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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DOS FEITOS


RELATIVOS ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO, CÍVEIS E COMERCIAIS DA COMARCA DE
CAPIM GROSSO-BA.

TEMA 972 DO STJ:

2 - Nos contratos bancários em geral, o consumidor não pode


ser compelido a contratar seguro com a instituição financeira
ou com seguradora por ela indicada.

JANE CLEIDE CARNEIRO RIOS, brasileira, maior, inscrita no RG sob o


nº 0570047145 SSP/BA, e no CPF sob o n° 917.623.165-87, residente e domiciliada à rua
Argentina, nº 255, bairro José Mendes de Queiroz, nesta cidade de Capim Grosso- BA, CEP:
44695-000, por seu advogado infra firmado, procuração anexa, com escritório profissional
situado à rua Esmerano Santiago nº 204, 1º andar, sala 201, Centro, Capim Grosso-Bahia, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência, propor a presente,

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPARAÇÃO CIVIL POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS

em desfavor de BANCO BRADESCO S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ
sob o nº: 60.746.948/4911-83 com endereço na Avenida ACM, Nº 169, Centro, Capim Grosso-
BA, CEP: 44695-000, pelos fatos e argumentos a seguir expostos.

I - DA NECESSÁRIA ATRIBUIÇÃO DE SEGREDO DE JUSTIÇA AO PRESENTE FEITO.

Inicialmente, considerando em seu art. 189, o Código de Processo Civil


dispõe que os atos processuais são públicos, mas que determinados processos que tratam de
matérias sensíveis devem tramitar em segredo de justiça, requer a parte autora, seja decretada
a tramitação em segredo de justiça para o presente feito:
Vejamos:
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Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo


de justiça os processos: I - em que o exija o interesse público ou social; II
- que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação,
união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III -
em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo. § 1º O direito de consultar os autos de
processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus
atos é restrito às partes e aos seus procuradores. § 2º O terceiro que
demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo
da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio
ou separação.

Considerando que a Lei Complementar n. 105/2001, no seu art. 1º,


determinou que os serviços prestados pelas instituições financeiras estão protegidos por
sigilo bancário, conclui-se que os processos cuja discussão travada envolva dados bancários –
extratos e demais transações – devem tramitar sob segredo de justiça, nos termos do art. 189,
III, do CPC.
Assim, visando preservar dados que são caros á parte autora, nos moldes
do quanto disposto no código de ritos, requer seja decretado que o presente feito tramite sob
segredo de justiça.

II – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.

Inicialmente, requer a parte Autora, sejam deferidos os benefícios da


gratuidade de justiça, conforme disposto no art. 4ª da Lei Federal nº 1.060/50, com redação
dada pela Lei nº 7.510/86, e ainda com supedâneo nos artigos 98 e seguintes do Código de
Processo Civil, pois não possui recursos financeiros para arcar com as custas do processo sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família.

III – DOS FATOS:

A parte requerente, que é funcionária pública municipal, entabulou com a


instituição financeira ré o contrato de empréstimo consignado de nº 459.406.433, financiando
a quantia de R$ 5.000,00 e recebendo apenas a quantia de R$ 5.771,16, como faz prova a
Cédula de Crédito Bancário anexa- CCB.
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Por muito tempo pagou o referido empréstimo religiosamente. Contudo,


recentemente percebeu que o referido contrato possui uma cláusula que denota a ocorrência de
uma prática abusiva, qual seja, a venda casada, a qual se verifica na imposição de um seguro
e em um tributo que a parte autora sequer sabe para que serve.

Observando o contrato, nota-se que o valor deste seguro foi embutido


junto ao financiamento para ser pago juntamente com cada parcela, e ainda por cima,
com capitalização de juros diária, o que além de ilegal o torna demasiadamente oneroso.

A cobrança deste seguro nos moldes como foi feito, constitui, por si só, a
ocorrência de prática abusiva vedada pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC). Isso porque,
a parte autora nunca manifestou interesse ou foi cientificada acerca da contratação desse
seguro, bem como de seus eventuais custos

TUDO FOI FEITO ÀS ESCURAS, SEM DAR CHANCE DE ESCOLHA AO


CONSUMIDOR.

