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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 8º VARA CÍVEL DA COMARCA

DE ARACAJU-SE.

POR DEPENDÊNCIA: 201710801841

YONARA YASMIM FERREIRA ANJOS, brasileira, solteira,


estudante, portadora da CI/RG n° 31018122 SSP/SE e inscrito no CPF sob n° 043.492.765-13,
residente e domiciliado na Avenida Presidente Juscelino Kubistscheck, n° 59, Bairro Cidade
Nova, nesta Capital, CEP. 49.087-002, vem perante Vossa Excelência, por meio do seus
advogados infrafirmados, promover a presente

AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL C/C CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

em face do BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A, instituição financeira com sede e foro na
Cidade de Deus, Vila Yara, Osasco/SP, CEP: 06029-900, inscrita perante o CNPJ/MF sob o nº
07.207.996/0001-50, pelos motivos de fato e de direito a seguir delineados:

I - PRELIMINARMENTE

Com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Carta Magna e o artigo 98 do Novo CPC, a
autora pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita tendo em vista que não pode arcar com as
despesas processuais, sem que haja prejuízo do seu próprio sustento e dependentes.
II - DOS FATOS

A autora firmou contrato de financiamento com a instituição requerida, com o


objetivo de adquirir um automóvel FORD KA 1.0 (FLEX), ano/modelo 2016, conforme
documentos anexados.

De acordo com o contrato em anexo, o valor total do crédito, após a inclusão de


taxas, foi de R$ 23.327,81 (vinte e três mil trezentos e vinte sete reais e oitenta e um centavos)
que deveria ser pago em 36 (trinta e seis) parcelas fixas de R$ 648,11 (seiscentos e quarenta e
oito reais e onze centavos), conforme se verifica na cópia de contrato anexa.

Por sua vez, a requerente deu o valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais) de
entrada, ficando um saldo restante de R$ 21.310,70 (vinte e um mil, trezentos e dez reais e
setenta centavos) valor este financiado. A Reclamante percebeu que o valor a ser pago alcança
o montante de R$ 23.331,96 (vinte e três mil, trezentos e trinta e um reais e noventa e seis
centavos), referente ao pagamento das 36 (trinta e seis) parcelas fixas de R$ 648,11 (seiscentos
e quarenta e oito reais e onze centavos).

Ocorre, entretanto, que, depois de ter quitado 19 das prestações deste contrato,
conforme cópia dos comprovantes anexos, a Requerenta se viu numa situação de intransponíveis
dificuldades, pois compreendeu que não conseguirá pagar as prestações restantes, conforme
acordado, haja vista a sua onerosidade, decorrente do acúmulo de juros extorsivos, portanto,
ilegais, comissão de permanência com correção monetária, juros sobre juros (anatocismo), além
de outros acréscimos que se verão após instalada e realizada a imprescindível perícia contábil e
com o agravante de encontrar-se desempregado.

De qualquer modo, não é o Requerente defensor da tese de


que não deve mais nada ao Banco Requerido. Óbvio que não. Seria atentar contra a inteligência
de Vossa Excelência, sem prejuízo de ser tido como litigante de má-fé. Todavia, deseja o Autor
pagar o que for efetivamente devido e legal.

Por estas razões, busca a indispensável prestação


jurisdicional por esta via e ação se fazendo necessário também a consulta de um técnico
contábil, para que posso apresentar um laudo pericial.
Ante o exposto, é possível inferir que, tendo a autora pago 19 parcelas, resta o
saldo devedor, no valor total de R$ 10.293,16, que dividido pelas 17 (dezessete) parcelas
restantes, equivale a uma mensalidade no importe de R$ 605,48 (seiscentos e cinco reais e
quarenta e oito centavos).

Ocorre que, além de tudo isso, o Demandante observou ainda que foi cobrado o
valor de R$ 495,00 (quatrocentos e noventa e cinco reais) de taxa de cadastro, o valor de R$
101,54 (cento um reais e cinquenta e quatro centavos) de taxa de registro de contrato, o valor de
R$ 745 ,87 (setecentos e quarenta e cinco reais e oitenta e sete centavos) de seguro e o valor de
R$ 674,70 (seiscentos e setenta e quatro reais e setenta centavos) de IOF, como é possível
observar no contrato em anexo.

