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Nota prévia:
Esta é a sebenta final de DIREITOS FUNDAMENTAIS, disponibilizada pela Comissão
de Curso dos alunos do 2º ano da licenciatura em Direito da Faculdade de Direito da
Universidade do Porto, para o mandato de 2022/2023.
Foram elaborados pelo aluno Guilherme Tarrinha, tendo por base as aulas e documentos
disponibilizados pela docente Anabela Leão.
Salienta-se que estes apontamentos são apenas complementos de estudo, não sendo
dispensada, por isso, a leitura das obras obrigatórias e a presença nas aulas.
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Índice:
Ficha de trabalho nº1 ………………………………………………………………… 4
Jurisprudência ………………………………………………………………………. 25
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Ficha de trabalho nº 1
Pergunta 1:
4
Pergunta 2:
Estaremos aqui a falar, ainda, de DF? A doutrina diverge – o que está nas
Constituições são DF e o que não está são DH; o caso da UE é diferente, dado que,
quando elaborou a carta, não o fez com o intuito desta ser um instrumento
internacional, mas sim um meramente interno (para os autores que afirmam que a UE
tem materialmente uma Constituição, isto fará ainda mais sentido)
Pergunta 3:
Pergunta 4:
Pergunta 5:
6
Pergunta 6:
Pergunta 7:
O Direito entra para compatibilizar direitos que na teoria existem, mas que, na prática,
entram em conflito - isto resulta do facto de vivermos em sociedade.
Ficha de trabalho nº 2
Alínea a):
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uma restrição, na medida em que se obstaculiza uma faculdade que a CRP
permite
A professora acha que uma coisa é comunicar, mas na autorização tem que haver uma
anuência. Para a professora, os casos de autorização são casos de restrição, pois coloca-
se um obstáculo ao exercício do direito.
Pode ser um condicionamento, como no caso do pré-aviso de greve, em que não se impede
o exercício do direito, ou no caso de uma caução (no entanto, se a quantia da caução fosse
elevada, estaria em causa uma restrição). Assim, a distinção entre condicionamento e
restrição tem que ser analisada no caso concreto.
Deste modo, neste caso prático, para a professora estaríamos perante uma restrição.
Importa analisar certos pontos, dado que as restrições têm de obedecer a requisitos
constitucionalmente impostos – artigo 18º:
• A restrição só pode ser feita por lei (que tanto pode ser lei da AR como DL
autorizado) à este requisito está preenchido
• Tem que ser autorizada pela CRP e tem que ser proporcional à a doutrina entende
que os direitos de uns são os limites dos outros; o artigo 45º/1 proíbe certas
restrições, nomeadamente a exigência de autorização
• Esta classe profissional em concreto não teria uma relação especial de poder? Sim,
teria uma relação mais próxima com o Estado (presos, militares); relativamente
aos funcionários públicos, até poderiam ser, mas não existe nada expresso
• No entanto, a CRP ressalva no artigo 269º/2 que os funcionários públicos não
podem ser privados de direitos, pelo facto de serem funcionários do Estado
• Esta restrição seria geral e abstrata? Sim, seria abstrata pois é pensada para uma
situação hipotética e pode aplicar-se a qualquer um, e é geral porque se aplica a
todas as pessoas daquela categoria
Alínea b):
• A lei vai afetar o direito à integridade física – artigos 25º/2 e 26º/2 à artigo 32º/8
• Esta lei está a violar o artigo 25º/2, que é uma proibição; o artigo 32º/8 respeita-a
e concretiza-se a nível penal à não pode haver tortura, porque esta viola a
dignidade da pessoa humana
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• De um outro lado, poderíamos colocar a segurança e a vida à poderíamos ter aqui
uma situação de conflito e colisão, mas a ponderação já foi feita e a CRP decidiu
que a tortura não é admissível; assim, ter-se-ia que encontrar uma outra solução
• Poderíamos mudar isto? Sim, pela revisão constitucional; contudo, os DLG são
limites materiais – artigo 288º
• Assim, este diploma era inconstitucional
Alínea c):
• Está aqui em causa a liberdade de circulação – artigo 44º; o que é isto? É uma
