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Introdução ao Estudo do Direito – Parte II

IV – Aplicação do Direito (Lei no Tempo e Espaço / Interpretação da Lei)


A Aplicação das Leis no Tempo
 
A problemática da sucessão de Leis:
 Aplicação da Lei no tempo, distinto das questões relativas a revogação
 Na revogação uma lei posterior faz cessar a vigência de uma lei anterior
 Na aplicação da lei no tempo, o problema a tratar é diverso. A existência de uma lei que
sucede a outra, ou que revoga a outra, pode suscitar questões mais complexas ao nível
da determinação do âmbito de aplicação da lei antecedente e da lei consequente.
 
 
Critério Geral: Principio da Não Retroatividade
 Adota-se na nossa ordem jurídica como critério geral para resolver problemas de
sucessão de leis o princípio da não retroatividade da lei nova, o que significa, em termos
genéricos, que a lei não dispõe para o passado
 Uma lei Retroativa produz efeitos não só para o futuro, mas também em relações
jurídicas verificadas no passado.
 
 
Os Graus de retroatividade:
 
I. Retroatividade Extrema
II. Retroatividade quase Extrema
III. Retroatividade agravada
IV. Retroatividade de grau mínimo (ou ordinária)
 
I. Retroatividade Extrema
 Verifica-se quando a LN se aplica a todas as situações com origem no passado, incluindo
as definitivamente decididas por sentença transitada em julgado.
 
II. Retroatividade quase Extrema
 Verifica-se quando a LN se aplica a todas as situações com origem no passado, salvo as
definitivamente decididas por sentença transitada em julgado.
 
III. Retroatividade agravada
 Verifica-se quando a LN se aplica a todas as situações com origem no passado, mas
salvaguarda os efeitos produzidos por decisão judicial ou título equivalente.
 
IV. Retroatividade de grau mínimo
 Verifica-se quando a LN respeita todos os efeitos produzidos no passado, isto é,
produzidos ao abrigo da LA, mas abrange os efeitos que se produzam na sua vigência,
ainda que com origem em situações geradas no passado
 
 
Limites Constitucionais de Retroatividade:
 Art.º 29.º/1 e 3 CRP e art.º 2.º/1 Código Penal – “é proibida a aplicação retroativa da lei
que crie novos crimes ou medidas de segurança ou que agrave penas ou medidas de
segurança”.
 Art.º 103.º/2 CRP – é proibia a aplicação retroativaf da lei que crie impostos.
 A lei não se pode aplicar retroativamente de molde a atacar uma decisão judicial
definitivamente transitada em julgado (p. de não retroatividade da lei que afete o caso
julgado) – art.º 111.º CRP, art.º 282.º/3 CRP, art.º 2.º CRP
 Art.º 18.º/3 CRP – as leis restritivas de direitos, liberdades e garantias não podem ter
efeito retroativo.
 
Critérios Específicos:
 Em certas matérias e ramos do Direito, o critério geral da não retroatividade da lei é
substituído por critérios particulares que permitem a aplicação retroativa das leis:
o Direito penal negativo - normas que descriminalizam ou reduzem as penas
aplicadas a certas condutas, art.º 29.º/4 CRP e art.º 2.º/2 CP.
o Direito processual - – art.º 136.º CPC – aplicação imediata da lei processual
 
Posição do Código Civil:
▪ Regime supletivo geral – art.º 12.º CC
▪ Regimes supletivos especiais – art.º 13.º e art.º 297.º CC

Aplicação da lei no espaço


 
Art.º 14 a 65 do CC
Princípio - regra da territorialidade
Situação privada plurilocalizada - diferentes potenciais leis aplicáveis
Reenvio (Harmonização dos julgados - Art.º 17) e Retorno (reenvio para Pais de Origem /
Portugal - Art.º 18)
 
 
A lei aplica-se ao território, aos arquipélagos, aviões navios registados em Portugal,
embaixadas no estrangeiro
Mar territorial português - 200 milhas da costa
Zona contígua - apenas existem alguns poderes pelo estado costeiro
ZEE - só é possível a exploração de recursos naturais
 
 
Princípio da reciprocidade - comum no direito internacional
 
(Conflito entre 2 pessoas sem nacionalidade comum) - vai se a procura de lei pessoal do
descendente
Em caso de ter que descobrir a lei pessoal - Art.º 31
Interpretação da lei

