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Aplicação DA LEI NO Tempo Inês Morais

Direito Penal I (Universidade de Lisboa)

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APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

O Tempus Delicti

Art 3.º CP:


Temos de determinar qual o momento importante para ver qual a lei a aplicar.
O que interessa para a determinação da lei penal a aplicar é a conduta e não o momento do resultado que não
pode ser controlado pelo agente - é arbitrário
Apenas a conduta depende do agente e está ao alcance do seu controlo, pelo que apenas esta deve ser relevante - é
nesse momento que o agente pode escolher entre cumprir ou violar a lei.

2 Fundamentos:

Princípio da culpa: a consciência da ilicitude do agente tem de se formar no momento em que este atua - que
decide e tem condições para olhar para a lei e decidir pela licitude ou ilicitude.
É por referencia a esse momento que pode aceder à consciência da ilicitude e é nesse momento que se vai dizer
que o facto foi praticado.
É no momento que o agente faz aquilo que controla que pode aceder à lei para ver se tal comportamento é
permitido ou proibido

Princípio da segurança jurídica: Se não fosse assim isto permitiria os maiores abusos por parte do Estado -
se alguém tivesse um comportamento que não é crime mas o seu ato continuasse a produzir efeitos, por ex: lançar
para a natureza um determinado produto que é permitido - continua a produzir efeitos no ambiente - o resultado
há de ser posterior ao meu comportamento - Se, por alguma razão, o Estado tivesse um problema contra a empresa
- poderia vir a criminalizar o ato praticado por esta uma vez que os efeitos ainda se iriam continuar a produzir.
Permitira comportamentos abusivos por parte do comportamento sancionatório que permitiria criminalizar
condutas depois do agente ter praticado o facto.

Para tal, temos de fazer uma distinção entre crime instantâneo e crime duradouro:

- Crime instantâneo:
Ex: Homicídio: aqui é relevante o momento da prática do facto (da conduta) – é irrelevante o resultado - morte
Aplica-se o art 2º/1 + 3º CP
- Crime duradouro:
Deve aplicar-se a lei antiga a não ser que a totalidade dos pressupostos da lei nova se tenham verificado na
vigência desta
Ex: Caso do sequestro qualificado.

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Método de Resolução de Casos Práticos | Prof. João Matos Viana:

1. Começamos sempre pelo art 3º CP


Devemos determinar o momento da prática do facto
Não podemos falar em retroatividade e ultraatividade (vigência para o passado e para o futuro), sem ter um facto
relativo ao qual estes conceitos sejam relativos.
A primeira coisa a fazer é, portanto, o momento da prática do facto
2. Dizer relativamente àquele facto já situado no tempo, qual a lei aplicável
3. Leis posteriores não se aplicam retroativamente
4. Mas se a lei posterior for mais favorável aplica-se esta

Não é um esquema de regras e exceções


Podemos aplicar:
- Lei do Momento da Prática do Facto - com um conjunto de princípios fundamentadores - Culpa, segurança
jurídica
- Lei Retroativa Posterior Mais Favorável - Necessidade e igualdade

Aplicação Retroativa da Lei Penal mais Favorável:

Art. 2º/2 CP
Art. 2º/4 CP
- Problema da delimitação da sucessão de leis no tempo;
- Justificação deste regime tendo em conta o princípio da necessidade da pena e o princípio da culpa

A Imposição da Retroatividade da Lei Penal mais Favorável:

Análise da Prof. Maria Fernanda Palma e do Prof. Figueiredo Dias

Art 29º/4/2ª parte da CRP;


Art 2º/2 + art. 2/4.º CP

O fundamento da chamada retroatividade favorável:


Princípio da igualdade + princípio da necessidade da pena = a retroatividade favorável surge como um princípio e
não apenas como uma exceção à proibição da retroatividade

Análise do Prof. Taipa de Carvalho:

O “tempus delicti” – art 3º CP:

Para o cumprimento das exigências éticas jurídico-políticas e de política criminal que determinam e fundamentam
a proibição da retroatividade da lei penal desfavorável está dependente da determinação do “tempus delicti” –
isto é da fixação do momento em que se considere cometido o crime.

