberdade provisória sem fiança: aqui, pode haver imposição de outra cautelar distinta da prisão.

d) Liberdade provisória vinculada ao comparecimento a todos os atos do processo: é a do art. 310, parágrafo
primeiro. Não há imposição de nenhuma cautelar distinta da prisão, mas o réu fica obrigado a comparecer a todos
os atos do processo, sob pena de revogação (com cautelar pessoal).
Note-se que a liberdade provisória só se aplica nos casos de prisões em flagrante legais, porque, nas ilegais, há o
relaxamento.

Segundo Pacelli, a fiança não será possível, nem nos crimes inafiançáveis (por expressa previsão legal) e nem
tampouco naqueles em que não seja cominada pena privativa de liberdade (pois o art. 283, §1º, veda qualquer
cautelar pessoal nesses casos, e a fiança é uma delas).

*O indivíduo foi preso em flagrante pela prática do crime de tráfico de drogas. O magistrado concedeu liberdade
provisória com a fixação de 2 salários-mínimos de fiança. Como não foi paga a fiança, o indivíduo permaneceu
preso. A Defensoria Pública impetrou habeas corpus e o STF deferiu a liberdade provisória em favor do paciente
com dispensa do pagamento de fiança. Os Ministros afirmaram que era injusto e desproporcional condicionar a
expedição do alvará de soltura ao recolhimento da fiança. Segundo entendeu o STF, o réu não tinha condições
financeiras de arcar com o valor da fiança, o que se poderia presumir pelo fato de ser assistido pela Defensoria
Pública, o que pressuporia sua hipossuficiência. Assim, não estando previstos os pressupostos do art. 312 do CPP
(prisão preventiva) e não tendo o preso condições de pagar a fiança, conclui-se que nada justifica a manutenção
da prisão cautelar. STF. 1ª Turma. HC 129474/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


105
*#OUSESABER: Conforme entendimento do STJ, interposto recurso em sentido estrito da decisão que concede
liberdade provisória, é cabível o uso do Mandado de Segurança para conferir efeito suspensivo ao RESE. Certo
ou errado?
ERRADO. É sabido que da decisão que concede liberdade provisória pode o Ministério Público interpor o recurso
em sentido estrito, com fundamento no art. 581, V, do CPP. Ainda, a regra do citado recurso, é que não possui
efeito suspensivo. Assim, tentando manter a prisão do acusado/investigado, muitas vezes o Ministério Público
impetra mandado de segurança pleiteando a imposição do mencionado efeito. Ocorre que o STJ editou
recentemente a súmula 604, que dispõe expressamente que “O mandado de segurança não se presta para
atribuir efeito suspensivo a recurso criminal interposto pelo Ministério Público”. Nota-se, inclusive, que o
enunciado sumular não se restringe ao RESE, sendo aplicável, também, por exemplo, ao agravo interposto no
âmbito da execução penal. Essa súmula consolida entendimento já sufragado no âmbito do STJ. Colaciono
precedente: “2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido do descabimento de mandado
de segurança para conferir efeito suspensivo a recurso em sentido estrito interposto a decisão que concede
liberdade provisória, por ausência de amparo legal e por tal manejo refugir ao escopo precípuo da ação
mandamental. 3. Assim, o manejo do mandado de segurança como sucedâneo recursal, notadamente com o fito
de obter medida não prevista em lei, revela-se de todo inviável, sendo, ademais, impossível falar em direito
líquido e certo na ação mandamental quando a pretensão carece de amparo legal. Precedentes” (HC 368.906/SP,
j. 18/04/2017). Logo, assertiva errada, pois o STJ veda o uso do mandado de segurança para a citação do
enunciado.

Dispositivos legais:

Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder
liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e
observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de
liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Nos demais casos (ou seja, pena máxima maior que 4 anos), a fiança será requerida ao juiz, que
decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 323. Não será concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes de racismo; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes
hediondos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
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Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo
justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).
II - em caso de prisão civil ou militar; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312). (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes limites: (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau
máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de liberdade cominada for
superior a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

§ 1º Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: (Redação dada pela Lei nº 12.403,
de 2011).
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em consideração a natureza da infração, as
condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade,
bem como a importância provável das custas do processo, até final julgamento.

Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes
que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. Quando o réu não
comparecer, a fiança será havida como quebrada.

Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento da fiança, mudar de residência, sem prévia
permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar
àquela autoridade o lugar onde será encontrado.
(...)

Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais
preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar.

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107
Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida independentemente de audiência do Ministério
Público, este terá vista do processo a fim de requerer o que julgar conveniente. – O MP só tem vista depois de já
concedida a fiança.

Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele,
poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito)
horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao pagamento das custas, da indenização do dano,
da prestação pecuniária e da multa, se o réu for condenado. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso da prescrição depois da sentença condenatória
(art. 110 do Código Penal). (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Já se a prescrição for da pretensão punitiva (antes da sentença, portanto), a fiança será restituída, pois aí não
terá havido condenação, mas sim sentença declaratória da extinção de punibilidade.

Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em julgado sentença que houver absolvido o acusado
ou declarada extinta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído sem desconto, salvo o
disposto no parágrafo único do art. 336 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie será cassada em qualquer fase do processo.

Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a existência de delito inafiançável, no caso de
inovação na classificação do delito.

Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:


I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;
II - quando houver depreciação material ou perecimento dos bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação
dos metais ou pedras preciosas;
III - quando for inovada a classificação do delito.
Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido à prisão, quando, na conformidade deste
artigo, não for reforçada. – E, nesse caso, será restituída ao indiciado.

Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


108
I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo justo; (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
V - praticar nova infração penal dolosa. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se declarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os
seus efeitos.

Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz
decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação da prisão preventiva.
(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar
para o início do cumprimento da pena definitivamente imposta. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas as custas e mais encargos a que o acusado estiver
obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções previstas no art. 345 deste Código, o valor
restante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será entregue a quem houver prestado a fiança, depois
de deduzidos os encargos a que o réu estiver obrigado.

Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo
cível pelo órgão do Ministério Público.

Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais preciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou
corretor.

Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação econômica do preso, poderá conceder-
lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras
medidas cautelares, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo justo, qualquer das obrigações ou medidas impostas,
aplicar-se-á o disposto no § 4o do art. 282 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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Nomenclaturas (#QUESTÃODESOBREVIVÊNCIA):

I – DEFINITIVIDADE DA FIANÇA.
A fiança é definitiva. Até alguns anos existia a fiança provisória, que acabou. A definitividade da fiança não impede
o reforço de fiança.

II – REFORÇO DA FIANÇA.
Ocorre quando o juiz descobre que a fiança anteriormente fixada não é suficiente.

III – FIANÇA SEM EFEITO.


Ocorre quando o agente não reforça a fiança como determinado pelo juiz. Conseqüências: devolução da fiança e
prisão.

IV – QUEBRA DA FIANÇA.
Ocorre quando o réu descumpre uma das condições. Conseqüências: o réu perde metade do valor que pagou a
título de fiança e pode ser preso, ou sofrer medida cautelar diversa.

V – PERDA DA FIANÇA.
Quando o réu condenado definitivamente não se apresenta ao cárcere.

VI – CASSAÇÃO DA FIANÇA.
Ocorre em duas hipóteses: desclassificação da fiança (era um crime cabível e passou a não ser mais) e quando não
era cabível e autoridade concedeu erradamente.

VII – FIANÇA INIDÔNEA.


Quando a fiança não era cabível e a autoridade concedeu chama-se de FIANÇA INIDÔNEA. Consequência da fiança
inidônea é a cassação.

VIII – RESTAURAÇÃO DA FIANÇA.


Ocorre quando o tribunal reexamina a cassação e restaura a fiança. A fiança foi concedida, depois foi cassada e
depois é restaurada. A restauração ocorre quando a cassação foi errada.

IX – DEVOLUÇÃO DA FIANÇA.
A fiança é devolvida nas seguintes hipóteses: fiança sem efeito; quando o réu é absolvido ou quando há sobra.
Por que sobra? Como a fiança serve para pagar multa, custas e indenização, depois desses pagamentos o que
sobrar é do réu ou de quem prestou a fiança.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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X – DISPENSA DA FIANÇA.
Ocorre quando o réu é pobre. O juiz irá conceder a liberdade provisória sem fiança.

Se houver arquivamento do inquérito ou trancamento da ação penal, a fiança é restituída, da mesma forma que
ocorre na sentença absolutória ou declaratória de extinção da punibilidade.

Art. 283, §1º: se não for cominada pena privativa de liberdade ao delito, tecnicamente, não há sequer falar em
liberdade provisória. Isso se aproxima da antiga hipótese de o réu livrar-se solto, na medida em que não há
nenhuma obrigação para ele. Apenas se lavra o auto de apreensão em flagrante e depois a autoridade policial
libera o apreendido, como se ele não tivesse sido preso. Não há consequências.

STJ: o decurso do tempo de prisão, sem recolhimento da fiança, constitui prova suficiente da incapacidade
financeira, “não podendo a pobreza constituir-se obstáculo à liberdade”. Ver mais em
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/noticias/noticias/Tempo-de-pris%C3%A3o-sem-recolhimento-da-
fian%C3%A7a-%C3%A9-prova-de-incapacidade-financeira

*O fato de o réu já ter praticado atos infracionais anteriormente não pode ser considerado para fins de
reincidência nem se caracteriza como maus antecedentes. No entanto, tais atos infracionais podem servir para
justificar a decretação ou manutenção da prisão preventiva como garantia da ordem pública. STJ. 5ª Turma. RHC
47.671-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/12/2014 (Info 554).