Conforme CCB anexa, no presente caso, entre seguros e tributos


indevidamente embutidos nas parcelas do empréstimo foi de R$ 771,16, (JUSTAMENTE
A DIFERENÇA ENTRE O QUE FOI FINANCIADO E A QUANTIA QUE REALMENTE RECEBEU)
com juros capitalizados de 2,99% ao mês, o que ao final das 120 parcelas do contrato
perfaz o montante de R$ 2.850,00, conforme calculadora do cidadão do Banco Central do
Brasil, logo abaixo.

CALCULOS

https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/calcularFinanciamento
PrestacoesFixas.do

Além da capitalização irregular, configura-se, assim, hipótese de venda


casada, o que dá ensejo à presente ação para pleitear a declaração de inexigibilidade do débito,
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bem como a condenação da parte requerida para que promova a restituição dos valores cobrados
da parte requerente.

Ora excelência, questiona-se quantos brasileiros desfavorecidos e


impossibilitados de interpretar as cláusulas complexas de um contrato bancário, são
vítimas de contratações irregulares por empresas de grande porte, que enriquecem
ilicitamente em desfavor destes cidadãos hipossuficientes.

Quantos destes brasileiros são levados a erro por meio de uma


clausula escondida ou uma letra miúda camuflada num contrato?

Acontece, Excelência, que a empresa Ré camufla um comando de débito


junto ao contrato principal, GERALMENTE MUITO ESCONDIDO, originando um contrato de
seguro indesejado de forma automática e impondo pagamento de tributo não especificado, como
se fosse possível a empresa manipular a conta-salário dos correntistas, num ultrajante e
descabido ato de abuso praticado pela empresa Ré, o que constitui flagrante ilegalidade.

E O PIOR, FINANCIANDO ESSES VALORES AO LONGO DO CONTRATO


PRINCIPAL.

UM VERDADEIRO ABSURDO!

Não existe qualquer contrato específico assinado pela parte autora


autorizando a cobrança deste seguro ou deste tributo.
Após inúmeras reclamações por parte da Autora junto ao banco Réu
na tentativa de reaver os valores cobrados, tais cobranças jamais cessaram, PELO
CONTRÁRIO, o Banco réu conduzindo a situação de forma absolutamente inaceitável, falhou
em seu dever de fornecer informações acerca destas cobranças, negando-se desfazer o
contrato de seguro indesejado.
Isto posto, não restou à parte Autora outra alternativa senão buscar
perante o Poder Judiciário a tutela jurisdicional capaz de desfazer um negócio jurídico
que já nasceu nulo, posto que eivado de um vício de consentimento insanável como este.

IV - DO DIREITO:
a) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

Invoca a parte autora, desde já, os princípios inerentes à relação de


consumo havida in casu, pleiteando de forma ampla os direitos contidos e previstos na Lei
Federal nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor).
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Em especial, invoca as previsões relativas aos direitos básicos do


consumidor (artigo 6º), a interpretação das cláusulas contratuais em seu desfavor (artigo
47), a inversão do ônus probatório (artigo 6º, VIII) e dentre outros dispositivos legais
pertinentes.

Quanto à inversão do ônus probatório, esse faz-se especialmente


necessário ante a impossibilidade de a requerente autor comprovar que não lhe fora
ofertada a possibilidade escolha quanto á contratação ou não do referido seguro
indesejado.

Assim, mostrando-se verossímeis as alegações trazidas aos autos pela


parte autora, nada mais justo e necessário que este juízo determine a inversão o ônus da prova
a fim de que o banco réu traga aos autos os extratos dos anos anteriores para o fim de
comprovação sobre o quantum do dano material causado ao consumidor, eis que trata-se de
direito do consumidor.

O artigo 51, IV do Código de Defesa do Consumidor, é plenamente


aplicável, no caso em tela, dispõe que são "nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais" que "estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade".

Cumpre trazer ainda o dever de informação: artigo 6º, lll do Código de


Proteção e Defesa do Consumidor:

“a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,


com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem
como sobre os riscos que apresentem”.

b) DA VENDA CASADA. PROIBIÇÃO DE COMPELIR O CONSUMIDOR A CONTRATAR


SEGURO COM A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA SEGURADORA OU COM OUTRA POR ELA
INDICADA (RESP. 1639.259/SP E TEMA 972 DO STJ.
De acordo com a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, o seguro
prestamista garante a quitação de uma dívida ou de planos de financiamento do segurado no
caso de sua morte ou invalidez ou até mesmo desemprego involuntário ou perda de renda.
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Na ocorrência de uma dessas situações, dependendo das coberturas


contratadas, a quantia a ser paga pela seguradora é limitada ao valor que foi obtido para
garantir a dívida de operações de crédito, financiamento ou arrendamento mercantil.
Nesse passo o entendimento do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA É
PACIFICADO:

