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Agravo de Instrumento n. 4008491-21.2019.8.24.

0000, de Palhoça
Relator: Desembargador Saul Steil

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DESPEJO.


DENÚNCIA VAZIA. PETIÇÃO COM FINS À EXECUÇÃO
PROVISÓRIA DE ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DA
ORDEM DESALIJATÓRIA CONTIDA NA SENTENÇA DE
PARCIAL PROCEDÊNCIA PROFERIDA PELO JUÍZO A
QUO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA EM QUE
ESTABELECIDA CAUÇÃO COMO PRESSUPOSTO PARA A
DESOCUPAÇÃO VOLUNTÁRIA. INSURGÊNCIA DA RÉ.
CAUÇÃO ARBITRADA QUE SERIA IRRISÓRIA FRENTE
AOS PREJUÍZOS DECORRENTES. INCONFORMISMO,
AINDA, DIANTE DA POSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO NA
FORMA PESSOAL OU FIDEJUSSÓRIA. TESES
RECHAÇADAS. PARÂMETROS ESTABELECIDOS QUE
ESTÃO EM ADEQUAÇÃO AO DISCIPLINADO PELO ART.
64 DA LEI DE LOCAÇÕES. CAUÇÃO QUE, NA FORMA DO
PARÁGRAFO SEGUNDO DO REFERIDO DISPOSITIVO,
SERVE COMO INDENIZAÇÃO MÍNIMA DAS PERDAS E
DANOS, NÃO IMPEDINDO O PREJUDICADO DE
RECLAMAR, EM AÇÃO PRÓPRIA, A DIFERENÇA PELO
QUE A EXCEDER. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento


n. 4008491-21.2019.8.24.0000, da comarca de Palhoça (2ª Vara Cível), em que
é Agravante Posto Pagani Eireli (Jacson Maciel Goulart) e Agravada Maria
Carolina da Silveira.

A Terceira Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime,


conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Custas legais.
O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo
Excelentíssimo Senhor Desembargador Marcus Tulio Sartorato, com voto, e dele
participou o Excelentíssimo Senhor Desembargador Fernando Carioni.
Florianópolis,5 de novembro de 2019.

Desembargador Saul Steil


Relator
RELATÓRIO

Posto Pagani Eireli interpôs agravo de instrumento em face de


decisão interlocutória proferida pelo magistrado Maximiliano Losso Bunn, em
exercício no Juízo da 2ª Vara Cível da comarca de Palhoça, que, nos autos do
incidente de "petição" à ação de despejo n. 0008918-82.2018.8.24.0045/01,
deflagrado por Maria Carolina da Silveira em desfavor daquela, estabeleceu
caução para fins de desocupação do imóvel, fixando-a no valor equivalente a
seis meses de aluguel e permitindo que seja prestada nas modalidades real ou
fidejussória (fl. 69, origem).
Alegou, em síntese, que o interlocutório representa descumprimento
à determinação judicial emanada desta Corte, proferida em regime de
substituição pela Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta nos autos do AI n.
4035217-66.2018.8.24.0000, porquanto a caução foi arbitrada em valor irrisório
e, também, por ter sido autorizada a prestação pessoal ou fidejussória.
Por tais razões, requereu a antecipação da tutela recursal, visando
à devolução do imóvel à sua posse e ao estabelecimento de caução, como
condição à efetivação do despejo, no importe de R$ 10.653.708,24 (dez milhões
seiscentos e cinquenta e três mil setecentos e oito reais e vinte e quatro
centavos), equivalente a seis meses de faturamento do posto de combustíveis
instalado no imóvel, a ser prestada em dinheiro, seguro-fiança ou garantia real.
Ao final, pugnou pela confirmação da tutela quando do julgamento de mérito do
reclamo (fls. 1-12), anexando documentos (fls. 14-48).
Indeferida a antecipação da tutela recursal almejada (fls. 52-58),
foram apresentadas contrarrazões (fls. 61-64).
É o relatório.

