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Aplicação da Lei Penal no tempo

LUANDA – 2023
Problema
As leis iniciam a sua existência pública no dia da sua
publicação, iniciam a sua vigência no prazo por elas
determinadas.
Estas cessam a sua vigência nos termos legais por
caducidade ou revogação. Por vezes, existe dúvida sobre
lei qual utilizar, a antiga ou a nova! Desta indagação surge
a questão: De que forma se dá aplicação da lei no tempo?
Hipóteses:

H1: A aplicação da lei dá-se por meio dos princípios que


regem a sua aplicação.

H2: Aplica-se a lei de acordo ao juízo que se faz de um


caso específico.

H3: Nenhuma das hipóteses anteriores.


Objectivo Geral
-Explicar os parâmetros da aplicação das leis no tempo.

Objectivos Específicos
1)Detalhar como se origina o problema da aplicação das leis
no tempo.

2)Evidenciar os princípios norteadores da aplicação da lei


no tempo.

3)Demonstrar um caso prático de como a lei é aplicada no


tempo.
Introdução
A Lei constitui o processo mais vulgar de criação do
Direito, sendo por isso a fonte de Direito por excelência - no
sentido em que é uma norma jurídica, que provém de órgãos
estaduais competentes e se impõe a todos os cidadãos com
força vinculativa.
Aplicação da lei é qualquer sistema pelo qual alguns
membros da sociedade agem de maneira organizada para
fazer cumprir a lei descobrindo, dissuadindo, reabilitando ou
punindo as pessoas que violam as regras e normas que
regem essa sociedade.
Neste contexto, o presente trabalho visa apresentar os
processos e os princípios a serem observados aquando da
aplicação das leis no tempo.
PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE LEIS
O processo de elaboração de leis não é uniforme e
varia em função do órgão com competência para o fazer.
Vamos por isso analisar de forma sumária a actividade
legislativa da Assembleia Nacional e do Presidente da
República.
O processo da formação da lei, consta de 4 fases:
Iniciativa Legislativa;
Discussão e Aprovação;
Promulgação;
Publicação.
1) Iniciativa Legislativa: segundo o artigo 167º da
C.R.A, a iniciativa legislativa pode ser exercida pelos
Deputados, pelos Grupos Parlamentares e pelo
Presidente da República.

Revestindo a forma de projecto de lei se exercida


pelos Deputados e Grupos Parlamentares e de proposta de
lei se exercida pelo Presidente da República.
2) Discussão e Aprovação: Depois do texto ser
apresentado à Assembleia Nacional e inscrito na ordem
do dia, procede-se à sua apresentação perante o
plenário, onde será discutido e votado na generalidade,
passando-se à discussão na especialidade, por fim
procede-se à votação final e global.
3) Promulgação e Referendo: A promulgação é o acto
pelo qual o Presidente da República declara que um
determinado diploma passa a valer como Lei.

A promulgação é uma etapa essencial de todo o


processo legislativo, na medida em que a sua falta implica a
inexistência jurídica do acto (artigo 119º alínea r) da C.R.A
e artigo 124º nº1 da C.R.A).
4) Publicação: As leis são publicadas no Jornal Oficial
(Diário da República)(artigo 119º alínea r) da C.R.A.
Processo de Vigência da Lei
A) Início da Vigência
A vigência da lei não depende do seu conhecimento
efectivo “a ignorância ou má interpretação da Lei não
aproveita a ninguém”, no sentido que ninguém está isento
das sanções nela estabelecidas (artigo 6º do C.C.A). Por essa
razão, torna-se necessária a utilização de um meio de a
tornar conhecida. Este meio é a publicação.
Com a publicação a lei passa a ser obrigatória, mas não
significa que entre de imediato em vigor. Decorrerá um
intervalo entre a publicação e a sua entrada em vigor. A este
prazo denomina-se “vacatio legis”.
Este período de tempo serve para que os destinatários da
Lei- os cidadãos tomem conhecimento da existência do
diploma e das condições da sua aplicação (artigo 5º do
C.C.A).
B) Termo de Vigência

A lei quando não se destina a ter vigência temporária,


só deixará de vigorar através da revogação (artigo 7º do
C.C.A). Passado o período de vacatio legis a lei ficará
em princípio ilimitadamente em vigor.