restrição, pois temos aqui um obstáculo
• Temos pessoas que já foram condenadas que já tinham cumprido a sua pena e
continuam a ser pessoas – artigo 30º/4
• O interesse a salvaguardar seria a saúde pública – temos aqui a ideia que pessoas
que traficam droga possam pôr em causa a saúde pública – artigo 74º à caso de
colisão
• A restrição é feita por lei? Sim
• Existe previsão? No artigo 44º, não, e no artigo 30º/4 proíbe-se uma medida
automática destas; mas poderia ser uma autorização constitucional, na medida em
que existem bens constitucionaus que seja necessário salvaguardar
• É adequada? Poderíamos discutir isto, mas seria sempre excessiva
• Aplicando-se a pessoas condenadas, significa que essas pessoas ficariam
“marcadas”, desrespeitando-se o princípio da reinserção social
• Ainda se pode discutir se existe um problema de retroatividade; aparentemente,
esta lei aplica-se a quem venha a ser condenado, mas também a quem já tenha
sido condenado
Alínea d):
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• Não temos aqui nenhum obstáculo a aplicar o princípio da igualdade às entidades
privadas; podemos ver isto a partir do artigo 13º, mas outros dizem que há algum
tipo de imediação por parte do legislador ordinário – artigo 2186º do Código Civil
• Assim, temos a liberdade da senhora VS os limites impostos pelo princípio da
igualdade à liberdade
• Seria discutível se esta era uma destas situações
Alínea e):
• Temos aqui um consentimento à lesão da integridade física, que pode até ter
algum risco
• Esta é uma questão de autolimitação da pessoa – saber até que ponto a pessoa
pode assumir o risco; a integridade física é disponível, desde que o consentimento
esteja dentro dos limites e seja livre e esclarecido
• Podemos ter aqui o princípio da proporcionalidade? Não, pois há uma ideia de
beneficiência, a pessoa, colocando-se nesta situação, pode ter um resultado
benéfico
Alínea f):
1. É lei? Sim
2. Geral e abstrata? Sim, porque é para todos os da Igreja Católica (a categoria
pode ser discriminatória)
3. Princípio da proporcionalidade? Poderíamos discutir se era adequada para
promover uma discussão pluralista e se seria demasiado onerosa
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4. Expressão na CRP? Não, mas pode haver restrição, na medida em que proteja
outros bens protegidos
Alínea g):
Temos uma relação horizontal, na medida em que se estabelece entre uma entidade
empregadora privada e uma trabalhadora.
Contudo, dependendo do trabalho em causa, poder-se-ia alegar que era legítimo, assim
como no caso do consumo de estupefacientes.
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Já as teorias da eficácia indireta/mediata, há necessidade de existir um intermediário que
assegure estes direitos.
Alínea h):
Está em causa o direito à dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 26º/3, que é
posto em causa nestas situações de manipulação genética; a Convenção de Oviedo
salvaguarda estes direitos, particularmente os relacionados com a identidade genética.
Alínea i):
Podemos invocar:
Alínea j):
Temos aqui:
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Alínea k):
Por regra, quem está detido tem direitos, tal como prevê o artigo 30º/5.
No entanto, pode se alegar que o contacto da detida com o exterior colocaria em causa a
segurança.
O direito de petição, na sua forma geral, encontra proteção constitucional no artigo 52º, e
a figura do Provedor de Justiça salvaguarda o direito de petição qualificada.
Neste sentido, a detida continua a poder recorrer ao Provedor de Justiça, mesmo não
estando em liberdade.
Alínea l):
Não obstante não ser um Direito, Liberdade e Garantia (DLG), pode ser um direito de
natureza análoga, pelo facto de ter uma estrutura idêntica ao direito à informação, estando
meramente mais focado numa particularidade administrativa – artigo 17º.
Neste caso, nada indica que esteja em causa uma restrição de direitos, na medida em que
o decreto legislativo regional pode ter simplesmente estabelecido os requisitos de acesso.