Gabinete Desembargador Saul Steil


VOTO

O recurso preenche os requisitos extrínsecos de admissibilidade


(art. 1.003, § 5º e art. 1.007, ambos do CPC), ao passo que encontra respaldo
no art. 1.015, inc. I, do CPC, razão por que dele conheço.
Trata-se de agravo de instrumento interposto em face de decisão
interlocutória em que, no âmbito de incidente de petição com fins à execução
provisória da sentença lavrada em julgamento da ação de despejo de origem,
quedou estabelecida caução a ser prestada pela autora/agravada como
pressuposto para a desocupação do imóvel em foco pela ré/agravante.
Em síntese, após a ordem desalijatória ter sido confirmada por este
órgão fracionário em julgamento dos recursos de apelação interpostos pelas
partes (fls. 6-27), a autora/agravada deflagrou "cumprimento provisório de
sentença", almejando a desocupação do imóvel.
Tal incidente, no interlocutório de fls. 28-30 dos autos de origem, foi
reautuado como mera "petição", já que, na palavras do togado singular, pelo fato
de a ação de despejo possuir natureza executiva latu sensu, "não se cogita a
instauração de fase de cumprimento de sentença, bem agora (a título provisório)
e nem no futuro (a título definitivo)" (fl. 28, origem). Na mesma decisão, foi
expedida ordem de desocupação voluntária por parte da ré/agravante, no prazo
de 15 (quinze) dias.
A agravante, então, interpôs um primeiro agravo de instrumento,
autuado sob o n. 4035217-66.2018.8.24.0000, cuja pretensão de antecipação da
tutela recursal foi apreciada, em regime de substituição, pela eminente Desa.
Maria do Rocio Luz Santa Ritta, que concedeu parcialmente a tutela para fins de
que o prazo fixado para desocupação do imóvel fosse contado apenas da
prestação de caução pela agravada (fls. 63-67, origem).
Em adequação a esta decisão unipessoal, o togado singular
proferiu o decisum objeto do presente recurso, em que fixou a caução no valor
equivalente a 6 (seis) meses de aluguel e permitiu que seja prestada nas

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modalidades real ou fidejussória (fl. 69, origem).
Ainda inconformada, sustenta a locatária, por meio de novo agravo
de instrumento, que o importe fixado a título de garantia é irrisório, sobretudo
porque o faturamento do posto de combustíveis instalado no imóvel atinge
mensalmente o montante de R$ 1.775.618,04 (um milhão setecentos e setenta e
cinco mil seiscentos e dezoito reais e quatro centavos) e semestralmente de R$
10.653.708,24 (dez milhões seiscentos e cinquenta e três mil setecentos e oito
reais e vinte e quatro centavos), ao passo que a caução exigida alcança apenas
R$ 49.425,54 (quarenta e nove mil quatrocentos e vinte e cinco reais e cinquenta
e quatro centavos).
Aponta que, assim, a caução fixada não lhe resguardará dos
prejuízos decorrentes do despejo provisório caso a ordem desalijatória seja
reformada pelos Tribunais Superiores.
Insurge-se, ainda, diante da autorização para que a garantia seja
prestada na modalidade pessoal, dizendo ser imprescindível que ocorra em
pecúnia, por meio de seguro-fiança ou garantia real.
Sem razão, adianto.
A Lei de Locações é bastante transparente ao dispor, em seu art.
64, que:

Art. 64. Salvo nas hipóteses das ações fundadas no art. 9o, a execução
provisória do despejo dependerá de caução não inferior a 6 (seis) meses nem
superior a 12 (doze) meses do aluguel, atualizado até a data da prestação da
caução.
§ 1° A caução poderá ser real ou fidejussória e será prestada nos autos
da execução provisória.
§ 2° Ocorrendo a reforma da sentença ou da decisão que concedeu
liminarmente o despejo, o valor da caução reverterá em favor do réu, como
indenização mínima das perdas e danos, podendo este reclamar, em ação
própria, a diferença pelo que a exceder.

Vê-se, portanto, que o normativo estabelece que a caução há de


ser estabelecida em valor equivalente ao intervalo entre 6 (seis) e 12 (doze)
meses de locação, na forma real ou fidejussória.
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Desta forma, consistindo a ação de despejo em tela em denúncia
vazia, a decisão agravada mostra-se em adequação à norma de regência.
Sobre a alegação de que o faturamento obtido pela agravante com
o posto de combustíveis seria muito superior à caução fixada, trata-se de
parâmetro não reconhecido pela legislação, que, como visto, dita que a garantia
há de ser fixada com base no valor do aluguel.
Além disso, como se sabe, o faturamento representa a receita bruta
do empreendimento, antes de deduzidas todas as despesas, cuja operação
resultará no lucro líquido. In casu, percebe-se dos documentos trazidos pela
agravante às fls. 16-48 que o lucro obtido mensalmente com a venda de
produtos e serviços se situa ao redor dos duzentos mil reais, valor este ainda
sujeito a novos custos, a exemplo de gastos com pessoal e tributos.
Logo, conquanto se pudesse utilizar da lucratividade como
parâmetro para o estabelecimento da caução, o que, como visto, descabe à luz
do aludido art. 64 da Lei de Locações, a agravante não logrou êxito em
demonstrar a renda líquida gerada pelo empreendimento.
No mais, na forma do já transcrito § 2º do art. 64 da Lei n.
8.245/1991, caso a caução prestada se mostre inferior ao prejuízo, faculta-se ao
despejado reclamar, em ação própria, o prejuízo excedente.
Ante o exposto, voto no sentido de conhecer do recurso e negar-lhe
provimento.
É o voto.

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