Tais cobranças acima mencionadas NÃO devem ser utilizadas e são consideradas
ilegais pelo direito pátrio, de modo que se configuram mais um fato em desacordo aos direitos do
Autor, resultando em uma cobrança abusiva.

Assim, já que uma simples análise dos documentos, acostados aos autos, é
possível verificar a flagrante abusividade que a parte autora é vítima, a alternativa foi recorrer
ao Estado-Juiz para coibir tais abusos.

III - DO DIREITO

III.1) DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA E DOS REQUISITOS AUTORIZADORES

Conforme dispõe o artigo 311 do Novo Código de Processo Civil, pode o juiz
conceder a tutela de evidencia. A tutela de evidencia aparece como uma técnica a serviço do
magistrado para a proteção dos chamados “direitos evidentes” e para conferir ao processo a tão
aclamada efetividade. É missão do Estado-Juiz, portanto, antecipar os efeitos da tutela final,
sempre que verificar a presença dos requisitos legais. São eles:

Art. 311. A tutela da evidência será concedida,


independentemente da demonstração de perigo de
dano ou de risco ao resultado útil do processo,
quando:
I – ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou
o manifesto propósito protelatório da parte;
II – as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e houver tese
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
súmula vinculante;
III – se tratar de pedido reipersecutório fundado em
prova documental adequada do contrato de depósito,
caso em que será decretada a ordem de entrega do
objeto custodiado, sob cominação de multa;
IV – a petição inicial for instruída com prova
documental suficiente dos fatos constitutivos do direito
do autor, a que o réu não oponha prova capaz de
gerar dúvida razoável.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III,
o juiz poderá decidir liminarmente.

Na presente demanda, norma e fato se unem em uma síntese de fácil


demonstração:

I.1.A) Do Direito a Consignação em Pagamento

A consignação durante o processo é benéfica para ambas as partes, para o


credor que recebe e para o devedor que paga parcela justa. Além disso, o valor depositado é
tido como incontroverso para a parte autora, desta forma, se o juiz julgar de forma diversa,
faz-se necessário, apenas, o depósito das parcelas vencidas e das parcelas vicendas ,
de modo que tal decisão no início da lide, a título de tutela antecipada, não é irreversível.

Desta feita, resta comprovada a condição de reversibilidade que se


apresenta na possibilidade de sustação, a qualquer tempo, da medida deferida, caso seja
comprovada a ilegitimidade do pedido e, por esta razão, de imediato, REQUER, a Vossa
Excelência, em sede de Tutela Antecipada: AUTORIZAR, in limine e inaudita altera pars, a
consignação em pagamento de R$ 5.184,88, parcela única referente as 8 parcelas vencidas e o
pagamento parcelado das 9 parcelas fixas vicendas no valor de R$ 605,48, a fim de liquidar
integralmente a dívida considerada.

I.1.B)Medida de Proteção ao Direito da Personalidade

É importante tecer considerações a respeito dos enormes reflexos negativos


que a positivação do nome do requerente naqueles órgãos cadastrais geraria, maxime que, às
escâncaras, constituiria forma ilegítima de pressão ao pagamento da alegada dívida.

Tais registros maculariam totalmente o nome do autor junto ao comércio local


e nacional, subtraindo-lhe deliberadamente o mais elementar direito: ao crédito e expondo-lhe,
ainda, à extrema humilhação.

Ademais, é ilegal a positivação do nome do Autor enquanto discute o débito


através de Ação Judicial e sobre tal ilegalidade, o Dr. Henrique Oswaldo Poeta Roenick, Relator
de Recurso de Agravo de Instrumento n.º 197028681, posiciona-se:

“A jurisprudência amplamente majoritária deste Tribunal tem-se


posicionado contra o cadastramento em organismos privados, ou
no sentido de que estes órgãos (SERASA, SCI, SPC)...Com efeito,
não é justo que, estando em discussão o débito, seja possível a
positivação, pois estaria o credor unilateralmente estabelecendo o
quantum devido, impedindo a discussão de cláusula do título, que
poderiam gerar crédito para o devedor,
sem falar nas consequências devastadoras, trazendo prejuízos
irrecuperáveis, levando-se em conta que se fecham as portas
para a concessão de novos empréstimos. Funciona na realidade,
como verdadeira tentativa de coagir os devedores a efetuarem o
pagamento do que os referidos interessados se dizem credores,
colidindo com o art. 42 do CDC, cuja norma impede seja
submetido o consumidor inadimplente a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça na cobrança”. (grifou-se)

