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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DOS FEITOS


RELATIVOS ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO, CÍVEIS E COMERCIAIS DA COMARCA DE
CAPIM GROSSO-BA.

MARCELA DA SILVA RAMOS, brasileira, maior, inscrita no RG sob o nº


1456398199 SSP/BA e no CPF sob o nº 043.294.765-50, residente e domiciliada à Tv. Antônio
Leandro Santos, nº 28, bairro José Mendes de Queiroz, nesta cidade de Capim Grosso-Bahia,
CEP: 44.695-000, por seu advogado infra firmado, procuração anexa, com escritório profissional
situado à rua Esmerando Santiago, nº 204, 1º andar, sala 201, Centro, Capim Grosso-Bahia,
vem respeitosamente perante Vossa Excelência, propor a presente,

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPARAÇÃO CIVIL POR DANOS MORAIS E


MATERIAIS

em desfavor de BANCO BRADESCO S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ
sob o nº: 60.746.948/4911-83 com endereço na Avenida ACM, Nº 169, Centro, Capim Grosso-
BA, CEP: 44695-000, pelos fatos e argumentos a seguir expostos.

I - DA NECESSÁRIA ATRIBUIÇÃO DE SEGREDO DE JUSTIÇA AO PRESENTE FEITO.

Inicialmente, considerando que em seu art. 189, o Código de Processo Civil


dispõe que os atos processuais são públicos, mas que determinados processos que tratam
de matérias sensíveis devem tramitar em segredo de justiça, requer a parte autora, seja
decretada a tramitação em segredo de justiça para o presente feito:
Vejamos:
Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo
de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
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II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação,


união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à
intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo.

Considerando que a Lei Complementar n. 105/2001, no seu art. 1º,


determinou que os serviços prestados pelas instituições financeiras estão protegidos por
sigilo bancário, conclui-se que os processos cuja discussão travada envolva dados bancários –
extratos e demais transações – devem tramitar sob segredo de justiça, nos termos do art. 189,
III, do CPC.
Assim, visando preservar dados que são caros à parte autora, nos moldes
do quanto disposto no código de ritos, requer seja decretado que o presente feito tramite sob
segredo de justiça.

II – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.

Inicialmente, requer a parte Autora, sejam deferidos os benefícios da


gratuidade de justiça, conforme disposto no art. 4ª da Lei Federal nº 1.060/50, com redação
dada pela Lei nº 7.510/86, e ainda com supedâneo nos artigos 98 e seguintes do Código de
Processo Civil, pois não possui recursos financeiros para arcar com as custas do processo sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família.

III - DOS FATOS.

A parte autora há muito tempo é cliente do banco réu, onde possui uma
conta na qual recebe seus vencimentos oriundos de seu benefício previdenciário.
Tal conta bancária é destinada exclusivamente ao recebimento de seu
salário, sua única fonte de renda.
Assim, a única transação que faz rotineiramente é sacar o seu salário
quando é depositado pelo INSS.
Acontece Excelência, que há algum tempo a demandante vem sofrendo
descontos em sua conta, oriundo de um contrato de empréstimo que não é reconhecido por
ela.
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Como provam os extratos anexos, os descontos automáticos referentes ao


empréstimo de nº 450.975.242 ocorrem em datas aleatórias e com valores também aleatórios.
Sob essa nomenclatura, nos últimos 05 anos, foi descontada
indevidamente a quantia de absurdos R$ 42,85.
Valor muito expressivo para quem ganha tão pouco.
IMPORTANTE DEIXAR CLARO QUE NÃO EXISTE RAZÃO PARA OS
REFERIDOS DESCONTOS, HAJA VISTA QUE A AUTORA JAMAIS CONTRATOU ESSE TIPO
DE SERVIÇO JUNTO AO BANCO RÉU.
Em contato com sua agencia bancária, os prepostos do banco réu não
souberam identificar tais descontos indevidos, limitando-se a responder que deveriam ser
acertos de alguma operação.
UM COMPLETO ABSURDO! TOTAL FALTA DE RESPEITO COM A
CONSUMIDORA.
Por ser pessoa pobre e de poucos recursos, tal quantia desviada
sorrateiramente lhe causa enorme prejuízos mensalmente, pois com esse valor a Autora poderia
fazer frente às despesas como conta de agua ou energia elétrica ou medicamentos, produtos
essenciais à sua manutenção.
SE JÁ É DIFICIL SOBREVIVER COM APENAS 1 SALÁRIO MINIMO,
IMAGINE SOBREVIVER TENDO QUE PAGAR PELO QUE NÃO DEVE!
Isto posto, não restou a demandante outra alternativa senão buscar
perante o Poder Judiciário a tutela jurisdicional capaz de fazer cessar tais cobranças
indevidas que tanto lhe prejudicam, assim com a devolução dos valores debitados
indevidamente de sua conta.