*Réu respondeu o processo recolhido ao cárcere porque havia motivos para a prisão preventiva. Na sentença, foi
condenado a uma pena privativa de liberdade em regime semiaberto ou aberto. Pelo fato de ter sido imposto
regime mais brando que o fechado, ele terá direito de recorrer em liberdade mesmo que ainda estejam presentes
os requisitos da prisão cautelar?
• 1ª corrente: NÃO. Não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime
inicial semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar. Se ainda persistem os motivos que
ensejaram a prisão cautelar, o réu deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime
inicial semiaberto. Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso,
porém, ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença (semiaberto). STJ. 5ª Turma.
HC 289.636-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/5/2014 (Info 540); STF. 1ª Turma. HC 123267, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 02/12/2014.

• 2ª corrente: SIM. Caso o réu seja condenado a pena que deva ser cumprida em regime inicial diverso do
fechado (aberto ou semiaberto), não será admissível a decretação ou manutenção de prisão preventiva na
sentença condenatória, notadamente quando não há recurso da acusação quanto a este ponto. Se fosse
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
111
permitido que o réu aguardasse o julgamento preso (regime fechado), mesmo tendo sido condenado a regime
aberto ou semiaberto, seria mais benéfico para ele renunciar ao direito de recorrer e iniciar imediatamente o
cumprimento da pena no regime estipulado do que exercer seu direito de impugnar a decisão perante o segundo
grau. Isso soa absurdo e viola o princípio da proporcionalidade. A solução dada pela 1ª corrente (aplicar as regras
do regime semiaberto ou aberto) significa aceitar a existência de execução provisória da pena, o que não é
admitido pela CF/88. STJb. 5ª Turma. RHC 52.407-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/12/2014 (Info 554).

*JURISPRUDÊNCIA EM TESE - STJ12

1) Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. (Súmula
n. 145/STF)

2) O tipo penal descrito no art. 33 da Lei n. 11.343/2006 é de ação múltipla e de natureza permanente, razão
pela qual a prática criminosa se consuma, por exemplo, a depender do caso concreto, nas condutas de
"ter em depósito", "guardar", "transportar" e "trazer consigo", antes mesmo da atuação provocadora da
polícia, o que afasta a tese defensiva de flagrante preparado.

3) No flagrante esperado, a polícia tem notícias de que uma infração penal será cometida e passa a
monitorar a atividade do agente de forma a aguardar o melhor momento para executar a prisão, não
havendo que se falar em ilegalidade do flagrante.
4) No tocante ao flagrante retardado ou à ação controlada, a ausência de autorização judicial não tem o
condão de tornar ilegal a prisão em flagrante postergado, vez que o instituto visa a proteger o trabalho
investigativo, afastando a eventual responsabilidade criminal ou administrava por parte do agente
policial.

5) Para a lavratura do auto de prisão em flagrante é despicienda a elaboração do laudo toxicológico


definitivo, o que se depreende da leitura do art. 50, §1º, da Lei n. 11.343/2006, segundo o qual é
suficiente para tanto a confecção do laudo de constatação da natureza e da quantidade da droga.

6) Eventual nulidade no auto de prisão em flagrante devido à ausência de assistência por advogado somente
se verifica caso não seja oportunizado ao conduzido o direito de ser assistido por defensor técnico, sendo
suficiente a lembrança, pela autoridade policial, dos direitos do preso previstos no art. 5º, LXIII, da
Constituição Federal.

12
Jurisprudência em Tese n. 120. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
112
7) Uma vez decretada a prisão preventiva, fica superada a tese de excesso de prazo na comunicação do
flagrante.

8) Realizada a conversão da prisão em flagrante em preventiva, fica superada a alegação de nulidade


porventura existente em relação à ausência de audiência de custódia.

9) Não há nulidade da audiência de custódia por suposta violação da Súmula Vinculante n. 11 do STF,
quando devidamente justificada a necessidade do uso de algemas pelo segregado.

10) Não há nulidade na hipótese em que o magistrado, de ofício, sem prévia provocação da autoridade
policial ou do órgão ministerial, converte a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os
requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal - CPP.

11) Com a superveniência de decretação da prisão preventiva ficam prejudicadas as alegações de ilegalidade
da segregação em flagrante, tendo em vista a formação de novo título ensejador da custódia cautelar.

DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVOS

Código de Processo Penal Art. 282 ao art. 350

Lei 7.960/1989 Integralmente

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Anotações de aula

Jurisprudência do site Dizer o Direito.

Manual de Processo Penal – Renato Brasileiro

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


i
Este material foi produzido pelos coaches com base em anotações pessoais de aulas, referências e trechos de
doutrina, informativos de jurisprudência, enunciados de súmulas, artigos de lei, anotações oriundas de questões,
entre outros, além de estar em constante processo de atualização legislativa e jurisprudencial pela equipe do Ciclos
R3.

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