O decurso do tempo por maior que seja não é razão


suficiente para que a lei cesse a sua vigência.
C) Formas do Termo de Vigência
Como forma de cessação da vigência da lei existe a
caducidade e a revogação.

A Caducidade- ocorre quando estamos perante uma lei


temporária e é o próprio diploma legal que determina a
data em que o mesmo deixará de vigorar. Quando
atinge aquela data, a lei caduca automaticamente.

A Revogação- resulta da entrada em vigor de uma


nova lei em substituição da lei já existente.
Classificação da Revogação
Quanto à sua forma :
-Expressa: quando uma nova lei declara que revoga uma determinada
lei anterior.

-Tácita: quando existe incompatibilidade entre as normas da lei nova


e as da lei anterior.

Quando à sua extensão :


-Total (ab-rogação): se a nova lei vem substituir por completo à lei
anterior.

-Parcial (derrogação): quando só algumas disposições da lei antiga


são revogadas pela lei nova.
Problema da aplicação da Lei
As leis iniciam a sua existência pública no dia da sua
publicação, e iniciam a sua vigência no prazo por elas
determinado. Estas cessam a sua vigência, nos termos
legais por caducidade ou por revogação.
Por vezes existe a dúvida sobre qual a lei utilizar: a
antiga ou a nova? A questão é: as leis são feitas para
vigorar somente no futuro ou podem agir em relação a
situações passadas, ou seja , situações que se
consumaram quando a nova lei ainda não existia, no
entanto, a aplicação das leis no tempo consiste em
determinar qual a lei aplicável a uma determinada
situação: se é a lei antiga ou é a lei nova.
Leis que beneficiam o Réu
Novatio Legis in Mellius: Uma nova lei que mantém o
facto típico mas aplica um tratamento mais brando.
Ex: Uma nova lei que vem reduzir a pena de prisão de um
crime.
Abolitio Criminis: Lei posterior que descriminaliza certa
conduta que antes era tida como crime.
Leis que prejudicam o Réu
Novatio Legis in Pejus: Nova lei que vem dar um
tratamento penal mais gravoso ao facto típico.
Ex: Aumento da pena de prisão de um crime.

Novatio Legis Incriminadora: Nova lei que passa a definir


uma conduta como ilícito penal(crime), desse modo, não
possui efeito retroactivo, as pessoas que praticaram a mesma
conduta antes da vigência desta nova lei não cometeram
crime e não poderão ser punidos.
A aplicação da Lei penal pode
ser vista em duas acepções:

1) Actividade: A Lei é aplicada à casos durante a sua


vigência(Lei do tempo do crime).

2)Extra-actividade: A Lei é aplicada à casos fora do


período da sua vigência.
A extra-actividade, no Direito Penal, configura
situação excepcional, sendo subdividida em:

Retroactividade: é a aplicação da lei a fatos anteriores à


vigência da lei(A lei retorna no tempo).

Ultra-actividade: é a aplicação da lei a fatos posteriores


à vigência da lei(A lei avança no tempo).

Estas duas também são chamadas de leis penais mais


benéficas
Tais hipóteses (extra-actividade…) surgem, no Direito
Penal, apenas para beneficiar o réu, como é o caso da
Novatio Legis in Mellius e o Abolitio Criminis

A retroactividade e a ultra-actividade são as excepções à


regra porque ocorrem em casos onde existe a extra-
actividade da lei- a lei se movimenta no tempo.

A lei só irá se movimentar no tempo (retroagindo ou ultra-


agindo) para beneficiar o réu, as leis que prejudicam o réu
como a Novatio Legis in Pejus e a Novatio Legis
Incriminadora, jamais retroagem no tempo.
Qual a lei que se deve aplicar?

Quando nos deparamos com um problema da


aplicação da lei no tempo, a solução passa pela interpretação
da lei nova, de modo a saber até onde a lei nova “se quer”
aplicar. Assim:

a) Por vezes, o legislador prescreve expressamente as


regras que vão regular a aplicação temporal da nova lei, ou
seja, a nova lei contém direito ou disposições transitórias;
b)Podem, igualmente aplicar-se regras gerais que constituem
critérios próprios de certos ramos do direito. Assim, no Direito
Processual Civil, vigora a regra de que a lei nova é de aplicação
imediata, enquanto que no Direito Penal, vale o princípio da
aplicação da lei mais favorável ao arguido ou também designado
por princípio da irretroactividade, quer seja a mais nova ou mais
antiga que entrar em vigor à data da condenação do criminoso;