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A lei penal desfavorável não pode aplicar-se a factos praticados antes da sua entrada em vigor - isto também se
compreende com o princípio da culpa
Os factos previstos e descritos na lei criminal são validades complexas: o preceito primário decompõe-se em vários
elementos de entre os quais se destaca a conduta e o resultado.
Por outro lado, sabe-se que a conduta e o resultado podem ocorrer por vezes em momentos muito distantes entre
si, sendo possível, neste tempo intermédio - entre a conduta e o resultado, que entre uma lei que criminalize o
facto, ou que agrave a responsabilidade penal do agente do facto praticado.

Por exemplo:
A dispara sobre B ao abrigo da L1 (que pune o homicídio de 3 a oito anos), sendo que a morte de B dá-se ao abrigo
do L2 (que agrava a moldura penal - passa para 4 a 17 anos)
O resultado foi a morte, mas a conduta foi o disparo, portanto o que irá ser relevante será o momento do disparo
(conduta) e não o momento da morte (resultado).
O entendimento dominante vai no sentido de o momento da referência ser o da conduta, sendo
irrelevante o momento em que se verifique o resultado.

Concluindo:
Há a proibição da retroatividade da lei criminalizadora ou agravante da responsabilidade penal
Esta lei não pode aplicar-se ao agente de uma conduta praticada antes do seu início de vigência, mesmo que o
resultado dessa conduta (ex. morte) venha a produzir-se quando essa lei já estava em vigor

Razões essenciais:
- Garantia jurídico-política da pessoa humana frente à possível arbitrariedade legislativa ou judicial no exercício
do poder punitivo.
- Princípio da culpa

Enquadramento Prático:

Estabelecido o momento decisivo que é a conduta : não ficam resolvidos todos os problemas:
Há casos em que o crime não é instantâneo, ou seja há casos onde a conduta se mantém por um tempo mais ou
menos longo: dias, meses, até anos.

É o caso dos:
- Crimes Duradouros;
- Crimes Continuados;
- Crimes por Omissão

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Exemplo:
Homicídio clássico (A dispara contra B e B morre – aqui a conduta não se mantém no tempo, ele dispara e acabou),
agora imaginemos que o homicídio cometido é através da ministração sucessiva de quatro pequenas doses de
veneno – tendo a morte ocorrido alguns dias após a última dose.
Sendo que o momento da conduta o critério decisivo, questionar-se-á a qual dos momentos, pelos quais se
“repartiu” a conduta se deverá ligar ao “tempos delicti” do art. 3º CP, repara-se que uma resposta tem de ser dada,
no caso de, entre o momento da primeira dose e o momento da última dose , ter entrado em vigor uma lei que
veio agravar a moldura penal estabelecida no art 132º/1/ e 2 f) do CP

O raciocínio é este:
Continua a ser irrelevante o momento do resultado (morte);
Momento decisivo: o “ tempus delicti” é o momento em que foi ministrada a dose de veneno mortal, isto é, a dose
que, juntamente com as anteriores converteu a conduta do agente em conduta adequada a produzir a morte,
É neste momento: que se deve considerar praticada a conduta homicida.

Conclusão:
Se a Lei Nova (LN) mais grave entra em vigor antes do momento da dose mortal – aplicar-se-á esta lei ao agente, se
entrar posteriormente, não poderá ser aplicada, sendo assim aplicável a Lei Antiga (LA).
Não haveria problema se a Lei Nova fosse favorável quer porque despenalizava, quer porque diminuía a
responsabilidade penal: neste caso o art 2º/2 e 2º/4CP referem que há lugar à aplicação da LN porque é mais
favorável.

Problema da Alteração Legislativa que Agrava a Pena:

Sob pena de inconstitucionalidade, a solução defendida tem de respeitar o princípio da culpa e a segurança
jurídica: que fundamentam a proibição de retroatividade da lei penal desfavorável

Temos de ter em conta a análise dos artigos:


Art 2º/2 CP – para a despenalização
Art 2º/4 CP – para a diminuição da pena

O Princípio da Igualdade + Princípio da Necessidade da Pena


Se a lei posterior (LN) suprimir uma norma incriminadora, será injusto que agentes de factos idênticos recebam
tratamento radicalmente diferente (punição e não punição) conforme tais factos sejam perpetuados antes ou
depois da revogação da norma.
A lógica que subjaz ao art 2º/2CP impõe, assim, que a revogação da norma incriminadora tenha como
consequência a extinção da pena ou do procedimento criminal sem quaisquer limitações.