IV – DO DIREITO.

a) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

Invoca a parte autora, desde já, os princípios inerentes à relação de


consumo havida in casu, pleiteando de forma ampla os direitos contidos e previstos na Lei
Federal nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor).
Em especial, invoca as previsões relativas aos direitos básicos do
consumidor (artigo 6º), a interpretação das cláusulas contratuais em seu favor (artigo
47), a inversão do ônus probatório (artigo 6º, VIII) e dentre outros dispositivos legais
pertinentes.
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O artigo 51, IV do Código de Defesa do Consumidor, é plenamente


aplicável, no caso em tela, dispõe que são "nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais" que "estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem
o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade".
Cumpre trazer ainda o dever de informação: artigo 6º, lll do Código de
Proteção e Defesa do Consumidor:

“a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,


com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem
como sobre os riscos que apresentem”.

b) DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO.

A repetição é oportuna em caso de pagamento indevido, que pode se dar


no plano objetivo ou subjetivo, sob o fundamento essencial da ausência de causa para
pagamento, evitando o enriquecimento sem causa do credor e o empobrecimento excessivo do
devedor.
No caso dos autos a cobrança indevida está comprovada no momento em
que o consumidor é obrigado a pagar por serviços que não contratou.
Pior ainda, pois como os valores são debitados em conta salário, as
cobranças são feitas compulsoriamente não tendo a parte autora possibilidade de escolha
quanto ao seu pagamento.
UM DANO VIL E SORRATEIRO!
Considerando toda explanação retro expendida, conclui-se que o
comportamento abusivo da empresa Ré fere à lei, à jurisprudência dominante, à moral e aos
bons costumes, de modo que o montante pago a tal título deve ser devolvido em dobro à parte
consumidora, consoante regra insculpida no parágrafo único do art. 42 do CDC, in verbis:

Art. 42. (...)


Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável”.

Instado a manifestar-se sobre o tema, recentemente, o Superior Tribunal


de Justiça fixou a seguinte tese em embargos de divergência:
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A restituição em dobro do indébito (parágrafo único do artigo 42 do CDC)


independe da natureza do elemento volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido, revelando-
se cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva. STJ.
Corte Especial. EAREsp 676608/RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/10/2020.

Neste sentido é a nossa reinante jurisprudência.

RECURSO INOMINADO. TELEFONIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


CONDENAÇÃO PARA RESTITUIÇÃO DOS VALORES INDEVIDOS
PAGOS NOS ULTIMOS 05 ANOS ANTERIORES A PROPOSITURA DA
AÇÃO. RESPONSABILIDADE DO RÉU EM COLACIONAR E DEMONSTRAR
AS FATURAS COM AS COBRANÇAS INDEVIDAS E PAGAS PELO
CONSUMIDOR. AUSÊNCIA DA REFERIDA PROVA. PRESUNÇÃO DE
PAGAMENTO NOS 5 ANOS EM FAVOR DO CONSUMIDOR. CÁLCULOS
APRESENTADOS PELO EXEQUENTE DE FORMA CORRETA. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Recurso Inominado
nº 0004321-41.2014.8.16.0075 Origem: Juizado Especial Cível de
Cornélio Procópio Recorrente: Oi S/A Recorrido: Eliana Socorro Galo
Relatora: Juíza Renata Ribeiro Bau.

E ainda...