Alínea m):
Está em causa uma restrição do direito à liberdade de deslocação (artigo 44º), ao que se
associa uma espécie de trabalho forçado (artigo 58º), que se baseia em conceitos de
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idadísmo (idade compreendida entre os 20 e os 25 anos) e de sexismo (sexo masculino) -
artigo 13º.
Por contraposição, podemos ter a proteção do ambiente, prevista no artigo 66º, bem como
a segurança, com previsão no artigo 64º.
Ainda assim, o artigo 18º/2 prevê, expressamente, que deve ser uma lei a restringir os
DLG, e nunca um regulamento.
Ficha de trabalho nº 3
Alínea a):
VS
Alínea b):
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VS
• Segurança Pública
• Moralidade Pública
• Dignidade dos indivíduos
Existe uma restrição de direitos que é inconstitucional, pelo facto de não ser
determinada por via de lei, mas sim através de uma postura local, pelo que existe
tanto um problema material, relativo ao conteúdo das disposições, como um
problema formal e orgânico.
Alínea c):
VS
Alínea e):
VS
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Existe uma restrição do direito à liberdade de culto, que teria que ser feita por
lei.
Alínea f):
Alínea g):
Lado do arguido:
• Integridade moral e física – artigo 25º
• Artigo 26º/1 – desenvolvimento da personalidade, bom nome, reputação,
imagem
Temos então aqui uma restrição que está a proteger o arguido, mas que é uma
restrição de direitos à liberdade de imprensa – de informar e de ser informado.
Assim, aplicamos o artigo 18º.
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Alínea h):
Alínea i):
Temos aqui um caso relativo ao direito à greve, que é um direito, liberdade e garantia –
artigo 57º - dos trabalhadores. Assim sendo, aplica-se o regimo do artigo 18º.
Isto são bens jurídicos. Temos, então, uma situação de colisão, mas, se pusermos
a tónica nos direitos das pessoas que ficam afetadas pela greve, temos uma
situação de conflito.
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è A restrição é necessária? Não, é uma restrição extrema, dado que seria
possível encontrar uma solução intermédia, como os serviços mínimos; por
exemplo, quem tivesse uma consulta de rotina poderia remarcá-la, mas quem
tivesse um problema grave teria que ser atendida. Temos, então, uma
concordância prática.
è Isto está na CRP? Sim, no artigo 57º/3, mas apenas para as atividades sociais
impreteríveis.
è O que é o pré-aviso de greve? Um condicionamento.
Neste caso, também está em causa o núcleo essencial do direito – artigo 18º/3 -,
visto que nunca poderiam fazer greve, eliminando-se, por completo, o direito.
Alínea j):
Temos aqui um Direito Económico, Social e Cultural (DESC), sendo que está limitado
pelo princípio dos cofres cheios. Existe uma relação triangular: a pessoa que habita, o
proprietário e o Estado. Para além deste princípio, temos um outro, em que o Estado deve
garantir sempre um mínimo, sob pena da DPH ser posta em causa.
Alínea k):
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Ficha de trabalho sobre a identidade genética
1. A clonagem é permitida?
Não:
• CRP – artigos 1º, 26º/1 e 26º/3
• Convenção de Oviedo – protocolo adicional sobre a clonagem à artigo 1º
• Lei da Procriação Medicamente Assistida – artigos 7º e 36º
4. A quem cabe o ónus da prova de ter ocorrido uma discriminação com base
em informação de saúde?
Artigo 6º da Lei 46/2006 à “(...) a quem alegar a discriminação em razão da
deficiência fundamentá-la, apresentando elementos de facto susceptíveis de a
indiciarem, incumbindo à outra parte provar que as diferenças de tratamento não
assentam em nenhum dos fatores indicados (...)”.
6. A quem são recolhidas amostras para a base de dados genéticos para efeitos
de identificação civil/criminal?
Para além da recolha de amostra voluntária, temos a recolha de amostras para
identificação civil e investigação criminal – artigos 7º e 8º da Lei nº 5/2018
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8. Como é feita a recolha para a base de dados genéticos?