Objetivo: determinação do sentido da lei


 
Modalidades:
 Interpretação em sentido estrito
o Determinação do sentido da regra que decorrer da fonte
 Integração de lacunas
 
(Art.º 8-11 e 13)
 
 
Interpretação em Sentido Escrito
 
 
Modalidades da interpretação de acordo com 3 critérios:
 Critério da fonte e valor (1)
 Critério do objeto ou fim da interpretação (2)
 Critério do resultado da interpretação (3)

 Critério da fonte e valor (1)


 
 Interpretação Autêntica
o Pressupõe a verificação de 2 requisitos:
 Esta interpretação deve ser feita por uma nova norma
 A interpretação autêntica é vinculativa, para todos os aplicadores do
direito, ainda que esteja errada
 
 Interpretação Oficial
o Feita por uma norma de valor inferior ao da norma interpretada
o Não tem eficácia externa, não podem alterar ou contradizer o sentido
normativo das leis superiores
o Não tem efeito vinculativo
 
 Interpretação Judicial
o Feita pelos tribunais no âmbito de um processo.
o Só tem valor vinculativo no processo em si.
 
 Interpretação Doutrinal
o Feita por juristas e fora das condições que caracterizam as situações anteriores
o Não tem força vinculativa, serve de auxilio
 
 Interpretação Particular
o Feita por qualquer cidadão comum, não jurista
o Não tem força vinculativa
 Critério do objeto ou fim da interpretação(2)
 
(Teses Subjetivista, Objetivista e Mistas)
(Teses Historicista e Atualista)
 
 Teses Subjetivista:
Visa determinar o pensamento do legislador (“Mens Legislatoris")
Vantagens: Maior certeza e segurança, porque existe um sentido possível da lei
Desvantagens: Dificuldades em determinar, nos tempos de hoje, a vontade
concreta do legislador
 
 Teses Objetivista:
Visa determinar o sentido intrínseco da lei, desligado da vontade e quem fez
(“Mens Legis")
Vantagens: maior adaptação as exigências de justiça e as necessidades do caso
concreto
Desvantagens: falta de unanimidade quanto à determinação do sentido da lei
 
 Teses Mista:
Pretende-se acolher os aspetos relevantes das teses subjetivista e objetivista
A determinação do sentido da lei tem por base a consideração não só do texto
legal, mas também da própria " mens legislatoris".
Necessário conhecer a decisão do legislador e os fundamentos em que se apoia,
para se acomodar e adaptar a lei ao presente
 
 
 Tese Historicista:
Visa-se determinar o sentido da lei no momento da sua criação e entrada em vigor
Vantagens: maior certeza e segurança, dado que se determina o sentido da lei no
âmbito das circunstâncias da sua criação.
Desvantagens: Não atende ao caráter de durabilidade das leis.
 
 Tese Atualista:
Visa-se determinar o sentido da lei no momento da sua interpretação.
Vantagens: maior adaptação às exigências da vida.
Desvantagens: pode levar a situações de arbítrio e à aplicação de leis a casos que
não se compadecem com tal solução

 Critério do resultado da interpretação (3)


 
 Elementos da Interpretação:
 Elemento Literal - "corpo" da lei:
É composto pelas palavras pelas quais a lei se exprime, cujo sentido é determinado
por regras gramaticais. Ponto de partida…mas é um elemento frágil, porque
muitas vezes as palavras são vagas e equívocas.
 
 Elemento Lógico - "alma" da lei
São todas as circunstanciais que ultrapassam a letra da lei, e que nos podem
auxiliar a perceber o seu sentido.
 
a. Elemento Histórico
 Trabalhos preparatórios; Precedentes normativos; Occasio legis
 
a. Elemento Sistemático
 Consiste no facto de a interpretação de uma norma implicar o
conhecimento das normas afins, pois a ordem jurídica tem uma
unidade e coerência que sevem ser salvaguardadas. EX: Art.º 1273 e
216 CC (Benfeitorias)
 
a. Elemento Teleológico
 Consiste na finalidade ou necessidade que se pretende satisfazer com
a feitura de uma determinada lei, e que implica a ponderação dos
interesses que determinam o seu conteúdo.
 