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O art 29º/4 CRP:


Parece sugerir que a aplicação retroativa da lei penal mais favorável se poderia reter perante trânsito em julgado –
na medida em que se refere a “leis de conteúdo mais favorável ao arguido”, uma restrição pelo trânsito em julgado
não se adequa no fundamento do princípio da retroatividade mais favorável.
Não seria razoável supor que a estabilidade e a segurança se realizariam num Estado de Direito Democrático em
contradição com a igualdade e sem apoio no princípio da necessidade da pena (art. 18/2.º CRP).
O texto constitucional não apoia qualquer restrição da garantia emanada no art 2º CP – preceito em que o princípio
da aplicação retroativa da lei mais favorável se consagra de modo mais amplo.
Nota: Assim, o Tribunal Constitucional entendeu antes da Revisão de 2007 do CP que o art 2º/4 CP que restringia a
aplicação da lei penal mais favorável pelo “trânsito em julgado” era inconstitucional – desencadeando a alteração
legal daquele preceito, no sentido de não se manter essa restrição.

Entrada em vigor de uma norma que despenaliza/ descriminaliza o crime:

O legislador pretende transmitir à comunidade que já não é necessário incriminar determinado comportamento.
Passou a ser desnecessário, a partir daquele momento, que mais alguém, fosse incriminado pela prática de
determinado comportamento - violaria o art 18º/2 CRP.

Art 2º/2:

Situação de descriminalização do facto:

L1 - define como crime


L2 - deixa de ser crime
L1 - lei do momento da prática do facto

Se não aplicarmos a lei posterior que, neste caso é mais favorável a pessoa em causa será presa por algo que outras
pessoas lá fora estarão a fazer livremente - seria uma violação do princípio da igualdade

Entrada em vigor de uma lei que atenua as consequências jurídicas do crime:

Art 2º/4:

A lei posterior é mais favorável.

Mas o facto praticado ao abrigo da L1 continua a ser crime com a entrada em vigor da L2.

O que se passa aqui é que terá uma pena mais baixa, sendo mais favorável para o arguido.

Aplica-se também aos casos de atenuação de pena - em que o legislador diz à comunidade que jia não será
necessário uma pena de 8 anos mas sim de 4 anos para a punição daquele crime, por exemplo.

A partir desse momento, qualquer pessoa que fosse punida com uma pena de mais de 4 anos estaria a ser punida
desnecessariamente.

Aplicar-se ia retroativamente a lei penal mais favorável.

O seu grande fundamento é o principio da necessidade.

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Aplicação retroativa da lei penal mais favorável ao caso julgado:

L1 - punia com 3 anos - A foi condenado a 2 anos e 6 meses


L2 - pune com 2 anos o mesmo crime
A já tinha cumprido 2 anos da pena

Art 2º/4 - aplicamos retroativamente uma lei posterior mais favorável


O facto continua a ser crime mas a consequência jurídica é atenuada
Aquilo que já foi cumprido já corresponde ao novo limite máximo da pena
Diz-se que cessam imediatamente os efeitos da pena - a pessoa tem de ser imediatamente libertada
L1 - punia com 3 anos - A foi condenado a 2 anos e 6 meses
L2 - L2 - pune com 2 anos o mesmo crime
A já tinha cumprido 6 meses de pena

O limite máximo passou de 3 para 2 anos


A ainda só cumpriu 6 meses
O juiz, perante a moldura penal de 3 anos não tinha achado que o arguido tinha a culpa máxima - não lhe aplicado
a pena máxima.
Se assim é, não faz sentido obrigá-lo a esperar que cumpra o novo limite máximo.
Através do art 371º CPP deve ser requerida a reabertura desta audiência de julgamento de modo a recalcular a
pena que lhe será aplicável ao abrigo no novo limite máximo definido pela L2.
O juiz vai reapreciar o caso todo para efeitos da medida da pena, nada se vai alterar quando à declaração de que ele
é o autor do crime.
Em vez de 2 anos e 6 meses pode passar a ter de cumprir apenas 1 ano, por exemplo.
Vai continuar preso mas de acordo com a nova pena só terá de cumprir mais 6 meses.