TEMA 972 DO STJ :

1 - Abusividade da cláusula que prevê o


ressarcimento pelo consumidor da
despesa com o registro do pré-gravame,
em contratos celebrados a partir de
25/02/2011, data de entrada em vigor
da Res.-CMN 3.954/2011, sendo válida
a cláusula pactuada no período anterior
a essa resolução, ressalvado o controle
Tese Firmada
da onerosidade excessiva.
2 - Nos contratos bancários em geral,
o consumidor não pode ser compelido
a contratar seguro com a instituição
financeira ou com seguradora por ela
indicada.
3 - A abusividade de encargos acessórios
do contrato não descaracteriza a mora.

São os valores referentes a essa modalidade de seguro que foram cobradas


pela instituição financeira ré da parte autora, o que denota a ocorrência de uma prática
abusiva, independentemente da relação jurídica que possa haver entre as partes litigantes.
Ora, a parte requerente jamais manifestou qualquer interesse na
contratação do seguro prestamista e nunca chegou a ser informada sobre a imposição
de sua obtenção e das cobranças dela decorrentes. Verifica-se, assim, a ocorrência de
uma prática unilateral perpetrada pela instituição financeira, a qual procura obter
vantagem exclusiva em detrimento da parte autora, a qual é consumidora e, portanto,
parte frágil na situação aqui discutida.
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Por oportuno, urge ressaltar que a prática comercial adotada pela parte
requerida é, inquestionavelmente, abusiva. Para tanto, basta uma breve análise do art. 39, I,
do CDC:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço
ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa,
a limites quantitativos [...].

Data máxima vênia, as circunstâncias intrínsecas ao presente caso


possibilitam concluir que a imposição e cobrança de um seguro que jamais foi requisitado pela
parte autora configura prática abusiva prevista no art. 39, I, do CDC, configurando-se, assim,
uma venda casada. Conforme lecionam Daniel Amorim e Flávio Tartuce (2014, p.276):

Esse primeiro inciso do art. 39 proíbe a venda casada, descrita e


especificada pela norma. De início, veda-se que o fornecedor ou prestador
submeta um produto ou serviço a outro produto ou serviço, visando um
efeito caroneiro ou oportunista para venda de novos bens. Ato contínuo,
afasta-se a limitação de fornecimento sem que haja justa causa para
tanto, o que deve ser preenchido caso a caso. Ampliando-se o sentido da
vedação, conclui-se que é venda casada a hipótese em que o fornecedor
somente resolve um problema quanto a um produto ou serviço se um
outro produto ou serviço for adquirido.

Tal pratica já conhecida pelos Tribunais, vem sendo ementada pelos


nossos Tribunais de Justiça Brasil à fora, acerca da prática proibida pelo artigo 39, I do CDC.

ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM


FOLHA DE PAGAMENTO. SEGURO PRESTAMISTA. VENDA CASADA.
DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. RAZOABILIDADE. - Cuida-se de
recurso de apelação interposto pela CAIXA SEGUROS S/A e de recurso
adesivo interposto por SOLANGE DE OLIVEIRA MIRANDA DIAS em face
de sentença que julgou parcialmente procedente o pedido "para
determinar a anulação do contrato de seguro prestamista pactuado,
condenando consequentemente à revisão do segundo contrato de
financiamento para exclusão dos valores cobrados para esse fim,
condenando ambas rés ao pagamento de indenização por danos morais
que fixo moderadamente em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pro rata, a ser
atualizado a partir desta data conforme índices do Manual de Cálculos
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da Justiça Federal, e acrescido de juros de mora legais desde a citação,