 Modalidades de Interpretação quanto ao resultado
 
 Interpretação Declarativa
Verifica-se quando o espírito da lei, determinado pelos elementos lógicos, coincide
perfeitamente com o significado das suas palavras.
 Problema: expressões pluri-significativas
▪ Interpretação declarativa lata
▪ Interpretação declarativa restrita

 Interpretação Extensiva
Quando o legislador disse menos do que queria dizer – o sentido literal é mais estrito
que o sentido real – e o intérprete deve estender a letra da lei, em função dos elementos
lógicos de interpretação
 
 Interpretação Restritiva
Verifica-se quando o legislador disse mais do que queria dizer – o sentido literal é mais
amplo que o sentido real – e o intérprete deve limitar a letra da lei, em função dos
elementos lógicos da interpretação
 
 Interpretação Abrogante
É aquela em que o intérprete reconhece que o sentido da lei é indecifrável, ou seja, que
é impossível determinar o seu conteúdo, isto porque existe uma contradição insanável
entre o espírito e a letra da lei
 Modalidades:
▪ Interpretação abrogante lógica – incongruência insanável dos preceitos
interpretados
▪ Interpretação abrogante valorativa – os valores subjacentes às disposições em
causa forem incompatíveis entre si
 
 Interpretação Enunciativa:
É aquela em que o intérprete deduz dum preceito uma regra que nele apenas está
virtualmente contida, usando para tais certas inferências ou argumentos lógico-jurídicos.
Da regra X, o espírito da lei permite retirar a regra Y (uma nova regra sem
correspondência na letra da lei, mas implicitamente manifestada).
 4 Argumentos Lógico-Jurídicos:
o " A minori ad maius" - a lei que proíbe o menos, também proíbe o mais
o “A maiori ad minus” – a lei que permite o mais, também permite o menos
o “A contrario” – da disciplina excecional estabelecida para certo caso, deduz-
se um princípio regra oposto para os casos não abrangidos pela norma
excecional
o “A legitimidade dos fins, justifica os meios” – a lei que permite ou proíbe o
fim, permite ou proíbe o meio
 
 Interpretação Corretiva:
Verifica-se quando o sentido real da lei é afastado, modificado ou corrigido pelo
intérprete, com fundamento em injustiça ou inoportunidade.
Atualmente o CC não parece admitir a interpretação corretiva na ordem jurídica
portuguesa

 Posição do Legislador Português


(Art.º 9 CC)
▪ O legislador português parece não se ter querido comprometer nem com a tese
objetivista, nem com a tese subjetivista – “pensamento legislativo” – art.º 9.º/1 CC – não
adota o pensamento do legislador (subjetivismo), nem pensamento da lei (objetivista).

Integração de Lacunas
 
 Atividade de colmatar omissões ou vazios em domínios que o Direito deveria reger
 Preceitos do CC: art.º 8.º/1, 10.º e 11.º CC
 
Lacuna Jurídica:
 A lacuna jurídica existe quando se verifica a ausência de uma regra jurídica para reger
certa matéria, que deve ser prevista e regulada pelo Direito
 2 requisitos simultaneamente para aferir a existência de uma lacuna:
▪ Inexistência de disciplina jurídica ou vazio jurídico
▪ Imprescindibilidade dessa disciplina
 
Espécies de lacunas: (Slide 145)
 Lacunas Voluntárias
 Lacunas Involuntárias
 Lacunas Iniciais
 Lacunas posteriores
 Lacunas de previsão
 Lacunas de estatuição
 Lacunas da lei
 Lacunas do direito
 
Processos de Integração da Lacuna:
 
 Intra- Sistemáticos
Nestes processos a solução do caso faz-se tomando por base o sistema de normas
vigentes
 Analogia Legis - pressupõe o recurso a uma regra determinada normalmente legal.
 Analogia Iuris - pressupõe o recurso a um princípio jurídico determinado.
 Norma que o intérprete criaria - a resolução do caso apela ao espírito geral do
sistema
 
 Extra-Sistemáticos
Nestes processos a solução do caso funda-se noutros critérios
 Normativos - verificam-se quando o legislador emite uma norma para colmatar a
lacuna.
 Discriminatórios - verificam-se quando o legislador dá à Administração a
possibilidade de optar entre duas soluções igualmente possíveis, de acordo com a
melhor prossecução do interesse público
 Equitativos - verificam-se quando o juiz não decide segundo uma norma, mas
segundo as circunstâncias do caso concreto, isto é, o juiz não pretende criar uma
norma, procurando uma solução adequada a todos os casos daquela índole, mas
procurando uma solução que seja adequada à luz do princípio da justiça.