Situações de Lei Intermédia:

1. L1 - 3 anos
2. Facto
3. L2 - 2 anos
4. L3 - 3 anos
5. Julgamento

L2 é uma situação de lei intermédia


Entra em vigor após a pratica do facto mas antes do julgamento
Não acontece rigorosamente nada ao abrigo dessa lei.

As leis intermédias podem ser aplicadas:


Mesmo que nada tenha acontecido ao abrigo dessa lei intermédia
Iríamos aplicar a lei intermedia neste caso - art 2º/4 - lei posterior ao facto que é mais favorável

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Justifica-se porque:
- Argumento literal - 2º/4 - fala expressamente no plural - “leis posteriores” - fala também das leis intermédias - se
quisesse apenas dizer respeito à última lei diria-o no singular - é preciso considerar todas as leis que venham a
seguir
- No dia da entrada em vigor da L2, aquilo que o arguido recebeu como informação foi que só iria ser punido com
2 anos - iria ser aplicado o art 2º/4 - ganhou essa posição jurídica
Se agora dissermos que vamos retomar os 3 anos é porque tomamos em consideração uma lei
Mas esta L3 é desfavorável - se a tomarmos em consideração estamos a considerar esta lei posterior desfavorável
Vai sempre ser desfavorável porque no momento da entrada da L2 o arguido tinha ganho uma posição mais
favorável
O tomar em consideração esta L3 para julgar o facto era aplicá-la retroativamente de forma desfavorável porque
eliminávamos esta posição mais favorável já anteriormente adquirida pelo arguido - seria uma retroatividade
desfavorável - está proibida pelo 2º/1 + 2º/2 + 2º/4
As leis posteriores só podem ser aplicadas se forem mais favoráveis
Principio da não retroatividade desfavorável - tem de ser o resultado de uma conjugação de
normas
- Violação do principio da igualdade - poderiam gerar-se situações em que 2 factos exatamente iguais
poderiam vir a conhecer penas distintas
Todos devem, portanto, beneficiar da aplicação da lei intermédia mais favorável

Leis Temporárias:
L1 vigora
L2 - relativa a circunstâncias excecionais - agravando a moldura penal para um determinado período de tempo
Volta a vigorar a L1 - quando termina este período de tempo

As leis temporárias vigoram apenas durante um determinado período de tempo


Têm um prazo de vigência que pode ser por referência a uma data prévia ou consoante a prática de um
determinado ato.
Tem de ser uma lei de emergência para ser qualificada como temporária
Tem de ser uma justificação temporal relacionada com uma situação de extrema necessidade - ex: atentado,
terramoto
Art 2º/3
É preciso endurecer a reação penal - obvio que a seguir, a lei posterior será sempre mais favorável - o art 2º/3 diz
que não se aplica retroativamente a este facto

Porque é que não é uma violação Principio da Aplicação Retroativa da Lei Penal Mais Favorável?
Razão dogmática:
Nos casos típicos de 2º/4 - a lei posterior vais ser retroativamente aplicável por causa do princípio da necessidade
No caso do art 2º/3:
Quando o legislador diz que a L3 passa novamente a ser aplicada ele não está a fazer um juízo sobre a necessidade
da pena - está a dizer que a situação de emergência terminou

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Não tem nada a ver com um novo juízo de necessidade da pena - não pensou melhor e achou que agora já eram
necessários menos anos para punir determinado crime.
O legislador continua a achar que os anos definidos estavam bem para aquela situação de emergência
O que acontece é que simplesmente deixou de existir a situação de emergência
Não há uma alteração do juízo do legislador sobre a necessidade da pena, mas simplesmente a situação de
emergência deixa de existir
Apesar de aplicarmos a lei do momento do facto que é mais grave não há uma violação do princípio da
necessidade - O que aconteceu é que a situação subjacente desapareceu porque a lei temporária caducou.