c)Não havendo regra particular, nem critério específico de um


ramo do Direito, vale o princípio da não retroactividade da lei.
Este princípio foi acolhido e que estabelece que “a lei só dispõe
para o futuro”, ou seja, em regra a lei não tem eficácia retroactiva.
Caso Prático
 A) Suponhamos que o Désimo dispunha de uma arma de fogo e efectou um disparo
contra o seu amigo Severino por algum motivo que nós desconhecemos, acabando por
atingi-lo mortalmente. Désimo cometeu o crime de homicídio no dia 10 de Janeiro de
2000 e encontrava-se em prisão preventiva, no ano de 2000, a lei que regulava este caso
aplicava uma pena de prisão de 6 a 10 anos. O caso do Désimo apenas foi julgado em
tribunal em 2007, sete anos depois, devido à morosidade do processo penal, mas
entretanto, em 2004 foi lançada uma nova lei que REDUZIA a pena de prisão do mesmo
crime para o período de 4 a 8 anos. Surge a questão: Qual lei aplicar para julgar o caso do
Désimo? A lei A(6 à 10 anos) ou a lei B(4 à 8 anos) ?

 RESOLUÇÃO: Para o julgamento deste caso em concreto, o Juiz irá avaliar qual a lei
que respeita o princípio do “tempo da prática do crime”(artigo 2º, nº1 do C.P.A), neste
caso em concreto é a lei A mas a mesma encontra-se revogada. Por outro lado o juiz
deverá determinar qual a lei mais benéfica para o acusado, claramente a lei B, pois esta
trás uma redução da pena de prisão do Désimo mas não respeita o princípio do “tempo da
prática do crime” (artigo 2º,nº1 do C.P.A), então o Juiz irá usar a chamada “Ficção
Jurídica” e fazer a Lei B retroagir, ou seja, voltar no tempo, como se estivesse a vigorar
no dia 10 de Janeiro de 2000.
 B) Suponhamos que o Désimo dispunha de uma arma de fogo e efectou um
disparo contra o seu amigo Severino por algum motivo que nós
desconhecemos, acabando por atingi-lo mortalmente. Désimo cometeu o crime
de homicídio no dia 10 de Janeiro de 2000 e encontrava-se em prisão
preventiva, no ano de 2000, a lei que regulava este caso aplicava uma pena de
prisão de 4 a 8 anos. O caso do Désimo apenas foi julgado em tribunal em 2007,
sete anos depois, devido à morosidade do processo penal, mas entretanto, em
2004 foi lançada uma nova lei que AUMENTAVA a pena de prisão do mesmo
crime para o período de 6 à 10 anos. Surge a questão: Qual lei aplicar para
julgar o caso do Désimo? A lei A(4 à 8 anos) ou a lei B(6 à 10 anos) ?

 RESOLUÇÃO: Neste caso, a lei que respeita o princípio do “ tempo da prática


do crime” é a Lei A e é também a mais benéfica para o Désimo pois trás uma
pena de prisão de 4 à 8 anos, por outro lado, ela foi revogada pela Lei B que
agravou a pena de prisão de 6 à 10 anos e encontra-se em vigor, neste sentido, o
juíz irá aplicar a Lei A por ser a mais benéfica mas como a mesma encontra-se
revogada, o Juiz irá ultra-agir a lei para 2007, ou seja, avançar ela no tempo,
retornando-a à vida para este caso em concreto.
Conclusão
Deste modo, a nossa pesquisa acaba validando a nossa
primeira hipótese, que diz que a aplicação da lei no tempo é feita por meio
dos princípios que regem a sua aplicação.
Desta forma, para o tema a aplicação da lei no tempo é importante atentar:
Ao processo de criação das leis onde encontramos a iniciação legislativa,
discussão e aprovação, promulgação e a publicação.
A vigência que é o período de duração das leis e termina por meio da
caducidade ou revogação.
As leis que beneficiam o réu podem retroagir, porém as que prejudicam
nunca retroagem.
E ainda, devemos ter em conta a que aplicação das leis pode ser vista em
duas acepções, segundo a actividade, em que a lei é aplicada a casos
durante a sua vigência, e comporta o princípio da irretroactividade.
Segundo a extractividade, em que a lei é aplicada a casos fora do período
da sua vigência, e comporta os princípios da ultractividade e da
retroatividade.

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