V – Regime da Personalidade Jurídica

Personalidade Jurídica - traduz-se na aptidão para ser titular/sujeito autónomo de relações


jurídicas; É inerente a capacidade jurídica ou capacidade de gozo de direitos
(Art.º 67 CC)
 
Capacidade de exercício de direitos - (diferente de capacidade jurídica) (Art.º 130 CC)
 A pessoa, dotada da capacidade de exercício de direitos, age pessoalmente, i.é, não
carece de ser substituída, na prática dos atos que movimentam a sua esfera jurídica, por
um representante legal e age autonomamente, i.é, não carece de consentimento de
outra.
 
 
No caso de falta da capacidade - Incapacidade de exercício de Direitos - pode ser suprida p ex.
pela representação legal
 
Capacidade Jurídica (Art.º67):
 Restrições
o Incapacidades Nupciais ( Art.º 1601 e 1602º)
o Incapacidade de testar dos menores não emancipados e dos maiores
acompanhados (Art.º 2189.º CC)
o Incapacidade para perfilhar dos menores de 16 anos, dos maiores acompanhados
com restrições ao exercício de direitos pessoais ou forem afetados por
perturbação mental notória no momento da perfilhação (art.º 1850.º CC)
 Doações: ( Art.º 953, 2192º a 2198º)
 
 
Indisponibilidade relativa – incapacidade de gozo relativa – pois a restrição não resulta da
consideração de uma qualidade do disponente em si.
 
Determinação da Capacidade:
 
A) Quanto as pessoas coletivas:
 
 Admitida a teoria organicista, pode afirmar-se possuírem as pessoas coletivas plena
capacidade de exercício.
 A capacidade de exercício das pessoas coletivas só sofrerá restrição quando,
excecionalmente, estiverem privadas dos seus órgãos (ex: morte dos administradores)
 
B) Quanto às pessoas singulares:
 
 Todas as pessoas singulares têm capacidade de exercício de direitos
 Tal regra resulta do 130º (maioridade) e 133º (emancipação)
 Quadro das incapacidades de exercício é fixado na lei - Menores e Maiores
Acompanhados ( Art.º 122 e 156º CC)

Incapacidade dos Menores:


 
 Amplitude
o abrange, em principio, quaisquer negócios jurídicos de natureza pessoal ou
patrimonial. É uma incapacidade geral (art.º 123.º CC)
 
 Exceções à incapacidade:
o os menores podem praticar atos de administração ou disposição dos bens que o
menor haja adquirido por seu trabalho (art.º 127.º, al. a) CC);
o Podem contrair validamente casamento, desde que tenham idade superior a 16
anos (art.º 1601.º CC)
 
 Duração:
o Incapacidade termina quando o menor atingir a idade de 18 anos ou for
emancipado
o (art.º 122.º, 129.º, 130.º e 133.º CC).
 
 Efeitos:
o Os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à proibição em que se
cifra a incapacidade estão feridos de anulabilidade (art.º 125.º CC)
o As pessoas que podem arguir a anulabilidade são o representante do menor,
dentro de um ano a contar do conhecimento do ato impugnado, o próprio menor,
dentro ,,de um ano a contar da cessação da incapacidade, ou qualquer herdeiro,
igualmente dentro de um ano a contar da morte. (ver 126.º CC)
 
 Como se supre a incapacidade do menor – a incapacidade do menor é suprida pelo
instituto da representação.
 Os meios de suprimento da incapacidade dos menores são:
o Poder paternal (art.º 1878.º/1 CC)
o Tutela (art.º 124.º, 1921.º CC)
o Administração de bens (art.º 1922.º CC)
 Só é suprível a incapacidade dos menores na medida em que seja mera incapacidade de
exercício. Quando se tratar de uma incapacidade de gozo (casamento, testamento,
perfilhação), esta é insuprível.
 