No caso de surgir outra lei temporária dentro do período de situação de emergência que é mais favorável para o
agente - aqui, o legislador quis continuar a manter a situação de emergência e percebe que o novo limite aplicado
à situação excecional era exagerado - neste caso iríamos aplicar a lei mais favorável - vamos conjugar o 2º/3 com o
2º/4
- 2º/3 no sentido de dizer que o que se vai aplicar é o regime temporário - não vamos aplicar o regime posterior
mais favorável
O posterior mais favorável não é aplicado
- 2º/4 - porque dentro da lei temporária vamos aplicar a posterior mais favorável - aqui sempre houve uma
alteração do juízo do legislador acerca da medida da pena
Dentro desse período temporário, ninguém mais vai poder ser punido na medida da 1º lei temporária, por isso
aplica-se a L3 retroativamente - mas dentro do regime temporário
Neste caso já estaríamos perante uma alteração do juízo do legislador sobre a necessidade da pena

Problema da Norma Penal Inconstitucional mais Favorável:

Quando a norma inconstitucional é desfavorável não suscita qualquer problema - art 282º3 CRP - a pessoa é
libertada imediatamente - a norma é destruída com eficácia retroativa e é represtinada a norma anterior e o caso
julgado destruído.

Declaração inconstitucionalidade - 3 efeitos:


- Eficácia retroactiva - destrói a norma desde sempre
- É represtinada a norma anterior
- Casos julgados ficam salvaguardados - razões de praticabilidade
- Exceção - caso julgado penal e a norma represtinada for desfavorável para o arguido

Suscitam-se problemas quando esta norma inconstitucional é a mais favorável - aí o art 282º/3 não
resolve expressamente a situação.
2 hipóteses:

A primeira diz respeito aos casos em que a norma mais favorável é uma norma descriminalizadora - TC vem declarar
inconstitucional e o facto é praticado ao abrigo da norma descriminalizadora:

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Há 2 soluções

Posição do Prof. Rui Pereira:


Nunca se aplicam normas inconstitucionais - princípio base da sua conceção - a CRP proíbe-o - art 204º CRP
Qual é que a lei aplicável?
A norma é represtinada - é o que o 282º/3 diz
A pessoa que interrompeu a gravidez ao abrigo de uma norma descriminalizadora passou a fazê-lo ao abrigo de
uma norma criminalizadora
O que fazemos é aplicar a norma represtinada mas toda ela - não aplicamos só o 140º mas sim o CP todo
nomeadamente a parte geral - art 16º e 17º - 16º/1 parte final e 17º dizem que quem não tiver consciência de
ilicitude não tem culpa
É o que acontece aqui, esta senhora atuou sem consciência de ilicitude - o que o Estado lhe dizia era que era
permitido
No final do dia, não será presa

Problema:
É que a norma mais favorável pode não ser descriminalizadora, pode ser desagravadora, passou de 3 para 1 ano
Neste caso não se pode aplicar o 16º e 17º - tinha consciência da ilicitude porque a lei naquele momento
criminalizava - pensava que era até um ano e agora tem a possibilidade de vir a passar 3 anos presa.
Para estas situações o prof. Rui Pinto diz que se aplica a norma represtinada mas em conjugação com os 71º e ss do
CP - regulam a determinação concreta da medida da pena
Aplicamos a norma antiga com esses artigos no sentido de calcularmos a medida concreta desta pena de forma a
que nunca ultrapasse o limite da lei inconstitucional mais favorável

Crítica:
Não estaremos da verdade a aplicar a lei inconstitucional?

Posição da Prof. Maria Fernanda Palma e do Prof. Matos Viana:


Vamos aplicar a norma inconstitucional mais favorável.
Porquê?
Decorrência do princípio do Estado de Direito Democrático - art 2º CRP
O Estado tem de se autovincular ao direito que ele próprio cria - estão em causa expectativas objetivas de que o
direito que é produzido é para valer.
Se esse direito acaba por ser destruído não podem depois as expectativas da comunidade que orientou o seu
comportamento de acordo com esse direito ser destruídas - as expectativas têm de ser protegidas
Aplicava-se, neste caso, a lei mais favorável inconstitucional
Art 2º/1 - aplicação da lei na pratica do facto

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O facto é praticado ao abrigo da norma criminalizadora e a norma mais favorável é a norma posterior que o
TC declara a inconstitucional:

2 Hipóteses:

Prof Rui Pereira:


Continuam a não se aplicar normas inconstitucionais
Aplica-se a norma represtinada
Neste caso, a norma mais favorável inconstitucional é posterior ao facto por isso não há expectativa nenhuma a
tutelar - a sua expectativa formou-se ao abrigo da norma incriminadora
Não é preciso aplicá-la em conjugação com mais nenhuma porque não há expectativas.