RECURSO INOMINADO – TELEFONIA - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA -


CONDENAÇÃO PARA RESTITUIÇÃO DOS VALORES INDEVIDOS PAGOS
NOS ULTIMOS 05 ANOS ALCANÇADOS PELO PRAZO PRESCRICIONAL -
RESPONSABILIDADE DO RÉU EM COLACIONAR E DEMONSTRAR AS
FATURAS COM AS COBRANÇAS INDEVIDAS E PAGAS PELO
CONSUMIDOR - AUSÊNCIA DA REFERIDA PROVA - PRESUNÇÃO DE
PAGAMENTO NOS 5 ANOS EM FAVOR DO CONSUMIDOR. CÁLCULOS
APRESENTADOS PELO EXEQUENTE DE FORMA CORRETA - SENTENÇA
REFORMADA - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Recurso Inominado
nº 0001621-29.2013.8.16.0075-01, do Juizado Especial Cível de Cornélio
Procópio. Recorrente: Octacílio Soares. Recorrido: Oi S/A (Brasil Telecom
S/A). Relatora: Juíza Ana Paula Kaled Accioly Rodrigues da Costa.

Na esteira deste entendimento, torna-se imperioso requerer que a


importância debitada a título de PARC. CRED. PESS. Cobrada indevidamente nos últimos 05
anos, seja devolvida em dobro pela Ré na quantia de R$ 85,70.

V – DOS DANOS MORAIS.

Os fatos narrados comportam não só os danos materiais decorrentes na


ilícita cobrança, como implicação em danos morais em decorrência dos infortúnios psicológicos
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enfrentados pela Autora decorrente da verdadeira via crucis já comum entres as relações entre
instituições financeiras e seus consumidores.
O tempo perdido toda vez que se dirigiu até a agencia bancária para
solicitar o cancelamento das cobranças, assim como a forma de atendimento que lhe fora
dispensada, atentaram contra a sua honra mais íntima.
Não é fácil enfrentar longas filas por reiteradas vezes e não conseguir
sequer ser atendido, como ocorreu por diversas vezes.
Em nosso direito, certa e pacífica é a tese de que quando alguém viola um
interesse juridicamente protegido de outrem, fica obrigado a reparar o dano daí decorrente.
Basta adentrar na esfera jurídica alheia, para ir ao encontro da
responsabilidade civil. Senão vejamos alguns artigos do nosso Código Civil:

Art.186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

Ressalta-se que culpa da requerida nem mesmo seria necessária para


determinar a sua responsabilidade pelo dano causado ao Autor. O Código Civil Brasileiro,
acolhendo a teoria do risco, no seu art. 927, parágrafo único, estabeleceu:
“Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Lembra CARLOS ROBERTO GONÇALVES que


“a responsabilidade objetiva funda-se, efetivamente, num princípio de
equidade, existente desde o direito romano: aquele que lucra com uma situação deve
responder pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes (Ubi emolumentum, ibi ônus;
ubi commoda, ibi incommda). Quem aufere os cômodos (lucros) deve suportar os incômodos
(riscos)” (Comentarios ao Código Civil, vol 11, ed. Saraiva, 2003, p,.314)

O conceito de risco que melhor se adapta às condições de vida social, de


acordo com CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA,

“é o que se fixa no fato de que, se alguém põe em funcionamento uma


qualquer atividade, responde pelos eventos danosos que esta atividade gera para os
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indivíduos, independentemente de determinar se em cada caso, isoladamente, o dano é devido


à imprudência, à negligência, a um erro de conduta, e assim se configura a teoria do risco criado.
Fazendo abstração da ideia de culpa, mas atentando apenas no fato
danoso, responde civilmente aquele que, por sua atividade ou por sua profissão, expões
alguém ao risco de sofrer dano” (Responsabilidade Civil, ª ed., Forense, p. 270).
Nesse sentido é a melhor jurisprudência dos nossos Tribunais de Justiça,
Brasil á fora.