além de ressarcimento de custas e honorários de sucumbência que fixo
moderadamente em 10% sobre o valor da condenação" (fls. 195/200) -
Manutenção da sentença que, detalhadamente, apreciou as questões
postas, valendo ressaltar que a exigência imposta pela instituição
financeira de contratação de seguro prestamista como condição para a
contratação de empréstimo consignado configura espécie de venda
casada, ao arrepio do preceito contido no art. 39, I, do CDC, eis que o
contrato de seguro não se vincula à finalidade do contrato principal, não
havendo que se falar em legalidade, como pretende a parte ré -No tocante
ao dano moral, em que pese esta Eg. Turma Especializada possuir
entendimento, em casos análogos a este, no sentido da ausência de
configuração de dano moral, na hipótese, o nome da autora foi incluído
em cadastro restritivo de crédito (cf. fl. 43) em decorrência de
inadimplência imputável exclusivamente ao empregador, que não estaria
repassando os valores que estavam sendo efetivamente deduzidos da
remuneração da autora, por se tratar de empréstimo consignado. A par
disso, não foi demonstrada a notificação estabelecida contratualmente,
razão pela qual a autora foi surpreendida com a negativação de seu nome,
o que supera o mero aborrecimento, conforme entendimento
jurisprudencial sedimentado, segundo o qual o dano moral é presumível
(in re ipsa) quando tal ocorre -Noutro giro, o valor de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), fixado a 1 título de indenização por danos morais,
ante as circunstâncias da causa e observados os princípios da
razoabilidade, da proporcionalidade e da moderação, revela-se
adequado -Recursos desprovidos, com a majoração dos honorários
advocatícios, em desfavor da ré CAIXA SEGUROS S/A, em 1% (um por
cento), sobre o valor fixado pelo Juízo a quo, conforme prevê o artigo 85,
§ 11, do CPC/15.(TRF-2 - AC: 01140842020154025101 RJ 0114084-
20.2015.4.02.5101, Relator: VERA LÚCIA LIMA, Data de Julgamento:
04/08/2020, 8ª TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação:
07/08/2020)

Na mesma esteira, segue o entendimento emanado pelo C. Superior


Tribunal de Justiça, em sede de julgamento do recurso repetitivo nº 1.639.320-SP, relativo ao
Tema nº 972:

“Recurso especial repetitivo. Tema 972/STJ. Direito bancário.Despesa de


pré-gravame. Validade nos contratos celebrados até 25.2.2011. Seguro de
proteção financeira. Venda casada. Restrição à escolha da seguradora.
Analogia com o entendimento da Súmula 473/STJ. Descaracterização
da mora. Não ocorrência. Encargos acessórios.(...)

Nos contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser


compelido a contratar seguro com a instituição financeira ou com seguradora por ela
indicada.
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c) DA INEXISTÊNCIA DO DÉBITO.

Relativamente a esse título, a parte Autora insurge-se contra o ato


praticado pela Ré no sentido de cobrar pelo seguro não contratado, sendo que o valor está sendo
cobrado indevidamente, em afronta ao direito do consumidor. Neste mesmo diapasão, insurge-
se contra as cobranças mensais que lhe foram impostas, relativas ao contrato de seguro, sendo
que este contrato nunca foi desejado pela parte Autora, que sequer sabe o que este pretende
segurar.
Neste vértice, é ultrajante a Ré cobrar por serviço que jamais foi contratado
pela Autora, em detrimento de uma postura de desrespeito com o consumidor, vítima de uma
apólice banal, na qual não existem parâmetros de indenização.

Em face da inexistência da autorização de débito presume-se a cobrança


indevida dos valores relativamente a mensalidade do seguro, de modo que a Ré deverá ser
condenada a devolver em dobro, na forma do parágrafo único do art. 42 do Código de Defesa do
Consumidor. Senão veja-se:

“Art.42(...) Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia


indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro
do que pagou em excesso.

Assim, a Ré deve ser condenada à repetição do indébito, nos moldes do


art. 42 do Estatuto Consumerista, relativamente aos valores cobrados indevidamente.

d) DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO.

A repetição é oportuna em caso de pagamento indevido, que pode se dar


no plano objetivo ou subjetivo, sob o fundamento essencial da ausência de causa para
pagamento, evitando o enriquecimento sem causa do credor e o empobrecimento excessivo do
devedor.
No caso dos autos a cobrança indevida está comprovada no momento em
que o consumidor é obrigado a pagar por seguros indevidamente embutidos em um contrato de
adesão, sem ter a oportunidade de opinar pela não contratação e que SÃO CLARAMENTE
VEDADOS POR LEI.
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Pior ainda, pois as cobranças são debitadas em conta, as cobranças


eram feitas compulsoriamente não tendo a parte contratante a possibilidade de escolha
quanto ao seu pagamento.
UM DANO VIL, SORRATEIRO E DE DIFICIL PERCEPÇÃO PELO
CONSUMIDOR.
Considerando toda explanação retro expendida, conclui-se que o
comportamento abusivo da empresa Ré fere à lei, à jurisprudência dominante, à moral e aos
bons costumes, de modo que o montante pago a tal título deve ser devolvido em dobro à parte
consumidora, consoante regra insculpida no parágrafo único do art. 42 do CDC, in verbis:

Art. 42. (...)


Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável”.

Instado a manifestar-se sobre o tema, recentemente, o Superior Tribunal


de Justiça fixou a seguinte tese em embargos de divergência:

A restituição em dobro do indébito (parágrafo único do artigo 42 do CDC)


independe da natureza do elemento volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido, revelando-
se cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva. STJ.
Corte Especial. EAREsp 676608/RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/10/2020.

Neste sentido é a nossa reinante jurisprudência.

RECURSO INOMINADO. TELEFONIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


CONDENAÇÃO PARA RESTITUIÇÃO DOS VALORES INDEVIDOS
PAGOS NOS ULTIMOS 05 ANOS ANTERIORES A PROPOSITURA DA
AÇÃO. RESPONSABILIDADE DO RÉU EM COLACIONAR E DEMONSTRAR
AS FATURAS COM AS COBRANÇAS INDEVIDAS E PAGAS PELO
CONSUMIDOR. AUSÊNCIA DA REFERIDA PROVA. PRESUNÇÃO DE
PAGAMENTO NOS 5 ANOS EM FAVOR DO CONSUMIDOR. CÁLCULOS
APRESENTADOS PELO EXEQUENTE DE FORMA CORRETA. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Recurso Inominado
nº 0004321-41.2014.8.16.0075 Origem: Juizado Especial Cível de
Cornélio Procópio Recorrente: Oi S/A Recorrido: Eliana Socorro Galo
Relatora: Juíza Renata Ribeiro Bau.

E ainda este importante entendimento sobre a inversão do ônus


probatório, requerido nesta inicial.
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TELEFONIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. TRATA-SE DE RECURSO


INOMINADO INTERPOSTO EM FACE DA DECISÃO QUE JULGOU
EXTINTA A AÇÃO, TENDO EM VISTA O PAGAMENTO DO DÉBITO.
INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE EXEQUENTE VISA A REFORMA
DA SENTENÇA, UMA VEZ QUE NÃO HOUVE PAGAMENTO DA
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. NOTE-SE QUEDECIDO.
CONSTOU EXPRESSAMENTE NO ACÓRDÃO (MOV. 17.1 DOS AUTOS DE
RECURSO INOMINADO) QUE INCUMBIA À RÉ APRESENTAR AS
FATURAS, SENÃO VEJAMOS: “SENDO ASSIM, NO QUE CONCERNE AO
PEDIDO DA PARTE AUTORA PARA QUE SE CONDENE A EMPRESA
RÉ À DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES COBRADOS NOS
ÚLTIMOS 05 (CINCO) ANOS PELOS MENCIONADOS SERVIÇOS NÃO
CONTRATADOS, ENTENDE-SE QUE TAL PEDIDO MERECE
ACOLHIMENTO, SENDO QUE COMPETIRÁ À RÉ APRESENTAR AS
FATURAS DA PARTE AUTORA EM QUE HOUVE COBRANÇA INDEVIDA
E MESMO ASSIM FOI PAGA. DESTA FORMA, ENTENDE-SE QUE A
REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA FORMA DOBRADA DEVE SER APURADA
NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, PRESUMINDO-SE QUE
HOUVE O PAGAMENTO DAS FATURAS, POSTO OUQUE NÃO HÁ
NOTÍCIA NOS AUTOS DE SUSPENSÃO DO SERVIÇO TELEFONIA”.
SEJA, NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO (ART. 524, PARÁGRAFOS, DO
CPC), EM NÃO SENDO OS DADOS APRESENTADOS PELO DEVEDOR,
SERÃO CONSIDERADOS CORRETOS OS CÁLCULOS APRESENTADOS
PELO CREDOR. PORTANTO, O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DEVE
PROSSEGUIR. SENTENÇA CASSADA. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. DEIXO DE CONDENAR A PARTE RECORRENTE AO
PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CONFORME
PREVISÃO DO ART. 4º DA LEI ESTADUAL 18.413/2014, NÃO HAVERÁ
DEVOLUÇÃO DAS CUSTAS RECURSAIS. SERVE A PRESENTE EMENTA
COMO VOTO. (TJPR - 3ª Turma Recursal - 0003077-77.2014.8.16.0075
- Cornélio Procópio - Rel.: Juiz Fernando Swain Ganem - J.
06.08.2018)(TJ-PR - RI: 00030777720148160075 PR 0003077-
77.2014.8.16.0075 (Acórdão), Relator: Juiz Fernando Swain Ganem,
Data de Julgamento: 06/08/2018, 3ª Turma Recursal, Data de
Publicação: 08/08/2018)

E ainda...