Prof. Maria Fernanda Palma e Prof. Matos Viana:


Aplica-se a lei mais favorável ainda que inconstitucional pelo art 2º/2 porque é descriminalizadora - aplicação
retroativa de lei penal posterior mais favorável
Porquê:
Principio da igualdade
Imaginem que neste dia aconteceram 2 factos um em Sintra praticado pelo Manel e outro em Cascais praticado
pelo Bento.
No mesmo dia nas mesmas circunstâncias ao abrigo da mesma lei.
O A é, pelo facto de o funcionário de justiça ser mais despachado é julgado antes da declaração de
inconstitucionalidade da lei - É absolvido e forma se caso julgado - quando o caso julgado é favorável ao agente ele
é salvaguardado.
São sempre salvaguardados a não ser em matéria penal que seja desfavorável.
O B que tinha condições iniciais às do outro mas tinha tido o azar do funcionário de justiça não ser mais rápido e
acaba por ser julgado depois da declaração de inconstitucionalidade - vai apanhar 3 anos
Condições iniciais exatamente iguais, resultados finais completamente diferentes por razões arbitrarias que nada
têm a ver com o caso.
É de tal forma escandalosa a violação do principio da igualdade que não parece existir outra solução que não a da
aplicação da lei penal mais favorável inconstitucional.

Crimes Permanentes:

Representação gráfica de uma linha - estão constantemente a consumar-se


Opõem-se aos instantâneos que se consumam no segundo exato em que a vitima morre, por exemplo.
Estado de ilicitude que permanece - caso de conduzir sobre o estado de alcolémia - estou a praticar
permanentemente o crime de condução sobre o efeito de álcool
O momento da prática do crime é todo o tempo que eu estiver a conduzir - art 292º - Tempus delicti

Pode acontecer que algures durante a permanência do crime entre em vigor uma nova lei
A L1 - 1 ano
L2 - passa a dizer 3 anos
Depois eu sou julgado
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Vamos aplicar a lei mais grave - contraria a ideia errada de que se aplica sempre a lei mais favorável - princípio que
não existe
Aqui vamos aplicar a lei mais grave
Ambas as leis são leis do momento da prática do facto
Aqui nem sequer há lei posterior

Faz sentido aplicar a dos 3 anos porque o que é proibido em direito penal é aplicação de leis mais graves de forma
retroativa - aqui nãos passa porque foi preenchida pelo comportamento que o agente teve após a entrada em vigor
da lei
Depois da entrada em vigor da lei mais grave continuou a praticar o crime.
Que razão é que haveria para não lhe ser aplicável a lei mais grave?
Vamos é ter de aplicar o juízo mais atual do legislador sobre a necessidade punitiva porque não o estamos a atuar
retroativamente - conseguimos preencher com o seu comportamento essa mesma lei

O desconhecimento da lei aproveita a ninguém - excepto nos caos do art 17º mas só esse - falta de consciência de
ilicitude - é mesmo muito muito raro
A regra é que tinha de saber
Nos crimes permanentes só há um crime

Caso do crime permanente de Sequestro:

Art 158º - Tranquei A na dispensa no dia 1 em que a pena era 3 anos


No dia 5 há um alteração à lei e passa a pena para 5 anos e cria-se o crime de sequestro agravado no nº2 que diz
que quem mantiver peso durante mais de 7 dias pode estar sujeito a uma pena de até 10 anos.
Qual é que se aplica?
Aplica-se o que fixa os 5 anos
Porquê:
Relativamente a este tipo - quem mantiver preso - esta norma traduz o juízo mais atual do legislador sobre a
necessidade punitiva e é mais grave mas sendo mais grave, o tipo vai ser preenchido pelo comportamento
posterior do agente - não há retroatividade porque não se aplica a factos passados
Ele vai apanhar seguramente 5 anos
Preencheu a lei após a entrada em vigor
Porque é que não se aplica o nº2? Demorou mais de 7 dias!
Mas após a entrada em vigor da lei só decorreram 5 - para aproveitar esses 3 dias tenho de ir ao passado busca-los
e a isso chama-se retroatividade da lei penal - nessas condições já não se aplica porque para isso implicava a
retroactividade da lei que é proibido em direito penal

O critério é:
Aplica-se a lei anterior salvo se após a entrada em vigor da lei nova o comportamento do agente preencher todos os
pressupostos da lei nova.
Tomando sempre em consideração o comportamento que ocorreu após a entrada de lei nova.