▪ Podem contrair validamente casamento, desde que tenham idade superior a 16 anos (art.º
1601.º CC).
▪ A oposição dos pais ou do tutor constitui impedimento impediente, e como tal, não
implicando a nulidade do ato, dá lugar à aplicação de sanções especiais (art.º 1604.º,
1627.º/al.a) e 1649.º CC).
▪ Não se pode falar de uma incapacidade nupcial dos menores (maiores de 16) suprível pelo
instituto da assistência.
▪ Quanto ao casamento, os menores ou estão feridos de uma incapacidade de gozo de
direitos (menores de 16 anos), como tal insuprível, ou têm capacidade de gozo e capacidade
de exercício, por falta de consentimento dos pais não ser causa de anulabilidade, mas apenas
de sanções especiais, art.º 1649.º CC.

Regime do Maior Acompanhado


 
(Lei nº 49/201, 4 Agosto)
 
 O regime do acompanhamento tem como objetivo garantir o bem estar, a recuperação,
o pleno exercício dos seus direitos bem como a observância dos deveres do sujeito
maior de idade, concentrando-se na pessoa e não especialmente no seu património.
 
Quem deve ser acompanhado?
 
 A pessoa maior, impossibilitada, seja por razões de saúde, deficiência ou pelo seu
comportamento, de exercer os seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus
deveres, beneficia das medidas de acompanhamento previstas no CC (art.º 138.º CC).
 
Quem pode requerer o acompanhamento?
 
 É o tribunal quem decide o acompanhamento, o qual deve ser requerido pelo próprio
ou, mediante autorização deste, pelo cônjuge, pelo unido de facto, por qualquer parente
sucessível, ou independentemente de autorização, pelo Ministério Público. (art.º 139.º e
141.º CC)
 
Quem deve ser o acompanhante?
 
 A designação do acompanhante, maior e no pleno exercício dos seus direitos, é feita
judicialmente, sendo escolhido pelo acompanhado ou pelo representante legal deste
(art.º 143.º CC)
 Na falta de escolha, o acompanhamento é atribuído à pessoa que melhor proteja o
interesse do beneficiário, sendo determinada a seguinte ordem de preferência, apesar
de não taxativa:
o cônjuge não separado judicialmente ou de facto; unido de facto; qualquer dos
progenitores; pessoa designada pelos pais ou pela pessoa que exerça as
responsabilidades parentais; filhos maiores; pessoa indicada pela instituição em
que o acompanhado esteja integrado; mandatário a quem o acompanhado tenha
conferido poderes de representação ou outra pessoa idónea.
 os descendentes e os ascendentes não se podem escusar ou ser exonerados e a lei prevê
que pode ser designado mais do que um acompanhante em simultâneo, com diferentes
funções. O acompanhante tem o dever de se abster de agir em situação de conflito de
interesses com o acompanhado. (art.º 144.º CC)
Âmbito do Acompanhamento:
 
 145º CC - Âmbito e Conteúdo do Acompanhamento
 146º CC - Cuidado e Diligência
 147º CC - Direitos Pessoais e negócios da vida corrente
 148º CC - Internamento
 149º CC - Cessação e modificação do acompanhamento
 151º CC - Retribuição do acompanhante e prestação de contas
 152º CC - Remoção e exoneração do acompanhante
 153º CC - Publicidade
 154º CC - Atos do acompanhado
 155º CC - Revisão periódica
 156º CC - Mandato com vista a acompanhamento
 2192º CC - Acompanhante e administrador legal de bens
 
 
VI – Tutela do Direito
Tutela Jurídica - conjunto de mecanismos que visam assegurar o cumprimento ou a realização
do direito.
 
Tutela Jurídica:
 Pública
 Privada
 
Consoante os atos de defesa dos direitos das pessoas provenham das entidades públicas ou
dos próprios sujeitos privados
 
 
Tutela Pública:
 
 Atuação do estado através da qual se permite assegurar o cumprimento das normas
jurídicas e efetivar o respeito dos direitos subjetivos dos cidadãos.
 