APELAÇÃO CÍVEL. SENTENÇA (INDEX 166) QUE JULGOU


PROCEDENTES OS PEDIDOS, PARA: (I) CONFIRMAR A DECISÃO QUE
ANTECIPOU OS EFEITOS DA TUTELA; (II) CONDENAR A PAGAR
DANOS MORAIS NO VALOR DE R$ 3.500,00; (III) CONDENAR À
DEVOLUÇÃO DOS VALORES INDEVIDAMENTE DESCONTADOS DA
CONTA-SALÁRIO DO AUTOR, EM DOBRO, A TÍTULO DE "TARIFA
BANCÁRIA", "TARIFA DE CRED ANUIDADE", "PEND DE TARIF BANC",
"EMPREST PESSOAL", "PARC CRED PESS", "MORA CRED PESS", "TAR
EXTRATO" (IV) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, FIXADOS EM 20% DO
VALOR DA CONDENAÇÃO. APELO DO RÉU A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. APELAÇÃO CÍVEL. SENTENÇA (INDEX 166) QUE
JULGOU PROCEDENTES OS PEDIDOS, PARA: (I) CONFIRMAR A
DECISÃO QUE ANTECIPOU OS EFEITOS DA TUTELA; (II) CONDENAR A
PAGAR DANOS MORAIS NO VALOR DE R$ 3.500,00; (III) CONDENAR À
DEVOLUÇÃO DOS VALORES INDEVIDAMENTE DESCONTADOS DA
CONTA-SALÁRIO DO AUTOR, EM DOBRO, A TÍTULO DE "TARIFA
BANCÁRIA", "TARIFA DE CRED ANUIDADE", "PEND DE TARIF BANC",
"EMPREST PESSOAL", "PARC CRED PESS", "MORA CRED PESS", "TAR
EXTRATO" (IV) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, FIXADOS EM 20% DO
VALOR DA CONDENAÇÃO. APELO DO RÉU A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. APELAÇÃO CÍVEL. O Demandante logrou êxito em
comprovar o fato constitutivo do seu direito, tal como exigido pelo art.
373, inciso I, do Novo CPC. Os documentos anexados aos indexadores
30, 44 e 57, notadamente os extratos bancários, demonstram que houve
descontos referentes a tarifas e empréstimo que o Suplicante alega não
ter contratado. O Demandado não demonstrou qualquer fato
extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do Demandante, que
o defeito inexistiu, ou, ainda, que houve culpa exclusiva, como exigido
pelo art. 373, inciso II, do Novo CPC e pelo art. 14, § 3º, do Código de
Defesa do Consumidor. Frise-se que o Suplicado não trouxe qualquer
documento, como cópia do instrumento do contrato de abertura de conta
salário ou empréstimo pessoal, que pudesse corroborar sua alegação de
que o Requerente teria, sim, celebrado tais contratos com a instituição
financeira. Uma vez não demonstrada a contratação dos serviços e do
mútuo, cabível a devolução, em dobro, de todos os valores descontados
referentes à "Tarifa Bancária", "Tarifa de Cred Anuidade", "Pend de Tarif
Banc", "Emprest Pessoal", "Parc Cred Pess", "Mora Cred Pess", "Tar
Extrato" e "Gasto C Credito". Ademais, os descontos configuraram
conduta violadora da boa-fé objetiva e dos direitos da personalidade do
Consumidor, por tê-lo privado de parte da sua remuneração. No que diz
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respeito à estimativa do valor da verba compensatória, deve-se pautar em


critérios de proporcionalidade e razoabilidade, atendendo-se às condições
do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado. Levando-se em conta
que os descontos foram efetuados diretamente na conta salário do Autor,
atingindo verba cuja natureza alimentar é manifesta, conclui-se que o
valor de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), fixado pelo r. Juízo a
quo, para compensação por danos morais, não deve ser reduzido. (TJ-RJ
- APL: 00539044220158190021 RIO DE JANEIRO DUQUE DE CAXIAS 3
VARA CIVEL, Relator: ARTHUR NARCISO DE OLIVEIRA NETO, Data de
Julgamento: 26/10/2017, VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL
CONSUMIDOR, Data de Publicação: 27/10/2017)

Instado a manifestar-se sobre o tema, assim tem decidido nosso Tribunal


de Justiça do Estado da Bahia.

RECURSO INOMINADO. JUIZADO ESPECIAL. DIREITO DO


CONSUMIDOR. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. COBRANÇA DE TARIFAS
BANCÁRIAS. AUSÊNCIA DA PROVA DA CONTRATAÇÃO. ABUSIVIDADE
DAS COBRANÇAS. RÉU NÃO SE DESINCUMBIU DE PROVAR FATO
IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO AO DIREITO DO
AUTOR. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM QUE SE
AFIGUROU RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA APENAS PARA DETERMINAR QUE A RESTITUIÇÃO SEJA
REALIZADA DA FORMA SIMPLES. DEMAIS TERMOS DA SENTENÇA
MANTIDOS POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS, EX VI DO ART. 46,
DA LEI 9.099/95. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
(,Número do Processo: 80000052820188050166, Relator (a): LEONIDES
BISPO DOS SANTOS SILVA, 6ª Turma Recursal, Publicado em:
17/10/2018 ) (TJ-BA 80000052820188050166, Relator: LEONIDES
BISPO DOS SANTOS SILVA, 6ª Turma Recursal, Data de Publicação:
17/10/2018)