RECURSO INOMINADO – TELEFONIA - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA -


CONDENAÇÃO PARA RESTITUIÇÃO DOS VALORES INDEVIDOS PAGOS
NOS ULTIMOS 05 ANOS ALCANÇADOS PELO PRAZO PRESCRICIONAL -
RESPONSABILIDADE DO RÉU EM COLACIONAR E DEMONSTRAR AS
FATURAS COM AS COBRANÇAS INDEVIDAS E PAGAS PELO
CONSUMIDOR - AUSÊNCIA DA REFERIDA PROVA - PRESUNÇÃO DE
PAGAMENTO NOS 5 ANOS EM FAVOR DO CONSUMIDOR. CÁLCULOS
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APRESENTADOS PELO EXEQUENTE DE FORMA CORRETA - SENTENÇA


REFORMADA - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Recurso Inominado
nº 0001621-29.2013.8.16.0075-01, do Juizado Especial Cível de Cornélio
Procópio. Recorrente: Octacílio Soares. Recorrido: Oi S/A (Brasil Telecom
S/A). Relatora: Juíza Ana Paula Kaled Accioly Rodrigues da Costa.

Na esteira deste entendimento, torna-se imperioso requerer que a


importância de R$ 2.850,00 (valor referente as cobranças indevidas de todo o contrato)
deve ser devolvida em dobro pela Ré, totalizando o montante de R$ 5.700,00.

e) DOS DANOS MORAIS – NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DE SANÇÃO PARA EFEITO


PEDAGÓGICO.

Quanto ao dano moral, resta claro que a situação ultrapassou, e muito, a esfera
do mero aborrecimento/dissabor. Preceitua a norma insculpida nos arts. 186 e 927 do C.C:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Salientamos que o art. 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor diz ser
direito básico a reparação pelos danos materiais e morais sofridos.

Não é demais ressaltar que a indenização por dano moral possui duas
vertentes, a saber: reparar o abalo psicológico causado e servir como punição (natureza
educativa), com o fito de evitar que o causador do dano volte a cometer a infração.

Há no Direito Civil um dever legal amplo de não lesar a que corresponde a


obrigação de indenizar, configurável sempre que, de um comportamento contrário àquele dever
de indignidade, surta algum prejuízo para outrem, é o que se depreende da interpretação do
art. 186 do Código Civil. Por conseguinte, a teoria da responsabilidade civil assenta-se no tripé
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(a) dano – também denominado prejuízo – sofrido pela vítima; (b) ato ilícito – legal ou contratual
– cometido pelo agente; e (c) nexo de causalidade entre o danos e o ato ilícito.

Diante de tal inferência, mister algumas ponderações, a saber: Em relação


ao primeiro elemento, qual seja o dano, é notório o prejuízo sofrido pela Autora em decorrência
da cobrança indevida e percalços na falta de atendimento. Quanto ao segundo elemento, o ato
ilícito, restou caracterizado em face do desconto mensal cobrado indevidamente, decorrente do
contrato de seguro imposto pela Ré.

Diante de tais considerações, caracterizado está o nexo de causalidade


entre o dano sofrido pela Autora e os atos praticados pela Ré. Destarte do convívio social, o
cidadão conquista bens e valores, que formam o acervo a ser tutelado pela ordem jurídica, sendo
que alguns se referem ao patrimônio e outros à própria personalidade humana, atributos
essenciais e indispensáveis da pessoa. Sendo, portanto, direito do indivíduo preservar a
incolumidade de sua personalidade.

Assim, o dano moral, aquele de natureza não-econômica, porém que se


traduz em turbação do ânimo, em reações desagradáveis, desconfortáveis, constrangedoras,
entre outras, se manifesta quando a vítima suporta o constrangimento de submeter aos
procedimentos e vontades da empresa negligente e oportunista.