 2 Critérios:
o Critério Temporal:
 Tutela Preventiva - atua em momento anterior à violação do direito e
procura evitá-la.
 Tutela repressiva – atua em momento posterior à violação do direito e
traduz-se na aplicação de uma sanção ao infrator, que pode consistir na
privação de bens ou da liberdade.
o Critério Orgânico
 Tutela Judiciária - é efetivada pelos tribunais, que constitui o processo
normal de defesa dos interesses dos particulares, e que ocorre, não só nas
relações que os particulares têm uns com os outros, mas também nas
relações que os particulares têm com o Estado. (art.º 202.º, 203.º, 209.º
CRP)
 Tutela administrativa – é efetivada pelos órgãos do Estado e visa controlar a
atividade da Administração na sua relação com os particulares. (garantias
administrativas: petitórias/impugnatórias e/ou queixa ao Provedor de
Justiça (art.º 23.º CRP).
 
Tutela Privada:
 
 A tutela pública é a regra geral. A tutela privada é excecional, por isso, não é permitido,
em geral, às pessoas por sua própria força e autoridade fazer valer o exercício dos seus
direitos.
 Art.º 1 CPC - Proibição de autodefesa
 
 Modalidades de tutela privada:
o Legítima defesa
o Estado de necessidade
o Ação Direta
o Direito de retenção
o Direito de resistência
 
 
Legitima Defesa:
(Art.º 337 e 338º CC e 32º e 33º CP)
 
337º - Legítima defesa
338º - Erro acerca dos pressupostos da ação direta ou da legítima defesa
 
▪ É o ato que afasta uma agressão atual ou iminente ilícita, contra pessoa, ou património do
agente ou de terceiro, quando não for possível recorrer à autoridade pública e o prejuízo
causado não exceder manifestamente o que puder resultar da agressão.
 
 Requisitos:
 Caráter subsidiário - impossibilidade de recurso aos meios sancionatórios da força
pública
 Existência de uma agressão a alguém: ilícita, atual ou iminente, pessoal ou patrimonial,
do próprio ou de terceiro.
 A atuação em legítima defesa em regra ofende um direito de personalidade ou
patrimonial mas também se pode suceder que ofenda direitos de crédito.
 Proporcionalidade e racionalidade entre a agressão e a reação (adequação (o meio deve
ser apto a produzir o fim); necessidade, proibição de excesso ou indispensável (o meio
usado, de entre todos os disponíveis, deve ser o menos lesivo); proporcionalidade em
sentido estrito ou equilíbrio (deve haver equilíbrio entre as vantagens alcançadas e as
desvantagens de certa atuação). Ver 337.ºCC.
 
 
Estado de necessidade:
 
339º - Estado de necessidade
 
Estado de Necessidade - é a situação em que alguém se encontra, que justifica a licitude da
ação de destruir ou danificar uma coisa alheia para remover o perigo atual ou iminente de um
dano manifestamente superior, quer do agente quer de terceiro.
 
Requisitos:
 Caráter subsidiário aos meios sancionatórios da força pública
 Reação contra uma situação de perigo (não reação a uma agressão): a) própria ou
alheia; b) atual ou iminente; c) pessoal ou patrimonial
 A reação reflete-se sempre numa coisa, danificando-a ou destruindo (e não contra uma
pessoa)
 Proporcionalidade entre a coisa danificada e o bem que é salvo de perigo (art.º 339.º/1
CC e 34.º, al. b) e c) Código Penal)
 
 
O estado de necessidade torna lícita a atuação que normalmente seria crime – embora haja
obrigação de indemnização, porque o lesado não deve arcar com o prejuízo
 
 
▪ Estado de necessidade putativo: pode suceder que o sujeito incorra em erro sobre os
pressupostos do estado de necessidade, isto é, quando se convença erroneamente de que
certa situação de perigo existe.
 
 
Ação Direta:
 
336º - Ação Direta
 
A ação direta consiste no recurso à força para evitar a inutilização prática de um direito, no
caso de ser impossível recorrer aos meios coercivos normais. Pode consistir na apropriação,
destruição e deterioração duma coisa, na eliminação de resistência irregularmente aposta ao
exercício do direito ou noutro caso análogo.
 