A medida menos invasiva possível à Lei nº 5/2008 – artigo 10º
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19. Podem realizar-se ensaios clínicos em menores?
Sim, quando preenchidos certos requisitos à Lei nº 21/2014 – artigo 7º
21. Qual a diferença entre uma base de dados genéticos e uma base de ADN?
Lei nº 12/2005 – artigos 7º (base de dados genéticos) e 19º (base de ADN)
Lei nº 5/2008 – artigos 2º e 3º
22. Qual o destino das amostras recolhidas para a base de dados genéticos?
Lei nº 12/2005 – artigos 18º e 19º
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28. Os menores podem ser dadores para efeitos de transplante?
Lei nº 22/2007 – artigos 4º e 6º/4 (proibição em relação a órgãos ou tecidos não
regeneráveis)
Contexto: a República Checa tem uma política que prevê que as crianças devem ser
vacinadas para um conjunto de dez doenças, mas há pais que entendem que não querem
vacinar os filhos; sendo uma política de vacinação obrigatória, aqueles que não a
cumprirem ficam sujeitos ao pagamento de uma coima e não podem matricular as crianças
em creches ou pré-escolares; os pais intentam uma ação, em representação das crianças,
pondo em questão se seria razoável vacinar crianças de faixas etárias tão baixas, em nome
da saúde pública
Requerentes – pais:
• Artigo 8º
• Artigo 9º
• Artigo 14º
• Protocolo Adicional à artigo 2º
• Protocolo nº 12 à artigo 1º
Estado:
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Casos práticos dos hijabs
No segundo caso, temos uma funcionária de uma empresa que faz atendimento ao público
e que, dado não existir uma regra que o proíba na empresa, começa a usar o lenço,
decorrido um determinado tempo.
Em ambos os casos, são convidadas a deixar de utilizar o lenço, são despedidas e as duas
alegam despedimento sem justa causa.
Requerentes - senhoras:
Estado:
• Neutralidade
• “Imagem económica”
• Liberdade económica
• Desobediência hierárquica
Conclusão: O Tribunal de Justiça da União Europeia entendeu que não existia uma
discriminação direta, dado que a restrição não incidia exclusivamente sobre as liberdades
religiosas, mas sobre todas as convicções.
No entanto, pode existir uma discriminação indireta, ou seja, a norma não tem como
objetivo discriminar, mas acaba por fazê-lo – a mesma norma, que aparentemente é
inócua, pode não restringir uns indivíduos, que por exemplo tenham um crucifixo debaixo
da roupa, mas restringir outros, que utilizem o lenço islâmico na cabeça.
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Caso prático sobre o direito à educação – caso do TEDH
Temos uma aluna invisual que se candidata ao conservatório de música, tendo que realizar
exames musicais, que realizou com sucesso, e um relatório médico, que determinou que,
em todas as aulas em que não precisa de utilizar a visão, pode frequentar o currículo.
Requerente – jovem:
Conclusão: O Tribunal considera que há uma discriminação, visto que, apesar da jovem
ter uma deficiência que a diferencie e limite, o Estado tem a obrigação de garantir a
acessibilidade, que vai para além das condições físicas e engloba todas as alterações que
devem ser realizadas para assegurar a democratização do ensino e uma acomodação
razoável de todos os cidadãos.
Neste sentido, ao negar-se o Estado a realizar estas tarefas, incorre numa discriminação.
1. Argumentos contra:
• Conceção kantiana do homem ser um fim em si mesmo – sendo um
objeto/instrumento para o entretenimento de outros, estar-se-ia a pôr um “preço”
num indivíduo
• Dignidade da pessoa humana com autolimitação – vertente objetiva
2. Argumentos a favor:
• Liberdade de autodeterminação – artigos 26º e 27º da CRP
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• Consentimento livre e revogável
• Dignidade da pessoa humana com fundamento – vertente subjetiva
• Atividade lucrativa
Desta forma, a dignidade da pessoa humana pode atuar como justificação ou limite.
