Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Exemplo: em Portugal, o aborto era punido até à 10ª semana até 2007. A
partir de 2007, o aborto até à 10ª semana deixou de ser considerado
crime, embora o aborto não tenha deixado de ser considerado crime. A
norma incriminadora não desapareceu, mas aquele facto em concreto
deixou de ser considerado como crime. É como que uma exclusão de
ilicitude. Há quem fale em despenalização, mas isso não é o mais
correto, para ABB.
Nestas duas últimas situações, em que a lei posterior é mais favorável
porque o facto é eliminado do número das infrações [caso (ii)], importa
saber que leis o juiz terá em consideração.
Assim, se surgir uma nova lei que elimina o facto do âmbito das
infrações (deixando o facto de ser punível), mesmo que haja uma
condenação transitada em julgado, ter-se-á em conta a nova lei, que
descriminaliza. Cessa, então, a execução da pena.
HIPÓTESE 3
Imagine que a lei X previa, para certo facto, pena de prisão de 1 a 3
anos, e pena acessória de suspensão do exercício de certa profissão até 1
ano. Imagine ainda que essa lei é substituída pela lei Y, que passa a
punir o mesmo facto apenas com a pena de prisão até 5 anos.
-Qual a lei que deveria ser aplicada a A, que praticou o facto na vigência
da lei X, mas vai ser julgado na vigência da lei Y?
Resolução:
Quando há uma pena e ainda uma pena acessória, a pergunta que se faz
é: vamos fazer a ponderação mais favorável tendo em conta a pena
principal e a acessória e, quanto à segunda lei, apenas a pena de prisão,
ou vamos fazer a ponderação em separado, i.e., fazer uma ponderação
relativamente à pena de prisão e outra relativamente à pena acessória de
proibição do exercício?
Uma parte da doutrina, com a qual ABB tende a concordar, defende uma
ponderação diferenciada. Primeiro comparamos as penas de prisão – a
lei X pune de 1 a 3, e a lei Y pune até 5. De qual lei resulta uma
aplicação mais favorável? Em princípio, a primeira lei é mais favorável
– daí deveria resultar uma pena concreta mais leve. Olhando ao princípio
da aplicação retroativa da lei penal mais favorável ao agente, aplicar-se-
ia a lei X.
Quanto à pena acessória, que foi eliminada na lei Y, a consequência é
deixar de existir.
Veja-se que a pena principal e a pena acessória têm fundamentos e fins
diferentes, pelo que devem ser ponderadas separadamente, para ABB
(mas há também quem, em sentido contrário, defenda uma ponderação
unitária).
-Quid juris se, diferentemente, a lei Y passasse a punir o facto como
contraordenação?
E se aparece uma nova lei que passa a punir o facto como
contraordenação? Há uma descriminalização do comportamento. Foi o
que aconteceu com o consumo de droga em Portugal.
Desde logo, o facto não pode ser considerado como crime (princípio da
aplicação da lei penal mais favorável – neste caso, a lei que
descriminaliza). Mas será que se vai punir o facto como
contraordenação?