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Transformação do crime de perigo abstrato em crime concreto:

Exemplo:
Condução sobre efeito álcool - crime abstrato
Há 1 facto
Depois a norma é transformada num crime de perigo concreto - conduzir sobre o efeito do álcool e causar perigo
par a vida de alguém
Pessoa que é julgada depois, sendo certo que conduziu sobre o efeito do álcool e causou perigo para uma pessoa -
preenchia as duas leis

Posições Doutrinárias:

Prof Matos Viana:


Havia uma descriminalização - não obstante ter preenchido as duas leis, não lhe acontecia nada
Porque a L1 não se aplica uma vez que no momento da concretização do perigo abstrato o legislador disse que não
era necessário punir a mera condução sobre o efeito do álcool - se o considera desnecessário - art 18º/2 não o posso
fazer
A L2 também não se aplica porque o elemento novo que é o perigo concreto para a vida de alguém é algo que foi
introduzido com a L2 - elemento novo - vamos aplicar retroativamente no sentido desfavorável porque já vimos que
a L1 não se aplica, se aplicamos a L2 é para o prender - seria uma aplicação retroativa em sentido desfavorável - que
não é permitida!
Portanto, ele tinha de sair em liberdade- ah mas isso é injusto - injusto é violar os princípios constitucionais
Pode-se dizer que o legislador teve uma má técnica legislativa - que não sabe legislar
Podia ter mantido em vigor sempre o crime de perigo abstrato e podia sempre ser punido por este que nunca foi
alterado e depois criava um novo crime em que fazia um crime de perigo concreto que valeria apenas para o futuro
Aí, o homem era condenado
Agora esta técnica legislativa determina a descriminalização do comportamento.

Prof. Maria Fernanda Palma:


Elemento de perigo concreto que o Prof. MV diz que é um elemento novo na verdade não é nada novo
Porque sempre esteve dento do crime abstracto - é a potencialidade - incluem-se todas as situações de
potencialidade de crime onde cabem todos os crimes concretos - teve sempre incluído
Não estamos a criar nada de novo, estamos só a concretizar aquilo que já estava implícito na potencialidade de
crime
MFP - aplica as regras gerais - lei do momento da prática do facto.

MV - acha que o perigo concreto é verdadeiramente novo e não está contido na potencialidade de crime
O perigo abstrato é uma característica do comportamento - é perigoso - característica do comportamento
O perigo concreto não é uma característica, é um resultado do meu comportamento - evento externo que resulta do
meu comportamento
Comportamento foi conduzir sobre efeito do álcool o perigo para a velhota é um resultado do comportamento de
perigo
Elemento verdadeiramente novo e que por isso não se aplica retroativamente.
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Leis Especializadas e Especificadoras:


Exemplo:
Produção de bens impróprios para consumo - perigo abstracto - mera possibilidade de produção
Depois é acrescentado o elemento novo - perigo concreto para a vida de alguém
MV - neste caso não se podia punir - lei anterior não se aplicava pelo princípio da necessidade
L2 - perigo concreto é elemento novo

Discussão:
Perigo concreto elemento verdadeiramente novo nao se aplica retroativamente
MV - só considera a descriminalização porque o perigo concreto é verdadeiramente novo - é especializador
So faz sentido porque considera que foi indordunzido ex novo - só pode valer para o futuro em sentido
despenalizador
Só quando o elemento é verdadeiramente novo - especializador - é que não pode ser aplicado retroactivamente
MFP - vem dizer que já estava contido antes - é meramente especificador
MFP - vigora a lei da pratica do facto a não ser que haja uma posterior mais favorável

Exemplo:
L1 - crime furto de valor significativo
L2 - crime furto de pelo menso 5 000 euros
O elemento que foi apresentado já não é um elemento verdadeiramente novo - não é especializador mas sim
meramente especificador - vem concretizar qualquer coisa que já existia antes
Aqui, para o Prof. MV já não é descriminalizador - aplica-se a lei geral

Transformação de crime em contraordenação:


L1 - 1.2 álcool no sangue é crime
L2 - é crime a partir de 1.3 - 1.2 passou a ser contraordenação

Julgamento é depois da L2 - qual é que se aplica


O crime? A contra-ordenação? Nenhuma?