Requisitos:
 
▪Caráter subsidiário
▪ Exercício de um direito próprio (não pode haver ação direta a favor de terceiros)
▪ Ato material que pode incidir sobre coisas ou contra pessoas
▪ Pressupõe uma atuação que pode ser consumada (não pressupõe agressão física)
▪ Proporcionalidade
 
 Exemplos
o A ação do pai impede pela força que a mãe leve o filho para o estrangeiro,
confiado por tribunal à guarda do primeiro.
o A ação de alguém tirar a outrem um anel de família com brasão, que havia sido
roubado há algum tempo.
o A ação de destruição de um muro feito por outrem para impedir a entrada num
terreno que pertence ao primeiro.
 
Erro nos pressupostos da ação direta - Art.º 338 CC
▪ Se o titular do direito agir na suposição errónea de se verificarem os pressupostos que
justificam a ação direta ou a legítima defesa, é obrigado a indemnizar o prejuízo causado, salvo
se o erro for desculpável.
 
 
Direito de Retenção:
 
754º CC (não tem caracter subsidiário)
 
Faculdade que, em determinadas situações, o credor goza de reter uma coisa do devedor para
o coagir a cumprir a sua obrigação.
▪ Ex: o relojoeiro que retém o relógio até que o dono pague o preço do conserto.
 
Requisitos:
▪ A coisa deve estar em poder do credor a título de simples retenção (não propriedade ou
posse)
▪ Existe uma íntima relação entre o crédito e a coisa detida pelo credor
▪ O detentor da coisa deve ser o credor da obrigação e o devedor deve ser aquele a quem a
coisa deve ser restituída
 
Direito de Resistência:
 
21º CRP
 
Traduz a possibilidade de os cidadãos se poderem defender contra atuações das entidades
públicas (ou privadas) que ponham em causa os seus direitos, liberdades e garantias.
 
 Modalidades:
o Resistência passiva (art.º 271.º/3 CRP) – verifica-se quando existe uma ordem que
ofenda direitos liberdades e garantias, e consiste em não fazer o que é imposto ou
fazer o que é vedado. Ex: o não cumprimento de ordens que envolvam a prática de
crime.
o Resistência defensiva – verifica-se quando existe uma agressão de agentes, e
consiste na resposta à agressão,. Ex: repelir uma agressão pela força.
 
 Exemplos:
o A entrada em habitação alheia de autoridades policiais sem mandato judicial – o
proprietário pode impedir a entrada da polícia, sem que a sua atuação seja
considerada ilícita.

Sanções Jurídicas
(como garantia da ordem)
 Define-se sanção como a consequência negativa ou reação desfavorável da ordem
jurídica ao incumprimento de uma norma
 
 Modalidades de Sanções:
o Reconstitutivas
o Compensatórias
o Punitivas
o Preventivas
o Compulsórias
o Desvalores do ato (ineficácia e invalidade)
 
 
Sanções Reconstitutivas:
 
 São as sanções que visam refazer a situação que existia se a norma jurídica não tivesse
sido violada.
 Visam a obtenção de uma realidade idêntica à que se verificaria se tivesse havido
observância da regra, de molde que, se retirarmos uma fotografia aos antes e ao agora
ela vai ser igual
 562º e 566º/1 CC
 Modalidades:
o Reconstituição em espécie (562º CC)
o Indemnização específica
o Execução específica (827º, 830º, 828º, 829º CC)
 
 
Sanções Compensatórias:
 
 Visam reconstituir uma situação que, embora seja diferente à que existia antes da
violação da norma é, todavia, equivalente em termos pecuniários.
 Não se pretende uma identidade de fotografia, mas uma fotografia parecida com a
existente antes da violação da norma
 Estas sanções operam através de indemnização dos danos sofridos, porque a
reconstituição natural pode ser impossível, insuficiente ou inadequada.
 Tipos de danos cobertos:
o Danos não Patrimoniais (496º/1 CC)
o Danos Patrimoniais (564º/1 CC)
o Danos Emergentes (564º/1 - Desvalorização imediata do património)
o Lucros Cessantes (564º/1 - 2º Parte - Ganhos que se deixou de obter)
 
Sanções Punitivas:
 
 São aquelas que têm como função principal aplicar um castigo ao violador da norma
 Concretizam-se através da aplicação de uma pena que se pode traduzir na privação de
um bem ou da liberdade
 Modalidades:
o Criminais ( multa/ pena de prisão)
o Administrativas (Coimas/ Interdição temporária de exercício de atividade)
o Disciplinares (repreensão/suspensão/multa/demissão)
o Civis (Ex: 2034º; 1649º)
 