No mesmo sentido, segue decisão do Egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


ESTADO DE SERGIPE:

Cautelar - Decisão de primeiro grau que impede a inscrição do


devedor nos cadastros de restrição ao crédito - Ação ordinária em
curso, na qual se discute o valor real do débito. A positivação
do nome do devedor nos cadastros de restrição ao crédito constitui
exercício regular de um direito conferido às instituições financeiras,
porém deve ser o mesmo exercido com cautela, sob pena de causar
à aquele prejuízos irreparáveis. Se as taxas de juros aplicadas ainda
estão em discussão em sede
de ação ordinária, não se sabendo ao certo o valor real do
débito, é lícito ao magistrado sustar a positivação
supramencionada. Prejuízo algum acarretará ao banco tal
medida. Agravo a que se nega provimento. (Acórdão n.º 429/98,
Agravo n.º 385/97, 4ª Vara Cível Comarca de Aracaju, Agravante
Banco Bradesco S/A, Agravado Santos Representações e
Comércio Ltda., Relator Des. Aloísio de Abreu Lima, Procurador Dr.
José Carlos de Oliveira Filho)(grifou-se)

Desta feita, resta comprovada a condição de reversibilidade que se


apresenta na possibilidade de sustação, a qualquer tempo, da medida deferida, caso seja
comprovada a ilegitimidade do pedido.

Outrossim, o pagamento do valor incontroverso da dívida será realizado se


deferida a liminar de consignação em pagamento, de modo que não há motivação para incluir o
nome da autora inserido nos cadastros de proteção ao crédito.
Por esta razão, de imediato, REQUER, a Vossa Excelência, em sede de
Tutela Antecipada: DETERMINE, in limine e inaudita altera pars, que a Instituição Ré abstenha-
se de INSERIR o nome da autora nos registros de proteção de crédito – (v.g. BACEN, SERASA,
SPC, SCI, etc), até o julgamento final e definitivo da lide principal, cominando-lhes, em caso de
descumprimento, sanção pecuniária diária a ser prudentemente arbitrada por Vossa Excelência.

III.2)MANIFESTAÇÃO DE VONTADE, PRINCIPAL ELEMENTO FORMALIZADOR DOS NEGÓCIOS


JURÍDICOS - CONTRATOS DE ADESÃO

Primeiramente, cabe destacar que o contrato firmado entre as partes, trata-se


de contrato de adesão, de tal modo que não há como se falar em manifestação livre da vontade
do Requerente, haja vista que a manifestação da vontade livre ocorre quando há plena
discussão das cláusulas contratuais pelas partes, pois o contrato é fonte de obrigação,
coadunando-se com o direito quando é fruto da real vontade das partes, isto ocorre nos
contratos paritários, onde as partes se encontram em pé de igualdade, aplicando-se aqui, os
princípios da autonomia da vontade e da obrigatoriedade.

Ressalte-se que a manifestação de vontade livre por agente capaz se


constitui em elemento essencial, tanto do plano de existência como do plano de validade, pois,
nos contratos a vontade das partes é que vai determinar os efeitos que repercutirão no mundo
jurídico (constituição, modificação, extinção ou conservação de direitos).

Já o contrato de adesão possui uma peculiaridade no tangente a


manifestação de vontade, qual seja, uma das partes no negócio, estabelece todas as cláusulas
que a outra parte adere em bloco, sem ter o poder de discutir e modificar o que foi proposto, fato
que gera uma relação de submissão da parte aderente que se coloca em situação de
disparidade econômica e inferioridade psíquica. Portanto, é inconteste que surge a necessidade
de mitigação dos princípios referidos nestes contratos.
Estas espécies de contrato adesivo, quando incluídas cláusulas limitativas do
direito do aderente, não podem ser abusivas, pois conforme determina o Código de Defesa do
Consumidor, no artigo 51, estas serão nulas. A interpretação de tais cláusulas deverá ser
sempre favorável àquele que aderiu, pois se encontra em posição de inferioridade.