Prof. Taipa de Carvalho:


Há uma despenalização e que não lhe vai acontecer nada
L1 não se aplica porque a L2 veio dizer que não era necessário punir como crime - nunca mais podemos punir
como crime
A L2 também não se aplica porque o regime geral das contra ordenações diz que estas não se aplicam
retroativamente - a L2 não se pode aplicar retroativamente a este facto
Apenas admite que a L2 consagre um regime transitório
Pode vir dizer que transforma em contra-ordenação e ressalva a punibilidade a título de contra ordenação dos factos
anteriores ainda não julgados

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Profs: MFP, FD e MV:


Consideram que isto não faz sentido
Porque na L2 o que o legislador disse não foi que o facto deixou de ser necessário punir - deixou de ser necessário
punir tanto - era necessário na mesma ter uma reação sancionatória
Basta punir menos
Juízo típico do art 2º/4
Há uma ideia de manutenção e continuidade da resposta sancionatória para aquele facto mas o legislador vem
dizer que essa reposta pode ser menos intensa
O que acontece é que se aplica o art 2º/4 e se aplica a lei posterior mais favorável que é a lei contra ordenacional
Aplicamos retroativamente a lei penal posterior a um facto anterior no sentido de punir a conduta.

Lógica e ideia de que não há uma diferença qualitativa entre o crime e a contraordenação - existe
qualitativamente uma aproximação entre os dois ilícitos - têm mesma natureza sancionatória
Por razões de oportunidade e eficácia nuns casos, o Estado entende que deve criminalizar, noutros deve aplicar
apenas uma contraordenação
Parte da ideia de continuidade normativa entre o crime e a contraordenação podemos dizer que não é um
ilícito verdadeiramente novo, é qualquer coisa que já vinha de trás e já continuava
O que o legislador fez foi apenas reduzir a sua intensidade
Ideia de que continua o ilícito e é simplesmente desagravado- é a lógica do art 2º/4 - aplicar retroativamente a lei
penal posterior mais favorável

Crimes de Prescrição:

L1 - prazo prescrição é 10 anos


L2 - prazo 5 anos

Aqui não há dúvida nenhuma - aplica-se retroactivamente a lei mais favorável

Divergência quando a lei posterior é desfavorável:


L1 - prazo 5 anos
Facto
L2 - alarga para 10

Tribunal Constitucional que sendo uma lei desfavorável não se pode aplicar retroactivamente

Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e Lei Alemã:


Se quando esta lei de 10 entra, se os 5 anos desde o facto já tivessem acontecido essa não tinha aplicação - a
responsabilidade já se tinha extinguido - não se aplica a lei posterior
No entanto, se há uma de 5 depois o facto e passado 2 anos entra uma lei nova que alarga a prescrição para 10
anos - essa ultima lei é aplicável retroativamente a esse facto - não há expectativas a tutelar relativamente ao prazo
de prescrição
As tuteláveis são as relevantes para a consciência da ilicitude do agente.

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A prescrição tem a ver com o momento relativo ao qual o Estado pode intervir para punir - não tem nenhuma
expectativa tutelada
Em Portugal, o TC aplica as regras gerais.

Esquema para a alteração do tipo de crime:


Para a análise da alteração do tipo de crime, temos de analisá-lo em 3 momentos - para além de ver qual a lei
aplicável no momento da prática do facto:

1º Passo - Ver o que é que essa alteração faz ao tipo de crime em abstrato
Pode fazer uma de 3 coisas:
1. Pode estar a alargar o âmbito típico - Normalmente através de:
- Supressão de elemento de verificação cumulativa
- Acrescentando-se um de verificação alternativa
2. Pode estar a restringir o âmbito típico (agora abrange menos crimes) - Normalmente isto faz-se:
- Acrescentando um elemento de verificação cumulativa.
- Eliminando/suprindo um elemento de verificação alternativa.
3. Pode estar a substituí-lo por outro

2º Passo - Ver o que é que a alteração fez ao tipo de comportamento do agente (o que é que acontece ao tipo de
comportamento que o agente tem com esta LN?)

3º Passo - O que é que a lei faz ao comportamento concreto do agente, já não é ao tipo de comportamento que
adotou: é o que fez mesmo no caso concreto.

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