Jurisprudência
• Direito das crianças a ter assistência dos pais e os deveres dos pais a prestar auxílio
aos filhos - artigo 36º da CRP
• O Tribunal Constitucional (TC) chegou à conclusão de que deviam considerar o
rendimento social de inserção como um mínimo que o indivíduo devia ter, pelo
que julgaram a norma inconstitucional
• Existe um fundo de garantia do Estado que permite a ajuda às crianças
• Dimensão negativa: não podemos afetar/diminuir os direitos
• Princípio da igualdade posto em causa, dado que deixamos a faixa etária dos 18
aos 25 anos a descoberto de ajudas sociais, assim como o princípio da proibição
do retrocesso, apesar de ter sido rejeitado pelo Tribunal
• Invocação do artigo 63º, particularmente o número 3, em conjugação com o artigo
1º, e conclusão por um direito positivo, uma dimensão positiva do Estado, no
sentido de ativamente garantir um mínimo de subsistência para a manutenção da
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dignidade da pessoa humana – mostra como a ligação entre o direito à dignidade
da pessoa humana e outros direitos constitucionais permite a criação de novos
direitos
• Artigos 1577º e 1628º do Código Civil – o sexo diferente dos nubentes era um
requisito de existência do casamento
• Invocação dos artigos 13º e 36º da CRP para provar a inconstitucionalidade
daquelas normas
• A CRP não pode ser interpretada de acordo com a lei ordinária, sob pena de se
inverter a hierarquia das normas
• A dignidade da pessoa humana é um princípio evolutivo
• Invocação do arguido da violação dos artigos 18º, 27º e 62º da CRP – restrição da
liberdade, de forma desproporcionada
• Por contraposição, o Ministério Público invoca que, ao maltratar os animais de
companhia, o sujeito incorre na violação do artigo 66º da CRP, que prevê a
proteção do ambiente e da fauna
O governo aprovou uma portaria em que estabeleceu que todos os atletas que competiram
em Jogos Olímpicos e Mundiais devem ganhar um prémio.
Contudo, este prémio é diferente consoante eles sejam ou não portadores de deficiência,
sendo superiores os prémios para os atletas sem deficiência. Para além disso, os atletas
que não são portadores de deficiência não poderiam ganhar o prémio mais do que uma
vez.
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O Governo diz que os Jogos Olímpicos e os paraolímpicos trazem níveis diferentes de
atenção para o país, pelo que teríamos aqui uma justificação ao nível da finalidade.
O Tribunal Constitucional achou que havia uma diferenciação e um critério, que não era
manifestamente irrazoável. No entanto, os prémios são para compensar o mérito.
Poderíamos ter aqui a violação da DPH, no sentido em que as pessoas são tratadas de
forma diferente consoante sejam ou não portadoras de deficiência.
Em estado de exceção, há uma perturbação dos Direitos Fundamentais, assim como uma
perturbação do princípio da separação de poderes, dado que muitos poderes são
concentrados no poder executivo.
O artigo 19º/7 e o artigo 19º/8 determinam que o executivo deve fazer o necessário para
reestabelecer a normalidade.
O artigo 45º salvaguarda o direito de reunião, que foi aqui posto em causa, numa situação
de colisão entre a saúde pública (artigo 64º) e o direito de reunião.
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Assim, está em causa uma restrição de direitos.
O requerente invocou que esta norma regulamentar punha em causa os seus DLG, e
recorreu ao mecanismo do artigo 20º/5, que não se aplicaria aqui, dado que é pensado
para a falta de atos administrativos, o que não se coloca aqui, dado existir uma norma
administrativa.
A nossa capacidade de analisar o risco depende da informação de que dispômos, pelo que
é legítimo ter existido esta determinação.
Alegou-se que a liberdade de circulação foi afetada, mas o cerne da questão é a analogia
existente com a condição de detenção penal – artigo 27º.
O habeas corpus é constitucionalmente protegido pelo artigo 31º da CRP, porém este
mecanismo está pensado para um contexto criminal, seja de prisão ou detenção ilegal.