Sanções Preventivas:
 
 são as sanções em que se pretendem afastar posteriores violações do direito, cujo receio
existe devido ao facto de se ter praticado previamente um determinado ilícito.
o Proteção coativa preventiva
o Sanções punitivas
 Exemplos: 781º CC, 66º e 91º CP
 
Sanções compulsórias:
 
 são as sanções que pretendem levar o infrator da norma a adotar a conduta devida, de
modo a que a sua violação não se prolongue por mais tempo. Trata-se de sanções que
ocorrem em fase tardia, mas em que o cumprimento da norma ainda é possível e útil
para o direito, razão pela qual se visa pressionar o infrator ao seu acatamento.
 EX: pena de prisão; direito de retenção; sanção pecuniária.
 
Desvalores Jurídicos dos atos
 
 Supondo que após tais atos que produzam efeitos , pode suceder que a suposta lei não
exista, não seja válida ou não produza efeitos
 Fala-se então em desvalores do ato legislativo ou valores jurídicos negativos:
o Inexistência
o Invalidade: nulidade e anulabilidade
 Também a ineficácia que se verifica quando a conformidade para com o direito não é
posta em causa, mas a lei simplesmente não produz efeitos devido ao não
preenchimento de algum requisito ou condição.
 
 Precisões:
o Os desvalores jurídicos aplicam-se não só a atos legislativos, mas também aos
demais atos jurídicos, tais como atos administrativos
o Devem-se separar os desvalores jurídicos, dos vícios dos atos:
 um vício corresponde à media em que se contraria o Direito
 o desvalor jurídico é a consequência ou “sanção” decorrente do desrespeito
do Direito.
 
 Inexistência Jurídica:
o Verifica-se quando determinado ato legislativo se encontra de tal forma em
desconformidade para com o direito que para este "nada há".
o Nestes Casos, nem sequer existe uma base que permita identificar um ato jurídico,
mesmo que inválido. A Lei inexistente é uma mera aparência de lei, pelo que não
produz qualquer efeito.
o Vícios do ato que geram a inexistência:
 Inconstitucionalidade formal, ex: a não promulgação pelo PR, Art.º 137º CRP
 Inconstitucionalidade orgânica, ex: quando um órgão que não exerce a
função legislativa, legisla (art.º 103.º/2 CRP)
 Inconstitucionalidade material
o A invalidade da lei verifica-se quando surgem inconstitucionalidades menos graves
do que aquelas que geram a sua inexistência.
 
 Graus de Invalidade: Nulidade
o A nulidade é a forma de invalidade mais intensa, por isso, também se chama de
"nulidade absoluta" (268º CC e 161º e 162º Cod. Procedimento Administrativo)
 O ato é nulo desde a altura em que é praticado, por esse motivo nunca
produziu efeitos e não é obrigatório ab initio.
 A nulidade pode ser declarada pelos tribunais (a todo o tempo)
 Os tribunais podem declarar a nulidade oficiosamente - "ex officio", sem
solicitação nesse sentido
 A nulidade é insanável
 
 Graus de Invalidade: anulabilidade
o A anulabilidade é a forma de invalidade menos intensa, por isso, também é
apelidada de "nulidade relativa" (287º CC e 135º CPA)
 O ato anulável, embora inválido, produz efeitos até à sua anulação, por isso,
é obrigatório até ser anulado – goza de presunção de legalidade.
 A anulação do ato compete aos tribunais.
 A anulação tem natureza constitutiva – vem alterar a ordem jurídica – e não
meramente declarativa.
 A anulação está dependente do pedido das pessoas com especial interesse
na anulação.
 
 Ineficácia
 O entendimento do conceito de ineficácia parte de uma primeira perceção do que
significa eficácia ou produção de efeitos: para explicar o que significa produzir efeitos
devemos tomar a imagem de uma arma que está carregada, ela só produz efeitos
quando se aperta o gatilho e dispara.
 Assim, a ineficácia verifica-se quando um ato ou facto, distinto da lei, paralisa ou impede
a produção dos efeitos jurídicos, sem que haja um vício ou desconformidade para com o
Direito dessa mesma lei. Ex: a lei não publicada no DR.
 A ineficácia impede a produção de qualquer efeito jurídico.

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