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LEI PENAL

LEI PENAL
(Introdução, aplicação da Lei Penal no tempo; conflito aparente
de leis penais no tempo; lei excepcional e temporária; tempo do
crime).
Prof. Leonardo dos Santos Arpini
1. LEI PENAL.

1. Introdução: o direito de punir em abstrato do Estado (ius puniendi in abstracto) surge com o advento da Lei Penal.
Dessa forma, a partir do momento m que uma lei penal entra em vigor, o Estado passa a ter o direito de exigir de
todas as pessoas que se abstenham de praticar o comportamento definido como criminoso.
2. Uma lei, seja ela penal ou não, somente entra em vigor depois de regularmente aprovada mediante o processo
legislativo definido na Constituição Federal, que se completa com a sanção do Presidente da República, com sua
publicação no diário oficial e, finalmente quando se esvai se período de vacatio legis.
3. “O que é vaatio legis?” Trata-se do intervalo de tempo que separa a publicação e a entrada em vigor de uma lei. Em
alguns casos, a lei entra em vigor na data de sua publicação. Caso não haja menção expressa ao início da vigência da
lei, aplica-se a regra contida na LINDB, segundo a qual a lei entra em vigor 45 dias após sua publicação.
4. Não confundir Direito de Punir em Abstrato x Direito de Punir em concreto.
1. LEI PENAL.
Os dispositivos que precisamos ter em mente para mapearmos nosso estudo sobre a lei penal no tempo, são os artigos 2º
a 4º do Código Penal e, também o art. 5º, XL da Constituição Federal.

Art. 5º [...]:
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Lei penal no tempo
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado – retroatividade penal benéfica.

Lex gravio Lex Mitior


Novatio legis in pejus Abolítio criminis
Novatio Legis incriminadora Novatio legis in melius
2. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO.

1. Introdução: o conflito de leis penais no tempo dá-se quando duas ou mais leis penais, que tratam do mesmo
assunto, de modo distinto, se sucedem.
2. O fenômeno pelo qual uma lei se aplica a fatos ocorridos durante sua vigência denomina-se atividade. Quando uma
lei aplicar-se fora do seu período de vigência, teremos a extra-atividade. Esta se divide em retroatividade, isto é, a
aplicação da lei a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor, e ultra-atividade, que significa a aplicação de uma lei
depois de sua revogação.
3. Podemos concluir o seguinte:

A) A lei penal, de regra, somente se aplica a fatos praticados sob sua vigência (atividade);
B) A lei penal benéfica (lex mitior) retroagirá, atingindo fatos anteriores à sua entrada em vigor;
C)A lei penal revogada deverá aplicar-se depois de sua revogação, quando o fato for praticado sob sua égide e for
sucedida por lei mais gravosa (lex gravior).
D) A lei penal benéfica (lex mitior) se biparte em: novatio legis in mellius e abolitio criminis. Aqui, ambas irão retroagir.
A lei penal pode retroagir para beneficiar ou prejudicar o réu.

( ) Certo

( ) Errado
2.1. Sucessão de leis penais.

1. Introdução: ocorre nos casos em ao o mesmo fato é regido por diversas leis penais, as quais se sucedem no tempo,
regulando o tema de maneira distinta.

2. Imagine o seguinte exemplo: um agente criminoso cometeu um crime no ano de 2011, quando a conduta era
apenada com detenção, de dois a quatro anos. Em 2012, quando corria o processo , nova lei modifica a sanção para
um a três anos de detenção. Finalmente, em 2013, dias antes de o juiz proferir sentença, surge uma terceira lei,
aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão. No caso de condenação, deve ser aplicada a segunda norma,
que retroage à data do fato, por se mais benéfica que a primeira (lex mitior), e impede a incidência da última, que se
mostra ais gravosa (lex gravior) em relação a ela.

Lei B Lei C
Lei A
Pena: detenção 1 Pena: Reclusão 2 a
Pena: detenção 2 a 4 anos
a 3 anos 5 anos.
Acerca do crime e da aplicação da lei penal no tempo e no espaço, julgue o item que se segue.
A lei mais benéfica deve ser aplicada pelo juiz quando da prolação da sentença — em
decorrência do fenômeno da ultratividade — mesmo já tendo sido revogada a lei que vigia no
momento da consumação do crime.

( ) Certo
( ) Errado
2.2. Competência para aplicação da lei penal benéfica.

1. Introdução: desde a entrada em vigor da novatio legis in melis ou da abolitio criminis devem elas ser imediatamente
aplicadas aos casos concretos, não importando em que fase da persecução penal se estiver.

• Fase investigatória: a autoridade policial deverá remeter os autos ao juízo competente, para imediata aplicação da
nova lei, no que couber. Na hipótese de novatio legis in melius, p.ex. a remessa dos autos do JECrim para aplicação
das medidas da Lei 9.099/95, caso a infração se torne de menor potencial ofensivo. No caso de abolitio criminis, a
remessa ao juízo é necessária para a extinção da punibilidade.

• Fase instrutória: se o processo estiver em andamento, cumprirá ao juiz da causa a aplicação da nova lei. Estando em
grau recursal, caberá ao TJ ou Câmara.

• Fase de execução penal: nesse caso, a tarefa é do juiz da execução penal, conforme a súmula 611, do STF e, também,
o artigo 66, I, da LEP.

• Súmula 611-STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei
mais benigna.
2.3. Crime permanente e crime continuado.

1. Crime permanente: são aqueles em que o momento consumativo se prolonga no tempo, p.ex. sequestro.
2. Crime continuado: quando vários crimes são praticados em continuidade delitiva (art. 71 do CP).

Se durante a permanência ou a continuidade delitiva entrar em vigor nova lei, ainda que mais gravosa, ela se aplica a todo
evento, vale dizer, ao crime permanente e a todos os delitos cometidos em continuidade delitiva.

Súmula 711- A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência.
2.4. Lei excepcional e lei temporária (art. 3º, do CP).

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Veja só este exemplo:

A Lei 12.663/12 (a Lei Geral da Copa) criada para vigorar somente durante o período de realização da Copa do Mundo no
Brasil. A referida lei criou figuras criminosas, mas fixou um contexto temporal para que houvesse a incidência desses
crimes caso a lei fosse violada. O marco temporal estipulado pela lei geral da copa foi dia 31/12/2014. Após essa data a
Lei Geral da Copa parou de produzir efeitos no mundo jurídico.

Art. 30. Reproduzir, imitar, falsificar ou modificar indevidamente quaisquer Símbolos Oficiais de titularidade da FIFA:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.
2.5. Tempo do crime.
Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.

O art. 4º, do CP cuida da Teoria da Atividade.

Dessa forma, se o agente praticar um crime cuja conduta ocorra antes da entrada em vigor de uma nova lei mais grave,
ainda que o resultado se verifique depois de exaurido o período de vacância da novatio legis in pejus, esta não será
aplicável ao delito; isto porque este considerar-se-á cometido antes da sua entrada em vigor.

Crime permanente: mesmo tendo a ação ou omissão se iniciado antes da maioridade penal, se o agente a prolongou
conscientemente ao período de as imputabilidade penal, terá aplicação o CP.
Crime continuado: somente recebem a incidência do CP os fatos cometidos depois que o agente completar 18 anos de
idade. As condutas cometidas antes disso serão consideradas atos infracionais e, portanto, submetidas às medidas
socioeducativas.
Circunstâncias do crime condicionadas ao tempo do crime: é o caso, p.ex. da idade da vítima (art. 121, §4º, parte final).

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