“A sentença vergastada JULGOU PROCEDENTE EM PARTE o pedido


constante dos autos para determinar que a empresa demandada
CANCELE o débito questionado, bem como RESTITUA, em dobro, a parte
autora, todos os valores questionados na inicial no que se refere a
tarifa bancária cesta exclusive 1","tarifa bancária", “mora cred pess”,"enc
lim crédito”", “iof util limite”,"parc. cred. pess", “c crédito”, uma vez que
descontados indevidamente, além de CONDENAR a empresa ré, no
pagamento à parte autora, no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais),
título de indenização por danos morais, que deverá sofrer incidência
de correção monetária desde a data do arbitramento, e juros desde a data
da citação até o efetivo pagamento”.
(TJ-BA 80000052820188050166, Relator: LEONIDES BISPO DOS
SANTOS SILVA, 6ª Turma Recursal, Data de Publicação: 17/10/2018)
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Fica evidente que tal ato veio a acarretar a um efetivo abalo para o autor,
além de outros inúmeros inconvenientes que esta situação vem causando, surrupiando
sorrateiramente, parte da sua única fonte de renda.
Não se trata de mero dissabor inerente ao convívio social, mas sim de
conduta grave e danosa, que atinge a milhares de brasileiros, gerando para a autora um
dano que além da diminuição patrimonial, afeta o âmago, o espírito e a honra, traduzido pela
decepção que o atingiu.
Trata-se do famoso DANO EFICIENTE, TÃO CORRIQUEIRO ENTRE AS
GRANDES EMPRESAS, que caracteriza-se pelo fato de alguns fornecedores de produtos e
serviços conseguirem estipular, provisionar e, com isso, prever qual o dano em que,
eventualmente, incorrerão em suas relações consumeristas, inclusive qual o estágio e
montante das eventuais condenações judiciais.
É PROPOSITAL!
O FAMOSO, SE COLAR, COLOU!
Dessa forma, é como se houvesse verdadeiro “incentivo” para que tais
empresas não invistam no custeio dos gastos necessários à prevenção do dano, preferindo,
por outro lado, serem declaradas judicial e civilmente responsáveis em cada um destes
pequenos e rotineiros processos, já que, com base apenas em cálculos, estabelecem a
vantagem de se manter a gestão deficiente para alcançar lucros estratosféricos em
detrimento de serviço de qualidade e respeitoso ao consumidor.
Por isso, PROPOSITALMENTE, preferem lesar milhares de pessoas e
ter a certeza que serão responsabilizados apenas em poucos casos.
Lesar milhares de pessoas e indenizar apenas algumas.
Infelizmente, diante dos lucros conseguidos com essas práticas
abusivas, as condenações pecuniárias corriqueiras tornam-se irrisórias.

VI – DA TUTELA DE URGÊNCIA.

No presente caso, Excelência, não há quaisquer dúvidas acerca dos fatos


narrados na inicial.
O legislador brasileiro, procurando tornar mais célere o andamento
processual para que a demora no trâmite não venha acarretar prejuízo ao direito da Autora,
consagrou no art. 303 do Novo Código de Processo Civil, a possibilidade de antecipação dos
efeitos da tutela, caso restem preenchidos os requisitos, tais quais, prova inequívoca da
verossimilhança das alegações e o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.
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No caso sob apreço, se faz justo o atendimento em caráter antecipatório


do pedido da Requerente, pois restam preenchidos os requisitos ora mencionados da seguinte
forma:
A prova inequívoca se encontra nos documentos acostados indicando a
indevida cobrança em conta destinada a recebimento do salário mensal da demandante,
exclusivamente.
Já o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação é latente
no fato de que a Autora desde a abertura de sua conta tem sido lesada corriqueiramente pela
instituição ré, com enorme prejuízo em sua verba de caráter alimentar.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA


BAHIA Primeira Câmara Cível Processo: AGRAVO DE INSTRUMENTO
n. 8002944-57.2019.8.05.0000 Órgão Julgador: Primeira Câmara Cível
AGRAVANTE: MARIA DAS GRACAS SANTOS PEREIRA
Advogado(s): CLAUDIA CRISTIANE FERREIRA AGRAVADO: BANCO
BRADESCO SA Advogado(s): ACORDÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
TUTELA PROVISÓRIA. INTERRUPÇÃO DE DESCONTOS. CONTRATO
FRAUDULENTO. VEROSSIMILHANÇA. VIABILIDADE DE CONCESSÃO
DA MEDIDA NO LIMIAR DO PROCESSO. CONTRADITÓRIO DIFERIDO.
PROVIMENTO PARCIAL. 1. As tutelas de urgência liminares não se
afiguram impertinentes pelo fato de serem prolatadas antes da
manifestação da parte contrária. A própria legislação processual
estabelece que a verossimilhança das alegações da parte e a urgência
inerente à tutela pretendida justificam a postergação do contraditório. 2.
No caso, as alegações da agravante são verossímeis, justificando a
concessão da medida antecipatória consistente na suspensão dos
descontos realizados em sua conta-corrente, discriminados como
MORA CRED PESS” e “PARC CRED PESS”, aparentemente relacionados
a um contrato de número 337534437, potencialmente fraudulento. 3.
Recurso parcialmente provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos
de n. 8002944-57.2019.8.05.0000, em que figuram como
apelante MARIA DAS GRACAS SANTOS PEREIRA e como
apelada BANCO BRADESCO SA. ACORDAM os magistrados integrantes
da Primeira Câmara Cível do Estado da Bahia, por UNANIMIDADE, em
DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO nos termos do voto do
relator.(TJ-BA - AI: 80029445720198050000, Relator: MÁRIO AUGUSTO
ALBIANI ALVES JÚNIOR, PRIMEIRA CAMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 04/03/2020)

Portanto, requer de V. Excelência, seja deferida a medida liminar, inaudita


altera pars, de antecipação dos efeitos da tutela, intimando a Requerida para que
IMEDIATAMENTE interrompa os descontos indevidos na conta destinada ao recebimento do
salário da parte autora: Conta 8575-8, Agencia 1156, Banco Bradesco, a título de PARC.
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CRED PESS, sob pena de multa diária de R$ 200,00 (duzentos reais), assim como a exibição
dos valores debitados indevidamente nos últimos 05 anos.

VII – DOS PEDIDOS.

Ante ao exposto, requer-se.


a) Que a inicial seja recebida e processada em todos os seus termos, sendo
deferido o pedido de gratuidade de justiça nos moldes da legislação em vigor;
b) a concessão da ANTECIPAÇÃO DE TUTELA INAUDITA ALTERA
PARTE, determinando a INTERRUPÇÃO IMEDIATA dos descontos indevidos na conta
destinada, exclusivamente, ao recebimento do benefício da Autora, Conta 8575-8, Agencia
1156, Banco Bradesco a descriminadas como PARC CRED PESS, sob pena de multa diária de
R$ 200,00 (duzentos reais);
c) A citação do banco réu para, querendo, apresentar sua defesa no prazo
legal, sob pena arcar com os efeitos da revelia;
d) A inversão do ônus da prova, de acordo com a legislação citada
alhures;
e) A procedência da presente ação para o fim de condenar a parte Ré ao
pagamento, a título de repetição do indébito, da quantia referente aos descontos indevidos sob
a rubrica PARC CRED PESS, que deve ser devolvida em dobro pelo banco Réu, no montante de
R$ 85,70, referente aos últimos 5 anos de cobranças indevidas, nos moldes do CDC;
f) A procedência da presente ação para o fim de condenar a parte Ré ao
pagamento da quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização pelos danos
morais experimentados pela Autora nesses longos anos de descontos indevidos.
Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos,
necessários a demonstrar a veracidade das alegações fáticas aqui aduzidas, em especial as
provas documental e testemunhal.
Dá-se à causa o valor de R$ 10.085,70 (dez mil, oitenta e cinco reais e
setenta centavos).
Nestes termos, pede deferimento.

Capim Grosso - Bahia, data registrada no sistema.

Dagnaldo Oliveira da Silva


OAB/BA 49.645

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