No caso em exame, os fatos se subsumam perfeitamente ao contrato de


adesão. Desta forma, não se pode falar em Pacta Sunt Servanda, uma vez que há uma
relativização dos princípios da obrigatoriedade e autonomia da vontade, pois atualmente, deve
prevalecer a aplicação da função social do contrato em detrimento dos princípios referidos para
evitar que se gere um desequilíbrio contratual entre as partes, criando uma situação de
abusividade.

Em suma, o contrato de adesão tem que ser aceito pelo contratante, sob
pena de não ser firmado, e é o tipo de negócio que somente se consolida devido à falta de
opção do aderente, pois, ao aceitar condições prejudiciais, a pessoa assim procede por não ter
alternativa, ou seja, porque tem necessidade de satisfazer um interesse que, por outro modo,
não pode ser atendido. Entretanto, isto não quer dizer que as cláusulas destes contratos são
totalmente inabaláveis, ou seja, o cliente não deve aceitar excessos incoerentes e absurdos
como os configurados no caso em tela e o meio mais eficaz de buscar os seus direitos são as
vias judiciais.

Tal entendimento é acolhido pelo TJ/SE, conforme se verifica:

APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL DE CLÁUSULAS


CONTRATUAIS. ADMINISTRADORA DE CARTÃO DE
CRÉDITO. JUROS. APLICAÇÃO DA TAXA MÉDIA DE
MERCADO. PRECEDENTES DO STJ E DESTA CORTE
DE JUSTIÇA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.
IMPOSSIBILIDADE. AFASTADA A COBRANÇA DA
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. RESTITUIÇÃO DE
INDÉBITO. DEVIDO EM SUA FORMA SIMPLES, SE
HOUVE PAGAMENTO FEITO A MAIOR. ÔNUS
SUCUMBENCIAIS. MANTIDOS. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. À UNANIMIDADE.
Observância aos princípios da função social do contrato e
do equilíbrio contratual, mitigando a aplicação do
dogma pacta sunt servanda aos contratos regidos
por normas de direito público. [...]. (APELAÇÃO CÍVEL Nº
5447/2012, 7ª VARA CíVEL, Tribunal de Justiça do
Estado de Sergipe, DESA. SUZANA MARIA
CARVALHO OLIVEIRA , RELATOR, Julgado em
25/09/2012) (grifou-se)

Portanto, é possível rever as condições contratuais e modificá-las, a qualquer


tempo, de modo a não permitir o ônus excessivo da parte contratante e, isto é o que a acionante
desde já requer.

III.3) DA ABUSIVIDADE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS

O código de defesa do consumidor foi criado devido ao reconhecimento da


vulnerabilidade do consumidor tendo como função social promover a realização dos ideais de
convivência do homem, bem como, estabeleceu órgãos e mecanismos de tutela, prescreveu
práticas comerciais e contratuais abusivas. E, nesse diapasão, estabelece o artigo 51 do Código
de Defesa do Consumidor, em seus incisos IV, VIII, X, XIII e XV:

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que: (...)

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas,


abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade; (...)

X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente,


variação do preço de maneira unilateral; (...)”(grifou-e)
No caso em tela, o requerido agiu de má fé, pois, aproveitando-se da
situação de hipossuficiência que a parte autora se encontrava para cobrar taxas e encargos
abusivos, visando apenas o enriquecimento ilícito, tornando a Acionante vítima de lesão a ser
sanada pelo judiciário.

Desta forma, requer o Demandante que este douto Juízo determine a revisão
das cláusulas contratuais, com a anulação das cláusulas que estabeleçam a
cobrança de taxas leoninas e notadamente abusivas.

III.4) DA CAPITALIZAÇÃO INCIDENTE NOS JUROS

Quanto à capitalização de juros, pertine enfatizar, a lei viabiliza a


incorporação dos juros ao capital (capitalização dos juros), apenas por ocasião do
fechamento de um ano (12 meses), ou no término do contrato, jamais mensalmente, como
ocorreu no caso em tela.