De mais a mais, o dano moral que se caracteriza pela afetação da


reputação no meio social (aspecto objetivo) e pelo sofrimento psíquico ou moral, a dor, a angústia
e as frustrações infligidas ao ofendido (aspecto subjetivo), já constitucionalizado a partir de
1988, contemplado no art. 5º, incisos V e X, ganhou status de preceito fundamental,
assegurando o direito de indenização à vítima. Senão veja-se:

‘’Art. 5º [...] V –é assegurado o direito de resposta, proporcional ao


agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.

(…)

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação.”.
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Neste diapasão, o entendimento doutrinário e jurisprudencial é no sentido


de que uma vez caracterizado o dano, deve ser indenizado, independentemente de comprovação
do prejuízo. Eis o que leciona Yussef Sahid Cahali, em sua obra Dano Moral. In verbis:

“Acentua-se cada vez mais na jurisprudência a condenação daqueles atos


que molestam o conceito honrado da pessoa, colocando em dúvida a sua
credibilidade e o seu crédito. Definem-se como tais àqueles atos que, de
alguma forma, mostram-se hábeis para macular o prestígio moral da
pessoa, sua imagem, sua honradez e dignidade.”

Não é diferente o entendimento jurisprudencial. Senão veja-se:

“A indenização por ofensa à honra alheia é devida independentemente da


comprovação da existência de um efetivo prejuízo, pois ‘dano, puramente
moral, é indenizável’”. (RE n.º 105.157-SP, Min. Octavio Gallotti, RTJ
115/1.383).

“A reparação do dano moral tem, por fim, ministrar uma sanção para a
violação de um direito que não tem denominador econômico. Não é possível
sua avaliação em dinheiro, pois não há equivalência entre o prejuízo e o
ressarcimento. Quando se condena o responsável a reparar o dano moral,
usa-se de um processo imperfeito, mas o único realizável para que o
ofendido não fique sem uma satisfação” (TARJ, AC n.º 5.036/96, Juiz
Mauro Fonseca Pinto Nogueira).

Por conseguinte, como já fixou este colendo Tribunal de Justiça:

“Caracterizada a ilicitude no procedimento, nasce para o réu a


responsabilidade de indenizar” (ACV n. 39.892, de Blumenau, rel. Des. Wilson Guarany).

Cumpre-nos asseverar que o entendimento jurisprudencial majoritário é


no sentido de que não há necessidade de prova efetiva do abalo de crédito, para a caracterização
da obrigação de indenizar o dano moral.

Ora, ao ser compelido a pagar dívida oriunda de produtos e serviços que


não contratou, teve a Autora que se socorrer de advogado para ajuizar a presente ação, gerando-
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lhe mais transtornos e dispêndios financeiros, com a contratação de serviços advocatícios.


Contudo, o cerne do presente conflito de interesses reside na existência de responsabilidade
civil, da Ré, pelos danos morais que tem experimentado a Autora, em razão da cobrança indevida
por serviços e produtos não fornecidos pela Ré.

Diante do exposto, requer a condenação da Ré na indenização por danos


morais provocados na Autora, em valor a ser estabelecido por Vossa Excelência, porém, que
sirva de elemento inibidor das práticas da demandada e ao mesmo tento de alento ao sofrimento
experimentado pela Autora, no patamar mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

V – DOS PEDIDOS.

Ante ao exposto, requer-se.

a) Que a inicial seja recebida e processada em todos os seus termos, sendo


deferido o pedido de gratuidade de justiça nos moldes da legislação em vigor;
b) A citação do banco réu para, querendo, apresentar sua defesa no prazo
legal, sob pena arcar com os efeitos da revelia;
c) A inversão do ônus da prova, de acordo com a legislação citada
alhures;
d) A procedência da presente ação para o fim de condenar a parte Ré ao
pagamento, a título de danos materiais, com a devida repetição do indébito, a quantia
descontada a título de seguro prestamista no importe de R$ 5.700,00 acrescido de dos juros
que lhe foram imputados durante o contrato de nº 459.406.433, com as devidas correções
monetárias;
e) A procedência da presente ação para o fim de condenar a parte Ré ao
pagamento da quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização pelos danos
morais experimentados pela Autora nesses longos anos de descontos indevidos.
Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos,
necessários a demonstrar a veracidade das alegações fáticas aqui aduzidas, em especial as
provas documental e testemunhal.

Dá-se à causa o valor de R$ 15.700,00 (quinze mil e setecentos reais).

Nestes termos, pede deferimento.


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Capim Grosso - Bahia, data registrada no sistema.

Dagnaldo Oliveira da Silva


OAB/BA 49.645

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