Para alguns autores, o artigo 27º é taxativo, ou seja, as situações que esta norma prevê
são as únicas em que um sujeito pode ver-se privado da sua liberdade – a adoção desta
perspetiva motiva as propostas de revisão constitucional deste preceito. Por outro lado,
há autores que defendem existir restrições implícitas ao artigo 27º.
• Restrição (artigo 44º) à “aos domingos, não podes circular para mais de 40km
da tua habitação”
• Privação (artigo 27º) à “ficas aqui fechado, não podes sair de casa”
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• Artigo 165º/1/b) à só a AR ou o Governo, mediante autorização, poderia legislar
nesta matéria
• Inconstitucionalidade orgânica
Contudo, nos termos do artigo 1817º do Código Civil, esta ação só pode ser proposta
durante a menoridade ou no prazo de dez anos após a maioridade ou emancipação; o
número três deste preceito contempla algumas situação excecionais, mediante as quais se
pode verificar a prorrogação do prazo.
Houve uma pessoa que tentou interpôr uma ação de prova de maternidade, tendo sido esta
rejeitada pelo tribunal, pois o prazo tinha passado.
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À partida, o prazo de caducidade é um condicionamento, pois não impede em
nada, até ser atingido.
No entanto, se o prazo for curto, pode ser uma restrição.
Na opinião da professora, um prazo será uma restrição, pelo que vamos assumir
que o é, pois as pessoas só podem invocar o seu interesse de conhecer a sua origem
durante os dez anos, assumindo-se que o seu interesse em conhecer da sua filiação
desvanece.
4. Os requisitos da restrição estão reunidos? Em especial, a proporcionalidade
O Tribunal Constitucional julgou pela não inconstitucionalidade da norma do
Código Civil, dado que o prazo de 10 anos é grande, ao que se acrescentam as
situações adicionais e excecionais que podem prorrogar o prazo.
Estas cláusulas aplicam-se a ambos os sexos, pelo que o argumento da discriminação não
procedeu, bem como o argumento do direito à vida do embrião, que também foi rejeitado.
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Este acórdão fala da margem de apreciação à questões eticamente sensíveis, em
relação às quais é determinado que os Estados podem decidir o modo como as tratam,
mediante as suas realidades específicas
A lei dizia que a gestante podia revogar o seu consentimento ao contrato estabelecido até
ocorrer as técnicas de procriação medicamente assistida. Este contrato era gratuito de
baseado em pura generosidade, pelo que o tribunal entendeu que o prazo para revogar o
consentimento era curto demais.
Acórdão 268/2022
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1. Que direitos estão aqui em causa?
• Proteção dos dados pessoais – artigo 35º
• Inviolabilidade da correspondência – artigo 34º
• Reserva à intimidade da vida privada – artigo 26º
2. Pensando num conflito ou colisão de direitos que exista, que direitos podem
estar contrapostos?
• Segurança
• Investigação criminal
Artigos 9º, 27º e 272º - preceitos constitucionais que salvaguardam aqueles bens
jurídicos
3. A Provedora de Justiça considerou que existia uma restrição dos direitos:
• Estes dados são todos os dados de todas as pessoas, independentemente de haver
ou não suspeita criminal que recaia pelo indivíduo, o que viola o princípio da
proporcionalidade plasmado no artigo 18º
4. O Tribunal Constitucional declarou inconstitucional a norma
Ambrósio:
• Regulamento não pode legislar sobre DLG, ao abrigo do artigo 18º/2 da CRP
• Proporcionalidade relativa a “todos os cidadãos”
• Violação da liberdade de expressão (artigo 37º), da liberdade de consciência,
religião e culto (artigo 41º), do direito ao livre desenvolvimento das pessoas –
informações pessoais e banco de dados (artigo 26º)
• Porquê restringir especificamente aquelas atividades, e não outras?
• Não estando o país em estado de emergência/exceção, estes direitos fundamentais
não podem ser, de qualquer modo, restringidos
DGS:
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