Consoante determina a lei (Decreto nº 22.626/33) “é proibido contar juros dos


juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em
contratos firmados, de ano a ano”. O procedimento do demandado, a toda evidência, arrosta
disposições legais e por isso que indevidos os créditos decorrentes de tal prática. As cortes
supremas do País há muito já firmaram o pacífico entendimento de que é “vedada a
capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada” (Súmula nº 121, do STF, que
deve ser harmonizada com a de nº 596).

Para o argumento de banqueiros e Entidades Comerciais, eventualmente


expendido em demandas, para tentar justificar a usura, fruto da capitalização, oportuno lembrar
que a “Súmula 596 não afasta a aplicação da Súmula 121” (R.E. nº 100.336, Rel. Min. NÉRI DA
SILVEIRA, DJU 24.05.85), entendimento este atualmente recepcionado pela totalidade dos
Tribunais do País, conforme demonstram os arestos a seguir transcritos:

"DIREITO PRIVADO - Juros - Anatocismo -


Vedação incidente também sobre instituições
financeiras. Exegese do enunciado nº 121, em face
do nº 596, ambos da súmula do STF. Precedentes da
Excelsa Corte. A capitalização de juros (juros de
juros) é vedada pelo nosso direito, mesmo quando
expressamente convencionada, não tendo sido
revogada a regra do art. 4º, do Decreto nº
22.626/33 pela Lei nº 4.595/64. O anatocismo,
repudiado pelo verbete nº 121 da súmula do Supremo
Tribunal Federal, não guarda relação com o enunciado
nº 596 da mesma súmula."(STJ - 4ª Turma - Recurso
Especial nº 1.285-GO; Rel. Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO - J. 14.11.89 - DJU
11.12.89, p. 18.141, Seção I, ementa (grifo nosso)
No mesmo sentido: REsp. 45.964-RS;REsp. 48.781-
RS; REsp. 50.126-RS; REsp. 52.018-RS; REsp.
42.322-RS; REsp. 55.387-RS.

Logo, não cabe capitalização alguma.

III.5) DA LIMITAÇÃO DOS JUROS MORATÓRIOS

Da mesma forma, os juros moratórios não poderão exceder 1% ao ano, isto


no caso de se entender que realmente houve mora.

Tal afirmação se baseia no fato de que, uma vez que o requerido cobrou
valores muito acima do devido, a pseudo-mora decorre não da inadimplência da autora, mas da
incomensurada avareza do acionado, que ao corrigir arbitrariamente os valores devidos, elevou-
os além das importâncias regularmente depositadas, gerando, assim, unilateralmente débitos
indevidos pela suplicante.

Neste sentido, reportamo-nos a decisão proferida nos autos da Apelação


Cível n. 598330348, julgada pela 14ª Câmara Cível do TJRS, onde foi relator o eminente
Desembargador Henrique Osvaldo Poeta Roenick, que em passagem de seu voto ensina
o
seguinte:

“No que se refere à multa contratual tenho


posicionamento no sentido de sua inexigibilidade
sempre que o credor exija quantia indevida, pois, neste
caso, não há que se falar propriamente em mora. E
nem se pode exigir que o devedor, além da ação
revisional, ajuíze ação consignatória para depósito do
que é devido, com todos os ônus processuais daí
decorrentes.”

No mesmo sentido, o voto do eminente Desembargador Aymoré Roque


Pottes de Mello, ao julgar a Apelação Cível n. 197061682, onde ao se referir aos juros
moratórios e cláusulas penais, dispõe:

“O ônus da prova da não abusividade do crédito


reclamado compete ao credor. O excesso de cobrança
caracteriza a iliquidez e incerteza do quantum debeatur
e legitima a recusa do pagamento pelo devedor,
elidindo a mora debendi e tornando inexigível a
cobrança de juros moratórios e de cláusulas penais
contratuais.”(grifo nosso)

Portanto, repita-se, é possível rever as condições contratuais e


modificá-las, a qualquer tempo, de modo a não permitir o ônus excessivo da parte contratante e,
isto é o que a acionante desde já requer.

POR FIM, vale ressaltar enfim, que deve ser determinada a inversão do ônus
da prova, uma vez que é um direito conferido ao consumidor para facilitar sua defesa no
processo civil, quando há a verossimilhança das alegações ou a hipossuficiência do consumidor,
o que ocorre no caso em tela.
III.6)DA TAXA DE CADASTRO, TAXA DE AVALIAÇÃO DE BEM, TAXA DE REGISTRO DO
CONTRATO, SEGURO E PARCELA PREMIAVEL

A empresa requerida, aproveitando-se da situação de hipossuficiência que a parte


autora se encontrava, cobrou taxa de cadastro, taxa de avaliação de bem, taxa de registro de
contrato, seguro e parcela premiável, totalmente abusiva, visando apenas o enriquecimento
ilícito, tornando ao Acionante vítima de lesão a ser sanada pelo judiciário.

Ressalte-se que as referidas cobranças se configuram serviços inerentes à


atividade bancária, especialmente quando da prestação do serviço de financiamento de veículo
e, portanto, necessários ao bom atendimento ao cliente, logo, não pode ser
cobrado.

No sentido da tese autoral, corrobora a jurisprudência pátria:

Revisão de Contrato. Arrendamento Mercantil. Capitalização


de Juros. Taxa de Abertura de Crédito e Emissão de Boleto.
Repetição do Indébito. Comissão de Permanência. Falta de
Interesse Recursal. 1 - nos contratos de arrendamento mercantil
são impertinentes alegações referentes à limitação dos juros
remuneratórios e à capitalização mensal desses, vez que não se
trata de financiamento ou mútuo, com prestações periódicas
compostas de juros, mas de arrendamento de bem com opção
de compra ao final do prazo estipulado. 2 - é ilegal a cobrança
de tarifas administrativas para a concessão de crédito e emissão
de boleto bancário. Tratando-se de serviços inerentes à
atividade bancária, a cobrança importa enriquecimento sem
causa das instituições financeiras. 3 – possível a repetição do
indébito sempre que constatada a cobrança indevida do encargo
exigido, sem que, para tanto, haja necessidade de se
comprovar erro no pagamento. 4 - o IOF -
imposto sobre operações de crédito - deve ser cobrado,
uma
vez que se trata de tributo decorrente de previsão legal. 5 - se a
sentença não afastou a comissão de permanência, não há
interesse recursal do réu para mantê-la. 6 - apelação da autora
provida, em p arte. Apelação do réu não provida. (TJDF -
Apelação Cí-vel: APL 56146520108070001 DF 0005614-
65.2010.807.0001 / Relator (a): JAIR SOARES / Julgamento:
12/01/2011 / Órgão Julgador: 6ª Turma Cível / Publicação:
17/01/2011, DJ-e Pág. 131) (grifou-se)

Civil e Consumidor. Apelação Cível. Revisão Contratual.


Financiamento Bancário. Comissão de Permanência.
Validade. Não Cumulação Com Outros Encargos Moratórios.
Taxa de Abertura de Crédito e Emissão de Boleto. Ilegalidade.
Repetição de Indébito. Má-Fé Não Configurada. Devolução na
Forma Simples. 1. É vedada a cobrança da comissão de
permanência com os juros moratórios e com a multa contratual,
bem como sua cumulação com a correção monetária e com os
juros remuneratórios. 2. A cobrança da TAC contraria o art.
51, iv, do código de defesa do consumidor, sendo nula de pleno
direito, a exemplo da taxa de emissão de boleto, cuja cobrança
é vedada. 3. Não é cabível a repetição de indébito em dobro
em face da ausência de má-fé do contratante, cabendo, todavia,
a devolução dos valores eventualmente pagos a maior na forma
simples. 4. Recurso parcialmente provido. (TJDF - Apelação
Cí-vel: APL 670107720098070001 DF
0067010-77.2009.807.0001 / Relator(a): MARIO-ZAM BELMIRO
/ Julgamento: 06/10/2010 / Órgão Julgador: 3ª Turma Cível /
Publicação: 20/10/2010, DJ-e Pág. 124) (grifou-se)

E, também o TJ/SE mantém tal entendimento, senão vejamos:


APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. FINANCIAMENTO DE
VEÍCULO.RELATIVIZAÇÃO DO PRINCÍPIO PACTA SUNT
SERVANDA. MUTABILIDADE CONTRATUAL.
POSSIBILIDADE DE REVISÃO DE CLÁUSULAS ABUSIVAS.
EQUILÍBRIO CONTRATUAL SE SOBREPÕE A LIBERDADE DE
CONTRATAR E AUTONOMIA DA VONTADE. CAPITALIZAÇÃO
MENSAL DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE. A SÚMULA 121 DO
STF. HAVENDO PAGAMENTO FEITO À MAIOR, ESTES
DEVEM SER DEVOLVIDOS. NOTA PROMISSÓRIA. ABUSIVA
SUA EMISSÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO
PARCIALMENTE. IMUTABILIDADE DO CONTRATO. Não há
que se falar em impossibilidade de revisão do contrato, uma vez
que é ponto pacífico na doutrina e Jurisprudência pátria que o
princípio Pacta Sunt Servanda está efetivamente relativizado
ante o princípio social do contrato.Há possibilidade de revisão,
pelo Poder Judiciário, de cláusulas iníquas, abusivas ou
potestativas, de modo a preservar o equilíbrio contratual, nos
termos do Código Consumerista. CAPITALIZAÇÃO MENSAL
DE JUROS. O Supremo Tribunal Federal já sumulou
entendimento no sentido de vedar a prática da capitalização
mensal de juros, mesmo quando pactuada. COBRANÇA DE
TARIFA. Cabe exclusivamente ao credor arcar com as tarifas de
cobrança bancária e as taxas de abertura de crédito, pois
são encargos administrativos, razão pela qual deve ser afastada
a sua incidência, sem qualquer ônus para o autor. COMISSÃO
DE PERMANÊNCIA. Inadmissível quando cumulada com
correção monetária, multa contratual e outros encargos. No
presente caso, inadmissível a cobrança da comissão de
permanência, tendo em vista que no contrato consta
expressamente a incidência de juros moratórios, sendo,
portanto, ilegal e ilegítima a sua cumulação, de logo proibida.
Em assim ocorrendo, não há que se falar em cobrança da
comissão de permanência. Correta a decisão monocrática
JUROS REMUNERATÓRIOS. Não verificada a abusividade da
taxa de juros remuneratórios pactuada, faz-se mister a aplicação
da mesma. COMPENSAÇÃO DOS VALORES FEITOS À
MAIOR. Havendo pagamentos feitos à maior, os valores devem
ser devolvidos. ÍNDICE DE CORREÇÃO MONETÁRIA.
Aplicabilidade do INPC como índice de correção monetária,
sendo o índice oficial de correção, devendo ser afastada a TR
como indexador. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Atendem aos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade e, por isso, não
merecem ser modificados. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 7713/2012, 1ª
Vara Privativa de Assistência Judiciária de Socorro, Tribunal de
Justiça do Estado de Sergipe, DES. RICARDO MÚCIO
SANTANA DE ABREU LIMA , RELATOR, Julgado em
17/09/2012) (grifou-se)

APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO BANCÁRIO DE


FINANCIAMENTO DE VEÍCULO - AÇÃO REVISIONAL DE
CLÁUSULAS CONTRATUAIS - I. PACTA SUNT SERVANDA -
RELATIVIZAÇÃO - II. INCIDÊNCIA DAS REGRAS CONTIDAS
NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (LEI Nº
8.078/90) - PESSOA FÍSICA - III. DOS JUROS
REMUNERATÓRIOS - MANUTENÇÃO DA TAXA PACTUADA,
TENDO EM VISTA QUE AQUÉM DA TAXA MÉDIA DE
MERCADO - AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL - IV. DA
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS -
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 5º DA MP 2.170-36/2001
- IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA - V. DA COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA - IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO COM
OUTROS ENCARGOS, SALVO COM OS JUROS DA MORA -
SÚMULAS Nº 30, Nº 294 E Nº 296 DO STJ - VI. DA
COBRANÇA DA TARIFA DE ABERTURA DE CRÉDITO (TAC)
- ILEGALIDADE -INCIDÊNCIA DO ART. 51, INCISO IV, DO
CODECON - VII. DAS CUSTAS PROCESSUAIS E
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - MANUTENÇÃO - VIII.
PRECEDENTES DESTA CORTE - RECURSO APELATÓRIO
CONHECIDO EM PARTE E, NA PARTE CONHECIDA,
IMPROVIDO - DECISÃO UNÂNIME. (APELAÇÃO CÍVEL Nº
7747/2012, 13ª VARA CíVEL, Tribunal de Justiça do Estado de
Sergipe, DES. CLÁUDIO DINART DÉDA CHAGAS, RELATOR,
Julgado em 17/09/2012) (grifou-se)

Assim, ante a exposição fática e jurídica, resta evidenciada que a cobrança abusiva
do réu apenas proporcionou o enriquecimento do mesmo e o empobrecimento da Autora, ou
seja, acrescentou ao patrimônio do requerido bens, em detrimento da Reclamante, sem que
para isso tenha havido fundamento jurídico, de tal modo que tal proveito do Requerido
configura o abuso de direito, ensejando uma reparação ao Acionante.

Ademais , não se pode cobrar por uma taxa para “abrir crédito” ou
“avaliar bem ”, s e esse mesmo ato, por sua própria natureza, já está contido
na ação ou prestação de “conceder crédito ou dinheiro para financiar tal
bem ”, fazendo parte de um mesmo negócio jurídico, indissociável, e que
será pago pela mesma remuneração, ou seja, através dos juros.

IV - DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, REQUER se digne Vossa Excelência a:


a) CONCEDER do benefício da JUSTIÇA GRATUITA nos termos da Lei do
art. 98 NCPC.

b) AUTORIZAR, in limine e inaudita altera pars, a consignação em pagamento de


de R$ 5.184,88, parcela única referente as 8 parcelas vencidas e o pagamento parcelado das 9
parcelas fixas vicendas no valor de R$ 605,48, a fim de liquidar integralmente a dívida
considerada.

c) DETERMINE, in limine e inaudita altera pars, que a Instituição Ré


abstenha-se de INSERIR o nome da autora nos registros de proteção de crédito – (v.g. BACEN,
SERASA, SPC, SCI, etc), até o julgamento final e definitivo da lide principal, cominando-lhes, em
caso de descumprimento, sanção pecuniária diária a ser prudentemente arbitrada por Vossa
Excelência.

d) DETERMINAR a citação da parte ré para, querendo, responder a


presente ação no prazo legal, sob pena de revelia e os efeitos da confissão.

e) INVERSÃO DO ÔNUS da prova, uma vez que é um direito conferido ao


consumidor para facilitar sua defesa no processo civil, quando há a verossimilhança das
alegações ou a hipossuficiência do consumidor, com fundamento no artigo 6º, inciso VIII, do
Código de Defesa do Consumidor, pena de confissão ficta. Assim como planilha onde
demonstre contabilmente o débito atual e como o compôs, discriminando, inclusive, taxas e a
fórmula utilizada para o cálculo dos juros, devendo a mesma, face a hipossuficiência do autor,
arcar com o pagamento das despesas com o perito;

f) Ao final, JULGAR TOTALMENTE PROCEDENTE a presente Ação


Revisional, especificamente, e inclusive, nos subitens a seguir:

f.1) determinando-se a correção da moeda pela variação do IGPM / INPC;

f.2) julgando nulas as capitalizações que não sejam anuais;


f.3) determinando o afastamento da cláusula substitutiva na inadimplência
por ser a mora induzida ou, no entendimento de que assim não o seja, limitando-se os juros
moratórios a 1% ao mês.
g) CONFIRMAR as liminares deferidas em sede de tutela antecipada, se
for o caso.
h) CONDENAR o requerido à restituição do valor pago a maior das parcelas
abusivas no importe de R$ 2.017,11 (dois mil e dezessete reais e onze centavos) devidamente
corrigido e atualizado, com acréscimos de juros de 1%.

i) CONDENAR a parte ré ao pagamento de custas, despesas processuais e


honorários advocatícios, estes a base de 20%, devidamente atualizados.

Pretende e requer fazer a prova do alegado por todos os meios de prova em


direito admitidos, especialmente, juntada de documentos e perícia contábil.

Dá-se à causa o valor de R$ 5 .184,88 (cinco mil cento e oitenta e quatro


reais e oitenta e oito reais).

Pede deferimento. Aracaju/SE, 06 de março de 2018.

PAULO SANTOS DE CARVALHO


OAB/SE Nº 8928

TEREZA RACKEL NUNES NOVAES


OAB/SE Nº 9250

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